as manchas de sangue como indício em local de crime

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Técnicas de análise de manchas de sangue

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  • AS MANCHAS DE SANGUE COMOINDCIO EM LOCAL DE CRIME

    Luiz Eduardo Carvalho Dorea

    1

  • FICHA CATALOCRFICADorea, Luiz Eduardo Carvalho, 1950 ...As Manchas de Sangue Como Indcio em Local de Crime Luiz Eduardo Carvalho Dorea; 15 fotografias;36 pginas FPE: Franco Produes Editora Salvador-Ba. 1989.1. Vice-Verso, 1986 (poesia)2. Porque Tudo Tem a Ver, 1987 (cordel)

    FICHA BIBLIOGRFICADOREA, Luiz Eduardo Carvalho As Manchas de Sangue Como Indcio em Local de Crime Salvador-Ba. FPE: Franco Produes Editora 1989, 63 pginas, 15 fotografias.Livro tcnico sobre procedimentos periciais em locais de crime.

    2

  • SumrioAPRESENTAO...............................................................................................................................5

    1 INDICIO E MANCHA.....................................................................................................................6

    1.1 CONCEITOS.......................................................................................................................6

    1.2 NATUREZA DAS MANCHAS..........................................................................................6

    1.2.1 MANCHAS BIOLGICAS:...................................................................................6 1.2.2 MANCHAS NO-BIOLGICAS:.........................................................................6

    2 SANGUE..........................................................................................................................................8

    2.1 GRUPOS SANGUNEOS...................................................................................................9

    2.1.1 PERCENTAGEM..................................................................................................10 2.1.2 GRUPOS SANGUNEOS NA INVESTIGAO TCNICO-CIENTIFICA.....10 2.1.3 GRUPOS SANGUNEOS EM OUTRAS SECREES.....................................11

    2.2 FATOR Rh.........................................................................................................................12

    2.3 COAGULAO................................................................................................................12

    3 MANCHAS DE SANGUE.............................................................................................................14

    3.1 DIAGNOSE DE PROBABILIDADE................................................................................15

    3.2 PROCESSOS DE IDENTIFICAO...............................................................................16

    3.2.1 DIAGNOSE GENRICA......................................................................................16 3.2.1.1 PROVAS DE CERTEZA...................................................................................16 3.2.1.1.1 TESTES MORFOLGICOS..........................................................................17 3.2.1.1.2 TESTES MICROCRISTALOGRFICOS......................................................17 3.2.1.1.3 TESTES ESPECTROSCPICOS...................................................................17 3.2.1.1.4 TESTES CROMATOGRFICOS..................................................................17 3.2.2 DIAGNOSE ESPECFICA...................................................................................17 3.2.3 DIAGNOSE INDIVIDUAL..................................................................................18 3.2.4 DIAGNOSE REGIONAL.....................................................................................18 3.2.5 DIAGNOSE DO SEXO GENTICO....................................................................19

    3.3 LOCALIZAO E RECONHECIMENTO......................................................................20

    3.4 PROTEO, COLETA E TRANSPORTE.......................................................................21

    3.4.1 TCNICAS MAIS COMUNS...............................................................................22 3.4.2 OUTRAS TCNICAS...........................................................................................23 3.4.2.1 MANCHAS EM ROUPAS, LENIS, COBERTORES, TAPETES.ETC......23 3.4.2.2 MANCHAS EM OBJETOS SLIDOS (FOGES, GESSO. LINLEO MADEIRA,CIMENTO, VECULOS ETC.)......................................................................................23 3.4.3 RTULOS E ETIQUETAS..................................................................................24

    3.5 DINMICA.......................................................................................................................25

    3.6 MORFOLOGIA.................................................................................................................27

    3.6.1 MANCHAS POR PROJEO.............................................................................28 3.6.1.1 GOTAS...............................................................................................................28 3.6.1.2 SALPICOS.........................................................................................................28 3.6.2 MANCHAS POR ESCORRIMENTO..................................................................29

    3

  • 3.6.3 MANCHAS POR CONTATO..............................................................................29 3.6.4 MANCHAS POR IMPREGNAO....................................................................29 3.6.5 MANCHAS POR LIMPEZA................................................................................30

    3.7 CRONOMETRIA..............................................................................................................30

    3.8 PERENIDADE...................................................................................................................32

    3.9 IDONEIDADE...................................................................................................................33

    3.10 SUPORTES......................................................................................................................33

    3.11 RECONSTITUIO.......................................................................................................33

    3.12 DIAGNOSE DIFERENCIAL..........................................................................................35

    4 CRONOMETRIA DA SOBREVIVNCIA DA VTIMA.............................................................36

    5 MANCHAS DE SANGUE EM VECULOS.................................................................................37

    6 CONCLUSO................................................................................................................................38

    7 APNDICE....................................................................................................................................40

    7.1 CASUSTICA....................................................................................................................40

    7.2 A PROVA GENTICA.....................................................................................................47

    7.3 REFERNCIA BIBLIOGRFICA...................................................................................50

    4

  • APRESENTAO

    O conhecimento tcnico-cientfico em Criminalstica, no que se refere sua aplicao, deve estar associado

    preocupao com estudos e pesquisas que visem a esclarecer e divulgar procedimentos e prticas

    aplicveis ao cotidiano, ampliando os horizontes existentes e dando maior segurana ao trabalho pericial.

    Isso porque o estudo sistematizado dos problemas que surgem a cada dia nesta rea uma necessidade que

    se impe moderna Polcia Tcnica.

    H um enorme campo de atuao nesta rea, no qual o profissional da Criminalstica pode realizar estudos

    para o aprimoramento dos mtodos e procedimentos periciais. O Perito tem ao seu dispor equipamentos e

    material para tanto. Necessrio se faz que o seu interesse seja despertado, e ele domine a metodologia

    cientifica para realizar um trabalho eficiente.

    Iniciando o seu texto com os conceitos bsicos sobre Indcios e Manchas, e encerrando-o com uma

    Casustica esclarecedora, o trabalho do Perito Luiz Eduardo Drea, do Departamento de Polcia Tcnica,

    sobre "As Manchas de Sangue com Indcio em Local de Crime", enquadra-se naquele perfil.

    E um trabalho bem estruturado, que traz contribuio inequvoca ao tema, desenvolvendo-o de forma, que o

    torna de fcil leitura e rpida consulta. No h dvida de que o autor domina o assunto e tem a rara

    capacidade de torn-lo claro e acessvel.

    JOS OSRIO REIS

    Diretor da Acadepol

    5

  • 1 INDICIO E MANCHA

    1.1 CONCEITOS

    De acordo com o seu conceito leigo, indicio "todo sinal ou fato que deixa entrever alguma coisa sem a

    descobrir completamente". Por sua vez, "mancha qualquer ndoa, mcula, sujidade" etc... Juridicamente

    falando, no entanto, o Cdigo de Processo ''Penal, em seu Captulo X, Artigo 239, define indcio como "a

    Circunstncia conhecida e provada que, tendo relao com o fato, autorize, por induo, concluir-se a

    existncia de outra ou outras circunstncias". Do mesmo modo, em seu conceito criminalstico, mancha

    "toda mudana de colorao, todo sujo, todo acrscimo de materiais estranhos, visveis ou no a olho nu,

    constatada na superfcie de um corpo, de uma pea de roupa, de um objeto etc., determinada aquela mudana

    pelo depsito de alguma substncia slida, pastosa ou, mais freqentemente, lqida, cuja natureza ou

    anlise do tempo de permanncia no suporte onde foi encontrada pode servir para estabelecer um vnculo de

    identidade com outro indcio da mesma espcie encontrado num suspeito,ou ainda determinar o emprego de

    um instrumento num ato criminoso".

    1.2 NATUREZA DAS MANCHAS

    Baseado no princpio da transferncia (nenhum corpo entra em contato com outro sem ocorrer entre eles

    uma permuta das substncias componentes de cada um), o conceito tcnico de mancha no apenas mais

    amplo, como tambm diverge do sentido comum daquela palavra no seu emprego cotidiano. Em

    Criminalstica, manchas so indcios comumente encontrados durante o exame de locais de crime. Portanto,

    considerando-se que os indcios permitem, a partir do seu exame, inferir-se "outra ou outras circunstncias",

    as manchas encontradas em locais de crime so de interesse criminalstico sob dois aspectos principais: a

    natureza da substancia que as produziu e a forma sob a qual se apresentam.

    Com referncia a natureza da substncia que a produziu, a mancha cujo estudo se torna necessrio no

    decorrer de uma pesquisa tcnico-cientfica em local de crime poder ser classificada em:

    1.2.1 MANCHAS BIOLGICAS:

    sangue, esperma, mecnio, fezes, urina, saliva, alimentos etc.

    1.2.2 MANCHAS NO-BIOLGICAS:

    graxas, tintas, ceras etc.

    6

  • Apesar de ser bastante extensa a lista de materiais biolgicos, quase impossvel de ser delimitada a

    quantidade dos no-biolgicos capazes de produzir manchas encontrveis em um local de crime. Entretanto,

    entre todas elas se destacam as produzidas pelo sangue, quando de origem humana, pelas possibilidades

    investigatrias que oferecem.

    7

  • 2 SANGUE

    O sangue tecido lqido, um tanto mais espesso que a gua, de sabor salgado e cheiro desagradvel, que

    circula no aparelho cardio-vascular e encontrado em todo organismo, exceto unhas e epiderme. A massa

    sangnea representa aproximadamente 1/3 do peso total da pessoa, significando que entre cinco e seis litros

    deste componente biolgico circulam normalmente no corpo. As caractersticas intrnsecas do sangue so

    constantes, perenes e imutveis, podendo ser observadas mesmo depois de ocorrerem transfuses. No

    organismo, a sua cor varia do vermelho vivo (arterial) ao vermelho escuro (venoso), enquanto que em

    contato com o meio exterior varia devido a circunstncias como: o suporte onde se forma a mancha, tempo

    decorrido desde o sangramento, local do corpo de onde se origina etc.

