as redes socioespaciais no âmbito da atuação do movimentos dos trabalhadores sem-teto de...

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7/18/2019 As redes socioespaciais no âmbito da atuação do Movimentos dos Trabalhadores Sem-teto de Pernambuco http://slidepdf.com/reader/full/as-redes-socioespaciais-no-ambito-da-atuacao-do-movimentos-dos-trabalhadores 1/15 As redes socioespaciais no âmbito da atuação do movimento dos trabalhadores sem-teto de Pernambuco: uma estratégia à construção da emancipação popular Otávio Augusto Alves dos Santos 1 Resumo O objetivo desse trabalho é demonstrar como as redes socioespaciais são constituídas no âmbito da atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco (MTST/P!" Para tanto# procuramos tecer al$umas consideraç%es a respeito do tema das redes nas ci&ncias sociais# dando desta'ue a orma através da 'ual a )eo$raia deve tratar esse assunto" *epois# apresentamos de maneira sucinta os resultados da pes'uisa elaborada pelo autor# onde oram elencadas as dierentes pr+ticas espaciais desempenhadas pelo MTST/P" Por ,ltimo# reali-amos uma rele.ão sobre a pr+tica da construção de redes socioespaciais na trajetria do MTST/P" 0imos 'ue essas redes são respons+veis pela radicali-ação das lutas do reerido movimento# pois por meio delas é 'ue são deinidas suas estraté$ias de emancipação popular" Palavras-chave:  1edes socioespaciais2 Movimento sem3teto2 Pr+ticas espaciais" Redes socio-espaciales en la actuación del movimiento de trabajadores sin vivienda de Pernambuco: una estrategia para la construcción de la emancipación  popular Resumen l objetivo de este trabajo es demostrar cmo las redes socio3espaciales se constitu4en en la actuacin de los Movimiento de los Trabajadores Sin 0ivienda de Pernambuco (MTST/P!" 5on este in# se busca hacer al$unas observaciones sobre el tema de las redes en las ciencias sociales# destacando la orma en 'ue la )eo$raía debe abordar esta cuestin" *espués# presentamos de manera sucinta los resultados de la investi$acin llevada a cabo por el autor# donde se enumeraban las dierentes pr+cticas espaciales reali-adas por MTST/P" Por ,ltimo# hacemos una rele.in sobre la pr+ctica de la construccin de redes socio3espaciales en la tra4ectoria del MTST" 0imos 'ue estas redes son responsables por la radicali-acin de las luchas de ese movimiento# por'ue a través del mismo es 'ue se deinen sus estrate$ias de emancipacin popular" Palabras clave6 1edes socio3espaciales2 Pr+cticas espaciales2 Movimiento sin vivienda" Socio-spatial networks in the performance of the movement of homeless workers of Pernambuco: a strategy for the construction of social empowerment Abstract The aim o this paper is to demonstrate ho7 socio3spatial net7or8s are constituted in the actuation o Movement o 9omeless :or8er o Pernambuco (MTST/P!"To this end# 7e see8 to ma8e some observations about the net7or8s subject in the social sciences# 1 Mestre em *esenvolvimento ;rbano e *outorando em *esenvolvimento ;rbano pela ;niversidade <ederal de Pernambuco" Sociedade e Território, Natal, v. 26, nº 1, p. 43 - 57, jan./jun. 214.

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O objetivo desse trabalho é demonstrar como as redes socioespaciais são constituídas no âmbito da atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco(MTST/PE).

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As redes socioespaciais no âmbito da atuação do movimento dostrabalhadores sem-teto de Pernambuco: uma estratégia à

construção da emancipação popular 

Otávio Augusto Alves dos Santos1

ResumoO objetivo desse trabalho é demonstrar como as redes socioespaciais são constituídasno âmbito da atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco(MTST/P!" Para tanto# procuramos tecer al$umas consideraç%es a respeito do tema das

redes nas ci&ncias sociais# dando desta'ue a orma através da 'ual a )eo$raia devetratar esse assunto" *epois# apresentamos de maneira sucinta os resultados da pes'uisaelaborada pelo autor# onde oram elencadas as dierentes pr+ticas espaciaisdesempenhadas pelo MTST/P" Por ,ltimo# reali-amos uma rele.ão sobre a pr+tica daconstrução de redes socioespaciais na trajetria do MTST/P" 0imos 'ue essas redessão respons+veis pela radicali-ação das lutas do reerido movimento# pois por meio delasé 'ue são deinidas suas estraté$ias de emancipação popular"Palavras-chave: 1edes socioespaciais2 Movimento sem3teto2 Pr+ticas espaciais"

Redes socio-espaciales en la actuación del movimiento de trabajadores sinvivienda de Pernambuco: una estrategia para la construcción de la emancipación

 popular 

Resumenl objetivo de este trabajo es demostrar cmo las redes socio3espaciales se constitu4enen la actuacin de los Movimiento de los Trabajadores Sin 0ivienda de Pernambuco(MTST/P!" 5on este in# se busca hacer al$unas observaciones sobre el tema de lasredes en las ciencias sociales# destacando la orma en 'ue la )eo$raía debe abordaresta cuestin" *espués# presentamos de manera sucinta los resultados de lainvesti$acin llevada a cabo por el autor# donde se enumeraban las dierentes pr+cticasespaciales reali-adas por MTST/P" Por ,ltimo# hacemos una rele.in sobre la pr+cticade la construccin de redes socio3espaciales en la tra4ectoria del MTST" 0imos 'ue estasredes son responsables por la radicali-acin de las luchas de ese movimiento# por'ue a

través del mismo es 'ue se deinen sus estrate$ias de emancipacin popular"Palabras clave6 1edes socio3espaciales2 Pr+cticas espaciales2 Movimiento sin vivienda"

