aula 1000752471 estacas raiz ou microestacas
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ESTACAS RAIZ OU MICROESTACAS?
Diante das diversas opções disponíveis do Brasil para a execução de fundações profundas, é
comum nos depararmos com soluções que, apesar de conhecidas por várias empresas e projetistas e
inclusive ser preferencialmente adotadas em locais específicos ou mesmo serem recomendadas para
determinadas situações, ainda são desconhecidas e certamente confundem bastante os construtores
que se vêm de frente a um projeto onde essas fundações estão especificadas.
Então façamos uma breve avaliação. Se, por acaso, alguém lhe perguntar a diferença entre
uma estaca raiz e uma microestaca o que você responderia?
Pois é. Com certeza, as estacas injetadas não ficam de fora do grupo das que mais confundem
os profissionais, pois, as dúvidas que estas despertam vão desde a sua denominação, estendendo-se
ao seu dimensionamento até o seu método executivo. E o resultado prático disso? Freqüentemente a
desconfiança.
Mas o que realmente são as estacas injetadas? Quantos tipos existem? O que as diferem das
demais? Como são projetadas e executadas? Para quais situações elas são mais indicadas? Que
vantagens eu posso obter optando por elas? Quais aspectos devem chamar nossa atenção quando
um projeto especifica uma estaca injetada? E por fim, como posso avaliar todos os itens que
compõem o custo unitário e global da adoção das estacas injetadas como opção para minha
fundação?
Muitas perguntas? Pois este material tem o objetivo de esclarecer diversas dúvidas sobre as
estacas injetadas e angariar a simpatia dos profissionais da engenharia que ainda não as conhecem
ou que já possuem uma opinião formada sobre este tipo de solução. Leia com atenção.
O que diz a literatura técnica sobre as estacas injetadas?
Diferentemente das estacas que todos nós conhecemos com bastante intimidade como, por
exemplo, as estacas cravadas pré-moldadas ou com perfis metálicos onde se utiliza os tradicionais
bate-estacas, as estacas injetadas fazem parte de outro grupo chamado de estacas moldadas in loco.
Neste grupo, as estacas são perfuradas e não cravadas.
A relevância desta diferença está no fato de que uma estaca moldada in loco não recebe
golpes para atingir a cota de apoio sobre uma camada resistente, mas, é perfurada com um
equipamento até a profundidade determinada no projeto. Logo, a expressão “atingiu a nega”, muito
comum durante uma cravação com bate-estacas, não se aplica a este grupo.
As estacas hélice contínua são um exemplo bem conhecido de uma estaca moldada in loco,
onde após a perfuração, enche-se o furo de concreto e empurra-se a armadura, imergindo-a até o
fundo dentro do furo cheio de concreto.
As estacas injetadas foram desenvolvidas na Itália na década de 50 e foram concebidas
inicialmente apenas para reforço de fundações e melhoramentos das condições de um terreno. A
primeira estaca injetada inventada foi a estaca raiz, que em italiano chama-se “pali radice”, nome
inclusive utilizado em seu patenteamento.
Então finalmente o que é uma estaca raiz?
Submetida a uma carga de compressão, uma estaca reage através de um esforço solicitante
de modo a transmitir ao solo a carga que está suportando. Para isso, uma estaca transmite essa carga
ao solo em duas parcelas, o atrito lateral e a resistência de ponta.
As estacas do tipo raiz foram concebidas para mobilizar toda a parcela do atrito lateral para
resistir à carga de compressão que lhe é aplicada, desprezando a contribuição da parcela da
resistência de ponta. Para isso, foi necessário desenvolver um método executivo que proporcionasse
uma interação altamente eficiente da área lateral da estaca com o solo.
Daí o uso da técnica de injeção do aglomerante (calda de cimento ou argamassa) sob pressão
para que o mesmo molde o fuste da estaca e, além disso, penetre e preencha os vazios existentes no
solo, enraizando-se no terreno, como as raízes de uma árvore. Surge então o termo estaca injetada.
Na época do surgimento desta técnica, as estacas raiz eram cautelosamente executadas com
pequenos diâmetros e em grandes quantidades, dimensionadas individualmente para pequenas
cargas e formando um reticulado para resistir a grandes esforços, popularizando o seu uso para
reforço de fundações e criando o mito de que não poderiam ser executadas como fundações
convencionais de estruturas permanentes.
Acredite isso é passado. Atualmente, empresas especializadas executam em todo o país
estacas raiz com diâmetro de 500 mm para fundações de obras de arte como pontes onde as cargas
são bastante elevadas.
Como são executadas as estacas raiz?
Conforme foi dito anteriormente, as estacas injetadas são executadas com o auxilio de uma
perfuratriz que realiza a escavação até a cota de projeto. O equipamento, geralmente hidráulico e
apoiado sob esteiras auto-propulsoras, é consideravelmente menor que um bate-estaca e tem como
vantagem a possibilidade de acessar locais com pé direito limitado e terrenos em aclives ou declives.
