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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO EM ENFERMAGEM ANDRESA BRAUN NOVACZYK ASSISTÊNCIA À SAÚDE INTEGRAL DA CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DA POLÍTICA NACIONAL ATUAL CUIABÁ - MT 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

MESTRADO EM ENFERMAGEM

ANDRESA BRAUN NOVACZYK

ASSISTÊNCIA À SAÚDE INTEGRAL DA CRIANÇA

NA ATENÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DA

POLÍTICA NACIONAL ATUAL

CUIABÁ - MT

2008

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ANDRESA BRAUN NOVACZYK

ASSISTÊNCIA À SAÚDE INTEGRAL DA CRIANÇA NA

ATENÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DA POLÍTICA NACIONAL

ATUAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para obtenção do título de mestre em Enfermagem. Área de Concentração: Processos e Práticas em saúde e em enfermagem Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Munhoz Gaíva

Cuiabá - MT 2008

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO PARCIAL OU TOTAL DESTE TRABALHO, POR MEIO DE QUALQUER FONTE CONVENCIONAL OU ELETRÔNICA, PARA FINS DE ESTUDO E DE PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA

N935a Novaczyk, Andresa Braun

Assistência à saúde integral da criança na atenção básica: uma análise da política nacional atual / Andresa Braun Novaczyk. – 2008.

109p. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal

de Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Programa de Pós-graduação em Enfermagem, Área de Concentração: Processos e Práticas em Saúde e em Enfermagem, 2008.

“Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Munhoz Gaíva”.

CDU –613.95

Índice para Catálogo Sistemático 1. Crianças – Saúde – Assistência 2. Crianças – Saúde e higiêne 3. Crianças – Políticas de saúde 4. Atenção Primária à Saúde 5. Políticas de Saúde 6. Crianças – Saúde – Atenção básica

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, pela força e por me proporcionar a realização de dois grandes

projetos de vida...

Ao meu marido Acir, pelo amor, pelo carinho, pelo apoio e pela compreensão de

minhas ausências. Acir, você que é meu grande incentivador, esta conquista é

nossa!

Ao meu filho Enzo, que passou a existir em nossas vidas no mesmo momento em

que eu realizava o sonho de entrar no curso de mestrado, fazendo com que eu

vivenciasse a felicidade em sua plenitude, e que compartilhou comigo todos os

sentimentos possíveis durante esta trajetória, saibas que foi a maior razão de

minha força e determinação na busca deste ideal.

Aos meus pais, meu porto seguro, pelo amor incondicional, por me fazer entender

que o estudo nos engrandece, e que mesmo distantes, permanecem tão presentes

em minha vida, me incentivando, me apoiando e me encorajando a lutar pelos

meus sonhos.

Aos meus irmãos Juliano e Alexandra pela amizade, pelo amor que nos une,

mesmo estando cada um em um lugar lutando por seus projetos de vida.

À Maria Aparecida Munhoz Gaíva, minha orientadora, pela compreensão de

minhas limitações, pela paciência, pelos ensinamentos, por me fazer entender que

eu era capaz de desenvolver este estudo e pela amizade.

A todas minhas colegas do mestrado, vocês foram muitos especiais. Obrigada

pela convivência, pelos momentos de descontração, pela amizade que nasceu

nestes dois anos.

A minha colega Lurdinha, que juntas, em conversas quase que diárias,

compartilhamos conhecimentos, alegrias, por vezes desmotivação e agora esta

nossa vitória.

À Julia, que com muito amor e carinho cuidou do meu filhote, muitas vezes me

substituindo na minha ausência, para que eu pudesse concretizar mais este sonho.

Júlia, obrigada pelo carinho!

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“O futuro não é um lugar qualquer para onde

estamos indo, mas que estamos construindo. Os caminhos

que a ele conduzem não precisam ser encontrados, mas

criados, e o ato de criá-los transforma tanto o criador

quanto a sua destinação”.

John Schaar

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NOVACZYK, Andresa Braun. Assistência à saúde integral da criança na atenção básica: uma análise da política nacional atual. Dissertação. (Mestrado em Enfermagem) – Curso de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Cuiabá, 109 p. Orientadora: Dr.ª Maria Aparecida Munhoz Gaíva

RESUMO Este estudo tem como objetivo discutir as proposições relativas à assistência à criança no âmbito da atenção básica, presentes nas políticas nacionais para a infância a partir da perspectiva da integralidade. Recorreu-se à analise documental de proposições políticas referentes à atenção básica e à infância, sendo analisadas a Política Nacional de Atenção Básica, a estratégia Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância e a Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil. Para o tratamento dos dados documentais optou-se pela técnica de análise de conteúdo, o que possibilitou identificar as proposições relativas ao atendimento à criança na atenção básica através das seguintes dimensões: tecnologias assistenciais e tecnologias inter- relacionais. Nas tecnologias assistências, foram identificadas as seguintes categorias: ações de promoção da saúde, ações educativas, ações de vigilância em saúde e ações clínicas. Nas tecnologias inter-relacionais, identificaram-se os seguintes eixos: humanização do cuidado, acolhimento, vínculo e responsabilização e trabalho em equipe. Estes documentos, embora apontem para a mudança do modelo de atenção à saúde da criança, ainda deixam claras características do modelo médico-hegemônico, principalmente a estratégia AIDPI, que prioriza a criança doente. Identificaram-se inúmeras contradições entre os documentos analisados e o que propõe o SUS e de acordo com a perspectiva da integralidade. De um modo geral, os documentos analisados priorizam ações de prevenção e a recuperação da saúde da população infantil. Para que as ações propostas se concretizem, elas devem ser conjuntas e pactuadas pelos profissionais da área da saúde em todos os níveis de atenção. As finalidades dessas propostas giram em torno de um novo modelo de assistência à criança para a atenção básica, bem como da redução da mortalidade infantil e criação de uma rede de assistência integral e humanizada. As transformações e avanços conquistados no âmbito da atenção à saúde são imensos desde a instituição do SUS e, especificamente, após consolidação do PSF como eixo reorientador do modelo de atenção básica; porém, pautando-se na perspectiva da integralidade, na atenção à saúde da criança, ainda se tem um longo caminho a percorrer, que requer o esforço coletivo por parte dos profissionais, gestores e comunidade. Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Políticas de Saúde; Saúde da Criança.

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NOVACZYK, Andresa Braun. Assistance to full health of the child in basic care: an analysis of the current national policy. Dissertation. (Master in Nursing) - Post-Graduate Course in Nursing, Federal University of Mato Grosso, School of Nursing, Cuiaba, 109 p. Advisor: Dr. Maria Aparecida Munhoz Gaíva

ABSTRACT This study aims to discuss the proposals on the assistance to the child in the context to basic care, present in national policies related to childhood from the perspective of the whole. Drew on to the review of documentary propositions policies regarding care and childhood, and analyzed the National Policy basic care, the strategy Attention Integrated Management of Childhood Illness and Agenda of Commitments for the Integral Health of the Child and Reduction of Infant Mortality . For the treatment of the data documentary opted for the technical content of analysis, which also identified the propositions concerning the care of children in care through the following dimensions: assistive technologies and inter-relational technologies. The technology assists were identified the following categories: actions to promote health, educational actions, suits, actions and surveillance in health clinics. In the inter-relational technologies identified the following areas: humanization of care, host, bond and accountability and teamwork. These documents, while pointing to the change of the model of primary health care of the child, yet no longer clear characteristics of the medical model-hegemonic, especially the AIDPI strategy, which prioritizes the child sick. It was identified numerous contradictions among the documents reviewed in proposing the SUS and in accordance with the view of the entirety. Generally, the documents analyzed prioritize actions of prevention and recovery of the health of the child population. For the proposed actions are realised, they must be joint and accepted by health care professionals at all levels of care. The purpose of these proposals revolve around a new model of care for the child care, and the reduction of child mortality and creating a network of assistance in full and humanized. The changes and advances achieved in the context of health care are immense since the imposition of SUS and, specifically, after consolidation of PSF as reguidance axis of the model of basic care; but ruled in the perspective of completeness, in the care of the health of the child still has to be a long way to go, which requires the collective effort on the part of professionals, managers and community. Keywords: Primary Health Care, Health Policy; Child Health.

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NOVACZYK, Andresa Braun. Asistencia a la Salud Integral del Niño en la Atención Básica: una análisis de la política nacional actual. Disertación. (Máster en la Enfermería) – Curso de Postgrado en Enfermería, Universidad Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 109p Orientadora: Dr. Maria Aparecida Munhoz Gaíva

RESUMÉN Este estudio tiene como objetivo discutir las proposiciones relativas a la asistencia a el niño en el ámbito de la atención básica presentes en las políticas nacionales para la infancia a partir de la perspectiva de la integralidad. Se recurrió a la análisis documental de proposiciones políticas referentes a la atención básica y la infancia, siendo analizadas la Política Nacional de Atención Básica, la estrategia Atención Integrada a las enfermadades prevalentes en la infancia y la Agenda de Compromisos para la Salud Integral del Niño y Redución de la Mortalidad Infantil. Para el tratamiento de los datos documentales optouse por la técnica de análisis de contenido, lo que permitió identificar las proposiciones relativas al atendimiento a los niños en la atención básica a através de las seguintes dimensiones: tecnologias asistenciales y tecnologias inter relacionales. En las tecnologias asistenciales fueran identificadas las seguintes categorias: acciones de promoción de la salud, acciones educativas, acciones de vigilancia en salud y acciones clínicas. En las tecnologias inter relacionales identificouse los seguintes ejes: humanización del cuidado, acogida, vinculo y responsabilización y trabajo en equipo. Estes documentos, aunque apunten la mudanza del modelo de atención a la salud del niño aún dejan claras características del modelo médico hegemonico, principalmente la estrategia AIDPI que dá prioridad el niño enfermo. Identificouse inúmeras contradiciones entre los documentos analizados y lo que propone el SUS y de acuerdo con la perspectiva de la integralidad. De un modo general los documentos analizados priorizan acciones de prevención y la recuperación de la salud de la población infantil. Para que las acciones propuestas concretizense, ellas devem ser conjuntas y pactadas por los profisionales de la área de la salud en todos los niveles de atención. Las finalidades de esas propuestas giran en torno de un nuevo modelo de asistencia a el niño para la atención básica, bien como la reducción de la mortalidad infantil y creación de una red de asistencia integral y humanizada. Las transformaciones y avances conquistados en el ámbito de la atención a la salud són inmensos desde la instituicióin del SUS, y especificamente después de la consolidación del PSF como eje reorientador del modelo de atención básica; sin embargo, pautandose en la perspectiva de la integralidad, en la atención a la salud del niño aún se tiene un largo camino a recorrer, que requiere el esfuerzo colectivo por parte de los profisinales, gestores e comunidad. Palabras Clave: Atención Primaria a la Salud; Políticas de Salud; Salud del Nino

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LISTA DE ABREVIATURAS

AIDPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância

ESF Equipe Saúde da Família

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

OPAS Organização Pan Americana de Saúde

PACS Programa Agentes Comunitários de Saúde

PAISC Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança

PNAB Política Nacional de Atenção Básica

PNH Política Nacional de Humanização

PSF Programa Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

TRO Terapia de Reidratação Oral

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

USF Unidade Saúde da Família

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 11

2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 27

2.1 GERAL........................................................................................................ 27

2.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................ 27

3 METODOLOGIA DO ESTUDO .................................................................... 28

3.1 TIPO DE ESTUDO ..................................................................................... 28

3.2 FONTE DE INFORMAÇÕES .................................................................... 30

3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................ 31

4 DOCUMENTOS ANALISADOS .................................................................... 34

4.1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA - PORTARIA 648/GM,

DE 28 DE MARÇO DE 2006 (BRASIL, 2006A).................................................. 34

4.2 ESTRATÉGIA ATENÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS

PREVALENTES NA INFÂNCIA (BRASIL, 2003) ............................................. 35

4.3 AGENDA DE COMPROMISSOS PARA A SAÚDE INTEGRAL DA

CRIANÇA E REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL (BRASIL, 2004A)37

5 PROPOSIÇÕES TECNOLÓGICAS PARA A ATENÇÃO À SAÚDE DA

CRIANÇA................................................................................................................. 39

5.1 TECNOLOGIAS ASSISTENCIAIS........................................................... 39

5.1.1 Ações de Promoção da Saúde ................................................................ 39 5.1.2 Ações Educativas ................................................................................... 47 5.1.3 Ações de Vigilância em Saúde............................................................... 55 5.1.4 Ações Clínicas........................................................................................ 68

5.2 TECNOLOGIAS INTER-RELACIONAIS ................................................ 77

5.2.1 Humanização do Cuidado ...................................................................... 78 5.2.2 Acolhimento........................................................................................... 81 5.2.3 Vínculo e Responsabilização ................................................................. 88 5.2.4 Trabalho em Equipe ............................................................................... 91

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 95

7 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 101

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1 INTRODUÇÃO

Este estudo pretende discutir as proposições políticas que orientam

a assistência à população infantil na atenção básica, a partir da perspectiva da

integralidade.

A criança tem sido alvo de muitos estudos e destaque nas

proposições políticas, devido a sua vulnerabilidade e por considerar-se que,

contribuindo no atendimento às suas necessidades de saúde, maior a probabilidade

dela atingir a idade adulta com qualidade de vida.

A atenção à saúde prestada à criança tem sido prioridade no âmbito

governamental também em função dos índices de mortalidade infantil, que, embora

tenham sido reduzidos nos últimos anos, ainda permanecem elevados em algumas

regiões do Brasil.

Ao longo do tempo, percebe-se que, em cada período histórico,

houve inúmeras transformações nas diretrizes das políticas de saúde voltadas à

população infantil. Essas diretrizes partem de um importante indicador, a

mortalidade infantil, que reflete não apenas o nível de saúde, mas a qualidade de vida

da população.

Mais recentemente, a taxa de mortalidade de menores de cinco

anos vem sendo incorporada como um indicador fundamental do desenvolvimento

humano e, por conseguinte, um importante indicador da situação da infância em um

país. A mortalidade infantil reflete o resultado final do processo de desenvolvimento

da criança, no qual participam uma grande variedade de fatores: a saúde nutricional e

o conhecimento das mães sobre a saúde; o nível de imunização e o uso da Terapia de

Reidratação Oral (TRO); a disponibilidade de serviços de saúde materno-infantil, de

renda e de alimentos, de água limpa e saneamento básico; e a segurança do meio

ambiente da criança (UNICEF, 1998).

Os índices de mortalidade infantil no Brasil, embora tenham sido

reduzidos na última década, ainda são altos. Em 1980, segundo o Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), o índice era de 82,8 óbitos por mil nascidos vivos;

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em 2006, ano da estimativa mais recente, esse índice chegou a 20 mortes por mil

nascidos vivos. O Brasil melhorou 27 posições no ranking da taxa de mortalidade na

infância (menores de 5 anos), segundo o relatório Situação Mundial da Infância 2008

– Sobrevivência Infantil, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF). O relatório avalia a situação geral da primeira infância (crianças de até 6

anos de idade) em 194 países. (UNICEF, 2007).

Apesar da acentuada redução da mortalidade infantil, resultado do

compromisso estabelecido por estados e municípios e também pela sociedade civil, o

nosso país ainda não alcançou a meta adequada preconizada pela OMS, que é uma

taxa menor que 20 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas.

As principais causas da mortalidade infantil estão ligadas

diretamente às condições socioeconômicas e culturais e a dificuldades de acesso aos

serviços de saúde. É contundente saber que a maioria dessas mortes precoces pode

ser evitada.

Os desafios para implantar e implementar ações em prol da saúde

da criança são inúmeros e complexos. Nessa perspectiva, Samico (2003) diz que há

que se caracterizar a morbimortalidade infantil como uma etapa fundamental para um

melhor entendimento e uma atuação otimizada à atenção à criança, apreendida em

toda sua complexidade e dinamismo.

Diante disso, os serviços e o sistema de saúde têm papel

fundamental na implementação de políticas que contribuam para a diminuição dos

índices de morbimortalidade no país.

Nesse sentido, o século XX foi marcado por discussões em torno da

proteção e defesa da vida deste grupo, surgindo inúmeras propostas tanto em nível

nacional como internacional, sobre a melhoria da assistência e das condições de vida

da população infantil (MALVEIRA & SOUZA, 1998).

Essas autoras destacam as propostas difundidas internacionalmente

pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização

Mundial de Saúde (OMS), que, além da Conferência de Alma Ata sobre a saúde,

abrange a Declaração Universal dos Direitos da Criança (ONU, 1959) e a Reunião de

Cúpula em Favor da Infância (ONU, 1990).

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Há mais de 17 anos o Brasil assinou, ao lado de mais de 160 países,

a “Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento da

Criança”, durante o Encontro Mundial de Cúpula pela Criança, realizada em Nova

Iorque, em 1990. Nessa reunião, os líderes mundiais, e entre estes o Brasil, se

comprometeram a trabalhar em favor da saúde e dos direitos das crianças e das mães,

a combater a desnutrição e o analfabetismo e a erradicar as doenças que têm causado

a morte de milhões de crianças a cada ano (BRASIL, 2002a).

Segundo Malveira e Souza (1998), essas iniciativas resultaram em

programas e políticas para sanar distorções econômicas e sociais que determinam a

precariedade das condições de vida e de sobrevivência infantil.

O que se propunha para a assistência voltada à criança era

substituir os programas verticalizados e centralizados por outros mais abrangentes,

que priorizassem ações mais integrais e resolutivas, as quais permitissem enxergar a

criança como um todo, ou seja, como um ser biopsicossocial.

Assim, em 1984, no Brasil, foi criado o Programa de Assistência

Integral à Saúde da Criança (PAISC), considerado um grande marco assistencial e

uma política de universalização da assistência em saúde, que tinha como objetivo

diminuir os fatores determinantes da morbimortalidade no país (BRASIL, 1984).

Este programa foi elaborado a fim de possibilitar a criação de elos

entre a população e os serviços de saúde, através do acompanhamento sistemático do

crescimento e desenvolvimento de crianças menores de cinco anos. Os serviços

deveriam estar preparados para resolver, a partir da unidade básica de saúde, a

maioria dos problemas de saúde das crianças, e intervir nos determinantes que atuam

no seu processo saúde-doença (BRASIL, 1984).

O PAISC, enquanto uma política de saúde pública, configurou-se

como um modelo assistencial voltado para a criança, centrado no desenvolvimento

de cinco ações básicas: Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento

Infantil; Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno; Programa de Controle das

Diarréias e Terapia de Reidratação Oral; Programa Ampliado de Imunização e

Programa de Assistência às Infecções Respiratórias Agudas (BRASIL, 1984). Essas

ações visavam a promover a saúde da criança de forma integral, com tecnologias

simples e eficazes.

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Durante a implantação do PAISC, vários treinamentos foram

oferecidos pelos técnicos do Ministério da Saúde aos profissionais das secretarias

estaduais e municipais de saúde. Com a implementação deste programa, ocorreu a

mudança do cartão de vacinas com a introdução da curva de crescimento chamada de

“caminho da saúde” e a adoção de protocolos específicos para a abordagem das

crianças com doenças diarréicas e respiratórias agudas, favorecendo a resolução dos

problemas demandados na esfera da atenção primária (SILVA, 2006). Foi a partir do

PAISC que se introduziu o primeiro Cartão da Criança, para o acompanhamento do

crescimento e desenvolvimento individual de crianças nas unidades de saúde

(BRASIL, 2002a).

Para Figueiredo (2001), o conjunto das ações do PAISC visava a

assegurar a integralidade na assistência prestada pelos serviços de saúde, deslocando

o enfoque de uma assistência baseada em patologias para uma modalidade de

atenção que contemplaria a criança no seu processo de crescimento e

desenvolvimento. As ações básicas propostas para a assistência à saúde da criança se

fundamentaram numa política, cujas atividades prioritárias caracterizavam-se por alta

eficácia na resolução dos problemas específicos de saúde, baixo custo e

complexidade adequada para execução nos vários níveis dos serviços.

No entendimento de Malveira (1998), as ações assistenciais do

PAISC, que fizeram parte de uma filosofia de atenção integral, inseriam-se em uma

realidade que não as favoreciam, devido à fragilidade e fragmentação das ações

oferecidas pelos profissionais da rede de serviços, o que gerava o uso inadequado ou

desnecessário de tecnologias de diagnóstico e tratamento.

O que se observava nos serviços de saúde na década de 1980

quando o PAISC foi proposto, era a predominância de uma assistência medicalizante,

uma prática de pronto atendimento, na qual os problemas de saúde mencionados

pelas mães eram prontamente atendidos de forma focalizada na doença. Este

atendimento curativo mantinha a hegemonia do profissional médico perante a

comunidade e descaracterizava a proposta e as ações de promoção de saúde e

prevenção de doenças.

As ações implementadas pelo PAISC auxiliaram na redução da

mortalidade infantil, porém os índices ainda permaneciam elevados (SILVA, 2006).

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Por isso, na década de 1990, vários programas, projetos e estratégias foram propostos

para a implementação no SUS, tendo em vista a melhoria dos indicadores de

morbimortalidade infantil.

Para ajudar a reduzir a mortalidade materna e infantil, foi criado o

Programa de Agentes Comunitários (PACS), considerado transição para o Programa

Saúde da Família (PSF) (BRASIL, 1997). A permanência do agente comunitário em

sua comunidade, favorecendo a entrada da população na unidade básica de saúde

trouxe resultados promissores para a saúde infantil e redução dos óbitos nesta faixa

etária.

Contudo, dada a permanência desse problema, em 1995, o

Ministério da Saúde propôs o Projeto de Redução da Mortalidade Infantil, que

continha ações para reduzir a mortalidade infantil, com a responsabilização de órgãos

governamentais e entidades não governamentais (SILVA, 2006).

Como os investimentos governamentais para a promoção do

aleitamento materno, iniciados no final dos anos 1970, não resultaram em melhora de

cobertura desta prática, o Ministério da Saúde, ainda na década de 1990, propôs

projetos e algumas iniciativas intersetoriais, dentre elas, o Carteiro Amigo, Bancos

de Leite, Bombeiros da Vida e Iniciativa Hospital Amigo da Criança, visando a

aumentar os índices de aleitamento materno no país (SILVA, 2006).

Outra estratégia implementada para fortalecer e organizar a atenção

básica foi a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), em

1996. A AIDPI apresenta uma nova faceta na abordagem à saúde da criança no

primeiro nível de assistência. Essa estratégia visa a integrar as ações de promoção e

prevenção de agravos, com atividades de assistência e tratamento das doenças mais

freqüentes na infância, reduzindo as mortes e as doenças mais comuns em crianças

menores de cinco anos de idade. As equipes dos programas Agentes Comunitários de

Saúde e Saúde da Família são capacitadas para prestar uma atenção de qualidade à

criança com base na proposta da AIDPI (BRASIL, 2003).

