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1 Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC como requisito parcial para obtenção do Título de Engenheiro Civil __________________________________________________________________________________________ 1 UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense 2019/01 Atividades pozolânicas do resíduo de esmalte cerâmico (REC) Bruna Hobold da Rosa (1), Elaine Guglielmi Pavei Antunes (2) UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense (1)[email protected], (2)[email protected] Resumo: A indústria da construção civil é uma grande consumidora de recursos naturais, principalmente na produção de cimento, um dos materiais mais utilizados no mundo atualmente. Encontrar alternativas que possam substituir o cimento Portland e que tenha uma diminuição na sua utilização irá beneficiar o meio ambiente, mas essas substituições devem ser feitas sem que ocorra diminuição na resistência e nem na durabilidade do cimento. Neste trabalho estuda-se a utilização do resíduo de esmalte cerâmico como um material pozolânico, para tanto, verifica-se o atendimento dos requisitos mínimos propostos pela NBR 12653:2014 e NBR 15895:2010. Pozolanas são materiais silicosos e silicoaluminosos que detêm pouca ou nenhuma atividade aglomerante, contudo, depois de serem finamente divididos e na presença de água irão reagir com o hidróxido de cálcio para formar compostos com características aglomerantes. Os resultados indicam que alguns requisitos da NBR 12653:2014 não foram atendidos, o REC atende o valor mínimo de material retido na peneira 45 μm, mas nos ensaios Índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias e Atividade pozolânica com cal aos setes dias os valores mínimos da carga de ruptura á compressão não foram atendidos. O ensaio do método Chapelle modificado mostrou que o resíduo estudado possui uma baixa atividade pozolânica, fazendo assim com que o resíduo de esmalte cerâmico não seja recomendado para substituição do cimento Portland. Palavras-chave: resíduo de esmalte cerâmico (REC); material pozolânico; Material Cimentício Suplementar (SCM). Pozzolanic activities of ceramic glaze residue (CGR) Abstract: The civil construction industry is a big consumer of natural resources, especially in the production of cement, one of the materials most used in the world nowadays. Find alternatives that can replace the cement Portland to decrease its use, will benefit the environment, but these replaces must be done without occurring decrease in strength and durability of the cement. In this paper we study the use of ceramic glaze residue as a pozzolan material, therefore, we verify if there are the minimum requirements purpose by NBR 12653:2014 and NBR 15895:2010. Pozzolans are siliceous and silicoaluminum materials that hold little or no binder activity, however, after being finally divided and in the presence of water will react with calcium hydroxide to form compounds with binder features. The results indicate that some requirements of NBR12653:2014 were not served the REC serve the minimum value of material retained in the sieve 45 μm, but in the essay index development with the Portland cement in 28 days and pozzolan activity with lime in seven days the minimum values of the rupture charge to compressive were not served. The essays of the

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Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC –

como requisito parcial para obtenção do Título de Engenheiro Civil

__________________________________________________________________________________________

1

UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense – 2019/01

Atividades pozolânicas do resíduo de esmalte cerâmico (REC)

Bruna Hobold da Rosa (1), Elaine Guglielmi Pavei Antunes (2)

UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense

(1)[email protected], (2)[email protected]

Resumo: A indústria da construção civil é uma grande consumidora de recursos naturais,

principalmente na produção de cimento, um dos materiais mais utilizados no mundo

atualmente. Encontrar alternativas que possam substituir o cimento Portland e que tenha uma

diminuição na sua utilização irá beneficiar o meio ambiente, mas essas substituições devem

ser feitas sem que ocorra diminuição na resistência e nem na durabilidade do cimento. Neste

trabalho estuda-se a utilização do resíduo de esmalte cerâmico como um material pozolânico,

para tanto, verifica-se o atendimento dos requisitos mínimos propostos pela NBR 12653:2014

e NBR 15895:2010. Pozolanas são materiais silicosos e silicoaluminosos que detêm pouca ou

nenhuma atividade aglomerante, contudo, depois de serem finamente divididos e na presença

de água irão reagir com o hidróxido de cálcio para formar compostos com características

aglomerantes. Os resultados indicam que alguns requisitos da NBR 12653:2014 não foram

atendidos, o REC atende o valor mínimo de material retido na peneira 45 µm, mas nos ensaios

Índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias e Atividade pozolânica com cal aos

setes dias os valores mínimos da carga de ruptura á compressão não foram atendidos. O

ensaio do método Chapelle modificado mostrou que o resíduo estudado possui uma baixa

atividade pozolânica, fazendo assim com que o resíduo de esmalte cerâmico não seja

recomendado para substituição do cimento Portland.

