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Às queridíssimas Francisca e Manuela

Capítulo 1

Na aula de Matemática

— Stôra, entregue os testes!— Agora não. Só entrego no fim da aula.— Oh! Porquê?— Porque vocês andam a portar-se muito mal.— Mas hoje ainda não fizemos nada!A professora não pôde deixar de sorrir.— Nem vão fazer. Caso contrário levo os testes para casa.Impacientes, os alunos agitaram-se nas cadeiras mas fez-se si-

lêncio. Um silêncio como ninguém conseguia há vários dias, pois a turma ultimamente andava agitadíssima. Talvez fosse por causa do Carnaval. Tal como nos outros anos, tinham sido proibidas as brin-cadeiras carnavalescas dentro da escola. No entanto havia sempre alguém que não resistia a enfarinhar a cara de um colega, ou a partir

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disfarçadamente uma gar-rafinha de mau cheiro, seguindo-se recla-mações das empregadas, descomposturas, castigos. A professora de Matemática resolvera mantê-los em suspenso para conseguir dar a aula descansada. Ela sabia muito bem qual o moti vo que os fazia esperar ansiosamente pela distribuição dos testes. Queriam saber as notas, claro. Mas, além disso, havia o problema da Sara.

Sara era a única aluna nova daquela turma. Os outros estavam juntos há muito tempo e conheciam-se bem. Pedro era sempre o melhor nas disciplinas de estudo até ao aparecimento daquela ra-pariguinha minúscula, esquelética, de forte cabeleira arruivada, que usava óculos de aros redondos com indisfarçável orgulho. Ainda não tinha amigos, mas tinha partidários. A turma dividia-se em dois gru-pos: os que se irritavam com a presença de um elemento que viera perturbar as regras há muito estabelecidas e desejavam que Pedro continuasse a ser o melhor, e os que se divertiam quando ele tinha notas inferiores às dela.

— Stôra!— Sim?— Se não entrega os testes, não podemos fazer a correcção.— Mas que grande descoberta, Chico!— É que estou em pulgas para saber se tive negativa. Assim nem

consigo prestar atenção aos exercícios.Naquele momento um ruidozinho metálico fez voltar as cabeças

para o fundo da sala.Alheia a tudo, Sara observava qualquer coisa que tinha no colo.— O que é que estás a fazer? — perguntou a professora, admirada.— Eu... hã...Como ela nunca se distraía nas aulas e portanto nunca ninguém

lhe ralhava, os colegas arrebitaram a orelha. Seria desta que aque-la miúda exemplar apanhava a sua dose de raspanete como toda a gente? O que quer que fosse que tinha nas mãos fazia um barulho esquisito.

— Se calhar resolveu ouvir rádio para ajudar a passar o tempo! — exclamou o Chico esfregando as mãos todo satisfeito, porque, como

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era de esperar, mantinha-se fiel entre os que eram a favor do Pedro.— Dá cá isso que tens aí — ordenou a professora num tom neutro.Contrafeita e envergonhada Sara levantou-se, deixando a turma

em alvoroço pois o objecto em causa era realmente invulgar.— Uma televisão de bolso!— Mostra!— Que engraçado!— Onde é que arranjaste isso?No seu jeito de mulher pequena, entregou o aparelho à professora

e explicou.— Foi o meu pai que trouxe do Japão. Eu não devia utilizar isto

na aula, desculpe.— Francamente, Sara! Nunca pensei!— É que está na hora do «Telejornal» da manhã...— Esta rapariga é de mais. Até gosta do «Telejornal!».— Gosta tanto que nem resiste a vê-lo na aula de Matemática!— Eu cá, se tivesse uma coisa dessas, era para ver o «Topdisco».— Ou a telenovela!— Mas a Sara é uma intelectual.— Quer entrar para a política.— Eu bem me parecia que os óculos são para ir treinando.— Treinando para quê?— Para primeira-ministra, ora!Muito séria, a professora resolveu intervir.— Ou se calam imediatamente ou só vêem os pontos na próxima

semana!Como o argumento era de peso, estabeleceu-se o silêncio. Sara

continuava de pé, embaraçada mas firme.— Podes explicar por que motivo resolveste ver televisão a meio

da aula?— Posso, stôra. Queria saber se os piratas do ar já libertaram os

reféns. Hoje de manhã, no noti-ciário das sete, disseram que há mui-tas crianças a bordo e que uma delas sofre de diabetes. Se não a libertarem pode morrer, por falta de insulina.

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Um sussurro de admiração transformou de imediato a troça em simpatia. Sara estava afinal preocupada com um assunto muito sé-rio, capaz de interessar a todos e de merecer até a benevolência da professora.

