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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL Seminário AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 16 de março 2017 - São Paulo REPORT Curadoria Organização

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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

SeminárioAS SOLUÇÕES PARA O

SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

16 de março 2017 - São Paulo

REPORTCuradoria Organização

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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Sumário

Introdução..................................................................................................................................................................3Abertura: A articulação entre União, Estados e Municípios........................................................6Gilberto Peralta..................................................................................................................................................6Marcio Lacerda...................................................................................................................................................8Vicente Andreu Guillo.....................................................................................................................................9Mônica Porto......................................................................................................................................................11Roberto Muniz...................................................................................................................................................13Marcelo Cruz......................................................................................................................................................14

Legado e Perspectivas: Dez anos da Lei do Saneamento Básico e vinte anos da Política Nacional dos Recursos Hídricos...................................................................................................17

Roberto Muniz...................................................................................................................................................17Vicente Andreu Guillo....................................................................................................................................19Claudia Bonelli...................................................................................................................................................21Fabio Luiz Peduto Sertori...........................................................................................................................22

Os pressupostos para a viabilização de investimentos – alternativas de participação da iniciativa privada................................................................................................................24

Luis Cunha..........................................................................................................................................................24Jerson Kelman..................................................................................................................................................25André Clark........................................................................................................................................................27Bruno Werneck................................................................................................................................................29Massimiliano Santavicca..............................................................................................................................33Guilherme da Rocha Albuquerque........................................................................................................34Henrique Pinto.................................................................................................................................................35Alceu Segamarchi Júnior............................................................................................................................37Jerson Kelman.................................................................................................................................................44Debate..................................................................................................................................................................45

Financiamento: fontes e modalidades para suportar os investimentos.................................48Venilton Tadini..................................................................................................................................................48Luciene Ferreira Monteiro Machado....................................................................................................49Antonio Gil Padilha Bernardes Silveira................................................................................................50Bruno Sena........................................................................................................................................................56Yves Besse..........................................................................................................................................................59Flávio Martins Tarchi Crivellari..................................................................................................................63Renato Sucupira..............................................................................................................................................64Leonardo Moreira Costa de Souza........................................................................................................65Questões.............................................................................................................................................................68

Lições da crise hídrica em São Paulo e o projeto de despoluição do Rio Pinheiros........74Mônica Porto.....................................................................................................................................................74Vicente Andreu Guillo...................................................................................................................................76Marcos Penido..................................................................................................................................................77

Questão.....................................................................................................................................................................78

Assinatura da carta para o Fórum Mundial da Água........................................................................79

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Introdução

O saneamento básico é um dos setores de infraestrutura com a maior

necessidade de investimentos, e, ao mesmo tempo, dinâmico suficiente para

oferecer inúmeros retornos positivos, com ganhos exponenciais de bem estar,

qualidade ambiental e geração de empregos. O marco regulatório setorial

completou 10 anos em janeiro, e a política nacional de recursos hídricos

completou 20 anos também este ano. Estes marcos sugerem uma avaliação

crítica dos erros e acertos, das regras, das políticas e dos instrumentos

existentes. Diante deste cenário, que coloca o setor de saneamento básico e

recursos hídricos como prioridades, a ABDIB, entidade que liderou os esforços

setoriais para a aprovação das respectivas leis àquelas épocas, e que agora

contribui na organização do Fórum Mundial da Água, em 2018, aqui no Brasil,

idealizou o seminário “As Soluções para o Saneamento Básico e os Recursos

Hídricos no Brasil” para trazer os principais tomadores de decisões, discutindo

os principais temas de destaque da área.

Fundada em 1955, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de

Base (Abdib) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, cuja missão principal

é o desenvolvimento dos mercados de infraestrutura e indústrias de base

no Brasil e o fortalecimento da competitividade da cadeia fornecedora de

bens e serviços para estes setores. A Abdib congrega uma ampla gama de

companhias públicas e privadas que participam de todas as fases e estágios

dos negócios e investimentos nos setores de infraestrutura e indústrias de base,

de concessionárias de serviços públicos a fabricantes de equipamentos, de

fornecedoras de serviços como montagem, engenharia e projetos a empresas

de advocacia, financiamento e consultoria, entre muitos outras.

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Abertura: A articulação entre União, Estados e Municípios

Gilberto Peralta - ABDIB

Gilberto Peralta, Presidente do Conselho de Administração da ABDIB, abriu o evento explicando que o momento é oportuno para o desenvolvimento do saneamento básico e dos recursos hídricos. Tendo em vista o tempo decorrido da aprovação de ambos marcos regulatórios – tanto a Política Nacional de Recursos Hídricos, sancionada pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, quanto a Lei Nacional de Saneamento Básico, sancionada pela Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007 –, é importante olhar para trás e avaliar o legado de ambas. Mas, mais importante que isso, é fundamental olhar para frente e identificar as oportunidades de corrigir a rota do que foi necessário para acelerar o processo – e é preciso acelerar muito o processo.

Ao analisar a implementação dos marcos legais, disse Peralta, é possível verificar que, com algumas variações, ambas as leis trouxeram mecanismos e regras inovadoras para o fortalecimento institucional setorial. Entretanto, observa-se que ambas não foram plenamente aproveitadas pela administração pública – seja na União, Estados ou Municípios. Se elas foram parcialmente aproveitadas, os objetivos imaginados pelo legislador não foram, obviamente, plenamente atingidos. A ABDIB produziu duas análises para tentar compreender o que avançou e o que pode avançar nas áreas em questão, mas, principalmente, incitar o debate e a transformação.

A partir destas análises, vê-se que o legado é positivo, porém incompleto, e que há espaços e perspectivas para atingirmos o que as leis pretendem ou pretendiam. Na área de recursos hídricos, há iniciativas muito interessantes sendo conduzidas pela Agência Nacional de Águas (ANA) – uma com o objetivo de despoluir rios e mananciais e outra com o objetivo de fortalecer a organização institucional da administração pública na área de recursos hídricos: o desafio é ampliar a adoção de mecanismos inovadores constituídos pela Lei de 1997 em todas as cinco regiões brasileiras, cada qual com as suas peculiaridades e desafios próprios. A recentes crises hídricas no Sudeste e no Nordeste evidenciam a urgência na decisão e ação dos gestores. Já quanto ao saneamento básico, os dados recentes indicam que a universalização dos serviços de água e esgoto, se mantido o ritmo atual de investimentos e obras, será atingido apenas em 2050. A OMS publicou um dado que indica que, a cada dólar investido em saneamento básico, são poupados dois a três dólares em saúde – dado este que é importante não apenas pelo serviço, porém também pela clareza do evento secundário que trás à população.

Hoje com programas e iniciativas dos bancos públicos e com a implementação do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), temos uma oportunidade única para crescimento do setor de saneamento básico.

Gilberto Peralta

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É com entusiasmo que se vê os agentes do setor adotando esforços para aproveitar o arcabouço regulatório consolidado pela lei para ampliar os investimentos e parcerias tanto com os bancos e programas públicos quanto com concessionárias privadas.

Na área de recursos hídricos, há hoje duas iniciativas interessantes atualmente. A primeiramente consiste na organização do Fórum Mundial da Água no Brasil, que ocorrerá em Brasília em março de 2018. O fórum criará a oportunidade de engajar as autoridades públicas em todos os níveis da administração, bem como lideranças empresariais e segmentos da sociedade em torno de uma agenda comum, a apontar iniciativas a serem adotadas para melhorar a capacidade de prevenir ou de enfrentar as crises hídricas como as que estão sendo enfrentadas recentemente. Já a segunda iniciativa consiste em engajar o setor empresarial em um projeto de despoluição do rio Pinheiros, no reservatório da represa Billings. Diferentemente de outras ocasiões, a atual iniciativa é totalmente conduzida pelo setor privado, com autorização e supervisão do governo estadual de São Paulo.

Destacou-se que o seminário foi colocado como um espaço para identificar tudo aquilo que avançou e de tudo que ainda precisamos fazer para o avanço dos investimentos na área. Na infraestrutura, nada é fácil – é complexo formatar os estudos e projetos, estruturar o financiamento e as garantias, construir e operar os investimentos. Surgem dúvidas e imprevistos a todo momento, e é preciso manter o foco na condução dos cronogramas e orçamentos.

É fundamental construir uma articulação harmônica entre todos os agentes envolvidos neste processo, sejam eles órgãos públicos, empresas ou os poderes municipal, estadual e federal. Em um momento que passamos pela maior recessão da nossa história, não se pode atrasar o passo para a retomada dos investimentos por causa de uma desarticulação entre os agentes públicos, políticos e privados. O crescimento pressupõe investimento, e para investir é necessário que tenhamos um ambiente amigável, estável e com articulação bem refinada entre todos os agentes responsáveis.

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Marcio Lacerda - Frente Nacional de Prefeitos (FNP)

O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Marcio Lacerda, explanou que a FNP vem ampliando a sua atuação nos últimos anos e, atualmente, foca nos municípios com população acima de 80.000 habitantes.

O reconhecimento da importância do papel da cidade nos problemas mundiais vem se fortalecendo desde o momento em que a questão do aquecimento global e dos gases do efeito estufa começou a se tornar mais séria. Viu-se então que as cidades deveriam ter um protagonismo e que até mesmo já estavam tendo uma posição de maior destaque, lideradas pelas cidades americanas.

O Brasil é, hoje, 83% urbano. Essa rápida expansão da cidade gerou alguns problemas de infraestrutura, principalmente com relação ao saneamento básico, com os quais temos que lidar. Naturalmente, quando analisamos a evolução do IDH, desde o início da década de 1990, é incrível como o IDH das cidades brasileiras tem melhorado – o que reflete saúde, emprego e renda, escolaridade etc. Entretanto, como se fala de médias nestas medições, resta claro que ainda há grande nível de desigualdades dentre as cidades.

A principal questão hoje é que o governo federal, o Ministério Público e o Judiciário vêm cada vez mais cobrando dos municípios mais e mais serviços, transferindo mais obrigações aos municípios, sem, porém, designar recursos que iriam sustentar estas novas obrigações. A grande luta dos municípios hoje é que esta situação seja mudada.

É importante, portanto, que os municípios tomem uma posição de protagonismo nas discussões deste tipo de problema.

Existe uma série enorme de questões que afetam a vida nas cidades e que precisam ser discutidas com o Congresso, com a Fazenda, com o Executivo e com o Judiciário. Essa pauta é grande e é importante que os empresários, por meio de órgãos como a ABDIB, mantenham-se próximos das discussões, de modo a possibilitar a atração de investimentos à infraestrutura local, criando instrumentos que permitam às cidades o acesso a projeto sofisticados de

parcerias.

Marcio Lacerda

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Vicente Andreu Guillo - Agência Nacional de Águas (ANA)

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, por sua vez, iniciou expressando sua concordância com a Constituição Federal de 1988 no que tange à criação do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. Pela realidade brasileira, foi correta a especialização do sistema de águas – a possibilidade, a exemplo de outros países, de se vincular a água aos seus usos prioritários, e.g. ministérios de água e agricultura, energia e água, cidades e água. Pelas condições geográficas e pela diversidade brasileiras, a criação de um sistema de gestão de águas com uma identidade própria foi uma decisão correta.

Entretanto, mesmo com essa independência, permaneceu um sistema complexo ao definir, também, a dupla dominialidade das águas, na qual as águas superficiais ora são da União, ora são dos Estados. Se por um lado procurou dar um balanço maior ao pacto federativo, atribuindo responsabilidades para gestão da água pelos estados, ele sem dúvida, criou algumas dificuldades no processo de gestão das águas, porquê a atuação e os impactos de cursos de água estaduais acabam refletindo diretamente nos corpos de água federais e a gestão deste processo acaba muito complexa.

Mesmo após tantos anos da Lei Nacional de Saneamento Básico, estas complexidades não se resolveram. Ele afirmou que houve muitos avanços. Entretanto, há pontos no sistema de saneamento que divergem essencialmente dos pontos dos sistemas de gestão de água.

A começar na definição, na Lei, de que recursos hídricos não compõem o setor de saneamento. Também ao trazer para a Lei Nacional de Saneamento Básico que o enquadramento e as metas progressivas dele derivadas dependem da capacidade de suporte dos usuários – o que implica que não havendo tarifa, estão os entes autorizados a continuar lançando esgoto da forma que for possível nos mananciais.

Se por um lado essa especialização e essa complexidade tornaram esses setores mais especializados, por outro acabaram acarretando um determinado afastamento entre eles. Assim, é correta a iniciativa de tentar trazer uma maior aproximação entre esses dois setores. A notícia positiva nesta direção é uma posição recente do governo federal de realizar uma aproximação dos setores. Recentemente, a ANA foi chamada para ser uma agente coordenadora do processo de aproximação entre os sistemas de água e saneamento.

Hoje, o Brasil tem mais de 50 agências de saneamento que regulam o setor nas diversas esferas. Uma alteração estrutural, questionando a existência de tais agências e, até mesmo criando um agência centralizada, por mais que fosse mais adequado, acarretaria um desagrado grande e dispêndio de tempo, de modo que a proposta atual parece ser mais viável, procurando fazer com que a ANA qualifique a atuação das agências reguladoras de saneamento em todo o Brasil.

Esta, entretanto, não seria a questão principal do saneamento hoje, que consiste na qualificação do investimento. Para isto, é preciso, antes de aumentar o volume de recursos, mudar o padrão tradicional com que o financiamento do

Vicente Andreu Guillo

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saneamento é feito. O modelo de “balcão” – no qual o governo federal oferece uma série de recursos e pede que os interessados venham até ele retirar – é um modelo fraco, não só pelas influências que podem haver no processo de definição destes recursos, mas também pelo fato de que quem acaba por acessar estes recursos são as empresas mais qualificadas. Isto causa um “darwinismo” administrativo, no qual se repassa capital àqueles que, mesmo que precisem e apliquem bem o dinheiro recebido, não são os que mais precisam deste capital. Enquanto não mudarmos o sistema de financiamento, mesmo que se sofistique o setor de saneamento, isso será insuficiente para contribuir, de fato, para a

solução dos indicadores de saneamento.