Socio-spatial networks in the performance of the movement of homeless workersof Pernambuco: a strategy for the construction of social empowerment 

AbstractThe aim o this paper is to demonstrate ho7 socio3spatial net7or8s are constituted in theactuation o Movement o 9omeless :or8er o Pernambuco (MTST/P!"To this end# 7esee8 to ma8e some observations about the net7or8s subject in the social sciences#

1Mestre em *esenvolvimento ;rbano e *outorando em *esenvolvimento ;rbano pela;niversidade <ederal de Pernambuco"

Sociedade e Território, Natal, v. 26, nº 1, p. 43 - 57, jan./jun. 214.

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especiall4 about the 7a4 in 7hich )eo$raph4 should stud4 this 'uestion" =ter 7e presentsuccinctl4 the results o research conduct b4 the author# 7here 7ere listed the dierent spatialpractices perormed b4 MTST/P" <inall4# 7e present a relection about the practice oconstruction o socio3spatial net7or8s in the trajector4 o MTST/P" :e have seen that thesenet7or8s are responsible or the radicali-ation o the stru$$les o this movement# because isthrou$h them that are deined the strate$ies or the popular emancipation"Key ords: Socio3spatial net7or8s2 Spatial practices2 9omeless movement"

!ntrodução

5omo diria Porto3)onçalves (>??@!# h+ uma série de movimentos sociais no mundo

contemporâneo cuja compreensão de sua nature-a sociol$ica e de suas aç%es

individuais e coletivas obri$a3nos a considerar o seu espaço de vida" ;m e.emplo desse

tipo de movimento é o dos sem3teto# 'ue como j+ demonstrado em Santos (>?AB!#

constantemente lança mão de um conjunto de pr+ticas espaciais"

;ma das pr+ticas levada a termo pelos movimentos dos sem3teto# especialmente o

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco (MTST/P!# é a construção de

redes socioespaciais" ssas redes# a nosso ver# são respons+veis pela radicali-ação das

lutas do reerido movimento# pois é por meio delas 'ue o MTST/P elabora suas

estraté$ias de emancipação popular"

Co trabalho em tela# versaremos a respeito dessas redes socioespaciais#

demonstrando como elas se materiali-am no âmbito da atuação do MTST/P" Ca primeira

parte# procuraremos tecer al$umas consideraç%es a respeito da emer$&ncia do tema das

redes nas ci&ncias sociais# dando desta'ue a orma pela a )eo$raia deve tratar esse

assunto" Ca se$unda parte# apresentaremos resumidamente os resultados de uma

pes'uisa elaborada pelo autor# onde oram elencadas as dierentes pr+ticas espaciais

desempenhadas pelo MTST/P" Por im# procuraremos reali-ar uma rele.ão sobre a

pr+tica da construção de redes socioespaciais no conlituoso processo de con'uista daemancipação popular 'ue# a nosso ver# tem ocorrido no interior desse movimento"

Algumas consideraç"es a prop#sito das redes socioespaciais e dos movimentos

sociais contemporâneos

 =s redes sociais correspondem a um dos mais insti$antes e controversos temas da

atualidade# não apenas por 'ue sinteti-am uma das ormas mediante a 'ual a economia

$lobal constitui seus principais lu.os inanceiros# ou mesmo por 'ue tem sidosurpreendentemente subvertidas e transormadas em meio de articulação scio3política

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para os ativismos contemporâneos# mas# sobretudo# por 'ue marcam decisivamente as

ormas de atuação da sociedade politicamente or$ani-ada e dos movimentos sociais mais

consolidados"

O tema das redes sociais é um dos mais discutidos no interior das ci&ncias sociais#

especialmente na sociolo$ia e na antropolo$ia" 5omo airma Scherer3:arren (ADDD!#

nestes campos disciplinares# as redes são $eralmente tratadas en'uanto conjunto de

relaç%es de parentesco# de vi-inhança# de ainidades# ou de articulaç%es políticas#

ideol$icas etc" Trata3se# na verdade# de um assunto basilar E aborda$em sociol$ica#

uma ve- 'ue nessa disciplina as redes são interaç%es sociais sobre as 'uais sur$e todo

um tecido social" Os homens# seres sociais por e.cel&ncia# constituem cotidianamente

redes de interaç%es sociais dos mais diversos tipos e com os mais diversos objetivos# deorma a rea$rupar campos da sociedade no âmbito de uma estrutura social maior"

 =s redes são também estraté$ias de ação política desempenhadas pelos

movimentos sociais contemporâneos sob o ito de ultrapassar o associativismo local#

