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AS NOTÍCIAS DE FEMINICÍDIO NO JORNAL CORREIO DO ESTADO: UM DEBATE TEÓRICO Tainá Mendes Jara 1 Katarini Giroldo Miguel 2 RESUMO: A Lei número 13.104, de 9 março de 2015, conhecida como Lei do Feminicídio, é o avanço constitucional mais recente para coibir os casos de violência contra a mulher no Brasil; e emprega punições mais severas para assassinatos em que há evidente menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Tal medida, aliada a vigência de uma sociedade patriarcal de gênero, traz um contexto favorável para analisar quais contribuições as coberturas jornalísticas podem apresentar para redução das desigualdades de gênero e opressão feminina. Além disso, conforme o Mapa da Violência 2015, Mato Grosso do Sul está entre os estados mais violentos para as mulheres, aspecto que exige mais qualidade nas notícias publicadas em veículos regionais. Para análise da incidência dos casos de feminicídio no jornalismo diário, será feito um debate teórico e levantamento quantitativo das notícias de homicídio de mulheres nas versões impressa e online do jornal Correio do Estado, no período de 1º de março a 1º junho de 2015 e 1º de março a 1º de junho de 2016. A coleta de notícias de períodos diferentes permitirá analisar a cobertura logo que a lei entrou em vigor e um ano depois, em cenário de pretensa consolidação da medida. Palavras-chave: Jornalismo; Notícia; Feminicídio; Gênero; Correio do Estado 1 INTRODUÇÃO A promulgação da Lei 13.104, de 9 de março de 2015, popularmente conhecida como Lei do Feminicídio, é uma medida essencial no combate a violência contra a mulher no Brasil. Se trata do desdobramento jurídico mais recente de um cenário que passou a se intensificar depois da sanção da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, criada para aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos. O hiato de quase dez anos entre uma sanção e outra demonstra a dificuldade da sociedade em 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). 2 Docente do Curso de Jornalismo e do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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AS NOTÍCIAS DE FEMINICÍDIO NO JORNAL CORREIO DO ESTADO: UM

DEBATE TEÓRICO

Tainá Mendes Jara1

Katarini Giroldo Miguel2

RESUMO:

A Lei número 13.104, de 9 março de 2015, conhecida como Lei do Feminicídio, é o

avanço constitucional mais recente para coibir os casos de violência contra a mulher no

Brasil; e emprega punições mais severas para assassinatos em que há evidente menosprezo

ou discriminação à condição de mulher. Tal medida, aliada a vigência de uma sociedade

patriarcal de gênero, traz um contexto favorável para analisar quais contribuições as

coberturas jornalísticas podem apresentar para redução das desigualdades de gênero e

opressão feminina. Além disso, conforme o Mapa da Violência 2015, Mato Grosso do Sul

está entre os estados mais violentos para as mulheres, aspecto que exige mais qualidade

nas notícias publicadas em veículos regionais. Para análise da incidência dos casos de

feminicídio no jornalismo diário, será feito um debate teórico e levantamento quantitativo

das notícias de homicídio de mulheres nas versões impressa e online do jornal Correio do

Estado, no período de 1º de março a 1º junho de 2015 e 1º de março a 1º de junho de 2016.

A coleta de notícias de períodos diferentes permitirá analisar a cobertura logo que a lei

entrou em vigor e um ano depois, em cenário de pretensa consolidação da medida.

Palavras-chave: Jornalismo; Notícia; Feminicídio; Gênero; Correio do Estado

1 INTRODUÇÃO

A promulgação da Lei 13.104, de 9 de março de 2015, popularmente conhecida

como Lei do Feminicídio, é uma medida essencial no combate a violência contra a mulher

no Brasil. Se trata do desdobramento jurídico mais recente de um cenário que passou a se

intensificar depois da sanção da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei

Maria da Penha, criada para aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos. O

hiato de quase dez anos entre uma sanção e outra demonstra a dificuldade da sociedade em

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do

Sul (UFMS). 2 Docente do Curso de Jornalismo e do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso

do Sul.

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entender qual a importância de criar mecanismos para combater este tipo de crime. Tais

medidas, não são relevantes apenas por compor um conjunto de leis destinado a inibir atos

de violência, mas por deixarem explícitas que há uma distinção entre o tratamento dado às

mulheres e o delegado aos homens na sociedade.