    De pH 7,54, o sangue visto ao microscpio mostra ser formado de corpos slidos (glbulos brancos,

    vermelhos e plaquetas) e por um componente lqido (plasma). Este ultimo uma substncia lqida,

    intercelular do sangue, composta de glicdios (acar, glicose, etc.., lpides-lipides (colesterol) e

    prtides-protenas (fibrognio, protrombina, albumina, glubilinas, etc.. Os demais componentes do sangue,

    denominados elementos figurados so:

    a) Glbulos vermelhos ou hemcias ou eritrcitos em forma de disco com o centro mais aprofundado,

    encontrados, em mdia, cinco milhes por milmetro cbico de sangue. Nos mamferos no possuem ncleos

    e seu principal componente a hemoglobina, que d cor vermelha ao sangue, atravs da combinao com o

    oxignio (oxihemoglobina). Este fenmeno ocorre quando as hemcias atingem o nvel dos pulmes,

    absorvendo o oxignio ali existente e sendo re- distribudas para todo o corpo, onde, ao atingir o nvel dos

    tecidos a oxihemoglobina perde parte do oxignio e recolhe gs carbnico, o qual ser expelido no retorno

    do sangue aos pulmes (hematose).

    b) Glbulos brancos ou leuccitos em tamanho maior que as hemcias e em menor nmero que elas,

    exercem importante papel na defesa do organismo em decorrncia de duas propriedades que possuem:

    1 Fagocitose quando os glbulos brancos destroem as bactrias que penetram no organismo;

    2 Diapedese quando os glbulos brancos atravessam as paredes dos vasos sangneos e penetram nos

    tecidos, onde desempenham o seu papel na defesa do organismo.

    c) Plaquetas so restos de clulas encontrados no sangue numa quantidade de 300 mil por milmetro

    cbico.

    Encontram-se ainda no sangue substncias como cidos graxos diversos, cidos ltico, oxlico e rico,

    adrenalina, aminocidos, amonaco, anidrido carbnico, bilirrubina, cobre, colesterol, creatinina, corpos

    cetnicos, euglubulina, fenis, ferro, fosfatses, fosfolpides, lecitina, cefalina, esfingomielina, glicose,

    8

  • guanidina, indicana, magnsio, uria, etc. Alm disso o sangue humano apresenta-se com caractersticas

    particulares que o diferenciam do sangue dos diversos animais.

    2.1 GRUPOS SANGUNEOS

    Existem nos glbulos vermelhos do sangue, substncias chamadas aglutingenos, enquanto que no plasma

    (soro) acham-se presentes substncias do tipo anticorpos, chamadas aglutininas. Num indivduo nunca se

    encontram, espontaneamente, determinados aglutingenos e aglutininas, mas cada qual possui alguns

    daqueles elementos, os quais efetivamente no lhes correspondem. de acordo com os aglutingenos que

    um indivduo tem em seus glbulos que ele ser classificado num determinado grupo sangneo.

    Todavia, sendo empregados diversos sistemas de aglutinao, existem tambm vrias classificaes de

    grupos sangneos que lhes so correspondentes. O mais conhecido daqueles sistemas; o denominado AB

    O. Outros sistemas so o-MN, o Pp, o Rh. Se considerarmos o sistema AB O, veremos que, em relao a ele,

    os indivduos podem ser classificados em quatro grupos. Esta classificao, na forma que se segue,

    internacional:

    1. Grupo AB os glbulos contm entre si os aglutingenos do sistema A e B e no qual, naturalmente, o

    soro contem as respectivas aglutininas alfa e beta;

    2. Grupo A os glbulos contm somente aglutingenos A e o soro somente a aglutinina no-

    correspondente beta:

    3. Grupo Bcontm unicamente o aglutingeno B ea aglutinina alfa;

    4. Grupo O (Zero) ambos os aglutingenos esto ausentes nos glbulos, mas as duas aglutininas (alfa e

    beta) so encontradas.

    A determinao dos grupos sangneos dos indivduos tem fundamental importncia para os casos de

    transfuso de sangue, sendo indispensvel que o soro de quem recebe o componente sangneo contenha

    aglutininas capazes de aglutinar seus glbulos vermelhos. Estes grupos tm grande importncia no campo de

    atuao da Criminalstica, pois servem para fazer prova da presena de determinado sangue nas mos,

    roupas, sapatos etc., de um suspeito, ou ainda inocentar um outro, injustamente acusado .de crime. Este

    conhecimento igualmente importante para a Medicina Legal, sendo impossvel basear-se nele para a

    pesquisa da paternidade. Os presentes conhecimentos sobre o assunto permitem eliminar a hiptese de culpa

    contra determinado indivduo, sem, no entanto, poder confirm-la.

    ( V. Apndice: 7.2 A prova gentica.)

    9

  • A partir dos quatro grupos referidos, nos ltimos anos tem sido possvel descobrir-se uma grande variedade

    de sub-grupos sangneos, os quais permitem estabelecer mais de 300 tipos de sangue humano. Isso d uma

    ideia do detalhamento de informaes que se pode conseguir e, ao mesmo tempo, mostra a necessidade de se

    contar com pessoal treinado e laboratrios suficientemente equipados para as pesquisas.

    Em se tratando da necessidade de determinar os grupos sangneos, bom que o Perito em locais esteja

    atento ao fato de que com uma maior quantidade de sangue coletado aumentam as possibilidades de serem

    levadas a efeito pesquisas satisfatrias.

    Em determinados casos a pesquisa de grupos e sub-grupos se torna indispensvel para que a prova seja

    conclusiva.

    2.1.1 PERCENTAGEM

    Sabendo-se que a populao total do mundo est distribuda nos quatro grupos sangneos principais A, B,

    AB e O (zero) e que se calcula quase a metade como pertencentes quele ltimo grupo, observa-se a

    importncia de que o diferenciamento seja levado a um grau de detalhamento mximo, a fim de que sejam

    evitados os erros, em particular nos casos em que este indcio decisivo para formar-se uma presuno de

    culpabilidade.

    De acordo com alguns autores, a percentagem de pessoas distribuda por cada um dos grupos a seguinte:

    GRUPO PERCENTUAL

    O (zero)................................................................ 46%

    A .......................................................................39%

    B .......................................................................11%

    AB ........................................................................ 4%

    2.1.2 GRUPOS SANGUNEOS NA INVESTIGAO TCNICO-CIENTIFICA

    Sob circunstncias normais o sangue mantm intactas as suas condies morfolgica e qumica, o que

    confere grande importncia pesquisa dos chamados grupos sangneos, enfocados no item anterior. Assim,

    10

  • a partir da constatao de que as manchas coletadas e analisadas so de sangue, resta estabelecer a sua

    procedncia humana, o que, como ser visto a seguir, de igual importncia.

    Isto se deve ao fato de que, a partir do momento em que uma pessoa suspeita de homicdio e contra ela se

    acumulam vrios outros indcios, o fato de apresentar tambm manchas de sangue recentes pode ser decisivo

    para o estabelecimento da sua culpabilidade fora de qualquer dvida. Em um caso com estas caractersticas,

    mesmo que o suspeito alegue ser aquele sangue de origem animal ou ainda resultante de um sangramento do

    seu prprio nariz, estas dvidas podem ser esclarecidas no Laboratrio da Polcia, atravs de tcnicas

    apropriadas.

    Naquele setor da Polcia, feita a prova de que o sangue humano, orientam-se as pesquisas no sentido de

    estabelecer a qual dos grupos sangneos pertence a mostra. Atravs do emprego de anlises adequadas

    pode-se estabelecer com certeza, ao menos uma prova de excluso, ou seja, o resultado obtido indica no ser

    o sangue coletado do suspeito; o que em muitos casos permite o esclarecimento de um ponto bsico da

    investigao.

    A partir da, busca-se saber se aquele sangue guarda identidade com o da vtima, com as mesmas finalidades

    antes expostas.

    Com o procedimento de se estudar os grupos sangneos bastante fcil demonstrar as circunstncias

    descritas anteriormente, pois,se o sangue encontrado no local do fato corresponde ao grupo da vtima e as

    manchas encontradas no suspeito a um outro grupo diferente, no estando este ferido, natural que

    diminuam, embora sem serem totalmente afastadas, as possibilidades dele estar envolvido no fato. Nos casos

    em que o suspeito apresente algum tipo de ferimento, as mostras de sangue pesquisadas devem guardar

    identidade com o seu grupo sangneo e quando o sangue for idntico ao da vtima isto ser um dos mais

    fortes indcios contra ele.

    O estudo das circunstncias acima reveste-se da maior relevncia no que se refere a questes criminais,

    porm, de igual importncia em questes legais, como em casos de excluso de uma paternidade alegada

    ou presumida.

    2.1.3 GRUPOS SANGUNEOS EM OUTRAS SECREES

    Na maioria das pessoas, o elemento que permite determinar o grupo sangneo a que estas pertencem est

    presente tambm em outros lqidos do corpo, tais como a urina, a saliva e o suor.

    Nos casos em que, por circunstncias especiais no seja possvel se ter disposio uma amostra do sangue

    questionado, pode-se efetuar as pesquisas com amostras das secrees referidas. Em um caso determinado se

    11

  • conseguiu a identificao do grupo sangneo recorrendo-se ao suor que impregnara as roupas da vtima.

    Existem pesquisadores que afirmam haver conseguido xito neste tipo de pesquisa a partir da saliva que se

    impregna nos filtros dos cigarros. Deve-se observar sempre a possibilidade de conseguir amostras desses

    lqidos, ainda quando estejam ressecados, particularmente se a investigao no sangue impossvel em

    decorrncia do cadver haver sido submetido a processo de conservao (embalsamamento).

    2.2 FATOR Rh

    As letras Rh foram retiradas do nome cientfico de um macaco (Rhesus) utilizado nas experincias que

    levaram descoberta desse antgeno (Fator Rh) existente nas hemcias da maioria das pessoas (Rh positivo),

    porm no em outras (Rh negativo). Observa-se assim que um indivduo tem Fator Rh positivo quando o seu

    sangue apresenta aquele aglutingeno, e Fator Rh negativo nos casos em que ele est ausente.

    No presente, a designao Rh no se restringe apenas ao fator antignico descoberto naquela espcie de

    macacos, estendendo-se a todo um grupo de antgenos critocticos com ele aparentados. Este grupo

    formado por seis antgenos fundamentais, sendo ainda o mais importante, do ponto de vista clnico, o

    encontrado no macaco Rhesus. Alguns autores indicam este fator pela letra D.

    O importante que o conhecimento sobre a existncia dos grupos sangneos permitiu que fossem evitados

    graves problemas no sangue, e muitas outras medidas preventivas foram tomadas a partir da descoberta do

    Fator Rh, identificado por Wiener e Landsteiner, em 1940.

    2.3 COAGULAO

    De uma maneira geral, coagulao o processo pelo qual diversas substncias em soluo coloidal se

    separam em forma de glomrulos ou de pelculas, que retm parte do lqido. A matria separada, quando

    forma uma massa compacta, denominada cogulo. No sangue, a coagulao uma defesa conta as

    hemorragias. Durante a ocorrncia da coagulao, os ferimentos so fechados, mais ou menos rapidamente,

    pelo cogulo que neles se forma.

