aspectos anatÔmicos dos mÚsculos caudais e mediais … · 2016-04-07 · iv dados internacionais...

102
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus, 1766) Flávio de Rezende Guimarães Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo Goiânia 2014

Upload: others

Post on 09-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS

DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus, 1766)

Flávio de Rezende Guimarães

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo

Goiânia

2014

Page 2: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

ii

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a

disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões

assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [X] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Flávio de Rezende Guimarães

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor Universidade Federal do Mato Grosso

Agência de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Sigla: CAPES

País: Brasil UF: MT CNPJ: 33.004.540/0001-00

Título: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus, 1766)

Palavras-chave: Anatomia, carnívoros, membro pélvico, Procyonidae.

Título em outra língua: ANATOMICAL ASPECTS OF THE CAUDAL AND MEDIAL THIGH MUSCLES OF COATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

Palavras-chave em outra língua: Anatomy, carnivore, pelvic limb, Procyonidae.

Área de concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Data defesa: (dd/mm/aaaa) 30/05/2014

Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal

Orientador (a): Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo

E-mail: [email protected]

Co-orientador (a):*

Prof. Dr. Júlio Roquete Cardoso Profª. Drª. Luciana Batalha de Miranda Araújo

E-mail: [email protected] [email protected]

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG 3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [ ] SIM [X] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s)

arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação. O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos

contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo

apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat.

________________________________________ Data: 16 /julho/2014

Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo

suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante

o período de embargo.

Page 3: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

iii

FLÁVIO DE REZENDE GUIMARÃES

ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS

DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus, 1766)

Tese apresentada para obtenção do

grau de Doutor em Ciência Animal

junto à Escola de Veterinária e

Zootecnia da Universidade Federal

de Goiás.

Área de concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo - EVZ - UFG

Comitê de orientação:

Prof. Dr. Júlio Roquete Cardoso – ICB - UFG

Profª. Drª. Luciana Batalha de Miranda Araújo - EVZ - UFG

Goiânia

2014

Page 4: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

iv

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G963a

Guimarães, Flávio de Rezende.

Aspectos anatômicos dos músculos caudais e mediais da

coxa do Quati (Nasua nasua, Linnaeus, 1766) / Flávio de

Rezende Guimarães. - 2014.

88 f.: il., figs.

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo. Co-

Orientadores: Prof. Dr. Júlio Roquete Cardoso ; Profª. Drª.

Luciana Batalha de Miranda Araújo.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás,

Escola de Veterinária, 2014.

Bibliografia.

1. Quati (Nasua nasua). 2. Procyonidae. 2. Quati –

anatomia. I. Guimarães, Flávio de Rezende Guimarães. II.

Titulo. III. Orientador.

CDU: 599.742.3

Elaborada por Igor Yure Ramos Matos – Bibliotecário CRB1-2819

Page 5: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

v

FLÁVIO DE REZENDE GUIMARÃES

Tese defendida e aprovada em 30/05/2014 pela Banca Examinadora

constituída pelos professores:

Page 6: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

vi

À minha querida esposa e companheira, Thelma.

Aos meus amados filhos, Gabriel, Alessandra e Maria Luiza.

Aos meus queridos pais, Ayrton e Alzira.

Aos animais, especialmente aqueles utilizados nesta pesquisa.

Dedico

Page 7: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

vii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por estar comigo em todas as etapas desta

difícil jornada.

À minha amada esposa e colega de doutorado, Thelma Michella Saddi,

minha grande companheira de todas as horas.

Aos meus filhos, Gabriel, Alessandra e Maria Luiza, por entenderem a

minha ausência em muitos momentos do cotidiano, por conta dos compromissos

firmados com este trabalho.

Aos meus amados pais, por sempre estarem comigo, mesmo à

distância.

Aos meus colegas do Departamento de Ciências Básicas e Produção

Animal e à Universidade Federal de Mato Grosso, por me liberarem,

institucionalmente, para a realização deste curso de doutorado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), pela minha inclusão no Programa Pró-Doutoral.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo, e aos meus

co-orientadores, Prof. Dr. Júlio Roquete Cardoso e Profa. Dra. Luciana Batalha de

Miranda Araújo, por aceitarem me orientar e pela confiança em mim depositada.

Ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) do

município de Goiânia, por nos ter cedido os animais utilizados nesta pesquisa.

Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio), por autorizarem o uso dos animais envolvidos nesta pesquisa.

À Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás,

pelo curso oferecido.

Ao Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da

Universidade Federal de Goiás (DMORF/ICB/UFG), por disponibilizar suas

instalações, equipamentos, materiais e funcionários, para o bom andamento desta

pesquisa.

Aos colegas professores da disciplina de Anatomia Animal do

Page 8: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

viii

ICB/UFG, pela amizade, acolhimento e apoio técnico.

Aos funcionários do ICB/UFG, pelo carinho e constante auxílio.

Aos técnicos do Laboratório de Anatomia Animal do ICB/UFG, Arlindo

Coelho de Souza “in memorian” e Darci José dos Santos “in memorian”, pela

confecção de esqueletos consultados e apoio laboratorial, respectivamente.

A todas as outras pessoas que, de forma direta ou indireta, nos

ajudaram a executar esta pesquisa.

E finalmente, aos animais utilizados nesta pesquisa, sem os quais não

teria sido possível a realização da mesma.

Page 9: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

ix

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao Prof. Dr. Júlio Roquete Cardoso, por me acompanhar na realização

de cada etapa desta obra, norteando-me e auxiliando-me sempre que necessário.

O respeito e a responsabilidade com que tratou cada fase desta empreitada,

aliado ao seu coleguismo nos momentos difíceis, só me levam a agradecê-lo e

admirá-lo pela pessoa e o profissional que é.

Page 10: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

x

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................ 1

1 Introdução ........................................................................................................... 1

2 Carnívoros ........................................................................................................... 4

3 Procionídeos ....................................................................................................... 9

4 O quati (Nasua nasua) ...................................................................................... 11

5 Tecido muscular................................................................................................. 16

6 Aspectos anatômicos dos músculos estriados esqueléticos ............................. 18

7 Referências ....................................................................................................... 27

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS DA

COXA DO QUATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766) ............................................ 36

RESUMO .............................................................................................................. 37

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 38

MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 39

RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 40

CONCLUSÕES .................................................................................................... 52

AGRADECIMENTOS ........................................................................................... 53

ABSTRACT .......................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 53

CAPÍTULO 3 – ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA

COXA DO QUATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766) ............................................ 56

RESUMO .............................................................................................................. 57

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 58

MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 59

RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 60

CONCLUSÕES .................................................................................................... 72

AGRADECIMENTOS ........................................................................................... 73

ABSTRACT .......................................................................................................... 73

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 74

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 77

ANEXOS .............................................................................................................. 79

Page 11: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

xi

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1 a - Espécime de quati (Nasua nasua) escalando uma árvore;

b – Espécime de quati escalando um mamoeiro em busca de

seus frutos................................................................................

4

Figura 2 Cladograma mostrando as relações filogenéticas entre as

famílias da ordem Carnivora e a estimativa do tempo de

divergência entre as mesmas...................................................

7

Figura 3 Área de distribuição geográfica natural do quati (Nasua

nasua) (em vermelho) na América do Sul................................

12

Figura 4 a – Espécimes de quati (Nasua nasua) forrageando no chão,

com suas caudas aneladas em posição vertical e apoio

plantígrado; b – Aspecto lateral de um espécime de quati

mostrando seu focinho comprido, apoio plantígrado e cauda

anelada.....................................................................................

14

Figura 5 Diferentes modalidades de arranjos das fibras musculares e

suas correspondentes classificações.......................................

19

Figura 6 Representação esquemática de um músculo estriado

esquelético seccionado transversalmente, com uma de suas

extremidades fixadas ao osso, mostrando a estrutura básica

do músculo com seus envoltórios conjuntivos..........................

20

CAPÍTULO 2

Figura 1 Musculatura do membro pélvico de quati (Nasua nasua). A -

aspecto lateral do membro pélvico: musculatura superficial; B

- aspecto distal dos músculos caudais da coxa após corte

transversal no terço médio dos mesmos; C - aspecto

caudolateral do membro pélvico: musculatura superficial; D -

aspecto lateral do membro pélvico: musculatura profunda da

coxa; E - aspecto caudolateral do membro pélvico:

musculatura superficial; F- aspecto caudal da

coxa.......................................................................................

42

Page 12: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

xii

Figura 2 A - aspecto lateral da cintura pélvica e coxa de quati (Nasua

nasua): musculatura superficial; B, C, D, E, F - aspecto

lateral da cintura pélvica de quati (Nasua nasua):

musculatura profunda...............................................................

44

Figura 3 A - aspecto caudal da cintura pélvica e parte da coxa de

quati (Nasua nasua); B - aspecto lateral do membro pélvico

de quati (Nasua nasua) evidenciando a inserção do m.

bíceps femoral..........................................................................

45

Figura 4 Aspecto medial do membro pélvico de quati (Nasua nasua):

musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos

músculos sartório e grácil.........................................................

46

CAPÍTULO 3

Figura 1 Aspecto medial do membro pélvico direito de quati (Nasua

nasua). A - musculatura superficial; B - musculatura profunda

da coxa, após rebatimento dos músculos sartório e

grácil.........................................................................................

61

Figura 2 Representação esquemática do osso coxal e fêmur de quati

(Nasua nasua). A - Aspecto lateral do osso coxal esquerdo:

representação das origens dos músculos mediais da coxa; B

- Aspecto caudal do fêmur direito: representação das

inserções dos músculos mediais da coxa................................

62

Figura 3 Musculatura da coxa de quati (Nasua nasua). A - Aspecto

caudal da coxa direita: musculatura profunda; B - Aspecto

caudomedial da coxa direita: musculatura profunda da coxa,

após rebatimento dos músculos grácil, semimembranoso,

adutor magno e adutor curto....................................................

64

Figura 4 A - Aspecto caudal da metade proximal da coxa direita de

quati (Nasua nasua): musculatura profunda com ênfase para

a fusão parcial do m. adutor longo com o m. pectíneo; B -

Aspecto lateral do membro pélvico direito de quati (Nasua

nasua): musculatura profunda da coxa....................................

67

Page 13: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

xiii

RESUMO

Carnívoros Sul-americanos da família Procyonidae, os quatis (Nasua nasua) são onívoros generalistas que encontram nas frutas um importante componente de sua dieta. Assim, forrageiam não somente no solo, mas também em árvores, mostrando-se hábeis escaladores. Tal habilidade exige mais força e mobilidade de seus membros pélvicos em relação àqueles de seus parentes domésticos mais próximos, os cães, com os quais compartilham a mesma subordem Caniformia. Assim, foram analisados nesse estudo os aspectos anatômicos dos músculos que integram o grupo caudal e medial da coxa dos quatis, os quais tiveram seus aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção, sintopia e ações básicas avaliados. Para a realização desta pesquisa, aprovada pelo CEUA-UFG (processo 235/2011), foram utilizados ambos os membros pélvicos de cinco animais adultos (duas fêmeas e três machos) cedidos pelo IBAMA-GO (Licença 98/2011), dos quais três foram submetidos à eutanásia (Licença 26278-3 SISBIO/ICMBio). Os animais foram fixados com solução de formaldeído a 10% e após 24 horas foram acondicionados em cubas com a mesma solução, nas quais permaneceram por pelo menos 72 horas antes do início das dissecações. A partir de então, estes foram mantidos em cubas com solução de álcool etílico 92,8º GL. A presente tese gerou a produção de dois artigos científicos. No primeiro, intitulado ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus 1766), verificou-se que os músculos que compõem o grupo caudal da coxa dos quatis são o m. semitendinoso, m. semimembranoso, m. bíceps femoral e o m. abdutor crural caudal. O m. semitendinoso apresenta duas cabeças, a longa e a curta, além de um tendão de intersecção. Este músculo não participa da formação do tendão calcanear comum. O m. semimembranoso é incompletamente dividido em porções cranial e caudal. O m. bíceps femoral apresenta somente uma cabeça e também não contribui com a formação do tendão calcanear comum. O ligamento sacrotuberal está ausente e o m. abdutor crural caudal origina-se da face profunda do m. gluteofemoral e parte adjacente do m. glúteo superficial. No segundo artigo, intitulado ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus 1766), verificou-se que os músculos que compõem o grupo medial da coxa dos quatis são o m. grácil, m. pectíneo, m. adutor magno, m. adutor curto, m. adutor longo e o m. obturador externo. Todos os músculos apresentaram particularidades quanto à origem e/ou inserção. O músculo grácil é bem largo e não contribui para a formação do tendão calcanear comum. O músculo pectíneo estende-se até a metade da face caudal do fêmur. Os três músculos adutores encontram-se presentes e dispostos como três lâminas sucessivas e crescentes, no sentido craniocaudal, estando o músculo adutor curto interposto entre o m. adutor longo cranialmente e o m. adutor magno caudalmente. Diversas alterações anatômicas foram observadas nos músculos caudais e mediais da coxa dos quatis em relação aos dos cães domésticos, sendo que algumas destas, porém, assemelhavam-se à situações anatômicas verificadas em felídeos. Provavelmente tais alterações estão relacionadas com as habilidades escaladoras adquiridas pelos quatis, durante seu processo evolutivo. Palavras-chave: Anatomia, carnívoros, membro pélvico, Procyonidae.

Page 14: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

xiv

ABSTRACT

South american carnivores, members of the Procyonidae family, the coatis (Nasua Nasua) are generalist omnivores that found on fruits the important component for their diet. Thereby, they forage not only on the ground but also in the trees, showing themselves to be skilled climbers. This skill requires more strength and mobility of their hindlimbs when compared to those of their closest relatives, the dogs, with whom they share the same Suborder Caniformia. Thus, it was examined the anatomical aspects of the muscles that integrate the caudal and medial muscular groups of the thigh of coatis, which had its general aspects, location, shape, origin, insertion, syntopy and basic actions evaluated. Both hindlimbs of five adult animals (two females and three males) donated by IBAMA-GO (License: 98/2011) were used in this study, which has its protocol approved by the CEUA-UFG (protocol 235/2011). Of these, three animals were euthanized (SISBIO/ ICMBio license: 26278-3). They were fixed with 10% formaldehyde solution and stored in tanks within the same solution, in which they remained for at least 72 hours before the beginning of dissection procedures. Subsequently, they were kept in tanks with ethylic alcohol at 92.8º GL. This doctorate thesis generated two scientific articles. In the first one titled ANATOMICAL ASPECTS OF THE CAUDAL THIGH MUSCLES OF COATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766), it was verified that muscles which comprise the caudal muscular group of the thigh of coatis are the m. semitendinosus, m. semimembranosus, m. biceps femoris and the m. abductor cruris caudalis. The m. semitendinosus has two heads, long and short, besides an intersection tendon. It does not contribute to the formation of the common calcaneal tendon. The m. semimembranosus is incompletely divided into cranial and caudal parts. The m. biceps femoris has only one head and also does not contribute to the formation of the common calcaneal tendon. The ligamentum sacrotuberale is absent and the m. abductor cruris caudalis originates from the deep surface of the m. gluteofemoralis and adjacent part of the m. gluteus superficialis. The second article titled ANATOMICAL ASPECTS OF THE MEDIAL THIGH MUSCLES OF COATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766), it was verified that muscles which comprise the medial muscular group of the thigh of coatis are the m. gracilis, m. pectineus, magnus, brevis and longus adductors muscles and the m. external obturator. All these muscles show particularities regarding to its origin and/or insertion. The m. gracilis is very broad and does not contribute to the formation of the common calcaneal tendon. The m. pectineus extends up to the half of the caudal surface of the femur. The three individual adductors are arranged like three layers that increase craniocaudally, being the adductor brevis positioned between the longus cranially and the magnus caudally. Several anatomical changes were observed in the caudal and medial thigh muscles of coatis in relation to domestic dogs muscles, with some of these, however, resembling more the anatomic patterns of felids. Probably these changes are related to the climbing skills acquired by the coatis during their evolutionary process. Keywords: Anatomy, carnivore, pelvic limb, Procyonidae.

Page 15: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1 Introdução

A influência das atividades humanas sobre a fauna silvestre tem

crescido numa razão sem precedentes (ROCHA & SILVA, 2009). Neste sentido,

a preocupação com as espécies de animais silvestres tem aumentado bastante

na medida em que as mesmas têm sofrido uma redução significativa de seu

contingente antes mesmo de serem devidamente conhecidas. A extinção de

várias espécies ao longo das últimas décadas vem justificando tal preocupação.

A busca por ações conservacionistas tem levado cientistas de todo o

mundo a entenderem e discutirem os principais impactos ambientais das ações

desenfreadas da humanidade e encontrarem formas de reduzir a perda de

biodiversidade (PIRES & CADEMARTORI, 2012).

Um dos principais impactos das atividades antrópicas sobre a

biodiversidade é a redução e perda de habitats (PIRES & CADEMARTORI,

2012), impulsionadas pela agricultura e atividade florestal (ROCHA & SILVA,

2009). Esta fragmentação dos ambientes é considerada uma das principais

causas de diminuição das populações e eventual extinção das espécies

(GRELLE et al., 2009).

Embora os quatis (Nasua nasua) (Figuras 1 e 4) sejam comuns na

maioria das florestas neotropicais da América do Sul (ALVES-COSTA et al.,

2004) e estejam enquadrados na categoria intitulada “menos preocupante” da

lista vermelha das espécies ameaçadas da IUCN (International Union for

Conservation of Nature and Natural Resources) (EMMONS & HELGEN, 2008), a

falta de estudos populacionais sobre os mesmos na natureza tem levado a uma

severa subestimação dos problemas ecológicos e declínio, em números, dos

indivíduos desta espécie (COSTA et al., 2009).

A perda de habitat, devido ao desmatamento, e a caça por nativos,

têm representado as principais ameaças para essa espécie (EMMONS &

HELGEN, 2008). Estes fatores, acrescidos do comércio desses animais,

apresentam-se como os principais problemas que ameaçam suas populações no

Page 16: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

2

Paraguai, Bolívia, Argentina, Venezuela e Uruguai (COSTA et al., 2009), de

forma que neste último, o N. nasua já encontra-se protegido pelo Anexo III do

CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna

and Flora) (EMMONS & HELGEN, 2008; COSTA et al., 2009). Nesta direção,

segundo a IUCN, já há uma tendência populacional decrescente do N. nasua

(EMMONS & HELGEN, 2008).

No Brasil, apesar do quati ter ampla distribuição geográfica e ser

relativamente comum (CHEIDA et al., 2006), sendo frequentemente registrado

em estudos de levantamento de fauna (VIDOLIN & BRAGA, 2004; BEISIEGEL &

CAMPOS, 2013; OLIVEIRA et al., 2013), o mesmo já é classificado como

vulnerável no Rio Grande do Sul (CHEIDA et al., 2006; BEISIEGEL & CAMPOS,

2013). O desmatamento, com a consequente destruição e fragmentação de seu

habitat, associado à caça e aos atropelamentos, são os principais fatores

responsáveis por esta situação (COSTA et al., 2009).

Em várias áreas do conhecimento, estudos têm sido conduzidos com

o objetivo de se conhecer melhor as espécies de animais silvestres, gerando

dados que de alguma forma possam ajudar na preservação ou exploração

racional e sustentável das mesmas. Neste sentido, pesquisas relacionadas com

o comportamento, dieta, aspectos reprodutivos, doenças infecciosas e

parasitárias, potencial zoonótico, entre outras, vêm gradativamente ganhando

espaço na literatura científica. Entretanto, segundo VIDOLIN & BRAGA (2004) e

QUEIROZ et al. (2008), embora os carnívoros tenham uma ampla distribuição

em todo o mundo e ocupem uma grande diversidade de habitats, ainda é notória

a carência de informações sobre grande parte das espécies desta ordem, o que

atinge, segundo ROCHA (2006), os quatis.

Os estudos envolvendo os aspectos morfológicos dos animais

silvestres, incluindo os carnívoros, ainda são incipientes em grande parte das

espécies. Tais estudos são de fundamental importância, pois na medida em que

possibilitam o conhecimento da constituição interna desses indivíduos,

proporcionam uma base para o entendimento da sua fisiologia geral, e

consequentemente, de suas necessidades gerais e hábitos diários, assim como

de sua dieta e comportamento reprodutivo, entre outros aspectos.

Ademais, a compreensão da constituição interna de qualquer espécie

Page 17: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

3

animal é fundamental para a intervenção humana ao seu favor, seja subsidiando

o uso de técnicas de manejo em criatórios, seja nos procedimentos de

enfermagem (vias de acesso medicamentoso), na prática clínica (conhecimento

da topografia visceral, por exemplo), nos procedimentos cirúrgicos e até na

utilização dos meios de diagnóstico por imagem. De acordo com FEITOSA

(2004), o conhecimento das características anatômicas e fisiológicas de um

animal silvestre faz parte do primeiro passo para a realização de um exame

semiológico do mesmo.

Os aspectos anatômicos do Nasua nasua também têm sido pouco

estudados (SANTOS et al., 2010a). Assim, quando se busca informações

detalhadas sobre o sistema muscular desta espécie, por exemplo, verifica-se

que quase a totalidade deste ainda não foi descrito. Neste sentido, SANTOS et

al. (2010c) chamam a atenção para o fato de que, devido à existência de poucos

trabalhos científicos sobre a miologia dos procionídeos, as generalizações

quanto ao padrão da anatomia muscular desta família devem ser estabelecidas

de maneira cautelosa.

Entre as espécies animais, a forma de um músculo é bastante

variável quando filogeneticamente considerada. Esta diferença pode ser tão

grande entre as mesmas, que um determinado músculo pode chegar a não ser

identificado com segurança em alguma delas (BUDRAS et al., 2007).

Adicionalmente, os músculos podem estar ausentes ou aparecerem de forma

supranumerária, além de variarem bastante quanto as suas fixações. As

variações musculares são tão numerosas que descrições razoavelmente

completas só podem ser encontradas em trabalhos especiais (GARDNER,

1988).

A musculatura intrínseca do membro pélvico dos carnívoros

domésticos é muito mais forte do que a do membro torácico, apresentando

estrutura e arranjo bem mais complexos, devido à função de impulsionar o corpo

destes animais para frente (NICKEL et al., 1986). Nos quatis, os membros

pélvicos necessitam ter uma musculatura bastante potente, considerando que

além de impulsioná-los para frente, ela também tem de impulsioná-los para

cima, durante suas escaladas nos arbustos ou árvores, já que são animais de

hábitos também arbóreos (Figura 1).

