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Aspectos técnicos da inserção de microgeração em sistemas de distribuição de energia elétrica Dalila Hemckmeier do Nascimento Hillary Kumm de Bona Medeiros Morgana Fortunato Ritchelly Lima Tomé. (Curso de Engenharia Elétrica IFSC/Florianópolis) Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (2013), a expansão acentuada do consumo de energia, embora possa refletir o aquecimento econômico e a melhoria da qualidade de vida, tem aspectos negativos. Um deles é a possibilidade do esgotamento dos recursos utilizados para a produção de energia. Outro é o impacto ao meio ambiente produzido por essa atividade. Finalmente, um terceiro são os elevados investimentos exigidos na pesquisa de novas fontes e construção de novas usinas. O aumento de custos e de restrições ambientais à construção de novas usinas de geração de energia elétrica (SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO) tem estimulado a busca de novas alternativas economicamente viáveis. A inserção da mini e microgeração unidades consumidoras que produzem energia elétrica para consumo próprio e, em horários de excedente, fornecem à rede de distribuição tem se tornado uma das alternativas promissoras. Com o intuito de aumentar a produção de energia elétrica por mini ou microprodutores a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) estabeleceu, por meio da Resolução Normativa N° 482, de 17 de abril de 2012, as condições gerais para o acesso de micro e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de energia elétrica. Segundo o PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional): Os Procedimentos de Distribuição são um conjunto de regras com vistas a subsidiar os agentes e consumidores do sistema elétrico

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Aspectos técnicos da inserção de microgeração em sistemas de distribuição de energia elétrica

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Aspectos técnicos da inserção de microgeração em sistemas

de distribuição de energia elétrica

Dalila Hemckmeier do Nascimento

Hillary Kumm de Bona Medeiros

Morgana Fortunato

Ritchelly Lima Tomé.

(Curso de Engenharia Elétrica – IFSC/Florianópolis)

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (2013), a expansão

acentuada do consumo de energia, embora possa refletir o aquecimento

econômico e a melhoria da qualidade de vida, tem aspectos negativos. Um

deles é a possibilidade do esgotamento dos recursos utilizados para a

produção de energia. Outro é o impacto ao meio ambiente produzido por essa

atividade. Finalmente, um terceiro são os elevados investimentos exigidos na

pesquisa de novas fontes e construção de novas usinas.

O aumento de custos e de restrições ambientais à construção de

novas usinas de geração de energia elétrica (SISTEMA ELÉTRICO

BRASILEIRO) tem estimulado a busca de novas alternativas economicamente

viáveis. A inserção da mini e microgeração – unidades consumidoras que

produzem energia elétrica para consumo próprio e, em horários de excedente,

fornecem à rede de distribuição – tem se tornado uma das alternativas

promissoras.

Com o intuito de aumentar a produção de energia elétrica por mini

ou microprodutores a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

estabeleceu, por meio da Resolução Normativa N° 482, de 17 de abril de 2012,

as condições gerais para o acesso de micro e minigeração distribuída aos

sistemas de distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de

energia elétrica.

Segundo o PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia

Elétrica no Sistema Elétrico Nacional):

Os Procedimentos de Distribuição são um conjunto de regras com

vistas a subsidiar os agentes e consumidores do sistema elétrico

nacional na identificação e classificação de suas necessidades para o

acesso ao sistema de distribuição, disciplinando formas, condições,

responsabilidades e penalidades relativas à conexão, planejamento

da expansão, operação e medição da energia elétrica, sistematizando

a troca de informações entre as partes, além de estabelecer critérios

e indicadores de qualidade. (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA

ELÉTRICA, 2010).

O PRODIST disciplina o relacionamento entre os agentes setoriais

no que se refere aos sistemas elétricos de distribuição, que incluem todas as

redes e linhas de distribuição de energia elétrica em tensão inferior a 230 kV,

seja em baixa tensão (BT), média tensão (MT) ou alta tensão (AT) (ANEEL,

2010). Estão sujeitos ao Prodist as concessionárias, os consumidores de

energia elétrica conectados ao sistema de distribuição, a ONS, as autorizadas

nos serviços de geração e distribuição de energia elétrica e os agentes

importadores ou exportadores de energia elétrica conectados ao sistema.

