as finalidades da fraternidade · hoje, assim como no passado, surje um antigo aforisma hermético...

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Janeiro 2013 AS FINALIDADES DA FRATERNIDADE A educação hermética – escreve Manlio Magnani, o fundador de Fraternidade Hermética na América Latina tem como objetivo: preparar-se para atingir o princípio vital universal e ser enriquecido por ele, seja para restabelecer a saúde ou o equilíbrio interior, seja para poder ajudar a restabelecê-los nos outros. A finalidade de uma educação hermética é a de preparar para o exercício consciente desta virtude. O desenvolvimento desta educação compreende habitualmente três fases: Preparar para a possibilidade de ter contato com os aspectos mais próximos ao estado humano do princípio vital, e de estabelecer uma relação harmoniosa com as forças que já operam no mesmo sentido; Conhecer distintamente as forças e as entidades salutares e obter o poder de utilizá-las; Conhecimento integral e absoluto do princípio vital. Estado de comunhão com o mesmo. Hoje, assim como no passado, surje um antigo aforisma hermético que dificultou os alquimistas do século XVII: A vida comanda a vida, todas as escolas de terapia são boas ou falsas, dependendo se o médico que usa um remédio qualquer, do azeite ao stramonium, do sal de cozinha à estricnina, tenha ou não o poder , a virtude, a força de infundir no medicamento a vitalidade que compensa as energias dispersas no corpo enfermo; em outras palavras o médico que realiza o milagre, dá parte do seu princípio vital necessário ao enfermo. Assim o princípio terapêutico hermético é o mesmo princípio vital, cuja deficiência determina o estado morboso. A HUMANIZAÇÃO de Manlio Magnani A palavra reincarnação resulta imprópria ou insuficiente de significado e a substituimos com humanização. Na revista KRUR (1929), Arvo 1 tratou sabiamente do problema da origem da espécie de acordo com o 1 Arvo é o nome iniciático do duque Giovanni Antonio Francesco Colonna di Cesarò (1878-1940) e o artigo ao qual se refere Magnani é intitulado “As ´culturas primitivas` e a ciência mágica”. (N.d.T.)

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Page 1: AS FINALIDADES DA FRATERNIDADE · Hoje, assim como no passado, surje um antigo aforisma hermético que dificultou os alquimistas do século ... tentativas menos felizes produziram

Janeiro 2013

AS FINALIDADES DA FRATERNIDADE

A educação hermética – escreve Manlio Magnani, o fundador de Fraternidade Hermética na América Latina

– tem como objetivo: preparar-se para atingir o princípio vital universal e ser

enriquecido por ele, seja para restabelecer a saúde ou o equilíbrio interior, seja para

poder ajudar a restabelecê-los nos outros.

A finalidade de uma educação hermética é a de preparar para o exercício consciente

desta virtude. O desenvolvimento desta educação compreende habitualmente três

fases:

Preparar para a possibilidade de ter contato com os aspectos mais

próximos ao estado humano do princípio vital, e de estabelecer uma

relação harmoniosa com as forças que já operam no mesmo sentido;

Conhecer distintamente as forças e as entidades salutares e obter o poder de utilizá-las;

Conhecimento integral e absoluto do princípio vital. Estado de comunhão com o mesmo.

Hoje, assim como no passado, surje um antigo aforisma hermético que dificultou os alquimistas do século

XVII: A vida comanda a vida, todas as escolas de terapia são boas ou falsas, dependendo se o médico que

usa um remédio qualquer, do azeite ao stramonium, do sal de cozinha à estricnina, tenha ou não o poder , a

virtude, a força de infundir no medicamento a vitalidade que compensa as energias dispersas no corpo

enfermo; em outras palavras o médico que realiza o milagre, dá parte do seu princípio vital necessário ao

enfermo. Assim o princípio terapêutico hermético é o mesmo princípio vital, cuja deficiência determina o

estado morboso.

A HUMANIZAÇÃO

de Manlio Magnani

A palavra reincarnação resulta imprópria ou insuficiente de significado e a substituimos com

humanização.

Na revista KRUR (1929), Arvo1 tratou sabiamente do problema da origem da espécie de acordo com o 1 Arvo é o nome iniciático do duque Giovanni Antonio Francesco Colonna di Cesarò (1878-1940) e o artigo ao qual se

refere Magnani é intitulado “As ´culturas primitivas` e a ciência mágica”. (N.d.T.)

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esoterismo colocando em evidência o fato que a aquisição da forma e da substância humana no campo da vida terrestre foi uma conquista do próprio homem ou melhor a última conquista até agora, já que as tentativas menos felizes produziram os antropóides, os animais e assim por diante.

Outras pessoas demonstraram que o homem no seu trabalho para realizar o Adam humano, antes de chegar a manifestar-se de maneira concreta na terra, criou todas as formas viventes e que normalmente se chamam reinos inferiores.

Arvo sintetiza tudo isto nesta frase: “O homem antes de aparecer aqui embaixo como tal, viveu nas jerarquias das formas animais”, levando em consideração que se trata dos “animais hieráticos” das numerosas tradições, cuja lembrança se conserva nos “animais do zodíaco”.

Rudolf Steiner (1861-1925) e outros descrevem amplamente o resultado da visão akasika na qual pode ser constatado o imenso processo pelo qual o Adam cósmico passou através de sucessivas fases para a realização do Adam humano individuado na formação material.

Durante este caminho descendente, do divino para o material, do Uno para o multíplice, do Unificado para o fracionado, se encontra em uma grandiosa sucessão a produção dos estados de manifestação cósmica, que estão na terra como minerais, vegetais, animais, humanos.

Um sério obstáculo para muitos (dos iniciados) para aceitar estas conclusões era constituído pelo

dogma científico do evolucionismo. Mas este dogma já perdeu muito do seu prestígio, e os cientistas

contemporâneos, como por exemplo Hugo De Vries (1848-1935), não hesitam em avançar a hipótese de

mutações improvisas e fundamentais. Enquanto que outros, como por exemplo Edgar Dacqué (1878-1945),

se colocam em um ponto de vista muito próximo àquele esotérico.

Mas eu não quero ocupar-me disto porque todo conhecedor de esoterismo já conhece ou tem

condições de poder conhecer aquilo que o esoterismo ensina sobre este argumento. Desejo chamar a

atenção sobre um outro ponto. Qual é a posição atual do homem assim dito civilizado? Não está no ápice

da evolução das formas, não está no estado no qual o ser humano terminou o seu caminho descendente

para iniciar a curva ascendente para o reino do Adam cósmico.

A humanidade atual representa uma fase, e nada mais, na tentativa de construir no mundo material a expressão mais avançada do Adam humano. Está simplesmente um degrauzinho mais acima na escala da manifestação animal.

O Adam todavia não se manifestou como homem inteligente, mas simplesmente como homo,

alteração de humus – terra.

Os doze animais do Zodíaco compõem e preenchem toda a estátua vivente que orgulhosamente se

define homem, assim como é representada pela tradição astrológica em seus signos.

Por isto o homem atual não é senão o último animal aparecido sobre a terra, aquilo que o orgulho fez

chamar de atributos divinos: a razão, o intelecto etc., são simplesmente uma primeira manifestação

rudimental de uma atividade e de uma capacidade que futuramente deverá funcionar plenamente em um

ser dotado de corpo físico.

O objetivo da descida era a produção deste ser na matéria, no reino individuante do Adam Uno e

eterno; todavia não conseguiu obter esta manifestação e as suas tentativas encheram o planeta de formas

minerais, de plantas e flores, de animais, sem ter criado o homem, mas somente um esquema um tanto

impreciso cuja animalidade limita, deprecia, altera e humilha a tentativa de manifestar a razão e a

inteligência, ou seja os elementos que devem caracterizar o verdadeiro homem.

A nossa época histórica caminha em direção do seu declínio assim como o prelúdio de um novo salto

na produção sucessiva das espécies que dará espaço ao aparecer no mundo, de um ser humano, que em

comparação com o homem civilizado de hoje será mais ou menos um antropóide.

Nenhum tipo estável aparece senão como coroamento de uma série de tentativas. Assim aconteceu

para todas as formas que tem os seus modelos na história da vida da terra.

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As diversas raças humanas que apareceram até hoje representam algumas destas tentativas com

relação ao tipo concebido idealmente, e que o Adam cósmico quer que seja realizado. Tais tentativas

muitas vezes são falidas e as raças humanas que conhecemos são abortos.

Nada de mais grosseiro, de mais ridículo do que o resultado expresso na tentativa vã de unir o homem

animal de hoje com o intelecto e o conhecimento. Enquanto a Natureza é unidade, a Vida Unidade, o Ser

Unidade, esta criação que chamamos homem recebe os raios que deveriam ser o conhecimento e o

intelecto em uma forma que se assemelha aos reflexos de um prisma, e ele se coloca somente aonde pode

ver uma só cor.

De maneira que esta aparência de razão que ele se atribue não somente é uma aparência

limitadíssima mas também é falsa. Na ordem biológica todo aborto é alguma coisa de mais perfeito.

Assim sendo, por exemplo, sendo razão e intelecto conhecimento e reflexão sobre o conhecido, o

animal chamado homem oferece as suas espetaculares características negativas naquelas que ele chama

funções intelectuais.

Observem aquilo que ele faz em suas maiores expressões: divide o campo que presume conhecer em

seções que não existem, separa o belo-estética da Verdade-filosofia, ciência etc., do útil-política, etc.;

enquanto que nada de tudo isto existe separado e além do mais uma coisa é o equivalente perfeito da

outra. Cria fantasmas e os chama de ideais; em nome daqueles ideais, mata e morre, ama e odeia, domina

ou serve, nem percebe que acabado o seu drama, daquilo que chamou ideais não sobra nada, nem mesmo

um vestígio, e o curso dos acontecimentos o supera, em cada instante, sem preocupar-se minimamente de

nada.

Em sua ilusão ele se atreve a acreditar ser capaz de pensar em Deus, e define Deus de acordo com a

fantasia cruel ou triste da sua invencível fraqueza, fala de bondade e de bem e chama com este nome a voz

mais profunda, mais oculta do seu egoísmo, às vezes sublime pela grandeza fantasiosa das suas emoções,

dos seus sentimentos.

Em uma palavra, é o aborto mais colossal, mais ilógico, mais terrível de toda a natureza.

Pois bem, a atividade criadora do Adam cósmico, precisava as vezes, que este aborto se realizasse:

porque é justamente pelo contraste entre a feia realidade representada por aquilo que hoje se chama

homem e a realidade vivente que é a concepção cósmica, que é necessário que nasça o modelo final, o

verdadeiro homem, meta do caminho fixado pelo processo de humanização.

Já se preparam as manifestações que mencionamos aqui. Alguns seres da assim dita humanidade de

hoje, são raras exceções, tem inteligência e intuição notáveis sobre o modelo de Sócrates, o perfeito do

Buda, o Cristo dos Iniciados, o super-homem de Niestszche.

§§§

Os conceitos expostos acima implicam uma revisão profunda de diversas ideias que são como faróis

para aqueles que na procura da verdade são guiados em direção dos conhecimentos esotéricos, por

exemplo as ideias da reencarnação , do Destino e do Carma.

Detenhamo-nos por um momento sobre a reencarnação.

Reencarnação de que? Por que?

Se esta condição humana é uma imensa tentativa ainda não realizada, ou um falimento colossal: por

que o homem pode reencarnar-se?

Neste ponto o homem tropeça em um de seus fantasmas do qual falamos precedentemente.

A reencarnação é própria de um estado no qual se alcançou um fim determinado da integração

humana.

Não da tentativa falida, não dos abortos, cuja reencarnação significaria a desordem, a dissolução, o

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contrário da vida.

Dito isto se deve falar de reencarnação somente nos casos em que a individuação se produz com um

máximo de integração humana.

Estes casos, no período atual, diferem do modelo humano ordinário de maneira tão grande e

considerável que não existe harmonia entre tais seres e o ambiente, diferença devida ao excesso de

atitudes e qualidades cuja medida é ignorada pela maior parte dos homens.

Nestes casos encontraremos o homem justo de Platão, nunca o encontraremos no homem honrado

aclamado grande por seus contemporâneos.

Para a maior parte das pessoas, então, não existe reencarnação, mas o retorno a um estado anímico

coletivo do qual emanam sucessivamente e ininterruptamente as inumeráveis tentativas destinadas a

procurar a consequência da individuação. Por isso, a reencarnação é um fato aristocrático. Entendendo o

processo desta maneira, a palavra reencarnação resulta imprópria ou insuficiente de significado e a

substituimos com humanização que é mais apropriada, porque retorna em uma entidade real somente

quem já alcançou uma maior aproximação do estado de verdadeiro homem e que pode conseguir realizá-lo

completamente.

A VIDA NOS SONHOS

de Giuliano Kremmerz

Como sonhar sonhos verdadeiros – Conselhos para quem quer visitar dormindo o reino dos

vivos e aquele dos mortos.

Depois que muitas revistas de coisas maravilhosas se ocuparam e ainda se ocupam dos sonhos

proféticos e dos sonhos verdadeiros, atendendo ao pedido que me foi feito de escrever sobre os sonhos,

escrevo brevemente e o mais claramente possível, mesmo porque sobre este argumento escreverei

amplamente quando tratarei de filosofia e prática da magia natural e divina.

Antes de mais nada, como dividir os sonhos?

1. Em sonhos de origem sensória;

2. Em sonhos do plano material astral;

3. Em sonhos do plano astral divino.

Os homens, mesmo os mais perfeitos (relativamente à sociedade na qual vivem) podem sempre se

iludir com sonhos de origem sensória, os quais são uma continuação da sensitividade quando estão

acordados.

As ideias corrompidas do dia, antiga definição dos filósofos comuns, se refere justamente a estes

sonhos: adormecendo sob uma impressão sensória qualquer, que às vezes foge da observação mais

minuciosa, estes sonhos nascem e crescem na nossa mentalidade enquanto o corpo físico descansa.

São os sonhos de todas as pessoas de mentalidade ordinária, das pessoas vulgares não só de

aparência, mas de desenvolvimento psíquico. É suficiente perceber, dormindo, um som, uma mudança de

temperatura, um contato e a imaginação faz o resto. É suficiente deitar-se sob o impulso de uma impressão

qualquer dos sentidos para se ter um sonho relativo ou análogo àquelas sensações. A esta espécie de

sonhos eu atribuo aqueles que revelam o estado patológico de um indivíduo e os médicos (que deveriam

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saber estas coisas!) deveriam ler nos sonhos dos doentes o caráter das enfermidades e alterações do corpo

humano.

Existe uma relação muito próxima entre os sonhos e as enfermidades do corpo e por este motivo

poderia ser escrito, por quem fizesse um estudo especial, um verdadeiro Tratado dos sonhos para uso dos

médicos.

Cito um exemplo controlado por mim e que todos, médicos e não médicos podem experimentar com a

prática: aqueles que sofrem de reumatismos ou de catarros, quando o mal-estar ainda não se manifestou,

sonham com a água, com o banho, com uma imersão, com uma ducha acompanhada sempre no sono por

uma sensação de muito frio. Aqueles que tem propensão para as doenças asmáticas ou para as

enfermidades cardíacas ou para os sufocamentos sonham com frequência com o fogo, com o calor etc..

Repito: eu não me extendo em discussões e em particulares porque escreverei mais amplamente

sobre este argumento; eu escrevo o mais sucintamente possível sobre estas altíssimas questões simples

mas que tocam a alma humana, somente para contentar as pessoas que me pedem para tornar úteis as

horas de sono.

Nas pessoas que fazem estes sonhos de origem sensória o corpo astral ou corpo fluídico é muito

aderente ao corpo físico. Elas percebem dormindo somente as ideias geradas pela repercussão do mundo

material sobre os nossos sentidos materiais.

Enquanto o corpo astral lentamente se aperfeiçoa, nós fazemos passeios nas proximidades e sob o

impulso de um desejo bem determinado podemos ver dormindo as coisas que as paredes, durante o

período em que estamos acordados, e a distância nos impedem de conhecer.

Este fato, nas pessoas em que o fenômeno acontece espontaneamente, pode ser cultivado ao ponto

que quem vai dormir pode traçar o quadro das visitas a serem feitas enquanto o corpo descansa. Neste

caso acontecem saídas reais do corpo astral que não deixam o plano terrestre no qual vivemos.

Pensando bem, todas as senhoras com imaginação fértil e todos os homens curiosos se divertiriam

muito em sonhar assim! E aquilo que eu escrevo seriamente, para alguns poderia parecer que eu quero

fazer reviver nas mentes dos leitores as fabulosas recordações das Mil e uma noites. Todavia este

fenômeno é muito comum: muitas pessoas, especialmente as pessoas cultas, aquelas que desenvolveram

o sentimento de um ideal, aqueles que conduzem uma vida simples e não se deixam levar pelas paixões,

sem saber como, colocam em prática e possuem esta faculdade da alma humana desenvolvida. O ponto

mais difícil da questão é lembrar do que foi sonhado quando acordam, isto é nem todos sabem

compreender a memória persistente quando acordados daquilo que foi visto durante o sonho.

Também nesta segunda espécie de sonhos estão presentes os médicos e os remédios: porque este

fato de passear em sonho pelas casas dos outros, coloca na nossa alma não somente as ideias das coisas

nunca pensadas antes, mas também os germes da saúde e da doença.

Durante o sonho, dadas as relações entre o corpo astral e o corpo material, acontece que as

impressões que se recebem são absorções de coisas reais e se referem a impressões reais. Este fato que

parece ser um mistério profundo como o mar, não é senão o hipnotismo muito progredido de hoje com

as suas leis científicas.

Quem se ocupa de medicina oculta, pode dar ao doente um remédio através de seu corpo fluídico ou

influindo sobre ele, e também pode transmitir a enfermidade a uma pessoa sã.

Mas sobre isto conversaremos em uma outra ocasião: nesta ocasião acontentemo-nos de aconselhar

como colocar-se praticamente em condições físicas tais que permitam sonhar e ver tudo aquilo que se

quer.

Antes de mais nada, não ir dormir logo depois de comer e beber abundantemente: não digo de comer

pouco, mas não encham o estômago de alimentos que por serem volumosos se tornam indigestos. É

melhor ir dormir pelos menos umas duas horas depois do jantar e não jantar muito tarde. Manter-se em

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um estado de espírito muito sereno e não cobrir-se muito para não aumentar a transpiração até o ponto

de suar. Quanto mais as funções do corpo material estiverem em equilíbrio, mais o corpo astral estará

livre. Por este motivo eu aconselho as mulheres, que durante o período menstrual, não tentem esta

experiência.

