as políticas públicas para a nanotecnologia: análise comparativa entre eua e europa

21
As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa Ricardo Abreu (14707) Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação Mestrado em Estudos Sociais da Ciência Este ensaio faz parte da avaliação do aluno em epígrafe para a unidade curricular de Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação. O ensaio propõe rever algumas políticas publicas para a ciência e inovação no desenvolvimento da nanotecnologia nos EUA e na Europa. É também apresentado alguns indicadores comparativos da implementação destas políticas como produção científica, níveis de inovação ou as políticas educativas para o sector da nanotecnologia. São também identificados os esforços das políticas legais e o seu impacto social. A nanotecnologia é uma corrida de fundo e os EUA e a Europa estão bem colocados à frente do pelotão. ISCTE-IUL Junho 2012

Upload: ricardo-abreu

Post on 05-Aug-2015

44 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Ensaio para UC Politicas de Ciência, Tecnologia e Inovação (1ºano MESC) Este ensaio faz parte da avaliação do aluno em epígrafe para a unidade curricular de Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação. O ensaio propõe rever algumas políticas publicas para a ciência e inovação no desenvolvimento da nanotecnologia nos EUA e na Europa. É também apresentado alguns indicadores comparativos da implementação destas políticas como produção científica, níveis de inovação ou as políticas educativas para o sector da nanotecnologia. São também identificados os esforços das políticas legais e o seu impacto social. A nanotecnologia é uma corrida de fundo e os EUA e a Europa estão bem colocados à frente do pelotão.

TRANSCRIPT

Page 1: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Ricardo Abreu (14707)Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação

Mestrado em Estudos Sociais da Ciência

Este ensaio faz parte da avaliação do aluno em epígrafe para a unidade curricular de Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação. O ensaio propõe rever algumas políticas publicas para a ciência e inovação no desenvolvimento da nanotecnologia nos EUA e na Europa. É também apresentado alguns indicadores comparativos da implementação destas políticas como produção científica, níveis de inovação ou as políticas educativas para o sector da nanotecnologia. São também identificados os esforços das políticas legais e o seu impacto social. A nanotecnologia é uma corrida de fundo e os EUA e a Europa estão bem colocados à frente do pelotão.

ISCTE-IULJunho 2012

Page 2: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Índice

Introdução ! 1

A política dos EUA e UE para a Nanotecnologia! 2

Estados Unidos da América! 2

Europa! 4

Principais indicadores da política científica e inovação dos EUA e Europa para a nanotecnologia ! 7

Conclusões ! 15

Bibliografia! 18

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 1/19

Page 3: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Introdução

Recordemos o impacto que a revolução industrial entre os séculos XVII e XIX teve nas sociedade

ocidentais. A introdução da máquina a vapor, de maquinaria e de novos processos organizacionais

permitiu ao do mundo atingir crescimentos de produtividade e riqueza nunca antes alcançado. O

século XX foi também um período extraordinário para a inovação tecnológica. Da electricidade ao

desenvolvimentos industriais na construção automóvel trouxe mobilidade às populações, o

surgimento da microelectrónica permitiu aparecimento dos computadores. O final do século

passado foi marcado com a grande transformação social influenciada pelas tecnologia de

informação e comunicação que elevou o grau de complexidade nas relações entres os indivíduos.

Estamos no século XXI e com ele surge uma nova área científica, a nanotecnologia. Este tipo de

tecnologia é diferente, porque nunca antes uma outra tecnologia conseguiu reunir tantas áreas

cientificas numa só visão. É diferente também porque mudou a concepção natural dos elementos. O

ouro que é amarelo e sinal de riqueza, à escala nano é vermelho ou azul e serve para combater o

cancro. O carbono na ponta do lápis serve para escrever, mas ao nível atómico transforma-se em

grafene utilizada para criar estruturas geométricas para as mais diversas aplicações como a

produção dos novos microprocessadores.

Desde há muito que a ciência faz parte do discurso político, económico e social. E na última década

é facto consumado nos países ocidentais. No inicio deste século tem surgido na ciência uma

metamorfose sistémica com a finalidade de convergência de diversas disciplinas. Um exemplo desta

transformação ocorreu na industria farmacêutica, que evoluiu de uma industria baseada na química

para a biotecnologia. Uma das áreas nucleares da ciência mais promissoras é a nanotecnologia.

Neste ensaio é proposto rever algumas políticas públicas para a ciência e inovação que os EUA e a

Europa procuraram implementar ao longo desta última década. O ensaio está dividido em dois

capítulos. No primeiro capitulo é identificado as principais políticas para o desenvolvimento da

nanotecnologia nos EUA e na Europa. São abordadas algumas medidas e instrumentos de apoio ao

desenvolvimento das nanotecnologias e nanociencias. O segundo capitulo são analisados alguns

indicadores que apontam para esta estratégia de desenvolvimento do sector das nanotecnologias.

São comparados indicadores como a produção científica ou a inovação, as políticas educativas e

legais para o sector da nanotecnologia.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 1/19

Page 4: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

A política dos EUA e UE para a Nanotecnologia

A nanotecnologia é considerada por muitos como a “Nova Revolução Industrial”, pois terá

impactos significativos nas relações sociais, económicas, ambientais e nas decisões políticas

globais (United States. Interagency Working Group on Nanoscience, Technology, Science, &

Technology, 2000). Como ciência de elevado potencial, a corrida à nanotecnologia é global. São

muitos os países que investem milhares de euros em formação e recrutamento dos mais talentosos

cientistas e engenheiros, em infra-estruturas apetrechadas com novos e extraordinários

equipamentos.

