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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE BIRIGUI Alteração de nome aprovado através da Portaria 91/04 de 16/06/2004
Autorizada a funcionar pelo Parecer CEE 1583/87 de 23/10/1987 Rua: Antonio Simões, 04 - Fone/Fax (18) 3649.2200 - CEP 16.200-027 - Birigui - SP
VOLUME 01 – NÚMERO 2 – JANEIRO/DEZEMBRO2018 ISSN 2594-9438
As técnicas de contação de histórias: Um caminho para a formação do leitor
Márcia Maria Aparecida Alves de SOUSA1 ([email protected]) Fernanda Amaro da S. VIGNOTTO2 ([email protected])
Lucimeire Cristina PAVANI2 ([email protected]) Maria Cristina Bazarin VICENTINE2 ([email protected])
Marli Aparecida Avanço LIMA2 ([email protected])
1 Orientadora Márcia Ap. Alves de Sousa professora Mestra Pela UFMS, professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB).
2 Graduada em Licenciatura de Pedagogia. Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB).
Data de submissão do ARTIGO DE PESQUISA: 29/08/2018 (02:27PM)
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VOLUME 01 – NÚMERO 2 – JANEIRO/DEZEMBRO2018 ISSN 2594-9438
As técnicas de contação de histórias: Um caminho para a formação do leitor
RESUMO Despertar o interesse pela leitura não constitui uma tarefa fácil. O presente estudo visa mostrar a importância da contação de histórias para a formação de leitores, bem como propor técnicas e caminhos possíveis para o professor contar histórias em suas aulas, assim, o processo ensino e aprendizagem se torna mais significativo para o educando. Desse modo, pretende-se questionar e refletir sobre como a utilização das técnicas e recursos pode influenciar no processo de compreensão do ouvinte e na formação do leitor. Acredita-se que as histórias auxiliam na formação ética e cultural das crianças, assim nota-se a importância de desenvolver habilidades a fim de que seja assegurada uma boa performance durante a narração. Para contar histórias em sala de aula é necessário disposição e capacidade do professor, logo, as técnicas e recursos são ferramentas relevantes, pois assessoram o contador a transmitir a narrativa com maior intensidade, oferece inúmeras possibilidades de exploração e ainda favorece o ouvinte a receber a mensagem com maior amplitude. Cabe ao professor contador obedecer algumas condições e critérios pré-estabelecidos já que esses são pressupostos essenciais para a construção de vínculos com o ouvinte. Para a construção deste trabalho, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em obras de diversos autores, a fim de oferecer ao professor sugestões para a contação de histórias, além de contribuir para a formação de leitores. Palavras-chaves: 1. Contar histórias; 2. Formação de leitores; 3. Técnicas para contação; 4. Recursos.
The techniques of storytelling: A path to the formation of the player
ABSTRACT Awakening interest in reading is not an easy task. The present study aims to show the importance of storytelling for the formation of readers, as well as to propose techniques and possible ways for the teacher to tell stories in their classes, thus, the teaching and learning process becomes more meaningful for the learner. Thus, it is intended to question and reflect on how the use of techniques and resources can influence the process of understanding the listener and the formation of the reader. It is believed that stories help in the ethical and cultural formation of children, so it is important to develop skills in order to ensure a good performance during a narration. In order to tell stories in the classroom, it is necessary the teacher's disposition and capacity, so the techniques and resources are relevant tools, as they advise the accountant to transmit the narrative with greater intensity, it offers innumerable possibilities of exploration and even favors the listener to receive the message. It is up to the teacher to obey some conditions and pre-established criteria since these are essential assumptions for building links with the listener. For the construction of this work, a bibliographical research was carried out in works by several authors, in order to offer the teacher suggestions for storytelling, in addition to contributing to the formation of readers. Key-words: 1 . Telling stories; 2 . T raining of readers; 3 . T echniques for storytelling; 4. Resources.
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INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo analisar a importância de contar histórias para
a formação de leitores, bem como apresentar algumas técnicas para a contação de
histórias.
Nesse sentido, Dohme (2013) afirma que despertar o interesse, prender a
atenção de modo a oferecer cultura e informação com emoção, possibilita o
desenvolvimento de uma formação harmoniosa da cidadania do amanhã.
Segundo Abramovich (2009), é muito importante o “ouvir diversas histórias”
para o desenvolvimento de qualquer criança, sendo esse o início da formação para
tornar-se um leitor, por meio das histórias podem ainda encontrar soluções para
conflitos internos, estimular a criatividade, proporcionar emoção e sentimentos e
uma vasta possibilidade de crescimento e aprendizagem infantil.
Logo, são relevantes o papel do contador de histórias na formação do leitor
e as técnicas utilizadas para contação de histórias, o primeiro porque atua como
modelo, e as técnicas porque auxiliam a contar histórias de forma mais atrativa.
Dessa forma, objetiva-se refletir sobre como a utilização das técnicas de
contação de histórias pode influenciar no processo de compreensão do ouvinte,
bem como contribuir para sua formação.
