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1 ASTURIANAS Pantoja Ramos

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ASTURIANAS

Pantoja Ramos

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Prefácio São tempos difíceis. São tempos de coragem. São tempos da constatação que nossa Democracia ressurgiu nos anos 1980

com tantas sequelas que as tosses advindas delas foram inúteis para nos avisar (e olha que avisaram!) que uma forte pneumonia se aproximava. Arriscada nos matar.

Estamos doentes. Só não podemos ficar doentes de Esperança, pois a fé move

os moribundos para os melhores dias, a cura no raiar do sol. A Esperança é catalisadora dos remédios que precisamos tomar.

Deixar de frescura e admitir o mal sabor da beberagem que nos livre da

enfermidade e o dissabor de enfrentar nossos algozes, entre eles o comodismo. Os algozes possuem CNPJ. Nossos CPFs precisam resistir. Guerrilhando, guerrilhando, chegamos aos

CPFs dos algozes CNPJs. Ou são entidades demoníacas que não possuem rosto, somente a foice?

Entender as Asturianas em que passamos. Passo primeiro para vencer.

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Índice

Mono .......................................................................................................................................................................... 4 O Último Esteio ........................................................................................................................................................... 6 A Senha de Cleide ....................................................................................................................................................... 7 Oração da Castanheira ............................................................................................................................................... 9 Terra ..........................................................................................................................................................................10 Trinco ........................................................................................................................................................................11 A Guerrilha de Ednor .................................................................................................................................................13 Inevitáveis .................................................................................................................................................................15 Conta sem fim............................................................................................................................................................16 Epifania .....................................................................................................................................................................17 Resiliência nos tempos da Cólera ...............................................................................................................................18 Telecoteco do Chibé ...................................................................................................................................................20 Noções básicas de Adoniran para afuaenses .............................................................................................................22 Hidro .........................................................................................................................................................................23 A caneta no vidro ......................................................................................................................................................24 A Pira .........................................................................................................................................................................26 Pavãozinho ................................................................................................................................................................29 Asturianas .................................................................................................................................................................30 Verdecilina ................................................................................................................................................................32 Notredame ................................................................................................................................................................34 Monóculo ..................................................................................................................................................................36 Doc. ...........................................................................................................................................................................38 Genealógica...............................................................................................................................................................40 Açaissinato ................................................................................................................................................................41 Preamar de outubro ..................................................................................................................................................43 Marluce, ispia meu Memo(Rio) ..................................................................................................................................46 Reencontro turbilhão .................................................................................................................................................48 Poema da Força .........................................................................................................................................................50

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Mono

Belém, 16 de junho de 2018.

Se Mono o som O Mono é roubo

O Monopólio Mono é Idiota Monocultura

A Mono mente Mono TV

A Mono net A Mono moda

Monocultivo Mono alimento O Mono é fome

O Mono é guerra O Mono é ódio A Mono planta

O Mono pop O Mono tech O Mono pão

Mono digital Mono futebol A Mono copa

Mono narração Mono torcida

Mono país Mono noção

Mono Fenômeno O Mono Gol

A Mono cor

O Mono gênero O Mono Homo A Mono igreja

O Mono céu A Mono paz

O Mono ouvido

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A Mono voz

Por isso prefiro o Stéreo O Plural Stéreo A Diversidade

A Escolha de tocar De estar Stéreo Nas dimensões

Stéreo

Toca o bumbo Toca o prato

Toca a barriga Toca o Stéreo

Que não é estéril Toca a sanfona Tsts pandeiro

TsTs Berimbau Vem o Stéreo

Stéreo Sol Stéreo Lua

Stéreo Feira Stéreo Ao Vivo

Stéreo Fala Stéreo Ouve Stéreo Deus

Stéreo Viagem

Toca Teclado Toca Banjo Toca a Vida Toca Amor Toca Todos

Tu segues o Stéreo? Ou ao Mono Som?

x x x x x x x x x x x x x x x x

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O Último Esteio

Belém, 11 de junho de 2018. Quando caiu a casa machado criminoso máscaras do que se passa julgado tortuoso viu minha criança? este recado é pra ti existe um horizonte há paz na fonte justo para ti Cresças na indignação cresças na fala reta mas não raiva ah não conselho dos profetas Lá na frente anuncies Desde já denuncies bom é o mundo? Mau é o mundo? Seja o primeiro pra ti Os móveis na chuva relento todos nós a injustiça abusa choro, chuva e voz Tenhas consciência quando adulto fores na terra as flores na terra as dores o que te justifica?