$al$ando# se$undo Scherer3:arren (>??@# n"d"!# Formas de articulação inter3

or$ani-acionaisG ('uando se tratam de aç%es sociais de car+ter mais institucional! ou#

então# apenas Fmobili-aç%es na esera p,blicaG ('uando se tratam de aç%es ou

maniestaç%es sociais mais pontuais ou conjunturais!" =tualmente# por meio das redessociais# os movimentos sociais t&m estabelecido articulaç%es político3peda$$icas 'ue

tendem a alar$ar seu raio de atuação# tornando3os mais radicais"

n'uanto $e$raos# somos levados a compreender as redes sociais considerando

outros aspectos# como o espaço e o lu$ar" Cesse sentido# a-3se mister lembrar 'ue

sociedade e espaço se co3constituem# em um processo onde a sociedade est+ para o

espaço assim como o espaço est+ para a sociedade" Cas aç%es 'ue envolvem a

construção de redes sociais não é dierente# pois sempre ocorre concomitantemente a

constituição de uma rede socioespacial" =li+s# da mesma orma 'ue al$uns $rupos sociais

se constituem em aç%es calcadas em rede# esses mesmos $rupos também produ-em

seus espaços por meio de redes socioespaciais"

Para a )eo$raia# as redes socioespaciais são sistemas de relaç%es entre

dierentes localidades do espaço $eo$r+ico# ou como diria 5orr&a (>??H# p" A?H!# Fum

conjunto de locali-aç%es $eo$r+icas interconectadas entre si por um certo n,mero de

li$aç%esG" =s localidades# obviamente# correspondem aos FnsG do sistema# en'uanto 'ue

as relaç%es são as dierentes vias de comunicação e transporte entre essas localidades"

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O tem+rio das redes é anti$o na $eo$raia e remonta desde a Teoria das

Iocalidades 5entrais# ormulada por :alter 5hristaller# passando pelos estudos das redes

urbanas até as teorias sobre a $lobali-ação" Para Santos (ADDJ!# por e.emplo# as redes

socioespaciais se constituem a partir de i.os e lu.os" Os elementos i.os são os ns da

rede e $eralmente representam os centros urbanos# os lu.os são os meios 'ue $arantem

as interaç%es entre os i.os# ou seja# o transporte de mercadorias e inormaç%es"

Mas o 'ue nos interessa neste trabalho é perceber 'ue as redes socioespaciais

são também constituídas no cotidiano das sociedades e# sobretudo# pelos movimentos

sociais contemporâneos" <re'uentemente# os movimentos sociais são levados a tecer

redes socioespaciais 'ue visam interli$ar os seus espaços de vida# de orma a ortalecer

suas lutas" K interessante também notar 'ue essas redes nunca se estabelecem em uma,nica escala $eo$r+ica# pois normalmente os movimentos sociais se articulam com

coletivos re$ionais# nacionais e até internacionais# aumentando ainda mais a abran$&ncia

e o impacto de suas lutas# tornando3as radicalmente transormadoras por 'ue mais

voltadas E emancipação social"

As di$erentes pr%ticas espaciais empenhadas pelo &'(')P*

 =s redes socioespaciais são uma dentre outras pr+ticas espaciais empenhadaspelo MTST/P" m pes'uisa reali-ada pelo autor a respeito das pr+ticas espaciais

desenvolvidas pelo MTST/P na 1e$ião Metropolitana do 1ecie# as redes sociais se

a-em presentes en'uanto uma estraté$ia 'ue ainda est+ sendo $estada# mas 'ue j+ tem

apontado para a possibilidade de atribuir E atuação desse movimento um car+ter mais

abran$ente e emancipador"

Para entender como isso se processa# é preciso conhecer antes as demais pr+ticas

espaciais desempenhadas pelo MTST/P" Ca reerida pes'uisa oram identiicadas as

se$uintes6 a territorialização2 a ressignificação de lugares2 e a reerida construção de

redes socioespaciais" 5omo esclarecido na prpria dissertação do autor# nosso estudo

tomou por base o trabalho de Sou-a (>?A?!# para 'uem h+ seis pr+ticas espaciais

provenientes dos ativismos socioespaciais urbanos contemporâneos6 a Territorialização

em sentido estrito; Territorialização em sentido amplo; Refuncionalização/reestruturação

do espaço material; Ressignificação de lugares; Construção de circuitos econmicos

alternativos; Construção de redes espaciais" Cão usamos as mesmas deiniç%es do autor#

pois nosso objetivo era identiicar as pr+ticas do MTST/P em sua atuação real" Mas

'ueremos dei.ar claro 'ue esse trabalho de Sou-a# assim como muitos outros# inluenciou

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decisivamente nosso trabalho e ainda tem undamentado nossos estudos a respeito dos

movimentos sociais da 1e$ião Metropolitana do 1ecie" =$ora# vejamos cada uma das

tr&s pr+ticas destacadas"

i ! 'erritoriali+ação6

 =s ocupaç%es são os principais tipos de territoriali-ação reali-ados pelo MTST/P

em sua prpria atuação" )rosso modo# tratam3se de aç%es coordenadas 'ue visam se

apropriar de certos espaços da cidade para# a partir dali# desencadear um processo de

resist&ncia e luta pela con'uista de moradias (<i$ura ?A!"