    Este fenmeno se opera aps a abertura dos vasos sangneos, quando ento o sangue se torna viscoso e, em

    seguida, se solidifica. O mecanismo de coagulao sangnea ainda no est completamente descoberto, bem

    como a natureza dos fatores que o determinam. Para a maioria dos pesquisadores, a coagulao ocorre

    devido ao de uma distese, sobre uma trombina, o fibrognio. A enzima trombina seria um complexo

    formado de trombognio, cinase e sais de clcio. Para outros, a coagulao apenas um fenmeno fsico-

    12

  • qumico.

    O fato que o tempo normal de coagulao do sangue est estabelecido entre cinco e nove minutos, podendo

    o cogulo ser estudado diretamente ou em mistura de soluo clcica. Do cogulo, massa slida, sai um

    lqido amarelado, o soro, que se separa dos grumos do sangue aps a coagulao deste, constituindo-se na

    parte lqida, no-celular daquele componente biolgico.

    Diversas substncias impedem a coagulao do sangue: o oxalato neutro de sdio, na dosagem de duas

    gramas por cento de sangue; o fluoreto de sdio na mesma dosagem tem a propriedade de arrastar o acar;

    a u ridina, extrada da cabea da sanguessuga; e a heparina, extrada do fgado, tambm so anticoagulantes.

    13

  • 3 MANCHAS DE SANGUE

    Ao se pesquisar manchas de sangue em um local de crime, deve-se, em primeiro lugar, tentar, atravs de um

    exame visual, determinar quais correspondem vtima e, se for o caso, quais podem ser do autor, ou

    originadas a partir da movimentao deste na rea do evento.

    Por exemplo: Encontrado um cadver em meio a uma grande poa de sangue, infere-se que o morto tombara

    naquele local para no mais levantar, pois o acmulo de sangue assim o indica.

    Entretanto, observa-se que outras manchas de sangue formam uma trilha que se afasta do local onde est o

    corpo, indicando que o criminoso, possivelmente, est ferido ou leva consigo sangue da vtima.

    Deve-se , a partir desta constatao, ter o cuidado de no recolher amostras daquelas manchas em um nico

    recipiente, o que iria atrapalhar o desenvolvimento da investigao tcnico-cientfica, eliminando a

    possibilidade de descoberta de um segundo tipo de sangue na rea do evento.

    O perito de local no pode deixar de considerar: forma, posicionamento e cor das manchas, detalhes que

    podem levar a importantes concluses sobre a dinmica do fato, rea onde efetivamente ocorreu ou teve

    incio e hora aproximada do evento. Ainda atravs do exame detido da configurao com que estas se

    apresentam sobre determinado suporte, possvel inferir dados a respeito dos movimentos da vtima e do

    criminoso.

    Observe-se que, nos locais de crime, no basta apenas estudar, fotografar, descrever e coletar parte da poa

    de sangue em que se encontre o cadver da vtima. Ao contrrio, as pequenas manchas que podem passar

    desapercebidas so muitas vezes as mais importantes para a investigao.

    Este exame da configurao das manchas de sangue e seu posterior estudo no Laboratrio se revestem de

    especial importncia naqueles casos em que a autoria do crime desconhecida.

    Observando-se a possibilidade de que o autor do crime tenha resultado ferido, o exame de laboratrio poder

    identificar a procedncia das vrias manchas, identificando-as e, posteriormente, servindo estas de prova

    contra um suspeito. No deve ser esquecido, tambm, que mais importante ainda o fato de o autor levar

    consigo, em suas roupas, sob as unhas, nas solas dos sapatos, na arma utilizada, em objetos ou dinheiro em

    seu poder, o sangue de sua vtima.

    Mesmo nas reas onde ocorreram crimes contra a pessoa, sendo a vtima socorrida ou seu cadver retirado

    antes da chegada do Perito, as manchas de sangue encontradas naqueles locais servem para estabelecer que

    ali se registrou um acontecimento violento, algumas vezes chegando-se mesmo a determinar a sua natureza e

    a maneira pela qual se desenrolou a sua dinmica.

    14

  • 3.1 DIAGNOSE DE PROBABILIDADE

    Para saber se o material da mancha suspeita sangue, existem tcnicas preliminares que podem ser aplicadas

    pelo Perito, ainda na rea onde ocorreu o fato. Porm, o emprego destes testes em locais de crime no

    recomendado principalmente porque:

    a) No so conclusivos, uma vez que com os testes empregados (benzidina, fenoiftalefna, etc.) acontece,

    s vezes, registrar-se um resultado positivo no apenas com o sangue, mas tambm com outras substncias.

    Tomando-se como exemplo a Fenolftalena, substncia slida empregada como indicador cido-base, esta

    fica incolor nas solues de pH inferior a 8,3 e vermelha nas solues de pH superior a 9,0. Logo, estando o

    pH do sangue na faixa dos 7,54, a reao obtida ser incolor, idntica a de outras substncias, o que torna os

    testes com este tipo de substancias inespecficos e contra-indicados.

    Por sua vez, o teste com a benzidina feito com papel filtro molhado em gua e pressionado sobre a mancha

    suspeita. Aps isto pinga-se algumas gotas daquele reativ sobre a parte do papel que esteve em contato com

    a mancha e caso esta seja de sangue, ocorrer uma reao que ir formar no papel uma mancha azul-

    esverdeada. No entanto, preciso estar atento ao fato de que o suco de frutas frescas e o leite produzem o

    mesmo tipo de reao.

    Este detalhe invalida tambm a prtica desse tipo de teste, que s dever ser realizado no prprio local do

    crime em condies excepcionais. Entre estas, destacam-se aquelas em que existir uma grande distncia

    entre a rea do exame e o Laboratrio da Polcia, num caso em que seja urgente a necessidade de confirmar

    se a mancha suspeita mesmo sangue.

    b) Por outro lado, pode-se com este tipo de procedimento adotado ainda no local do crime, estragar a

    amostra de sangue disponvel e ao se chegar no estgio das provas laboratoriais conclusivas no haver

    material disponvel em quantidade suficiente.

    Desse modo, ainda que alguns Peritos tenham recebido treinamento para realizar estes testes preliminares,

    de se considerar estas prticas como desnecessrias, evitando-as inclusive porque em certas oportunidades

    podem desorientar perigosamente uma investigao.

    Como foi visto, desse procedimento nos locais de crime s se pode esperar saber se a mancha ou no de

    sangue, assim mesmo sem uma. certeza absoluta, enquanto que, se o mesmo material for remetido ao

    Laboratrio da Polcia, os resultados sero teis para fundamentar as investigaes e, posteriormente, as

    decises da justia.

    15

  • Por sua vez, o Laboratrio da Polcia tem ao seu dispor vrias tcnicas para identificar a presena de sangue

    do material suspeito. Observe-se que as pesquisas devem ser realizadas em laboratrios bem equipados e por

    Peritos com experincia neste tipo de tarefa. S assim aquelas provas de certeza tero a necessria

    contabilidade.

    Portanto, os Peritos em locais de crime e os de Laboratrio devem estar conscientes, .da importncia desses

    indcios e de que, muitas Vezes, indispensvel saber-se logo e fora de dvidas se a mancha que o suspeito

    apresenta em suas mos, roupas ou objetos em seu poder ou no de sangue, e mais ainda se este do

    mesmo grupo da vtima.

    Em muitos casos, no conhecimento desses detalhes reside a diferena entre chegar-se ao criminoso ou

    inscrever o delito na extensa lista dos crimes insolveis.

    3.2 PROCESSOS DE IDENTIFICAO

    No Laboratrio da Polcia, aps o recebimento do material sob suspeita, podem ser realizados testes capazes

    de identificar todas ou isoladamente cada uma das cinco caractersticas do sangue expostas a seguir:

    3.2.1 DIAGNOSE GENRICA

    Busca o conhecimento do sangue, encontrado isoladamente como tal. Conhecem-se vrios testes visando a

    caracterizar o sangue por meio de suas propriedades. No campo da Criminalstica e, portanto, do Laboratrio

    da Polcia, trabalha-se com as chamadas provas de certeza. Estas, sendo positivo o resultado dos testes

    efetuados, asseguram a presena de substncia hemtica no matrial suspeito.

    3.2.1.1 PROVAS DE CERTEZA

    As provas de certeza na Diagnose Genrica do sangue baseiam-se em testes de naturezas morfolgicas,

    microcristalogrfica, espectroscpica e cromatogrfica. No entanto, constituindo-se a identificao do

    sangue e seus exames complementares tarefa especfica de Peritos do Laboratrio, fica o Perito em locais de

    crime com o seu trabalho tecnicamente circunscrito ao estudo das manchas de sangue quanto a seus aspectos

    formais. O exposto a seguir , portanto, apenas para o conhecimento destes ltimos sobre os testes possveis

    de serem executados e, conseqentemente, solicitados ao Laboratrio da Polcia nos casos em que seja

    necessria uma Diagnose Genrica do sangue:

    16

  • 3.2.1.1.1 TESTES MORFOLGICOS

    A constatao da presena de hemcias em material retirado de uma mancha ou crosta tem valor absoluto

    como prova da existncia de sangue no material suspeito. No entretanto, nem sempre este tipo de teste

    possvel, pois medida em que passa o tempo as hemcias se desintegram e acabam por desaparecer.

    3.2.1.1.2 TESTES MICROCRISTALOGRFICOS

    Em se tratando de mancha de sangue, o teste do material suspeito atravs de determinados reativos qumicos

    d origem a cristais caractersticos daquele componente biolgico. Estes testes devem ser aplicados

    especialmente nos casos em que as manchas suspeitas impregnam tecidos ou outros materiais semelhantes.

    Entre estes cristais destacam-se o de hemina ou cloreto de hematina, identificados como cristais de

    Teichmann, nome daquele que foi o seu descobridor.

    3.2.1.1.3 TESTES ESPECTROSCPICOS

    Aplicam-se de modo particular nos casos em que o sangue se encontra diludo em outra substncia lqida,

    como a gua, podendo ser utilizados tambm com macerados de manchas ou solues de material coletado

    em uma crosta da qual se suspeita ser de sangue. Baseiam-se no fato de que a hemoglobina e alguns dos seus

    derivados (oxihemoglobina, hematina, perfirina, metahemoglobina etc).) apresentam, durante este tipo de

    testes, um espectro de absoro da luz solar bastante caracterstico.

    3.2.1.1.4 TESTES CROMATOGRFICOS

    Com a finalidade de identificar-se resduos mnimos de sangue, mesmo no caso de partculas aparentemente

    nfimas (do tamanho da "cabea" de um alfinete, por exemplo) emprega-se a cromatografia. Frache indica a

    cromatografia em coluna de xido de alumnio. Por sua vez, Fiori realizou cromatografia sobre papel e

    conseguiu uma prova de certeza pela determinao de valores caractersticos de hemoglobina e hematina.