A estratégia AIDPI foi uma iniciativa da Organização Mundial da

Saúde, concebida com o objetivo de assistir à criança integralmente e tem

proporcionado a capacitação dos profissionais do Programa Saúde da Família (PSF)

para atender às necessidades da criança na atenção básica.

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Santos (2004), ao avaliar a implementação da AIDPI no Estado da

Bahia, aponta que esta foi facilitada pela existência de estrutura e organização da

rede de saúde e que o desempenho assistencial foi considerado satisfatório, apesar da

resistência dos profissionais em aplicar a sistematização do atendimento clínico

individual preconizado pela estratégia. Esta autora considera que existe a necessidade

de maior integração do processo de implantação e implementação da AIDPI com o

PSF, para que a rede de atenção preste uma assistência integral à criança.

Outras ações voltadas não exclusivamente para o âmbito da saúde

foram propostas ainda na década de 1990, dentre elas, destacam-se a Campanha do

Registro Civil, resultado da parceria entre os Poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, que tinha como objetivo, melhorar os sistemas de informações referentes

aos nascidos vivos e, conseqüentemente, do indicador de mortalidade infantil, além

de resguardar o direito das crianças (SILVA, 2006).

Considerando que a violência é hoje um problema de saúde pública

no Brasil, e a população infantil, em processo de crescimento e desenvolvimento, é

mais vulnerável aos diversos tipos de violência, o Ministério da Saúde em parceria

com a Sociedade Brasileira de Pediatria e Secretaria dos Direitos Humanos do

Ministério da Justiça propuseram a Campanha de Prevenção de Acidentes e

Violência na Infância, com medidas de prevenção nessa área, enfocando a criança no

âmbito da atenção no SUS (BRASIL, 2002a).

A proposição mais recente para a atenção à saúde da criança é o

documento lançado pelo Ministério da Saúde, em 2004, a “Agenda de Compromissos

para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil”. Esse

documento define as principais diretrizes que devem ser seguidas no

desenvolvimento de políticas de atenção à criança (BRASIL, 2004a).

Essa proposta visa a apoiar a organização da assistência à

população infantil e possibilitar que os gestores e profissionais de saúde identifiquem

as ações prioritárias para a saúde da criança. Ela propõe a definição de diretrizes para

identificação de linhas de cuidado integral que devem constar no “cardápio básico”

para o funcionamento adequado dos serviços e de toda a rede de atenção à saúde da

criança no nível local, visando a atender as reais necessidades de saúde desta

população (BRASIL, 2004a).

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A Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e

Redução da Mortalidade Infantil (BRASIL, 2004a) apresenta linhas de cuidado para

a atenção integral à saúde da criança, com o objetivo de organizar a assistência de

saúde. São elas: ações de saúde da mulher: atenção humanizada e qualificada;

atenção humanizada e qualificada à gestante e ao recém-nascido; triagem neonatal:

teste do pezinho; incentivo ao aleitamento materno; incentivo e qualificação do

acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; alimentação saudável e

prevenção do sobrepeso e obesidade infantil; combate à desnutrição e anemias

carenciais; imunização; atenção às doenças prevalentes; atenção à saúde bucal;

atenção à saúde mental; prevenção de acidentes, maus tratos/violência e trabalho

infantil; e atenção à criança portadora de deficiência.

Essas linhas de cuidado são apresentadas como uma estratégia para

superar a desarticulação entre os diversos níveis de atenção em saúde e garantir a

continuidade do cuidado integral, desde as ações de promoção às de tratamento e

reabilitação, com um fluxo ágil e oportuno em cada nível de atenção, com referência

e contra-referência responsável até a recuperação completa da criança (BRASIL,

2004a).

Este documento também destaca as estratégias que devem nortear a

ação das unidades de saúde e da rede como um todo, visando ao cumprimento dos

objetivos de promover a saúde e reduzir a morbimortalidade infantil. As estratégias

são: vigilância à saúde pela equipe de atenção básica; vigilância da mortalidade

materna e infantil; educação continuada das equipes de atenção à criança; e

organização de linhas de cuidado (BRASIL, 2004).

As ações políticas que vêm sendo propostas ao longo do tempo em

prol da atenção à saúde da criança nem sempre funcionam conforme o proposto.

Ainda nos deparamos com um alto índice de mortalidade infantil no país,

especialmente na região nordeste. São vários os fatores a serem enfrentados para

reverter este lamentável quadro de saúde da população infantil; estes englobam

responsabilidade política dos governantes e dos profissionais de saúde em prol da

mudança efetiva do modelo assistencial vigente, que valoriza a doença, o

procedimento, a assistência individual.

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Em conformidade com estes aspectos é que diversas discussões no

âmbito acadêmico e de órgãos/setores da área da saúde vêm sendo empreendidas.

Nesse conjunto, inserem-se os investimentos em prol da construção de um modelo de

atenção mais coerente com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Paim (2003, p. 568), enfatizando a dimensão do processo de

trabalho, define modelo de atenção ou modelo assistencial como

uma forma de combinar técnicas e tecnologias para resolver problemas e atender necessidades de saúde individuais e coletivas. É uma espécie de lógica que orienta a ação, uma maneira de organizar os meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas ou processos de trabalho em saúde.

Para sanar os impasses evidenciados pelo modelo médico

hegemônico vigente, que tem nas ações e saberes médicos a centralidade dos modos

de fazer a assistência (FRANCO & MERHY, 1999), percebeu-se a necessidade de

construir um novo modo de operar o trabalho em saúde, orientado para a

integralidade da atenção.

A produção de serviços de saúde, atualmente no Brasil, caracteriza-

se por um momento de transformações em torno da construção de um novo modelo

de atenção. Nesse sentido, a atenção básica se expande e se fortalece como núcleo

reorientador do modelo assistencial em saúde, via estratégia do Programa Saúde da

Família (PSF).

Embora rotulado como programa, o PSF, por suas especificidades,

foge à concepção usual dos demais programas concebidos pelo Ministério da Saúde,

e, a partir de 1997, passou a ser caracterizado como estratégia, que possibilita a

integração e promove a organização das atividades em um território definido, com o

propósito de enfrentar e resolver os problemas identificados (BRASIL, 1997).

Em março de 2006, através da Portaria nº 648/GM, o Ministério da

Saúde aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de

diretrizes e normas para a organização da atenção básica e especificamente para o

Programa Saúde da Família e Programa Agentes Comunitários de Saúde (BRASIL,

2006a).

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Esta política reafirma o PSF como estratégia prioritária para

reorganizar a atenção básica no Brasil, de acordo com os preceitos do SUS

definindo-a como:

[... ] um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior freqüência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2006a, p.10).

No documento da Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL,

2006, p.11), se estabelece o acesso universal e a integralidade como fundamentos da

atenção básica. Nos seus termos:

a) Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos, que se caracterizam como porta de entrada preferencial do sistema de saúde, com território adscrito de forma a permitir o planejamento e a programação descentralizada, de acordo com o princípio da equidade;

b) Efetivar a integralidade através da integração de ações programáticas e demanda espontânea; articulação das ações de promoção à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação, trabalho de forma interdisciplinar e em equipe, e coordenação do cuidado na rede de serviços.

O PSF representa, certamente, a proposição de mais amplo alcance

para a reorganização da atenção básica já posta em prática no Brasil. Ainda que a

introdução do PSF no cenário brasileiro não esteja completamente implementada, é

evidente a eficácia deste modelo, melhorando o acesso aos serviços de atenção à

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saúde, a relação das pessoas que demandam os cuidados com a equipe do PSF e dos

indicadores de saúde (MENDES, 2002) e, portanto, a integralidade da atenção à

saúde.

O PSF vem ao encontro das propostas de mudanças inspiradas na

Reforma Sanitária e nos princípios do SUS, elegendo como uma das prioridades o

estabelecimento de vínculos e a criação de laços de compromisso e de co-

responsabilidade entre os profissionais de saúde e a população (BRASIL, 1997).

Essas mudanças visam à reversão do modelo assistencial vigente, calcado na clínica,

no atendimento individual, procedimento-centrado e que priorizava o atendimento à

demanda espontânea.

O PSF toma a família como objeto de atenção, a partir do ambiente

no qual esta vive, estabelecendo vínculos e compromissos entre os profissionais de

saúde e a família, permitindo uma melhor compreensão do seu processo saúde-

doença.

A família apoiada em ações do Estado tem o direito e o dever de

promover a saúde e interferir no processo saúde-doença de seus membros,

principalmente deste ser tão vulnerável que é a criança. Por este motivo, precisamos

não só ter claro a compreensão do conceito de família que utilizamos para

desenvolver nossas práticas, mas também, quais os modelos de família que temos

hoje nas USF.

A unidade familiar sofreu inúmeras transformações no decorrer das

últimas décadas, influenciada pelo contexto histórico sociocultural. Nos dias atuais, a

visão de família composta pelo núcleo pai, mãe e filhos (família nuclear), já sofreu

divergências, tornando-se comum diversas formas de organização familiar.

Gaíva (2006), ao abordar a família como unidade do cuidado de

enfermagem na atenção à saúde da criança, reafirma esta idéia mostrando que no

cotidiano do cuidado à criança, os profissionais de saúde deparam com uma enorme

elasticidade de configuração familiar, tais como

[...] de pais solteiros, mistas, só de mãe, pais adotivos, família recomposta (após uma experiência não bem-sucedida, ocorre nova tentativa de estruturação familiar) e família homossexual (resultante da união de pessoas do mesmo sexo) (GAÍVA, 2006, p. 65).

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Portanto, os profissionais de saúde, independente do local onde

atuam, não podem tomar a família como uma verdade universal e ignorar a

especificidade e diversidade de contextos culturais (TRAD & BASTOS, 1998).

No PSF, a família deve ser vista como elemento fundamental das

práticas assistenciais, pois é ela que se responsabiliza pelo cuidado da criança,

promovendo seu bem-estar social. Por isso, os profissionais devem considerar as

diversas constituições familiares e suas singularidades, acompanhando as

transformações decorrentes de cada nível socioeconômico e cultural para que a

criança receba uma assistência integral e de qualidade.

As Unidades de Saúde da Família (USF) são responsáveis pela

saúde da população de um território político-geográfico (área adstrita) onde vive um

determinado número de pessoas. O Ministério da Saúde estipulou de 600 a 1000

famílias, correspondendo a 2.400 a 4.500 habitantes, sob a responsabilidade de uma

equipe de saúde que é constituída por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de

enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde. Todas as famílias desse

território são cadastradas pela equipe de saúde da Família (ESF), e, a partir desse

cadastramento, a equipe realiza o diagnóstico da comunidade, identificando as

pessoas ou as famílias consideradas de risco, ou seja, que precisam de atenção

especial, de forma a priorizar as ações programáticas requeridas para o

enfrentamento dos problemas identificados. Esse vínculo estabelecido entre equipe e

família proporciona um espaço para discussão de hábitos saudáveis e permite

conjugar as ações de promoção, prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e

reabilitação da saúde (BRASIL, 1997).

O PSF, como estratégia de mudança do modelo de atenção básica,

no que diz respeito à atenção à saúde da criança, exige um processo de mudança na

atuação individual e coletiva dos profissionais para a efetivação da integralidade,

preocupando-se com a dimensão biológica, cultural, psicológica e de cidadania da

população infantil.

No que se refere à assistência à saúde da criança no PSF, Del

Ciampo et al (2006) afirmam que esta deve garantir o pleno crescimento e

desenvolvimento da criança, para que se torne um adulto saudável e capaz, bem

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como reduzir as elevadas taxas de morbidade e mortalidade ainda verificadas em

diversas regiões brasileiras.

A assistência à população infantil no PSF tem por objetivo

contemplar a promoção da saúde, prevenção de agravos e educação da criança e seus

familiares, por meio de orientações antecipatórias aos riscos de agravos à saúde,

oferecendo medidas preventivas mais eficazes, ou seja, priorizando a saúde da

criança em vez da doença (DEL CIAMPO et al, 2006).

Nesse sentido, Mello e Andrade (2006) complementam que a

assistência à saúde da criança, realizada pela equipe de saúde da família em seu

domicílio deve trabalhar conhecimentos, hábitos e relações familiares, em prol da

proteção da saúde e da promoção da qualidade de vida da criança. Acompanhar o

desenvolvimento da criança no ambiente domiciliar permite observar como ela se

comporta dentro de seu contexto ambiental, cultural e familiar.

O cuidado com a criança no PSF começa já no pré-natal da mãe.

Nesse momento, esta recebe assistência para tornar a gestação saudável propiciando

o adequado crescimento e desenvolvimento de seu filho. O atendimento da criança

na USF é estruturado conforme o Calendário Mínimo de Consultas para a

Assistência à Criança, estabelecido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2002b), que

propõe sete consultas no primeiro ano de vida, duas no segundo e uma por ano, a

partir do terceiro ano de vida até a criança completar seis anos de idade.

A base estruturante dessa assistência é o acompanhamento do

crescimento desenvolvimento da criança, atentando para situações de aleitamento

materno, imunização, infecções respiratórias agudas, diarréia, uso de reidratante oral,

mensuração de dados antropométricos e verificação de atividades psicomotoras de

acordo com a idade da criança, além da alimentação, hospitalização e outras

intercorrências, pautando-se na observação da criança e atividades de educação em

saúde, construída em conjunto com a mãe e a família, dentro do contexto a qual está

inserida (MELLO & ANDRADE, 2006). Essas ações devem ser realizadas em

conjunto por toda a equipe multiprofissional da USF.

Del Ciampo et al (2006), ao apresentarem uma proposta de

atendimento em Puericultura desenvolvida no contexto das atividades do Programa

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de Medicina de Família, propõem ações assistenciais que possam ser incorporadas às

atividades do PSF, com os seguintes objetivos:

• Vigiar o crescimento físico e o desenvolvimento

neuropsicomotor e intelectual;

• Ampliar a cobertura vacinal;

• Promover a educação alimentar e nutricional;

• Promover a segurança e a prevenção de acidentes;

• Promover a prevenção de lesões intencionais, principalmente

no ambiente doméstico;

• Estimular a promoção da saúde e a prevenção das doenças mais

comuns na comunidade;

• Promover a higiene física e mental e a prática de atividades de

lazer adequadas às faixas etárias;

• Propiciar a socialização, estimulação cultural e adaptação da

criança e do adolescente em seu meio social.

Essa proposta de atendimento em Puericultura, elaborada pelos

autores citados, coaduna com os princípios norteadores do Programa Saúde da

Família, visto que ambos enfocam a vigilância em saúde e priorizam a promoção da

saúde, prevenção de agravos, tratamento e reabilitação. Diante disso, tanto a proposta

apresentada, como o PSF, estão estruturados para oferecer a atenção à saúde da

criança e têm como prioridade garantir o bem-estar da criança e o desenvolvimento

efetivo nos aspectos físicos, emocionais e sociais.

Vimos que as ações propostas pelo Programa Saúde da Família

permitem assistir a população infantil de forma mais ampla, influenciando

efetivamente no seu processo saúde–doença. Porém a equipe de saúde da família

enfrenta diversos obstáculos na concretização da atenção integral e contínua à saúde

da criança.

Mello & Andrade (2006), ao refletirem sobre a atuação do

enfermeiro junto à população infantil em uma Unidade de Saúde de Família, em um

município mineiro, observaram que um dos limites encontrados pela equipe em

relação à adesão ao acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança

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na unidade de saúde refere-se à longa distância de boa parte da população da área de

abrangência até a USF, o que dificulta o acesso das famílias à mesma.

Entre outros fatores importantes a serem enfrentados pelos

profissionais na atenção à criança no Programa Saúde da Família, estão as precárias

condições socioeconômicas, a exclusão social, a alta incidência de pais e mães

alcoólatras e a falta de motivação e de comprometimento com o cuidado em saúde

demonstrada por muitos usuários (MELLO & ANDRADE, 2006).

A assistência integral à saúde da criança no PSF ainda é um

processo em construção, situado em uma prática que busca a mudança do modelo

assistencial, até então centrado na doença, que requer novas formas de assistir esta

população. O atendimento pela equipe de saúde da família, baseado na promoção de

saúde com novas práticas e tecnologias, permite constituir uma atenção mais

integrada, mais humanizada e com a responsabilidade de tornar essas crianças,

adultos saudáveis e felizes.

A integralidade como princípio norteador na assistência à criança

na atenção básica aponta para a necessidade de superação do modelo médico-

hegemônico.

O princípio da integralidade consiste no direito que as crianças têm

de serem atendidas adequadamente no conjunto de suas necessidades, e no dever do

Estado em oferecer serviços de saúde organizados para atender essas necessidades.

Essas devem ser atendidas em todos os níveis de assistência, por meio de ações de

promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação (PRADO, 2005).

A integralidade está entre as diretrizes básicas do Sistema Único de

Saúde, publicadas na Constituição Brasileira de 1988. O texto constitucional não

utiliza este termo, e sim “atendimento integral” (BRASIL, 1988, art.198). Entretanto,

o termo integralidade tem sido utilizado correntemente para designar exatamente esta

diretriz (MATTOS, 2006).

Para Mendes (2002), a integralidade na atenção básica exige um

conjunto de ações realizadas pela equipe que atenda às necessidades mais comuns da

população, a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à

saúde e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais

que causam as doenças.

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De acordo com Mattos (2006), o princípio da integralidade está

associado e depende de aspectos relacionados às políticas governamentais, à prática

dos profissionais de saúde e à organização contínua dos processos de trabalho nos

serviços de saúde.

No que concerne ao sentido de integralidade relacionado às

respostas governamentais aos problemas de saúde, Mattos (2006) destaca que este se

configura fundamentalmente pela recusa em objetivar e recortar os sujeitos sobre os

quais a política de saúde incide, o que amplia o horizonte de problemas a serem

tratados pela política. Outro sentido destacado por esse autor é o que expressa a

convicção de que cabe ao governo responder a certos problemas de saúde pública, e

que essa resposta deve incorporar tanto as possibilidades de prevenção como as

possibilidades assistenciais.

As políticas que são desenhadas para dar respostas a um

determinado problema de saúde, ou às necessidades de certos grupos específicos, não

devem considerar somente as especificidades biológicas, mas também as

culturalmente ligadas à criança (MATTOS, 2006).

Considerando que os conteúdos das políticas de saúde são

fundamentais para direcionar os processos e as práticas assistenciais dos modelos de

atenção à saúde na perspectiva da integralidade (MATTOS, 2006), esse estudo

discute proposições para a atenção à criança presentes em documentos estratégicos

da política nacional com implicações para esse grupo, elegendo, para tal, duas

dimensões: as práticas assistenciais e inter-relacionais, por considerá-las essenciais

na consecução da integralidade.

Esse estudo faz parte da pesquisa “Ferramentas de monitoramento

e avaliação da Estratégia Saúde da Família em municípios de Mato Grosso,

vinculado ao Grupo de Pesquisa Argos da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que tem como objetivo construir

ferramentas de monitoramento e avaliação do processo de implantação do PSF, com

ênfase no processo de trabalho assistencial dirigido a sujeitos e famílias, aplicáveis

aos municípios de pequeno e médio porte de Mato Grosso.

O que se pretende com este estudo é discutir as proposições

políticas que orientam a assistência à população infantil na atenção básica, a partir da

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perspectiva da integralidade, por entender que, apesar de todos os avanços na atenção

à infância, esta ainda está centrada no atendimento individual e sem conseguir

atender integralmente as reais necessidades de saúde dessa população.

Este trabalho tem a seguinte questão norteadora: Quais as

tecnologias assistenciais e inter-relacionais que emergem da política nacional

referente à assistência à saúde da criança na atenção básica na perspectiva da

integralidade?

Entende-se que os resultados deste estudo possam contribuir no

processo de construção de um novo modelo de atenção à saúde da criança que

realmente preste atenção integral em resposta às necessidades biopsicossociais desse

segmento.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Discutir as proposições relativas à assistência à criança no âmbito

da atenção básica, presentes em políticas nacionais para a infância.

2.2 ESPECÍFICOS

• Identificar proposições relativas às práticas assistenciais e

inter-relacionais;

• Correlacionar tais proposições à perspectiva da atenção

integral à criança.

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3 METODOLOGIA DO ESTUDO

3.1 TIPO DE ESTUDO

Consoante ao objeto deste estudo, proposições políticas que

orientam a assistência à população infantil no âmbito da atenção básica, elegeu-se a

abordagem qualitativa.

Minayo (2006, p.10) afirma que

[...] as metodologias de pesquisa qualitativa são entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo estas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas.

A abordagem qualitativa permite uma compreensão dos valores de

um determinado grupo sobre um tema específico, assim como o estudo de políticas

públicas e sociais, do ponto de vista de sua formulação, aplicação técnica e dos

usuários a quem se destina (MINAYO, 2006).

Ressalta-se que nesse estudo a expressão “Política de Saúde” foi

tomada no sentido estrito de diretrizes, planos e programas de saúde propostas em

nível governamental (PAIM, 2003).

Paim (2003) define política de saúde como a intervenção do

Estado, enquanto resposta social, diante dos problemas de saúde e de seus

determinantes, bem como da produção, distribuição e regulação de bens, serviços e

ambientes que afetam a saúde dos indivíduos e da coletividade.

Para atender aos objetivos do estudo, a análise documental foi

escolhida devido ao fato de ser uma técnica adequada à análise de dados históricos

(LÜDKE e ANDRÉ, 1986), como compreendem as políticas de saúde.

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A análise documental consiste em uma série de operações que

visam a estudar e analisar um ou vários documentos (RICHARDSON,1999).

Na perspectiva de Richardson (1999), os documentos constituem

todos os tipos de registros escritos que podem ser usados como fonte de informação

em uma pesquisa em função de seus objetivos.

Para Gil (1995), a pesquisa documental compartilha similaridades

com a pesquisa bibliográfica no tocante ao desenvolvimento e tratamento das

informações, embora se diferencie desta última pela natureza da fonte de dados:

documentos oficiais, leis, registros estatísticos, reportagens de jornal, cartas, diários,

biografias, elementos iconográficos, contratos, filmes, fotografias, gravações, etc.

As fontes de dados acima mencionadas representam uma valiosa

base, quase inesgotável, de informação, para as ciências sociais, pois condensam e

expressam, em geral, de maneira dispersa e fragmentária, as manifestações da vida

social em seu conjunto e em cada um dos seus setores. Vale destacar que a

observação documental não tem como objeto os fenômenos sociais, quando e como

eles ocorrem, mas as manifestações contidas nos registros de tais fenômenos e idéias

subjacentes à elaboração dos mesmos (RICHARDSON, 1999).

