a compreensÃo dos enfermeiros de unidades bÁsicas...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO TIRADENTES-UNIT/AL
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIEDADE,
TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
A COMPREENSÃO DOS ENFERMEIROS DE
UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE MACEIÓ/AL SOBRE AS
DIFERENTES ABORDAGENS DA SEXUALIDADE
Autora: Aldenízia Kássia de Melo Carvalho
Orientadora: Profª. Drª. Daniela do Carmo Kabengele
Coorientadora: Profª. Drª. Jesana Batista Pereira
MACEIÓ, AL - BRASIL
FEVEREIRO DE 2018
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A COMPREENSÃO DOS ENFERMEIROS DE
UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE MACEIÓ/AL SOBRE AS
DIFERENTES ABORDAGENS DA SEXUALIDADE
ALDENÍZIA KÁSSIA DE MELO CARVALHO
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
SOCIEDADE, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DO CENTRO
UNIVERSITÁRIO TIRADENTES – UNIT/AL, COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM SOCIEDADE,
TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
Aprovada por:
Profª. Dra. Daniela do Carmo Kabengele
(Orientadora)
________________________________________________
Profª. Dra. Jesana Batista Pereira
(Coorientadora)
________________________________________________
Prof. Dr. Cesário da Silva Souza
(Membro Externo)
________________________________________________
Profª. Dra.Verônica Teixeira Marques
(Membro Interno)
________________________________________________
Prof. Dr. Pedro Simonard
(Membro Suplente)
MACEIÓ, AL – BRASIL
FEVEREIRO DE 2018
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
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Dedico esta Dissertação aos meus filhos Felipe e Vítor, luz de
inspiração e perseverança, fontes de amor e esperança de dias
melhores, mais justos e menos preconceituosos: a vocês, meus filhos,
que tornaram minha vida mais doce e a caminhada mais leve.
“As certezas não passam de hipóteses, as histórias não passam de
construções, as verdades são apenas estações temporárias numa
estrada que sempre leva adiante, mas nunca acaba”.
(BAUMAN, 1999, p. 189)
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus, sempre ao meu lado, renovando minhas forças e
reafirmando minha fé e compromisso, mesmo quando não acreditava mais que daria certo;
Ao meu marido Tales, sempre presente em minha vida com seu amor,
companheirismo e dedicação, apoiando-me em minhas decisões, compartilhando e assumindo
completamente minhas tarefas de mãe, para que eu pudesse concretizar mais uma etapa de
minha vida;
A minha família: meu pai João, minha mãe Albernita e meus irmãos Alcinélia e
Jefferson, que mesmo distantes mostraram-se presentes;
A minha sogra Maria da Salete, Doutora em português, que mesmo sem tempo, me
ajudou na finalização desta dissertação;
A minha secretária Rosângela (Anjinha), a qual Deus colocou em nossos caminhos, e
que até hoje nos ajuda na tarefa de cuidar da casa e dos filhos;
A minha orientadora Daniela do Carmo Kabengele, pela disponibilidade em construir
comigo este trabalho, pelos esclarecimentos e ajuda intelectual;
A minha coorientadora Jesana Batista Pereira, cujos direcionamentos, mesmo com os
poucos encontros, foram valiosos na elaboração desta dissertação;
A minha querida turma de mestrado (2016.1), pioneira no programa, pelo
conhecimento trocado, brincadeiras e angústias compartilhadas;
Ao programa de Mestrado SOTEPP, pelo compromisso prestado;
As Professoras e Professores que tornaram possível a realização desse sonho;
A minha estimada amiga Magda Matos, que esteve presente na conquista de meus
sonhos acadêmicos, seja na conclusão do curso de enfermagem, na pós-graduação na
enfermagem do trabalho, e agora na finalização do mestrado, dividindo momentos ímpares no
ambiente de trabalho e fora dele, que sua presença seja constante em minha família;
As enfermeiras do VIII distrito de saúde de Maceió, que tornaram possível a
realização desta pesquisa;
Aos meus queridos alunos de estágio da UNIT, pelo apoio e carinho;
Aos colegas e diretores da UBS Osvaldo Brandão, pela compreensão das ausências
no trabalho para cursar as disciplinas do mestrado;
Enfim, a todas e todos que direta ou indiretamente me ajudaram na conclusão de
mais uma etapa de minha vida acadêmica.
vi
RESUMO
O estudo da sexualidade levanta inúmeros questionamentos e inquietações, principalmente
quando reportados as condutas e comportamentos assumidos pelos sujeitos e os profissionais
da saúde no que se refere às orientações prestadas à população. Partindo dessa reflexão essa
Dissertação teve como objetivo compreender a forma como as enfermeiras e/ou enfermeiros
das unidades básicas de saúde de Maceió/AL abordam a sexualidade em suas consultas
cotidianas. A importância de se trabalhar com a sexualidade está evidenciada nos dados
estatísticos de adolescentes grávidas em Alagoas, alcançando em 2017 um índice de 25% dos
partos realizados. Por sua vez, o registro das Infecções Sexualmente Transmissíveis
diagnostica nos testes rápidos revelou que a contaminação pelo vírus HIV atingiu 53 registros
de soropositividade só até março de 2017. Outros dados alarmantes são registrados nos
feminicídios que atribuiu a Alagoas um dos estados mais violentos para as mulheres em 2017,
além dos crimes contra os homossexuais com um número de 23 mortes no mesmo ano. O
entendimento da sexualidade percorre vários caminhos, dentre eles os que envolvem questões
de direito e de saúde. No campo jurídico, o direito sexual e reprodutivo está contemplado na
Declaração dos Direitos Humanos; no campo da saúde, particularmente, no acesso aos
serviços de saúde, a saúde sexual e reprodutiva está garantida pela universalidade e a
integralidade do Sistema Único de Saúde. No ano de 2013, o Ministério da Saúde lançou o
Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, que norteia as ações das
equipes nas unidades básicas de saúde. Para o Caderno de Atenção Básica, saúde sexual e
saúde reprodutiva são complementares e devem convergir para um propósito maior que é a
saúde integral do paciente, levando em consideração seus aspectos biopsicossociais, para
assim abranger o paciente/cliente em sua completude holística e humanizada. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa, realizada no ano de 2017, com abordagem construtivista social utilizando
a técnica de análise de conteúdo de Bardin (2016). Os dados coletados mostraram-se mais
direcionados a utilização da forma culta/científica em se trabalhar com a sexualidade nas
unidades básicas de saúde. Essa evidência foi percebida na distinção do eixo biológico do
eixo social e sua complementaridade na abordagem do paciente nas consultas realizadas pelas
enfermeiras do VIII distrito de saúde da capital, e pode ter causado um descompasso em
relação ao que realmente é abordado a respeito da saúde sexual com a população
frequentadora desses serviços de saúde.
Palavras-chave: saúde sexual e saúde reprodutiva, consulta de enfermagem, atenção primária
de saúde.
vii
ABSTRACT
The study of sexuality raises a number of questions and concerns, especially when the
conduct and behaviors assumed by the subjects and the health professionals regarding the
guidelines given to the population are reported. Based on this reflection, this dissertation
aimed to understand how nurses from the basic health units of Maceió, Alagoas approach
sexuality in their daily consultations. The importance of working with sexuality is shown in
the statistical data of pregnant adolescents in Alagoas, reaching an index of 25% of deliveries
in 2017.In turn, the record of Sexually Transmitted Infections diagnosed in fast tests revealed
that contamination by the HIV virus reached 53 HIV seropositive registers until March 2017
only. Other alarming data are recorded in femicides that attributed to Alagoas to be one of the
most violent states for women in 2017, besides crimes against homosexuals with a number of
23 deaths in the same year. The understanding of sexuality goes through many paths, among
them are those involving issues of law and health. In the legal field, sexual and reproductive
rights are included in the Declaration of Human Rights; in the field of health, particularly in
access to health services, sexual and reproductive health is guaranteed by the universality and
integrality of the Unified Health System. In the year 2013, the Ministry of Health launched
the “Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiv”, in English “Basic
Attention Notebook - Sexual Health and Reproductive Health”, which guides the actions of
the teams in the basic health units. For the Basic Attention Notebook, sexual health and
reproductive health are complementary and should converge to a greater purpose that is the
patient's overall health, taking into account their bio-psychosocial aspects, in order to cover
the patient/client in their holistic and humanized completeness. This is a qualitative research,
carried out in 2017, with a social constructivist approach using the content analysis technique
of Bardin (2016). The collected data was more directed to the use of the cultured/ scientific
way to work with sexuality in the basic health units. This evidence was perceived in the
distinction between the biological axis of the social axis and its complementarity in the
patient's approach during the consultations carried out by the nurses of the VIII health district
of the capital and may have caused a mismatch in relation to what is actually addressed
regarding sexual health with the population attending these health services.
Keywords: sexual health and reproductive health, nursing consultation, primary health care.
viii
APRESENTAÇÃO
Nascida em 23 de maio de 1980, na cidade de João Pessoa-PB, percorri a infância e
adolescência na cidade considerada como ponto mais oriental das Américas. Hoje residindo
em Maceió-AL, cidade que me abraçou como filha e me acolheu tanto em minha vida pessoal
quanto profissional, sou grata e retribuo o carinho. As constantes idas e vindas à terra natal
vêm despertando o interesse em dividir conhecimentos pertinentes não apenas a um território,
e sim a comunhão do aprendizado com a pulverização de atitudes que podem transformar e
melhorar o convívio social de todos.
Apesar da redução de carga horária de dedicação ao estudo, pelo fato de ter que
conciliar meu tempo entre ser mãe, esposa e profissional, o sonho acadêmico de aprofundar
meus conhecimentos serve de inspiração para as noites em claro.
A inquietação por assuntos “polêmicos” faz parte de minha natureza: desde a mais
tenra idade, amigos e familiares julgam-me ser questionadora por sempre perguntar sobre o
que de fato é certo ou errado em nossas vidas. Apesar de muito tranquila, meus argumentos
produzem reflexões que geram debates calorosos.
A pesquisa sobre a sexualidade é resultado de minhas inquietações acadêmicas e
profissionais, e a decisão de adentrar ainda mais na temática foi estimulada e lapidada nas
disciplinas cursadas ao longo do mestrado acadêmico interdisciplinar, o qual despertou o
senso crítico em pensar a sexualidade sob o olhar do profissional enfermeiro.
O tema sexualidade desperta interesse desde a época de minha primeira graduação.
Em 2007 conclui o curso de enfermagem pelo Centro de Ensino Superior de Maceió
(CESMAC), onde apresentei como trabalho de conclusão de curso uma pesquisa realizada
com mulheres frequentadoras de unidades básicas de saúde de Maceió acerca da adesão ao
exame citopatológico ou papanicolau. Foi evidenciado em tal pesquisa que a maioria das
usuárias que realizavam o exame o procuravam por conta de sintomas decorrentes de
inflamações ou doenças sexualmente transmissíveis, e que em todas as consultas o caráter
reprodutivo era único aspecto abordado.
Meu segundo contato com a temática foi decorrente de minha graduação em Ciências
Biológicas pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 2013, onde apresentei
monografia com uma pesquisa de campo realizada com professoras e professores da rede
municipal de Maceió sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula sobre sexualidade. A
pesquisa apresentou os resultados indicando a abordagem da sexualidade apenas sob caráter
biologicista, com enfoque no sistema reprodutor masculino e feminino.
ix
Em 2012, pude vivenciar o que já me inquietava há algum tempo: a forma de
abordagem da sexualidade humana, desta vez trazida nas consultas de enfermagem em
unidades básicas de saúde.
Assim, o interesse em pesquisar a respeito da saúde sexual e saúde reprodutiva foi
sendo estimulado por intermédio das práticas educacionais, nas quais estava inserida por ser
professora de Estágio Curricular I, em unidades básicas de saúde do curso de enfermagem
pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL), desde 2012 até o presente momento, 2018.
Dessa forma, pude presenciar diversas vezes ações limitadas e restritas à saúde reprodutiva de
mulheres em idade fértil, ou seja, ao aspecto biológico do sexo, como nas ações contempladas
em consultas de planejamento familiar, com orientações sobre a escolha do método
contraceptivo; nas consultas de pré-natal com exames e consultas de evolução gravídica, ou
nas consultas de teste rápido com resultados de positividade ou negatividade das doenças a ele
atribuídas.
Em consequência a essa inquietação, foi oportuno definir meu problema: precisava
entender o porquê não falar ou falar entrelinhas sobre a sexualidade humana? E procurar saber
se as demandas sociais contemporâneas e a formação profissional influenciaram nas consultas
de enfermagem com pacientes em Unidades Básicas de Saúde do município de Maceió.
x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Mapa de localização dos Centros/Unidades de saúde por região administrativa
Quadro 1- Distribuição das unidades de saúde de acordo com os bairros
Quadro 2 – Dados gerais a respeito dos participantes da pesquisa
Quadro 3 – Categorias de diferenciação da saúde sexual e saúde reprodutiva
Quadro 4 – Categorias de amadurecimento conceptivo
Quadro 5 – Temas propostos para trabalhar nas UBS‟s sobre saúde sexual e saúde reprodutiva
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Instituição de formação profissional das participantes
Gráfico 2 – Relação entre idade, tempo de formação e tempo serviço público para efetivação
da saúde sexual e reprodutiva em UBS
Gráfico 3 – Nível de entendimento e elementos influenciadores na construção da concepção
da sexualidade
Gráfico 4 – Orientações a respeito das consultas e se o profissional sente-se preparado em
trabalhar com atemática sexualidade
xii
LISTA DE SIGLAS
AIDS: Acquired Immmunodeficiency Syndrome
APS: Atenção Primária de Saúde
BDENF: Base de Dados de Enfermagem
BVS: Biblioteca Virtual da Saúde
CAB: Caderno de Atenção Básica
CEP: Comitê de Ética e Pesquisa
CESMAC: Centro de Ensino Superior de Maceió
CNES: Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde
COFEN: Conselho Federal de Enfermagem
DIU: Dispositivo Intrauterino
DST´S: Doenças Sexualmente Transmissíveis
EPS: Educação Permanente em Saúde
ESF: Estratégia Saúde da Família
IES: Instituição de Ensino Superior
IST´S: Infecções Sexualmente Transmissíveis
LGBTT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros
OMS: Organização Mundial da Saúde
PNAISM: Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher
SIDA: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
SUS: Sistema Único de Saúde
UBS: Unidade Básica de Saúde
UFAL: Universidade Federal de Alagoas
UNIT/AL: Centro Universitário Tiradentes/Alagoas
14
Sumário
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
2 A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES E OS CAMINHOS DA
SEXUALIDADE HUMANA ................................................................................. 23
2.1 A compreensão da sexualidade: como sou construído socialmente? .............. 29
2.2 A compreensão do corpo: sexo físico e social ..................................................... 33
2.3 Enfrentamento às imposições: o que fazer? ....................................................... 37
3 ENTENDENDO A SAÚDE PARA SE PENSAR EM SEXUALIDADE, SAÚDE
SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA ................................................................ 43
3.1 Os níveis de atenção à saúde e a relação com a sexualidade ............................. 48
3.2 As dificuldades para o acesso igualitário aos serviços de saúde ....................... 52
3.3 As contribuições da consulta de enfermagem para a saúde sexual e
reprodutiva satisfatória ....................................................................................... 56
4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA .............................................. 64
4.1 Caracterização do local de pesquisa ................................................................... 65
4.2 Caracterização dos participantes da pesquisa ................................................... 68
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 70
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 95
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 101
ANEXOS .................................................................................................................... 112
APÊNDICES ............................................................................................................. 131
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1 INTRODUÇÃO
O estudo da sexualidade humana vem sendo discutido há muito tempo. Falar em
sexualidade é buscar entender a história, a cultura, a educação e a saúde. É uma investigação
que pode permitir a identificação e a superação de preconceitos; muitos deles, históricos. A
abordagem do tema é complexa, apresenta-se como um traço íntimo característico do ser
humano e está, de alguma forma, presente na vida de todos, independentemente da fase em
que cada indivíduo se encontre.
Colaborando para importância do estudo da sexualidade alguns dados tornam-se
essenciais na reflexão do que vem acontecendo em torno de um assunto ainda tão polêmico. O
número de adolescentes grávidas vem aumentando significativamente no estado de Alagoas,
de acordo com o DATA SUS (2017), mais de 25% das mães de bebês nascidos em Alagoas
são de adolescentes, sendo reflexo da falta de informações provenientes da inabilidade ainda
de se falar em sexualidade com esse público, seja pelos pais, pela escola e até mesmo pelos
profissionais de saúde da atenção básica (CHRISTYE, 2017).
Ainda nesse contexto, o número das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s)
diagnosticadas através dos testes rápidos na capital alagoana conferiu um aumento da
contaminação pelo vírus HIV com 53 registros de soropositividade comparado ao mesmo
período de 2016 com registro de 20 casos. O teste rápido é realizado para detecção ou não das
IST´s HIV, sífilis, hepatite B e hepatite C; é realizado por meio de um pequeno furo no dedo
do paciente onde os quatro exames são colhidos, cada exame tem um tempo de espera não
superior 30 minutos para entrega do resultado. Se negativo, o profissional orienta para que a
prevenção seja mantida. Caso seja positivo, a pessoa é imediatamente encaminhada para
tratamento e deve realizar exames complementares (GOMES, 2017).
Além disso, o comportamento e atitudes do sujeito referentes à sexualidade influência
nas estatísticas para casos de feminicídios e homofobias. De acordo com a Secretaria de
Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL), somente no ano de 2017, das 74 mulheres
assassinadas, 31 foram classificadas como feminicídios. O Mapa de Violência de Alagoas
(2017) mostra que o Estado ocupa a 4ª posição no ranking de violência, sendo um dos estados
mais violentos para mulheres, e Maceió é a segunda capital mais violenta do País. O mesmo
se repete para os crimes de homofobias com registro de 23 mortes em 2017 de pessoas LGBT,
dados trazidos pelo Grupo Gay da Bahia (FARIAS, 2018).
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Partindo-se dessas observações, esta dissertação objetivou descrever o que as
enfermeiras e/ou enfermeiros de Unidades Básicas de Saúde de Maceió compreendem sobre
as diferentes abordagens da sexualidade.
Para conseguir atingir tal objetivo, foram identificadas as principais concepções das
enfermeiras e/ou enfermeiros na abordagem da sexualidade em suas consultas nas Unidades
Básicas de Saúde; e verificadas quais as influências da formação inicial e continuada das
enfermeiras e/ou enfermeiros na compreensão das diferentes abordagens da sexualidade. Por
fim, foram classificadas como científicas (Biológico, Social, Econômico, Histórico) ou
cotidianas (emergente do senso comum) as tendências argumentativas das enfermeiras e/ou
enfermeiros na abordagem do tema e como se dispuseram em suas consultas cotidianas.
A sexualidade, presente em todas as sociedades, exerce um papel significativo, não
apenas na questão reprodutiva, mas também no estabelecimento de normas de conduta e
direcionamento de tarefas. Toda sociedade está inserida em processos transformacionais,
característicos de toda civilização, com evoluções e até mesmo alguns retrocessos que
apontam para um imaginário de limitações principalmente quando referida a questões
entendidas como tabus e impregnadas de preconceitos que podem causar mudanças no que
sempre foi estabelecido como o “correto”.
Essas transformações sociais, também conhecidas como demandas sociais
contemporâneas, são inovações constantes, por vezes radicais nas relações afetivas, estando à
sexualidade completamente enraizada no contexto social de transformações da intimidade, em
que as relações humanas são construídas e reorganizadas ao longo da história (GIDDENS,
1993).
Nesta perspectiva, a ideia de sexualidade humana comporta disposições além do
aspecto biológico; ela está inserida em dimensões histórico-culturais e psicossociais. Segundo
Foucault (1997), a sexualidade se coloca não apenas no plano do palpável, mas também no
discurso que sustenta o palpável, na ideologia subjacente aos padrões de “normalidade”
impostos na convivência social.
A apreensão da sexualidade como algo que transcende o palpável revela as dimensões
de alcance para seu entendimento. Assim, o tema da sexualidade difunde-se e imbrica-se em
outras ciências e disciplinas cuja compreensão perpassa a esfera disciplinar, ganhando cada
vez mais atenção nos estudos interdisciplinares.
Pode-se entender a interdisciplinaridade como um princípio mediador entre as
diferentes disciplinas, não sendo jamais elemento de redução de conhecimento e sim um
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princípio de exploração das potencialidades de cada ciência, da compreensão, da diversidade
e da criatividade (ETGES, 1993).
A fragmentação do conhecimento leva o sujeito a não ter domínio sobre seu próprio
conhecimento; limita, reduz entendimentos, dificulta o pensar na causa e foca apenas nas
consequências, nos reparos trazidos após a instalação do problema. O mesmo acontece com a
sexualidade quando vista apenas pela lente da biologia da reprodução. Na
interdisciplinaridade, o sujeito pensante faz fecundar o trabalho em equipe e a formação do
sujeito coletivo, e o sujeito coletivo é capaz de viver a interdisciplinaridade em qualquer
espaço de atuação (JANTSCH; BIANCHETTI, 2011).
Assim como a compreensão dos estudos interdisciplinares é importante no
entendimento de determinados assuntos, a relação com a enfermagem na complexidade de
abordagem de seu paciente/cliente é notoriamente imprescindível, devendo o profissional
buscar alcançar de forma ampla e segura os processos que levam ao adoecimento do sujeito e
sua coletividade, garantindo menores repercussões que atingem a saúde física, mental e até
mesmo social do sujeito que está sob seus cuidados.
A enfermagem possui diferentes atuações e dentre elas a enfermagem em saúde
coletiva, que se estabelece prioritariamente nos cuidados preventivos de saúde. Das muitas
ações destinadas à Atenção Primária de Saúde (APS), uma possui relação direta com o tema
em pesquisa, que se trata da saúde sexual e saúde reprodutiva da população assistida por uma
Unidade Básica de Saúde (UBS).
A saúde sexual e reprodutiva são termos que cotidianamente são usados juntos; porém
é necessário entender suas diferenças. Nem toda atividade sexual significa reprodução, e nem
toda reprodução necessariamente levará a um ato sexual, como o caso da reprodução assistida
ou in vitro, além de que toda sexualidade não se restringem ao caráter heterossexual
reprodutivo (CORRÊA; ÁVILA, 2003).
A saúde sexual diz respeito à habilidade de mulheres e homens desfrutarem livremente
de sua sexualidade, sem violência, discriminação, coersão e sem riscos de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST´s), além da garantia de uma vida sexual com informações
seguras, baseada na autoestima e do respeito mútuo nas relações (CORRÊA; ALVES;
JANNUZZI, 2006).
Já a saúde reprodutiva é a condição de mulheres e homens serem informados e terem
acesso aos métodos eficientes, seguros, permissíveis de planejamento familiar, além dos
métodos de regulação da fecundidade, que não sejam contrários à lei, como também o acesso
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aos serviços de saúde apropriados que deem à mulher condições de atravessar, com
segurança, a gestação e o parto e proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho
sadio (UNFPA, 1995).
Foi percebendo as diferenças, assim como a complementaridade, que a enfermagem
tornou-se fundamental, posto que a enfermeira (o) é um dos primeiros profissionais a que o
paciente/cliente tem acesso quando necessita de cuidados com a saúde. A enfermeira (o) deve
possuir a sensibilidade e o treinamento para perceber a necessidade de cada sujeito,
modificando dessa forma um cenário ainda muito visto nos atendimentos à saúde sexual e
reprodutiva na atenção primária de saúde que é a falta de habilidade e humanização com
questões relativas à sexualidade.
Mesmo diante da diferenciação dos termos, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013a)
reconhece que as ações voltadas à saúde sexual e reprodutiva, em sua maioria, se restringem à
saúde reprodutiva da mulher adulta, com pouco envolvimento dos homens. Tais ações são
direcionadas, basicamente, ao esclarecimento de questões a respeito do ciclo gravídico-
puerperal, prevenção de câncer de colo de útero e de mama.
A restrição das ações em sexualidade fere o princípio doutrinário de fundamental
importância do Sistema Único de Saúde (SUS): a integralidade. Entende-se por integralidade
a garantia de uma assistência em todos os níveis de atenção, em que se deve ser promovida a
articulação entre a promoção, proteção e recuperação da saúde do sujeito e da família
(CAMPOS, 2003). Dessa forma, a abordagem no aspecto totalitário do paciente é quebrada
ainda na atenção primária de saúde.
Além do descumprimento da integralidade, a equidade é paralelamente desrespeitada,
ainda que falar em equidade seja falar em igualdade e justiça. A equidade parte da ideia do
respeito às necessidades, diversidades e especificidade de cada cidadão ou grupo social;
significa respeitar a individualidade e a diversidade do ser humano, posto que impacta de
forma significativa na saúde através de diferentes formas de preconceito e discriminação
social (BRASIL, [s/d]).
É no Programa Saúde da Família, hoje conhecido como Estratégia Saúde da Família
(ESF) que melhor se visualizam tais princípios. As ações de saúde devem contemplar não
apenas o indivíduo, mas a família, a comunidade ali adstrita, sendo a família foco central das
ações inerentes à sexualidade, em que cada indivíduo deve ser visto e respeitado por suas
particularidades, seja no seu caráter reprodutivo, seja no seu caráter disseminador de
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informações positivas acerca do respeito à sexualidade do outro, compondo assim seu aspecto
social.
Porém, a realidade quase sempre aponta para outro aspecto de inserção dos princípios
de integralidade e equidade que não condizem com seus conceitos. Mas o que está
acontecendo no cotidiano dos profissionais, em especial das(os) enfermeiras(os), para o
descumprimento desses princípios? Algumas questões podem aqui ser inquiridas na tentativa
de responder tal questionamento.
Uma série de fatores se constitui como obstáculos na abordagem integral da saúde
sexual e reprodutiva pelos profissionais das Unidades Básicas de Saúde, dentre eles é possível
citar: a dificuldade de se trabalhar questões de foro íntimo; a prática médica individualizada; o
conhecimento disciplinar da área; os programas de saúde centrados apenas nas mulheres; a
influência do modelo biomédico nas práticas profissionais, além das capacitações quando
oferecidas pautarem-se nos métodos de contracepção (ALVES, 2011). Diante de tal retrato,
que representa a dificuldade de se trabalhar de forma integral, o sujeito fica perdido nas ações
individualizadas e compartimentalizadas da sexualidade no caráter reprodutivo da mulher, nas
quais os homens ou as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (LGBTT) não
encontram uma equipe para partilharem suas dúvidas e inquietações.
Dessa forma a dissertação buscou compreender como vem acontecendo os
atendimentos de enfermagem voltados à sexualidade em um distrito sanitário de saúde de
Maceió, correlacionando às principais ações trazidas nos manuais fornecidos pelo Ministério
da Saúde para melhor atuação dos profissionais nas situações acima citadas.
Com a contribuição das disciplinas cursadas ao longo do mestrado interdisciplinar em
Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas – SOTEPP, do Centro Universitário Tiradentes –
UNIT/AL, o direcionamento metodológico e empírico levou à divisão por capítulos,
permitindo um entendimento ampliado da questão da saúde sexual e reprodutiva no âmbito de
atenção primária de saúde. Dessa forma, a construção da dissertação estruturou-se em cinco
capítulos.
No capítulo introdutório foi retratado como as identidades são constituídas e quais
seus apontamentos em relação à sexualidade e a profissão de enfermagem. O cerne de
entendimento dos conceitos pautou-se, principalmente, nas teorias de Bauman, Bourdieu e
Foucault, fazendo interlocução com autores mais contemporâneos, como Judith Butler, além
das valiosas contribuições dos diversos autores referenciados no corpo do capítulo. Objetiva-
se com o capítulo despertar no leitor o pensamento crítico de perceber as possibilidades com
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que a identidade é construída e como a sexualidade pode estar ligada aos conceitos de
normatividade estabelecidos a partir das práticas e condutas sexuais.
Para Bauman (2005), a identidade do sujeito é definida pelo pertencimento ou não de
determinadas características; a solidez dessas características são fluidas, variáveis, a depender
do contexto no qual o sujeito se encontre. Ainda para esse pensador, o mundo moderno impõe
certa mutalidade, posto que a tecnologia e o acesso a outras culturas e meios estão
visivelmente disseminados, o que leva o sujeito a experimentar e a percorrer caminhos antes
não conhecidos.
Assim, várias identidades podem ser assumidas pelo sujeito, a exemplo da
nacionalidade, religiosidade, representações partidárias, todas com suas égides bem
formuladas, são por vezes culturalmente aceitas ou repudiadas. Dentre as muitas identidades
que o sujeito pode assumir, uma chama atenção para seu caráter interpretativo: a sexualidade,
que é discutida e interferida por discursos que transcendem o tempo e o próprio sexo. A
sexualidade e tudo que advém dela repercute na construção identitária do sujeito, tecendo-lhe
caminhos, condutas de comportamento que, por vezes, divergem da “normalidade”
determinada socialmente. A questão ganha destaque, principalmente, no que tange ao gênero.
Gênero é definido como o sexo social, uma oposição política entre os sexos.
O entendimento de sexo como um dado natural e de gênero como construído,
determinado culturalmente, expressa uma essência do sujeito. O sexo e o gênero, como
categorias diferentes, resultam em perceber que o gênero feminino, por exemplo, pode vir em
um sexo masculino e vice-versa, uma vez que não se nasce mulher ou homem e sim torna-se
mulher ou homem (BUTLER, 2016).
Apesar da distinção dos termos sexo e gênero, os discursos acerca da sexualidade
ainda dividem e classificam as categorias, aprisionando o gênero ao sexo biológico. Os
avanços acontecidos em torno do tema da sexualidade, como o empoderamento das mulheres
sobre seu corpo e os direitos garantidos a mulheres e ao público LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros), vem mudando a forma de pensar o sexo
e a sexualidade.
Direcionando para enfermagem, é essencial que o profissional conheça e entenda da
diversidade das características que compõem o sujeito, posto que, como mencionado
anteriormente, o sujeito, a família e a coletividade vem passando por processos
transformacionais, assim como a própria profissão de enfermagem, com a inserção de novas
políticas e paradigmas de excelência no atendimento, o que pode por vezes levar a crises de
20
identidade profissional. A crise de identidade emerge dos novos saberes e necessidades
evidenciadas, levando a um descompasso entre o saber e a prática de enfermagem, visto que a
prática cotidiana em sua mais nova diversidade busca soluções em outras fontes que não
apenas o saber científico (PEREIRA; BELLATO, 1997).
Colaborando com os saberes no exercício profissional e sua relação com a
sexualidade, o Ministério da Saúde lança manuais, políticas e capacitações através da
educação continuada com o intuito de melhor nortear as ações voltadas ao público que
procura os serviços de saúde.
A construção da identidade e a importância que a sexualidade assume na vida do
sujeito, norteou a construção do segundo capítulo desta dissertação. A sexualidade no âmbito
da saúde e sua significação para os profissionais da área trazem grandes contribuições para o
entendimento das condutas traçadas por esses profissionais no cotidiano de suas consultas.
Este segundo capítulo traz, além das abordagens dos conceitos de saúde, a pauta sobre a
operacionalização no desenvolvimento da consulta de enfermagem quanto à saúde sexual e
saúde reprodutiva na Atenção Primária de Saúde. O capítulo tem por finalidade, apresentar ao
leitor as atribuições da profissão de enfermagem, assim como descrever algumas leis que
regem o Sistema Único de Saúde na Atenção Primária à saúde sexual e saúde reprodutiva.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, “A saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988), sendo esses direitos
garantidos por um Sistema Único de Saúde (SUS).
