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Atualização sobre a violência no trabalho Profª Andréa Maria Silveira UFMG

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Page 1: Atualização sobre a violência no trabalho€¦ · Passos: Consulta aos profissionais de saúde e segurança no trabalho e representantes dos trabalhadores. • Análise das estatísticas

Atualização sobre a violência no trabalho

Profª Andréa Maria Silveira

UFMG

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VIOLÊNCIAUso intencional de força física ou poder em ameaça ouato, contra si mesmo, outra pessoa, grupo oucomunidade que resulte ou tenha grandeprobabilidade de causar lesão morte, agravopsicológico, distúrbios de desenvolvimento ouprivação. (OMS)

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VIOLÊNCIA• Parte da experiência humana ao longo dos séculos.

• Existência de sistemas religiosos filosóficos, legais ecomunais para evitar ou limita-la nenhum com sucessocompleto.

• Desde década de 80 do século XX o campo da saúde temapresentado crescente interesse em entender as raízes daviolência para prevenir sua ocorrência.

• Violência é culturalmente determinada.

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� Problema crescente em todo o mundo

� Anos 90 OMS, OPAS e OIT reconhecem a violência como um

problema de saúde pública (taxas epidêmicas, alto custo para sistemas de saúde, obstáculo para oferta de serviços de saúde em comunidades pobres, causa de absenteísmo, adoecimento e turn over nas equipes).

� Brasil, explosão da violência nos anos 90 principalmente nos

grandes centros urbanos.

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Cenário brasileiro

•survey na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2007 apontou que 57% dos entrevistados na capital carioca temiam ser vítima de bala perdida, 43,5% temia estar no meio de um tiroteio, 34,7% ter a residência assaltada e 37% sentia-se inseguro em andar no próprio bairro a noite.

•Minas Gerais, survey sobre medo junto à população da região metropolitana de Belo Horizonte em 2009, revelou que 55% dos entrevistados tinham receio de ser vítima de homicídio no próximo ano

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Violência no trabalho

A violência no trabalho são todos os “incidentes nosquais as pessoas são ameaçadas, abusadas ouagredidas em circunstâncias relacionadas aotrabalhado, envolvendo desafio explicito ou implícitoda segurança, do bem estar e da saúde.”(EUROPEAN COMISSION SAFETY AND HEALTHAT WORK, 2009).

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Oliveira e Nunes (2008)

Violência nas relações de trabalho – autoritarismo, agressõesfísicas, repreensões, constrangimentos e humilhações desuperiores hierárquicos para com seus subordinados, visando adominação, exploração e opressão. Varia da violência física apsicológica.

Violência na organização do trabalho – resulta da forma comoo trabalho é organizado (divisão; ritmo, produtividade, modooperatório; contrato e jornada de trabalho; rotatividade;gestão de segurança e saúde etc.) coloca em situações de riscoà saúde os trabalhadores;

Violência nas condições de trabalho – resulta dainsalubridade e insegurança das condições de trabalho,

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Violência de resistência – resulta das reações dostrabalhadores às violências relacionadas ao trabalho, visandoamenizar os esforços no trabalho e torná-lo factível e, comoforma de manifestar a resistência ao poder e controlegerenciais;

Violência simbólica – se expressa no tratamento dostrabalhadores como indivíduos de segundo classe, seja pelaraça, etnia, grau de escolaridade e qualificação profissional,pela forma de inserção no mercado de trabalho etc.

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Quadro 1 : Tipologia da Violência no Trabalho

Tipo 1 – Violência intrusiva

• Ato criminoso da parte de terceiros

• Atos terroristas

• Agressão de indivíduos com doença mental ou sob o efeito de drogas

• Protesto violento

Tipo 2: Violência relacionada ao consumo

• Violência do consumidor/cliente/paciente/usuário contra membros da

equipe

• Trauma vicário da equipe

• Violência da equipe dirigida a clientes/consumidores

Tipo 3: Violência entre pessoas que mantém relação de convivência

• Violência entre membros da equipe de trabalho

• Violência doméstica que tem por cenário o local de trabalho

Tipo 4: Violência organizacional

• Violência da organização contra os trabalhadores

• Violência da organização contra consumidores/clientes e pacientes

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Violência no trabalho

• crescente ( atividades de maior risco: policiais,instituições correcionais e de segurança, profissõesligadas a serviços de saúde, vendas a varejo, educação,transporte)