Page 18: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

4

Neste sentido, o presente estudo objetivou investigar detalhadamente

os aspectos anatômicos dos músculos caudais e mediais da coxa do quati,

verificando seus aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção e sintopia,

assim como inferir as ações básicas dos mesmos.

FIGURA 1. a - Espécime de quati (Nasua nasua) escalando uma árvore; b – Espécime de quati escalando um mamoeiro em busca de seus frutos. Fonte: a - http://www.alessandroabdala.com/site/mamiferos; b - http://www.taquar ussu.com/Animais.asp?InfoId=57

2 Carnívoros

O termo Carnivora vem do latim, onde “caro” significa carne e

“vorare” significa comer (STORER et al., 2000; HICKMAN et al., 2009).

Os primeiros representantes da ordem Carnivora são datados por

registros fósseis de 63 milhões de anos, quando duas famílias (Viverravidae e

Miacidae), hoje extintas, encontravam-se distribuídas pela Europa, Ásia e

América do Norte (CHEIDA et al., 2006). Assim, os membros da Ordem

Carnivora são os descendentes de uma tardia e bem sucedida radiação de

mamíferos do Paleoceno, cujo hábito alimentar primitivo era o de comer carne

(MYERS & POOR, 2012).

O nome “Carnivora” é comumente usado para denotar que os

membros deste grupo são todos carnívoros ou que todos os mamíferos

carnívoros pertencem a este grupo (MYERS & POOR, 2012). Na realidade,

embora muitos sejam primariamente carnívoros (EWER, 1998; MYERS &

Page 19: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

5

POOR, 2012), os membros desta ordem têm diversos hábitos alimentares, assim

como o hábito de comer carne não é exclusividade dos mesmos, sendo

verificado em espécies de muitas outras ordens de mamíferos (MYERS &

POOR, 2012).

Desta forma, embora todos os carnívoros (com exceção do panda

gigante) tenham hábitos predatórios (HICKMAN et al., 2009), para muitas

espécies desta ordem as plantas representam uma importante contribuição na

dieta, de modo que algumas poucas espécies chegaram, inclusive, a tornarem-

se praticamente vegetarianas (EWER, 1998).

Esta ordem é caracterizada por uma grande variação quanto aos

aspectos morfológicos (BEKOFF et al. 1984; EIZIRIK & MURPHY 2009; SIMÃO,

2011), fisiológicos (EIZIRIK & MURPHY 2009; SIMÃO, 2011) comportamentais e

ecológicos (BEKOFF et al. 1984; EIZIRIK & MURPHY 2009; SIMÃO, 2011), bem

como por uma substancial variabilidade intra-específica, como quanto ao peso,

tamanho de ninhadas, quantidade de habitats, entre outros (BEKOFF et al.

1984). A variação de tamanho entre os carnívoros, por exemplo, é maior do que

em qualquer outra ordem de mamíferos, com o peso corporal variando em até

1000 vezes entre seus representantes (EIZIRIK & MURPHY 2009).

A maioria de seus integrantes são facilmente reconhecidos como

predadores pelos seus dentes especializados, incluindo os longos, fortes

(NOWAK, 2005), afiados e perfurantes (HICKMAN et al., 2009) caninos para

matar e os dentes carniceiros para cortar (NOWAK, 2005). Outra característica

são suas poderosas garras (HICKMAN et al., 2009), presentes em seus dígitos

(EVANS & DE LAHUNTA, 2013).

A maior parte das espécies de carnívoros tem o sentido do olfato

extremamente apurado, possuindo elaborados ossos turbinados no crânio, que

possibilitam uma grande superfície para suportar a mucosa nasal, e grandes

lobos olfatórios no cérebro (NOWAK, 2005).

Como sua dieta protéica é mais facilmente digerida do que o alimento

vegetal dos herbívoros (HICKMAN et al., 2009), seu canal alimentar é mais curto

(HICKMAN et al., 2009; EVANS & DE LAHUNTA, 2013), apresentando um

estômago simples (MYERS & POOR, 2012) e um ceco pouco desenvolvido ou

ausente (HICKMAN et al., 2009).

Page 20: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

6

Membros do topo da cadeia alimentar, os carnívoros exercem o

controle dos predadores de níveis tróficos inferiores nos ecossistemas, seja por

meio da predação direta destes, seja por interações competitivas com os

mesmos por predadores menores ou herbívoros (LETNIC et al., 2012).

Os carnívoros não somente controlam o tamanho das populações de

suas presas (RIPPLE & BESCHTA, 2003; MICHALSKI et al., 2006), mas

também influenciam o comportamento e a distribuição das mesmas. Quando

estas espécies são herbívoras o efeito da predação pode ir muito além,

chegando a influenciar a dinâmica da vegetação de seus habitats. Na medida

em que afugentam suas presas evitam áreas específicas de forrageamento,

permitindo o crescimento e a distribuição espacial da vegetação, assim como

evitam uma pressão de forrageamento exagerada sobre determinadas espécies

de plantas (RIPPLE & BESCHTA, 2003).

Neste sentido, os carnívoros podem afetar significativamente as

populações dos estratos mais baixos da pirâmide alimentar (NOWAK, 2005) e,

por conseguinte, a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas dos quais

fazem parte (NOWAK, 2005, MICHALSKI et al., 2006).

Além do mais, as espécies predadoras são essenciais para a

manutenção de populações fortes e saudáveis de suas presas, uma vez que os

indivíduos fracos, doentes e velhos, geralmente são as primeiras e mais fáceis

vítimas de seus ataques (ORR, 1986).

A Ordem Carnivora é constituída por duas Subordens monofiléticas

(EIZIRIK & MURPHY, 2009; SIMÃO, 2011), a Caniformia e a Feliformia

(DELISLE & STROBECK, 2005; WILSON & REEDER, 2005; EVANS & DE

LAHUNTA, 2013), as quais encontram-se robustamente separadas, do ponto de

vista filogenético (FLYNN et al., 2005). Enquanto a primeira engloba aqueles

carnívoros denominados “dog-like” (tipo cão), a segunda inclui aqueles

denominados “cat-like” (tipo gato) (DELISLE & STROBECK, 2005; ARNASON et

al., 2007).

A Subordem Caniformia é composta por nove famílias (WILSON &

REEDER, 2005; EIZIRIK & MURPHY, 2009; YU et al., 2011), enquanto somente

sete integram a Subordem Feliformia (Figura 2). As duas Subordens juntas

englobam 286 espécies (EIZIRIK & MURPHY, 2009), as quais encontram-se

Page 21: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

7

mundialmente distribuídas (EVANS & DE LAHUNTA, 2013), ocupando

praticamente todos os tipos de habitats (SIMÃO, 2011; MYERS & POOR, 2012).

FIGURA 2. Cladograma mostrando as relações filogenéticas entre as famílias da ordem Carnivora e a estimativa do tempo de divergência entre as mesmas. Fonte: Adaptado de EIZIRIK & MURPHY (2009).

Enquanto a subordem Caniformia inclui, entre seus representantes

terrestres, espécies como a dos cães (domésticos e selvagens), lobos, coiotes,

raposas, ursos, martas, lontras, texugos (HICKMAN et al., 2009; EVANS & DE

LAHUNTA, 2013), chacais, doninhas (EVANS & DE LAHUNTA, 2013), furões,

iraras, cangambás, fuinhas, (HICKMAN et al., 2009), pandas, mãos-peladas,

quatis, entre outros (WILSON & REEDER, 2005); a Subordem Feliformia inclui

os gatos domésticos e as diversas espécies de gatos selvagens (WILSON &

REEDER, 2005; EVANS & DE LAHUNTA, 2013), além dos leões, tigres, linces,

pumas (HICKMAN et al., 2009), guepardos, hienas (EVANS & DE LAHUNTA,

Page 22: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

8

2013), civetas, mangustos (GOSWAMI & FRISCIA, 2010), ginetas (EIZIRIK &

MURPHY, 2009), onças pintadas, leopardos nebulosos, entre muitas outras

espécies (WILSON & REEDER, 2005).

Cada família da Ordem Carnivora possui suas características próprias

quanto ao modo geral de vida e hábitos particulares, incluindo os alimentares e a

maneira como obtêm seus alimentos. Neste sentido, em cada família a radiação

evolucionária produziu uma variedade de formas, cada uma adaptada para um

modo de vida particular (EWER, 1998).

Desta forma, os felídeos, por exemplo, que representam os

predadores mais eficazes entre os carnívoros (MORALES-MEJÍA et al., 2010),

sendo altamente especializados em matar suas presas (CORLETT, 2011), com

uma dieta estritamente à base de carne (EWER, 1998; CENAP, 2013b),

possuem maxilares e mandíbulas encurtados (EWER, 1998), o que potencializa

suas mordidas (NOWAK, 2005; MORALES-MEJÍA et al., 2010). Além disso,

enquanto seus dentes caninos tendem a ser longos e cônicos, ideais para

perfurar os tecidos de suas presas com o mínimo de força (ETNYRE et al.,

2011), o restante de sua dentição é especializada em cortar o alimento ao invés

de esmagá-lo (CORLETT, 2011).

Os membros desta família evitam longas perseguições, sendo

predadores de emboscada (ETNYRE et al., 2011). Assim, são também providos

de garras afiadas (VAUGHAN et al., 2011; CENAP, 2013 b), curvas (MORALES-

MEJÍA et al., 2010; VAUGHAN et al., 2011) e retráteis (o que previne o desgaste

das mesmas) (ETNYRE et al., 2011), as quais funcionam como armas

(HICKMAN et al., 2009) e dispositivos que auxiliam nas suas escaladas arbóreas

(HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006) uma vez que a maioria dos felídeos são

ágeis escaladores (VAUGHAN et al., 2011).

Em contrapartida, os canídeos possuem hábitos alimentares que vão

além do de ingerir carne (WAYNE, 1993; EWER, 1998), já que a maioria inclui

uma proporção substancial de vegetais na sua dieta (WAYNE, 1993). Eles

possuem uma dentição mais numerosa e um focinho mais alongado que a dos

felídeos (VAUGHAN et al., 2011; CENAP, 2013a), possuindo dentes molares

pós-carnassiais (VAUGHAN et al., 2011) esmagadores, adaptados para triturar

os alimentos vegetais (EWER, 1998).

Page 23: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

9

Os membros desta família são mais adaptados para resistência do

que para a velocidade e assim perseguem suas presas por grandes distâncias,

até que as mesmas fiquem cansadas, quando então são capturadas (FAHEY &

MYERS, 2000). Embora sejam digitígrados como os felídeos (VAUGHAN et al.,

2011), os canídeos geralmente têm pernas mais longas, o que lhes favorece em

suas longas perseguições (NOWAK, 2005). Ainda neste sentido, possuem

garras robustas (CENAP, 2013a) e não retráteis (NOWAK, 2005; VAUGHAN et

al., 2011), que voltadas para baixo, são utilizadas de forma continuada e não

como armas especializadas (FAHEY & MYERS, 2000).

3 Procionídeos

Enquanto para os herbívoros a fonte de alimento é abundante e

facilmente disponível, para os carnívoros a alimentação depende em grande

parte de sua capacidade para capturar outros animais, tornando-os dependentes

de uma fonte incerta e variável de alimento. Esta situação levou a uma intensa

concorrência entre os mamíferos carnívoros através dos tempos (COLBERT &

MORALES, 1991).

Neste sentido, os procionídeos, que provavelmente surgiram durante

a época do Oligoceno (COLBERT & MORALES, 1991), há aproximadamente 28

milhões de anos (EIZIRIK & MURPHY, 2009), na era seguinte (Mioceno)

apresentavam-se bem estabelecidos como carnívoros trepadores/escaladores,

com uma tendência evolutiva que os afastou de perseguir e matar, para

adaptações que o tornaram animais de dieta onívora (COLBERT & MORALES,

1991).

A família Procyonidae, uma das nove que integram a subordem

Caniformia (EIZIRIK & MURPHY, 2009), é composta por 14 espécies que se

encontram agrupadas em seis gêneros (WILSON & REEDER, 2005; KOEPFLI et

al., 2007; VAUGHAN et al., 2011), sendo eles: Bassaricyon, Bassariscus,

Nasua, Nasuella, Potos e Procyon (WILSON & REEDER, 2005).

Esta família é formada por indivíduos de pequeno a médio porte

(ORR, 1986; EVANS, 2002) que pesam de menos de um até cerca de 20 Kg

Page 24: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

10

(VAUGHAN et al., 2011). O aspecto do volume corporal de seus integrantes

pode variar do delgado ao encorpado (MYERS, 2000) e uma pelagem densa

está sempre presente (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007).

Os procionídeos possuem membros curtos, cada um com cinco dedos

bem desenvolvidos (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007), os quais são providos de

garras (EVANS, 2002; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). Estas variam de curtas a

longas (EVANS, 2002), sendo curvas (MYERS, 2000; EVANS, 2002), robustas

(CENAP, 2013c) e não retráteis (KOLLIAS & ABOU-MADI, 2007; CENAP,

2013c), embora no Bassariscus astutus sejam semi-retráteis. Eles possuem uma

cauda que pode variar de longa a moderadamente longa (preensível no Potos

flavus) e que apresenta vários anéis escuros (exceto no Potos flavus) (EVANS,

2002).

A organização social dos procionídeos pode variar de acordo com a

espécie. Assim, pode-se verificar um padrão gregário, semi-gregário ou solitário,

sendo que algumas espécies exibem sistemas sociais mistos (AZA, 2010). São

geralmente noturnos ou crepusculares (KOLLIAS & ABOU-MADI, 2007) e todas

as espécies utilizam as árvores, seja para nidificar, repousar ou fugir do perigo

(TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). Neste sentido, sendo extremamente ágeis,

têm facilidade para subir em árvores altas (EVANS, 2002).

Seus representantes possuem mãos que podem realizar movimentos

em diferentes direções (SANTOS et al., 2010b), possuindo bastante habilidade

para segurar e manipular objetos (EVANS, 2002), assim como para cavar e

escalar (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). Eles podem usar parcialmente ou

totalmente a sola dos pés para se apoiarem no solo (KOLLIAS & ABOU-MADI,

2007), sendo caracterizados como semi-plantígrados (EVANS, 2002; CHEIDA et

al., 2006; CENAP, 2013c) ou plantígrados (MYERS, 2000; KOLLIAS & ABOU-

MADI, 2007; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007; VAUGHAN et al., 2011),

respectivamente.

Apesar dos procionídeos representarem um grupo pequeno (NOWAK,

2005), eles são diversificados em sua ecologia e comportamento (AZA, 2010).

Assim, embora sejam onívoros (CHEIDA et al., 2006; TEIXEIRA & AMBROSIO,

2007), eles englobam desde espécies tropicais basicamente frugívoras e

predominantemente arbóreas, como é o caso do jupará (Potos flavus) e dos

Page 25: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

11

olingos (Bassaricyon spp.), até espécies onívoras de hábitos terrestres e

arbóreos encontradas em diferentes habitats, como é o caso dos guaxinins

(Procyon spp.), por exemplo (KOEPFLI et al., 2007).

A alimentação dos procionídeos inclui frutos, néctar, insetos, cobras,

anuros, aves, caranguejos, entre outros itens (CHEIDA et al., 2006). Neste

sentido, sua dentição está adaptada a uma dieta onívora (EVANS, 2002), de

maneira que seus dentes molares tornaram-se largos (CENAP, 2013c;

TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007) e grandes, bem adaptados para esmagar os

alimentos (KOLLIAS & ABOU-MADI, 2007). Os dentes carniceiros tornaram-se

pouco desenvolvidos (CENAP, 2013c), com as cúspides baixas (VAUGHAN et

al., 2011), tornando-se um tanto “molarizados” (EWER, 1998), para substituir a

função de rasgar a carne pela trituração do que é consumido (CENAP, 2013c).

Outra característica importante do aparelho digestório dos procionídeos é a

ausência de ceco no intestino grosso (KOLLIAS & ABOU-MADI, 2007).

Seus sentidos são bem apurados, principalmente o olfato e o tato,

apesar de algumas espécies também enxergarem muito bem (CENAP, 2013c).

Os procionídeos encontram-se naturalmente distribuídos em muitas

das regiões temperadas e tropicais (VAUGHAN et al., 2011) das Américas

(MYERS, 2000; KOEPFLI et al., 2007; VAUGHAN et al., 2011), desde o sul do

Canadá até o norte da Argentina, podendo ser encontrados em uma ampla

variedade de habitats, incluindo florestas setentrionais e tropicais, pântanos

(MYERS, 2000), regiões semi-áridas (CHEIDA et al., 2006) e desertos (MYERS,

2000).

No Brasil, são encontrados quatro dos seis gêneros da família

Procyonidae, sendo eles o Procyon, o Nasua, o Potos e o Bassaricyon (CHEIDA

et al., 2006).

4 O quati (Nasua nasua)

Os quatis (Nasua Spp.) são animais pertencentes ao filo Chordata, à

classe Mammalia (FRANCIOLLI et al., 2007), à ordem Carnivora, à Subordem

Caniformia e à família Procyonidae (WILSON & REEDER, 2005).

Page 26: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

12

Existem três espécies de quatis, todas naturais das Américas (COSTA

et al., 2009). Uma delas é o quati do nariz branco (Nasua narica), encontrado

desde o sul dos estados norte-americanos do Arizona, Novo México e Texas

(GOMPPER, 1995), até o norte da Colômbia, no Golfo de Uraba; outra é o quati

anão ou quati de Cozumel (Nasua nelsoni), endêmico na ilha de Cozumel, no

México (COSTA et al., 2009); já a terceira é representada pelo quati do nariz

marrom (Nasua nasua), distribuído na América do Sul, desde o norte da

Colômbia (COSTA et al., 2009) e Venezuela (GOMPPER & DECKER, 1998;

BEISIEGEL & CAMPOS, 2013) até o norte da Argentina (GOMPPER &

DECKER, 1998; COSTA et al, 2009; BEISIEGEL & CAMPOS, 2013) e Uruguai

(GOMPPER & DECKER, 1998; COSTA & MAURO, 2008; BEISIEGEL &

CAMPOS, 2013) (Figura 3).

FIGURA 3. Área de distribuição geográfica natural do quati (Nasua nasua) (em vermelho) na América do Sul. Fonte: BEISIEGEL & CAMPOS (2013).

Os Nasua nasua são comuns na maioria das florestas neotropicais da

Page 27: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

13

América do Sul, sendo frequentemente a espécie mais abundante de carnívoros

desses ambientes (ALVES-COSTA et al., 2004). Embora sejam encontrados

primariamente em ambientes florestados, sua ocorrência também tem sido

reportada em matas de galeria, cerrados, campos, áreas de vazantes e

capoeiras (ROCHA, 2006).

No Brasil, o N. nasua, conhecido como quati, coati ou quati-mundéo

(CHEIDA et al., 2006), é encontrado em todos os biomas (BARROS &

FRENEDOZO, 2009; BEISIEGEL & CAMPOS, 2013), como Amazônia, Cerrado,

Caatinga, Pantanal, Mata atlântica e Campos sulinos (CHEIDA et al., 2006). No

entanto, é encontrado em menor escala na região nordeste (BARROS &

FRENEDOZO, 2009).

Esta espécie desempenha um importante papel na dinâmica das

florestas e variações nas suas densidades afetam não somente a população de

seus predadores (grandes felinos, por exemplo), mas também podem influenciar

o tamanho das populações de suas presas vertebradas. São importantes na

regeneração das florestas, pois são dispersores de sementes (ALVES-COSTA et

al., 2004) de diversas espécies vegetais por meio de suas fezes (ALVES-COSTA

& ETEROVICK, 2007; COSTA & MAURO, 2008).

Estes animais são carnívoros de porte médio (SILVEIRA, 1999;

MAYOR et al., 2013) (Figuras 1 e 4), cujo peso varia de 2,7 a 10 kg (CHEIDA et

al., 2006) e com a altura podendo chegar até 30,5 cm (BEISIEGEL, 2001). O

comprimento de seus corpos mede de 40 a 65 cm, sem considerar a cauda, que

mede de 42 a 55 cm (CHEIDA et al., 2006). Possuem uma coloração que pode

variar do cinza a diferentes tons de marrom-claro, avermelhado e até marrom-

escuro (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). Outras variações de coloração de

pelagem são citadas: a cinza-amarelada, por MORO-RIOS et al. (2008); a

alaranjada, por GOMPPER & DECKER (1998); enquanto quatis quase pretos

são encontrados no Peru (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007).

Os quatis apresentam um focinho comprido (SILVEIRA, 1999;

TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007) (Figura 4), que se projeta além da mandíbula

(GOMPPER & DECKER, 1998), possuindo um formato de trombeta

(FRANCIOLLI et al., 2007) e uma extremidade flexível (MORO-RIOS et al.,

2008), permitindo-lhes explorar ocos de árvores, ninhos e tocas (TEIXEIRA &

Page 28: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

14

AMBROSIO, 2007).

Apresentam longos dentes caninos e longas garras nas mãos, as

quais são utilizadas para revirar tocos, pedras, explorar buracos e escalar

árvores (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). São plantígrados (GOMPPER &

DECKER, 1998) (Figura 4) e mostram uma habilidade para sentar-se sobre seus

membros pélvicos (SILVEIRA, 1999), que são maiores que os torácicos

(CHEIDA et al., 2006). Têm uma cauda longa e verticalmente ereta (SILVEIRA,

1999; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007), que se destaca em relação ao corpo

(SILVEIRA, 1999) (Figura 4a) e os ajuda a manter o equilíbrio (FRANCIOLLI et

al., 2007), sendo peluda (MORO-RIOS et al., 2008) e ornada com anéis claros e

escuros (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007) (Figura 4).

FIGURA 4. a – Espécimes de quati (Nasua nasua) forrageando no chão, com suas caudas aneladas em posição vertical e apoio plantígrado; b – Aspecto lateral de um espécime de quati mostrando seu focinho comprido, apoio plantígrado e cauda anelada. Fonte: a - http://blog42195.blogspot.com.br/2011/05/circuito-de-corrida-de-rua-de -sao-paulo_23.html; b - http://selvadeanimais.blogspot.com.br/2012/06/quati.html

São animais de comportamento diurno (BEISIEGEL, 2001) e onívoros

generalistas (SILVEIRA, 1999), que forrageiam tanto no solo quanto nas árvores

(SILVEIRA, 1999; BEISIEGEL, 2001) (Figuras 1b e 4a), nas quais também

passam a noite, se refugiam dos perigos (TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007), se

acasalam (FRANCIOLLI et al., 2007), constroem seus ninhos (OLIFIERS et al.,

2009; BEISIEGEL & CAMPOS, 2013) e parem seus filhotes (TEIXEIRA &

AMBROSIO, 2007; OLIFIERS et al., 2009; BEISIGIEL & CAMPOS, 2013).

