atividades_de_edicao_e_revisao_de_texto.pdf
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COMO DEVOLVER AO TEXTO O QUE DO TEXTO?1
Ou da importncia de auxiliar o escritor iniciante a aplicar em atividades mais
complexas as regularidades aprendidas a respeito dos padres da escrita.
Maria Jos Nbrega
Papel, lpis na mo. Vencido o bloqueio da folha em branco, um texto
escrito em uma pgina algo para comear a trabalhar, aprimorar, corrigir.
Quantas vivncias com a linguagem escrita so necessrias para descobrir
essa maravilhosa possibilidade de, como diz Susan Sontag, escritora e
ensasta norte-americana, tentarmos ser nos textos que escrevemos mais
perspicazes. Ou mais profundos. Ou mais eloqentes. Ou mais excntricos .
Para as crianas e jovens que esto entrando no mundo da escrita,
reformular ou revisar o texto uma extravagncia. Nenhuma dessas
experincias pertence ordem do oral de onde eles vm.
Se quisermos formar escritores, preciso aceitar que faz parte da
aprendizagem de qualquer arte uma boa dose de tolerncia e de persistncia:
para quem ensina e para quem aprende. Suportar os sons desafinados que um
aprendiz arranca de um violoncelo o mnimo que podemos fazer; se
imaginarmos que gostaria de tocar como Yo Yo Ma, no deve ser nada fcil
tambm para o violoncelista-aprendiz. No toa que muitos desistem.
Escrever uma arte que requer exerccio, nas palavras do poeta Manuel de
Barros: Repetir - at ficar diferente. Repetir um dom do estilo.
1 O material integra o projeto APRENDER OS PADRES DA LINGUAGEM ESCRITA DE MODO
REFLEXIVO da SME-SP.
LucianaDestacar
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Um texto no papel. Por onde comear?
Leiamos o texto abaixo:
O fato da verso de Washington para a fbula A raposa e o corvo
apresentar muitas escritas desviantes exige do leitor-professor um alto grau de
cooperao, mesmo que possa se apoiar no enredo da fbula para construir a
interpretao.
Embora os contedos referentes aos padres da escrita e,
particularmente, ortografia sejam difceis de aprender, uma vez aprendidos,
facilitam enormemente a tarefa do leitor. Por essa razo, uma fantasia achar
que tudo seria mais simples se pudssemos escrever como falamos. Como h
grande variao entre os modos de falar a lngua, haveria tambm muitos
modos de escrev-la. A ortografia neutraliza a fala e facilita o acesso ao
contedo dos textos.
Confira a delcia que a escrita ortogrfica:
Texto do Washington revisado
Um dia um corvo achou um pedao de queijo. E olhou para
cima e viu um pssaro muito bonito e falou assim:
- Que pssaro bonito!
E respondeu o pssaro:
- Cro!
E saiu o pedao de queijo e a raposa pegou o queijo rpido
e raposa:
- Olha, c no...voc tem voz mas no tem sabedoria.
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Digitando o texto, as nicas palavras que o corretor ortogrfico do
processador acusa so cro, que interpretei como uma onomatopia para
imitar a voz do corvo e c, abreviao do pronome voc. Repare que agora
no h mais problemas de segmentao de palavras, de ortografia, de
acentuao, de concordncia, de pontuao. um texto correto, mas est
longe de ser um bom texto.
No h nenhuma dvida quanto ao fato de que Washington precisa
aprender a segmentar as palavras, a escrever sem tantos erros por
interferncia da fala ou por desconhecimento das regularidades contextuais.
Mas sabemos que no basta revisar preciso tambm editar o texto.
Para esse trabalho, no h como contar com o corretor ortogrfico, pois o que
est em jogo no mais o certo e o errado, mas as opes estilsticas que
aproximam o texto das expectativas socialmente construdas para o gnero a
que ele se filia.
Essa histria, porm, s comea se Washington encontrar algum que
consiga decifrar o que ele escreve, algum familiarizado com a escrita de
crianas e jovens recm-alfabetizados. No Ciclo II, so poucos os leitores
habilitados a ler textos como o de Washington. essa a nossa misso: nos
transformarmos nesses leitores.