Lüdke e André (1986) também reforçam a defesa da valiosa

contribuição desse método para a pesquisa qualitativa, tanto no desvelar de aspectos

novos de um tema ou problema, quanto na complementaridade de outras técnicas de

investigação. Não obstante, Gil (1995) argumenta que tal método não responde

definitivamente a um problema, pois utiliza materiais que não receberam um

tratamento analítico ou que podem ser reelaborados frente aos objetivos de outro

estudo.

A análise documental empreende um trabalho minucioso através da

leitura e obtenção de dados. Lüdke e André (1986) destacam a riqueza e estabilidade

das informações contidas nos documentos, aspecto que torna possível (re) analisar

essas “fontes fixas” de dados repetidas vezes, assim como sustentar ou

ratificar/validar os resultados obtidos em outros estudos.

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3.2 FONTE DE INFORMAÇÕES

Do ponto de vista operacional, para a construção teórica e análise

dos dados, utilizou-se como fonte de informações, além da literatura, diversos

documentos, portarias, normatizações do Ministério da Saúde relativos à política de

saúde no Brasil e, especificamente, à atenção à saúde da criança.

Optou-se por trabalhar com os documentos vigentes do Ministério

da Saúde, por ser este órgão quem formula as políticas voltadas para a atenção à

saúde da criança.

Diante dos inúmeros documentos publicados pelo MS nas últimas

décadas e que dizem respeito à Atenção Básica/PSF e à criança, elegemos dois

grupos de políticas vigentes.

O primeiro engloba o documento que orienta a política da atenção

básica:

• Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) – Portaria

648/GM/MS, de 22 de fevereiro de 2006, que aprova a Política

Nacional de Atenção Básica estabelecendo a revisão de

diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para

o Programa Saúde da Família (PSF) e Programa de Agentes

Comunitários de Saúde (PACS).

O segundo é composto por dois dos documentos mais recentes

relativos à organização da assistência à criança:

• Estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na

Infância (AIDPI)- Módulo Introdutório, que foi instituída em

1996 e incorporada em todas as políticas de atenção à saúde da

criança, caracterizando-se pela consideração simultânea e

integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na

infância (BRASIL, 2003).

• Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e

Redução da Mortalidade Infantil, que apresenta a organização

das principais diretrizes que devem ser seguidas no

desenvolvimento de políticas de atenção à criança. Este

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documento tem o intuito de orientar as ações de todos os

profissionais que lidam com a criança e é mais uma ferramenta

de trabalho dos gestores estaduais e municipais no processo de

reorganização da rede de assistência à infância nos seus vários

níveis (BRASIL, 2004a).

Estes dois documentos foram eleitos por serem os mais recentes na

atenção à saúde da criança, contemplarem assistência no âmbito da atenção básica e

portarem entre seus objetivos o desenvolvimento de uma atenção integral à

população infantil.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para o tratamento dos dados documentais, optou-se pela técnica de

análise de conteúdo para identificação das categorias empíricas, após a leitura

exaustiva dos documentos.

A análise de conteúdo parte de uma leitura de primeiro plano das falas, depoimentos e documentos, para atingir um nível mais profundo, ultrapassando os sentidos manifestos do material. Para isso, geralmente, todos os procedimentos levam a relacionar estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados e a articular a superfície dos enunciados dos textos com os fatores que determinam suas características variáveis psicossociais, contexto cultural e processo de produção da mensagem. Esse conjunto de movimentos analíticos, visa a dar consistência interna às operações (MINAYO, 2006, p.308).

A análise de conteúdo possibilita uma reflexão e um

desdobramento do que está por trás do instituído nos documentos, não tratando os

mesmos como portadores da verdade absoluta.

A utilização desta técnica requer atitude de vigilância crítica por

parte do investigador, dizendo “não” à simples leitura do real e ilusão de

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transparência, visando a compreender na comunicação o que está além do expresso,

lutando contra as evidências (BARDIN, 1977).

De acordo com Bardin (1977), as fases da análise de conteúdo

devem ser organizadas respeitando uma ordem cronológica, as quais contemplam

três fases: a pré-análise; a exploração do material; e a inferência e interpretação. A

pré-análise é o momento em que se organiza a operacionalização e sistematização

das idéias do trabalho. As atividades a serem realizadas nessa etapa são constituídas

pela leitura superficial do material e a escolha dos documentos. Os documentos

escolhidos devem oferecer as informações necessárias para responder aos objetivos

da pesquisa.

A segunda fase, a exploração do material, consiste basicamente na

codificação das informações e definição das categorias de análise.

A última etapa, o tratamento dos resultados é o momento em que o

pesquisador realiza inferências e interpretações a partir das informações obtidas.

As categorias definidas a priori foram selecionadas com os dados

empíricos, a partir dos núcleos de sentidos extraídos dos documentos.

Nesse momento de ordenação dos dados, cada documento foi

identificado com a palavra DOC e um número correspondente (DOC 1, DOC 2 e

DOC 3), e cada unidade de registro foi identificada com um número definido

seqüencialmente para possibilitar a referência ao contexto do qual foi extraído (ex:

DOC1 12).

Considerando a importância das tecnologias assistenciais e inter-

relacionais para a atenção à saúde da criança na perspectiva da integralidade e ainda

pela dimensão técnico-assistencial ser considerada por vários autores, entre eles,

Merhy & Franco (2003) como o pilar na reorientação do modelo de atenção, optou-

se nesse estudo por trabalhar com esses dois componentes, embora o conteúdo das

políticas analisadas contemplassem outras dimensões da atenção à saúde da criança.

Na dimensão tecnologias assistenciais foram identificadas as

seguintes categorias: ações de promoção da saúde, ações de educação em saúde,

ações de vigilância em saúde, ações clínicas. Por sua vez, na dimensão tecnologias

inter-relacionais identificou-se as categorias: humanização, acolhimento, vínculo e

responsabilização e trabalho em equipe.

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É importante destacar que concomitante à coleta e análise dos

dados, foi realizada uma revisão de literatura1 acerca dos temas relacionados ao

objeto desse estudo para subsidiar a discussão dos dados, possibilitando alcançar os

objetivos propostos. De acordo com Gomes (1994), essas duas etapas estão contidas

no mesmo movimento: o olhar atentamente para os dados da pesquisa.

Ainda, durante a fase de discussão dos dados, percebeu-se a

necessidade de retornar aos documentos eleitos por se ter identificado lacunas que

mereciam um melhor detalhamento e contextualização. Para Gomes (1994), muitas

vezes, os dados coletados não são suficientes para estabelecer conclusões e em

decorrência disso, deve-se retornar à fase de coleta de dados para suplementar as

informações que faltam.

Dessa forma, esse estudo possibilitou discutir as proposições

assistenciais e inter-relacionais para a criança na atenção básica, presentes nas

políticas nacionais para a infância.

1 Utilizaram-se como fontes bibliográficas artigos de periódicos da área da saúde, dissertações e teses, livros e materiais do Ministério da Saúde que tratam do tema estudado.

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4 DOCUMENTOS ANALISADOS

Com o intuito de contextualizar os resultados desse estudo, antes de

discutir as categorias identificadas na análise, apresentar-se-á uma síntese dos três

documentos/proposições políticas estudados.

4.1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA - PORTARIA 648/GM,

DE 28 DE MARÇO DE 2006 (BRASIL, 2006A)

Com o intuito de revitalizar a Atenção Básica à saúde no Brasil e

adequar as suas normas ao Pacto pela Saúde 2006, é criada pelo Ministério da Saúde

a Política Nacional de Atenção Básica, através da Portaria nº 648/GM de 28 de

março de 2006.

Essa Portaria, publicada pelo Ministério da Saúde, aprovou a

Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas

para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).

A Portaria objetiva o fortalecimento da Atenção Básica, a qual

deve se constituir como a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde,

sendo o ponto de partida para a estruturação dos sistemas locais de saúde.

Para a construção dessa política foram reunidos diversos atores

políticos dos municípios, dos estados e da federação, e contou também com a

participação de membros da academia, profissionais da saúde, trabalhadores do SUS,

usuários e entidades representativas do sistema de saúde. As discussões realizadas

para alcançar o formato final desta política basearam-se nos eixos transversais da

universalidade, integralidade e equidade, em um contexto de descentralização e

controle social da gestão, princípios assistenciais e organizativos do SUS,

consignados na legislação.

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Esse documento que aprova a Política Nacional de Atenção Básica

aponta para a redefinição dos princípios gerais, responsabilidades de cada esfera do

governo (municipal, estadual e União), infra-estrutura e recursos necessários,

características do processo de trabalho, atribuições dos profissionais, e as regras de

financiamento, incluindo as especificidades da Estratégia Saúde da Família.

Esse estudo deter-se-á na análise dos princípios da atenção básica,

características do processo de trabalho de atenção básica e do PSF e nas atribuições

dos membros das equipes de atenção básica e de saúde da família.

4.2 ESTRATÉGIA ATENÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS

PREVALENTES NA INFÂNCIA (BRASIL, 2003)

A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na

Infância (AIDPI) é uma nova abordagem da atenção à saúde da criança proposta

originalmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações

Unidas (UNICEF), e posteriormente, pelo Ministério da Saúde.

A estratégia AIDPI, que foi incorporada em todas as políticas de

atenção à saúde da criança, caracteriza-se pela consideração simultânea e integrada

do conjunto de doenças de maior prevalência na infância, ao invés do enfoque

tradicional que busca abordar cada doença isoladamente, como se ela fosse

independente das demais doenças que atingem a criança e do contexto em que ela

está inserida. Essa estratégia tem, por finalidade, promover uma rápida e

significativa redução da mortalidade infantil, através da utilização de sinais e

sintomas que apresentem uma boa relação de sensibilidade e especificidade.

A implantação da AIDPI no Brasil foi amplamente discutida e

aprovada por técnicos e consultores dos diferentes programas do Ministério da Saúde

que atuam na área da criança, representantes de instituições governamentais e não

governamentais, da Sociedade Brasileira de Pediatria, de universidades e técnicos

das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. A adaptação do material

instrucional, produzido inicialmente pela OMS /OPAS, ocorreu em 1996 e obedeceu

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às normas e diretrizes nacionais, levando em conta toda a diversidade epidemiológica

das distintas regiões do país.

As condutas preconizadas pela AIDPI incorporam todas as normas

do Ministério da Saúde relativas à promoção, prevenção e tratamento dos problemas

infantis mais freqüentes, como aqueles relacionados ao aleitamento materno,

promoção de alimentação saudável, crescimento e desenvolvimento, imunização,

assim como o controle dos agravos à saúde tais como: desnutrição, doenças

diarréicas, infecções respiratórias agudas e malária, dentre outros.

Em virtude das características dessa estratégia, sua implantação foi

priorizada nas regiões Nordeste e Norte, onde se situavam os municípios com

maiores índices de mortalidade infantil (acima de 40/1.000 nascidos vivos). Naquela

ocasião, foi proposto que a implantação da AIDPI fosse iniciada nos municípios com

os Programas do PSF e PACS implantados. Foi implantada inicialmente no Ceará,

Pará, Pernambuco e Sergipe, a partir de 1997, e contou com a adesão gradativa de

outros estados brasileiros. A operacionalização dessa estratégia vem sendo efetivada

principalmente pelas Equipes Saúde da Família.

Para a implementação dessa estratégia, o Ministério da Saúde

promoveu cursos de capacitação aos profissionais de saúde que atendem crianças nos

serviços de atenção Básica no Brasil. E para auxiliar esse curso, formulou um

material didático contendo 7 módulos assim compostos:

Módulo 1 – Introdutório;

Módulo 2 – Avaliar e Classificar a criança de 2 meses a 5 anos de

idade;

Módulo 3 – Identificar o tratamento;

Módulo 4 – Tratar a criança;

Módulo 5 – Aconselhar a mãe ou o acompanhante;

Módulo 6 – Atenção à criança de 1 semana a 2 meses de idade;

Módulo 7 – Consulta de Retorno.

Para efeitos desse estudo, foi analisado somente o módulo 1

(introdutório), por ser aquele que traz as diretrizes da estratégia.

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4.3 AGENDA DE COMPROMISSOS PARA A SAÚDE INTEGRAL DA

CRIANÇA E REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL (BRASIL,

2004A)

Apesar dos investimentos em políticas de saúde para a infância nas

últimas décadas, os indicadores de saúde demonstram que ainda falta um longo

caminho a percorrer para garantir às crianças brasileiras o direito integral à saúde,

como assumido em nossas leis. Os índices de mortalidade infantil, apesar de sofrer

uma redução considerável, ainda são considerados altos.

Por isso, o Ministério da Saúde elaborou em 2004 a “Agenda de

Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil”,

com o objetivo de concentrar esforços na organização da assistência à população

infantil, contemplando desde o primeiro atendimento, nas unidades básicas de saúde,

até a atenção especializada dos casos mais graves que exigem atendimento nas

unidades de média e alta complexidade.

Nessa Agenda estão organizadas as principais diretrizes que devem

ser seguidas no desenvolvimento de políticas de atenção à criança e é mais uma

ferramenta de trabalho para ajudar gestores estaduais e municipais no processo de

reorganização da rede de assistência à infância nos seus vários níveis e assim

construir um pacto em prol da redução da mortalidade infantil e pela garantia de uma

rede de assistência pública integral, qualificada e humanizada em benefício da

criança brasileira.

Também possui como finalidade atender todas as necessidades de

saúde e prover uma qualidade de vida para a criança de modo que ela possa crescer e

desenvolver todo o seu potencial.

A organização de uma rede integrada de assistência deve estar

apoiada nos princípios já garantidos pela Constituição Federal, no Estatuto da

Criança e do Adolescente e no Sistema Único de Saúde, como direito de acesso aos

serviços de saúde hierarquizados e com enfoque na integralidade do indivíduo e da

assistência, que garantam a resolubilidade e promovam a equidade. Deve incorporar

a organização do processo de trabalho integrado entre os agentes comunitários de

saúde, equipe de saúde da família, equipes de apoio, unidades básicas de saúde,

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atenção especializada, serviços de urgências, ações complementares de assistência e

atenção hospitalar, além das ações intersetoriais que envolvem a criança e a família.

Esse documento assume o desafio de conformação de uma rede

única integrada de assistência à criança, apresentando uma linha de cuidado integral

com a identificação das ações prioritárias e as estratégias que devem nortear a ação

das unidades de saúde e da rede como um todo, visando ao cumprimento dos

objetivos de promover a saúde e reduzir a morbimortalidade para níveis aceitáveis.

O documento é organizado por capítulos assim divididos:

• Princípios norteadores do cuidado na saúde da criança;

• Linhas de cuidado da Atenção Integral da Saúde da Criança e

Redução da Mortalidade Infantil;

• Principais eixos das linhas de cuidado;

• Principais estratégias de ação;

• A organização dos serviços de saúde e da rede de atenção à

criança;

• Destaques para abordagem prioritária;

• Compromisso das unidades de saúde: “o que não pode deixar

de ser feito”;

• Instrumentos de Gestão dos serviços de saúde para a Atenção

Integral à Saúde da Criança.

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5 PROPOSIÇÕES TECNOLÓGICAS PARA A ATENÇÃO À SAÚDE

DA CRIANÇA

Neste capítulo, apresentam-se as categorias que emergiram da

análise das proposições tecnológicas para o atendimento à criança na atenção básica.

Como já dito, as análises das proposições políticas da PNAB

(BRASIL, 2006a), da AIDPI (BRASIL, 2003) e da Agenda de Compromissos à

Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil (BRASIL, 2004a),

foram agrupadas em duas dimensões: tecnologias assistenciais e tecnologias inter-

relacionais, cujos conteúdos constituem o objeto deste estudo.

5.1 TECNOLOGIAS ASSISTENCIAIS

Esta dimensão englobou quatro categorias que serão discutidas a

seguir: ações de promoção da saúde; ações educativas; ações de vigilância em saúde

e ações clínicas.

5.1.1 Ações de Promoção da Saúde

Mesmo sabendo que o aspecto conceitual de promoção da saúde

abarca as ações de educação em saúde, aqui neste estudo, optou-se por apresentá-los

isoladamente, considerando a perspectiva dos documentos analisados.

Diante das intensas mudanças sociais, econômicas e culturais,

principalmente no início deste século, a discussão acerca da promoção da saúde no

processo de trabalho das equipes de saúde tem ganhado um lugar de destaque.

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O que prevalece atualmente nos serviços de saúde em nossa

realidade, ainda é o enfoque da prevenção de doenças, trazendo à tona, inclusive,

certa confusão entre esses dois conceitos e uma dificuldade por parte dos

profissionais em propor ações que promovam a saúde da população infantil.

Os estudos, debates e discussões da atualidade sobre essa temática

têm tornado o conceito de promoção de saúde mais compreensível entre os atores

sociais envolvidos no âmbito da saúde; porém, poucos sabem como aplicá-lo na

prática dos serviços de atenção básica.

De acordo com Gaíva & Mandú (2006), um dos principais desafios

na concretização das ações de promoção da saúde é aliar as ações que incidem no

estilo de vida individual com as ações mais abrangentes sobre a organização social, o

Estado e as comunidades.

Promover a saúde infantil alia-se a uma concepção mais ampla de

saúde, à medida que esta população é mais vulnerável e dependente de um complexo

maior de cuidados específicos por parte de sua família e do Estado.

Foi identificada nos documentos analisados neste estudo, PNAB

(BRASIL, 2006a), AIDPI (BRASIL, 2003) e Agenda de Compromissos...(BRASIL,

2004a), uma valorização da prática de promoção da saúde na infância, bem como de

estratégias a serem desenvolvidas para efetivá-la.

Nos princípios gerais da atenção básica definidos na PNAB

(BRASIL, 2006), a promoção da saúde aparece como uma importante ferramenta

para propiciar as possibilidades de viver de um modo mais saudável.

Numa concepção mais restrita de promoção da saúde, em que os

modos de viver são enfatizados como únicos responsáveis pela melhor qualidade de

vida da população, o indivíduo é visto como se fosse o único responsável pelo seu

bem-estar, pela sua qualidade de vida, como se não dependesse de outros fatores

externos.

Diante de uma diversidade conceitual sobre promoção da saúde,

percebe-se que os profissionais vêm empregando o termo principalmente no sentido

de atividades dirigidas à transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando

seus estilos de vida, localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no ambiente

cultural da comunidade em que se encontram. Nesse caso, as ações são dirigidas aos

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riscos comportamentais passíveis de mudanças, os quais estariam sob controle dos

indivíduos, como, por exemplo, hábito de fumar, dieta, atividades físicas, direção

perigosa no trânsito etc (BUSS, 2000).

Para este autor, um conceito mais atual de promoção da saúde,

além desses aspectos citados, também se relaciona a fatores que estão fora do

controle dos indivíduos, bem como a interferência dos determinantes gerais sobre as

condições de vida. Este conceito sustenta-se no entendimento que

[...] a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo da vida; ambiente físico limpo; apoio social para as famílias e indivíduos; estilo de vida responsável e um espectro adequado de cuidados de saúde. As atividades estão mais voltados ao coletivo de indivíduos e ao ambiente físico, social, político, econômico e cultural (BUSS, 2000, p.4).

Corroborando com esse enfoque, a Política Nacional de Promoção

em Saúde (BRASIL, 2006b) menciona que os modos de viver têm sido abordados

numa perspectiva individualizante e fragmentada, colocando os sujeitos e as

comunidades como os únicos responsáveis pelas várias mudanças ocorridas no seu

processo saúde-doença durante a vida. Em uma abordagem mais ampla e atual, os

modos de viver não se referem apenas ao exercício da vontade individual e

comunitária, e sim, aos modos como os sujeitos e coletividade elegem determinadas

opções de viver como desejáveis, organizam suas escolhas e criam novas

possibilidades para satisfazer suas necessidades, desejos e interesses pertencentes à

ordem coletiva, uma vez que seu processo de construção se dá no contexto de sua

própria vida.

De forma mais abrangente, no SUS, a estratégia de promoção da

saúde é retomada como uma possibilidade de enfocar os aspectos que determinam o

processo saúde-doença no país, potencializando formas mais amplas de intervir em

saúde. Esses determinantes são, por exemplo, violência, subemprego, desemprego,

falta de saneamento básico, habitação inadequada, dificuldade de acesso à educação,

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fome, urbanização desordenada, qualidade do ar ameaçada e deteriorada (BRASIL,

2006b).

Diante disso, percebe-se que a promoção da saúde envolve ações

sobre determinantes que extrapolam o âmbito da saúde, necessitando o envolvimento

e a co-responsabilização de outros setores.

A PNAB (BRASIL, 2006a) apresenta, nas características do

processo de trabalho das equipes de atenção básica, o desenvolvimento de ações

intersetoriais voltadas para a promoção da saúde.

A intersetorialidade é ferramenta fundamental para a realização da

promoção da saúde infantil, pois surge como uma possibilidade de solução integrada

dos problemas da infância em sua totalidade, envolvendo os diversos setores: saúde,

educação, habitação, meio ambiente e outras dimensões sociais (PAPOULA, 2006).

A intersetorialidade guarda estreita relação com a promoção de

saúde e torna-se de fundamental importância na efetivação do modelo assistencial

usuário centrado, defendido nas atuais políticas públicas.

A Política Nacional de Promoção de Saúde (BRASIL, 2006b, p.17)

destaca que

[...] o processo de construção de ações intersetoriais implica na troca e na construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os diversos setores envolvidos na tentativa de equacionar determinada questão sanitária, de modo que nele torna-se possível produzir soluções inovadoras quanto à melhoria da qualidade de vida. Tal processo propicia a cada setor a ampliação de sua capacidade de analisar e de transformar seu modo de operar a partir do convívio da perspectiva dos outros setores, abrindo caminhos para que os esforços de todos sejam mais efetivos e eficazes.

Na concepção de Campos (2004), a promoção de saúde é uma

importante resposta à medida que destaca ações intersetoriais como estratégia de

enfrentamento dos problemas quanto ao meio ambiente, à urbanização, à segurança

alimentar e nutricional, ao desemprego, à moradia, ao uso de drogas, entre outros.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), do mesmo modo,

destaca entre as ações de promoção de saúde, a abordagem de problemas relevantes

em saúde pública na atualidade, como violência urbana, violência doméstica, os

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acidentes domésticos e do trânsito, os quais são causas importantes de morbidade na

infância e primeira causa de mortalidade a partir dos 4 anos de idade.

Para combater esses determinantes, o investimento em áreas que

transpassam os muros das unidades básicas de saúde requer uma ampla rede de

parcerias tanto de órgãos governamentais, como não-governamentais e,

principalmente, o envolvimento da comunidade.

Gaíva & Mandú (2006) destacam como relevantes medidas de

desenvolvimento e apoio social que se relacionam à promoção de saúde infantil: o

investimento em educação, habitação, alimentação, trabalho, geração de qualidade

físico-ambiental (melhoria do saneamento básico, água potável, redução da poluição

ambiental e toxidade alimentar, etc); a ampliação da oferta e qualidade de serviços de

saúde; e o acesso à justiça e à proteção jurídica ampla (que inclui principalmente a

proibição do trabalho infantil, o qual interfere no desenvolvimento da criança).