— Vai-te sentar. Não se fala mais nisto.Mas era impossível. Sabiam do drama que se desenrolava num

aeroporto de Marrocos, e depois das informações acabadas de obter tornava-se ain-da mais grave e emocionante. Um avião de passagei-ros tinha sido desviado da sua rota na véspera à noite. Os piratas do ar exigiram autorização para aterrarem em Marrocos. O rei Hassan II enviara de imediato mensageiros para negociarem a libertação de reféns, mas ainda não tinha sido possível chegar a um acordo. Os piratas ameaçavam matar a tripulação e os passageiros um por um, caso não lhes fosse entrgue uma quantia exorbitante em dólares e uma avioneta para saírem do país com rumo desconhecido.

— Tens a certeza de que há crianças a bordo?— Tenho.— Que horror! Devem estar assustadíssimas!— Quem é que disse que uma é diabética?— Foi a mãe. Entrevistaram-na, porque ela estava no aeroporto

de Paris à espera da filha.— Uma miúda pequena a viajar sozinha? Não acredito.— Ela não está sozinha, está com o pai. Mas há muitas crianças

que viajam sozinhas. Vão entregues às hospedeiras.— Ficar fechado num avião com um grupo de assassinos deve ser

uma experiência sinistra!— Ainda por cima sem se poderem mexer nas cadeiras!— Achas que lhes dão de comer?— Sei lá!— Se calhar não têm. Os mantimentos são à conta para cada voo.O tempo ia passando e as conversas não abrandavam. A professo-

ra, tão impressionada como todos eles, desistira da aula. Também só faltavam dez minutos para tocar, não valia a pena dar mais matéria.

— Cá por mim — disse o Chico —, parece-me que este caso devia

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ser fácil de resolver.— Que disparate! Se fosse fácil já o tinham resolvido.— Às vezes os governos não querem tomar atitudes de força, com

medo do que possa acontecer. Mas se fosse eu, mandava-lhes para bordo uma boa quantidade de comida envenenada, eles morriam e pronto.

— Ó Chico! Nesse caso os passageiros também morriam.— Que ideia! Bandidos como estes com certeza comiam tudo e

não davam nada a ninguém.Quem respondeu foi a Sara muito senhora de si.— O que tu dizes tem razão de ser. Mas antes de comerem, é na-

tural que obrigassem alguém a provar...— Pois é. Comida estragada não serve. Talvez gás. Um gás da-

queles que põe as pessoas a dormir. Assim que caíssem todos para o lado, prendiam os piratas e levavam o resto do pessoal para o ar livre.

— E como é que sabiam ao certo que já estava tudo a dormir?Desta vez foi o Pedro quem respondeu, aconchegando os óculos

no nariz com ar pensativo.— A solução gás entorpecedor seria boa, se o avião não fosse tão

grande. Antes de desmaiarem, os piratas tinham tempo de se aperce-ber, e como vingança matavam alguém.

— Bolas! Não haverá maneira de resolver isto? Como é que fize-ram quando outros aviões foram desviados?

— Depende. As soluções variam conforme os casos.— Olhem, olhem! O locutor está a falar do assunto!Sara correu para o aparelho e levantou o som. Os colegas aproxi-

maram-se em magote, quase sufocando a professora.Quando soou a campainha, saíram para o pátio rapazes e rapari-

gas de todas as salas menos daquela, onde se ouvia o «Telejornal» num silêncio grave e respeitoso.

O ginásio era o espaço preferido de quase todos. Ali não só po-diam mexer-se como eram mesmo obrigados a fazê-lo!

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Os professores, geralmente altos e bem constituídos, eram os úni-cos a circular pela escola em fato de treino, com um andar elástico e desportivo. Embora tivessem de manter a disciplina muitas vezes à força de berros, incitavam-nos a gastar energia no chão, nos espalda-res ou a correr atrás da bola, de acordo com as regras estabelecidas para diversos jogos de equipa.

Às vezes surgiam problemas, pois o ginásio era tão grande que continha quatro turmas em simultâneo. Mas, de certo modo, esses problemas faziam parte da animação e do movimento.

Na Educação Física, o Chico era uma espécie de rei. Ou melhor, de campeão. Toda a gente o queria na sua equipa, pois era certo e sabido que onde ele estivesse, ganhava. Na hora de jogar, subia-lhe pelo corpo rijo e musculado uma espécie de formigueiro e valia a pena vê-lo saltar, esticar-se, correr, movendo-se sempre com perfei-ção e entusiasmo.