Os Estados Unidos da América e a Europa por definição são duas grandes regiões planetárias com

agregam em si as duas maiores economias mundiais e berço da modernidade. São duas regiões

económicas constituídas por sociedades baseadas no conhecimento e na informação e caracterizadas

pelo seu desenvolvimento científico e tecnológico. E acompanhadas por políticas publicas que

promovem precisamente mais e melhor partilha de conhecimento e avanços na inovação

tecnológica. A nanotecnologia é resultado desse esforço do desenvolvimento científico para a

sociedade.

Nos seguintes parágrafos será contemplado as principais políticas e sistemas organizacionais para o

desenvolvimento da nanotecnologia nos EUA e na União Europeia. Será explanado os

investimentos, as áreas científicas, as estratégias para I&D e outros indicadores.

Estados Unidos da AméricaE tudo começou com um discurso de antigo Presidente Bill Cliton à comunidade académica e

cientifica do Instituto de Tecnologia da California1. Nesta intervenção política o Presidente firmou

a sua vontade em financiar a incipiente área da nanotecnologia. Afirmando o seguinte: “My budget

supports a major new national nanotechnology initiative worth $500 million” (Clinton, 2000). E

aconselhado pelo Dr. Mihail C. Roco2 criou, em 2001, o National Nanotechnology Institute (NNI).

Um órgão estatal que tem a missão de coordenar a investigação em nanotecnologia em todo o país.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 2/19

1 CALTECH

2 Membro do Conselho Científico do Presidente Clinton

Page 5: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Este instituto iniciou a sua actividade com um orçamento de 500 milhões de dólares para coordenar

as actividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) na ciência e engenharia à escala nano,

repartidas por 26 agencias e programas de financiamento. Das quais 15 são dedicados

exclusivamente à I&D de nanotecnologia. São quatro os grandes objectivos da NNI (John F.

Sargent, 2011): Apoiar os avanços mais recentes na I&D da nanotecnologia; promover

eficientemente a transferencia de tecnologia para produtos e sua comercialização e beneficio

publico; desenvolver educação e formação sustentável em nanotecnologia como também apoiar a

infra-estruturas técnicas para o avanço da nanotecnologia; e promover a investigação responsável

nas nanotecnologias.

Desde da sua constituição a NNI já recebeu dos governos americanos cerca de 16 mil milhões de

dólares, para manter os EUA como líder na investigação, desenvolvimento e comercialização de

nanotecnologias. Os fundos financeiros são distribuídos, pela NNI, por três mecanismos: por via da

agências, por programas e por iniciativas. As principais agencias ou departamentos de estado

receberam da NNI mais de 1,5 mil milhões de dólares em 2011, o quadro seguinte descreve os três

mecanismos.

Quadro Q1- Quadro resumo das instituições envolvidas na investigação em nanotecnologia

Agências Programas Iniciativas

Department of Energy (DOE)

National Science Foundation (NSF)

Department of Health and Human Services (NHS)

National Institutes of Health (NIH)

Department of Defense (DOD)

Department of Comerce (DOC)

National Institute of Standards and Technology (NIST)

National Aeronautics and Scpace Administration (NASA)

Environmental Protection Agency (EPA)

Fundamental Nanoscale Phenomena and Processes (PCA1)

Nanomaterials (PCA2)

Nanoscale Devices and Systems (PCA3)

Instrumentation Research, Metrology, and Standards fo Nanotechnology (PCA4)

Nanomanufacturing(PCA5)

major Research Facilities and Instrumentation Acquisition (PCA6)

Environment, Health, and Safety (PCA7)

Education and Societal Dimensions (PCA8)

Nanotechnology for Solar Energy Collection and Conversion

Sustainable Nanomanufacturing: Creating the Industries of the Future

Nanoelectronics for 2020 and Beyond

Fonte: National Nanotechnology Initiative, adaptado (NNI, 2012)

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 3/19

Page 6: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Os “Program Component Area” (PCA) são coordenados pelo NNI em conjunto com a política

científica e orçamental da Casa Branca3 e com as diversas agências. Estes programas são as áreas

temáticas dentro do quadro estratégico da NNI para a nanotecnologia. As grandes iniciativas estão

associadas à estratégia de inovação do Presidente dos Estados Unidos para a América. E no

orçamento de 2013 estão previstos 306 milhões de dólares para estes grandes desafios. Para a

energia Solar 112 milhões, para a sustentabilidade industrial cerca de 85 milhões e um pouco mais

de 100 milhões para a nano-electrónica (NNI, 2012).

Nos EUA a industria e o sector privado tem um legado de investimento significativo em I&D e no

sector da nanotecnologia não passa ao lado destes investimentos. Num mundo globalizado os

governos, empresas e capitais de risco investirem, em 2010, mais de 17 mil milhões de dólares.

Contudo os capitais de risco reduziram o seu investimento em 17,3% relativamente a 2009. As

empresas nos EUA financiaram I&D em nanotecnologia, em 2010, no valor de 3,4 mil milhões e

absorveram grande parte dos fundos disponíveis pelos capitais de risco atingindo cerca de 650

milhões de dólares (Xue, 2011).

EuropaNa Europa a corrida à nanotecnologia na Europa inicia com o Plano de Acção para as Nanociências

e Nanotecnologia (2005-2009) que teve a sua inspiração no comunicado da Comissão Europeia em

2004 (ComissãoEuropeia, 2004), onde descrevia uma estratégia Europeia sobre as nanotecnologias.

