audiência 17 de novembro de 2010 - catequese do papa - uma mulher na origem do “corpus chirsti”

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  • 8/8/2019 Audincia 17 de Novembro de 2010 - Catequese do Papa - Uma mulher na origem do Corpus Chirsti

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    Catequese do Papa: Uma mulher na origem do Corpus Chirsti

    Interveno na audincia geral de hoje

    CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 17 de Novembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de

    peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praa de So Pedro para a audinciageral.

    ***Queridos irmos e irms:

    Tambm nesta manh eu gostaria de vos apresentar uma figura feminina,pouco conhecida, qual a Igreja, no entanto, deve um grande reconhecimento,no somente pela sua santidade de vida, mas tambm porque, com o seugrande fervor, ela contribuiu para a instituio de uma das solenidadeslitrgicas mais importantes do ano, a do Corpus Domini (em portugus, maisconhecida como Corpus Christi, N. da T.).

    Estamos falando de Santa Juliana de Cornillon, conhecida tambm comoJuliana de Lieja. Possumos alguns dados sobre sua vida, sobretudo por meiode uma biografia, escrita provavelmente por um seu contemporneo, querecolhe vrios testemunhos de pessoas que conheceram directamente a santa.

    Juliana nasceu entre 1191 e 1192, nas proximidades de Lieja, na Blgica. importante sublinhar este lugar, porque naquela poca a diocese de Lieja era,por assim dizer, um verdadeiro "cenculo eucarstico". Antes de Juliana,insignes telogos tinham ilustrado ali o valor supremo do sacramento daEucaristia e, sempre em Lieja, havia grupos femininos generosamentededicados ao culto eucarstico e comunho fervente. Guiadas por sacerdotesexemplares, tais mulheres moravam juntas, dedicando-se orao e s obrasde caridade.

    rf aos 5 anos de idade, Juliana, junto sua irm Ins, foi confiada aoscuidados das religiosas agostinianas do convento -leprosrio de Mont-Cornillon.Foi educada sobretudo por uma freira cujo nome era Sabedoria e queacompanhou o seu amadurecimento espiritual, at que a prpria Julianarecebeu o hbito religioso e se converteu, tambm ela, em freira agostiniana.Adquiriu uma notvel cultura, chegando at a ler as obras dos Padres da Igrejaem latim, particularmente Santo Agostinho e So Bernardo. Alm de umainteligncia vivaz, Juliana mostrava, desde o comeo, uma propenso

    particular contemplao; tinha um sentido profundo da presena de Cristo,que experimentava vivendo de maneira particularmente intensa o sacramentoda Eucaristia e meditando com frequncia sobre as palavras de Jesus: "Eis queestou convosco todos os dias, at o fim dos tempos" (Mt 28,20).

    Aos 16 anos, teve uma primeira viso, que depois se repetiu muitas vezes nassuas adoraes eucarsticas. A viso apresentava a lua em seu plenoesplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhorf-la compreender o significado do que lhe aparecera. A lua simbolizava a vida

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    da Igreja na terra; a linha opaca representava, no e ntanto, a ausncia de umafesta litrgica, para cuja instituio se pedia a Juliana que trabalhasse demaneira eficaz, isto , uma festa na qual os fiis pudessem adorar a Eucaristiapara aumentar sua f, crescer na prtica das virtudes e reparar as ofensa s aoSantssimo Sacramento.

    Durante cerca de 20 anos, Juliana que, enquanto isso, se tinha tornado apriora do convento conservou em segredo esta revelao, que havia enchidoo seu corao de alegria. Depois contou a duas ferventes adoradoras daEucaristia: a Beata Eva, que levava uma vida eremtica, e Isabel, que a haviaseguido ao mosteiro de Mont-Cornillon. As trs mulheres estabeleceram umaespcie de "aliana espiritual", com o propsito de glorificar o SantssimoSacramento. Tambm quiseram envolver um sacerdote muito estimado, Joode Lausana, cnego da igreja de So Martinho de Lieja, pedindo -lhe queinterpelasse telogos e eclesisticos sobre o que elas carregavam no corao.As respostas foram positivas e motivadoras.

    O que aconteceu com Juliana de Cornillon repete-se frequentemente na vida

    dos santos: para ter a confirmao de que uma inspirao vem de Deus, necessrio sempre submergir-se na orao, saber esperar com pacincia,buscar a amizade e aproximar-se de outras almas boas e submeter tudo ao juzo dos pastores da Igreja. Foi precisamente o Bispo de Lieja, Roberto deThourotte, quem, depois das dvidas iniciais, acolheu a proposta de Juliana edas suas companheiras e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do CorpusDomini na sua Diocese. Mais tarde, outros Bispos imitaram-no, estabelecendoa mesma festa nos territrios confiados aos seus cuidados pastorais.

    Contudo, Deus pede frequentemente aos santos que superem provas, paraque a sua f cresa. Isso aconteceu com Juliana, que teve de sofrer a duraoposio de alguns membros do clero e do prprio superior do qual o seumosteiro dependia. Ento, por vontade prpria, Juliana deixou o convento deMont-Cornillon com algumas companheiras e, durante 10 anos, entre 1248 e1258, foi hspede de vrios mosteiros de religiosas cistercienses. Ela edificavatodos com a sua humildade, nunca tinha palavras de crtica ou de reprovaopara os seus adversrios, seno que continuava difundindo com zelo o cultoeucarstico. Faleceu em 1258, em Fosses-La-Ville, na Blgica. Na cela em que jazia, expuseram o Santssimo Sacramento e, segundo as palavras do seubigrafo, Juliana morreu contemplando, com um ltimo arrebato de amor,Jesus Eucaristia, a quem sempre havia amado, honrado e adorado.