Page 29: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

15

Os quatis são capazes de se adaptar a diferentes ambientes e de

compor sua alimentação com diferentes itens (RODRIGUES et al, 2006),

principalmente frutos (BEISIEGEL, 2001; ALVES-COSTA et al., 2004; COSTA et

al., 2009; BEISIEGEL & CAMPOS, 2013; FERREIRA et al., 2013), insetos

(ALVES-COSTA et al., 2004; FERREIRA et al., 2013) e pequenos vertebrados

(SILVEIRA, 1999; FERREIRA et al., 2013), além de milípedes (artrópodes),

aranhas, gastrópodes (moluscos) (ALVES-COSTA et al., 2004), larvas,

minhocas, ovos, aves, raízes (MORO-RIOS et al., 2008), flores (BEISIEGEL,

2001) e outros vegetais (ALVES-COSTA et al., 2004; TROVATI et al., 2008).

A sazonalidade provoca mudanças na disponibilidade de recursos

para os quatis (COSTA et al., 2009), alterando sua dieta (CHEIDA et al., 2006;

COSTA et al., 2009) e consequentemente, sua área de vida, seus padrões de

movimentação e seu comportamento diário (COSTA et al., 2009).

Vivem em sistema matriarcal (BARROS & FRENEDOZO, 2009), no

qual as fêmeas são observadas juntamente com os animais mais jovens,

formando grupos que podem ter até mais de 30 indivíduos (CHEIDA et al., 2006;

TEIXEIRA & AMBROSIO, 2007). Estes grupos apresentam uma série de

comportamentos cooperativos, os quais estão relacionados à formação de

coalisões, higiene, cuidado com os filhotes e comportamento anti-predador

(COSTA et al., 2009). Em contra-partida, os machos adultos permanecem

solitários, exceto durante a época da reprodução (BARROS & FRENEDOZO,

2009; COSTA et al., 2009). Esta ocorre durante um período de dois meses

(BEISIGIEL, 2001; BEISIGIEL & CAMPOS, 2013), entre julho e janeiro,

dependendo da região do continente (BEISIEGEL, 2001; BEISIGIEL &

CAMPOS, 2013; MAYOR et al., 2013).

As fêmeas tornam-se sexualmente maduras aos dois anos de idade e

têm um estro cuja duração estimada é de cinco a sete dias (MAYOR et al.,

2013). O período de gestação dura de 70 (CHEIDA et al., 2006; TEIXEIRA &

AMBROSIO, 2007) a 77 dias (GOMPPER & DECKER, 1998; TEIXEIRA &

AMBROSIO, 2007), produzindo ninhadas de dois a sete filhotes (CHEIDA et al.,

2006), que são criados em ninhos arbóreos durante quatro a seis semanas

(MAYOR et al., 2013).

Seus ninhos, construídos a uma altura média de nove metros e meio

Page 30: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

16

do solo, são abertos e semi-esféricos, semelhante ao dos pássaros, sendo uma

exceção entre os carnívoros arborícolas, que geralmente constroem seus ninhos

em ocos de árvores ou tocas (OLIFIERS et al., 2009).

O período de nidificação, que compreende a época da construção dos

ninhos e amamentação dos filhotes, é o único em que as fêmeas são vistas

solitárias (BARROS & FRENEDOZO, 2009). Ao final deste, a mãe carrega seus

filhotes para o solo, integrando-os ao grupo (FRANCIOLLI et al., 2007).

5 Tecido muscular

Nos seres multicelulares as células diferenciam-se para realizar

funções específicas. As chamadas células musculares são especializadas na

contração e no relaxamento (D’ANGELO & FATTINI, 1998), propriedades

conferidas pela grande quantidade de filamentos citoplasmáticos de proteínas

contráteis que elas possuem (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011), representadas

principalmente pela actina e miosina (STORER et al., 2000; HICKMAN et al.,

2009; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011).

As células musculares são alongadas no sentido em que ocorre a

contração e o movimento é realizado pela redução longitudinal das mesmas em

resposta a um estímulo (VAN DE GRAAFF, 2003). Estas células agrupam-se

para formar os músculos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011), os quais, ao

contraírem-se, possibilitam a locomoção dos indívíduos, a movimentação do

sangue dentro do sistema cardiovascular, o trânsito do alimento dentro do

aparelho digestório, a ejeção das secreções das glândulas, entre outras

atividades importantes (BANKS, 1992). Assim, o movimento é uma característica

importante dos animais (HICKMAN et al., 2009), sendo considerado, até mesmo,

como o elemento caracterizador da vida animal (WOODBURNE, 1973).

O tecido muscular é o mais abundante do corpo da maioria dos

animais (HICKMAN et al., 2009), constituindo de um terço à metade do volume

dos vertebrados (ROMER & PARSONS, 1985), e de acordo com suas

características histológicas e fisiológicas, três tipos de tecido muscular podem

ser distinguidos: o músculo liso, o músculo cardíaco e o músculo esquelético

Page 31: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

17

(HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006).

O músculo liso é formado por aglomerados de células fusiformes que

não possuem estrias transversais (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011) e estão

organizadas na forma de camadas (STORER et al., 2000) ou lâminas

(HICKMAN et al., 2009). Sua contração é geralmente lenta (JUNQUEIRA &

CARNEIRO, 2011), podendo ser mantida prolongadamente (HICKMAN et al.,

2009), e seu controle é involuntário (BANKS, 1992; JUNQUEIRA & CARNEIRO,

2011). De uma maneira geral, é encontrado na parede das estruturas internas

ocas, como os vasos sanguíneos, as vias aéreas e a maioria dos órgãos

situados nas cavidades abdominal e pélvica (TORTORA, 2007), como os que

compõem o canal alimentar ou representam os ductos urinários e genitais,

regulando o diâmetro ou empurrando o conteúdo dos mesmos (HICKMAN et al.,

2009).

O músculo cardíaco ou estriado cardíaco é composto por células

alongadas e ramificadas, que apresentam estrias transversais (JUNQUEIRA &

CARNEIRO, 2011). Elas unem-se umas com as outras, ao nível de suas

extremidades, por intermédio dos chamados discos intercalares (SPENCE,

1991), estruturas encontradas exclusivamente no músculo cardíaco

(JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011). Sua contração é rápida (HICKMAN et al.,

2009), vigorosa e rítmica (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011), sendo o seu

controle também involuntário (BANKS, 1992; TORTORA, 2007). É encontrado

somente no coração (SPENCE, 1991; TORTORA, 2007), formando a maior parte

de sua parede (MOORE & AGUR, 2004; TORTORA, 2007) ao compor o

miocárdio (MOORE & AGUR, 2004).

O músculo esquelético ou estriado esquelético é constituído de

células cilíndricas muito longas (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011), não

ramificadas (BANKS, 1992), que também apresentam estriações transversais

(BANKS, 1992; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011). Suas contrações são rápidas

e vigorosas, porém sujeitas ao controle voluntário (JUNQUEIRA & CARNEIRO,

2011). É assim denominado devido ao fato de geralmente estar associado aos

ossos do esqueleto, promovendo a movimentação dos mesmos (SPENCE,

1991; TORTORA, 2007).

Os músculos esqueléticos representam cerca da metade do peso da

Page 32: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

18

carcaça dos animais domésticos, proporção que varia de acordo com a espécie,

raça, idade, sexo e método de criação (DYCE et al., 2004). Em função do

volume que representam, eles também distribuem o peso e influenciam os

contornos corporais dos animais (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006).

A função mais evidente realizada pelos músculos esqueléticos é a de

movimentar o corpo ou suas partes, possibilitando ao indivíduo realizar

atividades tais como andar, correr, mastigar, respirar ou movimentar os bulbos

oculares (VAN DE GRAAFF, 2003). Estes músculos, entretanto, não asseguram

somente a dinâmica, mas também a estática do corpo, na medida em que

ajudam a manter as peças ósseas unidas (D’ANGELO & FATTINI, 1998;

D’ANGELO & FATTINI, 2011), estabilizam as articulações flexíveis, sustentam o

corpo e mantém a postura (atuando em oposição à gravidade) (VAN DE

GRAAFF, 2003).

Os músculos esqueléticos desempenham várias outras funções

importantes, denominadas de secundárias por HILDEBRAND & GOSLOW JR

(2006). Assim, considerando a grande proporção corporal que estes

representam (VAN DE GRAAFF, 2003) e o fato de que as células musculares ao

se contraírem produzem calor, os músculos esqueléticos representam a principal

fonte de calor do corpo. Suas contrações também são importantes para o fluxo

da linfa, para o retorno do sangue ao coração (TORTORA, 2007) e na proteção

(HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006) e suporte de algumas vísceras (VAN DE

GRAAFF, 2003).

6 Aspectos anatômicos dos músculos estriados esqueléticos

Um músculo esquelético típico possui uma porção média (D’ANGELO

& FATTINI, 2011) e duas extremidades (WATANABE, 2009). A porção média é

denominada de ventre muscular (TORTORA, 2007; D’ANGELO & FATTINI,

2011) e consiste na parte mais espessa do músculo (GETTY, 1986; VAN DE

GRAAFF, 2003), possuindo um aspecto carnoso e cor vermelho-escuro (GOSS,

1988; WATANABE, 2009) (Figura 5). O ventre muscular é constituído

essencialmente por feixes de células (fibras) musculares (SOUZA, 1986;

Page 33: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

19

WATANABE, 2009) unidas por tecido conjuntivo (SOUZA, 1986) e,

consequentemente, corresponde à parte ativa ou contrátil do músculo (SOUZA,

1986; WATANABE, 2009; D’ANGELO & FATTINI, 2011).

As extremidades correspondem à parte passiva do músculo,

transmitindo a força da contração do ventre para o osso (SOUZA, 1986), uma

vez que é por meio delas que os músculos se fixam ao esqueleto (D’ANGELO &

FATTINI, 2011) (Figura 6). Assim, quando os músculos se contraem e o seu

comprimento é reduzido (D’ANGELO & FATTINI, 2011), os pontos de fixação se

aproximam um do outro (WATANABE, 2009) e as peças esqueléticas são

movimentadas (D’ANGELO & FATTINI, 2011) ao redor das articulações sinoviais

(VAN DE GRAAFF, 2003). Desta forma, as extremidades prendem-se à pelo

menos dois ossos, de maneira que o músculo cruza uma (D’ANGELO &

FATTINI, 2011) ou mais articulações (DYCE et al., 2004).

FIGURA 5. Diferentes modalidades de arranjos das fibras musculares e suas correspondentes classificações. Legenda: t, tendão; ti, intersecção tendínea; v, ventre muscular. Fonte: Adaptado de http://fisioterapia.com/artigos/imprimir/56

Quando as extremidades de um músculo possuem um aspecto

cilindróide ou de fita são designadas de tendões (Figuras 5 e 6); quando

laminares, são denominadas de aponeuroses. Ambos são esbranquiçados e

brilhantes, muito resistentes e praticamente inextensíveis, sendo constituídos por

tecido conjuntivo denso (WATANABE, 2009; D’ANGELO & FATTINI, 2011), rico

em fibras colágenas (D’ANGELO & FATTINI, 2011).

Em geral, há um tendão em cada extremidade, embora possa haver

Page 34: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

20

mais de um em determinados músculos, cada um fixando-se em um osso ou

parte diferente deste (SOUZA, 1986). Entretanto, nem sempre os tendões ou

aponeuroses se fixam nos ossos, podendo fazê-lo em outras estruturas como

cartilagens, cápsulas articulares, septos intermusculares, tendões de outros

músculos, derme, entre outras (D’ANGELO & FATTINI, 2011); assim como

podem inexistir naquelas situações em que o ventre muscular fixa-se

diretamente no osso (MOORE & AGUR, 2004; HILDEBRAND & GOSLOW JR,

2006; EVANS & DE LAHUNTA, 2013).

FIGURA 6. Representação esquemática de um músculo estriado esquelético seccionado transversalmente, com uma de suas extremidades fixadas ao osso, mostrando a estrutura básica do músculo com seus envoltórios conjuntivos. Fonte: Adaptado de VAN DE GRAAFF (2003).

Existem ainda formações tendinosas, denominadas de intersecções

tendinosas (WATANABE, 2009) ou tendíneas (SOUZA, 1986) (Figura 5), as

quais encontram-se intercaladas ao longo do ventre muscular (SOUZA, 1986;

WATANABE, 2009), dividindo-o transversalmente em duas (músculos

Page 35: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

21

digástricos) ou mais partes (músculos poligástricos) (D’ANGELO & FATTINI,

2011).

As fixações das extremidades de um músculo são denominadas de

origem e inserção (GOSS, 1988; VAN DE GRAAFF, 2003; MOORE & AGUR,

2004), sendo comum descrever-se que o músculo provém da origem e termina

na sua inserção (GOSS, 1988). Convencionou-se chamar de origem, a fixação

do músculo no osso que não se desloca (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006;

TORTORA, 2007; D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou que se movimenta menos

durante a contração muscular (GETTY, 1986; VAN DE GRAAFF, 2003; EVANS &

DE LAHUNTA, 2013). Por contraposição, denominou-se de inserção, a fixação

do músculo na peça óssea que se desloca (HILDEBRAND & GOSLOW JR,

2006; TORTORA, 2007; D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou se movimenta mais

durante a ação muscular (GETTY, 1986; VAN DE GRAAFF, 2003; EVANS & DE

LAHUNTA, 2013). Assim, a inserção é geralmente tracionada em direção à

origem (TORTORA, 2007).

Nos membros, é considerada como origem, a fixação proximal do

músculo; enquanto a inserção é representada pela fixação distal (GETTY, 1986;

GARDNER et al., 1988; VAN DE GRAAFF, 2003; TORTORA, 2007; D’ANGELO

& FATTINI, 2011; EVANS & DE LAHUNTA, 2013), embora em determinados

movimentos, um músculo possa alterar seus pontos de origem e inserção

(D’ANGELO & FATTINI, 2011).

Os termos origem e inserção também podem ser referidos como

ponto fixo (GARDNER et al., 1988; D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou cabeça

(GARDNER et al., 1988; BUDRAS et al., 2007; EVANS & DE LAHUNTA, 2013) e

ponto móvel (GARDNER et al., 1988; D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou cauda

(BUDRAS et al., 2007), respectivamente. Neste sentido, os músculos podem ser

classificados como bíceps, tríceps ou quadríceps, conforme apresentam duas,

três ou quatro cabeças, respectivamente (GARDNER et al., 1988; D’ANGELO &

FATTINI, 2011), ou como bicaudados ou policaudados, conforme apresentem

duas ou mais caudas, respectivamente (D’ANGELO & FATTINI, 2011).

No interior dos músculos, o tecido conjuntivo está estruturalmente

organizado de forma a conectar e proteger as fibras e os feixes musculares

(VAN DE GRAAFF, 2003). Além disso, é no interior deste tecido que passam os

Page 36: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

22

vasos sanguíneos e os nervos, que nutrem e inervam, respectivamente, as

células musculares (SOUZA, 1986; VAN DE GRAAFF, 2003), assim como

passam os vasos linfáticos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2011).

Desta forma, envolvendo cada fibra do tecido muscular esquelético,

há uma fina bainha de tecido conjuntivo denominada de endomísio (VAN DE

GRAAFF, 2003; EVANS & DE LAHUNTA, 2013), enquanto os feixes ou

fascículos de fibras musculares (GETTY, 1986; VAN DE GRAAFF, 2003;

TORTORA, 2007) são envolvidos por um outro revestimento conjuntivo, o

perimísio (SOUZA, 1986; TORTORA, 2007). Já o músculo como um todo é

revestido por um terceiro envoltório, também conjuntivo, o epimísio (SOUZA,

1986; HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006; TORTORA, 2007; WATANABE,

2009) (Figura 6). Estes envoltórios são contínuos uns com os outros (Figura 6) e

formam um sistema que fornece resistência aos músculos, transmitindo a força

destes para suas origens e inserções (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006), já

que são contínuos com o tecido conjuntivo dos tendões ou aponeuroses

(TORTORA, 2007; COLVILLE & BASSERT, 2010).

Um outro revestimento associado aos músculos é a fáscia muscular

(D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou profunda (EVANS & DE LAHUNTA, 2013).

Esta corresponde a uma lâmina (D’ANGELO & FATTINI, 2011) ou membrana de

tecido conjuntivo (SOUZA, 1986) que situa-se, de um lado, profundamente e

justaposta à tela subcutânea (fáscia superficial) (GOSS, 1988; EVANS & DE

LAHUNTA, 1994; DYCE et al., 2004), e do outro, superficialmente aos músculos,

recobrindo-os diretamente (GOSS, 1988). Nesta situação, ela estende-se por

quase todo o corpo, entretanto, quando recobre proeminências ósseas, funde-se

às mesmas (DYCE et al., 2004).

Geralmente a fáscia muscular estende-se, ao longo do corpo,

formando lâminas fibrosas mais resistentes (DYCE et al., 2004), embora nem

sempre ela se apresente facilmente distinguível da fáscia superficial (EVANS &

DE LAHUNTA, 1994). Ela ainda pode encontrar-se espessada, especialmente no

caso de receber tração direta de um músculo, ou desdobrada em várias lâminas,

de acordo com a situação (GOSS, 1988). Por outro lado, embora a fáscia

muscular justaponha-se ao epimísio (WATANABE, 2009), estes dois elementos

podem ser encontrados fundidos (GOSS, 1988). Assim, enquanto em alguns

Page 37: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

23

músculos o revestimento fascial é indistinguível do epimísio, em outros, a fáscia

está mais claramente separada (GARDNER et al., 1988), permitindo o fácil

deslizamento dos músculos entre si (SOUZA, 1986; GARDNER et al., 1988;

D’ANGELO & FATTINI, 2011) e mais liberdade de movimento dos mesmos

(GARDNER et al., 1988).

Em muitos locais, a fáscia muscular emite lâminas que penetram

entre os músculos (DYCE et al., 2004) até alcançarem os ossos (D’ANGELO &

FATTINI, 2011), constituindo os chamados septos intermusculares

(WOODBURNE, 1973; SOUZA, 1986), muito comuns nos membros (D’ANGELO

& FATTINI, 2011). Por conseguinte, a fáscia muscular não somente cobre, mas

também passa entre os músculos (EVANS & DE LAHUNTA, 2013), envolvendo-

os individualmente (Figura 6) ou em grupos (DYCE et al., 2004; WATANABE,

2009). Desta maneira, ela forma verdadeiros estojos (WATANABE, 2009) que

além de manterem adequadamente os músculos em suas posições relativas,

podem isolar ou agrupar os mesmos para funcionarem de forma independente

ou conjunta, respectivamente (GOSS, 1988).

A fáscia muscular também funciona como uma bainha elástica de

contenção (D’ANGELO & FATTINI, 2011), evitando que durante a contração os

músculos se abaulem excessivamente (SOUZA, 1986; GARDNER et al., 1988) e

não exerçam eficientemente o trabalho de tração (D’ANGELO & FATTINI, 2011).

Este efeito de “meia elástica” também impede que os músculos dos membros

represem sangue em demasia pelo efeito da gravidade (GARDNER et al., 1988).

Em determinadas situações, uma faixa da fáscia muscular pode agir

como um ligamento, assim como especializações da mesma podem ser

exemplificadas pelos ligamentos anulares (GOSS, 1988) e retináculos

(GARDNER et al., 1988; GOSS, 1988). Adicionalmente, as fáscias podem

proporcionar origem e inserção à músculos (GARDNER et al., 1988), sendo que

determinadas membranas fibrosas que conservam o nome de fáscia são, na

realidade, aponeuroses (GOSS, 1988).

De acordo com a região corporal, a fáscia muscular recebe

denominações diferentes (GARDNER et al., 1988). Assim, no membro pélvico,

por exemplo, ela forma na região glútea, a fáscia glútea, que se continua

distalmente, na região da coxa, como as fáscias femorais lateral (fáscia lata) e

Page 38: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

24

medial. Estas, por sua vez, continuam na perna como a fáscia crural (EVANS &

DE LAHUNTA, 1994).

Os músculos podem variar consideravelmente em relação a vários

aspectos, como sua forma (WOODBURNE, 1973; NICKEL et al., 1986;

HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006; WATANABE, 2009), tamanho (NICKEL et

al, 1986; WATANABE, 2009), posição (NICKEL et al., 1986), organização da

arquitetura de suas fibras (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006) e ação

(NICKEL et al., 1986), por exemplo.

Quanto à forma, WATANABE (2009) considera que a maioria dos

músculos pode ser enquadrada em dois grupos principais, os longos e os largos.

Enquanto nos longos há predominância do comprimento (WATANABE, 2009;

D’ANGELO & FATTINI, 2011), nos largos há predominância da superfície

(WATANABE, 2009) ou equivalência do comprimento com a largura (D’ANGELO

& FATTINI, 2011).

Os músculos longos podem ser fusiformes (WATANABE, 2009;

D’ANGELO & FATTINI, 2011), em formato de fita (HILDEBRAND & GOSLOW

JR, 2006; WATANABE, 2009), cilíndricos (HILDEBRAND & GOSLOW JR; 2006)

ou cônicos; enquanto os largos podem ser quadriláteros, triangulares ou

circulares, entre outras formatações (WATANABE, 2009). Formas denominadas

de laminar (HILDEBRAND & GOSLOW JR; 2006) e plana (MOORE & AGUR,

2004) também são citadas na literatura.

Quanto ao tamanho, os músculos podem variar amplamente (GOSS,

1988). Vão desde os diminutos e delicados (COLVILLE & BASSERT, 2010),

como aqueles da orelha média (GOSS, 1988), até os grandes e fortes

(COLVILLE & BASSERT, 2010), como o gastrocnêmio, por exemplo (GOSS,

1988).

Os músculos esqueléticos podem apresentar-se com suas fibras

musculares arranjadas de diferentes maneiras. De um modo geral, pode-se

dizer que estas encontram-se dispostas de forma paralela ou oblíqua em relação

à direção de tração exercida pelo músculo (D’ANGELO & FATTINI, 2011),

embora disposições denominadas de convergentes e circulares (esfíncteres)

também sejam consideradas (VAN DE GRAAFF, 2003) (Figura 5).

