as parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e … · 2017-11-30 · as...
TRANSCRIPT
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
As parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e possibilidades na formação do professor de matemática
RESUMO Estudos desenvolvidos no âmbito da pesquisa em Educação e em Educação Matemática. Entende-se que há uma
necessária articulação, por meio do estágio supervisionado entre as Universidades e Escolas da Educação Básica
no Brasil, recortando-se a área de Educação Matemática nesse artigo. Destaca-se, nesse direcionamento que
Foerste (2005) aponta o desenvolvimento de parcerias como sendo um novo paradigma de formação de
professores, uma vez que as parcerias podem se constituir numa base teórica potencialmente reveladora pelo fato
de discutir políticas educacionais e por apresentar pesquisas baseadas em experiências concretas, que evidenciam
contribuições oriundas do desenvolvimento efetivo de projetos vinculados às Parcerias. Sendo, assim, o presente
trabalho tem por objetivo analisar o desenvolvimento de uma Parceria Colaborativa, realizada no âmbito do PIBID-
PUC/SP: Processos de formação inicial de professores em contextos colaborativos: docência e práticas educativas
desenvolvidas em escolas públicas do Estado de São Paulo.
Palavras-chave: Estágio Supervisionado. PIBID. Grupo Colaborativo. Parcerias. Formação de Professores.
ABSTRACT Studies conducted within the research and education in mathematics education. It is understood that there is a
necessary link, through supervised training between Universities and Education Schools Primary in Brazil, standing
out area of mathematics education in this article. , Noteworthy in that direction that Foerste (2005) points out the
development of partnerships as a new paradigm of teacher training, since partnerships can provide a theoretical
basis potentially revealing by the fact to discuss educational policies and provide research based on real
experiences that show originating contributions of effective development projects linked to partnerships. As well,
this study aims to analyze the development of a Collaborative Partnership held under the PIBID-PUC / SP: Initial
training processes of teachers in collaborative contexts: teaching and educational practices developed in public
schools in São Paulo State Paulo.
Keywords: Supervised internship. PIBID. Collaborative Group. Partnerships. Teacher training.
RESUMEN
Estudios realizados dentro de la investigación y la educación acerca de la educación matemática. Se entiende que
existe una articulación necesaria, a través de las prácticas supervisadas, entre las Universidades y las Escuelas de
Educación Primaria en Brasil, enfocándose en el área de la educación matemática en el presente artículo. Se
destaca en este sentido, lo que apunta Foerste (2005) en referencia al desarrollo de asociaciones como un nuevo
paradigma de la formación del profesorado, ya que las asociaciones pueden proporcionar una base teórica
potencialmente reveladora por el hecho de discutir las políticas educativas y por proporcionar estudios basados en
experiencias reales que evidencian las contribuciones provenientes del desarrollo efectivo de proyectos vinculados
a las mismas. A su vez, este estudio tiene como objetivo analizar el desarrollo de una Asociación de Colaboración
Collaborative partnerships and supervised training: challenges and opportunities in the formation of math teacher
Asociaciones de colaboración y entrenamiento supervisado: desafíos y oportunidades en la formación de profesor de matemáticas
Douglas da Silva Tinti Universidade Cidade de São Paulo
Ana Lucia Manrique** Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
DOI: http://dx.doi.org/10.24115/S2446-6220201622161p.63-71
TINTI, D. da S.; MANRIQUE, A.L. 64
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
celebrado en el marco del PIBID-PUC/ SP: Procesos de formación inicial de los maestros en contextos de
colaboración: la enseñanza y las prácticas educativas desarrolladas en las escuelas públicas en São Paulo.
Palabras-clave: Prácticas supervisadas. PIBID. Grupos de colaboración. Asociaciones. Formación de profesores.