<i$ura ?A6 (egunda ,cupação ampo .rande/ mais conhecida como 01avela de Pl%stico2

<oto6 Ot+vio Santos# >?AB"

*as cerca de LJ ocupaç%es reali-adas pelo MTST em sua trajetria no estado de

Pernambuco# muitas ainda se encontram politicamente atuantes" m $eral# 'uase todas

elas sur$iram de um conjunto de aç%es muito bem ar'uitetado entre as lideranças e as

amílias# como se pode conerir na ala 'ue se$ue6

Cas ocupaç%es# a $ente a-emos um levantamento do terreno# néN convidamosas amílias# vamos de porta em porta e e.plicamos para as amílias 'ual é oobjetivo do movimento# 'ual é o trabalho 'ue o movimento a- pra con'uistar amoradia" a $ente a-emos reuni%es" Cs temos de oito E de- reuni%es" depoisdessas de- reuni%es# a $ente ocupamos o terreno ou prédio# dependendo do 'ueseja (ntrevista reali-ada com membro da coordenação estadual do MTST/P# em>D/A>/>?A># em 1ecie!"

mbora uma ocupação si$nii'ue# pelo menos a priori # uma ação 'ue visa obter

$anhos materiais# como uma moradia# ela também corresponde a uma pr+tica política

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undamentada em relaç%es de poder# e 'ue visa a-er rente ao modelo de or$ani-ação

socioespacial he$emnico# uma ve- 'ue# re'uentemente# se sobrep%em ao re$ime de

propriedade bur$uesa# instaurando outros tipos de direito de propriedade"

Outros importantes tipos de territoriali-ação reali-ados pelo MTST/P são as

passeatas e os protestos" mbora sejam usualmente tratados como correlatos# as

passeatas $eralmente são mais FpacíicasG e possuem uma certa periodicidade" Os

protestos ocorrem apenas diante de um conte.to socioeconmico ou político

desavor+vel# sendo mais contundentes" =ssim# as passeatas são caminhadas coletivas

coordenadas 'ue ocorrem pelos espaços p,blicos no intuito de chamar a atenção da

sociedade para a bandeira e para os princípios 'ue undamentam o movimento# bem

como para os problemas 'ue o movimento procura combater" + os protestos podemenvolver caminhadas ou a simples a$lomeração de pessoas em espaços p,blicos# onde

se entoam palavras de ordem 'ue visam se opor a al$uma conjuntura (<i$ura ?>!"

<i$ura ?>6 Protesto reali+ado pelo &'(' em 34)56)7535/ no centro do Reci$e)P*

<oto$raia6 lian Qalbino# publicado no portal *i+rio de Pernambuco no dia AH/A>/>?A?2 *isponível em6http6//777"old"diariodepernambuco"com"br/vidaurbana/nota"aspmateriaR>?A??AH?BAAB2 =cesso em6

>>/A>/>?AB

m uma passeata ou em um protesto# os sem3teto se apropriam de certos

espaços# depois desterritoriali-am e reterritoriali-am# em uma dinâmica irre$ular" sse

territrio luido e muitas ve-es caminhante# undamentado em relaç%es de poder# passa a

se constituir mediante um conlito em relação ao resto da cidade# conlito esse 'ue

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envolve o papel dos espaços p,blicos e a necessidade de maniestar o descontentamento

rente aos desmandos do poder econmico e do político"

5abe ainda re$istrar um outro tipo de territoriali-ação levado a termo pelos sem3

teto" Tratam3se das territorialidades individuais ou amiliares 'ue se materiali-am no

interior das ocupaç%es" 5ada ocupação se disp%e em um acordo m,tuo entre os sem3teto

e a c,pula maior do movimento# sendo 'ue cada ocupante possui seu prprio espaço# o

barraco ('uando se trata de ocupaç%es de terrenos urbanos! ou cmodo ('uando o

espaço ocupado é um ediício!" sse territrio amiliar dentro da ocupação é onde eles

e.ecutam suas atividades mais íntimas e onde as re$ras e normas de coabitação são

determinadas no âmbito amiliar" <ora desses territrios# as re$ras e normas de

coabitação são deinidas pelo conjunto da ocupação e do movimento e $eralmenteservem para o usuruto de todos nos momentos de reunião ou mesmo nas atividades

educativas e l,dicas" =s ocupaç%es se constituem# conse'uentemente# em um arranjo

muitas ve-es conlituoso de pe'uenos territrios amiliares e coletivos (<i$ura ?B!"

<i$ura ?B: Parcelamento da ocupação para a construção dos barracos

  <oto6 Ot+vio Santos# >?A?"

ii ! Ressigni$icação de espaços6

  Trata3se do processo através do 'ual os sem3teto conse$uem atribuir novos

si$niicados# novos valores e novos usos a certos espaços da cidade" Muitas ve-es# talpr+tica ocorre como justiicativa para a ocupação# pois é comum entre os sem3teto o

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ar$umento se$undo o 'ual as ocupaç%es podem por im a lu$ares abandonados da

cidade 'ue antes serviam apenas para a prostituição e para o tr+ico de dro$as" Os sem3

teto# portanto# buscam atribuir outros valores aos lu$ares obsoletos da cidade# aos

terrenos es'uecidos ou 'ue são objetos de especulação imobili+ria# uma ve- 'ue

deendem a possibilidade de transorma3los em habitat para os desabri$ados"

ntretanto# nunca oi essa a ima$em 'ue os meios de comunicação de massa

repassaram para o conjunto da sociedade" *e maneira dierente# as ocupaç%es sempre

oram tidas como uma $rave violação ou simplesmente atos de vandalismo" 0ale destacar

'ue os principais veículos de comunicação da 1M1 são de propriedade de $randes

empres+rios do campo da construção civil e também $randes propriet+rios de terra" Por

isso# nunca esteve entre seus interesses produ-ir uma ima$em idedi$na da realidade dossem3teto" Pretensamente# esses a$entes do espaço urbano sempre propa$aram seus

interesses como os melhores para o conjunto da cidade# criminali-ando os e.cluídos e

le$itimando seus projetos para o espaço urbano"