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Mônica Porto - Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo

A Secretária Adjunta da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Dra. Mônica Porto, representante do Secretário Benedito Braga, destacou que a importância da discussão do evento reside no fato de ser, basicamente, referente à articulação entre recursos hídricos e saneamento básico.

À época, a lei de gestão de recursos hídricos trouxe aparentes grandes inovações e muito se esperava dela quando de sua outorga. Entretanto, na prática, os agentes setoriais esperavam que houvesse um maior desenvolvimento no setor do que efetivamente se observou. Destacou ela que o capítulo de fundamentos da Lei coloca, essencialmente, a importância da articulação do setor de recursos hídricos com os demais setores da sociedade. Esta articulação não seria referente apenas àquela entre agentes do setor, mas também entre o setor de recursos hídricos e outros setores relevantes, como o de saneamento, ou mesmo entre setores público e privado, para o atingimento dos objetivos da Lei.

Quanto à articulação entre os entes federativos, explicou que foi observada desde o momento da determinação, pela Constituição, de que parte das águas superficiais são de responsabilidade da União e parte são de responsabilidade do Estado, determinando a dupla dominialidade. Essa repartição, apesar de causar alguns problemas que precisam ser trabalhados, agrega um valor muito importante à medida em que permite preservar tanto o interesse local, posto que os estados estariam mais próximos dos problemas nesta esfera, quanto federativo, na criação da articulação e da efetivação de pactos entre os estados.

Uma articulação que é muito difícil de ser construída, porém absolutamente fundamental, é a com o poder municipal. O sistema de gestão de recursos hídricos é baseado em bacias hidrográficas. Essas bacias são territórios, e tais territórios são dos municípios. A coordenação da gestão dos recursos hídricos com a gestão territorial é um dos muitos aspectos que, ao longo do tempo, mais se teve dificuldade de construir. Esse problema se manifesta na articulação da gestão das águas com a gestão do uso do território, por exemplo, na questão da ocupação de áreas de várzea etc. O setor de drenagem urbana é muito diretamente impactado pela política de gestão territorial.

A aproximação entre os governos dos estados e a gestão dos municípios para tratar dos temas relacionados à gestão do saneamento se mostra cada vez mais necessária.

Quando se fala em universalização do serviço de saneamento nas cidades brasileiras, uma das barreiras para a universalização do saneamento é a questão habitacional – alcançar índices melhores de universalização significa conseguirmos equacionar adequadamente o problema habitacional.

Quando olhamos a necessidade de investimento no setor de saneamento para alcançarmos a universalização, é importante questionar se os valores previstos incluem as necessidade de investimento em habitação. Nas cidades do Estado de São Paulo, principalmente na região metropolitana de São Paulo, a necessidade de investimento em habitação é tão grande que esta se torna uma etapa muito difícil a ser vencida, o que acaba por se mostrar como uma das principais dificuldades em avançar no setor de saneamento.

Mônica Porto

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É necessário mirar em alguns exemplos práticos, algumas ações que começaram pequenas, porém que avançaram muito nos últimos anos. Há diversos programas realizados de maneira articuladas entre o governo do estado e os municípios que têm apresentado resultados interessantes (um exemplo é o programa Córrego Limpo, em parceria entre o Estado e a Prefeitura de São Paulo, que tem como meta trabalhar bacias pequenas que já tenham a sua rede coletora de esgoto instalada, de modo a resolver os problemas destas bacias integrando os sistemas de esgoto e drenagem a fim de garantir que o córrego fique limpo).

Uma decisão extremamente relevante por parte do governo do Estado de São Paulo no sentido desta articulação com as prefeituras municipais foi o apoio para a realização dos planos municipais de saneamento. Por meio desta parceria, pretende-se que, até meados de 2018, 100% dos municípios tenham realizado seus planos municipais de saneamento.

Outras ações que deram muitos resultados são, por exemplo, o Programa Mananciais, que trabalha em articulação com as políticas estaduais e municipais habitacionais e com as políticas de saneamento do estado e dos municípios para que se consiga preservar os mananciais da melhor forma possível. Ou mesmo a forma com a qual o Estado de São Paulo conduz a gestão do contrato entre o município de São Paulo e a Sabesp, que é gerido por um comitê gestor que tem membros do governo do estado e da prefeitura de São Paulo, de modo a haver a possibilidade de diálogo e da realização de decisões conjuntas sobre as melhores maneiras de realizar investimentos.

Muito embora a gestão de recursos hídricos e a gestão de saneamento tenham caminhado por caminhos separados na questão legal, o que se observa é que, pelo menos nos últimos anos, tem-se tentado dar crédito aos fundamentos da Lei de Recursos Hídricos.

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Senador Roberto Muniz - Senador da República

O senador Roberto Muniz, por sua vez, explicou que um dos maiores problemas do Brasil hoje é o desemprego. Porém, quando se informa desta maneira, restringe-se muito a capacidade de debate, posto que o desemprego é uma consequência. O grande problema atualmente é o ambiente de negócios, que não favorece a geração de empregos.

Em 2017, estamos em um momento em que é necessário realizar reformas estruturais, porém tais reformas não são possibilitadas quando há tanta desaprovação da população quanto se tem observado. O processo político democrático precisa ser repensado, posto que os políticos eleitos atualmente têm sido eleitos com votos de uma minoria da população. O governante assume seu posto com a proposta de realizar alterações em um ambiente que não é propício à sua presença, que não quer ouvi-lo.

Há um desejo de expansão de serviços públicos, mas a realidade faz com que seja necessário reduzir a oferta dos serviços públicos. Houve um período recentemente em que foram realizados grades aportes de recursos sem efetivo usufruto de melhorias pelas populações. Além disso, observa-se que os governos estão enfrentando crises fiscais. A economia mostra melhorias, mas ainda timidamente, e o ambiente global para os mercados emergentes está cada vez mais arriscado.

Devemos avançar hoje em micro reformas que tragam para dentro dos setores de infraestrutura segurança jurídica e real competitividade. Temos um processo histórico em que as empresas querem capturar governos e os governos querem capturar as empresas. É necessário que a relação entre o público e o privado seja repensada – e instituições como a ABDIB são necessárias para repactuar o modelo de relações das empresas com os governos. É necessário que, quando falarmos de relações entre governo e empresas, ao invés que discutirmos benefícios individuais, discutamos mercados competitivos.

A PEC 55, referente à limitação dos gastos públicos, tem um papel de trazer às administrações a impossibilidade de se gastar mais do que se ganha. Por mais que seja necessário o investimento externo, muita coisa poderia ser resolvida dentro do orçamento brasileiro, por meio do reexame dos gastos públicos. Neste sentido, é necessário revisitar as prioridades do Estado Brasileiro.

Saneamento, informou o senador, é o limite do capitalismo. Apesar de pouco se questionar quanto à participação privada em outros setores da infraestrutura, no saneamento ainda há resistência quanto à participação do privado. Há ainda muito corporativismo no setor.

Senador Roberto Muniz

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Marcelo Cruz - Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA)

O Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Sr. Marcelo Cruz, colocou que a agenda da água no Brasil e no mundo tem conquistado relevância cada vez maior, seja em razão da ocorrência de eventos climáticos extremos, como enchentes e estiagens mais severos e frequentes, seja devido à crescente demanda para diversos usos dos recursos hídricos. Além disso, a ausência dos cuidados necessários agrava problemas de poluição nos grandes centros do países em desenvolvimento, como é o caso no Brasil.

Em nosso país, as estatísticas que tratam da disponibilidade da água acabam mascarando os problemas. Ao falarmos genericamente que o Brasil dispõe de 12% a 18% da água doce superficial do mundo, temos uma sensação de segurança que não condiz com a realidade. A água está distribuída de maneira desigual pelo imenso território nacional. Esta desigualdade tem também paradoxos – por exemplo, se é verdade que 70% da disponibilidade hídrica está na região Amazônica, onde vive apenas 10% da população, é exatamente nesta região em que estão os piores resultados no saneamento, seja em água distribuída, em perdas físicas, na ausência de tratamento de esgoto urbano.

Embora estas informação sejam bastante conhecidas, é importante lembrá-las para dar dimensão aos desafios enfrentados. Precisamos de estabilidade nas políticas públicas para o setor, garantindo recursos financeiros elevados ao longo de vários anos, que deem segurança aos operadores atuais e futuros deste sistema. Também é imprescindível aumentar a eficiência do gasto, melhorar os resultados, os indicadores, nossas empresas e serviços municipais, para que a população possa beneficiar-se destes investimentos, melhorando sua própria qualidade de vida.

As cidades precisam valorizar mais as ações ambientais, inclusive para aumentar a disponibilidade e a qualidade das águas. As obras de infraestrutura, ainda que necessárias, não bastam. É fundamental recuperar e preservar nascentes e matas ciliares. O MMA tem se empenhado neste sentido, e também para que a regulação do saneamento seja melhorada, atuando com a participação da ANA junto ao setor de saneamento básico.

Outra grande responsabilidade atribuída ao MMA é coordenar a implantação da política de resíduos sólidos. Para isso, é necessário a articulação, dentre outros, com diferentes áreas dos governos federal, estatuais e municipais, empresas e catadores.

Quanto ao licenciamento ambiental, conhece-se as dificuldades relacionadas a este instrumento tão importante para gestão ambiental. Isto tem causado questionamento por parte de diversos setores, inclusive do próprio governo. Com este quadro em mente, o ministério tem buscado mobilizar equipes do MMA e do Ibama para redação de um texto para uma futura lei geral do licenciamento.

É imprescindível a elaboração de regras gerais sobre o licenciamento ambiental, válidas para todo o país, para assegurar ambientes regulatório e institucional estáveis, que proporcionem maior segurança jurídica.

Marcelo Cruz

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A ideia é aperfeiçoar e otimizar processos, tornando-os mais ágeis, eficazes, eficientes, transparentes e com maior coerência técnica, sem descuidar da questão ambiental.

A proposta do ministério inova ao trazer para o texto da lei a correlação de causa e efeito – tanto para o tipo de procedimento a ser aplicado, quanto para a determinação de exigências ao empreendedor. Assim, não lhes serão imputadas obrigações e responsabilidades que não guardem relação com os impactos do empreendimento. Outra previsão diz respeito à manifestação dos órgãos envolvidos com prazos bem definidos na vinculação com as fases do licenciamento. É o conceito de balcão único: todo processo inicia e finaliza no mesmo órgão licenciador, sob sua coordenação, que demanda e analisa a situação dos envolvidos.

A proposta da Lei Geral do Licenciamento Ambiental estabelece normas gerais aplicáveis ao procedimento de licenciamento a cargo dos diversos entes federados. O texto prevê regras claras, como a introdução de processos eletrônicos inovadores, com procedimentos simplificados, e até mesmo em fase única. Destaca-se também o critério locacional, considerando que um mesmo empreendimento tem impacto bastante distinto de acordo com a relevância ambiental da área de sua instauração.

Com esta abordagem, a maior parte das licenças será dada no rito simplificado. É o caso dos empreendimentos de saneamento que, em sua grande maioria, poderão ser submetidos a procedimentos simplificados. Esta última modalidade – por adesão e compromisso – poderá ser aplicada desde que se conheça previamente os impactos ambientais da atividade, o empreendimento e as características ambientais de sua área de instalação e operação.

É importante esclarecer que o potencial poluidor degradador, a ser definido por tipologia de atividade ou empreendimento, será estabelecido por meio de ato normativo dos órgãos colegiados deliberativos.

Caso sejam adotadas, pelo empreendedor, novas tecnologias, programa voluntário de gestão ambiental ou outras medidas que, comprovadamente, permitam alcançar resultados mais rigorosos do que os padrões e critérios estabelecidos pela legislação ambiental, a autoridade licenciadora deverá estabelecer condições especiais no processo de licenciamento ambiental, incluindo, por exemplo, redução do prazo de análise, dilatação de prazo de renovação de licença, simplificação do processo ou outras medidas cabíveis.

Destacou que o MMA está conduzindo a elaboração da Lei Geral de Licenciamento Ambiental de acordo com as premissas da eficiência, técnica, parceria e transparência, na certeza de que beneficiará o conjunto da sociedade.

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Legado e Perspectivas: Dez anos da Lei do Saneamento Básico e vinte anos da Política Nacional dos Recursos Hídricos

Senador Roberto Muniz - Senador da República

O Senador Roberto Muniz iniciou colocando que, se existe um segmento que foi esquecido pelo estado brasileiro, este é o saneamento. No seu entendimento, vivemos hoje um apartheid social, no qual as pessoas mais pobres sofrem profundamente com a falta de água e esgoto e, portanto, de qualidade de vida e de saúde.

Esta falta de investimento, que em verdade foi um direcionamento dos investimentos para outros setores da infraestrutura, fez com que se criasse uma anomalia, na qual a família brasileira, hoje, pague mais em outros serviços, como telefonia ou energia do que com saneamento.

Observa-se que o princípio de elasticidade dos preços que se aplica a tudo, exceto ao setor de saneamento: quando falta água, sobe o preço da energia, porém cai o preço da água.

São 35 milhões de pessoas não têm água tratada no Brasil. E apenas metade tem acesso ao esgoto devidamente tratado.

Por mais que haja questionamentos a serem colocados, a Lei Nacional de Saneamento Básico foi fundamental ao colocar os princípios gerais a serem aplicados ao setor. Destaca-se os princípios da universalização, da integralidade – um passo importante para o planejamento municipal e dos estados, por mais que seja difícil de se colocar em prática – etc.

