as relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

12
Revista de Políticas Públicas ISSN: 0104-8740 [email protected] Universidade Federal do Maranhão Brasil de Araújo Madeira, Maria Zelma; Gomes da Costa, Renata As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em fortaleza/ ceará Revista de Políticas Públicas, vol. 16, núm. 2, julio-diciembre, 2012, pp. 329-339 Universidade Federal do Maranhão São Luís, Maranhão, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321129114005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Upload: dokiet

Post on 01-Feb-2017

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

Revista de Políticas Públicas

ISSN: 0104-8740

[email protected]

Universidade Federal do Maranhão

Brasil

de Araújo Madeira, Maria Zelma; Gomes da Costa, Renata

As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em fortaleza/ ceará

Revista de Políticas Públicas, vol. 16, núm. 2, julio-diciembre, 2012, pp. 329-339

Universidade Federal do Maranhão

São Luís, Maranhão, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321129114005

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Page 2: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELAc;:6ES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTAc;:Ao DA LEI 10.639/03 EMFORTALEZAI CEARÁ

Maria Zelma de Araújo MadeiraUníversídade Estadual do Ceará (UECE)

Renata Gomes da CostaUníversídade Estadual do Ceará (UECE)

AS RELACOES ETNICO-RACIAIS E AIMPLEMENTACAo DAS LEIS 10.639/03 EM FORTALEZAf CEARÁResumo: Este artigo é resultado de urna pesquisa que investigou como o racismo e o mito da democracia racial estáopresentes nas práticas pedagógicas e no cotidiano da escala. Buscou também compreender os impasses e/ou aspectosfacilitadores em efetivar a Lei 10.639/2003 alterada pela Lei 11.645/2008 como acáo valorativa no ámbito da prornocáo daigualdade racial. Objetivamos contribuir com a dlscussáo sobre a insercáo da temática da Inclusáo da história e da culturaafricana e afro-brasileira no sistema de ensino público de Fortaleza, por meio de urna reflexáo sobre o entendimento dacomunidade escolar acerca da citada lei e de sua implementacáo nas escalas investigadas. Essa lei é resultado da lutapolitica desta populacáo para se ver retratada na história e na cultura do país , aspecto fomentador para uma mudancasocial rumo a uma educacáo antirracista. Os resultados elucidam dificuldades para sua real efetivacáo no que concerneaos contornos do racismo no ambiente escolar e seu enfrentamento.Palavras-chaves: Relac;óes étnico-raciais, racismo, política de acáo afirmativa, política de acáo valorativa.

RACIAL-ETHNIC RELATIONS AND IMPLEMENTATION OF THE LAW 10.639/03 FORTALEZA 1CEARÁAbstract: This article is the result of a research that investigates how racism and the myth of racial democracy are presentin teaching practices and everyday school. lt also seeks to understand the obstacles and 1or facilitating factors in effectingthe Law 10.639/2003 amended by Law 11.645/2008 as evaluative action in promoting racial equality. We aim to contributeto the discussion about the insertion of the issue of inclusion of African history and culture and african-Brazilian in the publicschool system in Fortaleza, through a reflection on the understanding of the school community about the aforementionedlaw and its implementation in schools investigated. This law is a result ofthe political struggle ofthis population to see itselfportrayed in the history and culture of the country, developers looking for a social change towards an anti-racist education.The results elucidate difficulties for its real effectiveness in relation to the contours of racism at school and its coping.Key words: Ethnic-racial relations, racism, policy of affirmative action, policy of evaluative action.

Recebído em: 30.06.2012. Aprovado em: 22.10.2012.

R. Poi. Púb! .. Sao Luís. v.16. n.2 . p. 329-339. juUdaz. 2012

329

Page 3: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

330 Maria Zelma de Araújo Madeira, Renata Gomes da Costa

1 INTRODUCAo

Passados mals de 120 anos de aboücáo, caberefletlr se a Lel Áurea, garantldora de Ilberdade,posslbllltou a cldadanla á populacáo negra noBrasil. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÓMICAAPLICADA, 2008). Durante o processo deescravldáo a referida populacáo fol o sustentáculoda economia brasileira por quase quatro séculas,sofreu urna brutal fraqrnentacáo cultural e política,bem como o esfacelamento da orqanizacáo familiar,provocando reorientacáo e reinvencóes.

Neste contexto, a deslgualdade material esimbólica da populacáo negra subalternlzada semanteve, e a desvantagem em relacáo aos brancosno usufruto de recursos e beneficios continua aafetar severamente esse grupo. Tal deslgualdadese Inscreve no balxo nivel de escolarldade,analfabetismo, insercáo precarlzada no mercado detrabalho, parca rspresentacáo política, marglnalldadesocial, discrlminacáo e violencia.

o enfrentamento ao racismo, no Brasil, aindatrllha camlnhos tortuosos, haja vista náo termossequer unanimidade de que somos racistas. Osilencio quanto a natureza das relacoes étnico­raciaís há mals de 80 anos, a crenca no mito dademocracia racial, o deslocamento da reflexáo sobreo racismo da esfera das retacóes sociaís coletlvaspara a dlmensáo Individual exprlmem o processode Invlslbllldade elou visibilidad e estereotipada dapopulacáo negra. A socledade náo se reconheceracista, portanto racista e quem propóe o debatee exige políticas de prornocáo da Igualdade racial,como urna reparacáo por parte do Estado em relacáoao passado criminoso da escravidáo, que deixousequelas e tem Impedido ate hoje a efetivacáode oportunidades para os grupos hlstorlcamentetratados como deslguals.

De acordo com Gomes (2002), no finaldo século XVIII, com a vertente do liberalismo,emerge a nocáo de Igualdade perante a leí denatureza genérica e abstrata, dando sustsntacáo aopostulado da neutralidad e do Estado. Ganha enfaseo Individuo Igual e Ilvre, numa socledade fraternae soüdária, sobressalndo a clássica concspcáo deIgualdade jurldlca, meramente formal.

Dlante das extremas desigualdadessociaís e raciats, reveladas sob formas dediscrlminacóes. o principio da Igualdade formalpassa a ser questionado, surgindo a necessidadede garantir Igualdade de oportunidades a segmentosdiscriminados, excluidos de um lugar social,econ6mico e político na sociedade que se querdemocratlcamente referenclada. É Importante, comoexplicita Gomes (2002), adotar urna concspcáosubstancial de Igualdade, de modo que se garantaa protscáo e defesa dos Interesses de segmentosdiscriminados socialmente e economlcamente rumoá justica social.

R. Poi. Públ., Sao Luis, v.16, n.2, p. 329-339, jul.!dez. 2012

Na realldade cearense, a discussáo em tornodos contornos do racismo, das particularidades queeste assume num Estado que nega a existenciada popuíacáo negra, tem se realizado alnda deforma lenta, perpassada de obstáculos e de acóesfragmentadas por parte do organismo governamentalno trato das políticas públicas'.