    3.2.2 DIAGNOSE ESPECFICA

    Atravs de testes de Diagnose Especfica do sangue possvel determinar-se a espcie de animal da qual

    17

  • provm o material submetido a exame. Com referncia aos testes realizados no Laboratrio da Polcia, quase

    sempre busca-se determinar a origem humana do sangue que forma a mancha. Este tipo de pesquisa feita,

    basicamente, por meio de observao das caractersticas morfolgicas, atravs de testes que se baseiam na

    forma dos elementos figurados do sangue. Alm disso, podem ser usadas provas biolgicas ou imunitrias,

    sendo estas ltimas as mais rotineiramente empregadas.

    O mtodo comumente utilizado o de Uhfenhut, consistindo na precipitao das protenas existentes no

    sangue de determinada espcie de animal, sob o impulso de soros dotados de anticorpos contra este

    componente biolgico naquela mesma espcie animal.

    Para que se evidencie que a mancha suspeita de origem humana, necessrio se faz que ocorra a

    precipitao das protenas existentes no material sob o efeito do soro anti-humano. Esta mesma certeza pode

    ser conseguida atravs de cocto-antgeno tambm de origem humana, em animais de laboratrio, como, por

    exemplo, coelhos.

    3.2.3 DIAGNOSE INDIVIDUAL

    Testes especficos realizados em manchas de sangue possibilitam a Diagnose Individual, isto , determinar

    se aquele sangue pertence a um certo indivduo. Isto feito com base na possibilidade de reconhecimento

    dos antgenos sangneos que cada pessoa portadora, inscrevendo-a em um dos chamados "grupos

    sangneos". Portanto, estes testes fornecem, como resultado final, caractersticas absolutamente individuais

    e individualizadoras da mancha de sangue.

    Assim, a presena daquelas caractersticas no sangue retirado diretamente de um indivduo ou ainda

    impregnado e diludo nas mais diversas substncias, sob a forma de manchas, incrustaes, suspenses etc.,

    possibilitar, na quase totalidade dos casos, a identificao positiva sobre quem a pessoa de onde o sangue

    proveio. Isto pode ocorrer tambm de maneira inversa, ou seja, submetendo-se a testes um grupo reduzido de

    suspeitos, chega-se, por aqueles mesmos processos, a excluir-se todos eles, menos um.

    3.2.4 DIAGNOSE REGIONAL

    A Diagnose da parte do corpo de onde se origina o sangue pode ser feita pela identificao de elementos

    caracterizadores de tecidos ou rgos. Desse modo, no sangue menstrual encontram-se clulas deciduais e

    clulas da mucosa vaginal. No sangue da cavidade bucal pode ser demonstrada a existncia de saliva

    (regente de Ressner) ou clulas da mucosa que reveste a boca.

    18

  • No sangue originrio das vias respiratrias podem ser verificados elementos epiteliais comuns quelas vias

    (epistaxis, hemoptise,etc.), o mesmo acontecendo ainda com o sangue que se origina do tubo digestivo, onde

    podem ser encontradas hemateneses, melenas, etc.

    A pesquisa de laboratrio destinada determinar de qual parte do corpo origina-se o sangue da mancha

    examinada pode revestir-se da mxima importncia em certos casos. Como exemplo: um suspeito alega em

    defesa prpria que as manchas de sangue em suas roupas formaram-se a partir de um sangramento nasal.

    Com a anlise microscpica daqueles indcios, pode-se constatar a presena de muco ou plos nasais,

    indicando que, efetivamente, o informe verdadeiro.

    Tambm, a partir do exame minucioso da mancha de sangue pode-se estabelecer se foi produzida por

    menstruao, ao constatar-se a presena de escamas epiteliais, ou ainda se de estupro, por conter resduos

    de esperma e plos pubianos. Ainda que estas anlises nada revelem, no se eliminam totalmente as

    suspeitas, mas, nos casos em que estes indcios apaream certo que o sangue da mancha procede daquela

    regio do corpo cujos resduos foram nela observados.

    Assim, ao examinar-se manchas de sangue em locais de crime deve-se observar que estas podem tambm

    fornecer indicaes a respeito da prpria natureza do evento, a partir do conhecimento sobre a parte do corpo

    de onde se originam, tais como:

    Estupros resduos de esperma, plos pubianos;

    Epistaxe muco, plos nasais;

    Estomacal resduos alimentares, etc.;

    Hemoptise partculas dos-pulmoes, etc.;

    Menstrual clulas vaginais/ bactrias diversas;

    Leso lacerante partculas de epiderme, plos da regio lesada, etc.

    3.2.5 DIAGNOSE DO SEXO GENTICO

    Em se tratando de manchas recentes de sangue, a presena de cromatina sexual nos ncleos dos leuccitos

    proporciona o diagnstico do sexo gentico feminino, vez que cinco por cento dos leuccitos da mulher

    exibem cromatina sexual. A coleta das manchas e incrustaes com esta finalidade deve ser feita em soro

    fisiolgico.

    19

  • 3.3 LOCALIZAO E RECONHECIMENTO

    Conforme foi referido anteriormente, nos locais de crime no bastante o estudo das grandes poas de

    sangue. Ao contrrio, as pequenas manchas que podem passar desapercebidas so, muitas vezes, as de maior

    interesse para a investigao. Como exemplo, pode-se citar os salpicos de sangue projetados por um

    instrumento ensangentado nas paredes ou mveis de um cmodo, onde, no obstante, no foi encontrado

    um cadver. Aquelas manchas, entretanto, ali estariam a indicar a existncia de uma agresso, levando o

    Perito a proceder a exames mais detalhados.

    Encontrar estas pequenas manchas nem sempre trabalho fcil, uma vez que elas podem-se localizar nas

    reas menos provveis, tais como bordos e ps de mesas, interior de pias e canos de escoamento, puxadores

    de gavetas, nas unhas dos suspeitos, suas roupas e sapatos, onde, no raras vezes determinou-se a presena

    de sangue aps se lhes arrancar as solas. Pontas de cigarros e palitos de fsforo, s vezes, tambm esto

    manchados de sangue, bem como podem estes indcios serem encontrados sob as empunhaduras das armas

    brancas e placas da coronha das armas de fogo.

    necessrio que o Perito esteja atento ainda para as peas de vesturio quanto estas, apontadas como usadas

    pela vtima, suspeito ou autor, aparentem ter sido lavadas recentemente. A simples suspeita justifica a coleta

    daquelas peas e o seu envio ao Laboratrio da Polcia, onde a determinao da presena de sangue poder

    ser feito com maior apuro tcnico e possibilidade de certeza.

    A forma das manchas de sangue em peas de roupas e tambm importante, pois oferece a possibilidade de

    comprovar ou desmentir as explicaes dos suspeito sobre a presena daqueles indcios em suas vestes.

    Assim, se um suspeito alega que os salpicos de sangue em .sua roupa (manchas por projeo) se devem ao

    fato de as haver tocado com as mos sujas de sangue (manchas por contato) aps socorrer a vtima, pode-se

    presumir que ele est mentindo.

    Por outro lado, no deve o Perito esquecer que o reconhecimento das manchas de sangue num local de crime

    nem sempre tarefa simples. Em particular porque o sangue, em contato com meio externo, perde a sua

    colorao caracterstica e torna-se quase invisvel sobre fundo escuro, mesclando-se com o revestimento de

    paredes, tapetes, carpetes e outros suportes.

    Assim, ao buscar manchas de sangue nas bordas de gavetas, sobre mveis, em lavatrios, panos, paredes-

    etc., necessrio estar atento ao fato de que o sangue muda de cor medida em que passa o tempo. De

    acordo com o suporte em que esteja localizado e por alteraes outras que ocorrem em sua prpria natureza,

    ao se misturar com substncias diversas, o sangue assume tonalidades que vo desde a vermelha brilhante

    20

  • at chegar quase a preta.

    Um outro aspecto a ser observado pelo Perito a possibilidade existncia, em locais de crime,de manchas

    que se confundam com as de sangue. Entre estas, as mais freqentes achadas so as de tintas, ferrugem, suco

    de frutas, vinho, excremento de insetos graxa, salpicos de lama etc.

    Por isso fica constatada a necessidade do .comparecimento ao local da ocorrncia de uma pessoa com

    capacidade tcnica para proceder ao reconhecimento de quais manchas so, efetivamente, as de sangue, o

    que no elimina a obrigatoriedade de que as provas de certeza sejam obtidas no laboratrio. Para ali sero

    remetidas as coletas efetuadas, ainda nos prprios suportes onde foram localizadas, em raspagens e

    gazes/algodes embebidos em soro fisiolgico usados para lavagem das manchas, ou por qualquer outro

    processo de recolhimento daqueles indcios.

    Observe-se que, alm da busca de manchas de sangue na rea do delito, quando localizado um suspeito

    torna-se necessrio examin-lo, bem como as suas roupas e tudo que leva consigo, uma vez que aqueles

    indcios podem estar nas bordas dos bolsos ou punhos, na fralda da camisa, debaixo das unhas, nos cabelos,

    no dinheiro, relgios, isqueiro e outros objetos de uso comum que estejam em seu poder, os quais,

    eventualmente, podem ter pertencido vtima. Deve-se ter sempre em mente que, apesar dos diversos

    suportes examinados j haverem sido lavados e aparentemente apresentem-se limpos, mediante pesquisa

    minuciosa pode-se vir a descobrir minsculas partculas de sangue que se conservaram em pontos

    escondidos. Alm disso, testes de laboratrio podem revelar a presena de sangue em suportes sem

    quaisquer manchas aparentes.

    Pode ocorrer tambm a circunstncia de o sangue, quando ainda em estado lqido, infiltrar-se nos lugares

    onde houver qualquer fenda, tais como as frestas do assoalho, sob rodaps, entre placas da coronha de um

    revlver, entre a lmina e o cabo de uma arma branca etc., devendo por isso a sua busca ser feita com o

    mximo de cuidado.

    3.4 PROTEO, COLETA E TRANSPORTE

    Um outro aspecto tambm a ser observado com referncia manchas de sangue em locais de crime, refere-se

    escolha melhor mtodo para, protegendo-se daqueles indcios, colet-los e, posteriormente, transport-los

    ao laboratrio da polcia sem que venham a perder a importncia como princpio de prova material.

    21

  • 3.4.1 TCNICAS MAIS COMUNS

    Para atender quelas finalidades pode ser empregada qualquer uma das quatro tcnicas expostas a seguir,

    cuja prtica bastante comum em coletas efetuadas no exame de locais de crime;

    a) Remover o suporte por inteiro com as respectivas manchas;

    b) Recolher parte do sangue ainda no ressecado em um frasco ou proveta esterilizados;

    c) Raspar a mancha de sangue j seca e fazer a coleta dos resduos em invlucro apropriado (saco plstico,

    proveta, frasco de vidro, etc.,);

    d} Remover a mancha seca usando gaze ou algodo esterilizados, embebidos em soro fisiolgico, em

    particular quando esta se apresentar nos corpos da vtima, suspeito ou autor.