Ler o texto de Washington revisado permite deslocar o foco para os
processos de edio do texto que vo possibilitar aproximar o que ele queria
dizer do que efetivamente disse e, assim, ajud-lo a se apropriar dos
mecanismos coesivos da linguagem escrita.
Observemos como possvel editar o texto de Washington, mantendo-
nos o mais prximo possvel do que ele pretendia dizer, usando apenas quatro
operaes de edio:
a. Acrscimos
Um dia um corvo achou um pedao de queijo. E olhou para cima e viu
um pssaro muito bonito e falou assim [...]
No trecho, perfeitamente legtimo interpretar que quem olhou para
cima foi o corvo, porque o autor no introduziu at esse momento nenhuma
outra personagem na histria. Como conhecemos a fbula, sabemos que quem
realiza essa ao a raposa. Washington precisa aprender que necessrio
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introduzir a segunda personagem da fbula, por exemplo: Uma raposa que
passava por ali olhou...
b. Substituio
Ao escrever, necessrio empregar, em algumas situaes, vocabulrio
mais preciso. Por exemplo, em E saiu o pedao de queijo, parece mais
adequado usar caiu ou deixou cair: E deixou cair o pedao de queijo.
c. Eliminao
importante tambm cortar passagens redundantes, como E saiu o
pedao de queijo e a raposa pegou o queijo rpido que poderia ser
reformulado para: E deixou cair o pedao de queijo que a raposa pegou
rpido.
d. Inverso
Escolher qual a melhor ordem para as palavras no texto uma operao
de edio que j parece sensibilizar Washington. Na passagem Olha, c
no...voc tem voz mas no tem sabedoria, o estudante deixa no papel
indcios de uma outra redao que descartou: Olha, voc no tem sabedoria,
mas tem voz. Preferiu Olha, voc tem voz, mas no tem sabedoria. A opo
escolhida por ele muito mais interessante, j que a conjuno mas imprime
maior fora argumentativa ao segundo elemento.
Compare a verso revisada com a editada:
Texto revisado
Um dia um corvo achou um
pedao de queijo. E olhou para cima e
viu um pssaro muito bonito e falou
assim:
- Que pssaro bonito!
E respondeu o pssaro:
- Cro!
E saiu o pedao de queijo e a
raposa pegou o queijo rpido e
raposa:
- Olha, c no...voc tem voz
Texto editado
Um dia um corvo achou um
pedao de queijo. Uma raposa que
passava por ali olhou para cima e viu
o pssaro muito bonito e falou assim:
- Que pssaro bonito!
Ele respondeu o pssaro:
- Cro!
E deixou cair o pedao de
queijo que a raposa pegou rpido:
- Olha, voc tem voz, mas no
tem sabedoria.
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mas no tem sabedoria.
Mesmo depois de editado, o texto de Washington ainda poderia ser
melhorado. Quando estiver estudando fbulas, por exemplo, ele vai poder
aprender como variar os verbos de dizer, com que palavras e expresses
indicar a passagem do tempo etc.
O trabalho que desenvolvemos tem como objetivo a reviso e a edio
tal como apresentamos acima. Se Washington aprender a escrever assim, seu
texto exigir menor esforo de decifrao o que, certamente, permitir que nas
aulas de Cincias, Histria, Geografia seus textos possam ser lidos e
analisados.
Algumas dicas para planejar atividades de reviso e edio de textos
Aprender a escrever pressupe, claro, o exerccio da escrita: escrever,
reescrever... Mas aprender a escrever pressupe tambm leitores generosos
dispostos a ler o que escrevemos, a dar palpites e sugestes. No basta
apenas que os alunos escrevam sem que seus textos sejam lidos.
Mas, ainda que, nas aulas de portugus, se venha ampliando a
freqncia da produo de textos com propsitos claramente definidos em que
ocorra circulao entre leitores fora dos muros da escola, ainda o professor
quem normalmente tem a tarefa de ler e de corrigir redaes. Tarefa to
penosa e desgastante que acaba fazendo com que os professores reduzam o
volume de propostas de escrita apresentado aos alunos.
Ainda que de modo obsessivo, o professor corrija sempre todas as
redaes, normalmente os comentrios que faz redundam em pouca
aprendizagem: os erros persistem e reaparecem no texto seguinte. Como
proceder ento?