O Ingresso e permanencia na educacáo folhlstorlcamente um desafio para a populacáo negra,apresentando-se como um dos recursos para urnasituacáo futura em melhores condicóes. Dlantedessa situacáo, a socledade Insurgla como urbanaIndustrial, a íncíusáo dessa populacáo por meloda educacáo Ihe parecía urna salda vlável para asuperacáo, mesmo que Individual, de algumasquestcSes que perduravam do passado escravocrata.

Nesse bojo, o movlmento negro buscavaascensáo social e desconstrucáo do mito deinferiorizacáo racial, através de Clubes sociais.Associacóes cívicas, Teatro Experimental do Negro,Frente Negra, Imprensa negra, Uniáo dos Homensde Cor, consolidando as Iniciativas coletlvasorganizadas por negros e negras'.

O movlmento social negro, junto apesquisado res dessa temática, tomou para sia árduatarefa de desconstrulr esses discursos Ideológicosde fomento á Igualdade, formas que escondemretacóes de poder, Indicando a necessárla luta emdefesa dessas populacoes que convlvem com asdesigualdades em termos económicos, políticos,culturáis. de nsqacáo dos valores, sllenclamentoacerca do legado como patrimonio sócio-histónco.Esse patrimonio náo deve ser confundido só comagruras e delitos: contam com terrltórlo a defender,patrim6nio a conservar que retraduzem suacosmovtsáo, seu modo de pensar e estar no mundo.

Dlante do exposto, o propósito deste artlgoé explicitar os desdobramentos das desigualdadesraciais. sob forma da discríminacáo. exclusáo e adirninuicáo de oportunldade de insercáo quallflcadano processo produtlvo brasllelro. O foco fol a anállsedo processo educacional brasllelro da populacáonegra, mediante pesquisa realizada nas duasescolas de Fortaleza, por ser urna das estratéglasempreendldas por este segmento a flm de alcancarmobllldade social e económica.

A busca de Igualdade a partir do respelto ádíferenca e á dlversldade racial é urgente. Ternoshoje, no cenárlo contemporáneo, urna política depromocáo da Igualdade racial, a Lel 10. 63912003alterada pela Lel 11.64512008,como acáo valoratlvarumo a urna educacáo antlrraclsta de caráterpedagógica de valorizacáo da hlstórla e cultura dosafricanos, afro-brasllelros e Indlgenas. Tornou-seoportuno Investigar como tal leqislacáo vem sendoImplementada no sistema público de enslno emFortaleza.

Page 4: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELA<;;ÓES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTA<;;Ao DA LEI10<639/03 EM FORTALEZAlCEARÁ 331

2 DESIGUALDADES RACIAIS NO SISTEMAEDUCACIONAL

No Brasil, pelo decreto n' t331/1854,negros e negras nao poderiam ser admitidos naescota. Segundo o decreto n' 7031/ 1878, estes sépoderiam estudar no período noturno. Verifica-seque o país legitimou leis que proibiam e dificultavamo acesso da populacáo negra na ínstituicáo escolarem qualquer nível de ensino. A análise sobre osdados da escolaridade desle segmento se explicatambém ao levar em canta esse passado excludentee as formas reeditadas de exclusáo imersas nasinstituicoes sociais, (BRASIL, 2005) <

Na esteira desla cornpreensáo é válidoassinalar que essas condicóes adversas para oacesso e permanencia de negros/as no sistemaeducacional de ensino nao foram recorrentesapenas no periodo do escravismo, perdurou tambémno século XX, como demonstram os seguintesindicadores:

No quesito instrucáo, presente em todosos censos brasileiros, apurou-se se oindividuo sabia ler e escrever. Assirn,em 1950, do conjunto da populacáo de15 anos ou rnais, 54,8% dos homens e44,1% dasmulheres eramalfabetizados.No caso da populacáo branca, 65,5%dos homens e 54,8% das mulhereseram alfabetizados. Na populacáo preta& parda, apenas 35,7% dos homense 25,9% das mulheres sabiam ler eescrever, (PAIXAO et al, 2010, P< 209)<

Este indicador de ínstrucáo, em 1950, denota aexclusáo de negros/as dos processos partícipativos.como o direito de votar, posta que analfabetos naopoderiam exercer este direito de cidadania. O acessoá escolaridade é uma das formas por excelencia deascensáo social e de potenciaüzacáo do alcancea muitos bens produzidos pela sociedade. Destaforma, enquanto as desigualdades raciais seperpetuarem no campo educacional, também estarágarantida a permanencia de seu s mecanismos dereproducáo.

Neste sentido, os indicadores educacionais seconvertem em um importante instrumento capaz depossibilitar a construcáo de oportunidades sociaíspara os diferentes grupos raciais, mesmo porque

[...] a igualdade de oportunidades e detratamento associa-se diretamente,mesmo que náo exclusivamente, aigualdade de chances e a igualdadede capacítacáo. (JACCOUD: BEGHIN,2002, P< 4n

Segundo os dados da PNAD 2008, 10% dapopulacáo residente, no Brasil, com mais de 15 anosera analfabeta, em 1988 era maior (18,9%)< No que

se refere ao percentual do contingente branco nointervalo de 20 anos (1988-2008) passou de 12,1%para 6,2'k No mesmo intervalo, a populacáo negra(pretos e pardos) analfabetos declinou de 28,6%para 13,6'k Verifica-se uma considerável reducáo,porém ainda é expressiva quando comparada aopercentual de analfabetos brancos. É relevanteobservar que a taxa de analfabetismo dos pretose pardos aínda era superior ao mesmo indicadorentre os brancos de vinte anos antes. (PAlxAO et al,2010, p< 20n

Os dados revelam desigualdades acumuladasno que tange ao acesso á escolarizacao, que refleteas consequéncias de um período de escravismo,acrescido de novas contornos da exclusáo, poiscom idade mais avancada taís pessoas encontrammaiores dificuldades de retorno ao sistema escolar.Acresce ao analfabetismo o atraso no processode attabetízacáo, a repeténcía e evasáo escolarque concorrem para ampliar a baixa escolaridadeneste seqrnento. Neste sentido, sao elucidativas asconsideracóes de Gomes (2002, p. 1):

[...] projetos, apresentados porparlamentares das mais diversastendencias ideológicas, em geralbuscam mitigara flagrante desigualdadebrasileira, atacando-a naquilo que paramuitos constitui a sua causa primordial,isto é, o nosso segregador sistemaeducacional, que tradicionalmentepor diversos mecanismos, semprereservou aos negros e pobres em geraluma educacáo de inferior qualidade,dedicando o essencial dos recursosmateriais, humanos e financeirosvoltados a Educacáo de todos osbrasileiros a um pequeno contingenteda populacáo que detém a hegemoniapolitica, económica e social no Pais, istoé, a elite branca.

