assistencia farmaceutica

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Fascculo V

O PERCURSO HISTRICO

DA ATENO FARMACUTICANO MUNDO E NO BRASIL

REPRESENTAO NO BRASIL

Projeto: Farmcia Estabelecimento de Sade

Farmcia no um simples comrcio

O PERCURSO HISTRICO

DA ATENO FARMACUTICA NO MUNDO E NO BRASIL

Projeto Farmcia Estabelecimento de Sade

Fascculo V2010Blcie Jennifer Balisa-Rocha, Daniel Tenrio da Silva, Divaldo Lyra Jnior, Giselle de Carvalho Brito e Patrcia Melo Aguiar

Farmcia - Estabelecimento de Sade - Fascculo V - 2010

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2010 Conselho Regional de Farmcia do Estado de So Paulo, Organizao Pan-Americana da Sade Todos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte e que no seja para venda ou qualquer fim comercial. Tiragem: 1 edio, 2010 - 50.000 exemplares Elaborao, distribuio e informaes (idioma portugus) CONSELHO REGIONAL DE FARMCIA DO ESTADO DE SO PAULO Rua Capote Valente, 487 - Jardim Amrica CEP: 05409-001 So Paulo/SP - Brasil http://www.crfsp.org.br Diretoria Presidente | Raquel Cristina Delfini Rizzi Vice-presidente | Marcelo Polacow Bisson Diretor-tesoureiro | Pedro Eduardo Menegasso Secretria-geral | Margarete Akemi KishiR Conselheiros lvaro Fvaro Jr., Israel Murakami, Laise Ponce Leon Simes, Marcelo Polacow Bisson, Margarete Akemi KishiR, Maria Fernanda Carvalho, Maria Luiza Rodrigues, Pedro Eduardo Menegasso, Priscila Noqueira C. Dejuste, Raquel Cristina Delfini Rizzi, Rodinei Vieira Veloso, Rogrio G. Frota Cordeiro, Paulo Jos Teixeira (suplente), Paulo Pais dos Santos (suplente) e Rosangela Borges Reina (suplente). Conselheiros Federais Ely Eduardo Saranz Camargo, Ademir Valrio da Silva (suplente) ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE - REPRESENTAO NO BRASIL Setor de Embaixadas Norte, Lote 19 CEP: 70800-400 Braslia/DF - Brasil http://www.paho.org/bra Autores Blcie Jennifer Balisa-Rocha, Daniel Tenrio da Silva, Divaldo Lyra Jnior, Giselle de Carvalho Brito e Patrcia Melo Aguiar. Revisores tcnicos Christophe Rerat, Daniela Caroline de Camargo Verssimo, Luiz Henrique Costa, Marcelo Ferreira C. Cunha, Marcelo Polacow Bisson, Nathlia C. Diniz Silva, Reggiani L. S. Wolfenberg, Simone Fatima Lisot e Comisses Assessoras de Farmcia Clnica do CRF-SP. Reviso ortogrfica Allan Arajo Capa Ana Laura Azevedo Projeto Grfico Robinson Onias Diagramao Ana Laura Azevedo e Karen Watanabe Impresso e acabamento Rettec Artes Grficas Impresso no Brasil / Printed in Brazil Ficha Catalogrfica Brasil. Conselho Regional de Farmcia do Estado de So Paulo. Organizao Pan-Americana da Sade Fascculo V - O Percurso Histrico da Ateno Farmacutica no Mundo e no Brasil / Projeto Farmcia Estabelecimento de Sade / CRF-SP: Conselho Regional de Farmcia do Estado de So Paulo; Organizao Pan-Americana de Sade - Braslia, 2010. Vrios colaboradores Bibliografia ISBN: 978-85-63931-14-6 1. Educao Continuada em Farmcia 2. Ateno sade 3. Assistncia Sade 4. Assistncia Farmacutica 5. Servios Comunitrios de Farmcia 7. Ateno Farmacutica

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ApresentaoNeste quinto fascculo do Projeto Farmcia Estabelecimento de Sade abordado o tema Ateno Farmacutica. A Ateno Farmacutica um importante componente da prtica em Farmcia e tem como base a responsabilidade essencial do farmacutico em contribuir para satisfazer a necessidade de um tratamento farmacolgico adequado, efetivo e seguro atravs do desenvolvimento de aes centradas no paciente. O Conselho Regional de Farmcia do Estado de So Paulo, visa com esse fascculo fornecer ao profissional ferramentas que lhe permitam desenvolver atitudes e habilidades necessrias para o desenvolvimento da Ateno Farmacutica, integrando-se equipe de sade e interagindo mais com o paciente e com a comunidade. Para tanto abordaremos o percurso histrico da Ateno Farmacutica no Mundo e no Brasil, o conceito, os aspectos regulatrios e a qualidade dos servios. Porm, muito mais do que fornecer referenciais conceituais e histricos o contedo apresenta experincias bem sucedidas; o processo de seleo de pacientes e do servio de ateno farmacutica; bem como a estrutura necessria para implantao do servio (incluindo recursos humanos, fsicos e financeiros); indicadores de resultados e modelos. Com a publicao da RDC n 44/09, que regulamenta a prestao da Ateno Farmacutica em Farmcias e Drogarias, surge um marco histrico para a profisso farmacutica no Brasil. Acreditamos que a efetiva implantao dessa prtica e da troca de informaes em sistema multiprofissional contribuir, de forma positiva, para a promoo do uso seguro e racional de medicamentos e para aproximar a farmcia de sua misso primordial que ser um estabelecimento de sade onde o farmacutico poder atuar plenamente como profissional de sade. Com esse fascculo, a Diretoria do CRF-SP, d continuidade ao seu compromisso com a categoria e com a sociedade, de proporcionar instrumentos para que o farmacutico preste servios de qualidade populao. Diretoria do CRF-SP

