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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GERONTOLOGIA CURSO DE MESTRADO
CATARINA MAGALHES PORTO
ASSOCIAO ENTRE DEFICINCIA DE VITAMINA D E RISCOS
CARDIOVASCULAR E DE INSUFICINCIA CARDACA EM IDOSOS
Recife
2016
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CATARINA MAGALHES PORTO
ASSOCIAO ENTRE DEFICINCIA DE VITAMINA D E RISCOS
CARDIOVASCULAR E DE INSUFICINCIA CARDACA EM IDOSOS
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Gerontologia da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Gerontologia.
rea de concentrao: Envelhecimento e Sade
Orientadora: Prof. Dr. Vera Magalhes da Silveira
Co-orientadora: Prof. Dr. Vanessa de Lima Silva
Recife
2016
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Catalogao na Fonte: Bibliotecria: Glucia Cndida, CRB4-1662
P853a Porto, Catarina Magalhes. Associao entre deficincia de vitamina D e riscos cardiovascular e de insuficincia cardaca em idoso / Catarina Magalhes Porto. 2016.
241 f.: il. ; 30 cm.
Orientadora: Vera Magalhes da Silveira. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco, CCS. Programa de Ps-Graduao em Gerontologia. Recife, 2016.
Inclui referncias, apndices e anexos.
1. Vitamina D. 2. Idoso. 3. Risco. I. Silveira, Vera Magalhes da (Orientador). II. Ttulo.
610 CDD (23. ed.)
CDD (23.ed.)
UFPE (CCS2016-210)
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SERVIO PBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CINCIAS DA SADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
GERONTOLOGIA
ATA DE DEFESA DE DISSERTAO DO PPROGRAMA DE PS-GRADUAO
EM GERONTOLOGIA DO CENTRO DE CIENCIAS DA SADE DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE PERNAMBUCO, NO DIA 31 DE MAIO DE 2016.
Aos trinta e um dias do ms de maio de dois mil e dezesseis, soito horas,
nas dependncias do Programa de Ps-Graduao em Gerontologia do Centro de
Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, em sesso pblica,
teve incio a defesa da Dissertao intitulada Risco Cardiovascular, de
Insuficincia Cardaca e Deficincia de Vitamina D em Idosos da aluna
CATARINA MAGALHES PORTO, na rea de concentrao Gerontologia, sob a
orientao daProfa. Dra.Vera Magalhes da Silveirae coorientadora Profa. Dra.
Vanessa de Lima Silva.A mestranda cumpriu todos os demais requisitos regimentais
para a obteno do grau de Mestre em Gerontologia. A Banca Examinadora foi
indicada pelo programa e homologada pela Diretoria de Ps-Graduao, atravs do
Processo N. 23076.023676/2016-69 em 19/05/2016, composta pelos docentes:
Profa. Dra.Vera Magalhes da Silveira(PPGERO/Orientadora), Prof. Dr. Rafael da
Silveira Moreira (PPGERO - Membro Titular Interno), Prof.Dr. Brivaldo Markman
Filho(Depto. de Cardiologia HC/UFPE- Membro Titular Externo), Profa. Dra. Mrcia
Carrra Campos Leal(PPGERO - Membro Suplente Interno) e Ins Maria
Remigio(Depto. de Cardiologia HC/UFPE- Membro Suplente Externo). Aps
cumpridas as formalidades, a candidata foi convidada a discorrer sobre o contedo
da dissertao.
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SERVIO PBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CINCIAS DA SADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
GERONTOLOGIA
Concluda a explanao, a candidata foi arguida pela Banca Examinadora
que, em seguida, reuniu-se para deliberar e conceder a mesma a meno da
referida Dissertao, que foi a de: APROVADA. E, para constar, lavrei a presente
Ata que vai por mim assinada, Secretrio do Programa de Ps-Graduao em
Gerontologia, e pelos membros da Banca Examinadora.
Recife, 31 de maio de 2016.
SECRETRIO
Manoel Raymundo de Carvalho Neto
SIAPE 1731938
MESTRANDA
Catarina Magalhes Porto
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra.Vera Magalhes da Silveira
(PPGERO/Orientador)
Prof. Dr. Rafael da Silveira Moreira
(PPGERO - Membro Titular Interno)
Prof. Dr. Brivaldo Markman Filho
(Depto. de Cardiologia HC/UFPE - Membro Titular Externo)
Centro de Cincias da Sade - Av. Prof. Moraes Rego S/N - Cidade Universitria - Recife/PE
CEP:50739-970Fone/Fax: (81) 2126-8538 E-mail: [email protected] www.ufpe.br/ppgero
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REITOR
PROFESSOR ANSIO BRASILEIRO DE FREITAS DOURADO
VICE-REITOR
PROFESSORA FLORISBELA DE A. C. E S. CAMPOS
PR-REITORIA PARA ASSUSTOS DE PESQUISA E PS-GRADUAO
ERNANI RODRIGUES DE CARVALHO NETO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GERONTOLOGIA
COORDENADORA: PROFESSORA MRCIA CARRRA CAMPOS LEAL
VICE-COORDENADORA: PROFESSORA ANA PAULA DE O. MARQUES
CORPO DOCENTE
ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN
ALCIDES DA SILVA DINIZ
ANA PAULA DE OLIVEIRA MARQUES
ANTNIO CARLOS GOMES DO ESPRITO SANTO
CARLA CABRAL DOS SANTOS ACCIOLY LINS
EDILSON FERNANDES SOUZA
ELIANE MARIA RIBEIRO DE VASCONCELOS
EULER ESTEVES RIBEIRO
GILSON EDMAR GONALVES E SILVA
ILMA KRUZE GRANDE DE ARRUDA
ISOLDA BELO DA FONTE
MRCIA CARRRA CAMPOS LEAL
MARIA DA CONCEIO LAFAYETTE DE ALMEIDA
MARIA DAS GRAAS WANDERLEY DE SALES CORIOLANO
MARIA LCIA GURGEL DA COSTA
RAFAEL DA SILVEIRA MOREIRA
ROGRIO DUBOSSELARD ZIMMERMANN
VANESSA DE LIMA SILVA
VERA MAGALHES DA SILVEIRA
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Dedico aos meus pais, Giovanni Rodrigues Porto e Maria Pureza Magalhes
Porto, por toda dedicao e amor, pelos esforos, incentivos em todas as fases da
minha educao, pelos ensinamentos de vida e respeito s pessoas.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por me fortalecer e me instruir ao longo da vida profissional,
capacitando-me no exerccio da Medicina, assim como neste Mestrado.
A meu esposo Emerson Fernando Mendes Paes Barreto, por todo apoio e
colaborao em todas as fases deste Mestrado.
A meu irmo Wilson Magalhes Porto, por sempre me apoiar e pela
inestimvel ajuda na correo desta Dissertao.
Ao meu irmo Marlos Magalhes Porto, pela grande ajuda para elaborao da
aula para a defesa do Mestrado.
minha irm Helena Magalhes Porto, por todo apoio que tenho recebido.
Professora Dra. Vera Magalhes da Silveira, orientadora e amiga, que com
sua capacidade de repassar o conhecimento cientfico e experincia na ps-
graduao, muito me auxiliou nesta Pesquisa.
Professora Dra. Vanessa de Lima Silva, minha co-orientadora, pelo
incentivo e colaborao, de importncia fundamental na metodologia e elaborao
desta Dissertao.
Ao Professor Dr. Brivaldo Markman Filho, pelos seus conhecimentos,
entusiasmo e conduo brilhantes na Cardiologia do HC-UFPE e pela
disponibilidade em participar da Banca Examinadora.
Ao Professor Dr. Rafael da Silveira Moreira, pela dedicao e profissionalismo
como professor do Mestrado, assim como pela disponibilidade em participar da
Banca Examinadora.
Professora Doutora Mrcia Carrra Campos Leal, pelo aprendizado em sala
de aula e pela dedicao e esforo na criao do Mestrado de Gerontologia, assim
como pelo ambiente acolhedor com o qual proporcionou a todos os alunos deste
Curso, e por aceitar participar da Banca Examinadora.
Doutora Ins Remgio, pela dedicao e amor Cardiologia, assim como
pela Coordenao do Setor de Ergometria-HC e tambm pela disponibilidade em
participar da Banca Examinadora.
Professora Doutora Ana Paula de Oliveira Marques, pelo aprendizado nas
aulas do Curso do Mestrado e por toda dedicao criao e aprimoramento do
Mestrado de Gerontologia.
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Ao Professor talo Rachid, que nas suas aulas de Fisiologia Hormonal, tanto
me incentivou nos estudos sobre a Vitamina D.
Aos meus Professores da Cardiologia, Prof. Dr Edgar Guimares Victor, Prof.
Dr. frem de Aguiar Maranho que muito contriburam e me inspiraram no meu
aprendizado e nesta Especialidade to querida.
amiga Rita de Cssia Hoffmann Leo, pelo apoio, amizade, coleguismo e
grande auxlio nesta Dissertao.
Ao amigo Dr. Joo Soares, pelo seu empenho na realizao dos exame
laboratoriais dos pacientes no Hospital das Clnicas e no Hospital Agamenom
Magalhes.
amiga Dra. Rosrio Monteiro, pelo apoio do Laboratrio do Hospital das
Clnicas.
Ao Professor Lair Ribeiro, por sua sabedoria e conhecimentos ministrados
nas aulas sobre a Vitamina D.
Aos colegas cardiologistas do Setor de Ecocardiografia do HC-UFPE, Dra.
Mnica Chaves, Dra Ana Elizabete e Dra Eveline Calado que foram de extrema
importncia na avaliao dos pacientes desta Pesquisa.
Priscila Gonalves da Silva, pela grande e fundamental ajuda na anlise
estatstica.
Vivyane de Paula, amiga e Secretria Executiva da Cardiologia-HC-UFPE,
pela relevante ajuda na formatao desta Dissertao.
Profa. Vnia Pinheiro e Mrcia Arajo, pela solicitude no encaminhamento
do projeto inicial para aprovao.
Hilda Tahim, Weine Bezerra e Luciana Paula da Silva Gonzaga, pelo
apoio aos pacientes presentes nesta Pesquisa.
Ao professor Dr. Francisco Bandeira pelo apoio inicial ao Projeto desta
Pesquisa.
Aos meus pacientes do Ambulatrio de Cardiologia do HC-UFPE e do NAI,
cujos dados dos pronturios me permitiram realizar este Estudo.
A minha sobrinha Ceclia Magalhes Porto Lira, pela reviso e traduo da
lngua inglesa.
A bibliotecria Sandra Maria Neri Santiago, pela formatao da dissertao
conforme as Normas da ABNT.
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Aos colegas e amigos do PPGERO, pela boa convivncia, aprendizado e
companheirismo ao longo de todo o Curso do Mestrado.
