as grandes obras para a reabertura da br-319 e seus

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS IMPACTOS NAS LOCALIDADES RIBEIRINHAS DO RIO SOLIMÕES: BELA VISTA E MANAQUIRI, NO AMAZONAS. CAMILA DE OLIVEIRA LOUZADA MANAUS-AM 2014

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Page 1: AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIEcircNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM GEOGRAFIA

AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

IMPACTOS NAS LOCALIDADES RIBEIRINHAS DO RIO SOLIMOtildeES

BELA VISTA E MANAQUIRI NO AMAZONAS

CAMILA DE OLIVEIRA LOUZADA

MANAUS-AM 2014

2

CAMILA DE OLIVEIRA LOUZADA

AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR 319 E SEUS

IMPACTOS NAS LOCALIDADES RIBEIRINHAS DO RIO SOLIMOtildeES

BELA VISTA E MANAQUIRI NO AMAZONAS

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal do Amazonas - UFAM

como preacute-requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Geografia Aacuterea de Concentraccedilatildeo -

Amazocircnia Territoacuterio e Meio Ambiente

Orientadora Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos

MANAUS-AM

2014

3

Ficha Catalograacutefica (Catalogaccedilatildeo realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

L895g

Louzada Camila de Oliveira

As grandes obras para a reaberturada BR 319 e seus impactos nas

localidades ribeirinhas do rio Solimotildees Bela Vista e Manaquiri no

Amazonas Camila de Oliveira Louzada - Manaus 2014

221f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal do

Amazonas

Orientador Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos

1 Floresta Amazocircnica 2 A vida ribeirinha 3 Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e a Complexidade 4 Educaccedilatildeo ambiental I Santos

Elizabeth da Conceiccedilatildeo (Orient) II Universidade Federal do

Amazonas III Tiacutetulo

CDU 2007 6257113(0433)

4

5

DEDICATOacuteRIA

Dedico estaacute dissertaccedilatildeo primeiramente a Deus aos meus pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada por todo amor e apoio ao longo da vida e principalmente nos momentos difiacuteceis Aos meus irmatildeos Karoline Louzada e Lucas Silva por me apoiarem me deixando muitas vezes sozinha para escrever ou ler a minha orientadora Profordf Drordf Elizabeth Santos por me propor o desafio de estudar a Complexidade e conhecer um pouco mais da Amazocircnia que amo profundamente ao Prof Dr Evandro Aguiar por me instigar e motivar a ir aleacutem do previsto a todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo direta ou indiretamente lhes serei eternamente grata de todo o coraccedilatildeo meu muito obrigada

6

Agradecimentos

Aacute Deus em primeiro lugar por ter me dado agrave vida e continuar a me dar cada dia a

oportunidade uacutenica de fazer cada dia um dia melhor do que o anterior dando sempre o meu

melhor a Nossa Senhora de Aparecida de quem sou devota por esta presente sempre que

me colocava a escrever a dissertaccedilatildeo e iluminar minhas ideias

Aos meus amados pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada pelos ensinamentos e

sacrifiacutecios que fizeram ao longo da vida para que eu e meus irmatildeos (Karoline Louzada e

Lucas Cortecircz) pudeacutessemos estudar muito obrigada Obrigado tambeacutem pelo apoio

incondicional e pelos exemplos diaacuterios e contiacutenuos de perseveranccedila ldquomesmo que natildeo se

possa ver aleacutem do presente persista insista que vocecirc chega laacuterdquo que ouvi incontaacuteveis vezes

ao longo da vida Agradeccedilo tambeacutem a compreensatildeo pela minha ausecircncia nas inuacutemeras

reuniotildees de famiacutelia que natildeo comparece para escrever esta dissertaccedilatildeo

Aacute Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos minha orientadora por todo apoio

dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo e motivaccedilatildeo buscando sempre me incentivar a crescer intelectualmente

Agradeccedilo tambeacutem por expandir meus horizontes ao me apresentar a Complexidade e a

Transdisciplinaridade e por ter insistido nas tantas vezes que reconheccedilo que resistir em

aceitar mudanccedilas Estendo o meu agradecimento as suas filhas Socircnia Ciacutentia Sara e Isabelle

pela compreensatildeo pelas muitas vezes que a profordf Elizabeth estava comigo em campo ou me

orientado em dias de semana ou no final dela e feriados aleacutem de datas comemorativas

quando poderia estaacute com as filhas e o esposo prof Evandro Aguiar meu muito obrigada

Ao Prof Evandro Aguiar (professor sim por mais que atualmente se recuse a usar o

seu tiacutetulo de professor duramente conquistado) agradeccedilo imensamente por todos os

conselhos broncas mais principalmente pela motivaccedilatildeo para seguir em frente Agradeccedilo a

paciecircncia em revisar todo o material que escrevi em me emprestar seus livros em indicar

referecircncias em ajudar na construccedilatildeo deste trabalho e as longas conversas me incentivando

a ir aleacutem do que esperam de mim muito obrigada

A CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) pela

concessatildeo de bolsa durante a realizaccedilatildeo do mestrado

A Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM por me proporcionar a oportunidade

de ter minha graduaccedilatildeo em Licenciatura Plena em Geografia

Aacute Profordf Drordf Jesueacutete Pacheco Brandatildeo por me apresenta a geografia fiacutesica durante a

minha graduaccedilatildeo nas aacuteguas verde oliva da bacia hidrograacutefica do Zeacute Accedilu em Parintins e me

motivar e incentivar a entrar no mestrado meu muito obrigada

Ao Prof Dr Nelcioney Arauacutejo por me indicar referecircncias e emprestar seus livros

7

Aos professores doutores Tatiana Schor e Carlossandro Albuquerque pelas

generosas contribuiccedilotildees que me deram durante a minha qualificaccedilatildeo sem as quais o

presente trabalho natildeo sairia como estaacute hoje

Agradeccedilo ao meu amigo Armando Filho por ouvir meus desabafos pelas

provocaccedilotildees continuas com o intuito de me instigar a busca sempre mais e mais

informaccedilotildees que vinhessem a contribuir com o meu trabalho agradeccedilo tambeacutem pela

traduccedilatildeo do resumo

Aos meus colegas de mestrado pelas discussotildees A minha amiga Irlanda Leite por

me ajudar sempre que pedi Aos meus amigos Sidney Leozanira Christianne Rodrigo

Jeacutessica que sempre me incentivaram a seguir em frente mesmo quando em natildeo podia sair

com eles pois tinha que escrever

Agradeccedilo tambeacutem a minha maravilhosa equipe de campo que na verdade satildeo

meus amigos que se protificaram de imediato em me ajudar quando pede o apoio deles

para a coleta de dados satildeo eles Armando Filho (Geografia - UFAM) Erickson (Bioloacutegia -

UEA) Erisson Duarte (Bioloacutegia - UEA) Leozanira (Geografia - UFAM) Romaacuterio (Bioloacutegia-UEA)

Sidney Barros (Geografia - UFAM) Thiago Alisson (Bioloacutegia - UEA) Ariane Oliveira (Liacutengua

Portuguesa - UFAM) meu muito obrigado

Agradeccedilo tambeacutem a todos os moradores entrevistados da Bela Vista e de

Manaquiri que nos doaram horas preciosas de suas vidas para responder nossas perguntas

e nos presentear com suas histoacuterias de vida meu muito obrigada

Agradeccedilo tambeacutem ao sr Evandro Oliveira pela calorosa acolhida a toda equipe de

campo para realizarmos as entrevistas com os moradores de Manaquiri

8

RESUMO

A gigantesca fronteira e sua densa cobertura florestal apoiadas no discurso militar de ldquoum

lugar sem gente necessitado de uma histoacuteriardquo tornou a Amazocircnia alvo de grandes projetos

de desenvolvimento e integraccedilatildeo nacional a partir do seacuteculo XX o que por sua vez iniciava

um novo e complexo capiacutetulo na histoacuteria da regiatildeo Algo que viria a marca profundamente

natildeo soacute a paisagem com a retirada da cobertura vegetal para a implantaccedilatildeo das ldquoespinhas de

progressordquo como ficaram conhecidas as rodovias implantadas na Amazocircnia mas tambeacutem a

vida das centenas de milhares pessoas que migraram para o entorno das futuras rodovias

Essas populaccedilotildees tiveram que se adaptar ao ambiente amazocircnico ao mesmo tempo tambeacutem

trouxeram seus haacutebitos e costumes promovendo a troca de conhecimentos com as

populaccedilotildees ribeirinhas o que viria a permitir definitivamente a ocupaccedilatildeo da regiatildeo ateacute

entatildeo considerada um vazio demograacutefico Embora o ciclo da borracha tenha levado milhares

de nordestinos em sua maioria a regiatildeo amazocircnica no final do seacuteculo XIX ateacute a primeira

deacutecada do seacuteculo XX caberia aos migrantes e imigrantes das rodovias darem o ponto de

partida para transformaccedilatildeo definitiva da paisagem e a consolidaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo da regiatildeo

adaptando-se a realidade local que muitas vezes longe de centros urbanos eacute residir em

aacutereas de vaacuterzea Diante disso buscou-se Analisar as possiacuteveis alteraccedilotildees na vida de

populaccedilotildees ribeirinhas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri frente agrave

reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas

tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras Para isso faz-se necessaacuterio

identificar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) e o consequente

decliacutenio no volume de produccedilatildeo agriacutecola tento como referecircncia a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio Negro Caracterizar a percepccedilatildeo dos moradores dessas localidades sua relaccedilatildeo

com o ecossistema e perspectiva de desenvolvimento do lugar Propor alternativa de

Educaccedilatildeo Ambiental que considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e

sustentabilidade com a reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da estrada BR-319

Para executar tais objetivos a pesquisa foi dividida em duas etapas na primeira etapa foram

entrevistados os moradores mais antigos das duas localidades e na segunda etapa da

pesquisa agraves entrevistas foram expandidas aos chefes de famiacutelia com quarenta entrevistados

em cada localidade A partir das investigaccedilotildees realizadas e da anaacutelise dos dados coletados

foi possiacutevel detectar a percepccedilatildeo dos entrevistados quanto agrave reabertura da BR-319 e a

construccedilatildeo da ponte sobre o rio Solimotildees Dessa forma percebeu-se uma tendecircncia de

entusiasmos com a possibilidade de realizaccedilatildeo das obras ao mesmo tempo que gera

cautela nos entrevistados quanto aos impactos dessas obras sobre a floresta Amazocircnica

Palavras chaves Estradas na Amazocircnia ponte sobre o Rio Solimotildees percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Educaccedilatildeo Ambiental

9

ABSTRACT

The immense border and the dense forest cover encouraged by the military discourse of ldquoa

place without people craving for historyrdquo made the Amazon region a target to many

massive projects of development and national integration in the beginning of XX Century

which led to a new and complex chapter in the history of this regionThis is something that

would deeply scar not just the landscape with the major deforesting to implant the roads at

the Amazon as known as ldquospines of progressrdquo but also the life of hundreds of thousands of

people that migrated to the surrounds of those that would be the future highways These

populations had to adapt to traditions which fomented the exchange of knowledge

between the riverine populations which allowed the occupation of this area that was

considered as demographic emptiness Although the Latexrsquos cycle had brought thousands of

people most of them from the Northeast region to the Amazon region in the end of the XIX

Century until the first decade of the XX Century However it was the role of the migrants

and immigrants of the roadways to start the transformation that would define the

landscape and consolidate the occupation at this region adapting to local reality that

sometimes located far away from the urban centers itrsquos inhabit in riparian areas Taking this

in consideration this project aimed analize the possible alterations on the lifes of the

riparian populations sited at ldquoBela Vista Communityrdquo (Municipality of Manacapuru) and the

headquarters of the Municipality of Manaquiri ndash AM in view of the re-opening of the

highway BR-319 Considering that the building of the bridge over the SolimotildeesAmazonas

River will probably have as initial points those two locations For this its necessary identify

the present scenery of the fluvial geomorphology (upper land and floodplain) and the

consequent decline of the agricultural production having as reference the building of the

bridge over the Negro River Characterize the perception of the inhabitants of those

locations their relation with the ecosystem and the development perspective of the locality

Propound an alternative of Environmental Education that consider geographic aspects of the

region their complexity and sustainability with the spatial reconfiguration resulting from

the re-opening of the highway BR-319 To achieve such objectives the research was divided

in two phases In the first were interviewed the elders inhabitants at both locations Bela

Vista Community and the headquarters of the Municipality of Manaquiri In the second

phase were realized interviews with the familiesrsquo chiefs with forty inhabitants interviewees

in each locality Starting from the examination realized and from the analyzes of the

collected data it was possible detect the perception of the interviewees referring to the re-

opening of the highway BR-319 and the building of the bridge over the Solimotildees River

Therefore it was noticed a trend of enthusiasm regard the possibility of the fulfillment of

the construction at same time that generates some reservations in the interviewees about

the impacts of those works over the Amazon Forest

Keywords Roads in Amazon ndash Bridge Over the Solimotildees River ndash Transdisciplinary Perception

ndash Environmental Education

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia 24

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees 26

Figura 3 Primeira parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT41

Figura 4 Segunda parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT 42

Figura 5 Cruzeiros atracados no porto de Manaus43

Figura 6 Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia 46

Figura 7 BR-163 Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia48

Figura 8 Placa de bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica)49

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-23051

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista- Manacapuru57

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para o transporte61

Figura 12 Sede do municiacutepio de Manaquiri e sua topografia64

Figura 13 Frente da cidade de Manaquiri67

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri70

Figura 15 Centro comercial na sede municipal de Manaquiri70

Figura 16 Sede da comunidade da Bela Vista e sua topografia 82

Figura 17 Vista do rio SolimotildeesAmazonas da comunidade da Bela Vista83

Figura 18 Casa do administrador da Colocircnia85

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal por moradores da Bela Vista91

Figura 20 Usina de beneficiamento da CANA92

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA92

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista agrave margem do rio

SolimotildeesAmazonas93

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de vaacuterzea da comunidade da Bela Vista93

11

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio

SolimotildeesAmazonas94

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade104

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo109

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos113

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (AM-070)114

Figura 31 Aacutervores de castanheiras no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano

(AM-070)115

Figura 32 Ponte Rio Negro117

Figura 33 Iranduba 2007 antes da contruccedilatildeo da Ponte Rio Negro119

Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro121

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro122

Figura 36 Estrutura da Pesquisa127

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos128

Figura 38 Respostas dos entrevistados (1 a 4)129

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (perguntas 5 a 8)130

Figura 40 Resposta dos entrevistados (perguntas 9 e 10)131

Figura 41 Rua da comunidade da Bela Vista137

Figura 42 Sede do municiacutepio de Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa142

Figura 43 Paranaacute do Manaquiri150

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio de Manaquiri151

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas152

Figura 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia156

Figura 47 Rodovias Federais no Amazonas157

12

Figura 48 BR-317 ou Caarretera Del Paciacutefico158

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru159

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil159

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea- AM161

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira162

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant ndash Atalaia do Norte 164

Figura 54 BR-307 ndash Asfalto cedendo no 22km164

Figura 55 BR-230Amazonas166

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica170

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174171

Figura 58 A evoluccedilatildeo do territoacuterio Waimiri Atroari179

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319185

13

GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados da Bela Vista135

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista136

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista139

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte rio Solimotildees140

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319140

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri143

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo lhes agrada no Manaquiri144

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri145

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores de Manaquiri147

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio SolimotildeesAmazonas148

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319149

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia152

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores da sede municipal de Manaquiri sobre as consequecircncias

da construccedilatildeo de uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 Produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia59

Tabela 3 Crescimento populacional de Manaquiri entre (1991 a 2010 )67

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas68

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri de Janeiro a Dezembro de 201271

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo Agriacutecola da CANG75

Tabela 7 Crescimento populacional dos estados do Amazonas e Paraacute (1900-1950)80

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento do IIRSA124

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea

- AM165

Tabela 10 Crescimento populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas169

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atroari de 1905 ndash 2011172

Tabela 12 Crescimento populacional da regiatildeo Norte do Brasil182

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000- 2012)187

15

LISTA DE SIGLAS

BASA- Banco da Amazocircnia

BID- Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico

CANA- Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas

CAND- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados

CANG- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes

DEREM- Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Amazonas

DNER- Departamento Nacional de Estrada de Rodagem

FERMM- Fundo Especial da Regiatildeo de Metropolitana de Manaus

FIDAM- Fundo de Investimento Privado do Desenvolvimento

FNO- Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FONPLATA- Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

FUNAI- Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRA- Instituto Brasil de Reforma Agraacuteria

IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal

IIRSA- Iniciativa de Integraccedilatildeo Regional Sul Americana

INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

INIC- Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo

IPAAM- Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental da Amazocircnia

IPHAN- Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

PICs- Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo

PIND- Programa de Integraccedilatildeo Nacional de Desenvolvimento

16

PND- I Plano Nacional de Desenvolvimento

PNN- Plano Nossa Natureza

POLAMAZOcircNIA- Polos Agropecuaacuterios e Agrominerais da Amazocircnia

PRODES- Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica brasileira por sateacutelite

RMM- Regiatildeo Metropolitana de Manaus

SEMTA- Serviccedilo Especial de Mobilizaccedilatildeo de Trabalhos para a Amazocircnia

SEPROR- Secretaacuteria de Estado da Produccedilatildeo Rural

SNAPP- Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute

SPI- Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

SRMM- Secretaacuteria Executiva do Conselho de Desmatamento Ambiental da Regiatildeo

Metropolitana de Manaus

SUFRAMA ndash Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus

UAB- Usina Hidreleacutetrica de Balbina

UFAM- Universidade Federal do Amazonas

17

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO19

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS23

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO31

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTOS E INTEGRACcedilAtildeO

NACIONAL34

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA40

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO

SOLIMOtildeESAMAZONAS52

21 ndash QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA

AMAZOcircNIA57

211 ndash Um Lugar Chamado Manaquiri63

222 ndash Infraestrutura do Manaquiri Produccedilatildeo Agriacutecola68

22 ndash MARCHA PARA O OESTE E A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS72

221 ndash Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- Cana ldquoUm Lugar Para recomeccedilarrdquo78

222 ndash Infraestrutura da Cana da Produccedilatildeo Agriacutecola a Construccedilatildeo de Batelotildees85

223 ndash Da Sede da CANA agrave comunidade da Bela Vista87

3 ndash PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO96

31- RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR104

32 - MANAUS METROacutePOLE105

321 Ponte Rio Negro Proposta e Realidade108

33- PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS 116

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI 125

341 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Bela Vista 135

18

342 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Sede do Municiacutepio de

Manaquiri142

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR NO FUTURO ALTERNATIVA DE

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS153

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO158

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute162

43 BR-230 TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Aacute FAZENDAS DE

GADO165

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute-RR DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI)170

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO180

46 ndash OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES188

461 Proposta de Educaccedilatildeo Ambiental Audiecircncias Puacuteblicas e o preparo das localidades

ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri192

CONSIDERACcedilOtildeS FINAIS201

REFEREcircNCIAS204

APEcircNDICE 1219

APEcircNDICE 2220

19

INTRODUCcedilAtildeO

No final do seacuteculo XIV com o objetivo de comprar especiarias como accedilafratildeo canela

pimenta entre outros na Iacutendia os europeus principalmente portugueses e espanhoacuteis se

viram obrigados a encontrar uma rota alternativa para chegar a chamada Iacutendias Orientais

dando inicio agrave corrida pelas Grandes Navegaccedilotildees tornando os mares as principais vias de

circulaccedilatildeo de pessoas e mercadores a partir do seacuteculo XV intensificado ainda mais com a

descoberta das Ameacutericas

A preocupaccedilatildeo de invasotildees por paiacuteses adversaacuterios provocou a fundaccedilatildeo de

pequenas vilas e fortes ao longo dos litorais das Ameacutericas com o intuito de defender o

territoacuterio receacutem-descoberto Todavia a ocupaccedilatildeo de terras situadas proacuteximas a cursos de

aacutegua eacute anterior agraves Grandes Navegaccedilotildees uma vez que as cidades mais antigas do mundo tecircm

suas origens proacuteximas a cursos drsquoaacutegua mares e oceanos Como por exemplo a cidade de

Jericoacute na Palestina considerada a aglomeraccedilatildeo urbana mais antiga do mundo com data de

nove mil anos aC estaacute diretamente ligada ao rio Jordatildeo (VOGUE 2012) Outras cidades

consideradas antigas satildeo Mumbai na Iacutendia banhada pelo Oceano Iacutendico Xangai na China

banhada pelo Mar da China Meridional

No Brasil natildeo seria diferente uma vez que foi Colocircnia de Portugal no litoral e

Colocircnia Espanhola na Amazocircnia ateacute os espanhoacuteis serem expulsos pelos portugueses da

regiatildeo no seacuteculo XVII Entretanto os resquiacutecios da colonizaccedilatildeo portuguesa persistiram no

litoral criando primeiramente vilas depois cidades em constante crescimento populacional

concentradas em pequenos centros urbanos agrave principio e depois em meacutedios centros nos

seacuteculos seguintes

Com a libertaccedilatildeo dos escravos em 1888 novas aacutereas passam a ser ocupadas no

entorno dos centros urbanos ou no meio deles como eacute o caso dos morros na cidade do Rio

de Janeiro no inicio de 1900

A populaccedilatildeo brasileira concentrada quase em sua totalidade no litoral brasileiro no

inicio do seacuteculo XX definia a maior parte do territoacuterio como espaccedilos ldquovaziosrdquo o Governo

Brasileiro na pessoa do entatildeo Presidente da Repuacuteblica Getuacutelio Vargas (1938-1942) diante

20

dessa situaccedilatildeo criou as Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional enfatizando a ocupaccedilatildeo

principalmente da Amazocircnia e do Centro-Oeste brasileiro

Entretanto esta natildeo foi a primeira poliacutetica de povoamento da Amazocircnia pois o

primeiro Ciclo da Borracha aconteceu entre 1879-1912 onde centenas de milhares de

pessoas migraram para a regiatildeo com o objetivo de trabalharem na retirada do laacutetex da

seringueira (Hevea brasiliensis)

Contudo essa migraccedilatildeo em considerada escala natildeo permaneceu por um longo

periacuteodo tambeacutem natildeo chegou a ocupar significativa porcentagem da Amazocircnia isto eacute os

imigrantes se concentravam em poucos locais chamados de ldquoseringaisrdquo situados ao longo

dos rios no sudoeste do Amazonas e posteriormente no estado do Acre receacutem-

conquistado

As Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional criadas e iniciadas por Vargas em 1940 com o

Decreto-Lei nordm 2009 de 09 de Fevereiro de 1940 daacute inicio a criaccedilatildeo de Nuacutecleos Coloniais

(lotes rurais previamente demarcados) com o objetivo de incentivar a colonizaccedilatildeo e a

produccedilatildeo agriacutecola em aacutereas consideradas vazias desde que as aacutereas escolhidas reunissem

as condiccedilotildees exigidas na lei

Em 14 de Fevereiro de 1941 atraveacutes do Decreto-Lei nordm3059 criam-se as Colocircnias

Agriacutecolas Nacionais custeadas integralmente pelo governo federal Entre as colocircnias

fundadas estaacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA criada pelo Decreto-Lei nordm

8056 de 30 de Dezembro de 1941 localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem

esquerda do rio Solimotildees com o nome de Colocircnia Agriacutecola Nacional da Bela Vista

A presente pesquisa pretendeu fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo e

funcionamento CANA utilizando-se de entrevistas com os colonos que continuam morando

na regiatildeo Ao mesmo tempo fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo da cidade sede do

municiacutepio do Manaquiri situado agrave margem direita do Rio Solimotildees

Poreacutem o trabalho natildeo eacute somente um resgate histoacuterico pois o mesmo tambeacutem

identifica os impactos das grandes obras para reabertura da BR 319 na visatildeo dos moradores

das localidades ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri e posteriormente estruturar uma

alternativa que propicie informaccedilotildees aos moradores para a tomada de decisatildeo em relaccedilatildeo

aos empreendimentos propostos visando agrave construccedilatildeo de cenaacuterios futuros de modo a

garantir a conservaccedilatildeo do ambiente

21

O problema que norteou a pesquisa estaacute relacionado agrave proposta de

desenvolvimento da Amazocircnia compatibilizada com a sua conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as alteraccedilotildees na vida de

ribeirinhos do rio SolimotildeesAmazonas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri

no estado do Amazonas frente agrave reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte

sobre o rio tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras

Para o alcance desse objetivo geral a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos

especiacuteficos analisar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) visando o

comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis e o consequente decliacutenio no volume da produccedilatildeo

agriacutecola caracterizar a percepccedilatildeo dessas comunidades sua relaccedilatildeo com o ecossistema e

perspectiva de desenvolvimento do lugar propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental que

considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e sustentabilidade com a

reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da BR-319

A dissertaccedilatildeo estaacute organizada em quatro capiacutetulos Floresta Amazocircnica realidade e

desafios A vida ribeirinha em torno da sazonalidade do rio SolimotildeesAmazonas Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Complexidade perspectiva de Desenvolvimento Educaccedilatildeo Ambiental e

Poliacuteticas de Desenvolvimento para a Amazocircnia

Ao longo do primeiro capiacutetulo discutiu-se as diversas abordagens sobre a

Amazocircnia acompanhada da sua demarcaccedilatildeo territorial seja ela feita pelo bioma amazocircnico

ou pela delimitaccedilatildeo de Amazocircnia Legal Brasileira o processo de evoluccedilatildeo do pensamento

histoacuterico sobre a regiatildeo do claacutessico ao moderno baseado em autores que classificam a

Amazocircnia segundo seus aspectos fiacutesicos Os projetos de desenvolvimento implantados na

regiatildeo foram ressaltados em seus respectivos momentos histoacutericos e suas representaccedilotildees

tanto para seus executores quanto para o momento poliacutetico de cada eacutepoca Nesse sentido

foram descritos o potencial hiacutedrico da regiatildeo e a opccedilatildeo de rodovias para alcanccedilar natildeo soacute as

fronteiras mas para minimizar os problemas enfrentados em outras regiotildees brasileiras bem

como a seca no nordeste e o excesso de matildeo de obra

No segundo capiacutetulo foi traccedilado um panorama sequencial apoacutes a quebra da

borracha e os reflexos nas margens dos rios da regiatildeo com a

migraccedilatildeo dos ex-seringueiros para proacuteximo dos centros urbanos a fundaccedilatildeo de pequenos

povoados ao longo das calhas dos rios e a fundaccedilatildeo da Vila do Jaraqui que mais tarde se

22

tornaria a cidade de Manaquiri no estado do Amazonas No mesmo capiacutetulo descreve-se a

fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA com a chegada de

seus futuros colonos sua distribuiccedilatildeo espacial e posteriormente a sua transformaccedilatildeo ao

longo dos anos com a vinculaccedilatildeo ao municiacutepio de Manacapuru como uma comunidade

rural

No terceiro capiacutetulo discutiu-se as bases teoacutericas da percepccedilatildeo transdisciplinar e a

perspectiva de desenvolvimento dividido em dois momentos no primeiro apresenta-se o

conceito de percepccedilatildeo transdisciplinar e seus pilares ontoloacutegico a loacutegica do terceiro

incluiacutedo e a complexidade com seus tambeacutem trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional

e hologramaacutetico No segundo momento eacute discutido o conceito de desenvolvimento

empregado na criaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Manaus e na construccedilatildeo da ponte sobre

o rio Negro considerada a ldquoponte do futurordquo porque permitiraacute o acesso agrave BR 319 com a sua

vinculaccedilatildeo agrave ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas Ainda no capiacutetulo trecircs foi discutida a

percepccedilatildeo ambiental dos entrevistados sobre o meio ambiente natural onde vivem e sua

relaccedilatildeo com o mesmo visando colher informaccedilotildees que possam vir a ser usadas para a

sensibilizaccedilatildeo das localidades da Bela Vista e do Manaquiri

No quarto e uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho foi feito um resgate histoacuterico da

Educaccedilatildeo Ambiental no Brasil e no mundo assim como os impactos das rodovias

construiacutedas na Amazocircnia de forma a relacionar com as informaccedilotildees apontadas pelos

moradores da Bela Vista e de Manaquiri em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio

SolimotildeesAmazonas Ao mesmo tempo a pesquisa propotildee a execuccedilatildeo de alternativas de

Educaccedilatildeo Ambiental a fim de contribuir com a formaccedilatildeo de uma opiniatildeo puacuteblica baseada

em informaccedilotildees concretas de diversas fontes considerando a complexidade da questatildeo

ambiental

23

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS

A Floresta Amazocircnica Tropical ou Limite Panamazocircnica estaacute situada no norte da

Ameacuterica do Sul compreendendo os paiacuteses Boliacutevia Brasil Equador Colocircmbia Peru e a

Venezuela o equivalente a ldquo120 da superfiacutecie terrestre e dois quintos da Ameacuterica do Sul

conteacutem um quinto da disponibilidade mundial de aacutegua doce (17) e um terccedilo das florestas

mundiais latifoliadas mas somente 35 mileacutesimos da populaccedilatildeo planetaacuteriardquo(BECKER 2009

p33)

O Brasil deteacutem a maior parte da Florestal Tropical Amazocircnica ou Bioma Amazocircnico

que por coincidecircncia eacute toda a regiatildeo norte do paiacutes com aproximadamente 42 milhotildees de

kmsup2 o equivalente a 49 de todo o territoacuterio brasileiro abrangendo nove estados satildeo eles

Amazonas Paraacute Mato Grosso Acre Rondocircnia Roraima Amapaacute e partes dos estados de

Tocantins e Maranhatildeo (GREENPEACE 2014)

O Bioma Amazocircnico no Brasil eacute corriqueiramente confundido com a Amazocircnia

Legal instituiacuteda pela Lei nordm nordm 1806 de 06 de Janeiro de 1953 que discorre em seu art 2ordm

Art 2ordm A Amazocircnia Brasileira para efeito de planejamento econocircmico e execuccedilatildeo do Plano definido nesta lei abrange a regiatildeo compreendida pelos Estados do Paraacute e do Amazonas pelos territoacuterios federais do Acre Amapaacute Guaporeacute Roraima e ainda a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16ordm a do Estado de Goiaacutes a norte Tocantins e a do Maranhatildeo a oeste do meridiano de 44ordm (BRASIL 1953 p 276)

Com isso a Amazocircnia Legal abrange integralmente ou parcialmente dez estados

brasileiros que somados correspondem a 52 milhotildees de quilocircmetros quadrados sendo eles

Amazonas Paraacute Acre Amapaacute Rondocircnia (antigo estado de Guaporeacute) Roraima significativa

porcentagem do estado do Mato Grosso e aproximadamente metade do estado de Goiaacutes

juntamente com Tocantins e parte do Maranhatildeo (Figura 1)

24

O bioma Amazocircnico eacute classificado como uma recente planiacutecie sedimentar que

segundo Soares (1963 p25) estaacute ldquodisposta entre dois antigos e poucos elevados planaltos

cristalinosrdquo o que justifica sua pouca declividade em direccedilatildeo agrave sua foz no Oceano Atlacircntico

Banhada por uma intensa e extensa bacia hidrograacutefica a Amazocircnia eacute definida pela

literatura e pelos meios de comunicaccedilatildeo como uma regiatildeo homogecircnea de clima uacutemido de

cobertura vegetal e florestal densa (GONCcedilALVES 2001) No entanto tais definiccedilotildees sobre a

regiatildeo foram construiacutedas ao longo dos seacuteculos primeiramente com a chegada dos

espanhoacuteis agrave regiatildeo apoacutes perpetuados relatos e descriccedilotildees das paisagens encontradas

Uma visatildeo interessante sobre a Amazocircnia eacute apresentada por Rangel (2009) no inicio

do seacuteculo XX por meio de sete contos nos quais o autor destroacutei a imagem de um Eldorado

Amazocircnico construiacutedo ao longo de quatro seacuteculos apoacutes o seu descobrimento onde os

exploradores que se aventuravam pela regiatildeo descreviam suas paisagens animais cores e os

iacutendios encontrados cercados por romantismo

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia Fonte Greenpeace (2014) disponiacutevel em httpwwwgreenpeaceorgbrasilGlobalbrasilimage20105mapa_amazoniajpg

25

Rangel (2009) descreve uma realidade cruel enfrentada pelos homens que

ultrapassam a sua bela paisagem e se encontram face a face com os perigos escondidos na

floresta

Eacute compreensiacutevel a construccedilatildeo de um cenaacuterio tatildeo monstruoso e cruel uma vez que o

ser humano por essecircncia tem medo do desconhecido e costuma criar estoacuterias para

justificar seus medos contudo se faz necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo o contexto histoacuterico

especiacutefico de cada publicaccedilatildeo

Na verdade o Eldorado Amazocircnico ou o Paraiacuteso Perdido foram contos trazidos pelos

proacuteprios navegadores E satildeo na verdade contos da Greacutecia Antiga transmitidos ao longo dos

seacuteculos que foram implantados sobre a regiatildeo baseados nas semelhanccedilas fiacutesicas como

floresta aacutegua em abundacircncia minerais animais etc

Portanto a definiccedilatildeo de Amazocircnia ldquoeacute na verdade mais uma imagem sobre a regiatildeo

do que da regiatildeordquo (GONCcedilALVES 2001 p17) Em outras palavras a descriccedilatildeo das

caracteriacutesticas do lugar define um quadro belo mais ou menos homogecircneo sobre a regiatildeo

quando na verdade o termo Amazocircnia

eacute um termo vago que adquire muacuteltiplos significados correspondente aos mais diferentes contextos socioecoloacutegico-culturais especiacuteficos que satildeo os espaccedilos do seu cotidiano Assim enquanto para uns ndash os de fora ldquoAmazocircniardquo aparece no singular para outros isto eacute para os que nela moram ndash ela eacute plural e multifacetada (GONCcedilALVES 2001 p18)

Banhada por uma extensa e intensa bacia hidrograacutefica apoiada em altos iacutendices

pluviomeacutetricos anuais eacute uma floresta gigantesca em tamanho e diversidade torna a

Amazocircnia o palco de espetaacuteculos beliacutessimos em sua paisagem (Figura 2)

26

Contudo segundo Soares (1963) a Amazocircnia estaacute dividida em dois terrenos de

caracteriacutesticas fisionocircmicas distintas

[]os planos ondulados alagaacuteveis ou natildeo mas sempre uacutemidos da bacia amazocircnica A chamada Mata de Vaacuterzea ou caa-igapoacute eacute uma das taxas de umidade mais elevada isto eacute uma planiacutecie aluvial inundaacutevel [] Jaacute a outra a Mata de Terra Firme ou caa-eteacute viceja em terrenos menos uacutemidos por estarem acima do niacutevel maacuteximo das cheias (SOARES 1963 p64)

Azevedo (1949) destaca que a Amazocircnia assim como o restante do territoacuterio

brasileiro comporta bacias sedimentares e tambeacutem rochas cristalinas muito antigas

Baseado nos trabalhos publicados e apoiado em suas pesquisas de campo Azevedo (1949)

classificou pela primeira vez todo o relevo brasileiro em macro sistemas dividido-os

segundo sua altimetria planiacutecies ateacute 200m e planaltos com altimetria superior a 200m

Nesse contexto agrave Amazocircnia Brasileira foi classificada como um planalto localizado no

extremo norte da regiatildeo chamado de Planalto das Guianas e possui uma planiacutecie que

comporta todo o estado do Acre adentra o estado do Amazonas e segue o curso do rio

Amazonas ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico

No final da deacutecada de 50 surge uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro de

autoria de AbrsquoSaber (1958) que teve por base o conjunto de agentes internos (tectonismo) e

externos (clima solo hidrografia etc) e os processos geomorfoloacutegicos de erosatildeo e

deposiccedilatildeo onde o planalto eacute uma superfiacutecie de intensa erosatildeo e a planiacutecie de sedimentaccedilatildeo

Fez uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro acrescentando novas tipologias e

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees

Fonte Louzada (2011)

27

subdividindo outras jaacute existentes em Azevedo (1949) foi o que ocorreu na classificaccedilatildeo do

relevo amazocircnico onde o Planalto das Guianas e a Planiacutecie Amazocircnica de Azevedo (1949)

passou a ser denominada de planiacutecies (terras de vaacuterzea ou terraccedilos fluviais) e terras baixas

amazocircnicas (aacutereas de terra firme ou baixos planaltos)

Todavia o trabalho de Ross (2003) foi um marco na caracterizaccedilatildeo do relevo

brasileiro pois atraveacutes do Projeto Radam Brasil o autor teve a oportunidade de sobrevoar

todo o territoacuterio brasileiro e ter acesso as imagens aeacutereas de radar que o permitiu fundir

informaccedilotildees tanto dos processos morfoestruturais (depressatildeo planalto planiacutecie etc) e

estrutura geoloacutegica como utilizar o criteacuterio morfoclimaacutetico principalmente do intemperismo

(erosatildeo e deposiccedilatildeo) Tanto conhecimento que permitiu ao autor expandir a caracterizaccedilatildeo

do relevo brasileiro caracterizando-o em 28 unidades de revelo

Na classificaccedilatildeo de Ross (2003) a Amazocircnia estaacute dividida assim Planalto Residual

Norte Amazocircnico Planalto da Amazocircnia Oriental Planalto Residual Sul Amazocircnico Planalto

e Chapada dos Parecis Depressatildeo Marginal Norte Amazocircnica Depressatildeo Marginal Sul

Amazocircnica Planiacutecie do Rio Amazonas Planiacutecie do Pantanal Guaporeacute Planiacutecies e Tabuleiros

Litoracircneos e Planiacutecie do Rio Araguaia

Apesar da nomenclatura diferente a Planiacutecie do Rio Amazonas descrita por Ross

(2003) eacute a mesma planiacutecie de terras baixas descritas por AbrsquoSaber (1958) onde predominam

terras alagaacuteveis conhecidas como vaacuterzeas Soares apud Camargo (1963) afirma que as

vaacuterzeas correspondem a 15 de todo o territoacuterio da Amazocircnia Brasileira

As terras de vaacuterzea satildeo cobertas pela sazonalidade do rio em meacutedia seis meses ao

ano todavia ao contraacuterio do que muitos leigos dizem as terras natildeo satildeo lavadas pelo rio ao

contraacuterio satildeo nutridas pelo mesmo atraveacutes da deposiccedilatildeo de materiais conhecidos como

aluviotildees (depoacutesitos de sedimentos trazidos pelas aacuteguas) o que torna as terras de vaacuterzea

feacuterteis e cultivaacuteveis em seu periacuteodo seco

A mata de vaacuterzea apresenta maior diversidade botacircnica que a mata de terra firme

devido agrave quantidade e variedade de sementes transportadas pelas aacuteguas das cheias anuais

depositadas nos solos ricos das vaacuterzeas Um grande exemplo dessa diversidade eacute a aacutervore

Samauacutema (Ceiba Pentandra) detentora de um tronco grosso e coloraccedilatildeo esbranquiccedilada

que apresenta uma grande copa e de relativa altura ultrapassando os 50m sendo

considerada a ldquorainha da vaacuterzeardquo (SOARES 1963)

28

Por causa de sua nutriccedilatildeo anual as terras de vaacuterzea satildeo ocupadas pelas populaccedilotildees

ribeirinhas tradicionais para a produccedilatildeo agriacutecola por meio do plantio de cultivos de ciclo

curto como frutas (melancia maracujaacute banana melatildeo mamatildeo papaia goiaba) mas

principalmente de verduras (cebolinha coentro alfavaca couve berinjela pepino alface

entre outras) aleacutem da macaxeira e da mandioca que em seguida eacute utilizada na fabricaccedilatildeo da

farinha de mandioca muito consumida na regiatildeo Eacute atraveacutes das vaacuterzeas tambeacutem que as

populaccedilotildees tradicionais manteacutem seu contato diaacuterio com o rio principal via de circulaccedilatildeo na

Amazocircnia

Geralmente proacuteximas agraves vaacuterzeas que se formam as ilhas fluviais que segundo Sioli

apud Pacheco et al (2012 p543) satildeo fruto ldquodas modificaccedilotildees constantes na paisagem

atraveacutes do processo das planiacutecies de inundaccedilatildeovaacuterzeas ora erodindo-as e outras vezes

sedimentando-asrdquo

Essa dinacircmica acontece porque no processo fluvial de um rio a competecircncia e a capacidade estatildeo atreladas a triacuteade fluvial 1) erosatildeo 2) transporte das cargas detriacuteticas e 3) deposiccedilatildeo (BIGARELLA e SUGUIU 1990CHRISTOFOLETTI1980 e 1991) Ressalta-se desse modo que essa dinamicidade das aacuteguas fluviais natildeo contribui apenas para o modelado do relevo das planiacutecies aluviais pois ao desencadear o processo da triacuteade influencia na vida do homem de maneira que o atrai para a edificaccedilatildeo do seu sistema de produccedilatildeo [] Nessa dinacircmica vai deixando bancos dentriacuteticos que chegam a formar ilhas fluviais que constituem o ecossistema de vaacuterzea onde o homem passa a interagir com seu modo de vida (PACHECO et al 2012 p543)

Os autores referem-se agrave utilizaccedilatildeo das ilhas fluviais pelos ribeirinhos para a

produccedilatildeo agriacutecola de alimentos de ciclo curto como feijatildeo de metro ou corda feijatildeo de

praia melancia entre outros para complementar a alimentaccedilatildeo familiar ou para a venda no

mercado consumidor mais proacuteximo

Ao contraacuterio dos solos de vaacuterzea que satildeo nutridos pelas aacuteguas dos rios quando satildeo

cobertos pelas cheias os solos de terra firme nunca satildeo totalmente cobertos pelas aacuteguas

nem quando as enchentes extrapolam sua cota normal o que natildeo permite a nutriccedilatildeo dos

seus solos que eacute parcialmente alcanccedilado com a decomposiccedilatildeo das folhas das aacutervores e dos

proacuteprios nutrientes do solo

Apesar da ausecircncia de depoacutesitos aluviais nas aacutereas de terra firme isto natildeo impede a

existecircncia de aacutervores consideradas nobres como o mogno (Swieteniamahogany) angelim

(Hymenolobim excelsum) maccedilaranduba (Lucuma procera) e uma gigantesca lista de outras

29

espeacutecies de madeiras de lei (SOARES 1963) de grande procura no mercado o que torna as

aacutereas de terra firme da Amazocircnia alvo de grande empresas madeireiras

Devido ao seu gigantesco territoacuterio maior do que o nordeste brasileiro inteiro e

qualquer outra regiatildeo do paiacutes a Amazocircnia ainda eacute vista como um ldquovazio demograacuteficordquo pois

sua populaccedilatildeo mesmo somando os sete estados que compotildeem a regiatildeo norte do paiacutes natildeo

expressa um nuacutemero significativo de habitantes pois tem densidade demograacutefica meacutedia de

444 (habkmsup2) (IBGE 2010)

Por anos a Amazocircnia foi definida e divulgada em larga escala ao mundo como

sendo uma regiatildeo monoacutetona e pouco compartimentalizada desprovida de diversidade

fisiograacutefica e ecoloacutegica ldquoEnfim um espaccedilo sem gente e sem histoacuteria passiacutevel de qualquer

manipulaccedilatildeo por meio de planejamento feito a distacircncia ou sujeita a proposta de obras

faraocircnicas vinculadas haacute um muito falso conceito de desenvolvimentordquo (ABrsquoSABER 1996

p131)

Nesse contexto de ldquoabundacircnciardquo de recursos naturais e terras disponiacuteveis a

Amazocircnia foi e continua sendo a preocupaccedilatildeo nacional pois corresponde

aproximadamente a metade do territoacuterio brasileiro suas dimensotildees e riquezas naturais natildeo

totalmente catalogadas pelos cientistas e estudiosos acabam por atrair um grande numero

de pessoas oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo (BECKER 1997)

Diante disso com o golpe do Estado Novo executado por Getuacutelio Vargas em 1937

contra os candidatos agrave presidecircncia da receacutem criada Repuacuteblica do Brasil Joseacute Almeida e

Armando Oliveira (acusados de serem comunistas) Vargas assume o poder em 1938

tornando prioridade a integraccedilatildeo econocircmica nacional atraveacutes da colonizaccedilatildeo de regiotildees

consideradas desabitadas como a Amazocircnia e o Centro-oeste brasileiro

Em virtude de que a capital do paiacutes ainda se encontrava no litoral na cidade do Rio

de Janeiro o nome do movimento de integraccedilatildeo nacional recebeu o nome de ldquoMarcha para

o Oesterdquo entretanto a marcha seguia em direccedilatildeo ao centro oeste em diferenccedila aos estados

de Minas Gerais Mato Grosso posteriormente ao Norte agrave Amazocircnia

A Marcha para o Oeste na verdade continha importacircncia estrateacutegica para

seguranccedila das fronteiras no entanto o objetivo principal era ocupar os espaccedilos

considerados vazios demograacuteficos e seguranccedila nacional era sua maior preocupaccedilatildeo

30

Segundo Ricardo (1970) a Marcha para o Oeste de Getuacutelio Vargas seria a

conquista de seu proacuteprio territoacuterio uma vez que o mesmo foi esquecido por muitos anos

discurso este impregnado na ampla campanha veiculada pelo raacutedio em transmissotildees

semanais incentivando a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira para os espaccedilos considerados

vazios de gente e necessitados de histoacuteria

Ainda segundo Ricardo (1970) a naccedilatildeo brasileira se concretiza na conquista do

interior do Brasil lugar de gecircnese do Estado Nacional materializado na proacutepria bandeira

ldquoQuando entra no mato a primeira bandeira termina a histoacuteria de Portugal e comeccedila a do

Brasilrdquo (RICARDO 1970 p229)

Nota-se no entanto que Ricardo (1970) eacute um grande defensor da Marcha para o

Oeste de Vargas porque deseja como jornalista escrever a histoacuteria do Brasil a partir de um

novo comeccedilo sem a influecircncia negativa do litoral visto por ele como a porta de entrada das

ideias corruptoras vindas da Europa entre elas o comunismo

Ricardo (1970 p480) afirma que a Marcha para o Oeste eacute a chance de

ldquodesfeudalizar a economia da casa-grande golpeando de morte a aristocracia do litoral

brasileirordquo

Capelato (1998) considera que a releitura do passado no caso os bandeirantes do

seacuteculo XVII e a transposiccedilatildeo para o presente impregnado em um siacutembolo a bandeira

converge para a construccedilatildeo de uma nova nacionalidade

Desse modo ldquoa bandeira no interior da tropa concentra poderes pois assume o

papel de chefe de famiacutelia substituindo o cacique e o senhor feudalrdquo (RICARDO 1970 p479)

Esta comparaccedilatildeo entre o chefe de famiacutelia o bandeirante e o chefe de estado na verdade era

uma transferecircncia de poder a bandeira que se transformava em um ldquoEstado em miniaturardquo

para a formaccedilatildeo de um Estado brasileiro com a inclusatildeo de brancos iacutendios e negros uma

democracia racial e a unidade nacional

Todavia para Lenharo (1985) a expansatildeo geograacutefica e a integraccedilatildeo territorial que o

movimento bandeirista proporcionaraacute no passado transportado ao presente (seacuteculo XX)

pela Marcha para o Oeste tendo como siacutembolo a bandeira brasileira dava contorno e

conhecimento fiacutesico do Estado Nacional ao mesmo tempo democratizaccedilatildeo agrave naccedilatildeo atraveacutes

da miscigenaccedilatildeo

31

Ricardo (1970) destaca ainda que o ato de Marcha para o Oeste natildeo eacute somente um

caminho a ser percorrido no ato de uma regeneraccedilatildeo em que a pureza do sertatildeo seraacute

submetida pelo litoral recebendo sua riqueza material e cultural

Mas sobretudo a marcha para o centro do paiacutes e depois para o oeste (no caso agrave

Amazocircnia sendo portanto o norte do paiacutes e natildeo o oeste) significava a ldquointegraccedilatildeo de

milhares de brasileiros agrave comunhatildeo nacional e seus benefiacutecios dando a oportunidade de

brasileiros de mentalidade atrasada [] penuacuteria fiacutesica [] e indigecircncia intelectual aleacutem da

miseacuteria econocircmicardquo (MESQUITA1943 p 264-265) a chance uacutenica de integraacute-los na vida

nacional levando assistecircncia agraves populaccedilotildees sertanejas ldquoignoradas e subnutridasrdquo(RICARDO

1956 p62-63)

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO

De beleza e diversidade sem igual a Floresta Amazocircnica Brasileira permaneceu

relativamente intacta apoacutes os quatro seacuteculos de sua ldquodescobertardquo pelos espanhoacuteis pois natildeo

era possiacutevel viabilizar accedilotildees que viessem a conquistar a regiatildeo ateacute entatildeo isolada dos centros

dinacircmicos do paiacutes

Contudo La Condamine apud Batista (2007 p169) destaca

[] foi encontrar o cahuchu (nome que os iacutendios davam a goma significando ao peacute da letra pau que daacute leite) na Proviacutencia de Quito e depois nas beiras do Marantildeon jaacute utilizado para a confecccedilatildeo de garrafas botas bolas e bombas ou seringas A novidade estava em que os artefatos de borrachas se mostravam impermeaacuteveis e de grande elasticidade Comunicando o achado sensacional La Condamine se apresentou a Academia de Ciecircncias de Paris (BATISTA 2007 p169)

No ano de 1745 inicia-se inuacutemeras expediccedilotildees para a Amazocircnia com o objetivo de

colher a goma e testaacute-la nos anos que se seguiram agrave ldquodescobertardquo do laacutetex diversos foram

os testes para conhecer a substacircncia e tornaacute-la resistente agraves mudanccedilas de temperatura e

suas muacuteltiplas utilizaccedilotildees

Ateacute que em 1839 depois de 94 anos de pesquisa e estudos ldquoo americano Charles

Goodyear descobriu que misturando enxofre agrave borracha (vulcanizaccedilatildeo) conseguia

aumentar-lhe a resistecircncia e tornaacute-la quase insensiacutevel agraves variaccedilotildees de

temperaturardquo(BATISTA 2007 p170)

32

Com a possibilidade de vulcanizaccedilatildeo da borracha e por consequecircncia uma maior

aplicabilidade na fabricaccedilatildeo de produtos resultou no

[] aumento consideravelmente a induacutestria de seus artefatos e consequentemente a sua extraccedilatildeo (em 1827 a Amazocircnia Brasileira jaacute exportava mais de 30 toneladas) entatildeo realizada por gente da terra agrave qual se juntariam mais tarde (pouco depois de 1850) emigrados da Proviacutencia do Maranhatildeo que se instalaram nos vales do Purus e do Solimotildees (SOARES apud REIS 1963 p119)

Segundo Soares (1963 p119)

Caberia ao nordestino poreacutem contribuir de maneira dramaacutetica e consideraacutevel para a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia Duramente castigado pela inclemecircncia do clima semiaacuterido com intermitentes e flagrante secas de sua terra natal viu na rendosa extraccedilatildeo do precioso laacutetex a soluccedilatildeo para o seu angustiado problema de sobrevivecircncia trocaria assim a miseacuteria e a falta drsquoaacutegua pela fortuna generosa num lugar onde natildeo passaria mais fome e sede O pesado tributo que aquela ldquoterra de promissatildeordquo iria cobrar-lhe mais tarde em sofrimentos fiacutesicos e ateacute com a proacutepria vida lhe era ainda desconhecido (SOARES 1963 p119)

Diante das rigorosas secas a partir de 1870 levas de migrantes

[] flagelados famintos doentes e desesperados lanccedilaram-se no ldquoinferno verderdquo da Amazocircnia que desconheciam totalmente numa migraccedilatildeo desordenada ldquodolorosa e anaacuterquicardquo na realidade um verdadeiro ecircxodo forccedilado mais pela fome e pela sede do que pela ambiccedilatildeo de uma riqueza que se afigurava faacutecil Oriundos principalmente do estado do Cearaacute o nordestino viesse de que estado fosse do Nordeste era chamado ldquocearenserdquo pelos habitantes da Amazocircnia (SOARES1963 p120)

Soares (1963) descreve que os maiores deslocamentos de nordestinos para a

Amazocircnia eram observados por ocasiatildeo das grandes secas e principalmente se

coincidissem com o alto preccedilo da borracha nos mercados internacionais

Soares (1963 p123) afirma que ateacute 1930 calculou-se que 200 mil nordestinos

migraram para a Amazocircnia em busca de terras para cultivar e uma chance de sobreviver e

criar seus filhos Foi atraveacutes deste e de muitos outros movimentos migratoacuterios em direccedilatildeo agrave

Amazocircnia que foi se construindo ao longo dos anos e seacuteculos o que conhecemos hoje

como espaccedilo geograacutefico amazocircnico

Dardel (2011 p3) descreve o espaccedilo geograacutefico como sendo ldquoum horizonte uma

modelagem cor densidade Ele eacute soacutelido liacutequido ou aeacutereo largo ou estreito ele limita e

33

resisterdquo Tal descriccedilatildeo do espaccedilo relembra o rigor da ciecircncia frente agraves lentes de um

observador justo que seleciona imagem que reafirme seu amparo e sua medida

Todavia Dardel tambeacutem afirma que eacute funccedilatildeo da ldquogeografia segundo a etimologia

fazer a descriccedilatildeo da Terrardquo (DARDEL 2011 p3) Prossegue ressaltando que diferentemente

do rigor da ciecircncia que se apega agraves paisagens e fatos que sirvam ao seu propoacutesito o

geoacutegrafo se prende agrave leitura das formas e cores da superfiacutecie terrestre atraveacutes das lentes do

romantismo onde as feiccedilotildees da Terra despertam vibraccedilotildees e cores

Por outro lado AbrsquoSaber (2011) descreve a paisagem considerando

predominantemente os aspectos fiacutesicos extensotildees planaltos planiacutecies tentando

compreender o mosaico de formas que os compotildeem todavia natildeo atraveacutes das lentes do

romantismo como afirmado por Dardel (2011) mas atraveacutes do conhecimento adquirido da

observaccedilatildeo da paisagem e suas diferentes formas

Tal descriccedilatildeo pode ser usada como uma das definiccedilotildees do que eacute ser um geoacutegrafo

entretanto o que se propotildee aqui eacute entender o que eacute espaccedilo afinal Pode ser a organizaccedilatildeo

territorial dada pelo homem em relaccedilatildeo ao meio ambiente natural (MOREIRA 2011 p41)

que leva em consideraccedilatildeo a mudanccedila da relaccedilatildeo do homem com o meio a partir de dois

periacuteodos marcantes na histoacuteria a descoberta do fogo e a domesticaccedilatildeo de algumas plantas

para a agricultura Por outro lado Dardel (2011 p03) afirma que o espaccedilo eacute geomeacutetrico e

uacutenico que tem nome proacuteprio As definiccedilotildees de espaccedilo satildeo muitas e variam dentro da

mesma ciecircncia geograacutefica mas todas de alguma forma concordam que espaccedilo eacute um lugar

em dimensotildees ampliadas de muacuteltiplas e variadas funccedilotildees que servem de base para as

relaccedilotildees humanas com o meio ambiente natural ou construiacutedo

Diante de tantas definiccedilotildees sobre o espaccedilo se torna mais faacutecil compreender a visatildeo

de Gonccedilalves (2001) sobre a Amazocircnia e suas diferentes Amazocircnias frutos de suas

conquistas Primeiramente pelos espanhoacuteis na sua descoberta posteriormente pela invasatildeo

portuguesa depois pela catequizaccedilatildeo jesuiacuteta pelas migraccedilotildees em pequena escala durante

os seacuteculos seguintes e em grande escala no Ciclo da Borracha no inicio do seacuteculo XX e as

colocircnias (japoneses em Parintins nordestinos israelenses aacuterabes em Manacapuru)

Considere-se ainda a construccedilatildeo de estradas como a BR230 ndash a Transamazocircnica (Paraiacuteba -

34

Amazonas) a BR153 (Beleacutem-Brasiacutelia) a BR174 (Manaus - Boa Vista) a BR319 (Manaus- Porto

Velho) entre outras que permitiram a chegada de mais migrantes agrave regiatildeo

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRACcedilAtildeO NACIONAL

Um dos discursos mais antigos sobre a Amazocircnia aleacutem de descrever suas

dimensotildees e paisagem estonteantes eacute a afirmaccedilatildeo erroneamente empregada de que a

regiatildeo eacute ldquoum vazio demograacuteficordquo discurso este sustentado haacute muitos seacuteculos Orellana apud

Batista (2007 p53) afirma ter encontrado aldeias ao longo do rio Amazonas com

populaccedilotildees numerosas sempre bem providas de alimentos diversos

Batista (2007 p54) relata ainda as andanccedilas do padre Antocircnio Vieira pela foz do rio

Amazonas no seacuteculo XVIII que calculou a populaccedilatildeo em dois milhotildees de iacutendios de diferentes

povos e liacutenguas mas que falavam uma liacutengua em comum Todavia outros viajantes

contestam essas informaccedilotildees culpando a floresta pela escassez da populaccedilatildeo limitada a

viver em pequenos grupos

Ateacute hoje em pleno seacuteculo XXI com toda tecnologia disponiacutevel natildeo se chegou ainda

agrave conclusatildeo do real nuacutemero da populaccedilatildeo que viveu na regiatildeo o que diratildeo os viajantes que

passaram por ela Contudo haacute concordacircncia de que a populaccedilatildeo residente ou natildeo resistiu

bravamente ldquoa mais de quatro seacuteculos de confronto com o branco representado

fundamentalmente pelos espanhoacuteis e posteriormente por portugueses e seus

descendentesrdquo (BATISTA 2007 p53)

Ao partirmos do conceito de densidade demograacutefica utilizado atualmente pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE que afirma ldquodensidade populacional eacute a

medida expressa pela relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo e a superfiacutecie do territoacuteriordquo poderiacuteamos ateacute

considerar a afirmaccedilatildeo de que a ldquoAmazocircnia eacute um vazio demograacuteficordquo se comparada agraves suas

dimensotildees geograacuteficas se esse levantamento levar em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo populaccedilatildeo-

aacuterea equacionada por relaccedilotildees sociais entre si e com a natureza ao seu entorno

(GONCcedilALVES 2001) Esse dado poderia ser repensado haja vista que as grandes cidades da

Amazocircnia como Beleacutem e Manaus cresceram ao longo dos anos em contato constante com

a floresta sem desmataacute-la por completo com exceccedilatildeo de Beleacutem em relaccedilatildeo direta com a

natureza seja atraveacutes do extrativismo da pesca ou da agricultura Natildeo cabe aqui excluir

35

Beleacutem mas destacar o seu crescimento diferenciado devido agrave sua ligaccedilatildeo terrestre com

outras cidades brasileiras

Segundo Gonccedilalves (2002) a Amazocircnia natildeo eacute um vazio demograacutefico e cultural em

virtude de natildeo estarmos pensando a partir dos amazocircnidas que tecircm muito a ensinar a toda

a humanidade porque aprenderam a viver em ldquoharmoniardquo com a natureza agrave sua volta

estando acostumados a reproduzir relatos da eacutepoca da colonizaccedilatildeo da regiatildeo muitas vezes

apoiados em estatiacutesticas de densidade populacional contemporacircnea mesmo sabendo que

tais dados (densidade populacional) expressam de forma resumida sua quantificaccedilatildeo sem

levar em consideraccedilatildeo caracteriacutesticas importantes como relaccedilatildeo da populaccedilatildeo com o meio

ambiente natural seu crescimento urbano sua qualidade de vida entre outras

Gonccedilalves (2001 p 33) afirma que o discurso de vazio demograacutefico

[] esconde aquela preocupaccedilatildeo jaacute salientada herdada do periacuteodo colonial que revela mais a respeito das dificuldades dos que querem colonizaacute-la em realizar o seu intento do que propriamente do povoamento da regiatildeo Eacute a ideia do vazio demograacutefico eacute frequentemente reiterada como que para justificar a necessidade de ocupaacute-la para garantir a integridade nacional (GONCcedilALVES 2001 p33)

Preocupado com a densidade populacional da Amazocircnia devido agraves suas dimensotildees

e sua gigantesca fronteira o poder puacuteblico criou as poliacuteticas de ocupaccedilatildeo e integraccedilatildeo

nacional apoacutes 1964 que Becker (1997 p11) definiu como ldquosurtos devassadores vinculados

agrave expansatildeo capitalista mundialrdquo

O I Plano Nacional de Desenvolvimento ndash PND foi criado pela Lei 5727 de 04 de

Novembro de 1971 e tinha como objetivos

- colocar o Brasil [] na categoria de naccedilatildeo desenvolvida - duplicar ateacute 1980 a renda per capita do paiacutes (em comparaccedilatildeo a 1969) - expandir o PIB de Cr$ 2228 bilhotildees em 1972 para Cr$ 3145 bilhotildees em 1974 - investimentos nas aacutereas de siderurgia petroquiacutemica transporte construccedilatildeo naval energia eleacutetrica e mineraccedilatildeo - prioridades sociais agricultura programas de sauacutede educaccedilatildeo saneamento baacutesico e incremento agrave pesquisa teacutecnico cientifica - ampliaccedilatildeo do mercado consumidor e da poupanccedila interna com os recursos do PIS e do PASEP -aumento da taxa de investimento bruto de 17 em 1970 para 19 em 1974 (MATOS 2002 p47)

Aleacutem desses objetivos o PND teria que preparar a infraestrutura que fosse

necessaacuteria para alcanccedilar todos os objetivos nas deacutecadas seguintes ldquocom destaque para os

36

transportes e as telecomunicaccedilotildees aleacutem de articular poliacuteticas setoriais com empresas

estatais e bancos oficiaisrdquo (ALMEIDA 2006 p195)

Por este motivo criaram o Programa de Integraccedilatildeo Nacional - PIN que foi aprovado

pelo Decreto Lei nordm1106 em 16 de julho de 1970 vigorando ateacute 1972 no governo do entatildeo

presidente Emiacutelio Garrastazu Meacutedici (MATOS 2002 p47) atraveacutes da construccedilatildeo de grandes

obras no paiacutes com destaque para a Usina Hidreleacutetrica de Itaipu e a Rodovia Transamazocircnica

(considerada o marco principal do PIN)

O PIN tinha como um dos principais objetivos ldquocriar meios de expansatildeo da fronteira

econocircmica do paiacutes em direccedilatildeo ao Centro-Oeste da Amazocircnia e do Nordesterdquo (MELLO 2006

p29) por meio de estradas ligando os centros dinacircmicos e modernos do paiacutes agrave lugares

isolados

Para as rodovias na Amazocircnia comeccedilando pela rodovia Transamazocircnica se previa

no PIN segundo Velho (1995 p210) que a cada cem quilocircmetros de estradas deveriam ser

assentadas cem mil famiacutelias

Entre os trechos de Altamira e Itaituba na Transamazocircnica deveria ser construiacutedas

Agrovilas (com 64 lotes com o espaccedilo 100 ha cada e casas destinadas aos colonos para o

desenvolvimento de suas atividades agriacutecolas) As agrovilas deveriam contar com escolas de

1ordmGrau (atual Ensino Fundamental) posto meacutedico igrejas e um armazeacutem para produtos

agriacutecolas (RABELLO 2011)

Tambeacutem se previa a implantaccedilatildeo de Agroacutepolis (conjunto de agrovilas em torno de

um nuacutecleo de serviccedilos urbanos) contendo todos os serviccedilos de agrovilas e serviccedilos

bancaacuterios correios e de escolas de 2ordm Grau (atual Ensino Meacutedio) tendo como objetivo

atender a demanda de cada trecho da Transamazocircnica

Algumas Agrovilas chegaram a ser implantadas na Rodovia Transamazocircnica mas

somente uma Agroacutepolis foi implantada no Km 46 onde recebeu o nome de Brasil Novo e

natildeo continha todos os serviccedilos descritos no PIN sendo chamada posteriormente de agrovila

(RABELLO 2011)

Mello apud Kleinpenning (2006 p29) afirma

Embora as agrovilas tenham sido previstas em 1971 apenas Brasil Novo na Transamazocircnica foi implantada e em 1973 o INCRA jaacute desistia desse modelo em funccedilatildeo do alto custo que representava Ateacute 1976 os colonos tinham desmatado natildeo mais que 10ha em seus lotes um ritmo reduzido acarretando tambeacutem reduccedilatildeo das metas de produccedilatildeo Sem produccedilatildeo as agrovilas perderam suas funccedilotildees Novos

37

instrumentos foram disponibilizados pelo Banco do Brasil (para creacutedito aos colonos) pela CIBRAZEM (para o armazenamento da produccedilatildeo) e pelo governo federal (para assistecircncia meacutedica) (MELLO apud KLEINPENNIG 2006 p29)

Segundo Becker (1997)

A modernizaccedilatildeo imposta pela estrateacutegia governamental natildeo eacute contudo onipotente Natildeo apenas porque foi desigualmente distribuiacuteda mas porque a realidade natildeo se desenvolve conforme o plano Na estrateacutegia governamental interferem os interesses e confrontos dos atores sociais privados e puacuteblicos expressos em sua territorialidade [] A propriedade dos seringais castanhais e do rebanho encontrava-se em poucas matildeos envolvendo aacutereas imensas e constituindo via de regra grandes posses (baseadas em arrendamentos de terras devolutas) cuja legitimidade passa a ser disputada pelos novos atores configurando a questatildeo da terra como central ao processo de ocupaccedilatildeo (BECKER 1997 p 19-20)

Atraiacutedos pela possibilidade de exploraccedilatildeo da mineraccedilatildeo madeira e a expansatildeo da

pecuaacuteria vaacuterios grupos econocircmicos do centro-sul do Brasil e estrangeiros denominados

popularmente como ldquosulistasrdquo migraram para as rodovias na Amazocircnia ldquoacompanhados de

empreiteiras teacutecnicos e sobretudo de camponeses e trabalhadores sem terra invertendo a

distribuiccedilatildeo do povoamento e da produccedilatildeordquo(BECKER 1997 p20)

Ainda segundo Becker (1997) a territorialidade exacerbada e intensa resultou em

conflitos violentos entre os atores sociais e contra o Estado ldquoOs conflitos de terra e de

territoacuterio onde se localizam as jazidas minerais subjugando iacutendios e camponeses satildeo os mais

conhecidosrdquo(BECKER 1997 p20)

Para Mello (2006)

A fase dessa estruturada accedilatildeo do Estado deixou cicatrizes provocadas pelos fortes conflitos sociais e pelos impactos ambientais Conflitos de terra entre fazendeiros posseiros seringueiros e iacutendios Desmatamento acelerado pela abertura de estradas exploraccedilatildeo de madeira seguida da expansatildeo agropecuaacuteria e imensa mobilidade espacial da populaccedilatildeo (MELLO 2006 p26)

Com a crise do petroacuteleo no final de 1973 e a elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo interna o

governo brasileiro se viu obrigado a escolher entre duas opccedilotildees difiacuteceis optar pela poliacutetica

de ajustamento do mercado externo (que causaria a contenccedilatildeo do crescimento interno e

evitaria o choque do setor externo em se transformar em inflaccedilatildeo permanente) ou pela

poliacutetica de financiamento (que manteria o crescimento com ajustes graduais de preccedilos com

financiamento externo) A escolha foi pelo financiamento contudo natildeo conseguiu atingir os

objetivos desejados obrigando o governo a lanccedilar o II Plano Nacional de Desenvolvimento

em 1974 (MATOS 2002 p49)

38

O II PND contemplou como medidas

I- O Brasil deveraacute ajustar a sua estrutura econocircmica aacute situaccedilatildeo de escassez de petroacuteleo e ao novo estaacutegio de sua evoluccedilatildeo industrial Tal mudanccedila implica em grande ecircnfase nas Induacutestrias Baacutesicas notadamente o setor de Bens de Capital e o de Eletrocircnica pesada assim como o campos dos Insumos Baacutesicos a fim de substituir importaccedilotildees e se possiacutevel abrir novas frentes de exportaccedilatildeo A Agropecuaacuteria que vem tendo em geral bom desempenho eacute chamada cumprir novo papel no desenvolvimento brasileiro II- Consolidar uma sociedade industrial moderna e de economia competitiva (BRASIL 1974 p5)

Para a Integraccedilatildeo Nacional foram destinados Cr$165 bilhotildees a serem distribuiacutedos

assim Cr$ 100 bilhotildees para o nordeste (com taxas de juros as maiores do paiacutes) e Cr$65

bilhotildees distribuiacutedos entre a construccedilatildeo do Polo Petroquiacutemico da Bahia e um Complexo

Metal Mecacircnico e Eletro Mecacircnico e o Programa de Desenvolvimento da Agroinduacutestria do

Nordeste

Contudo o paraacutegrafo sexto do II PND previa que ldquoA ocupaccedilatildeo produtiva da

Amazocircnia e do Centro-Oeste receberaacute impulso com o Programa de Polos Agropecuaacuterios e

agro minerais da Amazocircnia (POLAMAZOcircNIA)rdquo (BRASIL 1974 p06)

Os esforccedilos foram novamente concentrados na ocupaccedilatildeo da Amazocircnia soacute que

desta vez ldquobaseados em pontos focais e setoriais separados como por exemplo extraccedilatildeo de

recursos minerais ou aacutereas de criaccedilatildeo de gado com possiacutevel processo industrial rdquo

(KOHLHEPP 2002 p16)

Investidores de capital nacional e internacional foram atraiacutedos por reduccedilotildees consideraacuteveis de taxas tributaacuterias e tambeacutem por outros benefiacutecios Tornou-se vantajoso para bancos companhias de seguro mineradoras e empresas estatais de transportes ou de construccedilatildeo de estradas investir na devastaccedilatildeo da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criaccedilatildeo de gado com subsiacutedios oficiais realizando a exploraccedilatildeo das terras a preccedilos baixos (KOHLHEPP 2002 p16)

Segundo Kohlhepp (2002) as fazendas de criaccedilatildeo de gado ocupavam na Amazocircnia

uma aacuterea estimada em 9 milhotildees de hectares ldquoDe um total de 350 mil km2 de terra

adquiridos pelas fazendas de gado uma aacuterea florestal de cerca de 140 mil km2 foi destruiacutedardquo

(KOHLHEPP 1987 p4)

A raacutepida expansatildeo de desmatamento por queimada em projetos de fazendas de gado causou danos irreparaacuteveis aos ecossistemas como erosatildeo perda de nutrientes por escoamento encrostamento da superfiacutecie e distuacuterbios no balanccedilo de aacuteguas Aleacutem disso a especulaccedilatildeo de terra causou seacuterios problemas e conflitos violentos entre as populaccedilotildees indiacutegenas e posseiros Por causa da raacutepida degradaccedilatildeo de pastos a criaccedilatildeo de gado tornou-se atividade econocircmica sem lucro fazendo com que as manadas diminuiacutessem consideravelmente nos anos

39

posteriores O cancelamento de incentivos fiscais anos mais tarde acabou com novas iniciativas de pecuaacuteria (KOHLHEPP 2002 p4 )

A descoberta de minerais e pedras preciosas em grande quantidade na deacutecada de

80 intensificou ainda mais os conflitos na Amazocircnia

A exploraccedilatildeo de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos programas de desenvolvimento da Amazocircnia Muitas licenccedilas de exploraccedilatildeo de jazidas de grande extensatildeo foram cedidas a empresas nacionais e internacionais []as novas descobertas de enormes jazidas de mineacuterio de ferro na serra dos Carajaacutes de bauxita no rio Trombetas e tambeacutem de ouro e diamantes revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazocircnia sendo iniciados grandes projetos na regiatildeo nos anos 1980 (KOHLHEPP 2002 p4 )

Apoacutes sofrer grande pressatildeo nacional e internacional para conter os impactos

devastadores sobre a Floresta Amazocircnica em quase duas deacutecadas de intensa exploraccedilatildeo o

governo brasileiro cria o Plano Nossa Natureza (PNN) em 1988 pelo Decreto Lei nordm 96944

Art 1ordm Fica criado o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazocircnia Legal denominado Programa Nossa Natureza com a finalidade de estabelecer condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos recursos naturais renovaacuteveis na Amazocircnia Legal mediante a concentraccedilatildeo de esforccedilos de todos os oacutergatildeos governamentais e a cooperaccedilatildeo dos demais segmentos da sociedade com atuaccedilatildeo na preservaccedilatildeo do meio ambiente (BRASIL 1988 p1 )

Entre outras medidas o Decreto Lei 9694488 tambeacutem previa a criaccedilatildeo de GTI

(Grupos de Trabalhos Interministerial) responsaacutevel por promover a integraccedilatildeo de poliacuteticas

ambientais e de desenvolvimento

VI - Proteccedilatildeo do Meio Ambiente das Comunidades Indiacutegenas e das Populaccedilotildees Envolvidas no Processo Extrativista com a missatildeo de no prazo de 90 (noventa) dias estudar e propor e promover as medidas disciplinadoras da ocupaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo racionais da Amazocircnia Legal fundamentadas no ordenamento territorial integrada por representantes dos Ministeacuterios da Agricultura da Induacutestria e do Comeacutercio das Minas e Energia dos Transportes do Interior da Reforma e do Desenvolvimento Agraacuterio e das Secretarias de Planejamento e Coordenaccedilatildeo e de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidecircncia da Repuacuteblica (BRASIL 1988 p5)

Entretanto muito pouco de fato desse PNN foi executado e muito menos atendeu

agrave demanda

40

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA

A maior Floresta Equatorial do mundo eacute a Amazocircnia que tambeacutem deteacutem a maior

bacia hidrograacutefica do mundo com 699206kmsup2 aacuterea de quase 140km a mais que a Bacia

Hidrograacutefica do Rio Nilo com 685215 (MARTINI apud PACHECO 2012 p545)

Eacute na Amazocircnia Brasileira que se concentra a maioria dos rios navegaacuteveis de toda a

Amazocircnia com detaques para os rios Javari Juruaacute Madeira Solimotildees Negro utilizados em

sua maioria por ribeirinhos como meio de locomoccedilatildeo entre as comunidades e as cidades

proacuteximas aleacutem de transporte de alimentos

Apesar de seu gigantesco potencial hiacutedrico os rios da Amazocircnia natildeo satildeo explorados

em sua magnitude o que poderia ser alcanccedilado atraveacutes de uma rede de hidrovias

connectadas e eficientes Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (2013) a regiatildeo deteacutem sim duas hidrovias (Figura 3) A primeira inicia-se no alto

rio Japuraacute ligando-se ao rio Maratildea acompanhado do rio Iccedilaacute e Jutaiacute e posteriormente

juntado-se ao rio Solimotildees A segunda hidrovia (Figura 4) eacute inciada no rio Amazonas (no

encontro do rio Negro e rio Solimotildees) e se estende de Manaus agrave foz no Oceano Atlacircntico

alimentado pelos rios Tapajoacutes e Xingu

41

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13)

43

Apesar disso da nomenclatura utilizada de hidrovia um rio navegaacutevel natildeo eacute

necessariamente uma hidrovia por natureza pois para que seja uma hidrovia se faz

necessaacuterio sinalizaacute-lo e fornecer informaccedilotildees sobre a sua sinuosidade e seu talvegue de

forma a proporcionar seguranccedila agraves embarcaccedilotildees que navegarem pelo mesmo

Sobre isso o Ministeacuterio dos Transportes (2013) descreve que a sinalizaccedilatildeo de uma

hidrovia eacute tatildeo importante quanto a sinalizaccedilatildeo de uma rodovia

A sinalizaccedilatildeo de margem das hidrovias pode ser associada agraves placas que satildeo colocadas agraves margens das rodovias e que satildeo conhecidas como sinais de tracircnsito Como os canais de navegaccedilatildeo natildeo satildeo materializaacuteveis e as pistas de rolamento das rodovias sim as hidrovias requerem cartas de navegaccedilatildeo As pontes satildeo projetadas considerando que esse veiacuteculo tipo tenha no maacuteximo x toneladas os vatildeos sob os viadutos e passarelas ou os tuacuteneis que esse veiacuteculo tenha no maacuteximo y metros de altura e assim por diante Nas hidrovias o mesmo se sucede com as os tipos de embarcaccedilotildees (MINISTEacuteRIO DOS TRANSPORTES 2013)

Apesar disso os rios do Amazonas Paraacute satildeo pouco explorados tendo a sinalizaccedilatildeo

de uma hidrovia somente nas proximidades das grandes cidades Beleacutem-PA e em Manaus-

AM o restante ao longo dos rios natildeo deteacutem sinalizaccedilatildeo o que particularmente natildeo impede

que navios de grande porte cheguem agraves cidades (Figura 5) comandados por praacuteticos locais (e

natildeo por seus reais comandantes que desconhecem a profundidade dos rios)

Figura 5 Cruzeiros atracados no Porto de Manaus

Autora Louzada (Julho de 2012)

44

A escolha de hidrovias para a regiatildeo seria extremamente beneacutefica numa via de matildeo

dupla pois permitiria interligar definitivamente a regiatildeo ao restante do paiacutes agrave custos

micros se comparada agrave construccedilatildeo de rodovias na mesma regiatildeo ao mesmo tempo que

reduziria drasticamente o impacto sobre sua floresta

Embora esta seja a opccedilatildeo ideal a mesma natildeo foi escolhida pelos governantes que

optaram pela construccedilatildeo de rodovias

O DNIT destaca ainda as seguintes rodovias na Amazocircnia conforme Tabela 1

Tabela 1 Estradas na Amazocircnia segundo o DNIT

Nome Tipo de Rodovia Extensatildeo da rodovia planejada pelo DNIT

BR- 163 Longitudinal Inicia em Tenente Portela ndash SC e segue no sentido norte ateacute a fronteira com o Suriname

detendo 44267km

BR- 174 Longitudinal Inicia em Caacuteceres- MT e segue no sentido norte ateacute fronteira com a Venezuela detendo

27984km

BR-319 Diagonais Inicia em Manaus ndash AM e segue em sentindo sul ateacute Porto Velho-RO detendo 8804km

BR-364 Diagonais Inicia-se em Limeira-SP e segue no sentido noroeste ateacute a fronteira com o Peru

detendo 414150km

BR-230 Transversal Inicia-se em Cabedelo-PB e segue em sentido oeste ateacute Laacutebrea - AM detendo no total 49651km de extensatildeo

Eacute necessaacuterio esclarecer que todas as estradas anteriormente citadas somente se

encontram traccediladas no papel o que natildeo quer dizer que natildeo chegaram a ser abertas ou ateacute

mesmo chegaram a funcionar por um periacuteodo como eacute o caso da BR- 319

As estradas de modo geral satildeo consideradas vias de ldquoprogressordquo e

ldquodesenvolvimentordquo principalmente para a Amazocircnia por ser uma regiatildeo de fronteira e

possuir em seu territoacuterio uma gigantesca floresta Entretanto como era de se esperar as

estradas serviram ldquode roteiros de migraccedilatildeo para a Amazocircnia e foram planejadas para o

estabelecimento de aacutereas de atividades econocircmicas na forma dos chamados corredores de

Fonte DNIT (2013)

45

desenvolvimento mas sua construccedilatildeo causou seacuterios impactos ambientaisrdquo (KOHLHEPP

apud GOODLANDIRWIN 2002 p2 )

Segundo Loureiro e Pinto apud Arauacutejo et al (2008 p21) as terras puacuteblicas

habitualmente ocupadas por ribeirinhos iacutendios e caboclos em geral passaram a ser

ocupadas por colonos ao longo das estradas na Amazocircnia principalmente no estado do

Paraacute

[] sendo colocadas a venda em lotes de grandes dimensotildees para os novos investidores que as adquiriam diretamente dos oacutergatildeos fundiaacuterios do governo ou de particulares (que em grande parte revendiam a terra puacuteblica como se ela fosse proacutepria) Em ambos os casos era freguente que as terras fossem demarcadas pelos novos proprietaacuterios numa extensatildeo muito maior do que a dos lotes que originalmente haviam adqueridos (ARAUacuteJO et al apud LOUREIRO E PINTO 2008 p21)

Por sua vez os grandes proprietaacuterios de terras da Uniatildeo comercializadas pelo

INCRA (Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria) - criado pela fusatildeo do INDA

(Intituto Nacional de Desenvolvimento Agraacuterio) e o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma

Agraacuteria) em 9 de Julho de 1970 pelo Decreto nordm1110 (ARAUacuteJO2008) - expulsaram seus

moradores o que por sua vez gerou grandes conflitos por traacutes do slogan ldquoDesenvolvimento

da Amazocircniardquo

Por outro lado Becker (1977) apresenta um trabalho pioneiro sobre o

desenvolvimento regional na Amazocircnia ldquoalcanccediladordquo com a construccedilatildeo da BR-010 Bernardo

Sayatildeo popularmente conhecida como Beleacutem-Brasiacutelia inaugurada em 1960 pelo entatildeo

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Becker (1977) afirma que

O raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao longo de todo o eixo rodoviaacuterio caracterizado pelo crescimento ou aparecimento de centros urbanos das mais variadas categorias eacute devido em grande parte agrave rodovia A posiccedilatildeo de contato com aacutereas pioneiras dinacircmicas a posiccedilatildeo de entroncamento e a distacircncia aos polos e centros regionais parecem ser os fatores fundamentais de localizaccedilatildeo das cidades [] conclui-se que ateacute 1970 a rodovia foi o fator positivo principalmente para os polos regionais e aacutereas circundantes uma vez que embora posterior beneficiou suas cidades e induziu o desenvolvimento a sua volta (BECKER 1977 p 40)

Do ponto de vista da integraccedilatildeo nacional entre polos regionais defendida por

Becker (1977) a BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) sem duvida teve grande ecircxito pois levou

ldquodesenvolvimentordquo e um raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao logo da rodovia O que poucos

46

trabalhos pesquisadores ou estudantes se atrevem a relatar satildeo os impactos

gigantescos dessa obra sobre a Floresta Amazocircnica

A construccedilatildeo da BR- 010 sem duacutevida representou o iniacutecio do processo de

transformaccedilatildeo da paisagem amazocircnica nos anos que se seguiram Sobre isso AbrsquoSaber

(1996) sabiamente afirma

Desmatar por desmatar eacute loucura Desmatar para estender incontrolaacuteveis

pastagens artificiais eacute ignoracircncia Desmatar para comprovar ldquobenfeitoriasrdquo eacute maacute-feacute

de matildeo dupla da administraccedilatildeo puacuteblica e dos proprietaacuterios interessados em

comercializaccedilatildeo do espaccedilo Entretanto eacute faacutecil aceitar desmatamento restrito em

subespaccedilos selecionados para experimentaccedilatildeo de culturas tropicais

estabelecendo moacutedulos [] projetos agriacutecolas diversificados e rentaacuteveis sob a

condiccedilatildeo de um extravasamento efetivo de benefiacutecios sociais para os

trabalhadores rurais e populaccedilotildees carentes da regiatildeo de atuaccedilatildeo dos projetos

(ABrsquoSABER 1996 p109 )

O autor tambeacutem propocircs um debate nacional sobre os limites ecoloacutegicos para

atividades agraacuterias rendosas que uma regiatildeo como a Amazocircnia para que as proacuteximas

geraccedilotildees possam chegar a observaacute-la (ABrsquoSABER 1996 p109) todavia a BR010 (Beleacutem-

Brasiacutelia) somente foi a primeira a ser inaugurada na regiatildeo amazocircnica (Figura 6)

Figura 6Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia

Fonte Peixoto (2012)

47

Outras rodovias foram idealizadas e iniciadas entre elas a estrada Cuiabaacute-Santareacutem

(BR163) responsaacutevel por ligar a cidade de Cuiabaacute no Mato Grosso agrave cidade de Santareacutem no

Paraacute com 1780km de extensatildeo

O primeiro trecho de 330km foi inaugurado em 1984 (MARGARIT 2013) oito anos

depois de terem sido iniciadas as obras ligando os municiacutepios de Diamantino e Sinop no

Mato Grosso Posteriormente foram pavimentadas mais 415km chegando a um total de

745km ligando Cuiabaacute agrave Guarantatilde do Norte (MARGARIT 2013)

O restante de mais ou menos 1035km ainda natildeo se encontram pavimentados

todavia se encontra traccedilado de terra batida ateacute a cidade de Santareacutem-PA o que natildeo impede

a ocupaccedilatildeo das margens da ldquofutura rodoviardquo funcionando como uma espinha dorsal do

ldquoprogressordquo

Segundo Fearnside (2001) o principal objetivo da BR-163 foi escoar a produccedilatildeo de

soja do centro oeste brasileiro e principalmente do Mato Grosso aleacutem de ampliar as aacutereas

cultivaacuteveis Mas Fearnside (2005 p 399) eacute enfaacutetico ao afirmar que a pavimentaccedilatildeo da BR-

163 iria ldquoacelerar a destruiccedilatildeo da floresta ao longo de seu traccedilado e em vaacuterios pontos

fisicamente distantes da rodovia mas sob sua influecircnciardquo

Contudo o desmatamento natildeo se limita somente agraves margens da rodovia mas

influencia tambeacutem ldquoa raacutepida expansatildeo de estradas ldquoendoacutegenasrdquo e a exploraccedilatildeo madeireira e

de desmatamento para distacircncias substancialmente maioresrdquo (FEARNSIDE 2005 p399) um

fato que pode ser atualmente percebido nas imagens de sateacutelite da rodovia (Figura 7)

48

Figura 7 BR-163 - Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia Organizado Anne Dirane (2014) Adaptado Louzada (2014)

Com as imagens de sateacutelite eacute possiacutevel visualizar incontaacuteveis propriedades ao longo

da BR-163 a maioria encontram-se sem a cobertura seja pela retirada da madeira ou por

iniciativa de seus proprietaacuterios para facilitar a produccedilatildeo de gratildeos e a criaccedilatildeo de gado sem

levar em consideraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mineral o que torna a rodovia foco de constantes

conflitos entre pequenos produtores agriacutecolas e grande proprietaacuterios de terras

No km 214 com saiacuteda da cidade de Santareacutem a BR-163 se funde com a BR-230

popularmente conhecida como Transamazocircnica por 109km onde continuam a ser ocupadas

as suas margens poreacutem com menor intensidade (Figura 8)

Para Fearnside (2005) a atuaccedilatildeo do Estado nessa regiatildeo praticamente natildeo existe o que

gera frequentemente um clima de desobediecircncia civil aberta

Tal desobediecircncia se manifesta tanto em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo ambiental quanto agrave situaccedilatildeo fundiaacuteria (IAG 2004) Em outras palavras a aacuterea natildeo tem a miacutenima chance de se tornar corredor de desenvolvimento sustentaacutevel antes que uma mudanccedila

49

maciccedila aconteccedila com relaccedilatildeo agrave presenccedila do Estado e antes que a populaccedilatildeo local se ajuste a viver sob um Estado de lei (FEARNSIDE 2005 p405)

Fearnside (2005 p405 ) afirma ldquoque natildeo se deve tratar uma probabilidade alta

como sinocircnimo de inevitabilidaderdquo Em outras palavras a pavimentaccedilatildeo de estradas na

Amazocircnia Brasileira seraacute provavelmente o percussor do aumento do desmatamento da

regiatildeo entretanto o mesmo natildeo deve ser considerado como inevitaacutevel

Uma outra rodovia que merece destaque entre as jaacute construiacutedas na Amazocircnia eacute a

BR-230 popularmente conhecida como Transamazocircnica planejada para ligar Cabedelo na

Paraiacuteba e Laacutebrea no Amazonas aproveitando uma estrada jaacute existente que ligava Cabedelo agrave

Altamira no estado do Paraacute a mesma foi ampliada pelo entatildeo presidente do Brasil Emiacutelio

Garrastazu Meacutedici que em 09 de Outubro de 1970 teve sua obras iniciadas oficialmente

com uma placa de bronze fixada em uma castanheira no municiacutepio de Altamira-PA (Figura

8)

Figura 8 Placa de Bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica) Fonte Vogt (2004)

Vogt (1970) descreve uma viagem do general Meacutedici em junho 1970 ao semiaacuterido

nordestino na qual o presidente se emociona diante da seca que castigava a regiatildeo em seu

retorno a Brasiacutelia decidiu criar estradas na Amazocircnia a comeccedilar pela Transamazocircnica de

50

forma a convidar ldquoos homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da

Amazocircniardquo

A Transamazocircnica foi projetada para atravessar o Brasil de leste a oeste de

Cabedelo-PB agrave Laacutebrea ndash AM com seus mais de quatro mil quilocircmetros o sonho faraocircnico de

Meacutedici foi rebatizado posteriormente de ldquoTransamargurardquo e ldquoTransmiserianardquo por seus

moradores uma vez que a veiculaccedilatildeo de propaganda no raacutedio de ldquoTerras sem homens para

homens sem terrardquo atraiu uma grande quantidade de brasileiros e estrangeiros Estima-se

que mais de dois milhotildees de pessoas migraram para a Transamazocircnica contudo somente

25 mil quilocircmetros dessa rodovia chegaram a ser abertos ligando as localidades de

Aguiarnoacutepolis agrave Laacutebrea (AM)

Estima-se que mais de US$ 15 bilhatildeo de doacutelares tenham sido gastos na

Transamazocircnica somente na deacutecada de 1970 o que resultou no crescimento da divida

externa e uma ferida ecoloacutegica e social profunda na Floresta Amazocircnica que nunca seraacute

cicatrizada

Para Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as estradas oficias construiacutedas na regiatildeo natildeo devem

ser consideradas as uacutenicas responsaacuteveis pelas mudanccedilas draacutesticas na paisagem amazocircnica

uma vez que a regiatildeo do centro-oeste do Estado do Paraacute ao longo das rodovias BR-230 e a

BR-163 tambeacutem agregam estradas natildeo oficiais (Figura 9) estimadas em um total ldquode 20769

km de estradas natildeo oficias que avanccedilaram a taxa meacutedia de 1890 km por ano entre 1990 e

2001 principalmente fora de Aacutereas Protegidasrdquo(BRANDAtildeO JUacuteNIOR et al 2007 p1)

51

Atraveacutes de Imagens Landsat Brandatildeo Juacutenior et al (2007) conseguiu mapear

241749km de estradas ateacute 2003 divididas em 25074km (10) como estradas oficiais

172405km (71) como estradas natildeo oficiais e 44270km (18) como estradas de

assentamentos rurais

Segundo Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as aacutereas de risco de desmatamento em

estradas oficias segundo a pesquisa eacute de 25 jaacute nas estradas natildeo oficiais este risco chega a

85 considerando o niacutevel alarmante de desmatamento o que tambeacutem explica a maior

parte do desmatamento na Amazocircnia

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-230 Fonte Brandatildeo Juacutenior et al (2007)

52

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO SOLIMOtildeESAMAZONAS

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais foi divulgado ao mundo por meio de

dois documentos ldquoCuidando do planeta Terrardquo (1991) e a ldquoConvenccedilatildeo da Biodiversidaderdquo

(1991) Os dois documentos demonstram preocupaccedilatildeo quanto ao conceito de

desenvolvimento e aos direitos das populaccedilotildees locais visto por eles como importantes

atores na conservaccedilatildeo dos recursos (VIANNA 2008 p208)

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais surgiu primeiramente para se

referir aos habitantes que tradicionalmente ocupavam um lugar onde posteriormente

tornou-se uma unidade de conversaccedilatildeo O conceito passou a considerar tambeacutem ldquoos

habitantes originais e seus descendentes das terras que foram ocupadas pela expansatildeo

colonizadora europeacuteia iniciada no seacuteculo XVI e satildeo definidos como etnicamente diferentes

das sociedades nacionais dominantes dos paiacuteses onde vivemrdquo (VIANNA 2008 p209)

Segundo Vianna (2008 p214) as populaccedilotildees tradicionais satildeo portadoras de

caracteriacutesticas positivas para a conservaccedilatildeo por exemplo a ldquoharmonia com a natureza e o

etnoconhecimento o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais e a condiccedilatildeo de produtores

de biodiversidaderdquo

Essas satildeo as chamadas populaccedilotildees tradicionais expressatildeo que designa um conjunto de populaccedilotildees de pescadores artesanais pequenos agricultores de subsistecircncia caiccedilara caipiras camponeses extrativistas pantaneiros e ribeirinhos que fazem uso direto dos recursos naturais atraveacutes de atividades extrativistas eou de agricultura com tecnologia de baixo impacto ao meio (VIANNA 2008 p214)

Como acontece em outras regiotildees as populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia

tambeacutem recebem nomes que variam de lugar para lugar No estado do Paraacute por exemplo as

populaccedilotildees residentes longe de centros urbanos satildeo chamadas popularmente de extratores

ou extrativistas (pois sua economia tem por base a extraccedilatildeo de produtos da natureza) na

Ilha do Marajoacute satildeo chamados de marajoaras ou marajaacutes dentro do mesmo estado no

municiacutepio de Oacutebitos os moradores das vaacuterzeas satildeo chamados de varzeiros e os moradores

das aacutereas de terra firme satildeo chamados de terrafirmeiros (CANTO 2008)

No Estado do Amazonas as populaccedilotildees tradicionais recebem o nome de ribeirinhos

pois aleacutem de se localizarem muitas vezes distantes de centros urbanos em geral estatildeo

assentados nas vaacuterzeas da regiatildeo

53

Sobre isso Cabral (2002) destaca que

Quando se fala dos ribeirinhos as leituras satildeo variadas ora satildeo tratados como viacutetimas de uma sociedade excludente ora como iacutendios preguiccedilosos como heroacuteis das selvas por conseguirem adaptar-se a uma floresta e raras vezes como pessoas que definiram uma filosofia de vida o fato eacute que em geral o ribeirinho eacute marginalizado A marginalizaccedilatildeo do ribeirinho surge da leitura que noacutes ldquodoutoresrdquo fazemos erroneamente tomando por base o que julgamos importante para noacutes mesmos Outro aspecto que tem contribuiacutedo para a natildeo adoccedilatildeo de uma anaacutelise relativista eacute o discurso baseado em interesses capitalistas sobre o uso do tempo e do espaccedilo em favor da produccedilatildeo (CABRAL 2002 p2)

Reflete ainda que ldquoo ribeirinho integra o grupo das populaccedilotildees tradicionais que se

percebe pertencente agrave natureza em seu tempo e espaccedilo proacuteprio fluindo com ela e natildeo a

dominandordquo (CABRAL 2002 p2)

[] temos como definiccedilatildeo de ribeirinho a populaccedilatildeo constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populaccedilotildees do meio rural ou urbano que possui seu cosmo visatildeo marcada pela presenccedila do rio Para estas populaccedilotildees o rio natildeo eacute apenas um elemento do cenaacuterio ou paisagem mas algo constitutivo de modo de ser e viver do homem (CABRAL apud SILVA et al 2002 p2)

Conforme Oliveira (2002) as populaccedilotildees ribeirinhas satildeo frutos de fracassados ciclos

de desenvolvimento econocircmico brasileiro imposto sobre a regiatildeo onde os mesmos foram

abandonados agrave proacutepria sorte na floresta

Independente de suas muacuteltiplas definiccedilotildees ao longo das deacutecadas uma caracteriacutestica

se destaca em todas as definiccedilotildees de ribeirinho o elo com o rio embora muitos estudiosos

descrevam como necessaacuterio pois o rio eacute o uacutenico meio de locomoccedilatildeo entre boa parte da

Floresta Amazocircnica este elo eacute superior agrave necessidade de locomoccedilatildeo jaacute que ele tambeacutem eacute a

fonte do alimento baacutesico dessas populaccedilotildees o peixe

Tuan (2012) define o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ao ambiente fiacutesico como

Topofilia conceito difuso vivido e concreto como experiecircncia pessoal de cada individuo

Em outras palavras este elo eacute fortalecido ou desfeito baseado na percepccedilatildeo do

meio agrave sua volta nas atitudes e nos valores praticados com o ambiente fiacutesico no seu

entorno

54

Embora os ribeirinhos de modo geral se localizem agraves margens dos rios da regiatildeo

os mesmos tambeacutem o fazem por um forte motivo os solos feacuterteis das vaacuterzeas

Segundo Guerra (1993) a Amazocircnia estaacute dividida em dois ambientes o de vaacuterzea e

o de terra firme O ambiente de terra firme representa um complexo ecossistema que estaacute

fora da accedilatildeo das aacuteguas pelos regimes dos rios e pelas mareacutes ou seja os processos sazonais

de enchentes anuais e mareacutes diaacuterias natildeo ultrapassam a borda do leito maior das faixas

justafluviais Ao contraacuterio desse ecossistema a vaacuterzea eacute constituiacuteda de terrenos com

altimetria baixa que permite o transbordamento de enchentes sazonais anuais

dependendo da cota

Tais caracteriacutesticas da regiatildeo Amazocircnica satildeo de extrema importacircncia para a

determinaccedilatildeo dos tipos de solos encontrados em cada ambiente o que vai propiciar o tipo

de cultivo agrave ser produzido nessas aacutereas pelas populaccedilotildees ribeirinhas

Ao contraacuterio do que se divulga a Amazocircnia natildeo dispotildee somente de solos ldquopobresrdquo

sustentados por sua floresta mas tambeacutem de solos ricos por natureza como eacute o caso dos

solos de vaacuterzea com alta concentraccedilatildeo de depoacutesitos aluviais utilizados para os cultivos

agriacutecolas de ciclo curto de frutas e verduras que abastecem as cidades mais proacuteximas

incluindo a capital do Estado do Amazonas Manaus

Meggers (1958) criou uma tipologia da paisagem na qual a mesma impocircs limites de

desenvolvimento cultural tendo por base a capacidade produtiva dos solos em dois

ambientes na Amazocircnia a vaacuterzea beneficiada com a fertilizaccedilatildeo anual dos rios e a terra

firme de solos pobres

Para Meggers (1971) a fase de terra enxuta (ou seca) das vaacuterzeas da Amazocircnia eacute o

periacuteodo de fartura ou ateacute mesmo de superabundacircncia de alimentos jaacute a fase aquaacutetica ou

estaccedilatildeo de abundacircncia de aacuteguas eacute marcada pela escassez de alimentos (principalmente

peixe) por causa do aumento das aacutereas submersas consequentemente ocasionando sua

dispersatildeo

Segundo Carneiro (1995) a ocupaccedilatildeo das vaacuterzeas para cultivo em seus solos feacuterteis

tambeacutem traz desvantagens porque natildeo eacute possiacutevel cultivar seus solos durante todo o ano

devido agrave subida dos rios que para Sternberg (1998) submetem as terras agrave constantes

retoques no terreno hoje depositado amanhatilde poderaacute ser removido O autor se refere agraves

terras caiacutedas como um fenocircmeno natural provocado pelo rio onde o mesmo arrebata

55

faixas de terras marginais tragando para o seu leito com a mesma indiferenccedila levando

cemiteacuterios e pastagens ameaccedilando as moradias dos ribeirinhos e engolindo as que os

proprietaacuterios natildeo recuarem

Todavia eacute na eacutepoca da cheia dos rios que as populaccedilotildees ribeirinhas tornam-se mais

vulneraacuteveis visto que os mesmos teratildeo que escolher entre permanecer em suas casas

quase submersas mantendo seus animais em abrigos temporaacuterios que Sternberg (1998)

descreveu como marombas (pequeno curral suspenso por madeiras) e os alimentando com

capins aquaacuteticos ou migrarem para as aacutereas de terra firme ateacute que o periacuteodo de vazante

dos rios se inicie

Sobre isso Pereira (1999) observou no municiacutepio de Itacoatiara na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus que algumas famiacutelias que tinham acesso agraves aacutereas de pasto em

propriedades de terra firme migravam com suas famiacutelias transferindo o seu rebanho e os

demais animais durante o periacuteodo de cheia dos rios

Com a subida das aacuteguas natildeo soacute os animais mais tambeacutem os proacuteprios ribeirinhos

tornam-se alvo de jacareacutes famintos devido agrave escassez de alimentos uma vez que grandes

aacutereas satildeo inundadas possibilitando que os peixes se refugiem em lagos e restingas Torna-se

comum os casos de ataque desses animais agraves pessoas principalmente crianccedilas nessa eacutepoca

do ano

Tocantins (1964) descreve os rios da Amazocircnia

Como veias de sangue da planiacutecie caminho natural dos descobridores [] a fonte perene do progresso [] asseguraram a presenccedila humana embelezaram a paisagem fazem girar a civilizaccedilatildeo - comandam a vida no anfiteatro amazocircnico (TOCANTINS 1964 p64)

Tocantins (1964) destaca a importacircncia do regime das aacuteguas dos rios amazocircnicos

sobre o modo de vida dos povos da floresta Relata de forma romacircntica o elo do ribeirinho

com o rio todavia tal descriccedilatildeo natildeo expressa todo o real sentido de ldquoligaccedilatildeordquo entre quem

comanda a vida o rio e quem eacute governado o ribeirinho que mora agraves margens e tira dele a

base de sua subsistecircncia

Subsistecircncia essa alcanccedilada com a ajuda de extensa malha de rios entre eles

destaca-se o rio Solimotildees que tem sua nascente nas montanhas de Misme no distrito de

Arequipa ao sul da cidade de Cuzco no Peru onde recebe o nome de rio Ayacucha

posteriormente desemboca no rio Ucayali que por sua vez desemboca no rio Marantildeon ao

56

norte do territoacuterio peruano chegando a aproximadamente 3652 km de extensatildeo na

fronteira do Peru com o Brasil onde encontra a sua bacia sedimentar amazocircnica e percorre

mais 3128km ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico satildeo no total aproximadamente 6780km

percorridos com uma descarga no oceano de 300000 msup3s carregando aproximadamente 1

bilhatildeo de toneladas de sedimentos que por sua vez adentram ateacute 300km no oceano antes

de se dispersarem em suas aacuteguas frias (BRASIL 2005)

Seus nuacutemeros por se soacute impressionam se comparados ao segundo maior rio do

mundo o rio Nilo que despeja em sua foz somente 5000msup3s quando o rio Amazonas

despeja 60 vezes mais por segundo o equivalente agrave mesma quantidade de aacutegua despejada

pelo rio Tamisa em um ano inteiro (BRASIL 2005)

Sobre as caracteriacutesticas do Rio Amazonas Suguio e Bigarella (1993) o descrevem

como sendo um rio anastomosado que apresenta canal largo e grande velocidade

transportando uma grande quantidade de sedimentos que nutrem suas margens por todo o

seu percurso (Figura 10)

Segundo Passos et al (2013)

[] o rio Solimotildees pode ser considerado marginal anastomosado com algumas ilhas e anabranching embora a sinuosidade meacutedia do canal principal permaneccedila perto de 10 O estilo anabranching se caracteriza por uma rede interconectada de canais separados por regiotildees de planiacutecie de inundaccedilatildeo (Smith amp Smith 1980 Makaske 2001) Segundo Latrubesse et al (2009) o padratildeo anabranching se caracteriza pela presenccedila de ilhas vegetadas que atuam como verdadeiros ldquoseparadoresrdquo entre o canal principal de primeira ordem e braccedilos secundaacuterios de distintas hierarquias Embora possam ser cobertas pelas aacuteguas de inundaccedilatildeo as ilhas separam canais que manteacutem uma independecircncia ou identidade hidraacuteulica hidroloacutegica Os muacuteltiplos canais caracteriacutesticos deste estilo fluvial induzem aos inuacutemeros processos de erosatildeo de deposiccedilatildeo observados ao longo do rio Solimotildees e pequenos tributaacuterios (PASSOS et al 2013 p 3631)

57

21 QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA AMAZOcircNIA

Natildeo se pode relatar a Quebra da Borracha na Amazocircnia sem antes esclarecer sua

importacircncia para a regiatildeo Apesar do litoral do Brasil ter sido ldquodescobertordquo em 1500 a

Amazocircnia somente foi realmente alcanccedilada com a ocupaccedilatildeo estrangeira dois seacuteculos e

meios depois (SOARES 1963)

Assim eacute que ateacute meados do seacuteculo XVIII o vale amazocircnico natildeo contou se natildeo com

raros contingentes militares portugueses confinados a poucas dezenas de

fortalezas e com cerca de uma centena de missotildees catequeacuteticas igualmente

espalhadas na vastidatildeo da amazocircnica nas quais o silviacutecola era aldeado pelos

missionaacuterios que lhe ensinavam a religiatildeo de Cristo (SOARES 1963 p112)

Soares (1963) ainda descreve a escravizaccedilatildeo da matildeo de obra indiacutegena como um dos

fatores responsaacuteveis pelo decreacutescimo da populaccedilatildeo indiacutegena na Amazocircnia

Inuacutemeras expediccedilotildees de caccedila ao iacutendio exterminaram no primeiro periacuteodo de

ocupaccedilatildeo grande nuacutemero de habitantes da selva Tal extermiacutenio decorria de um

lado de morte ldquonaturalrdquo do iacutendio feito escravo (50) pois o silviacutecola jamais se

adaptou aacute vida cativa e por outro das chamadas expediccedilotildees ldquopunitivasrdquo realizadas

contra as tribos que repeliam o contacto com os invasores de suas terras fossem

estes missionaacuterios soldados ou colonizadoresrdquo (SOARES 1963 p113)

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista em Manacapuru Fonte Louzada (2013)

58

Contudo as expediccedilotildees punitivas foram aleacutem da puniccedilatildeo propriamente dita pois

algumas tribos chegaram a ser totalmente massacradas pelo contingente militar a exemplo

dos Tapajoacutes que foram exterminados ldquorestando somente agraves belas peccedilas artiacutesticas de

ceracircmica ainda hoje encontradas na regiatildeo de Santareacutemrdquo (SOARES 1963 p114)

Com a aboliccedilatildeo da escravatura indiacutegena em 1755 a Companhia Geral do Comeacutercio

do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo inaugurada para monopolizar a navegaccedilatildeo nos rios da Amazocircnia

o comeacutercio e o traacutefico de matildeo de obra negra providenciou a vinda do continente africano

de braccedilo negro ldquopara substituir o braccedilo vermelho libertado e reconhecidamente refrataacuterio

ao trabalho forccediladordquo (SOARES1963 p117)

Segundo Soares apud Reis (1963 p117) que ldquono final do seacuteculo XVIII calculava-se

que 30000 escravos foram introduzidos na Amazocircnia principalmente na sede do Gratildeo Paraacute

em Beleacutemrdquo a maior parte desse contingente sucumbiu aos maus tratos e agraves doenccedilas sem

relatar os que morreram na viagem ateacute o Brasil

Segundo Soares apud Reis (1963) descreve que entre 1743 e 1749 que 40000

indiviacuteduos entre iacutendios e colonos portugueses morreram de variacuteola em Beleacutem causando

uma queda catastroacutefica na populaccedilatildeo jaacute reduzida da regiatildeo Apesar das doenccedilas e da captura

dos iacutendios continuarem em larga escala o contingente humano na Amazocircnia aumentava

ldquomodestamente mais por um lento processo de multiplicaccedilatildeo vegetativa do que pela

aquisiccedilatildeo de contingentes humanos vindos de forardquo (SOARES 1963 p118)

Soares (1963 p118) calculava ldquoa populaccedilatildeo residente na Amazocircnia no caso no

atual estado do Paraacute em 1825 em 37 mil indiviacuteduos e em 1833 chegou a aproximadamente

56 mil habitantesrdquo O que poucos sabiam era que em 1745 La Contamine (BATISTA 2007)

jaacute havia divulgado ao mundo na Academia de Ciecircncias de Paris a descoberta de uma goma

conhecida como cabuchu (pau que daacute leite) na regiatildeo de Quito e depois nas beiras do

Marantildeon Peru que jaacute era utilizada pela populaccedilatildeo local na confecccedilatildeo de garrafas botas e

bolas

Apesar de encantadora a goma receacutem-descoberta pela ciecircncia da eacutepoca

apresentava um desafio gigantesco como tornaacute-la insensiacutevel agraves mudanccedilas de temperatura

para que pudesse ser transportada da Amazocircnia para o mundo

59

Com a descoberta do processo de vulcanizaccedilatildeo da goma elaacutestica inicia-se a corrida

pela exploraccedilatildeo da borracha para ser utilizada na produccedilatildeo industrial pneumaacutetica da

Europa Primeiramente em Beleacutem e na regiatildeo do delta na foz do rio Amazonas promovida

inicialmente pelos caboclos residentes nas proximidades

A exploraccedilatildeo da borracha somente cresceu nos anos seguinte apoacutes a descoberta

da vulcanizaccedilatildeo com a exploraccedilatildeo de novas aacutereas normalmente na subida dos rios

Primeiro no (rio) Tocantins o Xingu e o Tapajoacutes depois o Madeira e o Solimotildees

mais tarde o Purus Juruaacute e Javari e seus respectivos afluentes Vecirc-se nessa

referecircncia que um fato importante os grandes produtores de borracha foram

sempre tributaacuterios da margem direita do Rio Amazonas onde a Hevea brasiliensis

tem o seu habitat por excelecircncia (BATISTA 2007 p170)

Entretanto para que a produccedilatildeo continuasse a crescer nos anos que se seguiram

era necessaacuteria mais matildeo de obra e como a regiatildeo natildeo contava com um grande contingente

populacional caberia aos nordestinos de modo geral accediloitados por fenocircmenos climaacuteticos

incontrolaacuteveis contribuir de maneira significativa para a o aumento da produccedilatildeo e ocupaccedilatildeo

humana definitiva da Amazocircnia Atraveacutes de suas intensas e constantes migraccedilotildees a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX a produccedilatildeo ficou caracterizada como o

Primeiro Ciclo da Borracha

As primeiras levas de imigrantes a chegar foram de maranhenses e se localizaram

inicialmente em Tocantins A partir das grandes secas de 1870 comeccedilaram a vir

tambeacutem imigrantes Nordeste oriental principalmente do Cearaacute e menos do Rio

Grande do Norte e demais Estados (BATISTA 2007 p171)

Expulsos de seus estados de origem por grandes e prolongadas secas sendo a mais

famosa a ldquoseca de dois setesrdquo de 1877 de triste memoacuteria nordestina que provocou o ecircxodo

em grande escala a partir de 1878 em direccedilatildeo a Amazocircnia aonde chegaram 15300 mil

nordestinos naquele ano em busca de um lugar para trabalhar e terras para cultivar

(SOARES 1963)

Apoacutes esse ano as migraccedilotildees se tornaram constantes combinadas com o aumento

de preccedilo da borracha no mercado externo como eacute possiacutevel visualizar na Tabela 2

60

Tabela 2 ndash Produccedilatildeo da Borracha na Amazocircnia

Ano Produccedilatildeo

(tonelada)

Preccedilo (kg)

1827 31365 220 reacuteis

1880 8679000 240 reacuteis

1890 16394000 298 reacuteis

1900 27650000 -

1910 38177000 377000 reacuteis

1911 44296 -

Fonte Reis (1953 p60) Mendes (1909 p5) apud Batista (2007 p171) Adaptada Louzada (2013)

Segundo Batista apud Reis (2007) em 1880 a produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia

bateu seu primeiro recorde chegando a produzir 8679000 toneladas de borracha ldquologo

depois da chegada dos novos extratores (seringueiros) vindos do Nordesterdquo (BATISTA 2007

p171)

Nos anos que se seguiram a produccedilatildeo continuava a bater recorde agrave cada ano

chegando a 27650 toneladas em 1900 quando segundo Soares (1963 p121) a populaccedilatildeo

nordestina que chegou Amazocircnia contabilizou 45792 migrantes naquele ano a maior jaacute

registrada ateacute entatildeo

O desejo de aumentar a produccedilatildeo de borracha e consequentemente seus lucros a

cada ano levou os seringueiros a praticarem teacutecnicas extremamente rudimentares entre

elas o ldquoprocesso de arrochordquo

[] que consistia em apertar as aacutervores com cipoacutes ao reacutes do chatildeo golpeando-as

por todos os lados para extrair o maacuteximo de leite o rendimento era maior mas as

ldquomadeirasrdquo (nome dado no seringal as heacuteveas) natildeo resistiam muitas vez

esgotando-se num uacutenico dia O ldquoarrochordquo foi responsaacutevel pela inutilizaccedilatildeo das

seringueiras da regiatildeo das ilhas as primeiras trabalhadas e onde se produzia

borracha da melhor qualidade Por isso pela necessidade de explorar outros

seringais onde se localizarem os trabalhadores [] novos seringueiras passaram a

ser cortadas nos rios mais para cima (BATISTA 2007 p175)

61

Outra teacutecnica usada na retirada da borracha ficou conhecida como ldquoos mutaacutes

pequenos jiraus armados junto agraves aacutervores para alcanccedilar as partes mais altas e sangraacute-las

tambeacutem funcionaram em toda parte com a intenccedilatildeo de aumentar a produccedilatildeordquo (BATISTA

2007 p175) O aumento no nuacutemero de cortes popularmente conhecidos como ticados

(cortes seguidos por todo o caule no sentido transversal inclinado para facilitar o

escoamento do laacutetex) foram responsaacuteveis por tornarem as aacutervores vulneraacuteveis agrave fungos

bacteacuterias e brocas consequentemente as condenava agrave morte (BATISTA 2007 p174)

Ainda segundo Batista apud Chevalier (2007 p174) descreve bem essa fase de

intensa exploraccedilatildeo do laacutetex como ldquoleite que de branco se torna negro ao contato com a

ambiccedilatildeo humanardquo se referindo agrave vulcanizaccedilatildeo do laacutetex para se transforma em botijotildees para

facilitar o transporte (Figura 11)

Para Batista (2007) o ano 1910 foi o marco da exportaccedilatildeo de borracha no paiacutes

representando 40 da exportaccedilatildeo total contra 40 da produccedilatildeo de cafeacute daquele ano

A perda do monopoacutelio de produccedilatildeo da borracha da Amazocircnia para a borracha

produzida na Malaacutesia e Indoneacutesia com preccedilos mais baixos provocou a Quebra da Borracha

produzida no Brasil o que ocasionou graviacutessimos problemas na economia dos estados do

Amazonas e do Paraacute que era baseado na produccedilatildeo de borracha

A produccedilatildeo da borracha passou a cair a cada ano em consequecircncia dos baixos

preccedilos praticados chegando a produzir em 1920 somente 23586000 toneladas e em

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para transporte Fonte Museu do Seringal (httpmuseuseringalblogspotcombr201210a-criacao-da-borrachahtml)

62

1923 produziu somente 1799500 toneladas alcanccedilando o patamar miacutenimo de 622500

toneladas em 1932 (BATISTA 2007 p171)

Com a queda do preccedilo da borracha a cada ano os ex-seringueiros se viram

obrigados a procurar outras fontes de renda para alimentar suas famiacutelias Entretanto nunca

haviam cultivado os solos da Amazocircnia como informa Benchimol (1946 p34) ldquoAgricultura

natildeo rima bem com seringardquo na verdade os extratores eram impedidos de cultivar os solos

pelos donos dos seringais pois deveriam ldquocomprarrdquo dos proacuteprios donos dos seringais os

produtos que precisassem seu consumo

Por interesses mercantis aliados a necessidade imediata durante o ciclo da

borracha foi preciso importar alimentos maciccedilamente E quando os preccedilos caiacuteram e

os seringueiros puderam plantar e colher natildeo alcanccedilaram grandes safras primeiro

porque natildeo sabiam trabalhar a terra e depois porque natildeo tinham mercado para a

venda da produccedilatildeo cingindo-se assim a uma agricultura puramente de

subsistecircncia Adaptaram-se poreacutem facilmente a uma indicaccedilatildeo taacutecita da ecologia

regional usando as vaacuterzeas como lugar por excelecircncia para os ldquoroccediladosrdquo aleacutem de

serem aacutereas fertilizadas pelo huacutemus das enchentes natildeo demandavam grande

trabalho para a sua preparaccedilatildeo apesar de natildeo permitirem a implantaccedilatildeo de

culturas perenes passando praticamente seis meses alagadas (BATISTA 2007

p174)

Como afirma Batista (2007) com a quebra da borracha brasileira centenas de

milhares de ex- seringueiros saiacuteram dos seringais em busca de outra fonte de renda uma vez

que foram abandonados agrave proacutepria sorte se instalando novamente ao longo das margens dos

rios da Amazocircnia

Forccedilados pela necessidade os ex- seringueiros foram obrigados a aprender a

cultivar os solos da Amazocircnia para produzir seus proacuteprios alimentos de forma a alimentar

suas famiacutelias Outros por sua vez optaram por retornar aos seus estados de origem Os que

decidiram por permanecer migraram para aeacutereas proacuteximas aos centros urbanos como

Manaus com o objetivo de residir proacuteximo de um futuro mercado consumidor para a sua

futura produccedilatildeo agriacutecola como eacute o caso de alguns dos municiacutepios que se constituiacuteram

proacuteximos agrave Manaus

63

211 ndash UM LUGAR CHAMADO MANAQUIRI

O municiacutepio de Manaquiri estaacute localizado a 55 km em linha reta de Manaus ou a 80

km por via fluvial com aacuterea total de 3975770 kmsup2 (IBGE 2010) estaacute divido entre Vaacuterzea e

Terra Firme (Figura 12)

64

Figura 12 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

65

Eacute amplamente relatado que o atual municiacutepio do Manaquiri tem sua origem

vinculada ao municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea e seu povoamento datado a partir de 1877

(IBGE 2010)

Todavia Wallace (2004) descreve uma visita ao Manaqueri (atual Manaquiri) na

propriedade do Sr Joseacute Antocircnio Brandatildeo em 1850 ldquoda margem do rio ergue-se num

abrupto e rochoso penhasco de 30 a 40 peacutes acima do niacutevel das mais altas cheias As rochas

satildeo de natureza vulcacircnica e tem um aspecto muito grosseiro algumas vezes viacutetreo qual o de

escoacuteriasrdquo (WALLACE 2004 p 232)

Wallace (2004) descreve a origem de seu anfitriatildeo como sendo de Portugal que

chegou agrave regiatildeo ldquobem ainda moccedilo e logo apoacutes casou nesse novo estado fixou-se em

Manaquiri com a intenccedilatildeo de laacute ficar morando por toda a vida Construindo ele proacuteprio sua

morada na beira de um lago proacuteximo ao curso principal trouxe iacutendios (e escravos) a fim de

fixaacute-los tambeacutem na fazendardquo (WALLACE 2004 p242)

Logo a seguir derrubou a mata plantou laranjeiras tamarindeiros mangueiras e

muitas aacutervores frutiacuteferas de outras espeacutecies arrumando-as em magniacuteficas e

apraziacuteveis avenidas Fez tambeacutem jardins bem como pastagens para o gado e

iniciou a criaccedilatildeo de bois carneiros porcos e galinhas E assim ficou em pleno gozo

e uma vida campesina (WALLACE 2004 p 242)

Wallace (2004) continua relatando que o Sr Brandatildeo seu anfitriatildeo teve sua

propriedade completamente destruiacuteda por iacutendios seus vizinhos incitados por

revolucionaacuterios na Revoluccedilatildeo Cabanagem (1840) perdendo tambeacutem todas as aacutervores

frutiacuteferas animais e escravos mortos pelos iacutendios Todavia sua famiacutelia esposa e onze filhos

se refugiaram na floresta onde permaneceram por trecircs dias alimentando-se de frutas e

milho uma vez que o senhor da propriedade se encontrava na Vila da Barra natildeo teve sua

vida perdida pelos revoltosos Foi nomeado Magistrado da Barra onde permaneceu por

anos longe de sua propriedade para onde retornou posteriormente com a filha caccedilula

uma vez que sua esposa jaacute havia falecido e seus filhos mais velhos jaacute haviam casado e

constituiacutedo suas famiacutelias onde reconstruiu parte da sua propriedade com seus escravos

Com o inicio das migraccedilotildees nordestinas para a Amazocircnia em busca de trabalho nos

seringais muitas famiacutelias optaram por se instalarem na receacutem-criada Cidade da Barra do Rio

Negro ou em regiatildeo proacutexima como eacute o caso da regiatildeo do Careiro da Vaacuterzea localizada em

uma ilha no meio do rio Solimotildees

66

Novas secas nordestinas determinaram outras penetraccedilotildees de cearenses

piauienses paraibanos na regiatildeo do Careiro Com o nuacutemero de imigrantes aumentando a

cada ano o governo do estado do Amazonas fundou em 11 de Janeiro de 1890 as Colocircnias

de ldquoSanta Maria do Janauacaacuterdquo e a ldquo13 de Maiordquo no Cambiche com a funccedilatildeo de abrigar os

colonos e sustentaacute-los durante seis meses para que pudessem se instalar na regiatildeo (IBGE

2010)

Com a Queda da Borracha a partir de 1911 nos altos cursos dos rios os ex-

seringueiros se viram obrigados a procurarem novas aacutereas para residirem

Segundo Benchimol (1992)

Seriam os novos paroaras no velho linguajar sertanejo sendo que desta vez natildeo

levavam mais o chapeacuteu de palhinha o guarda chuva e o reloacutegio de algibeira com a

corrente de ouro que outrora constituiacuteam os siacutembolos e a imagem dos filhos

proacutedigos da seringa e da fortuna Ou entatildeo quando a vergonha de voltarem pobres

impedia o seu retorno ao sertatildeo abandonavam os seringais endividados e

rumavam para as cidades Rio Branco Manaus Beleacutem (BENCHIMOL 1992 p228)

O autor ainda relata que os ex- seringueiros que tinham vocaccedilatildeo para atividades

agriacutecolas ldquodesciam rio abaixo para ocupar como posseiros as terras devolutas das vaacuterzeas

do Solimotildees do Meacutedio e do Baixo Amazonas onde localizavam os siacutetios e roccedilados neles se

fixando definitivamente permanecendo fieacuteis agrave tradiccedilatildeo ruralrdquo (BENCHIMOL 1992 p228)

Fato semelhante ocorreu com a localidade do Manaquiri como descreve o senhor

Nery (82 anos) que foi trazido pelos pais com apenas um mecircs de vida filho de ex-

seringueiros que migraram do municiacutepio de Laacutebrea no sul do Estado do Amazonas em 1931

apoacutes a queda do preccedilo da borracha e instalaram-se na localidade do Manaquiri ldquovieram

tentar a vida na agricultura em um lugar mais perto da capital Lembro que na minha

infacircncia tinha fartura de peixe por isso um dos primeiros nomes daqui foi Vila do Jaraquirdquo

O entrevistado tambeacutem descreve o lugar como tendo ldquoa Igreja de Satildeo Pedro feita

de madeira e coberta de palha e mais quatro casas construiacutedas no mesmo formato da igreja

A igreja de hoje (Figura 13) estaacute no mesmo lugar da antiga e ao lado tinha um campo de

futebol e do lado do campo agraves quatro casas que me lembro da infacircnciardquo (NERY 82 anos)

67

Conforme relato do Cruz (84 anos) relatou que seu pai migrou do estado do Rio

Grande do Norte para trabalhar na retirada da borracha em 1924 quando chegou a Manaus

soube da queda do preccedilo da borracha

[] mas natildeo queria ficar na cidade entatildeo decidiu seguir duas famiacutelias que iam

morar laacute no Careiro embora o governo do estado tenha cumprido com a palavra e

dado comida durante seis meses ao meu pai e as outras famiacutelias o sonho dele era

cultivar as novas terras e fez plantando verduras que a aacutegua cobriu sem doacute nem

piedade quando subiu naquele ano meu pai ficou tatildeo triste tatildeo triste que disse

que ia procurar a terra que os outros colonos falavam um tal de Manaquiri onde a

terra era alta e a aacutegua soacute chegava na frente de tatildeo alta que era a terra meu pai

natildeo perdeu tempo e veio atraacutes dessa terra alta com minha matildee e mais duas

famiacutelias ai eu nasci aqui no Manaquiri em 1926 (CRUZ 84 anos)

Cruz (84 anos) relata ainda que ajudou na construccedilatildeo da primeira igreja de Satildeo

Pedro em 1931 com seu pai e outros dois vizinhos os uacutenicos moradores do lugar ateacute entatildeo

a igreja foi feita de madeira tirada da floresta e coberta com palhas secas tranccediladas pela sua

matildee e as outras duas vizinhas fizeram a igreja para agradecer a Satildeo Pedro pela grande

fartura de peixe da espeacutecie jaraqui (Semaprochilodus insignis) que deu o primeiro nome ao

lugar chamado posteriormente de Vila do Jaraqui

Depois daquele ano quando meus pais fizeram uma festa para comemorar o dia se

Satildeo Pedro e chamaram os amigos do Careiro veio muita gente pra caacute e ficamos

jogando bola ateacute o sol ir embora no campo que roccedilamos naquele dia mesmo

depois disso nos finais de semana vinha gente pra caacute pra jogar bola depois de um

tempo comeccedilou a chegar gente para morar aqui mesmo era legal eu ia ter amigos

para brincar todos os dias (CRUZ 84 anos)

Figura 13 Frente da cidade do Manaquiri Fonte Louzada 2013

68

Oficialmente a histoacuteria do hoje municiacutepio do Manaquiri estaacute ligada ao povoamento

efetuado por nordestinos agrave princiacutepio no municiacutepio do Careiro que posteriormente se

estendeu pela regiatildeo O que levou o governo do estado do Amazonas atraveacutes do Decreto Lei

nordm176 de 1938 a tornar o Careiro um distrito da capital Manaus (IBGE 2000)

Com o a ocupaccedilatildeo constante e o crescimento ao longo dos anos o distrito do

Careiro foi desmembrado da capital Manaus e tornou-se um municiacutepio autocircnomo atraveacutes

do Decreto Lei nordm 99 de 19 de Dezembro de 1955 tendo como subdistritos Careiro

(Castanho) Curari Gurupaacute Mamori Janauacaacute Satildeo Joaquim e Manaquiri (AMAZONAS

1955)

Com o inicio da construccedilatildeo da BR-319 na deacutecada de 1970 os subdistritos do

Careiro com destaque para o Careiro Castanho e o Manaquiri tambeacutem passaram a receber

migrantes oriundos de outros municiacutepios e tambeacutem de outros estados brasileiros para

trabalharem na construccedilatildeo da BR e acabaram por se fixar na regiatildeo

O Manaquiri foi elevado agrave categoria de municiacutepio em 10 de Fevereiro de 1981

constituindo seu territoacuterio com parte dos municiacutepios de Careiro Borba e Manacapuru

(BRASIL 1981) E continuou a crescer ao longo dos anos como mostra a Tabela 3

Tabela 3 Crescimento populacional do Manaquiri entre 1991 e 2010

Ano Populaccedilatildeo

1991 10718

1996 17278

2000 12711

2007 19164

2010 22801

212 ndash INFRAESTRUTURA DO MANAQUIRI PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

Segundo o Censo Demograacutefico do IBGE (2010) o municiacutepio do Manaquiri estaacute

classificado em deacutecimo lugar entre os sessenta e dois municiacutepios do estado com relaccedilatildeo ao

nuacutemero de habitantes por quilocircmetro quadrado que chega a 573 habkmsup2 (Tabela 4)

Fonte IBGE Censo Demograacutefico 19912010

69

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas

Municiacutepios com mais habkmsup2

Municiacutepio Populaccedilatildeo Total

Urbana Rural habkmsup2

1ordm Manaus 1802014 1792881 9133 15806

2ordm Iranduba 40781 28979 11802 1842

3ordm Parintins 102033 69890 32143 1714

4ordm Tabatinga 52272 36355 11917 1621

5ordm Manacapuru 85141 60174 24967 1162

6ordm Itacoatiara 86839 58157 26655 977

7ordm Careiro da Vaacuterzea 23930 1000 22930 909

8ordm Urucurituba 17837 10448 7389 614

9ordm Boa Vista do Ramos 14979 7550 7429 579

10ordm Manaquiri 22801 7062 15739 573

11ordm Nova Olinda do Norte

30696 13626 17070 547

12ordm Careiro 32734 9437 23297 537

A sede municipal de Manaquiri concentra 3097 da populaccedilatildeo do municiacutepio que

por sua vez dispotildee fisicamente de infraestrutura baacutesica de uma cidade com ruas e calccediladas

amplas (Figura 14)

Fonte Censo demograacutefico IBGE 2010 (httpwwwcenso2010ibgegovbrsinopseindexphpdados=21ampuf=13)

70

A sede municipal tambeacutem concentra grande variedade de comeacutercio como

mercearias lojas de moacuteveis e eletroeletrocircnicos restaurantes hoteacuteis banco etc (Figura 15)

Como 6903 (15739 mil) da populaccedilatildeo do municiacutepio fica concentrada na zona rural

a economia predominante torna-se a agricultura familiar que Noda (2011) descreve como

tendo uma

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

Figura 15 Centro comercial da sede municipal de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

71

[] produccedilatildeo diversificada que aleacutem de permitir uma oferta constante ampla e variada de alimentos para o autoconsumo proporciona maior estabilidade ao sistema produtivo pois o suprimento das necessidades baacutesicas em alimentos da famiacutelia independente da comercializaccedilatildeo do lsquorsquoexedendersquorsquo As crises do mercado externo podem afetar o nuacutecleo produtivo mas natildeo viabilizam a sua sobrevivecircncia (NODA 2011 p18)

Todavia apesar da produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri ser caracterizada

como sendo uma produccedilatildeo agriacutecola familiar a mesma manteacutem-se ligada ao mercado

consumidor produzindo natildeo mais exclusivamente para o autoconsumo mas principalmente

para o abastecimento do mercado externo

Segundo a Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural ndash SEPROR o municiacutepio do

Manaquiri destaca-se no estado por ter um grande volume de produccedilatildeo agriacutecola (Tabela 5)

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola no municiacutepio de Manaquiri

de Janeiro a Dezembro de 2012

Fonte Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural - SEPROR

Produccedilatildeo Agriacutecola Quantidade Produzida

Coco 32 mil frutos Cupuaccedilu 120 mil frutos Goiaba 5 (t)

Graviola 8 mil frutos Laranja 12540 mil frutos

Limatildeo 765 mil frutos Mamatildeo Havaiacute 200 (t)

Maracujaacute 80 (t) Pupunha 24 mil cachos

Tangerina 252 mil frutos Alface 330 mil peacutes

Batata doce 1920 (t) Berinjela 20 (t)

Feijatildeo de Metro 500 mil maccedilos Jerimum 700 (t)

Macaxeira 1440 (t) Maxixe 30 (t)

Melancia 510 mil frutos

Pimentatildeo a ceacuteu aberto 80 (t) Pimenta doce 24 (t)

Pepino 156 (t) Quiabo 90 (t) Repolho 120 (t) Tomate 160 (t)

72

Sobre isso Noda (2011) relata

Dados do Censo de 199596 publicados pelo INCRA (2000) mostram que na Regiatildeo Norte o nuacutemero de estabelecimentos de agricultores familiares ocupa 375 da aacuterea recebem 38 6 do total de financiamento satildeo responsaacuteveis por 587 do Valor Bruto da Produccedilatildeo e representam 854 do total dos estabelecimentos rurais No Brasil o nuacutemero de estabelecimentos classificados como de agricultura familiar representam 852 do total de estabelecimentos 305 da aacuterea total e correspondem a 379 do Valor Bruto da Produccedilatildeo (NODA 2011 p18)

O Estado do Amazonas a partir de 2012 tem um programa de governo voltado

para a agricultura familiar o Programa Amazonas Rural

Com o Amazonas Rural pretendemos entre outros avanccedilos fomentar as cadeias produtivas tradicionais melhorar a produtividade proporcionar acesso ao creacutedito facilitar o escoamento garantir mercado e competitividade aos produtos oferecendo novas alternativas econocircmicas e mais oportunidade ao homem e a mulher (AMAZONAS 2013 p 5)

A partir de janeiro de 2013 agricultores familiares do municiacutepio de Manaquiri

passaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado para receberem empreacutestimos que

podem chegar ao valor de R$12 mil a serem investidos no melhoramento da produccedilatildeo

agriacutecola com juros de 1 ao ano com prazo de pagamento em ateacute 10 anos (AMAZONAS

2013)

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal Sustentaacutevel do

Amazonas - IDAM (2013) vinte e cinco agricultores do Manaquiri fizeram o curso sobre

cultivo de hortaliccedilas que tinha como objetivo aumentar a produccedilatildeo de hortaliccedilas para

abastecer o comeacutercio local e a capital amazonense

22 MARCHA PARA O OESTE A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS

Segundo Rothbard (2012) a Grande Depressatildeo Americana foi resultado de oito

anos (1920 a 1928) de inflaccedilatildeo elevada acompanhada da expansatildeo excessiva das induacutestrias

e a venda de tiacutetulos do capital no mercado de accedilotildees por um longo periacuteodo como resultado

teve a injeccedilatildeo de milhares de doacutelares na economia o que natildeo muito mais tarde se mostraria

um erro irreversiacutevel levando o paiacutes aacute depressatildeo no ano seguinte

73

Com a Grande Depressatildeo de 1929 explodindo seus reflexos se espalharam pelo

mundo em meses chegando ateacute a atingir tambeacutem o Brasil que nesse periacuteodo tinha sua

economia enraizada na cafeicultura tendo os Estados Unidos como maior comprador do

cafeacute produzido no Brasil

Para minimizar os impactos na economia interna o governo brasileiro se viu

obrigado a comprar e a derramar no mar milhares de sacas de cafeacute a fim de conter o preccedilo

do principal produto brasileiro ateacute entatildeo

A economia cafeicultora jamais se recuperou completamente o que levou os

produtores que natildeo quebraram com a crise do cafeacute como ficou conhecido este periacuteodo no

Brasil a investirem no setor industrial o que mais tarde se mostraria ter sido um oacutetimo

negoacutecio

Com a queda do preccedilo e o excesso de cafeacute no mercado os proprietaacuterios dos

cafezais se viram obrigados a demitir milhares de empregados que migraram para outras

regiotildees principalmente para as cidades em busca de emprego Com o passar dos anos de

intensas migraccedilotildees para as cidades e a falta de estrutura das mesmas para atender toda a

demanda resultou em um crescimento raacutepido e desordenado aleacutem de graviacutessimos

problemas na populaccedilatildeo por falta de condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede

Com o passar do tempo os problemas urbanos foram sendo agravados a cada ano e

o governo brasileiro se viu pressionado a tomar uma atitude Foi entatildeo que o presidente

Getuacutelio Vargas iniciou um pacote de medidas de incentivo agrave migraccedilatildeo posteriormente

chamado de ldquoMarcha para o Oesterdquo que visava antes de tudo ocupar os espaccedilos

considerados vazios no interior do Brasil e desafogar as cidades do litoral

Para isso foi necessaacuterio incentivar a populaccedilatildeo a migrar para outras regiotildees atraveacutes

do meio de comunicaccedilatildeo de maior alcance da eacutepoca o raacutedio e foi por meio dele com

pronunciamentos e transmissotildees semanais de campanhas incentivando a migraccedilatildeo da

populaccedilatildeo para espaccedilos sem gente que Vargas deu inicio agraves grandes transformaccedilotildees que o

Brasil viria a presenciar dali em diante

A Marcha para o Oeste tinha como objetivos incentivar a migraccedilatildeo de brasileiros e

estrangeiros aptos para a produccedilatildeo agriacutecola para outras regiotildees sem gente propagava

tambeacutem a conquista definitiva do territoacuterio brasileiro que segundo Vargas ateacute entatildeo fora

esquecido (RICARDO 1970)

74

E em 09 de fevereiro de 1940 foi publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei

nordm 2009 que criou os nuacutecleos coloniais ldquoreuniatildeo de lotes medidos e demarcados formando

um grupo de pequenas propriedades ruraisrdquo (BRASIL 1940 p2433)

Art 7ordm Os nuacutecleos coloniais aleacutem das casas destinadas a residecircncia do pessoal teacutecnico administrativo e operaacuterio e de trabalhadores teratildeo a) Um campo de demonstraccedilatildeo destinado aacutes culturas proacuteprias da regiatildeo ou de outras economicamente aconselhaacuteveis b) Escolas para ensino rural de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendecircncia do Ensino Agriacutecola c) Pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira d) Serviccedilo meacutedico e farmacecircutico

Tambeacutem segundo o Diaacuterio Oficial da Uniatildeo os nuacutecleos coloniais seriam

classificados em rurais destinados agrave lavoura e a criaccedilatildeo de animais de dimensotildees variando

entre 10 e 50 hectares e nuacutecleos coloniais urbanos destinados agraves futuras povoaccedilotildees

ldquotendo sua frente voltada para ruas e praccedilas e com aacuterea maacutexima de 3000msup2rdquo (BRASIL 1940

p2434)

Um ano apoacutes a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 2009 o governo federal em parceria

com os governos estaduais e municipais e o Ministeacuterio da Agricultura divulgam tambeacutem no

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei nordm 3059 de 14 de Fevereiro de 1941

Esse Decreto promoveu a fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo de Grandes Colocircnias Agriacutecolas

Nacionais com o objetivo de receber e fixar como proprietaacuterios rurais cidadatildeos brasileiros

reconhecidamente pobres que revelassem aptidatildeo para o trabalho agriacutecola e

excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros (BRASIL 1941)

Paraacutegrafo uacutenico Todas as despesas decorrentes da fundaccedilatildeo instalaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das colocircnias inclusive construccedilatildeo e conservaccedilatildeo das vias principais de acesso seratildeo custeadas pela Uniatildeo dentro dos creacuteditos que forem destinados a esse fim Art 2ordm As colocircnias seratildeo criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que deveratildeo reunir as seguintes condiccedilotildees a) situaccedilatildeo climateacuterica e condiccedilotildees agroloacutegicas exigidas pelas culturas da regiatildeo b) cursos permanentes dacuteaacutegua ou possibilidade de accediludagem para irrigaccedilatildeo (BRASIL 1941 p72)

Tambeacutem ficou estabelecido no Decreto Lei que a aacuterea do lote variaria entre 20 e 50

hectares e em caso de regiotildees de floresta naturais cada proprietaacuterio do lote teria que

manter uma reserva equivalente a 25 do total ldquosect 4ordm Na elaboraccedilatildeo do plano geral de

75

colonizaccedilatildeo seratildeo respeitadas as belezas naturais da regiatildeo bem como cuidar-se-aacute da

proteccedilatildeo da flora e faunardquo (BRASIL1941 p73)

No paraacutegrafo uacutenico do artigo 5ordm ldquoNo projeto da sede seratildeo observadas todas as

regras urbaniacutesticas visando agrave criaccedilatildeo de um futuro nuacutecleo de civilizaccedilatildeo no interior do paiacutesrdquo

(BRASIL1941 p73)

Para Bertran (1988) o principal objetivo das Colocircnias Agriacutecolas Nacionais era ldquoalocar

matildeo de obra liberada pela decadecircncia da cafeicultura e criar uma frente agriacutecola comercial

internardquo (BERTRAN 1988 p92)

Para Dayrell (1974) as grandes Colocircnias Agriacutecolas Nacionais seriam a soluccedilatildeo para

resolver dois grandes estrangulamentos do Brasil o excesso de matildeo de obra e a falta de

emprego para todos

Independente das motivaccedilotildees para se criar a Marcha para o Oeste seus benefiacutecios

em diversas regiotildees do paiacutes satildeo inegaacuteveis O exemplo da Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes -

CANG fundada em 19 de Fevereiro de 1941 pelo Decreto Lei nordm 6882 na localidade de

Ceres que obedecendo ao Decreto Lei nordm 3059 forneceu lotes aos colonos medindo entre

20 e 50 hectares para que cultivassem a terra de forma a manter seu sustento

Com a veiculaccedilatildeo da notiacutecia de solo feacutertil e de apoio do Governo (CASTILHO 2012)

a regiatildeo passou a receber grande quantidade de pessoas candidatos a futuros colonos

A partir de 1946 chegavam a Colocircnia em meacutedia 30 famiacutelias por dia No ano seguinte jaacute residiam na CANG mais de 10000 habitantes Em 1950 a aacuterea contava com 29522 habitantes e em 1953 atingiu uma populaccedilatildeo de 35672 habitantes (onde 33222 residiam na zona rural e apenas 3450 na zona urbana) Essa grande quantidade de migrantes era provenientes do Oeste de Minas Gerais (60) de Satildeo Paulo e Estados do Norte (20) do proacuteprio Estado de Goiaacutes e do Sul (especialmente gauacutechos) e de outros paiacuteses (20) (CASTILHO apud DAYRELL 2012 p121)

Com o aumento do nuacutemero de colonos a cada dia houve tambeacutem o aumento da

produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas destinadas para a demarcaccedilatildeo de lotes Um demonstrativo do

volume de produccedilatildeo agriacutecola pode ser visualizado na Tabela 6

76

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo agriacutecola da CANG Produto Unidade 1947 1950 1951 1952 1953

Arroz Saca 60 kg 220000 420596 362642 272920 276000

Milho Saca 60 kg 500000 25475 202625 136349 248000

Feijatildeo Saca 60 kg 65000 18169 29455 140187 86000

Accediluacutecar Saca 60 kg 5000 - - - -

Algodatildeo Saca 60 kg 10000 99213 261369 129974 220000

Cafeacute Saca 60 kg - - 22540 8036 14600

Cana kg - 3129869 36856869 43725 ton 32024 ton

Mandioca kg - 6436718 35272961 20088783 41448 ton

Com a produccedilatildeo de arroz chegando a 4 toneladas e 600 kg (276000kg) em 1953

somado a 32024 toneladas de cana de accediluacutecar e 41448 toneladas de mandioca a produccedilatildeo

agriacutecola da CANG chegava a 780720 toneladas de alimentos somente com trecircs produtos

um recorde de produccedilatildeo

A CANG natildeo somente produzia os produtos agriacutecolas mais tambeacutem os beneficiava de

modo a agregar valor ao produto facilitando assim a sua comercializaccedilatildeo

Da cana de accediluacutecar produziam rapadura accediluacutecar mascavo accediluacutecar cristal farinha de

milho e mandioca aleacutem de oacuteleos vegetais e tijolos para a construccedilatildeo das casas e telhas

francesas e coloniais (DAYRELL 1974)

Tambeacutem segundo Dayrell (1974) a CANG a partir de 1953 comeccedilou a produzir outras

culturas agriacutecolas entre elas mamatildeo amendoim batata e frutas entretanto as mesmas natildeo

chegaram a ser expressivas em volume de produccedilatildeo ficando somente para consumo interno

da Colocircnia

Por estar localizada em um solo riquiacutessimo em fertilidade para a agricultura a

administraccedilatildeo da CANG fazia seacuterias restriccedilotildees agrave criaccedilatildeo bovina segundo Dayrell (1974) a

mesma tinha um rebanho estimado em 14000 cabeccedilas de gado em sua maioria utilizada

para preparar a terra para o plantio e as vacas para a produccedilatildeo leiteira

Outro exemplo de Colocircnia eacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados - CAND

localizada no Estado de Mato Grosso do Sul (antigo Mato Grosso) criada pelo Decreto Lei nordm

5941 de 28 de Outubro de 1943 que assim como outras colocircnias tinha a funccedilatildeo de

Fonte DAYRELL apud CASTILHO (2012)

77

receber e alojar brasileiros reconhecidamente pobres e estrangeiros aptos para a

agricultura

Segundo Menezes (2011) devido aos percalccedilos poliacuteticos a Colocircnia somente foi

efetivamente implantada em 1948 cinco anos apoacutes a lei de sua criaccedilatildeo Logo em seguida

comeccedilou a receber migrantes mas foi na deacutecada de 1950 que as migraccedilotildees tomaram

impulso e chegaram agrave nuacutemeros exorbitantes Segundo Lenharo (1986) as migraccedilotildees intensas

eram reflexos das propagandas veiculadas semanalmente no raacutedio pautada em

instrumentos simboacutelicos com a bandeira para incitar o sentimento nacionalista

A colocircnia possuiacutea uma aacuterea de 267000 ha que ficaram divididas em duas zonas

separadas pelo rio Dourados a primeira localizada agrave esquerda do rio com 68000

ha e a segunda agrave direita daquele com uma aacuterea de 199000 ha A referida colocircnia

englobava o territoacuterio dos atuais municiacutepios de Dourados Faacutetima do Sul Vicentina

Gloacuteria de Dourados Jateiacute Deodaacutepolis e Douradina (MENEZES apud PONCIANO

NAGLIS 2011)

Segundo Menezes (2011) em uma carta o administrador da CAND em 1951

descreve a regiatildeo da Colocircnia de Dourados como sendo uma regiatildeo de mata virgem de

terras planas de solos de rara fertilidade e de altitude superior a 400 metros com condiccedilotildees

adaptaacuteveis agrave culturas agriacutecolas variadas de frutos europeus e cafeacute

Assim como ocorreu na Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes- CANG na localidade de

Ceres a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados- CAND no Territoacuterio Federal de Ponta Poratilde

(BRASIL 1943) no atual estado do Mato Grosso do Sul tambeacutem produzia grande quantidade

de alimentos como arroz feijatildeo e milho Sua principal dificuldade estava no transporte

dessa produccedilatildeo que ao contraacuterio da CANG que tinha acesso direto ao rio das Almas a

CAND dependia do transporte terrestre para escoar sua produccedilatildeo

Menezes apud Queiroz (2011 p7) descreve a ldquosituaccedilatildeo relativamente desfavoraacutevel

desse ramal um tanto excecircntrico em relaccedilatildeo ao nuacutecleo agriacutecola constituiacutedo pela CAND Essa

colocircnia de fato estendeu-se a leste da cidade de Dourados enquanto a estaccedilatildeo de Itahum

foi estabelecida cerca de 60 km a oeste da cidaderdquo Com isso agrave medida que a CAND crescia e

se desenvolvia ficava mais difiacutecil escoar sua produccedilatildeo

Segundo Azevedo (1994) em entrevista com um colono o mesmo descreve a

situaccedilatildeo em que se encontravam ldquoa uacutenica e precariacutessima ligaccedilatildeo que tiacutenhamos era com

Dourados atraveacutes de um caminho aberto a braccedilos humanos onde haviam terriacuteveis atoleiros

78

dentre os quais os famosos travessotildees da Onccedila o do Guassu e o varjatildeo de Vila Brasilrdquo

(AZEVEDO1994 p59)

Nessa situaccedilatildeo em periacuteodo de chuva era praticamente impossiacutevel transportar a

produccedilatildeo ateacute a estaccedilatildeo de Itahum e para piorar a CAND natildeo dispunha de galpotildees de

armazenamento o que tornava extremamente necessaacuterio que os colonos enfrentassem os

perigos do caminho para natildeo perder a produccedilatildeo

221 COLOcircNIA AGRIacuteCOLA NACIONAL DO AMAZONAS- CANA ldquoUM LUGAR PARA

RECOMECcedilARrdquo

A Amazocircnia voltou a ser ldquoalvordquo de migraccedilatildeo populacional a partir da II Segunda

Guerra Mundial ldquocom a perda para os japoneses dos centros de produccedilatildeo de goma elaacutestica

(borracha) cultivadas no Oriente a induacutestria beacutelica dos aliados viu-se privada da noite para

o dia de um de seus mais importantes produtos estrateacutegicosrdquo (SOARES 1963 p123)

Com isso o presidente dos Estados Unidos viu-se pressionado a estudar o estoque

de mateacuterias primas disponiacutevel para a guerra todavia o resultado foi assustador

De todos os materiais criacuteticos e estrateacutegicos a borracha eacute aquele cuja falta representa a maior ameaccedila agrave seguranccedila de nossa naccedilatildeo e ao ecircxito da causa aliada () Consideramos a situaccedilatildeo presente tatildeo perigosa que se natildeo se tomarem medidas corretivas imediatas este paiacutes entraraacute em colapso civil e militar A crueza dos fatos eacute advertecircncia que natildeo pode ser ignorada

Atenccedilotildees do governo americano se voltaram entatildeo para a Amazocircnia grande reservatoacuterio natural de borracha com cerca de 300 milhotildees de seringueiras prontas para a produccedilatildeo de 800 mil toneladas de borracha anuais mais que o dobro das necessidades americanas Entretanto naquela eacutepoca soacute havia na regiatildeo cerca de 35 mil seringueiros em atividade com uma produccedilatildeo de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941 Seriam necessaacuterios pelo menos mais 100 mil trabalhadores para reativar a produccedilatildeo amazocircnica e elevaacute-la ao niacutevel de 70 mil toneladas anuais no menor espaccedilo de tempo possiacutevel [] para alcanccedilar esse objetivo iniciaram-se intensas negociaccedilotildees entre as autoridade brasileiras e americanas que culminaram com a assinatura do Acordo de Washington (NECES 2013 p5 - 6)

E em 14 de Setembro de 1943 eacute publicado o Decreto Lei nordm 5813 que dispunha

sobre o acordo de Washington (assinado em 1942) entre o Brasil e os Estados Unidos onde

o Brasil se comprometia em recrutar e encaminhar trabalhadores para a Amazocircnia com a

79

finalidade de retirar a maior quantidade possiacutevel de borracha e os EUA em contra partida se

comprometia a disponibilizar a importacircncia de U$$ 240000000 em uma conta especial no

Banco do Brasil agrave disposiccedilatildeo do governo brasileiro para ser usado no transporte e

acomodaccedilatildeo dos primeiros 16000 trabalhadores que deveriam ser colocados nos seringais

agrave tempo de iniciar a extraccedilatildeo da borracha para a safra de 1944 (BRASIL 1943)

Em cumprimento ao acordo firmado entre Brasil-EUA eacute criado o Serviccedilo Especial de

Mobilizaccedilatildeo de Trabalhadores para a Amazocircnia - SEMTA que tinha como objetivo fazer o

recrutamento de trabalhadores e suas famiacutelias e o encaminhamento e posterior

acomodaccedilatildeo das mesmas nos seringais da Amazocircnia a fim de incrementar a produccedilatildeo de

borracha e destina laacute aos Estados Unidos (BRASIL 1943)

Para o governo brasileiro era uma grande oportunidade para mitigar alguns dos mais graves problemas sociais brasileiros Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponiacuteveis para ser enviados imediatamente para os seringais Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazocircnia durante o ano de 1942 metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais Aqueles eram os primeiros soldados da borracha Simples retirantes que se amontoavam com suas famiacutelias por todo o nordeste fugindo de uma seca que teimava em natildeo acabar e os reduzia agrave miseacuteria Mas aquele primeiro grupo era evidentemente muito pequeno diante das pretensotildees americanas (NECES 2013 p7)

Vai aleacutem ao afirmar

Em todas as regiotildees do Brasil aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha e assim auxiliar a causa aliada Alistamento recrutamento voluntaacuterios esforccedilo de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano popular A mobilizaccedilatildeo de trabalhadores para a Amazocircnia coordenada pelo Estado Novo foi revestida por toda a forccedila simboacutelica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam No nordeste de onde deveria sair o maior numero de soldados o SEMTA convocou padres meacutedicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazocircnicas O artista suiacuteccedilo Chabloz foi contratado para produzir material de divulgaccedilatildeo acerca da realidade que os esperava Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de laacutetex que escorria como aacutegua de grossas seringueiras Todo o caminho que levava do sertatildeo nordestino seco e amarelo ao paraiacuteso verde e uacutemido da Amazocircnia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas O slogan Borracha para a Vitoacuteria tornou-se o emblema da mobilizaccedilatildeo realizada por todo o nordeste Histoacuterias de enriquecimento faacutecil circulavam de boca em boca Na Amazocircnia se junta dinheiro com rodo Os velhos mitos do Eldorado amazocircnico voltavam a ganhar forccedila no imaginaacuterio popular O paraiacuteso perdido a terra da fartura e da promissatildeo onde a floresta era sempre verde e a seca desconhecida Os cartazes mostravam caminhotildees carregando toneladas de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores Eram imagens coletadas por Chabloz nas plantaccedilotildees da Firestone na Malaacutesia sem nenhuma conexatildeo com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazocircnicos Afinal de contas o que os flagelados

80

teriam a perder Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam restava o milenar recurso do recrutamento forccedilado de jovens A muitas famiacutelias do sertatildeo nordestino foram oferecidas somente duas opccedilotildees ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou entatildeo deveriam seguir para o front na Europa para lutar contra os fascistas italianos e alematildees Eacute faacutecil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazocircnia (NECES 2013 p7)

Estima-se que 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazocircnicos entre os

anos de 1942 e 1945 ldquodesse total quase metade acabou morrendo em razatildeo das peacutessimas

condiccedilotildees de transporte alojamento e alimentaccedilatildeo durante a viagem como tambeacutem pela

ausecircncia quase absoluta de meacutedicosrdquo (NECES 2013 p8)

Com a produccedilatildeo da borracha natildeo chegando nem agrave metade do esperado jaacute em 1944

o governo americano transfere suas atribuiccedilotildees ao governo brasileiro e o fim da II Segunda

Guerra Mundial alcanccedilado em 1945 o acordo de exploraccedilatildeo de borracha na Amazocircnia eacute

rapidamente cancelado com abertura das regiotildees produtoras do sudoeste asiaacutetico

novamente ao mercado internacional

Por sua vez ldquoos soldados da borrachardquo como ficaram conhecidos os migrantes na

regiatildeo amazocircnica foram largados agrave proacutepria sorte novamente na imensidatildeo da floresta

algumas centenas optaram por retornar aos seus estados de origem os demais optaram por

continuar na regiatildeo o que veio a contribuir para o povoamento da mesma

Por outro lado o governo brasileiro natildeo interrompeu a sua poliacutetica de colonizaccedilatildeo

jaacute iniciada com a criaccedilatildeo de Colocircnias de Agriacutecolas Nacionais por todo o territoacuterio brasileiro e

principalmente na Amazocircnia para atender o Acordo de Washington (1942) mantendo assim

os dois mega projetos em funcionamento O que por sua vez resultou em uma explosatildeo

demograacutefica na regiatildeo direcionadas principalmente para os maiores estados da regiatildeo e do

paiacutes o estado do Amazonas e o estado do Paraacute como expressa Benchimol (2009) atraveacutes da

evoluccedilatildeo demograacutefica da populaccedilatildeo nesses estados (Tabela 7)

Tabela 7 Crescimento populacional do Amazonas e do Paraacute (1900-1950)

Estados 1900 1920 1940 1950

Amazonas 249756 363166 438008 514009

Paraacute 445356 983507 944644 1123273

Fonte Samuel Benchimol (2009)

81

Embora o crescimento populacional do estado do Amazonas ao contraacuterio do

estado do Paraacute possa parecer menos expressivo nas primeiras cindo deacutecadas do seacuteculo XX o

mesmo representou grande preocupaccedilatildeo aos governantes com a ocupaccedilatildeo destes

migrantes e imigrantes em terras estranhas o que levou o governador do estado do

Amazonas a doar agrave Uniatildeo grande lote de terras para que fosse implantada a Colocircnia

Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA (AMAZONAS 1941)

As terras doadas detinham aacuterea de duzentos mil a trezentos mil hectares

localizadas entre os rios Negro e Solimotildees (BRASIL 1941b)

Segundo Daacutecio (2011) as terras foram dividas em duas glebas a primeira localizada

no Cacau Pirera (atual municiacutepio de Iranduba) na margem direita do Rio Negro e a segunda

gleba na localidade da Bela Vista disposta na margem esquerda do Rio Solimotildees no

municiacutepio de Manacapuru aonde foi instalado a sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA ficando popularmente conhecida como Colocircnia da Bela Vista

Jaacute na sede da CANA localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem esquerda

do Rio Solimotildees a mesma foi efetivamente instalada em 1943 segundo o senhor Dida (73

anos) morador da CANA pelo engenheiro agrocircnomo Dr Carvalho A localidade logo

recebeu o nome de Bela Vista por estar localizada parte em aacuterea de terra firme e parte em

aacuterea de vaacuterzea (Figura 16) e ter uma visatildeo privilegiada do rio Solimotildees

82

Figura 16 Sede da Comunidade da Bela Vista e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

83

Segundo o senhor Silva (73 anos) popularmente conhecido como Dida os futuros

colonos chegavam a Colocircnia atraveacutes de navios cargueiros trazidos principalmente de quatro

estados brasileiros Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e do Rio Grande do Norte Normalmente os

colonos chegavam acompanhados das esposas e dos filhos muitas vezes pequenos e

doentes devido agrave longa viagem ser longa e as condiccedilotildees sanitaacuterias dentro dos navios natildeo

serem adequadas para o transporte de pessoas

Sobre isso Neces (2013) explica que as viagens do Nordeste para a Amazocircnia

levavam no miacutenimo trecircs meses ou mais devido agrave baixa capacidade de transporte das poucas

empresas de navegaccedilatildeo existentes que navegavam pelos rios da regiatildeo o que levou o

governo brasileiro a fornecer passagens no navio Italiano Lloyd que atracava no litoral

brasileiro e seguia em direccedilatildeo agrave Amazocircnia

Partes das dificuldades de transporte para a regiatildeo foram solucionadas a partir de

1943 com o investimento maciccedilo do governo americano no SNAPP (Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e

Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute) para o escoamento da produccedilatildeo de borracha da regiatildeo

(NECES 2013)

Outro entrevistado na pesquisa foi o senhor Santos (84 anos) eacute um dos uacuteltimos

colonos ainda residente na Bela Vista Nasceu no Estado do Rio Grande do Norte em 1929

onde permaneceu ateacute 1945 Apoacutes ouvir no raacutedio os incentivos de terra gratuita para

cultivar casa para morar meacutedicos e escolas que o governo brasileiro oferecia para quem

fosse morar no Amazonas decidiu arriscar a sorte e entrar em um navio alematildeo em plena II

Guerra Mundial em busca do sonho de terras em abundacircncia para cultivar e aacutegua a perder

Figura 17 Vista do Rio SolimotildeesAmazonas da Comunidade de Bela Vista Fonte Louzada ( 2013)

84

de vista Acima de tudo havia o desejo de ter uma vida tranquila sem ver seus animais

morrerem de fome e sede sem ter o que dar de comer e de beber mas ao mesmo tempo

tinha medo de ser pego pelos japoneses residentes na Colocircnia Japonesa em Parintins o que

natildeo ocorreu Chegou agrave CANA no final do ano de 1945 em eacutepoca de fartura de peixe e

intensas chuvas o que o deixou admirado da imensidatildeo da floresta e das aacuteguas Para o

senhor Santos e muitos outros colonos a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA

com sede na Bela Vista era a oportunidade uacutenica de comeccedilar uma vida nova em um lugar

distante e farto de aacutegua e terras para produzir seus alimentos

Cada colono recebia alimentaccedilatildeo gratuita por trecircs dias a contar da chegada

enquanto ajudava na construccedilatildeo da sua casa em um lote medindo 250m de frente por

900m de fundo previamente demarcado Apoacutes mudarem para seus lotes poderiam

derrubar a mata e iniciar a produccedilatildeo agriacutecola

Outro colono da CANA o senhor Bastos (68 anos) que nasceu no municiacutepio de

Anamatilde no interior do Amazonas e migrou para a Bela Vista com a famiacutelia aos trecircs meses de

vida descreve a fartura da CANA durante sua infacircncia e adolescecircncia na regiatildeo

De primeiro tinha fartura de peixe Haacute vinte anos vocecirc colocava uma malhadeira e

pegava tanto peixe que virava cordatildeo de tanto peixe No ramal para chegar aqui

tem um igarapeacute onde tem aquela ponte de madeira se vocecirc queria pegar peixe

era soacute colocar laacute uma isca chegava a pegar pirarucu de 40 a 45kg rapidinho hoje se

vocecirc colocar uma isca laacute ela vai apodrecer e vocecirc natildeo pega nada (BASTOS 68

anos)

O proacuteprio senhor Bastos (68 anos) relata ainda uma frase que seu pai lhe disse em

1959 apoacutes ver muitas pessoas pescando escolhendo o peixe que iriam comer e jogando o

restante jaacute morto de volta no rio ldquoMeu filho vai chegar o tempo de criar peixe se vocecirc

quiser comer umrdquo A primeira vista como o senhor Bastos relatou ldquoachei que meu pai natildeo

estava falando coisa com coisa pois tinha muita fartura de peixe mas hoje vejo que ele

estava certordquo Embora somente sabendo escrever o seu proacuteprio nome o pai de Bastos viveu

toda a sua vida agraves margens do rio e pode transmitir o conhecimento empiacuterico de um

ribeirinho que viveu toda a sua vida em contato constante e dependente do rio

Alguns autores relativamente jovens podem se referir a relatos de senhores com

mais de 60 anos como saudosista Entretanto se trata de outra realidade natildeo vivenciada

pelos autores que a criticam Embora muitos reconheccedilam que o avanccedilo da tecnologia no

85

seacuteculo passado e atual trouxe inuacutemeros benefiacutecios agrave sociedade moderna os mesmos

tambeacutem tecircm relativo conhecimento dos impactos dessa modernizaccedilatildeo principalmente da

exploraccedilatildeo descontrolada da natureza e suas consequecircncias para com o meio ambiente

222 INFRAESTRUTURA DA CANA DA PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DE BATELOtildeES

Os colonos que se instalaram na CANA tinham primeiramente duas funccedilotildees

desmatar os seus lotes produzir lenha para abastecer as embarcaccedilotildees que atracavam no

porto da Bela Vista e preparar a terra para a produccedilatildeo de arroz e cana de accediluacutecar uma das

exigecircncias para terem seus lotes na regiatildeo

A Colocircnia tinha cinco casas de alvenaria aparentemente adequadas ao meio muito

embora reflitam uma arquitetura com caracteriacutesticas distintas do convencionalmente

adotado pela populaccedilatildeo local

As casas eram divididas assim uma do administrador e sua famiacutelia (Figura 18) outra

era utilizada como escritoacuterio da Colocircnia e mais trecircs casas para os funcionaacuterios

administrativos

Assim como as outras colocircnias agriacutecolas nacionais implantadas a Colocircnia Agriacutecola

Nacional do Amazonas- CANA tambeacutem produzia cana de accediluacutecar e derivados como rapadura

e mel e accediluacutecar mascavo Tambeacutem produzia arroz que era processado em uma Usina de

Beneficiamento e apoacutes o processamento era ensacado e transportado por batelotildees

Figura 18 Casa do Administrador da Colocircnia

Fonte Louzada (2013)

86

(embarcaccedilotildees de madeira que navegavam pelos rios da Amazocircnia geralmente movidas a

lenha) ateacute Manaus ou subiam o curso do Rio Solimotildees para abastecer outras cidades do

interior do estado

A infraestrutura da CANA natildeo se limitava somente a Usina de Beneficiamento de

Arroz e as casas dos funcionaacuterios ou do administrador uma vez que tambeacutem dispunha de

Porto de Lenha responsaacutevel pelo abastecimento das embarcaccedilotildees posto de sauacutede com

meacutedicos e dentistas uma cantina uma espeacutecie de mercearia que vendia os produtos

comercializados na Colocircnia aleacutem de um estaleiro que fabricava e consertava embarcaccedilotildees

Segundo o senhor Dida (73 anos) a Colocircnia tinha trecircs embarcaccedilotildees proacuteprias o barco

Anamatilde geralmente utilizado pela famiacutelia do administrador e os barcos Tracajaacute e Aacutegua Fria

considerados cargueiros que transportavam a produccedilatildeo de rapadura mel e arroz para a

capital (Manaus) e retornavam com tijolos e telhas Os colonos que desejassem ir a capital

deveriam esperar os batelotildees que passavam no rio geralmente no inicio do dia uma vez por

semana e retornavam no dia seguinte agrave Colocircnia

O senhor Francisco (71 anos) descreve a Colocircnia como um lugar calmo de gente

humilde e trabalhadora que apesar de terem que trabalhar na produccedilatildeo de arroz e cana de

accediluacutecar como parte das exigecircncias para ter um lote na CANA natildeo abriam matildeo de ter em

seus lotes pequenos siacutetios geralmente com muitas arvores frutiacuteferas tanto tiacutepicas da

Amazocircnia como de outras regiotildees ou paiacuteses como mangueiras cajueiros entre outras

acompanhado da criaccedilatildeo de pequenos animais

Com a transferecircncia da administraccedilatildeo de todas as Colocircnias Agriacutecolas Nacionais da

extinta Divisatildeo de Terras e Colonizaccedilatildeo do Ministeacuterio da Agricultura e do tambeacutem extinto

Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacutercio para o

Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo ndash INIC (BRASIL 1956) marcaria

definitivamente o periacuteodo de transformaccedilotildees que viria a sofrer a Colocircnia Agriacutecola Nacional

do Amazonas - CANA

As coisas comeccedilaram a mudar segundo o senhor Bastos

[ldquo] natildeo veio mais meacutedicos nem dentistas para caacute as crianccedilas estavam doentes nem tinha remeacutediordquo Com o aumento das chuvas de dezembro agrave junho a produccedilatildeo de cana de accediluacutecar diminuiacutea muito ou acabava porque foram plantadas na vaacuterzea o mesmo acontecia com o arroz de primeiro tinha armazeacutem para guardar a produccedilatildeo depois 1957 natildeo tinham aonde guardar Muita gente foi embora para a cidade grande quem ficou tinha que se virar do jeito que desse ou morreria de fome A culpa foi do ldquoDr Rangel que derrubou a Colocircnia ele fechou a

87

Usina de Beneficiamento a cantina levou os meacutedicos que tinha aqui embora e natildeo

trouxe outros ele nem morava aqui soacute vinha visitar (BASTOS 68 ANOS)

O senhor Bastos se refere ao engenheiro agrocircnomo Vicente de Saacute Rangel

designado para administrar as terras do INIC e organizar um polo agriacutecola na regiatildeo

(MARTINS 2011)

Com a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA recebendo em meacutedia 2 mil

agricultores por mecircs aptos a trabalhar e a produzir alimentos se fazia necessaacuterio escoar esta

produccedilatildeo Rangel solicitou apoio do Governo Federal para a criaccedilatildeo de vias de acesso aacutes

comunidades de forma a facilitar o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola (MARTINS 2011)

A abertura das estradas comeccedilou com a instalaccedilatildeo da Colocircnia Japonesa na primeira

gleba da CANA onde hoje se encontra a localidade do Cacau Pirera no municiacutepio de

Iranduba na parte inicial da rodovia AM-070 (Manoel Urbano) (MARTINS 2011)

O polo foi criado e era necessaacuterio ter estradas os produtos com os quais eles trabalhavam Meu pai assumiu a direccedilatildeo dessa colocircnia e eu acompanhei o processo O transporte era muito complicado era necessaacuterio abrir as estradas no meio da florestardquo relatou um dos filhos do engenheiro Paulo Roberto Franccedila Rangel Enfrentando chuvas torrenciais calor insetos e dificuldades para derrubar aacutervores de grande porte a equipe comeccedilou a estruturar as vias de acesso para a colocircnia (MARTINS 2011 p13)

Martins (2011) relata ainda as dificuldades encontradas no processo de ligar as

comunidades e a construccedilatildeo da estrada sobre a floresta Assim como tambeacutem os benefiacutecios

recebidos com a chegada dos japoneses ao municiacutepio de Iranduba ldquoEle acreditava que a

agricultura seria a redenccedilatildeo do povo amazonense Ele viu que soacute se comia peixe e poucas

verduras Eles resolveram plantar e comeccedilaram a produzir muitordquo lembrou Paulo Roberto

Franccedila Rangel filho de Vicente Rangel

Ao todo Vicente Rangel morou no estado do Amazonas cinco anos (1957 a 1962)

retornando agrave sua cidade natal posteriormente

88

223 DA SEDE DA CANA Agrave COMUNIDADE DA BELA VISTA

Com o inicio da ditadura militar no Brasil em 1964 a Amazocircnia volta ao cenaacuterio

nacional impregnada no discurso do entatildeo presidente Castelo Branco ldquoIntegrar para natildeo

Entregarrdquo

Sobre isso Oliveira (1988) aponta que a estrateacutegia militar era desenvolver trecircs

grandes regiotildees geoeconocircmicas brasileiras Centro Sul Nordeste e Amazocircnia e interligaacute-las

definitivamente atraveacutes de mega projetos rodoviaacuterios

[] visto sob o acircngulo de estrateacutegias diversas o Centro Sul deveria ter o processo de industrializaccedilatildeo solidificado e sua agricultura modernizada aleacutem de participar do esforccedilo nacional de ldquodesenvolvimento do Nordesterdquo via industrializaccedilatildeo e da ocupaccedilatildeo via ldquoOperaccedilatildeo Amazocircniardquo da regiatildeo norte do paiacutes (OLIVEIRA 1988 p29)

A operaccedilatildeo Amazocircnia eacute resultado de uma ldquoReuniatildeo de Investidores da Amazocircniardquo a

bordo de um cruzeiro de nove dias pelos rios da regiatildeo onde ficaram definidos ldquoos

interesses dos empresaacuterios do Centro Sul e os objetivos da adesatildeo empresarial ao projeto

governamental soacute investir se o lucro fosse certordquo (OLIVEIRA 1988 p32)

Para viabilizar as novas estrateacutegias de desenvolvimento regional se fazia necessaacuterio

reestruturar os oacutergatildeos de planejamento regional levando o estado a lanccedilar a poliacutetica de

ldquoincentivos fiscais que previa a criaccedilatildeo do FIDAM (Fundo para Investimentos Privados do

Desenvolvimento da Amazocircnia) e uma rearticulaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do BASA (Banco da

Amazocircnia SA)rdquo (OLIVEIRA 1988 p36)

Os recursos a serem investidos na Amazocircnia seriam provenientes de

1-no miacutenimo 2 da renda tributaacuteria da Uniatildeo e 3 da renda tributaacuteria dos estados territoacuterios e municiacutepios da Amazocircnia 2- dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e creacuteditos adicionais provenientes de operaccedilotildees de creacutedito e juros de depoacutesitos bancaacuterios 3- auxiacutelios subvenccedilotildees contribuiccedilotildees e doaccedilotildees de entidades puacuteblicas ou privadas nacionais ou estrangeiras 4- sua renda patrimonial aleacutem de todas as isenccedilotildees tributaacuterias gozadas pelos oacutergatildeos federais 5- contrataccedilatildeo de empreacutestimos no paiacutes ou no exterior dando como garantia seus proacuteprios recursos como total isenccedilatildeo de taxas e impostos federais (OLIVEIRA 1988 p37)

89

A Operaccedilatildeo Amazocircnia tambeacutem tinha como objetivo criar a SUFRAMA

(Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus) que foi criada em 1967 para coordenar e

administrar a instalaccedilatildeo de faacutebricas na cidade de Manaus fundando o Distrito Industrial

(OLIVEIRA 1988)

Com a instalaccedilatildeo de faacutebricas em Manaus a cidade torna-se alvo de intensas

migraccedilotildees em busca de melhores condiccedilotildees de vida

Sobre isso Benchimol (2009) destaca que na deacutecada de 1950 73 da populaccedilatildeo do

estado do Amazonas vivia no campo contra 26 que viviam na cidade e duas deacutecadas

depois em 1970 esse percentual despencou para 57 da populaccedilatildeo rural contra 43

urbana

Para tentar reduzir as intensas e constantes migraccedilotildees do campo para as cidades O

governo militar cria o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria ndash INCRA

(resultado da fusatildeo do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria - IBRA e do Instituto Nacional

de Desenvolvimento Rural-INDA) instituiacutedo pelo decreto lei nordm 1110 de 09 de Julho de

1970

Art 1ordm O INGRA eacute uma entidade autaacuterquica vinculada ao Ministeacuterio da Agricultura dotado de personalidade juriacutedica e autonomia administrativa e financeira com jurisdiccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional a) Tendo como objetivo executar a reforma agraacuteria visando a corrigir a estrutura agraacuteria do paiacutes adequando-a aos interesses do desenvolvimento econocircmico e social b) Promover coordenar controlar e executar a projetos de colonizaccedilatildeo (BRASIL 1970)

O INCRA (1970) tinha como uma de suas principais funccedilotildees fundar nuacutecleos de

colonizaccedilatildeo criando unidades de exploraccedilatildeo agriacutecola em projetos de reforma agraacuteria em

regiotildees de vazios demograacuteficos no paiacutes e tornaacute-los produtivos proporcionando-lhes

progresso natildeo soacute econocircmico mas principalmente social (BRASIL 1970)

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs como foram instituiacutedos tornaram-se

poliacuteticas de Estado para a colonizaccedilatildeo da Amazocircnia no inicio de 1970 (RABELLO 2005)

No estado do Amazonas foram implantados vaacuterios PCIs com destaque para o PCI da

Bela Vista implantado nas terras da antiga Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA

que abrange um lote de terras entre os rios Negro e Solimotildees que fazem parte hoje dos

municiacutepios de Iranduba e Manacapuru (SCHWEICKARDT 2006)

90

Segundo o INCRA (2012) o PCIs da Bela Vista foi dividido em duas localidades Bela

Vista I localizado no distrito de Cacau Pirera atual municiacutepio de Iranduba e Bela Vista II

situado no municiacutepio de Manacapuru

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo (PIC) se destinavam agrave faixa de populaccedilatildeo de baixa renda especificamente a agricultores sem terra (sect 2ordm art 25 do Estatuto da Terra) e de preferecircncia agravequeles que possuem maior forccedila de trabalho familiar Nas aacutereas desses projetos o INCRA identifica e seleciona os beneficiaacuterios localiza-os nas parcelas por ele determinadas fornece a infraestrutura baacutesica e atraveacutes dos oacutergatildeos responsaacuteveis a niacutevel nacional regional estadual eou municipal implementa as atividades relativas agrave assistecircncia teacutecnica creditiacutecia agrave comercializaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo para facilitar a organizaccedilatildeo soacutecio econocircmica dos parceleiros Cabe tambeacutem ao INCRA outorgar aos beneficiaacuterios o tiacutetulo definitivo de propriedade da parcela (RABELLO 2005 p7)

Sobre isso Rocha (2010) destaca que os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs

foi a primeira forma de assentamento rural realizado pelo receacutem-criado INCRA Todavia com

a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 11641971 tornava-se indispensaacutevel a seguranccedila nacional a

ocupaccedilatildeo das terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada margem das

rodovias construiacutedas ou planejadas na Amazocircnia Os esforccedilos de colonizaccedilatildeo em zonas

rurais foram redirecionados para o assentamento de milhares de famiacutelias oriundas

principalmente do nordeste brasileiro ao longo das futuras rodovias

Os reflexos dessa mudanccedila de foco do INCRA dos Projetos Integrados de

Colonizaccedilatildeo - PICs para os Assentamentos Agraacuterios ao longo das futuras rodovias foi sentida

drasticamente pela populaccedilatildeo jaacute assentada no PIC da Bela Vista aonde muitas famiacutelias

chegaram agrave migrar para a cidade de Manaus em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho

Em 1976 o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria - INCRA emancipou o PIC Bela Vista concedendo tiacutetulo definitivo a 279 proprietaacuterios equivalentes a 15 da aacuterea inicial sendo grande parte ocupada por posseiros (DAacuteCIO apud BARBOSA 2011 p26)

Em 1980 os reflexos dessas mudanccedilas pode ser sentido na contagem populacional

do estado realizada pelo IBGE quando a populaccedilatildeo alcanccedilou 1430089 habitantes

distribuiacutedos pela primeira vez como sendo a maioria urbana chegando agrave 5990 do total de

habitantes do estado contra 4010 da populaccedilatildeo rural (BENCHIMOL 2009)

Com a emancipaccedilatildeo do PIC da Bela Vista em 1976 os dois nuacutecleos (Bela Vista I e II)

seguiram caminhos diferentes o primeiro tornou-se o Distrito de Cacau Pirera (municiacutepio de

Iranduba) uma pequena ldquocidaderdquo que recebia ateacute setembro de 2011 as balsas com dezenas

91

de carros e ocircnibus que saiam do Porto do Satildeo Raimundo em Manaus e atracavam naquele

local tornando-se assim o cartatildeo postal do municiacutepio de Iranduba

O PIC da Bela Vista II localizado no municiacutepio de Manacapuru que outrora foi agrave

sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas ndash CANA tornou-se uma comunidade rural

daquele municiacutepio E atraveacutes da AM-054 de 10 km de asfalto em peacutessimas condiccedilotildees de

traacutefego (Figura 19) manteacutem-se ligada agrave rodovia Manoel Urbano (AM-070) sua principal

ligaccedilatildeo com a cidade de Manacapuru e a capital do estado Manaus

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

Atualmente a comunidade da Bela Vista ainda guarda registros histoacutericos como

algumas casas o galpatildeo onde funcionava a Usina de Beneficiamento (Figura 20) e a cantina

(Figura 21) Com mais de 70 anos as construccedilotildees ainda que deterioradas pelo tempo satildeo

registros dos tempos ldquoaacuteureosrdquo do pleno funcionamento da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA tambeacutem conhecida como Colocircnia da Bela Vista

92

Figura 20 Usina de Beneficiamento da CANA Fonte Louzada (2013)

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA Fonte Louzada (2013)

Atualmente a populaccedilatildeo residente na comunidade da Bela Vista estaacute estimada em

3 mil pessoas (informaccedilatildeo dos moradores) oriundos de descendentes de ex ndash colonos e

migrantes de diversos municiacutepios do interior e de outros estados aleacutem de ex- colonos que

optaram por permanecer na regiatildeo

A comunidade da Bela Vista assim como outras comunidades localizadas agraves

margens dos rios da Amazocircnia tem sua economia baseada na agricultura familiar

fortemente enraizada na tradiccedilatildeo ribeirinha de fazer suas plantaccedilotildees agriacutecolas em aacuterea de

93

vaacuterzea Por esta razatildeo eacute comum encontrar plantaccedilotildees em frente agraves casas da primeira rua da

comunidade disposta paralela ao rio Solimotildees (Figura 22 23)

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista a margem do rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de Vaacuterzea da comunidade da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

As plantaccedilotildees variam de mandioca milho macaxeira verduras como tomate

pepino cebola agrave frutos como melancia goiaba banana entre outros Contudo natildeo eacute

somente na faixa justafluvial da comunidade que satildeo plantados alimentos inclusive tambeacutem

94

na Ilha do Barroso localizada proacuteximo agrave margem direita do Rio Solimotildees Amazonas (Figura

24)

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Graccedilas agrave sua constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo o rio SolimotildeesAmazonas submete suas

margens e leito agrave intensos e constantes processos erosivos de deposiccedilatildeo e erosatildeo Sobre isso

Horbe et al (2009) afirmar que

[] os rios de aacutegua branca satildeo os que apresentam maiores conteuacutedos de material em suspensatildeo que ao se depositarem ao longo de seus cursos formam extensas terraccedilos fluviais ilhas e barras Vaacuterios autores correlacionam a fonte da maior parte desses sedimentos aos Andes com contribuiccedilotildees menos significativas das rochas cratocircnicas e sedimentares siliciclaacutesticas que ocorrem ao longo da bacia Amazocircnica (HORBE et al apud GIBBS 1967 IRION 1983 STALLARD et al 1983 MARTINELLI et al1993 KONHAUSER et al 1994 GUYOT et al 2007 2009 p635)

A sinuosidade e o fluxo de carga impotildeem uma dinacircmica particular ao rio ldquoonde a

sua composiccedilatildeo mineraloacutegica eacute resultado de uma mistura diversificada de materiais

proveniente de fonte litoloacutegica por accedilotildees de intemperismo quiacutemico e fiacutesico principalmenterdquo

(HORBE apud CUNHA 2009 p 635)

A diversificaccedilatildeo de materiais depositados na ilha do Barroso atraveacutes dos constantes

retoques na paisagem (STERNBERG 1998) realizado pelo rio no seu periacuteodo cheio permite

a fixaccedilatildeo de depoacutesitos aluviais na ilha o que torna as terras feacuterteis em seu periacuteodo seco por

95

esta razatildeo os moradores da comunidade da Bela Vista utilizam a mesma para a produccedilatildeo

agriacutecola

A comunidade tambeacutem conta com pequenos comeacutercios em sua maioria familiares

e uma pousada Atualmente a comunidade se prepara para trabalhar numa faacutebrica de

beneficiamento de calcaacuterio instalada em Marccedilo de 2014 O calcaacuterio seraacute extraiacutedo da Mina do

Jatapuacute localizada no municiacutepio de Urucaraacute e seraacute beneficiado na comunidade

transformando em fertilidade agriacutecola (ALE 2013)

96

3 - PERCEPCcedilAtildeO TRANSDICIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO

Ao analisar os impactos ambientais na Amazocircnia em prol do desenvolvimento

tornou-se necessaacuterio adentrar pela percepccedilatildeo transdisciplinar e a complexidade que o meio

ambiente exige Assim como analisar a percepccedilatildeo ambiental da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos

projetos de desenvolvimento

Partindo da palavra percepccedilatildeo que tem sua origem no Latim perception que eacute

definida como a identificaccedilatildeo de elementos que em combinaccedilatildeo com os sentidos permite o

reconhecimento de formas cores dimensotildees contudo baseado nas experiecircncias individuas

de cada indiviacuteduo

Para Tuan (2012)

A superfiacutecie da Terra eacute extremamente variada Mesmo com um conhecimento casual sua geografia fiacutesica e a abundacircncia de formas de vida muito nos dizem Mas satildeo mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfiacutecie Duas pessoas natildeo veem a mesma realidade Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliaccedilatildeo do meio ambiente A proacutepia visatildeo cientifica estaacute ligada agrave cultura ndash uma possiacutevel perspectiva entre muitas Aacute medida que prosseguimos neste estudo a abundacircncia desnorteadora de perspectivas nos niacuteveis tanto individual quanto de grupo torna-se cada vez mais evidente e corremos o risco de natildeo notar o fato de que por mais diversas que sejam as nossas percepccedilotildees do meio ambiente como membros da mesma espeacutecie estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira Todos os seres humanos compartilham percepccedilotildees comuns um mundo comum em virtude de possuiacuterem oacutergatildeos similares (TUAN 2012 p21)

Reflete ainda que

Embora todos os seres humanos tenham oacutergatildeos dos sentidos similares o modo como suas capacidades satildeo usadas e desenvolvidas comeccedila a divergir numa idade bem precoce Como resultado natildeo somente as atitudes para com o meio ambiente diferem mas tambeacutem a capacidade real dos sentidos de modo que uma pessoa em determinada cultura possa desenvolver um olfato aguccedilado para perfumes enquanto os de outra cultura adquirem profunda visatildeo estereoscoacutepica (TUAN 2012 p30)

Baseado nessas afirmaccedilotildees de Tuan (2012) a sociedade moderna tem dificuldade

de relacionar acontecimentos ocorridos em diferentes lugares do mundo com sua proacutepria

realidade pois natildeo se veem como agente ativo dos acontecimentos

Isto se deu primeiramente com o advento da Revoluccedilatildeo Industrial na Inglaterra no

seacuteculo XVIII com a fabricaccedilatildeo de produtos em larga escala com o salto no volume de

97

produccedilatildeo se fazia (e atualmente ainda se faz) necessaacuterio buscar em qualquer parte do

mundo mateacuteria prima a ser utilizada na induacutestria (LOUZADA et al 2013)

Com a retirada dos recursos naturas como carvatildeo mineral madeira petroacuteleo gaacutes

natural pedras preciosas entre outras coisas Em macro escala durante os seacuteculos

seguintes a Revoluccedilatildeo Industrial eacute ainda mais intensificada com o modelo fordista (linha de

montagem) de produccedilatildeo a partir do seacuteculo XIX resultando em graviacutessimos impactos

ambientais que somente foram divulgados ao mundo a partir da deacutecada de 40 do seacuteculo

XX com destaque para a exploraccedilatildeo descontrolada das minas de carvatildeo mineral em toda a

Europa que reduziu drasticamente a cobertura vegetal nativa A retirada descontrolada de

pedras preciosas em todas as partes do mundo com destaque para o continente africano

gerou inuacutemeros conflitos territoacuterios e eacutetnicos pelo domiacutenio das jazidas principalmente de

diamantes no continente

Pode- se destacar tambeacutem a intensa exploraccedilatildeo madeireira que o Brasil sofreu

durante os quatro primeiros seacuteculos de sua ldquodescobertardquo e o transporte para a Europa de

todas as demais riquezas encontradas em seu territoacuterio Com o crescimento constante da

populaccedilatildeo mundial a retirada da mateacuteria prima da natureza somente se intensificou e

aprimorou-se durante os anos seguintes

Para Capra (1982 p13) ldquoA superpopulaccedilatildeo e a tecnologia industrial tecircm

contribuiacutedo de vaacuterias maneiras para a raacutepida degradaccedilatildeo do meio ambiente natural do qual

dependemos completamente Por conseguinte nossa sauacutede e nosso bem estar estatildeo

seriamente ameaccediladosrdquo

Capra (1982) ainda argumenta que os profissionais ditos especializados em vaacuterios

campos natildeo estariam realmente capacitados para lidar com os problemas emergentes

justamente devido agrave sua especializaccedilatildeo

Capra (1982) vai aleacutem ao afirmar existir uma crise de ideia e cultura

O fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadecircmico subscrever percepccedilotildees estreitas da realidade as quais satildeo inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo Esses problemas [] satildeo sistecircmicos o que significa que estatildeo intimamente interligados e satildeo interdependentes Natildeo podem ser entendidos no acircmbito da metodologia fragmentada que eacute caracteriacutestica de nossas disciplinas acadecircmicas e de nossos organismos governamentais (CAPRA 1982 p 15)

Para Capra (1982) precisamos

98

[] entender nossa multifaceta crise cultural precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situaccedilatildeo no contexto da evoluccedilatildeo cultural humana Temos que transferir nossa perspectiva do seacuteculo XX para um periacuteodo que abrange milhares de anos substituir a noccedilatildeo de estruturas sociais estaacuteticas por uma percepccedilatildeo de padrotildees dinacircmicos de mudanccedila (CAPRA 1982 p 16)

Alarmados com os danos ambientais frutos de seacuteculos de intensa exploraccedilatildeo e o

futuro da humanidade surgem encontros de diversos pensadores e cientistas preocupados

com o meio ambiente natural dando inicio a conferecircncias e reuniotildees importantes a partir

da segunda metade do seacuteculo XX bem como a Conferecircncia de Estocolmo realizada em

1972 com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade mundial para melhorar a

relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente em razatildeo dos problemas ambientais surgidos e

agravados com a industrializaccedilatildeo Nesse encontro foram elaborados dois importantes

documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre Meio Ambiente Humanordquo e o ldquoPlano de Accedilatildeo Mundialrdquo

Tambeacutem se registra a indicaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo capaz de conduzir a sociedade para um

repensar de sua accedilatildeo sobre o meio ambiente ndash a Educaccedilatildeo Ambiental

Em consequecircncia disso realizou-se em 1975 a Conferecircncia de Belgrado que

consolidou as recomendaccedilotildees no documento a ldquoCarta de Belgradordquo que prioriza a

erradicaccedilatildeo da pobreza do analfabetismo da fome da poluiccedilatildeo e tambeacutem cria as Diretrizes

Baacutesicas dos Programas de Educaccedilatildeo Ambiental para todos os paiacuteses participantes em

nuacutemero de sessenta e cinco

A Conferecircncia de Tbilisi realizada na Geoacutergia (uma repuacuteblica da Uniatildeo das

Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas- URSS de 1936 ndash 1991) em 1977 destaca que a educaccedilatildeo

formal desempenha papel importante para a resoluccedilatildeo dos problemas ambientais atraveacutes

de enfoques interdisciplinares recomenda a adoccedilatildeo de criteacuterios para o desenvolvimento da

Educaccedilatildeo Ambiental em escala local regional nacional e ateacute internacional Muitos outros

eventos se seguem cada um com elaboraccedilatildeo de documentos que buscam cada vez mais

destacar a complexidade da questatildeo ambiental considerando o meio ambiente sistecircmico

composto por fatores sociais econocircmicos poliacuteticos culturais ecoloacutegicos inter-relacionados

e dinacircmicos

Vaacuterios pensadores destacaram-se publicando importantes estudos sobre a

preocupaccedilatildeo ambiental do seacuteculo XX Entre eles destaca-se Leff (2003) que afirma que a

99

atual crise ambiental eacute sobretudo uma crise do conhecimento pois o mesmo consolidou-

se de forma fragmentado sem enfatizar a relaccedilatildeo entre o meio natural e humano (como

deveria ter sido a funccedilatildeo da geografia) como se os dois pudessem viver de forma isolada e

natildeo existisse uma relaccedilatildeo de dependecircncia Conhecimento esse produzido pela Ciecircncia

Moderna que considerava importante o princiacutepio da visatildeo compartimentalizada para

permitir o aprofundamento da especificidade

O pensamento complexo enfatizado por Morin (1990) surgiu com o objetivo de

unir o que foi anteriormente separado pelo pensamento cartesiano-newtoniano porque

natildeo se pode entender o mundo de maneira linear considerando que ele natildeo eacute uma maacutequina

como foi explicado por Descartes haacute muitos seacuteculos atraacutes sendo necessaacuterio retornar ao

passado para entender o presente para que seja possiacutevel tentar mudar o futuro

Ao contraacuterio do que agrave primeira vista possa parecer o Pensamento Complexo natildeo

significa algo complicado difiacutecil de ser compreendido pois na verdade conduz ao

entendimento das relaccedilotildees entre os fatores que integram a realidade contrapondo-se a

visatildeo provocada pela especializaccedilatildeo proposta pela Ciecircncia Moderna contudo torna-se difiacutecil

compreender esta proposta uma vez que pois estamos acostumados a trabalhar de forma

isolada e natildeo dispostos a discutir uma visatildeo que necessita reconstruir bases historicamente

construiacutedas Capra afirma que ldquoPrecisamos pois de um novo paradigma ndash uma nova visatildeo

da realidade uma mudanccedila fundamental em nossos pensamentosrdquo(CAPRA 1982 p14)

Para Morin (1990) a Complexidade surge como um Novo Paradigma capaz de

tentar compreender a atual crise de percepccedilatildeo defendida por Capra (1982) e propor

mudanccedilas

Todavia o conceito de Novo Paradigma para Morin (1990 p85) ldquoeacute constituiacutedo por

um certo tipo de relaccedilatildeo loacutegica extremamente forte entre noccedilotildees mestras noccedilotildees chaves e

princiacutepios chaves Essa relaccedilatildeo e esses princiacutepios vatildeo comandar todos os propoacutesitos que

obedecem inconscientemente ao seu impeacuteriordquo

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se verifica empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

100

Um exemplo da relaccedilatildeo ordem ndash desordem ndash organizaccedilatildeo seria as invasotildees de

terras que causam de certa forma a desordem (pessoas se aglomerando em pequenos

barracos em ldquoaacutereas de riscordquo onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a

produccedilatildeo de fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que

buscam melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

Morin (1990 p94) afirma ainda que ldquoo nosso mundo comporta harmonia mas

nesta harmonia estaacute a desarmonia Eacute exatamente o que dizia Heraacuteclito haacute harmonia na

desarmonia e vice- versardquo

O capitalismo surge para comprovar essa afirmaccedilatildeo de Morin quando vocecirc deve

estar se perguntando como ldquoSimplesrdquo pela facilidade de adaptaccedilatildeo ao mercado pois antes

da deacutecada de 70 o mundo vivia da exploraccedilatildeo descontrolada dos recursos naturais Poreacutem

sabe-se que hoje tais ldquorecursosrdquo satildeo limitados e natildeo infinitos O Capital se adaptou a essa

nova exigecircncia do mercado consumidor e passou a vender produtos com a simbologia da

Sustentabilidade ou a Marca Verde mantendo o consumo desenfreado

Ser sujeito natildeo quer dizer ser consciente tambeacutem natildeo quer dizer ter afetividade sentimentos ainda que evidentemente a subjetividade humana se desenvolva com a afetividade com sentimentos Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ocupar o lugar do ldquoeurdquo (MORIN 1990 p95)

O autor lanccedila a ideia de auto-organizaccedilatildeo e auto-eco-organizadores tais conceitos

dizem respeito agrave propriedade de cada sistema criar suas proacuteprias regras sem perder de vista

a harmonia com os demais sistemas interligados Nessa visatildeo Morin acredita ser possiacutevel

resgatar os conceitos de autonomia e de sujeito livrando-se da visatildeo ldquodeterminista da

ciecircncia tradicionalrdquo (MORIN 1990 p95)

Morin (1990) esclarece dizendo que todo mundo pode dizer ldquoeurdquo contudo cada

um de noacutes soacute pode dizer ldquoeurdquo por si proacuteprio Ningueacutem fala do eu pensando no bem do outro

Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ao mesmo tempo ser autocircnomo

e dependente Jaacute ser consciente eacute ter a capacidade de sair de si de transcender a

centralidade da subjetividade percebendo ao mesmo tempo em que nosso modo de ser eacute

ser o centro de nosso mundo

101

Liberdade para Morin (1990 p98) significa ldquoQuantos de noacutes frequentemente temos

a impressatildeo de ser livres sem ser livres Mas ao mesmo tempo somos capazes de ter

liberdade como somos capazes de examinar hipoacuteteses de condutas de fazer escolhas de

tomar decisotildeesrdquo

Portanto a Complexidade ldquoaparece como uma espeacutecie de buraco de confusatildeo de

dificuldade a primeira vista () Mas haacute complexidades ligadas agrave desordem e outras

complexidades que estatildeo sobre tudo ligadas a contradiccedilotildees loacutegicasrdquo (MORIN 1990 p99)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o cientista a dar marcha

reacute e rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os objetos

uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter multidimensional de

qualquer realidade Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo podemos nunca escapar aacute incerteza

() Estamos condenados ao pensamento inseguro a um pensamento criativo de buracos

um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento absoluto de certezardquo

Ele tambeacutem conceitua a razatildeo racionalidade e racionalizaccedilatildeo pois razatildeo

corresponde ldquo agrave vontade de ter uma visatildeo coerente das coisas e dos fenocircmenos rdquo jaacute a

racionalidade ldquoeacute um jogo o diaacutelogo incessante entre o nosso espiacuterito que cria estruturas

loacutegicas que as aplica sobre o mundo e que dialoga com o mundo realrdquo A racionalizaccedilatildeo

consiste ldquoem querer encerrar a realidade num sistema coerente E tudo o que na realidade

contradiz este sistema coerente eacute desviado esquecido posto de lado visto como ilusatildeo ou

aparecircnciardquo (MORIN 2007 p70)

Ainda conta com outro agravante a racionalizaccedilatildeo natildeo estabelece uma fronteira

niacutetida com a racionalidade e eacute muitas vezes confundida com ela Morin (1990) cita o

exemplo da ldquobarreirardquo entre o amor e a amizade onde natildeo existem delimitaccedilotildees claras a

serem ultrapassadas ou natildeo

Para o entendimento da Complexidade Morin (1990 p108) indica trecircs princiacutepios o

dialoacutegico ldquoa ordem e a desordem [] mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e

produzem organizaccedilatildeo e complexidade permite-nos manter a dualidade no seio da unidade

associa termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicosrdquo o da recursatildeo

organizacional relata sobre a necessidade da humanidade de viver em sociedade e o

resultado das interaccedilotildees humanas ldquoSe natildeo houvesse uma sociedade e a sua cultura uma

102

linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos indiviacuteduos humanosrdquo o holograacutefico ou

hologramaacutetico funciona como a menor partiacutecula do todo ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo

mas o todo estaacute na parterdquo

O Paradigma da Complexidade surge das novas concepccedilotildees das novas descobertas e

das novas reflexotildees que vatildeo conciliar-se construindo uma nova concepccedilatildeo (MORIN 1990

p112)

Para Dib- Ferreira apud Boff (2010)

A proacutepria ciecircncia tem mudado por meio de novas descobertas no campo da fiacutesica quacircntica e da noccedilatildeo de complexidade buscando a religaccedilatildeo dos conhecimentos tentando perceber que para conhecer um problema eacute necessaacuterio entender as relaccedilotildees entre as partes natildeo de forma isolada mas com uma visatildeo global Isso significa atacar as causas dos problemas natildeo os sintomas (DIB-FERREIRA apud BOFF 2010 p105)

Para Morin (1997) devemos estar cientes que a soma das partes eacute diferente do

todo por isto o todo tem qualidades e prioridades que natildeo existem nas partes

desmembradas Portanto a soma das partes eacute superior ao todo e natildeo igual ao mesmo Um

exemplo de nova concepccedilatildeo que busca compreender a atual relaccedilatildeo homem ndash meio eacute a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar

Diferente da Interdisciplinaridade que segundo Cardona (2010 p4) ldquoo

conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as

disciplinas cientiacuteficas interagem entre sirdquo trocando resultados meacutetodos e informaccedilotildees

Ou da Multidisciplinaridade que segundo tambeacutem Cardona (2010 p4) ldquopode ser

estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo contudo natildeo ocorreraacute uma

sobreposiccedilatildeo dos seus saberes no estudo do elemento analisadordquo

A ideia mais correta para esta visatildeo seria a da justaposiccedilatildeo das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questatildeo cada professor cooperaraacute com o estudo dentro da sua proacutepria oacutetica um estudo sob diversos acircngulos mas sem existir rompimento entre as fronteiras das disciplinas (CARDONA (2010 p4)

Morin apud Cardona (2010 p5) destaca ldquoa grande dificuldade nesta linha de

trabalho se encontra na difiacutecil localizaccedilatildeo da ldquovia de interarticulaccedilatildeordquo entre as diferentes

ciecircnciasrdquo

A Transdisciplinaridade segundo Ritto (2010 p34) ldquosurge como movimento de

renascimento do espiacuterito e da consciecircncia para compreender a complexidade uma nova

103

consciecircncia do realrdquo Em outras palavras eacute a etapa superior do ensino natildeo mais separados

em disciplinas e sim construiacutedo como um todo sem fronteiras soacutelidas entre as disciplinas

Segundo Cardona (2010) apud Nicolescu (1996) que formulou a frase A

transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas atraveacutes das

disciplinas e para aleacutem de toda disciplina Nessa frase o autor propotildee uma nova forma de

ensinar maior que as disciplinas mas ao mesmo tempo que se integrem todos os

conteuacutedos

O prefixo trans remete ao que estaacute entre atraveacutes e aleacutem das disciplinas Segundo

Theophilo (2000)

[] uma das propostas da transdisciplinaridade eacute o rompimento da dicotomia entre o sujeito e o objeto Fala-se de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo aos quais correspondem diferentes niacuteveis de realidade pois que a transdisciplinaridade propotildee uma alternacircncia em trecircs niacuteveis da razatildeo sensiacutevel razatildeo experiencial e razatildeo praacuteticardquo (THEOPHILO 2000 p 1)

Para Nicolescu (2002 p 12) o objetivo da transdisciplinaridade eacute a compreensatildeo do

mundo presente ldquoDo ponto de vista do pensamento claacutessico natildeo haacute nada entre atraveacutes e

aleacutem das disciplinas ndash como o vazio da fiacutesica claacutessica Diante da nova fiacutesica e dos seus niacuteveis

de realidade o espaccedilo entre as disciplinas e aleacutem delas estaacute cheio como o vazio quacircntico

estaacute cheio de todas as potencialidadesrdquo

A proposta eacute que o conhecimento se torne transdisciplinar ou seja a totalidade natildeo eacute mais uma soacute mas a junccedilatildeo de vaacuterias totalidades provenientes de realidades diversificadas Os limites da compreensatildeo que o ser humano pode ter do mundo natildeo satildeo mais escondidos e sim evidenciados porque a realidade pode ser compreendida de uma maneira melhor se natildeo haacute a especializaccedilatildeo da ciecircncia e a fragmentaccedilatildeo do conhecimento em disciplinas isoladas (SANTOS 2007 p65)

Para Aragatildeo (2007)

A transdisciplinaridade natildeo pretende de forma alguma desvalorizar as competecircncias disciplinares especiacuteficas Ao contraacuterio pretende elevaacute-las a um patamar de conhecimentos melhorados nas aacutereas disciplinares jaacute que todas elas devem embeber-se de uma nova consciecircncia epistemoloacutegica admitindo que eacute importante que determinados conceitos fundando possam transmigrar atraveacutes das fronteiras disciplinares (ARAGAtildeO 2007 p4)

Para se compreender a Percepccedilatildeo Transdisciplinar se faz necessaacuterio levar em

consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de realidade (Ontoloacutegico) seja do homem do campo e sua

economia de ldquosubsistecircnciardquo ou seja do homem que vive na cidade e sua economia

acumulativa considerando sempre a Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo (uma alternativa entre o

104

certo e o errado verdadeiro ou falso) e a Complexidade e sua teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas e isoladas mas termodinacircmicas e conectadas (NICOLESCU 1999) (Figura 25)

No primeiro momento pode parecer um ldquocaos uma confusatildeordquo compreender a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar Apesar disso uma categoria da ciecircncia geograacutefica pode ajudar

pois surge como um elemento muito importante para agrave sua consolidaccedilatildeo o lugar

31 - RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR

A primeira impressatildeo pode-se afirmar ser um lugar desolado triste para outros eacute

um lugar em ruiacutenas sem ldquovidardquo e sem cores Esta ou aquela concepccedilatildeo de lugar eacute de

fundamental importacircncia para que se constitua aqui a percepccedilatildeo transdisciplinar uma vez

que cabe agrave ela unir o que anteriormente foi separado pela especializaccedilatildeo da Ciecircncia

Moderna

Diante disso Ferreira (2000 p66) propotildee conciliar as divergecircncias apontadas pela

concepccedilatildeo Fenomenoloacutegica ldquoque busca abordar o espaccedilo atraveacutes do modo com ele eacute

vivenciado pelos seres humanosrdquo e a Radical

[] que tem por base o marxismo tentaraacute compreender o lugar sobre perspectiva regional e posteriormente global (JOHNSTON 1991) uma construccedilatildeo social sobre o pano de fundo da relaccedilatildeo entre espaccedilo-tempo e ambiente (SANTOS1997) a partir do qual estabelecemos nossa revisatildeo e interpretaccedilatildeo do

TRANSDISCIPLINARIDADE

COMPLEXIDADE ONTOLOacuteGICO A LOacuteGICA DO TERCEIRO

INCLUIacuteDO

DIALOacuteGICO RECURSAtildeO ORGANIZACIONAL HOLOGRAMAacuteTICO

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade

Fonte Louzada (2013)

105

mundo onde ldquorecocircndito o permanente o real triunfam final sobre o movimento o passageiro o imposto de forardquo (FERREIRA 2000 p66)

Nomeando-a como Integraccedilatildeo que tem como objetivo harmonizar agraves divergecircncias

sobre o lugar que vatildeo de uma relaccedilatildeo autecircntica com o espaccedilo por um lado agrave

materializaccedilatildeo da relaccedilatildeo global ndash local por outro

Entrikin (1997) destaca ainda que para se compreender o lugar eacute preciso buscar o

equiliacutebrio entre o que deve ser mantido de fora preservando as caracteriacutesticas do lugar e o

que deve ser permitido entrar evitando-se a esterilidade resultante do isolamento

Diante de tal afirmaccedilatildeo de Entrikin (1997) eacute possiacutevel afirmar que para evitar a

extinccedilatildeo de uma comunidadelocalidade se faz necessaacuterio a ldquopermissatildeordquo dos moradores

para entrada de haacutebitos elementos ou coisas que as pessoas julguem necessaacuterias para

manter as teias de relaccedilotildees de forma a manter o lugar gerando o tatildeo desejado

desenvolvimento local

A Percepccedilatildeo Transdisciplinar seraacute pesquisada de forma a alcanccedilar o que a Educaccedilatildeo

Ambiental em seus marcos referenciais destaca como importante para a compreensatildeo da

complexidade da realidade que eacute a projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros atraveacutes de uma gestatildeo

ambiental participativa principalmente no contexto amazocircnico

32 - MANAUS METROacutePOLE

Para entender este subtiacutetulo primeiramente eacute imprescindiacutevel falar de Metroacutepole o

que Fresca (2011) descreve em muacuteltiplos detalhes ao longo dos seacuteculos desde seu

surgimento Contudo Gras apud Fresca (2011) citou quatro fatores de desenvolvimento

metropolitano tento como base a cidade de Londres citada por Gras (1974) considerada a

primeira cidade da Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVII

[] para Gras (1974) principalmente a partir de 1890 foi marcada por uma nova

concentraccedilatildeo do poder financeiro no seio da metroacutepole Isto porque os bancos privados cujas sedes estavam na metroacutepole criaram filiais subordinadas diretamente agraves sedes criou-se as condiccedilotildees para que a metroacutepole fosse o local de concentraccedilatildeo do capital decisotildees enfim de outra forma de poder econocircmico (FRESCA 2011 p33)

106

Fresca (2011 p33) afirma ainda que esta nova concentraccedilatildeo de poder financeiro

nas metroacutepoles ldquoacabou por realizar um processo de acumulaccedilatildeo horizontal no sentido de

que sua expansatildeo foi marcada pela conquista de mercados consumidores cada vez mais

amplos graccedilas a fortes investimentos em inovaccedilotildees para a produccedilatildeordquo

Por outro lado Fresca (2011) apud Davidovich (2004)

entende que o retorno das metroacutepoles ao debate em escala mundial estava articulado diretamente aos novos direcionamentos das poliacuteticas do Banco Mundial que passou a focalizar as mesmas como motor do crescimento econocircmico Ora o Banco Mundial em suas diversas formas de poder investimentos e capacidade de direcionar movimentos de expansatildeo do capital particularmente dos EUA e paiacuteses europeus acabou por privilegiar as metroacutepoles em uma etapa em que a globalizaccedilatildeo estava em expansatildeo Mais que isso tratava-se ainda da busca de novos campos de investimentos para fazer frente a sucessivos momentos de crises econocircmicas e as concepccedilotildees em uso da globalizaccedilatildeo permitiam outra etapa de expansatildeo das grandes corporaccedilotildees em atividades diversas em escala mundial (FRESCA 2011 apud DAVIDOVICH 2004 p201 )

Fresca (2011 p38 ) descreve que entre os autores anteriormente citados ldquohaacute em

comum o entendimento de que as metroacutepoles tornaram-se os principais noacute de redes da

economia mundial facilitado pelo comando das modernas tecnologias de informaccedilatildeo e que

as mesmas desempenham cada vez mais funccedilotildees ligadas aos serviccedilos superiores em

detrimento de serem loacutecus da produccedilatildeo industrialrdquo

Diante disso o termo adotado pelo IBGE (2008) para definir a Metroacutepole ou regiatildeo

Metropolitana eacute Grandes Redes de Influecircncia

[] formadas pelos principais centros urbanos do paiacutes baseadas na presenccedila de oacutergatildeos de executivo do judiciaacuterio de grandes empresas e na oferta de ensino superior serviccedilos de sauacutede e domiacutenios de internet Tais redes aacutes vezes se sobrepotildeem aacute divisatildeo territorial oficial estabelecendo forte influecircncia ateacute mesmo ente cidades situadas em diferentes unidades da federaccedilatildeo (IBGE 2008 p 2)

Diante do exposto o Governo do Estado do Amazonas publicou em 30 de Maio de

2007 a Lei Estadual Complementar nordm 52 que criava a Regiatildeo Metropolitana de Manaus -

RMM composta pelos seguintes municiacutepios Manaus Careiro da Vaacuterzea Novo Airatildeo

Iranduba Itacoatiara Presidente Figueiredo Rio Preto da Eva que juntos correspondem a

101470 kmsup2 No mesmo ano em 27 de Dezembro eacute incluiacutedo o municiacutepio de Manacapuru

Sobre isso Castro (2010) relata

107

Essa regiatildeo metropolitana possui caracteriacutesticas peculiares se comparada aacutes primeiras surgidas na deacutecada de 1970 por natildeo se igualar agravequelas quanto agrave intensidade de fluxos entre as cidades e tambeacutem necessidade de compartilhamento de poliacuteticas puacuteblicas no que se refere ao abastecimento de aacutegua serviccedilo de transporte e tracircnsito energia eleacutetrica coleta de lixo dentre outras cujas demandas surgem com o processo de conurbaccedilatildeo Portanto esta anaacutelise parte de um princiacutepio de peculiaridade territorial num padratildeo natildeo conurbado e de pouca intensidade de trocas entre os nuacutecleos urbanos dessa regiatildeo metropolitana cujos pressupostos foram estabelecidos com a predominacircncia dos criteacuterios poliacuteticos sobre os geograacuteficos (CASTRO 2010 p48)

Para financiar e gerenciar a RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) foi criada em

29 de Dezembro de 2008 a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento

Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da

Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM (AMAZONAS 2008)

Em 30 de Abril de 2009 eacute divulgada a Lei Complementar nordm 64 que inclui na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus os municiacutepios de Autazes Itapiranga Manaquiri e Silves mais

15 828417 kmsup2 Tornando Manaus a maior aacuterea metropolitana em kmsup2 do paiacutes todavia

perde quatro posiccedilotildees se comparada em densidade populacional com Regiatildeo Metropolitana

de Satildeo Paulo pois sua densidade populacional eacute de 22 habkmsup2 contra 1162 habkmsup2 de

SP (IBGE 2010)

Para iniciar o processo de consolidaccedilatildeo dessa gigantesca aacuterea metropolitana de

Manaus fez-se necessaacuterio interligar definitivamente os municiacutepios da margem esquerda do

Rio Negro principalmente a capital do estado aos municiacutepios da margem direita do rio

Iranduba Manacapuru Novo Airatildeo e posteriormente aos munciacutepios de Autazes Itapiranga

Manaquiri e Silves

Diante disso o Governo do Estado do Amazonas na pessoa do entatildeo Governador

Carlos Eduardo de Souza Braga em seu primeiro mandato de 2000 a 2004 deu iniciou os

levantamentos preliminares para a definiccedilatildeo do ponto de travessia mais adequado para a

construccedilatildeo de uma Ponte sobre o Rio Negro

Segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro civil Marco Aureacutelio Mendonccedila

entatildeo Secretaacuterio de Infraestrutura do Estado foi convocado ao gabinete do governador em

2003 para ser informado do desejo do governador de executar essa obra mas

primeiramente lhe foi solicitado que fizesse levantamentos de terrenos possiacuteveis para a

construccedilatildeo e modelos viaacuteveis para a regiatildeo e posteriormente quando o entatildeo governador

108

foi reeleito com o mandato de 2005 a 2009 o engenheiro Marco Aureacutelio foi novamente

chamado ao gabinete do governador onde apresentou seus estudos e o governador afirmou

que jaacute era possiacutevel executar a obra

Ainda segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro afirma que para se buscar o

melhor local para a construccedilatildeo da obra e encontrar a menor distacircncia entre as duas

margens para diminuir seu custo

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que o melhor trecho era da Ponta do Ouvidor do lado de laacute na Ponta do Pepeta porque essa aacuterea tem uma formaccedilatildeo geoloacutegica de rochas que avanccedilam sobre o rio e isso fez com que a distacircncia fosse bem menor E foi exatamente neste trecho que a ponte foi erguida Outro ponto favoraacutevel foi o sistema viaacuterio da Ponta do Ouvidor temos a estrada da Estanave Avenida Brasil logo depois tem a estrada da Ponta Negra Pedro Teixeira e uma seacuterie de ruas que facilitavam o acesso a grande parte da cidade Depois que apresentei o estudo fizeram uma licitaccedilatildeo para a contrataccedilatildeo de uma empresa para o projeto final (A CRIacuteTICA DE 24 DE OUTUBRO DE 2011 p6)

Segundo Jornal A Criacutetica (2011) existia a ideia original de que a ponte saiacutesse do

bairro de Satildeo Raimundo em Manaus poreacutem o trajeto seria muito maior e natildeo teria um

sistema viaacuterio tatildeo bom Marco Aureacutelio descreve conversas com Carlos Eduardo Braga onde

relata que a interligaccedilatildeo entre outras cidades poderia frear o crescimento da cidade de

Manaus para o Norte onde eacute comum ter invasotildees ldquoEacute muito mais faacutecil pegar uma aacuterea

desabitada e crescer e desenvolver Em Iranduba tem uma aacuterea muito grande que pode ser

explorada mas eacute preciso ter controle urbano e imobiliaacuteriordquo (A CRIacuteTICA 2011)

321 PONTE RIO NEGRO PROPOSTA E REALIDADE

Segundo a Revista Eacutepoca (2011) a Ponte Rio Negro (Figura 26) foi orccedilada

inicialmente em R$ 5748 milhotildees e foi terminada com o custo de R$ 1099 bilhatildeo quase o

dobro do seu orccedilamento inicial parte financiada pelo governo do estado e parte pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social-BNDES que eacute vinculado ao Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

109

Sobre isso Aureacutelio (2011) afirma que ldquoQuando foi lanccedilado o projeto base existia

um tipo de fundaccedilatildeo e depois analisando a geologia embaixo do rio eles detectaram que

era necessaacuterio outro tipo de tecnologiardquo

Ainda segundo a Revista Eacutepoca (2011)

A construccedilatildeo traacutes aditivos O primeiro furo da Ponte Rio Nego soacute conseguiu ser feito por volta de seis meses apoacutes o iniacutecio dos trabalhos devido aacute profundidade do rio e ao efeito da correnteza das aacuteguas ldquoNingueacutem no Brasil tinha experiecircncia em fazer sondagens com lacircminas tatildeo grandes de aacutegua e equipamento no riordquo revelou o diretor ENESCIL Engenharia e Projetos Catatildeo Ribeiro responsaacutevel pelos projetos executivos e arquitetocircnicos e de fundaccedilatildeo da obra Durante os trabalhos de sondagem no rio os teacutecnicos responsaacuteveis pela obra descobriram que o solo era formado por camadas de areia e argila orgacircnica o que exigiu que todo o sistema de estacas o projeto e a logiacutestica da obra fossem reformulados (EacutePOCA 2011 p22)

Diante do exorbitante gasto resta conhecer os benefiacutecios de tatildeo gigantesca obra

para a regiatildeo O oacutergatildeo responsaacutevel por disponibilizar tais informaccedilotildees relacionadas agrave sua

construccedilatildeo eacute o Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas - IPAAM no qual se encontra o

tiacutetulo EIA-RIMA Ponte sobre o Rio Negro contudo o mesmo somente disponibiliza

informaccedilotildees a partir do Capiacutetulo IV- Diagnoacutesticos (Meio Bioacutetico Meio Fiacutesico Meio

Socioeconocircmico e Outros Relevantes) e Capiacutetulo V ndash Prognoacutesticos (IPAAM 2010) de forma

superficial (que na maioria dos arquivos consta somente o sumaacuterio) e natildeo as pesquisas

realizadas em sua plenitude

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo

Fonte Pinto (2010)

110

Com isso passaram a ser diretamente consultados o Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) da ponte sobre o Rio Negro realizado pela

Universidade Federal do Amazonas (UFAM 2007) Esse relatoacuterio contou com a participaccedilatildeo

de uma equipe multidisciplinar composta por climatoacutelogo engenheiro geoacutegrafo

geomorfologista entre outros profissionais Embora o presente relatoacuterio cumpra com seu

principal objetivo de descrever o Meio Bioacutetico Abioacutetico e Socioeconocircmico da aacuterea a ser

afetada pela construccedilatildeo da ponte sobre o rio Negro o mesmo descreve os possiacuteveis

impactos da ponte sobre o rio Negro de forma superficial e finaliza recomendando a

construccedilatildeo do empreendimento sem aprofundar os seus impactos no meio ambiente fiacutesico e

bioloacutegico

Apesar disso Pinto (2007) descreve os beneacuteficos a serem alcanccedilados com a

Construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Criaccedilatildeo de polo de turismo e polo naval Regularizaccedilatildeo de

Transportes Rodoviaacuterio e Fluvial na RMM Aumento da demanda reprimida em todos os

setores econocircmicos Expansatildeo e modernizaccedilatildeo dos polos de hortifrutigranjeiros Melhorias

nas induacutestrias de beneficiamento de pescado Plano de Zoneamento e Uso do Solo

Modernizaccedilatildeo da induacutestria de Juta e Malva Aumento de Cooperativas de Produtores Novo

Polo de Induacutestrias atraiacutedas pelos City Gates (Manaus-Coari)

Pinto (2007) reflete ainda que a construccedilatildeo da ponte tem por objetivos buscar

alternativas para a expansatildeo urbana de Manaus geraccedilatildeo de novos espaccedilos habitacionais

elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Plano Diretor urbano global e setorial incorporaccedilatildeo ordenada

do complexo viaacuterio da margem direita agrave malha viaacuteria projetada e em execuccedilatildeo para a

margem esquerda reduccedilatildeo de custos de transportes de produtos provenientes da calha do

Solimotildees Juruaacute Javari Iccedilaacute Japuraacute e Purus Novos investimentos no setor de turismo e setor

oleiro incentivo aacute inovaccedilatildeo e o desenvolvimento tecnoloacutegico nos serviccedilos de arquitetura e

engenharia (PINTO 2007)

Como destaca Pinto (2007) o primeiro objetivo para a construccedilatildeo da Ponte sobre o

Rio Negro era buscar uma alternativa para a expansatildeo urbana de Manaus uma vez que a

mesma se encontra em constante crescimento em direccedilatildeo ao Norte da cidade fazendo

pressatildeo sobre a Reserva Ducke aacuterea de proteccedilatildeo ambiental

Atualmente a ponte se encontra pronta com 3595km de extensatildeo e liga o bairro

da Compensa em Manaus (margem esquerda do Rio Negro) agrave Ponta do Pepeta (margem

111

direita) em Iranduba Apesar do beneficio inegaacutevel da reduccedilatildeo do tempo da travessia que

anteriormente era feita de balsa e levava em meacutedia uma hora e meia no periacuteodo da vazante

do rio (sem contabilizar o tempo de espera para o embarque que podia variar de duas horas

nos dias de semana e ateacute doze horas em feriados) a construccedilatildeo da ponte tambeacutem levou

malefiacutecios

Sobre isso Castro (2010) aponta

No que concerne agrave questatildeo ambiental a criaccedilatildeo da RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) estabelece nova forma de concepccedilatildeo do meio ambienta pois ao natildeo apresentar um padratildeo conurbado como as RMrsquos claacutessicas a RMM deixa lacunas e indagaccedilotildees no que se refere a fatores como expansatildeo imobiliaacuteria conversatildeo de terra rural em terra urbana incorporaccedilatildeo de aacutereas de floresta em aacutereas urbanizadas ocupaccedilatildeo das margens dos rios Negro e Amazonas aleacutem dos inuacutemeros cursos drsquoaacutegua menores enfim questotildees que constituem desafio agrave tendecircncia que visa ao estabelecimento de uma nova geografia surgida em funccedilatildeo de uma decisatildeo poliacutetica que diga-se natildeo foi precedida agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agraves populaccedilotildees interessadas quase sempre aquelas que arcam com ocircnus das decisotildees de caraacuteter poliacutetico ndash partidaacuterio tiacutepico das praacuteticas brasileiras sendo que a Amazocircnia natildeo foge a esse preceito (CASTRO 2011 p48)

No que tange agrave expansatildeo urbana Mesquita (2013) relata que a induacutestria da invasatildeo

que anteriormente fazia pressatildeo no norte da cidade de Manaus (principalmente sobre a

Reserva Ducke) migrou apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro para os municiacutepios vizinhos

localizados na margem direita do rio o poder puacuteblico por sua vez finge natildeo perceber o

crescimento no processo de invasatildeo de terras O autor se refere ao fato recente da invasatildeo

de terras em uma propriedade particular localizada no 45 km da AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) ocorrido em Agosto de 2013 (Figura27)

112

Todavia as mudanccedilas na paisagem natildeo se limitaram agrave retirada da cobertura vegetal

para a construccedilatildeo dos ldquobarracosrdquo (como satildeo chamadas as construccedilotildees de madeiras cobertas

com lona) mas tambeacutem permitiram a retirada ilegal de argila para a fabricaccedilatildeo de tijolos

nas margens da rodovia (Figura 28)

Houve tambeacutem um aumento significativo no nuacutemero de animais mortos ao longo

da rodovia segundo os proacuteprios moradores Aleacutem da retirada ilegal de madeira e a queima

de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos etc (Figura 29)

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM- 070 (Rodovia Manoel Urbano)

Fonte Louzada (2013)

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano) Fonte Batata (2013)

113

Com a ponte Rio Negro pronta os esforccedilos foram redirecionados para a duplicaccedilatildeo

da Rodovia Manuel Urbano (AM 070) que ateacute o presente momento somente tem 2km

duplicados (logo apoacutes a ponte) dos seus 80km ateacute o municiacutepio de Manacapuru que

permanece sem duplicaccedilatildeo desde sua inauguraccedilatildeo As obras de duplicaccedilatildeo foram iniciadas

em marccedilo de 2012 com primeiramente a retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem

(Figura 30)

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos

Fonte Louzada (2013)

114

Todavia o processo de retirada da cobertura vegetal e terraplanagem somente

foram realizados ateacute o 185 km (01032014) tendo como marco zero o iniacutecio da Ponte Rio

Negro em Manaus Atualmente natildeo eacute possiacutevel encontrar nem se quer ldquoum carrinho de

matildeordquo trabalhando na rodovia

Percorrendo a rodovia no sentido Manaus ndash Manacapuru no 18 km eacute possiacutevel

visualizar 15 aacutervores de Castanheiras (Betholetia excelsa) que satildeo parcialmente protegidas

pelo Decreto Lei nordm 5975 de 30 de Novembro de 2006 no traccedilado escolhido para a

duplicaccedilatildeo da rodovia (Figura 31)

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manuel Urbano (AM-070)

Fonte Camila Louzada 2013

115

Entretanto infelizmente a lei de crimes ambientais permite vaacuterias interpretaccedilotildees

em seu paraacutegrafo uacutenico (BRASIL 2006)

Natildeo seraacute permitida a supressatildeo de vegetaccedilatildeo ou intervenccedilatildeo na aacuterea de preservaccedilatildeo permanente exceto nos casos de utilidade puacuteblica de interesse social ou de baixo impacto devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo proacuteprio quando natildeo existir alternativa teacutecnica e locacional ao empreendimento proposto nos termos do art 4ordm da Lei no 4771 de 1965 (BRASIL 2006 p 12)

Embora no que tange a duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano exista a possibilidade

de mudar do lado direito para o lado esquerdo da rodovia os oacutergatildeos responsaacuteveis pela

duplicaccedilatildeo natildeo se mostraram favoraacuteveis a essa possibilidade expondo as castanheiras ao

abate conforme interpretaccedilatildeo ldquoconvenienterdquo da legislaccedilatildeo

Para Vasconcelos (2013 p13) ldquocastanhais satildeo derrubados para a construccedilatildeo de

estradas e barragens para assentamentos de reforma agraacuteria [] No caso do Gasoduto

Coari- Manaus tambeacutem foram retiradas muitas aacutervores inclusive castanheirasrdquo

Sobre isso Santos (2013) eacute enfaacutetica ao afirmar que o maior destruidor na natureza eacute

o estado (seja na esfera municipal estadual e federal) Uma vez que criam leis para os

Figura 31 Aacutervores de Castanheira no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (Fevereiro 2014)

Fonte Camila Louzada 2013

116

demais cidadatildeos cumprirem e nunca para o governo cumpri-la se for de seu interesse

quebraacute-las criam meios de inutilizaacute-la em prol de seus proacuteprios interesses maquiando o fato

como ldquoum mal necessaacuterio em busca de um bem coletivordquo A questatildeo eacute seraacute mesmo que eacute o

bem coletivo que estaacute em jogo ou os interesses poliacuteticos e acordos convenientes entre

estado e municiacutepios

33 PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS

A Ponte sobre o Rio Solimotildees consta descrita no Projeto de Lei nordm 6409-B de 2009

no Art 3ordm item 222 ndash Relaccedilatildeo Descritiva das Rodovias do Sistema Rodoviaacuterio Federal

integrante do Anexo do Plano Nacional de Viaccedilatildeo aprovado pela Lei nordm 5917 de 10 de

Setembro de 1973 aprovado pela Cacircmara Federal dos Deputados em 23 de Agosto de 2011

Dispotildee sobre a inclusatildeo da futura rodovia BR-444 que iraacute ser construiacuteda no Estado do

Amazonas para interligar a BR-319 agrave BR-174 sob a justificativa de cumprir a Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que ldquodetermina que a Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando aacute formaccedilatildeo de

uma comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (BRASIL 2011 p 18)

Nesse sentido compete ao Estado brasileiro participar da promoccedilatildeo da integraccedilatildeo logiacutestica efetiva do territoacuterio sul-americano Especificamente no sentido norte-sul a interligaccedilatildeo entre alguns trechos rodoviaacuterios jaacute existentes possibilitaria o deslocamento de pessoas e cargas da Venezuela e da Guiana ateacute o Uruguai e vice-versa Entretanto para que se efetive esse corredor sul-americano eacute necessaacuterio promover a ligaccedilatildeo da BR-319 agrave cidade de Manaus razatildeo pela qual propomos a inclusatildeo da rodovia BR-444 no Plano Nacional de Viaccedilatildeo o que permitiraacute concluir a interligaccedilatildeo entre as rodovias BR-319 e BR-174 promovendo assim a desejada integraccedilatildeo contiacutenua do continente sul-americano (BRASIL 2011 p 18)

A BR-444 que se aprovada pelo Senado e sancionada pela atual presidente Dilma

Rousseff ou outro presidente posterior seraacute construiacuteda no Amazonas Natildeo poderaacute ser

erguida ligando o Porto da Ceasa em direccedilatildeo ao Porto da Andrade Gutierrez localizado no

13 km da BR-319 no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea uma vez que estaraacute sobre o Encontro

das Aacuteguas (Rio Negro e Solimotildees) que foi tombado como Patrimocircnio Cultural e Paisagiacutestico

Brasileiro pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN em 2011

fundamentado no Decreto Lei nordm 251937 que determina que sejam tombados ldquoos

monumentos naturais bem como os siacutetios e paisagens que importe conservar e proteger

117

pela feiccedilatildeo notaacutevel com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela

induacutestria humanardquo (BRASIL 1937 p 1) Aleacutem de outros inconvenientes gigantescos ligados

aos aspectos fiacutesicos da aacuterea entre eles destacam-se largura do rio (que eacute superior a 10km

neste trecho) profundidade e velocidade entre outros

Diante do exposto a medida mais aceitaacutevel seria construir a nova ponte agrave

montante do Encontro das Aacuteguas no rio Solimotildees aproveitando a AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) que esta ldquoem fase de duplicaccedilatildeordquo e tem ligaccedilatildeo direta com a Ponte Rio Negro

(Figura 32)

Apesar de ainda estar em fase de especulaccedilatildeo o local exato para a construccedilatildeo da

ponte sobre o rio Solimotildees projeta- se que a mesma deveraacute ligar a comunidade da Bela

Vista em Manacapuru (margem esquerda do rio Solimotildees) ao municiacutepio de Manaquiri

(margem direita do rio Solimotildees) tendo como ponto favoraacutevel agrave construccedilatildeo a largura do rio

nesse trecho e a ilha do Barroso

Na expectativa de construccedilatildeo da ponte o fato causa ao mesmo tempo entusiasmo

e cautela nas pessoas entrevistadas na Comunidade da Bela Vista (em Manacapuru) e na

sede do municiacutepio de Manaquiri Satildeo apontados inuacutemeros benefiacutecios com a construccedilatildeo da

ponte como a geraccedilatildeo de empregos oportunidade de renda das famiacutelias escoamento da

produccedilatildeo agriacutecola Todavia as mesmas pessoas entrevistadas tambeacutem descreveram ldquoo

outro lado da nova ponterdquo como sendo o aumento da violecircncia a derrubada da floresta a

Figura 32 Ponte Rio Negro Fonte Pereira (2012)

118

exploraccedilatildeo de madeira grilagem de terra traacutefico de animais destruiccedilatildeo dos siacutetios

Arqueoloacutegicos invasatildeo de terras por pessoas oriundas de outros estados e o fim da

tranquilidade O impressionante dessas afirmaccedilotildees era que os entrevistados usavam como

referecircncia a Ponte Rio Negro dizendo ldquocomo aconteceu com aacute Rio Negrordquo

Tendo por base a Ponte Rio Negro se faraacute necessaacuterio encontrar locais proacuteximos agrave

futura construccedilatildeo fora da accedilatildeo das aacuteguas ( em Terra Firme) para serem usados como base

das operaccedilotildees de sondagem e montagem de equipamentos e posteriormente instalaccedilatildeo de

guindastes tratores entre outros equipamentos agrave serem utilizados na obra Cabe aqui

somente demonstrar a aacuterea utilizada para a construccedilatildeo e posteriormente conclusatildeo das

ldquocabeccedilasrdquo como satildeo chamadas as bases localizadas em cada margem tendo por referecircncia a

construccedilatildeo da Ponte Rio Negro (Figuras 33)

119

Figura 33 Iranduba 2007 antes da construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

120

Aacute primeira vista natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes mudanccedilas na paisagem em 2007

(4 anos antes da inauguraccedilatildeo da ponte) na margem direita do rio Negro no municiacutepio de

Iranduba entretanto no quadrado ldquoardquo eacute possiacutevel visualizar uma construccedilatildeo com uma

cobertura de alumiacutenio e a retirada gradativa da vegetaccedilatildeo ao redor No quadrado ldquobrdquo

aonde viria a ser implantada a base da ponte natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes modificaccedilotildees

A (FIGURA 34) no ano de 2010 (1 ano antes da inauguraccedilatildeo) apesar da parcial

cobertura das nuvens eacute possiacutevel visualizar significativas mudanccedilas na paisagem Com

destaque para o que anteriormente era somente uma cobertura de alumiacutenio em 2007 ter se

tornado um porto de atracaccedilatildeo de embarcaccedilotildees e a base de operaccedilotildees da Ponte Rio Negro

(no municiacutepio de Iranduba) com pouca cobertura vegetal Tambeacutem jaacute eacute possiacutevel visualizar a

terraplanagem da futura rodovia

Entretanto na (Figura 35) a base de operaccedilotildees da ponte Rio Negro ganhou um

novo e maior anexo perdendo a cobertura vegetal existente

Comparando as figuras 33 34 e 35 eacute possiacutevel em pouco espaccedilo de tempo verificar

as mudanccedilas provocadas a partir da construccedilatildeo da ponte rio Negro

121

c Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro

Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

122

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

123

No caso da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas a ser construiacuteda a montante do

Encontro das Aacuteguas a mesma teraacute alguns percalccedilos pelo caminho a) tanto a margem direita

quanto a margem esquerda do Rio Solimotildees ateacute a jusante da cidade de Manacapuru tem

faixas estreitas a largas de vaacuterzeas fortemente utilizadas para agricultura de base familiar b)

por traz das aacutereas de vaacuterzea existem as aacutereas de terra firme ideais para essa construccedilatildeo

todavia para se chegar em alguns trechos faz-se necessaacuterio aterrar as aacutereas de vaacuterzeas

inviabilizando-se assim a produccedilatildeo agriacutecola c) uma vez alcanccedilada as aacutereas de terra firme e

definido o lugar de construccedilatildeo das cabeceiras da ponte inicia-se a ldquobuscardquo pelo lugar mais

apropriado para a base de operaccedilotildees normalmente proacuteximo agraves duas cabeceiras d) com os

locais definidos e as obras iniciadas (a mesma seraacute dificultada pelos aspectos fiacutesicos do rio

sua velocidade visibilidade entre outros) e) Inicia-se a nova etapa de ligaccedilatildeo da ponte com

as rodovias proacuteximas agrave AM-070 na margem esquerda e a AM-354 que esta ligada a BR-319

na margem direita

Embora se acredite que as pistas de ligaccedilatildeo a serem utilizadas sejam as jaacute

existentes deveratildeo ser no miacutenimo beneficiadas com a duplicaccedilatildeo e a construccedilatildeo de

acostamentos Tanto para a construccedilatildeo de novas pistas como para a duplicaccedilatildeo das pistas

atuais as propriedades proacuteximas seratildeo afetadas assim como a flora a ser desmatada para a

duplicaccedilatildeo e a fauna que seraacute a principal afetada com o trafego rodoviaacuterio uma vez que os

mesmos seratildeo constantemente atropelados na rodovia

Com a ponte pronta e inaugurada os impactos aumentaratildeo gradativamente

primeiramente como ocorreu com a ponte Rio Negro com o aumento da especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria e ocupaccedilatildeo primeiramente no municiacutepio de Manaquiri e posteriormente ao

longo de toda a rodovia BR-319 como ocorreu com as demais rodovias abertas na Amazocircnia

A iniciativa de construccedilatildeo da BR-444 e por consequecircncia a ponte sobre o rio

Solimotildees permitiria conectar Manaus ao restante do paiacutes via Porto Velho-RO assim como

tambeacutem viabilizaria ir do Peru ao Oceano Atlacircntico utilizando rodovias como propotildeem o

Projeto IIRSA (2003)

A iniciativa de Integraccedilatildeo da Infraestrutura Regional Sul Americana - IIRSA eacute

resultado da Cuacutepula de Presidentes da Ameacuterica do Sul realizada em 2000 no Brasil onde

ficou definida um pacote de medidas como Eixos de Integraccedilatildeo e Desenvolvimento ldquono qual

124

se pretendia desenvolver e integrar as aacutereas de transporte energia e telecomunicaccedilatildeo da

Ameacuterica do Sul em dez anosrdquo (IIRSA 2003)

A iniciativa busca integrar definitivamente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul ldquoque

concentram ou possuem potencial para desenvolver bons fluxos comerciais visando formar

cadeias produtivasrdquo (IIRSA 2003) para alcanccedilar os mercados globais Entretanto os eixos de

integraccedilatildeo escolhidos para serem ldquodesenvolvidosrdquo detecircm grande reserva de recursos

naturais conforme Tabela 8

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento e integraccedilatildeo do IIRSA Eixos de Desenvolvimento do projeto IIRSA

Trecho Paiacuteses envolvidos Recursos Naturais Vias de Ligaccedilatildeo

Eixo Andino Venezuela Boliacutevia Colocircmbia Equador

Peru

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Desenvolvimento de corredores transandinos de leste a oeste ligando Caracas-Venezuela a

Lima-Peru e Santa Cruz-Boliacutevia

Eixo Central do Amazonas

Colocircmbia Equador Peru e Brasil

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Pavimentaccedilatildeo de estradas no Peru e melhorias na

navegabilidade do Rio Amazonas de Tabatinga-AM a Beleacutem-PA

Melhorias na aacuterea de telecomunicaccedilotildees

Eixo Interoceacircnico

Central

Peru Chile Boliacutevia Paraguai e Brasil

Regiatildeo Petroleira da Boliacutevia e o escoamento da soja

produzida no Brasil para o oceano Paciacutefico

Construccedilatildeo de Portos no Chile rodovias com saiacuteda de Santa Cruz na Boliacutevia em direccedilatildeo a

Cuiabaacute-MT e Iquique no Chile

Eixo Interoceacircnico de

Capricoacuternio

Chile Argentina Paraguai e Brasil

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

Viabilizar o transporte intermodal atraacutes de

interconexatildeo por hidrovia Paranaacute-Brasil com Paraguai

Eixo do Escudo

Guayaneacutes

Venezuela Brasil Suriname Guiana

Mineacuterio de ferro bauxita ouro e madeira

Melhora porto e rodovias para facilitar o escoamento da produccedilatildeo e construccedilatildeo de

hidreleacutetricas

Eixo Meridional Chile

Brasil Uruguai

Argentina e Chile

Escoamento da produccedilatildeo agriacutecola pelo Paciacutefico

Melhoria nas estradas jaacute existentes entre os paiacuteses Investimento nas conexotildees

eleacutetricas entre os paiacuteses

Eixo Mercosul Meridional

Chile Argentina

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

A conexatildeo ferroviaacuteria entre Zapala- Argentina e Lionquimay-

Chile

Eixo da Bacia do

Prata

Argentina Boliacutevia Brasil Paraguai e

Uruguai

Mineacuterio de ferro nitrato metais preciosos chumbo

zinco estanho cobre petroacuteleo e uracircnio

Implantaccedilatildeo da Hidrovia Paranaacute-Paraguai

Eixo Amazocircnico

do Sul

Brasil Boliacutevia e Peru

(Pronto)

Madeira mineacuterio de ferro

zinco e petroacuteleo

Implantaccedilatildeo de rodovias interligadas de Porto Velho-

Brasil aos pontos de San Juan e Matarani- Peru

Fonte WWWiirsa2003com

125

O IIRSA tem como financiadores o Banco Internacional de Desenvolvimento -BID

Corporaccedilatildeo Andina de Fomento ndash CAF Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia

do Prata ndash FONPLATA Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social- BNDES

Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento -BIRD (IIRSA 2003)

Diante disso satildeo perceptiacuteveis os interesses por traacutes da expansatildeo de negoacutecios

(estradas rodovias hidrovias) por toda a America do Sul sob o discurso de integrar e

desenvolver a regiatildeo Apesar disso alguns questionamentos se fazem necessaacuterios no

presente momento jaacute que a Ponte sobre o Rio Solimotildees ainda natildeo foi iniciada a) quem satildeo

os maiores beneficiaacuterios com esta obra b) esta obra eacute realmente importante para a regiatildeo

(comparando os seus benefiacutecios e malefiacutecios) c)existe alguma preocupaccedilatildeo com as

populaccedilotildees ribeirinhas afetadas que medidas compensatoacuterias poderiam ser fornecidas se

essa obra for realmente inevitaacutevel d) jaacute que seus malefiacutecios satildeo infinitamente maiores que

seus benefiacutecios isto impediria a sua execuccedilatildeo

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DO MANAQUIRI

Visando atender a abrangecircncia de dados da pesquisa qualitativa o presente estudo

utilizou a anaacutelise de documentos observaccedilatildeo participante e entrevistas semiestruturadas

(BOGDAN e BIKLEN 1994)

A princiacutepio as entrevistas seriam coletivas atraveacutes de grupos focais no entanto o

nuacutemero reduzido de moradores antigos nas duas localidades natildeo permitiu fazer uso dessa

estrateacutegia pois para se ter um grupo focal eacute preciso a participaccedilatildeo de seis e doze pessoas

(GATTI 2005) o que natildeo foi possiacutevel localizar em Bela Vista e em Manaquiri

As entrevistas foram realizadas de forma individual (na 1ordm etapa da pesquisa) por

essa e algumas outras razotildees a) os moradores mais antigos eram em sua maioria homens

com mais de 65 anos que se conheciam haacute algumas deacutecadas entretanto alguns tinham

facilidade de se expressar outros natildeo alguns eram tiacutemidos e outros desinibidos b) visando

evitar o ldquoefeito galordquo de Gatti (2005) onde um ou mais participante pudesse de forma natildeo

intencional inibir os demais optou-se pelas entrevistas individuais semiestruturadas

126

Do resultado das entrevistas com os moradores mais antigos foi construiacutedo um

roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a 40 chefes de famiacutelia em cada

localidade

Apesar da pesquisa ser qualitativa a mesma tambeacutem se caracteriza como um

Estudo de Caso pois permite uma investigaccedilatildeo para se preservar as caracteriacutesticas

significativas da vida real ciclos de vida individuais processos organizacionais e

administrativos entre outros (YIN 2005)

Ainda segundo Yin (2005) os Estudos de Caso podem ser classificados em

causaisexploratoacuterios que permitem ao pesquisador levantar dados permitindo diagnosticar

um estudo de caso atraveacutes de generalizaccedilatildeo E descritivo que permite ao pesquisador a

descriccedilatildeo de diversos e complexos fenocircmenos dentro de seu contexto real pesquisado sem

generalizaccedilatildeo

Em outras palavras o estudo de caso eacute uma situaccedilatildeo uacutenica cercada por uma

infinidade de possibilidades resultado dos dados coletados apoiados em inuacutemeras fontes

que refutam ou confirmam as informaccedilotildees coletadas O Estudo de Caso vai aleacutem da simples

funccedilatildeo de coletar dados tabulaacute-los e divulgaacute-los como resultados da pesquisa pois eacute ldquo[]

uma estrateacutegia mais abrangente A forma como a estrateacutegia eacute definida implementada e

constituiacuteda na verdade eacute o toacutepico inteiro do livrordquo (YIN 2005 p33)

A estrutura desenvolvida nesta pesquisa encontra-se detalhada na Figura (36) com

relaccedilatildeo agraves localidades escolhidas para anaacutelise da percepccedilatildeo ambiental dos seus moradores

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Solimotildees como parte da reabertura da BR-

319

127

A metodologia teve como base alem da fundamentaccedilatildeo teoacuterica a utilizaccedilatildeo de

entrevistas semiestruturadas pois permite ao pesquisador utilizar muacuteltiplas e variadas

fontes de dados para criar o roteiro de entrevista e atraveacutes da tabulaccedilatildeo dos dados

estabelecer uma cadeia de evidecircncias que permita reconhecer as respostas apoiadas na

fundamentaccedilatildeo teoacuterica para legitimar o estudo

Optou-se primeiramente por entrevistar os moradores mais antigos de cada

localidade pelas seguintes razotildees a) os moradores mais antigos tinham maior

Indicaccedilatildeo de alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental voltada para as localidades ribeirinhas e preocupaccedilatildeo com o contexto amazocircnico

Revisatildeo literaacuteria sobre as localidades

Expansatildeo das entrevista aos chefes de famiacutelia

Tabulaccedilatildeo de dados

Construccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do roteiro de entrevista semiestruturado para os

moradores mais antigos

Tabulaccedilatildeo dos resultados

Origem das localidades desenvolvimento economia

etc

Relaccedilatildeo com o ecossistema a floresta o rio e seus elementos

naturais

Perspectiva de desenvolvimento Ponte sobre o

Rio Solimotildees

Elo afetivo com o lugar EntusiasmoCautela com o desconhecido

Projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros

Figura 36 Estrutura da Pesquisa Fonte Louzada (2013)