Nessa manhã no entanto estava furioso! O professor exigira que Sara fizesse parte da sua equipa e ela jogava pessimamente. Tinha al-guma agilidade para a ginástica, mas quanto ao vólei, não podia ser mais desastrada. Distraía-se, esquecia regras, fazia disparates atrás uns dos outros e nem sempre percebia as falas que trocavam entre si.

— Virou!— Troca!— É minha! É minha! Deixa!— Estica os braços! Estica os braços, burra!Atarantada com os gritos, colocou mal o pé direito e caiu redonda

no chão. Logo soou o apito que suspendia o jogo. O professor e os colegas aproximaram-se.

— Estás magoada?Muito vermelha, sustendo as lágrimas para não dar parte de fra-

ca, tentou levantar-se mas não conseguiu.— Acho que me lesionei.— Stôr — disse o Chico amuado. — A culpa é sua. Manda jogar

uma pata-choca como esta e o resultado está à vista. Já não há desa-fio para ninguém! O vólei não é para fracalhotes.

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— Não é para os fracos? — perguntou o professor com ironia. — É só para os fortes?

— Pois é.— E tu és forte?— Claro que sou. — Muito bem. Já que és tão forte, fazes o favor pegas na tua cole-

ga ao colo e vais levá-la ao gabinete médico.A reacção dos colegas foi instantânea.— Eêêê!— Caluda! Não quero gritos. Eu estou velho e não me posso can-

sar. Mas como tenho aqui um campeão, o caso está resolvido. Ou não aguentas, pá?

Metido em brios, Chico respondeu:— Aguentava até com duas.E para ilustrar o que dizia, dobrou o braço e fez ressaltar o mús-

culo.— Vê?— Stôr, eu não quero ir ao colo dele — pediu Sara. — Se duas

colegas me ampararem, vou muito bem sozinha para o gabinete mé-dico.

— Era o que faltava! O stôr disse que sou eu que te levo e portanto toca a andar.

Sem esperar mais, Chico levantou-a do chão, ficando agradavel-mente surpreendido ao verificar que podia carregá-la sem dificulda-de alguma, pois era leve como uma pena.

— Como vêem, tenho muita força! — declarou, orgulhoso. — Põe os braços à volta do meu pescoço para não te desequilibrares.

Sara obedeceu, no meio de grande algazarra, pois as colegas não resistiram a rir e a gozar.

— Que lindo parzinho! Vão para a lua-de-mel?— Êêê!Chico limitou-se a mirá-los por cima do ombro com um sorriso

maroto e depois saiu do ginásio em triunfo, pois as quatro turmas desataram a bater palmas.

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— Se quiseres põe-me no chão — disse ela com voz sumida. — Talvez eu consiga andar.

— Vamos muito bem assim.E sorriu-lhe, fitando-a bem de frente. Sem óculos, eram mais evi-

dentes os seus olhitos redondos, castanhos, espertos e pestanudos. Naquele momento pareceram-lhe os mais bonitos que tinha visto, mas talvez fosse por estarem tão próximos.

— O que é que pões no cabelo? Cheira bem.— É champô de maçã.— Excelente, porque adoro maçãs.— És doido.— Porquê? Por gostar de maçãs?— Ora!Sara desviou a cara, muito vermelha. Aquele passeio inesperado,

estava a ser afinal bem agradável. Como sempre fora uma rapariga despachada, tinha-se tornado independente desde muito cedo.

— Acho que ninguém me pegava ao colo há mil anos! — disse, para disfarçar o embaraço.

— E gostas? — perguntou ele, atrevido.— És mesmo doido. Ainda bem que estamos a chegar ao gabinete

médico.Ele pousou-a no chão com mil cautelas. E a verdade é que ambos

tiveram pena de que o passeio chegasse ao fim.— Obrigada. — De nada. Quando te quiseres magoar é só dizeres!Rodando nos calcanhares, Chico voltou ao ginásio numa correria

louca. Mas a aula tinha acabado e já estavam todos nos vestiários. Juntou-se aos colegas, cantando a plenos pulmões enquanto se ves-tia.

— Vô! Vô! Vâ!

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Capítulo 2

No pátio

Os incidentes daquele dia tiveram como efeito imediato a integra-ção de Sara. A partir dessa altura deixou de ser uma desconhecida de quem só se lembravam quando havia notas a receber, mas sim mais uma colega da turma. Tanto as raparigas como os rapazes pas-saram a desafiá-la para participar em jogos ou trabalhos de grupo, para ir ao bufete ou simplesmente para conversar um bocado no pá-tio. Assim, deixou de estar sozinha nos intervalos e a escola adquiriu um novo significado, bastante mais agradável!