Relevante lembrar do conteúdo do inciso V do art. 2º da Lei Nacional de Saneamento Básico, que estabelece como como princípio fundamental a “adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais”, que evidencia que o legislador, ao elaborar a lei, entendeu que devem ser observados e respeitados os sistemas regionais – cada estado, cada cidade, é um sistema diferente.

Ainda, no texto do artigo 3º, que estabelece que o saneamento básico é o “conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais (...)”, obtém-se que o saneamento é constituído, em primeiro lugar, do serviço, não das instalações. Isso é uma posição que não se observa na gestão nos últimos anos, que vem sendo muito mais focada em priorizar instalações, em detrimento do serviço.

Ainda no artigo 3º, coloca-se que a gestão associada deveria ser voluntária. Entretanto, conforme últimas decisões do Supremo Tribunal Federal, que a gestão associada deve ser tida como mandatária.

O senador critica a gestão do sistema por meio de regiões metropolitanas, posto que as águas não seguem uma lógica neste sistema, mas sim uma lógica de bacias hidrográficas. Assim sendo, tem-se que o sistema foi sendo desvirtuado por interesses corporativos.

Senador Roberto Muniz

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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Quando se fala da titularidade da gestão de recursos hídricos, a lei não enfrenta o problema da indicação clara de titularidade. Assim, criou-se uma insegurança jurídica, uma insegurança política, uma insegurança de gestão, posto que não houve um enfrentamento dos reais problemas no momento de elaboração da Lei.

É necessário entender claramente quem é o poder concedente para que se possa oferecer garantias para financiadores. Ainda, precisa-se enfrentar a questão dos contratos de programa sem deixar de ter a prioridade do estado que está realizando a gestão do sistema. Porém, também é necessário permitir que a competitividade entre no setor – o fato de que o setor ainda é pouco competitivo é evidenciado por apenas 5% ser gerido pela iniciativa privada.

Ainda, é necessário repensar os modelos do financiamento, que hoje não são adequados às necessidades do setor.

Foi destacado que foram investidos poucos recursos em saneamento e que, ainda, observou-se pouca efetividade destes recursos, tendo em vista que muitas obras não chegaram a serem finalizadas. Mesmo que haja investimento, os frutos dificilmente chegam na população.

O saneamento não pode perder a oportunidade de pensar grande – existe muito espaço para expansão. Não podemos fazer uma reforma pífia no saneamento. É necessário que se estruture o setor de maneira que comporte investimentos e que eventuais agentes privados que venham a investir no setor não carreguem o prejuízo histórico que se observa hoje.

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Vicente Andreu Guillo - Agência Nacional de Águas (ANA)

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Sr. Vicente Andreu Guillo, colocou que, de maneira geral, não há política pública completamente satisfatória no Brasil. No caso da água, houve muito avanço desde a publicação da Política Nacional de Recursos Hídricos, entretanto é necessário enfrentar com propriedade as melhorias ainda necessárias.

É necessário que se tenha uma identidade independente para o setor de águas, de maneira que se possa dar condições para intermediar e propor mecanismos adequados para o uso da água.

Dentre as questões que merecem destaque por estarem em desenvolvimento, importante falar no fortalecimento do conceito de segurança hídrica no Brasil. A questão foi evidenciada, por exemplo, no caso da oposição entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, no conflito envolvendo bacia do Rio Paraíba do Sul, que foi possível repensar a lógica da bacia, de modo a se verificar que uma maneira substantiva de melhorar a segurança hídrica da bacia era mudar o regime de operação dos seus reservatórios – não se trata mais de operar uma bacia com vistas a maximizar a segurança energética, mas sim de garantir a segurança hídrica da bacia. Ficou claro neste caso que, mesmo que se procure maximizar a geração de energia, a bacia deve ser gerida sem detrimento dos preceitos da sua segurança hídrica.

Hoje, estão usando tais preceitos para mudar a gestão das demais bacias brasileiras. A exemplo da bacia do Rio São Francisco, que hoje passa por uma situação dramática, e que precisa ter sua lógica de gestão repensada para não criar uma situação desnecessariamente insegura do ponto de vista hídrico. Na bacia dos rios Paraná-Tietê os conflitos provenientes da geração de energia também estão presentes, principalmente no que tange à navegação.

Esse questionamento do gerenciamento dos recursos hídricos deve ser feito, entretanto, com antecedência – não é possível deixar para repensar nossa metodologia de gestão hídrica em momentos de crise.

Hoje é necessário enfrentar, no âmbito de gestão dos recursos hídricos no Brasil, dois grandes problemas.

O primeiro é o da dupla dominialidade. Existem sistemas que são absolutamente caóticos em decorrência da dupla dominialidade (exemplo o sistema Cantareira, que é um conjunto de cinco reservatórios, entre estaduais e federais). A tendência é de federalizar as águas do Brasil, entretanto Vicente Andreu destacou que, em sua opinião, isso é, também, um erro, tendo em vista as condições territoriais e as peculiaridades regionais do Brasil.

Para resolver tal problema, é necessário que haja um órgão capaz de atuar, de maneira eficaz, na integralidade da bacia em situações de crise. Hoje, o gerenciamento é por bacia, porém o domínio é por calha de rio. A crise tem que ser conduzida, de maneira ágil, no sistema nacional de gestão de recursos, não nos tribunais.

Vicente Andreu Guillo

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Disso, deriva o problema que é necessário fortalecer a gestão de águas nos estados. Não se pode pensar em uma gestão de água centralizada, ou imaginar que os problemas que existem nos diversos estados, nas diversas bacias são equiparáveis ou iguais. É necessário que os estados deem respostas apropriadas na gestão dos recursos hídricos de seus respectivos escopos. Se não houver o fortalecimento dos estados, haverá a necessidade de uma agência que lide com todos os problemas da gestão de água federativamente.

O presidente da ANA explicou que é necessário encontrar uma solução que seja direcionada a enfrentar tais pontos primários, não a questões secundárias.

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Claudia Bonelli - Tozzini Freire Advogados

Na posição de uma das coordenadoras do painel, a Dra. Claudia Bonelli, sócia do Tozzini Freire Advogados, explicou que o tema é atual, presente e importante. O setor de saneamento, dentre os demais setores de infraestrutura, é um dos que mais demandam investimentos – e que, talvez, teria mais repercussão ao usuário final.

Os desafios que teremos que enfrentar para obter, de fato, esse ganho de investimentos são significativos. É fato que o Congresso, ao estabelecer as premissas da Constituição Federal, em 1988, optou, de forma bastante democrática, por segmentar, entre entes e esferas, uma gama de atividade que acrescenta extrema complexidade à gestão e à implementação do projetos e planos neste setor. Há, não só no setor de águas, mas também no de saneamento, uma gama de desafios que vem da dificuldade de interlocução constante entre agências reguladoras, órgãos estaduais, da determinação de competência constitucional entre estados e municípios, da disputa no que se refere à competência.

É um ambiente que maximiza os desafios na implementação de projetos e investimentos. São dificuldades que não são exclusivas aos setores de águas e saneamento, estando também presente, por exemplo, nos setores de mobilidade urbana e resíduos sólidos. Entretanto, estão acentuadamente nos temas em pauta.

É fato que, independente das discussões acerca da titularidade e quem em favor de quem deve realizar o que, a realidade é que o poder público, pelo menos nesta fase e neste momento, depende de investimento privado para fazer frente ao salto que tanto aguardamos. O investimento privado, entretanto, demanda determinadas seguranças contratuais e regulatórias para que possa ser efetivado de forma saudável.

Principalmente com a participação da iniciativa privada em períodos mais longos, o que se coloca em risco a cada período de quatro anos é a estabilidade regulatória e contratual. É evidente que o caminho da judicialização não é bom para ninguém, por isso é necessário estabelecer um ambiente regulatório, institucional e contratual sólido, que dê segurança aos investimentos, sejam eles a cargo do governo federal, estadual, municipal ou da iniciativa privada.

Claudia Bonelli

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Fabio Luiz Peduto Sertori - Felsberg Advogados

Também na coordenação do painel, o Dr. Fabio Luiz Peduto Sertori, sócio do Felsberg Advogados, lembrou a importância do artigo 11 da Lei Geral de Saneamento Básico, que coloca como condições de validade dos contratos de programa e concessão de serviços de saneamento básico: (i) o prévio planejamento, por meio da existência de plano de saneamento básico; (ii) a existência de estudo comprovando a viabilidade técnica e econômico-financeira; (iii) a designação da entidade de regulação e de fiscalização; e (iv) no caso de concessão, a prévia audiência e consulta públicas sobre o edital e o contrato.

Apenas 30% dos municípios possuem plano de saneamento aprovado. Tendo em vista que as companhias estaduais têm mais de 70% do mercado e 5% estão sob gestão de entidades privadas, é evidente que, passados dez anos da Lei, há ainda uma situação de irregularidade grande, principalmente no que tange a relação público-público, por meio da outorga da prestação de serviço pelos municípios com as companhias estaduais.

Com este cenário, é possível enxergar muitas oportunidades de avanço, principalmente no âmbito dos estudos promovidos pelo BNDES para contratação de consultorias, para pensar na desestatização da prestação do serviço e, potencialmente, na privatização das companhias estaduais de saneamento.

A regra colocada pela Lei Geral de Saneamento Básico não foi à toa. Primeiro é importante planejar, definir para onde está indo e para onde deseja ir, para então realizar as contratações, tanto com parceiros públicos quanto com parceiros privados.

É necessário avançar muito no apoio técnico para que as companhias estaduais e os governos estaduais consigam levar as necessidades do setor à frente. Destaca que é uma vantagem o fato de existir uma cultura de pagamento no setor e de os modelos tarifários já estarem instituídos. Entretanto, para viabilizar os investimentos necessários, é preciso que as lacunas sejam preenchidas.

Fabio Luiz Peduto Sertori

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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

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Os pressupostos para a viabilização de investimentos – alternativas de participação da iniciativa privada

Luis Cunha - EY Brasil

O Sr. Luis Cunha, representante da EY Brasil, explicou que o último mês tem sido especialmente um mês diferenciado para a infraestrutura, com sinalizações de que o mercado está voltando a se interessar por investimentos em infraestrutura no Brasil. A expectativa é que os próximos meses mantenham e confirmem as boas notícias no setor de infraestrutura. Por outro lado, resta claro que os problemas, já tão conhecidos, persistem.

Todos conhecem os problemas que devem ser ultrapassados, porém há uma dificuldade das agências regulatórias e dos players de entender como

ultrapassar os problemas-chave apresentados no setor.

Luis Cunha

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Jerson Kelman - SABESP

O Presidente da Sabesp, Sr. Jerson Kelman, iniciou sua apresentação explicando sobre como o BDNES acertou ao não impor um modelo único para a participação privada no saneamento. Há diversos modelos e vantagens e desvantagens a serem pensados em cada um deles. Afirma ser a favor da participação privada na prestação de serviços de saneamento e propõe que, agora, é necessário avaliar a maneira mais adequada, que depende de cada circunstância específica.

Não adianta jogar recursos no saneamento sem que estes investimentos sejam atrelados à eficiência. Os recursos são necessários, entretanto não suficientes para resolver os problemas do setor se as empresas responsáveis não forem eficientes na gestão de seus recursos, de seus investimentos etc.

Destacou que a Sabesp representa hoje uma rota de sucesso – não a única, entretanto é ela um expoente no setor. Nos anos 90, a Sabesp era uma empresa - a exemplo das empresas estatais de países em desenvolvimento - em que a inserção política era muito forte, que necessitava com urgência de eficiência e profissionalismo. Era uma empresa que estava inserida em um ciclo vicioso de não prestar serviços adequados em decorrência de tarifas controladas pelo governo e, em decorrência desta deficiência da qualidade dos serviços, falta de disposição dos consumidores de pagar por estes serviços. Portanto, uma espiral de desarranjos que termina com que os ativos e a infraestrutura construída fiquem sem manutenção, se deteriorem e sejam sucateados.

Em decorrência de gestões virtuosas da empresa, que quebraram este ciclo, houve melhorias operacionais. Tais melhorias acarretaram em maior respeito pelos consumidores, possibilitando a elevação das tarifas e das receitas de modo a possibilitar maior investimento na infraestrutura. Portanto, um ciclo inverso ao que se observada antes.

Apesar de haver muito a ser feito, a empresa é hoje uma das mais renomadas no setor, procurando levar a prestação dos serviços com a melhor eficiência e transparência possíveis. Resta claro que ainda há muito a ser feito, entretanto, as tarifas estão de acordo com o serviço prestado hoje – mesmo quando se observa que a Sabesp tem apresentado resultados positivos, o lucro anualmente obtido é revertido em investimentos em infraestrutura. A Sabesp, contrariamente a diversas empresas estatais atuantes no setor, não recebe subsídios, dependendo seus investimentos inteiramente da obtenção de lucro.

Outros exemplos de participação da iniciativa privada na prestação do serviço público no setor de saneamento básico, que não a efetiva participação no capital de uma empresa estatal prestadora de serviços, a exemplo da Sabesp, são, dentre outros, as parcerias público privadas (PPPs), como, por exemplo, a do Sistema Produtor São Lourenço, ou os contratos de performance, empregados na execução de tarefas muito complexas, como, por exemplo, a eliminação de perdas de água no centro de São Paulo.