No ano de 1990, é implantada a Lei Orgânica da Saúde (8.080/90) que assegura os
benefícios dos Princípios e Diretrizes do SUS, como a universalização, a equidade e a
integralidade de suas ações. Dentre essas ações, o direito à sexualidade é representado pela
saúde reprodutiva e saúde sexual, como informado no Caderno de Atenção Básica - Saúde
Sexual e Saúde Reprodutiva n°. 26, do Ministério da Saúde (2013a), anteriormente já
mencionado.
No campo da Atenção Primária de Saúde, os estudos de gênero, sexualidade e saúde
reprodutiva permitem-nos pensar sobre as relações sociais fundadas nas diferenças percebidas
entre os sexos, contribuindo para uma maior compreensão do processo saúde-doença-cuidado,
seja na prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s) e Acquired
Immunodeficiency Syndrome (AIDS), seja nos estudos de reprodução humana e
21
anticoncepção. Porém, deve-se separar a necessidade de compreensão e mediação das
relações interpessoais, incluindo não só o sistema familiar, o sistema multidisciplinar
envolvido na assistência, independente de suas especificidades, e os diferentes saberes
(HORTA, 2007).
Na enfermagem, a sexualidade tem aparecido associada a tabus e preconceitos, que
perpassam tanto a formação acadêmica quanto a prática profissional. É no momento do
cuidado, a partir da interação dos corpos de quem o pratica e de quem o recebe, que a
sexualidade ganha espaço para emergir. Porém, quando velada, pode consistir em mecanismo
gerador de ansiedades, incertezas e constrangimentos mútuos (SEHNEM et al., 2013).
Apesar de ser um assunto muito divulgado, a discussão da sexualidade ainda conta
com significativa escassez de bibliografia relacionada aos roteiros de consultas de
enfermagem na atenção básica de saúde a respeito da temática; assim, a relação entre
sexualidade e enfermagem acaba ficando no contexto biológico, com abordagens sobre o
surgimento IST´s, gravidez e planejamento familiar, não respondendo às queixas cada vez
mais frequentes da população em relação à sexualidade vivida fundamentada na prática
assistencial do enfermeiro na atenção primária.
A consulta de enfermagem deve assumir uma postura holística, com a compreensão
do indivíduo em sua totalidade, como preconizado pela lei orgânica de saúde 8.080/90
(BRASIL, 1990a), que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde, adentrando também um dos princípios doutrinários do SUS, a integralidade, segundo a
qual o profissional deve estar preparado para ouvir o usuário, entendê-lo inserido em seu
contexto social, evitando o uso de termos que rotulem o paciente/cliente, seja por dificuldades
sexuais, fisiológicas, psicológicas ou familiares. A assistência ofertada para essa clientela tem
por objetivo sanar, se não minimizar, o problema que a fez procurar o serviço.
O ser humano não deve ser compreendido isoladamente: ele é parte integrante de um
sistema formador, em que a sexualidade está inserida. Sendo a sexualidade parte de nossa
natureza, é nosso direito uma discussão sobre esse tema, direito que inclui o acesso irrestrito à
procura, recebimento e transmissão de informações referentes à sexualidade, respeito pela
integridade física dos sujeitos, opção para escolher o parceiro, decisão sobre ser sexualmente
ativo ou não e a hora de conceber filhos.
Uma satisfatória formação inicial e continuada dos enfermeiros(as) é essencial para
uma consulta de qualidade. Serão elas e eles responsáveis pelo conhecimento, filtragem e
análise crítica dos significados da sexualidade de suas/seus pacientes, constituindo com isso
22
parte integrante na educação sexual individual do cidadão, que inevitavelmente influenciará
no perfil da sociedade.
Após apresentada a significativa contribuição que o profissional da saúde, aqui em
especial a enfermeira e/ou enfermeiro, tem na saúde sexual e reprodutiva do sujeito e sua
coletividade, ficam traçados os caminhos na construção do terceiro capítulo desta dissertação.
O terceiro capítulo informa sobre o percurso metodológico traçado para construção desta
dissertação, explicando cada passo vivenciado em sua elaboração desde a pesquisa
bibliográfica até a coleta dos dados com as enfermeiras do VIII Distrito Sanitário de Saúde do
município de Maceió. Objetiva-se com esse capítulo mostrar ao leitor o modo como os dados
foram coletados, assim como significado para academia de uma estruturação metodológica
convergente ao tema pesquisado.
O quarto capítulo aponta para os resultados e a discussão a respeito dos dados
coletados, usando como fonte de norteamento a análise de conteúdo descrita por Bardin
(2016), cujo objetivo foi visualizar o que vem acontecendo no cotidiano das enfermeiras (os)
pesquisadas (os) do VIII distrito sanitário de saúde do município de Maceió em relação às
consultas envolvendo a saúde sexual e a saúde reprodutiva dos pacientes cadastrados ou não
na unidade básica de saúde (UBS) de sua competência.
Ainda inserido nesse capítulo a construção de gráficos, quadros e tabelas facilitaram o
entendimento dos dados coletados em campo, proporcionando uma melhor visualização da
realidade local com o que estar descrito em publicações dos autores especialistas no assunto
sexualidade, atenção primária e consulta de enfermagem.
Já as considerações finais ampliam a visão do leitor e despertam questionamentos a
respeito de como esta sendo empregada as ações em saúde sexual e saúde reprodutiva nas
consultas de enfermagem em outros distritos sanitários da capital, afim de melhor traçar um
perfil profissional e da população que busca auxílio nas unidades de saúde de Maceió/AL.
A reflexão trazida nas considerações finais possibilita o envolvimento de outros
órgãos na melhoria da saúde coletiva de forma mais ampliada, o entendimento de que a
sexualidade faz parte do eixo saúde, bem estar e prevenção possibilita a aplicabilidade de
todos os princípios que regem o Sistema Único de Saúde, principalmente o Princípio da
integralidade quando referido a assistência do sujeito de forma holística.
23
2 A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES E OS CAMINHOS DA
SEXUALIDADE HUMANA
A sexualidade humana possui diferentes perspectivas e sentidos que aguçam os
trabalhos acadêmicos, a fim de melhor compreender como foi e como vem sendo retratada a
sexualidade humana, e seu impacto no cotidiano dos sujeitos. É inegável que essa discussão
remeta a intensos desentendimentos entre correntes mais abertas e democráticas e outras mais
conservadoras, de postura mais restritiva. E se, por um lado, isso gera desacordos em relação
à questão, por outro, gera possibilidades de reflexão.
O tema da sexualidade atravessa fronteiras e gerações, e a prática sexual vem sendo
alvo de muitos estudos, a exemplo de Judith Butler com os estudos de gêneros (2016) e
Michel Foucault, com a história da sexualidade (1988), na intenção de permitir uma vida
integrada e saudável. Dentre esses estudos, o que melhor se aplica à temática, diz respeito à
esfera interdisciplinar envolvendo questões de saúde física, mental e até mesmo a social. Para
entender os ajustes e desajustes da saúde sexual e reprodutiva, é importante que se faça um
resgate na história da sociedade a respeito de seus comportamentos e identidades, para se
pensar em ações saudáveis.
Dessa forma, o capítulo tem como objetivo entender as disposições da sexualidade a
partir da identidade assumida, assim como desmistificar atitudes e comportamentos ligados às
normatividades estabelecidas pelas práticas e condutas sexuais. Este capítulo traz também
apontamentos do perfil do profissional de enfermagem diante das mudanças e novas
atribuições de sua profissão.
As condutas estabelecidas pelo sujeito, em particular, relacionadas à sexualidade, diz
respeito a como esse sujeito se vê e é visto pela sociedade da qual ele toma parte; nesse
aspecto, inclui não apenas o público distante, mas todos que estão diretamente ligados ao
cotidiano do sujeito, como a família, os amigos e os profissionais que atendem as
necessidades de saúde, aqui em especial os enfermeiros. Nessa conta, vale dizer que a visão
da sociedade muitas vezes tem a ver com julgamentos morais que tendem a julgar as pessoas
de modo enviesado, tendencioso e parcial. Mais que isso, o julgamento moral inflige normas
de conduta, regras que resvalam ações de comportamentos que nem sempre condizem com o
eu do sujeito, “regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso, e se atribui ao
verdadeiro efeitos específicos de poder” (FOUCAULT, 2008, p. 13).
Mas o que é sexualidade?
24
A sexualidade é um comutador, uma chave de troca que “nenhum sistema moderno de
poder pode dispensar” (FOUCAULT, 1984, pp. 243-276). Para Foucault, a sexualidade não é
aquilo de que o poder tem medo, mas aquilo que o poder usa para sua manutenção e
continuidade.
Nessa mesma linha de pensamento, Bauman entende que a sexualidade é uma relação
social, assim como o poder, a propriedade ou a liberdade. Pode ser entendida como um
aspecto de uma hierarquia constituída de unidades de superioridade e inferioridade, como
grupos e segmentos que se mantém no poder, mais precisamente, um aspecto da forma
hegemônica de dominação ou de uma pretensão a dominar pela hegemonia. Já as certezas não
passam de hipóteses, as histórias não passam de construções, as verdades são apenas estações
temporárias numa estrada que sempre leva adiante, mas nunca acaba (BAUMAN, 1999).
A ideia de sexualidade como construção se coaduna com a ideia de construção de
identidade. Ambos (sexualidade e identidade) se instituem a partir de relações entre o
indivíduo, a sociedade e a cultura. Se assim é, pode-se afirmar que a identidade é fruto de
pertencimento ou não pertencimento, isto é, do conjunto de características, pertenças de
outrem, uma ou mais particularidades. A forma como me identifico perante os outros
considera o reconhecimento de determinadas características, em mim e nos outros, sendo elas
fluidas, mutáveis, variantes. O que remete ao raciocínio de Zigmunt Bauman (2005, p. 19):
“As identidades „flutuam‟ no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e
lançadas pelas pessoas a nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as
primeiras em relação às últimas”.
Nas identidades, cabem distintas possibilidades. Por exemplo: uma pessoa tem uma
determinada religião em um determinado momento de sua vida; o que não quer dizer que ela
irá professar essa mesma religião ao longo de toda a sua vida. Quer dizer: ela pode mudar de
religião. Pode-se utilizar esse raciocínio para, por exemplo, a nacionalidade (que não se
confunde com naturalidade). É possível pensar que a pessoa tem uma nacionalidade e, por
razões diversas, mude para outra. É possível pensar, inclusive, que se pode ter mais de uma
nacionalidade. O tropo da identidade tem a ver com o contexto e momento em que cada
pessoa se encontra e, especialmente, com o ato volitivo do sujeito (KABENGELE, 2014).
Compreendendo que a identidade se caracteriza por sua mutalidade, a profissão de
enfermagem insere-se nesse cenário, no qual mudanças de conformação e protocolos são
diariamente percebidos. A profissão antes vista por um ideário feminino, marcado pela
25
religiosidade e pelo papel da mulher no ato do cuidar, hoje ganha outros significados e um
caráter ainda mais científico (PADILHA; NAZÁRIO; MOREIRA, 1997).
A produção do conhecimento da atualidade e a enfermagem fazem surgir novos
saberes que levam a construção de novas identidades frente aos modernos conceitos e
necessidades da prática, diversidade e dinamicidade (PEREIRA; BELLATO, 1997). A arte do
cuidar ganha cada dia mais cientificidade e o descompasso entre o saber e a prática busca
outras soluções que não apenas o saber científico. Competem aos profissionais de
enfermagem estar atentos e adequarem-se nas mudanças nos processos sociais.
Os processos sociais são formadores da identidade. Uma vez instituída, a identidade
pode ser estabelecida (mantida) ou restabelecida (modificada), remodelada pelos sujeitos,
pelas relações sociais e pelos processos históricos, incidindo nos tropos da identidade. Por
outro lado, também pode ocorrer o contrário, as identidades podem ser formadoras de
processos sociais, quando produzidas na interação do sujeito, pela consciência individual,
reagem sobre uma estrutura social dada, mantendo-a, modificando-a ou até mesmo
remodelando-a (BERGER; LUCKMANN, 2013). Subjacente a essa reflexão, está a ideia de
que a construção identitária é uma estrutura correlacional, complementar e recíproca. Essas
palavras (correlacional, complementar e recíproca) podem ser percebidas na construção
identitária; tomando por base que a identidade é construída em via dupla, ou seja, na relação
do sujeito com o outro, é pertinente pensar que a relação profissional com o paciente pode
gerar conflitos ou estímulos nessa construção. A reciprocidade, o compromisso e o
profissionalismo vivido no processo de atendimento da (o) enfermeira (o) para o público que
procura seus serviços revela o sentido da saúde quando reportado à sexualidade, cuja
finalidade é minimizar ou até mesmo sanar as dúvidas, angústias e inquietações do paciente.
A necessidade de procurar um auxílio profissional é explicada pela dependência do
sujeito na busca de um aconselhamento; o individualismo típico da atualidade leva os sujeitos
a buscarem cada vez mais ajuda especializada na tentativa de ter menos riscos, erros em
conduzir a vida em uma sociedade hoje considerada líquida, o que antes era valorizado pela
duração eterna, hoje se valoriza a momentaneidade: “o „curto prazo‟ substituiu o „longo
prazo‟ e fez a instantaneidade seu ideal último” (BAUMAN, 2004, p. 145).
De acordo com Berger e Luckmann, as identidades são construídas por atores,
personagens ativos nas construções, reconstruções e desconstruções, para cuja concretização a
inferência do eu no outro é imperial, e a busca de papéis que afirmem essa condição é parte do
processo de criação e aceitação dessa identidade. Para os autores: “Ao desempenhar papéis, o
26
indivíduo participa de um mundo social. Ao interiorizar estes papéis, o mesmo mundo torna-
se subjetivamente real para ele” (BERGER; LUCKMANN, 2013, p. 100).
A identidade se caracteriza por uma condição que Zygmund Bauman (2005) chama de
líquida, fluida, ou seja, algo em construção, em transformação. Dessa forma, há várias formas
possíveis de identidades para serem descobertas e inventadas, dependendo do momento e
estado que cada sujeito se encontre.
Se para Bauman (2005), as identidades são, como dissemos, fluidas, em um primeiro
momento, a argumentação de Butler parece estar em desacordo com Bauman, pois, para a
Judit Butler (2016), a identidade é assegurada por conceitos estabilizadores de sexo, gênero e
sexualidade. Mas, em verdade, não há o desacordo, posto que Butler admite que a própria
noção de “pessoa” é questionada pela emergência cultural daqueles indivíduos cujo gênero é
“incoerente” ou “descontínuo”, mas que não se conformam com as normas de gênero da
inteligibilidade cultural pelas quais as pessoas são definidas. Assim, a noção de pessoa
estabelece que qualquer que seja o contexto social, de algum modo, a pessoa permanece
externamente relacionada a uma estrutura definidora de sua condição, seja essa condição a
consciência, a capacidade de linguagem ou a deliberação moral (BUTLER, 2016).
Em outras palavras, as práticas regulatórias de formação e divisão do gênero são
definidoras da identidade. Ampliando o foco, é possível dizer que as características das
identidades surgem pelo pertencimento a culturas, etnias, religião, nacionalidade; porém, as
condições atuais da sociedade globalizada estão unificando paisagens culturais de classe,
gênero, sexualidade, etnia, nacionalidade, antes entendidas como sólidas e que nos davam
referência. Hoje, tais transformações vêm alterando identidades, causando uma descentração,
um deslocamento do sujeito, causando por vezes crises identitárias (HALL, 2006).
As crises de identidade, quando direcionadas ao escopo do profissional, ficam
evidenciadas na enfermagem quando a mesma deixa de assumir seu papel assistencial
adentrando por vezes outras profissões. A identidade se produz nas relações de poder e
domínio, sendo este poder circunstancial e com raízes históricas. Na enfermagem, as recentes
transformações do trabalho no espaço e tempo levam as enfermeiras (os) a deter o domínio da
dinâmica do cotidiano do seu trabalho, seja ele hospitalar ou em unidades de Saúde (LOPES,
1997).
Porém, como Bauman argumenta na obra Identidade, no mundo atual, compreender-se
com uma única identidade para toda a vida, ou até menos do que a vida toda, mas por um
longo tempo à frente, é um negócio arriscado: “As identidades são para usar e exibir, não para
27
armazenar e manter” (BAUMANN, 2005, p. 96). Assim, crises identitárias seriam melhor
administradas:
O processo de desenvolvimento do ser humano marcado por sua inserção em
determinado grupo cultural se dá “de fora para dentro”. Isto é, primeiramente
o indivíduo realiza ações externas que serão interpretadas pelas pessoas ao
seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A
partir dessa interpretação é que será possível para o indivíduo atribuir
significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos
internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos
estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos
compartilhados pelos membros desse grupo (OLIVEIRA, 1993, p. 39).
No que tange ao caráter social (maneira de agir e de reagir de um sujeito ou de um
grupo) e a construção de identidades na formação do cidadão, algumas escolhas são aceitas e
outras rejeitadas, e dessa forma observa-se que a relação de poder privilegia e fomenta regras
de aceitação a respeito do que alguns consideram condutas “normais”.
Fixar uma determinada identidade como sendo a normal é uma das formas
privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos
processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença.
Normalizar significa eleger - arbitrariamente - uma identidade específica como o parâmetro
em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa
atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as
outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa. A identidade normal é "natural",
desejável, única. A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma
identidade, mas simplesmente como a identidade. Paradoxalmente, são as outras identidades
que são marcadas como tais (SILVA, 2000).
Na conquista de uma identidade há envolvimento de disputas por outros recursos
simbólicos e materiais. A afirmação de uma identidade e a proclamação da diferença traduz o
desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso
privilegiado aos bens sociais; dessa forma a identidade possui estreitos laços com as relações
de poder, o qual a define e marca as diferenças, não podendo ser separado das mais amplas
relações de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes (SILVA, 2000).
Em se tratando de diferenças, a mais visível se estabelece na anatômico-fisiológica,
através do dimorfismo sexual. Porém, as diferenças do dimorfismo sexual não são
imediatamente responsáveis pelo comportamento social. As diferentes culturas comprovam
que o que rege o comportamento social são as imposições culturais e não as biológicas. O
comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo de
28
endoculturação. “Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus
hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada” (LARAIA, 2015, p. 20).
Tomaz Tadeu Silva (2000) considera que a afirmação da identidade e a marcação da
diferença implicam, sempre, operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer "o que
somos" significa também dizer "o que não somos". A identidade e a diferença se traduzem,
assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está
incluído e quem está excluído.
Como visto até o momento, a formação da identidade pode ser definida como um
processo constitutivo de características, como também de criação de novos atributos que
podem ser temporários.
Em sua formação, o processo cultural é o ponto de partida para as marcas identitárias.
Não por menos, Roque de Barros Laraia argumenta que: “A cultura, mais do que a herança
genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações”. Diz ainda:
“O Homem age de acordo com os seus padrões culturais” (LARAIA, 2015, pp. 48-49).
Abarcando os conceitos formadores da identidade e compreendendo os vieses que
levam à definição de identidades, o traçado histórico-cultural é um forte marcador até mesmo
no comportamento profissional, o qual está inserido e impregnado de definições pré-
estabelecidas e estereotipadas. Nesse horizonte, surge uma possível reflexão para a
compreensão sociocultural das aceitações sociais, e dentre essas aceitações, as que geram
maior polêmica são aquelas oriundas da sexualidade, carregada até os dias atuais de muitos
preconceitos e interditos. Por exemplo: parte do que se construiu e se constrói a respeito da
sexualidade advém, em parte, dos mitos e dos tabus, como por exemplo, o pecado de Adão e
Eva; a assexualidade dos anjos; a virgindade de Maria; sendo boa parte deles atribuídos por
instituições estabelecidas, como, por exemplo, a igreja e a família. Em outras palavras, o mito
vem para dar sentido a um fato.
O corpo profissional de uma instituição precisa estar claramente instruído quanto os
significados que os mitos e tabus representam no cotidiano dos sujeitos, não há como em
poucas consultas o profissional modificar o que anos foi estabelecido e explicado
culturalmente. A educação fomentada cotidianamente e a mudança gradual de
comportamentos, iniciados pela própria equipe de saúde, incide na melhor assistência ao
paciente e, consequentemente, o respeito cultivado em via dupla irradia para além dos muros
da unidade de saúde, diminuindo os conflitos e violência oriundos da não aceitação das
29
particularidades do outro. Assim, é atribuição da equipe de saúde o esclarecimento dos mitos
e tabus oriundos socialmente e que muitas vezes acarretam em diferentes formas de violência.
Para Chauí (2000), o mito surge nas sociedades para elucidação das coisas e formas.
Ele vem em forma de narrativa, criada por um narrador que possua credibilidade diante da
sociedade, poder de liderança e domínio da linguagem convincente, e que, acima de tudo,
atribua ao mito aquilo que gostaria de impor, mas adequando a estrutura do mito de uma
forma que tranquilize os ânimos e responda às necessidades do coletivo. Diferente do que é
popularmente conhecido, o mito não é, nem nunca foi, sinônimo de mentira; o mito é um tipo
de discurso que tem como objetivo explicar acontecimentos, eventos ou fatos.
Já o tabu é a forma de afirmação/negação do mito e se caracteriza pela proibição de
qualquer prática que não seja aceita socialmente, podendo ser de ordem religiosa, moral ou
cultural. Os tabus são convenções, formas de preservar os ”bons costumes”
socioculturalmente construídos.
Dessa forma surge a compreensão do que é a sexualidade e como ela foi estabelecida a
partir de um marco de aceitação cultural.
2.1 A compreensão da sexualidade: como sou construído socialmente?
Fazendo parte da identidade, a sexualidade permeia um universo de criações na
composição do “eu” e “nós”. Em sua complexidade, a sexualidade se articula em dois eixos
complementares, ou melhor, imbricados: o individual, em que desejos, libido, prazeres e
desprazeres se entrelaçam; e, do outro lado, o coletivo, em que política e economia interferem
de modo significativo.
Porém, é na dimensão coletiva que a sexualidade adquire seu caráter de mais alto
impacto, já que está ligada a valores morais, comportamentos e costumes sociais que
interferem na conjuntura de uma sociedade. Para Guimarães (1995), as posturas em torno da
sexualidade são elaboradas histórica e culturalmente e representadas pelo conjunto de
posturas que transcendem ao próprio sexo. Com as normalizações surgem regras, exigências,
cerimônias, interdições e permissões, que tornam a atividade sexual uma ação de caráter
restrito e alvo de diversos preconceitos.
Os preconceitos evidenciados em torno da sexualidade chamam a atenção
principalmente quando reportados aos problemas de saúde individual e coletiva. A procura
aos atendimentos especializados pelos sujeitos, paciente/cliente, sinaliza a necessidade de
30
compreender como encontrar a saúde física, mental e social acerca da sexualidade vivida e
expressada pela população.
Os critérios que elegem normalidade na sexualidade são reforçados por discursos de
verdade que são cunhados por sujeitos que acreditam e fazem-se acreditar no que é certo ou
errado em sua prática sexual. Segundo Foucault (1988), os discursos sobre a sexualidade
aparecem em momentos sócio-históricos distintos, como uma tentativa de normalizar as
práticas sexuais de acordo com os padrões da época, uma vez que o controle da vida social e
política só poderiam ser alcançados pelo controle do corpo e da sexualidade. A sexualidade,
em suas múltiplas construções e desconstruções, tem a ver com sexo, mas também com poder,
uma vez que, com bastante regularidade, as regras hegemônicas estabelecidas pautam e
direcionam questões acerca da sexualidade.
A noção de que pode haver uma “verdade” do sexo, ironicamente trazida por Michel
Foucault, é produzida precisamente pelas práticas reguladoras que geram identidades
coerentes por via de uma matriz de normas de gênero coerentes (BUTLER, 2016).
A orientação e a atuação de instituições (religiosas, judiciárias, pedagógicas e
médicas) são afirmadas, tendo como premissa as relação de discurso e poder no que concerne
à sexualidade, de modo que a sexualidade encontra-se, digamos, “aprisionada”, a um conjunto
de regras, normas, direitos e deveres derivados.
Dessa forma, assim como os discursos, os silêncios são submetidos ao sistema de
poder, uma vez que há um jogo complexo e instável em que o discurso pode ser ao mesmo
tempo instrumento e efeito de poder, mas também um obstáculo, uma escora, um ponto de
resistência, um ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder,
assim como o silêncio e o segredo dão guarida ao poder, fixam suas interdições, mas também
afrouxam seus laços e dão margem a tolerância mais ou menos obscura (FOUCAULT, 1988).
A comunicação é parte integrante das relações humanas, ela pode ser expressa tanto
verbalmente quanto através do silêncio, da linguagem corporal. A comunicação não-verbal
expressa nossos sentimentos e emoções, complementa, contradiz e substitui a comunicação
verbal (RESSEL; SILVA, 2001). A linguagem não verbal é facilmente identificada,
principalmente, quando reportada à sexualidade. É na consulta de enfermagem em saúde
sexual e reprodutiva que o enfermeiro deve estar capacitado para interpretação dos sinais
emanados pelo corpo.
Embora silenciosos, os corpos gritam, emitem a todo o momento mensagens a respeito
de suas crenças e valores, emoções, conceitos e preconceitos, sentimentos, afetos e desafetos,
31
medos e inseguranças, revelando ao profissional uma vivência ímpar, singular, que por vezes,
quando entregues aos cuidados profissionais, perdem sua identidade, sendo caracterizados e
reduzidos apenas como um caso clínico, uma patologia, um número estatístico, generalizado
aos conceitos postulados nos livros científicos (RESSEL; SILVA, 2001).
Em se tratando dos sinais da sexualidade, a postura corporal e comportamental revela
como a sexualidade está sendo vivenciada pelo sujeito, um breve resgate da história da
sexualidade favorece o entendimento de como a sexualidade viveu e vive aprisionada pelos
grilhões do poder.
A concepção da sexualidade moderna teve seus pilares construídos nos primeiros
quatro séculos da era cristã. Na Idade Média, (séculos V a XV), o discurso a respeito da
sexualidade instituiu uma ética, em que o falar, o fazer e o entender eram condicionados ao
ato de pecado; o prazer não podia ser sentido e a procriação era de caráter obrigatório, o que
levou a uma postura extremamente heterossexual, com a subjugação do gênero feminino pelo
gênero masculino, visto que em seus ensinamentos a mulher era responsável pelo pecado da
carne, conforme informa a história da serpente de Adão e Eva.
No discurso médico-científico, a sexualidade se coloca em relação direta com as
doenças sexualmente transmissíveis – atualmente denominadas Infecções Sexualmente
Transmissíveis – com as profilaxias e o estudo de comportamentos sexuais tidos como
desviantes. Os médicos deram uma cientificidade, ou seja, um olhar de ciência, a um tema que
recebia constantes interferências da Igreja. O ideal higiênico do século XIX – preocupado
com a profilaxia das doenças em geral - voltou-se para as famílias, para a intimidade dos
lares, e ampliou sua esfera de influência para questões da vida amorosa (LEMES, 2008).
Nesse horizonte, “[...] há um enorme esforço por parte dos médicos em propor uma clara
distinção entre os sexos e também com relação às funções e características socialmente
atribuídas a cada um deles” (ROHDEN, 2001, p. 14).
As preocupações médicas e higienistas influenciaram na abordagem pedagógica a
respeito da sexualidade. Por possuir um caráter investigativo, os médicos higienistas tinham
por objetivo combater, por exemplo, a masturbação, as doenças venéreas, além de preparar o
corpo da mulher para desempenhar seu papel de esposa e mãe (SAYÃO, 1997).
Homens e mulheres seriam naturalmente distintos nas suas características físicas,
morais ou psicológicas. Além disso, as qualidades atribuídas a cada uma de suas funções
sociais eram descritas com o mesmo grau de determinismo que suas funções fisiológicas. “O
32
gênero parecia irremediavelmente colado ao sexo a partir de uma única e invariável direção”
(ROHDEN, 2001, p. 14).
A atuação médica e religiosa tinha um entendimento reducionista a respeito da
temática da sexualidade, uma vez que o arquétipo dualista (masculino e feminino) era o único
aceito como “normal” pelas instituições acima referidas. Assim, abriam-se brechas para que
os comportamentos desviantes, isto é, aqueles vistos fora da normalidade, fossem
caracterizados como patológicos no campo médico; e no campo religioso, como pecaminosos.
Todavia, acompanhando o processo histórico, percebe-se a mudança de paradigma. O
que se reduzia ao masculino e feminino alçou uma dimensão mais pluralista, permitindo,
assim, no decurso do século XX, uma maior aceitação, um entendimento um pouco mais
ampliado sobre a sexualidade e os papéis sociais de gênero. No campo jurídico, por exemplo,
questões de sexualidade estão atualmente relacionadas ao desenvolvimento dos direitos
sexuais, devendo estar inseridas no contexto das relações sociais (econômica, social, religiosa,
moral, sexual, entre outras). A elaboração da norma visa à obtenção de resultados orientados
por valores que podem ser uma ação, uma omissão, a imposição de uma penalidade, a
premiação de determinadas condutas (RIOS, 2006).
Os mesmos aspectos sociais mediadores que enquadram comportamentos, atitudes e
significados, rendem-se à mutabilidade, característica das sociedades, que diante das
demandas culturais adaptam-se, mesmo em meio às ações resistentes.
A sociedade está articuladamente intricada às categorias de gênero, identidade pessoal,
cultural e biológica, sexo e sexualidade. Se, por um lado, a sociedade ainda decide quais os
corpos que devem ser mantidos, reduzidos, aniquilados ou capitalizáveis; que vidas devem ou
não ser lamentadas, para quem devemos sorrir ou chorar, por outro, é possível pensar, com o
repertório de Butler, na redefinição das decisões; na possibilidade de pensar em como sou
construído e em como quero ser construído.
Nesse novo cenário de identidades fluidas, a rapidez das informações e a urgência do
atendimento especializado, apontam para a necessidade de cada vez mais capacitações dos
profissionais que lidam diretamente com a saúde sexual e reprodutiva, em especial, as
enfermeiras (os), estes profissionais devem estar inseridos e instruídos periodicamente quanto
ao atendimento às novas demandas de procura pelos serviços de saúde, elucidando suas
dúvidas sem que isso possa gerar qualquer desconforto ou constrangimento ao
paciente/cliente; o respeito, a confiança e sigilo são partes essenciais nesse atendimento,
33
assim como o conhecimento e domínio do assunto e de suas terminologias é fundamental para
conduzir a consulta de forma imparcial.
Em uma consulta de qualidade, a necessidade de separação e compreensão do que é
sexo biológico e sexo social torna-se indispensável. A segregação, assim como a comunhão
do corpo físico, social e mental caracteriza-se por visão holística do ser, onde o todo deve ser
compreendido além da simples soma de suas partes.
2.2 A compreensão do corpo: sexo físico e social
Para José Rodrigues (2006), o corpo é moldado de acordo com o que a sociedade
exige; para pertencer a uma determinada cultura, o corpo precisa ser transformado, fabricado,
desenhado, atribuindo características fenotípicas que afirmam o genótipo. Registram-se nos
corpos marcas, cicatrizes-signos, que são criações artísticas de confirmação de posição social.
