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338 ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DA DIVERSIDADE RELIGIOSA E FAMILIAR NO AMBIENTE ESCOLAR Ana Claudia Rodrigues de Oliveira Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais UEL. Resumo expandido: Esta pesquisa tem como objetivo analisar aspectos quantitativos e qualitativos da diversidade religiosa e as configurações familiares de estudantes do Ensino Médio, buscando investigar os vínculos entre tais fatores formativos e posicionamentos de intolerância contra a diversidade familiar, especialmente em relação às formações familiares não-tradicionais. A realidade social brasileira da atual conjuntura é marcada pela progressiva intensificação da relação entre os âmbitos religioso e político e, consequentemente, de seus conflitos. Neste quadro, Vital e Lopes (2013) destacam a importância da atuação parlamentar de evangélicos, enquanto força política conservadora, que se posiciona contra alterações nos padrões tradicionais de relações familiares e de gênero, por entendê-las como uma ameaça à heteronormatividade. Segundo Junqueira (2011) o conceito de heteronormatividade pode ser entendido como uma normatividade estruturante das relações sociais, de um conjunto de vigências que se sustenta pela naturalização da heterossexualidade e tem sua legitimidade reforçada pelo discurso religioso de grupos evangélicos conservadores, em detrimento de uma concepção que entenda esta ordem enquanto padrão histórica, cultural e socialmente construído. É perceptível o atual engajamento político de lideranças evangélicas e católicas contra a ampliação dos direitos civis de LGBTs 1 , contra a descriminalização do aborto, à legalização da maconha, contra o reconhecimento de arranjos diferentes do padrão tradicional de família nuclear e em favor da redução da maioridade penal. 1 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis.

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ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DA DIVERSIDADE

RELIGIOSA E FAMILIAR NO AMBIENTE ESCOLAR

Ana Claudia Rodrigues de Oliveira

Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UEL.

Resumo expandido:

Esta pesquisa tem como objetivo analisar aspectos quantitativos e qualitativos da

diversidade religiosa e as configurações familiares de estudantes do Ensino Médio, buscando

investigar os vínculos entre tais fatores formativos e posicionamentos de intolerância contra a

diversidade familiar, especialmente em relação às formações familiares não-tradicionais.

A realidade social brasileira da atual conjuntura é marcada pela progressiva

intensificação da relação entre os âmbitos religioso e político e, consequentemente, de seus

conflitos. Neste quadro, Vital e Lopes (2013) destacam a importância da atuação parlamentar

de evangélicos, enquanto força política conservadora, que se posiciona contra alterações nos

padrões tradicionais de relações familiares e de gênero, por entendê-las como uma ameaça à

heteronormatividade.

Segundo Junqueira (2011) o conceito de heteronormatividade pode ser entendido

como uma normatividade estruturante das relações sociais, de um conjunto de vigências que

se sustenta pela naturalização da heterossexualidade e tem sua legitimidade reforçada pelo

discurso religioso de grupos evangélicos conservadores, em detrimento de uma concepção que

entenda esta ordem enquanto padrão histórica, cultural e socialmente construído.

É perceptível o atual engajamento político de lideranças evangélicas e católicas

contra a ampliação dos direitos civis de LGBTs1, contra a descriminalização do aborto, à

legalização da maconha, contra o reconhecimento de arranjos diferentes do padrão tradicional

de família nuclear e em favor da redução da maioridade penal.

1 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis.

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Frequentemente essas lideranças buscam alcançar visibilidade em questões

relativas aos princípios morais da família tradicional cristã, como é o caso, por exemplo, do

pastor e deputado federal Marco Feliciano, que defende amplamente sua posição contrária às

uniões homoafetivas nos diversos meios de comunicação social.

Com base na análise de Oro (2006), ao pensar a vinculação entre o campo

religioso e a política no Brasil contemporâneo podemos afirmar que representantes políticos

estão atentos às exigências de grupos evangélicos, que se consolidam enquanto eleitorado de

ampla expressão.

A partir da perspectiva de Bourdieu (2004), entende-se que a prática religiosa tem um

caráter impositivo e não pode ser separada das relações de poder, já que o campo religioso

impacta todas as dimensões sociais. O autor identifica a religião enquanto prática e política que

tem por função legitimar o arbitrário, nos fornecendo assim amparo teórico para compreender

a recusa dos setores conservadores em reconhecer a cidadania e direitos coletivos de outros

grupos sociais.

No âmbito político este teor impositivo desdobra-se em contradições entre

segmentos religiosos conservadores, sobretudo grupos evangélicos, e os chamados grupos

minoritários2. As tensões na esfera pública colocam de um lado, demandas por reconhecimento

de direitos coletivos e ações afirmativas, e, de outro, as manifestações de intolerância às

diversidades, práticas discriminatórias e formas variadas de preconceito.

Cabe aqui algumas considerações sobre a noção de direitos coletivos a partir de

Santos e Chauí (2013), que a diferenciam da concepção original dos direitos humanos. Para

eles os direitos coletivos resultam de lutas históricas de grupos sociais que foram excluídos e

discriminados coletivamente, sem poder ser protegidos pelos direitos humanos (individuais).

Segundo os autores podemos dizer que essas lutas por direitos coletivos sempre traçaram linhas

tênues entre o reconhecimento e negação de direitos.

Dada a amplitude e complexidade deste quadro conjectural mais amplo, nos coube

orientar esta pesquisa no sentido de compreender como tais ações sociais permeiam o contexto

escolar, nas relações sociais e posicionamentos dos alunos do Ensino Médio, por se tratar de

um espaço que é permeado pelos imperativos da heteronormatividade, mas que também é

vinculado às discussões sobre o reconhecimento de grupos minoritários.

Esta pesquisa utiliza tanto dados quantitativos sobre a composição familiar e

religiosidades dos sujeitos da pesquisa - coletados por meio de questionários estruturados -

como qualitativos – prevendo a realização de entrevista e da técnica de grupos focais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BOUDIEU, Pierre. Gênese e Estrutura do Campo Religioso. In: Bourdieu, Pierre. Sérgio Micelli (org.), 5 ed. Editora Perspectiva, São Paulo, 2004. JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Heterossexismo e vigilância de gênero no cotidiano escolar: a pedagogia do armário. In: Corpos, gêneros, sexualidades e relações étnico-raciais na educação. Uruguaiana, RS: UNIPAMPA, 2011. p. 74-92. ORO, Ari Pedro. A política da Igreja Universal e seus reflexos nos campos religioso e político brasileiros. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais,

2006. SANTOS, Boaventura de Sousa; CHAUÍ, Marilena. Direitos Humanos, Democracia e

Desenvolvimento. São Paulo, Cortez, 2013. VITAL, Christina; LOPES, Paulo Victor Leite. Religião e política: uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Fundação Heinrich Böll, 2013. 2 Os grupos minoritários ou “subalternos”, como define o filósofo político Charles Taylor (1994), são aqueles que

expressam demandas e exigências por reconhecimento social, cultural e político de suas identidades coletivas e diversidades, sejam elas culturais, étnico-raciais, religiosas ou de gênero.