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ATENO FARMACUTICA RENOVADAOs ltimos anos foram marcados por uma nova perspectiva e uma viso renovada para o desenvolvimento dos sistemas de sade: os sistemas de sade baseados em Ateno Primaria em Sade Renovada. Enfatizando sobre valores fundamentais como o direito ao maior nvel de sade possvel, equidade, solidariedade, sustentabilidade e intersetorialidade, a estratgia busca integrar elementos contextuais, considerar os determinantes sociais e os compromissos derivados dos Objetivos do Milnio (ODM). Com o foco sempre maior de direitos humanos e justia social, a questo do acesso universal a Medicamentos Essenciais se tornou como um dos indicadores chaves para monitorar o compromisso nacional e progressos para atingir o mais alto nvel ou padro de sade nos pases. O acesso a servios de sade de maneira mais geral dependente da qualidade da ateno oferecida. Por isso, a nova estratgia privilegia o paciente e pretende colocar o usurio ao centro do sistema de prestao de servios. Nesse sentido e para garantir a efetividade de intervenes, a promoo do uso racional de medicamento esta fortemente promovida tanto pelo lado do prescritor como do lado do consumidor. O contexto econmico global tem sido desfavorvel nos ltimos anos, a questo de seleo de medicamentos e tecnologias bsicas se tornou de maior relevncia e estudos econmicos so promovidos para evidenciar o custo efetividade das intervenes, para justificar ou priorizar a introduo de novos medicamentos e tecnologias nos sistemas de sade e otimizar os recursos disponveis em sade. Outro aspeto fundamental para melhorar a qualidade da ateno farmacutica o de aumentar o acesso a medicamentos e tecnologias, focado pela estratgia de ateno primaria em sade renovada, traduzido pela necessidade de qualificar os recursos humanos. Evidncias demonstraram a falta de recursos qualificados, incluindo a falta de farmacuticos e a necessidade para outros profissionais da sade preencher esse vazio em temas to importantes e complexos como so os mecanismos de compra ou de dispensao de qualidade. A qualificao imprescindvel para poder mudar a imagem e a percepo que os usurios e a sociedade podem ter da ateno farmacutica, e para aclarar na conscincia coletiva a farmcia como estabelecimento de sade e uma das portas de entrada do sistema e acesso a ateno sade.

Christophe Rrat Coordenador da Unidade de Medicamentos, Tecnologias e Pesquisa - OPAS/OMS

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ndiceAteno Farmacutica1. O Percurso Histrico da Ateno Farmacutica no Mundo e no Brasil..................................... 8 2. Aspectos regulatrios da ATENFAR........................................................................................ 15 3. A ATENFAR e o LEPFS.............................................................................................................. 18 4. Qualidade de servio na Ateno Farmacutica................................................................... 20 5. Estrutura do servio de Ateno Farmacutica........................................................................ 21 6. Seleo dos pacientes............................................................................................................. 23 7. Processo do servio de Ateno Farmacutica...................................................................... 24 8. Ateno farmacutica: indicadores de resultado................................................................... 28 Referncias Bibliogrficas.............................................................................................................. 32 ANEXO 1............................................................................................................................................37 ANEXO 2.......................................................................................................................................... 38 ANEXO 3.......................................................................................................................................... 44 ANEXO 4...........................................................................................................................................45 ANEXO 5.......................................................................................................................................... 46 ANEXO 6.......................................................................................................................................... 47 ANEXO 7............................................................................................................................................ 51

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1. O percurso histrico da ateno farmacutica no mundo e no BrasilO termo Ateno Farmacutica (AtenFar) foi, possivelmente, citado pela primeira vez na literatura em uma publicao de Brodie et al. (1980), como sendo: A definio das necessidades farmacoteraputicas de um dado paciente e a proviso no apenas dos medicamentos requeridos, mas tambm dos servios necessrios (antes, durante e depois) para assegurar uma terapia perfeitamente segura e efetiva. O conceito de Brodie foi um marco, pois incluiu uma ideia de mecanismo de retroalimentao, como meio de facilitar a continuidade dos cuidados por parte de quem os prestava. Com isso, foi aberto um caminho para a otimizao no uso da farmacoterapia (quanto a sua segurana e efetividade), bem como para a maior conscientizao dos profissionais e pacientes. No entanto, o enfoque ainda no estava centrado no paciente, mas na disponibilidade e no acesso ao medicamento (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000). Em 1985, Hepler apontou para uma filosofia de prtica e o estabelecimento de um compromisso para desenvolver a Farmcia como uma verdadeira profisso clnica: Deveria haver um pacto entre os farmacuticos e seus pacientes e, por extenso, entre a profisso farmacutica e a sociedade. Mais adiante, Hepler (1987) destacou que era essencial estabelecer relaes com o paciente, em que o profissional deveria controlar o uso dos medicamentos (com habilidade e conhecimentos adequados). Alm disso, o mesmo autor descreveu o momento de evoluo profissional como a terceira onda da educao farmacutica e props que: Todos os farmacuticos clnicos deveriam mudar a nfase voltada para realizar aes isoladas para os pacientes e aceitassem uma parcela de responsabilidade na ateno dos mesmos. Hepler (1988), mais uma vez, defendeu que a profisso precisava acompanhar as transformaes tecnolgicas, econmicas e sociais que estavam acontecendo no mundo, mas ainda havia diversos aspectos no resolvidos nos mais diversos mbitos. Tambm advogou a reprofissionalizao baseada em quatro pilares: a farmcia como atividade central e com funo social, definio da filosofia profissional e relao com a sociedade, estruturao organizacional da profisso e marketing da nova profisso. O autor ainda definiu que, dependendo do local de trabalho, poderia haver muitas profisses farmacuticas, mas a magnitude do desafio de criar uma nova profisso deveria inspirar admirao, principalmente porque cada fora poderia interagir com a outra e se basear no mesmo princpio filosfico. Na mesma poca, Strand et al. (1988) trabalharam no desenvolvimento do Pharmacists Workup of Drug Therapy (PWDT), processo racional e sistemtico de tomada de deciso em que as necessidades dos pacientes com relao farmacoterapia podem ser abordadas e documentadas de maneira sistemtica e global. Em 1990, foi estabelecido um pacto que compreendeu a viso filosfica de Strand e o pensamento de Hepler sobre a responsabilidade profissional no cuidado aos pacientes, que resultou no conceito clssico de AtenFar e que causou mudanas profundas nos rumos da profisso, como sendo: A proviso responsvel da farmacoterapia com o propsito de obter resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Os resultados definidos seriam a cura da doena, eliminao ou reduo dos sintomas, interrupo ou retardamento da doena e preveno de uma enfermidade ou sintoma. Segundo os autores, para prestar a AtenFar o farmacutico deveria dedicar um tempo para entender as necessidades do paciente quanto a sua sade e doenas, e simultaneamente colaborar com os outros profissionais de sade no planejamento, implementao e monitorizao de uma farmacoterapia segura e efetiva. Assim, foi iniciada a superposio gradativa do paradigma dominante (tecnicista) centrado no medicamento, por um novo paradigma emergente (humanstico e social) centrado no paciente e no desenvolvimento de relaes teraputicas.