Palavras-chave: resíduo de esmalte cerâmico (REC); material pozolânico; Material

Cimentício Suplementar (SCM).

Pozzolanic activities of ceramic glaze residue (CGR)

Abstract: The civil construction industry is a big consumer of natural resources, especially

in the production of cement, one of the materials most used in the world nowadays. Find

alternatives that can replace the cement Portland to decrease its use, will benefit the

environment, but these replaces must be done without occurring decrease in strength and

durability of the cement. In this paper we study the use of ceramic glaze residue as a pozzolan

material, therefore, we verify if there are the minimum requirements purpose by NBR

12653:2014 and NBR 15895:2010. Pozzolans are siliceous and silicoaluminum materials that

hold little or no binder activity, however, after being finally divided and in the presence of

water will react with calcium hydroxide to form compounds with binder features. The results

indicate that some requirements of NBR12653:2014 were not served the REC serve the

minimum value of material retained in the sieve 45 µm, but in the essay index development

with the Portland cement in 28 days and pozzolan activity with lime in seven days the

minimum values of the rupture charge to compressive were not served. The essays of the

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modified Chapelle method showed that the residue studied has a low pozzolan activity, make

the ceramic glaze residue do not be recommended to replace of Portland cement

Key-words: ceramic glaze residue; pozzolanic material; Supplementary cementitious

materials (SCMs)

Introdução

De acordo com Borges (2014) o cimento Portland é o material mais utilizado na

construção civil, ele é necessário na formação de concretos e argamassas. Por ser altamente

necessário ele possui um alto nível de produção, o que gera uma grande demanda por insumos

básicos, com ênfases nas matérias primas minerais (SALES; ALFERES FILHO, 2014). Este

cenário faz com que se intensifique a necessidade de substituir esses recursos naturais por

materiais cimentícios suplementares (SCMs) na produção no cimento Portland.

Os materiais cimentícios suplementares (SCMs) são comumente usados como

substituto de uma fração de clínquer na fabricação de cimento ou como uma substituição de

uma parcela de cimento em concretos e/ou argamassa. O emprego dos materiais cimentícios

suplementares resultam em um menor custo e impacto ambiental que estão ligados à

fabricação do cimento, além de alcançar uma maior resistência e durabilidade. Esses materiais

podem ser cinza volante, escória granulada de alto forno, sílica ativa, argilas calcinadas e

pozolanas. O uso de SCMs esta em ascensão no mundo, de 2003 para 2010 a porcentagem

média de clínquer no cimento diminuiu de 85% para 77% (JUENGER; SIDDIQUE, 2015).

De acordo com Oliveira (2010) as pozolanas são materiais que podem ser de origem

natural ou artificial que deve conter sílica em forma reativa. São materiais silicosos que tem

pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas que, pulverizadas e em presença de umidade,

reagem com o hidróxido de cálcio (Portlandita) – produto consequente das reações de

hidratação do clínquer Portland – para produzir silicatos de cálcio hidratados, que são

responsáveis pela resistência mecânica no cimento (PICANCO; ANGELICA; BARATA,

2012).

O forte crescimento no setor industrial conduziu como consequência uma grande

geração de resíduos resultantes dos processos de produção, a preocupação da disposição

desses resíduos está em grande desenvolvimento, já que nem sempre ela respeita os princípios

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de preservação ambiental (SALES; ALFERES FILHO, 2014). Um setor industrial de

revestimentos cerâmicos se destaca devido ao seu grande crescimento.

O Brasil é o terceiro maior produtor e consumidor de revestimentos cerâmicos, em

2017 as vendas totais alcançaram 775 milhões de metros quadrados, sendo que 90 milhões

foram destinados ao mercado externo. Esse setor é um grande polo, com maior concentração

nas regiões sudeste e sul (ANFACER, 2018).