Ca pr+tica da ressi$niicação dos espaços é 'ue se percebe mais nitidamente o

car+ter de classe da luta dos sem3teto# pois sempre houve uma luta ideol$ica muito orte

entre a visão bur$uesa das ocupaç%es e da cidade e a visão dos e.cluídos" Cas

ocupaç%es e nos protestos# os sem3teto também ressi$niicam muitos outros aspectos dacidade# como o papel da propriedade urbana" =o ocupar# os sem3teto realçam a

necess+ria unção social dessas propriedades# demonstrando 'ue não basta ter o título

de posse para dispor como 'uiser dos terrenos ou ediicaç%es# uma ve- 'ue é necess+rio

usa3los# antes de tudo# para o beneício da sociedade"

Cas ocupaç%es e protestos# os sem3teto também res$atam o sentido principal dos

espaços p,blicos# reairmando o seu real papel 'ue é o de reunir os citadinos para a

atividade política" Os sem3teto# portanto# possuem a capacidade de reaver o sentido de

polis das cidades# indo de rente a noção de espaço apenas E acumulação do capital

imposta pelo modo de produção capitalista"

iii ! Redes socioespaciais6

 =s ocupaç%es e o prprio movimento não atuam so-inhos ou de maneira isolada"

 =ssim como a $rande maioria dos ativismos contemporâneos# o MTST/P

re'uentemente tece uma vasta rede de cooperação entre as prprias ocupaç%es# o

movimento e muito outros coletivos or$ani-ados situados na mesma ou em outras

escalas" ssa rede de cooperação eetiva3se com vistas a aumentar a eic+cia das

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pr+ticas do movimento# bem como as possibilidades de con'uista das moradias para as

amílias"

O MTST/P mantém relaç%es estreitas com in,meros r$ãos# instituiç%es e

coletivos or$ani-ados# desde os mais burocr+ticos e consolidados até a'ueles 'ue não

possuem car+ter ormal" Por e.emplo# desde o início de sua atuação# o MTST/P possui

um orte vínculo com a OC) <ederação dos r$ãos para =ssist&ncia Social e

ducacional (<=S!# mas durante a ocupação do tradicional ediício Trianon# no centro do

1ecie# em >?A?# o movimento estabeleceu vínculos com in,meros coletivos autnomos

de estudantes e de trabalhadores" Ceste pr.imo item demonstraremos a comple.idade

dessas redes socioespaciais construídas pelo MTST/P# na medida em 'ue também

procuraremos compreender em 'ue sentido essas redes contribuem na elaboraçãocoletiva de estraté$ias E emancipação das amílias sem3teto"

A construção de redes socioespaciais en8uanto estratégia de emancipação popular 

5omo dito# os sem3teto constantemente lançam mão de redes socioespaciais como

orma de ortalecer suas lutas" ssas redes podem se estabelecer entre as ocupaç%es e

os mais diversos coletivos or$ani-ados" 9+# assim# um primeiro nível dessas redes# 'ue é

a'uele estabelecido entre as ocupaç%es" Cenhuma ocupação est+ isolada# pois cada umasempre mantém uma relação de ajuda m,tua com as outras# envolvendo# sobretudo# um

trabalho educativo para as lideranças locais# conorme a ala abai.o6

Cs temos a coordenação estadual 'ue trabalha pra a-er o levantamento dasamílias né# isso ns j+ temos o terreno né" temos também a coordenação local#'ue trabalha diariamente# vinte e 'uatro horas no ar" a $ente e.i$e 'ue nossocoordenador more dentro da ocupação# pra estar por dentro de todo o trabalho#dentro da ocupação" Por 'ue eu vivo na minha casa né# eu como coordenadoraestadual# eu vou l+ e passo l+ dois a tr&s meses# ajudo o coordenador local#'uando eu vejo 'ue est+ ade'uado pra trabalhar com a'uelas amílias# eu saiu#

volto pra minha casa e vou pra outra ocupação" ntão# 'ue nem mesmo naocupação de 5ampo )rande# ns temos 5ristiane e o esposo dela 'ue trabalhacom nosso movimento l+# néN Passei l+ tr&s meses e 'uin-e dias trabalhandocom ela# di-endo E ela como poderia ser o processo# FtudinhoG# como trabalharFtudinhoG# como trabalhar com as amílias" Cão 'uerer se envolver demais# por'uetem $ente 'ue acha 'ue ser coordenador é ser uma autoridade né# e não é isso#ser coordenador é ser parceiro# é ser ami$o# é ser companheiro da amília e dividiros problemas# tanto pessoal como problemas de toda maneira" eu passei tr&smeses l+# e 'uando eu saí de l+# eu ui para o 5abo# por'ue a $ente tinha eitouma ocupação no 5abo recente# vai a-er um ano# e eu passei no 5abo# doismeses l+ no 5abo# trabalhei com 5laudivânio e com a =na e depois eu saí de l+ eestou indo pra Petrolina (ntrevista com membro da coordenação estadual doMTST/P# em >D/A>/>?A># em 1ecie!"