128

conhecimento da histoacuteria de fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo das localidades b) assim como tinham

diferentes percepccedilotildees sobre o meio ambiente fiacutesico ao seu redor ao longo dos anos de suas

vidas c) baseado em suas experiecircncias individuas os moradores foram capazes de descrever

com riqueza detalhes tudo ao seu redor (da fundaccedilatildeo das localidades as mudanccedilas ao longo

dos anos) d) os moradores mais antigos das duas localidades percebiam as mudanccedilas e

descreviam-nas com maior desenvoltura os benefiacutecios e malefiacutecios das mudanccedilas

Utilizou-se o roteiro de entrevista semiestruturada aplicado na Comunidade da Bela

Vista e posteriormente na sede do municiacutepio de Manaquiri e conforme (Figura 37) Nesta

primeira etapa da pesquisa buscou-se conhecer a histoacuteria da comunidade e as diversas

interaccedilotildees do homem com o lugar onde vive

Nome (opcional) Idade Profissatildeo Escolaridade

1- A quanto tempo mora aqui

2- O que tem aqui que te faz permanecer 3- O que vocecirc natildeo gostaria de perder

4- O que vocecirc gostaria que tivesse aqui

5- Que mudanccedilas ocorreram na comunidade com a Ponte Rio Negro 6- O que Melhorou aqui 7- O que piorou

8- Vocecirc jaacute ouviu alguma coisa sobre a Ponte sobre o Rio Solimotildees

9- O que vocecirc espera de bom 10- E de ruim dessa nova ponte se sair

10- Para a construccedilatildeo desta nova ponte teraacute audiecircncias puacuteblicas para consulta a comunidade o que vocecirc

exigiria nas medidas compensatoacuterias

Na Comunidade da Bela Vista os moradores mais antigos entrevistados por

coincidecircncia eram todos homens com meacutedia de idade de 63 anos classificados segundo

suas profissotildees A -Agricultor B - Carpinteiro Naval C- Comerciante D- Pescador Suas

respostas foram dispostas na (Figura 38)

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos

Fonte Louzada (2013)

129

Entrevistado Resposta das perguntas

A 69 anos -1945

Famiacutelia tranquilidade

Paz Meacutedico

B 48 anos- 1965

Famiacutelia Companheirismo Hospital ou SPA

C 66 anos -1948

Famiacutelia Paz Poliacutecia

D 70 anos- 1944

Famiacutelia tranquilidade

Meu siacutetio a paz Poliacutecia

Os entrevistados apresentaram em meacutedia mais de 53 anos de residecircncia na

Comunidade da Bela Vista e se mostraram extremamente irredutiacuteveis quanto agrave sugestatildeo de

familiares para que se mudem para outros lugares argumentando quase sempre ldquoque natildeo

abandonariam sua tranquilidade nem seu pedaccedilo de chatildeo por nadardquo

Sobre isso Tuan (2012) argumenta que

[] eacute o neologismo uacutetil quando pode ser definida em sentido amplo incluindo todos os laccedilos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material Estes diferem profundamente em intensidade sutileza e modo de expressatildeo A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esteacutetica em seguida pode variar do efecircmero prazer que se tem de uma vista ateacute a sensaccedilatildeo de beleza igualmente fugaz mas muito mais intensa que eacute subitamente revelada A resposta pode ser taacutetil o deleite ao sentir o ar aacutegua terra Mais permanentes e mais difiacuteceis de expressar satildeo sentimentos que temos para com o lugar por ser o lar o loacutecus de reminiscecircncias e o meio de se ganhar a vida (TUAN 2012 p136)

Para Tuan (2012 p 136) ldquoTopofilia natildeo eacute a emoccedilatildeo humana mais forte Quando eacute

irresistiacutevel podemos estar certos de que o lugar ou o meio ambiente eacute o veiacuteculo de

acontecimentos emocionalmente fortes ou eacute percebido como um siacutembolordquo

No caso dos moradores mais antigos entrevistados pela pesquisa todos sem

exceccedilatildeo satildeo ex-colonos da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA o que pode ter

influenciado na atual escolha de permanecer na regiatildeo embora muitos ex- colonos tenham

optado por se mudar para outras localidades

Questionados sobre o que gostariam que tivessem na Comunidade da Bela Vista os

mesmos foram enfaacuteticos ao afirmarem que gostariam que tivessem policiamento e meacutedicos

Figura 38 Respostas das Entrevistas (Perguntas 1 a 4)

Fonte Louzada (2013)

130

na comunidade Jaacute que a Bela Vista faz parte do municiacutepio de Manacapuru cabe ao

municiacutepio e ao estado disponibilizar pessoal e infraestrutura para atender as necessidades

da populaccedilatildeo

Indagados sobre as mudanccedilas positivas e negativas com a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio

Negro as respostas encontra-se na (Figura 39)

Entrevistado Resposta das perguntas

A Tem mais motos Diminui o tempo da viagem

Nada Sim

B Diminuiu muito o movimento aqui

Diminui o tempo da viagem

Vem muita gente estranha

Sim

C Antes tinha mais movimento aqui

- Trouxe mais violecircncia

Sim

D Agora tem ocircnibus daqui pra Manaus

Diminui o tempo da viagem

Aumentou muito a violecircncia

Sim

Sobre a capacidade humana de perceber mudanccedilas Ostrower (1977) destaca

Desde as primeiras culturas o ser humano surge dotado de um dom singular mais do que homo faber ser fazedor o homem eacute um ser informador Ele eacute capaz de estabelecer relacionamentos entre os muacuteltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele Relacionando os eventos ele se configura em sua experiecircncia de viver e lhes daacute um significado Nas perguntas que o homem faz ou nas soluccedilotildees que encontra ao agir ao imaginar ao sonhar sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER 1977 p4 )

Embora a diminuiccedilatildeo do tempo de viagem de Bela Vista ateacute Manaus tenha sido

esperado com a construccedilatildeo da Ponte Rio Negro os moradores se mostram apreensivos no

que tange a comunidade uma vez que a mesma passou a sofrer frequentes casos de

violecircncia apoacutes a inauguraccedilatildeo da ponte Esta capacidade de perceber e relacionar os

acontecimentos aos muacuteltiplos eventos ocorridos permitiu-lhes fazer uma projeccedilatildeo de

cenaacuterios futuros baseados em suas experiecircncias individuais e coletivas com determinado

evento

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (Perguntas 5 a 8)

Fonte Louzada (2013)

131

Indagados se jaacute tinham ouvido falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o rio

Solimotildees os mesmos foram unacircnimes ao afirmarem que sim atraveacutes do programa de raacutedio

A Voz do Brasil

Segundo Canuto (2012) o programa de raacutedio transmitido de segunda a sexta agraves 19h

no horaacuterio de Brasiacutelia para todo o territoacuterio nacional surgiu em 1935 com o nome de

ldquoPrograma Nacionalrdquo e em 1938 passou a ser chamado de ldquoHora do Brasilrdquo teve seu nome

novamente mudado em 1971 para ldquoA Voz do Brasilrdquo O programa transmite informativos

oficiais dos Poderes Executivo Judiciaacuterio e Legislativo

Foi por meio desse programa de raacutedio que Getuacutelio Vargas fez pronunciamentos

semanais estimulando a migraccedilatildeo do ldquopovo sem terras para terras sem homensrdquo

estimulando e consolidando a Marcha para o Oeste que viria a reorganizar a ocupaccedilatildeo do

territoacuterio brasileiro

Com uma breve explanaccedilatildeo sobre a proposta de construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees os entrevistados foram estimulados a descrever o que viria de ldquobomrdquo ou

ldquoruimrdquo com esta obra segundo sua percepccedilatildeo (Figura 40)

A percepccedilatildeo dos moradores mais antigos se caracteriza em parte como uma

Percepccedilatildeo Trandisciplinar segundo seus pilares que satildeo diferentes niacuteveis de realidade

(ontoloacutegico) loacutegica do terceiro incluiacutedo e complexidade que por sua vez com se sustenta

em trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional e hologramaacutetico

Entrevistado Resposta das Perguntas

9ordm 10ordm

A Vai melhorar e muito aqui

-

B Natildeo vai ter mudanccedilas boas

Mais pessoas estranhas mais violecircncia

C Empregos Mais violecircncia

D Nada de bom Vatildeo querer me tirar daqui soacute saio daqui morto

Figura 40 Resposta dos Entrevistados (Perguntados 9 e 10)

Fonte Louzada (2013)

132

Partindo do princiacutepio dos diferentes niacuteveis de realidade seja do entrevistado A

(que prevecirc melhorias na comunidade) do B (que eacute enfaacutetico ao afirmar que natildeo haveraacute

mudanccedilas positivas) do C (que acredita que a obra traraacute empregos) ou do entrevistado D

(que afirma que esta obra natildeo traraacute nada de bom)

[] nenhum niacutevel de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual possamos compreender todos os outros niacuteveis de realidade um niacutevel de realidade eacute o que ele eacute porque todos os outros niacuteveis existem ao mesmo tempo Esse princiacutepio de relatividade suscita um novo olhar sobre a religiatildeo a poliacutetica as artes a educaccedilatildeo e a vida social E quando nosso olhar sobre o mundo muda o mundo realmente muda (RITTO 2010 p37)

O autor continua

Na visatildeo transdisciplinar a realidade natildeo eacute apenas muldimensional mas tambeacutem multirreferencial Os diferentes niacuteveis de realidade satildeo acessiacuteveis ao conhecimento humano graccedilas aacute existecircncia de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo que permitem uma visatildeo cada vez mais geral mais unificadora mais abarcadora da realidade sem exauri-la completamente Como no caso dos niacuteveis de realidade a coerecircncia dos niacuteveis de percepccedilatildeo pressupotildee uma zona de natildeo resistecircncia aacute percepccedilatildeo (RITTO 2010 p37)

Segundo Nicolesco (2009 p05) o conceito chave da Transdisciplinaridade eacute o

conceito de niacuteveis de realidade ldquoque oferece uma explicaccedilatildeo simples e clara da inclusatildeo do

terceirordquo

Entendo por Realidade primeiramente o que resiste agraves nossas experiecircncias representaccedilotildees descriccedilotildees imagens ou formalizaccedilotildees matemaacuteticas Eacute preciso tambeacutem dar uma dimensatildeo ontoloacutegica agrave noccedilatildeo de Realidade pois a Natureza participa do ser do mundo A Realidade natildeo eacute somente uma construccedilatildeo social o consenso de uma coletividade um acordo intersubjetivo Ela apresenta tambeacutem uma dimensatildeo trans-subjetiva pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria cientiacutefica (NICOLESCU 2009p05)

Para Nicolesco (2009) a compreensatildeo do terceiro incluiacutedo pode ser descrita com a

representaccedilatildeo da letra T entre o A e o natildeo- A por meio de um triacircngulo

[] no qual um dos veacutertices se situa em um niacutevel de Realidade e os outros dois

veacutertices em outro niacutevel de Realidade Se ficarmos em um uacutenico niacutevel de Realidade toda manifestaccedilatildeo apareceraacute como uma luta entre dois elementos contraditoacuterios (exemplo onda A e corpuacutesculo natildeo-A) O terceiro dinamismo o do estado T eacute exercido em um outro niacutevel de Realidade onde o que aparece como desunido (onda e corpuacutesculo) estaacute de fato unido (quantum) e o que aparece como contraditoacuterio eacute percebido como natildeo contraditoacuterio (NICOLESCO 2009 p5)

133

Nicolesco (2009) vai aleacutem ao afirmar que [] a projeccedilatildeo de T sobre um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade que produz a aparecircncia de pares antagonistas mutuamente exclusivos (A e natildeo-A) Um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade natildeo pode engendrar senatildeo oposiccedilotildees antagocircnicas Ele seraacute devido agrave sua proacutepria natureza autodestruidor se for separado completamente de todos os outros niacuteveis de Realidade Um terceiro termo digamos Trsquo que estaacute situado no mesmo niacutevel de Realidade que os opostos A e natildeo-A natildeo pode realizar sua conciliaccedilatildeo (NICOLESCO 2009 p05)

Assim sendo a loacutegica do terceiro incluiacutedo admite diferentes niacuteveis de realidade

para compreensatildeo ampla de um determinado fenocircmeno ou fato essa possibilidade permite

extrapolar o reacutelis antagonismo fruto de uma uacutenica realidade

A terceira e uacuteltima pilastra da Transdisciplinaridade eacute a Complexidade que por sua

vez tambeacutem tem trecircs pilares o dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o hologramaacutetico

O princiacutepio dialoacutegico pode ser compreendido atraveacutes da ordem e da desordem [] um suprime a outra mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e produzem organizaccedilatildeo e complexidade O princiacutepio dialoacutegico permite-nos manter a dualidade no seio da unidade Associa dois termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicos (MORIN 1990 p107)

Ainda segundo Morin (1990)

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se fosse verificar empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

Um exemplo seria as invasotildees de terras que causam de certa forma a desordem

(pessoas se aglomerando em pequenos barracos em aacutereas ainda cobertas por floresta ou

em aacutereas de risco onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a produccedilatildeo de

fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que saem atraacutes de

melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

O segundo princiacutepio eacute o da recursatildeo organizacional onde um processo recursivo ldquoeacute

um processo em que os produtos e os efeitos satildeo ao mesmo tempo causas e produtores

daquilo que os produziurdquo (MORIN 1990 p108) Ele utiliza como exemplo o caso da relaccedilatildeo

indiviacuteduo e sociedade pois a sociedade eacute resultado das interaccedilotildees humanas ldquose natildeo

134

houvesse uma sociedade e a sua cultura uma linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos

indiviacuteduos humanos

O terceiro e uacuteltimo principio da complexidade eacute o hologramaacutetico que funciona

como a menor partiacutecula do todo mas conteacutem todas as informaccedilotildees da totalidade do objeto

em outras palavras ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo mas o todo estaacute na parterdquo (MORIN

1990 p108-109)

Apoiado em suas trecircs pilastras o princiacutepio dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o

hologramaacutetico surge a Complexidade que busca a ideia de que a totalidade natildeo eacute a

sobreposiccedilatildeo das partes individuais mas a uniatildeo de todas elas em uma teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas mas termodinacircmicas e conectadas (MORIN 1990 p110)

Para Santos (2013)

A Complexidade eacute a compreensatildeo da realidade atraveacutes do conhecimento em todas as suas injunccedilotildees O conhecimento eacute trabalhado de forma fragmentada guardando cada aacuterea cada disciplina sua autonomia e separabilidade das demais Essa constataccedilatildeo aparente induziu o sujeito a aceitar os fenocircmenos explicados pelo conhecimento cientiacutefico como certeza na compreensatildeo do mundo Entretanto a Transdisciplinaridade nos mostra a complexidade do real da ligaccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade consiste em entender que nada estaacute separado tudo estaacute ligado na natureza fiacutesica humana e social O pensamento complexo eacute aquele que tenta responder ao desafio da complexidade e natildeo o que constata a incapacidade de responder (SANTOS apud MORIN 2013 p5)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Por seu turno na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o

cientista haacute rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os

objetos uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter

multidimensional de qualquer realidade segundo Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo

podemos nunca escapar aacute incerteza () Estamos condenados ao pensamento inseguro a

um pensamento criativo de buracos um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento

absoluto de certezardquo

135

341 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA BELA VISTA

Para a realizaccedilatildeo da segunda etapa da pesquisa que consistia em entrevistar os

chefes de famiacutelia foi elaborado um roteiro de entrevistas a partir das respostas dos

moradores mais antigos (Apecircndice 1)

Foram localizadas as ruas principais da comunidade da Bela Vista e o local exato

onde as mesmas se cruzaram de forma que pudesse ser dividida a comunidade em quatro

quadrantes Dentro de cada quadrante foram entrevistados dez chefes de famiacutelias de

maneira aleatoacuteria de diferentes idades gecircneros e ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de

residecircncia no lugar

O resultado foi 57 homens entrevistados e 43 mulheres com idades variando

entre 14 e 77 anos de naturalidades diversas Rondocircnia Roraima Amazonas (Bela Vista

Itacoatiara Coari Manaquiri Laacutebrea Cruzeiro do Sul Alto Juruaacute)

O Graacutefico 1 ilustra a escolaridade dos entrevistados da Bela Vista

A comunidade da Bela Vista conta atualmente com uma escola de Ensino

Fundamental (Escola Estadual Maacuterio DrsquoAlmeida) que no periacuteodo diurno oferece aulas do (1ordm

ao 9ordm ano) e no periacuteodo noturno oferece aulas para jovens e adultos atraveacutes do Programa

EJA (Ensino de Jovens e Adultos)

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados na Bela Vista

136

Os 30 dos entrevistados que afirmaram ter estudado somente ateacute 4ordm seacuterie atual

quarto anos do Ensino Fundamental sempre residiram na comunidade e os demais 37 da

populaccedilatildeo que tem o Ensino Meacutedio completo juntamente com 3 de entrevistados que natildeo

chegaram a concluir o ensino meacutedio tiveram a oportunidade de residir em outras

localidades a fim de concluir os estudos e retornaram agrave Comunidade da Bela Vista

Os moradores foram inquiridos sobre a escolha de morar na Bela Vista e o que natildeo

os agradava no lugar 62 dos entrevistados afirmaram residir no lugar pela tranquilidade e

17 pela famiacutelia 11 por considerar o clima agradaacutevel 5 trabalho 5 por ser terra firme

e a oportunidade de produzir alimentos durante todo ano Sobre o que natildeo os agradava na

comunidade 37 relataram a falta de emprego 30 falta de seguranccedila 10 por natildeo ter

um hospital 15 falta administraccedilatildeo 8 falta uniatildeo na comunidade

Quando questionados sobre o que viam ao olhar para a Bela Vista o resultado estaacute

contemplado no Graacutefico 2

A maioria da populaccedilatildeo entrevistada (38) classificou a comunidade como

esquecida e desprezada devido agrave falta de infraestrutura que natildeo conta com uma rede de

abastecimento eleacutetrico eficiente com aacutegua potaacutevel haacute pouco tempo e somente apoacutes

perfuraccedilatildeo de dois poccedilos sendo que o primeiro perfurado com 110 m mas em uma anaacutelise

laboratorial feita pelo Serviccedilo Autocircnomo de Aacutegua e Esgoto de Manacapuru- SAAE o poccedilo se

mostrou improacuteprio para o consumo humano Foi realizada outra perfuraccedilatildeo agora com

200m de profundidade contudo apesar dos esforccedilos para a construccedilatildeo de um novo poccedilo o

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista

137

mesmo acabou alcanccedilando uma reserva de manganecircs- Mn (elemento quiacutemico) o que torna a

aacutegua improacutepria para o consumo humano ficando a comunidade dependente do primeiro

poccedilo

Sobre a reserva de manganecircs Sousa (2008) esclarece que a concentraccedilatildeo de

manganecircs no rio Solimotildees varia de 0017mgL na cheia do rio a 0025 mgL no periacuteodo de

vazante dispersa ou concentra em suas margens

Aleacutem da dificuldade de encontrar aacutegua potaacutevel a comunidade tambeacutem sofre de

outros problemas entre eles a falta de saneamento baacutesico (Figura 41) e a destinaccedilatildeo de

resiacuteduos domiciliares em aacutereas de vegetaccedilatildeo ou as queimadas dentro dos siacutetios

Em todas as ruas da Comunidade da Bela Vista eacute possiacutevel visualizar a ausecircncia de

caneletas extremamente necessaacuterias para o escoamento das aacuteguas superficiais que ficam

empoccediladas sobre o asfalto contribuindo para a sua deterioraccedilatildeo Outro fator preocupante eacute

a ausecircncia completa de uma rede de esgoto que geralmente eacute direcionado das casas para as

ruas situaccedilatildeo muito comum nas cidades do interior do Amazonas

Indagados sobre o significado do rio Solimotildees e da Floresta Amazocircnica uma vez que

convivem diariamente com estes elementos naturais 49 dos entrevistados afirmaram que

Figura 41 Rua da Comunidade da Bela Vista

Autor Louzada (2013)

138

o rio eacute importante para a pesca e 36 disseram que o rio eacute a fonte da vida e 13 o

consideram bonito imponente e majestoso e 2 natildeo souberam responder

Sobre essa percepccedilatildeo Tuan (2012) afirma que as imagens que compotildeem a Topofilia

satildeo derivadas da realidade circundante

As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram assombro ou lhes prometem sustento e satisfaccedilatildeo no contexto das finalidades de suas vidas As imagens mudam agrave medida que as pessoas adquirem novos interesses e poder mas continuam a surgir do meio ambiente as facetas do meio ambiente previamente negligenciadas satildeo vistas agora com toda claridade (TUAN 2012 p170)

A afirmaccedilatildeo de Tuan (2012) confirma a percepccedilatildeo dos entrevistados sobre a

Floresta Amazocircnica onde 65 dos moradores afirmaram que a floresta eacute bonita e muito

importante 30 que tem que ser preservada pois estaacute sendo desmatada e 5 afirmaram

ser ela a fonte de alimentos diversos

Para Tuan (2012) as sociedades natildeo tecnoloacutegicas que manteacutem contato constante

com o meio ambiente fiacutesico tendem a perceber a florestal tropical de modo geral como um

mundo proacuteprio protetor e envolvente que provecirc as necessidades materiais e ateacute mesmo

espirituais

Tendo como base os criteacuterios de qualidade de vida apontados por Gonccedilalves e

Vilarta apud Almeida et al (2012) que

[] abordam qualidade de vida pela maneira como as pessoas vivem sentem e compreendem seu cotidiano envolvendo portanto sauacutede educaccedilatildeo transporte moradia trabalho e participaccedilatildeo nas decisotildees que lhes dizem respeito (GONCcedilALVES E VILARTA apud ALMEIDA et al 2012 p18)

Os entrevistados foram indagados sobre qual qualidade de vida moradores da Bela

Vista suas respostas eacute possiacutevel visualizar no Graacutefico 3

139

A maioria dos entrevistados sendo 47 classificou a qualidade de vida dos

moradores em ruim ou difiacutecil devido a pouca oportunidade de renda da populaccedilatildeo que

segundo eles somente satildeo quatro fontes de renda agricultura aposentadoria pequenos

comeacutercios ou bolsas do governo (Bolsa Famiacutelia Bolsa Escola Auxilio Gaacutes Seguro Defeso do

Pescador) Outros entrevistados atribuiacuteram agrave qualidade de vida ruim devido agrave falta de

emprego na regiatildeo porque os jovens natildeo estatildeo dispostos a trabalhar na agricultura

somente os mais idosos

Sobre isso existe uma perspectiva geral de mudanccedila com a abertura da Faacutebrica de

Calcaacuterio que estaacute sendo construiacuteda no ramal da comunidade que promete emprego aos

moradores da Bela Vista gerando uma nova fonte de renda para a comunidade

Questionados se jaacute tinham ouvido falar sobre a construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees 85 dos entrevistados relataram jaacute ter ouvido algo a respeito entre os

comentaacuterios da comunidade e no programa de raacutedio a Voz do Brasil 15 da populaccedilatildeo

relatou natildeo ter conhecimento dessa informaccedilatildeo Perguntados sobre o seu posicionamento

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte os moradores afirmaram 92 que satildeo favor (Graacutefico 4)

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista

140

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas sobre a reabertura da BR-319

os entrevistados responderam conforme destaca o Graacutefico 5

A maioria 45 da populaccedilatildeo mostra-se disposta a participar de audiecircncias puacuteblicas

sobre a reabertura da BR-319 mas somente se chegassem a ser convocados 37 se

mostrou favoraacutevel agrave reabertura da rodovia afirmando que a mesma jaacute foi aberta um dia

sendo necessaacuteria ser novamente asfaltada sinalizada e ter suas pontes refeitas jaacute que

praticamente natildeo existem mais Ainda desse total 5 disseram que natildeo desejariam

participar com destaque para uma colocaccedilatildeo ldquoFilha eu natildeo iria pois natildeo se decide o que jaacute

foi decididordquo (comunicaccedilatildeo pessoal de um entrevistado) Do restante 4 iriam conhecer os

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte sobre o

Rio SolimotildeesAmazonas

141

dois lados (benefiacutecios e malefiacutecios) da obra e 9 dos entrevistados afirmaram natildeo acreditar

na reabertura da BR-319

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo 64 dos entrevistados consideraram o rio perigoso e que o mesmo provocava

medo (Graacutefico 6)

Eacute compreensiacutevel os entrevistados da Bela Vista optarem em sua maioria pelas

estradas porque eles dispotildeem de um ramal de 10km que os conecta a AM-070 e os permite

chegar rapidamente agrave Manacapuru ou ateacute mesmo a capital Manaus Questionados sobre

qual meio de locomoccedilatildeo seria mais seguro O Graacutefico 7 ilustra a preferecircncia pelas estradas

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo

142

A maioria 78 dos entrevistados considera as estradas o meio mais raacutepido e melhor

de se locomover apenas 22 as consideram perigosas

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 37 dos

entrevistados afirmaram nunca terem participado e 34 afirmaram natildeo saber o que eacute jaacute

25 disseram que participariam de uma se fossem convidados o que nunca ocorreu na

comunidade e 4 afirmaram jaacute ter participado de Audiecircncias Puacuteblicas em outras

localidades

342 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI

Assim como ocorreu na Comunidade da Bela Vista a sede do municiacutepio de

Manaquiri tambeacutem foi dividida em quatro quadrantes a partir das ruas principais Joatildeo Diniz

e Francisco Jacob (Figura 42)

Figura 42 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa

Fonte Google Maps Imagens Landsat (2014)

Adaptada Louzada (2014)

143

Foram entrevistados dez chefes de famiacutelia em cada quadrante de maneira aleatoacuteria

de diferentes idades gecircneros ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de residecircncia no lugar

Todavia o roteiro de entrevistas aplicado em Manaquiri sofreu algumas alteraccedilotildees

(Apecircndice 2)

Ao contraacuterio do que ocorreu na Bela Vista onde foram entrevistados (57 homens

e 43 mulheres) em Manaquiri foram entrevistados de maneira aleatoacuteria 55 de mulheres

e 45 de homens com idades variando entre 22 e 83 anos e com naturalidades mais

diversas Colocircmbia Venezuela Brasil (Cearaacute Parnaiacuteba Piauiacute Paraacute Amazonas (Manaus

Iranduba Eirunepeacute Coari Anamatilde Careiro da Vaacuterzea))

Com relaccedilatildeo agrave escolaridade a grande maioria dos entrevistados cerca de 52

tinham o ensino meacutedio completo os demais foram organizados conforme graacutefico 8

Por ser uma sede municipal o Manaquiri conta com escolas tanto estaduais como

municipais o que contribui na formaccedilatildeo de seus moradores todavia as escolas natildeo estatildeo

exclusivamente situadas na sede do municiacutepio como eacute caso do Centro Educacional

Municipal de Tempo Integral ndash CEMTI com capacidade para atender 770 alunos do ensino

fundamental inaugurado em 2010 mas tambeacutem distribuiacutedos na zona rural do mesmo

Os entrevistados foram questionados sobre a escolha de permanecer em

Manaquiri pois os mesmos tecircm facilidade de acesso a outros municiacutepios e ateacute mesmo agrave

capital Manaus o que os agradava no lugar que os fazia permanecer 69 dos moradores

responderam permanecer em Manaquiri pela tranquilidade encontrada laacute 31

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri

144

responderam que permanecem na regiatildeo por laccedilos familiares Indagados sobre o que natildeo os

agradava na cidade de Manaquiri 31 dos entrevistados relatou o sistema de sauacutede do

municiacutepio (Graacutefico 9)

Os entrevistados se mostraram revoltosos com o sistema puacuteblico de sauacutede do

municiacutepio do Manaquiri Um entrevistado relatou a seguinte situaccedilatildeo

Se uma pessoa cair e quebrar a perna no final de semana temos que levar ele correndo para Manaus jaacute pensou ir de voadeira [canoa de alumiacutenio com motor de polpa] nesse riozatildeo de Deus com a perna quebrada eacute horriacutevel porque aqui natildeo tem meacutedico no final de semana soacute de segunda a sexta e ai como a gente ficar te pergunto

Segundo Almeida Filho (1998)

A ldquonova ordem mundialrdquo que se instaura na deacutecada de oitenta inspirada no neoliberalismo provoca uma marcante fragilizaccedilatildeo dos esforccedilos para o enfrentamento coletivo dos problemas de sauacutede Particularmente nos paiacuteses de economia capitalista dependente a opccedilatildeo pelo ldquoestado miacutenimordquo e o corte nos gastos puacuteblicos como resposta agrave chamada ldquocrise fiscal do estadordquo em muito comprometem o acircmbito institucional conhecido como sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p 301)

Para superar esta crise na sauacutede puacuteblica brasileira que jaacute dura quase 35 anos apoacutes

os novos esforccedilos serem direcionados para

[] o desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico do campo mediante importantes contribuiccedilotildees nas aacutereas de Epidemiologia Social Poliacuteticas e Praacuteticas de Sauacutede Planificaccedilatildeo em Sauacutede Epistemologia e Metodologia em Sauacutede [] Contudo mais do que definiccedilotildees formais a sauacutede coletiva requer uma compreensatildeo dos desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo de profissional convencionalmente reconhecido como da sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p310)

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo agrada em Manaquiri

145

A atual situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica em Manaquiri reflete de forma negativa na

administraccedilatildeo puacuteblica de modo geral pois 28 dos entrevistados descrevem como ruim ou

peacutessima devido aos cuidados com a sauacutede publica do municiacutepio

Em menor porcentagem os entrevistados relataram que natildeo os agrada o aumento

da violecircncia dos uacuteltimos anos com 14 dos entrevistados a falta de oportunidade de

entretenimento com 3 das respostas e 7 com a falta de oportunidade de continuar os

estudos Segundo eles satildeo somente duas oportunidades ou migram para a capital Manaus

para cursar uma faculdade ou se forem professores podem se escrever no Plano Nacional

de Formaccedilatildeo de Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica- PARFOR do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo em

parceria com a Universidade Federal do Amazonas - UFAM que envia professores ao

municiacutepio no periacuteodo de recesso escolar (Municipal e Estadual) para ministrarem as

disciplinas da graduaccedilatildeo dos cursos escolhidos permitindo aos professores locais um

diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC

Ao olharem para o municiacutepio de Manaquiri os entrevistados se manifestaram

conforme o graacutefico 10

Cerca de 43 dos entrevistados afirmaram que a cidade de Manaquiri estaacute

crescendo tendo como referecircncia o crescimento demograacutefico apontado no uacuteltimo censo do

IBGE que calculou a populaccedilatildeo da sede municipal de Manaquiri em 7062 mil habitantes

(IBGE 2010)

Todavia os moradores tambeacutem atrelaram o crescimento da cidade ao fato de haacute

pouco tempo ter sido aberta uma agecircncia bancaacuteria na regiatildeo e os investimentos na

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri

146

agricultura familiar o que gerou empregos no municiacutepio e por consequecircncia permitiu um

aumento na renda das famiacutelias

Outros 25 dos entrevistados relatou que Manaquiri eacute um bom lugar para viver

pois quem quiser trabalhar na agricultura tem acesso agrave empreacutestimos para investir na

produccedilatildeo ou em pequenas criaccedilotildees como a silvicultura e a piscicultura

Os entrevistados referem-se ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte ndash

FNO disposto nas leis nordm 78271989 nordm 91261995 e nordm 101772001 (BRASIL 2013)

O FNO Plano de Aplicaccedilatildeo de Recursos para 2013 dispotildeem sobre os programa de

iniciativa do Governo Federal para a Amazocircnia que satildeo executados pelo Banco da

Amazocircnia com destaque para O Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 conhecido como ldquoPlano

Mais Brasilrdquo a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) o Plano Amazocircnia

Sustentaacutevel (PAS) o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) a Poliacutetica Nacional de

Agricultura Familiar a Poliacutetica Nacional de Arranjos Produtivos Locais o Plano Nacional de

Turismo (PNT) o Plano Brasil Maior o Plano Brasil Sem Miseacuteria o Plano Nacional sobre

Mudanccedila do Clima (PNMC) o Programa Mais Cultura a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas as poliacuteticas de desenvolvimento industrial e de incentivo agraves exportaccedilotildees agrave pesca

e aquicultura (BRASIL 2013 p10)

Todos os programas reunidos compotildeem o Plano Nacional de Desenvolvimento da

Amazocircnia ndash PRDA aprovado em 2012 com prazo de vigecircncia ateacute 2015 que tem como

objetivo principal ldquo[] acelerar o crescimento econocircmico da Amazocircnia Legal com

distribuiccedilatildeo de renda e sustentabilidade socioambientalrdquo (BRASIL 2013 p11) atraveacutes de

financiamentos tendo como

[] prioridade os segmentos produtivos de menor porte (minimicro e pequenos empreendedores) com maior ecircnfase a agricultura de base familiar empreendimentos que utilizam mateacuterias primas e matildeo de obras locais e que produzam alimentos baacutesicos para o consumo da populaccedilatildeo e projetos com sustentabilidade socioambiental (BRASIL 2013 p17)

Os entrevistados tambeacutem foram indagados sobre o significado do Rio Solimotildees e a

Floresta Amazocircnica 87 dos moradores relataram que o rio eacute muito importante pois aleacutem

de fornecer o seu principal alimento o peixe o rio banha as terras baixas (as vaacuterzeas) e faz a

nutriccedilatildeo das mesmas para que eles possam plantar no periacuteodo de vazante O rio tambeacutem eacute o

147

principal meio de locomoccedilatildeo entre os ribeirinhos Os demais entrevistados classificaram o

rio Solimotildees como riqueza (5) e como fonte de vida (8)

Para Tuan (2012) as diferentes culturas e sociedades humanas tecircm diferentes

formas de se relacionar com a natureza O autor cita a influecircncia de determinadas paisagens

na maneira de perceber e se relacionar com as mesmas

Natildeo eacute difiacutecil entender a atraccedilatildeo que exercem as orlas marinhas sobre os seres humanos Para comeccedilar sua forma tem dupla atraccedilatildeo por um lado as reentracircncias das praias e dos vales sugerem seguranccedila por outro lado o horizonte aberto para o mar sugere aventura Aleacutem disso o corpo humano que normalmente desfruta apenas do ar e da terra entra em contato com a aacutegua e a areia A floresta envolve o homem em seu recesso fresco e sombrio o homem no deserto estaacute total exposto e sofre escoriaccedilotildees pelo sol brilhante e eacute repelido pela dureza da terra A praia tambeacutem eacute banhada pelo brilho direto e refletido da luz do sol poreacutem a areia sede pressatildeo penetrando entre os dedos dos peacutes e a aacutegua recebe e ampara o corpo (TUAN 2012 p163-164)

Sobre a Floresta Amazocircnica cerca de 90 dos entrevistados relataram que ela eacute

muito importante pois fornece o ar puro para ser respirado por todos e eacute fonte de

alimentos diversos (frutos ervas) e madeira para a construccedilatildeo de casas e canoas sendo

necessaacuterio e muito importante preservarem-na para que seus netos e bisnetos cheguem a

conhecer a magnitude dessa floresta Os 10 de entrevistados restantes descreveram a

floresta como fonte de vida que traz a aacutegua

Perguntados sobre a qualidade de vida dos moradores do Manaquiri os

entrevistados responderam conforme Graacutefico 11

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores do Manaquiri

148

O percentual de 52 dos entrevistados considera regular a qualidade de vida dos

moradores da sede do municiacutepio de Manaquiri uma vez que existem muitas pessoas que

trabalham para a Prefeitura ou na escola e no comercio e outros que vivem da agricultura

ou da pesca mas tambeacutem haacute pessoas que natildeo tecircm trabalho fixo e vivem das bolsas do

governo (Bolsa Escola Bolsa Famiacutelia Auxilio gaacutes entre outras ) essas pessoas passam

muitas necessidades

O percentual 29 dos entrevistados consideraram a qualidade de vida dos

moradores de Manaquiri boa pois tem emprego escola casa proacutepria entre outras

facilidades 19 dos entrevistados relatou a qualidade de vida como ruim pois faltam

meacutedicos e empregos para todos (significado do rio e da floresta)

Perguntados se jaacute ouviram falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o Rio

Solimotildees 92 dos entrevistados afirmaram jaacute ter ouvido algo no raacutedio e atraveacutes dos

deputados do municiacutepio aleacutem de comentaacuterios de outros moradores

Indagados sobre o posicionamento individual com a perspectiva de construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees os entrevistados responderam conforme ilustra o Graacutefico

12

A maioria dos entrevistados cerca de 60 mostrou-se favoraacutevel a construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees 27 dos entrevistados se mostrou receosa com o aumento

da violecircncia caso a ponte seja realmente implantada 5 cautelosos com o

empreendimento por acreditar que o mesmo traraacute coisas ruins para o municiacutepio 8 dos

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo de

ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

149

entrevistados se mostrou contraacuterio agrave construccedilatildeo da ponte pois natildeo acreditam que os

benefiacutecios com a ponte superem seus malefiacutecios principalmente no que se refere a Floresta

Amazocircnica

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas para a reabertura da BR-319 e

qual o posicionamento que adotariam os entrevistados responderam conforme Graacutefico 13

A maioria 75 dos entrevistados afirmaram ser a favor da reabertura da BR-319

14 disseram que somente participariam das audiecircncias puacuteblicas 8 que natildeo participariam

e 3 dos entrevistados optaram por natildeo opinar

O principal argumento utilizado para o posicionamento favoraacutevel agrave reabertura da

BR-319 foi de que seria possiacutevel conhecer outros municiacutepios do estado pela estrada e

chegar agrave outros estados de carro porque natildeo os agradava a possibilidade de viajar de aviatildeo

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo na Amazocircnia 40 dos entrevistados afirmaram preferir o rio (Graacutefico 14)

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319

150

Todavia as respostas dos entrevistados chamam agrave atenccedilatildeo pela seguinte situaccedilatildeo

13 dos entrevistados afirmaram achar o rio melhor como meio de locomoccedilatildeo no periacuteodo

da cheia pois o Paranaacute de Manaquiri como eacute conhecido o braccedilo de rio que passa em frente

agrave cidade do Manaquiri soacute eacute navegaacutevel durante esse periacuteodo cheio (Figura 43) pois no

periacuteodo de vazante o Paranaacute seca ficando em terra batida

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia

Figura 43 Paranaacute de Manaquri

Autora Louzada (2013)

151

O percentual de 30 dos entrevistados prefere a estrada para deslocamento por

consideraacute-la mais segura mesmo no periacuteodo de cheia do rio 13 preferem o rio quando

estaacute cheio 4 afirmaram natildeo gostar das estradas porque demoram e prolongam o tempo

de viagem e 40 preferem o rio

Poucas pessoas tecircm conhecimento de que o municiacutepio do Manaquiri tem uma

rodovia estadual que liga a sede do municiacutepio agrave BR-319 com 43 km aacute AM- 354 (Figura 44)

atualmente se encontra em oacutetimas condiccedilotildees de trafego

No periacuteodo da vazante dos rios e a impossibilidade de pegar barcos no porto da

cidade de Manaquiri para sair de sede os moradores pegam ocircnibus na cidade e seguem

viagem pelos 43 km da AM-354 e posteriormente entram na BR-319 por onde seguem por

mais 91 km ateacute a chegarem ao porto da Gutierrez onde pegam ajatos (embarcaccedilotildees de

alumiacutenio cobertas e com maacutequinas de centro) para seguirem viagem ateacute a capital Manaus

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio do Manaquiri-AM

Autora Louzada (2013)

152

(Figura 45) o percurso ateacute a capital demora em meacutedia trecircs horas e meia quando uma

viagem completa por via fluvial do municiacutepio ateacute a capital Manaus leva em meacutedia duas

horas (variam conforme a potecircncia das maacutequinas de centro)

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 77 os entrevistados

afirmaram nunca ter participado e 23 dos entrevistados afirmaram jaacute ter participado de

uma pelo menos os mesmos relataram que participariam de outras Audiecircncias Puacuteblicas se

fossem convidados

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas

Autora Louzada 2013

153

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR O FUTURO ALTERNATIVA

DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS

O conceito de desenvolvimento do seacuteculo XXI tem como marco principal o papel da

sociedade civil como agente ativo na construccedilatildeo do desenvolvimento e natildeo mais como

meros beneficiaacuterios do desenvolvimento

Diante disso eacute importante compreender o conceito de desenvolvimento do seacuteculo

XX para se conhecer seus reflexos no presente se pensando no futuro

Segundo Martins (2002)

O termo desenvolvimento tem sido associado agrave noccedilatildeo de progresso material e de modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Sua promoccedilatildeo mediante o desrespeito e a desconsideraccedilatildeo das diferentes culturais da existecircncia de outros valores e concepccedilotildees jaacute teria funcionado como ldquoCavalo de Troacuteiardquo que vestido da seduccedilatildeo do progresso teria carregado em seu interior o domiacutenio e a imposiccedilatildeo de culturas que desequilibram e abalam as sociedades (MARTINS 2002 p52)

No Brasil a partir de 1930 apoacutes a grave crise do cafeacute a regiatildeo de Satildeo Paulo

considerada o berccedilo da produccedilatildeo do cafeacute no paiacutes passou pelo primeiro surto de

industrializaccedilatildeo o que veria a ser o ponto de partida para a industrializaccedilatildeo brasileira ldquoque

natildeo se deu pela via evolutiva com base na iniciativa privada como nas naccedilotildees pioneiras

Aqui ela foi induzida e em grande parte realizada pelo Estado rdquo(ESTADO apud Rodrigues

2013 p32)

Sobre isso Brum apud Rodrigues (2013 p32) afirmam que ldquoo modelo de

desenvolvimento adotado no Brasil a partir de 1930 se baseava num Estado Forte poliacutetica

de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees e no nacionalismo poliacuteticordquo

O Estado a partir de 1946 passa a contar com ldquoum imposto sobre combustiacuteveis

liacutequidos visando por via disso o financiamento da construccedilatildeo de estradas este fundo pode

ser visto como o marco institucional da valorizaccedilatildeo da rodovia como modal de transporterdquo

(RODRIGUES 2013 p33)

Para Galvatildeo apud Rodrigues (2013)

154

O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prioritaacuteria de transporte no Brasil teve de esperar ainda ateacute o inicio dos anos de 50 quando da aprovaccedilatildeo de um novo plano nacional de viaccedilatildeo em 1951 Entre as camadas teacutecnicas poreacutem a definitiva opccedilatildeo por esta modalidade de transporte jaacute havia sido feita logo apoacutes o teacutermino da Segunda Guerra Mundial durante os trabalhos de uma comissatildeo do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rondagem) encarregada pelo governo da elaboraccedilatildeo do plano de 1951 (GALVAtildeO apud RODRIGUES 2013 p33)

Rodrigues (2013) vai aleacutem

Somando-se a isto a fundaccedilatildeo da empresa estatal Petrobras em 1954 contribuiu para impulsionar a construccedilatildeo de rodovias no paiacutes jaacute que a produccedilatildeo de petroacuteleo em grande quantidade permitiu um incremento na produccedilatildeo d asfalto visto que o petroacuteleo eacute um componente fundamental para a fabricaccedilatildeo deste (RODRIGUES 2013 p33)

Ainda segundo Rodrigues (2013)

A opccedilatildeo econocircmica feita pelo desenvolvimentismo foi crucial para a questatildeo econocircmica propriamente dita quanto para o desenvolvimento espacial e demograacutefico brasileiro assim os grandes incrementos populacionais sentidos nas regiotildees Norte e Centro Oeste se deram principalmente devido ao iniacutecio da era rodoviaacuteria no paiacutes pois as estradas abarcavam diversos pontos das poliacuteticas governamentais Nesse sentido a intervenccedilatildeo na estrutura de transporte no paiacutes foi crucial assim como a busca de novas fronteiras agriacutecolas na temaacutetica da alimentaccedilatildeo Apesar da enorme concentraccedilatildeo econocircmico-industrial no centro sul paiacutes (BRUM 2009) os uacuteltimos anos da deacutecada de 1950 foram revolucionaacuterios na abertura dessas novas fronteiras internas do paiacutes (RODRIGUES 2013 p38)

Neste periacuteodo as rodovias ultrapassaram o seu objetivo inicial de interligar vias e

cidades para a partir do governo de Juscelino Kubichek (1956 - 1961) a loacutegica se tornar

outra a de penetraccedilatildeo

[] aquelas que visavam adentrar o territoacuterio nacional [] Para o governo a vantagem dessa nova proposta era de que aleacutem de levar ldquocivilizaccedilatildeordquo aos rincotildees do paiacutes as estradas de penetraccedilatildeo ampliavam as fronteiras agriacutecolas (COSTA et al 2001) sendo assim uma poliacutetica de abrangecircncia a no miacutenimo dois setores crucias [] transporte e alimentaccedilatildeo (RODRIGUES 2013 p39)

Novas aacutereas foram alcanccediladas com a construccedilatildeo de rodovias no Centro Oeste e

Norte brasileiro o que se mostraria o marco inicial para consolidaccedilatildeo do modelo

rodoviarista brasileiro

155

Para financiar e executar a construccedilatildeo de estradas no paiacutes foi instituiacutedo o Plano de

Integraccedilatildeo Nacional atraveacutes do decreto-lei n˚1106 de Junho de 1970 que tinha como meta

primeiramente investimentos

I - Na aacuterea do Ministeacuterio dos Transportes a imediata construccedilatildeo das rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem bem com de portos e embarcadouros fluviais com seus respectivos equipamentos

II - Na aacuterea do Ministeacuterio da Agricultura a colonizaccedilatildeo e a reforma agraacuteria mediante a elaboraccedilatildeo a execuccedilatildeo de estudos e a implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e agroindustriais com as competentes desapropriaccedilotildees a seleccedilatildeo o treinamento o transporte e o assentamento de colonos a organizaccedilatildeo de comunidades urbanas e rurais e respectivos serviccedilos

III - Na aacuterea do Ministeacuterio do Interior o aceleramento dos estudos e a implantaccedilatildeo de projetos constantes da primeira fase do Plano de Irrigaccedilatildeo do Nordeste abrangendo obras de retenccedilatildeo desvio canalizaccedilatildeo conduccedilatildeo aspersatildeo e drenagem hidraacuteulica com propriedade para os que ofereccedilam desde jaacute maior beneficio social

IV - Na aacuterea do Ministeacuterio das Minas e Energia o levantamento da topografia da cobertura florestal da geomorfologia para pesquisas minerais e energeacuteticas da natureza do solo da respectiva drenagem e unidade (BRASIL 1970 p31)

Os trecircs primeiros Ministeacuterios (Transporte Agricultura e do Interior) se tornaram

prioridades do I Plano de Integraccedilatildeo Nacional sendo o carro chefe o Ministeacuterio dos

Transportes atraveacutes da construccedilatildeo de rodovias responsaacuteveis por integrar a regiatildeo

Amazocircnica ou restante do paiacutes propiciando a expansatildeo da fronteira econocircmica e

principalmente agriacutecola para a regiatildeo

Sobre isso Reis (1972) apresenta as rodovias construiacutedas em construccedilatildeo e projetas

para a Amazocircnia (Figura 46)

156

Segundo Reis (1972) a inauguraccedilatildeo da rodovia BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) possibilitou

acesso aos espaccedilos ainda pouco ou natildeo cultivados nas planiacutecies uacutemidas amazocircnidas e a

alternativa ideal de utilizar as terras para o cultivo agriacutecola desta forma o projeto de

construccedilatildeo de rodovias foi expandido para toda a regiatildeo Norte do pais

Como aconteceu no restante da Amazocircnia o estado do Amazonas tambeacutem foi

ldquobeneficiadordquo com a construccedilatildeo de estradas em seu territoacuterio a partir de 1950 todavia o

presente este se limitaraacute a expor somente as rodovias federais que chegaram a ser abertas

(Figura 47)

Fonte 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia Fonte Reis (1972)

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41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO

Localizado no sul do estado do Amazonas a BR-317 teve suas obras iniciadas em

1956 segundo o DNIT (2008) ligando o municiacutepio de Laacutebrea no sudoeste do Amazonas

localizado a 610 km em linha reta da capital Manaus ateacute o municiacutepio de Assis Brasil no Acre

na fronteira com o Peru e a Boliacutevia (Figura 48)

Foi construiacuteda com o intuito de escoar a produccedilatildeo madeireira do municiacutepio de

Laacutebrea - AM para os estados do Acre e Rondocircnia

Mantendo-se sem pavimentaccedilatildeo alguma ateacute 2004 quando foi iniciado e executado

o Eixo Rodoviaacuterio de Integraccedilatildeo Peru-Boliacutevia-Brasil como parte do projeto IIRSA (Integraccedilatildeo

da Infraestrutura Regional Sul-Americana) A BR-317 passa a ser chamada de estrada do

Paciacutefico apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Binacional (Figura 49) em agosto de 2006 que teve

Fonte 48 BR-317 ou Carretera Del Paciacutefico Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

159

investimento de R$ 25 milhotildees (parte financiada pelo governo federal e estadual) ligando a

cidade de Assis Brasil no Acre agrave cidade peruana de Inatildepari A ponte tem 240m de extensatildeo

quatro pistas e um vatildeo de 110m livres (BRASIL 2006)

No trecho peruano a Estrada do Paciacutefico recebe o nome de Carretera Del Paciacutefico ou

Iterocecircanica pois liga a fronteira com Brasil ateacute o Oceano Paciacutefico (Figura 50)

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-

pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

160

Atualmente a Estrada do Paciacutefico ou Carretera Del Paciacutefico encontra-se em oacutetimas

condiccedilotildees de traacutefego no trecho peruano o que facilita o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola

tanto do Brasil quanto do Peru em direccedilatildeo ao mercado brasileiro

Segundo Bryan (2013) com a construccedilatildeo da ponte ligando definitivamente o Brasil

e o Peru inicia-se um forte comeacutercio de produtos na fronteira com destaque para a compra

de cebola peruana a ser comercializada em Rio Branco no Acre que chega agrave 100 toneladas

ao mecircs em uma rede de supermercados local

Quase toda a cebola consumida na capital acreana passou a ser peruana E 70 toneladas ficaram em estoque devido agrave entressafra peruana Segundo Adem a cebola peruana eacute melhor que a brasileira e tem custo entre 5 a 10 menor percorre menos espaccedilo e tem menos desperdiacutecio Se comprada no Brasil o desperdiacutecio chega a 20 afirma No comeccedilo soacute tivemos problemas Natildeo foi tatildeo faacutecil por questatildeo de ser uma novidade ter que contratar os agentes aduaneiros que natildeo existiam por aqui ter que lidar com a burocracia e fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal e o Ministeacuterio da Agricultura O que nos fez continuar foi a persistecircncia Foi acreditar que daria certo ( BRYAN 2013 p4)

Outro comerciante destaca a importaccedilatildeo de macarratildeo de oacutetima qualidade do paiacutes

vizinhos Em contrapartida os comerciantes peruanos compram milho castanha da

Amazocircnia e Accedilaiacute do Brasil (BRYAN 2013)

Apesar disso no trecho brasileiro a BR-317 ou a estrada do Paciacutefico encontra-se

pavimentada em toda sua extensatildeo somente no territoacuterio acreano todavia no trecho

compreendido entre a cidade de Boca do Acre-AM e a fronteira com o estado do Acre um

trecho de 11070km natildeo encontrasse pavimentado Poreacutem a falta de pavimentaccedilatildeo nesse

trecho da estrada natildeo impede a accedilatildeo antroacutepica sobre o ecossistema principalmente para a

exploraccedilatildeo madeireira e a criaccedilatildeo de gado nessa regiatildeo

Segundo o IBGE (2010) os rebanhos do municiacutepio de Laacutebrea - AM satildeo estimados em

287591 mil cabeccedilas (Figura 51)

161

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas de gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea - AM Fonte Censo Agriacutecola do municiacutepio de Laacutebrea - AM (IBGE 2010)

Um aumento de 98 se comparado ao Censo Agropecuaacuterio realizado em 2004

quando os rebanhos foram estimados em 6593 mil cabeccedilas de gado segundo o IBGE (2004)

Embora poucos pesquisadores associem o aumento no nuacutemero de cabeccedilas de gado agrave

reduccedilatildeo da cobertura vegetal (Tabela 9) foi exatamente isso que aconteceu segundo

(PRODES 2012)

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea - AM

Ano Quantidade estimada de cabeccedilas de gado (SEPLAN)

Desflorestamento (PRODES)

2004 6593 356 2005 6790 386 2007 7027 436 2008 283620 446 2009 287591 452 2010 287591 458

Fonte SEPLAN 20092012 e PRODES 2012 Organizadora Louzada (2013)

Eacute importante salientar tambeacutem a existecircncia de populaccedilotildees indiacutegenas ao longo

dessa rodovia que seratildeo afetadas com a pavimentaccedilatildeo da mesma pois segundo o DNIT

(2008) a estrada possui 225km de sua extensatildeo inseridos em terras indiacutegenas diacutevidas assim

162

5 km dentro das terras TI Boca do Acre e 175km TI nas terras Apurinatilde Todavia a tribo

Camicuatilde tambeacutem seraacute afetada pois estaacute localizada agrave menos de 2km de distacircncia da estrada

(DNIT 2008)

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute

Apesar da construccedilatildeo da BR-317 na deacutecada de 50 outras estradas somente

voltaram a ser construiacutedas no estado do Amazonas a partir do periacuteodo militar entre elas a

BR-307 que teve suas obras iniciadas somente apoacutes a mudanccedila do 1ordm Batalhatildeo de

Engenharia de Construccedilatildeo - BEC que foi deslocado de Caicoacute no estado do Rio Grande do

Norte para o extremo norte do Amazonas no municiacutepio de Satildeo Gabriel da Cachoeira (1ordm

BEC 2012) onde um ano mais tarde em 11 de Marccedilo de 1974 deu inicio a construccedilatildeo da

BR-307 em direccedilatildeo a localidade de Cucuiacute - AM na triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a

Venezuela (Figura 52) Em janeiro de 1982 o 1ordm BEC retornou a Caicoacute ficando em Satildeo

Gabriel da Cachoeira a 21ordm Companhia de Engenharia de Construccedilatildeo de Satildeo Gabriel da

Cachoeira popularmente conhecido como ldquoBatalhatildeo Seridoacuterdquo onde permanece ateacute os dias

atuais

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

163

Com 204 km entre cidade de Satildeo Gabriel da Cachoeira e a localidade de CucuIacute na

triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a Venezuela a BR-307 tinha como principal funccedilatildeo

proteger a fronteira de possiacuteveis ameaccedilas de invasores Entretanto apesar dos esforccedilos do

1ordm BEC para a abertura da rodovia que por sinal demorou quase dez anos (19741982) a

estrada nunca chegou a ser pavimentada ficando somente em solo batido em toda sua

extensatildeo sendo posteriormente coberta com piccedilarra outro problema jaacute que a regiatildeo onde

estaacute localizada a rodovia deteacutem os mais elevados iacutendices pluviomeacutetricos do estado ficando

praticamente intransitaacutevel durante o periacuteodo chuvoso

Mas os problemas da estrada natildeo se limitam somente agrave ausecircncia de asfalto ou ao

alto iacutendice pluviomeacutetrico da regiatildeo mais ao acuacutemulo de muitos outros como as travessias

em trecircs trechos da estrada que eacute cortada por cursos drsquoaacutegua e a retirada da cobertura

vegetal nas margens entre outros problemas como a grilagem de terras e a retirada ilegal

de madeira

A rodovia BR-307 foi traccedilada teoricamente no sentido nortesul de Cucuiacute na

triacuteplice fronteira em direccedilatildeo ao Estado do Acre natildeo se sabe ao certo sua extensatildeo todavia

segundo o IBGE a mesma se encontra traccedilada (o que natildeo quer dizer trafegaacutevel)

Jaacute entre os municiacutepios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte em um trecho de

27km a BR-307 tambeacutem chegou a ser aberta entre as cidades de Benjamin Constant e

Atalaia do Norte (Figura 53 54)

164

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant e Atalaia do Norte Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Figura 54 BR-307- Asfalto cedendo no 22 km Fonte SECON (2012)

165

Segundo o Plano de Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 1970) a cidade de Benjamin

Constant seria o ponto final da BR-230 (Transamazocircnica) todavia no trecho Laacutebrea ndash

Benjamin Constant a mesma nem sequer chegou a ser desmatada se concluiacuteda atravessaria

dois grandiosos rios Purus e o Juruaacute e outros importantes afluentes do rio Solimotildees Talvez

por essa razatildeo ou pela existecircncia de terras indiacutegenas neste trecho a rodovia nunca a chegou

efetivamente implantada ficando somente no papel

43 BR-230 - TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Agrave FAZENDAS DE GADO

Embora jaacute tenha sido descrita a reconfiguraccedilatildeo espacial no estado do Paraacute com a

construccedilatildeo da BR-230 a Transamazocircnica cabe aqui descrever a sua influecircncia no estado do

Amazonas

A rodovia Transamazocircnica corta o sul do estado do Amazonas nos municiacutepios de

Maueacutes Apuiacute Novo Aripuanatilde Manicoreacute Humaitaacute Canutama Laacutebrea (Figura 55)

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Da divisa do estado do Amazonas com o estado do Paraacute a rodovia chegou aacute ser

implantada (entende-se aqui retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem) ateacute a cidade

de Laacutebrea

Assim como ocorreu no Paraacute a rodovia Transamazocircnica tambeacutem permitiu acesso a

lugares pouco ocupados no estado do Amazonas com destaque para os municiacutepios de Apuiacute

a Laacutebrea

O atual municiacutepio de Apuiacute foi um dos primeiros municiacutepios amazonenses a partir da

segunda metade do seacuteculo XX a sofrer pressatildeo ambiental atraveacutes do desmatamento e da

grilagem de terras para a fixaccedilatildeo de novos moradores na regiatildeo oriundos de outros estados

brasileiros

Outro municiacutepio a sentir os primeiros impactos do desmatamento na regiatildeo foi o

municiacutepio de Humaitaacute no sul do Estado do Amazonas pois para efetivar o

ldquodesenvolvimentordquo da regiatildeo sudoeste do Amazonas o Governo Federal fundou o Projeto

de Assentamento Rio Juma atraveacutes do decreto lei nordm 238 de agosto de 1982 tendo como

objetivo principal assentar 7500 famiacutelias recrutadas principalmente da Regiatildeo Sul do Brasil

(LEAL 2010)

Sobre isso Soares apud Leal (2010) afirma que

[] o objetivo definido no projeto de implantaccedilatildeo [do Projeto de Assentamento Rio Juma] era constituir-se e alternativa para absorver o fluxo migratoacuterio proveniente de Rondocircnia e do Acre atraveacutes da BR-319 [] onde se liga agrave rodovia Transamazocircnica Esse Projeto serviria como lsquoinstrumento de ordenaccedilatildeo de ocupaccedilatildeo de terras do Amazonas evitando instruccedilotildees e posses desordenadasrsquo E pressupunha lsquoa expansatildeo da fronteira agriacutecola a criaccedilatildeo de novos empregos aleacutem e contribuir para auto suficiecircncia regional de gecircneros alimentiacutecios de primeira necessidadersquo (SOARES apud LEAL 2010 p10)

Ainda segundo Leal (2010)

Estima-se que logo nos primeiros anos do Projeto cerca de 2600 famiacutelias tenham sido assentadas das quais apenas 40 permaneceram no assentamento Da criaccedilatildeo do projeto em 1982 ateacute o ano de 2005 estima-se que foram assentados 61334 famiacutelias no total mas destas apenas 503 receberam o tiacutetulo definitivo da terra (MDAINCRA apud LEAL 2010 p11)

Durante os anos que se seguiram novos migraccedilotildees chegaram anualmente agrave regiatildeo se

fixando no entorno do Projeto de Assentamento Rio Juma com os anos que se seguiram e o

crescimento da populaccedilatildeo os problemas foram sendo agravados diante disso surgiram

movimentos espontacircneos de agricultores reivindicando junto ao Governo do Estado do

168

Amazonas a fundaccedilatildeo de um municiacutepio na regiatildeo E atraveacutes da lei nordm 1826 de 30 de

Dezembro de 1987 eacute criado o municiacutepio de Apuiacute com aacuterea de 54240 kmsup2 (LEAL 2010)

Aacute medida que os ldquoparceleirosrdquo iam transformando a natureza adequando-a aos seus propoacutesitos esta ia lhes impondo adequaccedilotildees Este era um processo e produccedilatildeo de conhecimento a partir da vivecircncia praacutetica cotidiana que ia moldando o comportamento dos agricultores aos limites impostos pelo meio Uma das primeiras descobertas que vinha acompanhada de certa decepccedilatildeo era o fato de que em um lote de 100 hectares no [Projeto de Assentamento Rio Juma] natildeo garantia da forma desejada pelos ldquoparceleirosrdquo a reproduccedilatildeo social e econocircmica da famiacutelia (LEAL 2010 p 13)

Desta forma os parceleiros ou posseiros como ficaram conhecidos este

agricultores na regiatildeo Amazocircnica se viram obrigados a buscar nova fonte de renda optando

em grande maioria pela pecuaacuteria desde entatildeo

Outro municiacutepio foi Laacutebrea que segundo Heck et al (2013 p10) eacute resultado do

ldquoprocesso de expansatildeo da economia da borracha no rio Purusrdquo Embora isso tenha levado

um raacutepido crescimento populacional agrave regiatildeo fruto das incontaacuteveis migraccedilotildees que a regiatildeo

recebeu com a queda da borracha e os seringueiros restantes migrando para as cidades o

municiacutepio passa a enfrentar graves problemas econocircmicos e sociais e para piorar na

segunda metade do seacuteculo XX passa a sofrer com epidemias o que veio a intensificar os

processos de migraccedilatildeo em direccedilatildeo agraves cidades ldquoPor conta disso enquanto o censo de 1950

apontava [] uma populaccedilatildeo era de 23353 habitantes e no censo de 1970 a populaccedilatildeo

despencou para 16798 habitantesrdquo (HECK et al 2013 p10)

Com o inicio das obras de construccedilatildeo da rodovia Transamazocircnica (1972) e a

veiculaccedilatildeo no raacutedio de terras disponiacuteveis na Amazocircnia para homens sem terras surgem

novamente intensas migraccedilotildees para a regiatildeo oriundas de todas as partes do Brasil por esta

razatildeo o censo demograacutefico do municiacutepio de Laacutebrea de 1980 contabilizou a populaccedilatildeo em

22026 habitantes (IBGE 1980) um aumento de 12 da populaccedilatildeo que continuou a crescer

nas deacutecadas seguintes como mostra a (Tabela 10)

169

Tabela 10 Crescimento Populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas

Ano Populaccedilatildeo de aumento da Populaccedilatildeo

1970 16798 -

1980 22026 12

1990 33050 17

2000 28956 6

2010 37701 11

Fonte IBGE - Censo Demograacutefico (1970 1980 1990 2000 2010)

Tamanho contingente populacional migrou para a regiatildeo desta vez natildeo para

trabalhar na retirada do laacutetex mas para cultivar as terras com destaque para a produccedilatildeo de

alimentos divididos em dois grupos segundo a SEPLAN (20092012 p5) ldquo[] as culturas

temporaacuterias destacam-se mandioca abacaxi arroz batata doce cana de accediluacutecar feijatildeo

fumo e milho Entre as culturas permanentes ressaltam-se banana laranja e limatildeordquo

Todavia o municiacutepio tambeacutem se destaca na pecuaacuteria com a criaccedilatildeo bovina

bubalina ovino suiacuteno estimada em 288793 mil cabeccedilas (SEPLAM 20092013)

Apesar disso os 212 km que separam Laacutebrea de Humaitaacute ainda se encontram

somente em terra ldquobatidardquo (Figura 56) assim como todo o seu percurso no estado do

Amazonas Torna-se praticamente impossiacutevel trafegar pela Transamazocircnica no inverno e

escoar a produccedilatildeo agriacutecola dos municiacutepios entre se ou para a capital mais proacutexima que no

caso de Humaitaacute eacute Porto Velho-RO (pela BR-319) ou no caso de Laacutebrea para Rio Branco-AC

(pela BR-317)

170

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica Fonte Rey (1 de Marccedilo 2012)

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute- RR) DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI

A BR-174 foi construiacuteda com o objetivo de ligar a capital do Estado do Amazonas

Manaus a cidade de Cacaraiacute em Roraima e posteriormente a Venezuela (Figura 57)

171

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174 Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Entre as estradas jaacute construiacutedas no Estado do Amazonas a BR-174 merece

destaque pois ao contraacuterio das demais a sua construccedilatildeo resultou em milhares de mortes

chegando ateacute mesmo a ser considerada um genociacutedio praticado por militares contra a

populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari que antes da construccedilatildeo da rodovia ocupavam o norte

da cidade de Manaus - AM e se entendiam ateacute a cidade de Caracaraiacute em Roraima

Segundo Amazonas (2012) a primeira contagem da populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri

Atroari feita em 1905 pelos pesquisadores alematildees Georg Hunbner e Theodor Koch-

Grunberg contabilizaram 6000 mil indiviacuteduos Outra contagem dessa populaccedilatildeo somente

voltou a ser feita 63 anos depois da primeira em 1968 pelo padre Joatildeo Calleri a serviccedilo da

FUNAI que os contabilizou em 3000 mil indiviacuteduos

Nuacutemero que se repetiu em pesquisa mais minuciosa de funcionaacuterios do mesmo

oacutergatildeo em 1972 Menos de dois anos apoacutes sem notiacutecias sobre alguma grave

epidemia a FUNAI jaacute os estimava em menos de 1000 Em 1983 o pesquisador da

UNB Stephen Grant Baines percorrendo todas as aldeias contabilizou apenas 332

pessoas sobreviventes dos quais 216 eram crianccedilas ou jovens com menos de 20

anos Foi o primeiro censo dos Waimiri-Atroari (AMAZONAS 2012)

172

Sem informaccedilotildees ou notiacutecias de epidemias ou graves doenccedilas entre a populaccedilatildeo

indiacutegena Waimiri-Atroari como explicar o decreacutescimo da populaccedilatildeo ao longo de sessenta e

trecircs anos entre a primeira contagem e a segunda da populaccedilatildeo indiacutegena demonstrada na

Tabela 11

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari de 1905 a 2011

Ano Populaccedilatildeo Fonte 1905 6000 HUumlBNER Georg e KOCH-GRUNBERG Theodor 1968 3000 CALLERI Joatildeo Giovanni (Pe) ndash FUNAI 1972 3000 FUNAI 1974 6001000 COSTA Gilberto Pinto Figueiredo ndash FUNAI 1982 571 CRAVEIRO Giusepe ndash FUNAI 1983 350 FUNAI 1983 332 BAINES Stephen Grant ndash Museu Emilio Goeldi 1987 420 SILVA Marcio ndash UNICAMP 1991 505 Programa Waimiri-Atroari - ELETRONORTE 2011 1515 Programa Waimiri-Atroari ndash ELETROBRAS

Sobre isso Carvalho (1982) destaca atraveacutes de uma retrospectiva histoacuterica o

contato dos brancos com os iacutendios Wamiri Atroari a partir do seacuteculo XVII sempre baseado

em trocas e ldquoconflitosrdquo quando homens brancos invadiam suas terras e incendiavam aldeias

inteiras matando todos os iacutendios sem distinccedilatildeo e atirando nos que tentavam escapar

Carvalho (1982) relata ainda que na primeira deacutecada do seacuteculo XX incontaacuteveis

expediccedilotildees penetraram as terras indiacutegenas Waimiri Atroari em busca das castanheiras pois

naquele periacuteodo seu fruto a castanha da Amazocircnia alcanccedilou preccedilos inimaginaacuteveis

motivando um grande segmento da sociedade civil agrave invadir as terras indiacutegenas em busca do

fruto

Os governos do Estado do Amazonas sempre visando a economia do estado e de

grupos poliacuteticos dominantes permitiam e ate mesmo determinavam a invasatildeo das

terras dos iacutendios Waimiri Atroari provocando assim seacuterios atritos entre os

coletores de castanha e iacutendios

O primeiro encarregado do Posto lndiacutegena de Atraccedilatildeo do Serviccedilo de Proteccedilatildeo aos

Iacutendios mdash SPI foi o Sr Gregoacuterio Horta cuja unidade administrativa foi instalada no

rio Jauaperi no lugar denominado Mahaua Sr Gregoacuterio tatildeo logo assumiu suas

funccedilotildees procurou impedir por todos os meios possiacuteveis a invasatildeo do territoacuterio

indiacutegena Waimiri Atroari Entretanto pouco pode fazer pois os comerciantes

apoiados pelos poliacuteticos de Manaus burlavam as ordens de natildeo o invadirem a terra

dos iacutendios (CARVALHO 1982 p17)

Fonte 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio do Povo Waimiri-Atroari

173

Mesmo com a tentativa de proibir as invasotildees das terras indiacutegenas de todas as

maneiras possiacuteveis a Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio- SPI pouco se conseguiu para minimizar

os conflitos que por sua vez tornaram-se frequentes com grande nuacutemero de mortes o que

levou o governo do estado do Amazonas a aprovar o Decreto Lei nordm 9941 de 16 de Outubro

de 1917 que concedia aos iacutendios Waimiri Atroari as terras situadas a 50km ajusante dos rios

Jauapari e Camanau (CARVALHO 1982) Expulsando os iacutendios para o norte e os tirando de

suas proacuteprias terras para destinaacute-las agrave exploraccedilatildeo de castanha O que a princiacutepio seriam

ldquobomrdquo para os dois lados pois minimizaria os confrontos tornou-se insuficiente pois as

invasotildees continuaram adentrando as terras indiacutegenas gerando novos confrontos cada vez

mais violentos e com mais mortes Apesar disso a coleta da castanha da Amazocircnia somente

aumentava a produccedilatildeo a cada ano levando os coletores a iniciarem verdadeiras caccediladas

aos iacutendios que consistia em atirar para matar todos os iacutendios que fossem vistos na floresta

de formar a manter seguro os coletores (CARVALHO 1982)

Com os conflitos fora de qualquer forma de controle e o assassinato do diretor do

Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio sr Luiacutes Joseacute pelos invasores das terras indiacutegenas o SPI foi

obrigado a se retirar das terras indiacutegenas deixando os iacutendios a mercecirc da proacutepria sorte para

onde soacute retornariam na deacutecada de 1940 (CARVALHO 1982)

Amedrontados com os massacres infringidos por homens brancos dentro de suas

proacuteprias terras durante quase cinquentas anos os iacutendios mataram o tenente americano

Walter Willianson e sargento Baitz do ldquo4th Photo Charting Squadronrdquo em 1944

[]que pretendiam realizar uma expediccedilatildeo pelos rios Jauaperi e Alalau ateacute as

proximidades da cachoeira conhecida como a cachoeira criminosa (Rio Alalau) com a finalidade de realizar naquela regiatildeo observaccedilotildees astronocircmicas atendendo acordos celebrados entre o governo brasileiro e governo dos Estados Unidos da America (CARVALHO 1982 p 21)

Apoacutes este confronto com mortes muitos outros se seguiram contudo natildeo tatildeo

divulgados como esse Embora agrave primeira vista nada tenha a ver com o ocorrido a Empresa

de Mineraccedilatildeo Taboca iniciou suas pesquisas mineraloacutegicas na mina de Pitinga (no centro

das terras indiacutegenas) no inicio de 1960 onde mais tarde comeccedilou a retirada de estanho

(SILVA 2011) posteriormente de cassiterita entre outros produtos minerais

No mesmo periacuteodo iniciou-se a preocupaccedilatildeo de ligar definitivamente a capital

Manaus-AM agrave cidade de Boa Vista-RR ateacute entatildeo isolada embora outras tentativas de ligar

174

as duas cidades por via terrestre jaacute tenham sido realizadas sem muito ecircxito como descreve

Carvalho (1982)

Os trabalhos de construccedilatildeo da estrada (ligando Manaus a Boa Vista) foram iniciados em 31 de novembro de 1893 e concluiacutedos em 13 de janeiro de 1895 A construccedilatildeo da estrada foi feita em 14 meses medindo 815 km e 419 metros Foram cravados em toda sua extensatildeo 816 marcos de um metro de altura A estrada tinha uma largura que variava de 05 a 08 metros Atravessava 9 rios e 734 igarapeacutes Natildeo se tem nenhum registro de incidentes graves envolvendo trabalhadores da estrada e os iacutendios habitantes na regiatildeo onde a estrada passou Entretanto em pouco tempo a vegetaccedilatildeo cresceu e a estrada ficou novamente intransitaacutevel (CARVALHO 1982 p 61)

Ainda segundo Carvalho (1982)

O ministeacuterio do transporte atraveacutes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens- DNER antes do iniacutecio da construccedilatildeo da estrada propriamente dita preocupado apenas em evitar que os trabalhos da estrada viessem a ser interrompidos pelos iacutendios Waimiri Atroari procurou a Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio- FUNAI e praticamente exigiu que aquele oacutergatildeo fizesse o mais raacutepido possiacutevel a ldquopacificaccedilatildeordquo daqueles iacutendios no menor espaccedilo de tempo para quando os trabalhadores da construccedilatildeo da rodovia atingissem a regiatildeo ocupada pelos iacutendios esses jaacute estivessem ldquomansosrdquo e ateacute viessem a colaborar como matildeo de obra da construccedilatildeo da estrada (CARVALHO 1982 p 62)

O que claramente seria impossiacutevel conseguir em tatildeo curto espaccedilo de tempo apagar

as longas deacutecadas de perseguiccedilatildeo infringidas pelos brancos

Segundo Amazonas (2012 p23)

O Coronel Mauro Carijoacute Diretor do DERAM (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Amazonas) em carta agrave PETROBRASEscritoacuterio de Beleacutem de 30 de julho de 1967 solicitou ldquoinformaccedilatildeo sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboraccedilatildeo de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonasrdquo(AMAZONAS 2012 p23)

Naquele mesmo ano iniciam-se as obras de construccedilatildeo da BR-174 sob

responsabilidade do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado do Amazonas-DER-

AM permanecendo sob supervisatildeo do Departamento Nacional de Estrada de Rodagens ndash

DNER (CARVALHO 1982)

Por falta de recursos financeiros a construccedilatildeo da rodovia foi suspensa

temporariamente sendo retomada no final de 1969 e inicio de 1970 jaacute sobe

responsabilidade do 29ordm Grupamento de Engenharia e Construccedilatildeo e o 69ordm Batalhatildeo de

Construccedilatildeo do Exeacutercito Brasileiro o que veio a intensificar ainda mais os ldquoconflitosrdquo entre

brancos e iacutendios

175

Amazonas (2012) relata a entrevista do general Arruda comandante do 6ordm Batalhatildeo

de Engenharia e Construccedilatildeo- BEC ao Jornal Estado de Satildeo Paulo em 21 de Janeiro de 1975

O general declarou

[] a estrada eacute irreversiacutevel como eacute a integraccedilatildeo da Amazocircnia ao paiacutes A estrada eacute importante e teraacute que ser construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos mudar o seu traccedilado que seria oneroso para o Batalhatildeo apenas para pacificarmos primeiro os iacutendios A transferecircncia eacute viaacutevel e coerente nas condiccedilotildees em que os fatos se apresentam Os iacutendios continuaratildeo matando sejam trabalhadores do BEC sejam da Funai Por que natildeo levaacute-los ao Parque Nacional do Xingu Laacute natildeo existem cerca de 14 tribos vivendo pacificamente Manaus-Caracaraiacute seraacute construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos parar os trabalhos apenas para que a Funai complete a atraccedilatildeo dos iacutendiosrdquo (AMAZONAS 2012 p42)

Um ano antes em 1974 os iacutendios jaacute foram contabilizados entre 600 e 1000

indiviacuteduos segundo a contagem de Gilberto Costa funcionaacuterio da FUNAI (AMAZONAS 2012)

O principal impacto natildeo soacute aos iacutendios mas agrave biodiversidade da Amazocircnia ainda

estava por vir Expulsos de suas terras ajusante do Rio Alalauacute e Uatumatilde os iacutendios Waimiri

Atroari se viram obrigados a recuar abandonando o seu territoacuterio original Com o recuo dos

iacutendios remanescentes em sua maioria mulheres idosas e crianccedilas de colo seu antigo

territoacuterio passa a ser ocupado por grileiros e empresas madeireiras que viriam a ser um dos

responsaacuteveis pelas grandes mudanccedilas empreendidas na paisagem amazocircnica

Com a decisatildeo do Governo Federal de instalar usinas hidreleacutetricas na Amazocircnia a

partir da deacutecada de 1970 cogitou-se a possibilidade de o rio Uatumatilde ser ldquobeneficiadordquo

embora natildeo detenha as caracteriacutesticas miacutenimas necessaacuterias para a construccedilatildeo de uma

hidreleacutetrica em seu percurso Natildeo se sabe ao certo os motivos que levaram agrave construccedilatildeo da

hidreleacutetrica embora infinitas possibilidades tenham sido levantadas no periacuteodo Entre elas

ldquo[] a necessidade de prover energia para os entatildeo Polos de Desenvolvimento que

priorizava 15 aacutereas na Amazocircnia sendo uma delas a regiatildeo de Manausrdquo (PAZ 2006 p172)

Sobre isto Fearnside (1990c) destaca

A decisatildeo foi tomada no momento em que o preccedilo do petroacuteleo estava no seu pico mais alto e quando a tecnologia de transmissatildeo de energia a longa distacircncia natildeo era tatildeo bem desenvolvida quanto agora Estes fatos acrescidos das subestimativas grosseiras do crescimento da populaccedilatildeo e da demanda de energia em Manaus satildeo as explicaccedilotildees oficiais para a decisatildeo inicial que a ELETRONORTE admite natildeo teria sido justificaacutevel se os acontecimentos da uacuteltima deacutecada (80) tivessem sido conhecidos de antematildeo (FEARNSIDE apud LOPES 1990c p14)

176

Fearnside (1990c) afirma ainda que outra motivaccedilatildeo por traacutes da construccedilatildeo de

ldquoBalbina envolve a indenizaccedilatildeo que os donos das terras receberiam Mapas da Eletronorte

indicam que com exceccedilatildeo das terras tomadas da tribo Waimiri Atroari quase toda a aacuterea do

projeto pertence a particularesrdquo (FEARNSIDE 1990c p16)

No inicio da deacutecada 70 diversos projetos de mapeamento geomorfoloacutegicos viriam a

detectar potencial mineraloacutegico na regiatildeo com destaque para o Projeto RADAMBRASIL

(1970) pioneiro no mapeamento em escala de 11000000 Projeto Norte da Amazocircnia

Domiacutenio do Baixo Rio Negro (1974) O projeto Estanho de Abonari (1976) seria o primeiro a

direcionar os estudos agrave regiatildeo e por uacuteltimo Projeto Sulfetos do Uatumatilde (1979) (CPRM 1998)

desvendaria todos os tipos de mineacuterios disponiacuteveis na bacia do rio Uatumatilde e seus afluentes

o que determinaria o futuro da regiatildeo Motivo popularmente mais aceito para a construccedilatildeo

da hidreleacutetrica de Balbina pois facilitaria a extraccedilatildeo de mineacuterios da aacuterea especialmente a

cassiterita (estanho) (FEARNSIDE 1990c p15)

Apesar de estudos ambientais para a construccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Ballbina terem

sido iniciados em 1979 natildeo serviam de base para a decisatildeo jaacute tomada da implantaccedilatildeo da

obra apesar dos estudiosos se mostrarem abertamente contra a obra faraocircnica (PAZ 2006)

Com o Decreto Presidencial nordm 85898 de 13 de abril de 1981 desapropriando uma

aacuterea de 1034490kmsup2 tem inicio a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de Balbina (PAZ 2006

p176)

Com o inicio do Projeto Pitinga (do Grupo Paranapanema a montante da Usina

Hidreleacutetrica de Balbina para a retirada de cassiterita) em 1980 iniciam-se tambeacutem as

pressotildees sobre o Ministeacuterio do Interior de forma a conseguir a reduccedilatildeo novamente da

Reserva Indiacutegena alcanccedilada pelo Decreto Lei nordm 86630 de 23 de novembro de 1981 que

perde 526800ha (PAZ 2006 p178) para a exploraccedilatildeo mineral da Mineradora Taboca

(Grupo Paranapanema)

Segundo Fearnside (1990c)

Devido aos impactos sobre os Waimiri-Atroari impliacutecito nos planos para Balbina a Franccedila e o Brasil foram acusados de genociacutedio no Quarto Tribunal Bertrand Russel em Rotterdam na Holanda em novembro de 1980 Severos como os impactos do reservatoacuterio a sua classificaccedilatildeo como ldquogenociacutediordquo foi provavelmente influenciada mais pelos massacres associados aacute atividades (brasileiras) de construccedilatildeo rodoviaacuteria no territoacuterio da tribo durante a eacutepoca em que Balbina estava em fase de planejamento em especial em 1974 - 1975 (FEARNISIDE 1990c p33)

177

Foi agrave Franccedila o primeiro paiacutes a contribuir com financiamento para construccedilatildeo da

Hidreleacutetrica de Balbina e o fornecimento de suas duas primeiras turbinas Apesar da

descoberta do ouro na aacuterea que seria inundada pouco foi feito para frear a sua construccedilatildeo

pois segundo o ldquoDepartamento de Produccedilatildeo Mineral natildeo foi encontrada nenhuma grande

jazidardquo (FEARNSIDE 1990c p16)

Sobre a aacuterea a ser inunda pela Usina Hidreleacutetrica de Balbina Baines (2012) descreve

que haacute poucos meses antes da inundaccedilatildeo e do fechamento das comportas da empresa foi

feito um relatoacuterio de impacto ambiental destacando as aacutereas e as benfeitorias que existiam

nas terras casas galinheiros casas de farinha plantaccedilotildees de bananeiras entre outras

culturas (BAINES 2012) que seriam inundadas dentro da reserva indiacutegena original quando

as comportas fossem fechadas em outubro de 1987

Com o fechamento das comportas prestes a acontecer a Eletronorte e a Funai

entraram em acordo atraveacutes da adoccedilatildeo de medidas mitigadoras que consistiam em criar

um programa chamado Programa Waimiri Atroari PWAIFE que tivesse como objetivos

recompensar os iacutendios da etnia Waimiri Atroari pela perda de suas terras (PAZ 2006)

Sobre isso Baines (1993) destaca que o programa Programa-Waimiri conseguiria

significativos benefiacutecios agrave populaccedilatildeo indiacutegena principalmente na aacuterea da sauacutede e na

homologaccedilatildeo de terras

Ainda sobre a inundaccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Balbina Fearnside (1990c) aponta

A perda da floresta eacute um dos principais custos de grandes represas como Balbina A aacuterea prejudicada eacute muito maior que os 2360kmsup2 realmente inundados jaacute que a inclusatildeo de ilhas aproximadamente duplica a aacuterea afetada Apesar da promoccedilatildeo pela ELETRONORTE das ilhas como tendo ldquocondiccedilotildees de vida para animais e plantas [] sabe-se que uma floresta dividida em pequenos fragmentos perde muitas espeacutecies de animais e plantas aacute medida em que os pedaccedilos isolados de floresta se degradamrdquo (FEARNSIDE apud LOVEJOY et al 1990c p26)

Fearnside (1990c) vai aleacutem ao afirmar que natildeo se sabe ao certo o tamanho da aacuterea

que foi inundada devido agraves informaccedilotildees serem baseadas em fotografias aeacutereas onde as

fotos registram o niacutevel da copa das aacutervores e natildeo o chatildeo por debaixo delas ldquojaacute que uma

parte significativa da represa teraacute apenas um ou dois metros de profundidade erros desta

grandeza podem facilmente alterar o resultado finalrdquo (FEARNSIDE 1990c p26)

Inaugurada parcialmente em outubro de 1987 a Usina Hidreleacutetrica de Balbina teve

somente uma turbina ligada o que natildeo impediu que houvesse mortandade de peixes em

178

grande quantidade ajusante da mesma principalmente provocada pela aacutegua carregada de

gaacutes metano e resiacuteduos em decomposiccedilatildeo das aacutervores natildeo retiradas de dentro da barragem

Sobre isso Fearnside (1990c) relata ainda que foram submersos 288msup3 de

madeira nobre por hectare um total calculado em 68 milhotildees de msup3 de madeira na aacuterea de

2360kmsup2 do reservatoacuterio ficaram apodrecendo na aacutegua

Baldisseri (2005) vai aleacutem comparando o tamanho do reservatoacuterio de Balbina ao de

reservatoacuterio da Usina Hidreleacutetrica de Tucuruiacute

[] cuja capacidade nominal eacute de 8 mil MW o que significa que Balbina sacrificou 31 vezes mais floresta por MW de capacidade de geraccedilatildeo instalada quando comparada agravequele Aleacutem disso o reservatoacuterio de Balbina alagou cerca de 240 mil ha de floresta tropical contendo siacutetios arqueoloacutegicos e parte da reserva indiacutegena dos Waimiri-Atroari (BALDISSERI 2005 p1435)

Ainda continua destacando a pouca declividade do lago de Balbina que ocupa uma

aacuterea de 2360kmsup2 mas

[]apresenta uma profundidade meacutedia de 7 m chegando a menos de 4 m em cerca de 33 de sua aacuterea total Nesta extensa aacuterea de aacuteguas rasas haacute a sustentaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo aquaacutetica enraizada no fundo que adicionada ao problema de macroacutefitas flutuantes afeta toda a represa aumentando os iacutendices de perda de aacutegua por evapotranspiraccedilatildeo (BALDISSERI 2005 p1436)

Apoacutes a sua inauguraccedilatildeo outros problemas se seguiram entre eles a lenta subida das

aacuteguas dentro da barragem em parte por causa da pouca declividade do terreno em parte

pela evapotranspiraccedilatildeo Sendo a segunda turbina ligada somente dois anos depois da

inauguraccedilatildeo em 1989

No mesmo ano a populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atrori teve suas terras demarcadas

definitivamente (FIGURA 58)

179

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180

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO

A rodovia BR-319 foi instituiacuteda pelo Decreto Lei nordm 1106 de marccedilo de 1970 como

parte do Plano Nacional de Viaccedilatildeo que tinha como prioridade maacutexima a integraccedilatildeo

nacional

A BR-319 ligaria por via terrestre as cidades de Manaus-AM a Porto Velho-RO

facilitando assim o escoamento da produccedilatildeo da Zona Franca de Manaus ndash ZFM criada pelo

Decreto Lei nordm 288 de 29 de Fevereiro de 1967 que estabelecia incentivos fiscais por trinta

anos para a implantaccedilatildeo de um polo industrial comercial e agropecuaacuterio no estado do

Amazonas (SUFRAMA 1996)

No mesmo ano de 1967 por meio do Decreto-Lei nordm 291 o Governo Federal define a Amazocircnia Ocidental tal como ela eacute conhecida abrangendo os Estados do

Amazonas Acre Rondocircnia e Roraima A medida visava promover a ocupaccedilatildeo dessa regiatildeo e elevar o niacutevel de seguranccedila para manutenccedilatildeo da sua integridade Um ano

depois em 15 de agosto de 1968 por meio do Decreto-Lei Nordm 35668 o Governo Federal estendeu parte dos benefiacutecios do modelo ZFM a toda a Amazocircnia

Ocidental (SUFRAMA 1996)

Desse modo se fazia extremamente importante interligar o estado do Amazonas e

promover a sua ocupaccedilatildeo nada melhor do que ligaacute-lo por via terrestre ao estado de

Rondocircnia que por sua vez sofria uma grande explosatildeo populacional causada pela

ldquoimplantaccedilatildeo da rodovia Cuiabaacute ndash Porto Velho (BR-364) com traacutefego permanente a partir de

1968 e as notiacutecias das disponibilidade de terras provocaram uma mudanccedila niacutetida no fluxo

migratoacuteriordquo (CUNHA 2009 p12)

Com a publicaccedilatildeo do Decreto Lei de nordm 5173 de outubro de 1966 no qual o

governo federal considerava indispensaacutevel a seguranccedila e ao desenvolvimento nacional as

terras situadas na faixa de 100km de largura em cada lado do eixo rodoviaacuterio construiacutedo ou

planejado na Amazocircnia Legal deveriam ser ocupadas (revogado pelo Decreto Lei nordm 2375

de 1987) (FEARNSIDE 2009d)

Sobre o fluxo migratoacuterio Cunha (2009) destaca

No cocircmputo geral os maiores contingentes migratoacuterio no dececircnio 196070 procedeu do Amazonas do proacuteprio territoacuterio do Mato Grosso do Acre e do Paranaacute Os deslocamentos dentro do territoacuterio se devem a procura de aacutereas de solos melhores e mais bem servidas de transportes com preferecircncia para as situadas ao longo da BR-364 Segundo os dados censitaacuterios a entrada de migrantes

181

no periacuteodo 195060 foi considerada de 23156 O maior contingente procedeu da Amazocircnia com 12873 migrantes entre os quais Amazonas com 8147 nordeste com 5693 dos quais 4439 cearenses Entre as transformaccedilotildees ocorridas na economia regional deve ser considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura devido a criaccedilatildeo das colocircnias agriacutecolas pelo governo abastecimento das cidades de Porto Velho e Guajaraacute Mirim (CUNHA 2009 p15)

Rodrigues (2013) evidecircncia

[] Rondocircnia foi outro estado profundamente impactado ou melhor mais beneficiado com o forte processo migratoacuterio ocorrido Na Tabela 7 estaacute demonstrado todo o crescimento demograacutefico dos estados do Norte a partir dos anos 50 elucidando como esses impactos foram sentidos em todas as unidades federativas da regiatildeo no entanto de forma diferenciada entre eles (RODRIGUES 2013 p118)

O autor afirma isto baseado no crescimento populacional da regiatildeo norte entre os

anos 1950 e 2010 (Tabela 12)

182

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183

Rodrigues apud Benchimol (2012) descreve que

[] as correntes migratoacuterias que se dirigiram para Rondocircnia tiveram especifica motivaccedilatildeo assentamento agriacutecola nos projetos de colonizaccedilatildeo do INGRA voltados para a pequena e meacutedia propriedade familiar [] Por fim o estado do Amazonas teve senatildeo um uacutenico ao menos hegemocircnico chamariz migratoacuterio a criaccedilatildeo da Zona Franca de Manaus em 1967 (RODRIGUES apud BENCHIMOL 2013 p120)

Todavia no caso ligar Porto Velho agrave Manaus os esforccedilos satildeo anteriores a instalaccedilatildeo

da Zona Franca de Manaus pois ldquoEm 1955 o DER-AM (Departamento de Estrada e Rodagem

do Amazonas) realizou o projeto geomeacutetrico de 193km da rodovia entre Porto Velho e

Humaitaacute e trecircs anos depois foi realizado o serviccedilo de desmatamento no trecho com largura

de 60 metrosrdquo (UFAM2009 vol1 p29) Faltando somente o trecho Humaitaacute ndash Manaus

para completar uma rodovia ligando Manaus aos outros estados da regiatildeo centro oeste e ao

sul do paiacutes o que soacute viria a ser colocado em praacutetica quando a responsabilidade dessa

construccedilatildeo fosse delegada ao estado o que ocorreu em 1966 cabendo

ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-AM) o controle e a fiscalizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia BR-319 graccedila a um termo de convecircnio celebrado com o Ministeacuterio dos Transportes e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem ndash DNER (UFAM 2009 vol1 p29)

Sobre isso DNIT apud UFAM (2009) afirmam que ldquoem 06 de maio de 1968 o DER-

AM firmou dois contratos com a construtora Andrade Gutieacuterrez SA para a execuccedilatildeo de

obras de implantaccedilatildeo baacutesica da rodovia nos sub trechos Careiro da Vaacuterzea e o Rio Matuperi

(326km) e do rio Matuperi a Porto Velho (426 km) (UFAM2009 vol1 p30)

Em entrevista com os moradores da Comunidade da Bela Vista o Sr Silva (77 anos)

disse ter trabalhado na construccedilatildeo da BR-319

[] em 1970 daqui do Careiro do outro lado ateacute leacutem baixo perto de Miracena eu trabalhava no trator eu e o outro colega iamos na frente com a corrente durrubando a floresta dando o abraccedilo da morte era um barrulho muito alto muita gente que trabalhava laacute dizia que era a floresta chorando pois tava caindo Era cada aacutervore grande bonita mas a gente piatildeo tinha que botar no chatildeo eu fazio o que me mandavam Nunca comi tanta caccedila como comi na construccedilatildeo da estrada era bom e triste ao mesmo tempo eu natildeo sei explicarrdquo ( SILVA 77 ANOS)

O entrevistado refere-se agrave teacutecnica utilizada na derrubada da floresta para a

construccedilatildeo da rodovia que consistia de dois tratores relativamente afastados mas

paralelos que arrastavam uma gigantesca corrente de ferro fundido que por sua vez era

pressionado contra o tronco das aacutervores derrubando as mesmas no traccedilado da rodovia

184

teacutecnica popularmente conhecida na regiatildeo como ldquoAbraccedilo da Morterdquo Ao mesmo tempo o Sr

Silva mostrou-se ressentido por ser obrigado a derrubar a floresta ldquoEra cada aacutervore grande

bonita mas a gente piatildeo tinha que fazer o que me mandavamrdquo(SILVA 77 ANOS)

Ainda sobre a construccedilatildeo o Sr Silva (77 anos) disse

natildeo tinha piatildeo que aguentasse muito tempo trabalhando laacute de dia era o choro das aacutervores caindo no chatildeo dava muita tristeza vecirc doiacutea ateacute o coraccedilatildeo de noite eram os bichos da floresta gritando as onccedilas passando ainda mais quando sumia gente e a gente que ficava natildeo encontrava nem o chinelo para contar histoacuteria dava muito medo Isso sem falar quando botava pra chover chovia muito muito tinha ateacute que cobrir o asfalto com uma lona e a lama que ficava era horriacutevel (SILVA 77 ANOS)

Para Fearnside (2009d) a pressa era tanta de se terminar a BR-319 que a rodovia

foi pavimentada imediatamente na hora da construccedilatildeo que por final foi construiacuteda na

estaccedilatildeo chuvosa ldquocom a extraordinaacuteria praacutetica de proteger o asfalto fresco com lonas de

plaacutesticordquo (FEARNSIDE 2009d p20)

Em 1970 uma ediccedilatildeo especial do Jornal do Comercio anunciava que o trecho Porto Velho ndash Humaitaacute jaacute apresentava condiccedilotildees de traacutefego enquanto o trecho Humaitaacute ndash Manaus estava com o desmatamento completo e boa parte da terraplanagem estava realizada A cargo da construtora Andrade Gutierrez as obras caminhavam e a expectativa com a conclusatildeo dos trabalhos era chegar ao ldquotermo final do longo isolamento em que esteve nosso Estado sem ligaccedilatildeo rodoviaacuteria com o centro-sul do paiacutes abrindo ao Amazonas amplas perspectivas de desenvolvimentordquo A despeito de todas as expectativas as dificuldades natildeo eram despreziacuteveis e os prazos contratuais natildeo foram cumpridos a despeito da forte pressatildeo do governo federal para a conclusatildeo urgente da obra (UFAM 2009 vol1 p30)

A rodovia BR-319 somente foi inaugurada ldquoem 27 de marccedilo de 1976

completamente pavimentada garantindo traacutefego faacutecil com tempo de viagem de Manaus agrave

Porto Velho estimado em 12 horasrdquo (UFAM 2009 vol1 p30) Uma estimativa longa se

comparada ao tamanho da rodovia que eacute de 87740km Todavia eacute justificaacutevel pois a mesma

apresentava 19 cursos drsquoaacuteguas de diferentes larguras e profundidades (UFAM 2009 RIMA

p10) Na maioria dos cursos drsquoaacutegua foram construiacutedas pontes de madeira em outros cursos

maiores as travessias eram feitas por pequenas balsas (Figura 59)

185

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319 Fonte EIA-RIMA Relatoacuterio FINAL (UFAM 2009)

Com ausecircncia de manutenccedilatildeo nos anos que se seguiram agrave sua inauguraccedilatildeo a

rodovia BR-319 comeccedilou a se deteriorar Primeiramente as pontes construiacutedas de madeira

retiradas da proacutepria floresta sobre os cursos drsquoaacutegua foram se deteriorando e pouco tempo

depois o asfalto

A camada fina de asfalto na BR-319 se tornou uma seacuterie quase contiacutenua de buracos que satildeo ambos mais difiacuteceis de consertar e mais danosos aos veiacuteculos do que seria o caso de uma estrada sem pavimento Muito da rota teve que ser desviado para trilhas temporaacuterias ao lado da estrada mais do que o proacuteprio leito da rodovia (FEARNSIDE 2009 p22)

Isso sem levar em conta que na deacutecada de 70 a produccedilatildeo da Zona Franca de

Manaus foi exportada de forma mais barata por meio de navios e ateacute por via aeacuterea

(FEARNSIDE 2009d)

Apesar das precaacuterias condiccedilotildees da BR-319 a mesma permaneceu aberta ao traacutefego

ateacute maio de 1988 quando os serviccedilos de transporte rodoviaacuterio entre as capitais Manaus-AM

e Porto Velho-RO foram suspensos devido agraves peacutessimas condiccedilotildees da rodovia como

permanece ateacute hoje sem condiccedilotildees de trafegar

Embora muitos amazonenses e rondonienses de modo geral se mostrem favoraacuteveis

agrave reabertura da BR-319 como se tem cogitado inuacutemeras vezes nas uacuteltimas deacutecadas satildeo os

186

amazonenses que se mostram mais receosos com essa probabilidade referindo-se a ela

como ldquoa destruidora da floresta quando abertardquo usando como referecircncia a construccedilatildeo da

rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia ou ateacute mesmo o trecho ainda trafegaacutevel da BR-319 ateacute os dias

atuais localizado entre Porto Velho-RO e Humaitaacute-AM pois o mesmo

[] foi colonizado por pequenos agricultores em lotes de 100ha distribuiacutedos pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INGRA) A maioria destes lotes jaacute mudou de matildeos uma ou mais vezes ateacute agora e estaacute consolidada em pequenas ldquofazendolasrdquo de 500ha ou mais (FEARNSIDE 2009d p22)

Sobre isso o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2013d) aponta o municiacutepio de Humaitaacute no

sul do estado como tendo a maior demanda por regularizaccedilatildeo fundiaacuteria do Estado do

Amazonas

Satildeo problemas de origem antiga e aparecem principalmente a partir da abertura das rodovias Transamazocircnica (BR-230) e BR-319 A histoacuteria da ocupaccedilatildeo se relaciona aos dois ciclos da borracha e se intensifica na deacutecada de 1970 como resultado dos projetos de colonizaccedilatildeo e das poliacuteticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo militar na Amazocircnia (MISTEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL 2013 p9)

Com territoacuterio de 33 07179kmsup2 o municiacutepio de Humaitaacute tem 1335977ha

demarcados como reservas indiacutegenas de 8 etnias (Pirahatilde Diahui Ipixuna Nove de Janeiro

Tenharim Marmelos Tenharim Marmelos (Gleba B) Sepoti Toraacute) e ainda conta com uma

unidade de conservaccedilatildeo federal a Floresta Nacional de Humaitaacute com aacuterea de 47315466ha

(ICMBIO 2013) localizada no sul do municiacutepio

Apesar disso os conflitos entre agricultores e posseiros tornaram-se comuns ao

longo das rodovias BR-319 e BR-230 onde estaacute localizada a maioria dos assentamentos

agraacuterios realizados pelo INCRA na deacutecada de 70

Sobre isso Fearnside (2009) afirma que a regiatildeo de Manaus tem sido poupada de

conflitos agraacuterios resultantes de busca por terra tais como a invasatildeo de fazendas por sem

terras e o ciclo resultante de desmatamento onde os posseiros desmatam para estabelecer

agraves suas reivindicaccedilotildees e os grandes proprietaacuterios de terras desmatam para evitar que as

terras sejam invadidas ou entatildeo confiscadas pelo governo para fins de reforma agraacuteria

O Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica Brasileira por Sateacutelite- PRODES

(2012) confirmar a preocupaccedilatildeo de Fearnside (2009) (Tabela 13)

187

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000 - 2012)

Embora a perda total de cobertura vegetal possa parecer pequena se comparada

ao tamanho do territoacuterio aacute mesma natildeo foi uma vez que foi sobre aacutereas que por lei

deveriam ser mantidas preservadas O mesmo poderia ter ocorrido em toda a BR-319 se ela

natildeo tivesse tido o seu traacutefego suspenso em 1988

Para Rodrigues apud Macedo et al (2009) o municiacutepio de Humaitaacute sofre os efeitos

do deslocamento de atividades capitalizadas do Mato Grosso em direccedilatildeo a terras

ldquodisponiacuteveisrdquo do Estado do Amazonas

Segundo Macedo et al (2009)

No municiacutepio de Humaitaacute (AM) as apreensotildees com relaccedilatildeo a esse processo se pronunciam sob diferentes aspectos de um lado expectativas de uma produccedilatildeo de gratildeos em larga escala cujas vantagens derivariam do baixo custo de escoamento da produccedilatildeo pela hidrovias dos rios Madeira e Amazonas ateacute o porto da cidade de Itacoatiara por outro lado preocupaccedilotildees quanto agrave sustentabilidade dos solos predominantes nas aacutereas de expansatildeo inicial das culturas de gratildeos (Plintossolos ndash fase cerrado) questionam a sustentabilidade desta classe de solo tanto econocircmica quanto ambiental deste sistema de uso da terra (MACEDO et al 2009 p5934)

Humaitaacute Perda Florestal ao ano

2000 160

2001 172

2002 174

2003 177

2004 182

2005 186

2006 188

2007 192

2008 198

2009 200

2010 202

2011 205

2012 208

Total 2444

Fonte INPEPRODES 2012 Adaptada Camila Louzada 2013

188

Macedo et al (2014) afirmar que o desmatamento no municiacutepio de Humaitaacute

[] caracteriza-se pela sua concentraccedilatildeo no entorno das rodovias BR-319 E BR-230

que se cruzam proacuteximo agrave sede do municiacutepio Esses eixos rodoviaacuterios concentram

espacialmente as principais atividades econocircmicas como a agricultura a pecuaacuteria

e a exploraccedilatildeo madeireira que embora em intensidade tambeacutem se desenvolvem

em torno do rio Madeira e seus afluentes (MACEDO et al 2014 p5935)

No entanto o existe por parte Governo do Estado do Amazonas forte interesse na

reabertura desta rodovia sobre o falso pretexto da ldquonecessidaderdquo de ligar o estado ao

restante do paiacutes por via terrestre embora tenham conhecimento dos custos (em todos os

sentidos) de tatildeo faraocircnica e desnecessaacuteria obra

Buscando viabilizar a reabertura da BR-319 e promover a ldquogovernanccedila ambientalrdquo

o Governo do Estado do Amazonas propocircs a criaccedilatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo ao longo

de toda a BR-319 muito embora se reconheccedila que essas aacutereas protegidas padecem de

fiscalizaccedilatildeo e de deliberaccedilotildees que envolvem a questatildeo fundiaacuteria (SANTOS 2013)

Sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo em fase de consulta puacuteblica para serem criadas

satildeo elas Reserva Sustentaacutevel Igapoacute - Accedilu (no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea) Reserva

Extrativista Canutama ( Sul do Estado do Amazonas e Norte do Estado de Rondocircnia)

Floresta Floresta Estadual Canutama (Canutama) Reserva de Desenvolvimento Sustentaacutevel

do Matupiri (Borba) Parque Estadual do Matupiri (Borba) Reserva de Desenvolvimento

Sustentaacutevel Rio Madeira (Novo Aripuanatilde) Floresta Estadual de Tapauaacute (Tapauaacute)

(AMAZONAS2014)

46 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES

Partindo do conceito de impacto ambiental definido pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA (1986) em seu artigo 1ordm

Considera com impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesica quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam

I ndash a sauacutede a seguranccedila e o bem estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees de esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA 1986 p1)

189

Ainda segundo o CONAMA (1986)

Art2ordm Dependeraacute da elaboraccedilatildeo do estudo de impacto ambiental- IEA e DO respectivo relatoacuterio de impacto ambiental-RIMA a serem submetido agrave aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo estadual competente e da Secretaacuteria Especial do Meio Ambiente SEMA em caraacuteter supletivo a licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente [] (CONAMA 1986 p2)

Diante disso o CONAMA em sua Resoluccedilatildeo nordm237 de 19 de Dezembro de 1997 em

seu artigo 3ordm dispotildee

Estudos Ambientais satildeo todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados agrave localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo operaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsiacutedio para a anaacutelise da licenccedila requerida tais como relatoacuterio ambiental projeto de controle ambiental relatoacuterio ambiental preliminar diagnoacutestico ambiental plano de manejo plano de recuperaccedilatildeo de aacuterea

degradada e anaacutelise preliminar de risco (CONAMA 1997 p2)

Os principais documentos exigidos para o licenciamento ambiental estatildeo divididos

em duas categorias a) o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatoacuterio de Impacto

Ambiental ndash RIMA para toda obra geradora de impactos b) o Plano de Controle Ambiental ndash

PCA para empreendimentos que teoricamente natildeo produzam impactos

Para os empreendimentos geradores de impactos o CONAMA tem uma legislaccedilatildeo

especifica instituiacuteda pelo Decreto Federal nordm 97632 de abril de 1989 que criou o Plano de

Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas - PRAD que deveraacute ser apresentado juntamente com o

EIARIMA quando o empreendimento for destinado agrave exploraccedilatildeo de recursos minerais

(BRASIL 1989 p1)

Embora a aparente abrangecircncia das leis exija uma seacuterie de estudos ambientais

antes de qualquer obra o mesmo natildeo garante o impacto zero no meio ambiente somente

tenta diagnosticar os possiacuteveis impactos de cada empreendimento ldquopropondo medidas

compensatoacuteriasrdquo

Todavia se nos relatoacuterios natildeo for possiacutevel ldquopreverrdquo todos os impactos de uma obra

o que se poderaacute fazer para minimizar seus impactos posteriormente quando surgirem

mesmo os natildeo diagnosticados com antecedecircncia Essa pergunta por enquanto ainda natildeo

tem uma resposta satisfatoacuteria

Eacute vaacutelido promover o conhecimento puacuteblico em geral a informaccedilatildeo de os

profissionais responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA de um empreendimento que satildeo

pagos pelo interessado na construccedilatildeo desse empreendimento desta forma eacute questionaacutevel

190

seus posicionamentos no relatoacuterio final principalmente se o maior interessado na

construccedilatildeo for o governo em todas as esferas tendo como referecircncia o Governo do Estado

do Amazonas onde natildeo existe ateacute a presente data um Estudo de Impacto Ambiental- EIA e

um Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA que seja contraacuterio aos interesses do estado natildeo

validando e homologando suas obras

O exemplo mais conhecido e divulgado mundialmente eacute a construccedilatildeo do PROSAMIN

ndash Programa Social e Ambiental dos Igarapeacutes de Manaus no qual o Governo do Estado retira

os moradores residentes nos igarapeacutes de Manaus para a concretizaccedilatildeo dos canais e

posterior construccedilatildeo de conjuntos habitacionais Embora tenha conhecimento de que satildeo

aeacutereas de APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente seus relatoacuterios EIA-RIMA validam o

empreendimento reiterando a ldquoimportacircncia desta obrardquo

A fragilidade do ecossistema de modo geral depende inteiramente de um

equiliacutebrio (natural) pois para que esse equiliacutebrio continue a existir faz-se necessaacuterio

minimizar todo e qualquer impacto possiacutevel decorrente de um empreendimento seja a

construccedilatildeo de barragem de rodovias de usinas eoacutelicas etc Mesmo com a execuccedilatildeo do

Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacuterea Degradadas - PRAD a construccedilatildeo de um empreendimento

natildeo garante a total recuperaccedilatildeo da aacuterea impactada

Dessa forma eacute importante conhecer a opiniatildeo dos moradores diretamente afetados

pelos empreendimentos Diante disso a presente pesquisa buscou conhecer a percepccedilatildeo

ambiental dos moradores das localidades de Bela Vista - Manacapuru e Manaquiri que

seratildeo diretamente afetados com a construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas como parte da proposta de reabertura da BR-319 resta conhecer a

opiniatildeo dos entrevistados

Na Bela Vista 95 dos entrevistados disseram jaacute ter ouvido algo sobre o assunto

por meio das conversas na comunidade e atraveacutes do raacutedio e 5 que afirmaram nunca ter

ouvido falar sobre o assunto

Indagados sobre o que achavam que aconteceria com as pessoas que moram na

Bela Vista e com a natureza e os animais ao redor se realmente a nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas fosse implantada os entrevistados se posicionaram conforme Graacutefico

15

191

A maioria dos entrevistados 47 do total se mostraram empolgados com a

possibilidade de acesso a outros municiacutepios e estados contudo 40 respondeu que as

estradas de modo geral trazem progresso e oportunidade de renda durante a construccedilatildeo e

posteriormente com o escoamento da produccedilatildeo seja na construccedilatildeo de novas estradas ou na

reconstruccedilatildeo da BR-319 depois de pronta ldquoteraacute mais pessoas vivendo aqui ficaraacute faacutecil

conhecer outros lugaresrdquo (Opiniatildeo de um entrevistado 2013) 13 dos entrevistados

afirmaram que as pessoas iratildeo embora da Bela Vista

Indagados com a mesma pergunta os moradores da sede municipal de Manaquiri

responderam conforme Graacutefico 16

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo da

ponte sobre o Rio Solimotildees Amazonas

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores do Manaqquiri sobre as consequecircncias da construccedilatildeo

de ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

192

Ao contraacuterio dos moradores da Bela Vista a grande maioria 73 dos entrevistados

de Manaquiri responderam que a construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

assim como a possibilidade de reabertura da BR-319 devastaria tudo (referem-se a retirada

da floresta) mataria os animais (que atravessariam as pistas ou seriam caccedilados por mais

caccediladores que viriam para o Manaquiri)

Indagados do por quecirc desta opiniatildeo ldquoseverardquo Os moradores afirmaram que isso jaacute

ocorreu anteriormente primeiro na construccedilatildeo da BR-319

[] quando veio muita gente trabalhar na estrada derrubaram a mata para fazer a rodovia e caccedilavam os bichos era pacaacute anta macaco tracajaacute tudo que eles achavam rapidinho virava comida agora mais recente foi essa estrada daqui mesmo [o entrevistado se refere a construccedilatildeo da AM-354] quando muita gente foi trabalhar laacute foi a mesma coisa da outra (Relato de um entrevistado

2013)

Os moradores de Manaquiri apresentam relativo conhecimento dos impactos de

grandes empreendimentos pois vivenciaram a construccedilatildeo da BR-319 e da AM-354

461 ALTERNATIVAS DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E O PREPARO DAS LOCALIDADES

RIBEIRINHAS PARA AS AUDIEcircNCIAS PUacuteBLICAS

Antes de propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental faz-se necessaacuterio fazer um

resgate histoacuterico da Educaccedilatildeo Ambiental no mundo e posteriormente no Brasil e no estado

do Amazonas para situar o leitor

A Educaccedilatildeo Ambiental foi primeiramente concebida por movimentos ecoloacutegicos

apoacutes 1950 com o objetivo de chamar a atenccedilatildeo para a finitude dos elementos da natureza

e sua exploraccedilatildeo descontrolada Diante disso Carvalho (2006) propotildee sensibilizar os cidadatildeos

do mundo para que eles possam desenvolver accedilotildees socioambientais pensando no bem

coletivo e natildeo individual ou de pequenos grupos

O marco principal desse periacuteodo de incertezas culminou na publicaccedilatildeo do livro

Primavera Silenciosa nele a autora chama a atenccedilatildeo para o uso irracional de pesticidas

quiacutemicos principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano) e responsabilidade da ciecircncia e

os limites tecnoloacutegicos (CARSON 2013)

193

[] questionava o direito moral do governo de deixar seus cidadatildeos desprotegidos diante de tais substacircncias que eles natildeo poderiam evitar fisicamente nem questionar publicamente Essa arrogacircncia insensiacutevel soacute poderia levar aacute destruiccedilatildeo do mundo vivo ldquoSeraacute que algueacutem acredita que eacute possiacutevel lanccedilar tal bombardeio de venenos na superfiacutecie da Terra sem tornaacute-la improacutepria para toda a vida perguntava ela Eles natildeo deviam ser chamados de lsquoinseticidasrsquo e sim lsquobiocidasrsquo rdquo (CARSON 2013 p 15)

Carson vai aleacutem ao afirmar que um dos direitos dos cidadatildeos mais baacutesicos

[] estaacute em proteger seu lar contra a intrusatildeo de veneno aplicado por outras pessoas Por ignoracircncia cobiccedila e negligecircncia o governo permitiria que ldquosubstacircncia quiacutemicas venenosas e biologicamente potentesrdquo caiacutessem ldquoindiscriminadamente nas matildeos de pessoas ampla ou totalmente ignorantes de seu potencial de danosrdquo Quando a populaccedilatildeo protestava recebia ldquopiacutelulas calmantes de meias - verdadesrdquo como resposta de um governo que se recusava a assumir a responsabilidade pelos danos ou reconhecer as provas de sua existecircncia Carson desafiou essa ausecircncia de moral ldquoA obrigaccedilatildeo de suportarrdquo e escreveu ldquonos daacute o direito de saberrdquo (CARSON 2013 p16)

Carson (2013) chama atenccedilatildeo da sociedade estadunidense para o uso

descontrolado de pesticidas nas lavouras americanas que prejudicava aleacutem do meio

ambiente fiacutesico em larga escala como tambeacutem a humanidade como um todo

Apoacutes a publicaccedilatildeo dessa obra foram iniciadas investigaccedilotildees estaduais e federais

nos EUA para refutar os argumentos da autora que terminaram por serem comprovados e

apoacutes inuacutemeras pressotildees de ambientalistas o governo americano foi obrigado a criar um

pacote de leis contra a contaminaccedilatildeo invisiacutevel muito posteriormente proibindo o uso DDT

nos EUA mas exportando para todo o mundo (CARSON 2013)

Como os movimentos ecoloacutegicos ultrapassaram as preocupaccedilotildees locais e se

transformaram em globais gerou grande desconforto na sociedade mundial tanto cientiacutefica

quanto civil o que resultou em importantes encontros mundiais a comeccedilar pela primeira

Conferecircncia Mundial das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente Humano que aconteceu em

1972 em Estocolmo na Sueacutecia e contou com a participaccedilatildeo de representantes de 113

paiacuteses onde foram divulgados aos participantes ldquoa devastaccedilatildeo que ocorria na natureza

delirou ndash se que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamenterdquo (PEDRINI

1997 p26)

Dessa conferecircncia resultaram dois importantes documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre

Meio Ambiente Humanordquo que descrevia vinte e sete princiacutepios comuns agrave sociedade mundial

para preservar e melhorar a relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente e o ldquoPlano de Accedilatildeo

194

Mundialrdquo que recomendava a capacitaccedilatildeo de professores e o desenvolvimento de novos

meacutetodos e recursos institucionais para a Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Trecircs anos depois de Estocolmo acontece a Conferecircncia de Belgrado na Yugoslaacutevia

antiga Uniatildeo Sovieacutetica Nessa conferecircncia os acircnimos se exaltaram pois os paiacuteses

considerados subdesenvolvidos acusaram os paiacuteses desenvolvidos de quererem limitar o

desenvolvimento econocircmico dos paiacuteses pobres ldquousando poliacuteticas ambientais de controle da

poluiccedilatildeo como meio de inibir a competiccedilatildeo no mercado internacionalrdquo (DIAS 2000 p79)

Apesar dos acircnimos acalorados essa conferecircncia resultou em um importante

documento em niacutevel mundial a ldquoA Carta de Belgradordquo que priorizava a erradicaccedilatildeo da

pobreza do analfabetismo da fome da exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo humana e sugeria tambeacutem

a criaccedilatildeo de um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Outra Conferecircncia marcante na histoacuteria da Educaccedilatildeo Ambiental foi a Conferecircncia de

Tbilisi realizada em 1977 que determinava os objetivos estrateacutegias caracteriacutesticas e

recomendaccedilotildees para se alcanccedilar uma Educaccedilatildeo verdadeiramente Ambiental Sobre isso

Junior (2005) destaca que para se ter uma Educaccedilatildeo Ambiental deve-se ldquopromover a

cooperaccedilatildeo e o diaacutelogo entre indiviacuteduos e instituiccedilotildees com a finalidade de criar novos

modos de vida e atender as necessidades baacutesicas de todos sem distinccedilotildees eacutetnicas fiacutesicas de

gecircnero idade religiatildeo ou classe socialrdquo (JUNIOR 2005 p 15 )

Atendendo aos acordos firmados internacionalmente o Brasil cria a Lei nordm 6938 de

31 de Agosto de 1981 que dispunha no art 2 sobre a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

tendo por objetivos

[] a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao desenvolvimento soacutecio econocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da dignidade da vida humana atendidos os seguintes princiacutepios I - accedilatildeo governamental na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio ecoloacutegico considerando o meio ambiente como um patrimocircnio puacuteblico a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo II - racionalizaccedilatildeo do uso do solo do subsolo da aacutegua e do ar Ill - planejamento e fiscalizaccedilatildeo do uso dos recursos ambientais IV - proteccedilatildeo dos ecossistemas com a preservaccedilatildeo de aacutereas representativas V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidorasVI - incentivos ao estudo e agrave pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental VIII - recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas IX - proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo X ndash educaccedilatildeo ambiental a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para a participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL 1981 p 2)

195

A Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente eacute absolvida pela Constituiccedilatildeo Brasileira de

1988 mais especificamente no artigo 225 onde tambeacutem concebe o conceito de

desenvolvimento sustentaacutevel

[] onde todos os cidadatildeos brasileiros tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial aacute sadia qualidade de vida impondo se ao Poder Puacuteblico e aacute coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees (BRASIL 1998 p7)

O Brasil foi um dos primeiros paiacuteses do mundo a criar leis tornando obrigatoacuteria a

ldquoEducaccedilatildeo Ambiental em todos os niacuteveis de ensino e a conscientizaccedilatildeo puacuteblica da populaccedilatildeo

para preservaccedilatildeo do meio ambienterdquo (BRASIL 1988 p103)

Para consolidar a lei eacute criado em 1989 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente -

IBAMA autarquia federal que tem como funccedilatildeo coordenar e executar a Poliacutetica Nacional do

Meio Ambiente e a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de uso racional dos recursos naturais Brasil

(1989) No entanto em sua estrutura administrativa apresentada segundo Brasil (1989a)

natildeo haacute cargos ou seccedilotildees especiacuteficas para trabalhar a Educaccedilatildeo Ambiental embora muitos

autores relatem existir uma Divisatildeo de Educaccedilatildeo Ambiental no oacutergatildeo supracitado

Nos anos posteriores surgiram vaacuterios encontros sobre Educaccedilatildeo Ambiental e em

1990 surgiu no Brasil o I Curso Latino Americano de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental

na Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT

O ano de 1991 foi marcado pelo Encontro Nacional de Poliacuteticas e Metodologias para

a Educaccedilatildeo Ambiental promovido pelo MEC IBAMA Secretaacuteria da Presidecircncia da Repuacuteblica

e Unesco e em 1992 satildeos criado os Nuacutecleos Estaduais de Educaccedilatildeo Ambiental pelo IBAMA

novos encontros e projetos para efetivar a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino se sucederam

Em 27 de Abril de 1999 eacute criado pelo Decreto Lei nordm 9795 a Poliacutetica Nacional de

Educaccedilatildeo Ambiental- ProNEA

Art 1ordm Entendem- se por educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias voltadas para promover a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL 1999 p1)

Segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (2014) o ProNea tem como accedilotildees

assegurar

196

[] no acircmbito educativo a integraccedilatildeo equilibrada das muacuteltiplas dimensotildees da sustentabilidade - ambiental social eacutetica cultural econocircmica espacial e poliacutetica - ao desenvolvimento do Paiacutes resultando em melhor qualidade de vida para toda a populaccedilatildeo brasileira por intermeacutedio do envolvimento e participaccedilatildeo social na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental e da manutenccedilatildeo dessas condiccedilotildees ao longo prazo Nesse sentido assume tambeacutem as quatro diretrizes do Ministeacuterio do Meio Ambiente Transversalidade Fortalecimento do Sisnama Sustentabilidade Participaccedilatildeo e controle social (BRASIL 2014 p1)

A legislaccedilatildeo parte do princiacutepio de que a Educaccedilatildeo Ambiental deve estar permanente

na educaccedilatildeo nacional em todos os niacuteveis do processo educativo de caraacuteter formal e natildeo

formal (BRASIL 1999 p1)

Esse arcabouccedilo legal permitiria que a Educaccedilatildeo Ambiental efetivamente no acircmbito nacional fosse implementada no ensino formal em todos os niacuteveis poreacutem a rejeiccedilatildeo da ldquoobrigatoriedaderdquo considerada nociva no momento democraacutetico que se vive permite que a legislaccedilatildeo natildeo seja cumprida de acordo com os marcos nacionais e internacionais firmados nos eventos que constituem o seu processo histoacuterico (SANTOS 2013 p844)

Ainda Morin apud Santos (2013) afirma que

[] poderiam ser formadas novas geraccedilotildees de professores que encontrariam em sua profissatildeo o sentido de uma missatildeo ciacutevica e eacutetica para que cada aluno ou estudante possa enfrentar os problemas de sua vida profissional e de sua vida de cidadatildeo do dever de sua sociedade de sua civilizaccedilatildeo na humanidade (MORIN apud SANTOS 2013 p844)

Todavia o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura ndash MEC ateacute o presente momento trinta e

trecircs anos depois apoacutes a instituiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente (1981) natildeo

conseguiu inserir a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino superior portanto natildeo cumpriu com os

acordos firmados Isso se observa tambeacutem ao niacutevel natildeo formal como uma maneira de natildeo

fornecer aacutes comunidades informaccedilotildees que venham a impedir ou dificultar os interesses

poliacuteticos

Acompanhando as leis federais os estados brasileiros passaram a criar leis quase

sempre dispondo sobre a proteccedilatildeo do meio ambiente

No estado do Amazonas a Lei nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 tornou-se a primeira

lei no estado a discorrer sobre a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente criando a Poliacutetica

Estadual da Prevenccedilatildeo e Controle da Poluiccedilatildeo Melhoria e Recuperaccedilatildeo do Meio Ambiente e

de Proteccedilatildeo aos Recursos Naturais (AMAZONAS 1982)

197

A lei tem como objetivos

[] fixar diretrizes da accedilatildeo governamental com vistas agrave proteccedilatildeo de Meio Ambiente agrave conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo da flora da fauna e das belezas cecircnicas e ao uso racional do solo da aacutegua e ar Contribuir para a racionalizaccedilatildeo do processo do desenvolvimento econocircmico e social procurando atingir a melhoria dos niacuteveis da qualidade ambiental tendo em vista o bem estar da populaccedilatildeo Propor criteacuterios de exploraccedilatildeo e uso racional dos recursos naturais objetivando o aumento de produtividade sem prejuiacutezo agrave sauacutede Incentivar programas e campanhas de esclarecimentos com vistas agrave estimulaccedilatildeo de uma consciecircncia publica voltada para o uso adequado dos recursos naturais e para a defesa e a melhoria da qualidade ambiental Estabelecer criteacuterios para reparaccedilatildeo dos danos causados pelo agente poluidor e predador (AMAZONAS 1982 p2)

E em 14 de Junho de 1989 atraveacutes da Lei nordm 1905 foi criado o Instituto de

Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash

IMAAM Segundo o IPAAM (2014) o oacutergatildeo tinha como funccedilatildeo executar a Poliacutetica Ambiental

no estado dando inicio ao processo de controle ambiental sistemaacutetico

Cinco anos depois o governo federal atraveacutes da Lei nordm 1282 de 1994 estabelece

que a Floresta Amazocircnica deve ser protegida da exploraccedilatildeo madeireira que somente

poderaacute ser feita de forma sustentaacutevel salvo quando for autorizado pelo Zoneamento

Ecoloacutegico Econocircmico sobre o uso do solo de forma alternativa (BRASIL 1994)

Dois anos depois em 1996 o governo do estado do Amazonas fundou o Instituto de

Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas ndash IPAAM atraveacutes da Lei nordm 17033 de 11 de marccedilo de

1996 resultado da funccedilatildeo do SEMACT (Secretaria do Meio Ambiente Ciecircncia e Tecnologia) e

do IMAAM (Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas) absorvendo cargos dos dois oacutergatildeos e suas ldquoobrigaccedilotildeesrdquo legais

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas - IPAAM passou a ser vinculado em fevereiro de 2003 aacute Secretaria de

Estado Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash SDS como oacutergatildeo executor da

Poliacutetica de Controle Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM 2014)

Por meio do Decreto Estadual nordm 25043 de 1ordm de Junho de 2005 foi instituiacuteda a

Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash CIEA-AM que

tem como funccedilatildeo ldquoplanejar executar acompanhar e avaliar a execuccedilatildeo dos trabalhos de

Educaccedilatildeo Ambiental no Estado aleacutem de articular-se com outras instituiccedilotildees federais e

municipaisrdquo(AMAZONAS 2014 p1)

198

A CIEA-AM tem mandato anual alternado entre a SDS (Secretaria de Estado Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel) e a SEDUC (Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo e

Qualidade do Ensino) (AMAZONAS 2014)

Em 2008 foi instituiacuteda a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas

atraveacutes da Lei nordm 3222 de 02 de Fevereiro entretanto

Apesar de a lei ter 90 dias para a sua regulamentaccedilatildeo ouvidos o Conselho Estadual de Meio Ambiente somente em 29 de Junho de 2012 eacute que o Decreto nordm 555 foi assinado pelo governado Omar Aziz e publicado no Diaacuterio Oficial do Estado do Amazonas (SANTOS 2012 p844)

A Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas tem como metas

Criaccedilatildeo do Comitecirc Assessor Multidisciplinar como oacutergatildeo de assessoramento da CIEA para apoiar a Poliacutetica Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental formado por 16 Instituiccedilotildees parceiras Estabelece prazo de um ano para a elaboraccedilatildeo do Programa Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental Estabelece a obrigatoriedade para os poderes executivos do Estado e dos Municiacutepios de criarem coordenaccedilotildees multidisciplinares de educaccedilatildeo ambiental nas secretarias de educaccedilatildeo e de meio ambiente para fortalecimento na implantaccedilatildeo de poliacuteticas e programas nacional estadual e municipal neste segmento Criaccedilatildeo do Centro de Referecircncia em Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo na aacuterea de educaccedilatildeo ambiental Garantia de recursos orccedilamentaacuterios e financeiros para a realizaccedilatildeo de atividades e para o cumprimento dos objetivos da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental (AMAZONAS 2014 p2)

Faz-se necessaacuterio salientar que muito pouco do que foi proposto para o estado de

fato foi executado inclusive a natildeo inserccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental em todos os cursos de

formaccedilatildeo de professores a proacutepria Universidade do Estado do Amazonas a UEA

Sobre isso Santos apud Rodriguez e Silva (2013 p197)

[] reconhecem que a Educaccedilatildeo Ambiental deveraacute ter um papel fundamental na mudanccedila das mentalidades e na incorporaccedilatildeo dos fundamentos do pensamento ambientalista como tambeacutem do pensamento sustentabilista justificando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergecircncia dos sistemas ambientais e socioeconocircmico-culturais (SANTOS apud RODRIGUEZ e SILVA 2013 p197)

Santos (2013) vai aleacutem

Infelizmente torna-se necessaacuterio reconhecer que muitas vezes as poliacuteticas puacuteblicas definidas na esfera federal estadual ou municipal refletem uma contradiccedilatildeo entre o discurso e a praacutetica uma vez que os proacuteprios oacutergatildeos puacuteblicos a luz da interpretaccedilatildeo das brechas da legislaccedilatildeo ambiental licenciam obras sob o argumento de melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo mas com impactos ambientais irreversiacuteveis que satildeo justificados com ldquomedidas compensatoacuteriasrdquo irrelevantes (SANTOS 2013 p840)

199

Diante desses fatos tornou-se necessaacuterio projetar alternativas de Educaccedilatildeo

Ambiental para as localidades ribeirinhas da Amazocircnia frente ao conceito de

desenvolvimento baseado na construccedilatildeo de rodovias para que os ribeirinhos de modo

geral possam vir a ter conhecimento dos impactos das rodovias na regiatildeo visando agrave

formaccedilatildeo de um juiacutezo de valor quanto a propostas de desenvolvimento do poder puacuteblico

As alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental visam antes de qualquer coisa fornecer

informaccedilotildees aos moradores afetados direta ou indiretamente sobre empreendimentos

similares jaacute construiacutedos em ambientes semelhantes de forma a propiciar embasamento

teoacuterico e se possiacutevel praacutetico na formaccedilatildeo de uma opiniatildeo fundamentada seja individual ou

coletiva

Isso porque muitas pessoas natildeo informadas tendem a considerar as Audiecircncias

Puacuteblicas realizadas antes dos empreendimentos como espaccedilos onde natildeo eacute permitido

questionamentos quando na verdade eacute o que se deve fazer pois as Audiecircncias Puacuteblicas

tecircm como principal funccedilatildeo consultar a opiniatildeo puacuteblica sobre o empreendimento a ser

construiacutedo Contudo se o puacuteblico consultado natildeo tiver informaccedilotildees sobre o

empreendimento ou qualquer outro semelhante como poderatildeo opinar em algo que lhes eacute

completamente desconhecido

Sobre o direito agrave informaccedilatildeo a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente em seu artigo

2ordm paraacutegrafo X afirma que a ldquoeducaccedilatildeo ambiental deve ser fornecida a todos os niacuteveis de

ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-los para a participaccedilatildeo

ativa da defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981 p2)

No entanto a Educaccedilatildeo Ambiental vem sendo incluiacuteda como medida

compensatoacuteria dos impactos provocados pelos empreendimentos Haacute necessidade de que a

Educaccedilatildeo Ambiental seja antecipada permitindo agrave sociedade acesso as diversas fontes de

informaccedilatildeo Enfim a Educaccedilatildeo Ambiental em suas referecircncias teoacutericas eacute reconhecida como

uma educaccedilatildeo poliacutetica capaz de permitir e projetar cenaacuterios futuros

Considerando a reabertura da BR-319 cujo argumento principal eacute que ela jaacute existe

e que sua reabertura pouco impactaraacute a Floresta Amazocircnica considerando que entre as

grandes obras para a reabertura da BR-319 encontra-se a construccedilatildeo da ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas que se associa a jaacute construiacuteda ponte Rio Negro por essa razatildeo

200

chamada de ldquoPonte do Futurordquo considerando que o poder puacuteblico eacute o principal interessado

em suas obras sendo o responsaacutevel pelos licenciamentos a presente pesquisa ousa propor

- Viabilizar o acesso dos moradores agrave diversas fontes de pesquisa sejam elas

artigos livros jornais e informaccedilotildees veiculadas pela internet que permitam obter

pesquisas confiaacuteveis sobre os aspectos positivos e negativos relacionados aos

impactos provocados por obra semelhantes

- Realizar palestras com as diversas categorias de profissionais sejam eles

favoraacuteveis ou contraacuterios agrave empreendimentos na Amazocircnia de modo a discutir os

avanccedilos e retrocessos na qualidade de vida dos amazocircnidas

- Promover oficinas de Educaccedilatildeo Ambiental que permitam a anaacutelise criacutetica dos

problemas ambientais e suas interelaccedilotildees dinacircmicas relacionando as causas e

consequecircncias tendo por base os princiacutepios da complexidade dialoacutegico recursatildeo

organizacional e hologramaacutetico Isto significa conduzir os participantes a refletirem

sobre a dualidade a recursividade e holograma que supera o reducionismo o

holismo e avanccedila na direccedilatildeo da complexidade da questatildeo ambiental

Diante da convicccedilatildeo de que essas intervenccedilotildees com a Educaccedilatildeo Ambiental

significam na maioria das vezes oposiccedilatildeo ao que pretende o poder puacuteblico haacute de se

verificar como concretizar efetivamente essas propostas

Por esta razatildeo a presente pesquisa ainda ousando sugere a inclusatildeo da Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal (que no caso dos dois municiacutepios Manacapuru e

Manaquiri ainda estatildeo em fase de elaboraccedilatildeo) responsaacutevel pelo planejamento estrateacutegico

dos municiacutepios atraveacutes da formulaccedilatildeo de estrateacutegias para gerenciamento dos recursos

municipais

Todavia a inclusatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal natildeo deve

se limitar a uma abordagem simplista e reducionista e sim incorporar a sua verdadeira

essecircncia atraveacutes da formaccedilatildeo de cidadatildeos verdadeiramente capacitados para defender o

meio ambiente como propotildeem a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

Prioritariamente para o caso da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas e a

reabertura da BR-319 for consolidada nos proacuteximos anos a presente pesquisa propotildeem

201

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para as localidades ribeirinhas de Bela Vista e

Manaquiri que contemple em sua estrutura

1- Reflexatildeo sobre o conceito de Desenvolvimento Conservaccedilatildeo Preservaccedilatildeo e

Sustentabilidade se quer para a Amazocircnia

2- Impactos resultantes da construccedilatildeo de rodovias no Amazonas

a) BR-307 - Satildeo Gabriel da Cachoeira ndash Cucuiacute Benjamin Constant ndash

Atalaia do Norte

b) BR -317 - Laacutebrea no Amazonas a Assis Brasil no Acre

c) BR-230 - Transamazocircnica

d) BR-174 - Manaus-AM ndash Boa Vista-RR

e) BR-319 - Manaus-AM - Porto Velho- RO

3- Construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas reabertura da BR-319 e

os possiacuteveis impactos dessas obras

4- Construccedilatildeo de cenaacuterios futuros para a Amazocircnia

202

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A percepccedilatildeo ambiental dos moradores da Bela Vista e do Manaquiri permitiu

concluir que embora os entrevistados se mostrem favoraacuteveis agrave construccedilatildeo da nova ponte

sobre o rio SolimotildeesAmazonas os mesmos se mostraram conscientes dos impactos dessa

obra assim como tambeacutem da reabertura da BR-319

Diante disso cabe a Educaccedilatildeo Ambiental veicular para os ribeirinhos e a todos

cidadotildees interessados as informaccedilotildees disponiacuteveis sobre todo e qualquer empreendimento

com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas para a Amazocircnia A comeccedilar pela divulgaccedilatildeo dos impactos

das estradas jaacute construiacutedas na Amazocircnia

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser conclamada diante da percepccedilatildeo ambiental dos

moradores ribeirinhos de modo a ser pensado uma forma alternativa para que a

populaccedilatildeo tenha informaccedilotildees para se posicionar diante das propostas de poliacuteticas puacuteblicas

para a Amazocircnia

As propostas de desenvolvimento compatibilizadas com as que visam conservaccedilatildeo

eou preservaccedilatildeo da Amazocircnia sido apresentados com uma dualidade impossiacutevel de ser

alcanccedilada O pensamento complexo apresenta-se como uma alternativa de se repensar a

questatildeo ambiental compreendendo os fatores que a compotildeem e as interelaccedilotildees entre eles

inclusive a dinamicidade que apresentam

Entre as propostas de desenvolvimento destacam-se as que visam agrave construccedilatildeo de

estradas na Amazocircnia principalmente agraves relacionadas com a intenccedilatildeo de interligar o estado

do Amazonas ao resto do paiacutes Os argumentos para sua construccedilatildeo natildeo satildeo convincentes

uma vez que diante da necessidade de conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo da Floresta

Amazocircnica as medidas poliacuteticas foram sendo tomadas para isto incluindo-se a criaccedilatildeo da

Zona Franca de Manaus com o Polo Industrial para evitar impactos sobre a regiatildeo

A pesquisa procurou concentrar-se na reabertura da BR-319 considerando a

construccedilatildeo da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas como uma das grandes obras para a

sua reativaccedilatildeo

O argumento que sustenta a sua necessidade eacute o mesmo que nega seus impactos

uma vez que ela jaacute existe e a floresta natildeo precisaraacute ser devastada Outro argumento que natildeo

203

se sustenta eacute o escoamento da produccedilatildeo do Distrito Industrial pesquisas demonstram que o

transporte fluvial eacute mais econocircmico quando comparado ao rodoviaacuterio na regiatildeo

No que se refere agrave ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas ela teraacute como provaacutevel

cabeceiras as localidades de Bela Vista no municiacutepio de Manacapuru e Manaquiri sede do

municiacutepio de mesmo nome A pesquisa visando diagnosticar as alteraccedilotildees que a construccedilatildeo

da ponte traraacute agrave vida dessas populaccedilotildees ribeirinhas utilizou-se de entrevistas com

moradores mais antigos e chefes de famiacutelia de ambas as localidades

Os resultados das entrevistas resaltam a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos

destacando-se a dos que moram em Manaquiri que por terem vivido a construccedilatildeo da BR-

319 conseguem projetar cenaacuterios futuros preocupantes com a destruiccedilatildeo da biodiversidade

e os impactos sociais e econocircmicos na localidade

A pesquisa permitiu antever o comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis das

vaacuterzeas que poderaacute ter como consequecircncia o decliacutenio da produccedilatildeo agriacutecola

No entanto a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos necessita de informaccedilotildees que

permitam alcanccedilar o niacutevel transdisciplinar A percepccedilatildeo transdisciplinar deve contemplar

diferentes niacuteveis de realidade a loacutegica do terceiro incluiacutedo e a complexidade que a questatildeo

ambiental comporta

A percepccedilatildeo ambiental diagnosticada muito embora em alguns entrevistados tenda

a considerar os princiacutepios da transdisciplinaridade ainda necessita ser aprofundada e a

pesquisa indica que a Educaccedilatildeo Ambiental pode promover a visatildeo criacutetica da realidade

Diante dos obstaacuteculos enfrentados na obtenccedilatildeo das informaccedilotildees e entrevistas

considerando o espaccedilo geograacutefico e as condiccedilotildees de deslocamento ateacute as localidades a

pesquisa considerando referencial teoacuterico e os dados levantados reconhece as dificuldades

de se antepor agraves poliacuteticas puacuteblicas com as accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental natildeo formal

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser inserida natildeo como uma medida compensatoacuteria

das obras jaacute construiacutedas mas como uma alternativa de acesso a informaccedilatildeo que

necessariamente precisa ser antecipada aacutes Audiecircncias Puacuteblicas de modo a viabilizar acesso

dos moradores a diversas fontes de informaccedilatildeo para que ao participar de uma audiecircncia

puacuteblica os moradores tenham conhecimentos profundos dos possiacuteveis impactos de cada

obra e possam vir a fazer juiacutezo de valor apoiados em fundamentos

204

Considerando que o poder puacuteblico justifica as obras do seu interesse baseado na

legislaccedilatildeo que abre espaccedilo para justificaacute-las dessa forma licenciando-as haacute que se buscar

alternativas para o desenvolvimento da Educaccedilatildeo Ambiental atraveacutes de programas que

visem a sustentabilidade da Amazocircnia exigindo o cumprimento da legislaccedilatildeo vigente e

questionando inclusive sua interpretaccedilatildeo

A pesquisa propotildee as bases necessaacuterias ao planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para a problemaacutetica que a desencadeou

Existe espaccedilo para novas pesquisas principalmente no que se refere agrave percepccedilatildeo

transdisciplinar no contexto amazocircnico considerando que existem poucos avanccedilos e

resultados que concretizem os referenciais teoacutericos indicados para a necessaacuteria reforma de

pensamento que permitiraacute a humanizaccedilatildeo da humanidade

205

REFEREcircNCIAS

ABrsquoSABER A Meditaccedilotildees em torno da notiacutecia criacutetica na geormofologia brasileira Nota Geomorfoloacutegica 1 Rio de Janeiro 1958 ABrsquoSABER A Amazocircnia do discurso agrave praxes Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1996 ABrsquoSABER A O que eacute ser Geoacutegrafo Rio de Janeiro Record 3ordm Ed 2011 AMAZONAS Ministeacuterio Puacuteblico do Amazonas Consulta Puacuteblica sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo da BR-319 Manaus 2014 Disponiacutevel em httpwwwsdsamgovbr2011-09-27-04-55-44noticiasslide-showconsultas-publicas-das-unidades-de-conservacao-da-br-319-sao-finalizadas Acessado em Abril de 2014 AMAZONAS Comitecirc da Verdade do Amazonas 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio o Povo Waimiri-Atroari Manaus 2012 AMAZONAS Decreto de Lei Complementar nordm 60 de 29 de Fevereiro de 2008 Cria a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM Diaacuterio Oficial do Amazonas 2008 AMAZONAS Lei estadual nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 Poliacutetica Estadual de Meio Ambiente Manaus Biblioteca Puacuteblica do Amazonas Texto impresso 1982 AMAZONAS Decreto lei estadual nordm 735 Discorrer sobre terras doadas a Uniatildeo dentro do estado do Amazonas Dezembro de 1941 Material impresso AMAZONAS Governador Omar Aziz lanccedila programa Amazonas Rural para impulsionar setor primaacuterio no Estado Manaus 2012 Disponiacutevel em httpwwwamazonasamgovbr201207governador-omar-aziz-lanca-programa-amazonas-rural Acessado em Janeiro de 2014 ALE Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas Manaus 2013 Disponiacutevel em httpwwwaleamgovbr20131031orlando-cidade-comemora-producao-de-calcario-no-amazonas Acessado em Dezembro de 2013 ALMEIDA P A experiecircncia brasileira em planejamento econocircmico uma perspectiva histoacuterica Giacomoni J Pagnussat J (Org) Planejamento e Orccedilamento Governamental Coletacircnea 1 ed Brasilia ENAP 2006 ALMEIDA FILHO Jairnilson Sauacutede coletiva uma ldquonova sauacutede puacuteblicardquo ou campo aberto a novos paradigmas Satildeo Paulo Revista Sauacutede Puacuteblica Ediccedilatildeo Especial Volume 32 nordm4 Junho de 1998 Disponivel em httpwwwscielobrpdfrspv32n4a2593pdf Acessado em Janeiro de 2014

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UFAM Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA Obras de reconstruccedilatildeo pavimentaccedilatildeo da rodovia BR-319AM no segmento entre os km 2500 e km 6557 Dover Publication Manaus Amazonas Dover Publication 6 vols + Anexos 2009 UFAM Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA Construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Negro Relatoacuterio Final Manaus Nuacutecleo Socioeconomia ndash NUSECUniversidade Federal do Amazonas 2007 VASCONCELOS J Lei permite derrubada de castanheiras para duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano Jornal Acriacutetica Manaus 15 de Junho de 2013 Disponiacutevel em httpacriticauolcombramazoniaManaus-Amazonas-Amazonia-Lei-castanheiras-duplicacao-Manoel-Urbano_0_938306162html Acessado em Janeiro de 2014 VELHO O Capitalismo autoritaacuterio e campesinato Rio de Janeiro Zahar 1995 VIANNA Lucila De invisiacuteveis a protagonistas populaccedilotildees tradicionais e unidades de

conservaccedilatildeo Rio de Janeiro Annablume 2008

VOGT C Poeiras e esperanccedilas na Transamazocircnica Satildeo Paulo Jornal Folha de Satildeo Paulo 10 de Outubro de 1970 YIN K R Estudo de caso Planejamento e Meacutetodos Porto Alegre Bookman 3ordm ed 2005 WALLACE A Viagens pelo Amazonas e Rio Negro Brasiacutelia Ediccedilotildees do Senado Federal Vol17 2004

220

PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash BELA VISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora na Bela Vista por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para a Bela Vista vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem na Bela Vista (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 1

221

PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash MANAQUIRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora no Manaquiri por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para o Manaquiri vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem no Manaquiri (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 2

Page 2: AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

2

CAMILA DE OLIVEIRA LOUZADA

AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR 319 E SEUS

IMPACTOS NAS LOCALIDADES RIBEIRINHAS DO RIO SOLIMOtildeES

BELA VISTA E MANAQUIRI NO AMAZONAS

Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada ao

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da

Universidade Federal do Amazonas - UFAM

como preacute-requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Mestre em Geografia Aacuterea de Concentraccedilatildeo -

Amazocircnia Territoacuterio e Meio Ambiente

Orientadora Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos

MANAUS-AM

2014

3

Ficha Catalograacutefica (Catalogaccedilatildeo realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

L895g

Louzada Camila de Oliveira

As grandes obras para a reaberturada BR 319 e seus impactos nas

localidades ribeirinhas do rio Solimotildees Bela Vista e Manaquiri no

Amazonas Camila de Oliveira Louzada - Manaus 2014

221f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal do

Amazonas

Orientador Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos

1 Floresta Amazocircnica 2 A vida ribeirinha 3 Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e a Complexidade 4 Educaccedilatildeo ambiental I Santos

Elizabeth da Conceiccedilatildeo (Orient) II Universidade Federal do

Amazonas III Tiacutetulo

CDU 2007 6257113(0433)

4

5

DEDICATOacuteRIA

Dedico estaacute dissertaccedilatildeo primeiramente a Deus aos meus pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada por todo amor e apoio ao longo da vida e principalmente nos momentos difiacuteceis Aos meus irmatildeos Karoline Louzada e Lucas Silva por me apoiarem me deixando muitas vezes sozinha para escrever ou ler a minha orientadora Profordf Drordf Elizabeth Santos por me propor o desafio de estudar a Complexidade e conhecer um pouco mais da Amazocircnia que amo profundamente ao Prof Dr Evandro Aguiar por me instigar e motivar a ir aleacutem do previsto a todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo direta ou indiretamente lhes serei eternamente grata de todo o coraccedilatildeo meu muito obrigada

6

Agradecimentos

Aacute Deus em primeiro lugar por ter me dado agrave vida e continuar a me dar cada dia a

oportunidade uacutenica de fazer cada dia um dia melhor do que o anterior dando sempre o meu

melhor a Nossa Senhora de Aparecida de quem sou devota por esta presente sempre que

me colocava a escrever a dissertaccedilatildeo e iluminar minhas ideias

Aos meus amados pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada pelos ensinamentos e

sacrifiacutecios que fizeram ao longo da vida para que eu e meus irmatildeos (Karoline Louzada e

Lucas Cortecircz) pudeacutessemos estudar muito obrigada Obrigado tambeacutem pelo apoio

incondicional e pelos exemplos diaacuterios e contiacutenuos de perseveranccedila ldquomesmo que natildeo se

possa ver aleacutem do presente persista insista que vocecirc chega laacuterdquo que ouvi incontaacuteveis vezes

ao longo da vida Agradeccedilo tambeacutem a compreensatildeo pela minha ausecircncia nas inuacutemeras

reuniotildees de famiacutelia que natildeo comparece para escrever esta dissertaccedilatildeo

Aacute Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos minha orientadora por todo apoio

dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo e motivaccedilatildeo buscando sempre me incentivar a crescer intelectualmente

Agradeccedilo tambeacutem por expandir meus horizontes ao me apresentar a Complexidade e a

Transdisciplinaridade e por ter insistido nas tantas vezes que reconheccedilo que resistir em

aceitar mudanccedilas Estendo o meu agradecimento as suas filhas Socircnia Ciacutentia Sara e Isabelle

pela compreensatildeo pelas muitas vezes que a profordf Elizabeth estava comigo em campo ou me

orientado em dias de semana ou no final dela e feriados aleacutem de datas comemorativas

quando poderia estaacute com as filhas e o esposo prof Evandro Aguiar meu muito obrigada

Ao Prof Evandro Aguiar (professor sim por mais que atualmente se recuse a usar o

seu tiacutetulo de professor duramente conquistado) agradeccedilo imensamente por todos os

conselhos broncas mais principalmente pela motivaccedilatildeo para seguir em frente Agradeccedilo a

paciecircncia em revisar todo o material que escrevi em me emprestar seus livros em indicar

referecircncias em ajudar na construccedilatildeo deste trabalho e as longas conversas me incentivando

a ir aleacutem do que esperam de mim muito obrigada

A CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) pela

concessatildeo de bolsa durante a realizaccedilatildeo do mestrado

A Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM por me proporcionar a oportunidade

de ter minha graduaccedilatildeo em Licenciatura Plena em Geografia

Aacute Profordf Drordf Jesueacutete Pacheco Brandatildeo por me apresenta a geografia fiacutesica durante a

minha graduaccedilatildeo nas aacuteguas verde oliva da bacia hidrograacutefica do Zeacute Accedilu em Parintins e me

motivar e incentivar a entrar no mestrado meu muito obrigada

Ao Prof Dr Nelcioney Arauacutejo por me indicar referecircncias e emprestar seus livros

7

Aos professores doutores Tatiana Schor e Carlossandro Albuquerque pelas

generosas contribuiccedilotildees que me deram durante a minha qualificaccedilatildeo sem as quais o

presente trabalho natildeo sairia como estaacute hoje

Agradeccedilo ao meu amigo Armando Filho por ouvir meus desabafos pelas

provocaccedilotildees continuas com o intuito de me instigar a busca sempre mais e mais

informaccedilotildees que vinhessem a contribuir com o meu trabalho agradeccedilo tambeacutem pela

traduccedilatildeo do resumo

Aos meus colegas de mestrado pelas discussotildees A minha amiga Irlanda Leite por

me ajudar sempre que pedi Aos meus amigos Sidney Leozanira Christianne Rodrigo

Jeacutessica que sempre me incentivaram a seguir em frente mesmo quando em natildeo podia sair

com eles pois tinha que escrever

Agradeccedilo tambeacutem a minha maravilhosa equipe de campo que na verdade satildeo

meus amigos que se protificaram de imediato em me ajudar quando pede o apoio deles

para a coleta de dados satildeo eles Armando Filho (Geografia - UFAM) Erickson (Bioloacutegia -

UEA) Erisson Duarte (Bioloacutegia - UEA) Leozanira (Geografia - UFAM) Romaacuterio (Bioloacutegia-UEA)

Sidney Barros (Geografia - UFAM) Thiago Alisson (Bioloacutegia - UEA) Ariane Oliveira (Liacutengua

Portuguesa - UFAM) meu muito obrigado

Agradeccedilo tambeacutem a todos os moradores entrevistados da Bela Vista e de

Manaquiri que nos doaram horas preciosas de suas vidas para responder nossas perguntas

e nos presentear com suas histoacuterias de vida meu muito obrigada

Agradeccedilo tambeacutem ao sr Evandro Oliveira pela calorosa acolhida a toda equipe de

campo para realizarmos as entrevistas com os moradores de Manaquiri

8

RESUMO

A gigantesca fronteira e sua densa cobertura florestal apoiadas no discurso militar de ldquoum

lugar sem gente necessitado de uma histoacuteriardquo tornou a Amazocircnia alvo de grandes projetos

de desenvolvimento e integraccedilatildeo nacional a partir do seacuteculo XX o que por sua vez iniciava

um novo e complexo capiacutetulo na histoacuteria da regiatildeo Algo que viria a marca profundamente

natildeo soacute a paisagem com a retirada da cobertura vegetal para a implantaccedilatildeo das ldquoespinhas de

progressordquo como ficaram conhecidas as rodovias implantadas na Amazocircnia mas tambeacutem a

vida das centenas de milhares pessoas que migraram para o entorno das futuras rodovias

Essas populaccedilotildees tiveram que se adaptar ao ambiente amazocircnico ao mesmo tempo tambeacutem

trouxeram seus haacutebitos e costumes promovendo a troca de conhecimentos com as

populaccedilotildees ribeirinhas o que viria a permitir definitivamente a ocupaccedilatildeo da regiatildeo ateacute

entatildeo considerada um vazio demograacutefico Embora o ciclo da borracha tenha levado milhares

de nordestinos em sua maioria a regiatildeo amazocircnica no final do seacuteculo XIX ateacute a primeira

deacutecada do seacuteculo XX caberia aos migrantes e imigrantes das rodovias darem o ponto de

partida para transformaccedilatildeo definitiva da paisagem e a consolidaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo da regiatildeo

adaptando-se a realidade local que muitas vezes longe de centros urbanos eacute residir em

aacutereas de vaacuterzea Diante disso buscou-se Analisar as possiacuteveis alteraccedilotildees na vida de

populaccedilotildees ribeirinhas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri frente agrave

reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas

tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras Para isso faz-se necessaacuterio

identificar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) e o consequente

decliacutenio no volume de produccedilatildeo agriacutecola tento como referecircncia a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio Negro Caracterizar a percepccedilatildeo dos moradores dessas localidades sua relaccedilatildeo

com o ecossistema e perspectiva de desenvolvimento do lugar Propor alternativa de

Educaccedilatildeo Ambiental que considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e

sustentabilidade com a reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da estrada BR-319

Para executar tais objetivos a pesquisa foi dividida em duas etapas na primeira etapa foram

entrevistados os moradores mais antigos das duas localidades e na segunda etapa da

pesquisa agraves entrevistas foram expandidas aos chefes de famiacutelia com quarenta entrevistados

em cada localidade A partir das investigaccedilotildees realizadas e da anaacutelise dos dados coletados

foi possiacutevel detectar a percepccedilatildeo dos entrevistados quanto agrave reabertura da BR-319 e a

construccedilatildeo da ponte sobre o rio Solimotildees Dessa forma percebeu-se uma tendecircncia de

entusiasmos com a possibilidade de realizaccedilatildeo das obras ao mesmo tempo que gera

cautela nos entrevistados quanto aos impactos dessas obras sobre a floresta Amazocircnica

Palavras chaves Estradas na Amazocircnia ponte sobre o Rio Solimotildees percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Educaccedilatildeo Ambiental

9

ABSTRACT

The immense border and the dense forest cover encouraged by the military discourse of ldquoa

place without people craving for historyrdquo made the Amazon region a target to many

massive projects of development and national integration in the beginning of XX Century

which led to a new and complex chapter in the history of this regionThis is something that

would deeply scar not just the landscape with the major deforesting to implant the roads at

the Amazon as known as ldquospines of progressrdquo but also the life of hundreds of thousands of

people that migrated to the surrounds of those that would be the future highways These

populations had to adapt to traditions which fomented the exchange of knowledge

between the riverine populations which allowed the occupation of this area that was

considered as demographic emptiness Although the Latexrsquos cycle had brought thousands of

people most of them from the Northeast region to the Amazon region in the end of the XIX

Century until the first decade of the XX Century However it was the role of the migrants

and immigrants of the roadways to start the transformation that would define the

landscape and consolidate the occupation at this region adapting to local reality that

sometimes located far away from the urban centers itrsquos inhabit in riparian areas Taking this

in consideration this project aimed analize the possible alterations on the lifes of the

riparian populations sited at ldquoBela Vista Communityrdquo (Municipality of Manacapuru) and the

headquarters of the Municipality of Manaquiri ndash AM in view of the re-opening of the

highway BR-319 Considering that the building of the bridge over the SolimotildeesAmazonas

River will probably have as initial points those two locations For this its necessary identify

the present scenery of the fluvial geomorphology (upper land and floodplain) and the

consequent decline of the agricultural production having as reference the building of the

bridge over the Negro River Characterize the perception of the inhabitants of those

locations their relation with the ecosystem and the development perspective of the locality

Propound an alternative of Environmental Education that consider geographic aspects of the

region their complexity and sustainability with the spatial reconfiguration resulting from

the re-opening of the highway BR-319 To achieve such objectives the research was divided

in two phases In the first were interviewed the elders inhabitants at both locations Bela

Vista Community and the headquarters of the Municipality of Manaquiri In the second

phase were realized interviews with the familiesrsquo chiefs with forty inhabitants interviewees

in each locality Starting from the examination realized and from the analyzes of the

collected data it was possible detect the perception of the interviewees referring to the re-

opening of the highway BR-319 and the building of the bridge over the Solimotildees River

Therefore it was noticed a trend of enthusiasm regard the possibility of the fulfillment of

the construction at same time that generates some reservations in the interviewees about

the impacts of those works over the Amazon Forest

Keywords Roads in Amazon ndash Bridge Over the Solimotildees River ndash Transdisciplinary Perception

ndash Environmental Education

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia 24

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees 26

Figura 3 Primeira parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT41

Figura 4 Segunda parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT 42

Figura 5 Cruzeiros atracados no porto de Manaus43

Figura 6 Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia 46

Figura 7 BR-163 Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia48

Figura 8 Placa de bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica)49

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-23051

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista- Manacapuru57

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para o transporte61

Figura 12 Sede do municiacutepio de Manaquiri e sua topografia64

Figura 13 Frente da cidade de Manaquiri67

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri70

Figura 15 Centro comercial na sede municipal de Manaquiri70

Figura 16 Sede da comunidade da Bela Vista e sua topografia 82

Figura 17 Vista do rio SolimotildeesAmazonas da comunidade da Bela Vista83

Figura 18 Casa do administrador da Colocircnia85

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal por moradores da Bela Vista91

Figura 20 Usina de beneficiamento da CANA92

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA92

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista agrave margem do rio

SolimotildeesAmazonas93

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de vaacuterzea da comunidade da Bela Vista93

11

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio

SolimotildeesAmazonas94

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade104

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo109

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos113

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (AM-070)114

Figura 31 Aacutervores de castanheiras no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano

(AM-070)115

Figura 32 Ponte Rio Negro117

Figura 33 Iranduba 2007 antes da contruccedilatildeo da Ponte Rio Negro119

Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro121

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro122

Figura 36 Estrutura da Pesquisa127

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos128

Figura 38 Respostas dos entrevistados (1 a 4)129

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (perguntas 5 a 8)130

Figura 40 Resposta dos entrevistados (perguntas 9 e 10)131

Figura 41 Rua da comunidade da Bela Vista137

Figura 42 Sede do municiacutepio de Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa142

Figura 43 Paranaacute do Manaquiri150

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio de Manaquiri151

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas152

Figura 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia156

Figura 47 Rodovias Federais no Amazonas157

12

Figura 48 BR-317 ou Caarretera Del Paciacutefico158

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru159

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil159

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea- AM161

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira162

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant ndash Atalaia do Norte 164

Figura 54 BR-307 ndash Asfalto cedendo no 22km164

Figura 55 BR-230Amazonas166

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica170

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174171

Figura 58 A evoluccedilatildeo do territoacuterio Waimiri Atroari179

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319185

13

GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados da Bela Vista135

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista136

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista139

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte rio Solimotildees140

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319140

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri143

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo lhes agrada no Manaquiri144

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri145

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores de Manaquiri147

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio SolimotildeesAmazonas148

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319149

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia152

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores da sede municipal de Manaquiri sobre as consequecircncias

da construccedilatildeo de uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 Produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia59

Tabela 3 Crescimento populacional de Manaquiri entre (1991 a 2010 )67

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas68

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri de Janeiro a Dezembro de 201271

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo Agriacutecola da CANG75

Tabela 7 Crescimento populacional dos estados do Amazonas e Paraacute (1900-1950)80

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento do IIRSA124

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea

- AM165

Tabela 10 Crescimento populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas169

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atroari de 1905 ndash 2011172

Tabela 12 Crescimento populacional da regiatildeo Norte do Brasil182

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000- 2012)187

15

LISTA DE SIGLAS

BASA- Banco da Amazocircnia

BID- Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico

CANA- Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas

CAND- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados

CANG- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes

DEREM- Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Amazonas

DNER- Departamento Nacional de Estrada de Rodagem

FERMM- Fundo Especial da Regiatildeo de Metropolitana de Manaus

FIDAM- Fundo de Investimento Privado do Desenvolvimento

FNO- Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FONPLATA- Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

FUNAI- Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRA- Instituto Brasil de Reforma Agraacuteria

IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal

IIRSA- Iniciativa de Integraccedilatildeo Regional Sul Americana

INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

INIC- Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo

IPAAM- Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental da Amazocircnia

IPHAN- Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

PICs- Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo

PIND- Programa de Integraccedilatildeo Nacional de Desenvolvimento

16

PND- I Plano Nacional de Desenvolvimento

PNN- Plano Nossa Natureza

POLAMAZOcircNIA- Polos Agropecuaacuterios e Agrominerais da Amazocircnia

PRODES- Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica brasileira por sateacutelite

RMM- Regiatildeo Metropolitana de Manaus

SEMTA- Serviccedilo Especial de Mobilizaccedilatildeo de Trabalhos para a Amazocircnia

SEPROR- Secretaacuteria de Estado da Produccedilatildeo Rural

SNAPP- Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute

SPI- Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

SRMM- Secretaacuteria Executiva do Conselho de Desmatamento Ambiental da Regiatildeo

Metropolitana de Manaus

SUFRAMA ndash Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus

UAB- Usina Hidreleacutetrica de Balbina

UFAM- Universidade Federal do Amazonas

17

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO19

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS23

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO31

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTOS E INTEGRACcedilAtildeO

NACIONAL34

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA40

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO

SOLIMOtildeESAMAZONAS52

21 ndash QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA

AMAZOcircNIA57

211 ndash Um Lugar Chamado Manaquiri63

222 ndash Infraestrutura do Manaquiri Produccedilatildeo Agriacutecola68

22 ndash MARCHA PARA O OESTE E A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS72

221 ndash Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- Cana ldquoUm Lugar Para recomeccedilarrdquo78

222 ndash Infraestrutura da Cana da Produccedilatildeo Agriacutecola a Construccedilatildeo de Batelotildees85

223 ndash Da Sede da CANA agrave comunidade da Bela Vista87

3 ndash PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO96

31- RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR104

32 - MANAUS METROacutePOLE105

321 Ponte Rio Negro Proposta e Realidade108

33- PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS 116

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI 125

341 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Bela Vista 135

18

342 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Sede do Municiacutepio de

Manaquiri142

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR NO FUTURO ALTERNATIVA DE

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS153

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO158

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute162

43 BR-230 TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Aacute FAZENDAS DE

GADO165

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute-RR DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI)170

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO180

46 ndash OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES188

461 Proposta de Educaccedilatildeo Ambiental Audiecircncias Puacuteblicas e o preparo das localidades

ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri192

CONSIDERACcedilOtildeS FINAIS201

REFEREcircNCIAS204

APEcircNDICE 1219

APEcircNDICE 2220

19

INTRODUCcedilAtildeO

No final do seacuteculo XIV com o objetivo de comprar especiarias como accedilafratildeo canela

pimenta entre outros na Iacutendia os europeus principalmente portugueses e espanhoacuteis se

viram obrigados a encontrar uma rota alternativa para chegar a chamada Iacutendias Orientais

dando inicio agrave corrida pelas Grandes Navegaccedilotildees tornando os mares as principais vias de

circulaccedilatildeo de pessoas e mercadores a partir do seacuteculo XV intensificado ainda mais com a

descoberta das Ameacutericas

A preocupaccedilatildeo de invasotildees por paiacuteses adversaacuterios provocou a fundaccedilatildeo de

pequenas vilas e fortes ao longo dos litorais das Ameacutericas com o intuito de defender o

territoacuterio receacutem-descoberto Todavia a ocupaccedilatildeo de terras situadas proacuteximas a cursos de

aacutegua eacute anterior agraves Grandes Navegaccedilotildees uma vez que as cidades mais antigas do mundo tecircm

suas origens proacuteximas a cursos drsquoaacutegua mares e oceanos Como por exemplo a cidade de

Jericoacute na Palestina considerada a aglomeraccedilatildeo urbana mais antiga do mundo com data de

nove mil anos aC estaacute diretamente ligada ao rio Jordatildeo (VOGUE 2012) Outras cidades

consideradas antigas satildeo Mumbai na Iacutendia banhada pelo Oceano Iacutendico Xangai na China

banhada pelo Mar da China Meridional

No Brasil natildeo seria diferente uma vez que foi Colocircnia de Portugal no litoral e

Colocircnia Espanhola na Amazocircnia ateacute os espanhoacuteis serem expulsos pelos portugueses da

regiatildeo no seacuteculo XVII Entretanto os resquiacutecios da colonizaccedilatildeo portuguesa persistiram no

litoral criando primeiramente vilas depois cidades em constante crescimento populacional

concentradas em pequenos centros urbanos agrave principio e depois em meacutedios centros nos

seacuteculos seguintes

Com a libertaccedilatildeo dos escravos em 1888 novas aacutereas passam a ser ocupadas no

entorno dos centros urbanos ou no meio deles como eacute o caso dos morros na cidade do Rio

de Janeiro no inicio de 1900

A populaccedilatildeo brasileira concentrada quase em sua totalidade no litoral brasileiro no

inicio do seacuteculo XX definia a maior parte do territoacuterio como espaccedilos ldquovaziosrdquo o Governo

Brasileiro na pessoa do entatildeo Presidente da Repuacuteblica Getuacutelio Vargas (1938-1942) diante

20

dessa situaccedilatildeo criou as Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional enfatizando a ocupaccedilatildeo

principalmente da Amazocircnia e do Centro-Oeste brasileiro

Entretanto esta natildeo foi a primeira poliacutetica de povoamento da Amazocircnia pois o

primeiro Ciclo da Borracha aconteceu entre 1879-1912 onde centenas de milhares de

pessoas migraram para a regiatildeo com o objetivo de trabalharem na retirada do laacutetex da

seringueira (Hevea brasiliensis)

Contudo essa migraccedilatildeo em considerada escala natildeo permaneceu por um longo

periacuteodo tambeacutem natildeo chegou a ocupar significativa porcentagem da Amazocircnia isto eacute os

imigrantes se concentravam em poucos locais chamados de ldquoseringaisrdquo situados ao longo

dos rios no sudoeste do Amazonas e posteriormente no estado do Acre receacutem-

conquistado

As Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional criadas e iniciadas por Vargas em 1940 com o

Decreto-Lei nordm 2009 de 09 de Fevereiro de 1940 daacute inicio a criaccedilatildeo de Nuacutecleos Coloniais

(lotes rurais previamente demarcados) com o objetivo de incentivar a colonizaccedilatildeo e a

produccedilatildeo agriacutecola em aacutereas consideradas vazias desde que as aacutereas escolhidas reunissem

as condiccedilotildees exigidas na lei

Em 14 de Fevereiro de 1941 atraveacutes do Decreto-Lei nordm3059 criam-se as Colocircnias

Agriacutecolas Nacionais custeadas integralmente pelo governo federal Entre as colocircnias

fundadas estaacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA criada pelo Decreto-Lei nordm

8056 de 30 de Dezembro de 1941 localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem

esquerda do rio Solimotildees com o nome de Colocircnia Agriacutecola Nacional da Bela Vista

A presente pesquisa pretendeu fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo e

funcionamento CANA utilizando-se de entrevistas com os colonos que continuam morando

na regiatildeo Ao mesmo tempo fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo da cidade sede do

municiacutepio do Manaquiri situado agrave margem direita do Rio Solimotildees

Poreacutem o trabalho natildeo eacute somente um resgate histoacuterico pois o mesmo tambeacutem

identifica os impactos das grandes obras para reabertura da BR 319 na visatildeo dos moradores

das localidades ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri e posteriormente estruturar uma

alternativa que propicie informaccedilotildees aos moradores para a tomada de decisatildeo em relaccedilatildeo

aos empreendimentos propostos visando agrave construccedilatildeo de cenaacuterios futuros de modo a

garantir a conservaccedilatildeo do ambiente

21

O problema que norteou a pesquisa estaacute relacionado agrave proposta de

desenvolvimento da Amazocircnia compatibilizada com a sua conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as alteraccedilotildees na vida de

ribeirinhos do rio SolimotildeesAmazonas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri

no estado do Amazonas frente agrave reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte

sobre o rio tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras

Para o alcance desse objetivo geral a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos

especiacuteficos analisar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) visando o

comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis e o consequente decliacutenio no volume da produccedilatildeo

agriacutecola caracterizar a percepccedilatildeo dessas comunidades sua relaccedilatildeo com o ecossistema e

perspectiva de desenvolvimento do lugar propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental que

considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e sustentabilidade com a

reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da BR-319

A dissertaccedilatildeo estaacute organizada em quatro capiacutetulos Floresta Amazocircnica realidade e

desafios A vida ribeirinha em torno da sazonalidade do rio SolimotildeesAmazonas Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Complexidade perspectiva de Desenvolvimento Educaccedilatildeo Ambiental e

Poliacuteticas de Desenvolvimento para a Amazocircnia

Ao longo do primeiro capiacutetulo discutiu-se as diversas abordagens sobre a

Amazocircnia acompanhada da sua demarcaccedilatildeo territorial seja ela feita pelo bioma amazocircnico

ou pela delimitaccedilatildeo de Amazocircnia Legal Brasileira o processo de evoluccedilatildeo do pensamento

histoacuterico sobre a regiatildeo do claacutessico ao moderno baseado em autores que classificam a

Amazocircnia segundo seus aspectos fiacutesicos Os projetos de desenvolvimento implantados na

regiatildeo foram ressaltados em seus respectivos momentos histoacutericos e suas representaccedilotildees

tanto para seus executores quanto para o momento poliacutetico de cada eacutepoca Nesse sentido

foram descritos o potencial hiacutedrico da regiatildeo e a opccedilatildeo de rodovias para alcanccedilar natildeo soacute as

fronteiras mas para minimizar os problemas enfrentados em outras regiotildees brasileiras bem

como a seca no nordeste e o excesso de matildeo de obra

No segundo capiacutetulo foi traccedilado um panorama sequencial apoacutes a quebra da

borracha e os reflexos nas margens dos rios da regiatildeo com a

migraccedilatildeo dos ex-seringueiros para proacuteximo dos centros urbanos a fundaccedilatildeo de pequenos

povoados ao longo das calhas dos rios e a fundaccedilatildeo da Vila do Jaraqui que mais tarde se

22

tornaria a cidade de Manaquiri no estado do Amazonas No mesmo capiacutetulo descreve-se a

fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA com a chegada de

seus futuros colonos sua distribuiccedilatildeo espacial e posteriormente a sua transformaccedilatildeo ao

longo dos anos com a vinculaccedilatildeo ao municiacutepio de Manacapuru como uma comunidade

rural

No terceiro capiacutetulo discutiu-se as bases teoacutericas da percepccedilatildeo transdisciplinar e a

perspectiva de desenvolvimento dividido em dois momentos no primeiro apresenta-se o

conceito de percepccedilatildeo transdisciplinar e seus pilares ontoloacutegico a loacutegica do terceiro

incluiacutedo e a complexidade com seus tambeacutem trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional

e hologramaacutetico No segundo momento eacute discutido o conceito de desenvolvimento

empregado na criaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Manaus e na construccedilatildeo da ponte sobre

o rio Negro considerada a ldquoponte do futurordquo porque permitiraacute o acesso agrave BR 319 com a sua

vinculaccedilatildeo agrave ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas Ainda no capiacutetulo trecircs foi discutida a

percepccedilatildeo ambiental dos entrevistados sobre o meio ambiente natural onde vivem e sua

relaccedilatildeo com o mesmo visando colher informaccedilotildees que possam vir a ser usadas para a

sensibilizaccedilatildeo das localidades da Bela Vista e do Manaquiri

No quarto e uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho foi feito um resgate histoacuterico da

Educaccedilatildeo Ambiental no Brasil e no mundo assim como os impactos das rodovias

construiacutedas na Amazocircnia de forma a relacionar com as informaccedilotildees apontadas pelos

moradores da Bela Vista e de Manaquiri em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio

SolimotildeesAmazonas Ao mesmo tempo a pesquisa propotildee a execuccedilatildeo de alternativas de

Educaccedilatildeo Ambiental a fim de contribuir com a formaccedilatildeo de uma opiniatildeo puacuteblica baseada

em informaccedilotildees concretas de diversas fontes considerando a complexidade da questatildeo

ambiental

23

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS

A Floresta Amazocircnica Tropical ou Limite Panamazocircnica estaacute situada no norte da

Ameacuterica do Sul compreendendo os paiacuteses Boliacutevia Brasil Equador Colocircmbia Peru e a

Venezuela o equivalente a ldquo120 da superfiacutecie terrestre e dois quintos da Ameacuterica do Sul

conteacutem um quinto da disponibilidade mundial de aacutegua doce (17) e um terccedilo das florestas

mundiais latifoliadas mas somente 35 mileacutesimos da populaccedilatildeo planetaacuteriardquo(BECKER 2009

p33)

O Brasil deteacutem a maior parte da Florestal Tropical Amazocircnica ou Bioma Amazocircnico

que por coincidecircncia eacute toda a regiatildeo norte do paiacutes com aproximadamente 42 milhotildees de

kmsup2 o equivalente a 49 de todo o territoacuterio brasileiro abrangendo nove estados satildeo eles

Amazonas Paraacute Mato Grosso Acre Rondocircnia Roraima Amapaacute e partes dos estados de

Tocantins e Maranhatildeo (GREENPEACE 2014)

O Bioma Amazocircnico no Brasil eacute corriqueiramente confundido com a Amazocircnia

Legal instituiacuteda pela Lei nordm nordm 1806 de 06 de Janeiro de 1953 que discorre em seu art 2ordm

Art 2ordm A Amazocircnia Brasileira para efeito de planejamento econocircmico e execuccedilatildeo do Plano definido nesta lei abrange a regiatildeo compreendida pelos Estados do Paraacute e do Amazonas pelos territoacuterios federais do Acre Amapaacute Guaporeacute Roraima e ainda a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16ordm a do Estado de Goiaacutes a norte Tocantins e a do Maranhatildeo a oeste do meridiano de 44ordm (BRASIL 1953 p 276)

Com isso a Amazocircnia Legal abrange integralmente ou parcialmente dez estados

brasileiros que somados correspondem a 52 milhotildees de quilocircmetros quadrados sendo eles

Amazonas Paraacute Acre Amapaacute Rondocircnia (antigo estado de Guaporeacute) Roraima significativa

porcentagem do estado do Mato Grosso e aproximadamente metade do estado de Goiaacutes

juntamente com Tocantins e parte do Maranhatildeo (Figura 1)

24

O bioma Amazocircnico eacute classificado como uma recente planiacutecie sedimentar que

segundo Soares (1963 p25) estaacute ldquodisposta entre dois antigos e poucos elevados planaltos

cristalinosrdquo o que justifica sua pouca declividade em direccedilatildeo agrave sua foz no Oceano Atlacircntico

Banhada por uma intensa e extensa bacia hidrograacutefica a Amazocircnia eacute definida pela

literatura e pelos meios de comunicaccedilatildeo como uma regiatildeo homogecircnea de clima uacutemido de

cobertura vegetal e florestal densa (GONCcedilALVES 2001) No entanto tais definiccedilotildees sobre a

regiatildeo foram construiacutedas ao longo dos seacuteculos primeiramente com a chegada dos

espanhoacuteis agrave regiatildeo apoacutes perpetuados relatos e descriccedilotildees das paisagens encontradas

Uma visatildeo interessante sobre a Amazocircnia eacute apresentada por Rangel (2009) no inicio

do seacuteculo XX por meio de sete contos nos quais o autor destroacutei a imagem de um Eldorado

Amazocircnico construiacutedo ao longo de quatro seacuteculos apoacutes o seu descobrimento onde os

exploradores que se aventuravam pela regiatildeo descreviam suas paisagens animais cores e os

iacutendios encontrados cercados por romantismo

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia Fonte Greenpeace (2014) disponiacutevel em httpwwwgreenpeaceorgbrasilGlobalbrasilimage20105mapa_amazoniajpg

25

Rangel (2009) descreve uma realidade cruel enfrentada pelos homens que

ultrapassam a sua bela paisagem e se encontram face a face com os perigos escondidos na

floresta

Eacute compreensiacutevel a construccedilatildeo de um cenaacuterio tatildeo monstruoso e cruel uma vez que o

ser humano por essecircncia tem medo do desconhecido e costuma criar estoacuterias para

justificar seus medos contudo se faz necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo o contexto histoacuterico

especiacutefico de cada publicaccedilatildeo

Na verdade o Eldorado Amazocircnico ou o Paraiacuteso Perdido foram contos trazidos pelos

proacuteprios navegadores E satildeo na verdade contos da Greacutecia Antiga transmitidos ao longo dos

seacuteculos que foram implantados sobre a regiatildeo baseados nas semelhanccedilas fiacutesicas como

floresta aacutegua em abundacircncia minerais animais etc

Portanto a definiccedilatildeo de Amazocircnia ldquoeacute na verdade mais uma imagem sobre a regiatildeo

do que da regiatildeordquo (GONCcedilALVES 2001 p17) Em outras palavras a descriccedilatildeo das

caracteriacutesticas do lugar define um quadro belo mais ou menos homogecircneo sobre a regiatildeo

quando na verdade o termo Amazocircnia

eacute um termo vago que adquire muacuteltiplos significados correspondente aos mais diferentes contextos socioecoloacutegico-culturais especiacuteficos que satildeo os espaccedilos do seu cotidiano Assim enquanto para uns ndash os de fora ldquoAmazocircniardquo aparece no singular para outros isto eacute para os que nela moram ndash ela eacute plural e multifacetada (GONCcedilALVES 2001 p18)

Banhada por uma extensa e intensa bacia hidrograacutefica apoiada em altos iacutendices

pluviomeacutetricos anuais eacute uma floresta gigantesca em tamanho e diversidade torna a

Amazocircnia o palco de espetaacuteculos beliacutessimos em sua paisagem (Figura 2)

26

Contudo segundo Soares (1963) a Amazocircnia estaacute dividida em dois terrenos de

caracteriacutesticas fisionocircmicas distintas

[]os planos ondulados alagaacuteveis ou natildeo mas sempre uacutemidos da bacia amazocircnica A chamada Mata de Vaacuterzea ou caa-igapoacute eacute uma das taxas de umidade mais elevada isto eacute uma planiacutecie aluvial inundaacutevel [] Jaacute a outra a Mata de Terra Firme ou caa-eteacute viceja em terrenos menos uacutemidos por estarem acima do niacutevel maacuteximo das cheias (SOARES 1963 p64)

Azevedo (1949) destaca que a Amazocircnia assim como o restante do territoacuterio

brasileiro comporta bacias sedimentares e tambeacutem rochas cristalinas muito antigas

Baseado nos trabalhos publicados e apoiado em suas pesquisas de campo Azevedo (1949)

classificou pela primeira vez todo o relevo brasileiro em macro sistemas dividido-os

segundo sua altimetria planiacutecies ateacute 200m e planaltos com altimetria superior a 200m

Nesse contexto agrave Amazocircnia Brasileira foi classificada como um planalto localizado no

extremo norte da regiatildeo chamado de Planalto das Guianas e possui uma planiacutecie que

comporta todo o estado do Acre adentra o estado do Amazonas e segue o curso do rio

Amazonas ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico

No final da deacutecada de 50 surge uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro de

autoria de AbrsquoSaber (1958) que teve por base o conjunto de agentes internos (tectonismo) e

externos (clima solo hidrografia etc) e os processos geomorfoloacutegicos de erosatildeo e

deposiccedilatildeo onde o planalto eacute uma superfiacutecie de intensa erosatildeo e a planiacutecie de sedimentaccedilatildeo

Fez uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro acrescentando novas tipologias e

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees

Fonte Louzada (2011)

27

subdividindo outras jaacute existentes em Azevedo (1949) foi o que ocorreu na classificaccedilatildeo do

relevo amazocircnico onde o Planalto das Guianas e a Planiacutecie Amazocircnica de Azevedo (1949)

passou a ser denominada de planiacutecies (terras de vaacuterzea ou terraccedilos fluviais) e terras baixas

amazocircnicas (aacutereas de terra firme ou baixos planaltos)

Todavia o trabalho de Ross (2003) foi um marco na caracterizaccedilatildeo do relevo

brasileiro pois atraveacutes do Projeto Radam Brasil o autor teve a oportunidade de sobrevoar

todo o territoacuterio brasileiro e ter acesso as imagens aeacutereas de radar que o permitiu fundir

informaccedilotildees tanto dos processos morfoestruturais (depressatildeo planalto planiacutecie etc) e

estrutura geoloacutegica como utilizar o criteacuterio morfoclimaacutetico principalmente do intemperismo

(erosatildeo e deposiccedilatildeo) Tanto conhecimento que permitiu ao autor expandir a caracterizaccedilatildeo

do relevo brasileiro caracterizando-o em 28 unidades de revelo

Na classificaccedilatildeo de Ross (2003) a Amazocircnia estaacute dividida assim Planalto Residual

Norte Amazocircnico Planalto da Amazocircnia Oriental Planalto Residual Sul Amazocircnico Planalto

e Chapada dos Parecis Depressatildeo Marginal Norte Amazocircnica Depressatildeo Marginal Sul

Amazocircnica Planiacutecie do Rio Amazonas Planiacutecie do Pantanal Guaporeacute Planiacutecies e Tabuleiros

Litoracircneos e Planiacutecie do Rio Araguaia

Apesar da nomenclatura diferente a Planiacutecie do Rio Amazonas descrita por Ross

(2003) eacute a mesma planiacutecie de terras baixas descritas por AbrsquoSaber (1958) onde predominam

terras alagaacuteveis conhecidas como vaacuterzeas Soares apud Camargo (1963) afirma que as

vaacuterzeas correspondem a 15 de todo o territoacuterio da Amazocircnia Brasileira

As terras de vaacuterzea satildeo cobertas pela sazonalidade do rio em meacutedia seis meses ao

ano todavia ao contraacuterio do que muitos leigos dizem as terras natildeo satildeo lavadas pelo rio ao

contraacuterio satildeo nutridas pelo mesmo atraveacutes da deposiccedilatildeo de materiais conhecidos como

aluviotildees (depoacutesitos de sedimentos trazidos pelas aacuteguas) o que torna as terras de vaacuterzea

feacuterteis e cultivaacuteveis em seu periacuteodo seco

A mata de vaacuterzea apresenta maior diversidade botacircnica que a mata de terra firme

devido agrave quantidade e variedade de sementes transportadas pelas aacuteguas das cheias anuais

depositadas nos solos ricos das vaacuterzeas Um grande exemplo dessa diversidade eacute a aacutervore

Samauacutema (Ceiba Pentandra) detentora de um tronco grosso e coloraccedilatildeo esbranquiccedilada

que apresenta uma grande copa e de relativa altura ultrapassando os 50m sendo

considerada a ldquorainha da vaacuterzeardquo (SOARES 1963)

28

Por causa de sua nutriccedilatildeo anual as terras de vaacuterzea satildeo ocupadas pelas populaccedilotildees

ribeirinhas tradicionais para a produccedilatildeo agriacutecola por meio do plantio de cultivos de ciclo

curto como frutas (melancia maracujaacute banana melatildeo mamatildeo papaia goiaba) mas

principalmente de verduras (cebolinha coentro alfavaca couve berinjela pepino alface

entre outras) aleacutem da macaxeira e da mandioca que em seguida eacute utilizada na fabricaccedilatildeo da

farinha de mandioca muito consumida na regiatildeo Eacute atraveacutes das vaacuterzeas tambeacutem que as

populaccedilotildees tradicionais manteacutem seu contato diaacuterio com o rio principal via de circulaccedilatildeo na

Amazocircnia

Geralmente proacuteximas agraves vaacuterzeas que se formam as ilhas fluviais que segundo Sioli

apud Pacheco et al (2012 p543) satildeo fruto ldquodas modificaccedilotildees constantes na paisagem

atraveacutes do processo das planiacutecies de inundaccedilatildeovaacuterzeas ora erodindo-as e outras vezes

sedimentando-asrdquo

Essa dinacircmica acontece porque no processo fluvial de um rio a competecircncia e a capacidade estatildeo atreladas a triacuteade fluvial 1) erosatildeo 2) transporte das cargas detriacuteticas e 3) deposiccedilatildeo (BIGARELLA e SUGUIU 1990CHRISTOFOLETTI1980 e 1991) Ressalta-se desse modo que essa dinamicidade das aacuteguas fluviais natildeo contribui apenas para o modelado do relevo das planiacutecies aluviais pois ao desencadear o processo da triacuteade influencia na vida do homem de maneira que o atrai para a edificaccedilatildeo do seu sistema de produccedilatildeo [] Nessa dinacircmica vai deixando bancos dentriacuteticos que chegam a formar ilhas fluviais que constituem o ecossistema de vaacuterzea onde o homem passa a interagir com seu modo de vida (PACHECO et al 2012 p543)

Os autores referem-se agrave utilizaccedilatildeo das ilhas fluviais pelos ribeirinhos para a

produccedilatildeo agriacutecola de alimentos de ciclo curto como feijatildeo de metro ou corda feijatildeo de

praia melancia entre outros para complementar a alimentaccedilatildeo familiar ou para a venda no

mercado consumidor mais proacuteximo

Ao contraacuterio dos solos de vaacuterzea que satildeo nutridos pelas aacuteguas dos rios quando satildeo

cobertos pelas cheias os solos de terra firme nunca satildeo totalmente cobertos pelas aacuteguas

nem quando as enchentes extrapolam sua cota normal o que natildeo permite a nutriccedilatildeo dos

seus solos que eacute parcialmente alcanccedilado com a decomposiccedilatildeo das folhas das aacutervores e dos

proacuteprios nutrientes do solo

Apesar da ausecircncia de depoacutesitos aluviais nas aacutereas de terra firme isto natildeo impede a

existecircncia de aacutervores consideradas nobres como o mogno (Swieteniamahogany) angelim

(Hymenolobim excelsum) maccedilaranduba (Lucuma procera) e uma gigantesca lista de outras

29

espeacutecies de madeiras de lei (SOARES 1963) de grande procura no mercado o que torna as

aacutereas de terra firme da Amazocircnia alvo de grande empresas madeireiras

Devido ao seu gigantesco territoacuterio maior do que o nordeste brasileiro inteiro e

qualquer outra regiatildeo do paiacutes a Amazocircnia ainda eacute vista como um ldquovazio demograacuteficordquo pois

sua populaccedilatildeo mesmo somando os sete estados que compotildeem a regiatildeo norte do paiacutes natildeo

expressa um nuacutemero significativo de habitantes pois tem densidade demograacutefica meacutedia de

444 (habkmsup2) (IBGE 2010)

Por anos a Amazocircnia foi definida e divulgada em larga escala ao mundo como

sendo uma regiatildeo monoacutetona e pouco compartimentalizada desprovida de diversidade

fisiograacutefica e ecoloacutegica ldquoEnfim um espaccedilo sem gente e sem histoacuteria passiacutevel de qualquer

manipulaccedilatildeo por meio de planejamento feito a distacircncia ou sujeita a proposta de obras

faraocircnicas vinculadas haacute um muito falso conceito de desenvolvimentordquo (ABrsquoSABER 1996

p131)

Nesse contexto de ldquoabundacircnciardquo de recursos naturais e terras disponiacuteveis a

Amazocircnia foi e continua sendo a preocupaccedilatildeo nacional pois corresponde

aproximadamente a metade do territoacuterio brasileiro suas dimensotildees e riquezas naturais natildeo

totalmente catalogadas pelos cientistas e estudiosos acabam por atrair um grande numero

de pessoas oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo (BECKER 1997)

Diante disso com o golpe do Estado Novo executado por Getuacutelio Vargas em 1937

contra os candidatos agrave presidecircncia da receacutem criada Repuacuteblica do Brasil Joseacute Almeida e

Armando Oliveira (acusados de serem comunistas) Vargas assume o poder em 1938

tornando prioridade a integraccedilatildeo econocircmica nacional atraveacutes da colonizaccedilatildeo de regiotildees

consideradas desabitadas como a Amazocircnia e o Centro-oeste brasileiro

Em virtude de que a capital do paiacutes ainda se encontrava no litoral na cidade do Rio

de Janeiro o nome do movimento de integraccedilatildeo nacional recebeu o nome de ldquoMarcha para

o Oesterdquo entretanto a marcha seguia em direccedilatildeo ao centro oeste em diferenccedila aos estados

de Minas Gerais Mato Grosso posteriormente ao Norte agrave Amazocircnia

A Marcha para o Oeste na verdade continha importacircncia estrateacutegica para

seguranccedila das fronteiras no entanto o objetivo principal era ocupar os espaccedilos

considerados vazios demograacuteficos e seguranccedila nacional era sua maior preocupaccedilatildeo

30

Segundo Ricardo (1970) a Marcha para o Oeste de Getuacutelio Vargas seria a

conquista de seu proacuteprio territoacuterio uma vez que o mesmo foi esquecido por muitos anos

discurso este impregnado na ampla campanha veiculada pelo raacutedio em transmissotildees

semanais incentivando a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira para os espaccedilos considerados

vazios de gente e necessitados de histoacuteria

Ainda segundo Ricardo (1970) a naccedilatildeo brasileira se concretiza na conquista do

interior do Brasil lugar de gecircnese do Estado Nacional materializado na proacutepria bandeira

ldquoQuando entra no mato a primeira bandeira termina a histoacuteria de Portugal e comeccedila a do

Brasilrdquo (RICARDO 1970 p229)

Nota-se no entanto que Ricardo (1970) eacute um grande defensor da Marcha para o

Oeste de Vargas porque deseja como jornalista escrever a histoacuteria do Brasil a partir de um

novo comeccedilo sem a influecircncia negativa do litoral visto por ele como a porta de entrada das

ideias corruptoras vindas da Europa entre elas o comunismo

Ricardo (1970 p480) afirma que a Marcha para o Oeste eacute a chance de

ldquodesfeudalizar a economia da casa-grande golpeando de morte a aristocracia do litoral

brasileirordquo

Capelato (1998) considera que a releitura do passado no caso os bandeirantes do

seacuteculo XVII e a transposiccedilatildeo para o presente impregnado em um siacutembolo a bandeira

converge para a construccedilatildeo de uma nova nacionalidade

Desse modo ldquoa bandeira no interior da tropa concentra poderes pois assume o

papel de chefe de famiacutelia substituindo o cacique e o senhor feudalrdquo (RICARDO 1970 p479)

Esta comparaccedilatildeo entre o chefe de famiacutelia o bandeirante e o chefe de estado na verdade era

uma transferecircncia de poder a bandeira que se transformava em um ldquoEstado em miniaturardquo

para a formaccedilatildeo de um Estado brasileiro com a inclusatildeo de brancos iacutendios e negros uma

democracia racial e a unidade nacional

Todavia para Lenharo (1985) a expansatildeo geograacutefica e a integraccedilatildeo territorial que o

movimento bandeirista proporcionaraacute no passado transportado ao presente (seacuteculo XX)

pela Marcha para o Oeste tendo como siacutembolo a bandeira brasileira dava contorno e

conhecimento fiacutesico do Estado Nacional ao mesmo tempo democratizaccedilatildeo agrave naccedilatildeo atraveacutes

da miscigenaccedilatildeo

31

Ricardo (1970) destaca ainda que o ato de Marcha para o Oeste natildeo eacute somente um

caminho a ser percorrido no ato de uma regeneraccedilatildeo em que a pureza do sertatildeo seraacute

submetida pelo litoral recebendo sua riqueza material e cultural

Mas sobretudo a marcha para o centro do paiacutes e depois para o oeste (no caso agrave

Amazocircnia sendo portanto o norte do paiacutes e natildeo o oeste) significava a ldquointegraccedilatildeo de

milhares de brasileiros agrave comunhatildeo nacional e seus benefiacutecios dando a oportunidade de

brasileiros de mentalidade atrasada [] penuacuteria fiacutesica [] e indigecircncia intelectual aleacutem da

miseacuteria econocircmicardquo (MESQUITA1943 p 264-265) a chance uacutenica de integraacute-los na vida

nacional levando assistecircncia agraves populaccedilotildees sertanejas ldquoignoradas e subnutridasrdquo(RICARDO

1956 p62-63)

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO

De beleza e diversidade sem igual a Floresta Amazocircnica Brasileira permaneceu

relativamente intacta apoacutes os quatro seacuteculos de sua ldquodescobertardquo pelos espanhoacuteis pois natildeo

era possiacutevel viabilizar accedilotildees que viessem a conquistar a regiatildeo ateacute entatildeo isolada dos centros

dinacircmicos do paiacutes

Contudo La Condamine apud Batista (2007 p169) destaca

[] foi encontrar o cahuchu (nome que os iacutendios davam a goma significando ao peacute da letra pau que daacute leite) na Proviacutencia de Quito e depois nas beiras do Marantildeon jaacute utilizado para a confecccedilatildeo de garrafas botas bolas e bombas ou seringas A novidade estava em que os artefatos de borrachas se mostravam impermeaacuteveis e de grande elasticidade Comunicando o achado sensacional La Condamine se apresentou a Academia de Ciecircncias de Paris (BATISTA 2007 p169)

No ano de 1745 inicia-se inuacutemeras expediccedilotildees para a Amazocircnia com o objetivo de

colher a goma e testaacute-la nos anos que se seguiram agrave ldquodescobertardquo do laacutetex diversos foram

os testes para conhecer a substacircncia e tornaacute-la resistente agraves mudanccedilas de temperatura e

suas muacuteltiplas utilizaccedilotildees

Ateacute que em 1839 depois de 94 anos de pesquisa e estudos ldquoo americano Charles

Goodyear descobriu que misturando enxofre agrave borracha (vulcanizaccedilatildeo) conseguia

aumentar-lhe a resistecircncia e tornaacute-la quase insensiacutevel agraves variaccedilotildees de

temperaturardquo(BATISTA 2007 p170)

32

Com a possibilidade de vulcanizaccedilatildeo da borracha e por consequecircncia uma maior

aplicabilidade na fabricaccedilatildeo de produtos resultou no

[] aumento consideravelmente a induacutestria de seus artefatos e consequentemente a sua extraccedilatildeo (em 1827 a Amazocircnia Brasileira jaacute exportava mais de 30 toneladas) entatildeo realizada por gente da terra agrave qual se juntariam mais tarde (pouco depois de 1850) emigrados da Proviacutencia do Maranhatildeo que se instalaram nos vales do Purus e do Solimotildees (SOARES apud REIS 1963 p119)

Segundo Soares (1963 p119)

Caberia ao nordestino poreacutem contribuir de maneira dramaacutetica e consideraacutevel para a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia Duramente castigado pela inclemecircncia do clima semiaacuterido com intermitentes e flagrante secas de sua terra natal viu na rendosa extraccedilatildeo do precioso laacutetex a soluccedilatildeo para o seu angustiado problema de sobrevivecircncia trocaria assim a miseacuteria e a falta drsquoaacutegua pela fortuna generosa num lugar onde natildeo passaria mais fome e sede O pesado tributo que aquela ldquoterra de promissatildeordquo iria cobrar-lhe mais tarde em sofrimentos fiacutesicos e ateacute com a proacutepria vida lhe era ainda desconhecido (SOARES 1963 p119)

Diante das rigorosas secas a partir de 1870 levas de migrantes

[] flagelados famintos doentes e desesperados lanccedilaram-se no ldquoinferno verderdquo da Amazocircnia que desconheciam totalmente numa migraccedilatildeo desordenada ldquodolorosa e anaacuterquicardquo na realidade um verdadeiro ecircxodo forccedilado mais pela fome e pela sede do que pela ambiccedilatildeo de uma riqueza que se afigurava faacutecil Oriundos principalmente do estado do Cearaacute o nordestino viesse de que estado fosse do Nordeste era chamado ldquocearenserdquo pelos habitantes da Amazocircnia (SOARES1963 p120)

Soares (1963) descreve que os maiores deslocamentos de nordestinos para a

Amazocircnia eram observados por ocasiatildeo das grandes secas e principalmente se

coincidissem com o alto preccedilo da borracha nos mercados internacionais

Soares (1963 p123) afirma que ateacute 1930 calculou-se que 200 mil nordestinos

migraram para a Amazocircnia em busca de terras para cultivar e uma chance de sobreviver e

criar seus filhos Foi atraveacutes deste e de muitos outros movimentos migratoacuterios em direccedilatildeo agrave

Amazocircnia que foi se construindo ao longo dos anos e seacuteculos o que conhecemos hoje

como espaccedilo geograacutefico amazocircnico

Dardel (2011 p3) descreve o espaccedilo geograacutefico como sendo ldquoum horizonte uma

modelagem cor densidade Ele eacute soacutelido liacutequido ou aeacutereo largo ou estreito ele limita e

33

resisterdquo Tal descriccedilatildeo do espaccedilo relembra o rigor da ciecircncia frente agraves lentes de um

observador justo que seleciona imagem que reafirme seu amparo e sua medida

Todavia Dardel tambeacutem afirma que eacute funccedilatildeo da ldquogeografia segundo a etimologia

fazer a descriccedilatildeo da Terrardquo (DARDEL 2011 p3) Prossegue ressaltando que diferentemente

do rigor da ciecircncia que se apega agraves paisagens e fatos que sirvam ao seu propoacutesito o

geoacutegrafo se prende agrave leitura das formas e cores da superfiacutecie terrestre atraveacutes das lentes do

romantismo onde as feiccedilotildees da Terra despertam vibraccedilotildees e cores

Por outro lado AbrsquoSaber (2011) descreve a paisagem considerando

predominantemente os aspectos fiacutesicos extensotildees planaltos planiacutecies tentando

compreender o mosaico de formas que os compotildeem todavia natildeo atraveacutes das lentes do

romantismo como afirmado por Dardel (2011) mas atraveacutes do conhecimento adquirido da

observaccedilatildeo da paisagem e suas diferentes formas

Tal descriccedilatildeo pode ser usada como uma das definiccedilotildees do que eacute ser um geoacutegrafo

entretanto o que se propotildee aqui eacute entender o que eacute espaccedilo afinal Pode ser a organizaccedilatildeo

territorial dada pelo homem em relaccedilatildeo ao meio ambiente natural (MOREIRA 2011 p41)

que leva em consideraccedilatildeo a mudanccedila da relaccedilatildeo do homem com o meio a partir de dois

periacuteodos marcantes na histoacuteria a descoberta do fogo e a domesticaccedilatildeo de algumas plantas

para a agricultura Por outro lado Dardel (2011 p03) afirma que o espaccedilo eacute geomeacutetrico e

uacutenico que tem nome proacuteprio As definiccedilotildees de espaccedilo satildeo muitas e variam dentro da

mesma ciecircncia geograacutefica mas todas de alguma forma concordam que espaccedilo eacute um lugar

em dimensotildees ampliadas de muacuteltiplas e variadas funccedilotildees que servem de base para as

relaccedilotildees humanas com o meio ambiente natural ou construiacutedo

Diante de tantas definiccedilotildees sobre o espaccedilo se torna mais faacutecil compreender a visatildeo

de Gonccedilalves (2001) sobre a Amazocircnia e suas diferentes Amazocircnias frutos de suas

conquistas Primeiramente pelos espanhoacuteis na sua descoberta posteriormente pela invasatildeo

portuguesa depois pela catequizaccedilatildeo jesuiacuteta pelas migraccedilotildees em pequena escala durante

os seacuteculos seguintes e em grande escala no Ciclo da Borracha no inicio do seacuteculo XX e as

colocircnias (japoneses em Parintins nordestinos israelenses aacuterabes em Manacapuru)

Considere-se ainda a construccedilatildeo de estradas como a BR230 ndash a Transamazocircnica (Paraiacuteba -

34

Amazonas) a BR153 (Beleacutem-Brasiacutelia) a BR174 (Manaus - Boa Vista) a BR319 (Manaus- Porto

Velho) entre outras que permitiram a chegada de mais migrantes agrave regiatildeo

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRACcedilAtildeO NACIONAL

Um dos discursos mais antigos sobre a Amazocircnia aleacutem de descrever suas

dimensotildees e paisagem estonteantes eacute a afirmaccedilatildeo erroneamente empregada de que a

regiatildeo eacute ldquoum vazio demograacuteficordquo discurso este sustentado haacute muitos seacuteculos Orellana apud

Batista (2007 p53) afirma ter encontrado aldeias ao longo do rio Amazonas com

populaccedilotildees numerosas sempre bem providas de alimentos diversos

Batista (2007 p54) relata ainda as andanccedilas do padre Antocircnio Vieira pela foz do rio

Amazonas no seacuteculo XVIII que calculou a populaccedilatildeo em dois milhotildees de iacutendios de diferentes

povos e liacutenguas mas que falavam uma liacutengua em comum Todavia outros viajantes

contestam essas informaccedilotildees culpando a floresta pela escassez da populaccedilatildeo limitada a

viver em pequenos grupos

Ateacute hoje em pleno seacuteculo XXI com toda tecnologia disponiacutevel natildeo se chegou ainda

agrave conclusatildeo do real nuacutemero da populaccedilatildeo que viveu na regiatildeo o que diratildeo os viajantes que

passaram por ela Contudo haacute concordacircncia de que a populaccedilatildeo residente ou natildeo resistiu

bravamente ldquoa mais de quatro seacuteculos de confronto com o branco representado

fundamentalmente pelos espanhoacuteis e posteriormente por portugueses e seus

descendentesrdquo (BATISTA 2007 p53)

Ao partirmos do conceito de densidade demograacutefica utilizado atualmente pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE que afirma ldquodensidade populacional eacute a

medida expressa pela relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo e a superfiacutecie do territoacuteriordquo poderiacuteamos ateacute

considerar a afirmaccedilatildeo de que a ldquoAmazocircnia eacute um vazio demograacuteficordquo se comparada agraves suas

dimensotildees geograacuteficas se esse levantamento levar em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo populaccedilatildeo-

aacuterea equacionada por relaccedilotildees sociais entre si e com a natureza ao seu entorno

(GONCcedilALVES 2001) Esse dado poderia ser repensado haja vista que as grandes cidades da

Amazocircnia como Beleacutem e Manaus cresceram ao longo dos anos em contato constante com

a floresta sem desmataacute-la por completo com exceccedilatildeo de Beleacutem em relaccedilatildeo direta com a

natureza seja atraveacutes do extrativismo da pesca ou da agricultura Natildeo cabe aqui excluir

35

Beleacutem mas destacar o seu crescimento diferenciado devido agrave sua ligaccedilatildeo terrestre com

outras cidades brasileiras

Segundo Gonccedilalves (2002) a Amazocircnia natildeo eacute um vazio demograacutefico e cultural em

virtude de natildeo estarmos pensando a partir dos amazocircnidas que tecircm muito a ensinar a toda

a humanidade porque aprenderam a viver em ldquoharmoniardquo com a natureza agrave sua volta

estando acostumados a reproduzir relatos da eacutepoca da colonizaccedilatildeo da regiatildeo muitas vezes

apoiados em estatiacutesticas de densidade populacional contemporacircnea mesmo sabendo que

tais dados (densidade populacional) expressam de forma resumida sua quantificaccedilatildeo sem

levar em consideraccedilatildeo caracteriacutesticas importantes como relaccedilatildeo da populaccedilatildeo com o meio

ambiente natural seu crescimento urbano sua qualidade de vida entre outras

Gonccedilalves (2001 p 33) afirma que o discurso de vazio demograacutefico

[] esconde aquela preocupaccedilatildeo jaacute salientada herdada do periacuteodo colonial que revela mais a respeito das dificuldades dos que querem colonizaacute-la em realizar o seu intento do que propriamente do povoamento da regiatildeo Eacute a ideia do vazio demograacutefico eacute frequentemente reiterada como que para justificar a necessidade de ocupaacute-la para garantir a integridade nacional (GONCcedilALVES 2001 p33)

Preocupado com a densidade populacional da Amazocircnia devido agraves suas dimensotildees

e sua gigantesca fronteira o poder puacuteblico criou as poliacuteticas de ocupaccedilatildeo e integraccedilatildeo

nacional apoacutes 1964 que Becker (1997 p11) definiu como ldquosurtos devassadores vinculados

agrave expansatildeo capitalista mundialrdquo

O I Plano Nacional de Desenvolvimento ndash PND foi criado pela Lei 5727 de 04 de

Novembro de 1971 e tinha como objetivos

- colocar o Brasil [] na categoria de naccedilatildeo desenvolvida - duplicar ateacute 1980 a renda per capita do paiacutes (em comparaccedilatildeo a 1969) - expandir o PIB de Cr$ 2228 bilhotildees em 1972 para Cr$ 3145 bilhotildees em 1974 - investimentos nas aacutereas de siderurgia petroquiacutemica transporte construccedilatildeo naval energia eleacutetrica e mineraccedilatildeo - prioridades sociais agricultura programas de sauacutede educaccedilatildeo saneamento baacutesico e incremento agrave pesquisa teacutecnico cientifica - ampliaccedilatildeo do mercado consumidor e da poupanccedila interna com os recursos do PIS e do PASEP -aumento da taxa de investimento bruto de 17 em 1970 para 19 em 1974 (MATOS 2002 p47)

Aleacutem desses objetivos o PND teria que preparar a infraestrutura que fosse

necessaacuteria para alcanccedilar todos os objetivos nas deacutecadas seguintes ldquocom destaque para os

36

transportes e as telecomunicaccedilotildees aleacutem de articular poliacuteticas setoriais com empresas

estatais e bancos oficiaisrdquo (ALMEIDA 2006 p195)

Por este motivo criaram o Programa de Integraccedilatildeo Nacional - PIN que foi aprovado

pelo Decreto Lei nordm1106 em 16 de julho de 1970 vigorando ateacute 1972 no governo do entatildeo

presidente Emiacutelio Garrastazu Meacutedici (MATOS 2002 p47) atraveacutes da construccedilatildeo de grandes

obras no paiacutes com destaque para a Usina Hidreleacutetrica de Itaipu e a Rodovia Transamazocircnica

(considerada o marco principal do PIN)

O PIN tinha como um dos principais objetivos ldquocriar meios de expansatildeo da fronteira

econocircmica do paiacutes em direccedilatildeo ao Centro-Oeste da Amazocircnia e do Nordesterdquo (MELLO 2006

p29) por meio de estradas ligando os centros dinacircmicos e modernos do paiacutes agrave lugares

isolados

Para as rodovias na Amazocircnia comeccedilando pela rodovia Transamazocircnica se previa

no PIN segundo Velho (1995 p210) que a cada cem quilocircmetros de estradas deveriam ser

assentadas cem mil famiacutelias

Entre os trechos de Altamira e Itaituba na Transamazocircnica deveria ser construiacutedas

Agrovilas (com 64 lotes com o espaccedilo 100 ha cada e casas destinadas aos colonos para o

desenvolvimento de suas atividades agriacutecolas) As agrovilas deveriam contar com escolas de

1ordmGrau (atual Ensino Fundamental) posto meacutedico igrejas e um armazeacutem para produtos

agriacutecolas (RABELLO 2011)

Tambeacutem se previa a implantaccedilatildeo de Agroacutepolis (conjunto de agrovilas em torno de

um nuacutecleo de serviccedilos urbanos) contendo todos os serviccedilos de agrovilas e serviccedilos

bancaacuterios correios e de escolas de 2ordm Grau (atual Ensino Meacutedio) tendo como objetivo

atender a demanda de cada trecho da Transamazocircnica

Algumas Agrovilas chegaram a ser implantadas na Rodovia Transamazocircnica mas

somente uma Agroacutepolis foi implantada no Km 46 onde recebeu o nome de Brasil Novo e

natildeo continha todos os serviccedilos descritos no PIN sendo chamada posteriormente de agrovila

(RABELLO 2011)

Mello apud Kleinpenning (2006 p29) afirma

Embora as agrovilas tenham sido previstas em 1971 apenas Brasil Novo na Transamazocircnica foi implantada e em 1973 o INCRA jaacute desistia desse modelo em funccedilatildeo do alto custo que representava Ateacute 1976 os colonos tinham desmatado natildeo mais que 10ha em seus lotes um ritmo reduzido acarretando tambeacutem reduccedilatildeo das metas de produccedilatildeo Sem produccedilatildeo as agrovilas perderam suas funccedilotildees Novos

37

instrumentos foram disponibilizados pelo Banco do Brasil (para creacutedito aos colonos) pela CIBRAZEM (para o armazenamento da produccedilatildeo) e pelo governo federal (para assistecircncia meacutedica) (MELLO apud KLEINPENNIG 2006 p29)

Segundo Becker (1997)

A modernizaccedilatildeo imposta pela estrateacutegia governamental natildeo eacute contudo onipotente Natildeo apenas porque foi desigualmente distribuiacuteda mas porque a realidade natildeo se desenvolve conforme o plano Na estrateacutegia governamental interferem os interesses e confrontos dos atores sociais privados e puacuteblicos expressos em sua territorialidade [] A propriedade dos seringais castanhais e do rebanho encontrava-se em poucas matildeos envolvendo aacutereas imensas e constituindo via de regra grandes posses (baseadas em arrendamentos de terras devolutas) cuja legitimidade passa a ser disputada pelos novos atores configurando a questatildeo da terra como central ao processo de ocupaccedilatildeo (BECKER 1997 p 19-20)

Atraiacutedos pela possibilidade de exploraccedilatildeo da mineraccedilatildeo madeira e a expansatildeo da

pecuaacuteria vaacuterios grupos econocircmicos do centro-sul do Brasil e estrangeiros denominados

popularmente como ldquosulistasrdquo migraram para as rodovias na Amazocircnia ldquoacompanhados de

empreiteiras teacutecnicos e sobretudo de camponeses e trabalhadores sem terra invertendo a

distribuiccedilatildeo do povoamento e da produccedilatildeordquo(BECKER 1997 p20)

Ainda segundo Becker (1997) a territorialidade exacerbada e intensa resultou em

conflitos violentos entre os atores sociais e contra o Estado ldquoOs conflitos de terra e de

territoacuterio onde se localizam as jazidas minerais subjugando iacutendios e camponeses satildeo os mais

conhecidosrdquo(BECKER 1997 p20)

Para Mello (2006)

A fase dessa estruturada accedilatildeo do Estado deixou cicatrizes provocadas pelos fortes conflitos sociais e pelos impactos ambientais Conflitos de terra entre fazendeiros posseiros seringueiros e iacutendios Desmatamento acelerado pela abertura de estradas exploraccedilatildeo de madeira seguida da expansatildeo agropecuaacuteria e imensa mobilidade espacial da populaccedilatildeo (MELLO 2006 p26)

Com a crise do petroacuteleo no final de 1973 e a elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo interna o

governo brasileiro se viu obrigado a escolher entre duas opccedilotildees difiacuteceis optar pela poliacutetica

de ajustamento do mercado externo (que causaria a contenccedilatildeo do crescimento interno e

evitaria o choque do setor externo em se transformar em inflaccedilatildeo permanente) ou pela

poliacutetica de financiamento (que manteria o crescimento com ajustes graduais de preccedilos com

financiamento externo) A escolha foi pelo financiamento contudo natildeo conseguiu atingir os

objetivos desejados obrigando o governo a lanccedilar o II Plano Nacional de Desenvolvimento

em 1974 (MATOS 2002 p49)

38

O II PND contemplou como medidas

I- O Brasil deveraacute ajustar a sua estrutura econocircmica aacute situaccedilatildeo de escassez de petroacuteleo e ao novo estaacutegio de sua evoluccedilatildeo industrial Tal mudanccedila implica em grande ecircnfase nas Induacutestrias Baacutesicas notadamente o setor de Bens de Capital e o de Eletrocircnica pesada assim como o campos dos Insumos Baacutesicos a fim de substituir importaccedilotildees e se possiacutevel abrir novas frentes de exportaccedilatildeo A Agropecuaacuteria que vem tendo em geral bom desempenho eacute chamada cumprir novo papel no desenvolvimento brasileiro II- Consolidar uma sociedade industrial moderna e de economia competitiva (BRASIL 1974 p5)

Para a Integraccedilatildeo Nacional foram destinados Cr$165 bilhotildees a serem distribuiacutedos

assim Cr$ 100 bilhotildees para o nordeste (com taxas de juros as maiores do paiacutes) e Cr$65

bilhotildees distribuiacutedos entre a construccedilatildeo do Polo Petroquiacutemico da Bahia e um Complexo

Metal Mecacircnico e Eletro Mecacircnico e o Programa de Desenvolvimento da Agroinduacutestria do

Nordeste

Contudo o paraacutegrafo sexto do II PND previa que ldquoA ocupaccedilatildeo produtiva da

Amazocircnia e do Centro-Oeste receberaacute impulso com o Programa de Polos Agropecuaacuterios e

agro minerais da Amazocircnia (POLAMAZOcircNIA)rdquo (BRASIL 1974 p06)

Os esforccedilos foram novamente concentrados na ocupaccedilatildeo da Amazocircnia soacute que

desta vez ldquobaseados em pontos focais e setoriais separados como por exemplo extraccedilatildeo de

recursos minerais ou aacutereas de criaccedilatildeo de gado com possiacutevel processo industrial rdquo

(KOHLHEPP 2002 p16)

Investidores de capital nacional e internacional foram atraiacutedos por reduccedilotildees consideraacuteveis de taxas tributaacuterias e tambeacutem por outros benefiacutecios Tornou-se vantajoso para bancos companhias de seguro mineradoras e empresas estatais de transportes ou de construccedilatildeo de estradas investir na devastaccedilatildeo da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criaccedilatildeo de gado com subsiacutedios oficiais realizando a exploraccedilatildeo das terras a preccedilos baixos (KOHLHEPP 2002 p16)

Segundo Kohlhepp (2002) as fazendas de criaccedilatildeo de gado ocupavam na Amazocircnia

uma aacuterea estimada em 9 milhotildees de hectares ldquoDe um total de 350 mil km2 de terra

adquiridos pelas fazendas de gado uma aacuterea florestal de cerca de 140 mil km2 foi destruiacutedardquo

(KOHLHEPP 1987 p4)

A raacutepida expansatildeo de desmatamento por queimada em projetos de fazendas de gado causou danos irreparaacuteveis aos ecossistemas como erosatildeo perda de nutrientes por escoamento encrostamento da superfiacutecie e distuacuterbios no balanccedilo de aacuteguas Aleacutem disso a especulaccedilatildeo de terra causou seacuterios problemas e conflitos violentos entre as populaccedilotildees indiacutegenas e posseiros Por causa da raacutepida degradaccedilatildeo de pastos a criaccedilatildeo de gado tornou-se atividade econocircmica sem lucro fazendo com que as manadas diminuiacutessem consideravelmente nos anos

39

posteriores O cancelamento de incentivos fiscais anos mais tarde acabou com novas iniciativas de pecuaacuteria (KOHLHEPP 2002 p4 )

A descoberta de minerais e pedras preciosas em grande quantidade na deacutecada de

80 intensificou ainda mais os conflitos na Amazocircnia

A exploraccedilatildeo de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos programas de desenvolvimento da Amazocircnia Muitas licenccedilas de exploraccedilatildeo de jazidas de grande extensatildeo foram cedidas a empresas nacionais e internacionais []as novas descobertas de enormes jazidas de mineacuterio de ferro na serra dos Carajaacutes de bauxita no rio Trombetas e tambeacutem de ouro e diamantes revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazocircnia sendo iniciados grandes projetos na regiatildeo nos anos 1980 (KOHLHEPP 2002 p4 )

Apoacutes sofrer grande pressatildeo nacional e internacional para conter os impactos

devastadores sobre a Floresta Amazocircnica em quase duas deacutecadas de intensa exploraccedilatildeo o

governo brasileiro cria o Plano Nossa Natureza (PNN) em 1988 pelo Decreto Lei nordm 96944

Art 1ordm Fica criado o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazocircnia Legal denominado Programa Nossa Natureza com a finalidade de estabelecer condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos recursos naturais renovaacuteveis na Amazocircnia Legal mediante a concentraccedilatildeo de esforccedilos de todos os oacutergatildeos governamentais e a cooperaccedilatildeo dos demais segmentos da sociedade com atuaccedilatildeo na preservaccedilatildeo do meio ambiente (BRASIL 1988 p1 )

Entre outras medidas o Decreto Lei 9694488 tambeacutem previa a criaccedilatildeo de GTI

(Grupos de Trabalhos Interministerial) responsaacutevel por promover a integraccedilatildeo de poliacuteticas

ambientais e de desenvolvimento

VI - Proteccedilatildeo do Meio Ambiente das Comunidades Indiacutegenas e das Populaccedilotildees Envolvidas no Processo Extrativista com a missatildeo de no prazo de 90 (noventa) dias estudar e propor e promover as medidas disciplinadoras da ocupaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo racionais da Amazocircnia Legal fundamentadas no ordenamento territorial integrada por representantes dos Ministeacuterios da Agricultura da Induacutestria e do Comeacutercio das Minas e Energia dos Transportes do Interior da Reforma e do Desenvolvimento Agraacuterio e das Secretarias de Planejamento e Coordenaccedilatildeo e de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidecircncia da Repuacuteblica (BRASIL 1988 p5)

Entretanto muito pouco de fato desse PNN foi executado e muito menos atendeu

agrave demanda

40

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA

A maior Floresta Equatorial do mundo eacute a Amazocircnia que tambeacutem deteacutem a maior

bacia hidrograacutefica do mundo com 699206kmsup2 aacuterea de quase 140km a mais que a Bacia

Hidrograacutefica do Rio Nilo com 685215 (MARTINI apud PACHECO 2012 p545)

Eacute na Amazocircnia Brasileira que se concentra a maioria dos rios navegaacuteveis de toda a

Amazocircnia com detaques para os rios Javari Juruaacute Madeira Solimotildees Negro utilizados em

sua maioria por ribeirinhos como meio de locomoccedilatildeo entre as comunidades e as cidades

proacuteximas aleacutem de transporte de alimentos

Apesar de seu gigantesco potencial hiacutedrico os rios da Amazocircnia natildeo satildeo explorados

em sua magnitude o que poderia ser alcanccedilado atraveacutes de uma rede de hidrovias

connectadas e eficientes Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (2013) a regiatildeo deteacutem sim duas hidrovias (Figura 3) A primeira inicia-se no alto

rio Japuraacute ligando-se ao rio Maratildea acompanhado do rio Iccedilaacute e Jutaiacute e posteriormente

juntado-se ao rio Solimotildees A segunda hidrovia (Figura 4) eacute inciada no rio Amazonas (no

encontro do rio Negro e rio Solimotildees) e se estende de Manaus agrave foz no Oceano Atlacircntico

alimentado pelos rios Tapajoacutes e Xingu

41

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13)

43

Apesar disso da nomenclatura utilizada de hidrovia um rio navegaacutevel natildeo eacute

necessariamente uma hidrovia por natureza pois para que seja uma hidrovia se faz

necessaacuterio sinalizaacute-lo e fornecer informaccedilotildees sobre a sua sinuosidade e seu talvegue de

forma a proporcionar seguranccedila agraves embarcaccedilotildees que navegarem pelo mesmo

Sobre isso o Ministeacuterio dos Transportes (2013) descreve que a sinalizaccedilatildeo de uma

hidrovia eacute tatildeo importante quanto a sinalizaccedilatildeo de uma rodovia

A sinalizaccedilatildeo de margem das hidrovias pode ser associada agraves placas que satildeo colocadas agraves margens das rodovias e que satildeo conhecidas como sinais de tracircnsito Como os canais de navegaccedilatildeo natildeo satildeo materializaacuteveis e as pistas de rolamento das rodovias sim as hidrovias requerem cartas de navegaccedilatildeo As pontes satildeo projetadas considerando que esse veiacuteculo tipo tenha no maacuteximo x toneladas os vatildeos sob os viadutos e passarelas ou os tuacuteneis que esse veiacuteculo tenha no maacuteximo y metros de altura e assim por diante Nas hidrovias o mesmo se sucede com as os tipos de embarcaccedilotildees (MINISTEacuteRIO DOS TRANSPORTES 2013)

Apesar disso os rios do Amazonas Paraacute satildeo pouco explorados tendo a sinalizaccedilatildeo

de uma hidrovia somente nas proximidades das grandes cidades Beleacutem-PA e em Manaus-

AM o restante ao longo dos rios natildeo deteacutem sinalizaccedilatildeo o que particularmente natildeo impede

que navios de grande porte cheguem agraves cidades (Figura 5) comandados por praacuteticos locais (e

natildeo por seus reais comandantes que desconhecem a profundidade dos rios)

Figura 5 Cruzeiros atracados no Porto de Manaus

Autora Louzada (Julho de 2012)

44

A escolha de hidrovias para a regiatildeo seria extremamente beneacutefica numa via de matildeo

dupla pois permitiria interligar definitivamente a regiatildeo ao restante do paiacutes agrave custos

micros se comparada agrave construccedilatildeo de rodovias na mesma regiatildeo ao mesmo tempo que

reduziria drasticamente o impacto sobre sua floresta

Embora esta seja a opccedilatildeo ideal a mesma natildeo foi escolhida pelos governantes que

optaram pela construccedilatildeo de rodovias

O DNIT destaca ainda as seguintes rodovias na Amazocircnia conforme Tabela 1

Tabela 1 Estradas na Amazocircnia segundo o DNIT

Nome Tipo de Rodovia Extensatildeo da rodovia planejada pelo DNIT

BR- 163 Longitudinal Inicia em Tenente Portela ndash SC e segue no sentido norte ateacute a fronteira com o Suriname

detendo 44267km

BR- 174 Longitudinal Inicia em Caacuteceres- MT e segue no sentido norte ateacute fronteira com a Venezuela detendo

27984km

BR-319 Diagonais Inicia em Manaus ndash AM e segue em sentindo sul ateacute Porto Velho-RO detendo 8804km

BR-364 Diagonais Inicia-se em Limeira-SP e segue no sentido noroeste ateacute a fronteira com o Peru

detendo 414150km

BR-230 Transversal Inicia-se em Cabedelo-PB e segue em sentido oeste ateacute Laacutebrea - AM detendo no total 49651km de extensatildeo

Eacute necessaacuterio esclarecer que todas as estradas anteriormente citadas somente se

encontram traccediladas no papel o que natildeo quer dizer que natildeo chegaram a ser abertas ou ateacute

mesmo chegaram a funcionar por um periacuteodo como eacute o caso da BR- 319

As estradas de modo geral satildeo consideradas vias de ldquoprogressordquo e

ldquodesenvolvimentordquo principalmente para a Amazocircnia por ser uma regiatildeo de fronteira e

possuir em seu territoacuterio uma gigantesca floresta Entretanto como era de se esperar as

estradas serviram ldquode roteiros de migraccedilatildeo para a Amazocircnia e foram planejadas para o

estabelecimento de aacutereas de atividades econocircmicas na forma dos chamados corredores de

Fonte DNIT (2013)

45

desenvolvimento mas sua construccedilatildeo causou seacuterios impactos ambientaisrdquo (KOHLHEPP

apud GOODLANDIRWIN 2002 p2 )

Segundo Loureiro e Pinto apud Arauacutejo et al (2008 p21) as terras puacuteblicas

habitualmente ocupadas por ribeirinhos iacutendios e caboclos em geral passaram a ser

ocupadas por colonos ao longo das estradas na Amazocircnia principalmente no estado do

Paraacute

[] sendo colocadas a venda em lotes de grandes dimensotildees para os novos investidores que as adquiriam diretamente dos oacutergatildeos fundiaacuterios do governo ou de particulares (que em grande parte revendiam a terra puacuteblica como se ela fosse proacutepria) Em ambos os casos era freguente que as terras fossem demarcadas pelos novos proprietaacuterios numa extensatildeo muito maior do que a dos lotes que originalmente haviam adqueridos (ARAUacuteJO et al apud LOUREIRO E PINTO 2008 p21)

Por sua vez os grandes proprietaacuterios de terras da Uniatildeo comercializadas pelo

INCRA (Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria) - criado pela fusatildeo do INDA

(Intituto Nacional de Desenvolvimento Agraacuterio) e o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma

Agraacuteria) em 9 de Julho de 1970 pelo Decreto nordm1110 (ARAUacuteJO2008) - expulsaram seus

moradores o que por sua vez gerou grandes conflitos por traacutes do slogan ldquoDesenvolvimento

da Amazocircniardquo

Por outro lado Becker (1977) apresenta um trabalho pioneiro sobre o

desenvolvimento regional na Amazocircnia ldquoalcanccediladordquo com a construccedilatildeo da BR-010 Bernardo

Sayatildeo popularmente conhecida como Beleacutem-Brasiacutelia inaugurada em 1960 pelo entatildeo

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Becker (1977) afirma que

O raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao longo de todo o eixo rodoviaacuterio caracterizado pelo crescimento ou aparecimento de centros urbanos das mais variadas categorias eacute devido em grande parte agrave rodovia A posiccedilatildeo de contato com aacutereas pioneiras dinacircmicas a posiccedilatildeo de entroncamento e a distacircncia aos polos e centros regionais parecem ser os fatores fundamentais de localizaccedilatildeo das cidades [] conclui-se que ateacute 1970 a rodovia foi o fator positivo principalmente para os polos regionais e aacutereas circundantes uma vez que embora posterior beneficiou suas cidades e induziu o desenvolvimento a sua volta (BECKER 1977 p 40)

Do ponto de vista da integraccedilatildeo nacional entre polos regionais defendida por

Becker (1977) a BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) sem duvida teve grande ecircxito pois levou

ldquodesenvolvimentordquo e um raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao logo da rodovia O que poucos

46

trabalhos pesquisadores ou estudantes se atrevem a relatar satildeo os impactos

gigantescos dessa obra sobre a Floresta Amazocircnica

A construccedilatildeo da BR- 010 sem duacutevida representou o iniacutecio do processo de

transformaccedilatildeo da paisagem amazocircnica nos anos que se seguiram Sobre isso AbrsquoSaber

(1996) sabiamente afirma

Desmatar por desmatar eacute loucura Desmatar para estender incontrolaacuteveis

pastagens artificiais eacute ignoracircncia Desmatar para comprovar ldquobenfeitoriasrdquo eacute maacute-feacute

de matildeo dupla da administraccedilatildeo puacuteblica e dos proprietaacuterios interessados em

comercializaccedilatildeo do espaccedilo Entretanto eacute faacutecil aceitar desmatamento restrito em

subespaccedilos selecionados para experimentaccedilatildeo de culturas tropicais

estabelecendo moacutedulos [] projetos agriacutecolas diversificados e rentaacuteveis sob a

condiccedilatildeo de um extravasamento efetivo de benefiacutecios sociais para os

trabalhadores rurais e populaccedilotildees carentes da regiatildeo de atuaccedilatildeo dos projetos

(ABrsquoSABER 1996 p109 )

O autor tambeacutem propocircs um debate nacional sobre os limites ecoloacutegicos para

atividades agraacuterias rendosas que uma regiatildeo como a Amazocircnia para que as proacuteximas

geraccedilotildees possam chegar a observaacute-la (ABrsquoSABER 1996 p109) todavia a BR010 (Beleacutem-

Brasiacutelia) somente foi a primeira a ser inaugurada na regiatildeo amazocircnica (Figura 6)

Figura 6Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia

Fonte Peixoto (2012)

47

Outras rodovias foram idealizadas e iniciadas entre elas a estrada Cuiabaacute-Santareacutem

(BR163) responsaacutevel por ligar a cidade de Cuiabaacute no Mato Grosso agrave cidade de Santareacutem no

Paraacute com 1780km de extensatildeo

O primeiro trecho de 330km foi inaugurado em 1984 (MARGARIT 2013) oito anos

depois de terem sido iniciadas as obras ligando os municiacutepios de Diamantino e Sinop no

Mato Grosso Posteriormente foram pavimentadas mais 415km chegando a um total de

745km ligando Cuiabaacute agrave Guarantatilde do Norte (MARGARIT 2013)

O restante de mais ou menos 1035km ainda natildeo se encontram pavimentados

todavia se encontra traccedilado de terra batida ateacute a cidade de Santareacutem-PA o que natildeo impede

a ocupaccedilatildeo das margens da ldquofutura rodoviardquo funcionando como uma espinha dorsal do

ldquoprogressordquo

Segundo Fearnside (2001) o principal objetivo da BR-163 foi escoar a produccedilatildeo de

soja do centro oeste brasileiro e principalmente do Mato Grosso aleacutem de ampliar as aacutereas

cultivaacuteveis Mas Fearnside (2005 p 399) eacute enfaacutetico ao afirmar que a pavimentaccedilatildeo da BR-

163 iria ldquoacelerar a destruiccedilatildeo da floresta ao longo de seu traccedilado e em vaacuterios pontos

fisicamente distantes da rodovia mas sob sua influecircnciardquo

Contudo o desmatamento natildeo se limita somente agraves margens da rodovia mas

influencia tambeacutem ldquoa raacutepida expansatildeo de estradas ldquoendoacutegenasrdquo e a exploraccedilatildeo madeireira e

de desmatamento para distacircncias substancialmente maioresrdquo (FEARNSIDE 2005 p399) um

fato que pode ser atualmente percebido nas imagens de sateacutelite da rodovia (Figura 7)

48

Figura 7 BR-163 - Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia Organizado Anne Dirane (2014) Adaptado Louzada (2014)

Com as imagens de sateacutelite eacute possiacutevel visualizar incontaacuteveis propriedades ao longo

da BR-163 a maioria encontram-se sem a cobertura seja pela retirada da madeira ou por

iniciativa de seus proprietaacuterios para facilitar a produccedilatildeo de gratildeos e a criaccedilatildeo de gado sem

levar em consideraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mineral o que torna a rodovia foco de constantes

conflitos entre pequenos produtores agriacutecolas e grande proprietaacuterios de terras

No km 214 com saiacuteda da cidade de Santareacutem a BR-163 se funde com a BR-230

popularmente conhecida como Transamazocircnica por 109km onde continuam a ser ocupadas

as suas margens poreacutem com menor intensidade (Figura 8)

Para Fearnside (2005) a atuaccedilatildeo do Estado nessa regiatildeo praticamente natildeo existe o que

gera frequentemente um clima de desobediecircncia civil aberta

Tal desobediecircncia se manifesta tanto em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo ambiental quanto agrave situaccedilatildeo fundiaacuteria (IAG 2004) Em outras palavras a aacuterea natildeo tem a miacutenima chance de se tornar corredor de desenvolvimento sustentaacutevel antes que uma mudanccedila

49

maciccedila aconteccedila com relaccedilatildeo agrave presenccedila do Estado e antes que a populaccedilatildeo local se ajuste a viver sob um Estado de lei (FEARNSIDE 2005 p405)

Fearnside (2005 p405 ) afirma ldquoque natildeo se deve tratar uma probabilidade alta

como sinocircnimo de inevitabilidaderdquo Em outras palavras a pavimentaccedilatildeo de estradas na

Amazocircnia Brasileira seraacute provavelmente o percussor do aumento do desmatamento da

regiatildeo entretanto o mesmo natildeo deve ser considerado como inevitaacutevel

Uma outra rodovia que merece destaque entre as jaacute construiacutedas na Amazocircnia eacute a

BR-230 popularmente conhecida como Transamazocircnica planejada para ligar Cabedelo na

Paraiacuteba e Laacutebrea no Amazonas aproveitando uma estrada jaacute existente que ligava Cabedelo agrave

Altamira no estado do Paraacute a mesma foi ampliada pelo entatildeo presidente do Brasil Emiacutelio

Garrastazu Meacutedici que em 09 de Outubro de 1970 teve sua obras iniciadas oficialmente

com uma placa de bronze fixada em uma castanheira no municiacutepio de Altamira-PA (Figura

8)

Figura 8 Placa de Bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica) Fonte Vogt (2004)

Vogt (1970) descreve uma viagem do general Meacutedici em junho 1970 ao semiaacuterido

nordestino na qual o presidente se emociona diante da seca que castigava a regiatildeo em seu

retorno a Brasiacutelia decidiu criar estradas na Amazocircnia a comeccedilar pela Transamazocircnica de

50

forma a convidar ldquoos homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da

Amazocircniardquo

A Transamazocircnica foi projetada para atravessar o Brasil de leste a oeste de

Cabedelo-PB agrave Laacutebrea ndash AM com seus mais de quatro mil quilocircmetros o sonho faraocircnico de

Meacutedici foi rebatizado posteriormente de ldquoTransamargurardquo e ldquoTransmiserianardquo por seus

moradores uma vez que a veiculaccedilatildeo de propaganda no raacutedio de ldquoTerras sem homens para

homens sem terrardquo atraiu uma grande quantidade de brasileiros e estrangeiros Estima-se

que mais de dois milhotildees de pessoas migraram para a Transamazocircnica contudo somente

25 mil quilocircmetros dessa rodovia chegaram a ser abertos ligando as localidades de

Aguiarnoacutepolis agrave Laacutebrea (AM)

Estima-se que mais de US$ 15 bilhatildeo de doacutelares tenham sido gastos na

Transamazocircnica somente na deacutecada de 1970 o que resultou no crescimento da divida

externa e uma ferida ecoloacutegica e social profunda na Floresta Amazocircnica que nunca seraacute

cicatrizada

Para Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as estradas oficias construiacutedas na regiatildeo natildeo devem

ser consideradas as uacutenicas responsaacuteveis pelas mudanccedilas draacutesticas na paisagem amazocircnica

uma vez que a regiatildeo do centro-oeste do Estado do Paraacute ao longo das rodovias BR-230 e a

BR-163 tambeacutem agregam estradas natildeo oficiais (Figura 9) estimadas em um total ldquode 20769

km de estradas natildeo oficias que avanccedilaram a taxa meacutedia de 1890 km por ano entre 1990 e

2001 principalmente fora de Aacutereas Protegidasrdquo(BRANDAtildeO JUacuteNIOR et al 2007 p1)

51

Atraveacutes de Imagens Landsat Brandatildeo Juacutenior et al (2007) conseguiu mapear

241749km de estradas ateacute 2003 divididas em 25074km (10) como estradas oficiais

172405km (71) como estradas natildeo oficiais e 44270km (18) como estradas de

assentamentos rurais

Segundo Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as aacutereas de risco de desmatamento em

estradas oficias segundo a pesquisa eacute de 25 jaacute nas estradas natildeo oficiais este risco chega a

85 considerando o niacutevel alarmante de desmatamento o que tambeacutem explica a maior

parte do desmatamento na Amazocircnia

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-230 Fonte Brandatildeo Juacutenior et al (2007)

52

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO SOLIMOtildeESAMAZONAS

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais foi divulgado ao mundo por meio de

dois documentos ldquoCuidando do planeta Terrardquo (1991) e a ldquoConvenccedilatildeo da Biodiversidaderdquo

(1991) Os dois documentos demonstram preocupaccedilatildeo quanto ao conceito de

desenvolvimento e aos direitos das populaccedilotildees locais visto por eles como importantes

atores na conservaccedilatildeo dos recursos (VIANNA 2008 p208)

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais surgiu primeiramente para se

referir aos habitantes que tradicionalmente ocupavam um lugar onde posteriormente

tornou-se uma unidade de conversaccedilatildeo O conceito passou a considerar tambeacutem ldquoos

habitantes originais e seus descendentes das terras que foram ocupadas pela expansatildeo

colonizadora europeacuteia iniciada no seacuteculo XVI e satildeo definidos como etnicamente diferentes

das sociedades nacionais dominantes dos paiacuteses onde vivemrdquo (VIANNA 2008 p209)

Segundo Vianna (2008 p214) as populaccedilotildees tradicionais satildeo portadoras de

caracteriacutesticas positivas para a conservaccedilatildeo por exemplo a ldquoharmonia com a natureza e o

etnoconhecimento o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais e a condiccedilatildeo de produtores

de biodiversidaderdquo

Essas satildeo as chamadas populaccedilotildees tradicionais expressatildeo que designa um conjunto de populaccedilotildees de pescadores artesanais pequenos agricultores de subsistecircncia caiccedilara caipiras camponeses extrativistas pantaneiros e ribeirinhos que fazem uso direto dos recursos naturais atraveacutes de atividades extrativistas eou de agricultura com tecnologia de baixo impacto ao meio (VIANNA 2008 p214)

Como acontece em outras regiotildees as populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia

tambeacutem recebem nomes que variam de lugar para lugar No estado do Paraacute por exemplo as

populaccedilotildees residentes longe de centros urbanos satildeo chamadas popularmente de extratores

ou extrativistas (pois sua economia tem por base a extraccedilatildeo de produtos da natureza) na

Ilha do Marajoacute satildeo chamados de marajoaras ou marajaacutes dentro do mesmo estado no

municiacutepio de Oacutebitos os moradores das vaacuterzeas satildeo chamados de varzeiros e os moradores

das aacutereas de terra firme satildeo chamados de terrafirmeiros (CANTO 2008)

No Estado do Amazonas as populaccedilotildees tradicionais recebem o nome de ribeirinhos

pois aleacutem de se localizarem muitas vezes distantes de centros urbanos em geral estatildeo

assentados nas vaacuterzeas da regiatildeo

53

Sobre isso Cabral (2002) destaca que

Quando se fala dos ribeirinhos as leituras satildeo variadas ora satildeo tratados como viacutetimas de uma sociedade excludente ora como iacutendios preguiccedilosos como heroacuteis das selvas por conseguirem adaptar-se a uma floresta e raras vezes como pessoas que definiram uma filosofia de vida o fato eacute que em geral o ribeirinho eacute marginalizado A marginalizaccedilatildeo do ribeirinho surge da leitura que noacutes ldquodoutoresrdquo fazemos erroneamente tomando por base o que julgamos importante para noacutes mesmos Outro aspecto que tem contribuiacutedo para a natildeo adoccedilatildeo de uma anaacutelise relativista eacute o discurso baseado em interesses capitalistas sobre o uso do tempo e do espaccedilo em favor da produccedilatildeo (CABRAL 2002 p2)

Reflete ainda que ldquoo ribeirinho integra o grupo das populaccedilotildees tradicionais que se

percebe pertencente agrave natureza em seu tempo e espaccedilo proacuteprio fluindo com ela e natildeo a

dominandordquo (CABRAL 2002 p2)

[] temos como definiccedilatildeo de ribeirinho a populaccedilatildeo constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populaccedilotildees do meio rural ou urbano que possui seu cosmo visatildeo marcada pela presenccedila do rio Para estas populaccedilotildees o rio natildeo eacute apenas um elemento do cenaacuterio ou paisagem mas algo constitutivo de modo de ser e viver do homem (CABRAL apud SILVA et al 2002 p2)

Conforme Oliveira (2002) as populaccedilotildees ribeirinhas satildeo frutos de fracassados ciclos

de desenvolvimento econocircmico brasileiro imposto sobre a regiatildeo onde os mesmos foram

abandonados agrave proacutepria sorte na floresta

Independente de suas muacuteltiplas definiccedilotildees ao longo das deacutecadas uma caracteriacutestica

se destaca em todas as definiccedilotildees de ribeirinho o elo com o rio embora muitos estudiosos

descrevam como necessaacuterio pois o rio eacute o uacutenico meio de locomoccedilatildeo entre boa parte da

Floresta Amazocircnica este elo eacute superior agrave necessidade de locomoccedilatildeo jaacute que ele tambeacutem eacute a

fonte do alimento baacutesico dessas populaccedilotildees o peixe

Tuan (2012) define o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ao ambiente fiacutesico como

Topofilia conceito difuso vivido e concreto como experiecircncia pessoal de cada individuo

Em outras palavras este elo eacute fortalecido ou desfeito baseado na percepccedilatildeo do

meio agrave sua volta nas atitudes e nos valores praticados com o ambiente fiacutesico no seu

entorno

54

Embora os ribeirinhos de modo geral se localizem agraves margens dos rios da regiatildeo

os mesmos tambeacutem o fazem por um forte motivo os solos feacuterteis das vaacuterzeas

Segundo Guerra (1993) a Amazocircnia estaacute dividida em dois ambientes o de vaacuterzea e

o de terra firme O ambiente de terra firme representa um complexo ecossistema que estaacute

fora da accedilatildeo das aacuteguas pelos regimes dos rios e pelas mareacutes ou seja os processos sazonais

de enchentes anuais e mareacutes diaacuterias natildeo ultrapassam a borda do leito maior das faixas

justafluviais Ao contraacuterio desse ecossistema a vaacuterzea eacute constituiacuteda de terrenos com

altimetria baixa que permite o transbordamento de enchentes sazonais anuais

dependendo da cota

Tais caracteriacutesticas da regiatildeo Amazocircnica satildeo de extrema importacircncia para a

determinaccedilatildeo dos tipos de solos encontrados em cada ambiente o que vai propiciar o tipo

de cultivo agrave ser produzido nessas aacutereas pelas populaccedilotildees ribeirinhas

Ao contraacuterio do que se divulga a Amazocircnia natildeo dispotildee somente de solos ldquopobresrdquo

sustentados por sua floresta mas tambeacutem de solos ricos por natureza como eacute o caso dos

solos de vaacuterzea com alta concentraccedilatildeo de depoacutesitos aluviais utilizados para os cultivos

agriacutecolas de ciclo curto de frutas e verduras que abastecem as cidades mais proacuteximas

incluindo a capital do Estado do Amazonas Manaus

Meggers (1958) criou uma tipologia da paisagem na qual a mesma impocircs limites de

desenvolvimento cultural tendo por base a capacidade produtiva dos solos em dois

ambientes na Amazocircnia a vaacuterzea beneficiada com a fertilizaccedilatildeo anual dos rios e a terra

firme de solos pobres

Para Meggers (1971) a fase de terra enxuta (ou seca) das vaacuterzeas da Amazocircnia eacute o

periacuteodo de fartura ou ateacute mesmo de superabundacircncia de alimentos jaacute a fase aquaacutetica ou

estaccedilatildeo de abundacircncia de aacuteguas eacute marcada pela escassez de alimentos (principalmente

peixe) por causa do aumento das aacutereas submersas consequentemente ocasionando sua

dispersatildeo

Segundo Carneiro (1995) a ocupaccedilatildeo das vaacuterzeas para cultivo em seus solos feacuterteis

tambeacutem traz desvantagens porque natildeo eacute possiacutevel cultivar seus solos durante todo o ano

devido agrave subida dos rios que para Sternberg (1998) submetem as terras agrave constantes

retoques no terreno hoje depositado amanhatilde poderaacute ser removido O autor se refere agraves

terras caiacutedas como um fenocircmeno natural provocado pelo rio onde o mesmo arrebata