Ir dormir com a vontade calma e não impetuosa de ver uma determinada coisa e uma determinada

pessoa, e preferir as coisas e as pessoas que são amadas e as pessoas das quais se tem a certeza que se é

amado com intensidade. Dois amantes que façam isto com assiduidade, acabarão vendo-se todas as

noites, lembrando ou não quando estiverem acordados – porque duas pessoas que desejam ver-se

durante o sonho acabam sempre evocando-se reciprocamente e encontrando-se no meio do caminho.

Mas como conservar a memória daquilo que se faz durante o sonho?

O remédio a ser sugerido não está no poder de cada um, mas eu posso aconselhar que para facilitar a

lembrança é necessário que não se seja acordado por barulhos externos nem pela entrada de uma pessoa

viva materialmente no quarto, porque qualquer despertar brusco determina o reentrar violento do corpo

astral no corpo físico e a memória se perde.2

Os perfumes mais indicados para fazer sonhar e aqueles mais aptos para fazer esquecer são os

seguintes:

a íris florentina, o musgo, o feno, a essência de patchouli, a rosa, esta última em dose muito leve,

ajudam a sonhar e recordar;

• a canela, a amêndoa, a papoula ajudam a esquecer.

Entre as substâncias que se comem: as substâncias muito amargas e muito doces, as muito azêdas e as

muito ácidas não fazem bem. Os cremes, o mel acidificado, o chocolate, o chá com leite, o chá com louro, o

chá com camomila, o zimbro, o whisky ( algumas gotas sobre um cubinho de açúcar) são úteis.

Quando se entra no reino da visão real (lúcida) dos sonhos, é necessário desejar a ascensão e entrar

no mundo astral divino, no qual se tem contato com os espíritos dos mortos e com os espíritos dos vivos em

níveis superiores.

Nestes sonhos podem ser vistas pessoas queridas que não estão mais na terra e que o nosso afeto

evoca – pode-se através de símbolos, de semelhanças e fatos conhecer verdades ocultas – pode-se entrar

em comunicação com o Espírito de Deus ou espírito universal e pode-se tornar profeta.

Isto é em poucas palavras o que se pode dizer sobre os sonhos, que todos coloquem em prática, da

maneira que for possível e se alguém precisar de conselhos me escreva para o Mondo Segreto e darei nesta

revista o conselho que me for pedido.

“Il mondo secreto”, fascículo nº9, setembro de 1898.

2 O retôrno brusco do corpo astral no corpo físico provoca uma reação violenta no corpo físico, como um sobressalto,

que além de provocar o despertar deixa uma sensação desagradável que atrasa a retomada do sono. (N.d.c.)

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Uma antiga prática espiritual tibetana pode ajudar a curar o câncer

A ciência médica uficial se apoia na antiga prática meditativa Tong Len para a cura do câncer.

A experiência começou a ser feita em um hospital italiano de Rimini e é a demonstração de como a ciência e a medicina, abandonando toda forma de ostracismo contra as ditas curas “alternativas”, se aproximam sempre mais das antigas terapias espirituais.

Eis um exemplo da prática do Tong Len: “A prática do Tong Len – declara um esperto desta antiga disciplina - exige a atenção sobre um amigo ou uma pessoa querida que precisa de ajuda, de amor, ou encorajamento. Deixar que a imagem deste amigo se apresente em vossa mente. Respirem a vontade de jogar para fora a dor e o medo deste amigo. Depois, quando se espira, enviar a felicidade, a alegria e alívio”.

A notícia nos alegra muito, mesmo porque em alguns dos fascículos da “Medicina Hermética” Giuliano Kremmerz tinha previsto o fatal interesse da medicina uficial pela magia natural... Mas justamente por isto: não teria chegado o momento em que a medicina ocidental se lembrasse que no ocidente existiu e existe uma escola terapêutica pitagórica que se baseia na medicina espiritual e nas curas à distância e que não tem motivos para invejar as práticas budistas e tibetanas?

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Fevereiro 2013

OS ARCANOS DA MAGIA E OS PODERES DA MENTE

“Em todas as iniciações existem os pequenos e os grandes mistérios.

Em Nápoles os pequenos se celebravam no Templo de Priapo pelos Sacerdotes de Ísis que com as lanternas nas mãos procuravam Os íris”.

(Giustiniano Lebano, Del mistero e della Iniziatura, Il mondo secreto, 1899).

Para a psicologia empírica o fato de perseguir objetivos distantes e a escolha dos meios aptos para

alcançá-los é o indício certo da atividade mental. O homem porém tem uma mente individualizada por um conjunto de experiências que foram

estratificadas na sua consciência. Qual é a diferença – sempre que exista – entre mente e consciência? Giuliano Kremmerz escreve: “Assim como a Força é

intuitiva, assim como o Movimento é indefinível, a linguagem humana não consegue dar um contorno preciso a uma coisa que todos os homens sentem em si mesmos e que nós, latinamente, chamamos de Mente. Na gramática vulgar, ruínas sobreviventes da gramática ideal (isto é das ideias absolutas, primitivas), o verbo ou palavra por excelência é o substantivo ser. O Ens latim é o Ente; e a Mens dos latinos é um composto de Ens, isto é uma consoante de possesso (quase síncope de Mens) que

precede o substantivo particípio indicante o ens isto é o Ente, aquele que existe e é. Então respeitando o sentido oculto das palavras, Ente é a ideia absoluta do Espírito Universal de Deus, e Mente é o vocábulo da

ideia relativa do Espírito Universal encarnado e definido no corpo humano... . A Inteligência então é o esforço da Mente para conceber, absorvendo as suas virtudes, o Ente do qual

prende a sua origem”. E Arturo Reghini (1878-1946) por sua vez escreve: “ A palavra mente, lat. mens, sânscr. manas, contém em si o sentido de limitar, medir, e de iludir,

mentir; esta palavra vem da raiz indo-européia ma=medir que se encontra em mens-is (mês) e mensura (agrimensura) e no sânscrito manu (homem), alemão mensch, inglês man”.

Na conferência “A vida do Espírito” feita por Reghini em 1907 a palavra “consciência” aparece muitas vezes. Portanto não é difícil para nós entender o significado mais oculto citando algumas das frases ligadas ao uso de tal palavra: “... reconhecimento de uma forma de vida e de consciência juntas em cada espécie de organismos e de agregados materiais”; “... a vida e a consciência também existem em organismos primordiais assim como os cristais”.

Ninguém diria que o cristal e o cavalo são dotados de uma mente pensante, mas os minerais, os animais e o homem possuem uma consciência, o que significa que a consciência é uma condição comum a todas as naturezas vivas, “e talvez com o tempo saberemos que vida e consciência existem não só no infinitamente grande...” e “esta condição sobre-humana da consciência nos interessa muito porque é aquela consecutiva à nossa”.

Nós observamos que na tradição oriental, atividade, desejo e inteligência são os aspectos graduais da mente que do estado vagante e volúvel da atenção àquele confuso e desencaminhador das emoções leva o homem a sentir-se como se estivesse possuído por uma ideia que, verdadeira ou falsa, o guia, o dirige e o domina para fazer dele de tempos em tempos um santo ou um exaltado, um mártir ou um maníaco.

Quando o homem, ao invés de ser possuído por aquela ideia se libera dela conquistando o domínio pleno de si inibindo todo movimento desordenado da mente, chega ao estado de yoga ou seja ao estado de Mente que reencontrou o seu Princípio e alcançou a Unidade que se encontra acima das diversidades.

Arturo Reghini

(1878-1946)

(1878-1946)

Giustiniano Lebano (1831-1910)

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A ação de liberar-se se desenvolve retrocedendo ao estado de consciência, superando a consciência individualizada e prosseguindo a caminho da consciência sobre-humana ou universal.

A tradição ocidental também sustentou a ideia de que a liberdade do intelecto, meio condutor entre o humano e o sobre-humano, se conquista aquietando a sensibilidade física, tornando inertes os sentidos animais e os estímulos derivantes de suas atividades.

A diferença substancial entre as duas concepções é que a primeira se baseia sobre a renúncia, sobre um sacrifício, sobre a plena e completa atrofia dos sentidos corpóreos, enquanto que a segunda, mais positiva, o silêncio dos sentidos é só um meio, um exercício gradual e determinado para conquistar o domínio da vontade. Alcançado o objetivo a mente se equilibra sem renegar os bens materiais, porque está sempre pronta para corresponder e para subir novamente através da via que leva ao céu.

Deriva deste fato o símbolo de Hermes, deus que possue asas nos pés; ladrão de bois nos prados celestes, ele se apropria do arco e das flexas de Apolo, do cinto ornado de gemas preciosas de Vênus, da poderosa espada de Marte e do cetro real de Júpiter; no entanto é o predileto dos deuses e é o mensageiro das ordens supremas e dos prazeres divinos.

À beleza realística deste símbolo, incompreensível para quem não conhece profundamente a mitologia, se contrapõe a tendência do misticismo oriental, não assimilável pelo gênio ocidental, e o fato de aparecer de repente entre os nossos povos nunca foi fonte de bem por causa das consequências e exageros que produziu.

O platonismo e a escola de Alexandria, em harmonia com a tradição egípcio-caldéia, pretendiam superar a escravidão dos sentidos com a força da vontade, julgando que o prevalecer tirânico destes representasse um obstáculo para os poderes da alma e para a manifestação livre da vida do espírito.

Os sentidos, de fato, mostram as coisas do mundo exterior, não as leis da harmonia às quais obedecem; estas leis devem ser descobertas pelo homem em primeiro lugar em si mesmo se quer que se revelem para ele também no mundo exterior.

O sentido do universo não se encontra naquilo que vemos, sentimos e tocamos, mas naquilo que surge no profundo do nosso ser. Nós o intuimos como sendo um ser vivente que nos conduz pelas mãos até o desconhecido; não o conhecemos, porque não o vemos, mas ao mesmo tempo temos a certeza do seu “é” juntamente com a ignorância daquilo que “é”. Desta maneira nós estamos em relação com a ideia do ser que é e também da ideia da unidade e do infinito, misteriosa e inefável, todavia esclarecedora do nosso pensamento e guia da mente.

“Quando você fechar as portas – diz Epicteto – e dentro estiver escuro lembre-se de nunca dizer que você está sózinho, porque você não está; mas deus está dentro de você e dentro de você está o seu demon; e que necessidade eles tem de luz par ver o que você faz?” (Discursos, livro I).

Eis a importância da célebre máxima de Delfos que também é a voz fundamental das antigas Upanixades.

Nestas últimas o “Conheça a si mesmo” está explicado da seguinte maneira: “Aquele que habita na mente e dentro da mente, que a mente não conhece, cujo corpo é a mente,

e regula a mente dentro, ele é o seu Si mesmo, o comandante interno, o imortal” (Upanixade, 7-20). Se recordamos que o “gnosce te ipsum” era o princípio do conhecimento, inspirador de todos os

ensinamentos antigos, não é difícil chegar à conclusão que o homem sempre procurou conceber o Ser através dos poderes intuitivos da mente, tentando demonstrá-los com o uso dos símbolos, da analogia e da proporção.

É uma verdade comumente aceita aquela que os objetos podem ser conhecidos por analogia, na comparação de um objeto com o outro.

A analogia era o método preferido pela sabedoria antiga intermediário entre a dedução e a indução, entre a hipótese e o fato conquistado e exigia o equilíbrio perfeito da mente para evitar os erros provenientes da fantasia.

O axioma fundamental deste método era: “O visível é a manifestação ou medida porporcional do invisível”. Por este motivo existe o binário

dos contrários ou dos opostos, cuja harmonia resulta do equilíbrio e atração de um para o outro. Este método segundo o qual do visível se subia novamente para o invisível era o único mediador

entre o finito e o infinito e na mais rigorosa aplicação se valia da divisão ternária.

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Sobre a base fundamental das analogias e das correspondências, foram formulados, calculados e prescritos simbolismos explicativos e cerimoniais das grandes religiões e consequentemente os rituais da mais secreta iniciação. Sem esta direção geral se torna difícil determinar na mitologia o confim entre mito e astronomia, entre história e alegoria, entre realidade e imaginação, assim como as diversas mudanças que os próprios personagens fabulosos sofrem passando de uma noção para outra.

Deste fato deriva a necessidade de discernir, na interpretação das histórias religiosas, a parte legendária, manipulada pelo vulgo, alterada pelo tempo e corrompida pelas paixões, daquela mitológica.

O sacerdote isíaco da Lua pressentia a Verdade; enquanto que o sacerdote de osiris, do Sol, reencontrava o Amor.

O Sol, fonte visível de vida, era o símbolo da vida invisível; a vida foi concebida como uma Força e esta Força foi representada como Hércules com os seus doze trabalhos nos quais o adepto via serem simbolizadas as etapas da iniciação.

Sucessivamente, por causa da tendência do vulgo em modificar e adaptar a tradição às próprias paixões, o Hércules solar se transforma em fundador de colônias, em aventureiro ou em mercante. A este ponto a religião, simbolizada pela lua, não reflete mais a divina luz do sol sobre o povo, que representa a sabedoria dos sábios: a chave dos mitos e dos símbolos foi perdida e a intolerância acabará acompanhando a inevitável tirania do dogma.

As histórias mitológicas traçadas no céu e na natureza, as dramáticas personificações do movimento celeste e dos fenômenos naturais eram verdadeiras revelações da grande lei da analogia universal que o dogma religioso materializou em incompreensíveis artigos de fé.

Ao ternário de todas as iniciações correspondiam, com uma graduação gerárquica, os símbolos sagrados, consistentes em três modos diferentes para exprimir uma ideia; no sentido positivo (fatos) no sentido comparativo (leis) no sentido superior (princípios): matéria, vida, espírito.

O método positivo constata os fatos da realidade física; o método lógico do filósofo se baseia sobre hipóteses úteis para explicar as leis que governam estes fatos; o método metafísico explicando e sintetizando as leis descobre uma verdade da qual se supõe seja demonstrada a existência.

Separados, os vários métodos são relativos: a ciência de fato usa uma linguagem diferente daquela da filosofia e o filósofo desconfia do teólogo mesmo pondo-se os mesmos problemas e as mesmas perguntas que atormentam a consciência religiosa.

Mas a grande corrente que integra a observação, a dedução e a hipótese, e reúne em uma realidade conjunta a ciência a sabedoria e a fé, é a analogia, a qual afirmando o númeno sobre o fenômeno, ou seja a causa sobre o efeito visível, é a única que pode chegar a fazer nascer no homem aquela grandiosa concepção da realização de si através da prática da experiência espiritual que faz parte da vida.

Os antigos, após um conhecimento sumário do mundo físico, considerado por eles a cena aonde agir e a escola aonde aprender, tinham estabelecido a analogia do homem com o Universo, reencontrando a sua chave na vida espiritual, divina realidade, cujo desenvolvimento podia dar as faculdades de alcançar aquele supremo poder que continha o mistério cosmogônico mais alto.

Segundo Max Müller, os antigos povos arianos que ainda não falavam nem o sânscrito, nem o grego, nem o latim, denominavam tal mistério dya – patar, pai do céu; os arianos que tinham se mudado para o sul o invocaram com o nome de dyansh – pitâ e aqueles do Helesponto e da Itália, Zeus, Jovis, Jú-piter, isto é Pai no explendor dos céus.

E nas Upanixades se fala do Pai “cuja forma não pode ser vista, que ninguém percebe com os olhos. Aqueles que através do coração e da mente o conhecem como habitante em seus corações, se tornam imortais” (Svet. Up. Ad. III, 13, 19).

É verdade que em seguida, na tentativa de exprimir com palavras humanas a ideia do incompreensível Grande Causa Primeira, é a uma de suas emanações, ao Logos solar, que se alude como sendo Pai do ser humano.

Na realidade o Ser dos Seres é o sem Nome, é o Eterno, o Infinito, o Indefinível, o além dos fenômenos todavia se manifesta neles, inalcançável e inacessível à razão.

A única concepção possível foi aquela do Uno, segundo o princípio lógico que aquilo que é, é: a unidade do universo em Deus, a Unidade de Deus em si mesmo: Unus in pluribus et pluribus unum.

Como o múltiplo possa subsistir sem o Uno e o Uno sem o múltiplo, ou o tudo sem o uno nem o multíplice ou ambos ou o uno ou o múltiplo sem o tudo, vai além da inteligência humana.

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Tudo é Uno e o Uno é o tudo: por isto a unidade homem é uma na mente humana, e a unidade Deus é uma na mente universal.

“A mente – escreve Kremmerz – é o complexo da causa e do efeito pensante. Então Mente é moto ou movimento. Para compreender o que seja o moto herméticamente, você não deve concebê-lo como um deslocamento de um lugar para o outro. Hermes deve fazer com que você conceba o moto mental fora de qualquer lugar, de qualquer superfície, de qualquer ponto senão você terá mecanizado uma coisa qualquer que se encontra fora da lei mecânica e que pertence à matemática pura. A mente UNA é moto no espaço. O espaço desta sutilíssima filosofia de Hermes é ambiente mental, não tem dimensões e compreende todas as dimensões, do contrário se torna sinônimo de lugar por dimensões.

É difícil? O espaço mental ou ambiente da síntese mente está acima de qualquer valutação aritmética; assim as funções do pensamento não tem limite e o moto livre pode perceber e alargar-se no moto da mentalidade humana e na síntese divina ou universal... O universo 1 UNO compreende a primeira e segunda síntese extremas, unidade e soma de todas as sínteses. O homem se encontra ao extremo mais pobre e pode, analisando o seu mental ou moto da mente no seu espaço sem dimensões, encaixar-se com a mente-moto universal que deve ter o mesmo espaço, e extrai deste moto universal os pensamentos e o conhecimento. De fato se o moto da sua mente prescinde do lugar, e o espaço no qual o moto se realiza é sem dimensões, a mente humana se encontra na mesma esfera de explicação da mente divina, divindade positiva ou lei universal. Se a lei universal é imutável e constante no mesmo espaço, ou o deus desce até você, ou você sobe até Ele”.

Esta é a mais alta faculdade da mente da qual falam simbólicamente as diversas tradições iniciáticas.

Alguns pensadores a chamaram Razão, entendida como faculdade do espírito que supera os limites das próprias representações, para subir até a Lei, até a própria razão objetivamente considerada.

Em tal caso por Lei se pode entender a razão do Universo e por Razão a lei do Universo aplicada ao Homem. A consequência é que o Homem não inventa a ordem cósmica, mas a descobre em si mesmo, quando o seu ser entra em harmonia com o Universo e sente que o ente e a Mente são aquele UNO ao qual, desde os tempos mais remotos, se deu o nome de Pai, princípio masculino ou princípio ativo, que tinha como símbolo o fogo visível e invisível que Prometeu tirava do céu análogo ao sol físico vivente e fecundador de vida.