Dentre as ações intersetoriais para se promover a saúde da criança,

presentes na Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), estão as ações

promotoras de acesso à água tratada e esgotamento sanitário.

Ao definir os princípios norteadores do cuidado da saúde da

criança, a Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), também enfatiza o

desenvolvimento de ações coletivas com ênfase nas ações de promoção da saúde,

através de ações educativas nas escolas, creches, pré-escolas e unidades de saúde,

com interferências diretas sobre o ambiente e hábitos de vida, buscando-se uma

qualidade de vida saudável.

Oliveira (2007), ao analisar as tendências pedagógicas na

capacitação dos multiplicadores do projeto “Nossas crianças: janelas de

oportunidades”, vinculado ao PSF de São Paulo, valoriza o espaço escolar como

lócus participativo e emancipatório de crianças, representando um campo profícuo

para a equipe de saúde efetuar parcerias com o intuito de fortalecer ações

intersetoriais e recomendações sobre saúde que, por extensão, influenciam

positivamente a família.

As ações de promoção da saúde infantil devem ser integradas a

outros setores que extrapolam o âmbito da saúde e, para isto, a efetiva participação

dos sujeitos e da comunidade é fundamental.

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Nesse sentido, a PNAB (BRASIL, 2006a), ao definir as

características do processo de trabalho da equipe de saúde, destaca a necessidade de

auxiliar a ampliação do controle social na defesa da qualidade de vida.

Para Gaíva & Mandú (2006), a promoção da saúde não se faz

somente pela equipe de saúde e órgãos governamentais através de medidas políticas,

mas também pela participação efetiva da comunidade no estabelecimento de

estratégias, conforme suas necessidades e recursos disponíveis e, principalmente,

apreciando seus valores, conhecimentos e opções.

Para Campos (2004), a mobilização social e o fortalecimento dos

movimentos sociais auxiliarão na elaboração, implementação e avaliação das

políticas públicas e, de certa forma, na melhoria da qualidade de vida, uma vez que

através daqueles se promoverá a discussão sobre cidadania e o respeito aos direitos

constitucionais, trabalhando com o reconhecimento e o respeito à diversidade

existente em nosso país.

No que se refere à criança, é preciso reconhecer a importância da

participação efetiva da família na tomada de decisão em torno das necessidades da

criança e até mesmo da participação da própria população infantil no seu processo

saúde-doença.

Gaíva & Mandú (2006) alertam que apesar das práticas de saúde na

infância, na maioria das vezes, estar voltadas aos pais/família ou cuidadores, não se

pode desconsiderar os potenciais infantis em desenvolvimento, os quais podem

favorecer uma participação mais ativa e autônoma em sua própria saúde e no

reconhecimento de seus direitos e responsabilidades.

Na estratégia AIDPI (BRASIL, 2003) também são incorporadas as

ações preconizadas pelo Ministério da Saúde relativas à promoção da saúde. Esta

estratégia foi proposta também com o objetivo de mudar a forma de organizar os

serviços de saúde para o atendimento da criança e de realizar a atenção

individualizada; esta mudança se refere à rede de atenção básica e enfoca

prioritariamente a prevenção de agravos na infância.

Apesar de a AIDPI considerar a promoção da saúde como elemento

chave para a saúde infantil, ela não explicita como efetivar essas ações; em

contrapartida, ela enumera uma diversidade de elementos favorecedores da

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prevenção aos agravos, principalmente no combate às doenças diarréicas,

respiratórias, nutricionais, dentre outras.

A AIDPI também limita as ações de promoção da saúde ao

aconselhamento à mãe ou ao acompanhante, sobre a melhor forma de cuidar da

criança para que ela tenha uma vida saudável. Estas orientações devem se voltar

prioritariamente à alimentação adequada para crianças menores de 2 anos, à

importância do aleitamento materno para uma vida saudável, à introdução de novos

alimentos no desmame, e ao oferecimento de alimentos de modo adequado

(BRASIL, 2003).

A prática de amamentação é considerada de grande valor e é

enfatizada na estratégia AIDPI como uma ação de promoção da saúde infantil, bem

como a alimentação adequada, apontando-se esses fatores primordiais na garantia de

uma vida saudável da criança.

O estímulo ao aleitamento materno é também enfatizado na

Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), como uma das ações de promoção da

saúde infantil. O aleitamento natural, sob a ótica da promoção da saúde, deve ser

trabalhado com a mãe desde o pré-natal. A equipe de saúde deve abordar nas

consultas os benefícios da amamentação para que a futura mamãe conheça a

importância dessa prática e a efetive na chegada de seu bebê.

O documento ainda menciona que iniciar bem a vida é fundamental

e acontecerá somente se houver condição favorável para a prática da alimentação

saudável acompanhada pela afetividade e pelo bem-estar proporcionado pela

amamentação.

A Agenda de Compromissos...(BRASIL, 2004a), ao apresentar o

incentivo ao aleitamento materno como uma linha de cuidado, destaca que a

amamentação, quando praticada de forma exclusiva até os seis meses e

complementada com alimentos apropriados até os dois anos de idade ou mais, é um

grande potencial transformador no crescimento, desenvolvimento e prevenção de

doenças na infância e idade adulta. Nesse sentido, as ações de promoção da

amamentação são postas como prioridades.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) também

considera os hábitos alimentares na infância como um meio eficiente de promoção da

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saúde e destaca que a avaliação e orientação para hábitos alimentares saudáveis

devem fazer parte de todo atendimento da criança no acompanhamento do seu

crescimento e desenvolvimento (BRASIL, 2004a).

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) ainda destaca que

as ações de promoção da saúde infantil devem ser iniciadas desde a gestação, pois a

gestante carrega a maior responsabilidade no cuidado a seu filho. Estes cuidados

envolvem principalmente a alimentação, tanto para com ela que está gerando um ser

em desenvolvimento, como com o bebê, desde o seu nascimento, o acompanhamento

pré-natal, o incentivo ao aleitamento materno, orientação do desmame e

acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança.

Outra ação de promoção da saúde infantil destacada na PNAB

(BRASIL, 2006a) e Agenda de Compromissos...(BRASIL, 2004a) e que também

abarca cuidados em relação à alimentação é o cuidado com a saúde bucal da criança.

Entre as ações que promovem a saúde bucal, enfatizadas na

Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), está a construção de hábitos

saudáveis desde os primeiros meses de vida, como a alimentação e higiene. Estes são

fatores extremamente importantes que merecem uma vigilância rigorosa por parte

dos pais e/ou família. Sabemos que a higiene é fator indissociável de uma vida

saudável e de qualidade, porém, o que vemos nos diferentes contextos em que está

inserida a criança é que este hábito nem sempre recebe o destaque que merece na

promoção da saúde infantil.

As realidades de vida das crianças atendidas na rede de atenção

básica são diversas, e isso demanda a necessidade de adequar as ações de promoção

da saúde ao contexto de cada uma delas. Por isso, é importante que a equipe de saúde

esteja o mais próximo possível do lócus de vivência e de convivência da população

infantil.

Ao planejar as ações de promoção da saúde infantil, devem ser

considerados os espaços propícios para efetivar estas ações. A Agenda de

Compromissos...(BRASIL, 2004a) identifica a possibilidade de abordagem da

criança nos espaços de sua vida cotidiana, (domicílio e instituições de educação

infantil), considerando que isto amplia a capacidade de atuação na promoção da

saúde e prevenção de agravos.

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Gaíva & Mandú (2006) corroboram com esse enfoque ao apontar

que as ações de promoção da saúde infantil devem ser realizadas considerando a

realidade familiar dos grupos infantis e de cada criança.

Para trabalhar as ações de promoção da saúde de acordo com o

contexto de vida da população infantil, as autoras recomendam que os profissionais

conheçam a família e seu contexto (estrutura, relacionamentos, condições

educacionais e socioculturais, necessidades de saúde, recursos usados,

elementos/fatores que desempenham papel importante no bem-estar e qualidade de

vida da criança). Para tal, as equipes devem fazer um diagnóstico da saúde da família

lançando mão de instrumentos de coleta de dados nos encontros formais com ela nas

unidades de saúde ou, ainda, em outros momentos de contato como visitas

domiciliares, atividades grupais, dentre outros. Só então, o profissional terá

elementos para propor ações conforme as necessidades de cada criança e suas

famílias, levando em consideração os fatores que geram vulnerabilidades e também a

estrutura e recursos diversos disponíveis.

A equipe de saúde da atenção básica deve ter bem clara as diversas

formas para efetivar as ações de promoção da saúde e, assim, viabilizá-las para que a

criança receba realmente um atendimento integral.

5.1.2 Ações Educativas

Na atenção à saúde da criança, há uma estreita relação entre

promoção da saúde e educação em saúde, visto que as ações implementadas em

todos os níveis de atenção, além de tratar e/ou prevenir doenças, destinam-se também

a promover o crescimento e desenvolvimento infantil, na perspectiva de uma melhor

qualidade de vida (QUEIROZ & JORGE, 2006).

As ações de educação em saúde são inerentes ao processo de

trabalho das equipes de saúde da atenção básica. Estas ações têm por finalidade

promover a saúde e prevenir agravos, tratando-se de

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[...] um recurso por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo de saúde, intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde (ALVES, 2005, p.43).

De acordo com os três documentos analisados as ações de educação

em saúde estão implicadas em todo o processo de trabalho das equipes que prestam

atendimento à criança e com a intenção de produzir promoção e prevenção da saúde

infantil.

Na PNAB (BRASIL, 2006a), o desenvolvimento das ações

educativas faz parte do processo de trabalho das equipes de atenção básica com o

objetivo de interferir no processo de saúde-doença da população e ampliar o controle

social na defesa da qualidade de vida. A prática da educação em saúde também

engloba orientar a população a se autocuidar e melhor utilizar os serviços de saúde,

na perspectiva da prevenção.

Esse mesmo enfoque está presente nos fundamentos da estratégia

AIDPI (BRASIL, 2003), e as ações educativas preconizadas têm o intuito de

melhorar a qualidade da atenção prestada à população infantil.

A proposta da estratégia AIDPI se alicerça em três pilares básicos:

capacitação de recursos humanos no nível primário de atenção; reorganização dos

serviços de saúde; e a educação em saúde na família e na comunidade, de modo que

haja uma participação de todos na identificação, condução e resolução dos problemas

de saúde dessa família, especialmente os menores de cinco anos de idade (BRASIL,

2003).

Para que o objetivo promocional das ações educativas às famílias e

comunidades seja atingido, o profissional de saúde deve intermediar esse processo,

possibilitando a essa população a aquisição de condições, conhecimentos, posturas e

habilidades para a tomada de decisão na busca de uma melhor qualidade de vida e

saúde (GAÍVA & MANDÚ, 2006, p.39). Ou seja, é o profissional que vai

proporcionar elementos que favoreçam a promoção de saúde da população, neste

caso, da criança.

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A temática educação em saúde tem sido alvo de muitos debates,

visto que é fator preponderante na reorientação do modelo assistencial. Nesse

sentido, as práticas educativas têm assumido uma conotação contrária à do modelo

hegemônico de atenção à saúde, onde predomina uma relação educativa vertical

entre profissionais e população. O que se defende hoje é o mútuo aprendizado que se

concretiza através da trocas entre sujeitos (profissional e usuário), em que cada um

colabora com seu conhecimento, seus saberes e sua cultura.

Complementando essa idéia, Alves (2005) afirma que as práticas de

educação em saúde devem romper com a verticalização na relação entre usuário e

profissional de saúde. Para tal, devem ser valorizadas as trocas interpessoais, as

iniciativas da população e usuários, buscando-se a compreensão do saber popular

através do diálogo.

As pessoas, quando se tornam sujeitos de seu processo saúde-

doença, têm facilidade em identificar seus problemas e são capazes de intervir,

buscando as possíveis soluções para suas necessidades. Essa atitude corrobora para a

ampliação da autonomia no cuidado e na promoção da saúde (QUEIROZ & JORGE,

2006).

Nessa perspectiva atual da educação em saúde,

[...] o usuário é reconhecido como sujeito portador de um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado, capaz de estabelecer uma interlocução dialógica com o serviço de saúde e de desenvolver uma análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento (ALVES, 2005, p. 46).

No que se refere ao atendimento à criança, é interessante destacar

que a família tem papel fundamental nesse processo educativo, pois é esta que

responde pela saúde de seu ente, por isso deve ser tomada também como sujeito do

processo de saúde-doença da criança e de sua atenção.

É importante que os profissionais de saúde enquanto educadores

também se sintam, assim como os usuários, sujeitos do processo. L’Abbate (1994)

considera sujeito aquela pessoa que busca por autonomia, disposta a correr riscos,

enfrentar o desconhecido, capaz de sentir-se participante de um projeto e de desafios

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surgidos a cada momento. No entanto, muitas práticas de educação em saúde em

nossa realidade ainda se limitam à visão biologicista do processo saúde-doença-

cuidado, o que requer um investimento em novas práticas pautadas em propostas

pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e

cidadania, orientando para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida

e da promoção do homem (SHALL & STRUCHINER, 1999, p. 4).

É essa concepção de educação em saúde que deve ser desenvolvida

no âmbito dos serviços de saúde, especialmente na atenção à criança, pois esta traz

possibilidades de superação das estruturas hoje dominantes, da fragmentação e

distanciamento, para integrar idéias e ações com objetivo de melhorar a saúde e

qualidade de vida da criança, proposta principal das políticas de atenção integral à

saúde da infância.

Faz-se necessário investir em uma nova perspectiva de educação

em saúde, que auxilie no desenvolvimento da autonomia da população no que diz

respeito aos cuidados relativos à sua saúde e, principalmente, que leve em

consideração os saberes populares. A educação em saúde em uma perspectiva que se

contraponha ao modelo hegemônico não deve ser efetivada com a imposição do

saber técnico e científico do profissional de saúde, mas sim pela compreensão do

saber popular, usando-o em prol do bem-estar do usuário.

No processo de educação em saúde, as informações não devem ser

repassadas pelos profissionais da saúde sem considerar as subjetividades, as

necessidades, os conhecimentos e o contexto no qual está inserida a criança e sua

família. A educação em saúde deve ser um momento de trocas, de diálogo e de

compartilhamento de informações. Para que as ações de educação se concretizem, as

informações populares devem ser identificadas e, com a atuação da equipe de saúde,

reforçadas, lapidadas e adaptadas em prol de uma melhor qualidade de vida.

Nessa perspectiva, Rios & Vieira (2007) acreditam que o

profissional deve ser um instrumento para que o usuário adquira autonomia no seu

processo de cuidado, favorecendo o enfrentamento de momentos conflitantes, de

estresse, de crise e a decisão sobre o que é melhor para sua saúde.

Esses mesmos autores consideram que a premissa básica daqueles

que realizam o processo educativo deve ser a de propiciar o fortalecimento pessoal

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dos seres humanos com quem interagem. O importante é ajudar o ser humano a

ajudar-se, fazendo-o agente de sua recuperação, com uma postura crítica e reflexiva

sobre seus problemas.

Queiroz & Jorge (2006), ao discutirem a educação em saúde em

pediatria, consideram que estas devem ser efetivadas através de estratégias que

envolvem a coletividade e a família, pois esta é responsável pela criança e detentora

de um saber que não pode ser descartado, que, se necessário, deve ser aperfeiçoado

ou apoiado no saber científico da equipe de saúde.

Bonet (2006) destaca que se deve levar em consideração a

especificidade dos conhecimentos das comunidades na implementação dos cuidados,

para gerar a possibilidade de melhor cuidar de sua saúde e propiciar a tomada de

decisões próprias.

Recortando a atenção à saúde da criança, não podemos

desconsiderar neste processo educativo a importância da família perante os menores

de cinco anos de idade. Apesar de, nessa idade, muitas crianças já possuírem uma

percepção sobre a melhor forma de promover sua saúde, elas ainda necessitam do

auxílio de seus pais ou responsáveis, visto que são seres ainda vulneráveis e

dependentes de cuidados.

Nessa perspectiva, a estratégia AIDPI menciona que as ações

educativas devem ser associadas a um processo de educação desenvolvido com a

família e comunidade, objetivando contribuir na melhoria da atenção prestada à

população infantil (BRASIL, 2003).

A estratégia AIDPI ainda destaca a necessidade de verificar

continuamente se o que foi orientado pelos profissionais de saúde durante o

atendimento foi compreendido pela mãe ou responsável pela criança (BRASIL,

2003). Nessa proposição, subentende-se que as orientações devem ser fornecidas de

forma vertical, ou seja, por um detentor do saber, no caso, o profissional, cabendo à

mãe delas se apropriar tal como repassadas.

Ao considerar a família como elemento principal no cuidado à

criança, Queiroz & Jorge (2006) afirmam ser necessário que as ações educativas

sejam compartilhadas entre os profissionais e a mãe/responsáveis.

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É certo que para fazer educação em saúde é preciso manter uma

comunicação adequada com a mãe ou responsável, acompanhando a aprendizagem e

percebendo os comportamentos adotados no cuidado com a criança. A

aprendizagem deve ocorrer na troca de experiências entre as mães e com a equipe,

respeitando-se sua linguagem, experiências pessoais e cultura (QUEIROZ & JORGE,

2006).

A mãe deve ser incentivada pela equipe de saúde a cuidar da

criança, usando os conhecimentos que já possui, aprimorando-os e despertando-a

para novas experiências no cuidar da criança.

Se a criança tem possibilidades de exercer algum grau de

autonomia sobre seus próprios cuidados, a equipe de saúde também deve investir em

ações educativas voltadas a esta população.

Gaíva & Mandú (2006) destacam que os profissionais de saúde ao

pensar ações educativas devem reconhecer os direitos e responsabilidades da criança,

pois esta deve ter acesso a condições e medidas para o desenvolvimento de seus

potenciais, para tornar-se autônoma e participar na tomada de decisões sobre sua vida

e saúde.

Chiesa & Veríssimo (2001), ao discutirem a educação em saúde na

prática do PSF, também afirmam que todas as pessoas, inclusive as crianças, têm

direitos e são capazes de escolher o caminho mais apropriado para promover, manter

e recuperar sua saúde.

Para desenvolver ações de educação em saúde voltadas para a

população infantil, é preciso reconhecer primeiramente os fatores determinantes que

levam a criança a adoecer e/ou a tornar-se mais vulnerável. Para isso se faz

necessário conhecer o contexto de vida dessa população.

O contexto familiar é um ambiente privilegiado para o

desenvolvimento de ações educativas, principalmente por propiciar um contato mais

próximo com a criança e sua relação com seus cuidadores.

Com base na experiência de investigação do significado da prática

educativa no cuidado da criança, Queiroz & Jorge (2006, p.118) perceberam que,

[...] em todos os campos de atuação da Pediatria, a Educação em Saúde surge como prática capaz de favorecer a cura e a recuperação além da promoção da saúde, como também dar

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suporte ao profissional para avaliar as condições da mãe, ou outro qualquer responsável, para assumir com suficiência o cuidado com a criança. Por conseguinte, todas as oportunidades devem ser aproveitadas para conversar e trocar experiências, percebendo sua condição de cuidar da criança e demonstrando uma atitude de compreensão e aproximação com a realidade das famílias.

Garantir a saúde dos filhos é motivo de preocupação para a maioria

dos pais. Porém, é importante considerar com a população que esses cuidados não se

restringem a criança somente a partir do momento em que ela vem ao mundo. Os

cuidados com a população infantil iniciam-se no momento em que a criança é gerada

no útero de sua mãe.

Esse cuidado com a criança é destacado na Agenda de

Compromissos... (BRASIL, 2004a), ao enfatizar que uma das finalidades das ações

educativas é o controle de doenças maternas e da infância.

Este é o único dos documentos analisados que aborda a importância

do cuidado da mãe, ainda durante o pré-natal, o que é extremamente fundamental

tanto para a saúde materna como para a promoção da saúde da criança.

Rios & Viera (2007), ao refletirem sobre a consulta de enfermagem

como espaço educativo, afirmam que a realização de ações educativas no decorrer de

todas as etapas do ciclo gravídico-puerperal é muito importante; porém, é durante o

pré-natal que as orientações devem ser reforçadas, para que o parto seja vivenciado

de forma positiva, para propiciar menos riscos de complicações no puerpério, mais

sucesso na amamentação e nos cuidados a serem dedicados à criança.

Dentre as ações de educação em saúde destinadas ao cuidado

materno, apresentadas na Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), são

destacadas as seguintes orientações: importância do intervalo interpartal e

alimentação; riscos do tabagismo e bebidas alcoólicas e uso de medicamentos;

incentivo ao parto normal; hábitos saudáveis de vida; a importância da consulta de

puerpério, do planejamento familiar; os direitos da gestante e do pai; a prevenção de

patologias da mama, cuidados após o parto, higiene, alimentação saudável no

puerpério e cuidados como o ingurgitamento mamário. Essas ações, além de

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preservar a saúde da mãe, proporcionam o nascimento saudável e um adequado

crescimento e desenvolvimento da criança.

Ao focar os cuidados à criança, o documento destaca os seguintes

eixos para as ações educativas: incentivo ao aleitamento materno e a hábitos

alimentares saudáveis que serão adquiridos pela criança; importância do cuidado

com a saúde bucal, do teste do pezinho e da Primeira Semana Saúde Integral na

Unidade Básica de Saúde (BRASIL, 2004a).

Dentre todos os cuidados explicitados no documento, o aleitamento

materno é o mais enfatizado, sendo aquele que deve merecer por parte dos

profissionais de saúde atenção prioritária nas ações de educação em saúde, desde a

gestação, por ser fator relevante à promoção da saúde da criança.

Durante o pré-natal é de fundamental importância a abordagem

para as orientações sobre como o leite é produzido e sobre a importância da

amamentação precoce e sob livre demanda. Essas orientações incluem também a

importância do alojamento conjunto, os riscos do uso de chupetas, mamadeiras e

qualquer tipo de bico artificial, orientação quanto ao correto posicionamento da

criança e pega da aréola, como realizar a ordenha manual do leite, como guardá-lo e

como superar dificuldades como o ingurgitamento mamário (BRASIL, 2004a).

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003), no que se refere às ações

educativas, enfatiza a importância das orientações e recomendações às mães para que

a criança receba uma atenção integral e de qualidade.

Dentre as ações educativas que a mãe deve receber em relação aos

cuidados a serem prestados ao seu filho, identificadas na estratégia AIDPI (BRASIL,

2003) destacam-se: o cuidado na alimentação e importância dos líquidos, a

administração de medicamentos específicos, como antibiótico oral, antimalárico ou

um suplemento alimentar específico, a recomendação de retorno ao serviço de saúde,

identificação de sinais e sintomas de doenças prevalentes na infância e sobre todos os

cuidados a serem prestados à criança em casa.