55

faixas de terras marginais tragando para o seu leito com a mesma indiferenccedila levando

cemiteacuterios e pastagens ameaccedilando as moradias dos ribeirinhos e engolindo as que os

proprietaacuterios natildeo recuarem

Todavia eacute na eacutepoca da cheia dos rios que as populaccedilotildees ribeirinhas tornam-se mais

vulneraacuteveis visto que os mesmos teratildeo que escolher entre permanecer em suas casas

quase submersas mantendo seus animais em abrigos temporaacuterios que Sternberg (1998)

descreveu como marombas (pequeno curral suspenso por madeiras) e os alimentando com

capins aquaacuteticos ou migrarem para as aacutereas de terra firme ateacute que o periacuteodo de vazante

dos rios se inicie

Sobre isso Pereira (1999) observou no municiacutepio de Itacoatiara na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus que algumas famiacutelias que tinham acesso agraves aacutereas de pasto em

propriedades de terra firme migravam com suas famiacutelias transferindo o seu rebanho e os

demais animais durante o periacuteodo de cheia dos rios

Com a subida das aacuteguas natildeo soacute os animais mais tambeacutem os proacuteprios ribeirinhos

tornam-se alvo de jacareacutes famintos devido agrave escassez de alimentos uma vez que grandes

aacutereas satildeo inundadas possibilitando que os peixes se refugiem em lagos e restingas Torna-se

comum os casos de ataque desses animais agraves pessoas principalmente crianccedilas nessa eacutepoca

do ano

Tocantins (1964) descreve os rios da Amazocircnia

Como veias de sangue da planiacutecie caminho natural dos descobridores [] a fonte perene do progresso [] asseguraram a presenccedila humana embelezaram a paisagem fazem girar a civilizaccedilatildeo - comandam a vida no anfiteatro amazocircnico (TOCANTINS 1964 p64)

Tocantins (1964) destaca a importacircncia do regime das aacuteguas dos rios amazocircnicos

sobre o modo de vida dos povos da floresta Relata de forma romacircntica o elo do ribeirinho

com o rio todavia tal descriccedilatildeo natildeo expressa todo o real sentido de ldquoligaccedilatildeordquo entre quem

comanda a vida o rio e quem eacute governado o ribeirinho que mora agraves margens e tira dele a

base de sua subsistecircncia

Subsistecircncia essa alcanccedilada com a ajuda de extensa malha de rios entre eles

destaca-se o rio Solimotildees que tem sua nascente nas montanhas de Misme no distrito de

Arequipa ao sul da cidade de Cuzco no Peru onde recebe o nome de rio Ayacucha

posteriormente desemboca no rio Ucayali que por sua vez desemboca no rio Marantildeon ao

56

norte do territoacuterio peruano chegando a aproximadamente 3652 km de extensatildeo na

fronteira do Peru com o Brasil onde encontra a sua bacia sedimentar amazocircnica e percorre

mais 3128km ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico satildeo no total aproximadamente 6780km

percorridos com uma descarga no oceano de 300000 msup3s carregando aproximadamente 1

bilhatildeo de toneladas de sedimentos que por sua vez adentram ateacute 300km no oceano antes

de se dispersarem em suas aacuteguas frias (BRASIL 2005)

Seus nuacutemeros por se soacute impressionam se comparados ao segundo maior rio do

mundo o rio Nilo que despeja em sua foz somente 5000msup3s quando o rio Amazonas

despeja 60 vezes mais por segundo o equivalente agrave mesma quantidade de aacutegua despejada

pelo rio Tamisa em um ano inteiro (BRASIL 2005)

Sobre as caracteriacutesticas do Rio Amazonas Suguio e Bigarella (1993) o descrevem

como sendo um rio anastomosado que apresenta canal largo e grande velocidade

transportando uma grande quantidade de sedimentos que nutrem suas margens por todo o

seu percurso (Figura 10)

Segundo Passos et al (2013)

[] o rio Solimotildees pode ser considerado marginal anastomosado com algumas ilhas e anabranching embora a sinuosidade meacutedia do canal principal permaneccedila perto de 10 O estilo anabranching se caracteriza por uma rede interconectada de canais separados por regiotildees de planiacutecie de inundaccedilatildeo (Smith amp Smith 1980 Makaske 2001) Segundo Latrubesse et al (2009) o padratildeo anabranching se caracteriza pela presenccedila de ilhas vegetadas que atuam como verdadeiros ldquoseparadoresrdquo entre o canal principal de primeira ordem e braccedilos secundaacuterios de distintas hierarquias Embora possam ser cobertas pelas aacuteguas de inundaccedilatildeo as ilhas separam canais que manteacutem uma independecircncia ou identidade hidraacuteulica hidroloacutegica Os muacuteltiplos canais caracteriacutesticos deste estilo fluvial induzem aos inuacutemeros processos de erosatildeo de deposiccedilatildeo observados ao longo do rio Solimotildees e pequenos tributaacuterios (PASSOS et al 2013 p 3631)

57

21 QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA AMAZOcircNIA

Natildeo se pode relatar a Quebra da Borracha na Amazocircnia sem antes esclarecer sua

importacircncia para a regiatildeo Apesar do litoral do Brasil ter sido ldquodescobertordquo em 1500 a

Amazocircnia somente foi realmente alcanccedilada com a ocupaccedilatildeo estrangeira dois seacuteculos e

meios depois (SOARES 1963)

Assim eacute que ateacute meados do seacuteculo XVIII o vale amazocircnico natildeo contou se natildeo com

raros contingentes militares portugueses confinados a poucas dezenas de

fortalezas e com cerca de uma centena de missotildees catequeacuteticas igualmente

espalhadas na vastidatildeo da amazocircnica nas quais o silviacutecola era aldeado pelos

missionaacuterios que lhe ensinavam a religiatildeo de Cristo (SOARES 1963 p112)

Soares (1963) ainda descreve a escravizaccedilatildeo da matildeo de obra indiacutegena como um dos

fatores responsaacuteveis pelo decreacutescimo da populaccedilatildeo indiacutegena na Amazocircnia

Inuacutemeras expediccedilotildees de caccedila ao iacutendio exterminaram no primeiro periacuteodo de

ocupaccedilatildeo grande nuacutemero de habitantes da selva Tal extermiacutenio decorria de um

lado de morte ldquonaturalrdquo do iacutendio feito escravo (50) pois o silviacutecola jamais se

adaptou aacute vida cativa e por outro das chamadas expediccedilotildees ldquopunitivasrdquo realizadas

contra as tribos que repeliam o contacto com os invasores de suas terras fossem

estes missionaacuterios soldados ou colonizadoresrdquo (SOARES 1963 p113)

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista em Manacapuru Fonte Louzada (2013)

58

Contudo as expediccedilotildees punitivas foram aleacutem da puniccedilatildeo propriamente dita pois

algumas tribos chegaram a ser totalmente massacradas pelo contingente militar a exemplo

dos Tapajoacutes que foram exterminados ldquorestando somente agraves belas peccedilas artiacutesticas de

ceracircmica ainda hoje encontradas na regiatildeo de Santareacutemrdquo (SOARES 1963 p114)

Com a aboliccedilatildeo da escravatura indiacutegena em 1755 a Companhia Geral do Comeacutercio

do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo inaugurada para monopolizar a navegaccedilatildeo nos rios da Amazocircnia

o comeacutercio e o traacutefico de matildeo de obra negra providenciou a vinda do continente africano

de braccedilo negro ldquopara substituir o braccedilo vermelho libertado e reconhecidamente refrataacuterio

ao trabalho forccediladordquo (SOARES1963 p117)

Segundo Soares apud Reis (1963 p117) que ldquono final do seacuteculo XVIII calculava-se

que 30000 escravos foram introduzidos na Amazocircnia principalmente na sede do Gratildeo Paraacute

em Beleacutemrdquo a maior parte desse contingente sucumbiu aos maus tratos e agraves doenccedilas sem

relatar os que morreram na viagem ateacute o Brasil

Segundo Soares apud Reis (1963) descreve que entre 1743 e 1749 que 40000

indiviacuteduos entre iacutendios e colonos portugueses morreram de variacuteola em Beleacutem causando

uma queda catastroacutefica na populaccedilatildeo jaacute reduzida da regiatildeo Apesar das doenccedilas e da captura

dos iacutendios continuarem em larga escala o contingente humano na Amazocircnia aumentava

ldquomodestamente mais por um lento processo de multiplicaccedilatildeo vegetativa do que pela

aquisiccedilatildeo de contingentes humanos vindos de forardquo (SOARES 1963 p118)

Soares (1963 p118) calculava ldquoa populaccedilatildeo residente na Amazocircnia no caso no

atual estado do Paraacute em 1825 em 37 mil indiviacuteduos e em 1833 chegou a aproximadamente

56 mil habitantesrdquo O que poucos sabiam era que em 1745 La Contamine (BATISTA 2007)

jaacute havia divulgado ao mundo na Academia de Ciecircncias de Paris a descoberta de uma goma

conhecida como cabuchu (pau que daacute leite) na regiatildeo de Quito e depois nas beiras do

Marantildeon Peru que jaacute era utilizada pela populaccedilatildeo local na confecccedilatildeo de garrafas botas e

bolas

Apesar de encantadora a goma receacutem-descoberta pela ciecircncia da eacutepoca

apresentava um desafio gigantesco como tornaacute-la insensiacutevel agraves mudanccedilas de temperatura

para que pudesse ser transportada da Amazocircnia para o mundo

59

Com a descoberta do processo de vulcanizaccedilatildeo da goma elaacutestica inicia-se a corrida

pela exploraccedilatildeo da borracha para ser utilizada na produccedilatildeo industrial pneumaacutetica da

Europa Primeiramente em Beleacutem e na regiatildeo do delta na foz do rio Amazonas promovida

inicialmente pelos caboclos residentes nas proximidades

A exploraccedilatildeo da borracha somente cresceu nos anos seguinte apoacutes a descoberta

da vulcanizaccedilatildeo com a exploraccedilatildeo de novas aacutereas normalmente na subida dos rios

Primeiro no (rio) Tocantins o Xingu e o Tapajoacutes depois o Madeira e o Solimotildees

mais tarde o Purus Juruaacute e Javari e seus respectivos afluentes Vecirc-se nessa

referecircncia que um fato importante os grandes produtores de borracha foram

sempre tributaacuterios da margem direita do Rio Amazonas onde a Hevea brasiliensis

tem o seu habitat por excelecircncia (BATISTA 2007 p170)

Entretanto para que a produccedilatildeo continuasse a crescer nos anos que se seguiram

era necessaacuteria mais matildeo de obra e como a regiatildeo natildeo contava com um grande contingente

populacional caberia aos nordestinos de modo geral accediloitados por fenocircmenos climaacuteticos

incontrolaacuteveis contribuir de maneira significativa para a o aumento da produccedilatildeo e ocupaccedilatildeo

humana definitiva da Amazocircnia Atraveacutes de suas intensas e constantes migraccedilotildees a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX a produccedilatildeo ficou caracterizada como o

Primeiro Ciclo da Borracha

As primeiras levas de imigrantes a chegar foram de maranhenses e se localizaram

inicialmente em Tocantins A partir das grandes secas de 1870 comeccedilaram a vir

tambeacutem imigrantes Nordeste oriental principalmente do Cearaacute e menos do Rio

Grande do Norte e demais Estados (BATISTA 2007 p171)

Expulsos de seus estados de origem por grandes e prolongadas secas sendo a mais

famosa a ldquoseca de dois setesrdquo de 1877 de triste memoacuteria nordestina que provocou o ecircxodo

em grande escala a partir de 1878 em direccedilatildeo a Amazocircnia aonde chegaram 15300 mil

nordestinos naquele ano em busca de um lugar para trabalhar e terras para cultivar

(SOARES 1963)

Apoacutes esse ano as migraccedilotildees se tornaram constantes combinadas com o aumento

de preccedilo da borracha no mercado externo como eacute possiacutevel visualizar na Tabela 2

60

Tabela 2 ndash Produccedilatildeo da Borracha na Amazocircnia

Ano Produccedilatildeo

(tonelada)

Preccedilo (kg)

1827 31365 220 reacuteis

1880 8679000 240 reacuteis

1890 16394000 298 reacuteis

1900 27650000 -

1910 38177000 377000 reacuteis

1911 44296 -

Fonte Reis (1953 p60) Mendes (1909 p5) apud Batista (2007 p171) Adaptada Louzada (2013)

Segundo Batista apud Reis (2007) em 1880 a produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia

bateu seu primeiro recorde chegando a produzir 8679000 toneladas de borracha ldquologo

depois da chegada dos novos extratores (seringueiros) vindos do Nordesterdquo (BATISTA 2007

p171)

Nos anos que se seguiram a produccedilatildeo continuava a bater recorde agrave cada ano

chegando a 27650 toneladas em 1900 quando segundo Soares (1963 p121) a populaccedilatildeo

nordestina que chegou Amazocircnia contabilizou 45792 migrantes naquele ano a maior jaacute

registrada ateacute entatildeo

O desejo de aumentar a produccedilatildeo de borracha e consequentemente seus lucros a

cada ano levou os seringueiros a praticarem teacutecnicas extremamente rudimentares entre

elas o ldquoprocesso de arrochordquo

[] que consistia em apertar as aacutervores com cipoacutes ao reacutes do chatildeo golpeando-as

por todos os lados para extrair o maacuteximo de leite o rendimento era maior mas as

ldquomadeirasrdquo (nome dado no seringal as heacuteveas) natildeo resistiam muitas vez

esgotando-se num uacutenico dia O ldquoarrochordquo foi responsaacutevel pela inutilizaccedilatildeo das

seringueiras da regiatildeo das ilhas as primeiras trabalhadas e onde se produzia

borracha da melhor qualidade Por isso pela necessidade de explorar outros

seringais onde se localizarem os trabalhadores [] novos seringueiras passaram a

ser cortadas nos rios mais para cima (BATISTA 2007 p175)

61

Outra teacutecnica usada na retirada da borracha ficou conhecida como ldquoos mutaacutes

pequenos jiraus armados junto agraves aacutervores para alcanccedilar as partes mais altas e sangraacute-las

tambeacutem funcionaram em toda parte com a intenccedilatildeo de aumentar a produccedilatildeordquo (BATISTA

2007 p175) O aumento no nuacutemero de cortes popularmente conhecidos como ticados

(cortes seguidos por todo o caule no sentido transversal inclinado para facilitar o

escoamento do laacutetex) foram responsaacuteveis por tornarem as aacutervores vulneraacuteveis agrave fungos

bacteacuterias e brocas consequentemente as condenava agrave morte (BATISTA 2007 p174)

Ainda segundo Batista apud Chevalier (2007 p174) descreve bem essa fase de

intensa exploraccedilatildeo do laacutetex como ldquoleite que de branco se torna negro ao contato com a

ambiccedilatildeo humanardquo se referindo agrave vulcanizaccedilatildeo do laacutetex para se transforma em botijotildees para

facilitar o transporte (Figura 11)

Para Batista (2007) o ano 1910 foi o marco da exportaccedilatildeo de borracha no paiacutes

representando 40 da exportaccedilatildeo total contra 40 da produccedilatildeo de cafeacute daquele ano

A perda do monopoacutelio de produccedilatildeo da borracha da Amazocircnia para a borracha

produzida na Malaacutesia e Indoneacutesia com preccedilos mais baixos provocou a Quebra da Borracha

produzida no Brasil o que ocasionou graviacutessimos problemas na economia dos estados do

Amazonas e do Paraacute que era baseado na produccedilatildeo de borracha

A produccedilatildeo da borracha passou a cair a cada ano em consequecircncia dos baixos

preccedilos praticados chegando a produzir em 1920 somente 23586000 toneladas e em

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para transporte Fonte Museu do Seringal (httpmuseuseringalblogspotcombr201210a-criacao-da-borrachahtml)

62

1923 produziu somente 1799500 toneladas alcanccedilando o patamar miacutenimo de 622500

toneladas em 1932 (BATISTA 2007 p171)

Com a queda do preccedilo da borracha a cada ano os ex-seringueiros se viram

obrigados a procurar outras fontes de renda para alimentar suas famiacutelias Entretanto nunca

haviam cultivado os solos da Amazocircnia como informa Benchimol (1946 p34) ldquoAgricultura

natildeo rima bem com seringardquo na verdade os extratores eram impedidos de cultivar os solos

pelos donos dos seringais pois deveriam ldquocomprarrdquo dos proacuteprios donos dos seringais os

produtos que precisassem seu consumo

Por interesses mercantis aliados a necessidade imediata durante o ciclo da

borracha foi preciso importar alimentos maciccedilamente E quando os preccedilos caiacuteram e

os seringueiros puderam plantar e colher natildeo alcanccedilaram grandes safras primeiro

porque natildeo sabiam trabalhar a terra e depois porque natildeo tinham mercado para a

venda da produccedilatildeo cingindo-se assim a uma agricultura puramente de

subsistecircncia Adaptaram-se poreacutem facilmente a uma indicaccedilatildeo taacutecita da ecologia

regional usando as vaacuterzeas como lugar por excelecircncia para os ldquoroccediladosrdquo aleacutem de

serem aacutereas fertilizadas pelo huacutemus das enchentes natildeo demandavam grande

trabalho para a sua preparaccedilatildeo apesar de natildeo permitirem a implantaccedilatildeo de

culturas perenes passando praticamente seis meses alagadas (BATISTA 2007

p174)

Como afirma Batista (2007) com a quebra da borracha brasileira centenas de

milhares de ex- seringueiros saiacuteram dos seringais em busca de outra fonte de renda uma vez

que foram abandonados agrave proacutepria sorte se instalando novamente ao longo das margens dos

rios da Amazocircnia

Forccedilados pela necessidade os ex- seringueiros foram obrigados a aprender a

cultivar os solos da Amazocircnia para produzir seus proacuteprios alimentos de forma a alimentar

suas famiacutelias Outros por sua vez optaram por retornar aos seus estados de origem Os que

decidiram por permanecer migraram para aeacutereas proacuteximas aos centros urbanos como

Manaus com o objetivo de residir proacuteximo de um futuro mercado consumidor para a sua

futura produccedilatildeo agriacutecola como eacute o caso de alguns dos municiacutepios que se constituiacuteram

proacuteximos agrave Manaus

63

211 ndash UM LUGAR CHAMADO MANAQUIRI

O municiacutepio de Manaquiri estaacute localizado a 55 km em linha reta de Manaus ou a 80

km por via fluvial com aacuterea total de 3975770 kmsup2 (IBGE 2010) estaacute divido entre Vaacuterzea e

Terra Firme (Figura 12)

64

Figura 12 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

65

Eacute amplamente relatado que o atual municiacutepio do Manaquiri tem sua origem

vinculada ao municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea e seu povoamento datado a partir de 1877

(IBGE 2010)

Todavia Wallace (2004) descreve uma visita ao Manaqueri (atual Manaquiri) na

propriedade do Sr Joseacute Antocircnio Brandatildeo em 1850 ldquoda margem do rio ergue-se num

abrupto e rochoso penhasco de 30 a 40 peacutes acima do niacutevel das mais altas cheias As rochas

satildeo de natureza vulcacircnica e tem um aspecto muito grosseiro algumas vezes viacutetreo qual o de

escoacuteriasrdquo (WALLACE 2004 p 232)

Wallace (2004) descreve a origem de seu anfitriatildeo como sendo de Portugal que

chegou agrave regiatildeo ldquobem ainda moccedilo e logo apoacutes casou nesse novo estado fixou-se em

Manaquiri com a intenccedilatildeo de laacute ficar morando por toda a vida Construindo ele proacuteprio sua

morada na beira de um lago proacuteximo ao curso principal trouxe iacutendios (e escravos) a fim de

fixaacute-los tambeacutem na fazendardquo (WALLACE 2004 p242)

Logo a seguir derrubou a mata plantou laranjeiras tamarindeiros mangueiras e

muitas aacutervores frutiacuteferas de outras espeacutecies arrumando-as em magniacuteficas e

apraziacuteveis avenidas Fez tambeacutem jardins bem como pastagens para o gado e

iniciou a criaccedilatildeo de bois carneiros porcos e galinhas E assim ficou em pleno gozo

e uma vida campesina (WALLACE 2004 p 242)

Wallace (2004) continua relatando que o Sr Brandatildeo seu anfitriatildeo teve sua

propriedade completamente destruiacuteda por iacutendios seus vizinhos incitados por

revolucionaacuterios na Revoluccedilatildeo Cabanagem (1840) perdendo tambeacutem todas as aacutervores

frutiacuteferas animais e escravos mortos pelos iacutendios Todavia sua famiacutelia esposa e onze filhos

se refugiaram na floresta onde permaneceram por trecircs dias alimentando-se de frutas e

milho uma vez que o senhor da propriedade se encontrava na Vila da Barra natildeo teve sua

vida perdida pelos revoltosos Foi nomeado Magistrado da Barra onde permaneceu por

anos longe de sua propriedade para onde retornou posteriormente com a filha caccedilula

uma vez que sua esposa jaacute havia falecido e seus filhos mais velhos jaacute haviam casado e

constituiacutedo suas famiacutelias onde reconstruiu parte da sua propriedade com seus escravos

Com o inicio das migraccedilotildees nordestinas para a Amazocircnia em busca de trabalho nos

seringais muitas famiacutelias optaram por se instalarem na receacutem-criada Cidade da Barra do Rio

Negro ou em regiatildeo proacutexima como eacute o caso da regiatildeo do Careiro da Vaacuterzea localizada em

uma ilha no meio do rio Solimotildees

66

Novas secas nordestinas determinaram outras penetraccedilotildees de cearenses

piauienses paraibanos na regiatildeo do Careiro Com o nuacutemero de imigrantes aumentando a

cada ano o governo do estado do Amazonas fundou em 11 de Janeiro de 1890 as Colocircnias

de ldquoSanta Maria do Janauacaacuterdquo e a ldquo13 de Maiordquo no Cambiche com a funccedilatildeo de abrigar os

colonos e sustentaacute-los durante seis meses para que pudessem se instalar na regiatildeo (IBGE

2010)

Com a Queda da Borracha a partir de 1911 nos altos cursos dos rios os ex-

seringueiros se viram obrigados a procurarem novas aacutereas para residirem

Segundo Benchimol (1992)

Seriam os novos paroaras no velho linguajar sertanejo sendo que desta vez natildeo

levavam mais o chapeacuteu de palhinha o guarda chuva e o reloacutegio de algibeira com a

corrente de ouro que outrora constituiacuteam os siacutembolos e a imagem dos filhos

proacutedigos da seringa e da fortuna Ou entatildeo quando a vergonha de voltarem pobres

impedia o seu retorno ao sertatildeo abandonavam os seringais endividados e

rumavam para as cidades Rio Branco Manaus Beleacutem (BENCHIMOL 1992 p228)

O autor ainda relata que os ex- seringueiros que tinham vocaccedilatildeo para atividades

agriacutecolas ldquodesciam rio abaixo para ocupar como posseiros as terras devolutas das vaacuterzeas

do Solimotildees do Meacutedio e do Baixo Amazonas onde localizavam os siacutetios e roccedilados neles se

fixando definitivamente permanecendo fieacuteis agrave tradiccedilatildeo ruralrdquo (BENCHIMOL 1992 p228)

Fato semelhante ocorreu com a localidade do Manaquiri como descreve o senhor

Nery (82 anos) que foi trazido pelos pais com apenas um mecircs de vida filho de ex-

seringueiros que migraram do municiacutepio de Laacutebrea no sul do Estado do Amazonas em 1931

apoacutes a queda do preccedilo da borracha e instalaram-se na localidade do Manaquiri ldquovieram

tentar a vida na agricultura em um lugar mais perto da capital Lembro que na minha

infacircncia tinha fartura de peixe por isso um dos primeiros nomes daqui foi Vila do Jaraquirdquo

O entrevistado tambeacutem descreve o lugar como tendo ldquoa Igreja de Satildeo Pedro feita

de madeira e coberta de palha e mais quatro casas construiacutedas no mesmo formato da igreja

A igreja de hoje (Figura 13) estaacute no mesmo lugar da antiga e ao lado tinha um campo de

futebol e do lado do campo agraves quatro casas que me lembro da infacircnciardquo (NERY 82 anos)

67

Conforme relato do Cruz (84 anos) relatou que seu pai migrou do estado do Rio

Grande do Norte para trabalhar na retirada da borracha em 1924 quando chegou a Manaus

soube da queda do preccedilo da borracha

[] mas natildeo queria ficar na cidade entatildeo decidiu seguir duas famiacutelias que iam

morar laacute no Careiro embora o governo do estado tenha cumprido com a palavra e

dado comida durante seis meses ao meu pai e as outras famiacutelias o sonho dele era

cultivar as novas terras e fez plantando verduras que a aacutegua cobriu sem doacute nem

piedade quando subiu naquele ano meu pai ficou tatildeo triste tatildeo triste que disse

que ia procurar a terra que os outros colonos falavam um tal de Manaquiri onde a

terra era alta e a aacutegua soacute chegava na frente de tatildeo alta que era a terra meu pai

natildeo perdeu tempo e veio atraacutes dessa terra alta com minha matildee e mais duas

famiacutelias ai eu nasci aqui no Manaquiri em 1926 (CRUZ 84 anos)

Cruz (84 anos) relata ainda que ajudou na construccedilatildeo da primeira igreja de Satildeo

Pedro em 1931 com seu pai e outros dois vizinhos os uacutenicos moradores do lugar ateacute entatildeo

a igreja foi feita de madeira tirada da floresta e coberta com palhas secas tranccediladas pela sua

matildee e as outras duas vizinhas fizeram a igreja para agradecer a Satildeo Pedro pela grande

fartura de peixe da espeacutecie jaraqui (Semaprochilodus insignis) que deu o primeiro nome ao

lugar chamado posteriormente de Vila do Jaraqui

Depois daquele ano quando meus pais fizeram uma festa para comemorar o dia se

Satildeo Pedro e chamaram os amigos do Careiro veio muita gente pra caacute e ficamos

jogando bola ateacute o sol ir embora no campo que roccedilamos naquele dia mesmo

depois disso nos finais de semana vinha gente pra caacute pra jogar bola depois de um

tempo comeccedilou a chegar gente para morar aqui mesmo era legal eu ia ter amigos

para brincar todos os dias (CRUZ 84 anos)

Figura 13 Frente da cidade do Manaquiri Fonte Louzada 2013

68

Oficialmente a histoacuteria do hoje municiacutepio do Manaquiri estaacute ligada ao povoamento

efetuado por nordestinos agrave princiacutepio no municiacutepio do Careiro que posteriormente se

estendeu pela regiatildeo O que levou o governo do estado do Amazonas atraveacutes do Decreto Lei

nordm176 de 1938 a tornar o Careiro um distrito da capital Manaus (IBGE 2000)

Com o a ocupaccedilatildeo constante e o crescimento ao longo dos anos o distrito do

Careiro foi desmembrado da capital Manaus e tornou-se um municiacutepio autocircnomo atraveacutes

do Decreto Lei nordm 99 de 19 de Dezembro de 1955 tendo como subdistritos Careiro

(Castanho) Curari Gurupaacute Mamori Janauacaacute Satildeo Joaquim e Manaquiri (AMAZONAS

1955)

Com o inicio da construccedilatildeo da BR-319 na deacutecada de 1970 os subdistritos do

Careiro com destaque para o Careiro Castanho e o Manaquiri tambeacutem passaram a receber

migrantes oriundos de outros municiacutepios e tambeacutem de outros estados brasileiros para

trabalharem na construccedilatildeo da BR e acabaram por se fixar na regiatildeo

O Manaquiri foi elevado agrave categoria de municiacutepio em 10 de Fevereiro de 1981

constituindo seu territoacuterio com parte dos municiacutepios de Careiro Borba e Manacapuru

(BRASIL 1981) E continuou a crescer ao longo dos anos como mostra a Tabela 3

Tabela 3 Crescimento populacional do Manaquiri entre 1991 e 2010

Ano Populaccedilatildeo

1991 10718

1996 17278

2000 12711

2007 19164

2010 22801

212 ndash INFRAESTRUTURA DO MANAQUIRI PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

Segundo o Censo Demograacutefico do IBGE (2010) o municiacutepio do Manaquiri estaacute

classificado em deacutecimo lugar entre os sessenta e dois municiacutepios do estado com relaccedilatildeo ao

nuacutemero de habitantes por quilocircmetro quadrado que chega a 573 habkmsup2 (Tabela 4)

Fonte IBGE Censo Demograacutefico 19912010

69

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas

Municiacutepios com mais habkmsup2

Municiacutepio Populaccedilatildeo Total

Urbana Rural habkmsup2

1ordm Manaus 1802014 1792881 9133 15806

2ordm Iranduba 40781 28979 11802 1842

3ordm Parintins 102033 69890 32143 1714

4ordm Tabatinga 52272 36355 11917 1621

5ordm Manacapuru 85141 60174 24967 1162

6ordm Itacoatiara 86839 58157 26655 977

7ordm Careiro da Vaacuterzea 23930 1000 22930 909

8ordm Urucurituba 17837 10448 7389 614

9ordm Boa Vista do Ramos 14979 7550 7429 579

10ordm Manaquiri 22801 7062 15739 573

11ordm Nova Olinda do Norte

30696 13626 17070 547

12ordm Careiro 32734 9437 23297 537

A sede municipal de Manaquiri concentra 3097 da populaccedilatildeo do municiacutepio que

por sua vez dispotildee fisicamente de infraestrutura baacutesica de uma cidade com ruas e calccediladas

amplas (Figura 14)

Fonte Censo demograacutefico IBGE 2010 (httpwwwcenso2010ibgegovbrsinopseindexphpdados=21ampuf=13)

70

A sede municipal tambeacutem concentra grande variedade de comeacutercio como

mercearias lojas de moacuteveis e eletroeletrocircnicos restaurantes hoteacuteis banco etc (Figura 15)

Como 6903 (15739 mil) da populaccedilatildeo do municiacutepio fica concentrada na zona rural

a economia predominante torna-se a agricultura familiar que Noda (2011) descreve como

tendo uma

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

Figura 15 Centro comercial da sede municipal de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

71

[] produccedilatildeo diversificada que aleacutem de permitir uma oferta constante ampla e variada de alimentos para o autoconsumo proporciona maior estabilidade ao sistema produtivo pois o suprimento das necessidades baacutesicas em alimentos da famiacutelia independente da comercializaccedilatildeo do lsquorsquoexedendersquorsquo As crises do mercado externo podem afetar o nuacutecleo produtivo mas natildeo viabilizam a sua sobrevivecircncia (NODA 2011 p18)

Todavia apesar da produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri ser caracterizada

como sendo uma produccedilatildeo agriacutecola familiar a mesma manteacutem-se ligada ao mercado

consumidor produzindo natildeo mais exclusivamente para o autoconsumo mas principalmente

para o abastecimento do mercado externo

Segundo a Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural ndash SEPROR o municiacutepio do

Manaquiri destaca-se no estado por ter um grande volume de produccedilatildeo agriacutecola (Tabela 5)

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola no municiacutepio de Manaquiri

de Janeiro a Dezembro de 2012

Fonte Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural - SEPROR

Produccedilatildeo Agriacutecola Quantidade Produzida

Coco 32 mil frutos Cupuaccedilu 120 mil frutos Goiaba 5 (t)

Graviola 8 mil frutos Laranja 12540 mil frutos

Limatildeo 765 mil frutos Mamatildeo Havaiacute 200 (t)

Maracujaacute 80 (t) Pupunha 24 mil cachos

Tangerina 252 mil frutos Alface 330 mil peacutes

Batata doce 1920 (t) Berinjela 20 (t)

Feijatildeo de Metro 500 mil maccedilos Jerimum 700 (t)

Macaxeira 1440 (t) Maxixe 30 (t)

Melancia 510 mil frutos

Pimentatildeo a ceacuteu aberto 80 (t) Pimenta doce 24 (t)

Pepino 156 (t) Quiabo 90 (t) Repolho 120 (t) Tomate 160 (t)

72

Sobre isso Noda (2011) relata

Dados do Censo de 199596 publicados pelo INCRA (2000) mostram que na Regiatildeo Norte o nuacutemero de estabelecimentos de agricultores familiares ocupa 375 da aacuterea recebem 38 6 do total de financiamento satildeo responsaacuteveis por 587 do Valor Bruto da Produccedilatildeo e representam 854 do total dos estabelecimentos rurais No Brasil o nuacutemero de estabelecimentos classificados como de agricultura familiar representam 852 do total de estabelecimentos 305 da aacuterea total e correspondem a 379 do Valor Bruto da Produccedilatildeo (NODA 2011 p18)

O Estado do Amazonas a partir de 2012 tem um programa de governo voltado

para a agricultura familiar o Programa Amazonas Rural

Com o Amazonas Rural pretendemos entre outros avanccedilos fomentar as cadeias produtivas tradicionais melhorar a produtividade proporcionar acesso ao creacutedito facilitar o escoamento garantir mercado e competitividade aos produtos oferecendo novas alternativas econocircmicas e mais oportunidade ao homem e a mulher (AMAZONAS 2013 p 5)

A partir de janeiro de 2013 agricultores familiares do municiacutepio de Manaquiri

passaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado para receberem empreacutestimos que

podem chegar ao valor de R$12 mil a serem investidos no melhoramento da produccedilatildeo

agriacutecola com juros de 1 ao ano com prazo de pagamento em ateacute 10 anos (AMAZONAS

2013)

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal Sustentaacutevel do

Amazonas - IDAM (2013) vinte e cinco agricultores do Manaquiri fizeram o curso sobre

cultivo de hortaliccedilas que tinha como objetivo aumentar a produccedilatildeo de hortaliccedilas para

abastecer o comeacutercio local e a capital amazonense

22 MARCHA PARA O OESTE A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS

Segundo Rothbard (2012) a Grande Depressatildeo Americana foi resultado de oito

anos (1920 a 1928) de inflaccedilatildeo elevada acompanhada da expansatildeo excessiva das induacutestrias

e a venda de tiacutetulos do capital no mercado de accedilotildees por um longo periacuteodo como resultado

teve a injeccedilatildeo de milhares de doacutelares na economia o que natildeo muito mais tarde se mostraria

um erro irreversiacutevel levando o paiacutes aacute depressatildeo no ano seguinte

73

Com a Grande Depressatildeo de 1929 explodindo seus reflexos se espalharam pelo

mundo em meses chegando ateacute a atingir tambeacutem o Brasil que nesse periacuteodo tinha sua

economia enraizada na cafeicultura tendo os Estados Unidos como maior comprador do

cafeacute produzido no Brasil

Para minimizar os impactos na economia interna o governo brasileiro se viu

obrigado a comprar e a derramar no mar milhares de sacas de cafeacute a fim de conter o preccedilo

do principal produto brasileiro ateacute entatildeo

A economia cafeicultora jamais se recuperou completamente o que levou os

produtores que natildeo quebraram com a crise do cafeacute como ficou conhecido este periacuteodo no

Brasil a investirem no setor industrial o que mais tarde se mostraria ter sido um oacutetimo

negoacutecio

Com a queda do preccedilo e o excesso de cafeacute no mercado os proprietaacuterios dos

cafezais se viram obrigados a demitir milhares de empregados que migraram para outras

regiotildees principalmente para as cidades em busca de emprego Com o passar dos anos de

intensas migraccedilotildees para as cidades e a falta de estrutura das mesmas para atender toda a

demanda resultou em um crescimento raacutepido e desordenado aleacutem de graviacutessimos

problemas na populaccedilatildeo por falta de condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede

Com o passar do tempo os problemas urbanos foram sendo agravados a cada ano e

o governo brasileiro se viu pressionado a tomar uma atitude Foi entatildeo que o presidente

Getuacutelio Vargas iniciou um pacote de medidas de incentivo agrave migraccedilatildeo posteriormente

chamado de ldquoMarcha para o Oesterdquo que visava antes de tudo ocupar os espaccedilos

considerados vazios no interior do Brasil e desafogar as cidades do litoral

Para isso foi necessaacuterio incentivar a populaccedilatildeo a migrar para outras regiotildees atraveacutes

do meio de comunicaccedilatildeo de maior alcance da eacutepoca o raacutedio e foi por meio dele com

pronunciamentos e transmissotildees semanais de campanhas incentivando a migraccedilatildeo da

populaccedilatildeo para espaccedilos sem gente que Vargas deu inicio agraves grandes transformaccedilotildees que o

Brasil viria a presenciar dali em diante

A Marcha para o Oeste tinha como objetivos incentivar a migraccedilatildeo de brasileiros e

estrangeiros aptos para a produccedilatildeo agriacutecola para outras regiotildees sem gente propagava

tambeacutem a conquista definitiva do territoacuterio brasileiro que segundo Vargas ateacute entatildeo fora

esquecido (RICARDO 1970)

74

E em 09 de fevereiro de 1940 foi publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei

nordm 2009 que criou os nuacutecleos coloniais ldquoreuniatildeo de lotes medidos e demarcados formando

um grupo de pequenas propriedades ruraisrdquo (BRASIL 1940 p2433)

Art 7ordm Os nuacutecleos coloniais aleacutem das casas destinadas a residecircncia do pessoal teacutecnico administrativo e operaacuterio e de trabalhadores teratildeo a) Um campo de demonstraccedilatildeo destinado aacutes culturas proacuteprias da regiatildeo ou de outras economicamente aconselhaacuteveis b) Escolas para ensino rural de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendecircncia do Ensino Agriacutecola c) Pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira d) Serviccedilo meacutedico e farmacecircutico

Tambeacutem segundo o Diaacuterio Oficial da Uniatildeo os nuacutecleos coloniais seriam

classificados em rurais destinados agrave lavoura e a criaccedilatildeo de animais de dimensotildees variando

entre 10 e 50 hectares e nuacutecleos coloniais urbanos destinados agraves futuras povoaccedilotildees

ldquotendo sua frente voltada para ruas e praccedilas e com aacuterea maacutexima de 3000msup2rdquo (BRASIL 1940

p2434)

Um ano apoacutes a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 2009 o governo federal em parceria

com os governos estaduais e municipais e o Ministeacuterio da Agricultura divulgam tambeacutem no

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei nordm 3059 de 14 de Fevereiro de 1941

Esse Decreto promoveu a fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo de Grandes Colocircnias Agriacutecolas

Nacionais com o objetivo de receber e fixar como proprietaacuterios rurais cidadatildeos brasileiros

reconhecidamente pobres que revelassem aptidatildeo para o trabalho agriacutecola e

excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros (BRASIL 1941)

Paraacutegrafo uacutenico Todas as despesas decorrentes da fundaccedilatildeo instalaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das colocircnias inclusive construccedilatildeo e conservaccedilatildeo das vias principais de acesso seratildeo custeadas pela Uniatildeo dentro dos creacuteditos que forem destinados a esse fim Art 2ordm As colocircnias seratildeo criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que deveratildeo reunir as seguintes condiccedilotildees a) situaccedilatildeo climateacuterica e condiccedilotildees agroloacutegicas exigidas pelas culturas da regiatildeo b) cursos permanentes dacuteaacutegua ou possibilidade de accediludagem para irrigaccedilatildeo (BRASIL 1941 p72)

Tambeacutem ficou estabelecido no Decreto Lei que a aacuterea do lote variaria entre 20 e 50

hectares e em caso de regiotildees de floresta naturais cada proprietaacuterio do lote teria que

manter uma reserva equivalente a 25 do total ldquosect 4ordm Na elaboraccedilatildeo do plano geral de

75

colonizaccedilatildeo seratildeo respeitadas as belezas naturais da regiatildeo bem como cuidar-se-aacute da

proteccedilatildeo da flora e faunardquo (BRASIL1941 p73)

No paraacutegrafo uacutenico do artigo 5ordm ldquoNo projeto da sede seratildeo observadas todas as

regras urbaniacutesticas visando agrave criaccedilatildeo de um futuro nuacutecleo de civilizaccedilatildeo no interior do paiacutesrdquo

(BRASIL1941 p73)

Para Bertran (1988) o principal objetivo das Colocircnias Agriacutecolas Nacionais era ldquoalocar

matildeo de obra liberada pela decadecircncia da cafeicultura e criar uma frente agriacutecola comercial

internardquo (BERTRAN 1988 p92)

Para Dayrell (1974) as grandes Colocircnias Agriacutecolas Nacionais seriam a soluccedilatildeo para

resolver dois grandes estrangulamentos do Brasil o excesso de matildeo de obra e a falta de

emprego para todos

Independente das motivaccedilotildees para se criar a Marcha para o Oeste seus benefiacutecios

em diversas regiotildees do paiacutes satildeo inegaacuteveis O exemplo da Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes -

CANG fundada em 19 de Fevereiro de 1941 pelo Decreto Lei nordm 6882 na localidade de

Ceres que obedecendo ao Decreto Lei nordm 3059 forneceu lotes aos colonos medindo entre

20 e 50 hectares para que cultivassem a terra de forma a manter seu sustento

Com a veiculaccedilatildeo da notiacutecia de solo feacutertil e de apoio do Governo (CASTILHO 2012)

a regiatildeo passou a receber grande quantidade de pessoas candidatos a futuros colonos

A partir de 1946 chegavam a Colocircnia em meacutedia 30 famiacutelias por dia No ano seguinte jaacute residiam na CANG mais de 10000 habitantes Em 1950 a aacuterea contava com 29522 habitantes e em 1953 atingiu uma populaccedilatildeo de 35672 habitantes (onde 33222 residiam na zona rural e apenas 3450 na zona urbana) Essa grande quantidade de migrantes era provenientes do Oeste de Minas Gerais (60) de Satildeo Paulo e Estados do Norte (20) do proacuteprio Estado de Goiaacutes e do Sul (especialmente gauacutechos) e de outros paiacuteses (20) (CASTILHO apud DAYRELL 2012 p121)

Com o aumento do nuacutemero de colonos a cada dia houve tambeacutem o aumento da

produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas destinadas para a demarcaccedilatildeo de lotes Um demonstrativo do

volume de produccedilatildeo agriacutecola pode ser visualizado na Tabela 6

76

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo agriacutecola da CANG Produto Unidade 1947 1950 1951 1952 1953

Arroz Saca 60 kg 220000 420596 362642 272920 276000

Milho Saca 60 kg 500000 25475 202625 136349 248000

Feijatildeo Saca 60 kg 65000 18169 29455 140187 86000

Accediluacutecar Saca 60 kg 5000 - - - -

Algodatildeo Saca 60 kg 10000 99213 261369 129974 220000

Cafeacute Saca 60 kg - - 22540 8036 14600

Cana kg - 3129869 36856869 43725 ton 32024 ton

Mandioca kg - 6436718 35272961 20088783 41448 ton

Com a produccedilatildeo de arroz chegando a 4 toneladas e 600 kg (276000kg) em 1953

somado a 32024 toneladas de cana de accediluacutecar e 41448 toneladas de mandioca a produccedilatildeo

agriacutecola da CANG chegava a 780720 toneladas de alimentos somente com trecircs produtos

um recorde de produccedilatildeo

A CANG natildeo somente produzia os produtos agriacutecolas mais tambeacutem os beneficiava de

modo a agregar valor ao produto facilitando assim a sua comercializaccedilatildeo

Da cana de accediluacutecar produziam rapadura accediluacutecar mascavo accediluacutecar cristal farinha de

milho e mandioca aleacutem de oacuteleos vegetais e tijolos para a construccedilatildeo das casas e telhas

francesas e coloniais (DAYRELL 1974)

Tambeacutem segundo Dayrell (1974) a CANG a partir de 1953 comeccedilou a produzir outras

culturas agriacutecolas entre elas mamatildeo amendoim batata e frutas entretanto as mesmas natildeo

chegaram a ser expressivas em volume de produccedilatildeo ficando somente para consumo interno

da Colocircnia

Por estar localizada em um solo riquiacutessimo em fertilidade para a agricultura a

administraccedilatildeo da CANG fazia seacuterias restriccedilotildees agrave criaccedilatildeo bovina segundo Dayrell (1974) a

mesma tinha um rebanho estimado em 14000 cabeccedilas de gado em sua maioria utilizada

para preparar a terra para o plantio e as vacas para a produccedilatildeo leiteira

Outro exemplo de Colocircnia eacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados - CAND

localizada no Estado de Mato Grosso do Sul (antigo Mato Grosso) criada pelo Decreto Lei nordm

5941 de 28 de Outubro de 1943 que assim como outras colocircnias tinha a funccedilatildeo de

Fonte DAYRELL apud CASTILHO (2012)

77

receber e alojar brasileiros reconhecidamente pobres e estrangeiros aptos para a

agricultura

Segundo Menezes (2011) devido aos percalccedilos poliacuteticos a Colocircnia somente foi

efetivamente implantada em 1948 cinco anos apoacutes a lei de sua criaccedilatildeo Logo em seguida

comeccedilou a receber migrantes mas foi na deacutecada de 1950 que as migraccedilotildees tomaram

impulso e chegaram agrave nuacutemeros exorbitantes Segundo Lenharo (1986) as migraccedilotildees intensas

eram reflexos das propagandas veiculadas semanalmente no raacutedio pautada em

instrumentos simboacutelicos com a bandeira para incitar o sentimento nacionalista

A colocircnia possuiacutea uma aacuterea de 267000 ha que ficaram divididas em duas zonas

separadas pelo rio Dourados a primeira localizada agrave esquerda do rio com 68000

ha e a segunda agrave direita daquele com uma aacuterea de 199000 ha A referida colocircnia

englobava o territoacuterio dos atuais municiacutepios de Dourados Faacutetima do Sul Vicentina

Gloacuteria de Dourados Jateiacute Deodaacutepolis e Douradina (MENEZES apud PONCIANO

NAGLIS 2011)

Segundo Menezes (2011) em uma carta o administrador da CAND em 1951

descreve a regiatildeo da Colocircnia de Dourados como sendo uma regiatildeo de mata virgem de

terras planas de solos de rara fertilidade e de altitude superior a 400 metros com condiccedilotildees

adaptaacuteveis agrave culturas agriacutecolas variadas de frutos europeus e cafeacute

Assim como ocorreu na Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes- CANG na localidade de

Ceres a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados- CAND no Territoacuterio Federal de Ponta Poratilde

(BRASIL 1943) no atual estado do Mato Grosso do Sul tambeacutem produzia grande quantidade

de alimentos como arroz feijatildeo e milho Sua principal dificuldade estava no transporte

dessa produccedilatildeo que ao contraacuterio da CANG que tinha acesso direto ao rio das Almas a

CAND dependia do transporte terrestre para escoar sua produccedilatildeo

Menezes apud Queiroz (2011 p7) descreve a ldquosituaccedilatildeo relativamente desfavoraacutevel

desse ramal um tanto excecircntrico em relaccedilatildeo ao nuacutecleo agriacutecola constituiacutedo pela CAND Essa

colocircnia de fato estendeu-se a leste da cidade de Dourados enquanto a estaccedilatildeo de Itahum

foi estabelecida cerca de 60 km a oeste da cidaderdquo Com isso agrave medida que a CAND crescia e

se desenvolvia ficava mais difiacutecil escoar sua produccedilatildeo

Segundo Azevedo (1994) em entrevista com um colono o mesmo descreve a

situaccedilatildeo em que se encontravam ldquoa uacutenica e precariacutessima ligaccedilatildeo que tiacutenhamos era com

Dourados atraveacutes de um caminho aberto a braccedilos humanos onde haviam terriacuteveis atoleiros

78

dentre os quais os famosos travessotildees da Onccedila o do Guassu e o varjatildeo de Vila Brasilrdquo

(AZEVEDO1994 p59)

Nessa situaccedilatildeo em periacuteodo de chuva era praticamente impossiacutevel transportar a

produccedilatildeo ateacute a estaccedilatildeo de Itahum e para piorar a CAND natildeo dispunha de galpotildees de

armazenamento o que tornava extremamente necessaacuterio que os colonos enfrentassem os

perigos do caminho para natildeo perder a produccedilatildeo

221 COLOcircNIA AGRIacuteCOLA NACIONAL DO AMAZONAS- CANA ldquoUM LUGAR PARA

RECOMECcedilARrdquo

A Amazocircnia voltou a ser ldquoalvordquo de migraccedilatildeo populacional a partir da II Segunda

Guerra Mundial ldquocom a perda para os japoneses dos centros de produccedilatildeo de goma elaacutestica

(borracha) cultivadas no Oriente a induacutestria beacutelica dos aliados viu-se privada da noite para

o dia de um de seus mais importantes produtos estrateacutegicosrdquo (SOARES 1963 p123)

Com isso o presidente dos Estados Unidos viu-se pressionado a estudar o estoque

de mateacuterias primas disponiacutevel para a guerra todavia o resultado foi assustador

De todos os materiais criacuteticos e estrateacutegicos a borracha eacute aquele cuja falta representa a maior ameaccedila agrave seguranccedila de nossa naccedilatildeo e ao ecircxito da causa aliada () Consideramos a situaccedilatildeo presente tatildeo perigosa que se natildeo se tomarem medidas corretivas imediatas este paiacutes entraraacute em colapso civil e militar A crueza dos fatos eacute advertecircncia que natildeo pode ser ignorada

Atenccedilotildees do governo americano se voltaram entatildeo para a Amazocircnia grande reservatoacuterio natural de borracha com cerca de 300 milhotildees de seringueiras prontas para a produccedilatildeo de 800 mil toneladas de borracha anuais mais que o dobro das necessidades americanas Entretanto naquela eacutepoca soacute havia na regiatildeo cerca de 35 mil seringueiros em atividade com uma produccedilatildeo de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941 Seriam necessaacuterios pelo menos mais 100 mil trabalhadores para reativar a produccedilatildeo amazocircnica e elevaacute-la ao niacutevel de 70 mil toneladas anuais no menor espaccedilo de tempo possiacutevel [] para alcanccedilar esse objetivo iniciaram-se intensas negociaccedilotildees entre as autoridade brasileiras e americanas que culminaram com a assinatura do Acordo de Washington (NECES 2013 p5 - 6)

E em 14 de Setembro de 1943 eacute publicado o Decreto Lei nordm 5813 que dispunha

sobre o acordo de Washington (assinado em 1942) entre o Brasil e os Estados Unidos onde

o Brasil se comprometia em recrutar e encaminhar trabalhadores para a Amazocircnia com a

79

finalidade de retirar a maior quantidade possiacutevel de borracha e os EUA em contra partida se

comprometia a disponibilizar a importacircncia de U$$ 240000000 em uma conta especial no

Banco do Brasil agrave disposiccedilatildeo do governo brasileiro para ser usado no transporte e

acomodaccedilatildeo dos primeiros 16000 trabalhadores que deveriam ser colocados nos seringais

agrave tempo de iniciar a extraccedilatildeo da borracha para a safra de 1944 (BRASIL 1943)

Em cumprimento ao acordo firmado entre Brasil-EUA eacute criado o Serviccedilo Especial de

Mobilizaccedilatildeo de Trabalhadores para a Amazocircnia - SEMTA que tinha como objetivo fazer o

recrutamento de trabalhadores e suas famiacutelias e o encaminhamento e posterior

acomodaccedilatildeo das mesmas nos seringais da Amazocircnia a fim de incrementar a produccedilatildeo de

borracha e destina laacute aos Estados Unidos (BRASIL 1943)

Para o governo brasileiro era uma grande oportunidade para mitigar alguns dos mais graves problemas sociais brasileiros Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponiacuteveis para ser enviados imediatamente para os seringais Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazocircnia durante o ano de 1942 metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais Aqueles eram os primeiros soldados da borracha Simples retirantes que se amontoavam com suas famiacutelias por todo o nordeste fugindo de uma seca que teimava em natildeo acabar e os reduzia agrave miseacuteria Mas aquele primeiro grupo era evidentemente muito pequeno diante das pretensotildees americanas (NECES 2013 p7)

Vai aleacutem ao afirmar

Em todas as regiotildees do Brasil aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha e assim auxiliar a causa aliada Alistamento recrutamento voluntaacuterios esforccedilo de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano popular A mobilizaccedilatildeo de trabalhadores para a Amazocircnia coordenada pelo Estado Novo foi revestida por toda a forccedila simboacutelica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam No nordeste de onde deveria sair o maior numero de soldados o SEMTA convocou padres meacutedicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazocircnicas O artista suiacuteccedilo Chabloz foi contratado para produzir material de divulgaccedilatildeo acerca da realidade que os esperava Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de laacutetex que escorria como aacutegua de grossas seringueiras Todo o caminho que levava do sertatildeo nordestino seco e amarelo ao paraiacuteso verde e uacutemido da Amazocircnia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas O slogan Borracha para a Vitoacuteria tornou-se o emblema da mobilizaccedilatildeo realizada por todo o nordeste Histoacuterias de enriquecimento faacutecil circulavam de boca em boca Na Amazocircnia se junta dinheiro com rodo Os velhos mitos do Eldorado amazocircnico voltavam a ganhar forccedila no imaginaacuterio popular O paraiacuteso perdido a terra da fartura e da promissatildeo onde a floresta era sempre verde e a seca desconhecida Os cartazes mostravam caminhotildees carregando toneladas de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores Eram imagens coletadas por Chabloz nas plantaccedilotildees da Firestone na Malaacutesia sem nenhuma conexatildeo com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazocircnicos Afinal de contas o que os flagelados

80

teriam a perder Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam restava o milenar recurso do recrutamento forccedilado de jovens A muitas famiacutelias do sertatildeo nordestino foram oferecidas somente duas opccedilotildees ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou entatildeo deveriam seguir para o front na Europa para lutar contra os fascistas italianos e alematildees Eacute faacutecil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazocircnia (NECES 2013 p7)

Estima-se que 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazocircnicos entre os

anos de 1942 e 1945 ldquodesse total quase metade acabou morrendo em razatildeo das peacutessimas

condiccedilotildees de transporte alojamento e alimentaccedilatildeo durante a viagem como tambeacutem pela

ausecircncia quase absoluta de meacutedicosrdquo (NECES 2013 p8)

Com a produccedilatildeo da borracha natildeo chegando nem agrave metade do esperado jaacute em 1944

o governo americano transfere suas atribuiccedilotildees ao governo brasileiro e o fim da II Segunda

Guerra Mundial alcanccedilado em 1945 o acordo de exploraccedilatildeo de borracha na Amazocircnia eacute

rapidamente cancelado com abertura das regiotildees produtoras do sudoeste asiaacutetico

novamente ao mercado internacional

Por sua vez ldquoos soldados da borrachardquo como ficaram conhecidos os migrantes na

regiatildeo amazocircnica foram largados agrave proacutepria sorte novamente na imensidatildeo da floresta

algumas centenas optaram por retornar aos seus estados de origem os demais optaram por

continuar na regiatildeo o que veio a contribuir para o povoamento da mesma

Por outro lado o governo brasileiro natildeo interrompeu a sua poliacutetica de colonizaccedilatildeo

jaacute iniciada com a criaccedilatildeo de Colocircnias de Agriacutecolas Nacionais por todo o territoacuterio brasileiro e

principalmente na Amazocircnia para atender o Acordo de Washington (1942) mantendo assim

os dois mega projetos em funcionamento O que por sua vez resultou em uma explosatildeo

demograacutefica na regiatildeo direcionadas principalmente para os maiores estados da regiatildeo e do

paiacutes o estado do Amazonas e o estado do Paraacute como expressa Benchimol (2009) atraveacutes da

evoluccedilatildeo demograacutefica da populaccedilatildeo nesses estados (Tabela 7)

Tabela 7 Crescimento populacional do Amazonas e do Paraacute (1900-1950)

Estados 1900 1920 1940 1950

Amazonas 249756 363166 438008 514009

Paraacute 445356 983507 944644 1123273

Fonte Samuel Benchimol (2009)

81

Embora o crescimento populacional do estado do Amazonas ao contraacuterio do

estado do Paraacute possa parecer menos expressivo nas primeiras cindo deacutecadas do seacuteculo XX o

mesmo representou grande preocupaccedilatildeo aos governantes com a ocupaccedilatildeo destes

migrantes e imigrantes em terras estranhas o que levou o governador do estado do

Amazonas a doar agrave Uniatildeo grande lote de terras para que fosse implantada a Colocircnia

Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA (AMAZONAS 1941)

As terras doadas detinham aacuterea de duzentos mil a trezentos mil hectares

localizadas entre os rios Negro e Solimotildees (BRASIL 1941b)

Segundo Daacutecio (2011) as terras foram dividas em duas glebas a primeira localizada

no Cacau Pirera (atual municiacutepio de Iranduba) na margem direita do Rio Negro e a segunda

gleba na localidade da Bela Vista disposta na margem esquerda do Rio Solimotildees no

municiacutepio de Manacapuru aonde foi instalado a sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA ficando popularmente conhecida como Colocircnia da Bela Vista

Jaacute na sede da CANA localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem esquerda

do Rio Solimotildees a mesma foi efetivamente instalada em 1943 segundo o senhor Dida (73

anos) morador da CANA pelo engenheiro agrocircnomo Dr Carvalho A localidade logo

recebeu o nome de Bela Vista por estar localizada parte em aacuterea de terra firme e parte em

aacuterea de vaacuterzea (Figura 16) e ter uma visatildeo privilegiada do rio Solimotildees

82

Figura 16 Sede da Comunidade da Bela Vista e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

83

Segundo o senhor Silva (73 anos) popularmente conhecido como Dida os futuros

colonos chegavam a Colocircnia atraveacutes de navios cargueiros trazidos principalmente de quatro

estados brasileiros Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e do Rio Grande do Norte Normalmente os

colonos chegavam acompanhados das esposas e dos filhos muitas vezes pequenos e

doentes devido agrave longa viagem ser longa e as condiccedilotildees sanitaacuterias dentro dos navios natildeo

serem adequadas para o transporte de pessoas

Sobre isso Neces (2013) explica que as viagens do Nordeste para a Amazocircnia

levavam no miacutenimo trecircs meses ou mais devido agrave baixa capacidade de transporte das poucas

empresas de navegaccedilatildeo existentes que navegavam pelos rios da regiatildeo o que levou o

governo brasileiro a fornecer passagens no navio Italiano Lloyd que atracava no litoral

brasileiro e seguia em direccedilatildeo agrave Amazocircnia

Partes das dificuldades de transporte para a regiatildeo foram solucionadas a partir de

1943 com o investimento maciccedilo do governo americano no SNAPP (Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e

Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute) para o escoamento da produccedilatildeo de borracha da regiatildeo

(NECES 2013)

Outro entrevistado na pesquisa foi o senhor Santos (84 anos) eacute um dos uacuteltimos

colonos ainda residente na Bela Vista Nasceu no Estado do Rio Grande do Norte em 1929

onde permaneceu ateacute 1945 Apoacutes ouvir no raacutedio os incentivos de terra gratuita para

cultivar casa para morar meacutedicos e escolas que o governo brasileiro oferecia para quem

fosse morar no Amazonas decidiu arriscar a sorte e entrar em um navio alematildeo em plena II

Guerra Mundial em busca do sonho de terras em abundacircncia para cultivar e aacutegua a perder

Figura 17 Vista do Rio SolimotildeesAmazonas da Comunidade de Bela Vista Fonte Louzada ( 2013)

84

de vista Acima de tudo havia o desejo de ter uma vida tranquila sem ver seus animais

morrerem de fome e sede sem ter o que dar de comer e de beber mas ao mesmo tempo

tinha medo de ser pego pelos japoneses residentes na Colocircnia Japonesa em Parintins o que

natildeo ocorreu Chegou agrave CANA no final do ano de 1945 em eacutepoca de fartura de peixe e

intensas chuvas o que o deixou admirado da imensidatildeo da floresta e das aacuteguas Para o

senhor Santos e muitos outros colonos a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA

com sede na Bela Vista era a oportunidade uacutenica de comeccedilar uma vida nova em um lugar

distante e farto de aacutegua e terras para produzir seus alimentos

Cada colono recebia alimentaccedilatildeo gratuita por trecircs dias a contar da chegada

enquanto ajudava na construccedilatildeo da sua casa em um lote medindo 250m de frente por

900m de fundo previamente demarcado Apoacutes mudarem para seus lotes poderiam

derrubar a mata e iniciar a produccedilatildeo agriacutecola

Outro colono da CANA o senhor Bastos (68 anos) que nasceu no municiacutepio de

Anamatilde no interior do Amazonas e migrou para a Bela Vista com a famiacutelia aos trecircs meses de

vida descreve a fartura da CANA durante sua infacircncia e adolescecircncia na regiatildeo

De primeiro tinha fartura de peixe Haacute vinte anos vocecirc colocava uma malhadeira e

pegava tanto peixe que virava cordatildeo de tanto peixe No ramal para chegar aqui

tem um igarapeacute onde tem aquela ponte de madeira se vocecirc queria pegar peixe

era soacute colocar laacute uma isca chegava a pegar pirarucu de 40 a 45kg rapidinho hoje se

vocecirc colocar uma isca laacute ela vai apodrecer e vocecirc natildeo pega nada (BASTOS 68

anos)

O proacuteprio senhor Bastos (68 anos) relata ainda uma frase que seu pai lhe disse em

1959 apoacutes ver muitas pessoas pescando escolhendo o peixe que iriam comer e jogando o

restante jaacute morto de volta no rio ldquoMeu filho vai chegar o tempo de criar peixe se vocecirc

quiser comer umrdquo A primeira vista como o senhor Bastos relatou ldquoachei que meu pai natildeo

estava falando coisa com coisa pois tinha muita fartura de peixe mas hoje vejo que ele

estava certordquo Embora somente sabendo escrever o seu proacuteprio nome o pai de Bastos viveu

toda a sua vida agraves margens do rio e pode transmitir o conhecimento empiacuterico de um

ribeirinho que viveu toda a sua vida em contato constante e dependente do rio

Alguns autores relativamente jovens podem se referir a relatos de senhores com

mais de 60 anos como saudosista Entretanto se trata de outra realidade natildeo vivenciada

pelos autores que a criticam Embora muitos reconheccedilam que o avanccedilo da tecnologia no

85

seacuteculo passado e atual trouxe inuacutemeros benefiacutecios agrave sociedade moderna os mesmos

tambeacutem tecircm relativo conhecimento dos impactos dessa modernizaccedilatildeo principalmente da

exploraccedilatildeo descontrolada da natureza e suas consequecircncias para com o meio ambiente

222 INFRAESTRUTURA DA CANA DA PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DE BATELOtildeES

Os colonos que se instalaram na CANA tinham primeiramente duas funccedilotildees

desmatar os seus lotes produzir lenha para abastecer as embarcaccedilotildees que atracavam no

porto da Bela Vista e preparar a terra para a produccedilatildeo de arroz e cana de accediluacutecar uma das

exigecircncias para terem seus lotes na regiatildeo

A Colocircnia tinha cinco casas de alvenaria aparentemente adequadas ao meio muito

embora reflitam uma arquitetura com caracteriacutesticas distintas do convencionalmente

adotado pela populaccedilatildeo local

As casas eram divididas assim uma do administrador e sua famiacutelia (Figura 18) outra

era utilizada como escritoacuterio da Colocircnia e mais trecircs casas para os funcionaacuterios

administrativos

Assim como as outras colocircnias agriacutecolas nacionais implantadas a Colocircnia Agriacutecola

Nacional do Amazonas- CANA tambeacutem produzia cana de accediluacutecar e derivados como rapadura

e mel e accediluacutecar mascavo Tambeacutem produzia arroz que era processado em uma Usina de

Beneficiamento e apoacutes o processamento era ensacado e transportado por batelotildees

Figura 18 Casa do Administrador da Colocircnia

Fonte Louzada (2013)

86

(embarcaccedilotildees de madeira que navegavam pelos rios da Amazocircnia geralmente movidas a

lenha) ateacute Manaus ou subiam o curso do Rio Solimotildees para abastecer outras cidades do

interior do estado

A infraestrutura da CANA natildeo se limitava somente a Usina de Beneficiamento de

Arroz e as casas dos funcionaacuterios ou do administrador uma vez que tambeacutem dispunha de

Porto de Lenha responsaacutevel pelo abastecimento das embarcaccedilotildees posto de sauacutede com

meacutedicos e dentistas uma cantina uma espeacutecie de mercearia que vendia os produtos

comercializados na Colocircnia aleacutem de um estaleiro que fabricava e consertava embarcaccedilotildees

Segundo o senhor Dida (73 anos) a Colocircnia tinha trecircs embarcaccedilotildees proacuteprias o barco

Anamatilde geralmente utilizado pela famiacutelia do administrador e os barcos Tracajaacute e Aacutegua Fria

considerados cargueiros que transportavam a produccedilatildeo de rapadura mel e arroz para a

capital (Manaus) e retornavam com tijolos e telhas Os colonos que desejassem ir a capital

deveriam esperar os batelotildees que passavam no rio geralmente no inicio do dia uma vez por

semana e retornavam no dia seguinte agrave Colocircnia

O senhor Francisco (71 anos) descreve a Colocircnia como um lugar calmo de gente

humilde e trabalhadora que apesar de terem que trabalhar na produccedilatildeo de arroz e cana de

accediluacutecar como parte das exigecircncias para ter um lote na CANA natildeo abriam matildeo de ter em

seus lotes pequenos siacutetios geralmente com muitas arvores frutiacuteferas tanto tiacutepicas da

Amazocircnia como de outras regiotildees ou paiacuteses como mangueiras cajueiros entre outras

acompanhado da criaccedilatildeo de pequenos animais

Com a transferecircncia da administraccedilatildeo de todas as Colocircnias Agriacutecolas Nacionais da

extinta Divisatildeo de Terras e Colonizaccedilatildeo do Ministeacuterio da Agricultura e do tambeacutem extinto

Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacutercio para o

Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo ndash INIC (BRASIL 1956) marcaria

definitivamente o periacuteodo de transformaccedilotildees que viria a sofrer a Colocircnia Agriacutecola Nacional

do Amazonas - CANA

As coisas comeccedilaram a mudar segundo o senhor Bastos

[ldquo] natildeo veio mais meacutedicos nem dentistas para caacute as crianccedilas estavam doentes nem tinha remeacutediordquo Com o aumento das chuvas de dezembro agrave junho a produccedilatildeo de cana de accediluacutecar diminuiacutea muito ou acabava porque foram plantadas na vaacuterzea o mesmo acontecia com o arroz de primeiro tinha armazeacutem para guardar a produccedilatildeo depois 1957 natildeo tinham aonde guardar Muita gente foi embora para a cidade grande quem ficou tinha que se virar do jeito que desse ou morreria de fome A culpa foi do ldquoDr Rangel que derrubou a Colocircnia ele fechou a

87

Usina de Beneficiamento a cantina levou os meacutedicos que tinha aqui embora e natildeo

trouxe outros ele nem morava aqui soacute vinha visitar (BASTOS 68 ANOS)

O senhor Bastos se refere ao engenheiro agrocircnomo Vicente de Saacute Rangel

designado para administrar as terras do INIC e organizar um polo agriacutecola na regiatildeo

(MARTINS 2011)

Com a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA recebendo em meacutedia 2 mil

agricultores por mecircs aptos a trabalhar e a produzir alimentos se fazia necessaacuterio escoar esta

produccedilatildeo Rangel solicitou apoio do Governo Federal para a criaccedilatildeo de vias de acesso aacutes

comunidades de forma a facilitar o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola (MARTINS 2011)

A abertura das estradas comeccedilou com a instalaccedilatildeo da Colocircnia Japonesa na primeira

gleba da CANA onde hoje se encontra a localidade do Cacau Pirera no municiacutepio de

Iranduba na parte inicial da rodovia AM-070 (Manoel Urbano) (MARTINS 2011)

O polo foi criado e era necessaacuterio ter estradas os produtos com os quais eles trabalhavam Meu pai assumiu a direccedilatildeo dessa colocircnia e eu acompanhei o processo O transporte era muito complicado era necessaacuterio abrir as estradas no meio da florestardquo relatou um dos filhos do engenheiro Paulo Roberto Franccedila Rangel Enfrentando chuvas torrenciais calor insetos e dificuldades para derrubar aacutervores de grande porte a equipe comeccedilou a estruturar as vias de acesso para a colocircnia (MARTINS 2011 p13)

Martins (2011) relata ainda as dificuldades encontradas no processo de ligar as

comunidades e a construccedilatildeo da estrada sobre a floresta Assim como tambeacutem os benefiacutecios

recebidos com a chegada dos japoneses ao municiacutepio de Iranduba ldquoEle acreditava que a

agricultura seria a redenccedilatildeo do povo amazonense Ele viu que soacute se comia peixe e poucas

verduras Eles resolveram plantar e comeccedilaram a produzir muitordquo lembrou Paulo Roberto

Franccedila Rangel filho de Vicente Rangel

Ao todo Vicente Rangel morou no estado do Amazonas cinco anos (1957 a 1962)

retornando agrave sua cidade natal posteriormente

88

223 DA SEDE DA CANA Agrave COMUNIDADE DA BELA VISTA

Com o inicio da ditadura militar no Brasil em 1964 a Amazocircnia volta ao cenaacuterio

nacional impregnada no discurso do entatildeo presidente Castelo Branco ldquoIntegrar para natildeo

Entregarrdquo

Sobre isso Oliveira (1988) aponta que a estrateacutegia militar era desenvolver trecircs

grandes regiotildees geoeconocircmicas brasileiras Centro Sul Nordeste e Amazocircnia e interligaacute-las

definitivamente atraveacutes de mega projetos rodoviaacuterios

[] visto sob o acircngulo de estrateacutegias diversas o Centro Sul deveria ter o processo de industrializaccedilatildeo solidificado e sua agricultura modernizada aleacutem de participar do esforccedilo nacional de ldquodesenvolvimento do Nordesterdquo via industrializaccedilatildeo e da ocupaccedilatildeo via ldquoOperaccedilatildeo Amazocircniardquo da regiatildeo norte do paiacutes (OLIVEIRA 1988 p29)

A operaccedilatildeo Amazocircnia eacute resultado de uma ldquoReuniatildeo de Investidores da Amazocircniardquo a

bordo de um cruzeiro de nove dias pelos rios da regiatildeo onde ficaram definidos ldquoos

interesses dos empresaacuterios do Centro Sul e os objetivos da adesatildeo empresarial ao projeto

governamental soacute investir se o lucro fosse certordquo (OLIVEIRA 1988 p32)

Para viabilizar as novas estrateacutegias de desenvolvimento regional se fazia necessaacuterio

reestruturar os oacutergatildeos de planejamento regional levando o estado a lanccedilar a poliacutetica de

ldquoincentivos fiscais que previa a criaccedilatildeo do FIDAM (Fundo para Investimentos Privados do

Desenvolvimento da Amazocircnia) e uma rearticulaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do BASA (Banco da

Amazocircnia SA)rdquo (OLIVEIRA 1988 p36)

Os recursos a serem investidos na Amazocircnia seriam provenientes de

1-no miacutenimo 2 da renda tributaacuteria da Uniatildeo e 3 da renda tributaacuteria dos estados territoacuterios e municiacutepios da Amazocircnia 2- dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e creacuteditos adicionais provenientes de operaccedilotildees de creacutedito e juros de depoacutesitos bancaacuterios 3- auxiacutelios subvenccedilotildees contribuiccedilotildees e doaccedilotildees de entidades puacuteblicas ou privadas nacionais ou estrangeiras 4- sua renda patrimonial aleacutem de todas as isenccedilotildees tributaacuterias gozadas pelos oacutergatildeos federais 5- contrataccedilatildeo de empreacutestimos no paiacutes ou no exterior dando como garantia seus proacuteprios recursos como total isenccedilatildeo de taxas e impostos federais (OLIVEIRA 1988 p37)

89

A Operaccedilatildeo Amazocircnia tambeacutem tinha como objetivo criar a SUFRAMA

(Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus) que foi criada em 1967 para coordenar e

administrar a instalaccedilatildeo de faacutebricas na cidade de Manaus fundando o Distrito Industrial

(OLIVEIRA 1988)

Com a instalaccedilatildeo de faacutebricas em Manaus a cidade torna-se alvo de intensas

migraccedilotildees em busca de melhores condiccedilotildees de vida

Sobre isso Benchimol (2009) destaca que na deacutecada de 1950 73 da populaccedilatildeo do

estado do Amazonas vivia no campo contra 26 que viviam na cidade e duas deacutecadas

depois em 1970 esse percentual despencou para 57 da populaccedilatildeo rural contra 43

urbana

Para tentar reduzir as intensas e constantes migraccedilotildees do campo para as cidades O

governo militar cria o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria ndash INCRA

(resultado da fusatildeo do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria - IBRA e do Instituto Nacional

de Desenvolvimento Rural-INDA) instituiacutedo pelo decreto lei nordm 1110 de 09 de Julho de

1970

Art 1ordm O INGRA eacute uma entidade autaacuterquica vinculada ao Ministeacuterio da Agricultura dotado de personalidade juriacutedica e autonomia administrativa e financeira com jurisdiccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional a) Tendo como objetivo executar a reforma agraacuteria visando a corrigir a estrutura agraacuteria do paiacutes adequando-a aos interesses do desenvolvimento econocircmico e social b) Promover coordenar controlar e executar a projetos de colonizaccedilatildeo (BRASIL 1970)

O INCRA (1970) tinha como uma de suas principais funccedilotildees fundar nuacutecleos de

colonizaccedilatildeo criando unidades de exploraccedilatildeo agriacutecola em projetos de reforma agraacuteria em

regiotildees de vazios demograacuteficos no paiacutes e tornaacute-los produtivos proporcionando-lhes

progresso natildeo soacute econocircmico mas principalmente social (BRASIL 1970)

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs como foram instituiacutedos tornaram-se

poliacuteticas de Estado para a colonizaccedilatildeo da Amazocircnia no inicio de 1970 (RABELLO 2005)

No estado do Amazonas foram implantados vaacuterios PCIs com destaque para o PCI da

Bela Vista implantado nas terras da antiga Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA

que abrange um lote de terras entre os rios Negro e Solimotildees que fazem parte hoje dos

municiacutepios de Iranduba e Manacapuru (SCHWEICKARDT 2006)

90

Segundo o INCRA (2012) o PCIs da Bela Vista foi dividido em duas localidades Bela

Vista I localizado no distrito de Cacau Pirera atual municiacutepio de Iranduba e Bela Vista II

situado no municiacutepio de Manacapuru

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo (PIC) se destinavam agrave faixa de populaccedilatildeo de baixa renda especificamente a agricultores sem terra (sect 2ordm art 25 do Estatuto da Terra) e de preferecircncia agravequeles que possuem maior forccedila de trabalho familiar Nas aacutereas desses projetos o INCRA identifica e seleciona os beneficiaacuterios localiza-os nas parcelas por ele determinadas fornece a infraestrutura baacutesica e atraveacutes dos oacutergatildeos responsaacuteveis a niacutevel nacional regional estadual eou municipal implementa as atividades relativas agrave assistecircncia teacutecnica creditiacutecia agrave comercializaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo para facilitar a organizaccedilatildeo soacutecio econocircmica dos parceleiros Cabe tambeacutem ao INCRA outorgar aos beneficiaacuterios o tiacutetulo definitivo de propriedade da parcela (RABELLO 2005 p7)

Sobre isso Rocha (2010) destaca que os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs

foi a primeira forma de assentamento rural realizado pelo receacutem-criado INCRA Todavia com

a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 11641971 tornava-se indispensaacutevel a seguranccedila nacional a

ocupaccedilatildeo das terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada margem das

rodovias construiacutedas ou planejadas na Amazocircnia Os esforccedilos de colonizaccedilatildeo em zonas

rurais foram redirecionados para o assentamento de milhares de famiacutelias oriundas

principalmente do nordeste brasileiro ao longo das futuras rodovias

Os reflexos dessa mudanccedila de foco do INCRA dos Projetos Integrados de

Colonizaccedilatildeo - PICs para os Assentamentos Agraacuterios ao longo das futuras rodovias foi sentida

drasticamente pela populaccedilatildeo jaacute assentada no PIC da Bela Vista aonde muitas famiacutelias

chegaram agrave migrar para a cidade de Manaus em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho

Em 1976 o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria - INCRA emancipou o PIC Bela Vista concedendo tiacutetulo definitivo a 279 proprietaacuterios equivalentes a 15 da aacuterea inicial sendo grande parte ocupada por posseiros (DAacuteCIO apud BARBOSA 2011 p26)

Em 1980 os reflexos dessas mudanccedilas pode ser sentido na contagem populacional

do estado realizada pelo IBGE quando a populaccedilatildeo alcanccedilou 1430089 habitantes

distribuiacutedos pela primeira vez como sendo a maioria urbana chegando agrave 5990 do total de

habitantes do estado contra 4010 da populaccedilatildeo rural (BENCHIMOL 2009)

Com a emancipaccedilatildeo do PIC da Bela Vista em 1976 os dois nuacutecleos (Bela Vista I e II)

seguiram caminhos diferentes o primeiro tornou-se o Distrito de Cacau Pirera (municiacutepio de

Iranduba) uma pequena ldquocidaderdquo que recebia ateacute setembro de 2011 as balsas com dezenas

91

de carros e ocircnibus que saiam do Porto do Satildeo Raimundo em Manaus e atracavam naquele

local tornando-se assim o cartatildeo postal do municiacutepio de Iranduba

O PIC da Bela Vista II localizado no municiacutepio de Manacapuru que outrora foi agrave

sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas ndash CANA tornou-se uma comunidade rural

daquele municiacutepio E atraveacutes da AM-054 de 10 km de asfalto em peacutessimas condiccedilotildees de

traacutefego (Figura 19) manteacutem-se ligada agrave rodovia Manoel Urbano (AM-070) sua principal

ligaccedilatildeo com a cidade de Manacapuru e a capital do estado Manaus

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

Atualmente a comunidade da Bela Vista ainda guarda registros histoacutericos como

algumas casas o galpatildeo onde funcionava a Usina de Beneficiamento (Figura 20) e a cantina

(Figura 21) Com mais de 70 anos as construccedilotildees ainda que deterioradas pelo tempo satildeo

registros dos tempos ldquoaacuteureosrdquo do pleno funcionamento da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA tambeacutem conhecida como Colocircnia da Bela Vista

92

Figura 20 Usina de Beneficiamento da CANA Fonte Louzada (2013)

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA Fonte Louzada (2013)

Atualmente a populaccedilatildeo residente na comunidade da Bela Vista estaacute estimada em

3 mil pessoas (informaccedilatildeo dos moradores) oriundos de descendentes de ex ndash colonos e

migrantes de diversos municiacutepios do interior e de outros estados aleacutem de ex- colonos que

optaram por permanecer na regiatildeo

A comunidade da Bela Vista assim como outras comunidades localizadas agraves

margens dos rios da Amazocircnia tem sua economia baseada na agricultura familiar

fortemente enraizada na tradiccedilatildeo ribeirinha de fazer suas plantaccedilotildees agriacutecolas em aacuterea de

93

vaacuterzea Por esta razatildeo eacute comum encontrar plantaccedilotildees em frente agraves casas da primeira rua da

comunidade disposta paralela ao rio Solimotildees (Figura 22 23)

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista a margem do rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de Vaacuterzea da comunidade da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

As plantaccedilotildees variam de mandioca milho macaxeira verduras como tomate

pepino cebola agrave frutos como melancia goiaba banana entre outros Contudo natildeo eacute

somente na faixa justafluvial da comunidade que satildeo plantados alimentos inclusive tambeacutem

94

na Ilha do Barroso localizada proacuteximo agrave margem direita do Rio Solimotildees Amazonas (Figura

24)

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Graccedilas agrave sua constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo o rio SolimotildeesAmazonas submete suas

margens e leito agrave intensos e constantes processos erosivos de deposiccedilatildeo e erosatildeo Sobre isso

Horbe et al (2009) afirmar que

[] os rios de aacutegua branca satildeo os que apresentam maiores conteuacutedos de material em suspensatildeo que ao se depositarem ao longo de seus cursos formam extensas terraccedilos fluviais ilhas e barras Vaacuterios autores correlacionam a fonte da maior parte desses sedimentos aos Andes com contribuiccedilotildees menos significativas das rochas cratocircnicas e sedimentares siliciclaacutesticas que ocorrem ao longo da bacia Amazocircnica (HORBE et al apud GIBBS 1967 IRION 1983 STALLARD et al 1983 MARTINELLI et al1993 KONHAUSER et al 1994 GUYOT et al 2007 2009 p635)

A sinuosidade e o fluxo de carga impotildeem uma dinacircmica particular ao rio ldquoonde a

sua composiccedilatildeo mineraloacutegica eacute resultado de uma mistura diversificada de materiais

proveniente de fonte litoloacutegica por accedilotildees de intemperismo quiacutemico e fiacutesico principalmenterdquo

(HORBE apud CUNHA 2009 p 635)

A diversificaccedilatildeo de materiais depositados na ilha do Barroso atraveacutes dos constantes

retoques na paisagem (STERNBERG 1998) realizado pelo rio no seu periacuteodo cheio permite

a fixaccedilatildeo de depoacutesitos aluviais na ilha o que torna as terras feacuterteis em seu periacuteodo seco por

95

esta razatildeo os moradores da comunidade da Bela Vista utilizam a mesma para a produccedilatildeo

agriacutecola

A comunidade tambeacutem conta com pequenos comeacutercios em sua maioria familiares

e uma pousada Atualmente a comunidade se prepara para trabalhar numa faacutebrica de

beneficiamento de calcaacuterio instalada em Marccedilo de 2014 O calcaacuterio seraacute extraiacutedo da Mina do

Jatapuacute localizada no municiacutepio de Urucaraacute e seraacute beneficiado na comunidade

transformando em fertilidade agriacutecola (ALE 2013)

96

3 - PERCEPCcedilAtildeO TRANSDICIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO

Ao analisar os impactos ambientais na Amazocircnia em prol do desenvolvimento

tornou-se necessaacuterio adentrar pela percepccedilatildeo transdisciplinar e a complexidade que o meio

ambiente exige Assim como analisar a percepccedilatildeo ambiental da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos

projetos de desenvolvimento

Partindo da palavra percepccedilatildeo que tem sua origem no Latim perception que eacute

definida como a identificaccedilatildeo de elementos que em combinaccedilatildeo com os sentidos permite o

reconhecimento de formas cores dimensotildees contudo baseado nas experiecircncias individuas

de cada indiviacuteduo

Para Tuan (2012)

A superfiacutecie da Terra eacute extremamente variada Mesmo com um conhecimento casual sua geografia fiacutesica e a abundacircncia de formas de vida muito nos dizem Mas satildeo mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfiacutecie Duas pessoas natildeo veem a mesma realidade Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliaccedilatildeo do meio ambiente A proacutepia visatildeo cientifica estaacute ligada agrave cultura ndash uma possiacutevel perspectiva entre muitas Aacute medida que prosseguimos neste estudo a abundacircncia desnorteadora de perspectivas nos niacuteveis tanto individual quanto de grupo torna-se cada vez mais evidente e corremos o risco de natildeo notar o fato de que por mais diversas que sejam as nossas percepccedilotildees do meio ambiente como membros da mesma espeacutecie estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira Todos os seres humanos compartilham percepccedilotildees comuns um mundo comum em virtude de possuiacuterem oacutergatildeos similares (TUAN 2012 p21)

Reflete ainda que

Embora todos os seres humanos tenham oacutergatildeos dos sentidos similares o modo como suas capacidades satildeo usadas e desenvolvidas comeccedila a divergir numa idade bem precoce Como resultado natildeo somente as atitudes para com o meio ambiente diferem mas tambeacutem a capacidade real dos sentidos de modo que uma pessoa em determinada cultura possa desenvolver um olfato aguccedilado para perfumes enquanto os de outra cultura adquirem profunda visatildeo estereoscoacutepica (TUAN 2012 p30)

Baseado nessas afirmaccedilotildees de Tuan (2012) a sociedade moderna tem dificuldade

de relacionar acontecimentos ocorridos em diferentes lugares do mundo com sua proacutepria

realidade pois natildeo se veem como agente ativo dos acontecimentos

Isto se deu primeiramente com o advento da Revoluccedilatildeo Industrial na Inglaterra no

seacuteculo XVIII com a fabricaccedilatildeo de produtos em larga escala com o salto no volume de

97

produccedilatildeo se fazia (e atualmente ainda se faz) necessaacuterio buscar em qualquer parte do

mundo mateacuteria prima a ser utilizada na induacutestria (LOUZADA et al 2013)

Com a retirada dos recursos naturas como carvatildeo mineral madeira petroacuteleo gaacutes

natural pedras preciosas entre outras coisas Em macro escala durante os seacuteculos

seguintes a Revoluccedilatildeo Industrial eacute ainda mais intensificada com o modelo fordista (linha de

montagem) de produccedilatildeo a partir do seacuteculo XIX resultando em graviacutessimos impactos

ambientais que somente foram divulgados ao mundo a partir da deacutecada de 40 do seacuteculo

XX com destaque para a exploraccedilatildeo descontrolada das minas de carvatildeo mineral em toda a

Europa que reduziu drasticamente a cobertura vegetal nativa A retirada descontrolada de

pedras preciosas em todas as partes do mundo com destaque para o continente africano

gerou inuacutemeros conflitos territoacuterios e eacutetnicos pelo domiacutenio das jazidas principalmente de

diamantes no continente

Pode- se destacar tambeacutem a intensa exploraccedilatildeo madeireira que o Brasil sofreu

durante os quatro primeiros seacuteculos de sua ldquodescobertardquo e o transporte para a Europa de

todas as demais riquezas encontradas em seu territoacuterio Com o crescimento constante da

populaccedilatildeo mundial a retirada da mateacuteria prima da natureza somente se intensificou e

aprimorou-se durante os anos seguintes

Para Capra (1982 p13) ldquoA superpopulaccedilatildeo e a tecnologia industrial tecircm

contribuiacutedo de vaacuterias maneiras para a raacutepida degradaccedilatildeo do meio ambiente natural do qual

dependemos completamente Por conseguinte nossa sauacutede e nosso bem estar estatildeo

seriamente ameaccediladosrdquo

Capra (1982) ainda argumenta que os profissionais ditos especializados em vaacuterios

campos natildeo estariam realmente capacitados para lidar com os problemas emergentes

justamente devido agrave sua especializaccedilatildeo

Capra (1982) vai aleacutem ao afirmar existir uma crise de ideia e cultura

O fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadecircmico subscrever percepccedilotildees estreitas da realidade as quais satildeo inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo Esses problemas [] satildeo sistecircmicos o que significa que estatildeo intimamente interligados e satildeo interdependentes Natildeo podem ser entendidos no acircmbito da metodologia fragmentada que eacute caracteriacutestica de nossas disciplinas acadecircmicas e de nossos organismos governamentais (CAPRA 1982 p 15)

Para Capra (1982) precisamos

98

[] entender nossa multifaceta crise cultural precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situaccedilatildeo no contexto da evoluccedilatildeo cultural humana Temos que transferir nossa perspectiva do seacuteculo XX para um periacuteodo que abrange milhares de anos substituir a noccedilatildeo de estruturas sociais estaacuteticas por uma percepccedilatildeo de padrotildees dinacircmicos de mudanccedila (CAPRA 1982 p 16)

Alarmados com os danos ambientais frutos de seacuteculos de intensa exploraccedilatildeo e o

futuro da humanidade surgem encontros de diversos pensadores e cientistas preocupados

com o meio ambiente natural dando inicio a conferecircncias e reuniotildees importantes a partir

da segunda metade do seacuteculo XX bem como a Conferecircncia de Estocolmo realizada em

1972 com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade mundial para melhorar a

relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente em razatildeo dos problemas ambientais surgidos e

agravados com a industrializaccedilatildeo Nesse encontro foram elaborados dois importantes

documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre Meio Ambiente Humanordquo e o ldquoPlano de Accedilatildeo Mundialrdquo

Tambeacutem se registra a indicaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo capaz de conduzir a sociedade para um

repensar de sua accedilatildeo sobre o meio ambiente ndash a Educaccedilatildeo Ambiental

Em consequecircncia disso realizou-se em 1975 a Conferecircncia de Belgrado que

consolidou as recomendaccedilotildees no documento a ldquoCarta de Belgradordquo que prioriza a

erradicaccedilatildeo da pobreza do analfabetismo da fome da poluiccedilatildeo e tambeacutem cria as Diretrizes

Baacutesicas dos Programas de Educaccedilatildeo Ambiental para todos os paiacuteses participantes em

nuacutemero de sessenta e cinco

A Conferecircncia de Tbilisi realizada na Geoacutergia (uma repuacuteblica da Uniatildeo das

Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas- URSS de 1936 ndash 1991) em 1977 destaca que a educaccedilatildeo

formal desempenha papel importante para a resoluccedilatildeo dos problemas ambientais atraveacutes

de enfoques interdisciplinares recomenda a adoccedilatildeo de criteacuterios para o desenvolvimento da

Educaccedilatildeo Ambiental em escala local regional nacional e ateacute internacional Muitos outros

eventos se seguem cada um com elaboraccedilatildeo de documentos que buscam cada vez mais

destacar a complexidade da questatildeo ambiental considerando o meio ambiente sistecircmico

composto por fatores sociais econocircmicos poliacuteticos culturais ecoloacutegicos inter-relacionados

e dinacircmicos

Vaacuterios pensadores destacaram-se publicando importantes estudos sobre a

preocupaccedilatildeo ambiental do seacuteculo XX Entre eles destaca-se Leff (2003) que afirma que a

99

atual crise ambiental eacute sobretudo uma crise do conhecimento pois o mesmo consolidou-

se de forma fragmentado sem enfatizar a relaccedilatildeo entre o meio natural e humano (como

deveria ter sido a funccedilatildeo da geografia) como se os dois pudessem viver de forma isolada e

natildeo existisse uma relaccedilatildeo de dependecircncia Conhecimento esse produzido pela Ciecircncia

Moderna que considerava importante o princiacutepio da visatildeo compartimentalizada para

permitir o aprofundamento da especificidade

O pensamento complexo enfatizado por Morin (1990) surgiu com o objetivo de

unir o que foi anteriormente separado pelo pensamento cartesiano-newtoniano porque

natildeo se pode entender o mundo de maneira linear considerando que ele natildeo eacute uma maacutequina

como foi explicado por Descartes haacute muitos seacuteculos atraacutes sendo necessaacuterio retornar ao

passado para entender o presente para que seja possiacutevel tentar mudar o futuro

Ao contraacuterio do que agrave primeira vista possa parecer o Pensamento Complexo natildeo

significa algo complicado difiacutecil de ser compreendido pois na verdade conduz ao

entendimento das relaccedilotildees entre os fatores que integram a realidade contrapondo-se a

visatildeo provocada pela especializaccedilatildeo proposta pela Ciecircncia Moderna contudo torna-se difiacutecil

compreender esta proposta uma vez que pois estamos acostumados a trabalhar de forma

isolada e natildeo dispostos a discutir uma visatildeo que necessita reconstruir bases historicamente

construiacutedas Capra afirma que ldquoPrecisamos pois de um novo paradigma ndash uma nova visatildeo

da realidade uma mudanccedila fundamental em nossos pensamentosrdquo(CAPRA 1982 p14)

Para Morin (1990) a Complexidade surge como um Novo Paradigma capaz de

tentar compreender a atual crise de percepccedilatildeo defendida por Capra (1982) e propor

mudanccedilas

Todavia o conceito de Novo Paradigma para Morin (1990 p85) ldquoeacute constituiacutedo por

um certo tipo de relaccedilatildeo loacutegica extremamente forte entre noccedilotildees mestras noccedilotildees chaves e

princiacutepios chaves Essa relaccedilatildeo e esses princiacutepios vatildeo comandar todos os propoacutesitos que

obedecem inconscientemente ao seu impeacuteriordquo

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se verifica empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

100

Um exemplo da relaccedilatildeo ordem ndash desordem ndash organizaccedilatildeo seria as invasotildees de

terras que causam de certa forma a desordem (pessoas se aglomerando em pequenos

barracos em ldquoaacutereas de riscordquo onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a

produccedilatildeo de fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que

buscam melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

Morin (1990 p94) afirma ainda que ldquoo nosso mundo comporta harmonia mas

nesta harmonia estaacute a desarmonia Eacute exatamente o que dizia Heraacuteclito haacute harmonia na

desarmonia e vice- versardquo

O capitalismo surge para comprovar essa afirmaccedilatildeo de Morin quando vocecirc deve

estar se perguntando como ldquoSimplesrdquo pela facilidade de adaptaccedilatildeo ao mercado pois antes

da deacutecada de 70 o mundo vivia da exploraccedilatildeo descontrolada dos recursos naturais Poreacutem

sabe-se que hoje tais ldquorecursosrdquo satildeo limitados e natildeo infinitos O Capital se adaptou a essa

nova exigecircncia do mercado consumidor e passou a vender produtos com a simbologia da

Sustentabilidade ou a Marca Verde mantendo o consumo desenfreado

Ser sujeito natildeo quer dizer ser consciente tambeacutem natildeo quer dizer ter afetividade sentimentos ainda que evidentemente a subjetividade humana se desenvolva com a afetividade com sentimentos Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ocupar o lugar do ldquoeurdquo (MORIN 1990 p95)

O autor lanccedila a ideia de auto-organizaccedilatildeo e auto-eco-organizadores tais conceitos

dizem respeito agrave propriedade de cada sistema criar suas proacuteprias regras sem perder de vista

a harmonia com os demais sistemas interligados Nessa visatildeo Morin acredita ser possiacutevel

resgatar os conceitos de autonomia e de sujeito livrando-se da visatildeo ldquodeterminista da

ciecircncia tradicionalrdquo (MORIN 1990 p95)

Morin (1990) esclarece dizendo que todo mundo pode dizer ldquoeurdquo contudo cada

um de noacutes soacute pode dizer ldquoeurdquo por si proacuteprio Ningueacutem fala do eu pensando no bem do outro

Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ao mesmo tempo ser autocircnomo

e dependente Jaacute ser consciente eacute ter a capacidade de sair de si de transcender a

centralidade da subjetividade percebendo ao mesmo tempo em que nosso modo de ser eacute

ser o centro de nosso mundo

101

Liberdade para Morin (1990 p98) significa ldquoQuantos de noacutes frequentemente temos

a impressatildeo de ser livres sem ser livres Mas ao mesmo tempo somos capazes de ter

liberdade como somos capazes de examinar hipoacuteteses de condutas de fazer escolhas de

tomar decisotildeesrdquo

Portanto a Complexidade ldquoaparece como uma espeacutecie de buraco de confusatildeo de

dificuldade a primeira vista () Mas haacute complexidades ligadas agrave desordem e outras

complexidades que estatildeo sobre tudo ligadas a contradiccedilotildees loacutegicasrdquo (MORIN 1990 p99)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o cientista a dar marcha

reacute e rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os objetos

uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter multidimensional de

qualquer realidade Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo podemos nunca escapar aacute incerteza

() Estamos condenados ao pensamento inseguro a um pensamento criativo de buracos

um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento absoluto de certezardquo

Ele tambeacutem conceitua a razatildeo racionalidade e racionalizaccedilatildeo pois razatildeo

corresponde ldquo agrave vontade de ter uma visatildeo coerente das coisas e dos fenocircmenos rdquo jaacute a

racionalidade ldquoeacute um jogo o diaacutelogo incessante entre o nosso espiacuterito que cria estruturas

loacutegicas que as aplica sobre o mundo e que dialoga com o mundo realrdquo A racionalizaccedilatildeo

consiste ldquoem querer encerrar a realidade num sistema coerente E tudo o que na realidade

contradiz este sistema coerente eacute desviado esquecido posto de lado visto como ilusatildeo ou

aparecircnciardquo (MORIN 2007 p70)

Ainda conta com outro agravante a racionalizaccedilatildeo natildeo estabelece uma fronteira

niacutetida com a racionalidade e eacute muitas vezes confundida com ela Morin (1990) cita o

exemplo da ldquobarreirardquo entre o amor e a amizade onde natildeo existem delimitaccedilotildees claras a

serem ultrapassadas ou natildeo

Para o entendimento da Complexidade Morin (1990 p108) indica trecircs princiacutepios o

dialoacutegico ldquoa ordem e a desordem [] mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e

produzem organizaccedilatildeo e complexidade permite-nos manter a dualidade no seio da unidade

associa termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicosrdquo o da recursatildeo

organizacional relata sobre a necessidade da humanidade de viver em sociedade e o

resultado das interaccedilotildees humanas ldquoSe natildeo houvesse uma sociedade e a sua cultura uma

102

linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos indiviacuteduos humanosrdquo o holograacutefico ou

hologramaacutetico funciona como a menor partiacutecula do todo ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo

mas o todo estaacute na parterdquo

O Paradigma da Complexidade surge das novas concepccedilotildees das novas descobertas e

das novas reflexotildees que vatildeo conciliar-se construindo uma nova concepccedilatildeo (MORIN 1990

p112)

Para Dib- Ferreira apud Boff (2010)

A proacutepria ciecircncia tem mudado por meio de novas descobertas no campo da fiacutesica quacircntica e da noccedilatildeo de complexidade buscando a religaccedilatildeo dos conhecimentos tentando perceber que para conhecer um problema eacute necessaacuterio entender as relaccedilotildees entre as partes natildeo de forma isolada mas com uma visatildeo global Isso significa atacar as causas dos problemas natildeo os sintomas (DIB-FERREIRA apud BOFF 2010 p105)

Para Morin (1997) devemos estar cientes que a soma das partes eacute diferente do

todo por isto o todo tem qualidades e prioridades que natildeo existem nas partes

desmembradas Portanto a soma das partes eacute superior ao todo e natildeo igual ao mesmo Um

exemplo de nova concepccedilatildeo que busca compreender a atual relaccedilatildeo homem ndash meio eacute a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar

Diferente da Interdisciplinaridade que segundo Cardona (2010 p4) ldquoo

conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as

disciplinas cientiacuteficas interagem entre sirdquo trocando resultados meacutetodos e informaccedilotildees

Ou da Multidisciplinaridade que segundo tambeacutem Cardona (2010 p4) ldquopode ser

estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo contudo natildeo ocorreraacute uma

sobreposiccedilatildeo dos seus saberes no estudo do elemento analisadordquo

A ideia mais correta para esta visatildeo seria a da justaposiccedilatildeo das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questatildeo cada professor cooperaraacute com o estudo dentro da sua proacutepria oacutetica um estudo sob diversos acircngulos mas sem existir rompimento entre as fronteiras das disciplinas (CARDONA (2010 p4)

Morin apud Cardona (2010 p5) destaca ldquoa grande dificuldade nesta linha de

trabalho se encontra na difiacutecil localizaccedilatildeo da ldquovia de interarticulaccedilatildeordquo entre as diferentes

ciecircnciasrdquo

A Transdisciplinaridade segundo Ritto (2010 p34) ldquosurge como movimento de

renascimento do espiacuterito e da consciecircncia para compreender a complexidade uma nova

103

consciecircncia do realrdquo Em outras palavras eacute a etapa superior do ensino natildeo mais separados

em disciplinas e sim construiacutedo como um todo sem fronteiras soacutelidas entre as disciplinas

Segundo Cardona (2010) apud Nicolescu (1996) que formulou a frase A

transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas atraveacutes das

disciplinas e para aleacutem de toda disciplina Nessa frase o autor propotildee uma nova forma de

ensinar maior que as disciplinas mas ao mesmo tempo que se integrem todos os

conteuacutedos

O prefixo trans remete ao que estaacute entre atraveacutes e aleacutem das disciplinas Segundo

Theophilo (2000)

[] uma das propostas da transdisciplinaridade eacute o rompimento da dicotomia entre o sujeito e o objeto Fala-se de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo aos quais correspondem diferentes niacuteveis de realidade pois que a transdisciplinaridade propotildee uma alternacircncia em trecircs niacuteveis da razatildeo sensiacutevel razatildeo experiencial e razatildeo praacuteticardquo (THEOPHILO 2000 p 1)

Para Nicolescu (2002 p 12) o objetivo da transdisciplinaridade eacute a compreensatildeo do

mundo presente ldquoDo ponto de vista do pensamento claacutessico natildeo haacute nada entre atraveacutes e

aleacutem das disciplinas ndash como o vazio da fiacutesica claacutessica Diante da nova fiacutesica e dos seus niacuteveis

de realidade o espaccedilo entre as disciplinas e aleacutem delas estaacute cheio como o vazio quacircntico

estaacute cheio de todas as potencialidadesrdquo

A proposta eacute que o conhecimento se torne transdisciplinar ou seja a totalidade natildeo eacute mais uma soacute mas a junccedilatildeo de vaacuterias totalidades provenientes de realidades diversificadas Os limites da compreensatildeo que o ser humano pode ter do mundo natildeo satildeo mais escondidos e sim evidenciados porque a realidade pode ser compreendida de uma maneira melhor se natildeo haacute a especializaccedilatildeo da ciecircncia e a fragmentaccedilatildeo do conhecimento em disciplinas isoladas (SANTOS 2007 p65)

Para Aragatildeo (2007)

A transdisciplinaridade natildeo pretende de forma alguma desvalorizar as competecircncias disciplinares especiacuteficas Ao contraacuterio pretende elevaacute-las a um patamar de conhecimentos melhorados nas aacutereas disciplinares jaacute que todas elas devem embeber-se de uma nova consciecircncia epistemoloacutegica admitindo que eacute importante que determinados conceitos fundando possam transmigrar atraveacutes das fronteiras disciplinares (ARAGAtildeO 2007 p4)

Para se compreender a Percepccedilatildeo Transdisciplinar se faz necessaacuterio levar em

consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de realidade (Ontoloacutegico) seja do homem do campo e sua

economia de ldquosubsistecircnciardquo ou seja do homem que vive na cidade e sua economia

acumulativa considerando sempre a Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo (uma alternativa entre o

104

certo e o errado verdadeiro ou falso) e a Complexidade e sua teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas e isoladas mas termodinacircmicas e conectadas (NICOLESCU 1999) (Figura 25)

No primeiro momento pode parecer um ldquocaos uma confusatildeordquo compreender a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar Apesar disso uma categoria da ciecircncia geograacutefica pode ajudar

pois surge como um elemento muito importante para agrave sua consolidaccedilatildeo o lugar

31 - RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR

A primeira impressatildeo pode-se afirmar ser um lugar desolado triste para outros eacute

um lugar em ruiacutenas sem ldquovidardquo e sem cores Esta ou aquela concepccedilatildeo de lugar eacute de

fundamental importacircncia para que se constitua aqui a percepccedilatildeo transdisciplinar uma vez

que cabe agrave ela unir o que anteriormente foi separado pela especializaccedilatildeo da Ciecircncia

Moderna

Diante disso Ferreira (2000 p66) propotildee conciliar as divergecircncias apontadas pela

concepccedilatildeo Fenomenoloacutegica ldquoque busca abordar o espaccedilo atraveacutes do modo com ele eacute

vivenciado pelos seres humanosrdquo e a Radical

[] que tem por base o marxismo tentaraacute compreender o lugar sobre perspectiva regional e posteriormente global (JOHNSTON 1991) uma construccedilatildeo social sobre o pano de fundo da relaccedilatildeo entre espaccedilo-tempo e ambiente (SANTOS1997) a partir do qual estabelecemos nossa revisatildeo e interpretaccedilatildeo do

TRANSDISCIPLINARIDADE

COMPLEXIDADE ONTOLOacuteGICO A LOacuteGICA DO TERCEIRO

INCLUIacuteDO

DIALOacuteGICO RECURSAtildeO ORGANIZACIONAL HOLOGRAMAacuteTICO

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade

Fonte Louzada (2013)

105

mundo onde ldquorecocircndito o permanente o real triunfam final sobre o movimento o passageiro o imposto de forardquo (FERREIRA 2000 p66)

Nomeando-a como Integraccedilatildeo que tem como objetivo harmonizar agraves divergecircncias

sobre o lugar que vatildeo de uma relaccedilatildeo autecircntica com o espaccedilo por um lado agrave

materializaccedilatildeo da relaccedilatildeo global ndash local por outro

Entrikin (1997) destaca ainda que para se compreender o lugar eacute preciso buscar o

equiliacutebrio entre o que deve ser mantido de fora preservando as caracteriacutesticas do lugar e o

que deve ser permitido entrar evitando-se a esterilidade resultante do isolamento

Diante de tal afirmaccedilatildeo de Entrikin (1997) eacute possiacutevel afirmar que para evitar a

extinccedilatildeo de uma comunidadelocalidade se faz necessaacuterio a ldquopermissatildeordquo dos moradores

para entrada de haacutebitos elementos ou coisas que as pessoas julguem necessaacuterias para

manter as teias de relaccedilotildees de forma a manter o lugar gerando o tatildeo desejado

desenvolvimento local

A Percepccedilatildeo Transdisciplinar seraacute pesquisada de forma a alcanccedilar o que a Educaccedilatildeo

Ambiental em seus marcos referenciais destaca como importante para a compreensatildeo da

complexidade da realidade que eacute a projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros atraveacutes de uma gestatildeo

ambiental participativa principalmente no contexto amazocircnico

32 - MANAUS METROacutePOLE

Para entender este subtiacutetulo primeiramente eacute imprescindiacutevel falar de Metroacutepole o

que Fresca (2011) descreve em muacuteltiplos detalhes ao longo dos seacuteculos desde seu

surgimento Contudo Gras apud Fresca (2011) citou quatro fatores de desenvolvimento

metropolitano tento como base a cidade de Londres citada por Gras (1974) considerada a

primeira cidade da Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVII

[] para Gras (1974) principalmente a partir de 1890 foi marcada por uma nova

concentraccedilatildeo do poder financeiro no seio da metroacutepole Isto porque os bancos privados cujas sedes estavam na metroacutepole criaram filiais subordinadas diretamente agraves sedes criou-se as condiccedilotildees para que a metroacutepole fosse o local de concentraccedilatildeo do capital decisotildees enfim de outra forma de poder econocircmico (FRESCA 2011 p33)

106

Fresca (2011 p33) afirma ainda que esta nova concentraccedilatildeo de poder financeiro

nas metroacutepoles ldquoacabou por realizar um processo de acumulaccedilatildeo horizontal no sentido de

que sua expansatildeo foi marcada pela conquista de mercados consumidores cada vez mais

amplos graccedilas a fortes investimentos em inovaccedilotildees para a produccedilatildeordquo

Por outro lado Fresca (2011) apud Davidovich (2004)

entende que o retorno das metroacutepoles ao debate em escala mundial estava articulado diretamente aos novos direcionamentos das poliacuteticas do Banco Mundial que passou a focalizar as mesmas como motor do crescimento econocircmico Ora o Banco Mundial em suas diversas formas de poder investimentos e capacidade de direcionar movimentos de expansatildeo do capital particularmente dos EUA e paiacuteses europeus acabou por privilegiar as metroacutepoles em uma etapa em que a globalizaccedilatildeo estava em expansatildeo Mais que isso tratava-se ainda da busca de novos campos de investimentos para fazer frente a sucessivos momentos de crises econocircmicas e as concepccedilotildees em uso da globalizaccedilatildeo permitiam outra etapa de expansatildeo das grandes corporaccedilotildees em atividades diversas em escala mundial (FRESCA 2011 apud DAVIDOVICH 2004 p201 )

Fresca (2011 p38 ) descreve que entre os autores anteriormente citados ldquohaacute em

comum o entendimento de que as metroacutepoles tornaram-se os principais noacute de redes da

economia mundial facilitado pelo comando das modernas tecnologias de informaccedilatildeo e que

as mesmas desempenham cada vez mais funccedilotildees ligadas aos serviccedilos superiores em

detrimento de serem loacutecus da produccedilatildeo industrialrdquo

Diante disso o termo adotado pelo IBGE (2008) para definir a Metroacutepole ou regiatildeo

Metropolitana eacute Grandes Redes de Influecircncia

[] formadas pelos principais centros urbanos do paiacutes baseadas na presenccedila de oacutergatildeos de executivo do judiciaacuterio de grandes empresas e na oferta de ensino superior serviccedilos de sauacutede e domiacutenios de internet Tais redes aacutes vezes se sobrepotildeem aacute divisatildeo territorial oficial estabelecendo forte influecircncia ateacute mesmo ente cidades situadas em diferentes unidades da federaccedilatildeo (IBGE 2008 p 2)

Diante do exposto o Governo do Estado do Amazonas publicou em 30 de Maio de

2007 a Lei Estadual Complementar nordm 52 que criava a Regiatildeo Metropolitana de Manaus -

RMM composta pelos seguintes municiacutepios Manaus Careiro da Vaacuterzea Novo Airatildeo

Iranduba Itacoatiara Presidente Figueiredo Rio Preto da Eva que juntos correspondem a

101470 kmsup2 No mesmo ano em 27 de Dezembro eacute incluiacutedo o municiacutepio de Manacapuru

Sobre isso Castro (2010) relata

107

Essa regiatildeo metropolitana possui caracteriacutesticas peculiares se comparada aacutes primeiras surgidas na deacutecada de 1970 por natildeo se igualar agravequelas quanto agrave intensidade de fluxos entre as cidades e tambeacutem necessidade de compartilhamento de poliacuteticas puacuteblicas no que se refere ao abastecimento de aacutegua serviccedilo de transporte e tracircnsito energia eleacutetrica coleta de lixo dentre outras cujas demandas surgem com o processo de conurbaccedilatildeo Portanto esta anaacutelise parte de um princiacutepio de peculiaridade territorial num padratildeo natildeo conurbado e de pouca intensidade de trocas entre os nuacutecleos urbanos dessa regiatildeo metropolitana cujos pressupostos foram estabelecidos com a predominacircncia dos criteacuterios poliacuteticos sobre os geograacuteficos (CASTRO 2010 p48)

Para financiar e gerenciar a RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) foi criada em

29 de Dezembro de 2008 a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento

Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da

Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM (AMAZONAS 2008)

Em 30 de Abril de 2009 eacute divulgada a Lei Complementar nordm 64 que inclui na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus os municiacutepios de Autazes Itapiranga Manaquiri e Silves mais

15 828417 kmsup2 Tornando Manaus a maior aacuterea metropolitana em kmsup2 do paiacutes todavia

perde quatro posiccedilotildees se comparada em densidade populacional com Regiatildeo Metropolitana

de Satildeo Paulo pois sua densidade populacional eacute de 22 habkmsup2 contra 1162 habkmsup2 de

SP (IBGE 2010)

Para iniciar o processo de consolidaccedilatildeo dessa gigantesca aacuterea metropolitana de

Manaus fez-se necessaacuterio interligar definitivamente os municiacutepios da margem esquerda do

Rio Negro principalmente a capital do estado aos municiacutepios da margem direita do rio

Iranduba Manacapuru Novo Airatildeo e posteriormente aos munciacutepios de Autazes Itapiranga

Manaquiri e Silves

Diante disso o Governo do Estado do Amazonas na pessoa do entatildeo Governador

Carlos Eduardo de Souza Braga em seu primeiro mandato de 2000 a 2004 deu iniciou os

levantamentos preliminares para a definiccedilatildeo do ponto de travessia mais adequado para a

construccedilatildeo de uma Ponte sobre o Rio Negro

Segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro civil Marco Aureacutelio Mendonccedila

entatildeo Secretaacuterio de Infraestrutura do Estado foi convocado ao gabinete do governador em

2003 para ser informado do desejo do governador de executar essa obra mas

primeiramente lhe foi solicitado que fizesse levantamentos de terrenos possiacuteveis para a

construccedilatildeo e modelos viaacuteveis para a regiatildeo e posteriormente quando o entatildeo governador

108

foi reeleito com o mandato de 2005 a 2009 o engenheiro Marco Aureacutelio foi novamente

chamado ao gabinete do governador onde apresentou seus estudos e o governador afirmou

que jaacute era possiacutevel executar a obra

Ainda segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro afirma que para se buscar o

melhor local para a construccedilatildeo da obra e encontrar a menor distacircncia entre as duas

margens para diminuir seu custo

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que o melhor trecho era da Ponta do Ouvidor do lado de laacute na Ponta do Pepeta porque essa aacuterea tem uma formaccedilatildeo geoloacutegica de rochas que avanccedilam sobre o rio e isso fez com que a distacircncia fosse bem menor E foi exatamente neste trecho que a ponte foi erguida Outro ponto favoraacutevel foi o sistema viaacuterio da Ponta do Ouvidor temos a estrada da Estanave Avenida Brasil logo depois tem a estrada da Ponta Negra Pedro Teixeira e uma seacuterie de ruas que facilitavam o acesso a grande parte da cidade Depois que apresentei o estudo fizeram uma licitaccedilatildeo para a contrataccedilatildeo de uma empresa para o projeto final (A CRIacuteTICA DE 24 DE OUTUBRO DE 2011 p6)

Segundo Jornal A Criacutetica (2011) existia a ideia original de que a ponte saiacutesse do

bairro de Satildeo Raimundo em Manaus poreacutem o trajeto seria muito maior e natildeo teria um

sistema viaacuterio tatildeo bom Marco Aureacutelio descreve conversas com Carlos Eduardo Braga onde

relata que a interligaccedilatildeo entre outras cidades poderia frear o crescimento da cidade de

Manaus para o Norte onde eacute comum ter invasotildees ldquoEacute muito mais faacutecil pegar uma aacuterea

desabitada e crescer e desenvolver Em Iranduba tem uma aacuterea muito grande que pode ser

explorada mas eacute preciso ter controle urbano e imobiliaacuteriordquo (A CRIacuteTICA 2011)

321 PONTE RIO NEGRO PROPOSTA E REALIDADE

Segundo a Revista Eacutepoca (2011) a Ponte Rio Negro (Figura 26) foi orccedilada

inicialmente em R$ 5748 milhotildees e foi terminada com o custo de R$ 1099 bilhatildeo quase o

dobro do seu orccedilamento inicial parte financiada pelo governo do estado e parte pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social-BNDES que eacute vinculado ao Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

109

Sobre isso Aureacutelio (2011) afirma que ldquoQuando foi lanccedilado o projeto base existia

um tipo de fundaccedilatildeo e depois analisando a geologia embaixo do rio eles detectaram que

era necessaacuterio outro tipo de tecnologiardquo

Ainda segundo a Revista Eacutepoca (2011)

A construccedilatildeo traacutes aditivos O primeiro furo da Ponte Rio Nego soacute conseguiu ser feito por volta de seis meses apoacutes o iniacutecio dos trabalhos devido aacute profundidade do rio e ao efeito da correnteza das aacuteguas ldquoNingueacutem no Brasil tinha experiecircncia em fazer sondagens com lacircminas tatildeo grandes de aacutegua e equipamento no riordquo revelou o diretor ENESCIL Engenharia e Projetos Catatildeo Ribeiro responsaacutevel pelos projetos executivos e arquitetocircnicos e de fundaccedilatildeo da obra Durante os trabalhos de sondagem no rio os teacutecnicos responsaacuteveis pela obra descobriram que o solo era formado por camadas de areia e argila orgacircnica o que exigiu que todo o sistema de estacas o projeto e a logiacutestica da obra fossem reformulados (EacutePOCA 2011 p22)

Diante do exorbitante gasto resta conhecer os benefiacutecios de tatildeo gigantesca obra

para a regiatildeo O oacutergatildeo responsaacutevel por disponibilizar tais informaccedilotildees relacionadas agrave sua

construccedilatildeo eacute o Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas - IPAAM no qual se encontra o

tiacutetulo EIA-RIMA Ponte sobre o Rio Negro contudo o mesmo somente disponibiliza

informaccedilotildees a partir do Capiacutetulo IV- Diagnoacutesticos (Meio Bioacutetico Meio Fiacutesico Meio

Socioeconocircmico e Outros Relevantes) e Capiacutetulo V ndash Prognoacutesticos (IPAAM 2010) de forma

superficial (que na maioria dos arquivos consta somente o sumaacuterio) e natildeo as pesquisas

realizadas em sua plenitude

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo

Fonte Pinto (2010)

110

Com isso passaram a ser diretamente consultados o Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) da ponte sobre o Rio Negro realizado pela

Universidade Federal do Amazonas (UFAM 2007) Esse relatoacuterio contou com a participaccedilatildeo

de uma equipe multidisciplinar composta por climatoacutelogo engenheiro geoacutegrafo

geomorfologista entre outros profissionais Embora o presente relatoacuterio cumpra com seu

principal objetivo de descrever o Meio Bioacutetico Abioacutetico e Socioeconocircmico da aacuterea a ser

afetada pela construccedilatildeo da ponte sobre o rio Negro o mesmo descreve os possiacuteveis

impactos da ponte sobre o rio Negro de forma superficial e finaliza recomendando a

construccedilatildeo do empreendimento sem aprofundar os seus impactos no meio ambiente fiacutesico e

bioloacutegico

Apesar disso Pinto (2007) descreve os beneacuteficos a serem alcanccedilados com a

Construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Criaccedilatildeo de polo de turismo e polo naval Regularizaccedilatildeo de

Transportes Rodoviaacuterio e Fluvial na RMM Aumento da demanda reprimida em todos os

setores econocircmicos Expansatildeo e modernizaccedilatildeo dos polos de hortifrutigranjeiros Melhorias

nas induacutestrias de beneficiamento de pescado Plano de Zoneamento e Uso do Solo

Modernizaccedilatildeo da induacutestria de Juta e Malva Aumento de Cooperativas de Produtores Novo

Polo de Induacutestrias atraiacutedas pelos City Gates (Manaus-Coari)

Pinto (2007) reflete ainda que a construccedilatildeo da ponte tem por objetivos buscar

alternativas para a expansatildeo urbana de Manaus geraccedilatildeo de novos espaccedilos habitacionais

elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Plano Diretor urbano global e setorial incorporaccedilatildeo ordenada

do complexo viaacuterio da margem direita agrave malha viaacuteria projetada e em execuccedilatildeo para a

margem esquerda reduccedilatildeo de custos de transportes de produtos provenientes da calha do

Solimotildees Juruaacute Javari Iccedilaacute Japuraacute e Purus Novos investimentos no setor de turismo e setor

oleiro incentivo aacute inovaccedilatildeo e o desenvolvimento tecnoloacutegico nos serviccedilos de arquitetura e

engenharia (PINTO 2007)

Como destaca Pinto (2007) o primeiro objetivo para a construccedilatildeo da Ponte sobre o

Rio Negro era buscar uma alternativa para a expansatildeo urbana de Manaus uma vez que a

mesma se encontra em constante crescimento em direccedilatildeo ao Norte da cidade fazendo

pressatildeo sobre a Reserva Ducke aacuterea de proteccedilatildeo ambiental

Atualmente a ponte se encontra pronta com 3595km de extensatildeo e liga o bairro

da Compensa em Manaus (margem esquerda do Rio Negro) agrave Ponta do Pepeta (margem

111

direita) em Iranduba Apesar do beneficio inegaacutevel da reduccedilatildeo do tempo da travessia que

anteriormente era feita de balsa e levava em meacutedia uma hora e meia no periacuteodo da vazante

do rio (sem contabilizar o tempo de espera para o embarque que podia variar de duas horas

nos dias de semana e ateacute doze horas em feriados) a construccedilatildeo da ponte tambeacutem levou

malefiacutecios

Sobre isso Castro (2010) aponta

No que concerne agrave questatildeo ambiental a criaccedilatildeo da RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) estabelece nova forma de concepccedilatildeo do meio ambienta pois ao natildeo apresentar um padratildeo conurbado como as RMrsquos claacutessicas a RMM deixa lacunas e indagaccedilotildees no que se refere a fatores como expansatildeo imobiliaacuteria conversatildeo de terra rural em terra urbana incorporaccedilatildeo de aacutereas de floresta em aacutereas urbanizadas ocupaccedilatildeo das margens dos rios Negro e Amazonas aleacutem dos inuacutemeros cursos drsquoaacutegua menores enfim questotildees que constituem desafio agrave tendecircncia que visa ao estabelecimento de uma nova geografia surgida em funccedilatildeo de uma decisatildeo poliacutetica que diga-se natildeo foi precedida agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agraves populaccedilotildees interessadas quase sempre aquelas que arcam com ocircnus das decisotildees de caraacuteter poliacutetico ndash partidaacuterio tiacutepico das praacuteticas brasileiras sendo que a Amazocircnia natildeo foge a esse preceito (CASTRO 2011 p48)

No que tange agrave expansatildeo urbana Mesquita (2013) relata que a induacutestria da invasatildeo

que anteriormente fazia pressatildeo no norte da cidade de Manaus (principalmente sobre a

Reserva Ducke) migrou apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro para os municiacutepios vizinhos

localizados na margem direita do rio o poder puacuteblico por sua vez finge natildeo perceber o

crescimento no processo de invasatildeo de terras O autor se refere ao fato recente da invasatildeo

de terras em uma propriedade particular localizada no 45 km da AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) ocorrido em Agosto de 2013 (Figura27)

112

Todavia as mudanccedilas na paisagem natildeo se limitaram agrave retirada da cobertura vegetal

para a construccedilatildeo dos ldquobarracosrdquo (como satildeo chamadas as construccedilotildees de madeiras cobertas

com lona) mas tambeacutem permitiram a retirada ilegal de argila para a fabricaccedilatildeo de tijolos

nas margens da rodovia (Figura 28)

Houve tambeacutem um aumento significativo no nuacutemero de animais mortos ao longo

da rodovia segundo os proacuteprios moradores Aleacutem da retirada ilegal de madeira e a queima

de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos etc (Figura 29)

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM- 070 (Rodovia Manoel Urbano)

Fonte Louzada (2013)

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano) Fonte Batata (2013)

113

Com a ponte Rio Negro pronta os esforccedilos foram redirecionados para a duplicaccedilatildeo

da Rodovia Manuel Urbano (AM 070) que ateacute o presente momento somente tem 2km

duplicados (logo apoacutes a ponte) dos seus 80km ateacute o municiacutepio de Manacapuru que

permanece sem duplicaccedilatildeo desde sua inauguraccedilatildeo As obras de duplicaccedilatildeo foram iniciadas

em marccedilo de 2012 com primeiramente a retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem

(Figura 30)

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos

Fonte Louzada (2013)

114

Todavia o processo de retirada da cobertura vegetal e terraplanagem somente

foram realizados ateacute o 185 km (01032014) tendo como marco zero o iniacutecio da Ponte Rio

Negro em Manaus Atualmente natildeo eacute possiacutevel encontrar nem se quer ldquoum carrinho de

matildeordquo trabalhando na rodovia

Percorrendo a rodovia no sentido Manaus ndash Manacapuru no 18 km eacute possiacutevel

visualizar 15 aacutervores de Castanheiras (Betholetia excelsa) que satildeo parcialmente protegidas

pelo Decreto Lei nordm 5975 de 30 de Novembro de 2006 no traccedilado escolhido para a

duplicaccedilatildeo da rodovia (Figura 31)

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manuel Urbano (AM-070)

Fonte Camila Louzada 2013

115

Entretanto infelizmente a lei de crimes ambientais permite vaacuterias interpretaccedilotildees

em seu paraacutegrafo uacutenico (BRASIL 2006)

Natildeo seraacute permitida a supressatildeo de vegetaccedilatildeo ou intervenccedilatildeo na aacuterea de preservaccedilatildeo permanente exceto nos casos de utilidade puacuteblica de interesse social ou de baixo impacto devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo proacuteprio quando natildeo existir alternativa teacutecnica e locacional ao empreendimento proposto nos termos do art 4ordm da Lei no 4771 de 1965 (BRASIL 2006 p 12)

Embora no que tange a duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano exista a possibilidade

de mudar do lado direito para o lado esquerdo da rodovia os oacutergatildeos responsaacuteveis pela

duplicaccedilatildeo natildeo se mostraram favoraacuteveis a essa possibilidade expondo as castanheiras ao

abate conforme interpretaccedilatildeo ldquoconvenienterdquo da legislaccedilatildeo

Para Vasconcelos (2013 p13) ldquocastanhais satildeo derrubados para a construccedilatildeo de

estradas e barragens para assentamentos de reforma agraacuteria [] No caso do Gasoduto

Coari- Manaus tambeacutem foram retiradas muitas aacutervores inclusive castanheirasrdquo

Sobre isso Santos (2013) eacute enfaacutetica ao afirmar que o maior destruidor na natureza eacute

o estado (seja na esfera municipal estadual e federal) Uma vez que criam leis para os

Figura 31 Aacutervores de Castanheira no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (Fevereiro 2014)

Fonte Camila Louzada 2013

116

demais cidadatildeos cumprirem e nunca para o governo cumpri-la se for de seu interesse

quebraacute-las criam meios de inutilizaacute-la em prol de seus proacuteprios interesses maquiando o fato

como ldquoum mal necessaacuterio em busca de um bem coletivordquo A questatildeo eacute seraacute mesmo que eacute o

bem coletivo que estaacute em jogo ou os interesses poliacuteticos e acordos convenientes entre

estado e municiacutepios

33 PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS

A Ponte sobre o Rio Solimotildees consta descrita no Projeto de Lei nordm 6409-B de 2009

no Art 3ordm item 222 ndash Relaccedilatildeo Descritiva das Rodovias do Sistema Rodoviaacuterio Federal

integrante do Anexo do Plano Nacional de Viaccedilatildeo aprovado pela Lei nordm 5917 de 10 de

Setembro de 1973 aprovado pela Cacircmara Federal dos Deputados em 23 de Agosto de 2011

Dispotildee sobre a inclusatildeo da futura rodovia BR-444 que iraacute ser construiacuteda no Estado do

Amazonas para interligar a BR-319 agrave BR-174 sob a justificativa de cumprir a Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que ldquodetermina que a Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando aacute formaccedilatildeo de

uma comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (BRASIL 2011 p 18)

Nesse sentido compete ao Estado brasileiro participar da promoccedilatildeo da integraccedilatildeo logiacutestica efetiva do territoacuterio sul-americano Especificamente no sentido norte-sul a interligaccedilatildeo entre alguns trechos rodoviaacuterios jaacute existentes possibilitaria o deslocamento de pessoas e cargas da Venezuela e da Guiana ateacute o Uruguai e vice-versa Entretanto para que se efetive esse corredor sul-americano eacute necessaacuterio promover a ligaccedilatildeo da BR-319 agrave cidade de Manaus razatildeo pela qual propomos a inclusatildeo da rodovia BR-444 no Plano Nacional de Viaccedilatildeo o que permitiraacute concluir a interligaccedilatildeo entre as rodovias BR-319 e BR-174 promovendo assim a desejada integraccedilatildeo contiacutenua do continente sul-americano (BRASIL 2011 p 18)

A BR-444 que se aprovada pelo Senado e sancionada pela atual presidente Dilma

Rousseff ou outro presidente posterior seraacute construiacuteda no Amazonas Natildeo poderaacute ser

erguida ligando o Porto da Ceasa em direccedilatildeo ao Porto da Andrade Gutierrez localizado no

13 km da BR-319 no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea uma vez que estaraacute sobre o Encontro

das Aacuteguas (Rio Negro e Solimotildees) que foi tombado como Patrimocircnio Cultural e Paisagiacutestico

Brasileiro pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN em 2011

fundamentado no Decreto Lei nordm 251937 que determina que sejam tombados ldquoos

monumentos naturais bem como os siacutetios e paisagens que importe conservar e proteger

117

pela feiccedilatildeo notaacutevel com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela

induacutestria humanardquo (BRASIL 1937 p 1) Aleacutem de outros inconvenientes gigantescos ligados

aos aspectos fiacutesicos da aacuterea entre eles destacam-se largura do rio (que eacute superior a 10km

neste trecho) profundidade e velocidade entre outros

Diante do exposto a medida mais aceitaacutevel seria construir a nova ponte agrave

montante do Encontro das Aacuteguas no rio Solimotildees aproveitando a AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) que esta ldquoem fase de duplicaccedilatildeordquo e tem ligaccedilatildeo direta com a Ponte Rio Negro

(Figura 32)

Apesar de ainda estar em fase de especulaccedilatildeo o local exato para a construccedilatildeo da

ponte sobre o rio Solimotildees projeta- se que a mesma deveraacute ligar a comunidade da Bela

Vista em Manacapuru (margem esquerda do rio Solimotildees) ao municiacutepio de Manaquiri

(margem direita do rio Solimotildees) tendo como ponto favoraacutevel agrave construccedilatildeo a largura do rio

nesse trecho e a ilha do Barroso

Na expectativa de construccedilatildeo da ponte o fato causa ao mesmo tempo entusiasmo

e cautela nas pessoas entrevistadas na Comunidade da Bela Vista (em Manacapuru) e na

sede do municiacutepio de Manaquiri Satildeo apontados inuacutemeros benefiacutecios com a construccedilatildeo da

ponte como a geraccedilatildeo de empregos oportunidade de renda das famiacutelias escoamento da

produccedilatildeo agriacutecola Todavia as mesmas pessoas entrevistadas tambeacutem descreveram ldquoo

outro lado da nova ponterdquo como sendo o aumento da violecircncia a derrubada da floresta a

Figura 32 Ponte Rio Negro Fonte Pereira (2012)

118

exploraccedilatildeo de madeira grilagem de terra traacutefico de animais destruiccedilatildeo dos siacutetios

Arqueoloacutegicos invasatildeo de terras por pessoas oriundas de outros estados e o fim da

tranquilidade O impressionante dessas afirmaccedilotildees era que os entrevistados usavam como

referecircncia a Ponte Rio Negro dizendo ldquocomo aconteceu com aacute Rio Negrordquo

Tendo por base a Ponte Rio Negro se faraacute necessaacuterio encontrar locais proacuteximos agrave

futura construccedilatildeo fora da accedilatildeo das aacuteguas ( em Terra Firme) para serem usados como base

das operaccedilotildees de sondagem e montagem de equipamentos e posteriormente instalaccedilatildeo de

guindastes tratores entre outros equipamentos agrave serem utilizados na obra Cabe aqui

somente demonstrar a aacuterea utilizada para a construccedilatildeo e posteriormente conclusatildeo das

ldquocabeccedilasrdquo como satildeo chamadas as bases localizadas em cada margem tendo por referecircncia a

construccedilatildeo da Ponte Rio Negro (Figuras 33)

119

Figura 33 Iranduba 2007 antes da construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

120

Aacute primeira vista natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes mudanccedilas na paisagem em 2007

(4 anos antes da inauguraccedilatildeo da ponte) na margem direita do rio Negro no municiacutepio de

Iranduba entretanto no quadrado ldquoardquo eacute possiacutevel visualizar uma construccedilatildeo com uma

cobertura de alumiacutenio e a retirada gradativa da vegetaccedilatildeo ao redor No quadrado ldquobrdquo

aonde viria a ser implantada a base da ponte natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes modificaccedilotildees

A (FIGURA 34) no ano de 2010 (1 ano antes da inauguraccedilatildeo) apesar da parcial

cobertura das nuvens eacute possiacutevel visualizar significativas mudanccedilas na paisagem Com

destaque para o que anteriormente era somente uma cobertura de alumiacutenio em 2007 ter se

tornado um porto de atracaccedilatildeo de embarcaccedilotildees e a base de operaccedilotildees da Ponte Rio Negro

(no municiacutepio de Iranduba) com pouca cobertura vegetal Tambeacutem jaacute eacute possiacutevel visualizar a

terraplanagem da futura rodovia

Entretanto na (Figura 35) a base de operaccedilotildees da ponte Rio Negro ganhou um

novo e maior anexo perdendo a cobertura vegetal existente

Comparando as figuras 33 34 e 35 eacute possiacutevel em pouco espaccedilo de tempo verificar

as mudanccedilas provocadas a partir da construccedilatildeo da ponte rio Negro

121

c Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro

Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

122

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

123

No caso da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas a ser construiacuteda a montante do

Encontro das Aacuteguas a mesma teraacute alguns percalccedilos pelo caminho a) tanto a margem direita

quanto a margem esquerda do Rio Solimotildees ateacute a jusante da cidade de Manacapuru tem

faixas estreitas a largas de vaacuterzeas fortemente utilizadas para agricultura de base familiar b)

por traz das aacutereas de vaacuterzea existem as aacutereas de terra firme ideais para essa construccedilatildeo

todavia para se chegar em alguns trechos faz-se necessaacuterio aterrar as aacutereas de vaacuterzeas

inviabilizando-se assim a produccedilatildeo agriacutecola c) uma vez alcanccedilada as aacutereas de terra firme e

definido o lugar de construccedilatildeo das cabeceiras da ponte inicia-se a ldquobuscardquo pelo lugar mais

apropriado para a base de operaccedilotildees normalmente proacuteximo agraves duas cabeceiras d) com os

locais definidos e as obras iniciadas (a mesma seraacute dificultada pelos aspectos fiacutesicos do rio

sua velocidade visibilidade entre outros) e) Inicia-se a nova etapa de ligaccedilatildeo da ponte com

as rodovias proacuteximas agrave AM-070 na margem esquerda e a AM-354 que esta ligada a BR-319

na margem direita

Embora se acredite que as pistas de ligaccedilatildeo a serem utilizadas sejam as jaacute

existentes deveratildeo ser no miacutenimo beneficiadas com a duplicaccedilatildeo e a construccedilatildeo de

acostamentos Tanto para a construccedilatildeo de novas pistas como para a duplicaccedilatildeo das pistas

atuais as propriedades proacuteximas seratildeo afetadas assim como a flora a ser desmatada para a

duplicaccedilatildeo e a fauna que seraacute a principal afetada com o trafego rodoviaacuterio uma vez que os

mesmos seratildeo constantemente atropelados na rodovia

Com a ponte pronta e inaugurada os impactos aumentaratildeo gradativamente

primeiramente como ocorreu com a ponte Rio Negro com o aumento da especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria e ocupaccedilatildeo primeiramente no municiacutepio de Manaquiri e posteriormente ao

longo de toda a rodovia BR-319 como ocorreu com as demais rodovias abertas na Amazocircnia

A iniciativa de construccedilatildeo da BR-444 e por consequecircncia a ponte sobre o rio

Solimotildees permitiria conectar Manaus ao restante do paiacutes via Porto Velho-RO assim como

tambeacutem viabilizaria ir do Peru ao Oceano Atlacircntico utilizando rodovias como propotildeem o

Projeto IIRSA (2003)

A iniciativa de Integraccedilatildeo da Infraestrutura Regional Sul Americana - IIRSA eacute

resultado da Cuacutepula de Presidentes da Ameacuterica do Sul realizada em 2000 no Brasil onde

ficou definida um pacote de medidas como Eixos de Integraccedilatildeo e Desenvolvimento ldquono qual

124

se pretendia desenvolver e integrar as aacutereas de transporte energia e telecomunicaccedilatildeo da

Ameacuterica do Sul em dez anosrdquo (IIRSA 2003)

A iniciativa busca integrar definitivamente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul ldquoque

concentram ou possuem potencial para desenvolver bons fluxos comerciais visando formar

cadeias produtivasrdquo (IIRSA 2003) para alcanccedilar os mercados globais Entretanto os eixos de

integraccedilatildeo escolhidos para serem ldquodesenvolvidosrdquo detecircm grande reserva de recursos

naturais conforme Tabela 8

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento e integraccedilatildeo do IIRSA Eixos de Desenvolvimento do projeto IIRSA

Trecho Paiacuteses envolvidos Recursos Naturais Vias de Ligaccedilatildeo

Eixo Andino Venezuela Boliacutevia Colocircmbia Equador

Peru

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Desenvolvimento de corredores transandinos de leste a oeste ligando Caracas-Venezuela a

Lima-Peru e Santa Cruz-Boliacutevia

Eixo Central do Amazonas

Colocircmbia Equador Peru e Brasil

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Pavimentaccedilatildeo de estradas no Peru e melhorias na

navegabilidade do Rio Amazonas de Tabatinga-AM a Beleacutem-PA

Melhorias na aacuterea de telecomunicaccedilotildees

Eixo Interoceacircnico

Central

Peru Chile Boliacutevia Paraguai e Brasil

Regiatildeo Petroleira da Boliacutevia e o escoamento da soja

produzida no Brasil para o oceano Paciacutefico

Construccedilatildeo de Portos no Chile rodovias com saiacuteda de Santa Cruz na Boliacutevia em direccedilatildeo a

Cuiabaacute-MT e Iquique no Chile

Eixo Interoceacircnico de

Capricoacuternio

Chile Argentina Paraguai e Brasil

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

Viabilizar o transporte intermodal atraacutes de

interconexatildeo por hidrovia Paranaacute-Brasil com Paraguai

Eixo do Escudo

Guayaneacutes

Venezuela Brasil Suriname Guiana

Mineacuterio de ferro bauxita ouro e madeira

Melhora porto e rodovias para facilitar o escoamento da produccedilatildeo e construccedilatildeo de

hidreleacutetricas

Eixo Meridional Chile

Brasil Uruguai

Argentina e Chile

Escoamento da produccedilatildeo agriacutecola pelo Paciacutefico

Melhoria nas estradas jaacute existentes entre os paiacuteses Investimento nas conexotildees

eleacutetricas entre os paiacuteses

Eixo Mercosul Meridional

Chile Argentina

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

A conexatildeo ferroviaacuteria entre Zapala- Argentina e Lionquimay-

Chile

Eixo da Bacia do

Prata

Argentina Boliacutevia Brasil Paraguai e

Uruguai

Mineacuterio de ferro nitrato metais preciosos chumbo

zinco estanho cobre petroacuteleo e uracircnio

Implantaccedilatildeo da Hidrovia Paranaacute-Paraguai

Eixo Amazocircnico

do Sul

Brasil Boliacutevia e Peru

(Pronto)

Madeira mineacuterio de ferro

zinco e petroacuteleo

Implantaccedilatildeo de rodovias interligadas de Porto Velho-

Brasil aos pontos de San Juan e Matarani- Peru

Fonte WWWiirsa2003com

125

O IIRSA tem como financiadores o Banco Internacional de Desenvolvimento -BID

Corporaccedilatildeo Andina de Fomento ndash CAF Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia

do Prata ndash FONPLATA Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social- BNDES

Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento -BIRD (IIRSA 2003)

Diante disso satildeo perceptiacuteveis os interesses por traacutes da expansatildeo de negoacutecios

(estradas rodovias hidrovias) por toda a America do Sul sob o discurso de integrar e

desenvolver a regiatildeo Apesar disso alguns questionamentos se fazem necessaacuterios no

presente momento jaacute que a Ponte sobre o Rio Solimotildees ainda natildeo foi iniciada a) quem satildeo

os maiores beneficiaacuterios com esta obra b) esta obra eacute realmente importante para a regiatildeo

(comparando os seus benefiacutecios e malefiacutecios) c)existe alguma preocupaccedilatildeo com as

populaccedilotildees ribeirinhas afetadas que medidas compensatoacuterias poderiam ser fornecidas se

essa obra for realmente inevitaacutevel d) jaacute que seus malefiacutecios satildeo infinitamente maiores que

seus benefiacutecios isto impediria a sua execuccedilatildeo

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DO MANAQUIRI

Visando atender a abrangecircncia de dados da pesquisa qualitativa o presente estudo

utilizou a anaacutelise de documentos observaccedilatildeo participante e entrevistas semiestruturadas

(BOGDAN e BIKLEN 1994)

A princiacutepio as entrevistas seriam coletivas atraveacutes de grupos focais no entanto o

nuacutemero reduzido de moradores antigos nas duas localidades natildeo permitiu fazer uso dessa

estrateacutegia pois para se ter um grupo focal eacute preciso a participaccedilatildeo de seis e doze pessoas

(GATTI 2005) o que natildeo foi possiacutevel localizar em Bela Vista e em Manaquiri

As entrevistas foram realizadas de forma individual (na 1ordm etapa da pesquisa) por

essa e algumas outras razotildees a) os moradores mais antigos eram em sua maioria homens

com mais de 65 anos que se conheciam haacute algumas deacutecadas entretanto alguns tinham

facilidade de se expressar outros natildeo alguns eram tiacutemidos e outros desinibidos b) visando

evitar o ldquoefeito galordquo de Gatti (2005) onde um ou mais participante pudesse de forma natildeo

intencional inibir os demais optou-se pelas entrevistas individuais semiestruturadas

126

Do resultado das entrevistas com os moradores mais antigos foi construiacutedo um

roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a 40 chefes de famiacutelia em cada

localidade

Apesar da pesquisa ser qualitativa a mesma tambeacutem se caracteriza como um

Estudo de Caso pois permite uma investigaccedilatildeo para se preservar as caracteriacutesticas

significativas da vida real ciclos de vida individuais processos organizacionais e

administrativos entre outros (YIN 2005)

Ainda segundo Yin (2005) os Estudos de Caso podem ser classificados em

causaisexploratoacuterios que permitem ao pesquisador levantar dados permitindo diagnosticar

um estudo de caso atraveacutes de generalizaccedilatildeo E descritivo que permite ao pesquisador a

descriccedilatildeo de diversos e complexos fenocircmenos dentro de seu contexto real pesquisado sem

generalizaccedilatildeo

Em outras palavras o estudo de caso eacute uma situaccedilatildeo uacutenica cercada por uma

infinidade de possibilidades resultado dos dados coletados apoiados em inuacutemeras fontes

que refutam ou confirmam as informaccedilotildees coletadas O Estudo de Caso vai aleacutem da simples

funccedilatildeo de coletar dados tabulaacute-los e divulgaacute-los como resultados da pesquisa pois eacute ldquo[]

uma estrateacutegia mais abrangente A forma como a estrateacutegia eacute definida implementada e

constituiacuteda na verdade eacute o toacutepico inteiro do livrordquo (YIN 2005 p33)

A estrutura desenvolvida nesta pesquisa encontra-se detalhada na Figura (36) com

relaccedilatildeo agraves localidades escolhidas para anaacutelise da percepccedilatildeo ambiental dos seus moradores

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Solimotildees como parte da reabertura da BR-

319

127

A metodologia teve como base alem da fundamentaccedilatildeo teoacuterica a utilizaccedilatildeo de

entrevistas semiestruturadas pois permite ao pesquisador utilizar muacuteltiplas e variadas

fontes de dados para criar o roteiro de entrevista e atraveacutes da tabulaccedilatildeo dos dados

estabelecer uma cadeia de evidecircncias que permita reconhecer as respostas apoiadas na

fundamentaccedilatildeo teoacuterica para legitimar o estudo

Optou-se primeiramente por entrevistar os moradores mais antigos de cada

localidade pelas seguintes razotildees a) os moradores mais antigos tinham maior

Indicaccedilatildeo de alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental voltada para as localidades ribeirinhas e preocupaccedilatildeo com o contexto amazocircnico

Revisatildeo literaacuteria sobre as localidades

Expansatildeo das entrevista aos chefes de famiacutelia

Tabulaccedilatildeo de dados

Construccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do roteiro de entrevista semiestruturado para os

moradores mais antigos

Tabulaccedilatildeo dos resultados

Origem das localidades desenvolvimento economia

etc

Relaccedilatildeo com o ecossistema a floresta o rio e seus elementos

naturais

Perspectiva de desenvolvimento Ponte sobre o

Rio Solimotildees

Elo afetivo com o lugar EntusiasmoCautela com o desconhecido

Projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros

Figura 36 Estrutura da Pesquisa Fonte Louzada (2013)

128

conhecimento da histoacuteria de fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo das localidades b) assim como tinham

diferentes percepccedilotildees sobre o meio ambiente fiacutesico ao seu redor ao longo dos anos de suas

vidas c) baseado em suas experiecircncias individuas os moradores foram capazes de descrever

com riqueza detalhes tudo ao seu redor (da fundaccedilatildeo das localidades as mudanccedilas ao longo

dos anos) d) os moradores mais antigos das duas localidades percebiam as mudanccedilas e

descreviam-nas com maior desenvoltura os benefiacutecios e malefiacutecios das mudanccedilas

Utilizou-se o roteiro de entrevista semiestruturada aplicado na Comunidade da Bela

Vista e posteriormente na sede do municiacutepio de Manaquiri e conforme (Figura 37) Nesta

primeira etapa da pesquisa buscou-se conhecer a histoacuteria da comunidade e as diversas

interaccedilotildees do homem com o lugar onde vive

Nome (opcional) Idade Profissatildeo Escolaridade

1- A quanto tempo mora aqui

2- O que tem aqui que te faz permanecer 3- O que vocecirc natildeo gostaria de perder

4- O que vocecirc gostaria que tivesse aqui

5- Que mudanccedilas ocorreram na comunidade com a Ponte Rio Negro 6- O que Melhorou aqui 7- O que piorou

8- Vocecirc jaacute ouviu alguma coisa sobre a Ponte sobre o Rio Solimotildees

9- O que vocecirc espera de bom 10- E de ruim dessa nova ponte se sair

10- Para a construccedilatildeo desta nova ponte teraacute audiecircncias puacuteblicas para consulta a comunidade o que vocecirc

exigiria nas medidas compensatoacuterias

Na Comunidade da Bela Vista os moradores mais antigos entrevistados por

coincidecircncia eram todos homens com meacutedia de idade de 63 anos classificados segundo

suas profissotildees A -Agricultor B - Carpinteiro Naval C- Comerciante D- Pescador Suas

respostas foram dispostas na (Figura 38)

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos

Fonte Louzada (2013)

129

Entrevistado Resposta das perguntas

A 69 anos -1945

Famiacutelia tranquilidade

Paz Meacutedico

B 48 anos- 1965

Famiacutelia Companheirismo Hospital ou SPA

C 66 anos -1948

Famiacutelia Paz Poliacutecia

D 70 anos- 1944

Famiacutelia tranquilidade

Meu siacutetio a paz Poliacutecia

Os entrevistados apresentaram em meacutedia mais de 53 anos de residecircncia na

Comunidade da Bela Vista e se mostraram extremamente irredutiacuteveis quanto agrave sugestatildeo de

familiares para que se mudem para outros lugares argumentando quase sempre ldquoque natildeo

abandonariam sua tranquilidade nem seu pedaccedilo de chatildeo por nadardquo

Sobre isso Tuan (2012) argumenta que

[] eacute o neologismo uacutetil quando pode ser definida em sentido amplo incluindo todos os laccedilos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material Estes diferem profundamente em intensidade sutileza e modo de expressatildeo A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esteacutetica em seguida pode variar do efecircmero prazer que se tem de uma vista ateacute a sensaccedilatildeo de beleza igualmente fugaz mas muito mais intensa que eacute subitamente revelada A resposta pode ser taacutetil o deleite ao sentir o ar aacutegua terra Mais permanentes e mais difiacuteceis de expressar satildeo sentimentos que temos para com o lugar por ser o lar o loacutecus de reminiscecircncias e o meio de se ganhar a vida (TUAN 2012 p136)

Para Tuan (2012 p 136) ldquoTopofilia natildeo eacute a emoccedilatildeo humana mais forte Quando eacute

irresistiacutevel podemos estar certos de que o lugar ou o meio ambiente eacute o veiacuteculo de

acontecimentos emocionalmente fortes ou eacute percebido como um siacutembolordquo

No caso dos moradores mais antigos entrevistados pela pesquisa todos sem

exceccedilatildeo satildeo ex-colonos da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA o que pode ter

influenciado na atual escolha de permanecer na regiatildeo embora muitos ex- colonos tenham

optado por se mudar para outras localidades

Questionados sobre o que gostariam que tivessem na Comunidade da Bela Vista os

mesmos foram enfaacuteticos ao afirmarem que gostariam que tivessem policiamento e meacutedicos

Figura 38 Respostas das Entrevistas (Perguntas 1 a 4)

Fonte Louzada (2013)

130

na comunidade Jaacute que a Bela Vista faz parte do municiacutepio de Manacapuru cabe ao

municiacutepio e ao estado disponibilizar pessoal e infraestrutura para atender as necessidades

da populaccedilatildeo

Indagados sobre as mudanccedilas positivas e negativas com a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio

Negro as respostas encontra-se na (Figura 39)

Entrevistado Resposta das perguntas

A Tem mais motos Diminui o tempo da viagem

Nada Sim

B Diminuiu muito o movimento aqui

Diminui o tempo da viagem

Vem muita gente estranha

Sim

C Antes tinha mais movimento aqui

- Trouxe mais violecircncia

Sim

D Agora tem ocircnibus daqui pra Manaus

Diminui o tempo da viagem

Aumentou muito a violecircncia

Sim

Sobre a capacidade humana de perceber mudanccedilas Ostrower (1977) destaca

Desde as primeiras culturas o ser humano surge dotado de um dom singular mais do que homo faber ser fazedor o homem eacute um ser informador Ele eacute capaz de estabelecer relacionamentos entre os muacuteltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele Relacionando os eventos ele se configura em sua experiecircncia de viver e lhes daacute um significado Nas perguntas que o homem faz ou nas soluccedilotildees que encontra ao agir ao imaginar ao sonhar sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER 1977 p4 )

Embora a diminuiccedilatildeo do tempo de viagem de Bela Vista ateacute Manaus tenha sido

esperado com a construccedilatildeo da Ponte Rio Negro os moradores se mostram apreensivos no

que tange a comunidade uma vez que a mesma passou a sofrer frequentes casos de

violecircncia apoacutes a inauguraccedilatildeo da ponte Esta capacidade de perceber e relacionar os

acontecimentos aos muacuteltiplos eventos ocorridos permitiu-lhes fazer uma projeccedilatildeo de

cenaacuterios futuros baseados em suas experiecircncias individuais e coletivas com determinado

evento

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (Perguntas 5 a 8)

Fonte Louzada (2013)

131

Indagados se jaacute tinham ouvido falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o rio

Solimotildees os mesmos foram unacircnimes ao afirmarem que sim atraveacutes do programa de raacutedio

A Voz do Brasil

Segundo Canuto (2012) o programa de raacutedio transmitido de segunda a sexta agraves 19h

no horaacuterio de Brasiacutelia para todo o territoacuterio nacional surgiu em 1935 com o nome de

ldquoPrograma Nacionalrdquo e em 1938 passou a ser chamado de ldquoHora do Brasilrdquo teve seu nome

novamente mudado em 1971 para ldquoA Voz do Brasilrdquo O programa transmite informativos

oficiais dos Poderes Executivo Judiciaacuterio e Legislativo

Foi por meio desse programa de raacutedio que Getuacutelio Vargas fez pronunciamentos

semanais estimulando a migraccedilatildeo do ldquopovo sem terras para terras sem homensrdquo

estimulando e consolidando a Marcha para o Oeste que viria a reorganizar a ocupaccedilatildeo do

territoacuterio brasileiro

Com uma breve explanaccedilatildeo sobre a proposta de construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees os entrevistados foram estimulados a descrever o que viria de ldquobomrdquo ou

ldquoruimrdquo com esta obra segundo sua percepccedilatildeo (Figura 40)

A percepccedilatildeo dos moradores mais antigos se caracteriza em parte como uma

Percepccedilatildeo Trandisciplinar segundo seus pilares que satildeo diferentes niacuteveis de realidade

(ontoloacutegico) loacutegica do terceiro incluiacutedo e complexidade que por sua vez com se sustenta

em trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional e hologramaacutetico

Entrevistado Resposta das Perguntas

9ordm 10ordm

A Vai melhorar e muito aqui

-

B Natildeo vai ter mudanccedilas boas

Mais pessoas estranhas mais violecircncia

C Empregos Mais violecircncia

D Nada de bom Vatildeo querer me tirar daqui soacute saio daqui morto

Figura 40 Resposta dos Entrevistados (Perguntados 9 e 10)

Fonte Louzada (2013)

132

Partindo do princiacutepio dos diferentes niacuteveis de realidade seja do entrevistado A

(que prevecirc melhorias na comunidade) do B (que eacute enfaacutetico ao afirmar que natildeo haveraacute

mudanccedilas positivas) do C (que acredita que a obra traraacute empregos) ou do entrevistado D

(que afirma que esta obra natildeo traraacute nada de bom)

[] nenhum niacutevel de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual possamos compreender todos os outros niacuteveis de realidade um niacutevel de realidade eacute o que ele eacute porque todos os outros niacuteveis existem ao mesmo tempo Esse princiacutepio de relatividade suscita um novo olhar sobre a religiatildeo a poliacutetica as artes a educaccedilatildeo e a vida social E quando nosso olhar sobre o mundo muda o mundo realmente muda (RITTO 2010 p37)

O autor continua

Na visatildeo transdisciplinar a realidade natildeo eacute apenas muldimensional mas tambeacutem multirreferencial Os diferentes niacuteveis de realidade satildeo acessiacuteveis ao conhecimento humano graccedilas aacute existecircncia de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo que permitem uma visatildeo cada vez mais geral mais unificadora mais abarcadora da realidade sem exauri-la completamente Como no caso dos niacuteveis de realidade a coerecircncia dos niacuteveis de percepccedilatildeo pressupotildee uma zona de natildeo resistecircncia aacute percepccedilatildeo (RITTO 2010 p37)

Segundo Nicolesco (2009 p05) o conceito chave da Transdisciplinaridade eacute o

conceito de niacuteveis de realidade ldquoque oferece uma explicaccedilatildeo simples e clara da inclusatildeo do

terceirordquo

Entendo por Realidade primeiramente o que resiste agraves nossas experiecircncias representaccedilotildees descriccedilotildees imagens ou formalizaccedilotildees matemaacuteticas Eacute preciso tambeacutem dar uma dimensatildeo ontoloacutegica agrave noccedilatildeo de Realidade pois a Natureza participa do ser do mundo A Realidade natildeo eacute somente uma construccedilatildeo social o consenso de uma coletividade um acordo intersubjetivo Ela apresenta tambeacutem uma dimensatildeo trans-subjetiva pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria cientiacutefica (NICOLESCU 2009p05)

Para Nicolesco (2009) a compreensatildeo do terceiro incluiacutedo pode ser descrita com a

representaccedilatildeo da letra T entre o A e o natildeo- A por meio de um triacircngulo

[] no qual um dos veacutertices se situa em um niacutevel de Realidade e os outros dois

veacutertices em outro niacutevel de Realidade Se ficarmos em um uacutenico niacutevel de Realidade toda manifestaccedilatildeo apareceraacute como uma luta entre dois elementos contraditoacuterios (exemplo onda A e corpuacutesculo natildeo-A) O terceiro dinamismo o do estado T eacute exercido em um outro niacutevel de Realidade onde o que aparece como desunido (onda e corpuacutesculo) estaacute de fato unido (quantum) e o que aparece como contraditoacuterio eacute percebido como natildeo contraditoacuterio (NICOLESCO 2009 p5)

133

Nicolesco (2009) vai aleacutem ao afirmar que [] a projeccedilatildeo de T sobre um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade que produz a aparecircncia de pares antagonistas mutuamente exclusivos (A e natildeo-A) Um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade natildeo pode engendrar senatildeo oposiccedilotildees antagocircnicas Ele seraacute devido agrave sua proacutepria natureza autodestruidor se for separado completamente de todos os outros niacuteveis de Realidade Um terceiro termo digamos Trsquo que estaacute situado no mesmo niacutevel de Realidade que os opostos A e natildeo-A natildeo pode realizar sua conciliaccedilatildeo (NICOLESCO 2009 p05)

Assim sendo a loacutegica do terceiro incluiacutedo admite diferentes niacuteveis de realidade

para compreensatildeo ampla de um determinado fenocircmeno ou fato essa possibilidade permite

extrapolar o reacutelis antagonismo fruto de uma uacutenica realidade

A terceira e uacuteltima pilastra da Transdisciplinaridade eacute a Complexidade que por sua

vez tambeacutem tem trecircs pilares o dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o hologramaacutetico

O princiacutepio dialoacutegico pode ser compreendido atraveacutes da ordem e da desordem [] um suprime a outra mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e produzem organizaccedilatildeo e complexidade O princiacutepio dialoacutegico permite-nos manter a dualidade no seio da unidade Associa dois termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicos (MORIN 1990 p107)

Ainda segundo Morin (1990)

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se fosse verificar empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

Um exemplo seria as invasotildees de terras que causam de certa forma a desordem

(pessoas se aglomerando em pequenos barracos em aacutereas ainda cobertas por floresta ou

em aacutereas de risco onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a produccedilatildeo de

fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que saem atraacutes de

melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

O segundo princiacutepio eacute o da recursatildeo organizacional onde um processo recursivo ldquoeacute

um processo em que os produtos e os efeitos satildeo ao mesmo tempo causas e produtores

daquilo que os produziurdquo (MORIN 1990 p108) Ele utiliza como exemplo o caso da relaccedilatildeo

indiviacuteduo e sociedade pois a sociedade eacute resultado das interaccedilotildees humanas ldquose natildeo

134

houvesse uma sociedade e a sua cultura uma linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos

indiviacuteduos humanos

O terceiro e uacuteltimo principio da complexidade eacute o hologramaacutetico que funciona

como a menor partiacutecula do todo mas conteacutem todas as informaccedilotildees da totalidade do objeto

em outras palavras ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo mas o todo estaacute na parterdquo (MORIN

1990 p108-109)

Apoiado em suas trecircs pilastras o princiacutepio dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o

hologramaacutetico surge a Complexidade que busca a ideia de que a totalidade natildeo eacute a

sobreposiccedilatildeo das partes individuais mas a uniatildeo de todas elas em uma teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas mas termodinacircmicas e conectadas (MORIN 1990 p110)

Para Santos (2013)

A Complexidade eacute a compreensatildeo da realidade atraveacutes do conhecimento em todas as suas injunccedilotildees O conhecimento eacute trabalhado de forma fragmentada guardando cada aacuterea cada disciplina sua autonomia e separabilidade das demais Essa constataccedilatildeo aparente induziu o sujeito a aceitar os fenocircmenos explicados pelo conhecimento cientiacutefico como certeza na compreensatildeo do mundo Entretanto a Transdisciplinaridade nos mostra a complexidade do real da ligaccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade consiste em entender que nada estaacute separado tudo estaacute ligado na natureza fiacutesica humana e social O pensamento complexo eacute aquele que tenta responder ao desafio da complexidade e natildeo o que constata a incapacidade de responder (SANTOS apud MORIN 2013 p5)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Por seu turno na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o

cientista haacute rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os

objetos uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter

multidimensional de qualquer realidade segundo Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo

podemos nunca escapar aacute incerteza () Estamos condenados ao pensamento inseguro a

um pensamento criativo de buracos um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento

absoluto de certezardquo

135

341 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA BELA VISTA

Para a realizaccedilatildeo da segunda etapa da pesquisa que consistia em entrevistar os

chefes de famiacutelia foi elaborado um roteiro de entrevistas a partir das respostas dos

moradores mais antigos (Apecircndice 1)

Foram localizadas as ruas principais da comunidade da Bela Vista e o local exato

onde as mesmas se cruzaram de forma que pudesse ser dividida a comunidade em quatro

quadrantes Dentro de cada quadrante foram entrevistados dez chefes de famiacutelias de

maneira aleatoacuteria de diferentes idades gecircneros e ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de

residecircncia no lugar

O resultado foi 57 homens entrevistados e 43 mulheres com idades variando

entre 14 e 77 anos de naturalidades diversas Rondocircnia Roraima Amazonas (Bela Vista

Itacoatiara Coari Manaquiri Laacutebrea Cruzeiro do Sul Alto Juruaacute)

O Graacutefico 1 ilustra a escolaridade dos entrevistados da Bela Vista

A comunidade da Bela Vista conta atualmente com uma escola de Ensino

Fundamental (Escola Estadual Maacuterio DrsquoAlmeida) que no periacuteodo diurno oferece aulas do (1ordm

ao 9ordm ano) e no periacuteodo noturno oferece aulas para jovens e adultos atraveacutes do Programa

EJA (Ensino de Jovens e Adultos)

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados na Bela Vista

136

Os 30 dos entrevistados que afirmaram ter estudado somente ateacute 4ordm seacuterie atual

quarto anos do Ensino Fundamental sempre residiram na comunidade e os demais 37 da

populaccedilatildeo que tem o Ensino Meacutedio completo juntamente com 3 de entrevistados que natildeo

chegaram a concluir o ensino meacutedio tiveram a oportunidade de residir em outras

localidades a fim de concluir os estudos e retornaram agrave Comunidade da Bela Vista

Os moradores foram inquiridos sobre a escolha de morar na Bela Vista e o que natildeo

os agradava no lugar 62 dos entrevistados afirmaram residir no lugar pela tranquilidade e

17 pela famiacutelia 11 por considerar o clima agradaacutevel 5 trabalho 5 por ser terra firme

e a oportunidade de produzir alimentos durante todo ano Sobre o que natildeo os agradava na

comunidade 37 relataram a falta de emprego 30 falta de seguranccedila 10 por natildeo ter

um hospital 15 falta administraccedilatildeo 8 falta uniatildeo na comunidade

Quando questionados sobre o que viam ao olhar para a Bela Vista o resultado estaacute

contemplado no Graacutefico 2

A maioria da populaccedilatildeo entrevistada (38) classificou a comunidade como

esquecida e desprezada devido agrave falta de infraestrutura que natildeo conta com uma rede de

abastecimento eleacutetrico eficiente com aacutegua potaacutevel haacute pouco tempo e somente apoacutes

perfuraccedilatildeo de dois poccedilos sendo que o primeiro perfurado com 110 m mas em uma anaacutelise

laboratorial feita pelo Serviccedilo Autocircnomo de Aacutegua e Esgoto de Manacapuru- SAAE o poccedilo se

mostrou improacuteprio para o consumo humano Foi realizada outra perfuraccedilatildeo agora com

200m de profundidade contudo apesar dos esforccedilos para a construccedilatildeo de um novo poccedilo o

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista

137

mesmo acabou alcanccedilando uma reserva de manganecircs- Mn (elemento quiacutemico) o que torna a

aacutegua improacutepria para o consumo humano ficando a comunidade dependente do primeiro

poccedilo

Sobre a reserva de manganecircs Sousa (2008) esclarece que a concentraccedilatildeo de

manganecircs no rio Solimotildees varia de 0017mgL na cheia do rio a 0025 mgL no periacuteodo de

vazante dispersa ou concentra em suas margens

Aleacutem da dificuldade de encontrar aacutegua potaacutevel a comunidade tambeacutem sofre de

outros problemas entre eles a falta de saneamento baacutesico (Figura 41) e a destinaccedilatildeo de

resiacuteduos domiciliares em aacutereas de vegetaccedilatildeo ou as queimadas dentro dos siacutetios

Em todas as ruas da Comunidade da Bela Vista eacute possiacutevel visualizar a ausecircncia de

caneletas extremamente necessaacuterias para o escoamento das aacuteguas superficiais que ficam

empoccediladas sobre o asfalto contribuindo para a sua deterioraccedilatildeo Outro fator preocupante eacute

a ausecircncia completa de uma rede de esgoto que geralmente eacute direcionado das casas para as

ruas situaccedilatildeo muito comum nas cidades do interior do Amazonas

Indagados sobre o significado do rio Solimotildees e da Floresta Amazocircnica uma vez que

convivem diariamente com estes elementos naturais 49 dos entrevistados afirmaram que

Figura 41 Rua da Comunidade da Bela Vista

Autor Louzada (2013)

138

o rio eacute importante para a pesca e 36 disseram que o rio eacute a fonte da vida e 13 o

consideram bonito imponente e majestoso e 2 natildeo souberam responder

Sobre essa percepccedilatildeo Tuan (2012) afirma que as imagens que compotildeem a Topofilia

satildeo derivadas da realidade circundante

As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram assombro ou lhes prometem sustento e satisfaccedilatildeo no contexto das finalidades de suas vidas As imagens mudam agrave medida que as pessoas adquirem novos interesses e poder mas continuam a surgir do meio ambiente as facetas do meio ambiente previamente negligenciadas satildeo vistas agora com toda claridade (TUAN 2012 p170)

A afirmaccedilatildeo de Tuan (2012) confirma a percepccedilatildeo dos entrevistados sobre a

Floresta Amazocircnica onde 65 dos moradores afirmaram que a floresta eacute bonita e muito

importante 30 que tem que ser preservada pois estaacute sendo desmatada e 5 afirmaram

ser ela a fonte de alimentos diversos

Para Tuan (2012) as sociedades natildeo tecnoloacutegicas que manteacutem contato constante

com o meio ambiente fiacutesico tendem a perceber a florestal tropical de modo geral como um

mundo proacuteprio protetor e envolvente que provecirc as necessidades materiais e ateacute mesmo

espirituais

Tendo como base os criteacuterios de qualidade de vida apontados por Gonccedilalves e

Vilarta apud Almeida et al (2012) que

[] abordam qualidade de vida pela maneira como as pessoas vivem sentem e compreendem seu cotidiano envolvendo portanto sauacutede educaccedilatildeo transporte moradia trabalho e participaccedilatildeo nas decisotildees que lhes dizem respeito (GONCcedilALVES E VILARTA apud ALMEIDA et al 2012 p18)

Os entrevistados foram indagados sobre qual qualidade de vida moradores da Bela

Vista suas respostas eacute possiacutevel visualizar no Graacutefico 3

139

A maioria dos entrevistados sendo 47 classificou a qualidade de vida dos

moradores em ruim ou difiacutecil devido a pouca oportunidade de renda da populaccedilatildeo que

segundo eles somente satildeo quatro fontes de renda agricultura aposentadoria pequenos

comeacutercios ou bolsas do governo (Bolsa Famiacutelia Bolsa Escola Auxilio Gaacutes Seguro Defeso do

Pescador) Outros entrevistados atribuiacuteram agrave qualidade de vida ruim devido agrave falta de

emprego na regiatildeo porque os jovens natildeo estatildeo dispostos a trabalhar na agricultura

somente os mais idosos

Sobre isso existe uma perspectiva geral de mudanccedila com a abertura da Faacutebrica de

Calcaacuterio que estaacute sendo construiacuteda no ramal da comunidade que promete emprego aos

moradores da Bela Vista gerando uma nova fonte de renda para a comunidade

Questionados se jaacute tinham ouvido falar sobre a construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees 85 dos entrevistados relataram jaacute ter ouvido algo a respeito entre os

comentaacuterios da comunidade e no programa de raacutedio a Voz do Brasil 15 da populaccedilatildeo

relatou natildeo ter conhecimento dessa informaccedilatildeo Perguntados sobre o seu posicionamento

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte os moradores afirmaram 92 que satildeo favor (Graacutefico 4)

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista

140

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas sobre a reabertura da BR-319

os entrevistados responderam conforme destaca o Graacutefico 5

A maioria 45 da populaccedilatildeo mostra-se disposta a participar de audiecircncias puacuteblicas

sobre a reabertura da BR-319 mas somente se chegassem a ser convocados 37 se

mostrou favoraacutevel agrave reabertura da rodovia afirmando que a mesma jaacute foi aberta um dia

sendo necessaacuteria ser novamente asfaltada sinalizada e ter suas pontes refeitas jaacute que

praticamente natildeo existem mais Ainda desse total 5 disseram que natildeo desejariam

participar com destaque para uma colocaccedilatildeo ldquoFilha eu natildeo iria pois natildeo se decide o que jaacute

foi decididordquo (comunicaccedilatildeo pessoal de um entrevistado) Do restante 4 iriam conhecer os

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte sobre o

Rio SolimotildeesAmazonas

141

dois lados (benefiacutecios e malefiacutecios) da obra e 9 dos entrevistados afirmaram natildeo acreditar

na reabertura da BR-319

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo 64 dos entrevistados consideraram o rio perigoso e que o mesmo provocava

medo (Graacutefico 6)

Eacute compreensiacutevel os entrevistados da Bela Vista optarem em sua maioria pelas

estradas porque eles dispotildeem de um ramal de 10km que os conecta a AM-070 e os permite

chegar rapidamente agrave Manacapuru ou ateacute mesmo a capital Manaus Questionados sobre

qual meio de locomoccedilatildeo seria mais seguro O Graacutefico 7 ilustra a preferecircncia pelas estradas

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo

142

A maioria 78 dos entrevistados considera as estradas o meio mais raacutepido e melhor

de se locomover apenas 22 as consideram perigosas

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 37 dos

entrevistados afirmaram nunca terem participado e 34 afirmaram natildeo saber o que eacute jaacute

25 disseram que participariam de uma se fossem convidados o que nunca ocorreu na

comunidade e 4 afirmaram jaacute ter participado de Audiecircncias Puacuteblicas em outras

localidades

342 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI

Assim como ocorreu na Comunidade da Bela Vista a sede do municiacutepio de

Manaquiri tambeacutem foi dividida em quatro quadrantes a partir das ruas principais Joatildeo Diniz

e Francisco Jacob (Figura 42)

Figura 42 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa

Fonte Google Maps Imagens Landsat (2014)

Adaptada Louzada (2014)

143

Foram entrevistados dez chefes de famiacutelia em cada quadrante de maneira aleatoacuteria

de diferentes idades gecircneros ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de residecircncia no lugar

Todavia o roteiro de entrevistas aplicado em Manaquiri sofreu algumas alteraccedilotildees

(Apecircndice 2)

Ao contraacuterio do que ocorreu na Bela Vista onde foram entrevistados (57 homens

e 43 mulheres) em Manaquiri foram entrevistados de maneira aleatoacuteria 55 de mulheres

e 45 de homens com idades variando entre 22 e 83 anos e com naturalidades mais

diversas Colocircmbia Venezuela Brasil (Cearaacute Parnaiacuteba Piauiacute Paraacute Amazonas (Manaus

Iranduba Eirunepeacute Coari Anamatilde Careiro da Vaacuterzea))

Com relaccedilatildeo agrave escolaridade a grande maioria dos entrevistados cerca de 52

tinham o ensino meacutedio completo os demais foram organizados conforme graacutefico 8

Por ser uma sede municipal o Manaquiri conta com escolas tanto estaduais como

municipais o que contribui na formaccedilatildeo de seus moradores todavia as escolas natildeo estatildeo

exclusivamente situadas na sede do municiacutepio como eacute caso do Centro Educacional

Municipal de Tempo Integral ndash CEMTI com capacidade para atender 770 alunos do ensino

fundamental inaugurado em 2010 mas tambeacutem distribuiacutedos na zona rural do mesmo

Os entrevistados foram questionados sobre a escolha de permanecer em

Manaquiri pois os mesmos tecircm facilidade de acesso a outros municiacutepios e ateacute mesmo agrave

capital Manaus o que os agradava no lugar que os fazia permanecer 69 dos moradores

responderam permanecer em Manaquiri pela tranquilidade encontrada laacute 31

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri

144

responderam que permanecem na regiatildeo por laccedilos familiares Indagados sobre o que natildeo os

agradava na cidade de Manaquiri 31 dos entrevistados relatou o sistema de sauacutede do

municiacutepio (Graacutefico 9)

Os entrevistados se mostraram revoltosos com o sistema puacuteblico de sauacutede do

municiacutepio do Manaquiri Um entrevistado relatou a seguinte situaccedilatildeo

Se uma pessoa cair e quebrar a perna no final de semana temos que levar ele correndo para Manaus jaacute pensou ir de voadeira [canoa de alumiacutenio com motor de polpa] nesse riozatildeo de Deus com a perna quebrada eacute horriacutevel porque aqui natildeo tem meacutedico no final de semana soacute de segunda a sexta e ai como a gente ficar te pergunto

Segundo Almeida Filho (1998)

A ldquonova ordem mundialrdquo que se instaura na deacutecada de oitenta inspirada no neoliberalismo provoca uma marcante fragilizaccedilatildeo dos esforccedilos para o enfrentamento coletivo dos problemas de sauacutede Particularmente nos paiacuteses de economia capitalista dependente a opccedilatildeo pelo ldquoestado miacutenimordquo e o corte nos gastos puacuteblicos como resposta agrave chamada ldquocrise fiscal do estadordquo em muito comprometem o acircmbito institucional conhecido como sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p 301)

Para superar esta crise na sauacutede puacuteblica brasileira que jaacute dura quase 35 anos apoacutes

os novos esforccedilos serem direcionados para

[] o desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico do campo mediante importantes contribuiccedilotildees nas aacutereas de Epidemiologia Social Poliacuteticas e Praacuteticas de Sauacutede Planificaccedilatildeo em Sauacutede Epistemologia e Metodologia em Sauacutede [] Contudo mais do que definiccedilotildees formais a sauacutede coletiva requer uma compreensatildeo dos desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo de profissional convencionalmente reconhecido como da sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p310)

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo agrada em Manaquiri

145

A atual situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica em Manaquiri reflete de forma negativa na

administraccedilatildeo puacuteblica de modo geral pois 28 dos entrevistados descrevem como ruim ou

peacutessima devido aos cuidados com a sauacutede publica do municiacutepio

Em menor porcentagem os entrevistados relataram que natildeo os agrada o aumento

da violecircncia dos uacuteltimos anos com 14 dos entrevistados a falta de oportunidade de

entretenimento com 3 das respostas e 7 com a falta de oportunidade de continuar os

estudos Segundo eles satildeo somente duas oportunidades ou migram para a capital Manaus

para cursar uma faculdade ou se forem professores podem se escrever no Plano Nacional

de Formaccedilatildeo de Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica- PARFOR do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo em

parceria com a Universidade Federal do Amazonas - UFAM que envia professores ao

municiacutepio no periacuteodo de recesso escolar (Municipal e Estadual) para ministrarem as

disciplinas da graduaccedilatildeo dos cursos escolhidos permitindo aos professores locais um

diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC

Ao olharem para o municiacutepio de Manaquiri os entrevistados se manifestaram

conforme o graacutefico 10

Cerca de 43 dos entrevistados afirmaram que a cidade de Manaquiri estaacute

crescendo tendo como referecircncia o crescimento demograacutefico apontado no uacuteltimo censo do

IBGE que calculou a populaccedilatildeo da sede municipal de Manaquiri em 7062 mil habitantes

(IBGE 2010)

Todavia os moradores tambeacutem atrelaram o crescimento da cidade ao fato de haacute

pouco tempo ter sido aberta uma agecircncia bancaacuteria na regiatildeo e os investimentos na

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri

146

agricultura familiar o que gerou empregos no municiacutepio e por consequecircncia permitiu um

aumento na renda das famiacutelias

Outros 25 dos entrevistados relatou que Manaquiri eacute um bom lugar para viver

pois quem quiser trabalhar na agricultura tem acesso agrave empreacutestimos para investir na

produccedilatildeo ou em pequenas criaccedilotildees como a silvicultura e a piscicultura

Os entrevistados referem-se ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte ndash

FNO disposto nas leis nordm 78271989 nordm 91261995 e nordm 101772001 (BRASIL 2013)

O FNO Plano de Aplicaccedilatildeo de Recursos para 2013 dispotildeem sobre os programa de

iniciativa do Governo Federal para a Amazocircnia que satildeo executados pelo Banco da

Amazocircnia com destaque para O Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 conhecido como ldquoPlano

Mais Brasilrdquo a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) o Plano Amazocircnia

Sustentaacutevel (PAS) o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) a Poliacutetica Nacional de

Agricultura Familiar a Poliacutetica Nacional de Arranjos Produtivos Locais o Plano Nacional de

Turismo (PNT) o Plano Brasil Maior o Plano Brasil Sem Miseacuteria o Plano Nacional sobre

Mudanccedila do Clima (PNMC) o Programa Mais Cultura a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas as poliacuteticas de desenvolvimento industrial e de incentivo agraves exportaccedilotildees agrave pesca

e aquicultura (BRASIL 2013 p10)

Todos os programas reunidos compotildeem o Plano Nacional de Desenvolvimento da

Amazocircnia ndash PRDA aprovado em 2012 com prazo de vigecircncia ateacute 2015 que tem como

objetivo principal ldquo[] acelerar o crescimento econocircmico da Amazocircnia Legal com

distribuiccedilatildeo de renda e sustentabilidade socioambientalrdquo (BRASIL 2013 p11) atraveacutes de

financiamentos tendo como

[] prioridade os segmentos produtivos de menor porte (minimicro e pequenos empreendedores) com maior ecircnfase a agricultura de base familiar empreendimentos que utilizam mateacuterias primas e matildeo de obras locais e que produzam alimentos baacutesicos para o consumo da populaccedilatildeo e projetos com sustentabilidade socioambiental (BRASIL 2013 p17)

Os entrevistados tambeacutem foram indagados sobre o significado do Rio Solimotildees e a

Floresta Amazocircnica 87 dos moradores relataram que o rio eacute muito importante pois aleacutem

de fornecer o seu principal alimento o peixe o rio banha as terras baixas (as vaacuterzeas) e faz a

nutriccedilatildeo das mesmas para que eles possam plantar no periacuteodo de vazante O rio tambeacutem eacute o

147

principal meio de locomoccedilatildeo entre os ribeirinhos Os demais entrevistados classificaram o

rio Solimotildees como riqueza (5) e como fonte de vida (8)

Para Tuan (2012) as diferentes culturas e sociedades humanas tecircm diferentes

formas de se relacionar com a natureza O autor cita a influecircncia de determinadas paisagens

na maneira de perceber e se relacionar com as mesmas

Natildeo eacute difiacutecil entender a atraccedilatildeo que exercem as orlas marinhas sobre os seres humanos Para comeccedilar sua forma tem dupla atraccedilatildeo por um lado as reentracircncias das praias e dos vales sugerem seguranccedila por outro lado o horizonte aberto para o mar sugere aventura Aleacutem disso o corpo humano que normalmente desfruta apenas do ar e da terra entra em contato com a aacutegua e a areia A floresta envolve o homem em seu recesso fresco e sombrio o homem no deserto estaacute total exposto e sofre escoriaccedilotildees pelo sol brilhante e eacute repelido pela dureza da terra A praia tambeacutem eacute banhada pelo brilho direto e refletido da luz do sol poreacutem a areia sede pressatildeo penetrando entre os dedos dos peacutes e a aacutegua recebe e ampara o corpo (TUAN 2012 p163-164)

Sobre a Floresta Amazocircnica cerca de 90 dos entrevistados relataram que ela eacute

muito importante pois fornece o ar puro para ser respirado por todos e eacute fonte de

alimentos diversos (frutos ervas) e madeira para a construccedilatildeo de casas e canoas sendo

necessaacuterio e muito importante preservarem-na para que seus netos e bisnetos cheguem a

conhecer a magnitude dessa floresta Os 10 de entrevistados restantes descreveram a

floresta como fonte de vida que traz a aacutegua

Perguntados sobre a qualidade de vida dos moradores do Manaquiri os

entrevistados responderam conforme Graacutefico 11

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores do Manaquiri

148

O percentual de 52 dos entrevistados considera regular a qualidade de vida dos

moradores da sede do municiacutepio de Manaquiri uma vez que existem muitas pessoas que

trabalham para a Prefeitura ou na escola e no comercio e outros que vivem da agricultura

ou da pesca mas tambeacutem haacute pessoas que natildeo tecircm trabalho fixo e vivem das bolsas do

governo (Bolsa Escola Bolsa Famiacutelia Auxilio gaacutes entre outras ) essas pessoas passam

muitas necessidades

O percentual 29 dos entrevistados consideraram a qualidade de vida dos

moradores de Manaquiri boa pois tem emprego escola casa proacutepria entre outras

facilidades 19 dos entrevistados relatou a qualidade de vida como ruim pois faltam

meacutedicos e empregos para todos (significado do rio e da floresta)

Perguntados se jaacute ouviram falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o Rio

Solimotildees 92 dos entrevistados afirmaram jaacute ter ouvido algo no raacutedio e atraveacutes dos

deputados do municiacutepio aleacutem de comentaacuterios de outros moradores

Indagados sobre o posicionamento individual com a perspectiva de construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees os entrevistados responderam conforme ilustra o Graacutefico

12

A maioria dos entrevistados cerca de 60 mostrou-se favoraacutevel a construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees 27 dos entrevistados se mostrou receosa com o aumento

da violecircncia caso a ponte seja realmente implantada 5 cautelosos com o

empreendimento por acreditar que o mesmo traraacute coisas ruins para o municiacutepio 8 dos

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo de

ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

149

entrevistados se mostrou contraacuterio agrave construccedilatildeo da ponte pois natildeo acreditam que os

benefiacutecios com a ponte superem seus malefiacutecios principalmente no que se refere a Floresta

Amazocircnica

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas para a reabertura da BR-319 e

qual o posicionamento que adotariam os entrevistados responderam conforme Graacutefico 13

A maioria 75 dos entrevistados afirmaram ser a favor da reabertura da BR-319

14 disseram que somente participariam das audiecircncias puacuteblicas 8 que natildeo participariam

e 3 dos entrevistados optaram por natildeo opinar

O principal argumento utilizado para o posicionamento favoraacutevel agrave reabertura da

BR-319 foi de que seria possiacutevel conhecer outros municiacutepios do estado pela estrada e

chegar agrave outros estados de carro porque natildeo os agradava a possibilidade de viajar de aviatildeo

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo na Amazocircnia 40 dos entrevistados afirmaram preferir o rio (Graacutefico 14)

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319

150

Todavia as respostas dos entrevistados chamam agrave atenccedilatildeo pela seguinte situaccedilatildeo

13 dos entrevistados afirmaram achar o rio melhor como meio de locomoccedilatildeo no periacuteodo

da cheia pois o Paranaacute de Manaquiri como eacute conhecido o braccedilo de rio que passa em frente

agrave cidade do Manaquiri soacute eacute navegaacutevel durante esse periacuteodo cheio (Figura 43) pois no

periacuteodo de vazante o Paranaacute seca ficando em terra batida

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia

Figura 43 Paranaacute de Manaquri

Autora Louzada (2013)

151

O percentual de 30 dos entrevistados prefere a estrada para deslocamento por

consideraacute-la mais segura mesmo no periacuteodo de cheia do rio 13 preferem o rio quando

estaacute cheio 4 afirmaram natildeo gostar das estradas porque demoram e prolongam o tempo

de viagem e 40 preferem o rio

Poucas pessoas tecircm conhecimento de que o municiacutepio do Manaquiri tem uma

rodovia estadual que liga a sede do municiacutepio agrave BR-319 com 43 km aacute AM- 354 (Figura 44)

atualmente se encontra em oacutetimas condiccedilotildees de trafego

No periacuteodo da vazante dos rios e a impossibilidade de pegar barcos no porto da

cidade de Manaquiri para sair de sede os moradores pegam ocircnibus na cidade e seguem

viagem pelos 43 km da AM-354 e posteriormente entram na BR-319 por onde seguem por

mais 91 km ateacute a chegarem ao porto da Gutierrez onde pegam ajatos (embarcaccedilotildees de

alumiacutenio cobertas e com maacutequinas de centro) para seguirem viagem ateacute a capital Manaus

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio do Manaquiri-AM

Autora Louzada (2013)

152

(Figura 45) o percurso ateacute a capital demora em meacutedia trecircs horas e meia quando uma

viagem completa por via fluvial do municiacutepio ateacute a capital Manaus leva em meacutedia duas

horas (variam conforme a potecircncia das maacutequinas de centro)

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 77 os entrevistados

afirmaram nunca ter participado e 23 dos entrevistados afirmaram jaacute ter participado de

uma pelo menos os mesmos relataram que participariam de outras Audiecircncias Puacuteblicas se

fossem convidados

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas

Autora Louzada 2013

153

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR O FUTURO ALTERNATIVA

DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS

O conceito de desenvolvimento do seacuteculo XXI tem como marco principal o papel da

sociedade civil como agente ativo na construccedilatildeo do desenvolvimento e natildeo mais como

meros beneficiaacuterios do desenvolvimento

Diante disso eacute importante compreender o conceito de desenvolvimento do seacuteculo

XX para se conhecer seus reflexos no presente se pensando no futuro

Segundo Martins (2002)

O termo desenvolvimento tem sido associado agrave noccedilatildeo de progresso material e de modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Sua promoccedilatildeo mediante o desrespeito e a desconsideraccedilatildeo das diferentes culturais da existecircncia de outros valores e concepccedilotildees jaacute teria funcionado como ldquoCavalo de Troacuteiardquo que vestido da seduccedilatildeo do progresso teria carregado em seu interior o domiacutenio e a imposiccedilatildeo de culturas que desequilibram e abalam as sociedades (MARTINS 2002 p52)

No Brasil a partir de 1930 apoacutes a grave crise do cafeacute a regiatildeo de Satildeo Paulo

considerada o berccedilo da produccedilatildeo do cafeacute no paiacutes passou pelo primeiro surto de

industrializaccedilatildeo o que veria a ser o ponto de partida para a industrializaccedilatildeo brasileira ldquoque

natildeo se deu pela via evolutiva com base na iniciativa privada como nas naccedilotildees pioneiras

Aqui ela foi induzida e em grande parte realizada pelo Estado rdquo(ESTADO apud Rodrigues

2013 p32)

Sobre isso Brum apud Rodrigues (2013 p32) afirmam que ldquoo modelo de

desenvolvimento adotado no Brasil a partir de 1930 se baseava num Estado Forte poliacutetica

de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees e no nacionalismo poliacuteticordquo

O Estado a partir de 1946 passa a contar com ldquoum imposto sobre combustiacuteveis

liacutequidos visando por via disso o financiamento da construccedilatildeo de estradas este fundo pode

ser visto como o marco institucional da valorizaccedilatildeo da rodovia como modal de transporterdquo

(RODRIGUES 2013 p33)

Para Galvatildeo apud Rodrigues (2013)

154

O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prioritaacuteria de transporte no Brasil teve de esperar ainda ateacute o inicio dos anos de 50 quando da aprovaccedilatildeo de um novo plano nacional de viaccedilatildeo em 1951 Entre as camadas teacutecnicas poreacutem a definitiva opccedilatildeo por esta modalidade de transporte jaacute havia sido feita logo apoacutes o teacutermino da Segunda Guerra Mundial durante os trabalhos de uma comissatildeo do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rondagem) encarregada pelo governo da elaboraccedilatildeo do plano de 1951 (GALVAtildeO apud RODRIGUES 2013 p33)

Rodrigues (2013) vai aleacutem

Somando-se a isto a fundaccedilatildeo da empresa estatal Petrobras em 1954 contribuiu para impulsionar a construccedilatildeo de rodovias no paiacutes jaacute que a produccedilatildeo de petroacuteleo em grande quantidade permitiu um incremento na produccedilatildeo d asfalto visto que o petroacuteleo eacute um componente fundamental para a fabricaccedilatildeo deste (RODRIGUES 2013 p33)

Ainda segundo Rodrigues (2013)

A opccedilatildeo econocircmica feita pelo desenvolvimentismo foi crucial para a questatildeo econocircmica propriamente dita quanto para o desenvolvimento espacial e demograacutefico brasileiro assim os grandes incrementos populacionais sentidos nas regiotildees Norte e Centro Oeste se deram principalmente devido ao iniacutecio da era rodoviaacuteria no paiacutes pois as estradas abarcavam diversos pontos das poliacuteticas governamentais Nesse sentido a intervenccedilatildeo na estrutura de transporte no paiacutes foi crucial assim como a busca de novas fronteiras agriacutecolas na temaacutetica da alimentaccedilatildeo Apesar da enorme concentraccedilatildeo econocircmico-industrial no centro sul paiacutes (BRUM 2009) os uacuteltimos anos da deacutecada de 1950 foram revolucionaacuterios na abertura dessas novas fronteiras internas do paiacutes (RODRIGUES 2013 p38)

Neste periacuteodo as rodovias ultrapassaram o seu objetivo inicial de interligar vias e

cidades para a partir do governo de Juscelino Kubichek (1956 - 1961) a loacutegica se tornar

outra a de penetraccedilatildeo

[] aquelas que visavam adentrar o territoacuterio nacional [] Para o governo a vantagem dessa nova proposta era de que aleacutem de levar ldquocivilizaccedilatildeordquo aos rincotildees do paiacutes as estradas de penetraccedilatildeo ampliavam as fronteiras agriacutecolas (COSTA et al 2001) sendo assim uma poliacutetica de abrangecircncia a no miacutenimo dois setores crucias [] transporte e alimentaccedilatildeo (RODRIGUES 2013 p39)

Novas aacutereas foram alcanccediladas com a construccedilatildeo de rodovias no Centro Oeste e

Norte brasileiro o que se mostraria o marco inicial para consolidaccedilatildeo do modelo

rodoviarista brasileiro

155

Para financiar e executar a construccedilatildeo de estradas no paiacutes foi instituiacutedo o Plano de

Integraccedilatildeo Nacional atraveacutes do decreto-lei n˚1106 de Junho de 1970 que tinha como meta

primeiramente investimentos

I - Na aacuterea do Ministeacuterio dos Transportes a imediata construccedilatildeo das rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem bem com de portos e embarcadouros fluviais com seus respectivos equipamentos

II - Na aacuterea do Ministeacuterio da Agricultura a colonizaccedilatildeo e a reforma agraacuteria mediante a elaboraccedilatildeo a execuccedilatildeo de estudos e a implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e agroindustriais com as competentes desapropriaccedilotildees a seleccedilatildeo o treinamento o transporte e o assentamento de colonos a organizaccedilatildeo de comunidades urbanas e rurais e respectivos serviccedilos

III - Na aacuterea do Ministeacuterio do Interior o aceleramento dos estudos e a implantaccedilatildeo de projetos constantes da primeira fase do Plano de Irrigaccedilatildeo do Nordeste abrangendo obras de retenccedilatildeo desvio canalizaccedilatildeo conduccedilatildeo aspersatildeo e drenagem hidraacuteulica com propriedade para os que ofereccedilam desde jaacute maior beneficio social

IV - Na aacuterea do Ministeacuterio das Minas e Energia o levantamento da topografia da cobertura florestal da geomorfologia para pesquisas minerais e energeacuteticas da natureza do solo da respectiva drenagem e unidade (BRASIL 1970 p31)

Os trecircs primeiros Ministeacuterios (Transporte Agricultura e do Interior) se tornaram

prioridades do I Plano de Integraccedilatildeo Nacional sendo o carro chefe o Ministeacuterio dos

Transportes atraveacutes da construccedilatildeo de rodovias responsaacuteveis por integrar a regiatildeo

Amazocircnica ou restante do paiacutes propiciando a expansatildeo da fronteira econocircmica e

principalmente agriacutecola para a regiatildeo

Sobre isso Reis (1972) apresenta as rodovias construiacutedas em construccedilatildeo e projetas

para a Amazocircnia (Figura 46)

156

Segundo Reis (1972) a inauguraccedilatildeo da rodovia BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) possibilitou

acesso aos espaccedilos ainda pouco ou natildeo cultivados nas planiacutecies uacutemidas amazocircnidas e a

alternativa ideal de utilizar as terras para o cultivo agriacutecola desta forma o projeto de

construccedilatildeo de rodovias foi expandido para toda a regiatildeo Norte do pais

Como aconteceu no restante da Amazocircnia o estado do Amazonas tambeacutem foi

ldquobeneficiadordquo com a construccedilatildeo de estradas em seu territoacuterio a partir de 1950 todavia o

presente este se limitaraacute a expor somente as rodovias federais que chegaram a ser abertas

(Figura 47)

Fonte 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia Fonte Reis (1972)

157

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41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO

Localizado no sul do estado do Amazonas a BR-317 teve suas obras iniciadas em

1956 segundo o DNIT (2008) ligando o municiacutepio de Laacutebrea no sudoeste do Amazonas

localizado a 610 km em linha reta da capital Manaus ateacute o municiacutepio de Assis Brasil no Acre

na fronteira com o Peru e a Boliacutevia (Figura 48)

Foi construiacuteda com o intuito de escoar a produccedilatildeo madeireira do municiacutepio de

Laacutebrea - AM para os estados do Acre e Rondocircnia

Mantendo-se sem pavimentaccedilatildeo alguma ateacute 2004 quando foi iniciado e executado

o Eixo Rodoviaacuterio de Integraccedilatildeo Peru-Boliacutevia-Brasil como parte do projeto IIRSA (Integraccedilatildeo

da Infraestrutura Regional Sul-Americana) A BR-317 passa a ser chamada de estrada do

Paciacutefico apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Binacional (Figura 49) em agosto de 2006 que teve

Fonte 48 BR-317 ou Carretera Del Paciacutefico Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

159

investimento de R$ 25 milhotildees (parte financiada pelo governo federal e estadual) ligando a

cidade de Assis Brasil no Acre agrave cidade peruana de Inatildepari A ponte tem 240m de extensatildeo

quatro pistas e um vatildeo de 110m livres (BRASIL 2006)

No trecho peruano a Estrada do Paciacutefico recebe o nome de Carretera Del Paciacutefico ou

Iterocecircanica pois liga a fronteira com Brasil ateacute o Oceano Paciacutefico (Figura 50)

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-

pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

160

Atualmente a Estrada do Paciacutefico ou Carretera Del Paciacutefico encontra-se em oacutetimas

condiccedilotildees de traacutefego no trecho peruano o que facilita o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola

tanto do Brasil quanto do Peru em direccedilatildeo ao mercado brasileiro

Segundo Bryan (2013) com a construccedilatildeo da ponte ligando definitivamente o Brasil

e o Peru inicia-se um forte comeacutercio de produtos na fronteira com destaque para a compra

de cebola peruana a ser comercializada em Rio Branco no Acre que chega agrave 100 toneladas

ao mecircs em uma rede de supermercados local

Quase toda a cebola consumida na capital acreana passou a ser peruana E 70 toneladas ficaram em estoque devido agrave entressafra peruana Segundo Adem a cebola peruana eacute melhor que a brasileira e tem custo entre 5 a 10 menor percorre menos espaccedilo e tem menos desperdiacutecio Se comprada no Brasil o desperdiacutecio chega a 20 afirma No comeccedilo soacute tivemos problemas Natildeo foi tatildeo faacutecil por questatildeo de ser uma novidade ter que contratar os agentes aduaneiros que natildeo existiam por aqui ter que lidar com a burocracia e fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal e o Ministeacuterio da Agricultura O que nos fez continuar foi a persistecircncia Foi acreditar que daria certo ( BRYAN 2013 p4)

Outro comerciante destaca a importaccedilatildeo de macarratildeo de oacutetima qualidade do paiacutes

vizinhos Em contrapartida os comerciantes peruanos compram milho castanha da

Amazocircnia e Accedilaiacute do Brasil (BRYAN 2013)

Apesar disso no trecho brasileiro a BR-317 ou a estrada do Paciacutefico encontra-se

pavimentada em toda sua extensatildeo somente no territoacuterio acreano todavia no trecho

compreendido entre a cidade de Boca do Acre-AM e a fronteira com o estado do Acre um

trecho de 11070km natildeo encontrasse pavimentado Poreacutem a falta de pavimentaccedilatildeo nesse

trecho da estrada natildeo impede a accedilatildeo antroacutepica sobre o ecossistema principalmente para a

exploraccedilatildeo madeireira e a criaccedilatildeo de gado nessa regiatildeo

Segundo o IBGE (2010) os rebanhos do municiacutepio de Laacutebrea - AM satildeo estimados em

287591 mil cabeccedilas (Figura 51)

161

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas de gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea - AM Fonte Censo Agriacutecola do municiacutepio de Laacutebrea - AM (IBGE 2010)

Um aumento de 98 se comparado ao Censo Agropecuaacuterio realizado em 2004

quando os rebanhos foram estimados em 6593 mil cabeccedilas de gado segundo o IBGE (2004)

Embora poucos pesquisadores associem o aumento no nuacutemero de cabeccedilas de gado agrave

reduccedilatildeo da cobertura vegetal (Tabela 9) foi exatamente isso que aconteceu segundo

(PRODES 2012)

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea - AM

Ano Quantidade estimada de cabeccedilas de gado (SEPLAN)

Desflorestamento (PRODES)

2004 6593 356 2005 6790 386 2007 7027 436 2008 283620 446 2009 287591 452 2010 287591 458

Fonte SEPLAN 20092012 e PRODES 2012 Organizadora Louzada (2013)

Eacute importante salientar tambeacutem a existecircncia de populaccedilotildees indiacutegenas ao longo

dessa rodovia que seratildeo afetadas com a pavimentaccedilatildeo da mesma pois segundo o DNIT

(2008) a estrada possui 225km de sua extensatildeo inseridos em terras indiacutegenas diacutevidas assim

162

5 km dentro das terras TI Boca do Acre e 175km TI nas terras Apurinatilde Todavia a tribo

Camicuatilde tambeacutem seraacute afetada pois estaacute localizada agrave menos de 2km de distacircncia da estrada

(DNIT 2008)

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute

Apesar da construccedilatildeo da BR-317 na deacutecada de 50 outras estradas somente

voltaram a ser construiacutedas no estado do Amazonas a partir do periacuteodo militar entre elas a

BR-307 que teve suas obras iniciadas somente apoacutes a mudanccedila do 1ordm Batalhatildeo de

Engenharia de Construccedilatildeo - BEC que foi deslocado de Caicoacute no estado do Rio Grande do

Norte para o extremo norte do Amazonas no municiacutepio de Satildeo Gabriel da Cachoeira (1ordm

BEC 2012) onde um ano mais tarde em 11 de Marccedilo de 1974 deu inicio a construccedilatildeo da

BR-307 em direccedilatildeo a localidade de Cucuiacute - AM na triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a

Venezuela (Figura 52) Em janeiro de 1982 o 1ordm BEC retornou a Caicoacute ficando em Satildeo

Gabriel da Cachoeira a 21ordm Companhia de Engenharia de Construccedilatildeo de Satildeo Gabriel da

Cachoeira popularmente conhecido como ldquoBatalhatildeo Seridoacuterdquo onde permanece ateacute os dias

atuais

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

163

Com 204 km entre cidade de Satildeo Gabriel da Cachoeira e a localidade de CucuIacute na

triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a Venezuela a BR-307 tinha como principal funccedilatildeo

proteger a fronteira de possiacuteveis ameaccedilas de invasores Entretanto apesar dos esforccedilos do

1ordm BEC para a abertura da rodovia que por sinal demorou quase dez anos (19741982) a

estrada nunca chegou a ser pavimentada ficando somente em solo batido em toda sua

extensatildeo sendo posteriormente coberta com piccedilarra outro problema jaacute que a regiatildeo onde

estaacute localizada a rodovia deteacutem os mais elevados iacutendices pluviomeacutetricos do estado ficando

praticamente intransitaacutevel durante o periacuteodo chuvoso

Mas os problemas da estrada natildeo se limitam somente agrave ausecircncia de asfalto ou ao

alto iacutendice pluviomeacutetrico da regiatildeo mais ao acuacutemulo de muitos outros como as travessias

em trecircs trechos da estrada que eacute cortada por cursos drsquoaacutegua e a retirada da cobertura

vegetal nas margens entre outros problemas como a grilagem de terras e a retirada ilegal

de madeira

A rodovia BR-307 foi traccedilada teoricamente no sentido nortesul de Cucuiacute na

triacuteplice fronteira em direccedilatildeo ao Estado do Acre natildeo se sabe ao certo sua extensatildeo todavia

segundo o IBGE a mesma se encontra traccedilada (o que natildeo quer dizer trafegaacutevel)

Jaacute entre os municiacutepios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte em um trecho de

27km a BR-307 tambeacutem chegou a ser aberta entre as cidades de Benjamin Constant e

Atalaia do Norte (Figura 53 54)

164

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant e Atalaia do Norte Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Figura 54 BR-307- Asfalto cedendo no 22 km Fonte SECON (2012)

165

Segundo o Plano de Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 1970) a cidade de Benjamin

Constant seria o ponto final da BR-230 (Transamazocircnica) todavia no trecho Laacutebrea ndash

Benjamin Constant a mesma nem sequer chegou a ser desmatada se concluiacuteda atravessaria

dois grandiosos rios Purus e o Juruaacute e outros importantes afluentes do rio Solimotildees Talvez

por essa razatildeo ou pela existecircncia de terras indiacutegenas neste trecho a rodovia nunca a chegou

efetivamente implantada ficando somente no papel

43 BR-230 - TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Agrave FAZENDAS DE GADO

Embora jaacute tenha sido descrita a reconfiguraccedilatildeo espacial no estado do Paraacute com a

construccedilatildeo da BR-230 a Transamazocircnica cabe aqui descrever a sua influecircncia no estado do

Amazonas

A rodovia Transamazocircnica corta o sul do estado do Amazonas nos municiacutepios de

Maueacutes Apuiacute Novo Aripuanatilde Manicoreacute Humaitaacute Canutama Laacutebrea (Figura 55)

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Da divisa do estado do Amazonas com o estado do Paraacute a rodovia chegou aacute ser

implantada (entende-se aqui retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem) ateacute a cidade

de Laacutebrea

Assim como ocorreu no Paraacute a rodovia Transamazocircnica tambeacutem permitiu acesso a

lugares pouco ocupados no estado do Amazonas com destaque para os municiacutepios de Apuiacute

a Laacutebrea

O atual municiacutepio de Apuiacute foi um dos primeiros municiacutepios amazonenses a partir da

segunda metade do seacuteculo XX a sofrer pressatildeo ambiental atraveacutes do desmatamento e da

grilagem de terras para a fixaccedilatildeo de novos moradores na regiatildeo oriundos de outros estados

brasileiros

Outro municiacutepio a sentir os primeiros impactos do desmatamento na regiatildeo foi o

municiacutepio de Humaitaacute no sul do Estado do Amazonas pois para efetivar o

ldquodesenvolvimentordquo da regiatildeo sudoeste do Amazonas o Governo Federal fundou o Projeto

de Assentamento Rio Juma atraveacutes do decreto lei nordm 238 de agosto de 1982 tendo como

objetivo principal assentar 7500 famiacutelias recrutadas principalmente da Regiatildeo Sul do Brasil

(LEAL 2010)

Sobre isso Soares apud Leal (2010) afirma que

[] o objetivo definido no projeto de implantaccedilatildeo [do Projeto de Assentamento Rio Juma] era constituir-se e alternativa para absorver o fluxo migratoacuterio proveniente de Rondocircnia e do Acre atraveacutes da BR-319 [] onde se liga agrave rodovia Transamazocircnica Esse Projeto serviria como lsquoinstrumento de ordenaccedilatildeo de ocupaccedilatildeo de terras do Amazonas evitando instruccedilotildees e posses desordenadasrsquo E pressupunha lsquoa expansatildeo da fronteira agriacutecola a criaccedilatildeo de novos empregos aleacutem e contribuir para auto suficiecircncia regional de gecircneros alimentiacutecios de primeira necessidadersquo (SOARES apud LEAL 2010 p10)

Ainda segundo Leal (2010)

Estima-se que logo nos primeiros anos do Projeto cerca de 2600 famiacutelias tenham sido assentadas das quais apenas 40 permaneceram no assentamento Da criaccedilatildeo do projeto em 1982 ateacute o ano de 2005 estima-se que foram assentados 61334 famiacutelias no total mas destas apenas 503 receberam o tiacutetulo definitivo da terra (MDAINCRA apud LEAL 2010 p11)

Durante os anos que se seguiram novos migraccedilotildees chegaram anualmente agrave regiatildeo se

fixando no entorno do Projeto de Assentamento Rio Juma com os anos que se seguiram e o

crescimento da populaccedilatildeo os problemas foram sendo agravados diante disso surgiram

movimentos espontacircneos de agricultores reivindicando junto ao Governo do Estado do

168

Amazonas a fundaccedilatildeo de um municiacutepio na regiatildeo E atraveacutes da lei nordm 1826 de 30 de

Dezembro de 1987 eacute criado o municiacutepio de Apuiacute com aacuterea de 54240 kmsup2 (LEAL 2010)

Aacute medida que os ldquoparceleirosrdquo iam transformando a natureza adequando-a aos seus propoacutesitos esta ia lhes impondo adequaccedilotildees Este era um processo e produccedilatildeo de conhecimento a partir da vivecircncia praacutetica cotidiana que ia moldando o comportamento dos agricultores aos limites impostos pelo meio Uma das primeiras descobertas que vinha acompanhada de certa decepccedilatildeo era o fato de que em um lote de 100 hectares no [Projeto de Assentamento Rio Juma] natildeo garantia da forma desejada pelos ldquoparceleirosrdquo a reproduccedilatildeo social e econocircmica da famiacutelia (LEAL 2010 p 13)

Desta forma os parceleiros ou posseiros como ficaram conhecidos este

agricultores na regiatildeo Amazocircnica se viram obrigados a buscar nova fonte de renda optando

em grande maioria pela pecuaacuteria desde entatildeo

Outro municiacutepio foi Laacutebrea que segundo Heck et al (2013 p10) eacute resultado do

ldquoprocesso de expansatildeo da economia da borracha no rio Purusrdquo Embora isso tenha levado

um raacutepido crescimento populacional agrave regiatildeo fruto das incontaacuteveis migraccedilotildees que a regiatildeo

recebeu com a queda da borracha e os seringueiros restantes migrando para as cidades o

municiacutepio passa a enfrentar graves problemas econocircmicos e sociais e para piorar na

segunda metade do seacuteculo XX passa a sofrer com epidemias o que veio a intensificar os

processos de migraccedilatildeo em direccedilatildeo agraves cidades ldquoPor conta disso enquanto o censo de 1950

apontava [] uma populaccedilatildeo era de 23353 habitantes e no censo de 1970 a populaccedilatildeo

despencou para 16798 habitantesrdquo (HECK et al 2013 p10)

Com o inicio das obras de construccedilatildeo da rodovia Transamazocircnica (1972) e a

veiculaccedilatildeo no raacutedio de terras disponiacuteveis na Amazocircnia para homens sem terras surgem

novamente intensas migraccedilotildees para a regiatildeo oriundas de todas as partes do Brasil por esta

razatildeo o censo demograacutefico do municiacutepio de Laacutebrea de 1980 contabilizou a populaccedilatildeo em

22026 habitantes (IBGE 1980) um aumento de 12 da populaccedilatildeo que continuou a crescer

nas deacutecadas seguintes como mostra a (Tabela 10)

169

Tabela 10 Crescimento Populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas

Ano Populaccedilatildeo de aumento da Populaccedilatildeo

1970 16798 -

1980 22026 12

1990 33050 17

2000 28956 6

2010 37701 11

Fonte IBGE - Censo Demograacutefico (1970 1980 1990 2000 2010)

Tamanho contingente populacional migrou para a regiatildeo desta vez natildeo para

trabalhar na retirada do laacutetex mas para cultivar as terras com destaque para a produccedilatildeo de

alimentos divididos em dois grupos segundo a SEPLAN (20092012 p5) ldquo[] as culturas

temporaacuterias destacam-se mandioca abacaxi arroz batata doce cana de accediluacutecar feijatildeo

fumo e milho Entre as culturas permanentes ressaltam-se banana laranja e limatildeordquo

Todavia o municiacutepio tambeacutem se destaca na pecuaacuteria com a criaccedilatildeo bovina

bubalina ovino suiacuteno estimada em 288793 mil cabeccedilas (SEPLAM 20092013)

Apesar disso os 212 km que separam Laacutebrea de Humaitaacute ainda se encontram

somente em terra ldquobatidardquo (Figura 56) assim como todo o seu percurso no estado do

Amazonas Torna-se praticamente impossiacutevel trafegar pela Transamazocircnica no inverno e

escoar a produccedilatildeo agriacutecola dos municiacutepios entre se ou para a capital mais proacutexima que no

caso de Humaitaacute eacute Porto Velho-RO (pela BR-319) ou no caso de Laacutebrea para Rio Branco-AC

(pela BR-317)

170

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica Fonte Rey (1 de Marccedilo 2012)

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute- RR) DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI

A BR-174 foi construiacuteda com o objetivo de ligar a capital do Estado do Amazonas

Manaus a cidade de Cacaraiacute em Roraima e posteriormente a Venezuela (Figura 57)

171

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174 Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Entre as estradas jaacute construiacutedas no Estado do Amazonas a BR-174 merece

destaque pois ao contraacuterio das demais a sua construccedilatildeo resultou em milhares de mortes

chegando ateacute mesmo a ser considerada um genociacutedio praticado por militares contra a

populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari que antes da construccedilatildeo da rodovia ocupavam o norte

da cidade de Manaus - AM e se entendiam ateacute a cidade de Caracaraiacute em Roraima

Segundo Amazonas (2012) a primeira contagem da populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri

Atroari feita em 1905 pelos pesquisadores alematildees Georg Hunbner e Theodor Koch-

Grunberg contabilizaram 6000 mil indiviacuteduos Outra contagem dessa populaccedilatildeo somente

voltou a ser feita 63 anos depois da primeira em 1968 pelo padre Joatildeo Calleri a serviccedilo da

FUNAI que os contabilizou em 3000 mil indiviacuteduos

Nuacutemero que se repetiu em pesquisa mais minuciosa de funcionaacuterios do mesmo

oacutergatildeo em 1972 Menos de dois anos apoacutes sem notiacutecias sobre alguma grave

epidemia a FUNAI jaacute os estimava em menos de 1000 Em 1983 o pesquisador da

UNB Stephen Grant Baines percorrendo todas as aldeias contabilizou apenas 332

pessoas sobreviventes dos quais 216 eram crianccedilas ou jovens com menos de 20

anos Foi o primeiro censo dos Waimiri-Atroari (AMAZONAS 2012)

172

Sem informaccedilotildees ou notiacutecias de epidemias ou graves doenccedilas entre a populaccedilatildeo

indiacutegena Waimiri-Atroari como explicar o decreacutescimo da populaccedilatildeo ao longo de sessenta e

trecircs anos entre a primeira contagem e a segunda da populaccedilatildeo indiacutegena demonstrada na

Tabela 11

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari de 1905 a 2011

Ano Populaccedilatildeo Fonte 1905 6000 HUumlBNER Georg e KOCH-GRUNBERG Theodor 1968 3000 CALLERI Joatildeo Giovanni (Pe) ndash FUNAI 1972 3000 FUNAI 1974 6001000 COSTA Gilberto Pinto Figueiredo ndash FUNAI 1982 571 CRAVEIRO Giusepe ndash FUNAI 1983 350 FUNAI 1983 332 BAINES Stephen Grant ndash Museu Emilio Goeldi 1987 420 SILVA Marcio ndash UNICAMP 1991 505 Programa Waimiri-Atroari - ELETRONORTE 2011 1515 Programa Waimiri-Atroari ndash ELETROBRAS

Sobre isso Carvalho (1982) destaca atraveacutes de uma retrospectiva histoacuterica o

contato dos brancos com os iacutendios Wamiri Atroari a partir do seacuteculo XVII sempre baseado

em trocas e ldquoconflitosrdquo quando homens brancos invadiam suas terras e incendiavam aldeias

inteiras matando todos os iacutendios sem distinccedilatildeo e atirando nos que tentavam escapar

Carvalho (1982) relata ainda que na primeira deacutecada do seacuteculo XX incontaacuteveis

expediccedilotildees penetraram as terras indiacutegenas Waimiri Atroari em busca das castanheiras pois

naquele periacuteodo seu fruto a castanha da Amazocircnia alcanccedilou preccedilos inimaginaacuteveis

motivando um grande segmento da sociedade civil agrave invadir as terras indiacutegenas em busca do

fruto

Os governos do Estado do Amazonas sempre visando a economia do estado e de

grupos poliacuteticos dominantes permitiam e ate mesmo determinavam a invasatildeo das

terras dos iacutendios Waimiri Atroari provocando assim seacuterios atritos entre os

coletores de castanha e iacutendios

O primeiro encarregado do Posto lndiacutegena de Atraccedilatildeo do Serviccedilo de Proteccedilatildeo aos

Iacutendios mdash SPI foi o Sr Gregoacuterio Horta cuja unidade administrativa foi instalada no

rio Jauaperi no lugar denominado Mahaua Sr Gregoacuterio tatildeo logo assumiu suas

funccedilotildees procurou impedir por todos os meios possiacuteveis a invasatildeo do territoacuterio

indiacutegena Waimiri Atroari Entretanto pouco pode fazer pois os comerciantes

apoiados pelos poliacuteticos de Manaus burlavam as ordens de natildeo o invadirem a terra

dos iacutendios (CARVALHO 1982 p17)

Fonte 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio do Povo Waimiri-Atroari

173

Mesmo com a tentativa de proibir as invasotildees das terras indiacutegenas de todas as

maneiras possiacuteveis a Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio- SPI pouco se conseguiu para minimizar

os conflitos que por sua vez tornaram-se frequentes com grande nuacutemero de mortes o que

levou o governo do estado do Amazonas a aprovar o Decreto Lei nordm 9941 de 16 de Outubro

de 1917 que concedia aos iacutendios Waimiri Atroari as terras situadas a 50km ajusante dos rios

Jauapari e Camanau (CARVALHO 1982) Expulsando os iacutendios para o norte e os tirando de

suas proacuteprias terras para destinaacute-las agrave exploraccedilatildeo de castanha O que a princiacutepio seriam

ldquobomrdquo para os dois lados pois minimizaria os confrontos tornou-se insuficiente pois as

invasotildees continuaram adentrando as terras indiacutegenas gerando novos confrontos cada vez

mais violentos e com mais mortes Apesar disso a coleta da castanha da Amazocircnia somente

aumentava a produccedilatildeo a cada ano levando os coletores a iniciarem verdadeiras caccediladas

aos iacutendios que consistia em atirar para matar todos os iacutendios que fossem vistos na floresta

de formar a manter seguro os coletores (CARVALHO 1982)

Com os conflitos fora de qualquer forma de controle e o assassinato do diretor do

Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio sr Luiacutes Joseacute pelos invasores das terras indiacutegenas o SPI foi

obrigado a se retirar das terras indiacutegenas deixando os iacutendios a mercecirc da proacutepria sorte para

onde soacute retornariam na deacutecada de 1940 (CARVALHO 1982)

Amedrontados com os massacres infringidos por homens brancos dentro de suas

proacuteprias terras durante quase cinquentas anos os iacutendios mataram o tenente americano

Walter Willianson e sargento Baitz do ldquo4th Photo Charting Squadronrdquo em 1944

[]que pretendiam realizar uma expediccedilatildeo pelos rios Jauaperi e Alalau ateacute as

proximidades da cachoeira conhecida como a cachoeira criminosa (Rio Alalau) com a finalidade de realizar naquela regiatildeo observaccedilotildees astronocircmicas atendendo acordos celebrados entre o governo brasileiro e governo dos Estados Unidos da America (CARVALHO 1982 p 21)

Apoacutes este confronto com mortes muitos outros se seguiram contudo natildeo tatildeo

divulgados como esse Embora agrave primeira vista nada tenha a ver com o ocorrido a Empresa

de Mineraccedilatildeo Taboca iniciou suas pesquisas mineraloacutegicas na mina de Pitinga (no centro

das terras indiacutegenas) no inicio de 1960 onde mais tarde comeccedilou a retirada de estanho

(SILVA 2011) posteriormente de cassiterita entre outros produtos minerais

No mesmo periacuteodo iniciou-se a preocupaccedilatildeo de ligar definitivamente a capital

Manaus-AM agrave cidade de Boa Vista-RR ateacute entatildeo isolada embora outras tentativas de ligar

174

as duas cidades por via terrestre jaacute tenham sido realizadas sem muito ecircxito como descreve

Carvalho (1982)

Os trabalhos de construccedilatildeo da estrada (ligando Manaus a Boa Vista) foram iniciados em 31 de novembro de 1893 e concluiacutedos em 13 de janeiro de 1895 A construccedilatildeo da estrada foi feita em 14 meses medindo 815 km e 419 metros Foram cravados em toda sua extensatildeo 816 marcos de um metro de altura A estrada tinha uma largura que variava de 05 a 08 metros Atravessava 9 rios e 734 igarapeacutes Natildeo se tem nenhum registro de incidentes graves envolvendo trabalhadores da estrada e os iacutendios habitantes na regiatildeo onde a estrada passou Entretanto em pouco tempo a vegetaccedilatildeo cresceu e a estrada ficou novamente intransitaacutevel (CARVALHO 1982 p 61)

Ainda segundo Carvalho (1982)

O ministeacuterio do transporte atraveacutes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens- DNER antes do iniacutecio da construccedilatildeo da estrada propriamente dita preocupado apenas em evitar que os trabalhos da estrada viessem a ser interrompidos pelos iacutendios Waimiri Atroari procurou a Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio- FUNAI e praticamente exigiu que aquele oacutergatildeo fizesse o mais raacutepido possiacutevel a ldquopacificaccedilatildeordquo daqueles iacutendios no menor espaccedilo de tempo para quando os trabalhadores da construccedilatildeo da rodovia atingissem a regiatildeo ocupada pelos iacutendios esses jaacute estivessem ldquomansosrdquo e ateacute viessem a colaborar como matildeo de obra da construccedilatildeo da estrada (CARVALHO 1982 p 62)

O que claramente seria impossiacutevel conseguir em tatildeo curto espaccedilo de tempo apagar

as longas deacutecadas de perseguiccedilatildeo infringidas pelos brancos

Segundo Amazonas (2012 p23)

O Coronel Mauro Carijoacute Diretor do DERAM (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Amazonas) em carta agrave PETROBRASEscritoacuterio de Beleacutem de 30 de julho de 1967 solicitou ldquoinformaccedilatildeo sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboraccedilatildeo de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonasrdquo(AMAZONAS 2012 p23)

Naquele mesmo ano iniciam-se as obras de construccedilatildeo da BR-174 sob

responsabilidade do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado do Amazonas-DER-

AM permanecendo sob supervisatildeo do Departamento Nacional de Estrada de Rodagens ndash

DNER (CARVALHO 1982)

Por falta de recursos financeiros a construccedilatildeo da rodovia foi suspensa

temporariamente sendo retomada no final de 1969 e inicio de 1970 jaacute sobe

responsabilidade do 29ordm Grupamento de Engenharia e Construccedilatildeo e o 69ordm Batalhatildeo de

Construccedilatildeo do Exeacutercito Brasileiro o que veio a intensificar ainda mais os ldquoconflitosrdquo entre

brancos e iacutendios

175

Amazonas (2012) relata a entrevista do general Arruda comandante do 6ordm Batalhatildeo

de Engenharia e Construccedilatildeo- BEC ao Jornal Estado de Satildeo Paulo em 21 de Janeiro de 1975

O general declarou

[] a estrada eacute irreversiacutevel como eacute a integraccedilatildeo da Amazocircnia ao paiacutes A estrada eacute importante e teraacute que ser construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos mudar o seu traccedilado que seria oneroso para o Batalhatildeo apenas para pacificarmos primeiro os iacutendios A transferecircncia eacute viaacutevel e coerente nas condiccedilotildees em que os fatos se apresentam Os iacutendios continuaratildeo matando sejam trabalhadores do BEC sejam da Funai Por que natildeo levaacute-los ao Parque Nacional do Xingu Laacute natildeo existem cerca de 14 tribos vivendo pacificamente Manaus-Caracaraiacute seraacute construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos parar os trabalhos apenas para que a Funai complete a atraccedilatildeo dos iacutendiosrdquo (AMAZONAS 2012 p42)

Um ano antes em 1974 os iacutendios jaacute foram contabilizados entre 600 e 1000

indiviacuteduos segundo a contagem de Gilberto Costa funcionaacuterio da FUNAI (AMAZONAS 2012)

O principal impacto natildeo soacute aos iacutendios mas agrave biodiversidade da Amazocircnia ainda

estava por vir Expulsos de suas terras ajusante do Rio Alalauacute e Uatumatilde os iacutendios Waimiri

Atroari se viram obrigados a recuar abandonando o seu territoacuterio original Com o recuo dos

iacutendios remanescentes em sua maioria mulheres idosas e crianccedilas de colo seu antigo

territoacuterio passa a ser ocupado por grileiros e empresas madeireiras que viriam a ser um dos

responsaacuteveis pelas grandes mudanccedilas empreendidas na paisagem amazocircnica

Com a decisatildeo do Governo Federal de instalar usinas hidreleacutetricas na Amazocircnia a

partir da deacutecada de 1970 cogitou-se a possibilidade de o rio Uatumatilde ser ldquobeneficiadordquo

embora natildeo detenha as caracteriacutesticas miacutenimas necessaacuterias para a construccedilatildeo de uma

hidreleacutetrica em seu percurso Natildeo se sabe ao certo os motivos que levaram agrave construccedilatildeo da

hidreleacutetrica embora infinitas possibilidades tenham sido levantadas no periacuteodo Entre elas

ldquo[] a necessidade de prover energia para os entatildeo Polos de Desenvolvimento que

priorizava 15 aacutereas na Amazocircnia sendo uma delas a regiatildeo de Manausrdquo (PAZ 2006 p172)

Sobre isto Fearnside (1990c) destaca

A decisatildeo foi tomada no momento em que o preccedilo do petroacuteleo estava no seu pico mais alto e quando a tecnologia de transmissatildeo de energia a longa distacircncia natildeo era tatildeo bem desenvolvida quanto agora Estes fatos acrescidos das subestimativas grosseiras do crescimento da populaccedilatildeo e da demanda de energia em Manaus satildeo as explicaccedilotildees oficiais para a decisatildeo inicial que a ELETRONORTE admite natildeo teria sido justificaacutevel se os acontecimentos da uacuteltima deacutecada (80) tivessem sido conhecidos de antematildeo (FEARNSIDE apud LOPES 1990c p14)

176

Fearnside (1990c) afirma ainda que outra motivaccedilatildeo por traacutes da construccedilatildeo de

ldquoBalbina envolve a indenizaccedilatildeo que os donos das terras receberiam Mapas da Eletronorte

indicam que com exceccedilatildeo das terras tomadas da tribo Waimiri Atroari quase toda a aacuterea do

projeto pertence a particularesrdquo (FEARNSIDE 1990c p16)

No inicio da deacutecada 70 diversos projetos de mapeamento geomorfoloacutegicos viriam a

detectar potencial mineraloacutegico na regiatildeo com destaque para o Projeto RADAMBRASIL

(1970) pioneiro no mapeamento em escala de 11000000 Projeto Norte da Amazocircnia

Domiacutenio do Baixo Rio Negro (1974) O projeto Estanho de Abonari (1976) seria o primeiro a

direcionar os estudos agrave regiatildeo e por uacuteltimo Projeto Sulfetos do Uatumatilde (1979) (CPRM 1998)

desvendaria todos os tipos de mineacuterios disponiacuteveis na bacia do rio Uatumatilde e seus afluentes

o que determinaria o futuro da regiatildeo Motivo popularmente mais aceito para a construccedilatildeo

da hidreleacutetrica de Balbina pois facilitaria a extraccedilatildeo de mineacuterios da aacuterea especialmente a

cassiterita (estanho) (FEARNSIDE 1990c p15)

Apesar de estudos ambientais para a construccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Ballbina terem

sido iniciados em 1979 natildeo serviam de base para a decisatildeo jaacute tomada da implantaccedilatildeo da

obra apesar dos estudiosos se mostrarem abertamente contra a obra faraocircnica (PAZ 2006)

Com o Decreto Presidencial nordm 85898 de 13 de abril de 1981 desapropriando uma

aacuterea de 1034490kmsup2 tem inicio a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de Balbina (PAZ 2006

p176)

Com o inicio do Projeto Pitinga (do Grupo Paranapanema a montante da Usina

Hidreleacutetrica de Balbina para a retirada de cassiterita) em 1980 iniciam-se tambeacutem as

pressotildees sobre o Ministeacuterio do Interior de forma a conseguir a reduccedilatildeo novamente da

Reserva Indiacutegena alcanccedilada pelo Decreto Lei nordm 86630 de 23 de novembro de 1981 que

perde 526800ha (PAZ 2006 p178) para a exploraccedilatildeo mineral da Mineradora Taboca

(Grupo Paranapanema)

Segundo Fearnside (1990c)

Devido aos impactos sobre os Waimiri-Atroari impliacutecito nos planos para Balbina a Franccedila e o Brasil foram acusados de genociacutedio no Quarto Tribunal Bertrand Russel em Rotterdam na Holanda em novembro de 1980 Severos como os impactos do reservatoacuterio a sua classificaccedilatildeo como ldquogenociacutediordquo foi provavelmente influenciada mais pelos massacres associados aacute atividades (brasileiras) de construccedilatildeo rodoviaacuteria no territoacuterio da tribo durante a eacutepoca em que Balbina estava em fase de planejamento em especial em 1974 - 1975 (FEARNISIDE 1990c p33)

177

Foi agrave Franccedila o primeiro paiacutes a contribuir com financiamento para construccedilatildeo da

Hidreleacutetrica de Balbina e o fornecimento de suas duas primeiras turbinas Apesar da

descoberta do ouro na aacuterea que seria inundada pouco foi feito para frear a sua construccedilatildeo

pois segundo o ldquoDepartamento de Produccedilatildeo Mineral natildeo foi encontrada nenhuma grande

jazidardquo (FEARNSIDE 1990c p16)

Sobre a aacuterea a ser inunda pela Usina Hidreleacutetrica de Balbina Baines (2012) descreve

que haacute poucos meses antes da inundaccedilatildeo e do fechamento das comportas da empresa foi

feito um relatoacuterio de impacto ambiental destacando as aacutereas e as benfeitorias que existiam

nas terras casas galinheiros casas de farinha plantaccedilotildees de bananeiras entre outras

culturas (BAINES 2012) que seriam inundadas dentro da reserva indiacutegena original quando

as comportas fossem fechadas em outubro de 1987

Com o fechamento das comportas prestes a acontecer a Eletronorte e a Funai

entraram em acordo atraveacutes da adoccedilatildeo de medidas mitigadoras que consistiam em criar

um programa chamado Programa Waimiri Atroari PWAIFE que tivesse como objetivos

recompensar os iacutendios da etnia Waimiri Atroari pela perda de suas terras (PAZ 2006)

Sobre isso Baines (1993) destaca que o programa Programa-Waimiri conseguiria

significativos benefiacutecios agrave populaccedilatildeo indiacutegena principalmente na aacuterea da sauacutede e na

homologaccedilatildeo de terras

Ainda sobre a inundaccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Balbina Fearnside (1990c) aponta

A perda da floresta eacute um dos principais custos de grandes represas como Balbina A aacuterea prejudicada eacute muito maior que os 2360kmsup2 realmente inundados jaacute que a inclusatildeo de ilhas aproximadamente duplica a aacuterea afetada Apesar da promoccedilatildeo pela ELETRONORTE das ilhas como tendo ldquocondiccedilotildees de vida para animais e plantas [] sabe-se que uma floresta dividida em pequenos fragmentos perde muitas espeacutecies de animais e plantas aacute medida em que os pedaccedilos isolados de floresta se degradamrdquo (FEARNSIDE apud LOVEJOY et al 1990c p26)

Fearnside (1990c) vai aleacutem ao afirmar que natildeo se sabe ao certo o tamanho da aacuterea

que foi inundada devido agraves informaccedilotildees serem baseadas em fotografias aeacutereas onde as

fotos registram o niacutevel da copa das aacutervores e natildeo o chatildeo por debaixo delas ldquojaacute que uma

parte significativa da represa teraacute apenas um ou dois metros de profundidade erros desta

grandeza podem facilmente alterar o resultado finalrdquo (FEARNSIDE 1990c p26)

Inaugurada parcialmente em outubro de 1987 a Usina Hidreleacutetrica de Balbina teve

somente uma turbina ligada o que natildeo impediu que houvesse mortandade de peixes em

178

grande quantidade ajusante da mesma principalmente provocada pela aacutegua carregada de

gaacutes metano e resiacuteduos em decomposiccedilatildeo das aacutervores natildeo retiradas de dentro da barragem

Sobre isso Fearnside (1990c) relata ainda que foram submersos 288msup3 de

madeira nobre por hectare um total calculado em 68 milhotildees de msup3 de madeira na aacuterea de

2360kmsup2 do reservatoacuterio ficaram apodrecendo na aacutegua

Baldisseri (2005) vai aleacutem comparando o tamanho do reservatoacuterio de Balbina ao de

reservatoacuterio da Usina Hidreleacutetrica de Tucuruiacute

[] cuja capacidade nominal eacute de 8 mil MW o que significa que Balbina sacrificou 31 vezes mais floresta por MW de capacidade de geraccedilatildeo instalada quando comparada agravequele Aleacutem disso o reservatoacuterio de Balbina alagou cerca de 240 mil ha de floresta tropical contendo siacutetios arqueoloacutegicos e parte da reserva indiacutegena dos Waimiri-Atroari (BALDISSERI 2005 p1435)

Ainda continua destacando a pouca declividade do lago de Balbina que ocupa uma

aacuterea de 2360kmsup2 mas

[]apresenta uma profundidade meacutedia de 7 m chegando a menos de 4 m em cerca de 33 de sua aacuterea total Nesta extensa aacuterea de aacuteguas rasas haacute a sustentaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo aquaacutetica enraizada no fundo que adicionada ao problema de macroacutefitas flutuantes afeta toda a represa aumentando os iacutendices de perda de aacutegua por evapotranspiraccedilatildeo (BALDISSERI 2005 p1436)

Apoacutes a sua inauguraccedilatildeo outros problemas se seguiram entre eles a lenta subida das

aacuteguas dentro da barragem em parte por causa da pouca declividade do terreno em parte

pela evapotranspiraccedilatildeo Sendo a segunda turbina ligada somente dois anos depois da

inauguraccedilatildeo em 1989

No mesmo ano a populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atrori teve suas terras demarcadas

definitivamente (FIGURA 58)

179

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180

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO

A rodovia BR-319 foi instituiacuteda pelo Decreto Lei nordm 1106 de marccedilo de 1970 como

parte do Plano Nacional de Viaccedilatildeo que tinha como prioridade maacutexima a integraccedilatildeo

nacional

A BR-319 ligaria por via terrestre as cidades de Manaus-AM a Porto Velho-RO

facilitando assim o escoamento da produccedilatildeo da Zona Franca de Manaus ndash ZFM criada pelo

Decreto Lei nordm 288 de 29 de Fevereiro de 1967 que estabelecia incentivos fiscais por trinta

anos para a implantaccedilatildeo de um polo industrial comercial e agropecuaacuterio no estado do

Amazonas (SUFRAMA 1996)

No mesmo ano de 1967 por meio do Decreto-Lei nordm 291 o Governo Federal define a Amazocircnia Ocidental tal como ela eacute conhecida abrangendo os Estados do

Amazonas Acre Rondocircnia e Roraima A medida visava promover a ocupaccedilatildeo dessa regiatildeo e elevar o niacutevel de seguranccedila para manutenccedilatildeo da sua integridade Um ano

depois em 15 de agosto de 1968 por meio do Decreto-Lei Nordm 35668 o Governo Federal estendeu parte dos benefiacutecios do modelo ZFM a toda a Amazocircnia

Ocidental (SUFRAMA 1996)

Desse modo se fazia extremamente importante interligar o estado do Amazonas e

promover a sua ocupaccedilatildeo nada melhor do que ligaacute-lo por via terrestre ao estado de

Rondocircnia que por sua vez sofria uma grande explosatildeo populacional causada pela

ldquoimplantaccedilatildeo da rodovia Cuiabaacute ndash Porto Velho (BR-364) com traacutefego permanente a partir de

1968 e as notiacutecias das disponibilidade de terras provocaram uma mudanccedila niacutetida no fluxo

migratoacuteriordquo (CUNHA 2009 p12)

Com a publicaccedilatildeo do Decreto Lei de nordm 5173 de outubro de 1966 no qual o

governo federal considerava indispensaacutevel a seguranccedila e ao desenvolvimento nacional as

terras situadas na faixa de 100km de largura em cada lado do eixo rodoviaacuterio construiacutedo ou

planejado na Amazocircnia Legal deveriam ser ocupadas (revogado pelo Decreto Lei nordm 2375

de 1987) (FEARNSIDE 2009d)

Sobre o fluxo migratoacuterio Cunha (2009) destaca

No cocircmputo geral os maiores contingentes migratoacuterio no dececircnio 196070 procedeu do Amazonas do proacuteprio territoacuterio do Mato Grosso do Acre e do Paranaacute Os deslocamentos dentro do territoacuterio se devem a procura de aacutereas de solos melhores e mais bem servidas de transportes com preferecircncia para as situadas ao longo da BR-364 Segundo os dados censitaacuterios a entrada de migrantes

181

no periacuteodo 195060 foi considerada de 23156 O maior contingente procedeu da Amazocircnia com 12873 migrantes entre os quais Amazonas com 8147 nordeste com 5693 dos quais 4439 cearenses Entre as transformaccedilotildees ocorridas na economia regional deve ser considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura devido a criaccedilatildeo das colocircnias agriacutecolas pelo governo abastecimento das cidades de Porto Velho e Guajaraacute Mirim (CUNHA 2009 p15)

Rodrigues (2013) evidecircncia

[] Rondocircnia foi outro estado profundamente impactado ou melhor mais beneficiado com o forte processo migratoacuterio ocorrido Na Tabela 7 estaacute demonstrado todo o crescimento demograacutefico dos estados do Norte a partir dos anos 50 elucidando como esses impactos foram sentidos em todas as unidades federativas da regiatildeo no entanto de forma diferenciada entre eles (RODRIGUES 2013 p118)

O autor afirma isto baseado no crescimento populacional da regiatildeo norte entre os

anos 1950 e 2010 (Tabela 12)

182

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11

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183

Rodrigues apud Benchimol (2012) descreve que

[] as correntes migratoacuterias que se dirigiram para Rondocircnia tiveram especifica motivaccedilatildeo assentamento agriacutecola nos projetos de colonizaccedilatildeo do INGRA voltados para a pequena e meacutedia propriedade familiar [] Por fim o estado do Amazonas teve senatildeo um uacutenico ao menos hegemocircnico chamariz migratoacuterio a criaccedilatildeo da Zona Franca de Manaus em 1967 (RODRIGUES apud BENCHIMOL 2013 p120)

Todavia no caso ligar Porto Velho agrave Manaus os esforccedilos satildeo anteriores a instalaccedilatildeo

da Zona Franca de Manaus pois ldquoEm 1955 o DER-AM (Departamento de Estrada e Rodagem

do Amazonas) realizou o projeto geomeacutetrico de 193km da rodovia entre Porto Velho e

Humaitaacute e trecircs anos depois foi realizado o serviccedilo de desmatamento no trecho com largura

de 60 metrosrdquo (UFAM2009 vol1 p29) Faltando somente o trecho Humaitaacute ndash Manaus

para completar uma rodovia ligando Manaus aos outros estados da regiatildeo centro oeste e ao

sul do paiacutes o que soacute viria a ser colocado em praacutetica quando a responsabilidade dessa

construccedilatildeo fosse delegada ao estado o que ocorreu em 1966 cabendo

ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-AM) o controle e a fiscalizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia BR-319 graccedila a um termo de convecircnio celebrado com o Ministeacuterio dos Transportes e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem ndash DNER (UFAM 2009 vol1 p29)

Sobre isso DNIT apud UFAM (2009) afirmam que ldquoem 06 de maio de 1968 o DER-

AM firmou dois contratos com a construtora Andrade Gutieacuterrez SA para a execuccedilatildeo de

obras de implantaccedilatildeo baacutesica da rodovia nos sub trechos Careiro da Vaacuterzea e o Rio Matuperi

(326km) e do rio Matuperi a Porto Velho (426 km) (UFAM2009 vol1 p30)

Em entrevista com os moradores da Comunidade da Bela Vista o Sr Silva (77 anos)

disse ter trabalhado na construccedilatildeo da BR-319

[] em 1970 daqui do Careiro do outro lado ateacute leacutem baixo perto de Miracena eu trabalhava no trator eu e o outro colega iamos na frente com a corrente durrubando a floresta dando o abraccedilo da morte era um barrulho muito alto muita gente que trabalhava laacute dizia que era a floresta chorando pois tava caindo Era cada aacutervore grande bonita mas a gente piatildeo tinha que botar no chatildeo eu fazio o que me mandavam Nunca comi tanta caccedila como comi na construccedilatildeo da estrada era bom e triste ao mesmo tempo eu natildeo sei explicarrdquo ( SILVA 77 ANOS)

O entrevistado refere-se agrave teacutecnica utilizada na derrubada da floresta para a

construccedilatildeo da rodovia que consistia de dois tratores relativamente afastados mas

paralelos que arrastavam uma gigantesca corrente de ferro fundido que por sua vez era

pressionado contra o tronco das aacutervores derrubando as mesmas no traccedilado da rodovia

184

teacutecnica popularmente conhecida na regiatildeo como ldquoAbraccedilo da Morterdquo Ao mesmo tempo o Sr

Silva mostrou-se ressentido por ser obrigado a derrubar a floresta ldquoEra cada aacutervore grande

bonita mas a gente piatildeo tinha que fazer o que me mandavamrdquo(SILVA 77 ANOS)

Ainda sobre a construccedilatildeo o Sr Silva (77 anos) disse

natildeo tinha piatildeo que aguentasse muito tempo trabalhando laacute de dia era o choro das aacutervores caindo no chatildeo dava muita tristeza vecirc doiacutea ateacute o coraccedilatildeo de noite eram os bichos da floresta gritando as onccedilas passando ainda mais quando sumia gente e a gente que ficava natildeo encontrava nem o chinelo para contar histoacuteria dava muito medo Isso sem falar quando botava pra chover chovia muito muito tinha ateacute que cobrir o asfalto com uma lona e a lama que ficava era horriacutevel (SILVA 77 ANOS)

Para Fearnside (2009d) a pressa era tanta de se terminar a BR-319 que a rodovia

foi pavimentada imediatamente na hora da construccedilatildeo que por final foi construiacuteda na

estaccedilatildeo chuvosa ldquocom a extraordinaacuteria praacutetica de proteger o asfalto fresco com lonas de

plaacutesticordquo (FEARNSIDE 2009d p20)

Em 1970 uma ediccedilatildeo especial do Jornal do Comercio anunciava que o trecho Porto Velho ndash Humaitaacute jaacute apresentava condiccedilotildees de traacutefego enquanto o trecho Humaitaacute ndash Manaus estava com o desmatamento completo e boa parte da terraplanagem estava realizada A cargo da construtora Andrade Gutierrez as obras caminhavam e a expectativa com a conclusatildeo dos trabalhos era chegar ao ldquotermo final do longo isolamento em que esteve nosso Estado sem ligaccedilatildeo rodoviaacuteria com o centro-sul do paiacutes abrindo ao Amazonas amplas perspectivas de desenvolvimentordquo A despeito de todas as expectativas as dificuldades natildeo eram despreziacuteveis e os prazos contratuais natildeo foram cumpridos a despeito da forte pressatildeo do governo federal para a conclusatildeo urgente da obra (UFAM 2009 vol1 p30)

A rodovia BR-319 somente foi inaugurada ldquoem 27 de marccedilo de 1976

completamente pavimentada garantindo traacutefego faacutecil com tempo de viagem de Manaus agrave

Porto Velho estimado em 12 horasrdquo (UFAM 2009 vol1 p30) Uma estimativa longa se

comparada ao tamanho da rodovia que eacute de 87740km Todavia eacute justificaacutevel pois a mesma

apresentava 19 cursos drsquoaacuteguas de diferentes larguras e profundidades (UFAM 2009 RIMA

p10) Na maioria dos cursos drsquoaacutegua foram construiacutedas pontes de madeira em outros cursos

maiores as travessias eram feitas por pequenas balsas (Figura 59)

185

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319 Fonte EIA-RIMA Relatoacuterio FINAL (UFAM 2009)

Com ausecircncia de manutenccedilatildeo nos anos que se seguiram agrave sua inauguraccedilatildeo a

rodovia BR-319 comeccedilou a se deteriorar Primeiramente as pontes construiacutedas de madeira

retiradas da proacutepria floresta sobre os cursos drsquoaacutegua foram se deteriorando e pouco tempo

depois o asfalto

A camada fina de asfalto na BR-319 se tornou uma seacuterie quase contiacutenua de buracos que satildeo ambos mais difiacuteceis de consertar e mais danosos aos veiacuteculos do que seria o caso de uma estrada sem pavimento Muito da rota teve que ser desviado para trilhas temporaacuterias ao lado da estrada mais do que o proacuteprio leito da rodovia (FEARNSIDE 2009 p22)

Isso sem levar em conta que na deacutecada de 70 a produccedilatildeo da Zona Franca de

Manaus foi exportada de forma mais barata por meio de navios e ateacute por via aeacuterea

(FEARNSIDE 2009d)

Apesar das precaacuterias condiccedilotildees da BR-319 a mesma permaneceu aberta ao traacutefego

ateacute maio de 1988 quando os serviccedilos de transporte rodoviaacuterio entre as capitais Manaus-AM

e Porto Velho-RO foram suspensos devido agraves peacutessimas condiccedilotildees da rodovia como

permanece ateacute hoje sem condiccedilotildees de trafegar

Embora muitos amazonenses e rondonienses de modo geral se mostrem favoraacuteveis

agrave reabertura da BR-319 como se tem cogitado inuacutemeras vezes nas uacuteltimas deacutecadas satildeo os

186

amazonenses que se mostram mais receosos com essa probabilidade referindo-se a ela

como ldquoa destruidora da floresta quando abertardquo usando como referecircncia a construccedilatildeo da

rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia ou ateacute mesmo o trecho ainda trafegaacutevel da BR-319 ateacute os dias

atuais localizado entre Porto Velho-RO e Humaitaacute-AM pois o mesmo

[] foi colonizado por pequenos agricultores em lotes de 100ha distribuiacutedos pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INGRA) A maioria destes lotes jaacute mudou de matildeos uma ou mais vezes ateacute agora e estaacute consolidada em pequenas ldquofazendolasrdquo de 500ha ou mais (FEARNSIDE 2009d p22)

