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As interferências da moda no padrão estético da arquitetura de interiores residenciais para sociedade do sec. XXI. Julho/2015 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015 As interferências da moda no padrão estético da arquitetura de interiores residenciais para sociedade do sec. XXI. Lorena M. Piñeiro Moinhos [email protected] Master em Arquitetura Instituto de Pós-Graduação - IPOG Salvador, BA, 06 de Junho de 2014 Resumo O presente artigo aborda acerca da influência da moda na arquitetura, seja na composição de formas, padrões, texturas, padronagens na relação da arquitetura de interiores, bem como é visto como a arquitetura de modo geral influência na formatação da moda e fazem um relação triangular com o urbanismo. A pesquisa em questão deu - se através da inquietação na realização do TFG (Trabalho Final de Graduação) do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Salvador, por meio de revisão bibliográfica, visitas as lojas, estudos e pesquisas realizadas através de internet, revistas, livros, mídias e do contato feito com uma profissional da área, a professora e coordenadora do curso de extensão de Gestão de Moda da Universidade Salvador, Virgínia Saback.Neste estudo, se abordam as interferências que são identificadas, fazendo relação com a arquitetura de interiores e a moda. Estes são analisados sob um olhar conceitual, como produtos de expressão artística e cultural e social visando à estética, a funcionalidade e o bem estar do individuo.O objetivo é perceber que ao longo do tempo a arquitetura de interiores e a moda, através da origem e dos pontos de congruência e convergência, observados ao longo do tempo, definem um estilo visando contribuir na identificação da estética arquitetônica contemporânea, analisando a forma e o conceito, observando os movimentos sócio-culturais e as grandes transformações mundiais. Palavras-chave: Arquitetura de interiores; Interferências; Moda; Estética 1. Introdução Este artigo busca tratar da relação de influência, ao longo dos anos entre a arquitetura e o modismo, visto em estampas, tecidos e tantas outras tramas da moda mundial, que enfeitam mulheres, influenciando de forma positiva e até mesmo negativa, no que hoje, a partir do século XX, ficou conhecido como arquitetura de interiores. Para uma análise geral da moda, arquitetura e urbanismo se tem a comunicação coletiva como ponte de partida mais importante. Esses elementos de analise são agentes de fluxo de informações continua, interligados entre si utilizando uma dinâmica imagética, tendo uma linguagem visual para expressar sentimentos, refletindo um tempo e um espaço. Começamos nosso estudo visulaizando o conceito de arquitetura, e fomos busca-lo no Dicionário Aurélio (1910-1985), sendo esta a “ arte de projetar e construir edifícios. / Fig. Forma, estrutura: arquitetura do corpo humano. // Arquitetura eclética.

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As interferências da moda no padrão estético da arquitetura de interiores residenciais para

sociedade do sec. XXI. Julho/2015 1

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 9ª Edição nº 010 Vol.01/2015 julho/2015

As interferências da moda no padrão estético da arquitetura de

interiores residenciais para sociedade do sec. XXI.

Lorena M. Piñeiro Moinhos – [email protected]

Master em Arquitetura

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Salvador, BA, 06 de Junho de 2014

Resumo

O presente artigo aborda acerca da influência da moda na arquitetura, seja na composição

de formas, padrões, texturas, padronagens na relação da arquitetura de interiores, bem como

é visto como a arquitetura de modo geral influência na formatação da moda e fazem um

relação triangular com o urbanismo. A pesquisa em questão deu - se através da inquietação

na realização do TFG (Trabalho Final de Graduação) do curso de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Salvador, por meio de revisão bibliográfica, visitas as lojas, estudos e

pesquisas realizadas através de internet, revistas, livros, mídias e do contato feito com uma

profissional da área, a professora e coordenadora do curso de extensão de Gestão de Moda

da Universidade Salvador, Virgínia Saback.Neste estudo, se abordam as interferências que

são identificadas, fazendo relação com a arquitetura de interiores e a moda. Estes são

analisados sob um olhar conceitual, como produtos de expressão artística e cultural e social

visando à estética, a funcionalidade e o bem estar do individuo.O objetivo é perceber que ao

longo do tempo a arquitetura de interiores e a moda, através da origem e dos pontos de

congruência e convergência, observados ao longo do tempo, definem um estilo visando

contribuir na identificação da estética arquitetônica contemporânea, analisando a forma e o

conceito, observando os movimentos sócio-culturais e as grandes transformações mundiais.

Palavras-chave: Arquitetura de interiores; Interferências; Moda; Estética

1. Introdução

Este artigo busca tratar da relação de influência, ao longo dos anos entre a arquitetura e o

modismo, visto em estampas, tecidos e tantas outras tramas da moda mundial, que enfeitam

mulheres, influenciando de forma positiva e até mesmo negativa, no que hoje, a partir do

século XX, ficou conhecido como arquitetura de interiores.

Para uma análise geral da moda, arquitetura e urbanismo se tem a comunicação coletiva como

ponte de partida mais importante. Esses elementos de analise são agentes de fluxo de

informações continua, interligados entre si utilizando uma dinâmica imagética, tendo uma

linguagem visual para expressar sentimentos, refletindo um tempo e um espaço.

Começamos nosso estudo visulaizando o conceito de arquitetura, e fomos busca-lo no

Dicionário Aurélio (1910-1985), sendo esta a “ arte de projetar e construir edifícios. / Fig.

Forma, estrutura: arquitetura do corpo humano. // Arquitetura eclética’.

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Caminhando pelo passado descobrimos que desde a época da pré-história, as sociedades

primitivas para suprir a sua necessidade de abrigo, desenvolveram diverssas formas de

estruturas. Os abrigos serviam como refúgio e proteção contra tribos inimigas, ataques de

animais ferozes e as intempéries. Com essa necessidade de proteção, foram surgindo as

primeiras habitações, sendo elas cavernas, cabanas, tendas e etc. Onde podemos pensar de

forma primitiva que a partir daí começam a nascer os interiores domésticos.