O corpo deve obedecer aos padrões de beleza já estabelecidos, como se fossem “verdades”
criadas na sociedade, o que aumenta a exclusão dos que fogem desse arquétipo.
Hoje em dia, o corpo passa por metamorfoses, não é apenas uma questão de aceitá-lo e
sim de transformá-lo, corrigi-lo, melhorá-lo em prol de um regime que suprime as condições
naturais, na tentativa de buscar um corpo “perfeito”, ou seja, um corpo com maiores chances
de aceitação por uma simbologia hegemônica. Assim, o corpo passa a ser o principal
representante de uma identidade. Nesse regime da perfeição, o corpo pode sofrer
transformações para sua aceitação, ou mutilações, atendendo os ditames da ditadura da beleza.
Permeando essas criações/metamorfoses/supressões vêm as concepções que norteiam a
sexualidade humana.
O corpo revela as condições de saúde física do sujeito. Na enfermagem, a avaliação
dos parâmetros de normalidade inseridos nos sinais vitais é realizada com precisão, porém a
atenção aos sinais não palpáveis, a comunicação não-verbal, revela ainda uma deficiência
perante o significado de saúde do sujeito.
A linguagem corporal revela condições tanto para o próprio sujeito, quanto para os que
o rodeiam. Esse centro de informações chamado corpo é o que menos conhecemos, porém é o
principal veículo de comunicação entre os sujeitos. Um observador muito atento consegue ver
no outro quase tudo aquilo que o outro está escondendo, conscientemente ou não. Dessa
forma tudo aquilo que não é dito pela palavra pode ser revelado no tom de voz, na expressão
do rosto, na atitude e comportamento do sujeito (GAIARSA, 1995).
34
Em se tratando de corpo, sua significação está veiculada aos aspectos da sexualidade
humana, e tal sexualidade possui diferenciados sentidos. Procurando elucidar os sentidos dos
termos mais relevantes utilizados neste estudo, vale à pena esclarecer o que se entende por
sexo, sexualidade e gênero.
O sexo, ao longo de seu percurso, desenvolveu-se pelo entendimento da diferenciação
das características físicas, anatômico-fisiológicas do corpo, produzidas pelo genótipo, ou seja,
pelos genes que determinam o aparecimento das gônadas masculinas ou femininas, o que leva
a um caráter restritamente reprodutivo, classificando dessa forma apenas dois tipos de sexo: o
masculino e o feminino.
Essa abordagem biológica e reprodutiva do sexo normatizou regras de aceitação dos
comportamentos ligados ao sexo, determinando padrões de normalidade ou não em sua
prática.
Sexo tem a ver com a libido, com o desejo e o ato da reprodução, da diferenciação do
macho e fêmea. Judith Butler entende o conceito de sexo como matéria e instrumento de
significação cultural, formação discursiva que atua como fundação naturalizada da distinção
natureza/cultural e das estratégias de dominação por elas sustentadas (BUTLER, 2016).
É comum confundirmos o ato sexual com a sexualidade, pensando que ambos são
sinônimos. Ainda que o sexo seja parte importante da sexualidade, essa vai além de uma
atividade sexual e não se limita às genitálias ou a uma função biológica responsável pela
reprodução (NEGREIROS, 2004).
A sexualidade refere-se a um conjunto de características humanas que expressam a
energia vital, características que têm por capacidade unir os sujeitos ao prazer/ desprazer, aos
desejos. Pode-se dizer que a sexualidade é uma das dimensões de um sujeito, pois cada sujeito
tem uma identidade sexual. A sexualidade se expressa, em sentido amplo, no estilo de vida
adotado, no modo como os afetos são demonstrados, na percepção do que é erótico (BRASIL,
2013a).
Assim, além do corpo, a sexualidade contempla as relações afetivas, os costumes e a
cultura. Em nossa sociedade, por exemplo, a sexualidade foi histórica e culturalmente limitada
em suas possibilidades de vivência, devido a tabus, mitos, preconceitos e relações desiguais
de poder entre homens e mulheres (CASTRO; ABRAMOVAY; SILVA, 2004). Por sua vez, o
conceito de gênero expressa a forma como o indivíduo se percebe elegendo para isso
características socialmente marcadas pela distinção do masculino e do feminino. “O gênero é
o índice linguístico da oposição política entre os sexos. E gênero é usado aqui no singular
35
porque sem dúvida não há dois gêneros. Há somente um: o feminino, o “masculino” não
sendo um gênero. Pois o masculino não é o masculino, mas o geral” (BUTLER, 2016, p. 48).
Nesse sentido, a categoria de gênero aborda uma construção histórico-social das
feminilidades e das masculinidades, considerando que esses termos são empregados para
compreender tudo aquilo que é possível dizer ou pensar sobre ser mulher ou ser homem, em
uma sociedade específica em um determinado momento histórico (GESSNER;
BRANCAGLIONI; FONSECA, 2015).
Consoante à distinção sexo/gênero, Butler (2016) considera que a própria categoria
sexual parece pressupor uma generalização do corpo que preexiste à aquisição de seu
significado assexuado. Esse corpo parece ser um meio passivo, que é significado por uma
inscrição a partir de uma fonte cultural representada como externa. Porém, quando o corpo é
apresentado como passivo, qualquer teoria culturalmente construída pode ser questionada.
Sendo assim, localizar o mecanismo com o qual o sexo se transforma em gênero é pretender
estabelecer, em termos não biológicos, não só o caráter de construção do gênero, mas também
a universalidade cultural da opressão.
Na construção social da sexualidade, é possível também identificar a questão do poder
e da violência. O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser
exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo
que o exercem. O poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a
estabelecer uma ordem de conhecimento: um sentido imediato de mundo, um conformismo,
uma homogenia do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância
entre as inteligências (BOURDIEU, 1989).
Nas relações sociais em que o vínculo é de domínio/submissão, os dominados,
inconsciente e involuntariamente, assimilam os valores e a visão de mundo dos dominantes e,
desse modo, tornam-se cúmplices da ordem estabelecida sem perceberem que são as primeiras
e principais vítimas dessa mesma ordem. Não são violentados nem por palavras nem por atos,
aparentemente não há coação nem constrangimento, mas a violência continua, de forma sutil e
escondida, sob forma de violência simbólica: o modo de ver, a maneira de valorar, as
concepções de fundo são as dos dominantes, mas os dominados ignoram totalmente esse
processo de aquisição e partem ingenuamente do princípio que essas ideias e esses valores são
os seus (BOURDIEU, 1989).
O conhecimento do mundo social e, mais precisamente, as categorias que o
tornam possível, são o que está, por excelência, em jogo na luta política, luta
ao mesmo tempo teórica e prática pelo poder de conservar ou de transformar
36
o mundo social conservando ou transformando as categorias de percepção
deste mundo (BOURDIEU, 1989, p. 142).
Ainda para Bourdieu (1989) o senso-comum é construído pelo poder social, ou seja,
pela capacidade de fazer existir em estado explícito, de publicar, tornar visível a existência
objetiva e coletiva, a permanência de um estado e experiência, levando um estado explícito de
um grupo, o propósito das lutas que opõem os agentes acerca do sentido do mundo social, da
sua posição e identidade social neste mundo. O bem dizer, o mal dizer, a maleficência, os
elogios, as congratulações, os louvores, os cumprimentos ou os insultos são resultados do
acusar publicamente. O espaço social e as diferenças que nele se desempenham tendem a
funcionar simbolicamente como espaços de estilos de vida.
No imaginário social, existe uma correspondência “natural” entre o sentir-se homem
(sexo) e ser masculino (gênero), e o sentir-se mulher (sexo) e ser feminina (gênero), dando a
impressão que existiria uma relação direta e natural entre o corpo anatômico e a identidade de
gênero. Às vezes, entretanto, o cotidiano, quando não a clínica, nos leva a repensar esta
relação (CECCARELLI, 2010).
As separações tidas como naturais não passavam de convenções promovidas e
revividas por coerção; a chamada norma da saúde social não passa de um artefato de
repressão com a assistência do poder (BOURDIEU, 1989). Dessa forma, o corpo adquiriu um
significado que transpassa a simples diferenciação biológica, e sua comunicação se torna
relevante para a acepção de saúde física e social.
Ainda na construção social, a divisão de gêneros é marcada pela dominação
masculina; esse fardo é revelado, principalmente, quando apontadas a questões envolvendo a
violência contra as mulheres.
Desde pequenas ensina-se às meninas um estereótipo de mulher dócil, submissa e, aos
meninos, de força, agressividade; de que não podem chorar; de “dependência econômica das
mulheres aos homens; de “impunidade aos agressores”; de “uma cultura social que favorece o
homem e minimiza a mulher”; de “pouco interesse por parte do estado para aplicar as leis
elaboradas para erradicar e prevenir a violência”; de “dependências químicas (álcool, drogas),
combinadas com a personalidade agressiva”; de “cultura do patriarcado onde se segue
considerando a mulher como alguém inferior que, ao casar, se torna propriedade do homem”
(LISBOA, 2010, p. 63).
Assim, é possível entender o porquê da identidade masculina, em nossa sociedade,
estar associada aos atributos força, segurança, poder, e a identidade feminina, às
características de docilidade, meiguice e temor, como já pontuado pelos autores
37
(BOURDIEU, 1989; LISBOA, 2010). Essas características não são inatas, nem tampouco,
estão prontas nos seres humanos. Elas são adquiridas pelo indivíduo ao longo de seu
desenvolvimento e, por isso, não é possível afirmar que são características naturais. A mulher
e o homem só possuem essas características porque são educados para agirem dessa maneira.
Ou seja, o homem é educado para ser dominador, forte, altruísta, enquanto a mulher é educada
para ser submissa e contida.
A sociedade procurou estabelecer padrões de comportamentos “adequados” para sexo,
sexualidade e gênero. Entretanto, atualmente, esses padrões vêm sendo questionados e
desconstruídos no sentido de mudar paradigmas e comportamentos, se desprendendo de ações
e discursos moralistas, discriminatórios, preconceituosos e estereotipados. Ainda que a passos
miúdos, de modo raso1 e com graves consequências
2, os avanços políticos e epistemológicos a
respeito de sexo, sexualidade e gênero podem ser percebidos.
Parte desse avanço é comprovado pela Política de Promoção pela Equidade em Saúde,
lançada em 2013 pelo Ministério da Saúde. Tal política tem como objetivo diminuir as
vulnerabilidades a certos grupos mais expostos a determinantes sociais e de saúde, como por
exemplo, a população negra, do campo e da floresta, população em situação de rua, assim
como também, a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros
(BRASIL, 2013b).
2.3 Enfrentamento às imposições: o que fazer?
A sociedade tende a aceitar a forma como o poder simbólico é introduzido, isto é, as
estruturas estruturantes que nos ensina Pierre Bourdieu. A diferença sexual anatômica entre
homem e mulher é um exemplo de imposição desse poder utilizado sutilmente pela sociedade.
O fálico representa grandeza, virilidade, refletindo nos meios de relacionamento e até mesmo
1 Assassinato da travesti Dandara ocorrido em Fortaleza/CE no mês de fevereiro/2017, por motivação
preconceituosa. Disponível em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2017/03/apos-agressao-dandara-foi-morta-
com-tiro-diz-secretario-andre-costa.html>. Acesso em 12 de fev. 2018. Jovem de 16 anos morre espancado pelo
próprio pai por homofobia no Ceará. Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br>. Acesso em
12 de fev. 2018. 2 Segundo Correio Braziliense de maio de 2017, mais de 117 lésbicas, gays, bissexuais e transexuais foram
assassinados no Brasil devido à discriminação à orientação sexual. Disponível em:
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2017/05/17/internas_polbraeco,595532/a-cada-25-
horas-uma-pessoa-lgbt-e-assassinada-no-brasil.shtml>. Acesso em 12 de fev. 2018.
38
nas desigualdades no trabalho. Signos como esses são colocados e acabam sendo introduzidos
dentro da cognição social de diversas formas.
Os sujeitos, conforme o sexo, desde a mais tenra idade, encontram-se inseridos em
práticas de significação – família, escola, mídia, saúde, entre outras – que ensinam tipos de
comportamento, brincadeiras, desejos, valores, pensamentos, vestuários, e vão inscrevendo a
sexualidade nos corpos. Essas práticas de significação vão nos constituindo ao longo de todo
um período de tempo, funcionando como um amplo domínio simbólico, no qual e através do
qual damos sentido às nossas vidas e vamos produzindo nossa subjetividade. Vivemos nossa
subjetividade em um contexto social, no qual a linguagem e a cultura dão significado à
experiência que temos de nós mesmos e na qual assumimos nossas identidades
(WOODWARD, 2000).
Desde muito cedo, as mulheres e os homens aprendem a reconhecer e ocupar seus
lugares na esfera social e, para tanto, um investimento significativo é posto em ação uma vez
que as várias instâncias sociais atuam nesse processo, desempenhando um papel importante
nessa complexa rede que (con)forma e governa nossos corpos e nossa vidas (SILVA, 2012).
Os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e
reforçados pelo patriarcado, pela dominação masculina e pela ideologia, induzem a relações
violentas entre os sexos e indicam que a prática desse tipo de violência não é fruto da
natureza, senão do processo de socialização das pessoas (LISBOA, 2010).
A violência estigmatizada, principalmente na questão de gênero relacionada à mulher
em nossa sociedade, relaciona-se diretamente ao poder, o qual impôs que a mulher deveria
seguir o modelo da família patriarcal, marginalizando, dessa forma, a mulher e seu corpo,
padronizando-as como seres assexuados, responsáveis apenas pela função procriativa,
moldando-se apenas uma definição social dessa classe (BOURDIEU, 2002).
Em relação à violência de gênero, Sardenberg (2011) comenta:
Por “violência de gênero”, refiro-me a toda e qualquer forma de agressão ou
constrangimento físico, moral, psicológico, emocional, institucional, cultural
ou patrimonial, que tenha por base a organização social dos sexos e que seja
impetrada contra determinados indivíduos, explícita ou implicitamente,
devido à sua condição de sexo ou orientação sexual (SARDENBERG, 2011,
p. 1).
Ao procurar assistência, a mulher revela seus medos, anseios e inseguranças, e é
através dessa exposição que ações podem ser planejadas e implementadas na redução dos
39
índices de violência. A violência física ou simbólica3 deixa danos irreparáveis. A autora
Tereza Kleba Lisboa (2010), em seus estudos de violência contra mulheres, informa que a
relação de ódio se instala quando a mulher passar a exercer sua autonomia, seja em seu corpo,
seja socialmente quando desafia as regras de fidelidade que dão origem aos “célebres” crimes
em defesa da honra, ou quando a mesma prospera a níveis de posição de autoridade ou poder
desafiando o delicado “equilíbrio assimétrico”. As violências física, psicológica, sexual,
simbólica etc., praticadas contra o gênero mulher, se configuram, portanto, como formas da
violência de gênero contra a mulher.
[...] a violência de gênero se expressa com força nas nossas instituições
sociais (falamos então de violência institucional de gênero) e, de maneira
mais sutil, embora não menos constrangedora, na nossa vida cultural, nos
atacando (ou mesmo nos bombardeando) por todos os lados, sem que
tenhamos plena consciência disso. Diariamente, ouvimos piadinhas, canções,
poemas, ou vemo-nos diante de contos, novelas, comerciais, anúncios, ou
mesmo livros didáticos (ditos científicos!), de toda uma produção cultural
que dissemina imagens e representações degradantes, ou que, de uma forma
ou de outra, nos diminuem enquanto mulheres. Essas imagens acabam sendo
interiorizadas por nós (até mesmo as feministas “de carteirinha”), muitas
vezes sem que nos demos conta disso. Elas contribuem sobremaneira na
construção de nossas identidades/subjetividades, diminuindo, inclusive,
nossa auto-estima. Isso tudo se constitui no que chamamos de violência
simbólica de gênero, uma forma de violência que é, indubitavelmente, uma
das violências de gênero mais difíceis de detectarmos, analisarmos e, por
isso mesmo, combatermos (SARDENBERG, 2011, p. 2).
A violência contra as mulheres é um problema que atinge todo o mundo; diante disso,
a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece sua importância, classificando-a em
questões que envolvem os direitos humanos. Várias são as propostas para acabar com toda e
qualquer forma de violência contra a mulher, ao exemplo da agenda 2030, que traz entre seus
17 objetivos, um inteiramente apontando propostas para “alcançar a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas”.
Para acabar ou diminuir a violência contra as mulheres, em 2006, foi aprovada a lei
n°11.340 (BRASIL, 2006). Também conhecida como lei Maria da Penha, essa lei cria
mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, assim como para
eliminar todas as formas de discriminação, tendo como propósito prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher, além da criação dos juizados de violência doméstica e familiar. Em
3 Violência Simbólica é um conceito pensado por Pierre Bourdieu (1989) para designar as violências não físicas,
porém não menos danosas, como a coerção psicológica, moral e social; tais violências se apoiam pela imposição,
seja ela econômica ou social.
40
consonância a embates envolvendo questões ligadas à sexualidade, a lei traz em seu Art. 2o e
Art. 5° que:
Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual,
renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. [...] em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. As relações
pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual (BRASIL,
2006).
A procura pela assistência à saúde é realizada prioritariamente por mulheres, mesmo a
saúde pública contemplando todos os públicos, os homens possuem uma baixa aderência aos
serviços de saúde, isso se deve ao caráter sociocultural. Os homens têm dificuldade em
reconhecer suas necessidades, cultivando o pensamento mágico que rejeita a possibilidade de
adoecer (BRASIL, 2008).
No mesmo escopo sociocultural de quem procura a unidade, a baixa adesão aos
serviços de saúde pela população LGBTT é percebida no cotidiano dos enfermeiros(as) das
unidades básicas de saúde, aqui em especial, o VIII distrito de saúde de Maceió/AL.
Vale pontuar ainda que a Constituição Federal Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988)
abarca sem prejuízos o direito a todo e qualquer cidadão, prelecionando em seu artigo 5° que
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Há um princípio
previsto no Art. 3° §IV, em que o Estado tem que “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”
(BRASIL, 1988). O direito trata igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida
de suas desigualdades. Entretanto, nem sempre é possível verificar atributos de uma cidadania
plena, visto que muitos foram e ainda são formados por uma matriz histórica carregada de
preconceitos.
A gênese dos conflitos gerados pelas diferentes categorias é explicada pelo não
cumprimento dos princípios básicos, que são: o direito à vida, à alimentação, à saúde, à
moradia, à educação, ao afeto, aos direitos sexuais e direitos reprodutivos, considerados
Direitos Humanos fundamentais. O respeito a cada direito promove a vida em sociedade sem
discriminação de classe, cor, religião, etnia e orientação sexual. “Para que exista a igualdade
de direitos, é preciso respeitar as diferenças. Não existe um direito mais importante que o
outro. Para o pleno exercício da cidadania, é preciso garantir um conjunto de Direitos
Humanos” (BRASIL, 2013a, p.12).
41
A sexualidade é inata à condição humana. É um direito fundamental assegurado, visto
que está presente desde o nascimento, sendo incluída dessa forma como um direito natural,
inalienável e imprescritível. Ninguém pode se realizar como ser humano sem que não lhe seja
assegurado o respeito ao livre exercício de sua sexualidade, compreendendo dessa forma o
termo liberdade sexual e abarcando a liberdade da livre orientação sexual. Independente da
orientação sexual, todos têm o direito ao tratamento digno. Todo indivíduo tem o direito de
exigir o respeito ao livre exercício de sua sexualidade. Sem liberdade sexual, o indivíduo não
se realiza, assim como ocorre quando lhe é privada a liberdade de exercer qualquer outro
direito fundamental (DIAS, 2007).
Concomitante ao parágrafo supracitado, o Ministério da Saúde (2013a) traz uma
relação dos direitos inerentes à sexualidade humana. Visto pela ótica da saúde sexual e saúde
reprodutiva, estes direitos são garantidos às mulheres, aos homens, e também aos
transgêneros4:
a) direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência,
discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a)
parceiro(a);
b) direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual;
c) direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa
e falsas crenças;
d) direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil,
idade ou condição física;
e) direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual;
f) direito de expressar livremente sua orientação sexual:
heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras;
g) direito de ter relação sexual independente da reprodução;
h) direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de
DST/HIV/AIDS;
i) direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e
atendimento de qualidade e sem discriminação;
j) direito à informação e à educação sexual e reprodutiva (Ministério da
Saúde, 2013a).
O desrespeito aos direitos acima elencados geram inúmeros problemas que muitas
vezes atravessam a estrutura individual ganhando espaço em questões de ordem coletiva, por
exemplo, ataques a grupos LGBTT, discriminação em ambientes coletivos, discriminação em
ambiente de trabalho, entre outros. Os conflitos gerados pela discriminação, desrespeito e até
mesmo a marginalização do sujeito, por vezes, perpassa a esfera física, ganhando espaço no
4 “Transgênero é quando uma pessoa sente que pertence ao gênero oposto ao seu, a ambos, ou até mesmo a
nenhum gênero tradicionalmente construído, fazendo parte da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transgêneros” (ÁVILA; GROSSI, 2010). “Transgêneros são pessoas que possuem além da sua identidade de
gênero, humanidade, estes têm etnia, classe, origem geográfica, religião, idade, uma rica história de vida, para
além da transexualidade, sendo na maioria das vezes julgados apenas por sua orientação sexual” (JESUS, 2012).
42
sofrimento psicológico, por exemplo, as crises de identidade e a tentativa de se adequar ao
que a sociedade considera “normal”.
A forma de amenizar os sofrimentos físicos e psíquicos não deve ser negligenciada;
para isso um apoio público e privado no que concerne à atenção a esse tipo e violência é
primordial. As políticas públicas voltadas a toda e qualquer forma de violência, relacionada
aqui em especial ao livre exercício da sexualidade, deve ocorrer de forma mais veemente,
diminuindo dessa forma todo ato preconceituoso e discriminatório ainda tão impregnado na
atual sociedade.
Para enfrentar os altos índices de violência (a cada 25 horas uma pessoa LGBTT é
morta no Brasil)5 é necessário sensibilizar os sujeitos, ensinar e multiplicar o respeito à
diversidade, educar no seio familiar e social a desconstrução dos estereótipos, só assim
teremos cidadãos mais conscientes de sua responsabilidade individual e coletiva na
manutenção do respeito mútuo, diminuindo não apenas a violência contra a mulher, mas a
toda e qualquer classe minorizada6.
Como já descrito, a saúde, seja ela física, mental ou social deve fazer parte das
relações entre os sujeitos; a qualidade de vida, um corpo e mente sã convergem para uma vida
digna. A associação da saúde e qualidade de vida nos convida a pensar em como conceituar e
entender a saúde e suas derivações.
5 Disponível em:
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2017/05/17/internas_polbraeco,595532/a-cada-25-
horas-uma-pessoa-lgbt-e-assassinada-no-brasil.shtml>. Acesso em 13 de fev. 2018. 6 Segundo Milton Santos, “Não há minorias, há minorizados e esses minorizados aparecem definidos segundo
uma imagem que não interessa apenas àqueles que desejam manter privilégios dentro do país, mas que
corresponde a uma necessidade dos setores hegemônicos em nível mundial”. Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/519587b3f35aa257ef981e4528a31fa8.pdf>. Acesso em 31 jan. 2018.
43
3 ENTENDENDO A SAÚDE PARA SE PENSAR EM SEXUALIDADE, SAÚDE
SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA
Como já discutido no capítulo anterior, a sexualidade humana vem ganhando cada vez
mais espaço aos olhares profissionais, com diversas interpretações e atuações, sendo dessa
forma um assunto polêmico, que requer um conhecimento interdisciplinar e multidisciplinar.
Várias instituições e órgãos estão envolvidos em estudos e pesquisas acerca dessa temática e
propõem ações de comportamento individual que contribuam para mudanças coletivas,
ajustando condutas até então estabelecidas como de acordo com o padrão da “normalidade”
ou “patológica”. Este capítulo tem como objetivo traçar as estratégias de conduta do
profissional da saúde no tocante às consultas que envolvem a saúde sexual e reprodutiva: em
especial, as consultas de enfermagem no âmbito da Atenção Primária de Saúde. Um olhar
mais científico, mais aberto e menos preconceituoso é determinante na atuação do profissional
que aborda questões ligadas à sexualidade humana.
Diversos são os profissionais que trabalham cotidianamente com questões ligadas à
sexualidade, como por exemplo, profissionais da saúde, profissionais da educação, além dos
profissionais do direito que lidam com diferentes processos envolvendo discriminações,
alterações de nome social, violência sexual, entre outros. No trabalho com a sexualidade é
primordial que o profissional domine esse assunto e esteja satisfeito com sua sexualidade,
posto que este profissional será mentor na educação e no direcionamento das ações de saúde.
Se ele não estiver satisfeito com sua sexualidade, como poderá entender e contribuir para uma
consulta humanizada e sem julgamentos ao paciente? Além do conhecimento epistemológico
de questões que envolvem sexualidade, o respeito, o conhecimento e a ética estão
intrinsecamente alinhados em uma consulta de excelência.
A enfermagem é uma das muitas profissões da área da saúde que se destina à arte do
cuidar do sujeito em diferentes fases da vida, proporcionando qualidade de vida, não apenas
ao sujeito, mas também à coletividade. Dentre os papéis exercidos pela enfermagem, o
processo saúde-doença e a prevenção aos agravos é a base para uma saúde individual e
coletiva.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é um completo bem-
estar físico mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Esse conceito é antigo,
baseado no modelo biopsicossocial de 1948, mas ainda em uso; implica que não apenas o
corpo sadio deve ser considerado, mas o conjunto totalizante do sujeito: seu corpo, sua mente,
sua espiritualidade, o meio em que está inserido. O mesmo pode ser pensado em se tratando
44
da sexualidade, já que não apenas o sexo biológico pode determinar a condição de saúde do
sujeito.
Tanto a saúde quanto a doença ainda são analisadas de forma compartimentalizadas, o
que dificulta o entendimento holístico no processo de identificação do sujeito saudável. O
entendimento de sujeito holístico é clarificado quando associado às abordagens de mundo, do
homem com a natureza no processo saúde-doença e da capacidade de unir os diversos fatores
entre ambiente, corpo e mente. A análise fragmentada é congruente para o paradigma
conhecido como cartesiano no qual considera-se o homem composto de corpo e alma, partes
as quais são tratadas isoladamente (KAWAMOTO; SANTOS; MATTOS, 2009).
Entretanto, esse dualismo entre corpo e alma dificulta as ações de intervenções dos
profissionais da saúde, posto que restrinja o tratamento em doenças do corpo, e o tratamento
para as doenças psicológicas ou da alma, contradizendo o conceito holístico de visão do
sujeito.
Para que seja alcançada em sua totalidade, ou seja, na garantia do acesso aos serviços,
a saúde está vinculada e condicionada aos direitos garantidos pela Constituição Federal de
1988 (BRASIL, 1988), que preleciona em seu Art. 196 que a saúde é direito de todos e dever
do Estado, sendo garantida por meio do Sistema Único de Saúde, o qual tem como princípios
doutrinários a universalidade, a integralidade e a equidade. Esses princípios se definem por
acesso universal de todo e qualquer cidadão aos serviços de saúde; garantia integral à
assistência, seja em ações de promoção, prevenção, tratamento ou reabilitação, e
disponibilização dos serviços aos usuários de forma justa, ou seja, cada indivíduo ser atendido
de acordo com suas necessidades.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um conjunto de ações e serviços de
saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais ou por entidades a ele vinculadas. É um direito conquistado pela
população brasileira, que está consolidado na Constituição Federal. O SUS
garante atendimento universal, igualitário e integral a todo cidadão brasileiro
que dele precisar, nas unidades de saúde, ambulatórios, laboratórios,
clínicas, hospitais públicos, filantrópicos ou privados contratados, em visitas
domiciliares e mediante a ações coletivas de saúde, sem que nada seja
cobrado do usuário. Esse atendimento já foi pago pelo cidadão, por meio das
contribuições sociais e dos impostos arrecadados (FIGUEIREDO, 2012, p.
218).
A organização do SUS é compreendida por um conjunto de unidades que prestam
serviço de saúde; essas unidades são subordinadas às Secretarias Municipais de Saúde, as
quais são subordinadas as Secretarias Estaduais de Saúde, alcançando o nível Federal, com as
diretrizes do Ministério da Saúde. Além dessa subordinação, a organização das ações em
45
saúde deve obedecer a uma hierarquia de complexidade de atendimentos, iniciando com ações
consideradas menos complexas de atendimento que acontecem nas unidades básicas de saúde.
A partir dessa porta de entrada, o cidadão pode ser encaminhado a outros níveis de orientação
e complexidade a depender de seu problema.
A linguagem, em se tratando de SUS, diz respeito às doenças e aos fatores de risco
para elas, empregando-se, assim, um discurso de racionalidade científica das ciências da
saúde, em que a doença é quantificada e qualificada. A lógica do discurso deve ser pensada
para várias formas de doença, sejam elas, doenças do corpo, da alma, do saber, do espírito.
Nesse sentido, a linguagem deve garantir que o sujeito conheça melhor o seu corpo para poder
cuidar de sua saúde, já que a saúde é direito e responsabilidade de cada um como cidadão
(FIGUEREDO; TONINI, 2011).
Na garantia dos direitos universais à saúde, o SUS possui duas principais leis de
regulamentação: a Lei 8.142/90 (BRASIL, 1990b) que “dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde” e a Lei 8.080/90, também conhecida
como lei orgânica da Saúde, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”. Ainda
a mesma lei, em seu Art. 2, inciso 3°, define os determinantes e condicionantes da saúde, que
são alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, transporte,
lazer e acesso aos bens essenciais.
Os determinantes e condicionantes de saúde reiteram a amplitude do conceito de
saúde, expresso no Brasil a partir da 8° Conferência Nacional de Saúde de 1986, conhecida
como conceito ampliado/ecossistêmico de saúde, sendo essa perspectiva embasadora do SUS
(BARROS, 2015).
Entretanto, esse conceito ecossistêmico de saúde ainda possui um entendimento
limitado, posto que fraciona as ações, tornando o sujeito acrítico principalmente no que se
refere à introdução das tecnologias, as quais em sua grande maioria estão voltadas ao processo
patológico, a um modelo baseado na doença (KOEPP; FISCHBORN; SARTORI, 2016).
O alcance dos serviços de saúde, por sua vez, não favorece a maioria da população
brasileira, uma vez que os determinantes de saúde dependem da governança e disposição
política e econômica, principalmente para ações de caráter educativo e sanitário.
A saúde deve ser entendida em um contexto multidisciplinar, abarcando preceitos da
Biologia, Psicologia, Filosofia e Física, entre outras disciplinas, construindo assim uma visão
46
interdisciplinar do sujeito. Para ser considerado saudável, o sujeito terá que se adequar aos
novos e diferentes meios e situações (BARROS, 2015).
Esse novo paradigma de mudança e adequabilidade do sujeito para manter-se saudável
desponta quanto aos conceitos de identidade, nos quais pesa a fluidez e a adaptação do sujeito
às diferentes situações. De acordo com Bauman (2001), a saúde, assim como os conceitos
normativos da sociedade, demarca, produz e protege os limites entre o “normal” e o
“anormal”. A saúde é o estado desejável do corpo e do espírito, podendo ser mais ou menos
descrito e medido.