Sobre isso o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2013d) aponta o municiacutepio de Humaitaacute no

sul do estado como tendo a maior demanda por regularizaccedilatildeo fundiaacuteria do Estado do

Amazonas

Satildeo problemas de origem antiga e aparecem principalmente a partir da abertura das rodovias Transamazocircnica (BR-230) e BR-319 A histoacuteria da ocupaccedilatildeo se relaciona aos dois ciclos da borracha e se intensifica na deacutecada de 1970 como resultado dos projetos de colonizaccedilatildeo e das poliacuteticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo militar na Amazocircnia (MISTEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL 2013 p9)

Com territoacuterio de 33 07179kmsup2 o municiacutepio de Humaitaacute tem 1335977ha

demarcados como reservas indiacutegenas de 8 etnias (Pirahatilde Diahui Ipixuna Nove de Janeiro

Tenharim Marmelos Tenharim Marmelos (Gleba B) Sepoti Toraacute) e ainda conta com uma

unidade de conservaccedilatildeo federal a Floresta Nacional de Humaitaacute com aacuterea de 47315466ha

(ICMBIO 2013) localizada no sul do municiacutepio

Apesar disso os conflitos entre agricultores e posseiros tornaram-se comuns ao

longo das rodovias BR-319 e BR-230 onde estaacute localizada a maioria dos assentamentos

agraacuterios realizados pelo INCRA na deacutecada de 70

Sobre isso Fearnside (2009) afirma que a regiatildeo de Manaus tem sido poupada de

conflitos agraacuterios resultantes de busca por terra tais como a invasatildeo de fazendas por sem

terras e o ciclo resultante de desmatamento onde os posseiros desmatam para estabelecer

agraves suas reivindicaccedilotildees e os grandes proprietaacuterios de terras desmatam para evitar que as

terras sejam invadidas ou entatildeo confiscadas pelo governo para fins de reforma agraacuteria

O Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica Brasileira por Sateacutelite- PRODES

(2012) confirmar a preocupaccedilatildeo de Fearnside (2009) (Tabela 13)

187

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000 - 2012)

Embora a perda total de cobertura vegetal possa parecer pequena se comparada

ao tamanho do territoacuterio aacute mesma natildeo foi uma vez que foi sobre aacutereas que por lei

deveriam ser mantidas preservadas O mesmo poderia ter ocorrido em toda a BR-319 se ela

natildeo tivesse tido o seu traacutefego suspenso em 1988

Para Rodrigues apud Macedo et al (2009) o municiacutepio de Humaitaacute sofre os efeitos

do deslocamento de atividades capitalizadas do Mato Grosso em direccedilatildeo a terras

ldquodisponiacuteveisrdquo do Estado do Amazonas

Segundo Macedo et al (2009)

No municiacutepio de Humaitaacute (AM) as apreensotildees com relaccedilatildeo a esse processo se pronunciam sob diferentes aspectos de um lado expectativas de uma produccedilatildeo de gratildeos em larga escala cujas vantagens derivariam do baixo custo de escoamento da produccedilatildeo pela hidrovias dos rios Madeira e Amazonas ateacute o porto da cidade de Itacoatiara por outro lado preocupaccedilotildees quanto agrave sustentabilidade dos solos predominantes nas aacutereas de expansatildeo inicial das culturas de gratildeos (Plintossolos ndash fase cerrado) questionam a sustentabilidade desta classe de solo tanto econocircmica quanto ambiental deste sistema de uso da terra (MACEDO et al 2009 p5934)

Humaitaacute Perda Florestal ao ano

2000 160

2001 172

2002 174

2003 177

2004 182

2005 186

2006 188

2007 192

2008 198

2009 200

2010 202

2011 205

2012 208

Total 2444

Fonte INPEPRODES 2012 Adaptada Camila Louzada 2013

188

Macedo et al (2014) afirmar que o desmatamento no municiacutepio de Humaitaacute

[] caracteriza-se pela sua concentraccedilatildeo no entorno das rodovias BR-319 E BR-230

que se cruzam proacuteximo agrave sede do municiacutepio Esses eixos rodoviaacuterios concentram

espacialmente as principais atividades econocircmicas como a agricultura a pecuaacuteria

e a exploraccedilatildeo madeireira que embora em intensidade tambeacutem se desenvolvem

em torno do rio Madeira e seus afluentes (MACEDO et al 2014 p5935)

No entanto o existe por parte Governo do Estado do Amazonas forte interesse na

reabertura desta rodovia sobre o falso pretexto da ldquonecessidaderdquo de ligar o estado ao

restante do paiacutes por via terrestre embora tenham conhecimento dos custos (em todos os

sentidos) de tatildeo faraocircnica e desnecessaacuteria obra

Buscando viabilizar a reabertura da BR-319 e promover a ldquogovernanccedila ambientalrdquo

o Governo do Estado do Amazonas propocircs a criaccedilatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo ao longo

de toda a BR-319 muito embora se reconheccedila que essas aacutereas protegidas padecem de

fiscalizaccedilatildeo e de deliberaccedilotildees que envolvem a questatildeo fundiaacuteria (SANTOS 2013)

Sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo em fase de consulta puacuteblica para serem criadas

satildeo elas Reserva Sustentaacutevel Igapoacute - Accedilu (no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea) Reserva

Extrativista Canutama ( Sul do Estado do Amazonas e Norte do Estado de Rondocircnia)

Floresta Floresta Estadual Canutama (Canutama) Reserva de Desenvolvimento Sustentaacutevel

do Matupiri (Borba) Parque Estadual do Matupiri (Borba) Reserva de Desenvolvimento

Sustentaacutevel Rio Madeira (Novo Aripuanatilde) Floresta Estadual de Tapauaacute (Tapauaacute)

(AMAZONAS2014)

46 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES

Partindo do conceito de impacto ambiental definido pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA (1986) em seu artigo 1ordm

Considera com impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesica quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam

I ndash a sauacutede a seguranccedila e o bem estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees de esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA 1986 p1)

189

Ainda segundo o CONAMA (1986)

Art2ordm Dependeraacute da elaboraccedilatildeo do estudo de impacto ambiental- IEA e DO respectivo relatoacuterio de impacto ambiental-RIMA a serem submetido agrave aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo estadual competente e da Secretaacuteria Especial do Meio Ambiente SEMA em caraacuteter supletivo a licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente [] (CONAMA 1986 p2)

Diante disso o CONAMA em sua Resoluccedilatildeo nordm237 de 19 de Dezembro de 1997 em

seu artigo 3ordm dispotildee

Estudos Ambientais satildeo todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados agrave localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo operaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsiacutedio para a anaacutelise da licenccedila requerida tais como relatoacuterio ambiental projeto de controle ambiental relatoacuterio ambiental preliminar diagnoacutestico ambiental plano de manejo plano de recuperaccedilatildeo de aacuterea

degradada e anaacutelise preliminar de risco (CONAMA 1997 p2)

Os principais documentos exigidos para o licenciamento ambiental estatildeo divididos

em duas categorias a) o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatoacuterio de Impacto

Ambiental ndash RIMA para toda obra geradora de impactos b) o Plano de Controle Ambiental ndash

PCA para empreendimentos que teoricamente natildeo produzam impactos

Para os empreendimentos geradores de impactos o CONAMA tem uma legislaccedilatildeo

especifica instituiacuteda pelo Decreto Federal nordm 97632 de abril de 1989 que criou o Plano de

Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas - PRAD que deveraacute ser apresentado juntamente com o

EIARIMA quando o empreendimento for destinado agrave exploraccedilatildeo de recursos minerais

(BRASIL 1989 p1)

Embora a aparente abrangecircncia das leis exija uma seacuterie de estudos ambientais

antes de qualquer obra o mesmo natildeo garante o impacto zero no meio ambiente somente

tenta diagnosticar os possiacuteveis impactos de cada empreendimento ldquopropondo medidas

compensatoacuteriasrdquo

Todavia se nos relatoacuterios natildeo for possiacutevel ldquopreverrdquo todos os impactos de uma obra

o que se poderaacute fazer para minimizar seus impactos posteriormente quando surgirem

mesmo os natildeo diagnosticados com antecedecircncia Essa pergunta por enquanto ainda natildeo

tem uma resposta satisfatoacuteria

Eacute vaacutelido promover o conhecimento puacuteblico em geral a informaccedilatildeo de os

profissionais responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA de um empreendimento que satildeo

pagos pelo interessado na construccedilatildeo desse empreendimento desta forma eacute questionaacutevel

190

seus posicionamentos no relatoacuterio final principalmente se o maior interessado na

construccedilatildeo for o governo em todas as esferas tendo como referecircncia o Governo do Estado

do Amazonas onde natildeo existe ateacute a presente data um Estudo de Impacto Ambiental- EIA e

um Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA que seja contraacuterio aos interesses do estado natildeo

validando e homologando suas obras

O exemplo mais conhecido e divulgado mundialmente eacute a construccedilatildeo do PROSAMIN

ndash Programa Social e Ambiental dos Igarapeacutes de Manaus no qual o Governo do Estado retira

os moradores residentes nos igarapeacutes de Manaus para a concretizaccedilatildeo dos canais e

posterior construccedilatildeo de conjuntos habitacionais Embora tenha conhecimento de que satildeo

aeacutereas de APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente seus relatoacuterios EIA-RIMA validam o

empreendimento reiterando a ldquoimportacircncia desta obrardquo

A fragilidade do ecossistema de modo geral depende inteiramente de um

equiliacutebrio (natural) pois para que esse equiliacutebrio continue a existir faz-se necessaacuterio

minimizar todo e qualquer impacto possiacutevel decorrente de um empreendimento seja a

construccedilatildeo de barragem de rodovias de usinas eoacutelicas etc Mesmo com a execuccedilatildeo do

Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacuterea Degradadas - PRAD a construccedilatildeo de um empreendimento

natildeo garante a total recuperaccedilatildeo da aacuterea impactada

Dessa forma eacute importante conhecer a opiniatildeo dos moradores diretamente afetados

pelos empreendimentos Diante disso a presente pesquisa buscou conhecer a percepccedilatildeo

ambiental dos moradores das localidades de Bela Vista - Manacapuru e Manaquiri que

seratildeo diretamente afetados com a construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas como parte da proposta de reabertura da BR-319 resta conhecer a

opiniatildeo dos entrevistados

Na Bela Vista 95 dos entrevistados disseram jaacute ter ouvido algo sobre o assunto

por meio das conversas na comunidade e atraveacutes do raacutedio e 5 que afirmaram nunca ter

ouvido falar sobre o assunto

Indagados sobre o que achavam que aconteceria com as pessoas que moram na

Bela Vista e com a natureza e os animais ao redor se realmente a nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas fosse implantada os entrevistados se posicionaram conforme Graacutefico

15

191

A maioria dos entrevistados 47 do total se mostraram empolgados com a

possibilidade de acesso a outros municiacutepios e estados contudo 40 respondeu que as

estradas de modo geral trazem progresso e oportunidade de renda durante a construccedilatildeo e

posteriormente com o escoamento da produccedilatildeo seja na construccedilatildeo de novas estradas ou na

reconstruccedilatildeo da BR-319 depois de pronta ldquoteraacute mais pessoas vivendo aqui ficaraacute faacutecil

conhecer outros lugaresrdquo (Opiniatildeo de um entrevistado 2013) 13 dos entrevistados

afirmaram que as pessoas iratildeo embora da Bela Vista

Indagados com a mesma pergunta os moradores da sede municipal de Manaquiri

responderam conforme Graacutefico 16

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo da

ponte sobre o Rio Solimotildees Amazonas

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores do Manaqquiri sobre as consequecircncias da construccedilatildeo

de ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

192

Ao contraacuterio dos moradores da Bela Vista a grande maioria 73 dos entrevistados

de Manaquiri responderam que a construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

assim como a possibilidade de reabertura da BR-319 devastaria tudo (referem-se a retirada

da floresta) mataria os animais (que atravessariam as pistas ou seriam caccedilados por mais

caccediladores que viriam para o Manaquiri)

Indagados do por quecirc desta opiniatildeo ldquoseverardquo Os moradores afirmaram que isso jaacute

ocorreu anteriormente primeiro na construccedilatildeo da BR-319

[] quando veio muita gente trabalhar na estrada derrubaram a mata para fazer a rodovia e caccedilavam os bichos era pacaacute anta macaco tracajaacute tudo que eles achavam rapidinho virava comida agora mais recente foi essa estrada daqui mesmo [o entrevistado se refere a construccedilatildeo da AM-354] quando muita gente foi trabalhar laacute foi a mesma coisa da outra (Relato de um entrevistado

2013)

Os moradores de Manaquiri apresentam relativo conhecimento dos impactos de

grandes empreendimentos pois vivenciaram a construccedilatildeo da BR-319 e da AM-354

461 ALTERNATIVAS DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E O PREPARO DAS LOCALIDADES

RIBEIRINHAS PARA AS AUDIEcircNCIAS PUacuteBLICAS

Antes de propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental faz-se necessaacuterio fazer um

resgate histoacuterico da Educaccedilatildeo Ambiental no mundo e posteriormente no Brasil e no estado

do Amazonas para situar o leitor

A Educaccedilatildeo Ambiental foi primeiramente concebida por movimentos ecoloacutegicos

apoacutes 1950 com o objetivo de chamar a atenccedilatildeo para a finitude dos elementos da natureza

e sua exploraccedilatildeo descontrolada Diante disso Carvalho (2006) propotildee sensibilizar os cidadatildeos

do mundo para que eles possam desenvolver accedilotildees socioambientais pensando no bem

coletivo e natildeo individual ou de pequenos grupos

O marco principal desse periacuteodo de incertezas culminou na publicaccedilatildeo do livro

Primavera Silenciosa nele a autora chama a atenccedilatildeo para o uso irracional de pesticidas

quiacutemicos principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano) e responsabilidade da ciecircncia e

os limites tecnoloacutegicos (CARSON 2013)

193

[] questionava o direito moral do governo de deixar seus cidadatildeos desprotegidos diante de tais substacircncias que eles natildeo poderiam evitar fisicamente nem questionar publicamente Essa arrogacircncia insensiacutevel soacute poderia levar aacute destruiccedilatildeo do mundo vivo ldquoSeraacute que algueacutem acredita que eacute possiacutevel lanccedilar tal bombardeio de venenos na superfiacutecie da Terra sem tornaacute-la improacutepria para toda a vida perguntava ela Eles natildeo deviam ser chamados de lsquoinseticidasrsquo e sim lsquobiocidasrsquo rdquo (CARSON 2013 p 15)

Carson vai aleacutem ao afirmar que um dos direitos dos cidadatildeos mais baacutesicos

[] estaacute em proteger seu lar contra a intrusatildeo de veneno aplicado por outras pessoas Por ignoracircncia cobiccedila e negligecircncia o governo permitiria que ldquosubstacircncia quiacutemicas venenosas e biologicamente potentesrdquo caiacutessem ldquoindiscriminadamente nas matildeos de pessoas ampla ou totalmente ignorantes de seu potencial de danosrdquo Quando a populaccedilatildeo protestava recebia ldquopiacutelulas calmantes de meias - verdadesrdquo como resposta de um governo que se recusava a assumir a responsabilidade pelos danos ou reconhecer as provas de sua existecircncia Carson desafiou essa ausecircncia de moral ldquoA obrigaccedilatildeo de suportarrdquo e escreveu ldquonos daacute o direito de saberrdquo (CARSON 2013 p16)

Carson (2013) chama atenccedilatildeo da sociedade estadunidense para o uso

descontrolado de pesticidas nas lavouras americanas que prejudicava aleacutem do meio

ambiente fiacutesico em larga escala como tambeacutem a humanidade como um todo

Apoacutes a publicaccedilatildeo dessa obra foram iniciadas investigaccedilotildees estaduais e federais

nos EUA para refutar os argumentos da autora que terminaram por serem comprovados e

apoacutes inuacutemeras pressotildees de ambientalistas o governo americano foi obrigado a criar um

pacote de leis contra a contaminaccedilatildeo invisiacutevel muito posteriormente proibindo o uso DDT

nos EUA mas exportando para todo o mundo (CARSON 2013)

Como os movimentos ecoloacutegicos ultrapassaram as preocupaccedilotildees locais e se

transformaram em globais gerou grande desconforto na sociedade mundial tanto cientiacutefica

quanto civil o que resultou em importantes encontros mundiais a comeccedilar pela primeira

Conferecircncia Mundial das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente Humano que aconteceu em

1972 em Estocolmo na Sueacutecia e contou com a participaccedilatildeo de representantes de 113

paiacuteses onde foram divulgados aos participantes ldquoa devastaccedilatildeo que ocorria na natureza

delirou ndash se que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamenterdquo (PEDRINI

1997 p26)

Dessa conferecircncia resultaram dois importantes documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre

Meio Ambiente Humanordquo que descrevia vinte e sete princiacutepios comuns agrave sociedade mundial

para preservar e melhorar a relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente e o ldquoPlano de Accedilatildeo

194

Mundialrdquo que recomendava a capacitaccedilatildeo de professores e o desenvolvimento de novos

meacutetodos e recursos institucionais para a Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Trecircs anos depois de Estocolmo acontece a Conferecircncia de Belgrado na Yugoslaacutevia

antiga Uniatildeo Sovieacutetica Nessa conferecircncia os acircnimos se exaltaram pois os paiacuteses

considerados subdesenvolvidos acusaram os paiacuteses desenvolvidos de quererem limitar o

desenvolvimento econocircmico dos paiacuteses pobres ldquousando poliacuteticas ambientais de controle da

poluiccedilatildeo como meio de inibir a competiccedilatildeo no mercado internacionalrdquo (DIAS 2000 p79)

Apesar dos acircnimos acalorados essa conferecircncia resultou em um importante

documento em niacutevel mundial a ldquoA Carta de Belgradordquo que priorizava a erradicaccedilatildeo da

pobreza do analfabetismo da fome da exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo humana e sugeria tambeacutem

a criaccedilatildeo de um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Outra Conferecircncia marcante na histoacuteria da Educaccedilatildeo Ambiental foi a Conferecircncia de

Tbilisi realizada em 1977 que determinava os objetivos estrateacutegias caracteriacutesticas e

recomendaccedilotildees para se alcanccedilar uma Educaccedilatildeo verdadeiramente Ambiental Sobre isso

Junior (2005) destaca que para se ter uma Educaccedilatildeo Ambiental deve-se ldquopromover a

cooperaccedilatildeo e o diaacutelogo entre indiviacuteduos e instituiccedilotildees com a finalidade de criar novos

modos de vida e atender as necessidades baacutesicas de todos sem distinccedilotildees eacutetnicas fiacutesicas de

gecircnero idade religiatildeo ou classe socialrdquo (JUNIOR 2005 p 15 )

Atendendo aos acordos firmados internacionalmente o Brasil cria a Lei nordm 6938 de

31 de Agosto de 1981 que dispunha no art 2 sobre a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

tendo por objetivos

[] a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao desenvolvimento soacutecio econocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da dignidade da vida humana atendidos os seguintes princiacutepios I - accedilatildeo governamental na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio ecoloacutegico considerando o meio ambiente como um patrimocircnio puacuteblico a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo II - racionalizaccedilatildeo do uso do solo do subsolo da aacutegua e do ar Ill - planejamento e fiscalizaccedilatildeo do uso dos recursos ambientais IV - proteccedilatildeo dos ecossistemas com a preservaccedilatildeo de aacutereas representativas V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidorasVI - incentivos ao estudo e agrave pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental VIII - recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas IX - proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo X ndash educaccedilatildeo ambiental a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para a participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL 1981 p 2)

195

A Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente eacute absolvida pela Constituiccedilatildeo Brasileira de

1988 mais especificamente no artigo 225 onde tambeacutem concebe o conceito de

desenvolvimento sustentaacutevel

[] onde todos os cidadatildeos brasileiros tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial aacute sadia qualidade de vida impondo se ao Poder Puacuteblico e aacute coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees (BRASIL 1998 p7)

O Brasil foi um dos primeiros paiacuteses do mundo a criar leis tornando obrigatoacuteria a

ldquoEducaccedilatildeo Ambiental em todos os niacuteveis de ensino e a conscientizaccedilatildeo puacuteblica da populaccedilatildeo

para preservaccedilatildeo do meio ambienterdquo (BRASIL 1988 p103)

Para consolidar a lei eacute criado em 1989 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente -

IBAMA autarquia federal que tem como funccedilatildeo coordenar e executar a Poliacutetica Nacional do

Meio Ambiente e a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de uso racional dos recursos naturais Brasil

(1989) No entanto em sua estrutura administrativa apresentada segundo Brasil (1989a)

natildeo haacute cargos ou seccedilotildees especiacuteficas para trabalhar a Educaccedilatildeo Ambiental embora muitos

autores relatem existir uma Divisatildeo de Educaccedilatildeo Ambiental no oacutergatildeo supracitado

Nos anos posteriores surgiram vaacuterios encontros sobre Educaccedilatildeo Ambiental e em

1990 surgiu no Brasil o I Curso Latino Americano de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental

na Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT

O ano de 1991 foi marcado pelo Encontro Nacional de Poliacuteticas e Metodologias para

a Educaccedilatildeo Ambiental promovido pelo MEC IBAMA Secretaacuteria da Presidecircncia da Repuacuteblica

e Unesco e em 1992 satildeos criado os Nuacutecleos Estaduais de Educaccedilatildeo Ambiental pelo IBAMA

novos encontros e projetos para efetivar a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino se sucederam

Em 27 de Abril de 1999 eacute criado pelo Decreto Lei nordm 9795 a Poliacutetica Nacional de

Educaccedilatildeo Ambiental- ProNEA

Art 1ordm Entendem- se por educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias voltadas para promover a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL 1999 p1)

Segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (2014) o ProNea tem como accedilotildees

assegurar

196

[] no acircmbito educativo a integraccedilatildeo equilibrada das muacuteltiplas dimensotildees da sustentabilidade - ambiental social eacutetica cultural econocircmica espacial e poliacutetica - ao desenvolvimento do Paiacutes resultando em melhor qualidade de vida para toda a populaccedilatildeo brasileira por intermeacutedio do envolvimento e participaccedilatildeo social na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental e da manutenccedilatildeo dessas condiccedilotildees ao longo prazo Nesse sentido assume tambeacutem as quatro diretrizes do Ministeacuterio do Meio Ambiente Transversalidade Fortalecimento do Sisnama Sustentabilidade Participaccedilatildeo e controle social (BRASIL 2014 p1)

A legislaccedilatildeo parte do princiacutepio de que a Educaccedilatildeo Ambiental deve estar permanente

na educaccedilatildeo nacional em todos os niacuteveis do processo educativo de caraacuteter formal e natildeo

formal (BRASIL 1999 p1)

Esse arcabouccedilo legal permitiria que a Educaccedilatildeo Ambiental efetivamente no acircmbito nacional fosse implementada no ensino formal em todos os niacuteveis poreacutem a rejeiccedilatildeo da ldquoobrigatoriedaderdquo considerada nociva no momento democraacutetico que se vive permite que a legislaccedilatildeo natildeo seja cumprida de acordo com os marcos nacionais e internacionais firmados nos eventos que constituem o seu processo histoacuterico (SANTOS 2013 p844)

Ainda Morin apud Santos (2013) afirma que

[] poderiam ser formadas novas geraccedilotildees de professores que encontrariam em sua profissatildeo o sentido de uma missatildeo ciacutevica e eacutetica para que cada aluno ou estudante possa enfrentar os problemas de sua vida profissional e de sua vida de cidadatildeo do dever de sua sociedade de sua civilizaccedilatildeo na humanidade (MORIN apud SANTOS 2013 p844)

Todavia o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura ndash MEC ateacute o presente momento trinta e

trecircs anos depois apoacutes a instituiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente (1981) natildeo

conseguiu inserir a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino superior portanto natildeo cumpriu com os

acordos firmados Isso se observa tambeacutem ao niacutevel natildeo formal como uma maneira de natildeo

fornecer aacutes comunidades informaccedilotildees que venham a impedir ou dificultar os interesses

poliacuteticos

Acompanhando as leis federais os estados brasileiros passaram a criar leis quase

sempre dispondo sobre a proteccedilatildeo do meio ambiente

No estado do Amazonas a Lei nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 tornou-se a primeira

lei no estado a discorrer sobre a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente criando a Poliacutetica

Estadual da Prevenccedilatildeo e Controle da Poluiccedilatildeo Melhoria e Recuperaccedilatildeo do Meio Ambiente e

de Proteccedilatildeo aos Recursos Naturais (AMAZONAS 1982)

197

A lei tem como objetivos

[] fixar diretrizes da accedilatildeo governamental com vistas agrave proteccedilatildeo de Meio Ambiente agrave conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo da flora da fauna e das belezas cecircnicas e ao uso racional do solo da aacutegua e ar Contribuir para a racionalizaccedilatildeo do processo do desenvolvimento econocircmico e social procurando atingir a melhoria dos niacuteveis da qualidade ambiental tendo em vista o bem estar da populaccedilatildeo Propor criteacuterios de exploraccedilatildeo e uso racional dos recursos naturais objetivando o aumento de produtividade sem prejuiacutezo agrave sauacutede Incentivar programas e campanhas de esclarecimentos com vistas agrave estimulaccedilatildeo de uma consciecircncia publica voltada para o uso adequado dos recursos naturais e para a defesa e a melhoria da qualidade ambiental Estabelecer criteacuterios para reparaccedilatildeo dos danos causados pelo agente poluidor e predador (AMAZONAS 1982 p2)

E em 14 de Junho de 1989 atraveacutes da Lei nordm 1905 foi criado o Instituto de

Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash

IMAAM Segundo o IPAAM (2014) o oacutergatildeo tinha como funccedilatildeo executar a Poliacutetica Ambiental

no estado dando inicio ao processo de controle ambiental sistemaacutetico

Cinco anos depois o governo federal atraveacutes da Lei nordm 1282 de 1994 estabelece

que a Floresta Amazocircnica deve ser protegida da exploraccedilatildeo madeireira que somente

poderaacute ser feita de forma sustentaacutevel salvo quando for autorizado pelo Zoneamento

Ecoloacutegico Econocircmico sobre o uso do solo de forma alternativa (BRASIL 1994)

Dois anos depois em 1996 o governo do estado do Amazonas fundou o Instituto de

Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas ndash IPAAM atraveacutes da Lei nordm 17033 de 11 de marccedilo de

1996 resultado da funccedilatildeo do SEMACT (Secretaria do Meio Ambiente Ciecircncia e Tecnologia) e

do IMAAM (Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas) absorvendo cargos dos dois oacutergatildeos e suas ldquoobrigaccedilotildeesrdquo legais

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas - IPAAM passou a ser vinculado em fevereiro de 2003 aacute Secretaria de

Estado Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash SDS como oacutergatildeo executor da

Poliacutetica de Controle Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM 2014)

Por meio do Decreto Estadual nordm 25043 de 1ordm de Junho de 2005 foi instituiacuteda a

Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash CIEA-AM que

tem como funccedilatildeo ldquoplanejar executar acompanhar e avaliar a execuccedilatildeo dos trabalhos de

Educaccedilatildeo Ambiental no Estado aleacutem de articular-se com outras instituiccedilotildees federais e

municipaisrdquo(AMAZONAS 2014 p1)

198

A CIEA-AM tem mandato anual alternado entre a SDS (Secretaria de Estado Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel) e a SEDUC (Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo e

Qualidade do Ensino) (AMAZONAS 2014)

Em 2008 foi instituiacuteda a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas

atraveacutes da Lei nordm 3222 de 02 de Fevereiro entretanto

Apesar de a lei ter 90 dias para a sua regulamentaccedilatildeo ouvidos o Conselho Estadual de Meio Ambiente somente em 29 de Junho de 2012 eacute que o Decreto nordm 555 foi assinado pelo governado Omar Aziz e publicado no Diaacuterio Oficial do Estado do Amazonas (SANTOS 2012 p844)

A Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas tem como metas

Criaccedilatildeo do Comitecirc Assessor Multidisciplinar como oacutergatildeo de assessoramento da CIEA para apoiar a Poliacutetica Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental formado por 16 Instituiccedilotildees parceiras Estabelece prazo de um ano para a elaboraccedilatildeo do Programa Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental Estabelece a obrigatoriedade para os poderes executivos do Estado e dos Municiacutepios de criarem coordenaccedilotildees multidisciplinares de educaccedilatildeo ambiental nas secretarias de educaccedilatildeo e de meio ambiente para fortalecimento na implantaccedilatildeo de poliacuteticas e programas nacional estadual e municipal neste segmento Criaccedilatildeo do Centro de Referecircncia em Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo na aacuterea de educaccedilatildeo ambiental Garantia de recursos orccedilamentaacuterios e financeiros para a realizaccedilatildeo de atividades e para o cumprimento dos objetivos da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental (AMAZONAS 2014 p2)

Faz-se necessaacuterio salientar que muito pouco do que foi proposto para o estado de

fato foi executado inclusive a natildeo inserccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental em todos os cursos de

formaccedilatildeo de professores a proacutepria Universidade do Estado do Amazonas a UEA

Sobre isso Santos apud Rodriguez e Silva (2013 p197)

[] reconhecem que a Educaccedilatildeo Ambiental deveraacute ter um papel fundamental na mudanccedila das mentalidades e na incorporaccedilatildeo dos fundamentos do pensamento ambientalista como tambeacutem do pensamento sustentabilista justificando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergecircncia dos sistemas ambientais e socioeconocircmico-culturais (SANTOS apud RODRIGUEZ e SILVA 2013 p197)

Santos (2013) vai aleacutem

Infelizmente torna-se necessaacuterio reconhecer que muitas vezes as poliacuteticas puacuteblicas definidas na esfera federal estadual ou municipal refletem uma contradiccedilatildeo entre o discurso e a praacutetica uma vez que os proacuteprios oacutergatildeos puacuteblicos a luz da interpretaccedilatildeo das brechas da legislaccedilatildeo ambiental licenciam obras sob o argumento de melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo mas com impactos ambientais irreversiacuteveis que satildeo justificados com ldquomedidas compensatoacuteriasrdquo irrelevantes (SANTOS 2013 p840)

199

Diante desses fatos tornou-se necessaacuterio projetar alternativas de Educaccedilatildeo

Ambiental para as localidades ribeirinhas da Amazocircnia frente ao conceito de

desenvolvimento baseado na construccedilatildeo de rodovias para que os ribeirinhos de modo

geral possam vir a ter conhecimento dos impactos das rodovias na regiatildeo visando agrave

formaccedilatildeo de um juiacutezo de valor quanto a propostas de desenvolvimento do poder puacuteblico

As alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental visam antes de qualquer coisa fornecer

informaccedilotildees aos moradores afetados direta ou indiretamente sobre empreendimentos

similares jaacute construiacutedos em ambientes semelhantes de forma a propiciar embasamento

teoacuterico e se possiacutevel praacutetico na formaccedilatildeo de uma opiniatildeo fundamentada seja individual ou

coletiva

Isso porque muitas pessoas natildeo informadas tendem a considerar as Audiecircncias

Puacuteblicas realizadas antes dos empreendimentos como espaccedilos onde natildeo eacute permitido

questionamentos quando na verdade eacute o que se deve fazer pois as Audiecircncias Puacuteblicas

tecircm como principal funccedilatildeo consultar a opiniatildeo puacuteblica sobre o empreendimento a ser

construiacutedo Contudo se o puacuteblico consultado natildeo tiver informaccedilotildees sobre o

empreendimento ou qualquer outro semelhante como poderatildeo opinar em algo que lhes eacute

completamente desconhecido

Sobre o direito agrave informaccedilatildeo a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente em seu artigo

2ordm paraacutegrafo X afirma que a ldquoeducaccedilatildeo ambiental deve ser fornecida a todos os niacuteveis de

ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-los para a participaccedilatildeo

ativa da defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981 p2)

No entanto a Educaccedilatildeo Ambiental vem sendo incluiacuteda como medida

compensatoacuteria dos impactos provocados pelos empreendimentos Haacute necessidade de que a

Educaccedilatildeo Ambiental seja antecipada permitindo agrave sociedade acesso as diversas fontes de

informaccedilatildeo Enfim a Educaccedilatildeo Ambiental em suas referecircncias teoacutericas eacute reconhecida como

uma educaccedilatildeo poliacutetica capaz de permitir e projetar cenaacuterios futuros

Considerando a reabertura da BR-319 cujo argumento principal eacute que ela jaacute existe

e que sua reabertura pouco impactaraacute a Floresta Amazocircnica considerando que entre as

grandes obras para a reabertura da BR-319 encontra-se a construccedilatildeo da ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas que se associa a jaacute construiacuteda ponte Rio Negro por essa razatildeo

200

chamada de ldquoPonte do Futurordquo considerando que o poder puacuteblico eacute o principal interessado

em suas obras sendo o responsaacutevel pelos licenciamentos a presente pesquisa ousa propor

- Viabilizar o acesso dos moradores agrave diversas fontes de pesquisa sejam elas

artigos livros jornais e informaccedilotildees veiculadas pela internet que permitam obter

pesquisas confiaacuteveis sobre os aspectos positivos e negativos relacionados aos

impactos provocados por obra semelhantes

- Realizar palestras com as diversas categorias de profissionais sejam eles

favoraacuteveis ou contraacuterios agrave empreendimentos na Amazocircnia de modo a discutir os

avanccedilos e retrocessos na qualidade de vida dos amazocircnidas

- Promover oficinas de Educaccedilatildeo Ambiental que permitam a anaacutelise criacutetica dos

problemas ambientais e suas interelaccedilotildees dinacircmicas relacionando as causas e

consequecircncias tendo por base os princiacutepios da complexidade dialoacutegico recursatildeo

organizacional e hologramaacutetico Isto significa conduzir os participantes a refletirem

sobre a dualidade a recursividade e holograma que supera o reducionismo o

holismo e avanccedila na direccedilatildeo da complexidade da questatildeo ambiental

Diante da convicccedilatildeo de que essas intervenccedilotildees com a Educaccedilatildeo Ambiental

significam na maioria das vezes oposiccedilatildeo ao que pretende o poder puacuteblico haacute de se

verificar como concretizar efetivamente essas propostas

Por esta razatildeo a presente pesquisa ainda ousando sugere a inclusatildeo da Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal (que no caso dos dois municiacutepios Manacapuru e

Manaquiri ainda estatildeo em fase de elaboraccedilatildeo) responsaacutevel pelo planejamento estrateacutegico

dos municiacutepios atraveacutes da formulaccedilatildeo de estrateacutegias para gerenciamento dos recursos

municipais

Todavia a inclusatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal natildeo deve

se limitar a uma abordagem simplista e reducionista e sim incorporar a sua verdadeira

essecircncia atraveacutes da formaccedilatildeo de cidadatildeos verdadeiramente capacitados para defender o

meio ambiente como propotildeem a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

Prioritariamente para o caso da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas e a

reabertura da BR-319 for consolidada nos proacuteximos anos a presente pesquisa propotildeem

201

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para as localidades ribeirinhas de Bela Vista e

Manaquiri que contemple em sua estrutura

1- Reflexatildeo sobre o conceito de Desenvolvimento Conservaccedilatildeo Preservaccedilatildeo e

Sustentabilidade se quer para a Amazocircnia

2- Impactos resultantes da construccedilatildeo de rodovias no Amazonas

a) BR-307 - Satildeo Gabriel da Cachoeira ndash Cucuiacute Benjamin Constant ndash

Atalaia do Norte

b) BR -317 - Laacutebrea no Amazonas a Assis Brasil no Acre

c) BR-230 - Transamazocircnica

d) BR-174 - Manaus-AM ndash Boa Vista-RR

e) BR-319 - Manaus-AM - Porto Velho- RO

3- Construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas reabertura da BR-319 e

os possiacuteveis impactos dessas obras

4- Construccedilatildeo de cenaacuterios futuros para a Amazocircnia

202

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A percepccedilatildeo ambiental dos moradores da Bela Vista e do Manaquiri permitiu

concluir que embora os entrevistados se mostrem favoraacuteveis agrave construccedilatildeo da nova ponte

sobre o rio SolimotildeesAmazonas os mesmos se mostraram conscientes dos impactos dessa

obra assim como tambeacutem da reabertura da BR-319

Diante disso cabe a Educaccedilatildeo Ambiental veicular para os ribeirinhos e a todos

cidadotildees interessados as informaccedilotildees disponiacuteveis sobre todo e qualquer empreendimento

com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas para a Amazocircnia A comeccedilar pela divulgaccedilatildeo dos impactos

das estradas jaacute construiacutedas na Amazocircnia

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser conclamada diante da percepccedilatildeo ambiental dos

moradores ribeirinhos de modo a ser pensado uma forma alternativa para que a

populaccedilatildeo tenha informaccedilotildees para se posicionar diante das propostas de poliacuteticas puacuteblicas

para a Amazocircnia

As propostas de desenvolvimento compatibilizadas com as que visam conservaccedilatildeo

eou preservaccedilatildeo da Amazocircnia sido apresentados com uma dualidade impossiacutevel de ser

alcanccedilada O pensamento complexo apresenta-se como uma alternativa de se repensar a

questatildeo ambiental compreendendo os fatores que a compotildeem e as interelaccedilotildees entre eles

inclusive a dinamicidade que apresentam

Entre as propostas de desenvolvimento destacam-se as que visam agrave construccedilatildeo de

estradas na Amazocircnia principalmente agraves relacionadas com a intenccedilatildeo de interligar o estado

do Amazonas ao resto do paiacutes Os argumentos para sua construccedilatildeo natildeo satildeo convincentes

uma vez que diante da necessidade de conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo da Floresta

Amazocircnica as medidas poliacuteticas foram sendo tomadas para isto incluindo-se a criaccedilatildeo da

Zona Franca de Manaus com o Polo Industrial para evitar impactos sobre a regiatildeo

A pesquisa procurou concentrar-se na reabertura da BR-319 considerando a

construccedilatildeo da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas como uma das grandes obras para a

sua reativaccedilatildeo

O argumento que sustenta a sua necessidade eacute o mesmo que nega seus impactos

uma vez que ela jaacute existe e a floresta natildeo precisaraacute ser devastada Outro argumento que natildeo

203

se sustenta eacute o escoamento da produccedilatildeo do Distrito Industrial pesquisas demonstram que o

transporte fluvial eacute mais econocircmico quando comparado ao rodoviaacuterio na regiatildeo

No que se refere agrave ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas ela teraacute como provaacutevel

cabeceiras as localidades de Bela Vista no municiacutepio de Manacapuru e Manaquiri sede do

municiacutepio de mesmo nome A pesquisa visando diagnosticar as alteraccedilotildees que a construccedilatildeo

da ponte traraacute agrave vida dessas populaccedilotildees ribeirinhas utilizou-se de entrevistas com

moradores mais antigos e chefes de famiacutelia de ambas as localidades

Os resultados das entrevistas resaltam a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos

destacando-se a dos que moram em Manaquiri que por terem vivido a construccedilatildeo da BR-

319 conseguem projetar cenaacuterios futuros preocupantes com a destruiccedilatildeo da biodiversidade

e os impactos sociais e econocircmicos na localidade

A pesquisa permitiu antever o comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis das

vaacuterzeas que poderaacute ter como consequecircncia o decliacutenio da produccedilatildeo agriacutecola

No entanto a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos necessita de informaccedilotildees que

permitam alcanccedilar o niacutevel transdisciplinar A percepccedilatildeo transdisciplinar deve contemplar

diferentes niacuteveis de realidade a loacutegica do terceiro incluiacutedo e a complexidade que a questatildeo

ambiental comporta

A percepccedilatildeo ambiental diagnosticada muito embora em alguns entrevistados tenda

a considerar os princiacutepios da transdisciplinaridade ainda necessita ser aprofundada e a

pesquisa indica que a Educaccedilatildeo Ambiental pode promover a visatildeo criacutetica da realidade

Diante dos obstaacuteculos enfrentados na obtenccedilatildeo das informaccedilotildees e entrevistas

considerando o espaccedilo geograacutefico e as condiccedilotildees de deslocamento ateacute as localidades a

pesquisa considerando referencial teoacuterico e os dados levantados reconhece as dificuldades

de se antepor agraves poliacuteticas puacuteblicas com as accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental natildeo formal

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser inserida natildeo como uma medida compensatoacuteria

das obras jaacute construiacutedas mas como uma alternativa de acesso a informaccedilatildeo que

necessariamente precisa ser antecipada aacutes Audiecircncias Puacuteblicas de modo a viabilizar acesso

dos moradores a diversas fontes de informaccedilatildeo para que ao participar de uma audiecircncia

puacuteblica os moradores tenham conhecimentos profundos dos possiacuteveis impactos de cada

obra e possam vir a fazer juiacutezo de valor apoiados em fundamentos

204

Considerando que o poder puacuteblico justifica as obras do seu interesse baseado na

legislaccedilatildeo que abre espaccedilo para justificaacute-las dessa forma licenciando-as haacute que se buscar

alternativas para o desenvolvimento da Educaccedilatildeo Ambiental atraveacutes de programas que

visem a sustentabilidade da Amazocircnia exigindo o cumprimento da legislaccedilatildeo vigente e

questionando inclusive sua interpretaccedilatildeo

A pesquisa propotildee as bases necessaacuterias ao planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para a problemaacutetica que a desencadeou

Existe espaccedilo para novas pesquisas principalmente no que se refere agrave percepccedilatildeo

transdisciplinar no contexto amazocircnico considerando que existem poucos avanccedilos e

resultados que concretizem os referenciais teoacutericos indicados para a necessaacuteria reforma de

pensamento que permitiraacute a humanizaccedilatildeo da humanidade

205

REFEREcircNCIAS

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REVISTA EacutePOCA Apoacutes quatro anos Amazonas inaugura a Ponte Rio Negro Disponiacutevel em httpcolunasrevistaepocaglobocomofiltro20111024apos-quatro-anos-amazonas-inaugura-a-ponte-rio-negro Acessado em Setembro de 2013 REIS A A economia do vale do Amazonas no periacuteodo colonial Boletim Geograacutefico do Conselho Nacional dos Geoacutegrafos Ano V nordm 49 Rio de Janeiro 1947 RICARDO C Marcha para Oeste a influecircncia da Bandeira na formaccedilatildeo social do Brasil 4ordm ed Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1970 RICARDO C Pequeno ensaio da bandeirologia Rio de Janeiro MEC 1956 RITTO A Transdisciplinaridade ndash as vaacuterias verdades as diferentes loacutegicas In NEFFA E RITTOA (Org) Percepccedilatildeo Transdisciplinar Uma construccedilatildeo coletiva Rio de Janeiro EDUERJ 2010 ROCHA Gilberto OCUPACcedilAtildeO PLANEJADA DA TERRA NA REGIAtildeO DE INTEGRACcedilAtildeO DO XINGU DA COLONIZACcedilAtildeO OFICIAL AOS ASSENTAMENTOS RURAIS Revista Movendo Ideias ISSN 1517-199x Vol 15 Nordm 1 - janeiro a junho de 2010 Disponiacutevel em httpwwwunamabreditoraunamadownloadrevistamimi_v15_n1_2010artigos_pdfmi_v15_n1_2010_artigo_2pdf Acessado em Dezembro de 2013 RODRIGUES M Civilizaccedilatildeo do Automoveacutel A BR-319 e a opccedilatildeo rodoviarista brasileira Manaus EDUA 2013 ROSS J Geografia do Brasil - 4 ed - Satildeo Paulo EDUSP 2003 ROTHBARD M A grande depressatildeo Brasil 2012 Disponivel em httpwwwmisesorgbrfilesliteratureGrande_Depressao_Brochura_978-85-8119-023-5_content20(2)pdf Acessado em Fevereiro de 2014 SANTOS L Percepccedilatildeo Trasdisciplinar na estrateacutegia do sedenvolvimento econocircmico de Hirschmann Porto Alegre 2007 Diponivel em httprevistaseletronicaspucrsbrojsindexphpfacearticleviewFile359262 Acessado em Outubro de 2013 SANTOS E RODRIGUEZ M EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E TRANSDISCIPLINARIDADE PARA REPENSAR O DESENVOLVIMENTO NO COMBATE Agrave CRISE PLANETAacuteRIA VI Simpoacutesio Brasileiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel do Semiaacuterido Mossoroacute ndash RN 2013 SANTOS E O maior destruidor da Natureza eacute o estado Manaus 2013 III Congresso Brasileiro de Educaccedilatildeo Ambiental Aplicada e Gestatildeo Territorial Manaus 27 a 29 de Novembro de 2013 ISBN 978-85-7883-273-5 SEPLAN Centros Sub-Regionais 3ordf Sub-Regiatildeo - Laacutebrea Manaus 20092012 Relatoacuterio Perfil Econocircmico dos municiacutepios do Amazonas

218

SILVA J amp SOUZA FILHO T A de O viver ribeirinho In Nos Banzeiros do Rio Accedilatildeo Interdisciplinar em busca da sustentabilidade em Comunidades Ribeirinhas da Amazocircnia Porto VelhoRO EDUFRO 2002 SILVA J Ponto sobre o rio Solimotildees e a pespctiva de reabertura da BR-319 Manacapuru 20 de Agosto de 2013 Registro de comunicaccedilatildeo pessoal concedida a Camila de Oliveira Louzada Silva J Revista Engenharia e Mineraccedilatildeo 2011 Disponiacutevel em em httpwwwdnpmgovbrmostra_arquivoaspIDBancoArquivoArquivo=6150 Acessado em Novembro de 2013 SOARES L Amazocircnia Rio de Janeiro 1963 SOUSA A Variaccedilatildeo sazonal e espacial da concentraccedilatildeo de elementos- traccedilos nos rios Urucu Solimotildees e Negro ndash Amazocircnia Ocidental Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Manaus 2008 Disponiacutevel em httpwwwgqaufamedubrattachments019_Ana20Karolinapdf Acessado em Janeiro de 2014 SUFRAMA Histoacuteria da Zona Franca de Manaus Manaus 1996 Disponiacutevel em httpwwwsuframagovbrzfm_historiacfm Acessado em Novembro de 2013 SUGUIO K amp BIGARELLA J J 1990 Ambientes fluviais 2ordf ed Florianoacutepolis editora da UFSC Editora da UFPR 183 p il STERNBERG H O A Aacutegua e o Homen na Vaacuterzea do Careiro Beleacutem MPEG 2ordf ed 1998 SDS Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas Manaus 2014 Disponiacutevel em httpwwwsdsamgovbr2011-09-27-04-55-44noticiasciea233-comissao-interinstitucionalhtml Acessado em Janeiro de 2014 SCHWEICKARDT K 1ordm Encontro da rede de Estudos Rurais 04 a 07 de julho de 2006 UFF Niteroacutei (RJ) Disponiacutevel em httpwwwredesruraisorgbrsitesdefaultfilesUm20ensaio20sobre20a20gestC3A3o20territorial20no20Estado20do20Amazonaspdf Acessado em Dezembro de 2013 THEOPHILO R A Transdisciplinaridade e a Modernidade 2000 Disponiacutevel em httpwwwsociologiaorgbrtexap40htm Acessado em Agosto de 2013 TOCANTINS L O Rio comanda a vida Uma interpretaccedilatildeo da Amazocircnia Rio de Janeiro 4ordm ed 1964 TUAN Y Topofilia um estudo da percepccedilatildeo atitudes e valores do meio ambiente Londrina Eduel 3ordm Ed 2012

219

UFAM Relatoacuterio de Impacto Ambiental ndash RIMA Obras de reconstruccedilatildeo pavimentaccedilatildeo da rodovia BR-319AM no segmento entre os km 2500 e km 6557 Dover Publication Manaus Amazonas Dover Publication 6 vols + Anexos 2009 UFAM Estudo de Impacto Ambiental ndash EIA Construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Negro Relatoacuterio Final Manaus Nuacutecleo Socioeconomia ndash NUSECUniversidade Federal do Amazonas 2007 VASCONCELOS J Lei permite derrubada de castanheiras para duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano Jornal Acriacutetica Manaus 15 de Junho de 2013 Disponiacutevel em httpacriticauolcombramazoniaManaus-Amazonas-Amazonia-Lei-castanheiras-duplicacao-Manoel-Urbano_0_938306162html Acessado em Janeiro de 2014 VELHO O Capitalismo autoritaacuterio e campesinato Rio de Janeiro Zahar 1995 VIANNA Lucila De invisiacuteveis a protagonistas populaccedilotildees tradicionais e unidades de

conservaccedilatildeo Rio de Janeiro Annablume 2008

VOGT C Poeiras e esperanccedilas na Transamazocircnica Satildeo Paulo Jornal Folha de Satildeo Paulo 10 de Outubro de 1970 YIN K R Estudo de caso Planejamento e Meacutetodos Porto Alegre Bookman 3ordm ed 2005 WALLACE A Viagens pelo Amazonas e Rio Negro Brasiacutelia Ediccedilotildees do Senado Federal Vol17 2004

220

PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash BELA VISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora na Bela Vista por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para a Bela Vista vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem na Bela Vista (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 1

221

PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash MANAQUIRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora no Manaquiri por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para o Manaquiri vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem no Manaquiri (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 2

Page 3: AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

3

Ficha Catalograacutefica (Catalogaccedilatildeo realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

L895g

Louzada Camila de Oliveira

As grandes obras para a reaberturada BR 319 e seus impactos nas

localidades ribeirinhas do rio Solimotildees Bela Vista e Manaquiri no

Amazonas Camila de Oliveira Louzada - Manaus 2014

221f il color

Dissertaccedilatildeo (mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal do

Amazonas

Orientador Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos

1 Floresta Amazocircnica 2 A vida ribeirinha 3 Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e a Complexidade 4 Educaccedilatildeo ambiental I Santos

Elizabeth da Conceiccedilatildeo (Orient) II Universidade Federal do

Amazonas III Tiacutetulo

CDU 2007 6257113(0433)

4

5

DEDICATOacuteRIA

Dedico estaacute dissertaccedilatildeo primeiramente a Deus aos meus pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada por todo amor e apoio ao longo da vida e principalmente nos momentos difiacuteceis Aos meus irmatildeos Karoline Louzada e Lucas Silva por me apoiarem me deixando muitas vezes sozinha para escrever ou ler a minha orientadora Profordf Drordf Elizabeth Santos por me propor o desafio de estudar a Complexidade e conhecer um pouco mais da Amazocircnia que amo profundamente ao Prof Dr Evandro Aguiar por me instigar e motivar a ir aleacutem do previsto a todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo direta ou indiretamente lhes serei eternamente grata de todo o coraccedilatildeo meu muito obrigada

6

Agradecimentos

Aacute Deus em primeiro lugar por ter me dado agrave vida e continuar a me dar cada dia a

oportunidade uacutenica de fazer cada dia um dia melhor do que o anterior dando sempre o meu

melhor a Nossa Senhora de Aparecida de quem sou devota por esta presente sempre que

me colocava a escrever a dissertaccedilatildeo e iluminar minhas ideias

Aos meus amados pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada pelos ensinamentos e

sacrifiacutecios que fizeram ao longo da vida para que eu e meus irmatildeos (Karoline Louzada e

Lucas Cortecircz) pudeacutessemos estudar muito obrigada Obrigado tambeacutem pelo apoio

incondicional e pelos exemplos diaacuterios e contiacutenuos de perseveranccedila ldquomesmo que natildeo se

possa ver aleacutem do presente persista insista que vocecirc chega laacuterdquo que ouvi incontaacuteveis vezes

ao longo da vida Agradeccedilo tambeacutem a compreensatildeo pela minha ausecircncia nas inuacutemeras

reuniotildees de famiacutelia que natildeo comparece para escrever esta dissertaccedilatildeo

Aacute Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos minha orientadora por todo apoio

dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo e motivaccedilatildeo buscando sempre me incentivar a crescer intelectualmente

Agradeccedilo tambeacutem por expandir meus horizontes ao me apresentar a Complexidade e a

Transdisciplinaridade e por ter insistido nas tantas vezes que reconheccedilo que resistir em

aceitar mudanccedilas Estendo o meu agradecimento as suas filhas Socircnia Ciacutentia Sara e Isabelle

pela compreensatildeo pelas muitas vezes que a profordf Elizabeth estava comigo em campo ou me

orientado em dias de semana ou no final dela e feriados aleacutem de datas comemorativas

quando poderia estaacute com as filhas e o esposo prof Evandro Aguiar meu muito obrigada

Ao Prof Evandro Aguiar (professor sim por mais que atualmente se recuse a usar o

seu tiacutetulo de professor duramente conquistado) agradeccedilo imensamente por todos os

conselhos broncas mais principalmente pela motivaccedilatildeo para seguir em frente Agradeccedilo a

paciecircncia em revisar todo o material que escrevi em me emprestar seus livros em indicar

referecircncias em ajudar na construccedilatildeo deste trabalho e as longas conversas me incentivando

a ir aleacutem do que esperam de mim muito obrigada

A CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) pela

concessatildeo de bolsa durante a realizaccedilatildeo do mestrado

A Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM por me proporcionar a oportunidade

de ter minha graduaccedilatildeo em Licenciatura Plena em Geografia

Aacute Profordf Drordf Jesueacutete Pacheco Brandatildeo por me apresenta a geografia fiacutesica durante a

minha graduaccedilatildeo nas aacuteguas verde oliva da bacia hidrograacutefica do Zeacute Accedilu em Parintins e me

motivar e incentivar a entrar no mestrado meu muito obrigada

Ao Prof Dr Nelcioney Arauacutejo por me indicar referecircncias e emprestar seus livros

7

Aos professores doutores Tatiana Schor e Carlossandro Albuquerque pelas

generosas contribuiccedilotildees que me deram durante a minha qualificaccedilatildeo sem as quais o

presente trabalho natildeo sairia como estaacute hoje

Agradeccedilo ao meu amigo Armando Filho por ouvir meus desabafos pelas

provocaccedilotildees continuas com o intuito de me instigar a busca sempre mais e mais

informaccedilotildees que vinhessem a contribuir com o meu trabalho agradeccedilo tambeacutem pela

traduccedilatildeo do resumo

Aos meus colegas de mestrado pelas discussotildees A minha amiga Irlanda Leite por

me ajudar sempre que pedi Aos meus amigos Sidney Leozanira Christianne Rodrigo

Jeacutessica que sempre me incentivaram a seguir em frente mesmo quando em natildeo podia sair

com eles pois tinha que escrever

Agradeccedilo tambeacutem a minha maravilhosa equipe de campo que na verdade satildeo

meus amigos que se protificaram de imediato em me ajudar quando pede o apoio deles

para a coleta de dados satildeo eles Armando Filho (Geografia - UFAM) Erickson (Bioloacutegia -

UEA) Erisson Duarte (Bioloacutegia - UEA) Leozanira (Geografia - UFAM) Romaacuterio (Bioloacutegia-UEA)

Sidney Barros (Geografia - UFAM) Thiago Alisson (Bioloacutegia - UEA) Ariane Oliveira (Liacutengua

Portuguesa - UFAM) meu muito obrigado

Agradeccedilo tambeacutem a todos os moradores entrevistados da Bela Vista e de

Manaquiri que nos doaram horas preciosas de suas vidas para responder nossas perguntas

e nos presentear com suas histoacuterias de vida meu muito obrigada

Agradeccedilo tambeacutem ao sr Evandro Oliveira pela calorosa acolhida a toda equipe de

campo para realizarmos as entrevistas com os moradores de Manaquiri

8

RESUMO

A gigantesca fronteira e sua densa cobertura florestal apoiadas no discurso militar de ldquoum

lugar sem gente necessitado de uma histoacuteriardquo tornou a Amazocircnia alvo de grandes projetos

de desenvolvimento e integraccedilatildeo nacional a partir do seacuteculo XX o que por sua vez iniciava

um novo e complexo capiacutetulo na histoacuteria da regiatildeo Algo que viria a marca profundamente

natildeo soacute a paisagem com a retirada da cobertura vegetal para a implantaccedilatildeo das ldquoespinhas de

progressordquo como ficaram conhecidas as rodovias implantadas na Amazocircnia mas tambeacutem a

vida das centenas de milhares pessoas que migraram para o entorno das futuras rodovias

Essas populaccedilotildees tiveram que se adaptar ao ambiente amazocircnico ao mesmo tempo tambeacutem

trouxeram seus haacutebitos e costumes promovendo a troca de conhecimentos com as

populaccedilotildees ribeirinhas o que viria a permitir definitivamente a ocupaccedilatildeo da regiatildeo ateacute

entatildeo considerada um vazio demograacutefico Embora o ciclo da borracha tenha levado milhares

de nordestinos em sua maioria a regiatildeo amazocircnica no final do seacuteculo XIX ateacute a primeira

deacutecada do seacuteculo XX caberia aos migrantes e imigrantes das rodovias darem o ponto de

partida para transformaccedilatildeo definitiva da paisagem e a consolidaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo da regiatildeo

adaptando-se a realidade local que muitas vezes longe de centros urbanos eacute residir em

aacutereas de vaacuterzea Diante disso buscou-se Analisar as possiacuteveis alteraccedilotildees na vida de

populaccedilotildees ribeirinhas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri frente agrave

reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas

tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras Para isso faz-se necessaacuterio

identificar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) e o consequente

decliacutenio no volume de produccedilatildeo agriacutecola tento como referecircncia a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio Negro Caracterizar a percepccedilatildeo dos moradores dessas localidades sua relaccedilatildeo

com o ecossistema e perspectiva de desenvolvimento do lugar Propor alternativa de

Educaccedilatildeo Ambiental que considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e

sustentabilidade com a reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da estrada BR-319

Para executar tais objetivos a pesquisa foi dividida em duas etapas na primeira etapa foram

entrevistados os moradores mais antigos das duas localidades e na segunda etapa da

pesquisa agraves entrevistas foram expandidas aos chefes de famiacutelia com quarenta entrevistados

em cada localidade A partir das investigaccedilotildees realizadas e da anaacutelise dos dados coletados

foi possiacutevel detectar a percepccedilatildeo dos entrevistados quanto agrave reabertura da BR-319 e a

construccedilatildeo da ponte sobre o rio Solimotildees Dessa forma percebeu-se uma tendecircncia de

entusiasmos com a possibilidade de realizaccedilatildeo das obras ao mesmo tempo que gera

cautela nos entrevistados quanto aos impactos dessas obras sobre a floresta Amazocircnica

Palavras chaves Estradas na Amazocircnia ponte sobre o Rio Solimotildees percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Educaccedilatildeo Ambiental

9

ABSTRACT

The immense border and the dense forest cover encouraged by the military discourse of ldquoa

place without people craving for historyrdquo made the Amazon region a target to many

massive projects of development and national integration in the beginning of XX Century

which led to a new and complex chapter in the history of this regionThis is something that

would deeply scar not just the landscape with the major deforesting to implant the roads at

the Amazon as known as ldquospines of progressrdquo but also the life of hundreds of thousands of

people that migrated to the surrounds of those that would be the future highways These

populations had to adapt to traditions which fomented the exchange of knowledge

between the riverine populations which allowed the occupation of this area that was

considered as demographic emptiness Although the Latexrsquos cycle had brought thousands of

people most of them from the Northeast region to the Amazon region in the end of the XIX

Century until the first decade of the XX Century However it was the role of the migrants

and immigrants of the roadways to start the transformation that would define the

landscape and consolidate the occupation at this region adapting to local reality that

sometimes located far away from the urban centers itrsquos inhabit in riparian areas Taking this

in consideration this project aimed analize the possible alterations on the lifes of the

riparian populations sited at ldquoBela Vista Communityrdquo (Municipality of Manacapuru) and the

headquarters of the Municipality of Manaquiri ndash AM in view of the re-opening of the

highway BR-319 Considering that the building of the bridge over the SolimotildeesAmazonas

River will probably have as initial points those two locations For this its necessary identify

the present scenery of the fluvial geomorphology (upper land and floodplain) and the

consequent decline of the agricultural production having as reference the building of the

bridge over the Negro River Characterize the perception of the inhabitants of those

locations their relation with the ecosystem and the development perspective of the locality

Propound an alternative of Environmental Education that consider geographic aspects of the

region their complexity and sustainability with the spatial reconfiguration resulting from

the re-opening of the highway BR-319 To achieve such objectives the research was divided

in two phases In the first were interviewed the elders inhabitants at both locations Bela

Vista Community and the headquarters of the Municipality of Manaquiri In the second

phase were realized interviews with the familiesrsquo chiefs with forty inhabitants interviewees

in each locality Starting from the examination realized and from the analyzes of the

collected data it was possible detect the perception of the interviewees referring to the re-

opening of the highway BR-319 and the building of the bridge over the Solimotildees River

Therefore it was noticed a trend of enthusiasm regard the possibility of the fulfillment of

the construction at same time that generates some reservations in the interviewees about

the impacts of those works over the Amazon Forest

Keywords Roads in Amazon ndash Bridge Over the Solimotildees River ndash Transdisciplinary Perception

ndash Environmental Education

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia 24

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees 26

Figura 3 Primeira parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT41

Figura 4 Segunda parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT 42

Figura 5 Cruzeiros atracados no porto de Manaus43

Figura 6 Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia 46

Figura 7 BR-163 Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia48

Figura 8 Placa de bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica)49

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-23051

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista- Manacapuru57

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para o transporte61

Figura 12 Sede do municiacutepio de Manaquiri e sua topografia64

Figura 13 Frente da cidade de Manaquiri67

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri70

Figura 15 Centro comercial na sede municipal de Manaquiri70

Figura 16 Sede da comunidade da Bela Vista e sua topografia 82

Figura 17 Vista do rio SolimotildeesAmazonas da comunidade da Bela Vista83

Figura 18 Casa do administrador da Colocircnia85

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal por moradores da Bela Vista91

Figura 20 Usina de beneficiamento da CANA92

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA92

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista agrave margem do rio

SolimotildeesAmazonas93

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de vaacuterzea da comunidade da Bela Vista93

11

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio

SolimotildeesAmazonas94

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade104

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo109

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos113

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (AM-070)114

Figura 31 Aacutervores de castanheiras no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano

(AM-070)115

Figura 32 Ponte Rio Negro117

Figura 33 Iranduba 2007 antes da contruccedilatildeo da Ponte Rio Negro119

Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro121

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro122

Figura 36 Estrutura da Pesquisa127

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos128

Figura 38 Respostas dos entrevistados (1 a 4)129

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (perguntas 5 a 8)130

Figura 40 Resposta dos entrevistados (perguntas 9 e 10)131

Figura 41 Rua da comunidade da Bela Vista137

Figura 42 Sede do municiacutepio de Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa142

Figura 43 Paranaacute do Manaquiri150

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio de Manaquiri151

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas152

Figura 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia156

Figura 47 Rodovias Federais no Amazonas157

12

Figura 48 BR-317 ou Caarretera Del Paciacutefico158

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru159

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil159

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea- AM161

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira162

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant ndash Atalaia do Norte 164

Figura 54 BR-307 ndash Asfalto cedendo no 22km164

Figura 55 BR-230Amazonas166

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica170

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174171

Figura 58 A evoluccedilatildeo do territoacuterio Waimiri Atroari179

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319185

13

GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados da Bela Vista135

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista136

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista139

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte rio Solimotildees140

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319140

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri143

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo lhes agrada no Manaquiri144

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri145

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores de Manaquiri147

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio SolimotildeesAmazonas148

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319149

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia152

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores da sede municipal de Manaquiri sobre as consequecircncias

da construccedilatildeo de uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 Produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia59

Tabela 3 Crescimento populacional de Manaquiri entre (1991 a 2010 )67

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas68

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri de Janeiro a Dezembro de 201271

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo Agriacutecola da CANG75

Tabela 7 Crescimento populacional dos estados do Amazonas e Paraacute (1900-1950)80

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento do IIRSA124

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea

- AM165

Tabela 10 Crescimento populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas169

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atroari de 1905 ndash 2011172

Tabela 12 Crescimento populacional da regiatildeo Norte do Brasil182

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000- 2012)187

15

LISTA DE SIGLAS

BASA- Banco da Amazocircnia

BID- Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico

CANA- Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas

CAND- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados

CANG- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes

DEREM- Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Amazonas

DNER- Departamento Nacional de Estrada de Rodagem

FERMM- Fundo Especial da Regiatildeo de Metropolitana de Manaus

FIDAM- Fundo de Investimento Privado do Desenvolvimento

FNO- Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FONPLATA- Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

FUNAI- Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRA- Instituto Brasil de Reforma Agraacuteria

IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal

IIRSA- Iniciativa de Integraccedilatildeo Regional Sul Americana

INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

INIC- Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo

IPAAM- Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental da Amazocircnia

IPHAN- Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

PICs- Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo

PIND- Programa de Integraccedilatildeo Nacional de Desenvolvimento

16

PND- I Plano Nacional de Desenvolvimento

PNN- Plano Nossa Natureza

POLAMAZOcircNIA- Polos Agropecuaacuterios e Agrominerais da Amazocircnia

PRODES- Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica brasileira por sateacutelite

RMM- Regiatildeo Metropolitana de Manaus

SEMTA- Serviccedilo Especial de Mobilizaccedilatildeo de Trabalhos para a Amazocircnia

SEPROR- Secretaacuteria de Estado da Produccedilatildeo Rural

SNAPP- Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute

SPI- Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

SRMM- Secretaacuteria Executiva do Conselho de Desmatamento Ambiental da Regiatildeo

Metropolitana de Manaus

SUFRAMA ndash Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus

UAB- Usina Hidreleacutetrica de Balbina

UFAM- Universidade Federal do Amazonas

17

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO19

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS23

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO31

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTOS E INTEGRACcedilAtildeO

NACIONAL34

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA40

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO

SOLIMOtildeESAMAZONAS52

21 ndash QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA

AMAZOcircNIA57

211 ndash Um Lugar Chamado Manaquiri63

222 ndash Infraestrutura do Manaquiri Produccedilatildeo Agriacutecola68

22 ndash MARCHA PARA O OESTE E A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS72

221 ndash Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- Cana ldquoUm Lugar Para recomeccedilarrdquo78

222 ndash Infraestrutura da Cana da Produccedilatildeo Agriacutecola a Construccedilatildeo de Batelotildees85

223 ndash Da Sede da CANA agrave comunidade da Bela Vista87

3 ndash PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO96

31- RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR104

32 - MANAUS METROacutePOLE105

321 Ponte Rio Negro Proposta e Realidade108

33- PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS 116

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI 125

341 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Bela Vista 135

18

342 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Sede do Municiacutepio de

Manaquiri142

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR NO FUTURO ALTERNATIVA DE

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS153

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO158

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute162

43 BR-230 TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Aacute FAZENDAS DE

GADO165

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute-RR DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI)170

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO180

46 ndash OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES188

461 Proposta de Educaccedilatildeo Ambiental Audiecircncias Puacuteblicas e o preparo das localidades

ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri192

CONSIDERACcedilOtildeS FINAIS201

REFEREcircNCIAS204

APEcircNDICE 1219

APEcircNDICE 2220

19

INTRODUCcedilAtildeO

No final do seacuteculo XIV com o objetivo de comprar especiarias como accedilafratildeo canela

pimenta entre outros na Iacutendia os europeus principalmente portugueses e espanhoacuteis se

viram obrigados a encontrar uma rota alternativa para chegar a chamada Iacutendias Orientais

dando inicio agrave corrida pelas Grandes Navegaccedilotildees tornando os mares as principais vias de

circulaccedilatildeo de pessoas e mercadores a partir do seacuteculo XV intensificado ainda mais com a

descoberta das Ameacutericas

A preocupaccedilatildeo de invasotildees por paiacuteses adversaacuterios provocou a fundaccedilatildeo de

pequenas vilas e fortes ao longo dos litorais das Ameacutericas com o intuito de defender o

territoacuterio receacutem-descoberto Todavia a ocupaccedilatildeo de terras situadas proacuteximas a cursos de

aacutegua eacute anterior agraves Grandes Navegaccedilotildees uma vez que as cidades mais antigas do mundo tecircm

suas origens proacuteximas a cursos drsquoaacutegua mares e oceanos Como por exemplo a cidade de

Jericoacute na Palestina considerada a aglomeraccedilatildeo urbana mais antiga do mundo com data de

nove mil anos aC estaacute diretamente ligada ao rio Jordatildeo (VOGUE 2012) Outras cidades

consideradas antigas satildeo Mumbai na Iacutendia banhada pelo Oceano Iacutendico Xangai na China

banhada pelo Mar da China Meridional

No Brasil natildeo seria diferente uma vez que foi Colocircnia de Portugal no litoral e

Colocircnia Espanhola na Amazocircnia ateacute os espanhoacuteis serem expulsos pelos portugueses da

regiatildeo no seacuteculo XVII Entretanto os resquiacutecios da colonizaccedilatildeo portuguesa persistiram no

litoral criando primeiramente vilas depois cidades em constante crescimento populacional

concentradas em pequenos centros urbanos agrave principio e depois em meacutedios centros nos

seacuteculos seguintes

Com a libertaccedilatildeo dos escravos em 1888 novas aacutereas passam a ser ocupadas no

entorno dos centros urbanos ou no meio deles como eacute o caso dos morros na cidade do Rio

de Janeiro no inicio de 1900

A populaccedilatildeo brasileira concentrada quase em sua totalidade no litoral brasileiro no

inicio do seacuteculo XX definia a maior parte do territoacuterio como espaccedilos ldquovaziosrdquo o Governo

Brasileiro na pessoa do entatildeo Presidente da Repuacuteblica Getuacutelio Vargas (1938-1942) diante

20

dessa situaccedilatildeo criou as Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional enfatizando a ocupaccedilatildeo

principalmente da Amazocircnia e do Centro-Oeste brasileiro

Entretanto esta natildeo foi a primeira poliacutetica de povoamento da Amazocircnia pois o

primeiro Ciclo da Borracha aconteceu entre 1879-1912 onde centenas de milhares de

pessoas migraram para a regiatildeo com o objetivo de trabalharem na retirada do laacutetex da

seringueira (Hevea brasiliensis)

Contudo essa migraccedilatildeo em considerada escala natildeo permaneceu por um longo

periacuteodo tambeacutem natildeo chegou a ocupar significativa porcentagem da Amazocircnia isto eacute os

imigrantes se concentravam em poucos locais chamados de ldquoseringaisrdquo situados ao longo

dos rios no sudoeste do Amazonas e posteriormente no estado do Acre receacutem-

conquistado

As Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional criadas e iniciadas por Vargas em 1940 com o

Decreto-Lei nordm 2009 de 09 de Fevereiro de 1940 daacute inicio a criaccedilatildeo de Nuacutecleos Coloniais

(lotes rurais previamente demarcados) com o objetivo de incentivar a colonizaccedilatildeo e a

produccedilatildeo agriacutecola em aacutereas consideradas vazias desde que as aacutereas escolhidas reunissem

as condiccedilotildees exigidas na lei

Em 14 de Fevereiro de 1941 atraveacutes do Decreto-Lei nordm3059 criam-se as Colocircnias

Agriacutecolas Nacionais custeadas integralmente pelo governo federal Entre as colocircnias

fundadas estaacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA criada pelo Decreto-Lei nordm

8056 de 30 de Dezembro de 1941 localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem

esquerda do rio Solimotildees com o nome de Colocircnia Agriacutecola Nacional da Bela Vista

A presente pesquisa pretendeu fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo e

funcionamento CANA utilizando-se de entrevistas com os colonos que continuam morando

na regiatildeo Ao mesmo tempo fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo da cidade sede do

municiacutepio do Manaquiri situado agrave margem direita do Rio Solimotildees

Poreacutem o trabalho natildeo eacute somente um resgate histoacuterico pois o mesmo tambeacutem

identifica os impactos das grandes obras para reabertura da BR 319 na visatildeo dos moradores

das localidades ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri e posteriormente estruturar uma

alternativa que propicie informaccedilotildees aos moradores para a tomada de decisatildeo em relaccedilatildeo

aos empreendimentos propostos visando agrave construccedilatildeo de cenaacuterios futuros de modo a

garantir a conservaccedilatildeo do ambiente

21

O problema que norteou a pesquisa estaacute relacionado agrave proposta de

desenvolvimento da Amazocircnia compatibilizada com a sua conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as alteraccedilotildees na vida de

ribeirinhos do rio SolimotildeesAmazonas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri

no estado do Amazonas frente agrave reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte

sobre o rio tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras

Para o alcance desse objetivo geral a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos

especiacuteficos analisar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) visando o

comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis e o consequente decliacutenio no volume da produccedilatildeo

agriacutecola caracterizar a percepccedilatildeo dessas comunidades sua relaccedilatildeo com o ecossistema e

perspectiva de desenvolvimento do lugar propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental que

considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e sustentabilidade com a

reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da BR-319

A dissertaccedilatildeo estaacute organizada em quatro capiacutetulos Floresta Amazocircnica realidade e

desafios A vida ribeirinha em torno da sazonalidade do rio SolimotildeesAmazonas Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Complexidade perspectiva de Desenvolvimento Educaccedilatildeo Ambiental e

Poliacuteticas de Desenvolvimento para a Amazocircnia

Ao longo do primeiro capiacutetulo discutiu-se as diversas abordagens sobre a

Amazocircnia acompanhada da sua demarcaccedilatildeo territorial seja ela feita pelo bioma amazocircnico

ou pela delimitaccedilatildeo de Amazocircnia Legal Brasileira o processo de evoluccedilatildeo do pensamento

histoacuterico sobre a regiatildeo do claacutessico ao moderno baseado em autores que classificam a

Amazocircnia segundo seus aspectos fiacutesicos Os projetos de desenvolvimento implantados na

regiatildeo foram ressaltados em seus respectivos momentos histoacutericos e suas representaccedilotildees

tanto para seus executores quanto para o momento poliacutetico de cada eacutepoca Nesse sentido

foram descritos o potencial hiacutedrico da regiatildeo e a opccedilatildeo de rodovias para alcanccedilar natildeo soacute as

fronteiras mas para minimizar os problemas enfrentados em outras regiotildees brasileiras bem

como a seca no nordeste e o excesso de matildeo de obra

No segundo capiacutetulo foi traccedilado um panorama sequencial apoacutes a quebra da

borracha e os reflexos nas margens dos rios da regiatildeo com a

migraccedilatildeo dos ex-seringueiros para proacuteximo dos centros urbanos a fundaccedilatildeo de pequenos

povoados ao longo das calhas dos rios e a fundaccedilatildeo da Vila do Jaraqui que mais tarde se

22

tornaria a cidade de Manaquiri no estado do Amazonas No mesmo capiacutetulo descreve-se a

fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA com a chegada de

seus futuros colonos sua distribuiccedilatildeo espacial e posteriormente a sua transformaccedilatildeo ao

longo dos anos com a vinculaccedilatildeo ao municiacutepio de Manacapuru como uma comunidade

rural

No terceiro capiacutetulo discutiu-se as bases teoacutericas da percepccedilatildeo transdisciplinar e a

perspectiva de desenvolvimento dividido em dois momentos no primeiro apresenta-se o

conceito de percepccedilatildeo transdisciplinar e seus pilares ontoloacutegico a loacutegica do terceiro

incluiacutedo e a complexidade com seus tambeacutem trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional

e hologramaacutetico No segundo momento eacute discutido o conceito de desenvolvimento

empregado na criaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Manaus e na construccedilatildeo da ponte sobre

o rio Negro considerada a ldquoponte do futurordquo porque permitiraacute o acesso agrave BR 319 com a sua

vinculaccedilatildeo agrave ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas Ainda no capiacutetulo trecircs foi discutida a

percepccedilatildeo ambiental dos entrevistados sobre o meio ambiente natural onde vivem e sua

relaccedilatildeo com o mesmo visando colher informaccedilotildees que possam vir a ser usadas para a

sensibilizaccedilatildeo das localidades da Bela Vista e do Manaquiri

No quarto e uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho foi feito um resgate histoacuterico da

Educaccedilatildeo Ambiental no Brasil e no mundo assim como os impactos das rodovias

construiacutedas na Amazocircnia de forma a relacionar com as informaccedilotildees apontadas pelos

moradores da Bela Vista e de Manaquiri em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio

SolimotildeesAmazonas Ao mesmo tempo a pesquisa propotildee a execuccedilatildeo de alternativas de

Educaccedilatildeo Ambiental a fim de contribuir com a formaccedilatildeo de uma opiniatildeo puacuteblica baseada

em informaccedilotildees concretas de diversas fontes considerando a complexidade da questatildeo

ambiental

23

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS

A Floresta Amazocircnica Tropical ou Limite Panamazocircnica estaacute situada no norte da

Ameacuterica do Sul compreendendo os paiacuteses Boliacutevia Brasil Equador Colocircmbia Peru e a

Venezuela o equivalente a ldquo120 da superfiacutecie terrestre e dois quintos da Ameacuterica do Sul

conteacutem um quinto da disponibilidade mundial de aacutegua doce (17) e um terccedilo das florestas

mundiais latifoliadas mas somente 35 mileacutesimos da populaccedilatildeo planetaacuteriardquo(BECKER 2009

p33)

O Brasil deteacutem a maior parte da Florestal Tropical Amazocircnica ou Bioma Amazocircnico

que por coincidecircncia eacute toda a regiatildeo norte do paiacutes com aproximadamente 42 milhotildees de

kmsup2 o equivalente a 49 de todo o territoacuterio brasileiro abrangendo nove estados satildeo eles

Amazonas Paraacute Mato Grosso Acre Rondocircnia Roraima Amapaacute e partes dos estados de

Tocantins e Maranhatildeo (GREENPEACE 2014)

O Bioma Amazocircnico no Brasil eacute corriqueiramente confundido com a Amazocircnia

Legal instituiacuteda pela Lei nordm nordm 1806 de 06 de Janeiro de 1953 que discorre em seu art 2ordm

Art 2ordm A Amazocircnia Brasileira para efeito de planejamento econocircmico e execuccedilatildeo do Plano definido nesta lei abrange a regiatildeo compreendida pelos Estados do Paraacute e do Amazonas pelos territoacuterios federais do Acre Amapaacute Guaporeacute Roraima e ainda a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16ordm a do Estado de Goiaacutes a norte Tocantins e a do Maranhatildeo a oeste do meridiano de 44ordm (BRASIL 1953 p 276)

Com isso a Amazocircnia Legal abrange integralmente ou parcialmente dez estados

brasileiros que somados correspondem a 52 milhotildees de quilocircmetros quadrados sendo eles

Amazonas Paraacute Acre Amapaacute Rondocircnia (antigo estado de Guaporeacute) Roraima significativa

porcentagem do estado do Mato Grosso e aproximadamente metade do estado de Goiaacutes

juntamente com Tocantins e parte do Maranhatildeo (Figura 1)

24

O bioma Amazocircnico eacute classificado como uma recente planiacutecie sedimentar que

segundo Soares (1963 p25) estaacute ldquodisposta entre dois antigos e poucos elevados planaltos

cristalinosrdquo o que justifica sua pouca declividade em direccedilatildeo agrave sua foz no Oceano Atlacircntico

Banhada por uma intensa e extensa bacia hidrograacutefica a Amazocircnia eacute definida pela

literatura e pelos meios de comunicaccedilatildeo como uma regiatildeo homogecircnea de clima uacutemido de

cobertura vegetal e florestal densa (GONCcedilALVES 2001) No entanto tais definiccedilotildees sobre a

regiatildeo foram construiacutedas ao longo dos seacuteculos primeiramente com a chegada dos

espanhoacuteis agrave regiatildeo apoacutes perpetuados relatos e descriccedilotildees das paisagens encontradas

Uma visatildeo interessante sobre a Amazocircnia eacute apresentada por Rangel (2009) no inicio

do seacuteculo XX por meio de sete contos nos quais o autor destroacutei a imagem de um Eldorado

Amazocircnico construiacutedo ao longo de quatro seacuteculos apoacutes o seu descobrimento onde os

exploradores que se aventuravam pela regiatildeo descreviam suas paisagens animais cores e os

iacutendios encontrados cercados por romantismo

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia Fonte Greenpeace (2014) disponiacutevel em httpwwwgreenpeaceorgbrasilGlobalbrasilimage20105mapa_amazoniajpg

25

Rangel (2009) descreve uma realidade cruel enfrentada pelos homens que

ultrapassam a sua bela paisagem e se encontram face a face com os perigos escondidos na

floresta

Eacute compreensiacutevel a construccedilatildeo de um cenaacuterio tatildeo monstruoso e cruel uma vez que o

ser humano por essecircncia tem medo do desconhecido e costuma criar estoacuterias para

justificar seus medos contudo se faz necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo o contexto histoacuterico

especiacutefico de cada publicaccedilatildeo

Na verdade o Eldorado Amazocircnico ou o Paraiacuteso Perdido foram contos trazidos pelos

proacuteprios navegadores E satildeo na verdade contos da Greacutecia Antiga transmitidos ao longo dos

seacuteculos que foram implantados sobre a regiatildeo baseados nas semelhanccedilas fiacutesicas como

floresta aacutegua em abundacircncia minerais animais etc

Portanto a definiccedilatildeo de Amazocircnia ldquoeacute na verdade mais uma imagem sobre a regiatildeo

do que da regiatildeordquo (GONCcedilALVES 2001 p17) Em outras palavras a descriccedilatildeo das

caracteriacutesticas do lugar define um quadro belo mais ou menos homogecircneo sobre a regiatildeo

quando na verdade o termo Amazocircnia

eacute um termo vago que adquire muacuteltiplos significados correspondente aos mais diferentes contextos socioecoloacutegico-culturais especiacuteficos que satildeo os espaccedilos do seu cotidiano Assim enquanto para uns ndash os de fora ldquoAmazocircniardquo aparece no singular para outros isto eacute para os que nela moram ndash ela eacute plural e multifacetada (GONCcedilALVES 2001 p18)

Banhada por uma extensa e intensa bacia hidrograacutefica apoiada em altos iacutendices

pluviomeacutetricos anuais eacute uma floresta gigantesca em tamanho e diversidade torna a

Amazocircnia o palco de espetaacuteculos beliacutessimos em sua paisagem (Figura 2)

26

Contudo segundo Soares (1963) a Amazocircnia estaacute dividida em dois terrenos de

caracteriacutesticas fisionocircmicas distintas

[]os planos ondulados alagaacuteveis ou natildeo mas sempre uacutemidos da bacia amazocircnica A chamada Mata de Vaacuterzea ou caa-igapoacute eacute uma das taxas de umidade mais elevada isto eacute uma planiacutecie aluvial inundaacutevel [] Jaacute a outra a Mata de Terra Firme ou caa-eteacute viceja em terrenos menos uacutemidos por estarem acima do niacutevel maacuteximo das cheias (SOARES 1963 p64)

Azevedo (1949) destaca que a Amazocircnia assim como o restante do territoacuterio

brasileiro comporta bacias sedimentares e tambeacutem rochas cristalinas muito antigas

Baseado nos trabalhos publicados e apoiado em suas pesquisas de campo Azevedo (1949)

classificou pela primeira vez todo o relevo brasileiro em macro sistemas dividido-os

segundo sua altimetria planiacutecies ateacute 200m e planaltos com altimetria superior a 200m

Nesse contexto agrave Amazocircnia Brasileira foi classificada como um planalto localizado no

extremo norte da regiatildeo chamado de Planalto das Guianas e possui uma planiacutecie que

comporta todo o estado do Acre adentra o estado do Amazonas e segue o curso do rio

Amazonas ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico

No final da deacutecada de 50 surge uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro de

autoria de AbrsquoSaber (1958) que teve por base o conjunto de agentes internos (tectonismo) e

externos (clima solo hidrografia etc) e os processos geomorfoloacutegicos de erosatildeo e

deposiccedilatildeo onde o planalto eacute uma superfiacutecie de intensa erosatildeo e a planiacutecie de sedimentaccedilatildeo

Fez uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro acrescentando novas tipologias e

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees

Fonte Louzada (2011)

27

subdividindo outras jaacute existentes em Azevedo (1949) foi o que ocorreu na classificaccedilatildeo do

relevo amazocircnico onde o Planalto das Guianas e a Planiacutecie Amazocircnica de Azevedo (1949)

passou a ser denominada de planiacutecies (terras de vaacuterzea ou terraccedilos fluviais) e terras baixas

amazocircnicas (aacutereas de terra firme ou baixos planaltos)

Todavia o trabalho de Ross (2003) foi um marco na caracterizaccedilatildeo do relevo

brasileiro pois atraveacutes do Projeto Radam Brasil o autor teve a oportunidade de sobrevoar

todo o territoacuterio brasileiro e ter acesso as imagens aeacutereas de radar que o permitiu fundir

informaccedilotildees tanto dos processos morfoestruturais (depressatildeo planalto planiacutecie etc) e

estrutura geoloacutegica como utilizar o criteacuterio morfoclimaacutetico principalmente do intemperismo

(erosatildeo e deposiccedilatildeo) Tanto conhecimento que permitiu ao autor expandir a caracterizaccedilatildeo

do relevo brasileiro caracterizando-o em 28 unidades de revelo

Na classificaccedilatildeo de Ross (2003) a Amazocircnia estaacute dividida assim Planalto Residual

Norte Amazocircnico Planalto da Amazocircnia Oriental Planalto Residual Sul Amazocircnico Planalto

e Chapada dos Parecis Depressatildeo Marginal Norte Amazocircnica Depressatildeo Marginal Sul

Amazocircnica Planiacutecie do Rio Amazonas Planiacutecie do Pantanal Guaporeacute Planiacutecies e Tabuleiros

Litoracircneos e Planiacutecie do Rio Araguaia

Apesar da nomenclatura diferente a Planiacutecie do Rio Amazonas descrita por Ross

(2003) eacute a mesma planiacutecie de terras baixas descritas por AbrsquoSaber (1958) onde predominam

terras alagaacuteveis conhecidas como vaacuterzeas Soares apud Camargo (1963) afirma que as

vaacuterzeas correspondem a 15 de todo o territoacuterio da Amazocircnia Brasileira

As terras de vaacuterzea satildeo cobertas pela sazonalidade do rio em meacutedia seis meses ao

ano todavia ao contraacuterio do que muitos leigos dizem as terras natildeo satildeo lavadas pelo rio ao

contraacuterio satildeo nutridas pelo mesmo atraveacutes da deposiccedilatildeo de materiais conhecidos como

aluviotildees (depoacutesitos de sedimentos trazidos pelas aacuteguas) o que torna as terras de vaacuterzea

feacuterteis e cultivaacuteveis em seu periacuteodo seco

A mata de vaacuterzea apresenta maior diversidade botacircnica que a mata de terra firme

devido agrave quantidade e variedade de sementes transportadas pelas aacuteguas das cheias anuais

depositadas nos solos ricos das vaacuterzeas Um grande exemplo dessa diversidade eacute a aacutervore

Samauacutema (Ceiba Pentandra) detentora de um tronco grosso e coloraccedilatildeo esbranquiccedilada

que apresenta uma grande copa e de relativa altura ultrapassando os 50m sendo

considerada a ldquorainha da vaacuterzeardquo (SOARES 1963)

28

Por causa de sua nutriccedilatildeo anual as terras de vaacuterzea satildeo ocupadas pelas populaccedilotildees

ribeirinhas tradicionais para a produccedilatildeo agriacutecola por meio do plantio de cultivos de ciclo

curto como frutas (melancia maracujaacute banana melatildeo mamatildeo papaia goiaba) mas

principalmente de verduras (cebolinha coentro alfavaca couve berinjela pepino alface

entre outras) aleacutem da macaxeira e da mandioca que em seguida eacute utilizada na fabricaccedilatildeo da

farinha de mandioca muito consumida na regiatildeo Eacute atraveacutes das vaacuterzeas tambeacutem que as

populaccedilotildees tradicionais manteacutem seu contato diaacuterio com o rio principal via de circulaccedilatildeo na

Amazocircnia

Geralmente proacuteximas agraves vaacuterzeas que se formam as ilhas fluviais que segundo Sioli

apud Pacheco et al (2012 p543) satildeo fruto ldquodas modificaccedilotildees constantes na paisagem

atraveacutes do processo das planiacutecies de inundaccedilatildeovaacuterzeas ora erodindo-as e outras vezes

sedimentando-asrdquo

Essa dinacircmica acontece porque no processo fluvial de um rio a competecircncia e a capacidade estatildeo atreladas a triacuteade fluvial 1) erosatildeo 2) transporte das cargas detriacuteticas e 3) deposiccedilatildeo (BIGARELLA e SUGUIU 1990CHRISTOFOLETTI1980 e 1991) Ressalta-se desse modo que essa dinamicidade das aacuteguas fluviais natildeo contribui apenas para o modelado do relevo das planiacutecies aluviais pois ao desencadear o processo da triacuteade influencia na vida do homem de maneira que o atrai para a edificaccedilatildeo do seu sistema de produccedilatildeo [] Nessa dinacircmica vai deixando bancos dentriacuteticos que chegam a formar ilhas fluviais que constituem o ecossistema de vaacuterzea onde o homem passa a interagir com seu modo de vida (PACHECO et al 2012 p543)

Os autores referem-se agrave utilizaccedilatildeo das ilhas fluviais pelos ribeirinhos para a

produccedilatildeo agriacutecola de alimentos de ciclo curto como feijatildeo de metro ou corda feijatildeo de

praia melancia entre outros para complementar a alimentaccedilatildeo familiar ou para a venda no

mercado consumidor mais proacuteximo

Ao contraacuterio dos solos de vaacuterzea que satildeo nutridos pelas aacuteguas dos rios quando satildeo

cobertos pelas cheias os solos de terra firme nunca satildeo totalmente cobertos pelas aacuteguas

nem quando as enchentes extrapolam sua cota normal o que natildeo permite a nutriccedilatildeo dos

seus solos que eacute parcialmente alcanccedilado com a decomposiccedilatildeo das folhas das aacutervores e dos

proacuteprios nutrientes do solo

Apesar da ausecircncia de depoacutesitos aluviais nas aacutereas de terra firme isto natildeo impede a

existecircncia de aacutervores consideradas nobres como o mogno (Swieteniamahogany) angelim

(Hymenolobim excelsum) maccedilaranduba (Lucuma procera) e uma gigantesca lista de outras

29

espeacutecies de madeiras de lei (SOARES 1963) de grande procura no mercado o que torna as

aacutereas de terra firme da Amazocircnia alvo de grande empresas madeireiras

Devido ao seu gigantesco territoacuterio maior do que o nordeste brasileiro inteiro e

qualquer outra regiatildeo do paiacutes a Amazocircnia ainda eacute vista como um ldquovazio demograacuteficordquo pois

sua populaccedilatildeo mesmo somando os sete estados que compotildeem a regiatildeo norte do paiacutes natildeo

expressa um nuacutemero significativo de habitantes pois tem densidade demograacutefica meacutedia de

444 (habkmsup2) (IBGE 2010)

Por anos a Amazocircnia foi definida e divulgada em larga escala ao mundo como

sendo uma regiatildeo monoacutetona e pouco compartimentalizada desprovida de diversidade

fisiograacutefica e ecoloacutegica ldquoEnfim um espaccedilo sem gente e sem histoacuteria passiacutevel de qualquer

manipulaccedilatildeo por meio de planejamento feito a distacircncia ou sujeita a proposta de obras

faraocircnicas vinculadas haacute um muito falso conceito de desenvolvimentordquo (ABrsquoSABER 1996

p131)

Nesse contexto de ldquoabundacircnciardquo de recursos naturais e terras disponiacuteveis a

Amazocircnia foi e continua sendo a preocupaccedilatildeo nacional pois corresponde

aproximadamente a metade do territoacuterio brasileiro suas dimensotildees e riquezas naturais natildeo

totalmente catalogadas pelos cientistas e estudiosos acabam por atrair um grande numero

de pessoas oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo (BECKER 1997)

Diante disso com o golpe do Estado Novo executado por Getuacutelio Vargas em 1937

contra os candidatos agrave presidecircncia da receacutem criada Repuacuteblica do Brasil Joseacute Almeida e

Armando Oliveira (acusados de serem comunistas) Vargas assume o poder em 1938

tornando prioridade a integraccedilatildeo econocircmica nacional atraveacutes da colonizaccedilatildeo de regiotildees

consideradas desabitadas como a Amazocircnia e o Centro-oeste brasileiro

Em virtude de que a capital do paiacutes ainda se encontrava no litoral na cidade do Rio

de Janeiro o nome do movimento de integraccedilatildeo nacional recebeu o nome de ldquoMarcha para

o Oesterdquo entretanto a marcha seguia em direccedilatildeo ao centro oeste em diferenccedila aos estados

de Minas Gerais Mato Grosso posteriormente ao Norte agrave Amazocircnia

A Marcha para o Oeste na verdade continha importacircncia estrateacutegica para

seguranccedila das fronteiras no entanto o objetivo principal era ocupar os espaccedilos

considerados vazios demograacuteficos e seguranccedila nacional era sua maior preocupaccedilatildeo

30

Segundo Ricardo (1970) a Marcha para o Oeste de Getuacutelio Vargas seria a

conquista de seu proacuteprio territoacuterio uma vez que o mesmo foi esquecido por muitos anos

discurso este impregnado na ampla campanha veiculada pelo raacutedio em transmissotildees

semanais incentivando a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira para os espaccedilos considerados

vazios de gente e necessitados de histoacuteria

Ainda segundo Ricardo (1970) a naccedilatildeo brasileira se concretiza na conquista do

interior do Brasil lugar de gecircnese do Estado Nacional materializado na proacutepria bandeira

ldquoQuando entra no mato a primeira bandeira termina a histoacuteria de Portugal e comeccedila a do

Brasilrdquo (RICARDO 1970 p229)

Nota-se no entanto que Ricardo (1970) eacute um grande defensor da Marcha para o

Oeste de Vargas porque deseja como jornalista escrever a histoacuteria do Brasil a partir de um

novo comeccedilo sem a influecircncia negativa do litoral visto por ele como a porta de entrada das

ideias corruptoras vindas da Europa entre elas o comunismo

Ricardo (1970 p480) afirma que a Marcha para o Oeste eacute a chance de

ldquodesfeudalizar a economia da casa-grande golpeando de morte a aristocracia do litoral

brasileirordquo

Capelato (1998) considera que a releitura do passado no caso os bandeirantes do

seacuteculo XVII e a transposiccedilatildeo para o presente impregnado em um siacutembolo a bandeira

converge para a construccedilatildeo de uma nova nacionalidade

Desse modo ldquoa bandeira no interior da tropa concentra poderes pois assume o

papel de chefe de famiacutelia substituindo o cacique e o senhor feudalrdquo (RICARDO 1970 p479)

Esta comparaccedilatildeo entre o chefe de famiacutelia o bandeirante e o chefe de estado na verdade era

uma transferecircncia de poder a bandeira que se transformava em um ldquoEstado em miniaturardquo

para a formaccedilatildeo de um Estado brasileiro com a inclusatildeo de brancos iacutendios e negros uma

democracia racial e a unidade nacional

Todavia para Lenharo (1985) a expansatildeo geograacutefica e a integraccedilatildeo territorial que o

movimento bandeirista proporcionaraacute no passado transportado ao presente (seacuteculo XX)

pela Marcha para o Oeste tendo como siacutembolo a bandeira brasileira dava contorno e

conhecimento fiacutesico do Estado Nacional ao mesmo tempo democratizaccedilatildeo agrave naccedilatildeo atraveacutes

da miscigenaccedilatildeo

31

Ricardo (1970) destaca ainda que o ato de Marcha para o Oeste natildeo eacute somente um

caminho a ser percorrido no ato de uma regeneraccedilatildeo em que a pureza do sertatildeo seraacute

submetida pelo litoral recebendo sua riqueza material e cultural

Mas sobretudo a marcha para o centro do paiacutes e depois para o oeste (no caso agrave

Amazocircnia sendo portanto o norte do paiacutes e natildeo o oeste) significava a ldquointegraccedilatildeo de

milhares de brasileiros agrave comunhatildeo nacional e seus benefiacutecios dando a oportunidade de

brasileiros de mentalidade atrasada [] penuacuteria fiacutesica [] e indigecircncia intelectual aleacutem da

miseacuteria econocircmicardquo (MESQUITA1943 p 264-265) a chance uacutenica de integraacute-los na vida

nacional levando assistecircncia agraves populaccedilotildees sertanejas ldquoignoradas e subnutridasrdquo(RICARDO

1956 p62-63)

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO

De beleza e diversidade sem igual a Floresta Amazocircnica Brasileira permaneceu

relativamente intacta apoacutes os quatro seacuteculos de sua ldquodescobertardquo pelos espanhoacuteis pois natildeo

era possiacutevel viabilizar accedilotildees que viessem a conquistar a regiatildeo ateacute entatildeo isolada dos centros

dinacircmicos do paiacutes

Contudo La Condamine apud Batista (2007 p169) destaca

[] foi encontrar o cahuchu (nome que os iacutendios davam a goma significando ao peacute da letra pau que daacute leite) na Proviacutencia de Quito e depois nas beiras do Marantildeon jaacute utilizado para a confecccedilatildeo de garrafas botas bolas e bombas ou seringas A novidade estava em que os artefatos de borrachas se mostravam impermeaacuteveis e de grande elasticidade Comunicando o achado sensacional La Condamine se apresentou a Academia de Ciecircncias de Paris (BATISTA 2007 p169)

No ano de 1745 inicia-se inuacutemeras expediccedilotildees para a Amazocircnia com o objetivo de

colher a goma e testaacute-la nos anos que se seguiram agrave ldquodescobertardquo do laacutetex diversos foram

os testes para conhecer a substacircncia e tornaacute-la resistente agraves mudanccedilas de temperatura e

suas muacuteltiplas utilizaccedilotildees

Ateacute que em 1839 depois de 94 anos de pesquisa e estudos ldquoo americano Charles

Goodyear descobriu que misturando enxofre agrave borracha (vulcanizaccedilatildeo) conseguia

aumentar-lhe a resistecircncia e tornaacute-la quase insensiacutevel agraves variaccedilotildees de

temperaturardquo(BATISTA 2007 p170)

32

Com a possibilidade de vulcanizaccedilatildeo da borracha e por consequecircncia uma maior

aplicabilidade na fabricaccedilatildeo de produtos resultou no

[] aumento consideravelmente a induacutestria de seus artefatos e consequentemente a sua extraccedilatildeo (em 1827 a Amazocircnia Brasileira jaacute exportava mais de 30 toneladas) entatildeo realizada por gente da terra agrave qual se juntariam mais tarde (pouco depois de 1850) emigrados da Proviacutencia do Maranhatildeo que se instalaram nos vales do Purus e do Solimotildees (SOARES apud REIS 1963 p119)

Segundo Soares (1963 p119)

Caberia ao nordestino poreacutem contribuir de maneira dramaacutetica e consideraacutevel para a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia Duramente castigado pela inclemecircncia do clima semiaacuterido com intermitentes e flagrante secas de sua terra natal viu na rendosa extraccedilatildeo do precioso laacutetex a soluccedilatildeo para o seu angustiado problema de sobrevivecircncia trocaria assim a miseacuteria e a falta drsquoaacutegua pela fortuna generosa num lugar onde natildeo passaria mais fome e sede O pesado tributo que aquela ldquoterra de promissatildeordquo iria cobrar-lhe mais tarde em sofrimentos fiacutesicos e ateacute com a proacutepria vida lhe era ainda desconhecido (SOARES 1963 p119)

Diante das rigorosas secas a partir de 1870 levas de migrantes

[] flagelados famintos doentes e desesperados lanccedilaram-se no ldquoinferno verderdquo da Amazocircnia que desconheciam totalmente numa migraccedilatildeo desordenada ldquodolorosa e anaacuterquicardquo na realidade um verdadeiro ecircxodo forccedilado mais pela fome e pela sede do que pela ambiccedilatildeo de uma riqueza que se afigurava faacutecil Oriundos principalmente do estado do Cearaacute o nordestino viesse de que estado fosse do Nordeste era chamado ldquocearenserdquo pelos habitantes da Amazocircnia (SOARES1963 p120)

Soares (1963) descreve que os maiores deslocamentos de nordestinos para a

Amazocircnia eram observados por ocasiatildeo das grandes secas e principalmente se

coincidissem com o alto preccedilo da borracha nos mercados internacionais

Soares (1963 p123) afirma que ateacute 1930 calculou-se que 200 mil nordestinos

migraram para a Amazocircnia em busca de terras para cultivar e uma chance de sobreviver e

criar seus filhos Foi atraveacutes deste e de muitos outros movimentos migratoacuterios em direccedilatildeo agrave

Amazocircnia que foi se construindo ao longo dos anos e seacuteculos o que conhecemos hoje

como espaccedilo geograacutefico amazocircnico

Dardel (2011 p3) descreve o espaccedilo geograacutefico como sendo ldquoum horizonte uma

modelagem cor densidade Ele eacute soacutelido liacutequido ou aeacutereo largo ou estreito ele limita e

33

resisterdquo Tal descriccedilatildeo do espaccedilo relembra o rigor da ciecircncia frente agraves lentes de um

observador justo que seleciona imagem que reafirme seu amparo e sua medida

Todavia Dardel tambeacutem afirma que eacute funccedilatildeo da ldquogeografia segundo a etimologia

fazer a descriccedilatildeo da Terrardquo (DARDEL 2011 p3) Prossegue ressaltando que diferentemente

do rigor da ciecircncia que se apega agraves paisagens e fatos que sirvam ao seu propoacutesito o

geoacutegrafo se prende agrave leitura das formas e cores da superfiacutecie terrestre atraveacutes das lentes do

romantismo onde as feiccedilotildees da Terra despertam vibraccedilotildees e cores

Por outro lado AbrsquoSaber (2011) descreve a paisagem considerando

predominantemente os aspectos fiacutesicos extensotildees planaltos planiacutecies tentando

compreender o mosaico de formas que os compotildeem todavia natildeo atraveacutes das lentes do

romantismo como afirmado por Dardel (2011) mas atraveacutes do conhecimento adquirido da

observaccedilatildeo da paisagem e suas diferentes formas

Tal descriccedilatildeo pode ser usada como uma das definiccedilotildees do que eacute ser um geoacutegrafo

entretanto o que se propotildee aqui eacute entender o que eacute espaccedilo afinal Pode ser a organizaccedilatildeo

territorial dada pelo homem em relaccedilatildeo ao meio ambiente natural (MOREIRA 2011 p41)

que leva em consideraccedilatildeo a mudanccedila da relaccedilatildeo do homem com o meio a partir de dois

periacuteodos marcantes na histoacuteria a descoberta do fogo e a domesticaccedilatildeo de algumas plantas

para a agricultura Por outro lado Dardel (2011 p03) afirma que o espaccedilo eacute geomeacutetrico e

uacutenico que tem nome proacuteprio As definiccedilotildees de espaccedilo satildeo muitas e variam dentro da

mesma ciecircncia geograacutefica mas todas de alguma forma concordam que espaccedilo eacute um lugar

em dimensotildees ampliadas de muacuteltiplas e variadas funccedilotildees que servem de base para as

relaccedilotildees humanas com o meio ambiente natural ou construiacutedo

Diante de tantas definiccedilotildees sobre o espaccedilo se torna mais faacutecil compreender a visatildeo

de Gonccedilalves (2001) sobre a Amazocircnia e suas diferentes Amazocircnias frutos de suas

conquistas Primeiramente pelos espanhoacuteis na sua descoberta posteriormente pela invasatildeo

portuguesa depois pela catequizaccedilatildeo jesuiacuteta pelas migraccedilotildees em pequena escala durante

os seacuteculos seguintes e em grande escala no Ciclo da Borracha no inicio do seacuteculo XX e as

colocircnias (japoneses em Parintins nordestinos israelenses aacuterabes em Manacapuru)

Considere-se ainda a construccedilatildeo de estradas como a BR230 ndash a Transamazocircnica (Paraiacuteba -

34

Amazonas) a BR153 (Beleacutem-Brasiacutelia) a BR174 (Manaus - Boa Vista) a BR319 (Manaus- Porto

Velho) entre outras que permitiram a chegada de mais migrantes agrave regiatildeo

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRACcedilAtildeO NACIONAL

Um dos discursos mais antigos sobre a Amazocircnia aleacutem de descrever suas

dimensotildees e paisagem estonteantes eacute a afirmaccedilatildeo erroneamente empregada de que a

regiatildeo eacute ldquoum vazio demograacuteficordquo discurso este sustentado haacute muitos seacuteculos Orellana apud

Batista (2007 p53) afirma ter encontrado aldeias ao longo do rio Amazonas com

populaccedilotildees numerosas sempre bem providas de alimentos diversos

Batista (2007 p54) relata ainda as andanccedilas do padre Antocircnio Vieira pela foz do rio

Amazonas no seacuteculo XVIII que calculou a populaccedilatildeo em dois milhotildees de iacutendios de diferentes

povos e liacutenguas mas que falavam uma liacutengua em comum Todavia outros viajantes

contestam essas informaccedilotildees culpando a floresta pela escassez da populaccedilatildeo limitada a

viver em pequenos grupos

Ateacute hoje em pleno seacuteculo XXI com toda tecnologia disponiacutevel natildeo se chegou ainda

agrave conclusatildeo do real nuacutemero da populaccedilatildeo que viveu na regiatildeo o que diratildeo os viajantes que

passaram por ela Contudo haacute concordacircncia de que a populaccedilatildeo residente ou natildeo resistiu

bravamente ldquoa mais de quatro seacuteculos de confronto com o branco representado

fundamentalmente pelos espanhoacuteis e posteriormente por portugueses e seus

descendentesrdquo (BATISTA 2007 p53)

Ao partirmos do conceito de densidade demograacutefica utilizado atualmente pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE que afirma ldquodensidade populacional eacute a

medida expressa pela relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo e a superfiacutecie do territoacuteriordquo poderiacuteamos ateacute

considerar a afirmaccedilatildeo de que a ldquoAmazocircnia eacute um vazio demograacuteficordquo se comparada agraves suas

dimensotildees geograacuteficas se esse levantamento levar em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo populaccedilatildeo-

aacuterea equacionada por relaccedilotildees sociais entre si e com a natureza ao seu entorno

(GONCcedilALVES 2001) Esse dado poderia ser repensado haja vista que as grandes cidades da

Amazocircnia como Beleacutem e Manaus cresceram ao longo dos anos em contato constante com

a floresta sem desmataacute-la por completo com exceccedilatildeo de Beleacutem em relaccedilatildeo direta com a

natureza seja atraveacutes do extrativismo da pesca ou da agricultura Natildeo cabe aqui excluir

35

Beleacutem mas destacar o seu crescimento diferenciado devido agrave sua ligaccedilatildeo terrestre com

outras cidades brasileiras

Segundo Gonccedilalves (2002) a Amazocircnia natildeo eacute um vazio demograacutefico e cultural em

virtude de natildeo estarmos pensando a partir dos amazocircnidas que tecircm muito a ensinar a toda

a humanidade porque aprenderam a viver em ldquoharmoniardquo com a natureza agrave sua volta

estando acostumados a reproduzir relatos da eacutepoca da colonizaccedilatildeo da regiatildeo muitas vezes

apoiados em estatiacutesticas de densidade populacional contemporacircnea mesmo sabendo que

tais dados (densidade populacional) expressam de forma resumida sua quantificaccedilatildeo sem

levar em consideraccedilatildeo caracteriacutesticas importantes como relaccedilatildeo da populaccedilatildeo com o meio

ambiente natural seu crescimento urbano sua qualidade de vida entre outras

Gonccedilalves (2001 p 33) afirma que o discurso de vazio demograacutefico

[] esconde aquela preocupaccedilatildeo jaacute salientada herdada do periacuteodo colonial que revela mais a respeito das dificuldades dos que querem colonizaacute-la em realizar o seu intento do que propriamente do povoamento da regiatildeo Eacute a ideia do vazio demograacutefico eacute frequentemente reiterada como que para justificar a necessidade de ocupaacute-la para garantir a integridade nacional (GONCcedilALVES 2001 p33)

Preocupado com a densidade populacional da Amazocircnia devido agraves suas dimensotildees

e sua gigantesca fronteira o poder puacuteblico criou as poliacuteticas de ocupaccedilatildeo e integraccedilatildeo

nacional apoacutes 1964 que Becker (1997 p11) definiu como ldquosurtos devassadores vinculados

agrave expansatildeo capitalista mundialrdquo

O I Plano Nacional de Desenvolvimento ndash PND foi criado pela Lei 5727 de 04 de

Novembro de 1971 e tinha como objetivos

- colocar o Brasil [] na categoria de naccedilatildeo desenvolvida - duplicar ateacute 1980 a renda per capita do paiacutes (em comparaccedilatildeo a 1969) - expandir o PIB de Cr$ 2228 bilhotildees em 1972 para Cr$ 3145 bilhotildees em 1974 - investimentos nas aacutereas de siderurgia petroquiacutemica transporte construccedilatildeo naval energia eleacutetrica e mineraccedilatildeo - prioridades sociais agricultura programas de sauacutede educaccedilatildeo saneamento baacutesico e incremento agrave pesquisa teacutecnico cientifica - ampliaccedilatildeo do mercado consumidor e da poupanccedila interna com os recursos do PIS e do PASEP -aumento da taxa de investimento bruto de 17 em 1970 para 19 em 1974 (MATOS 2002 p47)

Aleacutem desses objetivos o PND teria que preparar a infraestrutura que fosse

necessaacuteria para alcanccedilar todos os objetivos nas deacutecadas seguintes ldquocom destaque para os

36

transportes e as telecomunicaccedilotildees aleacutem de articular poliacuteticas setoriais com empresas

estatais e bancos oficiaisrdquo (ALMEIDA 2006 p195)

Por este motivo criaram o Programa de Integraccedilatildeo Nacional - PIN que foi aprovado

pelo Decreto Lei nordm1106 em 16 de julho de 1970 vigorando ateacute 1972 no governo do entatildeo

presidente Emiacutelio Garrastazu Meacutedici (MATOS 2002 p47) atraveacutes da construccedilatildeo de grandes

obras no paiacutes com destaque para a Usina Hidreleacutetrica de Itaipu e a Rodovia Transamazocircnica

(considerada o marco principal do PIN)

O PIN tinha como um dos principais objetivos ldquocriar meios de expansatildeo da fronteira

econocircmica do paiacutes em direccedilatildeo ao Centro-Oeste da Amazocircnia e do Nordesterdquo (MELLO 2006

p29) por meio de estradas ligando os centros dinacircmicos e modernos do paiacutes agrave lugares

isolados

Para as rodovias na Amazocircnia comeccedilando pela rodovia Transamazocircnica se previa

no PIN segundo Velho (1995 p210) que a cada cem quilocircmetros de estradas deveriam ser

assentadas cem mil famiacutelias

Entre os trechos de Altamira e Itaituba na Transamazocircnica deveria ser construiacutedas

Agrovilas (com 64 lotes com o espaccedilo 100 ha cada e casas destinadas aos colonos para o

desenvolvimento de suas atividades agriacutecolas) As agrovilas deveriam contar com escolas de

1ordmGrau (atual Ensino Fundamental) posto meacutedico igrejas e um armazeacutem para produtos

agriacutecolas (RABELLO 2011)

Tambeacutem se previa a implantaccedilatildeo de Agroacutepolis (conjunto de agrovilas em torno de

um nuacutecleo de serviccedilos urbanos) contendo todos os serviccedilos de agrovilas e serviccedilos

bancaacuterios correios e de escolas de 2ordm Grau (atual Ensino Meacutedio) tendo como objetivo

atender a demanda de cada trecho da Transamazocircnica

Algumas Agrovilas chegaram a ser implantadas na Rodovia Transamazocircnica mas

somente uma Agroacutepolis foi implantada no Km 46 onde recebeu o nome de Brasil Novo e

natildeo continha todos os serviccedilos descritos no PIN sendo chamada posteriormente de agrovila

(RABELLO 2011)

Mello apud Kleinpenning (2006 p29) afirma

Embora as agrovilas tenham sido previstas em 1971 apenas Brasil Novo na Transamazocircnica foi implantada e em 1973 o INCRA jaacute desistia desse modelo em funccedilatildeo do alto custo que representava Ateacute 1976 os colonos tinham desmatado natildeo mais que 10ha em seus lotes um ritmo reduzido acarretando tambeacutem reduccedilatildeo das metas de produccedilatildeo Sem produccedilatildeo as agrovilas perderam suas funccedilotildees Novos

37

instrumentos foram disponibilizados pelo Banco do Brasil (para creacutedito aos colonos) pela CIBRAZEM (para o armazenamento da produccedilatildeo) e pelo governo federal (para assistecircncia meacutedica) (MELLO apud KLEINPENNIG 2006 p29)

Segundo Becker (1997)

A modernizaccedilatildeo imposta pela estrateacutegia governamental natildeo eacute contudo onipotente Natildeo apenas porque foi desigualmente distribuiacuteda mas porque a realidade natildeo se desenvolve conforme o plano Na estrateacutegia governamental interferem os interesses e confrontos dos atores sociais privados e puacuteblicos expressos em sua territorialidade [] A propriedade dos seringais castanhais e do rebanho encontrava-se em poucas matildeos envolvendo aacutereas imensas e constituindo via de regra grandes posses (baseadas em arrendamentos de terras devolutas) cuja legitimidade passa a ser disputada pelos novos atores configurando a questatildeo da terra como central ao processo de ocupaccedilatildeo (BECKER 1997 p 19-20)

Atraiacutedos pela possibilidade de exploraccedilatildeo da mineraccedilatildeo madeira e a expansatildeo da

pecuaacuteria vaacuterios grupos econocircmicos do centro-sul do Brasil e estrangeiros denominados

popularmente como ldquosulistasrdquo migraram para as rodovias na Amazocircnia ldquoacompanhados de

empreiteiras teacutecnicos e sobretudo de camponeses e trabalhadores sem terra invertendo a

distribuiccedilatildeo do povoamento e da produccedilatildeordquo(BECKER 1997 p20)

Ainda segundo Becker (1997) a territorialidade exacerbada e intensa resultou em

conflitos violentos entre os atores sociais e contra o Estado ldquoOs conflitos de terra e de

territoacuterio onde se localizam as jazidas minerais subjugando iacutendios e camponeses satildeo os mais

conhecidosrdquo(BECKER 1997 p20)

Para Mello (2006)

A fase dessa estruturada accedilatildeo do Estado deixou cicatrizes provocadas pelos fortes conflitos sociais e pelos impactos ambientais Conflitos de terra entre fazendeiros posseiros seringueiros e iacutendios Desmatamento acelerado pela abertura de estradas exploraccedilatildeo de madeira seguida da expansatildeo agropecuaacuteria e imensa mobilidade espacial da populaccedilatildeo (MELLO 2006 p26)

Com a crise do petroacuteleo no final de 1973 e a elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo interna o

governo brasileiro se viu obrigado a escolher entre duas opccedilotildees difiacuteceis optar pela poliacutetica

de ajustamento do mercado externo (que causaria a contenccedilatildeo do crescimento interno e

evitaria o choque do setor externo em se transformar em inflaccedilatildeo permanente) ou pela

poliacutetica de financiamento (que manteria o crescimento com ajustes graduais de preccedilos com

financiamento externo) A escolha foi pelo financiamento contudo natildeo conseguiu atingir os

objetivos desejados obrigando o governo a lanccedilar o II Plano Nacional de Desenvolvimento

em 1974 (MATOS 2002 p49)

38

O II PND contemplou como medidas

I- O Brasil deveraacute ajustar a sua estrutura econocircmica aacute situaccedilatildeo de escassez de petroacuteleo e ao novo estaacutegio de sua evoluccedilatildeo industrial Tal mudanccedila implica em grande ecircnfase nas Induacutestrias Baacutesicas notadamente o setor de Bens de Capital e o de Eletrocircnica pesada assim como o campos dos Insumos Baacutesicos a fim de substituir importaccedilotildees e se possiacutevel abrir novas frentes de exportaccedilatildeo A Agropecuaacuteria que vem tendo em geral bom desempenho eacute chamada cumprir novo papel no desenvolvimento brasileiro II- Consolidar uma sociedade industrial moderna e de economia competitiva (BRASIL 1974 p5)

Para a Integraccedilatildeo Nacional foram destinados Cr$165 bilhotildees a serem distribuiacutedos

assim Cr$ 100 bilhotildees para o nordeste (com taxas de juros as maiores do paiacutes) e Cr$65

bilhotildees distribuiacutedos entre a construccedilatildeo do Polo Petroquiacutemico da Bahia e um Complexo

Metal Mecacircnico e Eletro Mecacircnico e o Programa de Desenvolvimento da Agroinduacutestria do

Nordeste

Contudo o paraacutegrafo sexto do II PND previa que ldquoA ocupaccedilatildeo produtiva da

Amazocircnia e do Centro-Oeste receberaacute impulso com o Programa de Polos Agropecuaacuterios e

agro minerais da Amazocircnia (POLAMAZOcircNIA)rdquo (BRASIL 1974 p06)

Os esforccedilos foram novamente concentrados na ocupaccedilatildeo da Amazocircnia soacute que

desta vez ldquobaseados em pontos focais e setoriais separados como por exemplo extraccedilatildeo de

recursos minerais ou aacutereas de criaccedilatildeo de gado com possiacutevel processo industrial rdquo

(KOHLHEPP 2002 p16)

Investidores de capital nacional e internacional foram atraiacutedos por reduccedilotildees consideraacuteveis de taxas tributaacuterias e tambeacutem por outros benefiacutecios Tornou-se vantajoso para bancos companhias de seguro mineradoras e empresas estatais de transportes ou de construccedilatildeo de estradas investir na devastaccedilatildeo da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criaccedilatildeo de gado com subsiacutedios oficiais realizando a exploraccedilatildeo das terras a preccedilos baixos (KOHLHEPP 2002 p16)

Segundo Kohlhepp (2002) as fazendas de criaccedilatildeo de gado ocupavam na Amazocircnia

uma aacuterea estimada em 9 milhotildees de hectares ldquoDe um total de 350 mil km2 de terra

adquiridos pelas fazendas de gado uma aacuterea florestal de cerca de 140 mil km2 foi destruiacutedardquo

(KOHLHEPP 1987 p4)

A raacutepida expansatildeo de desmatamento por queimada em projetos de fazendas de gado causou danos irreparaacuteveis aos ecossistemas como erosatildeo perda de nutrientes por escoamento encrostamento da superfiacutecie e distuacuterbios no balanccedilo de aacuteguas Aleacutem disso a especulaccedilatildeo de terra causou seacuterios problemas e conflitos violentos entre as populaccedilotildees indiacutegenas e posseiros Por causa da raacutepida degradaccedilatildeo de pastos a criaccedilatildeo de gado tornou-se atividade econocircmica sem lucro fazendo com que as manadas diminuiacutessem consideravelmente nos anos

39

posteriores O cancelamento de incentivos fiscais anos mais tarde acabou com novas iniciativas de pecuaacuteria (KOHLHEPP 2002 p4 )

A descoberta de minerais e pedras preciosas em grande quantidade na deacutecada de

80 intensificou ainda mais os conflitos na Amazocircnia

A exploraccedilatildeo de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos programas de desenvolvimento da Amazocircnia Muitas licenccedilas de exploraccedilatildeo de jazidas de grande extensatildeo foram cedidas a empresas nacionais e internacionais []as novas descobertas de enormes jazidas de mineacuterio de ferro na serra dos Carajaacutes de bauxita no rio Trombetas e tambeacutem de ouro e diamantes revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazocircnia sendo iniciados grandes projetos na regiatildeo nos anos 1980 (KOHLHEPP 2002 p4 )

Apoacutes sofrer grande pressatildeo nacional e internacional para conter os impactos

devastadores sobre a Floresta Amazocircnica em quase duas deacutecadas de intensa exploraccedilatildeo o

governo brasileiro cria o Plano Nossa Natureza (PNN) em 1988 pelo Decreto Lei nordm 96944

Art 1ordm Fica criado o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazocircnia Legal denominado Programa Nossa Natureza com a finalidade de estabelecer condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos recursos naturais renovaacuteveis na Amazocircnia Legal mediante a concentraccedilatildeo de esforccedilos de todos os oacutergatildeos governamentais e a cooperaccedilatildeo dos demais segmentos da sociedade com atuaccedilatildeo na preservaccedilatildeo do meio ambiente (BRASIL 1988 p1 )

Entre outras medidas o Decreto Lei 9694488 tambeacutem previa a criaccedilatildeo de GTI

(Grupos de Trabalhos Interministerial) responsaacutevel por promover a integraccedilatildeo de poliacuteticas

ambientais e de desenvolvimento

VI - Proteccedilatildeo do Meio Ambiente das Comunidades Indiacutegenas e das Populaccedilotildees Envolvidas no Processo Extrativista com a missatildeo de no prazo de 90 (noventa) dias estudar e propor e promover as medidas disciplinadoras da ocupaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo racionais da Amazocircnia Legal fundamentadas no ordenamento territorial integrada por representantes dos Ministeacuterios da Agricultura da Induacutestria e do Comeacutercio das Minas e Energia dos Transportes do Interior da Reforma e do Desenvolvimento Agraacuterio e das Secretarias de Planejamento e Coordenaccedilatildeo e de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidecircncia da Repuacuteblica (BRASIL 1988 p5)

Entretanto muito pouco de fato desse PNN foi executado e muito menos atendeu

agrave demanda

40

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA

A maior Floresta Equatorial do mundo eacute a Amazocircnia que tambeacutem deteacutem a maior

bacia hidrograacutefica do mundo com 699206kmsup2 aacuterea de quase 140km a mais que a Bacia

Hidrograacutefica do Rio Nilo com 685215 (MARTINI apud PACHECO 2012 p545)

Eacute na Amazocircnia Brasileira que se concentra a maioria dos rios navegaacuteveis de toda a

Amazocircnia com detaques para os rios Javari Juruaacute Madeira Solimotildees Negro utilizados em

sua maioria por ribeirinhos como meio de locomoccedilatildeo entre as comunidades e as cidades

proacuteximas aleacutem de transporte de alimentos

Apesar de seu gigantesco potencial hiacutedrico os rios da Amazocircnia natildeo satildeo explorados

em sua magnitude o que poderia ser alcanccedilado atraveacutes de uma rede de hidrovias

connectadas e eficientes Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (2013) a regiatildeo deteacutem sim duas hidrovias (Figura 3) A primeira inicia-se no alto

rio Japuraacute ligando-se ao rio Maratildea acompanhado do rio Iccedilaacute e Jutaiacute e posteriormente

juntado-se ao rio Solimotildees A segunda hidrovia (Figura 4) eacute inciada no rio Amazonas (no

encontro do rio Negro e rio Solimotildees) e se estende de Manaus agrave foz no Oceano Atlacircntico

alimentado pelos rios Tapajoacutes e Xingu

41

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43

Apesar disso da nomenclatura utilizada de hidrovia um rio navegaacutevel natildeo eacute

necessariamente uma hidrovia por natureza pois para que seja uma hidrovia se faz

necessaacuterio sinalizaacute-lo e fornecer informaccedilotildees sobre a sua sinuosidade e seu talvegue de

forma a proporcionar seguranccedila agraves embarcaccedilotildees que navegarem pelo mesmo

Sobre isso o Ministeacuterio dos Transportes (2013) descreve que a sinalizaccedilatildeo de uma

hidrovia eacute tatildeo importante quanto a sinalizaccedilatildeo de uma rodovia

A sinalizaccedilatildeo de margem das hidrovias pode ser associada agraves placas que satildeo colocadas agraves margens das rodovias e que satildeo conhecidas como sinais de tracircnsito Como os canais de navegaccedilatildeo natildeo satildeo materializaacuteveis e as pistas de rolamento das rodovias sim as hidrovias requerem cartas de navegaccedilatildeo As pontes satildeo projetadas considerando que esse veiacuteculo tipo tenha no maacuteximo x toneladas os vatildeos sob os viadutos e passarelas ou os tuacuteneis que esse veiacuteculo tenha no maacuteximo y metros de altura e assim por diante Nas hidrovias o mesmo se sucede com as os tipos de embarcaccedilotildees (MINISTEacuteRIO DOS TRANSPORTES 2013)

Apesar disso os rios do Amazonas Paraacute satildeo pouco explorados tendo a sinalizaccedilatildeo

de uma hidrovia somente nas proximidades das grandes cidades Beleacutem-PA e em Manaus-

AM o restante ao longo dos rios natildeo deteacutem sinalizaccedilatildeo o que particularmente natildeo impede

que navios de grande porte cheguem agraves cidades (Figura 5) comandados por praacuteticos locais (e

natildeo por seus reais comandantes que desconhecem a profundidade dos rios)

Figura 5 Cruzeiros atracados no Porto de Manaus

Autora Louzada (Julho de 2012)

44

A escolha de hidrovias para a regiatildeo seria extremamente beneacutefica numa via de matildeo

dupla pois permitiria interligar definitivamente a regiatildeo ao restante do paiacutes agrave custos

micros se comparada agrave construccedilatildeo de rodovias na mesma regiatildeo ao mesmo tempo que

reduziria drasticamente o impacto sobre sua floresta

Embora esta seja a opccedilatildeo ideal a mesma natildeo foi escolhida pelos governantes que

optaram pela construccedilatildeo de rodovias

O DNIT destaca ainda as seguintes rodovias na Amazocircnia conforme Tabela 1

Tabela 1 Estradas na Amazocircnia segundo o DNIT

Nome Tipo de Rodovia Extensatildeo da rodovia planejada pelo DNIT

BR- 163 Longitudinal Inicia em Tenente Portela ndash SC e segue no sentido norte ateacute a fronteira com o Suriname

detendo 44267km

BR- 174 Longitudinal Inicia em Caacuteceres- MT e segue no sentido norte ateacute fronteira com a Venezuela detendo

27984km

BR-319 Diagonais Inicia em Manaus ndash AM e segue em sentindo sul ateacute Porto Velho-RO detendo 8804km

BR-364 Diagonais Inicia-se em Limeira-SP e segue no sentido noroeste ateacute a fronteira com o Peru

detendo 414150km

BR-230 Transversal Inicia-se em Cabedelo-PB e segue em sentido oeste ateacute Laacutebrea - AM detendo no total 49651km de extensatildeo

Eacute necessaacuterio esclarecer que todas as estradas anteriormente citadas somente se

encontram traccediladas no papel o que natildeo quer dizer que natildeo chegaram a ser abertas ou ateacute

mesmo chegaram a funcionar por um periacuteodo como eacute o caso da BR- 319

As estradas de modo geral satildeo consideradas vias de ldquoprogressordquo e

ldquodesenvolvimentordquo principalmente para a Amazocircnia por ser uma regiatildeo de fronteira e

possuir em seu territoacuterio uma gigantesca floresta Entretanto como era de se esperar as

estradas serviram ldquode roteiros de migraccedilatildeo para a Amazocircnia e foram planejadas para o

estabelecimento de aacutereas de atividades econocircmicas na forma dos chamados corredores de

Fonte DNIT (2013)

45

desenvolvimento mas sua construccedilatildeo causou seacuterios impactos ambientaisrdquo (KOHLHEPP

apud GOODLANDIRWIN 2002 p2 )

Segundo Loureiro e Pinto apud Arauacutejo et al (2008 p21) as terras puacuteblicas

habitualmente ocupadas por ribeirinhos iacutendios e caboclos em geral passaram a ser

ocupadas por colonos ao longo das estradas na Amazocircnia principalmente no estado do

Paraacute

[] sendo colocadas a venda em lotes de grandes dimensotildees para os novos investidores que as adquiriam diretamente dos oacutergatildeos fundiaacuterios do governo ou de particulares (que em grande parte revendiam a terra puacuteblica como se ela fosse proacutepria) Em ambos os casos era freguente que as terras fossem demarcadas pelos novos proprietaacuterios numa extensatildeo muito maior do que a dos lotes que originalmente haviam adqueridos (ARAUacuteJO et al apud LOUREIRO E PINTO 2008 p21)

Por sua vez os grandes proprietaacuterios de terras da Uniatildeo comercializadas pelo

INCRA (Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria) - criado pela fusatildeo do INDA

(Intituto Nacional de Desenvolvimento Agraacuterio) e o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma

Agraacuteria) em 9 de Julho de 1970 pelo Decreto nordm1110 (ARAUacuteJO2008) - expulsaram seus

moradores o que por sua vez gerou grandes conflitos por traacutes do slogan ldquoDesenvolvimento

da Amazocircniardquo

Por outro lado Becker (1977) apresenta um trabalho pioneiro sobre o

desenvolvimento regional na Amazocircnia ldquoalcanccediladordquo com a construccedilatildeo da BR-010 Bernardo

Sayatildeo popularmente conhecida como Beleacutem-Brasiacutelia inaugurada em 1960 pelo entatildeo

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Becker (1977) afirma que

O raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao longo de todo o eixo rodoviaacuterio caracterizado pelo crescimento ou aparecimento de centros urbanos das mais variadas categorias eacute devido em grande parte agrave rodovia A posiccedilatildeo de contato com aacutereas pioneiras dinacircmicas a posiccedilatildeo de entroncamento e a distacircncia aos polos e centros regionais parecem ser os fatores fundamentais de localizaccedilatildeo das cidades [] conclui-se que ateacute 1970 a rodovia foi o fator positivo principalmente para os polos regionais e aacutereas circundantes uma vez que embora posterior beneficiou suas cidades e induziu o desenvolvimento a sua volta (BECKER 1977 p 40)

Do ponto de vista da integraccedilatildeo nacional entre polos regionais defendida por

Becker (1977) a BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) sem duvida teve grande ecircxito pois levou

ldquodesenvolvimentordquo e um raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao logo da rodovia O que poucos

46

trabalhos pesquisadores ou estudantes se atrevem a relatar satildeo os impactos

gigantescos dessa obra sobre a Floresta Amazocircnica

A construccedilatildeo da BR- 010 sem duacutevida representou o iniacutecio do processo de

transformaccedilatildeo da paisagem amazocircnica nos anos que se seguiram Sobre isso AbrsquoSaber

(1996) sabiamente afirma

Desmatar por desmatar eacute loucura Desmatar para estender incontrolaacuteveis

pastagens artificiais eacute ignoracircncia Desmatar para comprovar ldquobenfeitoriasrdquo eacute maacute-feacute

de matildeo dupla da administraccedilatildeo puacuteblica e dos proprietaacuterios interessados em

comercializaccedilatildeo do espaccedilo Entretanto eacute faacutecil aceitar desmatamento restrito em

subespaccedilos selecionados para experimentaccedilatildeo de culturas tropicais

estabelecendo moacutedulos [] projetos agriacutecolas diversificados e rentaacuteveis sob a

condiccedilatildeo de um extravasamento efetivo de benefiacutecios sociais para os

trabalhadores rurais e populaccedilotildees carentes da regiatildeo de atuaccedilatildeo dos projetos

(ABrsquoSABER 1996 p109 )

O autor tambeacutem propocircs um debate nacional sobre os limites ecoloacutegicos para

atividades agraacuterias rendosas que uma regiatildeo como a Amazocircnia para que as proacuteximas

geraccedilotildees possam chegar a observaacute-la (ABrsquoSABER 1996 p109) todavia a BR010 (Beleacutem-

Brasiacutelia) somente foi a primeira a ser inaugurada na regiatildeo amazocircnica (Figura 6)

Figura 6Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia

Fonte Peixoto (2012)

47

Outras rodovias foram idealizadas e iniciadas entre elas a estrada Cuiabaacute-Santareacutem

(BR163) responsaacutevel por ligar a cidade de Cuiabaacute no Mato Grosso agrave cidade de Santareacutem no

Paraacute com 1780km de extensatildeo

O primeiro trecho de 330km foi inaugurado em 1984 (MARGARIT 2013) oito anos

depois de terem sido iniciadas as obras ligando os municiacutepios de Diamantino e Sinop no

Mato Grosso Posteriormente foram pavimentadas mais 415km chegando a um total de

745km ligando Cuiabaacute agrave Guarantatilde do Norte (MARGARIT 2013)

O restante de mais ou menos 1035km ainda natildeo se encontram pavimentados

todavia se encontra traccedilado de terra batida ateacute a cidade de Santareacutem-PA o que natildeo impede

a ocupaccedilatildeo das margens da ldquofutura rodoviardquo funcionando como uma espinha dorsal do

ldquoprogressordquo

Segundo Fearnside (2001) o principal objetivo da BR-163 foi escoar a produccedilatildeo de

soja do centro oeste brasileiro e principalmente do Mato Grosso aleacutem de ampliar as aacutereas

cultivaacuteveis Mas Fearnside (2005 p 399) eacute enfaacutetico ao afirmar que a pavimentaccedilatildeo da BR-

163 iria ldquoacelerar a destruiccedilatildeo da floresta ao longo de seu traccedilado e em vaacuterios pontos

fisicamente distantes da rodovia mas sob sua influecircnciardquo

Contudo o desmatamento natildeo se limita somente agraves margens da rodovia mas

influencia tambeacutem ldquoa raacutepida expansatildeo de estradas ldquoendoacutegenasrdquo e a exploraccedilatildeo madeireira e

de desmatamento para distacircncias substancialmente maioresrdquo (FEARNSIDE 2005 p399) um

fato que pode ser atualmente percebido nas imagens de sateacutelite da rodovia (Figura 7)

48

Figura 7 BR-163 - Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia Organizado Anne Dirane (2014) Adaptado Louzada (2014)

Com as imagens de sateacutelite eacute possiacutevel visualizar incontaacuteveis propriedades ao longo

da BR-163 a maioria encontram-se sem a cobertura seja pela retirada da madeira ou por

iniciativa de seus proprietaacuterios para facilitar a produccedilatildeo de gratildeos e a criaccedilatildeo de gado sem

levar em consideraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mineral o que torna a rodovia foco de constantes

conflitos entre pequenos produtores agriacutecolas e grande proprietaacuterios de terras

No km 214 com saiacuteda da cidade de Santareacutem a BR-163 se funde com a BR-230

popularmente conhecida como Transamazocircnica por 109km onde continuam a ser ocupadas

as suas margens poreacutem com menor intensidade (Figura 8)

Para Fearnside (2005) a atuaccedilatildeo do Estado nessa regiatildeo praticamente natildeo existe o que

gera frequentemente um clima de desobediecircncia civil aberta

Tal desobediecircncia se manifesta tanto em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo ambiental quanto agrave situaccedilatildeo fundiaacuteria (IAG 2004) Em outras palavras a aacuterea natildeo tem a miacutenima chance de se tornar corredor de desenvolvimento sustentaacutevel antes que uma mudanccedila

49

maciccedila aconteccedila com relaccedilatildeo agrave presenccedila do Estado e antes que a populaccedilatildeo local se ajuste a viver sob um Estado de lei (FEARNSIDE 2005 p405)

Fearnside (2005 p405 ) afirma ldquoque natildeo se deve tratar uma probabilidade alta

como sinocircnimo de inevitabilidaderdquo Em outras palavras a pavimentaccedilatildeo de estradas na

Amazocircnia Brasileira seraacute provavelmente o percussor do aumento do desmatamento da

regiatildeo entretanto o mesmo natildeo deve ser considerado como inevitaacutevel

Uma outra rodovia que merece destaque entre as jaacute construiacutedas na Amazocircnia eacute a

BR-230 popularmente conhecida como Transamazocircnica planejada para ligar Cabedelo na

Paraiacuteba e Laacutebrea no Amazonas aproveitando uma estrada jaacute existente que ligava Cabedelo agrave

Altamira no estado do Paraacute a mesma foi ampliada pelo entatildeo presidente do Brasil Emiacutelio

Garrastazu Meacutedici que em 09 de Outubro de 1970 teve sua obras iniciadas oficialmente

com uma placa de bronze fixada em uma castanheira no municiacutepio de Altamira-PA (Figura

8)

Figura 8 Placa de Bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica) Fonte Vogt (2004)

Vogt (1970) descreve uma viagem do general Meacutedici em junho 1970 ao semiaacuterido

nordestino na qual o presidente se emociona diante da seca que castigava a regiatildeo em seu

retorno a Brasiacutelia decidiu criar estradas na Amazocircnia a comeccedilar pela Transamazocircnica de

50

forma a convidar ldquoos homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da

Amazocircniardquo

A Transamazocircnica foi projetada para atravessar o Brasil de leste a oeste de

Cabedelo-PB agrave Laacutebrea ndash AM com seus mais de quatro mil quilocircmetros o sonho faraocircnico de

Meacutedici foi rebatizado posteriormente de ldquoTransamargurardquo e ldquoTransmiserianardquo por seus

moradores uma vez que a veiculaccedilatildeo de propaganda no raacutedio de ldquoTerras sem homens para

homens sem terrardquo atraiu uma grande quantidade de brasileiros e estrangeiros Estima-se

que mais de dois milhotildees de pessoas migraram para a Transamazocircnica contudo somente

25 mil quilocircmetros dessa rodovia chegaram a ser abertos ligando as localidades de

Aguiarnoacutepolis agrave Laacutebrea (AM)

Estima-se que mais de US$ 15 bilhatildeo de doacutelares tenham sido gastos na

Transamazocircnica somente na deacutecada de 1970 o que resultou no crescimento da divida

externa e uma ferida ecoloacutegica e social profunda na Floresta Amazocircnica que nunca seraacute

cicatrizada

Para Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as estradas oficias construiacutedas na regiatildeo natildeo devem

ser consideradas as uacutenicas responsaacuteveis pelas mudanccedilas draacutesticas na paisagem amazocircnica

uma vez que a regiatildeo do centro-oeste do Estado do Paraacute ao longo das rodovias BR-230 e a

BR-163 tambeacutem agregam estradas natildeo oficiais (Figura 9) estimadas em um total ldquode 20769

km de estradas natildeo oficias que avanccedilaram a taxa meacutedia de 1890 km por ano entre 1990 e

2001 principalmente fora de Aacutereas Protegidasrdquo(BRANDAtildeO JUacuteNIOR et al 2007 p1)

51

Atraveacutes de Imagens Landsat Brandatildeo Juacutenior et al (2007) conseguiu mapear

241749km de estradas ateacute 2003 divididas em 25074km (10) como estradas oficiais

172405km (71) como estradas natildeo oficiais e 44270km (18) como estradas de

assentamentos rurais

Segundo Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as aacutereas de risco de desmatamento em

estradas oficias segundo a pesquisa eacute de 25 jaacute nas estradas natildeo oficiais este risco chega a

85 considerando o niacutevel alarmante de desmatamento o que tambeacutem explica a maior

parte do desmatamento na Amazocircnia

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-230 Fonte Brandatildeo Juacutenior et al (2007)

52

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO SOLIMOtildeESAMAZONAS

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais foi divulgado ao mundo por meio de

dois documentos ldquoCuidando do planeta Terrardquo (1991) e a ldquoConvenccedilatildeo da Biodiversidaderdquo

(1991) Os dois documentos demonstram preocupaccedilatildeo quanto ao conceito de

desenvolvimento e aos direitos das populaccedilotildees locais visto por eles como importantes

atores na conservaccedilatildeo dos recursos (VIANNA 2008 p208)

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais surgiu primeiramente para se

referir aos habitantes que tradicionalmente ocupavam um lugar onde posteriormente

tornou-se uma unidade de conversaccedilatildeo O conceito passou a considerar tambeacutem ldquoos

habitantes originais e seus descendentes das terras que foram ocupadas pela expansatildeo

colonizadora europeacuteia iniciada no seacuteculo XVI e satildeo definidos como etnicamente diferentes

das sociedades nacionais dominantes dos paiacuteses onde vivemrdquo (VIANNA 2008 p209)

Segundo Vianna (2008 p214) as populaccedilotildees tradicionais satildeo portadoras de

caracteriacutesticas positivas para a conservaccedilatildeo por exemplo a ldquoharmonia com a natureza e o

etnoconhecimento o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais e a condiccedilatildeo de produtores

de biodiversidaderdquo

Essas satildeo as chamadas populaccedilotildees tradicionais expressatildeo que designa um conjunto de populaccedilotildees de pescadores artesanais pequenos agricultores de subsistecircncia caiccedilara caipiras camponeses extrativistas pantaneiros e ribeirinhos que fazem uso direto dos recursos naturais atraveacutes de atividades extrativistas eou de agricultura com tecnologia de baixo impacto ao meio (VIANNA 2008 p214)

Como acontece em outras regiotildees as populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia

tambeacutem recebem nomes que variam de lugar para lugar No estado do Paraacute por exemplo as

populaccedilotildees residentes longe de centros urbanos satildeo chamadas popularmente de extratores

ou extrativistas (pois sua economia tem por base a extraccedilatildeo de produtos da natureza) na

Ilha do Marajoacute satildeo chamados de marajoaras ou marajaacutes dentro do mesmo estado no

municiacutepio de Oacutebitos os moradores das vaacuterzeas satildeo chamados de varzeiros e os moradores

das aacutereas de terra firme satildeo chamados de terrafirmeiros (CANTO 2008)

No Estado do Amazonas as populaccedilotildees tradicionais recebem o nome de ribeirinhos

pois aleacutem de se localizarem muitas vezes distantes de centros urbanos em geral estatildeo

assentados nas vaacuterzeas da regiatildeo

53

Sobre isso Cabral (2002) destaca que

Quando se fala dos ribeirinhos as leituras satildeo variadas ora satildeo tratados como viacutetimas de uma sociedade excludente ora como iacutendios preguiccedilosos como heroacuteis das selvas por conseguirem adaptar-se a uma floresta e raras vezes como pessoas que definiram uma filosofia de vida o fato eacute que em geral o ribeirinho eacute marginalizado A marginalizaccedilatildeo do ribeirinho surge da leitura que noacutes ldquodoutoresrdquo fazemos erroneamente tomando por base o que julgamos importante para noacutes mesmos Outro aspecto que tem contribuiacutedo para a natildeo adoccedilatildeo de uma anaacutelise relativista eacute o discurso baseado em interesses capitalistas sobre o uso do tempo e do espaccedilo em favor da produccedilatildeo (CABRAL 2002 p2)

Reflete ainda que ldquoo ribeirinho integra o grupo das populaccedilotildees tradicionais que se

percebe pertencente agrave natureza em seu tempo e espaccedilo proacuteprio fluindo com ela e natildeo a

dominandordquo (CABRAL 2002 p2)

[] temos como definiccedilatildeo de ribeirinho a populaccedilatildeo constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populaccedilotildees do meio rural ou urbano que possui seu cosmo visatildeo marcada pela presenccedila do rio Para estas populaccedilotildees o rio natildeo eacute apenas um elemento do cenaacuterio ou paisagem mas algo constitutivo de modo de ser e viver do homem (CABRAL apud SILVA et al 2002 p2)

Conforme Oliveira (2002) as populaccedilotildees ribeirinhas satildeo frutos de fracassados ciclos

de desenvolvimento econocircmico brasileiro imposto sobre a regiatildeo onde os mesmos foram

abandonados agrave proacutepria sorte na floresta

Independente de suas muacuteltiplas definiccedilotildees ao longo das deacutecadas uma caracteriacutestica

se destaca em todas as definiccedilotildees de ribeirinho o elo com o rio embora muitos estudiosos

descrevam como necessaacuterio pois o rio eacute o uacutenico meio de locomoccedilatildeo entre boa parte da

Floresta Amazocircnica este elo eacute superior agrave necessidade de locomoccedilatildeo jaacute que ele tambeacutem eacute a

fonte do alimento baacutesico dessas populaccedilotildees o peixe

Tuan (2012) define o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ao ambiente fiacutesico como

Topofilia conceito difuso vivido e concreto como experiecircncia pessoal de cada individuo

Em outras palavras este elo eacute fortalecido ou desfeito baseado na percepccedilatildeo do

meio agrave sua volta nas atitudes e nos valores praticados com o ambiente fiacutesico no seu

entorno

54

Embora os ribeirinhos de modo geral se localizem agraves margens dos rios da regiatildeo

os mesmos tambeacutem o fazem por um forte motivo os solos feacuterteis das vaacuterzeas

Segundo Guerra (1993) a Amazocircnia estaacute dividida em dois ambientes o de vaacuterzea e

o de terra firme O ambiente de terra firme representa um complexo ecossistema que estaacute

fora da accedilatildeo das aacuteguas pelos regimes dos rios e pelas mareacutes ou seja os processos sazonais

de enchentes anuais e mareacutes diaacuterias natildeo ultrapassam a borda do leito maior das faixas

justafluviais Ao contraacuterio desse ecossistema a vaacuterzea eacute constituiacuteda de terrenos com

altimetria baixa que permite o transbordamento de enchentes sazonais anuais

dependendo da cota

Tais caracteriacutesticas da regiatildeo Amazocircnica satildeo de extrema importacircncia para a

determinaccedilatildeo dos tipos de solos encontrados em cada ambiente o que vai propiciar o tipo

de cultivo agrave ser produzido nessas aacutereas pelas populaccedilotildees ribeirinhas

Ao contraacuterio do que se divulga a Amazocircnia natildeo dispotildee somente de solos ldquopobresrdquo

sustentados por sua floresta mas tambeacutem de solos ricos por natureza como eacute o caso dos

solos de vaacuterzea com alta concentraccedilatildeo de depoacutesitos aluviais utilizados para os cultivos

agriacutecolas de ciclo curto de frutas e verduras que abastecem as cidades mais proacuteximas

incluindo a capital do Estado do Amazonas Manaus

Meggers (1958) criou uma tipologia da paisagem na qual a mesma impocircs limites de

desenvolvimento cultural tendo por base a capacidade produtiva dos solos em dois

ambientes na Amazocircnia a vaacuterzea beneficiada com a fertilizaccedilatildeo anual dos rios e a terra

firme de solos pobres

Para Meggers (1971) a fase de terra enxuta (ou seca) das vaacuterzeas da Amazocircnia eacute o

periacuteodo de fartura ou ateacute mesmo de superabundacircncia de alimentos jaacute a fase aquaacutetica ou

estaccedilatildeo de abundacircncia de aacuteguas eacute marcada pela escassez de alimentos (principalmente

peixe) por causa do aumento das aacutereas submersas consequentemente ocasionando sua

dispersatildeo

Segundo Carneiro (1995) a ocupaccedilatildeo das vaacuterzeas para cultivo em seus solos feacuterteis

tambeacutem traz desvantagens porque natildeo eacute possiacutevel cultivar seus solos durante todo o ano

devido agrave subida dos rios que para Sternberg (1998) submetem as terras agrave constantes

retoques no terreno hoje depositado amanhatilde poderaacute ser removido O autor se refere agraves

terras caiacutedas como um fenocircmeno natural provocado pelo rio onde o mesmo arrebata

55

faixas de terras marginais tragando para o seu leito com a mesma indiferenccedila levando

cemiteacuterios e pastagens ameaccedilando as moradias dos ribeirinhos e engolindo as que os

proprietaacuterios natildeo recuarem

Todavia eacute na eacutepoca da cheia dos rios que as populaccedilotildees ribeirinhas tornam-se mais

vulneraacuteveis visto que os mesmos teratildeo que escolher entre permanecer em suas casas

quase submersas mantendo seus animais em abrigos temporaacuterios que Sternberg (1998)

descreveu como marombas (pequeno curral suspenso por madeiras) e os alimentando com

capins aquaacuteticos ou migrarem para as aacutereas de terra firme ateacute que o periacuteodo de vazante

dos rios se inicie

Sobre isso Pereira (1999) observou no municiacutepio de Itacoatiara na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus que algumas famiacutelias que tinham acesso agraves aacutereas de pasto em

propriedades de terra firme migravam com suas famiacutelias transferindo o seu rebanho e os

demais animais durante o periacuteodo de cheia dos rios

Com a subida das aacuteguas natildeo soacute os animais mais tambeacutem os proacuteprios ribeirinhos

tornam-se alvo de jacareacutes famintos devido agrave escassez de alimentos uma vez que grandes

aacutereas satildeo inundadas possibilitando que os peixes se refugiem em lagos e restingas Torna-se

comum os casos de ataque desses animais agraves pessoas principalmente crianccedilas nessa eacutepoca

do ano

Tocantins (1964) descreve os rios da Amazocircnia

Como veias de sangue da planiacutecie caminho natural dos descobridores [] a fonte perene do progresso [] asseguraram a presenccedila humana embelezaram a paisagem fazem girar a civilizaccedilatildeo - comandam a vida no anfiteatro amazocircnico (TOCANTINS 1964 p64)

Tocantins (1964) destaca a importacircncia do regime das aacuteguas dos rios amazocircnicos

sobre o modo de vida dos povos da floresta Relata de forma romacircntica o elo do ribeirinho

com o rio todavia tal descriccedilatildeo natildeo expressa todo o real sentido de ldquoligaccedilatildeordquo entre quem

comanda a vida o rio e quem eacute governado o ribeirinho que mora agraves margens e tira dele a

base de sua subsistecircncia

Subsistecircncia essa alcanccedilada com a ajuda de extensa malha de rios entre eles

destaca-se o rio Solimotildees que tem sua nascente nas montanhas de Misme no distrito de

Arequipa ao sul da cidade de Cuzco no Peru onde recebe o nome de rio Ayacucha

posteriormente desemboca no rio Ucayali que por sua vez desemboca no rio Marantildeon ao

56

norte do territoacuterio peruano chegando a aproximadamente 3652 km de extensatildeo na

fronteira do Peru com o Brasil onde encontra a sua bacia sedimentar amazocircnica e percorre

mais 3128km ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico satildeo no total aproximadamente 6780km

percorridos com uma descarga no oceano de 300000 msup3s carregando aproximadamente 1

bilhatildeo de toneladas de sedimentos que por sua vez adentram ateacute 300km no oceano antes

de se dispersarem em suas aacuteguas frias (BRASIL 2005)

Seus nuacutemeros por se soacute impressionam se comparados ao segundo maior rio do

mundo o rio Nilo que despeja em sua foz somente 5000msup3s quando o rio Amazonas

despeja 60 vezes mais por segundo o equivalente agrave mesma quantidade de aacutegua despejada

pelo rio Tamisa em um ano inteiro (BRASIL 2005)

Sobre as caracteriacutesticas do Rio Amazonas Suguio e Bigarella (1993) o descrevem

como sendo um rio anastomosado que apresenta canal largo e grande velocidade

transportando uma grande quantidade de sedimentos que nutrem suas margens por todo o

seu percurso (Figura 10)

Segundo Passos et al (2013)

[] o rio Solimotildees pode ser considerado marginal anastomosado com algumas ilhas e anabranching embora a sinuosidade meacutedia do canal principal permaneccedila perto de 10 O estilo anabranching se caracteriza por uma rede interconectada de canais separados por regiotildees de planiacutecie de inundaccedilatildeo (Smith amp Smith 1980 Makaske 2001) Segundo Latrubesse et al (2009) o padratildeo anabranching se caracteriza pela presenccedila de ilhas vegetadas que atuam como verdadeiros ldquoseparadoresrdquo entre o canal principal de primeira ordem e braccedilos secundaacuterios de distintas hierarquias Embora possam ser cobertas pelas aacuteguas de inundaccedilatildeo as ilhas separam canais que manteacutem uma independecircncia ou identidade hidraacuteulica hidroloacutegica Os muacuteltiplos canais caracteriacutesticos deste estilo fluvial induzem aos inuacutemeros processos de erosatildeo de deposiccedilatildeo observados ao longo do rio Solimotildees e pequenos tributaacuterios (PASSOS et al 2013 p 3631)

57

21 QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA AMAZOcircNIA

Natildeo se pode relatar a Quebra da Borracha na Amazocircnia sem antes esclarecer sua

importacircncia para a regiatildeo Apesar do litoral do Brasil ter sido ldquodescobertordquo em 1500 a

Amazocircnia somente foi realmente alcanccedilada com a ocupaccedilatildeo estrangeira dois seacuteculos e

meios depois (SOARES 1963)

Assim eacute que ateacute meados do seacuteculo XVIII o vale amazocircnico natildeo contou se natildeo com

raros contingentes militares portugueses confinados a poucas dezenas de

fortalezas e com cerca de uma centena de missotildees catequeacuteticas igualmente

espalhadas na vastidatildeo da amazocircnica nas quais o silviacutecola era aldeado pelos

missionaacuterios que lhe ensinavam a religiatildeo de Cristo (SOARES 1963 p112)

Soares (1963) ainda descreve a escravizaccedilatildeo da matildeo de obra indiacutegena como um dos

fatores responsaacuteveis pelo decreacutescimo da populaccedilatildeo indiacutegena na Amazocircnia

Inuacutemeras expediccedilotildees de caccedila ao iacutendio exterminaram no primeiro periacuteodo de

ocupaccedilatildeo grande nuacutemero de habitantes da selva Tal extermiacutenio decorria de um

lado de morte ldquonaturalrdquo do iacutendio feito escravo (50) pois o silviacutecola jamais se

adaptou aacute vida cativa e por outro das chamadas expediccedilotildees ldquopunitivasrdquo realizadas

contra as tribos que repeliam o contacto com os invasores de suas terras fossem

estes missionaacuterios soldados ou colonizadoresrdquo (SOARES 1963 p113)

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista em Manacapuru Fonte Louzada (2013)

58

Contudo as expediccedilotildees punitivas foram aleacutem da puniccedilatildeo propriamente dita pois

algumas tribos chegaram a ser totalmente massacradas pelo contingente militar a exemplo

dos Tapajoacutes que foram exterminados ldquorestando somente agraves belas peccedilas artiacutesticas de

ceracircmica ainda hoje encontradas na regiatildeo de Santareacutemrdquo (SOARES 1963 p114)

Com a aboliccedilatildeo da escravatura indiacutegena em 1755 a Companhia Geral do Comeacutercio

do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo inaugurada para monopolizar a navegaccedilatildeo nos rios da Amazocircnia

o comeacutercio e o traacutefico de matildeo de obra negra providenciou a vinda do continente africano

de braccedilo negro ldquopara substituir o braccedilo vermelho libertado e reconhecidamente refrataacuterio

ao trabalho forccediladordquo (SOARES1963 p117)

Segundo Soares apud Reis (1963 p117) que ldquono final do seacuteculo XVIII calculava-se

que 30000 escravos foram introduzidos na Amazocircnia principalmente na sede do Gratildeo Paraacute

em Beleacutemrdquo a maior parte desse contingente sucumbiu aos maus tratos e agraves doenccedilas sem

relatar os que morreram na viagem ateacute o Brasil

Segundo Soares apud Reis (1963) descreve que entre 1743 e 1749 que 40000

indiviacuteduos entre iacutendios e colonos portugueses morreram de variacuteola em Beleacutem causando

uma queda catastroacutefica na populaccedilatildeo jaacute reduzida da regiatildeo Apesar das doenccedilas e da captura

dos iacutendios continuarem em larga escala o contingente humano na Amazocircnia aumentava

ldquomodestamente mais por um lento processo de multiplicaccedilatildeo vegetativa do que pela

aquisiccedilatildeo de contingentes humanos vindos de forardquo (SOARES 1963 p118)

Soares (1963 p118) calculava ldquoa populaccedilatildeo residente na Amazocircnia no caso no

atual estado do Paraacute em 1825 em 37 mil indiviacuteduos e em 1833 chegou a aproximadamente

56 mil habitantesrdquo O que poucos sabiam era que em 1745 La Contamine (BATISTA 2007)

jaacute havia divulgado ao mundo na Academia de Ciecircncias de Paris a descoberta de uma goma

conhecida como cabuchu (pau que daacute leite) na regiatildeo de Quito e depois nas beiras do

Marantildeon Peru que jaacute era utilizada pela populaccedilatildeo local na confecccedilatildeo de garrafas botas e

bolas

Apesar de encantadora a goma receacutem-descoberta pela ciecircncia da eacutepoca

apresentava um desafio gigantesco como tornaacute-la insensiacutevel agraves mudanccedilas de temperatura

para que pudesse ser transportada da Amazocircnia para o mundo

59

Com a descoberta do processo de vulcanizaccedilatildeo da goma elaacutestica inicia-se a corrida

pela exploraccedilatildeo da borracha para ser utilizada na produccedilatildeo industrial pneumaacutetica da

Europa Primeiramente em Beleacutem e na regiatildeo do delta na foz do rio Amazonas promovida

inicialmente pelos caboclos residentes nas proximidades

A exploraccedilatildeo da borracha somente cresceu nos anos seguinte apoacutes a descoberta

da vulcanizaccedilatildeo com a exploraccedilatildeo de novas aacutereas normalmente na subida dos rios

Primeiro no (rio) Tocantins o Xingu e o Tapajoacutes depois o Madeira e o Solimotildees

mais tarde o Purus Juruaacute e Javari e seus respectivos afluentes Vecirc-se nessa

referecircncia que um fato importante os grandes produtores de borracha foram

sempre tributaacuterios da margem direita do Rio Amazonas onde a Hevea brasiliensis

tem o seu habitat por excelecircncia (BATISTA 2007 p170)

Entretanto para que a produccedilatildeo continuasse a crescer nos anos que se seguiram

era necessaacuteria mais matildeo de obra e como a regiatildeo natildeo contava com um grande contingente

populacional caberia aos nordestinos de modo geral accediloitados por fenocircmenos climaacuteticos

incontrolaacuteveis contribuir de maneira significativa para a o aumento da produccedilatildeo e ocupaccedilatildeo

humana definitiva da Amazocircnia Atraveacutes de suas intensas e constantes migraccedilotildees a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX a produccedilatildeo ficou caracterizada como o

Primeiro Ciclo da Borracha

As primeiras levas de imigrantes a chegar foram de maranhenses e se localizaram

inicialmente em Tocantins A partir das grandes secas de 1870 comeccedilaram a vir

tambeacutem imigrantes Nordeste oriental principalmente do Cearaacute e menos do Rio

Grande do Norte e demais Estados (BATISTA 2007 p171)

Expulsos de seus estados de origem por grandes e prolongadas secas sendo a mais

famosa a ldquoseca de dois setesrdquo de 1877 de triste memoacuteria nordestina que provocou o ecircxodo

em grande escala a partir de 1878 em direccedilatildeo a Amazocircnia aonde chegaram 15300 mil

nordestinos naquele ano em busca de um lugar para trabalhar e terras para cultivar

(SOARES 1963)

Apoacutes esse ano as migraccedilotildees se tornaram constantes combinadas com o aumento

de preccedilo da borracha no mercado externo como eacute possiacutevel visualizar na Tabela 2

60

Tabela 2 ndash Produccedilatildeo da Borracha na Amazocircnia

Ano Produccedilatildeo

(tonelada)

Preccedilo (kg)

1827 31365 220 reacuteis

1880 8679000 240 reacuteis

1890 16394000 298 reacuteis

1900 27650000 -

1910 38177000 377000 reacuteis

1911 44296 -

Fonte Reis (1953 p60) Mendes (1909 p5) apud Batista (2007 p171) Adaptada Louzada (2013)

Segundo Batista apud Reis (2007) em 1880 a produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia

bateu seu primeiro recorde chegando a produzir 8679000 toneladas de borracha ldquologo

depois da chegada dos novos extratores (seringueiros) vindos do Nordesterdquo (BATISTA 2007

p171)

Nos anos que se seguiram a produccedilatildeo continuava a bater recorde agrave cada ano

chegando a 27650 toneladas em 1900 quando segundo Soares (1963 p121) a populaccedilatildeo

nordestina que chegou Amazocircnia contabilizou 45792 migrantes naquele ano a maior jaacute

registrada ateacute entatildeo

O desejo de aumentar a produccedilatildeo de borracha e consequentemente seus lucros a

cada ano levou os seringueiros a praticarem teacutecnicas extremamente rudimentares entre

elas o ldquoprocesso de arrochordquo

[] que consistia em apertar as aacutervores com cipoacutes ao reacutes do chatildeo golpeando-as

por todos os lados para extrair o maacuteximo de leite o rendimento era maior mas as

ldquomadeirasrdquo (nome dado no seringal as heacuteveas) natildeo resistiam muitas vez

esgotando-se num uacutenico dia O ldquoarrochordquo foi responsaacutevel pela inutilizaccedilatildeo das

seringueiras da regiatildeo das ilhas as primeiras trabalhadas e onde se produzia

borracha da melhor qualidade Por isso pela necessidade de explorar outros

seringais onde se localizarem os trabalhadores [] novos seringueiras passaram a

ser cortadas nos rios mais para cima (BATISTA 2007 p175)

61

Outra teacutecnica usada na retirada da borracha ficou conhecida como ldquoos mutaacutes

pequenos jiraus armados junto agraves aacutervores para alcanccedilar as partes mais altas e sangraacute-las

tambeacutem funcionaram em toda parte com a intenccedilatildeo de aumentar a produccedilatildeordquo (BATISTA

2007 p175) O aumento no nuacutemero de cortes popularmente conhecidos como ticados

(cortes seguidos por todo o caule no sentido transversal inclinado para facilitar o

escoamento do laacutetex) foram responsaacuteveis por tornarem as aacutervores vulneraacuteveis agrave fungos

bacteacuterias e brocas consequentemente as condenava agrave morte (BATISTA 2007 p174)

Ainda segundo Batista apud Chevalier (2007 p174) descreve bem essa fase de

intensa exploraccedilatildeo do laacutetex como ldquoleite que de branco se torna negro ao contato com a

ambiccedilatildeo humanardquo se referindo agrave vulcanizaccedilatildeo do laacutetex para se transforma em botijotildees para

facilitar o transporte (Figura 11)

Para Batista (2007) o ano 1910 foi o marco da exportaccedilatildeo de borracha no paiacutes

representando 40 da exportaccedilatildeo total contra 40 da produccedilatildeo de cafeacute daquele ano

A perda do monopoacutelio de produccedilatildeo da borracha da Amazocircnia para a borracha

produzida na Malaacutesia e Indoneacutesia com preccedilos mais baixos provocou a Quebra da Borracha

produzida no Brasil o que ocasionou graviacutessimos problemas na economia dos estados do

Amazonas e do Paraacute que era baseado na produccedilatildeo de borracha

A produccedilatildeo da borracha passou a cair a cada ano em consequecircncia dos baixos

preccedilos praticados chegando a produzir em 1920 somente 23586000 toneladas e em

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para transporte Fonte Museu do Seringal (httpmuseuseringalblogspotcombr201210a-criacao-da-borrachahtml)

62

1923 produziu somente 1799500 toneladas alcanccedilando o patamar miacutenimo de 622500

toneladas em 1932 (BATISTA 2007 p171)

Com a queda do preccedilo da borracha a cada ano os ex-seringueiros se viram

obrigados a procurar outras fontes de renda para alimentar suas famiacutelias Entretanto nunca

haviam cultivado os solos da Amazocircnia como informa Benchimol (1946 p34) ldquoAgricultura

natildeo rima bem com seringardquo na verdade os extratores eram impedidos de cultivar os solos

pelos donos dos seringais pois deveriam ldquocomprarrdquo dos proacuteprios donos dos seringais os

produtos que precisassem seu consumo

Por interesses mercantis aliados a necessidade imediata durante o ciclo da

borracha foi preciso importar alimentos maciccedilamente E quando os preccedilos caiacuteram e

os seringueiros puderam plantar e colher natildeo alcanccedilaram grandes safras primeiro

porque natildeo sabiam trabalhar a terra e depois porque natildeo tinham mercado para a

venda da produccedilatildeo cingindo-se assim a uma agricultura puramente de

subsistecircncia Adaptaram-se poreacutem facilmente a uma indicaccedilatildeo taacutecita da ecologia

regional usando as vaacuterzeas como lugar por excelecircncia para os ldquoroccediladosrdquo aleacutem de

serem aacutereas fertilizadas pelo huacutemus das enchentes natildeo demandavam grande

trabalho para a sua preparaccedilatildeo apesar de natildeo permitirem a implantaccedilatildeo de

culturas perenes passando praticamente seis meses alagadas (BATISTA 2007

p174)

Como afirma Batista (2007) com a quebra da borracha brasileira centenas de

milhares de ex- seringueiros saiacuteram dos seringais em busca de outra fonte de renda uma vez

que foram abandonados agrave proacutepria sorte se instalando novamente ao longo das margens dos

rios da Amazocircnia

Forccedilados pela necessidade os ex- seringueiros foram obrigados a aprender a

cultivar os solos da Amazocircnia para produzir seus proacuteprios alimentos de forma a alimentar

suas famiacutelias Outros por sua vez optaram por retornar aos seus estados de origem Os que

decidiram por permanecer migraram para aeacutereas proacuteximas aos centros urbanos como

Manaus com o objetivo de residir proacuteximo de um futuro mercado consumidor para a sua

futura produccedilatildeo agriacutecola como eacute o caso de alguns dos municiacutepios que se constituiacuteram

proacuteximos agrave Manaus

63

211 ndash UM LUGAR CHAMADO MANAQUIRI

O municiacutepio de Manaquiri estaacute localizado a 55 km em linha reta de Manaus ou a 80

km por via fluvial com aacuterea total de 3975770 kmsup2 (IBGE 2010) estaacute divido entre Vaacuterzea e

Terra Firme (Figura 12)

64

Figura 12 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

65

Eacute amplamente relatado que o atual municiacutepio do Manaquiri tem sua origem

vinculada ao municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea e seu povoamento datado a partir de 1877

(IBGE 2010)

Todavia Wallace (2004) descreve uma visita ao Manaqueri (atual Manaquiri) na

propriedade do Sr Joseacute Antocircnio Brandatildeo em 1850 ldquoda margem do rio ergue-se num

abrupto e rochoso penhasco de 30 a 40 peacutes acima do niacutevel das mais altas cheias As rochas

satildeo de natureza vulcacircnica e tem um aspecto muito grosseiro algumas vezes viacutetreo qual o de

escoacuteriasrdquo (WALLACE 2004 p 232)

Wallace (2004) descreve a origem de seu anfitriatildeo como sendo de Portugal que

chegou agrave regiatildeo ldquobem ainda moccedilo e logo apoacutes casou nesse novo estado fixou-se em

Manaquiri com a intenccedilatildeo de laacute ficar morando por toda a vida Construindo ele proacuteprio sua

morada na beira de um lago proacuteximo ao curso principal trouxe iacutendios (e escravos) a fim de

fixaacute-los tambeacutem na fazendardquo (WALLACE 2004 p242)

Logo a seguir derrubou a mata plantou laranjeiras tamarindeiros mangueiras e

muitas aacutervores frutiacuteferas de outras espeacutecies arrumando-as em magniacuteficas e

apraziacuteveis avenidas Fez tambeacutem jardins bem como pastagens para o gado e

iniciou a criaccedilatildeo de bois carneiros porcos e galinhas E assim ficou em pleno gozo

e uma vida campesina (WALLACE 2004 p 242)

Wallace (2004) continua relatando que o Sr Brandatildeo seu anfitriatildeo teve sua

propriedade completamente destruiacuteda por iacutendios seus vizinhos incitados por

revolucionaacuterios na Revoluccedilatildeo Cabanagem (1840) perdendo tambeacutem todas as aacutervores

frutiacuteferas animais e escravos mortos pelos iacutendios Todavia sua famiacutelia esposa e onze filhos

se refugiaram na floresta onde permaneceram por trecircs dias alimentando-se de frutas e

milho uma vez que o senhor da propriedade se encontrava na Vila da Barra natildeo teve sua

vida perdida pelos revoltosos Foi nomeado Magistrado da Barra onde permaneceu por

anos longe de sua propriedade para onde retornou posteriormente com a filha caccedilula

uma vez que sua esposa jaacute havia falecido e seus filhos mais velhos jaacute haviam casado e

constituiacutedo suas famiacutelias onde reconstruiu parte da sua propriedade com seus escravos

Com o inicio das migraccedilotildees nordestinas para a Amazocircnia em busca de trabalho nos

seringais muitas famiacutelias optaram por se instalarem na receacutem-criada Cidade da Barra do Rio

Negro ou em regiatildeo proacutexima como eacute o caso da regiatildeo do Careiro da Vaacuterzea localizada em

uma ilha no meio do rio Solimotildees

66

Novas secas nordestinas determinaram outras penetraccedilotildees de cearenses

piauienses paraibanos na regiatildeo do Careiro Com o nuacutemero de imigrantes aumentando a

cada ano o governo do estado do Amazonas fundou em 11 de Janeiro de 1890 as Colocircnias

de ldquoSanta Maria do Janauacaacuterdquo e a ldquo13 de Maiordquo no Cambiche com a funccedilatildeo de abrigar os

colonos e sustentaacute-los durante seis meses para que pudessem se instalar na regiatildeo (IBGE

2010)

Com a Queda da Borracha a partir de 1911 nos altos cursos dos rios os ex-

seringueiros se viram obrigados a procurarem novas aacutereas para residirem

Segundo Benchimol (1992)

Seriam os novos paroaras no velho linguajar sertanejo sendo que desta vez natildeo

levavam mais o chapeacuteu de palhinha o guarda chuva e o reloacutegio de algibeira com a

corrente de ouro que outrora constituiacuteam os siacutembolos e a imagem dos filhos

proacutedigos da seringa e da fortuna Ou entatildeo quando a vergonha de voltarem pobres

impedia o seu retorno ao sertatildeo abandonavam os seringais endividados e

rumavam para as cidades Rio Branco Manaus Beleacutem (BENCHIMOL 1992 p228)

O autor ainda relata que os ex- seringueiros que tinham vocaccedilatildeo para atividades

agriacutecolas ldquodesciam rio abaixo para ocupar como posseiros as terras devolutas das vaacuterzeas

do Solimotildees do Meacutedio e do Baixo Amazonas onde localizavam os siacutetios e roccedilados neles se

fixando definitivamente permanecendo fieacuteis agrave tradiccedilatildeo ruralrdquo (BENCHIMOL 1992 p228)

Fato semelhante ocorreu com a localidade do Manaquiri como descreve o senhor

Nery (82 anos) que foi trazido pelos pais com apenas um mecircs de vida filho de ex-

seringueiros que migraram do municiacutepio de Laacutebrea no sul do Estado do Amazonas em 1931

apoacutes a queda do preccedilo da borracha e instalaram-se na localidade do Manaquiri ldquovieram

tentar a vida na agricultura em um lugar mais perto da capital Lembro que na minha

infacircncia tinha fartura de peixe por isso um dos primeiros nomes daqui foi Vila do Jaraquirdquo

O entrevistado tambeacutem descreve o lugar como tendo ldquoa Igreja de Satildeo Pedro feita

de madeira e coberta de palha e mais quatro casas construiacutedas no mesmo formato da igreja

A igreja de hoje (Figura 13) estaacute no mesmo lugar da antiga e ao lado tinha um campo de

futebol e do lado do campo agraves quatro casas que me lembro da infacircnciardquo (NERY 82 anos)

67

Conforme relato do Cruz (84 anos) relatou que seu pai migrou do estado do Rio

Grande do Norte para trabalhar na retirada da borracha em 1924 quando chegou a Manaus

soube da queda do preccedilo da borracha

[] mas natildeo queria ficar na cidade entatildeo decidiu seguir duas famiacutelias que iam

morar laacute no Careiro embora o governo do estado tenha cumprido com a palavra e

dado comida durante seis meses ao meu pai e as outras famiacutelias o sonho dele era

cultivar as novas terras e fez plantando verduras que a aacutegua cobriu sem doacute nem

piedade quando subiu naquele ano meu pai ficou tatildeo triste tatildeo triste que disse

que ia procurar a terra que os outros colonos falavam um tal de Manaquiri onde a

terra era alta e a aacutegua soacute chegava na frente de tatildeo alta que era a terra meu pai

natildeo perdeu tempo e veio atraacutes dessa terra alta com minha matildee e mais duas

famiacutelias ai eu nasci aqui no Manaquiri em 1926 (CRUZ 84 anos)

Cruz (84 anos) relata ainda que ajudou na construccedilatildeo da primeira igreja de Satildeo

Pedro em 1931 com seu pai e outros dois vizinhos os uacutenicos moradores do lugar ateacute entatildeo

a igreja foi feita de madeira tirada da floresta e coberta com palhas secas tranccediladas pela sua

matildee e as outras duas vizinhas fizeram a igreja para agradecer a Satildeo Pedro pela grande

fartura de peixe da espeacutecie jaraqui (Semaprochilodus insignis) que deu o primeiro nome ao

lugar chamado posteriormente de Vila do Jaraqui

Depois daquele ano quando meus pais fizeram uma festa para comemorar o dia se

Satildeo Pedro e chamaram os amigos do Careiro veio muita gente pra caacute e ficamos

jogando bola ateacute o sol ir embora no campo que roccedilamos naquele dia mesmo

depois disso nos finais de semana vinha gente pra caacute pra jogar bola depois de um

tempo comeccedilou a chegar gente para morar aqui mesmo era legal eu ia ter amigos

para brincar todos os dias (CRUZ 84 anos)

Figura 13 Frente da cidade do Manaquiri Fonte Louzada 2013

68

Oficialmente a histoacuteria do hoje municiacutepio do Manaquiri estaacute ligada ao povoamento

efetuado por nordestinos agrave princiacutepio no municiacutepio do Careiro que posteriormente se

estendeu pela regiatildeo O que levou o governo do estado do Amazonas atraveacutes do Decreto Lei

nordm176 de 1938 a tornar o Careiro um distrito da capital Manaus (IBGE 2000)

Com o a ocupaccedilatildeo constante e o crescimento ao longo dos anos o distrito do

Careiro foi desmembrado da capital Manaus e tornou-se um municiacutepio autocircnomo atraveacutes

do Decreto Lei nordm 99 de 19 de Dezembro de 1955 tendo como subdistritos Careiro

(Castanho) Curari Gurupaacute Mamori Janauacaacute Satildeo Joaquim e Manaquiri (AMAZONAS

1955)

Com o inicio da construccedilatildeo da BR-319 na deacutecada de 1970 os subdistritos do

Careiro com destaque para o Careiro Castanho e o Manaquiri tambeacutem passaram a receber

migrantes oriundos de outros municiacutepios e tambeacutem de outros estados brasileiros para

trabalharem na construccedilatildeo da BR e acabaram por se fixar na regiatildeo

O Manaquiri foi elevado agrave categoria de municiacutepio em 10 de Fevereiro de 1981

constituindo seu territoacuterio com parte dos municiacutepios de Careiro Borba e Manacapuru

(BRASIL 1981) E continuou a crescer ao longo dos anos como mostra a Tabela 3

Tabela 3 Crescimento populacional do Manaquiri entre 1991 e 2010

Ano Populaccedilatildeo

1991 10718

1996 17278

2000 12711

2007 19164

2010 22801

212 ndash INFRAESTRUTURA DO MANAQUIRI PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

Segundo o Censo Demograacutefico do IBGE (2010) o municiacutepio do Manaquiri estaacute

classificado em deacutecimo lugar entre os sessenta e dois municiacutepios do estado com relaccedilatildeo ao

nuacutemero de habitantes por quilocircmetro quadrado que chega a 573 habkmsup2 (Tabela 4)

Fonte IBGE Censo Demograacutefico 19912010

69

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas

Municiacutepios com mais habkmsup2

Municiacutepio Populaccedilatildeo Total

Urbana Rural habkmsup2

1ordm Manaus 1802014 1792881 9133 15806

2ordm Iranduba 40781 28979 11802 1842

3ordm Parintins 102033 69890 32143 1714

4ordm Tabatinga 52272 36355 11917 1621

5ordm Manacapuru 85141 60174 24967 1162

6ordm Itacoatiara 86839 58157 26655 977

7ordm Careiro da Vaacuterzea 23930 1000 22930 909

8ordm Urucurituba 17837 10448 7389 614

9ordm Boa Vista do Ramos 14979 7550 7429 579

10ordm Manaquiri 22801 7062 15739 573

11ordm Nova Olinda do Norte

30696 13626 17070 547

12ordm Careiro 32734 9437 23297 537

A sede municipal de Manaquiri concentra 3097 da populaccedilatildeo do municiacutepio que

por sua vez dispotildee fisicamente de infraestrutura baacutesica de uma cidade com ruas e calccediladas

amplas (Figura 14)

Fonte Censo demograacutefico IBGE 2010 (httpwwwcenso2010ibgegovbrsinopseindexphpdados=21ampuf=13)

70

A sede municipal tambeacutem concentra grande variedade de comeacutercio como

mercearias lojas de moacuteveis e eletroeletrocircnicos restaurantes hoteacuteis banco etc (Figura 15)

Como 6903 (15739 mil) da populaccedilatildeo do municiacutepio fica concentrada na zona rural

a economia predominante torna-se a agricultura familiar que Noda (2011) descreve como

tendo uma

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

Figura 15 Centro comercial da sede municipal de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

71

[] produccedilatildeo diversificada que aleacutem de permitir uma oferta constante ampla e variada de alimentos para o autoconsumo proporciona maior estabilidade ao sistema produtivo pois o suprimento das necessidades baacutesicas em alimentos da famiacutelia independente da comercializaccedilatildeo do lsquorsquoexedendersquorsquo As crises do mercado externo podem afetar o nuacutecleo produtivo mas natildeo viabilizam a sua sobrevivecircncia (NODA 2011 p18)

Todavia apesar da produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri ser caracterizada

como sendo uma produccedilatildeo agriacutecola familiar a mesma manteacutem-se ligada ao mercado

consumidor produzindo natildeo mais exclusivamente para o autoconsumo mas principalmente

para o abastecimento do mercado externo

Segundo a Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural ndash SEPROR o municiacutepio do

Manaquiri destaca-se no estado por ter um grande volume de produccedilatildeo agriacutecola (Tabela 5)

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola no municiacutepio de Manaquiri

de Janeiro a Dezembro de 2012

Fonte Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural - SEPROR

Produccedilatildeo Agriacutecola Quantidade Produzida

Coco 32 mil frutos Cupuaccedilu 120 mil frutos Goiaba 5 (t)

Graviola 8 mil frutos Laranja 12540 mil frutos

Limatildeo 765 mil frutos Mamatildeo Havaiacute 200 (t)

Maracujaacute 80 (t) Pupunha 24 mil cachos

Tangerina 252 mil frutos Alface 330 mil peacutes

Batata doce 1920 (t) Berinjela 20 (t)

Feijatildeo de Metro 500 mil maccedilos Jerimum 700 (t)

Macaxeira 1440 (t) Maxixe 30 (t)

Melancia 510 mil frutos

Pimentatildeo a ceacuteu aberto 80 (t) Pimenta doce 24 (t)

Pepino 156 (t) Quiabo 90 (t) Repolho 120 (t) Tomate 160 (t)

72

Sobre isso Noda (2011) relata

Dados do Censo de 199596 publicados pelo INCRA (2000) mostram que na Regiatildeo Norte o nuacutemero de estabelecimentos de agricultores familiares ocupa 375 da aacuterea recebem 38 6 do total de financiamento satildeo responsaacuteveis por 587 do Valor Bruto da Produccedilatildeo e representam 854 do total dos estabelecimentos rurais No Brasil o nuacutemero de estabelecimentos classificados como de agricultura familiar representam 852 do total de estabelecimentos 305 da aacuterea total e correspondem a 379 do Valor Bruto da Produccedilatildeo (NODA 2011 p18)

O Estado do Amazonas a partir de 2012 tem um programa de governo voltado

para a agricultura familiar o Programa Amazonas Rural

Com o Amazonas Rural pretendemos entre outros avanccedilos fomentar as cadeias produtivas tradicionais melhorar a produtividade proporcionar acesso ao creacutedito facilitar o escoamento garantir mercado e competitividade aos produtos oferecendo novas alternativas econocircmicas e mais oportunidade ao homem e a mulher (AMAZONAS 2013 p 5)

A partir de janeiro de 2013 agricultores familiares do municiacutepio de Manaquiri

passaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado para receberem empreacutestimos que

podem chegar ao valor de R$12 mil a serem investidos no melhoramento da produccedilatildeo

agriacutecola com juros de 1 ao ano com prazo de pagamento em ateacute 10 anos (AMAZONAS

2013)

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal Sustentaacutevel do

Amazonas - IDAM (2013) vinte e cinco agricultores do Manaquiri fizeram o curso sobre

cultivo de hortaliccedilas que tinha como objetivo aumentar a produccedilatildeo de hortaliccedilas para

abastecer o comeacutercio local e a capital amazonense

22 MARCHA PARA O OESTE A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS

Segundo Rothbard (2012) a Grande Depressatildeo Americana foi resultado de oito

anos (1920 a 1928) de inflaccedilatildeo elevada acompanhada da expansatildeo excessiva das induacutestrias

e a venda de tiacutetulos do capital no mercado de accedilotildees por um longo periacuteodo como resultado

teve a injeccedilatildeo de milhares de doacutelares na economia o que natildeo muito mais tarde se mostraria

um erro irreversiacutevel levando o paiacutes aacute depressatildeo no ano seguinte

73

Com a Grande Depressatildeo de 1929 explodindo seus reflexos se espalharam pelo

mundo em meses chegando ateacute a atingir tambeacutem o Brasil que nesse periacuteodo tinha sua

economia enraizada na cafeicultura tendo os Estados Unidos como maior comprador do

cafeacute produzido no Brasil

Para minimizar os impactos na economia interna o governo brasileiro se viu

obrigado a comprar e a derramar no mar milhares de sacas de cafeacute a fim de conter o preccedilo

do principal produto brasileiro ateacute entatildeo

A economia cafeicultora jamais se recuperou completamente o que levou os

produtores que natildeo quebraram com a crise do cafeacute como ficou conhecido este periacuteodo no

Brasil a investirem no setor industrial o que mais tarde se mostraria ter sido um oacutetimo

negoacutecio

Com a queda do preccedilo e o excesso de cafeacute no mercado os proprietaacuterios dos

cafezais se viram obrigados a demitir milhares de empregados que migraram para outras

regiotildees principalmente para as cidades em busca de emprego Com o passar dos anos de

intensas migraccedilotildees para as cidades e a falta de estrutura das mesmas para atender toda a

demanda resultou em um crescimento raacutepido e desordenado aleacutem de graviacutessimos

problemas na populaccedilatildeo por falta de condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede

Com o passar do tempo os problemas urbanos foram sendo agravados a cada ano e

o governo brasileiro se viu pressionado a tomar uma atitude Foi entatildeo que o presidente

Getuacutelio Vargas iniciou um pacote de medidas de incentivo agrave migraccedilatildeo posteriormente

chamado de ldquoMarcha para o Oesterdquo que visava antes de tudo ocupar os espaccedilos

considerados vazios no interior do Brasil e desafogar as cidades do litoral

Para isso foi necessaacuterio incentivar a populaccedilatildeo a migrar para outras regiotildees atraveacutes

do meio de comunicaccedilatildeo de maior alcance da eacutepoca o raacutedio e foi por meio dele com

pronunciamentos e transmissotildees semanais de campanhas incentivando a migraccedilatildeo da

populaccedilatildeo para espaccedilos sem gente que Vargas deu inicio agraves grandes transformaccedilotildees que o

Brasil viria a presenciar dali em diante

A Marcha para o Oeste tinha como objetivos incentivar a migraccedilatildeo de brasileiros e

estrangeiros aptos para a produccedilatildeo agriacutecola para outras regiotildees sem gente propagava

tambeacutem a conquista definitiva do territoacuterio brasileiro que segundo Vargas ateacute entatildeo fora

esquecido (RICARDO 1970)

74

E em 09 de fevereiro de 1940 foi publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei

nordm 2009 que criou os nuacutecleos coloniais ldquoreuniatildeo de lotes medidos e demarcados formando

um grupo de pequenas propriedades ruraisrdquo (BRASIL 1940 p2433)

Art 7ordm Os nuacutecleos coloniais aleacutem das casas destinadas a residecircncia do pessoal teacutecnico administrativo e operaacuterio e de trabalhadores teratildeo a) Um campo de demonstraccedilatildeo destinado aacutes culturas proacuteprias da regiatildeo ou de outras economicamente aconselhaacuteveis b) Escolas para ensino rural de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendecircncia do Ensino Agriacutecola c) Pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira d) Serviccedilo meacutedico e farmacecircutico

Tambeacutem segundo o Diaacuterio Oficial da Uniatildeo os nuacutecleos coloniais seriam

classificados em rurais destinados agrave lavoura e a criaccedilatildeo de animais de dimensotildees variando

entre 10 e 50 hectares e nuacutecleos coloniais urbanos destinados agraves futuras povoaccedilotildees

ldquotendo sua frente voltada para ruas e praccedilas e com aacuterea maacutexima de 3000msup2rdquo (BRASIL 1940

p2434)

Um ano apoacutes a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 2009 o governo federal em parceria

com os governos estaduais e municipais e o Ministeacuterio da Agricultura divulgam tambeacutem no

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei nordm 3059 de 14 de Fevereiro de 1941

Esse Decreto promoveu a fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo de Grandes Colocircnias Agriacutecolas

Nacionais com o objetivo de receber e fixar como proprietaacuterios rurais cidadatildeos brasileiros

reconhecidamente pobres que revelassem aptidatildeo para o trabalho agriacutecola e

excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros (BRASIL 1941)

Paraacutegrafo uacutenico Todas as despesas decorrentes da fundaccedilatildeo instalaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das colocircnias inclusive construccedilatildeo e conservaccedilatildeo das vias principais de acesso seratildeo custeadas pela Uniatildeo dentro dos creacuteditos que forem destinados a esse fim Art 2ordm As colocircnias seratildeo criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que deveratildeo reunir as seguintes condiccedilotildees a) situaccedilatildeo climateacuterica e condiccedilotildees agroloacutegicas exigidas pelas culturas da regiatildeo b) cursos permanentes dacuteaacutegua ou possibilidade de accediludagem para irrigaccedilatildeo (BRASIL 1941 p72)

Tambeacutem ficou estabelecido no Decreto Lei que a aacuterea do lote variaria entre 20 e 50

hectares e em caso de regiotildees de floresta naturais cada proprietaacuterio do lote teria que

manter uma reserva equivalente a 25 do total ldquosect 4ordm Na elaboraccedilatildeo do plano geral de

75

colonizaccedilatildeo seratildeo respeitadas as belezas naturais da regiatildeo bem como cuidar-se-aacute da

proteccedilatildeo da flora e faunardquo (BRASIL1941 p73)

No paraacutegrafo uacutenico do artigo 5ordm ldquoNo projeto da sede seratildeo observadas todas as

regras urbaniacutesticas visando agrave criaccedilatildeo de um futuro nuacutecleo de civilizaccedilatildeo no interior do paiacutesrdquo

(BRASIL1941 p73)

Para Bertran (1988) o principal objetivo das Colocircnias Agriacutecolas Nacionais era ldquoalocar

matildeo de obra liberada pela decadecircncia da cafeicultura e criar uma frente agriacutecola comercial

internardquo (BERTRAN 1988 p92)

Para Dayrell (1974) as grandes Colocircnias Agriacutecolas Nacionais seriam a soluccedilatildeo para

resolver dois grandes estrangulamentos do Brasil o excesso de matildeo de obra e a falta de

emprego para todos

Independente das motivaccedilotildees para se criar a Marcha para o Oeste seus benefiacutecios

em diversas regiotildees do paiacutes satildeo inegaacuteveis O exemplo da Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes -

CANG fundada em 19 de Fevereiro de 1941 pelo Decreto Lei nordm 6882 na localidade de

Ceres que obedecendo ao Decreto Lei nordm 3059 forneceu lotes aos colonos medindo entre

20 e 50 hectares para que cultivassem a terra de forma a manter seu sustento

Com a veiculaccedilatildeo da notiacutecia de solo feacutertil e de apoio do Governo (CASTILHO 2012)

a regiatildeo passou a receber grande quantidade de pessoas candidatos a futuros colonos

A partir de 1946 chegavam a Colocircnia em meacutedia 30 famiacutelias por dia No ano seguinte jaacute residiam na CANG mais de 10000 habitantes Em 1950 a aacuterea contava com 29522 habitantes e em 1953 atingiu uma populaccedilatildeo de 35672 habitantes (onde 33222 residiam na zona rural e apenas 3450 na zona urbana) Essa grande quantidade de migrantes era provenientes do Oeste de Minas Gerais (60) de Satildeo Paulo e Estados do Norte (20) do proacuteprio Estado de Goiaacutes e do Sul (especialmente gauacutechos) e de outros paiacuteses (20) (CASTILHO apud DAYRELL 2012 p121)

Com o aumento do nuacutemero de colonos a cada dia houve tambeacutem o aumento da

produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas destinadas para a demarcaccedilatildeo de lotes Um demonstrativo do

volume de produccedilatildeo agriacutecola pode ser visualizado na Tabela 6

76

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo agriacutecola da CANG Produto Unidade 1947 1950 1951 1952 1953

Arroz Saca 60 kg 220000 420596 362642 272920 276000

Milho Saca 60 kg 500000 25475 202625 136349 248000

Feijatildeo Saca 60 kg 65000 18169 29455 140187 86000

Accediluacutecar Saca 60 kg 5000 - - - -

Algodatildeo Saca 60 kg 10000 99213 261369 129974 220000

Cafeacute Saca 60 kg - - 22540 8036 14600

Cana kg - 3129869 36856869 43725 ton 32024 ton

Mandioca kg - 6436718 35272961 20088783 41448 ton

Com a produccedilatildeo de arroz chegando a 4 toneladas e 600 kg (276000kg) em 1953

somado a 32024 toneladas de cana de accediluacutecar e 41448 toneladas de mandioca a produccedilatildeo

agriacutecola da CANG chegava a 780720 toneladas de alimentos somente com trecircs produtos

um recorde de produccedilatildeo

A CANG natildeo somente produzia os produtos agriacutecolas mais tambeacutem os beneficiava de

modo a agregar valor ao produto facilitando assim a sua comercializaccedilatildeo

Da cana de accediluacutecar produziam rapadura accediluacutecar mascavo accediluacutecar cristal farinha de

milho e mandioca aleacutem de oacuteleos vegetais e tijolos para a construccedilatildeo das casas e telhas

francesas e coloniais (DAYRELL 1974)

Tambeacutem segundo Dayrell (1974) a CANG a partir de 1953 comeccedilou a produzir outras

culturas agriacutecolas entre elas mamatildeo amendoim batata e frutas entretanto as mesmas natildeo

chegaram a ser expressivas em volume de produccedilatildeo ficando somente para consumo interno

da Colocircnia

Por estar localizada em um solo riquiacutessimo em fertilidade para a agricultura a

administraccedilatildeo da CANG fazia seacuterias restriccedilotildees agrave criaccedilatildeo bovina segundo Dayrell (1974) a

mesma tinha um rebanho estimado em 14000 cabeccedilas de gado em sua maioria utilizada

para preparar a terra para o plantio e as vacas para a produccedilatildeo leiteira

Outro exemplo de Colocircnia eacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados - CAND

localizada no Estado de Mato Grosso do Sul (antigo Mato Grosso) criada pelo Decreto Lei nordm

5941 de 28 de Outubro de 1943 que assim como outras colocircnias tinha a funccedilatildeo de

Fonte DAYRELL apud CASTILHO (2012)

77

receber e alojar brasileiros reconhecidamente pobres e estrangeiros aptos para a

agricultura

Segundo Menezes (2011) devido aos percalccedilos poliacuteticos a Colocircnia somente foi

efetivamente implantada em 1948 cinco anos apoacutes a lei de sua criaccedilatildeo Logo em seguida

comeccedilou a receber migrantes mas foi na deacutecada de 1950 que as migraccedilotildees tomaram

impulso e chegaram agrave nuacutemeros exorbitantes Segundo Lenharo (1986) as migraccedilotildees intensas

eram reflexos das propagandas veiculadas semanalmente no raacutedio pautada em

instrumentos simboacutelicos com a bandeira para incitar o sentimento nacionalista

A colocircnia possuiacutea uma aacuterea de 267000 ha que ficaram divididas em duas zonas

separadas pelo rio Dourados a primeira localizada agrave esquerda do rio com 68000

ha e a segunda agrave direita daquele com uma aacuterea de 199000 ha A referida colocircnia

englobava o territoacuterio dos atuais municiacutepios de Dourados Faacutetima do Sul Vicentina

Gloacuteria de Dourados Jateiacute Deodaacutepolis e Douradina (MENEZES apud PONCIANO

NAGLIS 2011)

Segundo Menezes (2011) em uma carta o administrador da CAND em 1951

descreve a regiatildeo da Colocircnia de Dourados como sendo uma regiatildeo de mata virgem de

terras planas de solos de rara fertilidade e de altitude superior a 400 metros com condiccedilotildees

adaptaacuteveis agrave culturas agriacutecolas variadas de frutos europeus e cafeacute

Assim como ocorreu na Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes- CANG na localidade de

Ceres a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados- CAND no Territoacuterio Federal de Ponta Poratilde

(BRASIL 1943) no atual estado do Mato Grosso do Sul tambeacutem produzia grande quantidade

de alimentos como arroz feijatildeo e milho Sua principal dificuldade estava no transporte

dessa produccedilatildeo que ao contraacuterio da CANG que tinha acesso direto ao rio das Almas a

CAND dependia do transporte terrestre para escoar sua produccedilatildeo

Menezes apud Queiroz (2011 p7) descreve a ldquosituaccedilatildeo relativamente desfavoraacutevel

desse ramal um tanto excecircntrico em relaccedilatildeo ao nuacutecleo agriacutecola constituiacutedo pela CAND Essa

colocircnia de fato estendeu-se a leste da cidade de Dourados enquanto a estaccedilatildeo de Itahum

foi estabelecida cerca de 60 km a oeste da cidaderdquo Com isso agrave medida que a CAND crescia e

se desenvolvia ficava mais difiacutecil escoar sua produccedilatildeo

Segundo Azevedo (1994) em entrevista com um colono o mesmo descreve a

situaccedilatildeo em que se encontravam ldquoa uacutenica e precariacutessima ligaccedilatildeo que tiacutenhamos era com

Dourados atraveacutes de um caminho aberto a braccedilos humanos onde haviam terriacuteveis atoleiros

78

dentre os quais os famosos travessotildees da Onccedila o do Guassu e o varjatildeo de Vila Brasilrdquo

(AZEVEDO1994 p59)

Nessa situaccedilatildeo em periacuteodo de chuva era praticamente impossiacutevel transportar a

produccedilatildeo ateacute a estaccedilatildeo de Itahum e para piorar a CAND natildeo dispunha de galpotildees de

armazenamento o que tornava extremamente necessaacuterio que os colonos enfrentassem os

perigos do caminho para natildeo perder a produccedilatildeo

221 COLOcircNIA AGRIacuteCOLA NACIONAL DO AMAZONAS- CANA ldquoUM LUGAR PARA

RECOMECcedilARrdquo

A Amazocircnia voltou a ser ldquoalvordquo de migraccedilatildeo populacional a partir da II Segunda

Guerra Mundial ldquocom a perda para os japoneses dos centros de produccedilatildeo de goma elaacutestica

(borracha) cultivadas no Oriente a induacutestria beacutelica dos aliados viu-se privada da noite para

o dia de um de seus mais importantes produtos estrateacutegicosrdquo (SOARES 1963 p123)

Com isso o presidente dos Estados Unidos viu-se pressionado a estudar o estoque

de mateacuterias primas disponiacutevel para a guerra todavia o resultado foi assustador

De todos os materiais criacuteticos e estrateacutegicos a borracha eacute aquele cuja falta representa a maior ameaccedila agrave seguranccedila de nossa naccedilatildeo e ao ecircxito da causa aliada () Consideramos a situaccedilatildeo presente tatildeo perigosa que se natildeo se tomarem medidas corretivas imediatas este paiacutes entraraacute em colapso civil e militar A crueza dos fatos eacute advertecircncia que natildeo pode ser ignorada

Atenccedilotildees do governo americano se voltaram entatildeo para a Amazocircnia grande reservatoacuterio natural de borracha com cerca de 300 milhotildees de seringueiras prontas para a produccedilatildeo de 800 mil toneladas de borracha anuais mais que o dobro das necessidades americanas Entretanto naquela eacutepoca soacute havia na regiatildeo cerca de 35 mil seringueiros em atividade com uma produccedilatildeo de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941 Seriam necessaacuterios pelo menos mais 100 mil trabalhadores para reativar a produccedilatildeo amazocircnica e elevaacute-la ao niacutevel de 70 mil toneladas anuais no menor espaccedilo de tempo possiacutevel [] para alcanccedilar esse objetivo iniciaram-se intensas negociaccedilotildees entre as autoridade brasileiras e americanas que culminaram com a assinatura do Acordo de Washington (NECES 2013 p5 - 6)

E em 14 de Setembro de 1943 eacute publicado o Decreto Lei nordm 5813 que dispunha

sobre o acordo de Washington (assinado em 1942) entre o Brasil e os Estados Unidos onde

o Brasil se comprometia em recrutar e encaminhar trabalhadores para a Amazocircnia com a

79

finalidade de retirar a maior quantidade possiacutevel de borracha e os EUA em contra partida se

comprometia a disponibilizar a importacircncia de U$$ 240000000 em uma conta especial no

Banco do Brasil agrave disposiccedilatildeo do governo brasileiro para ser usado no transporte e

acomodaccedilatildeo dos primeiros 16000 trabalhadores que deveriam ser colocados nos seringais

agrave tempo de iniciar a extraccedilatildeo da borracha para a safra de 1944 (BRASIL 1943)

Em cumprimento ao acordo firmado entre Brasil-EUA eacute criado o Serviccedilo Especial de

Mobilizaccedilatildeo de Trabalhadores para a Amazocircnia - SEMTA que tinha como objetivo fazer o

recrutamento de trabalhadores e suas famiacutelias e o encaminhamento e posterior

acomodaccedilatildeo das mesmas nos seringais da Amazocircnia a fim de incrementar a produccedilatildeo de

borracha e destina laacute aos Estados Unidos (BRASIL 1943)

Para o governo brasileiro era uma grande oportunidade para mitigar alguns dos mais graves problemas sociais brasileiros Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponiacuteveis para ser enviados imediatamente para os seringais Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazocircnia durante o ano de 1942 metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais Aqueles eram os primeiros soldados da borracha Simples retirantes que se amontoavam com suas famiacutelias por todo o nordeste fugindo de uma seca que teimava em natildeo acabar e os reduzia agrave miseacuteria Mas aquele primeiro grupo era evidentemente muito pequeno diante das pretensotildees americanas (NECES 2013 p7)

Vai aleacutem ao afirmar

Em todas as regiotildees do Brasil aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha e assim auxiliar a causa aliada Alistamento recrutamento voluntaacuterios esforccedilo de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano popular A mobilizaccedilatildeo de trabalhadores para a Amazocircnia coordenada pelo Estado Novo foi revestida por toda a forccedila simboacutelica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam No nordeste de onde deveria sair o maior numero de soldados o SEMTA convocou padres meacutedicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazocircnicas O artista suiacuteccedilo Chabloz foi contratado para produzir material de divulgaccedilatildeo acerca da realidade que os esperava Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de laacutetex que escorria como aacutegua de grossas seringueiras Todo o caminho que levava do sertatildeo nordestino seco e amarelo ao paraiacuteso verde e uacutemido da Amazocircnia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas O slogan Borracha para a Vitoacuteria tornou-se o emblema da mobilizaccedilatildeo realizada por todo o nordeste Histoacuterias de enriquecimento faacutecil circulavam de boca em boca Na Amazocircnia se junta dinheiro com rodo Os velhos mitos do Eldorado amazocircnico voltavam a ganhar forccedila no imaginaacuterio popular O paraiacuteso perdido a terra da fartura e da promissatildeo onde a floresta era sempre verde e a seca desconhecida Os cartazes mostravam caminhotildees carregando toneladas de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores Eram imagens coletadas por Chabloz nas plantaccedilotildees da Firestone na Malaacutesia sem nenhuma conexatildeo com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazocircnicos Afinal de contas o que os flagelados

80

teriam a perder Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam restava o milenar recurso do recrutamento forccedilado de jovens A muitas famiacutelias do sertatildeo nordestino foram oferecidas somente duas opccedilotildees ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou entatildeo deveriam seguir para o front na Europa para lutar contra os fascistas italianos e alematildees Eacute faacutecil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazocircnia (NECES 2013 p7)

Estima-se que 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazocircnicos entre os

anos de 1942 e 1945 ldquodesse total quase metade acabou morrendo em razatildeo das peacutessimas

condiccedilotildees de transporte alojamento e alimentaccedilatildeo durante a viagem como tambeacutem pela

ausecircncia quase absoluta de meacutedicosrdquo (NECES 2013 p8)

Com a produccedilatildeo da borracha natildeo chegando nem agrave metade do esperado jaacute em 1944

o governo americano transfere suas atribuiccedilotildees ao governo brasileiro e o fim da II Segunda

Guerra Mundial alcanccedilado em 1945 o acordo de exploraccedilatildeo de borracha na Amazocircnia eacute

rapidamente cancelado com abertura das regiotildees produtoras do sudoeste asiaacutetico

novamente ao mercado internacional

Por sua vez ldquoos soldados da borrachardquo como ficaram conhecidos os migrantes na

regiatildeo amazocircnica foram largados agrave proacutepria sorte novamente na imensidatildeo da floresta

algumas centenas optaram por retornar aos seus estados de origem os demais optaram por

continuar na regiatildeo o que veio a contribuir para o povoamento da mesma

Por outro lado o governo brasileiro natildeo interrompeu a sua poliacutetica de colonizaccedilatildeo

jaacute iniciada com a criaccedilatildeo de Colocircnias de Agriacutecolas Nacionais por todo o territoacuterio brasileiro e

principalmente na Amazocircnia para atender o Acordo de Washington (1942) mantendo assim

os dois mega projetos em funcionamento O que por sua vez resultou em uma explosatildeo

demograacutefica na regiatildeo direcionadas principalmente para os maiores estados da regiatildeo e do

paiacutes o estado do Amazonas e o estado do Paraacute como expressa Benchimol (2009) atraveacutes da

evoluccedilatildeo demograacutefica da populaccedilatildeo nesses estados (Tabela 7)

Tabela 7 Crescimento populacional do Amazonas e do Paraacute (1900-1950)

Estados 1900 1920 1940 1950

Amazonas 249756 363166 438008 514009

Paraacute 445356 983507 944644 1123273

Fonte Samuel Benchimol (2009)

81

Embora o crescimento populacional do estado do Amazonas ao contraacuterio do

estado do Paraacute possa parecer menos expressivo nas primeiras cindo deacutecadas do seacuteculo XX o

mesmo representou grande preocupaccedilatildeo aos governantes com a ocupaccedilatildeo destes

migrantes e imigrantes em terras estranhas o que levou o governador do estado do

Amazonas a doar agrave Uniatildeo grande lote de terras para que fosse implantada a Colocircnia

Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA (AMAZONAS 1941)

As terras doadas detinham aacuterea de duzentos mil a trezentos mil hectares

localizadas entre os rios Negro e Solimotildees (BRASIL 1941b)

Segundo Daacutecio (2011) as terras foram dividas em duas glebas a primeira localizada

no Cacau Pirera (atual municiacutepio de Iranduba) na margem direita do Rio Negro e a segunda

gleba na localidade da Bela Vista disposta na margem esquerda do Rio Solimotildees no

municiacutepio de Manacapuru aonde foi instalado a sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA ficando popularmente conhecida como Colocircnia da Bela Vista

Jaacute na sede da CANA localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem esquerda

do Rio Solimotildees a mesma foi efetivamente instalada em 1943 segundo o senhor Dida (73

anos) morador da CANA pelo engenheiro agrocircnomo Dr Carvalho A localidade logo

recebeu o nome de Bela Vista por estar localizada parte em aacuterea de terra firme e parte em

aacuterea de vaacuterzea (Figura 16) e ter uma visatildeo privilegiada do rio Solimotildees

82

Figura 16 Sede da Comunidade da Bela Vista e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

83

Segundo o senhor Silva (73 anos) popularmente conhecido como Dida os futuros

colonos chegavam a Colocircnia atraveacutes de navios cargueiros trazidos principalmente de quatro

estados brasileiros Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e do Rio Grande do Norte Normalmente os

colonos chegavam acompanhados das esposas e dos filhos muitas vezes pequenos e

doentes devido agrave longa viagem ser longa e as condiccedilotildees sanitaacuterias dentro dos navios natildeo

serem adequadas para o transporte de pessoas

Sobre isso Neces (2013) explica que as viagens do Nordeste para a Amazocircnia

levavam no miacutenimo trecircs meses ou mais devido agrave baixa capacidade de transporte das poucas

empresas de navegaccedilatildeo existentes que navegavam pelos rios da regiatildeo o que levou o

governo brasileiro a fornecer passagens no navio Italiano Lloyd que atracava no litoral

brasileiro e seguia em direccedilatildeo agrave Amazocircnia

Partes das dificuldades de transporte para a regiatildeo foram solucionadas a partir de

1943 com o investimento maciccedilo do governo americano no SNAPP (Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e

Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute) para o escoamento da produccedilatildeo de borracha da regiatildeo

(NECES 2013)

Outro entrevistado na pesquisa foi o senhor Santos (84 anos) eacute um dos uacuteltimos

colonos ainda residente na Bela Vista Nasceu no Estado do Rio Grande do Norte em 1929

onde permaneceu ateacute 1945 Apoacutes ouvir no raacutedio os incentivos de terra gratuita para

cultivar casa para morar meacutedicos e escolas que o governo brasileiro oferecia para quem

fosse morar no Amazonas decidiu arriscar a sorte e entrar em um navio alematildeo em plena II

Guerra Mundial em busca do sonho de terras em abundacircncia para cultivar e aacutegua a perder

Figura 17 Vista do Rio SolimotildeesAmazonas da Comunidade de Bela Vista Fonte Louzada ( 2013)

84

de vista Acima de tudo havia o desejo de ter uma vida tranquila sem ver seus animais

morrerem de fome e sede sem ter o que dar de comer e de beber mas ao mesmo tempo

tinha medo de ser pego pelos japoneses residentes na Colocircnia Japonesa em Parintins o que

natildeo ocorreu Chegou agrave CANA no final do ano de 1945 em eacutepoca de fartura de peixe e

intensas chuvas o que o deixou admirado da imensidatildeo da floresta e das aacuteguas Para o

senhor Santos e muitos outros colonos a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA

com sede na Bela Vista era a oportunidade uacutenica de comeccedilar uma vida nova em um lugar

distante e farto de aacutegua e terras para produzir seus alimentos

Cada colono recebia alimentaccedilatildeo gratuita por trecircs dias a contar da chegada

enquanto ajudava na construccedilatildeo da sua casa em um lote medindo 250m de frente por

900m de fundo previamente demarcado Apoacutes mudarem para seus lotes poderiam

derrubar a mata e iniciar a produccedilatildeo agriacutecola

Outro colono da CANA o senhor Bastos (68 anos) que nasceu no municiacutepio de

Anamatilde no interior do Amazonas e migrou para a Bela Vista com a famiacutelia aos trecircs meses de

vida descreve a fartura da CANA durante sua infacircncia e adolescecircncia na regiatildeo

De primeiro tinha fartura de peixe Haacute vinte anos vocecirc colocava uma malhadeira e

pegava tanto peixe que virava cordatildeo de tanto peixe No ramal para chegar aqui

tem um igarapeacute onde tem aquela ponte de madeira se vocecirc queria pegar peixe

era soacute colocar laacute uma isca chegava a pegar pirarucu de 40 a 45kg rapidinho hoje se

vocecirc colocar uma isca laacute ela vai apodrecer e vocecirc natildeo pega nada (BASTOS 68

anos)

O proacuteprio senhor Bastos (68 anos) relata ainda uma frase que seu pai lhe disse em

1959 apoacutes ver muitas pessoas pescando escolhendo o peixe que iriam comer e jogando o

restante jaacute morto de volta no rio ldquoMeu filho vai chegar o tempo de criar peixe se vocecirc

quiser comer umrdquo A primeira vista como o senhor Bastos relatou ldquoachei que meu pai natildeo

estava falando coisa com coisa pois tinha muita fartura de peixe mas hoje vejo que ele

estava certordquo Embora somente sabendo escrever o seu proacuteprio nome o pai de Bastos viveu

toda a sua vida agraves margens do rio e pode transmitir o conhecimento empiacuterico de um

ribeirinho que viveu toda a sua vida em contato constante e dependente do rio

Alguns autores relativamente jovens podem se referir a relatos de senhores com

mais de 60 anos como saudosista Entretanto se trata de outra realidade natildeo vivenciada

pelos autores que a criticam Embora muitos reconheccedilam que o avanccedilo da tecnologia no

85

seacuteculo passado e atual trouxe inuacutemeros benefiacutecios agrave sociedade moderna os mesmos

tambeacutem tecircm relativo conhecimento dos impactos dessa modernizaccedilatildeo principalmente da

exploraccedilatildeo descontrolada da natureza e suas consequecircncias para com o meio ambiente

222 INFRAESTRUTURA DA CANA DA PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DE BATELOtildeES

Os colonos que se instalaram na CANA tinham primeiramente duas funccedilotildees

desmatar os seus lotes produzir lenha para abastecer as embarcaccedilotildees que atracavam no

porto da Bela Vista e preparar a terra para a produccedilatildeo de arroz e cana de accediluacutecar uma das

exigecircncias para terem seus lotes na regiatildeo

A Colocircnia tinha cinco casas de alvenaria aparentemente adequadas ao meio muito

embora reflitam uma arquitetura com caracteriacutesticas distintas do convencionalmente

adotado pela populaccedilatildeo local

As casas eram divididas assim uma do administrador e sua famiacutelia (Figura 18) outra

era utilizada como escritoacuterio da Colocircnia e mais trecircs casas para os funcionaacuterios

administrativos

Assim como as outras colocircnias agriacutecolas nacionais implantadas a Colocircnia Agriacutecola

Nacional do Amazonas- CANA tambeacutem produzia cana de accediluacutecar e derivados como rapadura

e mel e accediluacutecar mascavo Tambeacutem produzia arroz que era processado em uma Usina de

Beneficiamento e apoacutes o processamento era ensacado e transportado por batelotildees

Figura 18 Casa do Administrador da Colocircnia

Fonte Louzada (2013)

86

(embarcaccedilotildees de madeira que navegavam pelos rios da Amazocircnia geralmente movidas a

lenha) ateacute Manaus ou subiam o curso do Rio Solimotildees para abastecer outras cidades do

interior do estado

A infraestrutura da CANA natildeo se limitava somente a Usina de Beneficiamento de

Arroz e as casas dos funcionaacuterios ou do administrador uma vez que tambeacutem dispunha de

Porto de Lenha responsaacutevel pelo abastecimento das embarcaccedilotildees posto de sauacutede com

meacutedicos e dentistas uma cantina uma espeacutecie de mercearia que vendia os produtos

comercializados na Colocircnia aleacutem de um estaleiro que fabricava e consertava embarcaccedilotildees

Segundo o senhor Dida (73 anos) a Colocircnia tinha trecircs embarcaccedilotildees proacuteprias o barco

Anamatilde geralmente utilizado pela famiacutelia do administrador e os barcos Tracajaacute e Aacutegua Fria

considerados cargueiros que transportavam a produccedilatildeo de rapadura mel e arroz para a

capital (Manaus) e retornavam com tijolos e telhas Os colonos que desejassem ir a capital

deveriam esperar os batelotildees que passavam no rio geralmente no inicio do dia uma vez por

semana e retornavam no dia seguinte agrave Colocircnia

O senhor Francisco (71 anos) descreve a Colocircnia como um lugar calmo de gente

humilde e trabalhadora que apesar de terem que trabalhar na produccedilatildeo de arroz e cana de

accediluacutecar como parte das exigecircncias para ter um lote na CANA natildeo abriam matildeo de ter em

seus lotes pequenos siacutetios geralmente com muitas arvores frutiacuteferas tanto tiacutepicas da

Amazocircnia como de outras regiotildees ou paiacuteses como mangueiras cajueiros entre outras

acompanhado da criaccedilatildeo de pequenos animais

Com a transferecircncia da administraccedilatildeo de todas as Colocircnias Agriacutecolas Nacionais da

extinta Divisatildeo de Terras e Colonizaccedilatildeo do Ministeacuterio da Agricultura e do tambeacutem extinto

Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacutercio para o

Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo ndash INIC (BRASIL 1956) marcaria

definitivamente o periacuteodo de transformaccedilotildees que viria a sofrer a Colocircnia Agriacutecola Nacional

do Amazonas - CANA

As coisas comeccedilaram a mudar segundo o senhor Bastos

[ldquo] natildeo veio mais meacutedicos nem dentistas para caacute as crianccedilas estavam doentes nem tinha remeacutediordquo Com o aumento das chuvas de dezembro agrave junho a produccedilatildeo de cana de accediluacutecar diminuiacutea muito ou acabava porque foram plantadas na vaacuterzea o mesmo acontecia com o arroz de primeiro tinha armazeacutem para guardar a produccedilatildeo depois 1957 natildeo tinham aonde guardar Muita gente foi embora para a cidade grande quem ficou tinha que se virar do jeito que desse ou morreria de fome A culpa foi do ldquoDr Rangel que derrubou a Colocircnia ele fechou a

87

Usina de Beneficiamento a cantina levou os meacutedicos que tinha aqui embora e natildeo

trouxe outros ele nem morava aqui soacute vinha visitar (BASTOS 68 ANOS)

O senhor Bastos se refere ao engenheiro agrocircnomo Vicente de Saacute Rangel

designado para administrar as terras do INIC e organizar um polo agriacutecola na regiatildeo

(MARTINS 2011)

Com a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA recebendo em meacutedia 2 mil

agricultores por mecircs aptos a trabalhar e a produzir alimentos se fazia necessaacuterio escoar esta

produccedilatildeo Rangel solicitou apoio do Governo Federal para a criaccedilatildeo de vias de acesso aacutes

comunidades de forma a facilitar o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola (MARTINS 2011)

A abertura das estradas comeccedilou com a instalaccedilatildeo da Colocircnia Japonesa na primeira

gleba da CANA onde hoje se encontra a localidade do Cacau Pirera no municiacutepio de

Iranduba na parte inicial da rodovia AM-070 (Manoel Urbano) (MARTINS 2011)

O polo foi criado e era necessaacuterio ter estradas os produtos com os quais eles trabalhavam Meu pai assumiu a direccedilatildeo dessa colocircnia e eu acompanhei o processo O transporte era muito complicado era necessaacuterio abrir as estradas no meio da florestardquo relatou um dos filhos do engenheiro Paulo Roberto Franccedila Rangel Enfrentando chuvas torrenciais calor insetos e dificuldades para derrubar aacutervores de grande porte a equipe comeccedilou a estruturar as vias de acesso para a colocircnia (MARTINS 2011 p13)

Martins (2011) relata ainda as dificuldades encontradas no processo de ligar as

comunidades e a construccedilatildeo da estrada sobre a floresta Assim como tambeacutem os benefiacutecios

recebidos com a chegada dos japoneses ao municiacutepio de Iranduba ldquoEle acreditava que a

agricultura seria a redenccedilatildeo do povo amazonense Ele viu que soacute se comia peixe e poucas

verduras Eles resolveram plantar e comeccedilaram a produzir muitordquo lembrou Paulo Roberto

Franccedila Rangel filho de Vicente Rangel

Ao todo Vicente Rangel morou no estado do Amazonas cinco anos (1957 a 1962)

retornando agrave sua cidade natal posteriormente

88

223 DA SEDE DA CANA Agrave COMUNIDADE DA BELA VISTA

Com o inicio da ditadura militar no Brasil em 1964 a Amazocircnia volta ao cenaacuterio

nacional impregnada no discurso do entatildeo presidente Castelo Branco ldquoIntegrar para natildeo

Entregarrdquo

Sobre isso Oliveira (1988) aponta que a estrateacutegia militar era desenvolver trecircs

grandes regiotildees geoeconocircmicas brasileiras Centro Sul Nordeste e Amazocircnia e interligaacute-las

definitivamente atraveacutes de mega projetos rodoviaacuterios

[] visto sob o acircngulo de estrateacutegias diversas o Centro Sul deveria ter o processo de industrializaccedilatildeo solidificado e sua agricultura modernizada aleacutem de participar do esforccedilo nacional de ldquodesenvolvimento do Nordesterdquo via industrializaccedilatildeo e da ocupaccedilatildeo via ldquoOperaccedilatildeo Amazocircniardquo da regiatildeo norte do paiacutes (OLIVEIRA 1988 p29)

A operaccedilatildeo Amazocircnia eacute resultado de uma ldquoReuniatildeo de Investidores da Amazocircniardquo a

bordo de um cruzeiro de nove dias pelos rios da regiatildeo onde ficaram definidos ldquoos

interesses dos empresaacuterios do Centro Sul e os objetivos da adesatildeo empresarial ao projeto

governamental soacute investir se o lucro fosse certordquo (OLIVEIRA 1988 p32)

Para viabilizar as novas estrateacutegias de desenvolvimento regional se fazia necessaacuterio

reestruturar os oacutergatildeos de planejamento regional levando o estado a lanccedilar a poliacutetica de

ldquoincentivos fiscais que previa a criaccedilatildeo do FIDAM (Fundo para Investimentos Privados do

Desenvolvimento da Amazocircnia) e uma rearticulaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do BASA (Banco da

Amazocircnia SA)rdquo (OLIVEIRA 1988 p36)

Os recursos a serem investidos na Amazocircnia seriam provenientes de

1-no miacutenimo 2 da renda tributaacuteria da Uniatildeo e 3 da renda tributaacuteria dos estados territoacuterios e municiacutepios da Amazocircnia 2- dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e creacuteditos adicionais provenientes de operaccedilotildees de creacutedito e juros de depoacutesitos bancaacuterios 3- auxiacutelios subvenccedilotildees contribuiccedilotildees e doaccedilotildees de entidades puacuteblicas ou privadas nacionais ou estrangeiras 4- sua renda patrimonial aleacutem de todas as isenccedilotildees tributaacuterias gozadas pelos oacutergatildeos federais 5- contrataccedilatildeo de empreacutestimos no paiacutes ou no exterior dando como garantia seus proacuteprios recursos como total isenccedilatildeo de taxas e impostos federais (OLIVEIRA 1988 p37)

89

A Operaccedilatildeo Amazocircnia tambeacutem tinha como objetivo criar a SUFRAMA

(Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus) que foi criada em 1967 para coordenar e

administrar a instalaccedilatildeo de faacutebricas na cidade de Manaus fundando o Distrito Industrial

(OLIVEIRA 1988)

Com a instalaccedilatildeo de faacutebricas em Manaus a cidade torna-se alvo de intensas

migraccedilotildees em busca de melhores condiccedilotildees de vida

Sobre isso Benchimol (2009) destaca que na deacutecada de 1950 73 da populaccedilatildeo do

estado do Amazonas vivia no campo contra 26 que viviam na cidade e duas deacutecadas

depois em 1970 esse percentual despencou para 57 da populaccedilatildeo rural contra 43

urbana

Para tentar reduzir as intensas e constantes migraccedilotildees do campo para as cidades O

governo militar cria o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria ndash INCRA

(resultado da fusatildeo do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria - IBRA e do Instituto Nacional

de Desenvolvimento Rural-INDA) instituiacutedo pelo decreto lei nordm 1110 de 09 de Julho de

1970

Art 1ordm O INGRA eacute uma entidade autaacuterquica vinculada ao Ministeacuterio da Agricultura dotado de personalidade juriacutedica e autonomia administrativa e financeira com jurisdiccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional a) Tendo como objetivo executar a reforma agraacuteria visando a corrigir a estrutura agraacuteria do paiacutes adequando-a aos interesses do desenvolvimento econocircmico e social b) Promover coordenar controlar e executar a projetos de colonizaccedilatildeo (BRASIL 1970)

O INCRA (1970) tinha como uma de suas principais funccedilotildees fundar nuacutecleos de

colonizaccedilatildeo criando unidades de exploraccedilatildeo agriacutecola em projetos de reforma agraacuteria em

regiotildees de vazios demograacuteficos no paiacutes e tornaacute-los produtivos proporcionando-lhes

progresso natildeo soacute econocircmico mas principalmente social (BRASIL 1970)

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs como foram instituiacutedos tornaram-se

poliacuteticas de Estado para a colonizaccedilatildeo da Amazocircnia no inicio de 1970 (RABELLO 2005)

No estado do Amazonas foram implantados vaacuterios PCIs com destaque para o PCI da

Bela Vista implantado nas terras da antiga Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA

que abrange um lote de terras entre os rios Negro e Solimotildees que fazem parte hoje dos

municiacutepios de Iranduba e Manacapuru (SCHWEICKARDT 2006)

90

Segundo o INCRA (2012) o PCIs da Bela Vista foi dividido em duas localidades Bela

Vista I localizado no distrito de Cacau Pirera atual municiacutepio de Iranduba e Bela Vista II

situado no municiacutepio de Manacapuru

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo (PIC) se destinavam agrave faixa de populaccedilatildeo de baixa renda especificamente a agricultores sem terra (sect 2ordm art 25 do Estatuto da Terra) e de preferecircncia agravequeles que possuem maior forccedila de trabalho familiar Nas aacutereas desses projetos o INCRA identifica e seleciona os beneficiaacuterios localiza-os nas parcelas por ele determinadas fornece a infraestrutura baacutesica e atraveacutes dos oacutergatildeos responsaacuteveis a niacutevel nacional regional estadual eou municipal implementa as atividades relativas agrave assistecircncia teacutecnica creditiacutecia agrave comercializaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo para facilitar a organizaccedilatildeo soacutecio econocircmica dos parceleiros Cabe tambeacutem ao INCRA outorgar aos beneficiaacuterios o tiacutetulo definitivo de propriedade da parcela (RABELLO 2005 p7)

Sobre isso Rocha (2010) destaca que os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs

foi a primeira forma de assentamento rural realizado pelo receacutem-criado INCRA Todavia com

a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 11641971 tornava-se indispensaacutevel a seguranccedila nacional a

ocupaccedilatildeo das terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada margem das

rodovias construiacutedas ou planejadas na Amazocircnia Os esforccedilos de colonizaccedilatildeo em zonas

rurais foram redirecionados para o assentamento de milhares de famiacutelias oriundas

principalmente do nordeste brasileiro ao longo das futuras rodovias

Os reflexos dessa mudanccedila de foco do INCRA dos Projetos Integrados de

Colonizaccedilatildeo - PICs para os Assentamentos Agraacuterios ao longo das futuras rodovias foi sentida

drasticamente pela populaccedilatildeo jaacute assentada no PIC da Bela Vista aonde muitas famiacutelias

chegaram agrave migrar para a cidade de Manaus em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho

Em 1976 o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria - INCRA emancipou o PIC Bela Vista concedendo tiacutetulo definitivo a 279 proprietaacuterios equivalentes a 15 da aacuterea inicial sendo grande parte ocupada por posseiros (DAacuteCIO apud BARBOSA 2011 p26)

Em 1980 os reflexos dessas mudanccedilas pode ser sentido na contagem populacional

do estado realizada pelo IBGE quando a populaccedilatildeo alcanccedilou 1430089 habitantes

distribuiacutedos pela primeira vez como sendo a maioria urbana chegando agrave 5990 do total de

habitantes do estado contra 4010 da populaccedilatildeo rural (BENCHIMOL 2009)

Com a emancipaccedilatildeo do PIC da Bela Vista em 1976 os dois nuacutecleos (Bela Vista I e II)

seguiram caminhos diferentes o primeiro tornou-se o Distrito de Cacau Pirera (municiacutepio de

Iranduba) uma pequena ldquocidaderdquo que recebia ateacute setembro de 2011 as balsas com dezenas

91

de carros e ocircnibus que saiam do Porto do Satildeo Raimundo em Manaus e atracavam naquele

local tornando-se assim o cartatildeo postal do municiacutepio de Iranduba

O PIC da Bela Vista II localizado no municiacutepio de Manacapuru que outrora foi agrave

sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas ndash CANA tornou-se uma comunidade rural

daquele municiacutepio E atraveacutes da AM-054 de 10 km de asfalto em peacutessimas condiccedilotildees de

traacutefego (Figura 19) manteacutem-se ligada agrave rodovia Manoel Urbano (AM-070) sua principal

ligaccedilatildeo com a cidade de Manacapuru e a capital do estado Manaus

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

Atualmente a comunidade da Bela Vista ainda guarda registros histoacutericos como

algumas casas o galpatildeo onde funcionava a Usina de Beneficiamento (Figura 20) e a cantina

(Figura 21) Com mais de 70 anos as construccedilotildees ainda que deterioradas pelo tempo satildeo

registros dos tempos ldquoaacuteureosrdquo do pleno funcionamento da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA tambeacutem conhecida como Colocircnia da Bela Vista

92

Figura 20 Usina de Beneficiamento da CANA Fonte Louzada (2013)

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA Fonte Louzada (2013)

Atualmente a populaccedilatildeo residente na comunidade da Bela Vista estaacute estimada em

3 mil pessoas (informaccedilatildeo dos moradores) oriundos de descendentes de ex ndash colonos e

migrantes de diversos municiacutepios do interior e de outros estados aleacutem de ex- colonos que

optaram por permanecer na regiatildeo

A comunidade da Bela Vista assim como outras comunidades localizadas agraves

margens dos rios da Amazocircnia tem sua economia baseada na agricultura familiar

fortemente enraizada na tradiccedilatildeo ribeirinha de fazer suas plantaccedilotildees agriacutecolas em aacuterea de

93

vaacuterzea Por esta razatildeo eacute comum encontrar plantaccedilotildees em frente agraves casas da primeira rua da

comunidade disposta paralela ao rio Solimotildees (Figura 22 23)

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista a margem do rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de Vaacuterzea da comunidade da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

As plantaccedilotildees variam de mandioca milho macaxeira verduras como tomate

pepino cebola agrave frutos como melancia goiaba banana entre outros Contudo natildeo eacute

somente na faixa justafluvial da comunidade que satildeo plantados alimentos inclusive tambeacutem

94

na Ilha do Barroso localizada proacuteximo agrave margem direita do Rio Solimotildees Amazonas (Figura

24)

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Graccedilas agrave sua constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo o rio SolimotildeesAmazonas submete suas

margens e leito agrave intensos e constantes processos erosivos de deposiccedilatildeo e erosatildeo Sobre isso

Horbe et al (2009) afirmar que

[] os rios de aacutegua branca satildeo os que apresentam maiores conteuacutedos de material em suspensatildeo que ao se depositarem ao longo de seus cursos formam extensas terraccedilos fluviais ilhas e barras Vaacuterios autores correlacionam a fonte da maior parte desses sedimentos aos Andes com contribuiccedilotildees menos significativas das rochas cratocircnicas e sedimentares siliciclaacutesticas que ocorrem ao longo da bacia Amazocircnica (HORBE et al apud GIBBS 1967 IRION 1983 STALLARD et al 1983 MARTINELLI et al1993 KONHAUSER et al 1994 GUYOT et al 2007 2009 p635)

A sinuosidade e o fluxo de carga impotildeem uma dinacircmica particular ao rio ldquoonde a

sua composiccedilatildeo mineraloacutegica eacute resultado de uma mistura diversificada de materiais

proveniente de fonte litoloacutegica por accedilotildees de intemperismo quiacutemico e fiacutesico principalmenterdquo

(HORBE apud CUNHA 2009 p 635)

A diversificaccedilatildeo de materiais depositados na ilha do Barroso atraveacutes dos constantes

retoques na paisagem (STERNBERG 1998) realizado pelo rio no seu periacuteodo cheio permite

a fixaccedilatildeo de depoacutesitos aluviais na ilha o que torna as terras feacuterteis em seu periacuteodo seco por

95

esta razatildeo os moradores da comunidade da Bela Vista utilizam a mesma para a produccedilatildeo

agriacutecola

A comunidade tambeacutem conta com pequenos comeacutercios em sua maioria familiares

e uma pousada Atualmente a comunidade se prepara para trabalhar numa faacutebrica de

beneficiamento de calcaacuterio instalada em Marccedilo de 2014 O calcaacuterio seraacute extraiacutedo da Mina do

Jatapuacute localizada no municiacutepio de Urucaraacute e seraacute beneficiado na comunidade

transformando em fertilidade agriacutecola (ALE 2013)

96

3 - PERCEPCcedilAtildeO TRANSDICIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO

Ao analisar os impactos ambientais na Amazocircnia em prol do desenvolvimento

tornou-se necessaacuterio adentrar pela percepccedilatildeo transdisciplinar e a complexidade que o meio

ambiente exige Assim como analisar a percepccedilatildeo ambiental da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos

projetos de desenvolvimento

Partindo da palavra percepccedilatildeo que tem sua origem no Latim perception que eacute

definida como a identificaccedilatildeo de elementos que em combinaccedilatildeo com os sentidos permite o

reconhecimento de formas cores dimensotildees contudo baseado nas experiecircncias individuas

de cada indiviacuteduo

Para Tuan (2012)

A superfiacutecie da Terra eacute extremamente variada Mesmo com um conhecimento casual sua geografia fiacutesica e a abundacircncia de formas de vida muito nos dizem Mas satildeo mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfiacutecie Duas pessoas natildeo veem a mesma realidade Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliaccedilatildeo do meio ambiente A proacutepia visatildeo cientifica estaacute ligada agrave cultura ndash uma possiacutevel perspectiva entre muitas Aacute medida que prosseguimos neste estudo a abundacircncia desnorteadora de perspectivas nos niacuteveis tanto individual quanto de grupo torna-se cada vez mais evidente e corremos o risco de natildeo notar o fato de que por mais diversas que sejam as nossas percepccedilotildees do meio ambiente como membros da mesma espeacutecie estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira Todos os seres humanos compartilham percepccedilotildees comuns um mundo comum em virtude de possuiacuterem oacutergatildeos similares (TUAN 2012 p21)

Reflete ainda que

Embora todos os seres humanos tenham oacutergatildeos dos sentidos similares o modo como suas capacidades satildeo usadas e desenvolvidas comeccedila a divergir numa idade bem precoce Como resultado natildeo somente as atitudes para com o meio ambiente diferem mas tambeacutem a capacidade real dos sentidos de modo que uma pessoa em determinada cultura possa desenvolver um olfato aguccedilado para perfumes enquanto os de outra cultura adquirem profunda visatildeo estereoscoacutepica (TUAN 2012 p30)

Baseado nessas afirmaccedilotildees de Tuan (2012) a sociedade moderna tem dificuldade

de relacionar acontecimentos ocorridos em diferentes lugares do mundo com sua proacutepria

realidade pois natildeo se veem como agente ativo dos acontecimentos

Isto se deu primeiramente com o advento da Revoluccedilatildeo Industrial na Inglaterra no

seacuteculo XVIII com a fabricaccedilatildeo de produtos em larga escala com o salto no volume de

97

produccedilatildeo se fazia (e atualmente ainda se faz) necessaacuterio buscar em qualquer parte do

mundo mateacuteria prima a ser utilizada na induacutestria (LOUZADA et al 2013)

Com a retirada dos recursos naturas como carvatildeo mineral madeira petroacuteleo gaacutes

natural pedras preciosas entre outras coisas Em macro escala durante os seacuteculos

seguintes a Revoluccedilatildeo Industrial eacute ainda mais intensificada com o modelo fordista (linha de

montagem) de produccedilatildeo a partir do seacuteculo XIX resultando em graviacutessimos impactos

ambientais que somente foram divulgados ao mundo a partir da deacutecada de 40 do seacuteculo

XX com destaque para a exploraccedilatildeo descontrolada das minas de carvatildeo mineral em toda a

Europa que reduziu drasticamente a cobertura vegetal nativa A retirada descontrolada de

pedras preciosas em todas as partes do mundo com destaque para o continente africano

gerou inuacutemeros conflitos territoacuterios e eacutetnicos pelo domiacutenio das jazidas principalmente de

diamantes no continente

Pode- se destacar tambeacutem a intensa exploraccedilatildeo madeireira que o Brasil sofreu

durante os quatro primeiros seacuteculos de sua ldquodescobertardquo e o transporte para a Europa de

todas as demais riquezas encontradas em seu territoacuterio Com o crescimento constante da

populaccedilatildeo mundial a retirada da mateacuteria prima da natureza somente se intensificou e

aprimorou-se durante os anos seguintes

Para Capra (1982 p13) ldquoA superpopulaccedilatildeo e a tecnologia industrial tecircm

contribuiacutedo de vaacuterias maneiras para a raacutepida degradaccedilatildeo do meio ambiente natural do qual

dependemos completamente Por conseguinte nossa sauacutede e nosso bem estar estatildeo

seriamente ameaccediladosrdquo

Capra (1982) ainda argumenta que os profissionais ditos especializados em vaacuterios

campos natildeo estariam realmente capacitados para lidar com os problemas emergentes

justamente devido agrave sua especializaccedilatildeo

Capra (1982) vai aleacutem ao afirmar existir uma crise de ideia e cultura

O fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadecircmico subscrever percepccedilotildees estreitas da realidade as quais satildeo inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo Esses problemas [] satildeo sistecircmicos o que significa que estatildeo intimamente interligados e satildeo interdependentes Natildeo podem ser entendidos no acircmbito da metodologia fragmentada que eacute caracteriacutestica de nossas disciplinas acadecircmicas e de nossos organismos governamentais (CAPRA 1982 p 15)

Para Capra (1982) precisamos

98

[] entender nossa multifaceta crise cultural precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situaccedilatildeo no contexto da evoluccedilatildeo cultural humana Temos que transferir nossa perspectiva do seacuteculo XX para um periacuteodo que abrange milhares de anos substituir a noccedilatildeo de estruturas sociais estaacuteticas por uma percepccedilatildeo de padrotildees dinacircmicos de mudanccedila (CAPRA 1982 p 16)

Alarmados com os danos ambientais frutos de seacuteculos de intensa exploraccedilatildeo e o

futuro da humanidade surgem encontros de diversos pensadores e cientistas preocupados

com o meio ambiente natural dando inicio a conferecircncias e reuniotildees importantes a partir

da segunda metade do seacuteculo XX bem como a Conferecircncia de Estocolmo realizada em

1972 com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade mundial para melhorar a

relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente em razatildeo dos problemas ambientais surgidos e

agravados com a industrializaccedilatildeo Nesse encontro foram elaborados dois importantes

documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre Meio Ambiente Humanordquo e o ldquoPlano de Accedilatildeo Mundialrdquo

Tambeacutem se registra a indicaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo capaz de conduzir a sociedade para um

repensar de sua accedilatildeo sobre o meio ambiente ndash a Educaccedilatildeo Ambiental

Em consequecircncia disso realizou-se em 1975 a Conferecircncia de Belgrado que

consolidou as recomendaccedilotildees no documento a ldquoCarta de Belgradordquo que prioriza a

erradicaccedilatildeo da pobreza do analfabetismo da fome da poluiccedilatildeo e tambeacutem cria as Diretrizes

Baacutesicas dos Programas de Educaccedilatildeo Ambiental para todos os paiacuteses participantes em

nuacutemero de sessenta e cinco

A Conferecircncia de Tbilisi realizada na Geoacutergia (uma repuacuteblica da Uniatildeo das

Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas- URSS de 1936 ndash 1991) em 1977 destaca que a educaccedilatildeo

formal desempenha papel importante para a resoluccedilatildeo dos problemas ambientais atraveacutes

de enfoques interdisciplinares recomenda a adoccedilatildeo de criteacuterios para o desenvolvimento da

Educaccedilatildeo Ambiental em escala local regional nacional e ateacute internacional Muitos outros

eventos se seguem cada um com elaboraccedilatildeo de documentos que buscam cada vez mais

destacar a complexidade da questatildeo ambiental considerando o meio ambiente sistecircmico

composto por fatores sociais econocircmicos poliacuteticos culturais ecoloacutegicos inter-relacionados

e dinacircmicos

Vaacuterios pensadores destacaram-se publicando importantes estudos sobre a

preocupaccedilatildeo ambiental do seacuteculo XX Entre eles destaca-se Leff (2003) que afirma que a

99

atual crise ambiental eacute sobretudo uma crise do conhecimento pois o mesmo consolidou-

se de forma fragmentado sem enfatizar a relaccedilatildeo entre o meio natural e humano (como

deveria ter sido a funccedilatildeo da geografia) como se os dois pudessem viver de forma isolada e

natildeo existisse uma relaccedilatildeo de dependecircncia Conhecimento esse produzido pela Ciecircncia

Moderna que considerava importante o princiacutepio da visatildeo compartimentalizada para

permitir o aprofundamento da especificidade

O pensamento complexo enfatizado por Morin (1990) surgiu com o objetivo de

unir o que foi anteriormente separado pelo pensamento cartesiano-newtoniano porque

natildeo se pode entender o mundo de maneira linear considerando que ele natildeo eacute uma maacutequina

como foi explicado por Descartes haacute muitos seacuteculos atraacutes sendo necessaacuterio retornar ao

passado para entender o presente para que seja possiacutevel tentar mudar o futuro

Ao contraacuterio do que agrave primeira vista possa parecer o Pensamento Complexo natildeo

significa algo complicado difiacutecil de ser compreendido pois na verdade conduz ao

entendimento das relaccedilotildees entre os fatores que integram a realidade contrapondo-se a

visatildeo provocada pela especializaccedilatildeo proposta pela Ciecircncia Moderna contudo torna-se difiacutecil

compreender esta proposta uma vez que pois estamos acostumados a trabalhar de forma

isolada e natildeo dispostos a discutir uma visatildeo que necessita reconstruir bases historicamente

construiacutedas Capra afirma que ldquoPrecisamos pois de um novo paradigma ndash uma nova visatildeo

da realidade uma mudanccedila fundamental em nossos pensamentosrdquo(CAPRA 1982 p14)

Para Morin (1990) a Complexidade surge como um Novo Paradigma capaz de

tentar compreender a atual crise de percepccedilatildeo defendida por Capra (1982) e propor

mudanccedilas

Todavia o conceito de Novo Paradigma para Morin (1990 p85) ldquoeacute constituiacutedo por

um certo tipo de relaccedilatildeo loacutegica extremamente forte entre noccedilotildees mestras noccedilotildees chaves e

princiacutepios chaves Essa relaccedilatildeo e esses princiacutepios vatildeo comandar todos os propoacutesitos que

obedecem inconscientemente ao seu impeacuteriordquo

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se verifica empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

100

Um exemplo da relaccedilatildeo ordem ndash desordem ndash organizaccedilatildeo seria as invasotildees de

terras que causam de certa forma a desordem (pessoas se aglomerando em pequenos

barracos em ldquoaacutereas de riscordquo onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a

produccedilatildeo de fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que

buscam melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

Morin (1990 p94) afirma ainda que ldquoo nosso mundo comporta harmonia mas

nesta harmonia estaacute a desarmonia Eacute exatamente o que dizia Heraacuteclito haacute harmonia na

desarmonia e vice- versardquo

O capitalismo surge para comprovar essa afirmaccedilatildeo de Morin quando vocecirc deve

estar se perguntando como ldquoSimplesrdquo pela facilidade de adaptaccedilatildeo ao mercado pois antes

da deacutecada de 70 o mundo vivia da exploraccedilatildeo descontrolada dos recursos naturais Poreacutem

sabe-se que hoje tais ldquorecursosrdquo satildeo limitados e natildeo infinitos O Capital se adaptou a essa

nova exigecircncia do mercado consumidor e passou a vender produtos com a simbologia da

Sustentabilidade ou a Marca Verde mantendo o consumo desenfreado

Ser sujeito natildeo quer dizer ser consciente tambeacutem natildeo quer dizer ter afetividade sentimentos ainda que evidentemente a subjetividade humana se desenvolva com a afetividade com sentimentos Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ocupar o lugar do ldquoeurdquo (MORIN 1990 p95)

O autor lanccedila a ideia de auto-organizaccedilatildeo e auto-eco-organizadores tais conceitos

dizem respeito agrave propriedade de cada sistema criar suas proacuteprias regras sem perder de vista

a harmonia com os demais sistemas interligados Nessa visatildeo Morin acredita ser possiacutevel

resgatar os conceitos de autonomia e de sujeito livrando-se da visatildeo ldquodeterminista da

ciecircncia tradicionalrdquo (MORIN 1990 p95)

Morin (1990) esclarece dizendo que todo mundo pode dizer ldquoeurdquo contudo cada

um de noacutes soacute pode dizer ldquoeurdquo por si proacuteprio Ningueacutem fala do eu pensando no bem do outro

Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ao mesmo tempo ser autocircnomo

e dependente Jaacute ser consciente eacute ter a capacidade de sair de si de transcender a

centralidade da subjetividade percebendo ao mesmo tempo em que nosso modo de ser eacute

ser o centro de nosso mundo

101

Liberdade para Morin (1990 p98) significa ldquoQuantos de noacutes frequentemente temos

a impressatildeo de ser livres sem ser livres Mas ao mesmo tempo somos capazes de ter

liberdade como somos capazes de examinar hipoacuteteses de condutas de fazer escolhas de

tomar decisotildeesrdquo

Portanto a Complexidade ldquoaparece como uma espeacutecie de buraco de confusatildeo de

dificuldade a primeira vista () Mas haacute complexidades ligadas agrave desordem e outras

complexidades que estatildeo sobre tudo ligadas a contradiccedilotildees loacutegicasrdquo (MORIN 1990 p99)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o cientista a dar marcha

reacute e rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os objetos

uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter multidimensional de

qualquer realidade Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo podemos nunca escapar aacute incerteza

() Estamos condenados ao pensamento inseguro a um pensamento criativo de buracos

um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento absoluto de certezardquo