Nele é feito um levantamento do estado da investigação em nanotecnologia na Europa e nos

restantes países. E são propostas acções de investimento e coordenação de I&D, desenvolver infra-

estruturas de I&D competitivas, promover a educação e formação nesta área, garantir condições à

transferencia de tecnologia para a industria e sobretudo considerar os riscos e impactos sociais

como prioridade na I&D da nanotecnologia (idem, 2004).

“O conselho da União Europeia, reconhece a importância fundamental e as potencialidades das

nanociências e das nanotecnologias em diversos domínios, tais como os cuidados de saúde, as

tecnologias da informação, as ciências dos materiais, o fabrico, a instrumentação, a energia, o

ambiente, a segurança, o espaço e, consequentemente, o seu significado para a qualidade de vida,

o desenvolvimento sustentável e a competitividade da indústria europeia.” 4

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 4/19

3 White House Office of Science and Technology Policy (OSTP) e Office of Management and Budget (OMB)

4 (ConselhodaUniãoEuropeia, 2004)

Page 7: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

As principais estratégias políticas para a implementação do “Plano de Acção N&N” deram início no

âmbito do 6º Programa-Quadro para a Investigação5 no qual a Comissão Europeia disponibilizou

cerca de 1,4 mil milhões de euros para meio milhar de projectos. Colocando a Europa na posição de

topo, nos investimentos em nanotecnologia, representando um quarto do investimento global nesta

área científica durante o período de 2004 a 2006 (ComissãoEuropeia, 2007).

O 7º Programa-Quadro (7PQ) surge para o período de 2007 a 2013 e apresenta um financiamento

para a I&D em nanotecnologia superior ao quadro anterior. Este instrumento de financiamento

conjuga 3 programas específicos, o “Cooperação”, “Ideias” e “Pessoas” no qual as nanociências e

nanotecnologia se financiaram. Em 2006, na abertura às candidaturas ao 7º PQ as nanotecnologias

agregaram cerca de 60 projectos nas áreas da nanociencia, desenvolvimento tecnológico, avaliação

do impacto social, nanomateriais e nanomedicina (idem, 2007).

A investigação em nanotecnologia viu o seu financiamento a crescer durante o período de 2007 a

2008 com um dispêndio de 1,1 mil milhões de euros ao abrigo do 7ºPQ e cerca de 2,5 mil milhões

de euros por parte dos orçamentos dos Estados-Membros. No domínio do Programa “Cooperação”

foram criadas neste período infra-estruturas como a PRINS6 que envolve o desenvolvimento de

nanomateriais para o sector da electrónica, o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologias7

para a investigação fundamental, os “centros de integração de nanotecnologias” em França e a

iniciativa Gennesys para a investigação de aplicações em nanotecnologia (ComissãoEuropeia,

2009).

No que respeita ao Programa “Pessoas” a Comissão Europeia disponibilizou, no periodo de 2007 a

2008, um total de investimento nas acções Marie Curie cerca de 125 milhões de euros em projectos

relacionados com a nanotecnologia. O Conselho Europeu de Investigação deu um contributo para o

Programa “Ideias” no valor de 80 milhões de euros, proporcionando aos investigadores tomarem

iniciativas próprias na investigação em nanotecnologias (idem, 2009).

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 5/19

5 Período de execução do 6ºPQ foi de 2002 a 2006

6 Cooperação de centros belgas, alemães e franceses

7 Cooperação entre Portugal e Espanha situado em Braga

Page 8: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Quadro Q2 - Quadro das medidas políticas Europeias para a Nanotecnologia

6º Programa-Quadro (2002-2006) 7º Programa-Quadro (2007-2013)

Áreas temáticas:• Nano-technologies and nano-sciences• Knowledge-based multi-functional

materials• New Production processes and devices

Áreas temáticas ou Actividades:1. Nanociences and nanotechnologies2. Materials3. New production4. Integration of technologies for industrial

application

Número de Projectos Financiados: 385 (FP6-NMP)

Número de Projectos Financiados: 255 (FP7-NMP)

Orçamento: 1,4 mil milhões euros Orçamento: 3,5 mil milhões euros

Fonte: Dados agrupados pelo autor (ComissãoEuropeia, 2009, 2011a; CORDIS, 2012)

Nos últimos três anos o 7º Programa-Quadro tem proporcionado à investigação em nanotecnologias

um crescimento de financiamento sob o programa de trabalho NMP8. Os projectos MNP de 2010

foram contemplados com 198 milhões, em 2011 esse valor passou os 300 milhões e suportou 35

tópicos, mais 13 do que ano anterior, relacionados com as nanotecnologias (ComissãoEuropeia,

2010). No ano 2012, o orçamento estimado é de 500 milhões de euros para os projectos MNP

(ComissãoEuropeia, 2011a). O programa de 2012 do “Cooperation” sob o tema da NMP apresenta

um programa de trabalho, tal como demonstra o quadro anterior, uma aposta significativa na

industrialização das nanotecnologias.

Este programa de trabalho para 2012 está dividido em dois grandes objectivos. O primeiro consiste

no financiamento e apoio aos projectos das quatro actividades, com um financiamento na ordem dos

300 milhões de euros. O segundo grande objectivo, a que a Comissão Europeia designa como

orçamento de recuperação, propõem-se a apoiar projectos publico-privados como a construção das

“fabricas do Futuro”, a eficiência energética de edifícios e os “carros verdes”. Este objectivo tem

uma parcela de 190 milhões de euros do orçamento para MNP (idem, 2011a).

Não há dúvida que a Europa e os EUA são duas potências mundiais que assentam a sua economia

no desenvolvimento da ciência e tecnologia. E desde muito cedo que apostam em I&D nas

nanociencias e nanotecnologias. Verificamos que os EUA foram os primeiros a lideram esta corrida

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 6/198 Nanoscience, Nanotechnologies, Materials and New Production Technologies

Page 9: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

mas rapidamente a Europa tomou medidas e políticas para alcançar o comboio da frente. Contudo

existe diferentes estratégicas.

