atingindo a essência em três palavras - dalai lama

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Ensinamento de Garab Dorje pelo Dalai Lama.

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ATINGINDO A ESSNCIA EM TRS PALAVRAS: por Dalai Lama

Sua Santidade havia optado por ensinar o Dzogchen apresentando um comentrio sobre o famoso ensinamento de Patrul Rinpoche no Tsik Sum Ne Dek - Atingindo a Essncia em Trs Palavras. Essa instruo o testamento final do primeiro mestre humano do Dzogchen, Garab Dorje, ou Prahevajra. Histrias da linhagem Dzogchen contam como o corpo de Garab Dorje dissolveu-se no espao em meio a uma grande nvoa de luz de arco-ris quando ele atingiu o nirvana; a terra estremeceu, e ouviram-se sons miraculosos. Seu discpulo Manjushrimitra, que havia estudado os ensinamentos do Nyingtik com ele por 75 anos, viu-o no cu, cercado de luz, e gritou: "Ai! Ai! grande vastido! Se a luz que nosso professor est extinta, quem haver de dissipar as trevas do mundo? Conta-se que, nessa hora, a mo e o antebrao direitos de Garab Dorje apareceram segurando um porta-joias de ouro do tamanho da unha de um polegar, que deu a volta em torno de Manjushrimitra por trs vezes e pousou na palma de sua mo. Dentro ele encontrou Atingindo a Essncia em Trs Palavras, o testamento final de Garab Dorje, escrito com tinta de lpis-lazli lquido sobre uma folha de cinco substncias preciosas. Mediante a simples viso disso, Manjushrimitra obteve a mesma realizao de seu mestre. De fato, os quatro primeiros vidyadharas da linhagem Dzogchen - Garab Dorje, Manjushrimitra, Sri Singha e Jnanasutra - legaram um testamento um testamento de modo semelhante a seus discpulos, de modo que as mentes dos discpulos e as mentes de sabedoria dos mestres tornaram-se inseparveis. Atingindo a Essncia em Trs Palavras tem sido reverenciado por mestres e praticantes atravs dos sculos por corporificar em seus pontos-chave a prpria essncia do caminho Dzogchen. O Ensinamento Especial do Rei Sbio e Glorioso, de Patrul Rinpoche, uma elaborao, com comentrio prprio, sobre Atingindo a Essncia em Trs Palavras, estimado como a mais crucial instruo para a pratica do Dzogchen. Breve, e no obstante extraordinariamente profundo, captura o entendimento da pratica de trekch, e "o ponto-chave infalvel do caminho de pureza primordial do Dzogpachenpo natural". Patrul Rinpoche (1808-1887) foi uma grande personalidade na transmisso do Longchen Nyingtik, o ciclo de ensinamentos revelado como um tesouro da mente por Jigme Lingpa (1703-1798), que atingiu realizao ilimitada aps trs vises do grande mestre Dzogchen Longchen Rabjam (1308-1363). Patrul Rinpoche invoca os dois mestres, junto com seu guru-raiz Jigme Gyalwe Nyugu (1765-1843), no O Ensinamento Especial do Rei Sbio e Glorioso.O Ensinamento Especial do Rei Sbio e Glorioso ostenta a marca da grandeza de Patrul Rinpoche como professor. Ao resenhar as obras dele, Zenkar Rinpoche comentou: "Ele no escrevia de forma elaborada para exibir seu conhecimento, mas explicava as coisas de modo adequado capacidade dos alunos. A caracterstica extraordinria e especial de seus ensinamentos foi descrita por Dodrupchen Jigme Tenpe Nyima em sua biografia de Patrul: Se analisados pelos sbios, so considerados muito significativos. Se ouvidos pelos ignorantes, so fceis de entender. Como condensam os pontos vitais, so fceis de lembrar. Na medida certa, tudo coerente e est conectado do comeo ao fim. So encantadores aos ouvidos e, quaisquer que sejam as palavras que ele use, rspidas ou suaves, tornam-se 'de um s sabor' com as instrues, e desse modo cativam as mentes de todos, sejam sbios, confusos ou algo entre um e outro. Parece no haver meio de exagerar a importncia do ensinamento de Atingindo a Essncia em Trs Palavras. Dilgo Khyentse Rinpoche disse: "Imagine ouvir todos os 84 mil ensinamentos do Buda e depois refletir sobre eles. Voc verificaria que no fim das contas no havia nada que necessitasse ser apresentado alm de Atingindo a Essncia em Trs Palavras. Compare essas 'trs palavras' aos ensinamentos de uma centena de pnditas ou mil siddhas, e no h nada que possam ensin-lo alm disso. O onisciente Longchen Rabjan realizou por completo o sentido das trs categorias e nove espaos o Dzogpachenpo, e tornou-se inseparvel do Buda Primordial Samantabhadra. Mesmo assim, suponha que voc de fato se encontrasse face a face com ele: no haveria nada que ele pudesse ensin-lo alm de Atingindo a Essncia em Trs Palavras. Rigdzin Jigme Lingpa, Jigme Gyalwe Nyugu e todos os vidyadharas e mestres das trs linhagens eles possivelmente no poderiam nos ensinar nada alm dessa instruo".

LIBERAO POR CONTATOOs versos

Ema! Os fenmenos so, sem exceo, Perfeitos dentro do continuum auto-surgido de rigpa.

Os versos comeam com "Ema", uma expresso de admirao, pois nenhum dos fenmenos do samsara e do nirvana , em sua natureza absoluta, algo criado de forma repentina e indita atravs de causas e condies. Seu estado natural de perfeio pura-ou seja, todos esto contidos dentro de sua vastido. No sentido mais rasteiro, os fenmenos do samsara dependem da mente ordinria, enquanto no sentido mais elevado, os fenmenos do nirvana dependem de rigpa. De acordo com as escolas mais recentes do Vajrayana no Tibet, a mente fundamental e inata de clara luz denominada sugatagarbha ou natureza de buda. Nas fontes textuais do Dzogchen e nas tradies do Mahamudra, ela mencionada como "clara luz incomposta". O termo incomposta ou no-composta pode ser entendido de vrias maneiras. Mas genericamente, significa algo que no depende de causas e condies. Mas tambm pode significar "aquilo que no concebido como algo temporrio e novo"; portanto, algo que est primordialmente presente - um "estado contnuo e permanente". Tomem como exemplo a atividade iluminada do estado de buda. O Ornamento para a Realizao Clara refere-se a ela como "permanente", ou seja um estado contnuo permanente, mas a atividade rotulada de "permanente" no sentido de que no tem interrupo.

Desse modo, visto que os atos iluminados so to vastos, O estado de buda pode definitivamente ser descrito como difuso;E, visto que tais atos no esto sujeitos degenerao, Podem de fato ser descritos como permanentes

De modo similar, a clara luz primordialmente do jeito que ; no tem comeo e no concebida como algo novo. algo que perdura continuamente, ou permanentemente. Essa uma forma de entender o termo "incomposto". Tais termos precisam ser entendidos no contexto. Por exemplo, alguns eruditos afirmam: "Tudo o que existe necessariamente composto". Isso deve ser entendido no sentido de que as coisas so necessariamente "agrupadas" com base nos conceitos, e desse ponto de vista so "compostas". Contudo, rigpa auto-surgido est totalmente alm da conscincia ordinria. Conceitos como "composto" ou "incomposto", "originao" ou "cessao" ainda fazem parte dos conceitos da mente ordinria, as convenes criadas por nossa conscincia ordinria ficaro em desacordo com ele. Pois rigpa est alm de toda imaginao ou expresso. Pessoalmente, considero esse tema de grande interesse, e o motivo para esta explicando-o a afirmao feita por muitos eruditos de que as quatro escolas do Budismo Tibetano Sakya, Gelug, Kagyu e Nyingma concordam, em um certo ponto, com o mesmo propsito. Essa afirmao tambm suscitou controvrsias, e objeto de algum debate. Mas parece que os eruditos que dizem que existe esse propsito idntico onde todas as escolas se encontram dizem isso porque de fato existe tal ponto, e no apenas para ouvir o som das prprias vozes. Penso muito a respeito desse assunto, e o menciono por causa de meu interesse pessoal neste que um tema fundamental verdade que so usados diferentes vocbulos para discutir isso, e cada escola tem suas interpretaes exclusivas, mas so formas individuais de explicar essa verdade, e cada uma tem sua densidade e sentido internos que podem conduzir a um extraordinrio nvel de entendimento. No ciclo do Guhyasamaja, a sabedoria auto-surgida de rigpa denominada mente fundamental e inata de clara luz; o ciclo do Kalachakra como o espao vajra todo-difuso; e no Hevaja Tantra, seu tantra explicativo, o Tenta Vajra, e textos relacionados, referem-se a ela como mente preciosa como no verso a seguir:

Sem ser a mente preciosa, no existe buda, nem ser ordinrio.

Na tradio do Dzogchen, usado o termo thamal gyi shpa, "percepo ordinria"; e com frequncia usa-se, rigpa, "percepo pura". Para aprofundar mais, so usados termos como rang drol, cher drol e zangthal - "auto-liberada", "despojadamente livre" e "desobstruda". Desse modo, os versos do texto salientam que rigpa auto-surgido a base dos fenmenos do samsara e do nirvana. Eles prosseguem:

Esse o caminho da essncia do corao, onde, conhecendo se um, libera-se tudo.