A disposição paralela das fibras pode ser encontrada tanto nos

Page 39: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

25

músculos longos, quanto nos largos. Entretanto, nos músculos longos, do tipo

fusiforme, ocorre uma convergência das fibras em direção aos tendões de

origem e inserção, fazendo com que sua parte média tenha maior diâmetro que

suas extremidades (D’ANGELO & FATTINI, 1998; D’ANGELO & FATTINI, 2011),

enquanto nos músculos largos pode ocorrer a convergência das fibras para uma

de suas extremidades, fazendo com que o músculo assuma o “aspecto de leque”

(SPENCE, 1991; D’ANGELO & FATTINI, 2011) (Figura 5).

A disposição oblíqua das fibras (D’ANGELO & FATTINI, 2011) ocorre

naqueles músculos que possuem o (os) tendão (ões) ao longo de todo o seu

comprimento (GOSS, 1988; SPENCE, 1991; EVANS & DE LAHUNTA, 2013). No

caso, os tendões ou aponeuroses podem situar-se ao longo da superfície ou

penetrar no ventre muscular, promovendo arranjos complexos das fibras

musculares (ROMER & PARSONS, 1985). Nestes músculos, as fibras inserem-

se diagonalmente no tendão (SPENCE, 1991) formando um ângulo (GETTY,

1986) e gerando feixes que se dispõem como as plumas de uma pena (GOSS,

1988), o que atribui aos músculos em questão, a denominação de “penados”

(GETTY, 1986; EVANS & DE LAHUNTA, 2013) ou peniformes (GOSS, 1988;

D’ANGELO & FATTINI, 2011) (Figura 5).

Nos músculos penados, quando o tendão prolonga-se, em maior ou

menor extensão, somente ao longo de uma de suas margens (WATANABE,

2009; EVANS & DE LAHUNTA, 2013) e consequentemente seus feixes se fixam

em um só lado deste tendão (SPENCE, 1991; D’ANGELO & FATTINI, 2011)

lateral (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006), este é classificado como

unipenado (WATANABE, 2009; D’ANGELO & FATTINI, 2011). Quando o tendão

dispõe-se ao longo do plano sagital que passa pelo centro do ventre muscular

(WATANABE, 2009) e os feixes se fixam nos dois lados deste tendão

(D’ANGELO & FATTINI, 2011), o músculo é classificado como bipenado

(WATANABE, 2009; D’ANGELO & FATTINI, 2011). Se os feixes convergem para

vários tendões (GOSS, 1988; HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006), que

prolongam-se pelo interior do músculo (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006) ou

estão distribuídos por todo seu volume, este é classificado como multipenado

(EVANS & DE LAHUNTA, 2013) (Figura 5). Os músculos agem sobre partes móveis do corpo, determinando que

Page 40: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

26

estas realizem certos movimentos (GOSS, 1988). Todavia, quando se menciona

a ação de um músculo, apenas está se fazendo alusão àquela principal, mais

simples de ser entendida e demonstrada (D’ANGELO & FATTINI, 2011).

A ação de um músculo sobre a articulação depende de sua

localização em relação à mesma (GETTY, 1986) e dos locais onde ocorrem as

fixações de suas extremidades (GOSS, 1988). Assim, os músculos classificados

como flexores, por exemplo, os quais reduzem o ângulo entre os ossos

adjacentes durante o movimento (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006), cruzam

a superfície da articulação onde o menor ângulo entre os ossos será formado

(GETTY, 1986). Agindo de maneira contrária, os músculos extensores

aumentam o ângulo entre os ossos adjacentes (HILDEBRAND & GOSLOW JR,

2006), situando-se no lado da articulação onde a contração irá alinhar os ossos

(GETTY, 1986).

Dependendo da ação principal resultante da contração do músculo, o

mesmo pode também ser classificado como adutor, abdutor, rotator, pronador,

supinador, entre outros (SOUZA, 1986; WATANABE, 2009; D’ANGELO &

FATTINI, 2011). Os músculos adutores aproximam uma parte do corpo em

relação ao plano mediano ou do eixo de um membro, enquanto os abdutores

fazem o contrário (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006; EVANS & DE

LAHUNTA, 2013). Os músculos rotatores giram as partes corporais ao redor de

seu próprio eixo longitudinal (HILDEBRAND & GOSLOW JR, 2006). Nos

membros, quando a rotação de uma estrutura se dá de forma que sua face

cranial ou dorsal gira lateralmente, tem-se um movimento de supinação. Já uma

rotação no sentido medial corresponde ao movimento de pronação (EVANS &

DE LAHUNTA, 1994). Durante o processo evolutivo, alguns músculos tiveram seus pontos

de fixação alterados (KARDONG, 2011). Consequentemente, a posição e a ação

destes, de alguma de suas partes ou até de alguns grupos musculares, foram

modificadas em diferentes classes de mamíferos, representando uma adaptação

evolutiva à atividade dos mesmos (GETTY, 1986).

Da mesma forma, alguns músculos passaram por outros tipos de

modificação durante sua evolução. Assim, enquanto uns se fundiram ou

dividiram-se em novos músculos distintos (ROMER & PARSONS, 1985;

Page 41: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

27

KARDONG, 2011), outros desapareceram, mudaram de apresentação,

deslocaram-se para outro grupo muscular (GETTY, 1986) ou tiveram sua

importância reduzida (KARDONG, 2011).

Neste sentido, embora o padrão geral do arranjo muscular possa

ajudar na identificação dos músculos, o conjunto de alterações ocorridas durante

a evolução tornou o estudo comparativo da musculatura, entre espécies, uma

tarefa nada fácil (ROMER & PARSONS, 1985).

Assim, o presente estudo visou analisar os aspectos anatômicos de

grande parte dos músculos da coxa dos quatis, comparando-os com os de

outros carnívoros. Apresentado, com seus resultados preliminares, no XXV

Congresso Brasileiro de Anatomia / XIV Congreso de Anatomia Del Cono Sur /

XXXIII Congreso Chileno de Anatomia, em 2012, o mesmo foi incluído no grupo

dos melhores trabalhos apresentados, sendo em virtude disto, premiado no

mesmo.

Posteriormente, este estudo gerou a produção de dois artigos

científicos, aqui apresentados na forma de capítulos. No capítulo dois, intitulado

“ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MUSCULOS CAUDAIS DA COXA DO QUATI

(Nasua nasua, Linnaeus 1766)”, já publicado, propôs-se descrever, de forma

detalhada, os músculos que compõem o grupo caudal da coxa do quati (Nasua

nasua), abordando os seus aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção

e sintopia, além de fazer inferência às ações básicas dos mesmos.

No capítulo três, intitulado “ASPECTOS ANATÔMICOS DOS

MUSCULOS MEDIAIS DA COXA DO QUATI (Nasua nasua, Linnaeus 1766)”, já

aceito para publicação, propôs-se descrever, de forma detalhada, os músculos

que compõem o grupo medial da coxa do quati (Nasua nasua), abordando os

mesmos aspectos considerados nos músculos do grupo caudal.

7 Referências

1. ALVES-COSTA, C. P.; FONSECA, G. A. B.; CHRISTOFARO, C. Variation in the diet of the brown-nosed coati (Nasua nasua) in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy, Lawrence, v. 85, n. 3, p. 478-482, 2004.

Page 42: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

28

2. ALVES-COSTA, C. P.; ETEROVICK, P. C. Seed dispersal services by coatis (Nasua nasua, Procyonidae) and their redundancy with other frugivores in southeastern Brazil. Acta Oecologica, Montrouge, v. 32, n. 1, p. 77-92, 2007.

3. ARNASON, U.; GULLBERG, A.; JANKE, A.; KULLBERG, M. Mitogenomic

analyses of caniform relationships. Molecular Phylogenetics and Evolution, San Diego, v. 45, n. 3, p. 863-74, 2007.

4. AZA Small Carnivore. Procyonid (Procyonidae) Care Manual. Silver Spring:

Association of Zoos and Aquariums, [online], 2010. 114 p. Disponível em: http://www.aza.org/uploadedFiles/Animal_Care_and_Management/Husbandry,_Health,_and_Welfare/Husbandry_and_Animal_Care/ProcyonidCareManual2010.pdf Acesso em: 26 nov. 2013.

5. BANKS, W. J. Histologia veterinária aplicada. 2.ed. São Paulo: Manole

Ltda, 1992. 629 p.

6. BARROS, D.; FRENEDOZO, R. C. Uso do habitat, estrutura social e aspectos básicos da etologia de um grupo de quatis (Nasua nasua, Linnaeus, 1766) (carnivora:Procyonidae) em uma área de mata atlântica. In: CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL, 9., 2009, São Lourenço. Anais...

Congresso de Ecologia do Brasil, São Lourenço, 2009. p. 1-4. 7. BEISIEGEL, B. M. Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae)

in an Atlantic Forest area. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 61,

n. 4, p. 689-692, 2001.

8. BEISIEGEL, B. M.; CAMPOS, C. B. Avaliação do risco de extinção do quati Nasua nasua (Linnaeus, 1766) no Brasil. Biodiversidade Brasileira,

Brasília, v. 3, n. 1, p. 269-276, 2013.

9. BEKOFF, M.; DANIELS, T. J.; GITTLEMAN, J. L. Life History Patterns and the Comparative Social Ecology of Carnivores. Annual Review of Ecology and Systematics, Palo Alto, v. 15, p. 191-232, 1984.

10. BUDRAS, K. D.; McCARTHY, P. H.; FRICKE, W.; RICHTER, R. Anatomy of

the dog. 15.ed. Hannover: Schlütersche Verlagsgesellschaft mbH & Co.,

2007. 218 p. 11. CENAP. Canidae. In: Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de

Mamíferos Carnívoros. [online]. 2013a. Disponível em:

http://www4.icmbio.gov.br/cenap/index.php?id_menu=39. Acesso: 20 out. 2013.

12. CENAP. Felidae. In: Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de

Mamíferos Carnívoros. [online]. 2013b. Disponível em: http://www4.icmbio.gov.br/cenap/index.php?id_menu=38. Acesso: 20 out. 2013.

Page 43: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

29

13. CENAP. Procyonidae. In: Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de

Mamíferos Carnívoros. [online]. 2013c. Disponível em:

http://www4.icmbio.gov.br/cenap/index.php?id_menu=41. Acesso: 20 out. 2013.

14. CHEIDA, C. C.; NAKANO-OLIVEIRA, E.; FUSCO-COSTA, R.; ROCHA-

MENDES, F.; QUADROS, J. Ordem carnívora. In: REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. (Eds). Mamíferos do Brasil. Londrina: Nelio

R Reis, Adriano L. Peracchi, wagner A. Pedro, Isaac P. Lima editores independentes, 2006. cap. 8, p. 231-266.

15. COLBERT, E. H.; MORALES, M. Creodonts and Carnivores. In: ______

Evolution of the Vertebrates. [online]. 4.ed. New York: Wiley-Liss, 1991. cap. 25. Disponível em: http://www.mun.ca/biology/scarr/4505_Colbert_&_Morales _1991.htm. Acesso em: 05 out. 2010.

16. COLVILLE, T.; BASSERT, J. M. Anatomia e fisiologia clínica para

medicina veterinária. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier Ltda, 2010. 543 p.

17. CORLETT, R. T. Vertebrate carnivores and predation in the oriental (indomalayan) region. The Raffles Bulletin of Zoology, Singapore, v. 59, n.

2, p. 325–360, 2011.

18. COSTA, E. M. J.; MAURO, R. A. Dispersão secundária em fezes de quatis Nasua nasua (Linnaeus, 1766) (Mammalia: Procyonidae) em um fragmento de Cerrado, Mato Grosso do Sul, Brasil. Neotropical Biology and Conservation, São Leopoldo, v. 3, n. 2, p. 66-72, 2008.

19. COSTA, E. M. J.; MAURO, R. A.; SILVA, J. S. V. Group composition and

activity patterns of brown-nosed coatis in savanna fragments, MatoGrosso do Sul, Brazil. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 69, n. 4, p. 985-991,

2009.

20. D’ANGELO J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 1998. 671 p.

21. D’ANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana básica. 2.ed. São

Paulo: Atheneu, 2011. 184 p.

22. DELISLE, I.; STROBECK, C. A phylogeny of the Caniformia (order Carnivora) based on 12 complete protein-coding mitochondrial genes. Molecular Phylogenetics and Evolution, San Diego, n. 37, p. 192-201, 2005.

23. DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de anatomia

veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2004. 872 p.

24. EIZIRIK, E.; MURPHY, W. J. Carnivores (Carnivora) In: Hedges, S. B.;

Page 44: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

30

Kumar, S. (Eds) The Timetree of Life. Oxford: Oxford University Press,

2009. cap 79, p. 504-507.

25. EMMONS, L.; HELGEN, K. Nasua nasua. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. [online]. 2008. Version 2013.2. Disponível em:

http://www.iucnredlist.org/details/41684/0. Acesso em: 20 nov. 2013.

26. ETNYRE, E.; LANDE, J.; MCKENNA, A. Felidae. Animal Diversity Web. [Online]. Ann Arbor: Museum of Zoology - University of Michigan, 2011. Disponível em: http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Felidae/ Acesso em: 07 dez 2013.

27. EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Guia para a dissecção do cão. 3.ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1994. 199 p.

28. EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Miller’s anatomy of the dog. 4.ed. St Louis: Elsevier Saunders, 2013. 850 p.

29. EVANS. R. H. Raccoons and Relatives (Carnivora, Procyonidae). In: HEARD,

D. (Ed.). Zoological Restraint and Anesthesia. Ithaca: International Veterinary Information Service, 2002. Disponível online: http://www.ivis.org/special_books/Heard/evans/ivis.pdf Acesso: 15 out. 2013.

30. EWER, R. F. The carnivores. Ithaca: Cornell University Press, 1998. 500 p.

31. FAHEY, B.; MYERS, P. 2000. Canidae. Animal Diversity Web. [Online]. Ann

Arbor: Museum of Zoology - University of Michigan, 2000. Disponível em:http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Canidae/ Acesso em: 07 dez. 2013.

32. FEITOSA, F. L. F. Semiologia veterinária: a arte do diagnóstico. São

Paulo: Roca, 2004. 807 p.

33. FERREIRA, G. A.; NAKANO-OLIVEIRA, E; GENARO, G.; LACERDA-CHAVES, A. K. Diet of the coati Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an área of woodland inserted in na urban environment in Brazil. Revista Chilena de História Natural, Santiago, v. 86, n. 1, p. 95-102, 2013.

34. FLYNN, J. J.; FINARELLI, J. A.; ZEHR, S.; HSU, J.; NEDBAL, M. A.

Molecular phylogeny of the Carnivora (Mammalia): assessing the impact of increased sampling on resolving enigmatic relationships. Systematic Biology, Oxford, v. 54, n. 2, p. 317–337, 2005.

35. FRANCIOLLI, A. L. R.; COSTA, G. M.; MANÇANARES, C. A. F.; MARTINS,

D. S.; AMBRÓSIO, C. E.; MIGLINO, M. A.; CARVALHO, A. F. Morfologia dos órgãos genitais masculinos de quati (Nasua nasua, Linnaeus 1766). Biotemas, Florianópolis, v. 20, n.1, p. 27-36, 2007.

Page 45: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

31

36. GARDNER, E. Sistema muscular. In: GARDNER, E.; GRAY, D. J.; O’RAHILLY, R. Anatomia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1988. cap 4, p. 24-31.

37. GETTY, R. SISSON/GROSSMAN. Anatomia dos animais domésticos.

6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1986. 2000 p. v. 1 e 2.

38. GOMPPER, M. E. Nasua narica. Mammalian Species, Lawrence, v. 487, p. 1-10, 1995.

39. GOMPPER, M. E.; DECKER, D. M. Nasua nasua. Mammalian Species,

Lawrence, v. 580, p.1-36, 1998. 40. GOSS, C. M. Gray Anatomia. 29.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan

S.A., 1988. 1147 p.

41. GOSWAMI, A.; FRISCIA, A. Carnivoran evolution.1.ed. Cambridge:

Cambridge University Press, 2010. 492 p. 42. GRELLE, C. E. V.; PINTO, M. P.; FIGUEIREDO, M. S. L. Biologia da

conservação no Brasil: sínteses e perspectivas. Oecologia Brasiliensis, Rio

de Janeiro, v.13, n. 3, p. 417-419, 2009.

43. HICKMAN, C. P.; ROBERTS, L. S.; LARSON, A. Princípios integrados de zoologia. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. 846 p.

44. HILDEBRAND, M.; GOSLOW JÚNIOR, G. E. Análise da estrutura dos

vertebrados. São Paulo: Atheneu Editora São Paulo Ltda, 2006. 637 p.

45. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 524 p.

46. KARDONG, K. V. Vertebrados: anatomia comparada, função e evolução.

São Paulo: Roca Ltda., 2011. 913 p.

47. KOEPFLI, K. P.; GOMPPER, M. E.; EIZIRIK, E.; HO, C. C.; LINDEN, L.; MALDONADO, J. E.; WAYNE, R. K. Phylogeny of the Procyonidae (Mammalia: Carnivora): Molecules, morphology and the Great American Interchange. Molecular Phylogenetics and Evolution, Orlando, v. 43, p.

1076–1095, 2007.

48. KOLLIAS, G.; ABOU-MADI, N. Procyonids and Mustelids. In: WEST, G.; HEARD, D.; CAULKETT, N. Zoo Animal & Wildlife immobilization and Anesthesia. 1.ed. Ames: Ed. Blackwell Publishing, 2007. cap. 36, p. 417-427.

49. LETNIC, M.; RITCHIE, E. G.; DICKMAN, C. R. Top predators as biodiversity

regulators: the dingo Canis lupus dingo as a case study. Biological Reviews, Oxford, v. 87, p. 390-413, 2012.

Page 46: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

32

50. MAYOR, P.; MONTES, D.; LÓPEZ-PLANA, C. Functional morphology of the

female genital organs in the wild ring-tailed coati (Nasua nasua) in the northeastern Peruvian Amazon. Canadian Journal of Zoology, Ottawa, v. 91, p. 496-504, 2013.

51. MICHALSKI, F.; BOULHOSA, R. L. P.; FARIA, A.; PERES, C. A. Human–

wildlife conflicts in a fragmented Amazonian forest landscape: determinants of large felid depredation on livestock. Animal Conservation, Cambridge, v. 9,

p. 179-188, 2006.

52. MOORE, K. L.; AGUR, A. M. R. Fundamentos de anatomia clínica. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 562 p.

53. MORALES-MEJÍA, F. M.; ARROYO-CABRALES, J.; POLACO, O. J. Estudio

comparativo de algunos elementos de las extremidades anteriores y posteriores y piezasdentales de puma (Puma concolor) y jaguar (Pantheraonca). TIP Revista Especializada em Ciencias Químico-Biológicas, Ciudad de México, v. 13, n. 2, p. 73-90, 2010.

54. MORO-RIOS, R. F.; SILVA-PEREIRA, J. E.; SILVA, P. W.; MOURA-BRITTO,

M.; PATROCÍNIO, D. N. M. Manual de rastros da fauna paranaense. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2008. 70 p.

55. MYERS, P. Procyonidae: coatis, raccoons, and relatives. Animal Diversity

Web. [Online]. Ann Arbor: Museum of Zoology - University of Michigan, 2000. Disponível em: http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Procyonidae/ Acesso em: 26 nov. 2013.

56. MYERS, P.; POOR, A. Carnivora, carnivores. Animal Diversity Web.

[Online]. Ann Arbor: Museum of Zoology - University of Michigan, 2012. Disponível em: http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Carnivora/ Acesso em: 27 nov. 2013.

57. NICKEL, R.; SCHUMMER, A.; SEIFERLE, E.; FREWEIN, J.; WILKENS, H.;

WILLE, K. H. The locomotor system of the domestic mammals. Berlin-Hamburg: Verlag Paul Parey, 1986. 499 p. v.1.

58. NOWAK, R. M. Walker’s Carnivores of the World. Baltimore: The Johns

Hopkins University Press, 2005. 313 p.

59. OLIFIERS, N.; BIANCHI, R. C.; MOURÃO, G. M.; GOMPPER, M. E. Construction of arboreal nests by brown-nosed coatis, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in the Brazilian Pantanal. Zoologia, Curitiba, v. 26, n. 3, p. 571- 574, 2009.

60. OLIVEIRA, V. B.; LINARES, A. M.; CASTRO-CORRÊA, G. L.; CHIARELLO,

A. G. Inventory of medium and large-sized mammals from Serra do Brigadeiro and Rio Preto State Parks, Minas Gerais, southeastern Brazil.

Page 47: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

33

Check List, São Paulo, v. 9, n. 5, p. 912–919, 2013.

61. ORR, R. T. Mamíferos. In: ______ Biologia dos vertebrados. 5.ed. São

Paulo: Roca., 1986. cap. 7, p.183-246.

62. PIRES, D. P. S.; CADEMARTORI, C. V. Medium and large sized mammals of a semideciduous forest remnant in southern Brazil. Biota Neotropica, São

Paulo, v. 12, n. 3, p. 1-7, 2012.

63. QUEIROZ, J. P. A. F.; SOUSA, F. D. N.; LAGE, R. A.; AGRA, E. G. D.; IZAEL, M. A.; GADELHA, I. C. N.; DIAS, C. E. V.; FREITAS, C. I. A. Registro de pegadas de quatis (Nasuanasua) para monitoramento e educação ambiental utilizando diferentes substratos. Acta Veterinaria Brasilica,

Mossoró, v. 2, n. 1, p. 11-15, 2008.

64. RIPPLE, W. J.; BESCHTA, R. L. Wolf reintroduction, predation risk, and cottonwood recovery in Yellowstone National Park. Forest Ecologyand Management, Amsterdam, v. 184, p. 299–313, 2003.

65. ROCHA, E. C.; SILVA, E. Composição da mastofauna de médio e grande

porte na reserva indígena “Parabubure”, Mato Grosso, Brasil. Revista Árvore, Viçosa, v. 33, n. 3, p. 451-459, 2009.

66. ROCHA, F. L. Áreas de uso e seleção de habitats de três espécies de

carnívoros de médio porte na fazenda Nhumirim e arredores, Pantanal da Nhecolândia. 2006. Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Corumbá.

67. RODRIGUES, A. F. S. F.; DAEMON, E.; MASSARD, C. L. Ectoparasites of

Nasua nasua (Carnivora, Procyonidae) from an urban forest in Southeastern Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo

Horizonte, v. 58, n. 5, p. 969-971, 2006.

68. ROMER, A. S.; PARSONS, T. S. Anatomia comparada dos vertebrados. São Paulo: Atheneu Editora São Paulo Ltda., 1985. 559 p.

69. SANTOS, A. C.; BERTASSOLI, B. M.; OLIVEIRA, V. C.; CARVALHO, A. F.;

ROSA, R. A.; MANÇANARES, C. A. F. Morfologia dos músculos do ombro, braço e antebraço do quati (Nasua nasua,Linnaeus 1758). Biotemas,

Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 167-173, 2010a.