Os avanços constitucionais não foram, contudo, suficientes para tirar o país da lista

dos que mais registram episódios de violência contra a mulher. Considerando apenas casos

de feminicídio, o Brasil ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações, conforme o

Mapa da Violência 2015. No levantamento anterior, realizado em 2010, ocupava a sétima

posição, portanto, aumento foi registrado mesmo após a promulgação da Lei Maria da

Penha.

Diante deste contexto - em que a efetivação de leis ainda não é suficiente para

conscientizar a sociedade da existência de desigualdades entre homens e mulheres e da

situação de opressão a qual elas são submetidas -, o jornalismo acaba desempenhando um

papel fundamental na disseminação de informações sobre o assunto. Entretanto, tal papel

não se resume a mera publicação de notícias, pois o conteúdo abordado impacta de forma

mais complexa sob o espectador. Por exemplo: as notícias envolvendo casos de violência

contra mulher contribuem para um melhor entendimento do assunto ou ajudam a

intensificar preconceitos já existentes na sociedade?

Em triste consonância com o contexto nacional, Mato Grosso do Sul apresenta

índices significativos em casos de violência contra a mulher. Conforme o Mapa da

Violência 2015, o estado apresenta a nona maior taxa de homicídio de mulheres. Este fator,

aliado às publicações de notícias sobre estes casos nos veículos de comunicação regionais,

traz uma terreno rico para análise sobre diversos aspectos.

Apesar das inúmeras possibilidades proporcionadas por estes levantamentos, este

artigo apresenta apenas um debate inicial quanto ao material pesquisado, atendo-se a trazer

conceitos preliminares indispensáveis para se aprofundar no assunto, além de levantamento

prévio de notícias de feminicídio, que integram a dissertação de mestrado em

desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), sobre o discurso jornalístico nas notícias de

feminicídio publicadas no suporte impresso e digital do jornal Correio do Estado.

Utilizando a própria da Lei 13.104 como fator de delimitação de conteúdo, serão

analisadas nesse trabalho justamente notícias envolvendo casos de feminicídio, ou seja,

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fatos em que são narradas as ocorrências dos assassinatos de mulheres, bem como seus

desdobramentos, como a prisão dos autores do crime.

As notícias selecionadas foram publicadas na versão impressa e digital do jornal

Correio do Estado, no período de 1º de março a 1º junho de 2015 e 1º de março a 1º de

junho de 2016. A coleta de notícias de períodos diferentes permite analisar a cobertura

logo que a lei entrou em vigor e um ano depois, em cenário de pretensa consolidação da

medida. Ao todo foram levantados 50 publicações, 29 no período de 2015, sendo 23 no

portal e seis na versão impressa do jornal. Nos três meses de 2016, foram 21 notícias,

sendo 15 na versão online e seis na impressa.

A escolha do jornal Correio do Estado ocorreu devido a relevância deste veículo. É

um jornal diário cuja versão impressa é uma das mais antigas de Mato Grosso do Sul, com

mais de 60 anos de circulação ininterrupta. Além disso, o jornal circula por todo o estado,

abrangendo a Capital, Campo Grande, e os municípios do interior. Foi um dos primeiros

veículos de comunicação do estado a manter simultaneamente a versão impressa e digital.

A análise em diferentes suportes é mais um elemento que enriquece a pesquisa, pois

permite verificar as especificidades de abordagens feitas para públicos distintos.

2 O FEMINICÍDIO E A MULHER NA SOCIEDADE

A Lei do Feminicídio trata-se da mais recente medida instituída para tornar mais

severa as punições para casos de violência contra a mulher cuja alteração no Código Penal

Brasileiro ocorre pela Lei número 13.104, de 9 de março de 2015. A medida foi sancionada

pela então presidente Dilma Roussef, um dia após as celebrações do Dia Internacional da

Mulher, realizadas no dia 8 de março.

A criminalização da violência contra a mulher é recente no Brasil. Entre as medidas

mais representativas para sua superação está a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da

Penha, de agosto de 2006. Instituída quase dez anos depois, a Lei do Feminicídio,

classifica o homicídio de mulheres como crime hediondo e com agravantes quando

acontece em situações específicas de vulnerabilidade (gravidez, menor de idade, na

presença de filhos etc.). “Entende a lei que existe feminicídio quando a agressão envolve

violência doméstica e familiar, ou quando evidencia menosprezo ou discriminação à

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condição de mulher, caracterizando-se crime por razões de condição do sexo feminino”

(WAISELFISZ, 2015, p. 7).