Salilus

Unus, pollentissimus omnium!(*)

OH SOL, Deus radiante, nosso pai, você, que cria as formas e dá relevo às coisas visíveis com a

sombra na onda do seu eterno esplendor, ilumina com a sua Divina Luz aquele que, puro na mente

e no coração, lerá neste livro as leis e as práticas para elevar-se até o poder dos Numes: faça com

que ele entenda e não entenda mal: dê-lhe a humildade para que saiba que é ignorante e a virtude

para abstrair-se da sensitividade surda da vida terrestre, para que não se faça seduzir pela voz da

Besta, e possa sentir o hálito do seu Espírito fecundo.

OH SOL, você, que dissipa as trevas da grande noite dos fantasmas passionais, dos espectros das

concupiscências mais desenfreadas, das superbas criações do orgulho humano, ilumina a

ignorância daquele que, purgado dos frêmitos da volúpia das coisas temporâneas, tem sede de

verdades eternas e faça com que o idólatra da Besta, acorrentado na vaidade da ignorância, sinta o

seu raio divino e se prepare para a chegada do cristo.3

(*) UNO, O MAIS POTENTE DE TODOS

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OH SOL, Deus fulgurante, perdoa aquele que lerá os meus escritos de má fé, aos maçons

ignorantes, aos padres mercadores ou cegos, aos doutores de teologia que não entendem a palavra

do seu Espírito, aos sábios adoradores do ácido fênico, dos micróbios e das vacinas, aos críticos

que não sabem e aos carolas que tem mêdo; faça com que os seus Mensageiros de Luz, anjos

alados e demônios cornudos, lhes convertam à inteligência da verdade das coisas visíveis.

Mas você que esconde a sua luz somente dos cegos, oh SOL, não negar o seu raio e a sua

providência àquele que lendo sem a virtude da alma e do coração queira só uma prova para

converter-se à verdade Mas se a PROVA não basta e o tentador dos Deuses, obstinado, tenta

novamente uma prova sem a fé, seja clemente tanto quanto você é magnífico. Perdoa a fragilidade

dos presuntuosos. Faça com que o seu demônio vermelho não lhes chameje o sangue nas veias e

que o cérebro deles não ferva de loucura diante das imagens vagantes e fugazes da luxúria do

inexistente.

Perdoa, oh SOL, e poupe a sua terrível cólera aos cegos condutores da multidão cega, aos Sofistas

maldosos e aos palhaços da sabedoria humana.

Enquanto eles negam, o Galo canta, e o alvorecer da luz, das almas, das inteligências se anuncia a

oriente, acima da fechada cadeia dos altíssimos montes que impedem aos olhos humanos a visão

da cidade de Deus.

Enquanto eles riem daquilo que não vêem, acariciam as ovelhas a serem tosadas, e os pássaros

gordos a serem preparados para comer, procuram o dinheiro e o paraíso da suburra4; enquanto isto

o Galo repete o canto, a alvorada se torna aurora, o mundo acorda para a luz e deixa as corujas,

donas da longa noite, nos covis devorando o cadáver da grande mentira que lhes nutriu no dia

anterior.

Para quem acredita, para quem ama, para quem espera o sentido verdadeiro da minha palavra,

que é a sua lei.

GIULIANO KREMMERZ

3 Cristo deve ser entendido no sentido mágico e não religioso: o nome grego Christos deriva da união de 2 conceitos:

o primeiro dos quais é CHRYSOS: esta palavra provém da transmutação nas várias línguas de: 1) Orus filho de Osíris

(nome do “deus, conceito, força” egípcio), Chrosus e Chrysos que também em Grego significam Ouro e que geraram

as palavras Crux (latim), Croce (italiano) e cruz Grega (símbolo de luz).

4 “Suburra” na antiga Roma era o bairro mal-afamado onde eram praticados todos os vícios. (N.d.T.).

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Terapêutica

Neurose

O homem moderno, especialmente aquele que vive nas grandes metrópoles, sofre na maior parte das vezes

de neurose e de depressão. A medicina uficial não consegue fornecer soluções terapêuticas diferentes

daquelas baseadas em tratamentos farmacológicos (venenos, cujos efeitos colaterais são escondidos ou

minimizados) ou daquelas ainda mais insidiosas do divã do psicanalista, solução esta que foi difundida no

ocidente por (de) mérito do cinema americano. Como enfrentavam este problema as escolas iniciáticas? Na

tradição ocidental os exemplos não faltam: da Fraternidade de Myriam até a Escola Pitagórica. Nesta

última temos o testemunho de Arturo Reghini o qual recorda em algumas cartas os dotes de seu Mestre

para curar as neuroses.

Na tradição oriental eis um breve ensaio pêgo dos ensinamentos da escola japonesa HARA.

Hoje aparece de maneira sempre mais clara que nas neuroses se esconde um problema humano geral:

aquele da maturidade espiritual.

Em sua acepção mais profunda tal maturidade tem o mesmo sentido seja no caso do doente, seja no caso

da pessoa sã: é a progressiva integração do homem naquela sua essência na qual ele participa do ser. O

neurótico é aquele no qual tal processo sofre particulares alterações.

A imaturidade interior é o câncer do nosso tempo; a incapacidade de maturar-se é a sua doença. A neurose

da qual o doente é induzido a recorrer a um especialista é, na verdade, somente a manifestação particular

de um mal-estar geral, isto é da alienação do homem do ser5. E a sintomatologia concreta do mal da

imaturidade indica, seja no doente, seja na pessoa sã, formas diferentes de uma parada ou becos sem

saída durante a via da repatriação do homem no ser. Em um e no outro – no doente assim como na pessoa

sã – devem ser vistos seres “a caminho”; estes então devem ser considerados não estáticamente mas em

uma determinada perspectiva, relacionada a uma possível união deles com as suas essências6. É assim que,

como sempre acontece no Oriente quando o discípulo vai ao encontro de um Mestre, acontece hoje na

nossa sociedade quando a pessoa sã ao pedir a quem pode ser seu guia espiritual e o doente indo ao

encontro de um psicoterapêuta, além de qualquer “psicologia”, procuram um ponto de referência

metafísico resistente. São movidos por um impulso profundo de suas essências. Procuram uma ressonância

e um guia para sair de uma miséria que não tem somente um caráter constitucional e biográfico mas

também existencial.

A superação desta miséria pede um saber que vá além da simples psicologia7. É necessário reinserir o

homem da nossa época, o qual sofre pela sua imaturidade interior8, causa de todo gênero de males, no

5 No caso do homem que vive nas grandes cidades a alienação é também do ambiente, enquanto o ar que respira é

insalubre, consuma só produtos industrializados e frequenta homens e mulheres com o mesmo problema. (Ndc)

6 Esta é a razão pela qual na prática hermética se tende, através da vontade e da perseverança, à reintegração da

“consciência separada” na “consciência universal”. (Ndc)

7 É fácil ver nesta afirmação a correspondência com a terapêutica oculta de Kremmerz baseada sobre a cura à

distância. (Ndc)

8 É claro que “a imaturidade” do homem moderno não é devida a uma escolha individual, mas é o resultado de uma

qualidade de vida imposta por um sistema político-social que lucra abundantemente sobre esta “deficiência humana”.

(Ndc)

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contexto e na lei de uma vida maior, é necessário dar-lhe a maneira de sentir-se UNO com a origem

profunda da sua existência e indicar-lhe a maneira de demonstrar através da disposição interna a uma vida

potenciada, o seu ter como pátria o ser. Se trata portanto de indicar-lhe uma via e uma praxe existencial9.

No esforço de conhecer a direção através da qual o homem pode redescobrir e consolidar a própria raiz no

ser profundo, o trabalho do terapeuta se transforma em uma ação de iniciação. Quem ajuda os outros, seja

o doente, seja a pessoa sã, se torna um guia espiritual – e ele mesmo é uma via.

9 Não é suficiente se tornar culto lendo milhares de livros, ocorre praticar, a praxe correta vale muito mais do que uma

biblioteca inteira. Na tradição japonesa do HARA, por muitos anos, o mestre ensinava ao discípulo somente como ficar

sentado e como encontrar a postura correta. (Ndc)

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Março 2013

A lenda do passarinho

Uma lenda hebraica merece ser contada para que aqueles que se preparam para operar na magia se lembrem dela por toda a vida. Escute-me e compreenda-me. Um rico hebreu passeava em seu jardim e prudentemente agarrou um passarinho pela cauda. Mas a sua surpresa foi grande quando percebeu que o passarinho falava e lhe dizia:

- Potente senhor, deixe a um pobre passarinho a liberdade e a vida; para que eu posso lhe servir? Eu não sou bonito pelas minhas penas, não canto harmoniosamente, não valho nem mesmo para ser comido porque sou magro... Vamos! deixe-me, se me deixar eu lhe direi três máximas que formam a ciência de todos os tempos.

- Está bem, disse o hebreu, assim sendo, diga-me as três máximas e eu lhe darei a liberdade.

- Pois bem – respondeu o pássaro – se você não quiser ficar louco lembre-se destas três coisas:

1. nunca PENSAR NAQUILO QUE PASSOU E QUE NÃO VOLTA MAIS.

2. não DESEJAR AQUILO QUE VOCÊ NÃO PODE TER.

3. não ACREDITAR NAS COISAS IMPOSSÍVEIS.

- Muito bem! disse o hebreu, as três máximas me agradam, e mantenho a promessa. Abriu a mão e o passarinho voou.

Mas assim que pousou em uma árvore, começou a rir loucamente.

O hebreu perturbado lhe perguntou:

- Passarinho, porque você está rindo?

- Eu rio porque é de chorar a fraqueza da razão humana. Todos os homens possuem a soberba da razão e por isto desviam da verdade e perdem tudo.

- E porque você diz isto?

- Digo isto porque você me concedeu a liberdade a bom mercado e seguindo a sua razão você perdeu um tesouro, porque é verdade que eu não tenho belas penas, é verdade que eu não canto bem e não sou bom para se comer; mas se você tivesse aberto o meu ventre teria encontrado um brilhante três vezes maior do que um ovo de galinha e seria o homem mais rico da terra.

O hebreu ficou surpreso. Então disse:

- Mas você é que é bobo que prefere a sua liberdade ao invés do quarto agradável no qual eu teria lhe colocado e colocarei com ervas sempre frescas e grão selecionadíssimo... porque você não vem?

Mas o pássaro continuou a rir e disse: Vocês homens sábios nunca devem esquecer aquilo que aprenderam, e nunca devem ofuscar a razão com o desejo. Poucos minutos atrás eu lhe dei três máximas e agora você já as esqueceu? Eu lhe disse para não pensar nas coisas passadas, e você pensa. Não desejar aquilo que não pode ter e você tolamente deseja que eu desça para me esquartejar. Não acreditar nas coisas impossíveis, e você acredita que o meu corpinho contenha um brilhante maior do que ele. Assim, rindo, ele se afastou e o hebreu ficou maravilhado pela segunda vez. A lenda é preciosa. Eu a contei para que o meu leitor e discípulo não se esqueça, agora que temos que praticar muito, estas três coisas: a magia é ciência perfeita porque é razão absoluta, é justiça e é amor. Viole estas três máximas e não conseguirá realizar nada em nenhuma obra.

Giuliano Kremmerz: “A ciência dos magos” 2° vol., tradução de Emirene Armentano.

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Maio 2013

A função histórica da América do Sul

de Manlio Magnani

Extraído de uma carta de Manlio Magnani a um discípulo de Buenos Aires.

“Em sua carta o Sr. me fala de um Lama. Eu acredito que não exista

inconveniente em vê-lo. Porém destes assim ditos Lamas (que seriam sacerdotes indianos ou pseudo- indianos) que giram pelo mundo, penso que seja bom desconfiar. A razão da desconfiança é simples: - o verdadeiro sábio não circula por aí, nem se expõe para os curiosos, nem faz profissão de prodígios etc.; por outro lado o ser Lama não quer absolutamente dizer que é sábio; e, além do mais, tanto pela Europa como pelas Américas passaram muitos Lamas e Swamis que aqui e ali despertaram curiosidade, mas que depois com o juizo e a sabedoria não tinham nada a ver; depois pelo contrário se viu que ou eram pessoas a procura de aventuras ou de sorte ou eram propagandistas de seitas religiosas ou de alguma outra coisa. Em todo caso esta não é senão uma opinião pessoal. Se o Sr. vir, aquele senhor, poderá ter uma ideia mais exata.

Como o Sr. sabe eu na vida e no pensamento fico completamente longe e alheio de toda e qualquer corrente política. Não faço nada que seja ou possa ser, mesmo de longe, relacionado à política; não penso e não quero pensar em coisas políticas. Toda a minha atividade de pensamento está voltada para coisas e para problemas espirituais. Vivendo assim e pensando assim eu me preparo para o dia, que espero seja próximo, no qual terei a felicidade de deixar o corpo e a existência terrena. Não acretido que quem vive e pensa assim possa ter moléstias.

Em todo caso na prática real da existência eu encontrei e encontro tanto na Argentina quanto no Brasil o conforto e a segurança como em uma segunda pátria. E realmente para mim estes dois países são uma pátria, pátria que amo e respeito profundamente.

Depois o Sr. também conhece o meu pensamento – que é também a minha conduta – com relação ao estrangeiro e ao país que o hospeda. O estrangeiro é um hóspede que tem muitos deveres: antes de mais nada de respeitar e observar as leis e os costumes do país aonde se encontra, de respeitar, obedecer o honrar as autoridades; depois de comportar-se como um cidadão exemplar, amar o país hospitaleiro e servi-lo se necessário. As atuais circunstâncias da vida internacional não me fazem desviar nem mesmo de uma linha desta minha norma de conduta e não modificam de maneira nenhuma o meu modo de ver.

Além do mais existem outras considerações a fazer. A América do Sul terá no futuro uma função histórica importantíssima.

O Sr. sabe que todas as civilizações conhecidas surgiram e floresceram no hemisfério Norte. Agora caminhamos para uma época na qual também o hemisfério Sul deverá produzir aquelas grandes afirmações no pensamento, nas fés, nos sentimentos, na vida que chamamos civilização. Mas isto por várias e evidentes razões, não pode acontecer senão muito mais tarde na África do Sul e na Austrália.

É justamente no continente sul-americano que devemos primeiramente o surgir e o florescer de uma nova civilização.

Atento porém: aquela nova civilização não pode ser importada da Europa ou do Norte-América. A Europa vaga entorno do cadáver da sua civilização morta. O Norte-América não tem uma civilização nem própria nem conquistada; desfruta somente pálidos reflexos de outras civilizações que existiram e procura compensar esta falta, este vazio com a verbosidade, a economia com um papel central no quadro das

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atividades humanas e o ilusionismo.10 O Sul-América preparará e formará as bases e as colunas do futuro edifício destinado a iniciar o ciclo

da civilização do Hemisféfio atualmente voltado para a estrela da Cruz do Sul. Elaboração certamente lenta, cansativa, difícil, porém certa e inevitável.

E entre os vários tipos de civilização que surgirão em diversos pontos do globo (surgirão, entendamos bem, em um futuro próximo), aquele das zonas que agora constituem o Sul-América não será nem o menor nem o menos notável.

Também este motivo contribue para fazer com que eu ame os países sul-americanos. Evidentemente se eu os amo devo também saber comportar-me com eles como um bom cidadão.

§§§

Se queremos calcular com medidas de tempo o verificar-se de tais fatos no nosso mundo sensível,

acontecerá sempre que as datas sejam um tanto incertas, apenas aproximativas. De fato aquilo que na ordem espiritual é imediato e instantâneo se traduz nos mundos sutis com uma certa complexidade e variedade de movimentos ou estados vibratórios; o que afeta sensivelmente a realização e impede a sua simultaneidade e o efeito que daqueles se projeta, depois na ordem física conquista características temporais e espaciais por causa da densidade e da variedade na própria densidade de tal ordem.

Além disto na ordem física as exigências temporais e espaciais fazem com que a realização seja sempre precedida por um período de preparação e acompanhada por um período de ajuste e adaptação, o que torna difícil e incertto determinar o momento exato desta realização, sendo ao contrário mais provável que aconteça através de uma série de sucessivos momentos, logo em uma sucessão temporal. Fica então entendido que se eu indico datas é só como mera aproximação.

Começando pela data mais reconhecida da Tradição para o princípio da Época Negra: conjunção de Sirio com os luminares (sol e lua) eclipsados, sendo os solstícios e os equinócios no 15º grau dos signos, o sol nascente, Sirio no 15º de Capricórnio, Vega estrela polar do Norte, temos 13484 anos atrás. Remontamos à submersão de Atlântida.

Perecia a civilização grande mas turbulenta e mutável da Época de bronze ou lunar; e começou o ciclo da civilização paleo-americana, paleo-eurásica, paleo-eurafricanas mediterrâneas e modernas. Civilizações que com o crescer ameaçador tendem a precipitar no abismo do materialismo, até tocar um ponto limite. O ponto limite é alcançado quando se confunde o espiritual com o intelectual e com o sentimental; quando a mente não conhece mais senão secundum modis rationis, quando o processo do conhecer se torna somente analítico, e quando a análise faz com que a mente humana se perca nos vórtices obscuros do particular e do detalhe. Então também a Época Negra chegou ao fim.

A Época Negra vive agora o seu final apocalíptico, assim como o viveu na Atlântida a Época do Bronze. Se quisermos datas, podemos recordar que a longitude no 15º grau de Capricórnio que marcou a

última hora de Atlântida tem a sua correspondência na longitude no 15º grau de Câncer que por causa da precedência será alcançada mais ou menos no final do presente século11, momento curioso também porque já desde 1981 terão começado as conjunções de Saturno e Júpiter no trígono do ar em Balança.

Um meu cálculo pessoal me induz a afirmar que depois de 1960 já começará a desenvolver-se plenamente o processo cósmico e físico terrestre correspondente ao final da época negra.12

10 A afirmação de Magnani é extraordinariamente profética. Partindo da sua visão “cosmológica” e do momento em

que ele fala sobre o aparecer de uma nova “civilização” devemos deduzir que todos os modelos políticos, sociais e

econômicos existentes e sobre os quais o Norte-América pretenderia fundar uma “nova ordem mundial” são falsos e

destinados a perecer. A América do Sul então, na qual florescerá a futura “civilização”, deveria encontrar a coragem e

a força para formar os homens e promover as ideias que dariam início a este extraordinário evento próximo futuro

que, com toda evidência, não terá nada para dividir com as assim ditas “ordens mundiais” modernas. (ndt)

11 Lembramos que este escrito é de 1935 (ndt).

12 Sobre o Kali-Yuga ou idade negra ou idade do ferro René Guénon, que tratou o argumento do ponto de vista

tradicional, em uma nota no capítulo “O centro supremo oculto durante o Kali-Yuga” de seu livro “O rei do mundo”

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Aviso que eu não faço astrologia, mas simplesmente deduzo números de posições determinadas de certos elementos constituintes o corpo vivente do cosmos.