******************

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A Senha de Cleide

Canal do Vieira, Afuá, 8 de junho de 2018. Cleide lia sua senha era enfim sua vez a bebê seguiu mamando enquanto ouviu a voz "Cleide, você é de onde? Me diz afinal te escondes? Quem são ou eram seus pais ? Tu és de guerra ou de paz? A rasa te dá pra viver? Quantos rebentos querer? Qual o CPF teu e da criança? Teu RG te dá esperança? Tua roupa é tão velhinha tá dizendo que vive na linha? Essa sandália qual marca que é? Eu te ignoro pois nem cuida do pé ainda não acredito que mulher da terra fala a verdade Cleide tu com essa cara boba me diz que depende de mim?" Cleide Via o formulário não conseguia entender e a bebê mamando trocou pro outro peito "Cleide qual sua renda? Da banana quanto é tua venda? Me informa a tua idade não do rosto mas a de verdade se tua casa tem quatro paredes quantos dormem na mesma rede? Não afinal gente de bem? Fala pra mim só pra mim Cleide tu precisas de mim?"

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Cleide pegou a caneta com o bebê no braço desenhou o seu nome Cleide dos Santos Dor Arte "Cleide cadê teu marido? Teu rabisco reconhecido? Tua bolsa foi negada? Tua terra questionada? Como não tens advogado? Vai pra capital nem que seja a nado mas compra uma roupa nova daquela lá no shopping fala a verdade Cleide só eu saberei tu vais depender de mim?" Cleide então se levantou com a bebê no colo olhou para o atendente e disse: "da próxima vez não choro". "Nunca mais chorarei". *****************

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Oração da Castanheira

Belém, 3 de junho de 2018. Pai, Ou Mãe de toda a Vida Sou a Castanheira do seu jardim E Adão e Eva vieram a mim Alimentei Sem saber se se teria recompensa Sem saber se me protegeriam Mãe Ou Pai de tudo que respira Quando o meu ouriço assim quebrou Todo Universo despertou Toda mata Todo pássaro Todo bicho Todo córrego Até Você Tupã se espantou O fogo é tão cruel Mais cruel é o capim Caim "Castanhejei" sua manhã, tu lembras? Vizinhas araras cantando meu nome Toda manhã floresta é doce sombra Todo frescor do ar que bom suor Baque que batuque Um pouco pra ti, um pouco pra cutia Um pouco pra nós Homem Ou Mulher que tanto ajudo Minha raiz não suportou Tombei da morte do seu amor Porém se germina o plantador Da terra queimada Castanheiras seremos Até o final dos tempos ****************

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Terra Belém, 30 de maio de 2018.

A Terra precisa: - da memória da terra - da saúde da terra - do bicho da terra - do trabalho na terra - da justiça na terra - da criança na terra O que poderemos colher? A Paz na Terra. ***************

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Trinco

Rio Pacajá, Portel, 28 de maio de 2018. E se eu somente causasse o trinco pra que você continuasse toda a vidraça desmoronando nova janela pra entrar a brisa E se trincasse toda fome do mundo juntos nós dois nessa travessura ignorantes em seus jatinhos não pousariam mais no seu penar Cai o vidro espedaça a vista que nos enganava és pedaço vivo por aí a conversar anda transparente o sinal dos tempos notícias libertadas Trinquei o vidro Trincou o vidro Sem querer querendo trinquei o vidro e enxerguei de lá um movimento movia assim todas as máquinas não havia fumaça só a ciência Descansar sem lembrar de conta pra pagar e num faz de conta que alimentar O trinco do vidro avisa que tempo não é dinheiro mas sim você Trincou o vidro Trincamos o vidro Vieram os sábios que racharam o vidro e avaliaram o meu serviço elogiaram mas veio conselho "Não é com a força mas com Esmero"

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Vem mocinha toma a ferramenta e ali trinque o vidro ei rapaziada embaixo trinquem a vidraça pra assim poder passar sorridente feliz e consciente a massa Já era a vidraça Passou a massa *************

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A Guerrilha de Ednor

Rio Charapucu, Afuá pensando em Belém, 11 de maio de 2018.