Nos EUA as políticas científicas para as nanotecnologias são concebidas com uma estrutura

transversal aos vários departamentos de Estado e agencias publicas. Na Europa as políticas são

centrais, emitidas pelas instituições europeias, e implementadas em cada Estado-Membro de igual

forma mas com velocidades e escolhas diferentes. Nos EUA a presença do sector privado foi

relevante desde do início, uma prática cultural típica dos americanos. Na Europa verificamos uma

presença do sector privado só nestes últimos anos.

Principais indicadores da política científica e inovação dos EUA e Europa para a Nanotecnologia

A nanotecnologia como uma tecnologia emergente interioriza um potencial de comercialização e

aplicação elevado. Nos EUA são mais de 1800 empresas9 que comercializam produtos e

instrumentos baseados na nanotecnologia e muitas destas empresas empregam mecanismos de

propriedade intelectual para assegurar o retorno dos seus investimentos em I&D. Em 2011 foram

registadas nos EUA cerca de 14,5 mil patentes no sector da nanotecnologia. Apesar do enorme

potencial que a nanotecnologia promete, o sistema de patentes no EUA ainda encontra alguns

problemas no que concerne aos padrões e medidas associadas a esta tecnologia (Genieser & Gollin,

2007).

Figura A1 - Comparação entre EUA e Europa no número de patentes em nanotecnologia

Fonte: Nano Statistics, USPTO (statnano.com)

0

3750

7500

11250

15000

2009 2010 2011

352024572812

145621253012879

EUA UE

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 7/199 Fonte nanoforum.org e NSTI.org

Page 10: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Figura A2 - Comparação entre EUA e Europa no tipo de patentes em nanotecnologia

Fonte: Adaptado pelo autor do observatoryNANO, (Brand, 2010)

As universidades e comunidade científica são o motor para o avanço da nanotecnologia. São a fonte

de produção científica e de criatividade embebidas em diversas áreas disciplinares como a física, a

química, biologia ou a engenharia. Alguns autores (Islam & Miyazaki, 2009) confirmam que

tendência da ciências fundamentais (física, química, biologia) de se fundirem surgirem como

ciências multi-disciplinares. Podemos dizer hoje em dia que a nanotecnologia tem a dupla função de

ser o motor para a investigação científica e ao mesmo tempo o objecto de convergência das diversas

áreas científicas.

Figura A2 - Comparação entre EUA e Europa no número de publicações na área das nanotecnolgias

Fonte: Nano Statistics, ISI Web Of Knowledge (statnano.com)

Nanotecnologia (geral)

Aeroespacial, Automóvel e Transporte

Agricultura e Alimentação

Quimica e Materiais

Construção

Energia

Ambiente

Saúde, Medicina e Nanobiotecnologia

TIC

Segurança

Texteis

0% 25% 50% 75% 100%35%

26%

10%

29%

25%

19%

42%

19%

24%

36%

20%

32%

48%

43%

50%

39%

37%

27%

47%

50%

34%

47%

EUA UE Outros Países

0

10000

20000

30000

40000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

UE EUA

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 8/19

Page 11: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Dos gráficos apresentados podemos verificar que a Europa é a região que mais produção cientifica

tem na área da nanotecnologia. No entanto os EUA são mais eficientes em transformar esse

conhecimento em aplicações e produtos no mercado. Uma das razões deste fenómeno pode ser o

facto que nos EUA o sector privado esteve desde do início envolvido na Investigação e

Desenvolvimento das nanociencias e nanotecnologias. Os sectores da Agro-Alimentação, Saúde e

segurança são as áreas em que os EUA investem mais na produção de inovações. Na Europa as

principais áreas de inovação em nanotecnologia, são as industrias aeroespacial e transportes,

construção e têxteis.

A aposta na educação e formação é um indicador das políticas científicas. Os EUA e União

Europeia tem avançado em algumas políticas educativas para as nanociencias e nanotecnologias. O

congresso dos EUA aprovou em 2007 uma medida que lança diversos projectos educativos nas

escolas primárias e secundárias, o “Nanotechnology in the Schools Act”, para a aquisição de

equipamento e software, também para a formação de professores e criação de currículos de

preparação para o ensino superior na área da nanociencia e nanotecnologia10. Outras iniciativas

foram já criadas nos EUA, como “National center for Learning and Teaching in Nanoscale Science

and Engineering”, o “NanoSense Project” ou o “Nanoscale Informational Sceince

Education” (Shank, Krajcik, & Yunker, 2007).

O principal objectivo destas iniciativas é formar os indivíduos e capacitar a sociedade com as as

ferramentas necessárias para abarcar o futuro da nova transformação socio-económica baseada na

nanotecnologia. O NNI reporta que nos próximos 10 a 15 anos serão necessários mais de 2 milhões

de pessoas para trabalhar nas áreas adjacentes à nanotecnologia e é um facto que os EUA não tem

hoje número suficiente de alunos nesta área do conhecimento (Shank et al., 2007). Segundo Mihail

Roco só nos EUA serão necessários, já para os próximos anos, cerca de 900 mil trabalhadores com

competências em nanotecnologias. Para a Europa este valor pode atingir os 400 mil (Malsch, 2008).