Os vários estados que estão envolvidos com os projetos de consultoria intermediados pelo BNDES terão de se empenhar na reflexão de qual, entre os diversos modelos, com diversos níveis de participação da iniciativa privada, é mais adequado a eles. Quais as vantagens e desvantagens de, por exemplo, se

Jerson Kelman

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realizar a privatização da empresa? A vantagem é óbvia – reside no fato de que as empresas estatais estão sujeitas a restrições, regras operativas, burocracia, controles, muito maiores que as empresas privadas. As desvantagens seriam, de maneira simplificada, duas. Primeiro que a empresa estatal tem acesso a financiamentos que uma empresa privada não tem, de organismos multilaterais, o que torna o custo de capital menor. A segunda é que a empresa estatal pode formalizar contratos de programa – pelo qual o município elege a empresa estatal sem passar pelo processo de licitação.

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André Clark - Acciona Brasil

Já o Diretor da Acciona Brasil, Sr. André Clark, começo apresentando a Acciona, uma empresa de projeto, construção e start up em operação, sendo a maior gestora de água – quase 90 milhões de pessoas se beneficiam dos seus serviços. A empresa é atraída pelo Brasil e acredita que, apesar da crise, os interesses públicos e privados podem estar alinhados em prol de uma mudança social.

Existem questões estratégicas, práticas e conjunturais no investimento em saneamento no Brasil. Destaca-se a perda de água – hoje se gasta estimados R$ 10 bilhões em perda de água, mais do que se investe em saneamento. Neste fato, reside uma grande oportunidade, bem como no amplo capital disponível e no baixo uso de tecnologia.

Alguns dos problemas são a governança heterogênea, o fato de que a água bruta não é vista como escassa – podíamos estar aproveitando mais água de reuso, por exemplo. Ainda, ainda há muito espaço para discutir a estrutura da tarifa, bem como o fato de que a regulação é difusa e que falta transparência no setor. Tem-se também a questão dos prazos incertos para obtenção de recursos e a estrutura dos editais limitada.

André Clark

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A Acciona acredita que a questão do esgotamento sanitário deveria ser enfrentada como um recurso – ou seja, água é escassa em várias capitais o que faz com que se devesse olhar como matéria prima, grande fonte de oportunidade. Na eficiência de distribuição de água reside uma enorme oportunidade. A crise hídrica gerou uma grande oportunidade de mudança.

Acreditam que o Brasil tem grandes oportunidades nesta área.

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Bruno Werneck - Mattos Filho Advogados

O Dr. Bruno Werneck, sócio da Mattos Filho Advogados, é necessário um choque quanto à participação privada no setor.

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I. Situação atual

Índices alarmantes de perda de água no Brasil;

Abastecimento de água não universalizado em vários Estados;

Coleta e tratamento de esgoto insuficientes;

Consenso: investir em saneamento reduz exponencialmente gastos com saúde.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

A situação do saneamento do Brasil hoje é muito ruim – o Brasil tem muita coisa

a ser investida, o que o torna o país atrativo para investimentos.

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II. Causa

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

(Fonte: Panorama da Participação Privada no Saneamento – Brasil 2016, publicado pela ABCON).

Bruno Werneck

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Há, hoje, uma participação do setor público gigantesca.

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III. Alguém duvida?

Setor de telecomunicações: antes x depois de privatizações;

Distribuidoras de energia: privadas x distribuidoras estatais;

Vale: antes x depois da privatização.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

Quando comparados a outros setores (e.g. telecomunicações, mineração, aeroportos, energia), resta evidente que isso é uma das grandes causas do atraso do saneamento básico no Brasil.

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IV. A culpa é dos gestores?

Resposta: NÃO.

Os instrumentos em vigor inviabilizam uma gestão eficiente:

Lei de Licitações: contratação pelo critério de menor preço;

Equiparação salarial;

Nível salarial e poucos mecanismos de promoção e estímulo;

Estabilidade funcional;

“Descompromisso” com resultado dos órgãos de controle.

Decisões políticas.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada A culpa não é dos gestores, o que ocorre é que os mecanismos que existem em vigor são absurdos, acabam por impedir a boa gestão das empresas públicas. Por exemplo, quando se fala na Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), a contratação guiada exclusivamente ao menor preço é um absurdo, também as contratações limitadas a cinco anos também são ineficientes.

Problema dos mecanismos de controle dos órgãos reguladores – quando houve o problema da crise hídrica de São Paulo, ninguém foi reclamar com os órgãos de fiscalização, quando deveriam – os órgãos de controle têm sua parcela de responsabilidade.

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AS SOLUÇÕES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

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V. Solução

Participação do capital privado, por meio de:

Privatizações;

Concessões e subconcessões;

PPPs.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

Poderíamos ter grandes avanços caso tivéssemos uma Lei de Licitações mais moderna. Tudo poderia ser diferente, entretanto a verdade é que não é. Deste modo, a saída mais rápida seria buscar privatizações, PPPs, concessões etc.

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VI. Medidas para estímulo

Auxílio do Governo Federal na estruturação dos projetos pelos Estados e Municípios;

Auxílio dos Estados na estruturação dos projetos pelos Municípios;

Apoio orçamentário a medidas de participação do investidor privado;

Adoção da cláusula de eficácia na obtenção do financiamento;

Riscos de obtenção de licenças e desapropriações alocados ao Poder Concedente;

Regras tarifárias claras e auto executáveis e regras de revisão quinquenal que assegurem upside ao investidor;

Criação de mecanismos que mitiguem o risco cambial (indexação parcial da tarifa à variação cambial ou hedge oferecido pelo Governo).

PRECISAMOS DE UMA ABORDAGEM PRAGMÁTICA.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

É necessário que haja medidas para estímulo. Precisam-se ter interlocutores no governo federal que entendam como funciona o setor de infraestrutura e que trabalhem para que o setor efetivamente avance.

Tivemos um período no passado de muita confusão do que é público e do que é privado. Devemos focar em contratos equilibrados, players bons, competentes e capazes de prestar um serviço melhor.

Devemos avançar, e o modo para que isso seja possível é a estruturação. O tra-balho do BNDES tem sido muito bom, entretanto os estados deveriam replicar este modelo, prestando apoio também aos municípios. Entidades como a FNP e outras que tenham vontade, deveriam auxiliar os municípios a modelar seus projetos para desenvolvimento do serviço.

Falta capacidade técnica na maioria deles, falta capacidade de contratar con-sultores – em decorrência de procedimentos licitatórios calcados no menor preço, os melhores consultores não trabalham com o Estado brasileiro.

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É necessário parar com exigências demasiadamente profundas nas modelagens. Na opinião dele, uma PPP, mesmo que mal feita, é melhor que a prestação que se tem hoje. É necessário ter processos que façam mais sentido, sejam mais pragmáticos. O governo brasileiro, em todas as suas instâncias, tem a capacidade de fazer licitações rápidas, sem que estas sejam atropeladas ou direcionadas. Bastaria que houvesse um pouco mais de flexibilidade na elaboração do contrato. Deveria ser possível começar, em alguns casos, contratando, e ir aos poucos modulando.

Existe muito dinheiro barato em infraestrutura hoje, decorrente da redução dos investimentos, pelos bancos que fazem project finance, em petróleo e mine-ração – o que faz com que haja capital parado, aguardando oportunidade de investimento. Na sua opinião, é necessário pensar em um sistema de indexação não total, porém parcial das tarifas em variação de moeda estrangeira, para que seja possível viabilizar os financiamentos.

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VII. Situação ganha-ganha

Maior oferta de serviços;

Melhoria na qualidade dos serviços;

Manutenção do valor das tarifas;

Pagamento de outorga ao Poder Concedente;

Gestor público pode focar em assuntos de importância estratégica, como educação e desenvolvimento e planejamento urbano.

Os pressupostos para a viabilização de investimentos - alternativas de participação da iniciativa privada

A situação de participação do privado no público é claramente ganha-ganha. É necessário pensar em outras formas de auxiliar os municípios a fazerem suas PPPs, realizar ações de conscientização dos próprios gestores e, por fim, é im-portante lembrar que, a partir do momento em que o gestor público não pre-cisar se preocupar em prover este serviço, poderá ele focar em assuntos mais latentes, como educação, desenvolvimento urbano etc.

Quando se tem uma empresa pública, faz-se um número absurdo de licitações por ano – em média 150 por ano. Isso torna o trabalho do gestor público inviá-vel. A desestatização poderia sanar este problema à medida que poderia trazer racionalidade ao processo de contratação.

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Massimiliano Santavicca - GE Power

O Diretor Comercial da GE Power para América Latina, Sr. Massimiliano Santavicca, explicou que é necessário refletir um pouco sobre como o setor evoluiu e o que ainda é preciso fazer para endereçar os principais desafios do país no saneamento.

Antes de mais nada, importante ratificar a noção que o setor privado não é subs-tituto do setor público, mas sim complementar, hoje ainda com uma participação pouco significativa. É necessário que seja encarado desta forma para que não haja o debate corporativista do setor privado vir a substituir o público. Encontramos diversos exemplos de sucesso desta relação, como a Sabesp, o projeto Aquapolo, o Sistema Produtor São Lourenço.

Um fator de esperança é ver o caminho que vem sendo seguido pelo governo fe-deral hoje, que mostra que há possibilidade de coordenação por meio de modelos de contratação que não os até recentemente em vigor, que são, comprovadamen-te, muito ineficientes. Também se vê iniciativas estaduais neste sentido, a exemplo da iniciativa de limpeza do Rio Pinheiros, exemplo de como é possível colocar, des-de o início, a iniciativa privada como importante aliado para o benefício público.

Quando se fala no modelo de contratação pública, é extremamente frustrante ob-servar que as empresas não têm, hoje, como realizar as melhores contratações por conta de limitações da Lei de Licitações. Vê-se os investimento sendo mal feitos e os ativos, mal cuidados, pois as decisões não podem ser feitas analisando-se o investimento ao longo do tempo.

Quando o setor privado participa das decisões, estas não são meramente basea-das no menor preço ou menor investimento, mas sim no menor preço e no me-nor custo operacional ao longo do tempo. Os materiais que são empregados são muitas vezes selecionados de modo que a empresa tenha, ao longo do tempo, um melhor retorno.

A sofisticação do investimento no Brasil é incipiente. Quando se observa os indi-cadores dos últimos dez anos, desde a promulgação da Lei Geral de Saneamento Básico, o avanço do provimento do serviço foi proporcional à quantidade de pro-jetos que puderam avançar para migrar para soluções tecnológicas avançadas. Ele revelou que a expectativa é que as novas formas de participação privada sendo propostas pelo governo possam elevar o patamar da prestação dos serviços e ter resultados distintos dos alcançados até o momento. Isso é importante para haver o salto necessário para que o setor avance.

Massimiliano Santavicca

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Guilherme da Rocha Albuquerque - BNDES

Já o Sr. Guilherme da Rocha Albuquerque, chefe do Departamento de Desestatização do BNDES, explicou a dificuldade de se seguir com os níveis de investimentos aquém do necessário para atingir a universalização. Tendo em vista os avanços necessários, viu-se que era necessário repensar os modelos empregados - e o BNDES entendeu a necessidade de criar uma comunicação com quem tem 70% do mercado: as companhias estaduais e os estados.

Deste modo, tentou-se desenhar um programa que atendesse os estados, não esquecendo também dos municípios, que são parte fundamental do setor.

O BNDES vem trabalhando, desde a década de 1990 com desestatização, navegando, como se pode ver, pelos mais diversos setores, com projetos bastante significativos. Projetos de desestatização não são, portanto, novos par ao banco, pois existe um know how na estruturação deste tipo de projeto.

Então, foi oferecido aos estados a oportunidade de o BNDES auxiliar na contratação de serviços de assessoria jurídica, técnica, econômico-financeira. O programa foi desenhado de modo a não se ter modelo pré-determinado, e com uma estrutura de modo que, uma vez prontos os estudos, os estados podem manifestar interesse ou não em continuar com as desestatizações.

O programa foi apresentado a todos os estados e os que manifestaram interesse foram divididos em três lotes.

Há potenciais benefícios caso se consiga realizar todas as desestatizações propostas. Os dados mostram a importância e ajudam a criar uma atmosfera que incentiva a avançar.

Em um primeiro momento, o BNDES se reuniu com os estados, determinou o escopo dos serviços, o que se proporia a ser feito. Então, procurou determinar, junto aos estados, o que seria exigido para a pré-qualificação dos consórcios, qual seria a qualificação técnica demandada, tentando reunir consórcios capazes de comprovar a expertise necessária.

No primeiro lote de estados, foram habilitados 20 consórcios. Seria então realizado o leilão deste lote e outros consórcios poderiam solicitar qualificação para o segundo lote. Além dos estados listados, importante mencionar Rondônia, que estava com um processo em paralelo e, com este estado, totalizam-se 12 estados em um primeiro momento.

O momento seguinte seria a realização de diagnósticos específicos para cada estado, para então entrar em uma etapa de detalhamento dos modelos, com a elaboração de minutas de editais e contratos, inclusive com a estruturação de documentos em inglês, para permitir a participação de players estrangeiros.

Por fim, chegaríamos à finalização do processo, por meio do leilão da concessão, PPP ou privatização, conforme for do interesse do estado em questão.

A ideia é que os estudos durem entre seis e oito meses, dependendo do tamanho o estado, de modo que, no início de 2018, os projetos estejam prontos para contratação, respeitando-se todas as aprovações necessárias.

Guilherme da Rocha Albuquerque

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Henrique Pinto - Programa de Parcerias em Investimentos (PPI)

O Sr. Henrique Pinto, Secretário de Articulação de Políticas Públicas da Secretaria Especial do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI), explicou que a questão regulatória é a mais importante dentro de toda a complexidade do setor de saneamento básico. A escolha é de se fazer concessão – sendo pertinente a diferenciação desta com a privatização, que consiste na venda do ativo, na qual quem o compra tem a liberdade de fazer o que quiser. Saneamento básico é um setor que envolve serviço público que é, necessariamente, de responsabilidade do governo, devendo este prestá-lo diretamente ou via um concessionário. Assim sendo, fica claro que um bom arcabouço legal é fundamental para que as desestatizações sejam efetivamente realizadas e a prestação dos serviços seja realizada como se deseja.