Ednor nasceu no rio na nascente do igarapé mais frio cresceu com pouco açaí de tomar ainda bem que tinha patauá Ednor cresceu na vila onde tudo era na compartilha na tarde de costa pro sol no tucunaré de linha e anzol Ednor não tinha estudo para ele um documento era um mudo "eu não quero mas terei que ir embora" "vou saber o que é uma escola " Ednor no cimento foi sapateiro foi garçom e também carreteiro vendeu chopp e antena de cano "trabalhei por aqueles que amo" Ednor não ia em festa o dinheiro pro aluguel que resta até que enfim passou supletivo até sonhava com futuro bonito Ednor passou no Enem na redação tirou quase cem escreveu sobre seu dia no trampo escreveu que nasceu em tal canto Ednor aluno se esforçava seu caderno tudo calculava Ednor erguia o cimento a caneta pesa sonolento Ednor sorriu pra uma pessoa se apaixonou por tão alma boa "talvez eu seja um de família " "quero ter um filho e uma filha"

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Ednor sentou na parada onze horas chuva rua esvaziada veio um carro da cor prateada brilhou da sombra uma rajada Ednor não era Ed sei lá a sombra falou que ia sujar Ednor ficou lá no chão vieram anjos em sua direção Era um rio de mata tão rica Era uma escola sua preferida Era canudo na mão de seus pais Era o passeio de mãos dadas no cais Era um sonho dos justos na paz **************************

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Inevitáveis Belém, 15 de abril de 2018.

Cor de repente eu vejo a luz todas as cores juntas reconheço você é tanta paz e espaço de onde vem o raiar pra onde vai o poente lá embaixo troveja De joelhos irmãos quedam vem juntar-se a mim se não é hora de vir teimosias nascemos pra tentar tudo de novo batem os sinos um novo tempo chegou A Criança Nasceu! Ele pode ele pode atirar mas quem de nós verá luz? quem só restará o cemitério? quem irá para as páginas? quem dançará com Bob Marley? apesar do ato não serei seu julgador Ando em um jardim colorido são os campos do Senhor céu e terra não sei quem é quem Cor ********************

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Conta sem fim

Ilha Santana, Ponta de Pedras, 05 de abril de 2018. A gema que origina o broto que se segue num galho que o sol orienta aí brilham as folhas que alimentam - se em verdes o doce, o ar, a energia encontra a água sais carrear nossa raiz. Um bebê que origina a criança que se segue num ser que o sol orienta aí brilham as mentes que carinham a árvore a paz, consciência e energia encontra a água no suor da terra nossa raiz. Uma pergunta que origina o incômodo que se segue nos passos que o sol orienta aí brilham pessoas que fazem manejo a floresta, a resistência, a energia encontra a água todo movimento nossa raiz. A gema que origina o todo e na mistura a mulher ou homem que o sol orienta aí brilham as gerações que alimentam - se da esperança a mata, gratidão e energia mergulham na água Carrear natureza Será raiz. *************

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Epifania

Belém, 29 de julho de 2018. Olhar pra cima Copa da árvore rosa Galho de rio na enchente Vai teclado Teclas de piano Teclas de um pensado Ah se fosse Bach Ah se fosse Waldemar Só posso sonhar Veio um anúncio de fim Veio um anúncio do início Afinal o meu ofício Indaga a nuvem Sou feito de água? Sou feito de mágoa? Responde a relva És feito de vida Passagem cumprida Ó quanta gente sensitiva Negativa e Positiva Fiação faz parte também Milênio que mal começou O dilema do burro foi O teste do porvir Maquinaria Não nos fez ceder Não nos fez morrer Trajetória Não tragédia história Não mentira retórica

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Resiliência nos tempos da Cólera