    Para a boa causa da festa do Corpus Domini, foi conquistado tambm Giacomo

    Pantalon de Troyes, que tinha conhecido a santa durante o seu ministrio deArquidicono em Lieja. Foi precisamente ele quem, ao tornar -se Papa com onome de Urbano IV, em 1264, quis instituir a solenidade do Corpus Dominicomo festa de preceito para a Igreja Universal, na quinta-feira depois doPentecostes. Na bula de instituio, intitulada Transiturus de hoc mundo (11 deAgosto de 1264), o Papa Urbano evoca tambm com discrio as experinciasmsticas de Juliana, respaldando a sua autenticidade, e escreve: "Ainda que aEucaristia seja solenemente celebrada todos os dias, consideramos justo que,ao menos uma vez por ano, se faa dela mais honrada e solene memria. As

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    demais coisas, de facto, das quais fazemos memria, ns apreendemo-las como esprito e com a mente, mas no obtemos por isso a sua presena real. Noentanto, nesta comemorao sacramental de Cristo, ainda que sob outraforma, Jesus Cristo est presente connosco na Sua prpria Substncia. Defacto, enquanto estava a ponto de ascender ao cu, disse: 'Eis que estouconvosco todos os dias, at o fim dos tempos' (Mt 28, 20) ".

    O prprio Pontfice quis dar exemplo, celebrando a solenidade do CorpusDomini em Orvieto, cidade em que ento residia. Precisamente por ordem sua,na Catedral da cidade conservava-se e conserva-se ainda hoje o clebrecorporal com as marcas do milagre eucarstico ocorrido no ano anterior, em1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o po e o vin ho, tevefortes dvidas sobre a presena real do Corpo e do Sangue de Cristo noSacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sanguecomearam a escorrer da Hstia consagrada, confirmando, dessa forma, o quea nossa f professa. Urbano IV pediu a um dos maiores telogos da histria,So Toms de Aquino que naquela poca acompanhava o Papa e seencontrava em Orvieto que compusesse os textos do ofcio litrgico desta

    grande festa. Tais textos, em uso ainda hoje na Igreja, so obras -primas nasquais se fundem teologia e poesia. So textos que fazem as cordas do coraovibrar, para expressar louvor e gratido ao Santssimo Sacramento, enquanto ainteligncia, adentrando-se com estupor no mistrio, reconhece na Eucaristia apresena viva e verdadeira de Jesus, do seu sacrifcio de amor que nosreconcilia com o Pai e nos d a salvao.

    Ainda que, aps a morte de Urbano IV, a celebrao da festa do CorpusDomini se tenha limitado a algumas regies da Frana, da Alemanha, daHungria e da Itlia Setentrional, o Papa Joo XII, em 1317, restaurou-a paratoda a Igreja. Desde ento, a festa teve um desenvolvimento maravilhoso eainda muito especial para o povo cristo.

    Eu gostaria de afirmar com alegria que hoje, na Igreja, h uma "PrimaveraEucarstica": quantas pessoas dedicam o seu tempo a estar diante doTabernculo, silenciosas, para desfrutar de um dilogo de amor com Jesus! consolador saber que muitos grupos de jovens redescobriram a beleza de rezarem adorao diante da Santssima Eucaristia.

    Rezo para que esta "Primavera Eucarstica" se difunda para vez mais em todasas parquias, em particular na Blgica, a ptria de Santa Juliana. O VenervelJoo Paulo II, na encclica Ecclesia de Eucharistia, constatava que, "em muitoslugares, dedicado amplo espao adorao do Santssimo Sacramento,

    tornando-se fonte inesgotvel de santidade. A devota participao dos fiis naprocisso eucarstica da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo uma graado Senhor que anualmente enche de alegria quantos nela participam. E maissinais positivos de f e de amor eucarsticos se poderiam mencionar" (n. 10).

    Recordando Santa Juliana de Cornillon, renovemos, tambm ns, a f napresena real de Cristo na Eucaristia. Como nos ensina o Compndio doCatecismo da Igreja Catlica, "Jesus Cristo est presente na Eucaristia dummodo nico e incomparvel. De facto, est presente de modo verdadeiro, real,

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    substancial: com o Seu Corpo e o Deu Sangue, com a Sua Alma e a SuaDivindade. Nela est presente em modo sacramental, isto , sob as espcieseucarsticas do po e do vinho, Cristo completo: Deus e homem" (Compndiodo Catecismo da Igreja Catlica, 282).

    Queridssimos amigos, a fidelidade ao encontro com o Cristo Eucarstico na

    Santa Missa dominical essencial para o caminho de f, mas tentemostambm visitar frequentemente o Senhor presente no Tabernculo!Contemplando, em adorao, a Hstia consagrada, encontramos o dom doamor de Deus, encontramos a Paixo e a Cruz de Jesus, assim como a SuaRessurreio. Precisamente por meio do nosso olhar em adorao, o Senhornos atrai a Si, dentro do Seu Mistrio, para transformar-nos como transforma opo e o vinho (cf. Bento XVI, homilia na Solenidade do Corpus Domini, 15 deJunho de 2006). Os santos receberam sempre fora, consolo e alegria noencontro eucarstico. Com as palavras do hino eucarstico Adoro te devote,repitamos diante do Senhor, presente no Santssimo Sacramento: "Fazei -mecrer cada vez mais em vs, que em Vs eu tenha esperana, que eu vosame!".

    Obrigado.

    [Traduo: Aline Banchieri.Libreria Editrice Vaticana]