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O se$undo nível dessas redes socioespaciais é a'uele estabelecido entre as

ocupaç%es e a c,pula do movimento" Ceste sentido# o MTST/P promove periodicamente

projetos educativos com vistas a solidiicar a coesão de todo o movimento" Ceste mesmo

viés são promovidos os encontros bianuais 'ue são reali-ados também como orma de

propiciar um ambiente de ormação político3peda$$ico para as lideranças e para as

amílias sem3teto6

(Sobre os encontros estaduais"""! =s nossas reuni%es são pra a-er# primeiro# umaavaliação pra saber como é 'ue oi todas as nossas atividades# nossos atos# néNK mais pra isso# e avaliar# néN Olhar um para o outro# olhar para a nossasocupaç%es# olhar para os empreendimentos# di-er6 Uavançamos onde rramosonde 0amos começar de novo ou vamos dar continuidadeU" ntão é nos avaliarN

*epois é para montar nossos pr.imos passos" Cos or$ani-ar para da'ui a doisanos# como é 'ue a $ente vai a$ir ntão é montar o nosso crono$rama realmentede atividades# de cursos# de palestras" # por im# é a nossa eleição decoordenação estadual# néN = $ente ele$e a cada dois anos a nova coordenaçãoestadual" dentro desse momento# dessa avaliação# desse planejamento e daeleição# a $ente trabalha com políticos# a $ente trabalha com a 'uestão de $&neroetc" = $ente tenta a-er desse encontro estadual um encontro de ormação# atépor'ue são pessoas novas 'ue estão entrando no movimento V"""W = $ente a-também uma an+lise de conjuntura# para icar sabendo com é 'ue est+ a políticano Qrasil" Cosso encontro é realmente para a $ente se avaliar# nos ormar# nospreparar para o uturo e a nossa eleição de coordenação (ntrevista com membroda coordenação estadual do MTST/P# em ?D/?A/>?AB# em 1ecie!"

9+# ainda# um terceiro nível dessas articulaç%es em redes 'ue é a'uele

estabelecido entre o movimento# as OC)s e as demais or$ani-aç%es 'ue prestam apoio e

assessoria ao movimento" 5omo dito# h+ uma série de or$ani-aç%es li$adas E luta pelo

direito E cidade# sobretudo ao <rum de 1eorma ;rbana# 'ue cooperam técnica e

político3peda$o$icamente como o movimento" Ceste sentido# vale destacar o papel de

OC)s como a F9abitat para 9umanidadeG 'ue presta assessoria técnica em projetos

habitacionais alternativos e tem au.iliado o movimento na construção de um conjunto

habitacional no município de Paulista" + as OC)s <=S e 'uipe Técnica de =ssessoria# Pes'uisa e =ção Social (T=P=S!# assim como o instituto de pes'uisas

Observatrio Pernambuco# li$ado E rede Observatrio das Metrpoles# procuram prestar

um serviço educativo de ormação# como os F5ursos de políticas p,blicas e $estão urbana

para 5onselheiros MunicipaisG" Cesses cursos as lideranças são orientadas a reali-ar

uma participação mais eetiva nos in,meros espaços institucionais e.istentes"

Por im# h+ 'uarto nível de articulação e construção das redes socioespaciais por

parte do MTST/P# 'ue é a'uele estabelecido entre o movimento e as demaisor$ani-aç%es nacionais e internacionais 'ue procuram debater e lutar pelo direito a

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cidade" Cessa escala encontram3se a ;nião Cacional por Moradia Popular (;CMP!# o

<rum Cacional de 1eorma ;rbana (<C1;! e a Secretaria !atinoamericana de "ivienda

#opular   (SeI0XP!" O MTST/P possui# assim# uma vasta e interescalar redes de

articulaç%es 'ue# como veremos mais a rente# t&m servido en'uanto estraté$ia para a

radicali-ação de suas lutas (<i$ura ?L!"

<i$ura ?L6 *s8uema com as atuais articulaç"es técnicas/ pol9ticas e pedag#gicas do&'(')P*

laboração6 Ot+vio Santos# >?A?"

 =ntes disso# vale acrescentar 'ue o movimento j+ reali-ou uma série de outros

vínculos pontuais 'ue não che$aram a constituir uma rede# mas 'ue oram importantes

em momentos especíicos# por'ue au.iliaram o movimento em sua atuação" = relação

com certos setores do stado é um e.emplo neste sentido" m al$umas ocupaç%es# as

lideranças locais che$aram até a construir parcerias com a polícia militar# na tentativa deatenuar as ocorr&ncias criminosas dentro das ocupaç%es e permitir 'ue o trabalho de

resist&ncia e luta não seja popularmente associado E viol&ncia"

Outros vínculos são também estabelecidos conjunturalmente com coletivos

or$ani-ados de estudantes e trabalhadores como orma de apoio e solidariedade desses

,ltimos para com as amílias sem3teto" K o caso do 'ue ocorreu com a ocupação do

ediício Trianon# no centro do 1ecie" Cessa ocasião# o MTST/P conse$uiu dar uma

visibilidade tão $rande Es causas e Es bandeiras do movimento 'ue atraiu para si#

naturalmente# toda sorte de apoio (<i$ura ?H!"