• subnotificada

• naturalizada

• causa importante de adoecimento (síndrome de stress pós-traumático, depressão, pânico, ansiedade, insônia) ,traumas físicos

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Violência contra profissionais de saúde

Fatores de risco para violência no trabalho no setor: trabalhoque exige interação face a face, atitude inadequada doprofissional de saúde, localização geográfica dos serviços desaúde em regiões com elevados índices de violência, perfil daclientela (pacientes psiquiátricos, com demência, drogados epessoas envolvidas em criminalidade, pacientes idosos), demorano atendimento gerando frustração no usuário, pacientesestressados, com dor, agitados, situações em que devem sercomunicadas más notícias, número reduzido de trabalhadores,medo de desemprego e pressões psicológicas relacionadas aosnovos modelos de gestão Contrera-Moreno (2004)

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Violência na Escola

A violência vigente nos entornos da escola, outros a relacionamao processo de trabalho na escola e outros a mudançasculturais. Outra hipótese é que a necessária e desejávelmassificação da escola, permitiu o ingresso de estudantes comdistintas origens, valores e culturas o que, na ausência depreparo dos profissionais para lidar com as diferenças, gerouambiente de conflito e violência (CHRISPINO e SANTOS,2011). Deve-se lembrar também que o fenômeno da violência naescola tem expressão mundial, não constituindo particularidadedo contexto brasileiro (UNESCO, 2003; ABRAMOVAY, 2004,GALVÃO et al, 2010).

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Gasparini et. al (2006)

Estudo junto a 751 professores do ensino fundamental da redemunicipal de ensino da região nordeste de Belo Horizonte(MG), encontrou relato de episódios de agressão praticadospor funcionários ou outros professores em 15,3% dosentrevistados, 74% sofreram episódios envolvendo alunos;57,1% episódios envolvendo pais de alunos e 54,9% agressãopor pessoas externas à escola.

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O acidente de trânsito como expressão da violência que atinge trabalhadores

• Estima-se que a cada ano morram 1,3 milhão de pessoasvítimas de acidentes de trânsito em todo o mundo, 90% dasquais em países de baixa e média renda, a um custo estimadode US$ 500 bilhões (WHO, 2009).

•Na região das Américas os acidentes de trânsito constituema principal causa de morte para indivíduos entre cinco e 14anos e a segunda principal causa para indivíduos entre 15 e 44anos, matando a cada ano 130.000 pessoas.

•Das vítimas fatais na região, 39% são pedestres, ciclistas oumotociclistas e 47% ocupantes de veículos automotores. Noano 2006/2007, 5.054.980 de pessoas sofreram lesões nãofatais, o que equivale a 35,5 feridos para cada óbito (PAHO,2009).

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Suícidio e Trabalho

•Organização Mundial de Saúde (WHO, 2012)aproximadamente um milhão de pessoas suicida a cada ano, comuma taxa global de 16 suicídios por cada 100.000 habitantes.Esta taxa cresceu 60% nos últimos 45 anos.

•O suicídio está entre as 3 principais causas de morte entre os15-44 anos e em muitas nações é a segunda causa de morte nogrupo entre 10 e 24 anos.

•Estima-se que o número de tentativas de suicídio seja 20vezes superior ao número de suicídios consumados

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• Ocupações com altas taxas de suicídios incluem médicos(FRIEDNER et al 2009, PETERSEN e BURNETT 2008, JUELet al 2007, LINDEMAN et al 1997, MELEIRO 1998).

•Dentre os fatores que poderiam explicar maior taxa desuicídio entre esses profissionais pode-se citar: stress noexercício profissional, longas jornadas de trabalho, privação desono, contato intenso com dor, sofrimento e morte, incertezase limitação do conhecimento com medo de erro.

•Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO,2006) algunstrabalhadores da indústria química incluindo farmaceuticostambém teriam maior risco devido ao maior disponibilidade dedrogas e produtos químicos letais.

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•Trabalhadores rurais - altas taxas de depressão (porfatores ambientais e socioeconomicos e possivelmente porexposição a agrotóxicos), ambiente de trabalho de risco,stress devido as pressões econômicas, isolamento, acesso agrandes quantidades de pesticidas e pobre acesso a serviçosde urgência (HAWTON et al. 1999, DAS, 2011, PIRES et al2005).