Ao pensar e entender a saúde como conjunto de fatores (sociais, biológicos,
psicológicos, espirituais e adaptativos), observa-se que a sexualidade está presente em cada
fator, sendo percebida algumas vezes como ações patológicas, principalmente, quando
relacionadas ao comportamento dos sujeitos, classificados os comportamentos de risco como
potenciais de adoecimento pelo Ministério da Saúde. O componente social é um dos mais
importantes determinantes das condições consideradas saudáveis ou não. A discriminação, os
comportamentos de risco e o julgamento moral podem levar a desordens, caracterizando um
estado patológico, alcançando por vezes níveis biológicos, psicológicos e espirituais quando
referidos à sexualidade.
A forma de pensar e definir a saúde pode ser identificada quando reportada à
sexualidade. A influência dos fatores externos são fortemente determinantes: a pluralidade
dos acontecimentos e o momento sócio-histórico podem classificar um comportamento como
uma patologia.
A saúde assim como descrita em seus muitos conceitos é influenciada pelas condições
culturais, socioeconômicas e ambientais das pessoas envolvidas no processo saúde-doença,
em que cada sujeito possui seus costumes, suas crenças, seus valores que ficam marcados em
seu corpo, sua mente e seu agir, influenciando nas respostas de adaptação a essa nova era.
Não obstante, entende-se que o processo de adoecimento em saúde sexual e reprodutiva esteja
marcado pelas relações culturais.
Para minimizar esse processo de adoecimento, o conhecimento do corpo é
fundamental, visto que o corpo reflete uma linguagem a qual deve ser interpretada pelo
profissional. Alguns princípios devem ser considerados nesta visão, como o entendimento de
que o corpo deve ser inteiro e emocional, sensível, intuitivo, gestual, racional, sensual,
imaginativo e cheio de marcas históricas. Pensar nesse corpo é entendê-lo como fonte de
conhecimento, cultura e tradições, de prazer, de desejos e necessidades, fatores esses que
47
devem ser observados e interpretados a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida
para o sujeito (FIGUEIREDO; TONINI, 2011).
É importante cuidar-se para viver mais no plano individual. É imprescindível saber o
funcionamento de cada corpo, que cada corpo tem necessidades e características específicas;
cada um tem um metabolismo e um perfil laboratorial próprios (FIGUEIREDO; TONINI,
2011).
A saúde ou a doença do corpo, por vezes, leva a diferentes interpretações, cabendo ao
Poder Público e ao setor privado utilizar uma linguagem universal a fim de efetivar a garantia
à saúde; garantia essa que deve ser mediada pelo Estado através de condições de vida dignas,
acesso universal e igualitário aos serviços de saúde, que envolvam promoção, proteção e
recuperação da saúde em todos os níveis, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano
em sua individualidade.
No Brasil, o direito à saúde teve sua origem no movimento da Reforma Sanitária; hoje
é garantido pela Constituição Federal, na qual a saúde abarca uma concepção mais ampliada,
e não apenas uma assistência médica sanitária. A saúde é decorrente de um processo político
para o acesso das pessoas e coletividades aos bens e serviços oferecidos pelas políticas
públicas, cuja prerrogativa é um atendimento universal, respeitando as especificidades de
gênero, raça/etnia, geração, orientação e práticas afetivas e sexuais (BRASIL, 2013a).
O SUS, como integrante e protagonista incansável deste processo político, assumiu os
princípios constitucionais e ampliou a visão de saúde reconhecendo que determinantes
sociais, políticos e econômicos associam-se sinergicamente a outros fatores diretos ou
indiretos no processo saúde-doença. Assim, a integração do setor saúde com as outras
políticas sociais e com os setores organizados da sociedade, passou a ser uma ferramenta
básica no esforço de assegurar a oferta de bens e de serviços para todos e na melhoria da
qualidade de vida da população (BRASIL, 2010, p. 14).
Em se tratando de melhoria da qualidade de vida, a saúde é promovida através de
níveis de atuação e complexidade de suas ações, objetivando minimizar, se não sanar, os
determinantes que levaram ao adoecimento do sujeito, propondo medidas preventivas,
curativas e de reabilitação.
48
3.1 Os níveis de atenção à saúde e a relação com a sexualidade
As ações voltadas à saúde devem obedecer a níveis de assistência, que são
classificados em primário, secundário e terciário, variando respectivamente de acordo com a
gravidade e complexidade do estado de saúde em que o sujeito se encontre.
Assim, este capítulo pretende mostrar como a saúde sexual e reprodutiva acontece em
cada nível de atenção, em especial a atenção primária de saúde, além de descrever as
propostas de ações inerentes à consulta de enfermagem em sexualidade.
As práticas de saúde, mesmo com o avanço e importância das ações preventivas, ainda
estão voltadas para um modelo de assistência à doença, modelo também conhecido como
hospitalocêntrico. A população ainda tem a cultura de procurar os serviços de saúde apenas
para o tratamento da patologia já instalada.
Incentivar a população na busca da saúde em níveis menos complexos, ou seja, na
busca pela atenção primária, colabora para a diminuição dos aglomerados hospitalares, além
de cultivar uma cultura de entendimento da saúde de forma mais ampliada, alcançando
horizontes ainda pouco explorados como a saúde na ótica da sexualidade.
A Atenção Primária à Saúde é fundamental para minimizar os danos aos sujeitos e
deve ser incentivada para que os hospitais não sejam a única fonte de referência em se
tratando de saúde. O acompanhamento e tratamento do paciente nas unidades básicas de
saúde colaboram para diminuição dos internamentos e aglomerados nos hospitais.
A prática da saúde preventiva deve ser promovida para todos os profissionais da área,
considerando que a atenção básica de saúde reúne um conjunto de ações no âmbito individual
e coletivo para a promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico,
tratamento, reabilitação e manutenção da saúde, sendo esse conjunto orientado pelos
princípios que regem o SUS, como a universalidade, integralidade e equidade (BRASIL,
2012).
Ainda para o Departamento de Atenção Básica (BRASIL, 2012), na organização do
SUS, os serviços de saúde que dizem respeito à Atenção Primária de Saúde constituem a porta
de entrada para as unidades básicas de saúde (posto de saúde, centro de saúde ou unidade
mista, que é unidade de saúde com leitos de internação). A partir dessas unidades, os serviços
vão se especializando: as técnicas e os equipamentos de alto custo e sofisticação são
indicadores do nível terciário. Porém, a complexidade no atendimento não está apenas restrita
a esse nível, uma vez que a atenção primária de saúde, por trabalhar do individual ao coletivo,
requer aprimoramento de ações.
49
A sexualidade pode ser visualizada em cada nível de atenção à saúde, os quais podem
ser classificados como primário, secundário e terciário. No nível primário de atenção, as ações
dirigem-se para prevenção, educação e mobilização da comunidade para o não adoecimento
individual e coletivo; para esse alcance, os profissionais das Unidades Básicas de Saúde são
os principais mentores. No nível secundário de atenção, serão estabelecidos os tratamentos
específicos para o não agravamento da patologia já instalada. No terciário, ações mais
complexas, mais invasivas são direcionadas, além de tecnologias de reabilitação que são
fornecidas para uma melhor condição de vida.
Na Atenção Primária de Saúde, o SUS possui uma abordagem para ações de caráter
preventivo e o gerenciamento de seus recursos é garantido pela Política Nacional de Atenção
Básica, que regulamenta o funcionamento e o financiamento nesse nível de atenção, tendo
como principal serviço a Estratégia Saúde da Família. Nessa política, a Atenção Básica é
definida como “conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a
promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a
reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde” (BRASIL, 2012, p. 19).
A política de universalização, descentralização e integralidade nos serviços de saúde,
sob a égide da municipalização da atenção primária de saúde, impõe necessidades de
demarcação territorial. Tais princípios constitutivos do SUS dependem fundamentalmente de
uma organização territorial, já que o acesso da população está diretamente relacionado à
fracionalização do território. A divisão das unidades de saúde através da territorialização é
cumprida por meio de um sistema de regionalização, o qual deve ocorrer por meio da
demarcação da área de abrangência, obedecendo às normas de ordenamento dos distritos
sanitários de saúde (FARIA, 2013).
O distrito sanitário é a menor unidade de organização e funcionamento do SUS, é
constituída por um processo social de mudança das práticas sanitárias considerando as
dimensões política, ideológica e técnica. Na dimensão política, entende-se por distrito
sanitário um espaço onde se encontram diferentes interesses no sistema de gerência da saúde e
no qual estão presentes os prestadores (público, particular e filantrópico), os cidadãos (quem
usa o serviço) e os que prestam os serviços (profissionais, secretarias). A dimensão ideológica
refere-se ao tipo de atenção que será oferecida à população; já a dimensão técnica refere-se
aos diferentes conhecimentos e tecnologias interdisciplinares, tendo como base a
epidemiologia, as ciências sociais e a clínica (MENDES, 1995).
50
São muitas as nomenclaturas utilizadas pelo SUS na divisão dos territórios. De acordo
com o autor Milton Santos (2007), o território se caracteriza por um conjunto de sistemas
naturais com coisas superpostas, sendo entendido como território usado um lugar de
residência, de trocas materiais e espirituais; que vai além do chão, alcançando a identidade.
Dentre essas nomenclaturas, o SUS destaca o distrito sanitário, a microárea, as áreas de
abrangência, que se sobressaem pelo caráter administrativo, gerencial, econômico ou político,
que se estruturam no espaço e criam territórios próprios, dotados de poder (GONDIM, 2011).
A territorialização é decorrente da saúde pública, que usa as informações como
ferramenta para localização de eventos ligados à saúde-doença, tendo como apoio as unidades
de saúde na demarcação das áreas de abrangência. Usa como pactuação a organização e
gestão, a alocação dos recursos e a articulação dos serviços por meio de fluxos de referência
intermunicipais. Essa delimitação estabelece vínculos de estruturação de campo subjacentes à
dinâmica da realidade sanitária do SUS em nível local (FLEURY; OUVERNEY, 2007).
Convergente ao entendimento da territorialização, programas como a Estratégia Saúde
da Família estão intrinsecamente ligados às ações de busca ativa, cadastro e cuidado com as
famílias ali adstritas, operando em um sistema de organização das práticas assistenciais.
A Estratégia Saúde da Família tem como objetivo a aproximação dos profissionais da
saúde com a comunidade, devendo esses profissionais considerar o sujeito assistido possuidor
de pluralidades, crenças, valores que vão interferir de modo significativo no manejo das ações
locais. Essa visão associada entre sujeito, ambiente e cultura possibilita uma maior adesão da
comunidade ao sistema de saúde.
O enfermeiro atuante nesse nível de atenção tem o papel de educador e transformador:
compete a este mesmo enfermeiro gerenciar, supervisionar, planejar, organizar, desenvolver e
avaliar ações que correspondam às necessidades da família (COTTA et al., 2012).
A família é a menor unidade de uma comunidade. Seu conceito vem sendo modificado
assim como as estruturas que antes eram tidas como indissociáveis para constituição de um
núcleo familiar. O conceito de família é muito amplo, vai depender da perspectiva adotada,
variando desde o conceito sociológico dos costumes e tradições ao jurídico, com decretos
representativos. Família possui um sentido genérico e biológico, sendo conceituada como um
conjunto de pessoas que descendem de um ancestral comum e é formada por pais e filhos
(PEREIRA, 2007).
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) denomina família quando há um
relacionamento entre um homem e uma mulher, pelo casamento ou uma união estável, sendo
51
considerado também o aspecto social. Porém, com o desenvolvimento da sociedade, a família
vai se modificando, e a conquista de direitos leva à classificação de vários tipos de família,
tendo como base o afeto, o amor, o respeito e reciprocidade que unem as pessoas.
A família pode ser definida como um grupo de pessoas que compartilham uma relação
de cuidados (proteção, alimentação e socialização), vínculos afetivos (relacionais), de
convivência, de parentesco consanguíneo ou não, condicionados pelos valores
socioeconômicos e culturais predominantes em um dado contexto geográfico-histórico-
cultural. A família é mais que a soma de seus membros, é um sistema social, uma instituição
social básica, que aparece sob as formas mais diversas, em todas as sociedades humanas
(BRASIL, 2013a).
Assim, o conceito atual de família encontra-se em constante mudança, enfrentando
novos desafios e novas doenças decorrentes de comportamentos sexuais, como as Infecções
Sexualmente Transmissíveis (IST´s), a Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS),
também conhecida em língua portuguesa como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(SIDA); ou de comportamentos sociais relacionados ao uso de violência e drogas e de
comportamentos tecnológicos, como os efeitos do uso indiscriminado da internet, que torna o
sujeito cada vez mais incomunicável com o mundo real, variando o interesse de compras a
relacionamentos completamente on-line (FIGUEIREDO; TONINI, 2011).
Os comportamentos inerentes à sexualidade são percebidos no seio familiar e
refletidos nos meios sociais. Reações emotivas negativas, imposições de qualquer ordem e
falta de habilidade em lidar com problemas refletem de forma direta no sistema imunológico,
provocando adoecimento do sujeito. A sexualidade deve ser percebida e compreendida como
parte integrante no convívio das famílias, sejam elas classificadas como famílias
heterossexuais ou famílias homossexuais.
Cabe aos profissionais de saúde a atenção para todo e qualquer problema que possa
levar a um processo de adoecimento, a despeito das questões que envolvam a sexualidade,
sejam elas de ordem biológica (doenças sexuais, contracepção), social (homofobias,
feminicídios) ou psicológicas (isolamentos, comportamentos de risco). “O processo saúde-
doença envolve toda a família – a saúde de cada um de seus membros, tanto pode ser
afetada pela dinâmica familiar e seus problemas, como influenciá-la ou afetá-la” (BRASIL,
2013a, p. 38).
Apesar de sua importância, os serviços de saúde encontram-se por vezes
despreparados para o cuidado de questões que envolvem a sexualidade da população assistida.
52
Na tentativa de mitigar os danos pela falta de habilidade em lidar com questões de
cunho íntimo, o Ministério da Saúde busca por meio de manuais, políticas e capacitações
instruir os profissionais que estão na ponta, no atendimento ao sujeito. E é na Atenção
Primária de Saúde, junto a essas famílias, que os profissionais irão fazer seus julgamentos. O
respeito às diferenças, a desmistificação de crenças e o atendimento de forma respeitosa e
profissional à família e à comunidade é o que vai promover a saúde e bem estar da população
ali assistida.
Ainda com o Ministério da Saúde desenvolvendo ações e aperfeiçoando os
profissionais no atendimento as diversidades, o acesso da população aos serviços de saúde
possui certa “seleção” com público que a procura. Os programas de assistência desenvolvidos
por vezes fogem do foco, ou minimizam sua atuação, levando a população acreditar que
certos tipos de atendimentos não são contemplados pela saúde pública.
3.2 As dificuldades para o acesso igualitário aos serviços de saúde
A igualdade no acesso à saúde ainda é um princípio pouco praticado nos serviços de
saúde. Quando se fala em atendimento universal, deve-se pensar em atendimento livre de
exclusão social, discriminação ou preconceito. Cabe entender que a exclusão se configura em
marcar o sujeito como incompatível, abandoná-lo ou privá-lo de algo. A separação do sujeito
ou de um grupo por conta de sua cor, sexo, etnia, cultura, valores ou crenças leva a prejuízos
físicos, psicológicos e econômicos, o que infelizmente ainda é visualizado nos dias atuais.
Entre os grupos considerados mais vulneráveis socialmente podemos destacar: homossexuais,
moradores de rua, desempregados, negros, idosos, usuários de drogas, portadores de doenças
crônicas ou infectocontagiosas, usuários de drogas entre outros (BRASIL, 2013b).
Vale pontuar que os sujeitos considerados excluídos referem-se àquelas pessoas
castigadas pelo sistema sociopolítico e econômico brasileiro. Muitos não tiveram e talvez
nunca tenham condições de galgar melhores condições de vida, seja pela falta de informação
ou pela falta de infraestrutura como emprego, renda e educação, além do desgaste físico e
mental no enfrentamento na aceitação social do ser diferente.
Compreender a determinação social no dinâmico processo saúde-doença das pessoas e
coletividades requer admitir que a exclusão social decorrente do desemprego, da falta de
acesso à moradia e à alimentação digna, bem como da dificuldade de acesso à educação,
saúde, lazer e cultura interferem, diretamente, na qualidade de vida e de saúde. Requer
53
também o reconhecimento de que todas as formas de discriminação, como no caso das
homofobias, que compreendem lesbofobia, gayfobia, bifobia, travestifobia e transfobia,
devem ser consideradas na determinação social de sofrimento e de doença (BRASIL, 2013b).
Para as classes excluídas, o Ministério da Saúde, juntamente com as políticas públicas,
lançam programas de acolhimento dessa população; porém, muitas dessas ações possuem
pouca divulgação e baixa adesão, além da falta de capacitações específicas para os
profissionais que trabalham direta ou indiretamente com esse público.
Em se tratando de saúde e sexualidade, algumas ações, manuais e diretrizes são
lançadas para o melhor apresto no acolhimento e reconhecimento de problemas que possam
gerar enfermidades. Dentre os muitos trabalhos do Ministério da Saúde, em 2013, foi lançada
a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(Política Nacional de saúde LGBTT), que tem como marco o Programa Brasil sem
homofobias; além do Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, os
quais norteiam ações para tratar de questões que envolvem a sexualidade (BRASIL, 2013b).
Ao adentrar na Política Nacional de Saúde LGBTT, algumas recomendações foram
lançadas pelo Ministério da Saúde para o melhor acolhimento desse público, dentre as quais
podemos citar: ações intersetoriais de educação em direitos humanos e respeito à diversidade;
sensibilização dos profissionais a respeito dos direitos de LGBTT; inclusão dos quesitos de
identidade de gênero e de orientação sexual nos formulários, prontuários; participação nos
movimentos sociais LGBTT, nos conselhos de saúde; incentivo à produção de pesquisas
científicas e avanços terapêuticos; ações da prevenção das DST/AIDS, com especial foco nas
populações LGBTT; garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e aprimoramento do
processo transexualizador (BRASIL, 2013b).
Em se tratando das vulnerabilidades em saúde apresentadas pela categoria das
travestis, podemos pontuar algumas enfermidades físicas e psíquicas enfrentadas por esta
classe, envolvendo principalmente as condições de rua; tais vulnerabilidades estão
diretamente relacionadas às questões afetivas nas relações sociais. Segundo Benedetti (2015),
o consumo de drogas, a prostituição – comportamento de risco para IST´s/AIDS, o uso de
silicone industrial, o uso indiscriminado de hormônios, além de fobias, depressões e síndrome
do pânico, são alguns exemplos da problemática sobre as quais os profissionais de saúde
deveriam estar preparados para atuar. Já em relação ao público de lésbicas, a baixa adesão ao
exame citopatológico do colo uterino é uma realidade trazida nas estatísticas da Coordenação
de DST/AIDS do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004a).
54
As angústias psicológicas trazidas em relação ao sexo diferente do gênero são
debeladas por meio de ações de cunho jurídico e de saúde; o nome social é uma conquista,
cujo reconhecimento de documentos é garantido pelo decreto n° 8.727/16 (BRASIL, 2016),
que: “Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de
pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e
fundacional”. Além da conquista jurídica, a saúde contribui com o processo transexualizador,
cirurgia para resignação do sexo, que hoje se encontra oferecida pelo SUS, caracterizando,
assim, um marco de vitória para uma classe que sofreu e sofre inúmeros preconceitos e
discriminações.
O primeiro princípio do SUS é a universalidade, que garante o acesso irrestrito aos
serviços de saúde ofertados à população. Todo cidadão tem o direito ao atendimento, assim
como todos os profissionais da saúde têm o dever de acolher e atender as necessidades
individuais do sujeito, propondo, implementando ou até mesmo continuando com as mesmas
medidas terapêuticas.
A saúde sexual pode ser percebida com certa dificuldade pelo profissional da atenção
primária de saúde, em especial, o enfermeiro (a), visto que envolve posicionamentos que por
vezes coloca o profissional em situação delicada quanto à arguição do problema detectado, o
que pode ocasionar o não retorno do paciente ao serviço.
Dentre os programas de maior visibilidade das ações inerentes à sexualidade, destaca-
se o planejamento familiar, hoje conhecido como planejamento reprodutivo, já que tanto a
mulher quanto o homem podem procurar o serviço de forma individualizada. Além do
planejamento, o envolvimento de assuntos sexuais no aconselhamento para teste rápido é
claramente percebido no acolhimento da população que procura por este serviço. Algumas
unidades contemplam também, em sua agenda, consultas direcionadas à saúde sexual.
A saúde sexual e a saúde reprodutiva são complementares, ambas garantidas pelos
direitos humanos e representam de forma singular espaços de ações individuais e coletivas. A
saúde sexual diz respeito às informações, respeito, autoestima, uma abordagem positiva da
sexualidade, valorizando a vida e a expressão da identidade; já a saúde reprodutiva concerne
aos meios de contracepção ou não, à autonomia para se reproduzir e à liberdade de decidir
sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo (BRASIL, 2013a).
O programa de planejamento familiar, garantido pela Lei nº 9.263/96 (BRASIL,
1996a), abarca métodos de concepção e contracepção. Na prevenção de uma gravidez
55
indesejada, a escolha do método deve seguir critérios7. Esses métodos podem ser classificados
como métodos comportamentais ou naturais; barreira; hormonal oral e injetável; DIU;
métodos definitivos. Além da gravidez não planejada, a oferta dos meios de prevenção às
IST´s/AIDS são incentivados a cada consulta, chamada de dupla proteção (BRASIL, 2002).
A implantação dos testes rápidos, incluídos nas unidades básicas de saúde, para HIV,
sífilis, hepatite B e C constituem porta de entrada para a discussão de assuntos que envolvam
a sexualidade, como a prevenção das IST´s e os comportamentos considerados de risco.
Os programas de maior percepção da sexualidade, como o planejamento familiar e o
aconselhamento para teste rápido, ainda possuem ações de caráter restritivo, envolvendo,
apenas na maioria dos casos as mulheres e a saúde reprodutiva. A saúde sexual, às vezes
apenas falada nas entrelinhas, abrange um universo pouco divulgado na realidade da saúde
pública primária.
Em se tratando de saúde sexual, a resposta sexual satisfatória é fornecida por meio de
fases, de uma sequência de respostas hormonais e fisiológicas que dependem também do
componente emocional, porém não significa que o não cumprimento de uma dessas etapas
possa acarretar em patologias inerentes ao sexo. O ciclo se apresenta por quatro fases
descritas na década de 1960 pelos autores Master e Jonhson, são elas:
a) excitação: duração de minutos a horas. É a estimulação
psicológica e/ou fisiológica para o ato. Corresponde à lubrificação
vaginal na mulher e à ereção peniana no homem;
b) platô: excitação contínua; prolonga-se de 30 segundos a vários
minutos;
c) orgasmo: É uma descarga de imenso prazer, representada no
homem pela ejaculação peniana;
d) resolução: Também chamada fase de detumescência, é um estado
subjetivo de bem-estar que se segue ao orgasmo, no qual
predomina o relaxamento muscular, a lassidão e certo torpor.
Na década seguinte, de 1970, a norte americana Helen Kaplan incluiu mais uma fase à
resposta sexual satisfatória, reconhecendo a importância do desejo como motivação para
iniciar o ato sexual. Essa motivação pode ser desenvolvida por meio da audição, visão, olfato
(MARQUES; CHEDID; EIZERIK, 2008).
7 Critérios de elegibilidade do método: são categorias de escolha do método adequando-o a cada necessidade do
paciente. Mais adiante as categorias serão melhor detalhadas.
56
O conhecimento das fases supracitadas pelo profissional da saúde possibilita uma
visão mais ampliada no componente saúde sexual, posto que as disfunções sexuais acarretam
um agravo de saúde, o que interfere diretamente na qualidade de vida e no processo de
adoecimento do sujeito.
As disfunções sexuais estão relacionadas aos problemas físicos e psíquicos. O
Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva elenca aspectos
psicológicos, atribuídos aos tabus sobre a própria sexualidade, por exemplo: sexo visto como
pecado, punições, baixa na autoestima, fobias, dificuldades nos relacionamentos, falta de
intimidade, timidez, traumas decorridos de violência sexual; aspectos fisiológicos decorrentes
de doenças já instaladas, como depressão, ansiedade, doenças crônico-degenerativas; aspecto
medicamentoso, como o uso de alguns anti-hipertensivos, antiarrítmicos, psicotrópicos,
anabolizantes, álcool, drogas, exposição a toxinas. Além disso, a Associação Americana de
Psiquiatria (2002) classifica as disfunções sexuais em aversão sexual; desejo sexual hipoativo;
ejaculação precoce; anorgasmia; vaginismo e dispareunia, como contribuintes no processo de
adoecimento sexual (BRASIL, 2013a).
Na redução das consequências trazidas por tais disfunções, a participação de uma
equipe multiprofissional e um conhecimento interdisciplinar facilita no traçado das ações de
ajuda ao paciente. Cada profissional tem o compromisso de zelar pela saúde do sujeito, e aqui
em especial, o (a) enfermeiro (a) desempenha com esmero sua função, já que é de sua
competência uma assistência voltada ao acolhimento humanizado, sendo este protagonista da
relação usuário e sistema de saúde.
3.3 As contribuições da consulta de enfermagem para a saúde sexual e reprodutiva
satisfatória
A consulta de enfermagem pode ser definida por prestações de assistência realizada
pela(o) enfermeira(o), tanto para o sujeito sadio quanto para aquele que se encontra
hospitalizado. Geralmente é o primeiro contato que o paciente tem na identificação de
problemas de saúde, sendo capaz de fornecer respostas às complexidades, com base em um
conhecimento científico oriundo de disciplinas que estão diretamente relacionadas às relações
humanas (PORTO, 2007).
O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN (1993), conforme Resolução n.º
159/1993, em seu art. 1°, preleciona que a consulta de enfermagem deve ser obrigatoriamente
57
desenvolvida em todos os níveis de assistência à saúde, tanto em instituições públicas quanto
privadas.
Já em sua resolução n° 358/2009, o COFEN dispõe sobre a Sistematização da
Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem. O processo de
enfermagem compreende cinco etapas, todas importantes, complementares e
interdependentes, para traçar ações que acarretem na melhoria no quadro do paciente,
podendo ser empregadas desde níveis mais simples de atenção aos mais complexos. Essas
etapas são: histórico; diagnóstico; planejamento; implementação e avaliação.
Segundo Borges (2010), na atenção primária de saúde, o processo de enfermagem
pode ser visualizado nas consultas de enfermagem que envolvem a sexualidade. À prática das
ações desenvolvidas nas unidades básicas de saúde concerne a organização dos dados
relativos à saúde (histórico de enfermagem); o cuidado ampliado ao sujeito, efetivado por
meio do conhecimento dos agravos, visando a propor intervenções que influenciam no
processo de saúde-doença (diagnóstico e implementação); a promoção e estímulo à
participação do sujeito e comunidade no controle social, no planejamento, na execução e na
avaliação das ações (planejamento) e, ainda, o acompanhamento e avaliação sistemática das
ações implementadas, visando à readequação do processo de trabalho (avaliação).
Considerando a atuação da enfermeira(o) na atenção primária de saúde, protocolos são
desenvolvidos para o pleno exercício de sua atividade. A Portaria GM/MS n.º 1.625/ 2007
dispõe sobre as competências da enfermeira(o) para realizar consultas de enfermagem,
solicitar exames complementares e prescrever medicações, observadas as disposições legais
da profissão e conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo
Ministério da Saúde, os gestores estaduais, os municipais ou os do Distrito Federal. A maioria
das ações é norteada por meio dos Cadernos de Atenção Básica, manuais, notas técnicas ou
protocolos fornecidos pelo Ministério da Saúde.
Questões inerentes à sexualidade humana estão cada vez mais presentes no cotidiano
dos profissionais da Atenção Primaria de Saúde. A(o) enfermeira(o) rotineiramente se depara
com demandas que envolvem gravidez não planejada, contracepções de emergência ou de
rotina, aborto, violência sexual entre outras. As práticas assistenciais devem ser pautadas no
conhecimento, respeito e integralidade da atenção, convergindo para isso o cumprimento com
responsabilidade dos direitos humanos, em especial o direito sexual e reprodutivo.
Nesse contexto, a sexualidade deve ser considerada como energia, como libido, ponto
de união entre pessoas, objetos, ideais, e principalmente um laço de vida. Inclui a atividade
58
sexual como uma dimensão importante, porém não resumida apenas ao ato sexual, à
genitalidade ou função biológica ligada à reprodução (NEGREIROS, 2004).
Os profissionais de enfermagem devem estar atentos às várias formas de comunicação
do paciente. Não se deve ignorar que o corpo nos sinaliza o que não está dentro da
“normalidade”, sendo preciso exercitar uma leitura detalhada do mesmo, porém isso nem
sempre é simples. A leitura de significados depende de exercícios complexos de utilização
dos sentidos, e essa leitura é aprendida por meio da semiologia em enfermagem fundamental,
a qual consiste em capturar sinais, sintomas e signos nas expressões corporais e sociais
(RESSEL; SILVA, 2001).
Os profissionais de saúde, em destaque a enfermagem, que atuam na Atenção Primária
de Saúde, não precisam ser sexólogos, ou ter uma vida sexual e pessoal em perfeita harmonia,
ou ainda ter os mesmos princípios e valores que seus pacientes. Eles precisam ser bons
ouvintes, bons entrevistadores, com consciência de não julgar, ou projetar sua insegurança e
ansiedade acerca da sexualidade. Dessa forma, o usuário que procurar os serviços desses
profissionais se sentirá mais à vontade para expor suas dúvidas e experiências, estabelecendo
assim um vínculo de confiança e respeito (MARQUES, CHEDID; EIZERIK, 2008).
Na construção dos laços de confiança entre usuário e profissional, um momento
importante é o acolhimento do paciente pela equipe de saúde, e para isso a consulta de
enfermagem se mostra como um instrumento fundamental na humanização desse
acolhimento, possibilitando diagnósticos de possíveis eventos que possam levar a um
adoecimento.
De acordo com Campos et al. (2011), a consulta de enfermagem é essencial na atenção
primária e tem como objetivo a prestação de uma assistência sistematizada, com detecção de
problemas no processo saúde-doença. Além disso, executa e avalia cuidados que contribuam
para a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde. Vai desde o histórico de
enfermagem ao exame físico, diagnóstico de enfermagem, plano terapêutico ou prescrição de
enfermagem e avaliação da consulta. Sua prática é prevista na Lei n.º 7.498/86 (BRASIL,
1986), que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e torna a consulta de
enfermagem um ato privativo do enfermeiro.
A consulta de enfermagem em saúde sexual e saúde reprodutiva vem ganhando cada
vez mais espaço nas ações empregadas nas unidades básicas de saúde. A captação do público
e a educação em sexualidade são atitudes promissoras de mudanças de paradigmas.
59
Dentre as muitas atribuições da enfermagem, a educação em saúde, ganha destaque.