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RESULTADOS
A importância de contar história para a formação de leitores
Segundo Jolibert (1994), abordar a questão do aprendizado da leitura de uma
forma única e em nível técnico parece ser uma visão fechada do que acontece
quando uma criança aprende a ler, isto é, o ato de ler é um ato complexo, no qual a
compreensão está associada ao cruzamento de vários eixos, ou seja, o leitor
precisa estar atento ao conhecimento do próprio funcionamento do ato de ler, ter
conhecimento linguístico do funcionamento da língua escrita e também não se
esquecer de utilizar a teoria do aprendizado como referência.
Algumas questões que auxiliam na reflexão: O que uma criança aprende?
Quais as relações entre o aprender e o ensinar? Durante o encontro de uma criança
com o escrito, deve ser observado como ocorrem as interações entre adulto, criança
e coletividade, entre outros. Nesse sentido, Jolibert (1994, p.12) afirma: “Por isso é
que não se trata primeiro de um inventário de Técnicas (mesmo que renovadas), mas
sim de uma problemática global”.
Nessa perspectiva, ensinar a ler exige uma busca incessante por estratégias
efetivas e diversificadas (JOLIBERT, 1994).
Jolibert (1994) traz razões fundamentais para colocar em andamento uma
vida cooperativa nas escolas, para que os trabalhos sejam organizados e dirigidos
por todos, adultos e crianças, a fim de que as crianças percebam que existe um
sentido para sua presença na escola. Afinal, é na medida em que se vive num meio
social sobre o qual temos a possibilidade de agir, discutir com os outros, decidir e
realizar que são criadas condições de aprendizagem, referindo-se a todas, inclusive
a da leitura.
Jolibert (1994, p.13, grifo da autora) afirma que: “Nas aulas, ir em busca de
uma vida cooperativa em que são administrados o tempo, o espaço, as regras de
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vida, as atividades e os projetos nos quais são inscritas naturalmente situações de
leitura “para valer”.
Dessa forma, faz-se necessário que sejam promovidas mudanças de atitudes
nas escolas, objetivando parar de infantilizar as crianças e assim subdesenvolvê-las
(JOLIBERT, 1994).
Segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa, em relação
ao ato lexical, chegou-se a conclusão de que ler é atribuir um sentido a algo
escrito, sem necessidade de passar por intermediário, ou seja, a decifração e a
oralização. Para tanto, ler resume-se em questionar algo escrito a partir de uma
expectativa real, a partir de uma demanda social (JOLIBERT, 1994).
Para Jolibert (1994 p.15, grifos da autora):
Ler é ler escritos reais, que vão desde um nome de rua numa placa até um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc., no momento em que se precisa realmente deles numa determinada situação de vida, “para valer” como dizem as crianças. É lendo de verdade, desde o início que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler...
Sendo assim, quando se lê, simplesmente nos tornamos leitores, logo não há
necessidade de decifrar o código escrito primeiro, para poder ler depois (JOLIBERT,
1994).
Jolibert (1994) afirma que não se ensina uma criança a ler, é ela própria que
se ensina a ler, com ajuda do professor, dos colegas, dos pais e de outros leitores.
Cabe à criança vencer seus obstáculos e avançar em suas aprendizagens, que
ocorrem por meio de confrontos e proposições apresentadas pelos responsáveis
pelo seu aprendizado. Dessa forma, ensinar não é apregoar ou pré-digerir, mas sim,
ajudar alguém durante seu processo de aprendizagem.
Segundo Jolibert (1994), é de responsabilidade do professor fazer com que a
aula seja significativa, proporcionar as crianças situações de leitura diversificadas,
fazer com que as crianças interroguem seus escritos à procura de sentido, a partir
de indícios e análise. Ainda ajudar as crianças a esclarecerem suas próprias
estratégias de leitura.
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Jolibert (1994, p.14) afirma que: “Não se ensina uma criança a ler: é ela quem
se ensina a ler com nossa ajuda e a de seus colegas e dos diversos instrumentos da
aula, mas também a dos pais e de todos os leitores encontrados”.
Todavia, percebe-se a necessidade de conduzir a criança, a situações de
leitura diversificadas, mesmo que ela não tenha domínio total sobre o código, com o
auxílio de um leitor mais experiente, a criança poderá ser capaz de ler antes mesmo
de conhecer todas as letras (JOLIBERT, 1994).
Nessa perspectiva, para Marafigo (2012), a leitura introduzida desde cedo tem
o poder de formar bons leitores, uma vez, que a infância é o período mais
adequado para isso. O desejo pela leitura ocorre por meio do contato com os livros,
interação social e também de ouvir histórias. Para tanto, a criança precisa ser
estimulada pelo adulto, que tem o papel de condutor para essa finalidade. Portanto,
para inserir a criança no mundo da leitura o adulto deve ler para ela.
Abramovich (2009, p. 14) afirma, sobre as histórias, que: “[...] escutá-las é o
início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente
infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...]”. Desse modo, ouvir histórias
torna-se um importante subsídio na construção de conceitos e resolução de conflitos
internos, já que a criança se assemelha com os personagens dos contos,
mergulhando profundamente em sentimentos, memórias e imaginações.
A leitura é um comportamento aprendido, portanto cabe ao leitor adulto
mostrar à criança as escritas que circulam socialmente para que elas entendam seu
significado e sua função social (MARAFIGO, 2012).