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Penna (1990) afirmou que, na dcada de 1990, a AtenFar seria reconhecida como uma estratgia de proviso de servios farmacuticos e de filosofia de reprofissionalizao to revolucionria quanto a Farmcia Clnica foi no passado. No mesmo ano, Strand et al. (1990) propuseram a primeira classificao de Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM), com oito categorias, sem critrios de agrupamento entre elas. Os autores, alicerados no enfoque sistemtico de resoluo de PRM, definiramnos como sendo: uma experincia indesejvel do paciente que envolve a farmacoterapia e que interfere real ou potencialmente com os resultados desejados pelo paciente. Em 1993, a Organizao Mundial da Sade (OMS) reconheceu o papel fundamental do farmacutico no sistema de ateno sade, em colaborao com outros membros da equipe, com respeito a atender s necessidades dos pacientes e assegurar o uso correto dos medicamentos. Em vista disso, a AtenFar passou a ser adotada como nova prtica profissional e foi conceituada como (OMS, 1993): o conjunto de atitudes, valores ticos, funes, conhecimentos, responsabilidades e habilidades do farmacutico na prestao da farmacoterapia, com o objetivo de alcanar resultados teraputicos definidos na sade e qualidade de vida da populao. Alm disso, o paciente o principal beneficirio das aes do farmacutico. Em 1994, o Europharm Forum, entidade de cooperao entre a OMS e diversas organizaes nacionais profissionais, fundou a Pharmaceutical Care Network Europe (PCNE) com o propsito de implantar e desenvolver a prtica da AtenFar na Europa, por intermdio da realizao de projetos multicntricos (BERNSTEN et al., 2001). Em seguida, no Congresso da Federao Internacional dos Farmacuticos (FIP), realizado em Jerusalm, foi discutida a preparao do profissional do terceiro milnio, que teve como concluso que a vocao da farmcia do futuro seria a orientao aos pacientes (BRANDO, 1996). Para tanto, a FIP decidiu se empenhar para difundir a AtenFar, em especial nos pases de terceiro mundo. Outras recomendaes internacionais (OMS, 1996, 1997, 1998) confirmaram a AtenFar como filo-

sofia de prtica e estabeleceram a misso da prtica farmacutica: prover medicamentos, outros servios e produtos de sade, bem como ajudar a sociedade a fazer o melhor uso deles. Embora Hepler e Strand (1990) tenham proposto juntos o conceito de AtenFar mais disseminado no mundo, os mesmos seguiram dois modelos de prtica diferentes. Hepler e seus colaboradores trabalharam com a avaliao de enfermidades crnicas como Diabetes e Asma e desenvolveram estudos denominados projetos TOM (Therapeutic Outcomes Monitoring), usando a asma como piloto (GRAINGER- ROUSSEAU et al., 1997). Strand e seus colaboradores utilizaram o modelo PWDT, que pode ser aplicado sistematicamente para todos os tipos de situaes. Este grupo desenvolveu um projeto de investigao, orientado prtica na farmcia comunitria, denominado Minnesota Pharmaceutical Care Project (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000). Em 1998, o grupo da Universidade de Minnesota (EUA) passou a definir a AtenFar como uma prtica de sade, composta de uma filosofia, um processo de cuidado ao paciente e um sistema de condutas, como sendo (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000): uma prtica na qual o farmacutico assume a responsabilidade de atender s necessidades do paciente no que concerne a sua farmacoterapia e assume o compromisso de resolv-las. De acordo com o conceito, preciso estabelecer uma relao direta com o paciente, para que seja possvel atender s suas necessidades associadas farmacoterapia. Um dos resultados mais positivos obtidos foi a mudana de atitude de mdicos, que passaram a considerar o farmacutico um componente complementar e totalmente necessrio equipe de sade (STRAND et al., 2000). Vale ressaltar que todas estas informaes estavam documentadas no primeiro livro do grupo, intitulado: Pharmaceutical Care Practice: the clinicians guide (1998). Naquela obra, o grupo ainda modificou a classificao (com sete categorias agrupadas em critrios de necessidade, efetividade, segurana e adeso) e o conceito de PRM, como: qualquer evento indesejvel experimentado pelo paciente que envolva ou se suspeite que envolva a farmacoterapia e que interfira

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real ou potencialmente em um resultado esperado. Assim, os PRM passaram a ser entendidos como os eventos indesejveis que interferem ou podem interferir nos resultados esperados , no se restringindo s enfermidades e sintomas, mas tambm a qualquer problema relacionado com os aspectos psicolgicos, fisiolgicos, socioculturais ou econmicos (CIPOLLE et al., 2000). Tambm em 1998, um grupo de farmacuticos se reuniu em Granada (Espanha), para entrar em acordo sobre alguns conceitos e estabelecer critrios comuns de interpretao dos chamados PRM. Assim, no primeiro Consenso de Granada (1998) foi proposto um conceito de PRM que se fundamentou nos conceitos publicados pelo Grupo de Minnesota (1990, 1998): um problema de sade, vinculado com a farmacoterapia e que interfere ou pode interferir nos resultados de sade esperados de um paciente. Quanto classificao dos PRM, foi apresentada uma nova modificao, com apenas seis categorias, agrupadas segundo critrios de necessidade, efetividade e segurana. Um ano depois, o Grupo de Investigao em AtenFar da Universidade de Granada identificou alguns obstculos que afastavam os farmacuticos comunitrios espanhis da nova prtica, como: a falta de formao especfica, desinteresse dos pacientes, escassez de tempo, etc. Com base nas dificuldades encontradas, foi desenvolvida uma metodologia voltada para a realidade daquele pas, chamada Programa Dder, de Implantao do Seguimento do Tratamento Farmacolgico (FAUS, 2000). Esse programa buscou formar os farmacuticos comunitrios para a prtica por meio de um processo de orientao e educao continuada, com a apresentao e comparao de resultados. O mtodo Dder, como o PWDT, pode ser aplicado sistematicamente em todos os tipos de situaes e doenas; alm disso, baseia-se nos problemas de sade apresentados pelo paciente para identificar e resolver os PRM. O Primeiro Consenso em Ateno Farmacutica (2001) entendeu que o termo AtenFar, na Espanha, abrange um nmero amplo de servios e atividades profissionais, denominando o atendimento e acompanhamento personalizado dos pacientes, como se-