Se esse ponto crucial explicado com base em sua experincia pessoal, pode trazer-lhe liberdade a respeito de muitos outros pontos-chaves, e por isso o caminho da essncia do corao, onde, conhecendo-se uma coisa, libera-se tudo.

Tantras, comentrios e instrues essncias esto todos contidos dentro dele.

Os termos tantra, comentrio e instrues essncias podem ter diferentes conotaes e interpretaes, mas aqui corresponde a Mahayoga, Anuyoga, e Atiyoga.

Sabedoria trplice a experincia de pureza.

Visto que se trata de um ensinamento do Dzogchen, "sabedoria trplice" explicada como constituindo a essncia, a natureza e a energia ou reao. Parece que pode ser entendido como "sabedoria primordial de rigpa que a essncia", sabedoria primordial de rigpa que a natureza e "sabedoria primordial de rigpa que a energia". A linha "sabedoria trplice a experincia de pureza" designa trekch. A seguir:

As quatro vises so caminho supremo.

Essa linha designa a prtica de tgal, e se refere s suas quatro vises.O estado de buda atingido, em realizao e liberao simultneas.

Se um indivduo com faculdades extremamente aguadas, e com mritos a sustent-lo, chega ao entendimento desse ponto-chave, a realizao e a liberao podem ser simultneos, como no caso do rei Indrabhuti. Por exemplo: durante as iniciaes, alguns indivduos podem experienciar em seus fluxos mentais o despertar da sabedoria que o verdadeiro propsito e ponto iniciao. Realizao e liberao simultneas desse tipo ocasionam um despertar muito veloz para o estado de buda; por isso, trata-se de um caminho extremamente especial. Visto que consiste em manter o estado de rigpa, a prxima linha do texto aconselha a olhar diretamente sem nenhuma distrao:

Assim olhe sem distrao, diretamente para essncia de rigpa.

E ento:

A A A

Os versos so concludos com trs silabas "A". Essa a silaba da perfeio da sabedoria, o Prajnaparamita. Enquanto leio lentamente, sentem-se de modo que o corpo fique ereto e no deixem a mente se distrair. Um mtodo abordado na tradio do Dzogchen "dirigir a mente para dentro dos olhos, e os olhos na direo do espao". Isso til porque nossa conscincia visual muito poderosa. No significa que voc esteja olhando para alguma coisa no mundo exterior, mais sim que dirige o olhar na direo do espao entre voc e os fenmenos exteriores. Apesar de minha explicao, vocs ainda podem ter dvidas, mas a essa altura no devem ficar pensando em conceitos de nenhuma espcie com a mente ordinria, tais como "isso isso", "aquilo aquilo". Em vez disso, a mente deve ficar incorrupta por qualquer sensao de estar agarrada a algo: simplesmente clara, simplesmente atenta. Vejam se conseguem manter-se inabalados no estado de rigpa em si essencialmente vazio por natureza, simplesmente claro, simplesmente atento, primordialmente puro em sua prpria essncia.

Ema! Os fenmenos so sem exceo, Perfeitos dentro do continuum auto-surgido de rigpa. Esse o caminho da essncia do corao, onde, conhecendo se um, libera-se tudo. Tantras, comentrios, e instrues essncias esto todos contidos dentro dele. Sabedoria trplice a experincia de pureza. As quatro vises so o caminho supremo. O estado de buda atingindo, em realizao e liberao simultneas, Assim, olhe sem distrao, diretamente para a essncia de rigpa.

A A A

O ENSINAMENTO ESPECIAL DO REI SBIO E GLORIOSO

Para comear, existe uma coisa que acho que todos ns precisamos saber. Fundamentalmente, do ponto de vista budista, no h diviso entre teoria e pratica nos ensinamentos. No existem ensinamentos a ser explicados em nvel terico, distintos de outros ensinamentos a serem praticados. Contudo, pode haver, claro, nfases diferentes. Existem ensinamentos que enfatizam os estgios da pratica, e existem aqueles que enfatizam a chegada a uma concluso mais terica na mente. Tome-se como exemplo as escrituras dos grandes e cultos mestres da ndia. Nos Seis Conjuntos de Argumentao, de Nagarjuna verifica-se que a nfase est em alcanar esse tipo de concluso resoluta. Por outro lado, em obras como o Bodhicharyavatara, de Shantideva, a nfase est nos estgios da pratica. No obstante, mesmo nesse texto, o nono captulo sobe sabedoria dedicado aos indivduos que no conseguem adquirir certeza a respeito da viso sem chegar l por meio de uma concluso resoluta. Em seu Conjunto de Louvores, entretanto, Nagarjuna explica as coisas de modo um tanto diferente. Dizem que esses louvores, tal como, Em Louvor ao Dharmadhatu, concernem srie final de ensinamentos do Buda, o terceiro giro da roda do Dharma, que tambm o tema referente ao Sublime Continuum, um dos cinco tratado de Maitreya. Essas obras so comentrios sobre os sutras tathagatagarbha encontrados na srie final de ensinamentos. Ento, aqui so de particular destaque os dohas, ou canes experincias, dos mahasiddhas, que so, em certo sentido, comentrios sobre o caminho do Anuttarayoga, o mais alto nvel do Vajrayana. Eles foram proferidos de modo espontneo, expressando a experincia pessoal direta, sem muita nfase em um palavreado complexo. Nas escrituras dos grandes mestres de todas as escolas budistas do Tibet - Sakya, Gelug, Kagyu e Nyingma - algumas obras enfatizam a chegada a uma resoluo terica, e outras enfatizam a experincia pessoal. Esse texto de Dza Patrul Rinpoche, Atingindo a Essncia em Trs Palavras, pertence ao gnero de ensinamentos espontneos e experienciais. Extremamente culto e um incrvel bodhisattva, Patrul Rinpoche sempre manteve um perfil muito humilde. Certa ocasio, um grande nmero de alunos comeou a se reunir no local onde ele estava morando. Ansiando por algum local mais sossegado, ele saiu de mansinho e fugiu para outro vale, onde passou a residir com uma famlia. De fato, tornou-se criado pessoal da velha senhora que era a dona da casa, fazendo todos os tipos de tarefas domsticas para ela, at esvaziando p urinol. Seus alunos procuram-no por todos os cantos, perguntando a cada um que encontravam: "Onde est Patrul Rinpoche?" Por Fim, chegaram casa onde a famlia vivia e perguntaram me, que responde: "No, no h lama nenhum aqui. S temos um homem de idade sempre vestido com roupas velhas esfarrapadas. Ele trabalha como meu criado". Na mesma hora os alunos adivinharam a verdade, e contaram para a velha senhora quem realmente era o seu criado. Quando percebeu que um mestre to importante estivera a seu servio, ela ficou to constrangida e envergonhada que simplesmente deu no p e sumiu. Essa historia me foi contada por Khunu Lama Tenzin Gyaltsen, o professor com quem estudei o Bochicharyavatara. Agora deixem-me ler o texto-raiz para vocs:

Aqui est O Ensinamento Especial do Rei Sbio e Glorioso, junto com seu comentrio.

Homenagem ao mestre!A viso Longchen Rabjam: vastido infinita.Meditao Khyentse Ozer: raios de sabedoria e amor. Ao Gyalwe Nyugu, a dos bodhisattvas. Aquele que prtica dessa maneira,Pode muito bem atingir a iluminao nessa mesma vida.E mesmo que no, que felicidade! Que alegria!No que se refere a viso, Longchen Rabjam, Trs palavras atingem o ponto vital.Primeiro, relaxe e solte sua mente,Nem dispersa, nem concentrada, sem pensamentos.Enquanto repousa nesse estado constante, descansado, Emita subitamente um phat que estilhaa a mente, Feroz, potente e repentino. Espantoso! No h nada ali: transfixada em assombro,Atingida pelo assombro, no obstante tudo transparente e claro. Fresca, pura e sbita, muito alm da descrio:Reconhea isso como a percepo pura do dharmakaya.O primeiro ponto vital : introduzir diretamente a face de rigpa em si.

Assim, esse texto discute viso, meditao e ao. De fato, a viso em si apresentada em trs palavras ou declaraes, e a primeira delas "introduzir diretamente a face de rigpa em si". Nesse contexto, conforme mencionei antes, a viso uma questo de chegar a uma sensao de resoluo firme.