Ele tambeacutem conceitua a razatildeo racionalidade e racionalizaccedilatildeo pois razatildeo

corresponde ldquo agrave vontade de ter uma visatildeo coerente das coisas e dos fenocircmenos rdquo jaacute a

racionalidade ldquoeacute um jogo o diaacutelogo incessante entre o nosso espiacuterito que cria estruturas

loacutegicas que as aplica sobre o mundo e que dialoga com o mundo realrdquo A racionalizaccedilatildeo

consiste ldquoem querer encerrar a realidade num sistema coerente E tudo o que na realidade

contradiz este sistema coerente eacute desviado esquecido posto de lado visto como ilusatildeo ou

aparecircnciardquo (MORIN 2007 p70)

Ainda conta com outro agravante a racionalizaccedilatildeo natildeo estabelece uma fronteira

niacutetida com a racionalidade e eacute muitas vezes confundida com ela Morin (1990) cita o

exemplo da ldquobarreirardquo entre o amor e a amizade onde natildeo existem delimitaccedilotildees claras a

serem ultrapassadas ou natildeo

Para o entendimento da Complexidade Morin (1990 p108) indica trecircs princiacutepios o

dialoacutegico ldquoa ordem e a desordem [] mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e

produzem organizaccedilatildeo e complexidade permite-nos manter a dualidade no seio da unidade

associa termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicosrdquo o da recursatildeo

organizacional relata sobre a necessidade da humanidade de viver em sociedade e o

resultado das interaccedilotildees humanas ldquoSe natildeo houvesse uma sociedade e a sua cultura uma

102

linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos indiviacuteduos humanosrdquo o holograacutefico ou

hologramaacutetico funciona como a menor partiacutecula do todo ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo

mas o todo estaacute na parterdquo

O Paradigma da Complexidade surge das novas concepccedilotildees das novas descobertas e

das novas reflexotildees que vatildeo conciliar-se construindo uma nova concepccedilatildeo (MORIN 1990

p112)

Para Dib- Ferreira apud Boff (2010)

A proacutepria ciecircncia tem mudado por meio de novas descobertas no campo da fiacutesica quacircntica e da noccedilatildeo de complexidade buscando a religaccedilatildeo dos conhecimentos tentando perceber que para conhecer um problema eacute necessaacuterio entender as relaccedilotildees entre as partes natildeo de forma isolada mas com uma visatildeo global Isso significa atacar as causas dos problemas natildeo os sintomas (DIB-FERREIRA apud BOFF 2010 p105)

Para Morin (1997) devemos estar cientes que a soma das partes eacute diferente do

todo por isto o todo tem qualidades e prioridades que natildeo existem nas partes

desmembradas Portanto a soma das partes eacute superior ao todo e natildeo igual ao mesmo Um

exemplo de nova concepccedilatildeo que busca compreender a atual relaccedilatildeo homem ndash meio eacute a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar

Diferente da Interdisciplinaridade que segundo Cardona (2010 p4) ldquoo

conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as

disciplinas cientiacuteficas interagem entre sirdquo trocando resultados meacutetodos e informaccedilotildees

Ou da Multidisciplinaridade que segundo tambeacutem Cardona (2010 p4) ldquopode ser

estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo contudo natildeo ocorreraacute uma

sobreposiccedilatildeo dos seus saberes no estudo do elemento analisadordquo

A ideia mais correta para esta visatildeo seria a da justaposiccedilatildeo das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questatildeo cada professor cooperaraacute com o estudo dentro da sua proacutepria oacutetica um estudo sob diversos acircngulos mas sem existir rompimento entre as fronteiras das disciplinas (CARDONA (2010 p4)

Morin apud Cardona (2010 p5) destaca ldquoa grande dificuldade nesta linha de

trabalho se encontra na difiacutecil localizaccedilatildeo da ldquovia de interarticulaccedilatildeordquo entre as diferentes

ciecircnciasrdquo

A Transdisciplinaridade segundo Ritto (2010 p34) ldquosurge como movimento de

renascimento do espiacuterito e da consciecircncia para compreender a complexidade uma nova

103

consciecircncia do realrdquo Em outras palavras eacute a etapa superior do ensino natildeo mais separados

em disciplinas e sim construiacutedo como um todo sem fronteiras soacutelidas entre as disciplinas

Segundo Cardona (2010) apud Nicolescu (1996) que formulou a frase A

transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas atraveacutes das

disciplinas e para aleacutem de toda disciplina Nessa frase o autor propotildee uma nova forma de

ensinar maior que as disciplinas mas ao mesmo tempo que se integrem todos os

conteuacutedos

O prefixo trans remete ao que estaacute entre atraveacutes e aleacutem das disciplinas Segundo

Theophilo (2000)

[] uma das propostas da transdisciplinaridade eacute o rompimento da dicotomia entre o sujeito e o objeto Fala-se de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo aos quais correspondem diferentes niacuteveis de realidade pois que a transdisciplinaridade propotildee uma alternacircncia em trecircs niacuteveis da razatildeo sensiacutevel razatildeo experiencial e razatildeo praacuteticardquo (THEOPHILO 2000 p 1)

Para Nicolescu (2002 p 12) o objetivo da transdisciplinaridade eacute a compreensatildeo do

mundo presente ldquoDo ponto de vista do pensamento claacutessico natildeo haacute nada entre atraveacutes e

aleacutem das disciplinas ndash como o vazio da fiacutesica claacutessica Diante da nova fiacutesica e dos seus niacuteveis

de realidade o espaccedilo entre as disciplinas e aleacutem delas estaacute cheio como o vazio quacircntico

estaacute cheio de todas as potencialidadesrdquo

A proposta eacute que o conhecimento se torne transdisciplinar ou seja a totalidade natildeo eacute mais uma soacute mas a junccedilatildeo de vaacuterias totalidades provenientes de realidades diversificadas Os limites da compreensatildeo que o ser humano pode ter do mundo natildeo satildeo mais escondidos e sim evidenciados porque a realidade pode ser compreendida de uma maneira melhor se natildeo haacute a especializaccedilatildeo da ciecircncia e a fragmentaccedilatildeo do conhecimento em disciplinas isoladas (SANTOS 2007 p65)

Para Aragatildeo (2007)

A transdisciplinaridade natildeo pretende de forma alguma desvalorizar as competecircncias disciplinares especiacuteficas Ao contraacuterio pretende elevaacute-las a um patamar de conhecimentos melhorados nas aacutereas disciplinares jaacute que todas elas devem embeber-se de uma nova consciecircncia epistemoloacutegica admitindo que eacute importante que determinados conceitos fundando possam transmigrar atraveacutes das fronteiras disciplinares (ARAGAtildeO 2007 p4)

Para se compreender a Percepccedilatildeo Transdisciplinar se faz necessaacuterio levar em

consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de realidade (Ontoloacutegico) seja do homem do campo e sua

economia de ldquosubsistecircnciardquo ou seja do homem que vive na cidade e sua economia

acumulativa considerando sempre a Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo (uma alternativa entre o

104

certo e o errado verdadeiro ou falso) e a Complexidade e sua teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas e isoladas mas termodinacircmicas e conectadas (NICOLESCU 1999) (Figura 25)

No primeiro momento pode parecer um ldquocaos uma confusatildeordquo compreender a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar Apesar disso uma categoria da ciecircncia geograacutefica pode ajudar

pois surge como um elemento muito importante para agrave sua consolidaccedilatildeo o lugar

31 - RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR

A primeira impressatildeo pode-se afirmar ser um lugar desolado triste para outros eacute

um lugar em ruiacutenas sem ldquovidardquo e sem cores Esta ou aquela concepccedilatildeo de lugar eacute de

fundamental importacircncia para que se constitua aqui a percepccedilatildeo transdisciplinar uma vez

que cabe agrave ela unir o que anteriormente foi separado pela especializaccedilatildeo da Ciecircncia

Moderna

Diante disso Ferreira (2000 p66) propotildee conciliar as divergecircncias apontadas pela

concepccedilatildeo Fenomenoloacutegica ldquoque busca abordar o espaccedilo atraveacutes do modo com ele eacute

vivenciado pelos seres humanosrdquo e a Radical

[] que tem por base o marxismo tentaraacute compreender o lugar sobre perspectiva regional e posteriormente global (JOHNSTON 1991) uma construccedilatildeo social sobre o pano de fundo da relaccedilatildeo entre espaccedilo-tempo e ambiente (SANTOS1997) a partir do qual estabelecemos nossa revisatildeo e interpretaccedilatildeo do

TRANSDISCIPLINARIDADE

COMPLEXIDADE ONTOLOacuteGICO A LOacuteGICA DO TERCEIRO

INCLUIacuteDO

DIALOacuteGICO RECURSAtildeO ORGANIZACIONAL HOLOGRAMAacuteTICO

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade

Fonte Louzada (2013)

105

mundo onde ldquorecocircndito o permanente o real triunfam final sobre o movimento o passageiro o imposto de forardquo (FERREIRA 2000 p66)

Nomeando-a como Integraccedilatildeo que tem como objetivo harmonizar agraves divergecircncias

sobre o lugar que vatildeo de uma relaccedilatildeo autecircntica com o espaccedilo por um lado agrave

materializaccedilatildeo da relaccedilatildeo global ndash local por outro

Entrikin (1997) destaca ainda que para se compreender o lugar eacute preciso buscar o

equiliacutebrio entre o que deve ser mantido de fora preservando as caracteriacutesticas do lugar e o

que deve ser permitido entrar evitando-se a esterilidade resultante do isolamento

Diante de tal afirmaccedilatildeo de Entrikin (1997) eacute possiacutevel afirmar que para evitar a

extinccedilatildeo de uma comunidadelocalidade se faz necessaacuterio a ldquopermissatildeordquo dos moradores

para entrada de haacutebitos elementos ou coisas que as pessoas julguem necessaacuterias para

manter as teias de relaccedilotildees de forma a manter o lugar gerando o tatildeo desejado

desenvolvimento local

A Percepccedilatildeo Transdisciplinar seraacute pesquisada de forma a alcanccedilar o que a Educaccedilatildeo

Ambiental em seus marcos referenciais destaca como importante para a compreensatildeo da

complexidade da realidade que eacute a projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros atraveacutes de uma gestatildeo

ambiental participativa principalmente no contexto amazocircnico

32 - MANAUS METROacutePOLE

Para entender este subtiacutetulo primeiramente eacute imprescindiacutevel falar de Metroacutepole o

que Fresca (2011) descreve em muacuteltiplos detalhes ao longo dos seacuteculos desde seu

surgimento Contudo Gras apud Fresca (2011) citou quatro fatores de desenvolvimento

metropolitano tento como base a cidade de Londres citada por Gras (1974) considerada a

primeira cidade da Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVII

[] para Gras (1974) principalmente a partir de 1890 foi marcada por uma nova

concentraccedilatildeo do poder financeiro no seio da metroacutepole Isto porque os bancos privados cujas sedes estavam na metroacutepole criaram filiais subordinadas diretamente agraves sedes criou-se as condiccedilotildees para que a metroacutepole fosse o local de concentraccedilatildeo do capital decisotildees enfim de outra forma de poder econocircmico (FRESCA 2011 p33)

106

Fresca (2011 p33) afirma ainda que esta nova concentraccedilatildeo de poder financeiro

nas metroacutepoles ldquoacabou por realizar um processo de acumulaccedilatildeo horizontal no sentido de

que sua expansatildeo foi marcada pela conquista de mercados consumidores cada vez mais

amplos graccedilas a fortes investimentos em inovaccedilotildees para a produccedilatildeordquo

Por outro lado Fresca (2011) apud Davidovich (2004)

entende que o retorno das metroacutepoles ao debate em escala mundial estava articulado diretamente aos novos direcionamentos das poliacuteticas do Banco Mundial que passou a focalizar as mesmas como motor do crescimento econocircmico Ora o Banco Mundial em suas diversas formas de poder investimentos e capacidade de direcionar movimentos de expansatildeo do capital particularmente dos EUA e paiacuteses europeus acabou por privilegiar as metroacutepoles em uma etapa em que a globalizaccedilatildeo estava em expansatildeo Mais que isso tratava-se ainda da busca de novos campos de investimentos para fazer frente a sucessivos momentos de crises econocircmicas e as concepccedilotildees em uso da globalizaccedilatildeo permitiam outra etapa de expansatildeo das grandes corporaccedilotildees em atividades diversas em escala mundial (FRESCA 2011 apud DAVIDOVICH 2004 p201 )

Fresca (2011 p38 ) descreve que entre os autores anteriormente citados ldquohaacute em

comum o entendimento de que as metroacutepoles tornaram-se os principais noacute de redes da

economia mundial facilitado pelo comando das modernas tecnologias de informaccedilatildeo e que

as mesmas desempenham cada vez mais funccedilotildees ligadas aos serviccedilos superiores em

detrimento de serem loacutecus da produccedilatildeo industrialrdquo

Diante disso o termo adotado pelo IBGE (2008) para definir a Metroacutepole ou regiatildeo

Metropolitana eacute Grandes Redes de Influecircncia

[] formadas pelos principais centros urbanos do paiacutes baseadas na presenccedila de oacutergatildeos de executivo do judiciaacuterio de grandes empresas e na oferta de ensino superior serviccedilos de sauacutede e domiacutenios de internet Tais redes aacutes vezes se sobrepotildeem aacute divisatildeo territorial oficial estabelecendo forte influecircncia ateacute mesmo ente cidades situadas em diferentes unidades da federaccedilatildeo (IBGE 2008 p 2)

Diante do exposto o Governo do Estado do Amazonas publicou em 30 de Maio de

2007 a Lei Estadual Complementar nordm 52 que criava a Regiatildeo Metropolitana de Manaus -

RMM composta pelos seguintes municiacutepios Manaus Careiro da Vaacuterzea Novo Airatildeo

Iranduba Itacoatiara Presidente Figueiredo Rio Preto da Eva que juntos correspondem a

101470 kmsup2 No mesmo ano em 27 de Dezembro eacute incluiacutedo o municiacutepio de Manacapuru

Sobre isso Castro (2010) relata

107

Essa regiatildeo metropolitana possui caracteriacutesticas peculiares se comparada aacutes primeiras surgidas na deacutecada de 1970 por natildeo se igualar agravequelas quanto agrave intensidade de fluxos entre as cidades e tambeacutem necessidade de compartilhamento de poliacuteticas puacuteblicas no que se refere ao abastecimento de aacutegua serviccedilo de transporte e tracircnsito energia eleacutetrica coleta de lixo dentre outras cujas demandas surgem com o processo de conurbaccedilatildeo Portanto esta anaacutelise parte de um princiacutepio de peculiaridade territorial num padratildeo natildeo conurbado e de pouca intensidade de trocas entre os nuacutecleos urbanos dessa regiatildeo metropolitana cujos pressupostos foram estabelecidos com a predominacircncia dos criteacuterios poliacuteticos sobre os geograacuteficos (CASTRO 2010 p48)

Para financiar e gerenciar a RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) foi criada em

29 de Dezembro de 2008 a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento

Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da

Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM (AMAZONAS 2008)

Em 30 de Abril de 2009 eacute divulgada a Lei Complementar nordm 64 que inclui na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus os municiacutepios de Autazes Itapiranga Manaquiri e Silves mais

15 828417 kmsup2 Tornando Manaus a maior aacuterea metropolitana em kmsup2 do paiacutes todavia

perde quatro posiccedilotildees se comparada em densidade populacional com Regiatildeo Metropolitana

de Satildeo Paulo pois sua densidade populacional eacute de 22 habkmsup2 contra 1162 habkmsup2 de

SP (IBGE 2010)

Para iniciar o processo de consolidaccedilatildeo dessa gigantesca aacuterea metropolitana de

Manaus fez-se necessaacuterio interligar definitivamente os municiacutepios da margem esquerda do

Rio Negro principalmente a capital do estado aos municiacutepios da margem direita do rio

Iranduba Manacapuru Novo Airatildeo e posteriormente aos munciacutepios de Autazes Itapiranga

Manaquiri e Silves

Diante disso o Governo do Estado do Amazonas na pessoa do entatildeo Governador

Carlos Eduardo de Souza Braga em seu primeiro mandato de 2000 a 2004 deu iniciou os

levantamentos preliminares para a definiccedilatildeo do ponto de travessia mais adequado para a

construccedilatildeo de uma Ponte sobre o Rio Negro

Segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro civil Marco Aureacutelio Mendonccedila

entatildeo Secretaacuterio de Infraestrutura do Estado foi convocado ao gabinete do governador em

2003 para ser informado do desejo do governador de executar essa obra mas

primeiramente lhe foi solicitado que fizesse levantamentos de terrenos possiacuteveis para a

construccedilatildeo e modelos viaacuteveis para a regiatildeo e posteriormente quando o entatildeo governador

108

foi reeleito com o mandato de 2005 a 2009 o engenheiro Marco Aureacutelio foi novamente

chamado ao gabinete do governador onde apresentou seus estudos e o governador afirmou

que jaacute era possiacutevel executar a obra

Ainda segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro afirma que para se buscar o

melhor local para a construccedilatildeo da obra e encontrar a menor distacircncia entre as duas

margens para diminuir seu custo

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que o melhor trecho era da Ponta do Ouvidor do lado de laacute na Ponta do Pepeta porque essa aacuterea tem uma formaccedilatildeo geoloacutegica de rochas que avanccedilam sobre o rio e isso fez com que a distacircncia fosse bem menor E foi exatamente neste trecho que a ponte foi erguida Outro ponto favoraacutevel foi o sistema viaacuterio da Ponta do Ouvidor temos a estrada da Estanave Avenida Brasil logo depois tem a estrada da Ponta Negra Pedro Teixeira e uma seacuterie de ruas que facilitavam o acesso a grande parte da cidade Depois que apresentei o estudo fizeram uma licitaccedilatildeo para a contrataccedilatildeo de uma empresa para o projeto final (A CRIacuteTICA DE 24 DE OUTUBRO DE 2011 p6)

Segundo Jornal A Criacutetica (2011) existia a ideia original de que a ponte saiacutesse do

bairro de Satildeo Raimundo em Manaus poreacutem o trajeto seria muito maior e natildeo teria um

sistema viaacuterio tatildeo bom Marco Aureacutelio descreve conversas com Carlos Eduardo Braga onde

relata que a interligaccedilatildeo entre outras cidades poderia frear o crescimento da cidade de

Manaus para o Norte onde eacute comum ter invasotildees ldquoEacute muito mais faacutecil pegar uma aacuterea

desabitada e crescer e desenvolver Em Iranduba tem uma aacuterea muito grande que pode ser

explorada mas eacute preciso ter controle urbano e imobiliaacuteriordquo (A CRIacuteTICA 2011)

321 PONTE RIO NEGRO PROPOSTA E REALIDADE

Segundo a Revista Eacutepoca (2011) a Ponte Rio Negro (Figura 26) foi orccedilada

inicialmente em R$ 5748 milhotildees e foi terminada com o custo de R$ 1099 bilhatildeo quase o

dobro do seu orccedilamento inicial parte financiada pelo governo do estado e parte pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social-BNDES que eacute vinculado ao Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

109

Sobre isso Aureacutelio (2011) afirma que ldquoQuando foi lanccedilado o projeto base existia

um tipo de fundaccedilatildeo e depois analisando a geologia embaixo do rio eles detectaram que

era necessaacuterio outro tipo de tecnologiardquo

Ainda segundo a Revista Eacutepoca (2011)

A construccedilatildeo traacutes aditivos O primeiro furo da Ponte Rio Nego soacute conseguiu ser feito por volta de seis meses apoacutes o iniacutecio dos trabalhos devido aacute profundidade do rio e ao efeito da correnteza das aacuteguas ldquoNingueacutem no Brasil tinha experiecircncia em fazer sondagens com lacircminas tatildeo grandes de aacutegua e equipamento no riordquo revelou o diretor ENESCIL Engenharia e Projetos Catatildeo Ribeiro responsaacutevel pelos projetos executivos e arquitetocircnicos e de fundaccedilatildeo da obra Durante os trabalhos de sondagem no rio os teacutecnicos responsaacuteveis pela obra descobriram que o solo era formado por camadas de areia e argila orgacircnica o que exigiu que todo o sistema de estacas o projeto e a logiacutestica da obra fossem reformulados (EacutePOCA 2011 p22)

Diante do exorbitante gasto resta conhecer os benefiacutecios de tatildeo gigantesca obra

para a regiatildeo O oacutergatildeo responsaacutevel por disponibilizar tais informaccedilotildees relacionadas agrave sua

construccedilatildeo eacute o Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas - IPAAM no qual se encontra o

tiacutetulo EIA-RIMA Ponte sobre o Rio Negro contudo o mesmo somente disponibiliza

informaccedilotildees a partir do Capiacutetulo IV- Diagnoacutesticos (Meio Bioacutetico Meio Fiacutesico Meio

Socioeconocircmico e Outros Relevantes) e Capiacutetulo V ndash Prognoacutesticos (IPAAM 2010) de forma

superficial (que na maioria dos arquivos consta somente o sumaacuterio) e natildeo as pesquisas

realizadas em sua plenitude

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo

Fonte Pinto (2010)

110

Com isso passaram a ser diretamente consultados o Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) da ponte sobre o Rio Negro realizado pela

Universidade Federal do Amazonas (UFAM 2007) Esse relatoacuterio contou com a participaccedilatildeo

de uma equipe multidisciplinar composta por climatoacutelogo engenheiro geoacutegrafo

geomorfologista entre outros profissionais Embora o presente relatoacuterio cumpra com seu

principal objetivo de descrever o Meio Bioacutetico Abioacutetico e Socioeconocircmico da aacuterea a ser

afetada pela construccedilatildeo da ponte sobre o rio Negro o mesmo descreve os possiacuteveis

impactos da ponte sobre o rio Negro de forma superficial e finaliza recomendando a

construccedilatildeo do empreendimento sem aprofundar os seus impactos no meio ambiente fiacutesico e

bioloacutegico

Apesar disso Pinto (2007) descreve os beneacuteficos a serem alcanccedilados com a

Construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Criaccedilatildeo de polo de turismo e polo naval Regularizaccedilatildeo de

Transportes Rodoviaacuterio e Fluvial na RMM Aumento da demanda reprimida em todos os

setores econocircmicos Expansatildeo e modernizaccedilatildeo dos polos de hortifrutigranjeiros Melhorias

nas induacutestrias de beneficiamento de pescado Plano de Zoneamento e Uso do Solo

Modernizaccedilatildeo da induacutestria de Juta e Malva Aumento de Cooperativas de Produtores Novo

Polo de Induacutestrias atraiacutedas pelos City Gates (Manaus-Coari)

Pinto (2007) reflete ainda que a construccedilatildeo da ponte tem por objetivos buscar

alternativas para a expansatildeo urbana de Manaus geraccedilatildeo de novos espaccedilos habitacionais

elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Plano Diretor urbano global e setorial incorporaccedilatildeo ordenada

do complexo viaacuterio da margem direita agrave malha viaacuteria projetada e em execuccedilatildeo para a

margem esquerda reduccedilatildeo de custos de transportes de produtos provenientes da calha do

Solimotildees Juruaacute Javari Iccedilaacute Japuraacute e Purus Novos investimentos no setor de turismo e setor

oleiro incentivo aacute inovaccedilatildeo e o desenvolvimento tecnoloacutegico nos serviccedilos de arquitetura e

engenharia (PINTO 2007)

Como destaca Pinto (2007) o primeiro objetivo para a construccedilatildeo da Ponte sobre o

Rio Negro era buscar uma alternativa para a expansatildeo urbana de Manaus uma vez que a

mesma se encontra em constante crescimento em direccedilatildeo ao Norte da cidade fazendo

pressatildeo sobre a Reserva Ducke aacuterea de proteccedilatildeo ambiental

Atualmente a ponte se encontra pronta com 3595km de extensatildeo e liga o bairro

da Compensa em Manaus (margem esquerda do Rio Negro) agrave Ponta do Pepeta (margem

111

direita) em Iranduba Apesar do beneficio inegaacutevel da reduccedilatildeo do tempo da travessia que

anteriormente era feita de balsa e levava em meacutedia uma hora e meia no periacuteodo da vazante

do rio (sem contabilizar o tempo de espera para o embarque que podia variar de duas horas

nos dias de semana e ateacute doze horas em feriados) a construccedilatildeo da ponte tambeacutem levou

malefiacutecios

Sobre isso Castro (2010) aponta

No que concerne agrave questatildeo ambiental a criaccedilatildeo da RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) estabelece nova forma de concepccedilatildeo do meio ambienta pois ao natildeo apresentar um padratildeo conurbado como as RMrsquos claacutessicas a RMM deixa lacunas e indagaccedilotildees no que se refere a fatores como expansatildeo imobiliaacuteria conversatildeo de terra rural em terra urbana incorporaccedilatildeo de aacutereas de floresta em aacutereas urbanizadas ocupaccedilatildeo das margens dos rios Negro e Amazonas aleacutem dos inuacutemeros cursos drsquoaacutegua menores enfim questotildees que constituem desafio agrave tendecircncia que visa ao estabelecimento de uma nova geografia surgida em funccedilatildeo de uma decisatildeo poliacutetica que diga-se natildeo foi precedida agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agraves populaccedilotildees interessadas quase sempre aquelas que arcam com ocircnus das decisotildees de caraacuteter poliacutetico ndash partidaacuterio tiacutepico das praacuteticas brasileiras sendo que a Amazocircnia natildeo foge a esse preceito (CASTRO 2011 p48)

No que tange agrave expansatildeo urbana Mesquita (2013) relata que a induacutestria da invasatildeo

que anteriormente fazia pressatildeo no norte da cidade de Manaus (principalmente sobre a

Reserva Ducke) migrou apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro para os municiacutepios vizinhos

localizados na margem direita do rio o poder puacuteblico por sua vez finge natildeo perceber o

crescimento no processo de invasatildeo de terras O autor se refere ao fato recente da invasatildeo

de terras em uma propriedade particular localizada no 45 km da AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) ocorrido em Agosto de 2013 (Figura27)

112

Todavia as mudanccedilas na paisagem natildeo se limitaram agrave retirada da cobertura vegetal

para a construccedilatildeo dos ldquobarracosrdquo (como satildeo chamadas as construccedilotildees de madeiras cobertas

com lona) mas tambeacutem permitiram a retirada ilegal de argila para a fabricaccedilatildeo de tijolos

nas margens da rodovia (Figura 28)

Houve tambeacutem um aumento significativo no nuacutemero de animais mortos ao longo

da rodovia segundo os proacuteprios moradores Aleacutem da retirada ilegal de madeira e a queima

de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos etc (Figura 29)

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM- 070 (Rodovia Manoel Urbano)

Fonte Louzada (2013)

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano) Fonte Batata (2013)

113

Com a ponte Rio Negro pronta os esforccedilos foram redirecionados para a duplicaccedilatildeo

da Rodovia Manuel Urbano (AM 070) que ateacute o presente momento somente tem 2km

duplicados (logo apoacutes a ponte) dos seus 80km ateacute o municiacutepio de Manacapuru que

permanece sem duplicaccedilatildeo desde sua inauguraccedilatildeo As obras de duplicaccedilatildeo foram iniciadas

em marccedilo de 2012 com primeiramente a retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem

(Figura 30)

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos

Fonte Louzada (2013)

114

Todavia o processo de retirada da cobertura vegetal e terraplanagem somente

foram realizados ateacute o 185 km (01032014) tendo como marco zero o iniacutecio da Ponte Rio

Negro em Manaus Atualmente natildeo eacute possiacutevel encontrar nem se quer ldquoum carrinho de

matildeordquo trabalhando na rodovia

Percorrendo a rodovia no sentido Manaus ndash Manacapuru no 18 km eacute possiacutevel

visualizar 15 aacutervores de Castanheiras (Betholetia excelsa) que satildeo parcialmente protegidas

pelo Decreto Lei nordm 5975 de 30 de Novembro de 2006 no traccedilado escolhido para a

duplicaccedilatildeo da rodovia (Figura 31)

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manuel Urbano (AM-070)

Fonte Camila Louzada 2013

115

Entretanto infelizmente a lei de crimes ambientais permite vaacuterias interpretaccedilotildees

em seu paraacutegrafo uacutenico (BRASIL 2006)

Natildeo seraacute permitida a supressatildeo de vegetaccedilatildeo ou intervenccedilatildeo na aacuterea de preservaccedilatildeo permanente exceto nos casos de utilidade puacuteblica de interesse social ou de baixo impacto devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo proacuteprio quando natildeo existir alternativa teacutecnica e locacional ao empreendimento proposto nos termos do art 4ordm da Lei no 4771 de 1965 (BRASIL 2006 p 12)

Embora no que tange a duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano exista a possibilidade

de mudar do lado direito para o lado esquerdo da rodovia os oacutergatildeos responsaacuteveis pela

duplicaccedilatildeo natildeo se mostraram favoraacuteveis a essa possibilidade expondo as castanheiras ao

abate conforme interpretaccedilatildeo ldquoconvenienterdquo da legislaccedilatildeo

Para Vasconcelos (2013 p13) ldquocastanhais satildeo derrubados para a construccedilatildeo de

estradas e barragens para assentamentos de reforma agraacuteria [] No caso do Gasoduto

Coari- Manaus tambeacutem foram retiradas muitas aacutervores inclusive castanheirasrdquo

Sobre isso Santos (2013) eacute enfaacutetica ao afirmar que o maior destruidor na natureza eacute

o estado (seja na esfera municipal estadual e federal) Uma vez que criam leis para os

Figura 31 Aacutervores de Castanheira no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (Fevereiro 2014)

Fonte Camila Louzada 2013

116

demais cidadatildeos cumprirem e nunca para o governo cumpri-la se for de seu interesse

quebraacute-las criam meios de inutilizaacute-la em prol de seus proacuteprios interesses maquiando o fato

como ldquoum mal necessaacuterio em busca de um bem coletivordquo A questatildeo eacute seraacute mesmo que eacute o

bem coletivo que estaacute em jogo ou os interesses poliacuteticos e acordos convenientes entre

estado e municiacutepios

33 PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS

A Ponte sobre o Rio Solimotildees consta descrita no Projeto de Lei nordm 6409-B de 2009

no Art 3ordm item 222 ndash Relaccedilatildeo Descritiva das Rodovias do Sistema Rodoviaacuterio Federal

integrante do Anexo do Plano Nacional de Viaccedilatildeo aprovado pela Lei nordm 5917 de 10 de

Setembro de 1973 aprovado pela Cacircmara Federal dos Deputados em 23 de Agosto de 2011

Dispotildee sobre a inclusatildeo da futura rodovia BR-444 que iraacute ser construiacuteda no Estado do

Amazonas para interligar a BR-319 agrave BR-174 sob a justificativa de cumprir a Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que ldquodetermina que a Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando aacute formaccedilatildeo de

uma comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (BRASIL 2011 p 18)

Nesse sentido compete ao Estado brasileiro participar da promoccedilatildeo da integraccedilatildeo logiacutestica efetiva do territoacuterio sul-americano Especificamente no sentido norte-sul a interligaccedilatildeo entre alguns trechos rodoviaacuterios jaacute existentes possibilitaria o deslocamento de pessoas e cargas da Venezuela e da Guiana ateacute o Uruguai e vice-versa Entretanto para que se efetive esse corredor sul-americano eacute necessaacuterio promover a ligaccedilatildeo da BR-319 agrave cidade de Manaus razatildeo pela qual propomos a inclusatildeo da rodovia BR-444 no Plano Nacional de Viaccedilatildeo o que permitiraacute concluir a interligaccedilatildeo entre as rodovias BR-319 e BR-174 promovendo assim a desejada integraccedilatildeo contiacutenua do continente sul-americano (BRASIL 2011 p 18)

A BR-444 que se aprovada pelo Senado e sancionada pela atual presidente Dilma

Rousseff ou outro presidente posterior seraacute construiacuteda no Amazonas Natildeo poderaacute ser

erguida ligando o Porto da Ceasa em direccedilatildeo ao Porto da Andrade Gutierrez localizado no

13 km da BR-319 no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea uma vez que estaraacute sobre o Encontro

das Aacuteguas (Rio Negro e Solimotildees) que foi tombado como Patrimocircnio Cultural e Paisagiacutestico

Brasileiro pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN em 2011

fundamentado no Decreto Lei nordm 251937 que determina que sejam tombados ldquoos

monumentos naturais bem como os siacutetios e paisagens que importe conservar e proteger

117

pela feiccedilatildeo notaacutevel com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela

induacutestria humanardquo (BRASIL 1937 p 1) Aleacutem de outros inconvenientes gigantescos ligados

aos aspectos fiacutesicos da aacuterea entre eles destacam-se largura do rio (que eacute superior a 10km

neste trecho) profundidade e velocidade entre outros

Diante do exposto a medida mais aceitaacutevel seria construir a nova ponte agrave

montante do Encontro das Aacuteguas no rio Solimotildees aproveitando a AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) que esta ldquoem fase de duplicaccedilatildeordquo e tem ligaccedilatildeo direta com a Ponte Rio Negro

(Figura 32)

Apesar de ainda estar em fase de especulaccedilatildeo o local exato para a construccedilatildeo da

ponte sobre o rio Solimotildees projeta- se que a mesma deveraacute ligar a comunidade da Bela

Vista em Manacapuru (margem esquerda do rio Solimotildees) ao municiacutepio de Manaquiri

(margem direita do rio Solimotildees) tendo como ponto favoraacutevel agrave construccedilatildeo a largura do rio

nesse trecho e a ilha do Barroso

Na expectativa de construccedilatildeo da ponte o fato causa ao mesmo tempo entusiasmo

e cautela nas pessoas entrevistadas na Comunidade da Bela Vista (em Manacapuru) e na

sede do municiacutepio de Manaquiri Satildeo apontados inuacutemeros benefiacutecios com a construccedilatildeo da

ponte como a geraccedilatildeo de empregos oportunidade de renda das famiacutelias escoamento da

produccedilatildeo agriacutecola Todavia as mesmas pessoas entrevistadas tambeacutem descreveram ldquoo

outro lado da nova ponterdquo como sendo o aumento da violecircncia a derrubada da floresta a

Figura 32 Ponte Rio Negro Fonte Pereira (2012)

118

exploraccedilatildeo de madeira grilagem de terra traacutefico de animais destruiccedilatildeo dos siacutetios

Arqueoloacutegicos invasatildeo de terras por pessoas oriundas de outros estados e o fim da

tranquilidade O impressionante dessas afirmaccedilotildees era que os entrevistados usavam como

referecircncia a Ponte Rio Negro dizendo ldquocomo aconteceu com aacute Rio Negrordquo

Tendo por base a Ponte Rio Negro se faraacute necessaacuterio encontrar locais proacuteximos agrave

futura construccedilatildeo fora da accedilatildeo das aacuteguas ( em Terra Firme) para serem usados como base

das operaccedilotildees de sondagem e montagem de equipamentos e posteriormente instalaccedilatildeo de

guindastes tratores entre outros equipamentos agrave serem utilizados na obra Cabe aqui

somente demonstrar a aacuterea utilizada para a construccedilatildeo e posteriormente conclusatildeo das

ldquocabeccedilasrdquo como satildeo chamadas as bases localizadas em cada margem tendo por referecircncia a

construccedilatildeo da Ponte Rio Negro (Figuras 33)

119

Figura 33 Iranduba 2007 antes da construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

120

Aacute primeira vista natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes mudanccedilas na paisagem em 2007

(4 anos antes da inauguraccedilatildeo da ponte) na margem direita do rio Negro no municiacutepio de

Iranduba entretanto no quadrado ldquoardquo eacute possiacutevel visualizar uma construccedilatildeo com uma

cobertura de alumiacutenio e a retirada gradativa da vegetaccedilatildeo ao redor No quadrado ldquobrdquo

aonde viria a ser implantada a base da ponte natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes modificaccedilotildees

A (FIGURA 34) no ano de 2010 (1 ano antes da inauguraccedilatildeo) apesar da parcial

cobertura das nuvens eacute possiacutevel visualizar significativas mudanccedilas na paisagem Com

destaque para o que anteriormente era somente uma cobertura de alumiacutenio em 2007 ter se

tornado um porto de atracaccedilatildeo de embarcaccedilotildees e a base de operaccedilotildees da Ponte Rio Negro

(no municiacutepio de Iranduba) com pouca cobertura vegetal Tambeacutem jaacute eacute possiacutevel visualizar a

terraplanagem da futura rodovia

Entretanto na (Figura 35) a base de operaccedilotildees da ponte Rio Negro ganhou um

novo e maior anexo perdendo a cobertura vegetal existente

Comparando as figuras 33 34 e 35 eacute possiacutevel em pouco espaccedilo de tempo verificar

as mudanccedilas provocadas a partir da construccedilatildeo da ponte rio Negro

121

c Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro

Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

122

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

123

No caso da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas a ser construiacuteda a montante do

Encontro das Aacuteguas a mesma teraacute alguns percalccedilos pelo caminho a) tanto a margem direita

quanto a margem esquerda do Rio Solimotildees ateacute a jusante da cidade de Manacapuru tem

faixas estreitas a largas de vaacuterzeas fortemente utilizadas para agricultura de base familiar b)

por traz das aacutereas de vaacuterzea existem as aacutereas de terra firme ideais para essa construccedilatildeo

todavia para se chegar em alguns trechos faz-se necessaacuterio aterrar as aacutereas de vaacuterzeas

inviabilizando-se assim a produccedilatildeo agriacutecola c) uma vez alcanccedilada as aacutereas de terra firme e

definido o lugar de construccedilatildeo das cabeceiras da ponte inicia-se a ldquobuscardquo pelo lugar mais

apropriado para a base de operaccedilotildees normalmente proacuteximo agraves duas cabeceiras d) com os

locais definidos e as obras iniciadas (a mesma seraacute dificultada pelos aspectos fiacutesicos do rio

sua velocidade visibilidade entre outros) e) Inicia-se a nova etapa de ligaccedilatildeo da ponte com

as rodovias proacuteximas agrave AM-070 na margem esquerda e a AM-354 que esta ligada a BR-319

na margem direita

Embora se acredite que as pistas de ligaccedilatildeo a serem utilizadas sejam as jaacute

existentes deveratildeo ser no miacutenimo beneficiadas com a duplicaccedilatildeo e a construccedilatildeo de

acostamentos Tanto para a construccedilatildeo de novas pistas como para a duplicaccedilatildeo das pistas

atuais as propriedades proacuteximas seratildeo afetadas assim como a flora a ser desmatada para a

duplicaccedilatildeo e a fauna que seraacute a principal afetada com o trafego rodoviaacuterio uma vez que os

mesmos seratildeo constantemente atropelados na rodovia

Com a ponte pronta e inaugurada os impactos aumentaratildeo gradativamente

primeiramente como ocorreu com a ponte Rio Negro com o aumento da especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria e ocupaccedilatildeo primeiramente no municiacutepio de Manaquiri e posteriormente ao

longo de toda a rodovia BR-319 como ocorreu com as demais rodovias abertas na Amazocircnia

A iniciativa de construccedilatildeo da BR-444 e por consequecircncia a ponte sobre o rio

Solimotildees permitiria conectar Manaus ao restante do paiacutes via Porto Velho-RO assim como

tambeacutem viabilizaria ir do Peru ao Oceano Atlacircntico utilizando rodovias como propotildeem o

Projeto IIRSA (2003)

A iniciativa de Integraccedilatildeo da Infraestrutura Regional Sul Americana - IIRSA eacute

resultado da Cuacutepula de Presidentes da Ameacuterica do Sul realizada em 2000 no Brasil onde

ficou definida um pacote de medidas como Eixos de Integraccedilatildeo e Desenvolvimento ldquono qual

124

se pretendia desenvolver e integrar as aacutereas de transporte energia e telecomunicaccedilatildeo da

Ameacuterica do Sul em dez anosrdquo (IIRSA 2003)

A iniciativa busca integrar definitivamente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul ldquoque

concentram ou possuem potencial para desenvolver bons fluxos comerciais visando formar

cadeias produtivasrdquo (IIRSA 2003) para alcanccedilar os mercados globais Entretanto os eixos de

integraccedilatildeo escolhidos para serem ldquodesenvolvidosrdquo detecircm grande reserva de recursos

naturais conforme Tabela 8

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento e integraccedilatildeo do IIRSA Eixos de Desenvolvimento do projeto IIRSA

Trecho Paiacuteses envolvidos Recursos Naturais Vias de Ligaccedilatildeo

Eixo Andino Venezuela Boliacutevia Colocircmbia Equador

Peru

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Desenvolvimento de corredores transandinos de leste a oeste ligando Caracas-Venezuela a

Lima-Peru e Santa Cruz-Boliacutevia

Eixo Central do Amazonas

Colocircmbia Equador Peru e Brasil

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Pavimentaccedilatildeo de estradas no Peru e melhorias na

navegabilidade do Rio Amazonas de Tabatinga-AM a Beleacutem-PA

Melhorias na aacuterea de telecomunicaccedilotildees

Eixo Interoceacircnico

Central

Peru Chile Boliacutevia Paraguai e Brasil

Regiatildeo Petroleira da Boliacutevia e o escoamento da soja

produzida no Brasil para o oceano Paciacutefico

Construccedilatildeo de Portos no Chile rodovias com saiacuteda de Santa Cruz na Boliacutevia em direccedilatildeo a

Cuiabaacute-MT e Iquique no Chile

Eixo Interoceacircnico de

Capricoacuternio

Chile Argentina Paraguai e Brasil

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

Viabilizar o transporte intermodal atraacutes de

interconexatildeo por hidrovia Paranaacute-Brasil com Paraguai

Eixo do Escudo

Guayaneacutes

Venezuela Brasil Suriname Guiana

Mineacuterio de ferro bauxita ouro e madeira

Melhora porto e rodovias para facilitar o escoamento da produccedilatildeo e construccedilatildeo de

hidreleacutetricas

Eixo Meridional Chile

Brasil Uruguai

Argentina e Chile

Escoamento da produccedilatildeo agriacutecola pelo Paciacutefico

Melhoria nas estradas jaacute existentes entre os paiacuteses Investimento nas conexotildees

eleacutetricas entre os paiacuteses

Eixo Mercosul Meridional

Chile Argentina

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

A conexatildeo ferroviaacuteria entre Zapala- Argentina e Lionquimay-

Chile

Eixo da Bacia do

Prata

Argentina Boliacutevia Brasil Paraguai e

Uruguai

Mineacuterio de ferro nitrato metais preciosos chumbo

zinco estanho cobre petroacuteleo e uracircnio

Implantaccedilatildeo da Hidrovia Paranaacute-Paraguai

Eixo Amazocircnico

do Sul

Brasil Boliacutevia e Peru

(Pronto)

Madeira mineacuterio de ferro

zinco e petroacuteleo

Implantaccedilatildeo de rodovias interligadas de Porto Velho-

Brasil aos pontos de San Juan e Matarani- Peru

Fonte WWWiirsa2003com

125

O IIRSA tem como financiadores o Banco Internacional de Desenvolvimento -BID

Corporaccedilatildeo Andina de Fomento ndash CAF Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia

do Prata ndash FONPLATA Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social- BNDES

Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento -BIRD (IIRSA 2003)

Diante disso satildeo perceptiacuteveis os interesses por traacutes da expansatildeo de negoacutecios

(estradas rodovias hidrovias) por toda a America do Sul sob o discurso de integrar e

desenvolver a regiatildeo Apesar disso alguns questionamentos se fazem necessaacuterios no

presente momento jaacute que a Ponte sobre o Rio Solimotildees ainda natildeo foi iniciada a) quem satildeo

os maiores beneficiaacuterios com esta obra b) esta obra eacute realmente importante para a regiatildeo

(comparando os seus benefiacutecios e malefiacutecios) c)existe alguma preocupaccedilatildeo com as

populaccedilotildees ribeirinhas afetadas que medidas compensatoacuterias poderiam ser fornecidas se

essa obra for realmente inevitaacutevel d) jaacute que seus malefiacutecios satildeo infinitamente maiores que

seus benefiacutecios isto impediria a sua execuccedilatildeo

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DO MANAQUIRI

Visando atender a abrangecircncia de dados da pesquisa qualitativa o presente estudo

utilizou a anaacutelise de documentos observaccedilatildeo participante e entrevistas semiestruturadas

(BOGDAN e BIKLEN 1994)

A princiacutepio as entrevistas seriam coletivas atraveacutes de grupos focais no entanto o

nuacutemero reduzido de moradores antigos nas duas localidades natildeo permitiu fazer uso dessa

estrateacutegia pois para se ter um grupo focal eacute preciso a participaccedilatildeo de seis e doze pessoas

(GATTI 2005) o que natildeo foi possiacutevel localizar em Bela Vista e em Manaquiri

As entrevistas foram realizadas de forma individual (na 1ordm etapa da pesquisa) por

essa e algumas outras razotildees a) os moradores mais antigos eram em sua maioria homens

com mais de 65 anos que se conheciam haacute algumas deacutecadas entretanto alguns tinham

facilidade de se expressar outros natildeo alguns eram tiacutemidos e outros desinibidos b) visando

evitar o ldquoefeito galordquo de Gatti (2005) onde um ou mais participante pudesse de forma natildeo

intencional inibir os demais optou-se pelas entrevistas individuais semiestruturadas

126

Do resultado das entrevistas com os moradores mais antigos foi construiacutedo um

roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a 40 chefes de famiacutelia em cada

localidade

Apesar da pesquisa ser qualitativa a mesma tambeacutem se caracteriza como um

Estudo de Caso pois permite uma investigaccedilatildeo para se preservar as caracteriacutesticas

significativas da vida real ciclos de vida individuais processos organizacionais e

administrativos entre outros (YIN 2005)

Ainda segundo Yin (2005) os Estudos de Caso podem ser classificados em

causaisexploratoacuterios que permitem ao pesquisador levantar dados permitindo diagnosticar

um estudo de caso atraveacutes de generalizaccedilatildeo E descritivo que permite ao pesquisador a

descriccedilatildeo de diversos e complexos fenocircmenos dentro de seu contexto real pesquisado sem

generalizaccedilatildeo

Em outras palavras o estudo de caso eacute uma situaccedilatildeo uacutenica cercada por uma

infinidade de possibilidades resultado dos dados coletados apoiados em inuacutemeras fontes

que refutam ou confirmam as informaccedilotildees coletadas O Estudo de Caso vai aleacutem da simples

funccedilatildeo de coletar dados tabulaacute-los e divulgaacute-los como resultados da pesquisa pois eacute ldquo[]

uma estrateacutegia mais abrangente A forma como a estrateacutegia eacute definida implementada e

constituiacuteda na verdade eacute o toacutepico inteiro do livrordquo (YIN 2005 p33)

A estrutura desenvolvida nesta pesquisa encontra-se detalhada na Figura (36) com

relaccedilatildeo agraves localidades escolhidas para anaacutelise da percepccedilatildeo ambiental dos seus moradores

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Solimotildees como parte da reabertura da BR-

319

127

A metodologia teve como base alem da fundamentaccedilatildeo teoacuterica a utilizaccedilatildeo de

entrevistas semiestruturadas pois permite ao pesquisador utilizar muacuteltiplas e variadas

fontes de dados para criar o roteiro de entrevista e atraveacutes da tabulaccedilatildeo dos dados

estabelecer uma cadeia de evidecircncias que permita reconhecer as respostas apoiadas na

fundamentaccedilatildeo teoacuterica para legitimar o estudo

Optou-se primeiramente por entrevistar os moradores mais antigos de cada

localidade pelas seguintes razotildees a) os moradores mais antigos tinham maior

Indicaccedilatildeo de alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental voltada para as localidades ribeirinhas e preocupaccedilatildeo com o contexto amazocircnico

Revisatildeo literaacuteria sobre as localidades

Expansatildeo das entrevista aos chefes de famiacutelia

Tabulaccedilatildeo de dados

Construccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do roteiro de entrevista semiestruturado para os

moradores mais antigos

Tabulaccedilatildeo dos resultados

Origem das localidades desenvolvimento economia

etc

Relaccedilatildeo com o ecossistema a floresta o rio e seus elementos

naturais

Perspectiva de desenvolvimento Ponte sobre o

Rio Solimotildees

Elo afetivo com o lugar EntusiasmoCautela com o desconhecido

Projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros

Figura 36 Estrutura da Pesquisa Fonte Louzada (2013)

128

conhecimento da histoacuteria de fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo das localidades b) assim como tinham

diferentes percepccedilotildees sobre o meio ambiente fiacutesico ao seu redor ao longo dos anos de suas

vidas c) baseado em suas experiecircncias individuas os moradores foram capazes de descrever

com riqueza detalhes tudo ao seu redor (da fundaccedilatildeo das localidades as mudanccedilas ao longo

dos anos) d) os moradores mais antigos das duas localidades percebiam as mudanccedilas e

descreviam-nas com maior desenvoltura os benefiacutecios e malefiacutecios das mudanccedilas

Utilizou-se o roteiro de entrevista semiestruturada aplicado na Comunidade da Bela

Vista e posteriormente na sede do municiacutepio de Manaquiri e conforme (Figura 37) Nesta

primeira etapa da pesquisa buscou-se conhecer a histoacuteria da comunidade e as diversas

interaccedilotildees do homem com o lugar onde vive

Nome (opcional) Idade Profissatildeo Escolaridade

1- A quanto tempo mora aqui

2- O que tem aqui que te faz permanecer 3- O que vocecirc natildeo gostaria de perder

4- O que vocecirc gostaria que tivesse aqui

5- Que mudanccedilas ocorreram na comunidade com a Ponte Rio Negro 6- O que Melhorou aqui 7- O que piorou

8- Vocecirc jaacute ouviu alguma coisa sobre a Ponte sobre o Rio Solimotildees

9- O que vocecirc espera de bom 10- E de ruim dessa nova ponte se sair

10- Para a construccedilatildeo desta nova ponte teraacute audiecircncias puacuteblicas para consulta a comunidade o que vocecirc

exigiria nas medidas compensatoacuterias

Na Comunidade da Bela Vista os moradores mais antigos entrevistados por

coincidecircncia eram todos homens com meacutedia de idade de 63 anos classificados segundo

suas profissotildees A -Agricultor B - Carpinteiro Naval C- Comerciante D- Pescador Suas

respostas foram dispostas na (Figura 38)

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos

Fonte Louzada (2013)

129

Entrevistado Resposta das perguntas

A 69 anos -1945

Famiacutelia tranquilidade

Paz Meacutedico

B 48 anos- 1965

Famiacutelia Companheirismo Hospital ou SPA

C 66 anos -1948

Famiacutelia Paz Poliacutecia

D 70 anos- 1944

Famiacutelia tranquilidade

Meu siacutetio a paz Poliacutecia

Os entrevistados apresentaram em meacutedia mais de 53 anos de residecircncia na

Comunidade da Bela Vista e se mostraram extremamente irredutiacuteveis quanto agrave sugestatildeo de

familiares para que se mudem para outros lugares argumentando quase sempre ldquoque natildeo

abandonariam sua tranquilidade nem seu pedaccedilo de chatildeo por nadardquo

Sobre isso Tuan (2012) argumenta que

[] eacute o neologismo uacutetil quando pode ser definida em sentido amplo incluindo todos os laccedilos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material Estes diferem profundamente em intensidade sutileza e modo de expressatildeo A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esteacutetica em seguida pode variar do efecircmero prazer que se tem de uma vista ateacute a sensaccedilatildeo de beleza igualmente fugaz mas muito mais intensa que eacute subitamente revelada A resposta pode ser taacutetil o deleite ao sentir o ar aacutegua terra Mais permanentes e mais difiacuteceis de expressar satildeo sentimentos que temos para com o lugar por ser o lar o loacutecus de reminiscecircncias e o meio de se ganhar a vida (TUAN 2012 p136)

Para Tuan (2012 p 136) ldquoTopofilia natildeo eacute a emoccedilatildeo humana mais forte Quando eacute

irresistiacutevel podemos estar certos de que o lugar ou o meio ambiente eacute o veiacuteculo de

acontecimentos emocionalmente fortes ou eacute percebido como um siacutembolordquo

No caso dos moradores mais antigos entrevistados pela pesquisa todos sem

exceccedilatildeo satildeo ex-colonos da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA o que pode ter

influenciado na atual escolha de permanecer na regiatildeo embora muitos ex- colonos tenham

optado por se mudar para outras localidades

Questionados sobre o que gostariam que tivessem na Comunidade da Bela Vista os

mesmos foram enfaacuteticos ao afirmarem que gostariam que tivessem policiamento e meacutedicos

Figura 38 Respostas das Entrevistas (Perguntas 1 a 4)

Fonte Louzada (2013)

130

na comunidade Jaacute que a Bela Vista faz parte do municiacutepio de Manacapuru cabe ao

municiacutepio e ao estado disponibilizar pessoal e infraestrutura para atender as necessidades

da populaccedilatildeo

Indagados sobre as mudanccedilas positivas e negativas com a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio

Negro as respostas encontra-se na (Figura 39)

Entrevistado Resposta das perguntas

A Tem mais motos Diminui o tempo da viagem

Nada Sim

B Diminuiu muito o movimento aqui

Diminui o tempo da viagem

Vem muita gente estranha

Sim

C Antes tinha mais movimento aqui

- Trouxe mais violecircncia

Sim

D Agora tem ocircnibus daqui pra Manaus

Diminui o tempo da viagem

Aumentou muito a violecircncia

Sim

Sobre a capacidade humana de perceber mudanccedilas Ostrower (1977) destaca

Desde as primeiras culturas o ser humano surge dotado de um dom singular mais do que homo faber ser fazedor o homem eacute um ser informador Ele eacute capaz de estabelecer relacionamentos entre os muacuteltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele Relacionando os eventos ele se configura em sua experiecircncia de viver e lhes daacute um significado Nas perguntas que o homem faz ou nas soluccedilotildees que encontra ao agir ao imaginar ao sonhar sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER 1977 p4 )

Embora a diminuiccedilatildeo do tempo de viagem de Bela Vista ateacute Manaus tenha sido

esperado com a construccedilatildeo da Ponte Rio Negro os moradores se mostram apreensivos no

que tange a comunidade uma vez que a mesma passou a sofrer frequentes casos de

violecircncia apoacutes a inauguraccedilatildeo da ponte Esta capacidade de perceber e relacionar os

acontecimentos aos muacuteltiplos eventos ocorridos permitiu-lhes fazer uma projeccedilatildeo de

cenaacuterios futuros baseados em suas experiecircncias individuais e coletivas com determinado

evento

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (Perguntas 5 a 8)

Fonte Louzada (2013)

131

Indagados se jaacute tinham ouvido falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o rio

Solimotildees os mesmos foram unacircnimes ao afirmarem que sim atraveacutes do programa de raacutedio

A Voz do Brasil

Segundo Canuto (2012) o programa de raacutedio transmitido de segunda a sexta agraves 19h

no horaacuterio de Brasiacutelia para todo o territoacuterio nacional surgiu em 1935 com o nome de

ldquoPrograma Nacionalrdquo e em 1938 passou a ser chamado de ldquoHora do Brasilrdquo teve seu nome

novamente mudado em 1971 para ldquoA Voz do Brasilrdquo O programa transmite informativos

oficiais dos Poderes Executivo Judiciaacuterio e Legislativo

Foi por meio desse programa de raacutedio que Getuacutelio Vargas fez pronunciamentos

semanais estimulando a migraccedilatildeo do ldquopovo sem terras para terras sem homensrdquo

estimulando e consolidando a Marcha para o Oeste que viria a reorganizar a ocupaccedilatildeo do

territoacuterio brasileiro

Com uma breve explanaccedilatildeo sobre a proposta de construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees os entrevistados foram estimulados a descrever o que viria de ldquobomrdquo ou

ldquoruimrdquo com esta obra segundo sua percepccedilatildeo (Figura 40)

A percepccedilatildeo dos moradores mais antigos se caracteriza em parte como uma

Percepccedilatildeo Trandisciplinar segundo seus pilares que satildeo diferentes niacuteveis de realidade

(ontoloacutegico) loacutegica do terceiro incluiacutedo e complexidade que por sua vez com se sustenta

em trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional e hologramaacutetico

Entrevistado Resposta das Perguntas

9ordm 10ordm

A Vai melhorar e muito aqui

-

B Natildeo vai ter mudanccedilas boas

Mais pessoas estranhas mais violecircncia

C Empregos Mais violecircncia

D Nada de bom Vatildeo querer me tirar daqui soacute saio daqui morto

Figura 40 Resposta dos Entrevistados (Perguntados 9 e 10)

Fonte Louzada (2013)

132

Partindo do princiacutepio dos diferentes niacuteveis de realidade seja do entrevistado A

(que prevecirc melhorias na comunidade) do B (que eacute enfaacutetico ao afirmar que natildeo haveraacute

mudanccedilas positivas) do C (que acredita que a obra traraacute empregos) ou do entrevistado D

(que afirma que esta obra natildeo traraacute nada de bom)

[] nenhum niacutevel de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual possamos compreender todos os outros niacuteveis de realidade um niacutevel de realidade eacute o que ele eacute porque todos os outros niacuteveis existem ao mesmo tempo Esse princiacutepio de relatividade suscita um novo olhar sobre a religiatildeo a poliacutetica as artes a educaccedilatildeo e a vida social E quando nosso olhar sobre o mundo muda o mundo realmente muda (RITTO 2010 p37)

O autor continua

Na visatildeo transdisciplinar a realidade natildeo eacute apenas muldimensional mas tambeacutem multirreferencial Os diferentes niacuteveis de realidade satildeo acessiacuteveis ao conhecimento humano graccedilas aacute existecircncia de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo que permitem uma visatildeo cada vez mais geral mais unificadora mais abarcadora da realidade sem exauri-la completamente Como no caso dos niacuteveis de realidade a coerecircncia dos niacuteveis de percepccedilatildeo pressupotildee uma zona de natildeo resistecircncia aacute percepccedilatildeo (RITTO 2010 p37)

Segundo Nicolesco (2009 p05) o conceito chave da Transdisciplinaridade eacute o

conceito de niacuteveis de realidade ldquoque oferece uma explicaccedilatildeo simples e clara da inclusatildeo do

terceirordquo

Entendo por Realidade primeiramente o que resiste agraves nossas experiecircncias representaccedilotildees descriccedilotildees imagens ou formalizaccedilotildees matemaacuteticas Eacute preciso tambeacutem dar uma dimensatildeo ontoloacutegica agrave noccedilatildeo de Realidade pois a Natureza participa do ser do mundo A Realidade natildeo eacute somente uma construccedilatildeo social o consenso de uma coletividade um acordo intersubjetivo Ela apresenta tambeacutem uma dimensatildeo trans-subjetiva pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria cientiacutefica (NICOLESCU 2009p05)

Para Nicolesco (2009) a compreensatildeo do terceiro incluiacutedo pode ser descrita com a

representaccedilatildeo da letra T entre o A e o natildeo- A por meio de um triacircngulo

[] no qual um dos veacutertices se situa em um niacutevel de Realidade e os outros dois

veacutertices em outro niacutevel de Realidade Se ficarmos em um uacutenico niacutevel de Realidade toda manifestaccedilatildeo apareceraacute como uma luta entre dois elementos contraditoacuterios (exemplo onda A e corpuacutesculo natildeo-A) O terceiro dinamismo o do estado T eacute exercido em um outro niacutevel de Realidade onde o que aparece como desunido (onda e corpuacutesculo) estaacute de fato unido (quantum) e o que aparece como contraditoacuterio eacute percebido como natildeo contraditoacuterio (NICOLESCO 2009 p5)

133

Nicolesco (2009) vai aleacutem ao afirmar que [] a projeccedilatildeo de T sobre um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade que produz a aparecircncia de pares antagonistas mutuamente exclusivos (A e natildeo-A) Um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade natildeo pode engendrar senatildeo oposiccedilotildees antagocircnicas Ele seraacute devido agrave sua proacutepria natureza autodestruidor se for separado completamente de todos os outros niacuteveis de Realidade Um terceiro termo digamos Trsquo que estaacute situado no mesmo niacutevel de Realidade que os opostos A e natildeo-A natildeo pode realizar sua conciliaccedilatildeo (NICOLESCO 2009 p05)

Assim sendo a loacutegica do terceiro incluiacutedo admite diferentes niacuteveis de realidade

para compreensatildeo ampla de um determinado fenocircmeno ou fato essa possibilidade permite

extrapolar o reacutelis antagonismo fruto de uma uacutenica realidade

A terceira e uacuteltima pilastra da Transdisciplinaridade eacute a Complexidade que por sua

vez tambeacutem tem trecircs pilares o dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o hologramaacutetico

O princiacutepio dialoacutegico pode ser compreendido atraveacutes da ordem e da desordem [] um suprime a outra mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e produzem organizaccedilatildeo e complexidade O princiacutepio dialoacutegico permite-nos manter a dualidade no seio da unidade Associa dois termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicos (MORIN 1990 p107)

Ainda segundo Morin (1990)

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se fosse verificar empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

Um exemplo seria as invasotildees de terras que causam de certa forma a desordem

(pessoas se aglomerando em pequenos barracos em aacutereas ainda cobertas por floresta ou

em aacutereas de risco onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a produccedilatildeo de

fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que saem atraacutes de

melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

O segundo princiacutepio eacute o da recursatildeo organizacional onde um processo recursivo ldquoeacute

um processo em que os produtos e os efeitos satildeo ao mesmo tempo causas e produtores

daquilo que os produziurdquo (MORIN 1990 p108) Ele utiliza como exemplo o caso da relaccedilatildeo

indiviacuteduo e sociedade pois a sociedade eacute resultado das interaccedilotildees humanas ldquose natildeo

134

houvesse uma sociedade e a sua cultura uma linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos

indiviacuteduos humanos

O terceiro e uacuteltimo principio da complexidade eacute o hologramaacutetico que funciona

como a menor partiacutecula do todo mas conteacutem todas as informaccedilotildees da totalidade do objeto

em outras palavras ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo mas o todo estaacute na parterdquo (MORIN

1990 p108-109)

Apoiado em suas trecircs pilastras o princiacutepio dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o

hologramaacutetico surge a Complexidade que busca a ideia de que a totalidade natildeo eacute a

sobreposiccedilatildeo das partes individuais mas a uniatildeo de todas elas em uma teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas mas termodinacircmicas e conectadas (MORIN 1990 p110)

Para Santos (2013)

A Complexidade eacute a compreensatildeo da realidade atraveacutes do conhecimento em todas as suas injunccedilotildees O conhecimento eacute trabalhado de forma fragmentada guardando cada aacuterea cada disciplina sua autonomia e separabilidade das demais Essa constataccedilatildeo aparente induziu o sujeito a aceitar os fenocircmenos explicados pelo conhecimento cientiacutefico como certeza na compreensatildeo do mundo Entretanto a Transdisciplinaridade nos mostra a complexidade do real da ligaccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade consiste em entender que nada estaacute separado tudo estaacute ligado na natureza fiacutesica humana e social O pensamento complexo eacute aquele que tenta responder ao desafio da complexidade e natildeo o que constata a incapacidade de responder (SANTOS apud MORIN 2013 p5)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Por seu turno na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o

cientista haacute rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os

objetos uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter

multidimensional de qualquer realidade segundo Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo

podemos nunca escapar aacute incerteza () Estamos condenados ao pensamento inseguro a

um pensamento criativo de buracos um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento

absoluto de certezardquo

135

341 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA BELA VISTA

Para a realizaccedilatildeo da segunda etapa da pesquisa que consistia em entrevistar os

chefes de famiacutelia foi elaborado um roteiro de entrevistas a partir das respostas dos

moradores mais antigos (Apecircndice 1)

Foram localizadas as ruas principais da comunidade da Bela Vista e o local exato

onde as mesmas se cruzaram de forma que pudesse ser dividida a comunidade em quatro

quadrantes Dentro de cada quadrante foram entrevistados dez chefes de famiacutelias de

maneira aleatoacuteria de diferentes idades gecircneros e ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de

residecircncia no lugar

O resultado foi 57 homens entrevistados e 43 mulheres com idades variando

entre 14 e 77 anos de naturalidades diversas Rondocircnia Roraima Amazonas (Bela Vista

Itacoatiara Coari Manaquiri Laacutebrea Cruzeiro do Sul Alto Juruaacute)

O Graacutefico 1 ilustra a escolaridade dos entrevistados da Bela Vista

A comunidade da Bela Vista conta atualmente com uma escola de Ensino

Fundamental (Escola Estadual Maacuterio DrsquoAlmeida) que no periacuteodo diurno oferece aulas do (1ordm

ao 9ordm ano) e no periacuteodo noturno oferece aulas para jovens e adultos atraveacutes do Programa

EJA (Ensino de Jovens e Adultos)

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados na Bela Vista

136

Os 30 dos entrevistados que afirmaram ter estudado somente ateacute 4ordm seacuterie atual

quarto anos do Ensino Fundamental sempre residiram na comunidade e os demais 37 da

populaccedilatildeo que tem o Ensino Meacutedio completo juntamente com 3 de entrevistados que natildeo

chegaram a concluir o ensino meacutedio tiveram a oportunidade de residir em outras

localidades a fim de concluir os estudos e retornaram agrave Comunidade da Bela Vista

Os moradores foram inquiridos sobre a escolha de morar na Bela Vista e o que natildeo

os agradava no lugar 62 dos entrevistados afirmaram residir no lugar pela tranquilidade e

17 pela famiacutelia 11 por considerar o clima agradaacutevel 5 trabalho 5 por ser terra firme

e a oportunidade de produzir alimentos durante todo ano Sobre o que natildeo os agradava na

comunidade 37 relataram a falta de emprego 30 falta de seguranccedila 10 por natildeo ter

um hospital 15 falta administraccedilatildeo 8 falta uniatildeo na comunidade

Quando questionados sobre o que viam ao olhar para a Bela Vista o resultado estaacute

contemplado no Graacutefico 2

A maioria da populaccedilatildeo entrevistada (38) classificou a comunidade como

esquecida e desprezada devido agrave falta de infraestrutura que natildeo conta com uma rede de

abastecimento eleacutetrico eficiente com aacutegua potaacutevel haacute pouco tempo e somente apoacutes

perfuraccedilatildeo de dois poccedilos sendo que o primeiro perfurado com 110 m mas em uma anaacutelise

laboratorial feita pelo Serviccedilo Autocircnomo de Aacutegua e Esgoto de Manacapuru- SAAE o poccedilo se

mostrou improacuteprio para o consumo humano Foi realizada outra perfuraccedilatildeo agora com

200m de profundidade contudo apesar dos esforccedilos para a construccedilatildeo de um novo poccedilo o

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista

137

mesmo acabou alcanccedilando uma reserva de manganecircs- Mn (elemento quiacutemico) o que torna a

aacutegua improacutepria para o consumo humano ficando a comunidade dependente do primeiro

poccedilo

Sobre a reserva de manganecircs Sousa (2008) esclarece que a concentraccedilatildeo de

manganecircs no rio Solimotildees varia de 0017mgL na cheia do rio a 0025 mgL no periacuteodo de

vazante dispersa ou concentra em suas margens

Aleacutem da dificuldade de encontrar aacutegua potaacutevel a comunidade tambeacutem sofre de

outros problemas entre eles a falta de saneamento baacutesico (Figura 41) e a destinaccedilatildeo de

resiacuteduos domiciliares em aacutereas de vegetaccedilatildeo ou as queimadas dentro dos siacutetios

Em todas as ruas da Comunidade da Bela Vista eacute possiacutevel visualizar a ausecircncia de

caneletas extremamente necessaacuterias para o escoamento das aacuteguas superficiais que ficam

empoccediladas sobre o asfalto contribuindo para a sua deterioraccedilatildeo Outro fator preocupante eacute

a ausecircncia completa de uma rede de esgoto que geralmente eacute direcionado das casas para as

ruas situaccedilatildeo muito comum nas cidades do interior do Amazonas

Indagados sobre o significado do rio Solimotildees e da Floresta Amazocircnica uma vez que

convivem diariamente com estes elementos naturais 49 dos entrevistados afirmaram que

Figura 41 Rua da Comunidade da Bela Vista

Autor Louzada (2013)

138

o rio eacute importante para a pesca e 36 disseram que o rio eacute a fonte da vida e 13 o

consideram bonito imponente e majestoso e 2 natildeo souberam responder

Sobre essa percepccedilatildeo Tuan (2012) afirma que as imagens que compotildeem a Topofilia

satildeo derivadas da realidade circundante

As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram assombro ou lhes prometem sustento e satisfaccedilatildeo no contexto das finalidades de suas vidas As imagens mudam agrave medida que as pessoas adquirem novos interesses e poder mas continuam a surgir do meio ambiente as facetas do meio ambiente previamente negligenciadas satildeo vistas agora com toda claridade (TUAN 2012 p170)

A afirmaccedilatildeo de Tuan (2012) confirma a percepccedilatildeo dos entrevistados sobre a

Floresta Amazocircnica onde 65 dos moradores afirmaram que a floresta eacute bonita e muito

importante 30 que tem que ser preservada pois estaacute sendo desmatada e 5 afirmaram

ser ela a fonte de alimentos diversos

Para Tuan (2012) as sociedades natildeo tecnoloacutegicas que manteacutem contato constante

com o meio ambiente fiacutesico tendem a perceber a florestal tropical de modo geral como um

mundo proacuteprio protetor e envolvente que provecirc as necessidades materiais e ateacute mesmo

espirituais

Tendo como base os criteacuterios de qualidade de vida apontados por Gonccedilalves e

Vilarta apud Almeida et al (2012) que

[] abordam qualidade de vida pela maneira como as pessoas vivem sentem e compreendem seu cotidiano envolvendo portanto sauacutede educaccedilatildeo transporte moradia trabalho e participaccedilatildeo nas decisotildees que lhes dizem respeito (GONCcedilALVES E VILARTA apud ALMEIDA et al 2012 p18)

Os entrevistados foram indagados sobre qual qualidade de vida moradores da Bela

Vista suas respostas eacute possiacutevel visualizar no Graacutefico 3

139

A maioria dos entrevistados sendo 47 classificou a qualidade de vida dos

moradores em ruim ou difiacutecil devido a pouca oportunidade de renda da populaccedilatildeo que

segundo eles somente satildeo quatro fontes de renda agricultura aposentadoria pequenos

comeacutercios ou bolsas do governo (Bolsa Famiacutelia Bolsa Escola Auxilio Gaacutes Seguro Defeso do

Pescador) Outros entrevistados atribuiacuteram agrave qualidade de vida ruim devido agrave falta de

emprego na regiatildeo porque os jovens natildeo estatildeo dispostos a trabalhar na agricultura

somente os mais idosos

Sobre isso existe uma perspectiva geral de mudanccedila com a abertura da Faacutebrica de

Calcaacuterio que estaacute sendo construiacuteda no ramal da comunidade que promete emprego aos

moradores da Bela Vista gerando uma nova fonte de renda para a comunidade

Questionados se jaacute tinham ouvido falar sobre a construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees 85 dos entrevistados relataram jaacute ter ouvido algo a respeito entre os

comentaacuterios da comunidade e no programa de raacutedio a Voz do Brasil 15 da populaccedilatildeo

relatou natildeo ter conhecimento dessa informaccedilatildeo Perguntados sobre o seu posicionamento

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte os moradores afirmaram 92 que satildeo favor (Graacutefico 4)

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista

140

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas sobre a reabertura da BR-319

os entrevistados responderam conforme destaca o Graacutefico 5

A maioria 45 da populaccedilatildeo mostra-se disposta a participar de audiecircncias puacuteblicas

sobre a reabertura da BR-319 mas somente se chegassem a ser convocados 37 se

mostrou favoraacutevel agrave reabertura da rodovia afirmando que a mesma jaacute foi aberta um dia

sendo necessaacuteria ser novamente asfaltada sinalizada e ter suas pontes refeitas jaacute que

praticamente natildeo existem mais Ainda desse total 5 disseram que natildeo desejariam

participar com destaque para uma colocaccedilatildeo ldquoFilha eu natildeo iria pois natildeo se decide o que jaacute

foi decididordquo (comunicaccedilatildeo pessoal de um entrevistado) Do restante 4 iriam conhecer os

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte sobre o

Rio SolimotildeesAmazonas

141

dois lados (benefiacutecios e malefiacutecios) da obra e 9 dos entrevistados afirmaram natildeo acreditar

na reabertura da BR-319

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo 64 dos entrevistados consideraram o rio perigoso e que o mesmo provocava

medo (Graacutefico 6)

Eacute compreensiacutevel os entrevistados da Bela Vista optarem em sua maioria pelas

estradas porque eles dispotildeem de um ramal de 10km que os conecta a AM-070 e os permite

chegar rapidamente agrave Manacapuru ou ateacute mesmo a capital Manaus Questionados sobre

qual meio de locomoccedilatildeo seria mais seguro O Graacutefico 7 ilustra a preferecircncia pelas estradas

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo

142

A maioria 78 dos entrevistados considera as estradas o meio mais raacutepido e melhor

de se locomover apenas 22 as consideram perigosas

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 37 dos

entrevistados afirmaram nunca terem participado e 34 afirmaram natildeo saber o que eacute jaacute

25 disseram que participariam de uma se fossem convidados o que nunca ocorreu na

comunidade e 4 afirmaram jaacute ter participado de Audiecircncias Puacuteblicas em outras

localidades

342 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI

Assim como ocorreu na Comunidade da Bela Vista a sede do municiacutepio de

Manaquiri tambeacutem foi dividida em quatro quadrantes a partir das ruas principais Joatildeo Diniz

e Francisco Jacob (Figura 42)

Figura 42 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa

Fonte Google Maps Imagens Landsat (2014)

Adaptada Louzada (2014)

143

Foram entrevistados dez chefes de famiacutelia em cada quadrante de maneira aleatoacuteria

de diferentes idades gecircneros ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de residecircncia no lugar

Todavia o roteiro de entrevistas aplicado em Manaquiri sofreu algumas alteraccedilotildees

(Apecircndice 2)

Ao contraacuterio do que ocorreu na Bela Vista onde foram entrevistados (57 homens

e 43 mulheres) em Manaquiri foram entrevistados de maneira aleatoacuteria 55 de mulheres

e 45 de homens com idades variando entre 22 e 83 anos e com naturalidades mais

diversas Colocircmbia Venezuela Brasil (Cearaacute Parnaiacuteba Piauiacute Paraacute Amazonas (Manaus

Iranduba Eirunepeacute Coari Anamatilde Careiro da Vaacuterzea))

Com relaccedilatildeo agrave escolaridade a grande maioria dos entrevistados cerca de 52

tinham o ensino meacutedio completo os demais foram organizados conforme graacutefico 8

Por ser uma sede municipal o Manaquiri conta com escolas tanto estaduais como

municipais o que contribui na formaccedilatildeo de seus moradores todavia as escolas natildeo estatildeo

exclusivamente situadas na sede do municiacutepio como eacute caso do Centro Educacional

Municipal de Tempo Integral ndash CEMTI com capacidade para atender 770 alunos do ensino

fundamental inaugurado em 2010 mas tambeacutem distribuiacutedos na zona rural do mesmo

Os entrevistados foram questionados sobre a escolha de permanecer em

Manaquiri pois os mesmos tecircm facilidade de acesso a outros municiacutepios e ateacute mesmo agrave

capital Manaus o que os agradava no lugar que os fazia permanecer 69 dos moradores

responderam permanecer em Manaquiri pela tranquilidade encontrada laacute 31

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri

144

responderam que permanecem na regiatildeo por laccedilos familiares Indagados sobre o que natildeo os

agradava na cidade de Manaquiri 31 dos entrevistados relatou o sistema de sauacutede do

municiacutepio (Graacutefico 9)

Os entrevistados se mostraram revoltosos com o sistema puacuteblico de sauacutede do

municiacutepio do Manaquiri Um entrevistado relatou a seguinte situaccedilatildeo

Se uma pessoa cair e quebrar a perna no final de semana temos que levar ele correndo para Manaus jaacute pensou ir de voadeira [canoa de alumiacutenio com motor de polpa] nesse riozatildeo de Deus com a perna quebrada eacute horriacutevel porque aqui natildeo tem meacutedico no final de semana soacute de segunda a sexta e ai como a gente ficar te pergunto

Segundo Almeida Filho (1998)

A ldquonova ordem mundialrdquo que se instaura na deacutecada de oitenta inspirada no neoliberalismo provoca uma marcante fragilizaccedilatildeo dos esforccedilos para o enfrentamento coletivo dos problemas de sauacutede Particularmente nos paiacuteses de economia capitalista dependente a opccedilatildeo pelo ldquoestado miacutenimordquo e o corte nos gastos puacuteblicos como resposta agrave chamada ldquocrise fiscal do estadordquo em muito comprometem o acircmbito institucional conhecido como sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p 301)

Para superar esta crise na sauacutede puacuteblica brasileira que jaacute dura quase 35 anos apoacutes

os novos esforccedilos serem direcionados para

[] o desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico do campo mediante importantes contribuiccedilotildees nas aacutereas de Epidemiologia Social Poliacuteticas e Praacuteticas de Sauacutede Planificaccedilatildeo em Sauacutede Epistemologia e Metodologia em Sauacutede [] Contudo mais do que definiccedilotildees formais a sauacutede coletiva requer uma compreensatildeo dos desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo de profissional convencionalmente reconhecido como da sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p310)

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo agrada em Manaquiri

145

A atual situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica em Manaquiri reflete de forma negativa na

administraccedilatildeo puacuteblica de modo geral pois 28 dos entrevistados descrevem como ruim ou

peacutessima devido aos cuidados com a sauacutede publica do municiacutepio

Em menor porcentagem os entrevistados relataram que natildeo os agrada o aumento

da violecircncia dos uacuteltimos anos com 14 dos entrevistados a falta de oportunidade de

entretenimento com 3 das respostas e 7 com a falta de oportunidade de continuar os

estudos Segundo eles satildeo somente duas oportunidades ou migram para a capital Manaus

para cursar uma faculdade ou se forem professores podem se escrever no Plano Nacional

de Formaccedilatildeo de Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica- PARFOR do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo em

parceria com a Universidade Federal do Amazonas - UFAM que envia professores ao

municiacutepio no periacuteodo de recesso escolar (Municipal e Estadual) para ministrarem as

disciplinas da graduaccedilatildeo dos cursos escolhidos permitindo aos professores locais um

diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC

Ao olharem para o municiacutepio de Manaquiri os entrevistados se manifestaram

conforme o graacutefico 10

Cerca de 43 dos entrevistados afirmaram que a cidade de Manaquiri estaacute

crescendo tendo como referecircncia o crescimento demograacutefico apontado no uacuteltimo censo do

IBGE que calculou a populaccedilatildeo da sede municipal de Manaquiri em 7062 mil habitantes

(IBGE 2010)

Todavia os moradores tambeacutem atrelaram o crescimento da cidade ao fato de haacute

pouco tempo ter sido aberta uma agecircncia bancaacuteria na regiatildeo e os investimentos na

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri

146

agricultura familiar o que gerou empregos no municiacutepio e por consequecircncia permitiu um

aumento na renda das famiacutelias

Outros 25 dos entrevistados relatou que Manaquiri eacute um bom lugar para viver

pois quem quiser trabalhar na agricultura tem acesso agrave empreacutestimos para investir na

produccedilatildeo ou em pequenas criaccedilotildees como a silvicultura e a piscicultura

Os entrevistados referem-se ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte ndash

FNO disposto nas leis nordm 78271989 nordm 91261995 e nordm 101772001 (BRASIL 2013)

O FNO Plano de Aplicaccedilatildeo de Recursos para 2013 dispotildeem sobre os programa de

iniciativa do Governo Federal para a Amazocircnia que satildeo executados pelo Banco da

Amazocircnia com destaque para O Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 conhecido como ldquoPlano

Mais Brasilrdquo a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) o Plano Amazocircnia

Sustentaacutevel (PAS) o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) a Poliacutetica Nacional de

Agricultura Familiar a Poliacutetica Nacional de Arranjos Produtivos Locais o Plano Nacional de

Turismo (PNT) o Plano Brasil Maior o Plano Brasil Sem Miseacuteria o Plano Nacional sobre

Mudanccedila do Clima (PNMC) o Programa Mais Cultura a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas as poliacuteticas de desenvolvimento industrial e de incentivo agraves exportaccedilotildees agrave pesca

e aquicultura (BRASIL 2013 p10)

Todos os programas reunidos compotildeem o Plano Nacional de Desenvolvimento da

Amazocircnia ndash PRDA aprovado em 2012 com prazo de vigecircncia ateacute 2015 que tem como

objetivo principal ldquo[] acelerar o crescimento econocircmico da Amazocircnia Legal com

distribuiccedilatildeo de renda e sustentabilidade socioambientalrdquo (BRASIL 2013 p11) atraveacutes de

financiamentos tendo como

[] prioridade os segmentos produtivos de menor porte (minimicro e pequenos empreendedores) com maior ecircnfase a agricultura de base familiar empreendimentos que utilizam mateacuterias primas e matildeo de obras locais e que produzam alimentos baacutesicos para o consumo da populaccedilatildeo e projetos com sustentabilidade socioambiental (BRASIL 2013 p17)

Os entrevistados tambeacutem foram indagados sobre o significado do Rio Solimotildees e a

Floresta Amazocircnica 87 dos moradores relataram que o rio eacute muito importante pois aleacutem

de fornecer o seu principal alimento o peixe o rio banha as terras baixas (as vaacuterzeas) e faz a

nutriccedilatildeo das mesmas para que eles possam plantar no periacuteodo de vazante O rio tambeacutem eacute o

147

principal meio de locomoccedilatildeo entre os ribeirinhos Os demais entrevistados classificaram o

rio Solimotildees como riqueza (5) e como fonte de vida (8)

Para Tuan (2012) as diferentes culturas e sociedades humanas tecircm diferentes

formas de se relacionar com a natureza O autor cita a influecircncia de determinadas paisagens

na maneira de perceber e se relacionar com as mesmas

Natildeo eacute difiacutecil entender a atraccedilatildeo que exercem as orlas marinhas sobre os seres humanos Para comeccedilar sua forma tem dupla atraccedilatildeo por um lado as reentracircncias das praias e dos vales sugerem seguranccedila por outro lado o horizonte aberto para o mar sugere aventura Aleacutem disso o corpo humano que normalmente desfruta apenas do ar e da terra entra em contato com a aacutegua e a areia A floresta envolve o homem em seu recesso fresco e sombrio o homem no deserto estaacute total exposto e sofre escoriaccedilotildees pelo sol brilhante e eacute repelido pela dureza da terra A praia tambeacutem eacute banhada pelo brilho direto e refletido da luz do sol poreacutem a areia sede pressatildeo penetrando entre os dedos dos peacutes e a aacutegua recebe e ampara o corpo (TUAN 2012 p163-164)

Sobre a Floresta Amazocircnica cerca de 90 dos entrevistados relataram que ela eacute

muito importante pois fornece o ar puro para ser respirado por todos e eacute fonte de

alimentos diversos (frutos ervas) e madeira para a construccedilatildeo de casas e canoas sendo

necessaacuterio e muito importante preservarem-na para que seus netos e bisnetos cheguem a

conhecer a magnitude dessa floresta Os 10 de entrevistados restantes descreveram a

floresta como fonte de vida que traz a aacutegua

Perguntados sobre a qualidade de vida dos moradores do Manaquiri os

entrevistados responderam conforme Graacutefico 11

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores do Manaquiri

148

O percentual de 52 dos entrevistados considera regular a qualidade de vida dos

moradores da sede do municiacutepio de Manaquiri uma vez que existem muitas pessoas que

trabalham para a Prefeitura ou na escola e no comercio e outros que vivem da agricultura

ou da pesca mas tambeacutem haacute pessoas que natildeo tecircm trabalho fixo e vivem das bolsas do

governo (Bolsa Escola Bolsa Famiacutelia Auxilio gaacutes entre outras ) essas pessoas passam

muitas necessidades

O percentual 29 dos entrevistados consideraram a qualidade de vida dos

moradores de Manaquiri boa pois tem emprego escola casa proacutepria entre outras

facilidades 19 dos entrevistados relatou a qualidade de vida como ruim pois faltam

meacutedicos e empregos para todos (significado do rio e da floresta)

Perguntados se jaacute ouviram falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o Rio

Solimotildees 92 dos entrevistados afirmaram jaacute ter ouvido algo no raacutedio e atraveacutes dos

deputados do municiacutepio aleacutem de comentaacuterios de outros moradores

Indagados sobre o posicionamento individual com a perspectiva de construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees os entrevistados responderam conforme ilustra o Graacutefico

12

A maioria dos entrevistados cerca de 60 mostrou-se favoraacutevel a construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees 27 dos entrevistados se mostrou receosa com o aumento

da violecircncia caso a ponte seja realmente implantada 5 cautelosos com o

empreendimento por acreditar que o mesmo traraacute coisas ruins para o municiacutepio 8 dos

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo de

ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

149

entrevistados se mostrou contraacuterio agrave construccedilatildeo da ponte pois natildeo acreditam que os

benefiacutecios com a ponte superem seus malefiacutecios principalmente no que se refere a Floresta

Amazocircnica

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas para a reabertura da BR-319 e

qual o posicionamento que adotariam os entrevistados responderam conforme Graacutefico 13

A maioria 75 dos entrevistados afirmaram ser a favor da reabertura da BR-319

14 disseram que somente participariam das audiecircncias puacuteblicas 8 que natildeo participariam

e 3 dos entrevistados optaram por natildeo opinar

O principal argumento utilizado para o posicionamento favoraacutevel agrave reabertura da

BR-319 foi de que seria possiacutevel conhecer outros municiacutepios do estado pela estrada e

chegar agrave outros estados de carro porque natildeo os agradava a possibilidade de viajar de aviatildeo

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo na Amazocircnia 40 dos entrevistados afirmaram preferir o rio (Graacutefico 14)

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319

150

Todavia as respostas dos entrevistados chamam agrave atenccedilatildeo pela seguinte situaccedilatildeo

13 dos entrevistados afirmaram achar o rio melhor como meio de locomoccedilatildeo no periacuteodo

da cheia pois o Paranaacute de Manaquiri como eacute conhecido o braccedilo de rio que passa em frente

agrave cidade do Manaquiri soacute eacute navegaacutevel durante esse periacuteodo cheio (Figura 43) pois no

periacuteodo de vazante o Paranaacute seca ficando em terra batida

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia

Figura 43 Paranaacute de Manaquri

Autora Louzada (2013)

151

O percentual de 30 dos entrevistados prefere a estrada para deslocamento por

consideraacute-la mais segura mesmo no periacuteodo de cheia do rio 13 preferem o rio quando

estaacute cheio 4 afirmaram natildeo gostar das estradas porque demoram e prolongam o tempo

de viagem e 40 preferem o rio

Poucas pessoas tecircm conhecimento de que o municiacutepio do Manaquiri tem uma

rodovia estadual que liga a sede do municiacutepio agrave BR-319 com 43 km aacute AM- 354 (Figura 44)

atualmente se encontra em oacutetimas condiccedilotildees de trafego

No periacuteodo da vazante dos rios e a impossibilidade de pegar barcos no porto da

cidade de Manaquiri para sair de sede os moradores pegam ocircnibus na cidade e seguem

viagem pelos 43 km da AM-354 e posteriormente entram na BR-319 por onde seguem por

mais 91 km ateacute a chegarem ao porto da Gutierrez onde pegam ajatos (embarcaccedilotildees de

alumiacutenio cobertas e com maacutequinas de centro) para seguirem viagem ateacute a capital Manaus

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio do Manaquiri-AM

Autora Louzada (2013)

152

(Figura 45) o percurso ateacute a capital demora em meacutedia trecircs horas e meia quando uma

viagem completa por via fluvial do municiacutepio ateacute a capital Manaus leva em meacutedia duas

horas (variam conforme a potecircncia das maacutequinas de centro)

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 77 os entrevistados

afirmaram nunca ter participado e 23 dos entrevistados afirmaram jaacute ter participado de

uma pelo menos os mesmos relataram que participariam de outras Audiecircncias Puacuteblicas se

fossem convidados

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas

Autora Louzada 2013

153

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR O FUTURO ALTERNATIVA

DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS

O conceito de desenvolvimento do seacuteculo XXI tem como marco principal o papel da

sociedade civil como agente ativo na construccedilatildeo do desenvolvimento e natildeo mais como

meros beneficiaacuterios do desenvolvimento

Diante disso eacute importante compreender o conceito de desenvolvimento do seacuteculo

XX para se conhecer seus reflexos no presente se pensando no futuro

Segundo Martins (2002)

O termo desenvolvimento tem sido associado agrave noccedilatildeo de progresso material e de modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Sua promoccedilatildeo mediante o desrespeito e a desconsideraccedilatildeo das diferentes culturais da existecircncia de outros valores e concepccedilotildees jaacute teria funcionado como ldquoCavalo de Troacuteiardquo que vestido da seduccedilatildeo do progresso teria carregado em seu interior o domiacutenio e a imposiccedilatildeo de culturas que desequilibram e abalam as sociedades (MARTINS 2002 p52)

No Brasil a partir de 1930 apoacutes a grave crise do cafeacute a regiatildeo de Satildeo Paulo

considerada o berccedilo da produccedilatildeo do cafeacute no paiacutes passou pelo primeiro surto de

industrializaccedilatildeo o que veria a ser o ponto de partida para a industrializaccedilatildeo brasileira ldquoque

natildeo se deu pela via evolutiva com base na iniciativa privada como nas naccedilotildees pioneiras

Aqui ela foi induzida e em grande parte realizada pelo Estado rdquo(ESTADO apud Rodrigues

2013 p32)

Sobre isso Brum apud Rodrigues (2013 p32) afirmam que ldquoo modelo de

desenvolvimento adotado no Brasil a partir de 1930 se baseava num Estado Forte poliacutetica

de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees e no nacionalismo poliacuteticordquo

O Estado a partir de 1946 passa a contar com ldquoum imposto sobre combustiacuteveis

liacutequidos visando por via disso o financiamento da construccedilatildeo de estradas este fundo pode

ser visto como o marco institucional da valorizaccedilatildeo da rodovia como modal de transporterdquo

(RODRIGUES 2013 p33)

Para Galvatildeo apud Rodrigues (2013)

154

O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prioritaacuteria de transporte no Brasil teve de esperar ainda ateacute o inicio dos anos de 50 quando da aprovaccedilatildeo de um novo plano nacional de viaccedilatildeo em 1951 Entre as camadas teacutecnicas poreacutem a definitiva opccedilatildeo por esta modalidade de transporte jaacute havia sido feita logo apoacutes o teacutermino da Segunda Guerra Mundial durante os trabalhos de uma comissatildeo do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rondagem) encarregada pelo governo da elaboraccedilatildeo do plano de 1951 (GALVAtildeO apud RODRIGUES 2013 p33)

Rodrigues (2013) vai aleacutem

Somando-se a isto a fundaccedilatildeo da empresa estatal Petrobras em 1954 contribuiu para impulsionar a construccedilatildeo de rodovias no paiacutes jaacute que a produccedilatildeo de petroacuteleo em grande quantidade permitiu um incremento na produccedilatildeo d asfalto visto que o petroacuteleo eacute um componente fundamental para a fabricaccedilatildeo deste (RODRIGUES 2013 p33)

Ainda segundo Rodrigues (2013)

A opccedilatildeo econocircmica feita pelo desenvolvimentismo foi crucial para a questatildeo econocircmica propriamente dita quanto para o desenvolvimento espacial e demograacutefico brasileiro assim os grandes incrementos populacionais sentidos nas regiotildees Norte e Centro Oeste se deram principalmente devido ao iniacutecio da era rodoviaacuteria no paiacutes pois as estradas abarcavam diversos pontos das poliacuteticas governamentais Nesse sentido a intervenccedilatildeo na estrutura de transporte no paiacutes foi crucial assim como a busca de novas fronteiras agriacutecolas na temaacutetica da alimentaccedilatildeo Apesar da enorme concentraccedilatildeo econocircmico-industrial no centro sul paiacutes (BRUM 2009) os uacuteltimos anos da deacutecada de 1950 foram revolucionaacuterios na abertura dessas novas fronteiras internas do paiacutes (RODRIGUES 2013 p38)

Neste periacuteodo as rodovias ultrapassaram o seu objetivo inicial de interligar vias e

cidades para a partir do governo de Juscelino Kubichek (1956 - 1961) a loacutegica se tornar

outra a de penetraccedilatildeo

[] aquelas que visavam adentrar o territoacuterio nacional [] Para o governo a vantagem dessa nova proposta era de que aleacutem de levar ldquocivilizaccedilatildeordquo aos rincotildees do paiacutes as estradas de penetraccedilatildeo ampliavam as fronteiras agriacutecolas (COSTA et al 2001) sendo assim uma poliacutetica de abrangecircncia a no miacutenimo dois setores crucias [] transporte e alimentaccedilatildeo (RODRIGUES 2013 p39)

Novas aacutereas foram alcanccediladas com a construccedilatildeo de rodovias no Centro Oeste e

Norte brasileiro o que se mostraria o marco inicial para consolidaccedilatildeo do modelo

rodoviarista brasileiro

155

Para financiar e executar a construccedilatildeo de estradas no paiacutes foi instituiacutedo o Plano de

Integraccedilatildeo Nacional atraveacutes do decreto-lei n˚1106 de Junho de 1970 que tinha como meta

primeiramente investimentos

I - Na aacuterea do Ministeacuterio dos Transportes a imediata construccedilatildeo das rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem bem com de portos e embarcadouros fluviais com seus respectivos equipamentos

II - Na aacuterea do Ministeacuterio da Agricultura a colonizaccedilatildeo e a reforma agraacuteria mediante a elaboraccedilatildeo a execuccedilatildeo de estudos e a implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e agroindustriais com as competentes desapropriaccedilotildees a seleccedilatildeo o treinamento o transporte e o assentamento de colonos a organizaccedilatildeo de comunidades urbanas e rurais e respectivos serviccedilos

III - Na aacuterea do Ministeacuterio do Interior o aceleramento dos estudos e a implantaccedilatildeo de projetos constantes da primeira fase do Plano de Irrigaccedilatildeo do Nordeste abrangendo obras de retenccedilatildeo desvio canalizaccedilatildeo conduccedilatildeo aspersatildeo e drenagem hidraacuteulica com propriedade para os que ofereccedilam desde jaacute maior beneficio social

IV - Na aacuterea do Ministeacuterio das Minas e Energia o levantamento da topografia da cobertura florestal da geomorfologia para pesquisas minerais e energeacuteticas da natureza do solo da respectiva drenagem e unidade (BRASIL 1970 p31)

Os trecircs primeiros Ministeacuterios (Transporte Agricultura e do Interior) se tornaram

prioridades do I Plano de Integraccedilatildeo Nacional sendo o carro chefe o Ministeacuterio dos

Transportes atraveacutes da construccedilatildeo de rodovias responsaacuteveis por integrar a regiatildeo

Amazocircnica ou restante do paiacutes propiciando a expansatildeo da fronteira econocircmica e

principalmente agriacutecola para a regiatildeo

Sobre isso Reis (1972) apresenta as rodovias construiacutedas em construccedilatildeo e projetas

para a Amazocircnia (Figura 46)

156

Segundo Reis (1972) a inauguraccedilatildeo da rodovia BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) possibilitou

acesso aos espaccedilos ainda pouco ou natildeo cultivados nas planiacutecies uacutemidas amazocircnidas e a

alternativa ideal de utilizar as terras para o cultivo agriacutecola desta forma o projeto de

construccedilatildeo de rodovias foi expandido para toda a regiatildeo Norte do pais

Como aconteceu no restante da Amazocircnia o estado do Amazonas tambeacutem foi

ldquobeneficiadordquo com a construccedilatildeo de estradas em seu territoacuterio a partir de 1950 todavia o

presente este se limitaraacute a expor somente as rodovias federais que chegaram a ser abertas

(Figura 47)

Fonte 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia Fonte Reis (1972)

157

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41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO

Localizado no sul do estado do Amazonas a BR-317 teve suas obras iniciadas em

1956 segundo o DNIT (2008) ligando o municiacutepio de Laacutebrea no sudoeste do Amazonas

localizado a 610 km em linha reta da capital Manaus ateacute o municiacutepio de Assis Brasil no Acre

na fronteira com o Peru e a Boliacutevia (Figura 48)

Foi construiacuteda com o intuito de escoar a produccedilatildeo madeireira do municiacutepio de

Laacutebrea - AM para os estados do Acre e Rondocircnia

Mantendo-se sem pavimentaccedilatildeo alguma ateacute 2004 quando foi iniciado e executado

o Eixo Rodoviaacuterio de Integraccedilatildeo Peru-Boliacutevia-Brasil como parte do projeto IIRSA (Integraccedilatildeo

da Infraestrutura Regional Sul-Americana) A BR-317 passa a ser chamada de estrada do

Paciacutefico apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Binacional (Figura 49) em agosto de 2006 que teve

Fonte 48 BR-317 ou Carretera Del Paciacutefico Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

159

investimento de R$ 25 milhotildees (parte financiada pelo governo federal e estadual) ligando a

cidade de Assis Brasil no Acre agrave cidade peruana de Inatildepari A ponte tem 240m de extensatildeo

quatro pistas e um vatildeo de 110m livres (BRASIL 2006)

No trecho peruano a Estrada do Paciacutefico recebe o nome de Carretera Del Paciacutefico ou

Iterocecircanica pois liga a fronteira com Brasil ateacute o Oceano Paciacutefico (Figura 50)

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-

pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

160

Atualmente a Estrada do Paciacutefico ou Carretera Del Paciacutefico encontra-se em oacutetimas

condiccedilotildees de traacutefego no trecho peruano o que facilita o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola

tanto do Brasil quanto do Peru em direccedilatildeo ao mercado brasileiro

Segundo Bryan (2013) com a construccedilatildeo da ponte ligando definitivamente o Brasil

e o Peru inicia-se um forte comeacutercio de produtos na fronteira com destaque para a compra

de cebola peruana a ser comercializada em Rio Branco no Acre que chega agrave 100 toneladas

ao mecircs em uma rede de supermercados local

Quase toda a cebola consumida na capital acreana passou a ser peruana E 70 toneladas ficaram em estoque devido agrave entressafra peruana Segundo Adem a cebola peruana eacute melhor que a brasileira e tem custo entre 5 a 10 menor percorre menos espaccedilo e tem menos desperdiacutecio Se comprada no Brasil o desperdiacutecio chega a 20 afirma No comeccedilo soacute tivemos problemas Natildeo foi tatildeo faacutecil por questatildeo de ser uma novidade ter que contratar os agentes aduaneiros que natildeo existiam por aqui ter que lidar com a burocracia e fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal e o Ministeacuterio da Agricultura O que nos fez continuar foi a persistecircncia Foi acreditar que daria certo ( BRYAN 2013 p4)

Outro comerciante destaca a importaccedilatildeo de macarratildeo de oacutetima qualidade do paiacutes

vizinhos Em contrapartida os comerciantes peruanos compram milho castanha da

Amazocircnia e Accedilaiacute do Brasil (BRYAN 2013)

Apesar disso no trecho brasileiro a BR-317 ou a estrada do Paciacutefico encontra-se

pavimentada em toda sua extensatildeo somente no territoacuterio acreano todavia no trecho

compreendido entre a cidade de Boca do Acre-AM e a fronteira com o estado do Acre um

trecho de 11070km natildeo encontrasse pavimentado Poreacutem a falta de pavimentaccedilatildeo nesse

trecho da estrada natildeo impede a accedilatildeo antroacutepica sobre o ecossistema principalmente para a

exploraccedilatildeo madeireira e a criaccedilatildeo de gado nessa regiatildeo

Segundo o IBGE (2010) os rebanhos do municiacutepio de Laacutebrea - AM satildeo estimados em

287591 mil cabeccedilas (Figura 51)

161

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas de gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea - AM Fonte Censo Agriacutecola do municiacutepio de Laacutebrea - AM (IBGE 2010)

Um aumento de 98 se comparado ao Censo Agropecuaacuterio realizado em 2004

quando os rebanhos foram estimados em 6593 mil cabeccedilas de gado segundo o IBGE (2004)

Embora poucos pesquisadores associem o aumento no nuacutemero de cabeccedilas de gado agrave

reduccedilatildeo da cobertura vegetal (Tabela 9) foi exatamente isso que aconteceu segundo

(PRODES 2012)

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea - AM

Ano Quantidade estimada de cabeccedilas de gado (SEPLAN)

Desflorestamento (PRODES)

2004 6593 356 2005 6790 386 2007 7027 436 2008 283620 446 2009 287591 452 2010 287591 458

Fonte SEPLAN 20092012 e PRODES 2012 Organizadora Louzada (2013)

Eacute importante salientar tambeacutem a existecircncia de populaccedilotildees indiacutegenas ao longo

dessa rodovia que seratildeo afetadas com a pavimentaccedilatildeo da mesma pois segundo o DNIT

(2008) a estrada possui 225km de sua extensatildeo inseridos em terras indiacutegenas diacutevidas assim

162

5 km dentro das terras TI Boca do Acre e 175km TI nas terras Apurinatilde Todavia a tribo

Camicuatilde tambeacutem seraacute afetada pois estaacute localizada agrave menos de 2km de distacircncia da estrada

(DNIT 2008)

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute

Apesar da construccedilatildeo da BR-317 na deacutecada de 50 outras estradas somente

voltaram a ser construiacutedas no estado do Amazonas a partir do periacuteodo militar entre elas a

BR-307 que teve suas obras iniciadas somente apoacutes a mudanccedila do 1ordm Batalhatildeo de

Engenharia de Construccedilatildeo - BEC que foi deslocado de Caicoacute no estado do Rio Grande do

Norte para o extremo norte do Amazonas no municiacutepio de Satildeo Gabriel da Cachoeira (1ordm

BEC 2012) onde um ano mais tarde em 11 de Marccedilo de 1974 deu inicio a construccedilatildeo da

BR-307 em direccedilatildeo a localidade de Cucuiacute - AM na triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a

Venezuela (Figura 52) Em janeiro de 1982 o 1ordm BEC retornou a Caicoacute ficando em Satildeo

Gabriel da Cachoeira a 21ordm Companhia de Engenharia de Construccedilatildeo de Satildeo Gabriel da

Cachoeira popularmente conhecido como ldquoBatalhatildeo Seridoacuterdquo onde permanece ateacute os dias

atuais

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

163

Com 204 km entre cidade de Satildeo Gabriel da Cachoeira e a localidade de CucuIacute na

triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a Venezuela a BR-307 tinha como principal funccedilatildeo

proteger a fronteira de possiacuteveis ameaccedilas de invasores Entretanto apesar dos esforccedilos do

1ordm BEC para a abertura da rodovia que por sinal demorou quase dez anos (19741982) a

estrada nunca chegou a ser pavimentada ficando somente em solo batido em toda sua

extensatildeo sendo posteriormente coberta com piccedilarra outro problema jaacute que a regiatildeo onde

estaacute localizada a rodovia deteacutem os mais elevados iacutendices pluviomeacutetricos do estado ficando

praticamente intransitaacutevel durante o periacuteodo chuvoso

Mas os problemas da estrada natildeo se limitam somente agrave ausecircncia de asfalto ou ao

alto iacutendice pluviomeacutetrico da regiatildeo mais ao acuacutemulo de muitos outros como as travessias

em trecircs trechos da estrada que eacute cortada por cursos drsquoaacutegua e a retirada da cobertura

vegetal nas margens entre outros problemas como a grilagem de terras e a retirada ilegal

de madeira

A rodovia BR-307 foi traccedilada teoricamente no sentido nortesul de Cucuiacute na

triacuteplice fronteira em direccedilatildeo ao Estado do Acre natildeo se sabe ao certo sua extensatildeo todavia

segundo o IBGE a mesma se encontra traccedilada (o que natildeo quer dizer trafegaacutevel)

Jaacute entre os municiacutepios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte em um trecho de

27km a BR-307 tambeacutem chegou a ser aberta entre as cidades de Benjamin Constant e

Atalaia do Norte (Figura 53 54)

164

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant e Atalaia do Norte Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Figura 54 BR-307- Asfalto cedendo no 22 km Fonte SECON (2012)

165

Segundo o Plano de Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 1970) a cidade de Benjamin

Constant seria o ponto final da BR-230 (Transamazocircnica) todavia no trecho Laacutebrea ndash

Benjamin Constant a mesma nem sequer chegou a ser desmatada se concluiacuteda atravessaria

dois grandiosos rios Purus e o Juruaacute e outros importantes afluentes do rio Solimotildees Talvez

por essa razatildeo ou pela existecircncia de terras indiacutegenas neste trecho a rodovia nunca a chegou

efetivamente implantada ficando somente no papel

43 BR-230 - TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Agrave FAZENDAS DE GADO

Embora jaacute tenha sido descrita a reconfiguraccedilatildeo espacial no estado do Paraacute com a

construccedilatildeo da BR-230 a Transamazocircnica cabe aqui descrever a sua influecircncia no estado do

Amazonas

A rodovia Transamazocircnica corta o sul do estado do Amazonas nos municiacutepios de

Maueacutes Apuiacute Novo Aripuanatilde Manicoreacute Humaitaacute Canutama Laacutebrea (Figura 55)

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Da divisa do estado do Amazonas com o estado do Paraacute a rodovia chegou aacute ser

implantada (entende-se aqui retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem) ateacute a cidade

de Laacutebrea

Assim como ocorreu no Paraacute a rodovia Transamazocircnica tambeacutem permitiu acesso a

lugares pouco ocupados no estado do Amazonas com destaque para os municiacutepios de Apuiacute

a Laacutebrea

O atual municiacutepio de Apuiacute foi um dos primeiros municiacutepios amazonenses a partir da

segunda metade do seacuteculo XX a sofrer pressatildeo ambiental atraveacutes do desmatamento e da

grilagem de terras para a fixaccedilatildeo de novos moradores na regiatildeo oriundos de outros estados

brasileiros

Outro municiacutepio a sentir os primeiros impactos do desmatamento na regiatildeo foi o

municiacutepio de Humaitaacute no sul do Estado do Amazonas pois para efetivar o

ldquodesenvolvimentordquo da regiatildeo sudoeste do Amazonas o Governo Federal fundou o Projeto

de Assentamento Rio Juma atraveacutes do decreto lei nordm 238 de agosto de 1982 tendo como

objetivo principal assentar 7500 famiacutelias recrutadas principalmente da Regiatildeo Sul do Brasil

(LEAL 2010)

Sobre isso Soares apud Leal (2010) afirma que

[] o objetivo definido no projeto de implantaccedilatildeo [do Projeto de Assentamento Rio Juma] era constituir-se e alternativa para absorver o fluxo migratoacuterio proveniente de Rondocircnia e do Acre atraveacutes da BR-319 [] onde se liga agrave rodovia Transamazocircnica Esse Projeto serviria como lsquoinstrumento de ordenaccedilatildeo de ocupaccedilatildeo de terras do Amazonas evitando instruccedilotildees e posses desordenadasrsquo E pressupunha lsquoa expansatildeo da fronteira agriacutecola a criaccedilatildeo de novos empregos aleacutem e contribuir para auto suficiecircncia regional de gecircneros alimentiacutecios de primeira necessidadersquo (SOARES apud LEAL 2010 p10)

Ainda segundo Leal (2010)

Estima-se que logo nos primeiros anos do Projeto cerca de 2600 famiacutelias tenham sido assentadas das quais apenas 40 permaneceram no assentamento Da criaccedilatildeo do projeto em 1982 ateacute o ano de 2005 estima-se que foram assentados 61334 famiacutelias no total mas destas apenas 503 receberam o tiacutetulo definitivo da terra (MDAINCRA apud LEAL 2010 p11)

Durante os anos que se seguiram novos migraccedilotildees chegaram anualmente agrave regiatildeo se

fixando no entorno do Projeto de Assentamento Rio Juma com os anos que se seguiram e o

crescimento da populaccedilatildeo os problemas foram sendo agravados diante disso surgiram

movimentos espontacircneos de agricultores reivindicando junto ao Governo do Estado do

168

Amazonas a fundaccedilatildeo de um municiacutepio na regiatildeo E atraveacutes da lei nordm 1826 de 30 de

Dezembro de 1987 eacute criado o municiacutepio de Apuiacute com aacuterea de 54240 kmsup2 (LEAL 2010)

Aacute medida que os ldquoparceleirosrdquo iam transformando a natureza adequando-a aos seus propoacutesitos esta ia lhes impondo adequaccedilotildees Este era um processo e produccedilatildeo de conhecimento a partir da vivecircncia praacutetica cotidiana que ia moldando o comportamento dos agricultores aos limites impostos pelo meio Uma das primeiras descobertas que vinha acompanhada de certa decepccedilatildeo era o fato de que em um lote de 100 hectares no [Projeto de Assentamento Rio Juma] natildeo garantia da forma desejada pelos ldquoparceleirosrdquo a reproduccedilatildeo social e econocircmica da famiacutelia (LEAL 2010 p 13)

Desta forma os parceleiros ou posseiros como ficaram conhecidos este

agricultores na regiatildeo Amazocircnica se viram obrigados a buscar nova fonte de renda optando

em grande maioria pela pecuaacuteria desde entatildeo

Outro municiacutepio foi Laacutebrea que segundo Heck et al (2013 p10) eacute resultado do

ldquoprocesso de expansatildeo da economia da borracha no rio Purusrdquo Embora isso tenha levado

um raacutepido crescimento populacional agrave regiatildeo fruto das incontaacuteveis migraccedilotildees que a regiatildeo

recebeu com a queda da borracha e os seringueiros restantes migrando para as cidades o

municiacutepio passa a enfrentar graves problemas econocircmicos e sociais e para piorar na

segunda metade do seacuteculo XX passa a sofrer com epidemias o que veio a intensificar os

processos de migraccedilatildeo em direccedilatildeo agraves cidades ldquoPor conta disso enquanto o censo de 1950

apontava [] uma populaccedilatildeo era de 23353 habitantes e no censo de 1970 a populaccedilatildeo

despencou para 16798 habitantesrdquo (HECK et al 2013 p10)

Com o inicio das obras de construccedilatildeo da rodovia Transamazocircnica (1972) e a

veiculaccedilatildeo no raacutedio de terras disponiacuteveis na Amazocircnia para homens sem terras surgem

novamente intensas migraccedilotildees para a regiatildeo oriundas de todas as partes do Brasil por esta

razatildeo o censo demograacutefico do municiacutepio de Laacutebrea de 1980 contabilizou a populaccedilatildeo em

22026 habitantes (IBGE 1980) um aumento de 12 da populaccedilatildeo que continuou a crescer

nas deacutecadas seguintes como mostra a (Tabela 10)

169

Tabela 10 Crescimento Populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas

Ano Populaccedilatildeo de aumento da Populaccedilatildeo

1970 16798 -

1980 22026 12

1990 33050 17

2000 28956 6

2010 37701 11

Fonte IBGE - Censo Demograacutefico (1970 1980 1990 2000 2010)

Tamanho contingente populacional migrou para a regiatildeo desta vez natildeo para

trabalhar na retirada do laacutetex mas para cultivar as terras com destaque para a produccedilatildeo de

alimentos divididos em dois grupos segundo a SEPLAN (20092012 p5) ldquo[] as culturas

temporaacuterias destacam-se mandioca abacaxi arroz batata doce cana de accediluacutecar feijatildeo

fumo e milho Entre as culturas permanentes ressaltam-se banana laranja e limatildeordquo

Todavia o municiacutepio tambeacutem se destaca na pecuaacuteria com a criaccedilatildeo bovina

bubalina ovino suiacuteno estimada em 288793 mil cabeccedilas (SEPLAM 20092013)

Apesar disso os 212 km que separam Laacutebrea de Humaitaacute ainda se encontram

somente em terra ldquobatidardquo (Figura 56) assim como todo o seu percurso no estado do

Amazonas Torna-se praticamente impossiacutevel trafegar pela Transamazocircnica no inverno e

escoar a produccedilatildeo agriacutecola dos municiacutepios entre se ou para a capital mais proacutexima que no

caso de Humaitaacute eacute Porto Velho-RO (pela BR-319) ou no caso de Laacutebrea para Rio Branco-AC

(pela BR-317)

170

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica Fonte Rey (1 de Marccedilo 2012)

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute- RR) DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI

A BR-174 foi construiacuteda com o objetivo de ligar a capital do Estado do Amazonas

Manaus a cidade de Cacaraiacute em Roraima e posteriormente a Venezuela (Figura 57)

171

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174 Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Entre as estradas jaacute construiacutedas no Estado do Amazonas a BR-174 merece

destaque pois ao contraacuterio das demais a sua construccedilatildeo resultou em milhares de mortes

chegando ateacute mesmo a ser considerada um genociacutedio praticado por militares contra a

populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari que antes da construccedilatildeo da rodovia ocupavam o norte

da cidade de Manaus - AM e se entendiam ateacute a cidade de Caracaraiacute em Roraima

Segundo Amazonas (2012) a primeira contagem da populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri

Atroari feita em 1905 pelos pesquisadores alematildees Georg Hunbner e Theodor Koch-

Grunberg contabilizaram 6000 mil indiviacuteduos Outra contagem dessa populaccedilatildeo somente

voltou a ser feita 63 anos depois da primeira em 1968 pelo padre Joatildeo Calleri a serviccedilo da

FUNAI que os contabilizou em 3000 mil indiviacuteduos

Nuacutemero que se repetiu em pesquisa mais minuciosa de funcionaacuterios do mesmo

oacutergatildeo em 1972 Menos de dois anos apoacutes sem notiacutecias sobre alguma grave

epidemia a FUNAI jaacute os estimava em menos de 1000 Em 1983 o pesquisador da

UNB Stephen Grant Baines percorrendo todas as aldeias contabilizou apenas 332

pessoas sobreviventes dos quais 216 eram crianccedilas ou jovens com menos de 20

anos Foi o primeiro censo dos Waimiri-Atroari (AMAZONAS 2012)

172

Sem informaccedilotildees ou notiacutecias de epidemias ou graves doenccedilas entre a populaccedilatildeo

indiacutegena Waimiri-Atroari como explicar o decreacutescimo da populaccedilatildeo ao longo de sessenta e

trecircs anos entre a primeira contagem e a segunda da populaccedilatildeo indiacutegena demonstrada na

Tabela 11

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari de 1905 a 2011

Ano Populaccedilatildeo Fonte 1905 6000 HUumlBNER Georg e KOCH-GRUNBERG Theodor 1968 3000 CALLERI Joatildeo Giovanni (Pe) ndash FUNAI 1972 3000 FUNAI 1974 6001000 COSTA Gilberto Pinto Figueiredo ndash FUNAI 1982 571 CRAVEIRO Giusepe ndash FUNAI 1983 350 FUNAI 1983 332 BAINES Stephen Grant ndash Museu Emilio Goeldi 1987 420 SILVA Marcio ndash UNICAMP 1991 505 Programa Waimiri-Atroari - ELETRONORTE 2011 1515 Programa Waimiri-Atroari ndash ELETROBRAS

Sobre isso Carvalho (1982) destaca atraveacutes de uma retrospectiva histoacuterica o

contato dos brancos com os iacutendios Wamiri Atroari a partir do seacuteculo XVII sempre baseado

em trocas e ldquoconflitosrdquo quando homens brancos invadiam suas terras e incendiavam aldeias

inteiras matando todos os iacutendios sem distinccedilatildeo e atirando nos que tentavam escapar

Carvalho (1982) relata ainda que na primeira deacutecada do seacuteculo XX incontaacuteveis

expediccedilotildees penetraram as terras indiacutegenas Waimiri Atroari em busca das castanheiras pois

naquele periacuteodo seu fruto a castanha da Amazocircnia alcanccedilou preccedilos inimaginaacuteveis

motivando um grande segmento da sociedade civil agrave invadir as terras indiacutegenas em busca do

fruto

Os governos do Estado do Amazonas sempre visando a economia do estado e de

grupos poliacuteticos dominantes permitiam e ate mesmo determinavam a invasatildeo das

terras dos iacutendios Waimiri Atroari provocando assim seacuterios atritos entre os

coletores de castanha e iacutendios

O primeiro encarregado do Posto lndiacutegena de Atraccedilatildeo do Serviccedilo de Proteccedilatildeo aos

Iacutendios mdash SPI foi o Sr Gregoacuterio Horta cuja unidade administrativa foi instalada no

rio Jauaperi no lugar denominado Mahaua Sr Gregoacuterio tatildeo logo assumiu suas

funccedilotildees procurou impedir por todos os meios possiacuteveis a invasatildeo do territoacuterio

indiacutegena Waimiri Atroari Entretanto pouco pode fazer pois os comerciantes

apoiados pelos poliacuteticos de Manaus burlavam as ordens de natildeo o invadirem a terra

dos iacutendios (CARVALHO 1982 p17)

Fonte 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio do Povo Waimiri-Atroari

173

Mesmo com a tentativa de proibir as invasotildees das terras indiacutegenas de todas as

maneiras possiacuteveis a Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio- SPI pouco se conseguiu para minimizar

os conflitos que por sua vez tornaram-se frequentes com grande nuacutemero de mortes o que

levou o governo do estado do Amazonas a aprovar o Decreto Lei nordm 9941 de 16 de Outubro

de 1917 que concedia aos iacutendios Waimiri Atroari as terras situadas a 50km ajusante dos rios

Jauapari e Camanau (CARVALHO 1982) Expulsando os iacutendios para o norte e os tirando de

suas proacuteprias terras para destinaacute-las agrave exploraccedilatildeo de castanha O que a princiacutepio seriam

ldquobomrdquo para os dois lados pois minimizaria os confrontos tornou-se insuficiente pois as

invasotildees continuaram adentrando as terras indiacutegenas gerando novos confrontos cada vez

mais violentos e com mais mortes Apesar disso a coleta da castanha da Amazocircnia somente

aumentava a produccedilatildeo a cada ano levando os coletores a iniciarem verdadeiras caccediladas

aos iacutendios que consistia em atirar para matar todos os iacutendios que fossem vistos na floresta

de formar a manter seguro os coletores (CARVALHO 1982)

Com os conflitos fora de qualquer forma de controle e o assassinato do diretor do

Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio sr Luiacutes Joseacute pelos invasores das terras indiacutegenas o SPI foi

obrigado a se retirar das terras indiacutegenas deixando os iacutendios a mercecirc da proacutepria sorte para

onde soacute retornariam na deacutecada de 1940 (CARVALHO 1982)

Amedrontados com os massacres infringidos por homens brancos dentro de suas

proacuteprias terras durante quase cinquentas anos os iacutendios mataram o tenente americano

Walter Willianson e sargento Baitz do ldquo4th Photo Charting Squadronrdquo em 1944

[]que pretendiam realizar uma expediccedilatildeo pelos rios Jauaperi e Alalau ateacute as

proximidades da cachoeira conhecida como a cachoeira criminosa (Rio Alalau) com a finalidade de realizar naquela regiatildeo observaccedilotildees astronocircmicas atendendo acordos celebrados entre o governo brasileiro e governo dos Estados Unidos da America (CARVALHO 1982 p 21)

Apoacutes este confronto com mortes muitos outros se seguiram contudo natildeo tatildeo

divulgados como esse Embora agrave primeira vista nada tenha a ver com o ocorrido a Empresa

de Mineraccedilatildeo Taboca iniciou suas pesquisas mineraloacutegicas na mina de Pitinga (no centro

das terras indiacutegenas) no inicio de 1960 onde mais tarde comeccedilou a retirada de estanho

(SILVA 2011) posteriormente de cassiterita entre outros produtos minerais

No mesmo periacuteodo iniciou-se a preocupaccedilatildeo de ligar definitivamente a capital

Manaus-AM agrave cidade de Boa Vista-RR ateacute entatildeo isolada embora outras tentativas de ligar

174

as duas cidades por via terrestre jaacute tenham sido realizadas sem muito ecircxito como descreve

Carvalho (1982)

Os trabalhos de construccedilatildeo da estrada (ligando Manaus a Boa Vista) foram iniciados em 31 de novembro de 1893 e concluiacutedos em 13 de janeiro de 1895 A construccedilatildeo da estrada foi feita em 14 meses medindo 815 km e 419 metros Foram cravados em toda sua extensatildeo 816 marcos de um metro de altura A estrada tinha uma largura que variava de 05 a 08 metros Atravessava 9 rios e 734 igarapeacutes Natildeo se tem nenhum registro de incidentes graves envolvendo trabalhadores da estrada e os iacutendios habitantes na regiatildeo onde a estrada passou Entretanto em pouco tempo a vegetaccedilatildeo cresceu e a estrada ficou novamente intransitaacutevel (CARVALHO 1982 p 61)

Ainda segundo Carvalho (1982)

O ministeacuterio do transporte atraveacutes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens- DNER antes do iniacutecio da construccedilatildeo da estrada propriamente dita preocupado apenas em evitar que os trabalhos da estrada viessem a ser interrompidos pelos iacutendios Waimiri Atroari procurou a Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio- FUNAI e praticamente exigiu que aquele oacutergatildeo fizesse o mais raacutepido possiacutevel a ldquopacificaccedilatildeordquo daqueles iacutendios no menor espaccedilo de tempo para quando os trabalhadores da construccedilatildeo da rodovia atingissem a regiatildeo ocupada pelos iacutendios esses jaacute estivessem ldquomansosrdquo e ateacute viessem a colaborar como matildeo de obra da construccedilatildeo da estrada (CARVALHO 1982 p 62)

O que claramente seria impossiacutevel conseguir em tatildeo curto espaccedilo de tempo apagar

as longas deacutecadas de perseguiccedilatildeo infringidas pelos brancos

Segundo Amazonas (2012 p23)

O Coronel Mauro Carijoacute Diretor do DERAM (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Amazonas) em carta agrave PETROBRASEscritoacuterio de Beleacutem de 30 de julho de 1967 solicitou ldquoinformaccedilatildeo sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboraccedilatildeo de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonasrdquo(AMAZONAS 2012 p23)

Naquele mesmo ano iniciam-se as obras de construccedilatildeo da BR-174 sob

responsabilidade do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado do Amazonas-DER-

AM permanecendo sob supervisatildeo do Departamento Nacional de Estrada de Rodagens ndash

DNER (CARVALHO 1982)

Por falta de recursos financeiros a construccedilatildeo da rodovia foi suspensa

temporariamente sendo retomada no final de 1969 e inicio de 1970 jaacute sobe

responsabilidade do 29ordm Grupamento de Engenharia e Construccedilatildeo e o 69ordm Batalhatildeo de

Construccedilatildeo do Exeacutercito Brasileiro o que veio a intensificar ainda mais os ldquoconflitosrdquo entre

brancos e iacutendios

175

Amazonas (2012) relata a entrevista do general Arruda comandante do 6ordm Batalhatildeo

de Engenharia e Construccedilatildeo- BEC ao Jornal Estado de Satildeo Paulo em 21 de Janeiro de 1975

O general declarou

[] a estrada eacute irreversiacutevel como eacute a integraccedilatildeo da Amazocircnia ao paiacutes A estrada eacute importante e teraacute que ser construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos mudar o seu traccedilado que seria oneroso para o Batalhatildeo apenas para pacificarmos primeiro os iacutendios A transferecircncia eacute viaacutevel e coerente nas condiccedilotildees em que os fatos se apresentam Os iacutendios continuaratildeo matando sejam trabalhadores do BEC sejam da Funai Por que natildeo levaacute-los ao Parque Nacional do Xingu Laacute natildeo existem cerca de 14 tribos vivendo pacificamente Manaus-Caracaraiacute seraacute construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos parar os trabalhos apenas para que a Funai complete a atraccedilatildeo dos iacutendiosrdquo (AMAZONAS 2012 p42)

Um ano antes em 1974 os iacutendios jaacute foram contabilizados entre 600 e 1000

indiviacuteduos segundo a contagem de Gilberto Costa funcionaacuterio da FUNAI (AMAZONAS 2012)

O principal impacto natildeo soacute aos iacutendios mas agrave biodiversidade da Amazocircnia ainda

estava por vir Expulsos de suas terras ajusante do Rio Alalauacute e Uatumatilde os iacutendios Waimiri

Atroari se viram obrigados a recuar abandonando o seu territoacuterio original Com o recuo dos

iacutendios remanescentes em sua maioria mulheres idosas e crianccedilas de colo seu antigo

territoacuterio passa a ser ocupado por grileiros e empresas madeireiras que viriam a ser um dos

responsaacuteveis pelas grandes mudanccedilas empreendidas na paisagem amazocircnica

Com a decisatildeo do Governo Federal de instalar usinas hidreleacutetricas na Amazocircnia a

partir da deacutecada de 1970 cogitou-se a possibilidade de o rio Uatumatilde ser ldquobeneficiadordquo

embora natildeo detenha as caracteriacutesticas miacutenimas necessaacuterias para a construccedilatildeo de uma

hidreleacutetrica em seu percurso Natildeo se sabe ao certo os motivos que levaram agrave construccedilatildeo da

hidreleacutetrica embora infinitas possibilidades tenham sido levantadas no periacuteodo Entre elas

ldquo[] a necessidade de prover energia para os entatildeo Polos de Desenvolvimento que

priorizava 15 aacutereas na Amazocircnia sendo uma delas a regiatildeo de Manausrdquo (PAZ 2006 p172)

Sobre isto Fearnside (1990c) destaca

A decisatildeo foi tomada no momento em que o preccedilo do petroacuteleo estava no seu pico mais alto e quando a tecnologia de transmissatildeo de energia a longa distacircncia natildeo era tatildeo bem desenvolvida quanto agora Estes fatos acrescidos das subestimativas grosseiras do crescimento da populaccedilatildeo e da demanda de energia em Manaus satildeo as explicaccedilotildees oficiais para a decisatildeo inicial que a ELETRONORTE admite natildeo teria sido justificaacutevel se os acontecimentos da uacuteltima deacutecada (80) tivessem sido conhecidos de antematildeo (FEARNSIDE apud LOPES 1990c p14)

176

Fearnside (1990c) afirma ainda que outra motivaccedilatildeo por traacutes da construccedilatildeo de

ldquoBalbina envolve a indenizaccedilatildeo que os donos das terras receberiam Mapas da Eletronorte

indicam que com exceccedilatildeo das terras tomadas da tribo Waimiri Atroari quase toda a aacuterea do

projeto pertence a particularesrdquo (FEARNSIDE 1990c p16)

No inicio da deacutecada 70 diversos projetos de mapeamento geomorfoloacutegicos viriam a

detectar potencial mineraloacutegico na regiatildeo com destaque para o Projeto RADAMBRASIL

(1970) pioneiro no mapeamento em escala de 11000000 Projeto Norte da Amazocircnia

Domiacutenio do Baixo Rio Negro (1974) O projeto Estanho de Abonari (1976) seria o primeiro a

direcionar os estudos agrave regiatildeo e por uacuteltimo Projeto Sulfetos do Uatumatilde (1979) (CPRM 1998)

desvendaria todos os tipos de mineacuterios disponiacuteveis na bacia do rio Uatumatilde e seus afluentes

o que determinaria o futuro da regiatildeo Motivo popularmente mais aceito para a construccedilatildeo

da hidreleacutetrica de Balbina pois facilitaria a extraccedilatildeo de mineacuterios da aacuterea especialmente a

cassiterita (estanho) (FEARNSIDE 1990c p15)

Apesar de estudos ambientais para a construccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Ballbina terem

sido iniciados em 1979 natildeo serviam de base para a decisatildeo jaacute tomada da implantaccedilatildeo da

obra apesar dos estudiosos se mostrarem abertamente contra a obra faraocircnica (PAZ 2006)

Com o Decreto Presidencial nordm 85898 de 13 de abril de 1981 desapropriando uma

aacuterea de 1034490kmsup2 tem inicio a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de Balbina (PAZ 2006

p176)

Com o inicio do Projeto Pitinga (do Grupo Paranapanema a montante da Usina

Hidreleacutetrica de Balbina para a retirada de cassiterita) em 1980 iniciam-se tambeacutem as

pressotildees sobre o Ministeacuterio do Interior de forma a conseguir a reduccedilatildeo novamente da

Reserva Indiacutegena alcanccedilada pelo Decreto Lei nordm 86630 de 23 de novembro de 1981 que

perde 526800ha (PAZ 2006 p178) para a exploraccedilatildeo mineral da Mineradora Taboca

(Grupo Paranapanema)

Segundo Fearnside (1990c)

Devido aos impactos sobre os Waimiri-Atroari impliacutecito nos planos para Balbina a Franccedila e o Brasil foram acusados de genociacutedio no Quarto Tribunal Bertrand Russel em Rotterdam na Holanda em novembro de 1980 Severos como os impactos do reservatoacuterio a sua classificaccedilatildeo como ldquogenociacutediordquo foi provavelmente influenciada mais pelos massacres associados aacute atividades (brasileiras) de construccedilatildeo rodoviaacuteria no territoacuterio da tribo durante a eacutepoca em que Balbina estava em fase de planejamento em especial em 1974 - 1975 (FEARNISIDE 1990c p33)

177

Foi agrave Franccedila o primeiro paiacutes a contribuir com financiamento para construccedilatildeo da

Hidreleacutetrica de Balbina e o fornecimento de suas duas primeiras turbinas Apesar da

descoberta do ouro na aacuterea que seria inundada pouco foi feito para frear a sua construccedilatildeo

pois segundo o ldquoDepartamento de Produccedilatildeo Mineral natildeo foi encontrada nenhuma grande

jazidardquo (FEARNSIDE 1990c p16)

Sobre a aacuterea a ser inunda pela Usina Hidreleacutetrica de Balbina Baines (2012) descreve

que haacute poucos meses antes da inundaccedilatildeo e do fechamento das comportas da empresa foi

feito um relatoacuterio de impacto ambiental destacando as aacutereas e as benfeitorias que existiam

nas terras casas galinheiros casas de farinha plantaccedilotildees de bananeiras entre outras

culturas (BAINES 2012) que seriam inundadas dentro da reserva indiacutegena original quando

as comportas fossem fechadas em outubro de 1987

Com o fechamento das comportas prestes a acontecer a Eletronorte e a Funai

entraram em acordo atraveacutes da adoccedilatildeo de medidas mitigadoras que consistiam em criar

um programa chamado Programa Waimiri Atroari PWAIFE que tivesse como objetivos

recompensar os iacutendios da etnia Waimiri Atroari pela perda de suas terras (PAZ 2006)

Sobre isso Baines (1993) destaca que o programa Programa-Waimiri conseguiria

significativos benefiacutecios agrave populaccedilatildeo indiacutegena principalmente na aacuterea da sauacutede e na

homologaccedilatildeo de terras

Ainda sobre a inundaccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Balbina Fearnside (1990c) aponta

A perda da floresta eacute um dos principais custos de grandes represas como Balbina A aacuterea prejudicada eacute muito maior que os 2360kmsup2 realmente inundados jaacute que a inclusatildeo de ilhas aproximadamente duplica a aacuterea afetada Apesar da promoccedilatildeo pela ELETRONORTE das ilhas como tendo ldquocondiccedilotildees de vida para animais e plantas [] sabe-se que uma floresta dividida em pequenos fragmentos perde muitas espeacutecies de animais e plantas aacute medida em que os pedaccedilos isolados de floresta se degradamrdquo (FEARNSIDE apud LOVEJOY et al 1990c p26)

Fearnside (1990c) vai aleacutem ao afirmar que natildeo se sabe ao certo o tamanho da aacuterea

que foi inundada devido agraves informaccedilotildees serem baseadas em fotografias aeacutereas onde as

fotos registram o niacutevel da copa das aacutervores e natildeo o chatildeo por debaixo delas ldquojaacute que uma

parte significativa da represa teraacute apenas um ou dois metros de profundidade erros desta

grandeza podem facilmente alterar o resultado finalrdquo (FEARNSIDE 1990c p26)

Inaugurada parcialmente em outubro de 1987 a Usina Hidreleacutetrica de Balbina teve

somente uma turbina ligada o que natildeo impediu que houvesse mortandade de peixes em

178

grande quantidade ajusante da mesma principalmente provocada pela aacutegua carregada de

gaacutes metano e resiacuteduos em decomposiccedilatildeo das aacutervores natildeo retiradas de dentro da barragem

Sobre isso Fearnside (1990c) relata ainda que foram submersos 288msup3 de

madeira nobre por hectare um total calculado em 68 milhotildees de msup3 de madeira na aacuterea de

2360kmsup2 do reservatoacuterio ficaram apodrecendo na aacutegua

Baldisseri (2005) vai aleacutem comparando o tamanho do reservatoacuterio de Balbina ao de

reservatoacuterio da Usina Hidreleacutetrica de Tucuruiacute

[] cuja capacidade nominal eacute de 8 mil MW o que significa que Balbina sacrificou 31 vezes mais floresta por MW de capacidade de geraccedilatildeo instalada quando comparada agravequele Aleacutem disso o reservatoacuterio de Balbina alagou cerca de 240 mil ha de floresta tropical contendo siacutetios arqueoloacutegicos e parte da reserva indiacutegena dos Waimiri-Atroari (BALDISSERI 2005 p1435)

Ainda continua destacando a pouca declividade do lago de Balbina que ocupa uma

aacuterea de 2360kmsup2 mas

[]apresenta uma profundidade meacutedia de 7 m chegando a menos de 4 m em cerca de 33 de sua aacuterea total Nesta extensa aacuterea de aacuteguas rasas haacute a sustentaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo aquaacutetica enraizada no fundo que adicionada ao problema de macroacutefitas flutuantes afeta toda a represa aumentando os iacutendices de perda de aacutegua por evapotranspiraccedilatildeo (BALDISSERI 2005 p1436)

Apoacutes a sua inauguraccedilatildeo outros problemas se seguiram entre eles a lenta subida das

aacuteguas dentro da barragem em parte por causa da pouca declividade do terreno em parte

pela evapotranspiraccedilatildeo Sendo a segunda turbina ligada somente dois anos depois da

inauguraccedilatildeo em 1989

No mesmo ano a populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atrori teve suas terras demarcadas

definitivamente (FIGURA 58)

179

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20

14

180

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO

A rodovia BR-319 foi instituiacuteda pelo Decreto Lei nordm 1106 de marccedilo de 1970 como

parte do Plano Nacional de Viaccedilatildeo que tinha como prioridade maacutexima a integraccedilatildeo

nacional

A BR-319 ligaria por via terrestre as cidades de Manaus-AM a Porto Velho-RO

facilitando assim o escoamento da produccedilatildeo da Zona Franca de Manaus ndash ZFM criada pelo

Decreto Lei nordm 288 de 29 de Fevereiro de 1967 que estabelecia incentivos fiscais por trinta

anos para a implantaccedilatildeo de um polo industrial comercial e agropecuaacuterio no estado do

Amazonas (SUFRAMA 1996)

No mesmo ano de 1967 por meio do Decreto-Lei nordm 291 o Governo Federal define a Amazocircnia Ocidental tal como ela eacute conhecida abrangendo os Estados do

Amazonas Acre Rondocircnia e Roraima A medida visava promover a ocupaccedilatildeo dessa regiatildeo e elevar o niacutevel de seguranccedila para manutenccedilatildeo da sua integridade Um ano

depois em 15 de agosto de 1968 por meio do Decreto-Lei Nordm 35668 o Governo Federal estendeu parte dos benefiacutecios do modelo ZFM a toda a Amazocircnia

Ocidental (SUFRAMA 1996)

Desse modo se fazia extremamente importante interligar o estado do Amazonas e

promover a sua ocupaccedilatildeo nada melhor do que ligaacute-lo por via terrestre ao estado de

Rondocircnia que por sua vez sofria uma grande explosatildeo populacional causada pela

ldquoimplantaccedilatildeo da rodovia Cuiabaacute ndash Porto Velho (BR-364) com traacutefego permanente a partir de

1968 e as notiacutecias das disponibilidade de terras provocaram uma mudanccedila niacutetida no fluxo

migratoacuteriordquo (CUNHA 2009 p12)

Com a publicaccedilatildeo do Decreto Lei de nordm 5173 de outubro de 1966 no qual o

governo federal considerava indispensaacutevel a seguranccedila e ao desenvolvimento nacional as

terras situadas na faixa de 100km de largura em cada lado do eixo rodoviaacuterio construiacutedo ou

planejado na Amazocircnia Legal deveriam ser ocupadas (revogado pelo Decreto Lei nordm 2375

de 1987) (FEARNSIDE 2009d)

Sobre o fluxo migratoacuterio Cunha (2009) destaca

No cocircmputo geral os maiores contingentes migratoacuterio no dececircnio 196070 procedeu do Amazonas do proacuteprio territoacuterio do Mato Grosso do Acre e do Paranaacute Os deslocamentos dentro do territoacuterio se devem a procura de aacutereas de solos melhores e mais bem servidas de transportes com preferecircncia para as situadas ao longo da BR-364 Segundo os dados censitaacuterios a entrada de migrantes

181

no periacuteodo 195060 foi considerada de 23156 O maior contingente procedeu da Amazocircnia com 12873 migrantes entre os quais Amazonas com 8147 nordeste com 5693 dos quais 4439 cearenses Entre as transformaccedilotildees ocorridas na economia regional deve ser considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura devido a criaccedilatildeo das colocircnias agriacutecolas pelo governo abastecimento das cidades de Porto Velho e Guajaraacute Mirim (CUNHA 2009 p15)

Rodrigues (2013) evidecircncia

[] Rondocircnia foi outro estado profundamente impactado ou melhor mais beneficiado com o forte processo migratoacuterio ocorrido Na Tabela 7 estaacute demonstrado todo o crescimento demograacutefico dos estados do Norte a partir dos anos 50 elucidando como esses impactos foram sentidos em todas as unidades federativas da regiatildeo no entanto de forma diferenciada entre eles (RODRIGUES 2013 p118)

O autor afirma isto baseado no crescimento populacional da regiatildeo norte entre os

anos 1950 e 2010 (Tabela 12)

182

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11

475

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16

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183

Rodrigues apud Benchimol (2012) descreve que

[] as correntes migratoacuterias que se dirigiram para Rondocircnia tiveram especifica motivaccedilatildeo assentamento agriacutecola nos projetos de colonizaccedilatildeo do INGRA voltados para a pequena e meacutedia propriedade familiar [] Por fim o estado do Amazonas teve senatildeo um uacutenico ao menos hegemocircnico chamariz migratoacuterio a criaccedilatildeo da Zona Franca de Manaus em 1967 (RODRIGUES apud BENCHIMOL 2013 p120)

Todavia no caso ligar Porto Velho agrave Manaus os esforccedilos satildeo anteriores a instalaccedilatildeo

da Zona Franca de Manaus pois ldquoEm 1955 o DER-AM (Departamento de Estrada e Rodagem

do Amazonas) realizou o projeto geomeacutetrico de 193km da rodovia entre Porto Velho e

Humaitaacute e trecircs anos depois foi realizado o serviccedilo de desmatamento no trecho com largura

de 60 metrosrdquo (UFAM2009 vol1 p29) Faltando somente o trecho Humaitaacute ndash Manaus

para completar uma rodovia ligando Manaus aos outros estados da regiatildeo centro oeste e ao

sul do paiacutes o que soacute viria a ser colocado em praacutetica quando a responsabilidade dessa

construccedilatildeo fosse delegada ao estado o que ocorreu em 1966 cabendo

ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-AM) o controle e a fiscalizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia BR-319 graccedila a um termo de convecircnio celebrado com o Ministeacuterio dos Transportes e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem ndash DNER (UFAM 2009 vol1 p29)

Sobre isso DNIT apud UFAM (2009) afirmam que ldquoem 06 de maio de 1968 o DER-

AM firmou dois contratos com a construtora Andrade Gutieacuterrez SA para a execuccedilatildeo de

obras de implantaccedilatildeo baacutesica da rodovia nos sub trechos Careiro da Vaacuterzea e o Rio Matuperi

(326km) e do rio Matuperi a Porto Velho (426 km) (UFAM2009 vol1 p30)

Em entrevista com os moradores da Comunidade da Bela Vista o Sr Silva (77 anos)

disse ter trabalhado na construccedilatildeo da BR-319

[] em 1970 daqui do Careiro do outro lado ateacute leacutem baixo perto de Miracena eu trabalhava no trator eu e o outro colega iamos na frente com a corrente durrubando a floresta dando o abraccedilo da morte era um barrulho muito alto muita gente que trabalhava laacute dizia que era a floresta chorando pois tava caindo Era cada aacutervore grande bonita mas a gente piatildeo tinha que botar no chatildeo eu fazio o que me mandavam Nunca comi tanta caccedila como comi na construccedilatildeo da estrada era bom e triste ao mesmo tempo eu natildeo sei explicarrdquo ( SILVA 77 ANOS)

O entrevistado refere-se agrave teacutecnica utilizada na derrubada da floresta para a

construccedilatildeo da rodovia que consistia de dois tratores relativamente afastados mas

paralelos que arrastavam uma gigantesca corrente de ferro fundido que por sua vez era

pressionado contra o tronco das aacutervores derrubando as mesmas no traccedilado da rodovia

184

teacutecnica popularmente conhecida na regiatildeo como ldquoAbraccedilo da Morterdquo Ao mesmo tempo o Sr

Silva mostrou-se ressentido por ser obrigado a derrubar a floresta ldquoEra cada aacutervore grande

bonita mas a gente piatildeo tinha que fazer o que me mandavamrdquo(SILVA 77 ANOS)

Ainda sobre a construccedilatildeo o Sr Silva (77 anos) disse

natildeo tinha piatildeo que aguentasse muito tempo trabalhando laacute de dia era o choro das aacutervores caindo no chatildeo dava muita tristeza vecirc doiacutea ateacute o coraccedilatildeo de noite eram os bichos da floresta gritando as onccedilas passando ainda mais quando sumia gente e a gente que ficava natildeo encontrava nem o chinelo para contar histoacuteria dava muito medo Isso sem falar quando botava pra chover chovia muito muito tinha ateacute que cobrir o asfalto com uma lona e a lama que ficava era horriacutevel (SILVA 77 ANOS)

Para Fearnside (2009d) a pressa era tanta de se terminar a BR-319 que a rodovia

foi pavimentada imediatamente na hora da construccedilatildeo que por final foi construiacuteda na

estaccedilatildeo chuvosa ldquocom a extraordinaacuteria praacutetica de proteger o asfalto fresco com lonas de

plaacutesticordquo (FEARNSIDE 2009d p20)

Em 1970 uma ediccedilatildeo especial do Jornal do Comercio anunciava que o trecho Porto Velho ndash Humaitaacute jaacute apresentava condiccedilotildees de traacutefego enquanto o trecho Humaitaacute ndash Manaus estava com o desmatamento completo e boa parte da terraplanagem estava realizada A cargo da construtora Andrade Gutierrez as obras caminhavam e a expectativa com a conclusatildeo dos trabalhos era chegar ao ldquotermo final do longo isolamento em que esteve nosso Estado sem ligaccedilatildeo rodoviaacuteria com o centro-sul do paiacutes abrindo ao Amazonas amplas perspectivas de desenvolvimentordquo A despeito de todas as expectativas as dificuldades natildeo eram despreziacuteveis e os prazos contratuais natildeo foram cumpridos a despeito da forte pressatildeo do governo federal para a conclusatildeo urgente da obra (UFAM 2009 vol1 p30)

A rodovia BR-319 somente foi inaugurada ldquoem 27 de marccedilo de 1976

completamente pavimentada garantindo traacutefego faacutecil com tempo de viagem de Manaus agrave

Porto Velho estimado em 12 horasrdquo (UFAM 2009 vol1 p30) Uma estimativa longa se

comparada ao tamanho da rodovia que eacute de 87740km Todavia eacute justificaacutevel pois a mesma

apresentava 19 cursos drsquoaacuteguas de diferentes larguras e profundidades (UFAM 2009 RIMA

p10) Na maioria dos cursos drsquoaacutegua foram construiacutedas pontes de madeira em outros cursos

maiores as travessias eram feitas por pequenas balsas (Figura 59)

185

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319 Fonte EIA-RIMA Relatoacuterio FINAL (UFAM 2009)

Com ausecircncia de manutenccedilatildeo nos anos que se seguiram agrave sua inauguraccedilatildeo a

rodovia BR-319 comeccedilou a se deteriorar Primeiramente as pontes construiacutedas de madeira

retiradas da proacutepria floresta sobre os cursos drsquoaacutegua foram se deteriorando e pouco tempo

depois o asfalto

A camada fina de asfalto na BR-319 se tornou uma seacuterie quase contiacutenua de buracos que satildeo ambos mais difiacuteceis de consertar e mais danosos aos veiacuteculos do que seria o caso de uma estrada sem pavimento Muito da rota teve que ser desviado para trilhas temporaacuterias ao lado da estrada mais do que o proacuteprio leito da rodovia (FEARNSIDE 2009 p22)

Isso sem levar em conta que na deacutecada de 70 a produccedilatildeo da Zona Franca de

Manaus foi exportada de forma mais barata por meio de navios e ateacute por via aeacuterea

(FEARNSIDE 2009d)

Apesar das precaacuterias condiccedilotildees da BR-319 a mesma permaneceu aberta ao traacutefego

ateacute maio de 1988 quando os serviccedilos de transporte rodoviaacuterio entre as capitais Manaus-AM

e Porto Velho-RO foram suspensos devido agraves peacutessimas condiccedilotildees da rodovia como

permanece ateacute hoje sem condiccedilotildees de trafegar

Embora muitos amazonenses e rondonienses de modo geral se mostrem favoraacuteveis

agrave reabertura da BR-319 como se tem cogitado inuacutemeras vezes nas uacuteltimas deacutecadas satildeo os

186

amazonenses que se mostram mais receosos com essa probabilidade referindo-se a ela

como ldquoa destruidora da floresta quando abertardquo usando como referecircncia a construccedilatildeo da

rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia ou ateacute mesmo o trecho ainda trafegaacutevel da BR-319 ateacute os dias

atuais localizado entre Porto Velho-RO e Humaitaacute-AM pois o mesmo

[] foi colonizado por pequenos agricultores em lotes de 100ha distribuiacutedos pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INGRA) A maioria destes lotes jaacute mudou de matildeos uma ou mais vezes ateacute agora e estaacute consolidada em pequenas ldquofazendolasrdquo de 500ha ou mais (FEARNSIDE 2009d p22)

Sobre isso o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2013d) aponta o municiacutepio de Humaitaacute no

sul do estado como tendo a maior demanda por regularizaccedilatildeo fundiaacuteria do Estado do

Amazonas

Satildeo problemas de origem antiga e aparecem principalmente a partir da abertura das rodovias Transamazocircnica (BR-230) e BR-319 A histoacuteria da ocupaccedilatildeo se relaciona aos dois ciclos da borracha e se intensifica na deacutecada de 1970 como resultado dos projetos de colonizaccedilatildeo e das poliacuteticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo militar na Amazocircnia (MISTEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL 2013 p9)

Com territoacuterio de 33 07179kmsup2 o municiacutepio de Humaitaacute tem 1335977ha

demarcados como reservas indiacutegenas de 8 etnias (Pirahatilde Diahui Ipixuna Nove de Janeiro

Tenharim Marmelos Tenharim Marmelos (Gleba B) Sepoti Toraacute) e ainda conta com uma

unidade de conservaccedilatildeo federal a Floresta Nacional de Humaitaacute com aacuterea de 47315466ha

(ICMBIO 2013) localizada no sul do municiacutepio

Apesar disso os conflitos entre agricultores e posseiros tornaram-se comuns ao

longo das rodovias BR-319 e BR-230 onde estaacute localizada a maioria dos assentamentos

agraacuterios realizados pelo INCRA na deacutecada de 70

Sobre isso Fearnside (2009) afirma que a regiatildeo de Manaus tem sido poupada de

conflitos agraacuterios resultantes de busca por terra tais como a invasatildeo de fazendas por sem

terras e o ciclo resultante de desmatamento onde os posseiros desmatam para estabelecer

agraves suas reivindicaccedilotildees e os grandes proprietaacuterios de terras desmatam para evitar que as

terras sejam invadidas ou entatildeo confiscadas pelo governo para fins de reforma agraacuteria

O Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica Brasileira por Sateacutelite- PRODES

(2012) confirmar a preocupaccedilatildeo de Fearnside (2009) (Tabela 13)

187

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000 - 2012)

Embora a perda total de cobertura vegetal possa parecer pequena se comparada

ao tamanho do territoacuterio aacute mesma natildeo foi uma vez que foi sobre aacutereas que por lei

deveriam ser mantidas preservadas O mesmo poderia ter ocorrido em toda a BR-319 se ela

natildeo tivesse tido o seu traacutefego suspenso em 1988

Para Rodrigues apud Macedo et al (2009) o municiacutepio de Humaitaacute sofre os efeitos

do deslocamento de atividades capitalizadas do Mato Grosso em direccedilatildeo a terras

ldquodisponiacuteveisrdquo do Estado do Amazonas

Segundo Macedo et al (2009)

No municiacutepio de Humaitaacute (AM) as apreensotildees com relaccedilatildeo a esse processo se pronunciam sob diferentes aspectos de um lado expectativas de uma produccedilatildeo de gratildeos em larga escala cujas vantagens derivariam do baixo custo de escoamento da produccedilatildeo pela hidrovias dos rios Madeira e Amazonas ateacute o porto da cidade de Itacoatiara por outro lado preocupaccedilotildees quanto agrave sustentabilidade dos solos predominantes nas aacutereas de expansatildeo inicial das culturas de gratildeos (Plintossolos ndash fase cerrado) questionam a sustentabilidade desta classe de solo tanto econocircmica quanto ambiental deste sistema de uso da terra (MACEDO et al 2009 p5934)

Humaitaacute Perda Florestal ao ano

2000 160

2001 172

2002 174

2003 177

2004 182

2005 186

2006 188

2007 192

2008 198

2009 200

2010 202

2011 205

2012 208

Total 2444

Fonte INPEPRODES 2012 Adaptada Camila Louzada 2013

188

Macedo et al (2014) afirmar que o desmatamento no municiacutepio de Humaitaacute

[] caracteriza-se pela sua concentraccedilatildeo no entorno das rodovias BR-319 E BR-230

que se cruzam proacuteximo agrave sede do municiacutepio Esses eixos rodoviaacuterios concentram

espacialmente as principais atividades econocircmicas como a agricultura a pecuaacuteria

e a exploraccedilatildeo madeireira que embora em intensidade tambeacutem se desenvolvem

em torno do rio Madeira e seus afluentes (MACEDO et al 2014 p5935)

No entanto o existe por parte Governo do Estado do Amazonas forte interesse na

reabertura desta rodovia sobre o falso pretexto da ldquonecessidaderdquo de ligar o estado ao

restante do paiacutes por via terrestre embora tenham conhecimento dos custos (em todos os

sentidos) de tatildeo faraocircnica e desnecessaacuteria obra

Buscando viabilizar a reabertura da BR-319 e promover a ldquogovernanccedila ambientalrdquo

o Governo do Estado do Amazonas propocircs a criaccedilatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo ao longo

de toda a BR-319 muito embora se reconheccedila que essas aacutereas protegidas padecem de

fiscalizaccedilatildeo e de deliberaccedilotildees que envolvem a questatildeo fundiaacuteria (SANTOS 2013)

Sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo em fase de consulta puacuteblica para serem criadas

satildeo elas Reserva Sustentaacutevel Igapoacute - Accedilu (no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea) Reserva

Extrativista Canutama ( Sul do Estado do Amazonas e Norte do Estado de Rondocircnia)

Floresta Floresta Estadual Canutama (Canutama) Reserva de Desenvolvimento Sustentaacutevel

do Matupiri (Borba) Parque Estadual do Matupiri (Borba) Reserva de Desenvolvimento

Sustentaacutevel Rio Madeira (Novo Aripuanatilde) Floresta Estadual de Tapauaacute (Tapauaacute)

(AMAZONAS2014)

46 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES

Partindo do conceito de impacto ambiental definido pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA (1986) em seu artigo 1ordm

Considera com impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesica quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam

I ndash a sauacutede a seguranccedila e o bem estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees de esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA 1986 p1)

189

Ainda segundo o CONAMA (1986)

Art2ordm Dependeraacute da elaboraccedilatildeo do estudo de impacto ambiental- IEA e DO respectivo relatoacuterio de impacto ambiental-RIMA a serem submetido agrave aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo estadual competente e da Secretaacuteria Especial do Meio Ambiente SEMA em caraacuteter supletivo a licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente [] (CONAMA 1986 p2)

Diante disso o CONAMA em sua Resoluccedilatildeo nordm237 de 19 de Dezembro de 1997 em

seu artigo 3ordm dispotildee

Estudos Ambientais satildeo todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados agrave localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo operaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsiacutedio para a anaacutelise da licenccedila requerida tais como relatoacuterio ambiental projeto de controle ambiental relatoacuterio ambiental preliminar diagnoacutestico ambiental plano de manejo plano de recuperaccedilatildeo de aacuterea

degradada e anaacutelise preliminar de risco (CONAMA 1997 p2)

Os principais documentos exigidos para o licenciamento ambiental estatildeo divididos

em duas categorias a) o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatoacuterio de Impacto

Ambiental ndash RIMA para toda obra geradora de impactos b) o Plano de Controle Ambiental ndash

PCA para empreendimentos que teoricamente natildeo produzam impactos

Para os empreendimentos geradores de impactos o CONAMA tem uma legislaccedilatildeo

especifica instituiacuteda pelo Decreto Federal nordm 97632 de abril de 1989 que criou o Plano de

Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas - PRAD que deveraacute ser apresentado juntamente com o

EIARIMA quando o empreendimento for destinado agrave exploraccedilatildeo de recursos minerais

(BRASIL 1989 p1)

Embora a aparente abrangecircncia das leis exija uma seacuterie de estudos ambientais

antes de qualquer obra o mesmo natildeo garante o impacto zero no meio ambiente somente

tenta diagnosticar os possiacuteveis impactos de cada empreendimento ldquopropondo medidas

compensatoacuteriasrdquo

Todavia se nos relatoacuterios natildeo for possiacutevel ldquopreverrdquo todos os impactos de uma obra

o que se poderaacute fazer para minimizar seus impactos posteriormente quando surgirem

mesmo os natildeo diagnosticados com antecedecircncia Essa pergunta por enquanto ainda natildeo

tem uma resposta satisfatoacuteria

Eacute vaacutelido promover o conhecimento puacuteblico em geral a informaccedilatildeo de os

profissionais responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA de um empreendimento que satildeo

pagos pelo interessado na construccedilatildeo desse empreendimento desta forma eacute questionaacutevel

190

seus posicionamentos no relatoacuterio final principalmente se o maior interessado na

construccedilatildeo for o governo em todas as esferas tendo como referecircncia o Governo do Estado

do Amazonas onde natildeo existe ateacute a presente data um Estudo de Impacto Ambiental- EIA e

um Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA que seja contraacuterio aos interesses do estado natildeo

validando e homologando suas obras

O exemplo mais conhecido e divulgado mundialmente eacute a construccedilatildeo do PROSAMIN

ndash Programa Social e Ambiental dos Igarapeacutes de Manaus no qual o Governo do Estado retira

os moradores residentes nos igarapeacutes de Manaus para a concretizaccedilatildeo dos canais e

posterior construccedilatildeo de conjuntos habitacionais Embora tenha conhecimento de que satildeo

aeacutereas de APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente seus relatoacuterios EIA-RIMA validam o

empreendimento reiterando a ldquoimportacircncia desta obrardquo

A fragilidade do ecossistema de modo geral depende inteiramente de um

equiliacutebrio (natural) pois para que esse equiliacutebrio continue a existir faz-se necessaacuterio

minimizar todo e qualquer impacto possiacutevel decorrente de um empreendimento seja a

construccedilatildeo de barragem de rodovias de usinas eoacutelicas etc Mesmo com a execuccedilatildeo do

Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacuterea Degradadas - PRAD a construccedilatildeo de um empreendimento

natildeo garante a total recuperaccedilatildeo da aacuterea impactada

Dessa forma eacute importante conhecer a opiniatildeo dos moradores diretamente afetados

pelos empreendimentos Diante disso a presente pesquisa buscou conhecer a percepccedilatildeo

ambiental dos moradores das localidades de Bela Vista - Manacapuru e Manaquiri que

seratildeo diretamente afetados com a construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas como parte da proposta de reabertura da BR-319 resta conhecer a

opiniatildeo dos entrevistados

Na Bela Vista 95 dos entrevistados disseram jaacute ter ouvido algo sobre o assunto

por meio das conversas na comunidade e atraveacutes do raacutedio e 5 que afirmaram nunca ter

ouvido falar sobre o assunto

Indagados sobre o que achavam que aconteceria com as pessoas que moram na

Bela Vista e com a natureza e os animais ao redor se realmente a nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas fosse implantada os entrevistados se posicionaram conforme Graacutefico

15

191

A maioria dos entrevistados 47 do total se mostraram empolgados com a

possibilidade de acesso a outros municiacutepios e estados contudo 40 respondeu que as

estradas de modo geral trazem progresso e oportunidade de renda durante a construccedilatildeo e

posteriormente com o escoamento da produccedilatildeo seja na construccedilatildeo de novas estradas ou na

reconstruccedilatildeo da BR-319 depois de pronta ldquoteraacute mais pessoas vivendo aqui ficaraacute faacutecil

conhecer outros lugaresrdquo (Opiniatildeo de um entrevistado 2013) 13 dos entrevistados

afirmaram que as pessoas iratildeo embora da Bela Vista

Indagados com a mesma pergunta os moradores da sede municipal de Manaquiri

responderam conforme Graacutefico 16

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo da

ponte sobre o Rio Solimotildees Amazonas

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores do Manaqquiri sobre as consequecircncias da construccedilatildeo

de ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

192

Ao contraacuterio dos moradores da Bela Vista a grande maioria 73 dos entrevistados

de Manaquiri responderam que a construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

assim como a possibilidade de reabertura da BR-319 devastaria tudo (referem-se a retirada

da floresta) mataria os animais (que atravessariam as pistas ou seriam caccedilados por mais

caccediladores que viriam para o Manaquiri)

Indagados do por quecirc desta opiniatildeo ldquoseverardquo Os moradores afirmaram que isso jaacute

ocorreu anteriormente primeiro na construccedilatildeo da BR-319

[] quando veio muita gente trabalhar na estrada derrubaram a mata para fazer a rodovia e caccedilavam os bichos era pacaacute anta macaco tracajaacute tudo que eles achavam rapidinho virava comida agora mais recente foi essa estrada daqui mesmo [o entrevistado se refere a construccedilatildeo da AM-354] quando muita gente foi trabalhar laacute foi a mesma coisa da outra (Relato de um entrevistado

2013)

Os moradores de Manaquiri apresentam relativo conhecimento dos impactos de

grandes empreendimentos pois vivenciaram a construccedilatildeo da BR-319 e da AM-354

461 ALTERNATIVAS DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E O PREPARO DAS LOCALIDADES

RIBEIRINHAS PARA AS AUDIEcircNCIAS PUacuteBLICAS

Antes de propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental faz-se necessaacuterio fazer um

resgate histoacuterico da Educaccedilatildeo Ambiental no mundo e posteriormente no Brasil e no estado

do Amazonas para situar o leitor

A Educaccedilatildeo Ambiental foi primeiramente concebida por movimentos ecoloacutegicos

apoacutes 1950 com o objetivo de chamar a atenccedilatildeo para a finitude dos elementos da natureza

e sua exploraccedilatildeo descontrolada Diante disso Carvalho (2006) propotildee sensibilizar os cidadatildeos

do mundo para que eles possam desenvolver accedilotildees socioambientais pensando no bem

coletivo e natildeo individual ou de pequenos grupos

O marco principal desse periacuteodo de incertezas culminou na publicaccedilatildeo do livro

Primavera Silenciosa nele a autora chama a atenccedilatildeo para o uso irracional de pesticidas

quiacutemicos principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano) e responsabilidade da ciecircncia e

os limites tecnoloacutegicos (CARSON 2013)

193

[] questionava o direito moral do governo de deixar seus cidadatildeos desprotegidos diante de tais substacircncias que eles natildeo poderiam evitar fisicamente nem questionar publicamente Essa arrogacircncia insensiacutevel soacute poderia levar aacute destruiccedilatildeo do mundo vivo ldquoSeraacute que algueacutem acredita que eacute possiacutevel lanccedilar tal bombardeio de venenos na superfiacutecie da Terra sem tornaacute-la improacutepria para toda a vida perguntava ela Eles natildeo deviam ser chamados de lsquoinseticidasrsquo e sim lsquobiocidasrsquo rdquo (CARSON 2013 p 15)

Carson vai aleacutem ao afirmar que um dos direitos dos cidadatildeos mais baacutesicos

[] estaacute em proteger seu lar contra a intrusatildeo de veneno aplicado por outras pessoas Por ignoracircncia cobiccedila e negligecircncia o governo permitiria que ldquosubstacircncia quiacutemicas venenosas e biologicamente potentesrdquo caiacutessem ldquoindiscriminadamente nas matildeos de pessoas ampla ou totalmente ignorantes de seu potencial de danosrdquo Quando a populaccedilatildeo protestava recebia ldquopiacutelulas calmantes de meias - verdadesrdquo como resposta de um governo que se recusava a assumir a responsabilidade pelos danos ou reconhecer as provas de sua existecircncia Carson desafiou essa ausecircncia de moral ldquoA obrigaccedilatildeo de suportarrdquo e escreveu ldquonos daacute o direito de saberrdquo (CARSON 2013 p16)

Carson (2013) chama atenccedilatildeo da sociedade estadunidense para o uso

descontrolado de pesticidas nas lavouras americanas que prejudicava aleacutem do meio

ambiente fiacutesico em larga escala como tambeacutem a humanidade como um todo

Apoacutes a publicaccedilatildeo dessa obra foram iniciadas investigaccedilotildees estaduais e federais

nos EUA para refutar os argumentos da autora que terminaram por serem comprovados e

apoacutes inuacutemeras pressotildees de ambientalistas o governo americano foi obrigado a criar um

pacote de leis contra a contaminaccedilatildeo invisiacutevel muito posteriormente proibindo o uso DDT

nos EUA mas exportando para todo o mundo (CARSON 2013)

Como os movimentos ecoloacutegicos ultrapassaram as preocupaccedilotildees locais e se

transformaram em globais gerou grande desconforto na sociedade mundial tanto cientiacutefica

quanto civil o que resultou em importantes encontros mundiais a comeccedilar pela primeira

Conferecircncia Mundial das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente Humano que aconteceu em

1972 em Estocolmo na Sueacutecia e contou com a participaccedilatildeo de representantes de 113

paiacuteses onde foram divulgados aos participantes ldquoa devastaccedilatildeo que ocorria na natureza

delirou ndash se que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamenterdquo (PEDRINI

1997 p26)

Dessa conferecircncia resultaram dois importantes documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre

Meio Ambiente Humanordquo que descrevia vinte e sete princiacutepios comuns agrave sociedade mundial

para preservar e melhorar a relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente e o ldquoPlano de Accedilatildeo

194

Mundialrdquo que recomendava a capacitaccedilatildeo de professores e o desenvolvimento de novos

meacutetodos e recursos institucionais para a Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Trecircs anos depois de Estocolmo acontece a Conferecircncia de Belgrado na Yugoslaacutevia

antiga Uniatildeo Sovieacutetica Nessa conferecircncia os acircnimos se exaltaram pois os paiacuteses

considerados subdesenvolvidos acusaram os paiacuteses desenvolvidos de quererem limitar o

desenvolvimento econocircmico dos paiacuteses pobres ldquousando poliacuteticas ambientais de controle da

poluiccedilatildeo como meio de inibir a competiccedilatildeo no mercado internacionalrdquo (DIAS 2000 p79)

Apesar dos acircnimos acalorados essa conferecircncia resultou em um importante

documento em niacutevel mundial a ldquoA Carta de Belgradordquo que priorizava a erradicaccedilatildeo da

pobreza do analfabetismo da fome da exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo humana e sugeria tambeacutem

a criaccedilatildeo de um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Outra Conferecircncia marcante na histoacuteria da Educaccedilatildeo Ambiental foi a Conferecircncia de

Tbilisi realizada em 1977 que determinava os objetivos estrateacutegias caracteriacutesticas e

recomendaccedilotildees para se alcanccedilar uma Educaccedilatildeo verdadeiramente Ambiental Sobre isso

Junior (2005) destaca que para se ter uma Educaccedilatildeo Ambiental deve-se ldquopromover a

cooperaccedilatildeo e o diaacutelogo entre indiviacuteduos e instituiccedilotildees com a finalidade de criar novos

modos de vida e atender as necessidades baacutesicas de todos sem distinccedilotildees eacutetnicas fiacutesicas de

gecircnero idade religiatildeo ou classe socialrdquo (JUNIOR 2005 p 15 )

Atendendo aos acordos firmados internacionalmente o Brasil cria a Lei nordm 6938 de

31 de Agosto de 1981 que dispunha no art 2 sobre a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

tendo por objetivos

[] a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao desenvolvimento soacutecio econocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da dignidade da vida humana atendidos os seguintes princiacutepios I - accedilatildeo governamental na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio ecoloacutegico considerando o meio ambiente como um patrimocircnio puacuteblico a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo II - racionalizaccedilatildeo do uso do solo do subsolo da aacutegua e do ar Ill - planejamento e fiscalizaccedilatildeo do uso dos recursos ambientais IV - proteccedilatildeo dos ecossistemas com a preservaccedilatildeo de aacutereas representativas V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidorasVI - incentivos ao estudo e agrave pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental VIII - recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas IX - proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo X ndash educaccedilatildeo ambiental a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para a participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL 1981 p 2)

195

A Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente eacute absolvida pela Constituiccedilatildeo Brasileira de

1988 mais especificamente no artigo 225 onde tambeacutem concebe o conceito de

desenvolvimento sustentaacutevel

[] onde todos os cidadatildeos brasileiros tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial aacute sadia qualidade de vida impondo se ao Poder Puacuteblico e aacute coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees (BRASIL 1998 p7)

O Brasil foi um dos primeiros paiacuteses do mundo a criar leis tornando obrigatoacuteria a

ldquoEducaccedilatildeo Ambiental em todos os niacuteveis de ensino e a conscientizaccedilatildeo puacuteblica da populaccedilatildeo

para preservaccedilatildeo do meio ambienterdquo (BRASIL 1988 p103)

Para consolidar a lei eacute criado em 1989 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente -

IBAMA autarquia federal que tem como funccedilatildeo coordenar e executar a Poliacutetica Nacional do

Meio Ambiente e a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de uso racional dos recursos naturais Brasil

(1989) No entanto em sua estrutura administrativa apresentada segundo Brasil (1989a)

natildeo haacute cargos ou seccedilotildees especiacuteficas para trabalhar a Educaccedilatildeo Ambiental embora muitos

autores relatem existir uma Divisatildeo de Educaccedilatildeo Ambiental no oacutergatildeo supracitado

Nos anos posteriores surgiram vaacuterios encontros sobre Educaccedilatildeo Ambiental e em

1990 surgiu no Brasil o I Curso Latino Americano de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental

na Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT

O ano de 1991 foi marcado pelo Encontro Nacional de Poliacuteticas e Metodologias para

a Educaccedilatildeo Ambiental promovido pelo MEC IBAMA Secretaacuteria da Presidecircncia da Repuacuteblica

e Unesco e em 1992 satildeos criado os Nuacutecleos Estaduais de Educaccedilatildeo Ambiental pelo IBAMA

novos encontros e projetos para efetivar a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino se sucederam

Em 27 de Abril de 1999 eacute criado pelo Decreto Lei nordm 9795 a Poliacutetica Nacional de

Educaccedilatildeo Ambiental- ProNEA

Art 1ordm Entendem- se por educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias voltadas para promover a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL 1999 p1)

Segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (2014) o ProNea tem como accedilotildees

assegurar

196

[] no acircmbito educativo a integraccedilatildeo equilibrada das muacuteltiplas dimensotildees da sustentabilidade - ambiental social eacutetica cultural econocircmica espacial e poliacutetica - ao desenvolvimento do Paiacutes resultando em melhor qualidade de vida para toda a populaccedilatildeo brasileira por intermeacutedio do envolvimento e participaccedilatildeo social na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental e da manutenccedilatildeo dessas condiccedilotildees ao longo prazo Nesse sentido assume tambeacutem as quatro diretrizes do Ministeacuterio do Meio Ambiente Transversalidade Fortalecimento do Sisnama Sustentabilidade Participaccedilatildeo e controle social (BRASIL 2014 p1)

A legislaccedilatildeo parte do princiacutepio de que a Educaccedilatildeo Ambiental deve estar permanente

na educaccedilatildeo nacional em todos os niacuteveis do processo educativo de caraacuteter formal e natildeo

formal (BRASIL 1999 p1)

Esse arcabouccedilo legal permitiria que a Educaccedilatildeo Ambiental efetivamente no acircmbito nacional fosse implementada no ensino formal em todos os niacuteveis poreacutem a rejeiccedilatildeo da ldquoobrigatoriedaderdquo considerada nociva no momento democraacutetico que se vive permite que a legislaccedilatildeo natildeo seja cumprida de acordo com os marcos nacionais e internacionais firmados nos eventos que constituem o seu processo histoacuterico (SANTOS 2013 p844)

Ainda Morin apud Santos (2013) afirma que

[] poderiam ser formadas novas geraccedilotildees de professores que encontrariam em sua profissatildeo o sentido de uma missatildeo ciacutevica e eacutetica para que cada aluno ou estudante possa enfrentar os problemas de sua vida profissional e de sua vida de cidadatildeo do dever de sua sociedade de sua civilizaccedilatildeo na humanidade (MORIN apud SANTOS 2013 p844)

Todavia o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura ndash MEC ateacute o presente momento trinta e

trecircs anos depois apoacutes a instituiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente (1981) natildeo

conseguiu inserir a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino superior portanto natildeo cumpriu com os

acordos firmados Isso se observa tambeacutem ao niacutevel natildeo formal como uma maneira de natildeo

fornecer aacutes comunidades informaccedilotildees que venham a impedir ou dificultar os interesses

poliacuteticos

Acompanhando as leis federais os estados brasileiros passaram a criar leis quase

sempre dispondo sobre a proteccedilatildeo do meio ambiente

No estado do Amazonas a Lei nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 tornou-se a primeira

lei no estado a discorrer sobre a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente criando a Poliacutetica

Estadual da Prevenccedilatildeo e Controle da Poluiccedilatildeo Melhoria e Recuperaccedilatildeo do Meio Ambiente e

de Proteccedilatildeo aos Recursos Naturais (AMAZONAS 1982)

197

A lei tem como objetivos

[] fixar diretrizes da accedilatildeo governamental com vistas agrave proteccedilatildeo de Meio Ambiente agrave conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo da flora da fauna e das belezas cecircnicas e ao uso racional do solo da aacutegua e ar Contribuir para a racionalizaccedilatildeo do processo do desenvolvimento econocircmico e social procurando atingir a melhoria dos niacuteveis da qualidade ambiental tendo em vista o bem estar da populaccedilatildeo Propor criteacuterios de exploraccedilatildeo e uso racional dos recursos naturais objetivando o aumento de produtividade sem prejuiacutezo agrave sauacutede Incentivar programas e campanhas de esclarecimentos com vistas agrave estimulaccedilatildeo de uma consciecircncia publica voltada para o uso adequado dos recursos naturais e para a defesa e a melhoria da qualidade ambiental Estabelecer criteacuterios para reparaccedilatildeo dos danos causados pelo agente poluidor e predador (AMAZONAS 1982 p2)

E em 14 de Junho de 1989 atraveacutes da Lei nordm 1905 foi criado o Instituto de

Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash

IMAAM Segundo o IPAAM (2014) o oacutergatildeo tinha como funccedilatildeo executar a Poliacutetica Ambiental

no estado dando inicio ao processo de controle ambiental sistemaacutetico

Cinco anos depois o governo federal atraveacutes da Lei nordm 1282 de 1994 estabelece

que a Floresta Amazocircnica deve ser protegida da exploraccedilatildeo madeireira que somente

poderaacute ser feita de forma sustentaacutevel salvo quando for autorizado pelo Zoneamento

Ecoloacutegico Econocircmico sobre o uso do solo de forma alternativa (BRASIL 1994)

Dois anos depois em 1996 o governo do estado do Amazonas fundou o Instituto de

Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas ndash IPAAM atraveacutes da Lei nordm 17033 de 11 de marccedilo de

1996 resultado da funccedilatildeo do SEMACT (Secretaria do Meio Ambiente Ciecircncia e Tecnologia) e

do IMAAM (Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas) absorvendo cargos dos dois oacutergatildeos e suas ldquoobrigaccedilotildeesrdquo legais

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas - IPAAM passou a ser vinculado em fevereiro de 2003 aacute Secretaria de

Estado Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash SDS como oacutergatildeo executor da

Poliacutetica de Controle Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM 2014)

Por meio do Decreto Estadual nordm 25043 de 1ordm de Junho de 2005 foi instituiacuteda a

Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash CIEA-AM que

tem como funccedilatildeo ldquoplanejar executar acompanhar e avaliar a execuccedilatildeo dos trabalhos de

Educaccedilatildeo Ambiental no Estado aleacutem de articular-se com outras instituiccedilotildees federais e

municipaisrdquo(AMAZONAS 2014 p1)

198

A CIEA-AM tem mandato anual alternado entre a SDS (Secretaria de Estado Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel) e a SEDUC (Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo e

Qualidade do Ensino) (AMAZONAS 2014)

Em 2008 foi instituiacuteda a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas

atraveacutes da Lei nordm 3222 de 02 de Fevereiro entretanto

Apesar de a lei ter 90 dias para a sua regulamentaccedilatildeo ouvidos o Conselho Estadual de Meio Ambiente somente em 29 de Junho de 2012 eacute que o Decreto nordm 555 foi assinado pelo governado Omar Aziz e publicado no Diaacuterio Oficial do Estado do Amazonas (SANTOS 2012 p844)

A Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas tem como metas

Criaccedilatildeo do Comitecirc Assessor Multidisciplinar como oacutergatildeo de assessoramento da CIEA para apoiar a Poliacutetica Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental formado por 16 Instituiccedilotildees parceiras Estabelece prazo de um ano para a elaboraccedilatildeo do Programa Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental Estabelece a obrigatoriedade para os poderes executivos do Estado e dos Municiacutepios de criarem coordenaccedilotildees multidisciplinares de educaccedilatildeo ambiental nas secretarias de educaccedilatildeo e de meio ambiente para fortalecimento na implantaccedilatildeo de poliacuteticas e programas nacional estadual e municipal neste segmento Criaccedilatildeo do Centro de Referecircncia em Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo na aacuterea de educaccedilatildeo ambiental Garantia de recursos orccedilamentaacuterios e financeiros para a realizaccedilatildeo de atividades e para o cumprimento dos objetivos da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental (AMAZONAS 2014 p2)

Faz-se necessaacuterio salientar que muito pouco do que foi proposto para o estado de

fato foi executado inclusive a natildeo inserccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental em todos os cursos de

formaccedilatildeo de professores a proacutepria Universidade do Estado do Amazonas a UEA

Sobre isso Santos apud Rodriguez e Silva (2013 p197)

[] reconhecem que a Educaccedilatildeo Ambiental deveraacute ter um papel fundamental na mudanccedila das mentalidades e na incorporaccedilatildeo dos fundamentos do pensamento ambientalista como tambeacutem do pensamento sustentabilista justificando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergecircncia dos sistemas ambientais e socioeconocircmico-culturais (SANTOS apud RODRIGUEZ e SILVA 2013 p197)

Santos (2013) vai aleacutem

Infelizmente torna-se necessaacuterio reconhecer que muitas vezes as poliacuteticas puacuteblicas definidas na esfera federal estadual ou municipal refletem uma contradiccedilatildeo entre o discurso e a praacutetica uma vez que os proacuteprios oacutergatildeos puacuteblicos a luz da interpretaccedilatildeo das brechas da legislaccedilatildeo ambiental licenciam obras sob o argumento de melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo mas com impactos ambientais irreversiacuteveis que satildeo justificados com ldquomedidas compensatoacuteriasrdquo irrelevantes (SANTOS 2013 p840)

199

Diante desses fatos tornou-se necessaacuterio projetar alternativas de Educaccedilatildeo

Ambiental para as localidades ribeirinhas da Amazocircnia frente ao conceito de

desenvolvimento baseado na construccedilatildeo de rodovias para que os ribeirinhos de modo

geral possam vir a ter conhecimento dos impactos das rodovias na regiatildeo visando agrave

formaccedilatildeo de um juiacutezo de valor quanto a propostas de desenvolvimento do poder puacuteblico

As alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental visam antes de qualquer coisa fornecer

informaccedilotildees aos moradores afetados direta ou indiretamente sobre empreendimentos

similares jaacute construiacutedos em ambientes semelhantes de forma a propiciar embasamento

teoacuterico e se possiacutevel praacutetico na formaccedilatildeo de uma opiniatildeo fundamentada seja individual ou

coletiva

Isso porque muitas pessoas natildeo informadas tendem a considerar as Audiecircncias

Puacuteblicas realizadas antes dos empreendimentos como espaccedilos onde natildeo eacute permitido

questionamentos quando na verdade eacute o que se deve fazer pois as Audiecircncias Puacuteblicas

tecircm como principal funccedilatildeo consultar a opiniatildeo puacuteblica sobre o empreendimento a ser

construiacutedo Contudo se o puacuteblico consultado natildeo tiver informaccedilotildees sobre o

empreendimento ou qualquer outro semelhante como poderatildeo opinar em algo que lhes eacute

completamente desconhecido

Sobre o direito agrave informaccedilatildeo a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente em seu artigo

2ordm paraacutegrafo X afirma que a ldquoeducaccedilatildeo ambiental deve ser fornecida a todos os niacuteveis de

ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-los para a participaccedilatildeo

ativa da defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981 p2)

No entanto a Educaccedilatildeo Ambiental vem sendo incluiacuteda como medida

compensatoacuteria dos impactos provocados pelos empreendimentos Haacute necessidade de que a

Educaccedilatildeo Ambiental seja antecipada permitindo agrave sociedade acesso as diversas fontes de

informaccedilatildeo Enfim a Educaccedilatildeo Ambiental em suas referecircncias teoacutericas eacute reconhecida como

uma educaccedilatildeo poliacutetica capaz de permitir e projetar cenaacuterios futuros

Considerando a reabertura da BR-319 cujo argumento principal eacute que ela jaacute existe

e que sua reabertura pouco impactaraacute a Floresta Amazocircnica considerando que entre as

grandes obras para a reabertura da BR-319 encontra-se a construccedilatildeo da ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas que se associa a jaacute construiacuteda ponte Rio Negro por essa razatildeo

200

chamada de ldquoPonte do Futurordquo considerando que o poder puacuteblico eacute o principal interessado

em suas obras sendo o responsaacutevel pelos licenciamentos a presente pesquisa ousa propor

- Viabilizar o acesso dos moradores agrave diversas fontes de pesquisa sejam elas

artigos livros jornais e informaccedilotildees veiculadas pela internet que permitam obter

pesquisas confiaacuteveis sobre os aspectos positivos e negativos relacionados aos

impactos provocados por obra semelhantes

- Realizar palestras com as diversas categorias de profissionais sejam eles

favoraacuteveis ou contraacuterios agrave empreendimentos na Amazocircnia de modo a discutir os

avanccedilos e retrocessos na qualidade de vida dos amazocircnidas

- Promover oficinas de Educaccedilatildeo Ambiental que permitam a anaacutelise criacutetica dos

problemas ambientais e suas interelaccedilotildees dinacircmicas relacionando as causas e

consequecircncias tendo por base os princiacutepios da complexidade dialoacutegico recursatildeo

organizacional e hologramaacutetico Isto significa conduzir os participantes a refletirem

sobre a dualidade a recursividade e holograma que supera o reducionismo o

holismo e avanccedila na direccedilatildeo da complexidade da questatildeo ambiental

Diante da convicccedilatildeo de que essas intervenccedilotildees com a Educaccedilatildeo Ambiental

significam na maioria das vezes oposiccedilatildeo ao que pretende o poder puacuteblico haacute de se

verificar como concretizar efetivamente essas propostas

Por esta razatildeo a presente pesquisa ainda ousando sugere a inclusatildeo da Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal (que no caso dos dois municiacutepios Manacapuru e

Manaquiri ainda estatildeo em fase de elaboraccedilatildeo) responsaacutevel pelo planejamento estrateacutegico

dos municiacutepios atraveacutes da formulaccedilatildeo de estrateacutegias para gerenciamento dos recursos

municipais

Todavia a inclusatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal natildeo deve

se limitar a uma abordagem simplista e reducionista e sim incorporar a sua verdadeira

essecircncia atraveacutes da formaccedilatildeo de cidadatildeos verdadeiramente capacitados para defender o

meio ambiente como propotildeem a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

Prioritariamente para o caso da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas e a

reabertura da BR-319 for consolidada nos proacuteximos anos a presente pesquisa propotildeem

201

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para as localidades ribeirinhas de Bela Vista e

Manaquiri que contemple em sua estrutura

1- Reflexatildeo sobre o conceito de Desenvolvimento Conservaccedilatildeo Preservaccedilatildeo e

Sustentabilidade se quer para a Amazocircnia

2- Impactos resultantes da construccedilatildeo de rodovias no Amazonas

a) BR-307 - Satildeo Gabriel da Cachoeira ndash Cucuiacute Benjamin Constant ndash

Atalaia do Norte

b) BR -317 - Laacutebrea no Amazonas a Assis Brasil no Acre

c) BR-230 - Transamazocircnica

d) BR-174 - Manaus-AM ndash Boa Vista-RR

e) BR-319 - Manaus-AM - Porto Velho- RO

3- Construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas reabertura da BR-319 e

os possiacuteveis impactos dessas obras

4- Construccedilatildeo de cenaacuterios futuros para a Amazocircnia

202

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A percepccedilatildeo ambiental dos moradores da Bela Vista e do Manaquiri permitiu

concluir que embora os entrevistados se mostrem favoraacuteveis agrave construccedilatildeo da nova ponte

sobre o rio SolimotildeesAmazonas os mesmos se mostraram conscientes dos impactos dessa

obra assim como tambeacutem da reabertura da BR-319

Diante disso cabe a Educaccedilatildeo Ambiental veicular para os ribeirinhos e a todos

cidadotildees interessados as informaccedilotildees disponiacuteveis sobre todo e qualquer empreendimento

com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas para a Amazocircnia A comeccedilar pela divulgaccedilatildeo dos impactos

das estradas jaacute construiacutedas na Amazocircnia

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser conclamada diante da percepccedilatildeo ambiental dos

moradores ribeirinhos de modo a ser pensado uma forma alternativa para que a

populaccedilatildeo tenha informaccedilotildees para se posicionar diante das propostas de poliacuteticas puacuteblicas

para a Amazocircnia

As propostas de desenvolvimento compatibilizadas com as que visam conservaccedilatildeo

eou preservaccedilatildeo da Amazocircnia sido apresentados com uma dualidade impossiacutevel de ser

alcanccedilada O pensamento complexo apresenta-se como uma alternativa de se repensar a

questatildeo ambiental compreendendo os fatores que a compotildeem e as interelaccedilotildees entre eles

inclusive a dinamicidade que apresentam

Entre as propostas de desenvolvimento destacam-se as que visam agrave construccedilatildeo de

estradas na Amazocircnia principalmente agraves relacionadas com a intenccedilatildeo de interligar o estado

do Amazonas ao resto do paiacutes Os argumentos para sua construccedilatildeo natildeo satildeo convincentes

uma vez que diante da necessidade de conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo da Floresta

Amazocircnica as medidas poliacuteticas foram sendo tomadas para isto incluindo-se a criaccedilatildeo da

Zona Franca de Manaus com o Polo Industrial para evitar impactos sobre a regiatildeo

A pesquisa procurou concentrar-se na reabertura da BR-319 considerando a

construccedilatildeo da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas como uma das grandes obras para a

sua reativaccedilatildeo

O argumento que sustenta a sua necessidade eacute o mesmo que nega seus impactos

uma vez que ela jaacute existe e a floresta natildeo precisaraacute ser devastada Outro argumento que natildeo

203

se sustenta eacute o escoamento da produccedilatildeo do Distrito Industrial pesquisas demonstram que o

transporte fluvial eacute mais econocircmico quando comparado ao rodoviaacuterio na regiatildeo

No que se refere agrave ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas ela teraacute como provaacutevel

cabeceiras as localidades de Bela Vista no municiacutepio de Manacapuru e Manaquiri sede do

municiacutepio de mesmo nome A pesquisa visando diagnosticar as alteraccedilotildees que a construccedilatildeo

da ponte traraacute agrave vida dessas populaccedilotildees ribeirinhas utilizou-se de entrevistas com

moradores mais antigos e chefes de famiacutelia de ambas as localidades

Os resultados das entrevistas resaltam a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos

destacando-se a dos que moram em Manaquiri que por terem vivido a construccedilatildeo da BR-

319 conseguem projetar cenaacuterios futuros preocupantes com a destruiccedilatildeo da biodiversidade

e os impactos sociais e econocircmicos na localidade

A pesquisa permitiu antever o comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis das

vaacuterzeas que poderaacute ter como consequecircncia o decliacutenio da produccedilatildeo agriacutecola

No entanto a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos necessita de informaccedilotildees que

permitam alcanccedilar o niacutevel transdisciplinar A percepccedilatildeo transdisciplinar deve contemplar

diferentes niacuteveis de realidade a loacutegica do terceiro incluiacutedo e a complexidade que a questatildeo

ambiental comporta

A percepccedilatildeo ambiental diagnosticada muito embora em alguns entrevistados tenda

a considerar os princiacutepios da transdisciplinaridade ainda necessita ser aprofundada e a

pesquisa indica que a Educaccedilatildeo Ambiental pode promover a visatildeo criacutetica da realidade

Diante dos obstaacuteculos enfrentados na obtenccedilatildeo das informaccedilotildees e entrevistas

considerando o espaccedilo geograacutefico e as condiccedilotildees de deslocamento ateacute as localidades a

pesquisa considerando referencial teoacuterico e os dados levantados reconhece as dificuldades

de se antepor agraves poliacuteticas puacuteblicas com as accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental natildeo formal

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser inserida natildeo como uma medida compensatoacuteria

das obras jaacute construiacutedas mas como uma alternativa de acesso a informaccedilatildeo que

necessariamente precisa ser antecipada aacutes Audiecircncias Puacuteblicas de modo a viabilizar acesso

dos moradores a diversas fontes de informaccedilatildeo para que ao participar de uma audiecircncia

puacuteblica os moradores tenham conhecimentos profundos dos possiacuteveis impactos de cada

obra e possam vir a fazer juiacutezo de valor apoiados em fundamentos

204

Considerando que o poder puacuteblico justifica as obras do seu interesse baseado na

legislaccedilatildeo que abre espaccedilo para justificaacute-las dessa forma licenciando-as haacute que se buscar

alternativas para o desenvolvimento da Educaccedilatildeo Ambiental atraveacutes de programas que

visem a sustentabilidade da Amazocircnia exigindo o cumprimento da legislaccedilatildeo vigente e

questionando inclusive sua interpretaccedilatildeo

A pesquisa propotildee as bases necessaacuterias ao planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para a problemaacutetica que a desencadeou

Existe espaccedilo para novas pesquisas principalmente no que se refere agrave percepccedilatildeo

transdisciplinar no contexto amazocircnico considerando que existem poucos avanccedilos e

resultados que concretizem os referenciais teoacutericos indicados para a necessaacuteria reforma de

pensamento que permitiraacute a humanizaccedilatildeo da humanidade

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REFEREcircNCIAS

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216

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PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash BELA VISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora na Bela Vista por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para a Bela Vista vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem na Bela Vista (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 1

221

PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash MANAQUIRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora no Manaquiri por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para o Manaquiri vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem no Manaquiri (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 2

Page 4: AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

4

5

DEDICATOacuteRIA

Dedico estaacute dissertaccedilatildeo primeiramente a Deus aos meus pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada por todo amor e apoio ao longo da vida e principalmente nos momentos difiacuteceis Aos meus irmatildeos Karoline Louzada e Lucas Silva por me apoiarem me deixando muitas vezes sozinha para escrever ou ler a minha orientadora Profordf Drordf Elizabeth Santos por me propor o desafio de estudar a Complexidade e conhecer um pouco mais da Amazocircnia que amo profundamente ao Prof Dr Evandro Aguiar por me instigar e motivar a ir aleacutem do previsto a todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo direta ou indiretamente lhes serei eternamente grata de todo o coraccedilatildeo meu muito obrigada

6

Agradecimentos

Aacute Deus em primeiro lugar por ter me dado agrave vida e continuar a me dar cada dia a

oportunidade uacutenica de fazer cada dia um dia melhor do que o anterior dando sempre o meu

melhor a Nossa Senhora de Aparecida de quem sou devota por esta presente sempre que

me colocava a escrever a dissertaccedilatildeo e iluminar minhas ideias

Aos meus amados pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada pelos ensinamentos e

sacrifiacutecios que fizeram ao longo da vida para que eu e meus irmatildeos (Karoline Louzada e

Lucas Cortecircz) pudeacutessemos estudar muito obrigada Obrigado tambeacutem pelo apoio

incondicional e pelos exemplos diaacuterios e contiacutenuos de perseveranccedila ldquomesmo que natildeo se

possa ver aleacutem do presente persista insista que vocecirc chega laacuterdquo que ouvi incontaacuteveis vezes

ao longo da vida Agradeccedilo tambeacutem a compreensatildeo pela minha ausecircncia nas inuacutemeras

reuniotildees de famiacutelia que natildeo comparece para escrever esta dissertaccedilatildeo

Aacute Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos minha orientadora por todo apoio

dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo e motivaccedilatildeo buscando sempre me incentivar a crescer intelectualmente

Agradeccedilo tambeacutem por expandir meus horizontes ao me apresentar a Complexidade e a

Transdisciplinaridade e por ter insistido nas tantas vezes que reconheccedilo que resistir em

aceitar mudanccedilas Estendo o meu agradecimento as suas filhas Socircnia Ciacutentia Sara e Isabelle

pela compreensatildeo pelas muitas vezes que a profordf Elizabeth estava comigo em campo ou me

orientado em dias de semana ou no final dela e feriados aleacutem de datas comemorativas

quando poderia estaacute com as filhas e o esposo prof Evandro Aguiar meu muito obrigada

Ao Prof Evandro Aguiar (professor sim por mais que atualmente se recuse a usar o

seu tiacutetulo de professor duramente conquistado) agradeccedilo imensamente por todos os

conselhos broncas mais principalmente pela motivaccedilatildeo para seguir em frente Agradeccedilo a

paciecircncia em revisar todo o material que escrevi em me emprestar seus livros em indicar

referecircncias em ajudar na construccedilatildeo deste trabalho e as longas conversas me incentivando

a ir aleacutem do que esperam de mim muito obrigada

A CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) pela

concessatildeo de bolsa durante a realizaccedilatildeo do mestrado

A Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM por me proporcionar a oportunidade

de ter minha graduaccedilatildeo em Licenciatura Plena em Geografia

Aacute Profordf Drordf Jesueacutete Pacheco Brandatildeo por me apresenta a geografia fiacutesica durante a

minha graduaccedilatildeo nas aacuteguas verde oliva da bacia hidrograacutefica do Zeacute Accedilu em Parintins e me

motivar e incentivar a entrar no mestrado meu muito obrigada

Ao Prof Dr Nelcioney Arauacutejo por me indicar referecircncias e emprestar seus livros

7

Aos professores doutores Tatiana Schor e Carlossandro Albuquerque pelas

generosas contribuiccedilotildees que me deram durante a minha qualificaccedilatildeo sem as quais o

presente trabalho natildeo sairia como estaacute hoje

Agradeccedilo ao meu amigo Armando Filho por ouvir meus desabafos pelas

provocaccedilotildees continuas com o intuito de me instigar a busca sempre mais e mais

informaccedilotildees que vinhessem a contribuir com o meu trabalho agradeccedilo tambeacutem pela

traduccedilatildeo do resumo

Aos meus colegas de mestrado pelas discussotildees A minha amiga Irlanda Leite por

me ajudar sempre que pedi Aos meus amigos Sidney Leozanira Christianne Rodrigo

Jeacutessica que sempre me incentivaram a seguir em frente mesmo quando em natildeo podia sair

com eles pois tinha que escrever

Agradeccedilo tambeacutem a minha maravilhosa equipe de campo que na verdade satildeo

meus amigos que se protificaram de imediato em me ajudar quando pede o apoio deles

para a coleta de dados satildeo eles Armando Filho (Geografia - UFAM) Erickson (Bioloacutegia -

UEA) Erisson Duarte (Bioloacutegia - UEA) Leozanira (Geografia - UFAM) Romaacuterio (Bioloacutegia-UEA)

Sidney Barros (Geografia - UFAM) Thiago Alisson (Bioloacutegia - UEA) Ariane Oliveira (Liacutengua

Portuguesa - UFAM) meu muito obrigado

Agradeccedilo tambeacutem a todos os moradores entrevistados da Bela Vista e de

Manaquiri que nos doaram horas preciosas de suas vidas para responder nossas perguntas

e nos presentear com suas histoacuterias de vida meu muito obrigada

Agradeccedilo tambeacutem ao sr Evandro Oliveira pela calorosa acolhida a toda equipe de

campo para realizarmos as entrevistas com os moradores de Manaquiri

8

RESUMO

A gigantesca fronteira e sua densa cobertura florestal apoiadas no discurso militar de ldquoum

lugar sem gente necessitado de uma histoacuteriardquo tornou a Amazocircnia alvo de grandes projetos

de desenvolvimento e integraccedilatildeo nacional a partir do seacuteculo XX o que por sua vez iniciava

um novo e complexo capiacutetulo na histoacuteria da regiatildeo Algo que viria a marca profundamente

natildeo soacute a paisagem com a retirada da cobertura vegetal para a implantaccedilatildeo das ldquoespinhas de

progressordquo como ficaram conhecidas as rodovias implantadas na Amazocircnia mas tambeacutem a

vida das centenas de milhares pessoas que migraram para o entorno das futuras rodovias

Essas populaccedilotildees tiveram que se adaptar ao ambiente amazocircnico ao mesmo tempo tambeacutem

trouxeram seus haacutebitos e costumes promovendo a troca de conhecimentos com as

populaccedilotildees ribeirinhas o que viria a permitir definitivamente a ocupaccedilatildeo da regiatildeo ateacute

entatildeo considerada um vazio demograacutefico Embora o ciclo da borracha tenha levado milhares

de nordestinos em sua maioria a regiatildeo amazocircnica no final do seacuteculo XIX ateacute a primeira

deacutecada do seacuteculo XX caberia aos migrantes e imigrantes das rodovias darem o ponto de

partida para transformaccedilatildeo definitiva da paisagem e a consolidaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo da regiatildeo

adaptando-se a realidade local que muitas vezes longe de centros urbanos eacute residir em

aacutereas de vaacuterzea Diante disso buscou-se Analisar as possiacuteveis alteraccedilotildees na vida de

populaccedilotildees ribeirinhas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri frente agrave

reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas

tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras Para isso faz-se necessaacuterio

identificar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) e o consequente

decliacutenio no volume de produccedilatildeo agriacutecola tento como referecircncia a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio Negro Caracterizar a percepccedilatildeo dos moradores dessas localidades sua relaccedilatildeo

com o ecossistema e perspectiva de desenvolvimento do lugar Propor alternativa de

Educaccedilatildeo Ambiental que considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e

sustentabilidade com a reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da estrada BR-319

Para executar tais objetivos a pesquisa foi dividida em duas etapas na primeira etapa foram

entrevistados os moradores mais antigos das duas localidades e na segunda etapa da

pesquisa agraves entrevistas foram expandidas aos chefes de famiacutelia com quarenta entrevistados

em cada localidade A partir das investigaccedilotildees realizadas e da anaacutelise dos dados coletados

foi possiacutevel detectar a percepccedilatildeo dos entrevistados quanto agrave reabertura da BR-319 e a

construccedilatildeo da ponte sobre o rio Solimotildees Dessa forma percebeu-se uma tendecircncia de

entusiasmos com a possibilidade de realizaccedilatildeo das obras ao mesmo tempo que gera

cautela nos entrevistados quanto aos impactos dessas obras sobre a floresta Amazocircnica

Palavras chaves Estradas na Amazocircnia ponte sobre o Rio Solimotildees percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Educaccedilatildeo Ambiental

9

ABSTRACT

The immense border and the dense forest cover encouraged by the military discourse of ldquoa

place without people craving for historyrdquo made the Amazon region a target to many

massive projects of development and national integration in the beginning of XX Century

which led to a new and complex chapter in the history of this regionThis is something that

would deeply scar not just the landscape with the major deforesting to implant the roads at

the Amazon as known as ldquospines of progressrdquo but also the life of hundreds of thousands of

people that migrated to the surrounds of those that would be the future highways These

populations had to adapt to traditions which fomented the exchange of knowledge

between the riverine populations which allowed the occupation of this area that was

considered as demographic emptiness Although the Latexrsquos cycle had brought thousands of

people most of them from the Northeast region to the Amazon region in the end of the XIX

Century until the first decade of the XX Century However it was the role of the migrants

and immigrants of the roadways to start the transformation that would define the

landscape and consolidate the occupation at this region adapting to local reality that

sometimes located far away from the urban centers itrsquos inhabit in riparian areas Taking this

in consideration this project aimed analize the possible alterations on the lifes of the

riparian populations sited at ldquoBela Vista Communityrdquo (Municipality of Manacapuru) and the

headquarters of the Municipality of Manaquiri ndash AM in view of the re-opening of the

highway BR-319 Considering that the building of the bridge over the SolimotildeesAmazonas

River will probably have as initial points those two locations For this its necessary identify

the present scenery of the fluvial geomorphology (upper land and floodplain) and the

consequent decline of the agricultural production having as reference the building of the

bridge over the Negro River Characterize the perception of the inhabitants of those

locations their relation with the ecosystem and the development perspective of the locality

Propound an alternative of Environmental Education that consider geographic aspects of the

region their complexity and sustainability with the spatial reconfiguration resulting from

the re-opening of the highway BR-319 To achieve such objectives the research was divided

in two phases In the first were interviewed the elders inhabitants at both locations Bela

Vista Community and the headquarters of the Municipality of Manaquiri In the second

phase were realized interviews with the familiesrsquo chiefs with forty inhabitants interviewees

in each locality Starting from the examination realized and from the analyzes of the

collected data it was possible detect the perception of the interviewees referring to the re-

opening of the highway BR-319 and the building of the bridge over the Solimotildees River

Therefore it was noticed a trend of enthusiasm regard the possibility of the fulfillment of

the construction at same time that generates some reservations in the interviewees about

the impacts of those works over the Amazon Forest

Keywords Roads in Amazon ndash Bridge Over the Solimotildees River ndash Transdisciplinary Perception

ndash Environmental Education

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia 24

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees 26

Figura 3 Primeira parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT41

Figura 4 Segunda parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT 42

Figura 5 Cruzeiros atracados no porto de Manaus43

Figura 6 Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia 46

Figura 7 BR-163 Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia48

Figura 8 Placa de bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica)49

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-23051

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista- Manacapuru57

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para o transporte61

Figura 12 Sede do municiacutepio de Manaquiri e sua topografia64

Figura 13 Frente da cidade de Manaquiri67

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri70

Figura 15 Centro comercial na sede municipal de Manaquiri70

Figura 16 Sede da comunidade da Bela Vista e sua topografia 82

Figura 17 Vista do rio SolimotildeesAmazonas da comunidade da Bela Vista83

Figura 18 Casa do administrador da Colocircnia85

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal por moradores da Bela Vista91

Figura 20 Usina de beneficiamento da CANA92

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA92

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista agrave margem do rio

SolimotildeesAmazonas93

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de vaacuterzea da comunidade da Bela Vista93

11

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio

SolimotildeesAmazonas94

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade104

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo109

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos113

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (AM-070)114

Figura 31 Aacutervores de castanheiras no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano

(AM-070)115

Figura 32 Ponte Rio Negro117

Figura 33 Iranduba 2007 antes da contruccedilatildeo da Ponte Rio Negro119

Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro121

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro122

Figura 36 Estrutura da Pesquisa127

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos128

Figura 38 Respostas dos entrevistados (1 a 4)129

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (perguntas 5 a 8)130

Figura 40 Resposta dos entrevistados (perguntas 9 e 10)131

Figura 41 Rua da comunidade da Bela Vista137

Figura 42 Sede do municiacutepio de Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa142

Figura 43 Paranaacute do Manaquiri150

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio de Manaquiri151

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas152

Figura 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia156

Figura 47 Rodovias Federais no Amazonas157

12

Figura 48 BR-317 ou Caarretera Del Paciacutefico158

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru159

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil159

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea- AM161

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira162

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant ndash Atalaia do Norte 164

Figura 54 BR-307 ndash Asfalto cedendo no 22km164

Figura 55 BR-230Amazonas166

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica170

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174171

Figura 58 A evoluccedilatildeo do territoacuterio Waimiri Atroari179

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319185

13

GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados da Bela Vista135

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista136

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista139

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte rio Solimotildees140

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319140

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri143

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo lhes agrada no Manaquiri144

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri145

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores de Manaquiri147

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio SolimotildeesAmazonas148

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319149

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia152

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores da sede municipal de Manaquiri sobre as consequecircncias

da construccedilatildeo de uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 Produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia59

Tabela 3 Crescimento populacional de Manaquiri entre (1991 a 2010 )67

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas68

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri de Janeiro a Dezembro de 201271

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo Agriacutecola da CANG75

Tabela 7 Crescimento populacional dos estados do Amazonas e Paraacute (1900-1950)80

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento do IIRSA124

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea

- AM165

Tabela 10 Crescimento populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas169

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atroari de 1905 ndash 2011172

Tabela 12 Crescimento populacional da regiatildeo Norte do Brasil182

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000- 2012)187

15

LISTA DE SIGLAS

BASA- Banco da Amazocircnia

BID- Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico

CANA- Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas

CAND- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados

CANG- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes

DEREM- Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Amazonas

DNER- Departamento Nacional de Estrada de Rodagem

FERMM- Fundo Especial da Regiatildeo de Metropolitana de Manaus

FIDAM- Fundo de Investimento Privado do Desenvolvimento

FNO- Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FONPLATA- Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

FUNAI- Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRA- Instituto Brasil de Reforma Agraacuteria

IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal

IIRSA- Iniciativa de Integraccedilatildeo Regional Sul Americana

INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

INIC- Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo

IPAAM- Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental da Amazocircnia

IPHAN- Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

PICs- Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo

PIND- Programa de Integraccedilatildeo Nacional de Desenvolvimento

16

PND- I Plano Nacional de Desenvolvimento

PNN- Plano Nossa Natureza

POLAMAZOcircNIA- Polos Agropecuaacuterios e Agrominerais da Amazocircnia

PRODES- Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica brasileira por sateacutelite

RMM- Regiatildeo Metropolitana de Manaus

SEMTA- Serviccedilo Especial de Mobilizaccedilatildeo de Trabalhos para a Amazocircnia

SEPROR- Secretaacuteria de Estado da Produccedilatildeo Rural

SNAPP- Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute

SPI- Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

SRMM- Secretaacuteria Executiva do Conselho de Desmatamento Ambiental da Regiatildeo

Metropolitana de Manaus

SUFRAMA ndash Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus

UAB- Usina Hidreleacutetrica de Balbina

UFAM- Universidade Federal do Amazonas

17

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO19

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS23

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO31

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTOS E INTEGRACcedilAtildeO

NACIONAL34

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA40

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO

SOLIMOtildeESAMAZONAS52

21 ndash QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA

AMAZOcircNIA57

211 ndash Um Lugar Chamado Manaquiri63

222 ndash Infraestrutura do Manaquiri Produccedilatildeo Agriacutecola68

22 ndash MARCHA PARA O OESTE E A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS72

221 ndash Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- Cana ldquoUm Lugar Para recomeccedilarrdquo78

222 ndash Infraestrutura da Cana da Produccedilatildeo Agriacutecola a Construccedilatildeo de Batelotildees85

223 ndash Da Sede da CANA agrave comunidade da Bela Vista87

3 ndash PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO96

31- RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR104

32 - MANAUS METROacutePOLE105

321 Ponte Rio Negro Proposta e Realidade108

33- PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS 116

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI 125

341 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Bela Vista 135

18

342 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Sede do Municiacutepio de

Manaquiri142

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR NO FUTURO ALTERNATIVA DE

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS153

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO158

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute162

43 BR-230 TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Aacute FAZENDAS DE

GADO165

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute-RR DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI)170

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO180

46 ndash OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES188

461 Proposta de Educaccedilatildeo Ambiental Audiecircncias Puacuteblicas e o preparo das localidades

ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri192

CONSIDERACcedilOtildeS FINAIS201

REFEREcircNCIAS204

APEcircNDICE 1219

APEcircNDICE 2220

19

INTRODUCcedilAtildeO

No final do seacuteculo XIV com o objetivo de comprar especiarias como accedilafratildeo canela

pimenta entre outros na Iacutendia os europeus principalmente portugueses e espanhoacuteis se

viram obrigados a encontrar uma rota alternativa para chegar a chamada Iacutendias Orientais

dando inicio agrave corrida pelas Grandes Navegaccedilotildees tornando os mares as principais vias de

circulaccedilatildeo de pessoas e mercadores a partir do seacuteculo XV intensificado ainda mais com a

descoberta das Ameacutericas

A preocupaccedilatildeo de invasotildees por paiacuteses adversaacuterios provocou a fundaccedilatildeo de

pequenas vilas e fortes ao longo dos litorais das Ameacutericas com o intuito de defender o

territoacuterio receacutem-descoberto Todavia a ocupaccedilatildeo de terras situadas proacuteximas a cursos de

aacutegua eacute anterior agraves Grandes Navegaccedilotildees uma vez que as cidades mais antigas do mundo tecircm

suas origens proacuteximas a cursos drsquoaacutegua mares e oceanos Como por exemplo a cidade de

Jericoacute na Palestina considerada a aglomeraccedilatildeo urbana mais antiga do mundo com data de

nove mil anos aC estaacute diretamente ligada ao rio Jordatildeo (VOGUE 2012) Outras cidades

consideradas antigas satildeo Mumbai na Iacutendia banhada pelo Oceano Iacutendico Xangai na China

banhada pelo Mar da China Meridional

No Brasil natildeo seria diferente uma vez que foi Colocircnia de Portugal no litoral e

Colocircnia Espanhola na Amazocircnia ateacute os espanhoacuteis serem expulsos pelos portugueses da

regiatildeo no seacuteculo XVII Entretanto os resquiacutecios da colonizaccedilatildeo portuguesa persistiram no

litoral criando primeiramente vilas depois cidades em constante crescimento populacional

concentradas em pequenos centros urbanos agrave principio e depois em meacutedios centros nos

seacuteculos seguintes

Com a libertaccedilatildeo dos escravos em 1888 novas aacutereas passam a ser ocupadas no

entorno dos centros urbanos ou no meio deles como eacute o caso dos morros na cidade do Rio

de Janeiro no inicio de 1900

A populaccedilatildeo brasileira concentrada quase em sua totalidade no litoral brasileiro no

inicio do seacuteculo XX definia a maior parte do territoacuterio como espaccedilos ldquovaziosrdquo o Governo

Brasileiro na pessoa do entatildeo Presidente da Repuacuteblica Getuacutelio Vargas (1938-1942) diante

20

dessa situaccedilatildeo criou as Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional enfatizando a ocupaccedilatildeo

principalmente da Amazocircnia e do Centro-Oeste brasileiro

Entretanto esta natildeo foi a primeira poliacutetica de povoamento da Amazocircnia pois o

primeiro Ciclo da Borracha aconteceu entre 1879-1912 onde centenas de milhares de

pessoas migraram para a regiatildeo com o objetivo de trabalharem na retirada do laacutetex da

seringueira (Hevea brasiliensis)

Contudo essa migraccedilatildeo em considerada escala natildeo permaneceu por um longo

periacuteodo tambeacutem natildeo chegou a ocupar significativa porcentagem da Amazocircnia isto eacute os

imigrantes se concentravam em poucos locais chamados de ldquoseringaisrdquo situados ao longo

dos rios no sudoeste do Amazonas e posteriormente no estado do Acre receacutem-

conquistado

As Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional criadas e iniciadas por Vargas em 1940 com o

Decreto-Lei nordm 2009 de 09 de Fevereiro de 1940 daacute inicio a criaccedilatildeo de Nuacutecleos Coloniais

(lotes rurais previamente demarcados) com o objetivo de incentivar a colonizaccedilatildeo e a

produccedilatildeo agriacutecola em aacutereas consideradas vazias desde que as aacutereas escolhidas reunissem

as condiccedilotildees exigidas na lei

Em 14 de Fevereiro de 1941 atraveacutes do Decreto-Lei nordm3059 criam-se as Colocircnias

Agriacutecolas Nacionais custeadas integralmente pelo governo federal Entre as colocircnias

fundadas estaacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA criada pelo Decreto-Lei nordm

8056 de 30 de Dezembro de 1941 localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem

esquerda do rio Solimotildees com o nome de Colocircnia Agriacutecola Nacional da Bela Vista

A presente pesquisa pretendeu fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo e

funcionamento CANA utilizando-se de entrevistas com os colonos que continuam morando

na regiatildeo Ao mesmo tempo fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo da cidade sede do

municiacutepio do Manaquiri situado agrave margem direita do Rio Solimotildees

Poreacutem o trabalho natildeo eacute somente um resgate histoacuterico pois o mesmo tambeacutem

identifica os impactos das grandes obras para reabertura da BR 319 na visatildeo dos moradores

das localidades ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri e posteriormente estruturar uma

alternativa que propicie informaccedilotildees aos moradores para a tomada de decisatildeo em relaccedilatildeo

aos empreendimentos propostos visando agrave construccedilatildeo de cenaacuterios futuros de modo a

garantir a conservaccedilatildeo do ambiente

21

O problema que norteou a pesquisa estaacute relacionado agrave proposta de

desenvolvimento da Amazocircnia compatibilizada com a sua conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as alteraccedilotildees na vida de

ribeirinhos do rio SolimotildeesAmazonas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri

no estado do Amazonas frente agrave reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte

sobre o rio tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras

Para o alcance desse objetivo geral a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos

especiacuteficos analisar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) visando o

comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis e o consequente decliacutenio no volume da produccedilatildeo

agriacutecola caracterizar a percepccedilatildeo dessas comunidades sua relaccedilatildeo com o ecossistema e

perspectiva de desenvolvimento do lugar propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental que

considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e sustentabilidade com a

reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da BR-319

A dissertaccedilatildeo estaacute organizada em quatro capiacutetulos Floresta Amazocircnica realidade e

desafios A vida ribeirinha em torno da sazonalidade do rio SolimotildeesAmazonas Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Complexidade perspectiva de Desenvolvimento Educaccedilatildeo Ambiental e

Poliacuteticas de Desenvolvimento para a Amazocircnia

Ao longo do primeiro capiacutetulo discutiu-se as diversas abordagens sobre a

Amazocircnia acompanhada da sua demarcaccedilatildeo territorial seja ela feita pelo bioma amazocircnico

ou pela delimitaccedilatildeo de Amazocircnia Legal Brasileira o processo de evoluccedilatildeo do pensamento

histoacuterico sobre a regiatildeo do claacutessico ao moderno baseado em autores que classificam a

Amazocircnia segundo seus aspectos fiacutesicos Os projetos de desenvolvimento implantados na

regiatildeo foram ressaltados em seus respectivos momentos histoacutericos e suas representaccedilotildees

tanto para seus executores quanto para o momento poliacutetico de cada eacutepoca Nesse sentido

foram descritos o potencial hiacutedrico da regiatildeo e a opccedilatildeo de rodovias para alcanccedilar natildeo soacute as

fronteiras mas para minimizar os problemas enfrentados em outras regiotildees brasileiras bem

como a seca no nordeste e o excesso de matildeo de obra

No segundo capiacutetulo foi traccedilado um panorama sequencial apoacutes a quebra da

borracha e os reflexos nas margens dos rios da regiatildeo com a

migraccedilatildeo dos ex-seringueiros para proacuteximo dos centros urbanos a fundaccedilatildeo de pequenos

povoados ao longo das calhas dos rios e a fundaccedilatildeo da Vila do Jaraqui que mais tarde se

22

tornaria a cidade de Manaquiri no estado do Amazonas No mesmo capiacutetulo descreve-se a

fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA com a chegada de

seus futuros colonos sua distribuiccedilatildeo espacial e posteriormente a sua transformaccedilatildeo ao

longo dos anos com a vinculaccedilatildeo ao municiacutepio de Manacapuru como uma comunidade

rural

No terceiro capiacutetulo discutiu-se as bases teoacutericas da percepccedilatildeo transdisciplinar e a

perspectiva de desenvolvimento dividido em dois momentos no primeiro apresenta-se o

conceito de percepccedilatildeo transdisciplinar e seus pilares ontoloacutegico a loacutegica do terceiro

incluiacutedo e a complexidade com seus tambeacutem trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional

e hologramaacutetico No segundo momento eacute discutido o conceito de desenvolvimento

empregado na criaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Manaus e na construccedilatildeo da ponte sobre

o rio Negro considerada a ldquoponte do futurordquo porque permitiraacute o acesso agrave BR 319 com a sua

vinculaccedilatildeo agrave ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas Ainda no capiacutetulo trecircs foi discutida a

percepccedilatildeo ambiental dos entrevistados sobre o meio ambiente natural onde vivem e sua

relaccedilatildeo com o mesmo visando colher informaccedilotildees que possam vir a ser usadas para a

sensibilizaccedilatildeo das localidades da Bela Vista e do Manaquiri

No quarto e uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho foi feito um resgate histoacuterico da

Educaccedilatildeo Ambiental no Brasil e no mundo assim como os impactos das rodovias

construiacutedas na Amazocircnia de forma a relacionar com as informaccedilotildees apontadas pelos

moradores da Bela Vista e de Manaquiri em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio

SolimotildeesAmazonas Ao mesmo tempo a pesquisa propotildee a execuccedilatildeo de alternativas de

Educaccedilatildeo Ambiental a fim de contribuir com a formaccedilatildeo de uma opiniatildeo puacuteblica baseada

em informaccedilotildees concretas de diversas fontes considerando a complexidade da questatildeo

ambiental

23

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS

A Floresta Amazocircnica Tropical ou Limite Panamazocircnica estaacute situada no norte da

Ameacuterica do Sul compreendendo os paiacuteses Boliacutevia Brasil Equador Colocircmbia Peru e a

Venezuela o equivalente a ldquo120 da superfiacutecie terrestre e dois quintos da Ameacuterica do Sul

conteacutem um quinto da disponibilidade mundial de aacutegua doce (17) e um terccedilo das florestas

mundiais latifoliadas mas somente 35 mileacutesimos da populaccedilatildeo planetaacuteriardquo(BECKER 2009

p33)

O Brasil deteacutem a maior parte da Florestal Tropical Amazocircnica ou Bioma Amazocircnico

que por coincidecircncia eacute toda a regiatildeo norte do paiacutes com aproximadamente 42 milhotildees de

kmsup2 o equivalente a 49 de todo o territoacuterio brasileiro abrangendo nove estados satildeo eles

Amazonas Paraacute Mato Grosso Acre Rondocircnia Roraima Amapaacute e partes dos estados de

Tocantins e Maranhatildeo (GREENPEACE 2014)

O Bioma Amazocircnico no Brasil eacute corriqueiramente confundido com a Amazocircnia

Legal instituiacuteda pela Lei nordm nordm 1806 de 06 de Janeiro de 1953 que discorre em seu art 2ordm

Art 2ordm A Amazocircnia Brasileira para efeito de planejamento econocircmico e execuccedilatildeo do Plano definido nesta lei abrange a regiatildeo compreendida pelos Estados do Paraacute e do Amazonas pelos territoacuterios federais do Acre Amapaacute Guaporeacute Roraima e ainda a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16ordm a do Estado de Goiaacutes a norte Tocantins e a do Maranhatildeo a oeste do meridiano de 44ordm (BRASIL 1953 p 276)

Com isso a Amazocircnia Legal abrange integralmente ou parcialmente dez estados

brasileiros que somados correspondem a 52 milhotildees de quilocircmetros quadrados sendo eles

Amazonas Paraacute Acre Amapaacute Rondocircnia (antigo estado de Guaporeacute) Roraima significativa

porcentagem do estado do Mato Grosso e aproximadamente metade do estado de Goiaacutes

juntamente com Tocantins e parte do Maranhatildeo (Figura 1)

24

O bioma Amazocircnico eacute classificado como uma recente planiacutecie sedimentar que

segundo Soares (1963 p25) estaacute ldquodisposta entre dois antigos e poucos elevados planaltos

cristalinosrdquo o que justifica sua pouca declividade em direccedilatildeo agrave sua foz no Oceano Atlacircntico

Banhada por uma intensa e extensa bacia hidrograacutefica a Amazocircnia eacute definida pela

literatura e pelos meios de comunicaccedilatildeo como uma regiatildeo homogecircnea de clima uacutemido de

cobertura vegetal e florestal densa (GONCcedilALVES 2001) No entanto tais definiccedilotildees sobre a

regiatildeo foram construiacutedas ao longo dos seacuteculos primeiramente com a chegada dos

espanhoacuteis agrave regiatildeo apoacutes perpetuados relatos e descriccedilotildees das paisagens encontradas

Uma visatildeo interessante sobre a Amazocircnia eacute apresentada por Rangel (2009) no inicio

do seacuteculo XX por meio de sete contos nos quais o autor destroacutei a imagem de um Eldorado

Amazocircnico construiacutedo ao longo de quatro seacuteculos apoacutes o seu descobrimento onde os

exploradores que se aventuravam pela regiatildeo descreviam suas paisagens animais cores e os

iacutendios encontrados cercados por romantismo

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia Fonte Greenpeace (2014) disponiacutevel em httpwwwgreenpeaceorgbrasilGlobalbrasilimage20105mapa_amazoniajpg

25

Rangel (2009) descreve uma realidade cruel enfrentada pelos homens que

ultrapassam a sua bela paisagem e se encontram face a face com os perigos escondidos na

floresta

Eacute compreensiacutevel a construccedilatildeo de um cenaacuterio tatildeo monstruoso e cruel uma vez que o

ser humano por essecircncia tem medo do desconhecido e costuma criar estoacuterias para

justificar seus medos contudo se faz necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo o contexto histoacuterico

especiacutefico de cada publicaccedilatildeo

Na verdade o Eldorado Amazocircnico ou o Paraiacuteso Perdido foram contos trazidos pelos

proacuteprios navegadores E satildeo na verdade contos da Greacutecia Antiga transmitidos ao longo dos

seacuteculos que foram implantados sobre a regiatildeo baseados nas semelhanccedilas fiacutesicas como

floresta aacutegua em abundacircncia minerais animais etc

Portanto a definiccedilatildeo de Amazocircnia ldquoeacute na verdade mais uma imagem sobre a regiatildeo

do que da regiatildeordquo (GONCcedilALVES 2001 p17) Em outras palavras a descriccedilatildeo das

caracteriacutesticas do lugar define um quadro belo mais ou menos homogecircneo sobre a regiatildeo

quando na verdade o termo Amazocircnia

eacute um termo vago que adquire muacuteltiplos significados correspondente aos mais diferentes contextos socioecoloacutegico-culturais especiacuteficos que satildeo os espaccedilos do seu cotidiano Assim enquanto para uns ndash os de fora ldquoAmazocircniardquo aparece no singular para outros isto eacute para os que nela moram ndash ela eacute plural e multifacetada (GONCcedilALVES 2001 p18)

Banhada por uma extensa e intensa bacia hidrograacutefica apoiada em altos iacutendices

pluviomeacutetricos anuais eacute uma floresta gigantesca em tamanho e diversidade torna a

Amazocircnia o palco de espetaacuteculos beliacutessimos em sua paisagem (Figura 2)

26

Contudo segundo Soares (1963) a Amazocircnia estaacute dividida em dois terrenos de

caracteriacutesticas fisionocircmicas distintas

[]os planos ondulados alagaacuteveis ou natildeo mas sempre uacutemidos da bacia amazocircnica A chamada Mata de Vaacuterzea ou caa-igapoacute eacute uma das taxas de umidade mais elevada isto eacute uma planiacutecie aluvial inundaacutevel [] Jaacute a outra a Mata de Terra Firme ou caa-eteacute viceja em terrenos menos uacutemidos por estarem acima do niacutevel maacuteximo das cheias (SOARES 1963 p64)

Azevedo (1949) destaca que a Amazocircnia assim como o restante do territoacuterio

brasileiro comporta bacias sedimentares e tambeacutem rochas cristalinas muito antigas

Baseado nos trabalhos publicados e apoiado em suas pesquisas de campo Azevedo (1949)

classificou pela primeira vez todo o relevo brasileiro em macro sistemas dividido-os

segundo sua altimetria planiacutecies ateacute 200m e planaltos com altimetria superior a 200m

Nesse contexto agrave Amazocircnia Brasileira foi classificada como um planalto localizado no

extremo norte da regiatildeo chamado de Planalto das Guianas e possui uma planiacutecie que

comporta todo o estado do Acre adentra o estado do Amazonas e segue o curso do rio

Amazonas ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico

No final da deacutecada de 50 surge uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro de

autoria de AbrsquoSaber (1958) que teve por base o conjunto de agentes internos (tectonismo) e

externos (clima solo hidrografia etc) e os processos geomorfoloacutegicos de erosatildeo e

deposiccedilatildeo onde o planalto eacute uma superfiacutecie de intensa erosatildeo e a planiacutecie de sedimentaccedilatildeo

Fez uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro acrescentando novas tipologias e

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees

Fonte Louzada (2011)

27

subdividindo outras jaacute existentes em Azevedo (1949) foi o que ocorreu na classificaccedilatildeo do

relevo amazocircnico onde o Planalto das Guianas e a Planiacutecie Amazocircnica de Azevedo (1949)

passou a ser denominada de planiacutecies (terras de vaacuterzea ou terraccedilos fluviais) e terras baixas

amazocircnicas (aacutereas de terra firme ou baixos planaltos)

Todavia o trabalho de Ross (2003) foi um marco na caracterizaccedilatildeo do relevo

brasileiro pois atraveacutes do Projeto Radam Brasil o autor teve a oportunidade de sobrevoar

todo o territoacuterio brasileiro e ter acesso as imagens aeacutereas de radar que o permitiu fundir

informaccedilotildees tanto dos processos morfoestruturais (depressatildeo planalto planiacutecie etc) e

estrutura geoloacutegica como utilizar o criteacuterio morfoclimaacutetico principalmente do intemperismo

(erosatildeo e deposiccedilatildeo) Tanto conhecimento que permitiu ao autor expandir a caracterizaccedilatildeo

do relevo brasileiro caracterizando-o em 28 unidades de revelo

Na classificaccedilatildeo de Ross (2003) a Amazocircnia estaacute dividida assim Planalto Residual

Norte Amazocircnico Planalto da Amazocircnia Oriental Planalto Residual Sul Amazocircnico Planalto

e Chapada dos Parecis Depressatildeo Marginal Norte Amazocircnica Depressatildeo Marginal Sul

Amazocircnica Planiacutecie do Rio Amazonas Planiacutecie do Pantanal Guaporeacute Planiacutecies e Tabuleiros

Litoracircneos e Planiacutecie do Rio Araguaia

Apesar da nomenclatura diferente a Planiacutecie do Rio Amazonas descrita por Ross

(2003) eacute a mesma planiacutecie de terras baixas descritas por AbrsquoSaber (1958) onde predominam

terras alagaacuteveis conhecidas como vaacuterzeas Soares apud Camargo (1963) afirma que as

vaacuterzeas correspondem a 15 de todo o territoacuterio da Amazocircnia Brasileira

As terras de vaacuterzea satildeo cobertas pela sazonalidade do rio em meacutedia seis meses ao

ano todavia ao contraacuterio do que muitos leigos dizem as terras natildeo satildeo lavadas pelo rio ao

contraacuterio satildeo nutridas pelo mesmo atraveacutes da deposiccedilatildeo de materiais conhecidos como

aluviotildees (depoacutesitos de sedimentos trazidos pelas aacuteguas) o que torna as terras de vaacuterzea

feacuterteis e cultivaacuteveis em seu periacuteodo seco

A mata de vaacuterzea apresenta maior diversidade botacircnica que a mata de terra firme

devido agrave quantidade e variedade de sementes transportadas pelas aacuteguas das cheias anuais

depositadas nos solos ricos das vaacuterzeas Um grande exemplo dessa diversidade eacute a aacutervore

Samauacutema (Ceiba Pentandra) detentora de um tronco grosso e coloraccedilatildeo esbranquiccedilada

que apresenta uma grande copa e de relativa altura ultrapassando os 50m sendo

considerada a ldquorainha da vaacuterzeardquo (SOARES 1963)

28

Por causa de sua nutriccedilatildeo anual as terras de vaacuterzea satildeo ocupadas pelas populaccedilotildees

ribeirinhas tradicionais para a produccedilatildeo agriacutecola por meio do plantio de cultivos de ciclo

curto como frutas (melancia maracujaacute banana melatildeo mamatildeo papaia goiaba) mas

principalmente de verduras (cebolinha coentro alfavaca couve berinjela pepino alface

entre outras) aleacutem da macaxeira e da mandioca que em seguida eacute utilizada na fabricaccedilatildeo da

farinha de mandioca muito consumida na regiatildeo Eacute atraveacutes das vaacuterzeas tambeacutem que as

populaccedilotildees tradicionais manteacutem seu contato diaacuterio com o rio principal via de circulaccedilatildeo na

Amazocircnia

Geralmente proacuteximas agraves vaacuterzeas que se formam as ilhas fluviais que segundo Sioli

apud Pacheco et al (2012 p543) satildeo fruto ldquodas modificaccedilotildees constantes na paisagem

atraveacutes do processo das planiacutecies de inundaccedilatildeovaacuterzeas ora erodindo-as e outras vezes

sedimentando-asrdquo

Essa dinacircmica acontece porque no processo fluvial de um rio a competecircncia e a capacidade estatildeo atreladas a triacuteade fluvial 1) erosatildeo 2) transporte das cargas detriacuteticas e 3) deposiccedilatildeo (BIGARELLA e SUGUIU 1990CHRISTOFOLETTI1980 e 1991) Ressalta-se desse modo que essa dinamicidade das aacuteguas fluviais natildeo contribui apenas para o modelado do relevo das planiacutecies aluviais pois ao desencadear o processo da triacuteade influencia na vida do homem de maneira que o atrai para a edificaccedilatildeo do seu sistema de produccedilatildeo [] Nessa dinacircmica vai deixando bancos dentriacuteticos que chegam a formar ilhas fluviais que constituem o ecossistema de vaacuterzea onde o homem passa a interagir com seu modo de vida (PACHECO et al 2012 p543)

Os autores referem-se agrave utilizaccedilatildeo das ilhas fluviais pelos ribeirinhos para a

produccedilatildeo agriacutecola de alimentos de ciclo curto como feijatildeo de metro ou corda feijatildeo de

praia melancia entre outros para complementar a alimentaccedilatildeo familiar ou para a venda no

mercado consumidor mais proacuteximo

Ao contraacuterio dos solos de vaacuterzea que satildeo nutridos pelas aacuteguas dos rios quando satildeo

cobertos pelas cheias os solos de terra firme nunca satildeo totalmente cobertos pelas aacuteguas

nem quando as enchentes extrapolam sua cota normal o que natildeo permite a nutriccedilatildeo dos

seus solos que eacute parcialmente alcanccedilado com a decomposiccedilatildeo das folhas das aacutervores e dos

proacuteprios nutrientes do solo

Apesar da ausecircncia de depoacutesitos aluviais nas aacutereas de terra firme isto natildeo impede a

existecircncia de aacutervores consideradas nobres como o mogno (Swieteniamahogany) angelim

(Hymenolobim excelsum) maccedilaranduba (Lucuma procera) e uma gigantesca lista de outras

29

espeacutecies de madeiras de lei (SOARES 1963) de grande procura no mercado o que torna as

aacutereas de terra firme da Amazocircnia alvo de grande empresas madeireiras

Devido ao seu gigantesco territoacuterio maior do que o nordeste brasileiro inteiro e

qualquer outra regiatildeo do paiacutes a Amazocircnia ainda eacute vista como um ldquovazio demograacuteficordquo pois

sua populaccedilatildeo mesmo somando os sete estados que compotildeem a regiatildeo norte do paiacutes natildeo

expressa um nuacutemero significativo de habitantes pois tem densidade demograacutefica meacutedia de

444 (habkmsup2) (IBGE 2010)

Por anos a Amazocircnia foi definida e divulgada em larga escala ao mundo como

sendo uma regiatildeo monoacutetona e pouco compartimentalizada desprovida de diversidade

fisiograacutefica e ecoloacutegica ldquoEnfim um espaccedilo sem gente e sem histoacuteria passiacutevel de qualquer

manipulaccedilatildeo por meio de planejamento feito a distacircncia ou sujeita a proposta de obras

faraocircnicas vinculadas haacute um muito falso conceito de desenvolvimentordquo (ABrsquoSABER 1996

p131)

Nesse contexto de ldquoabundacircnciardquo de recursos naturais e terras disponiacuteveis a

Amazocircnia foi e continua sendo a preocupaccedilatildeo nacional pois corresponde

aproximadamente a metade do territoacuterio brasileiro suas dimensotildees e riquezas naturais natildeo

totalmente catalogadas pelos cientistas e estudiosos acabam por atrair um grande numero

de pessoas oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo (BECKER 1997)

Diante disso com o golpe do Estado Novo executado por Getuacutelio Vargas em 1937

contra os candidatos agrave presidecircncia da receacutem criada Repuacuteblica do Brasil Joseacute Almeida e

Armando Oliveira (acusados de serem comunistas) Vargas assume o poder em 1938

tornando prioridade a integraccedilatildeo econocircmica nacional atraveacutes da colonizaccedilatildeo de regiotildees

consideradas desabitadas como a Amazocircnia e o Centro-oeste brasileiro

Em virtude de que a capital do paiacutes ainda se encontrava no litoral na cidade do Rio

de Janeiro o nome do movimento de integraccedilatildeo nacional recebeu o nome de ldquoMarcha para

o Oesterdquo entretanto a marcha seguia em direccedilatildeo ao centro oeste em diferenccedila aos estados

de Minas Gerais Mato Grosso posteriormente ao Norte agrave Amazocircnia

A Marcha para o Oeste na verdade continha importacircncia estrateacutegica para

seguranccedila das fronteiras no entanto o objetivo principal era ocupar os espaccedilos

considerados vazios demograacuteficos e seguranccedila nacional era sua maior preocupaccedilatildeo

30

Segundo Ricardo (1970) a Marcha para o Oeste de Getuacutelio Vargas seria a

conquista de seu proacuteprio territoacuterio uma vez que o mesmo foi esquecido por muitos anos

discurso este impregnado na ampla campanha veiculada pelo raacutedio em transmissotildees

semanais incentivando a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira para os espaccedilos considerados

vazios de gente e necessitados de histoacuteria

Ainda segundo Ricardo (1970) a naccedilatildeo brasileira se concretiza na conquista do

interior do Brasil lugar de gecircnese do Estado Nacional materializado na proacutepria bandeira

ldquoQuando entra no mato a primeira bandeira termina a histoacuteria de Portugal e comeccedila a do

Brasilrdquo (RICARDO 1970 p229)

Nota-se no entanto que Ricardo (1970) eacute um grande defensor da Marcha para o

Oeste de Vargas porque deseja como jornalista escrever a histoacuteria do Brasil a partir de um

novo comeccedilo sem a influecircncia negativa do litoral visto por ele como a porta de entrada das

ideias corruptoras vindas da Europa entre elas o comunismo

Ricardo (1970 p480) afirma que a Marcha para o Oeste eacute a chance de

ldquodesfeudalizar a economia da casa-grande golpeando de morte a aristocracia do litoral

brasileirordquo

Capelato (1998) considera que a releitura do passado no caso os bandeirantes do

seacuteculo XVII e a transposiccedilatildeo para o presente impregnado em um siacutembolo a bandeira

converge para a construccedilatildeo de uma nova nacionalidade

Desse modo ldquoa bandeira no interior da tropa concentra poderes pois assume o

papel de chefe de famiacutelia substituindo o cacique e o senhor feudalrdquo (RICARDO 1970 p479)

Esta comparaccedilatildeo entre o chefe de famiacutelia o bandeirante e o chefe de estado na verdade era

uma transferecircncia de poder a bandeira que se transformava em um ldquoEstado em miniaturardquo

para a formaccedilatildeo de um Estado brasileiro com a inclusatildeo de brancos iacutendios e negros uma

democracia racial e a unidade nacional

Todavia para Lenharo (1985) a expansatildeo geograacutefica e a integraccedilatildeo territorial que o

movimento bandeirista proporcionaraacute no passado transportado ao presente (seacuteculo XX)

pela Marcha para o Oeste tendo como siacutembolo a bandeira brasileira dava contorno e

conhecimento fiacutesico do Estado Nacional ao mesmo tempo democratizaccedilatildeo agrave naccedilatildeo atraveacutes

da miscigenaccedilatildeo

31

Ricardo (1970) destaca ainda que o ato de Marcha para o Oeste natildeo eacute somente um

caminho a ser percorrido no ato de uma regeneraccedilatildeo em que a pureza do sertatildeo seraacute

submetida pelo litoral recebendo sua riqueza material e cultural

Mas sobretudo a marcha para o centro do paiacutes e depois para o oeste (no caso agrave

Amazocircnia sendo portanto o norte do paiacutes e natildeo o oeste) significava a ldquointegraccedilatildeo de

milhares de brasileiros agrave comunhatildeo nacional e seus benefiacutecios dando a oportunidade de

brasileiros de mentalidade atrasada [] penuacuteria fiacutesica [] e indigecircncia intelectual aleacutem da

miseacuteria econocircmicardquo (MESQUITA1943 p 264-265) a chance uacutenica de integraacute-los na vida

nacional levando assistecircncia agraves populaccedilotildees sertanejas ldquoignoradas e subnutridasrdquo(RICARDO

1956 p62-63)

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO

De beleza e diversidade sem igual a Floresta Amazocircnica Brasileira permaneceu

relativamente intacta apoacutes os quatro seacuteculos de sua ldquodescobertardquo pelos espanhoacuteis pois natildeo

era possiacutevel viabilizar accedilotildees que viessem a conquistar a regiatildeo ateacute entatildeo isolada dos centros

dinacircmicos do paiacutes

Contudo La Condamine apud Batista (2007 p169) destaca

[] foi encontrar o cahuchu (nome que os iacutendios davam a goma significando ao peacute da letra pau que daacute leite) na Proviacutencia de Quito e depois nas beiras do Marantildeon jaacute utilizado para a confecccedilatildeo de garrafas botas bolas e bombas ou seringas A novidade estava em que os artefatos de borrachas se mostravam impermeaacuteveis e de grande elasticidade Comunicando o achado sensacional La Condamine se apresentou a Academia de Ciecircncias de Paris (BATISTA 2007 p169)

No ano de 1745 inicia-se inuacutemeras expediccedilotildees para a Amazocircnia com o objetivo de

colher a goma e testaacute-la nos anos que se seguiram agrave ldquodescobertardquo do laacutetex diversos foram

os testes para conhecer a substacircncia e tornaacute-la resistente agraves mudanccedilas de temperatura e

suas muacuteltiplas utilizaccedilotildees

Ateacute que em 1839 depois de 94 anos de pesquisa e estudos ldquoo americano Charles

Goodyear descobriu que misturando enxofre agrave borracha (vulcanizaccedilatildeo) conseguia

aumentar-lhe a resistecircncia e tornaacute-la quase insensiacutevel agraves variaccedilotildees de

temperaturardquo(BATISTA 2007 p170)

32

Com a possibilidade de vulcanizaccedilatildeo da borracha e por consequecircncia uma maior

aplicabilidade na fabricaccedilatildeo de produtos resultou no

[] aumento consideravelmente a induacutestria de seus artefatos e consequentemente a sua extraccedilatildeo (em 1827 a Amazocircnia Brasileira jaacute exportava mais de 30 toneladas) entatildeo realizada por gente da terra agrave qual se juntariam mais tarde (pouco depois de 1850) emigrados da Proviacutencia do Maranhatildeo que se instalaram nos vales do Purus e do Solimotildees (SOARES apud REIS 1963 p119)

Segundo Soares (1963 p119)

Caberia ao nordestino poreacutem contribuir de maneira dramaacutetica e consideraacutevel para a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia Duramente castigado pela inclemecircncia do clima semiaacuterido com intermitentes e flagrante secas de sua terra natal viu na rendosa extraccedilatildeo do precioso laacutetex a soluccedilatildeo para o seu angustiado problema de sobrevivecircncia trocaria assim a miseacuteria e a falta drsquoaacutegua pela fortuna generosa num lugar onde natildeo passaria mais fome e sede O pesado tributo que aquela ldquoterra de promissatildeordquo iria cobrar-lhe mais tarde em sofrimentos fiacutesicos e ateacute com a proacutepria vida lhe era ainda desconhecido (SOARES 1963 p119)

Diante das rigorosas secas a partir de 1870 levas de migrantes

[] flagelados famintos doentes e desesperados lanccedilaram-se no ldquoinferno verderdquo da Amazocircnia que desconheciam totalmente numa migraccedilatildeo desordenada ldquodolorosa e anaacuterquicardquo na realidade um verdadeiro ecircxodo forccedilado mais pela fome e pela sede do que pela ambiccedilatildeo de uma riqueza que se afigurava faacutecil Oriundos principalmente do estado do Cearaacute o nordestino viesse de que estado fosse do Nordeste era chamado ldquocearenserdquo pelos habitantes da Amazocircnia (SOARES1963 p120)

Soares (1963) descreve que os maiores deslocamentos de nordestinos para a

Amazocircnia eram observados por ocasiatildeo das grandes secas e principalmente se

coincidissem com o alto preccedilo da borracha nos mercados internacionais

Soares (1963 p123) afirma que ateacute 1930 calculou-se que 200 mil nordestinos

migraram para a Amazocircnia em busca de terras para cultivar e uma chance de sobreviver e

criar seus filhos Foi atraveacutes deste e de muitos outros movimentos migratoacuterios em direccedilatildeo agrave

Amazocircnia que foi se construindo ao longo dos anos e seacuteculos o que conhecemos hoje

como espaccedilo geograacutefico amazocircnico

Dardel (2011 p3) descreve o espaccedilo geograacutefico como sendo ldquoum horizonte uma

modelagem cor densidade Ele eacute soacutelido liacutequido ou aeacutereo largo ou estreito ele limita e

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resisterdquo Tal descriccedilatildeo do espaccedilo relembra o rigor da ciecircncia frente agraves lentes de um

observador justo que seleciona imagem que reafirme seu amparo e sua medida

Todavia Dardel tambeacutem afirma que eacute funccedilatildeo da ldquogeografia segundo a etimologia

fazer a descriccedilatildeo da Terrardquo (DARDEL 2011 p3) Prossegue ressaltando que diferentemente

do rigor da ciecircncia que se apega agraves paisagens e fatos que sirvam ao seu propoacutesito o

geoacutegrafo se prende agrave leitura das formas e cores da superfiacutecie terrestre atraveacutes das lentes do

romantismo onde as feiccedilotildees da Terra despertam vibraccedilotildees e cores

Por outro lado AbrsquoSaber (2011) descreve a paisagem considerando

predominantemente os aspectos fiacutesicos extensotildees planaltos planiacutecies tentando

compreender o mosaico de formas que os compotildeem todavia natildeo atraveacutes das lentes do

romantismo como afirmado por Dardel (2011) mas atraveacutes do conhecimento adquirido da

observaccedilatildeo da paisagem e suas diferentes formas

Tal descriccedilatildeo pode ser usada como uma das definiccedilotildees do que eacute ser um geoacutegrafo

entretanto o que se propotildee aqui eacute entender o que eacute espaccedilo afinal Pode ser a organizaccedilatildeo

territorial dada pelo homem em relaccedilatildeo ao meio ambiente natural (MOREIRA 2011 p41)

que leva em consideraccedilatildeo a mudanccedila da relaccedilatildeo do homem com o meio a partir de dois

periacuteodos marcantes na histoacuteria a descoberta do fogo e a domesticaccedilatildeo de algumas plantas

para a agricultura Por outro lado Dardel (2011 p03) afirma que o espaccedilo eacute geomeacutetrico e

uacutenico que tem nome proacuteprio As definiccedilotildees de espaccedilo satildeo muitas e variam dentro da

mesma ciecircncia geograacutefica mas todas de alguma forma concordam que espaccedilo eacute um lugar

em dimensotildees ampliadas de muacuteltiplas e variadas funccedilotildees que servem de base para as

relaccedilotildees humanas com o meio ambiente natural ou construiacutedo

Diante de tantas definiccedilotildees sobre o espaccedilo se torna mais faacutecil compreender a visatildeo

de Gonccedilalves (2001) sobre a Amazocircnia e suas diferentes Amazocircnias frutos de suas

conquistas Primeiramente pelos espanhoacuteis na sua descoberta posteriormente pela invasatildeo

portuguesa depois pela catequizaccedilatildeo jesuiacuteta pelas migraccedilotildees em pequena escala durante

os seacuteculos seguintes e em grande escala no Ciclo da Borracha no inicio do seacuteculo XX e as

colocircnias (japoneses em Parintins nordestinos israelenses aacuterabes em Manacapuru)