Em nível de atenção primária, o profissional enfermeiro ganha o papel de “educador para
saúde”. O educar para saúde, em especial a sexual e reprodutiva, deve pautar ordens de
esclarecimentos a despeito da anatomia do aparelho reprodutor feminino e masculino,
resposta sexual humana (feminina e masculina) ou autoerotização; confronto de scripts
sexuais, explicação de métodos de contracepção e esclarecimento sobre o público LGBT,
desmistificando crenças, tabus e preconceitos que interferem no exercício livre da
sexualidade, auxiliando, dessa forma, os sujeitos que procuram a unidade; ou fora dela, o seu
autoconhecimento e autocuidado, com vistas a resgatar seu potencial sexual e,
consequentemente, seu potencial de saúde (GARCIA; LISBOA, 2012).
A enfermagem opera em uma perspectiva de cuidados integrais, adentrando, dessa
forma, em prestação de serviços na esfera individual e coletiva, o que se faz essencial no
resgate das dimensões sociais e subjetivas do sujeito. Na consulta de enfermagem, além dos
aspectos biológicos, o social e o cultural devem ser observados.
A consulta de enfermagem em saúde sexual e reprodutiva em associação com tais
aspectos deve contemplar a promoção de relações favoráveis ao livre, saudável e prazeroso
exercício da sexualidade; a autonomia, autocontrole corporal e responsabilização com a vida e
saúde sexual; a participação dos sujeitos alvos da atenção na tomada de decisão e controle em
torno de questões relativas a sua vida e saúde sexual; o reconhecimento de direitos sexuais e
reprodutivos, do direito à atenção, à saúde e à proteção contra abusos do corpo; a prevenção e
controle dos sofrimentos e desgastes psicoemocionais, relacionais e orgânicos; a redução de
problemas como IST´s/AIDS, câncer de mama e de colo uterino, contracepção
indiscriminada, gestação indesejada e abortos provocados, violências domésticas e sexuais,
desigualdades de poder entre homens e mulheres ou outros de qualquer ordem, e problemas
psicoemocionais e sexuais. A atenção a relatos de experiências eróticas, à autopercepção
corporal, às trocas afetivas e relacionais humanas significativas, fornecem meios de detectar
possíveis vulnerabilidades, necessidades e/ou problemas relacionados (MANDÚ, 2004).
É recomendado pelo Ministério da Saúde que os profissionais da saúde, incluindo as
enfermeiras(os) que operam com sexualidade, que primeiro ouçam, depois perguntem e só
depois se posicionem, com cuidado, para que não venham a tomar decisões pautadas em suas
crenças, que não tomem decisões pelos sujeitos, não imponham escolhas, muito menos
emitam juízo de valor. Além disso, devem desenvolver atividades educativas e de
60
aconselhamento e só realizarem prescrições após avaliação clínica, oferecendo
acompanhamento periódico ao paciente (BRASIL, 2013a).
Com esse entendimento, destina-se aos profissionais da saúde, aqui em particular a(o)
enfermeira(o) estar informado quanto aos possíveis problemas apresentados pelo paciente, na
intenção de melhor traçar uma conduta resolutiva para o problema.
A consulta de enfermagem deve explorar os seguintes aspectos na saúde sexual:
vulnerabilidades e potencialidades sociais, institucionais, subjetivas, comportamentais e
biológicas; manifestações orgânicas e subjetivas sugestivas de necessidades no campo da
saúde sexual; condições gerais de saúde; demandas e interesses explícitos e não explícitos
(MANDÚ, 2004).
Além dos aspectos anteriormente mencionados, compete a enfermeira e o enfermeiro
conhecer as principais causas e fatores que afetam a saúde sexual de seu paciente. Alguns
fatores para as disfunções sexuais são considerados predisponentes, como uma educação
rígida, relações familiares conflituosas, experiências sexuais traumáticas; outros fatores como
precipitantes das disfunções, por exemplo: partos, problemas conjugais, infidelidade,
disfunções sexuais do parceiro, reação a fatores orgânicos entre outros. Ainda como fatores
mantedores das disfunções como ansiedade, culpa, crenças irracionais, medo de intimidade,
autoimagem distorcida, distúrbios psiquiátricos, perda de atração sexual entre os parceiros
(KNAPP, 2004).
Objetivando uma melhor qualidade de vida do sujeito, a Associação Psiquiátrica
Americana (2002) classifica as principais disfunções sexuais em desejo sexual hipoativo;
aversão sexual; falha na fase de excitação sexual ou falha de resposta genital; ejaculação
precoce; anorgasmia ou disfunção orgásmica; vaginismo e dispareunia (Anexo1).
Nas condutas relacionadas à sexualidade, alguns caminhos são apontados para
resolução em primeira instância de um possível problema detectado de ordem sexual. Dentre
essas condutas, pode-se citar: a comunicação entre os parceiros, o que aumenta a confiança e
a segurança; o aumento do repertório sexual, incluindo posições e locais; a informação sobre
o direito que o sujeito tem em se sentir confortável para o seu prazer e o do outro; a
consciência de que ele é responsável pelo seu próprio prazer; o incentivo ao
autoconhecimento; incentivar a troca de carinhos e carícias que não estejam restritas aos
genitais. Essas são algumas atitudes que o profissional deve estar instruído na promoção da
saúde sexual (KNAPP, 2004).
61
Quando tais condutas não possuem um grau de resolutividade satisfatória, o
encaminhamento para níveis mais complexos de atenção são recomendados.
Nas condutas profissionais que envolvem o planejamento familiar (reprodutivo), o
destaque para a contracepção é oriundo de uma prática reforçada pelo direito reprodutivo, a
distribuição dos insumos é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde. Na escolha do
método mais adequado, critérios devem ser observados.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) e seguindo as recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), os critérios de elegibilidade do método deve ser
pautado em 4 categorias:
a) categoria 1: o método pode ser usado sem restrição;
b) categoria 2: o método pode ser usado com restrição, ou seja, com alguma
precaução, pois suas vantagens geralmente superam seus riscos; mas o
método não é a primeira escolha e, se usado, deve ser acompanhado mais
de perto;
c) categoria 3: os riscos decorrentes do uso do método, em geral, superam os
benefícios, sendo um método de última escolha e, caso seja escolhido, é
necessário um acompanhamento rigoroso do usuário;
d) categoria 4: o método não deve ser usado, pois apresenta um risco
inaceitável.
A escolha do método seguindo tais critérios auxilia na obtenção de uma vida sexual e
reprodutiva sem maiores riscos.
Os métodos contraceptivos são classificados como temporários e definitivos (anexo 2).
Nos temporários, como o próprio nome informa, após sua interrupção, o usuário retorna a sua
condição reprodutiva normal, são exemplos os contraceptivos hormonais (pílulas e injeções);
barreira (camisinhas masculina e feminina); Dispositivo Intrauterino (DIU); comportamentais
(tabelinha, temperatura basal entre outros); já nos definitivos, a condição de gerar uma criança
por meios naturais é anulada, salvo casos de reversão cirúrgica (laqueadura e vasectomia). A
finalidade de cada método (anexo 3) deve ser claramente explicada pelo enfermeiro (a), a fim
de traçar qual melhor método se emprega a determinada necessidade do paciente, devendo
este mesmo paciente ser personagem ativo na escolha do método (SOUZA; HORTA, 2016
apud BRASIL 2002, 2010).
Alguns métodos podem ser aliados na busca de uma dupla proteção, como os
anticoncepcionais aliados às camisinhas, prevenindo dessa forma a gravidez e as IST´s.
62
A (o) enfermeira (o) tem papel ativo na escolha do método; sua avaliação deve estar
respaldada em três atividades: aconselhamento; atividades educativas e atividades clínicas, as
quais devem ser desenvolvidas de forma integrada. Tanto no aconselhamento quanto na
educação, o profissional deve desenvolver uma relação de confiança, estar atento ao contexto
de vida do casal, a suas vulnerabilidades e, por fim, ao esclarecimento das dúvidas pertinentes
ao método. Na avaliação clínica, devem ser abordados tantos aspectos da saúde reprodutiva
quanto da sexual (BRASIL, 2013a).
Está incluída na avaliação clínica a anamnese, o exame físico, a identificação das
necessidades individuais e/ou do casal, a identificação de dificuldades quanto às relações
sexuais ou disfunção sexual; as ações de prevenção do câncer de próstata e pênis (homens) e
colo de útero e mama (mulheres); a atenção pré-natal, puerperal e ao climatério; a prevenção
de DST/HIV/Aids, com incentivo à dupla proteção; a orientação para a escolha dos recursos à
concepção ou à anticoncepção, incentivando a participação ativa na decisão individual ou do
casal; a prescrição e oferta do método escolhido, e por fim o acompanhamento da pessoa ou
do casal (BRASIL, 2013a).
Além da classificação dos métodos contraceptivos, a sua empregabilidade deve ser
claramente explicada na consulta de planejamento reprodutivo. O tipo de método, sua
finalidade e eficácia são essenciais para o sucesso do casal. O planejamento reprodutivo não
deve ficar apenas atrelado à contracepção, ele pode e deve ser incentivado para o
planejamento na geração de filhos, se assim desejar o paciente, o qual deve ser estimulado a
procurar os serviços de saúde tanto na prevenção quanto na promoção da reprodução.
Em se tratando de sexualidade, a saúde sexual e a saúde reprodutiva são de certa forma
complementares. O olhar mais aguçado do profissional de enfermagem deve englobar as
dimensões biológicas, sociais, psicológicas e afetivas, o que caracteriza uma abordagem
holística do sujeito. Quando não tomados os devidos cuidados em entender o outro em seu
mundo e no mundo em que estamos, a possibilidade de êxito para uma promoção efetiva da
saúde torna-se escassa.
A insegurança do profissional em abordar questões de cunho muitas vezes íntimo e
principalmente o medo do não retorno do paciente à unidade favorece para que a sexualidade
ainda seja muitas vezes direcionada às ações na saúde reprodutiva no planejamento familiar.
A construção de instrumentos que possibilitem a inclusão da consulta de enfermagem
em saúde sexual deve ser incentivada nos serviços de saúde, e medidas de aprimoramento
profissional são garantidas por meio da política de educação permanente.
63
Garantida pela portaria Nº 198/GM em 13 de fevereiro de 2004 (BRASIL, 2004b), a
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS) é uma estratégia do Sistema
Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores, realizando dessa
forma agregação entre aprendizado, reflexão crítica sobre o trabalho e resolutividade da
clínica e da promoção da saúde coletiva.
A educação é a base para atitudes de mudanças comportamentais que levam a uma
vida saudável e com qualidade. A Atenção Primária de Saúde deve contemplar em todas as
suas ações a educação em saúde, seja essa voltada ao profissional (EPS) ou a população,
através dos profissionais capacitados, contemplando não apenas a sexualidade, mas todo e
qualquer agravo de saúde. Educar vai além do simples fato de passar informações, educar
mobiliza, transforma e torna melhor a vida do sujeito.
64
4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA
Trata-se de um estudo de abordagem de investigação qualitativa, que segundo Jonh W.
Creswell (2010, p. 26) “é um meio para explorar e para entender o significado que os
indivíduos ou grupos atribuem a um problema social ou humano”. Foi utilizada como fonte
norteadora a concepção construtivista social, que diz respeito a como as teorias científicas são
moduladas pelos contextos sociais e políticos, nos quais os sujeitos desenvolvem significados
subjetivos de suas experiências.
A pesquisa foi realizada com profissionais enfermeiras(os) da cidade de Maceió-AL,
com o objetivo de compreender como estes profissionais lidavam com questões referentes às
diferentes abordagens da sexualidade em suas consultas em Unidades Básicas de Saúde.
Sendo enfermeira e atuante em Estratégias de Saúde da Família, o objeto deste estudo
que realizei foi direcionado para uma área fora do meu cotidiano; não conhecendo o campo
nem o público, garanti dessa forma o não envolvimento pessoal e profissional com a pesquisa.
Para realização desta dissertação, o delineamento metodológico foi direcionado pelo
levantamento bibliográfico a partir dos aspectos históricos, culturais, políticos, econômicos
(materialismo histórico) e biológicos. O recorte analítico destaca as relações de poder,
reflexão, criticidade e mudança, contribuindo, dessa forma, com uma parcela significativa na
construção da Dissertação.
Utilizou-se como base de dados para elaboração dessa dissertação os periódicos
científicos: Scielo, LILACS, Google Scholar e BDENF. Para fins de coleta dos manuscritos
empregou-se os seguintes descritores (saúde sexual, saúde reprodutiva, consulta de
enfermagem, atenção primária de saúde); para cruzamentos, foram utilizadas as siglas (AND,
OR, AND NOT). Desta forma, foram selecionados 20 artigos publicados entre os anos de
1997 a 2017, no idioma português, que se relacionavam diretamente com a saúde sexual e
saúde reprodutiva.
Quanto ao acervo físico dos livros pesquisados, as bibliotecas visitadas, destacam-se:
bibliotecas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL) e a biblioteca da Universidade
Federal de Alagoas (UFAL). Foram incluídos também pesquisas em sites governamentais
como o do Ministério da Saúde (principal fonte de pesquisa), com os Cadernos de Atenção
Básica (CAB), e site do Ministério da Educação e Meio Ambiente.
65
4.1 Caracterização do local de pesquisa
Os dados da pesquisa foram coletados no VIII Distrito de Saúde de Maceió. Esse
distrito foi selecionado por ser atualmente considerado um distrito modelo, com locais de
atenção da Secretaria de Saúde em suas ações e intervenções de melhoria, correspondendo a
um feedback positivo nas capacitações prestadas pela Secretaria Municipal de Saúde. Conta
também com uma Instituição de Ensino Superior (IES) inserida em seu território, considerada
uma das maiores da capital, fazendo parte do novo formato de formação e atuação
profissional com o quadrilátero do SUS (ensino, serviço, gestão e controle social).
Assim, esse novo formato de atuação do SUS garante uma melhor qualidade aos
serviços prestados, visto que a inserção das instituições de ensino na participação efetiva no
processo de cuidados com a saúde colabora na sistematização do atendimento nos locais de
acesso da população, sendo considerada dessa forma uma ajuda recíproca.
O papel de constatar a realidade e de produzir sentidos, no caso da saúde,
pertence tanto ao SUS como às instituições formadoras de suas profissões.
Cabe ao SUS e às instituições formadoras coletar, sistematizar, analisar e
interpretar permanentemente informações da realidade, problematizar o
trabalho e as organizações de saúde e de ensino, e construir significados e
práticas com orientação social, mediante participação ativa dos gestores
setoriais, formadores, usuários e estudantes (CECCIM; FEUERWERKER,
2004, p. 46).
Na atuação do quadrilátero, fatores devem ser considerados, como a territorialização,
cuja divisão das áreas de atuação de cada IES deve seguir critérios estabelecidos pelas
instâncias maiores, aqui, em especial, a secretaria Municipal de Saúde, já que a pesquisa foi
realizada no VIII distrito de saúde de Maceió.
De acordo com Almeida, Gastão e Vieira (1998), os Distritos Sanitários, também
conhecidos como regiões administrativas, são as menores unidades de atuação, gerenciamento
político e econômico de uma área, obedecendo dessa forma ao princípio de descentralização.
Atualmente, a capital alagoana possui oito distritos sanitários (MACEIÓ- AL, 2013). Maceió
é a maior cidade do estado de Alagoas, ocupando uma área de 509,552Km2; integra com
outros dez municípios alagoanos a Região Metropolitana de Maceió. Sua população, estimada
em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, é de 1.021.709 habitantes. Possui
74 centros/unidades básicas de saúde de atendimento ambulatorial, distribuídas nas oito
regiões administrativas de saúde, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
Saúde (CNES). De acordo com a Diretoria de Atenção Básica da Secretaria Municipal de
Maceió, das 74 unidades distribuídas, apenas 39 possuem a Estratégia Saúde da Família,
66
perfazendo um total de cobertura equivalente a 27,83% da população residente (PLANO
MUNICIPAL, 2016).
Figura 1- Mapa de localização dos Centros/Unidades de saúde por região administrativa
Fonte: SINDAS-AL (2012)
Contrapondo a realidade municipal, de apenas 27,83% de cobertura da Estratégia
Saúde da Família (ESF), o VIII Distrito Sanitário de saúde, ou região administrativa de saúde,
67
conta com um percentual de cobertura da Estratégia Saúde da Família equivalente a 88,01%,
caracterizando dessa forma um distrito modelo de relevância nas ações de saúde.
O VIII Distrito Sanitário de Saúde de Maceió compreende os bairros de: Ipioca,
Pescaria, Riacho Doce, Garça Torta, Guaxuma, Jacarecica e Cruz das Almas. É uma região
que abrange principalmente a área litorânea do município, tendo como limites o bairro de
Ipioca, no litoral Norte, e, ao Sul, o bairro de Cruz das Almas (MELRO, 2013).
As unidades básicas de saúde são distribuídas a fim de que haja pelo menos uma em
cada bairro, e contemplam de uma a duas equipes de saúde, variando entre estratégia saúde da
família ou não.
Quadro 1- Distribuição das unidades de saúde de acordo com o bairro
BAIRRO UNIDADE N° DE EQUIPES
Ipioca USF. Dr. Jorge David Nasser 2 equipes
Pescaria USF Pescaria 1 equipe
Riacho Doce USF Lourenço de Carvalho 2 equipes
Guaxuma USF Guaxuma 1 equipe
Jacarecica US Mª Conceição F. Paranhos
2 equipes
Obs: Unidade em
reforma, equipe relocada
para Unidade de Riacho
Doce.
Cruz das Almas
(Grota do Arroz) USF Francisco de Paula 1 equipe
Cruz das Almas
(UNIT) UDA José Lages Filho 1 equipe
Fonte: MELRO (2013)
O VIII Distrito Sanitário de saúde é considerado um distrito modelo, já que é o único
com maior cobertura de estratégia saúde da família e por ser pioneiro nas ações de melhoria
da saúde e atendimento a população da capital. Alguns critérios foram definidos para
considerar o VIII Distrito como piloto nesse projeto de reorganização da saúde; o primeiro
68
deles foi o fato de a região possuir maior índice de cobertura da ESF, além de uma nova
unidade, que está sendo construída pela Prefeitura para abrigar a Unidade de Saúde Lourenço
de Carvalho, no Riacho Doce, substituindo a estrutura atual e ampliando os serviços às
comunidades, passando a atender também com uma equipe de demanda espontânea a toda a
região norte da cidade, deixando para a Unidade Maria da Conceição Paranhos, o atendimento
referenciado em especialidades (OLIVEIRA, 2015).
O VIII distrito de saúde, apesar de novo entre os distritos de saúde, serve de exemplo
nas ações que devem acontecer nos demais distritos. As ações devem ser planejadas de acordo
com a realidade cada região e o aumento da cobertura de ESF deve ser intensificada em todos
os distritos sanitários da capital, promovendo dessa forma a prevenção dos agravos e
diminuindo os aglomerados nosocomiais.
4.2 Caracterização dos participantes da pesquisa
A pesquisa contou com a participação de 8 enfermeiras de Unidades Básicas de Saúde
do VIII Distrito, compondo um quantitativo de 10 equipes, e cada equipe com 1 enfermeira
(o), o VIII distrito distribui seus funcionários nos 7 Postos de saúde, podendo dessa forma
cada posto ser contemplado com uma ou duas equipes, variando de acordo com o número da
população correspondente para cada área.
Foram utilizados como critério de inclusão, as(os) Enfermeiras(os) estatutárias(os)
pertencentes ao quadro funcional da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, lotados nas
unidades do VIII distrito sanitário de saúde de Maceió. As(os) participantes foram
selecionados conforme a aceitação da pesquisa. Para tanto, foram observados e cumpridos
todos os preceitos éticos e normas exigidas na Resolução 196/96 (BRASIL, 1996b), que
estabelece os critérios para pesquisa envolvendo seres humanos, com a aprovação pelo
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Tiradentes, UNIT/AL, sob número
de parecer 1.904.471 (anexo 4). Foram excluídos aqueles que, no momento da coleta de
dados, encontravam-se em licença de qualquer natureza.
O recrutamento dos participantes da pesquisa aconteceu com a ida ao local de trabalho
de cada participante (Unidade de Saúde) pela pesquisadora, que inicialmente conversou sobre
a importância da pesquisa e esclarecimento do Termo de Consentimento Livre Esclarecido -
TCLE (apêndice 1), e posteriormente foi entregue às participantes da pesquisa o questionário
contendo 8 perguntas subjetivas e semiestruturadas a respeito da temática sexualidade. Alguns
69
participantes preferiram responder ao questionário em sua residência, sendo recolhido no dia
posterior pela pesquisadora na unidade correspondente ou na residência da pesquisada. O
período da coleta dos dados aconteceu nos meses de abril e maio de 2017. Foi seguido com
logística de 12 idas ao campo no período da manhã, sem itinerário pré estabelecido, ficando
como critério a disponibilidade do participante em poder responder a pesquisa. Não houve
nenhuma recusa em responder o questionário, ficando apenas 2 participantes sem responder,
por no momento da pesquisa encontrarem-se de licença.
Os benefícios diretos para os participantes da pesquisa foi o estímulo para essas
profissionais pensarem na elaboração de um roteiro, algum tipo de instrumento, que
otimizasse a dinâmica da consulta e a acolhida do paciente na abordagem da saúde sexual e
reprodutiva.
Já os benefícios indiretos referem-se aos possíveis subsídios à Secretaria Municipal de
Saúde de Maceió para a maior aplicabilidade da Política Permanente de Educação com
atualizações periódicas às enfermeiras do VIII Distrito de Saúde de Maceió, estimulando
dessa forma um atendimento de qualidade à população assistida.
O questionário aplicado as participantes da pesquisa (apêndice 2) incluía perguntas a
respeito de suas perspectivas em relação à sexualidade trabalhada na Unidade Básica de
Saúde, englobando desde a formação profissional à educação doméstica formal e informal.
Posteriormente, foram acrescidos ao questionário mais três perguntas (apêndice 3), que
ajudaram a melhor compreensão do perfil traçado por esses profissionais.
As respostas obtidas pelo questionário foram analisadas pela técnica de análise de
conteúdo de Bardin (2016), com a empregabilidade das seguintes etapas: pré-análise,
codificação, categorização e interpretação dos dados. Os resultados e discussões das respostas
subjetivas foram descritas em quadros e gráficos e discutidas a luz dos referenciais teóricos.
Tal análise apresentou um perfil de conhecimento e implementação dos conceitos de saúde
sexual e saúde reprodutiva pelas participantes pesquisadas de forma satisfatória.
O questionário aplicado as participantes da pesquisa iniciou-se com um breve
cabeçalho perguntando o sexo e o gênero da(o) participante. Posteriormente, foram acrescidas
quatro perguntas: 1) a respeito da idade da(o) participante; 2) ano de formação acadêmica; 3)
instituição de formação; 4) tempo de serviço público na função de enfermeira(o). Essas
perguntas foram somadas à segunda etapa da pesquisa.
70
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o intuito de facilitar a visualização das respostas correspondentes à apresentação
do questionário (Apêndice 1), foi formulado um quadro com o perfil inicial das participantes8
da pesquisa. Abaixo, apresento o quadro:
Quadro 2 - Dados gerais a respeito das(os) participantes da pesquisa
Sexo Gênero Instituições de
formação Idade
Ano de
graduação
Tempo de serviço
público
F Mulher
CESMAC
(1participante)
UEPB
(1 participante)
UFAL
(6 participantes)
29 anos 1980 4 anos
F Mulher 30 anos 1982 4 anos
F F 46 anos 1987 13 anos
F F 50 anos 1990 14 anos
F Mulher 50 anos 1997 16 anos
F Feminino 56 anos 2004 20 anos
F Mulher 60 anos 2010 21 anos
F Mulher 67 anos 2010 37 anos
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
Os dados apresentados no quadro acima permitem identificar a formação educacional,
a inscrição de gênero e a idade das participantes da pesquisa.
A primeira análise diz respeito ao sexo da participante. Todas as participantes
entrevistadas se declararam do sexo feminino e gênero correspondente. As duas participantes
que no momento da pesquisa encontravam-se de licença também são do sexo feminino,
segundo informações colhidas pelas colegas de trabalho. A pergunta a respeito do sexo e
gênero teve a intenção de verificar se o sexo e gênero da participante da pesquisa teriam
8 Foi disposta uma ordem cronológica das idades, do tempo de serviço, do ano de graduação e tempo de serviço
público, obedecendo a um critério crescente de valores, além de uma ordem alfabética para as instituições de
ensino a fim de preservar a identidade das participantes da pesquisa de cada unidade do distrito.
71
reflexo nas respostas a respeito da sexualidade ou, dito de outro modo, se ser homem ou ser
mulher repercutiria no conhecimento a respeito da temática sexualidade sobre alguma
diferença de entendimento aos gêneros.
Percebe-se que ao responder sobre o gênero, as participantes utilizaram diversas
formas para referir-se a ele, como F, mulher e Feminino. Gênero se estabelece na
identificação do contexto binário de diferenciação, seja por forma feminino X masculino/
macho X fêmea / homem X mulher. “Gênero é, portanto, o termo usado no contexto social,
podendo ser definido como um esquema para a categorização dos indivíduos (na perspectiva
da cognição social), esquema esse que utiliza as diferenças biológicas como base para a
designação de diferenças sociais” (NOGUEIRA, 1996, p. 9).
Como já explicado anteriormente, a distinção dos termos sexo e gênero são
comumente utilizadas para separar/distinguir sexo biológico e sexo social. Percebeu-se que na
pesquisa todas entrevistadas se declararam com o sexo biológico igual ao sexo social.
A respeito da denominação gramatical, a palavra para ser usada em gênero
corresponde à palavra feminino ou masculino. De acordo com Butler (2016), gênero diz
respeito à forma como o sujeito se percebe no contexto social, levando à designação do sexo
social.
Nesse caso, o maior aparecimento do sexo e gênero feminino nesta pesquisa corrobora
a própria história da enfermagem, a qual explica que a estrutura familiar dos grupos
primitivos contemplava a mulher como responsável pelo cuidado das crianças, velhos e
doentes. A palavra inglesa “nurse” tem sua origem do latim, do nome nutrix, que significa
“mãe que cuida” (DONOSO, 2000).
A enfermagem moderna teve como precursora a britânica Florence Nightingale,
conhecida por participar da guerra da Criméia, em 1854, com mais 38 mulheres, conseguiu
reduzir o número de mortalidade dos soldados de guerra de 40% para 2%, atribuindo a
enfermagem adjetivos de disciplina, obediência e subserviência como indissociáveis da
profissão, seja nas relações enfermagem/médico e enfermagem/administração hospitalar
(ANDRADE, 2007).
Atualmente, a profissão possui várias funções, além da prestação do cuidado direto ao
paciente/cliente, a(o) enfermeira tem como competência e atribuição a educação continuada
da equipe de enfermagem e a gerência nos serviços de enfermagem.
A inserção do sexo masculino na profissão de enfermagem pode ser considerado um
avanço, posto que era socialmente atribuído ao sexo masculino o controle da liberdade, e
72
delegada à função de provedor da casa, ou seja, o homem seria excluído dessa função pela
necessidade de buscar o sustento da família. Para a mulher o cuidado com a família e a
subordinação perante o sexo masculino nas relações de poder evidenciada pelos gêneros
atribuiu o caráter feminino à profissão (CÂMARA; CARLOTTO, 2007).
As desigualdades relativas à transformação das diferenças entre homens e mulheres
aconteceram paralelamente a instituições de valores, com regras e normas, discursos e
práticas conectados e atribuídos à moral e hierarquizados de acordo como os critérios de
poder, concentrando na profissão de enfermagem um maior número de mulheres,
diferentemente da medicina, que concentra maior poder, atingindo uma quantidade maior do
gênero masculino (MOREIRA, 1999).
A distinção de sexo e gênero para as profissões ainda é visualizada no mercado de
trabalho. As características e papéis assumidos para determinadas profissões ampliam uma
visão preconceituosa em nossa atual sociedade, existindo ainda profissões consideradas de
maior atuação do sexo feminino e profissões de maior atuação do sexo masculino, o que pode
favorecer as principais formas de discriminação salarial e de cargos entre homens e mulheres,
gerando dessa forma a separação dos saberes e a busca por status. Porém essa realidade vem
sendo transformada, e uma assertiva para isso é o serviço público brasileiro, que não
discrimina salarialmente o cargo pelo sexo assumido por meio do concurso público.
Como o estudo em questão tratou-se de pesquisa com o funcionário público municipal,
não há evidência de discriminação remunerativa pelo sexo, sendo garantida a equiparação
salarial através do Estatuto dos Servidores Públicos Municipal de Maceió/AL, através da lei
N° 4.973, de 31 de março de 2000 (MACEIÓ/ AL, 2000).
Apesar de atualmente homens e mulheres desempenharem suas funções
independentemente da profissão e de julgamentos sociais, percebe-se ainda um preconceito
em relação à presença masculina na enfermagem, considerando-o, na maior parte das vezes,
homossexual; assim como a mulher, nas engenharias, são consideradas lésbicas. A igualdade
de gêneros veio como resposta transformadora para uma sociedade ainda impregnada de
preconceitos.
A igualdade de gêneros é um assunto que vem sendo muito debatido; atualmente, sua
discussão permeou a elaboração do 5° objetivo na Agenda 21 das Nações Unidas9. Na
Agenda, a abordagem do empoderamento da mulher fica evidenciada nas conquistas do
9 De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, Agenda 21 é um instrumento para construção de sociedades
sustentáveis, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/component/k2/item/569Itemid=670>. Acesso em 31 de jan. 2018.
73
público feminino com sete princípios que devem ser seguidos pela sociedade, são eles:
estabelecer liderança corporativa de alto nível para a igualdade de gênero; tratar todos os
homens e mulheres de forma justa no trabalho; respeitar e apoiar os direitos humanos e a não
discriminação; garantir a saúde, a segurança e o bem estar de todos os trabalhadores e
trabalhadoras; promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional das
mulheres; implementar o desenvolvimento empresarial e as práticas da cadeia de suprimentos
e de marketing que empoderem as mulheres; promover a igualdade através de iniciativas e
defesa comunitária; mediar e publicar os progressos para alcançar a igualdade de gênero
(ONU, 1995).
A igualdade tão almejada entre os sexos repercute nos dias de hoje nas lutas para o
empoderamento de classes historicamente consideradas minorizadas, como as mulheres e o
público LGBTT. Leis protetivas, como a Lei Maria da Penha, e o Plano Nacional de
Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBTT, ajudam esse público em seu
reconhecimento e valorização, porém uma série de derrotas ainda mancha esse cenário, como
os inúmeros casos de discriminação, feminicídios e LGBTTfobia, além de aprovações para o
retrocesso da educação, como a Lei 7.800/2016, também conhecida como lei da mordaça ou
lei escola livre10
em alguns estados, por exemplo, Alagoas.
A educação de modo geral deve ser repensada, condições dignas para um aprendizado
mais consciente devem ser efetivadas, contribuindo dessa forma para a eliminação de toda e
qualquer forma de discriminação, seja por etnia, cor, religião ou sexo. A educação forma
cidadãos críticos, ou pelo menos, deveria formar, e um retrato triste de nosso país aponta para
dados ainda alarmantes do analfabetismo com aproximadamente 8,3% (13,2 milhões de
pessoas), segundo o Ministério da Educação (BRASIL [Ministério da Educação], [s/d]), o que
gera inatividade dessa população na participação efetiva na construção de uma educação
incorruptível e inclusiva.