A perfuração é executada com auxílio de fluxo contínuo de água, método tradicionalmente
mais utilizado, entretanto, também é possível realizá-lo com fluxo de ar comprimido ou mesmo
apenas substituindo-se a broca por um trado helicoidal. Quando se executa a perfuração, deve-se
garantir a estabilidade da escavação e, para tanto, as existem pelo menos três opções disponíveis:
1. Perfurar sem o uso do revestimento desde que seja possível assegurar a integridade das
paredes do furo escavado em função do tipo de solo;
2. Perfurar com uso parcial ou integral do revestimento de acordo com a natureza do terreno e
as dificuldades encontradas durante o processo;
3. Lançar mão de produtos como a bentonita (lama estabilizadora) para assegurar a estabilidade
da escavação.
Se o método tradicional é perfurando com água, o que eu faço com o resíduo que é
gerado e que vai sujar a obra quando a lama se espalhar pelo canteiro?
A perfuração com água facilita a desagregação do solo e proporciona o resfriamento da broca
que se aquece com o avanço e a abrasividade de solos compactos, duros, pedregulhosos e camadas
com alterações rochosas. O resultado é um fluxo ascendente de lama que precisa ser disciplinado ou
sua obra vai realmente virar a maior sujeira. E é possível disciplinar a lama que sai do furo? Sim. Basta
escavar valas suficientemente profundas no solo e conduzi-las a diques também escavados no
próprio terreno, forrando-as com lonas plásticas. O resíduo acumulado poderá ser retirado
posteriormente através da sucção feita pelo mangote de um caminhão à vácuo que não necessita ter
acesso ao interior do canteiro, mas, que deverá retornar quando o dique encher novamente. Outra
forma de se remover o resíduo é instalando uma bomba submersa (sapo) que pode ser fixada na
borda do dique. Essa opção é mais econômica quando se dispõe de um local para escoar a água que
sobra depois que as partículas sólidas mais pesadas sedimentam-se no fundo do dique.
Os diques de contenção ainda possibilitam, em
alguns casos, a reutilização da água contribuindo
para redução do consumo de água e do custo da
obra além, é claro, do fortalecimento da boa
prática da sustentabilidade através da economia
de água. Pense nisso.
E se eu optar pela perfuração com uso de ar comprimido?
Não é má idéia, pois, como todo método executivo de execução de estacas evolui
constantemente, a perfuração com ar comprimido é atualmente também é uma boa opção quando
se deseja uma obra mais limpa. Contudo, é importante apresentar as vantagens e desvantagens que
essa solução proporciona.
Na perfuração com ar comprimido, são acopladas mangueiras especiais que ficam conectadas
a um ou mais compressores que alimentam a linha perfuração com um fluxo contínuo de ar
comprimido e desempenham a mesma função que a da água só que com mais eficiência e velocidade
e, principalmente, sem lama. Este método é especialmente recomendado quando se prevê também a
perfuração de rocha e a estaca necessariamente deverá ser engastada nesta.
Neste método, a linha de alimentação do fluxo ar entre o compressor e a perfuratriz é
equipada com um equipamento onde é possível adicionar óleo lubrificante pneumático para evitar o
desgaste das partes metálicas do equipamento e uma substância liquida à base de poliacrilamida que
serve para estabilizar quimicamente o solo e expulsá-lo do furo na forma de grânulos ou torrões
úmidos e bastante pequenos, que podem ser removidos com mais facilidade da obra.
A quantidade, bem como a vazão e pressão de trabalho especificada para os compressores
varia em função do tipo de solo do local da obra e deve ser planejada, pois incrementa ao preço
unitário da estaca o aluguel e consumo de combustível dos compressores.
Quando bem avaliada, a perfuração
com ar comprimido proporciona
ganhos de produtividades muito
superiores ao método tradicional.
E a armadura da estaca raiz?
Não tem mistério. É como a armadura da maioria das outras estacas escavadas, circular, com
barras de aço CA-50 e estribo helicoidal e é inserida no furo após a perfuração. Geralmente, são
encurvadas na ponta pra facilitar sua colocação no furo e necessitam de espaçadores para garantir o
cobrimento e evitar que a as barras de aço fiquem descentralizadas e rasguem as paredes da
escavação. E é aí que o problema reside.
A depender do tipo de solo do local a colocação da armadura de uma estaca raiz pode ser
muito simples ou extremamente trabalhosa, interferindo inclusive na produtividade diária. Em solos
arenosos ou muito heterogêneos, mesmo se optando pela perfuração com auxílio de lama
estabilizadora, é comum que a armadura da estaca fique presa antes de se conseguir descê-la até o
fundo do furo. Às vezes, torna-se imperativo utilizar o revestimento metálico para acabar com o
grande esforço que precisa ser despendido na colocação das armaduras, mas, o prazo previsto para o
fim da obra, nesta situação já fica bastante comprometido.