Belém, 23 de março de 2018. Desmorri, Se nem um arranhão Quanta coisa eu vi do lado Qual o lado que nós falamos? Aprendiz lutar Quem é o mestre que levanta hoje? Síria tua criança Vai jogar bola com a fé desenhas E ao gritar gol será diferente "Renasci! ". Desmorri, Sem cicatrizes Quando me cercaram Quem me fazia o cerco? Um cabelo sol A mulher da paz no morro Ave Maria Rio um mar de vozes Sento pra ouvir a sinfonia Não réquiem era a uma trova: "Renasci! ". Nas profundezas do manancial Escorre a cobiça Chocolate fel também é réu Juiz do tempo Desmorri, Será que sou milagre? Eu reaprendo a ler a Palavra que dizia só Bem Aventurados Os que lutam em favor do amor Brasil tu nasceste? Não me parece mas se quer ajuda

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Olha o exemplo que te passo: "Renasci! " Não plim plim E indo contra tudo e oligococos "Renasci!" ************

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Telecoteco do Chibé

Belém, 13 de março de 2018. Té Téleco Telecoteco Téleco Telecoteco Téleco... Tereza Olha as voltas que a vida dá E reparaste como que é? Estamos voltando pro chibé Chibe (ó minha Teca) Só que a farinha tá bem mais cara Só que a água tá bem mais suja Só o que repete é a nossa fé Vardi Deixa de assombro do que apareça Olha pra frente e não se esqueça Quem nos roubou se sabe o nome Vardi Mesmo com tanta informação Falta saúde e educação A insegurança é a nova fome Então mulher mulher Novo Chibé bem é capaz Água, farinha e colher de paz A união é o prato que se come Meu filho Toma um pouco pra você Reparte com a sua irmã este comer Nossa Barriga não mais sofrer (Qual é a luta?)

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Chibé libertação Ter Telecoteco Telecoteco Teca Telecoteco Té! **************

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Noções básicas de Adoniran para afuaenses

Rio Morcego, Afuá, 2 de março de 2018. O Tomóteo encomendou Trinta rasa de açaí Do nuvinho e bem pretinho Lá vu eu catraiazinha A farinha o enserado Santa Rita E o cafezinho Mas que veio um pipoco Maresia um sufoco Chega tava espumano Veio discunforme temporal Na palheta veio um pau Caiu nágua fui remando Seu Tomóteo Discunjuro Paga minha rasa com mais um juro Olha o custo da viagem O olio dirse e a friage Mas Tomóteo te explico E vai de mim não de fuxico Que o tempo já passou Pro patrão que mal me faz Ou que diz que tanto faz Meu tuíra nunca mais Tomóteo Toma-te Tomóteo Toma-te ************

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Hidro

Belém, 24 de fevereiro de 2018.

Se teu nome fosse hidro, talvez fosses mais respeitadora.

Mas teu nome Hydro. Sofisticada. Mercadológica. Transnacional para o capital.

Se teu nome fosse hidro, talvez tu atentasses um

pouco mais para as águas, na ligação do nome. Porém, escolheste não se misturar.

Não misturaste com os povos ao teu redor. Até diria

que viraste as costas para os teus vizinhos, pois tudo estava em seu controle.

Mas misturou. Não o que poderia ser, da

governança, da partilha de causas e efeitos, de respeito. Misturaste o que há de ruim para as águas: o veneno.

Para a hidro. E não és hidro. És Hydro.

O que nós sabemos e até tu sabes é que que ninguém, repito, ninguém segura as águas, que tomam a forma da própria vida e são símbolo da rebeldia, sabias? Até num

copo aparentemente presa ela se movimenta para se libertar.

E elas ficaram vermelhas. Como hidro que é,

denunciam ao mundo a sua santidade violada. Daquilo que é o sonho do ser humano.

Transparente água obviamente frase.

Inodora água obviamente frase. Insípida água obviamente frase.

Tudo que Hydro não foi e não está.

Sujeira. Fedor.

Amargo.

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A caneta no vidro

Belém, 15 de fevereiro de 2018 O imposto que você paga O imposto que você paga O impostor que você paga Tão imposto e você paga O tributo que você deve Não tributo que você teve Na tribuna que você vota No tribunal meio que fede O boleto que tu emites Abjeto que tu omites Objeto que admites O bolão que tu insistes Nova taxa na tua conta Velha taxa e tu não contas Taxativa que não contavas És taxado pesada conta O imposto que você paga O tributo que você deve O boleto que tu emites És taxado apesar da conta O imposto que é imposto O imposto que não se importa O boleto que tu imprimes Impressão que é a mesma tinta Sendo a taxa a que te fura Um por cento que não mistura Sendo tudo tão tributável Essa fila tão infindável E...