Apesar de todo crime carecer de investigações, é comum em casos envolvendo a

morte de mulheres por seus parceiros ataques que acarretam, por exemplo, na desfiguração

de seus rostos ou até mesmo agressões diretas a órgãos naturalmente característicos do

corpo feminino, como aos seios e a partes que compõem o aparelho reprodutor, como a

vagina. A identificação deste tipo de característica pode ajudar na definição do qualificante

penal e a ser aplicado.

Situações menos palpáveis também podem ajudar no enquadramento de um

assassinato como crime de feminicídio, como, por exemplo, a traição ou rompimento do

relacionamento por parte da companheira.

Apesar da reflexão ser anterior a sanção da Lei do Feminicídio, a socióloga Heleith

Saffioti já alertava para existência de indícios claros de ódio a condição de mulher pelos

agressores e assassinos. Tais características ocorrem em situações envolvendo mulheres

das mais diversas camadas sociais. A autora utiliza como exemplo, caso ocorrido ainda nos

anos 80, quando “um nordestino marcou, com ferro em brasa utilizado para marcar gado,

sua companheira com as letras MGSM, iniciais da expressão mulher galheira só morta,

meramente porque suspeita estar sua esposa cometendo infidelidade conjugal” (SAFFIOTI,

2005, p. 53).

Saffioti também relembra o emblemático assassinato de Ângela de Diniz ocorrido

nos anos 1970, morta durante uma tentativa do ex-companheiro de reatar o relacionamento

com a socialite. Doca Street descarregou o revólver no rosto e crânio de Ângela,

impedindo-a de conservar sua beleza, pelo menos, até seu enterro. “Atirar num lindo rosto

deve ter tido um significado, talvez o fato de aquela grande beleza tê-lo fascinado,

aprisionando-o a ela, impotente para abandoná-la” (SAFFIOTI, 2005, p. 54). O caso é

utilizado até hoje como um dos maiores exemplos de abrandamento de penas em casos

deste tipo, comprovando a condescendência da própria sociedade, incluindo o judiciário,

com o crime. Sob a tese de legítima defesa, os advogados do assassino conseguiram

reduzir drasticamente a pena. O autor ficou apenas três anos e seis meses na prisão.

Para se analisar os casos de feminicídio é indispensável considerarmos estudos

feitos anteriormente sobre a condição das mulheres na sociedade. Saffioti (2005) procura

compreender este papel por um panorama histórico; ou seja, em uma sociedade de classes,

capitalista. A pesquisadora defende que para ter uma noção precisa do contexto em que a

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violência contra mulher ocorre, em todos os âmbitos, sejam físicos ou psicológicos, é

necessário pensar a sociedade sob uma perspectiva patriarcal de gênero.

Para ela, a caracterização “violência de gênero” para se designar a estes casos não é

capaz de abarcar toda a carga histórica que perpassa as agressões de toda a espécie contra a

mulher, especialmente, a praticada por seus companheiros e ex-companheiros. O conceito

de gênero não explicita, necessariamente, desigualdade entre homens e mulheres, portanto,

é necessário complementá-lo e reconhecer a necessidade de resgatar o conceito de

patriarcado, que para alguns teóricos caiu em desuso, para uma definição mais precisa.

Em geral, pensa-se ter havido primazia masculina no passado remoto, o que

significa, e isto é verbalizado oralmente e por escrito, que as desigualdades

atuais entre homens e mulheres são resquícios de um patriarcado não mais

existente ou em seus últimos estertores. De fato, como os demais fenômenos

sociais, também o patriarcado está em permanente transformação. Se, na Roma

antiga, o patriarca detinha poder de vida e morte sobre a sua esposa e seus filhos,

hoje tal poder não mais existe, no plano de jure. Entretanto, homens continuam

matando suas parceiras, às vezes com requintes de crueldade, esquartejando-as,

ateando-lhes fogo, nelas atirando e as deixando tetraplégicas etc. O julgamento

destes criminosos sofre, é óbvio, a influência do sexismo reinante na sociedade, que determina o levantamento de falsas acusações - devassa é a mais comum -

contra assassinada. A vítima é transformada rapidamente em ré, procedimento

este que consegue, muitas vezes, absorver o verdadeiro réu. Durante longo

período, usava-se, com êxito, o argumento de legítima defesa da honra, como se

esta não fosse algo pessoal e, dessa forma, pudesse ser manchado por outrem.