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<i$ura ?H6 arta+ da campanha estudantil de solidariedade à ocupação do edi$9cio 'rianon

*isponível em6 http6//recieresiste"7ordpress"com/ta$/ediicio3trianon/2 =cesso em6 >>/A>/>?AB

O 'ue pretendemos evidenciar ao apresentar de maneira sintética as redes

socioespaciais constituídas no âmbito da atuação do MTST/P é o ato de 'ue elas

atribuem ao movimento o necess+rio car+ter revolucion+rio de 'ue tanto e.plicitam nos

discursos" =o se articularem entre si# as ocupaç%es transcendem seus desaios locais#

contribuindo político3peda$o$icamente para o ortalecimento uma das outras" *e orma

muito semelhante# ao se articular com or$ani-aç%es re$ionais# nacionais e internacionais

de luta pela moradia e pela cidadania# o MTST/P conse$ue alar$ar suas lutas# dei.ando

de operar com 'uest%es puramente locais e conjunturais para também tratar temais mais

abran$entes e estruturais"

K por isso 'ue# no nosso entender# através da construção de redes socioespaciais#

esse movimento passa a elaborar estraté$ias de emancipação popular# estraté$ias essas

'ue se ainda não encontram maiores repercuss%es concretas no cotidiano da cidade#

estão sendo $estadas pelo conjunto do movimento" K apenas no interior de sua rede

socioespacial de articulaç%es 'ue o MTST/P conse$ue perceber 'ue a luta pela moradia

di$na e pelo direito E cidade nunca se eetivar+ pela simples con'uista da habitação" *e

maneira dierente# é apenas 'uestionando e enrentando as maiores estruturas de poder

'ue se pode vislumbrar uma cidade com maior justiça social e ambiental"

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Por seu car+ter interescalar# as redes socioespaciais constituídas pelo MTST/P

apontam para uma nova orma de articulação espacial das lutas sociais" Para usar um

termo corrente# trata3se de um novo internacionalismo# típico dos ativismos urbanos

contemporâneos e 'ue# obviamente# pouco tem haver com o internacionalismo oper+rio

do início do século YY" *i- respeito# na verdade# a uma espécie de e.pansão em escala

$lobal das insur$&ncias sociais 'ue# deparando3se aos limites impostos E esera local#

articulam3se nas mais dierentes escalas e com os mais dierentes objetivos" Portanto# o

MTST/P tem se direcionado# em sua trajetria# para essa nova orma de atuação onde o

a$ir local não é mais suiciente E emancipação das amílias sem3teto" Para usar o

conceito su$erido por S7art- (AD@J! e deendido por Sou-a (>??D!# as aç%es do MTST/P

e de muitos outros movimentos sociais contemporâneos tendem não somente a operarcom 'uest%es circunscritas no FcampoG e nas Farenas prim+riasG# mas re'uentemente

transitam por outras arenas mais distantes e inluentes" Xsso tudo est+ particularmente

evidenciado na ala 'ue se$ue6

O MTST é um movimento social# or$ani-ado# com amílias 'ue sonham e 'uelutam por este direito# pelo direito de ter um teto para morar" Mas uma casa pramorar num sentido amplo da palavra" 9oje ns não temos uma visão de 'uererlutar por uma casinha# na'uela visão medíocre de 'ue o pobre não tem nada ea$ora 'ue tem uma casinha 'ual'uer# t+ bom demaisN Cossa concepção est+ maisampliada" ntão hoje a $ente luta por casas di$nas para nossas amílias" ntão omovimento sem3teto é esse movimento social 'ue est+ inserido# dentro de outrosmovimentos espalhados no Qrasil# na =mérica Iatina e no mundo# néN Cs nosconsideramos essa peça dessa en$rena$em maior aí espalhada pelo Qrasil a ora(ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P e coordenadornacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie! (desta'ues nossos!"

Cote3se 'ue se trata de uma visão totali-ante das lutas urbanas# visão essa 'ue os

a-em compartilhar a se$uinte concepção a respeito da 1eorma ;rbana# por e.emplo6

O conceito de 1eorma ;rbana é um troço muito ampliado" la vai desde o direito

de voc& 'uerer assistir um jo$o de utebol num bom campo# vai a 'uestão daacessibilidade# vai a da mobilidade# vai a 'uestão da luta pela moradia# +$ua#direitos dos animais etc" ntão voc& tem uma porrada de coisas" ntão ns 'uea-emos a luta urbana não encontramos a palavra3chave" videntemente 'uedentro desse mundo comple.o# hoje# o movimento 'ue mais se destaca hoje# noQrasil# na =mérica latina e no mundo é o da luta pela moradia" Mas ns nãopodemos di-er 'ue a 1eorma ;rbana seja apenas a luta pela moradia" Xsso seriaestreitar muito a visão do 'ue é a 1eorma ;rbana" 9oje# nem um estudioso da1eorma ;rbana# nem o Observatrio e tal deiniu com classe" Tem UnU deiniç%es#conceitos# 'ue a sociedade não conse$ue assimilar# como assimila a 1eorma =$r+ria (ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P ecoordenador nacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie! (desta'ues nossos!"

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a se$uinte concepção a respeito de sua trajetria e de sua luta6

 =cho 'ue a transormação da cidade primeiro passa pela transormação daconsci&ncia das pessoas" Cão se transorma a cidade se não transormar as

pessoas do ponto de vista da concepção 'ue ela tem em relação E cidade em 'ueela est+ inserida" Zuer di-er# nos anos ?# os sem3teto viviam no sentimento dede$eneração tão $rande 'ue para eles# para elas# o 'ue restava para ocupar comdi$nidade# na sua velha concepção# era ocupar +rea de risco e beira de rio eman$ue" Por'ue ela tinha uma consci&ncia in$rata e um espírito de inerioridadetão $rande 'ue""" Co início dos anos ADJ?# 'uando a $ente di-ia 'ue era para asamílias ocuparem lu$ares descentes# lu$ares bons# muitos deles di-iam 'ue issonão lhes cabiam""" Por 'ue o seu espírito e sua auto3estima estava tão bai.a 'ue a$ente di-ia assim6 vamos ocupar na +rea central eles di-iam6 Sem3teto mora nocentro""" Cos anos D? ns conse$uimos avançar# os sem3teto icaram maise.i$entes" ntão eu acho 'ue a contribuição 'ue damos hoje# o movimentoor$ani-ado# para a construção de cidades novas e cidade inclusas# ela se d+ apartir dessa tomada de consci&ncia das pessoas" depois# a-er com 'ue elas