Aos amigos do Ncleo de Ateno ao Idoso, especialmente a Mrio Roberto
Agostinho da Silva, por todo carinho, organizao e habilidade na coordenao do
NAI, pelo acolhimento e incentivo pesquisa cientfica.
Ao secretrio do PPGERO, Manoel Raymundo de Carvalho Neto, pelo apoio,
boa vontade e dedicao aos alunos, de grande importncia em todo o Curso.
Aos professores do PPGERO, por transmitirem entusiasmo, dinamismo e
profissionalismo em vrias reas na Gerontologia e pelo ambiente acolhedor que
proporcionam aos alunos do Mestrado.
A todos do NAI/UFPE, servidores, terceirizados, estagirios e estudantes da
graduao de Medicina e de Enfermagem, por toda ajuda e apoio nos atendimentos.
Muito obrigada!!!
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"No preciso ter pressa. A impacincia acelera o envelhecimento, eleva a
presso arterial e apressa a morte. Tudo chega a seu tempo" (TANIGUCHI, 2016).
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RESUMO
Avaliar associao de deficincia de vitamina D com risco cardiovascular e
risco de insuficincia cardaca em idosos atendidos em ambulatrio de cardiologia.
Estudo de corte transversal com abordagem analtica. Foram coletados dados de
pronturios de pacientes com idade a partir dos 60 anos, no Ncleo de Ateno ao
Idoso e no ambulatrio de cardiologia, do Hospital das Clnicas da UFPE do perodo
de agosto a novembro de 2015. As variveis dependentes (Sheffield e o risco de
insuficincia cardaca avaliado pelo questionrio ABC), e a independente, a
deficincia de vitamina D. A idade, sexo, escolaridade, etnia, hipertenso, diabetes
mellitus, hipotireoidismo, insuficincia renal, demncia, acidente vascular cerebral,
dislipidemia, depresso, tabagismo, etilismo, obesidade, andropausa, arritmia
cardaca foram consideradas intervenientes. Na anlise dos dados, para testar a
associao entre as variveis foram empregados o teste Qui-quadrado de Pearson e
o teste exato de Fisher. Na anlise logstica multivariada admitiu-se ponto de corte
p-valor 0,20, fornecido pela anlise bivariada. No modelo de regresso logstica foi
utilizado o mtodo stepwise. Para anlise da significncia das variveis foi feita
utilizando-se o teste Wald e para a associao entre o risco cardiovascular e o de
insuficincia cardaca foi utilizado o teste Qui-quadrado. Dentre os 137 idosos,
mulheres (75,9%), sobrepeso (48,2%) ou obesidade (30,6%); aumento do ndice
cintura/quadril (88,3%) e dislipidemia (94,2%). Identificou-se 91,2% hipertensos;
35,0% com doena coronariana definida ou possvel e 27,7% com arritmia cardaca
ou hipertrofia de ventrculo esquerdo. 65% dos idosos tinham deficincia de vitamina
D, com maiores riscos: sexo masculino (OR: 3,94; IC 95%=1,41-11,04; p=0,006),
faixa etria 70 anos (OR:2,06; IC 95% =1,01-4,20; p=0,04); tabagistas (OR: 5,0;
IC95% =2,02-12,34; p=0,000); obesos (OR: 8,19; IC95%=2,71-24,78; p=0,000);
diabticos (OR: 3,39; IC 95%=1,50-7,64; p=0,002), com pontuao compatvel com
demncia (OR: 4,79; IC 95% =1,56-14,66; p= 0,003); depresso (OR: 2,679; IC 95%
=1,155-6,214; p=0,02), arritmia cardaca (OR: 2,54; IC 95%=1,05-6,11; p=0,034),
doena coronariana (OR:15,34; IC 95%=4,43-53,03; p=0,000); hipertrofia ventricular
esquerda ou reduo da frao de ejeo ventricular esquerda (OR: 33,44; IC95%=
4.41-253,37; p=0,000). 56,9% dos idosos apresentaram risco aumentado de
insuficincia cardaca e 67,2% tinham alto risco cardiovascular. Houve associao
entre ambos os riscos (p
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significativamente deficincia de vitamina D (OR:4,53; IC95%=1,94-10,59;
p=0,000); sexo masculino (OR: 15,32; IC 95%=3,39-69,20; p=0,000); obesidade
(OR: 4,17; IC95%=1,36-12,81; p= 0,012); arritmia cardaca (OR 3,69; IC 95% = 1,23-
11,11; p=0,020). O risco cardiovascular foi fortemente associado com deficincia de
vitamina D (OR: 4,53; IC95% = 1,94-10,59; p=0,000); baixa escolaridade (OR:
1,91;IC 95%=0,81-4,48; p=0,134); depresso (OR:3,22;IC95%=1,14-9,09; p=0,027)
e obesidade (OR: 3,03;IC95%=0,98-9,37;p=0,054). Houve alta prevalncia de
deficincia de vitamina D nos idosos e forte associao entre deficincia de vitamina
D e aumento dos riscos cardiovascular e de insuficincia cardaca nesta populao.
Palavras chave: Vitamina D. Idosos. Risco.
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ABSTRACT
To assess vitamin D deficiency associated with cardiovascular risk and risk of
heart failure in elderly patients in outpatient cardiology clinics. Cross-sectional study
with analytical approach. Data were obtained from files of patients older than 60, in
the Care Center for Aged People and in the Cardiology Ambulatory of the Clinic
Hospital of the Federal University of Pernambuco, the period from August to
November 2015. The dependent variables (Sheffield and risk of heart failure as
appraised by the ABC questionnaire), while the independent variable is the vitamin D
deficiency. Age, gender, level of education, ethnic group, hypertension, diabetes
mellitus, hypothyroidism, renal failure, dementia, stroke, dyslipidemia, cardiac
arrhythmia, depression, smoking, alcoholism, obesity, andropause were intervening
variables. In the data analysis, to test the association between variables were used
the chi-square test of Pearson and Fisher's exact test. In multivariate logistic analysis
was admitted to p-point valor 0.20 cut, provided by bivariate analysis. In the logistic
regression model was used the stepwise method. To analyze the significance of the
variables was made using the Wald test and the association between cardiovascular
risk and heart failure was performed using Chi-square test. Of the 137 elderly women
(75.9%), overweight (48.2%) or obese (30.6%); increasing the index waist / hip
(88.3%) and lipids (94.2%). It was identified 91.2% hypertensive; 35.0% with definite
or possible coronary artery disease and 27.7% with cardiac arrhythmia or left
ventricular hypertrophy. 65% of the elderly were deficient in vitamin D, with higher
risks: males (OR: 3.94; 95% CI = 1.41 to 11.04, p = 0.006), age 70 years (OR: 2.06;
95 % = from 1.01 to 4.20; p = 0.05); smokers (OR: 5.0; 95% CI = 2.02 to 12.34, p =
0.000); obese (OR: 8.19, 95% CI 2.71 to 24.78; p = 0.000); diabetes (OR: 3.39; 95%
CI = 1.50 to 7.64; p = 0.003), with scores compatible with dementia (OR: 4.79; 95%
CI = 1.56 to 14.66; p = 0.003); depression (OR: 2.679; 95% CI = 1.155 to 6.214; p =
0.02), cardiac arrhythmia (OR: 2.54; 95% CI = 1.05 to 6.11; p = 0.045), coronary
heart disease ( OR: 15.34; 95% CI = 4.43 to 53.03, p = 0.000); left ventricular
hypertrophy or reduced left ventricular ejection fraction (OR: 33.44; 95% CI = 4.41-
253,37; p = 0.000). The sample revealed 56,9% of the aged with increased risk of
heart failure and 67,2% with high cardiovascular risk. Association between both risks
became clear (p < 0.001). The risk of heart failure was significantly associated with
vitamin D deficiency (OR 12.19, 95% CI 4.23 - 35.16; p = 0.000); male (OR: 15.32;
-
95% CI = 3.39 - 69.20, p = 0.000); obese (OR: 4.17, 95% CI 1.36- 12.81; p = 0.012);
cardiac arrhythmia (OR 3.69, 95% CI = 1.23 to 11.11, p = 0.020). Cardiovascular risk
was strongly associated with vitamin D deficiency (OR: 4.53, 95% CI 1.94 - 10.59; p
= 0.000); low educational level (OR: 1.91; 95% CI = 0.81- 4.48; p = 0.134);
depression (OR: 3.22; 95% CI = 1.14 - 9.09; p = 0.027) and obesity (OR: 3.03; 95%
CI = 0.98 - 9.37; p = 0.054). There was a high prevalence of vitamin D deficiency in
the elderly and strong association between vitamin D deficiency and increased
cardiovascular risk and heart failure in this population.
Keywords: Vitamin D. Elderly. Risk.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Representao esquemtica da sntese e metabolismo
da vitamina D para a funo esqueltica e no
esqueltica .........................................................................
92
Quadro 1 Caracterizao da varivel independente ......................... 134
Quadro 2 Caracterizao da variveis dependentes ......................... 134
Quadro 3 Caracterizao da variveis intervenientes ....................... 135
Quadro 4 Presso arterial sistlica .................................................... 140
Quadro 5 Pontuao atribuda segundo concentrao de colesterol
total ....................................................................................
141
Quadro 6 Pontuao atribuda segundo concentrao de colesterol
HDL ....................................................................................
141
Quadro 7 Pontuao atribuda segundo parmetros do idoso .......... 141
Quadro 8 Pontuao atribuda a cada parmetro do idoso, para
clculo do risco de insuficincia cardaca (ABC Heart
Failure) ...............................................................................
142
Quadro 9 Converso da pontuao do ABC em classificao e
percentual do risco de insuficincia cardaca ....................
143
Grfico 1 Distribuio das classes de concentrao de vitamina D
dos idososNAI, Hospital das Clnicas, Recife-2015 ........
147
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuio das caractersticas sociodemogrficas dos
idosos NAI, Hospital das Clnicas, Recife 2015 .................
145
Tabela 2 Distribuio de frequncia de fatores de risco para doena
cardiovascular e doenas prvias dos idosos NAI, Hospital
das Clnicas, Recife 2015 2015 .........................................
146
Tabela 3 Associao de variveis sociodemogrficas e clnicas com
concentrao de Vitamina D NAI, Hospital das Clnicas,
Recife 2015 ...........................................................................
149
Tabela 4 Distribuio das classes de risco cardiovascular e de
insuficincia cardaca dos idosos NAI, Hospital das
Clnicas, Recife 2015 ............................................................
150
Tabela 5 Relao entre risco de insuficincia cardaca e risco
cardiovascular de idosos NAI, Hospital das Clnicas, Recife
2015 ......................................................................................
150
Tabela 6 Associao de variveis sociodemogrficas, clnicas e
laboratoriais com o risco de insuficincia cardaca NAI-
Hospital das Clnicas-Recife 2015 ........................................
152
Tabela 7 Associao de variveis clnicas e laboratoriais com o risco
cardiovascular NAI, Hospital das Clnicas, Recife 2015
..................................................................................................