70. SANTOS, A. C.; BERTASSOLI, B.; OLIVEIRA, V. C.; ROSA, R. A.; CARVALHO, A. F.; MANÇANARES, C. A. F. Caracterização morfológica das glândulas salivares mandibulares dos quatis (Nasua nasua, LINNAEUS, 1758). Revista da FZVA, Uruguaiana, v. 17, n. 2, p. 276-286, 2010b.

71. SANTOS, A. C.; BERTASSOLI, B.; ROSA R. A.; CARVALHO, A. F.;

MANÇANARES, C. A. F. Miologia comparada do membro torácico do mão-pelada (Procyon cancrivorus, G. Cuvier, 1798). Revista da FZVA,

Page 48: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

34

Uruguaiana, v. 17, n. 2, p. 262-275, 2010c.

72. SILVEIRA, L. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas, Goiás. 1999. 125 f. Dissertação (mestrado em Ciências Biológicas) - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

73. SIMÃO, T. L. L. Avaliação de genes nucleares como marcadores

filogenéticos em duas linhagens recentes de carnívoros neotropicais.

2011. 23 f. Dissertação (mestrado em Biologia Celular e Molecular) – Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Sul, Porto Alegre.

74. SOUZA, R. R. Anatomia para estudantes de educação física. Rio de

Janeiro: Guanabara S.A., 1986. 306 p.

75. SPENCE, A. P. Anatomia humana básica. 2.ed. Barueri: Manole Ltda,

1991. 703 p.

76. STORER, T. I.; USINGER, R. L.; STEBBINS, R. C.; NYBAKKEN, J. W. Zoologia geral. 6.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2000. 816 p.

77. TEIXEIRA, R. H. F.; AMBROSIO, S. R. Carnívora - Procyonidae (Quati, Mão-

pelada, Jupará). In.: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens. 1.ed. São Paulo: Roca, 2007. cap. 33, p.

571-583.

78. TORTORA, G. J. Princípios de anatomia humana. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda., 2007. 1017 p.

79. TROVATI, R. G.; CAMPOS, C. B.; BRITO, B. A. Nota sobre convergência e

divergência alimentar de canídeos e felídeos (Mamalia: Carnivora) simpátricos no Cerrado brasileiro. Neotropical Biology and Conservation,

São Leopoldo, v.3, n. 2, p. 95-100, 2008. 80. VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6.ed. Barueri: Editora Manole,

2003, 840 p.

81. VAUGHAN, T. A.; RYAN, J. M.; CZAPLEWSKI, N. J. Mammalogy. 5.ed.

Sudbury: Jones & Bartlett Publishers, 2011. 750 p.

82. VIDOLIN, G. P.; BRAGA, F. G. Ocorrência e uso da área por carnívoros silvestres no Parque Estadual do Cerrado, Jaguariaíva, Paraná. Cadernos de Biodiversidade, Curitiba, v. 4, n. 2, p. 29-36, 2004.

83. WATANABE, I. Erhart: elementos de anatomia humana. 10.ed. São Paulo:

Atheneu Editora São Paulo, 2009. 265 p.

84. WAYNE, R. K. Molecular evolution of the dog family. Trends in Genetics,

Page 49: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

35

Cambridge, v. 9, n. 6, p. 218-224, 1993.

85. WILSON, D. E.; REEDER, D. A. M. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3.ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005. 2142 p.

86. WOODBURNE, R. T. Essentials of human anatomy. 5.ed. London/Toronto:

Oxford University Press, 1973. 629 p.

87. YU, L.; LUAN, P.; JIN, W.; RYDER, O. A.; CHEMNICK, L. G.; DAVIS, H. A.; ZHANG, Y. Phylogenetic Utility of Nuclear Introns in Interfamilial Relationships of Caniformia (Order Carnivora). Systematic Biology, Washington, v. 60, n.2, p. 175-187, 2011.

Page 50: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

36

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS DA

COXA DO QUATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

ANATOMICAL ASPECTS OF THE CAUDAL THIGH MUSCLES OF COATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

Flávio de Rezende GUIMARÃES1; Julio Roquete CARDOSO2; Thelma

Michella SADDI3; Luciana Batalha de Miranda ARAÚJO4; Eugênio

Gonçalves de ARAÚJO4.

1. Professor, Mestre, Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia,

UFMT, Cuiabá, MT, Brasil. [email protected]; 2. Professor, Doutor,

Instituto de Ciências Biológicas, UFG, Goiânia, GO, Brasil; 3. Mestre, Doutoranda

do PPG em Ciência Animal, EVZ, UFG, Goiânia, GO, Brasil; 4. Professores,

Doutores, EVZ, UFG, Goiânia, GO, Brasil.

Submetido à Bioscience Journal em 18 de abril de 2013.

Situação: Aceito. Publicado v. 29, n. 5, sep/ dec. 2013.

Page 51: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

37

ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS DA COXA DO QUATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

ANATOMICAL ASPECTS OF THE CAUDAL THIGH MUSCLES OF COATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

RESUMO: Os quatis (N. nasua) são carnívoros da família Procyonidae, encontrados essencialmente em habitats florestais, desde o norte da Colômbia até o norte da Argentina. Onívoros generalistas alimentam-se tanto no solo como em árvores. Por ingerirem principalmente frutos, constituem-se em potenciais dispersores de sementes, participando da dinâmica florestal. O hábito de escalar árvores para se alimentar faz com que seus membros pélvicos sejam bem mais exigidos e versáteis do que os dos canídeos, dos quais divergiram evolutivamente. Assim, este estudo analisou os aspectos anatômicos dos músculos que integram o grupo caudal da coxa dos quatis, os quais tiveram seus aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção, sintopia e ações avaliados. Para a realização desta pesquisa foram utilizados cinco animais adultos (duas fêmeas e três machos) cedidos pelo IBAMA-GO (Licença: 98/2011), os quais foram fixados com solução de formaldeído a 10% e dissecados depois de um período mínimo de 72 horas. Os músculos que compõem o grupo caudal da coxa dos quatis são o m. semitendinoso, m. semimembranoso, m. bíceps femoral e m. abdutor crural caudal. O m. semitendinoso apresenta duas cabeças, a longa e a curta, enquanto que o m. semimembranoso é incompletamente dividido em porções cranial e caudal. O m. bíceps femoral apresenta somente uma cabeça. O ligamento sacrotuberal está ausente e o m. abdutor crural caudal origina-se da face profunda do m. gluteofemoral e parte adjacente do m. glúteo superficial. As habilidades adquiridas pelos quatis, à medida que evoluíram como escaladores/trepadores, foram acompanhadas de modificações na estrutura dos músculos caudais de sua coxa, caracterizadas por alterações em suas origens, inserções ou mesmo quanto ao comprimento ou divisão de seus ventres musculares.

PALAVRAS-CHAVE: Animais silvestres. Carnívoros. Membro pélvico. Músculos

isquiotibiais. Procionídeos.

Page 52: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

38

INTRODUÇÃO

Quatis (Nasua Spp.) são animais pertencentes ao filo Chordata,

classe Mammalia, ordem Carnivora e família Procyonidae (FRANCIOLLI et al.,

2007). Chegando a pesar até 11 kg (BEISIEGEL, 2001), o Nasua nasua

apresenta o focinho comprido e a cauda longa, que verticalmente ereta, destaca-

se em relação ao corpo (SILVEIRA, 1999).

Encontra-se distribuído desde o norte da Colômbia até o norte da

Argentina (GOMPPER; DECKER, 1998; CUARÓN et al., 2004), ocupando

essencialmente habitats florestais (GOMPPER, 1997; ALVES-COSTA et al.,

2004).

Onívoro generalista, alimenta-se tanto no solo, como em árvores

(SILVEIRA, 1999), adaptando-se a diferentes ambientes (RODRIGUES et al.,

2006). Sua dieta consiste principalmente de frutos (GOMPPER, 1997; ALVES-

COSTA et al., 2004), o que lhe confere um importante papel na dinâmica das

florestas, já que é um dispersor de sementes (ALVES-COSTA et al., 2004). Em

contrapartida, podem também desempenhar um importante papel na

manutenção e transmissão de patógenos para os animais domésticos e para o

homem, à medida que estes invadem seus habitats ou estabelecem contato com

os mesmos, ainda que no meio urbano (GUIMARÃES et al., 2012).

Estudos envolvendo os carnívoros silvestres brasileiros ainda são, de

uma maneira geral, pouco encontrados na literatura. Esta carência atinge os

aspectos mais básicos desses animais, como os morfofisiológicos, o que

demonstra o desconhecimento, até mesmo, de grande parte da sua constituição

física. Apesar de sua importância para a biodiversidade, o N. nasua também não

tem sido alvo de muitos estudos morfológicos.

Os procionídeos divergiram evolutivamente dos canídeos (COLBERT;

MORALES, 1991), mas ainda compartilham com estes a mesma Subordem

(WILSON; REEDER, 2005). O fato dos quatis serem animais

escaladores/trepadores, de hábitos também arbóreos, faz com que seus

membros pélvicos sejam bem mais exigidos e versáteis do que aqueles dos

cães domésticos, o que gera uma situação digna de investigação do ponto de

vista anatômico.

Page 53: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

39

Neste sentido, este estudo objetivou analisar os aspectos anatômicos

dos músculos que compõem o grupo caudal da coxa do quati, responsáveis,

entre outros, pelos vigorosos movimentos de extensão da articulação do quadril,

necessários durante as escaladas realizadas por esta espécie, verificando seus

aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção, sintopia e supostas ações.

Buscou-se fazer uma descrição detalhada de cada músculo,

disponibilizando assim, um volume maior de informações sobre os mesmos, as

quais poderão subsidiar comparações pormenorizadas no futuro.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização desta pesquisa, aprovada junto a Comissão de

Ética na Experimentação em Animais da Universidade Federal de Goiás

(Processo nº 235/2011), foram utilizados cinco animais adultos (duas fêmeas e

três machos) cedidos pelo IBAMA-GO (Licença nº 98/2011).

Três dos cinco animais utilizados foram eutanasiados (Autorização

SISBIO/ICMbio nº 26278-2), seguindo as orientações da Resolução nº 714, de

20 de junho de 2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV,

2002), a qual normatiza a eutanásia de animais silvestres de vida livre e de

zoológico. Para tanto, foram utilizados uma associação de tiletamina/zolazepam

(10 mg/Kg - IM) para a contenção química e indução anestésica, seguida de

administração de tiopental (12,5 mg/kg - IV) para atingir o plano anestésico, após

o qual, foi mantida a administração deste anestésico geral injetável a 2,5% (IV)

até o óbito por sobrecarga anestésica.

Os animais foram fixados com solução de formaldeído a 10%, por

meio de perfusão via artéria carótida comum, injeção nas grandes cavidades e

infiltração das grandes massas musculares. Após 24 horas foram levados para

cubas com solução de formaldeído a 10%, nas quais permaneceram por pelo

menos 72 horas antes do início das dissecações, quando então, foram mantidos

em cubas com solução de álcool etílico 92,8º GL.

Realizados em ambos os antímeros, os trabalhos de dissecação

iniciaram com o rebatimento da pele das regiões da perna, coxa, pelve e

Page 54: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

40

abdômen, conjuntamente, ficando a mesma fixada na linha mediana dorsal. Na

sequência, rebateu-se a tela subcutânea para se ter acesso aos músculos

superficiais. Estes foram analisados e posteriormente tiveram seus ventres

seccionados e rebatidos, possibilitando o acesso aos músculos mais profundos.

Os trabalhos foram realizados utilizando-se lupa modelo DEKEL TL

1020, com iluminação e capacidade de ampliação de cinco vezes. Os achados

foram registrados e fotografados com câmera fotográfica digital Cyber-shot®,

Sony; 7,2 megapixels.

A terminologia empregada baseou-se na nomenclatura anatômica

veterinária, utilizada em animais domésticos e regida pelo International

Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012).

As ações de cada músculo foram inferidas a partir da análise conjunta

da origem, inserção, disposição dos feixes musculares e sintopia do ventre com

os ossos e articulações com ele associados.

Considerando que os quatis são da mesma Subordem dos canídeos,

os resultados deste estudo foram comparados principalmente com aqueles

encontrados nos cães domésticos, utilizados como espécie de referência. O

gatos domésticos e os leopardos nebulosos (Neofelis nebulosa), representando

os felinos, assim como os mãos-peladas (Procyon cancrivorus), uma outra

espécie de procionídeo, também foram utilizados na comparação, considerando

a proximidade filogenética desses carnívoros com os quatis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Grupo caudal

A classificação utilizada por Getty (1986) e Evans e De Lahunta

(2013) considera os músculos bíceps femoral, abdutor crural caudal,

semitendinoso e semimembranoso, como os integrantes da musculatura caudal

da coxa nos carnívoros domésticos. Nos quatis, os mesmos músculos são

encontrados compondo este grupo muscular (figuras 1 e 4A). Entretanto, apesar

Page 55: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

41

de Santos et al. (2010) citarem o maior volume muscular como a principal

diferença entre os músculos do membro torácico dos quatis em relação ao dos

cães domésticos, várias diferenças foram encontradas entre a musculatura

caudal da coxa dessas duas espécies.

De uma maneira geral, o m. bíceps femoral é o elemento lateral do

grupo, enquanto que o m. semimembranoso é o medial e o m. semitendinoso, o

caudal (figuras 1, 3A e 4A). O m. abdutor crural caudal situa-se entre os três

anteriores (figuras 1A, 1C, 1D, 1E e 1F). O mesmo arranjo geral é relatado nos

cães (EVANS; DE LAHUNTA, 1994).

M. Semitendinoso

O m. semitendinoso é um músculo longo que tende à forma de um

cilindro, possuindo ao corte transversal, uma forma que varia da elíptica à

redonda (figuras 1B, 1C, 1D, 1E, 1F, 3A e 4A). Ele compõe a borda caudal da

coxa (figuras 1A, 1C, 1E e 1F) e estende-se até o limite entre os terços proximal

e médio da face medial da perna (figuras 4), assemelhando-se ao relatado por

Getty (1986) e Nickel et al. (1986) nos carnívoros domésticos.

O músculo apresenta duas cabeças distintas, observadas no seu

terço proximal, aproximadamente. Denominadas de longa (situada lateralmente)

e curta (situada medialmente) (figuras 1A, 1C, 1D, 1E, 1F, 2 e 3A), como nos

equinos e suínos (GETTY, 1986), compõem uma situação que difere daquela

relatada nos cães (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; SCHALLER, 1999;

CONSTANTINESCU, 2005), gatos, leopardos nebulosos (CARLON; HUBBARD,

2012) e mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010), nos quais o músculo apresenta

somente uma cabeça.

A cabeça longa, apesar de seu eixo longitudinal ser maior (figuras 1A,

1C, 1D, 2B e 2C) apresenta transversalmente, dimensões menores, constituindo

um aspecto achatado e menos volumoso do que a cabeça curta (figuras 1D, 2A,

2B, 2C, 2D, 2F e 3A). Esta, por sua vez, bem mais robusta, tende a um diâmetro

elíptico.

Page 56: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

42

Figura 1: Musculatura do membro pélvico de quati (Nasua nasua). A - aspecto lateral do membro pélvico: musculatura superficial; B - aspecto distal dos músculos caudais da coxa após corte transversal no terço médio dos mesmos. Estes músculos foram rebatidos caudalmente para uma melhor visualização do plano de corte; C - aspecto caudolateral do membro pélvico: musculatura superficial; D - aspecto lateral do membro pélvico: musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos músculos bíceps femoral e gluteofemoral; E - aspecto caudolateral do membro pélvico: musculatura superficial. A extremidade distal do m. abdutor crural caudal pode ser completamente observada; F - aspecto caudal da coxa: destaque para a inscrição tendínea. Legenda: ACC, m. abdutor crural caudal; AM, m. adutor magno; BF, m. bíceps femoral; GF, m. gluteofemoral; GR, m. grácil; GS, m. glúteo superficial; IT, inscrição tendínea; QF, m. quadrado femoral; SM, m. semimembranoso; SM ca, m. semimembranoso - porção caudal; SM cr, m. semimembranoso - porção cranial; ST, m. semitendinoso; ST cc, m. semitendinoso - cabeça curta; ST cl, m. semitendinoso - cabeça longa; TFL, m. tensor da fáscia lata; VL, m. vasto lateral (ainda encoberto pela fáscia lata).

Page 57: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

43

A cabeça longa origina-se cranioproximalmente em relação à curta,

surgindo da borda caudal da parte pélvica do m. gluteofemoral (figuras 1A, 1C,

1D, 2A, 2E e 2F ). De todas as origens dos músculos do grupo caudal, a da

cabeça longa foi a que apresentou mais variações. Assim, enquanto três (60%)

dos cinco animais apresentaram a origem descrita acima, estabelecida como

padrão nos quatis, no antímero direito de um dos animais dissecados, a origem

encontrava-se logo caudalmente ao centro da extremidade proximal do músculo

gluteofemoral, em sua fáscia da face profunda, constituída por um estreito, plano

e delicado tendão, situado a uma pequena distância, caudalmente, da origem do

m. abdutor crural caudal (figura 2B). No antímero oposto do mesmo animal,

situação similar foi encontrada, diferenciando-se somente pelo formato cilíndrico

do delicado tendão e pela origem caudodistal em relação à do abdutor

correspondente (figura 2C). Em um segundo animal, em ambos os antímeros, o

músculo surgia por meio de um feixe cilíndrico e calibroso da porção caudal da

face profunda da extremidade proximal do músculo gluteofemoral (figura 2D).

A cabeça curta origina-se da porção proximal da superfície lateral e

caudolateral da tuberosidade isquiática, recobrindo as origens dos músculos

semimembranoso e bíceps femoral (figuras 2A, 2C, 2F e 3A). Nos cães (GETTY,

1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994; SCHALLER, 1999), gatos, leopardos

nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012) e mãos-peladas (PEREIRA et al.,

2010), sua única origem, que corresponde à da cabeça curta dos quatis, também

é encontrada na tuberosidade isquiática.

Na medida em que se dirige distalmente e chega ao nível da

tuberosidade isquiática, a cabeça longa alcança e passa a sobrepor

parcialmente a cabeça curta, no sentido longitudinal, acompanhando-a até que

ambas se encontrem no limite entre o terço proximal e médio, aproximadamente,

do m. semitendinoso, formando um ventre único (figuras 1A, 1C, 1D, 1E, 1F, 2A

e 3A).

Uma inscrição (intersecção) tendínea, disposta obliquamente no

sentido proximolateral, cruza transversalmente toda a superfície do músculo, de

forma a passar no ponto onde as duas cabeças se encontram ou logo

distalmente a este (figuras 1C, 1E, 1F e 2A). Uma intersecção tendínea também

Page 58: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

44

Figura 2: A - aspecto lateral da cintura pélvica e coxa de quati (Nasua nasua):

musculatura superficial; B, C, D, E, F- aspecto lateral da cintura pélvica de quati (Nasua nasua): musculatura profunda, após rebatimento do m. glúteo femoral (proximalmente) e do m. semitendinoso (caudalmente). Legenda: ACC, m. abdutor crural caudal; BF, m. bíceps femoral; GE, m. gêmeos; GF, m. gluteofemoral; GP, m. glúteo profundo; GS, m. glúteo superficial; IT, inscrição tendínea; NI, nervo isquiático; QF, m. quadrado femoral; SM, m. semimembranoso; SM ca, m. semimembranoso - porção caudal; SM cr, m. semimembranoso - porção cranial; ST, m. semitendinoso; ST cc, m. semitendinoso - cabeça curta; ST cl, m. semitendinoso - cabeça longa; TFL, m. tensor da fáscia lata; TM, Trocanter maior. Asterisco (*), origem da cabeça longa do m. semitendinoso; seta, origem do m.

abdutor crural caudal.

Page 59: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

45

está presente no músculo semitendinoso dos cães (GETTY, 1986; EVANS; DE

LAHUNTA, 2013). Evans e De Lahunta (2013) mencionam que a inscrição

tendínea é provavelmente o remanescente do tendão do desaparecido músculo

gluteofemoral, que nos mamíferos inferiores divide o m. semitendinoso

transversalmente. Nos quatis, entretanto, a referida inscrição pode ser

encontrada mesmo com o m. gluteofemoral presente.

O músculo insere-se, por meio de um definido tendão, plano e

delgado, na porção distal da borda cranial da tíbia, distalmente à inserção do m.

grácil (figura 4). Da mesma forma ocorre a inserção nos mãos-peladas

(PEREIRA et al., 2010), enquanto nos gatos e leopardos nebulosos, o músculo

insere-se na face medial da referida borda (CARLON; HUBBARD, 2012). Nos

cães, a inserção na tíbia pode ocorrer da mesma forma que nos quatis (GETTY,

1986) ou na face medial da parte proximal deste osso (SCHALLER, 1999;

BUDRAS et al., 2007), sendo que, nos primeiros, o músculo também emite uma

extensão tendínea que se une ao tendão calcanear comum (NICKEL et al.,

1986; BUDRAS et al., 2007), o que não ocorre nos quatis.

Figura 3: A- aspecto caudal da cintura pélvica e parte da coxa de quati (Nasua nasua); B- aspecto lateral do membro pélvico de quati (Nasua nasua) evidenciando a inserção do m. bíceps femoral. Legenda: BF, m. bíceps femoral; CP, cavidade pélvica; FC, fáscia crural; FL, fáscia lata; GF, m. gluteofemoral; GR, m. grácil; GS, m. glúteo superficial; SM, m. semimembranoso; ST cc, m. semitendinoso - cabeça curta; ST cl, m. semitendinoso - cabeça longa; TFL, m. tensor da fáscia lata; VL, m. vasto lateral (ainda encoberto pela fáscia lata). Asterisco (*), tuberosidade isquiática; triângulo (▲), arco isquiático; seta,

sínfise pélvica.

Page 60: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

46

Como um todo, o músculo relaciona-se craniolateralmente com o m.

bíceps femoral e craniomedialmente com o m. semimembranoso (figuras 1A, 1B,

1C, 1E, 1F, 2A e 3A), enquanto sua extremidade distal passa medialmente em

relação à cabeça medial do m. gastrocnêmio, assemelhando-se, de uma

maneira geral, ao que ocorre nos carnívoros domésticos (GETTY, 1986; NICKEL

et al., 1986) e mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010). A cabeça longa, entretanto,

distalmente à tuberosidade isquiática, situa-se parcialmente sobreposta à

extremidade proximal do m. bíceps femoral (figuras 1A, 1C, 1E e 2A).