Após (ou no final) de tais acontecimentos a disposição das terras emergidas e dos oceanos sobre a terra será um pouco diferente da atual; então aquilo que agora é o hemisfério sul será mais rico de terras emergidas, terá menos oceanos; e polo e equador serão deslocados, de modo que outra será a inclinação do eixo terrestre e outras serão as estrelas polares para os dois hemisférios. Junto e correlativamente a tudo isto acontecerão modificações da densidade e pressão atmosférica, naqueles fluxos que hoje são chamados radiações cósmicas, solares etc., modificações nos relacionamentos recíprocos de movimentos de distâncias e de influxos entre a terra e a lua e outros corpos celestes, modificações dos estados magnéticos terrestres e planetários etc. etc..

Em virtude de tais modificações o gênero humano se modificará assim como se modificarão, mais ou menos, todas as coisas sobre a terra.

Sistema nervoso, sistema endócrino, tecido sanguíneo serão os primeiros a se adaptarem às novas condições. E depois será a vez das funções genéticas, daquelas emotivas, daquelas do pensamento e do mecanismo sensorial que se organizarão adequadamente, tendo como características principais e primárias um extraordinário aperfeiçoamento das próprias atitudes, a entrada em função de faculdades antes latentes, uma muito maior correlação entre certos órgãos e funções aparentemente de caráter diferente, uma tendência à subordinação consciente das funções e dos órgãos, o desenvolvimento das faculdades de percepção e de intuição.

Então o homem estará em condição de conquistar a Sabedoria, a qual não é outra coisa senão o dom de saber se encaminhar para o conhecimento da verdade verdadeira, de poder levantar-se para as alturas espirituais às quais aspira.

Raimondo de Sangro e os Ritos Egípcios

P.Galiano

OS RITOS EGÍPCIOS: RITO DE MISRAÏM E ORDEM EGÍPCIA DE OSÍRIS

O nascimento dos Ritos Egípcios é baseado sobre o mito da continuação subterrânea da sabedoria egípcia através de canais que da época romana remontam para a Idade Média e a idade renascimental através de uma corrente ininterrupta de sociedades obrigadas a manter o mais rigoroso segredo, as quais só ocasionalmente se manifestaram exteriormente, e todavia sempre em núcleos muito restritos de adeptos. Nós usamos a palavra “mito” em seu verdadeiro significado, não como “fantasia”, como é entendido no âmbito da cultura moderna, mas de acordo com a definição clássica. Um exemplo destas manifestações “externas” é o movimento Rosa+Cruz, o qual se revelou em 1600, e que na pseudo - autobiografia de Christian Rosenkreutz (As núpcias químicas, atribuídas a Valentin Andreae) usa o motivo do

escreve: “O Manvantara obra de um Manu, também chamado Maha-Yuga, compreende quatro Yugas ou períodos

secundários: Krita-Yuga (ou Satya-Yuga), Treta-Yuga, Dwapara-Yuga e Kali-Yuga que se identificam respectivamente

com a “idade do ouro”, “idade da prata”, “idade do bronze” e “idade do ferro” da antiguidade greco-latina. Na

sucessão destes períodos existe uma espécie de materialização progressiva, resultante do afastamento do Princípio

que acompanha necessariamente o desenvolvimento da manifestação cíclica, no mundo corpóreo, a partir do “estado

primordial”.

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sarcófago que contém o Rei e a Rainha decapitados que atravessa o mar para chegar em uma ilha sagrada, motivo que recorda muito a viagem do sarcófago de Osíris na versão de Plutarco (Ísis e Osíris). Ainda mais claramente na Ordem da Rosa de Ouro de Antigo Sistema, que aparece em 1757, as doutrinas egípcias secretas são cristianizadas por um sacerdote alexandrino de nome Ormus (referência ao Ormuzd persa) batizado pelo Evangelista Marco e transmitidas até a Ordem da Rosa de Ouro, cujo máximo expoente naquela época era um Mago veneziano que vivia no Egito. O “mito de fundação” da corrente sapiencial egípcia se refere a uma colônia egípcia que tinha sede em Nápoles desde os tempos antigos na Regio Nilensis, bairro sul-ocidental da cidade (do qual todavia nos textos até a época de De Sangro se fala como sendo Seggio de Nido ou de Nifo, mas não de Nilo), a qual fundiu a sua sabedoria com aquela de um centro esotérico e em particular pitagórico, já presente em tal localidade, em uma nova e mais completa forma tradicional que se perpetuou na sombra dos templos de Ísis entre Nápoles e Cuma, para depois descer, após a destruição de qualquer forma de religião não cristã por culpa de Teodosio, na rede de subterrâneos sobre a qual a cidade de Nápoles é construida. Testemunha desta “luz escondida nos subterrâneos” é o sigilo da primeira Loja maçônica a Perfeita União que surgiu obviamente em Nápoles sobre a qual voltaremos a falar mais adiante, no qual são usados símbolos claramente egípcios como a pirâmide e a Esfinge: a lenda gravada entorno do sigilo diz “Latomorum fraternitas”, Fraternidade das Cavernas. KremmeErz ao contrário conta a chegada da sabedoria egípcia em Nápoles sob forma da história de Mamor Rosar Amru, misterioso personagem, último dos Pontífices de Ísis, o qual chegou a Pompéia para refundar na costa campana os ritos isíacos (La Sapienza dei Magi, vol.II). Independentemente do fato que seja aceitável para o intelecto humano uma ou outra “história das origens”, nós nos limitamos a dizer que além da história provada com fatos certos existem lados obscuros que podem só serem aceitados ou repudiados, e eventualmente conhecidos mas com meios não mais racionais. Diz Leonardi: “Na história nós podemos remontar a épocas remotas com a ajuda de livros e monumentos mas chegamos finalmente a um ponto morto onde não existe nem mesmo uma pedra para interromper o nosso olhar no meio da obscuridade do tempo”. (E. Leonardi Le origini dell’uomo, ed. Corbaccio, Roma 1937, cap.X). Declaramos antes de proceder com os dados históricos mais ou menos certos sobre a origem dos Ritos Egípcios uma observação essencial: quando se fala de “Ritos Egípcios” não se deve pensar a uma continuação ou pelo menos a uma recuperação de rituais que remontam ao período áureo da Tradição Egípcia, mas se trata de Ritos colocados no centro da espiritualidade egípcia-alexandrina , nos quais a parte mais importante é pega pela tradição hermética e alquímica assim como pela angeologia greco-alexandrina, como os seus rituais de evocação semelhantes àqueles claramente gnósticos, os quais se encontram nos séculos imediatamente sucessivos, mesmo que em alguns Ritos prevaleça ao contrário o influxo da Kabbalah hebraica-cristã. Uma outra necessária premissa é sobre as relações existentes entre os Ritos Egípcios e a Maçonaria: os Ritos Egípcios, justamente porque são provenientes de um contexto hermético arcaico, nasceram fora do contexto oficial da Maçonaria modernamente entendida, e foram adotados por ela (e adaptados) por alguns personagens pertencentes também a tal contexto. Para aderir a estas “ritualidades” era algumas vezes pedida, mas não sempre necessária, a filiação à Maçonaria, considerada como uma espécie de escola de preparação em seus três Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, comumente conhecidos como “Maçonaria Azul”. O fato que alguns dos seus primeiros expoentes fossem também maçons nem sempre significa que o Rito do qual eles participaram ou foram até mesmo fundadores (pelo menos aparentemente, como para o Grande Oriente Egípcio ou a Fraternidade de Miriam) fossem a extração maçônica. A adesão a diferentes rituais é pelo contrário a norma em alguns casos, e às vezes a mesma pessoa pode ocupar cargos de caráter primário no interno de sociedades aparentemente diferentes, como o Rito de Misraïm, a Ordem do Templo, a Igreja Gnóstica, etc.. Esta nossa precisão obviamente não implica nenhum julgamento positivo ou negativo sobre o argumento Maçonaria ou sobre outras organizações, mas é só o reconhecimento de um estado de fato do ponto de vista histórico. A origem histórica dos Ritos Egípcios remonta a Cagliostro, o qual em 1767 levou de Malta para Nápoles os rituais da Loja Discrição e Harmonia,onde tinha sido iniciado em 1766 juntamente com Luigi D’Aquino di

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Caramanico, primo do príncipe Raimondo di Sangro (recordamos que neste século a Ordem de Malta demonstrava um particular interesse para com a alquimia e o hermetismo, como por exemplo com o próprio Manuel Pinto de Fonseca, Grão-Mestre de 1743 a 1773, com o qual Cagliostro tinha relação de amizade. Em Nápoles foram acrescentados a estes rituais, através do príncipe D’Aquino di Caramanico e talvez de Cagliostro, por sugestão de seu mestre Althotas, os três graus do Arcana Arcanorum ou Scala di Napoli, que se tornaram os três graus 87º, 88º e 89º do Rito de Misraïm, ou os quatro graus, de 87º a 90º, de acordo com os testemunhos escritos que chegaram até nós. Sucessivamente em 1778 Cagliostro iniciou a constituir Lojas de Rito Egípcio na França e em 1784 em Lyon, atendendo ao pedido de seus discípulos, fundou a Loja Mãe A Sabedoria Triunfante, da qual se proclamou Grande Cofto, assim como as Lojas Femininas de Adoção. A história dos Ritos Egípcios na realidade é muito complexa: tentaremos dar brevemente as principais notícias sobre ela, referindo-nos particularmente a dois Ritos : o Rito de Misraïm e a Ordem Egípcia com a sua filiação, a Fraternidade Terapêutica de Miriam. A primeira referência ao Egito como fonte da sabedoria iniciática se encontra em Nápoles, onde foi erguida a Loja A Perfeita União em 1728, cujo sigilo em marfim, prata e ouro levava a inscrição: “Latomor Fratern – Perfeita união” e “Qui quase cursores vitae lampada tradunt”; a figura inscrita representava o Sol ao meio-dia, uma pirâmide com duas colunas, a Esfinge com a acácia e uma torre. Talvez não seja um caso que justamente Nápoles, como veremos mais adiante, seja estritamente conectada com o Rito de Misraïm, no qual tem parte relevante justamente os mitos de Osíris. A esta Loja teria pertencido o Príncipe Raimondo De Sangro, o que retardaria a sua adesão à Maçonaria a 1736-1737, contrariamente à data usada comumente de 1750, data a qual se refere o próprio Príncipe em sua carta de 1751 ao papa Bendito XIV. Os primeiros interesses maçônicos pelo Egito se encontram em uma série de textos com caráter iniciático publicados logo após a fundação “oficial” da Maçonaria: “As viagens de Ciro” de Ramsay em 1727, o “Sethos”, do abade Terrason em 1731 e em 1758 “As fábulas egípcias e gregas” do abade beneditino Pernety, o qual em 1779 fundará uma Sociedade dos Iluminados primeiro em Berlim e depois em Avinhão, mesmo se esta não teria nada de maçônico ou de egípcio segundo alguns. A obra mais completa foi talvez o “Crata Repoa” publicado em 1770 por Kopper e Hymnen, os quais tinham instituido em Berlim em 1767 a Ordem Real dos Arquitetos Africanos; este texto poderia conter, na forma de romance, o ritual iniciático de admissão nesta Ordem.

(1-continua)

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Junho 2013

A GRANDE ORDEM EGÍPCIA

E

O EGITTO “ARCANO”

“[…] Evocarei mais uma vez o hermetismo: com certeza nem a teoria nem a prática do hermetismo tem nada de sagrado no

sentido absoluto. Mas aquilo que permitiria a realização efetiva daquilo que propõe a teoria e que procura a prática isto é

sagrado. O sagrado está necessariamente fora do tempo e do espaço, não pode ser senão a função, considerada como Potência em

si, fora do objeto que a manifesta. Assim a forma, a definição, a especificação – isto é os símbolos da função – a evocam,

tornando-a sensível, e esta função, que nós conhecemos somente através da evocação, é sagrada.”

R.A. SCHWALLER DE LUBICZ

O tarô egípcio de R.A. SCHWALLER DE LUBICZ

Muito se fala, se discute, se debate sobre a existência de uma Grande Ordem Egípcia, da qual teria surgido o Grande Oriente Egípcio, como forma maçônica, e a Grande Ordem Egípcia de Osíris, que teria além do mais dado origem e teria colocado sob a própria proteção a Fraternidade T+M+de Miriam, criada por Kremmerz.

A Grande e Eterna Ordem Egípcia não vive no plano terrestre, pode só encarnar- se se a época e o substrato o consentem, assumindo a forma do tempo e do lugar. O Egito histórico foi a mais precisa destas encarnações. Este fato, hoje, foi esquecido, ou se quis esquecer, no ímpeto arrogante de ostentar supremacias.Mas o verdadeiro hermetista sabe que o contato, a iniciação na verdadeira e Eterna Ordem Egípcia pode acontecer só se, em si mesmo, origina-se aquele preciso estado de ser, que permite ao separando de entrar em contato com as verdadeiras inteligências da Ordem. Tal contato é extremamente concreto e a

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ligação com a Ordem indistrutível, e vai além de selos e carimbos não dignos de tal Sacralidade. Hahayah escreve: “E aqui termina a terceira operação ostensível, após a qual Mestre e Noviço saem do laboratório alquímico, mudos assim como entraram. Eles se separam imediatamente com a silenciosa promessa do Noviço de reverem-se quando o seu IBI terá penas e lhe consentirá de voltar com o próprio vôo, ‘ÚNICO MODO DE REAPRESENTAR-SE PARA O RECONHECIMENTO RITUAL’, com direito de assistir o final da Obra para ser consagrado Mestre Solar no Sinédrio Eterno da Or. Eg. de Os.” Schwaller De Lubicz, grande estudioso da Tradição e do Egito considerou dois níveis de significado para o próprio Egito: O Egito histórico, que se desenvolveu em um lugar e em um tempo; O Egito, como uma precisa “Qualidade da Inteligência”; um outro modo de existência da Inteligência humana.

Este “Egito” não tem nada em comum com os tempos históricos (mesmo se esta inteligência tenha se exprimido e tenha se encarnado na terra do Nilo em uma precisa época histórica), mas representa mais ainda um muito preciso Lugar/Estado de consciência. Para entrar neste Egito, eternamente presente, o homem deve impor a si mesmo uma disciplina. Ele deve, abandonando a consciência dialética, despertar uma relação interior vivente com o objeto da própria pesquisa, aquela que AOR definia Inteligência do Coração.

E Domenico Lombardi, Benno, sob o pseudônimo de Belfegor escreve:

“O vermelho, o fogo, as cinzas que voam facilmente com o vento, o pássaro purpúreo, a fogueira, a ressurreição e os Elísios, são todos ingredientes, procedimentos e resultados de operações alquímicas, que se praticam em um CENTRO oculto, aonde o 0 é a Chama, o 0 é “Orifiamma” (chama de ouro,ndt) e o 0 é a Esfinge; cujo CENTRO poderia-se dizer, assim como para a fênix Árabe, ‘que exista todo mundo fala, aonde esteja ninguém sabe.’ A Fênix indica a sua localização ÚNICA E SEGURA, e os seus sinais decifráveis demonstram que não é necessário dirigir-se a um policial para encontrá-la, porque os Numes não se fariam surpreender facilmente em um simpósio por estranhos sem o convite. No símbolo da FÊNIX estão a chave e a palavra de passagem para comunicar com o SINÉDRIO OCULTO, cuja Hierarquia NÃO SEJA CONSIDERADA ESTRANHA POR SEUS DEPENDENTES E É A ÚNICA DOMINANTE. Portanto, quem não é um vendedor de fumaça, ou um dos tantos charlatões que empestam fastidiosamente a investida nos confins do recinto sagrado, tem o dever de convidar os preparados a não dirigirem-se de maneira vã para o oriente ou para o ocidente, mas a estabelecerem o próprio indistrutível contato. Somente neste caso saberão se se trata de um cabo transatlântico ou de um fio da tecedeira Aracne, terão a resposta aos muitos pensamentos que, sob o aspecto de borboletas coloridas ou de falenas noturnas, vão caminhando entorno dos cientes, e entenderão também porque fazem sentir tanta pena.”

Além disto Giustiniano Lebano escreve: “A palavra ‘Egito’ arcanamente não era entendida como sendo aquele lugar geográfico comumente conhecido. A palavra Egito é “pimandria” de Aig-Ipt-Os. Uma vez explicadas as várias palavras com a hermenêutica se entendia cada Cidade Arcana coligada à vasta faixa do zodíaco urbano do universo arcano. Então Egito é uma palavra arcana que explica: o Mundo Arcano. E os Egípcios foram chamados Subterrâneos.” Portanto Cidade Arcana, da qual o Egito geográfico foi, em uma determinada época, a explicação e manifestação física: eis a importância do estudo dos documentos produzidos por ele.

Hahaiah também escreve: “Eu afirmo que somente uma mínima parte de quanto eu expus de um ano para cá eu obtive através de instrução direta da qual eu sou o papagaio. Mas o resto me veio através da prática, assim como virá para vocês, e eu pude confirmar isto não só nos respesitáveis textos mas na autoridade dos fatos, fato este que me faz supor que, em determinadas condições de vibração anímica, nós nos colocamos em relação, por homologia, com um centro realmente existente, aquele centro de topografia incerta ao qual se refere Kremmerz, do qual surgem as ideias absolutas. Com base nesta cognição, renegando a qual eu penso que se deva renegar toda a teoria mágica-alquímica,

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eu julgo que seja melhor parar de bancar o chefe e lançar cada um de vocês, que já possuem todo o necessário, à própria iniciativa, para que possam se desenvolver de acordo com a própria vontade.”

Então Grande Ordem Egípcia como ser vivente, definível como Eggregore. Dos trabalhos das Academias Kremmerzianas nós chegamos à seguinte conclusão: “Para especificar ainda melhor o que seja um Eggregor digamos que este é constituído à imagem do homem ou seja:

1. de um corpo solar: Arqué ou Ideia eterna, que é o seu espírito; 2. de um corpo mercurial: ligação ou veículo criado pelo Pontífice; 3. de um corpo lunar: constituído pela alma coletiva dos membros, da qual recebe ou dá

impulsos através de uma osmose psíquica; 4. de um corpo saturnal: constituído pela corrente iniciática.