Ento, quer em um estado de movimento ou quietude, De ira ou apego, felicidade ou pesar,O tempo todo, em qualquer situao,Reconhea o dharmakaya que voc reconheceu antes,E a clara luz me e filha, j conhecidas, iro se reunir.Repouse no aspecto de percepo alm de toda descrio.Quietude e bem-aventurana, clareza e pensamentos: rompa-os repentinamente, Golpeando subitamente com a slaba dos meios hbeis e sabedoria. Sem diferena entre meditao e ps-meditao,Sem diviso entre sesses e intervalos, Permanea sempre no estado indivisvel.Mas, at que a estabilidade seja obtida, vital meditar, distante de todas as distraes e ocupaes,Dividindo a prtica em sesses de meditao apropriadas, O tempo todo, em qualquer situao,Manter-se no fluxo do que apenas dharmakaya.Decida com absoluta convico que no h nada alm disso - O segundo ponto vital : decida-se por uma coisa, e uma coisa apenas.A essa altura seja apego ou averso, felicidade ou pesar - Todos os pensamentos transitrios, cada um deles,Mediante reconhecimento, no deixam vestgios atrs de si.Pelo reconhecimento do dharmakaya no qual eles so libertos, Da mesma forma que a escrita desaparece na gua,Surgimento e liberao tornam-se naturais e contnuos.E o que quer que surja alimento para a vacuidade desnuda de rigpa. O que quer que se agite na mente o poder interior do rei dharmakaya, Sem deixar vestgios, e congenitamente puro. Que alegria!O modo como as coisas surgem pode ser o mesmo que antes,Mas a diferena est na maneira como so liberadas: essa a chave.Sem isso, a meditao no passa de um caminho de deluso.Com isso, mesmo sem meditar, h um estado de dharmakaya - O terceiro ponto vital : confiana direta na liberao dos pensamentos que surgem.

A seguir vem o colofo:

Pois a viso que tem os trs pontos vitais,Meditao, a unio de sabedoria e amor, acompanhada pela Ao comum a todos os bodhisattvas.Se todos os budas fossem consultados,No encontrariam instrues mais importantes que essa.

E agora fornecido o contexto histrico:

Revelada como um tesouro das profundezas do insight transcendental Pelo terton do dharmakaya, o poder interior de rigpa, Em nada semelhante aos tesouros ordinrios de terra e pedra;Pois esse o testamento final de Garab Dorje, A essncia da mente de sabedoria das trs transmisses. Ela confiada a meus discpulos de corao, selada para que seja secreta. profunda no significado, so palavras do meu corao.So as palavras do meu corao, o ponto-chave crucial.Esse ponto crucial: jamais o menospreze. Jamais deixe essa instruo lhe fugir.Esse o ensinamento especial do rei sbio e glorioso.

Agora vou retornar ao comeo do texto e explicar o comentrio.

Homenagem ao incomparvel senhor da compaixo, meu mestre-raiz, em toda sua bondade.Aqui ser explicado, em uns poucos pontos cruciais, como levar a srio e praticar a viso, meditao e ao. Antes de tudo, como o mestre a personificao completa do Buda, do Dharma e da Sangha, o simples fato de render homenagem to-somente a ele significa render homenagem a todas as fontes de refgio. Assim sendo "Homenagem ao mestre!".

Como disse antes, no contexto geral da prtica Vajrayana, a conexo com o mestre de crucial importncia - especialmente no Dzogchen, pois a devoo ao mestre desempenha papel vital se voc vai ser introduzido diretamente em rigpa auto-surgido e a seguir coloc-lo em prtica. por isso que o texto rende homenagem ao mestre como personificao de todas as fontes de refgio.

No que diz respeito ao tema principal: se voc praticar com afinco, enquanto reconhece que os mestres de raiz e linhagem so todos inseparveis da verdadeira natureza de sua mente, isso concretiza a verdadeira prtica da viso, meditao e ao. Desse modo, viso meditao e ao so explicados aqui por meio da associao com o significado dos nomes dos mestres de raiz e linhagem.

Devido importncia do mestre, Patrul Rinpoche usa os nomes de seus lamas para explicar os trs pontos da viso, meditao e ao. Primeiro refere-se a Longchen Rabjam, um dos lamas da linhagem. A seguir, refere-se a Jigme Lingpa, outro mestre da linhagem, por um de seus outros nomes, Khyentse Oser. Por fim, evoca o nome de seu prprio guru-raiz, Gyalwe Nyugu, ou seja, Dza Trama Lama Jigme Gyalwe Nyugu. Patrul Rinpoche emprega os nomes desses trs mestres para explicar as trs essncias da viso, meditao e ao.

Primeiro, a Viso a realizao de que todas as aparncias infinitas (rabjam) do samsara e nirvana, em sua totalidade, esto perfeitamente contidas e so por natureza iguais dentro do espao todo-abrangente da vastido (longchen) da natureza de buda. que a verdadeira natureza da realidade, livre de qualquer elaborao. Assim, sendo: A viso Longchen Rabjam vastido infinita.

O dharmadhatu, que livre de toda elaborao, tambm chamado "tathagatagarbha". Todas as escolas Vajrayana, tanto as mais antigas quanto as mais recentes, falam dessa natureza de buda, a sabedoria da clara luz. Por no poder ser demonstrado que tenha existncia verdadeira, ou seja, autnoma, denominada "livre de elaborao". Em essncia primordialmente pura, por natureza espontaneamente presente. essa natureza de buda que serve de base para todo o samsara e nirvana, uma vastido dentro da qual todas as elaboraes - os fenmenos do samsara e do nirvana - surgem e se desfazem. Pura por sua prpria natureza, o que denominamos "viso" uma vastido que permeia tudo e dentro da qual tudo est contido e completo.

Meditao a unio de vacuidade e compaixo: com a sabedoria (khyen) da prtica de insight do vipashyana, realiza conclusivamente a natureza da viso de liberdade da elaborao, e repousar nica e exclusivamente na vacuidade unida com os meios hbeis da shamata de compaixo amorosa (tse). Assim sendo, Meditao Khyentse Ozer: raios d sabedoria e amor.

Uma vez que voc tenha a viso, automaticamente surge a compaixo pelos seres que no esto cientes da essncia dessa viso. Eu sinto que isso que significa dizer que a meditao "Khyentse Ozer: raios de sabedoria e amor.

A ao deve esta imbuda dessa viso e meditao, e ento praticam-se as seis perfeies para o beneficio dos outros, de acordo com o caminho dos bodhisattvas, os novos brotos de budas. Assim sendo: Ao Gyalwe Nyugu, a dos bodhisattvas.

Quando voc est imbudo da unio dos meios hbeis e sabedoria forma a base a partir da qual a ao de bodhisattva, que assegura beneficio aos outros, pode transcorrer. Nesse sentido, o texto diz que Ao Gyalwe Nyugu, a dos bodhisattvas.

Mostra-se o quanto afortunada a pessoa que prtica meditao e ao - "Aquele que prtica dessa maneira". Aqueles que so capazes de se encerrar em um retiro isolado, deixar de lado as preocupaes mundanas e as atividades dessa vida e praticar resolutamente, vo obter a liberao - nessa mesma vida - com base na pureza primordial. Assim: "Pode muito bem atingir a iluminao nessa mesma vida".

Se a sua prtica autentica e est imbuda dos pontos-chaves de viso, mediao e ao, ela lhe permite atingir o estado de buda nessa vida.

Contudo mesmo que no atinja, pelo simples fato de voltar a mente na direo da viso, meditao e ao, voc saber como transformar as dificuldades da vida no caminho, ter menos esperana e medo quanto s preocupaes dessa vida, e na prxima vida ir de felicidade em felicidade. Assim "E mesmo que no, que felicidade! Que alegria!

Embora possa no atingir o estado de buda nessa vida, se a sua prtica combinando meios hbeis e sabedoria, lev-lo a uma realizao estvel, na qual tenha confiana, ento no sucumbir diante das oscilaes das circunstncias negativas, mas ser capaz de incorpor-las ao caminho. Alm disso, nas vidas futuras, a fora dessa prtica ir gui-lo para estados de felicidade maiores e mais constantes. De modo que isso algo com o que voc pode verdadeiramente se rejubilar. Em resumo: nessa vida, no se torne presa da esperana, do medo, e de outras circunstncias negativas, mas transforme-as no caminho, e nas vidas futuras ir vivenciar estados de felicidade cada vez maiores.

Afim de explicar passo a passo a viso, meditao e ao benficas, desejo primeiro expor em maiores detalhes como realizar a prtica da viso. E: "No que se refere viso, Longchen Rabjam". O significado integral est nessa instruo sobre as trs palavra, pois, quando atingem a essncia da prtica, acaba-se com a deluso. Assim: "Trs palavras atingem o ponto vital".

A viso coberta em trs palavras que tocam, ou atingem, o ponto vital.

INTRODUZINDO DIRETAMENTE A FACE DE RIGPA EM SI

Primeiro h o mtodo de introduzir a viso que ainda no foi revelada. Em termos gerais, existem muitos modos de provocar a realizao da viso. No caminho da dialtica do sutrayana empregado o mtodo lung rig, ou seja, usar a autoridade das escrituras do ensinamento do Buda e dos grandes mestres e, atravs da logica e do raciocnio, chegar realizao da viso. De acordo com a abordagem usual do Mantrayana Secreto, por meio da sabedoria no exemplo na terceira iniciao, a pessoa introduzida a sabedoria real e absoluta na quarta iniciao. Aqui, de acordo com a abordagem especial dos grandes mestres da linhagem de pratica, a natureza da mente, a face de rigpa, introduzida na prpria dissoluo da mente conceitual. Em meio as ondas revoltas do pensamento delusrio, os pensamentos grosseiros que surgem e perseguem os objetos da percepo obscurecem a real face da verdadeira natureza da mente. Por isso, afim de permitir que os pensamentos discursivos grosseiros se assentem e desanuviem: "Primeiro, relaxe e solte sua mente".