154
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
25(OH)D3 25-Hidroxivitamina D3
AAA Aneurisma de Aorta Abdominal
AFIRMAR The Acute Myocardial Infarction Risk Factor Assessment
in Brazil
AGEs Produtos finais de glicao avanada
AKT Protena quinase B
ASSIGN Assessing Cardiovascular Risk to Scottish Intercollegiate
Guidelines Network/SIGN to Assign Preventative
Treatment
AVC Acidente vascular cerebral
CAC Calcificao Arterial Coronariana
CD Cluster of differentiation
CDK Quinases dependentes de ciclina
CEP Comit de tica em Pesquisas
CHS Cardiovascular Health Study
CYP27B1 1 alfa Hidroxilase
CYP2R1 25- Hidroxilase
cIMT Espessura das camadas ntima e mdia das artrias
cartidas
CPK Creatinofosfoquinase
CTLA Protena citotxica associada aos linfcitos
DAC Doena arterial coronariana
DBD Domnio de ligao ao DNA
DBP Protena transportadora da vitamina D
DCV Doena cardiovascular
DRT Doena Renal Terminal
DRC Doena Renal Crnica
DHCR7 7-dehidrocolesterol redutase
DSM Manual de Diagnstico e Estatstica dos Transtornos
Mentais
DHT Dihidrotestoterona
-
DM Diabetes Mellitus
DNA cido desoxirribonuclico
DRC Doena renal crnica
ERG Escore de Risco Global
EROs Espcies reativas de oxignio
EUA Estados Unidos da Amrica
FA Fibrilao Atrial
FEVE Frao de Ejeo Ventricular esquerda
FGF23 Frao de Ejeo Ventricular esquerda
FOXP3 Fator de crescimento dos fibroblastos 23
FRICAS Estudo sobre os Fatores de Risco para Insuficincia
Coronariana na Amrica do Sul
FHS Framingham Heart Study
FRS Escore de Framingham
GDNF Fator neurotrfico derivado de clulas gliais
GDS Escala de Depresso Geritrica
HAS Hipertenso Arterial Sistmica
HbA1c Hemoglobina glicada
HDL Lipoprotena de Alta Densidade
HEALTH ABC HEART
FAILURE
Health Age and Body Composition Heart Failure
HMG-CoA Hidroxi-metilglutaril coenzima A redutase
FSH Hormnio Folculo Estimulante
HPFS Health Professionals Follow-up Study
HR Hazard ratio
HVE Hipertrofia Ventricular esquerda
IAM Infarto Agudo do Miocrdio
IAMcSST Infarto Agudo do Miocrdio com supradesnivelamento do
segmento ST
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IC Insuficincia Cardaca
ICC Insuficincia Cardaca Congestiva
ICD Insuficincia Cardaca Diastlica
-
ICFEP Insuficincia Cardaca com Funo sistlica Preservada
ICFER Insuficincia Cardaca com Funo sistlica Reduzida
IECA Inibidor da enzima conversora da angiotensina
IL Interleucinas
IMC ndice de massa corprea
InCHIANTI Inveccchiare in Chianti, Aging in the Chianti Area
ITB ndice tornozelo braquial
JNK Cinase c-jun N-terminal
LDL Lipoproteina de baixa densidade
LURIC Ludwigshafen Risk and Cardiovascular Health Cohort
M-CSF Fator estimulador de colnias de macrfagos
MAPK Protena quinase ativadora da mitognese
MCP Protena quimiottica de moncitos
MEEM Mini Exame do Estado Mental
miR Micro RNA
MMPs Metaloproteinases de Matriz Extracelular
mRNA RNA mensageiro
MS Morte sbita
MSC Morte Sbita Cardaca
mVDR Receptor de membrana da vitamina D
NCEP ATPIII National Cholesterol Education Program Adult
Treatment Panel IIT
NCoA-62 Receptor nuclear coativador
NcoR Receptor nuclear correpressor
NF Fator nuclear kappa B
NHANES III Third National Health and Nutrition Examination Survery
NT-proBNP Peptdeo Atrial Natriurtico Tipo B
OR Odds ratio
PAD Presso arterial diastlica
PAI-1 Inibidor do Ativador do Plasminognio tipo 1
PAS Presso arterial sistlica
PCR Proteina C Reativa
PPAR Receptor ativado por proliferadores de peroxissoma
-
gama
PTH Paratormnio
RANK Receptor do Ativador do NF Kapa Beta
RANKL Ligante do Receptor do NF Kapa Beta
Relao E/A Onda E/onda A, velocidade diastlica precoce/tardia
RNA cido ribonucleico
RORt Receptor orphan nuclear relacionado ao cido retinico
RR Risco relativo
RXR Receptor X do cido retinico
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia
SCA Sndrome Coronariana Aguda
SCORE Systematic Coronary Risk Evaluation
SHADES Study of Health and Drugs in the Elderly
SHBG Globulina Ligadora dos Hormnios Sexuais
SHHEC Scottish Heart Health Extended Cohort
SIMD Scottish Index of Multiple Deprivation
SNP Polimorfismo de um nico nucleotdeo
SOCS Supressor da sinalizao das citocinas
SR-A1 Receptor Scavenger
SRAA Sistema renina-angiotensina-aldosterona
SRC Receptor esteroide coativador
TIMPs Inibidores das metaloproteinases de Matriz Extracelelular
TLR Receptor Toll-like
TOTG Teste de Tolerncia glicose
T3 Triiodotironina
T4 Tiroxina
THS Hormnio Estimulante da Tireide
TNS alfa = Fator de Necrose Tumoral alfa
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UVB Ultravioleta B
VDR Receptor da vitamina D
VDREs Elementos responsivos a vitamina D
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VLDL Lipoprotena de muito baixa densidade
VOP Velocidade de onda de Pulso
VSMC Clulas musculares lisas vasculares
WHI Womens Health Initiative
WHO World Health Organization
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SUMRIO
1 INTRODUO.................................................. ......... 25
2 REVISO DA LITERATURA ................................................... 28
2.1 ENVELHECIMENTO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR ....... 28
2.2 FATORES E ESCORES DE RISCO CARDIOVASCULAR NO
IDOSO ......................................................................................
31
2.3 DEFICINCIA DE VITAMINA D E DESFECHOS
CARDIOVASCULARES ............................................................
41
2.3.1 Deficincia de Vitamina D e Mortalidade .............................. 44
2.3.2 Deficincia de Vitamina D e Hipertenso Arterial
Sistmica .................................................................................
47
2.3.3 Deficincia de Vitamina D e Aterosclerose .......................... 49
2.3.4 Deficincia de vitamina D e Insuficincia Cardaca ............ 52
2.3.5 Deficincia de Vitamina D e Doena Arterial Coronariana
...................................................................................................
55
2.3.6 Deficincia de Vitamina D e Arritmia .................................... 58
2.3.7 Deficincia de Vitamina D e AVC .......................................... 61
2.3.8 Deficincia de Vitamina D e Diabetes Mellitus/Sndrome
Metablica ...............................................................................
63
2.4 DEFICINCIA DE VITAMINA D E OUTROS FATORES DE
RISCO CARDIOVASCULAR ....................................................
66
2.4.1 Deficincia de Vitamina D e Hipotireoidismo ....................... 66
2.4.2 Deficincia de Vitamina D e Doena Renal Crnica ............ 70
2.4.3 Deficincia de Vitamina D e Andropausa ............................. 72
2.4.4 Deficincia de Vitamina D e Demncia ................................. 75
2.4.5 Deficincia de Vitamina D e Depresso ................................ 78
2.4.6 Deficincia de Vitamina D e Etilismo .................................... 79
2.4.7 Deficincia de Vitamina D e Obesidade ................................ 83
2.4.8 Deficincia de Vitamina D e Dislipidemia ............................. 86
2.4.9 Deficincia de Vitamina D e Tabagismo ............................... 89
2.5 FISIOLOGIA DA VITAMINA D E SISTEMA HORMONAL DA
VITAMINA .................................................................................
91
-
2.6 A VITAMINA D COMO FATOR DE CARDIOPROTEO ....... 95
2.6.1 Vitamina D e Proteo no Diabetes ...................................... 99
2.6.2 Vitamina D e Proteo na Hipertenso Arterial Sistmica
...................................................................................................
102
2.6.3 Vitamina D e Proteo na Doena Arterial Coronariana ..... 104
2.6.4 Vitamina D e Proteo na Insuficincia Cardaca ................ 105
2.6.5 Vitamina D e Proteo no AVC .............................................. 111
2.6.6 Vitamina D e Proteo na Aterosclerose ............................. 112
2.6.7 Vitamina D e Proteo na Arritmia Cardaca ........................ 113
2.6.8 Vitamina D e Proteo na Doena Renal Crnica ............... 114
2.6.9 Vitamina D Como Proteo na Andropausa ......................... 121
2.6.10 Vitamina D e Proteo na Depresso ................................... 122
2.6.11 Vitamina D e Proteo na Demncia ..................................... 122
2.6.12 Vitamina D e Proteo no Etilismo ....................................... 125
2.6.13 Vitamina D e Proteo na Obesidade ................................... 127
2.6.14 Vitamina D e Proteo na Dislipidemia ................................ 128
2.6.15 Vitamina D e Proteo no Tabagismo ................................... 129
3 OBJETIVOS ............................................................................. 131
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................... 131
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................... 131
4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................. 132
4.1 DESENHO DE ESTUDO .......................................................... 132
4.2 LOCAIS DE ESTUDO ............................................................... 132
4.3 POPULAO DE ESTUDO E PERODO DE REFERNCIA
...................................................................................................
133
4.4 AMOSTRA E TAMANHO AMOSTRAL ..................................... 133
4.5 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO ............................. 133
4.6 VARIVEIS DE ESTUDO ......................................................... 134
4.7 INSTRUMENTOS DE COLETA ................................................ 137
4.8 COLETA DE DADOS ................................................................ 139
4.9 ANLISE DE DADOS ............................................................... 140
4.10 CONSIDERAES TICAS .................................................... 144
5 RESULTADOS.......................................................................... 145
-
6 DISCUSSO ............................................................................ 156
6.11 LIMITAES METODOLGICAS ........................................... 169
7 CONCLUSO ........................................................................... 171
7.1 CONSIDERAES FINAIS ...................................................... 172
REFERNCIAS ........................................................................ 173
APNDICE A Protocolo de Coleta de Dados .................................................. 231
ANEXO A Mini-Exame do Estado Mental .................................................. 235
ANEXO B Escala Geritrica de Depresso (Yesavage et al., 1983) ......... 236
ANEXO C Parecer do Comit de tica da Universidade Federal de
Pernambuco .............................................................................
