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559 FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE BIRIGUI Alteração de nome aprovado através da Portaria 91/04 de 16/06/2004 Autorizada a funcionar pelo Parecer CEE 1583/87 de 23/10/1987 Rua: Antonio Simões, 04 - Fone/Fax (18) 3649.2200 - CEP 16.200-027 - Birigui - SP VOLUME 01 – NÚMERO 2 – JANEIRO/DEZEMBRO2018 ISSN 2594-9438 As técnicas de contação de histórias: Um caminho para a formação do leitor Márcia Maria Aparecida Alves de SOUSA 1 ([email protected]) Fernanda Amaro da S. VIGNOTTO 2 ([email protected]) Lucimeire Cristina PAVANI 2 ([email protected]) Maria Cristina Bazarin VICENTINE 2 ([email protected]) Marli Aparecida Avanço LIMA 2 ([email protected]) 1 Orientadora Márcia Ap. Alves de Sousa professora Mestra Pela UFMS, professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB). 2 Graduada em Licenciatura de Pedagogia. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB). Data de submissão do ARTIGO DE PESQUISA: 29/08/2018 (02:27PM)

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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE BIRIGUI Alteração de nome aprovado através da Portaria 91/04 de 16/06/2004

Autorizada a funcionar pelo Parecer CEE 1583/87 de 23/10/1987 Rua: Antonio Simões, 04 - Fone/Fax (18) 3649.2200 - CEP 16.200-027 - Birigui - SP

VOLUME 01 – NÚMERO 2 – JANEIRO/DEZEMBRO2018 ISSN 2594-9438

As técnicas de contação de histórias: Um caminho para a formação do leitor

Márcia Maria Aparecida Alves de SOUSA1 ([email protected]) Fernanda Amaro da S. VIGNOTTO2 ([email protected])

Lucimeire Cristina PAVANI2 ([email protected]) Maria Cristina Bazarin VICENTINE2 ([email protected])

Marli Aparecida Avanço LIMA2 ([email protected])

1 Orientadora Márcia Ap. Alves de Sousa professora Mestra Pela UFMS, professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB).

2 Graduada em Licenciatura de Pedagogia. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB).

Data de submissão do ARTIGO DE PESQUISA: 29/08/2018 (02:27PM)

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As técnicas de contação de histórias: Um caminho para a formação do leitor

RESUMO Despertar o interesse pela leitura não constitui uma tarefa fácil. O presente estudo visa mostrar a importância da contação de histórias para a formação de leitores, bem como propor técnicas e caminhos possíveis para o professor contar histórias em suas aulas, assim, o processo ensino e aprendizagem se torna mais significativo para o educando. Desse modo, pretende-se questionar e refletir sobre como a utilização das técnicas e recursos pode influenciar no processo de compreensão do ouvinte e na formação do leitor. Acredita-se que as histórias auxiliam na formação ética e cultural das crianças, assim nota-se a importância de desenvolver habilidades a fim de que seja assegurada uma boa performance durante a narração. Para contar histórias em sala de aula é necessário disposição e capacidade do professor, logo, as técnicas e recursos são ferramentas relevantes, pois assessoram o contador a transmitir a narrativa com maior intensidade, oferece inúmeras possibilidades de exploração e ainda favorece o ouvinte a receber a mensagem com maior amplitude. Cabe ao professor contador obedecer algumas condições e critérios pré-estabelecidos já que esses são pressupostos essenciais para a construção de vínculos com o ouvinte. Para a construção deste trabalho, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em obras de diversos autores, a fim de oferecer ao professor sugestões para a contação de histórias, além de contribuir para a formação de leitores. Palavras-chaves: 1. Contar histórias; 2. Formação de leitores; 3. Técnicas para contação; 4. Recursos.

The techniques of storytelling: A path to the formation of the player

ABSTRACT Awakening interest in reading is not an easy task. The present study aims to show the importance of storytelling for the formation of readers, as well as to propose techniques and possible ways for the teacher to tell stories in their classes, thus, the teaching and learning process becomes more meaningful for the learner. Thus, it is intended to question and reflect on how the use of techniques and resources can influence the process of understanding the listener and the formation of the reader. It is believed that stories help in the ethical and cultural formation of children, so it is important to develop skills in order to ensure a good performance during a narration. In order to tell stories in the classroom, it is necessary the teacher's disposition and capacity, so the techniques and resources are relevant tools, as they advise the accountant to transmit the narrative with greater intensity, it offers innumerable possibilities of exploration and even favors the listener to receive the message. It is up to the teacher to obey some conditions and pre-established criteria since these are essential assumptions for building links with the listener. For the construction of this work, a bibliographical research was carried out in works by several authors, in order to offer the teacher suggestions for storytelling, in addition to contributing to the formation of readers. Key-words: 1 . Telling stories; 2 . T raining of readers; 3 . T echniques for storytelling; 4. Resources.

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INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar a importância de contar histórias para

a formação de leitores, bem como apresentar algumas técnicas para a contação de

histórias.

Nesse sentido, Dohme (2013) afirma que despertar o interesse, prender a

atenção de modo a oferecer cultura e informação com emoção, possibilita o

desenvolvimento de uma formação harmoniosa da cidadania do amanhã.