Essa viso, rigpa auto-surgido a que voc diretamente introduzido, est ressaltada aqui. De inicio, o que dificulta que sejamos introduzidos a rigpa que existe muitos pensamentos positivos e negativos surgindo, um atrs do outro, em nossa mente. to difcil quanto apontar e identificar uma pessoa para voc em meio a uma multido; mas, uma vez que seja apresentado a ela, poder identific-la rapidamente, mesmo em meio a um enorme ajuntamento. verdade que todos os pensamentos so permeados pela qualidade da percepo pura, mas, enquanto esses pensamentos aglomeram-se na mente, rigpa no pode apresenta-se despido em toda sua nudez. por isso que o texto-raiz diz: Primeiro, relaxe e solte sua mente, de modo que voc no permita aos pensamentos criarem esse tipo de perturbaes, em vez disso, relaxe.

Deixar a mente relaxada e livre em si a sabedoria da clara luz. Caminhos planejados jamais o levaro realizao de sua verdadeira natureza e, para expressar o fato de que a sabedoria inata e no-planejada est dentro de voc: Nem dispersa, nem concentrada, sem pensamentos.

Rigpa auto-surgido j est presente dentro de ns. o que poderamos chamar de nossa "natureza genuna". Mas a influncia temporrias dos pensamentos impede-o de se tornar evidente. A fim de que esse estado genuno e continuo, absolutamente natural de rigpa, torne-se claro, voc deve dissipar os pensamentos adventcios. por isso que o texto-raiz diz: "Nem dispersa, nem concentrada, sem pensamentos".

Um iniciante pode ser capaz de deixar a mente repousar naturalmente em si mesma e tentar manter isso. Entretanto, impossvel para ele ficar livre da fixao nas muitas experincias tais como bem-aventurana, "clareza" e "ausncia de conceitualidade", que vm com o estado de calma e sossego: "Enquanto repousa nesse estado constante, descansado".

No basta que a mente simplesmente repouse sem agitao, pois mesmo enquanto isso acontece, voc vai vivenciar o gosto da bem-aventurana, da clareza e dos estados de ausncia de conceitualidade, e estes podem criar obstculos a seu reconhecimento de rigpa.

Para se livrar do casulo de apego experincia, desnude rigpa todo-penetrante e revele explicitamente seu verdadeiro estado: Emita de sbito um 'phat!' que estilhaa a mente. Uma vez que vital transpassar o fluxo de pensamentos que surge, e destruir a meditao produzida pela mente, o som "phat!" tem que ser feroz, potente e repentino: "Feroz, potente e repentino. Espantoso!".

A fim de dissipar subitamente todos os pensamentos que causam tamanha atividade na mente, voc usa o som phat! - feroz, potente e repentino. Usado assim, tem o efeito de sobressaltar a mente. Quando um barco desloca-se atravs d'gua, por um momento h um espao vazio atrs da popa. Da mesma maneira, h uma lacuna entre o pensamento prvio disperso subitamente e o novo pensamento que ainda no est para surgir.

Nesse momento, voc fica livre de todas as noes estabelecidas do que seria a mente, e a liberao em si efetivada: No h nada ali: transfixada em assombro.

Como meio de dispersar pensamentos, evitando que um pensamento prvio continue e um novo surja, use o poderoso som de "phat!". Toda a fragmentao de pensamentos desaparece sem deixar vestgios, e a mente deixada simplesmente limpa e atenta. A essa altura, como se sua mente estivesse um tanto sobressaltada ou atnita. pouco difcil explicar o que est sendo indicado aqui, mais pensem da seguinte forma: a experincia contnua da mente como "alaya", a base de toda experincia ordinria, transpassada com a ponta afiada de rigpa. A experincia habitual da mente ordinria se desvanece, e na lacuna antes do inicio do apego - por um nico instante - rigpa pode ser percebido em sua nudez. Mangto Ludrup Gyatso cita muitas fontes das escrituras sobre esse tpico. Em um de seus textos, diz: Na lacuna entre o pensamento prvio e o seguinte, a sabedoria continua de modo ininterrupto. Ao que parece, a percepo pura do momento presente, que vivenciada na lacuna entre um pensamento prvio e o seguinte, facilmente evocada por essa abordagem, como o resultado de que voc capaz de identificar e entender o significado do que est identificando.

Nesse estado de dharmakaya, destitudo de qualquer referncia ou confiana que seja, reside a percepo nua e todo-abrangente, como sabedoria que transcende a mente, ou seja: impressionada pelo assombro, no obstante tudo transparente e claro".

Desse modo, na lacuna entre um pensamento prvio e o subsequente, mais fcil introduzir diretamente a rigpa auto-surgido, e mais fcil que ele se torne claro.

Essa percepo todo-penetrante, desimpedida, o prprio ponto-chave da sabedoria inexprimvel e naturalmente inerente, estando alm de todos os extremos, tais como surgimento e cessao, existncia e no-existncia, muito alm das palavras e fora do alcance da investigao mental. Assim sendo: Fresca, pura e sbita muito alm da descrio.

Visto que est alm de conceitos ordinrios como existncia e no-existncia, originao e cessao, e alm de qualquer tipo de verbalizao, o texto-raiz diz: "Fresca, pura e sbita, muito alm da descrio.

A chave que rigpa, que reside na base do dharmakaya, a pureza primordial do caminho dos iogues, a viso absoluta de liberdade de toda elaborao. At reconhecer esse ponto, qualquer que seja a meditao ou prtica que se faa, nunca se consegue ir alm de uma viso e meditao produzidas pela mente. A diferena entre isso e a abordagem do Dzogpachenpo natural maior do que entre a terra e o cu, e aquela no possui o ponto essencial - o fluxo incessante de clara luz, que a no-meditao. Assim, o mais importante, antes de tudo, reconhecer isso e somente isso: "Reconhea isso como a percepo pura do dharmakaya".

Diz-se que rigpa nesse sentindo, que o dharmakaya, deve ser identificado com base na experincia pessoal. Se voc no foi introduzido diretamente, e por isso no pode reconhec-lo como tal, no possui a viso do Dzogchen. Lembre-se de que, no contexto do Dzogchen, a viso uma questo de focar unicamente em rigpa e fazer dessa experincia a meditao. A esse respeito, Dodrupchen Jigme Tenpe Nyima diz que, uma vez que se compreenda todos os fenmenos como sendo a energia, ou a exibio, de rigpa auto-surgido, muito fcil perceber que todos os fenmenos s parecem existir como resultado de conceitos, de serem rotulados assim. Desse modo, no presente caso, a viso quando voc introduzido diretamente a rigpa, no precisa necessariamente ter que passar pela preliminar de examinar o surgimento, permanncia e cessao dos pensamentos para revelar a "falha oculta da mente" e assim chegar a uma concluso resoluta sobre isso. Na abordagem Madhyamaka da tradio do sutra, entretanto, todos esses passos so necessrios.

Essa a primeira das trs palavras que atingem a essncia. Se a viso foi introduzida e reconhecida, no h nada a manter na meditao. Por isso to importante, antes de mais nada, ser introduzido a viso. Depois, uma vez que a sabedoria natural inerente seja introduzida como algo natural e inerente em voc, no nem para ser buscada em algum lugar, nem algo que voc no tivesse antes e que agora surja em sua mente como coisa nova. Assim "O primeiro ponto vital : introduzir diretamente a face de rigpa em si".

Tal viso a introduo direta a face de rigpa em si, com base em sua experincia pessoal. Voc deve meditar sobre isso, ou mais exatamente, manter-se nisso de modo unidirecional. O que est acontecendo que voc est sendo introduzido diretamente, com base em sua prpria experincia, a rigpa que j est presente dentro de voc. Alm disso, no h nada que a mente precisar criar como algo novo, ou sobre o qual seja preciso chegar a alguma concluso. simplesmente a verdadeira natureza que cada um de ns j possui, exatamente como ela . Visto que introduzida diretamente, e nela que voc se mantm, a primeira essncia : "Introduzir diretamente a face de rigpa em si". A respeito dessa introduo viso, conforme disse antes, ela s pode acontecer quando um mestre que tem experincia autntica encontra um aluno com f e devoo. No absolutamente fcil em nenhuma outra circunstncia.

II DECIDIR-SE POR UMA COISA, E UMA COISA APENAS

Uma vez que se tenha diretamente introduzido a tal viso, existem maneiras de manter a experincia, que so o processo de meditao.

Buscando dar uma explicao mais detalhada sobre como se dedicar prtica da meditao com afinco: Em um estado natural de repouso, o tempo todo e em qualquer situao, sua meditao como o fluxo contnuo de um rio. Sem cultivar a quietude ou suprimir o movimento do pensamento, simplesmente mantenha o reconhecimento de que, quando ocorre a quietude, a prpria face do dharmakaya, e quando surge movimento, o poder inerente da sabedoria. Ou seja: Ento, quer em um estado de movimento ou quietude".

Uma vez que a face de rigpa em si tenha sido introduzida, independente dos pensamentos que surjam em sua mente, no ser necessrio reagir a eles, encorajando uns e bloqueando outros. Como se diz, se os pensamentos surgem, surgem dentro do espao de rigpa, ao mesmo tempo tambm cessam dentro desse espao. Enquanto conseguir manter o estado natural de rigpa, nenhum desses pensamentos, sejam quais forem, pode representar uma ameaa. Quando rigpa foi introduzido diretamente, no necessrio usar meios especficos e deliberados para bloquear o surgimento de quaisquer pensamentos dentro desse estado, sejam positivos ou negativos, nem para evitar entregar-se a eles. Simplesmente mantenha-se no estado natural de rigpa que foi introduzido - a face de rigpa em si -, sem jamais perder o contexto. Ento, mesmo que surjam pensamentos, s podero faz-lo dentro do espao de rigpa. E para onde mais iriam ao se dissolver?