237
-
25
1 INTRODUO
As modificaes do cuidado sade, especialmente a partir da teraputica
antibitica, das vacinaes e da melhoria dos servios de sade, aumentaram
consideravelmente a esperana de vida em todos os pases, passando de 62 anos,
em 1990, para 68 anos, em 2008, segundo dados da Organizao Mundial de
Sade. No Brasil, a esperana de vida aumentou de 64,57 anos para 74,23 anos, no
mesmo perodo, sendo estimada, em 2013, em 75,14 anos, quando considerados
ambos os sexos (IBGE, 2014).
Esse aumento da esperana de vida fez com que se considerasse no
somente o prolongamento dos anos de vida, mas a vivncia de autonomia e
independncia. Foram realizados diversos estudos para identificao de fatores de
risco que podem comprometer o envelhecimento saudvel (FILLENBAUM, 1984;
JAGGER; SPIERS; CLARKE, 1993; MOSSEY; SHAPIRO, 1982; RAMOS et al.,
2003; RAMOS; SIMES; ALBERT, 2000). Alm dos fatores de risco cardiovascular
comuns aos indivduos, de modo geral, como os biolgicos (idade, sexo, etnia,
hereditrios), de estilo de vida e metablicos (tabagismo, sedentarismo, etilismo,
hbitos alimentares inadequados, obesidade, diabetes mellitus, hipertenso arterial
sistmica e dislipidemia), e os socioambientais (estresse no trabalho, baixa
escolaridade, classe social e renda familiar), no que concerne populao idosa,
encontram-se tambm a reduo gradual das reservas cardiovasculares e o declnio
das funes endcrinas, aumentando o risco de doenas cardiovasculares.
Como os dados estatsticos apontam, as doenas cardiovasculares so a
maior causa de morbimortalidade no mundo (SMITH et al., 2012). No Brasil, tambm
figuram como a maior causa de mortalidade entre idosos, com as doenas
cerebrovasculares em primeiro lugar (34%) e doena isqumica coronariana em
segundo lugar (29%). A mortalidade por doenas cardiovasculares em idosos tem
diminudo no Brasil e nos pases desenvolvidos, nas ltimas duas dcadas (BRASIL,
2010), provavelmente por conta das melhorias tecnolgicas de diagnstico e
tratamento, pelo menor tempo entre o incio do infarto agudo do miocrdio (IAM) e o
tratamento, assim como pelo melhor controle da hipertenso arterial sistmica
(HAS), reduo do tabagismo e da hipercolesterolemia (BOVET; PACCAUD, 2013).
A importncia de tais dados deriva no apenas de as doenas
cardiovasculares serem a principal causa de mortalidade em idosos, como tambm
-
26
de incapacidade crnica, dado que se constitui em importante indicador da
efetividade de medidas de sade pblica.
No sistema cardiovascular do idoso, arteriosclerose, diminuio da
distensibilidade das artrias, reduo da funo barorreceptora, alteraes da
conduo cardaca e da funo miocrdica ventricular esquerda so importantes
caractersticas fisiopatolgicas que contribuem para as doenas cardiovasculares
(LAKATTA, 2003).
importante ressaltar que o estgio final comum da maioria das cardiopatias
a insuficincia cardaca (IC), que tem alta prevalncia, representa importante
problema de sade pblica no Brasil e se configura como a maior causa de
internao hospitalar em idosos (SCHMIDT et al., 2011).
Apesar das evidncias acumuladas, Butler et al. (2008) afirmam que os
estudos sobre insuficincia cardaca subclnica em idosos so escassos e contm
erros metodolgicos impossibilitando o uso dos resultados no diagnstico precoce
dessa populao. Esses estudos incluem pacientes selecionados de uma populao
com caractersticas prprias, no generalizveis, ou investigam prevalncia de
fatores de risco individuais, mas no desenvolvem uma pontuao para avaliao de
risco cardiovascular.
No Brasil, no se localizaram estudos empregando qualquer das escalas
Health ABC ou Sheffield Risk. Um nico estudo foi localizado para avaliao do risco
cardiovascular para uso na ateno primria, baseado na escala de Framingham,
realizado por D'Agostino et al. (2008), empregando frmula, porm no avaliando os
benefcios de tratamento de idosos.
A avaliao cardiolgica tem especial relevncia no cuidado da populao
idosa, para permitir-lhes uma condio de sade que prolongue sua qualidade de
vida e sua autonomia. Como essa populao apresenta caractersticas peculiares ao
envelhecimento, sua avaliao cardiolgica deve ser o mais abrangente possvel,
para permitir identificao precoce de disfunes cardacas. No entanto percebia-se
que a avaliao cardiolgica no permitia quantificar ou categorizar o risco dos
idosos de desenvolverem insuficincia cardaca, o que era motivo de preocupao,
pelo fato de essa disfuno ter instalao lenta, gradual, porm contnua em virtude
do envelhecimento.
Como as orientaes em preveno e tratamento das doenas
cardiovasculares geralmente referem-se a pacientes com at 75 anos de idade, o
-
27
New Sheffield Risk que identifica o risco de doena cardiovascular e o benefcio do
tratamento para prevenir doenas cardiovasculares em termos de anos livres da
doena veio como ferramenta de grande utilidade na avaliao cardiovascular do
idoso (WEATHERLEY; JACKSON, 2011). Aliado a este escore, o Health ABC
possibilita, por meio dos critrios clnicos, laboratoriais e sociodemogrficos,
quantificar o risco de insuficincia cardaca no idoso, sendo de relevante importncia
para desenvolvimento de estratgias de preveno cardiovascular (BUTLER et al.,
2008).
Assegurar tal abrangncia significou buscar na literatura as melhores
evidncias que pudessem respaldar condutas diagnsticas e prognsticas. As
evidncias das funes da vitamina D no metabolismo apontam para a sade
cardiovascular. Desde de 1981, com a pesquisa de Scragg (1981), comprovando
que a deficincia de vitamina D se associava ao aumento da formao de trombos,
houve aumento das evidncias dessa relao. Ao longo da dcada de 1980, vrios
estudos demonstraram diferenas na mortalidade por cardiopatia isqumica, com
aumento relacionado distncia do Equador e quantidade de exposio
radiao solar, sugerindo que um fator ambiental, como a vitamina D, poderia ser
responsvel por estas alteraes (FLECK, 1989; GRIMES; HINDLE; DYER, 1996),
at que se admitisse ser essa deficincia um fator de risco para eventos
cardiovasculares (LEE et al., 2008; PAREJA-GALEANO et al., 2015).
O emprego das escalas Health ABC Heart Failure e New Sheffield Risk,
associadas investigao da vitamina D poder representar uma mudana na rotina
de acompanhamento cardiolgico de idosos, com uma relao custo/benefcio
compatvel com a viabilidade econmica. Da decorre que o tema pode se converter
em benefcio social, na medida em que condutas guiadas pela avaliao de risco
cardiovascular podero ser mais eficazes e eficientes. Adicionalmente, a vivncia
em cardiologia e o trabalho junto aos participantes do Ncleo de Assistncia a
Idosos da Universidade Federal de Pernambuco reforaram essa motivao.
Para o presente estudo, admitiu-se o risco cardiovascular segundo os pontos
de corte obtidos na escala New Sheffield Risk e o risco para insuficincia cardaca a
partir da escala Health ABC Heart Failure. Diante do exposto, este estudo tem como
objeto a associao de deficincia de vitamina D e riscos cardiovascular e de
insuficincia cardaca em idosos.
-
28
2 REVISO DA LITERATURA
2.1 ENVELHECIMENTO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Ao longo do tempo, o aparelho cardiovascular vai sofrendo alteraes
estruturais, tais como degradao da matriz extracelular pelas metaloproteinases de
matriz extracelular (MMPs), reduo das fibras de elastina e consequente diminuio
da elasticidade da parede vascular, resultando em dilatao e calcificao arterial e
aumento da espessura da camada ntima, causando maior rigidez arterial, como
tambm reduo da produo de xido ntrico pelo endotlio levando ao declnio da
resposta vasodilatadora nas coronrias e artrias perifricas. Em decorrncia destas
mudanas relatadas, h predisposio a um progressivo aumento na presso
arterial sistlica, assim como na presso e velocidade de onda de pulso, que so
caractersticas do idoso (BIZBIZ et al., 1997).
Um grande estudo populacional envolvendo 1389 indivduos entre 59 a 71
anos, o Estudo EVA, avaliou as relaes entre fatores de risco cardiovascular para
aterosclerose e marcadores biolgicos da matriz extracelular, encontrando uma
reduo moderada da elastina em mulheres com histrico de doena arterial
coronariana (DAC), acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes mellitus (DM);
inibidores da elastase tambm foram mais elevados nas mulheres que nos homens,
porm moderadamente elevados nos pacientes com antecedentes de DAC, assim
como correlacionados com fibrinognio e protena C reativa (PCR) em ambos sexos,
sugerindo que as alteraes da matriz extracelular com reduo da elastina e
aumento dos inibidores de elastase participem da gnese da aterosclerose e das
DCV decorrentes desta (BIZBIZ et al., 1997).
Segundo Kamenskly et al. (2015), no tocante rvore arterial, o
envelhecimento atua aumentando o dimetro, comprimento e tortuosidade das
grandes artrias com predomnio de fibras elsticas, enquanto nas artrias de
predomnio muscular ocorre principalmente maior tortuosidade, com os fatores de
risco como sexo masculino, maiores ndices de massa corprea (IMC) e a
hipertenso arterial levando a aumentos significativos de dimetro arterial como da
aorta abdominal, paravisceral e arco artico.
No tecido valvar ocorre um contnuo espessamento, rigidez e calcificaes,
principalmente nas valvas mitral e artica. A calcificao degenerativa senil da valva
-
29
artica tem aumentado de prevalncia, sendo a principal causa de troca valvar
artica por estenose artica, j demonstrada por Passik, desde 1987 (PASSIK,
1997; WAJNGARTEN; RODRIGUES, 2008) e no pericrdio, encontra-se acmulo de
gordura, especialmente sobre o ventrculo direito e faixas de espessamento em sua
extenso (WALLER; BLOCK; BARKER, 1984). O septo ventricular tambm
apresenta aumento significativo entre a 3 e 10 dcadas de vida (P
-
30
crescimento derivado de plaquetas (PDGF), induzem a proliferao de fibroblastos e
reduo progressiva da populao de cardiomicitos e hipertrofia destes, assim
como aumento de clulas adiposas, depsito de tecido amilide e fibroso (FOLKOW;
SVANBORG, 1993; KITZMAN; EDWARDS, 1990), e deste modo ocasionando
menor resposta cardiovascular aos estmulos beta-adrenrgicos, provavelmente
devido diminuio dos receptores adrenrgicos e da sensibilidade barorreceptora e
consequente reduo das respostas reflexas da frequncia cardaca e da
variabilidade da frequncia cardaca (STRAIT, LAKATTA, 2012; STRATTON ET AL.,
2003).