    A partir do conhecimento das tcnicas referidas, fica-se sabendo que, se durante o exame de um local de

    crime foi encontrado um objeto apresentando manchas por seu aspecto suspeitas de ser sangue, este objeto

    com os indcios nele existentes deve ser remetido ao laboratrio. Note-se que no procedimento

    tecnicamente mais recomendado a raspagem ou lavagem daquelas manchas e, nos casos em que seja

    impossvel a medida acima descrita, deve-se saber que os resultados finais das pesquisas podem no se

    revelar inteiramente satisfatria.

    Nas ocorrncias em que as manchas de sangue impregnam o cho ou suportes de madeiras impossveis de

    serem remetidos por inteiro ao laboratrio, deve-se utilizar na coleta um instrumento (esptula, formo, etc.)

    que permitia a retirada de partes do suporte onde aqueles indcios se encontram. Observe-se que com a

    raspagem da mancha, a ela se misturam outras substncias como poeira, cera, tinta, etc., as quais podem vir a

    prejudicar os exames posteriores.

    Se a mancha suspeita de ser sangue for localizada em uma pea de vesturio, no se deve cortar a parte do

    tecido em que se encontra, enviando-se aquele suporte inteiro ao laboratrio.

    Este mesmo procedimento deve ser adotado como a melhor tcnica no exame de manchas suspeitas de serem

    sangue encontradas em tapetes, almofadas, cortinas e outros artigos de fibras txteis removveis sem maiores

    problemas.

    A coleta de manchas de sangue sobre a terra exige cuidados especiais. A fim de proteg-las, o perito deve

    observar para que formigas e outros insetos no sejam recolhidos juntos, da mesma forma que outras

    espcies de resduos, os quais prejudicariam os posteriores exames laboratoriais.

    22

  • 3.4.2 OUTRAS TCNICAS

    Ainda com referncia proteo, coleta e transporte de manchas de sangue dos locais de crime para o

    laboratrio de polcia, existem tcnicas mais sofisticadas, enunciadas a seguir. No entanto, em seu uso

    cotidiano, os procedimentos referidos no item anterior satisfazem por inteiro os requisitos exigidos pelas

    tcnicas laboratoriais correspondentes.

    3.4.2.1 MANCHAS EM ROUPAS, LENIS, COBERTORES, TAPETES.ETC.

    A) Sangue ainda lqido

    A.1) Pequena quantidade recortar metade da rea manchada, colocar numa proveta, cobrir com soro

    fisiolgico, tampar. Deixar secar a outra metade em temperatura ambiente, remover o suporte para o

    laboratrio aps ser protegido por papel branco e limpo, evitando-se a contaminao da mancha;

    A.2) Grande quantidade recolher certa quantidade de sangue numa proveta ou frasco, usando uma

    esptula, colher ou conta-gotas, adicionar 1/5 do volume de soro fisiolgico, tampar.

    B Sangue seco

    B.1) Pequena quantidade remover todo o suporte para o laboratrio, entremeando as dobras com papel

    branco para proteger a mancha;

    B.2) Grande quantidade recortar um pedao de cinco centmetros quadrados da borda do suporte,

    colocar numa proveta, cobrir com soro fisiolgico, tampar. Remover o restante do suporte para laboratrio,

    entremeando as dobras com papel branco.

    3.4.2.2 MANCHAS EM OBJETOS SLIDOS (FOGES, GESSO. LINLEOMADEIRA, CIMENTO, VECULOS ETC.)

    A) Sangue ainda lqido

    A.1) Pequena quantidade remover o mximo possvel de sangue com uma esptula, colher ou conta-

    gotas, colocar numa proveta ou frasco de vidro, adicionar 1/5 do volume de soro fisiolgico, tampar. Deixar

    secar o resto da mancha e, se possvel, remover o objeto para o laboratrio.

    A.2) Grande quantidade seguir o mesmo procedimento exposto acima.

    23

  • B) Sangue seco

    B.1) Pequena quantidade remover a crosta, coloc-la numa caixa ou saco plstico. Caso seja

    necessrio, pode-se utilizar soro fisiolgico para liquidificar a mancha antes da coleta e transporte.

    B.2) Grande quantidade Remover a crosta puma quantidade suficiente, colocando-a em uma caixa ou

    saco plstico. Isso feito, coletar outras amostras da mancha, dividida em duas partes, transportando a

    primeira tambm em uma proveta, saco plstico ou frasco de vidro e acrescentar soro fisiolgico segunda.

    3.4.3 RTULOS E ETIQUETAS

    Destacando-se pelas possibilidades que encerra no campo da pesquisa tcnico-cientfica e seu uso posterior

    como subsdio para a investigao policial, as manchas de sangue, por isso mesmo, devem obedecer, nos

    estgios de coleta e transporte, as mesmas regras bsicas aplicveis a outras indcios pesquisveis nos locais

    de crime.

    Os invlucros onde so recolhidos aqueles indcios devem ser rotulados ou etiquetados com vistas a uma

    identificao segura no decorrer de todos os exames posteriores a que sero submetidas as amostras. Este

    procedimento deve ser adotado ainda nos locais da coleta ou o mais rpido possvel. Para preservar a

    idoneidade daqueles indcios, os invlucros devem ser lacrados de forma que no possam ser abertos ou

    violados sem que isto seja percebido.

    Aqueles rtulos ou etiquetas devem especificar, entre outras coisas:

    a) Local, data e hora da coleta;

    b) Suporte onde estava a mancha;

    c) Nome do perito de local;

    d) Nomes da vtima, autor ou suspeito;

    e) Breve histrico do fato ou indicao da sua natureza;

    f) Circunscrio onde ocorreu o fato;

    g) Tipos dos exames solicitados e quesitos complementares;

    O original da requisio correspondente quele invlucro, contendo os dados costumeiros de ordem

    administrativa (nmero da ordem de servio, data, nome do solicitante, etc) deve ser remetido ao

    24

  • Laboratrio ao mesmo tempo que o material ao qual se refere, ficando a sua cpia arquivada no setor que a

    expediu.

    Nos casos em que forem remetidos ao Laboratrio objetos que serviam como suportes manchas suspeitas,

    deve-se evitar marc-los diretamente na sua superfcie para no prejudicar os exames e pesquisas

    complementares e tambm no danificar objetos de valor. costume utilizarem-se etiquetas ou invlucros

    onde estes objetos sejam acondicionados, podendo-se colar ou amarrar as etiquetas naqueles que no

    puderem ser devidamente acondicionados, em rea onde no venham a ser prejudicados os exame

    solicitados.

    3.5 DINMICA

    freqente que, no exame do local de um crime, o aspecto das manchas de sangue fornea dados

    importantes sobre as circunstncias do fato. O nmero de manchas, seu aspecto e a posio de cada uma em

    relao s demais permitem, em muitos casos, inferir-se algumas informaes a respeito da dinmica do

    fato, muitas vezes sendo possvel estabelecer a posio da vtima ao ser ferida, do criminoso ao praticar o

    seu delito ou mesmo como este manejou d instrumento que portava.

    As formas das manchas de sangue variam de acordo com o ngulo da queda, a fora da projeo e a

    quantidade de sangue extravasado, o que muitas vezes depende do calibre dos vasos atingidos. A

    configurao das manchas de sangue em um local de crime muito variada e depende das causas que lhes

    deram origem, no podendo o Perito deixar de considerar a forma, disposio e tambm, a localizao

    daqueles indcios.

    Estas observaes podem levar a importantes concluses, desde que se saiba que o sangue ao gotejar de um

    ferimento cuja vtima permanea parada, caindo perpendicularmente sobre um plano horizontal, forma um

    crculo regular nos casos em que a altura da queda pequena at dez centmetros, aproximadamente.

    Aumentando-se esta altura comeam a aparecer nos contornos daquele crculo formas denteadas altura de

    aproximadamente 45 centmetros , as quais so ainda mais pronunciadas partir da at uma altura de 125

    cm., acabando por separar-se da gota principal, formando pequenas gotas satlites quela.

    No entanto, os conceitos anteriormente expostos s se aplicam a gotas que caem em perpendicular sobre

    uma superfcie plana, sendo esttico o ponto de onde se originam, pois se procedem de uma pessoa em

    movimento, a forma das gotas ser bastante diferente. Nestes casos, as gotas se projetam obliquamente e as

    manchas se formam sob os efeitos de um movimento duplo:

    a) movimento vertical devido ao efeito da gravidade;

    25

  • b) movimento horizontal devido ao deslocamento da pessoa ferida.

    Em decorrncia disso, quando a primeira parte da gota toca a superfcie, a parte que lhe imediatamente

    superior ainda est em movimento horizontal e desliza sobre a primeira parte j em repouso sobre o suporte,

    dando origem assim a projees alongadas. A direo do deslocamento da pessoa poder ser inferida no

    exame daquelas projees, que fazem com que as gotas se assemelhem a pontos de exclamao, cuja parte

    mais estreita indica a direo do movimento.

    Segundo este princpio, as manchas menores localizadas adiante da extremidade mais fina da gota maior

    guardar as mesmas caractersticas formais da gota principal. Tanto mais rpido o movimento de

    deslocamento, mais compridas e estreitas sero estas manchas de sangue e suas partes alongadas. Do mesmo

    modo, quanto mais obtuso for o ngulo no qual a gota atingir o suporte, mais grosso ser o "ponto de

    exclamao", e quanto mais agudo seja aquele ngulo, mais comprida e estreita ser a forma final daquele

    indcio.

    Porm o Perito deve estar atento ao fato de que este aspecto das manchas de sangue pode originar-se de

    outras circunstncias. Por exemplo: Ao cometer um homicdio, o criminoso levanta o instrumento

    ensangentado para desfechar um segundo golpe e as manchas que se formaram a partir desse movimento

    apresentaro as mesmas caractersticas descritas anteriormente ou ainda podem formar um conjunto de

    manchas agrupadas, semelhantes aquelas originadas de um esguicho causado por um sangramento arterial.

    Observa-se assim que no se pode tirar concluses apressadas do aspecto das manchas de sangue

    encontradas em um local de crime, para estabelecer-se a partir delas o sentido direcional de um dos

    envolvidos no fato, seja vtima, suspeito ou autor. Isto porque ao caminhar qualquer um deles pode ter

    movimentado as mos ensangentadas, um brao ou perna feridos, formando manchas indicativas de

    deslocamento, mas em direo oposta quela em que efetivamente tenha se dirigido.