Graças a muitos protestos feministas, tal tese, sem fundamento jurídico ou de

qualquer outra espécie, deixou de ser utilizada. O percentual de condenações,

contudo, situa-se a aquém do desejável (SAFFIOTI, 2005, p. 48).

Considerando esse contexto, Saffioti (2005, p. 56) ainda lembra que na sociedade

patriarcal em que vivemos existe uma forte banalização da violência, acarretando uma

tolerância e até certo incentivo da sociedade para que os homens possam exercer sua

virilidade baseada na força/dominação com fulcro na organização social de gênero. A

mulher acaba sendo a principal vítima desta condescendência.

Diante desse cenário, leis como a Maria da Penha e a do Feminicídio tem papel

relevante não só na inibição de agressões e até assassinatos, mas são fundamentais na

conscientização da sociedade sobre a existência de uma relação letal de dominação do

homem sobre a mulher.

Neste sentido, até mesmo a incorporação de certas palavras ao vocabulário são

essenciais para o reconhecimento da condição opressora vivida pela mulher. Por exemplo,

o uso de palavra feminicídio não deveria soar estranho aos ouvidos. "Dada a força das

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palavras, é interessante disseminar o uso de feminicídio, já que homicídio carrega o prefixo

de homem” (SAFFIOTI, 2005, p. 50, grifo do autor).

Saffioti completa que transformações deste tipo são comuns em vários idiomas.

"Como a língua é um fenômeno social e, portanto, sujeito permanentemente a mudanças, é

interessante criar novas palavras a expurguem o sexismo” (SAFFIOTI, 2005, p. 51).

Apesar da delimitação desta pesquisa considerar apenas os casos em que ocorrem o

feminicídio, dados relativos a outras formas de violências comprovam que uma sociedade

patriarcal de gênero a mulher está mais suscetível a sofrer agressões de toda a ordem. Estes

levantamentos também permitem traçar todo o caminho que algumas vítimas percorrem até

encontrar a morte nas mãos de maridos, ex-maridos, namorados, ex-namorados, parceiros

sexuais e companheiros.

Conforme dados da Central de Atendimento à Mulher, levantados pela Secretaria

Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM), em 2015, Campo Grande foi a capital

brasileira com a maior taxa de relatos de violência. Foram 227,53 relatos por cada 100 mil

mulheres, seguida por Rio de Janeiro, de 119,09, e Natal, de 113,43. A maioria dos relatos

recebidos pela Central de Atendimento é de violência física, com 50,15% dos casos, e

violência psicológica, 30,33%.

O estupro é outro crime em que a maioria das vítimas são mulheres. Em 2014, 47,6

mil pessoas foram vítimas de violência sexual no Brasil. Ou seja, a cada 11 minutos, uma

mulher foi violentada no país. Os dados, que são do 9º Anuário Brasileiro de Segurança

Pública, consideram somente os casos que foram registrados em boletins de ocorrência.

Contudo, segundo a publicação, apenas 10% das vítimas desse tipo de crime costumam

prestar queixas à polícia, de acordo com estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea). Entre os estados, Roraima é quem lidera o ranking com a maior taxa de

estupros do país – são 55,5 casos a cada grupo de 100 mil habitantes. Em seguida vêm o

Mato Grosso do Sul, com 51,3, e o Amapá, com 45.

Dados da SEPM (2015) apontam que nos últimos dez anos houve um aumento de

40% das denúncias. Os serviços especializados à mulher no Mato Grosso do Sul

aumentaram de 300 para 1.600. Este índice também é reflexo de toda uma estrutura criada

nos últimos anos afim de acolher e conscientizar as mulheres vítimas de violência, além de

buscar a punição dos responsáveis. Entre os mecanismos mais emblemáticos neste sentido

está a criação da primeira Casa da Mulher Brasileira, inaugurada no estado em 2015.