percebam 'ue a cidade é para elas um espaço democr+tico e 'ue não cabe anecessidade apenas de demarcar territrios privile$iados" ntão como inte$rantedo movimento""" ns en.er$amos o nosso papel como o elemento 'ue coloca naa$enda do dia a 'uestão da democrati-ação da cidade" uma cidade democr+ticaimplica em construir moradia di$na para as pessoas em todo o seu espaço# nãoéN (ntrevista com membro da coordenação estadual do MTST/P e coordenadornacional da ;CMP# em >D/?A/>?AB# em 1ecie!"

Por im# o 'ue estamos tentando demonstrar é o ato de 'ue# pelas redes

socioespaciais# o MTST/P passa a ambicionar 'uest%es mais abran$entes em escalas

i$ualmente abran$entes" isso lon$e si$niicar o esacelamento de sua luta# tende a

proporcionar seu ortalecimento e visão estraté$ica"

onsideraç"es $inais

0imos 'ue o MTST/P# na sua trajetria em 1ecie# tem se empenhado a

concreti-ar dierentes pr+ticas espaciais# sendo uma delas a construção de redes

socioespaciais" ssas redes# por sua ve-# correspondem a estraté$ias de emancipação

popular constituídas com a inalidade de ortalecer a luta do movimento" )raças a

construção de redes socioespaciais# o MTST/P conse$ue transpor sua luta especíica#

bem como o 'uadro socioespacial local# dando visibilidade E sua bandeira ao passo 'ue

se inte$ra a lutas sociais mais $lobais"

 =ssim# por e.emplo# a articulação nacional com a ;CMP e a articulação

internacional com a SeI0XP atribuem um car+ter mais universal E luta do movimento#

a-endo3o transcender de sua realidade particular" 5onorme o movimento vai se

articulando com outras or$ani-aç%es em outras escalas# sua luta se torna parte inte$rante

de uma outra luta cada ve- mais universal# 'ue a$re$a uma 'uantidade maior de temas e

realidades particulares" ssa articulação# por sua ve-# inlui na estrutura e dinâmica do

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movimento# a-endo3o atinar para 'uest%es 'ue antes não eram levadas em consideração

como# por e.emplo# o papel da mulher na luta por moradia# o papel da juventude# a

'uestão étnica# reli$iosa etc"

ssas redes estão lon$e de se concreti-ar de maneira plena na luta do movimento#

uma ve- 'ue são pr+ticas mais recentemente incorporadas E sua atuação" 5ontudo#

mesmo sendo novidade# elas estão atribuindo# $radativamente# o necess+rio car+ter

revolucion+rio de 'ue os sem3teto necessitam para# por meio de suas lutas# desencadear

mudanças estruturais na cidade" 5omo dito# as redes socioespaciais se constituem em

estraté$ias de ação política 'ue podem possibilitar a emancipação das amílias sem3teto"

Re$erncias

5O11[=# 1" I" 'ra;et#rias .eogr%$icas" B"ed" 1io de aneiro6 Qertrand Qrasil# >??H"

PO1TO3)OC\=I0S# 5" :"  A $eograficidade do Social% uma contri&uição para ode&ate metodol'gico so&re estudos e conflito e movimentos sociais na Am(rica !atina "Revista !ntergeo# v" L# p" ?H3A># >??@"

S=CTOS# M" 'écnica/ *spaço/ 'empo6 $lobali-ação e meio técnico3cientíicoinormacional" L"ed" São Paulo6 9ucitec# ADDJ"

S=CTOS# O" =" =" *m <usca de 'errit#rios Aut=nomos6 as pr+ticas espaciais doMovimento dos Trabalhadores Sem3teto na 1e$ião Metropolitana do 1ecie" *issertação(Mestrado! 3 ;niversidade <ederal de Pernambuco / Pro$rama de Ps3$raduação em*esenvolvimento ;rbano# 1ecie# >?AB" AH?p"

S59113:=11C# X" idadania sem $ronteiras6 aç%es coletivas na era da$lobali-ação" São Paulo6 9ucitec# ADDD"

 ]]]]]]" )as mo&ilizaç*es +s redes de movimentos sociais" Revista (ociedade e*stado# Qrasília# v" >A# n" ?A# p" A?D3AB?# >??@"

SO;^=# M" I" #ráticas ,spaciais -nsurgentes em um .undo $lo&alizado% da revoluçãomolecular0 + poltica de escalas" Xn6 MC*OC\=# <rancisco et al " *spaço e 'empo6comple.idade e desaios do pensar e do a-er $eo$r+ico" 5uritiba6 =CP)# >??D"

 ]]]]]]" Com o ,stado2 Apesar do ,stado2 Contra o ,stado% os movimentos sociais esuas práticas espaciais2 entre a luta institucional e a ação direta" Revista idades#Presidente Prudente# n" AA# v" # p" AB3L# >?A?"

S:=1T #̂ M" >ocal->evel Politics6 social and cultural perspectives" 5hica$o6 =ndine#AD@J"

Recebido em Deembro de !"#$%Publicado em &aneiro de !"#'%