Da energia do pensamento da mente vm as emoes negativas como ira e apego, que representam a verdade da origem do sofrimento, e tambm sentimentos como felicidade e pesar, que constituem a verdade do sofrimento. Contudo, quaisquer que sejam as experincias que surjam, se voc conseguir perceber que a verdadeira natureza desses pensamentos e emoes a prpria natureza da realidade, eles so apenas o fluxo do dharmakaya. Ou seja: De ira ao apego, felicidade e pesar. Mas isso no tudo. Em termos gerais, mesmo que voc tenha reconhecido a viso, se no a sustentar em meditao e escorregar para a proliferao ordinria da deluso, os mesmos antigos padres de pensamento vo confin-lo ao samsara. Em consequncia, o Dharma e voc ficam separados, e voc jamais deve se separar do estado supremo de repouso natural na no-meditao, e assim sendo: "O tempo todo, em qualquer situao". Desse modo, quer a mente esteja quieta, ativa, ou seja, o que for, no o caso de superar cada emoo e pensamento negativo de modo individual, com seu remdio distinto. Em vez disso, o nico remdio para qualquer pensamento ou emoo que venha a ocorrer, o remdio para tudo, o reconhecimento da viso que foi introduzida previamente, e s isso. Assim: "Reconhea o dharmakaya que voc reconheceu antes".

Desse modo, a qualquer hora e em qualquer situao, independentemente da variedade de pensamentos que surjam, no precisa contar com antdotos individuais para cada pensamento e emoo especifica. Em vez disso, simplesmente reconhea a sabedoria do dharmakaya que foi diretamente introduzida antes. Isso traz mente uma das canes de Jetsun Milarepa, na qual ele canta como as nuvens surgem dentro do espao do cu e se dissolvem de novo em sua vastido. Existem outros exemplos: o gelo que derrete para se tornar gua de novo, ou a gua que fica barrenta ao ser agitada, mas se torna lmpida ao ficar parada. Da mesma forma, rigpa a verdadeira natureza de todos os pensamentos que se agitam dentro da mente. repouse em rigpa e dentro desse estado os pensamentos simplesmente vo desaparecer. Aqui h uma importante distino a ser feita. Na tradio principal filosfica Madhyamaka, o que refutado o apego da mente s coisas como se elas tivessem existncia verdadeira. Essa a ignorncia, o primeiro do 12 elos da interdependncia, a ignorncia inicial que nos leva a nos agarrarmos s coisas como se fossem verdadeiras. Aqui, entretanto, o foco est no que j mais esteve sujeito a esse apego, o que faz dessa abordagem bastante diferente.

Desse modo, quaisquer que sejam os pensamentos ou emoes que surjam, eles em si no so nada alm da sabedoria do dharmakaya, e a verdadeira natureza dos pensamentos e emoes a prpria clara luz da base do dharmakaya. Quando voc reconhece isso, o que se chama "a clara luz me presente como base". Reconhecendo sua prpria natureza na viso da clara luz de rigpa que conhece a si mesmo, anteriormente introduzido por um mestre, o que se chama "caminho da prtica da clara luz". Permanecer nesse estado onde ambos, a clara luz da base e do caminho, so inseparveis, chamado "o encontro da clara luz me e da clara luz filha". Assim: "E a clara luz me e a clara luz filha, j conhecidas, iro se reunir".

Fundamentalmente, no importa quem somos, se meditamos ou no, a sabedoria auto-surgida de rigpa j est presente de forma primordial, e jamais estivemos desgarrados dela. E existe rigpa da forma como diretamente introduzido a ns por um mestre, com base em nossa experincia pessoal. A natureza de rigpa em ambos os casos idntica - rigpa espontneo -, mas no primeiro caso simplesmente assim, sem ter sido diretamente introduzido, ao passo que no outro caso estamos reconhecendo nossa verdadeira natureza como ela . Pode-se falar de rigpa de duas maneiras, Mas, na verdade, no existem duas coisas, uma que rene e outra que e reunida. A introduo direta ao que j est presente de maneira natural como a base do ser metaforicamente chamada "reunir me e filha". Em outras tradies, a expresso "reunir" ou s vezes "fundir" a clara luz me e a clara luz filha est conectada ao despontar da clara luz bsica na morte, experienciada at pelas pessoas comuns quando morrem. De modo especifico, a expresso descreve a capacidade de um praticante, atravs do poder da yga, de transformar essa experincia, quando surge, na essncia do caminho. E isso que significa reunir a clara luz me e a clara luz filha, sendo a clara luz "me" aquela que surge at mesmo para pessoas comuns na morte e que transformada no caminho. A clara luz me tambm pode ser uma referncia ao estado de vacuidade, com a clara luz filha sendo a mente no realmente considerada como rigpa nessas tradies especficas que mantm uma percepo contnua da vacuidade. Desse modo, nessas tradies, reunir me e filha refere-se ao modo como a mente, a filha, vivencia a vacuidade, a me.

Dessa maneira, lembra-se sempre da viso, que a clara luz reconhecida em voc como sua verdadeira natureza, e repouse nesse estado. Fora isso, o ponto crucial no suprimir, nem entregar-se a, nem aceitar, nem rejeitar, de modo algum, pensamentos ou emoes que so a energia de rigpa: Repouse no aspecto de percepo alm de toda descrio.

Patrul Rinpoche descreve como manter o reconhecimento de rigpa com base na experincia de introduo direta face de rigpa. isso que significa Repouse no aspecto de percepo alm de toda descrio. Em outros textos, aqueles da tradio do Yga Tantra Superior, o termo "clara luz" usado para se referir ao estado mental sutil co-emergente com o ser em si. Isso corresponde ao que referido na tradio Dzogchen como "rigpa bsico" - pois feita uma distino entre a "base" e a "manifestao da base". Quando voc diretamente introduzido a rigpa atravs das seis conscincias, isso denominado "rigpa como energia" ou rigpa fulgurante". A partir da introduo a rigpa como energia, voc encontra a base de rigpa, face a face. Ao manter esse estado por um longo perodo, enquanto for um iniciante, voc ter experincia de bem-aventurana, clareza ou no-conceitualidade, o que ir mascarar a face de sua verdadeira natureza. Assim, se a livrar dessa carapaa de apego--experincia, e desnudar a real face de rigpa, a sabedoria brilhar de dentro para fora. Existe um ditado:

Quanto mais rompida, Melhor a meditao de um iogue. Quanto maior a queda, Maior a fora de uma cachoeira.

Ento: Quietude e bem-aventurana, clareza e pensamento rompa-os repetidamente.

Experincias meditativas de quietude, bem-aventurana ou clareza vo obscurecer rigpa quando surgirem, e por isso devem ser rompidas.

"Como romp-las?", voc h de perguntar. Sempre que experincias de quietude, bem-aventurana ou clareza surgirem ou se intensificarem, ou sentimentos de alegria, jbilo ou deleite, voc deve pulverizar a carapaa do apego experincia, espatifando-a como que por um raio, com o poderoso som de "phat!", que a combinao de "phat", a slaba dos meios hbeis que concentra e congrega, e "t" a slaba de prajna, que transpassa. Ou seja: "Golpeando subitamente com a slaba dos meios hbeis e sabedoria".

Em tais ocasies, diz Patrul Rinpoche, voc deve dispersar os pensamentos com uma poderosa exclamao da slaba phat!.

Quando voc no perde esse ponto vital da experincia pessoal e mantm, o tempo todo e em todas as situaes, rigpa indescritvel e todo-penetrante, a meditao formal e o ps-meditao no mais sero distintos: "Sem diferena entre meditao e ps-meditao". Na frase "rigpa indescritvel e todo-penetrante, a palavra zangthal todo-penetrante - comporta um sentido de ausncia de obstruo. Embora os objetos manifestos de rigpa continuem a surgir desimpedidos, exteriormente sua mente no se fia nesses objetos, e interiormente voc de maneira simples repousa no estado de rigpa em si. Quer esteja em meditao ou no ps-meditao, ou seja, nas sesses formais ou nos perodos entre elas, no h diferena real entre os dois.

por isso que a meditao nas sesses e a meditao quando voc est ativo durante os intervalos no esto separadas: Sem diviso entre sesses e intervalos. Nessa grande meditao sem nada sobre o que meditar - a yga contnua de sabedoria inerente, inalterada e todo-difusa, que parece um rio no h sequer um fiapo de qualquer coisa sobe o que meditar, nem um instante de distrao. isso que quer dizer o ditado:

Eu nunca medito, tampouco jamais estou separado disso; desse modo, jamais estive separado do verdadeiro significado de no-meditao".

Por isso: Permanea sempre no estado indivisvel.

Sem fazer qualquer diviso entre sesses de prtica formal e os perodos entre elas, voc deve repousar em um estado contnuo e vivido de rigpa.