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Apesar de todos os dispositivos criados para coibir a violência contra a mulher, o

número de casos que atingem situação extrema, o assassinato, ainda são alarmantes. No

ano em que a lei foi instituída, a segunda edição especial do Mapa da Violência sobre

homicídios de mulheres apresentou o quantitativo dessas mortes no intervalo de 1980-

2013. Pelos registros do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), neste período, num

ritmo crescente ao longo do tempo, tanto em número quanto em taxas, morreu um total de

106.093 mulheres, vítimas de homicídio. Efetivamente, o número de vítimas passou de

1.353 mulheres, em 1980, para 4.762, em 2013, um aumento de 252%. A taxa, que em

1980 era de 2,3 vítimas por 100 mil, passou para 4,8 em 2013, um aumento de 111,1%

(WAISELFISZ, 2015, p. 11).

No mesmo relatório, Mato Grosso do Sul apresentou a nona maior taxa de

homicídio de mulheres, enquanto, a capital, Campo Grande, ficou na 23ª posição. No

ranking dos 100 municípios com mais de 10.000 habitantes do sexo feminino, com as

maiores taxas, figuram as cidades do interior do estado Caarapó (32º), Amambai (34º),

Jardim (77º) e Aparecida do Taboado (94º).

Contexto pouco otimista é verificado quando analisamos a aplicação de punições

para este crime. A sanção da Lei do Feminídio ajudou a dar mais precisão aos

levantamentos de dados envolvendo o assassinato pela condição de mulher e indicam a

tentativa de dar visibilidade a estes casos. Entretanto, também apresentou cenário ainda

carente de efetividade no que tange a aplicação de penas, em relação ao número de

ocorrências registradas.

Dados do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPE/MS) divulgados em

julho de 2017 indicam que, após pouco mais de dois anos da promulgação da lei do

feminicídio, os casos violência doméstica que antes eram registrados como homicídios

simples, passaram a receber a terminologia correta. De março de 2015 a julho de 2017,

segundo os registros do MPE/MS, foram registrados 148 casos tipificados como

feminicídios ou tentativas de feminicídios. Sendo 44 consumados e 67 tentados. Desses,

até julho, 67 já foram julgados, 59 casos tiveram a condenação dos acusados e em 8 casos

houve absolvição dos acusados.

Diante destes dados, a pesquisa em desenvolvimento pretende verificar como

alguns destes casos foram abordados pelos veículos de comunicação. Se o discurso de fato

contribui para conscientização do expectador sobre a gravidade dos casos de violência

contra a mulher ou ajuda a reforçar estereótipos considerados machistas.

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2.1 VALORAÇÃO JORNALÍSTICA

Diante dos dados e teorias que comprovam que o assassinato de mulheres é um

problema social complexo e com características específicas, o jornalismo se torna um dos

meios mais acessíveis para levar tais informações à sociedade em geral, e permite que o

debate não fique restrito apenas ao âmbito acadêmico. Entretanto, a publicação de notícias

pode desempenhar uma função dúbia, funcionando ao mesmo tempo como instrumento de

conscientização e superação da condição de opressão da mulher na sociedade, ou

acentuando ainda mais os estigmas relacionados a este tipo de crime, como a

culpabilização da vítima e a romantização de casos de agressão.

Baseando-se na existência de parâmetros que levam determinados fatos a receber

uma valoração jornalística diferenciada no amplo conjunto de acontecimentos cotidianos,

notamos que a produção e divulgação de notícias relacionadas a casos de feminicídio

atende a diversos critérios de noticiabilidade.

Isto pode ser comprovado a partir de uma breve análise de aplicação de alguns dos

chamados por Nelson Traquina (2005b) de valores-notícia de seleção para explicar a

presumível publicação dos casos de feminicídio nas páginas dos jornais diários. O autor

põe a morte como um critério de noticiabilidade praticamente óbvio. “Onde há morte, há

jornalistas” (2005b, p.79).

Outro critério citado por Traquina (2005b, p.80) é o da proximidade como “valor-

notícia fundamental da cultura jornalística”. Considerando os dados que colocam o Brasil

como um dos países com maiores índices de feminicídio, além da significativa posição de

Mato Grosso do Sul no ranking nacional, a abordagem destes fatos pelos veículos de

comunicação nacionais e locais se torna quase regra.

O tempo também é um fator colocado por Traquina (2005b, p.81) que ajuda a

justificar a importância de noticiar os casos de homicídios de mulheres. Ele explica que

esse critério pode ser usado em âmbitos distintos. A primeira possibilidade é quando uma

notícia é abordada pela sua atualidade. A segunda é quando o fato já teve lugar no passado

e está sendo relembrado pela sua relevância. O terceiro fator diz respeito à longevidade da

notícia quanto à repercussão, estendendo os limites da sua noticiabilidade.