Microgeração

Os sistemas elétricos sofreram, nos últimos anos, diversas

alterações devido às novas regulamentações e à abertura dos mercados de

energia (TENFEN et al, 2013). A preocupação crescente com a

sustentabilidade dos recursos naturais e os tratados internacionais na busca de

objetivos conflitantes – Estocolmo, em 1972 e Rio de Janeiro, em 1992 –

afetam diretamente o setor de energia elétrica, pois este é responsável por

impactos significativos, tanto positivos – crescimento econômico e o

desenvolvimento de uma nação – como negativos – poluição, degradação do

meio ambiente, impactos sociais etc. Dessa forma, os governos buscam

incentivar o aumento de geração de energia elétrica vindo de fontes menores,

reduzindo o impacto ambiental, produzidas pelos próprios consumidores, com

possibilidade de fornecer o excedente de energia elétrica à rede de

distribuição.

Além de aliviar os impactos ambientais pela redução ou, pelo

menos, adiar os investimentos em novas usinas de energia elétrica, a

microgeração e minigeração trazem reduções econômicas para o setor elétrico.

Especificamente no Brasil, os principais potenciais de geração de energia

elétrica do Sul e do Sudeste foram utilizados. Através da Figura 1 tem-se o

potencial instalado por sub-bacia hidrográfica nas cinco regiões geográficas do

Brasil.

Figura 1 – Capacidade instalada por sub-bacia hidrográfica.

Fonte: Centrais Elétricas Brasileiras -ELETROBRAS, SIPOT 2003.

Dessa forma, a região Norte torna-se prioritária para os

investimentos devido ao potencial ainda a ser explorado. Porém, as restrições

ambientais têm gerado diversos problemas e impedimentos nas construções de

obras de grande magnitude. Assim, a microgeração e minigeração entram

neste cenário como potencial para deixar para trás os investimentos nas bacias

que compõem a região Norte do país. A microgeração e a minigeração entram

no conceito de smart grids (rede inteligente - as novas redes serão

automatizadas com medidores de qualidade e de consumo de energia em

tempo real) dito à capacidade de estarem conectados à rede de distribuição de

forma bidirecional – consumindo em determinados períodos e injetando energia

na rede em outros (TENFEN et al, 2013).

Por meio da Figura 2 é possível visualizar uma rede inteligente

(smart grid) com a microgeração sendo gerada através de fontes renováveis –

solar e ventos – e conectadas diretamente na rede de distribuição.

Figura 2 – Smartgrid (rede inteligente) de energia elétrica.

Fonte: La Monica, 2011.

Diferentemente da rede elétrica convencional, as unidades

consumidoras passarão a se tornar agentes ativos, alimentando a rede de

distribuição quando existir excedente de produção, como, por exemplo, através

dos painéis fotovoltaicos instalados em cima da residência.

Em relação à regulamentação para a inserção da minigeração e

microgeração, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) estabeleceu

por meio da Resolução Normativa Nº 482, de 17 de abril de 2012, dois tipos de

geração distribuída de pequeno porte:

I - microgeração distribuída: central geradora de energia

elétrica, com potência instalada menor ou igual a 100 kW e que

utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica,

biomassa ou cogeração (processo de produção) qualificada,

conforme regulamentação da ANEEL, conectada na rede de

distribuição por meio de instalações de unidades

consumidoras;

II - minigeração distribuída: central geradora de energia

elétrica, com potência instalada superior a 100 kW e menor ou

igual a 1 MW para fontes com base em energia hidráulica,

solar, eólica, biomassa ou cogeração (processo de produção)

qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, conectada

na rede de distribuição por meio de instalações de unidades

consumidoras (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA

ELÉTRICA, 2012, p. 1);

A minigeração e a microgeração estão consolidadas em alguns

países europeus há mais de 20 anos, e a cada dia que passa estão assumindo

um novo papel no setor elétrico, pois a geração de energia deixa de ser uma

exclusividade de grandes indústrias para ser promovida também por pequenos

consumidores. O Brasil é o terceiro pais com maior insolação entre os países

desenvolvidos, sendo assim o país já tem uma vocação natural e uma base

para o desenvolvimento dos sistemas de minigeração e microgeração.