Neste esquema nós encontramos duas componentes do Eggregore: aquela transcendente – externa ao homem – consistente em uma influência super-humana e espiritual, que deve ser confrontada com o conceito de Shekinah ou de Barakah, que desce no domínio individual, exercendo a sua ação, através da componente coletiva – inerente ao homem – da qual pega o seu ponto de apoio. Não se deve então confundir o sentido horizontal com aquele vertical do Eggregore. O coletivo, em tudo aquilo que o constitue, é uma extensão do individual e não possue, com relação a isto, nada de transcendente; a participação a um coletivo pode por isto ser somente uma espécie de alargamento da individualidade. Não é então enquanto simples coletividade que se deve considerar uma Organização Iniciática; esta desempenha a sua função, enquanto depositária de alguma coisa que vai além da individualidade e que transcende com respeito à coletividade: ou seja uma influência espiritual, da qual assumiu a conservação e a transmissão. Baseando-nos no que foi dito, podemos distinguir o Eggregore iniciático da manifestação da psique coletiva, enquanto esta última é produzida só pela componente inerente ao homem.

Através da iniciação o indivíduo obtém uma integração virtual na Corrente; se saberá torná-la efetiva, esta ligação consentirá a sua entrada no circuito do eggregore.”

Além da obra singular de cada iniciado, que faz “evolver” o próprio separando para obter “com o vôo” o próprio indistrutível contato com a Ordem, hoje pode ser o momento para preparar um “retorno visível” da Grande Ordem Egípcia. Para se fazer isto, além do contínuo trabalho sobre si , é necessário examinar todo o material da Tradição, com particular atenção a documentos Egípcios originais.

Para tal propósito o Egito tem que ser entendido como ponto de referência e de sincretismo da “Tradição Primordial”.

A Grande Ordem Egípcia, como “Ta-Meri” – Terra Imã (nome do Antigo Egito) – é colocada sob a autoridade da Sabedoria Egípcia.

A Sabedoria Egípcia representa um ensinamento simbólico perfeito, que justifica, juntamente com o conhecimento da situação do Egito sobre a Terra “à imagem do Céu”, a pretensão de ser o ‘imã da Luz’.

Deverá ser previsto o “estudo das bases simbólicas do ensinamento dos Sábios, assim como se encontram em seus textos, em suas representações e em suas arquiteturas. [...] O Egito não constitue todavia o objetivo dos estudos [...], mas é só um exemplo que permite demonstrar a possibilidade de enfrentar os problemas essenciais de acordo com uma orientação de pensamento mais sábia, e de levar em consideração o ensinamento das diferentes Tradições.

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O estudo sobre os documentos originais egípcios deve consentir de reconstruir o “contexto operativo”; será de fato possível inserir só neste contexto as instruções, as ritualidades e as técnicas operativas, que chegaram até os dias de hoje através do Grande Oriente Egípcio, da Ordem Egípcia de Osíris,da Tradição Hebraica e da Cabala, derivadas da Tradição Egípcia, e através das outras expressões da Tradição Única (como por exemplo o Pitagorismo, a Tradição Xamã, Taoismo, Tantrismo, Alquimia Metalúrgica e Espagíria), após tê-las examinado, confrontado com os Textos egípcios, filtradas e “limpas”, só assim as técnicas não serão mais uma simples lista de receitas inúteis e perigosas, mas operações vitais e evolutivas.

Além disto se procederá, com tal finalidade, para a reunificação dos Arquivos perdidos da Tradição, dos quais resultarão as práticas tradicionais transmitidas através dos séculos.

Desta maneira, também nesta época, a Grande Ordem Egípcia poderá colocar-se como ponto central e anel de conjunção entre o oriente e o ocidente e entre o antiquíssimo e o menos antigo.

Só então será possível fazer reviver a mensagem pura da antiga Sabedoria Egípcia, exprimindo-a em uma linguagem moderna, científica e desprovida de misticismos.

Assim a Eterna Grande Ordem Egípcia, origem e ordenadora do Grande Oriente Egípcio, que é a sua manifestação sob veste maçônica, da Ordem Egípcia de Osíris, que é a sua manifestação solar, da Fr+Tm+de Myriam, que é a sua manifestação lunar, poderá ser trazida para a Terra. (FDA)

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Raimondo de Sangro e os Ritos Egípcios

P.Galiano

OS RITOS EGÍPCIOS: RITO DE MISRAÏM E ORDEM EGÍPCIA DE OSÍRIS

Parte II

Nos anos seguintes houve um florescer de Ritos que colocavam como base de seus trabalhos a sabedoria egípcia: Alliette funda em 1785 o Rito dos Perfeitos Iniciados do Egito em Lyon, inspirando-se na Ordem dos Arquitetos Egípcios, em 1801 foi constituída uma Ordem Sagrada dos Sábios em Paris e em 1807 um Rito dos Magos realmente Asiáticos, até o Rito de Memphis criado por Marconis em 1839 em Paris. Mas de todas as organizações de inspiração egípcia aquela que teve maior relevo por razão de seus rituais completos e por razão dos personagens que fizeram parte dela é certamente o Rito de Misraïm, do qual trataremos limitando-nos aos elementos principais concernentes às suas origens. O Rito de Misraïm enquanto tal nasce oficialmente em 1801 em Veneza, fundado por Filalete Abraham (provavelmente o conde Tassoni). Na verdade existem provas que uma Loja de tal Rito já existisse em Zakynthos desde 1782 e em Veneza desde 1796: em 1782 o esoterista Parenti foi iniciado em Sakynthos em uma Loja da Misraïm como 66º e leva o manuscrito do ritual dos Arcana Arcanorum para Bruxelas (onde o Rito foi instituído em 1817), para depois ser iniciado como Martinista em Lyon. Um documento relativo a uma Loja misraïmita de Lanciano remonta a 1811 e um Supremo Conselho dos Grandes Mestres do Rito de Misraïm foi provado em 1813 em Nápoles através de anotações que se referem à constituição de uma nova Loja em Roma. Sempre em Nápoles os Bédarride, seja Gad em 1782 seja Marc por volta de 1810, recebem altos graus do Rito de Misraïm. Junto ao Rito italiano existe também um Rito de Misraïm na França, que foi instituído pela família dos Bédarride, cuja história parece muito complicada. O pai Gad foi iniciado em 1771 em Avinhão por Israel Cohen dito Carosse: em Avinhão sabemos da existência da Sociedade dos Iluminados do beneditino Pernety, com a qual Bédarride poderia ter tido contatos, a menos que o seu próprio iniciador não tivesse feito parte dela. Marc Bédarride em seu livro quase autobiográfico sobre a Maçonaria também fala do influxo sobre as origens do Rito misraïmita do Rito Adonhiramita, o qual foi colocado em relação, erradamente, com o barão Tschoudy, discípulo de Raimondo de Sangro e fundador da Etoile falmboyante. Em 1782 Gad foi recebido no Rito de Misraïm de Ananiah, Grande Conservador egípcio, para depois receber o 90º grau em Nápoles do Grande Mestre Palombo. O filho Marc é com certeza em 1811 um 77º do Rito de Misraïm, como resulta de uma patente que leva a sua assinatura proveniente da Loja La Concordia em Lanciano na região Abruzo, se torna em seguida 90º em Nápoles e em Milão recebe do Mestre Cerbes o grau de Grande Conservador, título que consente de instituir o Rito em outras nações Enfim em 1814 os Bédarride fundam oficialmente em Paris o Rito de Misraïm. Marc Bédarride se afasta do Rito Egípcio de Cagliostro, afirmando em seu De l’Ordre Maçonnique de Misraïm que este deriva de rituais que Cagliostro tinha aprendido no Egito e que depois alterou formando um “suposto rito iniciático”. Devemos então distinguir dois diferentes Ritos de Misraïm: aquele francês dos Bédarride é com certeza posterior ao Rito existente na Itália, que poderemos definir original: “Os elementos até hoje conhecidos dão como hipótese mais provável que o Rito de Misraïm tenha nascido na Itália o mais tardar em 1810, com um sistema de 77 graus levados a 90 entre 1811 e 1812”. Mas é possível ir mais atrás no tempo, porque o Rito italiano possuía provavelmente muito antes de 1810 as suas primeiras Lojas no Vêneto e nas Ilhas do Jônico antes da Revolução Francesa de 1789. Existiam também vários Capítulos do Misraïm no Abruzo e na Apúlia”.

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Nas Ilhas Jônicas se tem a notícia da primeira Loja maçônica em 1740. Justamente em Zakynthos em 1781 se tem notícia de uma Loja, La Filantropia, da qual até 1784, data da sua morte, era Grande Mestre Cesare Francesco Cassini, neto de Gian Domenico Cassini. Este, grande hermetista e fundador da dinastia dos Cassini astrônomos italianos mas naturalizados parisienses, foi o construtor da sábia meridiana de São Petrônio em Bolonha e sócio da Academia de Cristina da Suécia em Roma. A dedicatória para Cristina no texto escrito por ele sobre a meridiana de Bolonha tem a forma de um djed egípcio, certamente um caligrama não casual (G. Languasco Cristina da Suécia, J.D. Cassini, a sua família e a proto-maçonaria ítalo-francesa). Da Academia romana fundada por Cristina, centro de Hermetismo e de Alquimia, também faziam parte personalidades como Francesco Maria Santinelli, cuja obra Lux Obnubilata, juntamente ao Novum Lumem Chymicum de Sendivogius, é a base do Catequismo da Etoile Flamboyante fundada por Tschoudy, discípulo do Príncipe Raimondo de Sangro, sociedade que teria participado na iniciação de Gad Bédarride, no caso em que esta se identificasse com o Rito Adonhiramita do qual se falou (Ver Arturo Reghini em IGNIS n.d.t.). De Zakynthos, como foi dito, Parenti em 1782 (então na época de Cassini) levou para a Europa o manuscrito dos rituais dos Arcana Arcanorum, os quais são conhecidos também em uma versão escrita em italiano que três maçons, Joly, Gabboria e Garcia (o primeiro dos quais presente entre os destinatários do documento do Supremo Conselho misraïmico de Nápoles citado acima), tinham recebido em 1813 e depois entregue em 1816 para o Grande Oriente da França, o qual os inseriu no Rito de Misraïm. Na opinião de alguns Autores, o verdadeiro centro do Rito de Misraïm é constituído por estes Arcana Arcanorum: “A finalidade do Rito de Misraïm e Memphis, ou melhor o próprio rito, reside nos Arcana Arcanorum... que constituem os quatro, às vezes os três graus terminais dos ritos maçônicos egípcios, graus específicos da Escala de Nápoles (do 87º ao 90º). Os AA estão presentes igualmente em outras organizações, pitagóricas, rosacrucianas ou em certos colégios herméticos muito fechados. Do ponto de vista maçônico ocorre distinguir entre o sistema dos irmãos Bédarride baseado sobre a Kabbalah do Regime de Nápoles que constitue o verdadeiro sistema dos AA”: os “Cadernos do Rito de Misraïm”, isto é o manuscrito entregue em 1816 para o Grande Oriente da França, levando só três graus, 88º,89º e 90º, enquanto que um comentário aos Arcana Arcanorum escrito por Rombauts em 1930 para um rito maçônico egípcio da Bélgica os coloca no 87º,88º,89º e 90º do Rito misraïmico. Labouré faz remontar os AA ainda mais atrás no tempo, encontrando as primeiras origens em textos alquímicos e herméticos italianos dos séculos XVI e XVII, o que faria dos AA uma técnica hermética teúrgica baseada sobre a magia do éon aplicada em ambientes pelo menos entre eles aparentemente distantes. É então da Itália e em particular de duas regiões, Veneza e as suas ilhas e Nápoles, que o Rito de Misraïm tira as suas origens. Mas é em Nápoles que encontramos a presença de uma outra Ordem que fixa a sua doutrina e o seu ritual, de maneira ainda mais explícita, sobre o Egito: a Ordem Egípcia de Osíris, da qual são ainda menos conhecidas as origens e o seu sucessivo desenvolver-se, que culminou como manifestação ao externo na Fraternidade Terapêutica de Miriam (ou Schola Philosophica Hermetica Classica Italica) fundada por Giuliano KremmErz (Ciro Formisano). Segundo os históricos da Ordem e da Miriam o nascimento desta deveria remontar há muitos séculos a uma colônia egípcia que se estabeleceu em Neapolis (Brunelli fala de uma “corporação de egípcios existente em Nápoles desde a era imperial” portanto “teria permanecido o “Eggregore”13 do culto egípcio adaptado para a Fraternidade Mágico-hermética”) na zona que ainda hoje leva o nome de Pracinha Nilo: a

13 Eggregoro ou eggregore, se define por um lado, como o campo especial dentro do qual vive e age uma

comunidade iniciática, por outro como a corrente mágica, que liga uns aos outros os membros daquela

Fraternidade ou da Ordem da qual o grupo pertence e, em virtude da regularidade iniciática deste último,

os une ao núcleo central Tradicional do qual, por sua vez, cada grupo é a emanação.

Então, se o eggregoro indica a modalidade especial para unir os membros de uma corrente fraterna entre

eles, pela via horizontal, e de unir, pela via vertical, estes membros a uma realidade superior, à defesa cruel

da pureza do eggregoro das “naturezas semelhantes”, e particularmente aquelas sub specie de escórias

humanas, que tem condições de sujá-lo e desnaturá-lo.

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fusão dos Mistérios egípcios levados por esta colônia com a espiritualidade de um centro de sabedoria itálica, e pitagórica em particular, presente em Neapolis teria constituído uma Ordem que se perpetuou no tempo até os nossos dias.

O deus Nilo na Praçinha Nilo nas proximidades do Palácio De Sangro em Nápoles

Algumas fases sucessivas da história deste Centro Egípcio podem ser como mínimo intuídas naquilo que se refere aos séculos entre 1500 e 1600: sabemos da presença em Nápoles nestes séculos da Academia de Pontano, de hermetistas como Giordano Bruno e Tommaso Campanella, os quais estudaram no colégio São Domenico Maggiore que surge justamente nas proximidades da Praçinha Nilo e do Palácio De Sangro, do marquês Francesco Maria Santinelli (conhecido com o pseudônimo de Frade Marcantonio Crassellame), um dos maiores hermetistas da época o qual frequentou seja Roma (Academia de Cristina da Suécia) que Nápoles e cuja obra estaria à base do Catequismo da Etoile Flamboyante do Barão Tschoudy, enfim de Giovambattista Della Porta que presidia a Academia filosófica e hermética dos Segredos. A origem visível da Ordem de Osíris se deve a Domenico Bocchini: iniciado no Rito Escocês, entrou na Loja La Vigilanza de Nápoles aderente ao Rito Egípcio de Cagliostro do barão Lorenzo de Montemayor, último Grande Cofto conhecido no Reino de Nápoles, depois passou para a Loja La Folgore de Nápoles do Rito de Misraïm dos Bédarride. Ele teria sido iniciado no círculo dos hermetistas descendentes de De Sangro, os quais tinham como ponto de referência seu filho primogênito Vincenzo. A Bocchini se deve uma série de trabalhos sobre as origens do hermetismo em Nápoles, cujo exemplo se encontra nas duas figuras da Sereia Partenopéia e do rio Sebeto, rio subterrâneo do qual já tinha falado Iacopo Sannazzaro na sua Arcadia. Foram discípulos de Bocchini Pasquale De Servis e provavelmente o pai de Giustiniano Lebano, Filippo, advogado do mesmo Fórum ao qual pertencia Bocchini e maçon como ele (mesmo que não tenhamos provas diretas de que eles se conhecessem). De Servis e Lebano juntamente com outros personagens, o Marquês Orazio De Attellis e talvez o Marquês Giuseppe Gallone e Crescenzo Ascione, constituíram o Grande Oriente Egípcio, no qual teriam que ser distinguidos dois Ritos: o Rito Egípcio Antigo e o Rito Egípcio maçônico modificado. Por sua vez a Ordem de Osíris através de Ciro Formisano (Giuliano KremmerErz, pertencente à Ordem de Osíris e afiliado ao Rito Egípcio Antigo), teria dado origem à Fraternidade Terapêutica de Miriam. Obviamente não nos aprofundiremos sobre o sucessivo desenvolver-se da Fraternidade de Miriam, já que este fato não pertence ao nosso trabalho; devemos porém chamar a atenção para um fato curioso: enquanto Raimondo De Sangro e os Príncipes de Caramanico eram, ou pelo menos se declaravam, fiéis servidores do Rei Bourbon, os seus sucessores de Bocchini em diante foram todos antibourbons, ligados seja à Carbonaria maçônica seja aos revolucionários dos movimentos que percorreram a Itália de 1821 a 1848.

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Todos estiveram entre os defensores das ideias aintimonárquicas, ao ponto de, por exemplo, Giustiniano Lebano ter que exiliar para fugir da polícia política, exílio que além de tudo lhe propiciou relações interessantes, como aquela com o Conde Livio Zambeccari de Bolonha, membro de uma “sociedade platônica” talvez de proveniência hermética, e com o grupo de martinistas napoletanos que se reunia em Paris ligado seja com Eliphas Levi que com uma sociedade “magnética” de Avinhão (lembramos que o “magnetismo” constiuía uma das bases, por exemplo, do Rito Egípcio de Cagliostro).

2-continua

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Julho 2013

Raimondo de Sangro e os Ritos Egípcios P.Galiano

O PRÍNCIPE RAIMONDO DE SANGRO DI SANSEVERO

Parte III

O vasto panorama de personagens e de sociedades que até o início de 1700 criaram em Nápoles aquela particular presença hermética e mágica que a diferenciou encontra o seu ponto focal na figura de

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Raimondo De Sangro, o qual parece colocar-se, se fizéssemos uma representação gráfica, como o ponto de passagem de uma gigantesca ampulheta espaço-temporal que partindo do início da história arcana de Nápoles chega até os nossos dias.

Personagem de grande fama já na sua época, Grão Mestre da Maçonaria napolitana e íntimo do Rei de Nápoles, o qual muitas vezes o protegeu de seus inimigos presentes na própria corte partenopeia, autor de textos eruditos e de invenções mecânicas, Raimondo De Sangro constituiu o ponto do qual partiram para várias estradas as manifestações do Centro Egípcio napolitano: de um lado o Rito de Misraïm e do outro a Ordem Egípcia de Osiris, e então a Fraternidade Terapêutica de Miriam.