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O conflito é outro valor-notícia importante para justificar a abordagem de

homicídios de mulheres. “A presença da violência física fornece mais noticiabilidade e

ilustra de novo como os critérios [...] muitas vezes exemplificam a quebra do normal.”

(TRAQUINA, 2005b, p.84). Conforme o autor, o conflito ou a controvérsia também pode

ser física ou apenas simbólica, e que a violência é notícia por que representa uma ruptura

social. Na mesma direção, a infração também é considerada um critério substantivo de

seleção de notícia que tem ligação com a violência.

Além disso, o discurso jornalístico utilizado para relatar estes casos pode dar pistas

sobre o contexto social vigente, além de mostrar de que forma isto interfere na produção

das notícias. Muniz Sodré (2012), ao colocar o acontecimento como uma modalidade clara

e visível do tratamento do fato, considera-o:

[...] uma construção ou uma produção de real, atravessada pelas

representações da vicissitude da vida social, o que equivale a dizer tanto pela

fragmentação às vezes paradoxal das ocorrências quantos pelos conflitos em

torno da hegemonia das representações (SODRÉ, 2012, p. 37)

Além dos cenários social e histórico em que se dá a produção deste discurso

jornalístico, Traquina (2005a) reconhece que não é possível entender por que as notícias

são como são sem compreender, também, a cultura profissional da comunidade

jornalística. Conforme o autor, o trabalho jornalístico é altamente condicionado, apesar de

o profissional ter uma “autonomia relativa” (TRAQUINA, 2005a).

2.1 FEMINICÍDIO NO CORREIO DO ESTADO: PRIMEIRAS CONSTATAÇÕES

Apesar de ainda não ser capaz de responder perguntas essencias sobre que tipo de

contribuição o jornalismo sul-mato-grossense dá para o debate sobre violência contra a

mulher, levantamento prévio permite verificar a incidência de notícias sobre feminicídio

nas versões impressa e online do jornal Correio do Estado, no período de 1º de março a 1º

junho de 2015 e 1º de março a 1º de junho de 2016. A coleta de notícias de períodos

diferentes permitiu analisar a cobertura logo que a lei entrou em vigor e um ano depois.

Ao todo foram levantados 50 publicações, 29 no período de 2015, sendo 23 no

portal e seis na versão impressa do jornal. Nos três meses de 2016, foram 21 notícias,

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sendo 15 na versão online e seis na impressa. Tais levantamentos podem ser verificados

nas tabelas 1, 2, 3 e 4.

Em linhas gerais, verificou-se que a limitação do espaço exigida na versão impressa

impacta significativamente na incidência de notícia edição de papel. Coincidentemente, o

número de publicações na versão impressa foi o mesmo nos meses analisados no ano 2015

e 2016. Foram seis publicações em cada período, incluindo notícias que vão desde o

assassinato em si a prisão de autores do crime. As notícias raramente utilizam a palavra

feminicídio ou dão explicações mais aprofundadas sobre esse tipo de crime.

O número de casos abordados no portal do Correio do Estado é muito superior aos

registrados na versão impressa, chegando a ser 75% maior nos três meses analisados no

ano de 2015. Foram 23 notícias no site, contra seis no jornal impresso. Em 2016, o

percentual reduziu, porém as publicações mantiveram frequência maior na versão online.

Foram 15 notícias no suporte digital e apenas seis no papel.

A quantidade menor na versão impressa pode, obviamente, ser explicada pela

limitação de espaço e pelo perfil editorial do jornal, mas não podemos negligenciar a

cultura machista que permeia as escolhas jornalísticas. Os casos abordados, mesmo se

tratando assassinatos, alguns com requintes de crueldade (elemento que teoricamente

interessariam ao jornal), são, na maioria, transformados em notas publicadas na parte

inferior da página destinada as ocorrência policais, inclusa na editoria de Cidades. As

mortes por feminicídio somente aparecem em notícias mais extensas, na parte superior da

página, quando compõem algum tipo de balanço de mortes ocorridas em determinado

espaço de tempo, não passando da mera citação do fato.

Apesar de apresentar maior registro de casos e, consequentemente, registros

exclusivos da versão online, este suporte, em determinados aspectos, apresenta

características semelhantes às publicações da versão impressa. Mesmo escritas por

jornalistas diferentes e as notícias sendo mais detalhadas sobre os fatos na versão online,

ambos os suportes pecam quanto ao uso do termo “feminicídio” e em dar explicações mais

informativas sobre este tipo de crime.