Nesse sentido, o Referencial Nacional para a Educação Infantil – RCNEI,
(1998) afirma que o contato com as práticas culturais mediadas pela escrita fazem
com que as crianças percebam a diferença entre a fala e a escrita, uma vez que
ambas são requisitos importantes para aprendizagem inicial da leitura.
Entende-se que para a formação de leitores é necessário ir além do
sentimento do desejo, é preciso ter atitude. Sendo assim, é de responsabilidade
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tanto dos docentes quanto da família a busca pelo incentivo à leitura, bem como não
é possível superar uma dificuldade com ações isoladas. A escola tem o papel de
ensinar e a família o de educar, visto que há uma junção cujo objetivo é contribuir
para um trabalho efetivo e eficaz (MARAFIGO, 2012).
Partindo desse pressuposto é importante observar se a escola tem
incentivado as crianças a leitura de uma forma prazerosa, ou se usam a leitura
apenas para o cumprimento dos conteúdos, sem dar aberturas para que as crianças
se aperfeiçoem e sintam prazer em ler e escrever. Como afirma Morais (1991, p.98).
Ler sempre representou uma das ligações mais significativas do ser humano com o mundo. Lendo reflete-se e presentifíca-se na história. O homem, permanentemente realizou a leitura do mundo. Em paredes de caverna ou reconhecendo-se capaz de representação. Certamente, ler é engajamento existencial.
Dessa forma, algumas estratégias de incentivo à leitura devem ser adotadas
tanto pelos docentes, quanto pelas famílias, para que além de formar bons leitores,
sejam promovidas também mudanças sociais (MARAFIGO, 2012).
Maricato (2005), com base na leitura de Soares (2005), apresenta a
importância da leitura na educação infantil já que as crianças lêem muito antes de
serem alfabetizadas, e isso ocorre por meio das observações de figuras, de gestos
de leitura de outros sem haver necessidade de decodificar palavras. As crianças
podem construir uma relação prazerosa com a leitura, desde que sejam oferecidos a
elas alguns requisitos, como o envolvimento em prática que as coloque em condição
de manuseio. O cantinho da leitura, a roda para contação de histórias, brincadeiras
com livros são algumas formas de colocar as crianças em contato com a leitura.
Soares (2005, p.18) afirma que: “É preciso desmanchar essa ideia do livro
como objeto sagrado; é sagrado sim, mas para estar nas mãos das pessoas, ser
manipulado pelas crianças”.
Sendo assim, o professor deve organizar um local aconchegante, que
contenha uma diversidade de livros para que as crianças possam manuseá-los,
tanto em momentos organizados ou espontâneos. A escola poderá ainda criar
projetos de leitura envolvendo as famílias das crianças, favorecendo o interesse
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pela leitura, a fim de contribuir com um sentido mais amplo e prazeroso para a
criança, já que a leitura é um ato social e cultural (RCNEI, 1998).
- Algumas técnicas e critérios que poderão auxiliar no ato de contar
histórias
Abramovich (2009) ressalta a importância de a criança ouvir histórias em
qualquer idade, a fim de encontrar sugestões para solucionar questões internas. Ao
ouvir histórias, a criança tem a possibilidade de conhecer outros lugares, tempos,
outras culturas, bem como um universo de valores, enfim fazem inúmeras
descobertas, além disso, as narrativas contribuem para o desenvolvimento de
sentimentos importantes como: raiva, medo, irritação, tristeza, o bem-estar, alegria, o
pavor, a insegurança, a tranquilidade, dentre outros. Segundo Abramovich (2009,
p.14-15, grifo da autora).
É ATRAVÉS DUMA HISTÓRIA QUE SE PODEM DESCOBRIR OUTROS LUGARES, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... Porque se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e passa a ser didática, que é outro departamento (não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo).
Desse modo, contar histórias, além de nos transportar a outros mundos,
também nos traz conhecimentos. De acordo com Coelho (1999, p. 12).
Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem – “se ficarem quietos, conto uma história”, “se isso”, “se aquilo...” – quando o inverso é o que funciona. A história aquieta serena, prende a atenção, informa, socializa, educa.
Nesse sentido, ouvir e contar histórias despertam sentimentos e
conhecimentos, além de influenciar a criança a adquirir maior estabilidade para
enfrentar conflitos comuns ao seu meio como afirma Dohme (2013):
Por meio dos exemplos contidos nas histórias, as crianças adquirem maior vivência. O contato com os impulsos emocionais, as reações e os instintos comuns aos seres humanos e o reconhecimento dos fatos e efeitos causados por estes impulsos são exemplos de vida. (DOHME, 2013, p. 18)
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Constata-se, por meio das asserções de Abramovich (2009), Coelho (1999) e
Dohme (2013) que a história leva a criança ao mundo da imaginação, possibilitando
uma aprendizagem de forma prazerosa e espontânea, sem a necessidade de um
caráter didático.