A hipótese de ação do m. semitendinoso é a extensão da articulação

do quadril e a flexão da articulação do joelho. Nos cães, além dessas funções,

ele também estende o tarso (EVANS; DE LAHUNTA, 1994), devido à sua

associação com o tendão calcanear comum (GETTY, 1986).

Figura 4: Aspecto medial do membro pélvico de quati (Nasua nasua):

musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos músculos sartório e grácil. Observar as inserções, a sintopia e a não divisão do ventre muscular do m. semimembranoso em um aspecto medial. Em A e B, o ligamento colateral medial do joelho encontra-se rebatido (pinça). O tendão de inserção do m. semitendinoso também pode ser observado. Legenda: AM, m. adutor magno; GA, m. gastrocnêmio; GR, m. grácil; RF, m. reto femoral; SA, m. sartório; SM, m. semimembranoso; ST, m. semitendinoso;VM, m. vasto medial. Triângulo (▲), tendão de inserção do m. semitendinoso; Seta e seta dupla, inserção da porção caudal e cranial, respectivamente, do m. semimembranoso; asterisco (*), menisco medial (interposto às inserções do m. semimembranoso).

Page 61: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

47

M. Abdutor crural caudal

O m. abdutor crural caudal é um músculo encontrado somente nos

carnívoros (NICKEL et al., 1986). Nos quatis, ele possui o aspecto de uma longa

fita que se estende da cintura pélvica até a perna (figura 1D). Encontra-se no

terço caudal da coxa e em grande parte de sua trajetória está coberto pelo m.

bíceps femoral (figuras 1A, 1C, 1D e 1E). Tais características assemelham-se

àquelas dos cães domésticos (GETTY, 1986; ARAUJO, 2003; EVANS; DE

LAHUNTA, 2013), gatos e leopardos nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012),

embora nos gatos ele seja rudimentar, apresentando-se muito fino (NICKEL et

al., 1986).

Nos cães (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; BUDRAS et al., 2007)

e nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010), o músculo origina-se da porção

distal do ligamento sacrotuberal, enquanto nos gatos, devido à ausência deste

ligamento (NICKEL et al., 1986; CONSTANTINESCU, 2005), o m. abdutor

origina-se da primeira ou segunda vértebras coccígeas (NICKEL et al., 1986).

Carlon e Hubbard (2012) citam, no entanto, que nos gatos e leopardos

nebulosos, o músculo origina-se da primeira e segunda vértebras coccígeas por

meio de duas cabeças.

Nos quatis, embora o ligamento sacrotuberal também esteja ausente

(figuras 1D, 2B, 2C, 2D, 2E, 2F), sua origem não se localiza na coluna vertebral,

como nos gatos, mas em uma região intermediária entre a desta espécie e a dos

cães, de forma menos ancorada, na medida em que, por meio de um delicado e

plano tendão, surge na parte central (ou um pouco mais cranial) da face

profunda da extremidade proximal do m. gluteofemoral e parte adjacente da

borda caudal do m. glúteo superficial (figuras 1D, 2B, 2C, 2D, 2E). Exceção foi

observada no antímero esquerdo de um dos quatis, no qual a borda caudal do

m. glúteo superficial não participava da origem do m. abdutor (figura 2F).

Partindo da origem e após curta trajetória sob a cobertura do m.

gluteofemoral, aonde acompanha caudalmente a parte inicial do nervo isquiático,

o músculo alcança a face profunda do m. bíceps femoral, cruzando-a

obliquamente na medida em que se dirige caudodistalmente até alcançar a

borda caudal deste, ao nível da articulação do joelho (figuras 1A, 1C, 1D e 1E).

Page 62: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

48

A partir de então, o m. abdutor passa a acompanhar a citada borda,

posicionando-se caudalmente e de forma justaposta à mesma, até que ambos

os músculos insiram-se na fáscia crural (figuras 1A, 1C, 1D e 1E).

A relação com o bíceps femoral vai de encontro ao que é relatado nos

cães (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), assim

como sua inserção na fáscia crural (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986;

BUDRAS et al., 2007). A mesma inserção é observada nos mãos-peladas

(PEREIRA et al., 2010), entretanto, nos leopardos nebulosos e gatos

domésticos, o músculo apresenta uma inserção adicional no terço médio do m.

bíceps femoral (CARLON; HUBBARD, 2012).

Nos quatis, contudo, o ventre do m. abdutor ultrapassa a inserção do

m. bíceps femoral, prolongando-se craniodistalmente na fáscia crural (figuras 1A,

1C, 1D, 1E), podendo chegar até, em torno do limite proximal do quarto distal da

região craniolateral da perna (figuras 1A e 1E). Segundo Evans e De Lahunta

(2013), uma extensão do m. abdutor crural além da inserção do m. bíceps

femoral é frequentemente observada em cães.

Acredita-se que o músculo estenda a articulação do quadril e flexione

o joelho, bem como tenda à abduzir o membro, assim como nos cães (GETTY,

1986). Nickel et al. (1986) citam que, nos carnívoros domésticos, o mesmo tem

uma função insignificante, embora auxilie a parte caudal do m. bíceps femoral na

abdução do membro.

M. Semimembranoso

O músculo semimembranoso é bem desenvolvido e encontra-se

profundamente na metade caudal da coxa, sendo incompletamente dividido em

porções cranial e caudal, por uma fissura profunda e longitudinal na face lateral

do músculo (figuras 1B, 1D e 4). Embora seja também bastante carnoso no cão,

neste o músculo apresenta duas porções completamente individualizadas

(GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994; BUDRAS et al., 2007), assim

como nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010), leopardos nebulosos

(CARLON; HUBBARD, 2012) e gatos domésticos (NICKEL et al., 1986;

Page 63: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

49

SCHALLER, 1999; CARLON; HUBBARD, 2012).

As duas porções possuem um volume aproximado, no entanto, em

um corte transversal, a superfície da porção cranial é triangular, enquanto a da

porção caudal é elíptica (figura 1B). Nos cães, as duas porções também

apresentam o mesmo tamanho (NICKEL et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA,

2013), ou quase (EVANS; DE LAHUNTA, 1994), sendo que um contorno de oval

a triangular é apresentado na secção transversa do músculo como um todo

(EVANS; DE LAHUNTA, 2013). A porção caudal sobrepõe parcialmente a

porção cranial, em uma vista lateral (figuras 1B e 1D), assim como nos cães

(EVANS; DE LAHUNTA, 2013).

Sua origem inicia na superfície distal da parte caudal da tuberosidade

isquiática (figuras 2A, 2C, 2F e 3A), prolongando-se medialmente por dois terços

a três quartos, aproximadamente, do arco isquiático (figura 3A). Nos cães

(GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994), mãos-

peladas (PEREIRA et al., 2010), leopardos nebulosos e gatos domésticos

(CARLON; HUBBARD, 2012), a origem restringe-se, no entanto, à tuberosidade

isquiática.

O músculo apresenta duas inserções distintas (figura 4). A mais distal,

relacionada à porção caudal do músculo, situa-se, nas proximidades da borda

medial do côndilo medial da tíbia, sob o ligamento colateral medial da articulação

do joelho (figura 4B). O mesmo local de inserção é observado nos cães (NICKEL

et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), mãos-peladas (PEREIRA et al.,

2010), leopardos nebulosos e gatos domésticos (CARLON; HUBBARD, 2012).

A inserção mais proximal, associada à porção cranial, situa-se no

fêmur. Tem inicio imediatamente proximal e adjacente ao epicôndilo medial,

continuando-se proximalmente, em extensão variável, pelo terço distal da face

medial da diáfise deste osso (figura 4B). Sua espessura aumenta

gradativamente distalmente até alcançar a face poplítea, aonde contorna

proximalmente a origem da cabeça medial do m. gastrocnêmio. Assemelha-se,

de uma maneira geral, com a inserção nos gatos, leopardos nebulosos

(CARLON; HUBBARD, 2012) e cães (NICKEL et al., 1986; EVANS; DE

LAHUNTA, 2013), embora nestas espécies, a fixação na face medial do fêmur,

observada nos quatis, seja transferida para o lábio medial da face áspera deste

Page 64: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

50

osso. Assemelha-se também à inserção nos mãos-peladas, embora nestes, a

origem estenda-se proximalmente somente até a origem do m. gastrocnêmio

(PEREIRA et al., 2010).

Cranialmente, o m. semimembranoso relaciona-se principalmente

com o m. adutor magno, enquanto medialmente, tem sua maior parte recoberta

pelo grácil (figura 4A). Lateralmente, é em maior parte, recoberto pelo m. bíceps

femoral (figuras 1B e 1D), enquanto caudalmente relaciona-se com o m.

semitendinoso. As mesmas relações são demonstradas nos cães, embora

nestes o m. semitendinoso avance um pouco mais cranialmente, alcançando

também a face lateral do m. semimembranoso (NICKEL et al., 1986), o que

reduz um pouco a área de contato entre este e o m. bíceps femoral.

Admite-se que o músculo estenda a articulação do quadril e flexione o

joelho, como nos cães (GETTY, 1986). Acredita-se também que aduza o

membro, da mesma forma que Schaller (1999) relata nos carnívoros domésticos.

M. Bíceps femoral

O m. bíceps femoral é bem desenvolvido, sendo largo e longo, cujo

formato lembra ao de um triângulo à medida que alarga-se progressivamente até

sua inserção (figuras 1A e 1E). É o maior músculo observado na face lateral da

coxa, compondo a maior parte da metade caudal da face lateral desta e

estendendo-se pela superfície caudoproximal da face lateral da perna (figuras

1A e 1E). Tais características assemelham-se àquelas do m. bíceps femoral dos

cães (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994; ARAUJO, 2003), dos gatos

(CARLON; HUBBARD, 2012; POPESKO, 2012) e dos leopardos nebulosos

(CARLON; HUBBARD, 2012).

Apesar do seu tamanho, nos quatis o m. bíceps femoral é constituído

por um único ventre (figuras 1A, 1B e 1C), enquanto nos cães o músculo possui

duas partes (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986) sendo que uma delas é

pequena, situando-se profundamente e caudalmente em relação à porção

principal do músculo, da qual pode ser separada longitudinalmente (GETTY,

1986). Nos quatis, somente uma cabeça é observada (figuras 2A, 2E, 2F e 3A),

Page 65: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

51

enquanto nos mãos-peladas duas estão presentes (PEREIRA et al., 2010),

assim como nos cães (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), nos quais

cada uma está associada a uma porção do músculo (GETTY, 1986).

Nos quatis, o músculo origina-se na porção lateral da tuberosidade

isquiática (figuras 2A, 2C, 2F e 3A). Nos gatos e leopardos nebulosos, a origem

também está restrita à esta tuberosidade (CARLON; HUBBARD, 2012),

enquanto nos cães, sua origem é mais ampla, abrangendo também o terço distal

(GETTY, 1986) do ligamento sacrotuberal (GETTY, 1986; EVANS; DE

LAHUNTA, 1994; BUDRAS et al., 2007; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), o que

também é verificado nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010).

O músculo insere-se nas fáscias lata e crural, de forma continuada

(figuras 1A e 3B). Na primeira, a inserção estende-se desde a metade da coxa

ou um pouco distal a esta, até a articulação do joelho, acompanhando o eixo do

fêmur e recobrindo a porção mais caudal da metade distal do m. vasto lateral.

Na segunda, a inserção estende-se pela face lateral da perna, desde o joelho

até um pouco proximalmente à sua metade, recobrindo boa parte da cabeça

lateral do m. gastrocnêmio. Em um dos animais, entretanto, a inserção

alcançava a metade da perna. Nos cães (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA,

1994; SCHALLER, 1999) e mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010), além de

inserir-se nas fáscias lata e crural, o músculo emite uma fáscia para o tendão

calcanear comum, o que não ocorre nos quatis (figuras 1A, 1C, 1D e 3B). Nos

gatos domésticos, a inserção também ocorre na fáscia crural (CARLON;

HUBBARD, 2012; POPESKO, 2012) e no tendão calcanear comum (CARLON;

HUBBARD, 2012), porém não na fáscia lata (CARLON; HUBBARD, 2012;

POPESKO, 2012), da mesma forma que nos leopardos nebulosos (CARLON;

HUBBARD, 2012).

Cranioproximalmente, o músculo relaciona-se com o músculo

gluteofemoral, enquanto caudalmente estabelece relação com o m.

semitendinoso na coxa, e com o m. abdutor crural caudal na perna (figura 1A).

Nos gatos e leopardos nebulosos, relações similares ocorrem com o m.

gluteofemoral e o m. semitendinoso (CARLON; HUBBARD, 2012), enquanto nos

cães, embora relações semelhantes ocorram com o m. semitendinoso (GETTY,

1986; NICKEL et al., 1986) e o m. abdutor crural caudal (EVANS; DE LAHUNTA,

Page 66: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

52

1994; BUDRAS et al., 2007), a relação cranioproximal ocorre com o m. glúteo

superficial, conforme demonstram Getty (1986) e Evans e De Lahunta (1994), já

que nesta espécie o m. gluteofemoral está ausente. Relação similar com o m.

semitendinoso é relatada nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010).

Considera-se que o músculo estenda as articulações do quadril e do

joelho, com sua parte caudal flexionando esta última. Tais funções são

igualmente realizadas pelo m. bíceps femoral dos cães, nos quais, entretanto,

também estende o tarso (EVANS; DE LAHUNTA, 1994; SCHALLER, 1999). Esta

função não ocorre nos quatis, já que nestes não há participação do m. bíceps

femoral na formação do tendão calcanear comum.

CONCLUSÕES

Os músculos que compõem o grupo caudal da coxa dos quatis são o

m. semitendinoso, m. semimembranoso, m. bíceps femoral e m. abdutor crural

caudal, cujas características gerais assemelham-se àquelas dos carnívoros

domésticos.

Foram verificadas diversas e significativas diferenças anatômicas

entre os quatis e os cães, destacando-se a presença de duas cabeças bem

distintas no m. semitendinoso; a divisão incompleta do m. semimembranoso e a

extensão de sua origem pelo arco isquiático; a presença de somente uma

cabeça no m. bíceps femoral; a origem do m. abdutor crural caudal na face

profunda do m. gluteofemoral e parte adjacente da borda caudal do m. glúteo

superficial; a ausência do ligamento sacrotuberal e a não participação dos Mm.

semitendinoso e bíceps femoral na formação do tendão calcanear comum.

As diferenças anatômicas encontradas, em relação aos cães,

envolvendo principalmente as origens, inserções, comprimento ou a divisão dos

ventres musculares, possivelmente representam adaptações deste grupo

muscular frente aos diferentes hábitos de vida desenvolvidos pelos quatis, como

os de subir em árvores para se alimentarem.

Page 67: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

53

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio), pela liberação dos animais utilizados nesta pesquisa.

ABSTRACT: The coatis (N. nasua) are carnivores Procyonidae family, found

mainly in forested habitats, from northern Colombia to northern Argentina. Generalist omnivores, they feed both on the ground as in trees. By ingesting mainly fruits, they are potential seed dispersers, participating in forest dynamics. The habit of climbing trees to feed makes their hindlimbs much more required and versatile than those of canids, of which they evolutionarily diverged but still share the same Suborder. Thus, this study examined the anatomical aspects of the muscles that integrate the caudal group of the thigh of coatis, which had its general aspects, location, shape, origin, insertion, syntopy and actions evaluated. Five adult animals (two females and three males) provided by IBAMA-GO (License: 98/2011) were used in this research. They were fixed with 10% formaldehyde solution and dissected after a minimum period of 72 hours after fixation. The muscles which comprise the caudal group of the thigh of coatis are the m. semitendinosus, the m. semimembranosus, m. biceps femoris and m. abductor cruris caudalis. The semitendinosus has two heads, long (lateral) and short (medial), while the semimembranosus is incompletely divided into cranial and caudal parts. The biceps femoris muscle has only one head. The ligamentum sacrotuberale is absent and the abductor cruris caudalis muscle originates from the deep surface of the gluteofemoral muscle and adjacent part of the gluteus superficialis. The abilities acquired by coatis as they distanced from canids becoming climbers have been accompanied by anatomical adaptations in the structure of the caudal muscles of the thigh, which are characterized by modifications in their origins, insertions or even relating to their length or their muscle belly divisions.

KEYWORDS: Carnivore. Ischiotibial muscles. Pelvic limb. Procyonidae. Wild

animals.

REFERÊNCIAS

ALVES-COSTA, C. P.; FONSECA, G. A. B.; CHRISTOFARO, C. Variation in the diet of the brown-nosed coati (Nasua nasua) in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy, Lawrence, v. 85, n. 3, p. 478-482, jun. 2004.

ARAUJO, J. C. Anatomia dos animais domésticos: aparelho locomotor.

Page 68: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

54

1.ed. Barueri: Editora Manole, 2003. 265p. BEISIEGEL, B. M. Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an Atlantic Forest area. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 61, n. 4, p. 689-692, nov. 2001. BUDRAS, K. D.; McCARTHY, P. H.; FRICKE, W.; RICHTER, R. Anatomy of the dog. 15.ed. Hanover: Schlütersche Verlagsgesellschaft mbH & Co., 2007. 218p. CARLON, B.; HUBBARD, C. Hip and thigh anatomy of the clouded leopard (Neofelis nebulosa) with comparisons to the domestic cat (Felis catus). The Anatomical Record, Philadelphia, v. 295, p.577-589, out. 2012. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA - CFMV. RESOLUÇÃO Nº 714, DE 20 DE JUNHO DE 2002. Disponível em: < http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resolucao_714.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2010. COLBERT, E. H.; MORALES, M. Creodonts and Carnivores. In:_______. Evolution of the Vertebrates. 4.ed. New York: Wiley-Liss, 1991. cap. 25, p.1-10. Disponível em: <http://www.mun.ca/biology/scarr/4505_Colbert_&_Morales_1991.htm>. Acesso em: 12 jan. 2013. CONSTANTINESCU, G. M. Anatomia clínica de pequenos animais. 1.ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2005. 355p. CUARÓN, A. D.; MORALES, M. A. M.; McFADDEN, K. W.; VALENZUELA, D.; GOMPPER, M. The status of dwarf carnivores on Cozumel Island, Mexico. Biodiversity and Conservation, Dordrecht, v. 13, p. 317-331, dez. 2004. EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Guia para a dissecção do cão. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1994. 199p. EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Miller’s anatomy of the dog. 4.ed. St Louis:

Elsevier Saunders, 2013. 850p. FRANCIOLLI, A. L. R.; COSTA, G. M.; MANÇANARES, C. A. F.; MARTINS, D. S.; AMBRÓSIO, C. E.; MIGLINO, M. A.; CARVALHO, A. F. Morfologia dos órgãos genitais masculinos de quati (Nasua nasua, Linnaeus 1766). Biotemas, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 27-36, mar. 2007. GETTY, R. SISSON/GROSSMAN. Anatomia dos animais domésticos. 6.ed.

Rio de janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1986. v. 1 e 2, 2000p. GOMPPER, M. E. Population ecology of the white-nosed coati (Nasua narica) on Barro colorado Island, Panama. Journal of Zoolology, London, v. 241, p. 441-

455, mar. 1997.

Page 69: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

55

GOMPPER, M. E.; DECKER, D. M. Nasua nasua. Mammalian Species,

Lawrence, v. 580, p. 1-36, dez. 1998. GUIMARÃES, F. R.; SADDI, T. M.; CARDOSO, J. R.; ARAÚJO, L. B. M.; ARAÚJO, E. G. Estudo de patógenos de potencial zoonótico em procionídeos. Revista de Patologia Tropical, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 253-269, jul./set. 2012. INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE. Nomina Anatomica Veterinaria. 5.ed. (revised version).

Columbia:Editorial Committee, 2012. 160p. NICKEL, R.; SCHUMMER, A.; SEIFERLE, E.; FREWEIN, J.; WILKENS, H.; WILLE, K.H. The locomotor system of the domestic mammals. Berlin-

Hamburg: Verlag Paul Parey, 1986. v.1. 499p. PEREIRA, F. C.; LIMA, V. M.; PEREIRA, K. F. Morfologia dos músculos da coxa de mão-pelada (Procyon cancrivorus) – Cuvier 1798. Ciência Animal Brasileira,

Goiânia, v. 11, n. 4, p. 947-954, out./dez. 2010. POPESKO, P. Atlas de Anatomia Topográfica dos Animais Domésticos. 5.ed. Barueri: Manole, 2012. 608p. RODRIGUES, A. F. S. F.; DAEMON, E.; MASSARD C. L. Ectoparasites of Nasua nasua (Carnivora, Procyonidae) from an urban forest in Southeastern Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo

Horizonte, v. 58, n. 5, p. 969-971, out. 2006. SANTOS, A. C.; BERTASSOLI, B. M.; OLIVEIRA, V. C.; CARVALHO, A. F.; ROSA, R. A.; MANÇANARES, C. A. F. Morfologia dos músculos do ombro, braço e antebraço do quati (Nasua nasua, Linnaeus 1758). Biotemas, Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 167-173, set. 2010. SCHALLER, O. Nomenclatura anatômica veterinária ilustrada. 4.ed. São

Paulo: Manole, 1999. 614p. SILVEIRA, L. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas, Goiás. 1999. 125 f. Dissertação (Mestrado em Ciências

Biológicas), Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1999. WILSON, D. E.; REEDER, D. A. M. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3.ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005. 2142p.

Page 70: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

56

CAPÍTULO 3 – ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA

COXA DO QUATI (Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

ANATOMICAL ASPECTS OF THE MEDIAL THIGH MUSCLES OF COATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

Flávio de Rezende GUIMARÃES1; Julio Roquete CARDOSO2;

Thelma Michella SADDI3; Luciana Batalha de Miranda ARAÚJO4;

Eugênio Gonçalves de ARAÚJO4.

1. Professor, Mestre, Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia,

UFMT, Cuiabá, MT, Brasil. [email protected]; 2. Professor, Doutor,

Instituto de Ciências Biológicas, UFG, Goiânia, GO, Brasil; 3. Mestre,

Doutoranda do PPG em Ciência Animal, EVZ, UFG, Goiânia, GO, Brasil; 4.

Professores, Doutores, EVZ, UFG, Goiânia, GO, Brasil.

Submetido à Bioscience Journal em 26 de agosto de 2013

Situação atual: aceito em 12 de novembro de 2013 (última alteração: em

edição).