Segundo Abramovich (2009), é muito importante o “ouvir diversas histórias”

para o desenvolvimento de qualquer criança, sendo esse o início da formação para

tornar-se um leitor, por meio das histórias podem ainda encontrar soluções para

conflitos internos, estimular a criatividade, proporcionar emoção e sentimentos e

uma vasta possibilidade de crescimento e aprendizagem infantil.

Logo, são relevantes o papel do contador de histórias na formação do leitor

e as técnicas utilizadas para contação de histórias, o primeiro porque atua como

modelo, e as técnicas porque auxiliam a contar histórias de forma mais atrativa.

Dessa forma, objetiva-se refletir sobre como a utilização das técnicas de

contação de histórias pode influenciar no processo de compreensão do ouvinte,

bem como contribuir para sua formação.

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RESULTADOS

A importância de contar história para a formação de leitores

Segundo Jolibert (1994), abordar a questão do aprendizado da leitura de uma

forma única e em nível técnico parece ser uma visão fechada do que acontece

quando uma criança aprende a ler, isto é, o ato de ler é um ato complexo, no qual a

compreensão está associada ao cruzamento de vários eixos, ou seja, o leitor

precisa estar atento ao conhecimento do próprio funcionamento do ato de ler, ter

conhecimento linguístico do funcionamento da língua escrita e também não se

esquecer de utilizar a teoria do aprendizado como referência.

Algumas questões que auxiliam na reflexão: O que uma criança aprende?

Quais as relações entre o aprender e o ensinar? Durante o encontro de uma criança

com o escrito, deve ser observado como ocorrem as interações entre adulto, criança

e coletividade, entre outros. Nesse sentido, Jolibert (1994, p.12) afirma: “Por isso é

que não se trata primeiro de um inventário de Técnicas (mesmo que renovadas), mas

sim de uma problemática global”.

Nessa perspectiva, ensinar a ler exige uma busca incessante por estratégias

efetivas e diversificadas (JOLIBERT, 1994).

Jolibert (1994) traz razões fundamentais para colocar em andamento uma

vida cooperativa nas escolas, para que os trabalhos sejam organizados e dirigidos

por todos, adultos e crianças, a fim de que as crianças percebam que existe um

sentido para sua presença na escola. Afinal, é na medida em que se vive num meio

social sobre o qual temos a possibilidade de agir, discutir com os outros, decidir e

realizar que são criadas condições de aprendizagem, referindo-se a todas, inclusive

a da leitura.

Jolibert (1994, p.13, grifo da autora) afirma que: “Nas aulas, ir em busca de

uma vida cooperativa em que são administrados o tempo, o espaço, as regras de

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vida, as atividades e os projetos nos quais são inscritas naturalmente situações de

leitura “para valer”.

Dessa forma, faz-se necessário que sejam promovidas mudanças de atitudes

nas escolas, objetivando parar de infantilizar as crianças e assim subdesenvolvê-las

(JOLIBERT, 1994).

Segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa, em relação

ao ato lexical, chegou-se a conclusão de que ler é atribuir um sentido a algo

escrito, sem necessidade de passar por intermediário, ou seja, a decifração e a

oralização. Para tanto, ler resume-se em questionar algo escrito a partir de uma

expectativa real, a partir de uma demanda social (JOLIBERT, 1994).

Para Jolibert (1994 p.15, grifos da autora):

Ler é ler escritos reais, que vão desde um nome de rua numa placa até um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc., no momento em que se precisa realmente deles numa determinada situação de vida, “para valer” como dizem as crianças. É lendo de verdade, desde o início que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler...

Sendo assim, quando se lê, simplesmente nos tornamos leitores, logo não há

necessidade de decifrar o código escrito primeiro, para poder ler depois (JOLIBERT,

1994).

Jolibert (1994) afirma que não se ensina uma criança a ler, é ela própria que

se ensina a ler, com ajuda do professor, dos colegas, dos pais e de outros leitores.

Cabe à criança vencer seus obstáculos e avançar em suas aprendizagens, que

ocorrem por meio de confrontos e proposições apresentadas pelos responsáveis

pelo seu aprendizado. Dessa forma, ensinar não é apregoar ou pré-digerir, mas sim,

ajudar alguém durante seu processo de aprendizagem.

Segundo Jolibert (1994), é de responsabilidade do professor fazer com que a

aula seja significativa, proporcionar as crianças situações de leitura diversificadas,

fazer com que as crianças interroguem seus escritos à procura de sentido, a partir

de indícios e análise. Ainda ajudar as crianças a esclarecerem suas próprias

estratégias de leitura.

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Jolibert (1994, p.14) afirma que: “Não se ensina uma criança a ler: é ela quem

se ensina a ler com nossa ajuda e a de seus colegas e dos diversos instrumentos da

aula, mas também a dos pais e de todos os leitores encontrados”.

Todavia, percebe-se a necessidade de conduzir a criança, a situações de

leitura diversificadas, mesmo que ela não tenha domínio total sobre o código, com o

auxílio de um leitor mais experiente, a criança poderá ser capaz de ler antes mesmo

de conhecer todas as letras (JOLIBERT, 1994).