As condicóes de acesso e permanencia deenancas de O a 6 anos, segundo os indicadores daPNAD 2008, no Brasil, 18,1% frequentam a creche;quando decomposto por cor/raca as enancasbrancas é de 20,7% e enancas pretas e pardas éde 15,5% (5,0 pontos percentuais mferlores). Caberessaltar que as enancas pretas e pardas na suamaioria recorrem ao sistema de creche pública, etal servico ainda e deficitário diante da demanda.(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA EESTATisTICA, 2008)

No que concerne ao ensino fundamental,modalidade que se faz em um período de 9 anos(Lei n' 11<274/2006), iniciando com a enanca aos6 anos de idade (Lei n' 1U14/2005), também severifica desigualdade nos indicadores de acesso epermanencia dos/as atunos/as. Neste sentido saoilustrativos os seguintes dados:

R Pol< Públ« Sao Luís, v,16,02, P< 329-339, juUdez< 2012

Page 5: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

332 Maria Zelma de Araújo Madeira, Renata Gomes da Costa

Pelosdadosda PNAD 2008, 48,0% dosmeninos brancos com 6 anos de idadefrequentava o ensino fundamental,enquanto o percentual de enancaspretas & pardas da mesma faixa etáriae sexo matriculadas naquele nívelde ensino foi de 39,9%, 8 ,1 pontospercentuais inferior comparativamenteaos primeiros. Entre as enancas de6 anos de sexo feminino, 50,0% dasbrancasestavam matriculadasnoensinofundamental , aopasso que, nocaso dasmeninas pretas & pardas, o percentualfoi de 43,4% (6,6 pontos percentuaisinferior). As demais enancas ou naofrequentavam estabelecimentos deensino, ou se encontravam no maternal,ou jardim da infancia, ou nas classesde alfabetizacáo. (PAlxAO et al, 2010,p.215).

É interessante ressaltar que a modalidadede ensino fundamental foi a que retratou menosassimetria entre pardos e pretos no periodo de1988-2008 (0,7 pontos percentual), ao passo que em1988 era de 10 pontos percentuais. Notadamentehouve alta da taxa líquida de escolaridade, acessogarantido. Diante disso, cabe a reflexáo quanto apermanencia no sistema educacional permeadode práticas racistas, que tendem a expulsar pretose pardos pelo viés da evasáo e reprovacáo,principalmente na rede pública de ensino.

Os indicadores referentes á educacáorefletem-se diretamente nos rendimentos mediosda populacáo negra. As desvantagens deescolaridade comprometem o nivel de ínsercáo nomercado de trabalho, incidindo em trabalhos debaixa rernuneracáo e sem garantias dos direitostrabalhistas. Alguns destes dados estatisticostrazem questionamentos quanto a ideo logia daigualdade na escola. Na maioria das escolas em quea questáo racial é tematizada, ela aparece comonaoprlorltária. O nao falar sobre o tema é um mecanismode dífusáodo racismo.

No que se refere as acóes de promocáo daigualdade racial na área da educacáo, estas Sedesenvolveram a partir do Protocolo de lntencóesMEC/SEPPIR, firmado em 2003, com os seguinteseixos: garantia do aCeSSO e da permanenciadas enancas negras na escola; promocáo dealtabetizacáo e qualiñcacao profissional de jovense adultos negros; incentivo a insercáo de jovensnegros nas universidades; ímpíementacáo da Lein' 10.639/2003; estimulo a uma pedagogia naoracista, nao sexista e nao homofóbica no sistemaeducacional brasileiro.

Em 2009, foi lancado o Plano Nacionalde lmpternentacáo das Diretrizes CurricularesNacionais da Educacáo das Relacóes Étnico-raciaise para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileirae Africana - Lei 10.639/2003, alterada pela Lei

R. Poi. Públ., Sao Luis, v.16, n,2, p. 329-339, juUdez. 2012

11.645/2008, que estabelece metas e estrategiaspara a ampla adocáo da lei, acompanhada daínstalacáo de um banco de dados nacional para oacompanhamento e monitoramento da aplicacáo daleqislacáo.

Na politica educacional, a implementacáo daLei significa uma ruptura profunda com um tipo depostura pedagógica que nao reconhece as diterencasresuttantes do nosso processo de formacáo nacional.Neste sentido, torna-se relevante definir estrategiase metas que permitam dar concretude de formasistemática ás rnudancas previstas na Lei 10.639/2003,alterada pela Lei 11.645/2008, como parte do Plano deDesenvolvimento da Escola (PDE). As metas tambémdevem Ser consideradas no processo de revisao doatual Plano Nacional de Educacáo e na construcáo dofuturo PNE (2012-2022).

Na realidade cearense, observam-sedificuldades na irnplementacáo da Lei quanto aosConselhos de Educacáo, as Secretarias Estaduale Municipal de Educacáo, que na maioria dasvezee nao vem trabalhando de forma sistemáticae integrada no sentido de divulgá-Ia e efetivá­la, predominando iniciativas pontuais, marcadaspela baixa institucionalidade. Grande parte dasexperiencias se enquadra em iniciativas isoladas,nao abrangendo a educacáo básica, restringindo­Se a projetos descontinuos e de pouca articulacáocom as politicas de educacáo, tais como politicascurriculares, de forrnacáo de professores, deproducáo de materiais didáticos, sofrendo da faltade condicoes institucionais e de financiamento.

Uma adequada política educacional,que possa ter impactos significativos, requerplanejamento das acóes, contínuídade e previsáode recursos, nao podendo ficar a disposicáo apenasde alguns professores sensíbílízados á temática deenfrentamento ao racismo, o que compromete umaacáo valorativa no que concerne, por exemplo, aoensino da história e cultura das etnias que formarama nacáo brasíleíra.

Díante dísso, os esforcos devem dírígír-separa um Plano Nacíonal de lmpíementacáo dasDíretrízes Currículares da Educacáo das RelacóesÉtnico-Racíaís, estruturados nos seguintes eíxosestratégícos: 1 - Fortalecímento do marco legal; 2- Política de formacáo para gestores e profissionaisde educacáo: 3 - Politíca de materíal dídátíco eparadídátíco; 4 - Gestáo democráticae mecanísmosde particípacáosocial; 5 - Condicóesinstitucionais; e6 -Avaliacáo e Monítoramento. Sendo SeuS príncípaísobjetívos promover a valorizacáoe o reconhecímentoda díversídade étníco-racíal na educacáo brasíleíra,a partír do enfrentamento estratégico de práticasdíscrímínatórías e racístas díssemínadas no cotídíanodas escalas e nos sistemas de ensino, que exclueme penalízam enancas, jovens e adultos negros/a ecomprometem a garantía do díreíto á educacáo dequalidade para todos e todas.

Page 6: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELA<;;ÓES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTA<;;Ao DA LEI10<639/03 EM FORTALEZAlCEARÁ 333

3 RACISMO E ACÓES VALORATIVAS NOESPACO ESCOLAR EM FORTALEZA- CE

o combate á discrlminacáo racial apresenta­se como preocupacáo relativamente recente dosgovernos no plano Internacional; surglu no pos­guerra com a adocáo da Dsclaracáo Universal dosDireitas Humanos e o acompanhamento de suaimptementacáo na Orqanizacáo das Nacóes Unidas(ONU)< No ámbito nacional, estadual e municipalessa pauta tem sido empreendlda pelo movlmentonegro através de lutas e reívindicacóes para tornar aquestáo do racismo objeto de atencáo das políticaspúblicas.