Os professores perceberam e ficaram satisfeitos. Só uma coisa lhes fazia confusão. É que entre o grupo com quem ela andava mais, con-tava-se a presença do Chico!

— Se o Pedro e a Sara fizessem amizade, ainda vá. São dois alunos excelentes, ambos lêem muito, e devem ter outros gostos em comum. Agora o Chico, tão estavanado que só pensa em jogar à bola, não entendo! — dissera o professor de Trabalhos Manuais numa reunião de turma.

— É verdade. Eu não sei o que se passou, mas o Chico neste caso tem ajudado muito. A Sara parece independente, mas sentia-se infeliz por ninguém lhe ligar nenhuma. Agora tem um batalhão de amigos. E dá-se lindamente com o Pedro. Acabaram as rivalidades, que me irritavam imenso! — respondeu a directora de turma. — De

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resto, aquela disputa pelas melhores notas interessava mais aos ou-tros do que ao Pedro. Ele é um miúdo impecável!

Os colegas puseram-se a fazer uma troça amigável.— Ó Adelaide! O Pedro é o teu aluno preferido, confessa.— Não senhor! Eu gosto de todos. Mas como directora de turma

conheço-os muito bem. O Pedro é um rapaz fora do vulgar. Inteli-gente, trabalhador, simpático, nada vaidoso, bom camarada, sempre disposto a ajudar...

— Em resumo, Adelaide, o teu menino-bonito é perfeito!— Deixem-se disso. Se continuamos com esta conversa nunca

mais acabamos a reunião. E eu tenho hora marcada no dentista!As novas amizades de Sara não suscitavam dúvidas apenas entre

os professores. Teresa e Luísa, que pertenciam a outra turma, não deram logo por isso, mas a certa altura estranharam. Chico estava diferente. Em vez de passar todo o tempo livre a jogar futebol, fi-cava por ali a conversar sobre assuntos que anteriormente não lhe interessavam nada. A primeira vez que as gémeas os encontraram juntos, discutiam acaloradamente o caso do desvio do avião para Marrocos.

— Afinal tudo se resolveu — explicava o Pedro —, o rei Hassan II deu-lhes o dinheiro, a avioneta e eles libertaram os passageiros. A história teve um final feliz.

— Não sei se concordo muito contigo — respondeu Sara. — Foi bom terem salvo a vida dos passageiros. Mas afinal os piratas conse-guiram o que queriam, o que é um exemplo péssimo. Pode encorajar outros a fazerem a mesma coisa.

— Bom, lá isso é verdade. Mas ao menos não morreu ninguém.— Claro. Agora o ideal é que não tivesse morrido ninguém e que

os piratas fossem apanhados, presos e castigados.As gémeas ouviam apenas, sem se pronunciarem, quando o Chico

interveio de uma forma que as deixou de sobreaviso.— É verdade, Sara, e a menina?«Olá!», pensou a Teresa, «aqui há pardal! O Chico nunca diz me-

nino nem menina. Fala sempre em miúdo, tipo, gajo... O que vem a

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ser isto?»Luísa devia ter pensado exactamente a mesma coisa, pois deu-lhe

uma cotovelada discreta e ficaram ambas a ouvi-los com redobrada atenção.

— Qual? A que sofria de diabetes?— Sim.— Safou-se. Levou uma injecção de insulina no aeroporto. Havia

enfermeiros e médicos à espera, para darem assistência a quem pre-cisasse.

— Se calhar vocês não sabem o mais interessante — interrompeu o Pedro.

— Aconteceu mais alguma coisa?— Aconteceu. Parece que os piratas do ar estão em Portugal.— Hã?— Como é que sabes?— Ouvi no noticiário antes de vir para a escola.— Ah! Eu hoje acordei tarde e não tive tempo — disse Sara. —

Deram pormenores?— Foram apanhados? — pergunta a Luísa.— Ainda não. A fuga do aeroporto foi tipo «fu-ga-relâmpago».

Mas a avioneta foi apanhada pelos radares e sabe-se que aterrou na planície alente-jana.

— E não foram lá prendê-los?— Claro que foram. Mas não os encontraram. O locutor disse

que, segundo a polícia, devem ter cúmplices em Portugal. Alguém os ajudou a fugir, ou a esconder. No entanto, espera-se que não demo-rem a encontrá-los, pois são bandidos internacionais.

— Nesse caso a Interpol é capaz de vir ajudar a policia portugue-sa!

— O que é a Interpol?Sara e Pedro puseram-se a explicar ao mesmo tempo. — É uma organização internacional...— Uma organização internacional de polícia.— Que dá apoio à polícia de cada país, quando o caso justifica...