Percebe-se nesse documento que as ações educativas propostas

através de orientações enfatizam prioritariamente a prevenção de agravos. Na

perspectiva mais atual de educação em saúde também se objetiva a prevenção de

agravos, mas, sobretudo, as de promoção da saúde infantil.

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A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) destaca que por

meio de ações educativas em saúde, tanto nos domicílios como na coletividade, a

equipe de saúde amplia o acesso às ações e serviços de informação e promoção

social e de proteção da cidadania, além de participar da orientação, acompanhamento

e educação específica em saúde.

Dentre os objetivos das ações educativas, destaca-se a importância

das pessoas, neste caso, as crianças ou suas famílias, assumirem seu cuidado,

tornando-se capazes de trocar idéias e opiniões sobre as suas práticas, como meio de

validar, adaptar ou modificar formas aceitáveis e benéficas de cuidados à saúde.

Acredita-se que o princípio da integralidade como eixo norteador

das ações educativas deva estar articulado à correção de um agir em saúde

fragmentado e desarticulado, embasado em uma postura autoritária por parte dos

profissionais de saúde que impõem um saber científico descontextualizado dos

anseios, desejos e necessidades de saúde da criança.

O novo agir deve ser alicerçado em um novo paradigma, no qual a

equipe de saúde deve estar preparada para ouvir, entender e considerar o contexto

socioeconômico e cultural e a partir daí atender às demandas e necessidades da

criança.

5.1.3 Ações de Vigilância em Saúde

Após a instituição do SUS através da Constituição de 1988, muito

tem se discutido sobre os modelos de assistência à saúde predominantes no país, que

são o modelo médico-assistencial, calcado na clínica, em procedimentos e nas

doenças, e o modelo sanitarista, baseados em campanhas, programas e em ações de

vigilância epidemiológica e sanitária (TEIXEIRA & VILASBÔAS & PAIM, 2002).

Esses modelos não conseguem responder de forma efetiva e eficaz

às reais necessidades de saúde da população brasileira. Para superar essa hegemonia,

têm se buscado modelos alternativos que incorporem ações integradas de promoção,

proteção e recuperação da saúde e outras formas de cuidado que se voltem à busca da

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qualidade de vida das coletividades. Dentre esses modelos, a vigilância em saúde tem

sido considerada um caminho para efetivação dos princípios do SUS e é apontado

como eixo da reorganização do modelo assistencial (MONKEN & BATISTELLA,

2006).

A vigilância em saúde vem sendo enfocada como um elemento

importante na reorientação do modelo de atenção desde a proposta da Reforma

Sanitária na década de 1970, ideário que motivou a criação do SUS nos anos 1980.

Mas foi a partir da década de 1990 que se detectou a necessidade de ampliar as ações

de vigilância, predominantes até então, pois essas não contemplavam os problemas

de saúde e as condições de vida da população. Através de uma concepção mais

ampla do conceito de saúde, assumido pelo SUS a partir da Lei Orgânica de Saúde

8080/90, surge uma nova proposta de ações de vigilância em saúde, antes restritas à

epidemiologia. Essa nova proposta inclui a conjunção de forças entre as vigilâncias

epidemiológica, sanitária e ambiental.

A vigilância em saúde, ampliando os métodos da tradicional

vigilância epidemiológica, realiza um deslocamento substantivo em relação a esta,

quando vincula o controle de riscos e agravos a processos regionalizados e

democratizados de definição de preocupações prioritárias e de estratégias de

intervenção e monitoramento e, também, quando incorpora objetos de vigilância

mais amplos que os agravos de notificação compulsória tradicional, tais como

questões nutricionais, saúde ambiental, saúde mental, violência, relações entre saúde

e trabalho, dentre outras (AYRES, 2004).

A proposta de vigilância em saúde envolve algumas mudanças na

forma de organização do processo de trabalho na saúde. Ela incorpora novos sujeitos,

extrapolando o conjunto de profissionais de saúde, envolvendo a população

organizada, ampliando também o seu objeto, que além das determinações clínico-

epidemiológicas no âmbito individual e coletivo, também abarca as determinações

sociais que afetam os distintos grupos populacionais em função de suas condições de

vida (TEIXEIRA & PAIM & VILASBÔAS, 2002).

A vigilância em saúde também vem sendo discutida como

importante ferramenta do processo de trabalho na atenção básica de saúde. Nesse

sentido, as políticas analisadas neste estudo apontam a importância das ações de

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vigilância em saúde como tecnologias eficazes na concretização dos princípios do

SUS e na resolução das necessidades de saúde demandadas pela população infantil.

Dentre os fundamentos da Atenção Básica enumerados na PNAB

(BRASIL, 2006a), a realização de ações de vigilância à saúde, articuladas a outras

ações como, por exemplo, promoção da saúde, prevenção de agravos, ações curativas

e programáticas, é destacada como meio para garantir a integralidade da atenção.

Mendes (1996) reforça esta premissa afirmando que a Vigilância

em Saúde, como prática sanitária, organiza os processos de trabalho em saúde

mediante operações intersetoriais que são articuladas por diferentes estratégias de

intervenção, incluindo ações de promoção, prevenção de enfermidades e acidentes e

atenção curativa. Essa prática sanitária é uma resposta social organizada aos

problemas de saúde em todas as suas dimensões.

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003a) não aponta de maneira

explícita, em seu documento introdutório, as práticas de vigilância em saúde. Porém,

algumas ações que são propostas à equipe de saúde, abarcam essa prática,

principalmente o controle dos agravos à saúde como: desnutrição, doenças diarréicas,

infecções respiratórias agudas e malária, dentre outras. Percebe-se que o enfoque

dado à vigilância em saúde, nesse caso, é na priorização do controle de doenças e nas

ações clínicas, dentro de uma concepção de prevenção de agravos.

O conceito de vigilância, na AIDPI, ainda permanece restrito ao

processo da doença, ao destacar ações direcionadas somente para a prática curativa.

O que vem sendo discutido, atualmente, é a necessidade de contemplar uma visão

mais positiva em relação ao processo saúde-doença como um todo, ou seja, as ações

de vigilância em saúde, além de abarcar a prevenção de agravos, também devem

priorizar as ações de promoção da saúde, deslocando seu olhar da doença para os

modos de viver da população infantil.

A discussão acerca da vigilância em saúde tem sido ampliada e

considerada com as seguintes características: intervenção sobre problemas de saúde

que requerem atenção e acompanhamento contínuos (danos, riscos e/ou

determinantes); adoção do conceito de risco; articulação entre ações promocionais,

preventivas, curativas e reabilitadoras; atuação intersetorial; ação sobre o território; e

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intervenção sob a forma de operações (MONKEN & BATISTELLA, 2006;

MENDES, 1996; TEIXEIRA; PAIM & VILASBÔAS, 2002).

Assim, a vigilância corresponderia a um novo modelo de atenção

que supera os modelos vigentes, implicando na redefinição do objeto, dos meios de

trabalho, das atividades, das relações técnicas e sociais, bem como das organizações

de saúde e cultura sanitária (TEIXEIRA; PAIM & VILASBÔAS, 2002).

Dentre as principais estratégias de ação da Agenda de

Compromissos...(BRASIL, 2004a) está a vigilância à saúde pela equipe de atenção

básica, a qual é entendida como a postura ativa que o serviço de saúde deve assumir

em situações de maior risco e dirigida a pessoas com maior vulnerabilidade,

desencadeando ações estratégicas específicas para minimizar os danos com o

adequado acompanhamento de saúde, programando visitas domiciliares para

captação dos usuários e realização de busca ativa daqueles sem o acompanhamento

programado.

Nessa concepção de vigilância, é evidente a preocupação em

prestar um adequado acompanhamento de saúde, sem desconsiderar a importância de

captar as crianças com maior vulnerabilidade e maior risco.

A PNAB, ao caracterizar o processo de trabalho das equipes, prevê

a realização de ações voltadas para os grupos de risco e fatores de risco

comportamentais, alimentares e/ou ambientais. Ações de vigilância em saúde

também são previstas quando se definem as atribuições das equipes de saúde da

família, apontando ações de busca ativa e notificação de agravos (BRASIL, 2006a).

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003a) traz a concepção de

vigilância articulada às ações clínicas individuais, ou seja, durante o atendimento

médico ou de enfermagem se torna importante identificar fatores de risco que podem

interferir na saúde das crianças. Por exemplo, identificar sinais clínicos que permitam

a avaliação e classificação adequada do quadro e fazer uma triagem rápida quanto à

natureza da atenção requerida pela criança, prevendo o encaminhamento urgente a

um hospital, o tratamento ambulatorial ou a orientação para cuidados e vigilância no

domicílio.

Nota-se que as ações de vigilância são propostas para as unidades

básicas de saúde através do atendimento clínico, momento oportuno para avaliação

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das causas e determinantes do processo de doença da população infantil, porém estas

não devem ser restringidas somente a esta ocasião. É de suma importância que as

ações de vigilância em saúde também se efetivem no espaço em que a criança vive.

Como forma de garantir a efetividade das ações de vigilância em

saúde, os documentos analisados consideram a visita domiciliar um instrumento

facilitador para a aproximação dos determinantes do processo saúde-doença na

infância.

Nas atribuições comuns a todos os profissionais das equipes de

saúde destacadas na PNAB (BRASIL, 2006a), a visita domiciliar aparece como uma

tecnologia assistencial com a finalidade de promoção, prevenção e vigilância em

saúde, além de espaço para troca de informações entre a equipe e família.

Este espaço torna-se profícuo para que a equipe de saúde se

aproxime da realidade em que a criança vive, facilitando o desenvolvimento de ações

que contemplem o contexto socioeconômico e cultural da família.

É o que confirmam Fracolli & Bertolozzi (2001), ao afirmarem que

a visita domiciliar permite maior aproximação com a família e a criança, e com seus

modos de andar a vida, transformando-se em uma tecnologia importante no processo

de trabalho das equipes de saúde. É uma intervenção que possibilita uma

aproximação dos determinantes do processo saúde-doença no âmbito familiar.

Os autores ainda complementam que

[...] a visita domiciliar é um instrumento que possibilita à equipe de saúde identificar como se expressam, na família, a vida dos membros que a compõe, como se dá a socialização entre os membros, quais padrões de solidariedade se desenvolvem no interior do universo familiar e como estes podem contribuir para o processo de cuidado, cura ou recuperação de um de seus membros. Compreende ainda entender as funções sociais, econômicas, ideológicas e de reprodução da força de trabalho da família na sociedade (FRACOLLI & BERTOLOZZI, 2001, p.7).

A PNAB (BRASIL, 2006a) apresenta a visita domiciliar como de

atribuição de todos os profissionais que fazem parte da equipe de saúde da família, e

destaca-a como uma atividade a ser realizada pelos Agentes Comunitários de Saúde

(ACS), os quais devem manter um contato permanente com as famílias adscritas de

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sua área de abrangência. Este documento atribui ao ACS o acompanhamento, por

meio da visita domiciliar, de todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade,

de acordo com as necessidades definidas pela equipe. Essa atividade objetiva ainda a

identificação de grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos (BRASIL, 2006a).

Para Fracolli & Bertolozzi (2001), através da visita domiciliar, a

equipe de saúde da atenção básica tem a possibilidade de identificar as famílias mais

vulneráveis e com maiores riscos sociais de adoecer e morrer e com menores

potencialidades para o seu enfrentamento. Portanto, essa tecnologia assistencial

facilita organizar o acesso aos serviços de saúde para a priorização do atendimento a

essas famílias.

É importante ressaltar que a visita domiciliar deve ser uma ação

planejada e sistematizada, para diferenciar-se de uma atividade meramente social

(TAKAHASHI & OLIVEIRA, 2001).

Para estes autores, a visita domiciliar consiste em uma atividade

que se concretiza no local de moradia dos usuários adscritos à unidade de saúde e

obedece a uma sistematização prévia. Ela tem como objetivo subsidiar a intervenção

no processo saúde–doença de indivíduos ou o planejamento de ações visando à

promoção de saúde da coletividade.

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003) aponta a importância da

vigilância no domicílio restringindo este cuidado à mãe ou responsável pela criança.

Esta necessidade vai ser evidenciada através da triagem feita na unidade de saúde

pelos profissionais, no momento em que estes identificam sinais clínicos, avaliam e

classificam adequadamente o quadro da criança. De acordo com a avaliação dos

profissionais, será detectada a necessidade de vigilância à saúde da criança no

domicílio, pelos pais, bem como orientações em relação aos cuidados e retorno à

unidade de saúde se necessário.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) enfatiza a

importância da visita domiciliar pelo ACS no último mês de gestação e na primeira

semana de vida da criança como uma ação prioritária de vigilância à saúde da mãe e

do bebê, momento extremamente relevante para o incentivo, orientação, e apoio à

amamentação.

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Nessa proposição, as ações de vigilância, especificamente a visita

domiciliar, também devem abarcar os cuidados com a mãe, tendo em vista que dela

depende a saúde de seu bebê. Este momento deve tornar-se propício para

identificação de fatores que interfiram no bem-estar tanto da mãe como do recém-

nascido.

No que se refere ao acompanhamento do crescimento e

desenvolvimento da criança, a Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a)

salienta que, em toda visita domiciliar, no atendimento à criança, a equipe deve estar

atenta a alguns sinais de alerta, como atraso nas aquisições neuropsicomotoras,

comportamentos estereotipados e repetitivos, apatia frente a estímulos do ambiente,

dificuldades em fixar visualmente o rosto da mãe e objetos do ambiente, ausência da

resposta aos estímulos sonoros, dentre outros.

Esse documento mostra que a visita domiciliar é um momento

oportuno de observação de fatores que possam interferir no adequado

desenvolvimento da criança, identificando assim, a necessidade de um

acompanhamento especializado e, conseqüentemente, a possibilidade de atender às

necessidades da criança em espaços diversificados do setor saúde ou fora dele.

Esse aspecto é reforçado por Figueiras et al (2003), ao descreverem

os resultados de estudo realizado no município de Belém, para avaliar os

conhecimentos e as práticas dos profissionais que atuam na atenção básica acerca da

vigilância do desenvolvimento da criança. Esses autores defendem a importância da

capacitação dos profissionais em relação ao desenvolvimento infantil, pois quanto

mais precoce for a identificação do agravo/deficiência, maiores as chances de um

diagnóstico preciso e de seqüelas menores ou inexistentes. O diagnóstico e

tratamento tardio trarão prejuízos à qualidade de vida da criança.

Para Fracolli & Bertolozzi (2001), a vigilância à saúde é uma forma

de atuação que tem em vista a cotidianidade, ou seja, o permanente monitoramento

da saúde-doença dos grupos sociais e as questões que desencadeiam os processos de

adoecimento/fortalecimento. A atuação do profissional, neste caso, não se reduz à

espera de sinais de alarme ou dos denominados eventos sentinelas, mas da detecção

precoce de estrangulamentos ou de nós críticos que evidenciam os problemas e as

necessidades de saúde.

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A detecção de problemas e necessidades de saúde da criança

ocorre, muitas vezes, pela busca ativa, elemento imprescindível das práticas de

vigilância em saúde e presente nos documentos analisados neste estudo.

A busca ativa está intimamente relacionada com as visitas

domiciliares e denota um compromisso com a saúde da população infantil, à medida

que a equipe de saúde permanece constantemente vigilante sobre todos os cuidados

que a criança deve receber, bem como sobre os fatores de riscos e vulnerabilidades

aos quais essas crianças estão expostas, a fim de contribuir para uma vida mais

saudável possível.

A busca ativa aparece na PNAB (BRASIL, 2006a) como atribuição

comum a todos os profissionais da equipe de saúde, com o intuito de identificar

grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos.

Na Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), a busca ativa é

destacada como a detecção de crianças e mães que não seguem o protocolo de

cuidados necessários à saúde. A equipe de saúde deve estar atenta às crianças que

não comparecerem à unidade de saúde na primeira semana de vida, e a busca ativa

geralmente é de responsabilidade do ACS.

O documento cita que a equipe de atenção básica deve realizar a

busca ativa de crianças faltosas ao calendário de acompanhamento do crescimento e

desenvolvimento, de crianças faltosas do programa de imunização, de casos

suspeitos da realização do teste do pezinho, da gestante faltosa ao pré-natal, de

crianças que recentemente foram hospitalizadas, do recém-nascido de risco e da

gestante de risco (BRASIL, 2004a).

Essa busca poderá ser considerada pelas famílias, como uma

imposição do saber técnico-científico, ou até mesmo como uma invasão da

privacidade por parte dos profissionais, ou seja, não levando em consideração as

necessidades da população, o que torna incoerente com a perspectiva da

integralidade.

A busca ativa, independente de ser realizada no domicílio ou na

unidade de saúde, tem como propósito a identificação de situações de risco

(BRASIL, 2004a, BRASIL, 2006a), e o seu acompanhamento.

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O significado da palavra risco refere-se à probabilidade de um

evento futuro acontecer. Os riscos não são iguais para todos os grupos populacionais.

Existem determinadas condições que tornam certos grupos diferentes quanto à

probabilidade de adoecimento e morte. Tais condições são chamadas de fatores de

risco (MEDINA apud PERILLO, 2001).

As ações direcionadas sob o enfoque de risco devem priorizar

determinados grupos, no caso deste estudo, as crianças consideradas de risco ao

nascer, as que apresentam constantemente as doenças prevalentes da infância,

gestante adolescente, dentre outros.

Teixeira (2004) recomenda que os profissionais de saúde

incorporem na sua prática a noção de risco atual em potencial, não somente com

ações sobre os agravos à saúde, mas que considerem os riscos sanitários presentes no

ambiente.

A Agenda de Compromissos...(BRASIL, 2004a) apresenta alguns

compromissos das unidades de saúde, especificamente na linha de cuidados do

nascimento saudável, alertando que, na “Primeira Semana Saúde Integral”, a equipe

de saúde da unidade básica deve identificar a criança de risco ao nascer. O

documento enumera como determinantes e fatores de riscos, as seguintes situações:

• Residente em área de risco;

• Baixo peso ao nascer (< 2.500g);

• Prematuros (< 37 semanas de idade gestacional);

• Asfixia grave (Apgar <7 no 5º minuto de vida);

• Crianças internadas ou com intercorrências na maternidade ou

em unidade de assistência ao recém-nascido;

• Recém-nascido de mãe adolescente (< de 18 anos);

• Recém- nascido de mãe com baixa instrução (<8 anos de

estudo);

• História de morte de crianças < 5 anos na família.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) também

considera como criança de risco as que não comparecerem na UBS na primeira

semana de vida para o teste do pezinho, menores de 1 ano sem acompanhamento,

menores de 6 meses que não mamam no peito, desnutridos ou baixo peso, egresso

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hospitalar, crianças com atendimento freqüente em serviços de urgências. Também,

crianças com asma sem acompanhamento, com vacinas em atraso, vítimas de

violência doméstica, crianças explicitamente indesejadas, com diarréia persistente ou

recorrente, com anemia ou sinais de hipovitaminose A. As crianças, cuja família tem

história de desnutrição, crianças com sobrepeso, mães sem suporte familiar, famílias

sem renda, cuidador com problemas psiquiátricos ou portadores de deficiência, e

cuidadores em dependência de álcool/drogas, também devem ser priorizadas.

A equipe deve estar preparada para identificar esses fatores de risco

do processo saúde-doença e buscar soluções rápidas e eficazes, no intuito de

possibilitar à criança uma vida de qualidade.

Ao trabalhar na perspectiva da vigilância em saúde, a equipe de

saúde tem a possibilidade de lidar com os determinantes de saúde. Ao identificar

esses fatores de risco e determinantes precocemente, a equipe tem a possibilidade de

propor intervenções eficazes, através do encaminhamento a especialistas, à unidade

básica de saúde, ao hospital, a outros setores, enfim, atender as necessidades da

criança com responsabilidade a fim de proporcionar uma vida saudável e de

qualidade.

A busca ativa realizada através da visita domiciliar pelo ACS ou

qualquer outro profissional da equipe de saúde deve respeitar a territorialização, ou

seja, os profissionais devem realizar as ações de vigilância em saúde às famílias e

crianças que estão sob sua responsabilidade, em sua área adscrita (BRASIL, 2006a).

As práticas de vigilância em saúde são facilitadas pela

territorialização, pois permite que a equipe de saúde tenha maior intimidade com os

determinantes socioeconômicos e culturais de uma região específica, bem como

possibilita um efetivo vínculo com a população infantil. Com um espaço definido, os

problemas são mais facilmente identificados e as propostas de intervenções sobre os

mesmos tornam-se mais ágeis.

O reconhecimento do território sob sua vigilância é fundamental,

pois facilita diagnosticar a saúde da criança, identificar os diferenciais de risco a que

a população infantil está exposta, e encaminhar o planejamento em saúde orientado

para estes.

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Para Monken & Barcellos (2005), a territorialização permite a

caracterização da população e de seus problemas de saúde, bem como a avaliação do

impacto dos serviços sobre os níveis de saúde dessa população. Essa proposta está

presente no novo modelo da atenção básica e é justificada pelo agravamento das

desigualdades sociais associada a uma segregação espacial aguda, que restringem o

acesso da população a melhores condições de vida.

Para Mendes (1996), o enfoque por problemas parte do

reconhecimento de uma área adscrita para identificar, descrever e explicar os macro

problemas de saúde aí contidos, referidos por atores portadores de um dado projeto

de saúde.

A PNAB (BRASIL, 2006a) ainda define nas atribuições comuns a

todos os profissionais da equipe saúde da família, como ação de vigilância em saúde,

a notificação de doenças e agravos de notificação compulsória e de outros agravos e

situações de importância local.

Segundo Waldman (2006), a notificação compulsória das doenças

foi instituída no final do século XIX e constitui importante precursor da vigilância,

sendo até hoje utilizada como estratégia para conhecer melhor o comportamento de

doenças na comunidade. Essa notificação não deve se transformar em uma tarefa

corriqueira, como se suas informações não tivessem valor. Estas devem ser

fidedignas, sérias e repassadas às autoridades o mais breve possível para que medidas

sejam tomadas e ao menor custo possível.

A vigilância, com base em Sistemas de Notificações Compulsórias

de Doenças, quando na sua forma típica, é baseada em leis e regulamentos que

obrigam o médico e outros profissionais de saúde a notificar doenças da maneira

mais ágil possível às autoridades locais e estaduais de saúde. É a estratégia de

desenvolvimento de sistemas de vigilância mais utilizada na maioria dos países, por

ser a mais simples e de menor custo, porém costuma ter baixa sensibilidade

(WALDMAN, 2006).