Introdução
esde 1997 o Conselho Nacional de Educação (CNE), instituição ligada ao Ministério da
Educação e da Cultura (MEC), começou a elaborar vários documentos – diretrizes e
pareceres – que focalizam tanto a formação inicial quanto a formação continuada de
professores da educação básica, dando destaque à necessária ligação entre a escola de
formação e o sistema dos segmentos da educação básica, buscando proporcionar, assim, a articulação
dos elementos gerais da docência com as demais dimensões da atuação profissional do professor. Os
referidos pareceres e diretrizes evidenciam a necessidade de proporcionar aos futuros professores
espaços formativos, em que a inserção no contexto escolar seja considerada de forma plena, com o
intuito de contextualizar a teoria vivenciada na graduação, bem como a aproximação com o futuro
ambiente de trabalho. Também é possível observar, nesses documentos, a necessária ligação entre os
cursos de formação e as escolas da educação básica a fim de contemplar uma formação inicial mais
ampla e contextualizada.
Imbernón (2000) afirma que a formação inicial deve possibilitar aos professores o domínio de
uma bagagem sólida nos âmbitos científico, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal. Entretanto,
observa-se que muitos cursos de formação inicial de professores caminham na contra mão desta
perspectiva por estarem estruturados segundo o modelo da racionalidade técnica (Contreras, 2002).
Deste modo, entendemos que é preciso repensar a Formação de Professores, buscando encontrar
caminhos para o enfrentamento de tal complexidade. Cochran-Smith e Lytle (1999) defendem que os
conhecimentos, que os professores necessitam para ensinar, devem ser construídos coletivamente
dentro de comunidades locais e mais amplas. Neste direcionamento, Imbernón (2000) afirma que a
medida que aproximamos a Formação de Professores do contexto organizacional do trabalho (escola)
teremos uma formação mais efetiva. Em 2003, a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM)
elaborou um documento que versa sobre os estudos da prática de ensino e o Estágio Supervisionado
de Licenciaturas em Matemática. Deste documento, convém destacar que:
É preciso organizar um projeto de estágio planejado e avaliado conjuntamente pela
escola de formação e as escolas campos de estágio, com objetivos e tarefas claras,
para que as duas instituições assumam responsabilidades e se auxiliem
mutuamente, o que pressupõe relações formais entre instituições de ensino e
unidades dos sistemas de ensino. Esses “tempos na escola” serão diferentes
segundo os objetivos de cada momento da formação. Sendo assim, o estágio não
pode ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação,
mas envolve necessariamente uma atuação coletiva dos formadores. (SBEM, 2003,
p. 21-25)
D
.
65 As parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e possibilidades...
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
Ao consideramos o Estágio Supervisionado, como uma possível inserção do futuro professor de
Matemática neste ambiente escolar, podemos encontrar alguns dilemas e fragilidades. O estudo
realizado por Tinti (2010) buscou evidenciar alguns destes dilemas e mapear alguns pontos positivos
e/ou negativos desta inserção. Neste estudo ficou evidente: (i) a falta de receptividade dos funcionários
e gestores; (ii) a dificuldade dos estagiários adentrarem à escola; e (iii) a insatisfação dos
alunos/estagiários de se colocarem como meros observadores da futura prática. Diante destes
apontamentos, é possível pontuar algumas fragilidades das atuais práticas de cumprimento de Estágio.
Uma delas se refere à estrutura tradicionalmente estabelecida e seguida, em que é possível identificar
duas interações estanques: “professor formador x estagiário” e “estagiário x professor da escola”. Neste
contexto, o professor formador, que muitas vezes não tem uma vivência como docente na educação
básica, se posiciona com um olhar distanciado da realidade. O estagiário se coloca no papel de
observador e o professor da escola básica como mero objeto de pesquisa.
Esse modelo clássico, que se pauta na racionalidade técnica (Contreras, 2002), pressupõe que,
a mera observação é suficiente para formar um futuro professor, porém não parece ser suficiente para
a formação que atualmente é esperada e pouco contribui para ações de formação continuada. Neste
modelo o professor da escola não é visto como um formador. Em sua proposta, Tardif (2003) ressalta a
importância das pesquisas universitárias começarem a considerar os professores como colaboradores
e não apenas objetos de pesquisa e investigações. Nas atuais práticas, também fica evidente a ausência
de vínculos consistentes com a escola, consolidando, assim, o distanciamento existente entre a
universidade e a escola.