Raimondo De Sangro teria influido de fato através de seus irmãos ou discípulos sobre a sucessiva evolução destes Ritos que tinham como base a sabedoria egípcio-alexandrina:

1. o primo Luigi D’Aquino Di Caramanico pertencia à mesma Loja de Malta na qual tinha sido iniciado o seu conhecido e amigo Cagliostro, o qual constituirá o Rito Egípcio de Lyon;

2. sempre a D’Aquino di Caramanico deveria atribuir-se a introdução em Nápoles do Ritual dos Arcana Arcanorum, rito que assumiu de fato o nome de Scala di Napolil;

3. o barão Tschoudy discípulo de Raimondo quando se transferiu para a França fundou a Ordem da Etoile Flamboyante ou dos Filósofos Incógnitos, que teria feito parte na instituição, através de Gad Bédarride, do Rito de Misraïm francês, e que todavia representou um dos principais pontos de referência para os assim ditos “Altos Graus” da Maçonaria pelos seus conteúdos hermético-alquímicos;

4. através de um segundo discípulo, cujo nome não conhecemos, a sabedoria do Centro Egípcio teria chegado até Giustiniano Lebano e Pasquale De Servis dos quais teve origem a Ordem Egípcia de Osiris ou Grande Oriente Egípcio;

5. desta Ordem ou Grande Oriente emanará a Fraternidade Terapêutica de Miriam fundada por Ciro Formisano, iniciado da Ordem de Osiris.

Raimondo De Sangro parece então ser o ponto central ao qual chega uma sabedoria antiga que ele transmite aos seus sucessores até o nascimento o pelo menos até o completamento, como se viu, dos dois Ritos, o Rito de Misraïm (e através de Cagliostro também o Misraïm francês) e a Ordem Egípcia de Osiris, e da Miriam derivada deste último. Mas como e quando chegou até ele este conhecimento?

Se as suas práticas e as suas obras são conhecidas, são menos conhecidas as fontes das quais Raimondo tirou os seus conhecimentos herméticos, alquímicos e cabalísticos.

Alguns fundamentos da sua sabedoria esotérica nós podemos obter de certos particulares da sua própria vida: como por exemplo desde 1719 ele foi aluno do Seminário jesuíta de Roma, e enquanto nos primeiros anos de colégio ele mostrou sinais de sofrimento não sentindo-se valorizado adequadamente pelos Padres jesuítas, quando Carlos VI lhe ofereceu de mudar de escola para poder ficar em Nápoles, tendo ele se tornado Príncipe De Sangro depois da morte do avô, Raimondo preferiu retornar no Seminário de Roma, como se em Roma ele fosse ligado a qualquer interesse particular, ao qual acenaremos mais adiante.

Em 1729 ele tinha construído um palco removível para a festa do Seminário superando na competição arquitetos até mesmo famosos que tinham apresentado os seus projetos: disse que a ideia tinha sido dada por Arquimedes durante o sono, e este fato recorda as técnicas de “incubação” na qual o interrogante recebe resposta de Deus para as suas perguntas durante o sono, sinal talvez do fato que já naquele tempo tinha familiaridade com alguma técnica particular.

Não se deve porém esquecer como Raimondo fosse amante da ironia, portanto a resposta poderia ser uma brincadeira. A sua índole irônica se confirma na sua Carta apologética sobre os Quipu peruanos.

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Nem devemos esquecer que da sua tipografia pessoal, que tinha como sede o Palácio De Sangro (adjacente à célebre Capela), tinham saído, além de obras notoriamente maçônicas, como o “Riccio rapito” de A. Pope e “Il conte di Gabalis” de Villars di Montfaucon, “I viaggi di Ciro” de Michel Ramsay, a primeira obra com a qual entra oficialmente na Maçonaria o simbolismo cavalheiresco e, se analisamos a capa da sua Trinosophie, também autor interessado no simbolismo hieroglífico egípcio.

Ramsay é fundador do Rito Escocês, caracterizado pela adesão ao catolicismo e pela retomada da mística da Cavaleria, elementos que se adaptam bem à nobreza daquele tempo, e não por acaso Raimondo fundou em Nápoles uma Loja escocêsa. Raimondo teria pelo contrário obtido o título mais alto do Rito Escocês, aquele de Grande Professo.

Neste breve período maçônico de só dois anos (mesmo que para Höbel tal período foi bem mais longo de quanto resulte oficialmente, e isto seria confirmado pelo Barão Tschoudy, o qual no texto da Etoile Flamboyante remonta um discurso de De Sangro aos aprendizes da sua Loja feito em 1745) fundou uma Loja em Nápoles com o nome de La Concordia; segundo Federico D’Andrea o nome era “Rosa d’ordine Magno”, derivante do anagrama do próprio nome do Príncipe.

A tal propósito Federico D’Andrea escreve: ‘Pesquisas escrupulosas, realizadas nos arquivos particulares, confirmam a fundação da parte do Príncipe Raimondo di Sangro di Sansevero de um Antiquus Ordo Aegypti, no qual operou o Rito de Misraïm seu Aegypti, em 10 de dezembro de 1747. Pesquisas feitas por vários estudiosos após felizes achados, demonstraram a formação da parte do Príncipe di Sangro de uma loja secreta, com tendência claramente hermética e rosacruciana, chamada ‘Rosa d’Ordine Magno’, loja clandestina que se reunia em seu palácio, e a conexão com a mesma, naquele período de perseguição, do fugitivo e exiliado barão de Tschoudy’.

Mas estes elementos não nos dizem qual era a ascendência esotérica de Raimondo e de quais fontes ele tenha tirado a sua sabedoria, em particular o hermetismo egípcio-alexandrino, se ele foi, como supõe-se em diversos ambientes, entre os fundadores dos Ritos Egípcios. Podemos somente fazer algumas hipóteses sobre este argumento.

As propriedades as quais pertenciam aos De Sangro podem ser consideradas entre as causas não materiais da ascendência espiritual do Príncipe: em Torremaggiore tinha sido dada dos Beneditinos aos cavaleiros da Ordem do Templo a Abadia de São Pedro e sucessivamente o papa Bonifácio VIII tinha doado a eles em 1295 o castelo próximo de San Severo e outras propriedades. A domus de Torremaggiore alcançou tal importância que foi considerada apta para que fossem efetuadas admissões da Ordem e sabemos através de atas de uma deposição feita a Penne em 1310 no curso do processo aos Templares que aqui foi enviado um frater três anos depois de seu recebimento como Templar “por ser submetido a ritos que não podiam ser celebrados em Roma”. Este fato nos faz supor a existência de uma particular sacralidade do lugar que os Templários tinham escolhido como sendo lugar ideal para ritos especiais, cuja execução só pode ter reforçado o genius loci sucessivamente herdado pelos De Sangro.

Quanto à possível fonte egípcia de Raimondo, podemos dizer que o ritual de maior importância no âmbito do Rito Egípcio é constituído por três Arcana Arcanorum, transformados no máximo grau do Rito de Misraïm: nascem provavelmente no âmbito dos Ritos presentes em Veneza já na primeira metade de 1700, mas o fato que sejam conhecidos também com o nome de Scala di Napoli torna verossímil que aqui eles receberam uma forma qualquer de organização ou de aperfeiçoamento, e certamente de Nápoles foram para a França através de Cagliostro com a mediação do Príncipe Luigi D’Aquino di Caramanico, primo de Raimondo, o qual os teria entregado antes de morrer ao seu amigo e irmão.

Que Raimondo tivesse conhecimento dos hieroglifos egípcios, que na sua época, mais ainda nos séculos precedentes a ele, eram considerados a origem de toda sabedoria, é certo porque as obras presentes em sua biblioteca, da qual chegou até nós um elenco infelizmente parcial, existe um texto que com certeza

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pertence a tal matéria, os Hyerogliphica de Pietro Valeriano, um dos textos mais completos sobre o simbolismo hieroglífico, mesmo que na realidade se trate com certeza de simbolismo ideográfico e naturalístico, e conhecia certamente Kircher. Por outro lado são raras nas suas obras as referências a um interesse específico pelo Egito: por exemplo as figuras femininas da Capela feita por ele são sobrepostas nos obeliscos feitos de pedras, e não monolíticos como são aqueles reais; outros dois obeliscos estão presentes no final da nave central, elevados por uma esfera símbolo do Sol.

Outra provável fonte da sua sabedoria esotérica poderia ter sido o contato direto com o ambiente rosacruciano e hermético napolitano, que pode-se fazer remontar a personagens como Giordano Bruno e Tommaso Campanella, os quais como se disse tinham estudado no Colégio de São Domenico pouco distante do Palácio dos De Sangro, Giovan Battista Della Porta e a sua Academia dos Segredos ou o Marquês Santinelli, que frequentou Nápoles em 1667 antes de estabelecer-se no Veneto.

Uma ulterior possibilidade é que ele tenha aprendido os primeiros elementos do hermetismo quando jovem no Seminário dos Jesuítas em Roma, onde tinha vivido Athanasius Kircher (1602-1680) e onde na sua época se encontrava ainda o Museu Kircheriano.

Um dos mestres no campo do esoterismo hebraico poderia ter sido um cabalista do qual ele teria sido discípulo durante a estadia em Roma ou durante a permanência deste em Nápoles, Giusseppe Athias, amigo de Giambattista Vico, o qual era por sua vez íntimo de Raimondo.

Então múltiplas e diferentes entre elas são as fontes das quais o Príncipe pôde obter a sabedoria que demonstrou em suas obras, as quais são aplicadas a setores tão diferentes entre eles, tanto que muitos de seus biógrafos duvidam que ele fosse realmente aquele iniciado que outros acham que ele fosse. Podemos só esperar que através destas breves notas tenhamos conseguido pelo menos fazer entrever o mistério da sabedoria alquímica e hermética de Raimondo De Sangro, ao qual realmente condiz o epitáfio que ele mesmo se escreveu: VIR MIRUS, AD OMNIA NATUS, QUAECUNQUE AUDERET.

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TRADIÇÕES DO ORIENTE E DO OCIDENTE

Escritos sobre a Cabala, a magia e a gnose

escolhidos e anotados por Manlio Magnani

O ADEPTO, O SILÊNCIO E A RESERVA Quanto mais ele se elevará na esfera inteligível, quanto mais se aproximará do Ser insondável

cuja contemplação deve formar a sua felicidade, menos poderá comunicar para os outros este

seu conhecimento; porque a verdade que chega até ele sob forma inteligível sempre mais e mais

universalizada, não poderá em nenhum modo restringir-se, diminuir, reduzir-se nas formas

racionais ou sensíveis que ele gostaria de dar.

Foi aqui que muitos contempladores místicos se desviaram. Como eles não tinham aprofundado

suficientemente a tríplice modificação de seus seres, e não conheciam a composição íntima do

quaternário humano, ignoravam a maneira com a qual se realiza a transformação das ideias,

tanto na progressão ascendente quanto na progressão descendente; de maneira que

confundindo continuamente o entendimento e a inteligência, e não fazendo nenhuma diferença

entre os produtos de suas vontades, dependendo se esta aja em uma ou em outra daquelas

modificações, eles muitas vezes mostram o contrário daquilo que querem mostrar; e ao invés

dos videntes que teriam podido ser, se tornaram visionários.

Fabre d’Olivet- Les vers dorès de Pytagore, pág. 359,360, citado por Stanislas de Guaita no 2º

volume de seus ensaios Serpentes do Gênese, chave da magia negra, pág.12 e seguintes.

Onde anota assim e acrescenta:

As linhas que prescendem de Fabre d’Olivet parecerão perenptórias para qualquer um que

conheça bem a sua teoria do homem tri-uno.

Como exemplo para provar a demonstração transcrita acima cita os notáveis desvios do vidente

mais genial dos tempos modernos, aquele vertiginoso Jacob Boehme. Sobre ele, que não recuou

diante de nenhum arcano, deste artesão sem cultura, o próprio Fabre d’Olivet disse: “O seu

olhar audaz penetrou até mesmo dentro do santuário divino. Não satisfeito de ter penetrado no

abismo de Wodh sem ser destruído, de ter visto o rosto fulgurante de Jod-heve sem morrer, o

grande místico, embriagado de fogo-princípio, tentou o senhor. Jacob Boehme quis dizer tudo,

desvendar tudo, tudo, até as raizes pré-eternas da Natureza e do próprio Deus...Então a sua

caneta foi atingida pela impotência e a sua língua pela gagueira.

(Stanislao de Guaita, Le serpent de la Genese, livre II, La Clef de la magie noire – Ed.

Durville de 1920, pág. 12-13).

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Stanislao de Guaita

A LÍNGUA DE MOISÉS A língua hebraica pura, assim como foi usada pelo autor do Beroeschift é o idioma mais oculto

dos santuários de Mizraim, como Fabre d’Olivet vitoriosamente proclamou.

Moisés, sacerdote de Osiris, escreveu o seu livro de 50 Capítulos em hierogramas (de terceiro

grau), inteligíveis somente, no esoterismo neles contido, aos adeptos menfiticos de mais alto

grau. Este livro vulgarmente Gênese, parece que seja o único que nos tempos de Ezdra tenha

sido transcrito sem alterar nem o sentido nem a forma literária.

A doutrina secreta de Moisés constitue aquilo que nós chamamos a Cabala primitiva, a qual foi

se materializando paralelamente à própria língua do Santuário. O ensinamento de Simeon-bem-

Jochai pode ser comparado àquele de Moisés assim como o dialeto sírio-caldaico falado em

Jerusalém sob os Imperadores romanos, pode ser comparado àquele hebreu primitivo de

Moisés.

(Stanislao de Guaita, ídem, pág.122).

ADÃO

O que seja o Adão na sua essência universal, não pode ser expresso sem uma instrução

preparatória adequada, porque a civilização europeia não sendo tão avançada (e nem mesmo

próxima de sê-lo) como foram aquelas da Ásia e da África antes de Moisés, ainda não

conquistou os mesmos pensamentos universais, e consequentemente não possue os termos

para exprimí-los. O que seja o Adão na sua essência particular, pode ser expresso; embora esta

ideia, particularizada no pensamento de Moisés, para nós se apresente ainda sob uma forma

universal.

Adão é aquilo que eu chamei reino “ominal”, aquilo que impropriamente outros chamam

gênero humano; é o homem concebido abstratamente; isto é o movimento geral de todos os

homens que compõem, compuseram e comporão a humanidade; que desfrutam, desfrutaram,

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ou desfrutarão da vida humana; e este movimento concebido assim como um só ser vive de uma

vida própria, universal, que se particulariza e se reflete sobre os indivíduos dos dois sexos.

Considerado sob este último aspecto, Adão é macho e fêmea.

(Fabre d’Olivet – Cain – pág. 29-30 – citado por Stanislao de Guaita na obra citada na pág.21).

O qual depois sutilmente anota assim: Nesta citação muito digna de nota de Fabre d’Olivet,

primeiro se trata do Verbo, Ihoah Aelohim, ou Adão Dadmon, ou Adão Aelohim, e por último de

um membro do Verbo, Adão-Eva, ou Adão-Aeloha.

(Stanislao de Guaita, ídem, pág. 21-22).

1 - continua

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Agosto 2013

O PAPEL DA MAÇONARIA EGÍPCIA NA HISTÓRIA DA MYRIAM

A ESTREIA DA MAÇONARIA NAPOLITANA

Primeira Parte

Foi muito precoce o relacionamento entre os ambientes herméticos napolitanos e a recém-nascida maçonaria especulativa. Remonta justamente a 1728 o nascimento em Nápoles da Respeitável Loja “Perfeita União”, cujo lema foi “Qui quase cursores lampada tradunt”. Ela foi criada por pedido de Giorgio Olivares e Francesco Xaveria Geminiani, e é não só a primeira Loja napolitana mas também a primeira loja italiana da qual se tenha notícia certa e terá, como veremos, um papel relevante na genesi da maçonaria egípcia.

O sêlo da Loja “Perfeita União” de Nápoles

O símbolo escolhido por esta Loja já demonstra-nos um forte interesse de seus membros pelo antigo Egito e pelo hermetismo, representando uma esfinge em um campo aberto e ao lado de seu corpo sobressai uma lua; no fundo podemos ver uma pirâmide à qual pode-se chegar passando através de duas colunas, e sobre o vértice da pirâmide resplende um magnífico sol no zênite.

As duas colunas evidentemente são aquelas do templo de Salomão, tão caras aos maçons, mas o fato que aqui sejam antepostas ao ingresso da pirâmide ao invés do templo, demonstra justamente que o saber conservado pela maçonaria em geral e por aquela Loja em particular, provém na realidade do antigo Egito, berço de todo saber iniciático.

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Que justamente a Perfeita União tenha constituído o primeiro núcleo daquilo que logo após se tornará o Rito de Mizraim14, também dito Rito Egípcio, demonstra-o também o seu elenco de irmãos que recolheu rapidamente personalidades eminentes da cultura hermética napolitana como Dom Raimondo di Sangro príncipe de Sansevero, o príncipe Gennaro Carafa Cantelmo Stuart della Rocella, o Cavaleiro d’Aquino di Caramanico e Henri Théodor Tschoudy, só para citar os nomes mais conhecidos.

Raimondo di Sangro foi iniciado na maçonaria em Paris no dia 24 de maio de 1737, enquanto que Gennaro Carafa foi iniciado em julho do mesmo ano, os dois na Loja do Duque de Villeray. Quando voltaram para a Itália os dois príncipes afiliaram-se imediatamente à Perfeita União, da qual Raimondo di Sangro será Venerável em 1744. A partir de 1745 também frequentou aquela Loja Henri Théodor Tschoudy, autor de uma célebre obra maçônica-alquímica entitulada “Etoile Flamboyante”, publicada em 1766, a qual contém parte do saber hermético que este tinha aprendido em Nápoles com o Príncipe Raimondo di Sangro que foi seu Mestre. É uma prova disso o fato que nesta obra seja citado um discurso feito na Loja pelo príncipe di Sangro em 1745, por ocasião de uma iniciação ao grau de aprendiz.

Graças ao saber hermético aprendido no interno da Perfeita União, Tschoudy pôde mais tarde fundar um próprio Rito Adonhiramita, de caráter eminentemente hermético, no qual graus como “Cavaleiro do Arco Secreto de Perfeição”, “Cavaleiro do Sol”, “Comendador dos astros”, “Cavaleiro da Fênix”, “Cavaleiro da Íris”, “Cavaleiro da Águia Negra”, “Maçon Verdadeiro” etc., constituirão o instrumento de eleição para a transmissão e a difusão em toda a Europa do saber mágico e alquímico de origem estritamente partenopeia. É importante relevar também que justamente estes graus contituirão a base do futuro Rito de Mizraim, que juntamente com aquele de Cagliostro interessa mais à nossa história.

Além disso as trocas culturais e herméticas que a Perfeita União fez naquele período não são limitáveis àquelas atuadas por Tschoudy, porque já em 1738 esta relacionava-se com um Loja romana denominada, vejam só, Misraim, fundada por Sir Martin Folkes, o qual foi presidente em Londres seja da Rouyal Society que do Egyptian Club. A Loja romana presenteou o próprio fundador em 1738 com uma medalha comemorativa, por ocasião de seu afastamento de Roma para fugir do amor ardente da Santa Romana Igreja, medalha que levava uma efígie mais ou menos idêntica ao sigilo da Perfeita União, e atualmente conservada no British Museum.