Sabe-se que apenas o estudo dos tpicos referentes aos padres da
linguagem escrita no garante que o estudante possa se apropriar deles na
produo ou mesmo na reviso e edio de textos. Por essa razo,
importante planejar situaes didticas que auxiliem os alunos a investirem os
contedos estudados em atividades mais complexas a produo e a reviso
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ou a edio de textos de modo a auxili-los a superar os problemas que
enfrentam ao escrever.
Tanto os procedimentos de reviso como os de edio comeam de
maneira externa, atravs da mediao do professor que elabora os
instrumentos que permitem que os estudantes apliquem os contedos que
esto estudando.
Em funo da complexidade da tarefa, pouco produtivo explorar todos
os aspectos a cada vez. Assim, para que o aluno possa aprender com a
experincia, importante selecionar alguns, propondo questes que orientem o
trabalho. A reviso exaustiva deve ser reservada apenas para situaes em
que a produo do texto esteja articulada a algum projeto que implique sua
circulao.
Nossa sugesto que o professor organize uma atividade permanente
de produo de textos: um a cada quinze dias, por exemplo. No necessrio
elaborar novas propostas, voc pode aproveitar as sugestes que o livro
didtico apresenta. Antes que termine de calcular o nmero de redaes a
corrigir, acalme-se e veja o que temos a propor: pare de corrigir e apenas leia
os textos com o propsito de identificar os problemas mais recorrentes tanto
em relao aos padres da escrita (reviso) como em relao aos aspectos
referentes coeso textual (edio).
Vamos descrio da proposta passo a passo:
1. Os alunos redigem o texto a partir da proposta apresentada por voc.
2. Separe o momento da produo do momento da reviso ou da edio do
texto. Esse cuidado permite que o estudante se distancie de seu prprio
texto, de maneira a poder atuar criticamente sobre ele.
3. Proponha que os alunos faam a reviso do texto usando uma caneta de
outra cor. Esse procedimento permite que, quando voc for ler, possa
perceber o que eles no conseguiram acertar durante a elaborao do
texto, mas j foram capazes de modificar, quando releram o prprio texto
para revisar.
4. O que os alunos erraram na primeira verso, mas j foram capazes de
revisar no nos deve preocupar: eles j aprenderam. Lembre-se de que s
erra quem escreve. O processo de produo de textos mobiliza muitos
saberes e coordenar todos no fcil. Por essa razo, at mesmo os
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escritores profissionais contam com o servio de preparadores de texto, de
revisores etc.
5. Leia os textos dos alunos e preocupe-se apenas com o que eles no
conseguiram perceber na reviso autnoma. Elabore, a cada vez, uma
pequena pauta dois ou trs itens no mximo com aspectos a serem
observados pelos alunos em uma segunda proposta de reviso, esta
mediada pela leitura do professor. Se quiser, promova antes um pequeno
aquecimento: selecione um dos textos produzidos pela turma, que seja
representativo das dificuldades coletivas para discusso dos aspectos
priorizados e encaminhamento de solues. Apresente o texto para leitura,
transcrevendo-o na lousa, reproduzindo-o em papel ou em transparncias
ou na tela do computador. Se os aspectos selecionados envolverem
contedos ligados ortografia, por exemplo, apresente o texto segmentado
em frases e pargrafos, pontuado corretamente o que facilita o trabalho,
pois concentra a ateno dos alunos nos temas propostos. Nesta etapa,
importante assegurar que a turma possa ter acesso a dicionrios e outros
textos.
6. Quando os alunos j tiverem realizado bom nmero de prticas de reviso e
de edio coletivas, o professor pode, gradativamente, ampliar o grau de
complexidade da tarefa, propondo sua realizao em duplas, em pequenos
grupos, encaminhando-os para a autocorreo.
7. Da mesma forma que procuramos simplificar o trabalho do professor para
tornar possvel aumentar o volume de atividades de escrita, importante
tambm pensar em como facilitar o trabalho do aluno. Se ele tiver que
passar a limpo o texto aps cada uma das duas atividades de reviso e de
edio, j sabemos o que vai acontecer: os textos vo ficar cada vez curtos
e burocrticos. O propsito envolv-los nas atividades de reviso e edio
sem fatig-los com a tarefa de passar a limpo as vrias verses.