Vale ressaltar que as histórias são capazes de promover na criança diversos
valores afetivos como: honestidade, alegria, amor, compartilhar, coragem, justiça,
respeito, lealdade, tolerância, entre outros. É necessário ainda enfatizar os valores
cognitivos como: o caráter, o raciocínio, a imaginação, criatividade, o senso crítico e
disciplina, entre outros essenciais para a formação de um cidadão consciente
(DOHME, 2013).
Nesse contexto, as fantasias provocadas pelas histórias, além de ser um
simples ato de passar o tempo, acabam se tornando uma importante ferramenta para
ajudar na formação da personalidade, na medida em que possibilitam fazer
conjunturas, combinações, visualizações, isto é, as crianças absorvem conteúdos
que as histórias difundem, com isso adquirem vivências e referências para montar
seus próprios valores. De acordo com Dhome (2013, p.19):
As histórias atuam como ferramentas de grande valia na construção desse senso crítico, porque por meio delas os alunos tomam conhecimento de situações alheias a sua realidade uma vez que podem “navegar” em diferentes culturas, classes sociais, raças e costumes.
Sendo assim, quando a criança se apropria dos valores contidos em uma
história ela tem capacidade de identificar aqueles que são essenciais para a sua
formação (DOHME, 2013).
A importância de saber contar histórias parece não ser reconhecida por alguns
contadores, no entanto, Abramovich (2009) afirma que é relevante saber como se faz
para contar uma história. Ao narrar uma história, deve-se transmitir ao ouvinte,
emoção e confiança, o contador precisa demonstrar que está familiarizado com o
texto, estar atento à pontuação, pausas e ainda perceber como o autor vai
construindo as frases e as palavras, assim, quando surgirem situações adversas,
saberá como lidar. Após o cumprimento desses critérios, ele estará preparado para se
arriscar a fazer variações sobre o tema, já que os tem memorizado.
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Vale ressaltar que, antes de iniciar a narrativa, algumas vezes, faz-se
necessário estabelecer uma breve conversa, a qual poderá facilitar o entendimento
do enredo, somente o suficiente para que as crianças se predisponham a ouvir a
história, promovendo assim mais facilidade de identificar-se e integrar-se com a
mensagem (COELHO, 1999)
Abramovich (2009, p.15) afirma que: “Contar histórias é uma arte... e tão
linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem
remotamente declamação ou teatro...... Ela é o uso simples e harmônico da voz”
Nesse sentido, tão importante quanto o critério de seleção do livro, é que o
contador conheça bem seus ouvintes, para que as histórias estabeleçam vínculos
com os momentos em que estão passando, assim estará aproveitando o texto como
um referencial que ajudará na resolução de conflitos inter e intrapessoais
(ABRAMOVICH, 2009).
Ao considerar a contação de histórias como portadora de significados, ela
não restringe seu papel ao entendimento. Logo, Dohme (2013, p.40) assevera que,
para falar em público, mesmo que seja em situações informais, deve-se levar em
consideração a importância da voz, ou seja, não se usa a voz da mesma forma que
em uma conversa entre duas ou mais pessoas, afinal a voz está sendo usada para a
comunicação. Portanto, dicção, volume, velocidade, tonalidade e vocabulário são
elementos fundamentais para a boa compreensão de uma história.
A dicção é frequentemente culpada quando uma mensagem é recebida de forma truncada, porque a não compreensão de uma palavra pode levar a não compreensão de toda a frase, e não entender uma frase pode prejudicar o entendimento de toda a história. (DOHME, 2013, p. 40).
Desse modo, deve-se ter consciência de que a voz é um importante
instrumento do narrador, para saber usá-la é necessário treino e dedicação (DOHME
2013).
Nesse sentido, Busatto (2012) afirma que a técnica de contar histórias para
um grupo grande de crianças se difere de um grupo pequeno, ou seja, o volume da
voz deve ser ampliado, a energia deverá atingir a todos simultaneamente, cabe
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ainda salientar que não é possível individualizar a narrativa escolhendo um conto
que atinja todas as crianças, mas o contador deve ficar atento e perceber o que
mobiliza o grupo, propor um conto que possa atuar no conjunto, torcer para que
cada criança consiga retirar do conto o que necessita naquele momento.
Seja narrando para uma ou várias crianças é fundamental que se conte com o coração e, se falo desse segredo como primeiro da lista, é por considerá-lo premissa máxima para que o narrador tenha sucesso na sua proposta. (BUSATTO, 2012, p.47)
Busatto (2012) afirma que, se desejamos que a narrativa atinja toda sua
potencialidade é necessário narrar com o coração, pois primeiro o conto deve
sensibilizar o narrador e em seguida o ouvinte, não importa se vai narrar para uma
ou mais crianças, o envolvimento afetivo com a história narrada possibilita maior
entrosamento ao narrador, além disso, o narrador terá maior visão da compreensão
dos ouvintes, e assim terá condições de conduzir a narrativa alcançando as
demandas. Sendo assim, Busatto (2012, p. 47-48) afirma que:
Antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar o contador. A maneira como enxergamos o conto será a mesma maneira com que o outroirá vê-lo. Se o considerarmos uma mera distração e entretenimento, será assim que ele irá soar; porém, se acreditarmos que ele pode ser uma pequena luz lançada no nosso caminho, ele será ouvido como tal.