guimento do tratamento farmacolgico. Ento, o seguimento do tratamento farmacolgico foi definido como: a prtica profissional na qual o farmacutico se responsabiliza pelas necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos. Isto se realiza mediante a deteco, preveno e resoluo dos PRM. Este servio implica em um compromisso, e deve ser fornecido de forma continuada, sistematizada e documentada, em colaborao com o prprio paciente e com os demais profissionais sanitrios, visando a alcanar resultados concretos que melhorem a sade do paciente. O Segundo Consenso de Granada (2002) centralizou as discusses no conceito e nas modificaes propostas em 1998, buscando oferecer comunidade cientfica e profissional uma ferramenta de trabalho til e atual. Deste modo, os PRM foram definidos como: problemas de sade, entendidos como resultados clnicos negativos derivados da farmacoterapia que so produzidos por diversas causas e tm como consequncia o no alcance do objetivo teraputico desejado ou o aparecimento de efeitos indesejveis. Um ano depois, o grupo liderado por Strand e Cipolle conseguiu fazer com que o governo federal americano reconhecesse oficialmente no Medicare Prescription Drug, Improvement, and Modernization Act of 2003 a cobertura do seguimento da farmacoterapia para beneficirios elegveis (OLIVEIRA et al., 2010). No documento, a AtenFar foi denominada pela primeira vez como manejo da farmacoterapia (Medication Therapy Management - MTM), tendo como meta otimizar os resultados farmacoteraputicos e reduzir o risco de eventos adversos, incluindo reaes adversas a medicamentos. Ademais, os farmacuticos foram citados como os potenciais prestadores de cuidados de sade e do manejo da farmacoterapia, porm no foram os nicos, visto que outros profissionais qualificados tambm poderiam prestar estes cuidados. No entanto, a legislao exige que tanto os farmacuticos quanto quaisquer destes outros profissionais apresentem um certificado de treinamento especfico emitido pela Universidade de Minnesota. preciso enfatizar que esta exigncia consolidou a parceria da Universidade de Minnesota e o plano de sade Fairview Health Services, que

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contratou dez farmacuticos apenas para realizar o manejo da farmacoterapia. O ano de 2004 foi rico em discusses. O grupo de Minnesota lanou a segunda edio do livro Pharmaceutical Care Practice: the clinicians guide, introduzindo o conceito de experincia dos pacientes com medicamentos (Cipolle, Strand, Morley, 2004). A partir de ento, considerou-se que a evoluo do processo de cuidado farmacutico (Pharmacotherapy Workup) passava necessariamente pelo entendimento da tica de cada paciente sobre sua farmacoterapia. Portanto, o problema no era mais relacionado isoladamente ao medicamento, mas maneira com que a cultura, religio, valores ticos, crenas, necessidades, expectativas, entendimentos, preferncias e atitudes do paciente podem influenciar direta ou indiretamente no uso ou no da farmacoterapia. Tal concluso foi fruto da experincia do grupo com AtenFar, o que demonstrou forte impacto nos resultados clnicos e econmicos de cerca de 3.000 pacientes americanos (Strand et al., 2004). Ainda em 2004, Hepler discutiu as diferenas e similitudes da AtenFar e da Farmcia Clnica, frisando que ambas so compatveis e mutuamente complementares. O autor tambm destacou que a AtenFar confirma a proposta original da Farmcia Clnica, especialmente quando percebida como mais uma prtica profissional e no como uma nova cincia da sade. Ademais, discutiu que nenhum dos conceitos de AtenFar cita que o seguimento farmacoteraputico uma atribuio exclusiva do farmacutico. Todavia, devido aos ndices alarmantes de morbimortalidade relacionada aos medicamentos, defende que ambas devem ser a linha mestra da profisso farmacutica e que no devem ser consideradas apenas especializaes opcionais. Para tanto, afirmou que preciso alterar o processo de formao do farmacutico, direcionando o ensino para a prtica clnica e a promoo do uso racional de medicamentos. Na Espanha, em 2006, um Frum sobre PRM y RNM: conceptos y definiciones, debateu a difcil reprodutibilidade dos estudos, em decorrncia da confuso gerada entre o termo PRM e os diversos termos utilizados na literatura: drug-related problems (DRP), drug therapy problems (DTP), me-