Nessa perspectiva, para Marafigo (2012), a leitura introduzida desde cedo tem

o poder de formar bons leitores, uma vez, que a infância é o período mais

adequado para isso. O desejo pela leitura ocorre por meio do contato com os livros,

interação social e também de ouvir histórias. Para tanto, a criança precisa ser

estimulada pelo adulto, que tem o papel de condutor para essa finalidade. Portanto,

para inserir a criança no mundo da leitura o adulto deve ler para ela.

Abramovich (2009, p. 14) afirma, sobre as histórias, que: “[...] escutá-las é o

início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente

infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...]”. Desse modo, ouvir histórias

torna-se um importante subsídio na construção de conceitos e resolução de conflitos

internos, já que a criança se assemelha com os personagens dos contos,

mergulhando profundamente em sentimentos, memórias e imaginações.

A leitura é um comportamento aprendido, portanto cabe ao leitor adulto

mostrar à criança as escritas que circulam socialmente para que elas entendam seu

significado e sua função social (MARAFIGO, 2012).

Nesse sentido, o Referencial Nacional para a Educação Infantil – RCNEI,

(1998) afirma que o contato com as práticas culturais mediadas pela escrita fazem

com que as crianças percebam a diferença entre a fala e a escrita, uma vez que

ambas são requisitos importantes para aprendizagem inicial da leitura.

Entende-se que para a formação de leitores é necessário ir além do

sentimento do desejo, é preciso ter atitude. Sendo assim, é de responsabilidade

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tanto dos docentes quanto da família a busca pelo incentivo à leitura, bem como não

é possível superar uma dificuldade com ações isoladas. A escola tem o papel de

ensinar e a família o de educar, visto que há uma junção cujo objetivo é contribuir

para um trabalho efetivo e eficaz (MARAFIGO, 2012).

Partindo desse pressuposto é importante observar se a escola tem

incentivado as crianças a leitura de uma forma prazerosa, ou se usam a leitura

apenas para o cumprimento dos conteúdos, sem dar aberturas para que as crianças

se aperfeiçoem e sintam prazer em ler e escrever. Como afirma Morais (1991, p.98).

Ler sempre representou uma das ligações mais significativas do ser humano com o mundo. Lendo reflete-se e presentifíca-se na história. O homem, permanentemente realizou a leitura do mundo. Em paredes de caverna ou reconhecendo-se capaz de representação. Certamente, ler é engajamento existencial.

Dessa forma, algumas estratégias de incentivo à leitura devem ser adotadas

tanto pelos docentes, quanto pelas famílias, para que além de formar bons leitores,

sejam promovidas também mudanças sociais (MARAFIGO, 2012).

Maricato (2005), com base na leitura de Soares (2005), apresenta a

importância da leitura na educação infantil já que as crianças lêem muito antes de

serem alfabetizadas, e isso ocorre por meio das observações de figuras, de gestos

de leitura de outros sem haver necessidade de decodificar palavras. As crianças

podem construir uma relação prazerosa com a leitura, desde que sejam oferecidos a

elas alguns requisitos, como o envolvimento em prática que as coloque em condição

de manuseio. O cantinho da leitura, a roda para contação de histórias, brincadeiras

com livros são algumas formas de colocar as crianças em contato com a leitura.

Soares (2005, p.18) afirma que: “É preciso desmanchar essa ideia do livro

como objeto sagrado; é sagrado sim, mas para estar nas mãos das pessoas, ser

manipulado pelas crianças”.

Sendo assim, o professor deve organizar um local aconchegante, que

contenha uma diversidade de livros para que as crianças possam manuseá-los,

tanto em momentos organizados ou espontâneos. A escola poderá ainda criar

projetos de leitura envolvendo as famílias das crianças, favorecendo o interesse

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pela leitura, a fim de contribuir com um sentido mais amplo e prazeroso para a

criança, já que a leitura é um ato social e cultural (RCNEI, 1998).

- Algumas técnicas e critérios que poderão auxiliar no ato de contar

histórias

Abramovich (2009) ressalta a importância de a criança ouvir histórias em

qualquer idade, a fim de encontrar sugestões para solucionar questões internas. Ao

ouvir histórias, a criança tem a possibilidade de conhecer outros lugares, tempos,

outras culturas, bem como um universo de valores, enfim fazem inúmeras

descobertas, além disso, as narrativas contribuem para o desenvolvimento de

sentimentos importantes como: raiva, medo, irritação, tristeza, o bem-estar, alegria, o

pavor, a insegurança, a tranquilidade, dentre outros. Segundo Abramovich (2009,

p.14-15, grifo da autora).

É ATRAVÉS DUMA HISTÓRIA QUE SE PODEM DESCOBRIR OUTROS LUGARES, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... Porque se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e passa a ser didática, que é outro departamento (não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo).

Desse modo, contar histórias, além de nos transportar a outros mundos,

também nos traz conhecimentos. De acordo com Coelho (1999, p. 12).

Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem – “se ficarem quietos, conto uma história”, “se isso”, “se aquilo...” – quando o inverso é o que funciona. A história aquieta serena, prende a atenção, informa, socializa, educa.