• Policiais - Nos Estados Unidos a ocorrência de suicídiosentre policiais é três vezes maior do que na população geral.Depressão, stress pós-traumático, trabalho em turno eefeitos de traumas psicologicos, constituiriam possíveisexplicações para estes suicídios (OLIVEIRA e SANTOS,2010; VIOLANTI et. al 2008, HEM et al, 2004; FALK et al,2004, MINAYO, 2007).

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• Estados Unidos - 1 a 3% dos suícidios ocorrem no trabalho, o que significa uma taxa de 2,3 a 2,5 suicídios por milhão de trabalhadores. 90% dos suicidas são homens.

• Dejours e Bègue, (2010) , solidão, por alta competitividadeentre os trabalhadores, desconfiança mútua, vigilantismo, porprocessos individualizados de avaliação de desempenho e,busca incessante de padrões de qualidade, mesmo que aocusto do sacrifício da ética e da satisfação de necessidadespessoais, privilegiamento da identificação dos erros emdetrimento do reconhecimento dos acertos e da qualidade dotrabalho, a degradação da convivência coletiva, a solidão, osentimento de abandono e desamparo experimentados portrabalhadores neste cenário hostil seriam determinantes doscasos de suicídio no trabalho.

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Custos• Sistema de saúde

• Redução da qualidade de vida

• Aumento do absenteísmo

• Perda de produtividade

• Custos em segurança

• Perda de valor das instalações

• Prejuízos a imagem da empresa

• Perdas materiais

• Transmissão transgeracional da violência

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No Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(IPEA) estimou em 92,2 bilhões de reais, ou 5,09% doProduto Interno Bruto o custo total da violência em 2004(CERQUEIRA et al, 2007) em 9,1 bilhões .

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This graphic from the U.S. Bureau of Labor Statistics shows the breakdown of fatal workplace injuries in the U.S. in 2011.

Workplace violence accounted for nearly 17 percent of all fatal work injuries in 2011, according to these preliminary

findings.

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Características das circunstâncias relacionadas a episódios violentos

• portar ou guardar valores

• cuidado físico e emocional a outras pessoas

• interagir com pessoas sob estresse, alcoolizadas, drogadas, criminosos, portadoras de distúrbios psiquiátricos

• exercer controle físico ou disciplinar sobre outras pessoas

• exercer atividades na moradia dos clientes

• exercer funções de supervisão

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• exercer função de segurança

• trabalhar em instalações que permitem livre circulação de grande número de pessoas sem restrições

• trabalho em áreas mal iluminadas, áreas de difícil acesso

• falta de habilidade/treinamento para administrar mediar conflitos portar ou manusear armas de fogo

• trabalhar sozinho

• trabalhar a noite

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Prevenção1- Diagnóstico do Problema – Constitui o primeiro passo e

está dirigido para a identificação, mensuração e análise do risco.

Passos:Consulta aos profissionais de saúde e segurança no trabalho e

representantes dos trabalhadores.

• Análise das estatísticas • Censos ou surveys de vitimização • Revisão dos registros de absenteísmo• Revisão dos procedimentos internos de notificação de acidentes e violência

• Inspeções dos ambientes de trabalho visando identificar problemas na organização e processo de trabalho e no designambiental que favoreçam a ocorrência de episódios de violência.

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• Análise do Risco – 1- reunir informações sobre cada riscoidentificado, 2- estabelecer o risco de ocorrência de dano,considerando o número de pessoas expostas a cada risco e otempo de exposição, considerando as diferentes situaçõesque podem existir e amplificar o risco (OCCUPATIONALSAFETY AND HEALTH SERVICE. DEPARTMENT OFLABOUR, 1995; HSE, 2009)

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Sugestões para a Prevenção• buscar maior adequação entre demanda e oferta de serviços no caso dos

serviços públicos

• melhoria das instalações e da localização das unidades e da concepção dos postos de trabalho (iluminação, barreiras, CCTV, sistemas de alarme etc.)

• buscar estratégias mais eficientes de comunicação com o público interno das instituições de saúde e com os usuários

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• melhor capacitação de vigilantes e corpo técnico para administrar situações de conflito

• notificação e investigação sistemática dos episódios com penalização dos responsáveis

• garantir assistência ‘as vítimas dos episódios de violênciaimplementação de ações de saúde voltadas para fatores geradores de vulnerabilidadade social que favorecem ações violentas