As alteraes miocrdicas descritas no idoso, tornam o relaxamento
ventricular mais lento pelo aumento da rigidez parietal esquerda, necessitando mais
energia para o relaxamento, reduo da velocidade de enchimento ventricular e
consequente tempo de enchimento ventricular esquerdo mais prolongado,
caracterizando a disfuno diastlica, que muito prevalente e importante causa de
insuficincia cardaca no idoso, que geralmente antecede a disfuno sistlica e a
hipertrofia ventricular esquerda (HVE) (DAVIES; HRUSKA, 1996; STRAIT;
LAKATTA, 2012).
Com o envelhecimento, ocorre alteraes da coagulao, com um estado pr-
trombtico, pelo aumento das concentraes de fibrinognio, dos fatores de
coagulao V, VII, VIII e IX e aumento dos nveis do inibidor do ativador de
plasminognio (PAI-1) e consequente prejuzo da fibrinlise, contribuindo para
aumento do risco cardiovascular e de AVC em idosos (HOFFMAN et al., 2014),
assim como aumento de citocinas inflamatrias, como a interleucina-6, que tem ao
pr-trombtica, podendo ser implicada na patognese das sndromes coronarianas
agudas (DOBBS et al., 1999; MORLEY; THOMAS; WILSON, 2006).
Em virtude destas modificaes do sistema cardiovascular inerentes ao
envelhecimento, assim como das doenas crnicas associadas a este sistema,
passou a ser incentivada a adoo de estilo de vida saudvel, com reduo dos
fatores de risco biolgicos e socioambientais para doenas crnicas no
transmissveis, assim como dos fatores de risco cardiovasculares (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010 apud GRAVINA, C. F. et al., 2010). Alm
dos fatores de risco cardiovasculares comuns aos indivduos em geral, na populao
idosa esto presentes a reduo gradual das reservas cardiovascular e o declnio
das funes endcrinas levando necessidade de novas recomendaes de
-
31
condutas para um envelhecimento saudvel. Estatsticas internacionais demonstram
que a mortalidade por doenas cardiovasculares tem declinado, mas o nmero de
pacientes com DCV crnica sintomtica tem aumentado (BOVET; PACCAUD, 2013;
GRAVINA et al., 2010; PARIKH; SHARKEY; WORKMAN, 2012) o que suscitou
pesquisas para identificao de outros fatores de risco (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010).
2.2 FATORES E ESCORES DE RISCO CARDIOVASCULAR NO IDOSO
Em decorrncia do aumento da expectativa de vida em idosos, associado ao
declnio da mortalidade por DAC, justificvel a preocupao em identificar os
fatores de risco cardiovascular para orientar uma gesto preventiva nesta faixa
etria (KANNEL, 2002). Neste contexto, Ford et al. (2007), avaliando o grau de
reduo da DAC em americanos no perodo de 1980-2000, verificou que houve uma
diminuio dos bitos por DAC, sendo 47% decorrente de terapias de preveno
secundria e 44% por mudanas nos fatores de risco.
Quanto aos escores de risco cardiovascular, os quais foram validados em
diferentes populaes e com heterogeneidade de desfechos, fizeram com que as
diretrizes internacionais de preveno cardiovascular no chegassem a um
consenso de qual modelo mais eficaz e adequado, principalmente no tocante
populao idosa (GREENLAND et al., 2010; MATHENY, 2011; PETTERLE;
POLANCZYK, 2011; SCOTTISH INTERCOLLEGIATE GUIDELINE NETWORK,
2007; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007).
Desde o marco epidemiolgico que foi o Framingham Heart Study (FHS),
Estudo de Framingham, desde 1948, com objetivo de elucidar os fatores de risco
para o desenvolvimento de DAC inicialmente, e sua consequente importncia para a
sade pblica, como forma de atuao preventiva destas doenas nos EUA e em
todo o mundo, derivou-se o escore de Framingham, que avalia o risco de IAM ou
morte por DAC em 10 anos, podendo ser calculado atravs dos fatores de risco
como idade, colesterol total e lipoprotena de alta densidade (HDL), presso arterial
sistlica, DM e tabagismo (THE FRAMINGHAM..., 2015). Posteriormente, Anderson
et al. (1991), atravs de estudo com populao do FHS, apresentou equaes que
ampliaram este escore para avaliar risco cardiovascular de modo geral e DAgostino
et al. (2001), avaliando seis coortes prospectivas, validaram este escore para
-
32
populaes de vrias etnias, tais como brancos, negros, ndios nativos norte-
americanos, americanos descendentes de japoneses, hispnicos, entre outros,
utilizando para estimar morte sbita e IAM.
Como limitao, o escore de Framingham apresenta estimativas de risco
variveis para DAC segundo o tipo de populao estudada, provocando tanto
subestimao de eventos em populao de alto risco quanto superestimao nas de
baixo risco, como demonstrado por Brindle e colaboradores, aps reviso
sistemtica publicada em 2006 (BRINDLE et al., 2006).
Aps o escore de Framingham (FRS), outros escores de risco cardiovascular
foram desenvolvidos em vrios pases, para identificao do risco de doena
cardiovascular, atravs de modelos de regresso matemtica aplicados a um
conjunto de variveis que melhor identifica os pacientes que apresentaram
desfechos cardiovasculares em coortes prospectivas. Tais modelos ou equaes
necessitam de validao externa em outras populaes e deste modo tornam-se
importantes ferramentas na identificao de indivduos em risco cardiovascular
(ALEXANDRE, 2010).
O estudo de coorte Prospective Cardiovascular Mnster Study (PROCAM),
iniciado em 1979, com populao de funcionrios de empresas da Alemanha, com
seguimento de 10 anos ou at o primeiro evento, tendo como variveis idade,
concentrao plasmtica de lipoprotena de baixa densidade (LDL), HDL e
Triglicerdeos, tabagismo, diabetes mellitus, histria familiar de IAM e presso
arterial sistlica, com desfechos de DAC, IAM fatal e no fatal e morte sbita
cardaca (MSC), demonstrou associao entre DAC aterosclertica com dislipidemia
em hipertensos e diabticos, sendo considerado melhor que o FRS para estimar o
risco para DCV (ASSMANN; CULLEN; SCHULTE, 2002).
Outro escore, publicado em 2003, o Systematic Coronary Risk Evaluation
(SCORE) reuniu informaes de doze estudos europeus de coorte, com 205.178
pacientes, com durao de 24 anos, dos quais 7.934 foram a bito atribudo a
causas cardiovasculares, sendo 5.652 provocados por DAC. O SCORE, escolhido
por vrias sociedades europeias pelo fato da populao do Framingham ser
diferente quanto etnia, assim como menor incidncia de doena cardiovascular
produziu efeito relevante, estimando o risco de morte em dez anos tendo como
desfechos eventos de causa aterosclertica, incluindo IAM, AVC e aneurisma de
aorta, porm no considerou os eventos no fatais. Para o clculo do risco de bito,
-
33
a varivel idade entrou como medida de tempo de exposio doena e no como
fator de risco. No SCORE, a partir dos riscos estimados, foram criados quatro
modelos com variveis de entrada comuns tais como gnero, tabagismo, idade,
presso arterial sistlica, dos quais dois modelos utilizando colesterol total e outros
dois a relao entre colesterol total e HDL-C, assim como dois modelos para as
regies europeias de alto e baixo risco e alm disso, foram desenvolvidas duas
equaes para DAC e outra para DCV no coronariana. Como limitaes deste
escore, os autores citam o fato de que as medidas foram isoladas, no
representativas da situao usual dos pacientes, sendo este vis confirmado para
riscos extremos, assim como as variveis de entrada das cartelas so insuficientes,
faltando fatores de risco importantes como diabetes e histria familiar (CONROY et
al., 2003).
Similar ao Framingham, o estudo caso-controle internacional INTERHEART
(YUSUF et al., 2004), realizado em 52 pases, encontrou associao entre IAM e
fatores de risco como dislipidemia, tabagismo, hipertenso, diabetes, obesidade
abdominal, fatores psicossociais, o consumo de frutas e legumes, lcool e atividade
fsica regular, sugerindo abordagens para a preveno contra o IAM.
O escore de risco da Organizao Mundial da Sade, em colaborao com a
Sociedade Internacional de Hipertenso, WHO/ISH Risk Prediction Charts (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2007), elaborado a partir de vrios estudos de coorte,
apesar de no ter validao externa em populao real, analisou os fatores de risco
e os riscos relativos para as doenas cardiovasculares associadas em vrias regies
do mundo e incluram desfechos fatais e no fatais de DAC, AVC para estas
populaes.
O Reynolds Risk Score (RIDKER et al., 2007) deriva-se de uma coorte
prospectiva, desenvolvida em 2007, para validar um modelo de risco cardiovascular
global, com trinta e cinco fatores em mulheres americanas previamente saudveis,
com seguimento de 10,2 anos. Este estudo teve como variveis idade, presso
arterial sistlica, hemoglobina glicosilada (nas pacientes diabticas), tabagismo,
colesterol total, HDL e desfecho combinado de IAM, acidente vascular enceflico
isqumico, revascularizao do miocrdio e morte por causas cardiovasculares.
Como limitao deste estudo, os fatores de risco presso arterial e peso corporal
no foram medidos diretamente, e sim informados pelas pacientes, assim como no
teve validao externa com outras populaes. Posteriormente, o novo Escore
-
34
Reynolds (RIDKER et al., 2008) incluiu os homens e PCR de alta sensibilidade, bem
como histria familiar de IAM prematuro (antes de sessenta anos), otimizando a
estimativa de risco cardiovascular global.
Outro importante escore de risco cardiovascular foi desenvolvido na Esccia,
o Assessing Cardiovascular Risk to Scottish Intercollegiate Guidelines Network/SIGN
to Assign Preventative Treatment (ASSIGN), publicado em 2007, que utilizando
dados da coorte Scottish Heart Health Extended Cohort (SHHEC) estimou o risco
para os prximos dez anos, incluindo morte sbita, eventos cerebrovasculares e
coronarianos. Como caracterstica relevante, o ASSIGN, no intuito de melhorar as
condies de sade pblica na preveno cardiovascular, incluiu as condies
scioeconmicas e histrias familiares extrados do ndice oficial do governo
escocs, o Scottish Index of Multiple Deprivation (SIMD) que inclui renda atual,
emprego, sade, educao e capacitao, acesso geogrfico, criminalidade e
condies de moradia e comparado com o risco estimado pelo FRS aplicado nos
mesmos pacientes. Neste estudo foram includos todos pacientes da Esccia, de
1984-1987 e do norte de Glasgow (1989, 1992 e 1995), com idade entre 35 e 74
anos e sem doena cardiovascular prvia e aplicados o SIMD junto com os fatores
de risco tradicionais como idade, gnero, histria familiar, diabetes mellitus, nmero
de cigarros consumidos por dia, presso arterial sistlica, colesterol total e HDL e
obesidade. Deste modo, este estudo concluiu que os riscos para os prximos dez
anos estimados pelos dois escores tiveram forte correlao. Contudo na anlise por
condies socioeconmicas, o escore ASSIGN teve um maior valor preditivo positivo
que o FRS (WOODWARD; BRINDLE; TUNSTALL-PEDOE, 2007). Acrescentando-se
a dosagem plasmtica do fibrinognio e utilizando os dados da coorte SHHEC,
Woodward et al. (2009) encontraram uma relao logaritmo-linear entre a
concentrao plasmtica de fibrinognio e risco observado de DCV, de tal forma que
aps o ajuste para idade, o aumento de cada g/L de fibrinognio foi associado a um
aumento no risco observado em 19% nos homens.