A motivação da organização foi de ordenar e fazer uma articulação das ações a fim de aumentar os investimentos. A crença por trás disso é que a iniciativa privada pode acelerar e trazer eficiência. Deve-se provar a necessidade do aumento da eficiência em cada processo de concessão proposto.

Há diversas formas de encarar esta eficiência: operacional, financeira, de trazer uma boa competição e estimular soluções criativas etc.

O saneamento é marcado por ineficiência. Entretanto, não por culpa dos gestores públicos, mas de todo um conjunto de travas enfrentado pelas empresas estatais.

Com as tarifas atuais, podemos fazer mais e mais rápido aproveitando a eficiência do setor privado.

Henrique Pinto

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No caso de projetos ou setores que não estão em esfera federal, a visão do PPI foi de que seria possível ajudar numa articulação de todos os entes para facilitar os processos.

Em primeiro lugar, o governo federal auxiliaria anunciando a política do setor como uma prioridade, mas também, dentro do possível, articulando todas as ações que o governo tem naquele setor com os entes responsáveis a fim de acelerar e fazer projetos de boa qualidade, sem, entretanto, entrar na competência do ente responsável, seja ele estadual ou municipal.

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Alceu Segamarchi Júnior - Secretário Nacional de Saneamento Ambiental do Minitério das Cidades

O Secretário Nacional de Saneamento Ambiental do Minitério das Cidades, Sr. Alceu Segamarchi Júnior, explicou que, em sua opinião, o grande problema do saneamento é a execução. Conseguir o recurso já é uma batalha, entretanto a execução efetiva é muito baixa. O resultado disso é que não será possível atingir a universalização no prazo proposto originalmente.

O Ministério das Cidades no setor de saneamento básico atua como fomento à política e saneamento, oferta de recursos para investimento no setor, planejamento do setor de saneamento (inclusive do Plano Nacional de Saneamento Ambiental - Plansab) e também fomento ao controle social e regulação.

Os números do Plansab, já bem conhecidos, deixam um sentimento de frustração. Percebe-se que há necessidade de investir R$ 300 bilhões em água e esgoto. Entretanto, a gestão, sozinha, fica estimada em R$ 112 bilhões – ou seja, ela tem um processo vital no desenvolvimento do setor e, mesmo assim, vem sendo delegada.

Alceu Segamarchi Júnior

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Os cenários econômicos atuais não correspondem àqueles que haviam sido levados em consideração originalmente, quando da elaboração do Plansab, mas o próprio plano tem um mecanismo de revisão a cada quatro anos. Inclusive, neste ano de 2017, ocorrerá a reavaliação, de modo a levar em consideração os novos cenários e índices. Há também o Grupo de Trabalho Interinstitucional – GTI, do Plansab, que se reúne entre três e quatro vezes por ano para realizar a implementação, o monitoramento, a avaliação e a revisão do Plano.

O Ministério possui alguns programas específicos para apoio ao saneamento, sejam os players municipais, estaduais ou privados. Entretanto, a partir de 2014, os recursos do Orçamento Geral da União e dos Fundos de Financiamento apresentaram quedas ou restrições de acesso.

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No gráfico acima, é interessante observar a diferença entre os valores comprometidos e efetivamente desembolsados com o setor.

Desde o início do PAC, o investimento no setor foi de R$ 82 bilhões de reais, por outro lado, deste valor, apenas R$ 45 bilhões foram efetivamente executados. O percentual de execução do investimento do PAC em saneamento amonta em apenas 55% - um número, portanto, muito baixo, ainda mais quando se pensa que os contratos do setor já têm alguns anos.

É possível atribuir esta diferença à falta de gestão e à incapacidade dos gestores de conduzir os projetos e obras. Hoje, 75% dos contratos que estão com problemas ou atrasos no setor de saneamento ocorrem por conta de erros ou falhas em projeto.

Seriam, em tese, contratos facilmente implementáveis, entretanto que acabam por apresentar falhas que dificilmente podem ser corrigidas ao longo da

execução da obra.

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O Programa Saneamento para Todos é um exemplo de linha de financiamento, conforme disposta no slide acima, porém importante destacar que os recursos do FGTS estão disponíveis, através do Ministério das Cidades, para captação pelos

entes que tratam de saneamento no Brasil, sejam eles agente públicos ou privados.

O que tem acontecido, nos últimos 2 anos é que os players privados têm se apresentado bastante retraídos na captação dos recursos a eles disponíveis – até por conta da situação econômica na qual os controladores destas empresas se encontram hoje.

Em azul, no slide acima, destaca-se as modalidades nas quais já houve captação por parte da iniciativa privada.

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Dos dados apresentados, interessante notar que, em análise hoje, tem-se um valor igual a quase metade de tudo que já foi desembolsado até o momento. É

uma importante evolução – embora ainda muito tímida.

Tem-se feito uma divulgação bastante intensa junto às entidades do setor de tudo aquilo que se tem disponível junto ao Ministério das Cidades, em especial às Debêntures Incentivadas, que é uma modalidade que está sendo descoberta pelo setor – tanto pelas empresas estaduais ou públicas quanto pelo setor

privado.

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As linhas de ação vão desde (i) as parcerias estratégicas, por meio de participação acionária, a (ii) as PPPs, sendo que o incremento das PPPs é de grande interesse ao Ministério das Cidades posto que os recursos do FGTS podem ser utilizados para financiar os futuros operadores do sistema de saneamento, além de (iii) os incentivos econômicos e financeiros, principalmente com relação ao controle

de perdas e à gestão de resíduos sólidos.

As grandes propostas envolvem o grupo de trabalho da Casa Civil, que está ouvindo muitos players, de modo que está formando uma massa crítica para começar a realizar o refinamento das propostas apresentadas

Ainda, importante lembrar da discussão acerca da supervisão da regulação da prestação de serviços de saneamento básico sendo proposta à ANA.

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As obras, de fato, possuem uma maturação mais longa, levando em média entre cinco e sete anos, o que contribui para a complexidade do setor.

O orçamento do FGTS em 2017 para o setor de saneamento é da ordem de R$ 9 bilhões, para os setores público e privado. Em 2016 foi de R$ 7,5 bilhões – sendo que não foi gasto nem R$ 1 bilhão. Isso evidencia que temos, ainda, muito a caminhar.

Os recursos representam apenas a primeira parte da solução dos problemas de saneamento. O acesso a estes recursos e, depois, a eficiência na aplicação de tais recursos tem maior importância.

É inegável que a situação econômico-financeira atual desacelerou a resolução destes problemas, entretanto ainda cabe reconhecer que o setor evoluiu nos últimos 10 anos. O que é necessário neste momento é que esta evolução seja mais acelerada para que consigamos, em um horizonte visível, chegar na universalização.

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Jerson Kelman - SABESP

O Sr. Jerson Kelman, em seus comentários, mostrou-se favorável à competição entre prestadores de serviços nos municípios. É necessário, entretanto, garantir civilidade a essa competição, significando, especificamente, que não é aceitável que uma empresa, pública ou privada, assuma uma concessão sem indenizar os ativos não amortizados à concessionária anterior.

Para ele, o fato de a Sabesp ser uma empresa pública tem dois pilares: (i) eles não rejeitam municípios “negativos” – seja porque a prestação do serviço é mais cara, seja pela receita ser mais baixa. Para que a prestação do serviço fosse sustentável, a tarifa deveria ser mais elevada. Entretanto isso não é pleiteado, tendo em vista o bem comum (para tanto, são realizados subsídios cruzados entre municípios sustentáveis e não sustentáveis); (ii) o fato de que todo o lucro é reinvestido, no limite da possibilidade legal.

O capital privado é bem vindo, entretanto é necessário que tenha uma visão de longo prazo.

Por fim, essa pulverização da competência dos estados e municípios determinada pela Constituição Federal é, de fato, de difícil regulação. Não é cabível que tenhamos 5.600 agências reguladoras, uma em cada município. Assim, a escala da regulação é inviável.

Nesse momento, é interessante olharmos para o setor elétrico, na qual o poder concedente é a União. Neste setor, há uma agência reguladora, que, independentemente de críticas, tem a inteligência de realizar regulação econômica. A agência tem o compromisso de revisar as tarifas de cada prestador dos serviços – é necessário que haja uma agência comprometida e centralizadora também no setor do saneamento.

Quando da elaboração da lei de fundação da ANA, uma das intenções era que a Agência Nacional de Águas fosse uma agência reguladora de stand by, de adesão facultativa aos municípios para a regulamentação do setor de saneamento básico.

Ter, em âmbito federal, uma entidade com capacidade técnica à disposição para exercer a função de agência reguladora, ainda que por adesão, traria segurança aos investidores. Deste modo, facilitaria a entrada de capital e a melhoria da prestação de serviços.

Jerson Kelman

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Debate

Luis Cunha - EY Brasil

O moderador, Sr. Luis Cunha, colocou que um dos pontos centrais é a questão das competências dentre as esferas do governo. Ainda que seja feito um esforço por parte do estado ou federação, ainda existe a prerrogativa da prefeitura para realizar a regulação do setor de saneamento como um todo.

Um caminho seria a apresentação de um suporte por parte das entidades estatais, entretanto se observa um tanto de resistência e de dificuldade para que isso aconteça. Muitas vezes o estado ou a empresa de saneamento se colocam à disposição para auxiliar, entretanto a elaboração de um plano de saneamento naquele momento não consta como a prioridade da prefeitura.

Bruno Werneck - Mattos Filho Advogados

Dr.  Bruno Werneck colocou que uma das soluções seria ter um modelo mais aberto de contrato. No limite seria poder fazer uma licitação na qual, em um primeiro momento, o parceiro privado auxiliaria o município a elaborar um plano de saneamento para depois auxiliar na implementação dos desdobramentos deste plano. No seu entendimento, isso não demandaria uma mudança legal, mas sim uma alteração nos modelos de contratos.

O ideal é, de fato, que haja a elaboração do plano de saneamento para, então, o município contratar um prestador de serviço, entretanto é necessário que se leve em conta a realidade do momento, a fim de solucionar o problema no momento.

Guilherme da Rocha Albuquerque - BNDES

Sr.  Guilherme Albuquerque, então, colocou que, no programa do BNDES, eles estão prevendo um auxílio à elaboração dos planos de saneamento municipais, de modo a procurar sanar as obrigações da Lei Geral de Saneamento Básico para que possam os municípios exercer o direito de contratar empresas que os auxiliem na prestação dos serviços de saneamento.

Sr.  Guilherme Albuquerque complementou com um questionamento quanto ao fato de que a lei não faz nenhuma distinção, questionando a possibilidade de se colocar para municípios de mil habitantes as mesmas exigências do que para grandes metrópoles. Esse é um ponto que deveria, caso seja levantada uma discussão quanto ao marco legal, ser levado em conta.

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Alceu Segamarchi Júnior - Secretário Nacional de Saneamento Ambiental do Minitério das Cidades

Já o Sr.  Alceu Segamarchi Júnior colocou que a maior os municípios que procuraram o BNDES são os de grande porte. A maior parte dos municípios que não elaborou o plano municipal de saneamento a esta altura são os pequenos municípios, que têm poucos recursos e que provocam pouco interesse na iniciativa privada

Massimiliano Santavicca - GE Power

O Sr. Massimiliano Santavicca, então, lembrou que houve, inclusive, a prorrogação, mais de uma vez, do prazo para que cada município apresentasse seu plano. A iniciativa atual tem um potencial de atender as necessidades destes municípios que ainda precisam apresentar seus planos de saneamento básico, entretanto postulou um questionamento quanto à possibilidade de se colocar, no âmbito do PPI, algum incentivo que auxilie na resolução desta questão.

Lembrou também que há também um problema a ser levantado quanto à qualidade dos planos – grande parte dos planos apresentados são de baixa qualidade, inviabilizando o investimento de recursos por conta da insegurança jurídica.

André Clark - Acciona Brasil

O Sr. André Clark lembrou, então, que o melhor investimento é no planejamento, na realização dos estudos necessários. Se o município é tão pequeno que nem os estudos necessários podem ser comportados em seu orçamento, cabe lembrar que temos as universidades públicas, com agentes interessados e dispostos a realizar este serviço. Desta maneira, o próprio Estado pode ajudar.

Henrique Pinto - Programa de Parcerias em Investimentos (PPI)

Sr.  Henrique Pinto acrescentou que a visão da solução de uma forma menos integrada é mais deficitária. A análise de soluções dentro de cada município isoladamente com certeza será pior do que quando uma solução pensada levando em conta subsídios cruzados. Para que consigamos atingir com mais facilidade os municípios mais carentes, alguma solução que seja mais integrada é necessária.

No modelo de regulação no qual os municípios são o poder concedente, os municípios com mais retorno serão atacados pelos privados. É necessário olhar o interesse público em primeiro lugar para que a solução final seja otimizada, levando

em conta todas as questões pertinentes.

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Financiamento: fontes e modalidades para suportar os investimentos

Venilton Tadini - ABDIB

O presidente-executivo da Abdib, Sr. Venilton Tadini, inaugurou o painel explicando que o saneamento tem um problema estrutural com relação aos outros setores: atuam tanto empresas estaduais quanto o detentor do serviço público, que é o município.

A questão da concessão do serviço pelos municípios deverá ser enfrentada quando das análises dos estudos promovidos pelo BDNES. Isso pode ser um problema em diversas esferas, como, por exemplo, pela falta de previsibilidade de fluxo de caixa, tendo em vista que os contratos de concessão dos municípios têm datas de vencimento distintas.