Desse modo, entende-se que contar com o coração é acreditar numa
educação onde também está presente o afeto visando não somente o conhecimento
formal, mas o desenvolvimento do ser humano em sua plenitude (BUSATTO 2012).
Já que estamos diante de uma experiência coletiva a autora salienta que o
contador deve ter em mãos boas traduções, descarte os livros que trazem versões
simplificadas e pobre em imagens verbais, porque são as imagens que nos
aproximam dos personagens e ao seu estado de ânimo, como afirma Busatto (2012,
p. 55):
Esta é uma das características mais marcante do conto: ter seu texto sustentado por imagens que estimulam o imaginário, o qual vai construindo todo um contexto, a partir das formas, cores, sons e sensações presente no seu corpo.
Portanto, parece-nos que a imagem é capaz de reativar o imaginário e de se
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enriquecer com novas imagens. (BUSATTO, 2012)
Por isso se faz necessário que evidencie quanto ao papel de cada elemento
contido no texto para não deturbar suas verdadeiras intenções. Nesse sentido, é
preciso fazer um estudo de cada conto a ser narrado, porque cada texto possui uma
mensagem que nem sempre está explícita, já que diversas vezes encontramos
significações nas entrelinhas do texto. (BUSATTO, 2012)
Para que a narrativa seja viva é preciso que você também esteja vivo. Perceba cada passagem do texto, sinta-o como se fosse parte de você, como aquelas vivências fossem também suas. Ouça a sua voz. Isso irá contagiar o ouvinte. Não dá para almejar que um conto envolva as pessoas, se não estivermos de bom grado com ele, narrando cada detalhe com a intenção que lhe é própria, afinal as palavras podem comportar muito mais que o seu estrito significado. BUSATO (2012, p. 62)
Assim, constatamos que o grande desafio está em antes de narrar um conto
é tê-lo memorizado (Busatto, 2012).
Nesta perspectiva, existe a necessidade de o contador conhecer o público
envolvido, sendo que este possui características específicas que devem ser
consideradas, como destaca Coelho (1999, p.14); “Dentre os vários indicadores que
nos orientam na seleção da história, destaca-se o conhecimento dos interesses
predominantes em cada faixa etária”.
Apresenta-se na tabela a seguir, algumas orientações de Coelho (1999)
referentes à escolha da história de acordo com a faixa etária e interesses da
criança, sendo essas relevantes para o contador de histórias:
Tabela I – Faixa Etária e Interesses
Pré-escolares
até 3 anos: fase pré- mágica
3 a 6 anos: fase mágica
histórias de bichinhos, brinquedos, obje-tos, seres da natureza (humanizada)
histórias de crianças
histórias de repetição e acumulativas
(Dona Baratinha, A formiguinha e a neve etc.)
histórias de fadas
7 anos
histórias de crianças, animais e encan-tamento
aventuras no ambiente próximo: família, comunidade
histórias de fadas
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Escolares
8 anos
histórias de fadas com enredo mais ela-borado
histórias humorísticas
9 anos
histórias de fadas
histórias vinculadas à realidade
10 anos em diante
aventuras, narrativas de viagens, explo-rações, invenções
fábulas, mitos e lendas
(COELHO, 1999, p.15)
A tabela, apresentada acima, além de esclarecer algumas dúvidas, direciona
o contador para a escolha da história adequada para cada fase, porém, vale
ressaltar que Coelho (1999, p.16) afirma que: “Evidentemente, não há rigidez nessa
classificação, pois cada criança cresce com seu ritmo próprio”.
Segundo Dohme (2013), após a escolha da história escrita, é importante se
aprofundar buscando recursos disponíveis sobre outras formas de reprodução
(audiovisual, por exemplo), pesquisando-a a fundo, pois é essencial conhecê-la para
preparar a narração, fazer adaptações, escolher recursos auxiliares e a técnica mais
conveniente a ser utilizada, pois, segundo Dohme (2013, p.26): “Para estudar uma
história é preciso, em primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a mensagem que nela
está implícita e, em seguida, após algumas leituras, identificar seus elementos”.
Sendo assim, é importante o contador levar em consideração os elementos
influenciadores da trama. São eles: o enredo, personagens, ambiente, cenários,
mensagem e conteúdo educacional, e também as fases da história: introdução,
enredo, ponto culminante e o desfecho (DOHME, 2013).
A identificação desses elementos norteará o contador possibilitando usufruir
de pontos essenciais na história, sendo fundamental para a exploração na contação
(DOHME, 2013).
Faz-se necessário, que o narrador conheça bem os elementos pertencentes
da história para verificar se todos os requisitos combinam entre si, no entanto, o
essencial deve ser rigorosamente respeitado, porém, os detalhes se necessário,
poderá fazer variações e adaptações, assim como escolher recursos e estratégias
que poderão ser utilizados. Dohme (2013, p.27) afirma: “Se a versão original não
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satisfizer todos os requisitos, caberá ao narrador complementá-la com alguma
pesquisa ou mesmo com a sua imaginação”.