Outro problema é o manuseio. Depois de cortada e montada no canteiro, a armadura da
estaca raiz torna-se pesada e flexível, causando alguns transtornos para ser transportada pelos
operários e difícil de ser posicionada e colocada no furo. Em situações onde se prevê um transpasse
na armadura da estaca, a presença de um caminhão munck em regime “full time” é imprescindível.
Injetando uma estaca raiz
Enfim, chegado o momento de se injetar as estacas raiz, é necessário primeiramente
compreendermos de que forma a estaca se comporta após a injeção, bem como, o aspecto do fuste
para que então seja possível entendermos esta etapa.
O objetivo da injeção das estacas raiz é moldar os fustes dessas através da aplicação de uma
pressão de até 5 Kgf/cm2. Em tese, aplicação dessa pressão deveria ser feita com um ou mais golpes
de ar comprimido, no entanto, a maioria das empresas de geotecnia que executam, principalmente
as estacas injetadas, possuem bombas apropriadas para a injeção de cimento (calda e/ou argamassa)
sob altas pressões, dispensando o construtor da obrigatoriedade de alugar um compressor de ar
apenas para essa finalidade.
Entretanto, para se conseguir aplicar a pressão de injeção de uma estaca raiz, recomenda-se
inicialmente a limpeza do furo através de uma lavagem fazendo-se circular pelo interior do mesmo
um fluxo contínuo de água. Essa etapa garante a moldagem do fuste de uma estaca sem
contaminação de solo e com o diâmetro do projeto.
Após uma boa lavagem, reveste-se parcialmente o furo com o revestimento metálico para
injetar a argamassa de baixo para cima com um tubo tipo tremonha e, após o transbordamento da
argamassa, tampa-se a boca do furo e continua-se com a injeção até que a pressão se eleve cada vez
mais no interior do furo a tal ponto que atinja o valor necessário para a moldagem do fuste. Essa
pressão é lida através de um manômetro instalado em algum ponto do sistema.
E o que seria então uma microestaca?
Podemos dizer que a microestaca é uma evolução natural das estacas raiz. O desenvolvimento
das microestacas levou as estacas injetadas a uma nova fase onde se tornou possível reduzir o seu
comprimento e aumentar a sua capacidade de carga permanecendo-se com um pequeno diâmetro.
Mas como isso é possível? Aperfeiçoando-se a técnica de injeção e aumentado até seis vezes mais a
pressão de injeção do aglomerante no solo. Vamos tentar entender melhor isso.
O princípio básico que deu origem às microestacas foi a substituição da armadura em aço CA-
50 por um tubo de aço ASTM para o qual, através de válvulas preparadas manualmente nesse tubo,
foi possível, com o auxílio do desenvolvimento de uma ferramenta chamada obturador duplo, injetar
com altíssimas pressões a calda de cimento através dessas válvulas, popularmente conhecidas como
“válvulas-manchete” que, por denominação, permite a abertura e o fechamento controlados,
possibilitando que a injeção seja feita em múltiplas fases.
O obturador, inserido no interior do tubo, confina fortemente o espaço situado interno na
região da válvula-manchete, fazendo com que a calda de cimento seja violentamente disparada
através de um furo ou pequeno rasgo que é previamente feito no tubo durante a preparação das
válvulas-manchete.
E como é feita uma válvula-manchete?
As válvulas-manchete são preparadas executando-se pequenos rasgos feitos com o auxílio de
uma esmerilhadeira dotada de discos de corte ou pequenos furos feitos com uma furadeira de
bancada através da fixação dos tubos em um local onde o processo pode ser feito com segurança e
agilidade.
Em seguida, os furos ou rasgos são envolvidos por um pedaço de borracha com espessura de
aproximadamente 0,8 mm e fixada eficientemente com arame recozido. A elasticidade da borracha
permite que esta, fixada no tubo com o arame, não se solte durante a expansão e abertura
provocada com o aumento da pressão de injeção de calda de cimento, mas, retorne ao estado
original e se feche após o alívio desta pressão, funcionando como uma válvula. As válvulas-manchete
são executadas a cada metro ou menos que isso, de acordo com a eficiência que se deseje obter no
processo de ancoragem do tubo contra o solo. Após preparadas as válvulas-manchete, o tubo passa
a ser a armadura principal das microestacas.
O tubo de aço é então inserido no furo e a fase de injeção é iniciada. A experiência da
execução de microestacas revela uma maior praticidade na colocação do tubo no interior furo
apresentando menos transtornos em comparação à mesma etapa das estacas raiz devido à forma
física do tubo, mais esbelto e rígido, contribuindo para sua instalação.