O revestimento cerâmico é composto, tradicionalmente, por três camadas distintas: o

suporte cerâmico, o engobe e o esmalte (DAL BO, 2012). De acordo com Schabbach (2013) o

esmalte cerâmico tem a função de proteger o revestimento, fazendo com que ele fique á prova

d´água e que torne mais fácil a remoção de qualquer substância que possa causar sujeira e

mancha, além da função estética, tendo em vista que ele pode proporcionar uma superfície

brilhante e colorida. A suspensão do esmalte é composta de diferentes tipos de matérias

primas, tais quais, óxidos, pigmentos, feldpatos e fritas. A fração vítrea do esmalte que são

obtidas a partir de silicatos e carbonatos que são fundidos e rapidamente resfriados em água.

O resíduo de esmalte cerâmico (REC) corresponde à camada vítrea que recobre as placas

cerâmicas, essa camada é obtida pela fusão de vidro em pó, com temperaturas entre 750 a 850

ºC, ele é fundido, escorre e endurece para formar o revestimento vítreo do corpo cerâmico

(SCHABBACH, 2013).

A expansão da indústria de colorifícios está diretamente ligada à indústria de

revestimentos cerâmicos que é a maior consumidora de fritas e derivados. No Brasil, a frita é

o principal produto da indústria de colorifícios, ela pode ser comercializada in natura ou

incorporada com outras matérias-primas naturais ou sintéticas, formando composições de

esmaltes, engobes, granilhas e tintas serigráficas. O Brasil possui cerca de 20 empresas

produtores de frita, com dois grandes polos nacionais, no interior de São Paulo e no interior

de Santa Catarina (PEREIRA et al., 2016.).

De acordo Pereira et al. (2016) os resíduos gerados pela indústria de colorifícios se

enquadram na classe I, dos perigosos de acordo com a NBR 10004:2004 que denomina a

classificação dos resíduos sólidos, por possuir alguns metais pesados. A reciclagem desse

resíduo pode gerar uma economia de matérias-primas brutas e minimizar a poluição ambiental

provocado pela produção, fazendo assim com que seja muito importante a busca de diferentes

métodos para reaproveitamento destes resíduos.

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Carradore (2017) analisou as propriedades mecânicas do concreto feito com

substituição e adição parcial do cimento Portland por resíduo de esmalte cerâmico (REC). O

estudo fez um traço referência que atingiu uma resistência de 50 MPa e a partir desse traço foi

feito a substituição parcial de 5, 10 e 15% e adição de 5% em relação a massa de cimento

empregada no traço, foi feito os ensaios de resistência à compressão axial, resistência à tração

por compressão diametral e módulo de elasticidade. O concreto feito com o traço de 5% de

substituição pelo REC apresentou o melhor desempenho em comparação ao traço referência.

Gonçalves (2017) verificou as propriedades do concreto aos 14 e 28 dias feito com

85% de cimento Portland CP IV e 15% de resíduo de esmalte cerâmico (REC) e comparou

com concreto referência. O estudo também apresentou diferentes métodos de cura (úmida,

química, térmica e ao ar) a fim de perceber o efeito dos processos de cura nas características

do concreto. Não foi observada uma significante redução da resistência mecânica e

durabilidade no concreto feito com substituição de REC, indicando a viabilidade da sua

aplicação.

Neste contexto a presente pesquisa tem como objetivo analisar o desempenho da

atividade pozolânica do resíduo de esmalte cerâmico (REC) através das diretrizes

preconizadas pela NBR 12653:2014.

Materiais e métodos

O presente trabalho estudou a quantidade de atividade pozolânica do resíduo de

esmalte cerâmico e consecutivamente avaliou e analisou os resultados obtidos.

Ele se divide em três etapas, a primeira etapa consistiu em coletar o resíduo

diretamente da indústria de esmalte cerâmico e fazer a revisão bibliográfica sobre o resíduo

usado e outras pesquisas relacionadas. Na segunda e terceira etapa foi feito a caracterização

físico-química e resistência mecânica respectivamente.

Na etapa final os resultados foram analisados e discutidos. No fluxograma da Figura

01 são exibidas as etapas do procedimento experimental.

O resíduo REC utilizado nesta pesquisa é proveniente das indústrias de colorifícios da

região sul de Santa Catarina, originário de esmaltes que não alcançaram os padrões de

qualidade da empresa (cor, granulometria).