Na Suméria, no Egito, na Grécia e em Roma, podemos perceber o surgimento de instalações

permanentes já constatando a intenção decorativa de seus ornamentos. Porém esses eram

restritos a aristocracía e a realeza. Nas civilizações clássicas, Grécia e Roma, os interiores

eram riquissímos e com todo requinte. As cidades gregas se preocupavam com a proporção e

simetría dos elementos decorativos, já as cidades romanas estavam mais voltadas para a

ostentação do Império, sobrecarregando no uso do dourado e utilizando mosaicos.

Com a peste negra e o declínio do Império Romano na Idade Média, a arquitetura e os

interiores refletiam as incertezas e tristezas da sociedade. Buscavam a proteção divina com os

arcos em ogivas que acreditavam-se “chegar a Deus”.

Com o período transitorio da Idade Média para a Idade Moderna surge o renascimento

italiano que se passou na Europa entre os séculos XIV e XVI. Pode-se dizer que foi um

período marcado por grandes mudanças no pensamento sócio-cultural, refletidos na

economia, política, arquitetura, interiores e religião. Jacob Burckhardt, em seu livro "A

Cultura do Renascimento na Itália", escrito em 1867, define claramente o termo

"Renascença", como entendemos hoje. Trata-se de um período de "descoberta do mundo e do

homem". Onde existia a busca da população européia por uma estabilidade emocional,

esquecendo os problemas vividos na Idade Média.

Um ponto de partida para os arquitetos do Renascimento foi a redescoberta e divulgação do

arquteto romano Vitrúvio e dos seus Dez Livros de Arquitetura cuja repercussão sería imensa.

Vitrúvio exaltava o primado da geometria e assinalava o círculo como forma perfeita. O

arquiteto mais conhecido desta época foi Brunelleschi, que ao mesmo tempo atuava nos

campos da pintura, da escultura e da arquitetura. Além disso, também conhecia bem a

Matemática, a Geometria, e era um especialista na compreensão da produção poética

de Dante Alighieri. Entre suas obras principais estão a cúpula da Catedral Santa Maria del

Fiore e a Capela Pazzi em Florença.

Diante desse historico surge o decorador de interiores que da inicio a sua atuação, tendo que

se adaptar com as novas técnicas e necessidades estéticas da época.

Ainda na história da arquitetura, na era barroca predominava a assimetria, o contraste, o

movimento, a dramatização, a imaginação e a exuberância dos ornatos. Os períodos do

Rococó, Régence e a Era Vitoriana foram marcados pelo exagero, o uso do dourado, a

assimetria, formas em ‘S’ e também pela exuberância. Na Era Vitoriana, reinado da rainha

Vitória, o estilo era eclético marcando os interiores britânicos e americanos.

No final do século XIX, início do séc. XX surge o Art Nouveau, rompendo com o

classicismo, mudando os valores estéticos, na procura por um novo estilo. A arquitetura busca

inspiração na natureza e o artezanato passa a ser valorizado. Nessa época dar-se inicio a

revolução industrial. Já o Ecletismo é a mistura de diferentes estilos de decoração criando

uma nova linguagem.

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O estilo Art Deco no século XX, também é considerado como um movimento eclético,

incluindo o construtivismo, o cubismo, Bauhaus e o futurismo, associava sua imagem a tudo

que se define como moderno, industrial, cosmopolita e exótico. Foi um movimento decorativo

que surgiu após a 1ª guerra mundial, renovando valores estéticos procurando dar conforto ao

design e o que era produção artesanal dá lugar aos objetos feitos em larga escala. Por estar

ligado à vida cotidiana (objetos, mobiliário, tecidos, vitrais) se associou à arquitetura, ao

urbanismo, ao paisagismo, à arquitetura de interiores, ao design, à cenografia, à publicidade,

às artes gráficas e à moda.

A história da arquitetura de interiores dar-se início como decoração, até os dias atuais, quando

a ciência da arquitetura traz para si e com todo seu conhecimento a articulação de espaços e

estética, no que inclui uma série de pré requisitos para uma ambientação adequada, moderna e

aconchegante, tendo influências diversas ao seu lado, no que pretedemos falar nesse artigo.

Enquanto o arquiteto projeta, estrutura e caracteriza os espaços, o design de interiores possue

o papel de adequar o espaço de forma física e psicológica, fazendo uma composição visual

para o usuário final. Essa composição é feita através das escolhas dos revestimentos de

parede, do tecido, dos mobiliários, objetos decorativos e outros.

A história da humanidade define a necessidade do homem de viver em abrigos, segundo Pile

(2005). A maior parte do tempo, a maioria de nós vive dentro de uma casa, um apartamento

ou um cômodo. Nós dormimos, comemos, tomamos banho e gastamos o tempo livre

em casa- que significa dentro. [...] O design de interiores, seja profissional ou não, é

um aspecto da vida ao qual é impossível escapar. (PILE, 2005, p. 10, tradução do

autor).

A atividade profissional de conceber, projetar e configurar espaços sempre foi muito

influenciada pelas mudanças dos modos de vida, das tecnologias e dos contextos políticos e

econômicos. De acordo com Cabral (s/d), Desde o surgimento dos primeiros designers de interiores no século XIX, até a

formalização da profissão na década de 1960, o design de interiores estabelece uma

relação direta com as questões da arte. Abordaremos essa relação, basicamente nos

interiores residenciais, considerando os novos modos de vida iniciados a partir da

industrialização e da urbanização ocorridas na Europa e nos Estados Unidos.

(CABRAL, s/d).