Nesse sentido, ouvir e contar histórias despertam sentimentos e

conhecimentos, além de influenciar a criança a adquirir maior estabilidade para

enfrentar conflitos comuns ao seu meio como afirma Dohme (2013):

Por meio dos exemplos contidos nas histórias, as crianças adquirem maior vivência. O contato com os impulsos emocionais, as reações e os instintos comuns aos seres humanos e o reconhecimento dos fatos e efeitos causados por estes impulsos são exemplos de vida. (DOHME, 2013, p. 18)

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Constata-se, por meio das asserções de Abramovich (2009), Coelho (1999) e

Dohme (2013) que a história leva a criança ao mundo da imaginação, possibilitando

uma aprendizagem de forma prazerosa e espontânea, sem a necessidade de um

caráter didático.

Vale ressaltar que as histórias são capazes de promover na criança diversos

valores afetivos como: honestidade, alegria, amor, compartilhar, coragem, justiça,

respeito, lealdade, tolerância, entre outros. É necessário ainda enfatizar os valores

cognitivos como: o caráter, o raciocínio, a imaginação, criatividade, o senso crítico e

disciplina, entre outros essenciais para a formação de um cidadão consciente

(DOHME, 2013).

Nesse contexto, as fantasias provocadas pelas histórias, além de ser um

simples ato de passar o tempo, acabam se tornando uma importante ferramenta para

ajudar na formação da personalidade, na medida em que possibilitam fazer

conjunturas, combinações, visualizações, isto é, as crianças absorvem conteúdos

que as histórias difundem, com isso adquirem vivências e referências para montar

seus próprios valores. De acordo com Dhome (2013, p.19):

As histórias atuam como ferramentas de grande valia na construção desse senso crítico, porque por meio delas os alunos tomam conhecimento de situações alheias a sua realidade uma vez que podem “navegar” em diferentes culturas, classes sociais, raças e costumes.

Sendo assim, quando a criança se apropria dos valores contidos em uma

história ela tem capacidade de identificar aqueles que são essenciais para a sua

formação (DOHME, 2013).

A importância de saber contar histórias parece não ser reconhecida por alguns

contadores, no entanto, Abramovich (2009) afirma que é relevante saber como se faz

para contar uma história. Ao narrar uma história, deve-se transmitir ao ouvinte,

emoção e confiança, o contador precisa demonstrar que está familiarizado com o

texto, estar atento à pontuação, pausas e ainda perceber como o autor vai

construindo as frases e as palavras, assim, quando surgirem situações adversas,

saberá como lidar. Após o cumprimento desses critérios, ele estará preparado para se

arriscar a fazer variações sobre o tema, já que os tem memorizado.

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Vale ressaltar que, antes de iniciar a narrativa, algumas vezes, faz-se

necessário estabelecer uma breve conversa, a qual poderá facilitar o entendimento

do enredo, somente o suficiente para que as crianças se predisponham a ouvir a

história, promovendo assim mais facilidade de identificar-se e integrar-se com a

mensagem (COELHO, 1999)

Abramovich (2009, p.15) afirma que: “Contar histórias é uma arte... e tão

linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem

remotamente declamação ou teatro...... Ela é o uso simples e harmônico da voz”

Nesse sentido, tão importante quanto o critério de seleção do livro, é que o

contador conheça bem seus ouvintes, para que as histórias estabeleçam vínculos

com os momentos em que estão passando, assim estará aproveitando o texto como

um referencial que ajudará na resolução de conflitos inter e intrapessoais

(ABRAMOVICH, 2009).

Ao considerar a contação de histórias como portadora de significados, ela

não restringe seu papel ao entendimento. Logo, Dohme (2013, p.40) assevera que,

para falar em público, mesmo que seja em situações informais, deve-se levar em

consideração a importância da voz, ou seja, não se usa a voz da mesma forma que

em uma conversa entre duas ou mais pessoas, afinal a voz está sendo usada para a

comunicação. Portanto, dicção, volume, velocidade, tonalidade e vocabulário são

elementos fundamentais para a boa compreensão de uma história.

A dicção é frequentemente culpada quando uma mensagem é recebida de forma truncada, porque a não compreensão de uma palavra pode levar a não compreensão de toda a frase, e não entender uma frase pode prejudicar o entendimento de toda a história. (DOHME, 2013, p. 40).

Desse modo, deve-se ter consciência de que a voz é um importante

instrumento do narrador, para saber usá-la é necessário treino e dedicação (DOHME

2013).

Nesse sentido, Busatto (2012) afirma que a técnica de contar histórias para

um grupo grande de crianças se difere de um grupo pequeno, ou seja, o volume da

voz deve ser ampliado, a energia deverá atingir a todos simultaneamente, cabe

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ainda salientar que não é possível individualizar a narrativa escolhendo um conto

que atinja todas as crianças, mas o contador deve ficar atento e perceber o que

mobiliza o grupo, propor um conto que possa atuar no conjunto, torcer para que

cada criança consiga retirar do conto o que necessita naquele momento.

Seja narrando para uma ou várias crianças é fundamental que se conte com o coração e, se falo desse segredo como primeiro da lista, é por considerá-lo premissa máxima para que o narrador tenha sucesso na sua proposta. (BUSATTO, 2012, p.47)

Busatto (2012) afirma que, se desejamos que a narrativa atinja toda sua

potencialidade é necessário narrar com o coração, pois primeiro o conto deve

sensibilizar o narrador e em seguida o ouvinte, não importa se vai narrar para uma

ou mais crianças, o envolvimento afetivo com a história narrada possibilita maior

entrosamento ao narrador, além disso, o narrador terá maior visão da compreensão

dos ouvintes, e assim terá condições de conduzir a narrativa alcançando as

demandas. Sendo assim, Busatto (2012, p. 47-48) afirma que:

Antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar o contador. A maneira como enxergamos o conto será a mesma maneira com que o outroirá vê-lo. Se o considerarmos uma mera distração e entretenimento, será assim que ele irá soar; porém, se acreditarmos que ele pode ser uma pequena luz lançada no nosso caminho, ele será ouvido como tal.