É necessário assinalar também que em fevereiro de 1739 Sir Martin Folkes publicou um opúsculo intitulado “Relation apologique et historique de la Société des Francs Maçons”, publicado anônimo, no qual expõe-se uma doutrina de sabor estritamente hermético-alexandrino. Obviamente esta obra foi condenada em Roma e foi condenada a ser queimada através das mãos da Igreja e também os membros daquela oficina teriam tido o mesmo fim se toda a Loja não tivesse se colocado em sono pouco depois da publicação do bulário pontifício “In Eminenti” de Clemente XII, que marcou a nunca revocada excomunhão da maçonaria por parte da Igreja Católica.Deve-se ao Príncipe di Sangro e ao seu entourage a elaboração em 1747 do núcleo primitivo do Rito de Misraim (dito também Rito Egípcio). Este fato confirma o quanto foi transmitido pelas fontes tradicionais do Rito, as quais querem que sob o Magistério de Raimondo di Sangro em 10 de

14 Misraim ou Mizraim, é o termo hebraico que a bíblia usa para definir o Egito. Trata-se de um termo dual que indicava, de acordo com os filólogos, o fato que o reino do Egito era o resultado da união do Alto e Baixo Egito, unificados por Menes, o primeiro faraó que usou o título de “Senhor das duas Terras”. Vice-versa, de acordo com a hermenêutica iniciática este termo é legível em outra maneira. Hermeticamente, aquele que tem o poder de unir o Alto e o Baixo é um Pontífice por excelência, o hierofante que tem o poder de reunir aquilo que está dividido e de unificar aquilo que é dual.

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dezembro de 1747 tenha sido fundado o núcleo originário daquele que na nossa história tenham definido Grande Oriente Egípcio, sob o título distintivo de Antiga e Primitiva Ordem Egípcia ou Rito de Mizraim.

TRADIÇÕES DO ORIENTE E DO OCIDENTE

Escritos sobre a Cabala, a magia e a gnose

escolhidos e anotados por Manlio Magnani

II parte

Se interrogamos as diferentes nascentes do ensinamento oculto, nos encontramos diante de duas correntes bem distintas de tradições digamos assim contraditórias (cotraditórias quanto ao ponto de partida de suas cosmogonias, não quanto ao ensinamento das grandes leis da natureza atual. Sobre este ponto existe um maior acordo entre as duas escolas).

TRADIÇÃO OCIDENTAL A primeira corrente que é aquela do esoterismo mosaico, interpretado por Fabre d’Olivet, (na imagem a esquerda) é, no geral, aquela da doutrina secreta no Ocidente: seja de quem pertence à tradição cabalística pura, seja de quem segue aquela dos místicos, depois Alexandria até os nossos dias, passando pela Gnose, pelos Templários, os Rosa-Cruzes, Paracelso, Fludd e Crollio, depois a escola dos videntes: Boehme, Gichtel, Leode, Martines, Dutoit-Mambrini, Saint Martin e Molitar, etc.. A primeira corrente nos conduz diretamente à concepção de um absoluto de Vida eterna e de Natureza-essência, do qual a natureza sensível e contingente, e o universo material e concreto não seria outra coisa senão um produto de desvio eventual, um acidente passageiro. Concebida anteriormente a decadência, a Eterna Natureza, esposa

fecunda de Deus (que esta manifesta colocando em modo visivel o seu Logos) constituirá aquela esfera da Unidade divina (o Pleroma de Valentino) aonde movem-se harmoniosamente todos os Seres inter-emanados, cuja síntese é Adão Kadmon ou o Verbo. O Verbo (produzido pela união indissolúvel do Espírito puro e da Alma vivente universal, ou, se for preferível, de Deus macho e da Natureza fêmea), o Verbo, ideal macrocosmo, que deste ponto de vista chamaremos também Adão-Aelohim (mas o nome verdadeiro do Verbo seria Ihoah-Aelohim) em oposição a um de seus membros, que poderia chamar-se Adão-Aeloha (ou Adam-Eve). Neste último seria necessário ver o autor e ao mesmo tempo a vítima do acidente do qual falamos. Este acidente provém da onde? Da imprudência de Adão, considerado (no sentido mais restrito) como um Aeloha consubstancial ao Verbo Adão Aelohim do qual à sua origem seria de alguma maneira um órgão vivente. Ao invés de viver contente na substância materna da divina Natureza e na Unidade do Verbo, Adão, imitado por Nahash (o egoísmo) quis conhecer e experimentar a Natureza em si mesma (na sua essência radical anterior ao divino beijar gerador do Ser, naquela que Boehme chama a raiz tenebrosa; em uma palavra, na sua matriz primeira da fecundação). Apoderar-se daquela essência oculta, antecedente à manifestação luminosa; deste sustento da vida possível que gostaria de ser, mas que não é: tal é a ambição confusa de Adam-Aeloha. Ele precipita perdido naquela voragem, e procura luz, vida autônoma e

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onipotente; mas ali não encontra nada que não seja trevas angustiantes,15 desejos sempre desiludidos,

suplícios estéreis, esforços cegos... Ele é engolido por um nada ávido de ser, que absorve a sua vida e do qual se tornará a larva incessantemente devorada.16 Mas a Providência, inteligência superior da Natureza, previu esta possibilidade lúgubre; ela dardeja um raio criador no abismo – é o Fiat de Paracelso e de Boehme – 17

é o remédio preparado em potência por toda a eternidade, que passará a agir pela saúde de Adão. As Trevas do limbo pré-eterno (este fundo primitivo onde refletindo-se torna elementar a Luz invisível do Espírito puro) estas Trevas vieram de três Forças potenciais, concatenadas em pilhas fisiogênicas:

- Uma força compressiva (mãe da densidade), - Uma força expansiva (mãe da raridade), - Uma força rotatória produto da luta das duas primeiras (e mãe do fogo-princípio).

Este tríplice dinamismo, base oculta de toda a vida da criação, depende de Adão-Eva: A força expansiva, que dilata a substância de Adão, dá espaço a Abel, o espaço eterizado, centrífugo; A força compressiva dá lugar a Caim, o tempo divisor, centrípeto. Adão tornando-se variável conheceu o Tempo; tornando-se corporal conheceu o Espaço. O Tempo condensa em nebulosas a substância etérica do Espaço; Caim mata Abel; após este fato o mundo material se organiza sobre a base da terceira propriedade do Abismo (a força rotatória), a qual gera Seth, a repartição sideral da substância adâmica no Espaço, através do Tempo. O Fiat de Boehme, ou raio dardejado da Providência acendeu a Luz Astral no Abismo: os sistemas solares organizam-se... Enfim Adão se disseminará por sub-multiplicação, através do Tempo, em todos os mundos que rodam através da Extensão; até o dia da sua total epuração e do retorno à Unidade, para integração do Espaço divisível e ruptura da mola do Tempo divisor. Tal é a substância deste ensinamento da primeira corrente, aquela do ocultismo ocidental.

TRADIÇÃO ORIENTAL

A outra corrente (que é aquela do esoterismo budista e, segundo nós, de todas as escolas jônicas) nos conduz a representar o universo material como uma manifestação eternamente renovada do Universo arquétipo.

15 Corresponde à Grande Noite de Orfeu, noite mãe, matriz de Plotino (a grande Deusa), a primeira que fecundada pelo Grande Ser, não gerado, Primogênito, o Logos universal, do qual emanarão em duplas todos os Deuses (cfr. Hinos Órficos). 16 Notamos aqui dois mistérios profundos:

a) Nunca a raiz tenebrosa teria podido produzir-se fora de si mesma, porque por si mesma é nada, se Adão não a tivesse manifestada, comunicando-lhe o seu ser e emprestando-lhe a própria substância. Assim ele pôde realizá-lo caindo no abismo: disto resulta o Mal, produzido desta exteriorização; o mal que não era destinado de maneira alguma a aparecer na Natureza;

b) Isto nos explica aquela opinião, aparentemente singular, de Fabre d’Olivet no Comentário a Moisés: A vida de Adão, que procedia com curso majestoso e doce na Eternidade, para improvisamente, e assume um movimento retrógrado. Reentra então na Noite de onde saiu, e este foi o Espaço; esta retrocede na Eternidade, e este foi o Tempo (v. Caim, Remarques, pág. 202).

17 É por causa de uma confusão muito grave, que estes grandes homens puderam enunciar esta opinião. O Fiat Lux e a manifestação luminosa, a revelação da Natureza-essência, da Deusa negra que se tornou Esposa divina após o primeiro olhar do Esposo. Então o Fiat é anterior à caída. Aquilo que fez com que se enganassem Paracelso e Boehme em suas interpretações daquele versinho de Moisés (Gênese 1-3) é a hipotese de uma caída anterior àquela de Adão, a caída angélica. Mas que tenham existido ou não duas catástrofes sucessivas, é certo porém que Moisés fala somente de uma, aquela de Adão-Eva, da qual descende toda a manifestação sensível e toda a ordem temporal.

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A Caída, como uma figura simplesmente alegórica da descida do Espírito na matéria; e a Redenção como

um emblema simplesmente místico do movimento evolutivo inverso, que sublima as formas progressivas

do Ser para uma espiritualização em um certo modo mecânica.

(Stanislas de Guaita, idem, págs. 22-27)

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Setembro 2013

O PAPEL DA MAÇONARIA EGÍPCIA NA HISTÓRIA DA MYRIAM Segunda Parte

O CONDE CAGLIOSTRO E O NASCIMENTO

OFICIAL DO RITO MISRAIM SEU AEGYPTI

Cagliostro, enquanto discípulo do Cavalheiro Luigi d’Aquino, teve a oportunidade de frequentar os trabalhos da Loja Perfeita União e foi através desta, ou melhor da Ordem que escondia-se atrás desta, que pôde receber aquele saber iniciático que permitiu-lhe fundar posteriormente o seu Rito da Alta Maçonaria Egípcia.

Foi tão forte a ligação de Cagliostro com esta Loja que em 1783 será nada menos que o Mestre Venerável e com esta nunca interromperá as relações, nem mesmo durante as suas longas viagens por toda a Europa, até o momento de sua prisão em Roma.

É inútil extender-nos aqui sobre a vida de Cagliostro (imagem à esquerda) e sobre o rito fundado por ele em 24 de dezembro de 1784 em Lyon: A Loja Mãe e Mestra do “Rito da Alta Maçonaria Egípcia”. Aquilo que nos interessa aqui é que quando Cagliostro voltou para a Itália no outono de 1788, enquanto estava em Veneza hóspede da nobre senhora Cecilia Tron que abriu-lhe as portas da nobreza veneziana, foi interpelado por um grupo de altos maçons venezianos os quais pediram-lhe uma patente constitutiva para poder operar sob a sua guia. Tratava-se de personalidades importantes entre as quais o conselheiro de estado Francesco Battagia de Mori, o embaixador Alvise Pisani e o patrício Alessandro Albrizzi, todos membros da Loja San Giovanni della Fedeltà.

Dizer que estas pessoas eram maçons não significa muito se não acrescenta-se que também eram altos graus da Estrita Observância Templar e sobretudo do Rito Escocês Retificado, fato este que demonstra que já estavam habituados a um saber esotérico e às práticas mágicas correspondentes que Willermoz tinha depositado dentro do Rito Escocês Retificado, após tê-las por longos anos aprendido através do ensinamento de Martinez de Pasqually e praticadas sob a sua direção .18

18 Em 1761 Martinez de Pasqually tinha fundado a Ordem dos Cavalheiros Maçons Eleitos Cohen do Universo, cujos altos graus a magia era praticada na sua forma mais alta (teurgia). De Martinez, Krememrz fala repetidamente e sempre com tons elogiativos, como quando por exemplo escreve: “o Martinismo refere-se aos irmãos Cohen de Martinez-Pasquallys do século passado e sob a direção iluminada do Dr. Encausse parece estar destinada a reconduzir a Maçonaria à fonte iniciática e douta primitiva”. O próprio Manlio Magnani em seu ensaio “Tradições de Oriente e Ocidente” que publicamos neste site cita Pasqually muitas vezes. (Ndt).

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Portanto o núcleo fundador do rito maçônico de Misraim assim como nós o conhecemos hoje viu a luz em Veneza em 1788 mesmo que o elemento mais íntimo deste sistema tenha vindo de Nápoles e foi Cagliostro a depositá-lo no seio deste sistema, que não nasceu já composto de 90 graus como atualmente o conhecemos mas estruturou-se gradualmente por mais ou menos vinte anos.

Tendo presente que a Estreita Observância Templar tinha uma hierarquia de sete altos graus depois da mestrança, outros tantos tinha a ordem dos Eleitos Cohen, e o rito de Cagliostro tinha três, é verosímil deduzir que, contando também os três graus da maçonaria universal, o sistema originário de altos graus que coagulou-se entorno da Loja “San Giovanni della fedeltà” e com o qual começou a formar-se o Rito de Misraim, fosse composto originariamente por uns vinte graus.

No período que vai de 1788 a 1797 a Loja San Giovanni della Fedeltà já trabalhava com os rituais do rito egípcio e naquela época também fazia parte desta Loja o poeta Ugo Foscolo o qual participou, juntamente com Francesco Battagia, às inúteis tratativas feitas com Napoleão para evitar a cessão de Veneza para a Áustria com o tratado de Campoformio. É importante relevar que as ilhas Jônicas não foram cedidas à Áustria e justamente nelas aconteceram naqueles anos boa parte do trabalho que deveria garantir a sobrevivência do sistema egípcio, mesmo porque uma vez assinado o tratado, as autoridades austríacas constrangeram a Loja a entrar em sono.

Foi despertada em 1801 pelo barão Cesare Tassoni de Modena, conhecido com o nome iniciático de Filalete Abraham e já considerado um altíssimo grau do Rito.

Apesar de uma ocultação dissimulada, como já tinha acontecido em Nápoles com Raimondo di Sangro, os cargos maiores do rito continuaram ativamente seus trabalhos de afiliação, de pesquisa maçônica, de trocas e de contatos como os mais altos expoentes de outros ritos, a começar naturalmente pelos representantes daquele que daqui a poucos anos deveria tornar-se o Rito Escocês Antigo e Aceito, que na Itália foi introduzido oficialmente em 1805 em Milão, mas cujos precursores já operavam na Itália há muito tempo.

Cesare Tassoni viajou muito e operou muito para a difusão do Rito Egípcio na Itália e fora, mas não foi certamente o único, estiveram também ao seu lado nesta obra de difusão outros eminentes Irmãos como Lassalle e Lechangeur, graças aos quais o Rito difundiu-se nos principais centros da península começando por Milão e Florença.

Graças a esta obra fervente de apostolado o sistema originário que tinha começado na Loja veneziana enriquecia-se sempre mais com importantes rituais, os quais foram sabiamente adquiridos para servir como preparação apta à sabedoria hermética necessária para compreender bem e realizar da melhor maneira possível as práticas mágicas transmitidas por Cagliostro.

Que um saber iniciático real fosse possuído por estas pessoas e não só um esoterismo de fachada como é aquele maçônico atual, pode-se verificar através dos rituais usados naquela época, como por exemplo o ritual do Ágape usado em 19 de março de 1807 em Milão nos locais da Respeitável Loja Real Giosefina na presença do Potentíssimo Ir. De Grasse Tilly. Comparado com alguns ritos da Fraternidade de Myriam se verá como e onde a magia e o esoterismo maçônico dão-se as mãos.

Fato está que nos dois primeiros decênios de 1800, nós temos a prova provada que o sistema egípcio nascido em Veneza foi estruturando-se em um rito bem preciso e definido, passando primeiro através de uma forma em 33 graus, como no Rito Escocês, que assumiu o nome de Rito Escocês Templar, para em seguida assumir enfim o título distintivo de “Rito de Misraim seu Aegypti”, com os seus 90 graus.

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O primeiro documento incontrastável possuído pelos estudiosos profanos provém dos arquivos do Capítulo Rosacruz “La Concordia”, que fica nos Abruzos; trata-se de uma patente deixada em 1811 ao Ir. B. Clavel, assinado por Marc Bedarride e assinado com o grau que tinha alcançado na época, o 77º.

Obviamente, etapa após etapa este sistema acabou por retornar para a própria fonte, em Nápoles, cidade da qual provinha o seu núcleo esotérico mais secreto, e onde o Rito acabou por receber a sua sistematização definitiva em 90 graus. O saber iniciático que Cagliostro tinha aprendido em Nápoles e difundido depois em toda a Europa servindo-se de um sistema essencial em três graus, acabou por tornar-se revestido e disfarçado, sob forma de um sistema mastodôntico em 90 graus que tinha sabido por um lado pegar todo o melhor da maçonaria da época com a finalidade de circundar e enriquecer o próprio núcleo fundamental. Por outro lado era possível notar que esta pletora de altos graus podia ser oportunamente usada para diminuir a rapidez indefinidamente do caminho dos impreparados e obstaculizar aquele dos indignos, para evitar que estes nunca alcançassem os graus mais altos e essenciais. Garantia então de uma perfeita preparação para os mais merecedores e de uma perfeita inviolabilidade da parte de todos os outros.

De Nápoles depois o Rito de Misraim assim estruturado repartiu para difundir em toda a parte ainda uma vez a sabedoria egípcia, e desta vez foram os Irmãos Bedarride, Joly, Gaborria a levá-lo pela Europa.

Merece um comentário o Rito de Memphis, já que a partir do final do século XIX será quase sempre associado ao Rito de Misraim, depois que Garibaldi pensou de fundir os dois ritos em uma só estrutura. É todavia importante evitar confundir este com aquele.

A razão está no fato que o Rito de Memphis não possuia o conhecimento contido nos últimos quatro graus do Rito, encarregados de transmitir os conhecimentos herméticos e mágicos que Cagliostro tinha doado aos seus fundadores e que são comumente conhecidos pelos estudiosos com o nome de Arcana Arcanorum.19

Nem as coisas mudaram depois que os dois ritos foram reunidos por Giuseppe Garibaldi porque também para os ritos ilegítimos do Misraim, dos quais infelizmente provém a maior parte dos atuais Soberanos Santuários, esta perdeu-se por causa de insubordinação e traição ou mais simplesmente por impossibilidade de transmissão, como veremos no próximo capítulo.

(2 - continua)

19

Pedimos aos leitores para não confundirem a profunda sabedoria iniciática que Cagliostro transmitia no interno do

próprio Rito Egípcio e que doou aos fundadores do Rito de Misraim com o imenso cúmulo de tolices que se lêem na

internet ou em determinados textos, italianos mas sobretudo estrangeiros, intitulados Arcana Arcanorum.