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Figura 1. Fluxograma de metodologia.

Para a caracterização do REC foi feito a análise química, por meio do espectrômetro

de raios X da marca Panalytical, modelo Axios Max e os ensaios de difração de raios-x

(DRX), através do difratômetro Shimadzu, modelo XRD 6000, utilizando radiação Cu Kα

com comprimento de onda λ = 1.5418 Ǻ. O DRX foi realizado em um intervalo de angular de

varredura em 2θ entre 3º e 80º e passo de 2º por minuto. A tensão e corrente usadas no ensaio

foram de 25 kV e 25 mA.

A caracterização de seu potencial pozolânico deve atender as indicações da NBR

12653:2014 que determina os requisitos para materiais pozolânicos destinados ao uso com

cimento Portland em concreto, argamassa e pasta.

O ensaio de determinação do índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias

foi feito de acordo com a NBR 5752:2014, a norma indica a substituição de 25% de cimento

Portland por resíduo. A fim de complementar o estudo testou-se a substituição de 5,10 e 15%

de cimento Portland por REC. Os corpos de prova foram capeados e ensaiados na prensa

EMIC PC200CS com velocidade de ensaio de 0,5 MPa s-1. Foi feito o ensaio de atividade

pozolânica com cal aos sete dias seguindo o procedimento da NBR 5721:2015, foi usada a

prensa DL 2000.

Procedimento inicial

• Obtenção do resíduo

Caracterização do resíduo

• Análise granulométrica

• DRX

• FRX

Caracterização da atividade pozolânica

• Atividade pozolânica com cal aos sete dias

• Índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias

• Determinação do teor de hidróxido de cálcio fixado - Método

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O ensaio Chapelle modificado determina o índice de atividade pozolânica do REC

através da determinação do teor do hidróxido de cálcio fixado, o ensaio foi feito de acordo

com NBR 15895:2010.

Figura 2. Ensaio Chapelle modificado: (a) tetraborato de sódio recristalizado, (b) padronização do ácido

clorídrico, (c) ponto de viragem da solução final.

Resultados e discussões

Os resultados obtidos foram apresentados e discutidos, com o intuito de analisar as

características pozolânicas do REC para avaliar sua possível substituição parcial por cimento

Portland. O ensaio de compressão foi analisado por meio do método de análise de variância

(ANOVA) com 95% de confiabilidade. Todos os demais resultados foram interpretados de

forma comparativa e qualitativa. A Figura 3 refere-se à curva de distribuição dos tamanhos de

partículas do REC.

Figura 3. Curvas de distribuição de tamanho de partículas do REC.

(a) (b) (c)

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A NBR 12653:2014 define que o limite mínimo de finura para materiais pozolânicos,

o percentual máximo retido na peneira 45 µm deve ser inferior a 20%, através da analise

granulométrica do REC é visto que a amostra possui 100% de material passante na referida

peneira, portanto o REC atende o requisito.

Por meio da análise granulométrica obteve-se que 10% das partículas do resíduo

possuem granulometria menor que 1,85 µm, que 50% das partículas são menores que 7,99 µm

e 90% são inferiores de 16,54 µm. A média de diâmetro das partículas foi 8,63 µm.

No estudo de Gonçalves (2017) e no de Carradore (2017) o resíduo estudado possui

mais de 90% dos seus grãos inferiores a 31,34 µm, 50% são menores que 10,13 µm e 10% das

partículas possuíram menos de 1,91 µm e o diâmetro médio é de 13,59 µm. Na comparação

entre os dois resíduos, o resíduo coletado neste estudo é ligeiramente mais fino, contudo

ambos atendem a NBR 12653:2014.

A composição química do REC é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição química do REC obtida por FRX.