Waldman (2006, p.510) afirma que

o objetivo da vigilância não abrange somente a coleta de dados sobre específicos eventos adversos à saúde e sua transformação em informações úteis, mas a responsabilidade de analisar essa informação à luz do conhecimento científico e elaborar as bases técnicas que subsidiarão os serviços de saúde na elaboração e

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implementação de intervenções médico-sanitárias efetivas e eficientes.

No que se refere às ações de vigilância da saúde infantil, Gaíva &

Mandú (2006) enfatizam sua importância, visto que envolve o monitoramento dos

problemas, as análises específicas de suas causas básicas (sociais, culturais,

institucionais, comportamentais e orgânicas) e, ainda, a socialização das informações

determinadas por essa ação.

Segundo as proposições políticas analisadas, dentre os

agravos/doenças da criança que devem ser notificadas pela equipe de saúde, estão as

doenças preveníveis através da imunização, como poliomielite, hepatite B, sarampo,

rubéola, caxumba, tétano, coqueluche, difteria, dentre outras, para se traçar as

medidas de prevenção e controle (BRASIL, 2004a).

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) ainda recomenda

um cuidado especial por parte da equipe de saúde com os chamados eventos

sentinelas, que são situações que refletem problemas no sistema de saúde, já que

existem ações de prevenção e controle para essas doenças.

O conceito de eventos sentinelas foi introduzido no país em 1976

por Rutstein et al conforme citado por Lopes et al (2004), sendo apresentado como

aqueles que correspondem à ocorrência de uma situação indesejável, que pode

acontecer em decorrência de uma falha no produto da atenção à saúde, podendo

ocasionar uma morte desnecessária, doença ou invalidez.

As ações consideradas evento sentinela na infância e que devem ser

incorporadas à rotina das equipes de atenção básica são: vigilância da ocorrência do

tétano neonatal, da sífilis e da rubéola congênita e da transmissão vertical do HIV,

por já se ter implantadas as ações de controle dessas doenças, incluindo a

disponibilidade de exames e medicamentos. Os casos identificados devem ser

notificados para que o serviço procure detectar os fatores que contribuíram para a

ocorrência desses eventos e, dessa forma, desencadear as ações locais necessárias

para a prevenção de novas ocorrências (BRASIL, 2004a).

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De acordo com Gaíva & Mandú (2006), as informações produzidas

pela notificação facilitam o acompanhamento e a avaliação das situações problemas,

principalmente as de maiores riscos para a criança.

A diminuição dos índices de mortalidade infantil tem sido um dos

grandes objetivos das ações de vigilância em saúde, juntamente com a promoção de

uma vida saudável na infância.

A proposta de vigilância em saúde, calcada em uma proposição

ampliada do conceito de saúde e na articulação da promoção da saúde, ainda não é o

enfoque predominante nos documentos/políticas voltadas para a população infantil,

pois as ações propostas para o trabalho em equipe estão focadas no controle de risco.

No entanto, já se percebe a presença da idéia de promoção da saúde tal como

apresentada na categoria anterior.

Para Teixeira, Paim & Vilasbôas (2002), independente das

concepções da vigilância em saúde, deve haver a preocupação com o impacto sobre

o estado de saúde da população e a situação epidemiológica, ou seja, com o impacto

sobre os danos, riscos, e os determinantes das necessidades sociais de saúde.

Mendes (1996) reforça dizendo que essa nova prática sanitária

transcende uma concepção de senso comum, de mera articulação entre as vigilâncias

epidemiológica e sanitária para uma atuação racional de enfrentamento coletivo dos

problemas de saúde.

Nos documentos analisados, especialmente nos referentes à

criança, a idéia central enfoca a vigilância epidemiológica e não a vigilância em

saúde, pois privilegia a dimensão da prevenção de doenças/agravos, destacando os

fatores de riscos e determinantes, sem atentar para a perspectiva da vulnerabilidade

infantil.

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5.1.4 Ações Clínicas

As ações clínicas priorizam o atendimento ao indivíduo e o

problema de saúde ou a doença que se manifestou naquele momento na vida do

usuário de saúde.

Foram destacadas nos documentos analisados as seguintes ações

clínicas: consultas, atendimentos de urgências médicas e odontológicas, e

encaminhamentos a outros setores.

Dentro dos modos de produção de saúde, as ações clínicas têm

grande valor, visto que têm como objetivo produzir saúde.

Favoreto (2006) considera a Clínica, na perspectiva de uma ação

[...] inserida num contexto social e cultural que se instrumentaliza de um conjunto de ferramentas técnicas biomédicas – homogêneas e homogeneizantes – para procurar dar respostas singulares às necessidades e às demandas em saúde de pessoas que a ela recorrem (p. 205).

A prática clínica individual também acompanha o modelo

hegemônico de assistência que prioriza a doença, o procedimento, as altas

tecnologias na forma de instrumentos e as padronizações da terapêutica aplicada a

cada usuário que procura a rede de atenção básica.

Segundo Campos (2006), a clínica trabalha com os problemas de

saúde do indivíduo, não levando em consideração a integração desse indivíduo e de

seu problema de saúde em macroestruturas. Portanto, o que caracteriza e dá

especificidade ao trabalho clínico é o foco analítico e terapêutico posto sobre o

indivíduo e sobre suas relações imediatas.

A clínica, ao englobar uma extrema variedade de casos, necessita

de uma metodologia que padronize as condutas diagnósticas e terapêuticas, sem

desconsiderar a possibilidade de adaptação dessas regras gerais às variações que, por

ventura, aparecer em cada caso (CAMPOS & AMARAL, 2007).

Diante dessas considerações, observa-se que o objeto da prática

clínica individual é a doença.

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Embora os aspectos da clínica apareçam na PNAB (BRASIL,

2006a), não é possível apreender com clareza de que forma se efetivam essas ações

com qualidade.

A PNAB (BRASIL, 2006a) aborda as ações clínicas quando

caracteriza a atenção básica como um conjunto de ações que se dá, também, no

âmbito individual e que abrangem a prevenção de agravos, o diagnóstico, o

tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Ações estas que se efetivam

através do atendimento clínico. Esse documento ainda assinala que a atenção básica

busca entre outras ações pertinentes ao processo saúde-doença, o tratamento de

doenças e redução de danos ou sofrimentos que possam comprometer as

possibilidades de viver dos sujeitos e a realização do primeiro atendimento às

urgências médicas e odontológicas pela equipe de saúde.

Na apresentação das atribuições comuns a todos os profissionais

das equipes de atenção básica pela PNAB (BRASIL, 2006a), é mencionado que, para

garantir a integralidade da atenção, são também necessárias as ações curativas e a

garantia de atendimento da demanda espontânea. Elementos estes, constituintes da

prática clínica tradicional. Ao profissional enfermeiro cabe a realização de consultas

e procedimentos, solicitação de exames complementares e prescrição de

medicamentos de acordo com protocolos ou normatizações conforme as disposições

legais da profissão. Nas atribuições do médico, estão incluídas a realização de

diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde. Ainda são previstas a

realização de consultas clínicas e procedimentos, e atividades de demanda

espontânea e programada em clínica médica, pediatria, gineco-obstetrícia, cirurgias

ambulatoriais, pequenas urgências clínico-cirúrgicas e procedimentos para fins

diagnósticos.

Analisando esse documento, percebe-se claramente a importância

da clínica no processo de trabalho das equipes de atenção básica, centrado na doença

e nos procedimentos, ou seja, no modelo biomédico.

As ações clínicas também estão explícitas na estratégia AIDPI

(BRASIL, 2003), a qual valoriza as ações de prevenção e tratamento das doenças

prevalentes, tais como: desnutrição, desidratação, diarréia, infecções respiratórias,

malária, etc. A estratégia menciona como ações fundamentais as consultas de rotina

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para vacinação e controle do crescimento e desenvolvimento, assim como

aconselhamento sobre os cuidados a serem prestados à criança em casa e sobre as

medidas de prevenção e promoção da saúde.

Porém, observou-se nessa estratégia a centralidade da clínica

voltada prioritariamente para a criança doente, reforçando as bases da clínica

tradicional, a qual centra-se na doença. Esse aspecto é reafirmado pelo documento ao

enfatizar que a estratégia AIDPI só poderá ser efetiva se a família levar a criança

doente no momento oportuno a um profissional de saúde com capacitação adequada

(BRASIL, 2003).

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003) caracteriza-se pela

consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na

infância, ao invés do enfoque tradicional que aborda somente a doença que levou a

criança a procurar a unidade de saúde, como se ela fosse independente das demais

doenças que atingem a criança e do contexto em que ela está inserida. O fato de

considerar o conjunto de doenças prevalentes na infância de uma forma integrada

está sendo estimado como uma mudança no paradigma de atendimento, subjugando

o enfoque tradicional de lidar com cada doença em separado. Entretanto, esse

enfoque, dito novo, continua reforçando as ações preconizadas pela clínica

tradicional, ainda centrada na doença, nos procedimentos e no aspecto biológico.

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003) tem como objetivo identificar

sinais clínicos que permitam a avaliação e classificação adequada do quadro e fazer

uma triagem rápida quanto à natureza da atenção requerida pela criança;

encaminhamento urgente a um hospital, tratamento ambulatorial ou orientação para

cuidados e vigilância no domicílio. Essa estratégia fundamenta-se na utilização de

sinais e sintomas que apresentam uma boa relação de sensibilidade e especificidade,

permitindo um diagnóstico mais preciso, associada a uma sistematização adequada

da assistência com forma e seqüência bem encadeadas e que priorizam a gravidade.

O atendimento é sistematizado através de um protocolo a ser

seguido durante a consulta clínica que abarca os sinais e sintomas das doenças mais

prevalentes na infância, como pneumonia, diarréia, doença febril, malária, infecções

no ouvido e desnutrição. O documento ainda menciona a importância de avaliar

outros problemas de saúde que não os pertencentes ao protocolo, principalmente

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através das queixas das mães, mas mesmo assim, ainda considerando a criança

doente.

O fato de utilizar um formulário de registro, o qual deve ser

metodologicamente seguido, implica numa valorização da clínica, e dificulta ao

profissional atentar a fatores subjetivos ou o que está sendo demandado pela criança

ou seu responsável. A importância do olhar atento, a escuta qualificada, a

demonstração de interesse do profissional em relação à criança, são elementos que

podem ser prejudicados quando o profissional tem que seguir um protocolo rígido.

De acordo com esse enfoque, Campos e Amaral (2007, p.850)

dizem que o trabalho clínico apresenta regularidades possíveis de serem

identificadas e descritas em manuais, cadeias de cuidados e protocolos. Porém essa

mecanização, quando se segue um protocolo rígido, não é suficiente para abarcar a

complexidade do processo saúde-doença da criança, pois impede a captação das

subjetividades que devem ser valorizadas tanto quanto as manifestações físicas da

população infantil.

Identificam-se na AIDPI algumas limitações no que concerne

prestar um atendimento integral à criança, pois a estratégia tem como propósito

assistir a criança doente e, além do mais, se restringe a alguns agravos.

Se a criança não responde às condutas de tratamento padronizado

na AIDPI, esta deverá ser referenciada a um serviço de saúde onde poderá receber

tratamento especializado.

O encaminhamento dos usuários para serviços de média e alta

complexidade são ações previstas na PNAB.

O sistema de referência e contra-referência se dá através da

articulação entre as unidades de complexidade da saúde: nível primário, nível

secundário e nível terciário. Por referência compreende-se o trânsito do nível menor

para o de maior complexidade. Já na contra-referência o caminho é o inverso, ou

seja, o trânsito é do nível de maior complexidade para o de menor.

A AIDPI define os procedimentos a serem adotados pelos

profissionais de saúde, através da sistematização do atendimento clínico à criança

doente. São eles: avaliar a criança doente de 2 meses a 5 anos de idade ou a criança

de 1 semana a 2 meses de idade; classificar a doença; identificar o tratamento; tratar

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a criança; aconselhar a mãe ou o acompanhante; atenção à criança de 1 semana a 2

meses de idade e consulta de retorno (BRASIL, 2003).

A “avaliação da criança” implica na preparação de um histórico de

saúde da criança, mediante perguntas adequadas e um exame físico completo. Na

“Classificação da doença”, se determina a gravidade da doença, classificando-se cada

um dos sinais e sintomas principais que indiquem a gravidade da doença. O

tratamento será definido através dessa classificação. O quarto passo, “tratar”, inclui

atendimento no serviço de saúde, tratamentos a serem dispensados no domicílio e

recomendações às mães para realizá-los bem.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) apresenta em seu

texto a proposta de operacionalização das ações integrais à criança e, dentre elas, o

enfrentamento dos seus principais problemas de saúde. Essa intencionalidade é

mostrada quando menciona a importância do desenvolvimento das ações de

prevenção de agravos e assistência, as quais objetivam a redução da mortalidade

infantil.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) propõe ações

clínicas destinadas tanto à mulher (gestante, mãe) como à criança, incluindo o recém-

nascido. No que concerne às ações clínicas destinadas à mulher, o documento cita a

atenção clínico-ginecológica com ênfase na anticoncepção, no atendimento às

mulheres vítimas de violência, às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS e à

saúde das adolescentes que permitam identificar fatores de risco ou diagnosticar e

tratar doenças/problemas que podem comprometer tanto a saúde da mulher quanto do

recém-nascido.

Uma das ações que é destacada nesse documento é a “Primeira

Semana Saúde Integral”, que prevê ações não só para o recém-nascido, mas também

para a mulher, que se encontra susceptível a várias intercorrências (BRASIL, 2004a).

Esse documento apresenta uma proposta de operacionalização das

ações prioritárias através de quatro linhas de cuidado, e na primeira: nascimento

saudável, traz o cuidado à mulher na atenção básica a partir do momento em que ela

decide engravidar, durante o pré-natal e no puerpério. O puerpério ganha ênfase por

ser o período onde prevalece a maioria dos problemas da saúde da mulher,

principalmente aqueles que levam ao desmame precoce.

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No pré-natal, são preconizadas no mínimo 6 consultas, com a

realização de exames laboratoriais, exame do papanicolau, ofertados medicamentos

quando necessário e diagnosticado, e tratado as intercorrências clínicas da gestação,

etc.

Na avaliação clínica da mãe no puerpério deverão ser verificadas as

queixas maternas, o estado geral, presença de febre, sangramento vaginal, aspecto da

cicatriz cirúrgica, as alterações emocionais no puerpério (depressão pós-parto) e a

interação com o bebê. Avaliar a necessidade de manter continuidade do

acompanhamento com retornos freqüentes à unidade ou visita domiciliar. Esses

cuidados são importantes, à medida que a mãe sentindo-se bem, cuidará melhor de

seu filho.

Em relação aos cuidados preconizados para a criança, a “Primeira

Semana Saúde Integral” é o momento imprescindível para realização das ações

clínicas, tendo em vista que é o período de maior vulnerabilidade da criança.

Durante o acolhimento do neonato na unidade, este deverá ser

avaliado quanto ao estado geral, se está ativo, corado, se tem icterícia, cianose, febre,

hipotermia ou outro sinal de anormalidade; verificar aspecto do umbigo; checar com

a mãe/ responsável se existem queixas e se as eliminações estão normais. Se

detectada alguma alteração, solicitar avaliação pelo enfermeiro ou médico da unidade

imediatamente. Nesse caso, manter continuidade do acompanhamento com retornos

freqüentes à unidade.

Nessa Semana, a equipe deverá avaliar as condições de saúde do

neonato, administrar as vacinas e realizar o teste do pezinho. As consultas clínicas

devem priorizar o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, que envolve

o registro no cartão da criança, a avaliação do peso, altura, do desenvolvimento, o

estado nutricional, ressaltando-se a importância do aleitamento materno, bem como

sua exclusividade até o sexto mês de vida da criança. A equipe deve oferecer

orientações à mãe/família sobre os cuidados com o bebê (alimentação, higiene,

vacinação e estimulação) em todo o atendimento.

São mencionadas ainda nesse documento outras linhas de cuidado

prioritárias no atendimento à criança, que compõem importantes elementos a serem

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considerados para apreender a integralidade da atenção, são eles: crescimento e

desenvolvimento, distúrbios nutricionais e doenças prevalentes na infância.

Uma especial atenção deve ser dada às doenças prevalentes na

infância, principalmente as doenças diarréicas e respiratórias. O documento sustenta

que as doenças respiratórias são o primeiro motivo de consulta em ambulatórios e

serviços de urgência e que a estratégia AIDPI é uma importante ferramenta para a

identificação de sinais de risco e qualificação do manejo de casos (BRASIL, 2004a).

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) cita a puericultura

como consulta de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. Nesse

acompanhamento, destaca-se a necessidade de efetuar a avaliação integral da criança,

sem restringir o atendimento apenas à queixa apresentada (não perder oportunidades

para abordagem global da criança). Esse enfoque avança no sentido de mudança do

modelo de atenção, apontando para uma prática voltada às necessidades da criança.

Dentre as ações clínicas elencadas pelos três documentos

analisados, principalmente a PNAB ( BRASIL, 2006a) e a Agenda de Compromissos

(BRASIL, 2004a), as ações de saúde bucal também merecem atenção especial. Nesse

sentido, o primeiro atendimento às urgências odontológicas é destacado pela PNAB

como parte das ações clínicas previstas para a atenção básica (BRASIL, 2006a).

Por sua vez, a Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a)

define que as ações de saúde bucal da criança iniciam com o cuidado à saúde da mãe.

Condições favoráveis antes e durante a gravidez, inclusive com tratamentos curativos

e preventivos, principalmente no primeiro e terceiro trimestres da gravidez, evitam

que o meio bucal da mãe esteja contaminado durante os primeiros dias de vida do

bebê.

Os tratamentos odontológicos preventivos e curativos para a

criança, quando realizados em intervalos regulares de tempo, garantem uma saúde

bucal sem complicações. A equipe de saúde bucal deve estar preparada para realizar

o primeiro atendimento em evento de dor ou alguma emergência (abscessos, fraturas,

luxações, avulsões). A saúde bucal também é considerada um elemento fundamental

para a saúde e qualidade de vida da criança.

Durante as consultas à criança, o odontólogo deverá orientar sobre

os hábitos alimentares saudáveis e sobre a higiene bucal. Os profissionais devem

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estar atentos para a transmissibilidade das cáries ou outras doenças da boca, uso de

medicamentos com manifestação sobre as estruturas dentárias, a cronologia da

erupção dos dentes e os fenômenos que geralmente os acompanham ( incômodos,

febre, irritação) e o uso de chupetas (BRASIL, 2004a).

Vale ressaltar que nos documentos analisados, principalmente na

Agenda de Compromissos.... e AIDPI, as ações clínicas são tratadas como

procedimentos técnicos, com enfoque na clínica tradicional, centrados na doença e

não como um ato de produzir saúde.

Torna-se salutar neste momento admitir que não se está

desconsiderando a importância do enfoque clínico no âmbito da atenção básica, pois

se o usuário demanda cuidados devido a um processo patológico instalado em seu

corpo biológico, o mesmo deve ser solucionado de maneira efetiva e eficaz.

Entretanto, essa prática torna-se restrita diante do complexo processo de saúde-

doença vivenciado pela população e de suas necessidades de saúde, o que demanda

uma ampliação de seu objetivo, objeto e meios de intervenção em saúde.

A PNAB (BRASIL, 2006a) até destaca que a Atenção Básica

considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na

inserção sociocultural, porém não explicita como efetivar as ações para dar conta

dessas dimensões.

A Agenda de Compromissos...(BRASIL, 2004a) também propõe

não perder oportunidades de abordagem global da criança, garantindo a

integralidade da atenção, entretanto, não menciona a necessidade de considerar as

subjetividades da criança e/ou responsável, bem como seu contexto familiar.

A partir da proposta de mudança do paradigma de saúde e do

modelo tecnoassistencial, autores como: Campos (2006); Cunha (2007); Campos &

Amaral (2007); Favoreto (2006) vêm discutindo na atualidade a necessidade de

expandir a concepção da clínica, incluindo novas práticas centradas nas necessidades

da população, ampliando a visão do processo saúde-doença. Essa nova modalidade

de assistir é denominada de clínica ampliada.

Nessa concepção, o usuário não é visto unicamente como uma

doença. A clínica ampliada tem como desafio compreender os fatores que

influenciam na constituição dos modos de vida dos sujeitos, e também em seus

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estados de saúde e doença para poder propor projetos singulares adequados a cada

situação (CAMPOS, 2006, p. 66).

Para Campos (2006), cada projeto clínico tem de compor um

projeto terapêutico singular partindo do esquema analítico da co-produção, sugerindo

intervenções sobre o social (programas intersetoriais, mobilização comunitária etc), o

subjetivo (vitalidade, auto-estima do grupo, capacidade de estabelecer compromissos

e contratos, etc) e o orgânico (vacinas, medicação etc) conforme a necessidade e a

possibilidade de cada caso.

Dentro dessa perspectiva, esse autor propõe a clínica do sujeito,

que procura superar o mecanicismo, a fragmentação e o tecnicismo biológico,

fazendo com que o sujeito seja partícipe do processo de assistir, tendo como eixo a

reconstituição de vínculos entre o clínico de referência e sua clientela (CAMPOS,

2006).

A clínica ampliada tem como principal objetivo ampliar o grau de

autonomia das pessoas. No entendimento de Campos & Amaral (2007), a autonomia

é um conceito relativo, não como a ausência de qualquer tipo de dependência, mas

como uma ampliação da capacidade do usuário de lidar com sua própria rede ou

sistemas de dependências. Esses autores ainda destacam que a autonomia pode ser

medida pela capacidade de autocuidado, pela compreensão sobre seu processo saúde-

doença, pela capacidade de usar seu poder e de estabelecer compromisso e contrato

com o outro. Essa proposta é coerente com a perspectiva de promoção da saúde e

integralidade da atenção.

Na atenção à criança, os profissionais devem prestar o atendimento

na perspectiva de preparar a mãe/responsável para se tornar autônoma para o cuidado

do seu filho, sem desconsiderar que a criança, a depender de sua idade, também deve

ser vista/considerada no processo de cuidar.

E é esse caminho que a equipe de saúde da atenção básica deve

trilhar, em busca de uma clínica que considere a criança pertencente a um

determinado contexto socioeconômico e cultural, com suas subjetividades, seus

desejos, e, sobretudo vendo-a como um ser singular. A proposição da clínica

ampliada articula-se à valorização das tecnologias relacionais no cuidado, o que se

discutirá a seguir.

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5.2 TECNOLOGIAS INTER-RELACIONAIS

Nesse conjunto temático, apresentar-se-ão as seguintes categorias:

humanização do cuidado, acolhimento, vínculo e responsabilização, e trabalho em

equipe.