A educação é um dos principais critérios para as políticas científicas no futuro da nanotecnolgia na

Europa. No relatório de consulta publica promovido pela Comissão Europeia junto dos

investigadores é visível as preocupações dos investigadores relativamente educação e formação em

nanociencias e nanotecnologias. 75% dos investigadores exigem políticas e medidas para o

desenvolvimento de projectos educativos nesta área do conhecimento (Kirmizidis, 2010). Para o

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 9/1910 ("H.R. 2436--110th Congress: Nanotechnology in the Schools Act," 2007)

Page 12: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

sector privado, nomeadamente as industrias, a educação e formação de profissionais nesta área é

fundamental para o seu crescimento. A European Nanobusiness Association emitiu um estudo de

opinião junto dos seus associados que reporta que 34% dos participantes afirmam os profissionais

com doutoramento ou mestrado em nanotecnologia são mais úteis para os seus negócios (Malsch,

2008).

Quadro Q3 - Comparativo entre EUA e Europa para a educação em nanociencias e nanotecnologias

Nº de Universidades

Nº de licenciaturas

(Bachelor)

Nº de mestrados

Nº de Doutoramentos

UE* 88 24 58 28

EUA 42 6 12 10

Fonte: Compilação do autor, trynano.org “University listings” (Trynano.org, 2012)

* Bélgica, Rep. Checa, Dinamarca,França, Alemanha,Grécia, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Suiça e Reino

Unido

O quadro anterior é explicito no que respeita às políticas para a educação nas nanociencias e

engenharias afins. É claro que na Europa aposta na educação pós-graduada é evidente, o número de

mestrados supera em muito as graduações dos primeiros anos do ensino superior. Na graduação

avançada a Europa também apresenta número de currículos de doutoramento superior ao EUA.

Contudo devemos analisar a média de universidades por país. E aí a Europa tem uma média de 6

Universidades com currículos em nanotecnologia enquanto os EUA tem 42, representando 50% do

total de universidades.

No quadro legal as políticas cientificas devem assegurar à sociedade segurança e prevenção de

riscos que as tecnologias emergentes podem trazer. O impacto de uma tecnologia transversal como

a nanotecnologia na sociedade é elevado, por isso desde muito cedo os países envolvidos na

Investigação e Desenvolvimento de nanotecnologias e nanoprodutos tem implementado algumas

directivas e instrumentos legais.

O Presidente Barack Obama recentemente criou uma lei que pretende assegurar o crescimento

económico, a inovação e a criação de empregos no sector da nanotecnologia mas sem descurar a

protecção da saúde, do bem-estar, da segurança das pessoas e do ambiente. Esta ordem presidencial

de Janeiro de 2011 estabelece os princípios políticos para a regulação das aplicações dos

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 10/19

Page 13: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

nanomateriais e da nanotecnologia. O quadro seguinte apresenta os 10 princípios a serem aplicados

pelas diversas agencias federais americanas11 :

Quadro Q4 - Política científica para a investigação em nanotecnologias nos EUA

Princípios para uso das nanotecnologias e nanomateriais nos EUA

• To ensure scientific integrity, base their decisions on the best available scientific evidence, separating purely scientific judgments from judgments of policy to the extent feasible;

• Seek and develop adequate information with respect to the potential effects of nanomaterials on human health and the environment and take into account new knowledge when it becomes available;

• To the extent feasible and subject to valid constraints (involving, for example, national security and confidential business information), develop relevant information in an open and transparent manner, with ample opportunities for stakeholder involvement and public participation;

• Actively communicate information to the public regarding the potential benefits and risks associated with specific uses ofnanomate rials;

• Base their decisions on an awareness of the potential benefits and the potential costs of such regulation and oversight, including recognition of the role of limited information and risk in decision making;

• To the extent practicable, provide sufficient flexibility in their oversight and regulation to accommodate new evidence and learning on nanomaterials;

• Consistent with current statutes and regulations, strive to reach an appropriate level of consistency in risk assessment and risk management across the Federal Government, using standard oversight approaches to assess risks and benefits and manage risks, considering safety, health and environmental impacts, and exposure mitigation;

• Mandate risk management actions appropriate to, and commensurate with, the degree of risk identified in an assessment.

• Seek to coordinate with one another, with state authorities, and with stakeholders to address the breadth of issues, including health and safety, economic, environmental, and ethical issues (where applicable) associated with nanomaterials; and

• Encourage coordinated and collaborative research across the international community and clearly communicate the regulatory approaches and understanding of the United States to other nations.

A NNI reconhece o risco das nanotecnolgias e nanomateriais para a saúde publica e ambiente. A

estratégia da NNI para as problemáticas do Ambiente, Saúde e Segurança assentam em 6 grandes

áreas de investigação (NNI, 2011): Infra-estrutura de medição de nanomateriais; Analise da

exposição Humana; Saúde Humana; Ambiente; Analise e métodos Gestão do Risco; e modelação e

infra-estrutura informática para I&D. Esta última tem o objectivo de levar mais longe a investigação

nesta problemática por via da utilização das TICs e dos dados disponíveis. O quadro demonstra os

principais objectivos destas áreas de intervenção da NNI na I&D dos diversos departamentos e

agencias federais.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 11/19

11 ("Policy Principles for the U.S. Decision-Making Concerning Regulation and Oversight of Applications of Nanotechnology and Nanomaterials: Executive Order 13563," 2011)

Page 14: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Quadro Q5 - Estratégias para Investigação das nanotecnologias nos EUA

Áreas de Investigação Principais Objectivos Projectos apoiados em 2009

Infra-estrutura de medição de

nanomateriais

•Desenvolver ferramentas de medição para detectar e identificar nanomateriais em produtos e seus efeitos em todo o ciclo de vida

•Desenvolver ferramentas de medição para determinar as respostas biológicas e analise dos perigos para os Humanos e ambiente dos nanomateriais.