Durante os dois períodos analisados, apenas uma das publicações, tanto no suporte

impresso quanto no online, agregou ao fato noticiado informações mais abrangentes sobre

feminicídio. Apesar de falar da prisão de um homem que cometeu o crime, a matéria

intitulada “Em quatro meses, crimes contra a mulher renderam 208 prisões”, de autoria do

jornalista Renan Nucci, e publicada na edição do dia 29 de abril de 2016, do jornal Correio

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do Estado, traz um breve levantamento sobre a ação da polícia envolvendo estes casos e

entrevista com a então delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à

Mulher (DEAM), Rosely Molina. A leitura da matéria está na Figura 1.

Figura 1 – Notícia publicada no dia 29 de abril de 2016

Apesar das informações adicionais e do uso da palavra feminicídio, o material

ainda não traz explicação direta sobre o que é este crime. No entanto, as declarações da

delegada, específica sobre a prisão realizada na véspera, dão pistas de que o crime foi

motivado pelo ódio a condição de mulher da vítima pelo ex-companheiro. Fica evidente

que a publicação ocorreu apenas devido a uma iniciativa da própria polícia Civil, que

realizou coletiva de imprensa para a apresentação do autor do crime. Fosse o contrário, não

haveria garantia de que a prisão do autor fosse acompanhada de dados mais relevantes.

Além disso, a estatística apresentada é exclusiva sobre prisões, mostrando que durante a

apuração não houve interesse em buscar dados sobre o total de ocorrências registradas pela

delegacia.

Tabela 1 –Correio do Estado Online – 01/03 a 01/06/2015

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Data Título

01/03/2015 Casal é encontrado morto com tiro na cabeça em propriedade rural de MS

10/03/2015 Corpo de aeromoça é encontrado dentro de mala em represa de SP

10/03/2015 Suspeito de matar aeromoça, marido é encontrado morto em casa

15/03/2015 Mulher é morta na frente da filha e autor do crime é preso

16/03/2015 Preso acusado de matar mulher com pauladas e facadas

19/03/2015 Ex-goleiro Bruno diz que seu erro foi ter sido "omisso" e não denunciar Macarrão

21/03/2015 Mulher é decapitada pelo namorado por causa de troca de mensagens no celular

30/03/2015 Ossada é encontrada em fossa desativada de empresa de engenharia na Capital

01/04/2015 Namorado corta cabeça de grávida e posta foto no Facebook

01/04/2015 Dentro de posto, agente de saúde é baleada na cabeça pelo ex-marido

01/04/2015 Acusado de atirar em ex-esposa dentro de posto de saúde se entrega à polícia

02/04/2015 Acusado de atirar na cabeça de ex-mulher responderá por femicídio

02/04/2015 Acusado de matar esposa na Capital é preso escondido em Pernambuco

04/04/2015 Marido que matou mulher em 2008 é morto com 4 tiros; filho confessa crime

04/04/2015 Mulher é encontrada morta em sofá de residência e polícia investiga crime

05/04/2015 Suspeita é de que mulher pode ter sido morta a facadas pela namorada

05/04/2015 Mulher é assassinada pelo marido a golpes de faca

10/04/2015 Identificada a ossada achada no Bairro Taveirópolis, na Capital

10/05/2015 Pai mata filha, esposa e irmã e posta porque fez isso no facebook

13/05/2015 Delegado procura por projétil que pode ter sido usado em assassinato

13/05/2015 Delegado encerra buscas e não encontra nada que comprove crime

23/05/2015 Jovem de 19 anos é morta a tiros durante reunião de amigos

30/05/2015 Mulher é morta a tiros pelo companheiro na frente do filho

Tabela 2 – Correio do Estado Impresso – 01/03 a 01/06/2015

Data Título

02/03/2015 Casal é encontrado morto em casa

31/03/2015 Polícia começa a investigar origem de ossada humana

02/04/2015 Mulher baleada pelo ex dentro do posto de saúde

05/04/2015 Em dia violento, cinco são mortos no Estado, três só na Capital.

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10/04/2015 Identifica a ossada achada no Taveirópolis

14/05/2015 Delegado pedirá prazo para fechar inquérito.