O escore Cardiovascular Risk Algorithm QRESEARCH publicado tambm em
2007 (HIPPISLEY-COX et al., 2007), cujos modelo e validao foram comparados
ao FRS e ao ASSIGN, utilizou populao de 1,8 milho de indivduos entre 35 a 74
anos, de 1995 a 2007, tendo como fatores de risco idade, gnero, tabagismo,
presso arterial sistlica, razo entre a concentrao plasmtica de colesterol total e
de HDL, ndice de massa corporal, histria familiar de DAC em parente de primeiro
-
35
grau com menos de 60 anos de idade, classificao socioeconmica extrada do
SIMD e uso atual de medicao anti-hipertensiva, alm de desfechos, como primeiro
evento diagnosticado de doena cardiovascular (incluindo IAM, DAC, acidente
vascular enceflico isqumico, isquemia transitria), com objetivo de ser um escore
mais adaptado populao do Reino Unido.
Desta coorte, derivou-se o algoritmo QRISK em relao coorte de validao,
no tocante ao risco de eventos cardiovasculares em 10 anos, o FRS superestimou
em 35%, o ASSIGN em 36% e o QRISK em 0,4% de risco de DCV, tendo como
concluso que o escore QRISK, apesar de no ter validao com outras populaes,
tem desempenho similar ao FRS, porm com melhor calibrao para a populao do
Reino Unido, principalmente pela relao socioeconmica (HIPPISLEY-COX et al.,
2007). Em 2008, foi publicado o QRISK 2, com intuito de aprimorar a acurcia da
predio do risco cardiovascular em pacientes de vrias etnias no Reino Unido,
comparando com o FRS modificado e tiveram as mesmas coortes de derivao e de
validao do escore anterior, porm com melhores resultados que o FRS modificado
tambm quanto s condies socioeconmicas e quanto s diferentes etnias
(HIPPISLEY-COX et al., 2008).
O Escore de risco global (ERG) publicado por DAgostinho et al. (2008), teve
como objetivo reunir os riscos de eventos especficos de doena cardiovascular
aterosclertica como DAC, AVC, doena vascular perifrica e insuficincia cardaca
em um s algoritmo, utilizando populao 8491 indivduos do FHR, com mdia de 49
anos e sem doena cardiovascular diagnosticada. Os fatores de risco utilizados
foram: idade, sexo, colesterol total, HDL colesterol, hipertenso arterial, tabagismo e
diabetes, com seguimento de 12 anos, tendo os autores encontrado que todos estes
fatores clssicos previram o risco de doena cardiovascular (multivariada ajustada
p
-
36
participantes que tinham 2 ou mais fatores de risco elevaram substancialmente seu
risco em relao aos que no apresentavam estes fatores (68,9% versus 5,2% para
os homens e 50,2% versus 8,2% para as mulheres), assim como tiveram menor
sobrevida (28 anos versus 39 anos para os homens e 31 anos versus 39 anos nas
mulheres), ou seja, a ausncia de fatores de risco estabelecidos aos 50 anos,
segundo os autores, est associada com risco muito baixo de morte para doenas
cardiovasculares, assim como a um significante ganho de sobrevida (LLOYD-JONES
et al., 2006).
Berry et al. (2012) utilizando este escore por tempo de vida, avaliando dados
de 18 coortes, com populao de mais de 250.000 participantes, durante um perodo
de mais de 50 anos, verificou que mesmo uma carga relativamente baixa dos fatores
de risco tradicionais foi associado com um aumento significativo no risco de longo
prazo de doenas cardiovasculares, e a ausncia destes fatores de risco foi
associada a um escore muito baixo do risco por tempo de vida.
Segundo Kannel (2002), o risco relativo de doena cardaca coronariana em
idosos diminui com o passar dos anos, porm com aumento do risco absoluto, por
aumento de vrios fatores de risco, como DM, que teve alarmante crescimento de
sua prevalncia, principalmente entre as mulheres, as quais se equipararam aos
homens neste risco, assim como aumentos da resistncia insulnica, da presso
arterial sistlica, presso de pulso, hipertrofia ventricular esquerda, dislipidemia
(reduo do HDL, aumento dos triglicerdeos), hiperfibrinogenemia, leucocitose,
homocisteinemia, aumento de lipoprotena A e da PCR.
Apesar do Escore de Framingham ser amplamente difundido em todo o
mundo, este torna-se ineficaz em idosos acima de 75 anos, necessitando de outros
fatores de risco com valores preditivos para doenas cardiovasculares. Para
incrementar estratgias de preveno primria de doenas cardiovasculares em
idosos mais velhos (igual ou maior que 85 anos), assim como avaliar fatores
associados ao envelhecimento bem sucedido foi desenvolvido o estudo de coorte
prospectivo Leiden 85-plus Study de base populacional na Holanda, acompanhando
os indivduos em 5 anos quanto mortalidade cardiovascular e no cardiovascular.
Este estudo utilizou, alm dos critrios do escore de Framingham, hipertrofia
ventricular esquerda ao ECG e biomarcadores tais como homocisteina, cido flico,
PCR e interleucina 6, concluindo que a homocisteinemia foi o melhor preditor de
mortalidade cardiovascular em idosos mais velhos (RUIJTER et al., 2009).
-
37
Com enfoque nos idosos, na grande prevalncia de insuficincia cardaca (IC)
e na falta de um escore validado para previso do risco de insuficincia cardaca
para esta populao, Butler et al. (2008) desenvolveram A Health Age and Body
Composition Heart Failure (identificado pela sigla ABC Heart failure). Este escore
utilizou como base 2.935 idosos sem IC, oriundos do ABC study, de base
populacional de um total de 3.075 idosos com boa capacidade funcional, residentes
na comunidade com idades entre 70 a 79 anos no incio do estudo, 47,9% do sexo
masculino, 58,6% de brancos, com acompanhamento em torno de 7 anos, tendo
como desfechos IC, definida como hospitalizao por IC de incio recente,
diagnosticada atravs dos sintomas e sinais clnicos, radiografia de trax e
ecocardiograma, tendo como variveis independentes idade, histria de DAC
(definida ou provvel), tabagismo, presso arterial sistlica, frequncia cardaca,
glicemia de jejum, creatinina e albumina, e hipertrofia ventricular esquerda.
No escore Health ABC Heart Failure, a histria de DAC foi definida como
passado de cirurgia de revascularizao do miocrdio, interveno coronariana
percutnea, infarto do miocrdio ou angina, ou a histria autorreferida de DAC
acompanhada por uso de medicao anti-anginosa (bloqueadores dos canais de
clcio, betabloqueadores ou nitratos) e DAC provvel foi considerada
quando presente uma histria autorrelatada de doena coronariana sem informao
consistente de angina, uso de medicamentos ou qualquer informao sobre a
histria de revascularizao do miocrdio, interveno coronariana percutnea,
infarto do miocrdio ou angina. Para cada nvel da pontuao total do escore, o risco
de IC em 5 anos foi calculado; sendo assim dividido em 4 categorias de risco ( 20%) e estes riscos de IC destes idosos foram de 2,9%,
5,7%, 13,3% e 36,8%, respectivamente (BUTLER et al., 2008).
Posteriormente, em 2010, esta escala foi testada em populao do
Cardiovascular Health Study (CHS) e durante o seguimento, 7,5% de 5.335
participantes desenvolveram insuficincia cardaca ao longo de 5 anos versus 6,8%
previstas pelo modelo do Health ABC Heart Failure Sade ABC HF, resultando em
um modelo de timo desempenho e consistente com todas as faixas etrias,
fornecendo suporte para a validade externa deste escore (KALOGEROPOULOS et
al., 2010).
Outra escala que passou a ser utilizada em idosos, com objetivo de alcanar
os pacientes com mais de 75 anos, que no estavam sendo avaliados de forma
-
38
eficaz nos demais escores de risco cardiovascular, assim como dos benefcios do
tratamento de idosos com mais de 60 anos de idade foi a New Sheffield Risk. Para
desenvolvimento dessa escala, os autores realizaram reviso sistemtica para
identificar estudos epidemiolgicos prospectivos nas duas ltimas dcadas, cuja
populao tinha mais de 65 anos, com desfechos de doena cardiovascular como
IAM, angina do peito e AVC, com o objetivo de obter evidncias a partir das quais
pudessem desenvolver uma equao de risco. Nessa reviso, a partir de 4.898
artigos identificados, foram escolhidos 80 para posterior anlise, sendo o estudo
Dubbo o escolhido como o mais adequado para aplicao de um modelo de risco
em idosos, tratando-se de coorte longitudinal de todos australianos idosos no
institucionalizados, residentes na cidade de Dubbo, tendo como objetivos identificar
preditores de mortalidade, hospitalizao e colocao de idosos em cuidados de
longa permanncia e como objetivos especficos o estudo dos fatores de risco para
doenas crnicas e deficincia (SIMONS et al., 1990).
Como variveis ou fatores de risco, os idosos foram avaliados quanto
hipertenso arterial sistlica (140mmHg), uso de medicao anti-hipertensiva,
diabetes mellitus (glicemia em jejum 7,0mmol/L, diabetes mellitus autorreferida ou
fazendo uso de terapia para diabete); tabagismo em qualquer quantidade, colesterol
total e HDL, triglicrides sricos e glicemia de jejum, com seguimento mdio de 13
anos e tendo como desfechos includos DCV, doena coronria e acidente vascular
cerebral. Dos resultados do Dubbo, derivou-se a equao para clculo do risco de
doena cardiovascular, com tabelas representando dois limiares de risco de 20 e
40% em 10 anos, que alm de calcular o risco cardiovascular, tem utilidade para
auxiliar na deciso de iniciar o tratamento anti-hipertensivo e de um inibidor de
redutase de 3-hidroxi-3-metil-glutaril-CoA-redutase (estatinas). Os autores
concordam que, enquanto a maioria dessas pessoas estaro em risco moderado ou
alto de DCV, esta ferramenta oferece aos pacientes as informaes individuais que
precisam para decidir sobre se devem ou no aceitar o tratamento e os benefcios
que tais medidas teraputicas possam proporcionar (SIMONS et al., 1990;
WEATHERLEY; JACKSON, 2011).