42

Analise da exposição Humana

•Identificar, caracterizar e quantificar potenciais fontes de exposição de trabalhadores, consumidores, e publico em geral aos nanomateriais.

•Identificar e caraterizar os efeitos na saúde para populações expostas e conjugar com as estratégias de controlo.

14

Saúde Humana

•Compreender as relações entre as propriedades psico-químicas dos produtos nano-estruturados e as respostas biológicas.

•Desenvolver modelos predicativos das respostas biológicas e das propriedades psico-químicas do produtos com nano-materiais.

117

Ambiente•Compreender os efeitos no ambiente à exposição de nanomateriais nomeadamente aqueles com maior potencial de perigo para o sistema ecológico.

54

Analise e métodos Gestão do

Risco

•Aumentar a informação disponível para melhorar a tomada de decisões na analise e gestão dos riscos dos nanomateriais. Incluindo: análise de decisão e de risco comparado; análise do ciclo de vida dos produtos; considerações Éticas,Sociais e Legais; valores dos “stakeholders”.

21

Modelação e Infra-estrutura

Informática para I&D

•Expandir as capacidades informáticas para o desenvolvimento, análise, organização e partilha de dados adquiridos nas diversas áreas de investigação das nanotecnologias para o Ambiente, Saúde e Segurança.

--

Fonte: Adaptado pelo autor (NNI, 2011)

Do quadro anterior, podemos verificar que as questões de saúde são uma prioridade para a

investigação na nanotecnologia nos EUA. É também prioridade a conciliação do plano estratégico

para as nanotecnologias e os objectivos da estratégia de investigação no Ambiente, Saúde e

Segurança, por isso a NNI aumentado todos os anos o investimento em I&D para estas

problemáticas em todas as agencias que apoia. O figura seguinte apresenta esse investimento em 11

agencias federais (NNI, 2011).

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 12/19

Page 15: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

Figura A3 - Evolução do investimento em I&D para nanotecnologia nas áreas do Ambiente, Saúde e

Segurança.

Fonte: Adaptado pelo autor (NNI, 2011)

A dimensão dos impactos sociais da nanotecnologia na Europa é revista desde logo nos Plano de

Acção para 2005-2009. Nele é referido que a Comissão Europeia como tutela das políticas publicas

deve ter em consideração as preocupações dos seus cidadãos (ComissãoEuropeia, 2009). E ao

abrigo do 6º Programa-Quadro foi criado o projecto “Nanologue” com o objectivo de aproximar a

decisão política ao ao debate publico. Foi também criado o “grupo Europeu de Ética para as

Ciências e as Novas Tecnologias (EGE) que começou a emitir os seus primeiros relatórios sobre

nano-ética em 2007 (idem, 2009).

O SCENIHR 12 emitiu um relatório temático, em 2009, sobre a analise de risco em produtos de

nanotecnologia. Nele podemos verificar que a comunidade científica reconhece os perigos dos

nanomateriais, identificando alguns e os seus efeitos sobre os humanos e ambiente. É referido ainda

que a detecção e identificação deste nanomaterias é limitada pela falta de dados suficientes para a

analise e gestão do risco (SCENIHR, 2009).

0

25

50

75

100

2006 2007 2008 2009 2010

Investimento em I&D (Ambiente, Saúde e Segurança) em milhões dólares

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 13/19

12 Órgão consultor da Comissão Europeia, “Scientific Committee on Emerging and Newly Identified Health Risk”

Page 16: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

A comunidade científica e outras instituições europeias também emitiram a sua opinião acerca das

medidas de segurança e protecção ambiental na utilização das nanotecnologias. Afirmam que as

nanotecnolgias possuem um elevado potencial mas acarretam também potenciais riscos. A

agricultura e alimentação são as áreas que mais preocupam os cidadãos europeus. Exigem mais

acções regulatórias para a segurança dos nanomateriais e mais informação disponivel ao

consumidor. E estão preocupados com o nível de toxidade que os nanomateriais podem ter ea

segurança no ambiente de trabalho dos profissionais que utilizam nanomateriais (Kirmizidis, 2010).

Em 2009 forçada pelo Parlamento Europeu a Comissão Europeia acelerou o processo de regulação

de diversos sector industriais que utilizam nanotecnologias e nanomateriais na sua produção e

comercialização. Exemplos destas medidas regulatorias podemos ver na segunda revisão do

REACH que prevê o uso obrigatório de informação dos tipos de nanomateriais em produtos

comercializados e suas implicações na segurança humana. Os cosméticos também serão alvo de

regulação apertada a partir de 2013 com a implementação da directiva EC 1223/2009 que obriga a

colocação de informação “nano” nos rótulos e etiquetas (ObservatoryNANO, 2012).

No sector agro-alimentar a regulação será também revista com a introdução do indicativo “nano”

em todos os produtos que possuam nanomateriais na sua constituição. Em 2011 foi criada uma

nova regulamentação para alimentação, a “EU Regulation 1169/2011”, mas até ao momento ainda

não foi aprovada. Contudo, em 2014 entra forçosamente em vigor e complementada por duas

Directivas prévias a “labelling, presentation and advertising of foodstuffs” e a “nutrition labelling

for foodstuffs” de 2000 e 1990 respectivamente. A segurança para quem trabalha com

nanotecnologias e nanomateriais é também escrutínio do Parlamento Europeu que produziu uma

resolução em 2011 onde regista a importância dos estudos dos efeitos das nanoparticulas nos

profissionais (idem, 2012).