Esses esforcos convlvem com o mito dademocracia racial, presente culturalmente nasocledade brasllelra, que se orienta pela afirmacáode uma convivencia harmonlosa entre os gruposétnlco-raclals< Esse discurso Ideológico tentoumascarar os conflitos raciais e deslocá-Ios para aesfera Individual de negras e negros "complexados",portanto responsabilizando-os por sua nao ínsercáona socledade e no usufruto das riquezas produzidas.

Para combater a sítuacáo de deslgualdaderacial no Brasil, e necessario Implantar tanto políticasunlversallstas quanto especificas. A necessldadeem se considerar as políticas unlversallstas éasseverada por Santos e Sllvelra (2010, p. 44),uma vez que as políticas de promocáo da Igualdaderacial sejam elas acóes represslvas, valoratlvas ouafirmativas', objetlvam a transformacáodas práticasracistas, sendo de suma importáncia assoclar aspolíticas unlversals as de prornocáo de Igualdaderacial, uma vez que:

[...] todas elas sao fundamentais parao desenvolvimento de todo o potencialhumano de cada indivíduo, visto quetodas essas politicas em interacáopossibilitam, de fato, a construcáo desociedades mais igualitárias, baseadasna igualdade de oportunidade/acessoe de tratamento, onde os individuospossam escolher e ser donosdos seuspróprios destinos.

A articulacáo entre essas modalidades depolíticas é o reconheclmento, como sal lenta Santos eSllvelra (2010), que o racismo e dinamico, se renovae se reestrutura conforme as rnudancas históricas esociais. Asslm, a luta e o enfrentamento ao racismonao é estática, o que requer a referida associacaoentre as políticas de cunho universal, focallzada e deprornocáo da Igualdade<

As políticas de prornocáo da Igualdade racial secaracterlzam por buscarem a promocáoda Igualdadede oportunldade de tratamento, diferentemente doque vlnha sendo posto pelo universalismo abstrato,como aponta Gomes (2002), pois a Igualdade formal

nao garante a de oportunidades, que pressupóeIgualdade de condicóes. Desse modo, as políticasde prornocáo da Igualdade racial tem por designio;

[...] promover a Inclusáo (pormeio de acesso e permanenciadiferenciados)dos gruposdiscriminadosracialmente em áreas onde eles saosub-representados em funcáo dadiscrirninacáo que sofreram em face dasua cor , raca e etnia. Ou seja, se faznecessária também a tmplementacáo deacóes atrmatívas. (SANTOS; SILVEIRA,2010, P< 43)<

A sinalizacáo da necessldade de políticasde acóes afirmativas diz respeito ao fato de serum conjunto de políticas públicas e privadas decarátsr compulsório, concebidas com vistas aocombate á discrlminacáo racial, de genero e deorlgem nacional, bem como para corrlglr os efeltospresentes da discrlminacáo pratlcada no passado,tendo por objetivo a concretízacáo do Ideal de efetlvaIgualdade de acesso a bens fundamentals como aeducacáo e o empreqo. Asslm,

[...] a igualdade deixa de sersimplesmente um principiojuridico a serrespeitado por todos e passa a ser umobjetivo constitucional a ser alcanoaoopelo Estado e pela sociedade. (GOMES,2002, P< 03)<

A constatacáo da assocíacáo entre aspolíticas nao elimina as particularidades dasmesmas, sinalizando que a implernentacáo destasdeve observar o espayo e o público que se desejaatinqir. Como aponta Jaccoud e Beghin (2002), aspolíticas universais sao insuficientes para garantir oenfrentamento das desigualdades e discriminacóesraciaís. No ámbito da educacáo,as autoras apontamque a universalizacáo do ensinofundamental nao deuconta de garantir oportunidades Iguals para negros ebrancos por diversos fatores, como também slnallzaa pesquisa realizada nas escolas de Fortaleza,através da escassez do material dioático e dainsuficiencia dos conteúdos curriculares no quesitopropaqacáo do conheclmento diverso e plural dorequisito racial e étnico. Dessa maneira:

[...] o enfrentamento dos fenómenosespecíficos que alimentam adesigualdade e a discriminayao racial,quais sejam, o racismo e o preconceitoracial, deve ser realizado por politicasespecíficas. Eles demandam a adocáode politicaspersuasivasou valorizativas,ou seja, políticas públicas que visem aacóes que térn como objetivoafirmar osprincipios da igualdade e da cidadania,reconhecer e valorizar a pluralidadeétnica que marca a sociedade brasileira

R Pol< Públ« Sao Luís, v,16, n2, P< 329-339, juUdez< 2012

Page 7: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

334 Maria Zelma de Araújo Madeira, Renata Gomes da Costa

e valorizar a comunidade afro-brasileira,destacando tanto o seu papel históricocomo a sua contribuicáo contemporáneaaconstrucáo nacional. lncluem-se aqui,entre outras, politicas no campo daeducacáo, da comunicacáo, da culturaeda justíca. (JACCOUD; BEGHIN, 2002,p.43).

Nesse sentido, no ámbito da educacáo, temosa ímplementacáo da Lei n" 10.639103, uma acáovalorativa que preve a obrigatoriedade do ensinode História e Cultura Africana e Afro-Brasileira naEducacáo Básica.A medida foi complementada coma sancáo da Lei n''. 11.645, de 10 de marco de 2008,que cria a obrigatoriedade do ensino de História eCultura Africana, Afro-brasileira e Indigena. Estefato náo encontrou consenso entre os movimentosindigenas, que reivindicam há muito tempo umaeducacáo especifica, assim como é diferenciada suainsercáo na sociedade brasileira.

Esse tipo de iniciativa torna-se necessárioao observar-se que o sistema educacional é umcampo no qual ainda sao reproduzidos muitos dosestereótipos de genero, raca/etnta e orientacáosexual existentes em nossa sociedade. No quese refere a questáo racial, ainda se constitui umaesfera marcada por fortes desigualdades no acessoe na permanencia dos individuos dos diferentesgrupos populacíonais. Diante disso, necessita­se de medidas que enfrentem o racismo nos maisvariados ámbitos sociais; aqui destacamos o espacoeducacional que precisa refletir e problematizarsobre a situacáo da populacáo negra, no país. e, emespecial, no sistema de ensino.

O esforco para implementar a lei requer umcomprometimento dos órgáos governamentais quecomandam a política educacional, de professoreslas, diretoreslas e de toda a comunidade escolar,exigindo-se cursos de formacáo sobre História daÁfrica, producáo de material didático, fóruns dedebate e controle desta politica, apoio institucionale outras medidas que sejam necessárias auma educacáo que paute o enfrentamento dasdiscriminacóes e preconceitos raciaís no espacoescolar e na sociedade em geral, pois como afirmaGomes (2002, p. 3), necessitamos de acóes

[...] a inculcar nos atores sociais autilidadee a necessidade da observanciados principios do pluralismo e dadiversidade nas mais diversas esferasdo convivio humano.