Desse modo, entende-se que contar com o coração é acreditar numa

educação onde também está presente o afeto visando não somente o conhecimento

formal, mas o desenvolvimento do ser humano em sua plenitude (BUSATTO 2012).

Já que estamos diante de uma experiência coletiva a autora salienta que o

contador deve ter em mãos boas traduções, descarte os livros que trazem versões

simplificadas e pobre em imagens verbais, porque são as imagens que nos

aproximam dos personagens e ao seu estado de ânimo, como afirma Busatto (2012,

p. 55):

Esta é uma das características mais marcante do conto: ter seu texto sustentado por imagens que estimulam o imaginário, o qual vai construindo todo um contexto, a partir das formas, cores, sons e sensações presente no seu corpo.

Portanto, parece-nos que a imagem é capaz de reativar o imaginário e de se

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enriquecer com novas imagens. (BUSATTO, 2012)

Por isso se faz necessário que evidencie quanto ao papel de cada elemento

contido no texto para não deturbar suas verdadeiras intenções. Nesse sentido, é

preciso fazer um estudo de cada conto a ser narrado, porque cada texto possui uma

mensagem que nem sempre está explícita, já que diversas vezes encontramos

significações nas entrelinhas do texto. (BUSATTO, 2012)

Para que a narrativa seja viva é preciso que você também esteja vivo. Perceba cada passagem do texto, sinta-o como se fosse parte de você, como aquelas vivências fossem também suas. Ouça a sua voz. Isso irá contagiar o ouvinte. Não dá para almejar que um conto envolva as pessoas, se não estivermos de bom grado com ele, narrando cada detalhe com a intenção que lhe é própria, afinal as palavras podem comportar muito mais que o seu estrito significado. BUSATO (2012, p. 62)

Assim, constatamos que o grande desafio está em antes de narrar um conto

é tê-lo memorizado (Busatto, 2012).

Nesta perspectiva, existe a necessidade de o contador conhecer o público

envolvido, sendo que este possui características específicas que devem ser

consideradas, como destaca Coelho (1999, p.14); “Dentre os vários indicadores que

nos orientam na seleção da história, destaca-se o conhecimento dos interesses

predominantes em cada faixa etária”.

Apresenta-se na tabela a seguir, algumas orientações de Coelho (1999)

referentes à escolha da história de acordo com a faixa etária e interesses da

criança, sendo essas relevantes para o contador de histórias:

Tabela I – Faixa Etária e Interesses

Pré-escolares

até 3 anos: fase pré- mágica

3 a 6 anos: fase mágica

histórias de bichinhos, brinquedos, obje-tos, seres da natureza (humanizada)

histórias de crianças

histórias de repetição e acumulativas

(Dona Baratinha, A formiguinha e a neve etc.)

histórias de fadas

7 anos

histórias de crianças, animais e encan-tamento

aventuras no ambiente próximo: família, comunidade

histórias de fadas

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Escolares

8 anos

histórias de fadas com enredo mais ela-borado

histórias humorísticas

9 anos

histórias de fadas

histórias vinculadas à realidade

10 anos em diante

aventuras, narrativas de viagens, explo-rações, invenções

fábulas, mitos e lendas

(COELHO, 1999, p.15)

A tabela, apresentada acima, além de esclarecer algumas dúvidas, direciona

o contador para a escolha da história adequada para cada fase, porém, vale

ressaltar que Coelho (1999, p.16) afirma que: “Evidentemente, não há rigidez nessa

classificação, pois cada criança cresce com seu ritmo próprio”.

Segundo Dohme (2013), após a escolha da história escrita, é importante se

aprofundar buscando recursos disponíveis sobre outras formas de reprodução

(audiovisual, por exemplo), pesquisando-a a fundo, pois é essencial conhecê-la para

preparar a narração, fazer adaptações, escolher recursos auxiliares e a técnica mais

conveniente a ser utilizada, pois, segundo Dohme (2013, p.26): “Para estudar uma

história é preciso, em primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a mensagem que nela

está implícita e, em seguida, após algumas leituras, identificar seus elementos”.

Sendo assim, é importante o contador levar em consideração os elementos

influenciadores da trama. São eles: o enredo, personagens, ambiente, cenários,

mensagem e conteúdo educacional, e também as fases da história: introdução,

enredo, ponto culminante e o desfecho (DOHME, 2013).

A identificação desses elementos norteará o contador possibilitando usufruir

de pontos essenciais na história, sendo fundamental para a exploração na contação

(DOHME, 2013).

Faz-se necessário, que o narrador conheça bem os elementos pertencentes

da história para verificar se todos os requisitos combinam entre si, no entanto, o

essencial deve ser rigorosamente respeitado, porém, os detalhes se necessário,

poderá fazer variações e adaptações, assim como escolher recursos e estratégias

que poderão ser utilizados. Dohme (2013, p.27) afirma: “Se a versão original não

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satisfizer todos os requisitos, caberá ao narrador complementá-la com alguma

pesquisa ou mesmo com a sua imaginação”.