    Alm disso, essa mesma pessoa pode ter permanecido parada em um s ponto, apenas movimentando a parte

    ferida do corpo e, nestes casos, a direo indicada pelas manchas no corresponder ao sentido direcional em

    que a pessoa tenha se movimentado posteriormente. E mais: se uma gota de sangue lanada de certa

    distncia atinge uma parede vertical, o direcionamento indicado pela mancha que se forma poder levar a

    concluses falsas. O que foi dito sobre a parte mais grossa da mancha indicar a procedncia e a parte mais

    estreita o sentido direcional do movimento s pode ser considerado, portanto, para uma distncia curta, no

    que se refere a manchas em paredes.

    Isto se explica pelo fato de que, partindo, de uma distncia maior, a gota tende a cair em direo ao solo

    (efeito da gravidade) antes de atingir a parede e ainda que originalmente a mancha fosse se formar em

    sentido horizontal, o que se ver na parede pode ser "ponto de exclamao" indicando direo oposta a do

    26

  • movimento ou ainda voltados para o cho, de vez que a mancha comeara a cair antes de se fixar sobre o

    suporte.

    Tambm a velocidade com que caminhou uma pessoa ferida pode ser constatada a partir da observao das

    manchas de sangue. Nos casos em que o ferido se afasta correndo do tocai, as gotas se distanciam umas das

    outras, de acordo com a velocidade. Caminhando de modo lento, elas se aproximam, chegando mesmo a

    formar um rastro de sangue quase ininterrupto.

    Um outro aspecto das manchas de sangue que tem grande interesse ao se examinar um local de crime

    quando ali se encontra uma pequena mancha de sangue coagulado, tendo ao seu redor numerosas gotas

    satlites de tamanhos e formas variadas. No entanto/ este conjunto apresenta uma cor escura uniforme,

    podendo-se observar tambm a presena de outras gotas muito mais claras, de tonalidade mbar. Conforme

    foi provado em testes diversos, a configurao acima tem origem em um sangramento que durou algum

    tempo. O sangue coagulou-se, mas sobre a mancha formada continuaram a cair gotas, agora de soro, cada

    vez de cor mais clara, as quais foram dar origem s gotas satlites de cor mbar.

    O interesse maior desse tipo de indcio se deve ao fato de que, baseado nele, o Perito pode afirmar que a

    vtima permaneceu imvel em um mesmo local por longo tempo. Configurao semelhante pode ser

    observada quando um objeto qualquer cai sobre o sangue j coagulado, sendo esta uma prova de que

    transcorreu, entre o sangramento e a queda do objeto, um espao de tempo suficiente para permitir a

    ocorrncia da coagulao.

    Entretanto, conveniente lembrar que nenhuma mancha de sangue, como de resto qualquer outro indcio

    levantado em um local de crime, pode ser considerado de forma definitiva. Nenhuma mancha de sangue de

    tal modo caracterstica que somente possa se ter originado de uma nica forma. O Perito necessita de grande

    experincia no particular para chegar a inferncias corretas, e aqueles indcios devem ser registrados com

    detalhes, por meio de descrio, fotografias e croquis.

    aconselhvel registrar-se a cor da mancha e o seu posicionamento com relao a determinado objeto fixo,

    que posteriormente permita um reestudo do local, em caso de, por exemplo, uma reconstituio. tambm

    aconselhvel que a fotografia da mancha seja tomada em escala, ou seja, com a colocao ao lado daquele

    indcio de um instrumento milimetrado (trena, rgua, fita mtrica, etc.).

    3.6 MORFOLOGIA

    Partindo-se das observaes acima e de experincias com sangue de animais mantido em estado lqido pela

    mistura com um anticoagulante, chegou-se seguinte classificao das manchas de sangue quanto sua

    27

  • Morfologia, isto , as formas que estes indcios podem tomar em um local de crime:

    3.6.1 MANCHAS POR PROJEO

    3.6.1.1 GOTAS

    Nestes casos o sangue se projeta sem sofrer qualquer outro impulso, obedecendo apenas fora da

    gravidade, variando a forma definitiva da mancha a depender de uma relao direta entre a altura do ponto

    de onde se precipitou o sangue e o suporte sobre o qual repousou ao final da queda. Considera-se nestes

    casos ainda a circunstncia de que a natureza daquele mesmo suporte poder dar origem a algumas variaes

    na forma final referida. Como conseqncia, as gotas de sangue originadas desta maneira apresentam-se,

    relativamente altura de onde caram, os seguintes caracteres:

    a) Forma circular, bordos regulares Pequena altura, entre cinco e dez centmetros;

    b) Forma estrelada, bordos irregulares Altura de 40 centmetros aproximadamente. Um pequeno

    aumento desta altura alm daquele limite determinar um correspondente alongamento daqueles bordos

    irregulares;

    c) Forma estrelada, bordos denteados, gotas satlites Uma gota maior, cercada de outras menores, que

    lhe so satlites, indica uma queda superior a 125 centmetros;

    d) Cutculas Se caem de uma altura considervel (dois, trs metros ou mais), as gotas de sangue se

    desfazem em gotculas que podem levar a uma falsa concluso, caso o exame do local onde se encontrem

    seja feito apressadamente, sem considerar a verdadeira origem daqueles indcios, que podem se apresentar

    minsculos, a depender da altura de onde caram.

    3.6.1.2 SALPICOS

    O sangue, nestes casos, se projeta sob o impulso de uma segunda fora e cai sob os efeitos da gravidade,

    assumindo sobre o suporte uma forma final alongada. freqente que ocorram salpicos nos casos em que a

    vtima, j ferida e ensangentada, golpeada outras vezes, seja pelo impacto dos golpes sobre as leses

    anteriores, seja pelo movimento do instrumento do crime, tambm ensangentado, que o criminoso

    movimenta outras vezes. Observado num local de crime, este tipo de mancha pode indicar:

    28

  • a) Movimento da vtima e ou criminoso aps estar(em) ferido(s);

    b) Movimentao do instrumento usado na prtica do crime aps este j estar sujo de sangue;

    c) Artria lesionada esguichando sangue sob impulso da presso existente no corpo. Este tipo de mancha

    se apresenta sob forma muito alongada, irregularmente disposta e, quase sempre, indica a proximidade do

    local onde a vtima sofreu a primeira leso.

    3.6.2 MANCHAS POR ESCORRIMENTO

    Este tipo de mancha se apresenta sob a forma de charcos, poas ou filetes produzidos por grande perda de

    sangue. Este se origina em geral do prprio ferimento ou ainda das cavidades naturais (boca, ouvidos,

    narinas etc.), estando a vtima imvel, na maioria das vezes. Ocorre, em alguns casos, a formao de grandes

    manchas por escorrimento a partir de leses cujo tamanho aparentemente no justificaria o acumulo

    daquelas quantidades de sangue. Cumpre observar, nestes casos, o posicionamento do cadver, de vez que,

    apesar das pequenas dimenses da leso, o escorrimento pode ter ocorrido por causa da fora da gravidade,

    atravs daqueles orifcios naturais citados.

    3.6.3 MANCHAS POR CONTATO

    Destas, as mais importantes so as impresses sangrentas de dedos, mos e ps calados ou descalos, sobre

    suportes diversos. Este tipo de mancha se forma tambm pela presso de uma daquelas ou outras, partes do

    corpo sobre a mancha de sangue, quando a coagulao j teve incio, mas ainda antes de ocorrer um

    completo ressecamento, gravando-se ali como que moldadas. As manchas por contato podem aparecer em

    diversos pontos de um local de crime, nas roupas da vtima ou do suspeito, e servir para determinar de modo

    preciso a dinmica dos fatos.

    3.6.4 MANCHAS POR IMPREGNAO

    Resultam, como as anteriores, de um grande sangramento e o conseqente embebimento de peas do

    vesturio, toalhas, panos, etc, existentes no local do crime.

    29

  • 3.6.5 MANCHAS POR LIMPEZA

    Originam-se da tentativa de lavar ou enxugar as mos, os calados. a arma do crime ou quaisquer outros

    objetos que tenham ficado sujos de sangue durante a prtica do delito.

    3.7 CRONOMETRIA

    Um aspecto quase sempre esquecido do exame das manchas de sangue em local de crime refere-se

    possibilidade de se determinar, do modo mais aproximado possvel, a cronometria referente quele indcio,

    isto , tentar estabelecer h quanto tempo teria ocorrido o sangramento. Para fazer esta estimativa, o perito

    observa o estgio da coagulao, o nvel da decomposio e as variaes na colorao do sangue.

    Ao assim proceder, ele dever estar capacitado para interpretar de modo correio os indicadores que se lhe

    apresentam, anotando detalhadamente os seguintes dados:

    a) Cor do Sangue Vermelha brilhante, mais escura, quase cor de caf ou ainda tonalidades

    intermedirias daquelas cores, podendo em alguns casos o sangue se apresentar quase preto;

    b) Nvel de Coagulao Apresentando-se o sangue ainda em estado lqido, ao se passar um objeto

    rombudo (lpis, pedao de madeira etc.) sobre a mancha, esta se abre em duas para em seguida voltar a

    unificar-se. Caso contrrio, a mancha permanecer dividida em duas e deixar aberto o espao percorrido

    pelo objeto, indicando que a coagulao que se inicia a partir dos primeiros minutos aps o sangramento

    acha-se adiantada.

    c) Condies de Umidade Examinar a mancha para verificar se est seca por inteiro, apresentando

    uma crosta completa, ou se ainda permanece mida, seca nas bordas e mida no centro, etc.

    Cada um destes itens permite inferncias diversas acerca das manchas de sangue encontradas em um local de

    crime. Com referncia colorao do sangue que forma a mancha, se este for de cor vermelha brilhante ele

    ser de origem arterial. Ao ocorrer a leso, este tipo de sangue esguicha, pois a artria pulsa ao levar o

    sangue do corao para todas as partes do corpo. De modo inverso, o sangue de cor vermelha escalarte de

    origem venosa. Ao ocorrer o ferimento, o sangramento se faz de maneira lenta e por escorrimento, uma vez

    que as veias no pulsam ao levar para o corao o sangue distribudo anteriormente pelas artrias.

    Deve-se saber ainda que, em casos com ferimentos extensos, a maior quantidade de sangue encontrada no

    local do crime ser de origem arterial, em decorrncia da maior presso com que este tipo de tecido lqido

    escapa daqueles vasos.

    30

  • Em manchas de certo tamanho, a coagulao principia entre trs e cinco minutos aps esta haver-se formado

    e quando se encontra em estado adiantado persistir a linha ou tracejado feito sobre a sua superfcie com um

    objeto rombudo. Ao avanar a coagulao, a cor do sangue torna-se mais escura, ficando semelhante ao caf

    quando j completamente seco. Em alguns casos, decorridos vrios dias, observa-se que a mancha assume

    um tonalidade quase preta.