Evidente que sempre se pode passar, em um primeiro momento, por uma aber-tura de capital ou operação similar para posteriormente verificar este tipo de problemas.

Diferentemente dos demais segmentos, há um problema essencial quanto ao tomador do recurso. Este problema deverá ser resolvido na modelagem, ao se delinear como o ente privado vai entrar para que os recursos possam chegar até ele, dada a fragilidade que os entes públicos têm hoje na tomada de recur-sos, seja para financiamento, seja em contrapartidas para PPPs.

Superado estes problemas, há ainda a questão de um seguro garantia bem estruturado para que se possa realizar um financiamento na modalidade de project finance non recourse.

Por fim, será necessário enfrentar o problema de como realizar a captação de recursos externos. É possível suprir uma parte da necessidade de recursos pelo mercado de capitais, entretanto será sempre necessário complementar com doses maciças de recursos externos. Para tanto, é necessário enfrentar o pro-blema da questão da variação cambial, que desarranja não só quem aplica, mas

também quem toma o recurso.

Venilton Tadini

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Luciene Ferreira Monteiro Machado - BNDES

A Superintendente da Área de Saneamento e Transportes do BNDES, Sra. Luciene Ferreira Monteiro Machado, destacou a importância do trabalho que o BNDES tem realizado com as consultorias para estruturação dos estudos. É uma etapa fundamental que, por mais que seja custosa, tanto em questão de capital quanto em questão de tempo, vai, caso bem feita, poupar tempo e dinheiro no futuro, possibilitando o atingimento do objetivo da universalização da prestação do serviço.

Partindo do principio que esta iniciativa será bem sucedida, o BNDES ainda tem uma série de desafios internos. Vê-se um setor que tem um déficit no que tange a um marco institucional adequado e a um arcabouço regulatório desenvolvido. Sem esses dois aspectos bem resolvidos, é difícil promover a execução dos projetos, bem como seu financiamento. É muito difícil lidar com a instabilidade nos projetos gerada, por exemplo, pela ausência de uma regulação mais padronizada, alinhada e ativa.

O BNDES reviu recentemente suas políticas operacionais e reafirmou ao setor de planejamento a mais alta prioridade nos termos de seus recursos. Isso se traduz, por exemplo, num maior percentual de TJLP em relação a seus investimentos e nos maiores prazos que o banco pode oferecer.

Hoje, o BNDES têm dois desafios principais. O primeiro em relação à política de crédito do banco, que precisa ser modernizada para que possam atender com a presteza e tempestividade necessária. Ainda, um outro desafio vai ser aprender a lidar com investidores novos, inclusive internacionais, o que traz uma preocupação maior com mecanismos de hedge cambial.

Luciene Ferreira Monteiro Machado

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Antonio Gil Padilha Bernardes Silveira - CAIXA

O Diretor-Executivo de Saneamento e Infraestrutura da CAIXA, Sr. Antonio Gil Padilha Bernardes Silveira, lembrou os números pertinentes ao abastecimento

de água e esgoto.

Antonio Gil Padilha Bernardes Silveira

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Os recursos, quando pensamos em R$ 10 bilhões não parece um número muito grande, entretanto importante pensar neste valor como um meio de atrair recursos novos, não apenas do FGTS, do BNDES e dos bancos que usualmente aplicam neste setor.

Quando pensamos em infraestrutura e saneamento, a Caixa tem financiamentos

em andamento ou contratados em praticamente todas as áreas da infraestrutura.

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Hoje a carteira de saneamento da Caixa atinge mais de R$ 118 bilhões em 2016, sendo que houve um robusto recrudescimento no procedimento de aplicação dos recursos nos últimos dois anos, em decorrência da economia brasileira.

Saneamento básico, juntamente com energia, consistem nos principais focos de

aplicação de recursos da Caixa.

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A Caixa financia tanto entes da federação quanto empresas do setor. O setor de saneamento é onde a Caixa consegue fazer, com maior capacidade, project finance non recourse ou limited recourse, muito mais que nos outros tendo em vista que, por mais que a regulamentação seja dispersa, existe uma regulamentação que, quando aplicada, permite a garantia de que haverá recebíveis. Ainda, há também o fato de que a maioria dos empreendimentos são brown field.

O primeiro ponto é a necessidade de se usar, cada vez mais, instrumentos de

mercado de capitais. O financiamento será, e continuará sendo, insuficiente.

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Com relação aos aspectos regulatórios, entende que uma revisão da regulação talvez não seja o ideal nem o mais fácil, entretanto é, no mínimo, necessário que haja alguma padronização, de maneira que seja possível ter um mesmo nível de funcionalidade em municípios de pequeno, médio e grande porte, de maneira que o financiamento seja viabilizado.

Outra questão extremamente relevante é com relação à gestão. Tem-se ainda, com relação às empresas estaduais, muita ineficiência, que gera risco. Por exemplo, a forma mais fácil hoje de realizar uma PPP é a subdelegação do contrato de programa. Entretanto, existem hoje contratos de programa com níveis altíssimos de regulação e contratos que não têm, em seu corpo, nem ao menos informações sobre sua vigência ou prazo.

A questão da gestão precisa ser claramente endereçada, portanto.

Entendem que o que é feito hoje é muito pouco. Entretanto não podem interromper o que já está sendo feito em prol de uma coisa melhor – não é possível realizar a interrupção do fluxo de financiamento pois, certamente, a situação ficaria substancialmente pior. Se tentarem tirar as modalidades de financiamento em vigor para realizar um estudo voltado à melhoria do sistema de financiamento, visando uma nova alternativa, o efeito será atrasar o problema mais do que achar uma solução.

Quanto às modalidades de financiamento por mercado de capitais, cada vez mais observam a utilização de debêntures incentivadas. Ainda, estão realizando a implantação do FGIE para contornar o problema dos riscos não gerenciáveis.

Um dos mandatos que receberam é a revisão do tempo de aprovação dos financiamentos.

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Quanto à regulação setorial, tem-se incentivado e buscado respaldar a ideia de uma padronização federal.

Tem-se buscado, também, valorizar, também, o trabalho do PPI, de valorizar todos os tipos de parceria.

A capitalização de companhias estaduais, via FI-FGTS ou outros FIPs, é algo que está na mesa, entretanto entendem que os estudos realizados pelo BNDES podem apontar isso como algo de maior ou menor valor.

Hoje existe uma dívida no setor do saneamento, então é importante questionar por que se mantém a visão do setor como era duas ou três décadas atrás, como não conseguimos simplificar os processos tanto de financiamento quanto de licenciamento ambiental das obras relevantes. Este último em especial, uma vez que, em que pese a implementação de um projeto de saneamento básico ter algum efeito degradador, a sua ausência implica em uma degradação ainda maior ao ser humano.

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Bruno Sena - Barbosa Mello Participações e Investimentos

Já o Sr. Bruno Sena, Presidente da Barbosa Mello Participações e Investimentos,

colocou que a Barbosa Mello iniciou a sua atuação no setor de saneamento em 2014.

Observou que se tem mantido investimentos na ordem de R$ 10-13 bilhões por ano em saneamento. Para atingir a universalização até 2033, este investimento teria de ir para a ordem de R$ 21 bilhões em média por ano, o que mostra o tamanho do desafio do setor.

Esse desafio pode ser agravado se, com a crise fiscal enfrentada pelo pode público, o crescimento dos privados no setor não vai dar conta da queda que as entidades públicas terão nos próximos anos. Observa-se que nos últimos anos, muito com verbas de PAC e outros incentivos ao setor, houve um aumento significativo no

investimento privado, entretanto o déficit é muito grande.

Bruno Sena

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Para se chegar ao nível de investimento necessário, o primeiro passo importante é ter projetos. Nos últimos cinco anos, houve um crescimento grande de PPPs junto a companhias estaduais, e agora, com a onda de desestatização, teremos

um espaço grande para investimento.

E, para atrair investidores ao setor, seja de equity ou de dívida, é necessário que haja bons projetos no setor de saneamento.

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Para atingir o número de projetos necessário para que possamos chegar, eventualmente, ao nível de universalização, é necessário atrair capital estrangeiro para o Brasil.

O setor de saneamento, por serem projetos brown field, e por serem projetos que têm um fluxo de caixa previsível, tem projetos relativamente seguros.

Quando falamos de investimento estrangeiro, precisamos, entretanto, mitigar o risco cambial (pode-se empregar soluções de outras áreas, por exemplo), ou a questão do seguro (temos questões legislativas em pauta, e.g. o projeto de nova Lei de Licitações).

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Yves Besse - Veolia Water Technologies

O Diretor-Geral de Projetos para América Latina da Veolia Water Technologies,

Sr. Yves Besse, introduziu com um breve histórico da Veolia.

Primeiramente, enfrentou-se a questão da falta de um titular que pudesse en-frentar o problema do saneamento, foi então criado o Ministério das Cidades. Então foi levantado que faltava um marco regulatório, necessidade esta que foi suprida por meio da instalação de um arcabouço legal que poderia ser resumi-do como definindo planejamento, regulação e regularização.

Yves Besse

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Por mais que houvesse o marco regulatório, não houve a sua promoção, regulamento e controle; a regulamentação ainda é não tem uma competência específica; ainda, muitos municípios prestam o serviço de maneira sem contrato, em desacordo com o marco regulatório, não apresentaram o plano de saneamento, dentre outros tantos problemas que surgiram.

Para possibilitar o financiamento, é preciso analisar os modelos, quais sejam: (i) a prestação direta, na qual o município presta o serviço à sua população, modelo que atinge 20% da população urbana hoje, porém tem-se que poucos municípios aplicam o marco regulatório; (ii) a prestação indireta, por meio de companhia estadual, atingindo 70% da população urbana atendida, entretanto sabe-se que a maioria das CESP estão sem capacidade operacional e financeira para dar continuidade às suas obrigações; e (iii) prestação indireta via privado,

que atinge 10% da população urbana, que está avançando, entretanto lentamente

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Encontram alguma resistência à concessão tradicional, de modo que o modelo mais buscado atualmente é a concessão administrativa, com ou sem aportes. O grande problema deste modelo é a necessidade de apresentação de garantias.

O modelo mais adequado seria a concessão patrocinada, com ou sem aporte. Entretanto tem-se que a ideologia com relação ao setor de saneamento impede a sua aplicação.

Temos modelagens, porém não sabemos direito como aplica-las.

Existem modelagens de privatização das companhias estaduais, entretanto elas não funcionam. Existe, por exemplo, uma dificuldade diagnóstica, nem as companhias sabem exatamente o que têm. Acaba não funcionando porque não vai haver a possibilidade de utilizar os 30 anos da concessão para poder dar o dinamismo e revisar seus contratos.

Locação de ativo é um modelo que pode ser aplicado apenas para obra, funciona, portanto, apenas em alguns casos.

Por fim, o contrato de performance consiste em uma solução de curto prazo sem continuidade para realmente atender às necessidade do saneamento.

Precisamos ter recursos em moeda nacional – e temos. Os recursos nacionais existem e estão sobrando, entretanto não conseguimos aplica-los, faltam bons projetos, bons balanços, para que se possa avançar e financiar os investimentos.

Precisamos ter estabilidade macro econômica e política para que possamos ter uma visão de longo prazo. Houve um breve momento em que isso foi uma possibilidade,

com o Plano Real, em 1994, entretanto hoje já não temos mais este momentop.

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Precisamos ter modelos de financiamento de longo prazo, porém são apresentados corporate finance. Não há balanço suficiente para manter a quantidade corporate finance suficiente para atender às necessidades do setor.

É necessário que sejam realizados reais project finance. Para isso, é necessário ter bancos privados envolvidos, é necessário mitigar o risco por meio da inserção de mais instituições neste mercado.

Não é necessário reinventar nossa história, é necessário aprender com ela.

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Flávio Martins Tarchi Crivellari - Aegea

Por sua vez, o Diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Aegea, Sr. Flávio Martins Tarchi Crivellari, informou que a Aegea, uma holding que controla empresas atuantes em 47 municípios brasileiros, distribuídos em nove estados, para mitigar os riscos envolvidos em saneamento, não deixou de insistir em melhoria do marco regulatório e na velocidade de contratação com banco públicos e de fomento, mas procurou caminhos alternativos para fazer negócios em uma realidade muito instável da economia brasileira.

O primeiro ponto foi a a estrutura de capital. Quando você não tem fontes de recursos à exceção do funding da Caixa e do BNDES, foi necessário procurar sócios de sociedades estrangeiras. São empresas brasileiras, entretanto com participação de grupos brasileiros e estrangeiros. Isso trouxe (i) capital, recursos de estrangeiros, e (ii) práticas de governança,

transparência, relação com as comunidades onde se presta o serviço, relação com compliance, de modo que reforçou a capacidade da empresa de encontrar outras fontes de recurso, ou seja, acabou por ajudar a atrair mais capital.

O segundo ponto relevante foi procurar alternativas de financiamentos no mercado de capitais, principalmente debêntures, tanto incentivadas quanto normais. Por exemplo, além de ser financiada pelo IFC, a Aegea fez, no ano passado, o primeiro financiamento em reais com o BID.

O grupo provou que é possível acomodar a volatilidade da economia brasileira. Entretanto, é necessário investir em uma estrutura societária e de governança muito forte e buscar todas as alternativas possíveis.

Neste trajeto, a Aegea descobriu alguns mitos. Por exemplo, foi verificado que é possível financiar municípios pequenos ou grandes, ambos podem ser rentáveis. Adicionalmente, o marco regulatório, por mais que tenha espaço para melhorar, funciona na multiplicidade de formatos. Trata-se da necessidade de os investidores se adaptarem e que é possível ter um investimento rentável, seja em água, seja em esgoto, contrato de PPP ou outro modelo.