Observa-se que o distanciamento entre a escola e universidade, ainda permanece
mesmo quando disciplinas como o Estágio Supervisionado e a Prática de Ensino se
propõem em suas ementas a aproximar a formação inicial da realidade escolar. Um
abismo ainda parece existir entre a escola e a universidade, dificultando a
comunicação, a transmissão de conhecimentos produzidos e a realização de ações
que realmente possam auxiliar no desenvolvimento da educação de modo geral.
(ALBUQUERQUE, 2007, p. 19)
No estudo realizado por Albuquerque (2007) é destacado que muitos autores e estudiosos da
área da educação “têm nos alertado para a necessidade de aproximação entre escolas e universidade
para a realização de pesquisas e para a formação inicial e continuada de professores” (p. 21). Dentre
eles, Foerste (2002) aponta as parcerias institucionais colaborativas como possível geradora de grandes
avanços no processo de profissionalização de professores, entendendo que as parcerias motivam um
maior envolvimento dos diferentes atores educacionais com a formação de professores. No entender
desse autor, as parcerias referem-se
[...] as relações entre diferentes sujeitos e instituições (governo, universidade,
escola, sindicato, profissionais de ensino em geral) que passam a estabelecer
interações para tratar de interesses comuns, contribuindo e implementando
programas a partir de objetivos partilhados, com a definição de atribuições ou
competências institucionais. (FOERSTE apud ALBUQUERQUE, 2007, p. 21)
TINTI, D. da S.; MANRIQUE, A.L. 66
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
Orey (2005) identifica, ainda, que as parcerias firmadas entre escolas da educação básica e
universidades possibilitam melhorias nas práticas pedagógicas e, dessa forma, poderá aumentar o
rendimento escolar e a aprendizagem dos alunos. Ressalta ainda que “neste contexto, para o
fortalecimento desta dinâmica, a parceria da universidade com o sistema escolar é de fundamental
importância” (OREEY, 2005, p. 5). Albuquerque (2007) ressalta que Foerste (2002) apoiou-se nos
estudos de John Furlong para apontar a existência de três tipos de parcerias para formação de
professores: a dirigida, a separatista e a colaborativa.
Para ilustrar o que estamos entendendo por Parceria Colaborativa convém ressaltar que este
modelo de parceria possibilita uma participação mais efetiva dos profissionais da escola, conduzindo-
os a se organizarem e a refletirem sobre o processo de formação de seus pares. Ou seja, neste processo
a fragmentação das interações estanques - “professor formador x estagiário” e “estagiário x professor
da escola” - é superada e desta maneira pode ser constituído um grupo colaborativo onde os
conhecimentos são aprendidos, vivenciados e (re)construídos.
Diante do que foi exposto até aqui, entendemos que com o pleno desenvolvimento de uma
Parceria Colaborativa, estaremos proporcionando aos futuros professores (estagiários) uma
participação mais afinco na vida cotidiana escolar e estaremos, também, conectando dois sistemas
educacionais que são diretamente relacionados. Acreditamos, também, que esta interação potencializa
os processos formativos por estarem alicerçados na colaboração. Antes de prosseguir, é pertinente
ressaltar que estaremos denominando Estágio Supervisionado Colaborativo à prática de cumprimento
pautada numa Parceria Colaborativa, ou seja, uma parceria efetiva entre universidade e escolas da
educação básica.
Estágio Supervisionado Colaborativo: o que dizem as pesquisas em Educação Matemática?
Em busca de respostas para este questionamento, nos apropriaremos, inicialmente, da pesquisa
realizada por Bruno (2009). Nesse trabalho, a pesquisadora buscou mapear, junto ao banco de
dissertações e teses da Capes, as pesquisas acadêmicas – com as temáticas “Estágio Supervisionado” e
“Prática de Ensino” – produzidas no período de 2002 a 2007. A autora justifica que utilizou este recorte
em decorrência da publicação dos Referenciais para Formação de Professores (Parecer CNE/CP
09/2001) e das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Matemática (Parecer CNE/1.302/2001)
no ano de 2001. Para a autora, escolher o ano de 2002, como período inicial deste recorte, ajudaria a
identificar os esforços das instituições na implementação destas orientações. O período final é
decorrente da estruturação do banco de dissertações e teses da Capes, ou seja, como a pesquisa foi
realizada no segundo semestre de 2008 só constavam arquivos referentes ao ano anterior.