Se algum um recipiente adequado e receptivo para o singular caminho do Dzogpachenpo, exatamente como os prprios ensinamentos tencionam, e pertencem ao tipo de pessoa instantnea, que liberada ao ouvir o ensinamento, ento, para tal pessoa, a percepo e os pensamentos so a base suprema para a liberao, e qualquer coisa que acontece torna-se o fluxo do dharmakaya. No h nada sobre o que meditar, e ningum para meditar. Entretanto, os outros menos afortunados que ainda esto presos ao pensamento delusrio devem encontrar estabilidade em estgios gradativos. At que a encontrem, devem ocupar-se com a prtica da meditao. Ou seja: "Mas, at que a estabilidade seja obtida".

Aqueles para quem o surgimento e a liberao de um pensamento so simultneas tm a mais alta capacidade. Para os iniciantes, entretanto, no basta que rigpa tenha sido introduzido diretamente: devem meditar a fim de expandir essa experincia por mais tempo, e devem fazer isso distante de todas as distraes e ocupaes.

Essa meditao deve ser realizada quando todas as condies favorveis estabilidade meditativa estiverem completas; s ento ocorrer a experincia real. No importa quanto tempo voc gaste meditando em meio s ocupaes e distraes, pois a verdadeira experincia de meditao no surgir, de modo que: " vital meditar, distante de todas as distraes e ocupaes. Tambm enquanto medita, embora no haja diferena entre a prtica em sesses formais e no ps-meditao, se de incio voc no est verdadeiramente assentado em sua meditao, ser incapaz de combinar a sabedoria que vivncia na meditao com a ps-meditao. Por mais que tente transformar sua vida cotidiana no caminho, seu entendimento vago e genrico deixa-o propenso a escorregar para os velhos padres e hbitos negativos, de modo que: Dividindo a prtica em sesses de meditao apropriadas. Voc pode ter o tipo de prtica que o deixe confiante de que consegue conservar o estado de meditao dividindo a prtica em sesses apropriadas. Mesmo assim, se no entender como integrar a prtica com as atividades da ps-meditao e como mant-la continuamente, essa prtica no servir de remdio quando as dificuldades surgirem. Quando algum pensamento discursivo tir-lo do rumo, voc afundar de novo nos mesmos pensamentos ordinrios. Por isso muitssimo importante manter-se no estado todo-penetrante de percepo aps a meditao: O tempo todo em qualquer situao.

Mais especificamente, quando no estamos praticando de modo formal, mas fazendo outros tipos de coisas, como nos encontrando com pessoas, corremos o risco, por causa de nosso hbitos antigos e intensos, de sucumbir influncia de apego e averso poderosos. Por isso, a experincia introduzida diretamente deve ser estabilizada sem interrupo, o tempo todo, em qualquer situao, enquanto continuamos a desenvolver certeza a respeito disso sem parar.

Nesse ponto, no h necessidades de buscar nenhuma outra coisa sobre a qual meditar. Em vez disso, em um estado de equilbrio meditativo que jamais se aparta da prpria viso do dharmakaya, mantenha uma indiferena despreocupada, livre de inquietaes a respeito de todas as aes e todos os pensamentos, sem suprimi-los ou se entregar a eles, mas deixando as coisas virem e irem, uma aps a outra, e deixando-as como esto: Manter-se no fluxo do que apenas dharmakaya.

"Manter-se no fluxo do que apenas dharmakaya" significa que, apesar de todas as formas de pensamentos poderem surgir e conduzir a todos os tipos de experincias, agradveis ou desagradveis, nenhum desses pensamentos escapa da vastido de rigpa auto-surgido, a sabedoria do dharmakaya. onde eles surgem inicialmente, e onde se dissolvem de volta no fim - na vastido do dharmakaya. Nesse meio-tempo, as percepes e aparncias em toda sua variedade, surgem como imagens que vemos em nossos sonhos. Desse modo, o texto est dizendo, na verdade, para entend-las como o fluxo do dharmakaya, tambm denominado "Samantabhadra" - "todo-bom" e "mente sem comeo ou fim".

Uma pratica como essa, que a unio indivisvel de shamata e vipashyana, a yga do estado natural livre de elaborao, espontneo e intato, o manter-se na face da natureza intrnseca da realidade, o corao da prtica de todos os tantras do Mantra Secreto Vajrayana. a sabedoria absoluta da quarta iniciao. a especialidade, a joia que realiza desejos da linhagem da prtica. a mente de sabedoria perfeita de todos os mestres consumados e de suas linhagens, da ndia e do Tibet, tanto das antigas quanto das novas tradies. Desse modo, decida-se quanto a isso, com absoluta convico, e no anseie por outras instrues essenciais, com a boca salivando por causa de um apetite e gula insaciveis. Do contrario, como manter seu elefante em casa e procurar as pegadas dele na floresta. Voc adentra na armadilha da pesquisa mental interminvel, e ento a liberao jamais ter vez. Portanto, voc deve se decidir sobre sua pratica: "Decida com absoluta convico que no h nada alm disso".

Enquanto est buscando essa certeza dentro de si mesmo, se a sua mente anda por todos os l ugares pesando: Talvez isso seja melhor, ou talvez aquilo., agarrando-se em uma coisa atrs da outra, acabar no chegando a lugar algum. Por isso importante que comece chegando a uma deciso, e prossiga com base nessa deciso. Voc precisa decidir com absoluta convico que no h nada alm disso.

Tome uma deciso de que essa sabedoria desnuda do dharmakaya, naturalmente presente, o estado desperto que jamais conheceu a deluso, e persista nesse fluxo: essa a segunda palavra vital e secreta. Visto que to crucialmente importante, O segundo ponto vital : decida-se por uma coisa, e uma coisa apenas.

Essa frase o estado desperto jamais conheceu a deluso, traz mente duas linhas do Sublime Continuum.

Tem falhas que so apenas superficiais, Ao passo que possui qualidades iluminadas por sua prpria natureza.

O significado da primeira linha - "Tem falhas que so apenas superficiais" - que todas as falhas de distoro so passiveis de se superar com antdotos. Entretanto, as qualidades do estado de buda que vm da realizao todas qualidades exclusivas de rigpa auto-surgido, ou a mente fundamental e inata de clara luz - esto primordialmente institudas. Da a segunda linha: "Ao passo que possui qualidades iluminadas por sua prpria natureza".

III CONFIANA DIRETA NA LIBERAO DOS PENSAMENTOS QUE SURGEM

Em tempos como esses, se no existe confiana no mtodo de liberao, e sua meditao consiste meramente em relaxar na quietude da mente, voc no ir alm de um desvio para o samadhi dos deuses. Tal meditao no ser capaz de superar seu apego e ira. No ser capaz de pr um fim ao fluxo de formaes crmicas. Nem ser capaz de trazer confiana profunda da certeza direta. Portanto, esse mtodo de liberao e de vital importncia. Alm do mais, quando ocasionado um apego ardente por algum objeto de desejo, ou uma ira violenta contra um objeto de averso, quando voc sente alegria por circunstncias favorveis, posses materiais e assemelhados, ou afligido pelo pesar devido a circunstncias desfavorveis e coisas como doena , esse momento um teste para o poder de rigpa, e vital reconhecer a sabedoria que a base para a liberao. Ento: A essa altura, seja apego ou averso, felicidade ou pesar.

Sempre que voc experienciar algum forte apego ou averso, ou algum sentimento intenso de alegria ou tristeza, e for capaz de manter a prtica direito, ser porque foi introduzido diretamente a rigpa. Quanto a isso o texto diz: " um teste para o poder de rigpa, e por isso vital reconhecer a sabedoria que a base para a liberao". A questo aqui no perder o contexto de sabedoria que a base para a liberao, e de rigpa auto-surgido ao qual voc foi diretamente introduzido.

Alm disso, se sua prtica carecer do ponto-chave de liberao no surgimento, sempre que pensamentos sutis esgueirarem-se despercebidos em sua mente, voc acumular mais carma samsrico. Assim, o ponto crucial manter o surgimento e a liberao simultneos a cada pensamento que brota, seja grosseiro ou sutil, de modo que no deixe vestgio atrs de si. Todos os pensamentos transitrios, cada um deles. Portanto, quaisquer que sejam os pensamentos que surjam, voc no permite que proliferem em um rebulio de deluso sutil, e ao mesmo tempo no aplica uma ateno restrita e produzida pela mente. Em vez disso, o que deve fazer jamais se separar de uma presena mental natural e genuna, reconhecer a verdadeira natureza de quaisquer pensamentos que surjam e sustentar a "liberao no surgimento", que no deixa vestgios atrs de si, como escrever na superfcie d'gua. Ento: "Mediante reconhecimento no deixam vestgios atrs de si". A essa altura, se os pensamentos que surgem no esto purificados, dissolvendo-se quando liberam a si mesmos, o mero reconhecimento dos pensamentos por si no ser capaz de romper a cadeia de carma que perpetua a deluso. Por isso, no mesmo instante em que voc reconhece, ao ver a verdadeira natureza desnuda dos pensamentos, simultaneamente identifica a sabedoria com que est familiarizado desde antes, e ao repousar nesse estado, os pensamentos so purificados, dissolvendo-se de uma forma que no deixa vestgios. Essa dissoluo um ponto crucial. Ento: "Pelo reconhecimento do dharmakaya no qual eles so libertos. Para dar um exemplo: escrever ou desenhar na gua. No mesmo instante em que algo escrito, se dissolve - a escrita e seu desaparecimento so simultneos. De modo semelhante, to logo os pensamentos surgem, a liberao simultnea, e assim se torna um fluxo ininterrupto de "auto-surgimento e auto-liberao": "Da mesma forma que a escrita desaparece na gua".