Dando continuidade aos dados fornecidos no quadro 2, a intenção de verificar a
instituição de formação do participante da pesquisa diz respeito à abordagem da temática nas
disciplinas curriculares da IES e se, de alguma forma, estas disciplinas impactam no
entendimento e conduta dos profissionais a respeito da sexualidade.
10 Lei 7.800/2016 - Escola Livre. Essa lei prevê neutralidade do professor no debate de assuntos polêmicos em
sala de aula, como os que envolvem ideologia, religião e política. Tal lei prevê que os Servidores Públicos que
não seguirem a proposta estarão sujeitos a sanções penais previstas pelo Código de Ética Funcional dos
Servidores Públicos e no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas
(GOMBATA, 2016).
74
A pesquisa contou com participantes de universidades públicas (UFAL e UEPB), e
universidades privadas (CESMAC), nos estados de Alagoas e Paraíba. As universidades
públicas contaram com maior número de participantes (87%), como informa o gráfico a
seguir.
Gráfico 1- Instituição de formação profissional das participantes
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
Entende-se com os dados fornecidos pelo gráfico que a maioria das pesquisadas
concluíram sua graduação na UFAL, ratificando que historicamente esta universidade teve e
ainda tem muito prestígio em Maceió, colaborando com o número de ingressos nos setores
públicos através de concursos. Um dado que chama atenção é que a igualdade de participantes
que ingressaram no concurso público municipal diz respeito àqueles advindos de universidade
pública de outro estado e de universidade particular de Maceió.
Voltando à análise sobre conduta dos profissionais a respeito da sexualidade, percebe-
se que nas respostas sobre saúde sexual e reprodutiva não houve distanciamentos nos
entendimentos das participantes; desde as respostas mais simplificadas às mais detalhadas,
todas as participantes mostraram um conhecimento satisfatório na distinção da saúde sexual e
75%
13% 13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
UFAL CESMAC UEPB
Va
lor
em p
ercen
tua
l (%
)
Instituições de Ensino Superior
75
da saúde reprodutiva. Mais adiante as escritas e os contextos que determinaram as respostas
serão mais bem explicados.
Cabe pontuar que a inserção de conteúdos voltados à sexualidade na grade curricular
do curso de enfermagem, em sua maioria está incluída nas disciplinas maiores, como por
exemplo, saúde da mulher/obstetrícia; saúde da criança e do adolescente e saúde do homem.
Disciplinas que elegem a sexualidade como foco de atenção são ministradas em caráter
eletivo - ou seja, não são consideradas disciplinas obrigatórias. Atualmente, o curso de
graduação em enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) conta com a
disciplina eletiva de Sexualidade e gênero, com carga horária de 34h (UFAL, 2017). No
CESMAC, assuntos que envolvam a sexualidade também estão inseridos em disciplinas
maiores, porém não aparece nas disciplinas eletivas do curso (Anexo 5 e 6).
Na Universidade Regional do Nordeste (UEPB), a sexualidade e assuntos a esta
relacionados estão distribuídos em disciplinas maiores, como a saúde coletiva e saúde da
mulher, atestando dessa forma uma deficiência a se reportar a sexualidade como estudo
específico no cuidado como o sujeito e sua coletividade. De acordo com a matriz curricular do
curso de enfermagem da UEPB, a sexualidade em seu aspecto geral, ou seja, como disciplina,
não aparece nas disciplinas de escolha eletiva do curso. O que mais se aproxima dos assuntos
relacionados à esfera sexual aparece na disciplina de Saúde da Mulher 1, que contempla em
sua ementa:
A história social das mulheres e a construção das políticas de atenção à
saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Política
Nacional de Saúde Integral da População LGBT. Direitos sexuais e
reprodutivos. Violência contra a mulher: epidemiologia, bases legais e
assistência. Protocolos da atenção à saúde mulher. Processo de cuidar em
enfermagem na prevenção, promoção e recuperação da saúde da mulher nas
diferentes fases da vida. Ciclo menstrual. Reprodução humana. Gestação,
parto e puerpério. Climatério e menopausa. Cirurgias gineco-obstétricas.
Câncer ginecológico e de mama. Infecções/doenças sexualmente
transmissíveis (PROJETO PEDAGÓGICO-UEPB, 2016, p. 111).
De acordo com a ementa do Projeto Pedagógico da UEPB é possível verificar que na
formação para assuntos relacionados à sexualidade humana em uma universidade regional do
nordeste (UEPB) aparece, de forma geral, a disciplina de saúde da mulher, pressupondo um
conhecimento mais superficial a respeito da diversidade que o assunto sexualidade repercute
nos dias atuais.
Apesar dos assuntos que envolvem a sexualidade humana estarem sendo ministrados
em todas as universidades aqui pesquisadas, mesmo que de forma mais geral, o cotidiano de
76
atendimento no serviço público faz, por vezes, muitos profissionais habituarem-se com o
serviço e em determinadas situações absterem-se a conteúdos não vivenciados nas consultas
rotineiras da enfermeira. Os atendimentos mais frequentes nas Unidades Básicas de Saúde
(UBS) estão voltados aos pacientes hipertensos, diabéticos, gestantes e crianças, além do
gerenciamento dos insumos da unidade básica. Não que em todas referidas consultas a
sexualidade não possa estar sendo abordada, mas o direcionamento das ações de enfermagem
vem da queixa do paciente geralmente relacionada à patologia pré-estabelecida ou já
existente, além da educação voltada à prevenção dos agravos crônicos e ao restabelecimento
da saúde do paciente, ficando a saúde sexual, dessa forma, em terceiro plano - ou até mesmo
não contemplada na rotina da UBS.
A rotina vivenciada na UBS, por vezes, diz respeito ao tempo de serviço prestado
àquela unidade. A pesquisa revela que a maioria das pesquisadas já possui mais de uma
década de serviço público e formação profissional, que implicaria diretamente a
desatualização sobre conteúdos mais modernos com uma possível falha na Política de
Educação Permanente aquelas servidoras. Além do tempo de serviço e o ano de formação, a
intenção de questionar a respeito da idade deve-se à hipótese de se pensar sexualidade
segundo o paradigma de que culturalmente as participantes com idade mais avançada
pudessem ter um entendimento mais limitado quanto à temática, não trabalhando
rotineiramente a saúde sexual no âmbito da atenção primária de saúde.
Abaixo, o gráfico 2 mostra os dados correspondentes à idade, tempo de formação e
tempo de funcionalismo público das participantes da pesquisa, revelando que o VIII distrito
de saúde possui em seu quadro funcional enfermeiras experientes na atenção primária a saúde.
A relação entre a idade, o tempo de formação e serviço público suscita a ideia de que
quanto mais antigo no serviço, por mais capacitação esse profissional passou; do mesmo
modo, quanto mais idade a participante possui, provavelmente maiores suas dificuldades em
trabalhar com assuntos vistos na graduação do curso de enfermagem.
É importante destacar que no serviço público alguns princípios devem ser seguidos
independentes de qualquer que seja seu cargo ou responsabilidade, o servidor público deve ser
dono de habilidades necessárias para motivar e orientar as demais pessoas desse meio,
almejando, executando e justificando o uso da autoridade pública (PETERS E PIERRE,
2010).
77
Gráfico 2: Relação entre idade, tempo de formação e tempo serviço público para efetivação da
saúde sexual e reprodutiva em UBS
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
Como apresentado no gráfico, 75% das participantes pesquisadas têm mais de uma
década de formada/graduada. Os conteúdos relacionados às ações que envolvem a
sexualidade humana através das publicações do Ministério da Saúde tiveram maior
repercussão no ano de 2013, com o lançamento do caderno de atenção básica (CAB) Saúde
Sexual e Saúde Reprodutiva, e a Política de Promoção da Equidade em Saúde, com os temas
transversais, incluídos neste, um específico à população LGBTT. Além dos manuais acima
citados, diretrizes a públicos específicos, como os adolescentes, são constantemente
atualizados pelo Ministério da saúde, como por exemplo, a mais recente publicação do CAB
Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica, lançado no ano de 2017, no
qual há um capítulo específico falando da sexualidade do adolescente.
A saúde sexual e reprodutiva para os mais diversos públicos tem o objetivo de
esclarecer as principais dúvidas, desmistificar tabus, cuidar do corpo e mente, além de
proporcionar o bem estar coletivo através da educação e respeito ao próximo. Para que a
expressão da sexualidade seja livre e compartilhada entre pessoas, também é imprescindível
50
60
46
29
30
56
21
67
13
37
20
7
7
30
27
35
13
37
20
4
4
16
21
13
Idade Tempo de formação Tempo de serviço
78
que seja considerado, nas relações humanas, o conceito de gênero que se refere à construção
social do sexo; ou seja, ao que, em cada cultura, é apregoado como pertencente ao universo
masculino ou feminino e ao seu sistema de representações. A partir da diferença biológica,
cada grupo social constrói, em seu tempo, um modo de pensar sobre os papéis,
comportamentos, direitos e responsabilidades de mulheres e homens. A abordagem e análise
do conceito de gênero nas relações humanas permitiu que fossem corrigidos dois equívocos: a
ênfase na igualdade absoluta negando as diferenças e a centralização em apenas um dos
gêneros (BRASIL, 2017, p. 139).
Nesses guias lançados e relançados de forma atualizada, a implementação de políticas
de capacitações e cursos de aperfeiçoamento e reciclagem faz-se necessária e eficaz, tendo em
vista que a sexualidade e suas mais diversas áreas estão sendo marcadas por discursos de
extremistas, com constantes conflitos, por exemplo, na educação, com a polêmica ideologia
de gênero, proposta do Ministério da Educação (MEC) de incluir temas relacionados à
identidade de gênero e sexualidade nos planos de educação de todo o país; além da polêmica
acerca da cura gay, que diz respeito à liberação por um juiz federal de pseudoterapias de
reversão sexual aplicadas por psicólogos (EL PAÍS, 2017).
Muitas são as repercussões trazidas em torno do tema sexualidade, e as constantes
mudanças trazidas nesse cenário caminham para a necessidade de atualizações periódicas,
principalmente quando direcionadas à saúde, visto que, o próprio Ministério da Saúde
disponibiliza em seu site a biblioteca virtual da saúde, com acesso gratuito a conteúdos,
manuais e cadernos que explicam como lidar com as mais diferentes situações, como por
exemplo, as Políticas Transversais de Saúde que tratam um tópico especial que é a população
LGBTT, e o Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, ambos
lançadas no ano de 2013, além dos diferentes apontamentos para públicos específicos como
os adolescentes e os idosos.
Após o cabeçalho apresentado no questionário, as questões subjetivas da pesquisa
foram descritas em quadros e gráficos e discutidas a luz dos referenciais teóricos, tendo por
base a análise de Bardin (2016).
A primeira questão refere-se ao entendimento a respeito da saúde sexual e reprodutiva,
e tem por objetivo saber se as enfermeiras do VIII Distrito de Saúde de Maceió conhecem as
diferenças preconizadas pelo Ministério da Saúde. Diante do material recolhido, foi
desenvolvido um sistema de codificação e categorização dos dados obtidos, selecionado
palavras-chave usadas pelas participantes da pesquisa, as quais foram agrupadas em
79
categorias. Para tanto foram criados dois grandes eixos, o biológico para representar a saúde
reprodutiva e o social representando a saúde sexual. Foi usado como legenda o “P” para
indicar a participante, a numeração para ordem de resposta do questionário e “Q” para
questão.
Assim, para a questão primeira (Q1), “o que você compreende por saúde sexual e
saúde reprodutiva”, foram obtidos os seguintes resultados11
:
Quadro 3- Categorias de diferenciação da saúde sexual e saúde reprodutiva
Categoria Subcategoria Unidades temáticas
Número de
participantes que
utilizaram as
unidades
temáticas
Entendimento/
Julgamento
Biológico
Prevenção (P1, P2, P3, P4, P5, P6 e
P7);
Planejamento familiar e reprodutivo
(P1, P2, P3, P4, P5, P6 e P8).
7
Corpo (P1, P2, P6, P8). 4
Métodos contraceptivos (P1, P4);
Filhos (P1, P8);
Gestação, Parto (P1, P4);
Sexo (P1, P4);
Cuidados (P2, P6).
2
Bem estar físico, tratamento,
infertilidade, parto, puerpério, casais
(P1);
Proteção (P4);
Órgãos sexuais (P6).
1
Social
Satisfatório (P1, P6);
Qualidade de vida (P4, P7);
Informações (P1, P6);
Emoções (P1, P8);
Conhecimento (P2, P8);
Direitos (P4, P7).
2
Bem estar social e mental,
consciência, escolhas, decisões (P1);
Equilíbrio, Valorização (P8);
Prazer (P8);
Aceitação (P2);
Prática sexual (P3);
Responsabilidade, relações sexuais
(P4);
1
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
11 As respostas encontram-se na íntegra no apêndice 4
80
A análise da tabela acima aponta para um entendimento satisfatório da sexualidade e
sua divisão na saúde sexual e saúde reprodutiva, reportadas pelas enfermeiras da atenção
básica do VIII distrito de saúde de Maceió.
A primeira participante (P1) formulou a resposta à primeira questão (Q1) de forma
científica e embasada pelas diretrizes do Ministério da saúde, distinguindo e complementando
a saúde reprodutiva em relação à saúde sexual. Em sua resposta, a distinção e
complementaridade da saúde sexual e da saúde reprodutiva se enquadram nas duas categorias
aqui formuladas: a categoria biológica, quando se refere ao sexo, ao corpo, à geração ou não
de filhos; aos métodos contraceptivos, à prevenção das IST´s e AIDS, sexo seguro, gravidez e
parto; a categoria social, quando referida ao bem estar social, emoções, informações e
consciência da sexualidade.
Para P2 e P3, as respostas se apresentaram de forma mais sucinta e com distinção entre
as saúdes. Os questionários foram respondidos no intervalo entre as consultas, um sendo
entregue no mesmo dia e o outro no dia seguinte. O fluxo de atendimento nas Unidades de
saúde varia de acordo com o programa apresentado para a consulta; pré-natal e hiperdia
(consulta para hipertensos e diabéticos) nas unidades visitadas apresentaram um maior
número de usuários para atendimento, o que fez com que as participantes levassem o
questionário para sua residência ou respondessem em outro dia.
As atribuições da enfermeira de uma Unidade de Saúde não são poucas: além das
consultas para os programas preconizados pelo Ministério da Saúde, as metas de produção a
serem alcançadas e o gerenciamento da unidade requer tempo, dedicação e competência de
trabalho.
No questionário respondido por P4, P5, P6, P7 e P8, não houve separação entre a
saúde sexual e a saúde reprodutiva, o texto uniforme utilizou termos mesclando conceitos
empregados das duas saúdes.
É preciso enfatizar que o conceito biológico da sexualidade é mais empregado. Para
tanto, dividir, ou melhor, somar categorias não é fácil e na maioria das vezes o “compreender
a sexualidade”, torna-se uma questão isolada.
Para entender a natureza do ser humano, é preciso ter em mente que existem
duas forças opostas (antagônicas): de um lado, temos a necessidade sexual
básica, cujo mecanismo fisiológico de resolução nem sempre coincide com
as normas vigentes em nossa cultura. De outro lado, há o fato de que, como
seres sociais que somos, temos de nos adaptar às regras de convivência
(PINTO, 1999, p. 26).
81
Observou-se ainda na questão uma convergência, uma aproximação no entendimento
das enfermeiras do VIII distrito a respeito da sexualidade em seu aspecto biológico, e da
saúde reprodutiva, relacionada ao planejamento familiar e à prevenção de doenças pelas sete
das oito participantes. Já quando reportado à saúde sexual, observa-se que em seu aspecto
social existe um distanciamento, mas não um desacerto nas palavras usadas na definição dessa
saúde, o que colabora para a dificuldade em se trabalhar a sexualidade pelos profissionais da
Atenção Primária de Saúde, reafirmando assim, os estudos realizados pelo próprio Ministério
da Saúde.
A rotina nas unidades de saúde, assim como a falta de habilidade em se trabalhar
questões de cunho íntimo, favorece a um comportamento profissional mais voltado ao
programa de planejamento familiar, com ações de caráter contraceptivo com pouco
envolvimento da saúde sexual.
[...] as ações voltadas para a saúde sexual e a saúde reprodutiva, em sua
maioria, têm sido focadas mais na saúde reprodutiva, tendo como alvo a
mulher adulta, com poucas iniciativas para o envolvimento dos homens. E,
mesmo nas ações direcionadas para as mulheres, predominam aquelas
voltadas ao ciclo gravídico-puerperal e à prevenção do câncer de colo de
útero e de mama [...]. Em geral, os profissionais de saúde sentem
dificuldades de abordar os aspectos relacionados à saúde sexual. Trata-se de
uma questão que levanta polêmicas, na medida em que a compreensão da
sexualidade está muito marcada por preconceitos e tabus (BRASIL, 2013a,
p. 10).
A dificuldade encontrada por essas profissionais diz respeito também ao que poderia
ser chamada de “cultura da doença”, essa ainda carregada pela maioria da população que tem
o hábito de procurar uma unidade de saúde apenas para tratar doenças e quase nunca para
preveni-las, dessa forma a sexualidade, quando encarada como algo patológico, diz respeito às
doenças às quais ela está relacionada, como as infecções sexualmente transmissíveis, ou
também na procura da mulher na realização de exames preventivos e curativos do câncer de
colo de útero.
Na saúde reprodutiva, o planejamento familiar é assegurado pela Lei N° 9.263/16
(BRASIL, 1996a), que orienta ações preventivas e educativas, além de garantir o acesso
igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da
fecundidade em todos os ciclos vitais, com atividades básicas para assistência à concepção e
contracepção; atendimento pré-natal; assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato; controle
e a prevenção dos cânceres cérvico-uterino, de mama, de próstata e de pênis.
82
A assistência à saúde reprodutiva inclui também a assistência à saúde sexual, os
métodos, as técnicas e os serviços que contribuem para a saúde e bem estar, cuja finalidade é
a intensificação das relações vitais e pessoais, e não apenas um simples aconselhamento do
método e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (ONU, 1995).
Cabe ressaltar que, para o Ministério da Saúde, a saúde sexual e a saúde reprodutiva
são termos diferentes, contudo complementares. Ao falar em saúde incube-se a perspectiva do
ser biopsicosocial, no qual corpo, mente e espírito exerçam harmonia na perspectiva da saúde
holística, ficando difícil a separação do que é apresentado apenas como biológico ou como
exclusivamente social.
Seguindo para a segunda questão, houve um interesse pelos elementos de influência, e
seu potencial como norteador das práticas empregadas nas consultas do grupo estudado. Tal
questão diz respeito ao fato de como alguns elementos sociais podem ter influenciado ou não,
no processo de amadurecimento conceptivo, ou seja, no conhecimento adquirido, a respeito
das questões ligadas à sexualidade. A intenção na pergunta é entender o que mais influenciou
essas enfermeiras na abordagem da sexualidade em suas consultas.
Gráfico 3 – Nível de entendimento e elementos influenciadores na construção da concepção
da sexualidade
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
0
1
2
3
4
5
Religião Educação
Doméstica
Cultural Educação Formal Mídia Amigos e colegas
Participante 1 Participante 2 Participante3 Participante4
Participante 5 Participante 6 Participante7
83
Na construção do gráfico não ficou evidenciada a participação de uma participante,
pelo fato desta não ter classificado sua resposta em 0-5, marcando apenas um “X” na opção
em que se encontrava Educação Paterna e Materna, Cultura e Educação Formal (Graduação).
Para interpretação do gráfico, foi usada uma escala de influência determinando 5 como
nível máximo e 1 nível mínimo de influência para cada categoria; ainda mais específico,
classificado 0 a 1, pouco influente; 2 a 3, médio influente e por fim 4 a 5, muito influente.
A categorização dos dados aponta que o conhecimento das enfermeiras a respeito de
assuntos que envolvam a sexualidade incidiu principalmente da educação formal, como
apresentado no quadro a seguir:
Quadro 4 – Categorias do amadurecimento conceptivo
Categorias Níveis de
Influência
Número de
Participantes %
Religião
Muito 2 28,57
Médio 4 57,14
Pouco 1 14,28
Educação Doméstica
Muito 3 42,85
Médio 1 14,28
Pouco 3 42,85
Cultura
Muito 3 42,85
Médio 4 57,14
Pouco 0
Educação Formal
Muito 6 85,71
Médio 1 14,28
Pouco 0
Mídia
Muito 4 57,14
Médio 1 14,28
Pouco 2 28,57
Amigos e colegas
Muito 3 42,85
Médio 4 57,14
Pouco 0
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
84
É notória a importância de cada elemento aqui formulado na compreensão dos
assuntos referentes à sexualidade, cada categoria representa um marco em que a sexualidade e
por conseguinte o entendimento para a saúde sexual e a saúde reprodutiva tiveram maior
destaque na vida das enfermeiras aqui pesquisadas.
De forma mais geral, a forte influência foi representada pela Educação Formal,
elemento do qual seis das sete pesquisadas informaram que advém seu conhecimento em
maior parte; e logo em seguida, com quatro das sete pesquisadas, Religião, Cultura, Mídia e
os Amigos, também como forte influência para os assuntos que envolvam a sexualidade.
Ao adentrar no universo dos assuntos ligados à sexualidade, o sujeito ao longo de sua
vida sofre várias influências, como da família e das relações sociais mais próximas, as quais
determinam seu posicionamento perante o tema. A sexualidade institui-se por informações,
instruções e comportamentos proporcionados pelos agentes educativos e, ainda, pela
observação de modelos, especialmente, os emocionalmente significativos para o indivíduo
(VAZ; VILAR; CARDOSO, 1996).
A construção do entendimento e o amadurecimento conceptivo para assuntos inerentes
à sexualidade advém da educação formal e informal. A educação sexual informal acontece
pela observação de modelos no contexto da relação com a família e os pares, acontecendo de
forma espontânea, não consciencializada, apelando essencialmente para aspetos emocionais.
A educação sexual formal é um processo intencional e programado, através de um currículo
selecionado e sequenciado, desenvolvido de acordo com objetivos estabelecidos por
instituições de ensino, como as escolas e as universidades (VAZ; VILAR; CARDOSO, 1996).
Assim, a educação informal de acordo com Garcia (2009) é caracterizada pela
ausência de planejamento, institucionalização ou formalidade, levando os sujeitos a não
perceberem seu envolvimento em uma relação educativa permanente, ininterrupta e sem
intenção de educar. Porém em relação à sexualidade, nada pode ser visto como “inocente”, no
processo de socialização as distorções e preconceitos são introduzidos de forma sutil, tendo
como pano de fundo as relações de poder determinadas por grupos, crenças e valores
religiosos.
A igreja, assim como as religiões, são matrizes para o ensinamento do que é
permissível ou não em se tratando da sexualidade. A forte influência trazida por estas
instituições ainda pode ser claramente visualizada nos comportamentos dos sujeitos nos dias
atuais.
85
A religião tem efeitos diretos e indiretos no comportamento dos sujeitos, em especial
os adolescentes que iniciam a vida sexual cada vez mais cedo. Os fatores que operam sobre o
comportamento sexual pode ser dividido em três grandes grupos: ordem moral; competências
aprendidas; e laços sociais e organizacionais.
A ordem moral compreende tradições que promovem ideias sobre o que é bom ou
ruim, certo ou errado, justo ou injusto, entre outros, de forma a orientar a consciência humana
e motivar a ação dos indivíduos. Ela atua por meio de diretivas morais, experiências
espirituais e modelos a serem seguidos. As competências aprendidas, por sua vez,
compreendem habilidades e conhecimentos que melhoram o bem-estar dos indivíduos e suas
chances de vida futura – as habilidades de liderança, as habilidades para lidar com perdas e o
capital cultural. Finalmente, os laços sociais e organizacionais, definidos como as estruturas
de relações que afetam as oportunidades e restrições dos indivíduos, operam a partir do capital
social, das redes de apoio na comunidade religiosa e das habilidades fora da comunidade.
Portanto, a influência da religião pode ser vista como uma força inibidora de certos
comportamentos, inclusive o sexual, contribuindo para adiá-los, reduzi-los ou mesmo
restringi-los, de forma direta ou indireta (SMITH, 2013 apud COUTINHO; RIBEIRO, 2014).
Corroborando tal argumento, o livro A história da sexualidade, de Michel Foucault
(1988) revela que a igreja desde o século XVII interfere nas questões relacionadas ao corpo,
através dos rituais de confissão, tornando o discurso para o sexo obrigatório e rico em
detalhes: posição dos parceiros, atitudes tomadas, gestos, toques, momento exato do prazer,
incidindo dessa forma seu poder em determinar o que é “certo” ou “errado”, legitimando
normas de condutas a serem seguidas (FOUCAULT, 1988).
Para Foucault (1988), ainda hoje nossa culpa frente ao sexo está explícita, seja através
de confissões ao padre, ou relatos ao psicanalista ou médico. Nossa própria racionalidade nos
leva a encarar as faltas sexuais. Segundo Nunes (1987), essa culpa se inoculou através de
rígida pregação, ampliando o poder da Igreja em formar o imaginário moral-social.
A internet, a televisão, os jogos eletrônicos e as redes sociais, atualmente são
plataformas importantes na comunicação de crianças, jovens, adultos e idosos que dedicam
seu tempo aos agentes informais de socialização, no que se refere à sexualidade (DIAS,
2013). Dessa forma a sexualidade é conduzida, seja por restrições ou permissões, o falar sobre
sexualidade alcança esferas importantes como a educação e a saúde.
Na saúde, a sexualidade se destaca com ações na saúde sexual e na saúde reprodutiva,
revelando também um traçado histórico repleto de significados e influenciados pelo contexto
86
histórico social. A saúde sexual era atribuída à reprodução da mulher, nela eram discutidas a
fecundação como única necessidade sexual, impondo à mulher a responsabilidade de prevenir
ou não uma gravidez, sem considerar o prazer sexual (DIAZ, 1999).
A sexualidade ganhou espaço na atenção à saúde, que vai além das necessidades
biológicas. A saúde sexual é dirigida à educação sexual e nela são levantados argumentos, não
no sentido de problematizá-la, mas de demonstrar evidências para o entendimento das crenças
e preconceitos que foram criados ao longo da história (DINIS; ASINELLI-LUZ, 2006).
Partindo dessa reflexão, a terceira questão procura saber se as enfermeiras do VIII
distrito de saúde já tiveram alguma orientação na forma de conduzir suas consultas a respeito
da saúde sexual e da saúde reprodutiva. E nesse mesmo pensamento, a análise da sétima
questão diz respeito ao fato de que se essas enfermeiras sentem-se preparadas para realizarem
as consultas referentes à saúde sexual e à saúde reprodutiva. A intenção desses
questionamentos diz respeito à política de educação permanente e seu emprego na temática
em questão.
As respostas agrupadas apontam para o emprego dessa política por parte do Município
e um preparo por parte das enfermeiras em trabalhar com a sexualidade.
Gráfico 4 – Orientação a respeito das consultas e se o profissional sente-se preparado para
trabalhar com a temática sexualidade
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
75%
25%
Orientação a respeito das
consultas
Sim
Não75%
25%
Se sente preparado
Sim
Não
87
Apesar de os gráficos apontarem que 75% das participantes já tiveram orientação em
relação as consultas de saúde sexual e saúde reprodutiva e se sentirem preparadas para
trabalhar com assuntos pertinentes a sexualidade, existe uma divergência nas informações,
visto que uma participante informou não ter sido orientada, mas se sentir preparada para
trabalhar com assuntos referentes à sexualidade, e outra participante que declarou já ter
passado por capacitações e mesmo assim não se sente preparada em conduzir assuntos
pertinentes à sexualidade.
Como já descrito anteriormente, nas páginas 74 e 75, a matriz curricular das
universidades formadoras das participantes dessa pesquisa contemplava os assuntos
relacionados à temática sexualidade, sendo estes vistos como disciplina eletiva ou distribuídos
em disciplinas maiores; isso pode ser uma explicação para uma participante, mesmo sem ter
passado pelas capacitações da política de educação permanente, sentir-se preparada para
trabalhar com assuntos inerentes à sexualidade nas consultas de enfermagem.
Porém, a outra participante, que informou já ter passado por capacitações a respeito
das consultas que envolvem a sexualidade, mas não se sentia preparada para desenvolver
trabalhos nessa temática, parte do pressuposto que a sexualidade é um assunto delicado que
ainda está carregado de tabus e preconceitos, mesmo para os profissionais da saúde. Como
também leva a pensar que a capacitação oferecida a esta profissional não tenha suprido a
necessidade de conhecimento, ou que a dinâmica de trabalho não estivesse condizente com a
realidade daquela unidade básica de saúde.
O educar na saúde e para a saúde é proporcionado através da educação de formação/
graduação e da educação continuada desses profissionais por meio de políticas de educação
permanente. A inclusão de programas de aperfeiçoamento profissional é uma realidade já
desenvolvida pelo SUS. A portaria GM/MS n° 1.996/07, dispõe sobre as diretrizes para a
implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Mesmo sendo um
conceito pedagógico, nesta política devem ser efetuadas as relações orgânicas entre ensino e
as ações e serviços, entre a docência e a atenção à saúde, entre a formação e a gestão setorial,
desenvolvimento institucional e controle social (BRASIL, 2004a).
A Educação Permanente é a aprendizagem no trabalho, direcionada aos trabalhadores
da saúde, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao
trabalho. Ela se baseia na aprendizagem significativa e na possibilidade de transformar a
prática profissional. É desenvolvida a partir dos problemas enfrentados na realidade, levando
em consideração os conhecimentos e as experiências cotidianas dos profissionais. A educação
88
dos trabalhadores da saúde deve ser feita pela problematização do processo de trabalho,
considerando as necessidades de saúde da população assistida e propondo ações que ampliem
as perspectivas na qualidade do atendimento ao usuário. Essa política tem como objetivo a
transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tornando o
trabalhador sujeito no processo de ensino/aprendizagem (BRASIL, 2009).
A problematização da prática como processo educativo deve contemplar uma
estratégia pedagógica com bases sociais, políticas e tecnológicas, sendo necessária a
descentralização dos polos educacionais e uma disseminação dentro do setor de saúde que
articule os trabalhadores gestores e controle social, a fim de que o trabalho no SUS se
organize em uma rede-escola (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).
Faz-se necessário lembrar que, na construção da educação, é preciso que o educador
saiba da informação que lhe está sendo passada e como este passa para seus espectadores,
pois educar não se resume apenas ao fato de transmitir a informação, o educador tem que estar
preparado para a formação do seu público.
A educação deve acontecer em via dupla, ou seja, tanto o educador quanto o educando
devem aprender com a informação passada, os questionamentos a respeito da informação
levam à formação de cidadãos críticos que lutam por uma sociedade mais inclusiva.
Educar, finalmente, embora possa passar por informar, por orientar e por
aconselhar, é mais do que a soma dessas partes isoladas. Educar, no sentido
mais amplo, significa “formar”, não na acepção de que o educando seja uma
cópia do educador, mas sim na de que o educador dá ao educando condições
e meios para que cresça interiormente (VITIELLO, 1997, p. 95).