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Tec-tec-tec: - O próximo? **********

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A Pira

Belém, 06 de fevereiro de 2018. Sendo uma vez ela porre Sendo uma vez um cachorro Sendo uma vez uma garrafa Sendo uma vez uma mesa (enferrujada) Sendo uma vez uma Tv Pira Foi mais uma vez a ébria Foi mais uma vez o tédio Foi bem talvez a sarjeta Foi bem talvez o meio fio Foi com certeza a vala Foi certa vez uma nóia Que mais uma vez a pira A pira A pira A pira Quando de vez o cachorro Quando de vez um cão Quando de vez a sarna Quando de vez companhia Mais uma vez creolina Come aos poucos a pira A pira A pira A pira Mais uma vez a TV Mais uma vez a mulher Mais uma vez um cão E toda vez solidão

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Mais uma vez ninguém vê A pira É desta vez a desperta É desta vez um caminho É desta vez uma fogueira É desta vez o álcool É desta vez a mulher É desta vez o isqueiro É desta vez Jornal Era uma vez a TV Acende de vez a pira A Pira A Pira A Pira O fogo A pira Fumaça A pira Cachorro A pira O álcool A pira Não teto A pira Coceira A pira Pobreza A pira Brasília A pira Dinheiro A pira O Banco A pira País A pira A pira

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A pira ******************

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Pavãozinho

Afuá, Rio Fábrica, 27 de janeiro de 2018. Meu Pavãozinho Paraense anda devagar por cima da palha vai bem sorrateiro espiar os homens quem já acordou e quem tá puindo a rede Pescoço tão enxerido perna tão de caniço Voou Voou Voou pra jaranduba Tão pavãozinho nativo pega o turu pra render a bóia vê o cachorrinho comer o resto dos donos que pelhanca só frango insosso Pena da cauda aberta bica a lagarta descoberta Voou Voou Voou pra jaranduba Eh Pavãozinho do Pará repara se tem cobra por onde pisas Combóia tá esgueirada ali na lama Parecem certa gente que vivem do mal Instinto te abre as asas Voou por cima das rasas Voou Voou Voou pro alto das vistas ******************

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Asturianas

“- Ah! Era uma vez, uma vez fomos ricos, nos tornaram ricos, havia um Governo que tornava as pessoas ricas, dando-lhes terras.

Estão ouvindo? ”

Trecho do conto “O Boizão”, do livro Wekeend na Guatemala, de Miguel Angel Astúrias.

Baía do Marajó, 10 de dezembro de 2017.

Quando eu viajei Ouvi história da dona Joelma Ouvi lamentos da dona Joelma Da sua casa um jiral vazio De Joelma Quando eu visitei Senti o temor daquela Menina Senti o trauma daquela Menina De uma arma apontada à ela Pra Menina Quando lá cheguei Ouvi o clamor da gente dos campos Aspirações da gente dos campos Os acrescidos de gente unida De tão campos Serra avistei Esperancei pelas castanheiras Aplaudi luta castanheira Jamanxim contra a motoserra Pelos vales Gapuiar Jacundá Charapucu Na Jaranduba Repartimento do alimento Mesmo assim Joelma brinca com seu filho sapeca Mesmo assim a Menina brinca com sua irmã no galho da árvore Mesmo assim nos campos galopa a natureza

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Mesmo assim se faz doce de castanha Quando bem será? Que o Pequeno terá fé no pobre? Que o Menor terá fé no pobre? E o mundo pra virar uma Flor? Da Justiça