Segundo o texto ”Arte e Design de Interiores”, de Maria Cristina Cabral, podem-se observar

as várias mudanças ocorridas desde os meados do século XIX. Na crescente urbanização da

Europa e dos Estados Unidos, vemos se constituir-se uma classe média em diferentes níveis

socio econômicos, que buscava ansiosamente mostrar à sociedade a sua prosperidade,

buscando referências nos modelos decorativos da nobreza. Assim nasceu o gosto pelo luxo

das classes emergentes. A partir daí a classe média decorava e mobiliava suas residências com

tecidos, papéis de parede, artigos de decoração e mobiliários comprados em lojas de

departamentos ou despachados pelo correio. A decoração era eclética, buscava sempre

aparentar formalidade, riqueza e conforto. Tudo era permitido, seguindo o gosto do

proprietário regularmente submetido às regras efêmeras da moda. A preoculpação com a

moradia e a aparência pessoal indicava o status social dos indivíduos.

Em 1850-1910, surgiu na Inglaterra o Arts&Crafts (Artes e Ofícios), principal movimento

para o desing de interiores do século XIX, apoiado por John Ruskin (1819-1900), crítico de

arte e medievalista, A.W. Pugin (1812-1852) arquiteto e designer e William Morris (1834-

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1896). Estes rejeitavam a produção em massa, da revolução Industrial e valorizava o design

artesanal. O arquiteto desenhava e o artesão executava usando métodos tradicionais e se

inspirando na natureza. O movimento Arts and Crafts de Morris teve o apóio da monarquia

vitoriana e teve grande sucesso entre a burguesia rica. A marca registrada da oficina dele e

dos arquitetos era a alta qualidade artesanal dos produtos. Isto encarecia muito os objetos

frente àqueles que eram produzidos em fábricas. O sonho de Morris de oferecer ambientes e

objetos altamente estéticos a todos não era possível. Só os ricos podiam comprá-los. Mas o

gosto pelos objetos Arts and Crafts cresceu e se estendeu na Alemanha e nos Estados Unidos

onde se publicaram revistas especializadas que atingiam um grande público feminino. As

idéias do movimento Arts and Crafts, o romantismo e a veloz modernização da Europa no

final do século XIX inspiraram na França um movimento ainda maior e mais abrangente, o

Modernismo ou Art Nouveau.

Este movimento está diretamente ligado às correntes artísticas do fim do século que

promoveram a imaginação, a expressão e o simbolismo na arte, mas também à produção

industrial em série e ao uso de materiais modernos como o ferro, vidro e o cimento. À

diferença para o Arts and Crafts, era que o movimento francês do Art Nouveau valorizava a

racionalidade da ciência e da engenharia e acompanhava o crescimento da burguesia. Era uma

nova geração que tinha nascido e crescido nas metrópoles. Desta maneira o

movimento estabeleceu uma articulação estreita entre arte e indústria resultando numa alta

qualidade estética dos objetos. O Art Nouveau foi o primeiro fenômeno de moda em que as

tendências da arte eram aplicadas aos objetos.

Os movimentos do século XIX, sendo eles o Art Crafts, inicialmente com a sua tendência

natural e predominantemente artesanal, oferecendo a sociedade uma inspiração na natureza,

trazendo como propriedade exclusividade nos designes dos móveis e pela singularidade do

objeto ocasionavam altos custos atingindo somente as classes mais altas; já o Art Nouveu que

significa Nova Arte, traz em sua representação social, cultural e financeira, criando uma

demanda na racionalidade da ciência e da engenharia inova na estética criando e estreitando o

belo e a industrialização, abrindo espaços para a utilização da moda e da arte aplicada em

moveis, novos materiais, estampas, texturas e revestimentos.

Os movimentos da época apresentam uma trasformação do entendimento social a arquitetura

de interiores, com suas inovações, assim entendemos que o moderno significa novo, atual e

dentro da perspectiva daquilo que se entende como moda, quer dizer modo, maneira, costume.

E de acordo a Mello (2006) entende-se que: A moda é concebida sob a influência de fatos e circunstâncias que definem os

momentos. Absorvidos pelos indivíduos que compartilham os mesmos espaços,

esses momentos se transformam em movimentos sócio-culturais urbanos. As

combinações desses códigos, formatam estilos e compõem ‘modos’. O modo de

vestir, sempre corresponde ao modo de ser, de estar e de viver, pode-se colocar,

portanto, que a moda é o reflexo de um tempo, expressando uma cultura, seja

através da sociedade, da arquitetura, da cidade ou da arte. (MELLO, 2006).

A literatura nos apresenta com seus autores, a influência da moda concebida tanto pela cultura

local e externa bem como, a mesma modificando e interferindo em comportamentos e

costumes como na arquitetura de interiores. De acordo ao que vemos na obra de Lipovetsky

(2001, p 12): A moda é a pedra angular da vida coletiva, que comanda as nossas sociedades

ocidentais. Deve ser vista como um fenômeno sócio-cultural urbano, uma vez que

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tem seus padrões estéticos redefinidos através dos movimentos culturais, os quais,

são superados apenas pela beleza, como forma intemporal, eterna.(LIPOVETSKY,

2001, p 12). Assim, vamos acompanhando o processo de instalação e o conceito de arquitetura de

interiores relacionado a idéia da moda, o que podia parecer fútil à época anteriores tornou-se

ao longo do tempo ciencia e arte em pesquisa e para estudo, tanto para ambientações como

para tendência de comportamento. Assim de acordo a Mello (2006 apud Lima): A palavra “moda” deriva do termo em latim “modus” e significa modo, maneira. O

conceito propriamente dito apareceu, segundo a autora, somente no fim da Idade

Média e início do Renascimento nas cortes do norte da Itália, quando as

transformações ocorridas nas relações comerciais propiciaram prosperidade e

organização dos modos de vida. (LIMA, 2003).

Os três autores abordam que a moda é como um fenômeno sociocultural que expressa os

modos, valores da sociedade, usos, hábitos e costumes sendo o reflexo de um tempo.