Frequentemente, é relevante que a história seja apresentada na integra ao
público, embora algumas vezes é imprescindível realizar mudanças ou alterações
no texto de acordo com necessidades esporádicas, devendo alcançar seu objetivo,
eis que se for muito extensa e detalhada, não prenderá a atenção do ouvinte e se
for muito breve e sucinta não estimulará a imaginação, como afirma Dohme (2013,
p.30):
Pode acontecer que uma história tenha no seu enredo um excelente potencial para desenvolver determinado aspecto educacional ou valor ético, mas este não está claro na versão que temos à mão. À medida em que vamos estudando, isto irá aparecer e começa-se a visualizar a importância de reforçá-lo na narração que faremos. Assim, será lícito e desejável fazer a adaptação incluindo elementos capazes de enriquecer este aspecto, a fim de torná-lo mais evidente.
Sendo assim, vale ressaltar que uma história quando não evidencia sua
mensagem principal, cabe ao contador criar estratégias e técnicas com o objetivo de
enfatizar a narrativa a fim de revelar o objetivo da história (DOHME, 2013).
É relevante que o contador aproprie-se de uma ficha descritiva, de modo que
a mesma o auxiliará para saber de toda trama, tendo com clareza na mente o
esquema geral da história que será contada, ou seja, identificar os elementos
contidos na história anotar as características das personagens e também fazer
relatos breves de coisas que poderiam ser esquecidas. O ideal é que o contador
esteja bem preparado para a narração, no entanto, se isso não for possível poderá
recorrer a este recurso (DOHME, 2013).
No bojo do estudo de uma história fica mais fácil visualizar que tipo de
interação se pode ter com as crianças, bem como que atividades podem ser
aplicadas após a apresentação, valorizando e potencializando os efeitos da
história. Estas ideias devem ser registradas na ficha descritiva. Isto facilitará
a tarefa de desenvolvimento de atividades na oportunidade em que a história
for aplicada (DOHME, 2013, p. 30).
A ficha descritiva é eficaz para a compreensão do contador, a qual abrange
vários elementos, como, por exemplo: introdução, enredo, ponto culminante,
desfecho, mensagem transmitida pela história, conteúdo acessório, valores
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trabalhados na história, em que intensidade os objetivos educacionais são atingidos,
narração simples, recursos auxiliares adequados a essa história, interação possível
com os ouvintes e jogos, dinâmicas ou trabalhos manuais que podem ser utilizados
antes ou depois da narração. O contador após registrar e arquivar as observações
feitas durante o estudo da história terá em mãos um importante instrumento de
pesquisa que vai nortear seu trabalho (DOHME, 2013).
Portanto, constatamos que para a contação de histórias exigem-se técnicas
para o contador que, antes de tudo, deve memorizar a história a ser contada, utilize
melhor a voz, a expressão corporal, estimule a imaginação e conheça melhor o
ouvinte de acordo com sua faixa etária. Assim, as técnicas são essenciais para a
contação de histórias, a transmitir ao ouvinte valores, sentimentos, bem-estar,
encantamento, bem como contribuem para formação dos leitores (COELHO, 1999).
- Os caminhos para a contação de histórias
Contar histórias é saber criar um ambiente de encantamento que permite aos
ouvintes viajarem no maravilhoso mundo da fantasia, despertando suspense e até
mesmo surpresas, o enredo e os personagens ganham vida, assim o uso de
recursos fará com que o ouvinte vivencie estas emoções. Dohme (2013, p.48)
afirma:
[...] existe uma série de recursos que permitem às crianças viajarem no maravilhoso mundo da fantasia, reservado, em sua magnitude, exclusivamente a elas. Para nós, adultos, resta a oportunidade, quase um dever, de transportá-las a estas emoções.
Ainda para Coelho (1999), contar história é uma arte que possui segredos e
técnicas, que requerem certa vocação natural, porém, para se apropriar dessa arte,
esse talento pode ser desenvolvido, aliás, essa é uma habilidade possível de
florescer em todo educador, e em toda pessoa que se propõe a lidar com crianças.
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Dessa forma, o contador poderá utilizar diversas técnicas como suporte,
seguem alguns exemplos, conforme Dohme (2013).
Usar o próprio livro, apontando as figuras no momento da narração po-
de ser uma boa sugestão, já que durante a contação o narrador cria um elo entre
ouvinte e livro.
Fantoches; são bonecos movimentados pelas mãos, no qual se utiliza
a voz do operador e ainda podem ser usados de forma interativa com as crianças,
elas mesmos manuseando-os. Vale lembrar que esse recurso é indicado para histó-
rias de média complexidade, bem como o público envolvido deve ser composto por
poucas crianças a fim de que todas visualizem a narração.
Teatro de sombras: consiste na projeção de figuras em uma superfície
opaca, as sombras dessas figuras é que ilustram a narração, as crianças ainda po-
dem participar da apresentação junto com os adultos fazendo silhuetas. Durante a
apresentação, a música os efeitos especiais ajudam a enriquecer a narração, pro-
porcionando uma boa interação com o público.
Dobradura: é uma arte representada por diversas figuras na qual os
personagens são feitos de papel, essa técnica geralmente é utilizada somente por
uma pessoa, poderá ser confeccionada durante a apresentação conforme a habilida-
de do narrador.