No que tange diretamente á educacáo, emespecifico á implernentacáo da Lei 10.63912003,alterada pela Lei 11.64512008, no Ceará, foiconstituido, em 2007, o Fórum Permanentede Ecucacáo e Diversidade Étnico-Racial doEstado do Ceará, que vem conseguindo agregarSecretarias Municipais de Eoucacáo, orqanizacóes

R. Poi. Públ., Sao Luis, v.16, n,2, p. 329-339, juUdez. 2012

nao governamentais que tratam sobre a temática,representantes do movimento negro, provocandodiscussóes em torno das diversas formas deímplementacáoda Lei, socializando experiencias nasescolas municipais, dialogando com os estudiososlas e pesquisadores/as das universidades, comoUFC, UECE, UNIFOR, e de fora do Estado.

A partir da experiencia de coordenacáo dapesquisadora responsável pelo Núcleo de Estudose Pesquisas em Afrobrasilidade, Genero e Familia(NUAFRO- UECE) no citado Fórum, duranteo periodo de 2009-2011, surgiu o interesse deempreender uma investiqacáo científica sobre aímplementacáo da Lei 10.63912003 nas escolaspúblicas de Fortaleza.

A referida pesquisa intitulada "Aímplementacáo da Lei 10.63912003 nas escolasPúblicas de FortalezalCE; por uma educacáodas relacóes étnico-raciais"4 objetivou investigarcomo as escolas municipais estáo implementandoa referida leqislacáo a partir dos instrumentos dedesenvolvimento escolar.

Diante disso, busco u-se verificar asdesigualdades étnico-raciais acumuladas nocontexto educacional, pesquisando a confiquracáodo racismo e do mito da democracia racial naspráticas pedagógicas, bem como os impasses elouaspectos facilitadores em efetivar a Leí.

Para tal, utilizou-se de procedimentosmetodológicos que subsidiassem a compreensáo daproblemática em referencia. Primeiramente, buscou­se o treinamento da equipe técnica do projeto depesquisa quanto a revisáo de literatura e a naturezametodológica com elaboracáo do instrumentalde coleta de dados, para posteriormente realizarvisitas institucionais aos órgáos para firmarpossiveis parcerias na ímplementacáo do projeto,taís como; Secretaria Estadual da Ecucacáo(SEDUC), Secretaria Municipal de Educacáo deFortaleza (SME), Fórum Permanente de Ecucacáoe Diversidade étnico-racial do Ceará, escolasmunicipaís da Secretaria Executiva Regional (SERIV) nas proximidades da UECE, no bairro Itaperi eVila Betánia.

Firmadas as devidas parcerias e com asautorizacóes dos órgáos competentes, realizou­se a pesquisa de campo nas escalas, atravésde entrevistas com profissionais e oficinassocioeducativas com oslas estudantes. Com osdados colhidos, iniciou-se a fase, que ainda perdura,de tabulacáo, sistematlzacáo e análise dos dados.

A pesquisa foi de cunho qualitativo e contoucomo sujeitos entrevistados alunoslas, professoreslas, diretoreslas, orientadores educacionais, auxiliarde servico geral, apoio a biblioteca, porteiros eoutros funcionários da escala. Os/as profissionaisestáo numa faixa etária entre 24 a 63 anos e sáofuncionárioslas públicos e também trabalhadoreslas terceirizadoslas; já oslas estudantes estavam

Page 8: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELA<;;ÓES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTA<;;Ao DA LEI10<639/03 EM FORTALEZAlCEARÁ 335

cursando o oitavo ano do Ensino FundamentaLAs escolas pesquisadas fazem parte do

Sistema Municipal de Ecucacáo de Fortaleza: EscolaMunicipal de Ensino Infantil e Fundamental (EMEIF)Zaíra Monteiro Gondim e EMEIF Thomaz PompeuSobrinho localizadas, respectivamente, no baírrodo Itaperi e Vila Betánia, ambas pertencentes áSecretaria Executiva Regional IV, estando inseridasna parte periférica da cidade.

No que se refere ao Índice de Desenvolvimentoda Educacáo Básica (IDEB) que mede a qualidadede cada escola e de cada rede de ensino, o indicadoré calculado com base no desempenho do estudanteem avaüacáo do Instituto Nacional de Estudos ePesquisas EducacionaisAnisio Teixeira (INEP) e emtaxas de aprovacáo. Assim, a escola Zaira Monteiroapresentou em 2011 o IDEB de 4,5, enquanto aThomaz Pompeu Sobrinho 3A (BRASIL, 2012)<

As escolas funcionam nos tres turnos namodalidade do Ensino Fundamental 11 e durante anoite oferecem a Educacáo de Jovens e Adultos(EJA)< A pesquisa foi realizada no turno da tarde,por suqestáo da direcáo das escolas, por ser umhorário maisadequado parao cantatacom um maiarnúmero de alunoslas e professores'as.Aescoía ZairaMonteiro Gondim atende, em 2012, a 725 alunoslasdistribuidos por corvaca da seguinte forma: 16,8%brancos; 0,8% pretos; 81,6% de pardos, 0,8%amarelos e nenhum indíqena. Enquanto a EMEIFThomaz Pompeu Sobrinho conta com 575 alunoslas, sendo: 18,1% brancos; 2,5% pretos; 78,2%pardos; 0,9% de amarelos e 0,3% indigenas'<

A oficina realizada com os/as estudantessobre o tema Racismo na Escola, DiscrtmmacáoRacial na Sociedade, Existencia da Lei 10<639/2003contou com 20 alunos/as do 8 0 ano, Teve comomomento inicial as aprssentacóes dos participantese a explicacao dos propósitos da pesquisa. Emseguida, foram distribuidas tarjetas e canetas paracada um e foi solicitado que escrevessem palavrasrelacionadas aos/as africanos/as e negros/as paraque apresentassem ao grupo< Após a referidadinámica que deu início a discussáo sobrea temáticado negrota no Brasil, foi exibido o filme Vista minhapele', com posterior debate sobre a visao de cadaum O momento foi finalizado com a elaboracáo depaínéís a partir dos recortes em revistas e jornais,em grupo de cinco alunos/as, por conseguinte,encerrou-se com debates e reflexoes sobre asexposicóes e apresentacóes das ideias contidas emcada painel.