Quadro Q6 - Resumo das acções regulatórias por sector tecnológico*

Agro-Alimentar

Química e Materiais

Cosméticos Equipamentos e produtos médicos

Segurança e Higiene no Trabalho

Sectores transversais (nanotecnologia

geral)

UE (Comissão Europeia)

C A,B A,C A A A,C

USA A A,B A A A A,B

Fonte: Adaptado pelo autor (ObservatoryNANO, 2012)

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 14/19

Page 17: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

* Tipo de acções previstas neste quadro:

A - Novos ou melhoramentos de guiões técnicos e procedimentos para análise da segurança de tipos específicos de nanomateriais ou nanoprodutos.B - Adaptação ou reforço de regras e procedimentos que asseguram revisão dos nanomateriais antes de entrarem no mercado.

C -Introdução de emendas e alterações a leis já existentes de forma a incluir os nanomateriais e nanoprodutos.

No quadro anterior podemos verificar que os EUA e a UE tem idênticas preocupações com a

introdução de nanomateriais em produtos de consumo. Contudo, podemos identificar que no sector

agro-alimentar a Europa somente introduziu algumas alterações à legislação já utilizada no sector,

enquanto os EUA procuram introduzir orientações especificas para o uso dos nanomateriais. Na

industria dos cosméticos a Europa também foi mais além do que os EUA acrescentando emendas à

legislação em vigor (ObservatoryNANO, 2012).

Conclusões

A corrida à nanotecnologia está generalizada por todo o globo e tem sido foco de interesse de

diversos governos, industrias e nações (Bhat, 2005). Os países mais industrializados competem

entre si para criarem novos produtos e utilidades. Verificamos que os EUA, a Europa são regiões

onde a industrialização da nanotecnologia já é uma realidade. O caminho para lá chegar não foi

fácil nem igual para estas duas regiões do mundo ocidental. Sendo a nanotecnologia uma tecnologia

emergente, com poucos anos de desenvolvimento, as estratégias políticas tiveram que se adaptar

com a evolução da pesquisa científica.

Os EUA é sem dúvida o país que desde muito cedo identificou o potencial desta tecnologia

emergente. E para coordenar a sua estratégia para a nanotecnologia criou o National

Nanotechnology Initiative. O NNI mais do que uma instituição federal é um instrumento para

aplicação das políticas publicas do governo dos EUA. Criado em 2000 pela mão do Presidente Bill

Clinton o NNI plantou as primeiras sementes para o desenvolvimento da nanotecnologia por todo o

país, financiando e coordenando os esforços por diversas agencias civis e militares em todo o país.

A Europa por outro lado só começou este corrida por volta de 2004, quando é introduzido no

discurso político a necessidade de uma estratégia para a nanotecnologia num Plano de Acção. O

sistema europeu é sui generis, não é um país nem um estado federado, é uma comunidade de países

que partilham vontades comuns e entre ajuda. Esta organização geo-política financia o seu

desenvolvimento científico por via de fundo comunitários e dos Estados-Membros. Desde de 2005

que a nanotecnologia recebe atenção dos financiamentos comunitários.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 15/19

Page 18: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

O 6º e 7º Programa-Quadro (2002-2013) para a investigação científica orientou mais 5 mil milhões

de euros para a nanotecnologia. Na forma de apoio a projectos de colaboração entre estados e

empresas, apoiando cientistas e investigadores e suportando investimentos na implementação de

infra-estruturas nos diversos Estados-Membros. A mais recente estratégia europeia, o “Horizonte

2020”, com uma visão de I&D até 2020 tem um orçamento avaliado em 80 mil milhões de euros.

Divididos em três grandes dimensões de intervenção: Impactos sociais; Excelência na ciência; e

Liderança industrial. E a nanotecnologia tem lugar expresso nesta terceira dimensão com um

investimento na ordem dos 6 mil milhões de euros13.

É um facto que a nanotecnologia estão na agenda política dos EUA e da Europa. Os investimentos

em recursos humanos e infra-estruturas são uma realidade netas regiões. Contudo neste ensaio

sobressai alguns pontos divergentes. Primeiro é aposta significativa dos EUA na educação pré-

universitária e o número de universidades no país. Na Europa o número de universidades por país é

menor mas possui maior número de cursos pós-graduados. Dinamarca, Alemanha e o Reino Unidos

são os países que apostam mais em educação em nanociencias e nanotecnologias.

Nesta análise podemos verificar também que os EUA e a Europa divergem nos seus sistemas de

inovação. O sector privado nos EUA é forte com elevados investimentos em I&D e em número de

empresas no sector das nanotecnologias. Na Europa a presença de empresas na investigação de

nanotecnologias é mais resiliente, no entanto as novas políticas europeias para a inovação

contraídas no 7º PQ e “Horizonte 2020” vem dar incentivo à I&D empresarial. Esta diferença é

repercutida nos indicadores de inovação como as patentes. Colocando os EUA á frente da Europa

em número de patentes em nanotecnologia e nanomateriais.

O desafio da inovação para a Europa é gigantesco. Como discutido na conferencia do EIT no

passado 25 Junho14, a Europa necessita de plataformas de colaboração entre os Estados-Membros

que integram empresas, governos e universidades. É necessário empresas de crescimento rápido

alicerçadas em empreendedorismo. Os fundos públicos devem ser utilizados para atrair

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 16/19

13 Press Release da Comissão Europeia a 30/11/2011 (ComissãoEuropeia, 2011b)

14 Conferencia de 25 de junho 2012 do “European Institute of Innovation & Technology” (Burtscher, Cederello, Colombo, Laursen, & Wilson, 2012)

Page 19: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

investimento privado. A investigação fundamental deve ser orientada para grandes desafios sócio-

económicos.