O termo moda surgiu por volta do século XVIII e tinha o objetivo de denominar uma

maneira, um gênero, um estilo de vida, de conduta, de vestuário, etc. A moda se refere ao

comportamento e pode ser entendida como um conjunto de gostos, opniões, apreciações

críticas, modos de agir e sentir da sociedade em um determinado momento histórico.

O processo de surgimento da moda, se dá por volta do século XIV, com a guerra dos 100

anos. Com a guerra, houve a queda do feudalismo surgindo assim uma nova classe social: a

burguesia. Essa procurou se inspirar nos modos se vestir da aristocracia, copiando a maneira

de viver e agir. Em consequencia disso, se iniciou um disputa pelo exclusivo, onde a nobreza

criava um estilo e a burguesia copiava. A moda se tornava efêmera ocasionando uma

frugalidade temporal, onde ao mesmo tempo que se estava na moda já se estava fora dela.

Um movimento importante para moda foi a Belle Époque que surgiu no final do século XIX

até 1914, no inicio da Primeira Guerra Mundial. Belle Époque vem do francês e significa

Bela Época, uma vez que foi um período de grande avanço tecnológico e cultural que

favoreceram o desenvolvimento da arte, da arquitetura e arquitetura de interiores, combinado

ao clima de paz pela Europa que colaborou para a aproximação das nações e dos habitantes

das grandes cidades como Londres, Paris, Madrid, Viena e outras. Nessa época surgiam os

cabarés, o cinema, o Impressionismo e a Art Nouveau. No campo das tecnologias o telefone,

a bicicleta e o automóvel tornavam a vida mais fácil. Com a Revolução Industrial e o Êxodo

Rural contribuíram para tornar as grandes cidades em centros de desenvolvimento cultural.

Foi em Paris que surgiu a Alta Costura, com grandes costureiros criando e ditando moda para

todo mundo. O estilo Belle Époque refletia o espirito otimista do período, bem como a

prosperidade econômica e o estilo de vida da busca pelo prazer. A moda começa então a se

difundir por todas as classes sociais e tornou-se um fenômeno característico da urbanidade

moderna. É importante destacar que houve uma universalização do conceito de “moda”,

existindo na contemporaneidade tendências para todas as áreas profissionais inclusive na

arquitetura de interiores.

Dentro das histórias da humanidade, contada por diversos autores, vemos a construção do

sujeito em suas concepções de abrigo, moradia ou casa, bem como na sua insurjeição como

cidadão em seus estilos, status e na estética; assim se tentarmos fazer uma analogia como

na relação entre um arquiteto e um estilista teremos uma visão ampla no mundo interligado

da moda e arquitetura.

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O arquiteto que para projetar seu espaço tridimensional sofre influência da linguagem da

moda assim como um estilista pode ter inspiração através da estrutura de um edifício. Os

estudos desses profissionais partem da mesma ferramenta de trabalho, sendo ele o desenho

bidimensional. Questões como a espacialidade, a ergonomia, a forma, a funcionalidade, o

estilo, os elementos de adorno, as técnicas construtivas, etc, são influências para a concepção

de ambos. Através de croquis são feitos estudos do equilíbrio, volumes, linhas, cores e ritmos,

assim os arquitetos e estilistas chegam ao mesmo objetivo, a forma, sendo esta a medida do

espaço, principal ferramenta da linguagem de expressão visual.

Entende-se que elementos pelos mesmos pontos tende a alcançar o mesmo foco de interesse, é

assim que a arquitetura, a moda e o urbanismo usando uma linguagem estética possuem a

mesma função, de abrigar o individuo proporcionando o conforto. Casa (arquitetura), cidade

(urbanismo) e vestimenta (moda) significam um caráter de essência protetora (abrigo).

Passeando um pouco sobre o passado é possivel fazer uma analogia desses aspectos, quando

vemos atitudes, modismo, cultura inlfuênciando e modificando ambientes.

No século XVIII os modelos estéticos europeus proporcionavam um estilo de vida mais

confortável, ao contrário da era barroca, um estilo que se adequavam ao meio. Devido ao uso

de roupas adequadas da época as mulheres tinham dificuldades na circulação dos espaços

internos, numa busca de soluções, os designs arquitetônicos foram modificados e adaptados

por influência da moda.

Observamos isso na literatura, em relatos interesantes e curiosos acerca das mulheres, que

definem com suas atitudes e modismos, mudanças arquitetonicas. Em Kohler (2001), Laver

(2001) e Castilho (2004) é possivel captarmos a história. Desde a virada do século XVIII, os paradigmas estéticos europeus, eleitos pela

sociedade ocidental, direcionavam para um estilo de vida mais confortável,

totalmente antagônico à experiência vivida na era barroca, quando, talvez se possa

registrar o maior desafio que o indivíduo urbano tenha vivido, no sentido de

adequar-se ao meio, afinal, usando saias com diâmetro de seis metros (KÖHLER,

2001, p. 416 à 432).

De acordo com Köhler (2001), as vestimentas das mulheres do século XVIII na era barroca,

onde o estilo dinâmico, exuberante com uma tendência ao decorativo, apresentavam na moda

vestimentas como saias e vestidos que chegavam até seis metros de diâmetro dificultando

passar por portas, entrar e sair das carruagens, assim como o perigo de pegar fogo em velas,

ou de ficarem presas em máquinas,; fora os problemas para movimentar o corpo, dificultando

a locomoção pessoal bem como comprometendo cuidados pessoais ( andar, sentar, descer

escadas, etc). Em consequencia disso a moda teve total influência na arquitetura, pois portas

foram alargadas, os corrimãos ganharam curvaturas, os mobiliarios tiveram que se adequar,

entre outras. Podemos constatar a história atraves de Laver (2001) onde ele mostra que: Era quase impossível circular nos espaços internos, através das portas, descer

escadas, sentar em cadeiras ou sofás, dar um aperto de mãos, usar o toalete, etc.. Na

busca de soluções, a moda chegou a influenciar o design arquitetônico, nos

corrimãos curvos e nas portas mais largas (LAVER, 2001, p. 131 e 178 à 180)

A literatura diferentemente do que a sociedade imagina acerca do entendimento sobre moda,

influenciou ao longo de séculos comportamentos e de acordo as pesquisas realizadas

modificou os espaços arquitetonicos, assim segundo Castilho ( 2004, p. 122), “a arquitetura

dos castelos e o mobiliário tinham que ser modificados para que as mulheres com tais

vestimentas pudessem ocupar e se locomover nesse espaço”.