Tabela 3 – Correio do Estado Online – 01/03 a 01/06/2016

Data Título

10/03/2016 Acusado de matar ex-mulher a tiros é condenado a 17 anos de prisão

12/03/2016 Homem encontrado morto em carro foi condenado há dois dias por matar

mulher

03/04/2016 Jovem é preso suspeito de matar ex-namorada e a mãe dela em Tabapuã

07/04/2016 Marido mata mulher a garrafadas em reserva indígena

14/04/2016 Morre mulher espancada com chutes na cabeça

21/04/2016 Marido bate a cabeça da companheira no chão até matá-la

24/04/2016 Jovem de 24 anos morre depois de ser esfaqueada pelo ex na frente dos filhos

28/04/2016 Acusado de matar ex diz que mulher devia submissão a ele

01/05/2016 Mulher é encontrada morta com ferimento no pescoço e ex-marido é suspeito

03/05/2016 Acusado de espancar e matar ex-mulher é detido em propriedade rural

09/05/2016 Polícia encontra pertences da mulher morta em fossa na casa dos ex-marido

12/05/2016 Jovem de 19 anos é estrangulada e encontrada morta em esgoto no Paraguai

22/05/2016 Mulher descobre traição, separa e acaba morta com facada no peito

30/05/2016 Mulher encontrada morta com ferimento na cabeça em terreno baldio

31/05/2016 Preso homem que matou mulher com pauladas na cabeça

Tabela 4 – Correio do Estado Impresso – 01/03 a 01/06/2016

Data Título

13/03/2016 Condenado por matar mulher é encontrado morto no Vilas Boas

25/04/2016 Estado tem fim de semana violento, com nove mortes

29/04/2016 Em quatro meses, crimes contra a mulher renderam 208 prisões

23/05/2016 Jovem assassinada à facada pelo ex-marido em Bataguassu

31/05/2016 Mulher encontrada morta com ferimento na cabeça

01/06/2016 Preso o autor de assassinato de mulher indígena

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por ser parte de uma pesquisa mais abrangente, que vai integrar uma dissertação de

mestrado, e que está em fase inicial de desenvolvimento, as informações apresentadas

neste artigo ainda carecem de complemento. Entretanto, o material levantando e as

tentativas de interpretação feitas até o momento são suficientes para comprovar que há um

campo fértil para pesquisa ao aliarmos comunicação e estudos sociológicos de gênero.

Além das inúmeras possibilidades disponibilizadas por este casamento, há a importância e

urgência em abordar temáticas como o feminicídio, conhecendo a forma como o assunto é

tratado e recebido pela sociedade, sendo as notícias jornalísticas um dos termômetros

possíveis para fazer tal medição. Por meio do prévio levantamento, por exemplo, é possível

verificar a baixa adesão a palavra feminicídio nas notícias, mostrando assim, que o desafio

reside até mesmo na execução de atitudes simples.

Mais importante do que o desenvolvimento e a conclusão de todo o processo

proporcionado por esta pesquisa, é a possibilidade de contribuir com a criação de medidas

que viabilizem a melhor abordagem e compreensão de tais temas pela sociedade

contribuindo para a redução das desigualdades entre homens e mulheres. Como bem

pontuou Saffioti (2005, p. 36), o sexismo prejudica homens, mulheres e suas relações.

Apesar do saldo negativo maior para as mulheres, causas extremas de intolerância à

autonomia feminina, como os casos de feminicídio, impactam em todo o circulo social,

abrangendo até mesmo crianças.

4 REFERÊNCIAS

BALANÇO 180. Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres – SPM. Secretaria

Especial de Políticas para as Mulheres. Ministério da Justiça e Cidadania. Brasília, 2015.

Disponível em: <http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/ligue-180-central-de-

atendimento-a-mulher/balanco180-2015.pdf> . Acesso em: ago. 2017.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA – FBSP. Anuário brasileiro de

segurança pública. Edição VIII. São Paulo, 2014.

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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo:

Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

SODRÉ, Muniz. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis:

Vozes, 2009.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: por que as notícias são como são. 2 ed.

Florianópolis: Insular, 2005a.

______. Teorias do Jornalismo: a tribo jornalística – uma comunidade interpretativa

transnacional. Florianópolis: Insular, 2005b.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil.

São Paulo, Instituto Sangari, 2015. Disponível em:

<http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf>

Acesso em: ago. 2017.

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