Durante a cmámtca com as tarjetas, observou­se que os/as estudantes associavam a figura do/anegrota ao preconceito, adiscríminacáo. aexclusáo,á desigualdade, ao sofrimento, á violencia, aoescravismo, ao trabalho escravo e á humünacáo. Areferencia se articulava com estereótipos negativosem ser negro/a, sem a autoidentiflcacáo por parte damaiorta, poís o negro/ era o outro/a.

as/as alunos/as negros/as identiñcararn-secom a discussáo, porérn nao se sentiram a vontadepara falar sobre as práticas racistas, que afirmaramexistir através de termos depreciativos e tratamentohostil de alguns professores, porém optaram por naoexpressarem oqueacorreemsaladeaulae naescala,em geral por temerem complicacóes posteriores<Contraditoriamente a essa opiniáo expressa pelos/as estudantes ao questionarmos sobre a existenciaou nao de preconceito e discrlminacáo na escola,uma funcionária respondeu que:

Nao. Eu nao tenho essa percepcáodentro do contexto que eu lido. Porqueaqui na escala, os alunos geralmentesao bem parecidos de coro Entáo eu naovejo aqui que a cor seja fatordiferencialpara obullyng. Nem sei sedentro deumcontexto mais amplo aqui do Estado issoexiste. (lnformacáo verbal, grifo nosso)",

Essas irnpressoes levam a crer que arealidade brasileira, no momento atual, reconheceas desigualdades, dado o papel da midia, a torcados movimentos sociais. do movimento negro e deoutras práticas annrraclstas. Contudo, incentivara autoafirmacáo dos sujeitos e a construcao eímplementacáo de medidas de combate ao racismoe fortalecimento ao perfil identitário negro ainda sefaz distante.

A mvestiqacáo revelou urna gama decomplexidades para a ímplementacáo da leL Aoadentrar as escolas públicas de ensino, localizadasna circunvizinhanca da UECE, foi notável aresistencia de parte dos atores da escota. Osargumentos foram diversos, como o medo de seremfiscalizados, o nao aprofundamento da temática doensino das relacóes étnico-raciais, as dificuldadesem termo mstítucionais, entre outros.

No que se refere ao apoio da SecretariaMunicipal de Ecucacáo (SME), foi evidenciadodurante a mvestiqacáo urna atuacáo limitada ásacóes pontuais, como seminários versando sobre anecessidade de irnplementacáo da LeL Verificou-sepor parte das escolas urna cornpreensáo distorcidae naturalizadora das práticas racistas, reafirmandoa particularidade local de considerar que, no Ceará,nao tem negro/a'< Conforme um relato de urna dasprofessoras entrevistadas que afirmou:

Se voce forver, nóscearensessomos umpovo bem miscigenado, vai diminuindo.Tem negro, mas é bem menos e eufiquei sabendo que a populacáo negracearensese escondeu, foi se afastandodo seu espaco. (lnformacáo verbal)".

Em contato com os/as professores/as e algunsfuncionários, que se auto-denominaram pardos/as,ao serem indagados sobre a existencia de racismono Brasil, verificou-se a unanimidade de considerar

R Pol< Públ« Sao Luís, v,16,02, P< 329-339, juUdez< 2012

Page 9: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

336 Maria Zelma de Araújo Madeira, Renata Gomes da Costa

que existe, pois chamaram atencáo para a grandepopulacáo carcerária ser negra, o percentualde desempregado, a tentativa de mascarar adesigualdade por parte da midia e a permanencia deestereótipos nas telenovelas. O depoimento abaixoexemplifica esse contexto:

Presenciar? Nunca eu vi sltuacóesque demonstram discrirninacáo racial,particularmente nunca vi. A gentepercebe que a grande populacáocarcerária é negra , existem estatisticasquecomprovam que existe um percentualdo POyO brasileiro que tá desempregadoe muitas dessas estatisticas váo indicarum grande número de pessoas, que"é uma mistura de todas as cores",que sofrem preconceito. (lntormacáoverbal)":

Outro dado pertinente revelado na pesquisaque está em concomitancia com as assertivaspresentes nas ínvestiqacóes sobre relacóes étnico­raciais no Brasil, se refere a constatacao de umpais racista, todavia um racismo sem agente, naoevidenciando o autor da prática discriminatória,como bem corrobora uma das entrevistadas:

Tem sim. Voce observa um mendigo narua e a maioria é negro. Voce ve umapessoa passar na rua, voce tem medoquando ela é negra, [...] Sempre, atéquando eu fui para Salvador, eu estavacontando: as pessoas sao bem maisnegras do que aqui. Esse aqui andandolá em Fortaleza, todo mundo ficavaapavorado, achando que é o ladráo, é ovagabundo. (lnformacáo verbal)".

No que tange a percepcáo das práticas racistasno ambiente escolar, os depoimentos evidenciarama nao identificacáo de posturas racistas; sao namaioria minimizadas como brigas de enancas,de meninos e meninas que nao contém quest6esmaiores, identificam-se como situacao de raiva quenao guardam relacáo com a pertenca racial. Outrosprofissionais apontam para a presenca de casos deracismo entre os alunos/as mediante brincadeiras,de apelidos, sob formas mascaradas e sutis.

A pesquisa explicitou que ao tematizar adiscrlminacáo racial, os/as entrevistados/as, em suamaioria, associavam as práticas discriminatóriasraciais a homofobia, sexismo, machismo, naocentrando na particularidade racial de modo adiluir em meio as demais, como afirma o seguinteentrevistado:

Eu acho que nao. Tá tudo tao liberado,racial, sexual. Voce pode ver ali naPraca da Avenida Dom Luis, onde seconcentram os "Emes", ninguém mexecom eles. Nas avenidas, os travestis, eu

R. Poi. Púbt., Sao Luis, v.16, n.2, p. 329-339, jul.!dez. 2012

nao vejo ninguém mexendo com eles ,talvez voce possa ver mais em sao Pautoe Rio, gente batendo, matando, aquinao. Aqui se tiver é numa porcentagemmuito pequena. Eu acho que aqui opessoal é mais tranquilo quanto a isso.(lnformacáo verbal)",

Em relacáo ao conhecimento da lei, foiexpressivo o número de profissionais que afirmaramnao conhecé-ta, outros/as tem apenas uma ideiavaga e bem poucos a conhecem. Os motivosapontados pelos/as interlocutores/as sao devidosas parcas atividades de caráter continuado quepromovem a ímplementacáo da leí. Revelaramainda o desconhecimento do Plano Nacionalde lmplementacáo das Diretrizes CurricularesNacionais para Educacáo das RelacóesÉtico-raciaise para o ensino de Historia e Cultura Afro-brasileirae Africana, além de desconhecerem o materialdidático que a escola recebe sobre o tema. Valeressaltar que a irnplementacáo da lei nas escolaspesquisadas encontra-se de forma distorcida, naoperpassando todo o curriculo escolar, centrando-seos conteúdos apenas na disciplina de História. Oseguinte depoimento retrata esse panorama:

Eu tenho nocáo do que seja, sei que éa lei que traz a questao de trabalhar asetnias afrodescendentes na escola. Eo que eu entendi é que ela nao é umadisciplina , ela é uma temática a serinserida no curriculo escolar, eu entendidessa forma. [...] É engrac;ado que agente té na coordenacáo e nao pensamuito sobre isso, eu achava que ia sersomente no ensino de história, sé que naverdad e ela é transdisciplinar. E quandose pensa na Inclusáo de grupos, nosdireitos gerais do cídadáo, se percebeque realmente determinada classe, amais pobre, tem um contingente maiorde - eu vou de chamar de negros porqueeu sou acostumada a falar [...]. Allás,é uma cor chique [...], as mulheresadoram ficar bronzeadas [...] Entáose a grande maioria é negra, entáo aspoliticas estáo ai pra isso. É uma coisapolitica pontual , como a de dtstribuicáode renda. (lnformacáo verbal)".