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Da mesma forma que a moda influenciou nos espaços arquitetonicos, a arquitetura também

teve influência na moda de maneira que, na busca de soluções para resolver o problema de

complexidade nas vestimentas e devolver os movimentos as mulheres, os estilistas da época

tiveram que fazer estudos geométricos, estruturais, mecânicos, criando um projeto utilizando

estudos e ferramentas em comum com arquitetura. Esse projeto foi a criação das crinolinas

que são saias entufadas e bufantes, sustentadas por lâminas de aço ou barbatanas. Essas,

proporcionavam um maior conforto, e ocasionavam uma movimentação corporal mais

adequada para as usuárias.

Juntamente com a evolução da moda houve também a evolução da arquitetura, onde

experimentos de novas formas e aplicações de materiais de construção na busca de um

desenvolvimento tecnológico trouxe modernidade, efetividade e ao longo dos séculos

otimização dos espaços. De acordo com Freitas (Apud Wajnman 2002): Entende-se que “uma visão estrutural de um edifício, concebida pelo arquiteto, pode

ter a resposta numa linguagem da moda e vice-e-versa. Isso não quer dizer que o

estilista vá construir um prédio, mas pode ter influência. O arquiteto, por sua vez,

pode ter influência da moda para fazer o projeto de um espaço tridimensional”

(FREITAS APUD WAJNMAN, 2002, p. 37).

Com o desenvolvimento do estilo veio também a evolução da época e da cidade. Um novo

estilo de viver e vestir foi integrado ao meio proporcionando um comportamento moderno e

inserindo o conforto nos centros urbanos. A arquitetura interferiu de uma forma direta sobre a

sociedade que se “afrancesavam” elegendo o modelo de urbanismo hausmanniano, que se

caracterizaram com mudanças na circulação urbanistica, na higienização da capital da França

e na criação de imensos boulevards organizadores do espaço urbano, bem como calçadões,

amplos jardins e parques, porisso , os estilos Art Nouveau ou Art Déco era a maneira de viver

em uma Belle Époque. Com isso o urbanismo e a arquitetura foram referêcias para a moda.

A partir do século XX foi deixando de lado o estilo de ornamentos e exageros para um estilo

limpo e clean. A sociedade sofreu uma evolução tecnológica dos serviços de metrô, bondes,

automóveis e etc. Com isso as mulheres passaram a usar vestimentas que não lhes restringiam

os movimentos, mudando hábitos, costumes e valores passando a se preocupar com o corpo e

buscava o lazer em espaços públicos.

Sennett (2003), comenta que “na Paris revolucionária do século XIX, um imaginário de

liberdade corporal entrou em conflito com a necessidade de espaço comum e dos rituais

comunitários.” Coloca também que “o triunfo da liberdade individual de movimento,

simultaneamente ao surgimento das metrópoles do século XIX, levou a um dilema específico

e que ainda persiste: cada corpo move-se à vontade, sem perceber a presença dos demais”

(Sennett 2003, p. 21). Juntamente em consequencia disso deu-se inicio ao processo do

individualismo.

A moda é o reflexo de um tempo, expressando uma cultura, seja através da sociedade, da

arquitetura, da cidade ou da arte. O modo de vestir sempre corresponde ao modo de ser, de

estar e de viver.

Ao longo da história e sua evolução do mundo, com a chegada do século XXI, Na arquitetura

e na moda conceitual, destaca-se o trabalho de japoneses, que radicados na Europa e nos

Estados Unidos desde as últimas décadas do século XX, têm influenciado e até direcionado o

design ocidental. Minimalistas, como sendo uma arquitetura simples e refinada; sem excessos,

pelo uso de cores neutras e materiais industriais modernos, notado pela ausencia de adereços

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que em um primeiro momento apresenta-se com uma imagem fria e desconfortavel não

trazendo personalidade ao ambiente.

Nesse estilo os ‘neo-japonistas’ são mestres em usar a espacialidade como um dos mais

importantes eixos para uma representação iconológica. No que se refere ao urbanismo,

considera-se que uma das melhores retratações foi feita por Lipovetsky (2001) Em sua

definição de moda, fenomeno socio cultural urbano, na pesquisa realizada vemos o

minimalismo arquitetonico considerado sinonimo de estilo austero simples e sóbrio na década

de 60, marcando a moda de forma contundente por volta dos anos 80 em formas puras, preto,

cinza e branco, podemos ver referencias como essa em sites na internet, onde definem moda

como “ aplicar conceitos e surpreender”.

Adentrando pelo século XXI, a tendência socio-cultural do sujeito/cidadão, o individualismo

se afirmou a partir dos anos 90, trazendo a liberdade de expressão na moda e em exelência no

comportamento, levando o sujeito/cidadão a vir morar só em espaços criativos e bem

decorados como os lofts.

Formando assim uma individualização entre a moda, os espaços, os hábitos e os costumes.

Uma nova forma de viver e entender o mundo foi criado com uma visão limpa com uma

estética clean, aplicável a qualquer área.