Frequentemente, é relevante que a história seja apresentada na integra ao

público, embora algumas vezes é imprescindível realizar mudanças ou alterações

no texto de acordo com necessidades esporádicas, devendo alcançar seu objetivo,

eis que se for muito extensa e detalhada, não prenderá a atenção do ouvinte e se

for muito breve e sucinta não estimulará a imaginação, como afirma Dohme (2013,

p.30):

Pode acontecer que uma história tenha no seu enredo um excelente potencial para desenvolver determinado aspecto educacional ou valor ético, mas este não está claro na versão que temos à mão. À medida em que vamos estudando, isto irá aparecer e começa-se a visualizar a importância de reforçá-lo na narração que faremos. Assim, será lícito e desejável fazer a adaptação incluindo elementos capazes de enriquecer este aspecto, a fim de torná-lo mais evidente.

Sendo assim, vale ressaltar que uma história quando não evidencia sua

mensagem principal, cabe ao contador criar estratégias e técnicas com o objetivo de

enfatizar a narrativa a fim de revelar o objetivo da história (DOHME, 2013).

É relevante que o contador aproprie-se de uma ficha descritiva, de modo que

a mesma o auxiliará para saber de toda trama, tendo com clareza na mente o

esquema geral da história que será contada, ou seja, identificar os elementos

contidos na história anotar as características das personagens e também fazer

relatos breves de coisas que poderiam ser esquecidas. O ideal é que o contador

esteja bem preparado para a narração, no entanto, se isso não for possível poderá

recorrer a este recurso (DOHME, 2013).

No bojo do estudo de uma história fica mais fácil visualizar que tipo de

interação se pode ter com as crianças, bem como que atividades podem ser

aplicadas após a apresentação, valorizando e potencializando os efeitos da

história. Estas ideias devem ser registradas na ficha descritiva. Isto facilitará

a tarefa de desenvolvimento de atividades na oportunidade em que a história

for aplicada (DOHME, 2013, p. 30).

A ficha descritiva é eficaz para a compreensão do contador, a qual abrange

vários elementos, como, por exemplo: introdução, enredo, ponto culminante,

desfecho, mensagem transmitida pela história, conteúdo acessório, valores

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trabalhados na história, em que intensidade os objetivos educacionais são atingidos,

narração simples, recursos auxiliares adequados a essa história, interação possível

com os ouvintes e jogos, dinâmicas ou trabalhos manuais que podem ser utilizados

antes ou depois da narração. O contador após registrar e arquivar as observações

feitas durante o estudo da história terá em mãos um importante instrumento de

pesquisa que vai nortear seu trabalho (DOHME, 2013).

Portanto, constatamos que para a contação de histórias exigem-se técnicas

para o contador que, antes de tudo, deve memorizar a história a ser contada, utilize

melhor a voz, a expressão corporal, estimule a imaginação e conheça melhor o

ouvinte de acordo com sua faixa etária. Assim, as técnicas são essenciais para a

contação de histórias, a transmitir ao ouvinte valores, sentimentos, bem-estar,

encantamento, bem como contribuem para formação dos leitores (COELHO, 1999).

- Os caminhos para a contação de histórias

Contar histórias é saber criar um ambiente de encantamento que permite aos

ouvintes viajarem no maravilhoso mundo da fantasia, despertando suspense e até

mesmo surpresas, o enredo e os personagens ganham vida, assim o uso de

recursos fará com que o ouvinte vivencie estas emoções. Dohme (2013, p.48)

afirma:

[...] existe uma série de recursos que permitem às crianças viajarem no maravilhoso mundo da fantasia, reservado, em sua magnitude, exclusivamente a elas. Para nós, adultos, resta a oportunidade, quase um dever, de transportá-las a estas emoções.

Ainda para Coelho (1999), contar história é uma arte que possui segredos e

técnicas, que requerem certa vocação natural, porém, para se apropriar dessa arte,

esse talento pode ser desenvolvido, aliás, essa é uma habilidade possível de

florescer em todo educador, e em toda pessoa que se propõe a lidar com crianças.

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Dessa forma, o contador poderá utilizar diversas técnicas como suporte,

seguem alguns exemplos, conforme Dohme (2013).

Usar o próprio livro, apontando as figuras no momento da narração po-

de ser uma boa sugestão, já que durante a contação o narrador cria um elo entre

ouvinte e livro.

Fantoches; são bonecos movimentados pelas mãos, no qual se utiliza

a voz do operador e ainda podem ser usados de forma interativa com as crianças,

elas mesmos manuseando-os. Vale lembrar que esse recurso é indicado para histó-

rias de média complexidade, bem como o público envolvido deve ser composto por

poucas crianças a fim de que todas visualizem a narração.

Teatro de sombras: consiste na projeção de figuras em uma superfície

opaca, as sombras dessas figuras é que ilustram a narração, as crianças ainda po-

dem participar da apresentação junto com os adultos fazendo silhuetas. Durante a

apresentação, a música os efeitos especiais ajudam a enriquecer a narração, pro-

porcionando uma boa interação com o público.