Considere-se ainda a construccedilatildeo de estradas como a BR230 ndash a Transamazocircnica (Paraiacuteba -

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Amazonas) a BR153 (Beleacutem-Brasiacutelia) a BR174 (Manaus - Boa Vista) a BR319 (Manaus- Porto

Velho) entre outras que permitiram a chegada de mais migrantes agrave regiatildeo

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRACcedilAtildeO NACIONAL

Um dos discursos mais antigos sobre a Amazocircnia aleacutem de descrever suas

dimensotildees e paisagem estonteantes eacute a afirmaccedilatildeo erroneamente empregada de que a

regiatildeo eacute ldquoum vazio demograacuteficordquo discurso este sustentado haacute muitos seacuteculos Orellana apud

Batista (2007 p53) afirma ter encontrado aldeias ao longo do rio Amazonas com

populaccedilotildees numerosas sempre bem providas de alimentos diversos

Batista (2007 p54) relata ainda as andanccedilas do padre Antocircnio Vieira pela foz do rio

Amazonas no seacuteculo XVIII que calculou a populaccedilatildeo em dois milhotildees de iacutendios de diferentes

povos e liacutenguas mas que falavam uma liacutengua em comum Todavia outros viajantes

contestam essas informaccedilotildees culpando a floresta pela escassez da populaccedilatildeo limitada a

viver em pequenos grupos

Ateacute hoje em pleno seacuteculo XXI com toda tecnologia disponiacutevel natildeo se chegou ainda

agrave conclusatildeo do real nuacutemero da populaccedilatildeo que viveu na regiatildeo o que diratildeo os viajantes que

passaram por ela Contudo haacute concordacircncia de que a populaccedilatildeo residente ou natildeo resistiu

bravamente ldquoa mais de quatro seacuteculos de confronto com o branco representado

fundamentalmente pelos espanhoacuteis e posteriormente por portugueses e seus

descendentesrdquo (BATISTA 2007 p53)

Ao partirmos do conceito de densidade demograacutefica utilizado atualmente pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE que afirma ldquodensidade populacional eacute a

medida expressa pela relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo e a superfiacutecie do territoacuteriordquo poderiacuteamos ateacute

considerar a afirmaccedilatildeo de que a ldquoAmazocircnia eacute um vazio demograacuteficordquo se comparada agraves suas

dimensotildees geograacuteficas se esse levantamento levar em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo populaccedilatildeo-

aacuterea equacionada por relaccedilotildees sociais entre si e com a natureza ao seu entorno

(GONCcedilALVES 2001) Esse dado poderia ser repensado haja vista que as grandes cidades da

Amazocircnia como Beleacutem e Manaus cresceram ao longo dos anos em contato constante com

a floresta sem desmataacute-la por completo com exceccedilatildeo de Beleacutem em relaccedilatildeo direta com a

natureza seja atraveacutes do extrativismo da pesca ou da agricultura Natildeo cabe aqui excluir

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Beleacutem mas destacar o seu crescimento diferenciado devido agrave sua ligaccedilatildeo terrestre com

outras cidades brasileiras

Segundo Gonccedilalves (2002) a Amazocircnia natildeo eacute um vazio demograacutefico e cultural em

virtude de natildeo estarmos pensando a partir dos amazocircnidas que tecircm muito a ensinar a toda

a humanidade porque aprenderam a viver em ldquoharmoniardquo com a natureza agrave sua volta

estando acostumados a reproduzir relatos da eacutepoca da colonizaccedilatildeo da regiatildeo muitas vezes

apoiados em estatiacutesticas de densidade populacional contemporacircnea mesmo sabendo que

tais dados (densidade populacional) expressam de forma resumida sua quantificaccedilatildeo sem

levar em consideraccedilatildeo caracteriacutesticas importantes como relaccedilatildeo da populaccedilatildeo com o meio

ambiente natural seu crescimento urbano sua qualidade de vida entre outras

Gonccedilalves (2001 p 33) afirma que o discurso de vazio demograacutefico

[] esconde aquela preocupaccedilatildeo jaacute salientada herdada do periacuteodo colonial que revela mais a respeito das dificuldades dos que querem colonizaacute-la em realizar o seu intento do que propriamente do povoamento da regiatildeo Eacute a ideia do vazio demograacutefico eacute frequentemente reiterada como que para justificar a necessidade de ocupaacute-la para garantir a integridade nacional (GONCcedilALVES 2001 p33)

Preocupado com a densidade populacional da Amazocircnia devido agraves suas dimensotildees

e sua gigantesca fronteira o poder puacuteblico criou as poliacuteticas de ocupaccedilatildeo e integraccedilatildeo

nacional apoacutes 1964 que Becker (1997 p11) definiu como ldquosurtos devassadores vinculados

agrave expansatildeo capitalista mundialrdquo

O I Plano Nacional de Desenvolvimento ndash PND foi criado pela Lei 5727 de 04 de

Novembro de 1971 e tinha como objetivos

- colocar o Brasil [] na categoria de naccedilatildeo desenvolvida - duplicar ateacute 1980 a renda per capita do paiacutes (em comparaccedilatildeo a 1969) - expandir o PIB de Cr$ 2228 bilhotildees em 1972 para Cr$ 3145 bilhotildees em 1974 - investimentos nas aacutereas de siderurgia petroquiacutemica transporte construccedilatildeo naval energia eleacutetrica e mineraccedilatildeo - prioridades sociais agricultura programas de sauacutede educaccedilatildeo saneamento baacutesico e incremento agrave pesquisa teacutecnico cientifica - ampliaccedilatildeo do mercado consumidor e da poupanccedila interna com os recursos do PIS e do PASEP -aumento da taxa de investimento bruto de 17 em 1970 para 19 em 1974 (MATOS 2002 p47)

Aleacutem desses objetivos o PND teria que preparar a infraestrutura que fosse

necessaacuteria para alcanccedilar todos os objetivos nas deacutecadas seguintes ldquocom destaque para os

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transportes e as telecomunicaccedilotildees aleacutem de articular poliacuteticas setoriais com empresas

estatais e bancos oficiaisrdquo (ALMEIDA 2006 p195)

Por este motivo criaram o Programa de Integraccedilatildeo Nacional - PIN que foi aprovado

pelo Decreto Lei nordm1106 em 16 de julho de 1970 vigorando ateacute 1972 no governo do entatildeo

presidente Emiacutelio Garrastazu Meacutedici (MATOS 2002 p47) atraveacutes da construccedilatildeo de grandes

obras no paiacutes com destaque para a Usina Hidreleacutetrica de Itaipu e a Rodovia Transamazocircnica

(considerada o marco principal do PIN)

O PIN tinha como um dos principais objetivos ldquocriar meios de expansatildeo da fronteira

econocircmica do paiacutes em direccedilatildeo ao Centro-Oeste da Amazocircnia e do Nordesterdquo (MELLO 2006

p29) por meio de estradas ligando os centros dinacircmicos e modernos do paiacutes agrave lugares

isolados

Para as rodovias na Amazocircnia comeccedilando pela rodovia Transamazocircnica se previa

no PIN segundo Velho (1995 p210) que a cada cem quilocircmetros de estradas deveriam ser

assentadas cem mil famiacutelias

Entre os trechos de Altamira e Itaituba na Transamazocircnica deveria ser construiacutedas

Agrovilas (com 64 lotes com o espaccedilo 100 ha cada e casas destinadas aos colonos para o

desenvolvimento de suas atividades agriacutecolas) As agrovilas deveriam contar com escolas de

1ordmGrau (atual Ensino Fundamental) posto meacutedico igrejas e um armazeacutem para produtos

agriacutecolas (RABELLO 2011)

Tambeacutem se previa a implantaccedilatildeo de Agroacutepolis (conjunto de agrovilas em torno de

um nuacutecleo de serviccedilos urbanos) contendo todos os serviccedilos de agrovilas e serviccedilos

bancaacuterios correios e de escolas de 2ordm Grau (atual Ensino Meacutedio) tendo como objetivo

atender a demanda de cada trecho da Transamazocircnica

Algumas Agrovilas chegaram a ser implantadas na Rodovia Transamazocircnica mas

somente uma Agroacutepolis foi implantada no Km 46 onde recebeu o nome de Brasil Novo e

natildeo continha todos os serviccedilos descritos no PIN sendo chamada posteriormente de agrovila

(RABELLO 2011)

Mello apud Kleinpenning (2006 p29) afirma

Embora as agrovilas tenham sido previstas em 1971 apenas Brasil Novo na Transamazocircnica foi implantada e em 1973 o INCRA jaacute desistia desse modelo em funccedilatildeo do alto custo que representava Ateacute 1976 os colonos tinham desmatado natildeo mais que 10ha em seus lotes um ritmo reduzido acarretando tambeacutem reduccedilatildeo das metas de produccedilatildeo Sem produccedilatildeo as agrovilas perderam suas funccedilotildees Novos

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instrumentos foram disponibilizados pelo Banco do Brasil (para creacutedito aos colonos) pela CIBRAZEM (para o armazenamento da produccedilatildeo) e pelo governo federal (para assistecircncia meacutedica) (MELLO apud KLEINPENNIG 2006 p29)

Segundo Becker (1997)

A modernizaccedilatildeo imposta pela estrateacutegia governamental natildeo eacute contudo onipotente Natildeo apenas porque foi desigualmente distribuiacuteda mas porque a realidade natildeo se desenvolve conforme o plano Na estrateacutegia governamental interferem os interesses e confrontos dos atores sociais privados e puacuteblicos expressos em sua territorialidade [] A propriedade dos seringais castanhais e do rebanho encontrava-se em poucas matildeos envolvendo aacutereas imensas e constituindo via de regra grandes posses (baseadas em arrendamentos de terras devolutas) cuja legitimidade passa a ser disputada pelos novos atores configurando a questatildeo da terra como central ao processo de ocupaccedilatildeo (BECKER 1997 p 19-20)

Atraiacutedos pela possibilidade de exploraccedilatildeo da mineraccedilatildeo madeira e a expansatildeo da

pecuaacuteria vaacuterios grupos econocircmicos do centro-sul do Brasil e estrangeiros denominados

popularmente como ldquosulistasrdquo migraram para as rodovias na Amazocircnia ldquoacompanhados de

empreiteiras teacutecnicos e sobretudo de camponeses e trabalhadores sem terra invertendo a

distribuiccedilatildeo do povoamento e da produccedilatildeordquo(BECKER 1997 p20)

Ainda segundo Becker (1997) a territorialidade exacerbada e intensa resultou em

conflitos violentos entre os atores sociais e contra o Estado ldquoOs conflitos de terra e de

territoacuterio onde se localizam as jazidas minerais subjugando iacutendios e camponeses satildeo os mais

conhecidosrdquo(BECKER 1997 p20)

Para Mello (2006)

A fase dessa estruturada accedilatildeo do Estado deixou cicatrizes provocadas pelos fortes conflitos sociais e pelos impactos ambientais Conflitos de terra entre fazendeiros posseiros seringueiros e iacutendios Desmatamento acelerado pela abertura de estradas exploraccedilatildeo de madeira seguida da expansatildeo agropecuaacuteria e imensa mobilidade espacial da populaccedilatildeo (MELLO 2006 p26)

Com a crise do petroacuteleo no final de 1973 e a elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo interna o

governo brasileiro se viu obrigado a escolher entre duas opccedilotildees difiacuteceis optar pela poliacutetica

de ajustamento do mercado externo (que causaria a contenccedilatildeo do crescimento interno e

evitaria o choque do setor externo em se transformar em inflaccedilatildeo permanente) ou pela

poliacutetica de financiamento (que manteria o crescimento com ajustes graduais de preccedilos com

financiamento externo) A escolha foi pelo financiamento contudo natildeo conseguiu atingir os

objetivos desejados obrigando o governo a lanccedilar o II Plano Nacional de Desenvolvimento

em 1974 (MATOS 2002 p49)

38

O II PND contemplou como medidas

I- O Brasil deveraacute ajustar a sua estrutura econocircmica aacute situaccedilatildeo de escassez de petroacuteleo e ao novo estaacutegio de sua evoluccedilatildeo industrial Tal mudanccedila implica em grande ecircnfase nas Induacutestrias Baacutesicas notadamente o setor de Bens de Capital e o de Eletrocircnica pesada assim como o campos dos Insumos Baacutesicos a fim de substituir importaccedilotildees e se possiacutevel abrir novas frentes de exportaccedilatildeo A Agropecuaacuteria que vem tendo em geral bom desempenho eacute chamada cumprir novo papel no desenvolvimento brasileiro II- Consolidar uma sociedade industrial moderna e de economia competitiva (BRASIL 1974 p5)

Para a Integraccedilatildeo Nacional foram destinados Cr$165 bilhotildees a serem distribuiacutedos

assim Cr$ 100 bilhotildees para o nordeste (com taxas de juros as maiores do paiacutes) e Cr$65

bilhotildees distribuiacutedos entre a construccedilatildeo do Polo Petroquiacutemico da Bahia e um Complexo

Metal Mecacircnico e Eletro Mecacircnico e o Programa de Desenvolvimento da Agroinduacutestria do

Nordeste

Contudo o paraacutegrafo sexto do II PND previa que ldquoA ocupaccedilatildeo produtiva da

Amazocircnia e do Centro-Oeste receberaacute impulso com o Programa de Polos Agropecuaacuterios e

agro minerais da Amazocircnia (POLAMAZOcircNIA)rdquo (BRASIL 1974 p06)

Os esforccedilos foram novamente concentrados na ocupaccedilatildeo da Amazocircnia soacute que

desta vez ldquobaseados em pontos focais e setoriais separados como por exemplo extraccedilatildeo de

recursos minerais ou aacutereas de criaccedilatildeo de gado com possiacutevel processo industrial rdquo

(KOHLHEPP 2002 p16)

Investidores de capital nacional e internacional foram atraiacutedos por reduccedilotildees consideraacuteveis de taxas tributaacuterias e tambeacutem por outros benefiacutecios Tornou-se vantajoso para bancos companhias de seguro mineradoras e empresas estatais de transportes ou de construccedilatildeo de estradas investir na devastaccedilatildeo da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criaccedilatildeo de gado com subsiacutedios oficiais realizando a exploraccedilatildeo das terras a preccedilos baixos (KOHLHEPP 2002 p16)

Segundo Kohlhepp (2002) as fazendas de criaccedilatildeo de gado ocupavam na Amazocircnia

uma aacuterea estimada em 9 milhotildees de hectares ldquoDe um total de 350 mil km2 de terra

adquiridos pelas fazendas de gado uma aacuterea florestal de cerca de 140 mil km2 foi destruiacutedardquo

(KOHLHEPP 1987 p4)

A raacutepida expansatildeo de desmatamento por queimada em projetos de fazendas de gado causou danos irreparaacuteveis aos ecossistemas como erosatildeo perda de nutrientes por escoamento encrostamento da superfiacutecie e distuacuterbios no balanccedilo de aacuteguas Aleacutem disso a especulaccedilatildeo de terra causou seacuterios problemas e conflitos violentos entre as populaccedilotildees indiacutegenas e posseiros Por causa da raacutepida degradaccedilatildeo de pastos a criaccedilatildeo de gado tornou-se atividade econocircmica sem lucro fazendo com que as manadas diminuiacutessem consideravelmente nos anos

39

posteriores O cancelamento de incentivos fiscais anos mais tarde acabou com novas iniciativas de pecuaacuteria (KOHLHEPP 2002 p4 )

A descoberta de minerais e pedras preciosas em grande quantidade na deacutecada de

80 intensificou ainda mais os conflitos na Amazocircnia

A exploraccedilatildeo de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos programas de desenvolvimento da Amazocircnia Muitas licenccedilas de exploraccedilatildeo de jazidas de grande extensatildeo foram cedidas a empresas nacionais e internacionais []as novas descobertas de enormes jazidas de mineacuterio de ferro na serra dos Carajaacutes de bauxita no rio Trombetas e tambeacutem de ouro e diamantes revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazocircnia sendo iniciados grandes projetos na regiatildeo nos anos 1980 (KOHLHEPP 2002 p4 )

Apoacutes sofrer grande pressatildeo nacional e internacional para conter os impactos

devastadores sobre a Floresta Amazocircnica em quase duas deacutecadas de intensa exploraccedilatildeo o

governo brasileiro cria o Plano Nossa Natureza (PNN) em 1988 pelo Decreto Lei nordm 96944

Art 1ordm Fica criado o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazocircnia Legal denominado Programa Nossa Natureza com a finalidade de estabelecer condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos recursos naturais renovaacuteveis na Amazocircnia Legal mediante a concentraccedilatildeo de esforccedilos de todos os oacutergatildeos governamentais e a cooperaccedilatildeo dos demais segmentos da sociedade com atuaccedilatildeo na preservaccedilatildeo do meio ambiente (BRASIL 1988 p1 )

Entre outras medidas o Decreto Lei 9694488 tambeacutem previa a criaccedilatildeo de GTI

(Grupos de Trabalhos Interministerial) responsaacutevel por promover a integraccedilatildeo de poliacuteticas

ambientais e de desenvolvimento

VI - Proteccedilatildeo do Meio Ambiente das Comunidades Indiacutegenas e das Populaccedilotildees Envolvidas no Processo Extrativista com a missatildeo de no prazo de 90 (noventa) dias estudar e propor e promover as medidas disciplinadoras da ocupaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo racionais da Amazocircnia Legal fundamentadas no ordenamento territorial integrada por representantes dos Ministeacuterios da Agricultura da Induacutestria e do Comeacutercio das Minas e Energia dos Transportes do Interior da Reforma e do Desenvolvimento Agraacuterio e das Secretarias de Planejamento e Coordenaccedilatildeo e de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidecircncia da Repuacuteblica (BRASIL 1988 p5)

Entretanto muito pouco de fato desse PNN foi executado e muito menos atendeu

agrave demanda

40

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA

A maior Floresta Equatorial do mundo eacute a Amazocircnia que tambeacutem deteacutem a maior

bacia hidrograacutefica do mundo com 699206kmsup2 aacuterea de quase 140km a mais que a Bacia

Hidrograacutefica do Rio Nilo com 685215 (MARTINI apud PACHECO 2012 p545)

Eacute na Amazocircnia Brasileira que se concentra a maioria dos rios navegaacuteveis de toda a

Amazocircnia com detaques para os rios Javari Juruaacute Madeira Solimotildees Negro utilizados em

sua maioria por ribeirinhos como meio de locomoccedilatildeo entre as comunidades e as cidades

proacuteximas aleacutem de transporte de alimentos

Apesar de seu gigantesco potencial hiacutedrico os rios da Amazocircnia natildeo satildeo explorados

em sua magnitude o que poderia ser alcanccedilado atraveacutes de uma rede de hidrovias

connectadas e eficientes Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (2013) a regiatildeo deteacutem sim duas hidrovias (Figura 3) A primeira inicia-se no alto

rio Japuraacute ligando-se ao rio Maratildea acompanhado do rio Iccedilaacute e Jutaiacute e posteriormente

juntado-se ao rio Solimotildees A segunda hidrovia (Figura 4) eacute inciada no rio Amazonas (no

encontro do rio Negro e rio Solimotildees) e se estende de Manaus agrave foz no Oceano Atlacircntico

alimentado pelos rios Tapajoacutes e Xingu

41

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13)

43

Apesar disso da nomenclatura utilizada de hidrovia um rio navegaacutevel natildeo eacute

necessariamente uma hidrovia por natureza pois para que seja uma hidrovia se faz

necessaacuterio sinalizaacute-lo e fornecer informaccedilotildees sobre a sua sinuosidade e seu talvegue de

forma a proporcionar seguranccedila agraves embarcaccedilotildees que navegarem pelo mesmo

Sobre isso o Ministeacuterio dos Transportes (2013) descreve que a sinalizaccedilatildeo de uma

hidrovia eacute tatildeo importante quanto a sinalizaccedilatildeo de uma rodovia

A sinalizaccedilatildeo de margem das hidrovias pode ser associada agraves placas que satildeo colocadas agraves margens das rodovias e que satildeo conhecidas como sinais de tracircnsito Como os canais de navegaccedilatildeo natildeo satildeo materializaacuteveis e as pistas de rolamento das rodovias sim as hidrovias requerem cartas de navegaccedilatildeo As pontes satildeo projetadas considerando que esse veiacuteculo tipo tenha no maacuteximo x toneladas os vatildeos sob os viadutos e passarelas ou os tuacuteneis que esse veiacuteculo tenha no maacuteximo y metros de altura e assim por diante Nas hidrovias o mesmo se sucede com as os tipos de embarcaccedilotildees (MINISTEacuteRIO DOS TRANSPORTES 2013)

Apesar disso os rios do Amazonas Paraacute satildeo pouco explorados tendo a sinalizaccedilatildeo

de uma hidrovia somente nas proximidades das grandes cidades Beleacutem-PA e em Manaus-

AM o restante ao longo dos rios natildeo deteacutem sinalizaccedilatildeo o que particularmente natildeo impede

que navios de grande porte cheguem agraves cidades (Figura 5) comandados por praacuteticos locais (e

natildeo por seus reais comandantes que desconhecem a profundidade dos rios)

Figura 5 Cruzeiros atracados no Porto de Manaus

Autora Louzada (Julho de 2012)

44

A escolha de hidrovias para a regiatildeo seria extremamente beneacutefica numa via de matildeo

dupla pois permitiria interligar definitivamente a regiatildeo ao restante do paiacutes agrave custos

micros se comparada agrave construccedilatildeo de rodovias na mesma regiatildeo ao mesmo tempo que

reduziria drasticamente o impacto sobre sua floresta

Embora esta seja a opccedilatildeo ideal a mesma natildeo foi escolhida pelos governantes que

optaram pela construccedilatildeo de rodovias

O DNIT destaca ainda as seguintes rodovias na Amazocircnia conforme Tabela 1

Tabela 1 Estradas na Amazocircnia segundo o DNIT

Nome Tipo de Rodovia Extensatildeo da rodovia planejada pelo DNIT

BR- 163 Longitudinal Inicia em Tenente Portela ndash SC e segue no sentido norte ateacute a fronteira com o Suriname

detendo 44267km

BR- 174 Longitudinal Inicia em Caacuteceres- MT e segue no sentido norte ateacute fronteira com a Venezuela detendo

27984km

BR-319 Diagonais Inicia em Manaus ndash AM e segue em sentindo sul ateacute Porto Velho-RO detendo 8804km

BR-364 Diagonais Inicia-se em Limeira-SP e segue no sentido noroeste ateacute a fronteira com o Peru

detendo 414150km

BR-230 Transversal Inicia-se em Cabedelo-PB e segue em sentido oeste ateacute Laacutebrea - AM detendo no total 49651km de extensatildeo

Eacute necessaacuterio esclarecer que todas as estradas anteriormente citadas somente se

encontram traccediladas no papel o que natildeo quer dizer que natildeo chegaram a ser abertas ou ateacute

mesmo chegaram a funcionar por um periacuteodo como eacute o caso da BR- 319

As estradas de modo geral satildeo consideradas vias de ldquoprogressordquo e

ldquodesenvolvimentordquo principalmente para a Amazocircnia por ser uma regiatildeo de fronteira e

possuir em seu territoacuterio uma gigantesca floresta Entretanto como era de se esperar as

estradas serviram ldquode roteiros de migraccedilatildeo para a Amazocircnia e foram planejadas para o

estabelecimento de aacutereas de atividades econocircmicas na forma dos chamados corredores de

Fonte DNIT (2013)

45

desenvolvimento mas sua construccedilatildeo causou seacuterios impactos ambientaisrdquo (KOHLHEPP

apud GOODLANDIRWIN 2002 p2 )

Segundo Loureiro e Pinto apud Arauacutejo et al (2008 p21) as terras puacuteblicas

habitualmente ocupadas por ribeirinhos iacutendios e caboclos em geral passaram a ser

ocupadas por colonos ao longo das estradas na Amazocircnia principalmente no estado do

Paraacute

[] sendo colocadas a venda em lotes de grandes dimensotildees para os novos investidores que as adquiriam diretamente dos oacutergatildeos fundiaacuterios do governo ou de particulares (que em grande parte revendiam a terra puacuteblica como se ela fosse proacutepria) Em ambos os casos era freguente que as terras fossem demarcadas pelos novos proprietaacuterios numa extensatildeo muito maior do que a dos lotes que originalmente haviam adqueridos (ARAUacuteJO et al apud LOUREIRO E PINTO 2008 p21)

Por sua vez os grandes proprietaacuterios de terras da Uniatildeo comercializadas pelo

INCRA (Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria) - criado pela fusatildeo do INDA

(Intituto Nacional de Desenvolvimento Agraacuterio) e o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma

Agraacuteria) em 9 de Julho de 1970 pelo Decreto nordm1110 (ARAUacuteJO2008) - expulsaram seus

moradores o que por sua vez gerou grandes conflitos por traacutes do slogan ldquoDesenvolvimento

da Amazocircniardquo

Por outro lado Becker (1977) apresenta um trabalho pioneiro sobre o

desenvolvimento regional na Amazocircnia ldquoalcanccediladordquo com a construccedilatildeo da BR-010 Bernardo

Sayatildeo popularmente conhecida como Beleacutem-Brasiacutelia inaugurada em 1960 pelo entatildeo

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Becker (1977) afirma que

O raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao longo de todo o eixo rodoviaacuterio caracterizado pelo crescimento ou aparecimento de centros urbanos das mais variadas categorias eacute devido em grande parte agrave rodovia A posiccedilatildeo de contato com aacutereas pioneiras dinacircmicas a posiccedilatildeo de entroncamento e a distacircncia aos polos e centros regionais parecem ser os fatores fundamentais de localizaccedilatildeo das cidades [] conclui-se que ateacute 1970 a rodovia foi o fator positivo principalmente para os polos regionais e aacutereas circundantes uma vez que embora posterior beneficiou suas cidades e induziu o desenvolvimento a sua volta (BECKER 1977 p 40)

Do ponto de vista da integraccedilatildeo nacional entre polos regionais defendida por

Becker (1977) a BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) sem duvida teve grande ecircxito pois levou

ldquodesenvolvimentordquo e um raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao logo da rodovia O que poucos

46

trabalhos pesquisadores ou estudantes se atrevem a relatar satildeo os impactos

gigantescos dessa obra sobre a Floresta Amazocircnica

A construccedilatildeo da BR- 010 sem duacutevida representou o iniacutecio do processo de

transformaccedilatildeo da paisagem amazocircnica nos anos que se seguiram Sobre isso AbrsquoSaber

(1996) sabiamente afirma

Desmatar por desmatar eacute loucura Desmatar para estender incontrolaacuteveis

pastagens artificiais eacute ignoracircncia Desmatar para comprovar ldquobenfeitoriasrdquo eacute maacute-feacute

de matildeo dupla da administraccedilatildeo puacuteblica e dos proprietaacuterios interessados em

comercializaccedilatildeo do espaccedilo Entretanto eacute faacutecil aceitar desmatamento restrito em

subespaccedilos selecionados para experimentaccedilatildeo de culturas tropicais

estabelecendo moacutedulos [] projetos agriacutecolas diversificados e rentaacuteveis sob a

condiccedilatildeo de um extravasamento efetivo de benefiacutecios sociais para os

trabalhadores rurais e populaccedilotildees carentes da regiatildeo de atuaccedilatildeo dos projetos

(ABrsquoSABER 1996 p109 )

O autor tambeacutem propocircs um debate nacional sobre os limites ecoloacutegicos para

atividades agraacuterias rendosas que uma regiatildeo como a Amazocircnia para que as proacuteximas

geraccedilotildees possam chegar a observaacute-la (ABrsquoSABER 1996 p109) todavia a BR010 (Beleacutem-

Brasiacutelia) somente foi a primeira a ser inaugurada na regiatildeo amazocircnica (Figura 6)

Figura 6Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia

Fonte Peixoto (2012)

47

Outras rodovias foram idealizadas e iniciadas entre elas a estrada Cuiabaacute-Santareacutem

(BR163) responsaacutevel por ligar a cidade de Cuiabaacute no Mato Grosso agrave cidade de Santareacutem no

Paraacute com 1780km de extensatildeo

O primeiro trecho de 330km foi inaugurado em 1984 (MARGARIT 2013) oito anos

depois de terem sido iniciadas as obras ligando os municiacutepios de Diamantino e Sinop no

Mato Grosso Posteriormente foram pavimentadas mais 415km chegando a um total de

745km ligando Cuiabaacute agrave Guarantatilde do Norte (MARGARIT 2013)

O restante de mais ou menos 1035km ainda natildeo se encontram pavimentados

todavia se encontra traccedilado de terra batida ateacute a cidade de Santareacutem-PA o que natildeo impede

a ocupaccedilatildeo das margens da ldquofutura rodoviardquo funcionando como uma espinha dorsal do

ldquoprogressordquo

Segundo Fearnside (2001) o principal objetivo da BR-163 foi escoar a produccedilatildeo de

soja do centro oeste brasileiro e principalmente do Mato Grosso aleacutem de ampliar as aacutereas

cultivaacuteveis Mas Fearnside (2005 p 399) eacute enfaacutetico ao afirmar que a pavimentaccedilatildeo da BR-

163 iria ldquoacelerar a destruiccedilatildeo da floresta ao longo de seu traccedilado e em vaacuterios pontos

fisicamente distantes da rodovia mas sob sua influecircnciardquo

Contudo o desmatamento natildeo se limita somente agraves margens da rodovia mas

influencia tambeacutem ldquoa raacutepida expansatildeo de estradas ldquoendoacutegenasrdquo e a exploraccedilatildeo madeireira e

de desmatamento para distacircncias substancialmente maioresrdquo (FEARNSIDE 2005 p399) um

fato que pode ser atualmente percebido nas imagens de sateacutelite da rodovia (Figura 7)

48

Figura 7 BR-163 - Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia Organizado Anne Dirane (2014) Adaptado Louzada (2014)

Com as imagens de sateacutelite eacute possiacutevel visualizar incontaacuteveis propriedades ao longo

da BR-163 a maioria encontram-se sem a cobertura seja pela retirada da madeira ou por

iniciativa de seus proprietaacuterios para facilitar a produccedilatildeo de gratildeos e a criaccedilatildeo de gado sem

levar em consideraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mineral o que torna a rodovia foco de constantes

conflitos entre pequenos produtores agriacutecolas e grande proprietaacuterios de terras

No km 214 com saiacuteda da cidade de Santareacutem a BR-163 se funde com a BR-230

popularmente conhecida como Transamazocircnica por 109km onde continuam a ser ocupadas

as suas margens poreacutem com menor intensidade (Figura 8)

Para Fearnside (2005) a atuaccedilatildeo do Estado nessa regiatildeo praticamente natildeo existe o que

gera frequentemente um clima de desobediecircncia civil aberta

Tal desobediecircncia se manifesta tanto em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo ambiental quanto agrave situaccedilatildeo fundiaacuteria (IAG 2004) Em outras palavras a aacuterea natildeo tem a miacutenima chance de se tornar corredor de desenvolvimento sustentaacutevel antes que uma mudanccedila

49

maciccedila aconteccedila com relaccedilatildeo agrave presenccedila do Estado e antes que a populaccedilatildeo local se ajuste a viver sob um Estado de lei (FEARNSIDE 2005 p405)

Fearnside (2005 p405 ) afirma ldquoque natildeo se deve tratar uma probabilidade alta

como sinocircnimo de inevitabilidaderdquo Em outras palavras a pavimentaccedilatildeo de estradas na

Amazocircnia Brasileira seraacute provavelmente o percussor do aumento do desmatamento da

regiatildeo entretanto o mesmo natildeo deve ser considerado como inevitaacutevel

Uma outra rodovia que merece destaque entre as jaacute construiacutedas na Amazocircnia eacute a

BR-230 popularmente conhecida como Transamazocircnica planejada para ligar Cabedelo na

Paraiacuteba e Laacutebrea no Amazonas aproveitando uma estrada jaacute existente que ligava Cabedelo agrave

Altamira no estado do Paraacute a mesma foi ampliada pelo entatildeo presidente do Brasil Emiacutelio

Garrastazu Meacutedici que em 09 de Outubro de 1970 teve sua obras iniciadas oficialmente

com uma placa de bronze fixada em uma castanheira no municiacutepio de Altamira-PA (Figura

8)

Figura 8 Placa de Bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica) Fonte Vogt (2004)

Vogt (1970) descreve uma viagem do general Meacutedici em junho 1970 ao semiaacuterido

nordestino na qual o presidente se emociona diante da seca que castigava a regiatildeo em seu

retorno a Brasiacutelia decidiu criar estradas na Amazocircnia a comeccedilar pela Transamazocircnica de

50

forma a convidar ldquoos homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da

Amazocircniardquo

A Transamazocircnica foi projetada para atravessar o Brasil de leste a oeste de

Cabedelo-PB agrave Laacutebrea ndash AM com seus mais de quatro mil quilocircmetros o sonho faraocircnico de

Meacutedici foi rebatizado posteriormente de ldquoTransamargurardquo e ldquoTransmiserianardquo por seus

moradores uma vez que a veiculaccedilatildeo de propaganda no raacutedio de ldquoTerras sem homens para

homens sem terrardquo atraiu uma grande quantidade de brasileiros e estrangeiros Estima-se

que mais de dois milhotildees de pessoas migraram para a Transamazocircnica contudo somente

25 mil quilocircmetros dessa rodovia chegaram a ser abertos ligando as localidades de

Aguiarnoacutepolis agrave Laacutebrea (AM)

Estima-se que mais de US$ 15 bilhatildeo de doacutelares tenham sido gastos na

Transamazocircnica somente na deacutecada de 1970 o que resultou no crescimento da divida

externa e uma ferida ecoloacutegica e social profunda na Floresta Amazocircnica que nunca seraacute

cicatrizada

Para Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as estradas oficias construiacutedas na regiatildeo natildeo devem

ser consideradas as uacutenicas responsaacuteveis pelas mudanccedilas draacutesticas na paisagem amazocircnica

uma vez que a regiatildeo do centro-oeste do Estado do Paraacute ao longo das rodovias BR-230 e a

BR-163 tambeacutem agregam estradas natildeo oficiais (Figura 9) estimadas em um total ldquode 20769

km de estradas natildeo oficias que avanccedilaram a taxa meacutedia de 1890 km por ano entre 1990 e

2001 principalmente fora de Aacutereas Protegidasrdquo(BRANDAtildeO JUacuteNIOR et al 2007 p1)

51

Atraveacutes de Imagens Landsat Brandatildeo Juacutenior et al (2007) conseguiu mapear

241749km de estradas ateacute 2003 divididas em 25074km (10) como estradas oficiais

172405km (71) como estradas natildeo oficiais e 44270km (18) como estradas de

assentamentos rurais

Segundo Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as aacutereas de risco de desmatamento em

estradas oficias segundo a pesquisa eacute de 25 jaacute nas estradas natildeo oficiais este risco chega a

85 considerando o niacutevel alarmante de desmatamento o que tambeacutem explica a maior

parte do desmatamento na Amazocircnia

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-230 Fonte Brandatildeo Juacutenior et al (2007)

52

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO SOLIMOtildeESAMAZONAS

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais foi divulgado ao mundo por meio de

dois documentos ldquoCuidando do planeta Terrardquo (1991) e a ldquoConvenccedilatildeo da Biodiversidaderdquo

(1991) Os dois documentos demonstram preocupaccedilatildeo quanto ao conceito de

desenvolvimento e aos direitos das populaccedilotildees locais visto por eles como importantes

atores na conservaccedilatildeo dos recursos (VIANNA 2008 p208)

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais surgiu primeiramente para se

referir aos habitantes que tradicionalmente ocupavam um lugar onde posteriormente

tornou-se uma unidade de conversaccedilatildeo O conceito passou a considerar tambeacutem ldquoos

habitantes originais e seus descendentes das terras que foram ocupadas pela expansatildeo

colonizadora europeacuteia iniciada no seacuteculo XVI e satildeo definidos como etnicamente diferentes

das sociedades nacionais dominantes dos paiacuteses onde vivemrdquo (VIANNA 2008 p209)

Segundo Vianna (2008 p214) as populaccedilotildees tradicionais satildeo portadoras de

caracteriacutesticas positivas para a conservaccedilatildeo por exemplo a ldquoharmonia com a natureza e o

etnoconhecimento o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais e a condiccedilatildeo de produtores

de biodiversidaderdquo

Essas satildeo as chamadas populaccedilotildees tradicionais expressatildeo que designa um conjunto de populaccedilotildees de pescadores artesanais pequenos agricultores de subsistecircncia caiccedilara caipiras camponeses extrativistas pantaneiros e ribeirinhos que fazem uso direto dos recursos naturais atraveacutes de atividades extrativistas eou de agricultura com tecnologia de baixo impacto ao meio (VIANNA 2008 p214)

Como acontece em outras regiotildees as populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia

tambeacutem recebem nomes que variam de lugar para lugar No estado do Paraacute por exemplo as

populaccedilotildees residentes longe de centros urbanos satildeo chamadas popularmente de extratores

ou extrativistas (pois sua economia tem por base a extraccedilatildeo de produtos da natureza) na

Ilha do Marajoacute satildeo chamados de marajoaras ou marajaacutes dentro do mesmo estado no

municiacutepio de Oacutebitos os moradores das vaacuterzeas satildeo chamados de varzeiros e os moradores

das aacutereas de terra firme satildeo chamados de terrafirmeiros (CANTO 2008)

No Estado do Amazonas as populaccedilotildees tradicionais recebem o nome de ribeirinhos

pois aleacutem de se localizarem muitas vezes distantes de centros urbanos em geral estatildeo

assentados nas vaacuterzeas da regiatildeo

53

Sobre isso Cabral (2002) destaca que

Quando se fala dos ribeirinhos as leituras satildeo variadas ora satildeo tratados como viacutetimas de uma sociedade excludente ora como iacutendios preguiccedilosos como heroacuteis das selvas por conseguirem adaptar-se a uma floresta e raras vezes como pessoas que definiram uma filosofia de vida o fato eacute que em geral o ribeirinho eacute marginalizado A marginalizaccedilatildeo do ribeirinho surge da leitura que noacutes ldquodoutoresrdquo fazemos erroneamente tomando por base o que julgamos importante para noacutes mesmos Outro aspecto que tem contribuiacutedo para a natildeo adoccedilatildeo de uma anaacutelise relativista eacute o discurso baseado em interesses capitalistas sobre o uso do tempo e do espaccedilo em favor da produccedilatildeo (CABRAL 2002 p2)

Reflete ainda que ldquoo ribeirinho integra o grupo das populaccedilotildees tradicionais que se

percebe pertencente agrave natureza em seu tempo e espaccedilo proacuteprio fluindo com ela e natildeo a

dominandordquo (CABRAL 2002 p2)

[] temos como definiccedilatildeo de ribeirinho a populaccedilatildeo constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populaccedilotildees do meio rural ou urbano que possui seu cosmo visatildeo marcada pela presenccedila do rio Para estas populaccedilotildees o rio natildeo eacute apenas um elemento do cenaacuterio ou paisagem mas algo constitutivo de modo de ser e viver do homem (CABRAL apud SILVA et al 2002 p2)

Conforme Oliveira (2002) as populaccedilotildees ribeirinhas satildeo frutos de fracassados ciclos

de desenvolvimento econocircmico brasileiro imposto sobre a regiatildeo onde os mesmos foram

abandonados agrave proacutepria sorte na floresta

Independente de suas muacuteltiplas definiccedilotildees ao longo das deacutecadas uma caracteriacutestica

se destaca em todas as definiccedilotildees de ribeirinho o elo com o rio embora muitos estudiosos

descrevam como necessaacuterio pois o rio eacute o uacutenico meio de locomoccedilatildeo entre boa parte da

Floresta Amazocircnica este elo eacute superior agrave necessidade de locomoccedilatildeo jaacute que ele tambeacutem eacute a

fonte do alimento baacutesico dessas populaccedilotildees o peixe

Tuan (2012) define o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ao ambiente fiacutesico como

Topofilia conceito difuso vivido e concreto como experiecircncia pessoal de cada individuo

Em outras palavras este elo eacute fortalecido ou desfeito baseado na percepccedilatildeo do

meio agrave sua volta nas atitudes e nos valores praticados com o ambiente fiacutesico no seu

entorno

54

Embora os ribeirinhos de modo geral se localizem agraves margens dos rios da regiatildeo

os mesmos tambeacutem o fazem por um forte motivo os solos feacuterteis das vaacuterzeas

Segundo Guerra (1993) a Amazocircnia estaacute dividida em dois ambientes o de vaacuterzea e

o de terra firme O ambiente de terra firme representa um complexo ecossistema que estaacute

fora da accedilatildeo das aacuteguas pelos regimes dos rios e pelas mareacutes ou seja os processos sazonais

de enchentes anuais e mareacutes diaacuterias natildeo ultrapassam a borda do leito maior das faixas

justafluviais Ao contraacuterio desse ecossistema a vaacuterzea eacute constituiacuteda de terrenos com

altimetria baixa que permite o transbordamento de enchentes sazonais anuais

dependendo da cota

Tais caracteriacutesticas da regiatildeo Amazocircnica satildeo de extrema importacircncia para a

determinaccedilatildeo dos tipos de solos encontrados em cada ambiente o que vai propiciar o tipo

de cultivo agrave ser produzido nessas aacutereas pelas populaccedilotildees ribeirinhas

Ao contraacuterio do que se divulga a Amazocircnia natildeo dispotildee somente de solos ldquopobresrdquo

sustentados por sua floresta mas tambeacutem de solos ricos por natureza como eacute o caso dos

solos de vaacuterzea com alta concentraccedilatildeo de depoacutesitos aluviais utilizados para os cultivos

agriacutecolas de ciclo curto de frutas e verduras que abastecem as cidades mais proacuteximas

incluindo a capital do Estado do Amazonas Manaus

Meggers (1958) criou uma tipologia da paisagem na qual a mesma impocircs limites de

desenvolvimento cultural tendo por base a capacidade produtiva dos solos em dois

ambientes na Amazocircnia a vaacuterzea beneficiada com a fertilizaccedilatildeo anual dos rios e a terra

firme de solos pobres

Para Meggers (1971) a fase de terra enxuta (ou seca) das vaacuterzeas da Amazocircnia eacute o

periacuteodo de fartura ou ateacute mesmo de superabundacircncia de alimentos jaacute a fase aquaacutetica ou

estaccedilatildeo de abundacircncia de aacuteguas eacute marcada pela escassez de alimentos (principalmente

peixe) por causa do aumento das aacutereas submersas consequentemente ocasionando sua

dispersatildeo

Segundo Carneiro (1995) a ocupaccedilatildeo das vaacuterzeas para cultivo em seus solos feacuterteis

tambeacutem traz desvantagens porque natildeo eacute possiacutevel cultivar seus solos durante todo o ano

devido agrave subida dos rios que para Sternberg (1998) submetem as terras agrave constantes

retoques no terreno hoje depositado amanhatilde poderaacute ser removido O autor se refere agraves

terras caiacutedas como um fenocircmeno natural provocado pelo rio onde o mesmo arrebata

55

faixas de terras marginais tragando para o seu leito com a mesma indiferenccedila levando

cemiteacuterios e pastagens ameaccedilando as moradias dos ribeirinhos e engolindo as que os

proprietaacuterios natildeo recuarem

Todavia eacute na eacutepoca da cheia dos rios que as populaccedilotildees ribeirinhas tornam-se mais

vulneraacuteveis visto que os mesmos teratildeo que escolher entre permanecer em suas casas

quase submersas mantendo seus animais em abrigos temporaacuterios que Sternberg (1998)

descreveu como marombas (pequeno curral suspenso por madeiras) e os alimentando com

capins aquaacuteticos ou migrarem para as aacutereas de terra firme ateacute que o periacuteodo de vazante

dos rios se inicie

Sobre isso Pereira (1999) observou no municiacutepio de Itacoatiara na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus que algumas famiacutelias que tinham acesso agraves aacutereas de pasto em

propriedades de terra firme migravam com suas famiacutelias transferindo o seu rebanho e os

demais animais durante o periacuteodo de cheia dos rios

Com a subida das aacuteguas natildeo soacute os animais mais tambeacutem os proacuteprios ribeirinhos

tornam-se alvo de jacareacutes famintos devido agrave escassez de alimentos uma vez que grandes

aacutereas satildeo inundadas possibilitando que os peixes se refugiem em lagos e restingas Torna-se

comum os casos de ataque desses animais agraves pessoas principalmente crianccedilas nessa eacutepoca

do ano

Tocantins (1964) descreve os rios da Amazocircnia

Como veias de sangue da planiacutecie caminho natural dos descobridores [] a fonte perene do progresso [] asseguraram a presenccedila humana embelezaram a paisagem fazem girar a civilizaccedilatildeo - comandam a vida no anfiteatro amazocircnico (TOCANTINS 1964 p64)

Tocantins (1964) destaca a importacircncia do regime das aacuteguas dos rios amazocircnicos

sobre o modo de vida dos povos da floresta Relata de forma romacircntica o elo do ribeirinho

com o rio todavia tal descriccedilatildeo natildeo expressa todo o real sentido de ldquoligaccedilatildeordquo entre quem

comanda a vida o rio e quem eacute governado o ribeirinho que mora agraves margens e tira dele a

base de sua subsistecircncia

Subsistecircncia essa alcanccedilada com a ajuda de extensa malha de rios entre eles

destaca-se o rio Solimotildees que tem sua nascente nas montanhas de Misme no distrito de

Arequipa ao sul da cidade de Cuzco no Peru onde recebe o nome de rio Ayacucha

posteriormente desemboca no rio Ucayali que por sua vez desemboca no rio Marantildeon ao

56

norte do territoacuterio peruano chegando a aproximadamente 3652 km de extensatildeo na

fronteira do Peru com o Brasil onde encontra a sua bacia sedimentar amazocircnica e percorre

mais 3128km ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico satildeo no total aproximadamente 6780km

percorridos com uma descarga no oceano de 300000 msup3s carregando aproximadamente 1

bilhatildeo de toneladas de sedimentos que por sua vez adentram ateacute 300km no oceano antes

de se dispersarem em suas aacuteguas frias (BRASIL 2005)

Seus nuacutemeros por se soacute impressionam se comparados ao segundo maior rio do

mundo o rio Nilo que despeja em sua foz somente 5000msup3s quando o rio Amazonas

despeja 60 vezes mais por segundo o equivalente agrave mesma quantidade de aacutegua despejada

pelo rio Tamisa em um ano inteiro (BRASIL 2005)

Sobre as caracteriacutesticas do Rio Amazonas Suguio e Bigarella (1993) o descrevem

como sendo um rio anastomosado que apresenta canal largo e grande velocidade

transportando uma grande quantidade de sedimentos que nutrem suas margens por todo o

seu percurso (Figura 10)

Segundo Passos et al (2013)

[] o rio Solimotildees pode ser considerado marginal anastomosado com algumas ilhas e anabranching embora a sinuosidade meacutedia do canal principal permaneccedila perto de 10 O estilo anabranching se caracteriza por uma rede interconectada de canais separados por regiotildees de planiacutecie de inundaccedilatildeo (Smith amp Smith 1980 Makaske 2001) Segundo Latrubesse et al (2009) o padratildeo anabranching se caracteriza pela presenccedila de ilhas vegetadas que atuam como verdadeiros ldquoseparadoresrdquo entre o canal principal de primeira ordem e braccedilos secundaacuterios de distintas hierarquias Embora possam ser cobertas pelas aacuteguas de inundaccedilatildeo as ilhas separam canais que manteacutem uma independecircncia ou identidade hidraacuteulica hidroloacutegica Os muacuteltiplos canais caracteriacutesticos deste estilo fluvial induzem aos inuacutemeros processos de erosatildeo de deposiccedilatildeo observados ao longo do rio Solimotildees e pequenos tributaacuterios (PASSOS et al 2013 p 3631)

57

21 QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA AMAZOcircNIA

Natildeo se pode relatar a Quebra da Borracha na Amazocircnia sem antes esclarecer sua

importacircncia para a regiatildeo Apesar do litoral do Brasil ter sido ldquodescobertordquo em 1500 a

Amazocircnia somente foi realmente alcanccedilada com a ocupaccedilatildeo estrangeira dois seacuteculos e

meios depois (SOARES 1963)

Assim eacute que ateacute meados do seacuteculo XVIII o vale amazocircnico natildeo contou se natildeo com

raros contingentes militares portugueses confinados a poucas dezenas de

fortalezas e com cerca de uma centena de missotildees catequeacuteticas igualmente

espalhadas na vastidatildeo da amazocircnica nas quais o silviacutecola era aldeado pelos

missionaacuterios que lhe ensinavam a religiatildeo de Cristo (SOARES 1963 p112)

Soares (1963) ainda descreve a escravizaccedilatildeo da matildeo de obra indiacutegena como um dos

fatores responsaacuteveis pelo decreacutescimo da populaccedilatildeo indiacutegena na Amazocircnia

Inuacutemeras expediccedilotildees de caccedila ao iacutendio exterminaram no primeiro periacuteodo de

ocupaccedilatildeo grande nuacutemero de habitantes da selva Tal extermiacutenio decorria de um

lado de morte ldquonaturalrdquo do iacutendio feito escravo (50) pois o silviacutecola jamais se

adaptou aacute vida cativa e por outro das chamadas expediccedilotildees ldquopunitivasrdquo realizadas

contra as tribos que repeliam o contacto com os invasores de suas terras fossem

estes missionaacuterios soldados ou colonizadoresrdquo (SOARES 1963 p113)

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista em Manacapuru Fonte Louzada (2013)

58

Contudo as expediccedilotildees punitivas foram aleacutem da puniccedilatildeo propriamente dita pois

algumas tribos chegaram a ser totalmente massacradas pelo contingente militar a exemplo

dos Tapajoacutes que foram exterminados ldquorestando somente agraves belas peccedilas artiacutesticas de

ceracircmica ainda hoje encontradas na regiatildeo de Santareacutemrdquo (SOARES 1963 p114)

Com a aboliccedilatildeo da escravatura indiacutegena em 1755 a Companhia Geral do Comeacutercio

do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo inaugurada para monopolizar a navegaccedilatildeo nos rios da Amazocircnia

o comeacutercio e o traacutefico de matildeo de obra negra providenciou a vinda do continente africano

de braccedilo negro ldquopara substituir o braccedilo vermelho libertado e reconhecidamente refrataacuterio

ao trabalho forccediladordquo (SOARES1963 p117)

Segundo Soares apud Reis (1963 p117) que ldquono final do seacuteculo XVIII calculava-se

que 30000 escravos foram introduzidos na Amazocircnia principalmente na sede do Gratildeo Paraacute

em Beleacutemrdquo a maior parte desse contingente sucumbiu aos maus tratos e agraves doenccedilas sem

relatar os que morreram na viagem ateacute o Brasil

Segundo Soares apud Reis (1963) descreve que entre 1743 e 1749 que 40000

indiviacuteduos entre iacutendios e colonos portugueses morreram de variacuteola em Beleacutem causando

uma queda catastroacutefica na populaccedilatildeo jaacute reduzida da regiatildeo Apesar das doenccedilas e da captura

dos iacutendios continuarem em larga escala o contingente humano na Amazocircnia aumentava

ldquomodestamente mais por um lento processo de multiplicaccedilatildeo vegetativa do que pela

aquisiccedilatildeo de contingentes humanos vindos de forardquo (SOARES 1963 p118)

Soares (1963 p118) calculava ldquoa populaccedilatildeo residente na Amazocircnia no caso no

atual estado do Paraacute em 1825 em 37 mil indiviacuteduos e em 1833 chegou a aproximadamente

56 mil habitantesrdquo O que poucos sabiam era que em 1745 La Contamine (BATISTA 2007)

jaacute havia divulgado ao mundo na Academia de Ciecircncias de Paris a descoberta de uma goma

conhecida como cabuchu (pau que daacute leite) na regiatildeo de Quito e depois nas beiras do

Marantildeon Peru que jaacute era utilizada pela populaccedilatildeo local na confecccedilatildeo de garrafas botas e

bolas

Apesar de encantadora a goma receacutem-descoberta pela ciecircncia da eacutepoca

apresentava um desafio gigantesco como tornaacute-la insensiacutevel agraves mudanccedilas de temperatura

para que pudesse ser transportada da Amazocircnia para o mundo

59

Com a descoberta do processo de vulcanizaccedilatildeo da goma elaacutestica inicia-se a corrida

pela exploraccedilatildeo da borracha para ser utilizada na produccedilatildeo industrial pneumaacutetica da

Europa Primeiramente em Beleacutem e na regiatildeo do delta na foz do rio Amazonas promovida

inicialmente pelos caboclos residentes nas proximidades

A exploraccedilatildeo da borracha somente cresceu nos anos seguinte apoacutes a descoberta

da vulcanizaccedilatildeo com a exploraccedilatildeo de novas aacutereas normalmente na subida dos rios

Primeiro no (rio) Tocantins o Xingu e o Tapajoacutes depois o Madeira e o Solimotildees

mais tarde o Purus Juruaacute e Javari e seus respectivos afluentes Vecirc-se nessa

referecircncia que um fato importante os grandes produtores de borracha foram

sempre tributaacuterios da margem direita do Rio Amazonas onde a Hevea brasiliensis

tem o seu habitat por excelecircncia (BATISTA 2007 p170)

Entretanto para que a produccedilatildeo continuasse a crescer nos anos que se seguiram

era necessaacuteria mais matildeo de obra e como a regiatildeo natildeo contava com um grande contingente

populacional caberia aos nordestinos de modo geral accediloitados por fenocircmenos climaacuteticos

incontrolaacuteveis contribuir de maneira significativa para a o aumento da produccedilatildeo e ocupaccedilatildeo

humana definitiva da Amazocircnia Atraveacutes de suas intensas e constantes migraccedilotildees a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX a produccedilatildeo ficou caracterizada como o

Primeiro Ciclo da Borracha

As primeiras levas de imigrantes a chegar foram de maranhenses e se localizaram

inicialmente em Tocantins A partir das grandes secas de 1870 comeccedilaram a vir

tambeacutem imigrantes Nordeste oriental principalmente do Cearaacute e menos do Rio

Grande do Norte e demais Estados (BATISTA 2007 p171)

Expulsos de seus estados de origem por grandes e prolongadas secas sendo a mais

famosa a ldquoseca de dois setesrdquo de 1877 de triste memoacuteria nordestina que provocou o ecircxodo

em grande escala a partir de 1878 em direccedilatildeo a Amazocircnia aonde chegaram 15300 mil

nordestinos naquele ano em busca de um lugar para trabalhar e terras para cultivar

(SOARES 1963)

Apoacutes esse ano as migraccedilotildees se tornaram constantes combinadas com o aumento

de preccedilo da borracha no mercado externo como eacute possiacutevel visualizar na Tabela 2

60

Tabela 2 ndash Produccedilatildeo da Borracha na Amazocircnia

Ano Produccedilatildeo

(tonelada)

Preccedilo (kg)

1827 31365 220 reacuteis

1880 8679000 240 reacuteis

1890 16394000 298 reacuteis

1900 27650000 -

1910 38177000 377000 reacuteis

1911 44296 -

Fonte Reis (1953 p60) Mendes (1909 p5) apud Batista (2007 p171) Adaptada Louzada (2013)

Segundo Batista apud Reis (2007) em 1880 a produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia

bateu seu primeiro recorde chegando a produzir 8679000 toneladas de borracha ldquologo

depois da chegada dos novos extratores (seringueiros) vindos do Nordesterdquo (BATISTA 2007

p171)

Nos anos que se seguiram a produccedilatildeo continuava a bater recorde agrave cada ano

chegando a 27650 toneladas em 1900 quando segundo Soares (1963 p121) a populaccedilatildeo

nordestina que chegou Amazocircnia contabilizou 45792 migrantes naquele ano a maior jaacute

registrada ateacute entatildeo

O desejo de aumentar a produccedilatildeo de borracha e consequentemente seus lucros a

cada ano levou os seringueiros a praticarem teacutecnicas extremamente rudimentares entre

elas o ldquoprocesso de arrochordquo

[] que consistia em apertar as aacutervores com cipoacutes ao reacutes do chatildeo golpeando-as

por todos os lados para extrair o maacuteximo de leite o rendimento era maior mas as

ldquomadeirasrdquo (nome dado no seringal as heacuteveas) natildeo resistiam muitas vez

esgotando-se num uacutenico dia O ldquoarrochordquo foi responsaacutevel pela inutilizaccedilatildeo das

seringueiras da regiatildeo das ilhas as primeiras trabalhadas e onde se produzia

borracha da melhor qualidade Por isso pela necessidade de explorar outros

seringais onde se localizarem os trabalhadores [] novos seringueiras passaram a

ser cortadas nos rios mais para cima (BATISTA 2007 p175)

61

Outra teacutecnica usada na retirada da borracha ficou conhecida como ldquoos mutaacutes

pequenos jiraus armados junto agraves aacutervores para alcanccedilar as partes mais altas e sangraacute-las

tambeacutem funcionaram em toda parte com a intenccedilatildeo de aumentar a produccedilatildeordquo (BATISTA

2007 p175) O aumento no nuacutemero de cortes popularmente conhecidos como ticados

(cortes seguidos por todo o caule no sentido transversal inclinado para facilitar o

escoamento do laacutetex) foram responsaacuteveis por tornarem as aacutervores vulneraacuteveis agrave fungos

bacteacuterias e brocas consequentemente as condenava agrave morte (BATISTA 2007 p174)

Ainda segundo Batista apud Chevalier (2007 p174) descreve bem essa fase de

intensa exploraccedilatildeo do laacutetex como ldquoleite que de branco se torna negro ao contato com a

ambiccedilatildeo humanardquo se referindo agrave vulcanizaccedilatildeo do laacutetex para se transforma em botijotildees para

facilitar o transporte (Figura 11)

Para Batista (2007) o ano 1910 foi o marco da exportaccedilatildeo de borracha no paiacutes

representando 40 da exportaccedilatildeo total contra 40 da produccedilatildeo de cafeacute daquele ano

A perda do monopoacutelio de produccedilatildeo da borracha da Amazocircnia para a borracha

produzida na Malaacutesia e Indoneacutesia com preccedilos mais baixos provocou a Quebra da Borracha

produzida no Brasil o que ocasionou graviacutessimos problemas na economia dos estados do

Amazonas e do Paraacute que era baseado na produccedilatildeo de borracha

A produccedilatildeo da borracha passou a cair a cada ano em consequecircncia dos baixos

preccedilos praticados chegando a produzir em 1920 somente 23586000 toneladas e em

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para transporte Fonte Museu do Seringal (httpmuseuseringalblogspotcombr201210a-criacao-da-borrachahtml)

62

1923 produziu somente 1799500 toneladas alcanccedilando o patamar miacutenimo de 622500

toneladas em 1932 (BATISTA 2007 p171)

Com a queda do preccedilo da borracha a cada ano os ex-seringueiros se viram

obrigados a procurar outras fontes de renda para alimentar suas famiacutelias Entretanto nunca

haviam cultivado os solos da Amazocircnia como informa Benchimol (1946 p34) ldquoAgricultura

natildeo rima bem com seringardquo na verdade os extratores eram impedidos de cultivar os solos

pelos donos dos seringais pois deveriam ldquocomprarrdquo dos proacuteprios donos dos seringais os

produtos que precisassem seu consumo

Por interesses mercantis aliados a necessidade imediata durante o ciclo da

borracha foi preciso importar alimentos maciccedilamente E quando os preccedilos caiacuteram e

os seringueiros puderam plantar e colher natildeo alcanccedilaram grandes safras primeiro

porque natildeo sabiam trabalhar a terra e depois porque natildeo tinham mercado para a

venda da produccedilatildeo cingindo-se assim a uma agricultura puramente de

subsistecircncia Adaptaram-se poreacutem facilmente a uma indicaccedilatildeo taacutecita da ecologia

regional usando as vaacuterzeas como lugar por excelecircncia para os ldquoroccediladosrdquo aleacutem de

serem aacutereas fertilizadas pelo huacutemus das enchentes natildeo demandavam grande

trabalho para a sua preparaccedilatildeo apesar de natildeo permitirem a implantaccedilatildeo de

culturas perenes passando praticamente seis meses alagadas (BATISTA 2007

p174)

Como afirma Batista (2007) com a quebra da borracha brasileira centenas de

milhares de ex- seringueiros saiacuteram dos seringais em busca de outra fonte de renda uma vez

que foram abandonados agrave proacutepria sorte se instalando novamente ao longo das margens dos

rios da Amazocircnia

Forccedilados pela necessidade os ex- seringueiros foram obrigados a aprender a

cultivar os solos da Amazocircnia para produzir seus proacuteprios alimentos de forma a alimentar

suas famiacutelias Outros por sua vez optaram por retornar aos seus estados de origem Os que

decidiram por permanecer migraram para aeacutereas proacuteximas aos centros urbanos como

Manaus com o objetivo de residir proacuteximo de um futuro mercado consumidor para a sua

futura produccedilatildeo agriacutecola como eacute o caso de alguns dos municiacutepios que se constituiacuteram

proacuteximos agrave Manaus

63

211 ndash UM LUGAR CHAMADO MANAQUIRI

O municiacutepio de Manaquiri estaacute localizado a 55 km em linha reta de Manaus ou a 80

km por via fluvial com aacuterea total de 3975770 kmsup2 (IBGE 2010) estaacute divido entre Vaacuterzea e

Terra Firme (Figura 12)

64

Figura 12 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

65

Eacute amplamente relatado que o atual municiacutepio do Manaquiri tem sua origem

vinculada ao municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea e seu povoamento datado a partir de 1877

(IBGE 2010)

Todavia Wallace (2004) descreve uma visita ao Manaqueri (atual Manaquiri) na

propriedade do Sr Joseacute Antocircnio Brandatildeo em 1850 ldquoda margem do rio ergue-se num

abrupto e rochoso penhasco de 30 a 40 peacutes acima do niacutevel das mais altas cheias As rochas

satildeo de natureza vulcacircnica e tem um aspecto muito grosseiro algumas vezes viacutetreo qual o de

escoacuteriasrdquo (WALLACE 2004 p 232)

Wallace (2004) descreve a origem de seu anfitriatildeo como sendo de Portugal que

chegou agrave regiatildeo ldquobem ainda moccedilo e logo apoacutes casou nesse novo estado fixou-se em

Manaquiri com a intenccedilatildeo de laacute ficar morando por toda a vida Construindo ele proacuteprio sua

morada na beira de um lago proacuteximo ao curso principal trouxe iacutendios (e escravos) a fim de

fixaacute-los tambeacutem na fazendardquo (WALLACE 2004 p242)

Logo a seguir derrubou a mata plantou laranjeiras tamarindeiros mangueiras e

muitas aacutervores frutiacuteferas de outras espeacutecies arrumando-as em magniacuteficas e

apraziacuteveis avenidas Fez tambeacutem jardins bem como pastagens para o gado e

iniciou a criaccedilatildeo de bois carneiros porcos e galinhas E assim ficou em pleno gozo

e uma vida campesina (WALLACE 2004 p 242)

Wallace (2004) continua relatando que o Sr Brandatildeo seu anfitriatildeo teve sua

propriedade completamente destruiacuteda por iacutendios seus vizinhos incitados por

revolucionaacuterios na Revoluccedilatildeo Cabanagem (1840) perdendo tambeacutem todas as aacutervores

frutiacuteferas animais e escravos mortos pelos iacutendios Todavia sua famiacutelia esposa e onze filhos

se refugiaram na floresta onde permaneceram por trecircs dias alimentando-se de frutas e

milho uma vez que o senhor da propriedade se encontrava na Vila da Barra natildeo teve sua

vida perdida pelos revoltosos Foi nomeado Magistrado da Barra onde permaneceu por

anos longe de sua propriedade para onde retornou posteriormente com a filha caccedilula

uma vez que sua esposa jaacute havia falecido e seus filhos mais velhos jaacute haviam casado e

constituiacutedo suas famiacutelias onde reconstruiu parte da sua propriedade com seus escravos

Com o inicio das migraccedilotildees nordestinas para a Amazocircnia em busca de trabalho nos

seringais muitas famiacutelias optaram por se instalarem na receacutem-criada Cidade da Barra do Rio

Negro ou em regiatildeo proacutexima como eacute o caso da regiatildeo do Careiro da Vaacuterzea localizada em

uma ilha no meio do rio Solimotildees

66

Novas secas nordestinas determinaram outras penetraccedilotildees de cearenses

piauienses paraibanos na regiatildeo do Careiro Com o nuacutemero de imigrantes aumentando a

cada ano o governo do estado do Amazonas fundou em 11 de Janeiro de 1890 as Colocircnias

de ldquoSanta Maria do Janauacaacuterdquo e a ldquo13 de Maiordquo no Cambiche com a funccedilatildeo de abrigar os

colonos e sustentaacute-los durante seis meses para que pudessem se instalar na regiatildeo (IBGE

2010)

Com a Queda da Borracha a partir de 1911 nos altos cursos dos rios os ex-

seringueiros se viram obrigados a procurarem novas aacutereas para residirem

Segundo Benchimol (1992)

Seriam os novos paroaras no velho linguajar sertanejo sendo que desta vez natildeo

levavam mais o chapeacuteu de palhinha o guarda chuva e o reloacutegio de algibeira com a

corrente de ouro que outrora constituiacuteam os siacutembolos e a imagem dos filhos

proacutedigos da seringa e da fortuna Ou entatildeo quando a vergonha de voltarem pobres

impedia o seu retorno ao sertatildeo abandonavam os seringais endividados e

rumavam para as cidades Rio Branco Manaus Beleacutem (BENCHIMOL 1992 p228)

O autor ainda relata que os ex- seringueiros que tinham vocaccedilatildeo para atividades

agriacutecolas ldquodesciam rio abaixo para ocupar como posseiros as terras devolutas das vaacuterzeas

do Solimotildees do Meacutedio e do Baixo Amazonas onde localizavam os siacutetios e roccedilados neles se

fixando definitivamente permanecendo fieacuteis agrave tradiccedilatildeo ruralrdquo (BENCHIMOL 1992 p228)

Fato semelhante ocorreu com a localidade do Manaquiri como descreve o senhor

Nery (82 anos) que foi trazido pelos pais com apenas um mecircs de vida filho de ex-

seringueiros que migraram do municiacutepio de Laacutebrea no sul do Estado do Amazonas em 1931

apoacutes a queda do preccedilo da borracha e instalaram-se na localidade do Manaquiri ldquovieram

tentar a vida na agricultura em um lugar mais perto da capital Lembro que na minha

infacircncia tinha fartura de peixe por isso um dos primeiros nomes daqui foi Vila do Jaraquirdquo

O entrevistado tambeacutem descreve o lugar como tendo ldquoa Igreja de Satildeo Pedro feita

de madeira e coberta de palha e mais quatro casas construiacutedas no mesmo formato da igreja

A igreja de hoje (Figura 13) estaacute no mesmo lugar da antiga e ao lado tinha um campo de

futebol e do lado do campo agraves quatro casas que me lembro da infacircnciardquo (NERY 82 anos)

67

Conforme relato do Cruz (84 anos) relatou que seu pai migrou do estado do Rio

Grande do Norte para trabalhar na retirada da borracha em 1924 quando chegou a Manaus

soube da queda do preccedilo da borracha

[] mas natildeo queria ficar na cidade entatildeo decidiu seguir duas famiacutelias que iam

morar laacute no Careiro embora o governo do estado tenha cumprido com a palavra e

dado comida durante seis meses ao meu pai e as outras famiacutelias o sonho dele era

cultivar as novas terras e fez plantando verduras que a aacutegua cobriu sem doacute nem

piedade quando subiu naquele ano meu pai ficou tatildeo triste tatildeo triste que disse

que ia procurar a terra que os outros colonos falavam um tal de Manaquiri onde a

terra era alta e a aacutegua soacute chegava na frente de tatildeo alta que era a terra meu pai

natildeo perdeu tempo e veio atraacutes dessa terra alta com minha matildee e mais duas

famiacutelias ai eu nasci aqui no Manaquiri em 1926 (CRUZ 84 anos)

Cruz (84 anos) relata ainda que ajudou na construccedilatildeo da primeira igreja de Satildeo

Pedro em 1931 com seu pai e outros dois vizinhos os uacutenicos moradores do lugar ateacute entatildeo

a igreja foi feita de madeira tirada da floresta e coberta com palhas secas tranccediladas pela sua

matildee e as outras duas vizinhas fizeram a igreja para agradecer a Satildeo Pedro pela grande

fartura de peixe da espeacutecie jaraqui (Semaprochilodus insignis) que deu o primeiro nome ao

lugar chamado posteriormente de Vila do Jaraqui

Depois daquele ano quando meus pais fizeram uma festa para comemorar o dia se

Satildeo Pedro e chamaram os amigos do Careiro veio muita gente pra caacute e ficamos

jogando bola ateacute o sol ir embora no campo que roccedilamos naquele dia mesmo

depois disso nos finais de semana vinha gente pra caacute pra jogar bola depois de um

tempo comeccedilou a chegar gente para morar aqui mesmo era legal eu ia ter amigos

para brincar todos os dias (CRUZ 84 anos)

Figura 13 Frente da cidade do Manaquiri Fonte Louzada 2013

68

Oficialmente a histoacuteria do hoje municiacutepio do Manaquiri estaacute ligada ao povoamento

efetuado por nordestinos agrave princiacutepio no municiacutepio do Careiro que posteriormente se

estendeu pela regiatildeo O que levou o governo do estado do Amazonas atraveacutes do Decreto Lei

nordm176 de 1938 a tornar o Careiro um distrito da capital Manaus (IBGE 2000)

Com o a ocupaccedilatildeo constante e o crescimento ao longo dos anos o distrito do

Careiro foi desmembrado da capital Manaus e tornou-se um municiacutepio autocircnomo atraveacutes

do Decreto Lei nordm 99 de 19 de Dezembro de 1955 tendo como subdistritos Careiro

(Castanho) Curari Gurupaacute Mamori Janauacaacute Satildeo Joaquim e Manaquiri (AMAZONAS

1955)

Com o inicio da construccedilatildeo da BR-319 na deacutecada de 1970 os subdistritos do

Careiro com destaque para o Careiro Castanho e o Manaquiri tambeacutem passaram a receber

migrantes oriundos de outros municiacutepios e tambeacutem de outros estados brasileiros para

trabalharem na construccedilatildeo da BR e acabaram por se fixar na regiatildeo

O Manaquiri foi elevado agrave categoria de municiacutepio em 10 de Fevereiro de 1981

constituindo seu territoacuterio com parte dos municiacutepios de Careiro Borba e Manacapuru

(BRASIL 1981) E continuou a crescer ao longo dos anos como mostra a Tabela 3

Tabela 3 Crescimento populacional do Manaquiri entre 1991 e 2010

Ano Populaccedilatildeo

1991 10718

1996 17278

2000 12711

2007 19164

2010 22801

212 ndash INFRAESTRUTURA DO MANAQUIRI PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

Segundo o Censo Demograacutefico do IBGE (2010) o municiacutepio do Manaquiri estaacute

classificado em deacutecimo lugar entre os sessenta e dois municiacutepios do estado com relaccedilatildeo ao

nuacutemero de habitantes por quilocircmetro quadrado que chega a 573 habkmsup2 (Tabela 4)

Fonte IBGE Censo Demograacutefico 19912010

69

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas

Municiacutepios com mais habkmsup2

Municiacutepio Populaccedilatildeo Total

Urbana Rural habkmsup2

1ordm Manaus 1802014 1792881 9133 15806

2ordm Iranduba 40781 28979 11802 1842

3ordm Parintins 102033 69890 32143 1714

4ordm Tabatinga 52272 36355 11917 1621

5ordm Manacapuru 85141 60174 24967 1162

6ordm Itacoatiara 86839 58157 26655 977

7ordm Careiro da Vaacuterzea 23930 1000 22930 909

8ordm Urucurituba 17837 10448 7389 614

9ordm Boa Vista do Ramos 14979 7550 7429 579

10ordm Manaquiri 22801 7062 15739 573

11ordm Nova Olinda do Norte

30696 13626 17070 547

12ordm Careiro 32734 9437 23297 537

A sede municipal de Manaquiri concentra 3097 da populaccedilatildeo do municiacutepio que

por sua vez dispotildee fisicamente de infraestrutura baacutesica de uma cidade com ruas e calccediladas

amplas (Figura 14)

Fonte Censo demograacutefico IBGE 2010 (httpwwwcenso2010ibgegovbrsinopseindexphpdados=21ampuf=13)

70

A sede municipal tambeacutem concentra grande variedade de comeacutercio como

mercearias lojas de moacuteveis e eletroeletrocircnicos restaurantes hoteacuteis banco etc (Figura 15)

Como 6903 (15739 mil) da populaccedilatildeo do municiacutepio fica concentrada na zona rural

a economia predominante torna-se a agricultura familiar que Noda (2011) descreve como

tendo uma

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

Figura 15 Centro comercial da sede municipal de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

71

[] produccedilatildeo diversificada que aleacutem de permitir uma oferta constante ampla e variada de alimentos para o autoconsumo proporciona maior estabilidade ao sistema produtivo pois o suprimento das necessidades baacutesicas em alimentos da famiacutelia independente da comercializaccedilatildeo do lsquorsquoexedendersquorsquo As crises do mercado externo podem afetar o nuacutecleo produtivo mas natildeo viabilizam a sua sobrevivecircncia (NODA 2011 p18)

Todavia apesar da produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri ser caracterizada

como sendo uma produccedilatildeo agriacutecola familiar a mesma manteacutem-se ligada ao mercado

consumidor produzindo natildeo mais exclusivamente para o autoconsumo mas principalmente

para o abastecimento do mercado externo

Segundo a Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural ndash SEPROR o municiacutepio do

Manaquiri destaca-se no estado por ter um grande volume de produccedilatildeo agriacutecola (Tabela 5)

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola no municiacutepio de Manaquiri

de Janeiro a Dezembro de 2012

Fonte Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural - SEPROR

Produccedilatildeo Agriacutecola Quantidade Produzida

Coco 32 mil frutos Cupuaccedilu 120 mil frutos Goiaba 5 (t)

Graviola 8 mil frutos Laranja 12540 mil frutos

Limatildeo 765 mil frutos Mamatildeo Havaiacute 200 (t)

Maracujaacute 80 (t) Pupunha 24 mil cachos

Tangerina 252 mil frutos Alface 330 mil peacutes

Batata doce 1920 (t) Berinjela 20 (t)

Feijatildeo de Metro 500 mil maccedilos Jerimum 700 (t)

Macaxeira 1440 (t) Maxixe 30 (t)

Melancia 510 mil frutos

Pimentatildeo a ceacuteu aberto 80 (t) Pimenta doce 24 (t)

Pepino 156 (t) Quiabo 90 (t) Repolho 120 (t) Tomate 160 (t)

72

Sobre isso Noda (2011) relata

Dados do Censo de 199596 publicados pelo INCRA (2000) mostram que na Regiatildeo Norte o nuacutemero de estabelecimentos de agricultores familiares ocupa 375 da aacuterea recebem 38 6 do total de financiamento satildeo responsaacuteveis por 587 do Valor Bruto da Produccedilatildeo e representam 854 do total dos estabelecimentos rurais No Brasil o nuacutemero de estabelecimentos classificados como de agricultura familiar representam 852 do total de estabelecimentos 305 da aacuterea total e correspondem a 379 do Valor Bruto da Produccedilatildeo (NODA 2011 p18)

O Estado do Amazonas a partir de 2012 tem um programa de governo voltado

para a agricultura familiar o Programa Amazonas Rural

Com o Amazonas Rural pretendemos entre outros avanccedilos fomentar as cadeias produtivas tradicionais melhorar a produtividade proporcionar acesso ao creacutedito facilitar o escoamento garantir mercado e competitividade aos produtos oferecendo novas alternativas econocircmicas e mais oportunidade ao homem e a mulher (AMAZONAS 2013 p 5)

A partir de janeiro de 2013 agricultores familiares do municiacutepio de Manaquiri

passaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado para receberem empreacutestimos que

podem chegar ao valor de R$12 mil a serem investidos no melhoramento da produccedilatildeo

agriacutecola com juros de 1 ao ano com prazo de pagamento em ateacute 10 anos (AMAZONAS

2013)

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal Sustentaacutevel do

Amazonas - IDAM (2013) vinte e cinco agricultores do Manaquiri fizeram o curso sobre

cultivo de hortaliccedilas que tinha como objetivo aumentar a produccedilatildeo de hortaliccedilas para

abastecer o comeacutercio local e a capital amazonense

22 MARCHA PARA O OESTE A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS

Segundo Rothbard (2012) a Grande Depressatildeo Americana foi resultado de oito

anos (1920 a 1928) de inflaccedilatildeo elevada acompanhada da expansatildeo excessiva das induacutestrias

e a venda de tiacutetulos do capital no mercado de accedilotildees por um longo periacuteodo como resultado

teve a injeccedilatildeo de milhares de doacutelares na economia o que natildeo muito mais tarde se mostraria

um erro irreversiacutevel levando o paiacutes aacute depressatildeo no ano seguinte

73

Com a Grande Depressatildeo de 1929 explodindo seus reflexos se espalharam pelo

mundo em meses chegando ateacute a atingir tambeacutem o Brasil que nesse periacuteodo tinha sua

economia enraizada na cafeicultura tendo os Estados Unidos como maior comprador do

cafeacute produzido no Brasil

Para minimizar os impactos na economia interna o governo brasileiro se viu

obrigado a comprar e a derramar no mar milhares de sacas de cafeacute a fim de conter o preccedilo

do principal produto brasileiro ateacute entatildeo

A economia cafeicultora jamais se recuperou completamente o que levou os

produtores que natildeo quebraram com a crise do cafeacute como ficou conhecido este periacuteodo no

Brasil a investirem no setor industrial o que mais tarde se mostraria ter sido um oacutetimo

negoacutecio

Com a queda do preccedilo e o excesso de cafeacute no mercado os proprietaacuterios dos

cafezais se viram obrigados a demitir milhares de empregados que migraram para outras

regiotildees principalmente para as cidades em busca de emprego Com o passar dos anos de

intensas migraccedilotildees para as cidades e a falta de estrutura das mesmas para atender toda a

demanda resultou em um crescimento raacutepido e desordenado aleacutem de graviacutessimos

problemas na populaccedilatildeo por falta de condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede

Com o passar do tempo os problemas urbanos foram sendo agravados a cada ano e

o governo brasileiro se viu pressionado a tomar uma atitude Foi entatildeo que o presidente

Getuacutelio Vargas iniciou um pacote de medidas de incentivo agrave migraccedilatildeo posteriormente

chamado de ldquoMarcha para o Oesterdquo que visava antes de tudo ocupar os espaccedilos

considerados vazios no interior do Brasil e desafogar as cidades do litoral

Para isso foi necessaacuterio incentivar a populaccedilatildeo a migrar para outras regiotildees atraveacutes

do meio de comunicaccedilatildeo de maior alcance da eacutepoca o raacutedio e foi por meio dele com

pronunciamentos e transmissotildees semanais de campanhas incentivando a migraccedilatildeo da

populaccedilatildeo para espaccedilos sem gente que Vargas deu inicio agraves grandes transformaccedilotildees que o

Brasil viria a presenciar dali em diante

A Marcha para o Oeste tinha como objetivos incentivar a migraccedilatildeo de brasileiros e

estrangeiros aptos para a produccedilatildeo agriacutecola para outras regiotildees sem gente propagava

tambeacutem a conquista definitiva do territoacuterio brasileiro que segundo Vargas ateacute entatildeo fora

esquecido (RICARDO 1970)

74

E em 09 de fevereiro de 1940 foi publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei

nordm 2009 que criou os nuacutecleos coloniais ldquoreuniatildeo de lotes medidos e demarcados formando

um grupo de pequenas propriedades ruraisrdquo (BRASIL 1940 p2433)

Art 7ordm Os nuacutecleos coloniais aleacutem das casas destinadas a residecircncia do pessoal teacutecnico administrativo e operaacuterio e de trabalhadores teratildeo a) Um campo de demonstraccedilatildeo destinado aacutes culturas proacuteprias da regiatildeo ou de outras economicamente aconselhaacuteveis b) Escolas para ensino rural de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendecircncia do Ensino Agriacutecola c) Pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira d) Serviccedilo meacutedico e farmacecircutico

Tambeacutem segundo o Diaacuterio Oficial da Uniatildeo os nuacutecleos coloniais seriam

classificados em rurais destinados agrave lavoura e a criaccedilatildeo de animais de dimensotildees variando

entre 10 e 50 hectares e nuacutecleos coloniais urbanos destinados agraves futuras povoaccedilotildees

ldquotendo sua frente voltada para ruas e praccedilas e com aacuterea maacutexima de 3000msup2rdquo (BRASIL 1940

p2434)

Um ano apoacutes a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 2009 o governo federal em parceria

com os governos estaduais e municipais e o Ministeacuterio da Agricultura divulgam tambeacutem no

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei nordm 3059 de 14 de Fevereiro de 1941

Esse Decreto promoveu a fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo de Grandes Colocircnias Agriacutecolas

Nacionais com o objetivo de receber e fixar como proprietaacuterios rurais cidadatildeos brasileiros

reconhecidamente pobres que revelassem aptidatildeo para o trabalho agriacutecola e

excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros (BRASIL 1941)

Paraacutegrafo uacutenico Todas as despesas decorrentes da fundaccedilatildeo instalaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das colocircnias inclusive construccedilatildeo e conservaccedilatildeo das vias principais de acesso seratildeo custeadas pela Uniatildeo dentro dos creacuteditos que forem destinados a esse fim Art 2ordm As colocircnias seratildeo criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que deveratildeo reunir as seguintes condiccedilotildees a) situaccedilatildeo climateacuterica e condiccedilotildees agroloacutegicas exigidas pelas culturas da regiatildeo b) cursos permanentes dacuteaacutegua ou possibilidade de accediludagem para irrigaccedilatildeo (BRASIL 1941 p72)

Tambeacutem ficou estabelecido no Decreto Lei que a aacuterea do lote variaria entre 20 e 50

hectares e em caso de regiotildees de floresta naturais cada proprietaacuterio do lote teria que

manter uma reserva equivalente a 25 do total ldquosect 4ordm Na elaboraccedilatildeo do plano geral de

75

colonizaccedilatildeo seratildeo respeitadas as belezas naturais da regiatildeo bem como cuidar-se-aacute da

proteccedilatildeo da flora e faunardquo (BRASIL1941 p73)

No paraacutegrafo uacutenico do artigo 5ordm ldquoNo projeto da sede seratildeo observadas todas as

regras urbaniacutesticas visando agrave criaccedilatildeo de um futuro nuacutecleo de civilizaccedilatildeo no interior do paiacutesrdquo

(BRASIL1941 p73)

Para Bertran (1988) o principal objetivo das Colocircnias Agriacutecolas Nacionais era ldquoalocar

matildeo de obra liberada pela decadecircncia da cafeicultura e criar uma frente agriacutecola comercial

internardquo (BERTRAN 1988 p92)

Para Dayrell (1974) as grandes Colocircnias Agriacutecolas Nacionais seriam a soluccedilatildeo para

resolver dois grandes estrangulamentos do Brasil o excesso de matildeo de obra e a falta de

emprego para todos

Independente das motivaccedilotildees para se criar a Marcha para o Oeste seus benefiacutecios

em diversas regiotildees do paiacutes satildeo inegaacuteveis O exemplo da Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes -

CANG fundada em 19 de Fevereiro de 1941 pelo Decreto Lei nordm 6882 na localidade de

Ceres que obedecendo ao Decreto Lei nordm 3059 forneceu lotes aos colonos medindo entre

20 e 50 hectares para que cultivassem a terra de forma a manter seu sustento

Com a veiculaccedilatildeo da notiacutecia de solo feacutertil e de apoio do Governo (CASTILHO 2012)

a regiatildeo passou a receber grande quantidade de pessoas candidatos a futuros colonos

A partir de 1946 chegavam a Colocircnia em meacutedia 30 famiacutelias por dia No ano seguinte jaacute residiam na CANG mais de 10000 habitantes Em 1950 a aacuterea contava com 29522 habitantes e em 1953 atingiu uma populaccedilatildeo de 35672 habitantes (onde 33222 residiam na zona rural e apenas 3450 na zona urbana) Essa grande quantidade de migrantes era provenientes do Oeste de Minas Gerais (60) de Satildeo Paulo e Estados do Norte (20) do proacuteprio Estado de Goiaacutes e do Sul (especialmente gauacutechos) e de outros paiacuteses (20) (CASTILHO apud DAYRELL 2012 p121)

Com o aumento do nuacutemero de colonos a cada dia houve tambeacutem o aumento da

produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas destinadas para a demarcaccedilatildeo de lotes Um demonstrativo do

volume de produccedilatildeo agriacutecola pode ser visualizado na Tabela 6

76

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo agriacutecola da CANG Produto Unidade 1947 1950 1951 1952 1953

Arroz Saca 60 kg 220000 420596 362642 272920 276000

Milho Saca 60 kg 500000 25475 202625 136349 248000

Feijatildeo Saca 60 kg 65000 18169 29455 140187 86000

Accediluacutecar Saca 60 kg 5000 - - - -

Algodatildeo Saca 60 kg 10000 99213 261369 129974 220000

Cafeacute Saca 60 kg - - 22540 8036 14600

Cana kg - 3129869 36856869 43725 ton 32024 ton

Mandioca kg - 6436718 35272961 20088783 41448 ton

Com a produccedilatildeo de arroz chegando a 4 toneladas e 600 kg (276000kg) em 1953

somado a 32024 toneladas de cana de accediluacutecar e 41448 toneladas de mandioca a produccedilatildeo

agriacutecola da CANG chegava a 780720 toneladas de alimentos somente com trecircs produtos

um recorde de produccedilatildeo

A CANG natildeo somente produzia os produtos agriacutecolas mais tambeacutem os beneficiava de

modo a agregar valor ao produto facilitando assim a sua comercializaccedilatildeo

Da cana de accediluacutecar produziam rapadura accediluacutecar mascavo accediluacutecar cristal farinha de

milho e mandioca aleacutem de oacuteleos vegetais e tijolos para a construccedilatildeo das casas e telhas

francesas e coloniais (DAYRELL 1974)

Tambeacutem segundo Dayrell (1974) a CANG a partir de 1953 comeccedilou a produzir outras

culturas agriacutecolas entre elas mamatildeo amendoim batata e frutas entretanto as mesmas natildeo

chegaram a ser expressivas em volume de produccedilatildeo ficando somente para consumo interno

da Colocircnia

Por estar localizada em um solo riquiacutessimo em fertilidade para a agricultura a

administraccedilatildeo da CANG fazia seacuterias restriccedilotildees agrave criaccedilatildeo bovina segundo Dayrell (1974) a

mesma tinha um rebanho estimado em 14000 cabeccedilas de gado em sua maioria utilizada

para preparar a terra para o plantio e as vacas para a produccedilatildeo leiteira

Outro exemplo de Colocircnia eacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados - CAND

localizada no Estado de Mato Grosso do Sul (antigo Mato Grosso) criada pelo Decreto Lei nordm

5941 de 28 de Outubro de 1943 que assim como outras colocircnias tinha a funccedilatildeo de

Fonte DAYRELL apud CASTILHO (2012)

77

receber e alojar brasileiros reconhecidamente pobres e estrangeiros aptos para a

agricultura

Segundo Menezes (2011) devido aos percalccedilos poliacuteticos a Colocircnia somente foi

efetivamente implantada em 1948 cinco anos apoacutes a lei de sua criaccedilatildeo Logo em seguida

comeccedilou a receber migrantes mas foi na deacutecada de 1950 que as migraccedilotildees tomaram

impulso e chegaram agrave nuacutemeros exorbitantes Segundo Lenharo (1986) as migraccedilotildees intensas

eram reflexos das propagandas veiculadas semanalmente no raacutedio pautada em

instrumentos simboacutelicos com a bandeira para incitar o sentimento nacionalista

A colocircnia possuiacutea uma aacuterea de 267000 ha que ficaram divididas em duas zonas

separadas pelo rio Dourados a primeira localizada agrave esquerda do rio com 68000

ha e a segunda agrave direita daquele com uma aacuterea de 199000 ha A referida colocircnia

englobava o territoacuterio dos atuais municiacutepios de Dourados Faacutetima do Sul Vicentina

Gloacuteria de Dourados Jateiacute Deodaacutepolis e Douradina (MENEZES apud PONCIANO

NAGLIS 2011)

Segundo Menezes (2011) em uma carta o administrador da CAND em 1951

descreve a regiatildeo da Colocircnia de Dourados como sendo uma regiatildeo de mata virgem de

terras planas de solos de rara fertilidade e de altitude superior a 400 metros com condiccedilotildees

adaptaacuteveis agrave culturas agriacutecolas variadas de frutos europeus e cafeacute

Assim como ocorreu na Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes- CANG na localidade de

Ceres a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados- CAND no Territoacuterio Federal de Ponta Poratilde

(BRASIL 1943) no atual estado do Mato Grosso do Sul tambeacutem produzia grande quantidade

de alimentos como arroz feijatildeo e milho Sua principal dificuldade estava no transporte

dessa produccedilatildeo que ao contraacuterio da CANG que tinha acesso direto ao rio das Almas a

CAND dependia do transporte terrestre para escoar sua produccedilatildeo

Menezes apud Queiroz (2011 p7) descreve a ldquosituaccedilatildeo relativamente desfavoraacutevel

desse ramal um tanto excecircntrico em relaccedilatildeo ao nuacutecleo agriacutecola constituiacutedo pela CAND Essa

colocircnia de fato estendeu-se a leste da cidade de Dourados enquanto a estaccedilatildeo de Itahum

foi estabelecida cerca de 60 km a oeste da cidaderdquo Com isso agrave medida que a CAND crescia e

se desenvolvia ficava mais difiacutecil escoar sua produccedilatildeo

Segundo Azevedo (1994) em entrevista com um colono o mesmo descreve a

situaccedilatildeo em que se encontravam ldquoa uacutenica e precariacutessima ligaccedilatildeo que tiacutenhamos era com

Dourados atraveacutes de um caminho aberto a braccedilos humanos onde haviam terriacuteveis atoleiros

78

dentre os quais os famosos travessotildees da Onccedila o do Guassu e o varjatildeo de Vila Brasilrdquo

(AZEVEDO1994 p59)

Nessa situaccedilatildeo em periacuteodo de chuva era praticamente impossiacutevel transportar a

produccedilatildeo ateacute a estaccedilatildeo de Itahum e para piorar a CAND natildeo dispunha de galpotildees de

armazenamento o que tornava extremamente necessaacuterio que os colonos enfrentassem os

perigos do caminho para natildeo perder a produccedilatildeo

221 COLOcircNIA AGRIacuteCOLA NACIONAL DO AMAZONAS- CANA ldquoUM LUGAR PARA

RECOMECcedilARrdquo

A Amazocircnia voltou a ser ldquoalvordquo de migraccedilatildeo populacional a partir da II Segunda

Guerra Mundial ldquocom a perda para os japoneses dos centros de produccedilatildeo de goma elaacutestica

(borracha) cultivadas no Oriente a induacutestria beacutelica dos aliados viu-se privada da noite para

o dia de um de seus mais importantes produtos estrateacutegicosrdquo (SOARES 1963 p123)

Com isso o presidente dos Estados Unidos viu-se pressionado a estudar o estoque

de mateacuterias primas disponiacutevel para a guerra todavia o resultado foi assustador

De todos os materiais criacuteticos e estrateacutegicos a borracha eacute aquele cuja falta representa a maior ameaccedila agrave seguranccedila de nossa naccedilatildeo e ao ecircxito da causa aliada () Consideramos a situaccedilatildeo presente tatildeo perigosa que se natildeo se tomarem medidas corretivas imediatas este paiacutes entraraacute em colapso civil e militar A crueza dos fatos eacute advertecircncia que natildeo pode ser ignorada

Atenccedilotildees do governo americano se voltaram entatildeo para a Amazocircnia grande reservatoacuterio natural de borracha com cerca de 300 milhotildees de seringueiras prontas para a produccedilatildeo de 800 mil toneladas de borracha anuais mais que o dobro das necessidades americanas Entretanto naquela eacutepoca soacute havia na regiatildeo cerca de 35 mil seringueiros em atividade com uma produccedilatildeo de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941 Seriam necessaacuterios pelo menos mais 100 mil trabalhadores para reativar a produccedilatildeo amazocircnica e elevaacute-la ao niacutevel de 70 mil toneladas anuais no menor espaccedilo de tempo possiacutevel [] para alcanccedilar esse objetivo iniciaram-se intensas negociaccedilotildees entre as autoridade brasileiras e americanas que culminaram com a assinatura do Acordo de Washington (NECES 2013 p5 - 6)

E em 14 de Setembro de 1943 eacute publicado o Decreto Lei nordm 5813 que dispunha

sobre o acordo de Washington (assinado em 1942) entre o Brasil e os Estados Unidos onde

o Brasil se comprometia em recrutar e encaminhar trabalhadores para a Amazocircnia com a

79

finalidade de retirar a maior quantidade possiacutevel de borracha e os EUA em contra partida se

comprometia a disponibilizar a importacircncia de U$$ 240000000 em uma conta especial no

Banco do Brasil agrave disposiccedilatildeo do governo brasileiro para ser usado no transporte e

acomodaccedilatildeo dos primeiros 16000 trabalhadores que deveriam ser colocados nos seringais

agrave tempo de iniciar a extraccedilatildeo da borracha para a safra de 1944 (BRASIL 1943)

Em cumprimento ao acordo firmado entre Brasil-EUA eacute criado o Serviccedilo Especial de

Mobilizaccedilatildeo de Trabalhadores para a Amazocircnia - SEMTA que tinha como objetivo fazer o

recrutamento de trabalhadores e suas famiacutelias e o encaminhamento e posterior

acomodaccedilatildeo das mesmas nos seringais da Amazocircnia a fim de incrementar a produccedilatildeo de

borracha e destina laacute aos Estados Unidos (BRASIL 1943)

Para o governo brasileiro era uma grande oportunidade para mitigar alguns dos mais graves problemas sociais brasileiros Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponiacuteveis para ser enviados imediatamente para os seringais Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazocircnia durante o ano de 1942 metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais Aqueles eram os primeiros soldados da borracha Simples retirantes que se amontoavam com suas famiacutelias por todo o nordeste fugindo de uma seca que teimava em natildeo acabar e os reduzia agrave miseacuteria Mas aquele primeiro grupo era evidentemente muito pequeno diante das pretensotildees americanas (NECES 2013 p7)

Vai aleacutem ao afirmar

Em todas as regiotildees do Brasil aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha e assim auxiliar a causa aliada Alistamento recrutamento voluntaacuterios esforccedilo de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano popular A mobilizaccedilatildeo de trabalhadores para a Amazocircnia coordenada pelo Estado Novo foi revestida por toda a forccedila simboacutelica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam No nordeste de onde deveria sair o maior numero de soldados o SEMTA convocou padres meacutedicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazocircnicas O artista suiacuteccedilo Chabloz foi contratado para produzir material de divulgaccedilatildeo acerca da realidade que os esperava Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de laacutetex que escorria como aacutegua de grossas seringueiras Todo o caminho que levava do sertatildeo nordestino seco e amarelo ao paraiacuteso verde e uacutemido da Amazocircnia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas O slogan Borracha para a Vitoacuteria tornou-se o emblema da mobilizaccedilatildeo realizada por todo o nordeste Histoacuterias de enriquecimento faacutecil circulavam de boca em boca Na Amazocircnia se junta dinheiro com rodo Os velhos mitos do Eldorado amazocircnico voltavam a ganhar forccedila no imaginaacuterio popular O paraiacuteso perdido a terra da fartura e da promissatildeo onde a floresta era sempre verde e a seca desconhecida Os cartazes mostravam caminhotildees carregando toneladas de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores Eram imagens coletadas por Chabloz nas plantaccedilotildees da Firestone na Malaacutesia sem nenhuma conexatildeo com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazocircnicos Afinal de contas o que os flagelados

80

teriam a perder Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam restava o milenar recurso do recrutamento forccedilado de jovens A muitas famiacutelias do sertatildeo nordestino foram oferecidas somente duas opccedilotildees ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou entatildeo deveriam seguir para o front na Europa para lutar contra os fascistas italianos e alematildees Eacute faacutecil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazocircnia (NECES 2013 p7)

Estima-se que 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazocircnicos entre os

anos de 1942 e 1945 ldquodesse total quase metade acabou morrendo em razatildeo das peacutessimas

condiccedilotildees de transporte alojamento e alimentaccedilatildeo durante a viagem como tambeacutem pela

ausecircncia quase absoluta de meacutedicosrdquo (NECES 2013 p8)

Com a produccedilatildeo da borracha natildeo chegando nem agrave metade do esperado jaacute em 1944

o governo americano transfere suas atribuiccedilotildees ao governo brasileiro e o fim da II Segunda

Guerra Mundial alcanccedilado em 1945 o acordo de exploraccedilatildeo de borracha na Amazocircnia eacute

rapidamente cancelado com abertura das regiotildees produtoras do sudoeste asiaacutetico

novamente ao mercado internacional

Por sua vez ldquoos soldados da borrachardquo como ficaram conhecidos os migrantes na

regiatildeo amazocircnica foram largados agrave proacutepria sorte novamente na imensidatildeo da floresta

algumas centenas optaram por retornar aos seus estados de origem os demais optaram por

continuar na regiatildeo o que veio a contribuir para o povoamento da mesma

Por outro lado o governo brasileiro natildeo interrompeu a sua poliacutetica de colonizaccedilatildeo

jaacute iniciada com a criaccedilatildeo de Colocircnias de Agriacutecolas Nacionais por todo o territoacuterio brasileiro e

principalmente na Amazocircnia para atender o Acordo de Washington (1942) mantendo assim

os dois mega projetos em funcionamento O que por sua vez resultou em uma explosatildeo

demograacutefica na regiatildeo direcionadas principalmente para os maiores estados da regiatildeo e do

paiacutes o estado do Amazonas e o estado do Paraacute como expressa Benchimol (2009) atraveacutes da

evoluccedilatildeo demograacutefica da populaccedilatildeo nesses estados (Tabela 7)

Tabela 7 Crescimento populacional do Amazonas e do Paraacute (1900-1950)

Estados 1900 1920 1940 1950

Amazonas 249756 363166 438008 514009

Paraacute 445356 983507 944644 1123273

Fonte Samuel Benchimol (2009)

81

Embora o crescimento populacional do estado do Amazonas ao contraacuterio do

estado do Paraacute possa parecer menos expressivo nas primeiras cindo deacutecadas do seacuteculo XX o

mesmo representou grande preocupaccedilatildeo aos governantes com a ocupaccedilatildeo destes

migrantes e imigrantes em terras estranhas o que levou o governador do estado do

Amazonas a doar agrave Uniatildeo grande lote de terras para que fosse implantada a Colocircnia

Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA (AMAZONAS 1941)

As terras doadas detinham aacuterea de duzentos mil a trezentos mil hectares

localizadas entre os rios Negro e Solimotildees (BRASIL 1941b)

Segundo Daacutecio (2011) as terras foram dividas em duas glebas a primeira localizada

no Cacau Pirera (atual municiacutepio de Iranduba) na margem direita do Rio Negro e a segunda

gleba na localidade da Bela Vista disposta na margem esquerda do Rio Solimotildees no

municiacutepio de Manacapuru aonde foi instalado a sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA ficando popularmente conhecida como Colocircnia da Bela Vista

Jaacute na sede da CANA localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem esquerda

do Rio Solimotildees a mesma foi efetivamente instalada em 1943 segundo o senhor Dida (73

anos) morador da CANA pelo engenheiro agrocircnomo Dr Carvalho A localidade logo

recebeu o nome de Bela Vista por estar localizada parte em aacuterea de terra firme e parte em

aacuterea de vaacuterzea (Figura 16) e ter uma visatildeo privilegiada do rio Solimotildees

82

Figura 16 Sede da Comunidade da Bela Vista e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

83

Segundo o senhor Silva (73 anos) popularmente conhecido como Dida os futuros

colonos chegavam a Colocircnia atraveacutes de navios cargueiros trazidos principalmente de quatro

estados brasileiros Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e do Rio Grande do Norte Normalmente os

colonos chegavam acompanhados das esposas e dos filhos muitas vezes pequenos e

doentes devido agrave longa viagem ser longa e as condiccedilotildees sanitaacuterias dentro dos navios natildeo

serem adequadas para o transporte de pessoas

Sobre isso Neces (2013) explica que as viagens do Nordeste para a Amazocircnia

levavam no miacutenimo trecircs meses ou mais devido agrave baixa capacidade de transporte das poucas

empresas de navegaccedilatildeo existentes que navegavam pelos rios da regiatildeo o que levou o

governo brasileiro a fornecer passagens no navio Italiano Lloyd que atracava no litoral

brasileiro e seguia em direccedilatildeo agrave Amazocircnia

Partes das dificuldades de transporte para a regiatildeo foram solucionadas a partir de

1943 com o investimento maciccedilo do governo americano no SNAPP (Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e

Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute) para o escoamento da produccedilatildeo de borracha da regiatildeo

(NECES 2013)

Outro entrevistado na pesquisa foi o senhor Santos (84 anos) eacute um dos uacuteltimos

colonos ainda residente na Bela Vista Nasceu no Estado do Rio Grande do Norte em 1929

onde permaneceu ateacute 1945 Apoacutes ouvir no raacutedio os incentivos de terra gratuita para

cultivar casa para morar meacutedicos e escolas que o governo brasileiro oferecia para quem

fosse morar no Amazonas decidiu arriscar a sorte e entrar em um navio alematildeo em plena II

Guerra Mundial em busca do sonho de terras em abundacircncia para cultivar e aacutegua a perder

Figura 17 Vista do Rio SolimotildeesAmazonas da Comunidade de Bela Vista Fonte Louzada ( 2013)

84

de vista Acima de tudo havia o desejo de ter uma vida tranquila sem ver seus animais

morrerem de fome e sede sem ter o que dar de comer e de beber mas ao mesmo tempo

tinha medo de ser pego pelos japoneses residentes na Colocircnia Japonesa em Parintins o que

natildeo ocorreu Chegou agrave CANA no final do ano de 1945 em eacutepoca de fartura de peixe e

intensas chuvas o que o deixou admirado da imensidatildeo da floresta e das aacuteguas Para o

senhor Santos e muitos outros colonos a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA

com sede na Bela Vista era a oportunidade uacutenica de comeccedilar uma vida nova em um lugar

distante e farto de aacutegua e terras para produzir seus alimentos

Cada colono recebia alimentaccedilatildeo gratuita por trecircs dias a contar da chegada

enquanto ajudava na construccedilatildeo da sua casa em um lote medindo 250m de frente por

900m de fundo previamente demarcado Apoacutes mudarem para seus lotes poderiam

derrubar a mata e iniciar a produccedilatildeo agriacutecola

Outro colono da CANA o senhor Bastos (68 anos) que nasceu no municiacutepio de

Anamatilde no interior do Amazonas e migrou para a Bela Vista com a famiacutelia aos trecircs meses de

vida descreve a fartura da CANA durante sua infacircncia e adolescecircncia na regiatildeo

De primeiro tinha fartura de peixe Haacute vinte anos vocecirc colocava uma malhadeira e

pegava tanto peixe que virava cordatildeo de tanto peixe No ramal para chegar aqui

tem um igarapeacute onde tem aquela ponte de madeira se vocecirc queria pegar peixe

era soacute colocar laacute uma isca chegava a pegar pirarucu de 40 a 45kg rapidinho hoje se

vocecirc colocar uma isca laacute ela vai apodrecer e vocecirc natildeo pega nada (BASTOS 68

anos)

O proacuteprio senhor Bastos (68 anos) relata ainda uma frase que seu pai lhe disse em

1959 apoacutes ver muitas pessoas pescando escolhendo o peixe que iriam comer e jogando o

restante jaacute morto de volta no rio ldquoMeu filho vai chegar o tempo de criar peixe se vocecirc

quiser comer umrdquo A primeira vista como o senhor Bastos relatou ldquoachei que meu pai natildeo

estava falando coisa com coisa pois tinha muita fartura de peixe mas hoje vejo que ele

estava certordquo Embora somente sabendo escrever o seu proacuteprio nome o pai de Bastos viveu

toda a sua vida agraves margens do rio e pode transmitir o conhecimento empiacuterico de um

ribeirinho que viveu toda a sua vida em contato constante e dependente do rio

Alguns autores relativamente jovens podem se referir a relatos de senhores com

mais de 60 anos como saudosista Entretanto se trata de outra realidade natildeo vivenciada

pelos autores que a criticam Embora muitos reconheccedilam que o avanccedilo da tecnologia no

85

seacuteculo passado e atual trouxe inuacutemeros benefiacutecios agrave sociedade moderna os mesmos

tambeacutem tecircm relativo conhecimento dos impactos dessa modernizaccedilatildeo principalmente da

exploraccedilatildeo descontrolada da natureza e suas consequecircncias para com o meio ambiente

222 INFRAESTRUTURA DA CANA DA PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DE BATELOtildeES

Os colonos que se instalaram na CANA tinham primeiramente duas funccedilotildees

desmatar os seus lotes produzir lenha para abastecer as embarcaccedilotildees que atracavam no

porto da Bela Vista e preparar a terra para a produccedilatildeo de arroz e cana de accediluacutecar uma das

exigecircncias para terem seus lotes na regiatildeo

A Colocircnia tinha cinco casas de alvenaria aparentemente adequadas ao meio muito

embora reflitam uma arquitetura com caracteriacutesticas distintas do convencionalmente

adotado pela populaccedilatildeo local

As casas eram divididas assim uma do administrador e sua famiacutelia (Figura 18) outra

era utilizada como escritoacuterio da Colocircnia e mais trecircs casas para os funcionaacuterios

administrativos

Assim como as outras colocircnias agriacutecolas nacionais implantadas a Colocircnia Agriacutecola

Nacional do Amazonas- CANA tambeacutem produzia cana de accediluacutecar e derivados como rapadura

e mel e accediluacutecar mascavo Tambeacutem produzia arroz que era processado em uma Usina de

Beneficiamento e apoacutes o processamento era ensacado e transportado por batelotildees

Figura 18 Casa do Administrador da Colocircnia

Fonte Louzada (2013)

86

(embarcaccedilotildees de madeira que navegavam pelos rios da Amazocircnia geralmente movidas a

lenha) ateacute Manaus ou subiam o curso do Rio Solimotildees para abastecer outras cidades do

interior do estado

A infraestrutura da CANA natildeo se limitava somente a Usina de Beneficiamento de

Arroz e as casas dos funcionaacuterios ou do administrador uma vez que tambeacutem dispunha de

Porto de Lenha responsaacutevel pelo abastecimento das embarcaccedilotildees posto de sauacutede com

meacutedicos e dentistas uma cantina uma espeacutecie de mercearia que vendia os produtos

comercializados na Colocircnia aleacutem de um estaleiro que fabricava e consertava embarcaccedilotildees

Segundo o senhor Dida (73 anos) a Colocircnia tinha trecircs embarcaccedilotildees proacuteprias o barco

Anamatilde geralmente utilizado pela famiacutelia do administrador e os barcos Tracajaacute e Aacutegua Fria

considerados cargueiros que transportavam a produccedilatildeo de rapadura mel e arroz para a

capital (Manaus) e retornavam com tijolos e telhas Os colonos que desejassem ir a capital

deveriam esperar os batelotildees que passavam no rio geralmente no inicio do dia uma vez por

semana e retornavam no dia seguinte agrave Colocircnia

O senhor Francisco (71 anos) descreve a Colocircnia como um lugar calmo de gente

humilde e trabalhadora que apesar de terem que trabalhar na produccedilatildeo de arroz e cana de

accediluacutecar como parte das exigecircncias para ter um lote na CANA natildeo abriam matildeo de ter em

seus lotes pequenos siacutetios geralmente com muitas arvores frutiacuteferas tanto tiacutepicas da

Amazocircnia como de outras regiotildees ou paiacuteses como mangueiras cajueiros entre outras

acompanhado da criaccedilatildeo de pequenos animais

Com a transferecircncia da administraccedilatildeo de todas as Colocircnias Agriacutecolas Nacionais da

extinta Divisatildeo de Terras e Colonizaccedilatildeo do Ministeacuterio da Agricultura e do tambeacutem extinto

Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacutercio para o

Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo ndash INIC (BRASIL 1956) marcaria

definitivamente o periacuteodo de transformaccedilotildees que viria a sofrer a Colocircnia Agriacutecola Nacional

do Amazonas - CANA

As coisas comeccedilaram a mudar segundo o senhor Bastos

[ldquo] natildeo veio mais meacutedicos nem dentistas para caacute as crianccedilas estavam doentes nem tinha remeacutediordquo Com o aumento das chuvas de dezembro agrave junho a produccedilatildeo de cana de accediluacutecar diminuiacutea muito ou acabava porque foram plantadas na vaacuterzea o mesmo acontecia com o arroz de primeiro tinha armazeacutem para guardar a produccedilatildeo depois 1957 natildeo tinham aonde guardar Muita gente foi embora para a cidade grande quem ficou tinha que se virar do jeito que desse ou morreria de fome A culpa foi do ldquoDr Rangel que derrubou a Colocircnia ele fechou a

87

Usina de Beneficiamento a cantina levou os meacutedicos que tinha aqui embora e natildeo

trouxe outros ele nem morava aqui soacute vinha visitar (BASTOS 68 ANOS)

O senhor Bastos se refere ao engenheiro agrocircnomo Vicente de Saacute Rangel

designado para administrar as terras do INIC e organizar um polo agriacutecola na regiatildeo

(MARTINS 2011)

Com a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA recebendo em meacutedia 2 mil

agricultores por mecircs aptos a trabalhar e a produzir alimentos se fazia necessaacuterio escoar esta

produccedilatildeo Rangel solicitou apoio do Governo Federal para a criaccedilatildeo de vias de acesso aacutes

comunidades de forma a facilitar o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola (MARTINS 2011)

A abertura das estradas comeccedilou com a instalaccedilatildeo da Colocircnia Japonesa na primeira

gleba da CANA onde hoje se encontra a localidade do Cacau Pirera no municiacutepio de

Iranduba na parte inicial da rodovia AM-070 (Manoel Urbano) (MARTINS 2011)

O polo foi criado e era necessaacuterio ter estradas os produtos com os quais eles trabalhavam Meu pai assumiu a direccedilatildeo dessa colocircnia e eu acompanhei o processo O transporte era muito complicado era necessaacuterio abrir as estradas no meio da florestardquo relatou um dos filhos do engenheiro Paulo Roberto Franccedila Rangel Enfrentando chuvas torrenciais calor insetos e dificuldades para derrubar aacutervores de grande porte a equipe comeccedilou a estruturar as vias de acesso para a colocircnia (MARTINS 2011 p13)

Martins (2011) relata ainda as dificuldades encontradas no processo de ligar as

comunidades e a construccedilatildeo da estrada sobre a floresta Assim como tambeacutem os benefiacutecios

recebidos com a chegada dos japoneses ao municiacutepio de Iranduba ldquoEle acreditava que a

agricultura seria a redenccedilatildeo do povo amazonense Ele viu que soacute se comia peixe e poucas

verduras Eles resolveram plantar e comeccedilaram a produzir muitordquo lembrou Paulo Roberto

Franccedila Rangel filho de Vicente Rangel

Ao todo Vicente Rangel morou no estado do Amazonas cinco anos (1957 a 1962)

retornando agrave sua cidade natal posteriormente

88

223 DA SEDE DA CANA Agrave COMUNIDADE DA BELA VISTA

Com o inicio da ditadura militar no Brasil em 1964 a Amazocircnia volta ao cenaacuterio

nacional impregnada no discurso do entatildeo presidente Castelo Branco ldquoIntegrar para natildeo

Entregarrdquo

Sobre isso Oliveira (1988) aponta que a estrateacutegia militar era desenvolver trecircs

grandes regiotildees geoeconocircmicas brasileiras Centro Sul Nordeste e Amazocircnia e interligaacute-las

definitivamente atraveacutes de mega projetos rodoviaacuterios

[] visto sob o acircngulo de estrateacutegias diversas o Centro Sul deveria ter o processo de industrializaccedilatildeo solidificado e sua agricultura modernizada aleacutem de participar do esforccedilo nacional de ldquodesenvolvimento do Nordesterdquo via industrializaccedilatildeo e da ocupaccedilatildeo via ldquoOperaccedilatildeo Amazocircniardquo da regiatildeo norte do paiacutes (OLIVEIRA 1988 p29)

A operaccedilatildeo Amazocircnia eacute resultado de uma ldquoReuniatildeo de Investidores da Amazocircniardquo a

bordo de um cruzeiro de nove dias pelos rios da regiatildeo onde ficaram definidos ldquoos

interesses dos empresaacuterios do Centro Sul e os objetivos da adesatildeo empresarial ao projeto

governamental soacute investir se o lucro fosse certordquo (OLIVEIRA 1988 p32)

Para viabilizar as novas estrateacutegias de desenvolvimento regional se fazia necessaacuterio

reestruturar os oacutergatildeos de planejamento regional levando o estado a lanccedilar a poliacutetica de

ldquoincentivos fiscais que previa a criaccedilatildeo do FIDAM (Fundo para Investimentos Privados do

Desenvolvimento da Amazocircnia) e uma rearticulaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do BASA (Banco da

Amazocircnia SA)rdquo (OLIVEIRA 1988 p36)

Os recursos a serem investidos na Amazocircnia seriam provenientes de

1-no miacutenimo 2 da renda tributaacuteria da Uniatildeo e 3 da renda tributaacuteria dos estados territoacuterios e municiacutepios da Amazocircnia 2- dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e creacuteditos adicionais provenientes de operaccedilotildees de creacutedito e juros de depoacutesitos bancaacuterios 3- auxiacutelios subvenccedilotildees contribuiccedilotildees e doaccedilotildees de entidades puacuteblicas ou privadas nacionais ou estrangeiras 4- sua renda patrimonial aleacutem de todas as isenccedilotildees tributaacuterias gozadas pelos oacutergatildeos federais 5- contrataccedilatildeo de empreacutestimos no paiacutes ou no exterior dando como garantia seus proacuteprios recursos como total isenccedilatildeo de taxas e impostos federais (OLIVEIRA 1988 p37)

89

A Operaccedilatildeo Amazocircnia tambeacutem tinha como objetivo criar a SUFRAMA

(Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus) que foi criada em 1967 para coordenar e

administrar a instalaccedilatildeo de faacutebricas na cidade de Manaus fundando o Distrito Industrial

(OLIVEIRA 1988)

Com a instalaccedilatildeo de faacutebricas em Manaus a cidade torna-se alvo de intensas

migraccedilotildees em busca de melhores condiccedilotildees de vida

Sobre isso Benchimol (2009) destaca que na deacutecada de 1950 73 da populaccedilatildeo do

estado do Amazonas vivia no campo contra 26 que viviam na cidade e duas deacutecadas

depois em 1970 esse percentual despencou para 57 da populaccedilatildeo rural contra 43

urbana

Para tentar reduzir as intensas e constantes migraccedilotildees do campo para as cidades O

governo militar cria o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria ndash INCRA

(resultado da fusatildeo do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria - IBRA e do Instituto Nacional

de Desenvolvimento Rural-INDA) instituiacutedo pelo decreto lei nordm 1110 de 09 de Julho de

1970

Art 1ordm O INGRA eacute uma entidade autaacuterquica vinculada ao Ministeacuterio da Agricultura dotado de personalidade juriacutedica e autonomia administrativa e financeira com jurisdiccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional a) Tendo como objetivo executar a reforma agraacuteria visando a corrigir a estrutura agraacuteria do paiacutes adequando-a aos interesses do desenvolvimento econocircmico e social b) Promover coordenar controlar e executar a projetos de colonizaccedilatildeo (BRASIL 1970)

O INCRA (1970) tinha como uma de suas principais funccedilotildees fundar nuacutecleos de

colonizaccedilatildeo criando unidades de exploraccedilatildeo agriacutecola em projetos de reforma agraacuteria em

regiotildees de vazios demograacuteficos no paiacutes e tornaacute-los produtivos proporcionando-lhes

progresso natildeo soacute econocircmico mas principalmente social (BRASIL 1970)

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs como foram instituiacutedos tornaram-se

poliacuteticas de Estado para a colonizaccedilatildeo da Amazocircnia no inicio de 1970 (RABELLO 2005)

No estado do Amazonas foram implantados vaacuterios PCIs com destaque para o PCI da

Bela Vista implantado nas terras da antiga Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA

que abrange um lote de terras entre os rios Negro e Solimotildees que fazem parte hoje dos

municiacutepios de Iranduba e Manacapuru (SCHWEICKARDT 2006)

90

Segundo o INCRA (2012) o PCIs da Bela Vista foi dividido em duas localidades Bela

Vista I localizado no distrito de Cacau Pirera atual municiacutepio de Iranduba e Bela Vista II

situado no municiacutepio de Manacapuru

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo (PIC) se destinavam agrave faixa de populaccedilatildeo de baixa renda especificamente a agricultores sem terra (sect 2ordm art 25 do Estatuto da Terra) e de preferecircncia agravequeles que possuem maior forccedila de trabalho familiar Nas aacutereas desses projetos o INCRA identifica e seleciona os beneficiaacuterios localiza-os nas parcelas por ele determinadas fornece a infraestrutura baacutesica e atraveacutes dos oacutergatildeos responsaacuteveis a niacutevel nacional regional estadual eou municipal implementa as atividades relativas agrave assistecircncia teacutecnica creditiacutecia agrave comercializaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo para facilitar a organizaccedilatildeo soacutecio econocircmica dos parceleiros Cabe tambeacutem ao INCRA outorgar aos beneficiaacuterios o tiacutetulo definitivo de propriedade da parcela (RABELLO 2005 p7)

Sobre isso Rocha (2010) destaca que os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs

foi a primeira forma de assentamento rural realizado pelo receacutem-criado INCRA Todavia com

a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 11641971 tornava-se indispensaacutevel a seguranccedila nacional a

ocupaccedilatildeo das terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada margem das

rodovias construiacutedas ou planejadas na Amazocircnia Os esforccedilos de colonizaccedilatildeo em zonas

rurais foram redirecionados para o assentamento de milhares de famiacutelias oriundas

principalmente do nordeste brasileiro ao longo das futuras rodovias

Os reflexos dessa mudanccedila de foco do INCRA dos Projetos Integrados de

Colonizaccedilatildeo - PICs para os Assentamentos Agraacuterios ao longo das futuras rodovias foi sentida

drasticamente pela populaccedilatildeo jaacute assentada no PIC da Bela Vista aonde muitas famiacutelias

chegaram agrave migrar para a cidade de Manaus em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho

Em 1976 o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria - INCRA emancipou o PIC Bela Vista concedendo tiacutetulo definitivo a 279 proprietaacuterios equivalentes a 15 da aacuterea inicial sendo grande parte ocupada por posseiros (DAacuteCIO apud BARBOSA 2011 p26)

Em 1980 os reflexos dessas mudanccedilas pode ser sentido na contagem populacional

do estado realizada pelo IBGE quando a populaccedilatildeo alcanccedilou 1430089 habitantes

distribuiacutedos pela primeira vez como sendo a maioria urbana chegando agrave 5990 do total de

habitantes do estado contra 4010 da populaccedilatildeo rural (BENCHIMOL 2009)

Com a emancipaccedilatildeo do PIC da Bela Vista em 1976 os dois nuacutecleos (Bela Vista I e II)

seguiram caminhos diferentes o primeiro tornou-se o Distrito de Cacau Pirera (municiacutepio de

Iranduba) uma pequena ldquocidaderdquo que recebia ateacute setembro de 2011 as balsas com dezenas

91

de carros e ocircnibus que saiam do Porto do Satildeo Raimundo em Manaus e atracavam naquele

local tornando-se assim o cartatildeo postal do municiacutepio de Iranduba

O PIC da Bela Vista II localizado no municiacutepio de Manacapuru que outrora foi agrave

sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas ndash CANA tornou-se uma comunidade rural

daquele municiacutepio E atraveacutes da AM-054 de 10 km de asfalto em peacutessimas condiccedilotildees de

traacutefego (Figura 19) manteacutem-se ligada agrave rodovia Manoel Urbano (AM-070) sua principal

ligaccedilatildeo com a cidade de Manacapuru e a capital do estado Manaus

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

Atualmente a comunidade da Bela Vista ainda guarda registros histoacutericos como

algumas casas o galpatildeo onde funcionava a Usina de Beneficiamento (Figura 20) e a cantina

(Figura 21) Com mais de 70 anos as construccedilotildees ainda que deterioradas pelo tempo satildeo

registros dos tempos ldquoaacuteureosrdquo do pleno funcionamento da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA tambeacutem conhecida como Colocircnia da Bela Vista

92

Figura 20 Usina de Beneficiamento da CANA Fonte Louzada (2013)

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA Fonte Louzada (2013)

Atualmente a populaccedilatildeo residente na comunidade da Bela Vista estaacute estimada em

3 mil pessoas (informaccedilatildeo dos moradores) oriundos de descendentes de ex ndash colonos e

migrantes de diversos municiacutepios do interior e de outros estados aleacutem de ex- colonos que

optaram por permanecer na regiatildeo

A comunidade da Bela Vista assim como outras comunidades localizadas agraves

margens dos rios da Amazocircnia tem sua economia baseada na agricultura familiar

fortemente enraizada na tradiccedilatildeo ribeirinha de fazer suas plantaccedilotildees agriacutecolas em aacuterea de

93

vaacuterzea Por esta razatildeo eacute comum encontrar plantaccedilotildees em frente agraves casas da primeira rua da

comunidade disposta paralela ao rio Solimotildees (Figura 22 23)

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista a margem do rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de Vaacuterzea da comunidade da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

As plantaccedilotildees variam de mandioca milho macaxeira verduras como tomate

pepino cebola agrave frutos como melancia goiaba banana entre outros Contudo natildeo eacute

somente na faixa justafluvial da comunidade que satildeo plantados alimentos inclusive tambeacutem

94

na Ilha do Barroso localizada proacuteximo agrave margem direita do Rio Solimotildees Amazonas (Figura

24)

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Graccedilas agrave sua constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo o rio SolimotildeesAmazonas submete suas

margens e leito agrave intensos e constantes processos erosivos de deposiccedilatildeo e erosatildeo Sobre isso

Horbe et al (2009) afirmar que

[] os rios de aacutegua branca satildeo os que apresentam maiores conteuacutedos de material em suspensatildeo que ao se depositarem ao longo de seus cursos formam extensas terraccedilos fluviais ilhas e barras Vaacuterios autores correlacionam a fonte da maior parte desses sedimentos aos Andes com contribuiccedilotildees menos significativas das rochas cratocircnicas e sedimentares siliciclaacutesticas que ocorrem ao longo da bacia Amazocircnica (HORBE et al apud GIBBS 1967 IRION 1983 STALLARD et al 1983 MARTINELLI et al1993 KONHAUSER et al 1994 GUYOT et al 2007 2009 p635)

A sinuosidade e o fluxo de carga impotildeem uma dinacircmica particular ao rio ldquoonde a

sua composiccedilatildeo mineraloacutegica eacute resultado de uma mistura diversificada de materiais

proveniente de fonte litoloacutegica por accedilotildees de intemperismo quiacutemico e fiacutesico principalmenterdquo

(HORBE apud CUNHA 2009 p 635)

A diversificaccedilatildeo de materiais depositados na ilha do Barroso atraveacutes dos constantes

retoques na paisagem (STERNBERG 1998) realizado pelo rio no seu periacuteodo cheio permite

a fixaccedilatildeo de depoacutesitos aluviais na ilha o que torna as terras feacuterteis em seu periacuteodo seco por

95

esta razatildeo os moradores da comunidade da Bela Vista utilizam a mesma para a produccedilatildeo

agriacutecola

A comunidade tambeacutem conta com pequenos comeacutercios em sua maioria familiares

e uma pousada Atualmente a comunidade se prepara para trabalhar numa faacutebrica de

beneficiamento de calcaacuterio instalada em Marccedilo de 2014 O calcaacuterio seraacute extraiacutedo da Mina do

Jatapuacute localizada no municiacutepio de Urucaraacute e seraacute beneficiado na comunidade

transformando em fertilidade agriacutecola (ALE 2013)

96

3 - PERCEPCcedilAtildeO TRANSDICIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO

Ao analisar os impactos ambientais na Amazocircnia em prol do desenvolvimento

tornou-se necessaacuterio adentrar pela percepccedilatildeo transdisciplinar e a complexidade que o meio

ambiente exige Assim como analisar a percepccedilatildeo ambiental da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos

projetos de desenvolvimento

Partindo da palavra percepccedilatildeo que tem sua origem no Latim perception que eacute

definida como a identificaccedilatildeo de elementos que em combinaccedilatildeo com os sentidos permite o

reconhecimento de formas cores dimensotildees contudo baseado nas experiecircncias individuas

de cada indiviacuteduo

Para Tuan (2012)

A superfiacutecie da Terra eacute extremamente variada Mesmo com um conhecimento casual sua geografia fiacutesica e a abundacircncia de formas de vida muito nos dizem Mas satildeo mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfiacutecie Duas pessoas natildeo veem a mesma realidade Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliaccedilatildeo do meio ambiente A proacutepia visatildeo cientifica estaacute ligada agrave cultura ndash uma possiacutevel perspectiva entre muitas Aacute medida que prosseguimos neste estudo a abundacircncia desnorteadora de perspectivas nos niacuteveis tanto individual quanto de grupo torna-se cada vez mais evidente e corremos o risco de natildeo notar o fato de que por mais diversas que sejam as nossas percepccedilotildees do meio ambiente como membros da mesma espeacutecie estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira Todos os seres humanos compartilham percepccedilotildees comuns um mundo comum em virtude de possuiacuterem oacutergatildeos similares (TUAN 2012 p21)

Reflete ainda que

Embora todos os seres humanos tenham oacutergatildeos dos sentidos similares o modo como suas capacidades satildeo usadas e desenvolvidas comeccedila a divergir numa idade bem precoce Como resultado natildeo somente as atitudes para com o meio ambiente diferem mas tambeacutem a capacidade real dos sentidos de modo que uma pessoa em determinada cultura possa desenvolver um olfato aguccedilado para perfumes enquanto os de outra cultura adquirem profunda visatildeo estereoscoacutepica (TUAN 2012 p30)

Baseado nessas afirmaccedilotildees de Tuan (2012) a sociedade moderna tem dificuldade

de relacionar acontecimentos ocorridos em diferentes lugares do mundo com sua proacutepria

realidade pois natildeo se veem como agente ativo dos acontecimentos

Isto se deu primeiramente com o advento da Revoluccedilatildeo Industrial na Inglaterra no

seacuteculo XVIII com a fabricaccedilatildeo de produtos em larga escala com o salto no volume de

97

produccedilatildeo se fazia (e atualmente ainda se faz) necessaacuterio buscar em qualquer parte do

mundo mateacuteria prima a ser utilizada na induacutestria (LOUZADA et al 2013)

Com a retirada dos recursos naturas como carvatildeo mineral madeira petroacuteleo gaacutes

natural pedras preciosas entre outras coisas Em macro escala durante os seacuteculos

seguintes a Revoluccedilatildeo Industrial eacute ainda mais intensificada com o modelo fordista (linha de

montagem) de produccedilatildeo a partir do seacuteculo XIX resultando em graviacutessimos impactos

ambientais que somente foram divulgados ao mundo a partir da deacutecada de 40 do seacuteculo

XX com destaque para a exploraccedilatildeo descontrolada das minas de carvatildeo mineral em toda a

Europa que reduziu drasticamente a cobertura vegetal nativa A retirada descontrolada de

pedras preciosas em todas as partes do mundo com destaque para o continente africano

gerou inuacutemeros conflitos territoacuterios e eacutetnicos pelo domiacutenio das jazidas principalmente de

diamantes no continente

Pode- se destacar tambeacutem a intensa exploraccedilatildeo madeireira que o Brasil sofreu

durante os quatro primeiros seacuteculos de sua ldquodescobertardquo e o transporte para a Europa de

todas as demais riquezas encontradas em seu territoacuterio Com o crescimento constante da

populaccedilatildeo mundial a retirada da mateacuteria prima da natureza somente se intensificou e

aprimorou-se durante os anos seguintes

Para Capra (1982 p13) ldquoA superpopulaccedilatildeo e a tecnologia industrial tecircm

contribuiacutedo de vaacuterias maneiras para a raacutepida degradaccedilatildeo do meio ambiente natural do qual

dependemos completamente Por conseguinte nossa sauacutede e nosso bem estar estatildeo

seriamente ameaccediladosrdquo

Capra (1982) ainda argumenta que os profissionais ditos especializados em vaacuterios

campos natildeo estariam realmente capacitados para lidar com os problemas emergentes

justamente devido agrave sua especializaccedilatildeo

Capra (1982) vai aleacutem ao afirmar existir uma crise de ideia e cultura

O fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadecircmico subscrever percepccedilotildees estreitas da realidade as quais satildeo inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo Esses problemas [] satildeo sistecircmicos o que significa que estatildeo intimamente interligados e satildeo interdependentes Natildeo podem ser entendidos no acircmbito da metodologia fragmentada que eacute caracteriacutestica de nossas disciplinas acadecircmicas e de nossos organismos governamentais (CAPRA 1982 p 15)

Para Capra (1982) precisamos

98

[] entender nossa multifaceta crise cultural precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situaccedilatildeo no contexto da evoluccedilatildeo cultural humana Temos que transferir nossa perspectiva do seacuteculo XX para um periacuteodo que abrange milhares de anos substituir a noccedilatildeo de estruturas sociais estaacuteticas por uma percepccedilatildeo de padrotildees dinacircmicos de mudanccedila (CAPRA 1982 p 16)

Alarmados com os danos ambientais frutos de seacuteculos de intensa exploraccedilatildeo e o

futuro da humanidade surgem encontros de diversos pensadores e cientistas preocupados

com o meio ambiente natural dando inicio a conferecircncias e reuniotildees importantes a partir

da segunda metade do seacuteculo XX bem como a Conferecircncia de Estocolmo realizada em

1972 com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade mundial para melhorar a

relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente em razatildeo dos problemas ambientais surgidos e

agravados com a industrializaccedilatildeo Nesse encontro foram elaborados dois importantes

documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre Meio Ambiente Humanordquo e o ldquoPlano de Accedilatildeo Mundialrdquo

Tambeacutem se registra a indicaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo capaz de conduzir a sociedade para um

repensar de sua accedilatildeo sobre o meio ambiente ndash a Educaccedilatildeo Ambiental

Em consequecircncia disso realizou-se em 1975 a Conferecircncia de Belgrado que

consolidou as recomendaccedilotildees no documento a ldquoCarta de Belgradordquo que prioriza a

erradicaccedilatildeo da pobreza do analfabetismo da fome da poluiccedilatildeo e tambeacutem cria as Diretrizes

Baacutesicas dos Programas de Educaccedilatildeo Ambiental para todos os paiacuteses participantes em

nuacutemero de sessenta e cinco

A Conferecircncia de Tbilisi realizada na Geoacutergia (uma repuacuteblica da Uniatildeo das

Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas- URSS de 1936 ndash 1991) em 1977 destaca que a educaccedilatildeo

formal desempenha papel importante para a resoluccedilatildeo dos problemas ambientais atraveacutes

de enfoques interdisciplinares recomenda a adoccedilatildeo de criteacuterios para o desenvolvimento da

Educaccedilatildeo Ambiental em escala local regional nacional e ateacute internacional Muitos outros

eventos se seguem cada um com elaboraccedilatildeo de documentos que buscam cada vez mais

destacar a complexidade da questatildeo ambiental considerando o meio ambiente sistecircmico

composto por fatores sociais econocircmicos poliacuteticos culturais ecoloacutegicos inter-relacionados

e dinacircmicos

Vaacuterios pensadores destacaram-se publicando importantes estudos sobre a

preocupaccedilatildeo ambiental do seacuteculo XX Entre eles destaca-se Leff (2003) que afirma que a

99

atual crise ambiental eacute sobretudo uma crise do conhecimento pois o mesmo consolidou-

se de forma fragmentado sem enfatizar a relaccedilatildeo entre o meio natural e humano (como

deveria ter sido a funccedilatildeo da geografia) como se os dois pudessem viver de forma isolada e

natildeo existisse uma relaccedilatildeo de dependecircncia Conhecimento esse produzido pela Ciecircncia

Moderna que considerava importante o princiacutepio da visatildeo compartimentalizada para

permitir o aprofundamento da especificidade

O pensamento complexo enfatizado por Morin (1990) surgiu com o objetivo de

unir o que foi anteriormente separado pelo pensamento cartesiano-newtoniano porque

natildeo se pode entender o mundo de maneira linear considerando que ele natildeo eacute uma maacutequina

como foi explicado por Descartes haacute muitos seacuteculos atraacutes sendo necessaacuterio retornar ao

passado para entender o presente para que seja possiacutevel tentar mudar o futuro

Ao contraacuterio do que agrave primeira vista possa parecer o Pensamento Complexo natildeo

significa algo complicado difiacutecil de ser compreendido pois na verdade conduz ao

entendimento das relaccedilotildees entre os fatores que integram a realidade contrapondo-se a

visatildeo provocada pela especializaccedilatildeo proposta pela Ciecircncia Moderna contudo torna-se difiacutecil

compreender esta proposta uma vez que pois estamos acostumados a trabalhar de forma

isolada e natildeo dispostos a discutir uma visatildeo que necessita reconstruir bases historicamente

construiacutedas Capra afirma que ldquoPrecisamos pois de um novo paradigma ndash uma nova visatildeo

da realidade uma mudanccedila fundamental em nossos pensamentosrdquo(CAPRA 1982 p14)

Para Morin (1990) a Complexidade surge como um Novo Paradigma capaz de

tentar compreender a atual crise de percepccedilatildeo defendida por Capra (1982) e propor

mudanccedilas

Todavia o conceito de Novo Paradigma para Morin (1990 p85) ldquoeacute constituiacutedo por

um certo tipo de relaccedilatildeo loacutegica extremamente forte entre noccedilotildees mestras noccedilotildees chaves e

princiacutepios chaves Essa relaccedilatildeo e esses princiacutepios vatildeo comandar todos os propoacutesitos que

obedecem inconscientemente ao seu impeacuteriordquo

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se verifica empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

100

Um exemplo da relaccedilatildeo ordem ndash desordem ndash organizaccedilatildeo seria as invasotildees de

terras que causam de certa forma a desordem (pessoas se aglomerando em pequenos

barracos em ldquoaacutereas de riscordquo onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a

produccedilatildeo de fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que

buscam melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

Morin (1990 p94) afirma ainda que ldquoo nosso mundo comporta harmonia mas

nesta harmonia estaacute a desarmonia Eacute exatamente o que dizia Heraacuteclito haacute harmonia na

desarmonia e vice- versardquo

O capitalismo surge para comprovar essa afirmaccedilatildeo de Morin quando vocecirc deve

estar se perguntando como ldquoSimplesrdquo pela facilidade de adaptaccedilatildeo ao mercado pois antes

da deacutecada de 70 o mundo vivia da exploraccedilatildeo descontrolada dos recursos naturais Poreacutem

sabe-se que hoje tais ldquorecursosrdquo satildeo limitados e natildeo infinitos O Capital se adaptou a essa

nova exigecircncia do mercado consumidor e passou a vender produtos com a simbologia da

Sustentabilidade ou a Marca Verde mantendo o consumo desenfreado

Ser sujeito natildeo quer dizer ser consciente tambeacutem natildeo quer dizer ter afetividade sentimentos ainda que evidentemente a subjetividade humana se desenvolva com a afetividade com sentimentos Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ocupar o lugar do ldquoeurdquo (MORIN 1990 p95)

O autor lanccedila a ideia de auto-organizaccedilatildeo e auto-eco-organizadores tais conceitos

dizem respeito agrave propriedade de cada sistema criar suas proacuteprias regras sem perder de vista

a harmonia com os demais sistemas interligados Nessa visatildeo Morin acredita ser possiacutevel

resgatar os conceitos de autonomia e de sujeito livrando-se da visatildeo ldquodeterminista da

ciecircncia tradicionalrdquo (MORIN 1990 p95)

Morin (1990) esclarece dizendo que todo mundo pode dizer ldquoeurdquo contudo cada

um de noacutes soacute pode dizer ldquoeurdquo por si proacuteprio Ningueacutem fala do eu pensando no bem do outro

Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ao mesmo tempo ser autocircnomo

e dependente Jaacute ser consciente eacute ter a capacidade de sair de si de transcender a

centralidade da subjetividade percebendo ao mesmo tempo em que nosso modo de ser eacute

ser o centro de nosso mundo

101

Liberdade para Morin (1990 p98) significa ldquoQuantos de noacutes frequentemente temos

a impressatildeo de ser livres sem ser livres Mas ao mesmo tempo somos capazes de ter

liberdade como somos capazes de examinar hipoacuteteses de condutas de fazer escolhas de

tomar decisotildeesrdquo

Portanto a Complexidade ldquoaparece como uma espeacutecie de buraco de confusatildeo de

dificuldade a primeira vista () Mas haacute complexidades ligadas agrave desordem e outras

complexidades que estatildeo sobre tudo ligadas a contradiccedilotildees loacutegicasrdquo (MORIN 1990 p99)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o cientista a dar marcha

reacute e rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os objetos

uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter multidimensional de

qualquer realidade Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo podemos nunca escapar aacute incerteza

() Estamos condenados ao pensamento inseguro a um pensamento criativo de buracos

um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento absoluto de certezardquo

Ele tambeacutem conceitua a razatildeo racionalidade e racionalizaccedilatildeo pois razatildeo

corresponde ldquo agrave vontade de ter uma visatildeo coerente das coisas e dos fenocircmenos rdquo jaacute a

racionalidade ldquoeacute um jogo o diaacutelogo incessante entre o nosso espiacuterito que cria estruturas

loacutegicas que as aplica sobre o mundo e que dialoga com o mundo realrdquo A racionalizaccedilatildeo

consiste ldquoem querer encerrar a realidade num sistema coerente E tudo o que na realidade

contradiz este sistema coerente eacute desviado esquecido posto de lado visto como ilusatildeo ou

aparecircnciardquo (MORIN 2007 p70)

Ainda conta com outro agravante a racionalizaccedilatildeo natildeo estabelece uma fronteira

niacutetida com a racionalidade e eacute muitas vezes confundida com ela Morin (1990) cita o

exemplo da ldquobarreirardquo entre o amor e a amizade onde natildeo existem delimitaccedilotildees claras a

serem ultrapassadas ou natildeo

Para o entendimento da Complexidade Morin (1990 p108) indica trecircs princiacutepios o

dialoacutegico ldquoa ordem e a desordem [] mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e

produzem organizaccedilatildeo e complexidade permite-nos manter a dualidade no seio da unidade

associa termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicosrdquo o da recursatildeo

organizacional relata sobre a necessidade da humanidade de viver em sociedade e o

resultado das interaccedilotildees humanas ldquoSe natildeo houvesse uma sociedade e a sua cultura uma

102

linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos indiviacuteduos humanosrdquo o holograacutefico ou

hologramaacutetico funciona como a menor partiacutecula do todo ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo

mas o todo estaacute na parterdquo

O Paradigma da Complexidade surge das novas concepccedilotildees das novas descobertas e

das novas reflexotildees que vatildeo conciliar-se construindo uma nova concepccedilatildeo (MORIN 1990

p112)

Para Dib- Ferreira apud Boff (2010)

A proacutepria ciecircncia tem mudado por meio de novas descobertas no campo da fiacutesica quacircntica e da noccedilatildeo de complexidade buscando a religaccedilatildeo dos conhecimentos tentando perceber que para conhecer um problema eacute necessaacuterio entender as relaccedilotildees entre as partes natildeo de forma isolada mas com uma visatildeo global Isso significa atacar as causas dos problemas natildeo os sintomas (DIB-FERREIRA apud BOFF 2010 p105)

Para Morin (1997) devemos estar cientes que a soma das partes eacute diferente do

todo por isto o todo tem qualidades e prioridades que natildeo existem nas partes

desmembradas Portanto a soma das partes eacute superior ao todo e natildeo igual ao mesmo Um

exemplo de nova concepccedilatildeo que busca compreender a atual relaccedilatildeo homem ndash meio eacute a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar

Diferente da Interdisciplinaridade que segundo Cardona (2010 p4) ldquoo

conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as

disciplinas cientiacuteficas interagem entre sirdquo trocando resultados meacutetodos e informaccedilotildees

Ou da Multidisciplinaridade que segundo tambeacutem Cardona (2010 p4) ldquopode ser

estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo contudo natildeo ocorreraacute uma

sobreposiccedilatildeo dos seus saberes no estudo do elemento analisadordquo

A ideia mais correta para esta visatildeo seria a da justaposiccedilatildeo das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questatildeo cada professor cooperaraacute com o estudo dentro da sua proacutepria oacutetica um estudo sob diversos acircngulos mas sem existir rompimento entre as fronteiras das disciplinas (CARDONA (2010 p4)

Morin apud Cardona (2010 p5) destaca ldquoa grande dificuldade nesta linha de

trabalho se encontra na difiacutecil localizaccedilatildeo da ldquovia de interarticulaccedilatildeordquo entre as diferentes

ciecircnciasrdquo

A Transdisciplinaridade segundo Ritto (2010 p34) ldquosurge como movimento de

renascimento do espiacuterito e da consciecircncia para compreender a complexidade uma nova

103

consciecircncia do realrdquo Em outras palavras eacute a etapa superior do ensino natildeo mais separados

em disciplinas e sim construiacutedo como um todo sem fronteiras soacutelidas entre as disciplinas

Segundo Cardona (2010) apud Nicolescu (1996) que formulou a frase A

transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas atraveacutes das

disciplinas e para aleacutem de toda disciplina Nessa frase o autor propotildee uma nova forma de

ensinar maior que as disciplinas mas ao mesmo tempo que se integrem todos os

conteuacutedos

O prefixo trans remete ao que estaacute entre atraveacutes e aleacutem das disciplinas Segundo

Theophilo (2000)

[] uma das propostas da transdisciplinaridade eacute o rompimento da dicotomia entre o sujeito e o objeto Fala-se de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo aos quais correspondem diferentes niacuteveis de realidade pois que a transdisciplinaridade propotildee uma alternacircncia em trecircs niacuteveis da razatildeo sensiacutevel razatildeo experiencial e razatildeo praacuteticardquo (THEOPHILO 2000 p 1)

Para Nicolescu (2002 p 12) o objetivo da transdisciplinaridade eacute a compreensatildeo do

mundo presente ldquoDo ponto de vista do pensamento claacutessico natildeo haacute nada entre atraveacutes e

aleacutem das disciplinas ndash como o vazio da fiacutesica claacutessica Diante da nova fiacutesica e dos seus niacuteveis

de realidade o espaccedilo entre as disciplinas e aleacutem delas estaacute cheio como o vazio quacircntico

estaacute cheio de todas as potencialidadesrdquo

A proposta eacute que o conhecimento se torne transdisciplinar ou seja a totalidade natildeo eacute mais uma soacute mas a junccedilatildeo de vaacuterias totalidades provenientes de realidades diversificadas Os limites da compreensatildeo que o ser humano pode ter do mundo natildeo satildeo mais escondidos e sim evidenciados porque a realidade pode ser compreendida de uma maneira melhor se natildeo haacute a especializaccedilatildeo da ciecircncia e a fragmentaccedilatildeo do conhecimento em disciplinas isoladas (SANTOS 2007 p65)

Para Aragatildeo (2007)

A transdisciplinaridade natildeo pretende de forma alguma desvalorizar as competecircncias disciplinares especiacuteficas Ao contraacuterio pretende elevaacute-las a um patamar de conhecimentos melhorados nas aacutereas disciplinares jaacute que todas elas devem embeber-se de uma nova consciecircncia epistemoloacutegica admitindo que eacute importante que determinados conceitos fundando possam transmigrar atraveacutes das fronteiras disciplinares (ARAGAtildeO 2007 p4)

Para se compreender a Percepccedilatildeo Transdisciplinar se faz necessaacuterio levar em

consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de realidade (Ontoloacutegico) seja do homem do campo e sua

economia de ldquosubsistecircnciardquo ou seja do homem que vive na cidade e sua economia

acumulativa considerando sempre a Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo (uma alternativa entre o

104

certo e o errado verdadeiro ou falso) e a Complexidade e sua teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas e isoladas mas termodinacircmicas e conectadas (NICOLESCU 1999) (Figura 25)

No primeiro momento pode parecer um ldquocaos uma confusatildeordquo compreender a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar Apesar disso uma categoria da ciecircncia geograacutefica pode ajudar

pois surge como um elemento muito importante para agrave sua consolidaccedilatildeo o lugar

31 - RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR

A primeira impressatildeo pode-se afirmar ser um lugar desolado triste para outros eacute

um lugar em ruiacutenas sem ldquovidardquo e sem cores Esta ou aquela concepccedilatildeo de lugar eacute de

fundamental importacircncia para que se constitua aqui a percepccedilatildeo transdisciplinar uma vez

que cabe agrave ela unir o que anteriormente foi separado pela especializaccedilatildeo da Ciecircncia

Moderna

Diante disso Ferreira (2000 p66) propotildee conciliar as divergecircncias apontadas pela

concepccedilatildeo Fenomenoloacutegica ldquoque busca abordar o espaccedilo atraveacutes do modo com ele eacute

vivenciado pelos seres humanosrdquo e a Radical

[] que tem por base o marxismo tentaraacute compreender o lugar sobre perspectiva regional e posteriormente global (JOHNSTON 1991) uma construccedilatildeo social sobre o pano de fundo da relaccedilatildeo entre espaccedilo-tempo e ambiente (SANTOS1997) a partir do qual estabelecemos nossa revisatildeo e interpretaccedilatildeo do

TRANSDISCIPLINARIDADE

COMPLEXIDADE ONTOLOacuteGICO A LOacuteGICA DO TERCEIRO

INCLUIacuteDO

DIALOacuteGICO RECURSAtildeO ORGANIZACIONAL HOLOGRAMAacuteTICO

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade

Fonte Louzada (2013)

105

mundo onde ldquorecocircndito o permanente o real triunfam final sobre o movimento o passageiro o imposto de forardquo (FERREIRA 2000 p66)

Nomeando-a como Integraccedilatildeo que tem como objetivo harmonizar agraves divergecircncias

sobre o lugar que vatildeo de uma relaccedilatildeo autecircntica com o espaccedilo por um lado agrave

materializaccedilatildeo da relaccedilatildeo global ndash local por outro

Entrikin (1997) destaca ainda que para se compreender o lugar eacute preciso buscar o

equiliacutebrio entre o que deve ser mantido de fora preservando as caracteriacutesticas do lugar e o

que deve ser permitido entrar evitando-se a esterilidade resultante do isolamento

Diante de tal afirmaccedilatildeo de Entrikin (1997) eacute possiacutevel afirmar que para evitar a

extinccedilatildeo de uma comunidadelocalidade se faz necessaacuterio a ldquopermissatildeordquo dos moradores

para entrada de haacutebitos elementos ou coisas que as pessoas julguem necessaacuterias para

manter as teias de relaccedilotildees de forma a manter o lugar gerando o tatildeo desejado

desenvolvimento local

A Percepccedilatildeo Transdisciplinar seraacute pesquisada de forma a alcanccedilar o que a Educaccedilatildeo

Ambiental em seus marcos referenciais destaca como importante para a compreensatildeo da

complexidade da realidade que eacute a projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros atraveacutes de uma gestatildeo

ambiental participativa principalmente no contexto amazocircnico

32 - MANAUS METROacutePOLE

Para entender este subtiacutetulo primeiramente eacute imprescindiacutevel falar de Metroacutepole o

que Fresca (2011) descreve em muacuteltiplos detalhes ao longo dos seacuteculos desde seu

surgimento Contudo Gras apud Fresca (2011) citou quatro fatores de desenvolvimento

metropolitano tento como base a cidade de Londres citada por Gras (1974) considerada a

primeira cidade da Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVII

[] para Gras (1974) principalmente a partir de 1890 foi marcada por uma nova

concentraccedilatildeo do poder financeiro no seio da metroacutepole Isto porque os bancos privados cujas sedes estavam na metroacutepole criaram filiais subordinadas diretamente agraves sedes criou-se as condiccedilotildees para que a metroacutepole fosse o local de concentraccedilatildeo do capital decisotildees enfim de outra forma de poder econocircmico (FRESCA 2011 p33)

106

Fresca (2011 p33) afirma ainda que esta nova concentraccedilatildeo de poder financeiro

nas metroacutepoles ldquoacabou por realizar um processo de acumulaccedilatildeo horizontal no sentido de

que sua expansatildeo foi marcada pela conquista de mercados consumidores cada vez mais

amplos graccedilas a fortes investimentos em inovaccedilotildees para a produccedilatildeordquo

Por outro lado Fresca (2011) apud Davidovich (2004)

entende que o retorno das metroacutepoles ao debate em escala mundial estava articulado diretamente aos novos direcionamentos das poliacuteticas do Banco Mundial que passou a focalizar as mesmas como motor do crescimento econocircmico Ora o Banco Mundial em suas diversas formas de poder investimentos e capacidade de direcionar movimentos de expansatildeo do capital particularmente dos EUA e paiacuteses europeus acabou por privilegiar as metroacutepoles em uma etapa em que a globalizaccedilatildeo estava em expansatildeo Mais que isso tratava-se ainda da busca de novos campos de investimentos para fazer frente a sucessivos momentos de crises econocircmicas e as concepccedilotildees em uso da globalizaccedilatildeo permitiam outra etapa de expansatildeo das grandes corporaccedilotildees em atividades diversas em escala mundial (FRESCA 2011 apud DAVIDOVICH 2004 p201 )

Fresca (2011 p38 ) descreve que entre os autores anteriormente citados ldquohaacute em

comum o entendimento de que as metroacutepoles tornaram-se os principais noacute de redes da

economia mundial facilitado pelo comando das modernas tecnologias de informaccedilatildeo e que

as mesmas desempenham cada vez mais funccedilotildees ligadas aos serviccedilos superiores em

detrimento de serem loacutecus da produccedilatildeo industrialrdquo

Diante disso o termo adotado pelo IBGE (2008) para definir a Metroacutepole ou regiatildeo

Metropolitana eacute Grandes Redes de Influecircncia

[] formadas pelos principais centros urbanos do paiacutes baseadas na presenccedila de oacutergatildeos de executivo do judiciaacuterio de grandes empresas e na oferta de ensino superior serviccedilos de sauacutede e domiacutenios de internet Tais redes aacutes vezes se sobrepotildeem aacute divisatildeo territorial oficial estabelecendo forte influecircncia ateacute mesmo ente cidades situadas em diferentes unidades da federaccedilatildeo (IBGE 2008 p 2)

Diante do exposto o Governo do Estado do Amazonas publicou em 30 de Maio de

2007 a Lei Estadual Complementar nordm 52 que criava a Regiatildeo Metropolitana de Manaus -

RMM composta pelos seguintes municiacutepios Manaus Careiro da Vaacuterzea Novo Airatildeo

Iranduba Itacoatiara Presidente Figueiredo Rio Preto da Eva que juntos correspondem a

101470 kmsup2 No mesmo ano em 27 de Dezembro eacute incluiacutedo o municiacutepio de Manacapuru

Sobre isso Castro (2010) relata

107

Essa regiatildeo metropolitana possui caracteriacutesticas peculiares se comparada aacutes primeiras surgidas na deacutecada de 1970 por natildeo se igualar agravequelas quanto agrave intensidade de fluxos entre as cidades e tambeacutem necessidade de compartilhamento de poliacuteticas puacuteblicas no que se refere ao abastecimento de aacutegua serviccedilo de transporte e tracircnsito energia eleacutetrica coleta de lixo dentre outras cujas demandas surgem com o processo de conurbaccedilatildeo Portanto esta anaacutelise parte de um princiacutepio de peculiaridade territorial num padratildeo natildeo conurbado e de pouca intensidade de trocas entre os nuacutecleos urbanos dessa regiatildeo metropolitana cujos pressupostos foram estabelecidos com a predominacircncia dos criteacuterios poliacuteticos sobre os geograacuteficos (CASTRO 2010 p48)

Para financiar e gerenciar a RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) foi criada em

29 de Dezembro de 2008 a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento

Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da

Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM (AMAZONAS 2008)

Em 30 de Abril de 2009 eacute divulgada a Lei Complementar nordm 64 que inclui na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus os municiacutepios de Autazes Itapiranga Manaquiri e Silves mais

15 828417 kmsup2 Tornando Manaus a maior aacuterea metropolitana em kmsup2 do paiacutes todavia

perde quatro posiccedilotildees se comparada em densidade populacional com Regiatildeo Metropolitana

de Satildeo Paulo pois sua densidade populacional eacute de 22 habkmsup2 contra 1162 habkmsup2 de

SP (IBGE 2010)

Para iniciar o processo de consolidaccedilatildeo dessa gigantesca aacuterea metropolitana de

Manaus fez-se necessaacuterio interligar definitivamente os municiacutepios da margem esquerda do

Rio Negro principalmente a capital do estado aos municiacutepios da margem direita do rio

Iranduba Manacapuru Novo Airatildeo e posteriormente aos munciacutepios de Autazes Itapiranga

Manaquiri e Silves

Diante disso o Governo do Estado do Amazonas na pessoa do entatildeo Governador

Carlos Eduardo de Souza Braga em seu primeiro mandato de 2000 a 2004 deu iniciou os

levantamentos preliminares para a definiccedilatildeo do ponto de travessia mais adequado para a

construccedilatildeo de uma Ponte sobre o Rio Negro

Segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro civil Marco Aureacutelio Mendonccedila

entatildeo Secretaacuterio de Infraestrutura do Estado foi convocado ao gabinete do governador em

2003 para ser informado do desejo do governador de executar essa obra mas

primeiramente lhe foi solicitado que fizesse levantamentos de terrenos possiacuteveis para a

construccedilatildeo e modelos viaacuteveis para a regiatildeo e posteriormente quando o entatildeo governador

108

foi reeleito com o mandato de 2005 a 2009 o engenheiro Marco Aureacutelio foi novamente

chamado ao gabinete do governador onde apresentou seus estudos e o governador afirmou

que jaacute era possiacutevel executar a obra

Ainda segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro afirma que para se buscar o

melhor local para a construccedilatildeo da obra e encontrar a menor distacircncia entre as duas

margens para diminuir seu custo

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que o melhor trecho era da Ponta do Ouvidor do lado de laacute na Ponta do Pepeta porque essa aacuterea tem uma formaccedilatildeo geoloacutegica de rochas que avanccedilam sobre o rio e isso fez com que a distacircncia fosse bem menor E foi exatamente neste trecho que a ponte foi erguida Outro ponto favoraacutevel foi o sistema viaacuterio da Ponta do Ouvidor temos a estrada da Estanave Avenida Brasil logo depois tem a estrada da Ponta Negra Pedro Teixeira e uma seacuterie de ruas que facilitavam o acesso a grande parte da cidade Depois que apresentei o estudo fizeram uma licitaccedilatildeo para a contrataccedilatildeo de uma empresa para o projeto final (A CRIacuteTICA DE 24 DE OUTUBRO DE 2011 p6)

Segundo Jornal A Criacutetica (2011) existia a ideia original de que a ponte saiacutesse do

bairro de Satildeo Raimundo em Manaus poreacutem o trajeto seria muito maior e natildeo teria um

sistema viaacuterio tatildeo bom Marco Aureacutelio descreve conversas com Carlos Eduardo Braga onde

relata que a interligaccedilatildeo entre outras cidades poderia frear o crescimento da cidade de

Manaus para o Norte onde eacute comum ter invasotildees ldquoEacute muito mais faacutecil pegar uma aacuterea

desabitada e crescer e desenvolver Em Iranduba tem uma aacuterea muito grande que pode ser

explorada mas eacute preciso ter controle urbano e imobiliaacuteriordquo (A CRIacuteTICA 2011)

321 PONTE RIO NEGRO PROPOSTA E REALIDADE

Segundo a Revista Eacutepoca (2011) a Ponte Rio Negro (Figura 26) foi orccedilada

inicialmente em R$ 5748 milhotildees e foi terminada com o custo de R$ 1099 bilhatildeo quase o

dobro do seu orccedilamento inicial parte financiada pelo governo do estado e parte pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social-BNDES que eacute vinculado ao Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

109

Sobre isso Aureacutelio (2011) afirma que ldquoQuando foi lanccedilado o projeto base existia

um tipo de fundaccedilatildeo e depois analisando a geologia embaixo do rio eles detectaram que

era necessaacuterio outro tipo de tecnologiardquo

Ainda segundo a Revista Eacutepoca (2011)

A construccedilatildeo traacutes aditivos O primeiro furo da Ponte Rio Nego soacute conseguiu ser feito por volta de seis meses apoacutes o iniacutecio dos trabalhos devido aacute profundidade do rio e ao efeito da correnteza das aacuteguas ldquoNingueacutem no Brasil tinha experiecircncia em fazer sondagens com lacircminas tatildeo grandes de aacutegua e equipamento no riordquo revelou o diretor ENESCIL Engenharia e Projetos Catatildeo Ribeiro responsaacutevel pelos projetos executivos e arquitetocircnicos e de fundaccedilatildeo da obra Durante os trabalhos de sondagem no rio os teacutecnicos responsaacuteveis pela obra descobriram que o solo era formado por camadas de areia e argila orgacircnica o que exigiu que todo o sistema de estacas o projeto e a logiacutestica da obra fossem reformulados (EacutePOCA 2011 p22)

Diante do exorbitante gasto resta conhecer os benefiacutecios de tatildeo gigantesca obra

para a regiatildeo O oacutergatildeo responsaacutevel por disponibilizar tais informaccedilotildees relacionadas agrave sua

construccedilatildeo eacute o Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas - IPAAM no qual se encontra o

tiacutetulo EIA-RIMA Ponte sobre o Rio Negro contudo o mesmo somente disponibiliza

informaccedilotildees a partir do Capiacutetulo IV- Diagnoacutesticos (Meio Bioacutetico Meio Fiacutesico Meio

Socioeconocircmico e Outros Relevantes) e Capiacutetulo V ndash Prognoacutesticos (IPAAM 2010) de forma

superficial (que na maioria dos arquivos consta somente o sumaacuterio) e natildeo as pesquisas

realizadas em sua plenitude

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo

Fonte Pinto (2010)

110

Com isso passaram a ser diretamente consultados o Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) da ponte sobre o Rio Negro realizado pela

Universidade Federal do Amazonas (UFAM 2007) Esse relatoacuterio contou com a participaccedilatildeo

de uma equipe multidisciplinar composta por climatoacutelogo engenheiro geoacutegrafo

geomorfologista entre outros profissionais Embora o presente relatoacuterio cumpra com seu

principal objetivo de descrever o Meio Bioacutetico Abioacutetico e Socioeconocircmico da aacuterea a ser

afetada pela construccedilatildeo da ponte sobre o rio Negro o mesmo descreve os possiacuteveis

impactos da ponte sobre o rio Negro de forma superficial e finaliza recomendando a

construccedilatildeo do empreendimento sem aprofundar os seus impactos no meio ambiente fiacutesico e

bioloacutegico

Apesar disso Pinto (2007) descreve os beneacuteficos a serem alcanccedilados com a

Construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Criaccedilatildeo de polo de turismo e polo naval Regularizaccedilatildeo de

Transportes Rodoviaacuterio e Fluvial na RMM Aumento da demanda reprimida em todos os

setores econocircmicos Expansatildeo e modernizaccedilatildeo dos polos de hortifrutigranjeiros Melhorias

nas induacutestrias de beneficiamento de pescado Plano de Zoneamento e Uso do Solo

Modernizaccedilatildeo da induacutestria de Juta e Malva Aumento de Cooperativas de Produtores Novo

Polo de Induacutestrias atraiacutedas pelos City Gates (Manaus-Coari)

Pinto (2007) reflete ainda que a construccedilatildeo da ponte tem por objetivos buscar

alternativas para a expansatildeo urbana de Manaus geraccedilatildeo de novos espaccedilos habitacionais

elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Plano Diretor urbano global e setorial incorporaccedilatildeo ordenada

do complexo viaacuterio da margem direita agrave malha viaacuteria projetada e em execuccedilatildeo para a

margem esquerda reduccedilatildeo de custos de transportes de produtos provenientes da calha do

Solimotildees Juruaacute Javari Iccedilaacute Japuraacute e Purus Novos investimentos no setor de turismo e setor

oleiro incentivo aacute inovaccedilatildeo e o desenvolvimento tecnoloacutegico nos serviccedilos de arquitetura e

engenharia (PINTO 2007)

Como destaca Pinto (2007) o primeiro objetivo para a construccedilatildeo da Ponte sobre o

Rio Negro era buscar uma alternativa para a expansatildeo urbana de Manaus uma vez que a

mesma se encontra em constante crescimento em direccedilatildeo ao Norte da cidade fazendo

pressatildeo sobre a Reserva Ducke aacuterea de proteccedilatildeo ambiental

Atualmente a ponte se encontra pronta com 3595km de extensatildeo e liga o bairro

da Compensa em Manaus (margem esquerda do Rio Negro) agrave Ponta do Pepeta (margem

111

direita) em Iranduba Apesar do beneficio inegaacutevel da reduccedilatildeo do tempo da travessia que

anteriormente era feita de balsa e levava em meacutedia uma hora e meia no periacuteodo da vazante

do rio (sem contabilizar o tempo de espera para o embarque que podia variar de duas horas

nos dias de semana e ateacute doze horas em feriados) a construccedilatildeo da ponte tambeacutem levou

malefiacutecios

Sobre isso Castro (2010) aponta

No que concerne agrave questatildeo ambiental a criaccedilatildeo da RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) estabelece nova forma de concepccedilatildeo do meio ambienta pois ao natildeo apresentar um padratildeo conurbado como as RMrsquos claacutessicas a RMM deixa lacunas e indagaccedilotildees no que se refere a fatores como expansatildeo imobiliaacuteria conversatildeo de terra rural em terra urbana incorporaccedilatildeo de aacutereas de floresta em aacutereas urbanizadas ocupaccedilatildeo das margens dos rios Negro e Amazonas aleacutem dos inuacutemeros cursos drsquoaacutegua menores enfim questotildees que constituem desafio agrave tendecircncia que visa ao estabelecimento de uma nova geografia surgida em funccedilatildeo de uma decisatildeo poliacutetica que diga-se natildeo foi precedida agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agraves populaccedilotildees interessadas quase sempre aquelas que arcam com ocircnus das decisotildees de caraacuteter poliacutetico ndash partidaacuterio tiacutepico das praacuteticas brasileiras sendo que a Amazocircnia natildeo foge a esse preceito (CASTRO 2011 p48)

No que tange agrave expansatildeo urbana Mesquita (2013) relata que a induacutestria da invasatildeo

que anteriormente fazia pressatildeo no norte da cidade de Manaus (principalmente sobre a

Reserva Ducke) migrou apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro para os municiacutepios vizinhos

localizados na margem direita do rio o poder puacuteblico por sua vez finge natildeo perceber o

crescimento no processo de invasatildeo de terras O autor se refere ao fato recente da invasatildeo

de terras em uma propriedade particular localizada no 45 km da AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) ocorrido em Agosto de 2013 (Figura27)

112

Todavia as mudanccedilas na paisagem natildeo se limitaram agrave retirada da cobertura vegetal

para a construccedilatildeo dos ldquobarracosrdquo (como satildeo chamadas as construccedilotildees de madeiras cobertas

com lona) mas tambeacutem permitiram a retirada ilegal de argila para a fabricaccedilatildeo de tijolos

nas margens da rodovia (Figura 28)

Houve tambeacutem um aumento significativo no nuacutemero de animais mortos ao longo

da rodovia segundo os proacuteprios moradores Aleacutem da retirada ilegal de madeira e a queima

de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos etc (Figura 29)

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM- 070 (Rodovia Manoel Urbano)

Fonte Louzada (2013)

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano) Fonte Batata (2013)

113

Com a ponte Rio Negro pronta os esforccedilos foram redirecionados para a duplicaccedilatildeo

da Rodovia Manuel Urbano (AM 070) que ateacute o presente momento somente tem 2km

duplicados (logo apoacutes a ponte) dos seus 80km ateacute o municiacutepio de Manacapuru que

permanece sem duplicaccedilatildeo desde sua inauguraccedilatildeo As obras de duplicaccedilatildeo foram iniciadas

em marccedilo de 2012 com primeiramente a retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem

(Figura 30)

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos

Fonte Louzada (2013)

114

Todavia o processo de retirada da cobertura vegetal e terraplanagem somente

foram realizados ateacute o 185 km (01032014) tendo como marco zero o iniacutecio da Ponte Rio

Negro em Manaus Atualmente natildeo eacute possiacutevel encontrar nem se quer ldquoum carrinho de

matildeordquo trabalhando na rodovia

Percorrendo a rodovia no sentido Manaus ndash Manacapuru no 18 km eacute possiacutevel

visualizar 15 aacutervores de Castanheiras (Betholetia excelsa) que satildeo parcialmente protegidas

pelo Decreto Lei nordm 5975 de 30 de Novembro de 2006 no traccedilado escolhido para a

duplicaccedilatildeo da rodovia (Figura 31)

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manuel Urbano (AM-070)

Fonte Camila Louzada 2013

115

Entretanto infelizmente a lei de crimes ambientais permite vaacuterias interpretaccedilotildees

em seu paraacutegrafo uacutenico (BRASIL 2006)

Natildeo seraacute permitida a supressatildeo de vegetaccedilatildeo ou intervenccedilatildeo na aacuterea de preservaccedilatildeo permanente exceto nos casos de utilidade puacuteblica de interesse social ou de baixo impacto devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo proacuteprio quando natildeo existir alternativa teacutecnica e locacional ao empreendimento proposto nos termos do art 4ordm da Lei no 4771 de 1965 (BRASIL 2006 p 12)

Embora no que tange a duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano exista a possibilidade

de mudar do lado direito para o lado esquerdo da rodovia os oacutergatildeos responsaacuteveis pela

duplicaccedilatildeo natildeo se mostraram favoraacuteveis a essa possibilidade expondo as castanheiras ao

abate conforme interpretaccedilatildeo ldquoconvenienterdquo da legislaccedilatildeo

Para Vasconcelos (2013 p13) ldquocastanhais satildeo derrubados para a construccedilatildeo de

estradas e barragens para assentamentos de reforma agraacuteria [] No caso do Gasoduto

Coari- Manaus tambeacutem foram retiradas muitas aacutervores inclusive castanheirasrdquo

Sobre isso Santos (2013) eacute enfaacutetica ao afirmar que o maior destruidor na natureza eacute

o estado (seja na esfera municipal estadual e federal) Uma vez que criam leis para os

Figura 31 Aacutervores de Castanheira no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (Fevereiro 2014)

Fonte Camila Louzada 2013

116

demais cidadatildeos cumprirem e nunca para o governo cumpri-la se for de seu interesse

quebraacute-las criam meios de inutilizaacute-la em prol de seus proacuteprios interesses maquiando o fato

como ldquoum mal necessaacuterio em busca de um bem coletivordquo A questatildeo eacute seraacute mesmo que eacute o

bem coletivo que estaacute em jogo ou os interesses poliacuteticos e acordos convenientes entre

estado e municiacutepios

33 PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS

A Ponte sobre o Rio Solimotildees consta descrita no Projeto de Lei nordm 6409-B de 2009

no Art 3ordm item 222 ndash Relaccedilatildeo Descritiva das Rodovias do Sistema Rodoviaacuterio Federal

integrante do Anexo do Plano Nacional de Viaccedilatildeo aprovado pela Lei nordm 5917 de 10 de

Setembro de 1973 aprovado pela Cacircmara Federal dos Deputados em 23 de Agosto de 2011

Dispotildee sobre a inclusatildeo da futura rodovia BR-444 que iraacute ser construiacuteda no Estado do

Amazonas para interligar a BR-319 agrave BR-174 sob a justificativa de cumprir a Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que ldquodetermina que a Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando aacute formaccedilatildeo de

uma comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (BRASIL 2011 p 18)

Nesse sentido compete ao Estado brasileiro participar da promoccedilatildeo da integraccedilatildeo logiacutestica efetiva do territoacuterio sul-americano Especificamente no sentido norte-sul a interligaccedilatildeo entre alguns trechos rodoviaacuterios jaacute existentes possibilitaria o deslocamento de pessoas e cargas da Venezuela e da Guiana ateacute o Uruguai e vice-versa Entretanto para que se efetive esse corredor sul-americano eacute necessaacuterio promover a ligaccedilatildeo da BR-319 agrave cidade de Manaus razatildeo pela qual propomos a inclusatildeo da rodovia BR-444 no Plano Nacional de Viaccedilatildeo o que permitiraacute concluir a interligaccedilatildeo entre as rodovias BR-319 e BR-174 promovendo assim a desejada integraccedilatildeo contiacutenua do continente sul-americano (BRASIL 2011 p 18)

A BR-444 que se aprovada pelo Senado e sancionada pela atual presidente Dilma

Rousseff ou outro presidente posterior seraacute construiacuteda no Amazonas Natildeo poderaacute ser

erguida ligando o Porto da Ceasa em direccedilatildeo ao Porto da Andrade Gutierrez localizado no

13 km da BR-319 no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea uma vez que estaraacute sobre o Encontro

das Aacuteguas (Rio Negro e Solimotildees) que foi tombado como Patrimocircnio Cultural e Paisagiacutestico

Brasileiro pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN em 2011

fundamentado no Decreto Lei nordm 251937 que determina que sejam tombados ldquoos

monumentos naturais bem como os siacutetios e paisagens que importe conservar e proteger

117

pela feiccedilatildeo notaacutevel com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela

induacutestria humanardquo (BRASIL 1937 p 1) Aleacutem de outros inconvenientes gigantescos ligados

aos aspectos fiacutesicos da aacuterea entre eles destacam-se largura do rio (que eacute superior a 10km

neste trecho) profundidade e velocidade entre outros

Diante do exposto a medida mais aceitaacutevel seria construir a nova ponte agrave

montante do Encontro das Aacuteguas no rio Solimotildees aproveitando a AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) que esta ldquoem fase de duplicaccedilatildeordquo e tem ligaccedilatildeo direta com a Ponte Rio Negro

(Figura 32)

Apesar de ainda estar em fase de especulaccedilatildeo o local exato para a construccedilatildeo da

ponte sobre o rio Solimotildees projeta- se que a mesma deveraacute ligar a comunidade da Bela

Vista em Manacapuru (margem esquerda do rio Solimotildees) ao municiacutepio de Manaquiri

(margem direita do rio Solimotildees) tendo como ponto favoraacutevel agrave construccedilatildeo a largura do rio

nesse trecho e a ilha do Barroso

Na expectativa de construccedilatildeo da ponte o fato causa ao mesmo tempo entusiasmo

e cautela nas pessoas entrevistadas na Comunidade da Bela Vista (em Manacapuru) e na

sede do municiacutepio de Manaquiri Satildeo apontados inuacutemeros benefiacutecios com a construccedilatildeo da

ponte como a geraccedilatildeo de empregos oportunidade de renda das famiacutelias escoamento da

produccedilatildeo agriacutecola Todavia as mesmas pessoas entrevistadas tambeacutem descreveram ldquoo

outro lado da nova ponterdquo como sendo o aumento da violecircncia a derrubada da floresta a

Figura 32 Ponte Rio Negro Fonte Pereira (2012)

118

exploraccedilatildeo de madeira grilagem de terra traacutefico de animais destruiccedilatildeo dos siacutetios

Arqueoloacutegicos invasatildeo de terras por pessoas oriundas de outros estados e o fim da

tranquilidade O impressionante dessas afirmaccedilotildees era que os entrevistados usavam como

referecircncia a Ponte Rio Negro dizendo ldquocomo aconteceu com aacute Rio Negrordquo

Tendo por base a Ponte Rio Negro se faraacute necessaacuterio encontrar locais proacuteximos agrave

futura construccedilatildeo fora da accedilatildeo das aacuteguas ( em Terra Firme) para serem usados como base

das operaccedilotildees de sondagem e montagem de equipamentos e posteriormente instalaccedilatildeo de

guindastes tratores entre outros equipamentos agrave serem utilizados na obra Cabe aqui

somente demonstrar a aacuterea utilizada para a construccedilatildeo e posteriormente conclusatildeo das

ldquocabeccedilasrdquo como satildeo chamadas as bases localizadas em cada margem tendo por referecircncia a

construccedilatildeo da Ponte Rio Negro (Figuras 33)

119

Figura 33 Iranduba 2007 antes da construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

120

Aacute primeira vista natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes mudanccedilas na paisagem em 2007

(4 anos antes da inauguraccedilatildeo da ponte) na margem direita do rio Negro no municiacutepio de

Iranduba entretanto no quadrado ldquoardquo eacute possiacutevel visualizar uma construccedilatildeo com uma

cobertura de alumiacutenio e a retirada gradativa da vegetaccedilatildeo ao redor No quadrado ldquobrdquo

aonde viria a ser implantada a base da ponte natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes modificaccedilotildees

A (FIGURA 34) no ano de 2010 (1 ano antes da inauguraccedilatildeo) apesar da parcial

cobertura das nuvens eacute possiacutevel visualizar significativas mudanccedilas na paisagem Com

destaque para o que anteriormente era somente uma cobertura de alumiacutenio em 2007 ter se

tornado um porto de atracaccedilatildeo de embarcaccedilotildees e a base de operaccedilotildees da Ponte Rio Negro

(no municiacutepio de Iranduba) com pouca cobertura vegetal Tambeacutem jaacute eacute possiacutevel visualizar a

terraplanagem da futura rodovia

Entretanto na (Figura 35) a base de operaccedilotildees da ponte Rio Negro ganhou um

novo e maior anexo perdendo a cobertura vegetal existente

Comparando as figuras 33 34 e 35 eacute possiacutevel em pouco espaccedilo de tempo verificar

as mudanccedilas provocadas a partir da construccedilatildeo da ponte rio Negro

121

c Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro

Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

122

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

123

No caso da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas a ser construiacuteda a montante do

Encontro das Aacuteguas a mesma teraacute alguns percalccedilos pelo caminho a) tanto a margem direita

quanto a margem esquerda do Rio Solimotildees ateacute a jusante da cidade de Manacapuru tem

faixas estreitas a largas de vaacuterzeas fortemente utilizadas para agricultura de base familiar b)

por traz das aacutereas de vaacuterzea existem as aacutereas de terra firme ideais para essa construccedilatildeo

todavia para se chegar em alguns trechos faz-se necessaacuterio aterrar as aacutereas de vaacuterzeas

inviabilizando-se assim a produccedilatildeo agriacutecola c) uma vez alcanccedilada as aacutereas de terra firme e

definido o lugar de construccedilatildeo das cabeceiras da ponte inicia-se a ldquobuscardquo pelo lugar mais

apropriado para a base de operaccedilotildees normalmente proacuteximo agraves duas cabeceiras d) com os

locais definidos e as obras iniciadas (a mesma seraacute dificultada pelos aspectos fiacutesicos do rio

sua velocidade visibilidade entre outros) e) Inicia-se a nova etapa de ligaccedilatildeo da ponte com

as rodovias proacuteximas agrave AM-070 na margem esquerda e a AM-354 que esta ligada a BR-319

na margem direita

Embora se acredite que as pistas de ligaccedilatildeo a serem utilizadas sejam as jaacute

existentes deveratildeo ser no miacutenimo beneficiadas com a duplicaccedilatildeo e a construccedilatildeo de

acostamentos Tanto para a construccedilatildeo de novas pistas como para a duplicaccedilatildeo das pistas

atuais as propriedades proacuteximas seratildeo afetadas assim como a flora a ser desmatada para a

duplicaccedilatildeo e a fauna que seraacute a principal afetada com o trafego rodoviaacuterio uma vez que os

mesmos seratildeo constantemente atropelados na rodovia

Com a ponte pronta e inaugurada os impactos aumentaratildeo gradativamente

primeiramente como ocorreu com a ponte Rio Negro com o aumento da especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria e ocupaccedilatildeo primeiramente no municiacutepio de Manaquiri e posteriormente ao

longo de toda a rodovia BR-319 como ocorreu com as demais rodovias abertas na Amazocircnia

A iniciativa de construccedilatildeo da BR-444 e por consequecircncia a ponte sobre o rio

Solimotildees permitiria conectar Manaus ao restante do paiacutes via Porto Velho-RO assim como

tambeacutem viabilizaria ir do Peru ao Oceano Atlacircntico utilizando rodovias como propotildeem o

Projeto IIRSA (2003)

A iniciativa de Integraccedilatildeo da Infraestrutura Regional Sul Americana - IIRSA eacute

resultado da Cuacutepula de Presidentes da Ameacuterica do Sul realizada em 2000 no Brasil onde

ficou definida um pacote de medidas como Eixos de Integraccedilatildeo e Desenvolvimento ldquono qual

124

se pretendia desenvolver e integrar as aacutereas de transporte energia e telecomunicaccedilatildeo da

Ameacuterica do Sul em dez anosrdquo (IIRSA 2003)

A iniciativa busca integrar definitivamente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul ldquoque

concentram ou possuem potencial para desenvolver bons fluxos comerciais visando formar

cadeias produtivasrdquo (IIRSA 2003) para alcanccedilar os mercados globais Entretanto os eixos de

integraccedilatildeo escolhidos para serem ldquodesenvolvidosrdquo detecircm grande reserva de recursos

naturais conforme Tabela 8

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento e integraccedilatildeo do IIRSA Eixos de Desenvolvimento do projeto IIRSA

Trecho Paiacuteses envolvidos Recursos Naturais Vias de Ligaccedilatildeo

Eixo Andino Venezuela Boliacutevia Colocircmbia Equador

Peru

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Desenvolvimento de corredores transandinos de leste a oeste ligando Caracas-Venezuela a

Lima-Peru e Santa Cruz-Boliacutevia

Eixo Central do Amazonas

Colocircmbia Equador Peru e Brasil

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Pavimentaccedilatildeo de estradas no Peru e melhorias na

navegabilidade do Rio Amazonas de Tabatinga-AM a Beleacutem-PA

Melhorias na aacuterea de telecomunicaccedilotildees

Eixo Interoceacircnico

Central

Peru Chile Boliacutevia Paraguai e Brasil

Regiatildeo Petroleira da Boliacutevia e o escoamento da soja

produzida no Brasil para o oceano Paciacutefico

Construccedilatildeo de Portos no Chile rodovias com saiacuteda de Santa Cruz na Boliacutevia em direccedilatildeo a

Cuiabaacute-MT e Iquique no Chile

Eixo Interoceacircnico de

Capricoacuternio

Chile Argentina Paraguai e Brasil

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

Viabilizar o transporte intermodal atraacutes de

interconexatildeo por hidrovia Paranaacute-Brasil com Paraguai

Eixo do Escudo

Guayaneacutes

Venezuela Brasil Suriname Guiana

Mineacuterio de ferro bauxita ouro e madeira

Melhora porto e rodovias para facilitar o escoamento da produccedilatildeo e construccedilatildeo de

hidreleacutetricas

Eixo Meridional Chile

Brasil Uruguai

Argentina e Chile

Escoamento da produccedilatildeo agriacutecola pelo Paciacutefico

Melhoria nas estradas jaacute existentes entre os paiacuteses Investimento nas conexotildees

eleacutetricas entre os paiacuteses

Eixo Mercosul Meridional

Chile Argentina

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

A conexatildeo ferroviaacuteria entre Zapala- Argentina e Lionquimay-

Chile

Eixo da Bacia do

Prata

Argentina Boliacutevia Brasil Paraguai e

Uruguai

Mineacuterio de ferro nitrato metais preciosos chumbo

zinco estanho cobre petroacuteleo e uracircnio

Implantaccedilatildeo da Hidrovia Paranaacute-Paraguai

Eixo Amazocircnico

do Sul

Brasil Boliacutevia e Peru

(Pronto)

Madeira mineacuterio de ferro

zinco e petroacuteleo

Implantaccedilatildeo de rodovias interligadas de Porto Velho-

Brasil aos pontos de San Juan e Matarani- Peru

Fonte WWWiirsa2003com

125

O IIRSA tem como financiadores o Banco Internacional de Desenvolvimento -BID

Corporaccedilatildeo Andina de Fomento ndash CAF Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia

do Prata ndash FONPLATA Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social- BNDES

Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento -BIRD (IIRSA 2003)

Diante disso satildeo perceptiacuteveis os interesses por traacutes da expansatildeo de negoacutecios

(estradas rodovias hidrovias) por toda a America do Sul sob o discurso de integrar e

desenvolver a regiatildeo Apesar disso alguns questionamentos se fazem necessaacuterios no

presente momento jaacute que a Ponte sobre o Rio Solimotildees ainda natildeo foi iniciada a) quem satildeo

os maiores beneficiaacuterios com esta obra b) esta obra eacute realmente importante para a regiatildeo

(comparando os seus benefiacutecios e malefiacutecios) c)existe alguma preocupaccedilatildeo com as

populaccedilotildees ribeirinhas afetadas que medidas compensatoacuterias poderiam ser fornecidas se

essa obra for realmente inevitaacutevel d) jaacute que seus malefiacutecios satildeo infinitamente maiores que

seus benefiacutecios isto impediria a sua execuccedilatildeo

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DO MANAQUIRI

Visando atender a abrangecircncia de dados da pesquisa qualitativa o presente estudo

utilizou a anaacutelise de documentos observaccedilatildeo participante e entrevistas semiestruturadas

(BOGDAN e BIKLEN 1994)

A princiacutepio as entrevistas seriam coletivas atraveacutes de grupos focais no entanto o

nuacutemero reduzido de moradores antigos nas duas localidades natildeo permitiu fazer uso dessa

estrateacutegia pois para se ter um grupo focal eacute preciso a participaccedilatildeo de seis e doze pessoas

(GATTI 2005) o que natildeo foi possiacutevel localizar em Bela Vista e em Manaquiri

As entrevistas foram realizadas de forma individual (na 1ordm etapa da pesquisa) por

essa e algumas outras razotildees a) os moradores mais antigos eram em sua maioria homens

com mais de 65 anos que se conheciam haacute algumas deacutecadas entretanto alguns tinham

facilidade de se expressar outros natildeo alguns eram tiacutemidos e outros desinibidos b) visando

evitar o ldquoefeito galordquo de Gatti (2005) onde um ou mais participante pudesse de forma natildeo

intencional inibir os demais optou-se pelas entrevistas individuais semiestruturadas

126

Do resultado das entrevistas com os moradores mais antigos foi construiacutedo um

roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a 40 chefes de famiacutelia em cada

localidade

Apesar da pesquisa ser qualitativa a mesma tambeacutem se caracteriza como um

Estudo de Caso pois permite uma investigaccedilatildeo para se preservar as caracteriacutesticas

significativas da vida real ciclos de vida individuais processos organizacionais e

administrativos entre outros (YIN 2005)

Ainda segundo Yin (2005) os Estudos de Caso podem ser classificados em

causaisexploratoacuterios que permitem ao pesquisador levantar dados permitindo diagnosticar

um estudo de caso atraveacutes de generalizaccedilatildeo E descritivo que permite ao pesquisador a

descriccedilatildeo de diversos e complexos fenocircmenos dentro de seu contexto real pesquisado sem

generalizaccedilatildeo

Em outras palavras o estudo de caso eacute uma situaccedilatildeo uacutenica cercada por uma

infinidade de possibilidades resultado dos dados coletados apoiados em inuacutemeras fontes

que refutam ou confirmam as informaccedilotildees coletadas O Estudo de Caso vai aleacutem da simples

funccedilatildeo de coletar dados tabulaacute-los e divulgaacute-los como resultados da pesquisa pois eacute ldquo[]

uma estrateacutegia mais abrangente A forma como a estrateacutegia eacute definida implementada e

constituiacuteda na verdade eacute o toacutepico inteiro do livrordquo (YIN 2005 p33)

A estrutura desenvolvida nesta pesquisa encontra-se detalhada na Figura (36) com

relaccedilatildeo agraves localidades escolhidas para anaacutelise da percepccedilatildeo ambiental dos seus moradores

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Solimotildees como parte da reabertura da BR-

319

127

A metodologia teve como base alem da fundamentaccedilatildeo teoacuterica a utilizaccedilatildeo de

entrevistas semiestruturadas pois permite ao pesquisador utilizar muacuteltiplas e variadas

fontes de dados para criar o roteiro de entrevista e atraveacutes da tabulaccedilatildeo dos dados

estabelecer uma cadeia de evidecircncias que permita reconhecer as respostas apoiadas na

fundamentaccedilatildeo teoacuterica para legitimar o estudo

Optou-se primeiramente por entrevistar os moradores mais antigos de cada

localidade pelas seguintes razotildees a) os moradores mais antigos tinham maior

Indicaccedilatildeo de alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental voltada para as localidades ribeirinhas e preocupaccedilatildeo com o contexto amazocircnico

Revisatildeo literaacuteria sobre as localidades

Expansatildeo das entrevista aos chefes de famiacutelia

Tabulaccedilatildeo de dados

Construccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do roteiro de entrevista semiestruturado para os

moradores mais antigos

Tabulaccedilatildeo dos resultados

Origem das localidades desenvolvimento economia

etc

Relaccedilatildeo com o ecossistema a floresta o rio e seus elementos

naturais

Perspectiva de desenvolvimento Ponte sobre o

Rio Solimotildees

Elo afetivo com o lugar EntusiasmoCautela com o desconhecido

Projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros

Figura 36 Estrutura da Pesquisa Fonte Louzada (2013)

128

conhecimento da histoacuteria de fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo das localidades b) assim como tinham

diferentes percepccedilotildees sobre o meio ambiente fiacutesico ao seu redor ao longo dos anos de suas

vidas c) baseado em suas experiecircncias individuas os moradores foram capazes de descrever

com riqueza detalhes tudo ao seu redor (da fundaccedilatildeo das localidades as mudanccedilas ao longo

dos anos) d) os moradores mais antigos das duas localidades percebiam as mudanccedilas e

descreviam-nas com maior desenvoltura os benefiacutecios e malefiacutecios das mudanccedilas

Utilizou-se o roteiro de entrevista semiestruturada aplicado na Comunidade da Bela

Vista e posteriormente na sede do municiacutepio de Manaquiri e conforme (Figura 37) Nesta

primeira etapa da pesquisa buscou-se conhecer a histoacuteria da comunidade e as diversas

interaccedilotildees do homem com o lugar onde vive

Nome (opcional) Idade Profissatildeo Escolaridade

1- A quanto tempo mora aqui

2- O que tem aqui que te faz permanecer 3- O que vocecirc natildeo gostaria de perder

4- O que vocecirc gostaria que tivesse aqui

5- Que mudanccedilas ocorreram na comunidade com a Ponte Rio Negro 6- O que Melhorou aqui 7- O que piorou

8- Vocecirc jaacute ouviu alguma coisa sobre a Ponte sobre o Rio Solimotildees

9- O que vocecirc espera de bom 10- E de ruim dessa nova ponte se sair

10- Para a construccedilatildeo desta nova ponte teraacute audiecircncias puacuteblicas para consulta a comunidade o que vocecirc

exigiria nas medidas compensatoacuterias

Na Comunidade da Bela Vista os moradores mais antigos entrevistados por

coincidecircncia eram todos homens com meacutedia de idade de 63 anos classificados segundo

suas profissotildees A -Agricultor B - Carpinteiro Naval C- Comerciante D- Pescador Suas

respostas foram dispostas na (Figura 38)

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos

Fonte Louzada (2013)

129

Entrevistado Resposta das perguntas

A 69 anos -1945

Famiacutelia tranquilidade

Paz Meacutedico

B 48 anos- 1965

Famiacutelia Companheirismo Hospital ou SPA

C 66 anos -1948

Famiacutelia Paz Poliacutecia

D 70 anos- 1944

Famiacutelia tranquilidade

Meu siacutetio a paz Poliacutecia

Os entrevistados apresentaram em meacutedia mais de 53 anos de residecircncia na

Comunidade da Bela Vista e se mostraram extremamente irredutiacuteveis quanto agrave sugestatildeo de

familiares para que se mudem para outros lugares argumentando quase sempre ldquoque natildeo

abandonariam sua tranquilidade nem seu pedaccedilo de chatildeo por nadardquo

Sobre isso Tuan (2012) argumenta que

[] eacute o neologismo uacutetil quando pode ser definida em sentido amplo incluindo todos os laccedilos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material Estes diferem profundamente em intensidade sutileza e modo de expressatildeo A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esteacutetica em seguida pode variar do efecircmero prazer que se tem de uma vista ateacute a sensaccedilatildeo de beleza igualmente fugaz mas muito mais intensa que eacute subitamente revelada A resposta pode ser taacutetil o deleite ao sentir o ar aacutegua terra Mais permanentes e mais difiacuteceis de expressar satildeo sentimentos que temos para com o lugar por ser o lar o loacutecus de reminiscecircncias e o meio de se ganhar a vida (TUAN 2012 p136)

Para Tuan (2012 p 136) ldquoTopofilia natildeo eacute a emoccedilatildeo humana mais forte Quando eacute

irresistiacutevel podemos estar certos de que o lugar ou o meio ambiente eacute o veiacuteculo de

acontecimentos emocionalmente fortes ou eacute percebido como um siacutembolordquo

No caso dos moradores mais antigos entrevistados pela pesquisa todos sem

exceccedilatildeo satildeo ex-colonos da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA o que pode ter

influenciado na atual escolha de permanecer na regiatildeo embora muitos ex- colonos tenham

optado por se mudar para outras localidades

Questionados sobre o que gostariam que tivessem na Comunidade da Bela Vista os

mesmos foram enfaacuteticos ao afirmarem que gostariam que tivessem policiamento e meacutedicos

Figura 38 Respostas das Entrevistas (Perguntas 1 a 4)

Fonte Louzada (2013)

130

na comunidade Jaacute que a Bela Vista faz parte do municiacutepio de Manacapuru cabe ao

municiacutepio e ao estado disponibilizar pessoal e infraestrutura para atender as necessidades

da populaccedilatildeo

Indagados sobre as mudanccedilas positivas e negativas com a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio

Negro as respostas encontra-se na (Figura 39)

Entrevistado Resposta das perguntas

A Tem mais motos Diminui o tempo da viagem

Nada Sim

B Diminuiu muito o movimento aqui

Diminui o tempo da viagem

Vem muita gente estranha

Sim

C Antes tinha mais movimento aqui

- Trouxe mais violecircncia

Sim

D Agora tem ocircnibus daqui pra Manaus

Diminui o tempo da viagem

Aumentou muito a violecircncia

Sim

Sobre a capacidade humana de perceber mudanccedilas Ostrower (1977) destaca

Desde as primeiras culturas o ser humano surge dotado de um dom singular mais do que homo faber ser fazedor o homem eacute um ser informador Ele eacute capaz de estabelecer relacionamentos entre os muacuteltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele Relacionando os eventos ele se configura em sua experiecircncia de viver e lhes daacute um significado Nas perguntas que o homem faz ou nas soluccedilotildees que encontra ao agir ao imaginar ao sonhar sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER 1977 p4 )

Embora a diminuiccedilatildeo do tempo de viagem de Bela Vista ateacute Manaus tenha sido

esperado com a construccedilatildeo da Ponte Rio Negro os moradores se mostram apreensivos no

que tange a comunidade uma vez que a mesma passou a sofrer frequentes casos de

violecircncia apoacutes a inauguraccedilatildeo da ponte Esta capacidade de perceber e relacionar os

acontecimentos aos muacuteltiplos eventos ocorridos permitiu-lhes fazer uma projeccedilatildeo de

cenaacuterios futuros baseados em suas experiecircncias individuais e coletivas com determinado

evento

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (Perguntas 5 a 8)

Fonte Louzada (2013)

131

Indagados se jaacute tinham ouvido falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o rio

Solimotildees os mesmos foram unacircnimes ao afirmarem que sim atraveacutes do programa de raacutedio

A Voz do Brasil

Segundo Canuto (2012) o programa de raacutedio transmitido de segunda a sexta agraves 19h

no horaacuterio de Brasiacutelia para todo o territoacuterio nacional surgiu em 1935 com o nome de

ldquoPrograma Nacionalrdquo e em 1938 passou a ser chamado de ldquoHora do Brasilrdquo teve seu nome

novamente mudado em 1971 para ldquoA Voz do Brasilrdquo O programa transmite informativos

oficiais dos Poderes Executivo Judiciaacuterio e Legislativo

Foi por meio desse programa de raacutedio que Getuacutelio Vargas fez pronunciamentos

semanais estimulando a migraccedilatildeo do ldquopovo sem terras para terras sem homensrdquo

estimulando e consolidando a Marcha para o Oeste que viria a reorganizar a ocupaccedilatildeo do

territoacuterio brasileiro

Com uma breve explanaccedilatildeo sobre a proposta de construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees os entrevistados foram estimulados a descrever o que viria de ldquobomrdquo ou

ldquoruimrdquo com esta obra segundo sua percepccedilatildeo (Figura 40)

A percepccedilatildeo dos moradores mais antigos se caracteriza em parte como uma

Percepccedilatildeo Trandisciplinar segundo seus pilares que satildeo diferentes niacuteveis de realidade

(ontoloacutegico) loacutegica do terceiro incluiacutedo e complexidade que por sua vez com se sustenta

em trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional e hologramaacutetico

Entrevistado Resposta das Perguntas

9ordm 10ordm

A Vai melhorar e muito aqui

-

B Natildeo vai ter mudanccedilas boas

Mais pessoas estranhas mais violecircncia

C Empregos Mais violecircncia

D Nada de bom Vatildeo querer me tirar daqui soacute saio daqui morto

Figura 40 Resposta dos Entrevistados (Perguntados 9 e 10)

Fonte Louzada (2013)

132

Partindo do princiacutepio dos diferentes niacuteveis de realidade seja do entrevistado A

(que prevecirc melhorias na comunidade) do B (que eacute enfaacutetico ao afirmar que natildeo haveraacute

mudanccedilas positivas) do C (que acredita que a obra traraacute empregos) ou do entrevistado D

(que afirma que esta obra natildeo traraacute nada de bom)

[] nenhum niacutevel de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual possamos compreender todos os outros niacuteveis de realidade um niacutevel de realidade eacute o que ele eacute porque todos os outros niacuteveis existem ao mesmo tempo Esse princiacutepio de relatividade suscita um novo olhar sobre a religiatildeo a poliacutetica as artes a educaccedilatildeo e a vida social E quando nosso olhar sobre o mundo muda o mundo realmente muda (RITTO 2010 p37)

O autor continua

Na visatildeo transdisciplinar a realidade natildeo eacute apenas muldimensional mas tambeacutem multirreferencial Os diferentes niacuteveis de realidade satildeo acessiacuteveis ao conhecimento humano graccedilas aacute existecircncia de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo que permitem uma visatildeo cada vez mais geral mais unificadora mais abarcadora da realidade sem exauri-la completamente Como no caso dos niacuteveis de realidade a coerecircncia dos niacuteveis de percepccedilatildeo pressupotildee uma zona de natildeo resistecircncia aacute percepccedilatildeo (RITTO 2010 p37)

Segundo Nicolesco (2009 p05) o conceito chave da Transdisciplinaridade eacute o

conceito de niacuteveis de realidade ldquoque oferece uma explicaccedilatildeo simples e clara da inclusatildeo do

terceirordquo

Entendo por Realidade primeiramente o que resiste agraves nossas experiecircncias representaccedilotildees descriccedilotildees imagens ou formalizaccedilotildees matemaacuteticas Eacute preciso tambeacutem dar uma dimensatildeo ontoloacutegica agrave noccedilatildeo de Realidade pois a Natureza participa do ser do mundo A Realidade natildeo eacute somente uma construccedilatildeo social o consenso de uma coletividade um acordo intersubjetivo Ela apresenta tambeacutem uma dimensatildeo trans-subjetiva pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria cientiacutefica (NICOLESCU 2009p05)

Para Nicolesco (2009) a compreensatildeo do terceiro incluiacutedo pode ser descrita com a

representaccedilatildeo da letra T entre o A e o natildeo- A por meio de um triacircngulo

[] no qual um dos veacutertices se situa em um niacutevel de Realidade e os outros dois

veacutertices em outro niacutevel de Realidade Se ficarmos em um uacutenico niacutevel de Realidade toda manifestaccedilatildeo apareceraacute como uma luta entre dois elementos contraditoacuterios (exemplo onda A e corpuacutesculo natildeo-A) O terceiro dinamismo o do estado T eacute exercido em um outro niacutevel de Realidade onde o que aparece como desunido (onda e corpuacutesculo) estaacute de fato unido (quantum) e o que aparece como contraditoacuterio eacute percebido como natildeo contraditoacuterio (NICOLESCO 2009 p5)

133

Nicolesco (2009) vai aleacutem ao afirmar que [] a projeccedilatildeo de T sobre um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade que produz a aparecircncia de pares antagonistas mutuamente exclusivos (A e natildeo-A) Um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade natildeo pode engendrar senatildeo oposiccedilotildees antagocircnicas Ele seraacute devido agrave sua proacutepria natureza autodestruidor se for separado completamente de todos os outros niacuteveis de Realidade Um terceiro termo digamos Trsquo que estaacute situado no mesmo niacutevel de Realidade que os opostos A e natildeo-A natildeo pode realizar sua conciliaccedilatildeo (NICOLESCO 2009 p05)

Assim sendo a loacutegica do terceiro incluiacutedo admite diferentes niacuteveis de realidade

para compreensatildeo ampla de um determinado fenocircmeno ou fato essa possibilidade permite

extrapolar o reacutelis antagonismo fruto de uma uacutenica realidade

A terceira e uacuteltima pilastra da Transdisciplinaridade eacute a Complexidade que por sua

vez tambeacutem tem trecircs pilares o dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o hologramaacutetico

O princiacutepio dialoacutegico pode ser compreendido atraveacutes da ordem e da desordem [] um suprime a outra mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e produzem organizaccedilatildeo e complexidade O princiacutepio dialoacutegico permite-nos manter a dualidade no seio da unidade Associa dois termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicos (MORIN 1990 p107)

Ainda segundo Morin (1990)

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se fosse verificar empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

Um exemplo seria as invasotildees de terras que causam de certa forma a desordem

(pessoas se aglomerando em pequenos barracos em aacutereas ainda cobertas por floresta ou

em aacutereas de risco onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a produccedilatildeo de

fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que saem atraacutes de

melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

O segundo princiacutepio eacute o da recursatildeo organizacional onde um processo recursivo ldquoeacute

um processo em que os produtos e os efeitos satildeo ao mesmo tempo causas e produtores

daquilo que os produziurdquo (MORIN 1990 p108) Ele utiliza como exemplo o caso da relaccedilatildeo

indiviacuteduo e sociedade pois a sociedade eacute resultado das interaccedilotildees humanas ldquose natildeo

134

houvesse uma sociedade e a sua cultura uma linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos

indiviacuteduos humanos

O terceiro e uacuteltimo principio da complexidade eacute o hologramaacutetico que funciona

como a menor partiacutecula do todo mas conteacutem todas as informaccedilotildees da totalidade do objeto

em outras palavras ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo mas o todo estaacute na parterdquo (MORIN

1990 p108-109)

Apoiado em suas trecircs pilastras o princiacutepio dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o

hologramaacutetico surge a Complexidade que busca a ideia de que a totalidade natildeo eacute a

sobreposiccedilatildeo das partes individuais mas a uniatildeo de todas elas em uma teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas mas termodinacircmicas e conectadas (MORIN 1990 p110)

Para Santos (2013)

A Complexidade eacute a compreensatildeo da realidade atraveacutes do conhecimento em todas as suas injunccedilotildees O conhecimento eacute trabalhado de forma fragmentada guardando cada aacuterea cada disciplina sua autonomia e separabilidade das demais Essa constataccedilatildeo aparente induziu o sujeito a aceitar os fenocircmenos explicados pelo conhecimento cientiacutefico como certeza na compreensatildeo do mundo Entretanto a Transdisciplinaridade nos mostra a complexidade do real da ligaccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade consiste em entender que nada estaacute separado tudo estaacute ligado na natureza fiacutesica humana e social O pensamento complexo eacute aquele que tenta responder ao desafio da complexidade e natildeo o que constata a incapacidade de responder (SANTOS apud MORIN 2013 p5)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Por seu turno na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o

cientista haacute rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os

objetos uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter

multidimensional de qualquer realidade segundo Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo

podemos nunca escapar aacute incerteza () Estamos condenados ao pensamento inseguro a

um pensamento criativo de buracos um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento

absoluto de certezardquo

135

341 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA BELA VISTA

Para a realizaccedilatildeo da segunda etapa da pesquisa que consistia em entrevistar os

chefes de famiacutelia foi elaborado um roteiro de entrevistas a partir das respostas dos

moradores mais antigos (Apecircndice 1)

Foram localizadas as ruas principais da comunidade da Bela Vista e o local exato

onde as mesmas se cruzaram de forma que pudesse ser dividida a comunidade em quatro

quadrantes Dentro de cada quadrante foram entrevistados dez chefes de famiacutelias de

maneira aleatoacuteria de diferentes idades gecircneros e ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de

residecircncia no lugar

O resultado foi 57 homens entrevistados e 43 mulheres com idades variando

entre 14 e 77 anos de naturalidades diversas Rondocircnia Roraima Amazonas (Bela Vista

Itacoatiara Coari Manaquiri Laacutebrea Cruzeiro do Sul Alto Juruaacute)

O Graacutefico 1 ilustra a escolaridade dos entrevistados da Bela Vista

A comunidade da Bela Vista conta atualmente com uma escola de Ensino

Fundamental (Escola Estadual Maacuterio DrsquoAlmeida) que no periacuteodo diurno oferece aulas do (1ordm

ao 9ordm ano) e no periacuteodo noturno oferece aulas para jovens e adultos atraveacutes do Programa

EJA (Ensino de Jovens e Adultos)

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados na Bela Vista

136

Os 30 dos entrevistados que afirmaram ter estudado somente ateacute 4ordm seacuterie atual

quarto anos do Ensino Fundamental sempre residiram na comunidade e os demais 37 da

populaccedilatildeo que tem o Ensino Meacutedio completo juntamente com 3 de entrevistados que natildeo

chegaram a concluir o ensino meacutedio tiveram a oportunidade de residir em outras

localidades a fim de concluir os estudos e retornaram agrave Comunidade da Bela Vista

Os moradores foram inquiridos sobre a escolha de morar na Bela Vista e o que natildeo

os agradava no lugar 62 dos entrevistados afirmaram residir no lugar pela tranquilidade e

17 pela famiacutelia 11 por considerar o clima agradaacutevel 5 trabalho 5 por ser terra firme

e a oportunidade de produzir alimentos durante todo ano Sobre o que natildeo os agradava na

comunidade 37 relataram a falta de emprego 30 falta de seguranccedila 10 por natildeo ter

um hospital 15 falta administraccedilatildeo 8 falta uniatildeo na comunidade

Quando questionados sobre o que viam ao olhar para a Bela Vista o resultado estaacute

contemplado no Graacutefico 2

A maioria da populaccedilatildeo entrevistada (38) classificou a comunidade como

esquecida e desprezada devido agrave falta de infraestrutura que natildeo conta com uma rede de

abastecimento eleacutetrico eficiente com aacutegua potaacutevel haacute pouco tempo e somente apoacutes

perfuraccedilatildeo de dois poccedilos sendo que o primeiro perfurado com 110 m mas em uma anaacutelise

laboratorial feita pelo Serviccedilo Autocircnomo de Aacutegua e Esgoto de Manacapuru- SAAE o poccedilo se

mostrou improacuteprio para o consumo humano Foi realizada outra perfuraccedilatildeo agora com

200m de profundidade contudo apesar dos esforccedilos para a construccedilatildeo de um novo poccedilo o

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista

137

mesmo acabou alcanccedilando uma reserva de manganecircs- Mn (elemento quiacutemico) o que torna a

aacutegua improacutepria para o consumo humano ficando a comunidade dependente do primeiro

poccedilo

Sobre a reserva de manganecircs Sousa (2008) esclarece que a concentraccedilatildeo de

manganecircs no rio Solimotildees varia de 0017mgL na cheia do rio a 0025 mgL no periacuteodo de

vazante dispersa ou concentra em suas margens

Aleacutem da dificuldade de encontrar aacutegua potaacutevel a comunidade tambeacutem sofre de

outros problemas entre eles a falta de saneamento baacutesico (Figura 41) e a destinaccedilatildeo de

resiacuteduos domiciliares em aacutereas de vegetaccedilatildeo ou as queimadas dentro dos siacutetios

Em todas as ruas da Comunidade da Bela Vista eacute possiacutevel visualizar a ausecircncia de

caneletas extremamente necessaacuterias para o escoamento das aacuteguas superficiais que ficam

empoccediladas sobre o asfalto contribuindo para a sua deterioraccedilatildeo Outro fator preocupante eacute

a ausecircncia completa de uma rede de esgoto que geralmente eacute direcionado das casas para as

ruas situaccedilatildeo muito comum nas cidades do interior do Amazonas

Indagados sobre o significado do rio Solimotildees e da Floresta Amazocircnica uma vez que

convivem diariamente com estes elementos naturais 49 dos entrevistados afirmaram que

Figura 41 Rua da Comunidade da Bela Vista

Autor Louzada (2013)

138

o rio eacute importante para a pesca e 36 disseram que o rio eacute a fonte da vida e 13 o

consideram bonito imponente e majestoso e 2 natildeo souberam responder

Sobre essa percepccedilatildeo Tuan (2012) afirma que as imagens que compotildeem a Topofilia

satildeo derivadas da realidade circundante

As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram assombro ou lhes prometem sustento e satisfaccedilatildeo no contexto das finalidades de suas vidas As imagens mudam agrave medida que as pessoas adquirem novos interesses e poder mas continuam a surgir do meio ambiente as facetas do meio ambiente previamente negligenciadas satildeo vistas agora com toda claridade (TUAN 2012 p170)

A afirmaccedilatildeo de Tuan (2012) confirma a percepccedilatildeo dos entrevistados sobre a

Floresta Amazocircnica onde 65 dos moradores afirmaram que a floresta eacute bonita e muito

importante 30 que tem que ser preservada pois estaacute sendo desmatada e 5 afirmaram

ser ela a fonte de alimentos diversos

Para Tuan (2012) as sociedades natildeo tecnoloacutegicas que manteacutem contato constante

com o meio ambiente fiacutesico tendem a perceber a florestal tropical de modo geral como um

mundo proacuteprio protetor e envolvente que provecirc as necessidades materiais e ateacute mesmo

espirituais

Tendo como base os criteacuterios de qualidade de vida apontados por Gonccedilalves e

Vilarta apud Almeida et al (2012) que

[] abordam qualidade de vida pela maneira como as pessoas vivem sentem e compreendem seu cotidiano envolvendo portanto sauacutede educaccedilatildeo transporte moradia trabalho e participaccedilatildeo nas decisotildees que lhes dizem respeito (GONCcedilALVES E VILARTA apud ALMEIDA et al 2012 p18)

Os entrevistados foram indagados sobre qual qualidade de vida moradores da Bela

Vista suas respostas eacute possiacutevel visualizar no Graacutefico 3

139

A maioria dos entrevistados sendo 47 classificou a qualidade de vida dos

moradores em ruim ou difiacutecil devido a pouca oportunidade de renda da populaccedilatildeo que

segundo eles somente satildeo quatro fontes de renda agricultura aposentadoria pequenos

comeacutercios ou bolsas do governo (Bolsa Famiacutelia Bolsa Escola Auxilio Gaacutes Seguro Defeso do

Pescador) Outros entrevistados atribuiacuteram agrave qualidade de vida ruim devido agrave falta de

emprego na regiatildeo porque os jovens natildeo estatildeo dispostos a trabalhar na agricultura

somente os mais idosos

Sobre isso existe uma perspectiva geral de mudanccedila com a abertura da Faacutebrica de

Calcaacuterio que estaacute sendo construiacuteda no ramal da comunidade que promete emprego aos

moradores da Bela Vista gerando uma nova fonte de renda para a comunidade

Questionados se jaacute tinham ouvido falar sobre a construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees 85 dos entrevistados relataram jaacute ter ouvido algo a respeito entre os

comentaacuterios da comunidade e no programa de raacutedio a Voz do Brasil 15 da populaccedilatildeo

relatou natildeo ter conhecimento dessa informaccedilatildeo Perguntados sobre o seu posicionamento

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte os moradores afirmaram 92 que satildeo favor (Graacutefico 4)

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista

140

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas sobre a reabertura da BR-319

os entrevistados responderam conforme destaca o Graacutefico 5

A maioria 45 da populaccedilatildeo mostra-se disposta a participar de audiecircncias puacuteblicas

sobre a reabertura da BR-319 mas somente se chegassem a ser convocados 37 se

mostrou favoraacutevel agrave reabertura da rodovia afirmando que a mesma jaacute foi aberta um dia

sendo necessaacuteria ser novamente asfaltada sinalizada e ter suas pontes refeitas jaacute que

praticamente natildeo existem mais Ainda desse total 5 disseram que natildeo desejariam

participar com destaque para uma colocaccedilatildeo ldquoFilha eu natildeo iria pois natildeo se decide o que jaacute

foi decididordquo (comunicaccedilatildeo pessoal de um entrevistado) Do restante 4 iriam conhecer os

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte sobre o

Rio SolimotildeesAmazonas

141

dois lados (benefiacutecios e malefiacutecios) da obra e 9 dos entrevistados afirmaram natildeo acreditar

na reabertura da BR-319

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo 64 dos entrevistados consideraram o rio perigoso e que o mesmo provocava

medo (Graacutefico 6)

Eacute compreensiacutevel os entrevistados da Bela Vista optarem em sua maioria pelas

estradas porque eles dispotildeem de um ramal de 10km que os conecta a AM-070 e os permite

chegar rapidamente agrave Manacapuru ou ateacute mesmo a capital Manaus Questionados sobre

qual meio de locomoccedilatildeo seria mais seguro O Graacutefico 7 ilustra a preferecircncia pelas estradas

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo

142

A maioria 78 dos entrevistados considera as estradas o meio mais raacutepido e melhor

de se locomover apenas 22 as consideram perigosas

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 37 dos

entrevistados afirmaram nunca terem participado e 34 afirmaram natildeo saber o que eacute jaacute

25 disseram que participariam de uma se fossem convidados o que nunca ocorreu na

comunidade e 4 afirmaram jaacute ter participado de Audiecircncias Puacuteblicas em outras

localidades

342 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI

Assim como ocorreu na Comunidade da Bela Vista a sede do municiacutepio de

Manaquiri tambeacutem foi dividida em quatro quadrantes a partir das ruas principais Joatildeo Diniz

e Francisco Jacob (Figura 42)

Figura 42 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa

Fonte Google Maps Imagens Landsat (2014)

Adaptada Louzada (2014)

143

Foram entrevistados dez chefes de famiacutelia em cada quadrante de maneira aleatoacuteria

de diferentes idades gecircneros ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de residecircncia no lugar

Todavia o roteiro de entrevistas aplicado em Manaquiri sofreu algumas alteraccedilotildees

(Apecircndice 2)

Ao contraacuterio do que ocorreu na Bela Vista onde foram entrevistados (57 homens

e 43 mulheres) em Manaquiri foram entrevistados de maneira aleatoacuteria 55 de mulheres

e 45 de homens com idades variando entre 22 e 83 anos e com naturalidades mais

diversas Colocircmbia Venezuela Brasil (Cearaacute Parnaiacuteba Piauiacute Paraacute Amazonas (Manaus

Iranduba Eirunepeacute Coari Anamatilde Careiro da Vaacuterzea))

Com relaccedilatildeo agrave escolaridade a grande maioria dos entrevistados cerca de 52

tinham o ensino meacutedio completo os demais foram organizados conforme graacutefico 8

Por ser uma sede municipal o Manaquiri conta com escolas tanto estaduais como

municipais o que contribui na formaccedilatildeo de seus moradores todavia as escolas natildeo estatildeo

exclusivamente situadas na sede do municiacutepio como eacute caso do Centro Educacional

Municipal de Tempo Integral ndash CEMTI com capacidade para atender 770 alunos do ensino

fundamental inaugurado em 2010 mas tambeacutem distribuiacutedos na zona rural do mesmo

Os entrevistados foram questionados sobre a escolha de permanecer em

Manaquiri pois os mesmos tecircm facilidade de acesso a outros municiacutepios e ateacute mesmo agrave

capital Manaus o que os agradava no lugar que os fazia permanecer 69 dos moradores

responderam permanecer em Manaquiri pela tranquilidade encontrada laacute 31

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri

144

responderam que permanecem na regiatildeo por laccedilos familiares Indagados sobre o que natildeo os

agradava na cidade de Manaquiri 31 dos entrevistados relatou o sistema de sauacutede do

municiacutepio (Graacutefico 9)

Os entrevistados se mostraram revoltosos com o sistema puacuteblico de sauacutede do

municiacutepio do Manaquiri Um entrevistado relatou a seguinte situaccedilatildeo

Se uma pessoa cair e quebrar a perna no final de semana temos que levar ele correndo para Manaus jaacute pensou ir de voadeira [canoa de alumiacutenio com motor de polpa] nesse riozatildeo de Deus com a perna quebrada eacute horriacutevel porque aqui natildeo tem meacutedico no final de semana soacute de segunda a sexta e ai como a gente ficar te pergunto

Segundo Almeida Filho (1998)

A ldquonova ordem mundialrdquo que se instaura na deacutecada de oitenta inspirada no neoliberalismo provoca uma marcante fragilizaccedilatildeo dos esforccedilos para o enfrentamento coletivo dos problemas de sauacutede Particularmente nos paiacuteses de economia capitalista dependente a opccedilatildeo pelo ldquoestado miacutenimordquo e o corte nos gastos puacuteblicos como resposta agrave chamada ldquocrise fiscal do estadordquo em muito comprometem o acircmbito institucional conhecido como sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p 301)

Para superar esta crise na sauacutede puacuteblica brasileira que jaacute dura quase 35 anos apoacutes

os novos esforccedilos serem direcionados para

[] o desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico do campo mediante importantes contribuiccedilotildees nas aacutereas de Epidemiologia Social Poliacuteticas e Praacuteticas de Sauacutede Planificaccedilatildeo em Sauacutede Epistemologia e Metodologia em Sauacutede [] Contudo mais do que definiccedilotildees formais a sauacutede coletiva requer uma compreensatildeo dos desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo de profissional convencionalmente reconhecido como da sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p310)

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo agrada em Manaquiri

145

A atual situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica em Manaquiri reflete de forma negativa na

administraccedilatildeo puacuteblica de modo geral pois 28 dos entrevistados descrevem como ruim ou

peacutessima devido aos cuidados com a sauacutede publica do municiacutepio

Em menor porcentagem os entrevistados relataram que natildeo os agrada o aumento

da violecircncia dos uacuteltimos anos com 14 dos entrevistados a falta de oportunidade de

entretenimento com 3 das respostas e 7 com a falta de oportunidade de continuar os

estudos Segundo eles satildeo somente duas oportunidades ou migram para a capital Manaus

para cursar uma faculdade ou se forem professores podem se escrever no Plano Nacional

de Formaccedilatildeo de Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica- PARFOR do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo em

parceria com a Universidade Federal do Amazonas - UFAM que envia professores ao

municiacutepio no periacuteodo de recesso escolar (Municipal e Estadual) para ministrarem as

disciplinas da graduaccedilatildeo dos cursos escolhidos permitindo aos professores locais um

diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC

Ao olharem para o municiacutepio de Manaquiri os entrevistados se manifestaram

conforme o graacutefico 10

Cerca de 43 dos entrevistados afirmaram que a cidade de Manaquiri estaacute

crescendo tendo como referecircncia o crescimento demograacutefico apontado no uacuteltimo censo do

IBGE que calculou a populaccedilatildeo da sede municipal de Manaquiri em 7062 mil habitantes

(IBGE 2010)

Todavia os moradores tambeacutem atrelaram o crescimento da cidade ao fato de haacute

pouco tempo ter sido aberta uma agecircncia bancaacuteria na regiatildeo e os investimentos na

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri

146

agricultura familiar o que gerou empregos no municiacutepio e por consequecircncia permitiu um

aumento na renda das famiacutelias

Outros 25 dos entrevistados relatou que Manaquiri eacute um bom lugar para viver

pois quem quiser trabalhar na agricultura tem acesso agrave empreacutestimos para investir na

produccedilatildeo ou em pequenas criaccedilotildees como a silvicultura e a piscicultura

Os entrevistados referem-se ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte ndash

FNO disposto nas leis nordm 78271989 nordm 91261995 e nordm 101772001 (BRASIL 2013)

O FNO Plano de Aplicaccedilatildeo de Recursos para 2013 dispotildeem sobre os programa de

iniciativa do Governo Federal para a Amazocircnia que satildeo executados pelo Banco da

Amazocircnia com destaque para O Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 conhecido como ldquoPlano

Mais Brasilrdquo a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) o Plano Amazocircnia

Sustentaacutevel (PAS) o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) a Poliacutetica Nacional de

Agricultura Familiar a Poliacutetica Nacional de Arranjos Produtivos Locais o Plano Nacional de

Turismo (PNT) o Plano Brasil Maior o Plano Brasil Sem Miseacuteria o Plano Nacional sobre

Mudanccedila do Clima (PNMC) o Programa Mais Cultura a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas as poliacuteticas de desenvolvimento industrial e de incentivo agraves exportaccedilotildees agrave pesca

e aquicultura (BRASIL 2013 p10)

Todos os programas reunidos compotildeem o Plano Nacional de Desenvolvimento da

Amazocircnia ndash PRDA aprovado em 2012 com prazo de vigecircncia ateacute 2015 que tem como

objetivo principal ldquo[] acelerar o crescimento econocircmico da Amazocircnia Legal com

distribuiccedilatildeo de renda e sustentabilidade socioambientalrdquo (BRASIL 2013 p11) atraveacutes de

financiamentos tendo como

[] prioridade os segmentos produtivos de menor porte (minimicro e pequenos empreendedores) com maior ecircnfase a agricultura de base familiar empreendimentos que utilizam mateacuterias primas e matildeo de obras locais e que produzam alimentos baacutesicos para o consumo da populaccedilatildeo e projetos com sustentabilidade socioambiental (BRASIL 2013 p17)

Os entrevistados tambeacutem foram indagados sobre o significado do Rio Solimotildees e a

Floresta Amazocircnica 87 dos moradores relataram que o rio eacute muito importante pois aleacutem

de fornecer o seu principal alimento o peixe o rio banha as terras baixas (as vaacuterzeas) e faz a

nutriccedilatildeo das mesmas para que eles possam plantar no periacuteodo de vazante O rio tambeacutem eacute o

147

principal meio de locomoccedilatildeo entre os ribeirinhos Os demais entrevistados classificaram o

rio Solimotildees como riqueza (5) e como fonte de vida (8)

Para Tuan (2012) as diferentes culturas e sociedades humanas tecircm diferentes

formas de se relacionar com a natureza O autor cita a influecircncia de determinadas paisagens

na maneira de perceber e se relacionar com as mesmas

Natildeo eacute difiacutecil entender a atraccedilatildeo que exercem as orlas marinhas sobre os seres humanos Para comeccedilar sua forma tem dupla atraccedilatildeo por um lado as reentracircncias das praias e dos vales sugerem seguranccedila por outro lado o horizonte aberto para o mar sugere aventura Aleacutem disso o corpo humano que normalmente desfruta apenas do ar e da terra entra em contato com a aacutegua e a areia A floresta envolve o homem em seu recesso fresco e sombrio o homem no deserto estaacute total exposto e sofre escoriaccedilotildees pelo sol brilhante e eacute repelido pela dureza da terra A praia tambeacutem eacute banhada pelo brilho direto e refletido da luz do sol poreacutem a areia sede pressatildeo penetrando entre os dedos dos peacutes e a aacutegua recebe e ampara o corpo (TUAN 2012 p163-164)

Sobre a Floresta Amazocircnica cerca de 90 dos entrevistados relataram que ela eacute

muito importante pois fornece o ar puro para ser respirado por todos e eacute fonte de

alimentos diversos (frutos ervas) e madeira para a construccedilatildeo de casas e canoas sendo

necessaacuterio e muito importante preservarem-na para que seus netos e bisnetos cheguem a

conhecer a magnitude dessa floresta Os 10 de entrevistados restantes descreveram a

floresta como fonte de vida que traz a aacutegua

Perguntados sobre a qualidade de vida dos moradores do Manaquiri os

entrevistados responderam conforme Graacutefico 11

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores do Manaquiri

148

O percentual de 52 dos entrevistados considera regular a qualidade de vida dos

moradores da sede do municiacutepio de Manaquiri uma vez que existem muitas pessoas que

trabalham para a Prefeitura ou na escola e no comercio e outros que vivem da agricultura

ou da pesca mas tambeacutem haacute pessoas que natildeo tecircm trabalho fixo e vivem das bolsas do

governo (Bolsa Escola Bolsa Famiacutelia Auxilio gaacutes entre outras ) essas pessoas passam

muitas necessidades

O percentual 29 dos entrevistados consideraram a qualidade de vida dos

moradores de Manaquiri boa pois tem emprego escola casa proacutepria entre outras

facilidades 19 dos entrevistados relatou a qualidade de vida como ruim pois faltam

meacutedicos e empregos para todos (significado do rio e da floresta)

Perguntados se jaacute ouviram falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o Rio

Solimotildees 92 dos entrevistados afirmaram jaacute ter ouvido algo no raacutedio e atraveacutes dos

deputados do municiacutepio aleacutem de comentaacuterios de outros moradores

Indagados sobre o posicionamento individual com a perspectiva de construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees os entrevistados responderam conforme ilustra o Graacutefico

12

A maioria dos entrevistados cerca de 60 mostrou-se favoraacutevel a construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees 27 dos entrevistados se mostrou receosa com o aumento

da violecircncia caso a ponte seja realmente implantada 5 cautelosos com o

empreendimento por acreditar que o mesmo traraacute coisas ruins para o municiacutepio 8 dos

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo de

ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

149

entrevistados se mostrou contraacuterio agrave construccedilatildeo da ponte pois natildeo acreditam que os

benefiacutecios com a ponte superem seus malefiacutecios principalmente no que se refere a Floresta

Amazocircnica

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas para a reabertura da BR-319 e

qual o posicionamento que adotariam os entrevistados responderam conforme Graacutefico 13

A maioria 75 dos entrevistados afirmaram ser a favor da reabertura da BR-319

14 disseram que somente participariam das audiecircncias puacuteblicas 8 que natildeo participariam

e 3 dos entrevistados optaram por natildeo opinar

O principal argumento utilizado para o posicionamento favoraacutevel agrave reabertura da

BR-319 foi de que seria possiacutevel conhecer outros municiacutepios do estado pela estrada e

chegar agrave outros estados de carro porque natildeo os agradava a possibilidade de viajar de aviatildeo

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo na Amazocircnia 40 dos entrevistados afirmaram preferir o rio (Graacutefico 14)

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319

150

Todavia as respostas dos entrevistados chamam agrave atenccedilatildeo pela seguinte situaccedilatildeo

13 dos entrevistados afirmaram achar o rio melhor como meio de locomoccedilatildeo no periacuteodo

da cheia pois o Paranaacute de Manaquiri como eacute conhecido o braccedilo de rio que passa em frente

agrave cidade do Manaquiri soacute eacute navegaacutevel durante esse periacuteodo cheio (Figura 43) pois no

periacuteodo de vazante o Paranaacute seca ficando em terra batida

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia

Figura 43 Paranaacute de Manaquri

Autora Louzada (2013)

151

O percentual de 30 dos entrevistados prefere a estrada para deslocamento por

consideraacute-la mais segura mesmo no periacuteodo de cheia do rio 13 preferem o rio quando

estaacute cheio 4 afirmaram natildeo gostar das estradas porque demoram e prolongam o tempo

de viagem e 40 preferem o rio

Poucas pessoas tecircm conhecimento de que o municiacutepio do Manaquiri tem uma

rodovia estadual que liga a sede do municiacutepio agrave BR-319 com 43 km aacute AM- 354 (Figura 44)

atualmente se encontra em oacutetimas condiccedilotildees de trafego

No periacuteodo da vazante dos rios e a impossibilidade de pegar barcos no porto da

cidade de Manaquiri para sair de sede os moradores pegam ocircnibus na cidade e seguem

viagem pelos 43 km da AM-354 e posteriormente entram na BR-319 por onde seguem por

mais 91 km ateacute a chegarem ao porto da Gutierrez onde pegam ajatos (embarcaccedilotildees de

alumiacutenio cobertas e com maacutequinas de centro) para seguirem viagem ateacute a capital Manaus

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio do Manaquiri-AM

Autora Louzada (2013)

152

(Figura 45) o percurso ateacute a capital demora em meacutedia trecircs horas e meia quando uma

viagem completa por via fluvial do municiacutepio ateacute a capital Manaus leva em meacutedia duas

horas (variam conforme a potecircncia das maacutequinas de centro)

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 77 os entrevistados

afirmaram nunca ter participado e 23 dos entrevistados afirmaram jaacute ter participado de

uma pelo menos os mesmos relataram que participariam de outras Audiecircncias Puacuteblicas se

fossem convidados

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas

Autora Louzada 2013

153

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR O FUTURO ALTERNATIVA

DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS

O conceito de desenvolvimento do seacuteculo XXI tem como marco principal o papel da

sociedade civil como agente ativo na construccedilatildeo do desenvolvimento e natildeo mais como

meros beneficiaacuterios do desenvolvimento

Diante disso eacute importante compreender o conceito de desenvolvimento do seacuteculo

XX para se conhecer seus reflexos no presente se pensando no futuro

Segundo Martins (2002)

O termo desenvolvimento tem sido associado agrave noccedilatildeo de progresso material e de modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Sua promoccedilatildeo mediante o desrespeito e a desconsideraccedilatildeo das diferentes culturais da existecircncia de outros valores e concepccedilotildees jaacute teria funcionado como ldquoCavalo de Troacuteiardquo que vestido da seduccedilatildeo do progresso teria carregado em seu interior o domiacutenio e a imposiccedilatildeo de culturas que desequilibram e abalam as sociedades (MARTINS 2002 p52)

No Brasil a partir de 1930 apoacutes a grave crise do cafeacute a regiatildeo de Satildeo Paulo

considerada o berccedilo da produccedilatildeo do cafeacute no paiacutes passou pelo primeiro surto de

industrializaccedilatildeo o que veria a ser o ponto de partida para a industrializaccedilatildeo brasileira ldquoque

natildeo se deu pela via evolutiva com base na iniciativa privada como nas naccedilotildees pioneiras

Aqui ela foi induzida e em grande parte realizada pelo Estado rdquo(ESTADO apud Rodrigues

2013 p32)

Sobre isso Brum apud Rodrigues (2013 p32) afirmam que ldquoo modelo de

desenvolvimento adotado no Brasil a partir de 1930 se baseava num Estado Forte poliacutetica

de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees e no nacionalismo poliacuteticordquo

O Estado a partir de 1946 passa a contar com ldquoum imposto sobre combustiacuteveis

liacutequidos visando por via disso o financiamento da construccedilatildeo de estradas este fundo pode

ser visto como o marco institucional da valorizaccedilatildeo da rodovia como modal de transporterdquo

(RODRIGUES 2013 p33)

Para Galvatildeo apud Rodrigues (2013)

154

O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prioritaacuteria de transporte no Brasil teve de esperar ainda ateacute o inicio dos anos de 50 quando da aprovaccedilatildeo de um novo plano nacional de viaccedilatildeo em 1951 Entre as camadas teacutecnicas poreacutem a definitiva opccedilatildeo por esta modalidade de transporte jaacute havia sido feita logo apoacutes o teacutermino da Segunda Guerra Mundial durante os trabalhos de uma comissatildeo do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rondagem) encarregada pelo governo da elaboraccedilatildeo do plano de 1951 (GALVAtildeO apud RODRIGUES 2013 p33)

Rodrigues (2013) vai aleacutem

Somando-se a isto a fundaccedilatildeo da empresa estatal Petrobras em 1954 contribuiu para impulsionar a construccedilatildeo de rodovias no paiacutes jaacute que a produccedilatildeo de petroacuteleo em grande quantidade permitiu um incremento na produccedilatildeo d asfalto visto que o petroacuteleo eacute um componente fundamental para a fabricaccedilatildeo deste (RODRIGUES 2013 p33)

Ainda segundo Rodrigues (2013)

A opccedilatildeo econocircmica feita pelo desenvolvimentismo foi crucial para a questatildeo econocircmica propriamente dita quanto para o desenvolvimento espacial e demograacutefico brasileiro assim os grandes incrementos populacionais sentidos nas regiotildees Norte e Centro Oeste se deram principalmente devido ao iniacutecio da era rodoviaacuteria no paiacutes pois as estradas abarcavam diversos pontos das poliacuteticas governamentais Nesse sentido a intervenccedilatildeo na estrutura de transporte no paiacutes foi crucial assim como a busca de novas fronteiras agriacutecolas na temaacutetica da alimentaccedilatildeo Apesar da enorme concentraccedilatildeo econocircmico-industrial no centro sul paiacutes (BRUM 2009) os uacuteltimos anos da deacutecada de 1950 foram revolucionaacuterios na abertura dessas novas fronteiras internas do paiacutes (RODRIGUES 2013 p38)

Neste periacuteodo as rodovias ultrapassaram o seu objetivo inicial de interligar vias e

cidades para a partir do governo de Juscelino Kubichek (1956 - 1961) a loacutegica se tornar

outra a de penetraccedilatildeo

[] aquelas que visavam adentrar o territoacuterio nacional [] Para o governo a vantagem dessa nova proposta era de que aleacutem de levar ldquocivilizaccedilatildeordquo aos rincotildees do paiacutes as estradas de penetraccedilatildeo ampliavam as fronteiras agriacutecolas (COSTA et al 2001) sendo assim uma poliacutetica de abrangecircncia a no miacutenimo dois setores crucias [] transporte e alimentaccedilatildeo (RODRIGUES 2013 p39)

Novas aacutereas foram alcanccediladas com a construccedilatildeo de rodovias no Centro Oeste e

Norte brasileiro o que se mostraria o marco inicial para consolidaccedilatildeo do modelo

rodoviarista brasileiro

155

Para financiar e executar a construccedilatildeo de estradas no paiacutes foi instituiacutedo o Plano de

Integraccedilatildeo Nacional atraveacutes do decreto-lei n˚1106 de Junho de 1970 que tinha como meta

primeiramente investimentos

I - Na aacuterea do Ministeacuterio dos Transportes a imediata construccedilatildeo das rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem bem com de portos e embarcadouros fluviais com seus respectivos equipamentos

II - Na aacuterea do Ministeacuterio da Agricultura a colonizaccedilatildeo e a reforma agraacuteria mediante a elaboraccedilatildeo a execuccedilatildeo de estudos e a implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e agroindustriais com as competentes desapropriaccedilotildees a seleccedilatildeo o treinamento o transporte e o assentamento de colonos a organizaccedilatildeo de comunidades urbanas e rurais e respectivos serviccedilos

III - Na aacuterea do Ministeacuterio do Interior o aceleramento dos estudos e a implantaccedilatildeo de projetos constantes da primeira fase do Plano de Irrigaccedilatildeo do Nordeste abrangendo obras de retenccedilatildeo desvio canalizaccedilatildeo conduccedilatildeo aspersatildeo e drenagem hidraacuteulica com propriedade para os que ofereccedilam desde jaacute maior beneficio social

IV - Na aacuterea do Ministeacuterio das Minas e Energia o levantamento da topografia da cobertura florestal da geomorfologia para pesquisas minerais e energeacuteticas da natureza do solo da respectiva drenagem e unidade (BRASIL 1970 p31)

Os trecircs primeiros Ministeacuterios (Transporte Agricultura e do Interior) se tornaram

prioridades do I Plano de Integraccedilatildeo Nacional sendo o carro chefe o Ministeacuterio dos

Transportes atraveacutes da construccedilatildeo de rodovias responsaacuteveis por integrar a regiatildeo

Amazocircnica ou restante do paiacutes propiciando a expansatildeo da fronteira econocircmica e

principalmente agriacutecola para a regiatildeo

Sobre isso Reis (1972) apresenta as rodovias construiacutedas em construccedilatildeo e projetas

para a Amazocircnia (Figura 46)

156

Segundo Reis (1972) a inauguraccedilatildeo da rodovia BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) possibilitou

acesso aos espaccedilos ainda pouco ou natildeo cultivados nas planiacutecies uacutemidas amazocircnidas e a

alternativa ideal de utilizar as terras para o cultivo agriacutecola desta forma o projeto de

construccedilatildeo de rodovias foi expandido para toda a regiatildeo Norte do pais

Como aconteceu no restante da Amazocircnia o estado do Amazonas tambeacutem foi

ldquobeneficiadordquo com a construccedilatildeo de estradas em seu territoacuterio a partir de 1950 todavia o

presente este se limitaraacute a expor somente as rodovias federais que chegaram a ser abertas

(Figura 47)

Fonte 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia Fonte Reis (1972)

157

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158

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO

Localizado no sul do estado do Amazonas a BR-317 teve suas obras iniciadas em

1956 segundo o DNIT (2008) ligando o municiacutepio de Laacutebrea no sudoeste do Amazonas

localizado a 610 km em linha reta da capital Manaus ateacute o municiacutepio de Assis Brasil no Acre

na fronteira com o Peru e a Boliacutevia (Figura 48)

Foi construiacuteda com o intuito de escoar a produccedilatildeo madeireira do municiacutepio de

Laacutebrea - AM para os estados do Acre e Rondocircnia

Mantendo-se sem pavimentaccedilatildeo alguma ateacute 2004 quando foi iniciado e executado

o Eixo Rodoviaacuterio de Integraccedilatildeo Peru-Boliacutevia-Brasil como parte do projeto IIRSA (Integraccedilatildeo

da Infraestrutura Regional Sul-Americana) A BR-317 passa a ser chamada de estrada do

Paciacutefico apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Binacional (Figura 49) em agosto de 2006 que teve

Fonte 48 BR-317 ou Carretera Del Paciacutefico Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

159

investimento de R$ 25 milhotildees (parte financiada pelo governo federal e estadual) ligando a

cidade de Assis Brasil no Acre agrave cidade peruana de Inatildepari A ponte tem 240m de extensatildeo

quatro pistas e um vatildeo de 110m livres (BRASIL 2006)

No trecho peruano a Estrada do Paciacutefico recebe o nome de Carretera Del Paciacutefico ou

Iterocecircanica pois liga a fronteira com Brasil ateacute o Oceano Paciacutefico (Figura 50)

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-

pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

160

Atualmente a Estrada do Paciacutefico ou Carretera Del Paciacutefico encontra-se em oacutetimas

condiccedilotildees de traacutefego no trecho peruano o que facilita o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola

tanto do Brasil quanto do Peru em direccedilatildeo ao mercado brasileiro

Segundo Bryan (2013) com a construccedilatildeo da ponte ligando definitivamente o Brasil

e o Peru inicia-se um forte comeacutercio de produtos na fronteira com destaque para a compra

de cebola peruana a ser comercializada em Rio Branco no Acre que chega agrave 100 toneladas

ao mecircs em uma rede de supermercados local

Quase toda a cebola consumida na capital acreana passou a ser peruana E 70 toneladas ficaram em estoque devido agrave entressafra peruana Segundo Adem a cebola peruana eacute melhor que a brasileira e tem custo entre 5 a 10 menor percorre menos espaccedilo e tem menos desperdiacutecio Se comprada no Brasil o desperdiacutecio chega a 20 afirma No comeccedilo soacute tivemos problemas Natildeo foi tatildeo faacutecil por questatildeo de ser uma novidade ter que contratar os agentes aduaneiros que natildeo existiam por aqui ter que lidar com a burocracia e fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal e o Ministeacuterio da Agricultura O que nos fez continuar foi a persistecircncia Foi acreditar que daria certo ( BRYAN 2013 p4)

Outro comerciante destaca a importaccedilatildeo de macarratildeo de oacutetima qualidade do paiacutes

vizinhos Em contrapartida os comerciantes peruanos compram milho castanha da

Amazocircnia e Accedilaiacute do Brasil (BRYAN 2013)

Apesar disso no trecho brasileiro a BR-317 ou a estrada do Paciacutefico encontra-se

pavimentada em toda sua extensatildeo somente no territoacuterio acreano todavia no trecho

compreendido entre a cidade de Boca do Acre-AM e a fronteira com o estado do Acre um

trecho de 11070km natildeo encontrasse pavimentado Poreacutem a falta de pavimentaccedilatildeo nesse

trecho da estrada natildeo impede a accedilatildeo antroacutepica sobre o ecossistema principalmente para a

exploraccedilatildeo madeireira e a criaccedilatildeo de gado nessa regiatildeo

Segundo o IBGE (2010) os rebanhos do municiacutepio de Laacutebrea - AM satildeo estimados em

287591 mil cabeccedilas (Figura 51)

161

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas de gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea - AM Fonte Censo Agriacutecola do municiacutepio de Laacutebrea - AM (IBGE 2010)

Um aumento de 98 se comparado ao Censo Agropecuaacuterio realizado em 2004

quando os rebanhos foram estimados em 6593 mil cabeccedilas de gado segundo o IBGE (2004)

Embora poucos pesquisadores associem o aumento no nuacutemero de cabeccedilas de gado agrave

reduccedilatildeo da cobertura vegetal (Tabela 9) foi exatamente isso que aconteceu segundo

(PRODES 2012)

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea - AM

Ano Quantidade estimada de cabeccedilas de gado (SEPLAN)

Desflorestamento (PRODES)

2004 6593 356 2005 6790 386 2007 7027 436 2008 283620 446 2009 287591 452 2010 287591 458

Fonte SEPLAN 20092012 e PRODES 2012 Organizadora Louzada (2013)

Eacute importante salientar tambeacutem a existecircncia de populaccedilotildees indiacutegenas ao longo

dessa rodovia que seratildeo afetadas com a pavimentaccedilatildeo da mesma pois segundo o DNIT

(2008) a estrada possui 225km de sua extensatildeo inseridos em terras indiacutegenas diacutevidas assim

162

5 km dentro das terras TI Boca do Acre e 175km TI nas terras Apurinatilde Todavia a tribo

Camicuatilde tambeacutem seraacute afetada pois estaacute localizada agrave menos de 2km de distacircncia da estrada

(DNIT 2008)

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute

Apesar da construccedilatildeo da BR-317 na deacutecada de 50 outras estradas somente

voltaram a ser construiacutedas no estado do Amazonas a partir do periacuteodo militar entre elas a

BR-307 que teve suas obras iniciadas somente apoacutes a mudanccedila do 1ordm Batalhatildeo de

Engenharia de Construccedilatildeo - BEC que foi deslocado de Caicoacute no estado do Rio Grande do

Norte para o extremo norte do Amazonas no municiacutepio de Satildeo Gabriel da Cachoeira (1ordm

BEC 2012) onde um ano mais tarde em 11 de Marccedilo de 1974 deu inicio a construccedilatildeo da

BR-307 em direccedilatildeo a localidade de Cucuiacute - AM na triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a

Venezuela (Figura 52) Em janeiro de 1982 o 1ordm BEC retornou a Caicoacute ficando em Satildeo

Gabriel da Cachoeira a 21ordm Companhia de Engenharia de Construccedilatildeo de Satildeo Gabriel da

Cachoeira popularmente conhecido como ldquoBatalhatildeo Seridoacuterdquo onde permanece ateacute os dias

atuais

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

163

Com 204 km entre cidade de Satildeo Gabriel da Cachoeira e a localidade de CucuIacute na

triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a Venezuela a BR-307 tinha como principal funccedilatildeo

proteger a fronteira de possiacuteveis ameaccedilas de invasores Entretanto apesar dos esforccedilos do

1ordm BEC para a abertura da rodovia que por sinal demorou quase dez anos (19741982) a

estrada nunca chegou a ser pavimentada ficando somente em solo batido em toda sua

extensatildeo sendo posteriormente coberta com piccedilarra outro problema jaacute que a regiatildeo onde

estaacute localizada a rodovia deteacutem os mais elevados iacutendices pluviomeacutetricos do estado ficando

praticamente intransitaacutevel durante o periacuteodo chuvoso

Mas os problemas da estrada natildeo se limitam somente agrave ausecircncia de asfalto ou ao

alto iacutendice pluviomeacutetrico da regiatildeo mais ao acuacutemulo de muitos outros como as travessias

em trecircs trechos da estrada que eacute cortada por cursos drsquoaacutegua e a retirada da cobertura

vegetal nas margens entre outros problemas como a grilagem de terras e a retirada ilegal

de madeira

A rodovia BR-307 foi traccedilada teoricamente no sentido nortesul de Cucuiacute na

triacuteplice fronteira em direccedilatildeo ao Estado do Acre natildeo se sabe ao certo sua extensatildeo todavia

segundo o IBGE a mesma se encontra traccedilada (o que natildeo quer dizer trafegaacutevel)