Algumas dicas para facilitar o trabalho:
a. Prepare uma folha em que haja um espaamento maior entre as linhas
para que seja possvel sobrepor as alteraes necessrias. Uma outra
opo usar as folhas do prprio caderno, mas pulando linhas.
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b. Solicite aos estudantes para que no escrevam no verso da folha, assim,
caso haja um trecho que desejem alterar, vo poder recortar e colar os
outros que esto bons e poupar trabalho.
8. Ao organizar as atividades de reviso ou de edio em duplas, possvel
ainda usar esse trabalho como forma de planejar o trabalho em torno de
dvidas mais particulares: como em uma oficina, cada grupo trabalharia em
torno de questes especficas.
Para que esse trabalho seja produtivo, fundamental que o professor
tenha constitudo vnculos de confiana com o grupo e um ambiente de
acolhimento, de maneira a no provocar estigmas e constrangimentos.
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Algumas dicas para planejar atividades de reviso e edio de textos sem
perder a avaliao individual da produo escrita de cada estudante.
Vamos recapitular os passos apresentados anteriormente para facilitar a
compreenso de como funciona o modelo em que tambm possvel um
acompanhamento mais pessoal:
Produo do texto
Reviso / edio autnoma
Leitura do professor [Elaborao de atividades de aquecimento para a reviso mediada] Elaborao da pauta de reviso / edio coletiva.
Reviso / edio mediada [coletiva,
em duplas, individual] com pauta coletiva
O estudante produz o texto.
Em uma outra aula, rev ou edita o prprio texto, sem nenhuma orientao.
O professor l os textos da turma j revisados ou editados por eles e prepara a pauta de reviso / edio coletiva. Se considerar necessrio, pode preparar alguma atividade para desenvolver as ferramentas necessrias para o trabalho que precisam fazer. interessante, no incio, selecionar um texto representativo dos problemas da turma para promover uma reviso ou edio coletiva cujo propsito repertoriar os estudantes dos procedimentos envolvidos nessas atividades.
Os alunos realizam a segunda reviso / edio, observando os aspectos apontados pelo professor.
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Em itlico, na tabela abaixo, os acrscimos que permitem acompanhar
os estudantes individualmente.
Produo do texto
Reviso / edio
autnoma
Leitura do professor [Elaborao de atividades de aquecimento para a reviso / edio mediada] Elaborao da pauta de reviso / edio coletiva. Leitura do professor de uma amostra de x alunos. Elaborao de pauta personalizada.
Reviso / edio mediada [coletiva, em duplas, individual] com pauta coletiva Reviso / edio mediada com pauta personalizada
Produo de verso final do texto aps a segunda reviso / edio Estudantes que revisaram e editaram o texto a partir da pauta personalizada passam o texto a limpo.
Releitura do professor do texto revisado / editado pelos estudantes da amostra.
Quando for ler a produo da turma, o professor seleciona alguns textos
para ler e elaborar uma pauta de reviso e de edio que atenda mais
especificamente as necessidades pessoais daqueles estudantes que podem ter
problemas distintos dos identificados na maioria dos estudantes: ou porque no
aprenderam os contedos que a maioria j aprendeu, ou, ainda, porque
superaram os problemas identificados na maioria da turma estando aptos,
portanto, para observar outros aspectos em seu texto. Organizando o trabalho,
ao final de um bimestre, os estudantes teriam produzido quatro textos, passado
a limpo apenas um que seria objeto de uma segunda leitura do professor. Por
sua vez, o professor teria lido quatro redaes de cada aluno, mas corrigido
apenas uma. No anexo 01, apresentamos uma tabela para acompanhamento
do trabalho com a atividade permanente de produo de texto.
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Anexo 01
TABELA PARA ACOMPANHAMENTO DA ATIVIDADE PERMANENTE DE
PRODUO DE TEXTO Alunos Texto 1 Texto 2 Texto 3 Texto 4
Coletiva Individual Coletiva Individual Coletiva Individual Coletiva Individual
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. Observao: os espaos em branco correspondem aos alunos que faro a reviso / edio com pauta coletiva ou personalizada.