Nao é mais possivel negar os efeitos dadiscriminacáo racial na ínsercáo no mercado detrabalho, na participacáo e reprssentacáo politíca, noacesso e permanencia do(s) aluno/as nos processoseducacionais. Todavia, diante de taís desigualdadesque minimizam oportunidades para este segmentosocial, há uma ausencia de vontade politíca paraefetivar as acóes valorativas e afirmativas que visemreparacáo de um passado criminoso e proponhama afirmacáo de identidades positivas de ser negro/as, tendo como horizonte real o enfrentamento ao

Page 10: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELA<;;ÓES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTA<;;Ao DA LEI10<639/03 EM FORTALEZAlCEARÁ 337

racismo.Desta forma vale considerar que a pesquisa

empreendidacontribui para demonstraros obstáculosque se colocam para a implernentacáo da legislayaomencionada, mesmo nove anos depois da criacáoda primeira lei (10<639/2003) e que tais dificuldadesguardam relacáo com a estruturacáo das retacóesraciais no municipio fortalezense evidenciando umaneqacáo e/ou adiamento em questionar as posturaspedagógicas, que nao respeitam as diferenyasresultantes do processo de constituícáo do Estadocearsnse.

4CONCLusAo

As desigualdades étnico-raciais tem reveladocenários de violencias, traduzidas em sexismo eracismo institucional dentro das escalas. 1550 requera efetivacáo de políticas públicas específicas, demodo que possam construir novas referenciais paraos alunos/as, professores/as e todos que fazem acomunidade escolar.

Convém afirmar a necessidade de urnapedagogia social e cultural, compreendida comourna teoria e prática educacionais que apostemna diversidade étnico-racial presente na nossasociedade. Concebendo as diferenyas comoriqueza, numa perspectiva da reciprocidade e naosinónimo de desigualdade, orientadas por umaforrnacáo do ser humano nas suas relacóes sociaís.Apostar numa pedagogia inclusiva é fundamental,na medida em que valoriza os saberes das classespopulares, de homens e mulheres, dos gruposétnicos historicamente discriminados (negros eindígenas), configurando-se uma educacáo cidadá,democrática e inter/multiculturaL

A pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudose Pesquisas em Afrobrasilidade, Genero e Família(NUAFRO-UECE) revelou a urgente necessidadede orqanizacáo para vencermos o desafio daimplernentacáo da Lei, o que requer somar esforcose estabelecer articulacáo entre o Ministério daEcucacáo (MEC), Conselho Nacional, Estaduale Municipal de Educacáo, Núcleo de EstudosAfro-brasileiro (NEABS), Associacáo Brasileira dePesquisadores Negros (ABPN), movimento socialnegro e outros agentes da luta antirracista.

Diante do exposto, e válido dizer que ocombate ao racismo é urna causa que diz respeitoa toda hurnanidade. Cabe uma reflexáo e acoesrumo á construcáo de uma sociedade brasileirarica de compartilhamento cultural com valoresdemocráticos, fraternos e sondários.

REFERENCIAS

ANDREWS, George Reíd. O Amorenamento e oenegrecimento, 1930-2000< In: < AmericaAfro-latina, 1800-2000. Sao Carlos: Ed. EdUSFCar,2007<

BRASIL< Ministerio da Educacáo, DiretrizesCurriculares Nacionais para a Educacáo dasRelacóes Etnico-raciais e para o Ensino deHistória e Cultura Afro-brasileira e Africana.Brasília, 2005<

___ < Lei 11<645 de 10 de Marco de2008< Altera a Lei no 9<394, de 20 de dezembrode 1996, que por sua vez foi modificada pela Leino 10<639, de 9 de janeiro de 2003, estabelecendoas diretrizes e bases da educacáo nacional, paraincluir no currículo oficial da rede de ensino aobrigatoriedade da temática "História e CulturaAfro-Brasileira e Indígena" nos estabelecimentos deensino fundamental e de ensino médio, públicos eprivados. Diário Oficial [da] República Federativado Brasil. Brasília, DF, 10 mar 2008<

___ <Lei n" 10<639, de 9 de janeiro de2003< Altera a Lei no 9<394, de 20 de dezembrode 1996, que estabelece as diretrizes e bases daeducacáo nacional, para incluir no currículo oficialda rede de ensino a obrigatoriedade da temática"História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outrasprovidencias. Diário Oficial [da] RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, DF, 9 jan. 2003<

___ < Proposta de Plano Nacionalde lmplementacáo das Diretrizes CurricularesNacionais da Educacáo das Relacóes Etnico­raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro­Brasileira e Africana - Lei 10<639/2003< Brasília,novembro, 2008<

___ < IDEB: resultados e metas <Disponivel em.<http.sportat.mec.qov.br>. Acessoem: 03 out 2012<

COORDENADORIA ESPECIAL DE POLíTICASPÚBLICAS DE IGUALDADE RACIAL< Cearádeverá instalar conselho de igualdade racialaté final até o final do semestre. 30 mar. 2012.Disponível em:< VV'MN.seppir.govbr/noticias/ultimas_noticias/2012/03>. Acesso em: 03 out 2012.

FUNES, Euripedes António. Negros no Ceará. In:SOUZA, Simone. (Org.). Urna nova história doCeará. 3. ed. Fortaleza, CE: Edícóes DemócritoRocha, 2004.

GOMES, Joaquim B. Barbosa. O debateconstitucional sobre as acoes afirmativas. Site

R Pol< Públ"o Sao Luís, v,16,02, P< 329-339, juUdez< 2012

Page 11: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

338 Maria Zelma de Araújo Madeira, Renata Gomes da Costa

Mundo Jurídico. Rlo de Janelro, 2002. Dlsponlvelem:<http://www.mundojurldlco.advbr>. Acesso em:03 out. 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA EESTATíSTICA Síntese de Indicadores sociais: umaanállse das condicoes de vida da populacáo Brasllelra2008. Rlo de Janelro, 2008. (Estudos e pesquisaslnformacoes demográficas e socloecon6mlcas, n. 23).

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÓMICAAPLICADA. Desigualdades raciais, racismo epolíticas públicas: 120 anos após a abolícáo.Brasilia: DIsoc-1 PEA, 2008 .

JACCOUD, Luclana de Barros; BEGHIN, Nathalle.Desigualdades raciais no Brasil: um bataneo daintervencáo governamental. Brasilia: IPEA, 2002.

MADEIRA, Maria Zelma de Araújo. A maternidadesimbólica na religiao afro-brasileira [manuscrito]:aspectos socloculturals da mae-de-santo naUmbanda em Fortaleza-Ceará. 2009. 250 f. Tese(Doutorado em Soclologla) - Universidade Federaldo Ceará, 2009.