Jaacute entre os municiacutepios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte em um trecho de

27km a BR-307 tambeacutem chegou a ser aberta entre as cidades de Benjamin Constant e

Atalaia do Norte (Figura 53 54)

164

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant e Atalaia do Norte Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Figura 54 BR-307- Asfalto cedendo no 22 km Fonte SECON (2012)

165

Segundo o Plano de Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 1970) a cidade de Benjamin

Constant seria o ponto final da BR-230 (Transamazocircnica) todavia no trecho Laacutebrea ndash

Benjamin Constant a mesma nem sequer chegou a ser desmatada se concluiacuteda atravessaria

dois grandiosos rios Purus e o Juruaacute e outros importantes afluentes do rio Solimotildees Talvez

por essa razatildeo ou pela existecircncia de terras indiacutegenas neste trecho a rodovia nunca a chegou

efetivamente implantada ficando somente no papel

43 BR-230 - TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Agrave FAZENDAS DE GADO

Embora jaacute tenha sido descrita a reconfiguraccedilatildeo espacial no estado do Paraacute com a

construccedilatildeo da BR-230 a Transamazocircnica cabe aqui descrever a sua influecircncia no estado do

Amazonas

A rodovia Transamazocircnica corta o sul do estado do Amazonas nos municiacutepios de

Maueacutes Apuiacute Novo Aripuanatilde Manicoreacute Humaitaacute Canutama Laacutebrea (Figura 55)

166

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167

Da divisa do estado do Amazonas com o estado do Paraacute a rodovia chegou aacute ser

implantada (entende-se aqui retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem) ateacute a cidade

de Laacutebrea

Assim como ocorreu no Paraacute a rodovia Transamazocircnica tambeacutem permitiu acesso a

lugares pouco ocupados no estado do Amazonas com destaque para os municiacutepios de Apuiacute

a Laacutebrea

O atual municiacutepio de Apuiacute foi um dos primeiros municiacutepios amazonenses a partir da

segunda metade do seacuteculo XX a sofrer pressatildeo ambiental atraveacutes do desmatamento e da

grilagem de terras para a fixaccedilatildeo de novos moradores na regiatildeo oriundos de outros estados

brasileiros

Outro municiacutepio a sentir os primeiros impactos do desmatamento na regiatildeo foi o

municiacutepio de Humaitaacute no sul do Estado do Amazonas pois para efetivar o

ldquodesenvolvimentordquo da regiatildeo sudoeste do Amazonas o Governo Federal fundou o Projeto

de Assentamento Rio Juma atraveacutes do decreto lei nordm 238 de agosto de 1982 tendo como

objetivo principal assentar 7500 famiacutelias recrutadas principalmente da Regiatildeo Sul do Brasil

(LEAL 2010)

Sobre isso Soares apud Leal (2010) afirma que

[] o objetivo definido no projeto de implantaccedilatildeo [do Projeto de Assentamento Rio Juma] era constituir-se e alternativa para absorver o fluxo migratoacuterio proveniente de Rondocircnia e do Acre atraveacutes da BR-319 [] onde se liga agrave rodovia Transamazocircnica Esse Projeto serviria como lsquoinstrumento de ordenaccedilatildeo de ocupaccedilatildeo de terras do Amazonas evitando instruccedilotildees e posses desordenadasrsquo E pressupunha lsquoa expansatildeo da fronteira agriacutecola a criaccedilatildeo de novos empregos aleacutem e contribuir para auto suficiecircncia regional de gecircneros alimentiacutecios de primeira necessidadersquo (SOARES apud LEAL 2010 p10)

Ainda segundo Leal (2010)

Estima-se que logo nos primeiros anos do Projeto cerca de 2600 famiacutelias tenham sido assentadas das quais apenas 40 permaneceram no assentamento Da criaccedilatildeo do projeto em 1982 ateacute o ano de 2005 estima-se que foram assentados 61334 famiacutelias no total mas destas apenas 503 receberam o tiacutetulo definitivo da terra (MDAINCRA apud LEAL 2010 p11)

Durante os anos que se seguiram novos migraccedilotildees chegaram anualmente agrave regiatildeo se

fixando no entorno do Projeto de Assentamento Rio Juma com os anos que se seguiram e o

crescimento da populaccedilatildeo os problemas foram sendo agravados diante disso surgiram

movimentos espontacircneos de agricultores reivindicando junto ao Governo do Estado do

168

Amazonas a fundaccedilatildeo de um municiacutepio na regiatildeo E atraveacutes da lei nordm 1826 de 30 de

Dezembro de 1987 eacute criado o municiacutepio de Apuiacute com aacuterea de 54240 kmsup2 (LEAL 2010)

Aacute medida que os ldquoparceleirosrdquo iam transformando a natureza adequando-a aos seus propoacutesitos esta ia lhes impondo adequaccedilotildees Este era um processo e produccedilatildeo de conhecimento a partir da vivecircncia praacutetica cotidiana que ia moldando o comportamento dos agricultores aos limites impostos pelo meio Uma das primeiras descobertas que vinha acompanhada de certa decepccedilatildeo era o fato de que em um lote de 100 hectares no [Projeto de Assentamento Rio Juma] natildeo garantia da forma desejada pelos ldquoparceleirosrdquo a reproduccedilatildeo social e econocircmica da famiacutelia (LEAL 2010 p 13)

Desta forma os parceleiros ou posseiros como ficaram conhecidos este

agricultores na regiatildeo Amazocircnica se viram obrigados a buscar nova fonte de renda optando

em grande maioria pela pecuaacuteria desde entatildeo

Outro municiacutepio foi Laacutebrea que segundo Heck et al (2013 p10) eacute resultado do

ldquoprocesso de expansatildeo da economia da borracha no rio Purusrdquo Embora isso tenha levado

um raacutepido crescimento populacional agrave regiatildeo fruto das incontaacuteveis migraccedilotildees que a regiatildeo

recebeu com a queda da borracha e os seringueiros restantes migrando para as cidades o

municiacutepio passa a enfrentar graves problemas econocircmicos e sociais e para piorar na

segunda metade do seacuteculo XX passa a sofrer com epidemias o que veio a intensificar os

processos de migraccedilatildeo em direccedilatildeo agraves cidades ldquoPor conta disso enquanto o censo de 1950

apontava [] uma populaccedilatildeo era de 23353 habitantes e no censo de 1970 a populaccedilatildeo

despencou para 16798 habitantesrdquo (HECK et al 2013 p10)

Com o inicio das obras de construccedilatildeo da rodovia Transamazocircnica (1972) e a

veiculaccedilatildeo no raacutedio de terras disponiacuteveis na Amazocircnia para homens sem terras surgem

novamente intensas migraccedilotildees para a regiatildeo oriundas de todas as partes do Brasil por esta

razatildeo o censo demograacutefico do municiacutepio de Laacutebrea de 1980 contabilizou a populaccedilatildeo em

22026 habitantes (IBGE 1980) um aumento de 12 da populaccedilatildeo que continuou a crescer

nas deacutecadas seguintes como mostra a (Tabela 10)

169

Tabela 10 Crescimento Populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas

Ano Populaccedilatildeo de aumento da Populaccedilatildeo

1970 16798 -

1980 22026 12

1990 33050 17

2000 28956 6

2010 37701 11

Fonte IBGE - Censo Demograacutefico (1970 1980 1990 2000 2010)

Tamanho contingente populacional migrou para a regiatildeo desta vez natildeo para

trabalhar na retirada do laacutetex mas para cultivar as terras com destaque para a produccedilatildeo de

alimentos divididos em dois grupos segundo a SEPLAN (20092012 p5) ldquo[] as culturas

temporaacuterias destacam-se mandioca abacaxi arroz batata doce cana de accediluacutecar feijatildeo

fumo e milho Entre as culturas permanentes ressaltam-se banana laranja e limatildeordquo

Todavia o municiacutepio tambeacutem se destaca na pecuaacuteria com a criaccedilatildeo bovina

bubalina ovino suiacuteno estimada em 288793 mil cabeccedilas (SEPLAM 20092013)

Apesar disso os 212 km que separam Laacutebrea de Humaitaacute ainda se encontram

somente em terra ldquobatidardquo (Figura 56) assim como todo o seu percurso no estado do

Amazonas Torna-se praticamente impossiacutevel trafegar pela Transamazocircnica no inverno e

escoar a produccedilatildeo agriacutecola dos municiacutepios entre se ou para a capital mais proacutexima que no

caso de Humaitaacute eacute Porto Velho-RO (pela BR-319) ou no caso de Laacutebrea para Rio Branco-AC

(pela BR-317)

170

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica Fonte Rey (1 de Marccedilo 2012)

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute- RR) DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI

A BR-174 foi construiacuteda com o objetivo de ligar a capital do Estado do Amazonas

Manaus a cidade de Cacaraiacute em Roraima e posteriormente a Venezuela (Figura 57)

171

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174 Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Entre as estradas jaacute construiacutedas no Estado do Amazonas a BR-174 merece

destaque pois ao contraacuterio das demais a sua construccedilatildeo resultou em milhares de mortes

chegando ateacute mesmo a ser considerada um genociacutedio praticado por militares contra a

populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari que antes da construccedilatildeo da rodovia ocupavam o norte

da cidade de Manaus - AM e se entendiam ateacute a cidade de Caracaraiacute em Roraima

Segundo Amazonas (2012) a primeira contagem da populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri

Atroari feita em 1905 pelos pesquisadores alematildees Georg Hunbner e Theodor Koch-

Grunberg contabilizaram 6000 mil indiviacuteduos Outra contagem dessa populaccedilatildeo somente

voltou a ser feita 63 anos depois da primeira em 1968 pelo padre Joatildeo Calleri a serviccedilo da

FUNAI que os contabilizou em 3000 mil indiviacuteduos

Nuacutemero que se repetiu em pesquisa mais minuciosa de funcionaacuterios do mesmo

oacutergatildeo em 1972 Menos de dois anos apoacutes sem notiacutecias sobre alguma grave

epidemia a FUNAI jaacute os estimava em menos de 1000 Em 1983 o pesquisador da

UNB Stephen Grant Baines percorrendo todas as aldeias contabilizou apenas 332

pessoas sobreviventes dos quais 216 eram crianccedilas ou jovens com menos de 20

anos Foi o primeiro censo dos Waimiri-Atroari (AMAZONAS 2012)

172

Sem informaccedilotildees ou notiacutecias de epidemias ou graves doenccedilas entre a populaccedilatildeo

indiacutegena Waimiri-Atroari como explicar o decreacutescimo da populaccedilatildeo ao longo de sessenta e

trecircs anos entre a primeira contagem e a segunda da populaccedilatildeo indiacutegena demonstrada na

Tabela 11

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari de 1905 a 2011

Ano Populaccedilatildeo Fonte 1905 6000 HUumlBNER Georg e KOCH-GRUNBERG Theodor 1968 3000 CALLERI Joatildeo Giovanni (Pe) ndash FUNAI 1972 3000 FUNAI 1974 6001000 COSTA Gilberto Pinto Figueiredo ndash FUNAI 1982 571 CRAVEIRO Giusepe ndash FUNAI 1983 350 FUNAI 1983 332 BAINES Stephen Grant ndash Museu Emilio Goeldi 1987 420 SILVA Marcio ndash UNICAMP 1991 505 Programa Waimiri-Atroari - ELETRONORTE 2011 1515 Programa Waimiri-Atroari ndash ELETROBRAS

Sobre isso Carvalho (1982) destaca atraveacutes de uma retrospectiva histoacuterica o

contato dos brancos com os iacutendios Wamiri Atroari a partir do seacuteculo XVII sempre baseado

em trocas e ldquoconflitosrdquo quando homens brancos invadiam suas terras e incendiavam aldeias

inteiras matando todos os iacutendios sem distinccedilatildeo e atirando nos que tentavam escapar

Carvalho (1982) relata ainda que na primeira deacutecada do seacuteculo XX incontaacuteveis

expediccedilotildees penetraram as terras indiacutegenas Waimiri Atroari em busca das castanheiras pois

naquele periacuteodo seu fruto a castanha da Amazocircnia alcanccedilou preccedilos inimaginaacuteveis

motivando um grande segmento da sociedade civil agrave invadir as terras indiacutegenas em busca do

fruto

Os governos do Estado do Amazonas sempre visando a economia do estado e de

grupos poliacuteticos dominantes permitiam e ate mesmo determinavam a invasatildeo das

terras dos iacutendios Waimiri Atroari provocando assim seacuterios atritos entre os

coletores de castanha e iacutendios

O primeiro encarregado do Posto lndiacutegena de Atraccedilatildeo do Serviccedilo de Proteccedilatildeo aos

Iacutendios mdash SPI foi o Sr Gregoacuterio Horta cuja unidade administrativa foi instalada no

rio Jauaperi no lugar denominado Mahaua Sr Gregoacuterio tatildeo logo assumiu suas

funccedilotildees procurou impedir por todos os meios possiacuteveis a invasatildeo do territoacuterio

indiacutegena Waimiri Atroari Entretanto pouco pode fazer pois os comerciantes

apoiados pelos poliacuteticos de Manaus burlavam as ordens de natildeo o invadirem a terra

dos iacutendios (CARVALHO 1982 p17)

Fonte 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio do Povo Waimiri-Atroari

173

Mesmo com a tentativa de proibir as invasotildees das terras indiacutegenas de todas as

maneiras possiacuteveis a Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio- SPI pouco se conseguiu para minimizar

os conflitos que por sua vez tornaram-se frequentes com grande nuacutemero de mortes o que

levou o governo do estado do Amazonas a aprovar o Decreto Lei nordm 9941 de 16 de Outubro

de 1917 que concedia aos iacutendios Waimiri Atroari as terras situadas a 50km ajusante dos rios

Jauapari e Camanau (CARVALHO 1982) Expulsando os iacutendios para o norte e os tirando de

suas proacuteprias terras para destinaacute-las agrave exploraccedilatildeo de castanha O que a princiacutepio seriam

ldquobomrdquo para os dois lados pois minimizaria os confrontos tornou-se insuficiente pois as

invasotildees continuaram adentrando as terras indiacutegenas gerando novos confrontos cada vez

mais violentos e com mais mortes Apesar disso a coleta da castanha da Amazocircnia somente

aumentava a produccedilatildeo a cada ano levando os coletores a iniciarem verdadeiras caccediladas

aos iacutendios que consistia em atirar para matar todos os iacutendios que fossem vistos na floresta

de formar a manter seguro os coletores (CARVALHO 1982)

Com os conflitos fora de qualquer forma de controle e o assassinato do diretor do

Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio sr Luiacutes Joseacute pelos invasores das terras indiacutegenas o SPI foi

obrigado a se retirar das terras indiacutegenas deixando os iacutendios a mercecirc da proacutepria sorte para

onde soacute retornariam na deacutecada de 1940 (CARVALHO 1982)

Amedrontados com os massacres infringidos por homens brancos dentro de suas

proacuteprias terras durante quase cinquentas anos os iacutendios mataram o tenente americano

Walter Willianson e sargento Baitz do ldquo4th Photo Charting Squadronrdquo em 1944

[]que pretendiam realizar uma expediccedilatildeo pelos rios Jauaperi e Alalau ateacute as

proximidades da cachoeira conhecida como a cachoeira criminosa (Rio Alalau) com a finalidade de realizar naquela regiatildeo observaccedilotildees astronocircmicas atendendo acordos celebrados entre o governo brasileiro e governo dos Estados Unidos da America (CARVALHO 1982 p 21)

Apoacutes este confronto com mortes muitos outros se seguiram contudo natildeo tatildeo

divulgados como esse Embora agrave primeira vista nada tenha a ver com o ocorrido a Empresa

de Mineraccedilatildeo Taboca iniciou suas pesquisas mineraloacutegicas na mina de Pitinga (no centro

das terras indiacutegenas) no inicio de 1960 onde mais tarde comeccedilou a retirada de estanho

(SILVA 2011) posteriormente de cassiterita entre outros produtos minerais

No mesmo periacuteodo iniciou-se a preocupaccedilatildeo de ligar definitivamente a capital

Manaus-AM agrave cidade de Boa Vista-RR ateacute entatildeo isolada embora outras tentativas de ligar

174

as duas cidades por via terrestre jaacute tenham sido realizadas sem muito ecircxito como descreve

Carvalho (1982)

Os trabalhos de construccedilatildeo da estrada (ligando Manaus a Boa Vista) foram iniciados em 31 de novembro de 1893 e concluiacutedos em 13 de janeiro de 1895 A construccedilatildeo da estrada foi feita em 14 meses medindo 815 km e 419 metros Foram cravados em toda sua extensatildeo 816 marcos de um metro de altura A estrada tinha uma largura que variava de 05 a 08 metros Atravessava 9 rios e 734 igarapeacutes Natildeo se tem nenhum registro de incidentes graves envolvendo trabalhadores da estrada e os iacutendios habitantes na regiatildeo onde a estrada passou Entretanto em pouco tempo a vegetaccedilatildeo cresceu e a estrada ficou novamente intransitaacutevel (CARVALHO 1982 p 61)

Ainda segundo Carvalho (1982)

O ministeacuterio do transporte atraveacutes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens- DNER antes do iniacutecio da construccedilatildeo da estrada propriamente dita preocupado apenas em evitar que os trabalhos da estrada viessem a ser interrompidos pelos iacutendios Waimiri Atroari procurou a Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio- FUNAI e praticamente exigiu que aquele oacutergatildeo fizesse o mais raacutepido possiacutevel a ldquopacificaccedilatildeordquo daqueles iacutendios no menor espaccedilo de tempo para quando os trabalhadores da construccedilatildeo da rodovia atingissem a regiatildeo ocupada pelos iacutendios esses jaacute estivessem ldquomansosrdquo e ateacute viessem a colaborar como matildeo de obra da construccedilatildeo da estrada (CARVALHO 1982 p 62)

O que claramente seria impossiacutevel conseguir em tatildeo curto espaccedilo de tempo apagar

as longas deacutecadas de perseguiccedilatildeo infringidas pelos brancos

Segundo Amazonas (2012 p23)

O Coronel Mauro Carijoacute Diretor do DERAM (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Amazonas) em carta agrave PETROBRASEscritoacuterio de Beleacutem de 30 de julho de 1967 solicitou ldquoinformaccedilatildeo sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboraccedilatildeo de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonasrdquo(AMAZONAS 2012 p23)

Naquele mesmo ano iniciam-se as obras de construccedilatildeo da BR-174 sob

responsabilidade do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado do Amazonas-DER-

AM permanecendo sob supervisatildeo do Departamento Nacional de Estrada de Rodagens ndash

DNER (CARVALHO 1982)

Por falta de recursos financeiros a construccedilatildeo da rodovia foi suspensa

temporariamente sendo retomada no final de 1969 e inicio de 1970 jaacute sobe

responsabilidade do 29ordm Grupamento de Engenharia e Construccedilatildeo e o 69ordm Batalhatildeo de

Construccedilatildeo do Exeacutercito Brasileiro o que veio a intensificar ainda mais os ldquoconflitosrdquo entre

brancos e iacutendios

175

Amazonas (2012) relata a entrevista do general Arruda comandante do 6ordm Batalhatildeo

de Engenharia e Construccedilatildeo- BEC ao Jornal Estado de Satildeo Paulo em 21 de Janeiro de 1975

O general declarou

[] a estrada eacute irreversiacutevel como eacute a integraccedilatildeo da Amazocircnia ao paiacutes A estrada eacute importante e teraacute que ser construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos mudar o seu traccedilado que seria oneroso para o Batalhatildeo apenas para pacificarmos primeiro os iacutendios A transferecircncia eacute viaacutevel e coerente nas condiccedilotildees em que os fatos se apresentam Os iacutendios continuaratildeo matando sejam trabalhadores do BEC sejam da Funai Por que natildeo levaacute-los ao Parque Nacional do Xingu Laacute natildeo existem cerca de 14 tribos vivendo pacificamente Manaus-Caracaraiacute seraacute construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos parar os trabalhos apenas para que a Funai complete a atraccedilatildeo dos iacutendiosrdquo (AMAZONAS 2012 p42)

Um ano antes em 1974 os iacutendios jaacute foram contabilizados entre 600 e 1000

indiviacuteduos segundo a contagem de Gilberto Costa funcionaacuterio da FUNAI (AMAZONAS 2012)

O principal impacto natildeo soacute aos iacutendios mas agrave biodiversidade da Amazocircnia ainda

estava por vir Expulsos de suas terras ajusante do Rio Alalauacute e Uatumatilde os iacutendios Waimiri

Atroari se viram obrigados a recuar abandonando o seu territoacuterio original Com o recuo dos

iacutendios remanescentes em sua maioria mulheres idosas e crianccedilas de colo seu antigo

territoacuterio passa a ser ocupado por grileiros e empresas madeireiras que viriam a ser um dos

responsaacuteveis pelas grandes mudanccedilas empreendidas na paisagem amazocircnica

Com a decisatildeo do Governo Federal de instalar usinas hidreleacutetricas na Amazocircnia a

partir da deacutecada de 1970 cogitou-se a possibilidade de o rio Uatumatilde ser ldquobeneficiadordquo

embora natildeo detenha as caracteriacutesticas miacutenimas necessaacuterias para a construccedilatildeo de uma

hidreleacutetrica em seu percurso Natildeo se sabe ao certo os motivos que levaram agrave construccedilatildeo da

hidreleacutetrica embora infinitas possibilidades tenham sido levantadas no periacuteodo Entre elas

ldquo[] a necessidade de prover energia para os entatildeo Polos de Desenvolvimento que

priorizava 15 aacutereas na Amazocircnia sendo uma delas a regiatildeo de Manausrdquo (PAZ 2006 p172)

Sobre isto Fearnside (1990c) destaca

A decisatildeo foi tomada no momento em que o preccedilo do petroacuteleo estava no seu pico mais alto e quando a tecnologia de transmissatildeo de energia a longa distacircncia natildeo era tatildeo bem desenvolvida quanto agora Estes fatos acrescidos das subestimativas grosseiras do crescimento da populaccedilatildeo e da demanda de energia em Manaus satildeo as explicaccedilotildees oficiais para a decisatildeo inicial que a ELETRONORTE admite natildeo teria sido justificaacutevel se os acontecimentos da uacuteltima deacutecada (80) tivessem sido conhecidos de antematildeo (FEARNSIDE apud LOPES 1990c p14)

176

Fearnside (1990c) afirma ainda que outra motivaccedilatildeo por traacutes da construccedilatildeo de

ldquoBalbina envolve a indenizaccedilatildeo que os donos das terras receberiam Mapas da Eletronorte

indicam que com exceccedilatildeo das terras tomadas da tribo Waimiri Atroari quase toda a aacuterea do

projeto pertence a particularesrdquo (FEARNSIDE 1990c p16)

No inicio da deacutecada 70 diversos projetos de mapeamento geomorfoloacutegicos viriam a

detectar potencial mineraloacutegico na regiatildeo com destaque para o Projeto RADAMBRASIL

(1970) pioneiro no mapeamento em escala de 11000000 Projeto Norte da Amazocircnia

Domiacutenio do Baixo Rio Negro (1974) O projeto Estanho de Abonari (1976) seria o primeiro a

direcionar os estudos agrave regiatildeo e por uacuteltimo Projeto Sulfetos do Uatumatilde (1979) (CPRM 1998)

desvendaria todos os tipos de mineacuterios disponiacuteveis na bacia do rio Uatumatilde e seus afluentes

o que determinaria o futuro da regiatildeo Motivo popularmente mais aceito para a construccedilatildeo

da hidreleacutetrica de Balbina pois facilitaria a extraccedilatildeo de mineacuterios da aacuterea especialmente a

cassiterita (estanho) (FEARNSIDE 1990c p15)

Apesar de estudos ambientais para a construccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Ballbina terem

sido iniciados em 1979 natildeo serviam de base para a decisatildeo jaacute tomada da implantaccedilatildeo da

obra apesar dos estudiosos se mostrarem abertamente contra a obra faraocircnica (PAZ 2006)

Com o Decreto Presidencial nordm 85898 de 13 de abril de 1981 desapropriando uma

aacuterea de 1034490kmsup2 tem inicio a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de Balbina (PAZ 2006

p176)

Com o inicio do Projeto Pitinga (do Grupo Paranapanema a montante da Usina

Hidreleacutetrica de Balbina para a retirada de cassiterita) em 1980 iniciam-se tambeacutem as

pressotildees sobre o Ministeacuterio do Interior de forma a conseguir a reduccedilatildeo novamente da

Reserva Indiacutegena alcanccedilada pelo Decreto Lei nordm 86630 de 23 de novembro de 1981 que

perde 526800ha (PAZ 2006 p178) para a exploraccedilatildeo mineral da Mineradora Taboca

(Grupo Paranapanema)

Segundo Fearnside (1990c)

Devido aos impactos sobre os Waimiri-Atroari impliacutecito nos planos para Balbina a Franccedila e o Brasil foram acusados de genociacutedio no Quarto Tribunal Bertrand Russel em Rotterdam na Holanda em novembro de 1980 Severos como os impactos do reservatoacuterio a sua classificaccedilatildeo como ldquogenociacutediordquo foi provavelmente influenciada mais pelos massacres associados aacute atividades (brasileiras) de construccedilatildeo rodoviaacuteria no territoacuterio da tribo durante a eacutepoca em que Balbina estava em fase de planejamento em especial em 1974 - 1975 (FEARNISIDE 1990c p33)

177

Foi agrave Franccedila o primeiro paiacutes a contribuir com financiamento para construccedilatildeo da

Hidreleacutetrica de Balbina e o fornecimento de suas duas primeiras turbinas Apesar da

descoberta do ouro na aacuterea que seria inundada pouco foi feito para frear a sua construccedilatildeo

pois segundo o ldquoDepartamento de Produccedilatildeo Mineral natildeo foi encontrada nenhuma grande

jazidardquo (FEARNSIDE 1990c p16)

Sobre a aacuterea a ser inunda pela Usina Hidreleacutetrica de Balbina Baines (2012) descreve

que haacute poucos meses antes da inundaccedilatildeo e do fechamento das comportas da empresa foi

feito um relatoacuterio de impacto ambiental destacando as aacutereas e as benfeitorias que existiam

nas terras casas galinheiros casas de farinha plantaccedilotildees de bananeiras entre outras

culturas (BAINES 2012) que seriam inundadas dentro da reserva indiacutegena original quando

as comportas fossem fechadas em outubro de 1987

Com o fechamento das comportas prestes a acontecer a Eletronorte e a Funai

entraram em acordo atraveacutes da adoccedilatildeo de medidas mitigadoras que consistiam em criar

um programa chamado Programa Waimiri Atroari PWAIFE que tivesse como objetivos

recompensar os iacutendios da etnia Waimiri Atroari pela perda de suas terras (PAZ 2006)

Sobre isso Baines (1993) destaca que o programa Programa-Waimiri conseguiria

significativos benefiacutecios agrave populaccedilatildeo indiacutegena principalmente na aacuterea da sauacutede e na

homologaccedilatildeo de terras

Ainda sobre a inundaccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Balbina Fearnside (1990c) aponta

A perda da floresta eacute um dos principais custos de grandes represas como Balbina A aacuterea prejudicada eacute muito maior que os 2360kmsup2 realmente inundados jaacute que a inclusatildeo de ilhas aproximadamente duplica a aacuterea afetada Apesar da promoccedilatildeo pela ELETRONORTE das ilhas como tendo ldquocondiccedilotildees de vida para animais e plantas [] sabe-se que uma floresta dividida em pequenos fragmentos perde muitas espeacutecies de animais e plantas aacute medida em que os pedaccedilos isolados de floresta se degradamrdquo (FEARNSIDE apud LOVEJOY et al 1990c p26)

Fearnside (1990c) vai aleacutem ao afirmar que natildeo se sabe ao certo o tamanho da aacuterea

que foi inundada devido agraves informaccedilotildees serem baseadas em fotografias aeacutereas onde as

fotos registram o niacutevel da copa das aacutervores e natildeo o chatildeo por debaixo delas ldquojaacute que uma

parte significativa da represa teraacute apenas um ou dois metros de profundidade erros desta

grandeza podem facilmente alterar o resultado finalrdquo (FEARNSIDE 1990c p26)

Inaugurada parcialmente em outubro de 1987 a Usina Hidreleacutetrica de Balbina teve

somente uma turbina ligada o que natildeo impediu que houvesse mortandade de peixes em

178

grande quantidade ajusante da mesma principalmente provocada pela aacutegua carregada de

gaacutes metano e resiacuteduos em decomposiccedilatildeo das aacutervores natildeo retiradas de dentro da barragem

Sobre isso Fearnside (1990c) relata ainda que foram submersos 288msup3 de

madeira nobre por hectare um total calculado em 68 milhotildees de msup3 de madeira na aacuterea de

2360kmsup2 do reservatoacuterio ficaram apodrecendo na aacutegua

Baldisseri (2005) vai aleacutem comparando o tamanho do reservatoacuterio de Balbina ao de

reservatoacuterio da Usina Hidreleacutetrica de Tucuruiacute

[] cuja capacidade nominal eacute de 8 mil MW o que significa que Balbina sacrificou 31 vezes mais floresta por MW de capacidade de geraccedilatildeo instalada quando comparada agravequele Aleacutem disso o reservatoacuterio de Balbina alagou cerca de 240 mil ha de floresta tropical contendo siacutetios arqueoloacutegicos e parte da reserva indiacutegena dos Waimiri-Atroari (BALDISSERI 2005 p1435)

Ainda continua destacando a pouca declividade do lago de Balbina que ocupa uma

aacuterea de 2360kmsup2 mas

[]apresenta uma profundidade meacutedia de 7 m chegando a menos de 4 m em cerca de 33 de sua aacuterea total Nesta extensa aacuterea de aacuteguas rasas haacute a sustentaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo aquaacutetica enraizada no fundo que adicionada ao problema de macroacutefitas flutuantes afeta toda a represa aumentando os iacutendices de perda de aacutegua por evapotranspiraccedilatildeo (BALDISSERI 2005 p1436)

Apoacutes a sua inauguraccedilatildeo outros problemas se seguiram entre eles a lenta subida das

aacuteguas dentro da barragem em parte por causa da pouca declividade do terreno em parte

pela evapotranspiraccedilatildeo Sendo a segunda turbina ligada somente dois anos depois da

inauguraccedilatildeo em 1989

No mesmo ano a populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atrori teve suas terras demarcadas

definitivamente (FIGURA 58)

179

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180

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO

A rodovia BR-319 foi instituiacuteda pelo Decreto Lei nordm 1106 de marccedilo de 1970 como

parte do Plano Nacional de Viaccedilatildeo que tinha como prioridade maacutexima a integraccedilatildeo

nacional

A BR-319 ligaria por via terrestre as cidades de Manaus-AM a Porto Velho-RO

facilitando assim o escoamento da produccedilatildeo da Zona Franca de Manaus ndash ZFM criada pelo

Decreto Lei nordm 288 de 29 de Fevereiro de 1967 que estabelecia incentivos fiscais por trinta

anos para a implantaccedilatildeo de um polo industrial comercial e agropecuaacuterio no estado do

Amazonas (SUFRAMA 1996)

No mesmo ano de 1967 por meio do Decreto-Lei nordm 291 o Governo Federal define a Amazocircnia Ocidental tal como ela eacute conhecida abrangendo os Estados do

Amazonas Acre Rondocircnia e Roraima A medida visava promover a ocupaccedilatildeo dessa regiatildeo e elevar o niacutevel de seguranccedila para manutenccedilatildeo da sua integridade Um ano

depois em 15 de agosto de 1968 por meio do Decreto-Lei Nordm 35668 o Governo Federal estendeu parte dos benefiacutecios do modelo ZFM a toda a Amazocircnia

Ocidental (SUFRAMA 1996)

Desse modo se fazia extremamente importante interligar o estado do Amazonas e

promover a sua ocupaccedilatildeo nada melhor do que ligaacute-lo por via terrestre ao estado de

Rondocircnia que por sua vez sofria uma grande explosatildeo populacional causada pela

ldquoimplantaccedilatildeo da rodovia Cuiabaacute ndash Porto Velho (BR-364) com traacutefego permanente a partir de

1968 e as notiacutecias das disponibilidade de terras provocaram uma mudanccedila niacutetida no fluxo

migratoacuteriordquo (CUNHA 2009 p12)

Com a publicaccedilatildeo do Decreto Lei de nordm 5173 de outubro de 1966 no qual o

governo federal considerava indispensaacutevel a seguranccedila e ao desenvolvimento nacional as

terras situadas na faixa de 100km de largura em cada lado do eixo rodoviaacuterio construiacutedo ou

planejado na Amazocircnia Legal deveriam ser ocupadas (revogado pelo Decreto Lei nordm 2375

de 1987) (FEARNSIDE 2009d)

Sobre o fluxo migratoacuterio Cunha (2009) destaca

No cocircmputo geral os maiores contingentes migratoacuterio no dececircnio 196070 procedeu do Amazonas do proacuteprio territoacuterio do Mato Grosso do Acre e do Paranaacute Os deslocamentos dentro do territoacuterio se devem a procura de aacutereas de solos melhores e mais bem servidas de transportes com preferecircncia para as situadas ao longo da BR-364 Segundo os dados censitaacuterios a entrada de migrantes

181

no periacuteodo 195060 foi considerada de 23156 O maior contingente procedeu da Amazocircnia com 12873 migrantes entre os quais Amazonas com 8147 nordeste com 5693 dos quais 4439 cearenses Entre as transformaccedilotildees ocorridas na economia regional deve ser considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura devido a criaccedilatildeo das colocircnias agriacutecolas pelo governo abastecimento das cidades de Porto Velho e Guajaraacute Mirim (CUNHA 2009 p15)

Rodrigues (2013) evidecircncia

[] Rondocircnia foi outro estado profundamente impactado ou melhor mais beneficiado com o forte processo migratoacuterio ocorrido Na Tabela 7 estaacute demonstrado todo o crescimento demograacutefico dos estados do Norte a partir dos anos 50 elucidando como esses impactos foram sentidos em todas as unidades federativas da regiatildeo no entanto de forma diferenciada entre eles (RODRIGUES 2013 p118)

O autor afirma isto baseado no crescimento populacional da regiatildeo norte entre os

anos 1950 e 2010 (Tabela 12)

182

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183

Rodrigues apud Benchimol (2012) descreve que

[] as correntes migratoacuterias que se dirigiram para Rondocircnia tiveram especifica motivaccedilatildeo assentamento agriacutecola nos projetos de colonizaccedilatildeo do INGRA voltados para a pequena e meacutedia propriedade familiar [] Por fim o estado do Amazonas teve senatildeo um uacutenico ao menos hegemocircnico chamariz migratoacuterio a criaccedilatildeo da Zona Franca de Manaus em 1967 (RODRIGUES apud BENCHIMOL 2013 p120)

Todavia no caso ligar Porto Velho agrave Manaus os esforccedilos satildeo anteriores a instalaccedilatildeo

da Zona Franca de Manaus pois ldquoEm 1955 o DER-AM (Departamento de Estrada e Rodagem

do Amazonas) realizou o projeto geomeacutetrico de 193km da rodovia entre Porto Velho e

Humaitaacute e trecircs anos depois foi realizado o serviccedilo de desmatamento no trecho com largura

de 60 metrosrdquo (UFAM2009 vol1 p29) Faltando somente o trecho Humaitaacute ndash Manaus

para completar uma rodovia ligando Manaus aos outros estados da regiatildeo centro oeste e ao

sul do paiacutes o que soacute viria a ser colocado em praacutetica quando a responsabilidade dessa

construccedilatildeo fosse delegada ao estado o que ocorreu em 1966 cabendo

ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-AM) o controle e a fiscalizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia BR-319 graccedila a um termo de convecircnio celebrado com o Ministeacuterio dos Transportes e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem ndash DNER (UFAM 2009 vol1 p29)

Sobre isso DNIT apud UFAM (2009) afirmam que ldquoem 06 de maio de 1968 o DER-

AM firmou dois contratos com a construtora Andrade Gutieacuterrez SA para a execuccedilatildeo de

obras de implantaccedilatildeo baacutesica da rodovia nos sub trechos Careiro da Vaacuterzea e o Rio Matuperi

(326km) e do rio Matuperi a Porto Velho (426 km) (UFAM2009 vol1 p30)

Em entrevista com os moradores da Comunidade da Bela Vista o Sr Silva (77 anos)

disse ter trabalhado na construccedilatildeo da BR-319

[] em 1970 daqui do Careiro do outro lado ateacute leacutem baixo perto de Miracena eu trabalhava no trator eu e o outro colega iamos na frente com a corrente durrubando a floresta dando o abraccedilo da morte era um barrulho muito alto muita gente que trabalhava laacute dizia que era a floresta chorando pois tava caindo Era cada aacutervore grande bonita mas a gente piatildeo tinha que botar no chatildeo eu fazio o que me mandavam Nunca comi tanta caccedila como comi na construccedilatildeo da estrada era bom e triste ao mesmo tempo eu natildeo sei explicarrdquo ( SILVA 77 ANOS)

O entrevistado refere-se agrave teacutecnica utilizada na derrubada da floresta para a

construccedilatildeo da rodovia que consistia de dois tratores relativamente afastados mas

paralelos que arrastavam uma gigantesca corrente de ferro fundido que por sua vez era

pressionado contra o tronco das aacutervores derrubando as mesmas no traccedilado da rodovia

184

teacutecnica popularmente conhecida na regiatildeo como ldquoAbraccedilo da Morterdquo Ao mesmo tempo o Sr

Silva mostrou-se ressentido por ser obrigado a derrubar a floresta ldquoEra cada aacutervore grande

bonita mas a gente piatildeo tinha que fazer o que me mandavamrdquo(SILVA 77 ANOS)

Ainda sobre a construccedilatildeo o Sr Silva (77 anos) disse

natildeo tinha piatildeo que aguentasse muito tempo trabalhando laacute de dia era o choro das aacutervores caindo no chatildeo dava muita tristeza vecirc doiacutea ateacute o coraccedilatildeo de noite eram os bichos da floresta gritando as onccedilas passando ainda mais quando sumia gente e a gente que ficava natildeo encontrava nem o chinelo para contar histoacuteria dava muito medo Isso sem falar quando botava pra chover chovia muito muito tinha ateacute que cobrir o asfalto com uma lona e a lama que ficava era horriacutevel (SILVA 77 ANOS)

Para Fearnside (2009d) a pressa era tanta de se terminar a BR-319 que a rodovia

foi pavimentada imediatamente na hora da construccedilatildeo que por final foi construiacuteda na

estaccedilatildeo chuvosa ldquocom a extraordinaacuteria praacutetica de proteger o asfalto fresco com lonas de

plaacutesticordquo (FEARNSIDE 2009d p20)

Em 1970 uma ediccedilatildeo especial do Jornal do Comercio anunciava que o trecho Porto Velho ndash Humaitaacute jaacute apresentava condiccedilotildees de traacutefego enquanto o trecho Humaitaacute ndash Manaus estava com o desmatamento completo e boa parte da terraplanagem estava realizada A cargo da construtora Andrade Gutierrez as obras caminhavam e a expectativa com a conclusatildeo dos trabalhos era chegar ao ldquotermo final do longo isolamento em que esteve nosso Estado sem ligaccedilatildeo rodoviaacuteria com o centro-sul do paiacutes abrindo ao Amazonas amplas perspectivas de desenvolvimentordquo A despeito de todas as expectativas as dificuldades natildeo eram despreziacuteveis e os prazos contratuais natildeo foram cumpridos a despeito da forte pressatildeo do governo federal para a conclusatildeo urgente da obra (UFAM 2009 vol1 p30)

A rodovia BR-319 somente foi inaugurada ldquoem 27 de marccedilo de 1976

completamente pavimentada garantindo traacutefego faacutecil com tempo de viagem de Manaus agrave

Porto Velho estimado em 12 horasrdquo (UFAM 2009 vol1 p30) Uma estimativa longa se

comparada ao tamanho da rodovia que eacute de 87740km Todavia eacute justificaacutevel pois a mesma

apresentava 19 cursos drsquoaacuteguas de diferentes larguras e profundidades (UFAM 2009 RIMA

p10) Na maioria dos cursos drsquoaacutegua foram construiacutedas pontes de madeira em outros cursos

maiores as travessias eram feitas por pequenas balsas (Figura 59)

185

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319 Fonte EIA-RIMA Relatoacuterio FINAL (UFAM 2009)

Com ausecircncia de manutenccedilatildeo nos anos que se seguiram agrave sua inauguraccedilatildeo a

rodovia BR-319 comeccedilou a se deteriorar Primeiramente as pontes construiacutedas de madeira

retiradas da proacutepria floresta sobre os cursos drsquoaacutegua foram se deteriorando e pouco tempo

depois o asfalto

A camada fina de asfalto na BR-319 se tornou uma seacuterie quase contiacutenua de buracos que satildeo ambos mais difiacuteceis de consertar e mais danosos aos veiacuteculos do que seria o caso de uma estrada sem pavimento Muito da rota teve que ser desviado para trilhas temporaacuterias ao lado da estrada mais do que o proacuteprio leito da rodovia (FEARNSIDE 2009 p22)

Isso sem levar em conta que na deacutecada de 70 a produccedilatildeo da Zona Franca de

Manaus foi exportada de forma mais barata por meio de navios e ateacute por via aeacuterea

(FEARNSIDE 2009d)

Apesar das precaacuterias condiccedilotildees da BR-319 a mesma permaneceu aberta ao traacutefego

ateacute maio de 1988 quando os serviccedilos de transporte rodoviaacuterio entre as capitais Manaus-AM

e Porto Velho-RO foram suspensos devido agraves peacutessimas condiccedilotildees da rodovia como

permanece ateacute hoje sem condiccedilotildees de trafegar

Embora muitos amazonenses e rondonienses de modo geral se mostrem favoraacuteveis

agrave reabertura da BR-319 como se tem cogitado inuacutemeras vezes nas uacuteltimas deacutecadas satildeo os

186

amazonenses que se mostram mais receosos com essa probabilidade referindo-se a ela

como ldquoa destruidora da floresta quando abertardquo usando como referecircncia a construccedilatildeo da

rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia ou ateacute mesmo o trecho ainda trafegaacutevel da BR-319 ateacute os dias

atuais localizado entre Porto Velho-RO e Humaitaacute-AM pois o mesmo

[] foi colonizado por pequenos agricultores em lotes de 100ha distribuiacutedos pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INGRA) A maioria destes lotes jaacute mudou de matildeos uma ou mais vezes ateacute agora e estaacute consolidada em pequenas ldquofazendolasrdquo de 500ha ou mais (FEARNSIDE 2009d p22)

Sobre isso o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2013d) aponta o municiacutepio de Humaitaacute no

sul do estado como tendo a maior demanda por regularizaccedilatildeo fundiaacuteria do Estado do

Amazonas

Satildeo problemas de origem antiga e aparecem principalmente a partir da abertura das rodovias Transamazocircnica (BR-230) e BR-319 A histoacuteria da ocupaccedilatildeo se relaciona aos dois ciclos da borracha e se intensifica na deacutecada de 1970 como resultado dos projetos de colonizaccedilatildeo e das poliacuteticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo militar na Amazocircnia (MISTEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL 2013 p9)

Com territoacuterio de 33 07179kmsup2 o municiacutepio de Humaitaacute tem 1335977ha

demarcados como reservas indiacutegenas de 8 etnias (Pirahatilde Diahui Ipixuna Nove de Janeiro

Tenharim Marmelos Tenharim Marmelos (Gleba B) Sepoti Toraacute) e ainda conta com uma

unidade de conservaccedilatildeo federal a Floresta Nacional de Humaitaacute com aacuterea de 47315466ha

(ICMBIO 2013) localizada no sul do municiacutepio

Apesar disso os conflitos entre agricultores e posseiros tornaram-se comuns ao

longo das rodovias BR-319 e BR-230 onde estaacute localizada a maioria dos assentamentos

agraacuterios realizados pelo INCRA na deacutecada de 70

Sobre isso Fearnside (2009) afirma que a regiatildeo de Manaus tem sido poupada de

conflitos agraacuterios resultantes de busca por terra tais como a invasatildeo de fazendas por sem

terras e o ciclo resultante de desmatamento onde os posseiros desmatam para estabelecer

agraves suas reivindicaccedilotildees e os grandes proprietaacuterios de terras desmatam para evitar que as

terras sejam invadidas ou entatildeo confiscadas pelo governo para fins de reforma agraacuteria

O Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica Brasileira por Sateacutelite- PRODES

(2012) confirmar a preocupaccedilatildeo de Fearnside (2009) (Tabela 13)

187

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000 - 2012)

Embora a perda total de cobertura vegetal possa parecer pequena se comparada

ao tamanho do territoacuterio aacute mesma natildeo foi uma vez que foi sobre aacutereas que por lei

deveriam ser mantidas preservadas O mesmo poderia ter ocorrido em toda a BR-319 se ela

natildeo tivesse tido o seu traacutefego suspenso em 1988

Para Rodrigues apud Macedo et al (2009) o municiacutepio de Humaitaacute sofre os efeitos

do deslocamento de atividades capitalizadas do Mato Grosso em direccedilatildeo a terras

ldquodisponiacuteveisrdquo do Estado do Amazonas

Segundo Macedo et al (2009)

No municiacutepio de Humaitaacute (AM) as apreensotildees com relaccedilatildeo a esse processo se pronunciam sob diferentes aspectos de um lado expectativas de uma produccedilatildeo de gratildeos em larga escala cujas vantagens derivariam do baixo custo de escoamento da produccedilatildeo pela hidrovias dos rios Madeira e Amazonas ateacute o porto da cidade de Itacoatiara por outro lado preocupaccedilotildees quanto agrave sustentabilidade dos solos predominantes nas aacutereas de expansatildeo inicial das culturas de gratildeos (Plintossolos ndash fase cerrado) questionam a sustentabilidade desta classe de solo tanto econocircmica quanto ambiental deste sistema de uso da terra (MACEDO et al 2009 p5934)

Humaitaacute Perda Florestal ao ano

2000 160

2001 172

2002 174

2003 177

2004 182

2005 186

2006 188

2007 192

2008 198

2009 200

2010 202

2011 205

2012 208

Total 2444

Fonte INPEPRODES 2012 Adaptada Camila Louzada 2013

188

Macedo et al (2014) afirmar que o desmatamento no municiacutepio de Humaitaacute

[] caracteriza-se pela sua concentraccedilatildeo no entorno das rodovias BR-319 E BR-230

que se cruzam proacuteximo agrave sede do municiacutepio Esses eixos rodoviaacuterios concentram

espacialmente as principais atividades econocircmicas como a agricultura a pecuaacuteria

e a exploraccedilatildeo madeireira que embora em intensidade tambeacutem se desenvolvem

em torno do rio Madeira e seus afluentes (MACEDO et al 2014 p5935)

No entanto o existe por parte Governo do Estado do Amazonas forte interesse na

reabertura desta rodovia sobre o falso pretexto da ldquonecessidaderdquo de ligar o estado ao

restante do paiacutes por via terrestre embora tenham conhecimento dos custos (em todos os

sentidos) de tatildeo faraocircnica e desnecessaacuteria obra

Buscando viabilizar a reabertura da BR-319 e promover a ldquogovernanccedila ambientalrdquo

o Governo do Estado do Amazonas propocircs a criaccedilatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo ao longo

de toda a BR-319 muito embora se reconheccedila que essas aacutereas protegidas padecem de

fiscalizaccedilatildeo e de deliberaccedilotildees que envolvem a questatildeo fundiaacuteria (SANTOS 2013)

Sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo em fase de consulta puacuteblica para serem criadas

satildeo elas Reserva Sustentaacutevel Igapoacute - Accedilu (no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea) Reserva

Extrativista Canutama ( Sul do Estado do Amazonas e Norte do Estado de Rondocircnia)

Floresta Floresta Estadual Canutama (Canutama) Reserva de Desenvolvimento Sustentaacutevel

do Matupiri (Borba) Parque Estadual do Matupiri (Borba) Reserva de Desenvolvimento

Sustentaacutevel Rio Madeira (Novo Aripuanatilde) Floresta Estadual de Tapauaacute (Tapauaacute)

(AMAZONAS2014)

46 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES

Partindo do conceito de impacto ambiental definido pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA (1986) em seu artigo 1ordm

Considera com impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesica quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam

I ndash a sauacutede a seguranccedila e o bem estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees de esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA 1986 p1)

189

Ainda segundo o CONAMA (1986)

Art2ordm Dependeraacute da elaboraccedilatildeo do estudo de impacto ambiental- IEA e DO respectivo relatoacuterio de impacto ambiental-RIMA a serem submetido agrave aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo estadual competente e da Secretaacuteria Especial do Meio Ambiente SEMA em caraacuteter supletivo a licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente [] (CONAMA 1986 p2)

Diante disso o CONAMA em sua Resoluccedilatildeo nordm237 de 19 de Dezembro de 1997 em

seu artigo 3ordm dispotildee

Estudos Ambientais satildeo todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados agrave localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo operaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsiacutedio para a anaacutelise da licenccedila requerida tais como relatoacuterio ambiental projeto de controle ambiental relatoacuterio ambiental preliminar diagnoacutestico ambiental plano de manejo plano de recuperaccedilatildeo de aacuterea

degradada e anaacutelise preliminar de risco (CONAMA 1997 p2)

Os principais documentos exigidos para o licenciamento ambiental estatildeo divididos

em duas categorias a) o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatoacuterio de Impacto

Ambiental ndash RIMA para toda obra geradora de impactos b) o Plano de Controle Ambiental ndash

PCA para empreendimentos que teoricamente natildeo produzam impactos

Para os empreendimentos geradores de impactos o CONAMA tem uma legislaccedilatildeo

especifica instituiacuteda pelo Decreto Federal nordm 97632 de abril de 1989 que criou o Plano de

Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas - PRAD que deveraacute ser apresentado juntamente com o

EIARIMA quando o empreendimento for destinado agrave exploraccedilatildeo de recursos minerais

(BRASIL 1989 p1)

Embora a aparente abrangecircncia das leis exija uma seacuterie de estudos ambientais

antes de qualquer obra o mesmo natildeo garante o impacto zero no meio ambiente somente

tenta diagnosticar os possiacuteveis impactos de cada empreendimento ldquopropondo medidas

compensatoacuteriasrdquo

Todavia se nos relatoacuterios natildeo for possiacutevel ldquopreverrdquo todos os impactos de uma obra

o que se poderaacute fazer para minimizar seus impactos posteriormente quando surgirem

mesmo os natildeo diagnosticados com antecedecircncia Essa pergunta por enquanto ainda natildeo

tem uma resposta satisfatoacuteria

Eacute vaacutelido promover o conhecimento puacuteblico em geral a informaccedilatildeo de os

profissionais responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA de um empreendimento que satildeo

pagos pelo interessado na construccedilatildeo desse empreendimento desta forma eacute questionaacutevel

190

seus posicionamentos no relatoacuterio final principalmente se o maior interessado na

construccedilatildeo for o governo em todas as esferas tendo como referecircncia o Governo do Estado

do Amazonas onde natildeo existe ateacute a presente data um Estudo de Impacto Ambiental- EIA e

um Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA que seja contraacuterio aos interesses do estado natildeo

validando e homologando suas obras

O exemplo mais conhecido e divulgado mundialmente eacute a construccedilatildeo do PROSAMIN

ndash Programa Social e Ambiental dos Igarapeacutes de Manaus no qual o Governo do Estado retira

os moradores residentes nos igarapeacutes de Manaus para a concretizaccedilatildeo dos canais e

posterior construccedilatildeo de conjuntos habitacionais Embora tenha conhecimento de que satildeo

aeacutereas de APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente seus relatoacuterios EIA-RIMA validam o

empreendimento reiterando a ldquoimportacircncia desta obrardquo

A fragilidade do ecossistema de modo geral depende inteiramente de um

equiliacutebrio (natural) pois para que esse equiliacutebrio continue a existir faz-se necessaacuterio

minimizar todo e qualquer impacto possiacutevel decorrente de um empreendimento seja a

construccedilatildeo de barragem de rodovias de usinas eoacutelicas etc Mesmo com a execuccedilatildeo do

Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacuterea Degradadas - PRAD a construccedilatildeo de um empreendimento

natildeo garante a total recuperaccedilatildeo da aacuterea impactada

Dessa forma eacute importante conhecer a opiniatildeo dos moradores diretamente afetados

pelos empreendimentos Diante disso a presente pesquisa buscou conhecer a percepccedilatildeo

ambiental dos moradores das localidades de Bela Vista - Manacapuru e Manaquiri que

seratildeo diretamente afetados com a construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas como parte da proposta de reabertura da BR-319 resta conhecer a

opiniatildeo dos entrevistados

Na Bela Vista 95 dos entrevistados disseram jaacute ter ouvido algo sobre o assunto

por meio das conversas na comunidade e atraveacutes do raacutedio e 5 que afirmaram nunca ter

ouvido falar sobre o assunto

Indagados sobre o que achavam que aconteceria com as pessoas que moram na

Bela Vista e com a natureza e os animais ao redor se realmente a nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas fosse implantada os entrevistados se posicionaram conforme Graacutefico

15

191

A maioria dos entrevistados 47 do total se mostraram empolgados com a

possibilidade de acesso a outros municiacutepios e estados contudo 40 respondeu que as

estradas de modo geral trazem progresso e oportunidade de renda durante a construccedilatildeo e

posteriormente com o escoamento da produccedilatildeo seja na construccedilatildeo de novas estradas ou na

reconstruccedilatildeo da BR-319 depois de pronta ldquoteraacute mais pessoas vivendo aqui ficaraacute faacutecil

conhecer outros lugaresrdquo (Opiniatildeo de um entrevistado 2013) 13 dos entrevistados

afirmaram que as pessoas iratildeo embora da Bela Vista

Indagados com a mesma pergunta os moradores da sede municipal de Manaquiri

responderam conforme Graacutefico 16

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo da

ponte sobre o Rio Solimotildees Amazonas

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores do Manaqquiri sobre as consequecircncias da construccedilatildeo

de ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

192

Ao contraacuterio dos moradores da Bela Vista a grande maioria 73 dos entrevistados

de Manaquiri responderam que a construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

assim como a possibilidade de reabertura da BR-319 devastaria tudo (referem-se a retirada

da floresta) mataria os animais (que atravessariam as pistas ou seriam caccedilados por mais

caccediladores que viriam para o Manaquiri)

Indagados do por quecirc desta opiniatildeo ldquoseverardquo Os moradores afirmaram que isso jaacute

ocorreu anteriormente primeiro na construccedilatildeo da BR-319

[] quando veio muita gente trabalhar na estrada derrubaram a mata para fazer a rodovia e caccedilavam os bichos era pacaacute anta macaco tracajaacute tudo que eles achavam rapidinho virava comida agora mais recente foi essa estrada daqui mesmo [o entrevistado se refere a construccedilatildeo da AM-354] quando muita gente foi trabalhar laacute foi a mesma coisa da outra (Relato de um entrevistado

2013)

Os moradores de Manaquiri apresentam relativo conhecimento dos impactos de

grandes empreendimentos pois vivenciaram a construccedilatildeo da BR-319 e da AM-354

461 ALTERNATIVAS DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E O PREPARO DAS LOCALIDADES

RIBEIRINHAS PARA AS AUDIEcircNCIAS PUacuteBLICAS

Antes de propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental faz-se necessaacuterio fazer um

resgate histoacuterico da Educaccedilatildeo Ambiental no mundo e posteriormente no Brasil e no estado

do Amazonas para situar o leitor

A Educaccedilatildeo Ambiental foi primeiramente concebida por movimentos ecoloacutegicos

apoacutes 1950 com o objetivo de chamar a atenccedilatildeo para a finitude dos elementos da natureza

e sua exploraccedilatildeo descontrolada Diante disso Carvalho (2006) propotildee sensibilizar os cidadatildeos

do mundo para que eles possam desenvolver accedilotildees socioambientais pensando no bem

coletivo e natildeo individual ou de pequenos grupos

O marco principal desse periacuteodo de incertezas culminou na publicaccedilatildeo do livro

Primavera Silenciosa nele a autora chama a atenccedilatildeo para o uso irracional de pesticidas

quiacutemicos principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano) e responsabilidade da ciecircncia e

os limites tecnoloacutegicos (CARSON 2013)

193

[] questionava o direito moral do governo de deixar seus cidadatildeos desprotegidos diante de tais substacircncias que eles natildeo poderiam evitar fisicamente nem questionar publicamente Essa arrogacircncia insensiacutevel soacute poderia levar aacute destruiccedilatildeo do mundo vivo ldquoSeraacute que algueacutem acredita que eacute possiacutevel lanccedilar tal bombardeio de venenos na superfiacutecie da Terra sem tornaacute-la improacutepria para toda a vida perguntava ela Eles natildeo deviam ser chamados de lsquoinseticidasrsquo e sim lsquobiocidasrsquo rdquo (CARSON 2013 p 15)

Carson vai aleacutem ao afirmar que um dos direitos dos cidadatildeos mais baacutesicos

[] estaacute em proteger seu lar contra a intrusatildeo de veneno aplicado por outras pessoas Por ignoracircncia cobiccedila e negligecircncia o governo permitiria que ldquosubstacircncia quiacutemicas venenosas e biologicamente potentesrdquo caiacutessem ldquoindiscriminadamente nas matildeos de pessoas ampla ou totalmente ignorantes de seu potencial de danosrdquo Quando a populaccedilatildeo protestava recebia ldquopiacutelulas calmantes de meias - verdadesrdquo como resposta de um governo que se recusava a assumir a responsabilidade pelos danos ou reconhecer as provas de sua existecircncia Carson desafiou essa ausecircncia de moral ldquoA obrigaccedilatildeo de suportarrdquo e escreveu ldquonos daacute o direito de saberrdquo (CARSON 2013 p16)

Carson (2013) chama atenccedilatildeo da sociedade estadunidense para o uso

descontrolado de pesticidas nas lavouras americanas que prejudicava aleacutem do meio

ambiente fiacutesico em larga escala como tambeacutem a humanidade como um todo

Apoacutes a publicaccedilatildeo dessa obra foram iniciadas investigaccedilotildees estaduais e federais

nos EUA para refutar os argumentos da autora que terminaram por serem comprovados e

apoacutes inuacutemeras pressotildees de ambientalistas o governo americano foi obrigado a criar um

pacote de leis contra a contaminaccedilatildeo invisiacutevel muito posteriormente proibindo o uso DDT

nos EUA mas exportando para todo o mundo (CARSON 2013)

Como os movimentos ecoloacutegicos ultrapassaram as preocupaccedilotildees locais e se

transformaram em globais gerou grande desconforto na sociedade mundial tanto cientiacutefica

quanto civil o que resultou em importantes encontros mundiais a comeccedilar pela primeira

Conferecircncia Mundial das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente Humano que aconteceu em

1972 em Estocolmo na Sueacutecia e contou com a participaccedilatildeo de representantes de 113

paiacuteses onde foram divulgados aos participantes ldquoa devastaccedilatildeo que ocorria na natureza

delirou ndash se que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamenterdquo (PEDRINI

1997 p26)

Dessa conferecircncia resultaram dois importantes documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre

Meio Ambiente Humanordquo que descrevia vinte e sete princiacutepios comuns agrave sociedade mundial

para preservar e melhorar a relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente e o ldquoPlano de Accedilatildeo

194

Mundialrdquo que recomendava a capacitaccedilatildeo de professores e o desenvolvimento de novos

meacutetodos e recursos institucionais para a Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Trecircs anos depois de Estocolmo acontece a Conferecircncia de Belgrado na Yugoslaacutevia

antiga Uniatildeo Sovieacutetica Nessa conferecircncia os acircnimos se exaltaram pois os paiacuteses

considerados subdesenvolvidos acusaram os paiacuteses desenvolvidos de quererem limitar o

desenvolvimento econocircmico dos paiacuteses pobres ldquousando poliacuteticas ambientais de controle da

poluiccedilatildeo como meio de inibir a competiccedilatildeo no mercado internacionalrdquo (DIAS 2000 p79)

Apesar dos acircnimos acalorados essa conferecircncia resultou em um importante

documento em niacutevel mundial a ldquoA Carta de Belgradordquo que priorizava a erradicaccedilatildeo da

pobreza do analfabetismo da fome da exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo humana e sugeria tambeacutem

a criaccedilatildeo de um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Outra Conferecircncia marcante na histoacuteria da Educaccedilatildeo Ambiental foi a Conferecircncia de

Tbilisi realizada em 1977 que determinava os objetivos estrateacutegias caracteriacutesticas e

recomendaccedilotildees para se alcanccedilar uma Educaccedilatildeo verdadeiramente Ambiental Sobre isso

Junior (2005) destaca que para se ter uma Educaccedilatildeo Ambiental deve-se ldquopromover a

cooperaccedilatildeo e o diaacutelogo entre indiviacuteduos e instituiccedilotildees com a finalidade de criar novos

modos de vida e atender as necessidades baacutesicas de todos sem distinccedilotildees eacutetnicas fiacutesicas de

gecircnero idade religiatildeo ou classe socialrdquo (JUNIOR 2005 p 15 )

Atendendo aos acordos firmados internacionalmente o Brasil cria a Lei nordm 6938 de

31 de Agosto de 1981 que dispunha no art 2 sobre a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

tendo por objetivos

[] a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao desenvolvimento soacutecio econocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da dignidade da vida humana atendidos os seguintes princiacutepios I - accedilatildeo governamental na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio ecoloacutegico considerando o meio ambiente como um patrimocircnio puacuteblico a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo II - racionalizaccedilatildeo do uso do solo do subsolo da aacutegua e do ar Ill - planejamento e fiscalizaccedilatildeo do uso dos recursos ambientais IV - proteccedilatildeo dos ecossistemas com a preservaccedilatildeo de aacutereas representativas V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidorasVI - incentivos ao estudo e agrave pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental VIII - recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas IX - proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo X ndash educaccedilatildeo ambiental a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para a participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL 1981 p 2)

195

A Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente eacute absolvida pela Constituiccedilatildeo Brasileira de

1988 mais especificamente no artigo 225 onde tambeacutem concebe o conceito de

desenvolvimento sustentaacutevel

[] onde todos os cidadatildeos brasileiros tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial aacute sadia qualidade de vida impondo se ao Poder Puacuteblico e aacute coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees (BRASIL 1998 p7)

O Brasil foi um dos primeiros paiacuteses do mundo a criar leis tornando obrigatoacuteria a

ldquoEducaccedilatildeo Ambiental em todos os niacuteveis de ensino e a conscientizaccedilatildeo puacuteblica da populaccedilatildeo

para preservaccedilatildeo do meio ambienterdquo (BRASIL 1988 p103)

Para consolidar a lei eacute criado em 1989 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente -

IBAMA autarquia federal que tem como funccedilatildeo coordenar e executar a Poliacutetica Nacional do

Meio Ambiente e a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de uso racional dos recursos naturais Brasil

(1989) No entanto em sua estrutura administrativa apresentada segundo Brasil (1989a)

natildeo haacute cargos ou seccedilotildees especiacuteficas para trabalhar a Educaccedilatildeo Ambiental embora muitos

autores relatem existir uma Divisatildeo de Educaccedilatildeo Ambiental no oacutergatildeo supracitado

Nos anos posteriores surgiram vaacuterios encontros sobre Educaccedilatildeo Ambiental e em

1990 surgiu no Brasil o I Curso Latino Americano de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental

na Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT

O ano de 1991 foi marcado pelo Encontro Nacional de Poliacuteticas e Metodologias para

a Educaccedilatildeo Ambiental promovido pelo MEC IBAMA Secretaacuteria da Presidecircncia da Repuacuteblica

e Unesco e em 1992 satildeos criado os Nuacutecleos Estaduais de Educaccedilatildeo Ambiental pelo IBAMA

novos encontros e projetos para efetivar a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino se sucederam

Em 27 de Abril de 1999 eacute criado pelo Decreto Lei nordm 9795 a Poliacutetica Nacional de

Educaccedilatildeo Ambiental- ProNEA

Art 1ordm Entendem- se por educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias voltadas para promover a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL 1999 p1)

Segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (2014) o ProNea tem como accedilotildees

assegurar

196

[] no acircmbito educativo a integraccedilatildeo equilibrada das muacuteltiplas dimensotildees da sustentabilidade - ambiental social eacutetica cultural econocircmica espacial e poliacutetica - ao desenvolvimento do Paiacutes resultando em melhor qualidade de vida para toda a populaccedilatildeo brasileira por intermeacutedio do envolvimento e participaccedilatildeo social na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental e da manutenccedilatildeo dessas condiccedilotildees ao longo prazo Nesse sentido assume tambeacutem as quatro diretrizes do Ministeacuterio do Meio Ambiente Transversalidade Fortalecimento do Sisnama Sustentabilidade Participaccedilatildeo e controle social (BRASIL 2014 p1)

A legislaccedilatildeo parte do princiacutepio de que a Educaccedilatildeo Ambiental deve estar permanente

na educaccedilatildeo nacional em todos os niacuteveis do processo educativo de caraacuteter formal e natildeo

formal (BRASIL 1999 p1)

Esse arcabouccedilo legal permitiria que a Educaccedilatildeo Ambiental efetivamente no acircmbito nacional fosse implementada no ensino formal em todos os niacuteveis poreacutem a rejeiccedilatildeo da ldquoobrigatoriedaderdquo considerada nociva no momento democraacutetico que se vive permite que a legislaccedilatildeo natildeo seja cumprida de acordo com os marcos nacionais e internacionais firmados nos eventos que constituem o seu processo histoacuterico (SANTOS 2013 p844)

Ainda Morin apud Santos (2013) afirma que

[] poderiam ser formadas novas geraccedilotildees de professores que encontrariam em sua profissatildeo o sentido de uma missatildeo ciacutevica e eacutetica para que cada aluno ou estudante possa enfrentar os problemas de sua vida profissional e de sua vida de cidadatildeo do dever de sua sociedade de sua civilizaccedilatildeo na humanidade (MORIN apud SANTOS 2013 p844)

Todavia o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura ndash MEC ateacute o presente momento trinta e

trecircs anos depois apoacutes a instituiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente (1981) natildeo

conseguiu inserir a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino superior portanto natildeo cumpriu com os

acordos firmados Isso se observa tambeacutem ao niacutevel natildeo formal como uma maneira de natildeo

fornecer aacutes comunidades informaccedilotildees que venham a impedir ou dificultar os interesses

poliacuteticos

Acompanhando as leis federais os estados brasileiros passaram a criar leis quase

sempre dispondo sobre a proteccedilatildeo do meio ambiente

No estado do Amazonas a Lei nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 tornou-se a primeira

lei no estado a discorrer sobre a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente criando a Poliacutetica

Estadual da Prevenccedilatildeo e Controle da Poluiccedilatildeo Melhoria e Recuperaccedilatildeo do Meio Ambiente e

de Proteccedilatildeo aos Recursos Naturais (AMAZONAS 1982)

197

A lei tem como objetivos

[] fixar diretrizes da accedilatildeo governamental com vistas agrave proteccedilatildeo de Meio Ambiente agrave conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo da flora da fauna e das belezas cecircnicas e ao uso racional do solo da aacutegua e ar Contribuir para a racionalizaccedilatildeo do processo do desenvolvimento econocircmico e social procurando atingir a melhoria dos niacuteveis da qualidade ambiental tendo em vista o bem estar da populaccedilatildeo Propor criteacuterios de exploraccedilatildeo e uso racional dos recursos naturais objetivando o aumento de produtividade sem prejuiacutezo agrave sauacutede Incentivar programas e campanhas de esclarecimentos com vistas agrave estimulaccedilatildeo de uma consciecircncia publica voltada para o uso adequado dos recursos naturais e para a defesa e a melhoria da qualidade ambiental Estabelecer criteacuterios para reparaccedilatildeo dos danos causados pelo agente poluidor e predador (AMAZONAS 1982 p2)

E em 14 de Junho de 1989 atraveacutes da Lei nordm 1905 foi criado o Instituto de

Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash

IMAAM Segundo o IPAAM (2014) o oacutergatildeo tinha como funccedilatildeo executar a Poliacutetica Ambiental

no estado dando inicio ao processo de controle ambiental sistemaacutetico

Cinco anos depois o governo federal atraveacutes da Lei nordm 1282 de 1994 estabelece

que a Floresta Amazocircnica deve ser protegida da exploraccedilatildeo madeireira que somente

poderaacute ser feita de forma sustentaacutevel salvo quando for autorizado pelo Zoneamento

Ecoloacutegico Econocircmico sobre o uso do solo de forma alternativa (BRASIL 1994)

Dois anos depois em 1996 o governo do estado do Amazonas fundou o Instituto de

Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas ndash IPAAM atraveacutes da Lei nordm 17033 de 11 de marccedilo de

1996 resultado da funccedilatildeo do SEMACT (Secretaria do Meio Ambiente Ciecircncia e Tecnologia) e

do IMAAM (Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas) absorvendo cargos dos dois oacutergatildeos e suas ldquoobrigaccedilotildeesrdquo legais

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas - IPAAM passou a ser vinculado em fevereiro de 2003 aacute Secretaria de

Estado Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash SDS como oacutergatildeo executor da

Poliacutetica de Controle Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM 2014)

Por meio do Decreto Estadual nordm 25043 de 1ordm de Junho de 2005 foi instituiacuteda a

Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash CIEA-AM que

tem como funccedilatildeo ldquoplanejar executar acompanhar e avaliar a execuccedilatildeo dos trabalhos de

Educaccedilatildeo Ambiental no Estado aleacutem de articular-se com outras instituiccedilotildees federais e

municipaisrdquo(AMAZONAS 2014 p1)

198

A CIEA-AM tem mandato anual alternado entre a SDS (Secretaria de Estado Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel) e a SEDUC (Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo e

Qualidade do Ensino) (AMAZONAS 2014)

Em 2008 foi instituiacuteda a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas

atraveacutes da Lei nordm 3222 de 02 de Fevereiro entretanto

Apesar de a lei ter 90 dias para a sua regulamentaccedilatildeo ouvidos o Conselho Estadual de Meio Ambiente somente em 29 de Junho de 2012 eacute que o Decreto nordm 555 foi assinado pelo governado Omar Aziz e publicado no Diaacuterio Oficial do Estado do Amazonas (SANTOS 2012 p844)

A Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas tem como metas

Criaccedilatildeo do Comitecirc Assessor Multidisciplinar como oacutergatildeo de assessoramento da CIEA para apoiar a Poliacutetica Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental formado por 16 Instituiccedilotildees parceiras Estabelece prazo de um ano para a elaboraccedilatildeo do Programa Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental Estabelece a obrigatoriedade para os poderes executivos do Estado e dos Municiacutepios de criarem coordenaccedilotildees multidisciplinares de educaccedilatildeo ambiental nas secretarias de educaccedilatildeo e de meio ambiente para fortalecimento na implantaccedilatildeo de poliacuteticas e programas nacional estadual e municipal neste segmento Criaccedilatildeo do Centro de Referecircncia em Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo na aacuterea de educaccedilatildeo ambiental Garantia de recursos orccedilamentaacuterios e financeiros para a realizaccedilatildeo de atividades e para o cumprimento dos objetivos da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental (AMAZONAS 2014 p2)

Faz-se necessaacuterio salientar que muito pouco do que foi proposto para o estado de

fato foi executado inclusive a natildeo inserccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental em todos os cursos de

formaccedilatildeo de professores a proacutepria Universidade do Estado do Amazonas a UEA

Sobre isso Santos apud Rodriguez e Silva (2013 p197)

[] reconhecem que a Educaccedilatildeo Ambiental deveraacute ter um papel fundamental na mudanccedila das mentalidades e na incorporaccedilatildeo dos fundamentos do pensamento ambientalista como tambeacutem do pensamento sustentabilista justificando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergecircncia dos sistemas ambientais e socioeconocircmico-culturais (SANTOS apud RODRIGUEZ e SILVA 2013 p197)

Santos (2013) vai aleacutem

Infelizmente torna-se necessaacuterio reconhecer que muitas vezes as poliacuteticas puacuteblicas definidas na esfera federal estadual ou municipal refletem uma contradiccedilatildeo entre o discurso e a praacutetica uma vez que os proacuteprios oacutergatildeos puacuteblicos a luz da interpretaccedilatildeo das brechas da legislaccedilatildeo ambiental licenciam obras sob o argumento de melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo mas com impactos ambientais irreversiacuteveis que satildeo justificados com ldquomedidas compensatoacuteriasrdquo irrelevantes (SANTOS 2013 p840)

199

Diante desses fatos tornou-se necessaacuterio projetar alternativas de Educaccedilatildeo

Ambiental para as localidades ribeirinhas da Amazocircnia frente ao conceito de

desenvolvimento baseado na construccedilatildeo de rodovias para que os ribeirinhos de modo

geral possam vir a ter conhecimento dos impactos das rodovias na regiatildeo visando agrave

formaccedilatildeo de um juiacutezo de valor quanto a propostas de desenvolvimento do poder puacuteblico

As alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental visam antes de qualquer coisa fornecer

informaccedilotildees aos moradores afetados direta ou indiretamente sobre empreendimentos

similares jaacute construiacutedos em ambientes semelhantes de forma a propiciar embasamento

teoacuterico e se possiacutevel praacutetico na formaccedilatildeo de uma opiniatildeo fundamentada seja individual ou

coletiva

Isso porque muitas pessoas natildeo informadas tendem a considerar as Audiecircncias

Puacuteblicas realizadas antes dos empreendimentos como espaccedilos onde natildeo eacute permitido

questionamentos quando na verdade eacute o que se deve fazer pois as Audiecircncias Puacuteblicas

tecircm como principal funccedilatildeo consultar a opiniatildeo puacuteblica sobre o empreendimento a ser

construiacutedo Contudo se o puacuteblico consultado natildeo tiver informaccedilotildees sobre o

empreendimento ou qualquer outro semelhante como poderatildeo opinar em algo que lhes eacute

completamente desconhecido

Sobre o direito agrave informaccedilatildeo a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente em seu artigo

2ordm paraacutegrafo X afirma que a ldquoeducaccedilatildeo ambiental deve ser fornecida a todos os niacuteveis de

ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-los para a participaccedilatildeo

ativa da defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981 p2)

No entanto a Educaccedilatildeo Ambiental vem sendo incluiacuteda como medida

compensatoacuteria dos impactos provocados pelos empreendimentos Haacute necessidade de que a

Educaccedilatildeo Ambiental seja antecipada permitindo agrave sociedade acesso as diversas fontes de

informaccedilatildeo Enfim a Educaccedilatildeo Ambiental em suas referecircncias teoacutericas eacute reconhecida como

uma educaccedilatildeo poliacutetica capaz de permitir e projetar cenaacuterios futuros

Considerando a reabertura da BR-319 cujo argumento principal eacute que ela jaacute existe

e que sua reabertura pouco impactaraacute a Floresta Amazocircnica considerando que entre as

grandes obras para a reabertura da BR-319 encontra-se a construccedilatildeo da ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas que se associa a jaacute construiacuteda ponte Rio Negro por essa razatildeo

200

chamada de ldquoPonte do Futurordquo considerando que o poder puacuteblico eacute o principal interessado

em suas obras sendo o responsaacutevel pelos licenciamentos a presente pesquisa ousa propor

- Viabilizar o acesso dos moradores agrave diversas fontes de pesquisa sejam elas

artigos livros jornais e informaccedilotildees veiculadas pela internet que permitam obter

pesquisas confiaacuteveis sobre os aspectos positivos e negativos relacionados aos

impactos provocados por obra semelhantes

- Realizar palestras com as diversas categorias de profissionais sejam eles

favoraacuteveis ou contraacuterios agrave empreendimentos na Amazocircnia de modo a discutir os

avanccedilos e retrocessos na qualidade de vida dos amazocircnidas

- Promover oficinas de Educaccedilatildeo Ambiental que permitam a anaacutelise criacutetica dos

problemas ambientais e suas interelaccedilotildees dinacircmicas relacionando as causas e

consequecircncias tendo por base os princiacutepios da complexidade dialoacutegico recursatildeo

organizacional e hologramaacutetico Isto significa conduzir os participantes a refletirem

sobre a dualidade a recursividade e holograma que supera o reducionismo o

holismo e avanccedila na direccedilatildeo da complexidade da questatildeo ambiental

Diante da convicccedilatildeo de que essas intervenccedilotildees com a Educaccedilatildeo Ambiental

significam na maioria das vezes oposiccedilatildeo ao que pretende o poder puacuteblico haacute de se

verificar como concretizar efetivamente essas propostas

Por esta razatildeo a presente pesquisa ainda ousando sugere a inclusatildeo da Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal (que no caso dos dois municiacutepios Manacapuru e

Manaquiri ainda estatildeo em fase de elaboraccedilatildeo) responsaacutevel pelo planejamento estrateacutegico

dos municiacutepios atraveacutes da formulaccedilatildeo de estrateacutegias para gerenciamento dos recursos

municipais

Todavia a inclusatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal natildeo deve

se limitar a uma abordagem simplista e reducionista e sim incorporar a sua verdadeira

essecircncia atraveacutes da formaccedilatildeo de cidadatildeos verdadeiramente capacitados para defender o

meio ambiente como propotildeem a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

Prioritariamente para o caso da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas e a

reabertura da BR-319 for consolidada nos proacuteximos anos a presente pesquisa propotildeem

201

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para as localidades ribeirinhas de Bela Vista e

Manaquiri que contemple em sua estrutura

1- Reflexatildeo sobre o conceito de Desenvolvimento Conservaccedilatildeo Preservaccedilatildeo e

Sustentabilidade se quer para a Amazocircnia

2- Impactos resultantes da construccedilatildeo de rodovias no Amazonas

a) BR-307 - Satildeo Gabriel da Cachoeira ndash Cucuiacute Benjamin Constant ndash

Atalaia do Norte

b) BR -317 - Laacutebrea no Amazonas a Assis Brasil no Acre

c) BR-230 - Transamazocircnica

d) BR-174 - Manaus-AM ndash Boa Vista-RR

e) BR-319 - Manaus-AM - Porto Velho- RO

3- Construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas reabertura da BR-319 e

os possiacuteveis impactos dessas obras

4- Construccedilatildeo de cenaacuterios futuros para a Amazocircnia

202

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A percepccedilatildeo ambiental dos moradores da Bela Vista e do Manaquiri permitiu

concluir que embora os entrevistados se mostrem favoraacuteveis agrave construccedilatildeo da nova ponte

sobre o rio SolimotildeesAmazonas os mesmos se mostraram conscientes dos impactos dessa

obra assim como tambeacutem da reabertura da BR-319

Diante disso cabe a Educaccedilatildeo Ambiental veicular para os ribeirinhos e a todos

cidadotildees interessados as informaccedilotildees disponiacuteveis sobre todo e qualquer empreendimento

com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas para a Amazocircnia A comeccedilar pela divulgaccedilatildeo dos impactos

das estradas jaacute construiacutedas na Amazocircnia

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser conclamada diante da percepccedilatildeo ambiental dos

moradores ribeirinhos de modo a ser pensado uma forma alternativa para que a

populaccedilatildeo tenha informaccedilotildees para se posicionar diante das propostas de poliacuteticas puacuteblicas

para a Amazocircnia

As propostas de desenvolvimento compatibilizadas com as que visam conservaccedilatildeo

eou preservaccedilatildeo da Amazocircnia sido apresentados com uma dualidade impossiacutevel de ser

alcanccedilada O pensamento complexo apresenta-se como uma alternativa de se repensar a

questatildeo ambiental compreendendo os fatores que a compotildeem e as interelaccedilotildees entre eles

inclusive a dinamicidade que apresentam

Entre as propostas de desenvolvimento destacam-se as que visam agrave construccedilatildeo de

estradas na Amazocircnia principalmente agraves relacionadas com a intenccedilatildeo de interligar o estado

do Amazonas ao resto do paiacutes Os argumentos para sua construccedilatildeo natildeo satildeo convincentes

uma vez que diante da necessidade de conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo da Floresta

Amazocircnica as medidas poliacuteticas foram sendo tomadas para isto incluindo-se a criaccedilatildeo da

Zona Franca de Manaus com o Polo Industrial para evitar impactos sobre a regiatildeo

A pesquisa procurou concentrar-se na reabertura da BR-319 considerando a

construccedilatildeo da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas como uma das grandes obras para a

sua reativaccedilatildeo

O argumento que sustenta a sua necessidade eacute o mesmo que nega seus impactos

uma vez que ela jaacute existe e a floresta natildeo precisaraacute ser devastada Outro argumento que natildeo

203

se sustenta eacute o escoamento da produccedilatildeo do Distrito Industrial pesquisas demonstram que o

transporte fluvial eacute mais econocircmico quando comparado ao rodoviaacuterio na regiatildeo

No que se refere agrave ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas ela teraacute como provaacutevel

cabeceiras as localidades de Bela Vista no municiacutepio de Manacapuru e Manaquiri sede do

municiacutepio de mesmo nome A pesquisa visando diagnosticar as alteraccedilotildees que a construccedilatildeo

da ponte traraacute agrave vida dessas populaccedilotildees ribeirinhas utilizou-se de entrevistas com

moradores mais antigos e chefes de famiacutelia de ambas as localidades

Os resultados das entrevistas resaltam a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos

destacando-se a dos que moram em Manaquiri que por terem vivido a construccedilatildeo da BR-

319 conseguem projetar cenaacuterios futuros preocupantes com a destruiccedilatildeo da biodiversidade

e os impactos sociais e econocircmicos na localidade

A pesquisa permitiu antever o comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis das

vaacuterzeas que poderaacute ter como consequecircncia o decliacutenio da produccedilatildeo agriacutecola

No entanto a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos necessita de informaccedilotildees que

permitam alcanccedilar o niacutevel transdisciplinar A percepccedilatildeo transdisciplinar deve contemplar

diferentes niacuteveis de realidade a loacutegica do terceiro incluiacutedo e a complexidade que a questatildeo

ambiental comporta

A percepccedilatildeo ambiental diagnosticada muito embora em alguns entrevistados tenda

a considerar os princiacutepios da transdisciplinaridade ainda necessita ser aprofundada e a

pesquisa indica que a Educaccedilatildeo Ambiental pode promover a visatildeo criacutetica da realidade

Diante dos obstaacuteculos enfrentados na obtenccedilatildeo das informaccedilotildees e entrevistas

considerando o espaccedilo geograacutefico e as condiccedilotildees de deslocamento ateacute as localidades a

pesquisa considerando referencial teoacuterico e os dados levantados reconhece as dificuldades

de se antepor agraves poliacuteticas puacuteblicas com as accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental natildeo formal

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser inserida natildeo como uma medida compensatoacuteria

das obras jaacute construiacutedas mas como uma alternativa de acesso a informaccedilatildeo que

necessariamente precisa ser antecipada aacutes Audiecircncias Puacuteblicas de modo a viabilizar acesso

dos moradores a diversas fontes de informaccedilatildeo para que ao participar de uma audiecircncia

puacuteblica os moradores tenham conhecimentos profundos dos possiacuteveis impactos de cada

obra e possam vir a fazer juiacutezo de valor apoiados em fundamentos

204

Considerando que o poder puacuteblico justifica as obras do seu interesse baseado na

legislaccedilatildeo que abre espaccedilo para justificaacute-las dessa forma licenciando-as haacute que se buscar

alternativas para o desenvolvimento da Educaccedilatildeo Ambiental atraveacutes de programas que

visem a sustentabilidade da Amazocircnia exigindo o cumprimento da legislaccedilatildeo vigente e

questionando inclusive sua interpretaccedilatildeo

A pesquisa propotildee as bases necessaacuterias ao planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para a problemaacutetica que a desencadeou

Existe espaccedilo para novas pesquisas principalmente no que se refere agrave percepccedilatildeo

transdisciplinar no contexto amazocircnico considerando que existem poucos avanccedilos e

resultados que concretizem os referenciais teoacutericos indicados para a necessaacuteria reforma de

pensamento que permitiraacute a humanizaccedilatildeo da humanidade

205

REFEREcircNCIAS

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PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash BELA VISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora na Bela Vista por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para a Bela Vista vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem na Bela Vista (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 1

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PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash MANAQUIRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora no Manaquiri por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para o Manaquiri vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem no Manaquiri (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 2

Page 5: AS GRANDES OBRAS PARA A REABERTURA DA BR-319 E SEUS

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DEDICATOacuteRIA

Dedico estaacute dissertaccedilatildeo primeiramente a Deus aos meus pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada por todo amor e apoio ao longo da vida e principalmente nos momentos difiacuteceis Aos meus irmatildeos Karoline Louzada e Lucas Silva por me apoiarem me deixando muitas vezes sozinha para escrever ou ler a minha orientadora Profordf Drordf Elizabeth Santos por me propor o desafio de estudar a Complexidade e conhecer um pouco mais da Amazocircnia que amo profundamente ao Prof Dr Evandro Aguiar por me instigar e motivar a ir aleacutem do previsto a todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo direta ou indiretamente lhes serei eternamente grata de todo o coraccedilatildeo meu muito obrigada

6

Agradecimentos

Aacute Deus em primeiro lugar por ter me dado agrave vida e continuar a me dar cada dia a

oportunidade uacutenica de fazer cada dia um dia melhor do que o anterior dando sempre o meu

melhor a Nossa Senhora de Aparecida de quem sou devota por esta presente sempre que

me colocava a escrever a dissertaccedilatildeo e iluminar minhas ideias

Aos meus amados pais Adailson Louzada e Rosalia Louzada pelos ensinamentos e

sacrifiacutecios que fizeram ao longo da vida para que eu e meus irmatildeos (Karoline Louzada e

Lucas Cortecircz) pudeacutessemos estudar muito obrigada Obrigado tambeacutem pelo apoio

incondicional e pelos exemplos diaacuterios e contiacutenuos de perseveranccedila ldquomesmo que natildeo se

possa ver aleacutem do presente persista insista que vocecirc chega laacuterdquo que ouvi incontaacuteveis vezes

ao longo da vida Agradeccedilo tambeacutem a compreensatildeo pela minha ausecircncia nas inuacutemeras

reuniotildees de famiacutelia que natildeo comparece para escrever esta dissertaccedilatildeo

Aacute Profordf Drordf Elizabeth da Conceiccedilatildeo Santos minha orientadora por todo apoio

dedicaccedilatildeo atenccedilatildeo e motivaccedilatildeo buscando sempre me incentivar a crescer intelectualmente

Agradeccedilo tambeacutem por expandir meus horizontes ao me apresentar a Complexidade e a

Transdisciplinaridade e por ter insistido nas tantas vezes que reconheccedilo que resistir em

aceitar mudanccedilas Estendo o meu agradecimento as suas filhas Socircnia Ciacutentia Sara e Isabelle

pela compreensatildeo pelas muitas vezes que a profordf Elizabeth estava comigo em campo ou me

orientado em dias de semana ou no final dela e feriados aleacutem de datas comemorativas

quando poderia estaacute com as filhas e o esposo prof Evandro Aguiar meu muito obrigada

Ao Prof Evandro Aguiar (professor sim por mais que atualmente se recuse a usar o

seu tiacutetulo de professor duramente conquistado) agradeccedilo imensamente por todos os

conselhos broncas mais principalmente pela motivaccedilatildeo para seguir em frente Agradeccedilo a

paciecircncia em revisar todo o material que escrevi em me emprestar seus livros em indicar

referecircncias em ajudar na construccedilatildeo deste trabalho e as longas conversas me incentivando

a ir aleacutem do que esperam de mim muito obrigada

A CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) pela

concessatildeo de bolsa durante a realizaccedilatildeo do mestrado

A Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM por me proporcionar a oportunidade

de ter minha graduaccedilatildeo em Licenciatura Plena em Geografia

Aacute Profordf Drordf Jesueacutete Pacheco Brandatildeo por me apresenta a geografia fiacutesica durante a

minha graduaccedilatildeo nas aacuteguas verde oliva da bacia hidrograacutefica do Zeacute Accedilu em Parintins e me

motivar e incentivar a entrar no mestrado meu muito obrigada

Ao Prof Dr Nelcioney Arauacutejo por me indicar referecircncias e emprestar seus livros

7

Aos professores doutores Tatiana Schor e Carlossandro Albuquerque pelas

generosas contribuiccedilotildees que me deram durante a minha qualificaccedilatildeo sem as quais o

presente trabalho natildeo sairia como estaacute hoje

Agradeccedilo ao meu amigo Armando Filho por ouvir meus desabafos pelas

provocaccedilotildees continuas com o intuito de me instigar a busca sempre mais e mais

informaccedilotildees que vinhessem a contribuir com o meu trabalho agradeccedilo tambeacutem pela

traduccedilatildeo do resumo

Aos meus colegas de mestrado pelas discussotildees A minha amiga Irlanda Leite por

me ajudar sempre que pedi Aos meus amigos Sidney Leozanira Christianne Rodrigo

Jeacutessica que sempre me incentivaram a seguir em frente mesmo quando em natildeo podia sair

com eles pois tinha que escrever

Agradeccedilo tambeacutem a minha maravilhosa equipe de campo que na verdade satildeo

meus amigos que se protificaram de imediato em me ajudar quando pede o apoio deles

para a coleta de dados satildeo eles Armando Filho (Geografia - UFAM) Erickson (Bioloacutegia -

UEA) Erisson Duarte (Bioloacutegia - UEA) Leozanira (Geografia - UFAM) Romaacuterio (Bioloacutegia-UEA)

Sidney Barros (Geografia - UFAM) Thiago Alisson (Bioloacutegia - UEA) Ariane Oliveira (Liacutengua

Portuguesa - UFAM) meu muito obrigado

Agradeccedilo tambeacutem a todos os moradores entrevistados da Bela Vista e de

Manaquiri que nos doaram horas preciosas de suas vidas para responder nossas perguntas

e nos presentear com suas histoacuterias de vida meu muito obrigada

Agradeccedilo tambeacutem ao sr Evandro Oliveira pela calorosa acolhida a toda equipe de

campo para realizarmos as entrevistas com os moradores de Manaquiri

8

RESUMO

A gigantesca fronteira e sua densa cobertura florestal apoiadas no discurso militar de ldquoum

lugar sem gente necessitado de uma histoacuteriardquo tornou a Amazocircnia alvo de grandes projetos

de desenvolvimento e integraccedilatildeo nacional a partir do seacuteculo XX o que por sua vez iniciava

um novo e complexo capiacutetulo na histoacuteria da regiatildeo Algo que viria a marca profundamente

natildeo soacute a paisagem com a retirada da cobertura vegetal para a implantaccedilatildeo das ldquoespinhas de

progressordquo como ficaram conhecidas as rodovias implantadas na Amazocircnia mas tambeacutem a

vida das centenas de milhares pessoas que migraram para o entorno das futuras rodovias

Essas populaccedilotildees tiveram que se adaptar ao ambiente amazocircnico ao mesmo tempo tambeacutem

trouxeram seus haacutebitos e costumes promovendo a troca de conhecimentos com as

populaccedilotildees ribeirinhas o que viria a permitir definitivamente a ocupaccedilatildeo da regiatildeo ateacute

entatildeo considerada um vazio demograacutefico Embora o ciclo da borracha tenha levado milhares

de nordestinos em sua maioria a regiatildeo amazocircnica no final do seacuteculo XIX ateacute a primeira

deacutecada do seacuteculo XX caberia aos migrantes e imigrantes das rodovias darem o ponto de

partida para transformaccedilatildeo definitiva da paisagem e a consolidaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo da regiatildeo

adaptando-se a realidade local que muitas vezes longe de centros urbanos eacute residir em

aacutereas de vaacuterzea Diante disso buscou-se Analisar as possiacuteveis alteraccedilotildees na vida de

populaccedilotildees ribeirinhas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri frente agrave

reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas

tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras Para isso faz-se necessaacuterio

identificar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) e o consequente

decliacutenio no volume de produccedilatildeo agriacutecola tento como referecircncia a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio Negro Caracterizar a percepccedilatildeo dos moradores dessas localidades sua relaccedilatildeo

com o ecossistema e perspectiva de desenvolvimento do lugar Propor alternativa de

Educaccedilatildeo Ambiental que considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e

sustentabilidade com a reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da estrada BR-319

Para executar tais objetivos a pesquisa foi dividida em duas etapas na primeira etapa foram

entrevistados os moradores mais antigos das duas localidades e na segunda etapa da

pesquisa agraves entrevistas foram expandidas aos chefes de famiacutelia com quarenta entrevistados

em cada localidade A partir das investigaccedilotildees realizadas e da anaacutelise dos dados coletados

foi possiacutevel detectar a percepccedilatildeo dos entrevistados quanto agrave reabertura da BR-319 e a

construccedilatildeo da ponte sobre o rio Solimotildees Dessa forma percebeu-se uma tendecircncia de

entusiasmos com a possibilidade de realizaccedilatildeo das obras ao mesmo tempo que gera

cautela nos entrevistados quanto aos impactos dessas obras sobre a floresta Amazocircnica

Palavras chaves Estradas na Amazocircnia ponte sobre o Rio Solimotildees percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Educaccedilatildeo Ambiental

9

ABSTRACT

The immense border and the dense forest cover encouraged by the military discourse of ldquoa

place without people craving for historyrdquo made the Amazon region a target to many

massive projects of development and national integration in the beginning of XX Century

which led to a new and complex chapter in the history of this regionThis is something that

would deeply scar not just the landscape with the major deforesting to implant the roads at

the Amazon as known as ldquospines of progressrdquo but also the life of hundreds of thousands of

people that migrated to the surrounds of those that would be the future highways These

populations had to adapt to traditions which fomented the exchange of knowledge

between the riverine populations which allowed the occupation of this area that was

considered as demographic emptiness Although the Latexrsquos cycle had brought thousands of

people most of them from the Northeast region to the Amazon region in the end of the XIX

Century until the first decade of the XX Century However it was the role of the migrants

and immigrants of the roadways to start the transformation that would define the

landscape and consolidate the occupation at this region adapting to local reality that

sometimes located far away from the urban centers itrsquos inhabit in riparian areas Taking this

in consideration this project aimed analize the possible alterations on the lifes of the

riparian populations sited at ldquoBela Vista Communityrdquo (Municipality of Manacapuru) and the

headquarters of the Municipality of Manaquiri ndash AM in view of the re-opening of the

highway BR-319 Considering that the building of the bridge over the SolimotildeesAmazonas

River will probably have as initial points those two locations For this its necessary identify

the present scenery of the fluvial geomorphology (upper land and floodplain) and the

consequent decline of the agricultural production having as reference the building of the

bridge over the Negro River Characterize the perception of the inhabitants of those

locations their relation with the ecosystem and the development perspective of the locality

Propound an alternative of Environmental Education that consider geographic aspects of the

region their complexity and sustainability with the spatial reconfiguration resulting from

the re-opening of the highway BR-319 To achieve such objectives the research was divided

in two phases In the first were interviewed the elders inhabitants at both locations Bela

Vista Community and the headquarters of the Municipality of Manaquiri In the second

phase were realized interviews with the familiesrsquo chiefs with forty inhabitants interviewees

in each locality Starting from the examination realized and from the analyzes of the

collected data it was possible detect the perception of the interviewees referring to the re-

opening of the highway BR-319 and the building of the bridge over the Solimotildees River

Therefore it was noticed a trend of enthusiasm regard the possibility of the fulfillment of

the construction at same time that generates some reservations in the interviewees about

the impacts of those works over the Amazon Forest

Keywords Roads in Amazon ndash Bridge Over the Solimotildees River ndash Transdisciplinary Perception

ndash Environmental Education

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia 24

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees 26

Figura 3 Primeira parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT41

Figura 4 Segunda parte da hidrovia na Amazocircnia segundo DNIT 42

Figura 5 Cruzeiros atracados no porto de Manaus43

Figura 6 Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia 46

Figura 7 BR-163 Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia48

Figura 8 Placa de bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica)49

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-23051

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista- Manacapuru57

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para o transporte61

Figura 12 Sede do municiacutepio de Manaquiri e sua topografia64

Figura 13 Frente da cidade de Manaquiri67

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri70

Figura 15 Centro comercial na sede municipal de Manaquiri70

Figura 16 Sede da comunidade da Bela Vista e sua topografia 82

Figura 17 Vista do rio SolimotildeesAmazonas da comunidade da Bela Vista83

Figura 18 Casa do administrador da Colocircnia85

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal por moradores da Bela Vista91

Figura 20 Usina de beneficiamento da CANA92

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA92

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista agrave margem do rio

SolimotildeesAmazonas93

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de vaacuterzea da comunidade da Bela Vista93

11

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio

SolimotildeesAmazonas94

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade104

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo109

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM-070 (Rodovia Manoel Urbano)112

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos113

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (AM-070)114

Figura 31 Aacutervores de castanheiras no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano

(AM-070)115

Figura 32 Ponte Rio Negro117

Figura 33 Iranduba 2007 antes da contruccedilatildeo da Ponte Rio Negro119

Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro121

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro122

Figura 36 Estrutura da Pesquisa127

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos128

Figura 38 Respostas dos entrevistados (1 a 4)129

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (perguntas 5 a 8)130

Figura 40 Resposta dos entrevistados (perguntas 9 e 10)131

Figura 41 Rua da comunidade da Bela Vista137

Figura 42 Sede do municiacutepio de Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa142

Figura 43 Paranaacute do Manaquiri150

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio de Manaquiri151

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas152

Figura 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia156

Figura 47 Rodovias Federais no Amazonas157

12

Figura 48 BR-317 ou Caarretera Del Paciacutefico158

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru159

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil159

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea- AM161

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira162

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant ndash Atalaia do Norte 164

Figura 54 BR-307 ndash Asfalto cedendo no 22km164

Figura 55 BR-230Amazonas166

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica170

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174171

Figura 58 A evoluccedilatildeo do territoacuterio Waimiri Atroari179

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319185

13

GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados da Bela Vista135

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista136

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista139

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte rio Solimotildees140

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319140

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo141

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri143

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo lhes agrada no Manaquiri144

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri145

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores de Manaquiri147

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo da ponte

sobre o Rio SolimotildeesAmazonas148

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319149

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia152

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores da sede municipal de Manaquiri sobre as consequecircncias

da construccedilatildeo de uma ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas191

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 2 Produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia59

Tabela 3 Crescimento populacional de Manaquiri entre (1991 a 2010 )67

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas68

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri de Janeiro a Dezembro de 201271

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo Agriacutecola da CANG75

Tabela 7 Crescimento populacional dos estados do Amazonas e Paraacute (1900-1950)80

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento do IIRSA124

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea

- AM165

Tabela 10 Crescimento populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas169

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atroari de 1905 ndash 2011172

Tabela 12 Crescimento populacional da regiatildeo Norte do Brasil182

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000- 2012)187

15

LISTA DE SIGLAS

BASA- Banco da Amazocircnia

BID- Banco Internacional de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico

CANA- Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas

CAND- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados

CANG- Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes

DEREM- Departamento de Estrada de Rodagem do Estado do Amazonas

DNER- Departamento Nacional de Estrada de Rodagem

FERMM- Fundo Especial da Regiatildeo de Metropolitana de Manaus

FIDAM- Fundo de Investimento Privado do Desenvolvimento

FNO- Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FONPLATA- Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata

FUNAI- Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRA- Instituto Brasil de Reforma Agraacuteria

IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal

IIRSA- Iniciativa de Integraccedilatildeo Regional Sul Americana

INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

INIC- Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo

IPAAM- Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental da Amazocircnia

IPHAN- Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

PICs- Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo

PIND- Programa de Integraccedilatildeo Nacional de Desenvolvimento

16

PND- I Plano Nacional de Desenvolvimento

PNN- Plano Nossa Natureza

POLAMAZOcircNIA- Polos Agropecuaacuterios e Agrominerais da Amazocircnia

PRODES- Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica brasileira por sateacutelite

RMM- Regiatildeo Metropolitana de Manaus

SEMTA- Serviccedilo Especial de Mobilizaccedilatildeo de Trabalhos para a Amazocircnia

SEPROR- Secretaacuteria de Estado da Produccedilatildeo Rural

SNAPP- Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute

SPI- Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

SRMM- Secretaacuteria Executiva do Conselho de Desmatamento Ambiental da Regiatildeo

Metropolitana de Manaus

SUFRAMA ndash Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus

UAB- Usina Hidreleacutetrica de Balbina

UFAM- Universidade Federal do Amazonas

17

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO19

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS23

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO31

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTOS E INTEGRACcedilAtildeO

NACIONAL34

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA40

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO

SOLIMOtildeESAMAZONAS52

21 ndash QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA

AMAZOcircNIA57

211 ndash Um Lugar Chamado Manaquiri63

222 ndash Infraestrutura do Manaquiri Produccedilatildeo Agriacutecola68

22 ndash MARCHA PARA O OESTE E A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS72

221 ndash Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- Cana ldquoUm Lugar Para recomeccedilarrdquo78

222 ndash Infraestrutura da Cana da Produccedilatildeo Agriacutecola a Construccedilatildeo de Batelotildees85

223 ndash Da Sede da CANA agrave comunidade da Bela Vista87

3 ndash PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO96

31- RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR104

32 - MANAUS METROacutePOLE105

321 Ponte Rio Negro Proposta e Realidade108

33- PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS 116

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI 125

341 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Bela Vista 135

18

342 Caracterizaccedilatildeo dos Chefes de Famiacutelia Entrevistados na Sede do Municiacutepio de

Manaquiri142

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR NO FUTURO ALTERNATIVA DE

EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS153

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO158

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute162

43 BR-230 TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Aacute FAZENDAS DE

GADO165

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute-RR DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI)170

45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO180

46 ndash OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES188

461 Proposta de Educaccedilatildeo Ambiental Audiecircncias Puacuteblicas e o preparo das localidades

ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri192

CONSIDERACcedilOtildeS FINAIS201

REFEREcircNCIAS204

APEcircNDICE 1219

APEcircNDICE 2220

19

INTRODUCcedilAtildeO

No final do seacuteculo XIV com o objetivo de comprar especiarias como accedilafratildeo canela

pimenta entre outros na Iacutendia os europeus principalmente portugueses e espanhoacuteis se

viram obrigados a encontrar uma rota alternativa para chegar a chamada Iacutendias Orientais

dando inicio agrave corrida pelas Grandes Navegaccedilotildees tornando os mares as principais vias de

circulaccedilatildeo de pessoas e mercadores a partir do seacuteculo XV intensificado ainda mais com a

descoberta das Ameacutericas

A preocupaccedilatildeo de invasotildees por paiacuteses adversaacuterios provocou a fundaccedilatildeo de

pequenas vilas e fortes ao longo dos litorais das Ameacutericas com o intuito de defender o

territoacuterio receacutem-descoberto Todavia a ocupaccedilatildeo de terras situadas proacuteximas a cursos de

aacutegua eacute anterior agraves Grandes Navegaccedilotildees uma vez que as cidades mais antigas do mundo tecircm

suas origens proacuteximas a cursos drsquoaacutegua mares e oceanos Como por exemplo a cidade de

Jericoacute na Palestina considerada a aglomeraccedilatildeo urbana mais antiga do mundo com data de

nove mil anos aC estaacute diretamente ligada ao rio Jordatildeo (VOGUE 2012) Outras cidades

consideradas antigas satildeo Mumbai na Iacutendia banhada pelo Oceano Iacutendico Xangai na China

banhada pelo Mar da China Meridional

No Brasil natildeo seria diferente uma vez que foi Colocircnia de Portugal no litoral e

Colocircnia Espanhola na Amazocircnia ateacute os espanhoacuteis serem expulsos pelos portugueses da

regiatildeo no seacuteculo XVII Entretanto os resquiacutecios da colonizaccedilatildeo portuguesa persistiram no

litoral criando primeiramente vilas depois cidades em constante crescimento populacional

concentradas em pequenos centros urbanos agrave principio e depois em meacutedios centros nos

seacuteculos seguintes

Com a libertaccedilatildeo dos escravos em 1888 novas aacutereas passam a ser ocupadas no

entorno dos centros urbanos ou no meio deles como eacute o caso dos morros na cidade do Rio

de Janeiro no inicio de 1900

A populaccedilatildeo brasileira concentrada quase em sua totalidade no litoral brasileiro no

inicio do seacuteculo XX definia a maior parte do territoacuterio como espaccedilos ldquovaziosrdquo o Governo

Brasileiro na pessoa do entatildeo Presidente da Repuacuteblica Getuacutelio Vargas (1938-1942) diante

20

dessa situaccedilatildeo criou as Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional enfatizando a ocupaccedilatildeo

principalmente da Amazocircnia e do Centro-Oeste brasileiro

Entretanto esta natildeo foi a primeira poliacutetica de povoamento da Amazocircnia pois o

primeiro Ciclo da Borracha aconteceu entre 1879-1912 onde centenas de milhares de

pessoas migraram para a regiatildeo com o objetivo de trabalharem na retirada do laacutetex da

seringueira (Hevea brasiliensis)

Contudo essa migraccedilatildeo em considerada escala natildeo permaneceu por um longo

periacuteodo tambeacutem natildeo chegou a ocupar significativa porcentagem da Amazocircnia isto eacute os

imigrantes se concentravam em poucos locais chamados de ldquoseringaisrdquo situados ao longo

dos rios no sudoeste do Amazonas e posteriormente no estado do Acre receacutem-

conquistado

As Poliacuteticas de Integraccedilatildeo Nacional criadas e iniciadas por Vargas em 1940 com o

Decreto-Lei nordm 2009 de 09 de Fevereiro de 1940 daacute inicio a criaccedilatildeo de Nuacutecleos Coloniais

(lotes rurais previamente demarcados) com o objetivo de incentivar a colonizaccedilatildeo e a

produccedilatildeo agriacutecola em aacutereas consideradas vazias desde que as aacutereas escolhidas reunissem

as condiccedilotildees exigidas na lei

Em 14 de Fevereiro de 1941 atraveacutes do Decreto-Lei nordm3059 criam-se as Colocircnias

Agriacutecolas Nacionais custeadas integralmente pelo governo federal Entre as colocircnias

fundadas estaacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA criada pelo Decreto-Lei nordm

8056 de 30 de Dezembro de 1941 localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem

esquerda do rio Solimotildees com o nome de Colocircnia Agriacutecola Nacional da Bela Vista

A presente pesquisa pretendeu fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo e

funcionamento CANA utilizando-se de entrevistas com os colonos que continuam morando

na regiatildeo Ao mesmo tempo fazer o resgate histoacuterico de criaccedilatildeo da cidade sede do

municiacutepio do Manaquiri situado agrave margem direita do Rio Solimotildees

Poreacutem o trabalho natildeo eacute somente um resgate histoacuterico pois o mesmo tambeacutem

identifica os impactos das grandes obras para reabertura da BR 319 na visatildeo dos moradores

das localidades ribeirinhas da Bela Vista e Manaquiri e posteriormente estruturar uma

alternativa que propicie informaccedilotildees aos moradores para a tomada de decisatildeo em relaccedilatildeo

aos empreendimentos propostos visando agrave construccedilatildeo de cenaacuterios futuros de modo a

garantir a conservaccedilatildeo do ambiente

21

O problema que norteou a pesquisa estaacute relacionado agrave proposta de

desenvolvimento da Amazocircnia compatibilizada com a sua conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as alteraccedilotildees na vida de

ribeirinhos do rio SolimotildeesAmazonas residentes nas localidades de Bela Vista e Manaquiri

no estado do Amazonas frente agrave reabertura da BR-319 considerando a construccedilatildeo da ponte

sobre o rio tendo provavelmente essas duas localidades como cabeceiras

Para o alcance desse objetivo geral a pesquisa estabeleceu os seguintes objetivos

especiacuteficos analisar o atual quadro da geomorfologia fluvial (terra firme e vaacuterzea) visando o

comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis e o consequente decliacutenio no volume da produccedilatildeo

agriacutecola caracterizar a percepccedilatildeo dessas comunidades sua relaccedilatildeo com o ecossistema e

perspectiva de desenvolvimento do lugar propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental que

considere os aspectos geograacuteficos da regiatildeo sua complexidade e sustentabilidade com a

reconfiguraccedilatildeo espacial advinda da reabertura da BR-319

A dissertaccedilatildeo estaacute organizada em quatro capiacutetulos Floresta Amazocircnica realidade e

desafios A vida ribeirinha em torno da sazonalidade do rio SolimotildeesAmazonas Percepccedilatildeo

Transdisciplinar e Complexidade perspectiva de Desenvolvimento Educaccedilatildeo Ambiental e

Poliacuteticas de Desenvolvimento para a Amazocircnia

Ao longo do primeiro capiacutetulo discutiu-se as diversas abordagens sobre a

Amazocircnia acompanhada da sua demarcaccedilatildeo territorial seja ela feita pelo bioma amazocircnico

ou pela delimitaccedilatildeo de Amazocircnia Legal Brasileira o processo de evoluccedilatildeo do pensamento

histoacuterico sobre a regiatildeo do claacutessico ao moderno baseado em autores que classificam a

Amazocircnia segundo seus aspectos fiacutesicos Os projetos de desenvolvimento implantados na

regiatildeo foram ressaltados em seus respectivos momentos histoacutericos e suas representaccedilotildees

tanto para seus executores quanto para o momento poliacutetico de cada eacutepoca Nesse sentido

foram descritos o potencial hiacutedrico da regiatildeo e a opccedilatildeo de rodovias para alcanccedilar natildeo soacute as

fronteiras mas para minimizar os problemas enfrentados em outras regiotildees brasileiras bem

como a seca no nordeste e o excesso de matildeo de obra

No segundo capiacutetulo foi traccedilado um panorama sequencial apoacutes a quebra da

borracha e os reflexos nas margens dos rios da regiatildeo com a

migraccedilatildeo dos ex-seringueiros para proacuteximo dos centros urbanos a fundaccedilatildeo de pequenos

povoados ao longo das calhas dos rios e a fundaccedilatildeo da Vila do Jaraqui que mais tarde se

22

tornaria a cidade de Manaquiri no estado do Amazonas No mesmo capiacutetulo descreve-se a

fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA com a chegada de

seus futuros colonos sua distribuiccedilatildeo espacial e posteriormente a sua transformaccedilatildeo ao

longo dos anos com a vinculaccedilatildeo ao municiacutepio de Manacapuru como uma comunidade

rural

No terceiro capiacutetulo discutiu-se as bases teoacutericas da percepccedilatildeo transdisciplinar e a

perspectiva de desenvolvimento dividido em dois momentos no primeiro apresenta-se o

conceito de percepccedilatildeo transdisciplinar e seus pilares ontoloacutegico a loacutegica do terceiro

incluiacutedo e a complexidade com seus tambeacutem trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional

e hologramaacutetico No segundo momento eacute discutido o conceito de desenvolvimento

empregado na criaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Manaus e na construccedilatildeo da ponte sobre

o rio Negro considerada a ldquoponte do futurordquo porque permitiraacute o acesso agrave BR 319 com a sua

vinculaccedilatildeo agrave ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas Ainda no capiacutetulo trecircs foi discutida a

percepccedilatildeo ambiental dos entrevistados sobre o meio ambiente natural onde vivem e sua

relaccedilatildeo com o mesmo visando colher informaccedilotildees que possam vir a ser usadas para a

sensibilizaccedilatildeo das localidades da Bela Vista e do Manaquiri

No quarto e uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho foi feito um resgate histoacuterico da

Educaccedilatildeo Ambiental no Brasil e no mundo assim como os impactos das rodovias

construiacutedas na Amazocircnia de forma a relacionar com as informaccedilotildees apontadas pelos

moradores da Bela Vista e de Manaquiri em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio

SolimotildeesAmazonas Ao mesmo tempo a pesquisa propotildee a execuccedilatildeo de alternativas de

Educaccedilatildeo Ambiental a fim de contribuir com a formaccedilatildeo de uma opiniatildeo puacuteblica baseada

em informaccedilotildees concretas de diversas fontes considerando a complexidade da questatildeo

ambiental

23

1 FLORESTA AMAZOcircNICA REALIDADE E DESAFIOS

A Floresta Amazocircnica Tropical ou Limite Panamazocircnica estaacute situada no norte da

Ameacuterica do Sul compreendendo os paiacuteses Boliacutevia Brasil Equador Colocircmbia Peru e a

Venezuela o equivalente a ldquo120 da superfiacutecie terrestre e dois quintos da Ameacuterica do Sul

conteacutem um quinto da disponibilidade mundial de aacutegua doce (17) e um terccedilo das florestas

mundiais latifoliadas mas somente 35 mileacutesimos da populaccedilatildeo planetaacuteriardquo(BECKER 2009

p33)

O Brasil deteacutem a maior parte da Florestal Tropical Amazocircnica ou Bioma Amazocircnico

que por coincidecircncia eacute toda a regiatildeo norte do paiacutes com aproximadamente 42 milhotildees de

kmsup2 o equivalente a 49 de todo o territoacuterio brasileiro abrangendo nove estados satildeo eles

Amazonas Paraacute Mato Grosso Acre Rondocircnia Roraima Amapaacute e partes dos estados de

Tocantins e Maranhatildeo (GREENPEACE 2014)

O Bioma Amazocircnico no Brasil eacute corriqueiramente confundido com a Amazocircnia

Legal instituiacuteda pela Lei nordm nordm 1806 de 06 de Janeiro de 1953 que discorre em seu art 2ordm

Art 2ordm A Amazocircnia Brasileira para efeito de planejamento econocircmico e execuccedilatildeo do Plano definido nesta lei abrange a regiatildeo compreendida pelos Estados do Paraacute e do Amazonas pelos territoacuterios federais do Acre Amapaacute Guaporeacute Roraima e ainda a parte do Estado de Mato Grosso a norte do paralelo de 16ordm a do Estado de Goiaacutes a norte Tocantins e a do Maranhatildeo a oeste do meridiano de 44ordm (BRASIL 1953 p 276)

Com isso a Amazocircnia Legal abrange integralmente ou parcialmente dez estados

brasileiros que somados correspondem a 52 milhotildees de quilocircmetros quadrados sendo eles

Amazonas Paraacute Acre Amapaacute Rondocircnia (antigo estado de Guaporeacute) Roraima significativa

porcentagem do estado do Mato Grosso e aproximadamente metade do estado de Goiaacutes

juntamente com Tocantins e parte do Maranhatildeo (Figura 1)

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O bioma Amazocircnico eacute classificado como uma recente planiacutecie sedimentar que

segundo Soares (1963 p25) estaacute ldquodisposta entre dois antigos e poucos elevados planaltos

cristalinosrdquo o que justifica sua pouca declividade em direccedilatildeo agrave sua foz no Oceano Atlacircntico

Banhada por uma intensa e extensa bacia hidrograacutefica a Amazocircnia eacute definida pela

literatura e pelos meios de comunicaccedilatildeo como uma regiatildeo homogecircnea de clima uacutemido de

cobertura vegetal e florestal densa (GONCcedilALVES 2001) No entanto tais definiccedilotildees sobre a

regiatildeo foram construiacutedas ao longo dos seacuteculos primeiramente com a chegada dos

espanhoacuteis agrave regiatildeo apoacutes perpetuados relatos e descriccedilotildees das paisagens encontradas

Uma visatildeo interessante sobre a Amazocircnia eacute apresentada por Rangel (2009) no inicio

do seacuteculo XX por meio de sete contos nos quais o autor destroacutei a imagem de um Eldorado

Amazocircnico construiacutedo ao longo de quatro seacuteculos apoacutes o seu descobrimento onde os

exploradores que se aventuravam pela regiatildeo descreviam suas paisagens animais cores e os

iacutendios encontrados cercados por romantismo

Figura 1 Delimitaccedilatildeo da Amazocircnia Fonte Greenpeace (2014) disponiacutevel em httpwwwgreenpeaceorgbrasilGlobalbrasilimage20105mapa_amazoniajpg

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Rangel (2009) descreve uma realidade cruel enfrentada pelos homens que

ultrapassam a sua bela paisagem e se encontram face a face com os perigos escondidos na

floresta

Eacute compreensiacutevel a construccedilatildeo de um cenaacuterio tatildeo monstruoso e cruel uma vez que o

ser humano por essecircncia tem medo do desconhecido e costuma criar estoacuterias para

justificar seus medos contudo se faz necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo o contexto histoacuterico

especiacutefico de cada publicaccedilatildeo

Na verdade o Eldorado Amazocircnico ou o Paraiacuteso Perdido foram contos trazidos pelos

proacuteprios navegadores E satildeo na verdade contos da Greacutecia Antiga transmitidos ao longo dos

seacuteculos que foram implantados sobre a regiatildeo baseados nas semelhanccedilas fiacutesicas como

floresta aacutegua em abundacircncia minerais animais etc

Portanto a definiccedilatildeo de Amazocircnia ldquoeacute na verdade mais uma imagem sobre a regiatildeo

do que da regiatildeordquo (GONCcedilALVES 2001 p17) Em outras palavras a descriccedilatildeo das

caracteriacutesticas do lugar define um quadro belo mais ou menos homogecircneo sobre a regiatildeo

quando na verdade o termo Amazocircnia

eacute um termo vago que adquire muacuteltiplos significados correspondente aos mais diferentes contextos socioecoloacutegico-culturais especiacuteficos que satildeo os espaccedilos do seu cotidiano Assim enquanto para uns ndash os de fora ldquoAmazocircniardquo aparece no singular para outros isto eacute para os que nela moram ndash ela eacute plural e multifacetada (GONCcedilALVES 2001 p18)

Banhada por uma extensa e intensa bacia hidrograacutefica apoiada em altos iacutendices

pluviomeacutetricos anuais eacute uma floresta gigantesca em tamanho e diversidade torna a

Amazocircnia o palco de espetaacuteculos beliacutessimos em sua paisagem (Figura 2)

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Contudo segundo Soares (1963) a Amazocircnia estaacute dividida em dois terrenos de

caracteriacutesticas fisionocircmicas distintas

[]os planos ondulados alagaacuteveis ou natildeo mas sempre uacutemidos da bacia amazocircnica A chamada Mata de Vaacuterzea ou caa-igapoacute eacute uma das taxas de umidade mais elevada isto eacute uma planiacutecie aluvial inundaacutevel [] Jaacute a outra a Mata de Terra Firme ou caa-eteacute viceja em terrenos menos uacutemidos por estarem acima do niacutevel maacuteximo das cheias (SOARES 1963 p64)

Azevedo (1949) destaca que a Amazocircnia assim como o restante do territoacuterio

brasileiro comporta bacias sedimentares e tambeacutem rochas cristalinas muito antigas

Baseado nos trabalhos publicados e apoiado em suas pesquisas de campo Azevedo (1949)

classificou pela primeira vez todo o relevo brasileiro em macro sistemas dividido-os

segundo sua altimetria planiacutecies ateacute 200m e planaltos com altimetria superior a 200m

Nesse contexto agrave Amazocircnia Brasileira foi classificada como um planalto localizado no

extremo norte da regiatildeo chamado de Planalto das Guianas e possui uma planiacutecie que

comporta todo o estado do Acre adentra o estado do Amazonas e segue o curso do rio

Amazonas ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico

No final da deacutecada de 50 surge uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro de

autoria de AbrsquoSaber (1958) que teve por base o conjunto de agentes internos (tectonismo) e

externos (clima solo hidrografia etc) e os processos geomorfoloacutegicos de erosatildeo e

deposiccedilatildeo onde o planalto eacute uma superfiacutecie de intensa erosatildeo e a planiacutecie de sedimentaccedilatildeo

Fez uma nova classificaccedilatildeo do relevo brasileiro acrescentando novas tipologias e

Figura 2 Encontro das Aacuteguas Rio Negro e Rio Solimotildees

Fonte Louzada (2011)

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subdividindo outras jaacute existentes em Azevedo (1949) foi o que ocorreu na classificaccedilatildeo do

relevo amazocircnico onde o Planalto das Guianas e a Planiacutecie Amazocircnica de Azevedo (1949)

passou a ser denominada de planiacutecies (terras de vaacuterzea ou terraccedilos fluviais) e terras baixas

amazocircnicas (aacutereas de terra firme ou baixos planaltos)

Todavia o trabalho de Ross (2003) foi um marco na caracterizaccedilatildeo do relevo

brasileiro pois atraveacutes do Projeto Radam Brasil o autor teve a oportunidade de sobrevoar

todo o territoacuterio brasileiro e ter acesso as imagens aeacutereas de radar que o permitiu fundir

informaccedilotildees tanto dos processos morfoestruturais (depressatildeo planalto planiacutecie etc) e

estrutura geoloacutegica como utilizar o criteacuterio morfoclimaacutetico principalmente do intemperismo

(erosatildeo e deposiccedilatildeo) Tanto conhecimento que permitiu ao autor expandir a caracterizaccedilatildeo

do relevo brasileiro caracterizando-o em 28 unidades de revelo

Na classificaccedilatildeo de Ross (2003) a Amazocircnia estaacute dividida assim Planalto Residual

Norte Amazocircnico Planalto da Amazocircnia Oriental Planalto Residual Sul Amazocircnico Planalto

e Chapada dos Parecis Depressatildeo Marginal Norte Amazocircnica Depressatildeo Marginal Sul

Amazocircnica Planiacutecie do Rio Amazonas Planiacutecie do Pantanal Guaporeacute Planiacutecies e Tabuleiros

Litoracircneos e Planiacutecie do Rio Araguaia

Apesar da nomenclatura diferente a Planiacutecie do Rio Amazonas descrita por Ross

(2003) eacute a mesma planiacutecie de terras baixas descritas por AbrsquoSaber (1958) onde predominam

terras alagaacuteveis conhecidas como vaacuterzeas Soares apud Camargo (1963) afirma que as

vaacuterzeas correspondem a 15 de todo o territoacuterio da Amazocircnia Brasileira

As terras de vaacuterzea satildeo cobertas pela sazonalidade do rio em meacutedia seis meses ao

ano todavia ao contraacuterio do que muitos leigos dizem as terras natildeo satildeo lavadas pelo rio ao

contraacuterio satildeo nutridas pelo mesmo atraveacutes da deposiccedilatildeo de materiais conhecidos como

aluviotildees (depoacutesitos de sedimentos trazidos pelas aacuteguas) o que torna as terras de vaacuterzea

feacuterteis e cultivaacuteveis em seu periacuteodo seco

A mata de vaacuterzea apresenta maior diversidade botacircnica que a mata de terra firme

devido agrave quantidade e variedade de sementes transportadas pelas aacuteguas das cheias anuais

depositadas nos solos ricos das vaacuterzeas Um grande exemplo dessa diversidade eacute a aacutervore

Samauacutema (Ceiba Pentandra) detentora de um tronco grosso e coloraccedilatildeo esbranquiccedilada

que apresenta uma grande copa e de relativa altura ultrapassando os 50m sendo

considerada a ldquorainha da vaacuterzeardquo (SOARES 1963)

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Por causa de sua nutriccedilatildeo anual as terras de vaacuterzea satildeo ocupadas pelas populaccedilotildees

ribeirinhas tradicionais para a produccedilatildeo agriacutecola por meio do plantio de cultivos de ciclo

curto como frutas (melancia maracujaacute banana melatildeo mamatildeo papaia goiaba) mas

principalmente de verduras (cebolinha coentro alfavaca couve berinjela pepino alface

entre outras) aleacutem da macaxeira e da mandioca que em seguida eacute utilizada na fabricaccedilatildeo da

farinha de mandioca muito consumida na regiatildeo Eacute atraveacutes das vaacuterzeas tambeacutem que as

populaccedilotildees tradicionais manteacutem seu contato diaacuterio com o rio principal via de circulaccedilatildeo na

Amazocircnia

Geralmente proacuteximas agraves vaacuterzeas que se formam as ilhas fluviais que segundo Sioli

apud Pacheco et al (2012 p543) satildeo fruto ldquodas modificaccedilotildees constantes na paisagem

atraveacutes do processo das planiacutecies de inundaccedilatildeovaacuterzeas ora erodindo-as e outras vezes

sedimentando-asrdquo

Essa dinacircmica acontece porque no processo fluvial de um rio a competecircncia e a capacidade estatildeo atreladas a triacuteade fluvial 1) erosatildeo 2) transporte das cargas detriacuteticas e 3) deposiccedilatildeo (BIGARELLA e SUGUIU 1990CHRISTOFOLETTI1980 e 1991) Ressalta-se desse modo que essa dinamicidade das aacuteguas fluviais natildeo contribui apenas para o modelado do relevo das planiacutecies aluviais pois ao desencadear o processo da triacuteade influencia na vida do homem de maneira que o atrai para a edificaccedilatildeo do seu sistema de produccedilatildeo [] Nessa dinacircmica vai deixando bancos dentriacuteticos que chegam a formar ilhas fluviais que constituem o ecossistema de vaacuterzea onde o homem passa a interagir com seu modo de vida (PACHECO et al 2012 p543)

Os autores referem-se agrave utilizaccedilatildeo das ilhas fluviais pelos ribeirinhos para a

produccedilatildeo agriacutecola de alimentos de ciclo curto como feijatildeo de metro ou corda feijatildeo de

praia melancia entre outros para complementar a alimentaccedilatildeo familiar ou para a venda no

mercado consumidor mais proacuteximo

Ao contraacuterio dos solos de vaacuterzea que satildeo nutridos pelas aacuteguas dos rios quando satildeo

cobertos pelas cheias os solos de terra firme nunca satildeo totalmente cobertos pelas aacuteguas

nem quando as enchentes extrapolam sua cota normal o que natildeo permite a nutriccedilatildeo dos

seus solos que eacute parcialmente alcanccedilado com a decomposiccedilatildeo das folhas das aacutervores e dos

proacuteprios nutrientes do solo

Apesar da ausecircncia de depoacutesitos aluviais nas aacutereas de terra firme isto natildeo impede a

existecircncia de aacutervores consideradas nobres como o mogno (Swieteniamahogany) angelim

(Hymenolobim excelsum) maccedilaranduba (Lucuma procera) e uma gigantesca lista de outras

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espeacutecies de madeiras de lei (SOARES 1963) de grande procura no mercado o que torna as

aacutereas de terra firme da Amazocircnia alvo de grande empresas madeireiras

Devido ao seu gigantesco territoacuterio maior do que o nordeste brasileiro inteiro e

qualquer outra regiatildeo do paiacutes a Amazocircnia ainda eacute vista como um ldquovazio demograacuteficordquo pois

sua populaccedilatildeo mesmo somando os sete estados que compotildeem a regiatildeo norte do paiacutes natildeo

expressa um nuacutemero significativo de habitantes pois tem densidade demograacutefica meacutedia de

444 (habkmsup2) (IBGE 2010)

Por anos a Amazocircnia foi definida e divulgada em larga escala ao mundo como

sendo uma regiatildeo monoacutetona e pouco compartimentalizada desprovida de diversidade

fisiograacutefica e ecoloacutegica ldquoEnfim um espaccedilo sem gente e sem histoacuteria passiacutevel de qualquer

manipulaccedilatildeo por meio de planejamento feito a distacircncia ou sujeita a proposta de obras

faraocircnicas vinculadas haacute um muito falso conceito de desenvolvimentordquo (ABrsquoSABER 1996

p131)

Nesse contexto de ldquoabundacircnciardquo de recursos naturais e terras disponiacuteveis a

Amazocircnia foi e continua sendo a preocupaccedilatildeo nacional pois corresponde

aproximadamente a metade do territoacuterio brasileiro suas dimensotildees e riquezas naturais natildeo

totalmente catalogadas pelos cientistas e estudiosos acabam por atrair um grande numero

de pessoas oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo (BECKER 1997)

Diante disso com o golpe do Estado Novo executado por Getuacutelio Vargas em 1937

contra os candidatos agrave presidecircncia da receacutem criada Repuacuteblica do Brasil Joseacute Almeida e

Armando Oliveira (acusados de serem comunistas) Vargas assume o poder em 1938

tornando prioridade a integraccedilatildeo econocircmica nacional atraveacutes da colonizaccedilatildeo de regiotildees

consideradas desabitadas como a Amazocircnia e o Centro-oeste brasileiro

Em virtude de que a capital do paiacutes ainda se encontrava no litoral na cidade do Rio

de Janeiro o nome do movimento de integraccedilatildeo nacional recebeu o nome de ldquoMarcha para

o Oesterdquo entretanto a marcha seguia em direccedilatildeo ao centro oeste em diferenccedila aos estados

de Minas Gerais Mato Grosso posteriormente ao Norte agrave Amazocircnia

A Marcha para o Oeste na verdade continha importacircncia estrateacutegica para

seguranccedila das fronteiras no entanto o objetivo principal era ocupar os espaccedilos

considerados vazios demograacuteficos e seguranccedila nacional era sua maior preocupaccedilatildeo

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Segundo Ricardo (1970) a Marcha para o Oeste de Getuacutelio Vargas seria a

conquista de seu proacuteprio territoacuterio uma vez que o mesmo foi esquecido por muitos anos

discurso este impregnado na ampla campanha veiculada pelo raacutedio em transmissotildees

semanais incentivando a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira para os espaccedilos considerados

vazios de gente e necessitados de histoacuteria

Ainda segundo Ricardo (1970) a naccedilatildeo brasileira se concretiza na conquista do

interior do Brasil lugar de gecircnese do Estado Nacional materializado na proacutepria bandeira

ldquoQuando entra no mato a primeira bandeira termina a histoacuteria de Portugal e comeccedila a do

Brasilrdquo (RICARDO 1970 p229)

Nota-se no entanto que Ricardo (1970) eacute um grande defensor da Marcha para o

Oeste de Vargas porque deseja como jornalista escrever a histoacuteria do Brasil a partir de um

novo comeccedilo sem a influecircncia negativa do litoral visto por ele como a porta de entrada das

ideias corruptoras vindas da Europa entre elas o comunismo

Ricardo (1970 p480) afirma que a Marcha para o Oeste eacute a chance de

ldquodesfeudalizar a economia da casa-grande golpeando de morte a aristocracia do litoral

brasileirordquo

Capelato (1998) considera que a releitura do passado no caso os bandeirantes do

seacuteculo XVII e a transposiccedilatildeo para o presente impregnado em um siacutembolo a bandeira

converge para a construccedilatildeo de uma nova nacionalidade

Desse modo ldquoa bandeira no interior da tropa concentra poderes pois assume o

papel de chefe de famiacutelia substituindo o cacique e o senhor feudalrdquo (RICARDO 1970 p479)

Esta comparaccedilatildeo entre o chefe de famiacutelia o bandeirante e o chefe de estado na verdade era

uma transferecircncia de poder a bandeira que se transformava em um ldquoEstado em miniaturardquo

para a formaccedilatildeo de um Estado brasileiro com a inclusatildeo de brancos iacutendios e negros uma

democracia racial e a unidade nacional

Todavia para Lenharo (1985) a expansatildeo geograacutefica e a integraccedilatildeo territorial que o

movimento bandeirista proporcionaraacute no passado transportado ao presente (seacuteculo XX)

pela Marcha para o Oeste tendo como siacutembolo a bandeira brasileira dava contorno e

conhecimento fiacutesico do Estado Nacional ao mesmo tempo democratizaccedilatildeo agrave naccedilatildeo atraveacutes

da miscigenaccedilatildeo

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Ricardo (1970) destaca ainda que o ato de Marcha para o Oeste natildeo eacute somente um

caminho a ser percorrido no ato de uma regeneraccedilatildeo em que a pureza do sertatildeo seraacute

submetida pelo litoral recebendo sua riqueza material e cultural

Mas sobretudo a marcha para o centro do paiacutes e depois para o oeste (no caso agrave

Amazocircnia sendo portanto o norte do paiacutes e natildeo o oeste) significava a ldquointegraccedilatildeo de

milhares de brasileiros agrave comunhatildeo nacional e seus benefiacutecios dando a oportunidade de

brasileiros de mentalidade atrasada [] penuacuteria fiacutesica [] e indigecircncia intelectual aleacutem da

miseacuteria econocircmicardquo (MESQUITA1943 p 264-265) a chance uacutenica de integraacute-los na vida

nacional levando assistecircncia agraves populaccedilotildees sertanejas ldquoignoradas e subnutridasrdquo(RICARDO

1956 p62-63)

11 O ESPACcedilO GEOGRAacuteFICO AMAZOcircNICO

De beleza e diversidade sem igual a Floresta Amazocircnica Brasileira permaneceu

relativamente intacta apoacutes os quatro seacuteculos de sua ldquodescobertardquo pelos espanhoacuteis pois natildeo

era possiacutevel viabilizar accedilotildees que viessem a conquistar a regiatildeo ateacute entatildeo isolada dos centros

dinacircmicos do paiacutes

Contudo La Condamine apud Batista (2007 p169) destaca

[] foi encontrar o cahuchu (nome que os iacutendios davam a goma significando ao peacute da letra pau que daacute leite) na Proviacutencia de Quito e depois nas beiras do Marantildeon jaacute utilizado para a confecccedilatildeo de garrafas botas bolas e bombas ou seringas A novidade estava em que os artefatos de borrachas se mostravam impermeaacuteveis e de grande elasticidade Comunicando o achado sensacional La Condamine se apresentou a Academia de Ciecircncias de Paris (BATISTA 2007 p169)

No ano de 1745 inicia-se inuacutemeras expediccedilotildees para a Amazocircnia com o objetivo de

colher a goma e testaacute-la nos anos que se seguiram agrave ldquodescobertardquo do laacutetex diversos foram

os testes para conhecer a substacircncia e tornaacute-la resistente agraves mudanccedilas de temperatura e

suas muacuteltiplas utilizaccedilotildees

Ateacute que em 1839 depois de 94 anos de pesquisa e estudos ldquoo americano Charles

Goodyear descobriu que misturando enxofre agrave borracha (vulcanizaccedilatildeo) conseguia

aumentar-lhe a resistecircncia e tornaacute-la quase insensiacutevel agraves variaccedilotildees de

temperaturardquo(BATISTA 2007 p170)

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Com a possibilidade de vulcanizaccedilatildeo da borracha e por consequecircncia uma maior

aplicabilidade na fabricaccedilatildeo de produtos resultou no

[] aumento consideravelmente a induacutestria de seus artefatos e consequentemente a sua extraccedilatildeo (em 1827 a Amazocircnia Brasileira jaacute exportava mais de 30 toneladas) entatildeo realizada por gente da terra agrave qual se juntariam mais tarde (pouco depois de 1850) emigrados da Proviacutencia do Maranhatildeo que se instalaram nos vales do Purus e do Solimotildees (SOARES apud REIS 1963 p119)

Segundo Soares (1963 p119)

Caberia ao nordestino poreacutem contribuir de maneira dramaacutetica e consideraacutevel para a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia Duramente castigado pela inclemecircncia do clima semiaacuterido com intermitentes e flagrante secas de sua terra natal viu na rendosa extraccedilatildeo do precioso laacutetex a soluccedilatildeo para o seu angustiado problema de sobrevivecircncia trocaria assim a miseacuteria e a falta drsquoaacutegua pela fortuna generosa num lugar onde natildeo passaria mais fome e sede O pesado tributo que aquela ldquoterra de promissatildeordquo iria cobrar-lhe mais tarde em sofrimentos fiacutesicos e ateacute com a proacutepria vida lhe era ainda desconhecido (SOARES 1963 p119)

Diante das rigorosas secas a partir de 1870 levas de migrantes

[] flagelados famintos doentes e desesperados lanccedilaram-se no ldquoinferno verderdquo da Amazocircnia que desconheciam totalmente numa migraccedilatildeo desordenada ldquodolorosa e anaacuterquicardquo na realidade um verdadeiro ecircxodo forccedilado mais pela fome e pela sede do que pela ambiccedilatildeo de uma riqueza que se afigurava faacutecil Oriundos principalmente do estado do Cearaacute o nordestino viesse de que estado fosse do Nordeste era chamado ldquocearenserdquo pelos habitantes da Amazocircnia (SOARES1963 p120)

Soares (1963) descreve que os maiores deslocamentos de nordestinos para a

Amazocircnia eram observados por ocasiatildeo das grandes secas e principalmente se

coincidissem com o alto preccedilo da borracha nos mercados internacionais

Soares (1963 p123) afirma que ateacute 1930 calculou-se que 200 mil nordestinos

migraram para a Amazocircnia em busca de terras para cultivar e uma chance de sobreviver e

criar seus filhos Foi atraveacutes deste e de muitos outros movimentos migratoacuterios em direccedilatildeo agrave

Amazocircnia que foi se construindo ao longo dos anos e seacuteculos o que conhecemos hoje

como espaccedilo geograacutefico amazocircnico

Dardel (2011 p3) descreve o espaccedilo geograacutefico como sendo ldquoum horizonte uma

modelagem cor densidade Ele eacute soacutelido liacutequido ou aeacutereo largo ou estreito ele limita e

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resisterdquo Tal descriccedilatildeo do espaccedilo relembra o rigor da ciecircncia frente agraves lentes de um

observador justo que seleciona imagem que reafirme seu amparo e sua medida

Todavia Dardel tambeacutem afirma que eacute funccedilatildeo da ldquogeografia segundo a etimologia

fazer a descriccedilatildeo da Terrardquo (DARDEL 2011 p3) Prossegue ressaltando que diferentemente

do rigor da ciecircncia que se apega agraves paisagens e fatos que sirvam ao seu propoacutesito o

geoacutegrafo se prende agrave leitura das formas e cores da superfiacutecie terrestre atraveacutes das lentes do

romantismo onde as feiccedilotildees da Terra despertam vibraccedilotildees e cores

Por outro lado AbrsquoSaber (2011) descreve a paisagem considerando

predominantemente os aspectos fiacutesicos extensotildees planaltos planiacutecies tentando

compreender o mosaico de formas que os compotildeem todavia natildeo atraveacutes das lentes do

romantismo como afirmado por Dardel (2011) mas atraveacutes do conhecimento adquirido da

observaccedilatildeo da paisagem e suas diferentes formas

Tal descriccedilatildeo pode ser usada como uma das definiccedilotildees do que eacute ser um geoacutegrafo

entretanto o que se propotildee aqui eacute entender o que eacute espaccedilo afinal Pode ser a organizaccedilatildeo

territorial dada pelo homem em relaccedilatildeo ao meio ambiente natural (MOREIRA 2011 p41)

que leva em consideraccedilatildeo a mudanccedila da relaccedilatildeo do homem com o meio a partir de dois

periacuteodos marcantes na histoacuteria a descoberta do fogo e a domesticaccedilatildeo de algumas plantas

para a agricultura Por outro lado Dardel (2011 p03) afirma que o espaccedilo eacute geomeacutetrico e

uacutenico que tem nome proacuteprio As definiccedilotildees de espaccedilo satildeo muitas e variam dentro da

mesma ciecircncia geograacutefica mas todas de alguma forma concordam que espaccedilo eacute um lugar

em dimensotildees ampliadas de muacuteltiplas e variadas funccedilotildees que servem de base para as

relaccedilotildees humanas com o meio ambiente natural ou construiacutedo

Diante de tantas definiccedilotildees sobre o espaccedilo se torna mais faacutecil compreender a visatildeo

de Gonccedilalves (2001) sobre a Amazocircnia e suas diferentes Amazocircnias frutos de suas

conquistas Primeiramente pelos espanhoacuteis na sua descoberta posteriormente pela invasatildeo

portuguesa depois pela catequizaccedilatildeo jesuiacuteta pelas migraccedilotildees em pequena escala durante

os seacuteculos seguintes e em grande escala no Ciclo da Borracha no inicio do seacuteculo XX e as

colocircnias (japoneses em Parintins nordestinos israelenses aacuterabes em Manacapuru)

Considere-se ainda a construccedilatildeo de estradas como a BR230 ndash a Transamazocircnica (Paraiacuteba -

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Amazonas) a BR153 (Beleacutem-Brasiacutelia) a BR174 (Manaus - Boa Vista) a BR319 (Manaus- Porto

Velho) entre outras que permitiram a chegada de mais migrantes agrave regiatildeo

12 AMAZOcircNIA E OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E INTEGRACcedilAtildeO NACIONAL

Um dos discursos mais antigos sobre a Amazocircnia aleacutem de descrever suas

dimensotildees e paisagem estonteantes eacute a afirmaccedilatildeo erroneamente empregada de que a

regiatildeo eacute ldquoum vazio demograacuteficordquo discurso este sustentado haacute muitos seacuteculos Orellana apud

Batista (2007 p53) afirma ter encontrado aldeias ao longo do rio Amazonas com

populaccedilotildees numerosas sempre bem providas de alimentos diversos

Batista (2007 p54) relata ainda as andanccedilas do padre Antocircnio Vieira pela foz do rio

Amazonas no seacuteculo XVIII que calculou a populaccedilatildeo em dois milhotildees de iacutendios de diferentes

povos e liacutenguas mas que falavam uma liacutengua em comum Todavia outros viajantes

contestam essas informaccedilotildees culpando a floresta pela escassez da populaccedilatildeo limitada a

viver em pequenos grupos

Ateacute hoje em pleno seacuteculo XXI com toda tecnologia disponiacutevel natildeo se chegou ainda

agrave conclusatildeo do real nuacutemero da populaccedilatildeo que viveu na regiatildeo o que diratildeo os viajantes que

passaram por ela Contudo haacute concordacircncia de que a populaccedilatildeo residente ou natildeo resistiu

bravamente ldquoa mais de quatro seacuteculos de confronto com o branco representado

fundamentalmente pelos espanhoacuteis e posteriormente por portugueses e seus

descendentesrdquo (BATISTA 2007 p53)

Ao partirmos do conceito de densidade demograacutefica utilizado atualmente pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE que afirma ldquodensidade populacional eacute a

medida expressa pela relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo e a superfiacutecie do territoacuteriordquo poderiacuteamos ateacute

considerar a afirmaccedilatildeo de que a ldquoAmazocircnia eacute um vazio demograacuteficordquo se comparada agraves suas

dimensotildees geograacuteficas se esse levantamento levar em consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo populaccedilatildeo-

aacuterea equacionada por relaccedilotildees sociais entre si e com a natureza ao seu entorno

(GONCcedilALVES 2001) Esse dado poderia ser repensado haja vista que as grandes cidades da

Amazocircnia como Beleacutem e Manaus cresceram ao longo dos anos em contato constante com

a floresta sem desmataacute-la por completo com exceccedilatildeo de Beleacutem em relaccedilatildeo direta com a

natureza seja atraveacutes do extrativismo da pesca ou da agricultura Natildeo cabe aqui excluir

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Beleacutem mas destacar o seu crescimento diferenciado devido agrave sua ligaccedilatildeo terrestre com

outras cidades brasileiras

Segundo Gonccedilalves (2002) a Amazocircnia natildeo eacute um vazio demograacutefico e cultural em

virtude de natildeo estarmos pensando a partir dos amazocircnidas que tecircm muito a ensinar a toda

a humanidade porque aprenderam a viver em ldquoharmoniardquo com a natureza agrave sua volta

estando acostumados a reproduzir relatos da eacutepoca da colonizaccedilatildeo da regiatildeo muitas vezes

apoiados em estatiacutesticas de densidade populacional contemporacircnea mesmo sabendo que

tais dados (densidade populacional) expressam de forma resumida sua quantificaccedilatildeo sem

levar em consideraccedilatildeo caracteriacutesticas importantes como relaccedilatildeo da populaccedilatildeo com o meio

ambiente natural seu crescimento urbano sua qualidade de vida entre outras

Gonccedilalves (2001 p 33) afirma que o discurso de vazio demograacutefico

[] esconde aquela preocupaccedilatildeo jaacute salientada herdada do periacuteodo colonial que revela mais a respeito das dificuldades dos que querem colonizaacute-la em realizar o seu intento do que propriamente do povoamento da regiatildeo Eacute a ideia do vazio demograacutefico eacute frequentemente reiterada como que para justificar a necessidade de ocupaacute-la para garantir a integridade nacional (GONCcedilALVES 2001 p33)

Preocupado com a densidade populacional da Amazocircnia devido agraves suas dimensotildees

e sua gigantesca fronteira o poder puacuteblico criou as poliacuteticas de ocupaccedilatildeo e integraccedilatildeo

nacional apoacutes 1964 que Becker (1997 p11) definiu como ldquosurtos devassadores vinculados

agrave expansatildeo capitalista mundialrdquo

O I Plano Nacional de Desenvolvimento ndash PND foi criado pela Lei 5727 de 04 de

Novembro de 1971 e tinha como objetivos

- colocar o Brasil [] na categoria de naccedilatildeo desenvolvida - duplicar ateacute 1980 a renda per capita do paiacutes (em comparaccedilatildeo a 1969) - expandir o PIB de Cr$ 2228 bilhotildees em 1972 para Cr$ 3145 bilhotildees em 1974 - investimentos nas aacutereas de siderurgia petroquiacutemica transporte construccedilatildeo naval energia eleacutetrica e mineraccedilatildeo - prioridades sociais agricultura programas de sauacutede educaccedilatildeo saneamento baacutesico e incremento agrave pesquisa teacutecnico cientifica - ampliaccedilatildeo do mercado consumidor e da poupanccedila interna com os recursos do PIS e do PASEP -aumento da taxa de investimento bruto de 17 em 1970 para 19 em 1974 (MATOS 2002 p47)

Aleacutem desses objetivos o PND teria que preparar a infraestrutura que fosse

necessaacuteria para alcanccedilar todos os objetivos nas deacutecadas seguintes ldquocom destaque para os

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transportes e as telecomunicaccedilotildees aleacutem de articular poliacuteticas setoriais com empresas

estatais e bancos oficiaisrdquo (ALMEIDA 2006 p195)

Por este motivo criaram o Programa de Integraccedilatildeo Nacional - PIN que foi aprovado

pelo Decreto Lei nordm1106 em 16 de julho de 1970 vigorando ateacute 1972 no governo do entatildeo

presidente Emiacutelio Garrastazu Meacutedici (MATOS 2002 p47) atraveacutes da construccedilatildeo de grandes

obras no paiacutes com destaque para a Usina Hidreleacutetrica de Itaipu e a Rodovia Transamazocircnica

(considerada o marco principal do PIN)

O PIN tinha como um dos principais objetivos ldquocriar meios de expansatildeo da fronteira

econocircmica do paiacutes em direccedilatildeo ao Centro-Oeste da Amazocircnia e do Nordesterdquo (MELLO 2006

p29) por meio de estradas ligando os centros dinacircmicos e modernos do paiacutes agrave lugares

isolados

Para as rodovias na Amazocircnia comeccedilando pela rodovia Transamazocircnica se previa

no PIN segundo Velho (1995 p210) que a cada cem quilocircmetros de estradas deveriam ser

assentadas cem mil famiacutelias

Entre os trechos de Altamira e Itaituba na Transamazocircnica deveria ser construiacutedas

Agrovilas (com 64 lotes com o espaccedilo 100 ha cada e casas destinadas aos colonos para o

desenvolvimento de suas atividades agriacutecolas) As agrovilas deveriam contar com escolas de

1ordmGrau (atual Ensino Fundamental) posto meacutedico igrejas e um armazeacutem para produtos

agriacutecolas (RABELLO 2011)

Tambeacutem se previa a implantaccedilatildeo de Agroacutepolis (conjunto de agrovilas em torno de

um nuacutecleo de serviccedilos urbanos) contendo todos os serviccedilos de agrovilas e serviccedilos

bancaacuterios correios e de escolas de 2ordm Grau (atual Ensino Meacutedio) tendo como objetivo

atender a demanda de cada trecho da Transamazocircnica

Algumas Agrovilas chegaram a ser implantadas na Rodovia Transamazocircnica mas

somente uma Agroacutepolis foi implantada no Km 46 onde recebeu o nome de Brasil Novo e

natildeo continha todos os serviccedilos descritos no PIN sendo chamada posteriormente de agrovila

(RABELLO 2011)

Mello apud Kleinpenning (2006 p29) afirma

Embora as agrovilas tenham sido previstas em 1971 apenas Brasil Novo na Transamazocircnica foi implantada e em 1973 o INCRA jaacute desistia desse modelo em funccedilatildeo do alto custo que representava Ateacute 1976 os colonos tinham desmatado natildeo mais que 10ha em seus lotes um ritmo reduzido acarretando tambeacutem reduccedilatildeo das metas de produccedilatildeo Sem produccedilatildeo as agrovilas perderam suas funccedilotildees Novos

37

instrumentos foram disponibilizados pelo Banco do Brasil (para creacutedito aos colonos) pela CIBRAZEM (para o armazenamento da produccedilatildeo) e pelo governo federal (para assistecircncia meacutedica) (MELLO apud KLEINPENNIG 2006 p29)

Segundo Becker (1997)

A modernizaccedilatildeo imposta pela estrateacutegia governamental natildeo eacute contudo onipotente Natildeo apenas porque foi desigualmente distribuiacuteda mas porque a realidade natildeo se desenvolve conforme o plano Na estrateacutegia governamental interferem os interesses e confrontos dos atores sociais privados e puacuteblicos expressos em sua territorialidade [] A propriedade dos seringais castanhais e do rebanho encontrava-se em poucas matildeos envolvendo aacutereas imensas e constituindo via de regra grandes posses (baseadas em arrendamentos de terras devolutas) cuja legitimidade passa a ser disputada pelos novos atores configurando a questatildeo da terra como central ao processo de ocupaccedilatildeo (BECKER 1997 p 19-20)

Atraiacutedos pela possibilidade de exploraccedilatildeo da mineraccedilatildeo madeira e a expansatildeo da

pecuaacuteria vaacuterios grupos econocircmicos do centro-sul do Brasil e estrangeiros denominados

popularmente como ldquosulistasrdquo migraram para as rodovias na Amazocircnia ldquoacompanhados de

empreiteiras teacutecnicos e sobretudo de camponeses e trabalhadores sem terra invertendo a

distribuiccedilatildeo do povoamento e da produccedilatildeordquo(BECKER 1997 p20)

Ainda segundo Becker (1997) a territorialidade exacerbada e intensa resultou em

conflitos violentos entre os atores sociais e contra o Estado ldquoOs conflitos de terra e de

territoacuterio onde se localizam as jazidas minerais subjugando iacutendios e camponeses satildeo os mais

conhecidosrdquo(BECKER 1997 p20)

Para Mello (2006)

A fase dessa estruturada accedilatildeo do Estado deixou cicatrizes provocadas pelos fortes conflitos sociais e pelos impactos ambientais Conflitos de terra entre fazendeiros posseiros seringueiros e iacutendios Desmatamento acelerado pela abertura de estradas exploraccedilatildeo de madeira seguida da expansatildeo agropecuaacuteria e imensa mobilidade espacial da populaccedilatildeo (MELLO 2006 p26)

Com a crise do petroacuteleo no final de 1973 e a elevaccedilatildeo da inflaccedilatildeo interna o

governo brasileiro se viu obrigado a escolher entre duas opccedilotildees difiacuteceis optar pela poliacutetica

de ajustamento do mercado externo (que causaria a contenccedilatildeo do crescimento interno e

evitaria o choque do setor externo em se transformar em inflaccedilatildeo permanente) ou pela

poliacutetica de financiamento (que manteria o crescimento com ajustes graduais de preccedilos com

financiamento externo) A escolha foi pelo financiamento contudo natildeo conseguiu atingir os

objetivos desejados obrigando o governo a lanccedilar o II Plano Nacional de Desenvolvimento

em 1974 (MATOS 2002 p49)

38

O II PND contemplou como medidas

I- O Brasil deveraacute ajustar a sua estrutura econocircmica aacute situaccedilatildeo de escassez de petroacuteleo e ao novo estaacutegio de sua evoluccedilatildeo industrial Tal mudanccedila implica em grande ecircnfase nas Induacutestrias Baacutesicas notadamente o setor de Bens de Capital e o de Eletrocircnica pesada assim como o campos dos Insumos Baacutesicos a fim de substituir importaccedilotildees e se possiacutevel abrir novas frentes de exportaccedilatildeo A Agropecuaacuteria que vem tendo em geral bom desempenho eacute chamada cumprir novo papel no desenvolvimento brasileiro II- Consolidar uma sociedade industrial moderna e de economia competitiva (BRASIL 1974 p5)

Para a Integraccedilatildeo Nacional foram destinados Cr$165 bilhotildees a serem distribuiacutedos

assim Cr$ 100 bilhotildees para o nordeste (com taxas de juros as maiores do paiacutes) e Cr$65

bilhotildees distribuiacutedos entre a construccedilatildeo do Polo Petroquiacutemico da Bahia e um Complexo

Metal Mecacircnico e Eletro Mecacircnico e o Programa de Desenvolvimento da Agroinduacutestria do

Nordeste

Contudo o paraacutegrafo sexto do II PND previa que ldquoA ocupaccedilatildeo produtiva da

Amazocircnia e do Centro-Oeste receberaacute impulso com o Programa de Polos Agropecuaacuterios e

agro minerais da Amazocircnia (POLAMAZOcircNIA)rdquo (BRASIL 1974 p06)

Os esforccedilos foram novamente concentrados na ocupaccedilatildeo da Amazocircnia soacute que

desta vez ldquobaseados em pontos focais e setoriais separados como por exemplo extraccedilatildeo de

recursos minerais ou aacutereas de criaccedilatildeo de gado com possiacutevel processo industrial rdquo

(KOHLHEPP 2002 p16)

Investidores de capital nacional e internacional foram atraiacutedos por reduccedilotildees consideraacuteveis de taxas tributaacuterias e tambeacutem por outros benefiacutecios Tornou-se vantajoso para bancos companhias de seguro mineradoras e empresas estatais de transportes ou de construccedilatildeo de estradas investir na devastaccedilatildeo da floresta tropical para introduzir grandes projetos de criaccedilatildeo de gado com subsiacutedios oficiais realizando a exploraccedilatildeo das terras a preccedilos baixos (KOHLHEPP 2002 p16)

Segundo Kohlhepp (2002) as fazendas de criaccedilatildeo de gado ocupavam na Amazocircnia

uma aacuterea estimada em 9 milhotildees de hectares ldquoDe um total de 350 mil km2 de terra

adquiridos pelas fazendas de gado uma aacuterea florestal de cerca de 140 mil km2 foi destruiacutedardquo

(KOHLHEPP 1987 p4)

A raacutepida expansatildeo de desmatamento por queimada em projetos de fazendas de gado causou danos irreparaacuteveis aos ecossistemas como erosatildeo perda de nutrientes por escoamento encrostamento da superfiacutecie e distuacuterbios no balanccedilo de aacuteguas Aleacutem disso a especulaccedilatildeo de terra causou seacuterios problemas e conflitos violentos entre as populaccedilotildees indiacutegenas e posseiros Por causa da raacutepida degradaccedilatildeo de pastos a criaccedilatildeo de gado tornou-se atividade econocircmica sem lucro fazendo com que as manadas diminuiacutessem consideravelmente nos anos

39

posteriores O cancelamento de incentivos fiscais anos mais tarde acabou com novas iniciativas de pecuaacuteria (KOHLHEPP 2002 p4 )

A descoberta de minerais e pedras preciosas em grande quantidade na deacutecada de

80 intensificou ainda mais os conflitos na Amazocircnia

A exploraccedilatildeo de recursos minerais foi um dos objetivos centrais dos programas de desenvolvimento da Amazocircnia Muitas licenccedilas de exploraccedilatildeo de jazidas de grande extensatildeo foram cedidas a empresas nacionais e internacionais []as novas descobertas de enormes jazidas de mineacuterio de ferro na serra dos Carajaacutes de bauxita no rio Trombetas e tambeacutem de ouro e diamantes revelaram a riqueza de recursos minerais da Amazocircnia sendo iniciados grandes projetos na regiatildeo nos anos 1980 (KOHLHEPP 2002 p4 )

Apoacutes sofrer grande pressatildeo nacional e internacional para conter os impactos

devastadores sobre a Floresta Amazocircnica em quase duas deacutecadas de intensa exploraccedilatildeo o

governo brasileiro cria o Plano Nossa Natureza (PNN) em 1988 pelo Decreto Lei nordm 96944

Art 1ordm Fica criado o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazocircnia Legal denominado Programa Nossa Natureza com a finalidade de estabelecer condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos recursos naturais renovaacuteveis na Amazocircnia Legal mediante a concentraccedilatildeo de esforccedilos de todos os oacutergatildeos governamentais e a cooperaccedilatildeo dos demais segmentos da sociedade com atuaccedilatildeo na preservaccedilatildeo do meio ambiente (BRASIL 1988 p1 )

Entre outras medidas o Decreto Lei 9694488 tambeacutem previa a criaccedilatildeo de GTI

(Grupos de Trabalhos Interministerial) responsaacutevel por promover a integraccedilatildeo de poliacuteticas

ambientais e de desenvolvimento

VI - Proteccedilatildeo do Meio Ambiente das Comunidades Indiacutegenas e das Populaccedilotildees Envolvidas no Processo Extrativista com a missatildeo de no prazo de 90 (noventa) dias estudar e propor e promover as medidas disciplinadoras da ocupaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo racionais da Amazocircnia Legal fundamentadas no ordenamento territorial integrada por representantes dos Ministeacuterios da Agricultura da Induacutestria e do Comeacutercio das Minas e Energia dos Transportes do Interior da Reforma e do Desenvolvimento Agraacuterio e das Secretarias de Planejamento e Coordenaccedilatildeo e de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidecircncia da Repuacuteblica (BRASIL 1988 p5)

Entretanto muito pouco de fato desse PNN foi executado e muito menos atendeu

agrave demanda

40

13 A MAIOR BACIA HIDROGRAacuteFICA DO MUNDO E A ESCOLHA DE RODOVIAS PARA A

AMAZOcircNIA VIAS DE DESTRUICcedilAtildeO DA FLORESTA

A maior Floresta Equatorial do mundo eacute a Amazocircnia que tambeacutem deteacutem a maior

bacia hidrograacutefica do mundo com 699206kmsup2 aacuterea de quase 140km a mais que a Bacia

Hidrograacutefica do Rio Nilo com 685215 (MARTINI apud PACHECO 2012 p545)

Eacute na Amazocircnia Brasileira que se concentra a maioria dos rios navegaacuteveis de toda a

Amazocircnia com detaques para os rios Javari Juruaacute Madeira Solimotildees Negro utilizados em

sua maioria por ribeirinhos como meio de locomoccedilatildeo entre as comunidades e as cidades

proacuteximas aleacutem de transporte de alimentos

Apesar de seu gigantesco potencial hiacutedrico os rios da Amazocircnia natildeo satildeo explorados

em sua magnitude o que poderia ser alcanccedilado atraveacutes de uma rede de hidrovias

connectadas e eficientes Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (2013) a regiatildeo deteacutem sim duas hidrovias (Figura 3) A primeira inicia-se no alto

rio Japuraacute ligando-se ao rio Maratildea acompanhado do rio Iccedilaacute e Jutaiacute e posteriormente

juntado-se ao rio Solimotildees A segunda hidrovia (Figura 4) eacute inciada no rio Amazonas (no

encontro do rio Negro e rio Solimotildees) e se estende de Manaus agrave foz no Oceano Atlacircntico

alimentado pelos rios Tapajoacutes e Xingu

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13)

43

Apesar disso da nomenclatura utilizada de hidrovia um rio navegaacutevel natildeo eacute

necessariamente uma hidrovia por natureza pois para que seja uma hidrovia se faz

necessaacuterio sinalizaacute-lo e fornecer informaccedilotildees sobre a sua sinuosidade e seu talvegue de

forma a proporcionar seguranccedila agraves embarcaccedilotildees que navegarem pelo mesmo

Sobre isso o Ministeacuterio dos Transportes (2013) descreve que a sinalizaccedilatildeo de uma

hidrovia eacute tatildeo importante quanto a sinalizaccedilatildeo de uma rodovia

A sinalizaccedilatildeo de margem das hidrovias pode ser associada agraves placas que satildeo colocadas agraves margens das rodovias e que satildeo conhecidas como sinais de tracircnsito Como os canais de navegaccedilatildeo natildeo satildeo materializaacuteveis e as pistas de rolamento das rodovias sim as hidrovias requerem cartas de navegaccedilatildeo As pontes satildeo projetadas considerando que esse veiacuteculo tipo tenha no maacuteximo x toneladas os vatildeos sob os viadutos e passarelas ou os tuacuteneis que esse veiacuteculo tenha no maacuteximo y metros de altura e assim por diante Nas hidrovias o mesmo se sucede com as os tipos de embarcaccedilotildees (MINISTEacuteRIO DOS TRANSPORTES 2013)

Apesar disso os rios do Amazonas Paraacute satildeo pouco explorados tendo a sinalizaccedilatildeo

de uma hidrovia somente nas proximidades das grandes cidades Beleacutem-PA e em Manaus-

AM o restante ao longo dos rios natildeo deteacutem sinalizaccedilatildeo o que particularmente natildeo impede

que navios de grande porte cheguem agraves cidades (Figura 5) comandados por praacuteticos locais (e

natildeo por seus reais comandantes que desconhecem a profundidade dos rios)

Figura 5 Cruzeiros atracados no Porto de Manaus

Autora Louzada (Julho de 2012)

44

A escolha de hidrovias para a regiatildeo seria extremamente beneacutefica numa via de matildeo

dupla pois permitiria interligar definitivamente a regiatildeo ao restante do paiacutes agrave custos

micros se comparada agrave construccedilatildeo de rodovias na mesma regiatildeo ao mesmo tempo que

reduziria drasticamente o impacto sobre sua floresta

Embora esta seja a opccedilatildeo ideal a mesma natildeo foi escolhida pelos governantes que

optaram pela construccedilatildeo de rodovias

O DNIT destaca ainda as seguintes rodovias na Amazocircnia conforme Tabela 1

Tabela 1 Estradas na Amazocircnia segundo o DNIT

Nome Tipo de Rodovia Extensatildeo da rodovia planejada pelo DNIT

BR- 163 Longitudinal Inicia em Tenente Portela ndash SC e segue no sentido norte ateacute a fronteira com o Suriname

detendo 44267km

BR- 174 Longitudinal Inicia em Caacuteceres- MT e segue no sentido norte ateacute fronteira com a Venezuela detendo

27984km

BR-319 Diagonais Inicia em Manaus ndash AM e segue em sentindo sul ateacute Porto Velho-RO detendo 8804km

BR-364 Diagonais Inicia-se em Limeira-SP e segue no sentido noroeste ateacute a fronteira com o Peru

detendo 414150km

BR-230 Transversal Inicia-se em Cabedelo-PB e segue em sentido oeste ateacute Laacutebrea - AM detendo no total 49651km de extensatildeo

Eacute necessaacuterio esclarecer que todas as estradas anteriormente citadas somente se

encontram traccediladas no papel o que natildeo quer dizer que natildeo chegaram a ser abertas ou ateacute

mesmo chegaram a funcionar por um periacuteodo como eacute o caso da BR- 319

As estradas de modo geral satildeo consideradas vias de ldquoprogressordquo e

ldquodesenvolvimentordquo principalmente para a Amazocircnia por ser uma regiatildeo de fronteira e

possuir em seu territoacuterio uma gigantesca floresta Entretanto como era de se esperar as

estradas serviram ldquode roteiros de migraccedilatildeo para a Amazocircnia e foram planejadas para o

estabelecimento de aacutereas de atividades econocircmicas na forma dos chamados corredores de

Fonte DNIT (2013)

45

desenvolvimento mas sua construccedilatildeo causou seacuterios impactos ambientaisrdquo (KOHLHEPP

apud GOODLANDIRWIN 2002 p2 )

Segundo Loureiro e Pinto apud Arauacutejo et al (2008 p21) as terras puacuteblicas

habitualmente ocupadas por ribeirinhos iacutendios e caboclos em geral passaram a ser

ocupadas por colonos ao longo das estradas na Amazocircnia principalmente no estado do

Paraacute

[] sendo colocadas a venda em lotes de grandes dimensotildees para os novos investidores que as adquiriam diretamente dos oacutergatildeos fundiaacuterios do governo ou de particulares (que em grande parte revendiam a terra puacuteblica como se ela fosse proacutepria) Em ambos os casos era freguente que as terras fossem demarcadas pelos novos proprietaacuterios numa extensatildeo muito maior do que a dos lotes que originalmente haviam adqueridos (ARAUacuteJO et al apud LOUREIRO E PINTO 2008 p21)

Por sua vez os grandes proprietaacuterios de terras da Uniatildeo comercializadas pelo

INCRA (Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria) - criado pela fusatildeo do INDA

(Intituto Nacional de Desenvolvimento Agraacuterio) e o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma

Agraacuteria) em 9 de Julho de 1970 pelo Decreto nordm1110 (ARAUacuteJO2008) - expulsaram seus

moradores o que por sua vez gerou grandes conflitos por traacutes do slogan ldquoDesenvolvimento

da Amazocircniardquo

Por outro lado Becker (1977) apresenta um trabalho pioneiro sobre o

desenvolvimento regional na Amazocircnia ldquoalcanccediladordquo com a construccedilatildeo da BR-010 Bernardo

Sayatildeo popularmente conhecida como Beleacutem-Brasiacutelia inaugurada em 1960 pelo entatildeo

presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Becker (1977) afirma que

O raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao longo de todo o eixo rodoviaacuterio caracterizado pelo crescimento ou aparecimento de centros urbanos das mais variadas categorias eacute devido em grande parte agrave rodovia A posiccedilatildeo de contato com aacutereas pioneiras dinacircmicas a posiccedilatildeo de entroncamento e a distacircncia aos polos e centros regionais parecem ser os fatores fundamentais de localizaccedilatildeo das cidades [] conclui-se que ateacute 1970 a rodovia foi o fator positivo principalmente para os polos regionais e aacutereas circundantes uma vez que embora posterior beneficiou suas cidades e induziu o desenvolvimento a sua volta (BECKER 1977 p 40)

Do ponto de vista da integraccedilatildeo nacional entre polos regionais defendida por

Becker (1977) a BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) sem duvida teve grande ecircxito pois levou

ldquodesenvolvimentordquo e um raacutepido processo de urbanizaccedilatildeo ao logo da rodovia O que poucos

46

trabalhos pesquisadores ou estudantes se atrevem a relatar satildeo os impactos

gigantescos dessa obra sobre a Floresta Amazocircnica

A construccedilatildeo da BR- 010 sem duacutevida representou o iniacutecio do processo de

transformaccedilatildeo da paisagem amazocircnica nos anos que se seguiram Sobre isso AbrsquoSaber

(1996) sabiamente afirma

Desmatar por desmatar eacute loucura Desmatar para estender incontrolaacuteveis

pastagens artificiais eacute ignoracircncia Desmatar para comprovar ldquobenfeitoriasrdquo eacute maacute-feacute

de matildeo dupla da administraccedilatildeo puacuteblica e dos proprietaacuterios interessados em

comercializaccedilatildeo do espaccedilo Entretanto eacute faacutecil aceitar desmatamento restrito em

subespaccedilos selecionados para experimentaccedilatildeo de culturas tropicais

estabelecendo moacutedulos [] projetos agriacutecolas diversificados e rentaacuteveis sob a

condiccedilatildeo de um extravasamento efetivo de benefiacutecios sociais para os

trabalhadores rurais e populaccedilotildees carentes da regiatildeo de atuaccedilatildeo dos projetos

(ABrsquoSABER 1996 p109 )

O autor tambeacutem propocircs um debate nacional sobre os limites ecoloacutegicos para

atividades agraacuterias rendosas que uma regiatildeo como a Amazocircnia para que as proacuteximas

geraccedilotildees possam chegar a observaacute-la (ABrsquoSABER 1996 p109) todavia a BR010 (Beleacutem-

Brasiacutelia) somente foi a primeira a ser inaugurada na regiatildeo amazocircnica (Figura 6)

Figura 6Trecho da Rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia

Fonte Peixoto (2012)

47

Outras rodovias foram idealizadas e iniciadas entre elas a estrada Cuiabaacute-Santareacutem

(BR163) responsaacutevel por ligar a cidade de Cuiabaacute no Mato Grosso agrave cidade de Santareacutem no

Paraacute com 1780km de extensatildeo

O primeiro trecho de 330km foi inaugurado em 1984 (MARGARIT 2013) oito anos

depois de terem sido iniciadas as obras ligando os municiacutepios de Diamantino e Sinop no

Mato Grosso Posteriormente foram pavimentadas mais 415km chegando a um total de

745km ligando Cuiabaacute agrave Guarantatilde do Norte (MARGARIT 2013)

O restante de mais ou menos 1035km ainda natildeo se encontram pavimentados

todavia se encontra traccedilado de terra batida ateacute a cidade de Santareacutem-PA o que natildeo impede

a ocupaccedilatildeo das margens da ldquofutura rodoviardquo funcionando como uma espinha dorsal do

ldquoprogressordquo

Segundo Fearnside (2001) o principal objetivo da BR-163 foi escoar a produccedilatildeo de

soja do centro oeste brasileiro e principalmente do Mato Grosso aleacutem de ampliar as aacutereas

cultivaacuteveis Mas Fearnside (2005 p 399) eacute enfaacutetico ao afirmar que a pavimentaccedilatildeo da BR-

163 iria ldquoacelerar a destruiccedilatildeo da floresta ao longo de seu traccedilado e em vaacuterios pontos

fisicamente distantes da rodovia mas sob sua influecircnciardquo

Contudo o desmatamento natildeo se limita somente agraves margens da rodovia mas

influencia tambeacutem ldquoa raacutepida expansatildeo de estradas ldquoendoacutegenasrdquo e a exploraccedilatildeo madeireira e

de desmatamento para distacircncias substancialmente maioresrdquo (FEARNSIDE 2005 p399) um

fato que pode ser atualmente percebido nas imagens de sateacutelite da rodovia (Figura 7)

48

Figura 7 BR-163 - Ocupaccedilatildeo ao longo da rodovia Organizado Anne Dirane (2014) Adaptado Louzada (2014)

Com as imagens de sateacutelite eacute possiacutevel visualizar incontaacuteveis propriedades ao longo

da BR-163 a maioria encontram-se sem a cobertura seja pela retirada da madeira ou por

iniciativa de seus proprietaacuterios para facilitar a produccedilatildeo de gratildeos e a criaccedilatildeo de gado sem

levar em consideraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mineral o que torna a rodovia foco de constantes

conflitos entre pequenos produtores agriacutecolas e grande proprietaacuterios de terras

No km 214 com saiacuteda da cidade de Santareacutem a BR-163 se funde com a BR-230

popularmente conhecida como Transamazocircnica por 109km onde continuam a ser ocupadas

as suas margens poreacutem com menor intensidade (Figura 8)

Para Fearnside (2005) a atuaccedilatildeo do Estado nessa regiatildeo praticamente natildeo existe o que

gera frequentemente um clima de desobediecircncia civil aberta

Tal desobediecircncia se manifesta tanto em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo ambiental quanto agrave situaccedilatildeo fundiaacuteria (IAG 2004) Em outras palavras a aacuterea natildeo tem a miacutenima chance de se tornar corredor de desenvolvimento sustentaacutevel antes que uma mudanccedila

49

maciccedila aconteccedila com relaccedilatildeo agrave presenccedila do Estado e antes que a populaccedilatildeo local se ajuste a viver sob um Estado de lei (FEARNSIDE 2005 p405)

Fearnside (2005 p405 ) afirma ldquoque natildeo se deve tratar uma probabilidade alta

como sinocircnimo de inevitabilidaderdquo Em outras palavras a pavimentaccedilatildeo de estradas na

Amazocircnia Brasileira seraacute provavelmente o percussor do aumento do desmatamento da

regiatildeo entretanto o mesmo natildeo deve ser considerado como inevitaacutevel

Uma outra rodovia que merece destaque entre as jaacute construiacutedas na Amazocircnia eacute a

BR-230 popularmente conhecida como Transamazocircnica planejada para ligar Cabedelo na

Paraiacuteba e Laacutebrea no Amazonas aproveitando uma estrada jaacute existente que ligava Cabedelo agrave

Altamira no estado do Paraacute a mesma foi ampliada pelo entatildeo presidente do Brasil Emiacutelio

Garrastazu Meacutedici que em 09 de Outubro de 1970 teve sua obras iniciadas oficialmente

com uma placa de bronze fixada em uma castanheira no municiacutepio de Altamira-PA (Figura

8)

Figura 8 Placa de Bronze marco do iniacutecio das obras da BR-230 (Transamazocircnica) Fonte Vogt (2004)

Vogt (1970) descreve uma viagem do general Meacutedici em junho 1970 ao semiaacuterido

nordestino na qual o presidente se emociona diante da seca que castigava a regiatildeo em seu

retorno a Brasiacutelia decidiu criar estradas na Amazocircnia a comeccedilar pela Transamazocircnica de

50

forma a convidar ldquoos homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens da

Amazocircniardquo

A Transamazocircnica foi projetada para atravessar o Brasil de leste a oeste de

Cabedelo-PB agrave Laacutebrea ndash AM com seus mais de quatro mil quilocircmetros o sonho faraocircnico de

Meacutedici foi rebatizado posteriormente de ldquoTransamargurardquo e ldquoTransmiserianardquo por seus

moradores uma vez que a veiculaccedilatildeo de propaganda no raacutedio de ldquoTerras sem homens para

homens sem terrardquo atraiu uma grande quantidade de brasileiros e estrangeiros Estima-se

que mais de dois milhotildees de pessoas migraram para a Transamazocircnica contudo somente

25 mil quilocircmetros dessa rodovia chegaram a ser abertos ligando as localidades de

Aguiarnoacutepolis agrave Laacutebrea (AM)

Estima-se que mais de US$ 15 bilhatildeo de doacutelares tenham sido gastos na

Transamazocircnica somente na deacutecada de 1970 o que resultou no crescimento da divida

externa e uma ferida ecoloacutegica e social profunda na Floresta Amazocircnica que nunca seraacute

cicatrizada

Para Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as estradas oficias construiacutedas na regiatildeo natildeo devem

ser consideradas as uacutenicas responsaacuteveis pelas mudanccedilas draacutesticas na paisagem amazocircnica

uma vez que a regiatildeo do centro-oeste do Estado do Paraacute ao longo das rodovias BR-230 e a

BR-163 tambeacutem agregam estradas natildeo oficiais (Figura 9) estimadas em um total ldquode 20769

km de estradas natildeo oficias que avanccedilaram a taxa meacutedia de 1890 km por ano entre 1990 e

2001 principalmente fora de Aacutereas Protegidasrdquo(BRANDAtildeO JUacuteNIOR et al 2007 p1)

51

Atraveacutes de Imagens Landsat Brandatildeo Juacutenior et al (2007) conseguiu mapear

241749km de estradas ateacute 2003 divididas em 25074km (10) como estradas oficiais

172405km (71) como estradas natildeo oficiais e 44270km (18) como estradas de

assentamentos rurais

Segundo Brandatildeo Juacutenior et al (2007) as aacutereas de risco de desmatamento em

estradas oficias segundo a pesquisa eacute de 25 jaacute nas estradas natildeo oficiais este risco chega a

85 considerando o niacutevel alarmante de desmatamento o que tambeacutem explica a maior

parte do desmatamento na Amazocircnia

Figura 9 Estradas natildeo oficiais na BR-163 e BR-230 Fonte Brandatildeo Juacutenior et al (2007)

52

2 - A VIDA RIBEIRINHA EM TORNO DA SAZONALIDADE DO RIO SOLIMOtildeESAMAZONAS

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais foi divulgado ao mundo por meio de

dois documentos ldquoCuidando do planeta Terrardquo (1991) e a ldquoConvenccedilatildeo da Biodiversidaderdquo

(1991) Os dois documentos demonstram preocupaccedilatildeo quanto ao conceito de

desenvolvimento e aos direitos das populaccedilotildees locais visto por eles como importantes

atores na conservaccedilatildeo dos recursos (VIANNA 2008 p208)

O conceito de populaccedilotildees locais ou tradicionais surgiu primeiramente para se

referir aos habitantes que tradicionalmente ocupavam um lugar onde posteriormente

tornou-se uma unidade de conversaccedilatildeo O conceito passou a considerar tambeacutem ldquoos

habitantes originais e seus descendentes das terras que foram ocupadas pela expansatildeo

colonizadora europeacuteia iniciada no seacuteculo XVI e satildeo definidos como etnicamente diferentes

das sociedades nacionais dominantes dos paiacuteses onde vivemrdquo (VIANNA 2008 p209)

Segundo Vianna (2008 p214) as populaccedilotildees tradicionais satildeo portadoras de

caracteriacutesticas positivas para a conservaccedilatildeo por exemplo a ldquoharmonia com a natureza e o

etnoconhecimento o manejo sustentaacutevel dos recursos naturais e a condiccedilatildeo de produtores

de biodiversidaderdquo

Essas satildeo as chamadas populaccedilotildees tradicionais expressatildeo que designa um conjunto de populaccedilotildees de pescadores artesanais pequenos agricultores de subsistecircncia caiccedilara caipiras camponeses extrativistas pantaneiros e ribeirinhos que fazem uso direto dos recursos naturais atraveacutes de atividades extrativistas eou de agricultura com tecnologia de baixo impacto ao meio (VIANNA 2008 p214)

Como acontece em outras regiotildees as populaccedilotildees tradicionais da Amazocircnia

tambeacutem recebem nomes que variam de lugar para lugar No estado do Paraacute por exemplo as

populaccedilotildees residentes longe de centros urbanos satildeo chamadas popularmente de extratores

ou extrativistas (pois sua economia tem por base a extraccedilatildeo de produtos da natureza) na

Ilha do Marajoacute satildeo chamados de marajoaras ou marajaacutes dentro do mesmo estado no

municiacutepio de Oacutebitos os moradores das vaacuterzeas satildeo chamados de varzeiros e os moradores

das aacutereas de terra firme satildeo chamados de terrafirmeiros (CANTO 2008)

No Estado do Amazonas as populaccedilotildees tradicionais recebem o nome de ribeirinhos

pois aleacutem de se localizarem muitas vezes distantes de centros urbanos em geral estatildeo

assentados nas vaacuterzeas da regiatildeo

53

Sobre isso Cabral (2002) destaca que

Quando se fala dos ribeirinhos as leituras satildeo variadas ora satildeo tratados como viacutetimas de uma sociedade excludente ora como iacutendios preguiccedilosos como heroacuteis das selvas por conseguirem adaptar-se a uma floresta e raras vezes como pessoas que definiram uma filosofia de vida o fato eacute que em geral o ribeirinho eacute marginalizado A marginalizaccedilatildeo do ribeirinho surge da leitura que noacutes ldquodoutoresrdquo fazemos erroneamente tomando por base o que julgamos importante para noacutes mesmos Outro aspecto que tem contribuiacutedo para a natildeo adoccedilatildeo de uma anaacutelise relativista eacute o discurso baseado em interesses capitalistas sobre o uso do tempo e do espaccedilo em favor da produccedilatildeo (CABRAL 2002 p2)

Reflete ainda que ldquoo ribeirinho integra o grupo das populaccedilotildees tradicionais que se

percebe pertencente agrave natureza em seu tempo e espaccedilo proacuteprio fluindo com ela e natildeo a

dominandordquo (CABRAL 2002 p2)

[] temos como definiccedilatildeo de ribeirinho a populaccedilatildeo constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populaccedilotildees do meio rural ou urbano que possui seu cosmo visatildeo marcada pela presenccedila do rio Para estas populaccedilotildees o rio natildeo eacute apenas um elemento do cenaacuterio ou paisagem mas algo constitutivo de modo de ser e viver do homem (CABRAL apud SILVA et al 2002 p2)

Conforme Oliveira (2002) as populaccedilotildees ribeirinhas satildeo frutos de fracassados ciclos

de desenvolvimento econocircmico brasileiro imposto sobre a regiatildeo onde os mesmos foram

abandonados agrave proacutepria sorte na floresta

Independente de suas muacuteltiplas definiccedilotildees ao longo das deacutecadas uma caracteriacutestica

se destaca em todas as definiccedilotildees de ribeirinho o elo com o rio embora muitos estudiosos

descrevam como necessaacuterio pois o rio eacute o uacutenico meio de locomoccedilatildeo entre boa parte da

Floresta Amazocircnica este elo eacute superior agrave necessidade de locomoccedilatildeo jaacute que ele tambeacutem eacute a

fonte do alimento baacutesico dessas populaccedilotildees o peixe

Tuan (2012) define o elo afetivo entre pessoa e o lugar ou ao ambiente fiacutesico como

Topofilia conceito difuso vivido e concreto como experiecircncia pessoal de cada individuo

Em outras palavras este elo eacute fortalecido ou desfeito baseado na percepccedilatildeo do

meio agrave sua volta nas atitudes e nos valores praticados com o ambiente fiacutesico no seu

entorno

54

Embora os ribeirinhos de modo geral se localizem agraves margens dos rios da regiatildeo

os mesmos tambeacutem o fazem por um forte motivo os solos feacuterteis das vaacuterzeas

Segundo Guerra (1993) a Amazocircnia estaacute dividida em dois ambientes o de vaacuterzea e

o de terra firme O ambiente de terra firme representa um complexo ecossistema que estaacute

fora da accedilatildeo das aacuteguas pelos regimes dos rios e pelas mareacutes ou seja os processos sazonais

de enchentes anuais e mareacutes diaacuterias natildeo ultrapassam a borda do leito maior das faixas

justafluviais Ao contraacuterio desse ecossistema a vaacuterzea eacute constituiacuteda de terrenos com

altimetria baixa que permite o transbordamento de enchentes sazonais anuais

dependendo da cota

Tais caracteriacutesticas da regiatildeo Amazocircnica satildeo de extrema importacircncia para a

determinaccedilatildeo dos tipos de solos encontrados em cada ambiente o que vai propiciar o tipo

de cultivo agrave ser produzido nessas aacutereas pelas populaccedilotildees ribeirinhas

Ao contraacuterio do que se divulga a Amazocircnia natildeo dispotildee somente de solos ldquopobresrdquo

sustentados por sua floresta mas tambeacutem de solos ricos por natureza como eacute o caso dos

solos de vaacuterzea com alta concentraccedilatildeo de depoacutesitos aluviais utilizados para os cultivos

agriacutecolas de ciclo curto de frutas e verduras que abastecem as cidades mais proacuteximas

incluindo a capital do Estado do Amazonas Manaus

Meggers (1958) criou uma tipologia da paisagem na qual a mesma impocircs limites de

desenvolvimento cultural tendo por base a capacidade produtiva dos solos em dois

ambientes na Amazocircnia a vaacuterzea beneficiada com a fertilizaccedilatildeo anual dos rios e a terra

firme de solos pobres

Para Meggers (1971) a fase de terra enxuta (ou seca) das vaacuterzeas da Amazocircnia eacute o

periacuteodo de fartura ou ateacute mesmo de superabundacircncia de alimentos jaacute a fase aquaacutetica ou

estaccedilatildeo de abundacircncia de aacuteguas eacute marcada pela escassez de alimentos (principalmente

peixe) por causa do aumento das aacutereas submersas consequentemente ocasionando sua

dispersatildeo

Segundo Carneiro (1995) a ocupaccedilatildeo das vaacuterzeas para cultivo em seus solos feacuterteis

tambeacutem traz desvantagens porque natildeo eacute possiacutevel cultivar seus solos durante todo o ano

devido agrave subida dos rios que para Sternberg (1998) submetem as terras agrave constantes

retoques no terreno hoje depositado amanhatilde poderaacute ser removido O autor se refere agraves

terras caiacutedas como um fenocircmeno natural provocado pelo rio onde o mesmo arrebata

55

faixas de terras marginais tragando para o seu leito com a mesma indiferenccedila levando

cemiteacuterios e pastagens ameaccedilando as moradias dos ribeirinhos e engolindo as que os

proprietaacuterios natildeo recuarem

Todavia eacute na eacutepoca da cheia dos rios que as populaccedilotildees ribeirinhas tornam-se mais

vulneraacuteveis visto que os mesmos teratildeo que escolher entre permanecer em suas casas

quase submersas mantendo seus animais em abrigos temporaacuterios que Sternberg (1998)

descreveu como marombas (pequeno curral suspenso por madeiras) e os alimentando com

capins aquaacuteticos ou migrarem para as aacutereas de terra firme ateacute que o periacuteodo de vazante

dos rios se inicie

Sobre isso Pereira (1999) observou no municiacutepio de Itacoatiara na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus que algumas famiacutelias que tinham acesso agraves aacutereas de pasto em

propriedades de terra firme migravam com suas famiacutelias transferindo o seu rebanho e os

demais animais durante o periacuteodo de cheia dos rios

Com a subida das aacuteguas natildeo soacute os animais mais tambeacutem os proacuteprios ribeirinhos

tornam-se alvo de jacareacutes famintos devido agrave escassez de alimentos uma vez que grandes

aacutereas satildeo inundadas possibilitando que os peixes se refugiem em lagos e restingas Torna-se

comum os casos de ataque desses animais agraves pessoas principalmente crianccedilas nessa eacutepoca

do ano

Tocantins (1964) descreve os rios da Amazocircnia

Como veias de sangue da planiacutecie caminho natural dos descobridores [] a fonte perene do progresso [] asseguraram a presenccedila humana embelezaram a paisagem fazem girar a civilizaccedilatildeo - comandam a vida no anfiteatro amazocircnico (TOCANTINS 1964 p64)

Tocantins (1964) destaca a importacircncia do regime das aacuteguas dos rios amazocircnicos

sobre o modo de vida dos povos da floresta Relata de forma romacircntica o elo do ribeirinho

com o rio todavia tal descriccedilatildeo natildeo expressa todo o real sentido de ldquoligaccedilatildeordquo entre quem

comanda a vida o rio e quem eacute governado o ribeirinho que mora agraves margens e tira dele a

base de sua subsistecircncia

Subsistecircncia essa alcanccedilada com a ajuda de extensa malha de rios entre eles

destaca-se o rio Solimotildees que tem sua nascente nas montanhas de Misme no distrito de

Arequipa ao sul da cidade de Cuzco no Peru onde recebe o nome de rio Ayacucha

posteriormente desemboca no rio Ucayali que por sua vez desemboca no rio Marantildeon ao

56

norte do territoacuterio peruano chegando a aproximadamente 3652 km de extensatildeo na

fronteira do Peru com o Brasil onde encontra a sua bacia sedimentar amazocircnica e percorre

mais 3128km ateacute sua foz no Oceano Atlacircntico satildeo no total aproximadamente 6780km

percorridos com uma descarga no oceano de 300000 msup3s carregando aproximadamente 1

bilhatildeo de toneladas de sedimentos que por sua vez adentram ateacute 300km no oceano antes

de se dispersarem em suas aacuteguas frias (BRASIL 2005)

Seus nuacutemeros por se soacute impressionam se comparados ao segundo maior rio do

mundo o rio Nilo que despeja em sua foz somente 5000msup3s quando o rio Amazonas

despeja 60 vezes mais por segundo o equivalente agrave mesma quantidade de aacutegua despejada

pelo rio Tamisa em um ano inteiro (BRASIL 2005)

Sobre as caracteriacutesticas do Rio Amazonas Suguio e Bigarella (1993) o descrevem

como sendo um rio anastomosado que apresenta canal largo e grande velocidade

transportando uma grande quantidade de sedimentos que nutrem suas margens por todo o

seu percurso (Figura 10)

Segundo Passos et al (2013)

[] o rio Solimotildees pode ser considerado marginal anastomosado com algumas ilhas e anabranching embora a sinuosidade meacutedia do canal principal permaneccedila perto de 10 O estilo anabranching se caracteriza por uma rede interconectada de canais separados por regiotildees de planiacutecie de inundaccedilatildeo (Smith amp Smith 1980 Makaske 2001) Segundo Latrubesse et al (2009) o padratildeo anabranching se caracteriza pela presenccedila de ilhas vegetadas que atuam como verdadeiros ldquoseparadoresrdquo entre o canal principal de primeira ordem e braccedilos secundaacuterios de distintas hierarquias Embora possam ser cobertas pelas aacuteguas de inundaccedilatildeo as ilhas separam canais que manteacutem uma independecircncia ou identidade hidraacuteulica hidroloacutegica Os muacuteltiplos canais caracteriacutesticos deste estilo fluvial induzem aos inuacutemeros processos de erosatildeo de deposiccedilatildeo observados ao longo do rio Solimotildees e pequenos tributaacuterios (PASSOS et al 2013 p 3631)

57

21 QUEBRA DA BORRACHA E OS REFLEXOS NAS MARGENS DOS RIOS DA AMAZOcircNIA

Natildeo se pode relatar a Quebra da Borracha na Amazocircnia sem antes esclarecer sua

importacircncia para a regiatildeo Apesar do litoral do Brasil ter sido ldquodescobertordquo em 1500 a

Amazocircnia somente foi realmente alcanccedilada com a ocupaccedilatildeo estrangeira dois seacuteculos e

meios depois (SOARES 1963)

Assim eacute que ateacute meados do seacuteculo XVIII o vale amazocircnico natildeo contou se natildeo com

raros contingentes militares portugueses confinados a poucas dezenas de

fortalezas e com cerca de uma centena de missotildees catequeacuteticas igualmente

espalhadas na vastidatildeo da amazocircnica nas quais o silviacutecola era aldeado pelos

missionaacuterios que lhe ensinavam a religiatildeo de Cristo (SOARES 1963 p112)

Soares (1963) ainda descreve a escravizaccedilatildeo da matildeo de obra indiacutegena como um dos

fatores responsaacuteveis pelo decreacutescimo da populaccedilatildeo indiacutegena na Amazocircnia

Inuacutemeras expediccedilotildees de caccedila ao iacutendio exterminaram no primeiro periacuteodo de

ocupaccedilatildeo grande nuacutemero de habitantes da selva Tal extermiacutenio decorria de um

lado de morte ldquonaturalrdquo do iacutendio feito escravo (50) pois o silviacutecola jamais se

adaptou aacute vida cativa e por outro das chamadas expediccedilotildees ldquopunitivasrdquo realizadas

contra as tribos que repeliam o contacto com os invasores de suas terras fossem

estes missionaacuterios soldados ou colonizadoresrdquo (SOARES 1963 p113)

Figura 10 Rio Solimotildees vista da localidade da Bela Vista em Manacapuru Fonte Louzada (2013)

58

Contudo as expediccedilotildees punitivas foram aleacutem da puniccedilatildeo propriamente dita pois

algumas tribos chegaram a ser totalmente massacradas pelo contingente militar a exemplo

dos Tapajoacutes que foram exterminados ldquorestando somente agraves belas peccedilas artiacutesticas de

ceracircmica ainda hoje encontradas na regiatildeo de Santareacutemrdquo (SOARES 1963 p114)

Com a aboliccedilatildeo da escravatura indiacutegena em 1755 a Companhia Geral do Comeacutercio

do Gratildeo-Paraacute e Maranhatildeo inaugurada para monopolizar a navegaccedilatildeo nos rios da Amazocircnia

o comeacutercio e o traacutefico de matildeo de obra negra providenciou a vinda do continente africano

de braccedilo negro ldquopara substituir o braccedilo vermelho libertado e reconhecidamente refrataacuterio

ao trabalho forccediladordquo (SOARES1963 p117)

Segundo Soares apud Reis (1963 p117) que ldquono final do seacuteculo XVIII calculava-se

que 30000 escravos foram introduzidos na Amazocircnia principalmente na sede do Gratildeo Paraacute

em Beleacutemrdquo a maior parte desse contingente sucumbiu aos maus tratos e agraves doenccedilas sem

relatar os que morreram na viagem ateacute o Brasil

Segundo Soares apud Reis (1963) descreve que entre 1743 e 1749 que 40000

indiviacuteduos entre iacutendios e colonos portugueses morreram de variacuteola em Beleacutem causando

uma queda catastroacutefica na populaccedilatildeo jaacute reduzida da regiatildeo Apesar das doenccedilas e da captura

dos iacutendios continuarem em larga escala o contingente humano na Amazocircnia aumentava

ldquomodestamente mais por um lento processo de multiplicaccedilatildeo vegetativa do que pela

aquisiccedilatildeo de contingentes humanos vindos de forardquo (SOARES 1963 p118)

Soares (1963 p118) calculava ldquoa populaccedilatildeo residente na Amazocircnia no caso no

atual estado do Paraacute em 1825 em 37 mil indiviacuteduos e em 1833 chegou a aproximadamente

56 mil habitantesrdquo O que poucos sabiam era que em 1745 La Contamine (BATISTA 2007)

jaacute havia divulgado ao mundo na Academia de Ciecircncias de Paris a descoberta de uma goma

conhecida como cabuchu (pau que daacute leite) na regiatildeo de Quito e depois nas beiras do

Marantildeon Peru que jaacute era utilizada pela populaccedilatildeo local na confecccedilatildeo de garrafas botas e

bolas

Apesar de encantadora a goma receacutem-descoberta pela ciecircncia da eacutepoca

apresentava um desafio gigantesco como tornaacute-la insensiacutevel agraves mudanccedilas de temperatura

para que pudesse ser transportada da Amazocircnia para o mundo

59

Com a descoberta do processo de vulcanizaccedilatildeo da goma elaacutestica inicia-se a corrida

pela exploraccedilatildeo da borracha para ser utilizada na produccedilatildeo industrial pneumaacutetica da

Europa Primeiramente em Beleacutem e na regiatildeo do delta na foz do rio Amazonas promovida

inicialmente pelos caboclos residentes nas proximidades

A exploraccedilatildeo da borracha somente cresceu nos anos seguinte apoacutes a descoberta

da vulcanizaccedilatildeo com a exploraccedilatildeo de novas aacutereas normalmente na subida dos rios

Primeiro no (rio) Tocantins o Xingu e o Tapajoacutes depois o Madeira e o Solimotildees

mais tarde o Purus Juruaacute e Javari e seus respectivos afluentes Vecirc-se nessa

referecircncia que um fato importante os grandes produtores de borracha foram

sempre tributaacuterios da margem direita do Rio Amazonas onde a Hevea brasiliensis

tem o seu habitat por excelecircncia (BATISTA 2007 p170)

Entretanto para que a produccedilatildeo continuasse a crescer nos anos que se seguiram

era necessaacuteria mais matildeo de obra e como a regiatildeo natildeo contava com um grande contingente

populacional caberia aos nordestinos de modo geral accediloitados por fenocircmenos climaacuteticos

incontrolaacuteveis contribuir de maneira significativa para a o aumento da produccedilatildeo e ocupaccedilatildeo

humana definitiva da Amazocircnia Atraveacutes de suas intensas e constantes migraccedilotildees a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX a produccedilatildeo ficou caracterizada como o

Primeiro Ciclo da Borracha

As primeiras levas de imigrantes a chegar foram de maranhenses e se localizaram

inicialmente em Tocantins A partir das grandes secas de 1870 comeccedilaram a vir

tambeacutem imigrantes Nordeste oriental principalmente do Cearaacute e menos do Rio

Grande do Norte e demais Estados (BATISTA 2007 p171)

Expulsos de seus estados de origem por grandes e prolongadas secas sendo a mais

famosa a ldquoseca de dois setesrdquo de 1877 de triste memoacuteria nordestina que provocou o ecircxodo

em grande escala a partir de 1878 em direccedilatildeo a Amazocircnia aonde chegaram 15300 mil

nordestinos naquele ano em busca de um lugar para trabalhar e terras para cultivar

(SOARES 1963)

Apoacutes esse ano as migraccedilotildees se tornaram constantes combinadas com o aumento

de preccedilo da borracha no mercado externo como eacute possiacutevel visualizar na Tabela 2

60

Tabela 2 ndash Produccedilatildeo da Borracha na Amazocircnia

Ano Produccedilatildeo

(tonelada)

Preccedilo (kg)

1827 31365 220 reacuteis

1880 8679000 240 reacuteis

1890 16394000 298 reacuteis

1900 27650000 -

1910 38177000 377000 reacuteis

1911 44296 -

Fonte Reis (1953 p60) Mendes (1909 p5) apud Batista (2007 p171) Adaptada Louzada (2013)

Segundo Batista apud Reis (2007) em 1880 a produccedilatildeo de borracha na Amazocircnia

bateu seu primeiro recorde chegando a produzir 8679000 toneladas de borracha ldquologo

depois da chegada dos novos extratores (seringueiros) vindos do Nordesterdquo (BATISTA 2007

p171)

Nos anos que se seguiram a produccedilatildeo continuava a bater recorde agrave cada ano

chegando a 27650 toneladas em 1900 quando segundo Soares (1963 p121) a populaccedilatildeo

nordestina que chegou Amazocircnia contabilizou 45792 migrantes naquele ano a maior jaacute

registrada ateacute entatildeo

O desejo de aumentar a produccedilatildeo de borracha e consequentemente seus lucros a

cada ano levou os seringueiros a praticarem teacutecnicas extremamente rudimentares entre

elas o ldquoprocesso de arrochordquo

[] que consistia em apertar as aacutervores com cipoacutes ao reacutes do chatildeo golpeando-as

por todos os lados para extrair o maacuteximo de leite o rendimento era maior mas as

ldquomadeirasrdquo (nome dado no seringal as heacuteveas) natildeo resistiam muitas vez

esgotando-se num uacutenico dia O ldquoarrochordquo foi responsaacutevel pela inutilizaccedilatildeo das

seringueiras da regiatildeo das ilhas as primeiras trabalhadas e onde se produzia

borracha da melhor qualidade Por isso pela necessidade de explorar outros

seringais onde se localizarem os trabalhadores [] novos seringueiras passaram a

ser cortadas nos rios mais para cima (BATISTA 2007 p175)

61

Outra teacutecnica usada na retirada da borracha ficou conhecida como ldquoos mutaacutes

pequenos jiraus armados junto agraves aacutervores para alcanccedilar as partes mais altas e sangraacute-las

tambeacutem funcionaram em toda parte com a intenccedilatildeo de aumentar a produccedilatildeordquo (BATISTA

2007 p175) O aumento no nuacutemero de cortes popularmente conhecidos como ticados

(cortes seguidos por todo o caule no sentido transversal inclinado para facilitar o

escoamento do laacutetex) foram responsaacuteveis por tornarem as aacutervores vulneraacuteveis agrave fungos

bacteacuterias e brocas consequentemente as condenava agrave morte (BATISTA 2007 p174)

Ainda segundo Batista apud Chevalier (2007 p174) descreve bem essa fase de

intensa exploraccedilatildeo do laacutetex como ldquoleite que de branco se torna negro ao contato com a

ambiccedilatildeo humanardquo se referindo agrave vulcanizaccedilatildeo do laacutetex para se transforma em botijotildees para

facilitar o transporte (Figura 11)

Para Batista (2007) o ano 1910 foi o marco da exportaccedilatildeo de borracha no paiacutes

representando 40 da exportaccedilatildeo total contra 40 da produccedilatildeo de cafeacute daquele ano

A perda do monopoacutelio de produccedilatildeo da borracha da Amazocircnia para a borracha

produzida na Malaacutesia e Indoneacutesia com preccedilos mais baixos provocou a Quebra da Borracha

produzida no Brasil o que ocasionou graviacutessimos problemas na economia dos estados do

Amazonas e do Paraacute que era baseado na produccedilatildeo de borracha

A produccedilatildeo da borracha passou a cair a cada ano em consequecircncia dos baixos

preccedilos praticados chegando a produzir em 1920 somente 23586000 toneladas e em

Figura 11 Processo de vulcanizaccedilatildeo do laacutetex e sua versatildeo pronta para transporte Fonte Museu do Seringal (httpmuseuseringalblogspotcombr201210a-criacao-da-borrachahtml)

62

1923 produziu somente 1799500 toneladas alcanccedilando o patamar miacutenimo de 622500

toneladas em 1932 (BATISTA 2007 p171)

Com a queda do preccedilo da borracha a cada ano os ex-seringueiros se viram

obrigados a procurar outras fontes de renda para alimentar suas famiacutelias Entretanto nunca

haviam cultivado os solos da Amazocircnia como informa Benchimol (1946 p34) ldquoAgricultura

natildeo rima bem com seringardquo na verdade os extratores eram impedidos de cultivar os solos

pelos donos dos seringais pois deveriam ldquocomprarrdquo dos proacuteprios donos dos seringais os

produtos que precisassem seu consumo

Por interesses mercantis aliados a necessidade imediata durante o ciclo da

borracha foi preciso importar alimentos maciccedilamente E quando os preccedilos caiacuteram e

os seringueiros puderam plantar e colher natildeo alcanccedilaram grandes safras primeiro

porque natildeo sabiam trabalhar a terra e depois porque natildeo tinham mercado para a

venda da produccedilatildeo cingindo-se assim a uma agricultura puramente de

subsistecircncia Adaptaram-se poreacutem facilmente a uma indicaccedilatildeo taacutecita da ecologia

regional usando as vaacuterzeas como lugar por excelecircncia para os ldquoroccediladosrdquo aleacutem de

serem aacutereas fertilizadas pelo huacutemus das enchentes natildeo demandavam grande

trabalho para a sua preparaccedilatildeo apesar de natildeo permitirem a implantaccedilatildeo de

culturas perenes passando praticamente seis meses alagadas (BATISTA 2007

p174)

Como afirma Batista (2007) com a quebra da borracha brasileira centenas de

milhares de ex- seringueiros saiacuteram dos seringais em busca de outra fonte de renda uma vez

que foram abandonados agrave proacutepria sorte se instalando novamente ao longo das margens dos

rios da Amazocircnia

Forccedilados pela necessidade os ex- seringueiros foram obrigados a aprender a

cultivar os solos da Amazocircnia para produzir seus proacuteprios alimentos de forma a alimentar

suas famiacutelias Outros por sua vez optaram por retornar aos seus estados de origem Os que

decidiram por permanecer migraram para aeacutereas proacuteximas aos centros urbanos como

Manaus com o objetivo de residir proacuteximo de um futuro mercado consumidor para a sua

futura produccedilatildeo agriacutecola como eacute o caso de alguns dos municiacutepios que se constituiacuteram

proacuteximos agrave Manaus

63

211 ndash UM LUGAR CHAMADO MANAQUIRI

O municiacutepio de Manaquiri estaacute localizado a 55 km em linha reta de Manaus ou a 80

km por via fluvial com aacuterea total de 3975770 kmsup2 (IBGE 2010) estaacute divido entre Vaacuterzea e

Terra Firme (Figura 12)

64

Figura 12 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

65

Eacute amplamente relatado que o atual municiacutepio do Manaquiri tem sua origem

vinculada ao municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea e seu povoamento datado a partir de 1877

(IBGE 2010)

Todavia Wallace (2004) descreve uma visita ao Manaqueri (atual Manaquiri) na

propriedade do Sr Joseacute Antocircnio Brandatildeo em 1850 ldquoda margem do rio ergue-se num

abrupto e rochoso penhasco de 30 a 40 peacutes acima do niacutevel das mais altas cheias As rochas

satildeo de natureza vulcacircnica e tem um aspecto muito grosseiro algumas vezes viacutetreo qual o de

escoacuteriasrdquo (WALLACE 2004 p 232)

Wallace (2004) descreve a origem de seu anfitriatildeo como sendo de Portugal que

chegou agrave regiatildeo ldquobem ainda moccedilo e logo apoacutes casou nesse novo estado fixou-se em

Manaquiri com a intenccedilatildeo de laacute ficar morando por toda a vida Construindo ele proacuteprio sua

morada na beira de um lago proacuteximo ao curso principal trouxe iacutendios (e escravos) a fim de

fixaacute-los tambeacutem na fazendardquo (WALLACE 2004 p242)

Logo a seguir derrubou a mata plantou laranjeiras tamarindeiros mangueiras e

muitas aacutervores frutiacuteferas de outras espeacutecies arrumando-as em magniacuteficas e

apraziacuteveis avenidas Fez tambeacutem jardins bem como pastagens para o gado e

iniciou a criaccedilatildeo de bois carneiros porcos e galinhas E assim ficou em pleno gozo

e uma vida campesina (WALLACE 2004 p 242)

Wallace (2004) continua relatando que o Sr Brandatildeo seu anfitriatildeo teve sua

propriedade completamente destruiacuteda por iacutendios seus vizinhos incitados por

revolucionaacuterios na Revoluccedilatildeo Cabanagem (1840) perdendo tambeacutem todas as aacutervores

frutiacuteferas animais e escravos mortos pelos iacutendios Todavia sua famiacutelia esposa e onze filhos

se refugiaram na floresta onde permaneceram por trecircs dias alimentando-se de frutas e

milho uma vez que o senhor da propriedade se encontrava na Vila da Barra natildeo teve sua

vida perdida pelos revoltosos Foi nomeado Magistrado da Barra onde permaneceu por

anos longe de sua propriedade para onde retornou posteriormente com a filha caccedilula

uma vez que sua esposa jaacute havia falecido e seus filhos mais velhos jaacute haviam casado e

constituiacutedo suas famiacutelias onde reconstruiu parte da sua propriedade com seus escravos

Com o inicio das migraccedilotildees nordestinas para a Amazocircnia em busca de trabalho nos

seringais muitas famiacutelias optaram por se instalarem na receacutem-criada Cidade da Barra do Rio

Negro ou em regiatildeo proacutexima como eacute o caso da regiatildeo do Careiro da Vaacuterzea localizada em

uma ilha no meio do rio Solimotildees

66

Novas secas nordestinas determinaram outras penetraccedilotildees de cearenses

piauienses paraibanos na regiatildeo do Careiro Com o nuacutemero de imigrantes aumentando a

cada ano o governo do estado do Amazonas fundou em 11 de Janeiro de 1890 as Colocircnias

de ldquoSanta Maria do Janauacaacuterdquo e a ldquo13 de Maiordquo no Cambiche com a funccedilatildeo de abrigar os

colonos e sustentaacute-los durante seis meses para que pudessem se instalar na regiatildeo (IBGE

2010)

Com a Queda da Borracha a partir de 1911 nos altos cursos dos rios os ex-

seringueiros se viram obrigados a procurarem novas aacutereas para residirem

Segundo Benchimol (1992)

Seriam os novos paroaras no velho linguajar sertanejo sendo que desta vez natildeo

levavam mais o chapeacuteu de palhinha o guarda chuva e o reloacutegio de algibeira com a

corrente de ouro que outrora constituiacuteam os siacutembolos e a imagem dos filhos

proacutedigos da seringa e da fortuna Ou entatildeo quando a vergonha de voltarem pobres

impedia o seu retorno ao sertatildeo abandonavam os seringais endividados e

rumavam para as cidades Rio Branco Manaus Beleacutem (BENCHIMOL 1992 p228)

O autor ainda relata que os ex- seringueiros que tinham vocaccedilatildeo para atividades

agriacutecolas ldquodesciam rio abaixo para ocupar como posseiros as terras devolutas das vaacuterzeas

do Solimotildees do Meacutedio e do Baixo Amazonas onde localizavam os siacutetios e roccedilados neles se

fixando definitivamente permanecendo fieacuteis agrave tradiccedilatildeo ruralrdquo (BENCHIMOL 1992 p228)

Fato semelhante ocorreu com a localidade do Manaquiri como descreve o senhor

Nery (82 anos) que foi trazido pelos pais com apenas um mecircs de vida filho de ex-

seringueiros que migraram do municiacutepio de Laacutebrea no sul do Estado do Amazonas em 1931

apoacutes a queda do preccedilo da borracha e instalaram-se na localidade do Manaquiri ldquovieram

tentar a vida na agricultura em um lugar mais perto da capital Lembro que na minha

infacircncia tinha fartura de peixe por isso um dos primeiros nomes daqui foi Vila do Jaraquirdquo

O entrevistado tambeacutem descreve o lugar como tendo ldquoa Igreja de Satildeo Pedro feita

de madeira e coberta de palha e mais quatro casas construiacutedas no mesmo formato da igreja

A igreja de hoje (Figura 13) estaacute no mesmo lugar da antiga e ao lado tinha um campo de

futebol e do lado do campo agraves quatro casas que me lembro da infacircnciardquo (NERY 82 anos)

67

Conforme relato do Cruz (84 anos) relatou que seu pai migrou do estado do Rio

Grande do Norte para trabalhar na retirada da borracha em 1924 quando chegou a Manaus

soube da queda do preccedilo da borracha

[] mas natildeo queria ficar na cidade entatildeo decidiu seguir duas famiacutelias que iam

morar laacute no Careiro embora o governo do estado tenha cumprido com a palavra e

dado comida durante seis meses ao meu pai e as outras famiacutelias o sonho dele era

cultivar as novas terras e fez plantando verduras que a aacutegua cobriu sem doacute nem

piedade quando subiu naquele ano meu pai ficou tatildeo triste tatildeo triste que disse

que ia procurar a terra que os outros colonos falavam um tal de Manaquiri onde a

terra era alta e a aacutegua soacute chegava na frente de tatildeo alta que era a terra meu pai

natildeo perdeu tempo e veio atraacutes dessa terra alta com minha matildee e mais duas

famiacutelias ai eu nasci aqui no Manaquiri em 1926 (CRUZ 84 anos)

Cruz (84 anos) relata ainda que ajudou na construccedilatildeo da primeira igreja de Satildeo

Pedro em 1931 com seu pai e outros dois vizinhos os uacutenicos moradores do lugar ateacute entatildeo

a igreja foi feita de madeira tirada da floresta e coberta com palhas secas tranccediladas pela sua

matildee e as outras duas vizinhas fizeram a igreja para agradecer a Satildeo Pedro pela grande

fartura de peixe da espeacutecie jaraqui (Semaprochilodus insignis) que deu o primeiro nome ao

lugar chamado posteriormente de Vila do Jaraqui

Depois daquele ano quando meus pais fizeram uma festa para comemorar o dia se

Satildeo Pedro e chamaram os amigos do Careiro veio muita gente pra caacute e ficamos

jogando bola ateacute o sol ir embora no campo que roccedilamos naquele dia mesmo

depois disso nos finais de semana vinha gente pra caacute pra jogar bola depois de um

tempo comeccedilou a chegar gente para morar aqui mesmo era legal eu ia ter amigos

para brincar todos os dias (CRUZ 84 anos)

Figura 13 Frente da cidade do Manaquiri Fonte Louzada 2013

68

Oficialmente a histoacuteria do hoje municiacutepio do Manaquiri estaacute ligada ao povoamento

efetuado por nordestinos agrave princiacutepio no municiacutepio do Careiro que posteriormente se

estendeu pela regiatildeo O que levou o governo do estado do Amazonas atraveacutes do Decreto Lei

nordm176 de 1938 a tornar o Careiro um distrito da capital Manaus (IBGE 2000)

Com o a ocupaccedilatildeo constante e o crescimento ao longo dos anos o distrito do

Careiro foi desmembrado da capital Manaus e tornou-se um municiacutepio autocircnomo atraveacutes

do Decreto Lei nordm 99 de 19 de Dezembro de 1955 tendo como subdistritos Careiro

(Castanho) Curari Gurupaacute Mamori Janauacaacute Satildeo Joaquim e Manaquiri (AMAZONAS

1955)

Com o inicio da construccedilatildeo da BR-319 na deacutecada de 1970 os subdistritos do

Careiro com destaque para o Careiro Castanho e o Manaquiri tambeacutem passaram a receber

migrantes oriundos de outros municiacutepios e tambeacutem de outros estados brasileiros para

trabalharem na construccedilatildeo da BR e acabaram por se fixar na regiatildeo

O Manaquiri foi elevado agrave categoria de municiacutepio em 10 de Fevereiro de 1981

constituindo seu territoacuterio com parte dos municiacutepios de Careiro Borba e Manacapuru

(BRASIL 1981) E continuou a crescer ao longo dos anos como mostra a Tabela 3

Tabela 3 Crescimento populacional do Manaquiri entre 1991 e 2010

Ano Populaccedilatildeo

1991 10718

1996 17278

2000 12711

2007 19164

2010 22801

212 ndash INFRAESTRUTURA DO MANAQUIRI PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA

Segundo o Censo Demograacutefico do IBGE (2010) o municiacutepio do Manaquiri estaacute

classificado em deacutecimo lugar entre os sessenta e dois municiacutepios do estado com relaccedilatildeo ao

nuacutemero de habitantes por quilocircmetro quadrado que chega a 573 habkmsup2 (Tabela 4)

Fonte IBGE Censo Demograacutefico 19912010

69

Tabela 4 Densidade demograacutefica dos municiacutepios do Amazonas

Municiacutepios com mais habkmsup2

Municiacutepio Populaccedilatildeo Total

Urbana Rural habkmsup2

1ordm Manaus 1802014 1792881 9133 15806

2ordm Iranduba 40781 28979 11802 1842

3ordm Parintins 102033 69890 32143 1714

4ordm Tabatinga 52272 36355 11917 1621

5ordm Manacapuru 85141 60174 24967 1162

6ordm Itacoatiara 86839 58157 26655 977

7ordm Careiro da Vaacuterzea 23930 1000 22930 909

8ordm Urucurituba 17837 10448 7389 614

9ordm Boa Vista do Ramos 14979 7550 7429 579

10ordm Manaquiri 22801 7062 15739 573

11ordm Nova Olinda do Norte

30696 13626 17070 547

12ordm Careiro 32734 9437 23297 537

A sede municipal de Manaquiri concentra 3097 da populaccedilatildeo do municiacutepio que

por sua vez dispotildee fisicamente de infraestrutura baacutesica de uma cidade com ruas e calccediladas

amplas (Figura 14)

Fonte Censo demograacutefico IBGE 2010 (httpwwwcenso2010ibgegovbrsinopseindexphpdados=21ampuf=13)

70

A sede municipal tambeacutem concentra grande variedade de comeacutercio como

mercearias lojas de moacuteveis e eletroeletrocircnicos restaurantes hoteacuteis banco etc (Figura 15)

Como 6903 (15739 mil) da populaccedilatildeo do municiacutepio fica concentrada na zona rural

a economia predominante torna-se a agricultura familiar que Noda (2011) descreve como

tendo uma

Figura 14 Ruas da cidade de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

Figura 15 Centro comercial da sede municipal de Manaquiri - AM

Fonte Louzada (2013)

71

[] produccedilatildeo diversificada que aleacutem de permitir uma oferta constante ampla e variada de alimentos para o autoconsumo proporciona maior estabilidade ao sistema produtivo pois o suprimento das necessidades baacutesicas em alimentos da famiacutelia independente da comercializaccedilatildeo do lsquorsquoexedendersquorsquo As crises do mercado externo podem afetar o nuacutecleo produtivo mas natildeo viabilizam a sua sobrevivecircncia (NODA 2011 p18)

Todavia apesar da produccedilatildeo agriacutecola do municiacutepio de Manaquiri ser caracterizada

como sendo uma produccedilatildeo agriacutecola familiar a mesma manteacutem-se ligada ao mercado

consumidor produzindo natildeo mais exclusivamente para o autoconsumo mas principalmente

para o abastecimento do mercado externo

Segundo a Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural ndash SEPROR o municiacutepio do

Manaquiri destaca-se no estado por ter um grande volume de produccedilatildeo agriacutecola (Tabela 5)

Tabela 5 Produccedilatildeo agriacutecola no municiacutepio de Manaquiri

de Janeiro a Dezembro de 2012

Fonte Secretaria de Estado da Produccedilatildeo Rural - SEPROR

Produccedilatildeo Agriacutecola Quantidade Produzida

Coco 32 mil frutos Cupuaccedilu 120 mil frutos Goiaba 5 (t)

Graviola 8 mil frutos Laranja 12540 mil frutos

Limatildeo 765 mil frutos Mamatildeo Havaiacute 200 (t)

Maracujaacute 80 (t) Pupunha 24 mil cachos

Tangerina 252 mil frutos Alface 330 mil peacutes

Batata doce 1920 (t) Berinjela 20 (t)

Feijatildeo de Metro 500 mil maccedilos Jerimum 700 (t)

Macaxeira 1440 (t) Maxixe 30 (t)

Melancia 510 mil frutos

Pimentatildeo a ceacuteu aberto 80 (t) Pimenta doce 24 (t)

Pepino 156 (t) Quiabo 90 (t) Repolho 120 (t) Tomate 160 (t)

72

Sobre isso Noda (2011) relata

Dados do Censo de 199596 publicados pelo INCRA (2000) mostram que na Regiatildeo Norte o nuacutemero de estabelecimentos de agricultores familiares ocupa 375 da aacuterea recebem 38 6 do total de financiamento satildeo responsaacuteveis por 587 do Valor Bruto da Produccedilatildeo e representam 854 do total dos estabelecimentos rurais No Brasil o nuacutemero de estabelecimentos classificados como de agricultura familiar representam 852 do total de estabelecimentos 305 da aacuterea total e correspondem a 379 do Valor Bruto da Produccedilatildeo (NODA 2011 p18)

O Estado do Amazonas a partir de 2012 tem um programa de governo voltado

para a agricultura familiar o Programa Amazonas Rural

Com o Amazonas Rural pretendemos entre outros avanccedilos fomentar as cadeias produtivas tradicionais melhorar a produtividade proporcionar acesso ao creacutedito facilitar o escoamento garantir mercado e competitividade aos produtos oferecendo novas alternativas econocircmicas e mais oportunidade ao homem e a mulher (AMAZONAS 2013 p 5)

A partir de janeiro de 2013 agricultores familiares do municiacutepio de Manaquiri

passaram a ser cadastrados pelo Governo do Estado para receberem empreacutestimos que

podem chegar ao valor de R$12 mil a serem investidos no melhoramento da produccedilatildeo

agriacutecola com juros de 1 ao ano com prazo de pagamento em ateacute 10 anos (AMAZONAS

2013)

Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuaacuterio e Florestal Sustentaacutevel do

Amazonas - IDAM (2013) vinte e cinco agricultores do Manaquiri fizeram o curso sobre

cultivo de hortaliccedilas que tinha como objetivo aumentar a produccedilatildeo de hortaliccedilas para

abastecer o comeacutercio local e a capital amazonense

22 MARCHA PARA O OESTE A CRIACcedilAtildeO DE COLOcircNIAS AGRIacuteCOLAS NACIONAIS

Segundo Rothbard (2012) a Grande Depressatildeo Americana foi resultado de oito

anos (1920 a 1928) de inflaccedilatildeo elevada acompanhada da expansatildeo excessiva das induacutestrias

e a venda de tiacutetulos do capital no mercado de accedilotildees por um longo periacuteodo como resultado

teve a injeccedilatildeo de milhares de doacutelares na economia o que natildeo muito mais tarde se mostraria

um erro irreversiacutevel levando o paiacutes aacute depressatildeo no ano seguinte

73

Com a Grande Depressatildeo de 1929 explodindo seus reflexos se espalharam pelo

mundo em meses chegando ateacute a atingir tambeacutem o Brasil que nesse periacuteodo tinha sua

economia enraizada na cafeicultura tendo os Estados Unidos como maior comprador do

cafeacute produzido no Brasil

Para minimizar os impactos na economia interna o governo brasileiro se viu

obrigado a comprar e a derramar no mar milhares de sacas de cafeacute a fim de conter o preccedilo

do principal produto brasileiro ateacute entatildeo

A economia cafeicultora jamais se recuperou completamente o que levou os

produtores que natildeo quebraram com a crise do cafeacute como ficou conhecido este periacuteodo no

Brasil a investirem no setor industrial o que mais tarde se mostraria ter sido um oacutetimo

negoacutecio

Com a queda do preccedilo e o excesso de cafeacute no mercado os proprietaacuterios dos

cafezais se viram obrigados a demitir milhares de empregados que migraram para outras

regiotildees principalmente para as cidades em busca de emprego Com o passar dos anos de

intensas migraccedilotildees para as cidades e a falta de estrutura das mesmas para atender toda a

demanda resultou em um crescimento raacutepido e desordenado aleacutem de graviacutessimos

problemas na populaccedilatildeo por falta de condiccedilotildees baacutesicas de sauacutede

Com o passar do tempo os problemas urbanos foram sendo agravados a cada ano e

o governo brasileiro se viu pressionado a tomar uma atitude Foi entatildeo que o presidente

Getuacutelio Vargas iniciou um pacote de medidas de incentivo agrave migraccedilatildeo posteriormente

chamado de ldquoMarcha para o Oesterdquo que visava antes de tudo ocupar os espaccedilos

considerados vazios no interior do Brasil e desafogar as cidades do litoral

Para isso foi necessaacuterio incentivar a populaccedilatildeo a migrar para outras regiotildees atraveacutes

do meio de comunicaccedilatildeo de maior alcance da eacutepoca o raacutedio e foi por meio dele com

pronunciamentos e transmissotildees semanais de campanhas incentivando a migraccedilatildeo da

populaccedilatildeo para espaccedilos sem gente que Vargas deu inicio agraves grandes transformaccedilotildees que o

Brasil viria a presenciar dali em diante

A Marcha para o Oeste tinha como objetivos incentivar a migraccedilatildeo de brasileiros e

estrangeiros aptos para a produccedilatildeo agriacutecola para outras regiotildees sem gente propagava

tambeacutem a conquista definitiva do territoacuterio brasileiro que segundo Vargas ateacute entatildeo fora

esquecido (RICARDO 1970)

74

E em 09 de fevereiro de 1940 foi publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei

nordm 2009 que criou os nuacutecleos coloniais ldquoreuniatildeo de lotes medidos e demarcados formando

um grupo de pequenas propriedades ruraisrdquo (BRASIL 1940 p2433)

Art 7ordm Os nuacutecleos coloniais aleacutem das casas destinadas a residecircncia do pessoal teacutecnico administrativo e operaacuterio e de trabalhadores teratildeo a) Um campo de demonstraccedilatildeo destinado aacutes culturas proacuteprias da regiatildeo ou de outras economicamente aconselhaacuteveis b) Escolas para ensino rural de acordo com os programas estabelecidos pela Superintendecircncia do Ensino Agriacutecola c) Pequenas oficinas para o trabalho do ferro e da madeira d) Serviccedilo meacutedico e farmacecircutico

Tambeacutem segundo o Diaacuterio Oficial da Uniatildeo os nuacutecleos coloniais seriam

classificados em rurais destinados agrave lavoura e a criaccedilatildeo de animais de dimensotildees variando

entre 10 e 50 hectares e nuacutecleos coloniais urbanos destinados agraves futuras povoaccedilotildees

ldquotendo sua frente voltada para ruas e praccedilas e com aacuterea maacutexima de 3000msup2rdquo (BRASIL 1940

p2434)

Um ano apoacutes a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 2009 o governo federal em parceria

com os governos estaduais e municipais e o Ministeacuterio da Agricultura divulgam tambeacutem no

Diaacuterio Oficial da Uniatildeo o Decreto Lei nordm 3059 de 14 de Fevereiro de 1941

Esse Decreto promoveu a fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo de Grandes Colocircnias Agriacutecolas

Nacionais com o objetivo de receber e fixar como proprietaacuterios rurais cidadatildeos brasileiros

reconhecidamente pobres que revelassem aptidatildeo para o trabalho agriacutecola e

excepcionalmente agricultores qualificados estrangeiros (BRASIL 1941)

Paraacutegrafo uacutenico Todas as despesas decorrentes da fundaccedilatildeo instalaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das colocircnias inclusive construccedilatildeo e conservaccedilatildeo das vias principais de acesso seratildeo custeadas pela Uniatildeo dentro dos creacuteditos que forem destinados a esse fim Art 2ordm As colocircnias seratildeo criadas por decreto executivo e fundadas em grandes glebas de terras que deveratildeo reunir as seguintes condiccedilotildees a) situaccedilatildeo climateacuterica e condiccedilotildees agroloacutegicas exigidas pelas culturas da regiatildeo b) cursos permanentes dacuteaacutegua ou possibilidade de accediludagem para irrigaccedilatildeo (BRASIL 1941 p72)

Tambeacutem ficou estabelecido no Decreto Lei que a aacuterea do lote variaria entre 20 e 50

hectares e em caso de regiotildees de floresta naturais cada proprietaacuterio do lote teria que

manter uma reserva equivalente a 25 do total ldquosect 4ordm Na elaboraccedilatildeo do plano geral de

75

colonizaccedilatildeo seratildeo respeitadas as belezas naturais da regiatildeo bem como cuidar-se-aacute da

proteccedilatildeo da flora e faunardquo (BRASIL1941 p73)

No paraacutegrafo uacutenico do artigo 5ordm ldquoNo projeto da sede seratildeo observadas todas as

regras urbaniacutesticas visando agrave criaccedilatildeo de um futuro nuacutecleo de civilizaccedilatildeo no interior do paiacutesrdquo

(BRASIL1941 p73)

Para Bertran (1988) o principal objetivo das Colocircnias Agriacutecolas Nacionais era ldquoalocar

matildeo de obra liberada pela decadecircncia da cafeicultura e criar uma frente agriacutecola comercial

internardquo (BERTRAN 1988 p92)

Para Dayrell (1974) as grandes Colocircnias Agriacutecolas Nacionais seriam a soluccedilatildeo para

resolver dois grandes estrangulamentos do Brasil o excesso de matildeo de obra e a falta de

emprego para todos

Independente das motivaccedilotildees para se criar a Marcha para o Oeste seus benefiacutecios

em diversas regiotildees do paiacutes satildeo inegaacuteveis O exemplo da Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes -

CANG fundada em 19 de Fevereiro de 1941 pelo Decreto Lei nordm 6882 na localidade de

Ceres que obedecendo ao Decreto Lei nordm 3059 forneceu lotes aos colonos medindo entre

20 e 50 hectares para que cultivassem a terra de forma a manter seu sustento

Com a veiculaccedilatildeo da notiacutecia de solo feacutertil e de apoio do Governo (CASTILHO 2012)

a regiatildeo passou a receber grande quantidade de pessoas candidatos a futuros colonos

A partir de 1946 chegavam a Colocircnia em meacutedia 30 famiacutelias por dia No ano seguinte jaacute residiam na CANG mais de 10000 habitantes Em 1950 a aacuterea contava com 29522 habitantes e em 1953 atingiu uma populaccedilatildeo de 35672 habitantes (onde 33222 residiam na zona rural e apenas 3450 na zona urbana) Essa grande quantidade de migrantes era provenientes do Oeste de Minas Gerais (60) de Satildeo Paulo e Estados do Norte (20) do proacuteprio Estado de Goiaacutes e do Sul (especialmente gauacutechos) e de outros paiacuteses (20) (CASTILHO apud DAYRELL 2012 p121)

Com o aumento do nuacutemero de colonos a cada dia houve tambeacutem o aumento da

produccedilatildeo agriacutecola nas aacutereas destinadas para a demarcaccedilatildeo de lotes Um demonstrativo do

volume de produccedilatildeo agriacutecola pode ser visualizado na Tabela 6

76

Tabela 6 Volume de produccedilatildeo agriacutecola da CANG Produto Unidade 1947 1950 1951 1952 1953

Arroz Saca 60 kg 220000 420596 362642 272920 276000

Milho Saca 60 kg 500000 25475 202625 136349 248000

Feijatildeo Saca 60 kg 65000 18169 29455 140187 86000

Accediluacutecar Saca 60 kg 5000 - - - -

Algodatildeo Saca 60 kg 10000 99213 261369 129974 220000

Cafeacute Saca 60 kg - - 22540 8036 14600

Cana kg - 3129869 36856869 43725 ton 32024 ton

Mandioca kg - 6436718 35272961 20088783 41448 ton

Com a produccedilatildeo de arroz chegando a 4 toneladas e 600 kg (276000kg) em 1953

somado a 32024 toneladas de cana de accediluacutecar e 41448 toneladas de mandioca a produccedilatildeo

agriacutecola da CANG chegava a 780720 toneladas de alimentos somente com trecircs produtos

um recorde de produccedilatildeo

A CANG natildeo somente produzia os produtos agriacutecolas mais tambeacutem os beneficiava de

modo a agregar valor ao produto facilitando assim a sua comercializaccedilatildeo

Da cana de accediluacutecar produziam rapadura accediluacutecar mascavo accediluacutecar cristal farinha de

milho e mandioca aleacutem de oacuteleos vegetais e tijolos para a construccedilatildeo das casas e telhas

francesas e coloniais (DAYRELL 1974)

Tambeacutem segundo Dayrell (1974) a CANG a partir de 1953 comeccedilou a produzir outras

culturas agriacutecolas entre elas mamatildeo amendoim batata e frutas entretanto as mesmas natildeo

chegaram a ser expressivas em volume de produccedilatildeo ficando somente para consumo interno

da Colocircnia

Por estar localizada em um solo riquiacutessimo em fertilidade para a agricultura a

administraccedilatildeo da CANG fazia seacuterias restriccedilotildees agrave criaccedilatildeo bovina segundo Dayrell (1974) a

mesma tinha um rebanho estimado em 14000 cabeccedilas de gado em sua maioria utilizada

para preparar a terra para o plantio e as vacas para a produccedilatildeo leiteira

Outro exemplo de Colocircnia eacute a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados - CAND

localizada no Estado de Mato Grosso do Sul (antigo Mato Grosso) criada pelo Decreto Lei nordm

5941 de 28 de Outubro de 1943 que assim como outras colocircnias tinha a funccedilatildeo de

Fonte DAYRELL apud CASTILHO (2012)

77

receber e alojar brasileiros reconhecidamente pobres e estrangeiros aptos para a

agricultura

Segundo Menezes (2011) devido aos percalccedilos poliacuteticos a Colocircnia somente foi

efetivamente implantada em 1948 cinco anos apoacutes a lei de sua criaccedilatildeo Logo em seguida

comeccedilou a receber migrantes mas foi na deacutecada de 1950 que as migraccedilotildees tomaram

impulso e chegaram agrave nuacutemeros exorbitantes Segundo Lenharo (1986) as migraccedilotildees intensas

eram reflexos das propagandas veiculadas semanalmente no raacutedio pautada em

instrumentos simboacutelicos com a bandeira para incitar o sentimento nacionalista

A colocircnia possuiacutea uma aacuterea de 267000 ha que ficaram divididas em duas zonas

separadas pelo rio Dourados a primeira localizada agrave esquerda do rio com 68000

ha e a segunda agrave direita daquele com uma aacuterea de 199000 ha A referida colocircnia

englobava o territoacuterio dos atuais municiacutepios de Dourados Faacutetima do Sul Vicentina

Gloacuteria de Dourados Jateiacute Deodaacutepolis e Douradina (MENEZES apud PONCIANO

NAGLIS 2011)

Segundo Menezes (2011) em uma carta o administrador da CAND em 1951

descreve a regiatildeo da Colocircnia de Dourados como sendo uma regiatildeo de mata virgem de

terras planas de solos de rara fertilidade e de altitude superior a 400 metros com condiccedilotildees

adaptaacuteveis agrave culturas agriacutecolas variadas de frutos europeus e cafeacute

Assim como ocorreu na Colocircnia Agriacutecola Nacional de Goiaacutes- CANG na localidade de

Ceres a Colocircnia Agriacutecola Nacional de Dourados- CAND no Territoacuterio Federal de Ponta Poratilde

(BRASIL 1943) no atual estado do Mato Grosso do Sul tambeacutem produzia grande quantidade

de alimentos como arroz feijatildeo e milho Sua principal dificuldade estava no transporte

dessa produccedilatildeo que ao contraacuterio da CANG que tinha acesso direto ao rio das Almas a

CAND dependia do transporte terrestre para escoar sua produccedilatildeo

Menezes apud Queiroz (2011 p7) descreve a ldquosituaccedilatildeo relativamente desfavoraacutevel

desse ramal um tanto excecircntrico em relaccedilatildeo ao nuacutecleo agriacutecola constituiacutedo pela CAND Essa

colocircnia de fato estendeu-se a leste da cidade de Dourados enquanto a estaccedilatildeo de Itahum

foi estabelecida cerca de 60 km a oeste da cidaderdquo Com isso agrave medida que a CAND crescia e

se desenvolvia ficava mais difiacutecil escoar sua produccedilatildeo

Segundo Azevedo (1994) em entrevista com um colono o mesmo descreve a

situaccedilatildeo em que se encontravam ldquoa uacutenica e precariacutessima ligaccedilatildeo que tiacutenhamos era com

Dourados atraveacutes de um caminho aberto a braccedilos humanos onde haviam terriacuteveis atoleiros

78

dentre os quais os famosos travessotildees da Onccedila o do Guassu e o varjatildeo de Vila Brasilrdquo

(AZEVEDO1994 p59)

Nessa situaccedilatildeo em periacuteodo de chuva era praticamente impossiacutevel transportar a

produccedilatildeo ateacute a estaccedilatildeo de Itahum e para piorar a CAND natildeo dispunha de galpotildees de

armazenamento o que tornava extremamente necessaacuterio que os colonos enfrentassem os

perigos do caminho para natildeo perder a produccedilatildeo

221 COLOcircNIA AGRIacuteCOLA NACIONAL DO AMAZONAS- CANA ldquoUM LUGAR PARA

RECOMECcedilARrdquo

A Amazocircnia voltou a ser ldquoalvordquo de migraccedilatildeo populacional a partir da II Segunda

Guerra Mundial ldquocom a perda para os japoneses dos centros de produccedilatildeo de goma elaacutestica

(borracha) cultivadas no Oriente a induacutestria beacutelica dos aliados viu-se privada da noite para

o dia de um de seus mais importantes produtos estrateacutegicosrdquo (SOARES 1963 p123)

Com isso o presidente dos Estados Unidos viu-se pressionado a estudar o estoque

de mateacuterias primas disponiacutevel para a guerra todavia o resultado foi assustador

De todos os materiais criacuteticos e estrateacutegicos a borracha eacute aquele cuja falta representa a maior ameaccedila agrave seguranccedila de nossa naccedilatildeo e ao ecircxito da causa aliada () Consideramos a situaccedilatildeo presente tatildeo perigosa que se natildeo se tomarem medidas corretivas imediatas este paiacutes entraraacute em colapso civil e militar A crueza dos fatos eacute advertecircncia que natildeo pode ser ignorada

Atenccedilotildees do governo americano se voltaram entatildeo para a Amazocircnia grande reservatoacuterio natural de borracha com cerca de 300 milhotildees de seringueiras prontas para a produccedilatildeo de 800 mil toneladas de borracha anuais mais que o dobro das necessidades americanas Entretanto naquela eacutepoca soacute havia na regiatildeo cerca de 35 mil seringueiros em atividade com uma produccedilatildeo de 16 mil a 17 mil toneladas na safra de 1940-1941 Seriam necessaacuterios pelo menos mais 100 mil trabalhadores para reativar a produccedilatildeo amazocircnica e elevaacute-la ao niacutevel de 70 mil toneladas anuais no menor espaccedilo de tempo possiacutevel [] para alcanccedilar esse objetivo iniciaram-se intensas negociaccedilotildees entre as autoridade brasileiras e americanas que culminaram com a assinatura do Acordo de Washington (NECES 2013 p5 - 6)

E em 14 de Setembro de 1943 eacute publicado o Decreto Lei nordm 5813 que dispunha

sobre o acordo de Washington (assinado em 1942) entre o Brasil e os Estados Unidos onde

o Brasil se comprometia em recrutar e encaminhar trabalhadores para a Amazocircnia com a

79

finalidade de retirar a maior quantidade possiacutevel de borracha e os EUA em contra partida se

comprometia a disponibilizar a importacircncia de U$$ 240000000 em uma conta especial no

Banco do Brasil agrave disposiccedilatildeo do governo brasileiro para ser usado no transporte e

acomodaccedilatildeo dos primeiros 16000 trabalhadores que deveriam ser colocados nos seringais

agrave tempo de iniciar a extraccedilatildeo da borracha para a safra de 1944 (BRASIL 1943)

Em cumprimento ao acordo firmado entre Brasil-EUA eacute criado o Serviccedilo Especial de

Mobilizaccedilatildeo de Trabalhadores para a Amazocircnia - SEMTA que tinha como objetivo fazer o

recrutamento de trabalhadores e suas famiacutelias e o encaminhamento e posterior

acomodaccedilatildeo das mesmas nos seringais da Amazocircnia a fim de incrementar a produccedilatildeo de

borracha e destina laacute aos Estados Unidos (BRASIL 1943)

Para o governo brasileiro era uma grande oportunidade para mitigar alguns dos mais graves problemas sociais brasileiros Somente em Fortaleza cerca de 30 mil flagelados da seca de 1941-1942 estavam disponiacuteveis para ser enviados imediatamente para os seringais Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo) ainda conseguiu enviar quase 15 mil pessoas para a Amazocircnia durante o ano de 1942 metade das quais homens aptos ao trabalho nos seringais Aqueles eram os primeiros soldados da borracha Simples retirantes que se amontoavam com suas famiacutelias por todo o nordeste fugindo de uma seca que teimava em natildeo acabar e os reduzia agrave miseacuteria Mas aquele primeiro grupo era evidentemente muito pequeno diante das pretensotildees americanas (NECES 2013 p7)

Vai aleacutem ao afirmar

Em todas as regiotildees do Brasil aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha e assim auxiliar a causa aliada Alistamento recrutamento voluntaacuterios esforccedilo de guerra tornaram-se termos comuns no cotidiano popular A mobilizaccedilatildeo de trabalhadores para a Amazocircnia coordenada pelo Estado Novo foi revestida por toda a forccedila simboacutelica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam No nordeste de onde deveria sair o maior numero de soldados o SEMTA convocou padres meacutedicos e professores para o recrutamento de todos os homens aptos ao grande projeto que precisava ser empreendido nas florestas amazocircnicas O artista suiacuteccedilo Chabloz foi contratado para produzir material de divulgaccedilatildeo acerca da realidade que os esperava Nos cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de laacutetex que escorria como aacutegua de grossas seringueiras Todo o caminho que levava do sertatildeo nordestino seco e amarelo ao paraiacuteso verde e uacutemido da Amazocircnia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e otimistas O slogan Borracha para a Vitoacuteria tornou-se o emblema da mobilizaccedilatildeo realizada por todo o nordeste Histoacuterias de enriquecimento faacutecil circulavam de boca em boca Na Amazocircnia se junta dinheiro com rodo Os velhos mitos do Eldorado amazocircnico voltavam a ganhar forccedila no imaginaacuterio popular O paraiacuteso perdido a terra da fartura e da promissatildeo onde a floresta era sempre verde e a seca desconhecida Os cartazes mostravam caminhotildees carregando toneladas de borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores Eram imagens coletadas por Chabloz nas plantaccedilotildees da Firestone na Malaacutesia sem nenhuma conexatildeo com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazocircnicos Afinal de contas o que os flagelados

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teriam a perder Quando nenhuma das promessas e quimeras funcionavam restava o milenar recurso do recrutamento forccedilado de jovens A muitas famiacutelias do sertatildeo nordestino foram oferecidas somente duas opccedilotildees ou seus filhos partiam para os seringais como soldados da borracha ou entatildeo deveriam seguir para o front na Europa para lutar contra os fascistas italianos e alematildees Eacute faacutecil entender que muitos daqueles jovens preferiram a Amazocircnia (NECES 2013 p7)

Estima-se que 60 mil pessoas foram enviadas para os seringais amazocircnicos entre os

anos de 1942 e 1945 ldquodesse total quase metade acabou morrendo em razatildeo das peacutessimas

condiccedilotildees de transporte alojamento e alimentaccedilatildeo durante a viagem como tambeacutem pela

ausecircncia quase absoluta de meacutedicosrdquo (NECES 2013 p8)

Com a produccedilatildeo da borracha natildeo chegando nem agrave metade do esperado jaacute em 1944

o governo americano transfere suas atribuiccedilotildees ao governo brasileiro e o fim da II Segunda

Guerra Mundial alcanccedilado em 1945 o acordo de exploraccedilatildeo de borracha na Amazocircnia eacute

rapidamente cancelado com abertura das regiotildees produtoras do sudoeste asiaacutetico

novamente ao mercado internacional

Por sua vez ldquoos soldados da borrachardquo como ficaram conhecidos os migrantes na

regiatildeo amazocircnica foram largados agrave proacutepria sorte novamente na imensidatildeo da floresta

algumas centenas optaram por retornar aos seus estados de origem os demais optaram por

continuar na regiatildeo o que veio a contribuir para o povoamento da mesma

Por outro lado o governo brasileiro natildeo interrompeu a sua poliacutetica de colonizaccedilatildeo

jaacute iniciada com a criaccedilatildeo de Colocircnias de Agriacutecolas Nacionais por todo o territoacuterio brasileiro e

principalmente na Amazocircnia para atender o Acordo de Washington (1942) mantendo assim

os dois mega projetos em funcionamento O que por sua vez resultou em uma explosatildeo

demograacutefica na regiatildeo direcionadas principalmente para os maiores estados da regiatildeo e do

paiacutes o estado do Amazonas e o estado do Paraacute como expressa Benchimol (2009) atraveacutes da

evoluccedilatildeo demograacutefica da populaccedilatildeo nesses estados (Tabela 7)

Tabela 7 Crescimento populacional do Amazonas e do Paraacute (1900-1950)

Estados 1900 1920 1940 1950

Amazonas 249756 363166 438008 514009

Paraacute 445356 983507 944644 1123273

Fonte Samuel Benchimol (2009)