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Verdecilina

Rio Jaburu, Breves, 29 de novembro de 2017. Tanta tristeza eu sinto Dentro mim não tem solução Porque a Criação escolheu a mim? Tantos problemas corridos E neste rio enchente que vejo É tanta planta tudo igual A chuva fina mistura com sol Ramas de açaí dançam Que interessante ali uma criança Brinca com o remo e com a água Olha um cacho grande de miriti É a natureza chamando "Cantai sobre mim" "Cantai sobre mim" Torrão de ilha se forma Uma ucuubeira quase cai Dedo de Deus traz a luz Faz mais brilhante o dossel Um veterano filma a mata Sorri como menino Sonha que sobe na árvore? Lembra da sua infância? Aturiás protegem a vida Seringas esfriam a terra Cada planta tem sua função É a Criação ensinando "Te curas em mim" "Teu bálsamo em mim"

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"Cantai sobre mim" ***************

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Notredame

Rio Jaburu, entre Macapá e Belém, Navio Ana Beatriz, 29 de novembro de 2017.

Vi da imagem santa uma mulher do povo Esperança o tempo todo Será ela guardiã? Nunca foi estrangeira Não seria daqui? Amazônia te quer bem Esta terra te foi Mãe De onde vieste? "Vim do frio para te esquentar" Pra que tu vieste? "Vim da guerra para paz te dar" Ainda bem que chegaste "Só que a hora de partir chegou" Bem que podias ficar "Minha obra aqui terminou" Sei que existe força aliada do sorriso Conheci substantivo Caminhante - sem - cansar Pena que eu te vi tão rápida Passarinha branquinha Reaprendi a ser aprendiz Teu recado entendi Agradeço irmã minha "Não foi nada meu irmão de chão" Te abraço irmã sempre "Manda abraço pro seu filho então"

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Eu darei recado "Ele está na minha oração" Eu darei recado "Dai lembrança pro meu Maranhão" "Ai Meu Bom Deus Marajó é como um irmão" ***********

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Monóculo

Belém, 16 de novembro de 2017. Quando eu te olhava de um olho só O Sol das nove era morno e sadio Quando eu te via de um olho só Tu tinhas bala e esta palavra era doce Quando se admirava de um olho só Prestava-se atenção na beleza Quando se amava com um olho só A luz cobria quem se amava e sua aura era plena Quando eu curioso de um olho só De qual tribo tu eras vestida de índia? No tempo em que eu via com um olho só O Natal era pobre mas de gente abraçada Na vez que eu olhei uma foto de um olho só O Isabelense quase foi campeão paraense Quando eu ri da foto tão pequenina Meu avô tinha calça na altura do umbigo Quando eu me vi na foto com um olho só Tava sorrindo desdentado na árvore Quando a claridade me permitiu ver o que havia Um barco parecia lá no fundo em forma de nuvem Quando o retratinho achou os amigos A praia era mais praia do que casas Foi no tempo de um olho a ver fotos Que a imagem viu a imagem na parede, um

casamento a imagem Hoje tudo mais fácil e efêmero Passam meus dedos rápidos pelas fotos nunca mais

retratos Acelerados, pouca concentração Quando eu via retratos de um olho só, não Tudo era autenticamente natural Até a minha admiração

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Já ia esquecendo de que era uma vez Artistas dos pequenos retratos E quando quebrou meu monóculo O último Meu Deus, pela primeira vez eu reclamei da

saudade *************

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Doc.

Belém, 02 de novembro de 2017. Exigiu-me o trabalho Um diagnóstico de uma região Qual metodologia seguir, ué? Na hora de escrever o doc. O olhar das pessoas Me veio na mente Como não estender às teclas? Eu não sou uma máquina fria Eu sou repassador de histórias Sou a energia das suas falas Serei seu Relato e Escrito Será Socioeconômico? Socioambiental? "Econosocial"? Sociocultural? "Econoambiental"? "Econocultural"? Desde que fale com Amor e Verdade Será "etnoambiental"? Etnográfico? "Ambiocultural?" "Ambioeconômico"? "Etnosocial"? "Etnoeconômico"? Desde que escreva com Verdade e Amor Agenda apertada e prazo Um diagnóstico de uma região Qual método de coçar a cabeça?