Page 71: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

57

ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS MEDIAIS DA COXA DO QUATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

ANATOMICAL ASPECTS OF THE MEDIAL THIGH MUSCLES OF COATI

(Nasua nasua, LINNAEUS 1766)

RESUMO: Quatis (Nasua Spp.) são animais pertencentes à família Procyonidae

da ordem Carnivora. Presentes em todos os biomas brasileiros, o Nasua nasua está distribuído na América do Sul, desde o norte da Colômbia até o norte da Argentina, sendo comuns na maioria das florestas neotropicais desta região. Onívoros, alimentam-se principalmente de frutos, tanto no solo quanto em árvores, o que os tornam importantes dispersores de sementes. Seus hábitos arbóreos exigem mais força e mobilidade de seus membros pélvicos do que nos canídeos, dos quais divergiram evolutivamente, mas ainda compartilham a mesma Subordem. Neste sentido, este estudo analisou os aspectos anatômicos dos músculos que integram o grupo medial da coxa dos quatis, os quais tiveram seus aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção, sintopia e ações avaliados. Para a realização desta pesquisa foram utilizados cinco animais adultos (duas fêmeas e três machos) cedidos pelo IBAMA-GO (Licença: 98/2011), os quais foram fixados com solução de formaldeído a 10% e dissecados depois de um período mínimo de 72 horas. Os músculos que compõem o grupo medial da coxa dos quatis são o m. grácil, m. pectíneo, m. adutor magno, m. adutor curto, m. adutor longo e o m. obturador externo. Todos os músculos apresentam particularidades quanto à origem e/ou inserção. O músculo grácil é bem largo e não contribui para a formação do tendão calcanear comum. O músculo pectíneo insere-se na metade da face caudal do fêmur. Os três músculos adutores encontram-se presentes e dispostos como três lâminas sucessivas e crescentes, no sentido craniocaudal, estando o músculo adutor curto interposto entre o m. adutor longo cranialmente e o m. adutor magno caudalmente. Suas inserções dispõem-se longitudinalmente e paralelas na face caudal do fêmur, crescendo em extensão, da medial (m. adutor longo) para a lateral (m. adutor magno). As habilidades adquiridas pelos quatis na medida em que se afastaram evolutivamente dos canídeos, passando a ter hábitos também arbóreos, foram acompanhadas por adaptações anatômicas no grupo muscular em questão, com várias delas assemelhando-se mais ao padrão verificado nos gatos do que propriamente nos cães. As adaptações caracterizaram-se principalmente por alterações nas origens e/ou inserções, tamanho e, no caso dos músculos adutores, também na quantidade e arranjo dos mesmos.

PALAVRAS-CHAVE: Animais silvestres. Carnívoros. Membro Pélvico. Músculos

adutores. Procionídeos.

Page 72: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

58

INTRODUÇÃO

Os quatis (Nasua nasua) são animais pertencentes à família

Procyonidae da ordem Carnivora (WILSON; REEDER, 2005), caracterizados por

apresentarem coloração cinzento-amarelada (MORO-RIOS et al., 2008), nariz

comprido e uma cauda longa, verticalmente ereta (SILVEIRA, 1999), peluda e

com anéis pretos e amarelados (MORO-RIOS et al., 2008).

São encontrados na América do Sul, do norte da Colômbia ao norte

da Argentina (CUARÓN et al., 2004), ocorrendo em todos os biomas brasileiros

(BARROS; FRENEDOZO, 2009). Onívoros generalistas, alimentam-se tanto no

solo como em árvores (SILVEIRA, 1999), adaptando-se a diferentes ambientes e

compondo sua dieta com diferentes itens (RODRIGUES et al., 2006),

principalmente frutos (BEISIEGEL, 2001; ALVES-COSTA et al., 2004).

Comuns na maioria das florestas neotropicais da América do Sul são,

frequentemente, a espécie mais abundante de carnívoros desses ambientes,

nos quais desempenham um importante papel como dispersores de sementes

(ALVES-COSTA et al., 2004). O fato de poderem ser mantenedores e/ou

transmissores de patógenos para os animais domésticos e seres humanos

(GUIMARÃES et al., 2012) mostra, adicionalmente, a atenção que esta espécie

merece.

Apesar de terem se afastado evolutivamente dos canídeos

(COLBERT; MORALES, 1991), os procionídeos ainda pertencem à mesma

Subordem (Caniformia) desses (WILSON; REEDER, 2005). Diferentemente dos

cães, os quatis possuem hábitos de escalar/trepar, incluindo os de subir em

árvores para se alimentar, o que faz com que a musculatura de seus membros

pélvicos seja mais exigida e dinâmica do que aquela dos cães domésticos. Tal

situação, merecedora de uma investigação do ponto de vista anatômico, motivou

a pesquisa em questão.

Assim, este estudo objetivou analisar os aspectos anatômicos dos

músculos que compõem o grupo medial da coxa dos quatis, principais

responsáveis pelos movimentos de adução do membro pélvico e, portanto, tão

importantes para as escaladas realizadas por esta espécie. As análises

englobaram os aspectos gerais, localização, forma, origem, inserção, sintopia e

Page 73: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

59

proposições para as ações dos músculos deste grupo. Buscou-se uma descrição

detalhada de cada músculo, visando subsidiar comparações mais

pormenorizadas com o mesmo grupo muscular de outras espécies de

carnívoros, em estudos futuros.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização desta pesquisa, aprovada junto a Comissão de

Ética na Experimentação em Animais da Universidade Federal de Goiás

(Processo nº 235/2011), foram utilizados cinco animais adultos (duas fêmeas e

três machos) cedidos pela Unidade Goiana do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/GO) (Licença nº

98/2011).

Três dos cinco animais utilizados foram eutanasiados com autorização

do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) (SISBIO

nº 26278-2), seguindo as orientações da Resolução nº 714, de 20 de junho de

2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, 2002), a qual

normatiza a eutanásia de animais silvestres de vida livre e de zoológico. Para

tanto, foram utilizados uma associação de tiletamina/zolazepam (10 mg/Kg - IM)

para a contenção química e indução anestésica, seguida de administração de

tiopental (12,5 mg/kg - IV) para atingir o plano anestésico, após o qual, foi

mantida a administração deste anestésico geral injetável a 2,5% (IV) até o óbito

por sobrecarga anestésica.

Os animais foram fixados com solução de formaldeído a 10%, por

meio de perfusão via artéria carótida comum, injeção nas grandes cavidades e

infiltração das grandes massas musculares. Após 24 horas foram imersos em

cubas com solução de formaldeído a 10%, nas quais permaneceram por pelo

menos 72 horas antes do início das dissecações. Após o início destas, os

animais foram mantidos em cubas com solução de álcool etílico 92,8º GL.

As dissecações dos músculos foram realizadas em ambos os

antímeros, utilizando-se lupa modelo DEKEL TL 1020, com iluminação e

capacidade de ampliação de cinco vezes, sendo os achados registrados e

Page 74: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

60

fotografados com câmera fotográfica digital Cyber-shot®, Sony; 7,2 megapixels.

A terminologia empregada baseou-se na nomenclatura anatômica

veterinária, utilizada em animais domésticos e regida pelo International

Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012).

As ações de cada músculo foram inferidas a partir da análise conjunta

da origem, inserção, disposição dos feixes musculares e sintopia do ventre

muscular com os ossos e articulações a ele associados.

Considerando que os quatis são da mesma Subordem dos canídeos,

os resultados deste estudo foram comparados principalmente com aqueles

encontrados nos cães domésticos (Canis lupus familiaris), utilizados como

espécie de referência. Os gatos domésticos (Felis catus) e os leopardos

nebulosos (Neofelis nebulosa), representando os felídeos, assim como os mãos-

peladas (Procyon cancrivorus), outra espécie de procionídeo, também foram

utilizados na comparação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Grupo medial

Getty (1986) considera os músculos grácil, pectíneo, obturador

externo e os músculos adutores, como os integrantes da musculatura medial da

coxa nos carnívoros domésticos. Nos quatis, os mesmos músculos estão

presentes, embora os músculos adutores apresentem diferenças em relação aos

dos cães, tanto no número de ventres musculares, quanto ao seu arranjo.

Apesar de Santos et al. (2010) não encontrarem diferenças

anatômicas significativas entre os músculos do membro torácico dos quatis e

dos cães domésticos, e de Pereira et al. (2010) terem verificado apenas uma

diferença significativa entre os músculos da coxa do mão-pelada e do cão, no

presente estudo foram detectadas várias e significativas diferenças anatômicas

entre os músculos mediais da coxa dos quatis e dos cães domésticos, sendo

Page 75: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

61

que várias delas, remetem à anatomia dos felídeos.

Músculo grácil

O músculo grácil possui um ventre plano e longo, situado

superficialmente na metade caudal da face medial da coxa e terço proximal,

aproximadamente, da face medial da perna (figura 1A). De forma geral, segue o

padrão dos cães (GETTY, 1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005; EVANS; DE

LAHUNTA, 2013) e gatos domésticos (GETTY, 1986), assim como o dos mãos-

peladas, embora nestes, o músculo pareça mais estreito, conforme ilustrado por

Pereira et al. (2010).

Sua origem encontra-se no tendão sinfisial, ao longo de toda a sínfise

pélvica, sob a forma de uma delgada aponeurose, que prolonga-se distalmente a

curta distância, aderida à porção mais proximal dos músculos adutores curto e

magno. A origem continua, por meio de uma delicada aponeurose, pela metade

medial, aproximadamente, da borda cranial do púbis (pécten) e ainda no arco

isquiático, nas proximidades da sínfise pélvica (figura 2A).

Figura 1. Aspecto medial do membro pélvico direito de quati (Nasua nasua). A- musculatura superficial; B- musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos músculos sartório e grácil. Legenda: AC, m. adutor curto; AL, m. adutor longo; AM, m. adutor magno; GR, m. grácil; GR - ti, tendão de inserção do m. grácil; PE, m. pectíneo; RF, m. reto femoral; SA, m. sartório; SM, m. semimembranoso; ST, m. semitendinoso; ST- ti, tendão de inserção do m. semitendinoso; VL, m. vasto lateral; VM, m. vasto medial.

Page 76: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

62

Nos cães, sua origem também é aponeurótica (GETTY, 1986;

BUDRAS et al., 2007), porém restringe-se ao tendão sinfisial (GETTY, 1986;

EVANS; DE LAHUNTA, 1994; SCHALLER, 1999; BUDRAS et al., 2007), assim

como nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010). Nos gatos e leopardos

nebulosos, a origem restringe-se ainda mais, situando-se no terço caudal da

sínfise pélvica (CARLON; HUBBARD, 2012).

Por meio de um tendão plano, o m. grácil insere-se medialmente e

próximo ao terceiro quarto distal da borda cranial da tíbia, chegando a atingi-la,

às vezes (em 40% dos membros dissecados). Sua inserção situa-se logo distal à

inserção do m. sartório, com a qual torna-se contínua antes de inserir-se no

osso, já que as extremidades distais desses dois músculos fundem suas bordas

de contato (figura 1A). A parte distal da borda caudal encontra-se conectada à

fáscia crural e curva-se bastante, estreitando bem o ventre muscular antes de o

músculo inserir-se (figura 1A).

Figura 2. Representação esquemática do osso coxal e fêmur de quati (Nasua nasua). A- Aspecto lateral do osso coxal esquerdo: representação das origens dos músculos mediais da coxa; B- Aspecto caudal do fêmur direito: representação das inserções dos músculos mediais da coxa. Legenda: AC, m. adutor curto; AL, m. adutor longo; AM, m. adutor magno; GR, m. grácil; OE, m. obturador externo; PE; m. pectíneo; TT, terceiro trocânter.

Page 77: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

63

Nos cães, entretanto, sua inserção é aponeurótica (NICKEL et al.,

1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013) e passa profundamente em relação à

porção caudal do músculo sartório, para inserir-se ao longo de todo o

comprimento da borda cranial da tíbia (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA,

2013), o que também ocorre nos mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010),

enquanto nos gatos e leopardos nebulosos a inserção restringe-se à parte

proximal da borda cranial da tíbia, situando-se medialmente a ela (CARLON;

HUBBARD, 2012).

O músculo, nos cães, emite uma faixa tendínea, juntamente com

aquela do m. semitendinoso, para o tendão calcanear comum (GETTY, 1986;

NICKEL et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), a qual insere-se na

tuberosidade do calcâneo (EVANS; DE LAHUNTA, 1994; EVANS; DE

LAHUNTA, 2013). Tal situação não é citada por Pereira et al. (2010) nos mãos-

peladas e não ocorre nos gatos (NICKEL et al., 1986), assim como não ocorre

nos quatis.

O m. grácil reveste a borda medial dos grandes músculos adutores

(adutor magno e adutor curto) e a maior parte da face medial do m.

semimembranoso, assim como grande parte do m. semitendinoso (figura 1). De

uma maneira geral, a mesma situação é demonstrada nos cães (EVANS; DE

LAHUNTA, 2013), gatos (GETTY, 1986) e leopardos nebulosos (CARLON;

HUBBARD, 2012), embora nos cães, a parte cranial da superfície medial do m.

adutor (“magno” ou “magno e curto”) fique descoberta (NICKEL et al., 1986;

EVANS; DE LAHUNTA, 2013). A borda cranial do m. grácil relaciona-se

principalmente com a borda caudal do m. sartório.

Nos quatis, a hipótese de ação do m. grácil engloba a adução do

membro pélvico, a extensão do quadril e a flexão do joelho, da mesma forma

que nos cães (EVANS; DE LAHUNTA, 2013). A extensão do tarso, no entanto,

que ocorre nos cães (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), não ocorre

nos quatis, já que nestes não há contribuição do m. grácil na formação do

tendão calcanear comum.

Page 78: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

64

Músculo pectíneo

Este músculo é parcialmente observado na parte proximal da face

medial da coxa, como uma cunha entre os músculos sartório e grácil, apesar de

não entrar em contato com o primeiro (figura 1A). Sua localização, de uma

maneira geral, é a mesma daquela demonstrada nos cães (EVANS; DE

LAHUNTA, 1994; SALOMON et al., 2008), gatos (GETTY, 1986), leopardos

nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012) e mãos-peladas (PEREIRA et al.,

2010).

O ventre do músculo é relativamente pequeno, lembrando um fuso

(figuras 1 e 3B). Sua metade proximal é bem mais volumosa e um pouco

comprimida craniocaudalmente (figura 1B), enquanto sua metade distal é bem

achatada, tornando-se plana (figura 3B e 4A). Nos cães (GETTY, 1986; EVANS;

DE LAHUNTA, 1994) e mãos-peladas (PEREIRA et al., 2010), ele também é

relativamente pequeno e fusiforme, enquanto nos gatos ele é totalmente plano

(NICKEL et al., 1986; RODRIGUES et al., 1989).

Figura 3. Musculatura da coxa de quati (Nasua nasua). A- Aspecto caudal da

coxa direita: musculatura profunda, mostrando o formato dos adutores magno e curto e a relação entre os mesmos; B- Aspecto caudomedial da coxa direita: musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos músculos grácil, semimembranoso, adutor magno e adutor curto, mostrando os músculos pectíneo e adutor longo. A porção mais medial da face caudal do m. adutor longo está sobreposta pelo m. pectíneo. Legenda: AC, m. adutor curto; AL, m. adutor longo; AM, m. adutor magno; BF, m, bíceps femoral; GF, m. gluteofemoral; GR, m. grácil; PE; m. pectíneo; RF, m. reto femoral; SM, m. semimembranoso; ST, m. semitendinoso; VM, m. vasto medial.

Page 79: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

65

Em um plano profundo, o m. pectíneo situa-se entre o m. adutor curto,

caudalmente, e os músculos vasto medial e adutor longo, cranialmente (figura

1B), assemelhando-se ao que ocorre nos cães (exceto pelo m. adutor longo)

(GETTY, 1986). Situa-se medial e caudalmente ao m. adutor longo, sobrepondo

a parte medial da face caudal e quase toda a borda medial deste (figuras 1B, 3B

e 4A). Nos leopardos nebulosos, entretanto, o m. pectíneo situa-se cranialmente

ao m. adutor longo (CARLON; HUBBARD, 2012). O m. pectíneo compõe com

este, uma lâmina muscular que, a princípio, parece ser um único músculo,

tamanha a intimidade entre os mesmos (figuras 1B e 3B).

O músculo origina-se na eminência iliopúbica (figura 2A). Nos gatos,

enquanto Nickel et al. (1986) citam somente uma origem, situada na porção

lateral do pécten do púbis, Rodrigues et al. (1989) mencionam duas cabeças,

uma no tendão pré-púbico e outra na eminência iliopúbica. Nos cães, a origem

pode ocorrer no ligamento púbico cranial e eminência iliopúbica (NICKEL et al.,

1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994) ou no tendão pré-púbico (GETTY, 1986),

sendo esta também a origem do músculo nos mãos-peladas (PEREIRA et al.,

2010).

O músculo insere-se, por meio de um tendão com aspecto de fita

(figuras 3B e 4A), na metade da face caudal do fêmur, aproximadamente (figuras

2B e 3B). A pequena área de inserção encontra-se justaposta medialmente à

inserção do m. adutor curto e distalmente à inserção do m. adutor longo (figuras

2B, 3B e 4A), direcionando-se distomedialmente (figura 2B). Nos gatos (NICKEL

et al., 1986; CARLON; HUBBARD, 2012) e nos leopardos nebulosos (CARLON;

HUBBARD, 2012) a inserção encontra-se mais proximalmente, quase que na

extremidade proximal do fêmur, situando-se na porção mais proximal do lábio

medial da face áspera, distalmente ao trocânter menor. Apesar de nessas duas

espécies a inserção também encontrar-se medialmente à do m. adutor curto,

conforme ilustram Carlon e Hubbard (2012), ela situa-se proximalmente à

inserção do m. adutor longo, e não, distalmente, como nos quatis.

Nos cães, ao contrário, o tendão de inserção é longo (NICKEL et al.,

1986) e, portanto, a inserção é bem mais distal que a dos quatis, podendo

ocorrer no lábio medial da face áspera e face poplítea (NICKEL et al., 1986;

KÖNIG; LIEBICH, 2005) ou ao longo da superfície caudal do terço distal do

Page 80: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

66

fêmur (GETTY, 1986), sendo esta também a área de inserção nos mãos-peladas

(PEREIRA et al., 2010).

O m. pectíneo parece flexionar a articulação do quadril, além de

aduzir e supinar o membro, assim como nos carnívoros domésticos (NICKEL et

al., 1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005).

Músculos adutores

Dependendo da espécie de animal doméstico, podem ser

encontrados até três músculos adutores: o longo, o curto e o magno (NICKEL et

al., 1986).

No cão, Schaller (1999) menciona que frequentemente só um m.

adutor é encontrado, constituído pela fusão dos adutores curto e magno. A

presença de dois adutores nesta espécie, no entanto, é mais comumente

relatada (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005; BUDRAS

et al., 2007; EVANS; DE LAHUNTA, 2013), apesar dos mesmos serem

contraditoriamente designados. Assim, os autores consideram que o magno e o

curto podem encontrar-se fusionados, com o longo sendo o segundo adutor

(GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 2013); ou o magno e o curto podem

apresentar-se separados, com o longo fusionado ao m. pectíneo (NICKEL et al.,

1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005; BUDRAS et al., 2007).

Nos quatis os três músculos adutores podem ser encontrados de

forma individualizada (figuras 1B e 3B). Tal situação, embora diferente daquela

encontrada nos cães, é semelhante à dos gatos domésticos (NICKEL et al.,

1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005; SALOMON et al., 2008; CARLON; HUBBARD,

2012) e leopardos nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012). Os mãos-peladas,

apesar de serem procionídeos, diferenciam-se dos quatis, uma vez que

possuem somente dois músculos adutores, o curto e o magno (PEREIRA et al.,

2010).

Page 81: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

67

Figura 4. A- Aspecto caudal da metade proximal da coxa direita de quati (Nasua

nasua): musculatura profunda com ênfase para a fusão parcial do m. adutor longo com o m. pectíneo; B- Aspecto lateral do membro pélvico direito de quati (Nasua nasua): musculatura profunda da coxa, após rebatimento dos músculos bíceps femoral, semimembranoso, adutores (magno e curto) e quadrado femoral, evidenciando o m. obturador externo e suas relações de vizinhança. Legenda: AC, m. adutor curto; AL, m. adutor longo; AM, m. adutor magno; BF, m, bíceps femoral; G, m. gêmeos; OE, m. obturador externo; PE; m. pectíneo; QF, m. quadrado femoral; SM ca, parte caudal do m. semimembranoso; SM cr, parte cranial do m. semimembranoso; ST, m. semitendinoso; TM, trocanter maior.

Nos quatis, entretanto, diferentes graus de fusão foram observados

entre o m. adutor longo e o m. pectíneo de três (60%) dos cinco animais

dissecados. Assim, enquanto em um dos animais (em ambos os antímeros) a

fusão era estabelecida por uma delgada fileira de feixes musculares dispostos

longitudinalmente entre as partes distais dos ventres dos músculos adutor longo

e pectíneo, em um segundo animal a fusão atingia todo o comprimento dos

músculos (em ambos os antímeros), envolvendo a metade medial (antímero

esquerdo), aproximadamente, ou quase todo (antímero direito) o diâmetro do m.

pectíneo (figura 4A). Em um terceiro animal, enquanto no antímero esquerdo a

fusão envolvia o quarto medial, aproximadamente, de todo o ventre do m.

pectíneo, no antímero direito a fusão englobava todo o ventre deste,

estabelecendo uma fusão completa.

Os achados acima remetem aos relatos de Nickel et al. (1986), König

e Liebich (2005) e Budras et al. (2007), quando afirmam que no cão estes dois

músculos estão fusionados. Contudo, considerando que os músculos adutores

dos quatis seguem o padrão dos felídeos, tudo indica que, do ponto de vista

Page 82: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

68

evolutivo, estes músculos estão se separando nesta espécie, e não o contrário.

O arranjo dos adutores também é diferente entre os quatis e os cães.

Nestes, conforme ilustram Budras et al. (2007) e Evans e De Lahunta (2013), os

adutores dispõe-se de tal forma que, um encontra-se, praticamente, proximal ao

outro. Tal relação é mantida mesmo quando considerada somente a presença

do adutor “magno e curto”, uma vez que neste, enquanto o adutor magno

corresponde à porção distal, o adutor curto equivale à porção proximal do

músculo (SCHALLER, 1999). Nos quatis, os adutores dispõem-se como três

lâminas sobrepostas craniocaudalmente, de forma que o adutor longo é o menor

e mais cranial; o adutor curto é o intermediário, no tamanho e na sequência; e o

adutor magno é o maior e mais caudal dos três (figuras 1B e 3). Estas mesmas

relações, de sobreposição e tamanho, são demonstradas nos leopardos

nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012).