Maquete: são objetos feitos com uma grande diversidade de materiais,
tem a capacidade de representar diversas estruturas físicas, geralmente são peque-
nas, o que torna sua confecção simples e econômica, é um recurso rico visualmen-
te, dispensando qualquer outro tipo de recurso.
Bocões: são bonecos grandes que ficam sentados no colo do narra-
dor, e os operadores ficam sentados em uma cadeira. Esse recurso é adequado pa-
ra um enredo simples, tem a capacidade de encantar o público com o seu efeito con-
tagiante fazendo com que se esqueçam do narrador.
Marionetes: são bonecos movimentados por fios amarrados nos
pés, mãos e cabeça, seus operadores ficam sempre atrás do palco. A história é
contada por meio dos personagens. É adequado para histórias de média com-
plexidade, permitindo o uso de música e efeitos sonoros diversos.
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Dedoches: são pequenos fantoches utilizados nos dedos, são utiliza-
dos pelos narradores e também podem ser utilizados pelas próprias crianças, en-
tretanto a desvantagem é que não podem ser apresentados para uma plateia muito
grande.
Nesse contexto, Dohme (2013, p. 50) assegura que: “[...] há fichas descritivas
que dão maiores detalhes sobre a utilização de diversas técnicas. A análise destas
fichas associadas às fichas descritivas de cada história auxiliará na escolha da
técnica mais adequada [...]”.
Vale lembrar que, para o manuseio dos recursos apresentados, serão
necessárias algumas habilidades do contador, como uma boa dicção, a entonação e
o volume de voz, boa coordenação motora e interpretação. Portanto, o contador
deve estar atento para a utilização do recurso mais adequado para cada história, já
que as histórias possuem características diferentes. (DOHME, 2013).
Para Coelho (1999), a história não deve ser decorada textualmente, é
necessário, em primeiro lugar, captar a mensagem que está implícita e identificar os
elementos essenciais que constituem sua estrutura. Ademais, é relevante escolher
a melhor forma e/ou recurso mais adequado para apresentá-la, atentando-se as
requeridas técnicas para a contação. Desse modo, Coelho (1999, p.40) afirma:
“cada recurso, portanto, é valioso em sua peculiaridade, permitindo variar a
apresentação e recriar o modo original”. Coelho (1999) assevera que:
Os recursos mais utilizados são: a simples narrativa, a narrativa com auxílio do livro, o uso de gravuras, de flanelógrafo, de desenhos e a narrativa com interferências do narrador e dos ouvintes. Cada recurso tem suas vantagens e requer uma técnica especial. (COELHO, 1999, p.31).
Vale ressaltar que cada recurso tem suas vantagens e possui uma técnica
para colocá-lo em prática (COELHO, 1999).
Sobre a simples narrativa, Coelho (1999) afirma ser esse o recurso mais
atraente, mesmo sendo o mais antigo e tradicional método, acompanhado pela
autêntica expressão do contador de histórias, sem necessitar de acessórios, é
procedida por meio da voz, da postura do narrador que, estando esse de mãos
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livres, concentra-se plenamente na expressão corporal. Dessa forma, Coelho (1999,
p.32) afirma que: “É a maneira ideal para contar uma história e a que mais contribui
para estimular a criatividade".
No entanto, o contador não deverá utilizar de material ilustrativo nesse caso,
já que referido material poderá desviar a atenção do ouvinte, sendo que, nesse
caso, o mais relevante é que o espectador se valha da própria imaginação
(COELHO, 1999).
Ao mencionar o livro como recurso na narrativa, Coelho (1999) salienta que
é viável em muitas situações, principalmente nos casos em que as ilustrações
servem de complemento para o texto verbal e também quando as imagens forem tão
ricas a ponto de auxiliarem a compreensão da narração. É importante ressaltar que
narrar com o livro não significa que temos que ler a história, o narrador deverá já ter
se apropriado do conteúdo e contar com suas próprias palavras.
Será impossível relacionar aqui todos os livros que, pela beleza do tema e integração gráfica, devem ser mostrados durante a narrativa. Essa apresentação, além de incentivar o gosto pela leitura (mesmo no caso dos ainda não alfabetizados), contribui para desenvolver a sequência lógica do pensamento infantil (Coelho, 1999 p. 33).
Sendo assim, observa-se que ao utilizar o próprio livro durante a narração, o
narrador estará contribuindo para o sentido do texto, bem como estimulando a
imaginação do ouvinte. Além disso, pode-se afirmar que uma das grandes
vantagens do livro é permitir que seja feita uma nova abordagem, isto é, por meio de
uma conversa pode ser explorado outra linha de valores (COELHO, 1999).
Coelho (1999) afirma que o desenho também pode ser um bom recurso, o
narrador poderá contar a história desenhando traços dos personagens em quadro
de giz, ou na falta desse em papel de metro, também pode fazer interrupções
durante a narração convidando as crianças para participar por meio de desenhos
elaborados por elas, assim as crianças tem a oportunidade de se expressar com
espontaneidade, fazendo com que figuras simples se transforme em ideias
brilhantes, bastam alguns traçados para ganhar muitas formas. Entretanto, é
importante ressaltar que este recurso é indicado para ser utilizado em situações de
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histórias com poucos personagens e traços rápidos. Coelho (1999 p. 43) afirma
que: “É bom lembrar que simplesmente ler o que estou escrevendo não permite
avaliar o real alcance dessa atividade. Só experimentando na prática”.