No Brasil, foram desenvolvidos estudos para identificar fatores de risco
cardiovascular, especialmente tendo como desfecho infarto agudo do miocrdio,
como o caso-controle Estudo sobre os Fatores de Risco para Insuficincia
Coronariana na Amrica do Sul (FRICAS), desenvolvido em 20 centros mdicos, de
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39
1994 a 1995, tendo identificado fatores de risco associados ao IAM, tais como
hipercolesterolemia, HAS, DM, sobrepeso, e histria familiar positiva e condies
socioeconmicas (SILVA; SOUSA; SCHARGODSKY, 1998). O The Acute
Myocardial Infarction Risk Factor Assessment in Brazil (AFIRMAR), realizado em 104
hospitais em 51 cidades do Brasil, que avaliou os fatores de risco independentes
para IAM, tambm demonstrou associao deste desfecho com fatores de risco
tradicionais, como tabagismo, diabetes mellitus, obesidade central, hipertenso
arterial sistmica e dislipidemia (PIEGAS et al., 2003).
Outro estudo brasileiro (AVEZUM; PIEGAS; PEREIRA, 2006), tambm teve
como objetivo identificar os fatores de risco associados com IAM, na regio
metropolitana de So Paulo, confirmamdo a importncia dos fatores de risco
tradicionais (tabagismo, hipertenso arterial sistmica, diabetes melitus, obesidade
central, nveis de LDL e HDL, histria familiar de doena coronariana na associao
com este desfecho).
Estudo transversal de base populacional, envolvendo fatores de risco para
DCV em idosos, tal como sndrome metablica, com objetivo de identificar sua
prevalncia nesta populao foi desenvolvido no sul do Brasil, e demonstrou que a
prevalncia da sndrome metablica foi sempre maior entre as mulheres na amostra
estudada, independente dos critrios utilizados, tais como o National Cholesterol
Education Program - Adult Treatment Panel III (NCEP ATPIII) (2002), do NCEP
ATPIII revisado (2005) e do International Diabetes Federation (IDF) (RIGO et al.,
2009).
Uma coorte prospectiva, realizada em ambiente hospitalar, em Braslia-DF,
acompanhou 355 pacientes consecutivos com diagnstico de IAM com supra-
desnivelamento do segmento ST (IAMcSST) no momento da admisso no servio
de emergncia, aplicando os escores de risco cardiovascular Framingham,
PROCAM, Reynolds, ASSIGN, QRISK e SCOR, realizando-se dosagens
plasmticas de protena C-reativa de alta sensibilidade (PCRas) e submetendo-se
estes pacientes s tomografias cardacas computadorizadas e ultrassonografias de
artrias cartidas para estratificao de risco por meio do escore de clcio da artria
coronria (CAC), espessura das camadas ntima e mdia das artrias cartidas
(cIMT) e a presena de placas aterosclerticas carotdeas. O resultado deste estudo
revelou, de forma surpreendente, que todos os escores de risco cardiovascular
testados falharam em identificar ao menos metade dos pacientes de alto risco,
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40
sendo sugerido a necessidade de exames complementares mais especficos para
identificar presena de aterosclerose coronariana e carotdea (ALEXANDRE, 2010).
Outro estudo brasileiro transversal, em 2014, procurou estratificar o risco de
evento cardiovascular por sexo em idosos portadores de hipertenso arterial
sistmica e diabetes, sem doena coronariana identificada, segundo os critrios do
FRS, encontrando que os idosos do sexo masculino esto mais suscetveis a
desenvolverem DCV (SANTOS et al., 2014).
Em uma reviso sistemtica sobre os modelos de risco, desenvolvida em
2011, foram identificados 102 tipos de escore, atravs de 84 artigos originais e entre
os mais utilizados e validados externamente encontram-se Framinghan Heart
Study (modelo 1991, 1998, ATP-III), Systematic Coronary Risk Evaluation
(SCORE), Qrisk (Inglaterra), PROCAM (Alemanha), AHA Womens Health
Study, ASSIGN, World Health Organization CV assessment e o escore de
Reynolds, sugerindo que estes modelos de risco geralmente so precisos apenas
nos indivduos que so representativos da populao de origem (MATHENY et al.,
2011).
Atualmente, as recomendaes da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), no tocante estratificao do risco cardiovascular, se do em 4 etapas,
tendo a primeira etapa o objetivo de determinar a presena de doena
aterosclertica significativa (DAC, AVC, doena arterial obstrutiva perifrica) de
forma clnica ou subclnica, procedimentos de revascularizao arterial ou de seus
equivalentes, como DM, DRC e caso o paciente apresente qualquer um destes
critrios, considerado como de alto risco, ou seja, com risco maior que 20% de
desenvolver um primeiro ou novos eventos cardiovasculares em 10 anos
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013a).
Na segunda etapa, quando o paciente no for classificado como de alto risco,
a SBC preconiza a utilizao do escore de risco global (ERG) em 10 anos e o escore
de risco por tempo de vida para indivduos com idade superior a 45 anos. So
considerados de baixo risco por esta Diretriz, aqueles com probabilidade < 5% de
apresentarem os principais eventos cardiovasculares em 10 anos, porm se
presente histria familiar de doena cardiovascular prematura, este indivduo
reclassificado para risco intermedirio. Este risco intermedirio considerado
quando encontra-se 5% e 20% nos homens e 5% e 10% em mulheres e alto
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41
risco quando for maior que 20% para os homens e maior que 10% para mulheres
em 10 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013a).
A reclassificao do risco, quando este for intermedirio pelo ERG se d pela
presena de pelo menos um dos fatores agravantes do risco, tais como histria
familiar de DAC prematura, ou seja, em parente de primeiro grau masculino < 55
anos ou feminino < 65 anos, critrios de sndrome metablica de acordo com a
International Diabetes Federation (IDF), microalbuminria ou macroalbuminria,
hipertrofia ventricular esquerda, protena-C reativa de alta sensibilidade, evidncia
de doena aterosclertica subclnica, como estenose/espessamento de cartida,
escore de clcio coronrio > 100 ou > percentil 75 para idade ou sexo, ndice
tornozelo braquial (ITB) < 0,9 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2013a).
Por ltimo, as Diretrizes da SBC recomendam a aplicao do escore de risco
por tempo de vida, por conta de que grande percentual de pacientes de baixo risco
tornam-se de alto risco com o passar dos anos, assim como objetivando tornar as
medidas de preveno cardiovascular mais eficazes nesta populao mais jovem
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013a ). Utilizando como fatores de
risco o diabetes, presso arterial sistlica, presso arterial diastlica, colesterol total
e tabagismo e dependendo dos seus valores, estes so classificados conforme o
nvel de importncia como timos, no timos, elevados e principais. Desta forma,
nos indivduos acima de 45 anos, com risco baixo ou intermedirio, aplicado o
Escore por Tempo de Vida, baseado na exposio destes pacientes aos fatores de
risco ao longo do tempo de vida, sendo considerado alto risco cardiovascular
quando maior que 39% nos homens e 20,2% nas mulheres (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013a).
2.3 DEFICINCIA DE VITAMINA D E DESFECHOS CARDIOVASCULARES
O Consenso sobre Diretrizes Nutricionais a respeito da Vitamina D (Workshop
Consensus for Vitamin D Nutritional Guidelines), publicado em 2010, destacou que
mais de 50% dos idosos em todo o mundo no tm nveis satisfatrios de vitamina D
(HENRY et al., 2010) e desde a dcada de 80, vrios estudos tm demonstrado
associao transversal com deficincia de vitamina D e maior prevalncia de angina,
infarto agudo do miocrdio (IAM), insuficincia cardaca (IC) e doena vascular
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42
perifrica em relao aos indivduos com nveis mais altos de vitamina D (GRANDI;
BREITLING; BRENNER, 2010; MAEDA et al., 2013; PARKER et al., 2012; WANG et
al., 2008).
Estudo realizado entre 1988 e 1994 nos Estados Unidos, acompanhando
15.088 adultos, registrou associao de deficincia de vitamina D com importantes
fatores de risco cardiovascular, como hipertenso, diabetes mellitus,
hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia (MARTINS et al., 2007). Kendrick et al.
(2009), ao avaliarem transversalmente a populao adulta do National Examination
Study (NHANES), no perodo de 2001 a 2004, de 16.603 pessoas, encontrou que
aqueles indivduos com doenas cardiovasculares tinham maior prevalncia de
nveis de calcidiol ou 25(OH)D < 20ng/mL que o grupo controle, com 25(OH)D > 30
ng/mL (29,3% vs. 21,4%; p
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43
de 19 estudos prospectivos, que encontraram associao inversa entre 25-
hidroxivitamina D e risco de doenas cardiovasculares (WANG et al., 2012).
Anderson et al. (2010) analisaram prospectivamente um grande banco de
dados com 41.504 registros de pacientes com intuito de avaliar a associao entre
nveis de vitamina D e fatores de risco cardiovasculares, incidncia e prevalncia de
doenas cardiovasculares, incluindo mortalidade. Encontrou que a prevalncia de
deficincia de vitamina D foi de 63,6%, com alta significncia quando associada com
DM, HAS, Dislipidemia e doena vascular perifrica (p< 0,0001). Importante tambm
o achado de elevada associao entre deficincia de vitamina D e DAC, IAM, ICC e
AVC (todos com p < 0,0001). Houve correlao de deficincia de vitamina D com a
incidncia de morte por insuficincia cardaca, doena arterial coronariana / infarto
do miocrdio (todos p < 0,0001), acidente vascular cerebral (p = 0,003), e a sua
composio (p < 0,0001), concluindo que, em decorrncia da associao entre
deficincia de vitamina D e fatores de risco, prevalncia e incidncia de doenas
cardiovasculares na populao geral, a vitamina D pode desempenhar um papel
fundamental como modificadora do risco cardiovascular (ANDERSON et al., 2010).
Em 2013, foram publicados tambm dois grandes estudos prospectivos que
avaliaram nveis de vitamina D e risco cardiovascular: Tomson et al. (2013),
utilizando os dados do Whitehall Study realizado com funcionrios pblicos de
Londres, avaliando 3.215 bitos, encontraram associao inversa de concentrao
de vitamina D e mortes por causas vasculares (RR 0,80; IC95% 0,70-,91) e no
vasculares (RR 0,77; IC95% 0,65-0,86) e Karakas et al. (2013) com o
MONIKA/KORA Augsburg Case-Cohort Study avaliando populao saudvel de
1.783 indivduos alemes de meia idade, encontrou que aqueles com altos nveis de
vitamina D tinham menor risco de doena arterial coronariana, principalmente entre
as mulheres.
Corroborando os estudos descritos anteriormente sobre deficincia de
vitamina D e desfechos cardiovasculares, recente reviso da literatura, abrangendo
107 revises sistemticas, 74 meta-anlises de estudos observacionais avaliando
associao de nveis de vitamina D e vrias doenas ou condies mrbidas e de 87
meta-anlises de ensaios clnicos controlados de suplementao de vitamina D,
encontrou significativa associao (p 0.001) entre altos nveis de vitamina D com
baixo risco de doena cardiovascular, hipertenso arterial, AVC e AVC isqumico
(THEODORATOU et al., 2014).