Nos quatis, o conjunto de músculos adutores, como um todo, possui

um formato piramidal (figuras 1B e 3A), assim como nos cães (EVANS; DE

LAHUNTA, 1994). De uma maneira geral, pode-se dizer que nos quatis, este

conjunto encontra-se situado entre o músculo semimembranoso

(caudodistalmente) e a face caudal do fêmur (cranialmente), estendendo-se

proximalmente até a superfície ventral do osso coxal (figura 1B). O conjunto

encontra-se revestido, medialmente, pelos músculos grácil (em maior extensão)

e pectíneo (figuras 1 e 3), e lateralmente, pelo músculo bíceps femoral,

principalmente (figura 3A). Tal localização e sintopia assemelham-se, de uma

forma geral, àquelas demonstradas nos carnívoros domésticos (GETTY, 1986) e

leopardos nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012), embora nestes últimos, o m.

pectíneo situe-se cranialmente ao conjunto de músculos adutores.

O m. adutor longo é, entre os músculos adutores, aquele que menos

avança distalmente, sendo pequeno, plano e com formato de cinta ou triangular

(figuras 3B e 4A). Ao dirigir-se distocaudalmente para atingir a face caudal do

fêmur, ele relaciona-se com parte da metade proximal do m. vasto medial (figura

1B). Nos gatos, apesar de também ser pequeno (SCHALLER, 1999; SALOMON

et al., 2008) e o mais proximal (CARLON; HUBBARD, 2012), o músculo é

fusiforme (SCHALLER, 1999; SALOMON et al., 2008).

Os músculos adutores curto e magno mostram-se como duas lâminas

Page 83: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

69

triangulares, relativamente grandes e robustas, que apresentam uma face cranial

e outra caudal (figura 3A). Seus feixes musculares, de uma maneira geral,

dirigem-se laterodistalmente (figura 3A).

Os músculos adutores originam-se no osso coxal. A origem do

músculo adutor longo situa-se na eminência iliopúbica (figura 2A), lateralmente à

origem do m. pectíneo. Carlon e Hubbard (2012) mencionam que, nos gatos e

leopardos nebulosos, o músculo origina-se de uma pequena área do púbis,

lateral e cranial à sínfise púbica, enquanto Salomon et al. (2008) citam que, nos

gatos, a origem localiza-se ventralmente no ramo cranial do púbis.

A origem do m. adutor curto encontra-se disposta como uma delgada

faixa ao longo de toda a face ventral do ramo cranial do púbis, justaposta ao

pécten (borda cranial), continuando-se ao longo de toda a face ventral do ramo

caudal do púbis, justaposta à sínfise pélvica e atingindo a parte correspondente

do tendão sinfisial. Em oito (80%) dos antímeros, a origem prolongava-se

caudalmente, em extensão variável, pelos dois terços craniais do ramo

isquiático, também justaposta à sínfise e atingindo o tendão sinfisial, até

encontrar a inserção do m. adutor magno (figuras 2A e 4B).

Carlon e Hubbard (2012) citam uma origem menos extensa nos gatos

e leopardos nebulosos, restringindo-a a metade cranial da sínfise púbica. Nickel

et al. (1986) restringem ainda mais a origem nos carnívoros domésticos, citando

que nestes, ela encontra-se no tubérculo púbico ventral. Nos mãos-peladas,

Pereira et al. (2010) relatam a origem no tendão sinfisial, sem precisar, no

entanto, qual porção deste está envolvida.

O músculo adutor magno origina-se na face ventral do ísquio, como

uma delgada faixa paralela e justaposta à sínfise isquiática, atingindo a parte

correspondente do tendão sinfisial. Alonga-se desde o nível da extremidade

caudal da sínfise pélvica até uma extensão variável nos terços médio e cranial

(até toda a extensão) do ramo isquiático (figuras 2A e 4B). Nos carnívoros

domésticos ela é mais extensa, ocorrendo ao longo de todo o comprimento da

sínfise pélvica e do tendão sinfisial (NICKEL et al., 1986). Nos leopardos

nebulosos atinge toda a sínfise pélvica (CARLON; HUBBARD, 2012). Já nos

mãos-peladas, Pereira et al. (2010) citam sua origem a partir do tendão sinfisial,

porém sem precisar a região do mesmo.

Page 84: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

70

Quanto às inserções, as dos músculos adutores encontram-se

dispostas longitudinalmente na face caudal do fêmur, de forma paralela,

decrescendo em extensão, da lateral para a medial (figuras 2B, 3 e 4A). Este

mesmo padrão é encontrado nos gatos domésticos e leopardos nebulosos

(CARLON; HUBBARD, 2012), entretanto nos cães, enquanto a inserção do

maior m. adutor dispõe-se longitudinalmente na face caudal do fêmur, a do

menor situa-se quase que na extremidade proximal deste osso (GETTY, 1986;

EVANS; DE LAHUNTA, 2013).

A inserção do m. adutor longo se dá longitudinalmente na face caudal

(80%) ou superfície caudomedial (20%) do fêmur, desde um nível pouco distal

ao terceiro trocanter, até aproximadamente, ou mesmo, na metade do osso,

medialmente à inserção do m. adutor curto (figuras 2B, 3B e 4A). Aproxima-se

da inserção relatada nos gatos, nos quais encontra-se na face áspera do fêmur

(SALOMON et al., 2008) ou no lábio medial da mesma (SCHALLER, 1999).

Segue também o padrão demonstrado por Carlon e Hubbard (2012) para os

gatos e leopardos nebulosos, tanto no que se refere à localização quanto na

relação com o adutor curto, apesar de no gato ela ser um pouco mais longa e

estender-se um pouco mais distalmente.

O músculo adutor curto insere-se ao longo da face caudal do fêmur,

imediatamente medial ao lábio lateral da face áspera (bem lateralizado nesta

espécie), acompanhando medialmente, de forma paralela e adjacente, a

inserção do m. adutor magno, desde logo distalmente ao terceiro trocanter até

um pouco proximal ao terço distal do osso. Na altura da metade do osso,

aproximadamente, sua inserção começa a espessar-se no sentido distomedial

até alcançar a superfície caudomedial do fêmur, na qual continua distalmente

por uma curta distância, quando então passa a afunilar-se distalmente até

alcançar sua extremidade distal, situada no centro, aproximadamente, da face

caudal do osso (figuras 2B, 3B e 4A). Em três (30%) dos antímeros, a inserção

já iniciava o afunilamento distal, logo que atingia a superfície caudomedial do

fêmur.

Segundo Carlon e Hubbard (2012), nos gatos e leopardos nebulosos

a inserção (também situada medialmente à do m. adutor magno) restringe-se à

porção lateral da metade proximal da face áspera, enquanto Pereira et al. (2010)

Page 85: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

71

relatam que nos mãos-peladas ela ocorre na extremidade distal desta. Neste

sentido, a área de inserção nos quatis aparenta ser mais ampla do que nas

espécies acima referidas, devido principalmente, ao seu espessamento medial.

O m. adutor magno insere-se no fêmur, como uma delgada faixa ao

longo de toda a borda caudolateral (lábio lateral da face áspera), desde

imediatamente distal ao terceiro trocânter até a face poplítea. No terço distal do

osso, entretanto, ela alarga-se alcançando quase o centro da face caudal do

fêmur. A inserção ocupa a metade proximal, aproximadamente, da face poplítea,

onde contorna a origem das cabeças do m. gastrocnêmio. Da face poplítea ela

ascende obliquamente, no sentido proximomedial, buscando a face medial do

terço distal do fêmur, ou até um pouco mais, proximalmente (figura 2B e 3A).

Nos carnívoros domésticos, o músculo insere-se ao longo de todo o

lábio lateral da face áspera do fêmur, assim como na tuberosidade supracondilar

lateral, onde seus feixes também alcançam a face poplítea (NICKEL et al.,

1986). Carlon e Hubbard (2012) relatam que, nos gatos e leopardos nebulosos,

a inserção ocorre ao longo de todo o comprimento da face áspera do fêmur,

enquanto nos mãos-peladas, a inserção é mais restrita, limitando-se ao

epicôndilo medial do fêmur (PEREIRA et al., 2010). Desta forma, nos quatis a

inserção do m. adutor magno aparenta abranger uma área maior do que a das

espécies acima mencionadas.

Aparentemente, nos quatis os músculos adutores aduzem o membro

pélvico e estendem a articulação do quadril, assim como nos carnívoros

domésticos (NICKEL et al., 1986; KÖNIG; LIEBICH, 2005; SALOMON et al.

2008).

Músculo obturador externo

O músculo obturador externo encontra-se associado às faces ventrais

do púbis e do ísquio, obliterando ventralmente o forame obturador. O músculo é

plano e lembra um leque, na medida em que seu ventre tende à forma circular e

possui os feixes convergindo para seu tendão de inserção (figura 4B). Estes

aspectos, assim como sua localização, vão de encontro ao que é relatado e/ou

Page 86: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

72

demonstrado por Getty (1986), Evans e De Lahunta (1994), Budras et al. (2007)

e Evans e De Lahunta (2013), nos cães domésticos.

Sua origem abrange toda a superfície da face ventral do ramo cranial

do púbis, até nas proximidades do pécten do púbis, quando situa-se rente à

origem do m. adutor curto e continua por toda a superfície da face ventral do

ramo caudal do púbis e ramo do ísquio, até nas proximidades da sínfise pélvica,

quando situa-se rente à origem dos músculos adutores curto e magno. Continua

ainda por toda a face ventral da tábua do ísquio (figuras 2A e 4B). Assemelha-se

à demonstrada nos gatos, leopardos nebulosos (CARLON; HUBBARD, 2012) e

cães (EVANS; DE LAHUNTA, 2013), embora se estenda até bem mais próximo

da sínfise pélvica e do pécten do púbis, do que nestas espécies, além de

estender-se mais caudalmente na tábua do ísquio do que nos cães.

O músculo insere-se na fossa trocantérica (figuras 2B e 4B), assim

como nos cães (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986; EVANS; DE LAHUNTA,

1994; SCHALLER, 1999; KÖNIG; LIEBICH, 2005), gatos e leopardos nebulosos

(CARLON; HUBBARD, 2012), por meio de um forte tendão (figura 4B), da

mesma forma que nos carnívoros domésticos (NICKEL et al., 1986).

Sua borda lateral (proximal) relaciona-se com a borda lateral dos

músculos gêmeos. Sua metade proximal, aproximadamente, é coberta pelo m.

quadrado femoral, enquanto a metade distal é revestida, craniocaudalmente,

pelo m. adutor curto, m. adutor magno e a parte cranial do m. semimembranoso

(figura 4B). Já nos cães, o m. obturador externo situa-se profundamente aos

músculos adutores (GETTY, 1986).

O músculo aparenta ser um supinador do membro, assim como nos

cães (GETTY, 1986; EVANS; DE LAHUNTA, 1994; BUDRAS et al. 2007;

EVANS; DE LAHUNTA, 2013).

CONCLUSÕES

O grupo medial da coxa dos quatis é composto pelos músculos grácil,

pectíneo, adutor magno, adutor curto, adutor longo e o obturador externo.

Os músculos grácil, pectíneo e obturador externo seguem o padrão

Page 87: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

73

geral dos cães, embora o m. grácil não contribua para a formação do tendão

calcanear comum. Ao contrário, os músculos adutores diferenciam-se bastante,

seguindo o padrão observado nos felídeos, embora em alguns animais ainda se

observe uma fusão, em grau variado, do m. adutor longo com o m. pectíneo.

Todos os músculos estudados apresentam diferenças quanto à

origem e/ou inserção, quando comparados aos dos cães domésticos.

As diferenças anatômicas encontradas neste grupo muscular, em

relação aos cães, assim como as semelhanças ou aproximações em relação aos

gatos podem estar relacionadas aos hábitos escaladores/trepadores adquiridos

pelos quatis durante seu processo evolutivo.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA), ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

e à Universidade Federal de Goiás.

ABSTRACT: The coati (Nasua nasua) is a mammal of the Carnivora order and

Procyonidae family. This species is present in all Brazilian biomes and is distributed throughout South America, from northern Colombia to northern Argentina, being most common in neotropical forests of this region. Omnivores, they feed mostly on fruits, both on the ground as in trees, which make them important seed dispersers. Their arboreal habits require more strength and mobility of their pelvic limbs than in canids, which they evolutionarily diverged from, but still share the same Suborder. Thus, this study examined the anatomical aspects of the muscles that integrate the medial group of the thigh of coatis, which had its general aspects, location, shape, origin, insertion, syntopy and actions evaluated. Five adult animals (two females and three males) provided by IBAMA-GO (License: 98/2011) were used in this research. They were fixed with 10% formaldehyde solution and dissected after a minimum period of 72 hours. The muscles which comprise the medial group of the thigh of coatis are the gracilis, pectineus, magnus, brevis and longus adductors and external obturator. All muscles show particularities regarding the origin and/or insertion. The gracilis muscle is very broad and does not contribute to the formation of the common calcaneal tendon. The pectineus muscle is inserted on the half of the caudal surface of the femur. The three individual adductors are arranged like three layers that increase craniocaudally, being the adductor brevis positioned between the longus cranially and the magnus caudally. Their insertions are arranged longitudinally and parallel throughout the caudal surface of the femur,

Page 88: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

74

increasing in extension from the medial (adductor longus) toward the lateral (adductor magnus). The abilities acquired by coatis in that diverged from canids, such as the arboreal habits, have been accompanied by anatomical adaptations in this muscle group, with several of them resembling more the pattern found in cats than in dogs. The adaptations are mainly characterized by changes in the origins and/or insertions, size, and in the case of adductor muscles, also in their pattern of individualization and arrangement.

KEYWORDS: Adductors muscles. Carnivore. Pelvic limb. Procyonidae. Wild animals. REFERÊNCIAS

ALVES-COSTA, C. P.; FONSECA, G. A. B.; CHRISTOFARO, C. Variation in the diet of the brown-nosed coati (Nasua nasua) in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy, Lawrence, v. 85, n. 3, p. 478-482, jun. 2004. BARROS, D.; FRENEDOZO, R. C. Uso do habitat, estrutura social e aspectos básicos da etologia de um grupo de quatis (Nasua nasua, Linnaeus, 1766) (carnivora:Procyonidae) em uma área de mata atlântica. In: IX CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL, 9., 2009, São Lourenço. Anais... São Lourenço: Sociedade de Ecologia do Brasil, 2009. p. 1-4. BEISIEGEL, B. M. Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an Atlantic Forest area. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 61, n. 4, p.

689-692, nov. 2001. BUDRAS, K. D.; McCARTHY, P. H.; FRICKE, W.; RICHTER, R. Anatomy of the dog. 15.ed. Hanover: Schlütersche Verlagsgesellschaft mbH & Co., 2007. 218p.

CARLON, B.; HUBBARD, C. Hip and thigh anatomy of the clouded leopard (Neofelis nebulosa) with comparisons to the domestic cat (Felis catus). The Anatomical Record, Philadelphia, v. 295, p.577-589, out. 2012.

COLBERT, E. H.; MORALES, M. Creodonts and Carnivores. In:_______. Evolution of the Vertebrates. 4.ed. New York: Wiley-Liss, 1991. cap. 25, p.1-10. Disponível em: <http://www.mun.ca/biology/scarr/4505_Colbert_&_ Morales_1991.htm>. Acesso em: 12 jan. 2013. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA - CFMV. RESOLUÇÃO Nº 714, DE 20 DE JUNHO DE 2002. Disponível em: < http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resolucao_714.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2013. CUARÓN, A. D.; MORALES, M. A. M.; McFADDEN, K. W.; VALENZUELA, D.; GOMPPER, M. The status of dwarf carnivores on Cozumel Island, Mexico. Biodiversity and Conservation, Dordrecht, v. 13, p. 317-331, dez. 2004.

Page 89: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

75

EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Guia para a dissecção do cão. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1994. 199p. EVANS, H. E.; DE LAHUNTA, A. Miller’s anatomy of the dog. 4.ed. St Louis:

Elsevier Saunders, 2013. 850p. GETTY, R. SISSON/GROSSMAN. Anatomia dos animais domésticos. 6.ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1986. v. 1 e 2, 2000p. GUIMARÃES, F. R.; SADDI, T. M.; CARDOSO, J. R.; ARAÚJO, L. B. M.; ARAÚJO, E. G. Estudo de patógenos de potencial zoonótico em procionídeos. Revista de Patologia Tropical, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 253-269,

jul./set. 2012. INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE. Nomina Anatomica Veterinaria. 5.ed. (revised version).

Columbia: Editorial Committee, 2012. 160p. KÖNIG, H.E.; LIEBICH, H.G. Anatomía de los animales domésticos – aparato locomotor. 2. ed. Madrid: Editorial Medica Panamericana, 2005. 278p.

MORO-RIOS, R.F.; SILVA-PEREIRA, J.E.; SILVA, P.W.; MOURA-BRITTO, M.; PATROCÍNIO, D.N.M. Manual de rastros da fauna paranaense. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2008. 70p. NICKEL, R.; SCHUMMER, A.; SEIFERLE, E.; FREWEIN, J.; WILKENS, H.; WILLE, K.H. The locomotor system of the domestic mammals. Berlin-Hamburg: Verlag Paul Parey, 1986. v.1. 499p. PEREIRA, F. C.; LIMA, V. M.; PEREIRA, K. F. Morfologia dos músculos da coxa de mão-pelada (Procyon cancrivorus) - Cuvier 1798. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 11, n. 4, p. 947-954, out./dez. 2010. RODRIGUES, A.C.; PAI, V.D.; GUAZZELLI FILHO, J. Contribuição ao estudo da anatomia do músculo pectíneo do gato (Felis domestica). Revista Brasileira de Ciências Morfológicas, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 110-113, jul/dez. 1989.

RODRIGUES, A. F. S. F.; DAEMON, E.; MASSARD C. L. Ectoparasites of Nasua nasua (Carnivora, Procyonidae) from an urban forest in Southeastern Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo

Horizonte, v. 58, n. 5, p. 969-971, out. 2006. SALOMON, F.V.; GEYER, H.; GILLE, U. Anatomie für die tiermedizin. 2.ed. Stuttgart: Enke Verlag, 2008. 884p. SANTOS, A. C.; BERTASSOLI, B. M.; OLIVEIRA, V. C.; CARVALHO, A. F.; ROSA, R. A.; MANÇANARES, C. A. F. Morfologia dos músculos do ombro, braço e antebraço do quati (Nasua nasua, Linnaeus 1758). Biotemas,

Page 90: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

76

Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 167-173, set. 2010. SCHALLER, O. Nomenclatura anatômica veterinária ilustrada. 4.ed. São

Paulo: Manole, 1999. 614p. SILVEIRA, L. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas, Goiás. 1999. 125 f. Dissertação (Mestrado em Ciências

Biológicas), Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1999. WILSON, D. E.; REEDER, D. A. M. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3.ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005. 2142p.

Page 91: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

77

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os quatis são animais importantes para a natureza, pois sua ainda

relativa abundância, em diferentes biomas, lhes permite não somente exercer

um importante papel na cadeia alimentar, mas também desempenhar o seu

papel na regeneração das florestas, uma vez que dispersam sementes de

diversas espécies de plantas.

Apesar de membros da ordem Carnivora encontrarem-se distribuídos

por todo o mundo, e de vários destes serem bem conhecidos dos seres

humanos, ainda são encontrados poucos estudos sobre os aspectos

morfológicos das espécies silvestres desta ordem, incluindo os quatis.

Embora pertençam à mesma subordem dos canídeos, os quatis,

diferentemente destes, desenvolveram a capacidade de escalar arbustos e

árvores com grande habilidade, assemelhando-se neste aspecto, aos felídeos.

Tal habilidade aparentemente exige mais potência e versatilidade de seus

membros pélvicos do que aquela observada nos cães e, consequentemente,

uma musculatura mais adaptada para esta tarefa.

O estudo em questão mostrou diversas alterações anatômicas nos

músculos caudais e mediais da coxa dos quatis em relação à dos cães

domésticos, sendo que algumas destas, no entanto, assemelhavam-se ou

aproximavam-se de situações anatômicas relatadas em felídeos.

Tais situações levam a crer na associação entre os hábitos arbóreos

adquiridos e as modificações anatômicas encontradas nos quatis, uma vez que

forma e função são características que se encontram atreladas.

O detalhamento nas descrições possibilitou o conhecimento mais

pormenorizado das estruturas estudadas, gerando uma quantidade maior de

informações que poderão ser utilizadas não somente em favor da espécie em

questão, mas também em comparações futuras com outras espécies de

carnívoros. Desta forma, entende-se que foi dado o melhor aproveitamento

possível ao material biológico utilizado nesta pesquisa, valorizando a sua difícil

aquisição (por tratar-se de animais silvestres) e a eutanásia de alguns animais.

O fato dos quatis ainda serem encontrados com abundância na

natureza nos tranquiliza, pois nos faz ter a expectativa de que os conhecimentos

Page 92: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

78

aqui gerados possam chegar, de fato, a beneficiá-los de alguma maneira, ou que

novos conhecimentos possam ser gerados a partir dessa espécie, o que

infelizmente não podemos mais esperar dos leopardos nebulosos, os quais

foram considerados extintos em 2013. Vale aqui mencionar, no entanto, que o

artigo de CARLON & HUBBARD (2012), relacionado aos músculos do membro

pélvico desta espécie, foi essencial para a identificação dos músculos adutores

dos quatis.

O presente estudo nos revelou um imenso campo para a realização

de pesquisas científicas envolvendo a morfologia dos carnívoros silvestres.

Neste sentido, é nossa pretensão não somente continuar estudando os aspectos

anatômicos dos quatis, utilizando o material biológico já obtido, mas também de

criar linhas de pesquisas que visem investigar os aspectos anatômicos de outras

espécies pertencentes à ordem Carnivora.

Ao final deste trabalho, esperamos ter contribuído para a melhor

compreensão da constituição morfológica do Nasua nasua, assim como ter

gerado informações que possam contribuir com as áreas da miologia, da

anatomia comparada e demais áreas do conhecimento que tenham interfaces

com o tema proposto, como a histologia e a fisiologia, por exemplo.

Page 93: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

79

ANEXOS

Page 94: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

80

Page 95: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

81

Page 96: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

82

Page 97: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

83

Page 98: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

84

Page 99: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

85

Page 100: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

86

Page 101: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

87

Page 102: ASPECTOS ANATÔMICOS DOS MÚSCULOS CAUDAIS E MEDIAIS … · 2016-04-07 · iv Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963a Guimarães, Flávio de Rezende. Aspectos

88