dicine-related problems (MRP), medication-related problems (MTP), pharmacotherapy failures, drug treatment failure pharmacotherapy problem e treatment-related problems (FORO, 2006). Isto demonstrou a necessidade de se usar termos biomdicos que assegurassem menor confuso entre os farmacuticos e maior compreenso por parte dos demais profissionais de sade. A partir dessa lgica, os especialistas presentes ao evento consideraram necessrio separar os elementos do uso de medicamentos e os resultados associados medicao. Assim, os PRM foram definidos como situaes que, no processo de uso de medicamentos, causem ou possam causar maior risco de aparecimento de resultados negativos associados medicao (RNM). No ano seguinte, foi realizado o Terceiro Consenso de Granada (2007), que endossou o Frum no que concerne separao de PRM e RNM. Com isto, formou-se o consenso de que os PRM (as causas de RNM) podem ser mltiplos, dinmicos e que todos devem ser listados e considerados, sem exceo e limitao, ao longo da prtica clnica. Outrossim, foi mantida a lgica sistemtica proposta pelo Segundo Consenso para classificao dos agora RNM, todavia a expresso numrica dos mesmos foi abolida, recomendando-se que a estes se faa referncia com uma breve definio. Finalmente, foi necessrio que se ajustasse a definio de seguimento da farmacoterapia para atender aos novos conceitos de PRM e RNM. De acordo com Oliveira et al. (2010), um estudo retrospectivo de 1998 a 2008 no Estado de Minnesota mostrou que os apenas dez farmacuticos do Fairview Health Services proporcionaram melhora significativa dos resultados clnicos de 9.000 pacientes atendidos e geraram uma economia de quase trs milhes de dlares para o plano de sade. Alm disto, os pacientes consideraram os farmacuticos indispensveis para a equipe de cuidados de sade, pois assumem a responsabilidade pelos resultados farmacoteraputicos dos primeiros. Neste ano, o Fairview Health Services est expandindo o nmero de farmacuticos em 30%, com vistas a otimizar mais farmacoterapias e reduzir custos associados aos servios de sade. Tal dado fundamental, considerando-se que esta a primeira iniciativa no mundo e serve de re-

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ferncia para a implantao e consolidao de novos servios de seguimento da farmacoterapia. No Brasil, um dos marcos iniciais para a introduo do novo modelo de prtica foi a realizao do I Concurso de Aconselhamento ao Paciente, em 1995, durante o XVIII Encontro Nacional de Estudantes de Farmcia (ENEF), ocorrido em Natal (RN), pois, a partir da, estudantes e professores envolvidos no processo despertaram para a necessidade de uma mudana de atitude no atendimento ao paciente (LYRA Jr. et al, 2000). Em 1997, o movimento estudantil de farmcia teve um papel de destaque no aprofundamento do debate, com a realizao do XX ENEF, no Recife (PE), cujo tema principal foi A Ateno Farmacutica: instrumento de sade, que vislumbrava uma nova perspectiva para os prximos anos (LYRA JR.; DIAS FILHO, 1997). A AtenFar foi introduzida no Brasil com diferentes vertentes e compreenses, muitas vezes sem diretrizes tcnicas sistematizadas e sem levar em conta as caractersticas do pas e do seu sistema de sade. Por estes motivos, farmacuticos e outras instituies representativas de sade e da categoria, tendo frente a Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS), participaram de um processo de discusso sobre as diversidades dos conceitos e da prtica profissional. Assim, foi organizada uma oficina de trabalho para a apresentao de experincias e reflexes sobre AtenFar, em 2001, na cidade de Fortaleza (CE), sendo que o processo foi complementado por mais duas reunies, em Braslia. Todo o processo, bem como as recomendaes e propostas de estratgias, foram sintetizados no relatrio Promoo da Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos (JARAMILLO et al., 2001). Em 2002, foi lanada a proposta do Consenso Brasileiro, fruto de um processo de construo coletiva que definiu a AtenFar como sendo (OPAS, 2002): Um modelo de prtica farmacutica desenvolvida no contexto da Assistncia Farmacutica. Compreende atitudes, valores ticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na preveno de doenas, promoo e recuperao da sade, de forma integrada equipe de sade. a interao direta do farmacutico com o usurio,

visando a uma farmacoterapia racional e obteno de resultados definidos e mensurveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interao tambm deve envolver as concepes dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a tica da integralidade das aes de sade. Em Florianpolis, no mesmo ano, teve lugar o PrCongresso Experincias em Ateno Farmacutica no Brasil e na Amrica Latina, em conjunto com o 11 Farmapolis, no qual a proposta de consenso foi apresentada publicamente pela primeira vez. Foram apresentados tambm, nesta oportunidade, o Consenso Espanhol de AtenFar, bem como relatos de experincias, inclusive desenvolvidas por universidades (OPAS, 2003). Ainda no mesmo ano, o Frum Farmacutico das Amricas organizou uma reunio de um grupo de especialistas em Caracas (Venezuela) para compartilhar experincias sobre a participao do farmacutico no controle da Hipertenso Arterial Sistmica (HAS). Posteriormente, foi implantado um projeto de AtenFar voltado para esta doena, em pases como a Argentina, Brasil, Costa Rica, Chile e Venezuela. Durante o 3 Congresso de Cincias Farmacuticas do Rio de Janeiro em 2003, foi realizado o I Frum Nacional de Ateno Farmacutica, no qual ocorreu mais um momento para trocas de experincias. Os debates definiram a filosofia e seus princpios, alm das habilidades e competncias essenciais prtica da AtenFar no pas. Alm disso, a proposta de Consenso foi amplamente discutida e apresentada em vrios eventos de mbito regional e nacional. Em 2004, durante o 12 Farmapolis, aconteceu o II Frum Nacional de AtenFar, cujas metas principais foram: dar incio elaborao de uma proposta de agenda de prioridades para a insero da AtenFar no processo de ateno sade, a partir de experincias concretas em diferentes cenrios, estratgias existentes e deliberaes da Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica (OPAS, 2004). No segundo semestre de 2005, os Departamentos de Assistncia Farmacutica (DAF) e de Cincia e Tecnologia (DECIT) do Ministrio da Sade e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) lanaram o Edital n 054/2005, que buscou contribuir para a produo do conheci-