Paralelo a essa tendência surge uma nova valorização de espaços, mantendo-se contato direto

com a natureza, devido a uma saturação provocada com o convívio urbano, o novo lema era

preservar e uma nova visão sobre a vida concedendo um valor agregado ao passado, na busca

por antigas raizes, fazendo com que este se agregue ao presente, investindo assim na

revitalização de centros históricos, reaproveitamento de mobiliários, resgate de antigas

tendências e preservação ambiental.

Assim, surge na arquitetura, na decoração e na moda o interesse pelo ‘vintage’ e pelo ‘retrô’.

Isso se dá a partir da necessidade do homem de ‘encontrar sua referência, para que possa

determinar sua trajetória’,teorizou Einstein (1879-1955).

De acordo com Vera Dodebei (2000,p. 60), “é através das representações processadas na

esféra pessoal, como memória individual, ou, na esféra pública, como memória coletiva, que

se retém a memória social, construindo identidades culturais.”

Enquanto isso o reflexo de um tempo, capaz de expor os hábitos e os costumes de uma

sociedade, traz a moda que decora os corpos, os espaços interiores ou a fachada dos

monumentos e pode ser compreendida como um objeto de composição da imagem urbana.

Contudo, conforme a pesquisa vem se desenvolvendo, compreendemos que os vários

elementos e argumentos que se relacionam entre si, tendem para o mesmo foco de interesse:

abrigar o indivíduo, usando uma linguagem estética para estabelecer uma comunicação

coletiva. Entende-se que a casa e a roupa tem um significado psicológico de proteção,

representando uma forma de abrigo a procura de um equilíbrio entre a funcionalidade, o

conforto e a estética.

2. Entre a moda e a arquitetura de interiores

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A pesquisa em questão se deu através da experiência prática que tive ao realizar meu TFG

(Trabalho Final de Graduação) do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Salvador, por meio de revisão bibliográfica, estudos e pesquisas realizadas através de internet,

revistas, livros, mídias e do contato feito com uma profissional da área, a professora e

coordenadora do curso de extensão de Gestão de Moda da Universidade Salvador, Virgínia

Saback.

Para realização do meu TFG, foram feitas algumas pesquisas práticas. Essas foram

concretizadas através das visitas feitas em diversas lojas de móveis, tecidos e papeis de

parede, objetos decorativos, modulados e de revestimentos; tendo uma sido mais especial em

mnha pesquisas, a loja Home Design, onde pude assistir uma palestra muito interessante,

elaborada pela proprietária, após sua experiência em Milão.

A palestra era uma sintese da visita feita à Milan Design Week, Feira de Design em Milão, na

qual mostrava as novidades para a decoração e designs de móveis. Para a minha surpresa, as

novas tendências da arquitetura foram mostradas por meio de uma analogia feitas sobre as

principais tendências da moda, expostas nas semanas de moda internacionais, que acontecem

em Milão, Paris, Londres e Nova York.

Essa comparação foi feita por meio de imagens que mostravam padronagens de tecidos,

design de moveis, tapetes, luminárias, objetos decorativos, entre outros; que foram inspirados

nos prototipos mostaradas nas passarelas.

Outra semelhança que pude observar foi a participação das grandes e luxuosas grifes de moda

criando produtos para casa. Como exemplo disso, a grife Versace expondo na sua nova

coleção, o sofá Via Gesu que foram elaborados com braços com ângulo de inclinação em

forma do ‘V’ de Versace, outro exemplo foi a marca Diesel que trazia em seus produtos,

inspirações contemporâneas misturadas com referências ‘vintage’ e Art Decó, enquanto

materiais nobres como couro e veludo são reinterpretados e integrados com as típicas

indústrias.

Como já falado na parte histórica o vintage significa a busca por antigas raizes, fazendo com

que este se agregue ao presente.

A partir da minha experiência prática, pude perceber, observando as lojas visitadas, que na

atualidade está acontecendo a volta do vintage e do retrô, através de padronagens de tecidos

resgatadas do passados, a volta dos papeis de parede, a releitura de móveis antigos, a

repaginação da cadeira Luis XV, o retorno dos cobogós que recentemente passaram por uma

releitura, apresentando design contemporâneo ao mesmo tempo que resgatam uma atmosfera

retrô nos projetos, os eletrodomésticos (geladeiras, fogões, liquidificadores, cafeteiras, etc) de

1950 e 1960 voltaram com uma linha retrô que relembram a “casa da vovó” mas com a

tecnologia atual e revestimentos como, mosaicos, ladrílhos hidráulicos e azulejos pintados

que hoje em dia decoram as varandas gourmets. Esses elementos dão vida ao ambiente, além

de contar um pouco a história do morador.

Essa busca ao passado acontece com a necessidade do individuo de dar personalidade ao seu

lar. De acordo com o professor Cianciard (2013), Parte da história de nossas vidas esta ‘escrita’ em nossas casas, como verdadeiros

hieróglifos a serem desvendados pelas pessoas que por nossas portas adentram;

pequenos detalhes decorativos como a seleção que fazemos de objetos, quadros,

peças de mobiliário e o próprio estilo decorativo podem servir de ferramentas para

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que possamos imprimir no espaço determinados significados, que possibilitam

delinear traços de nossa personalidade. (CIANCIARD, 2013).

Assim como também coloca o analista James Hillman (1926), quando fala que,“há relação

entre os nossos hábitos e habitações, [...] entre o interior interno de nossas vidas e o interior

dentro dos lugares onde vivemos”

Diversas vezes os individuos decoram as suas casas seguindo tendências de moda que não dão

personalidade ao ambiente, procurando diferenciar-se dos demais. Como bem coloca Botton

(1969, p.126): Podemos de vez em quando, e com sentimento de culpa, sentir o desejo de criar uma

casa para nos vangloriarmos diante dos outros. Mas somente se parte mais

verdadeira de nós mesmos for egomaníaca é que a urgência de construir será

dominada pela necessidade de se mostrar. (BOTTON, 2006, p.126).