Considerando tal estudo (BRUNO, 2009) podemos verificar que dos treze trabalhos consultados
pela pesquisadora, apenas um contempla a temática aqui discutida. Trata-se da tese de doutorado
“Formação de Professores de Matemática, Estágio Supervisionado Participativo na Licenciatura em
Matemática, uma Parceria Escola-Universidade: respostas e questões”. Buscando superar as limitações
das práticas anteriores, que eram pautadas na “observação - regência – participação”, foi constituída
.
67 As parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e possibilidades...
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
uma parceria escola-universidade. A partir desta constituição investigou-se quais seriam as
possibilidades formativas deste trabalho desenvolvido em parceria com a escola.
Ao realizar uma pesquisa no banco de dados da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (ANPEd) identificamos que o cenário não é muito diferente do que apontou
Bruno (2009). Para análise utilizamos as pesquisas apresentadas na 25° reunião (realizada em 2002) até
a 32° reunião (realizada em 2009). Consultamos as pesquisas cadastradas nos GT’s Formação de
Professores e Educação Matemática. Na tabela 1 apresentamos um resumo destas informações:
Tabela 1: Pesquisa realizada no site da ANPEd.
Reunião
Apresenta pesquisas sobre o Estágio Supervisionado?
Se sim, quantas e em qual GT? Não
25°- realizada em 2002 X
26°- realizada em 2003 1 – GT Formação de Professores
27°- realizada em 2004 X
28°- realizada em 2005 1 – GT Formação de Professores
29°- realizada em 2006 X
30°- realizada em 2007 X
31°- realizada em 2008 X
32°- realizada em 2009 2 – GT Formação de Professores
Fonte: arquivos dos pesquisadores.
Conforme observado na Tabela 1, das poucas pesquisas encontradas, nenhuma delas relata a
constituição do Estágio Supervisionado Colaborativo. Também é possível verificar que, no GT de
Educação Matemática, não foi encontrado nenhuma pesquisa que tivesse o Estágio Supervisionado
como objeto de pesquisa. Diante destes dados, decidimos realizar uma consulta nos anais do X Encontro
Nacional de Educação Matemática (ENEM), realizado no mês de julho deste ano, buscando verificar se
a perspectiva de Estágio Colaborativo foi discutida. Nesta busca, identificamos vinte e dois trabalhos
que abordam a temática “Estágio”. Porém, após a leitura dos respectivos resumos, constatamos que
apenas uma publicação contempla o Estágio Colaborativo. Trata-se de uma comunicação científica
enfatizando a constituição do estagiário e da estagiária enquanto professor e professora e a
importância da parceria do(a) professor(a) da escola básica e do(a) estagiário(a) da universidade, na
perspectiva da constituição profissional de ambos.
No confronto da pesquisa realizada por Bruno (2009) e os dados identificados na ANPED e nos
anais do X ENEM, é possível percebermos que esta temática – Estágio Supervisionado e Parcerias
Colaborativas – é pouco investigada. Neste cenário emergem as inquietações que motivam o
desenvolvimento de nossa pesquisa para o mestrado em Educação Matemática, buscando identificar,
qualitativamente, as potencialidades destas Parcerias Colaborativas à formação inicial do professor de
Matemática.Contudo, quais ações são pertinentes para que haja plena comunicação entre os
envolvidos nesta Parceria Colaborativa? Quais reflexos poderão trazer para o processo de ensino-
aprendizagem, bem como para a formação inicial e/ou continuada dos envolvidos na mesma?
Nosso estudo encontra-se em desenvolvimento. Com a investigação, objetivamos identificar as
contribuições das Parcerias Colaborativas para a formação inicial do professor de Matemática.