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mento cientfico na rea de Assistncia Farmacutica de forma a aprimorar sua gesto no mbito do SUS e promover a ampliao do acesso da populao a medicamentos de qualidade e seu uso racional. O referido edital pode ser considerado um marco histrico, pois abriu as portas do fomento pesquisa no pas para a rea de AtenFar. O edital tinha como meta o desenvolvimento de novas metodologias adaptadas realidade nacional, assim como a avaliao da eficcia e efetividade das prticas em andamento. Assim, foram aprovados os 11 primeiros projetos de pesquisa (15% do total de projetos aprovados no edital) na rea, de dez diferentes estados, abrangendo todas as regies do pas. Para referendar os resultados e reafirmar o interesse no desenvolvimento deste novo modelo de prtica profissional, o DAF realizou, em fevereiro de 2006, na cidade de Braslia, o Frum de Ensino e Pesquisa em Ateno Farmacutica, no mbito do SUS (BRASIL, 2007). Este evento teve como metas: dar conhecimento e formao aos aprovados no Edital MCT-CNPq/MS-SCTIEDECIT- DAF n 54/2005, sobre as reas essenciais para implementao da AtenFar, no mbito do SUS; promover intercmbio entre os pesquisadores, no sentido de formar uma rede nacional de investigao na rea e discutir aspectos metodolgicos relevantes para a avaliao do impacto da AtenFar e a sua consolidao como prtica, nas citadas reas essenciais. Em maio do mesmo ano foi realizado, tambm em Braslia, o Seminrio Internacional para Implantao da Ateno Farmacutica no SUS (BRASIL, 2009). Este foi mais um marco estratgico nas iniciativas de promoo do uso racional de medicamentos no pas, pois reuniu ministrantes internacionais como Linda Strand e Amanda Brummel (dos EUA), Manuel Machuca e Fernando Martinez-Martinez (da Espanha), Alina Snchez (de Cuba) e Jos Luiz Castro (da Argentina). Alm disso, foram apresentados quase 90 relatos de experincias, provenientes de 16 Estados e do Distrito Federal, o que demonstrou o vertiginoso crescimento desta nova rea da profisso farmacutica no pas. No incio de 2007, o Conselho Regional de Farmcia do Estado de So Paulo (CRF-SP) promoveu a realizao do Seminrio Internacional de Dispensao

e Ateno Farmacutica do Estado de So Paulo. O evento contou com cerca de 200 participantes e a presena de palestrantes nacionais e internacionais como o vice-presidente da FIP, Dick Tromp (Holanda), Ema Paulino (Portugal) e Elisabeth Ravera (Uruguai). No evento foram apresentados diversos relatos de experincias no Brasil e exterior, assim como foram debatidas as novas competncias necessrias formao dos futuros farmacuticos e as estratgias para a consolidao da dispensao e AtenFar no sculo XXI. No ano de 2009, como resultado dos eventos realizados em 2006 e apoio da CAPES, foi proposta a criao da Rede Brasileira de Assistncia Farmacutica e de Vigilncia em Medicamentos (REBRAVIME). Integram a rede pesquisadores, professores e profissionais da rea, com o objetivo de constituir parcerias que levem formao de grupos de pesquisa qualificados. A associao desses pesquisadores tambm visa implantao de um Programa de PsGraduao em Assistncia Farmacutica e Vigilncia de Medicamentos em 2011, o que essencial para o desenvolvimento cientfico, dentre outras, da rea de AtenFar. Ainda em 2009, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) publicou a ResoluoRDC n 44 que dispe sobre Boas Prticas Farmacuticas para o controle sanitrio do funcionamento, da dispensao e da comercializao de produtos e da prestao de servios farmacuticos em farmcias e drogarias, que, de forma indita, regulamenta a prtica da AtenFar no Brasil.

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2. Aspectos regulatrios da ATENFARDe acordo com a RDC n 44/09, entende-se por Boas Prticas Farmacuticas: o conjunto de tcnicas e medidas que visam assegurar a manuteno da qualidade e segurana dos produtos disponibilizados e dos servios prestados em farmcias e drogarias, com o fim de contribuir para o uso racional desses produtos e a melhoria da qualidade de vida dos usurios. Dentre outros aspectos, a referida Resoluo normatizou: ... Do Ambiente Destinado aos Servios Farmacuticos Art. 15 - O ambiente destinado aos servios farmacuticos deve ser diverso daquele destinado dispensao e circulao de pessoas em geral, devendo o estabelecimento dispor de espao especfico para esse fim. 1 - O ambiente para prestao dos servios que demandam atendimento individualizado deve garantir a privacidade e o conforto dos usurios, possuindo dimenses, mobilirio e infra-estrutura compatveis com as atividades e servios a serem oferecidos. ... CAPTULO VI DOS SERVIOS FARMACUTICOS Art. 61 - Alm da dispensao, poder ser permitida s farmcias e drogarias a prestao de servios farmacuticos conforme requisitos e condies estabelecidos nesta Resoluo. 1 - So considerados servios farmacuticos passveis de serem prestados em farmcias ou drogarias a ateno farmacutica e a perfurao de lbulo auricular para colocao de brincos. 2 - A prestao de servio de ateno farmacutica compreende a ateno farmacutica domiciliar, a aferio de parmetros fisiolgicos e bioqumico e a administrao de medicamentos. ... Seo I Da Ateno Farmacutica Art. 63 - A ateno farmacutica deve ter como objetivos a preveno, deteco e resoluo de problemas relacionados a medicamentos, promover o uso racional dos medicamentos, a fim de melhorar a sade e qualidade de vida dos usurios. 1 - Para subsidiar informaes quanto ao estado de sade do usurio e situaes de risco, assim como permitir o acompanhamento ou a avaliao da eficcia do tratamento prescrito por profissional habilitado, fica permitida a aferio de determinados parmetros fisiolgicos e bioqumico do usurio, nos termos e condies desta Resoluo. 2 - Tambm fica permitida a administrao de medicamentos, nos termos e condies desta Resoluo. Art. 64 - Devem ser elaborados protocolos para as atividades relacionadas ateno farmacutica, includas referncias bibliogrficas e indicadores para avaliao dos resultados. 1 - As atividades devem ser documentadas de forma sistemtica e contnua, com o consentimento expresso do usurio. 2 - Os registros devem conter, no mnimo, informaes referentes ao usurio (nome, endereo e telefone), s orientaes e intervenes farmacuticas realizadas e aos resultados delas decorrentes, bem como informaes do profissional responsvel pela execuo do servio (nome e nmero de inscrio no Conselho Regional de Farmcia). Art. 65 - As aes relacionadas ateno farmacutica devem ser registradas de modo a permitir a avaliao de seus resultados. Pargrafo nico - Procedimento Operacional Padro dever dispor sobre a metodologia de avaliao dos resultados. Art. 66 - O farmacutico deve orientar o usurio a buscar assistncia de outros profissionais de sa-