-
44
2.3.1 Deficincia de Vitamina D e Mortalidade
Nos EUA, nas ltimas dcadas, a populao idosa vem envelhecendo com
maior prevalncia de idosos mais velhos (faixa etria igual ou acima de 85 anos)
aumentando de 8,8 % em 1980 para 13,6 % em 2010 (WEST et al., 2014) e do
mesmo modo tambm aumentando o nmero de idosos com doenas ou
deficincias (HE; LARSEN, 2014).
Considerando-se que os centenrios tem 20 anos a mais que a expectativa
de vida do mundo ocidental, aliado com o contnuo progresso na melhoria de sade
dos idosos, ressaltando-se que a populao com idade 90 anos, especialmente no
subgrupo com idade 100 anos, o que apresenta a maior crescimento entre os
idosos, constitui-se um desafio tentar elucidar quais os mecanismos e fatores
associados a este grupo que os protegem das doenas comuns relacionadas
idade e instituir medidas destinadas s melhorias contnuas de sade no idoso (HE;
MUENCHRATH, 2011).
Segundo Khaw et al. (2014), altas concentraes de vitamina D3 predizem
treze anos a menos de mortalidade e de incidncia de DCV. Recente estudo de julho
de 2015, avaliando longevidade de centenrios e sua relao com nveis de vitamina
D, comparando com pacientes com IAM precoce e com indivduos saudveis da
mesma faixa etria, encontraram que os centenrios apresentaram maiores nveis
de vitamina D que os adultos normais e aqueles com IAM, concluindo que esses
nveis de vitamina D por conferirem vantagens fisiolgicas e melhor funo
cardiovascular, esto associados com envelhecimento bem sucedido (PAREJA-
GALEANO et al., 2015).
A mortalidade associada com deficincia de vitamina D em idosos foi avaliada
pela mortalidade por todas as causas, por causas cardiovasculares e por morte
sbita cardaca (MSC). Grandes estudos prospectivos abordando a mortalidade por
causas cardiovasculares relacionadas deficincia de vitamina D nos idosos foram
desenvolvidos. O Third National and Nutricional Examination Survey (NHANES III),
avaliando 3.408 idosos no institucionalizados, durante 7,3 anos, encontrou
associao inversa independente entre nveis de vitamina D e morte por causas
cardiovasculares e no cardiovasculares (GINDE et al., 2009). O Inveccchiare in
Chianti, Aging in the Chianti Area (InCHIANTI) tambm encontrou significativa
-
45
associao entre deficincia de vitamina D e maior risco de morte por DCV e por
todas as causas (p
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46
2012, encontraram que aquelas com deficincia de vitamina D, tinham aumento da
mortalidade, propondo estratgias de preveno com suplementao desta vitamina.
Perna et al. (2013) publicou estudo com populao de 9.949 indivduos
pertencentes ao estudo de coorte ESTHER, que avaliou a associao de nveis de
25(OH)D com doena cardiovascular fatal e no fatal, durante 9,2 anos de
acompanhamento para mortalidade e 6,5 anos para outros desfechos
cardiovasculares encontrando aumento significativo (62%) do risco de de DCV fatal
e aumento moderado (27%) do risco de todas as DCV.
Zittermann et al. (2012), em metanlise de 14 coortes prospectivas, avaliando
associaes de concentrao de vitamina D e risco relativo de mortalidade na
populao geral, encontraram um declnio no-linear na mortalidade total da
populao com o aumento das concentraes sricas da 25(OH)D, detectando
reduo em 31% do risco de mortalidade em pacientes com nveis de 25(OH)D de
50nmol/l em comparao com indivduos com nveis de 27,5 nmol/L.
Em metanlise de 8 estudos de coorte prospectivos, realizada em 2014, com
populao de 26.018 indivduos na faixa etria de 50-79 anos, de diferentes pases
europeus e dos EUA, com objetivo de avaliar concentraes sricas de
hidroxivitamina D e mortalidade por todas as causas, por causas cardiovasculares e
por cncer, encontrou-se que os nveis sricos mais baixos de 25 (OH) D foram
associados com o aumento de todas as causas de mortalidade, como tambm de
mortalidade cardiovascular, com uma associao curvilnea entre concentraes de
25 (OH) D e esses resultados (SCHTTKER et al., 2014).
Porm dados da reviso sistemtica publicada por Bjelakovic et al. (2011),
com intuito de analisar estudos que utilizaram suplementao de vitamina D,
independentemente de qualquer dose, via de administrao ou durao versus
placebo, para preveno de mortalidade, encontraram benefcios apenas em
mulheres idosas, assim como apenas o calcidiol (vitamina D3) demonstrou reduo
de mortalidade, em detrimento do ergocalciferol (vitamina D2) e do alfacalcidiol e
calcitriol. Esta reviso tambm ressaltou aumento do risco de nefrolitase com a
suplementao conjunta de D3 e clcio e hipercalcemia com alfacalcidiol e calcitriol
(BJELAKOVIC et al., 2011). Posteriormente, os mesmos autores publicaram recente
reviso sistemtica, aos moldes da reviso anterior, esta nova incluindo 56 estudos,
com populao na maioria de mulheres (77%) idosas, com mais de 70 anos, com a
vitamina D administrada em mdia por 4,4 anos, encontrando qua a vitamina D3
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47
reduziu mortalidade em todos os 56 estudos, e da mesma forma, a vitamina D2,
alfacalcidiol e calcitriol no tiveram importncia significativa na mortalidade
(BJELAKOVIC et al., 2011).
Outra reviso sistemtica de 2014 (LEBLANC et al., 2014) avaliando 11
estudos quanto ao efeito do tratamento com vitamina D3 sobre a mortalidade em
populaes deficientes de vitamina D, encontrou que a terapia com vitamina D3
(com ou sem clcio) foi associada com a diminuio do risco de mortalidade versus
placebo / nenhum tratamento.
2.3.2 Deficincia de Vitamina D e Hipertenso Arterial Sistmica
Em idosos, a hipertenso arterial sistmica (HAS) caracterizada por
marcante elevao da presso arterial sistlica, assim como da presso de pulso, a
qual est relacionada com rigidez arterial que tem importante valor preditivo de
futuros eventos (CUNHA, 2006).
Na dcada de 90, Rostand, estudando correlao de hipertenso arterial
sistmica com deficincia de vitamina D, avaliou o efeito da exposio radiao
UVB em hipertensos expostos em solarium por 3 meses, e constatou que estes
tiveram aumento dos nveis de vitamina D e tornaram-se normotensos (ROSTAND,
1997).Vrios estudos observacionais foram consistentes em demonstrar que h uma
associao inversa entre concentrao de 25-hidroxivitamina D e nveis arteriais
pressricos (BOUILLON, 2009; FORMAN et al., 2007; SCHMITZ et al., 2009;
SCRAGG; SOWERS; BELL, 2007).
Esta associao entre vitamina D e HAS tambm foi tema de trs estudos
prospectivos que merecem meno, ainda que no apresentem delineamento
especfico para idosos. O Health Professionals' Follow-Up Study incluiu 613 homens
no hipertensos e os acompanhou por quatro a oito anos, demonstrando que a
hipovitaminose D os expunha a risco de hipertenso trs a seis vezes maior em
relao queles com nveis timos de vitamina D (FORMAN et al., 2007).
No estudo Nurses' Health Study (FORMAN; CURHAN; TAYLOR, 2008), 1.484
mulheres com grave deficincia de 25(OH)D foram acompanhadas por oito anos,
possibilitando mostrar associao inversa entre nveis de vitamina D e incidncia de
HAS. O terceiro grande estudo tambm de coorte, realizado no Reino Unido com
6.810 indivduos durante 2002-2004 tambm detectou associao inversa entre nvel
-
48
de vitamina D e desenvolvimento de componentes da sndrome metablica,
incluindo a hipertenso arterial sistmica (HIPPNEN et al., 2008).
Dois estudos duplos cegos, relacionando hipertenso arterial com deficincia
de vitamina D em mulheres, tiveram resultados discordantes, como o estudo duplo-
cego placebo-controlado realizado com 148 mulheres atendidas em ambulatrio
acima de 70 anos, com objetivo de avaliar a suplementao de clcio e vitamina D
quanto presso arterial e metabolismo sseo, verificou que as mulheres que
receberam suplementao de vitamina D tiveram reduo da presso arterial
sistlica mais evidente em relao s suplementadas apenas com clcio (PFEIFER
et al., 2001). No entanto, no outro estudo duplo cego, o WHI study, os autores
avaliando 36.282 mulheres na ps- menopausa com suplementao de 1.000 mg de
clcio elementar mais 400 UI de vitamina D3 por dia ou placebo, por sete anos, no
encontraram reduo da PA, provavelmente decorrente de doses insuficientes de
vitamina D para obteno dos efeitos anti-hipertensivos (MARGOLIS et al., 2008).
Outro estudo abordando suplementao de vitamina D, este realizado em
populaes de 283 adultos negros, dentre os quais 50% eram hipertensos,
demonstrou que houve decrscimo da presso arterial sistlica com a
suplementao do colecalciferol (1,4 mmHg para cada dose de 1.000 UI/dia)
(FORMAN et al., 2013).
Enquanto maioria dos estudos observacionais demonstraram associao
entre vitamina D e reduo da presso arterial, metanlise de 46 estudos
intervencionais, em 2015, no comprovaram benefcios da suplementao da
vitamina D na reduo dos nveis arteriais sistlicos ou diastlicos (BEVERIDGE et
al., 2015).
Em recente estudo controlado mendeliano, avaliou-se a existncia de
associao causal entre nveis de vitamina D e hipertenso arterial, utilizando
variantes dos genes relacionados a 25(OH)D, como CYP2R1 (relacionado com a
sntese) e DHCR7 (codificao da 7-dehidrocolesterol redutase), encontrando-se
que o aumento das concentraes plasmticas de 25(OH)D pode reduzir o risco de
hipertenso arterial sistmica (VIMALESWARAN et al., 2014).
Estudo realizado no Brasil, abordando HAS no idoso, em associao com
vitamina D nos hipertensos, teve como desfechos nveis pressricos, bioqumicos,
dietticos, antropomtricos, tipo de pele, exposio ao sol e prevalncia de
hipovitaminose D. A concluso foi que a elevada prevalncia de hipovitaminose D
-
49
nos idosos est relacionada com maiores nveis de presso arterial sistlica (NEVES
et al., 2012).
2.3.3 Deficincia de Vitamina D e Aterosclerose
A aterosclerose vascular se caracteriza principalmente pelo acometimento da
camada ntima de artrias de mdio e grande calibre, que aps terem seu endotlio
lesado, desencadeiam o processo de fo