Neste período de crise económica a nanotecnologia pode ser a chave do sucesso para sair desta

recessão social e económica. Ambas as regiões aqui analisadas acreditam que o sector da

nanotecnologia pode ser um factor de crescimento económico e criação de emprego. Por isso as

políticas publicas para a ciência e inovação tem sido aplicadas ao longo desta última década.

Instrumentos da política científica como o apoio a investigação, à educação e inovação devem ser

acelerados e melhorados. Instrumentos legais como a regulação dos padrões e medidas nos

nanomateriais e nanotecnologias em geral, devem ser generalizados aos vários sectores industriais

para acelerar a industrialização da nanotecnologia.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 17/19

Page 20: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

BibliografiaBhat, J. S. A. (2005). Concerns of new technology based industries: The case of

nanotechnology. Technovation, 25(5), 457-462.Brand, L. (2010). Report 2010 on Statical Patent Analysis: ObservatoryNANO.Burtscher, W., Cederello, A., Colombo, G., Laursen, K., & Wilson, K. (2012). EIT

Conference Roundtable: Next Generation Innovation Policies. from http://eitconference.teamwork.fr/en/home

Clinton, B. (2000). President Cliton's Adress to CALTECH on Science and Technology.ComissãoEuropeia. (2004). Comunicação da comissão: "Para uma Estratégia Europeia

sobre Nanotecnologias". Bruxelas: Comissão das Comunidades Europeias.ComissãoEuropeia. (2007). Nanociências e Nanotecnologias: Plano de Acção para a

Europa 2005-2009. Primeiro Relatório de Execução 2005-2007. Bruxelas: Comissão das Comunidades Europeias.

ComissãoEuropeia. (2009). Nanociências e Nanotecnologias: Plano de Acção para a Europa 2005-2009 Segundo Relatório de Execução 2007-2009. Bruxelas: Comissão das Comunidades Europeias.

ComissãoEuropeia. (2010). FP7 NMP Work Programme 2011: Nanoscience, Nanotechnologies, Materials and New Production Technologies. Bruxelas: ComissãoEuropeia.

ComissãoEuropeia. (2011a). FP7 NMP Work Programme 2012: Nanoscience, Nanotechnologies, Materials and New Production Technologies. Bruxelas: ComissãoEuropeia.

ComissãoEuropeia. (2011b). Horizon 2020: Commission proposes €80 billion investment in research and innovation, to boost growth and jobs. Retrieved 24 Julho 2012, from http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/11/1475

ConselhodaUniãoEuropeia. (2004). Nanotecnologias: Conclusões do Conselho.CORDIS. (2012). European R&D Projects under FP7. Retrieved 23 Julho 2012, from

Comissão Europeia: http://cordis.europa.eu/projectsGenieser, L., & Gollin, M. (2007). Intellectual property issues in nanotechnology. J

Commer Biotechnol\, 13(3), 195-198.H.R. 2436--110th Congress: Nanotechnology in the Schools Act. (2007). Retrieved 23

Junho 2012: http://www.govtrack.us/congress/bills/110/hr2436Islam, N., & Miyazaki, K. (2009). Nanotechnology innovation system: Understanding

hidden dynamics of nanoscience fusion trajectories. Technological Forecasting and Social Change, 76(1), 128-140.

John F. Sargent, J. (2011). National Nanotechnology Initiative (NNI): Overview, Reauthorization, and Appropriations Issues: DIANE Publishing Company.

Kirmizidis, G. (2010). Report on the European Commission's Public Online Consultation: Towards a Strategic Nanotechnology Action Plan (SNAP) 2010-2015. from Comissão Europeia Direção-Geral para a Investigação: http://ec.europa.eu/research/consultations/snap

Malsch, I. (2008). Nano-education from a European perspective. Journal of Physics: Conference Series, 100(3), 032001.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 18/19

Page 21: As Políticas Públicas para a Nanotecnologia: Análise comparativa entre EUA e Europa

NNI. (2011). National Nanotechnology Initiative: Environmental, Health, and Safty Research Strategy: National Science and Technology Council Committee on Technology: Subcommittee on Nanoscale Science, Engineering, and Technology.

NNI. (2012). PCAST Nanotechnology Assessment Working Group: Executive Office of the President President’s Council of Advisors on Science and Technology.

ObservatoryNANO. (2012). Developments in Nanotechnologies Regulation & Standards - 2012.

Policy Principles for the U.S. Decision-Making Concerning Regulation and Oversight of Applications of Nanotechnology and Nanomaterials: Executive Order 13563 (2011).

SCENIHR. (2009). Risk Assessment of Products of Nanotechnologies: Directorio-Geral para Saúde e Consumidores.

Shank, P., Krajcik, J., & Yunker, M. (2007). Can Nanoscience be a catalyst for educational reform? Nanoethics: the ethical and social implications of nanotechnology (Allhoff, Fritz; Lin, Patrick; Moor, James; Weckert, John ed., pp. 277-290): Wiley-Interscience.

Trynano.org. (2012). University Listings: find Nanotechnology Degrees. Retrieved Junho 2012, from Trynano.org: http://www.trynano.org/

United States. Interagency Working Group on Nanoscience, E., Technology, Science, N., & Technology, T. C. C. o. (2000). National Nanotechnology Initiative: Leading to the Next Industrial Revolution : a Report: National Science and Technology Council.

Xue, A. (2011). Nanotechnology Funding: Corporations Grab the Reins: Lux Research.

A Políticas Públicas para a Nanotecnologia! PCTI

Ricardo Abreu ©2012 ISCTE-IUL! 19/19