    As gotas de sangue que formam manchas sobre um suporte liso o tampo de uma mesa, por exemplo

    demoram para secar o tempo de aproximadamente uma hora, em temperatura ambiente. Casos h em que a

    quantidade de sangue d origem a um charco e podem transcorrer muitas horas antes que este esteja seco por

    completo. Em exames desta natureza, convm notar que a coagulao est ainda subordinada espessura da

    camada de sangue sobre a superfcie do suporte e'a prpria natureza do material que forma aquele suporte.

    Depois de completamente seca a mancha, as estimativas cronolgicas sobre este indicio se tornam mais

    difceis em decorrncia da maneira lenta com que se desenvolvem os outros processos de transformao, os

    quais so mais usados em pesquisas de Laboratrio. Ainda assim possvel estabelecer-se a diagnose

    aproximada da data de uma hemorragia, atravs do estudo espectroscpico dos pigmentos do sangue ou

    ainda pelo teste da maior ou menor solubilidade dos resduos coletados.

    Assim, apesar dessas dificuldades aumentarem medida em que a mancha vai "envelhecendo", pode-se

    conseguir, com os procedimentos adequados, uma mdia de aproximao bastante boa. As dificuldades

    maiores se devem ao fato de ser o sangue um tecido orgnico lqido e, como tal, sujeito s leis gerais da

    putrefao. Estas, como se sabe, no so fixas e imutveis, mas sujeitas s influncias das mudanas

    ambientais, umidade, luz, ao ar, etc-, que modificam suas condies e interferem no prprio processo de

    modo direto.

    Alm disso, existem outras condies a serem observadas, as quais referem-se a qualidade e natureza dos

    suportes, que tambm influem para a conservao ou mais rpido deterioramento das manchas. Entres estes

    ltimos se enquadram o estanho, o zinco, e a seda, enquanto que a l, ao contrrio, conserva o sangue por

    mais tempo em seu estado natural.

    O fato que so excees os casos que requerem uma determinao especfica sobre a "idade" da mancha,

    enquanto que na maioria dos locais de crime os Peritos se limitam em estabelecer se a mancha antiga ou

    recente. Isto de acordo, como foi visto, com o aspecto que apresente quanto sua tonalidade, ou ainda h

    quanto tempo teria ocorrido aproximadamente o sangramento, com base no nvel de coagulao observado.

    31

  • 3.8 PERENIDADE

    Ao contrrio do que imaginam os leigos, as manchas de sangue so resistentes a lavagem, e se aquele

    componente biolgico chegou a se impregnar numa pea de vesturio, apesar de esta haver sido lavada

    vrias vezes, no Laboratrio da Polcia ainda se poder determinar a presena de sangue. Casos h em que,

    apesar da lavagem, a mancha poder ser revelada atravs de fotografia tomada com o emprego de

    equipamentos especiais.

    Assim que, o sangue secando em um cadver ou em qualquer objeto resistir ao posterior da gua e,

    em decorrncia disto, se uma pessoa morre de forma violenta e se deixa que o sangue venha a secar em seus

    cabelos, na pele ou nas roupas, ainda mesmo no caso de que o cadver venha a permanecer submerso, a

    presena daquele componente biolgico poder ser detectada aps longo perodo de tempo.

    Em testes feitos nos Estados Unidos com referncia a um caso de homicdio, impregnaram-se diversos

    pedaos de madeira de pinho com manchas de sangue do tamanho de uma moeda pequena e estes foram

    deixados expostos ao meio ambiente dentro de um cmodo, sendo submersos em seguida na gua do mar

    durante 72 horas. Nos pedaos em que o sangue foi deixado secar por um intervalo de tempo de 20 minutos

    antes de serem submergidos, a presena de sangue era constatada de maneira bastante fraca ou nem chegava

    a ocorrer.

    Os resultados dos testes eram positivos com intensidade relativamente maior medida em que o sangue

    havia impregnado a madeira durante um tempo mais demorado. Nos pedaos em que o tempo transcorrido

    antes da submerso fora superior a duas horas, a aparncia das manchas era quase a mesma antes e aps a

    madeira permanecer na gua do mar.

    No entanto, a aderncia do sangue no assim to efetiva quando se trata de objetos metlicos que se

    mancham no momento em que esto-se deslocando em alta velocidade. Isto acontece com os projteis que

    transfixam o corpo da vtima, nos quais pode ser muito difcil ou mesmo impossvel de se descobrir a

    presena de sangue. Tambm as navalhas ou facas muito afiadas com as quais se produziram leses

    profundas no corpo da vtima podem mostrar escassa ou nenhuma presena de sangue em suas lminas,

    podendo, no entanto, ser constatado aquele indcio sob as empunhaduras.

    Em um caso registrado no Canad, a hlice de um avio que voava muito baixo seccionou o corpo de um

    pescador e, ao ser examinada, no dia seguinte, no foi possvel descobrir-se" nela qualquer mancha de

    sangue.

    32

  • 3.9 IDONEIDADE

    No casos em que, ao chegar em um local de crime, o Perito informado sobre a vtima haver sido socorrida

    e levada a uma clnica ou hospital, ou quando o exame daquele mesmo local se processa aps a retirada do

    cadver, torna-se necessrio cuidado ainda maior no exame das manchas de sangue Em muitas

    oportunidades, estes sero os nicos indcios sobre os quais se poder basear a Polcia para estabelecer que

    ali, efetivamente, ocorreu um crime.

    Nestas ocasies, antes de dar incio a um exame efetivo do local, o Perito dever procurar se informar sobre

    o trajeto seguido quando do socorro vtima ou retirada do corpo. Com este cuidado evitar que as manchas

    de sangue originadas no decorrer daqueles procedimentos venham a se constituir em indcios capazes de

    fornecer uma ideia distorcida sobre a dinmica do caso examinado.

    3.10 SUPORTES

    Um suporte sobre o qual se localizam manchas de sangue um detalhe importante a ser observado nos

    estudos desses indcios. Isto se deve ao fato de que algumas superfcies podem alterar a forma original da

    mancha. Assim, se o suporte de metal, ladrilho, madeira polida, vidro, porcelana, etc., a mancha de sangue

    conservar as suas formas, mas estas podem apresentar irregularidades em decorrncia da pouca aderncia

    daquelas superfcies.

    Por sua vez, se o material sobre o qual se formou a mancha poroso, como tecidos, papis, cermica,

    madeira nua, etc., a forma original se altera devido tendncia desses suportes para absorver parte do

    sangue. O algodo, por exemplo, d origem a uma grande difuso do sangue, formando-se sobre suportes em

    cuja composio ele encontrado (panos, lenis, vestidos, etc.) manchas bastante grandes.

    Observe-se ainda que sob os efeitos de substncias existentes nos suportes, podem as manchas de sangue

    sofrer alteraes tambm quanto sua constituio, alm de assumirem formas assimtricas nos casos em

    que a superfcie dos suportes seja irregular. Aquele primeiro detalhe dever orientar um cuidado redobrado

    nos exames de Laboratrio, servindo os demais como advertncia para o Perito em local.

    3.11 RECONSTITUIO

    H casos nos quais o exato conhecimento sobre as manchas de sangue vem a se constituir circunstncias

    decisiva para o andamento das investigaes policiais.

    33

  • Por isso, mesmo que a mancha localizada em um local de crime, primeira vista no parea ser de sangue,

    deve o Perito proceder como se ela o fosse, no excluindo de logo as possibilidades que encerra para exames

    de observao e provas de certeza. tambm responsabilidade do Perito lembrar-se que estes indcios no

    devem ser examinados superficialmente, uma vez que isso poder dar origem a uma informao truncada,

    quer seja a nvel de local, quer seja no laboratrio, causando srios prejuzos investigao policial, levando

    mesmo absolvio do culpado na esfera judiciria.

    Portanto, quando no local de um crime encontram-se manchas que parecem ser de sangue, deve o Perito

    responder a trs quesitos bsicos:

    a) Trata-se de mancha de sangue ou de outra substncia?

    b) Em caso positivo, trata-se de sangue humano ou animal?

    c) Em caso de sangue humano, a qual grupo pertence?

    Desse modo, agindo a partir de um raciocnio lgico, o Perito, em caso de dvida quanto natureza do

    material que deu origem mancha, baseia o seu exame de local na premissa de que o indcio examinado

    sangue humano, at obter prova laboratorial contrria. A partir da, ainda no local do fato, estuda aquele

    indcio quanto aos seus aspectos formais, etiolgicos, morfolgicos, posicionamento em relao ao cadver,

    etc.

    Posteriormente, recolhe atravs de mtodo apropriado e transporta-o para o Laboratrio da Polcia, onde

    devem ser realizadas as pesquisas referentes determinao de ser aquela mancha, na verdade, sangue. Mais

    que isso, ser aquele sangue de origem humana, regio do corpo de onde provm, grupo sangneo a que

    pertence, fator RH, e todos os outros dados possveis de serem conhecidos a partir das tcnicas existentes.

    Nos ltimos anos, o valor do sangue como prova tem crescido bastante, a ponto de estar-se constituindo em

    uma especialidade dentro da Medicina Legal, sob o nome de Hematologia Mdico-Legal. O seu campo de

    ao bastante amplo e complexo, exigindo, como foi referido, cuidados e conhecimentos especiais por

    parte dos Peritos.

    O Perito procede a uma reconstituio do aspecto daqueles indcios, utilizando-se de sangue animal. Este

    ser, para tanto, mantido em estado, lqido, misturando-se a ele substncia anticoagulante, como a heparina,

    encontrada no Laboratrio da Polcia.

    34

  • 3.12 DIAGNOSE DIFERENCIAL

    ainda a partir da observao das manchas de sangue em um local de crime que o Perito poder chegar a

    estabelecer uma diagnose diferencial entre homicdio, suicdio ou acidente, com base em elementos

    fornecidos por aqueles indcios. Como exemplo pode-se citar a constatao de manchas de sangue na

    empunhadura de uma faca (mancha por contato), em caso de alegado suicdio, quando o exame das mos da

    vtima mostram que estas esto totalmente limpas. Evidentemente, estando o cabo da faca sujo de sangue e

    com sinais de haver sido manuseado, tambm as mos da vtima deveriam apresentar as manchas

    correspondentes.

    35

  • 4 CRONOMETRIA DA SOBREVIVNCIA DA VTIMA

    A quantidade de sangue encontrada em um local de crime e nas proximidades de um cadver pode servir

    como base para que se estabelea um clculo estimativo sobre o intervalo de tempo transcorrido entre a hora

    em que ocorreu a leso e o evento morte. Sabe-se que, com a morte, a presso sangnea desce a zero e,

    conseqentemente, interrompe-se a hemorragia. No entanto, deve-se considerar como exceo os casos em

    que, existindo uma leso de considervel tamanho, o corpo fique posicionado de forma que, sob os efeitos da

    gravidade, venha a ter continuidade o sangramento.