Análise química realizada em novembro

Elementos Teor (%) Elementos Teor (%)

SiO2 56,46 K2O 2,76

TiO2 0,58 P2O5 0,49

Al2O3 8,92 ZrO2 2,43

Fe2O3 0,14 BaO 2,01

MgO 1,73 ZnO 5,51

CaO 10,52 HfO2 0,05

Na2O 1,97 Perda Fogo 4,5

De acordo com a NBR 12653:2014 o REC deve estar em conformidade com os

requisitos mínimos apresentados pela norma. Para o resíduo estudado pertencer a classe N e C

o SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 ≥ 70% e para ele ser de classe E o SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 ≥ 50%. O

REC atingiu um resultado de 65,52% atendendo a apenas a classe E, que se denominam

quaisquer pozolanas, não contempladas nas classes N e C, que obedeçam aos requisitos desta

norma, o que já demonstra uma baixa atividade pozolânica no resíduo.

Para a categoria perda ao fogo, citada na norma, o resíduo atinge um resultado de

4,5%. A norma estabelece que para pertencer a classe C e E a perda ao fogo deve ser ≤ 6% e

para classe N ser menor ou igual a 10%, sendo assim o REC atendeu a todas as classes nesse

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requisito. A quantidade de umidade e o composto químico SO3, não estão exibidos na análise

química, já que não há esses compostos no material, a norma cita um teor de umidade ≤ 3% e

SO3 ≤ 5%, o resíduo atende todas as classes nesses dois requisitos.

Em relação aos álcalis disponíveis em Na2O, o resíduo possui 1,97% não atendendo o

requisito exigido de ≤1,5%. Esse limite é imposto devido à reação álcali-agregado (RAA), um

processo de deterioração do concreto endurecido. Sabe-se de três tipos de RAA: reação álcali-

carbonato, álcali-sílica e álcali-silicato. A reação álcali-sílica abrange cátions alcalinos e os

íons hidroxilas que estão presentes nas soluções dos poros do concreto e algumas formas de

sílica, metaestáveis ou tensionadas, existente ocasionalmente nos agregados. Ela pode causar

expansões volumétricas, fissurações, perda de resistência e em casos extremos, a completa

deterioração do concreto. (ZAMBOTTO, 2014).

No difratrômetro de raio X do REC foi encontrado quatro fases cristalinas. Uma fase

cristalina é constituída de óxido de silício (Quartzo), outra de carbonato de cálcio (calcita),

uma terceira de silicato de cálcio (Wollastonita) e uma última fase cristalina de óxido de

zinco. Através da analise da Figura 4, percebe-se que o REC não apresenta expressivas

regiões amorfas, pode-se concluir que o material possui pouca ou nenhuma característica

amórfica.

Figura 4. Difratograma de raios X (DRX) do REC.

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De acordo com Hoppe Filho (2016) a existência de uma banda difusa caracteriza a

existência de estrutura amorfa, portanto sujeita a atividade pozolânica, o que não acontece no

resíduo estudado.

Com os resultados obtidos com o ensaio de acordo com a NBR 5751:2015 verificou-se

que a argamassa feita com REC não atendeu a especificação normativa da NBR 12653:2014

para atividade pozolânica com cal aos sete dias de 6 MPa. O resíduo estudado obteve uma

resistência média de 0,1894 MPa com um desvio padrão de 0,02. No estudo de Carradore

(2017) o valor médio de resistência à compressão foi de 0,29 MPa.

Seguindo as diretrizes conforme a NBR 5752:2014 foi feito uma argamassa com 25%

de substituição de cimento Portland por REC e observou-se que os corpos de prova estavam

parcialmente dissolvidos após 12 h de imersão, conforme pode ser visualizado na Figura 5.

Neste contexto foi feito o mesmo ensaio com diferentes porcentagens de substituição. A

argamassa com substituição de REC de 15% apresentou o mesmo comportamento da

argamassa com 25%.

F

I

g

Figura 5. Argamassas: (a) Argamassa com substituição de 25% de cimento Portland por REC, (b)

Argamassa com substituição de 15% de cimento Portland por REC.

A argamassa com adição de 5% de REC em substituição de cimento atingiu uma

resistência de 82,60% em relação à argamassa de referência e argamassa com adição de 10%

de REC em substituição de cimento atingiu uma resistência média de 64,75% em comparação

à argamassa referência. A norma determina que a argamassa com 25% de substituição de

REC deve alcançar 90% da resistência média da argamassa de referência.

(a) (b)

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Tabela 2. Argamassa com 5% de substituição.

Tabela 2. Argamassa com 10% de substituição.

Figura 6. Resistência à compressão das argamassas de acordo com a NBR 5752:2014.