É nesse pensar que a proposta pedagógica de Paulo Freire está inserida como base na
política de educação permanente, já que a problematização, a vivência e troca de experiências
fazem parte do processo ensino-aprendizagem. A possibilidade de troca de saberes entre os
diferentes sujeitos caminha para uma efetiva mudança na realidade, posto que quem ensina
aprende, e quem aprende também ensina, numa relação permanente de troca, portanto “[...]
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua
construção” (FREIRE, 2000, p. 52).
Quando esse ensino é direcionado à saúde, existe o desafio de transformar o modelo
biologicista e hospitalocêntrico até hoje empregado em um modelo em que os determinantes
sociais que interferem no processo saúde e doença sejam promovidos por uma educação em
saúde em todos os níveis de atenção, proporcionanado assim um fazer integral e resolutivo
dos problemas existentes.
89
A inversão desse modelo não é uma tarefa fácil, já que envolve uma política de
formação articulada com a prática que requer um novo modo de estabelecer as relações de
trocas de saberes entre os sujeitos nos diferentes campos de conhecimento com intervenções
interdisciplinares. Assim, a Política de Educação Permanente vem como proposta de mudança
desse cenário, com a qualificação continuada dos trabalhadores da saúde, com projetos que
envolvam não só os aspectos técnicos científicos da profissão como também a articulação
entre teoria e prática (ASSIS, 2007).
Além dos benefícios acima descritos pela mudança de paradigma, a educação
permanente possui outras características positivas como a incorporação do ensino-
aprendizado na vida cotidiana, transformação das estratégias educativas, considerando a
realidade como fonte de conhecimento e de problemas, problematização do próprio fazer;
saída dos trabalhadores do lugar de receptores do saber, para atores reflexivos da prática e
construtores do conhecimento e de alternativas de ação; abordagem da equipe como estrutura
de interação, evitando fragmentação disciplinar; ampliação dos espaços educativos para fora
dos “muros” da aula e dentro das organizações, levando-os para o território onde o cotidiano
do trabalho acontece (BRASIL, 2009).
Porém ainda existe uma limitação na programação das capacitações frente à
sexualidade ocorridas nesse distrito, como visualizada na fala da participante 2.
“Sim, porém de forma individualizada, visando apenas à saúde da mulher e
ao planejamento familiar” (P2; Q3).
Apesar de as capacitações estarem acontecendo, como informado pelas participantes,
percebe-se que a sexualidade feminina no ponto de vista da reprodução ainda é prioridade, e
os assuntos inerentes à saúde do homem às vezes tornam-se negligenciados, como se observa
na escrita de duas participantes na 6° questão, que pergunta se a profissional se sente
incomodada em trabalhar com questões referentes à sexualidade.
“Sim, a saúde sexual masculina” (P7; Q6)
“Sim, o homem por vezes é mais reticente na abordagem do tema”(P8Q6).
A saúde do homem por si só já é um obstáculo para o serviço de saúde, posto que a
procura desse público às UBS´s não acontecem de modo satisfatório, e quando reportadas à
sexualidade, as ações ficam aprisionadas nos tratamentos das IST´s/ AIDS.
Os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades, cultivando o
pensamento mágico que rejeita a possibilidade de adoecer. Além disso, os
90
serviços e as estratégias de comunicação privilegiam as ações de saúde para
a criança, o adolescente, a mulher e o idoso (BRASIL, 2008, p. 6).
É necessário conscientizar o homem, seja na participação no planejamento familiar,
decidindo conjuntamente a hora de ter ou não filhos, seja no acompanhamento do parto e pós-
parto, como também na educação da criança, além da procura do adolescente no
reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos, com acesso e informações sobre os
métodos contraceptivos. Também faz-se importante lembrar que o idoso também deve ser
contemplado no que se refere à sexualidade, e sua relação afetiva e emocional com as pessoas
(BRASIL, 2008).
Nesse sentido os Cadernos de Atenção Básica veiculados pelo ministério da saúde
dispõem de orientações gerais, no direcionamento com cada público especificamente, além de
nortear as principais ações na efetivação da saúde.
Muitos são os documentos lançados pelo Ministério da Saúde que abordam a
sexualidade, com direcionamento de condutas aos profissionais da área. Alguns exemplos
podem ser destacados nesse cenário, como o caso da política de planejamento familiar
lançada em 1996 (BRASIL, 1996a), com destaque nas ações de prevenção no serviço de
saúde voltado às mulheres com abordagens dos métodos contraceptivos, gravidez, pré-natal,
parto e outras temáticas que se relacionam com a anticoncepção. Ainda no mesmo ano, foi
criado pelo Ministério da Saúde, o Programa “Saúde para Adolescentes” (PROSAD), que
apresenta estratégias de intervenção e cuidados para adolescentes e têm por objetivo reduzir
questões de risco e vulnerabilidades.
Em 2007, foi lançado o Marco Teórico Referencial da Saúde Sexual e Reprodutiva de
Adolescentes e Jovens, o qual discute questões teóricas sobre a sexualidade na adolescência e
inclui os aspectos legais que reconhecem os direitos sexuais e reprodutivos da população
adolescente. Ainda no mesmo ano, o Ministério da Saúde elaborou o Programa Mais Saúde:
Direito de Todos, no qual uma das medidas propostas é a expansão das ações de planejamento
familiar (VIEIRA; MATSUKURA; VIEIRA, 2017).
Em 2013 foi lançado o Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde
Reprodutiva, destinado a todos os públicos e não apenas aos adolescentes, nos quais as
publicações mais se concentravam. Assim, a pergunta subsequente questiona se o Caderno de
Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva mudou a forma dessas enfermeiras
conduzirem suas consultas a respeito da sexualidade.
Frente ao exposto e em consonância com os investimentos científicos metodológicos
do Ministério da Saúde, sete das oito participantes informaram que o Caderno de Atenção
91
Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva proporcionou mudanças na forma de conduzir
suas consultas em se tratando da sexualidade, como se destacam as escritas das participantes 1
e 2.
“Sim, a importância da ética, empatia e a escuta, a abordagem individual e a
familiar, com enfoque no meio em que o indivíduo está inserido, suas
crenças, valores, dificuldades e desafios, as relações interpessoais no grupo
familiar, o papel de cada membro. A orientação do adolescente, capacitando-
o a fazer escolhas melhores e seguras, visando a sua saúde sexual e
reprodutiva, o direito à privacidade e ao sigilo. Na abordagem de temas
como anticoncepção, pós-parto, pós-aborto, a entender a população em
diferentes ciclos de vida, a abordagem sindrômica” (P1Q5).
“Sim, ele é condutor de minhas consultas” (P2Q5).
O Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva tem a finalidade de
oferecer orientações técnicas para a atuação dos profissionais da Atenção Básica na atenção à
saúde sexual e à saúde reprodutiva, com uma abordagem integral visando à promoção dos
direitos sexuais e reprodutivos no contexto dos direitos humanos, entendendo que a saúde
sexual é essencial para a qualidade de vida e de saúde das pessoas (BRASIL, 2013a).
Mesmo diante de todo aparato trazido pelo Caderno de Atenção Básica - Saúde Sexual
e Saúde Reprodutiva e os demais manuais fornecidos pelo Ministério da Saúde, a questão
próxima teve a intenção de perguntar o que o profissional achava que o paciente deveria saber
sobre saúde sexual, e quais temas ele indicava para que fossem trabalhados em consultas que
envolvesse a sexualidade, como no planejamento familiar e teste rápido. A questão teve como
propósito saber se existe algum tipo de roteiro ou prioridades a serem trabalhadas.
Quadro 5 – Temas propostos para trabalhar nas UBS‟s sobre saúde sexual e saúde reprodutiva
Categoria Participantes Subcategoria Respostas
Entendimento
/ Julgamento
P1
Biológica
Prevenir doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez indesejada, fazer
a higiene íntima
Social
Informações acerca da saúde sexual;
escolher relacionamentos satisfatórios;
sexo prazeroso e seguro sem violência;
saber respeitar o próprio corpo
P2
Biológica Como se proteger
Social Conhecer o corpo; viver bem consigo;
deveria ser trabalhada a questão de gênero
P3 Biológica Abordagem sobre IST´s; métodos
contraceptivos
92
Entendimento
/ Julgamento
Social Conhecimento sobre si mesmo e suas
opções; entender o outro;
P4 Biológica Sexo seguro, disfunções sexuais
Social Relações sexuais e direitos sexuais
P5
Biológica
Métodos contraceptivos; formas de
prevenção e transmissão das DST´s;
detecção precoce de DST´s; direitos
acerca do planejamento familiar
Social
P6
Biológica
Autocuidado, do uso de camisinha nas
relações sexuais, os benefícios, segurança
Vacinação
Social Compromisso com o outro, discutir
sexualidade com seu parceiro
P7 Biológica
Prevenção das doenças sexualmente
transmissíveis decidir se querem ou não
ter filhos; doenças relacionadas ao sexo x
sexo seguro; decidir se quero ou não ter
mais filhos; o que são testes rápidos?
exames preventivos/ papanicolau/
citologia; higiene íntima x prevenção de
doenças; métodos contraceptivos na
adolescência
Social Informações relativas à sexualidade
P8
Biológica
Assegurar o seu planejamento familiar de
forma segura e saudável; testes rápidos,
saiba porque fazê-los e a sua importância
no cuidado com a sua saúde; reduzir a
incidência de IST´s e as suas
consequências, caso sejam afetados e não
sejam tratados; preparar o casal para uma
maternidade e paternidade responsável
Social Tudo que já não saiba ou que saiba
deturpado
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.
O tratamento dos dados dos temas sugeridos forneceu uma avaliação satisfatória a
respeito da abordagem da saúde sexual pelas enfermeiras do VIII distrito da capital. A
realidade no cotidiano das consultas de enfermagem que contemplam a sexualidade, seja na
saúde sexual, seja na saúde reprodutiva, representa um aspecto positivo na inserção da
educação em saúde voltada a um tema muito difundido, mas nem sempre discutido de forma
científica.
A consulta de enfermagem para saúde sexual deve contemplar diversos aspectos, uns
já citados nas escritas das participantes e outros sugeridos nas bibliografias do Ministério da
93
saúde e nas obras de Professores doutores no assunto, como por exemplo, a enfermeira Dra.
Edi Ney Teixeira Mandú, a Doutora em Ciências Humanas Olga Regina Zigelli Garcia e a
enfermeira Doutora Laura Cristina da Silva Lisboa.
Para o aperfeiçoamento de uma saúde com olhar holístico, voltada aos cuidados
integrais, os aspectos da atenção individual e coletiva devem ser considerados, como o
biológico e o social.
As consultas de enfermagem em saúde sexual e saúde reprodutiva devem considerar as
dimensões biológicas, sociais, subjetivas do sujeito, nelas devem ser abordadas comunicações
pertinentes às experiências eróticas, à autopercepção corporal, às trocas afetivas e relacionais
humanas significativas, lidando com vulnerabilidades, potenciais, necessidades e/ou
problemas relacionados. A consulta tem como objetivo promoção da saúde sexual
considerando quatro aspectos essenciais: os direitos sexuais históricos; processos geradores de
vulnerabilidades e potenciais de enfrentamento; perfis socioepidemiológicos específicos;
necessidades e demandas dos sujeitos alvos de cuidados (MANDÚ, 2004).
Nesse conjunto, o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde fornece
algumas recomendações a serem trabalhadas pelos profissionais da atenção básica quando se
referirem à saúde sexual. Destacam-se algumas delas: ouvir e dar suporte psicológico
emocional se necessário; considerar o contexto de vida do sujeito e suas influências religiosas,
culturais e educacionais, como também as comorbidades existentes; desfazer mitos e tabus;
instituir cuidados gerais da saúde e promover o autocuidado; orientar a respeito de
tratamentos de doenças que afetam a saúde sexual; garantir o acesso a informações, métodos e
meios para a regulação da fecundidade e para a proteção contra as DST/HIV/Aids; realizar
ações de educação em saúde sexual e saúde reprodutiva, individual e em grupos (BRASIL,
2010).
Todavia, existem algumas características necessárias ao enfermeiro que trabalha com a
sexualidade, como por exemplo empatia – habilidade de compreender; congruência –
habilidade de ser real; aceitação incondicional – respeito pela sexualidade do outro;
motivação – habilidade de proporcionar mudanças; confrontação – habilidade de trabalhar
outras potencialidades do cliente e confrontá-lo com seus paradigmas; e concreticidade –
habilidade de sintetizar o discurso (GARCIA; LISBOA, 2012).
Assim, o trabalho com a sexualidade, principalmente, quando direcionado à saúde
sexual necessita de conhecimentos aprofundados, como também habilidades específicas do
profissional. E nesse entendimento, as enfermeiras atuantes no programa saúde sexual e saúde
94
reprodutiva, devem possuir, além da afinidade com o tema, o compromisso em desenvolver
um roteiro específico que atenda as principais às necessidades relatadas pelos seus
pacientes/clientes, a fim de proporcionar saúde integral e a qualidade de vida do sujeito e da
comunidade.
95
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância de trabalhar com saúde sexual e saúde reprodutiva a título de Atenção
Primária de Saúde fornece valiosas informações na conduta do profissional em relação ao
paciente e na própria qualificação profissional. As marcas trazidas ao longo da história da
sexualidade repercutem nas ações voltadas à saúde sexual e à saúde reprodutiva não apenas da
população, mas também dos profissionais que trabalham diretamente com essas saúdes. Cabe
pontuar que a sexualidade vai além do aspecto biológico, sofrendo influências diretas e
indiretas do componente social, que sutilmente impõe regras de comportamento e aceitação
que geram em torno de um poder simbólico.
Dessa forma, o estudo e atuação de questões referentes à sexualidade permitem a
identificação e superação de preconceitos; muito deles históricos. Falar em sexualidade é
buscar entender a história, a educação e a saúde. A abordagem do tema é complexa, e está
presente na vida de todos.
A atuação dos profissionais da saúde, em particular as (os) enfermeiras (os) no que
tange à sexualidade representa um indicador de qualidade nos serviços prestados de forma
integral e holística à população assistida pelas unidades básicas de saúde.
As unidades básicas de saúde são representadas pela Atenção Primária de Saúde, ou
seja, a porta de entrada aos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde. Os serviços
prestados pelo SUS estão relacionados às ações no âmbito individual e coletivo para
promoção, proteção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde.
Assim a prevenção, acompanhamento e tratamento dos pacientes nas unidades básicas
de saúde colaboram para diminuição dos internamentos e aglomerados hospitalares. Apesar
de sua importância, os serviços de saúde encontram-se por vezes despreparados para o
cuidado de questões que envolvem a sexualidade da população assistida.
Compete aos profissionais da saúde a atenção para todo e qualquer problema que
possa levar a um processo de adoecimento, a despeito das questões que envolvam a
sexualidade, sejam elas de ordem biológica, social ou psicológica.
A enfermagem opera em uma perspectiva de cuidados integrais, adentrando dessa
forma, em prestação de serviços na esfera individual e coletiva, o que se faz essencial no
resgate das dimensões sociais e subjetivas do sujeito. Na consulta de enfermagem, além dos
aspectos biológicos, o social e o cultural devem ser observados.
As influências trazidas nos comportamentos e atitudes vivenciados em torno da
sexualidade se dividem em dois grandes eixos; o biológico que representa o sexo em seu
96
aspecto de procriação; e o social que representa a sexualidade em seu aspecto social
referindo-se ao gênero.
O falar sexualidade em seu aspecto biológico é cotidianamente empregado nas ações
programadas pelos profissionais da saúde, aqui as enfermeiras e/ou enfermeiros, direcionadas
ao planejamento familiar realizado em mulheres em idade fértil que procuram a unidade de
saúde principalmente para evitar uma gravidez indesejada. Outra forte representação da
sexualidade ainda em seu aspecto biológico/reprodutivo é a prevenção das IST´s, a procura de
exames de citologia (papanicolau) pelas mulheres, além da busca aos testes rápidos de
diagnósticos de HIV, sífilis e hepatites B e C que são realizados pela enfermeira (o) da
unidade de saúde. Assim, as condutas profissionais muitas vezes se resumem ao fornecimento
dos contraceptivos, a coleta de material para análise laboratorial de identificação ou não de
câncer de colo uterino e os diagnósticos e tratamentos das infecções trazidas pelo ato sexual
desprotegido.
No eixo social o conhecimento dispensado à sexualidade partiu de discursos de
verdades que instituiu ao sexo regras de comportamento e aceitação vistos até os dias atuais,
que gera por vezes uma resistência em se falar abertamente sobre a sexualidade e, por
conseguinte, a saúde sexual.
A sexualidade em seu contexto social sofreu e sofre forte influência de instituições que
estabeleceram regras de conduta e comportamento introduzindo os “freios sociais” e
demonstrando dessa forma o seu poder simbólico. Os discursos de verdade pautaram-se no
que pode ou não ser aceito e no que é ou não correto em se tratando de comportamento para a
sexualidade.
Na introdução do que pode ou não ser feito, do que é ou não correto há envolvimento
do poder simbólico e consequentemente da violência gerada em torno do que não se enquadra
aos comportamentos tidos como “normais”, assim a violência pode ser dividida em física e/ou
simbólica, na física podem-se pontuar os casos de feminicídios e as mortes de pessoas
LGBTT, e na simbólica os preconceitos e discriminações gerados em torno da
homossexualidade.
Dessa forma os discursos se dividem em científicos pautados nos argumentos que o
Estado atribuía ao controle da natalidade e das doenças sexualmente transmissíveis, e aos
discursos da igreja que por muitos anos atribuiu o sexo uma condição de pecado. Os discursos
da família sofre forte influência do meio e de seus pares. Nesse entendimento tais influências
são direcionadas não só aos sujeitos que procuram os atendimentos, mas também aos
97
profissionais que estão na ponta e que têm que saber lidar com seus amadurecimentos
intelectuais e sociais acerca da sexualidade, para que assim possa prestar uma assistência de
qualidade.
A forte influência social e a herança cultural gerada sobre a sexualidade em seu
aspecto comportamental ainda é uma das principais dificuldades enfrentadas para a
abordagem da saúde sexual da população assistida pelas unidades básicas de saúde. Falar sexo
para reprodução é pontual, porém falar da sexualidade em seu aspecto sexual envolve além do
sexo propriamente dito, os comportamentos, desejos, libidos, prazeres e desprazeres,
identidades e lutas por direitos conquistados.
A saúde sexual pode ser percebida com certa dificuldade pelo profissional da atenção
primária de saúde, em especial, a (o) enfermeira (o), visto que envolve posicionamentos que
por vezes coloca o profissional em situação delicada quanto à arguição do problema
detectado, o que pode ocasionar o não retorno do paciente ao serviço.
Assim o falar em saúde sexual ainda é visualizado nas ações de forma reduzida e
“tímida”. É preciso conscientizar o público que procura as unidades de saúde que a
sexualidade não se resume ao simples fato de se evitar uma gravidez indesejada ou a
prevenção de uma doença, e que a saúde parte do princípio do equilíbrio entre o físico, o
social, o emocional e o espiritual, proporcionando ao paciente uma harmonia coletiva.
As ações de captação do público para saúde sexual e saúde reprodutiva devem ser
pautadas na educação em saúde, estimulando a quebra de paradigmas. Discutir sexualidade de
forma natural, sem discriminação ou preconceitos favorece ao entendimento do sujeito em sua
totalidade. Além do aspecto biológico/reprodutivo, o aspecto social é essencial na
determinação da condição de saúde do sujeito.
Dessa forma a saúde é influenciada pelas condições culturais, socioeconômicas e
ambientais das pessoas envolvidas no processo saúde-doença, em que cada sujeito possui seus
costumes, suas crenças, seus valores que ficam marcados em seu corpo, sua mente e seu agir,
influenciando nas respostas de adaptação.
Cabe a (o) enfermeira (o) estar atenta (o) e receptiva (o) às queixas do paciente e se
necessário intervir de forma prudente em alguns aspectos que possam levar a condições de
adoecimento do sujeito e sua coletividade. A inserção da educação em saúde, principalmente
reportados à sexualidade ainda é um desafio e deve ser encarado como uma mudança de
paradigma nas ações hoje prestadas à comunidade.
98
Um dos elementos que contribui nessa mudança de paradigmas pode ser atribuído à
Educação Permanente em Saúde. A Educação Permanente em Saúde parte do princípio que as
situações cotidianas possam ser transformadas em aprendizagem, analisando os problemas a
fim de se chegar a soluções plausíveis de acontecer na comunidade. Deve ser realizada por
todos os membros do serviço estimulando a equipe a exercer a análise de suas práticas,
investigando os problemas e atuando ativamente na solução ou minimização das
circunstâncias que não estejam favorecendo o bom desempenho profissional e
consequentemente a boa assistência à população.
Para garantir a assistência do paciente sem prejuízo a nenhuma saúde, o Sistema Único
de Saúde por meio de seu princípio doutrinário da integralidade afirma que o paciente tem o
direito de ser atendido de forma integral em todos os serviços que ele necessite para sanar ou
minimizar seu problema, seja por meio da prevenção, tratamento e/ou reabilitação de uma
enfermidade. Corroborando para a integralidade da assistência nas unidades básicas de saúde,
a saúde sexual e reprodutiva deve acontecer de forma complementar e eficiente, onde as ações
de enfermagem devem contemplar o mais diversificado público que procura atendimento.
Questões inerentes à sexualidade estão cada vez mais presentes no cotidiano dos
profissionais da atenção Primária de Saúde. A enfermeira (o) rotineiramente se depara com
demandas que envolvem gravidez não planejada, contracepções de emergência ou de rotina,
abortos, violência sexual entre outras. As práticas assistenciais devem ser pautadas no
conhecimento, respeito e integralidade da atenção, convergindo para isso o cumprimento com
responsabilidade dos direitos humanos, em especial o direito sexual e reprodutivo.
Percorrendo entre a prevenção de gravidez e as Infecções Sexualmente Transmissíveis
o comportamento gerado em torno das atitudes do sujeito representa a união entre a saúde
reprodutiva e a saúde sexual, posto que a busca do sexo por prazer e a orientação de gênero
são representados para o alcance da saúde de forma integral.
Apesar do Ministério da Saúde formular os conceitos diferenciados entre a saúde
sexual e a saúde reprodutiva, existe uma forte intersecção dessas saúdes corroborando para
um entendimento interdisciplinar dos sujeitos. Mesmo conseguindo distinguir seus
apontamentos, o conceito de saúde gira em torno de um bem estar geral, seja ele de cunho
biológico, seja de cunho social. A saúde deve ser garantida por meio de políticas públicas que
devem considerar o sujeito como produto do meio no qual está inserido.
Com a realização dessa pesquisa, foi possível compreender que a saúde sexual e
reprodutiva faz parte dos serviços ofertados à população, e que estes serviços estão
99
contemplados e garantidos por meio dos princípios doutrinários do SUS, a universalidade, a
equidade e a integralidade. Quando a sexualidade não é assumida nessas duas saúdes, há o
descumprimento do princípio da integralidade, desmontando toda uma estrutura pensada na
efetivação da saúde individual e coletiva da população assistida pelo SUS.
Desse modo, a pesquisa analisou o que as enfermeiras do VIII distrito de saúde de
Maceió compreendiam a respeito da saúde sexual e saúde reprodutiva, com a finalidade de
comparar seus saberes às diretrizes de documentos oficiais do Ministério da Saúde, em
destaque o Caderno de Atenção Básica Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, e se essas
enfermeiras estavam empregando o princípio da integralidade em suas ações cotidianas.
Os resultados obtidos apontaram para um conhecimento satisfatório das participantes
da pesquisa a respeito dos assuntos que envolvem a sexualidade. Foram consideradas algumas
categorias nesse trabalho que estariam envolvidas na construção do conhecimento das
enfermeiras do VIII distrito de saúde de Maceió a respeito da saúde sexual e saúde
reprodutiva, entre elas podemos destacar: religião, educação doméstica, cultura, educação
formal, mídia e amigos, que direta ou indiretamente produz influência no que é repassado nas
consultas de enfermagem reportadas à saúde sexual e à saúde reprodutiva.
Além disso, a pesquisa apontou que os documentos do Ministério da Saúde teceram
mudanças na forma de conduzir as consultas por estas enfermeiras, com resultado positivo de
empregabilidade desses documentos na rotina profissional.
Mesmo assim, os assuntos que estão sendo trabalhados atualmente nas consultas de
saúde sexual e saúde reprodutiva nas UBS´s pesquisadas, e os tópicos sugeridos pelas
enfermeiras do VIII distrito de saúde apontam para temas com uma abordagem mais
biológica, voltados à saúde reprodutiva da mulher no planejamento familiar, deixando o
homem e a população LGBTT ainda em segundo plano, reafirmando os diversos estudos que
direcionam a sexualidade ao conceito biológico do ser.
A sexualidade no eixo social ainda representa desafios a serem alcançados, a começar
pela dificuldade no que deve ser trabalhado a título de atenção básica de saúde, como
proceder em sua abordagem inicial para que não haja evasão do paciente/cliente, que procura
a unidade para falar de suas angústias e que muitas vezes é vítima das más interpretações e
preconceitos que geram em torno da sexualidade, principalmente quando aliadas aos discursos
de verdades que impõem regras, permissões e interdições no jogo cruel e simbólico do poder,
que deixa marcas, quando não físicas, psicológicas, não favorecendo ao completo bem estar
físico, mental, social e espiritual, conceito ainda tão empregado na definição da saúde.
100
Por fim, as contribuições trazidas com esta pesquisa possibilita a reflexão de como
estão sendo trabalhados os assuntos que envolvem a sexualidade nas consultas de saúde
sexual e saúde reprodutiva nos outros distritos sanitários de saúde da capital, a fim de traçar
um perfil assistencial dos profissionais que trabalham diretamente com a população, na
intenção de colaborar com a política de educação permanente focalizando nos assuntos que
merecem mais atenção dos polos gestores.
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112
ANEXOS
113
Anexo 1- Quadro das principais disfunções sexuais
Desejo sexual
hipoativo
Diminuição, ausência ou perda do desejo de ter atividade sexual. A falta
ou diminuição do desejo sexual constitui-se como um problema quando
interfere na vivência da sexualidade pela pessoa. Não pode ser
caracterizada como disfunção quando ocorre em virtude de problemas
circunstanciais (momentos de tristeza, luto, estresse, entre outros) ou,
ainda, quando se manifesta eventualmente, sem identificação de um
motivo específico.
Aversão sexual Aversão e esquiva ativa do contato sexual com um parceiro, envolvendo
fortes sentimentos negativos suficientes para evitar a atividade sexual.
Falha na fase de
excitação sexual
ou falha de
resposta genital
Ocorre quando há incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou
manter uma resposta de excitação sexual, com lubrificação-turgescência
vaginal ou dificuldade de ter ou manter uma ereção adequada (conhecida
como disfunção erétil) até a conclusão da atividade sexual.
Ejaculação
precoce
Ocorrência de orgasmo e ejaculação, com estimulação mínima antes,
durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo a deseje. A
ejaculação pode ocorrer logo que o homem tem pensamentos eróticos e
ereção, sem nem ocorrer a penetração ou, ainda, logo após haver a
penetração, o que leva a uma redução na sensação de prazer. Questões
psicológicas como ansiedade, primeiras experiências sexuais tensas,
novos parceiros ou ainda dificuldades no relacionamento, geralmente,
estão entre as principais causas de ejaculação precoce. Mas as causas
também podem ser orgânicas.
Anorgasmia ou
disfunção
orgásmica
Grande retardo ou ausência do orgasmo quando ocorre de maneira
persistente ou recorrente, após uma fase normal de excitação sexual. A
mulher ou o homem com anorgasmia pode aproveitar plenamente das
outras fases do ato sexual, isto é, tem desejo, aproveita as carícias e se
excita, porém algo bloqueia o orgasmo; no homem há ausência ou
retardo da ejaculação. É importante buscar saber se a pessoa nunca teve
orgasmo na vida ou se tinha orgasmos e passou a não tê-los mais. A
anorgasmia pode ser classificada em absoluto, quando ocorre sempre, e
situacional, quando ocorre só em certas situações, por exemplo, em
locais onde a pessoa não se sente confortável ou em virtude de algum
tipo de conflito.
Vaginismo É uma contração involuntária, não desejada, da musculatura da vagina,
que ocorre quando a penetração é tentada ou quando a mulher imagina
que possa vir a ter um ato sexual com penetração. A penetração pode
tornar-se impossível ou extremamente dolorosa.
Dispareunia É a dor genital que ocorre durante a relação sexual. Pode ocorrer em
homens, mas é mais comum em mulheres. Embora a dor seja mais
frequente durante o ato sexual, também pode ocorrer antes ou após o
intercurso da relação sexual.
Fonte: Brasil (2013a, pp. 53-54) - elaborado pela autora.
114
Anexo2 – Quadro dos tipos de métodos contraceptivos
Temporários
Hormonais
Oral Combinado
Monofásico;
bifásico;
trifásico
Minipílula
Injetável Mensal
Trimestral
Implantes Subcutâneo
Percutâneo
(Adesivo)
Vaginais Comprimido
Anel
DIU
Barreira
Feminino
Diafragma
Espermaticida
Esponjas
Capus cervical
Preservativo
feminino
Masculino Preservativo
masculino
Intrauterino
Medicados Diu de cobre
Diu com
levonogestrel
Não-medicados
Comportamentai
s
Tabela (Ogino-
Knaus)
Curva térmica
basal ou de
temperatura
Sintotérmico
Billings
(mucocervical)
Coito interrompido
Duchas vaginais
115
Definitivos Feminino Laqueadura
Masculino Vasectomia
Fonte: Brasil (2013) – elaborado pela autora
Anexo 3 - Quadro das finalidades e indicações dos métodos contraceptivos
Método Finalidades Atributos
Tabelinha ou
Ogino knaus
Identifica o período fértil do ciclo
menstrual a partir da
periodicidade do ciclo. Registro
da duração do ciclo por 6 meses.
Não Protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Requer cooperação de ambos os parceiros.
Eficaz se usada corretamente. Requer
conhecimento da fisiologia reprodutiva.
Sem efeitos colaterais.
Mucocervical
ou Billings
Identifica o período fértil, a partir
da observação do muco cervical, o
qual se torna transparente, elástico
e fluido.
Não Protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Requer cooperação de ambos os parceiros.
Eficaz se usado corretamente. Requer
conhecimento da fisiologia reprodutiva.
Sem efeitos colaterais.
Temperatura
Basal
Identificação do período fértil a
partir da observação da elevação
da temperatura corporal.
Não Protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Requer cooperação de ambos os parceiros.
Eficaz se usado corretamente. Deve ser
associado a outro método comportamental.
Falho em casos de infecções. Requer
conhecimento da fisiologia reprodutiva.
Sem efeitos colaterais.
Sintotérmico Identificação do período fértil do
ciclo menstrual a partir da
observação da periodicidade do
ciclo, da elevação da temperatura,
alterações de muco cervical e
outros sintomas subjetivos (dor
abdominal, alterações da libido).
Não Protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Requer cooperação de ambos os parceiros.
Eficaz se usado corretamente. Deve ser
associado a outro método comportamental.
Falho em casos de infecções. Requer
conhecimento da fisiologia reprodutiva.
Sem efeitos colaterais. Abstinência sexual
no período fértil.
Amenorreia
por lactação
A amamentação livre e exclusiva
inibe o retorno da fertilidade, pela
ação da prolactina.
Não protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
É necessário o conhecimento do
funcionamento do corpo, cooperação de
ambos os parceiros. Sem efeitos colaterias.