É claro que o setor seria muito mais avançado se houvesse um marco regulatório mais claro, maior transparência nos financiamentos. Entretanto, estas questões não são impeditivas.

Não falta financiamento na Caixa, no BNDES ou mesmo de investidores estrangeiros. Existem players dispostos a correr os riscos do setor. O que falta hoje são projetos. Existe também ainda algum engessamento, alguma resistência política em colocar PPPs, concessões, no âmbito das companhias

estaduais, dos municípios.

Flávio Martins Tarchi Crivellari

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Renato Sucupira - BF Capital

O Diretor Presidente da BF Capital, Sr. Renato Sucupira, colocou que todos atravessam a maior crise da história do país. Entretanto, quando se busca o lado positivo, vê-se, por exemplo, por meio do leilão dos aeroportos, que o país continua sendo atrativo.

Quanto ao saneamento, há uma grande mudança, baseada, justamente, na situação atual do país. Tanto na questão dos índices observados ultimamente de água e esgoto, quanto na precária situação fiscal, que limita a capacidade de investimento do poder público, tudo isso levará a uma maior abertura do saneamento ao setor privado, o que vai derivar para apoio por parte do governo, como é o próprio programa de estudos do BNDES.

Entende que não vai haver nenhuma privatização das empresas estatais de saneamento, mas que haverá a apresentação de algum modelo que passará pelo investimentos nas empresas estatais.

Temos recebido muitas empresas estrangeiras tentando investir em infraestrutura e, especificamente, em saneamento. É um dos sinais de que estamos num cenário de possibilidade financeira favorável.

O saneamento é um setor que tem algumas condições extremamente favoráveis: recebe recursos, que tem uma alavancagem muito alta – chegando a 80% –; tem, tanto na Caixa quanto no BNDES, custos de capital muito baixos do mercado e prazos que chegam a 24 anos.

Entretanto, apesar destas questões, existem problemas de projeto, as licitações são procedimentos complexos, que acabam por desestimular os investimentos no setor. Ainda, os dois pontos principais de melhoria a fim de viabilizar os investimentos no setor são: (i) a necessidade de se oferecer garantias corporativas. É necessário que exista a possibilidade de realizar investimentos por meio de project finance; e (ii) a velocidade de aprovação da operação de financiamento pela Caixa e pelo BNDES.

Ainda, o palestrante menciona também como ponto de déficit a falta participação dos órgãos reguladores na estruturação das operações, a fim de verificar a regularidade da operação previamente. É necessário realizar todas as avaliações financeiras e, também, trazer os órgãos reguladores que vão, em última instância, avaliar as aprovações realizadas pelos funcionários dos bancos públicos.

Renato Sucupira

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Leonardo Moreira Costa de Souza - Azevedo Sette Advogados

O sócio da Azevedo Sette Advogados, Sr. Leonardo Moreira Costa de Souza, destacou a necessidade de reflexão nos projetos de saneamento. É preciso pensar na qualidade dos projetos, na velocidade de aprovação dos financiamentos, na segurança jurídica, no histórico do setor, dentre tantos outros itens.

É necessário, no momento da licitação, vencer não apenas uma concorrência, mas sim a concessão toda – é um compromisso de longuíssimo prazo e o retorno financeiro e a capacidade de levantar os recursos dependem, efetivamente da qualidade do projeto.

É necessário que o público não conte exclusivamente com MIP/PMI, mas que também tenha uma consultoria capacitada. Na prática, tem-se visto que, quando você tem consultorias especializadas contratadas, o projeto geralmente é melhor e há mais êxito no procedimento.

Antonio Gil Padilha Bernardes Silveira

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Durante a fase de análise da documentação da licitação, é preciso que o privado faça uso efetivo dos mecanismos de controle em licitações (audiência e consulta pública) não apenas para prejudicar opositores, porém também para efetivamente melhorar os documentos licitatórios e o próprio projeto até que você consiga fazer propostas claras e seguras, para que o privado, caso ganhe o procedimento licitatório consiga obter financiamentos e não tenha maiores problemas durante a concessão.

Um outro ponto de atenção é a análise da matriz de risco. É necessário analisar a fundo as consequências que cada item pode ter na futura concessão. Isso tem uma ligação direta com os investimentos, sendo necessária até mesmo para a propositura de valores factíveis, evitando ter que pleitear, mais à frente, um reequilíbrio econômico-financeiro.

É preciso lembrar que todas as falhas que são sanadas durante a concessão

seriam melhor manejadas se o tivessem sido no período licitatório.

Uma vez contratado, é necessário lidar com a sua relação com o poder público. A principal deficiência que se vê nessa relação refere-se à forma de comunicação. É necessário instrumentalizar o processo de comunicação, observar a formalidade e clareza necessários para que se possa ter êxito, por exemplo em um eventual processo de reequilíbrio.

Quando se tem PPP, é necessário que se lide com atenção com as garantias

apresentadas no contrato.

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É necessário observar as exigências e limitações dispostas nos contratos de financiamento. Há restrições, por exemplo, de distribuição de dividendos, questões relacionadas a pedidos de anuência, cláusulas de cross default etc. Os contratos de financiamento devem ser bem analisados e também devem ser contemplados na matriz de risco da concessão.

Se não houver um acordo de acionistas muito bem redigido, muito bem endereçado, onde esteja disposta a participação efetiva de cada acionista. A questão societária tem o potencial de inviabilizar uma concessão.

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Questões

Questão 1 - Por que a SABESP não tem financiamentos contratados junto ao BNDES? O custo de capital é mais alto?

Luciene Ferreira Monteiro Machado – A SEBESP é uma das companhia que gozam de melhor reputação e conceito creditício, de modo que isso se reflete nas condições a serem praticadas em um financiamento. O custo de capital para financiamentos à SABESP seria bastante baixo, entretanto a companhia conseguiu atrair outros fundings e consegue seguir sem financiamentos do

BNDES.

Questão 2 – A falta de definições claras em termos de referência e procedimentos para orientar TCU, MP e licenciamento ambiental, acaba levando à judicialização e interrupção de obras. Como enfrentar o excesso de judicialização no Brasil para evitar o risco de ter as obras interrompidas?

Leonardo Moreira – É uma questão de amadurecimento, a questão ambiental tem raízes institucionais, falta uma consolidação dos entendimentos e uma orientação mais clara dos entendimentos. Talvez fosse conveniente haver decisões vinculantes de cortes superiores, que evitem a sobrejudicialização. É uma questão que aparece em diversos setores, tem raízes na cultura brasileira, de certa maneira.

Antonio Gil – Um problema quando se estava estudando o PPI, é como o mecanismo de controle olha a concessão – tem-se que o órgão de controle pode revisar o termo de referência a qualquer momento, criando uma insegurança jurídica.

No PPI, pretende-se que, antes da publicação do edital, após a consulta pública, seja necessário o envio do edital ao órgão de controle, de modo a, mesmo que não evite a judicialização, já levantar algumas questões que poderiam causar atrasos posteriores.

Leonardo Moreira – A consulta prévia ajuda a diminuir, entretanto não mitiga o risco envolvido com eventuais exigências proferidas por órgãos de controle. O ideal seria alocar o risco ao poder público, entretanto existe uma questão

política envolvida com o travamento posterior do edital.

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Questão 3 – Postulda pelo Sr. Venilton Tadini – Temos visto que, do ponto de vista de estruturação de funding para o segmento específico, temos, além da questão institucional e de natureza política e jurídica que envolve a questão das concessões e/ou exploração deste tipo de serviço por um ente privado, dada a interconexão que tem com os vários níveis da administração, algumas fontes de recursos poderiam ser utilizadas, dentre elas: (i) recursos externos, que apresenta um problema cambial na parte variável do direito de outorga utilizarmos na flutuação cambial, fazer o ajuste nesta parta, é um caminho interessante, é adepto a esta linha, vir a complementar isso com alguma fronte extraordinária, como, por exemplo o fundo garantidor de infraestrutura vir a complementar algum fator que exceder esta fórmula; ou (ii) recursos provenientes de mercado de capitais, nos quais o problema não são relacionados à demanda, porém a quem está colocando este papel no mercado – é necessário questionar se o segmento e/ou projeto que esta sendo lastreado por este meio tem um retorno adequado. Quanto a esta última modalidade, seria possível que instituições financeiras oficiais encarteirem títulos emitidos, entretanto, para tanto, seria necessário ter uma fiança bancária privada, fiança esta que afetaria a alavancagem da mesma forma.

Questionou a Caixa e o BNDES sobre como resolver, via mercado de capitais, quando os projetos tiverem um risco de oscilação de retorno? Ainda, quanto à questão do project finance non recourse – qual a estrutura de seguros adequada no completion period para que a instituição financeira tenha conforto para conceder um financiamento baseado em receitas futuras e não em garantias corporativas?

Luciene Ferreira Monteiro Machado – O BNDES tem um papel no desenvolvimento do mercado de capitais, e, no fundo, um compromisso maior em poder instrumentalizar os projetos de modo a facilitar a reciclagem dos ativos, reintrodução do papel no mercado. Deve haver uma discussão sobre os termos mínimos para que o BNDES, de forma mais amigável, para que o banco possa adquirir os títulos em um primeiro momento, mas coloca-los no mercado em um segundo momento.

A grande dificuldade está em lidar com os risco pré completion. É necessário mitigar o risco pré completion para migrar as estruturas mais para um project finance mais próximo ao limited recourse.

É preciso traçar uma trajetória para ir introduzindo estes produtos, focando inicialmente em projetos de monta menor, brown fields, que possam mitigar, de alguma forma os riscos envolvidos. É necessário analisar, também, a gestão destes empreendimentos. A experiência internacional é que, para atingir estes objetivos, as seguradoras têm um posicionamento diferente com relação ao acompanhamento do projeto, de modo a vir minimizar suas perdas futuras ou postergar a necessidade de indenização. É uma gestão diferente de passivamente aguardar eventuais demandas.

Renato Sucupira – O saneamento, como possui uma demanda constante, tem seus riscos razoavelmente mitigados – mesmo que suas construções parem, a manutenção do fornecimento é necessária, o investidor vai continuar tendo um fluxo de caixa. Isso traz o saneamento a um lugar bem diferenciado, ainda melhor do que investimentos tidos como mais seguros, como linhas de transmissão ou usinas eólicas. É necessário estudar como fazer para que estes projetos que já estão produzindo, já têm um fluxo de caixa, tenham modelos adequados de garantia.

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Antonio Gil – Sobre a questão do mercado de capitais, colocou que é necessário ter algum tipo de recurso que se recicle na economia. É benéfico que haja participação do capital privado no setor, quando houver, por exemplo, uma estrutura que permita que o prestador do serviço público seja bem ranqueada de modo que possa fazer, ela própria, emissões internacionais, eventualmente coordenadas por bancos brasileiros, tanto melhor.

A Caixa não enxerga no mercado de capitais uma concorrência, mas sim uma necessária complementariedade. Isso faria com que, eventualmente, os recursos menos onerosos, os recursos públicos por meio de repasse da União ou de recursos do FGTS, atenderão justamente aqueles que não tenham capacidade de obter recursos junto ao mercado de capitais.

Com relação à questão das fianças bancárias, entendem ser uma provocação necessária. A Caixa entende que a estruturação de assessores financeiros seja cada vez mais voltada para a efetiva implementação do projeto, não para a obtenção de um financiamento de longo prazo. É necessário que o foco dos bancos privados mude de prover empréstimos pontes para, por exemplo, fornecer fianças bancárias, estudando mais a parte financeira do projeto. Entretanto, esta mudança de formato acarreta alguma insegurança – caso, por exemplo, a Caixa adapte seu modelo, entretanto os bancos privados não se se mostrem dispostos a assumir esse novo papel. Assim, o banco está hoje tentando penar em formas eficientes de apresentar um modelo de seguro que possa atrair os bancos privados ou, até mesmo, substituí-los.

Provavelmente teríamos um caminho mais fácil para chegar em project finance non recourse ou limited recourse se a bancabilidade ou financiabilidade do projeto fossem endereçadas, por exemplo, desde o início do projeto, já no

termo de referência da licitação.

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Questão 4 – Considerando a dificuldade de se remunerar o agente privado pelos investimentos realizados apenas com a arrecadação de tarifas, parece que o modelo de PPP patrocinada seria o mais adequando para atrais investidores para o setor de saneamento. Porém, com a situação financeira dos municípios e estados, como seriam realizadas as contraprestações financeiras do parceiro público? Que tipo de garantias poderiam ser oferecidas pelo poder concedente ao parceiro privado?

Renato Sucupira – Levantou que a premissa que as tarifas não são suficientes é relativa. Na média, as tarifas do setor têm sido suficientes.

Antonio Gil – Para saneamento, como a maioria dos projetos é brown field, no geral as tarifas têm sido suficientes. Hoje, o parceiro público não tem estado possibilitado de efetivamente realizar uma contrapartida – os projetos têm sido mais voltados a onerar o mínimo possível o parceiro público.

A questão da garantia, do fundo garantidor, das garantias de terceiros, dos seguros, não vai suprir a ausência de capital necessário hoje.

Yves Besse – Destacou que, na PPP, a função do privado não é aportar recursos, mas realizar a gestão de maneira eficiente. E é a eficiência da gestão que viabilizará a captação de recursos. Os recursos vêm de um negócio bem

estruturado e bem gerido que vai possibilitar a captação.

Questão 5 – Por que o projeto de despoluição dos rios Pinheiros e Tietê não sai do papel há anos?

Venilton Tadini - No projeto em desenvolvimento pela ABDIB, observaram que o que ocorreu nos últimos anos foi uma falta de preparação e articulação, do ponto de vista dos entes públicos, seja do estado ou do município, que acabou gerando uma

falta de sintonia para que se levasse a cabo um projeto de tamanha complexidade.