Dobradura: é uma arte representada por diversas figuras na qual os

personagens são feitos de papel, essa técnica geralmente é utilizada somente por

uma pessoa, poderá ser confeccionada durante a apresentação conforme a habilida-

de do narrador.

Maquete: são objetos feitos com uma grande diversidade de materiais,

tem a capacidade de representar diversas estruturas físicas, geralmente são peque-

nas, o que torna sua confecção simples e econômica, é um recurso rico visualmen-

te, dispensando qualquer outro tipo de recurso.

Bocões: são bonecos grandes que ficam sentados no colo do narra-

dor, e os operadores ficam sentados em uma cadeira. Esse recurso é adequado pa-

ra um enredo simples, tem a capacidade de encantar o público com o seu efeito con-

tagiante fazendo com que se esqueçam do narrador.

Marionetes: são bonecos movimentados por fios amarrados nos

pés, mãos e cabeça, seus operadores ficam sempre atrás do palco. A história é

contada por meio dos personagens. É adequado para histórias de média com-

plexidade, permitindo o uso de música e efeitos sonoros diversos.

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Dedoches: são pequenos fantoches utilizados nos dedos, são utiliza-

dos pelos narradores e também podem ser utilizados pelas próprias crianças, en-

tretanto a desvantagem é que não podem ser apresentados para uma plateia muito

grande.

Nesse contexto, Dohme (2013, p. 50) assegura que: “[...] há fichas descritivas

que dão maiores detalhes sobre a utilização de diversas técnicas. A análise destas

fichas associadas às fichas descritivas de cada história auxiliará na escolha da

técnica mais adequada [...]”.

Vale lembrar que, para o manuseio dos recursos apresentados, serão

necessárias algumas habilidades do contador, como uma boa dicção, a entonação e

o volume de voz, boa coordenação motora e interpretação. Portanto, o contador

deve estar atento para a utilização do recurso mais adequado para cada história, já

que as histórias possuem características diferentes. (DOHME, 2013).

Para Coelho (1999), a história não deve ser decorada textualmente, é

necessário, em primeiro lugar, captar a mensagem que está implícita e identificar os

elementos essenciais que constituem sua estrutura. Ademais, é relevante escolher

a melhor forma e/ou recurso mais adequado para apresentá-la, atentando-se as

requeridas técnicas para a contação. Desse modo, Coelho (1999, p.40) afirma:

“cada recurso, portanto, é valioso em sua peculiaridade, permitindo variar a

apresentação e recriar o modo original”. Coelho (1999) assevera que:

Os recursos mais utilizados são: a simples narrativa, a narrativa com auxílio do livro, o uso de gravuras, de flanelógrafo, de desenhos e a narrativa com interferências do narrador e dos ouvintes. Cada recurso tem suas vantagens e requer uma técnica especial. (COELHO, 1999, p.31).

Vale ressaltar que cada recurso tem suas vantagens e possui uma técnica

para colocá-lo em prática (COELHO, 1999).

Sobre a simples narrativa, Coelho (1999) afirma ser esse o recurso mais

atraente, mesmo sendo o mais antigo e tradicional método, acompanhado pela

autêntica expressão do contador de histórias, sem necessitar de acessórios, é

procedida por meio da voz, da postura do narrador que, estando esse de mãos

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livres, concentra-se plenamente na expressão corporal. Dessa forma, Coelho (1999,

p.32) afirma que: “É a maneira ideal para contar uma história e a que mais contribui

para estimular a criatividade".

No entanto, o contador não deverá utilizar de material ilustrativo nesse caso,

já que referido material poderá desviar a atenção do ouvinte, sendo que, nesse

caso, o mais relevante é que o espectador se valha da própria imaginação

(COELHO, 1999).

Ao mencionar o livro como recurso na narrativa, Coelho (1999) salienta que

é viável em muitas situações, principalmente nos casos em que as ilustrações

servem de complemento para o texto verbal e também quando as imagens forem tão

ricas a ponto de auxiliarem a compreensão da narração. É importante ressaltar que

narrar com o livro não significa que temos que ler a história, o narrador deverá já ter

se apropriado do conteúdo e contar com suas próprias palavras.

Será impossível relacionar aqui todos os livros que, pela beleza do tema e integração gráfica, devem ser mostrados durante a narrativa. Essa apresentação, além de incentivar o gosto pela leitura (mesmo no caso dos ainda não alfabetizados), contribui para desenvolver a sequência lógica do pensamento infantil (Coelho, 1999 p. 33).

Sendo assim, observa-se que ao utilizar o próprio livro durante a narração, o

narrador estará contribuindo para o sentido do texto, bem como estimulando a

imaginação do ouvinte. Além disso, pode-se afirmar que uma das grandes

vantagens do livro é permitir que seja feita uma nova abordagem, isto é, por meio de

uma conversa pode ser explorado outra linha de valores (COELHO, 1999).

Coelho (1999) afirma que o desenho também pode ser um bom recurso, o

narrador poderá contar a história desenhando traços dos personagens em quadro

de giz, ou na falta desse em papel de metro, também pode fazer interrupções

durante a narração convidando as crianças para participar por meio de desenhos

elaborados por elas, assim as crianças tem a oportunidade de se expressar com

espontaneidade, fazendo com que figuras simples se transforme em ideias

brilhantes, bastam alguns traçados para ganhar muitas formas. Entretanto, é

importante ressaltar que este recurso é indicado para ser utilizado em situações de

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histórias com poucos personagens e traços rápidos. Coelho (1999 p. 43) afirma

que: “É bom lembrar que simplesmente ler o que estou escrevendo não permite

avaliar o real alcance dessa atividade. Só experimentando na prática”.