Vivenciando os pensamentos "como escrita na gua", voc no se desvia do estado de rigpa, que a natureza real dos pensamentos. Se voc consegue permanecer nesse estado, nenhum dos pensamentos que surge vai durar, no mais do que a escrita na gua.

E assim, sem suprimir os surgimentos, voc deixa manifestar-se o que quer que se manifeste, e quaisquer pensamentos que surjam de fato tornam-se o caminho para se purificar dentro de sua verdadeira natureza. Isso o que voc deve guardar como a essncia da prtica: Surgimento e liberao tornam-se naturais e contnuos.

Desde que se mantenha dentro da experincia de rigpa, os pensamentos - que so "auto-surgidos" - So liberados dentro do espao de rigpa. Se a sua prtica vai bem, quaisquer pensamentos que surjam so simples agitaes e testes da energia de rigpa, e por isso servem como alimento, apenas nutrindo e aumentando sua experincia de unio desnuda de rigpa e vacuidade. Esse o significado de: "E o que quer que surja alimento para a vacuidade desnuda de rigpa".

Portanto, ao treinar com os pensamentos dessa maneira, como sendo entretenimento do dharmakaya, quaisquer pensamentos que ocorram surgem como um treinamento no poder de rigpa. E quanto mais grosseiros forem os pensamentos dos cinco venenos, tanto mais iro investir rigpa na qual so liberados de clareza e perspiccia. "E o que quer que surja alimento para a vacuidade desnuda de rigpa" Quando quaisquer pensamentos que tudo agitam surgirem da face todo-penetrante e verdadeira de rigpa como seu prprio poder interior, simplesmente mantenha-se nisso, sem aceitar ou rejeitar. Ento, no mesmo instante em que surgem, so liberados, e jamais ficam de fora do fluxo do dharmakaya: "O que quer que se agite a mente o poder interior do rei dharmakaya.

Desse modo, se voc no sucumbe influncia dos pensamentos, mas capaz de manter o reconhecimento da verdadeira natureza de rigpa, no importa quantos pensamentos ocorram, eles surgiram como a energia de rigpa o rei dharmakaya. Rigpa auto-surgido chamado rei dharmakaya, e os pensamentos que surgem como sua energia ou exibio, como o cortejo desse rei. E, visto que os pensamentos no so prolongados, o texto-raiz prossegue dizendo: "Sem deixar vestgios, e congenitamente puro. Que alegria!

Os pensamentos da mente, as percepes delusrias da ignorncia so puros dentro da vastido do dharmakaya que a sabedoria de rigpa; por isso, dentro da vastido da clara luz ininterrupta, quaisquer pensamentos que se agitem e surjam so por sua prpria natureza vazios. Assim: Sem deixar vestgios, e congenitamente puro. Que alegria!. Quando voc fica acostumado a integrar os pensamentos em seu caminho dessa maneira por um longo perodo de tempo, os pensamentos surgem como meditao, a fronteira entre quietude e movimento se desfaz, e, por consequncia, nada do que surge j mais prejudica ou perturba sua permanncia no estado de percepo pura: O modo como as coisas surgem pode ser o mesmo que antes.

Patrul Rinpoche est dizendo que, quando voc domina tal experincia, os pensamentos ainda vo surgir em toda a sua variedade, como antes, mas existe uma diferena vital: a forma como so liberados.

Nessa ocasio, a maneira como os pensamentos, a energia de rigpa, surgem como alegria e pesar, esperana e medo, pode ser similar de uma pessoa comum. Contudo, para as pessoas comuns essa uma experincia de represso ou abandono muito slida, com o resultado de que elas acumulam formaes crmicas. e caem como presas de apego e agresso. Por outro lado, para um iogue. do Dzogchen, os pensamentos so liberados no momento em que surgem: no comeo, os pensamentos que surgem so liberados ao serem reconhecidos, como ao se encontrar um velho amigo; - no meio, os pensamentos so liberados por si mesmos, como uma serpente desenrolando em voltas no seu corpo; - no fim, os pensamentos que surgem so liberados sem causar beneficio ou dano, como um ladro arrombando uma casa vazia.

Aqui Patrul Rinpoche est falando sobre os trs modos de liberao dos quais o terceiro considerado melhor. A qualidade de autoliberao dos pensamentos comparada a um ladro arrombando uma casa vazia. A casa no tem nada a perder, e o ladro no tem nada a ganhar. Para mim, isso parece significar que, quando voc mantm "a face de rigpa em si" e no perde esse estado natural, os pensamentos no podem causar danos. Eles vo surgir, mas vo liberar a si mesmos. E, das muitas maneiras em que ocorre a liberao, a ltima que Patrul Rinpoche discute aqui a mais profunda. Ele conclui:

Desse modo, o iogue. do Dzogchen possui o ponto vital de tais mtodos de liberao. E, sendo assim "Mas a diferena est na maneira como so liberados: essa a chave".

por isso que se diz:

Saber como meditar,Mas no como liberar - No que isso difere da meditao dos deuses?

Isso significa que aqueles que depositam sua confiana em uma meditao que carece do ponto vital do mtodo de liberao, e que meramente algum estado de repouso mental, apenas iro se desencaminhar dentro dos estados de meditao dos reinos mais elevados. As pessoas que afirmam que suficiente reconhecer quietude e movimento no so diferentes das pessoas comuns com seu pensamento deludido. Quanto queles que do todos os tipos de rtulos a isso, como vacuidade e "dharmakaya" a falha bsica em seu remdio fica exposta quando ele falha em fazer frente ao primeiro infortnio ou dificuldade com que depara. Ento: "Sem isso, a meditao no passa de um caminho de deluso". "Liberao no surgimento", "autoliberao", "liberao nua", qualquer que seja o nome que se d, essa forma de liberao onde os pensamentos liberam a si mesmos e so purificados sem vestgios o mesmo ponto crucial, que na verdade mostrar a autoliberao de modo explcito. a extraordinria peculiaridade do Dzogpachenpo e, dessa maneira, se voc possui o ponto-chave, quaisquer pensamentos ou emoes negativos que surjam simplesmente transformam-se em dharmakaya. Todos os pensamentos delusrios so purificados como sabedoria. Todas as circunstancias prejudiciais surgem como amigas. Todas as emoes negativas tornam-se o caminho. O samsara purificado em seu prprio estado natural, sem que voc tenha que renunciar a ele, e voc fica livre dos grilhes tanto da existncia condicionada quanto do estado de paz. Voc chegou a um estado completo e final, no h esforo, nada para consumar, nada por fazer. E: "Com isso, mesmo sem meditar, h um estado de dharmakaya".

Se consegue meditar com base em instrues essncias como essas sobre a experincia pessoal, no precisa fazer esforo mental para construir algo quando medita. Voc alcana uma experincia decisiva no estado de dharmakaya.

Se voc no possui confiana em tal meio de liberao, pode alegar que sua viso elevada e sua meditao profunda, mas isso no ir realmente ajudar sua mente, nem se mostrar um remdio para as emoes negativas. Portanto, no o caminho verdadeiro. Por outro lado, se voc possui o ponto-chave de auto-surgimento e autoliberao, ento, mesmo sem a mais mnima atitude de uma "viso elevada" ou noo de "meditao profunda", impossvel que sua mente no seja liberada dos vnculos do apego dualista. Quando voc vai para a lendria Ilha de Ouro, jamais consegue encontrar terra ou pedras ordinrias, por mais arduamente que procure. Exatamente da mesma forma, quietude, movimento e pensamentos surgem agora como meditao, e, mesmo que procure por deluses reais e slidas, no achar nenhuma. E somente isso a medida para determinar se a sua prtica atingiu o objetivo ou no: "O terceiro ponto vital : confiana direta na liberao dos pensamentos que surgem".

Parece que aqui Patrul Rinpoche est enfatizando que, com base nessa experincia, voc tem que estabelecer a confiana na essncia da qualidade autoliberadora dos pensamentos.