Entendendo que a formação docente é contínua, objetivamos identificar, também, as contribuições
TINTI, D. da S.; MANRIQUE, A.L. 68
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
para a formação continuada dos demais envolvidos. Desse modo, esperamos colaborar na elucidação
do processo de formação docente e de suas especificidades. Temos o propósito, ainda, de fomentarmos
a reflexão frente à estruturação da disciplina Estágio Supervisionado nos cursos Licenciatura em
Matemática e, porque não, nas demais licenciaturas.
Algumas considerações acerca das possibilidades
Ao observar a proposta de Estágio Colaborativo ressaltamos que, nas relações envolvidas, há
possibilidade de estabelecermos uma nova interação contemplando assim a Tríade-Formativa
(professor formador ⬄ estagiário ⬄ professor da escola), proporcionando a construção de um grupo
de trabalho colaborativo pautado na (re)construção dos saberes e na inovação das atuais práticas
pedagógicas:
Esquema 1: Tríade-Formativa
Quando ouvimos falar “tríade” em música, nos recordamos da junção de três ou mais notas
musicais que compõem um acorde. Esta junção é harmônica e agradável aos nossos ouvidos. Desta
forma, a Tríade-Formativa aqui tratada, se refere à interação de saberes emergentes dos envolvidos na
Parceria Colaborativa. Entendemos que esta interação pode potencializar o processo de formação
inicial do professor de Matemática, uma vez que ele estará em contato com a prática e em constante
interação com professores formadores mais experientes. Nesta perspectiva, o estagiário deixa de ser
um mero espectador da futura prática, passando a ser ator em sua própria formação. Devemos
ressaltar, ainda, que nesta perspectiva o professor da escola também deve ser visto como um formador.
Nesse entender, Albuquerque (2007, p. 7) expõe que
[...] ainda que os debates e estudos apontem para a importância dos saberes
construídos pelos professores no exercício da docência e para a necessidade de que
o próprio professor seja ator principal nas discussões e decisões a respeito da sua
formação, seu papel na formação de professores ainda não é reconhecido e o seu
lugar ainda permanece na informalidade. (grifos nossos)
Acreditamos que a possibilidade de firmar Parcerias Colaborativas entre escolas e universidade
evidencia que a prática colaborativa, vivenciada por meio de uma Tríade-Formativa, possibilita a
(re)construção de saberes pedagógicos contribuindo significativamente para o processo formativo de
todos os envolvidos. De modo particular, este modelo muito pode contribuir para que as competências
a serem desenvolvidas nos cursos de Licenciatura em Matemática possam ser contempladas e
contextualizadas, uma vez que fomenta o processo “Teoria-Prática-Teoria”. Neste sentido estamos
estruturando esta Tríade-Formativa conjuntamente com o Projeto de Iniciação à Docência (PIBID) da
.
69 As parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e possibilidades...
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
PUC/SP, especialmente com os alunos do curso de Licenciatura em Matemática que estejam aptos a
cursarem o Estágio Supervisionado.
O PIBID envolve alunos de todos os cursos de licenciatura plena da PUC/SP e cinco escolas
públicas, que aceitaram ser parceiros. O projeto objetiva a busca da iniciação à docência, privilegiando
a formação para o trabalho do magistério no sistema público de educação básica, pois os futuros
professores terão como uma das tarefas integrarem-se na escola pública para a qual for designado. É
um dos objetivos do Projeto que os futuros professores conheçam o cotidiano da escola pública,
explicitando a integração entre educação superior e educação básica. Além disso, terão oportunidade
de vivenciar, além de experiências metodológicas, a práticas docentes em caráter interdisciplinar.