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de, quando julgar necessrio, considerando as informaes ou resultados decorrentes das aes de ateno farmacutica. Art. 67 - O farmacutico deve contribuir para a farmacovigilncia, notificando a ocorrncia ou suspeita de evento adverso ou queixa tcnica s autoridades sanitrias. Subseo I Da Ateno Farmacutica Domiciliar Art. 68 - A ateno farmacutica domiciliar consiste no servio de ateno farmacutica disponibilizado pelo estabelecimento farmacutico no domiclio do usurio, nos termos desta Resoluo. Pargrafo nico - A prestao de ateno farmacutica domiciliar por farmcias e drogarias somente permitida a estabelecimentos devidamente licenciados e autorizados pelos rgos sanitrios competentes. Subseo II Da Aferio Dos Parmetros Fisiolgicos e Bioqumico Permitidos Art. 69 - A aferio de parmetros fisiolgicos ou bioqumico oferecida na farmcia e drogaria deve ter como finalidade fornecer subsdios para a ateno farmacutica e o monitoramento da terapia medicamentosa, visando melhoria da sua qualidade de vida, no possuindo, em nenhuma hiptese, o objetivo de diagnstico. 1 - Os parmetros fisiolgicos cuja aferio permitida nos termos desta Resoluo so presso arterial e temperatura corporal. 2 - O parmetro bioqumico cuja aferio permitida nos termos desta Resoluo a glicemia capilar. 3 - Verificada discrepncia entre os valores encontrados e os valores de referncia constantes em literatura tcnico-cientfica idnea, o usurio dever ser orientado a procurar assistncia mdica. 4 - Ainda que seja verificada discrepncia entre os valores encontrados e os valores de referncia, no podero ser indicados medicamentos ou alterados os medicamentos em uso pelo paciente quando estes

possuam restrio de venda sob prescrio mdica. Art. 70 - As medies do parmetro bioqumico de glicemia capilar devem ser realizadas por meio de equipamentos de autoteste. Pargrafo nico - A aferio de glicemia capilar em farmcias e drogarias realizadas por meio de equipamentos de autoteste no contexto da ateno farmacutica no considerada um Teste Laboratorial Remoto - TLR, nos termos da legislao especfica. Art. 71 - Para a medio de parmetros fisiolgicos e bioqumico permitidos devero ser utilizados materiais, aparelhos e acessrios que possuam registro, notificao, cadastro ou que sejam legalmente dispensados de tais requisitos junto a Anvisa. Pargrafo nico - Devem ser mantidos registros das manutenes e calibraes peridicas dos aparelhos, segundo regulamentao especfica do rgo competente e instrues do fabricante do equipamento. Art. 72 - Os Procedimentos Operacionais Padro (POPs) relacionados aos procedimentos de aferio de parmetros fisiolgicos e bioqumico devem indicar claramente os equipamentos e as tcnicas ou metodologias utilizadas, parmetros de interpretao de resultados e as referncias bibliogrficas utilizadas. Pargrafo nico - O Procedimento Operacional Padro (POP) deve incluir os equipamentos de proteo individual (EPIs) a serem utilizados para a medio de parmetros fisiolgicos e bioqumico, assim como trazer orientaes sobre seu uso e descarte. Art. 73 - Os procedimentos que gerem resduos de sade, como materiais perfurocortantes, gaze ou algodo sujos com sangue, devero ser descartados conforme as exigncias de legislao especfica para Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade. ... Seo III Da Declarao de Servio Farmacutico Art. 81 - Aps a prestao do servio farmacutico deve ser entregue ao usurio a Declarao de Servio Farmacutico.

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1 - A Declarao de Servio Farmacutico deve ser elaborada em papel com identificao do estabelecimento, contendo nome, endereo, telefone e CNPJ, assim como a identificao do usurio ou de seu responsvel legal, quando for o caso. 2 - A Declarao de Servio Farmacutico deve conter, conforme o servio farmacutico prestado, no mnimo, as seguintes informaes: I - ateno farmacutica: a) medicamento prescrito e dados do prescritor (nome e inscrio no conselho profissional), quando houver; b) indicao de medicamento isento de prescrio e a respectiva posologia, quando houver; c) valores dos parmetros fisiolgicos e bioqumico, quando houver, seguidos dos respectivos valores considerados normais; d) frase de alerta, quando houver medio de parmetros fisiolgicos e bioqumico: ESTE PROCEDIMENTO NO TEM FINALIDADE DE DIAGNSTICO E NO SUBSTITUI A CONSULTA MDICA OU A REALIZAO DE EXAMES LABORATORIAIS; e) dados do medicamento administrado, quando houver: 1. nome comercial, exceto para genricos; 2. denominao comum brasileira; 3. concentrao e forma farmacutica; 4. via de administrao; 5. nmero do lote; e 6. nmero de registro na Anvisa. f) orientao farmacutica; g) plano de interveno, quando houver; e h) data, assinatura e carimbo com inscrio no Conselho Regional de Farmcia (CRF) do farmacutico responsvel pelo servio. ... 3 - proibido utilizar a Declarao de Servio Farmacutico com finalidade de propaganda ou publicidade ou para indicar o uso de medicamentos para os quais exigida prescrio mdica ou de outro profissional legalmente habilitado. 4 - A Declarao de Servio Farmacutico deve ser emitida em duas vias, sendo que a primeira deve ser entregue ao usurio e a segunda permanecer arquivada no estabelecimento.

Art. 82 - Os dados e informaes obtidos em decorrncia da prestao de servios farmacuticos devem receber tratamento sigiloso, sendo vedada sua utilizao para finalidade diversa prestao dos referidos servios. Art. 83 - Os Procedimentos Operacionais Padro (POPs) relacionados devem conter instrues sobre limpeza dos ambientes, uso e assepsia dos aparelhos e acessrios, uso e descarte dos materiais perfurocortantes e anti-sepsia aplicada ao profissional e ao usurio. Art. 84 - A execuo de qualquer servio farmacutico deve ser precedida da anti-sepsia das mos do profissional, independente do uso de Equipamentos de Proteo Individual (EPI). ... CAPTULO VIII DAS DISPOSIES FINAIS E TRANSITRIAS Art. 90 - vedado utilizar qualquer dependncia da farmcia ou da drogaria como consultrio ou outro fim diverso do licenciamento. Pargrafo nico - vedada a oferta de outros servios que no estejam relacionados com a dispensao de medicamentos, a ateno farmacutica e a perfurao de lbulo auricular, nos termos desta Resoluo.