Conhecimento da fisiologia da reprodução.
Preservativo
feminino
Consiste em um tubo de
polipropileno que é inserido no
canal vaginal, ficando a parte
externa cobrindo toda a vulva.
Forma uma barreira física entre o
pênis e a vagina.
Reduz o risco de transmissão de IST´s/
HIV/ AIDS. Não tem efeitos sistêmicos. É
controlado pela mulher que possibilita uma
maior autonomia sobre seu corpo e vida
sexual. É confortável. Pode ser colocado na
vagina imediatamente antes da penetração
ou até 8 horas antes da relação sexual.
116
Preservativo
masculino
Envoltório de látex que recobre o
pênis no ato sexual, impedindo
que o esperma entre em contato
com a vagina.
Reduz o risco de transmissão de IST´s/
HIV/ AIDS. Não tem efeitos sistêmicos.
Auxilia a evitar uma ejaculção precoce.
Método eficaz se usado corretamente, não
precisa da cooperação do parceiro.
Diafragma Consiste em um anel flexível,
coberto por uma membrana
flexível em forma de cúpula que
cobre completamente o colo
uterino. Impede a penetração dos
espermatozoides.
Protege de algumas IST´S cervicais. É
controlado pela mulher. Pode ser colocado
na hora da relação ou até 2 horas antes, e
retirado logo após ou até 6 a 8 horas
depois.
Geleia
espermicida
Gel com substâncias químicas
que recobrem a vagina e o colo do
útero, impedindo a penetração dos
espermatozoides no canal
cervical.
Não protege contra as IST´s e pode,
inclusive, predispor a infecções pelo HIV/
AIDS. Pouco eficaz, protegendo apenas por
1 hora após a sua aplicação.
Hormonal
oral
combinado
Pílulas que contém dois
hormônios sintéticos, o estrogênio
e o progestógeno. Inibe a
ovulação e modifica as
características físico-químicas do
endométrio.
Não protege contra as IST´s. Proporciona
ciclos menstruais regulares, com
diminuição dos dias e fluxo menstrual.
Hormonal
oral isolado ou
minipílulas
Pílulas que contém baixas doses
de progestogênio, provoca
espessamento do muco cervical,
dificultando a penetração dos
espermatozoides.
Não protege contra as IST´s. Pode ser
usado por lactantes a partir da 6ª semana
após o parto.
Hormonal
injetável
combinado
Inibe a ovulação pelo
espessamento cervical, por meio
de um éster de estrogênio natural,
um estradiol e um progestógeno.
Não protege contra as IST´s. Diminui a
frequência e a intensidade das cólicas
menstruais.
Hormonal
injetável
isolado
Contém apenas progestógeno.
Inibe a ovulação e aumenta a
viscosidade do muco cervical
impedindo a passagem dos
espermatozoides.
Não protege contra as IST´s. Efeito
contraceptivo de 3 meses.
DIU medicado
com cobre
Dispositivo flexível que é
introduzido na cavidade uterina da
mulher através da vagina e do
colo, por um profissional da saúde
devidamente treinado. Dificulta a
passagem dos espermatozoides
pelo trato reprodutivo feminino,
devido, principalmente, à ação
espermicida do cobre.
Não previne contra as IST´s.
Contraindicado em mulheres com história
recente de IST´s ou que tenham múltiplos
parceiros sexuais, devido ao risco de
doença inflamatória pélvica (DIP) e
infertilidade.
Laqueadura
tubária
Procedimento cirúrgico simples e
seguro, realizado nas tubas
uterinas da mulher, causando
obstrução e impedindo a
fecundação.
Não protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Método irreversível.
117
Vasectomia Procedimento cirúrgico simples e
seguro, realizado nos ductos
deferentes do homem, causando
obstrução e impedindo a presença
dos espermatozoides na
ejaculação.
Não protege contra as IST´s/ HIV/ AIDS.
Método irreversível. Sua eficácia é
efetivada após 20 ejaculações ou mais ou
menos 3 meses.
Fonte: Brasil (2002; 2010); Souza; Horta (2016) - elaborado pela autora
Anexo 4 – Quadro dos elementos a serem abordados na consulta de enfermagem, de acordo
com os objetivos assistenciais e as especificidades das situações.
Elementos a serem
abordados Objetivos assistenciais
Processos sociais vividos,
potenciais e possíveis
suscetibilidades:
Condições de vida, ambiente e interações familiares,
práticas de lazer, situação de trabalho, acesso a serviços
sociais/de saúde, situações de estresse enfrentadas,
expectativas em relação ao futuro/projetos de vida.
Comportamentos,
sentimentos e percepções
na esfera da sexualidade:
Preconceitos, estereótipos, tabus, repressões, medos,
desinformação e dúvidas em relação ao exercício da
sexualidade, reprodução e maternidade/paternidade; recusa
ou uso não habitual do preservativo em relações sexuais;
parcerias sexuais diversas; valores, intranquilidades,
possíveis tabus e experiências negativas em torno de
práticas sexuais; história de gravidez indesejada e abortos
forçados; padrões de feminilidade e masculinidade.
Autoimagem e aceitação
corporal:
Autoestima, autoconfiança, valores que os sujeitos têm
sobre si, imagens corporais idealizadas, preocupações e
distúrbios relativos à imagem corporal.
Processos psicoemocionais:
Processos relacionais na família, no trabalho, na
comunidade; depressão, irritabilidade, ansiedade, insônia;
possíveis vivências de processos de violência intra e
extrafamiliar (física, psicológica, sexual); dependência de
substâncias psicoativas; ambiguidades em torno do exercício
da sexualidade e reprodução; características
psicoemocionais relacionadas à fase vital; aspirações
sexuais e reprodutivas; preocupações no atendimento com a
privacidade e exposição do corpo.
Capacidade de negociação
em torno da sexualidade:
Negociação para trocas sexuais prazerosas, autoproteção das
DSTs/Aids, gravidez indesejada; corresponsabilidades na
tomada de decisão em questões de sexualidade e
118
reprodução; potenciais de enfrentamento de adversidades.
Comportamentos,
sentimentos e percepções
em relação à
anticoncepção:
Conhecimentos, valores e práticas anticonceptivas; uso
associado de anticoncepção e proteção das DSTs/aids
(preservativos); dificuldades, medos, mitos, preconceitos,
preocupações, informações/desinformações e dúvidas sobre
os anticonceptivos; percepção de vantagens/desvantagens e
aceitabilidade dos métodos; reconhecimento de seus efeitos
no organismo; condições de uso (clandestinidade,
intermitência, continuidade, acesso ao recurso e ao
acompanhamento dos serviços de saúde).
Comportamentos,
sentimentos e percepções
em relação ao câncer
genital:
Conhecimentos/desinformações, valores e comportamentos
em relação ao câncer genital, sua prevenção e tratamento;
medos e tabus; práticas de autoexame e de realização do
colpocitológico.
Comportamentos,
sentimentos e percepções
em relação às DSTs e Aids:
Conhecimentos/desinformação, interpretações, sentimentos
e comportamentos em relação às DSTs/Aids, sua prevenção
e tratamento; dificuldades na procura dos serviços; medo de
possíveis julgamentos e preconceitos em relação à situação
vivida; medo das consequências e repercussões familiares
frente ao problema vivido; desconfiança e conflito em
relação ao/a companheiro/a.
Comportamentos,
sentimentos e percepções
em relação ao
climatério/andropausa:
Conhecimentos/desinformação, valores, sentimentos,
preconceitos e comportamentos em relação ao
climatério/andropausa e seu cuidado.
Atividades físicas: Sedentarismo e atividades físicas.
Comportamentos
alimentares:
Valores, hábitos e características familiares e pessoais de
alimentação, acesso a alimentos, distúrbios alimentares e
preocupações em torno da imagem e peso.
História familiar de
doenças:
Situações de hipertensão, doença cardiovascular,
hipercolesterolemia, diabetes, câncer genital, saúde mental e
outros.
História prévia obstétrica: Acontecimentos da gravidez, parto e pós-parto.
História de doenças:
Situações de hipertensão, doença cardiovascular,
tuberculose/uso de medicação específica, câncer, DSTs,
hepatite viral, hipercolesterolemia, diabetes,
imunodepressão, saúde mental, uso de fármacos e
hormônios, e outros
Condições sistêmicas
gerais:
Condições de funcionamento dos sistemas corporais,
particularmente alterações do sistema digestivo,
cardiovascular e nervoso (cefaléia, cansaço, nervosismo,
tonteira, etc.) e urinário
119
Condições do sistema
genital:
Características do ciclo menstrual e das perdas vaginais,
distúrbios menstruais, sintomas inflamatórios ou
infecciosos, lesões, nódulos, desconforto, alterações genitais
e no interesse sexual.
Fonte: Mandú (2004) - elaborado pela autora
Anexo 5 – Resolução CEP n° 1.904, 471
120
121
122
123
Anexo 6 – ESCOLA DE ENFERMAGEM E FARMÁCIA
DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS
Código Nome Carga Horária
Período 1.0
ENFM001 ENFERMAGEM, SAÚDE E SOCIEDADE 1 240h
ENFM002 METODOLOGIA CIENTÍFICA 1 20h
ENFM004 CITOLOGIA, EMBRIOLOGIA E HISTOLOGIA 1 60h
ENFM005 CIÊNCIAS HUMANAS APLICADAS A SAÚDE 40h
ENFM008 BIOQUÍMICA 80h
Período 2.0
ENFM006 ENFERMAGEM, SAÚDE E SOCIEDADE 2 240h
ENFM007 METODOLOGIA CIENTÍFICA 2 40h
ENFM009 ANATOMIA SISTÊMICA 60h
ENFM010 CITOLOGIA, EMBRIOLOGIA E HISTOLOGIA 2 60h
ENFM011 PRIMEIROS SOCORROS 30h
ENFM058 METODOLOGIA CIENTÍFICA 60h
Período 3.0
ENFM012 PARASITOLOGIA 1 40h
124
ENFM013 MICROBIOLOGIA 60h
ENFM014 MÉTODOS E PROCESSOS DE INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM 1 200h
ENFM015 FISIOLOGIA E BIOFÍSICA 1 80h
ENFM016 BASES TEÓRICAS DA GESTÁO DE ENFERMAGEM EM SERVIÇOS DE SAÚDE 1 60h
ENFM017 PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 60h
Período 4.0
ENFM019 PARASITOLOGIA 2 40h
ENFM020 IMUNOLOGIA E VIROLOGIA 60h
ENFM021 MÉTODOS E PROCESSOS DE INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM 2 200h
ENFM022 FISIOLOGIA E BIOFÍSICA 2 80h
ENFM023 BASES TEÓRICAS DA GESTÃO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE 2 60h
Período 5.0
ENFM024 FARMACOLOGIA 1 60h
ENFM025 PATOLOGIA 1 40h
ENFM026 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 1 60h
ENFM027 INTERV. E GERENC. DE ENF. NO PROC. SAÚDE – DOENÇA DA PES. ADULTA E IDOSA 1
240h
Período 6.0
ENFM028 FARMACOLOGIA 2 60h
125
ENFM029 PATOLOGIA 2 40h
ENFM030 BIOESTATÍSTICA E EPIDEMIOLOGIA 2 60h
ENFM031 INTERVENÇÃO E GERENCIAMENTO DE ENFERMAGEM NO PROCESSO SAÚDE – DOENÇA DA PESSOA ADULTA-IDOSA 2
240h
Período 7.0
ENFM032 METODOLOGIA DO ENSINO APLICADO A ENFERMAGEM 1 40h
ENFM033 INTERVENÇÃO E GERENCIAMENTO DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO A MULHER EM SITUAÇÃO GINECO – OBSTÉTRICA AMBULATORIAL
180h
ENFM034 INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NO PROCESSO SAÚDE – DOENÇA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
160h
ENFM035 INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NO PROCESSO SAÚDE – DOENÇA MENTAL 160h
ENFM037 INTERVENÇÃO E GERENCIAMENTO DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO A MULHER EM SITUAÇÃO GINECO – OBSTÉTRICA HOSPITALAR
180h
Período 8.0
ENFM036 METODOLOGIA DO ENSINO APLICADO À ENFERMAGEM 2 40h
ENFM057 METODOLOGIA DO ENSINO APLICADO À ENFERMAGEM 80h
Período 9.0
ENFM040 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HOSPITAL GERAL E UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE 1
500h
Período 10.0
ENFM046 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HOSPITAL GERAL E UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE 2
500h
126
DISCIPLINAS ELETIVAS
Código Nome Carga Horária
ENFM003 PRÁTICA DE ATENÇÃO EM SAÚDE 1 80h
ENFM018 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES DE CUIDADO 45h
ENFM041 SEMINÁRIO DE PESQUISA 80h
ENFM042 PROJETO DE PESQUISA 40h
ENFM043 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES DE CUIDADO EM SAÚDE
60h
ENFM044 ALEITAMENTO MATERNO 60h
ENFM047 DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA 40h
ENFM049 ENADE - EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DO ESTUDANTE 0h
ENFM050 LIBRAS - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 60h
ENFM051 SEXUALIDADE E GÊNERO 34h
ENFM052 BIOSSEGURANÇA EM SAÚDE 40h
ENFM053 PREPARO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS 40h
ENFM054 INFORMÁTICA EM SAÚDE 40h
ENFM055 PRIMEIROS SOCORROS E SUPORTE BÁSICO DE VIDA (SBV) 40h
ENFM056 TOXOLOGIA: TÓPICOS ESPECIAIS 40h
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Anexo 7 : Matriz Curricular do curso de enfermagem Cesmac
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Anexo 8 – Grade eletiva da UFAL
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APÊNDICES
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Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)
(Em 2 vias, firmado por cada participante-voluntári(o,a) da pesquisa e pelo responsável)
Eu, .............................................................., tendo sido convidad(o,a) a participar como
voluntári(o,a) do estudo “A PERCEPÇÃO DAS ENFERMEIRAS E ENFERMEIROS DE
UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE MACEIÓ SOBRE AS DIFERENTES ABORDAGENS DA
SEXUALIDADE”, recebi d(o,a) Sr(a). Enfa. Esp. Aldenizia Kássia de Melo Carvalho, d(o,a) Centro
Universitário Tiradentes UNIT/AL, responsável por sua execução, as seguintes informações que me
fizeram entender sem dificuldades e sem dúvidas os seguintes aspectos:
Que o estudo se destina a conhecer quais percepções que a enfermeira e/ou enfermeiro
possuem em relação à saúde sexual e saúde reprodutiva
Que a importância deste estudo é a de Investigar a forma como as enfermeiras e/ou
enfermeiros de Unidades Básicas de Saúde de Maceió/AL abordam a sexualidade em suas
consultas de Planejamento Familiar.
Que os locais de pesquisa delimitados contemplam as unidades do 8° distrito, escolhido por
abarcar o maior número de unidades que possuem Estratégia de Saúde da Família,
considerado dessa forma um distrito modelo. E que a amostra contará com a participação
apenas de enfermeiras e/ou enfermeiros estatutários pertencentes ao quadro efetivo da
Secretaria de Saúde de Maceió, que estejam nesse momento lotados nas unidades
pertencentes ao 8° distrito sanitário desta capital.
Que os resultados que se desejam alcançar são os de fomentar na Secretaria Municipal de
Saúde uma melhor aplicabilidade da Política de Educação Permanente.
Que esse estudo começará em Março de 2017 e terminará em Maio de 2017.
O estudo será feito através de questionários semiestruturados, contendo 8 perguntas abertas.
Que eu participarei das seguintes etapas, após ser informada sobre o que consta no TCLE e
assiná-lo, responderei ao questionário que conterá perguntas a respeito de meu entendimento
sobre saúde sexual e reprodutiva.
Que os riscos que poderei sentir com esta pesquisa será a possibilidade de gerar desconforto
e/ou timidez quando questionado(a) sobre o meu nível de conhecimento a respeito da
temática, como também a diminuição no tempo das consultas para responder a pesquisa. Com
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o intuito de minimizar tais constrangimentos, a pesquisa não terá identificação e poderei
respondê-la nos intervalos das consultas ou se preferir em minha residência.
Que os benefícios diretos com a minha participação será o estímulo para a criação de
instrumentos para elaboração de um roteiro que otimize a dinâmica da consulta e acolha o
paciente na abordagem da sexualidade, como também, com o resultado da pesquisa fomentar
na Secretaria Municipal de Saúde de Maceió a maior aplicabilidade da Política Permanente de
Educação com atualizações periódicas, estimulando dessa forma um atendimento de
qualidade à população assistida.
Se eu apresentar algum risco acima mencionado, o questionário poderá ser suspenso, e a
pesquisadora/autora poderá dentro do que for possível, fazer maiores esclarecimentos acerca
das questões. Será assegurado ao participante que todas suas informações serão mantidas em
sigilo, além de o participante escolher o dia e local que melhor lhe convir para responder tal
questionário.
Poderei contar com a seguinte assistência: cumprimento do sigilo de suas informações assim
como de sua identificação, além da colaboração no esclarecimento de qualquer dúvida, sendo
responsáveis por tais a discente Aldenízia Kássia de Melo Carvalho e sua orientadora Dra.
Daniela do Carmo Kabengele, podendo estas ser encontradas no Centro Universitário
Tiradentes – UNIT/AL, Av. Comendador Gustavo Paiva, 5017 – CEP 57038-000, Maceió-
AL, Telefones: 3311-3113/ 99607-7881/ 99615-1930.
Que a minha participação será acompanhada do seguinte modo: respondendo o questionário
semiestruturado fornecido pela pesquisadora do projeto.
Que, sempre que desejar, serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do
estudo.
Que, a qualquer momento, eu poderei recusar a continuar participando do estudo e, também,
que eu poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade ou
prejuízo.
Que as informações conseguidas através da minha participação não permitirão a identificação
da minha pessoa, exceto aos responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas
informações só será feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Que eu receberei uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado sobre
a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus direitos, das minhas
responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha participação implicam, concordo em dele
participar e para isso eu DOU O MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA
SIDO FORÇADO OU OBRIGADO.
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Endereço d(o,a) participante-voluntári(o,a)
Domicílio: (rua, praça, conjunto):
Bloco: /Nº: /Complemento:
Bairro: /CEP/Cidade: /Telefone:
Ponto de referência:
Contato de urgência: Sr(a). Aldenizia Kássia de Melo Carvalho
Domicílio: Rua Dr. Antônio Cansanção,
Bloco: /Nº: /Complemento: 409/ 505
Bairro: /CEP/Cidade: /Telefone: Ponta Verde / 57035-190/ Maceió
Ponto de referência: Atrás da igreja São Pedro
Endereço d(os,as) responsáve(l,is) pela pesquisa (OBRIGATÓRIO):
Instituição: Centro Universitário Tiradentes – UNIT/AL
Endereço: Av. Comendador Gustavo Paiva
Bloco: /Nº: /Complemento: 5017
Bairro: /CEP/Cidade: Cruz das Almas CEP 57038-000, Maceió-AL
Telefones p/contato:
ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação no
estudo, dirija-se ao:
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Tiradentes
Bloco D – Sala 32A – Campus Maria Uchôa, Maceió/Al.
Telefone: (82) 3311-3113
Maceió,
Assinatura ou impressão
datiloscópica d(o,a) voluntári(o,a) ou
responsável legal e rubricar as demais
folhas
______________________________________
Aldenízia Kássia de Melo Carvalho
___________________________________________
Daniela do Carmo Kabengele
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Apêndice 2: Questionário da pesquisa
QUESTIONÁRIO
Sexo:_______.
Gênero (como você se percebe):__________.
1. O que você compreende por saúde sexual e saúde reprodutiva?
2. Classifique de 1 a 5, segundo grau de sua importância, os elementos que podem ter
influenciado no seu processo de amadurecimento conceptivo das questões ligadas a
sexualidade.
a. Religião ( )
b. Educação paterna e materna ( )
c. Cultura ( )
d. Educação Formal (Graduação) ( )
e. Mídia ( )
f. Amigos e Colegas ( )
3. Em sua vivência profissional você já teve alguma orientação em relação à forma de
conduzir consultas a respeito da saúde sexual e saúde reprodutiva?
4. Em que sua formação acadêmica contribuiu para consultas relacionadas à saúde sexual e
saúde reprodutiva?
5. O Caderno de Atenção Básica - Saúde sexual e saúde reprodutiva, provocou alguma
mudança na forma de conduzir suas consultas nas unidades básicas de saúde?
6. Você se sente incomodada(o) em trabalhar alguma temática relacionada à sexualidade em
suas consultas? Se sim qual?
7. Você se sente preparado/o para desenvolver trabalhos sobre esta temática?
8. O que você acha que a(o) paciente deve saber sobre saúde sexual? Por quê? Indique temas
as serem desenvolvidos nas consultas de Planejamento Familiar e Teste Rápido para
mulheres e homens.
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Apêndice 3: Perguntas formuladas para complementar o questionário
IDADE
ANO QUE SE FORMOU
INSTITUIÇÃO QUE SE FORMOU
TEMPO DE SERVIÇO PÚBLICO COMO ENFERMEIRA
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Apêndice 4 - Respostas na íntegra das participantes da pesquisa
1) O que você compreende por saúde sexual e saúde reprodutiva?
P1Q1: Saúde Sexual é a condição de bem estar físico, mental e social assegurada
através do conhecimento de informações necessárias para a prevenção de DST´s, AIDS; da
prática de sexo seguro, responsável e satisfatório, e da consciência da própria sexualidade,
emoções e funcionamento do seu corpo.
Saúde reprodutiva é a condição de bem estar físico, mental e social, relacionada ao
sistema reprodutor. Ocorre quando os casais ou indivíduos têm acesso a informações que os
auxiliam na escolha segura de um método contraceptivo e que os ajudam a decidir quantos
filhos ter e quando tê-los. Inclui prevenção e tratamento de infecções, prevenção de
infertilidade, atenção à gestação e ao parto.
P2Q1: Saúde sexual: conhecer o próprio corpo e aceitá-lo.
Saúde reprodutiva: cuidar do próprio corpo, junto com o planejamento familiar.
P3Q1: Saúde sexual: compreender a prática sexual e as formas de prevenção de
doenças e agravos.
Saúde reprodutiva: práticas de planejamento da reprodução.
P4Q1: Saúde sexual/ Saúde reprodutiva: envolvem a abordagem das questões ligadas
à sexualidade e à reprodução, no que diz respeito às relações sexuais, como também as ações
voltadas ao período gestacional e puerperal, métodos contraceptivos, DST´s, planejamento
familiar, visando a uma melhor qualidade de vida.
P5Q1: Saúde sexual/ Saúde reprodutiva: são todos os aspectos relacionados à
sexualidade, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e planejamento familiar.
P6Q1: Saúde sexual/ Saúde reprodutiva: conhecer os próprios órgãos sexuais e
reprodutivos, ter informação sobre IST´s, valorização e satisfação sexual, prevenção de
doenças e cuidado com a saúde.
P7Q1: Saúde sexual/ Saúde reprodutiva: é um direito de todo cidadão ter qualidade de
vida e manter sua saúde com ações preventivas também na saúde sexual e reprodutiva, através
da atenção básica.
P8Q1: Saúde sexual/ Saúde reprodutiva: Todas as pessoas devem manter a sua vida
sexual equilibrada e prazerosa, devem conhecer o próprio corpo e reações, trabalhando as
emoções para uma melhor estabilidade de vida e, assim, poder determinar quantos filhos ter.
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2) Classifique de 1 a 5, segundo grau de sua importância, os elementos que podem ter
influenciado no seu processo de amadurecimento conceptivo das questões ligadas à
sexualidade.
a) Religião ( )
b) Educação paterna e materna ( )
c) Cultura ( )
d) Educação Formal (Graduação) ( )
e) Mídia ( )
f) Amigos e Colegas ( )
P1Q2: Mostrou que Educação Paterna (5), Mídia (5) e Educação Formal (4) tiveram
forte influência para seu entendimento a respeito das questões ligadas à sexualidade; a cultura
(3) e os Amigos e Colegas (2) com média influência, e por fim a Religião (1) com pouca
influência.
P2Q2: Educação Paterna (5) mostrou forte influência, a Religião (3), Educação
Formal (3), Cultura, Mídia e Amigos (2) tiveram média influência no seu entendimento das
questões ligadas à sexualidade.
P3Q2: Educação Formal e Mídia (5), Religião, Educação Doméstica, Cultura, Amigos
e Colegas (4), todos com forte influência na compreensão dos assuntos inerentes a
sexualidade.
P4Q2: Educação formal (5), Amigos e Colegas (4) com forte influência, a Religião (3)
e a Cultura (2) com média influência, e por fim a Educação Doméstica (1) e a Mídia com
fraca influência para seu discernimento da sexualidade.
P5Q2: Educação formal (5), Amigos e Colegas (4) forte influência, Cultura (3) e
Religião (2) com média influência e a Educação Doméstica (1) e a Mídia (0) com baixa
influência.
P6Q2: Educação Formal (5), Cultura (5), Mídia (5), Religião (4) com forte influência,
Educação Doméstica (2), Amigos e Colegas (2) com média influência.
P7Q2: Mídia (5), Cultura (5) e Educação Formal (4) com forte influência; Amigos e
Colegas (3) e Religião (2) com média influência, e Educação Doméstica (1) com baixa
influência aos assuntos da sexualidade.
P8Q2: Não respondeu numericamente, colocou um “X” na opção Educação Materna,
Cultura e Educação Formal.
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3) Em sua vivência profissional, você já teve alguma orientação em relação à forma de
conduzir consultas a respeito da saúde sexual e saúde reprodutiva?
P1Q3: Sim, Poucas vezes.
P2Q3: Sim, porém de forma individualizada, visando apenas à saúde da mulher e ao
planejamento familiar.
P3Q3: Sim.
P4Q4: Não, apenas durante a graduação.
P5Q3: Não.
P6Q3: Sim.
P7Q3: Sim.
P8Q3: Sim.
4) Em que sua formação acadêmica contribuiu para consultas relacionadas à saúde sexual
e saúde reprodutiva?
P1Q4: Não contribuiu muito, porque foi uma abordagem muito superficial.
P2Q4: A formação acadêmica era voltada à saúde reprodutiva.
P3Q4: Houve esclarecimento em relação aos vários conceitos prévios formados no
contexto familiar e em relações pessoais. Houve melhoria na forma de abordagem.
P4Q4: Contribuiu com o conhecimento teórico e possibilitou a prática durante os estágios
curriculares, porém com maior ênfase à saúde reprodutiva.
P5Q4: Houve embasamento científico inicial.
P6Q4: Saúde da mulher.
P7Q4: Sim.
P8Q4: Sim.
5) O Caderno de Atenção Básica - Saúde sexual e saúde reprodutiva provocou alguma
mudança na forma de conduzir suas consultas nas unidades básicas de saúde?
P1Q5: Sim, a importância da ética, empatia e de escutar a abordagem individual e a
familiar, com enfoque ao meio em que o indivíduo está inserido, suas crenças, valores,
dificuldades e desejos, as relações interpessoais no grupo familiar, o papel de cada membro. A
orientação do adolescente, capacitando-o a fazer escolhas melhores e seguras, visando a sua
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saúde sexual e reprodutiva, ao direito a privacidade e ao sigilo. Na abordagem de temas como
anticoncepção, pós-parto, pós aborto, a entender a população em diferentes ciclos de vida, a
abordagem sindrômica.
P2Q5: Sim, ele é o condutor de minhas consultas.
P3Q5: Sim.
P4Q5: Não.
P5Q5: Sim.
P6Q5: Sim.
P7Q5: Sim.
P8Q5: Sim.
6) Você se sente incomodada(o) em trabalhar alguma temática relacionada à sexualidade
em suas consultas? Se sim qual?
P1Q6: Não. É necessário ter habilidade para compreender a pessoa como um todo,
construir a confiança necessária para que o indivíduo sinta-se confortável em dividir assuntos
relacionados a sua sexualidade.
P2Q6: Não, eu sempre socializo a questão de gênero com eles e ambos temos uma
abertura e respeito.
P3Q6: Não.
P4Q6: Não.
P5Q6: Não.
P6Q6: Não.
P7Q6: Saúde sexual masculina.
P8Q6: O homem por vezes é mais reticente na abordagem do tema.
7) Você se sente preparado/o para desenvolver trabalhos sobre esta temática?
P1Q7: Estamos sempre aprendendo porque cada indivíduo é único no que se refere a
sua sexualidade e novos questionamentos surgem constantemente. Além de consultas
individuais, mães de adolescentes, já fiz rodas de conversa com adolescentes que foram muito
enriquecedoras e palestras em escolas.
P2Q7: Sim, pois a sexualidade faz parte do processo de trabalho.
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P3Q7: Sim.
P4Q7: Sim.
P5Q7: Não.
P6Q7: Não, mas fico à vontade quando preciso conversar.
P7Q7: Sim.
P8Q7: Sim, e se tiver alguma dúvida ou precisar de mais informação, eu pesquiso.
8) O que você acha que a (o) paciente deve saber sobre saúde sexual? Por quê? Indique
temas as serem desenvolvidos nas consultas de Planejamento Familiar e Teste Rápido
para mulheres e homens
P1Q8: O paciente deve receber informações acerca da saúde sexual para ser capaz de
escolher relacionamentos satisfatórios, saber como prevenir doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez indesejada, fazer a higiene íntima, ter sexo prazeroso e seguro, sem
violência e, acima de tudo, saber respeitar o próprio corpo.
P2Q8: Primeiro conhecer o corpo e interagir com ele, que ele tenha o domínio sobre
seu corpo, porque assim ele saberá como se proteger e viver bem consigo. No teste rápido, só
se trabalha pela prevenção, mas deveria ser trabalhada a questão de gênero.
P3Q8: É de grande importância, pois o indivíduo passa a ter conhecimento sobre si
mesmo e suas opções, os cuidados que deve ter e também passa a entender o outro. Temas:
conhecendo o próprio corpo; abordagem sobre IST´s; métodos contraceptivos;
aconselhamentos.
P4Q8: O paciente deve receber informações sobre as relações sexuais, sexo seguro,
disfunções sexuais e direitos sexuais.
P5Q8: A mesma deve ter informações sobre métodos contraceptivos; formas de
prevenção e transmissão das DST´s; detecção precoce de DST´s; direitos acerca do
planejamento familiar.
P6Q8: A importância do autocuidado, do uso de camisinha nas relações sexuais, os
benefícios (segurança, compromisso com o outro, vacinação), discutir sexualidade com seu
parceiro.
P7Q8: Todas as informações relativas à sexualidade, em relação à prevenção das
doenças transmissíveis pelo sexo. Também em relação a decidir se querem ou não ter filhos.
Temas: doenças relacionadas ao sexo x sexo seguro; posso decidir se quero ou não ter mais
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filhos?; você sabe o que são testes rápidos?; exames preventivos/ papanicolau/ citologia;
higiene íntima x prevenção de doenças; métodos contraceptivos na adolescência.
P8Q8: Tudo que já não saiba ou que saiba deturpado; [temas:] assegurar o seu
planejamento familiar de forma segura e saudável; testes rápidos, saiba porque fazê-los e a
sua importância no cuidado com a sua saúde; reduzir a incidência de IST´s e as suas
consequências, caso sejam afetados e não sejam tratados; preparar o casal para uma
maternidade e paternidade responsável.