Um dos pilares da mudança do modelo assistencial é a

macropolítica do processo de trabalho em saúde. Porém, a dimensão da

macropolítica, por si só, não responde à demanda e às necessidades de saúde da

população. O espaço da micropolítica, constituído pelas inter-relações, embora mais

complexo, é um pilar preponderante na mudança do modo de produção do cuidado,

tornando-o mais humanizado.

De acordo com Merhy (2006), o contexto macropolítico é

imperativo na resolução dos problemas no setor saúde, onde devem ser operadas

mudanças organizacionais e aporte financeiro suficiente às instituições, porém não se

restringe a ele, sendo também necessárias profundas transformações no processo de

trabalho, no âmbito da micropolítica do trabalho em saúde, onde se situa o aspecto

relacional trabalhador-usuário e trabalhador-trabalhador. É nesse espaço interseçor

que ocorrem conflitos e composições e a possibilidade de mudança, a partir do ato

criativo, permitindo a superação de barreiras e dificuldades na atenção à saúde. É no

contexto micropolítico que têm sido apresentadas novas tecnologias em saúde, como,

por exemplo, o vínculo e o acolhimento.

Para Mendes Gonçalves (1994), o termo tecnologia não se refere

somente ao conjunto de instrumentos materiais do trabalho, concebidos usualmente

como um instrumental dado a priori e fundamentado cientificamente, mas também,

ao conjunto de saberes e instrumentos que expressa, nos processos de produção de

serviços, a rede de relações sociais em que seus agentes articulam suas práticas em

uma totalidade social. Ou seja, a tecnologia é concebida como modalidade de

organização do trabalho e também como saberes e práticas.

Merhy (1997) propõe uma classificação das tecnologias envolvidas

no processo de trabalho em saúde como: tecnologia leve (tecnologias de relações do

tipo produção de vínculo, autonomização, acolhimento, gestão dos processos de

trabalho, etc.); tecnologia leve-dura (saberes bem estruturados que operam no

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processo de trabalho em saúde, como a clínica médica, epidemiologia, a psicanálise,

etc); e tecnologia dura (equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas e

estruturas organizacionais).

Portanto, é nas tecnologias leves, ou no espaço micropolítico do

processo de trabalho que se expressam as relações interpessoais e as

intersubjetividades, elementos importantes para assistir a população infantil e tornar

a relação equipe-usuários e entre as equipes uma relação de comprometimento, de

cuidado e de respeito.

Os três documentos analisados apontam como tecnologias inter-

relacionais do processo de trabalho a humanização do cuidado, o acolhimento, o

vínculo e a responsabilização e o trabalho em equipe. Apesar de entender que esses

elementos estão intimamente relacionados, portanto, difíceis de apreender de forma

isolada, aqui serão abordados em separado para dar o destaque necessário a eles no

processo assistencial à criança.

5.2.1 Humanização do Cuidado

Cabe destacar que humanização do cuidado aqui está sendo

apresentada como um valor, uma vez que está imbricada em todas as tecnologias

inter-relacionais que serão discutidas a seguir.

Apesar da temática da humanização estar sendo amplamente

discutida no âmbito da saúde, para Deslandes (2004), o conceito de “humanização”

necessita de uma definição mais clara, conformando-se mais como uma diretriz de

trabalho e não como um aporte teórico-prático. Geralmente a noção de humanização

se relaciona à assistência que valoriza a qualidade do cuidado do ponto de vista

técnico, associada ao reconhecimento dos direitos dos pacientes, de sua subjetividade

e referências culturais e à valorização do profissional e do diálogo interequipes.

A PNAB (BRASIL, 2006a), ao destacar as características do

processo de trabalho das equipes de atenção básica, recomenda a implementação das

diretrizes da Política Nacional de Humanização para sua efetivação.

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Ao analisar a Política Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL,

2004b), observam-se as seguintes diretrizes para a atenção básica:

a) Elaborar projetos de saúde individuais e coletivos para usuários

e sua rede social, considerando as políticas intersetoriais e as

necessidades de saúde;

b) Incentivar práticas promocionais de saúde;

c) Estabelecer formas de acolhimento e inclusão do usuário que

promovam a otimização dos serviços, o fim das filas, a

hierarquização de riscos e o acesso aos demais níveis do

sistema;

d) Comprometer-se com o trabalho em equipe, de modo a

aumentar o grau de co-responsabilidade, e com a rede de apoio

profissional, visando à maior eficácia na atenção à saúde.

De acordo com a PNH (BRASIL, 2004b), humanizar é ofertar

atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento,

com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos

profissionais.

A humanização deve ser vista como uma das dimensões

fundamentais para a construção de uma política de qualificação do SUS, não

podendo ser entendida apenas como um programa a mais a ser

implantado/incorporado nos processos de trabalho, mas como uma política que opera

transversalmente em toda a rede SUS (BRASIL, 2004b).

A humanização como política deve se traduzir em princípios e

modos de operar no conjunto das relações entre profissionais e usuários, nesse caso a

criança, entre os diferentes profissionais, entre as diversas unidades e serviços de

saúde e entre as instâncias que constituem o SUS (BRASIL, 2004b).

Nesse sentido, a Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) faz

referência à humanização nos seus princípios norteadores do cuidado da criança,

ressaltando a importância de acolher toda criança que procura o serviço de saúde,

estabelecendo uma relação cidadã e humanizada. Pelo fato de toda criança que

procura os serviços de saúde ser atendida e ter suas necessidades identificadas, já se

coloca uma relação humanizada, de compromisso e de respeito ao sujeito.

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Em relação ao atendimento à criança, é impossível dissociá-la da

mãe ou de seu cuidador, pois a criança de 0 a 5 anos ainda é um ser indefeso,

totalmente dependente de seu cuidador. Portanto, é necessário que a relação

humanizada também se estenda à mãe, e como mostram os documentos, ela deve

iniciar já na gestação (BRASIL, 2004a).

Esse documento da política mencionado por último elenca alguns

elementos que contribuem para um atendimento humanizado no momento do parto;

são eles: oferecer apoio emocional e estimular a troca de experiências; chamar a

mulher pelo nome e permitir que ela identifique cada membro da equipe; informar a

gestante sobre os procedimentos realizados, esclarecer suas dúvidas e aliviar suas

ansiedades; permitir acompanhante para a gestante; utilizar recursos para o conforto

durante o trabalho de parto e ofertar analgesia no parto quando a mulher assim o

desejar; apoiar a gestante na sua escolha sobre posição do parto e garantir o

alojamento conjunto desde o nascimento do bebê (BRASIL, 2004a).

Esses elementos mostram, sobretudo, a importância de garantir os

direitos da gestante/mãe. Observar e atender cada gestante como sujeito de direitos é

garantir um atendimento humanizado.

Zoboli et al (2001) corroboram com esse aspecto ao afirmarem que

humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços a resolutividade

de suas necessidades como sujeitos de direitos; é respeitar cada pessoa ou família,

em sua singularidade, em suas necessidades específicas, com sua história particular,

com seus valores, crenças e desejos, ampliando as possibilidades para que possam

exercer sua autonomia.

Autonomia, na concepção de Campos & Campos (2006, p.670), é

possibilitar uma maior capacidade dos sujeitos de compreenderem e agirem sobre si

mesmos e sobre o contexto conforme objetivos democraticamente estabelecidos.

Esses autores ainda acrescentam que buscar a co-construção de

autonomia é um dos objetivos do trabalho em saúde e, para isso, deve-se haver uma

ampla reorganização dos modos de produção em saúde.

A autonomia, na perspectiva da atenção à criança deve ser

estendida também à mãe ou cuidador, tendo em vista que a criança, a depender da

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sua idade, não possui capacidades intelectuais e psicológicas de decidir sobre as

ações a serem desenvolvidas no seu processo saúde-doença.

Entretanto, Campos & Campos (2006, p. 672) trazem uma reflexão

interessante, dizendo que o bebê quando nasce depende tanto biológica quanto

psicologicamente da mãe, pois além das necessidades vitais (ser alimentado,

carregado, higienizado e aquecido) precisa de um investimento afetivo para crescer

saudável. No seu desenvolvimento, há uma interdependência entre o biológico e o

subjetivo. Como seres racionais e inteligentes, os bebês logo inventam um jeito de

lidar com as suas demandas, aprendendo a pedir através do choro, do sorriso,

esperneando, enfim, fazendo tudo para agradar a mamãe. Assim começa a

construção de autonomia dos sujeitos, sempre construída nessa dialética entre o nós

e os outros, através da maneira de lidar com as relações interpessoais, ou seja,

primeiro com a mamãe depois com o restante da família, criando um estilo próprio,

uma personalidade.

Humanizar a assistência é respeitar a autonomia da mãe/ cuidador

em decidir juntamente com a equipe a melhor solução para atender as necessidades

de saúde da criança, levando em consideração as manifestações da população infantil

e sem desconsiderar o seu contexto socioeconômico e cultural.

Em relação aos aspectos éticos da assistência, Zoboli et al (2001)

mencionam a importância de considerar no atendimento dos usuários as

manifestações da vontade, dos desejos, sentimentos e crenças de cada um, não

exercendo atitudes manipuladoras ou coercitivas, atentando à privacidade e a

confidencialidade das informações. Esses elementos estão estreitamente relacionados

com o compromisso e o respeito com a criança e/ou família.

5.2.2 Acolhimento

Dentre as tecnologias inter-relacionais, o acolhimento tem sido

considerado um requisito primordial no processo de remodelação da atenção em

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saúde. Ele é um componente chave da humanização da atenção e com esta se

confunde em alguma medida.

De acordo com Franco et al (1999), o acolhimento, enquanto

tecnologia leve do trabalho em saúde que opera estrategicamente no campo das inter-

relações, tem sido destacado como diretriz operacional do modelo tecno-assistencial

orientado nos princípios do SUS, para inverter a lógica de organização e

funcionamento dos serviços de saúde.

Acolhimento no Novo Dicionário Aurélio

[...] é o ato ou efeito de acolher; recepção. Atenção, consideração. Refúgio, abrigo, agasalho. ACOLHER, significa dar acolhida ou agasalho a. Dar acolhida a; receber. Atender; receber. Dar crédito a, dar ouvidos a. Admitir, aceitar. Tomar em consideração; atender a. Abrigar, agasalhar. Agasalhar-se, hospedar-se. Abrigar-se, recolher-se. Refugiar-se; amparar-se (FERREIRA, s/d, p.27).

No âmbito da atenção à saúde, o acolhimento não está restrito à

recepção do usuário à porta dos serviços de saúde, mas estende-se à completa

resolução das necessidades apresentadas. Está presente em toda situação de

atendimento ao usuário dentro do sistema, em uma seqüência de atos e modos que

compõe o processo de trabalho em saúde (MATUMOTO, 1998).

A PNAB (BRASIL, 2006a) estabelece como uma das atribuições

das equipes de atenção básica implementar o acolhimento.

Ao falar de acolhimento no âmbito da saúde, pode-se relacioná-lo a

dois aspectos: à forma de organização dos serviços e à competência profissional da

equipe.

Como forma de organização dos serviços de saúde, o acolhimento

evidencia as dinâmicas e os critérios de acessibilidade a que os usuários, neste caso a

criança, estão submetidos. Pode ser utilizado como um dispositivo interrogador das

práticas cotidianas, permitindo captar ruídos nas relações que se estabelecem entre

usuários e trabalhadores com o fim de alterá-las para que se estabeleça um processo

de trabalho centrado nos interesses do usuário. Assim, o acolhimento constitui-se em

tecnologia para a reorganização dos serviços, com vistas a garantia de acesso

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universal, resolutividade e humanização do atendimento (FRANCO; BUENO;

MERHY, 1999).

O acolhimento, nesta perspectiva, possibilita regular o acesso por

meio de oferta de ações e serviços mais adequados, contribuindo para a satisfação do

usuário (SCHMITH & LIMA, 2004).

No que diz respeito à competência profissional da equipe, o

acolhimento denota a postura dos trabalhadores da unidade para o atendimento das

necessidades de saúde da população infantil. Postura esta, centrada na escuta, na

empatia, no atendimento humanizado e na responsabilização pelo sujeito portador de

necessidades de saúde.

Acolhimento é considerado por Ramos & Lima (2003) como

elemento essencial para a qualificação do atendimento à população infantil, para que

se possa incidir efetivamente sobre seu estado de saúde.

Em todos os documentos analisados, o acolhimento é tido como

uma ferramenta fundamental para um atendimento humanizado. O acolhimento é

considerado um ato de humanização, pois as relações entre sujeitos estão em jogo, ou

seja, as subjetividades devem permear o atendimento à população infantil, havendo

uma troca entre equipe-usuário no que se refere ao atendimento de suas necessidades

de saúde.

Para Merhy (1997), o encontro entre esses sujeitos se dá num

espaço intercessor no qual se produz uma relação de escuta e responsabilização, a

partir do que se constituem vínculos e compromissos que norteiam os projetos de

intervenção. Esse espaço permite que o trabalhador use sua principal tecnologia, o

saber, tratando o usuário como sujeito portador e criador de direitos.

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003), em sua introdução, reforça a

importância do acolhimento pelos profissionais de saúde dizendo que cabe ao

profissional de saúde a difícil missão de acolher a criança e seu acompanhante,

compreender a extensão do problema que a aflige e propor procedimentos de fácil

aplicação e comprovada eficácia.

Essa estratégia menciona o acolhimento como uma “tarefa difícil”,

pois para lidar com as subjetividades de cada sujeito envolvido no processo de

trabalho, principalmente da criança, em um modelo centrado em procedimentos,

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envolve uma mudança de cultura muito grande, principalmente, dos valores de

solidariedade e alteridade. Essa nova cultura deve ser dissociada do modelo

biomédico vigente em prol de uma proposta de humanização do cuidado.

A utilização do acolhimento de crianças na estratégia AIDPI,

principalmente na situação da demanda espontânea, auxiliaria fortemente na

resolutividade do serviço e na promoção de relações de confiança, aumentando assim

o vínculo entre população e serviços de saúde.

Pina (2007), ao analisar as contribuições da estratégia AIDPI para o

acolhimento realizado pelos profissionais de enfermagem às crianças menores de 5

anos de idade, em uma unidade de saúde da família, identificou aspectos favoráveis e

desfavoráveis no processo de acolhimento.

Como aspectos positivos, a autora identificou que o acolhimento às

crianças menores de 5 anos de idade, enriquecido com o que preconiza a estratégia

AIDPI, demonstrou grande potencial para a reorganização do processo de trabalho na

USF estudada, proporcionando a oferta de serviços à população infantil a partir da

incorporação da demanda espontânea, atentando ao modo como a população percebe

seus problemas de saúde. Outro aspecto positivo da AIDPI foi a possibilidade da

população infantil ter sua queixa acolhida e avaliada, mesmo não havendo mais

vagas para consultas médicas no dia. O acolhimento permitiu que as situações

urgentes e prioritárias pudessem ser identificadas de maneira eficiente. Outra

contribuição da AIDPI identificada no estudo citado, é que a uniformização da

linguagem a partir da capacitação dos profissionais favorece uma maior

confiabilidade entre os usuários e profissionais não médicos.

Dentre os aspectos desfavoráveis, a autora cita os relacionados com

a falta de avaliação da estratégia, dificuldades de comunicação dos profissionais com

o cuidador, inadequação do ambiente físico para realizar o acolhimento, pouca

articulação intersetorial e a pouca disponibilidade da enfermeira para realizar o

acolhimento, em virtude da variedade de atividades assistenciais e gerenciais

desempenhadas por ela.

Uma avaliação rápida, porém criteriosa, por um profissional de

saúde capacitado, no momento do acolhimento, poderia agilizar a atenção às crianças

que esperam na fila e que apresentam necessidades que requerem ação imediata;

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além de revelar outro problema que não foi mencionado pelo cuidador; resolver

questões que independem de um atendimento médico; diminuir o tempo de espera

para um atendimento médico; e a oferta de orientações simples e eficazes, entre

outras ações.

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a) considera o

acolhimento como um dos princípios norteadores do cuidado à saúde da criança,

afirmando que se deve

[...] receber toda a criança que procura o serviço de saúde com escuta qualificada, estabelecendo uma relação cidadã e humanizada, definindo o encaminhamento mais adequado para a resolução das demandas identificadas. Deve-se adotar uma postura acolhedora na recepção e atendimento dos usuários durante todo o expediente [...]. A unidade/equipe assume o paciente e estabelece compromisso e responsabilidade sobre todas as suas necessidades de saúde (BRASIL, 2004a, p.13).

Percebe-se que a Agenda de Compromissos traz o acolhimento em

seus dois eixos principais: como organização dos serviços e como competência

profissional da equipe. Não basta receber a criança e encaminhar a outro profissional

de saúde, mas recebê-la com compromisso, responsabilizando-se pelas suas queixas

ou necessidades que a levou a procurar o serviço, através de uma escuta qualificada,

tentando encontrar a melhor forma de atender suas demandas e proporcionando

respostas satisfatórias. Acolher a criança não é tarefa somente de um profissional,

mas de toda uma equipe que tem a missão de comprometer-se com a saúde da

população adscrita de sua área de abrangência.

Nas atribuições comuns dos profissionais das equipes de saúde da

família estabelecidas na PNAB está prevista a realização da escuta qualificada das

necessidades dos usuários em todas as ações, para proporcionar um atendimento

humanizado (BRASIL, 2006a).

A escuta qualificada é um dos principais elementos relacionados à

prática do acolhimento, pois permite reconhecer as reais necessidades de saúde dos

usuários, possibilitando uma maior resolutividade das mesmas.

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A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a, p. 13), dentro de

seus princípios norteadores, faz referência à escuta qualificada, afirmando que “toda

criança que procura o serviço de saúde deve ser recebida com escuta qualificada.”

Dessa maneira, o sofrimento, as expectativas, a dor, a ansiedade, a

angústia, enfim, sentimentos que, em alguns casos, são expressos pelas crianças,

devem ser reconhecidos pelos profissionais de saúde através da escuta qualificada,

do diálogo, da conversa verbal.

De acordo com Starfield (2004), a conversa verbal é a forma de

comunicação mais comum na atenção à saúde. É através da conversa que o usuário

consegue transmitir suas necessidades de saúde ao profissional e cabe a este

identificá-las para planejar um atendimento integral e eficaz.

Sabe-se que a comunicação verbal sozinha não é capaz de sustentar

a relação entre profissional/usuário. Existe outra forma de comunicação que permite

entender em que contexto se situa aquele sujeito portador de necessidades de saúde: a

comunicação não-verbal. Este tipo de comunicação é identificada através da postura

corporal, do tom de voz, da emoção, da fisionomia, enfim, de elementos que não são

exteriorizados verbalmente. Este tipo de comunicação, muitas vezes, torna-se mais

fácil de ser efetivado na atenção à criança, devido à dificuldade de expressão verbal

inerente à idade e pelo receio diante do profissional de saúde.

Outro aspecto evidenciado nos documentos voltados à atenção à

criança é a importância de transmitir de uma forma compreensível as orientações

acerca dos cuidados a serem prestados à criança.

Na estratégia AIDPI (BRASIL, 2003), é destacada como função do

profissional de saúde estabelecer um canal de comunicação com a mãe ou pessoa

responsável pela criança, de modo que ela apreenda as recomendações referentes aos

cuidados a serem prestados à criança. Nesse aspecto, a comunicação deve ser

articulada através de uma linguagem simples, adequada ao nível sociocultural,

facilitando o entendimento por parte da mãe ou responsável pela criança.

Segundo Zoboli et al (2001), para que as informações sejam

compreensíveis, além de considerar a compreensão intelectual, cultural e psicológica

do usuário, deve-se levar em conta também os objetivos e o contexto específico de

cada situação.

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Os autores ainda mencionam que as informações não precisam ser

necessariamente fornecidas em um linguajar técnico, basta que elas sejam simples,

aproximativas, inteligíveis, respeitosas e suficientes para que se garanta a autonomia

do cuidador nas escolhas e nos atos.

Na atenção à criança, é preciso utilizar linguagem acessível ao

cuidador, levando em consideração sua capacidade de apreensão, descrever as

orientações acerca dos cuidados da criança em uma seqüência lógica, realizar

comparações e demonstrar ou citar exemplos se necessário (PINA, 2007).

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), em relação à

escuta qualificada e à importância da comunicação, destaca a necessidade de

estimular a troca de experiências, dedicar tempo e ouvir as dúvidas, preocupações e

dificuldades da mãe ou responsável pelo cuidado.

Esse momento de encontro permite uma maior confiabilidade por

parte do usuário em relação à equipe de saúde e facilita consideravelmente a

resolução dos problemas demandados pela criança.

Pina (2007), ao analisar o acolhimento da criança na estratégia

AIDPI, destaca que os profissionais assumiram atitude de escuta, compreendida

como: permitir que o cuidador e a criança falassem sobre a queixa, sem interrompê-

los; fazer uso do silêncio, iniciando a fala somente após a exposição do problema; e

permitir a verbalização da criança ou cuidador durante o transcorrer do acolhimento.

A atitude de escuta por parte dos profissionais no atendimento à

criança demonstra seu interesse pela queixa ou problemas trazidos pela criança ou

cuidador.

Para viabilizar esse momento de interesse, Pina (2007) recomenda

que no atendimento à criança, os profissionais assumam alguns comportamentos, tais

como: manter uma postura corporal serena, evitando movimentação excessiva e

repetitiva dos membros, não interromper esse momento para falar com outras

pessoas, fazer perguntas relacionadas ao problema, e destacar os principais aspectos

da fala do cuidador após sua verbalização, demonstrando que estava atento ao que foi

dito.

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Esses elementos mostram que, ao realizar o acolhimento à criança e

seu responsável, a equipe está demonstrando responsabilização e humanização pelo

cuidado, o que é coerente com a perspectiva de integralidade da atenção.

5.2.3 Vínculo e Responsabilização

Outro elemento referente às tecnologias inter-relacionais destacado

nas políticas analisadas é a criação de vínculo e responsabilização entre as equipes de

saúde e a população infantil, também estreitamente relacionado à humanização.

Na perspectiva de mudança do modelo de atenção, o vínculo é um

dos elementos que incorporam a tentativa de vencer a resistência da clínica

mecanicista e biologicista (CECÍLIO, 2006).

Para esse autor, a idéia de vínculo prende-se tanto à busca de maior

eficácia (aumento do percentual de curas), como à noção que valoriza a constituição

de espaços favoráveis à produção de sujeitos autônomos: profissionais e usuários.

Para Merhy (1997), o encontro entre um usuário, portador de uma

dada necessidade de saúde, com um trabalhador, portador de um arsenal de saberes

específicos e práticas, envolve um encontro de situações. É nesse encontro que se

conforma o vínculo. O usuário, com a representação de um dado problema de saúde

ou necessidade de saúde, procura obter nesse encontro uma relação de compromisso

com o profissional da saúde, composta por sinceridade, responsabilização e

confiança na intervenção.