:=-c-c-' Urna análise sobre a Proposta do PlanoEstadual de Promocáo da Igualdade Racial.Fortaleza: 2007. Mlmeo.

PAlxAo, Marcelo et al. (Orgs.). Relatório Anualdas Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010.Rlo de Janelro: LAESER, 2010.

PEREIRA, Amaurl Mendes; SILVA, Josellna da(Orgs). Movimento Negro Brasileiro: escritossobre os sentidos de democracia e justica social noBrasil. Belo Horizonte: Nandyala, 2009.

SANTOS, Sales Augusto dos; SILVEI RA, Marly.Políticas de prornocáo da Igualdade racial e acáoafirmativa . Salto para o Futuro: gestao educacionalpara a dlversldade, Rlo de Janelro, ano 20, n. 12, p.39-54, set. 2010.

Notas

Em 2007 a Secretaria de Trabalho e OesenvolvimentoSocial do Ceará (STDS) ficou com a responsabilidadede elaborar o Plano Estadual de Promocáo dalquakíade Racial, contudo nao obteve éxito, hajavista ter produzido um documento que nao retratavaas demandas apresentadas nos espacos de controlesocial como fóruns e conferencias municipais, regionaise estadual de enfrentamento as desigualdades raciais,contrariando as expectativas do movimento social negrodo Estado, demodo que náofoi lancado o referido plano.No final de 2010, foi criada a Coordenadoria Especialde Politicas Públicas de 19ualdadeRacial do Gabinetedo Govemador (SEPPIR-CE), órqáo responsável pela

R. Poi. Públ., Sao Luis, v.16, n.2, p. 329-339, jul.!dez. 2012

implernentacáo da política de promocao da igualdaderacial.Atualmente , o Estado nao conta com o Conselhode Prornocáo da 19ualdadeRacial e nem de um PlanoEstadual de Politicas de 19ualdadeRacial a ser previstono Plano Estratégico do Estado. (COORDENADORIAESPECIAL DE POLíTICAS PÚBLICAS DEIGUALDADE RACIAL, 2012). A proposta elaboradapela STOS apresentava inúmeras falhas, dentreelas: ausencia de diagnóstico socioeconómico dasetnias/rayas existentes no Estado, nao apresentavadiretrizes, objetivos, metas, indicadores, cronogramade aQao e dotacáo orcamsntáría. Mais mforrnacóesconsultar o texto mimio "Uma anáfise sobre a Propostado Plano Estadual de Prornocáo da 19ualdade Racial"apresentado na STDS em 21.11.2007 (MADEIRA,2007).

Quanto as diversas formas de resistencia dapopulacáo negra, consultar Andrews (2007); Pereirae Silva (2009), entreoutros.

As diferenciacóes entre acóes repressivas, valorativase afirmativas sáo bem fundamentadas no documentoDesigualdades Raciais no Brasil: um balance daintervencáo governamental, de autoria de LucianaJaccoud e Nathalie Beghln, publicada pelo IPEAem 2002, dlsponlvel em:<http://www.ufgd.edu.br/reitoria/neab/downloads/desigualdades-raciais-no­brasil-um-balanco-da-intervencao-governamental­2013-jacoudd-beghin >. Para as autoras, as políticasrepressivas tern por objetivo enfrentar e combater osatos discriminatórios através da leqistacáo criminal.Já as políticas de acóes valorativas, estas térn pordesígnio combater os estereótipos negativos queforam construí dos historicamente, sao acóes quevalorizam a pluralidade étnica, o caráter dessasacóes é permanente e nao focalizado como outrasacóes, como podem se caracterizar algumasmodalidades e técnicas das acóes afirmativas, porobjetivar atingir toda a populacáo, identificando efortalecendo a diversidade ética e cultural. Em relacáoas acóes afirmativas, térn por finalidade enfrentar asdiscrirninacóes e desigualdades indiretas, as que sáoveladas, que náo aparecem explicitamente, de talmodo que enfrentam os resultados das discrirninacóes.

A pesquisa contou com financiamento do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) através dabolsa delniciacáo Científica PIBIC­AF/CNPq com vigencia de um ano a ser renovadapor mais um, tendo por período inicial 2011-2012.Vale ressaltar que contamos com pesquisadores/asvoluntários/as membros do NUAFRO.

As inforrnacóes relatadas foram fornecidas pelaSecretaria Municipal de Educacáo de Fortaleza, apartir da Coordenacáo de lntormacóes e Pesquisas,tendo como fonte o Censo Escolar de 2011.

Vista minha pele é um documentário de 15 minutos,sob direcáo de Joel Zito Araújo, divulgado em 2003.O objetivo é discutir sobre racismo e preconceitoem sala de aula, o filme traz como recurso deapresentacáo uma paródia da realidade brasileira.Mais inforrnacóes consultar: http://www.piratininga.org.br/videos/discriminacao.html

Page 12: As relações etnico-racias e a implementação da lei 10.639/03 em

AS RELA<;;ÓES ETNICO-RACIAIS E A IMPLEMENTA<;;Ao DA LEI10<639/03 EM FORTALEZAlCEARÁ 339

Dados retirados de entrevista realizada comfuncionários de escalas municipais de Fortaleza.

Proliferou-se no Estado do Ceará o discursoideológico da invisibilidade da populacáo negra,sobressaindo urna associacáo perversa de que todonegrota era escravizado/a, bem como a atrmacáo deque no Ceará a abolicáo ocorreu antes dos demaisestados brasileiros, em 1885. De modo a escondere silenciar sobre a negritude. É válido salientar quea presenca negra no Ceará se fez e se faz presenteno ámbito do trabalho, da cultura e da religiao, entreoutros (FUNES, 2004: MADEIRA, 2009J

Dados retirados de entrevista realizada comprofessores de escalas municipais de Fortaleza.

10 Dados retirados de entrevista realizada com orientadorpedagógico de escotas municipais de Fortaleza.

11 Dados retirados de entrevista realizada comprofessores de escotas municipais de Fortaleza.

12 Dados retirados de entrevista realizada comprofessores de escotas municipais de Fortaleza.

13 Dados retirados de entrevista realizada comfuncionários de escotas municipais de Fortaleza.

Maria Zelma de Araújo MadeiraAssistente SocialDoutora em Sociologia pela Universidade Federal doCeará (UFC)Professora adjunta do Mestrado em Servico Social,Trabalho e Ouestáo Social e da qraduacáo em ServicoSocial da Universidade Estadual do Ceará (UECE) eCoordenadora do Grupo de Pesquisa Relacóes Étnico­Raciais: Cultura e Sociedade da UECE.E-mail [email protected].

Renata Gomes da CostaAssistente SocialMestranda em Servico Social, Trabalho e Ouestáo Socialpela Universidade Estadual do Ceará (UECE)E-mail [email protected]

Universidade Estadual do Ceará ~ UECEPalácio da Abolicáo -Av. Baráo de Studart, 505 - Meireles,Fortaleza - CECEP: 60<120-000

R Pol< Públ_ Sao Luís, v,16,02, P< 329-339, juUdez< 2012