Além da aprovação das condições de acesso à rede de distribuição

pela minigeração e microgeração, a ANEEL determinou o procedimento relativo

ao sistema de compensação de energia. Esse sistema foi criado para que a

energia elétrica ativa produzida por uma unidade consumidora com

microgeração compense o consumo de energia elétrica ativa. A unidade

geradora de energia instalada em uma residência, por exemplo, produzirá

energia elétrica e o que não for consumido será injetado na rede que utilizará o

crédito para abater o consumo dos meses subsequentes. O crédito terá o prazo

de até 36 meses para ser usado. Pode-se considerar o Sistema de

Compensação de Energia como uma ação de eficiência energética, pois

haverá redução de consumo e do carregamento dos alimentadores em regiões

com alto consumo, com redução de perdas e, em alguns casos, postergação

de investimentos na expansão do sistema de distribuição.

O consumidor que instalar o sistema de mini ou microgeração

distribuída terá que arcar com todos os custos necessários para a adequação

do sistema de medição para implantar o sistema de compensação. Após a

adaptação, a própria distribuidora será responsável por futuras manutenções

conforme Resolução Normativa nº 482. (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA

ELÉTRICA, 2012).

Por causa desses custos para os consumidores é que se tem mais

dificuldade para a implantação da mini e microgeração. Como o prazo de

retorno desse investimento é de 6 a 10 anos e esse mercado ainda é muito

limitado, os consumidores não querem se dar ao trabalho de implantar a

minigeração. Porém, atualmente os pequenos usuários ainda pagam um preço

fixo pela energia, mas já foi aprovado pela ANEEL (AGENCIA NACIONAL DE

ENERGIA ELETRICA) projeto que prevê que o valor da energia fora do período

de ponta, das 18h às 21h seja seis vezes menor. Quando esses preços forem

diferenciados, as pessoas verão como uma necessidade a produção de

energia através da micro e minigeração.

Etapas de solicitação de acesso e parecer de acesso

As etapas do acesso de microgeração e minigeração distribuída

foram simplificadas para garantir que mais unidades geradoras de energia

utilizem desses benefícios, transferindo seu excedente de energia para a rede,

que poderá voltar na forma de créditos. Para a central geradora classificada

como micro ou minigeração distribuída, são obrigatórias apenas as etapas de

solicitação de acesso e parecer de acesso.

Conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (2010)

recomenda, a solicitação de acesso é o requerimento formulado pelo

acessante que, uma vez entregue à acessada, implica a prioridade de

atendimento, de acordo com a ordem cronológica de protocolo. Compete à

distribuidora a responsabilidade pela coleta das informações das unidades

geradoras junto aos micro e minigeradores distribuídos e envio dos dados à

ANEEL para fins de Registro, nos termos da regulamentação específica. Para

micro e minigeração distribuída, fica dispensada a apresentação do Certificado

de Registro, ou documento equivalente, na etapa de solicitação de acesso.

Já o parecer de acesso é o documento formal obrigatório

apresentado pela acessada, sem ônus para o acessante, em que são

informadas as condições de acesso, compreendendo a conexão e o uso, e os

requisitos técnicos que permitam a conexão das instalações do acessante com

os respectivos prazos, devendo indicar: a classificação da atividade do

acessante. A definição do ponto de conexão de acordo com o critério de menor

custo global, com a apresentação das alternativas de conexão que foram

avaliadas pela acessada, acompanhadas das estimativas dos respectivos

custos, conclusões e justificativas. As características do sistema de distribuição

acessado e do ponto de conexão, incluindo requisitos técnicos, como tensão

nominal de conexão, além dos padrões de desempenho; a relação das obras e

serviços necessários no sistema de distribuição acessado, com a informação

dos prazos para a sua conclusão, especificando as obras de responsabilidade

do acessante e aquelas de responsabilidade da acessada.

Cada localidade tem suas normas para o acesso da mini e microgeração

no sistema elétrico definidas pela concessionária da região, porém todas elas

são baseadas nas regras instituídas pelo PRODIST.

Referência Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Nota Técnica n° 0025/2011: SRD-SRC-SRG-SCG-SEM-SRE-SPE/ANEEL. Brasil, 2011, 21 p. Disponível em: www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/.../nota_tecnica_0025_gd.pdf. Acesso em: 6 nov. de 2013. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST. Brasil, 2010. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa nº 482. Brasil, 17 de abril de 2012. Disponível em: www.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf Acesso em 7 nov. 2013. URSAIA, Guilherme Crippa. A regulação da microgeração e minigeração de energia no Brasil. Disponivel em: http://www.ambientelegal.com.br/a-regulacao-da-microgeracao-e-minigeracao-de-energia-no-brasil/. Acesso em: 09 nov. 2013.