A criação de vínculo com os profissionais de saúde permite que a

criança e/ou responsável estabeleça uma relação de confiança com os mesmos,

efetivando-se um maior comprometimento com seu processo saúde-doença e,

conseqüentemente, maior resolutividade das necessidades e demandas de saúde da

população infantil.

Na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva, a PNAB

destaca que o processo de trabalho das equipes de saúde da família devem

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possibilitar a criação de vínculo de confiança com ética, compromisso e respeito

(BRASIL, 2006a, p. 26).

A criança necessita manter vínculos afetivos com a equipe, o que

favorece o processo de resolutividade da atenção. A criança, conhecendo a equipe

que presta a assistência a ela, é beneficiada no atendimento à saúde, pois se sabe que

na infância o estranhamento, a desconfiança, o medo, a dependência afetiva da mãe

são fatores inerentes ao processo de desenvolvimento da criança e que, muitas vezes,

dificultam as relações no processo de trabalho em saúde.

Nesse sentido, um elemento importante a ser considerado no

estabelecimento do vínculo é a equipe conhecer as mães e as crianças pelo nome, o

que denota a singularidade, a identidade, estabelecendo um espaço de familiaridade

que facilita a interação e a confiança. O tratamento deixa de ser impessoal, e passa a

ser de pessoa para pessoa.

A PNAB define que um dos fundamentos da atenção básica é o

desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a

população adscrita, garantindo a continuidade das ações de saúde e a

longitudinalidade do cuidado (BRASIL, 2006a, p.11).

Numa relação entre sujeitos em que ambos se interdependem, a

confiança, a ética e o respeito são intrínsecos ao processo terapêutico. Esse vínculo

entre equipe e usuário denota um compromisso de ambos no processo saúde-doença,

conformando-se através da responsabilização (BRASIL, 2006a). Dessa forma, o

vínculo, a responsabilização e longitudinalidade do cuidado são interdependentes.

A longitudinalidade exige uma efetividade nos cuidados prestados

pela equipe de saúde e a responsabilização dessa equipe ao longo do tempo, numa

relação mútua e humanizada entre equipe de saúde, indivíduos e família (MENDES,

2002).

Merhy (2006) aponta o vínculo como responsabilidade e o

compromisso que a equipe tem com cada usuário da sua área de abrangência e com

os tipos de problemas que eles apresentam.

Para esse autor, o vínculo

[...] implica em ter relações tão próximas e tão claras, que nós nos sensibilizamos com todo o sofrimento daquele outro, daquela população. É permitir a constituição de um processo de

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transferência entre o usuário e o trabalhador que possa servir à construção da autonomia do próprio usuário. E sentir-se responsável pela vida e pela morte do paciente, dentro de uma dada possibilidade de intervenção nem burocratizada, nem impessoal. E ter relação, e integrar-se com a comunidade em seu território, no serviço, no consultório, nos grupos, e se tornar referência para o usuário, individual ou coletivo (MERHY, 2006, p. 138).

Para Merhy (1997), a ligação um pouco mais estável e duradoura

entre a equipe e o usuário permitiria que este último exercesse melhor seu direito de

cidadania. O usuário, conhecendo melhor os profissionais, saberia o nome, o posto e

as atribuições dos responsáveis pelo seu cuidado.

O vínculo, nesse caso, propiciaria o compromisso das equipes em

responsabilizar-se pelas necessidades de saúde da criança do momento em que foram

demandadas até sua completa resolução. Isso é o que se chama de responsabilização.

A estratégia AIDPI (BRASIL, 2003) não menciona nenhum

elemento que se conforma com o vínculo.

Na Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), o vínculo é um

dos princípios norteadores do cuidado à saúde da criança, pois para a equipe

responsabilizar-se pela população infantil, é necessário o estabelecimento de vínculo

entre o profissional de saúde e a criança e seu responsável, garantindo a continuidade

da assistência, com a responsabilização dos profissionais e da unidade. A unidade de

saúde deve assumir a criança e estabelecer compromisso e responsabilidade sobre

todas as suas necessidades de saúde.

O PSF facilita a criação de vínculo entre equipes e a criança pela

definição de uma área adscrita, pela qual a equipe saúde da família se responsabiliza.

Esse fator possibilita à família da criança tomar os profissionais responsáveis pelo

atendimento às suas necessidades como referência, elemento importante na

concretização da atenção integral à criança.

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5.2.4 Trabalho em Equipe

O trabalho em equipe é uma modalidade de trabalho coletivo que

se contrapõe ao modo independente e isolado com que os profissionais de saúde

usualmente executam seu trabalho no cotidiano dos serviços de saúde (PEDUZZI &

CIAMPONE, 2005).

Nos documentos analisados neste estudo, tentamos apreender o

trabalho em equipe no âmbito da micropolítica do processo de trabalho, destacando

as inter-relações e as subjetividades do trabalho.

Fortuna et al (2005) consideram trabalho em equipe em saúde

como uma rede de relações entre pessoas, como rede de relações de poderes, saberes,

afetos, interesses e desejos. Para essas autoras, trabalho em equipe é um processo

relacional.

A partir da noção de equipe, Peduzzi (2001) formulou a seguinte

tipologia de trabalho em equipe: equipe agrupamento, caracterizada pela justaposição

das ações e agrupamento dos agentes, e equipe integração, onde se efetiva a

articulação das ações e a interação dos agentes.

A partir dessa tipologia de equipe, podemos falar em equipe

multiprofissional e interdisciplinar. Embora o trabalho em equipe consista em uma

equipe multiprofissional, ou seja, composto por diferentes profissionais de diversas

áreas, essa composição, por si só, não responde às finalidades do trabalho na atenção

básica à saúde da criança. Deve prevalecer uma articulação entre esses profissionais,

em prol de um projeto comum de assistência, o que Peduzzi & Palma (2000)

nomeiam de trabalho interdisciplinar.

A equipe multiprofissional é composta pela justaposição de

trabalhos realizados por um agregado de agentes com diversas especificidades

técnicas. A equipe interdisciplinar refere-se a uma conexão e integração que

considera cada um dos trabalhos com seus respectivos saberes técnicos (PEDUZZI e

PALMA, 2000).

Concordando com essa diferenciação, Silva e Trad (2005) colocam

que a multiprofissionalidade por si só não é condição suficiente para garantir a

recomposição dos trabalhos parcelares na direção de uma atenção integral. O que se

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quer é um trabalho em equipe traduzido na conexão de diferentes ações e distintos

profissionais. Para o trabalho em equipe concretizar-se como interdisciplinar deve

amparar-se em um projeto comum.

A PNAB (BRASIL, 2006) traz, como uma das características do

processo de trabalho da Saúde da Família, o trabalho interdisciplinar e em equipe,

integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações. O trabalho

interdisciplinar, nessa acepção, é considerado como a integração de diversos

profissionais capazes de articular suas especificidades técnicas.

Sabemos que cada integrante da equipe de saúde possui um saber,

uma formação específica, uma especialidade técnica, inerente à sua profissão. Isso é

muito importante para se efetivar o trabalho em equipe. Porém, o que se defende é

que essas especificidades devem ser articuladas e integradas, superando o isolamento

e a fragmentação dos saberes.

De acordo com Araújo & Rocha (2007), a ação interdisciplinar

pressupõe a possibilidade da prática de um profissional se reconstruir na prática do

outro, ambos sendo transformados para a intervenção na realidade em que estão

inseridos.

Dessa forma, percebemos que o atendimento prestado à população

infantil calcado na integralidade é facilitado pelo conjunto de olhares dos distintos

profissionais que compões a equipe interdisciplinar.

Dos documentos analisados, a estratégia AIDPI (BRASIL, 2003)

não aborda a temática referente ao trabalho em equipe. O documento destaca

exclusivamente a atuação dos “profissionais de saúde” como independentes na

efetivação de suas ações e não menciona a articulação ou interação desses

profissionais na busca de um atendimento integral à criança. Cada profissional presta

o atendimento baseado em um protocolo sistematizado, sem a interdependência de

outros saberes técnicos.

É o que Peduzzi (2001) chama de autonomia plena, ou seja, o

profissional busca alcançar o mais amplo espectro de independência na execução de

suas intervenções.

A autonomia é um fator importante no trabalho em equipe, porém

uma autonomia relativa, que, segundo Peduzzi (2001), é aquela em que há

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complementaridade e colaboração no exercício da autonomia técnica e não

independência dos projetos de ação de cada agente.

O trabalho em equipe também está inserido nos princípios

norteadores do cuidado à saúde da criança da Agenda de Compromissos... (BRASIL,

2004a), e é considerado como a articulação dos diversos saberes e intervenções dos

profissionais da unidade de saúde, para efetivação do trabalho solidário e

compartilhado.

A articulação dos saberes permite elaborar planos de atendimento

em conjunto para as crianças pertencentes às áreas de atuação da equipe,

possibilitando respostas mais globais através do trabalho em equipe (BRASIL,

2004a).

A Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a), ao destacar como

linha de cuidado da atenção integral à saúde da criança a atenção à saúde mental,

evidencia a importância da manutenção de parcerias entre equipes de diversas áreas

da saúde para juntos atenderem as especificidades inerentes à saúde da criança. Esse

documento ressalta que é indispensável que os profissionais de saúde mental, em

parceria com as equipes de saúde da família, verifiquem em que medida os

problemas apresentados pela criança podem ser resolvidos com sua inclusão em

atividades de socialização e em oficinas culturais e esportivas da própria

comunidade.

O que se observa aqui é que os profissionais de distintas áreas

devem integrar seus conhecimentos e intervenções em busca de um objetivo comum,

que é atender as necessidades de saúde da população infantil.

Para Peduzzi (2001), a elaboração de um projeto assistencial

comum é sinalizador de um trabalho integrado em equipe. Trata-se de um plano de

ação para uma situação concreta de trabalho coletivo em equipe. Investir na

construção conjunta de um projeto assistencial possibilita abarcar a complexidade e a

multidimensionalidade das necessidades de saúde dos usuários.

Nesse sentido, a organização dos serviços de saúde e da rede de

atenção à criança preconizada pela Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a)

valoriza o papel da equipe de apoio à atenção básica no atendimento à saúde da

criança, pois em algumas situações de maior risco poderá ser necessária a atenção do

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profissional de apoio para dar suporte à equipe de saúde de família ou para

acompanhamento da criança mais grave, dentro das possibilidades locais e de

referenciamento regional. Portanto, o profissional de apoio se insere na atenção com

atuação articulada com a equipe de saúde da família para supervisão sempre que

necessário, atuando como retaguarda para o atendimento das crianças referenciadas

pela equipe.

As necessidades de saúde da criança têm se tornado cada vez mais

complexas exigindo, assim, a integração de diversos saberes de diferentes âmbitos de

atenção à saúde, como explicitado na Agenda de Compromissos... (BRASIL, 2004a).

A ampliação do objeto de intervenção para além do âmbito individual e clínico

demanda mudanças na forma de atuação e organização do trabalho e requer alta

complexidade de saberes. Cada profissional é chamado a desempenhar sua profissão

em um processo de trabalho coletivo, cujo produto deve ser fruto de um trabalho que

se forja com a contribuição específica das diversas áreas profissionais ou de

conhecimento (SILVA e TRAD, 2005).

A atenção integral à criança só vai se concretizar com a mudança

dos processos de trabalho da atenção básica. Nesse sentido, o trabalho em equipe

interdisciplinar, como proposto no PSF, fundamentado numa relação dialógica, na

construção de um projeto comum e centrado nas equipes será a possibilidade de

mudança do modelo tradicional.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo discutiu as proposições assistenciais e inter-

relacionais voltadas à atenção à saúde da criança na atenção básica, presentes nas

políticas nacionais para a infância, tomando por base a perspectiva da integralidade.

Os elementos encontrados nos documentos evidenciam de maneira

clara a proposição de um novo modo de assistir proposto para o SUS, mas também

deixam claro a permanência de características do modelo médico-hegemônico, dessa

forma se percebem limitações e contradições nas políticas estudadas.

Nesse sentido, os achados diante das proposições políticas

analisadas apontam para avanços e contradições.

Se, por um lado, a PNAB propõe a reorganização da atenção

básica, tendo o PSF como a estratégia prioritária para tal, as políticas atuais voltadas

para infância, apesar de conter os princípios centrais da atenção básica, ainda não

tem a família como foco de ação e as ações curativas ainda são predominantes, o que

se pode ser visto como uma incoerência em relação à proposta de mudança de

modelo pretendida para a atenção básica.

Os resultados deste trabalho mostraram a importância das

proposições assistenciais no modelo específico de atenção à saúde da criança,

destacando as ações de promoção da saúde, as ações de educação em saúde, de

vigilância em saúde e as clínicas, bem como das proposições inter-relacionais, como

a humanização do cuidado, o acolhimento, o vínculo e a responsabilização e o

trabalho em equipe.

As ações de promoção foram identificadas em todos os documentos

como fundamentais para a transformação das possibilidades de viver da criança de

um modo saudável. Porém, não como uma responsabilidade individual, do sujeito,

mas do coletivo, ou seja, das famílias, da sociedade, e governo. As mesmas, para

serem efetivadas, devem ser articuladas com outros setores que extrapolam o âmbito

da saúde, envolvendo a educação, habitação, organizações não governamentais,

saneamento, dentre outros, sendo concretizadas através de ações intersetoriais. A

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intersetorialidade auxiliará no atendimento das necessidades da criança em todas as

dimensões biopsicossociais, favorecendo o pleno desenvolvimento e uma melhor

qualidade de vida à criança. Percebe-se que, embora citadas, as ações intersetoriais

foram pouco visíveis nas propostas para a infância analisadas.

Dos documentos analisados, destaca-se que a estratégia AIDPI,

apesar de mencionar a importância das ações de promoção da saúde, não aponta

quais estratégias poderiam ser utilizadas e como efetivá-las no cotidiano das

unidades de saúde. As ações definidas como de promoção da saúde são as

educativas, todas voltadas à mãe e aos cuidados para com seu filho no domicílio.

As ações educativas também estão explícitas em todos os

documentos, sendo resumidas às orientações à população ao autocuidado e melhor

utilização dos serviços de saúde. O que predomina nos documentos é a importância

das ações educativas desenvolvidas com a mãe/família para que prestem um cuidado

integral à criança.

As ações educativas devem ser valorizadas como momentos de

trocas de informações, valorizando o conhecimento da criança ou responsável sobre

o processo saúde-doença rompendo com a relação vertical entre profissional e

usuários, predominantes no modelo médico hegemônico. Seu objetivo é tornar a

criança sujeito do seu processo saúde-doença, o que facilita buscar melhores

soluções para atender suas necessidades. Nesse aspecto, é evidente a importância da

mãe ou do responsável.

Enfim, as ações educativas de acordo com a perspectiva da

integralidade não devem ser desenvolvidas através da verticalização das informações

e sim, através da troca entre profissional e a mãe/família, considerando o contexto

em que vive a criança, bem como seus desejos, anseios e conhecimentos. Os

documentos destacam a importância de priorizar essas ações ainda durante a

gestação, para que a mãe sinta-se segura no cuidado a seu filho após o nascimento do

mesmo.

Outro elemento importante identificado nos documentos são as

ações de vigilância em saúde, embora na AIDPI, esta não apareça de forma explícita.

Essas ações permitem identificar precocemente fatores de risco e determinantes do

processo de adoecer da criança, proporcionando interferir antecipadamente com

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ações eficazes. As ações de vigilância preconizadas na estratégia AIDPI enfocam

prioritariamente a prevenção de agravos, tendo como espaço para o desenvolvimento

dessas o atendimento clínico.

Os documentos apresentam como importantes ferramentas

facilitadoras no desenvolvimento da vigilância em saúde as visitas domiciliares, a

busca ativa e a notificação de agravos, sendo estas de responsabilidade maior dos

agentes comunitários de saúde.

Prioriza-se também a “Primeira Semana Saúde Integral”, proposta

pela Agenda de Compromissos à Saúde Integral da criança e Redução da

Mortalidade Infantil, que é considerada uma grande oportunidade para ações

principalmente de vigilância e abarca ações tanto para a criança quanto para a mãe.

Essa semana torna-se fundamental por facilitar a identificação de fatores que possam

interferir no processo saúde-doença e ainda promover a saúde infantil.

Nas ações clínicas evidenciadas nos documentos, embora muitas

vezes pouco explicitadas em sua forma de efetivação, mostram que estas estão no

centro do processo de trabalho dos profissionais de saúde. As ações clinicas

propostas são de âmbito individual e priorizam a doença. São consideradas ações

clínicas: a consulta executada pelo médico ou enfermeiro, a visita domiciliar e o

atendimento às urgências. É mencionado ainda como ações curativas o atendimento

da demanda espontânea, também em uma perspectiva clínica tradicional, enfocando

o corpo biológico.

Essas ações clínicas são mais claramente evidenciadas na AIDPI

que supervaloriza a consulta clínica, as doenças. Observou-se, nesta estratégia, a

centralidade na consulta clínica voltada para a criança doente.

As ações clínicas evidenciadas nos documentos da política infantil

vinculam-se à clínica tradicional, onde a criança é abordada prioritariamente como

um corpo doente.

As categorias identificadas nas tecnologias assistenciais, ações de

promoção da saúde, ações educativas, de vigilância em saúde e clínicas, se inter-

relacionam e se interdependem na realização das práticas da equipe de atenção

básica. Se forem orientadas para uma concepção ampla de saúde, essas ações

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favorecem a concretização da reorientação do modelo de atenção à saúde na

perspectiva da integralidade.

Quanto à dimensão tecnologias inter-relacionais, foram

evidenciados os elementos que devem permear todo o processo de atendimento à

criança pela equipe de atenção básica. A humanização, e como parte dessa, o

acolhimento, o vínculo e responsabilização, e o trabalho em equipe são destacados

como pilares no processo de mudança do modelo de atenção à saúde da criança. A

Agenda de Compromissos à Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade

Infantil apresenta todos esses elementos como princípios norteadores do cuidado na

saúde da criança, o que vem ao encontro do que muitos autores vêm discutindo como

fundamental para mudar o modelo de atenção. Este documento destaca a importância

de prestar um cuidado centrado nas necessidades de saúde da criança, o que é

coerente com a humanização da atenção à criança.

Já a AIDPI vai na contramão dessa proposta, pois apesar de prever

a atenção integral, sua forma de atenção está centrada na criança doente e em

protocolos de atendimento, o que dificulta trabalhar com as necessidades e

singularidades das crianças.

A humanização foi caracterizada como o reconhecimento das

crianças que procuram os serviços de saúde, considerando-as sujeitos de direitos,

com singularidades e necessidades específicas, ampliando as possibilidades para que

a mesma e sua mãe exerçam autonomia no seu cuidado.

O acolhimento favorece a organização da assistência prestada à

criança, em que se prioriza o acesso aos serviços e a resolutividade das necessidades

demandadas por ela. O acolhimento também está relacionado com a postura da

equipe de saúde que deve portar-se de empatia, escuta qualificada, responsabilização

e estabelecendo uma relação cidadã e humanizada com a criança.

No que se refere ao vínculo, este permite criar um espaço de

familiaridade que facilita a interação e a confiança entre equipe e criança/família. O

vínculo permite uma ligação importante entre a equipe e a criança, fazendo com que

esta mantenha seu acompanhamento freqüentemente na unidade básica de saúde.

Esse elemento faz com que o atendimento à criança pela equipe deixe de ser

impessoal.

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O trabalho em equipe, como elemento fundamental do processo de

trabalho, é apontado como o conjunto de olhares e práticas de distintos profissionais

atuando em um projeto comum, contribuindo para prestar um atendimento integral à

criança. Nas políticas da infância, esse elemento aparece somente na Agenda de

Compromissos como princípio norteador do cuidado da saúde da criança.

As tecnologias inter-relacionais são vistas como importantes para

mudança na micropolítica do processo de trabalho das equipes de saúde e

contemplam as subjetividades de todos os sujeitos envolvidos no processo de

trabalho, ou seja, a equipe de saúde, a criança e a família, considerando seus valores,

desejos e contexto em que vivem para atendê-los com uma visão do todo, e não

priorizando apenas corpo biológico.

Enfim, para que o princípio da integralidade seja alcançado, é

preciso um investimento na concretização de algumas ações que foram identificadas

neste estudo e que caminha para a perspectiva da clínica ampliada, do enfoque na

família, da realização do atendimento à criança, vendo-a como um sujeito de direitos,

com singularidades e vulnerabilidades, da ampliação do grau de autonomia, da

consideração do contexto socioeconômico e cultural em que ela vive e da conjunção

de ações de promoção, educação e vigilância em saúde, de prevenção de agravos e

recuperação da saúde da população infantil.

Ao considerar esses aspectos inseridos no processo de trabalho em

saúde da equipe de atenção básica, principalmente, os pertencentes ao espaço da

micropolítica, mais curto será o caminho para se trilhar em busca de um modelo

assistencial centrado nos usuários e coerente com a perspectiva da integralidade.

Porém essas mudanças não ocorrem repentinamente; essas

concepções devem começar a fazer parte do cotidiano dos profissionais de saúde,

sendo trabalhadas desde a formação dos mesmos, o que remete a uma reconstrução

de saberes e práticas no processo educativo para inovação da produção de cuidados

em realidades contextualizadas.

A luta por uma atenção integral à criança só será possível a partir

da valorização da micropolítica enquanto agente transformador dos processos de

trabalho. Para que isso se concretize, é necessário um processo em que os modos de

produção de saúde, fundamentados nos modos de agir dos sujeitos, tenham como

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pressuposto um modelo centrado no usuário, na criança, respeitando suas

singularidades, atuando como produtores do cuidado integral à saúde.

De um modo geral, os documentos analisados priorizam ações de

prevenção e a recuperação da saúde da população infantil. Para que as ações

propostas se concretizem, devem ser pactuadas pelos profissionais da área da saúde e

por todos os níveis de atenção. As finalidades dessas propostas giram em torno da

reorientação de um novo modelo de assistência para a atenção básica, bem como da

redução da mortalidade infantil e criação de uma rede de assistência pública integral

e humanizada.

Assim, há necessidade de reconstrução da assistência à saúde da

criança, principalmente no contexto da família, conforme apontam as diretrizes da

atenção básica, especificamente o PSF. As proposições políticas da infância ainda

não têm a família como foco, ou seja, como elemento central do cuidado à criança, o

que é considerado relevante para a concretização do princípio da integralidade.

Acredita-se que as transformações e avanços conquistados no

âmbito à saúde desde a instituição do SUS, e especificamente, após consolidação do

PSF como eixo reorientador do modelo de atenção básica são imensos; porém,

pautando-se no princípio da integralidade na atenção à saúde da criança, ainda se tem

um longo caminho a percorrer, que só será alcançável se houver um esforço coletivo

por parte dos profissionais, gestores e comunidade.

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