Ainda este trabalho concebe a educação e formação de professores como prática pedagógica,
social, histórica e política. Outros valores agregados à proposta é conceber a educação como: resultado
da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; crença no trabalho docente interdisciplinar,
trabalhando a formação geral e inúmeras competências; e, sobretudo, propor uma ação conjunta a ser
desenvolvida em escola pública. Alguns princípios do Projeto Institucional para Formação de
Professores da Educação Básica (PIFPEB) podem ser acrescentados a outros argumentos para justificar
o desenvolvimento do PIBID-PUC/SP:
1. Compromisso com a prática educativa da escola pública como referência para o
desenvolvimento das atividades curriculares na formação inicial graduada e na educação
continuada do professor.
2. Concepção de aprendizagem como processo de construção de conhecimentos e o
desenvolvimento do pensamento autônomo, crítico e ético, como condição para a mudança de
concepções, valores, atitudes, crenças e ações.
3. Realização de atividades que se constituam como espaços de interlocução qualificada e de
problematização constante da prática pedagógica em todas as suas dimensões.
4. Consideração da perspectiva da educação continuada, da diversidade de experiências e do
trabalho coletivo e interdisciplinar na elaboração e execução de projetos pedagógicos dos
cursos.
Finalmente, o projeto institucional terá um cronograma de implementação que privilegiará o
trabalho conjunto e colaborativo, beneficiando todos os envolvidos no projeto, sem esquecer-se de
outras pessoas fundamentais, como outros professores da Universidade, outros alunos dos cursos
envolvidos, educadores das secretarias de educação ou diretorias de ensino e alunos da Educação
Básica. Não nos esquecemos de que um trabalho conjunto e colaborativo só pode beneficiar todos os
envolvidos, respeitando-se especificidades e propostas de refinamento do projeto, visando a
adequações para as realidades locais.
TINTI, D. da S.; MANRIQUE, A.L. 70
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
Referências
ALBUQUERQUE, S. B. G.. O professor regente da educação básica e os estágios supervisionados na
formação inicial de professores. 2007. 121p. Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-
graduação em Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
BRASIL, Portaria nº 1.302, Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática,
Bacharelado e Licenciatura. Brasília: CNE / CES, 2001.
BRASIL, Portaria nº 1518, Documento Norteador para comissões de verificação para autorização e
reconhecimento de cursos de Licenciatura. Brasília: SESu / MEC, 2000.
BRUNO, A. M. Z.. As contribuições do Estágio Supervisionado em Matemática para a constituição de
saberes docentes: uma análise das produções acadêmicas no período de 2002 – 2007. 2009. 186p.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação,
Universidade São Francisco, Itatiba-SP.
COCHRAN-SMITH, M.; LYTLE, S. Relationships of knowledge and practice: Teacher learning in
communities. In IRAN, A.; PERSON, C. D. (Eds.), Review of Research in Education, Washington, v. 24, p.
251-307, 1999.
CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.
FOERSTE, E.. Parceria na formação de professores: do conceito à prática. Rio de Janeiro. 2002. 414 p.
Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-graduação em Educação. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
FOERSTE, E. Parceria na formação de professores. São Paulo: Cortez, 2005.
IMBERNÓN, F.. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo,
Cortez, 2000.
OREY, D. C.. O Modelo do Desenvolvimento Profissional da Escola: Parcerias para auxiliar um Sistema
Educacional com Qualidade para Todos. Universidade Federal de Ouro Preto, 2005.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (SBEM). Subsídios para a discussão de propostas
para os cursos de Licenciatura em Matemática: uma contribuição da Sociedade Brasileira de Educação
Matemática. 2003.
TARDIF, M.. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
TINTI, D. S.. As potencialidades do Estágio Supervisionado na Formação do Professor de
Matemática: um olhar do professor formador. In: Seminário de História e Investigações de/em Aulas
.
71 As parcerias colaborativas e o estágio supervisionado: desafios e possibilidades...
Laplage em Revista (Sorocaba), vol.2, n.2, mai.- ago. 2016, p.63-71 ISSN:2446-6220
de Matemática, 3. Caderno de Resumos do III SHIAM. Campinas: GdS/FE-Unicamp, 2010. v.único. p.
1-6.
Doutorando em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Docente e coordenador de curso na Universidade Cidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
** Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: [email protected]
Recebido em 30/05/2016 Aprovado em 27/06/2016