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Mesmo com o relógio gritando Ouço a voz das pessoas Como não transpassar Fiel às suas queixas? No meu mantra "não sou máquina fria" Eu sou repassador de suas glórias Sou o carregador de suas prosas Serei seu Relato e Escrito Será Geopolítico? "Geoeconômico"? "Sociopolítico"? "Histoeconômico"? "Ecohistórico"? "Etnohistórico"? Desde que fale com Amor e Justiça Será então filosófico? Será astrológico? Então astronômico? Será ecológico? Será cosmológico? Até "Filocósmico"? Desde que eu não esqueça as pessoas **************

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Genealógica

Rio Jaburu, Breves, 03 de março de 2017. Meu trisavô sorria minha trisavó sorria esse risinho maroto herdaria Meu tio assim corria minha tia assim corria e disputar com o vento eu faria Meu bisavô caminha minha bisavó caminha e assim meu andar prosseguia Meu avô assovia minha avó assovia e a música que vem de mim maestria Meu primo brincaria minha prima brincaria e tantos mapas de tesouros descobria Meu irmão repartiria minha irmã repartiria o pão tão valioso compartia Meu pai me amaria minha mãe me amaria incondicional que fosse eu sentia Meu filho herdaria minha filha herdaria o amor de todos eles tão família ****************

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Açaissinato

Belém, 30 de setembro de 2017 Assassinato de Açaí É essa misura, rapá de comer com banana Assassinaste o açaí é a tua juntada, pequena com essa tar de granola Quase um crime hediondo misturar com um morango passível de punição Mas também sou incriminado pois sou tipo açucarado talvez a má criação Assassinato de açaí é este tipo exportado de uma chula ensacada Quem não conhece o açaí toma kisuqui do preto e se diz marombada É um crime anunciado querer açaí plantado no lugar do que é nativo Mais do que endinheirar Açaí é popular Mata fome deixa vivo O açaí é raiz O açaí é matriz O açaí peço bis O açaí faz feliz O açaí é du puvu

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Cum farinha, seu muçu Cum um pexe du nuvu O açaí é du grussu É energia pro pop Dá bucho cheio no pobre Jiboiar, Jiboiei Jiboiar, Jiboiei Ronquei! Olha a onça! ************

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Preamar de outubro

Belém, 7 de outubro de 2017. Santa Nazaré, Permicença. Não sou religioso. Sou um pecador. Deverei ser julgado um dia como todos os mortais. E imortais. Se a Senhora permitir, queria fazer pedido. Pedido amazônico. Nada quero nada pra mim, pois já tenho muito da

saúde e curiosidade pra estudar que Deus e a Senhora me afortunaram. Sou infinitamente grato.

Queria assim Senhora Santa Nazaré te pedir com o

peito amofinado quatro cousas: Que minha família esteja bem, na amplitude que vá

até onde eu não enxergue onde começa e onde termina a família, já numa trançada com os amigos.

Interceda, por favor, que meu filho (apesar das

condicionantes do autismo) converse com a mãe dele numa prosa tagarela, daquelas ali na cozinha para ter de resposta o riso dela na íris.

Peço-te, mesmo eu não sendo religioso (desculpe), que

nenhuma mulher amazônida seja expulsa de sua casa ou testemunhe o horror de sua casa derrubada.

Tábua a tábua. Giral abandonado pela opressão. Dona Naza, podes dizer à jovem senhora e ao seu

esposo jovem quando podem eles retornar para a sua casinha de madeira pregada com muito suor e amor?

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Aquela mulher perguntou-me quando poderiam voltar.

Eu (tão metido a estudado que sou, um peste

soberbo), não consegui responder. Não sabia a resposta. Não quero ser enxerido neste

momento de tanta demanda, mas podes dar uma luz à jovem senhora que ainda começa a vida?

Uma daquelas luzes que me deste quando eu tinha

cinco anos, naquele sonho translúcido de ti chegando - se a mim?

Não prometi na hora, porém vou maturando uma

promessa de me fazer secular pergunta no final da barcada na Terra se tive alegrias e quantas alegrias proporcionei.

Juro que avaliarei a mim mesmo para ter a

consciência final se servi mais aos exploradores ou aos explorados.

Juro. E assim sigo na vida na indagação do que é uma

igreja. O que é uma igreja? O que é uma igreja? Ando na questão desde os dezessete anos. Hoje quando vejo teus romeiros descalços. Humildes. Festejosos de tal ponto que deixam a cruel Belém

mais Santa (ou mais Humana, a Senhora escolhe). Em que milhões se enxergam iguais.