IV O COLOFO

Esses trs pontos-chave so a essncia infalvel que traz a viso, meditao, ao e fruio do Dzogpachenpo natural, junto com o estado da percepo todo-penetrante de rigpa. Assim, de fato, constituem as instrues essenciais para meditao e ao, bem como para viso. Entretanto, isso no um conceito abstrato a respeito do qual, para usar a terminologia do Dharma da tradio textual predominante, chegue-se a uma concluso definitiva aps apreciao mediante as escrituras, a lgica e o raciocnio. Em vez disso, assim que voc de fato realiza a sabedoria de rigpa. Visto que todas as muitas vises e meditaes tm apenas um sabor, no h contradio em explicar os trs pontos vitais como a prtica da viso. Ou seja: "Pois a Viso que tem os trs pontos vitais". Tal prtica o ponto-chave infalvel do caminho da pureza primordial no Dzogpachenpo natural, o verdadeiro pinculo dos nove veculos graduados. Da mesma forma que impossvel para um rei viajar sem sua comitiva, do mesmo modos os pontos-chave de todos os yanas servem como degraus e apoios para o caminho do Dzogchen.No apenas isso, mas, quando voc ver a face da lamparina da sabedoria surgida naturalmente a pureza primordial de rigpa , seu poder luzir como o insight que vem da meditao, e ento a vastido de sua sabedoria vai se avolumar como um rio de vero enchendo, enquanto a natureza da vacuidade desponta como grande compaixo, e dessa maneira infunde-o com uma compaixo amorosa que no tem limites ou preconceitos: Meditao, a unio de sabedoria e amor. Patrul Rinpoche est dizendo que, a respeito da viso imbuda dos trs pontos de viso, meditao e ao, a prtica da meditao ir combinar sabedoria e amor. O que dito aqui sobre meditao tambm relaciona-se pratica de tgal. Na tradio do Dzogchen, a base explicada do ponto de vista de sua essncia, natureza e energia ou reao, mas a nfase est nas duas primeiras: sua pureza primordial e presena espontnea. Quando consideramos a terminologia usada em outras tradies, "pureza primordial" corresponde ao aspecto da vacuidade, e "presena espontnea" ao aspecto da forma. Desse modo a unio de vacuidade e forma poderia ser vista como anloga unio de pureza primordial e presena espontnea. Est muito simples explicar dessa maneira, mas nesse caso seu ponto de vista seria de que o que absoluto a mente fundamental e inata de clara luz. A escola shyentong ou "vazio de outro" do Madhyamaka descreve essa mente inata como sendo "vazia de outro, de condies adventcios". Voc estaria considerando que isso o absoluto, tendo a pureza primordial e a presena espontnea como seus aspectos. Da mesma maneira que a unio vacuidade e forma, tambm poderia ser comparado unio de sabedoria e meios hbeis. Mas, na explicao singular do Dzogchen para as duas verdades, sua unio primordial que o absoluto. O termo pureza primordial relaciona-se srie intermediaria dos ensinamentos do Buda, e em geral refere-se a essa srie intermediaria, embora existam situaes em que se aplique a rigpa. O termo presena espontnea relaciona-se srie final de ensinamentos e ao proposito iluminado mximo do Buda. Na tradio do Dzogchen, o tema profundo da presena espontnea s tratado nos mais elevados ensinamentos. Devo destacara que mestres cultos sustentaram opinies diferentes sobre esse tpicos. Devido pureza primordial e presena espontnea da base, quando se chega prtica do caminho, voc pratica trekcho tendo como alicerce base primordialmente pura, e togal tendo como alicerce base espontaneamente presente. Por meio desses dois caminhos, o resultado que se sucede convencionalmente denominado "pureza primordial como lucidez interior do dharmakaya", ou presena espontnea como lucidez exterior do sambhogakaya".

Uma vez que o ponto-chave sobre o caminho, a unidade de vacuidade e compaixo, seja diretamente realizado, o oceano das aes dos bodhisattvas, todas includas dentro do caminho dos seis paramitas, surgem como sua prpria energia natural, como raios que brilham a partir do sol. Visto que a ao est relacionada acumulao de mrito, qualquer coisa que faa ser de beneficio para os outros, ajudando-a a evitar a busca de paz e a felicidade s para si mesmo, desviando-se da viso correta. Por isso: " acompanhada pela ao comum a todos os bodhisattvas". Esse tipo de viso, meditao e ao o verdadeiro cerne da viso iluminada de todos os budas que j vieram, que esto aqui agora e que um dia viro; por isso: Se todos os budas fossem consultados. O pico supremo de todos os yanas, o ponto-chave no caminho da Essncia do Corao Vajra do Nyingtik, a quintessncia de toda fruio nada supera isso. Assim sendo: "No encontrariam instruo mais importante que essa".

Visto que esse o mais excelente dos conselhos espirituais - Se todos os budas fossem consultados, no encontrariam instruo mais importante que essa , at que voc tenha baseado seu caminho na clara luz, no poder haver despertar para o estado de buda. E nos principais textos do Dzogchen est dito que o mtodo veloz e profundo abordar rigpa como base por meio de rigpa como a energia dessa base.

O real sentido do que est expresso nessa instruo a essncia do corao das instrues essenciais da linhagem, isso indiscutvel; contudo, mesmo as linhas que expressam essas poucas palavras, devem surgir, tambm do poder criativo de rigpa. Ou seja: Pelo terton do dharmakaya, o poder interior de rigpa.

Quando o texto-raiz diz: Revelada como um tesouro das profundezas do insight transcendental pelo terton do dharmakaya, subentende o prprio Dza Patrul Rinpoche.

Eu no possuo a mais leve experincia do real significado por trs dessas palavras como resultado da sabedoria que vem da meditao. Contudo, ao ouvir a infalvel transmisso oral de meu sagrado mestre, dissipei todas as dvidas por completo com a sabedoria que vem do escutar, e cheguei a um entendimento conclusivo por meio da "sabedoria nascida da contemplao", em consequncia do qual compus isso. E assim foi: "Revelada como um tesouro das profundezas do insight transcendental". algo diferente de qualquer tipo de tesouro mundano ordinrio, que pode trazer apenas alvio temporrio da pobreza. Em nada semelhante aos tesouros ordinrios de terra e pedra. Esses trs pontos vitais da viso, conhecidos como "Atingindo a Essncia em Trs Palavras", foram dados pelo nirmanakaya Garab Dorje de dentro de uma nuvem de luz no cu, enquanto ele passava ao nirvana, para o grande mestre Manjushrimitra. So as verdadeiras instrues essenciais atravs da quais a realizao deles tornou-se inseparvel. "Pois esse o testamento final de Garab Dorje". Foi por meio da penetrao do significado essencial dessa instruo que o onisciente rei do Dharma, Longchen Rabjam, naquela mesma vida, realizou diretamente a "mente de sabedoria" de pureza primordial, onde todos os fenmenos so esgotados, e desse modo despertou para o estado de buda completo e perfeito. Aparecendo de fato para o vidyadhara Jigme Lingpa em seu corpo de sabedoria, o abenoou moda da "transmisso do sinal dos vidyadharas". Na sequencia, a partir dele, por meio da "transmisso da boca para o ouvido", nosso bondoso mestre-raiz, Jigme Gyalwe Nyugu, recebeu a introduo por meio dessa instruo, e deparou com a verdadeira natureza da realidade face a face. E essa a instruo que ouvi de Jigme Gyalwe Nyugu enquanto estava presente entre ns como o glorioso protetor de todos os seres. por isso que essa "A essncia da mente de sabedoria das trs transmisses".

Patrul Rinpoche refere-se aqui ao vitorioso Longchenpa, o onisciente Jigme Lingpa, e Jigme Gyalwe Nyugu como corporificao das trs linhagens da transmisso. Instrues essenciais como essas so como o mais puro ouro, como o prprio cerne do corao. Seria uma pena ensin-las a pessoas que no as colocassem em prtica. Mas, por outro lado, tambm seria uma pena no ensin-las para uma pessoa que fosse zelar por essas instrues como por sua prpria vida, colocar seu significado essencial em prtica e alcanar o estado de buda em uma nica vida. Ento:

"Ela confiada a meus discpulos de corao, selada para que seja secreta. profunda no significado, so palavras de meu corao.So as palavras do meu corao, o ponto-chave crucial.Esse ponto crucial: jamais o menospreze!Jamais deixe essa instruo lhe fugir!"

Com esse breve comentrio, O Ensinamento Especial do Rei Sbio e Glorioso fica completo nesse ponto. Virtude! Virtude! Virtude!

Por mais de ano Sogyal Rinpoche esteve me solicitando que desse um ensinamento e, visto que no temos tempo, pensei que seria bom ensinar esse texto, que curto, mais de grande substncia. Passamos os ltimos dias juntos nesse salo, e achei muito agradvel. Penso, ou, pelo menos, espero, que tambm tenham achado.A coisa mais importante para ns praticantes espirituais praticarmos em nossa vida cotidiana. Para isso necessitamos de grande coragem, determinao e esperana. Tambm precisamos seguir nossa prpria religio sinceramente; isto tambm crucial. A religio deve estar dentro de ns, no s em nossos lbios. No faz sentido que ela permanea apenas em nossas bocas, e tambm no vai adiantar muito se a religio ficar apenas em um templo ou igreja. Religio ou espiritualidade devem viver dentro de ns. Por outro lado, o que religioso, ou espiritual, deve trabalha para ns, pois quando somos confrontados por problemas ou tragdias que precisamos de auxlio espiritual. Tudo vai depender daquilo com que estamos familiarizados. Dodrupchen Jigme Tenpe Nyima nos diz:

Se a Realizao vai despertar ou no, depende de sua prtica ser bem plantada; Se a sua prtica vai criar razes ou no, depende de sua coragem e determinao.

De fato, Seja o que for que fizermos, precisamos fazer um esforo. No d para esperar que seja tudo muito fcil e que algo grandioso acontea de repente. Isso tudo. Muito obrigado.

Extrado do livro Dzogchen, A Essncia do Corao da Grande Perfeio Sua Santidade o Dalai Lama. Transcrio: Marcos Paulo.