Gonçalves (2017) e Carradore (2017) em seu estudo com o REC foram capazes de

realizar o ensaio com a substituição de 25% de REC que alcançou uma resistência de 84,57%

em comparação a argamassa referência. Essa distinção de resultados no ensaio pode ter

acontecido pela diferença da composição química dos resíduos de esmalte cerâmico, tendo em

vista que os mesmos foram obtidos em diferentes locais. Carradore (2017) realizou os ensaios

de resistência à compressão axial em corpos de prova feitos de concreto com diferentes

0

5

10

15

20

25

30

35

Arg - 10 Arg - 5 Ref

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cia

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ão (

MP

a)IA

P c

om

cim

en

to P

ort

lan

d

Argamassas

Valor mínimo (90% daargamassa referência)

Amostra Resistência à

compressão em MPa Amostra

Resistência à

compressão em MPa

CP - 1 22,89 CP - 4 15,15

CP - 2 22,14 CP - 5 23,78

CP - 3 24,42 CP - 6 21,28

Amostra Resistência à

compressão em MPa Amostra

Resistência à

compressão em MPa

CP - 1 18,49 CP - 4 13,70

CP - 2 19,87 CP - 5 16,47

CP - 3 21,26 CP - 6 24,20

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porcentagens de substituição de cimento Portland por REC, a mistura de concreto com

substituição de 5% foi a que apresentou melhores resultados, com um acréscimo de 1,5% de

resistência, em comparação ao traço de concreto de referência.

Pelo ensaio do método Chapelle modificado feito pela norma NBR 15895:2010

verificou-se que o resíduo possui baixa reatividade. Raverdy et al. (1980) estabelece que o

consumo mínimo é de 330 mg CaO g-1 de material (equivalente a 436 mg Ca(OH)2 g-1 de

material), o REC apresenta um índice de atividade pozolânica Chapelle de 107,38 mg

Ca(OH)2 g-1 de resíduo, abaixo do mínimo.

Conclusão

O presente artigo buscou analisar as características pozolânicas do resíduo de esmalte

cerâmico, utilizando a NBR 12653:2014 e a NBR 15895:2010, o REC não cumpriu os seus

respectivos requisitos mínimos. A NBR 12653:2014 determina que o resíduo deve possuir no

máximo 20% de amostra retida na peneira 45 µm, o REC possui 100% de partículas

passantes. A média de diâmetro das partículas foi 8,63 µm O ensaio de DRX do resíduo

demonstra que foram encontradas quatro fases cristalinas, o quartzo, a calcita, o óxido de

zinco e wollastonita. O REC não apresente regiões amorfas.

Na análise química do SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 o resíduo foi caracterizado como classe

E. Na categoria perda ao fogo, quantidade de SO3 e teor de umidade o REC atendeu todas as

classes. No requisito álcalis disponíveis em Na2O a quantidade encontrada no resíduo é maior

que o valor mínimo de 1,5%. O ensaio de determinação do índice de desempenho com

cimento Portland aos 28 dias exige um resultado que alcance 90% da resistência média da

argamassa referência, a argamassa com substituição de 5% de REC atingiu uma resistência de

82,60%, sendo assim não atendeu os requisitos mínimos da norma NBR 12653:2014. O

resultado do ensaio de determinação da atividade pozolânica com cal aos setes dias não

atendeu o valor mínimo estipulado por norma.

No ensaio do índice de desempenho com cimento Portland a argamassa que teve

melhor resultado foi a com substituição de 5% de cimento Portland por REC, isso mostra que

o resíduo provavelmente atua como um efeito fíler, ou seja, um material fino que preenche

vazios.

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Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC –

como requisito parcial para obtenção do Título de Engenheiro Civil

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UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense – 2019/01

Recomenda-se para trabalhos futuros:

Fazer ensaio de calorimetria.

Fazer várias amostras de resíduo, em diferentes empresas de esmalte cerâmico e fazer

um comparativo.

Analisar a influência da substituição parcial do cimento Portland por REC em

argamassa.

Avaliar a atividade pozolânica do resíduo em argamassas com cimento outros tipos de

cimento.

Fazer microscopia eletrônica de varredura.

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Artigo submetido ao Curso de Engenharia Civil da UNESC –

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