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No aroma bom de que poderíamos ser mais justos e próximos.

Junto-me aos rezadores e promesseiros. Neste sentimento te peço o que pedi. Não para mim. Não, Nazinha (Permicença pra te chamar assim?), e

sim todas as suas bênçãos aos que te rogam em cada Preamar de fé.

Hoje, em mim, a Lua estava cheia. Amém. Ó, uma flor pra ti, Santinha. **************

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Marluce, ispia meu Memo(Rio)

Rio Pará, Curralinho, 07 de setembro de 2017. E depois da maresia vacilante Eu fui ao fundo e nadei tudo E bem antes do caracterizante Fui palhaço mudo e sozinho Mesma letra Mesmo a dor Não impediu a meia-lua e o andor Fiquei à margem esses anos todos Um cabano tão escondido Cantei a vida mesmo em trajes rotos Território é minha pátria No poente No raio manhã Eu peço benção à Iaçá ou à Tupã O Rio A flor Que nos acompanhou Disse Olá ao araçari O Rio A cor Que o camarão pescou Cumpra - se o jupati Através da neblina e friagem Vem a costela e recanto Na ilharga, beira ou na margem O canto dos encantados Própria voz Propriamente O sibilar para grelar a semente O Rio

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Favor Que a andiroba arrastou Curou o baque do porvir O Rio Calou E a memória proseou O futuro que me sorri Eu Rio Supor Que todo mal não tem fim Pajé do vil garantir O Rio Amor Alfa e Foz Lei em mim Leito do meu resistir Toda História é um afluente Da respeitosa mente Mãe igarapé Cabeceira que planta a gente ***********

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Reencontro turbilhão

Belém, 09 de setembro de 2017. Olha só o reencontro Quanto tempo não nos víamos Como anda o humor? Vejo que estás bem Não admiro o céu e a mata te cuidam Velho Amazonas! Novo Amazonas! Veja a novidade Abriram as abas Das falas tão sinceras E eu nem te conto São vorazes virtuais A comer a sensatez Novo Amazonas! Velho amazonas! Sempre surgem aqueles Que justificariam A Humanidade Por isso sigo navegando Mesmo com tempestade Que daria medo Ao viajante Eles reinventam a bússola Mano velho amigo Ficaste feliz Ao rever este companheiro? Pelas ondas digo Que pensamos iguais Pois é bom surpreender os incautos Vazante Amazonas! Enchente Amazonas! No horizonte eu fito Tempos de calmaria Pra Amazônia Então não temo a onda

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Se é equilíbrio Que vai girando o timão Sigo certo nova Ilha-Terra Então? Grande Rio Parceiro Foste testemunha Do jovem bobo que fui Talvez mudara um pouco Só que meu olhar graúdo Se maravilha com o infinito Do Velho Amazonas! Do Novo Amazonas! *********

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Poema da Força

Afuá, 05 de setembro de 2017. Eu vim escorregando no tempo Perdendo a noção de espaço E cada um tem os dois bem próprios No encalhe do navio que sou Ou no dilema de uma maré Eu digo que sou Preamar de Força Rasgou a madrugada o Sol que é Rei Canta o galo forte que acordar é lei Passarinhada pinta o céu Decola a folha voa ao léu Mais um jovem diz adeus ao vício Tempo-Espaço o botão reinício Positiva força que abriu minha janela Labor sem dissabor só vem Tão assim se depender da mente Pra isso eu sou o livro de mim mesmo Rezou o sorveteiro ao gelo Orou a tapioqueira à massa Num religar para aquilo que é Força A marcha da bicicleta lá vem subida Flor das onze horas se fez surgida Vem o vapor do arroz Mãe e filho um abraço dos dois Uma jovem sai da depressão Silêncio deu lugar à uma canção Força positiva que ergueu a minha fé É Força É a Força Gente junta enfrenta o opressor Reação tem brilho em multi-cor Sonho é complemento de toda Força Nove meses reivindica a Vida Uma ligação pra toda Vida Os que eram pais agora avós O que era casal passou a ser "nós"

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O que eu era antes de você? Nasce outro mundo sem perceber Mudança é filhinha de toda Força **************