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3. A ATENFAR e o LEPFSAtualmente, a AtenFar foco de pesquisa do Laboratrio de Ensino e Pesquisa em Farmcia Social da Universidade Federal de Sergipe (LEPFS/ UFS) liderado pelos pesquisadores prof. Dr. Divaldo Pereira de Lyra Jr. e prof. Dr. Wellington Barros da Silva. O LEPFS uma iniciativa acadmica estabelecida em 2007, oferecendo uma plataforma de capacitao e comunicao para os investigadores, estudantes e profissionais da sade com o intuito de promover o desenvolvimento e execuo de projetos na rea da Farmcia Social, com destaque para o desenvolvimento de programas-piloto de AtenFar nos servios pblico e privados de sade. A seguir, alguns resumos dos estudos com AtenFar produzidos pelo grupo de pesquisa do LEPFS. de Ribeiro Preto. Atualmente, alguns destes farmacuticos esto perpetuando a prtica introduzida na regio. Palavras-chave: Hipertenso Arterial. Idosos. Ateno Farmacutica.

3.2 BALISA-ROCHA, B. J. Avaliao do impacto de um programa de acompanhamento farmacoteraputico em idosos portadores de Diabetes Mellitus tipo II. 2009. 123f. Dissertao (Mestrado em Cincias da Sade), Universidade Federal de Sergipe, 2010.Objetivo: Avaliar o impacto de um programa de acompanhamento farmacoteraputico em um grupo de idosos com Diabetes Mellitus (DM) tipo II assistidos na Farmcia Popular de Aracaju (SE). Metodologia: foi realizado um estudo longitudinal, prospectivo e com interveno no perodo de fevereiro a novembro de 2009, na Farmcia Popular do Brasil, no municpio de Aracaju, Estado de Sergipe. Foi obtida uma amostra por convenincia e no probabilstica com faixa etria entre 60 e 75 anos, de ambos os gneros. Foram agendadas consultas mensais durante o perodo de dez meses e as nove etapas de boa prtica da AtenFar foram seguidas. Ao longo dos atendimentos, foram obtidos dados sociodemogrficos, farmacoteraputicos e clnicos (Hemoglobina Glicosilada HbA1c, Glicemia Capilar, PA, IMC e Circunferncia da Cintura). A avaliao da Qualidade de Vida foi realizada por um instrumento genrico denominado Medical Outcomes Studies 36 - item Short Form - SF36. No total, 50 pacientes foram convidados a participar do programa de Atenfar; destes, 34 completaram o estudo (taxa de abandono = 32%). A mdia de idade dos idosos foi 65.94 4,73 anos, sendo 18 (52,94%) participantes do gnero feminino. A mdia de medicamentos por idoso foi de 6,23 ( 2,20), 117 PRM foram identificados, 101 PRM foram resolvidos (86,32%). Os pacientes obtiveram diferena significativa das medidas de HbA1c,

3.1 Lyra Jnior DP, Marcellini PS, Pel IR. Effect of pharmaceutical care intervention on blood pressure of elderly outpatients with hypertension. The Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences. 2008;44 (3).Efeito de intervenes de ateno farmacutica na presso arterial de pacientes idosos com hipertenso. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das intervenes farmacuticas na preveno e soluo de problemas relacionados farmacoterapia, ao ndice de massa corporal (IMC) e ao controle da presso arterial (PA) de um grupo de pacientes idosos portadores de hipertenso arterial. O grupo de 30 pacientes assistidos na farmcia de uma unidade bsica de sade, em Ribeiro Preto (SP), foi acompanhado por 12 meses. No estudo, foi observado que as intervenes do programa de AtenFar otimizaram o uso dos medicamentos, reduziram os problemas de sade causados pelos medicamentos e melhoraram as condies de sade dos pacientes. As intervenes influenciaram tanto no cuidado prestado aos idosos como na obteno de resultados de sade positivos. Depois desse estudo, o pesquisador ministrou um curso de capacitao sobre a prtica da AtenFar para 38 farmacuticos da Secretaria Municipal de Sade

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Glicemia Capilar, PA (sistlica e diastlica) e Circunferncia da Cintura, antes e depois das intervenes farmacuticas (p < 0,05). Os domnios da Qualidade de Vida avaliados pelo SF36: capacidade funcional, aspectos fsicos, dor, estado geral de sade, vitalidade e sade mental tiveram diferena significativa entre a linha de base e avaliao final. Concluso: As intervenes farmacuticas destinadas a resolver e prevenir PRM, associadas s intervenes educativas, so fatores que contribuem para a conscientizao dos idosos sobre o DM e suas complicaes. Assim, a corresponsabilizao e a participao ativa dos idosos podem ter melhorado o uso da farmacoterapia e os seus resultados clnicos e humansticos. Palavras-chave: acompanhamento farmacoteraputico; ateno farmacutica; diabetes mellitus.

3.3 AGUIAR, P. M. Impacto de um programa de Ateno Farmacutica nos resultados clnicos de um grupo de pacientes idosos com hipertenso no controlada. 2009. 141f. Dissertao (Mestrado em Cincias Farmacuticas), Universidade Federal de Sergipe, 2010.A idade avanada acarreta maior risco de morbidade e mortalidade por eventos cardiovasculares. Apesar disto, os idosos compreendem a faixa etria com menores ndices de controle da hipertenso. Estudos tm demonstrado que o envolvimento do farmacutico no cuidado de pacientes com hipertenso melhora o controle da PA. Assim, o estudo teve por objetivo avaliar o efeito da AtenFar fornecida a pacientes idosos com hipertenso no controlada. Um ensaio clnico no controlado foi realizado em uma Farmcia Popular do Brasil de Aracaju. Neste estudo, foram includos pacientes com diagnstico de hipertenso essencial, ambos os gneros, com idade entre 60 e 75 anos e PA 140/90 mmHg ou hipertenso sistlica isolada (PA sistlica 140 mmHg e PA diastlica