    As manchas de sangue so, de modo geral, de cor vermelha escura e a quantidade extravasada depende

    muito do tamanho das leses e do calibre dos vasos atingidos. Nos casos em que a quantidade de sangue

    grande e as leses pequenas, de se presumi r que a vtima sobreviveu ainda por considervel espao de

    tempo e que a causa da morte foi devido a perda de sangue. Observe-se que entre os vrios mecanismos de

    defesa do corpo humano destaca-se uma baixa da presso arterial aps o ferimento, o que contribui para que

    perda de sangue seja mais lenta e conseqentemente em menor quantidade. Nos casos de morte quase

    imediata, em decorrncia de ferimento no corao, comum que a hemorragia externa seja muito pequena,

    uma vez que cessa de imediato o impulsionamento do sangue atravs das artrias.

    36

  • 5 MANCHAS DE SANGUE EM VECULOS

    Tratando-se de pesquisa nas partes internas de veculos, observe-se os procedimentos aqui descritos. No

    entanto, ao se efetuar pesquisa de manchas de sangue em veculo sob suspeita de estar envolvido em caso de

    atropelamento, deve-se examinar externamente no apenas as partes dianteira e laterais, mas, ainda, a

    inferior. Deste procedimento poder resultar a prova de que o veculo sob exame passou sobre o corpo da

    vtima.

    H casos de atropelamento em que se encontram manchas de sangue na parte inferior dos eixos ou da chapa

    de proteo do chassi, locais onde estes indcios poderiam passar desapercebidos ao se efetuar uma pesquisa

    rotineira. Nos casos em que em um veculo se encontrem manchas suspeitas de serem sangue ele deve ser

    levado at o estacionamento da Polcia para que um Perito do Laboratrio proceda coleta correta dos

    indcios, evitando-se desse modo que venham a sofrer quaisquer alteraes.

    37

  • 6 CONCLUSO

    Como indcios pesquisveis em locais de crime, as manchas de sangue podem, de uma maneira geral,

    permitir inferir-se a natureza do fato, verificar o modo como ocorreu e identificar o grupo sangneo dos

    envolvidos, estabelecendo uma relao direta entre estes e os instrumentos usados para a prtica do delito,

    roupas, veculos, outros locais, etc. fato a ser considerado sempre pelos Peritos, a possibilidade de que

    estes indcios, localizados em armas ou outros suportes, podem, tambm, fornecer os elementos

    indispensveis uma diagnose diferencial entre homicdio, suicdio e/ou acidente.

    Portanto, como indcio s raras vezes ausente nos locais de crimes contra a pessoa, percebe-se a importncia

    do estudo das manchas de sangue, em Criminalstica. Este sangue pode originar-se das mais diversas fontes.

    Em certos casos o suspeito quem o fornece, ao deixar a rea do fato com manchas de sangue em suas

    mos, roupas, sapatos ou objetos que a vitima levava consigo e foram pelo suspeito subtrados.

    Outras vezes aquele implicado num delito que, muito embora lave as mos por diversas vezes, buscando

    tirar de si aqueles indcios, no percebe que ainda lhe ficaram resduos sob as unhas, e, alm disso, mesmo

    lavando a arma ou instrumento do crime, ainda assim no consegue fazer desaparecer por inteiro a presena

    do sangue.

    Pode acontecer, tambm, que um motorista leve no seu veculos manchas de sangue da sua vtima, que

    abandonou sem prestar socorro, ou ainda que socorrendo-a e constatando-a j morta, venha a livrar-se do seu

    cadver, justificando-se, portanto, que a pesquisa seja feita tanto externa quanto internamente em casos de

    suspeita.

    possvel ainda que o matria! a ser pesquisado origine-se de um criminoso contra o patrimnio, o qual se

    feriu ao usar de violncia contra alguma coisa {porta, janela, etc.), provando-se assim que as manchas de

    sangue podem ser indcios importantes mesmo em ocorrncia onde inexistem atentados diretos contra uma

    pessoa.

    O fato que, para a investigao de um crime, em muitos casos, a simples presena de sangue no corpo,

    vestes ou pertences de um suspeito, constitui-se em grande ajuda, uma vez que obriga-o a explicar-se e

    fornecer justificativas. Porm, aspecto ainda mais importante aquele em que, examinado o material

    suspeito, o resultado mostra que nele inexiste identidade com outra mancha coletada em local de crime, cujo

    grupo sangneo tambm diferente, excluindo-o da investigao.

    Torna-se, pois, necessria a realizao de testes e o aperfeioamento contnuo dos conhecimentos tcnicos

    sobre as manchas de sangue em locais de crime, observando-se a sua formao a partir de experimentos com

    sangue de animais, produzindo-se manchas diversas sobre vrios tipos de suportes, observando e

    38

  • apreendendo como se formam os vrios tipos de mancha quanto sua dinmica, tudo isto antes de se estar

    preparado para emitir juzo de valor sobre estes indcios.

    39

  • 7 APNDICE

    7.1 CASUSTICA

    CASO I Rastro de Sangue

    Data: 5 de novembro de 1976

    Local: Avenida de Contorno

    Vtima; C.A.V.

    Arma: Faca

    Suporte: Piso de cimento

    Perito: Jos Pedreira Guimares

    Laudo: 1.566/76

    Histrico: O cadver achava-se em meio a uma poa de sangue, com a braguilha aberta e o pnis para o lado

    de fora, o rosto apoiado no primeiro degrau da escada de acesso ao Campo Grande. Informes preliminares

    davam conta de que uma mulher fora vista se afastando rapidamente dali, pouco antes de ser descoberto o

    corpo. A rea era ponto de encontro de casais, confirmando aquelas primeiras constataes. Estas, somadas

    anlise das manchas de sangue, iriam determinar as circunstncias em que se registrou o fato. Com

    referencia queles indcios, o exame de local mostrava:

    a) Salpicos de sangue em sentido Avenida de Contorno - Vale do Canela, no cho e mureta da passarela de

    pedestres existente sob o viaduto;

    b) Comeo do rastro de sangue em um ponto distante 55m de onde estava o cadver;

    c) Ponto inicial dos salpicos nas partes superior e lateral interna da mureta de proteo da passarela;

    d) Altura da mureta at a pista de rolamento 1,55m;

    e) Altura da mureta at o piso da passarela de pedestres 0,73m;

    f) Leso prfuro-cortante no hipocndrio direito do cadver;

    40

  • g) Idem, idem, na regio lombar esquerda.

    Com base nestas observaes, apontou o Perito que a vtima teria sido golpeada quando sentada ou

    encostada na mureta da passarela, estando o autor da agresso na pista de rolamento. Este, preso pouco

    tempo depois, confirmava esta verso do fato. A vtima havia sido esfaqueada ao tentar reagir a um assalto,

    quando mantinha relaes sexuais com uma mulher de identidade ignorada (a mulher que foi vista

    afastando-se do local nunca foi localizada), na parte baixa do viaduto do Campo Grande.

    CASO II Dinmica

    Data: 12 de abril de 1977

    local: Avenida Paralela

    Vitima: R.B.T-M.

    Arma: Revlver

    Suporte: Partes internas do Corcel

    Perito: Jos Cana Brazil

    Laudo: 589/77

    Histrico: O Corcel estava parado numa das vias secundrias existentes entre as pistas da Avenida Paralela,

    pouco antes da rtula existente ao final daquela via. Os vidros levantados, as portas travadas, o pra-brisa

    com uma perfurao de projtil de arma de fogo em sentido de dentro para fora. Aps o exame externo do

    veculo, este foi aberto forando-se a janela defletora de ventilao da direita. O cadver estava no banco do

    motorista. A observao das manchas de sangue existentes no interior do carro mostravam-nas localizadas

    nos seguintes pontos:

    a) Piso da parte dianteira direita;

    b) Vidro e forro interno da porta direita;

    c) Parte lateral do banco direito;

    d) Raios do volante;

    e) Forro e vidro da porta esquerda;

    41

  • f) Banco dianteiro esquerdo;

    g) Piso da parte traseira, correspondendo extenso dos dois bancos dianteiros;

    h) Assento do banco traseiro.

    No interior do veiculo foi encontrado um revlver, localizado entre o banco do carona e a porta deste mesmo

    lado. Era de marca Taurus, calibre 38, n 372.312 (trs-sete-dois-trs-hum-dois), manchado de sangue. No

    tambor, cinco cpsulas. Na extremidade posterior do cano, um projtil encravado. Outro projtil no piso do

    veculo. Trs projteis alojado na cabea da vtima. Com base no exame das manchas de sangue pode o

    Perito determinar que:

    a) A vtima dera incio sua auto-destruio sentada no banco do carona, tendo neste local efetuado todos os

    disparos, inclusive o que fragmentou o pra-brisa (tiro de hesitao);

    b) Permaneceu sentada naquele local, onde deixou cair arma entre o banco e a porta, sangrou durante algum

    tempo e deslocou-se para o banco do motorista. Esta movimentao pode ser inferida a partir das manchas

    de sangue deixadas sobre o assento do banco traseiro, quando a vtima deslocou-se de um banco para o outro

    com a cabea pendendo para trs;

    c) A passagem da vitima do banco do carona para a do motorista foi confirmada, tambm, pela presena de

    sangue em seus ps, vez que apenas no piso dianteiro do lado direito (carona), aquele componente biolgico

    chegara a acumular-se.

    CASO III Diagnose Diferencial

    Data: 4 de maro de 1979

    Local: Av. Joo Paulo, n? 47 jardim Cruzeiro

    Vtima: M.L.R.W

    Arma; Faca

    Suporte: Corpo da Vtima

    Perito; Jos Pedreira Guimares

    Laudo: 587/79

    Histrico: Por volta das 17h30min, Eliana Passos Weber compareceu na Delegacia da Terceira

    42

  • Circunscrio Policial, onde comunicou a "morte acidental" do seu esposo, que embriagado, teria cado

    sobre a faca que empunhava ao perseguir a declarante, que corria com o filho menor nos braos. Segundo

    ela, a vtima teria cado sobre a faca, estando o seu cadver em decbito ventral, no interior da cozinha.

    Examinando o local, o Perito constatou a partir das manchas de sangue que ela estava mentindo, pois,

    colocado em decbito dorsal via-se no corpo da vtima o seguinte:

    a) Na perna e dorso do p esquerdos do cadver haviam manchas de sangue (gotas e salpicos) cuja

    mor