Diante de fatos como esse, onde em nossa pesqiusa percebemos a necessidade da identidade

do usuario ou refelxo do seu comportamento na moda ou na sua casa, ainda vemos situações

que se colocam em opisição a esses fatos.

Assim , baseado nas minhas experiências como arquiteta, pude perceber que em alguns

escritórios de arquitetura e de designs que são convidados a realizar porojetos , terminam por

vezes não realizando o briefing, sendo este, uma entrevista com o cliente, da qual são

coletadas informações e um programa de necessidades para o desenvolvimento do trabalho,

de acordo com as precisões do cliente, pois é essa ferramenta que ajuda na compreensão

psicologica do cliente.

Com a ausencia do briefing e da falta de conhecimento sobre as prioridades do cliente ou com

a falta de conhecimento ou etica quanto as prioridades ou singulidaes so sujeito, esses

escritórios possuem um “projeto padrão” que se molda para e em qualquer ambiente.

Pude observar que além de não se importar com as necessidades do cliente, quando os

profissionais vão fazer a decoração dos ambientes, costumam seguir as novas tendências da

decoração que se baseiam nas tendências da moda, deixando as residências belíssimas, de

“capa de revista”, porém não trasmitem a personalidade do morador, deixando-o com a

sensação de não estarem em sua casa. Além do desconforto do cliente de se sentir um

estranho em sua propria casa, corre o risco da decoração ficar ultrapassada, pois a moda é

efêmera, mudando suas tendências continuamente.

Falando um pouco sobre as tendências de moda versos decoração, pude constatar através de

pesquisas em lojas, revistas e sites, que as padronagens de tecidos de decoração se congruem

com as mostradas nas passarelas europeias. Como exemplo temos as estampas pied de poule e

pied de coq (“pé de galinha” e “pé de galo”em francês), que são padronagens tradicionais e

clássicas, nas cores preto e branco, ficando popular na década de 30 com a estilista Coco

Chanel. Além de nos deparar com essas estampas nas vestimentas, encontramos também em

cadeiras, estofados de sofá, mobiliários, almofadas, papeis de parede, tapetes, entre outros.

Com isso, alguns profissionais deixam-se influenciar por essas tendências sem se preocupar

que elas são passageiras.

Um projeto, seja ele arquitetônico ou de interiores, precisa ser funcional, trazendo conforto e

sensação de bem estar para o morador.

Na literatura encontramos sempre profisisonais e autores que chamam atenção a esses ditos ‘

detalhes’, que fazem a diferença e a oportunizam a sociedade evidenciarem a importância do

profissional da arquitetura, bem como abre espaços para modalidades e formações como

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arquitetura de interiotes, não deixando espaços para entrada de outros profissionais na área.

Vemos isso na citação professor Cianciard (Apud Rosenberg 2013), Os profissionais da construção civil: construtores, arquitetos, engenheiros,

decoradores, tem que entender que a casa é mais do que uma expressão

arquitetônica, ela trás noções psicológicas1, psicoanalíticas e sociológicas do meio

que a produziu pois como bem coloca Gaston Bachelard: “...a casa é o nosso canto

do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. “ A casa é

identidade, impressão digital. Se não for assim, vira cenário, não vira lar. Não é

morada, é moradia (Rosenberg 2013).

A casa é complexidade, agregando desejos e sentimentos, produzindo imagens e resgatando

memórias, onde se vive o passado o presente e o futuro, sendo o lugar dos rituais e ritmos

vivendo o cotidiano do morador.

Outra experiência que pude vivenciar é o fato do cliente de maneira disrespeitosa, leiga e por

falta de conhecimento profissional, mudarem o projeto feito pelo arquiteto que possue todo

conhecimento técnico e uma vasta bagagem profissional para realiza-lo da melhor forma

possivel, dando funcionalidade, conforto e proporcionando bem estar para o individuo.

A concepção desses projetos está ligada e influenciada pelas mesmas regras, os profissionais

de criação que coexistem ( arquitetos e estilistas), tendem a se comunicar através de uma

linguagem estética semelhante, a que é definida pelos movimentos sócio-culturais urbanos e

sugestiona o comportamento social coletivo, assim como foi visto na pesquisa sobre a moda,

podemos notar a influência dela na arquitetura de interiores, podendo ser de maneira positiva

ou negativa quando efêmera. Observam-se influências e interferências entre a arquitetura, a

moda e o urbanismo, configurando-os como interface, de tudo que pode ser

contemporâneamente produzido. O contexto atual, abandona as grandes estruturas

transcendentes e teleológicas, enquanto pauta sua estética na ‘cultura do ornamento e do

signo’, criando formas que parecem estar limitadas ao revivalismo, ao kitsch e ao eclético,

travando, assim, uma interdependência temporal, que pode ser compreendida quando

lastreada na investigação histórica, através dos pontos de origem, pontos de congruência e

pontos de convergência das concepções, conforme demonstra o gráfico (esquema das

interseções entre Arquitetura, Moda e Urbanismo).

1 Psicologia é a ciência que estuda os fenômenos psíquicos e do comportamento humano. Etimologicamente possui como significado o ‘estudo da alma’.

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No gráfico, pode-se observar que os três, partem de um princípio de criação a partir de

cânones estéticos (modelos estéticos), que são decididos pelos movimentos sócio-culturais

urbanos, comportamento social. Se congruem porque são concebidos tridimencionalmente,

através de um desenho bidimencional, cujo o design inclui, a forma, adornos, funcionalidade,

conceito, estilo e técnicas construtivas. A arquitetura a moda e o urbanismo, são congruentes

a partir de um mesmo interesse: abrigar o sujeito dando conforto e proporcionando

funcionalidade, através de uma linguagem estética firmando uma linguagem coletiva.