81

Embora o crescimento populacional do estado do Amazonas ao contraacuterio do

estado do Paraacute possa parecer menos expressivo nas primeiras cindo deacutecadas do seacuteculo XX o

mesmo representou grande preocupaccedilatildeo aos governantes com a ocupaccedilatildeo destes

migrantes e imigrantes em terras estranhas o que levou o governador do estado do

Amazonas a doar agrave Uniatildeo grande lote de terras para que fosse implantada a Colocircnia

Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA (AMAZONAS 1941)

As terras doadas detinham aacuterea de duzentos mil a trezentos mil hectares

localizadas entre os rios Negro e Solimotildees (BRASIL 1941b)

Segundo Daacutecio (2011) as terras foram dividas em duas glebas a primeira localizada

no Cacau Pirera (atual municiacutepio de Iranduba) na margem direita do Rio Negro e a segunda

gleba na localidade da Bela Vista disposta na margem esquerda do Rio Solimotildees no

municiacutepio de Manacapuru aonde foi instalado a sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA ficando popularmente conhecida como Colocircnia da Bela Vista

Jaacute na sede da CANA localizada no municiacutepio de Manacapuru na margem esquerda

do Rio Solimotildees a mesma foi efetivamente instalada em 1943 segundo o senhor Dida (73

anos) morador da CANA pelo engenheiro agrocircnomo Dr Carvalho A localidade logo

recebeu o nome de Bela Vista por estar localizada parte em aacuterea de terra firme e parte em

aacuterea de vaacuterzea (Figura 16) e ter uma visatildeo privilegiada do rio Solimotildees

82

Figura 16 Sede da Comunidade da Bela Vista e sua Topografia Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

83

Segundo o senhor Silva (73 anos) popularmente conhecido como Dida os futuros

colonos chegavam a Colocircnia atraveacutes de navios cargueiros trazidos principalmente de quatro

estados brasileiros Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e do Rio Grande do Norte Normalmente os

colonos chegavam acompanhados das esposas e dos filhos muitas vezes pequenos e

doentes devido agrave longa viagem ser longa e as condiccedilotildees sanitaacuterias dentro dos navios natildeo

serem adequadas para o transporte de pessoas

Sobre isso Neces (2013) explica que as viagens do Nordeste para a Amazocircnia

levavam no miacutenimo trecircs meses ou mais devido agrave baixa capacidade de transporte das poucas

empresas de navegaccedilatildeo existentes que navegavam pelos rios da regiatildeo o que levou o

governo brasileiro a fornecer passagens no navio Italiano Lloyd que atracava no litoral

brasileiro e seguia em direccedilatildeo agrave Amazocircnia

Partes das dificuldades de transporte para a regiatildeo foram solucionadas a partir de

1943 com o investimento maciccedilo do governo americano no SNAPP (Serviccedilo de Navegaccedilatildeo e

Administraccedilatildeo dos Portos do Paraacute) para o escoamento da produccedilatildeo de borracha da regiatildeo

(NECES 2013)

Outro entrevistado na pesquisa foi o senhor Santos (84 anos) eacute um dos uacuteltimos

colonos ainda residente na Bela Vista Nasceu no Estado do Rio Grande do Norte em 1929

onde permaneceu ateacute 1945 Apoacutes ouvir no raacutedio os incentivos de terra gratuita para

cultivar casa para morar meacutedicos e escolas que o governo brasileiro oferecia para quem

fosse morar no Amazonas decidiu arriscar a sorte e entrar em um navio alematildeo em plena II

Guerra Mundial em busca do sonho de terras em abundacircncia para cultivar e aacutegua a perder

Figura 17 Vista do Rio SolimotildeesAmazonas da Comunidade de Bela Vista Fonte Louzada ( 2013)

84

de vista Acima de tudo havia o desejo de ter uma vida tranquila sem ver seus animais

morrerem de fome e sede sem ter o que dar de comer e de beber mas ao mesmo tempo

tinha medo de ser pego pelos japoneses residentes na Colocircnia Japonesa em Parintins o que

natildeo ocorreu Chegou agrave CANA no final do ano de 1945 em eacutepoca de fartura de peixe e

intensas chuvas o que o deixou admirado da imensidatildeo da floresta e das aacuteguas Para o

senhor Santos e muitos outros colonos a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas- CANA

com sede na Bela Vista era a oportunidade uacutenica de comeccedilar uma vida nova em um lugar

distante e farto de aacutegua e terras para produzir seus alimentos

Cada colono recebia alimentaccedilatildeo gratuita por trecircs dias a contar da chegada

enquanto ajudava na construccedilatildeo da sua casa em um lote medindo 250m de frente por

900m de fundo previamente demarcado Apoacutes mudarem para seus lotes poderiam

derrubar a mata e iniciar a produccedilatildeo agriacutecola

Outro colono da CANA o senhor Bastos (68 anos) que nasceu no municiacutepio de

Anamatilde no interior do Amazonas e migrou para a Bela Vista com a famiacutelia aos trecircs meses de

vida descreve a fartura da CANA durante sua infacircncia e adolescecircncia na regiatildeo

De primeiro tinha fartura de peixe Haacute vinte anos vocecirc colocava uma malhadeira e

pegava tanto peixe que virava cordatildeo de tanto peixe No ramal para chegar aqui

tem um igarapeacute onde tem aquela ponte de madeira se vocecirc queria pegar peixe

era soacute colocar laacute uma isca chegava a pegar pirarucu de 40 a 45kg rapidinho hoje se

vocecirc colocar uma isca laacute ela vai apodrecer e vocecirc natildeo pega nada (BASTOS 68

anos)

O proacuteprio senhor Bastos (68 anos) relata ainda uma frase que seu pai lhe disse em

1959 apoacutes ver muitas pessoas pescando escolhendo o peixe que iriam comer e jogando o

restante jaacute morto de volta no rio ldquoMeu filho vai chegar o tempo de criar peixe se vocecirc

quiser comer umrdquo A primeira vista como o senhor Bastos relatou ldquoachei que meu pai natildeo

estava falando coisa com coisa pois tinha muita fartura de peixe mas hoje vejo que ele

estava certordquo Embora somente sabendo escrever o seu proacuteprio nome o pai de Bastos viveu

toda a sua vida agraves margens do rio e pode transmitir o conhecimento empiacuterico de um

ribeirinho que viveu toda a sua vida em contato constante e dependente do rio

Alguns autores relativamente jovens podem se referir a relatos de senhores com

mais de 60 anos como saudosista Entretanto se trata de outra realidade natildeo vivenciada

pelos autores que a criticam Embora muitos reconheccedilam que o avanccedilo da tecnologia no

85

seacuteculo passado e atual trouxe inuacutemeros benefiacutecios agrave sociedade moderna os mesmos

tambeacutem tecircm relativo conhecimento dos impactos dessa modernizaccedilatildeo principalmente da

exploraccedilatildeo descontrolada da natureza e suas consequecircncias para com o meio ambiente

222 INFRAESTRUTURA DA CANA DA PRODUCcedilAtildeO AGRIacuteCOLA Agrave CONSTRUCcedilAtildeO DE BATELOtildeES

Os colonos que se instalaram na CANA tinham primeiramente duas funccedilotildees

desmatar os seus lotes produzir lenha para abastecer as embarcaccedilotildees que atracavam no

porto da Bela Vista e preparar a terra para a produccedilatildeo de arroz e cana de accediluacutecar uma das

exigecircncias para terem seus lotes na regiatildeo

A Colocircnia tinha cinco casas de alvenaria aparentemente adequadas ao meio muito

embora reflitam uma arquitetura com caracteriacutesticas distintas do convencionalmente

adotado pela populaccedilatildeo local

As casas eram divididas assim uma do administrador e sua famiacutelia (Figura 18) outra

era utilizada como escritoacuterio da Colocircnia e mais trecircs casas para os funcionaacuterios

administrativos

Assim como as outras colocircnias agriacutecolas nacionais implantadas a Colocircnia Agriacutecola

Nacional do Amazonas- CANA tambeacutem produzia cana de accediluacutecar e derivados como rapadura

e mel e accediluacutecar mascavo Tambeacutem produzia arroz que era processado em uma Usina de

Beneficiamento e apoacutes o processamento era ensacado e transportado por batelotildees

Figura 18 Casa do Administrador da Colocircnia

Fonte Louzada (2013)

86

(embarcaccedilotildees de madeira que navegavam pelos rios da Amazocircnia geralmente movidas a

lenha) ateacute Manaus ou subiam o curso do Rio Solimotildees para abastecer outras cidades do

interior do estado

A infraestrutura da CANA natildeo se limitava somente a Usina de Beneficiamento de

Arroz e as casas dos funcionaacuterios ou do administrador uma vez que tambeacutem dispunha de

Porto de Lenha responsaacutevel pelo abastecimento das embarcaccedilotildees posto de sauacutede com

meacutedicos e dentistas uma cantina uma espeacutecie de mercearia que vendia os produtos

comercializados na Colocircnia aleacutem de um estaleiro que fabricava e consertava embarcaccedilotildees

Segundo o senhor Dida (73 anos) a Colocircnia tinha trecircs embarcaccedilotildees proacuteprias o barco

Anamatilde geralmente utilizado pela famiacutelia do administrador e os barcos Tracajaacute e Aacutegua Fria

considerados cargueiros que transportavam a produccedilatildeo de rapadura mel e arroz para a

capital (Manaus) e retornavam com tijolos e telhas Os colonos que desejassem ir a capital

deveriam esperar os batelotildees que passavam no rio geralmente no inicio do dia uma vez por

semana e retornavam no dia seguinte agrave Colocircnia

O senhor Francisco (71 anos) descreve a Colocircnia como um lugar calmo de gente

humilde e trabalhadora que apesar de terem que trabalhar na produccedilatildeo de arroz e cana de

accediluacutecar como parte das exigecircncias para ter um lote na CANA natildeo abriam matildeo de ter em

seus lotes pequenos siacutetios geralmente com muitas arvores frutiacuteferas tanto tiacutepicas da

Amazocircnia como de outras regiotildees ou paiacuteses como mangueiras cajueiros entre outras

acompanhado da criaccedilatildeo de pequenos animais

Com a transferecircncia da administraccedilatildeo de todas as Colocircnias Agriacutecolas Nacionais da

extinta Divisatildeo de Terras e Colonizaccedilatildeo do Ministeacuterio da Agricultura e do tambeacutem extinto

Departamento Nacional de Imigraccedilatildeo do Ministeacuterio do Trabalho Induacutestria e Comeacutercio para o

Instituto Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo ndash INIC (BRASIL 1956) marcaria

definitivamente o periacuteodo de transformaccedilotildees que viria a sofrer a Colocircnia Agriacutecola Nacional

do Amazonas - CANA

As coisas comeccedilaram a mudar segundo o senhor Bastos

[ldquo] natildeo veio mais meacutedicos nem dentistas para caacute as crianccedilas estavam doentes nem tinha remeacutediordquo Com o aumento das chuvas de dezembro agrave junho a produccedilatildeo de cana de accediluacutecar diminuiacutea muito ou acabava porque foram plantadas na vaacuterzea o mesmo acontecia com o arroz de primeiro tinha armazeacutem para guardar a produccedilatildeo depois 1957 natildeo tinham aonde guardar Muita gente foi embora para a cidade grande quem ficou tinha que se virar do jeito que desse ou morreria de fome A culpa foi do ldquoDr Rangel que derrubou a Colocircnia ele fechou a

87

Usina de Beneficiamento a cantina levou os meacutedicos que tinha aqui embora e natildeo

trouxe outros ele nem morava aqui soacute vinha visitar (BASTOS 68 ANOS)

O senhor Bastos se refere ao engenheiro agrocircnomo Vicente de Saacute Rangel

designado para administrar as terras do INIC e organizar um polo agriacutecola na regiatildeo

(MARTINS 2011)

Com a Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA recebendo em meacutedia 2 mil

agricultores por mecircs aptos a trabalhar e a produzir alimentos se fazia necessaacuterio escoar esta

produccedilatildeo Rangel solicitou apoio do Governo Federal para a criaccedilatildeo de vias de acesso aacutes

comunidades de forma a facilitar o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola (MARTINS 2011)

A abertura das estradas comeccedilou com a instalaccedilatildeo da Colocircnia Japonesa na primeira

gleba da CANA onde hoje se encontra a localidade do Cacau Pirera no municiacutepio de

Iranduba na parte inicial da rodovia AM-070 (Manoel Urbano) (MARTINS 2011)

O polo foi criado e era necessaacuterio ter estradas os produtos com os quais eles trabalhavam Meu pai assumiu a direccedilatildeo dessa colocircnia e eu acompanhei o processo O transporte era muito complicado era necessaacuterio abrir as estradas no meio da florestardquo relatou um dos filhos do engenheiro Paulo Roberto Franccedila Rangel Enfrentando chuvas torrenciais calor insetos e dificuldades para derrubar aacutervores de grande porte a equipe comeccedilou a estruturar as vias de acesso para a colocircnia (MARTINS 2011 p13)

Martins (2011) relata ainda as dificuldades encontradas no processo de ligar as

comunidades e a construccedilatildeo da estrada sobre a floresta Assim como tambeacutem os benefiacutecios

recebidos com a chegada dos japoneses ao municiacutepio de Iranduba ldquoEle acreditava que a

agricultura seria a redenccedilatildeo do povo amazonense Ele viu que soacute se comia peixe e poucas

verduras Eles resolveram plantar e comeccedilaram a produzir muitordquo lembrou Paulo Roberto

Franccedila Rangel filho de Vicente Rangel

Ao todo Vicente Rangel morou no estado do Amazonas cinco anos (1957 a 1962)

retornando agrave sua cidade natal posteriormente

88

223 DA SEDE DA CANA Agrave COMUNIDADE DA BELA VISTA

Com o inicio da ditadura militar no Brasil em 1964 a Amazocircnia volta ao cenaacuterio

nacional impregnada no discurso do entatildeo presidente Castelo Branco ldquoIntegrar para natildeo

Entregarrdquo

Sobre isso Oliveira (1988) aponta que a estrateacutegia militar era desenvolver trecircs

grandes regiotildees geoeconocircmicas brasileiras Centro Sul Nordeste e Amazocircnia e interligaacute-las

definitivamente atraveacutes de mega projetos rodoviaacuterios

[] visto sob o acircngulo de estrateacutegias diversas o Centro Sul deveria ter o processo de industrializaccedilatildeo solidificado e sua agricultura modernizada aleacutem de participar do esforccedilo nacional de ldquodesenvolvimento do Nordesterdquo via industrializaccedilatildeo e da ocupaccedilatildeo via ldquoOperaccedilatildeo Amazocircniardquo da regiatildeo norte do paiacutes (OLIVEIRA 1988 p29)

A operaccedilatildeo Amazocircnia eacute resultado de uma ldquoReuniatildeo de Investidores da Amazocircniardquo a

bordo de um cruzeiro de nove dias pelos rios da regiatildeo onde ficaram definidos ldquoos

interesses dos empresaacuterios do Centro Sul e os objetivos da adesatildeo empresarial ao projeto

governamental soacute investir se o lucro fosse certordquo (OLIVEIRA 1988 p32)

Para viabilizar as novas estrateacutegias de desenvolvimento regional se fazia necessaacuterio

reestruturar os oacutergatildeos de planejamento regional levando o estado a lanccedilar a poliacutetica de

ldquoincentivos fiscais que previa a criaccedilatildeo do FIDAM (Fundo para Investimentos Privados do

Desenvolvimento da Amazocircnia) e uma rearticulaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do BASA (Banco da

Amazocircnia SA)rdquo (OLIVEIRA 1988 p36)

Os recursos a serem investidos na Amazocircnia seriam provenientes de

1-no miacutenimo 2 da renda tributaacuteria da Uniatildeo e 3 da renda tributaacuteria dos estados territoacuterios e municiacutepios da Amazocircnia 2- dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias e creacuteditos adicionais provenientes de operaccedilotildees de creacutedito e juros de depoacutesitos bancaacuterios 3- auxiacutelios subvenccedilotildees contribuiccedilotildees e doaccedilotildees de entidades puacuteblicas ou privadas nacionais ou estrangeiras 4- sua renda patrimonial aleacutem de todas as isenccedilotildees tributaacuterias gozadas pelos oacutergatildeos federais 5- contrataccedilatildeo de empreacutestimos no paiacutes ou no exterior dando como garantia seus proacuteprios recursos como total isenccedilatildeo de taxas e impostos federais (OLIVEIRA 1988 p37)

89

A Operaccedilatildeo Amazocircnia tambeacutem tinha como objetivo criar a SUFRAMA

(Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus) que foi criada em 1967 para coordenar e

administrar a instalaccedilatildeo de faacutebricas na cidade de Manaus fundando o Distrito Industrial

(OLIVEIRA 1988)

Com a instalaccedilatildeo de faacutebricas em Manaus a cidade torna-se alvo de intensas

migraccedilotildees em busca de melhores condiccedilotildees de vida

Sobre isso Benchimol (2009) destaca que na deacutecada de 1950 73 da populaccedilatildeo do

estado do Amazonas vivia no campo contra 26 que viviam na cidade e duas deacutecadas

depois em 1970 esse percentual despencou para 57 da populaccedilatildeo rural contra 43

urbana

Para tentar reduzir as intensas e constantes migraccedilotildees do campo para as cidades O

governo militar cria o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria ndash INCRA

(resultado da fusatildeo do Instituto Brasileiro de Reforma Agraacuteria - IBRA e do Instituto Nacional

de Desenvolvimento Rural-INDA) instituiacutedo pelo decreto lei nordm 1110 de 09 de Julho de

1970

Art 1ordm O INGRA eacute uma entidade autaacuterquica vinculada ao Ministeacuterio da Agricultura dotado de personalidade juriacutedica e autonomia administrativa e financeira com jurisdiccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional a) Tendo como objetivo executar a reforma agraacuteria visando a corrigir a estrutura agraacuteria do paiacutes adequando-a aos interesses do desenvolvimento econocircmico e social b) Promover coordenar controlar e executar a projetos de colonizaccedilatildeo (BRASIL 1970)

O INCRA (1970) tinha como uma de suas principais funccedilotildees fundar nuacutecleos de

colonizaccedilatildeo criando unidades de exploraccedilatildeo agriacutecola em projetos de reforma agraacuteria em

regiotildees de vazios demograacuteficos no paiacutes e tornaacute-los produtivos proporcionando-lhes

progresso natildeo soacute econocircmico mas principalmente social (BRASIL 1970)

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs como foram instituiacutedos tornaram-se

poliacuteticas de Estado para a colonizaccedilatildeo da Amazocircnia no inicio de 1970 (RABELLO 2005)

No estado do Amazonas foram implantados vaacuterios PCIs com destaque para o PCI da

Bela Vista implantado nas terras da antiga Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA

que abrange um lote de terras entre os rios Negro e Solimotildees que fazem parte hoje dos

municiacutepios de Iranduba e Manacapuru (SCHWEICKARDT 2006)

90

Segundo o INCRA (2012) o PCIs da Bela Vista foi dividido em duas localidades Bela

Vista I localizado no distrito de Cacau Pirera atual municiacutepio de Iranduba e Bela Vista II

situado no municiacutepio de Manacapuru

Os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo (PIC) se destinavam agrave faixa de populaccedilatildeo de baixa renda especificamente a agricultores sem terra (sect 2ordm art 25 do Estatuto da Terra) e de preferecircncia agravequeles que possuem maior forccedila de trabalho familiar Nas aacutereas desses projetos o INCRA identifica e seleciona os beneficiaacuterios localiza-os nas parcelas por ele determinadas fornece a infraestrutura baacutesica e atraveacutes dos oacutergatildeos responsaacuteveis a niacutevel nacional regional estadual eou municipal implementa as atividades relativas agrave assistecircncia teacutecnica creditiacutecia agrave comercializaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo para facilitar a organizaccedilatildeo soacutecio econocircmica dos parceleiros Cabe tambeacutem ao INCRA outorgar aos beneficiaacuterios o tiacutetulo definitivo de propriedade da parcela (RABELLO 2005 p7)

Sobre isso Rocha (2010) destaca que os Projetos Integrados de Colonizaccedilatildeo ndash PICs

foi a primeira forma de assentamento rural realizado pelo receacutem-criado INCRA Todavia com

a publicaccedilatildeo do Decreto Lei nordm 11641971 tornava-se indispensaacutevel a seguranccedila nacional a

ocupaccedilatildeo das terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada margem das

rodovias construiacutedas ou planejadas na Amazocircnia Os esforccedilos de colonizaccedilatildeo em zonas

rurais foram redirecionados para o assentamento de milhares de famiacutelias oriundas

principalmente do nordeste brasileiro ao longo das futuras rodovias

Os reflexos dessa mudanccedila de foco do INCRA dos Projetos Integrados de

Colonizaccedilatildeo - PICs para os Assentamentos Agraacuterios ao longo das futuras rodovias foi sentida

drasticamente pela populaccedilatildeo jaacute assentada no PIC da Bela Vista aonde muitas famiacutelias

chegaram agrave migrar para a cidade de Manaus em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho

Em 1976 o Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria - INCRA emancipou o PIC Bela Vista concedendo tiacutetulo definitivo a 279 proprietaacuterios equivalentes a 15 da aacuterea inicial sendo grande parte ocupada por posseiros (DAacuteCIO apud BARBOSA 2011 p26)

Em 1980 os reflexos dessas mudanccedilas pode ser sentido na contagem populacional

do estado realizada pelo IBGE quando a populaccedilatildeo alcanccedilou 1430089 habitantes

distribuiacutedos pela primeira vez como sendo a maioria urbana chegando agrave 5990 do total de

habitantes do estado contra 4010 da populaccedilatildeo rural (BENCHIMOL 2009)

Com a emancipaccedilatildeo do PIC da Bela Vista em 1976 os dois nuacutecleos (Bela Vista I e II)

seguiram caminhos diferentes o primeiro tornou-se o Distrito de Cacau Pirera (municiacutepio de

Iranduba) uma pequena ldquocidaderdquo que recebia ateacute setembro de 2011 as balsas com dezenas

91

de carros e ocircnibus que saiam do Porto do Satildeo Raimundo em Manaus e atracavam naquele

local tornando-se assim o cartatildeo postal do municiacutepio de Iranduba

O PIC da Bela Vista II localizado no municiacutepio de Manacapuru que outrora foi agrave

sede da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas ndash CANA tornou-se uma comunidade rural

daquele municiacutepio E atraveacutes da AM-054 de 10 km de asfalto em peacutessimas condiccedilotildees de

traacutefego (Figura 19) manteacutem-se ligada agrave rodovia Manoel Urbano (AM-070) sua principal

ligaccedilatildeo com a cidade de Manacapuru e a capital do estado Manaus

Figura 19 Ponte de madeira construiacuteda no ramal da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

Atualmente a comunidade da Bela Vista ainda guarda registros histoacutericos como

algumas casas o galpatildeo onde funcionava a Usina de Beneficiamento (Figura 20) e a cantina

(Figura 21) Com mais de 70 anos as construccedilotildees ainda que deterioradas pelo tempo satildeo

registros dos tempos ldquoaacuteureosrdquo do pleno funcionamento da Colocircnia Agriacutecola Nacional do

Amazonas- CANA tambeacutem conhecida como Colocircnia da Bela Vista

92

Figura 20 Usina de Beneficiamento da CANA Fonte Louzada (2013)

Figura 21 Cantina de mantimentos da CANA Fonte Louzada (2013)

Atualmente a populaccedilatildeo residente na comunidade da Bela Vista estaacute estimada em

3 mil pessoas (informaccedilatildeo dos moradores) oriundos de descendentes de ex ndash colonos e

migrantes de diversos municiacutepios do interior e de outros estados aleacutem de ex- colonos que

optaram por permanecer na regiatildeo

A comunidade da Bela Vista assim como outras comunidades localizadas agraves

margens dos rios da Amazocircnia tem sua economia baseada na agricultura familiar

fortemente enraizada na tradiccedilatildeo ribeirinha de fazer suas plantaccedilotildees agriacutecolas em aacuterea de

93

vaacuterzea Por esta razatildeo eacute comum encontrar plantaccedilotildees em frente agraves casas da primeira rua da

comunidade disposta paralela ao rio Solimotildees (Figura 22 23)

Figura 22 Primeira rua da comunidade da Bela Vista a margem do rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Figura 23 Plantaccedilotildees na aacuterea de Vaacuterzea da comunidade da Bela Vista Fonte Louzada (2013)

As plantaccedilotildees variam de mandioca milho macaxeira verduras como tomate

pepino cebola agrave frutos como melancia goiaba banana entre outros Contudo natildeo eacute

somente na faixa justafluvial da comunidade que satildeo plantados alimentos inclusive tambeacutem

94

na Ilha do Barroso localizada proacuteximo agrave margem direita do Rio Solimotildees Amazonas (Figura

24)

Figura 24 Plantaccedilotildees dos moradores da Bela Vista na Ilha do Barroso no rio SolimotildeesAmazonas Fonte Louzada (2013)

Graccedilas agrave sua constituiccedilatildeo e formaccedilatildeo o rio SolimotildeesAmazonas submete suas

margens e leito agrave intensos e constantes processos erosivos de deposiccedilatildeo e erosatildeo Sobre isso

Horbe et al (2009) afirmar que

[] os rios de aacutegua branca satildeo os que apresentam maiores conteuacutedos de material em suspensatildeo que ao se depositarem ao longo de seus cursos formam extensas terraccedilos fluviais ilhas e barras Vaacuterios autores correlacionam a fonte da maior parte desses sedimentos aos Andes com contribuiccedilotildees menos significativas das rochas cratocircnicas e sedimentares siliciclaacutesticas que ocorrem ao longo da bacia Amazocircnica (HORBE et al apud GIBBS 1967 IRION 1983 STALLARD et al 1983 MARTINELLI et al1993 KONHAUSER et al 1994 GUYOT et al 2007 2009 p635)

A sinuosidade e o fluxo de carga impotildeem uma dinacircmica particular ao rio ldquoonde a

sua composiccedilatildeo mineraloacutegica eacute resultado de uma mistura diversificada de materiais

proveniente de fonte litoloacutegica por accedilotildees de intemperismo quiacutemico e fiacutesico principalmenterdquo

(HORBE apud CUNHA 2009 p 635)

A diversificaccedilatildeo de materiais depositados na ilha do Barroso atraveacutes dos constantes

retoques na paisagem (STERNBERG 1998) realizado pelo rio no seu periacuteodo cheio permite

a fixaccedilatildeo de depoacutesitos aluviais na ilha o que torna as terras feacuterteis em seu periacuteodo seco por

95

esta razatildeo os moradores da comunidade da Bela Vista utilizam a mesma para a produccedilatildeo

agriacutecola

A comunidade tambeacutem conta com pequenos comeacutercios em sua maioria familiares

e uma pousada Atualmente a comunidade se prepara para trabalhar numa faacutebrica de

beneficiamento de calcaacuterio instalada em Marccedilo de 2014 O calcaacuterio seraacute extraiacutedo da Mina do

Jatapuacute localizada no municiacutepio de Urucaraacute e seraacute beneficiado na comunidade

transformando em fertilidade agriacutecola (ALE 2013)

96

3 - PERCEPCcedilAtildeO TRANSDICIPLINAR E A COMPLEXIDADE PERSPECTIVA DE

DESENVOLVIMENTO

Ao analisar os impactos ambientais na Amazocircnia em prol do desenvolvimento

tornou-se necessaacuterio adentrar pela percepccedilatildeo transdisciplinar e a complexidade que o meio

ambiente exige Assim como analisar a percepccedilatildeo ambiental da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos

projetos de desenvolvimento

Partindo da palavra percepccedilatildeo que tem sua origem no Latim perception que eacute

definida como a identificaccedilatildeo de elementos que em combinaccedilatildeo com os sentidos permite o

reconhecimento de formas cores dimensotildees contudo baseado nas experiecircncias individuas

de cada indiviacuteduo

Para Tuan (2012)

A superfiacutecie da Terra eacute extremamente variada Mesmo com um conhecimento casual sua geografia fiacutesica e a abundacircncia de formas de vida muito nos dizem Mas satildeo mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfiacutecie Duas pessoas natildeo veem a mesma realidade Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliaccedilatildeo do meio ambiente A proacutepia visatildeo cientifica estaacute ligada agrave cultura ndash uma possiacutevel perspectiva entre muitas Aacute medida que prosseguimos neste estudo a abundacircncia desnorteadora de perspectivas nos niacuteveis tanto individual quanto de grupo torna-se cada vez mais evidente e corremos o risco de natildeo notar o fato de que por mais diversas que sejam as nossas percepccedilotildees do meio ambiente como membros da mesma espeacutecie estamos limitados a ver as coisas de uma certa maneira Todos os seres humanos compartilham percepccedilotildees comuns um mundo comum em virtude de possuiacuterem oacutergatildeos similares (TUAN 2012 p21)

Reflete ainda que

Embora todos os seres humanos tenham oacutergatildeos dos sentidos similares o modo como suas capacidades satildeo usadas e desenvolvidas comeccedila a divergir numa idade bem precoce Como resultado natildeo somente as atitudes para com o meio ambiente diferem mas tambeacutem a capacidade real dos sentidos de modo que uma pessoa em determinada cultura possa desenvolver um olfato aguccedilado para perfumes enquanto os de outra cultura adquirem profunda visatildeo estereoscoacutepica (TUAN 2012 p30)

Baseado nessas afirmaccedilotildees de Tuan (2012) a sociedade moderna tem dificuldade

de relacionar acontecimentos ocorridos em diferentes lugares do mundo com sua proacutepria

realidade pois natildeo se veem como agente ativo dos acontecimentos

Isto se deu primeiramente com o advento da Revoluccedilatildeo Industrial na Inglaterra no

seacuteculo XVIII com a fabricaccedilatildeo de produtos em larga escala com o salto no volume de

97

produccedilatildeo se fazia (e atualmente ainda se faz) necessaacuterio buscar em qualquer parte do

mundo mateacuteria prima a ser utilizada na induacutestria (LOUZADA et al 2013)

Com a retirada dos recursos naturas como carvatildeo mineral madeira petroacuteleo gaacutes

natural pedras preciosas entre outras coisas Em macro escala durante os seacuteculos

seguintes a Revoluccedilatildeo Industrial eacute ainda mais intensificada com o modelo fordista (linha de

montagem) de produccedilatildeo a partir do seacuteculo XIX resultando em graviacutessimos impactos

ambientais que somente foram divulgados ao mundo a partir da deacutecada de 40 do seacuteculo

XX com destaque para a exploraccedilatildeo descontrolada das minas de carvatildeo mineral em toda a

Europa que reduziu drasticamente a cobertura vegetal nativa A retirada descontrolada de

pedras preciosas em todas as partes do mundo com destaque para o continente africano

gerou inuacutemeros conflitos territoacuterios e eacutetnicos pelo domiacutenio das jazidas principalmente de

diamantes no continente

Pode- se destacar tambeacutem a intensa exploraccedilatildeo madeireira que o Brasil sofreu

durante os quatro primeiros seacuteculos de sua ldquodescobertardquo e o transporte para a Europa de

todas as demais riquezas encontradas em seu territoacuterio Com o crescimento constante da

populaccedilatildeo mundial a retirada da mateacuteria prima da natureza somente se intensificou e

aprimorou-se durante os anos seguintes

Para Capra (1982 p13) ldquoA superpopulaccedilatildeo e a tecnologia industrial tecircm

contribuiacutedo de vaacuterias maneiras para a raacutepida degradaccedilatildeo do meio ambiente natural do qual

dependemos completamente Por conseguinte nossa sauacutede e nosso bem estar estatildeo

seriamente ameaccediladosrdquo

Capra (1982) ainda argumenta que os profissionais ditos especializados em vaacuterios

campos natildeo estariam realmente capacitados para lidar com os problemas emergentes

justamente devido agrave sua especializaccedilatildeo

Capra (1982) vai aleacutem ao afirmar existir uma crise de ideia e cultura

O fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadecircmico subscrever percepccedilotildees estreitas da realidade as quais satildeo inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo Esses problemas [] satildeo sistecircmicos o que significa que estatildeo intimamente interligados e satildeo interdependentes Natildeo podem ser entendidos no acircmbito da metodologia fragmentada que eacute caracteriacutestica de nossas disciplinas acadecircmicas e de nossos organismos governamentais (CAPRA 1982 p 15)

Para Capra (1982) precisamos

98

[] entender nossa multifaceta crise cultural precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situaccedilatildeo no contexto da evoluccedilatildeo cultural humana Temos que transferir nossa perspectiva do seacuteculo XX para um periacuteodo que abrange milhares de anos substituir a noccedilatildeo de estruturas sociais estaacuteticas por uma percepccedilatildeo de padrotildees dinacircmicos de mudanccedila (CAPRA 1982 p 16)

Alarmados com os danos ambientais frutos de seacuteculos de intensa exploraccedilatildeo e o

futuro da humanidade surgem encontros de diversos pensadores e cientistas preocupados

com o meio ambiente natural dando inicio a conferecircncias e reuniotildees importantes a partir

da segunda metade do seacuteculo XX bem como a Conferecircncia de Estocolmo realizada em

1972 com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade mundial para melhorar a

relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente em razatildeo dos problemas ambientais surgidos e

agravados com a industrializaccedilatildeo Nesse encontro foram elaborados dois importantes

documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre Meio Ambiente Humanordquo e o ldquoPlano de Accedilatildeo Mundialrdquo

Tambeacutem se registra a indicaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo capaz de conduzir a sociedade para um

repensar de sua accedilatildeo sobre o meio ambiente ndash a Educaccedilatildeo Ambiental

Em consequecircncia disso realizou-se em 1975 a Conferecircncia de Belgrado que

consolidou as recomendaccedilotildees no documento a ldquoCarta de Belgradordquo que prioriza a

erradicaccedilatildeo da pobreza do analfabetismo da fome da poluiccedilatildeo e tambeacutem cria as Diretrizes

Baacutesicas dos Programas de Educaccedilatildeo Ambiental para todos os paiacuteses participantes em

nuacutemero de sessenta e cinco

A Conferecircncia de Tbilisi realizada na Geoacutergia (uma repuacuteblica da Uniatildeo das

Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas- URSS de 1936 ndash 1991) em 1977 destaca que a educaccedilatildeo

formal desempenha papel importante para a resoluccedilatildeo dos problemas ambientais atraveacutes

de enfoques interdisciplinares recomenda a adoccedilatildeo de criteacuterios para o desenvolvimento da

Educaccedilatildeo Ambiental em escala local regional nacional e ateacute internacional Muitos outros

eventos se seguem cada um com elaboraccedilatildeo de documentos que buscam cada vez mais

destacar a complexidade da questatildeo ambiental considerando o meio ambiente sistecircmico

composto por fatores sociais econocircmicos poliacuteticos culturais ecoloacutegicos inter-relacionados

e dinacircmicos

Vaacuterios pensadores destacaram-se publicando importantes estudos sobre a

preocupaccedilatildeo ambiental do seacuteculo XX Entre eles destaca-se Leff (2003) que afirma que a

99

atual crise ambiental eacute sobretudo uma crise do conhecimento pois o mesmo consolidou-

se de forma fragmentado sem enfatizar a relaccedilatildeo entre o meio natural e humano (como

deveria ter sido a funccedilatildeo da geografia) como se os dois pudessem viver de forma isolada e

natildeo existisse uma relaccedilatildeo de dependecircncia Conhecimento esse produzido pela Ciecircncia

Moderna que considerava importante o princiacutepio da visatildeo compartimentalizada para

permitir o aprofundamento da especificidade

O pensamento complexo enfatizado por Morin (1990) surgiu com o objetivo de

unir o que foi anteriormente separado pelo pensamento cartesiano-newtoniano porque

natildeo se pode entender o mundo de maneira linear considerando que ele natildeo eacute uma maacutequina

como foi explicado por Descartes haacute muitos seacuteculos atraacutes sendo necessaacuterio retornar ao

passado para entender o presente para que seja possiacutevel tentar mudar o futuro

Ao contraacuterio do que agrave primeira vista possa parecer o Pensamento Complexo natildeo

significa algo complicado difiacutecil de ser compreendido pois na verdade conduz ao

entendimento das relaccedilotildees entre os fatores que integram a realidade contrapondo-se a

visatildeo provocada pela especializaccedilatildeo proposta pela Ciecircncia Moderna contudo torna-se difiacutecil

compreender esta proposta uma vez que pois estamos acostumados a trabalhar de forma

isolada e natildeo dispostos a discutir uma visatildeo que necessita reconstruir bases historicamente

construiacutedas Capra afirma que ldquoPrecisamos pois de um novo paradigma ndash uma nova visatildeo

da realidade uma mudanccedila fundamental em nossos pensamentosrdquo(CAPRA 1982 p14)

Para Morin (1990) a Complexidade surge como um Novo Paradigma capaz de

tentar compreender a atual crise de percepccedilatildeo defendida por Capra (1982) e propor

mudanccedilas

Todavia o conceito de Novo Paradigma para Morin (1990 p85) ldquoeacute constituiacutedo por

um certo tipo de relaccedilatildeo loacutegica extremamente forte entre noccedilotildees mestras noccedilotildees chaves e

princiacutepios chaves Essa relaccedilatildeo e esses princiacutepios vatildeo comandar todos os propoacutesitos que

obedecem inconscientemente ao seu impeacuteriordquo

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se verifica empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

100

Um exemplo da relaccedilatildeo ordem ndash desordem ndash organizaccedilatildeo seria as invasotildees de

terras que causam de certa forma a desordem (pessoas se aglomerando em pequenos

barracos em ldquoaacutereas de riscordquo onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a

produccedilatildeo de fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que

buscam melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

Morin (1990 p94) afirma ainda que ldquoo nosso mundo comporta harmonia mas

nesta harmonia estaacute a desarmonia Eacute exatamente o que dizia Heraacuteclito haacute harmonia na

desarmonia e vice- versardquo

O capitalismo surge para comprovar essa afirmaccedilatildeo de Morin quando vocecirc deve

estar se perguntando como ldquoSimplesrdquo pela facilidade de adaptaccedilatildeo ao mercado pois antes

da deacutecada de 70 o mundo vivia da exploraccedilatildeo descontrolada dos recursos naturais Poreacutem

sabe-se que hoje tais ldquorecursosrdquo satildeo limitados e natildeo infinitos O Capital se adaptou a essa

nova exigecircncia do mercado consumidor e passou a vender produtos com a simbologia da

Sustentabilidade ou a Marca Verde mantendo o consumo desenfreado

Ser sujeito natildeo quer dizer ser consciente tambeacutem natildeo quer dizer ter afetividade sentimentos ainda que evidentemente a subjetividade humana se desenvolva com a afetividade com sentimentos Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ocupar o lugar do ldquoeurdquo (MORIN 1990 p95)

O autor lanccedila a ideia de auto-organizaccedilatildeo e auto-eco-organizadores tais conceitos

dizem respeito agrave propriedade de cada sistema criar suas proacuteprias regras sem perder de vista

a harmonia com os demais sistemas interligados Nessa visatildeo Morin acredita ser possiacutevel

resgatar os conceitos de autonomia e de sujeito livrando-se da visatildeo ldquodeterminista da

ciecircncia tradicionalrdquo (MORIN 1990 p95)

Morin (1990) esclarece dizendo que todo mundo pode dizer ldquoeurdquo contudo cada

um de noacutes soacute pode dizer ldquoeurdquo por si proacuteprio Ningueacutem fala do eu pensando no bem do outro

Ser sujeito eacute colocar-se no centro do seu proacuteprio mundo eacute ao mesmo tempo ser autocircnomo

e dependente Jaacute ser consciente eacute ter a capacidade de sair de si de transcender a

centralidade da subjetividade percebendo ao mesmo tempo em que nosso modo de ser eacute

ser o centro de nosso mundo

101

Liberdade para Morin (1990 p98) significa ldquoQuantos de noacutes frequentemente temos

a impressatildeo de ser livres sem ser livres Mas ao mesmo tempo somos capazes de ter

liberdade como somos capazes de examinar hipoacuteteses de condutas de fazer escolhas de

tomar decisotildeesrdquo

Portanto a Complexidade ldquoaparece como uma espeacutecie de buraco de confusatildeo de

dificuldade a primeira vista () Mas haacute complexidades ligadas agrave desordem e outras

complexidades que estatildeo sobre tudo ligadas a contradiccedilotildees loacutegicasrdquo (MORIN 1990 p99)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o cientista a dar marcha

reacute e rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os objetos

uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter multidimensional de

qualquer realidade Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo podemos nunca escapar aacute incerteza

() Estamos condenados ao pensamento inseguro a um pensamento criativo de buracos

um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento absoluto de certezardquo

Ele tambeacutem conceitua a razatildeo racionalidade e racionalizaccedilatildeo pois razatildeo

corresponde ldquo agrave vontade de ter uma visatildeo coerente das coisas e dos fenocircmenos rdquo jaacute a

racionalidade ldquoeacute um jogo o diaacutelogo incessante entre o nosso espiacuterito que cria estruturas

loacutegicas que as aplica sobre o mundo e que dialoga com o mundo realrdquo A racionalizaccedilatildeo

consiste ldquoem querer encerrar a realidade num sistema coerente E tudo o que na realidade

contradiz este sistema coerente eacute desviado esquecido posto de lado visto como ilusatildeo ou

aparecircnciardquo (MORIN 2007 p70)

Ainda conta com outro agravante a racionalizaccedilatildeo natildeo estabelece uma fronteira

niacutetida com a racionalidade e eacute muitas vezes confundida com ela Morin (1990) cita o

exemplo da ldquobarreirardquo entre o amor e a amizade onde natildeo existem delimitaccedilotildees claras a

serem ultrapassadas ou natildeo

Para o entendimento da Complexidade Morin (1990 p108) indica trecircs princiacutepios o

dialoacutegico ldquoa ordem e a desordem [] mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e

produzem organizaccedilatildeo e complexidade permite-nos manter a dualidade no seio da unidade

associa termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicosrdquo o da recursatildeo

organizacional relata sobre a necessidade da humanidade de viver em sociedade e o

resultado das interaccedilotildees humanas ldquoSe natildeo houvesse uma sociedade e a sua cultura uma

102

linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos indiviacuteduos humanosrdquo o holograacutefico ou

hologramaacutetico funciona como a menor partiacutecula do todo ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo

mas o todo estaacute na parterdquo

O Paradigma da Complexidade surge das novas concepccedilotildees das novas descobertas e

das novas reflexotildees que vatildeo conciliar-se construindo uma nova concepccedilatildeo (MORIN 1990

p112)

Para Dib- Ferreira apud Boff (2010)

A proacutepria ciecircncia tem mudado por meio de novas descobertas no campo da fiacutesica quacircntica e da noccedilatildeo de complexidade buscando a religaccedilatildeo dos conhecimentos tentando perceber que para conhecer um problema eacute necessaacuterio entender as relaccedilotildees entre as partes natildeo de forma isolada mas com uma visatildeo global Isso significa atacar as causas dos problemas natildeo os sintomas (DIB-FERREIRA apud BOFF 2010 p105)

Para Morin (1997) devemos estar cientes que a soma das partes eacute diferente do

todo por isto o todo tem qualidades e prioridades que natildeo existem nas partes

desmembradas Portanto a soma das partes eacute superior ao todo e natildeo igual ao mesmo Um

exemplo de nova concepccedilatildeo que busca compreender a atual relaccedilatildeo homem ndash meio eacute a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar

Diferente da Interdisciplinaridade que segundo Cardona (2010 p4) ldquoo

conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as

disciplinas cientiacuteficas interagem entre sirdquo trocando resultados meacutetodos e informaccedilotildees

Ou da Multidisciplinaridade que segundo tambeacutem Cardona (2010 p4) ldquopode ser

estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo contudo natildeo ocorreraacute uma

sobreposiccedilatildeo dos seus saberes no estudo do elemento analisadordquo

A ideia mais correta para esta visatildeo seria a da justaposiccedilatildeo das disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questatildeo cada professor cooperaraacute com o estudo dentro da sua proacutepria oacutetica um estudo sob diversos acircngulos mas sem existir rompimento entre as fronteiras das disciplinas (CARDONA (2010 p4)

Morin apud Cardona (2010 p5) destaca ldquoa grande dificuldade nesta linha de

trabalho se encontra na difiacutecil localizaccedilatildeo da ldquovia de interarticulaccedilatildeordquo entre as diferentes

ciecircnciasrdquo

A Transdisciplinaridade segundo Ritto (2010 p34) ldquosurge como movimento de

renascimento do espiacuterito e da consciecircncia para compreender a complexidade uma nova

103

consciecircncia do realrdquo Em outras palavras eacute a etapa superior do ensino natildeo mais separados

em disciplinas e sim construiacutedo como um todo sem fronteiras soacutelidas entre as disciplinas

Segundo Cardona (2010) apud Nicolescu (1996) que formulou a frase A

transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas atraveacutes das

disciplinas e para aleacutem de toda disciplina Nessa frase o autor propotildee uma nova forma de

ensinar maior que as disciplinas mas ao mesmo tempo que se integrem todos os

conteuacutedos

O prefixo trans remete ao que estaacute entre atraveacutes e aleacutem das disciplinas Segundo

Theophilo (2000)

[] uma das propostas da transdisciplinaridade eacute o rompimento da dicotomia entre o sujeito e o objeto Fala-se de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo aos quais correspondem diferentes niacuteveis de realidade pois que a transdisciplinaridade propotildee uma alternacircncia em trecircs niacuteveis da razatildeo sensiacutevel razatildeo experiencial e razatildeo praacuteticardquo (THEOPHILO 2000 p 1)

Para Nicolescu (2002 p 12) o objetivo da transdisciplinaridade eacute a compreensatildeo do

mundo presente ldquoDo ponto de vista do pensamento claacutessico natildeo haacute nada entre atraveacutes e

aleacutem das disciplinas ndash como o vazio da fiacutesica claacutessica Diante da nova fiacutesica e dos seus niacuteveis

de realidade o espaccedilo entre as disciplinas e aleacutem delas estaacute cheio como o vazio quacircntico

estaacute cheio de todas as potencialidadesrdquo

A proposta eacute que o conhecimento se torne transdisciplinar ou seja a totalidade natildeo eacute mais uma soacute mas a junccedilatildeo de vaacuterias totalidades provenientes de realidades diversificadas Os limites da compreensatildeo que o ser humano pode ter do mundo natildeo satildeo mais escondidos e sim evidenciados porque a realidade pode ser compreendida de uma maneira melhor se natildeo haacute a especializaccedilatildeo da ciecircncia e a fragmentaccedilatildeo do conhecimento em disciplinas isoladas (SANTOS 2007 p65)

Para Aragatildeo (2007)

A transdisciplinaridade natildeo pretende de forma alguma desvalorizar as competecircncias disciplinares especiacuteficas Ao contraacuterio pretende elevaacute-las a um patamar de conhecimentos melhorados nas aacutereas disciplinares jaacute que todas elas devem embeber-se de uma nova consciecircncia epistemoloacutegica admitindo que eacute importante que determinados conceitos fundando possam transmigrar atraveacutes das fronteiras disciplinares (ARAGAtildeO 2007 p4)

Para se compreender a Percepccedilatildeo Transdisciplinar se faz necessaacuterio levar em

consideraccedilatildeo os diferentes niacuteveis de realidade (Ontoloacutegico) seja do homem do campo e sua

economia de ldquosubsistecircnciardquo ou seja do homem que vive na cidade e sua economia

acumulativa considerando sempre a Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo (uma alternativa entre o

104

certo e o errado verdadeiro ou falso) e a Complexidade e sua teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas e isoladas mas termodinacircmicas e conectadas (NICOLESCU 1999) (Figura 25)

No primeiro momento pode parecer um ldquocaos uma confusatildeordquo compreender a

Percepccedilatildeo Transdisciplinar Apesar disso uma categoria da ciecircncia geograacutefica pode ajudar

pois surge como um elemento muito importante para agrave sua consolidaccedilatildeo o lugar

31 - RELACcedilAtildeO DO HOMEM COM O LUGAR

A primeira impressatildeo pode-se afirmar ser um lugar desolado triste para outros eacute

um lugar em ruiacutenas sem ldquovidardquo e sem cores Esta ou aquela concepccedilatildeo de lugar eacute de

fundamental importacircncia para que se constitua aqui a percepccedilatildeo transdisciplinar uma vez

que cabe agrave ela unir o que anteriormente foi separado pela especializaccedilatildeo da Ciecircncia

Moderna

Diante disso Ferreira (2000 p66) propotildee conciliar as divergecircncias apontadas pela

concepccedilatildeo Fenomenoloacutegica ldquoque busca abordar o espaccedilo atraveacutes do modo com ele eacute

vivenciado pelos seres humanosrdquo e a Radical

[] que tem por base o marxismo tentaraacute compreender o lugar sobre perspectiva regional e posteriormente global (JOHNSTON 1991) uma construccedilatildeo social sobre o pano de fundo da relaccedilatildeo entre espaccedilo-tempo e ambiente (SANTOS1997) a partir do qual estabelecemos nossa revisatildeo e interpretaccedilatildeo do

TRANSDISCIPLINARIDADE

COMPLEXIDADE ONTOLOacuteGICO A LOacuteGICA DO TERCEIRO

INCLUIacuteDO

DIALOacuteGICO RECURSAtildeO ORGANIZACIONAL HOLOGRAMAacuteTICO

Figura 25 Esquema da Transdisciplinaridade

Fonte Louzada (2013)

105

mundo onde ldquorecocircndito o permanente o real triunfam final sobre o movimento o passageiro o imposto de forardquo (FERREIRA 2000 p66)

Nomeando-a como Integraccedilatildeo que tem como objetivo harmonizar agraves divergecircncias

sobre o lugar que vatildeo de uma relaccedilatildeo autecircntica com o espaccedilo por um lado agrave

materializaccedilatildeo da relaccedilatildeo global ndash local por outro

Entrikin (1997) destaca ainda que para se compreender o lugar eacute preciso buscar o

equiliacutebrio entre o que deve ser mantido de fora preservando as caracteriacutesticas do lugar e o

que deve ser permitido entrar evitando-se a esterilidade resultante do isolamento

Diante de tal afirmaccedilatildeo de Entrikin (1997) eacute possiacutevel afirmar que para evitar a

extinccedilatildeo de uma comunidadelocalidade se faz necessaacuterio a ldquopermissatildeordquo dos moradores

para entrada de haacutebitos elementos ou coisas que as pessoas julguem necessaacuterias para

manter as teias de relaccedilotildees de forma a manter o lugar gerando o tatildeo desejado

desenvolvimento local

A Percepccedilatildeo Transdisciplinar seraacute pesquisada de forma a alcanccedilar o que a Educaccedilatildeo

Ambiental em seus marcos referenciais destaca como importante para a compreensatildeo da

complexidade da realidade que eacute a projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros atraveacutes de uma gestatildeo

ambiental participativa principalmente no contexto amazocircnico

32 - MANAUS METROacutePOLE

Para entender este subtiacutetulo primeiramente eacute imprescindiacutevel falar de Metroacutepole o

que Fresca (2011) descreve em muacuteltiplos detalhes ao longo dos seacuteculos desde seu

surgimento Contudo Gras apud Fresca (2011) citou quatro fatores de desenvolvimento

metropolitano tento como base a cidade de Londres citada por Gras (1974) considerada a

primeira cidade da Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVII

[] para Gras (1974) principalmente a partir de 1890 foi marcada por uma nova

concentraccedilatildeo do poder financeiro no seio da metroacutepole Isto porque os bancos privados cujas sedes estavam na metroacutepole criaram filiais subordinadas diretamente agraves sedes criou-se as condiccedilotildees para que a metroacutepole fosse o local de concentraccedilatildeo do capital decisotildees enfim de outra forma de poder econocircmico (FRESCA 2011 p33)

106

Fresca (2011 p33) afirma ainda que esta nova concentraccedilatildeo de poder financeiro

nas metroacutepoles ldquoacabou por realizar um processo de acumulaccedilatildeo horizontal no sentido de

que sua expansatildeo foi marcada pela conquista de mercados consumidores cada vez mais

amplos graccedilas a fortes investimentos em inovaccedilotildees para a produccedilatildeordquo

Por outro lado Fresca (2011) apud Davidovich (2004)

entende que o retorno das metroacutepoles ao debate em escala mundial estava articulado diretamente aos novos direcionamentos das poliacuteticas do Banco Mundial que passou a focalizar as mesmas como motor do crescimento econocircmico Ora o Banco Mundial em suas diversas formas de poder investimentos e capacidade de direcionar movimentos de expansatildeo do capital particularmente dos EUA e paiacuteses europeus acabou por privilegiar as metroacutepoles em uma etapa em que a globalizaccedilatildeo estava em expansatildeo Mais que isso tratava-se ainda da busca de novos campos de investimentos para fazer frente a sucessivos momentos de crises econocircmicas e as concepccedilotildees em uso da globalizaccedilatildeo permitiam outra etapa de expansatildeo das grandes corporaccedilotildees em atividades diversas em escala mundial (FRESCA 2011 apud DAVIDOVICH 2004 p201 )

Fresca (2011 p38 ) descreve que entre os autores anteriormente citados ldquohaacute em

comum o entendimento de que as metroacutepoles tornaram-se os principais noacute de redes da

economia mundial facilitado pelo comando das modernas tecnologias de informaccedilatildeo e que

as mesmas desempenham cada vez mais funccedilotildees ligadas aos serviccedilos superiores em

detrimento de serem loacutecus da produccedilatildeo industrialrdquo

Diante disso o termo adotado pelo IBGE (2008) para definir a Metroacutepole ou regiatildeo

Metropolitana eacute Grandes Redes de Influecircncia

[] formadas pelos principais centros urbanos do paiacutes baseadas na presenccedila de oacutergatildeos de executivo do judiciaacuterio de grandes empresas e na oferta de ensino superior serviccedilos de sauacutede e domiacutenios de internet Tais redes aacutes vezes se sobrepotildeem aacute divisatildeo territorial oficial estabelecendo forte influecircncia ateacute mesmo ente cidades situadas em diferentes unidades da federaccedilatildeo (IBGE 2008 p 2)

Diante do exposto o Governo do Estado do Amazonas publicou em 30 de Maio de

2007 a Lei Estadual Complementar nordm 52 que criava a Regiatildeo Metropolitana de Manaus -

RMM composta pelos seguintes municiacutepios Manaus Careiro da Vaacuterzea Novo Airatildeo

Iranduba Itacoatiara Presidente Figueiredo Rio Preto da Eva que juntos correspondem a

101470 kmsup2 No mesmo ano em 27 de Dezembro eacute incluiacutedo o municiacutepio de Manacapuru

Sobre isso Castro (2010) relata

107

Essa regiatildeo metropolitana possui caracteriacutesticas peculiares se comparada aacutes primeiras surgidas na deacutecada de 1970 por natildeo se igualar agravequelas quanto agrave intensidade de fluxos entre as cidades e tambeacutem necessidade de compartilhamento de poliacuteticas puacuteblicas no que se refere ao abastecimento de aacutegua serviccedilo de transporte e tracircnsito energia eleacutetrica coleta de lixo dentre outras cujas demandas surgem com o processo de conurbaccedilatildeo Portanto esta anaacutelise parte de um princiacutepio de peculiaridade territorial num padratildeo natildeo conurbado e de pouca intensidade de trocas entre os nuacutecleos urbanos dessa regiatildeo metropolitana cujos pressupostos foram estabelecidos com a predominacircncia dos criteacuterios poliacuteticos sobre os geograacuteficos (CASTRO 2010 p48)

Para financiar e gerenciar a RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) foi criada em

29 de Dezembro de 2008 a Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento

Sustentaacutevel da Regiatildeo Metropolitana de Manaus- SRMM que instituiu o Fundo Especial da

Regiatildeo Metropolitana de Manaus- FERMM (AMAZONAS 2008)

Em 30 de Abril de 2009 eacute divulgada a Lei Complementar nordm 64 que inclui na Regiatildeo

Metropolitana de Manaus os municiacutepios de Autazes Itapiranga Manaquiri e Silves mais

15 828417 kmsup2 Tornando Manaus a maior aacuterea metropolitana em kmsup2 do paiacutes todavia

perde quatro posiccedilotildees se comparada em densidade populacional com Regiatildeo Metropolitana

de Satildeo Paulo pois sua densidade populacional eacute de 22 habkmsup2 contra 1162 habkmsup2 de

SP (IBGE 2010)

Para iniciar o processo de consolidaccedilatildeo dessa gigantesca aacuterea metropolitana de

Manaus fez-se necessaacuterio interligar definitivamente os municiacutepios da margem esquerda do

Rio Negro principalmente a capital do estado aos municiacutepios da margem direita do rio

Iranduba Manacapuru Novo Airatildeo e posteriormente aos munciacutepios de Autazes Itapiranga

Manaquiri e Silves

Diante disso o Governo do Estado do Amazonas na pessoa do entatildeo Governador

Carlos Eduardo de Souza Braga em seu primeiro mandato de 2000 a 2004 deu iniciou os

levantamentos preliminares para a definiccedilatildeo do ponto de travessia mais adequado para a

construccedilatildeo de uma Ponte sobre o Rio Negro

Segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro civil Marco Aureacutelio Mendonccedila

entatildeo Secretaacuterio de Infraestrutura do Estado foi convocado ao gabinete do governador em

2003 para ser informado do desejo do governador de executar essa obra mas

primeiramente lhe foi solicitado que fizesse levantamentos de terrenos possiacuteveis para a

construccedilatildeo e modelos viaacuteveis para a regiatildeo e posteriormente quando o entatildeo governador

108

foi reeleito com o mandato de 2005 a 2009 o engenheiro Marco Aureacutelio foi novamente

chamado ao gabinete do governador onde apresentou seus estudos e o governador afirmou

que jaacute era possiacutevel executar a obra

Ainda segundo o Jornal A Criacutetica (2011) o engenheiro afirma que para se buscar o

melhor local para a construccedilatildeo da obra e encontrar a menor distacircncia entre as duas

margens para diminuir seu custo

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que o melhor trecho era da Ponta do Ouvidor do lado de laacute na Ponta do Pepeta porque essa aacuterea tem uma formaccedilatildeo geoloacutegica de rochas que avanccedilam sobre o rio e isso fez com que a distacircncia fosse bem menor E foi exatamente neste trecho que a ponte foi erguida Outro ponto favoraacutevel foi o sistema viaacuterio da Ponta do Ouvidor temos a estrada da Estanave Avenida Brasil logo depois tem a estrada da Ponta Negra Pedro Teixeira e uma seacuterie de ruas que facilitavam o acesso a grande parte da cidade Depois que apresentei o estudo fizeram uma licitaccedilatildeo para a contrataccedilatildeo de uma empresa para o projeto final (A CRIacuteTICA DE 24 DE OUTUBRO DE 2011 p6)

Segundo Jornal A Criacutetica (2011) existia a ideia original de que a ponte saiacutesse do

bairro de Satildeo Raimundo em Manaus poreacutem o trajeto seria muito maior e natildeo teria um

sistema viaacuterio tatildeo bom Marco Aureacutelio descreve conversas com Carlos Eduardo Braga onde

relata que a interligaccedilatildeo entre outras cidades poderia frear o crescimento da cidade de

Manaus para o Norte onde eacute comum ter invasotildees ldquoEacute muito mais faacutecil pegar uma aacuterea

desabitada e crescer e desenvolver Em Iranduba tem uma aacuterea muito grande que pode ser

explorada mas eacute preciso ter controle urbano e imobiliaacuteriordquo (A CRIacuteTICA 2011)

321 PONTE RIO NEGRO PROPOSTA E REALIDADE

Segundo a Revista Eacutepoca (2011) a Ponte Rio Negro (Figura 26) foi orccedilada

inicialmente em R$ 5748 milhotildees e foi terminada com o custo de R$ 1099 bilhatildeo quase o

dobro do seu orccedilamento inicial parte financiada pelo governo do estado e parte pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social-BNDES que eacute vinculado ao Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

109

Sobre isso Aureacutelio (2011) afirma que ldquoQuando foi lanccedilado o projeto base existia

um tipo de fundaccedilatildeo e depois analisando a geologia embaixo do rio eles detectaram que

era necessaacuterio outro tipo de tecnologiardquo

Ainda segundo a Revista Eacutepoca (2011)

A construccedilatildeo traacutes aditivos O primeiro furo da Ponte Rio Nego soacute conseguiu ser feito por volta de seis meses apoacutes o iniacutecio dos trabalhos devido aacute profundidade do rio e ao efeito da correnteza das aacuteguas ldquoNingueacutem no Brasil tinha experiecircncia em fazer sondagens com lacircminas tatildeo grandes de aacutegua e equipamento no riordquo revelou o diretor ENESCIL Engenharia e Projetos Catatildeo Ribeiro responsaacutevel pelos projetos executivos e arquitetocircnicos e de fundaccedilatildeo da obra Durante os trabalhos de sondagem no rio os teacutecnicos responsaacuteveis pela obra descobriram que o solo era formado por camadas de areia e argila orgacircnica o que exigiu que todo o sistema de estacas o projeto e a logiacutestica da obra fossem reformulados (EacutePOCA 2011 p22)

Diante do exorbitante gasto resta conhecer os benefiacutecios de tatildeo gigantesca obra

para a regiatildeo O oacutergatildeo responsaacutevel por disponibilizar tais informaccedilotildees relacionadas agrave sua

construccedilatildeo eacute o Instituto de Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas - IPAAM no qual se encontra o

tiacutetulo EIA-RIMA Ponte sobre o Rio Negro contudo o mesmo somente disponibiliza

informaccedilotildees a partir do Capiacutetulo IV- Diagnoacutesticos (Meio Bioacutetico Meio Fiacutesico Meio

Socioeconocircmico e Outros Relevantes) e Capiacutetulo V ndash Prognoacutesticos (IPAAM 2010) de forma

superficial (que na maioria dos arquivos consta somente o sumaacuterio) e natildeo as pesquisas

realizadas em sua plenitude

Figura 26 Ponte Rio Negro em construccedilatildeo

Fonte Pinto (2010)

110

Com isso passaram a ser diretamente consultados o Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) da ponte sobre o Rio Negro realizado pela

Universidade Federal do Amazonas (UFAM 2007) Esse relatoacuterio contou com a participaccedilatildeo

de uma equipe multidisciplinar composta por climatoacutelogo engenheiro geoacutegrafo

geomorfologista entre outros profissionais Embora o presente relatoacuterio cumpra com seu

principal objetivo de descrever o Meio Bioacutetico Abioacutetico e Socioeconocircmico da aacuterea a ser

afetada pela construccedilatildeo da ponte sobre o rio Negro o mesmo descreve os possiacuteveis

impactos da ponte sobre o rio Negro de forma superficial e finaliza recomendando a

construccedilatildeo do empreendimento sem aprofundar os seus impactos no meio ambiente fiacutesico e

bioloacutegico

Apesar disso Pinto (2007) descreve os beneacuteficos a serem alcanccedilados com a

Construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Criaccedilatildeo de polo de turismo e polo naval Regularizaccedilatildeo de

Transportes Rodoviaacuterio e Fluvial na RMM Aumento da demanda reprimida em todos os

setores econocircmicos Expansatildeo e modernizaccedilatildeo dos polos de hortifrutigranjeiros Melhorias

nas induacutestrias de beneficiamento de pescado Plano de Zoneamento e Uso do Solo

Modernizaccedilatildeo da induacutestria de Juta e Malva Aumento de Cooperativas de Produtores Novo

Polo de Induacutestrias atraiacutedas pelos City Gates (Manaus-Coari)

Pinto (2007) reflete ainda que a construccedilatildeo da ponte tem por objetivos buscar

alternativas para a expansatildeo urbana de Manaus geraccedilatildeo de novos espaccedilos habitacionais

elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Plano Diretor urbano global e setorial incorporaccedilatildeo ordenada

do complexo viaacuterio da margem direita agrave malha viaacuteria projetada e em execuccedilatildeo para a

margem esquerda reduccedilatildeo de custos de transportes de produtos provenientes da calha do

Solimotildees Juruaacute Javari Iccedilaacute Japuraacute e Purus Novos investimentos no setor de turismo e setor

oleiro incentivo aacute inovaccedilatildeo e o desenvolvimento tecnoloacutegico nos serviccedilos de arquitetura e

engenharia (PINTO 2007)

Como destaca Pinto (2007) o primeiro objetivo para a construccedilatildeo da Ponte sobre o

Rio Negro era buscar uma alternativa para a expansatildeo urbana de Manaus uma vez que a

mesma se encontra em constante crescimento em direccedilatildeo ao Norte da cidade fazendo

pressatildeo sobre a Reserva Ducke aacuterea de proteccedilatildeo ambiental

Atualmente a ponte se encontra pronta com 3595km de extensatildeo e liga o bairro

da Compensa em Manaus (margem esquerda do Rio Negro) agrave Ponta do Pepeta (margem

111

direita) em Iranduba Apesar do beneficio inegaacutevel da reduccedilatildeo do tempo da travessia que

anteriormente era feita de balsa e levava em meacutedia uma hora e meia no periacuteodo da vazante

do rio (sem contabilizar o tempo de espera para o embarque que podia variar de duas horas

nos dias de semana e ateacute doze horas em feriados) a construccedilatildeo da ponte tambeacutem levou

malefiacutecios

Sobre isso Castro (2010) aponta

No que concerne agrave questatildeo ambiental a criaccedilatildeo da RMM (Regiatildeo Metropolitana de Manaus) estabelece nova forma de concepccedilatildeo do meio ambienta pois ao natildeo apresentar um padratildeo conurbado como as RMrsquos claacutessicas a RMM deixa lacunas e indagaccedilotildees no que se refere a fatores como expansatildeo imobiliaacuteria conversatildeo de terra rural em terra urbana incorporaccedilatildeo de aacutereas de floresta em aacutereas urbanizadas ocupaccedilatildeo das margens dos rios Negro e Amazonas aleacutem dos inuacutemeros cursos drsquoaacutegua menores enfim questotildees que constituem desafio agrave tendecircncia que visa ao estabelecimento de uma nova geografia surgida em funccedilatildeo de uma decisatildeo poliacutetica que diga-se natildeo foi precedida agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agrave eacutepoca de sua criaccedilatildeo de criteacuterios cientiacuteficos tampouco de consultas agraves populaccedilotildees interessadas quase sempre aquelas que arcam com ocircnus das decisotildees de caraacuteter poliacutetico ndash partidaacuterio tiacutepico das praacuteticas brasileiras sendo que a Amazocircnia natildeo foge a esse preceito (CASTRO 2011 p48)

No que tange agrave expansatildeo urbana Mesquita (2013) relata que a induacutestria da invasatildeo

que anteriormente fazia pressatildeo no norte da cidade de Manaus (principalmente sobre a

Reserva Ducke) migrou apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro para os municiacutepios vizinhos

localizados na margem direita do rio o poder puacuteblico por sua vez finge natildeo perceber o

crescimento no processo de invasatildeo de terras O autor se refere ao fato recente da invasatildeo

de terras em uma propriedade particular localizada no 45 km da AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) ocorrido em Agosto de 2013 (Figura27)

112

Todavia as mudanccedilas na paisagem natildeo se limitaram agrave retirada da cobertura vegetal

para a construccedilatildeo dos ldquobarracosrdquo (como satildeo chamadas as construccedilotildees de madeiras cobertas

com lona) mas tambeacutem permitiram a retirada ilegal de argila para a fabricaccedilatildeo de tijolos

nas margens da rodovia (Figura 28)

Houve tambeacutem um aumento significativo no nuacutemero de animais mortos ao longo

da rodovia segundo os proacuteprios moradores Aleacutem da retirada ilegal de madeira e a queima

de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos etc (Figura 29)

Figura 28 Retirada ilegal de argila as margens da AM- 070 (Rodovia Manoel Urbano)

Fonte Louzada (2013)

Figura 27 Invasatildeo de terras na AM-070 (Rodovia Manoel Urbano) Fonte Batata (2013)

113

Com a ponte Rio Negro pronta os esforccedilos foram redirecionados para a duplicaccedilatildeo

da Rodovia Manuel Urbano (AM 070) que ateacute o presente momento somente tem 2km

duplicados (logo apoacutes a ponte) dos seus 80km ateacute o municiacutepio de Manacapuru que

permanece sem duplicaccedilatildeo desde sua inauguraccedilatildeo As obras de duplicaccedilatildeo foram iniciadas

em marccedilo de 2012 com primeiramente a retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem

(Figura 30)

Figura 29 Queima de pneus para a fabricaccedilatildeo de tijolos

Fonte Louzada (2013)

114

Todavia o processo de retirada da cobertura vegetal e terraplanagem somente

foram realizados ateacute o 185 km (01032014) tendo como marco zero o iniacutecio da Ponte Rio

Negro em Manaus Atualmente natildeo eacute possiacutevel encontrar nem se quer ldquoum carrinho de

matildeordquo trabalhando na rodovia

Percorrendo a rodovia no sentido Manaus ndash Manacapuru no 18 km eacute possiacutevel

visualizar 15 aacutervores de Castanheiras (Betholetia excelsa) que satildeo parcialmente protegidas

pelo Decreto Lei nordm 5975 de 30 de Novembro de 2006 no traccedilado escolhido para a

duplicaccedilatildeo da rodovia (Figura 31)

Figura 30 Duplicaccedilatildeo da Rodovia Manuel Urbano (AM-070)

Fonte Camila Louzada 2013

115

Entretanto infelizmente a lei de crimes ambientais permite vaacuterias interpretaccedilotildees

em seu paraacutegrafo uacutenico (BRASIL 2006)

Natildeo seraacute permitida a supressatildeo de vegetaccedilatildeo ou intervenccedilatildeo na aacuterea de preservaccedilatildeo permanente exceto nos casos de utilidade puacuteblica de interesse social ou de baixo impacto devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo proacuteprio quando natildeo existir alternativa teacutecnica e locacional ao empreendimento proposto nos termos do art 4ordm da Lei no 4771 de 1965 (BRASIL 2006 p 12)

Embora no que tange a duplicaccedilatildeo da rodovia Manoel Urbano exista a possibilidade

de mudar do lado direito para o lado esquerdo da rodovia os oacutergatildeos responsaacuteveis pela

duplicaccedilatildeo natildeo se mostraram favoraacuteveis a essa possibilidade expondo as castanheiras ao

abate conforme interpretaccedilatildeo ldquoconvenienterdquo da legislaccedilatildeo

Para Vasconcelos (2013 p13) ldquocastanhais satildeo derrubados para a construccedilatildeo de

estradas e barragens para assentamentos de reforma agraacuteria [] No caso do Gasoduto

Coari- Manaus tambeacutem foram retiradas muitas aacutervores inclusive castanheirasrdquo

Sobre isso Santos (2013) eacute enfaacutetica ao afirmar que o maior destruidor na natureza eacute

o estado (seja na esfera municipal estadual e federal) Uma vez que criam leis para os

Figura 31 Aacutervores de Castanheira no traccedilado de duplicaccedilatildeo da Rodovia Manoel Urbano (Fevereiro 2014)

Fonte Camila Louzada 2013

116

demais cidadatildeos cumprirem e nunca para o governo cumpri-la se for de seu interesse

quebraacute-las criam meios de inutilizaacute-la em prol de seus proacuteprios interesses maquiando o fato

como ldquoum mal necessaacuterio em busca de um bem coletivordquo A questatildeo eacute seraacute mesmo que eacute o

bem coletivo que estaacute em jogo ou os interesses poliacuteticos e acordos convenientes entre

estado e municiacutepios

33 PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES PROJECcedilAtildeO DE CENAacuteRIOS FUTUROS

A Ponte sobre o Rio Solimotildees consta descrita no Projeto de Lei nordm 6409-B de 2009

no Art 3ordm item 222 ndash Relaccedilatildeo Descritiva das Rodovias do Sistema Rodoviaacuterio Federal

integrante do Anexo do Plano Nacional de Viaccedilatildeo aprovado pela Lei nordm 5917 de 10 de

Setembro de 1973 aprovado pela Cacircmara Federal dos Deputados em 23 de Agosto de 2011

Dispotildee sobre a inclusatildeo da futura rodovia BR-444 que iraacute ser construiacuteda no Estado do

Amazonas para interligar a BR-319 agrave BR-174 sob a justificativa de cumprir a Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que ldquodetermina que a Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando aacute formaccedilatildeo de

uma comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (BRASIL 2011 p 18)

Nesse sentido compete ao Estado brasileiro participar da promoccedilatildeo da integraccedilatildeo logiacutestica efetiva do territoacuterio sul-americano Especificamente no sentido norte-sul a interligaccedilatildeo entre alguns trechos rodoviaacuterios jaacute existentes possibilitaria o deslocamento de pessoas e cargas da Venezuela e da Guiana ateacute o Uruguai e vice-versa Entretanto para que se efetive esse corredor sul-americano eacute necessaacuterio promover a ligaccedilatildeo da BR-319 agrave cidade de Manaus razatildeo pela qual propomos a inclusatildeo da rodovia BR-444 no Plano Nacional de Viaccedilatildeo o que permitiraacute concluir a interligaccedilatildeo entre as rodovias BR-319 e BR-174 promovendo assim a desejada integraccedilatildeo contiacutenua do continente sul-americano (BRASIL 2011 p 18)

A BR-444 que se aprovada pelo Senado e sancionada pela atual presidente Dilma

Rousseff ou outro presidente posterior seraacute construiacuteda no Amazonas Natildeo poderaacute ser

erguida ligando o Porto da Ceasa em direccedilatildeo ao Porto da Andrade Gutierrez localizado no

13 km da BR-319 no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea uma vez que estaraacute sobre o Encontro

das Aacuteguas (Rio Negro e Solimotildees) que foi tombado como Patrimocircnio Cultural e Paisagiacutestico

Brasileiro pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN em 2011

fundamentado no Decreto Lei nordm 251937 que determina que sejam tombados ldquoos

monumentos naturais bem como os siacutetios e paisagens que importe conservar e proteger

117

pela feiccedilatildeo notaacutevel com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela

induacutestria humanardquo (BRASIL 1937 p 1) Aleacutem de outros inconvenientes gigantescos ligados

aos aspectos fiacutesicos da aacuterea entre eles destacam-se largura do rio (que eacute superior a 10km

neste trecho) profundidade e velocidade entre outros

Diante do exposto a medida mais aceitaacutevel seria construir a nova ponte agrave

montante do Encontro das Aacuteguas no rio Solimotildees aproveitando a AM-070 (Rodovia Manoel

Urbano) que esta ldquoem fase de duplicaccedilatildeordquo e tem ligaccedilatildeo direta com a Ponte Rio Negro

(Figura 32)

Apesar de ainda estar em fase de especulaccedilatildeo o local exato para a construccedilatildeo da

ponte sobre o rio Solimotildees projeta- se que a mesma deveraacute ligar a comunidade da Bela

Vista em Manacapuru (margem esquerda do rio Solimotildees) ao municiacutepio de Manaquiri

(margem direita do rio Solimotildees) tendo como ponto favoraacutevel agrave construccedilatildeo a largura do rio

nesse trecho e a ilha do Barroso

Na expectativa de construccedilatildeo da ponte o fato causa ao mesmo tempo entusiasmo

e cautela nas pessoas entrevistadas na Comunidade da Bela Vista (em Manacapuru) e na

sede do municiacutepio de Manaquiri Satildeo apontados inuacutemeros benefiacutecios com a construccedilatildeo da

ponte como a geraccedilatildeo de empregos oportunidade de renda das famiacutelias escoamento da

produccedilatildeo agriacutecola Todavia as mesmas pessoas entrevistadas tambeacutem descreveram ldquoo

outro lado da nova ponterdquo como sendo o aumento da violecircncia a derrubada da floresta a

Figura 32 Ponte Rio Negro Fonte Pereira (2012)

118

exploraccedilatildeo de madeira grilagem de terra traacutefico de animais destruiccedilatildeo dos siacutetios

Arqueoloacutegicos invasatildeo de terras por pessoas oriundas de outros estados e o fim da

tranquilidade O impressionante dessas afirmaccedilotildees era que os entrevistados usavam como

referecircncia a Ponte Rio Negro dizendo ldquocomo aconteceu com aacute Rio Negrordquo

Tendo por base a Ponte Rio Negro se faraacute necessaacuterio encontrar locais proacuteximos agrave

futura construccedilatildeo fora da accedilatildeo das aacuteguas ( em Terra Firme) para serem usados como base

das operaccedilotildees de sondagem e montagem de equipamentos e posteriormente instalaccedilatildeo de

guindastes tratores entre outros equipamentos agrave serem utilizados na obra Cabe aqui

somente demonstrar a aacuterea utilizada para a construccedilatildeo e posteriormente conclusatildeo das

ldquocabeccedilasrdquo como satildeo chamadas as bases localizadas em cada margem tendo por referecircncia a

construccedilatildeo da Ponte Rio Negro (Figuras 33)

119

Figura 33 Iranduba 2007 antes da construccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

120

Aacute primeira vista natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes mudanccedilas na paisagem em 2007

(4 anos antes da inauguraccedilatildeo da ponte) na margem direita do rio Negro no municiacutepio de

Iranduba entretanto no quadrado ldquoardquo eacute possiacutevel visualizar uma construccedilatildeo com uma

cobertura de alumiacutenio e a retirada gradativa da vegetaccedilatildeo ao redor No quadrado ldquobrdquo

aonde viria a ser implantada a base da ponte natildeo eacute possiacutevel visualizar grandes modificaccedilotildees

A (FIGURA 34) no ano de 2010 (1 ano antes da inauguraccedilatildeo) apesar da parcial

cobertura das nuvens eacute possiacutevel visualizar significativas mudanccedilas na paisagem Com

destaque para o que anteriormente era somente uma cobertura de alumiacutenio em 2007 ter se

tornado um porto de atracaccedilatildeo de embarcaccedilotildees e a base de operaccedilotildees da Ponte Rio Negro

(no municiacutepio de Iranduba) com pouca cobertura vegetal Tambeacutem jaacute eacute possiacutevel visualizar a

terraplanagem da futura rodovia

Entretanto na (Figura 35) a base de operaccedilotildees da ponte Rio Negro ganhou um

novo e maior anexo perdendo a cobertura vegetal existente

Comparando as figuras 33 34 e 35 eacute possiacutevel em pouco espaccedilo de tempo verificar

as mudanccedilas provocadas a partir da construccedilatildeo da ponte rio Negro

121

c Figura 34 Iranduba 2010 um ano antes da inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro

Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

122

Figura 35 Iranduba 2011 ano de inauguraccedilatildeo da Ponte Rio Negro Fonte Dados Vetorias IBGE SIPAM Organizador Charles Arauacutejo (2013)

123

No caso da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas a ser construiacuteda a montante do

Encontro das Aacuteguas a mesma teraacute alguns percalccedilos pelo caminho a) tanto a margem direita

quanto a margem esquerda do Rio Solimotildees ateacute a jusante da cidade de Manacapuru tem

faixas estreitas a largas de vaacuterzeas fortemente utilizadas para agricultura de base familiar b)

por traz das aacutereas de vaacuterzea existem as aacutereas de terra firme ideais para essa construccedilatildeo

todavia para se chegar em alguns trechos faz-se necessaacuterio aterrar as aacutereas de vaacuterzeas

inviabilizando-se assim a produccedilatildeo agriacutecola c) uma vez alcanccedilada as aacutereas de terra firme e

definido o lugar de construccedilatildeo das cabeceiras da ponte inicia-se a ldquobuscardquo pelo lugar mais

apropriado para a base de operaccedilotildees normalmente proacuteximo agraves duas cabeceiras d) com os

locais definidos e as obras iniciadas (a mesma seraacute dificultada pelos aspectos fiacutesicos do rio

sua velocidade visibilidade entre outros) e) Inicia-se a nova etapa de ligaccedilatildeo da ponte com

as rodovias proacuteximas agrave AM-070 na margem esquerda e a AM-354 que esta ligada a BR-319

na margem direita

Embora se acredite que as pistas de ligaccedilatildeo a serem utilizadas sejam as jaacute

existentes deveratildeo ser no miacutenimo beneficiadas com a duplicaccedilatildeo e a construccedilatildeo de

acostamentos Tanto para a construccedilatildeo de novas pistas como para a duplicaccedilatildeo das pistas

atuais as propriedades proacuteximas seratildeo afetadas assim como a flora a ser desmatada para a

duplicaccedilatildeo e a fauna que seraacute a principal afetada com o trafego rodoviaacuterio uma vez que os

mesmos seratildeo constantemente atropelados na rodovia

Com a ponte pronta e inaugurada os impactos aumentaratildeo gradativamente

primeiramente como ocorreu com a ponte Rio Negro com o aumento da especulaccedilatildeo

imobiliaacuteria e ocupaccedilatildeo primeiramente no municiacutepio de Manaquiri e posteriormente ao

longo de toda a rodovia BR-319 como ocorreu com as demais rodovias abertas na Amazocircnia

A iniciativa de construccedilatildeo da BR-444 e por consequecircncia a ponte sobre o rio

Solimotildees permitiria conectar Manaus ao restante do paiacutes via Porto Velho-RO assim como

tambeacutem viabilizaria ir do Peru ao Oceano Atlacircntico utilizando rodovias como propotildeem o

Projeto IIRSA (2003)

A iniciativa de Integraccedilatildeo da Infraestrutura Regional Sul Americana - IIRSA eacute

resultado da Cuacutepula de Presidentes da Ameacuterica do Sul realizada em 2000 no Brasil onde

ficou definida um pacote de medidas como Eixos de Integraccedilatildeo e Desenvolvimento ldquono qual

124

se pretendia desenvolver e integrar as aacutereas de transporte energia e telecomunicaccedilatildeo da

Ameacuterica do Sul em dez anosrdquo (IIRSA 2003)

A iniciativa busca integrar definitivamente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul ldquoque

concentram ou possuem potencial para desenvolver bons fluxos comerciais visando formar

cadeias produtivasrdquo (IIRSA 2003) para alcanccedilar os mercados globais Entretanto os eixos de

integraccedilatildeo escolhidos para serem ldquodesenvolvidosrdquo detecircm grande reserva de recursos

naturais conforme Tabela 8

Tabela 8 Eixos de desenvolvimento e integraccedilatildeo do IIRSA Eixos de Desenvolvimento do projeto IIRSA

Trecho Paiacuteses envolvidos Recursos Naturais Vias de Ligaccedilatildeo

Eixo Andino Venezuela Boliacutevia Colocircmbia Equador

Peru

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Desenvolvimento de corredores transandinos de leste a oeste ligando Caracas-Venezuela a

Lima-Peru e Santa Cruz-Boliacutevia

Eixo Central do Amazonas

Colocircmbia Equador Peru e Brasil

Floresta Amazocircnica Gaacutes Petroacuteleo Ouro Minerais

variados e pedras preciosas

Pavimentaccedilatildeo de estradas no Peru e melhorias na

navegabilidade do Rio Amazonas de Tabatinga-AM a Beleacutem-PA

Melhorias na aacuterea de telecomunicaccedilotildees

Eixo Interoceacircnico

Central

Peru Chile Boliacutevia Paraguai e Brasil

Regiatildeo Petroleira da Boliacutevia e o escoamento da soja

produzida no Brasil para o oceano Paciacutefico

Construccedilatildeo de Portos no Chile rodovias com saiacuteda de Santa Cruz na Boliacutevia em direccedilatildeo a

Cuiabaacute-MT e Iquique no Chile

Eixo Interoceacircnico de

Capricoacuternio

Chile Argentina Paraguai e Brasil

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

Viabilizar o transporte intermodal atraacutes de

interconexatildeo por hidrovia Paranaacute-Brasil com Paraguai

Eixo do Escudo

Guayaneacutes

Venezuela Brasil Suriname Guiana

Mineacuterio de ferro bauxita ouro e madeira

Melhora porto e rodovias para facilitar o escoamento da produccedilatildeo e construccedilatildeo de

hidreleacutetricas

Eixo Meridional Chile

Brasil Uruguai

Argentina e Chile

Escoamento da produccedilatildeo agriacutecola pelo Paciacutefico

Melhoria nas estradas jaacute existentes entre os paiacuteses Investimento nas conexotildees

eleacutetricas entre os paiacuteses

Eixo Mercosul Meridional

Chile Argentina

Cobre madeira mineacuterio de ferro nitrato metais

preciosos chumbo zinco estanho petroacuteleo e uracircnio

A conexatildeo ferroviaacuteria entre Zapala- Argentina e Lionquimay-

Chile

Eixo da Bacia do

Prata

Argentina Boliacutevia Brasil Paraguai e

Uruguai

Mineacuterio de ferro nitrato metais preciosos chumbo

zinco estanho cobre petroacuteleo e uracircnio

Implantaccedilatildeo da Hidrovia Paranaacute-Paraguai

Eixo Amazocircnico

do Sul

Brasil Boliacutevia e Peru

(Pronto)

Madeira mineacuterio de ferro

zinco e petroacuteleo

Implantaccedilatildeo de rodovias interligadas de Porto Velho-

Brasil aos pontos de San Juan e Matarani- Peru

Fonte WWWiirsa2003com

125

O IIRSA tem como financiadores o Banco Internacional de Desenvolvimento -BID

Corporaccedilatildeo Andina de Fomento ndash CAF Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia

do Prata ndash FONPLATA Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social- BNDES

Banco Internacional para Reconstruccedilatildeo e Desenvolvimento -BIRD (IIRSA 2003)

Diante disso satildeo perceptiacuteveis os interesses por traacutes da expansatildeo de negoacutecios

(estradas rodovias hidrovias) por toda a America do Sul sob o discurso de integrar e

desenvolver a regiatildeo Apesar disso alguns questionamentos se fazem necessaacuterios no

presente momento jaacute que a Ponte sobre o Rio Solimotildees ainda natildeo foi iniciada a) quem satildeo

os maiores beneficiaacuterios com esta obra b) esta obra eacute realmente importante para a regiatildeo

(comparando os seus benefiacutecios e malefiacutecios) c)existe alguma preocupaccedilatildeo com as

populaccedilotildees ribeirinhas afetadas que medidas compensatoacuterias poderiam ser fornecidas se

essa obra for realmente inevitaacutevel d) jaacute que seus malefiacutecios satildeo infinitamente maiores que

seus benefiacutecios isto impediria a sua execuccedilatildeo

34 - PERCEPCcedilAtildeO AMBIENTAL DOS MORADORES DA BELA VISTA E DA SEDE DO MUNICIacutePIO

DO MANAQUIRI

Visando atender a abrangecircncia de dados da pesquisa qualitativa o presente estudo

utilizou a anaacutelise de documentos observaccedilatildeo participante e entrevistas semiestruturadas

(BOGDAN e BIKLEN 1994)

A princiacutepio as entrevistas seriam coletivas atraveacutes de grupos focais no entanto o

nuacutemero reduzido de moradores antigos nas duas localidades natildeo permitiu fazer uso dessa

estrateacutegia pois para se ter um grupo focal eacute preciso a participaccedilatildeo de seis e doze pessoas

(GATTI 2005) o que natildeo foi possiacutevel localizar em Bela Vista e em Manaquiri

As entrevistas foram realizadas de forma individual (na 1ordm etapa da pesquisa) por

essa e algumas outras razotildees a) os moradores mais antigos eram em sua maioria homens

com mais de 65 anos que se conheciam haacute algumas deacutecadas entretanto alguns tinham

facilidade de se expressar outros natildeo alguns eram tiacutemidos e outros desinibidos b) visando

evitar o ldquoefeito galordquo de Gatti (2005) onde um ou mais participante pudesse de forma natildeo

intencional inibir os demais optou-se pelas entrevistas individuais semiestruturadas

126

Do resultado das entrevistas com os moradores mais antigos foi construiacutedo um

roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a 40 chefes de famiacutelia em cada

localidade

Apesar da pesquisa ser qualitativa a mesma tambeacutem se caracteriza como um

Estudo de Caso pois permite uma investigaccedilatildeo para se preservar as caracteriacutesticas

significativas da vida real ciclos de vida individuais processos organizacionais e

administrativos entre outros (YIN 2005)

Ainda segundo Yin (2005) os Estudos de Caso podem ser classificados em

causaisexploratoacuterios que permitem ao pesquisador levantar dados permitindo diagnosticar

um estudo de caso atraveacutes de generalizaccedilatildeo E descritivo que permite ao pesquisador a

descriccedilatildeo de diversos e complexos fenocircmenos dentro de seu contexto real pesquisado sem

generalizaccedilatildeo

Em outras palavras o estudo de caso eacute uma situaccedilatildeo uacutenica cercada por uma

infinidade de possibilidades resultado dos dados coletados apoiados em inuacutemeras fontes

que refutam ou confirmam as informaccedilotildees coletadas O Estudo de Caso vai aleacutem da simples

funccedilatildeo de coletar dados tabulaacute-los e divulgaacute-los como resultados da pesquisa pois eacute ldquo[]

uma estrateacutegia mais abrangente A forma como a estrateacutegia eacute definida implementada e

constituiacuteda na verdade eacute o toacutepico inteiro do livrordquo (YIN 2005 p33)

A estrutura desenvolvida nesta pesquisa encontra-se detalhada na Figura (36) com

relaccedilatildeo agraves localidades escolhidas para anaacutelise da percepccedilatildeo ambiental dos seus moradores

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte sobre o Rio Solimotildees como parte da reabertura da BR-

319

127

A metodologia teve como base alem da fundamentaccedilatildeo teoacuterica a utilizaccedilatildeo de

entrevistas semiestruturadas pois permite ao pesquisador utilizar muacuteltiplas e variadas

fontes de dados para criar o roteiro de entrevista e atraveacutes da tabulaccedilatildeo dos dados

estabelecer uma cadeia de evidecircncias que permita reconhecer as respostas apoiadas na

fundamentaccedilatildeo teoacuterica para legitimar o estudo

Optou-se primeiramente por entrevistar os moradores mais antigos de cada

localidade pelas seguintes razotildees a) os moradores mais antigos tinham maior

Indicaccedilatildeo de alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental voltada para as localidades ribeirinhas e preocupaccedilatildeo com o contexto amazocircnico

Revisatildeo literaacuteria sobre as localidades

Expansatildeo das entrevista aos chefes de famiacutelia

Tabulaccedilatildeo de dados

Construccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do roteiro de entrevista semiestruturado para os

moradores mais antigos

Tabulaccedilatildeo dos resultados

Origem das localidades desenvolvimento economia

etc

Relaccedilatildeo com o ecossistema a floresta o rio e seus elementos

naturais

Perspectiva de desenvolvimento Ponte sobre o

Rio Solimotildees

Elo afetivo com o lugar EntusiasmoCautela com o desconhecido

Projeccedilatildeo de cenaacuterios futuros

Figura 36 Estrutura da Pesquisa Fonte Louzada (2013)

128

conhecimento da histoacuteria de fundaccedilatildeo e instalaccedilatildeo das localidades b) assim como tinham

diferentes percepccedilotildees sobre o meio ambiente fiacutesico ao seu redor ao longo dos anos de suas

vidas c) baseado em suas experiecircncias individuas os moradores foram capazes de descrever

com riqueza detalhes tudo ao seu redor (da fundaccedilatildeo das localidades as mudanccedilas ao longo

dos anos) d) os moradores mais antigos das duas localidades percebiam as mudanccedilas e

descreviam-nas com maior desenvoltura os benefiacutecios e malefiacutecios das mudanccedilas

Utilizou-se o roteiro de entrevista semiestruturada aplicado na Comunidade da Bela

Vista e posteriormente na sede do municiacutepio de Manaquiri e conforme (Figura 37) Nesta

primeira etapa da pesquisa buscou-se conhecer a histoacuteria da comunidade e as diversas

interaccedilotildees do homem com o lugar onde vive

Nome (opcional) Idade Profissatildeo Escolaridade

1- A quanto tempo mora aqui

2- O que tem aqui que te faz permanecer 3- O que vocecirc natildeo gostaria de perder

4- O que vocecirc gostaria que tivesse aqui

5- Que mudanccedilas ocorreram na comunidade com a Ponte Rio Negro 6- O que Melhorou aqui 7- O que piorou

8- Vocecirc jaacute ouviu alguma coisa sobre a Ponte sobre o Rio Solimotildees

9- O que vocecirc espera de bom 10- E de ruim dessa nova ponte se sair

10- Para a construccedilatildeo desta nova ponte teraacute audiecircncias puacuteblicas para consulta a comunidade o que vocecirc

exigiria nas medidas compensatoacuterias

Na Comunidade da Bela Vista os moradores mais antigos entrevistados por

coincidecircncia eram todos homens com meacutedia de idade de 63 anos classificados segundo

suas profissotildees A -Agricultor B - Carpinteiro Naval C- Comerciante D- Pescador Suas

respostas foram dispostas na (Figura 38)

Figura 37 Roteiro de entrevista dos moradores mais antigos

Fonte Louzada (2013)

129

Entrevistado Resposta das perguntas

A 69 anos -1945

Famiacutelia tranquilidade

Paz Meacutedico

B 48 anos- 1965

Famiacutelia Companheirismo Hospital ou SPA

C 66 anos -1948

Famiacutelia Paz Poliacutecia

D 70 anos- 1944

Famiacutelia tranquilidade

Meu siacutetio a paz Poliacutecia

Os entrevistados apresentaram em meacutedia mais de 53 anos de residecircncia na

Comunidade da Bela Vista e se mostraram extremamente irredutiacuteveis quanto agrave sugestatildeo de

familiares para que se mudem para outros lugares argumentando quase sempre ldquoque natildeo

abandonariam sua tranquilidade nem seu pedaccedilo de chatildeo por nadardquo

Sobre isso Tuan (2012) argumenta que

[] eacute o neologismo uacutetil quando pode ser definida em sentido amplo incluindo todos os laccedilos afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material Estes diferem profundamente em intensidade sutileza e modo de expressatildeo A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente esteacutetica em seguida pode variar do efecircmero prazer que se tem de uma vista ateacute a sensaccedilatildeo de beleza igualmente fugaz mas muito mais intensa que eacute subitamente revelada A resposta pode ser taacutetil o deleite ao sentir o ar aacutegua terra Mais permanentes e mais difiacuteceis de expressar satildeo sentimentos que temos para com o lugar por ser o lar o loacutecus de reminiscecircncias e o meio de se ganhar a vida (TUAN 2012 p136)

Para Tuan (2012 p 136) ldquoTopofilia natildeo eacute a emoccedilatildeo humana mais forte Quando eacute

irresistiacutevel podemos estar certos de que o lugar ou o meio ambiente eacute o veiacuteculo de

acontecimentos emocionalmente fortes ou eacute percebido como um siacutembolordquo

No caso dos moradores mais antigos entrevistados pela pesquisa todos sem

exceccedilatildeo satildeo ex-colonos da Colocircnia Agriacutecola Nacional do Amazonas - CANA o que pode ter

influenciado na atual escolha de permanecer na regiatildeo embora muitos ex- colonos tenham

optado por se mudar para outras localidades

Questionados sobre o que gostariam que tivessem na Comunidade da Bela Vista os

mesmos foram enfaacuteticos ao afirmarem que gostariam que tivessem policiamento e meacutedicos

Figura 38 Respostas das Entrevistas (Perguntas 1 a 4)

Fonte Louzada (2013)

130

na comunidade Jaacute que a Bela Vista faz parte do municiacutepio de Manacapuru cabe ao

municiacutepio e ao estado disponibilizar pessoal e infraestrutura para atender as necessidades

da populaccedilatildeo

Indagados sobre as mudanccedilas positivas e negativas com a inauguraccedilatildeo da Ponte Rio

Negro as respostas encontra-se na (Figura 39)

Entrevistado Resposta das perguntas

A Tem mais motos Diminui o tempo da viagem

Nada Sim

B Diminuiu muito o movimento aqui

Diminui o tempo da viagem

Vem muita gente estranha

Sim

C Antes tinha mais movimento aqui

- Trouxe mais violecircncia

Sim

D Agora tem ocircnibus daqui pra Manaus

Diminui o tempo da viagem

Aumentou muito a violecircncia

Sim

Sobre a capacidade humana de perceber mudanccedilas Ostrower (1977) destaca

Desde as primeiras culturas o ser humano surge dotado de um dom singular mais do que homo faber ser fazedor o homem eacute um ser informador Ele eacute capaz de estabelecer relacionamentos entre os muacuteltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele Relacionando os eventos ele se configura em sua experiecircncia de viver e lhes daacute um significado Nas perguntas que o homem faz ou nas soluccedilotildees que encontra ao agir ao imaginar ao sonhar sempre o homem relaciona e forma (OSTROWER 1977 p4 )

Embora a diminuiccedilatildeo do tempo de viagem de Bela Vista ateacute Manaus tenha sido

esperado com a construccedilatildeo da Ponte Rio Negro os moradores se mostram apreensivos no

que tange a comunidade uma vez que a mesma passou a sofrer frequentes casos de

violecircncia apoacutes a inauguraccedilatildeo da ponte Esta capacidade de perceber e relacionar os

acontecimentos aos muacuteltiplos eventos ocorridos permitiu-lhes fazer uma projeccedilatildeo de

cenaacuterios futuros baseados em suas experiecircncias individuais e coletivas com determinado

evento

Figura 39 Respostas obtidas das entrevistas (Perguntas 5 a 8)

Fonte Louzada (2013)

131

Indagados se jaacute tinham ouvido falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o rio

Solimotildees os mesmos foram unacircnimes ao afirmarem que sim atraveacutes do programa de raacutedio

A Voz do Brasil

Segundo Canuto (2012) o programa de raacutedio transmitido de segunda a sexta agraves 19h

no horaacuterio de Brasiacutelia para todo o territoacuterio nacional surgiu em 1935 com o nome de

ldquoPrograma Nacionalrdquo e em 1938 passou a ser chamado de ldquoHora do Brasilrdquo teve seu nome

novamente mudado em 1971 para ldquoA Voz do Brasilrdquo O programa transmite informativos

oficiais dos Poderes Executivo Judiciaacuterio e Legislativo

Foi por meio desse programa de raacutedio que Getuacutelio Vargas fez pronunciamentos

semanais estimulando a migraccedilatildeo do ldquopovo sem terras para terras sem homensrdquo

estimulando e consolidando a Marcha para o Oeste que viria a reorganizar a ocupaccedilatildeo do

territoacuterio brasileiro

Com uma breve explanaccedilatildeo sobre a proposta de construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees os entrevistados foram estimulados a descrever o que viria de ldquobomrdquo ou

ldquoruimrdquo com esta obra segundo sua percepccedilatildeo (Figura 40)

A percepccedilatildeo dos moradores mais antigos se caracteriza em parte como uma

Percepccedilatildeo Trandisciplinar segundo seus pilares que satildeo diferentes niacuteveis de realidade

(ontoloacutegico) loacutegica do terceiro incluiacutedo e complexidade que por sua vez com se sustenta

em trecircs pilares dialoacutegico recursatildeo organizacional e hologramaacutetico

Entrevistado Resposta das Perguntas

9ordm 10ordm

A Vai melhorar e muito aqui

-

B Natildeo vai ter mudanccedilas boas

Mais pessoas estranhas mais violecircncia

C Empregos Mais violecircncia

D Nada de bom Vatildeo querer me tirar daqui soacute saio daqui morto

Figura 40 Resposta dos Entrevistados (Perguntados 9 e 10)

Fonte Louzada (2013)

132

Partindo do princiacutepio dos diferentes niacuteveis de realidade seja do entrevistado A

(que prevecirc melhorias na comunidade) do B (que eacute enfaacutetico ao afirmar que natildeo haveraacute

mudanccedilas positivas) do C (que acredita que a obra traraacute empregos) ou do entrevistado D

(que afirma que esta obra natildeo traraacute nada de bom)

[] nenhum niacutevel de realidade constitui um lugar privilegiado a partir do qual possamos compreender todos os outros niacuteveis de realidade um niacutevel de realidade eacute o que ele eacute porque todos os outros niacuteveis existem ao mesmo tempo Esse princiacutepio de relatividade suscita um novo olhar sobre a religiatildeo a poliacutetica as artes a educaccedilatildeo e a vida social E quando nosso olhar sobre o mundo muda o mundo realmente muda (RITTO 2010 p37)

O autor continua

Na visatildeo transdisciplinar a realidade natildeo eacute apenas muldimensional mas tambeacutem multirreferencial Os diferentes niacuteveis de realidade satildeo acessiacuteveis ao conhecimento humano graccedilas aacute existecircncia de diferentes niacuteveis de percepccedilatildeo que permitem uma visatildeo cada vez mais geral mais unificadora mais abarcadora da realidade sem exauri-la completamente Como no caso dos niacuteveis de realidade a coerecircncia dos niacuteveis de percepccedilatildeo pressupotildee uma zona de natildeo resistecircncia aacute percepccedilatildeo (RITTO 2010 p37)

Segundo Nicolesco (2009 p05) o conceito chave da Transdisciplinaridade eacute o

conceito de niacuteveis de realidade ldquoque oferece uma explicaccedilatildeo simples e clara da inclusatildeo do

terceirordquo

Entendo por Realidade primeiramente o que resiste agraves nossas experiecircncias representaccedilotildees descriccedilotildees imagens ou formalizaccedilotildees matemaacuteticas Eacute preciso tambeacutem dar uma dimensatildeo ontoloacutegica agrave noccedilatildeo de Realidade pois a Natureza participa do ser do mundo A Realidade natildeo eacute somente uma construccedilatildeo social o consenso de uma coletividade um acordo intersubjetivo Ela apresenta tambeacutem uma dimensatildeo trans-subjetiva pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria cientiacutefica (NICOLESCU 2009p05)

Para Nicolesco (2009) a compreensatildeo do terceiro incluiacutedo pode ser descrita com a

representaccedilatildeo da letra T entre o A e o natildeo- A por meio de um triacircngulo

[] no qual um dos veacutertices se situa em um niacutevel de Realidade e os outros dois

veacutertices em outro niacutevel de Realidade Se ficarmos em um uacutenico niacutevel de Realidade toda manifestaccedilatildeo apareceraacute como uma luta entre dois elementos contraditoacuterios (exemplo onda A e corpuacutesculo natildeo-A) O terceiro dinamismo o do estado T eacute exercido em um outro niacutevel de Realidade onde o que aparece como desunido (onda e corpuacutesculo) estaacute de fato unido (quantum) e o que aparece como contraditoacuterio eacute percebido como natildeo contraditoacuterio (NICOLESCO 2009 p5)

133

Nicolesco (2009) vai aleacutem ao afirmar que [] a projeccedilatildeo de T sobre um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade que produz a aparecircncia de pares antagonistas mutuamente exclusivos (A e natildeo-A) Um uacutenico e mesmo niacutevel de Realidade natildeo pode engendrar senatildeo oposiccedilotildees antagocircnicas Ele seraacute devido agrave sua proacutepria natureza autodestruidor se for separado completamente de todos os outros niacuteveis de Realidade Um terceiro termo digamos Trsquo que estaacute situado no mesmo niacutevel de Realidade que os opostos A e natildeo-A natildeo pode realizar sua conciliaccedilatildeo (NICOLESCO 2009 p05)

Assim sendo a loacutegica do terceiro incluiacutedo admite diferentes niacuteveis de realidade

para compreensatildeo ampla de um determinado fenocircmeno ou fato essa possibilidade permite

extrapolar o reacutelis antagonismo fruto de uma uacutenica realidade

A terceira e uacuteltima pilastra da Transdisciplinaridade eacute a Complexidade que por sua

vez tambeacutem tem trecircs pilares o dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o hologramaacutetico

O princiacutepio dialoacutegico pode ser compreendido atraveacutes da ordem e da desordem [] um suprime a outra mas ao mesmo tempo em certos casos colaboram e produzem organizaccedilatildeo e complexidade O princiacutepio dialoacutegico permite-nos manter a dualidade no seio da unidade Associa dois termos ao mesmo tempo complementares e antagocircnicos (MORIN 1990 p107)

Ainda segundo Morin (1990)

A complexidade da relaccedilatildeo ordem- desordem- organizaccedilatildeo surge quando se fosse verificar empiricamente que fenocircmenos desordenados satildeo necessaacuterios em certas condiccedilotildees em certos casos para a produccedilatildeo de fenocircmenos organizados que contribuem para o aumento da ordem (MORIN 1990 p92)

Um exemplo seria as invasotildees de terras que causam de certa forma a desordem

(pessoas se aglomerando em pequenos barracos em aacutereas ainda cobertas por floresta ou

em aacutereas de risco onde natildeo deveriam estar sem saneamento baacutesico) a produccedilatildeo de

fenocircmenos organizados surge com os representantes comunitaacuterios que saem atraacutes de

melhorias para as localidades como aacutegua encanada luz eleacutetrica e asfalto nas ruas

contribuindo para o aumento da ordem

O segundo princiacutepio eacute o da recursatildeo organizacional onde um processo recursivo ldquoeacute

um processo em que os produtos e os efeitos satildeo ao mesmo tempo causas e produtores

daquilo que os produziurdquo (MORIN 1990 p108) Ele utiliza como exemplo o caso da relaccedilatildeo

indiviacuteduo e sociedade pois a sociedade eacute resultado das interaccedilotildees humanas ldquose natildeo

134

houvesse uma sociedade e a sua cultura uma linguagem um saber adquirido natildeo seriacuteamos

indiviacuteduos humanos

O terceiro e uacuteltimo principio da complexidade eacute o hologramaacutetico que funciona

como a menor partiacutecula do todo mas conteacutem todas as informaccedilotildees da totalidade do objeto

em outras palavras ldquoNatildeo apenas a parte estaacute no todo mas o todo estaacute na parterdquo (MORIN

1990 p108-109)

Apoiado em suas trecircs pilastras o princiacutepio dialoacutegico a recursatildeo organizacional e o

hologramaacutetico surge a Complexidade que busca a ideia de que a totalidade natildeo eacute a

sobreposiccedilatildeo das partes individuais mas a uniatildeo de todas elas em uma teia de relaccedilotildees natildeo

mecacircnicas mas termodinacircmicas e conectadas (MORIN 1990 p110)

Para Santos (2013)

A Complexidade eacute a compreensatildeo da realidade atraveacutes do conhecimento em todas as suas injunccedilotildees O conhecimento eacute trabalhado de forma fragmentada guardando cada aacuterea cada disciplina sua autonomia e separabilidade das demais Essa constataccedilatildeo aparente induziu o sujeito a aceitar os fenocircmenos explicados pelo conhecimento cientiacutefico como certeza na compreensatildeo do mundo Entretanto a Transdisciplinaridade nos mostra a complexidade do real da ligaccedilatildeo dos fenocircmenos A complexidade consiste em entender que nada estaacute separado tudo estaacute ligado na natureza fiacutesica humana e social O pensamento complexo eacute aquele que tenta responder ao desafio da complexidade e natildeo o que constata a incapacidade de responder (SANTOS apud MORIN 2013 p5)

O pensamento complexo natildeo afasta a incerteza ou a contradiccedilatildeo quando aparece

Por seu turno na visatildeo claacutessica isso seria um sinal de erro no raciociacutenio que levaria o

cientista haacute rever suas anotaccedilotildees O pensamento complexo prega que natildeo se pode isolar os

objetos uns dos outros A complexidade pressupotildee a integraccedilatildeo e o caraacuteter

multidimensional de qualquer realidade segundo Morin (1990 p 100 101) ldquo() natildeo

podemos nunca escapar aacute incerteza () Estamos condenados ao pensamento inseguro a

um pensamento criativo de buracos um pensamento que natildeo tem nenhum fundamento

absoluto de certezardquo

135

341 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA BELA VISTA

Para a realizaccedilatildeo da segunda etapa da pesquisa que consistia em entrevistar os

chefes de famiacutelia foi elaborado um roteiro de entrevistas a partir das respostas dos

moradores mais antigos (Apecircndice 1)

Foram localizadas as ruas principais da comunidade da Bela Vista e o local exato

onde as mesmas se cruzaram de forma que pudesse ser dividida a comunidade em quatro

quadrantes Dentro de cada quadrante foram entrevistados dez chefes de famiacutelias de

maneira aleatoacuteria de diferentes idades gecircneros e ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de

residecircncia no lugar

O resultado foi 57 homens entrevistados e 43 mulheres com idades variando

entre 14 e 77 anos de naturalidades diversas Rondocircnia Roraima Amazonas (Bela Vista

Itacoatiara Coari Manaquiri Laacutebrea Cruzeiro do Sul Alto Juruaacute)

O Graacutefico 1 ilustra a escolaridade dos entrevistados da Bela Vista

A comunidade da Bela Vista conta atualmente com uma escola de Ensino

Fundamental (Escola Estadual Maacuterio DrsquoAlmeida) que no periacuteodo diurno oferece aulas do (1ordm

ao 9ordm ano) e no periacuteodo noturno oferece aulas para jovens e adultos atraveacutes do Programa

EJA (Ensino de Jovens e Adultos)

Graacutefico 1 Escolaridade dos entrevistados na Bela Vista

136

Os 30 dos entrevistados que afirmaram ter estudado somente ateacute 4ordm seacuterie atual

quarto anos do Ensino Fundamental sempre residiram na comunidade e os demais 37 da

populaccedilatildeo que tem o Ensino Meacutedio completo juntamente com 3 de entrevistados que natildeo

chegaram a concluir o ensino meacutedio tiveram a oportunidade de residir em outras

localidades a fim de concluir os estudos e retornaram agrave Comunidade da Bela Vista

Os moradores foram inquiridos sobre a escolha de morar na Bela Vista e o que natildeo

os agradava no lugar 62 dos entrevistados afirmaram residir no lugar pela tranquilidade e

17 pela famiacutelia 11 por considerar o clima agradaacutevel 5 trabalho 5 por ser terra firme

e a oportunidade de produzir alimentos durante todo ano Sobre o que natildeo os agradava na

comunidade 37 relataram a falta de emprego 30 falta de seguranccedila 10 por natildeo ter

um hospital 15 falta administraccedilatildeo 8 falta uniatildeo na comunidade

Quando questionados sobre o que viam ao olhar para a Bela Vista o resultado estaacute

contemplado no Graacutefico 2

A maioria da populaccedilatildeo entrevistada (38) classificou a comunidade como

esquecida e desprezada devido agrave falta de infraestrutura que natildeo conta com uma rede de

abastecimento eleacutetrico eficiente com aacutegua potaacutevel haacute pouco tempo e somente apoacutes

perfuraccedilatildeo de dois poccedilos sendo que o primeiro perfurado com 110 m mas em uma anaacutelise

laboratorial feita pelo Serviccedilo Autocircnomo de Aacutegua e Esgoto de Manacapuru- SAAE o poccedilo se

mostrou improacuteprio para o consumo humano Foi realizada outra perfuraccedilatildeo agora com

200m de profundidade contudo apesar dos esforccedilos para a construccedilatildeo de um novo poccedilo o

Graacutefico 2 Percepccedilatildeo Ambiental dos moradores sobre a Bela Vista

137

mesmo acabou alcanccedilando uma reserva de manganecircs- Mn (elemento quiacutemico) o que torna a

aacutegua improacutepria para o consumo humano ficando a comunidade dependente do primeiro

poccedilo

Sobre a reserva de manganecircs Sousa (2008) esclarece que a concentraccedilatildeo de

manganecircs no rio Solimotildees varia de 0017mgL na cheia do rio a 0025 mgL no periacuteodo de

vazante dispersa ou concentra em suas margens

Aleacutem da dificuldade de encontrar aacutegua potaacutevel a comunidade tambeacutem sofre de

outros problemas entre eles a falta de saneamento baacutesico (Figura 41) e a destinaccedilatildeo de

resiacuteduos domiciliares em aacutereas de vegetaccedilatildeo ou as queimadas dentro dos siacutetios

Em todas as ruas da Comunidade da Bela Vista eacute possiacutevel visualizar a ausecircncia de

caneletas extremamente necessaacuterias para o escoamento das aacuteguas superficiais que ficam

empoccediladas sobre o asfalto contribuindo para a sua deterioraccedilatildeo Outro fator preocupante eacute

a ausecircncia completa de uma rede de esgoto que geralmente eacute direcionado das casas para as

ruas situaccedilatildeo muito comum nas cidades do interior do Amazonas

Indagados sobre o significado do rio Solimotildees e da Floresta Amazocircnica uma vez que

convivem diariamente com estes elementos naturais 49 dos entrevistados afirmaram que

Figura 41 Rua da Comunidade da Bela Vista

Autor Louzada (2013)

138

o rio eacute importante para a pesca e 36 disseram que o rio eacute a fonte da vida e 13 o

consideram bonito imponente e majestoso e 2 natildeo souberam responder

Sobre essa percepccedilatildeo Tuan (2012) afirma que as imagens que compotildeem a Topofilia

satildeo derivadas da realidade circundante

As pessoas atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram assombro ou lhes prometem sustento e satisfaccedilatildeo no contexto das finalidades de suas vidas As imagens mudam agrave medida que as pessoas adquirem novos interesses e poder mas continuam a surgir do meio ambiente as facetas do meio ambiente previamente negligenciadas satildeo vistas agora com toda claridade (TUAN 2012 p170)

A afirmaccedilatildeo de Tuan (2012) confirma a percepccedilatildeo dos entrevistados sobre a

Floresta Amazocircnica onde 65 dos moradores afirmaram que a floresta eacute bonita e muito

importante 30 que tem que ser preservada pois estaacute sendo desmatada e 5 afirmaram

ser ela a fonte de alimentos diversos

Para Tuan (2012) as sociedades natildeo tecnoloacutegicas que manteacutem contato constante

com o meio ambiente fiacutesico tendem a perceber a florestal tropical de modo geral como um

mundo proacuteprio protetor e envolvente que provecirc as necessidades materiais e ateacute mesmo

espirituais

Tendo como base os criteacuterios de qualidade de vida apontados por Gonccedilalves e

Vilarta apud Almeida et al (2012) que

[] abordam qualidade de vida pela maneira como as pessoas vivem sentem e compreendem seu cotidiano envolvendo portanto sauacutede educaccedilatildeo transporte moradia trabalho e participaccedilatildeo nas decisotildees que lhes dizem respeito (GONCcedilALVES E VILARTA apud ALMEIDA et al 2012 p18)

Os entrevistados foram indagados sobre qual qualidade de vida moradores da Bela

Vista suas respostas eacute possiacutevel visualizar no Graacutefico 3

139

A maioria dos entrevistados sendo 47 classificou a qualidade de vida dos

moradores em ruim ou difiacutecil devido a pouca oportunidade de renda da populaccedilatildeo que

segundo eles somente satildeo quatro fontes de renda agricultura aposentadoria pequenos

comeacutercios ou bolsas do governo (Bolsa Famiacutelia Bolsa Escola Auxilio Gaacutes Seguro Defeso do

Pescador) Outros entrevistados atribuiacuteram agrave qualidade de vida ruim devido agrave falta de

emprego na regiatildeo porque os jovens natildeo estatildeo dispostos a trabalhar na agricultura

somente os mais idosos

Sobre isso existe uma perspectiva geral de mudanccedila com a abertura da Faacutebrica de

Calcaacuterio que estaacute sendo construiacuteda no ramal da comunidade que promete emprego aos

moradores da Bela Vista gerando uma nova fonte de renda para a comunidade

Questionados se jaacute tinham ouvido falar sobre a construccedilatildeo de uma ponte sobre o

rio Solimotildees 85 dos entrevistados relataram jaacute ter ouvido algo a respeito entre os

comentaacuterios da comunidade e no programa de raacutedio a Voz do Brasil 15 da populaccedilatildeo

relatou natildeo ter conhecimento dessa informaccedilatildeo Perguntados sobre o seu posicionamento

em relaccedilatildeo a construccedilatildeo da ponte os moradores afirmaram 92 que satildeo favor (Graacutefico 4)

Graacutefico 3 Qualidade de vida dos moradores da Bela Vista

140

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas sobre a reabertura da BR-319

os entrevistados responderam conforme destaca o Graacutefico 5

A maioria 45 da populaccedilatildeo mostra-se disposta a participar de audiecircncias puacuteblicas

sobre a reabertura da BR-319 mas somente se chegassem a ser convocados 37 se

mostrou favoraacutevel agrave reabertura da rodovia afirmando que a mesma jaacute foi aberta um dia

sendo necessaacuteria ser novamente asfaltada sinalizada e ter suas pontes refeitas jaacute que

praticamente natildeo existem mais Ainda desse total 5 disseram que natildeo desejariam

participar com destaque para uma colocaccedilatildeo ldquoFilha eu natildeo iria pois natildeo se decide o que jaacute

foi decididordquo (comunicaccedilatildeo pessoal de um entrevistado) Do restante 4 iriam conhecer os

Graacutefico 5 Consultados sobre a reabertura da BR-319

Graacutefico 4 Posicionamento dos moradores da Bela Vista sobre a ponte sobre o

Rio SolimotildeesAmazonas

141

dois lados (benefiacutecios e malefiacutecios) da obra e 9 dos entrevistados afirmaram natildeo acreditar

na reabertura da BR-319

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo 64 dos entrevistados consideraram o rio perigoso e que o mesmo provocava

medo (Graacutefico 6)

Eacute compreensiacutevel os entrevistados da Bela Vista optarem em sua maioria pelas

estradas porque eles dispotildeem de um ramal de 10km que os conecta a AM-070 e os permite

chegar rapidamente agrave Manacapuru ou ateacute mesmo a capital Manaus Questionados sobre

qual meio de locomoccedilatildeo seria mais seguro O Graacutefico 7 ilustra a preferecircncia pelas estradas

Graacutefico 6 Rio como meio de locomoccedilatildeo

Graacutefico 7 Estradas como meio de locomoccedilatildeo

142

A maioria 78 dos entrevistados considera as estradas o meio mais raacutepido e melhor

de se locomover apenas 22 as consideram perigosas

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 37 dos

entrevistados afirmaram nunca terem participado e 34 afirmaram natildeo saber o que eacute jaacute

25 disseram que participariam de uma se fossem convidados o que nunca ocorreu na

comunidade e 4 afirmaram jaacute ter participado de Audiecircncias Puacuteblicas em outras

localidades

342 CARACTERIZACcedilAtildeO DOS CHEFES DE FAMIacuteLIA ENTREVISTADOS NA SEDE DO MUNICIacutePIO

DE MANAQUIRI

Assim como ocorreu na Comunidade da Bela Vista a sede do municiacutepio de

Manaquiri tambeacutem foi dividida em quatro quadrantes a partir das ruas principais Joatildeo Diniz

e Francisco Jacob (Figura 42)

Figura 42 Sede do Municiacutepio do Manaquiri e a divisatildeo realizada pela pesquisa

Fonte Google Maps Imagens Landsat (2014)

Adaptada Louzada (2014)

143

Foram entrevistados dez chefes de famiacutelia em cada quadrante de maneira aleatoacuteria

de diferentes idades gecircneros ocupaccedilotildees escolaridades e tempo de residecircncia no lugar

Todavia o roteiro de entrevistas aplicado em Manaquiri sofreu algumas alteraccedilotildees

(Apecircndice 2)

Ao contraacuterio do que ocorreu na Bela Vista onde foram entrevistados (57 homens

e 43 mulheres) em Manaquiri foram entrevistados de maneira aleatoacuteria 55 de mulheres

e 45 de homens com idades variando entre 22 e 83 anos e com naturalidades mais

diversas Colocircmbia Venezuela Brasil (Cearaacute Parnaiacuteba Piauiacute Paraacute Amazonas (Manaus

Iranduba Eirunepeacute Coari Anamatilde Careiro da Vaacuterzea))

Com relaccedilatildeo agrave escolaridade a grande maioria dos entrevistados cerca de 52

tinham o ensino meacutedio completo os demais foram organizados conforme graacutefico 8

Por ser uma sede municipal o Manaquiri conta com escolas tanto estaduais como

municipais o que contribui na formaccedilatildeo de seus moradores todavia as escolas natildeo estatildeo

exclusivamente situadas na sede do municiacutepio como eacute caso do Centro Educacional

Municipal de Tempo Integral ndash CEMTI com capacidade para atender 770 alunos do ensino

fundamental inaugurado em 2010 mas tambeacutem distribuiacutedos na zona rural do mesmo

Os entrevistados foram questionados sobre a escolha de permanecer em

Manaquiri pois os mesmos tecircm facilidade de acesso a outros municiacutepios e ateacute mesmo agrave

capital Manaus o que os agradava no lugar que os fazia permanecer 69 dos moradores

responderam permanecer em Manaquiri pela tranquilidade encontrada laacute 31

Graacutefico 8 Escolaridade dos moradores entrevistados em Manaquiri

144

responderam que permanecem na regiatildeo por laccedilos familiares Indagados sobre o que natildeo os

agradava na cidade de Manaquiri 31 dos entrevistados relatou o sistema de sauacutede do

municiacutepio (Graacutefico 9)

Os entrevistados se mostraram revoltosos com o sistema puacuteblico de sauacutede do

municiacutepio do Manaquiri Um entrevistado relatou a seguinte situaccedilatildeo

Se uma pessoa cair e quebrar a perna no final de semana temos que levar ele correndo para Manaus jaacute pensou ir de voadeira [canoa de alumiacutenio com motor de polpa] nesse riozatildeo de Deus com a perna quebrada eacute horriacutevel porque aqui natildeo tem meacutedico no final de semana soacute de segunda a sexta e ai como a gente ficar te pergunto

Segundo Almeida Filho (1998)

A ldquonova ordem mundialrdquo que se instaura na deacutecada de oitenta inspirada no neoliberalismo provoca uma marcante fragilizaccedilatildeo dos esforccedilos para o enfrentamento coletivo dos problemas de sauacutede Particularmente nos paiacuteses de economia capitalista dependente a opccedilatildeo pelo ldquoestado miacutenimordquo e o corte nos gastos puacuteblicos como resposta agrave chamada ldquocrise fiscal do estadordquo em muito comprometem o acircmbito institucional conhecido como sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p 301)

Para superar esta crise na sauacutede puacuteblica brasileira que jaacute dura quase 35 anos apoacutes

os novos esforccedilos serem direcionados para

[] o desenvolvimento cientifico e tecnoloacutegico do campo mediante importantes contribuiccedilotildees nas aacutereas de Epidemiologia Social Poliacuteticas e Praacuteticas de Sauacutede Planificaccedilatildeo em Sauacutede Epistemologia e Metodologia em Sauacutede [] Contudo mais do que definiccedilotildees formais a sauacutede coletiva requer uma compreensatildeo dos desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo de profissional convencionalmente reconhecido como da sauacutede puacuteblica (ALMEIDA FILHO 1998 p310)

Graacutefico 9 Percepccedilatildeo dos chefes de famiacutelia sobre o que natildeo agrada em Manaquiri

145

A atual situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica em Manaquiri reflete de forma negativa na

administraccedilatildeo puacuteblica de modo geral pois 28 dos entrevistados descrevem como ruim ou

peacutessima devido aos cuidados com a sauacutede publica do municiacutepio

Em menor porcentagem os entrevistados relataram que natildeo os agrada o aumento

da violecircncia dos uacuteltimos anos com 14 dos entrevistados a falta de oportunidade de

entretenimento com 3 das respostas e 7 com a falta de oportunidade de continuar os

estudos Segundo eles satildeo somente duas oportunidades ou migram para a capital Manaus

para cursar uma faculdade ou se forem professores podem se escrever no Plano Nacional

de Formaccedilatildeo de Professores da Educaccedilatildeo Baacutesica- PARFOR do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo em

parceria com a Universidade Federal do Amazonas - UFAM que envia professores ao

municiacutepio no periacuteodo de recesso escolar (Municipal e Estadual) para ministrarem as

disciplinas da graduaccedilatildeo dos cursos escolhidos permitindo aos professores locais um

diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC

Ao olharem para o municiacutepio de Manaquiri os entrevistados se manifestaram

conforme o graacutefico 10

Cerca de 43 dos entrevistados afirmaram que a cidade de Manaquiri estaacute

crescendo tendo como referecircncia o crescimento demograacutefico apontado no uacuteltimo censo do

IBGE que calculou a populaccedilatildeo da sede municipal de Manaquiri em 7062 mil habitantes

(IBGE 2010)

Todavia os moradores tambeacutem atrelaram o crescimento da cidade ao fato de haacute

pouco tempo ter sido aberta uma agecircncia bancaacuteria na regiatildeo e os investimentos na

Graacutefico 10 Percepccedilatildeo dos entrevistados sobre o Manaquiri

146

agricultura familiar o que gerou empregos no municiacutepio e por consequecircncia permitiu um

aumento na renda das famiacutelias

Outros 25 dos entrevistados relatou que Manaquiri eacute um bom lugar para viver

pois quem quiser trabalhar na agricultura tem acesso agrave empreacutestimos para investir na

produccedilatildeo ou em pequenas criaccedilotildees como a silvicultura e a piscicultura

Os entrevistados referem-se ao Fundo Constitucional de Financiamento do Norte ndash

FNO disposto nas leis nordm 78271989 nordm 91261995 e nordm 101772001 (BRASIL 2013)

O FNO Plano de Aplicaccedilatildeo de Recursos para 2013 dispotildeem sobre os programa de

iniciativa do Governo Federal para a Amazocircnia que satildeo executados pelo Banco da

Amazocircnia com destaque para O Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 conhecido como ldquoPlano

Mais Brasilrdquo a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) o Plano Amazocircnia

Sustentaacutevel (PAS) o Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) a Poliacutetica Nacional de

Agricultura Familiar a Poliacutetica Nacional de Arranjos Produtivos Locais o Plano Nacional de

Turismo (PNT) o Plano Brasil Maior o Plano Brasil Sem Miseacuteria o Plano Nacional sobre

Mudanccedila do Clima (PNMC) o Programa Mais Cultura a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas as poliacuteticas de desenvolvimento industrial e de incentivo agraves exportaccedilotildees agrave pesca

e aquicultura (BRASIL 2013 p10)

Todos os programas reunidos compotildeem o Plano Nacional de Desenvolvimento da

Amazocircnia ndash PRDA aprovado em 2012 com prazo de vigecircncia ateacute 2015 que tem como

objetivo principal ldquo[] acelerar o crescimento econocircmico da Amazocircnia Legal com

distribuiccedilatildeo de renda e sustentabilidade socioambientalrdquo (BRASIL 2013 p11) atraveacutes de

financiamentos tendo como

[] prioridade os segmentos produtivos de menor porte (minimicro e pequenos empreendedores) com maior ecircnfase a agricultura de base familiar empreendimentos que utilizam mateacuterias primas e matildeo de obras locais e que produzam alimentos baacutesicos para o consumo da populaccedilatildeo e projetos com sustentabilidade socioambiental (BRASIL 2013 p17)

Os entrevistados tambeacutem foram indagados sobre o significado do Rio Solimotildees e a

Floresta Amazocircnica 87 dos moradores relataram que o rio eacute muito importante pois aleacutem

de fornecer o seu principal alimento o peixe o rio banha as terras baixas (as vaacuterzeas) e faz a

nutriccedilatildeo das mesmas para que eles possam plantar no periacuteodo de vazante O rio tambeacutem eacute o

147

principal meio de locomoccedilatildeo entre os ribeirinhos Os demais entrevistados classificaram o

rio Solimotildees como riqueza (5) e como fonte de vida (8)

Para Tuan (2012) as diferentes culturas e sociedades humanas tecircm diferentes

formas de se relacionar com a natureza O autor cita a influecircncia de determinadas paisagens

na maneira de perceber e se relacionar com as mesmas

Natildeo eacute difiacutecil entender a atraccedilatildeo que exercem as orlas marinhas sobre os seres humanos Para comeccedilar sua forma tem dupla atraccedilatildeo por um lado as reentracircncias das praias e dos vales sugerem seguranccedila por outro lado o horizonte aberto para o mar sugere aventura Aleacutem disso o corpo humano que normalmente desfruta apenas do ar e da terra entra em contato com a aacutegua e a areia A floresta envolve o homem em seu recesso fresco e sombrio o homem no deserto estaacute total exposto e sofre escoriaccedilotildees pelo sol brilhante e eacute repelido pela dureza da terra A praia tambeacutem eacute banhada pelo brilho direto e refletido da luz do sol poreacutem a areia sede pressatildeo penetrando entre os dedos dos peacutes e a aacutegua recebe e ampara o corpo (TUAN 2012 p163-164)

Sobre a Floresta Amazocircnica cerca de 90 dos entrevistados relataram que ela eacute

muito importante pois fornece o ar puro para ser respirado por todos e eacute fonte de

alimentos diversos (frutos ervas) e madeira para a construccedilatildeo de casas e canoas sendo

necessaacuterio e muito importante preservarem-na para que seus netos e bisnetos cheguem a

conhecer a magnitude dessa floresta Os 10 de entrevistados restantes descreveram a

floresta como fonte de vida que traz a aacutegua

Perguntados sobre a qualidade de vida dos moradores do Manaquiri os

entrevistados responderam conforme Graacutefico 11

Graacutefico 11 Qualidade de vida dos moradores do Manaquiri

148

O percentual de 52 dos entrevistados considera regular a qualidade de vida dos

moradores da sede do municiacutepio de Manaquiri uma vez que existem muitas pessoas que

trabalham para a Prefeitura ou na escola e no comercio e outros que vivem da agricultura

ou da pesca mas tambeacutem haacute pessoas que natildeo tecircm trabalho fixo e vivem das bolsas do

governo (Bolsa Escola Bolsa Famiacutelia Auxilio gaacutes entre outras ) essas pessoas passam

muitas necessidades

O percentual 29 dos entrevistados consideraram a qualidade de vida dos

moradores de Manaquiri boa pois tem emprego escola casa proacutepria entre outras

facilidades 19 dos entrevistados relatou a qualidade de vida como ruim pois faltam

meacutedicos e empregos para todos (significado do rio e da floresta)

Perguntados se jaacute ouviram falar da construccedilatildeo de uma futura ponte sobre o Rio

Solimotildees 92 dos entrevistados afirmaram jaacute ter ouvido algo no raacutedio e atraveacutes dos

deputados do municiacutepio aleacutem de comentaacuterios de outros moradores

Indagados sobre o posicionamento individual com a perspectiva de construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees os entrevistados responderam conforme ilustra o Graacutefico

12

A maioria dos entrevistados cerca de 60 mostrou-se favoraacutevel a construccedilatildeo de

uma ponte sobre o rio Solimotildees 27 dos entrevistados se mostrou receosa com o aumento

da violecircncia caso a ponte seja realmente implantada 5 cautelosos com o

empreendimento por acreditar que o mesmo traraacute coisas ruins para o municiacutepio 8 dos

Graacutefico 12 Posicionamento dos moradores de Manaquiri sobre a construccedilatildeo de

ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

149

entrevistados se mostrou contraacuterio agrave construccedilatildeo da ponte pois natildeo acreditam que os

benefiacutecios com a ponte superem seus malefiacutecios principalmente no que se refere a Floresta

Amazocircnica

Consultados se participariam de audiecircncias puacuteblicas para a reabertura da BR-319 e

qual o posicionamento que adotariam os entrevistados responderam conforme Graacutefico 13

A maioria 75 dos entrevistados afirmaram ser a favor da reabertura da BR-319

14 disseram que somente participariam das audiecircncias puacuteblicas 8 que natildeo participariam

e 3 dos entrevistados optaram por natildeo opinar

O principal argumento utilizado para o posicionamento favoraacutevel agrave reabertura da

BR-319 foi de que seria possiacutevel conhecer outros municiacutepios do estado pela estrada e

chegar agrave outros estados de carro porque natildeo os agradava a possibilidade de viajar de aviatildeo

Questionados se preferiam utilizar os rios ao inveacutes das estradas como meios de

locomoccedilatildeo na Amazocircnia 40 dos entrevistados afirmaram preferir o rio (Graacutefico 14)

Graacutefico 13 Posicionamento sobre a reabertura da BR-319

150

Todavia as respostas dos entrevistados chamam agrave atenccedilatildeo pela seguinte situaccedilatildeo

13 dos entrevistados afirmaram achar o rio melhor como meio de locomoccedilatildeo no periacuteodo

da cheia pois o Paranaacute de Manaquiri como eacute conhecido o braccedilo de rio que passa em frente

agrave cidade do Manaquiri soacute eacute navegaacutevel durante esse periacuteodo cheio (Figura 43) pois no

periacuteodo de vazante o Paranaacute seca ficando em terra batida

Graacutefico 14 Rios como meio de locomoccedilatildeo na Amazocircnia

Figura 43 Paranaacute de Manaquri

Autora Louzada (2013)

151

O percentual de 30 dos entrevistados prefere a estrada para deslocamento por

consideraacute-la mais segura mesmo no periacuteodo de cheia do rio 13 preferem o rio quando

estaacute cheio 4 afirmaram natildeo gostar das estradas porque demoram e prolongam o tempo

de viagem e 40 preferem o rio

Poucas pessoas tecircm conhecimento de que o municiacutepio do Manaquiri tem uma

rodovia estadual que liga a sede do municiacutepio agrave BR-319 com 43 km aacute AM- 354 (Figura 44)

atualmente se encontra em oacutetimas condiccedilotildees de trafego

No periacuteodo da vazante dos rios e a impossibilidade de pegar barcos no porto da

cidade de Manaquiri para sair de sede os moradores pegam ocircnibus na cidade e seguem

viagem pelos 43 km da AM-354 e posteriormente entram na BR-319 por onde seguem por

mais 91 km ateacute a chegarem ao porto da Gutierrez onde pegam ajatos (embarcaccedilotildees de

alumiacutenio cobertas e com maacutequinas de centro) para seguirem viagem ateacute a capital Manaus

Figura 44 Rodovia AM-354 municiacutepio do Manaquiri-AM

Autora Louzada (2013)

152

(Figura 45) o percurso ateacute a capital demora em meacutedia trecircs horas e meia quando uma

viagem completa por via fluvial do municiacutepio ateacute a capital Manaus leva em meacutedia duas

horas (variam conforme a potecircncia das maacutequinas de centro)

Perguntados se jaacute haviam participado de Audiecircncias Puacuteblicas 77 os entrevistados

afirmaram nunca ter participado e 23 dos entrevistados afirmaram jaacute ter participado de

uma pelo menos os mesmos relataram que participariam de outras Audiecircncias Puacuteblicas se

fossem convidados

Figura 45 Embarcaccedilatildeo Ajato navegando pelo rio SolimotildeesAmazonas

Autora Louzada 2013

153

4 ndash O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INFLIGIDO NO ESTADO DO AMAZONAS NO

SEacuteCULO XX E OS REFLEXOS NO PRESENTE PARA SE PENSAR O FUTURO ALTERNATIVA

DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL PARA AS LOCALIDADES RIBEIRINHAS

O conceito de desenvolvimento do seacuteculo XXI tem como marco principal o papel da

sociedade civil como agente ativo na construccedilatildeo do desenvolvimento e natildeo mais como

meros beneficiaacuterios do desenvolvimento

Diante disso eacute importante compreender o conceito de desenvolvimento do seacuteculo

XX para se conhecer seus reflexos no presente se pensando no futuro

Segundo Martins (2002)

O termo desenvolvimento tem sido associado agrave noccedilatildeo de progresso material e de modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Sua promoccedilatildeo mediante o desrespeito e a desconsideraccedilatildeo das diferentes culturais da existecircncia de outros valores e concepccedilotildees jaacute teria funcionado como ldquoCavalo de Troacuteiardquo que vestido da seduccedilatildeo do progresso teria carregado em seu interior o domiacutenio e a imposiccedilatildeo de culturas que desequilibram e abalam as sociedades (MARTINS 2002 p52)

No Brasil a partir de 1930 apoacutes a grave crise do cafeacute a regiatildeo de Satildeo Paulo

considerada o berccedilo da produccedilatildeo do cafeacute no paiacutes passou pelo primeiro surto de

industrializaccedilatildeo o que veria a ser o ponto de partida para a industrializaccedilatildeo brasileira ldquoque

natildeo se deu pela via evolutiva com base na iniciativa privada como nas naccedilotildees pioneiras

Aqui ela foi induzida e em grande parte realizada pelo Estado rdquo(ESTADO apud Rodrigues

2013 p32)

Sobre isso Brum apud Rodrigues (2013 p32) afirmam que ldquoo modelo de

desenvolvimento adotado no Brasil a partir de 1930 se baseava num Estado Forte poliacutetica

de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees e no nacionalismo poliacuteticordquo

O Estado a partir de 1946 passa a contar com ldquoum imposto sobre combustiacuteveis

liacutequidos visando por via disso o financiamento da construccedilatildeo de estradas este fundo pode

ser visto como o marco institucional da valorizaccedilatildeo da rodovia como modal de transporterdquo

(RODRIGUES 2013 p33)

Para Galvatildeo apud Rodrigues (2013)

154

O reconhecimento oficial das rodovias como modalidade prioritaacuteria de transporte no Brasil teve de esperar ainda ateacute o inicio dos anos de 50 quando da aprovaccedilatildeo de um novo plano nacional de viaccedilatildeo em 1951 Entre as camadas teacutecnicas poreacutem a definitiva opccedilatildeo por esta modalidade de transporte jaacute havia sido feita logo apoacutes o teacutermino da Segunda Guerra Mundial durante os trabalhos de uma comissatildeo do DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rondagem) encarregada pelo governo da elaboraccedilatildeo do plano de 1951 (GALVAtildeO apud RODRIGUES 2013 p33)

Rodrigues (2013) vai aleacutem

Somando-se a isto a fundaccedilatildeo da empresa estatal Petrobras em 1954 contribuiu para impulsionar a construccedilatildeo de rodovias no paiacutes jaacute que a produccedilatildeo de petroacuteleo em grande quantidade permitiu um incremento na produccedilatildeo d asfalto visto que o petroacuteleo eacute um componente fundamental para a fabricaccedilatildeo deste (RODRIGUES 2013 p33)

Ainda segundo Rodrigues (2013)

A opccedilatildeo econocircmica feita pelo desenvolvimentismo foi crucial para a questatildeo econocircmica propriamente dita quanto para o desenvolvimento espacial e demograacutefico brasileiro assim os grandes incrementos populacionais sentidos nas regiotildees Norte e Centro Oeste se deram principalmente devido ao iniacutecio da era rodoviaacuteria no paiacutes pois as estradas abarcavam diversos pontos das poliacuteticas governamentais Nesse sentido a intervenccedilatildeo na estrutura de transporte no paiacutes foi crucial assim como a busca de novas fronteiras agriacutecolas na temaacutetica da alimentaccedilatildeo Apesar da enorme concentraccedilatildeo econocircmico-industrial no centro sul paiacutes (BRUM 2009) os uacuteltimos anos da deacutecada de 1950 foram revolucionaacuterios na abertura dessas novas fronteiras internas do paiacutes (RODRIGUES 2013 p38)

Neste periacuteodo as rodovias ultrapassaram o seu objetivo inicial de interligar vias e

cidades para a partir do governo de Juscelino Kubichek (1956 - 1961) a loacutegica se tornar

outra a de penetraccedilatildeo

[] aquelas que visavam adentrar o territoacuterio nacional [] Para o governo a vantagem dessa nova proposta era de que aleacutem de levar ldquocivilizaccedilatildeordquo aos rincotildees do paiacutes as estradas de penetraccedilatildeo ampliavam as fronteiras agriacutecolas (COSTA et al 2001) sendo assim uma poliacutetica de abrangecircncia a no miacutenimo dois setores crucias [] transporte e alimentaccedilatildeo (RODRIGUES 2013 p39)

Novas aacutereas foram alcanccediladas com a construccedilatildeo de rodovias no Centro Oeste e

Norte brasileiro o que se mostraria o marco inicial para consolidaccedilatildeo do modelo

rodoviarista brasileiro

155

Para financiar e executar a construccedilatildeo de estradas no paiacutes foi instituiacutedo o Plano de

Integraccedilatildeo Nacional atraveacutes do decreto-lei n˚1106 de Junho de 1970 que tinha como meta

primeiramente investimentos

I - Na aacuterea do Ministeacuterio dos Transportes a imediata construccedilatildeo das rodovias Transamazocircnica e Cuiabaacute-Santareacutem bem com de portos e embarcadouros fluviais com seus respectivos equipamentos

II - Na aacuterea do Ministeacuterio da Agricultura a colonizaccedilatildeo e a reforma agraacuteria mediante a elaboraccedilatildeo a execuccedilatildeo de estudos e a implantaccedilatildeo de projetos agropecuaacuterios e agroindustriais com as competentes desapropriaccedilotildees a seleccedilatildeo o treinamento o transporte e o assentamento de colonos a organizaccedilatildeo de comunidades urbanas e rurais e respectivos serviccedilos

III - Na aacuterea do Ministeacuterio do Interior o aceleramento dos estudos e a implantaccedilatildeo de projetos constantes da primeira fase do Plano de Irrigaccedilatildeo do Nordeste abrangendo obras de retenccedilatildeo desvio canalizaccedilatildeo conduccedilatildeo aspersatildeo e drenagem hidraacuteulica com propriedade para os que ofereccedilam desde jaacute maior beneficio social

IV - Na aacuterea do Ministeacuterio das Minas e Energia o levantamento da topografia da cobertura florestal da geomorfologia para pesquisas minerais e energeacuteticas da natureza do solo da respectiva drenagem e unidade (BRASIL 1970 p31)

Os trecircs primeiros Ministeacuterios (Transporte Agricultura e do Interior) se tornaram

prioridades do I Plano de Integraccedilatildeo Nacional sendo o carro chefe o Ministeacuterio dos

Transportes atraveacutes da construccedilatildeo de rodovias responsaacuteveis por integrar a regiatildeo

Amazocircnica ou restante do paiacutes propiciando a expansatildeo da fronteira econocircmica e

principalmente agriacutecola para a regiatildeo

Sobre isso Reis (1972) apresenta as rodovias construiacutedas em construccedilatildeo e projetas

para a Amazocircnia (Figura 46)

156

Segundo Reis (1972) a inauguraccedilatildeo da rodovia BR-010 (Beleacutem-Brasiacutelia) possibilitou

acesso aos espaccedilos ainda pouco ou natildeo cultivados nas planiacutecies uacutemidas amazocircnidas e a

alternativa ideal de utilizar as terras para o cultivo agriacutecola desta forma o projeto de

construccedilatildeo de rodovias foi expandido para toda a regiatildeo Norte do pais

Como aconteceu no restante da Amazocircnia o estado do Amazonas tambeacutem foi

ldquobeneficiadordquo com a construccedilatildeo de estradas em seu territoacuterio a partir de 1950 todavia o

presente este se limitaraacute a expor somente as rodovias federais que chegaram a ser abertas

(Figura 47)

Fonte 46 Atividades Rodoviaacuterias na Amazocircnia Fonte Reis (1972)

157

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158

41 BR-317 DA BACIA AMAZOcircNICA AO PACIacuteFICO

Localizado no sul do estado do Amazonas a BR-317 teve suas obras iniciadas em

1956 segundo o DNIT (2008) ligando o municiacutepio de Laacutebrea no sudoeste do Amazonas

localizado a 610 km em linha reta da capital Manaus ateacute o municiacutepio de Assis Brasil no Acre

na fronteira com o Peru e a Boliacutevia (Figura 48)

Foi construiacuteda com o intuito de escoar a produccedilatildeo madeireira do municiacutepio de

Laacutebrea - AM para os estados do Acre e Rondocircnia

Mantendo-se sem pavimentaccedilatildeo alguma ateacute 2004 quando foi iniciado e executado

o Eixo Rodoviaacuterio de Integraccedilatildeo Peru-Boliacutevia-Brasil como parte do projeto IIRSA (Integraccedilatildeo

da Infraestrutura Regional Sul-Americana) A BR-317 passa a ser chamada de estrada do

Paciacutefico apoacutes a inauguraccedilatildeo da Ponte Binacional (Figura 49) em agosto de 2006 que teve

Fonte 48 BR-317 ou Carretera Del Paciacutefico Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

159

investimento de R$ 25 milhotildees (parte financiada pelo governo federal e estadual) ligando a

cidade de Assis Brasil no Acre agrave cidade peruana de Inatildepari A ponte tem 240m de extensatildeo

quatro pistas e um vatildeo de 110m livres (BRASIL 2006)

No trecho peruano a Estrada do Paciacutefico recebe o nome de Carretera Del Paciacutefico ou

Iterocecircanica pois liga a fronteira com Brasil ateacute o Oceano Paciacutefico (Figura 50)

Figura 49 Ponte Binacional ligando Assis no Brasil a Intildeapari no Peru Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

Figura 50 Inicio da Estrada do Paciacutefico na cidade de Assis no Brasil Fonte httpwwwpagina20onlinecombrindexphpespecial1403-estrada-do-

pacifico-integra-economia-e-cultura-com-o-peruhtml

160

Atualmente a Estrada do Paciacutefico ou Carretera Del Paciacutefico encontra-se em oacutetimas

condiccedilotildees de traacutefego no trecho peruano o que facilita o escoamento da produccedilatildeo agriacutecola

tanto do Brasil quanto do Peru em direccedilatildeo ao mercado brasileiro

Segundo Bryan (2013) com a construccedilatildeo da ponte ligando definitivamente o Brasil

e o Peru inicia-se um forte comeacutercio de produtos na fronteira com destaque para a compra

de cebola peruana a ser comercializada em Rio Branco no Acre que chega agrave 100 toneladas

ao mecircs em uma rede de supermercados local

Quase toda a cebola consumida na capital acreana passou a ser peruana E 70 toneladas ficaram em estoque devido agrave entressafra peruana Segundo Adem a cebola peruana eacute melhor que a brasileira e tem custo entre 5 a 10 menor percorre menos espaccedilo e tem menos desperdiacutecio Se comprada no Brasil o desperdiacutecio chega a 20 afirma No comeccedilo soacute tivemos problemas Natildeo foi tatildeo faacutecil por questatildeo de ser uma novidade ter que contratar os agentes aduaneiros que natildeo existiam por aqui ter que lidar com a burocracia e fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal e o Ministeacuterio da Agricultura O que nos fez continuar foi a persistecircncia Foi acreditar que daria certo ( BRYAN 2013 p4)

Outro comerciante destaca a importaccedilatildeo de macarratildeo de oacutetima qualidade do paiacutes

vizinhos Em contrapartida os comerciantes peruanos compram milho castanha da

Amazocircnia e Accedilaiacute do Brasil (BRYAN 2013)

Apesar disso no trecho brasileiro a BR-317 ou a estrada do Paciacutefico encontra-se

pavimentada em toda sua extensatildeo somente no territoacuterio acreano todavia no trecho

compreendido entre a cidade de Boca do Acre-AM e a fronteira com o estado do Acre um

trecho de 11070km natildeo encontrasse pavimentado Poreacutem a falta de pavimentaccedilatildeo nesse

trecho da estrada natildeo impede a accedilatildeo antroacutepica sobre o ecossistema principalmente para a

exploraccedilatildeo madeireira e a criaccedilatildeo de gado nessa regiatildeo

Segundo o IBGE (2010) os rebanhos do municiacutepio de Laacutebrea - AM satildeo estimados em

287591 mil cabeccedilas (Figura 51)

161

Figura 51 Quantidade de cabeccedilas de gado estimada no municiacutepio de Laacutebrea - AM Fonte Censo Agriacutecola do municiacutepio de Laacutebrea - AM (IBGE 2010)

Um aumento de 98 se comparado ao Censo Agropecuaacuterio realizado em 2004

quando os rebanhos foram estimados em 6593 mil cabeccedilas de gado segundo o IBGE (2004)

Embora poucos pesquisadores associem o aumento no nuacutemero de cabeccedilas de gado agrave

reduccedilatildeo da cobertura vegetal (Tabela 9) foi exatamente isso que aconteceu segundo

(PRODES 2012)

Tabela 9 Quantidade de gado e sua relaccedilatildeo com o desflorestamento do municiacutepio de Laacutebrea - AM

Ano Quantidade estimada de cabeccedilas de gado (SEPLAN)

Desflorestamento (PRODES)

2004 6593 356 2005 6790 386 2007 7027 436 2008 283620 446 2009 287591 452 2010 287591 458

Fonte SEPLAN 20092012 e PRODES 2012 Organizadora Louzada (2013)

Eacute importante salientar tambeacutem a existecircncia de populaccedilotildees indiacutegenas ao longo

dessa rodovia que seratildeo afetadas com a pavimentaccedilatildeo da mesma pois segundo o DNIT

(2008) a estrada possui 225km de sua extensatildeo inseridos em terras indiacutegenas diacutevidas assim

162

5 km dentro das terras TI Boca do Acre e 175km TI nas terras Apurinatilde Todavia a tribo

Camicuatilde tambeacutem seraacute afetada pois estaacute localizada agrave menos de 2km de distacircncia da estrada

(DNIT 2008)

42 BR-307 BATALHAtildeO DO SERIDOacute

Apesar da construccedilatildeo da BR-317 na deacutecada de 50 outras estradas somente

voltaram a ser construiacutedas no estado do Amazonas a partir do periacuteodo militar entre elas a

BR-307 que teve suas obras iniciadas somente apoacutes a mudanccedila do 1ordm Batalhatildeo de

Engenharia de Construccedilatildeo - BEC que foi deslocado de Caicoacute no estado do Rio Grande do

Norte para o extremo norte do Amazonas no municiacutepio de Satildeo Gabriel da Cachoeira (1ordm

BEC 2012) onde um ano mais tarde em 11 de Marccedilo de 1974 deu inicio a construccedilatildeo da

BR-307 em direccedilatildeo a localidade de Cucuiacute - AM na triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a

Venezuela (Figura 52) Em janeiro de 1982 o 1ordm BEC retornou a Caicoacute ficando em Satildeo

Gabriel da Cachoeira a 21ordm Companhia de Engenharia de Construccedilatildeo de Satildeo Gabriel da

Cachoeira popularmente conhecido como ldquoBatalhatildeo Seridoacuterdquo onde permanece ateacute os dias

atuais

Figura 52 BR-307- Satildeo Gabriel da Cachoeira Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

163

Com 204 km entre cidade de Satildeo Gabriel da Cachoeira e a localidade de CucuIacute na

triacuteplice fronteira Brasil Colocircmbia e a Venezuela a BR-307 tinha como principal funccedilatildeo

proteger a fronteira de possiacuteveis ameaccedilas de invasores Entretanto apesar dos esforccedilos do

1ordm BEC para a abertura da rodovia que por sinal demorou quase dez anos (19741982) a

estrada nunca chegou a ser pavimentada ficando somente em solo batido em toda sua

extensatildeo sendo posteriormente coberta com piccedilarra outro problema jaacute que a regiatildeo onde

estaacute localizada a rodovia deteacutem os mais elevados iacutendices pluviomeacutetricos do estado ficando

praticamente intransitaacutevel durante o periacuteodo chuvoso

Mas os problemas da estrada natildeo se limitam somente agrave ausecircncia de asfalto ou ao

alto iacutendice pluviomeacutetrico da regiatildeo mais ao acuacutemulo de muitos outros como as travessias

em trecircs trechos da estrada que eacute cortada por cursos drsquoaacutegua e a retirada da cobertura

vegetal nas margens entre outros problemas como a grilagem de terras e a retirada ilegal

de madeira

A rodovia BR-307 foi traccedilada teoricamente no sentido nortesul de Cucuiacute na

triacuteplice fronteira em direccedilatildeo ao Estado do Acre natildeo se sabe ao certo sua extensatildeo todavia

segundo o IBGE a mesma se encontra traccedilada (o que natildeo quer dizer trafegaacutevel)

Jaacute entre os municiacutepios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte em um trecho de

27km a BR-307 tambeacutem chegou a ser aberta entre as cidades de Benjamin Constant e

Atalaia do Norte (Figura 53 54)

164

Figura 53 BR-307- Benjamin Constant e Atalaia do Norte Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Figura 54 BR-307- Asfalto cedendo no 22 km Fonte SECON (2012)

165

Segundo o Plano de Integraccedilatildeo Nacional (BRASIL 1970) a cidade de Benjamin

Constant seria o ponto final da BR-230 (Transamazocircnica) todavia no trecho Laacutebrea ndash

Benjamin Constant a mesma nem sequer chegou a ser desmatada se concluiacuteda atravessaria

dois grandiosos rios Purus e o Juruaacute e outros importantes afluentes do rio Solimotildees Talvez

por essa razatildeo ou pela existecircncia de terras indiacutegenas neste trecho a rodovia nunca a chegou

efetivamente implantada ficando somente no papel

43 BR-230 - TRANSAMAZOcircNICA DE RODOVIA DE CHAtildeO BATIDO Agrave FAZENDAS DE GADO

Embora jaacute tenha sido descrita a reconfiguraccedilatildeo espacial no estado do Paraacute com a

construccedilatildeo da BR-230 a Transamazocircnica cabe aqui descrever a sua influecircncia no estado do

Amazonas

A rodovia Transamazocircnica corta o sul do estado do Amazonas nos municiacutepios de

Maueacutes Apuiacute Novo Aripuanatilde Manicoreacute Humaitaacute Canutama Laacutebrea (Figura 55)

166

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167

Da divisa do estado do Amazonas com o estado do Paraacute a rodovia chegou aacute ser

implantada (entende-se aqui retirada da cobertura vegetal e a terraplanagem) ateacute a cidade

de Laacutebrea

Assim como ocorreu no Paraacute a rodovia Transamazocircnica tambeacutem permitiu acesso a

lugares pouco ocupados no estado do Amazonas com destaque para os municiacutepios de Apuiacute

a Laacutebrea

O atual municiacutepio de Apuiacute foi um dos primeiros municiacutepios amazonenses a partir da

segunda metade do seacuteculo XX a sofrer pressatildeo ambiental atraveacutes do desmatamento e da

grilagem de terras para a fixaccedilatildeo de novos moradores na regiatildeo oriundos de outros estados

brasileiros

Outro municiacutepio a sentir os primeiros impactos do desmatamento na regiatildeo foi o

municiacutepio de Humaitaacute no sul do Estado do Amazonas pois para efetivar o

ldquodesenvolvimentordquo da regiatildeo sudoeste do Amazonas o Governo Federal fundou o Projeto

de Assentamento Rio Juma atraveacutes do decreto lei nordm 238 de agosto de 1982 tendo como

objetivo principal assentar 7500 famiacutelias recrutadas principalmente da Regiatildeo Sul do Brasil

(LEAL 2010)

Sobre isso Soares apud Leal (2010) afirma que

[] o objetivo definido no projeto de implantaccedilatildeo [do Projeto de Assentamento Rio Juma] era constituir-se e alternativa para absorver o fluxo migratoacuterio proveniente de Rondocircnia e do Acre atraveacutes da BR-319 [] onde se liga agrave rodovia Transamazocircnica Esse Projeto serviria como lsquoinstrumento de ordenaccedilatildeo de ocupaccedilatildeo de terras do Amazonas evitando instruccedilotildees e posses desordenadasrsquo E pressupunha lsquoa expansatildeo da fronteira agriacutecola a criaccedilatildeo de novos empregos aleacutem e contribuir para auto suficiecircncia regional de gecircneros alimentiacutecios de primeira necessidadersquo (SOARES apud LEAL 2010 p10)

Ainda segundo Leal (2010)

Estima-se que logo nos primeiros anos do Projeto cerca de 2600 famiacutelias tenham sido assentadas das quais apenas 40 permaneceram no assentamento Da criaccedilatildeo do projeto em 1982 ateacute o ano de 2005 estima-se que foram assentados 61334 famiacutelias no total mas destas apenas 503 receberam o tiacutetulo definitivo da terra (MDAINCRA apud LEAL 2010 p11)

Durante os anos que se seguiram novos migraccedilotildees chegaram anualmente agrave regiatildeo se

fixando no entorno do Projeto de Assentamento Rio Juma com os anos que se seguiram e o

crescimento da populaccedilatildeo os problemas foram sendo agravados diante disso surgiram

movimentos espontacircneos de agricultores reivindicando junto ao Governo do Estado do

168

Amazonas a fundaccedilatildeo de um municiacutepio na regiatildeo E atraveacutes da lei nordm 1826 de 30 de

Dezembro de 1987 eacute criado o municiacutepio de Apuiacute com aacuterea de 54240 kmsup2 (LEAL 2010)

Aacute medida que os ldquoparceleirosrdquo iam transformando a natureza adequando-a aos seus propoacutesitos esta ia lhes impondo adequaccedilotildees Este era um processo e produccedilatildeo de conhecimento a partir da vivecircncia praacutetica cotidiana que ia moldando o comportamento dos agricultores aos limites impostos pelo meio Uma das primeiras descobertas que vinha acompanhada de certa decepccedilatildeo era o fato de que em um lote de 100 hectares no [Projeto de Assentamento Rio Juma] natildeo garantia da forma desejada pelos ldquoparceleirosrdquo a reproduccedilatildeo social e econocircmica da famiacutelia (LEAL 2010 p 13)

Desta forma os parceleiros ou posseiros como ficaram conhecidos este

agricultores na regiatildeo Amazocircnica se viram obrigados a buscar nova fonte de renda optando

em grande maioria pela pecuaacuteria desde entatildeo

Outro municiacutepio foi Laacutebrea que segundo Heck et al (2013 p10) eacute resultado do

ldquoprocesso de expansatildeo da economia da borracha no rio Purusrdquo Embora isso tenha levado

um raacutepido crescimento populacional agrave regiatildeo fruto das incontaacuteveis migraccedilotildees que a regiatildeo

recebeu com a queda da borracha e os seringueiros restantes migrando para as cidades o

municiacutepio passa a enfrentar graves problemas econocircmicos e sociais e para piorar na

segunda metade do seacuteculo XX passa a sofrer com epidemias o que veio a intensificar os

processos de migraccedilatildeo em direccedilatildeo agraves cidades ldquoPor conta disso enquanto o censo de 1950

apontava [] uma populaccedilatildeo era de 23353 habitantes e no censo de 1970 a populaccedilatildeo

despencou para 16798 habitantesrdquo (HECK et al 2013 p10)

Com o inicio das obras de construccedilatildeo da rodovia Transamazocircnica (1972) e a

veiculaccedilatildeo no raacutedio de terras disponiacuteveis na Amazocircnia para homens sem terras surgem

novamente intensas migraccedilotildees para a regiatildeo oriundas de todas as partes do Brasil por esta

razatildeo o censo demograacutefico do municiacutepio de Laacutebrea de 1980 contabilizou a populaccedilatildeo em

22026 habitantes (IBGE 1980) um aumento de 12 da populaccedilatildeo que continuou a crescer

nas deacutecadas seguintes como mostra a (Tabela 10)

169

Tabela 10 Crescimento Populacional de Laacutebrea nas uacuteltimas cinco deacutecadas

Ano Populaccedilatildeo de aumento da Populaccedilatildeo

1970 16798 -

1980 22026 12

1990 33050 17

2000 28956 6

2010 37701 11

Fonte IBGE - Censo Demograacutefico (1970 1980 1990 2000 2010)

Tamanho contingente populacional migrou para a regiatildeo desta vez natildeo para

trabalhar na retirada do laacutetex mas para cultivar as terras com destaque para a produccedilatildeo de

alimentos divididos em dois grupos segundo a SEPLAN (20092012 p5) ldquo[] as culturas

temporaacuterias destacam-se mandioca abacaxi arroz batata doce cana de accediluacutecar feijatildeo

fumo e milho Entre as culturas permanentes ressaltam-se banana laranja e limatildeordquo

Todavia o municiacutepio tambeacutem se destaca na pecuaacuteria com a criaccedilatildeo bovina

bubalina ovino suiacuteno estimada em 288793 mil cabeccedilas (SEPLAM 20092013)

Apesar disso os 212 km que separam Laacutebrea de Humaitaacute ainda se encontram

somente em terra ldquobatidardquo (Figura 56) assim como todo o seu percurso no estado do

Amazonas Torna-se praticamente impossiacutevel trafegar pela Transamazocircnica no inverno e

escoar a produccedilatildeo agriacutecola dos municiacutepios entre se ou para a capital mais proacutexima que no

caso de Humaitaacute eacute Porto Velho-RO (pela BR-319) ou no caso de Laacutebrea para Rio Branco-AC

(pela BR-317)

170

Figura 56 Atoleiro na Transamazocircnica Fonte Rey (1 de Marccedilo 2012)

44 CONSTRUCcedilAtildeO DA BR-174 (MANAUS-AM A CACARAIacute- RR) DE CACcedilA AO IacuteNDIO AO

GENOCIacuteDIO DA ETNIA WAIMIRIA ATROARI

A BR-174 foi construiacuteda com o objetivo de ligar a capital do Estado do Amazonas

Manaus a cidade de Cacaraiacute em Roraima e posteriormente a Venezuela (Figura 57)

171

Figura 57 Localizaccedilatildeo da BR-174 Organizado Anne Dirane (2014) Adaptada Louzada (2014)

Entre as estradas jaacute construiacutedas no Estado do Amazonas a BR-174 merece

destaque pois ao contraacuterio das demais a sua construccedilatildeo resultou em milhares de mortes

chegando ateacute mesmo a ser considerada um genociacutedio praticado por militares contra a

populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari que antes da construccedilatildeo da rodovia ocupavam o norte

da cidade de Manaus - AM e se entendiam ateacute a cidade de Caracaraiacute em Roraima

Segundo Amazonas (2012) a primeira contagem da populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri

Atroari feita em 1905 pelos pesquisadores alematildees Georg Hunbner e Theodor Koch-

Grunberg contabilizaram 6000 mil indiviacuteduos Outra contagem dessa populaccedilatildeo somente

voltou a ser feita 63 anos depois da primeira em 1968 pelo padre Joatildeo Calleri a serviccedilo da

FUNAI que os contabilizou em 3000 mil indiviacuteduos

Nuacutemero que se repetiu em pesquisa mais minuciosa de funcionaacuterios do mesmo

oacutergatildeo em 1972 Menos de dois anos apoacutes sem notiacutecias sobre alguma grave

epidemia a FUNAI jaacute os estimava em menos de 1000 Em 1983 o pesquisador da

UNB Stephen Grant Baines percorrendo todas as aldeias contabilizou apenas 332

pessoas sobreviventes dos quais 216 eram crianccedilas ou jovens com menos de 20

anos Foi o primeiro censo dos Waimiri-Atroari (AMAZONAS 2012)

172

Sem informaccedilotildees ou notiacutecias de epidemias ou graves doenccedilas entre a populaccedilatildeo

indiacutegena Waimiri-Atroari como explicar o decreacutescimo da populaccedilatildeo ao longo de sessenta e

trecircs anos entre a primeira contagem e a segunda da populaccedilatildeo indiacutegena demonstrada na

Tabela 11

Tabela 11 Populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri-Atroari de 1905 a 2011

Ano Populaccedilatildeo Fonte 1905 6000 HUumlBNER Georg e KOCH-GRUNBERG Theodor 1968 3000 CALLERI Joatildeo Giovanni (Pe) ndash FUNAI 1972 3000 FUNAI 1974 6001000 COSTA Gilberto Pinto Figueiredo ndash FUNAI 1982 571 CRAVEIRO Giusepe ndash FUNAI 1983 350 FUNAI 1983 332 BAINES Stephen Grant ndash Museu Emilio Goeldi 1987 420 SILVA Marcio ndash UNICAMP 1991 505 Programa Waimiri-Atroari - ELETRONORTE 2011 1515 Programa Waimiri-Atroari ndash ELETROBRAS

Sobre isso Carvalho (1982) destaca atraveacutes de uma retrospectiva histoacuterica o

contato dos brancos com os iacutendios Wamiri Atroari a partir do seacuteculo XVII sempre baseado

em trocas e ldquoconflitosrdquo quando homens brancos invadiam suas terras e incendiavam aldeias

inteiras matando todos os iacutendios sem distinccedilatildeo e atirando nos que tentavam escapar

Carvalho (1982) relata ainda que na primeira deacutecada do seacuteculo XX incontaacuteveis

expediccedilotildees penetraram as terras indiacutegenas Waimiri Atroari em busca das castanheiras pois

naquele periacuteodo seu fruto a castanha da Amazocircnia alcanccedilou preccedilos inimaginaacuteveis

motivando um grande segmento da sociedade civil agrave invadir as terras indiacutegenas em busca do

fruto

Os governos do Estado do Amazonas sempre visando a economia do estado e de

grupos poliacuteticos dominantes permitiam e ate mesmo determinavam a invasatildeo das

terras dos iacutendios Waimiri Atroari provocando assim seacuterios atritos entre os

coletores de castanha e iacutendios

O primeiro encarregado do Posto lndiacutegena de Atraccedilatildeo do Serviccedilo de Proteccedilatildeo aos

Iacutendios mdash SPI foi o Sr Gregoacuterio Horta cuja unidade administrativa foi instalada no

rio Jauaperi no lugar denominado Mahaua Sr Gregoacuterio tatildeo logo assumiu suas

funccedilotildees procurou impedir por todos os meios possiacuteveis a invasatildeo do territoacuterio

indiacutegena Waimiri Atroari Entretanto pouco pode fazer pois os comerciantes

apoiados pelos poliacuteticos de Manaus burlavam as ordens de natildeo o invadirem a terra

dos iacutendios (CARVALHO 1982 p17)

Fonte 1ordm Relatoacuterio do Comitecirc Estadual da Verdade O Genociacutedio do Povo Waimiri-Atroari

173

Mesmo com a tentativa de proibir as invasotildees das terras indiacutegenas de todas as

maneiras possiacuteveis a Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio- SPI pouco se conseguiu para minimizar

os conflitos que por sua vez tornaram-se frequentes com grande nuacutemero de mortes o que

levou o governo do estado do Amazonas a aprovar o Decreto Lei nordm 9941 de 16 de Outubro

de 1917 que concedia aos iacutendios Waimiri Atroari as terras situadas a 50km ajusante dos rios

Jauapari e Camanau (CARVALHO 1982) Expulsando os iacutendios para o norte e os tirando de

suas proacuteprias terras para destinaacute-las agrave exploraccedilatildeo de castanha O que a princiacutepio seriam

ldquobomrdquo para os dois lados pois minimizaria os confrontos tornou-se insuficiente pois as

invasotildees continuaram adentrando as terras indiacutegenas gerando novos confrontos cada vez

mais violentos e com mais mortes Apesar disso a coleta da castanha da Amazocircnia somente

aumentava a produccedilatildeo a cada ano levando os coletores a iniciarem verdadeiras caccediladas

aos iacutendios que consistia em atirar para matar todos os iacutendios que fossem vistos na floresta

de formar a manter seguro os coletores (CARVALHO 1982)

Com os conflitos fora de qualquer forma de controle e o assassinato do diretor do

Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio sr Luiacutes Joseacute pelos invasores das terras indiacutegenas o SPI foi

obrigado a se retirar das terras indiacutegenas deixando os iacutendios a mercecirc da proacutepria sorte para

onde soacute retornariam na deacutecada de 1940 (CARVALHO 1982)

Amedrontados com os massacres infringidos por homens brancos dentro de suas

proacuteprias terras durante quase cinquentas anos os iacutendios mataram o tenente americano

Walter Willianson e sargento Baitz do ldquo4th Photo Charting Squadronrdquo em 1944

[]que pretendiam realizar uma expediccedilatildeo pelos rios Jauaperi e Alalau ateacute as

proximidades da cachoeira conhecida como a cachoeira criminosa (Rio Alalau) com a finalidade de realizar naquela regiatildeo observaccedilotildees astronocircmicas atendendo acordos celebrados entre o governo brasileiro e governo dos Estados Unidos da America (CARVALHO 1982 p 21)

Apoacutes este confronto com mortes muitos outros se seguiram contudo natildeo tatildeo

divulgados como esse Embora agrave primeira vista nada tenha a ver com o ocorrido a Empresa

de Mineraccedilatildeo Taboca iniciou suas pesquisas mineraloacutegicas na mina de Pitinga (no centro

das terras indiacutegenas) no inicio de 1960 onde mais tarde comeccedilou a retirada de estanho

(SILVA 2011) posteriormente de cassiterita entre outros produtos minerais

No mesmo periacuteodo iniciou-se a preocupaccedilatildeo de ligar definitivamente a capital

Manaus-AM agrave cidade de Boa Vista-RR ateacute entatildeo isolada embora outras tentativas de ligar

174

as duas cidades por via terrestre jaacute tenham sido realizadas sem muito ecircxito como descreve

Carvalho (1982)

Os trabalhos de construccedilatildeo da estrada (ligando Manaus a Boa Vista) foram iniciados em 31 de novembro de 1893 e concluiacutedos em 13 de janeiro de 1895 A construccedilatildeo da estrada foi feita em 14 meses medindo 815 km e 419 metros Foram cravados em toda sua extensatildeo 816 marcos de um metro de altura A estrada tinha uma largura que variava de 05 a 08 metros Atravessava 9 rios e 734 igarapeacutes Natildeo se tem nenhum registro de incidentes graves envolvendo trabalhadores da estrada e os iacutendios habitantes na regiatildeo onde a estrada passou Entretanto em pouco tempo a vegetaccedilatildeo cresceu e a estrada ficou novamente intransitaacutevel (CARVALHO 1982 p 61)

Ainda segundo Carvalho (1982)

O ministeacuterio do transporte atraveacutes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagens- DNER antes do iniacutecio da construccedilatildeo da estrada propriamente dita preocupado apenas em evitar que os trabalhos da estrada viessem a ser interrompidos pelos iacutendios Waimiri Atroari procurou a Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio- FUNAI e praticamente exigiu que aquele oacutergatildeo fizesse o mais raacutepido possiacutevel a ldquopacificaccedilatildeordquo daqueles iacutendios no menor espaccedilo de tempo para quando os trabalhadores da construccedilatildeo da rodovia atingissem a regiatildeo ocupada pelos iacutendios esses jaacute estivessem ldquomansosrdquo e ateacute viessem a colaborar como matildeo de obra da construccedilatildeo da estrada (CARVALHO 1982 p 62)

O que claramente seria impossiacutevel conseguir em tatildeo curto espaccedilo de tempo apagar

as longas deacutecadas de perseguiccedilatildeo infringidas pelos brancos

Segundo Amazonas (2012 p23)

O Coronel Mauro Carijoacute Diretor do DERAM (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Amazonas) em carta agrave PETROBRASEscritoacuterio de Beleacutem de 30 de julho de 1967 solicitou ldquoinformaccedilatildeo sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboraccedilatildeo de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonasrdquo(AMAZONAS 2012 p23)

Naquele mesmo ano iniciam-se as obras de construccedilatildeo da BR-174 sob

responsabilidade do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado do Amazonas-DER-

AM permanecendo sob supervisatildeo do Departamento Nacional de Estrada de Rodagens ndash

DNER (CARVALHO 1982)

Por falta de recursos financeiros a construccedilatildeo da rodovia foi suspensa

temporariamente sendo retomada no final de 1969 e inicio de 1970 jaacute sobe

responsabilidade do 29ordm Grupamento de Engenharia e Construccedilatildeo e o 69ordm Batalhatildeo de

Construccedilatildeo do Exeacutercito Brasileiro o que veio a intensificar ainda mais os ldquoconflitosrdquo entre

brancos e iacutendios

175

Amazonas (2012) relata a entrevista do general Arruda comandante do 6ordm Batalhatildeo

de Engenharia e Construccedilatildeo- BEC ao Jornal Estado de Satildeo Paulo em 21 de Janeiro de 1975

O general declarou

[] a estrada eacute irreversiacutevel como eacute a integraccedilatildeo da Amazocircnia ao paiacutes A estrada eacute importante e teraacute que ser construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos mudar o seu traccedilado que seria oneroso para o Batalhatildeo apenas para pacificarmos primeiro os iacutendios A transferecircncia eacute viaacutevel e coerente nas condiccedilotildees em que os fatos se apresentam Os iacutendios continuaratildeo matando sejam trabalhadores do BEC sejam da Funai Por que natildeo levaacute-los ao Parque Nacional do Xingu Laacute natildeo existem cerca de 14 tribos vivendo pacificamente Manaus-Caracaraiacute seraacute construiacuteda custe o que custar Natildeo vamos parar os trabalhos apenas para que a Funai complete a atraccedilatildeo dos iacutendiosrdquo (AMAZONAS 2012 p42)

Um ano antes em 1974 os iacutendios jaacute foram contabilizados entre 600 e 1000

indiviacuteduos segundo a contagem de Gilberto Costa funcionaacuterio da FUNAI (AMAZONAS 2012)

O principal impacto natildeo soacute aos iacutendios mas agrave biodiversidade da Amazocircnia ainda

estava por vir Expulsos de suas terras ajusante do Rio Alalauacute e Uatumatilde os iacutendios Waimiri

Atroari se viram obrigados a recuar abandonando o seu territoacuterio original Com o recuo dos

iacutendios remanescentes em sua maioria mulheres idosas e crianccedilas de colo seu antigo

territoacuterio passa a ser ocupado por grileiros e empresas madeireiras que viriam a ser um dos

responsaacuteveis pelas grandes mudanccedilas empreendidas na paisagem amazocircnica

Com a decisatildeo do Governo Federal de instalar usinas hidreleacutetricas na Amazocircnia a

partir da deacutecada de 1970 cogitou-se a possibilidade de o rio Uatumatilde ser ldquobeneficiadordquo

embora natildeo detenha as caracteriacutesticas miacutenimas necessaacuterias para a construccedilatildeo de uma

hidreleacutetrica em seu percurso Natildeo se sabe ao certo os motivos que levaram agrave construccedilatildeo da

hidreleacutetrica embora infinitas possibilidades tenham sido levantadas no periacuteodo Entre elas

ldquo[] a necessidade de prover energia para os entatildeo Polos de Desenvolvimento que

priorizava 15 aacutereas na Amazocircnia sendo uma delas a regiatildeo de Manausrdquo (PAZ 2006 p172)

Sobre isto Fearnside (1990c) destaca

A decisatildeo foi tomada no momento em que o preccedilo do petroacuteleo estava no seu pico mais alto e quando a tecnologia de transmissatildeo de energia a longa distacircncia natildeo era tatildeo bem desenvolvida quanto agora Estes fatos acrescidos das subestimativas grosseiras do crescimento da populaccedilatildeo e da demanda de energia em Manaus satildeo as explicaccedilotildees oficiais para a decisatildeo inicial que a ELETRONORTE admite natildeo teria sido justificaacutevel se os acontecimentos da uacuteltima deacutecada (80) tivessem sido conhecidos de antematildeo (FEARNSIDE apud LOPES 1990c p14)

176

Fearnside (1990c) afirma ainda que outra motivaccedilatildeo por traacutes da construccedilatildeo de

ldquoBalbina envolve a indenizaccedilatildeo que os donos das terras receberiam Mapas da Eletronorte

indicam que com exceccedilatildeo das terras tomadas da tribo Waimiri Atroari quase toda a aacuterea do

projeto pertence a particularesrdquo (FEARNSIDE 1990c p16)

No inicio da deacutecada 70 diversos projetos de mapeamento geomorfoloacutegicos viriam a

detectar potencial mineraloacutegico na regiatildeo com destaque para o Projeto RADAMBRASIL

(1970) pioneiro no mapeamento em escala de 11000000 Projeto Norte da Amazocircnia

Domiacutenio do Baixo Rio Negro (1974) O projeto Estanho de Abonari (1976) seria o primeiro a

direcionar os estudos agrave regiatildeo e por uacuteltimo Projeto Sulfetos do Uatumatilde (1979) (CPRM 1998)

desvendaria todos os tipos de mineacuterios disponiacuteveis na bacia do rio Uatumatilde e seus afluentes

o que determinaria o futuro da regiatildeo Motivo popularmente mais aceito para a construccedilatildeo

da hidreleacutetrica de Balbina pois facilitaria a extraccedilatildeo de mineacuterios da aacuterea especialmente a

cassiterita (estanho) (FEARNSIDE 1990c p15)

Apesar de estudos ambientais para a construccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Ballbina terem

sido iniciados em 1979 natildeo serviam de base para a decisatildeo jaacute tomada da implantaccedilatildeo da

obra apesar dos estudiosos se mostrarem abertamente contra a obra faraocircnica (PAZ 2006)

Com o Decreto Presidencial nordm 85898 de 13 de abril de 1981 desapropriando uma

aacuterea de 1034490kmsup2 tem inicio a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de Balbina (PAZ 2006

p176)

Com o inicio do Projeto Pitinga (do Grupo Paranapanema a montante da Usina

Hidreleacutetrica de Balbina para a retirada de cassiterita) em 1980 iniciam-se tambeacutem as

pressotildees sobre o Ministeacuterio do Interior de forma a conseguir a reduccedilatildeo novamente da

Reserva Indiacutegena alcanccedilada pelo Decreto Lei nordm 86630 de 23 de novembro de 1981 que

perde 526800ha (PAZ 2006 p178) para a exploraccedilatildeo mineral da Mineradora Taboca

(Grupo Paranapanema)

Segundo Fearnside (1990c)

Devido aos impactos sobre os Waimiri-Atroari impliacutecito nos planos para Balbina a Franccedila e o Brasil foram acusados de genociacutedio no Quarto Tribunal Bertrand Russel em Rotterdam na Holanda em novembro de 1980 Severos como os impactos do reservatoacuterio a sua classificaccedilatildeo como ldquogenociacutediordquo foi provavelmente influenciada mais pelos massacres associados aacute atividades (brasileiras) de construccedilatildeo rodoviaacuteria no territoacuterio da tribo durante a eacutepoca em que Balbina estava em fase de planejamento em especial em 1974 - 1975 (FEARNISIDE 1990c p33)

177

Foi agrave Franccedila o primeiro paiacutes a contribuir com financiamento para construccedilatildeo da

Hidreleacutetrica de Balbina e o fornecimento de suas duas primeiras turbinas Apesar da

descoberta do ouro na aacuterea que seria inundada pouco foi feito para frear a sua construccedilatildeo

pois segundo o ldquoDepartamento de Produccedilatildeo Mineral natildeo foi encontrada nenhuma grande

jazidardquo (FEARNSIDE 1990c p16)

Sobre a aacuterea a ser inunda pela Usina Hidreleacutetrica de Balbina Baines (2012) descreve

que haacute poucos meses antes da inundaccedilatildeo e do fechamento das comportas da empresa foi

feito um relatoacuterio de impacto ambiental destacando as aacutereas e as benfeitorias que existiam

nas terras casas galinheiros casas de farinha plantaccedilotildees de bananeiras entre outras

culturas (BAINES 2012) que seriam inundadas dentro da reserva indiacutegena original quando

as comportas fossem fechadas em outubro de 1987

Com o fechamento das comportas prestes a acontecer a Eletronorte e a Funai

entraram em acordo atraveacutes da adoccedilatildeo de medidas mitigadoras que consistiam em criar

um programa chamado Programa Waimiri Atroari PWAIFE que tivesse como objetivos

recompensar os iacutendios da etnia Waimiri Atroari pela perda de suas terras (PAZ 2006)

Sobre isso Baines (1993) destaca que o programa Programa-Waimiri conseguiria

significativos benefiacutecios agrave populaccedilatildeo indiacutegena principalmente na aacuterea da sauacutede e na

homologaccedilatildeo de terras

Ainda sobre a inundaccedilatildeo da Hidreleacutetrica de Balbina Fearnside (1990c) aponta

A perda da floresta eacute um dos principais custos de grandes represas como Balbina A aacuterea prejudicada eacute muito maior que os 2360kmsup2 realmente inundados jaacute que a inclusatildeo de ilhas aproximadamente duplica a aacuterea afetada Apesar da promoccedilatildeo pela ELETRONORTE das ilhas como tendo ldquocondiccedilotildees de vida para animais e plantas [] sabe-se que uma floresta dividida em pequenos fragmentos perde muitas espeacutecies de animais e plantas aacute medida em que os pedaccedilos isolados de floresta se degradamrdquo (FEARNSIDE apud LOVEJOY et al 1990c p26)

Fearnside (1990c) vai aleacutem ao afirmar que natildeo se sabe ao certo o tamanho da aacuterea

que foi inundada devido agraves informaccedilotildees serem baseadas em fotografias aeacutereas onde as

fotos registram o niacutevel da copa das aacutervores e natildeo o chatildeo por debaixo delas ldquojaacute que uma

parte significativa da represa teraacute apenas um ou dois metros de profundidade erros desta

grandeza podem facilmente alterar o resultado finalrdquo (FEARNSIDE 1990c p26)

Inaugurada parcialmente em outubro de 1987 a Usina Hidreleacutetrica de Balbina teve

somente uma turbina ligada o que natildeo impediu que houvesse mortandade de peixes em

178

grande quantidade ajusante da mesma principalmente provocada pela aacutegua carregada de

gaacutes metano e resiacuteduos em decomposiccedilatildeo das aacutervores natildeo retiradas de dentro da barragem

Sobre isso Fearnside (1990c) relata ainda que foram submersos 288msup3 de

madeira nobre por hectare um total calculado em 68 milhotildees de msup3 de madeira na aacuterea de

2360kmsup2 do reservatoacuterio ficaram apodrecendo na aacutegua

Baldisseri (2005) vai aleacutem comparando o tamanho do reservatoacuterio de Balbina ao de

reservatoacuterio da Usina Hidreleacutetrica de Tucuruiacute

[] cuja capacidade nominal eacute de 8 mil MW o que significa que Balbina sacrificou 31 vezes mais floresta por MW de capacidade de geraccedilatildeo instalada quando comparada agravequele Aleacutem disso o reservatoacuterio de Balbina alagou cerca de 240 mil ha de floresta tropical contendo siacutetios arqueoloacutegicos e parte da reserva indiacutegena dos Waimiri-Atroari (BALDISSERI 2005 p1435)

Ainda continua destacando a pouca declividade do lago de Balbina que ocupa uma

aacuterea de 2360kmsup2 mas

[]apresenta uma profundidade meacutedia de 7 m chegando a menos de 4 m em cerca de 33 de sua aacuterea total Nesta extensa aacuterea de aacuteguas rasas haacute a sustentaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo aquaacutetica enraizada no fundo que adicionada ao problema de macroacutefitas flutuantes afeta toda a represa aumentando os iacutendices de perda de aacutegua por evapotranspiraccedilatildeo (BALDISSERI 2005 p1436)

Apoacutes a sua inauguraccedilatildeo outros problemas se seguiram entre eles a lenta subida das

aacuteguas dentro da barragem em parte por causa da pouca declividade do terreno em parte

pela evapotranspiraccedilatildeo Sendo a segunda turbina ligada somente dois anos depois da

inauguraccedilatildeo em 1989

No mesmo ano a populaccedilatildeo indiacutegena Waimiri Atrori teve suas terras demarcadas

definitivamente (FIGURA 58)

179

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45 BR-319 O ldquoSONHOrdquo DO FIM DO ISOLAMENTO

A rodovia BR-319 foi instituiacuteda pelo Decreto Lei nordm 1106 de marccedilo de 1970 como

parte do Plano Nacional de Viaccedilatildeo que tinha como prioridade maacutexima a integraccedilatildeo

nacional

A BR-319 ligaria por via terrestre as cidades de Manaus-AM a Porto Velho-RO

facilitando assim o escoamento da produccedilatildeo da Zona Franca de Manaus ndash ZFM criada pelo

Decreto Lei nordm 288 de 29 de Fevereiro de 1967 que estabelecia incentivos fiscais por trinta

anos para a implantaccedilatildeo de um polo industrial comercial e agropecuaacuterio no estado do

Amazonas (SUFRAMA 1996)

No mesmo ano de 1967 por meio do Decreto-Lei nordm 291 o Governo Federal define a Amazocircnia Ocidental tal como ela eacute conhecida abrangendo os Estados do

Amazonas Acre Rondocircnia e Roraima A medida visava promover a ocupaccedilatildeo dessa regiatildeo e elevar o niacutevel de seguranccedila para manutenccedilatildeo da sua integridade Um ano

depois em 15 de agosto de 1968 por meio do Decreto-Lei Nordm 35668 o Governo Federal estendeu parte dos benefiacutecios do modelo ZFM a toda a Amazocircnia

Ocidental (SUFRAMA 1996)

Desse modo se fazia extremamente importante interligar o estado do Amazonas e

promover a sua ocupaccedilatildeo nada melhor do que ligaacute-lo por via terrestre ao estado de

Rondocircnia que por sua vez sofria uma grande explosatildeo populacional causada pela

ldquoimplantaccedilatildeo da rodovia Cuiabaacute ndash Porto Velho (BR-364) com traacutefego permanente a partir de

1968 e as notiacutecias das disponibilidade de terras provocaram uma mudanccedila niacutetida no fluxo

migratoacuteriordquo (CUNHA 2009 p12)

Com a publicaccedilatildeo do Decreto Lei de nordm 5173 de outubro de 1966 no qual o

governo federal considerava indispensaacutevel a seguranccedila e ao desenvolvimento nacional as

terras situadas na faixa de 100km de largura em cada lado do eixo rodoviaacuterio construiacutedo ou

planejado na Amazocircnia Legal deveriam ser ocupadas (revogado pelo Decreto Lei nordm 2375

de 1987) (FEARNSIDE 2009d)

Sobre o fluxo migratoacuterio Cunha (2009) destaca

No cocircmputo geral os maiores contingentes migratoacuterio no dececircnio 196070 procedeu do Amazonas do proacuteprio territoacuterio do Mato Grosso do Acre e do Paranaacute Os deslocamentos dentro do territoacuterio se devem a procura de aacutereas de solos melhores e mais bem servidas de transportes com preferecircncia para as situadas ao longo da BR-364 Segundo os dados censitaacuterios a entrada de migrantes

181

no periacuteodo 195060 foi considerada de 23156 O maior contingente procedeu da Amazocircnia com 12873 migrantes entre os quais Amazonas com 8147 nordeste com 5693 dos quais 4439 cearenses Entre as transformaccedilotildees ocorridas na economia regional deve ser considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura devido a criaccedilatildeo das colocircnias agriacutecolas pelo governo abastecimento das cidades de Porto Velho e Guajaraacute Mirim (CUNHA 2009 p15)

Rodrigues (2013) evidecircncia

[] Rondocircnia foi outro estado profundamente impactado ou melhor mais beneficiado com o forte processo migratoacuterio ocorrido Na Tabela 7 estaacute demonstrado todo o crescimento demograacutefico dos estados do Norte a partir dos anos 50 elucidando como esses impactos foram sentidos em todas as unidades federativas da regiatildeo no entanto de forma diferenciada entre eles (RODRIGUES 2013 p118)

O autor afirma isto baseado no crescimento populacional da regiatildeo norte entre os

anos 1950 e 2010 (Tabela 12)

182

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183

Rodrigues apud Benchimol (2012) descreve que

[] as correntes migratoacuterias que se dirigiram para Rondocircnia tiveram especifica motivaccedilatildeo assentamento agriacutecola nos projetos de colonizaccedilatildeo do INGRA voltados para a pequena e meacutedia propriedade familiar [] Por fim o estado do Amazonas teve senatildeo um uacutenico ao menos hegemocircnico chamariz migratoacuterio a criaccedilatildeo da Zona Franca de Manaus em 1967 (RODRIGUES apud BENCHIMOL 2013 p120)

Todavia no caso ligar Porto Velho agrave Manaus os esforccedilos satildeo anteriores a instalaccedilatildeo

da Zona Franca de Manaus pois ldquoEm 1955 o DER-AM (Departamento de Estrada e Rodagem

do Amazonas) realizou o projeto geomeacutetrico de 193km da rodovia entre Porto Velho e

Humaitaacute e trecircs anos depois foi realizado o serviccedilo de desmatamento no trecho com largura

de 60 metrosrdquo (UFAM2009 vol1 p29) Faltando somente o trecho Humaitaacute ndash Manaus

para completar uma rodovia ligando Manaus aos outros estados da regiatildeo centro oeste e ao

sul do paiacutes o que soacute viria a ser colocado em praacutetica quando a responsabilidade dessa

construccedilatildeo fosse delegada ao estado o que ocorreu em 1966 cabendo

ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-AM) o controle e a fiscalizaccedilatildeo da construccedilatildeo da rodovia BR-319 graccedila a um termo de convecircnio celebrado com o Ministeacuterio dos Transportes e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem ndash DNER (UFAM 2009 vol1 p29)

Sobre isso DNIT apud UFAM (2009) afirmam que ldquoem 06 de maio de 1968 o DER-

AM firmou dois contratos com a construtora Andrade Gutieacuterrez SA para a execuccedilatildeo de

obras de implantaccedilatildeo baacutesica da rodovia nos sub trechos Careiro da Vaacuterzea e o Rio Matuperi

(326km) e do rio Matuperi a Porto Velho (426 km) (UFAM2009 vol1 p30)

Em entrevista com os moradores da Comunidade da Bela Vista o Sr Silva (77 anos)

disse ter trabalhado na construccedilatildeo da BR-319

[] em 1970 daqui do Careiro do outro lado ateacute leacutem baixo perto de Miracena eu trabalhava no trator eu e o outro colega iamos na frente com a corrente durrubando a floresta dando o abraccedilo da morte era um barrulho muito alto muita gente que trabalhava laacute dizia que era a floresta chorando pois tava caindo Era cada aacutervore grande bonita mas a gente piatildeo tinha que botar no chatildeo eu fazio o que me mandavam Nunca comi tanta caccedila como comi na construccedilatildeo da estrada era bom e triste ao mesmo tempo eu natildeo sei explicarrdquo ( SILVA 77 ANOS)

O entrevistado refere-se agrave teacutecnica utilizada na derrubada da floresta para a

construccedilatildeo da rodovia que consistia de dois tratores relativamente afastados mas

paralelos que arrastavam uma gigantesca corrente de ferro fundido que por sua vez era

pressionado contra o tronco das aacutervores derrubando as mesmas no traccedilado da rodovia

184

teacutecnica popularmente conhecida na regiatildeo como ldquoAbraccedilo da Morterdquo Ao mesmo tempo o Sr

Silva mostrou-se ressentido por ser obrigado a derrubar a floresta ldquoEra cada aacutervore grande

bonita mas a gente piatildeo tinha que fazer o que me mandavamrdquo(SILVA 77 ANOS)

Ainda sobre a construccedilatildeo o Sr Silva (77 anos) disse

natildeo tinha piatildeo que aguentasse muito tempo trabalhando laacute de dia era o choro das aacutervores caindo no chatildeo dava muita tristeza vecirc doiacutea ateacute o coraccedilatildeo de noite eram os bichos da floresta gritando as onccedilas passando ainda mais quando sumia gente e a gente que ficava natildeo encontrava nem o chinelo para contar histoacuteria dava muito medo Isso sem falar quando botava pra chover chovia muito muito tinha ateacute que cobrir o asfalto com uma lona e a lama que ficava era horriacutevel (SILVA 77 ANOS)

Para Fearnside (2009d) a pressa era tanta de se terminar a BR-319 que a rodovia

foi pavimentada imediatamente na hora da construccedilatildeo que por final foi construiacuteda na

estaccedilatildeo chuvosa ldquocom a extraordinaacuteria praacutetica de proteger o asfalto fresco com lonas de

plaacutesticordquo (FEARNSIDE 2009d p20)

Em 1970 uma ediccedilatildeo especial do Jornal do Comercio anunciava que o trecho Porto Velho ndash Humaitaacute jaacute apresentava condiccedilotildees de traacutefego enquanto o trecho Humaitaacute ndash Manaus estava com o desmatamento completo e boa parte da terraplanagem estava realizada A cargo da construtora Andrade Gutierrez as obras caminhavam e a expectativa com a conclusatildeo dos trabalhos era chegar ao ldquotermo final do longo isolamento em que esteve nosso Estado sem ligaccedilatildeo rodoviaacuteria com o centro-sul do paiacutes abrindo ao Amazonas amplas perspectivas de desenvolvimentordquo A despeito de todas as expectativas as dificuldades natildeo eram despreziacuteveis e os prazos contratuais natildeo foram cumpridos a despeito da forte pressatildeo do governo federal para a conclusatildeo urgente da obra (UFAM 2009 vol1 p30)

A rodovia BR-319 somente foi inaugurada ldquoem 27 de marccedilo de 1976

completamente pavimentada garantindo traacutefego faacutecil com tempo de viagem de Manaus agrave

Porto Velho estimado em 12 horasrdquo (UFAM 2009 vol1 p30) Uma estimativa longa se

comparada ao tamanho da rodovia que eacute de 87740km Todavia eacute justificaacutevel pois a mesma

apresentava 19 cursos drsquoaacuteguas de diferentes larguras e profundidades (UFAM 2009 RIMA

p10) Na maioria dos cursos drsquoaacutegua foram construiacutedas pontes de madeira em outros cursos

maiores as travessias eram feitas por pequenas balsas (Figura 59)

185

Figura 59 Ponte de madeira sobre um curso drsquoaacutegua na BR-319 Fonte EIA-RIMA Relatoacuterio FINAL (UFAM 2009)

Com ausecircncia de manutenccedilatildeo nos anos que se seguiram agrave sua inauguraccedilatildeo a

rodovia BR-319 comeccedilou a se deteriorar Primeiramente as pontes construiacutedas de madeira

retiradas da proacutepria floresta sobre os cursos drsquoaacutegua foram se deteriorando e pouco tempo

depois o asfalto

A camada fina de asfalto na BR-319 se tornou uma seacuterie quase contiacutenua de buracos que satildeo ambos mais difiacuteceis de consertar e mais danosos aos veiacuteculos do que seria o caso de uma estrada sem pavimento Muito da rota teve que ser desviado para trilhas temporaacuterias ao lado da estrada mais do que o proacuteprio leito da rodovia (FEARNSIDE 2009 p22)

Isso sem levar em conta que na deacutecada de 70 a produccedilatildeo da Zona Franca de

Manaus foi exportada de forma mais barata por meio de navios e ateacute por via aeacuterea

(FEARNSIDE 2009d)

Apesar das precaacuterias condiccedilotildees da BR-319 a mesma permaneceu aberta ao traacutefego

ateacute maio de 1988 quando os serviccedilos de transporte rodoviaacuterio entre as capitais Manaus-AM

e Porto Velho-RO foram suspensos devido agraves peacutessimas condiccedilotildees da rodovia como

permanece ateacute hoje sem condiccedilotildees de trafegar

Embora muitos amazonenses e rondonienses de modo geral se mostrem favoraacuteveis

agrave reabertura da BR-319 como se tem cogitado inuacutemeras vezes nas uacuteltimas deacutecadas satildeo os

186

amazonenses que se mostram mais receosos com essa probabilidade referindo-se a ela

como ldquoa destruidora da floresta quando abertardquo usando como referecircncia a construccedilatildeo da

rodovia Beleacutem ndash Brasiacutelia ou ateacute mesmo o trecho ainda trafegaacutevel da BR-319 ateacute os dias

atuais localizado entre Porto Velho-RO e Humaitaacute-AM pois o mesmo

[] foi colonizado por pequenos agricultores em lotes de 100ha distribuiacutedos pelo Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria (INGRA) A maioria destes lotes jaacute mudou de matildeos uma ou mais vezes ateacute agora e estaacute consolidada em pequenas ldquofazendolasrdquo de 500ha ou mais (FEARNSIDE 2009d p22)

Sobre isso o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2013d) aponta o municiacutepio de Humaitaacute no

sul do estado como tendo a maior demanda por regularizaccedilatildeo fundiaacuteria do Estado do

Amazonas

Satildeo problemas de origem antiga e aparecem principalmente a partir da abertura das rodovias Transamazocircnica (BR-230) e BR-319 A histoacuteria da ocupaccedilatildeo se relaciona aos dois ciclos da borracha e se intensifica na deacutecada de 1970 como resultado dos projetos de colonizaccedilatildeo e das poliacuteticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo militar na Amazocircnia (MISTEacuteRIO PUacuteBLICO FEDERAL 2013 p9)

Com territoacuterio de 33 07179kmsup2 o municiacutepio de Humaitaacute tem 1335977ha

demarcados como reservas indiacutegenas de 8 etnias (Pirahatilde Diahui Ipixuna Nove de Janeiro

Tenharim Marmelos Tenharim Marmelos (Gleba B) Sepoti Toraacute) e ainda conta com uma

unidade de conservaccedilatildeo federal a Floresta Nacional de Humaitaacute com aacuterea de 47315466ha

(ICMBIO 2013) localizada no sul do municiacutepio

Apesar disso os conflitos entre agricultores e posseiros tornaram-se comuns ao

longo das rodovias BR-319 e BR-230 onde estaacute localizada a maioria dos assentamentos

agraacuterios realizados pelo INCRA na deacutecada de 70

Sobre isso Fearnside (2009) afirma que a regiatildeo de Manaus tem sido poupada de

conflitos agraacuterios resultantes de busca por terra tais como a invasatildeo de fazendas por sem

terras e o ciclo resultante de desmatamento onde os posseiros desmatam para estabelecer

agraves suas reivindicaccedilotildees e os grandes proprietaacuterios de terras desmatam para evitar que as

terras sejam invadidas ou entatildeo confiscadas pelo governo para fins de reforma agraacuteria

O Projeto de Monitoramento da Floresta Amazocircnica Brasileira por Sateacutelite- PRODES

(2012) confirmar a preocupaccedilatildeo de Fearnside (2009) (Tabela 13)

187

Tabela 13 Porcentagem de desflorestamento no municiacutepio de Humaitaacute (2000 - 2012)

Embora a perda total de cobertura vegetal possa parecer pequena se comparada

ao tamanho do territoacuterio aacute mesma natildeo foi uma vez que foi sobre aacutereas que por lei

deveriam ser mantidas preservadas O mesmo poderia ter ocorrido em toda a BR-319 se ela

natildeo tivesse tido o seu traacutefego suspenso em 1988

Para Rodrigues apud Macedo et al (2009) o municiacutepio de Humaitaacute sofre os efeitos

do deslocamento de atividades capitalizadas do Mato Grosso em direccedilatildeo a terras

ldquodisponiacuteveisrdquo do Estado do Amazonas

Segundo Macedo et al (2009)

No municiacutepio de Humaitaacute (AM) as apreensotildees com relaccedilatildeo a esse processo se pronunciam sob diferentes aspectos de um lado expectativas de uma produccedilatildeo de gratildeos em larga escala cujas vantagens derivariam do baixo custo de escoamento da produccedilatildeo pela hidrovias dos rios Madeira e Amazonas ateacute o porto da cidade de Itacoatiara por outro lado preocupaccedilotildees quanto agrave sustentabilidade dos solos predominantes nas aacutereas de expansatildeo inicial das culturas de gratildeos (Plintossolos ndash fase cerrado) questionam a sustentabilidade desta classe de solo tanto econocircmica quanto ambiental deste sistema de uso da terra (MACEDO et al 2009 p5934)

Humaitaacute Perda Florestal ao ano

2000 160

2001 172

2002 174

2003 177

2004 182

2005 186

2006 188

2007 192

2008 198

2009 200

2010 202

2011 205

2012 208

Total 2444

Fonte INPEPRODES 2012 Adaptada Camila Louzada 2013

188

Macedo et al (2014) afirmar que o desmatamento no municiacutepio de Humaitaacute

[] caracteriza-se pela sua concentraccedilatildeo no entorno das rodovias BR-319 E BR-230

que se cruzam proacuteximo agrave sede do municiacutepio Esses eixos rodoviaacuterios concentram

espacialmente as principais atividades econocircmicas como a agricultura a pecuaacuteria

e a exploraccedilatildeo madeireira que embora em intensidade tambeacutem se desenvolvem

em torno do rio Madeira e seus afluentes (MACEDO et al 2014 p5935)

No entanto o existe por parte Governo do Estado do Amazonas forte interesse na

reabertura desta rodovia sobre o falso pretexto da ldquonecessidaderdquo de ligar o estado ao

restante do paiacutes por via terrestre embora tenham conhecimento dos custos (em todos os

sentidos) de tatildeo faraocircnica e desnecessaacuteria obra

Buscando viabilizar a reabertura da BR-319 e promover a ldquogovernanccedila ambientalrdquo

o Governo do Estado do Amazonas propocircs a criaccedilatildeo de Unidades de Conservaccedilatildeo ao longo

de toda a BR-319 muito embora se reconheccedila que essas aacutereas protegidas padecem de

fiscalizaccedilatildeo e de deliberaccedilotildees que envolvem a questatildeo fundiaacuteria (SANTOS 2013)

Sobre as Unidades de Conservaccedilatildeo em fase de consulta puacuteblica para serem criadas

satildeo elas Reserva Sustentaacutevel Igapoacute - Accedilu (no municiacutepio do Careiro da Vaacuterzea) Reserva

Extrativista Canutama ( Sul do Estado do Amazonas e Norte do Estado de Rondocircnia)

Floresta Floresta Estadual Canutama (Canutama) Reserva de Desenvolvimento Sustentaacutevel

do Matupiri (Borba) Parque Estadual do Matupiri (Borba) Reserva de Desenvolvimento

Sustentaacutevel Rio Madeira (Novo Aripuanatilde) Floresta Estadual de Tapauaacute (Tapauaacute)

(AMAZONAS2014)

46 OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VISAtildeO DOS MORADORES DA BELA VISTA E DO

MANAQUIRI COM A CONSTRUCcedilAtildeO DA PONTE SOBRE O RIO SOLIMOtildeES

Partindo do conceito de impacto ambiental definido pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA (1986) em seu artigo 1ordm

Considera com impacto ambiental qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesica quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante de atividades humanas que direta ou indiretamente afetam

I ndash a sauacutede a seguranccedila e o bem estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees de esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA 1986 p1)

189

Ainda segundo o CONAMA (1986)

Art2ordm Dependeraacute da elaboraccedilatildeo do estudo de impacto ambiental- IEA e DO respectivo relatoacuterio de impacto ambiental-RIMA a serem submetido agrave aprovaccedilatildeo do oacutergatildeo estadual competente e da Secretaacuteria Especial do Meio Ambiente SEMA em caraacuteter supletivo a licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente [] (CONAMA 1986 p2)

Diante disso o CONAMA em sua Resoluccedilatildeo nordm237 de 19 de Dezembro de 1997 em

seu artigo 3ordm dispotildee

Estudos Ambientais satildeo todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados agrave localizaccedilatildeo instalaccedilatildeo operaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsiacutedio para a anaacutelise da licenccedila requerida tais como relatoacuterio ambiental projeto de controle ambiental relatoacuterio ambiental preliminar diagnoacutestico ambiental plano de manejo plano de recuperaccedilatildeo de aacuterea

degradada e anaacutelise preliminar de risco (CONAMA 1997 p2)

Os principais documentos exigidos para o licenciamento ambiental estatildeo divididos

em duas categorias a) o Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatoacuterio de Impacto

Ambiental ndash RIMA para toda obra geradora de impactos b) o Plano de Controle Ambiental ndash

PCA para empreendimentos que teoricamente natildeo produzam impactos

Para os empreendimentos geradores de impactos o CONAMA tem uma legislaccedilatildeo

especifica instituiacuteda pelo Decreto Federal nordm 97632 de abril de 1989 que criou o Plano de

Recuperaccedilatildeo de Aacutereas Degradadas - PRAD que deveraacute ser apresentado juntamente com o

EIARIMA quando o empreendimento for destinado agrave exploraccedilatildeo de recursos minerais

(BRASIL 1989 p1)

Embora a aparente abrangecircncia das leis exija uma seacuterie de estudos ambientais

antes de qualquer obra o mesmo natildeo garante o impacto zero no meio ambiente somente

tenta diagnosticar os possiacuteveis impactos de cada empreendimento ldquopropondo medidas

compensatoacuteriasrdquo

Todavia se nos relatoacuterios natildeo for possiacutevel ldquopreverrdquo todos os impactos de uma obra

o que se poderaacute fazer para minimizar seus impactos posteriormente quando surgirem

mesmo os natildeo diagnosticados com antecedecircncia Essa pergunta por enquanto ainda natildeo

tem uma resposta satisfatoacuteria

Eacute vaacutelido promover o conhecimento puacuteblico em geral a informaccedilatildeo de os

profissionais responsaacuteveis pela elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA de um empreendimento que satildeo

pagos pelo interessado na construccedilatildeo desse empreendimento desta forma eacute questionaacutevel

190

seus posicionamentos no relatoacuterio final principalmente se o maior interessado na

construccedilatildeo for o governo em todas as esferas tendo como referecircncia o Governo do Estado

do Amazonas onde natildeo existe ateacute a presente data um Estudo de Impacto Ambiental- EIA e

um Relatoacuterio de Impacto Ambiental-RIMA que seja contraacuterio aos interesses do estado natildeo

validando e homologando suas obras

O exemplo mais conhecido e divulgado mundialmente eacute a construccedilatildeo do PROSAMIN

ndash Programa Social e Ambiental dos Igarapeacutes de Manaus no qual o Governo do Estado retira

os moradores residentes nos igarapeacutes de Manaus para a concretizaccedilatildeo dos canais e

posterior construccedilatildeo de conjuntos habitacionais Embora tenha conhecimento de que satildeo

aeacutereas de APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente seus relatoacuterios EIA-RIMA validam o

empreendimento reiterando a ldquoimportacircncia desta obrardquo

A fragilidade do ecossistema de modo geral depende inteiramente de um

equiliacutebrio (natural) pois para que esse equiliacutebrio continue a existir faz-se necessaacuterio

minimizar todo e qualquer impacto possiacutevel decorrente de um empreendimento seja a

construccedilatildeo de barragem de rodovias de usinas eoacutelicas etc Mesmo com a execuccedilatildeo do

Plano de Recuperaccedilatildeo de Aacuterea Degradadas - PRAD a construccedilatildeo de um empreendimento

natildeo garante a total recuperaccedilatildeo da aacuterea impactada

Dessa forma eacute importante conhecer a opiniatildeo dos moradores diretamente afetados

pelos empreendimentos Diante disso a presente pesquisa buscou conhecer a percepccedilatildeo

ambiental dos moradores das localidades de Bela Vista - Manacapuru e Manaquiri que

seratildeo diretamente afetados com a construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas como parte da proposta de reabertura da BR-319 resta conhecer a

opiniatildeo dos entrevistados

Na Bela Vista 95 dos entrevistados disseram jaacute ter ouvido algo sobre o assunto

por meio das conversas na comunidade e atraveacutes do raacutedio e 5 que afirmaram nunca ter

ouvido falar sobre o assunto

Indagados sobre o que achavam que aconteceria com as pessoas que moram na

Bela Vista e com a natureza e os animais ao redor se realmente a nova ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas fosse implantada os entrevistados se posicionaram conforme Graacutefico

15

191

A maioria dos entrevistados 47 do total se mostraram empolgados com a

possibilidade de acesso a outros municiacutepios e estados contudo 40 respondeu que as

estradas de modo geral trazem progresso e oportunidade de renda durante a construccedilatildeo e

posteriormente com o escoamento da produccedilatildeo seja na construccedilatildeo de novas estradas ou na

reconstruccedilatildeo da BR-319 depois de pronta ldquoteraacute mais pessoas vivendo aqui ficaraacute faacutecil

conhecer outros lugaresrdquo (Opiniatildeo de um entrevistado 2013) 13 dos entrevistados

afirmaram que as pessoas iratildeo embora da Bela Vista

Indagados com a mesma pergunta os moradores da sede municipal de Manaquiri

responderam conforme Graacutefico 16

Graacutefico 15 Opiniatildeo dos moradores da Bela Vista sobre as consequecircncias da construccedilatildeo da

ponte sobre o Rio Solimotildees Amazonas

Graacutefico 16 Opiniatildeo dos moradores do Manaqquiri sobre as consequecircncias da construccedilatildeo

de ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

192

Ao contraacuterio dos moradores da Bela Vista a grande maioria 73 dos entrevistados

de Manaquiri responderam que a construccedilatildeo de uma ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas

assim como a possibilidade de reabertura da BR-319 devastaria tudo (referem-se a retirada

da floresta) mataria os animais (que atravessariam as pistas ou seriam caccedilados por mais

caccediladores que viriam para o Manaquiri)

Indagados do por quecirc desta opiniatildeo ldquoseverardquo Os moradores afirmaram que isso jaacute

ocorreu anteriormente primeiro na construccedilatildeo da BR-319

[] quando veio muita gente trabalhar na estrada derrubaram a mata para fazer a rodovia e caccedilavam os bichos era pacaacute anta macaco tracajaacute tudo que eles achavam rapidinho virava comida agora mais recente foi essa estrada daqui mesmo [o entrevistado se refere a construccedilatildeo da AM-354] quando muita gente foi trabalhar laacute foi a mesma coisa da outra (Relato de um entrevistado

2013)

Os moradores de Manaquiri apresentam relativo conhecimento dos impactos de

grandes empreendimentos pois vivenciaram a construccedilatildeo da BR-319 e da AM-354

461 ALTERNATIVAS DE EDUCACcedilAtildeO AMBIENTAL E O PREPARO DAS LOCALIDADES

RIBEIRINHAS PARA AS AUDIEcircNCIAS PUacuteBLICAS

Antes de propor alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental faz-se necessaacuterio fazer um

resgate histoacuterico da Educaccedilatildeo Ambiental no mundo e posteriormente no Brasil e no estado

do Amazonas para situar o leitor

A Educaccedilatildeo Ambiental foi primeiramente concebida por movimentos ecoloacutegicos

apoacutes 1950 com o objetivo de chamar a atenccedilatildeo para a finitude dos elementos da natureza

e sua exploraccedilatildeo descontrolada Diante disso Carvalho (2006) propotildee sensibilizar os cidadatildeos

do mundo para que eles possam desenvolver accedilotildees socioambientais pensando no bem

coletivo e natildeo individual ou de pequenos grupos

O marco principal desse periacuteodo de incertezas culminou na publicaccedilatildeo do livro

Primavera Silenciosa nele a autora chama a atenccedilatildeo para o uso irracional de pesticidas

quiacutemicos principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano) e responsabilidade da ciecircncia e

os limites tecnoloacutegicos (CARSON 2013)

193

[] questionava o direito moral do governo de deixar seus cidadatildeos desprotegidos diante de tais substacircncias que eles natildeo poderiam evitar fisicamente nem questionar publicamente Essa arrogacircncia insensiacutevel soacute poderia levar aacute destruiccedilatildeo do mundo vivo ldquoSeraacute que algueacutem acredita que eacute possiacutevel lanccedilar tal bombardeio de venenos na superfiacutecie da Terra sem tornaacute-la improacutepria para toda a vida perguntava ela Eles natildeo deviam ser chamados de lsquoinseticidasrsquo e sim lsquobiocidasrsquo rdquo (CARSON 2013 p 15)

Carson vai aleacutem ao afirmar que um dos direitos dos cidadatildeos mais baacutesicos

[] estaacute em proteger seu lar contra a intrusatildeo de veneno aplicado por outras pessoas Por ignoracircncia cobiccedila e negligecircncia o governo permitiria que ldquosubstacircncia quiacutemicas venenosas e biologicamente potentesrdquo caiacutessem ldquoindiscriminadamente nas matildeos de pessoas ampla ou totalmente ignorantes de seu potencial de danosrdquo Quando a populaccedilatildeo protestava recebia ldquopiacutelulas calmantes de meias - verdadesrdquo como resposta de um governo que se recusava a assumir a responsabilidade pelos danos ou reconhecer as provas de sua existecircncia Carson desafiou essa ausecircncia de moral ldquoA obrigaccedilatildeo de suportarrdquo e escreveu ldquonos daacute o direito de saberrdquo (CARSON 2013 p16)

Carson (2013) chama atenccedilatildeo da sociedade estadunidense para o uso

descontrolado de pesticidas nas lavouras americanas que prejudicava aleacutem do meio

ambiente fiacutesico em larga escala como tambeacutem a humanidade como um todo

Apoacutes a publicaccedilatildeo dessa obra foram iniciadas investigaccedilotildees estaduais e federais

nos EUA para refutar os argumentos da autora que terminaram por serem comprovados e

apoacutes inuacutemeras pressotildees de ambientalistas o governo americano foi obrigado a criar um

pacote de leis contra a contaminaccedilatildeo invisiacutevel muito posteriormente proibindo o uso DDT

nos EUA mas exportando para todo o mundo (CARSON 2013)

Como os movimentos ecoloacutegicos ultrapassaram as preocupaccedilotildees locais e se

transformaram em globais gerou grande desconforto na sociedade mundial tanto cientiacutefica

quanto civil o que resultou em importantes encontros mundiais a comeccedilar pela primeira

Conferecircncia Mundial das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente Humano que aconteceu em

1972 em Estocolmo na Sueacutecia e contou com a participaccedilatildeo de representantes de 113

paiacuteses onde foram divulgados aos participantes ldquoa devastaccedilatildeo que ocorria na natureza

delirou ndash se que o crescimento humano precisaria ser repensado imediatamenterdquo (PEDRINI

1997 p26)

Dessa conferecircncia resultaram dois importantes documentos ldquoA Declaraccedilatildeo sobre

Meio Ambiente Humanordquo que descrevia vinte e sete princiacutepios comuns agrave sociedade mundial

para preservar e melhorar a relaccedilatildeo do homem com o meio ambiente e o ldquoPlano de Accedilatildeo

194

Mundialrdquo que recomendava a capacitaccedilatildeo de professores e o desenvolvimento de novos

meacutetodos e recursos institucionais para a Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Trecircs anos depois de Estocolmo acontece a Conferecircncia de Belgrado na Yugoslaacutevia

antiga Uniatildeo Sovieacutetica Nessa conferecircncia os acircnimos se exaltaram pois os paiacuteses

considerados subdesenvolvidos acusaram os paiacuteses desenvolvidos de quererem limitar o

desenvolvimento econocircmico dos paiacuteses pobres ldquousando poliacuteticas ambientais de controle da

poluiccedilatildeo como meio de inibir a competiccedilatildeo no mercado internacionalrdquo (DIAS 2000 p79)

Apesar dos acircnimos acalorados essa conferecircncia resultou em um importante

documento em niacutevel mundial a ldquoA Carta de Belgradordquo que priorizava a erradicaccedilatildeo da

pobreza do analfabetismo da fome da exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo humana e sugeria tambeacutem

a criaccedilatildeo de um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental (PEDRINI 1997)

Outra Conferecircncia marcante na histoacuteria da Educaccedilatildeo Ambiental foi a Conferecircncia de

Tbilisi realizada em 1977 que determinava os objetivos estrateacutegias caracteriacutesticas e

recomendaccedilotildees para se alcanccedilar uma Educaccedilatildeo verdadeiramente Ambiental Sobre isso

Junior (2005) destaca que para se ter uma Educaccedilatildeo Ambiental deve-se ldquopromover a

cooperaccedilatildeo e o diaacutelogo entre indiviacuteduos e instituiccedilotildees com a finalidade de criar novos

modos de vida e atender as necessidades baacutesicas de todos sem distinccedilotildees eacutetnicas fiacutesicas de

gecircnero idade religiatildeo ou classe socialrdquo (JUNIOR 2005 p 15 )

Atendendo aos acordos firmados internacionalmente o Brasil cria a Lei nordm 6938 de

31 de Agosto de 1981 que dispunha no art 2 sobre a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

tendo por objetivos

[] a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental propiacutecia agrave vida visando assegurar no Paiacutes condiccedilotildees ao desenvolvimento soacutecio econocircmico aos interesses da seguranccedila nacional e agrave proteccedilatildeo da dignidade da vida humana atendidos os seguintes princiacutepios I - accedilatildeo governamental na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio ecoloacutegico considerando o meio ambiente como um patrimocircnio puacuteblico a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o uso coletivo II - racionalizaccedilatildeo do uso do solo do subsolo da aacutegua e do ar Ill - planejamento e fiscalizaccedilatildeo do uso dos recursos ambientais IV - proteccedilatildeo dos ecossistemas com a preservaccedilatildeo de aacutereas representativas V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidorasVI - incentivos ao estudo e agrave pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteccedilatildeo dos recursos ambientais VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental VIII - recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas IX - proteccedilatildeo de aacutereas ameaccediladas de degradaccedilatildeo X ndash educaccedilatildeo ambiental a todos os niacuteveis de ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-la para a participaccedilatildeo ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL 1981 p 2)

195

A Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente eacute absolvida pela Constituiccedilatildeo Brasileira de

1988 mais especificamente no artigo 225 onde tambeacutem concebe o conceito de

desenvolvimento sustentaacutevel

[] onde todos os cidadatildeos brasileiros tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial aacute sadia qualidade de vida impondo se ao Poder Puacuteblico e aacute coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees (BRASIL 1998 p7)

O Brasil foi um dos primeiros paiacuteses do mundo a criar leis tornando obrigatoacuteria a

ldquoEducaccedilatildeo Ambiental em todos os niacuteveis de ensino e a conscientizaccedilatildeo puacuteblica da populaccedilatildeo

para preservaccedilatildeo do meio ambienterdquo (BRASIL 1988 p103)

Para consolidar a lei eacute criado em 1989 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente -

IBAMA autarquia federal que tem como funccedilatildeo coordenar e executar a Poliacutetica Nacional do

Meio Ambiente e a preservaccedilatildeo e conservaccedilatildeo de uso racional dos recursos naturais Brasil

(1989) No entanto em sua estrutura administrativa apresentada segundo Brasil (1989a)

natildeo haacute cargos ou seccedilotildees especiacuteficas para trabalhar a Educaccedilatildeo Ambiental embora muitos

autores relatem existir uma Divisatildeo de Educaccedilatildeo Ambiental no oacutergatildeo supracitado

Nos anos posteriores surgiram vaacuterios encontros sobre Educaccedilatildeo Ambiental e em

1990 surgiu no Brasil o I Curso Latino Americano de Especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental

na Universidade Federal do Mato Grosso- UFMT

O ano de 1991 foi marcado pelo Encontro Nacional de Poliacuteticas e Metodologias para

a Educaccedilatildeo Ambiental promovido pelo MEC IBAMA Secretaacuteria da Presidecircncia da Repuacuteblica

e Unesco e em 1992 satildeos criado os Nuacutecleos Estaduais de Educaccedilatildeo Ambiental pelo IBAMA

novos encontros e projetos para efetivar a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino se sucederam

Em 27 de Abril de 1999 eacute criado pelo Decreto Lei nordm 9795 a Poliacutetica Nacional de

Educaccedilatildeo Ambiental- ProNEA

Art 1ordm Entendem- se por educaccedilatildeo ambiental os processos por meio dos quais o indiviacuteduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competecircncias voltadas para promover a conservaccedilatildeo do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial agrave sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL 1999 p1)

Segundo o Ministeacuterio do Meio Ambiente (2014) o ProNea tem como accedilotildees

assegurar

196

[] no acircmbito educativo a integraccedilatildeo equilibrada das muacuteltiplas dimensotildees da sustentabilidade - ambiental social eacutetica cultural econocircmica espacial e poliacutetica - ao desenvolvimento do Paiacutes resultando em melhor qualidade de vida para toda a populaccedilatildeo brasileira por intermeacutedio do envolvimento e participaccedilatildeo social na proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental e da manutenccedilatildeo dessas condiccedilotildees ao longo prazo Nesse sentido assume tambeacutem as quatro diretrizes do Ministeacuterio do Meio Ambiente Transversalidade Fortalecimento do Sisnama Sustentabilidade Participaccedilatildeo e controle social (BRASIL 2014 p1)

A legislaccedilatildeo parte do princiacutepio de que a Educaccedilatildeo Ambiental deve estar permanente

na educaccedilatildeo nacional em todos os niacuteveis do processo educativo de caraacuteter formal e natildeo

formal (BRASIL 1999 p1)

Esse arcabouccedilo legal permitiria que a Educaccedilatildeo Ambiental efetivamente no acircmbito nacional fosse implementada no ensino formal em todos os niacuteveis poreacutem a rejeiccedilatildeo da ldquoobrigatoriedaderdquo considerada nociva no momento democraacutetico que se vive permite que a legislaccedilatildeo natildeo seja cumprida de acordo com os marcos nacionais e internacionais firmados nos eventos que constituem o seu processo histoacuterico (SANTOS 2013 p844)

Ainda Morin apud Santos (2013) afirma que

[] poderiam ser formadas novas geraccedilotildees de professores que encontrariam em sua profissatildeo o sentido de uma missatildeo ciacutevica e eacutetica para que cada aluno ou estudante possa enfrentar os problemas de sua vida profissional e de sua vida de cidadatildeo do dever de sua sociedade de sua civilizaccedilatildeo na humanidade (MORIN apud SANTOS 2013 p844)

Todavia o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura ndash MEC ateacute o presente momento trinta e

trecircs anos depois apoacutes a instituiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente (1981) natildeo

conseguiu inserir a Educaccedilatildeo Ambiental no ensino superior portanto natildeo cumpriu com os

acordos firmados Isso se observa tambeacutem ao niacutevel natildeo formal como uma maneira de natildeo

fornecer aacutes comunidades informaccedilotildees que venham a impedir ou dificultar os interesses

poliacuteticos

Acompanhando as leis federais os estados brasileiros passaram a criar leis quase

sempre dispondo sobre a proteccedilatildeo do meio ambiente

No estado do Amazonas a Lei nordm 1532 de 06 de Julho de 1982 tornou-se a primeira

lei no estado a discorrer sobre a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente criando a Poliacutetica

Estadual da Prevenccedilatildeo e Controle da Poluiccedilatildeo Melhoria e Recuperaccedilatildeo do Meio Ambiente e

de Proteccedilatildeo aos Recursos Naturais (AMAZONAS 1982)

197

A lei tem como objetivos

[] fixar diretrizes da accedilatildeo governamental com vistas agrave proteccedilatildeo de Meio Ambiente agrave conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo da flora da fauna e das belezas cecircnicas e ao uso racional do solo da aacutegua e ar Contribuir para a racionalizaccedilatildeo do processo do desenvolvimento econocircmico e social procurando atingir a melhoria dos niacuteveis da qualidade ambiental tendo em vista o bem estar da populaccedilatildeo Propor criteacuterios de exploraccedilatildeo e uso racional dos recursos naturais objetivando o aumento de produtividade sem prejuiacutezo agrave sauacutede Incentivar programas e campanhas de esclarecimentos com vistas agrave estimulaccedilatildeo de uma consciecircncia publica voltada para o uso adequado dos recursos naturais e para a defesa e a melhoria da qualidade ambiental Estabelecer criteacuterios para reparaccedilatildeo dos danos causados pelo agente poluidor e predador (AMAZONAS 1982 p2)

E em 14 de Junho de 1989 atraveacutes da Lei nordm 1905 foi criado o Instituto de

Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash

IMAAM Segundo o IPAAM (2014) o oacutergatildeo tinha como funccedilatildeo executar a Poliacutetica Ambiental

no estado dando inicio ao processo de controle ambiental sistemaacutetico

Cinco anos depois o governo federal atraveacutes da Lei nordm 1282 de 1994 estabelece

que a Floresta Amazocircnica deve ser protegida da exploraccedilatildeo madeireira que somente

poderaacute ser feita de forma sustentaacutevel salvo quando for autorizado pelo Zoneamento

Ecoloacutegico Econocircmico sobre o uso do solo de forma alternativa (BRASIL 1994)

Dois anos depois em 1996 o governo do estado do Amazonas fundou o Instituto de

Proteccedilatildeo Ambiental do Amazonas ndash IPAAM atraveacutes da Lei nordm 17033 de 11 de marccedilo de

1996 resultado da funccedilatildeo do SEMACT (Secretaria do Meio Ambiente Ciecircncia e Tecnologia) e

do IMAAM (Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas) absorvendo cargos dos dois oacutergatildeos e suas ldquoobrigaccedilotildeesrdquo legais

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteccedilatildeo Ambiental do

Estado do Amazonas - IPAAM passou a ser vinculado em fevereiro de 2003 aacute Secretaria de

Estado Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel ndash SDS como oacutergatildeo executor da

Poliacutetica de Controle Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM 2014)

Por meio do Decreto Estadual nordm 25043 de 1ordm de Junho de 2005 foi instituiacuteda a

Comissatildeo Interinstitucional de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas ndash CIEA-AM que

tem como funccedilatildeo ldquoplanejar executar acompanhar e avaliar a execuccedilatildeo dos trabalhos de

Educaccedilatildeo Ambiental no Estado aleacutem de articular-se com outras instituiccedilotildees federais e

municipaisrdquo(AMAZONAS 2014 p1)

198

A CIEA-AM tem mandato anual alternado entre a SDS (Secretaria de Estado Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel) e a SEDUC (Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo e

Qualidade do Ensino) (AMAZONAS 2014)

Em 2008 foi instituiacuteda a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas

atraveacutes da Lei nordm 3222 de 02 de Fevereiro entretanto

Apesar de a lei ter 90 dias para a sua regulamentaccedilatildeo ouvidos o Conselho Estadual de Meio Ambiente somente em 29 de Junho de 2012 eacute que o Decreto nordm 555 foi assinado pelo governado Omar Aziz e publicado no Diaacuterio Oficial do Estado do Amazonas (SANTOS 2012 p844)

A Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental do Estado do Amazonas tem como metas

Criaccedilatildeo do Comitecirc Assessor Multidisciplinar como oacutergatildeo de assessoramento da CIEA para apoiar a Poliacutetica Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental formado por 16 Instituiccedilotildees parceiras Estabelece prazo de um ano para a elaboraccedilatildeo do Programa Estadual de Educaccedilatildeo Ambiental Estabelece a obrigatoriedade para os poderes executivos do Estado e dos Municiacutepios de criarem coordenaccedilotildees multidisciplinares de educaccedilatildeo ambiental nas secretarias de educaccedilatildeo e de meio ambiente para fortalecimento na implantaccedilatildeo de poliacuteticas e programas nacional estadual e municipal neste segmento Criaccedilatildeo do Centro de Referecircncia em Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo na aacuterea de educaccedilatildeo ambiental Garantia de recursos orccedilamentaacuterios e financeiros para a realizaccedilatildeo de atividades e para o cumprimento dos objetivos da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Ambiental (AMAZONAS 2014 p2)

Faz-se necessaacuterio salientar que muito pouco do que foi proposto para o estado de

fato foi executado inclusive a natildeo inserccedilatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental em todos os cursos de

formaccedilatildeo de professores a proacutepria Universidade do Estado do Amazonas a UEA

Sobre isso Santos apud Rodriguez e Silva (2013 p197)

[] reconhecem que a Educaccedilatildeo Ambiental deveraacute ter um papel fundamental na mudanccedila das mentalidades e na incorporaccedilatildeo dos fundamentos do pensamento ambientalista como tambeacutem do pensamento sustentabilista justificando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergecircncia dos sistemas ambientais e socioeconocircmico-culturais (SANTOS apud RODRIGUEZ e SILVA 2013 p197)

Santos (2013) vai aleacutem

Infelizmente torna-se necessaacuterio reconhecer que muitas vezes as poliacuteticas puacuteblicas definidas na esfera federal estadual ou municipal refletem uma contradiccedilatildeo entre o discurso e a praacutetica uma vez que os proacuteprios oacutergatildeos puacuteblicos a luz da interpretaccedilatildeo das brechas da legislaccedilatildeo ambiental licenciam obras sob o argumento de melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo mas com impactos ambientais irreversiacuteveis que satildeo justificados com ldquomedidas compensatoacuteriasrdquo irrelevantes (SANTOS 2013 p840)

199

Diante desses fatos tornou-se necessaacuterio projetar alternativas de Educaccedilatildeo

Ambiental para as localidades ribeirinhas da Amazocircnia frente ao conceito de

desenvolvimento baseado na construccedilatildeo de rodovias para que os ribeirinhos de modo

geral possam vir a ter conhecimento dos impactos das rodovias na regiatildeo visando agrave

formaccedilatildeo de um juiacutezo de valor quanto a propostas de desenvolvimento do poder puacuteblico

As alternativas de Educaccedilatildeo Ambiental visam antes de qualquer coisa fornecer

informaccedilotildees aos moradores afetados direta ou indiretamente sobre empreendimentos

similares jaacute construiacutedos em ambientes semelhantes de forma a propiciar embasamento

teoacuterico e se possiacutevel praacutetico na formaccedilatildeo de uma opiniatildeo fundamentada seja individual ou

coletiva

Isso porque muitas pessoas natildeo informadas tendem a considerar as Audiecircncias

Puacuteblicas realizadas antes dos empreendimentos como espaccedilos onde natildeo eacute permitido

questionamentos quando na verdade eacute o que se deve fazer pois as Audiecircncias Puacuteblicas

tecircm como principal funccedilatildeo consultar a opiniatildeo puacuteblica sobre o empreendimento a ser

construiacutedo Contudo se o puacuteblico consultado natildeo tiver informaccedilotildees sobre o

empreendimento ou qualquer outro semelhante como poderatildeo opinar em algo que lhes eacute

completamente desconhecido

Sobre o direito agrave informaccedilatildeo a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente em seu artigo

2ordm paraacutegrafo X afirma que a ldquoeducaccedilatildeo ambiental deve ser fornecida a todos os niacuteveis de

ensino inclusive a educaccedilatildeo da comunidade objetivando capacitaacute-los para a participaccedilatildeo

ativa da defesa do meio ambienterdquo (BRASIL 1981 p2)

No entanto a Educaccedilatildeo Ambiental vem sendo incluiacuteda como medida

compensatoacuteria dos impactos provocados pelos empreendimentos Haacute necessidade de que a

Educaccedilatildeo Ambiental seja antecipada permitindo agrave sociedade acesso as diversas fontes de

informaccedilatildeo Enfim a Educaccedilatildeo Ambiental em suas referecircncias teoacutericas eacute reconhecida como

uma educaccedilatildeo poliacutetica capaz de permitir e projetar cenaacuterios futuros

Considerando a reabertura da BR-319 cujo argumento principal eacute que ela jaacute existe

e que sua reabertura pouco impactaraacute a Floresta Amazocircnica considerando que entre as

grandes obras para a reabertura da BR-319 encontra-se a construccedilatildeo da ponte sobre o rio

SolimotildeesAmazonas que se associa a jaacute construiacuteda ponte Rio Negro por essa razatildeo

200

chamada de ldquoPonte do Futurordquo considerando que o poder puacuteblico eacute o principal interessado

em suas obras sendo o responsaacutevel pelos licenciamentos a presente pesquisa ousa propor

- Viabilizar o acesso dos moradores agrave diversas fontes de pesquisa sejam elas

artigos livros jornais e informaccedilotildees veiculadas pela internet que permitam obter

pesquisas confiaacuteveis sobre os aspectos positivos e negativos relacionados aos

impactos provocados por obra semelhantes

- Realizar palestras com as diversas categorias de profissionais sejam eles

favoraacuteveis ou contraacuterios agrave empreendimentos na Amazocircnia de modo a discutir os

avanccedilos e retrocessos na qualidade de vida dos amazocircnidas

- Promover oficinas de Educaccedilatildeo Ambiental que permitam a anaacutelise criacutetica dos

problemas ambientais e suas interelaccedilotildees dinacircmicas relacionando as causas e

consequecircncias tendo por base os princiacutepios da complexidade dialoacutegico recursatildeo

organizacional e hologramaacutetico Isto significa conduzir os participantes a refletirem

sobre a dualidade a recursividade e holograma que supera o reducionismo o

holismo e avanccedila na direccedilatildeo da complexidade da questatildeo ambiental

Diante da convicccedilatildeo de que essas intervenccedilotildees com a Educaccedilatildeo Ambiental

significam na maioria das vezes oposiccedilatildeo ao que pretende o poder puacuteblico haacute de se

verificar como concretizar efetivamente essas propostas

Por esta razatildeo a presente pesquisa ainda ousando sugere a inclusatildeo da Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal (que no caso dos dois municiacutepios Manacapuru e

Manaquiri ainda estatildeo em fase de elaboraccedilatildeo) responsaacutevel pelo planejamento estrateacutegico

dos municiacutepios atraveacutes da formulaccedilatildeo de estrateacutegias para gerenciamento dos recursos

municipais

Todavia a inclusatildeo da Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de Gestatildeo Municipal natildeo deve

se limitar a uma abordagem simplista e reducionista e sim incorporar a sua verdadeira

essecircncia atraveacutes da formaccedilatildeo de cidadatildeos verdadeiramente capacitados para defender o

meio ambiente como propotildeem a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente

Prioritariamente para o caso da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas e a

reabertura da BR-319 for consolidada nos proacuteximos anos a presente pesquisa propotildeem

201

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para as localidades ribeirinhas de Bela Vista e

Manaquiri que contemple em sua estrutura

1- Reflexatildeo sobre o conceito de Desenvolvimento Conservaccedilatildeo Preservaccedilatildeo e

Sustentabilidade se quer para a Amazocircnia

2- Impactos resultantes da construccedilatildeo de rodovias no Amazonas

a) BR-307 - Satildeo Gabriel da Cachoeira ndash Cucuiacute Benjamin Constant ndash

Atalaia do Norte

b) BR -317 - Laacutebrea no Amazonas a Assis Brasil no Acre

c) BR-230 - Transamazocircnica

d) BR-174 - Manaus-AM ndash Boa Vista-RR

e) BR-319 - Manaus-AM - Porto Velho- RO

3- Construccedilatildeo da ponte sobre o rio SolimotildeesAmazonas reabertura da BR-319 e

os possiacuteveis impactos dessas obras

4- Construccedilatildeo de cenaacuterios futuros para a Amazocircnia

202

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A percepccedilatildeo ambiental dos moradores da Bela Vista e do Manaquiri permitiu

concluir que embora os entrevistados se mostrem favoraacuteveis agrave construccedilatildeo da nova ponte

sobre o rio SolimotildeesAmazonas os mesmos se mostraram conscientes dos impactos dessa

obra assim como tambeacutem da reabertura da BR-319

Diante disso cabe a Educaccedilatildeo Ambiental veicular para os ribeirinhos e a todos

cidadotildees interessados as informaccedilotildees disponiacuteveis sobre todo e qualquer empreendimento

com relaccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas para a Amazocircnia A comeccedilar pela divulgaccedilatildeo dos impactos

das estradas jaacute construiacutedas na Amazocircnia

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser conclamada diante da percepccedilatildeo ambiental dos

moradores ribeirinhos de modo a ser pensado uma forma alternativa para que a

populaccedilatildeo tenha informaccedilotildees para se posicionar diante das propostas de poliacuteticas puacuteblicas

para a Amazocircnia

As propostas de desenvolvimento compatibilizadas com as que visam conservaccedilatildeo

eou preservaccedilatildeo da Amazocircnia sido apresentados com uma dualidade impossiacutevel de ser

alcanccedilada O pensamento complexo apresenta-se como uma alternativa de se repensar a

questatildeo ambiental compreendendo os fatores que a compotildeem e as interelaccedilotildees entre eles

inclusive a dinamicidade que apresentam

Entre as propostas de desenvolvimento destacam-se as que visam agrave construccedilatildeo de

estradas na Amazocircnia principalmente agraves relacionadas com a intenccedilatildeo de interligar o estado

do Amazonas ao resto do paiacutes Os argumentos para sua construccedilatildeo natildeo satildeo convincentes

uma vez que diante da necessidade de conservaccedilatildeo eou preservaccedilatildeo da Floresta

Amazocircnica as medidas poliacuteticas foram sendo tomadas para isto incluindo-se a criaccedilatildeo da

Zona Franca de Manaus com o Polo Industrial para evitar impactos sobre a regiatildeo

A pesquisa procurou concentrar-se na reabertura da BR-319 considerando a

construccedilatildeo da ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas como uma das grandes obras para a

sua reativaccedilatildeo

O argumento que sustenta a sua necessidade eacute o mesmo que nega seus impactos

uma vez que ela jaacute existe e a floresta natildeo precisaraacute ser devastada Outro argumento que natildeo

203

se sustenta eacute o escoamento da produccedilatildeo do Distrito Industrial pesquisas demonstram que o

transporte fluvial eacute mais econocircmico quando comparado ao rodoviaacuterio na regiatildeo

No que se refere agrave ponte sobre o Rio SolimotildeesAmazonas ela teraacute como provaacutevel

cabeceiras as localidades de Bela Vista no municiacutepio de Manacapuru e Manaquiri sede do

municiacutepio de mesmo nome A pesquisa visando diagnosticar as alteraccedilotildees que a construccedilatildeo

da ponte traraacute agrave vida dessas populaccedilotildees ribeirinhas utilizou-se de entrevistas com

moradores mais antigos e chefes de famiacutelia de ambas as localidades

Os resultados das entrevistas resaltam a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos

destacando-se a dos que moram em Manaquiri que por terem vivido a construccedilatildeo da BR-

319 conseguem projetar cenaacuterios futuros preocupantes com a destruiccedilatildeo da biodiversidade

e os impactos sociais e econocircmicos na localidade

A pesquisa permitiu antever o comprometimento das aacutereas agricultaacuteveis das

vaacuterzeas que poderaacute ter como consequecircncia o decliacutenio da produccedilatildeo agriacutecola

No entanto a percepccedilatildeo ambiental dos ribeirinhos necessita de informaccedilotildees que

permitam alcanccedilar o niacutevel transdisciplinar A percepccedilatildeo transdisciplinar deve contemplar

diferentes niacuteveis de realidade a loacutegica do terceiro incluiacutedo e a complexidade que a questatildeo

ambiental comporta

A percepccedilatildeo ambiental diagnosticada muito embora em alguns entrevistados tenda

a considerar os princiacutepios da transdisciplinaridade ainda necessita ser aprofundada e a

pesquisa indica que a Educaccedilatildeo Ambiental pode promover a visatildeo criacutetica da realidade

Diante dos obstaacuteculos enfrentados na obtenccedilatildeo das informaccedilotildees e entrevistas

considerando o espaccedilo geograacutefico e as condiccedilotildees de deslocamento ateacute as localidades a

pesquisa considerando referencial teoacuterico e os dados levantados reconhece as dificuldades

de se antepor agraves poliacuteticas puacuteblicas com as accedilotildees de Educaccedilatildeo Ambiental natildeo formal

A Educaccedilatildeo Ambiental precisa ser inserida natildeo como uma medida compensatoacuteria

das obras jaacute construiacutedas mas como uma alternativa de acesso a informaccedilatildeo que

necessariamente precisa ser antecipada aacutes Audiecircncias Puacuteblicas de modo a viabilizar acesso

dos moradores a diversas fontes de informaccedilatildeo para que ao participar de uma audiecircncia

puacuteblica os moradores tenham conhecimentos profundos dos possiacuteveis impactos de cada

obra e possam vir a fazer juiacutezo de valor apoiados em fundamentos

204

Considerando que o poder puacuteblico justifica as obras do seu interesse baseado na

legislaccedilatildeo que abre espaccedilo para justificaacute-las dessa forma licenciando-as haacute que se buscar

alternativas para o desenvolvimento da Educaccedilatildeo Ambiental atraveacutes de programas que

visem a sustentabilidade da Amazocircnia exigindo o cumprimento da legislaccedilatildeo vigente e

questionando inclusive sua interpretaccedilatildeo

A pesquisa propotildee as bases necessaacuterias ao planejamento execuccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

um Programa de Educaccedilatildeo Ambiental voltado para a problemaacutetica que a desencadeou

Existe espaccedilo para novas pesquisas principalmente no que se refere agrave percepccedilatildeo

transdisciplinar no contexto amazocircnico considerando que existem poucos avanccedilos e

resultados que concretizem os referenciais teoacutericos indicados para a necessaacuteria reforma de

pensamento que permitiraacute a humanizaccedilatildeo da humanidade

205

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PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash BELA VISTA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora na Bela Vista por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para a Bela Vista vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem na Bela Vista (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 1

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PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR ndash MANAQUIRI

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ndash DADOS DE IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome (opcional)

Gecircnero

Idade

Ocupaccedilatildeo

Naturalidade

Escolaridade

Tempo de residecircncia no lugar

B- PERCEPCcedilAtildeO TRANSDISCIPLINAR

1 Vocecirc mora no Manaquiri por quecirc O que lhe agrada neste lugar E o que natildeo lhe agrada (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

2 Ao olhar para o Manaquiri vocecirc pode dizer o que consegue ver (Diferentes Niacuteveis de Realidade)

3 O que o Rio Solimotildees significa para vocecirc E a Floresta Amazocircnica ( Princiacutepio Hologramaacutetico - Complexidade)

4 Na sua opiniatildeo qual a qualidade de vida das pessoas que vivem no Manaquiri (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

5 Vocecirc jaacute ouviu falar da construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees Em caso afirmativo o que vocecirc sabe sobre ela (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

6 O que vocecirc acha que vai acontecer com as pessoas que moram neste lugar E com a natureza a paisagem os animais e com a vida das pessoas (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

7 A Ponte sobre o Rio Solimotildees vai ligar a Bela Vista a Manaquiri Manaquiri ao Careiro e o Careiro atraveacutes da BR-319 a Porto Velho Isso eacute bom ou eacute ruim por que (Princiacutepio Hologrmaacutetico - Complexidade)

8Historicamente as estradas na Amazocircnia causaram grandes impactos Se vocecirc tivesse informaccedilotildees sobre os impactos das rodovias na Amazocircnia vocecirc participaria da discussatildeo sobre a construccedilatildeo da Ponte sobre o Rio Solimotildees E sobre a reabertura da BR 319 Qual seria a sua posiccedilatildeo (Complexidade)

9 Na sua opiniatildeo qual a diferenccedila de se usar os rios ao inveacutes de estradas na Amazocircnia (Princiacutepio Dialoacutegico - Complexidade)

10 Vocecirc jaacute participou de alguma Audiecircncia Puacuteblica Se jaacute participou do que ela tratava (Loacutegica do Terceiro Incluiacutedo)

Apecircndice 2

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