Questão 6 – Quais seriam as alterações legais necessárias ou mais urgentes para dar maior escala à participação privada no setor?

Bruno Sena – Uma questão importante é a regionalização da regulamentação, das agências reguladoras para concessões municipais. Não podemos ter a pretensão de que em municípios pequenos será possível ter agências capazes de estruturar um projeto, analisar os riscos, enfrentar questões de ordem de ordem jurídica, ambiental, técnica, de engenharia etc. Por conta disso, esses projetos dificilmente iriam para frente.

Flávio Martins – Uma agência forte mitiga a insegurança política de trocas de prefeitos ou tentativas de interferência indevidas. Quando o prefeito começa a pensar em conceder, é necessário que haja um plano municipal, caso não haja um em vigor, é necessário tomar as providências para sua elaboração, então deverá haver uma audiência pública, uma negociação com a prestadora de serviço com contrato de gestão em vigor, depois é preciso elaborados o edital, contrato e documentos correlatos, a realização da licitação etc. Até começar a realizar o investimento efetivo, o mandato deste prefeito já se esgotou. Para que o projeto possa acontecer efetivamente, de maneira adequada, é necessário que o planejamento dependa menos de vontade política.

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Yves Besse – O marco regulatório é bom, nos permite muitas opções de parcerias com o privado. O grande problema foi que não houve uma preocupação com a implementação adequada deste marco regulatório. E houvesse vontade política para dar condições adequadas ao saneamento, bastaria procurar uma implementação mais efetiva do marco regulatório. Importante lembrar que o PPI não é um programa de saneamento, é um programa de dívida com os estados – a intensão principal do governo federal não é apoiar o saneamento, mas sim resolver uma relação entre os estados e municípios ligados às dívidas entre os entes.

Enquanto não quisermos solucionar o problema do saneamento, em específico,

não teremos como implementar soluções devidas.

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Lições da crise hídrica em São Paulo e o projeto de despoluição do Rio Pinheiros

Mônica Porto - Governo Estado de São Paulo

A Secretária-Adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do Governo Estado de São Paulo, Dra. Mônica Porto, lembrou que, agora que estamos com uma situação mais confortável com relação aos nossos reservatórios, devemos manter a discussão sobre a gestão dos recursos hídricos.

A seca que atingiu o Estado de São Paulo entre 2013 e 2015 foi sem precedentes, um evento hidrológico com baixíssima probabilidade de ocorrência. Isso nos trouxe uma primeira lição relevante a ser aprendida: antes, era amplamente aceito realizar projetos considerando um risco de apenas 5% de falha – ocorre que a crise hídrica de São Paulo estava dentro destes 5% de falha. Isto mostra, de um ponto de vista de engenharia, a necessidade de reavaliarmos os critérios de projeto e buscarmos um jeito mais moderno de gestão de risco do que aquilo que era comumente aceito.

A Região Metropolitana de São Paulo acabou se tornando um exemplo muito mais relevante neste contexto. Ocorreu um evento altamente improvável, porém com um impacto gigantesco pois se trata de um bem absolutamente necessário à população, em uma situação que afetava 20 milhões de pessoas. Neste contexto, os gestores se viram cobrados de tomar medidas rápidas e simples, posto que todas as medidas passíveis de serem tomadas em uma situação emergencial como esta seriam de grande magnitude e demorariam muito tempo para serem implementadas.

O resultado da crise nos mostrou a necessidade de trabalharmos duas pontas. A prevenção de futuras crises depende de, por um lado, planejar infraestrutura trazendo um conceito de redundância, com o qual não trabalhávamos anteriormente e, por outro, que cada vez consigamos fazer mais com menos.

A crise nos mostrou uma absoluta necessidade de ampliação de infraestrutura, não apenas para atender um crescimento vegetativo, para manter cotas per capita adequada, mas também uma ampliação de infraestrutura com contenção de risco. Muitas obras que foram implementadas durante a crise e que estão sendo implantadas atualmente são obras de redundância, ou seja, é um tipo de infraestrutura que somente será utilizada e somente será colocada em uso à medida em que for necessário complementar distribuição de água.

O que se desejava era um ganho de sinergia entre os diversos sistemas. Por exemplo, a Sabesp trabalhou com uma interligação entre os sistemas produtores. Por exemplo, a Av. Paulista foi atendida antigamente pelo sistema Guarapiranga. Entretanto, na década de 70, alterou-se para que fosse atendida exclusivamente pelo sistema Cantareira. Para sanar os problemas decorrentes da crise hídrica, se recuperou adutores ociosos para que a região da Av. Paulista pudesse ser alimentada pelo sistema Guarapiranga ou pelo sistema Cantareira.

Mônica Porto

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Isso foi um investimento que, inclusive, foi pleiteado à Arsesp que fosse entendido como acréscimo de ativos, posto que foram obras que não geram um retorno, que foram feitas para serem, majoritariamente, ociosas. É evidente a grande necessidade que se tem hoje de infraestrutura.

O mesmo vale para a redução do consumo. Há uma enorme importância em se promover qualquer tipo de programa que incentive o uso da água com mais parcimônia, mas também se depende de infraestrutura, de desenvolvimento de novos equipamentos poupadores.

Já com relação ao projeto de despoluição do Rio Pinheiros, tem-se que esse processo se inicia retirando carga poluidora do rio, ou seja, fazendo sistemas de coleta e tratamento de esgoto.

Entretanto, quando olhamos o rio como paisagem urbana, como parte daquilo com o qual a população convive e, portanto, como parte da sua qualidade de vida, notamos que, entre um projeto como o Projeto Tietê, de coleta e tratamento de esgoto, e o alcance, de fato, da despoluição do rio, há um caminho enorme a ser percorrido, há uma série de etapas a serem vencidas para que possamos reduzir, de fato, as cargas poluidoras nos corpos hídricos, a fim de trazê-los para a convivência pacífica com a cidade. Os projetos de despoluição de rios são trabalhos que se iniciam desta maneira, entretanto é um trabalho sem fim, se torna um programa contínuo.

O Governo do Estado de São Paulo está desenvolvendo um programa com as Secretarias de Saneamento e Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e de Energia, com o objetivo de despoluição do Rio Pinheiros. O projeto envolve um esforço enorme por parte não apenas do governo, mas também das prefeituras que compõem a bacia do Rio Pinheiros, e da sociedade como um todo.

Neste contexto, a apresentação do setor privado para a participação do projeto foi fundamental. Não haveria a possibilidade de implantar, manter, fazer a gestão de um projeto desta envergadura exclusivamente com o setor público.

O primeiro objetivo é tornar o Rio Pinheiros em um rio que conviva com a paisagem urbana, que não tenha cheiro, no qual seja possível realizar controle de resíduos. O aspecto de requalificação de um rio urbano é a convivência com o rio – o que não necessariamente quer dizer que o objetivo seja o desenvolvimento de um lazer ativo.

Ainda, destaca-se que o programa de despoluição do Rio Pinheiros tem também um aspecto econômico, posto que o rio pode ser revertido para a represa Billings, e, ao ser revertido, pode contribuir com a geração de energia.

Há uma série de questões complexas a serem resolvidas, como, por exemplo, como lidar com as ocupações nas margens do rio que teriam que ser removidas para que a passagem de um coletor tronco seja possível.

A meta é perseguir, no longo prazo a universalização da coleta e do tratamento de esgoto na bacia do Rio Pinheiros. Entretanto, no curto prazo, é possível realizar um trabalho de identificar tecnologias que sejam capazes de melhorar a qualidade do rio e que permitam, portanto, ter o rio requalificado em um prazo mais curto. O projeto se encontra, no momento, em fase de modelagem técnica e jurídico-financeira.

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Vicente Andreu Guillo - Agência Nacional de Águas (ANA)

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Sr. Vicente Andreu Guillo, colocou a importância de o governo do Estado ter adotado, no projeto de despoluição dório Pinheiros, uma metodologia para não só definir a tecnologia a ser adotada, mas também definir os parâmetros a serem obtidos em termos de qualidade de água e trazer a sociedade para discutir os parâmetros a serem empregado.

O projeto de tem diversas “âncoras”, com relação à exploração imobiliária, com relação ao aumento da produção energética. Entretanto tais questões podem, eventualmente, sustentar os objetivos do projeto, que é a oferta da segurança hídrica.

Quanto à questão da crise hídrica em São Paulo, ressalta que, além dos pontos já mencionados, é importante olhar para o problema da gestão. Enfrentamos uma crise de gestão de recursos hídricos, na qual as normas anteriormente em vigor eram insuficientes. É necessário também, aprimorar o processo de gestão dos recursos hídricos, a fim de ofertar essa segurança com relação aos recursos hídricos.

Além das questões ligadas com a oferta de infraestrutura, necessário olhar para a questão da gestão da demanda, que é uma questão muito complicada, tendo em vista que ela entra em conflito com o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de gestão em vigor.

É importante reforçar a questão do processo de gestão dos recursos hídricos e de redução das demandas como questões fundamentais.

Vicente Andreu Guillo

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Marcos Penido - Prefeitura de São Paulo

O Secretário Municipal de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo, Sr. Marcos Penido, com relação ao projeto de despoluição do Rio Pinheiros, disse que é necessário lembrar que a poluição do rio é mera consequência, sendo necessário que que seja combatida a causa efetiva: que é toda a falta de cuidado que se tem, principalmente, com os córregos que nele desaguam.

O município pretende, neste sentido, retomar o Programa Córrego Limpo, em parceria com a Sabesp e com as diversas secretarias municipais para que a Sabesp coloque o coletor tronco ao longo dos córregos, de modo que seja possível reduzir o lançamento de esgoto nos córregos, realizando também um trabalho de conscientização com as comunidades.

É necessário que a população entenda os córregos de sua região como um patrimônio da comunidade.

O Secretário demonstrou convicção de que será por meio da limpeza dos córregos será possível realizar a efetiva despoluição dos grandes rios.

Marcos Penido

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Questão

Como a Dra. Mônica Porto vê o plano de saneamento básico atrelado ao de resíduos sólidos, tendo em vista que grande parte da população não realiza o descarte adequado de resíduos, tazendo vários problemas em períodos de chuvas intensas?

Mônica Porto - A Lei Geral de Saneamento Básico trouxe a definição do serviço como sendo composto abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais. Esses componentes requerem uma articulação extremamente complexa – o desafio de fazermos a gestão adequada dos resíduos sólidos nas cidades é um fato preponderante para que consigamos fazer uma gestão adequada do setor de coleta de esgoto e dos sistemas de drenagem. Muito embora esses setores sejam gerenciados separadamente, é importante que consigamos trazê-los para uma articulação comum, dentro do conceito de

saneamento básico que preconiza a lei.

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Assinatura da carta para o Fórum Mundial da Água

Por fim, o Sr. Venilton Tadini explanou brevemente a importância do Fórum Mundial de Águas, que será realizado no Brasil em 2018 e convidou o Sr. Vicente Andreu Guillo a desenvolver o tema.

O Presidente da ANA explanou que o que se deseja é não apenas realizar o evento, mas também produzir um legado, por meio da revisita de vários dos grandes problemas enfrentados com relação à água e da apresentação de soluções a estes problemas. Querem que sejam enfrentados, dentre outros, problemas relacionados à dominialidade, sustentabilidade financeira do sistema.

Não é segredo que a água no Brasil não é uma agenda política tida como relevante. É preciso potencializar a ação do Fórum, aproveitando para beber do momento político que o cercará, de modo a levantar a questões relevantes, procurando tentar pleitear não apenas uma agenda da água em escala mundial, mas também em escala nacional.

Finalmente, foi lida e assinada, pelos representantes da ABDIB e da ANA, a carta que formaliza a participação da ABDIB no 8º Fórum Mundial da Água – Brasília 2018.

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Anita Pedrosa Reis

Vinnicius Vieira

Anita Pedrosa Reis é bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) (2016). Foi monitora dos cursos de Fundamentos do Direito Público, lecionado pelo Professor Eduardo Martines Júnior (2012), e Direitos Humanos, lecionado pela Professora Doutora Carolina Alves de Sousa Lima (2012 a 2013). Atualmente atua como advogada no Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, nas áreas de infraestrutura e project finance.

Contato: [email protected]

Estabelecida em 2012, a Hiria foi pensada e estruturada para auxiliar o desenvolvimento da educação corporativa brasileira através da realização de fóruns, conferências e feiras para executivos envolvidos em processos decisórios. Através de nossos encontros, com elevado grau de pesquisa, proporcionamos um ambiente ideal para aprendizado e troca de conteúdo informativo atualizado nas mais diversas áreas como: Estratégia, Gestão e Infraestrutura.

Promovemos também o network entre o público participante, além, de uma oportunidade única de diminuição do ciclo de vendas para empresas interessadas na exposição da marca e/ou produto. Nossa missão é criar e multiplicar um acervo de conhecimento que impulsione o desenvolvimento nacional.

Saiba mais em: www.hiria.com.br

Fundada em 1955, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, cuja missão principal é o desenvolvimento dos mercados de infraestrutura e indústrias de base no Brasil e o fortalecimento da competitividade da cadeia fornecedora de bens e serviços para estes setores.

Ao longo das últimas décadas, a Abdib vem direcionando ações e propostas para melhorar as condições para investimentos e negócios nos mercados de infraestrutura e indústrias de base, reduzindo, consequentemente, gargalos para o crescimento econômico e o desenvolvimento social do país.

Saiba mais em: www.abdib.org.br

Responsável pelas conferências, relatórios setoriais e projetos de inteligência de mercado da Hiria, coordenador e professor da FIPE e professor convidado da FIA.Pesquisador do Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e Mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

Possui certificações emitidas pela George Washington University, Fundação Getúlio Vargas, Universidade de St. Gallen e Insper.

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