De acordo com Freitas (apud WAJNMAN, 2002), os atuais designers entendem que pode

existir uma resposta na linguagem da moda para as concepções arquitetônicas e vice-e-versa.

Pode-se dizer que novas formas surgem a partir das contaminações ideológicas, nas

sociedades urbanas.

Entende-se que a roupa a casa e a cidade possuem o papel de proteger e abrigar o individuo.

Sendo assim a roupa é a “casa” do corpo.

A partir dessas infinitas relações conceituais, formais, materiais e espaciais entre a

arquitetura, a moda e o urbanismo, nota-se a possibilidade de se aplicar a arquitetura de

concepção, no processo de criação de produtos de moda, assim como na concepção de um

projeto. Enfim, a arquitetonicidade, como conceito, refere-se à arquitetura não como um

produto, mas, como um projeto. Assim como na moda, a essência da arquitetura está no

desenho.

É importante ressaltar também, que os desfiles tem sua estrutura devidamente planejada por

cenógrafos e arquitetos. O chamado “conceito da coleção” deve estar explícito em todo o

ambiente da passarela para que tanto o público quanto a mídia, cada vez mais especializada,

compreendam as idéias dos estilistas. Toda essa preocupação confere aos desfiles o caráter de

“show” ou “fashion show”, como atualmente são chamados.

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Vale a pena destacar que, observando alguns traços comuns, que foram detectados por

Jamerson, Derrida, Couchot e Quéau, nas artes plásticas, na computação gráfica, na

arquitetura e na literatura, Wajnman (2002, p. 39) associa as características fundamentais

como a perda de centro; perda da separação sujeito/objeto, o sujeito e o contexto se

confundem; como o poder da simulação, através da terceira dimensão do programa Revit, da

recriação por meio do programa mais utilizados pelos arquitetos o Autocad; Esses elementos

provicam a anulação da profundidade, intertextualidade, mutabilidade; descontextualização,

“canabalização aleatória” de todos os estilos do passado, simultaneidade, para debater sobre a

inserção da moda nessa mesma visão conceitual, uma vez que ela se volta para as mesmas

questões e as mesmas características.

Adolfo (2003) acredita, Que a “fusão” entre moda e arquitetura teria iniciado em 1960 e estária ligada não só

à apropriação dos tecidos de decoração nas criações de moda ou o contrário, mas

também ao “surgimento de um novo comportamento e, em alguns casos de novos

conceitos em design. (ADOLFO, 2003).

Ha uma variação, como tudo no mundo, em seu processo de transfromação, de poositivo e

negativo, observamos um fator negativo quando os profissionais seguem as tendências de

moda,relacionada a questão financeira.

Como temos, quando o arquiteto encaminha em suas orientações, o cliennte de uma classe

mediana, adquirir uma mesa de cor diferente das cores neutras ( branco, bege, preto e cinza),

pelo simples fato da cor escolhida ser a última tendência da moda, não levando em

consideração o aspecto efêmero da moda ou o ‘modismo’.

De acordo com o dicionário Aurélio (1910-1985), efêmero significa o adj. Que só dura um

dia: inseto efêmero. / Fig. De pouca duração: felicidade efêmera.

Um “ícone da moda” que remete ao efêmero de maneira bastante interessante foi “A Costura

do Invisível” do estilista Jum Nakao. Esse, foi um desfile, conhecido internacionalmente

como “ Roupa de Papel”, realizado em 2004 na São Paulo Feshion Week, no qual as modelos

entraram na passarela exibindo vestidos, saias e adornos inspiradas na moda do século XIX,

todas estilizadas como playmobils.

A imagem era a fusão entre a tradição e a industrialização dos bonecos de plásticos, feitos em

série. Na entrada final, a coletiva, as modelos se posicionaram diante do público, encantado

com a beleza das roupas em papel brocado e onde de repente, a trilha sonora intensificada

como numa revolução acontecendo na passarela. Com toda dor que um fim pode ter, elas

começam a rasgar as peças confeccionadas como obras de arte, nese momento diante de um

público estarrecido, surpreso, boquiaberto, perplexo. O momento era um marco

na história da moda no Brasil, pois segundo Jum Nakao (2004), queria levar emoção, fazer as

pessoas pensarem e entenderem que a moda é algo efêmero, ou seja, descartável.

3. Conclusão

A história do mundo nos surpreende a todo instante em suas nuances e transformações em

toda sua dimensão.

Pensar que polos tão diferentes, poderiam convergir dessa forma, onde aspectos que parecem

frugais e puramente estéticos, pudesse influenciar na formatação de um ciência que relaciona-

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se a abrigo ou lar; assim como a arquitetura que como conceituada falam da apropriação do

mundo à estruturas e alicerces de cidades inteiras, pudessem influenciar a moda em sua

vigência e estilos.

Contudo, diante de diversos argumentos, elementos e conceitos citados na pesquisa, podemos

perceber, que a arquitetura de interiores e a moda se relacionam entre si, pois vimos que essa

relação os leva a um mesmo foco de interesse, abrigando e protegendo o indivíduo, utilizando

uma linguagem estética, estabelecendo uma comunicação coletiva. Pois a moda é capaz de

expor os hábitos e costumes, modos e maneiras da sociedade, sendo assim, o reflexo de um

tempo.

Apesar de que o estilo adotado pela sociedade que, informa o modo ou maneira de viver das

pessoas, pode incorrer em aspectos da frugalidade ou do efêmero que foi falado ao longo da

pesquisa. Levando a pensar nos aspectos positivos e negativos dessa influência.

Entende-se que a casa e a roupa possuem um significado psicológico de proteção,

representando uma forma de abrigo; e que a arquitetura de interiores deve pela sua essência

técnica e ética, procurar um equilíbrio entre a funcionalidade, o conforto e a estética.

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