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ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DA DIVERSIDADE
RELIGIOSA E FAMILIAR NO AMBIENTE ESCOLAR
Ana Claudia Rodrigues de Oliveira
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UEL.
Resumo expandido:
Esta pesquisa tem como objetivo analisar aspectos quantitativos e qualitativos da
diversidade religiosa e as configurações familiares de estudantes do Ensino Médio, buscando
investigar os vínculos entre tais fatores formativos e posicionamentos de intolerância contra a
diversidade familiar, especialmente em relação às formações familiares não-tradicionais.
A realidade social brasileira da atual conjuntura é marcada pela progressiva
intensificação da relação entre os âmbitos religioso e político e, consequentemente, de seus
conflitos. Neste quadro, Vital e Lopes (2013) destacam a importância da atuação parlamentar
de evangélicos, enquanto força política conservadora, que se posiciona contra alterações nos
padrões tradicionais de relações familiares e de gênero, por entendê-las como uma ameaça à
heteronormatividade.
Segundo Junqueira (2011) o conceito de heteronormatividade pode ser entendido
como uma normatividade estruturante das relações sociais, de um conjunto de vigências que
se sustenta pela naturalização da heterossexualidade e tem sua legitimidade reforçada pelo
discurso religioso de grupos evangélicos conservadores, em detrimento de uma concepção que
entenda esta ordem enquanto padrão histórica, cultural e socialmente construído.
É perceptível o atual engajamento político de lideranças evangélicas e católicas
contra a ampliação dos direitos civis de LGBTs1, contra a descriminalização do aborto, à
legalização da maconha, contra o reconhecimento de arranjos diferentes do padrão tradicional
de família nuclear e em favor da redução da maioridade penal.
1 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis.
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Frequentemente essas lideranças buscam alcançar visibilidade em questões
relativas aos princípios morais da família tradicional cristã, como é o caso, por exemplo, do
pastor e deputado federal Marco Feliciano, que defende amplamente sua posição contrária às
uniões homoafetivas nos diversos meios de comunicação social.
Com base na análise de Oro (2006), ao pensar a vinculação entre o campo
religioso e a política no Brasil contemporâneo podemos afirmar que representantes políticos
estão atentos às exigências de grupos evangélicos, que se consolidam enquanto eleitorado de
ampla expressão.
A partir da perspectiva de Bourdieu (2004), entende-se que a prática religiosa tem um
caráter impositivo e não pode ser separada das relações de poder, já que o campo religioso
impacta todas as dimensões sociais. O autor identifica a religião enquanto prática e política que
tem por função legitimar o arbitrário, nos fornecendo assim amparo teórico para compreender
a recusa dos setores conservadores em reconhecer a cidadania e direitos coletivos de outros
grupos sociais.
No âmbito político este teor impositivo desdobra-se em contradições entre
segmentos religiosos conservadores, sobretudo grupos evangélicos, e os chamados grupos
minoritários2. As tensões na esfera pública colocam de um lado, demandas por reconhecimento
de direitos coletivos e ações afirmativas, e, de outro, as manifestações de intolerância às
diversidades, práticas discriminatórias e formas variadas de preconceito.
Cabe aqui algumas considerações sobre a noção de direitos coletivos a partir de
Santos e Chauí (2013), que a diferenciam da concepção original dos direitos humanos. Para
eles os direitos coletivos resultam de lutas históricas de grupos sociais que foram excluídos e
discriminados coletivamente, sem poder ser protegidos pelos direitos humanos (individuais).
Segundo os autores podemos dizer que essas lutas por direitos coletivos sempre traçaram linhas
tênues entre o reconhecimento e negação de direitos.
Dada a amplitude e complexidade deste quadro conjectural mais amplo, nos coube
orientar esta pesquisa no sentido de compreender como tais ações sociais permeiam o contexto
escolar, nas relações sociais e posicionamentos dos alunos do Ensino Médio, por se tratar de
um espaço que é permeado pelos imperativos da heteronormatividade, mas que também é
vinculado às discussões sobre o reconhecimento de grupos minoritários.
Esta pesquisa utiliza tanto dados quantitativos sobre a composição familiar e
religiosidades dos sujeitos da pesquisa - coletados por meio de questionários estruturados -
como qualitativos – prevendo a realização de entrevista e da técnica de grupos focais.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BOUDIEU, Pierre. Gênese e Estrutura do Campo Religioso. In: Bourdieu, Pierre. Sérgio Micelli (org.), 5 ed. Editora Perspectiva, São Paulo, 2004. JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Heterossexismo e vigilância de gênero no cotidiano escolar: a pedagogia do armário. In: Corpos, gêneros, sexualidades e relações étnico-raciais na educação. Uruguaiana, RS: UNIPAMPA, 2011. p. 74-92. ORO, Ari Pedro. A política da Igreja Universal e seus reflexos nos campos religioso e político brasileiros. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais,
2006. SANTOS, Boaventura de Sousa; CHAUÍ, Marilena. Direitos Humanos, Democracia e
Desenvolvimento. São Paulo, Cortez, 2013. VITAL, Christina; LOPES, Paulo Victor Leite. Religião e política: uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Fundação Heinrich Böll, 2013. 2 Os grupos minoritários ou “subalternos”, como define o filósofo político Charles Taylor (1994), são aqueles que
expressam demandas e exigências por reconhecimento social, cultural e político de suas identidades coletivas e diversidades, sejam elas culturais, étnico-raciais, religiosas ou de gênero.