Contudo, é relevante a participação das crianças durante uma narração, pois

além de ser uma maneira delas não se dispersarem ainda favorece a criatividade e

imaginação (COELHO, 1999).

Quanto ao uso de gravuras, segundo Coelho (1999), é aconselhável nos

seguintes casos: se o livro possuir formato pequeno, quando as ilustrações

antecipam ou quando não correspondem com o texto, ou seja, quando

impossibilitam o uso do livro ou da revista como recurso ilustrativo. Vale destacar

que as imagens indispensáveis podem ser ampliadas, sendo também possível

preparar o material mediante colagem, sendo essas visíveis para um grupo razoável

de ouvintes, visto que além de promover um visual bonito, deve-se também

considerar sempre os elementos essenciais da história (COELHO, 1999).

Segundo Coelho (1999 p. 39):

As gravuras favorecem, sobretudo, as crianças pequenas, permitem que elas observem detalhes e contribuem para a organização de seu pensamento. Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da ideia central, fatos principais, fatos secundários, etc.

Desse modo, o uso das gravuras deverá ser realizado com naturalidade, antes

da narração separando-as, assim, o narrador as utilizará conforme irá contando a

história, substituindo e fazendo as trocas naturalmente, efetivando a narrativa com

fluência (COELHO, 1999).

Coelho (1999) afirma que saber escolher o recurso é fundamental, as formas

de apresentação devem estar relacionadas com o local e com as circunstâncias nas

quais forem apresentadas, pois cada apresentação corresponde a determinados

objetivos.

Paralelamente, Dohme (2013) afirma que os recursos podem ser aplicados

genericamente a qualquer história que o leitor deseja, entretanto é preciso levar em

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conta a sua correlação com uma história específica para facilitar a compreensão. O

narrador pode até usar somente os seus próprios recursos para dar vida a uma

história, porém, para isso, ele precisa conhecer profundamente a história e estar

preparado, e ainda se dispor a interpretá-la, porque essa é a única forma de

suscitar emoções, ter a melhor audiência, e fazer com que sua plateia sinta as

emoções descritas como se as tivessem vivido.

Portanto, nota-se que para ambas as autoras, está implícita a relevância dos

recursos para a contação de histórias, além de auxiliarem o contador durante a

narração, também contribuem para o desenvolvimento cognitivo da criança.

Desse modo, defende-se o uso de recursos durante a narração. Afirma-se que

os recursos se forem usados de forma adequada e criativa, além de enriquecer a

história ainda despertam a imaginação do ouvinte.

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CONCLUSÃO

Ao longo desta pesquisa foi discutido como as técnicas de contação de

histórias influenciam na formação de leitores. Refletiu-se sobre a importância de

contar histórias para as crianças desde cedo a fim de que seja construída uma

relação prazerosa com a leitura. Nessa perspectiva, constatou-se que cabe ao

adulto inserir a criança no mundo da leitura, por meio de variadas situações, sejam

elas espontâneas ou organizadas.

Diante dos estudos realizados, constatou-se que é somente por meio da

leitura que podemos ver o mundo com maior magnitude, se efetivarmos este ato tão

grandioso, além de construir uma sociedade leitora, há possibilidades de grandes

transformações.

No que tange à contribuição das técnicas, são relevantes, já que ao narrar

deve-se transmitir ao ouvinte emoção, encantamento, bem-estar, medo, alegria, e

tantos outros sentimentos com toda intensidade. Para tanto, o narrador precisa

saber descrever os detalhes na medida certa para que seu público sinta as emoções

descritas como se as estivessem vivendo.

Dessa forma, constata-se que, ao se utilizar uma técnica para narrar, o

ouvinte recebe a mensagem com maior amplitude e, em consequência, adquire

gosto pela leitura.

Vale ressaltar que, conforme Coelho (1999), antes de tudo, o contador deve

estar ciente de que a história é importante, sendo ele apenas o transmissor das

passagens que as faz com naturalidade, devendo deixar que as palavras fluam

naturalmente faz-se necessária a segurança, que será adquirida por meio da certeza

de que conhece a história, domina a técnica bem como de que está

convenientemente preparado para contá-la.

Considerando também que o ato de narrar histórias deve ser cuidadoso e que

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requer algumas condições. Para tanto defende-se o uso de recursos durante uma

narração. Recomenda-se que seja de uma forma compatível e criativa para enriquecer

esse momento portador de tantas significações. Afirma-se que, durante uma

narração, se os recursos forem utilizados devidamente, além de enriquecer a

história ainda desperta a imaginação do ouvinte.

Mediante esta pesquisa, o presente artigo espera despertar um maior

interesse em contar histórias nos professores, profissionais da área e também

naqueles que tenham interesse em formar leitores. Ressaltando que é relevante

refletir criticamente na escolha da técnica mais adequada, além de que é válido

afirmar que a condição básica para a narrativa está presente em si mesmo.

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