Contudo, é relevante a participação das crianças durante uma narração, pois
além de ser uma maneira delas não se dispersarem ainda favorece a criatividade e
imaginação (COELHO, 1999).
Quanto ao uso de gravuras, segundo Coelho (1999), é aconselhável nos
seguintes casos: se o livro possuir formato pequeno, quando as ilustrações
antecipam ou quando não correspondem com o texto, ou seja, quando
impossibilitam o uso do livro ou da revista como recurso ilustrativo. Vale destacar
que as imagens indispensáveis podem ser ampliadas, sendo também possível
preparar o material mediante colagem, sendo essas visíveis para um grupo razoável
de ouvintes, visto que além de promover um visual bonito, deve-se também
considerar sempre os elementos essenciais da história (COELHO, 1999).
Segundo Coelho (1999 p. 39):
As gravuras favorecem, sobretudo, as crianças pequenas, permitem que elas observem detalhes e contribuem para a organização de seu pensamento. Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da ideia central, fatos principais, fatos secundários, etc.
Desse modo, o uso das gravuras deverá ser realizado com naturalidade, antes
da narração separando-as, assim, o narrador as utilizará conforme irá contando a
história, substituindo e fazendo as trocas naturalmente, efetivando a narrativa com
fluência (COELHO, 1999).
Coelho (1999) afirma que saber escolher o recurso é fundamental, as formas
de apresentação devem estar relacionadas com o local e com as circunstâncias nas
quais forem apresentadas, pois cada apresentação corresponde a determinados
objetivos.
Paralelamente, Dohme (2013) afirma que os recursos podem ser aplicados
genericamente a qualquer história que o leitor deseja, entretanto é preciso levar em
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conta a sua correlação com uma história específica para facilitar a compreensão. O
narrador pode até usar somente os seus próprios recursos para dar vida a uma
história, porém, para isso, ele precisa conhecer profundamente a história e estar
preparado, e ainda se dispor a interpretá-la, porque essa é a única forma de
suscitar emoções, ter a melhor audiência, e fazer com que sua plateia sinta as
emoções descritas como se as tivessem vivido.
Portanto, nota-se que para ambas as autoras, está implícita a relevância dos
recursos para a contação de histórias, além de auxiliarem o contador durante a
narração, também contribuem para o desenvolvimento cognitivo da criança.
Desse modo, defende-se o uso de recursos durante a narração. Afirma-se que
os recursos se forem usados de forma adequada e criativa, além de enriquecer a
história ainda despertam a imaginação do ouvinte.
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CONCLUSÃO
Ao longo desta pesquisa foi discutido como as técnicas de contação de
histórias influenciam na formação de leitores. Refletiu-se sobre a importância de
contar histórias para as crianças desde cedo a fim de que seja construída uma
relação prazerosa com a leitura. Nessa perspectiva, constatou-se que cabe ao
adulto inserir a criança no mundo da leitura, por meio de variadas situações, sejam
elas espontâneas ou organizadas.
Diante dos estudos realizados, constatou-se que é somente por meio da
leitura que podemos ver o mundo com maior magnitude, se efetivarmos este ato tão
grandioso, além de construir uma sociedade leitora, há possibilidades de grandes
transformações.
No que tange à contribuição das técnicas, são relevantes, já que ao narrar
deve-se transmitir ao ouvinte emoção, encantamento, bem-estar, medo, alegria, e
tantos outros sentimentos com toda intensidade. Para tanto, o narrador precisa
saber descrever os detalhes na medida certa para que seu público sinta as emoções
descritas como se as estivessem vivendo.
Dessa forma, constata-se que, ao se utilizar uma técnica para narrar, o
ouvinte recebe a mensagem com maior amplitude e, em consequência, adquire
gosto pela leitura.
Vale ressaltar que, conforme Coelho (1999), antes de tudo, o contador deve
estar ciente de que a história é importante, sendo ele apenas o transmissor das
passagens que as faz com naturalidade, devendo deixar que as palavras fluam
naturalmente faz-se necessária a segurança, que será adquirida por meio da certeza
de que conhece a história, domina a técnica bem como de que está
convenientemente preparado para contá-la.
Considerando também que o ato de narrar histórias deve ser cuidadoso e que
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requer algumas condições. Para tanto defende-se o uso de recursos durante uma
narração. Recomenda-se que seja de uma forma compatível e criativa para enriquecer
esse momento portador de tantas significações. Afirma-se que, durante uma
narração, se os recursos forem utilizados devidamente, além de enriquecer a
história ainda desperta a imaginação do ouvinte.
Mediante esta pesquisa, o presente artigo espera despertar um maior
interesse em contar histórias nos professores, profissionais da área e também
naqueles que tenham interesse em formar leitores. Ressaltando que é relevante
refletir criticamente na escolha da técnica mais adequada, além de que é válido
afirmar que a condição básica para a narrativa está presente em si mesmo.
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