Outra vantagem é a eliminação da presença constante do caminhão munck para apoio à
instalação das microestacas já que os tubos são dotados de roscas usinadas durante o processo de
fabricação e que são conectados com luvas de aço, em contraste com o transpasse feito com arame
ou solda da armadura das estacas raiz que precisam ficar penduradas pela lança do caminhão munck
enquanto isso é feito. Com isso os tubos de aço proporcionam uma maior versatilidade já que podem
ser cortados em comprimentos menores e previamente preparados no comprimento de projeto da
estaca, eliminando-se a presença de armadores e soldadores, pois, neste caso não há a necessidade
de corte, dobra e solda de barras de aço, apenas a fixação dos trechos do tubo.
Injetando uma microestaca
Depois de abordarmos o princípio técnico que conceitua as microestacas, a ferramenta
necessária para injetá-la e a preparação do tubo manchete, vamos entender de qual o procedimento
executivo da injeção destas.
Assim como nas estacas raiz, o método de perfuração é o mesmo, no entanto, as microestacas
não necessitam de grandes diâmetros para garantir o atrito lateral logo, o diâmetro comum para elas
varia entre 250 e 310 mm.
Após a instalação do tubo manchete, enche-se o furo com calda de cimento (não se usa
argamassa em microestaca) até preencher por completo o espaço entre o tubo manchete e as
paredes do furo. Esta é a 1ª etapa da injeção das microestacas e se chama bainha.
Preste bem atenção! Nesta etapa ainda não se utiliza o obturador. Ao invés disto, introduz-se
um tubo de PVC dentro do tubo manchete até o fundo do furo e injeta-se a calda de cimento que
sairá através de um pequeno rasgo feito na ponta o tubo chamado válvula de pé. Esta calda de
cimento preenche o furo no sentido ascendente até transbordar.
Após a execução da bainha, deve-se respeitar um período de pelo menos 12 horas para que a
calda de cimento adquira uma resistência mínima para o início das próximas etapas. Antes disse
deve-se fazer uma rápida lavagem no interior do tubo para evitar que a calda de cimento endureça
no interior deste e impeça a introdução do obturador.
Executada a bainha, inicia-se a injeção propriamente dita. Essa injeção é geralmente realizada
em três fases iguais. Nestas fases, o obturador é introduzido no interior do tubo manchete e as
injeções são executadas de modo a romper a bainha e se conseguir preencher os vazios do solo. As
pressões de injeção das microestacas variam entre 10 e 30 Kgf/cm2. Não se deve realizar mais de uma
fase em um mesmo dia.
Arrasamento e preparação do topo das estacas
A preparação do topo das estacas injetadas para engastamento com a armadura dos blocos
não difere das estacas convencionais. A seção resultado do topo da estaca deve ser plana e
perpendicular ao eixo da mesma e a operação de demolição deve ser executada de modo a não
causar danos à estaca. Nesta operação podem ser utilizados ponteiros ou marteletes leves,
trabalhando com pequena inclinação, para cima, em relação à horizontal. Para estacas cuja seção de
concreto foi inferior a 2.000 cm2, o preparo da cabeça somente pode ser feito com ponteiro.
No caso de estacas danificadas até abaixo da cota de arrasamento ou estacas cujo topo
resulte abaixo da cota de arrasamento prevista, deve-se fazer a demolição do comprimento
necessário da estaca, de modo a expor o comprimento de transpasse da armadura da estaca até a
cota de arrasamento. A armadura da estaca deve ser prolongada dentro deste trecho.
O que diz a norma NBR 6122/1996 sobre as estacas injetadas?
De acordo com a norma NBR 6122 – Projeto e execução de fundações, no item 7.8.10, as
estacas injetadas são denominadas de estacas escavadas com injeção, subdivisão de um grupo maior
que são as estacas escavadas e moldadas in loco. A partir dessa denominação o que as difere é
apenas o método executivo. Deste modo a norma as subdivide em dois tipos:
a) Estacas do tipo raiz: Onde a injeção é utilizada para moldar o fuste. Imediatamente após a
moldagem do fuste, é aplicada pressão no topo, com ar comprimido, uma ou mais vezes
durante a retirada do tubo de revestimento. Usam-se baixas pressões (inferiores a 5Kgf/cm2)
que visam apenas garantir a integridade da estaca;
b) Microestacas: São executadas através de tubos metálicos dotados de válvulas preparadas
manualmente e que permitem que a injeção seja executada em múltiplos estágios, utilizando-
se em cada estágio uma pressão que garanta a abertura dessas válvulas (também conhecidas
como manchetes) de modo que, cessada a pressão, as válvulas se fechem e permita injeções
posteriores até se atingir a condição adequada de ancoragem no terreno.