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O Segredo das Correntes Mágicas

Não é a minha intenção celebrar o epitáfio de Giuliano Kremmerz, que vive nos corações daqueles que

entenderam a mensagem universal profunda, ou que ainda acreditam nele sem qualquer prova que não

seja a sua fé. Quantos viveram no seu tempo, não se esquecem de suas piadas sobre os homens de ciência,

médicos e farmacêuticos de Nápoles do século XIX, usadas para identificar qualquer doença com um

epíteto diferente, de acordo com seu conhecimento de anatomia, química ou patologia. Portanto ele não

aceitou os médicos sem algumas dúvidas, rejeitando candidatos que não deram evidência de

independência mental, a partir dos postulados da medicina mecanicista. Não porque os julgasse indignos,

mas porque ele acreditava que quem estava acostumado a conversar com os micróbios, não poderia

tornar-se um observador atento da alma humana, a menos que houvesse nele um esforço constante para

superar a notoriedade de fatos demonstráveis, para remontar ao efeito de causas invisíveis.

Ele acreditava em suma, que o homem não fica doente, se sua mente e sua alma não são afetados pelas

mesmas causas morbosas que afetam o físico, pois que o homem é um organismo complexo, cujos

componentes variáveis em tom e desenvolvimento, estão intimamente relacionados e interdependentes. O

verdadeiro significado do trabalho de Kremmerz reside porém na sua

tentativa de criar uma Escola de Hermetismo aberta a todos, que se

funde na Inteligência da antiga Tradição dos Mistérios, permitindo

que os membros da corrente intervenham, com uma visão

incomum e de capacidade terapêutica, no sofrimento humano e

no desgaste pelos males do corpo. Mesmo maltratada por racionalistas

descrentes, as correntes iniciáticas foram formadas em torno de ideais

comuns do Bem e da Fraternidade, e a realização de seus programas com

grande dificuldade em ambientes hostis na maior parte do tempo.

Há uma diferença substancial entre as correntes de solidariedade, que são

formadas em torno da vontade de homens corajosos e dedicados para o

avanço da humanidade, e as correntes mágicas, pois elas são

menores mas produzem grandes milagres para a intervenção de

inteligências não-humanas, que operam em harmonia com as forças do Universo com o operador líder em

estado de Mag, num prelúdio para a externalização de forças corretivas. O princípio sobre o qual atuam as

correntes terapêuticas é simples: o desejo da maioria dos indivíduos, unidos por uma finalidade autêntica e

ação mágica, leva à formação de um organismo que, vitalizado pela obra do mestre, formam a Corrente da

Egrégora, ou seja, a alma do grupo.

O verdadeiro problema, porém, é o cumprimento das Inteligências à vontade do mestre, que por sua vez

tem que direcioná-las à vontade do Deus incognoscível, que preside a todos os fenômenos do destino

humano. Deve estar claramente expresso os desejos e as ordens estritas para que o mestre transmita aos

seres o fluido que circula na atmosfera, representando os corredores invisíveis, num tom espiritual,

expressão moral de uma entonação especial de um temperamento forte, que o mestre oferece à corrente

desde a sua criação e que permanecerá sempre como um elemento de caracterização das possíveis

realizações.

Quando se evoca a inteligência da Corrente, com o propósito de praticar uma intervenção terapêutica em

favor de um doente, o estado de Mag , ou seja, a exaltação mental e vibração do Amor, vem do contato

inconsciente com essas criaturas puras e inteligentes. Não há poder de cura sem esta ação de combinar a

energia vital da Corrente mágica com as inteligências desencarnadas, dado que cada força que se expressa

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no mundo divino da Taumaturgia, por lei da natureza, deve ser purificada de qualquer influência de baixa

materialidade animal, devendo manifestar-se na esfera superior da individualidade humana, ou seja, na

alma, na qual estão encerrados os germens psíquicos de todas as possíveis doenças do homem e da quais

derivam, por degradação, as doenças do corpo. Isto significa que o reservatório de força magnética, que

Kremmerz mencionou e pretendia criar na atmosfera da Terra, capaz de suprir as necessidades do mago e

do terapeuta, foi na sua intenção, apenas um termo convencional, que indicava as energias disponíveis no

complexo das forças evocadas, não a simples força magnética como tal, como as vezes é considerada.

Para ilustrar o problema de magnetismo da Corrente, esta contém os aspectos mais significativos de outro

princípio importante da magia terapêutica, ou seja, a vontade que determina o milagre. A vontade de uma

Corrente Iniciática é a soma das expressões volitivas dos membros individuais, as vezes incertas e fracas,

porém corroborada por contribuições sinérgicas de todos os participantes. Vontade mágica é uma

expressão nem sempre clara, o que significa que a determinação de causa e efeito, onde a causa da

vontade em ação comum é a vontade que une os inscritos, ou seja, o objetivo superior das finalidades

terapêuticas, enquanto que o efeito é a explicação natural da causa, na ação das forças que atuam sobre a

alma do doente. Essas forças não são avaliáveis em termos de pura força nervosa, mas no sentido da

corrente energética de potência Isíaca, às quais geradas no corpo oculto do doente, induzem nele a

ativação dos centros difusores de força vital.

Em 1896 Kremmerz tinha colocado as bases para a fundação da Fraternidade – Terapêutica Mágica de

Myriam, e em uma circular de 26 de dezembro de 1898 declara de restaurar uma “fraternidade

espiritualista mágica [...] como por exemplo as antiquíssimas lojas sacerdotais isíacas egípcias, das quais a

mais recente e conhecida imitação é a Rosa+Cruz”. (Na imagem o 1º fascículo – ano de 1899 – do Boletim

“A medicina hermética”).

A circular é clara: a Fraternidade deve ocupar-se somente de medicina hermética, de terapêutica mágica,

de curar e aliviar os sofrimentos e as doenças.

Os objetivos declarados da Fraternidade são: o estudo das ciências que ocupam-se dos poderes não ainda

bem conhecidos do organismo humano e de todos os fenômenos sobrenaturais e espirituais e a pesquisa

sobre os documentos clássicos, obras, memórias, ciências alquímicas e mágicas, religiões, ritos, tradições

populares, mitologias das verdades ocultadas pelos antigos por ostracismo religioso ou por regra sectária; a

fraternidade de todos os estudiosos de boa vontade e o exercício das práticas para conquistar possíveis

atividades do organismo mental e psicofísico tais que possam explicar com o próprio controle os efeitos e

os fenômenos não comuns, a aplicação destas forças na medicina, na terapêutica e na psicurgia e

taumaturgia. As atividades da escola desenvolvem-se em dois planos diferentes. Por um lado existe a

terapêutica, atividade “isíaca” de terapeutas (que ostenta os seus resultados documentados). Todavia, a

terapêutica da Miriam presupõe uma visão do mundo e do homem que explica porque as “correntes” de

associados podem obter efeitos mágico-magnéticos (e então curativosA Miriam prospecta uma troca entre

o magnetismo dos homens e aquele da Terra (que as “correntes” desfrutam) fundado nos quatro

elementos aos quais correspondem os quatro corpos: saturniano (físico), lunar (etéreo), mercurial (alma),

solar (espírito). Quanto mais o homem se eleva, mais será capaz também de curar e sanar as doenças.

Miriam (Maria) é a Ísis, a alma humana perfeita que concebe o Kristos (o Verbo divino), mas é também a

“Minerva médica” que cura. E não existe nenhuma dúvida que de curas, efetivamente, ocupe-se a Miriam,

de acordo com um princípio fundamental de “medicina hermética” com base no qual “o espírito humano

que é divino sente a dor por causa da sua involução na matéria”: “torne independente o espírito do corpo e

o corpo reflorescerá”.

Mas Kremmerz vai além do comum magnetismo dos terapeutas e revela que “toda enfermidade é

produzida por um espírito malvado”: “o espírito do mal tira o fluido bom: você, magnetizando, o substitue”

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(e, acrescenta: você pode também chamar para lhe socorrer gênios e espíritos benignos). Entende-se assim

porque o irmão de Miriam nunca deva “proceder a magnetização de um enfermo sem recitar as orações de

rito” e sem toda uma complexa evocação dos anjos, demônios e deuses antigos; (-Teurgia praticada pelos

Egípcios- n.d.r.). Em um nível mais esotérico ainda, o homem que se eleva para o mundo solar atinge os

objetivos de uma magia “de osiris” não mais “isíaca”.

A prática kermmerziana dos “talismãs” mágicos, bons para diversos objetivos e ocasiões, identifica-se com

uma mais complexa magia de caráter hermético que chegaria até a “prática do separando” do elemento

solar do homem dos elementos físico, mental, astral para contruir internamente na pessoa um corpo de

glória imortal.

O vértice da magia “de osiris” consiste na prática do separando, uma operação alquímica interna ou de

transmutação na qual o elemento “solar” (de Osiris) do homem é progressivamente separado dos

elementos físico, astral e mental (Isíaco). A chave desta alquimia é a criação de um corpo de glória, que

garante a imortalidade e a sua experiência ainda nesta vida.

Revisão do texto do Ir+2369

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TRADIÇÕES DO ORIENTE E DO OCIDENTE

Parte III

A NATUREZA

A Natureza pode ser considerada sob dois aspectos: A Natureza eterna e celeste que é o Éden superior, o Reino da Unidade. Neste reino as noções do Tempo e do Espaço desaparecem no dúplice conceito de Eterno ou de Infinito. As almas que lá são reintegradas não são mais sugeitas às alternativas da morte e do renascimento; porque suas substâncias, completamente espiritualizadas, não oferecem mais presa nas ondas retrógradas da torrente das gerações... A Natureza temporal e cósmica ou de descida, tríplice como o Universo do qual esta é lei subdivide-se em:

Natureza providencial ou naturante, a qual é comum ao Céu e à terra; é por causa dela que a

Natureza temporal une-se com a Natureza Eterna, que o universo acaba no Éden e o tempo na

Eternidade. (Mundo ou plano espiritual):

Natureza fatídica ou naturada. (Mundo astral).

Stanislas de Guaita, idem, pág.29 e pág.39).

O DILÚVIO

Existem duas espécies de dilúvios, que nunca devem ser confundidos juntos: o Dilúvio universal, aquele do qual fala Moisés com o nome de Maboul, e os brakmanos com o nome de Dina-pralayam, e uma crise da natureza que coloca um fim à sua ação; é um colocar em dissolução absoluta os seres criados... Moisés fala sobre isto como sendo uma possibilidade funesta. A descrição de tal dilúvio, o conhecimento de suas causas e dos efeitos que produz, pertencem à cosmogonia... Os dilúvios da segunda espécie são aqueles que ocasionam só uma interrupção no curso geral das coisas, com inundações parciais, mais ou menos consideráveis. Entre estes cataclismas aquele que destruiu Atlântida pode ser considerado como um dos mais terríveis, porque submergiu um hemisfério inteiro e fez passar sobre o outro uma torrente devastadora.

(Fabre d’Olivet, Hist. Phil. Du genre humain, tom. II pág.192 passim. Citado por Stanislas de Guaita na obra cit. pág.35. Ver enfim na pág.30-4...)

ANIMA MUNDI O que deve ser entendido pelo famoso Rouach AEloim que no Princípio movia-se em potência de fecundidade sobre a face das dúplices águas? Por sua própria essência este Rouach AElohim coliga-se ao Rouach Hakkadosch, o Espírito Santo, do qual é a primeira manifestação do Éden. Em resumo no Universo este constitue aquele misterioso agente que os indianos chamam Akasa (o fluido puro), quando uma força inteligente o dirige; mas que, abandonado à fatalidade do seu próprio movimento, torna-se o furacão de Nahash, ou da serpente da Gênese, em uma palavra a Luz Astral. Tanto em um caso como no outro, foi chamado de alma do mundo.

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Este é o fator supremo do equilíbrio elementar, Aemesh, é a chave do juízo ou do equilíbrio moral Hocq. Como princípio da manifestação sensível, Moisés faz escorrer na região do Éden sob o nome de Phishon, o rio produtor da criação objetiva ou física: 20

como expansão da faculdade plástica geradora, e especialmente como Poder universal da individuação vital, este teocrata designa-o sob o emblema da pomba de Noé, Jonah. Os termos enunciados acima, e tantos outros ainda, exprimem a filiação oculta emanada por Rouach Hakkadosch, o Espírito Santo; seja uma hierarquia de Príncipes e de Potências, hierarquia que para nós, submúltiplos decaídos de Adão, acaba no mundo astral, ou sejam fluidos hiperfísicos. Na tradição constante dos Mestres da Sabedoria é considerada tríplice a natureza do fluido universal: considerado em seu movimento de expansão é dito Aod; em seu movimento de restrição é dito Aob; no ciclo integral do seu duplo movimento ascendente e descendente, é dito Aor. (A maior parte dos ocultistas escrevem Aour, nós com Fabre d’Olivet achamos mais exato dintinguir o fogo (Aour) da luz (Aor). Se observamos, a este ponto, que as águas... passaram pelos santuários do mundo antigo como hieróglifo material do princípio passivo e restritivo (enquanto que ao contrário o fogo era o emblema do princípio de atividade expansiva), não surpreenderá saber que estas águas no estado normal são comprimidas, condensadas, quase acorrentadas por uma força vitoriosamente compressiva, adstringente e vinculante (l’Erebo – Hereb). Este nó estático desfazendo-se, obtém que as águas então obedeçam, na medida da prodigiosa elasticidade que possuem, ao agente universal de expansão e fecundidade que dinamiza todas as coisas e as faz desenvolver de acordo com o princípio da multiplicação quaternária própria ao mundo elementar. Este último agente, muito próximo a Jonah, bem conhecido pelos antigos sábios tinha como emblema a pedra cúbica, que no IV símbolo do Tarô transforma-se no Trono do Imperador. Eis a grande intumescência das águas, o Dilúvio de Moisés.

(Stanislas de Guaita – idem- pág.37 e seguintes). (3 – continua)

20 Gihon, Hiddekel e Phrath, os outros três rios simbólicos do paraíso terrestre exprimem igualmente diferentes modificações do agente astral.

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Outubro 2013

O PAPEL DA MAÇONARIA EGÍPCIA NA HISTÓRIA DA MYRIAM

O MISTÉRIO NÃO RESOLVIDO

DO ARCANA ARCANORUM

Para ajudar os nossos leitores a não dar crédito às tantas bobagens que até mesmo recentemente foram escritas sobre o difícil argumento do Arcana Arcanorum, decidimos acenar aqui sumariamente. Existe um método, tão simples quanto perfeito, que resume todas as etapas do caminho iniciático; graças a este esquema é possível conhecer com grande precisão as diferentes fases, etapa após etapa, que cada pessoa deve passar para poder transformar radicalmente si mesma passando da própria condição de caída atual ao estado de ser totalmente realizado, obtendo o conseguimento do corpo solar ou seja realizando a Identidade Suprema. Consequentemente a cada etapa deste método corresponde uma ritualidade hermética bem precisa, que tem como finalidade o conseguimento de um degrauzinho bem preciso sobre a escada do aperfeiçoamento do ser.

O Arcana Arcanorum contém então um corpus ritual perfeito e completo que serve para fazer percorrer todo o caminho iniciático, do início ao fim, enquanto o esquema que o reassume é de fato uma chave que consente decifrar toda a ritualidade mágico-alquímica da tradição ocidental, consentindo decifrar a natureza oculta de cada rito e o momento no qual este deve ser praticado durante o caminho, para poder proceder no modo mais rápido e sem desviar. Para garantir uma sua perfeita transmissão, no século XIX, este extraordinário corpus ritual foi resumido em uma única operação mágica que pudesse ser celebrada, querendo, em uma única sessão que continha a essência de cada uma das etapas fundamentais. Isto foi feito para que, além de ter um rito em si

perfeito e completo, este pudesse servir também “didaticamente” para a transmissão ritual da inteira arte da magia. Celebrando-o diante do próprio aluno, o Mestre podia simbolicamente mostrar em uma única sessão ritual a essência de toda a prática mágica. Além disso, fazendo assim, o ensinamento mágico completo podia também ser concedido no decorrer do tempo sob forma de um comentário progressivo e sempre mais vasto a este único rito. O Magister podia, de acordo com a necessidade de seus discípulos, entrar sempre mais no específico de cada passagem do ritual e isto oferecia-lhe a oportunidade de poder expor qualquer aspecto teórico da prática mágica e de poder dar ao discípulo no momento certo outros ritos que integravam e tornavam perfeita a realização de cada passagem do rito geral. Se por exemplo em um certo ponto do ritual ocorria empregar um talismã, nada impedia ao Mestre, uma vez que o discípulo tivesse chegado ao justo grau de evolução, de ensinar-lhe tudo aquilo que ocorre saber sobre a arte de criar talismãs eficazes. A preparação daquele específico talismã podia assim se tornar a ocasião para ensinar ao discípulo tudo aquilo que um iniciado deve saber sobre a arte talismânica. É lógico que esta liturgia mágica, sendo completa e perfeita, é única e não pode como tal ser substituída por qualquer outro ritual,21 e cada rito mágico, se autêntico, não é senão a extensão e a aplicação de cada aspecto desta.

21 O rito da missa desenvolve no interno do catolicismo a mesma função que o ritual do Arcana Arcanorum desenvolve no interno da tradição hermética: são ambos um conjunto perfeito de toda a doutrina e de toda a prática.

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O Arcana Arcanorum é então único, enquanto são numerosas as suas possíveis extensões, todas conservadas no interno do Núcleo Napolitano e transmitidas por seus Mestres. Por isso o sistema do Arcana Arcanorum foi conhecido também como a “Escala de Nápoles”.22 A estas breves notas queremos só acrescentar uma indicação à qual Kremmerz alude muitas vezes: “E eu farei antes de mais nada com que você compreenda uma coisa que em vão você tentará entender nos livros clássicos: os antigos conheciam e praticavam duas magias, a dos éons e a transmutadora; a primeira isíaca isto é lunar, a segunda amonia, isto é solar”. (“A porta hermética”) 23 O Arcana Arcanorum é então duplo, no sentido que compreende um duplo iter, o primeiro dos éons, o segundo alquímico, simbolicamente representados por duas chaves de prata e de ouro. Quanto a magia dos éons, Kremmerz muitas vezes sugeriu quais são os textos tradicionais aos quais ocorre referir-se, mas sobretudo, como verdadeiro hermetista napolitano deixou-nos um nome: Ariel. Este nome, para quem sabe ler e cifrar, indica claramente aonde procurar a ritualidade que deve ser empregada para tentar estreitar o Pacto com o mundo divino quando o Magister está ausente; além disso indica o caminho a ser seguido, de acordo com a explicação contida nos estatutos do Grande Oriente Egípcio. Nós podemos dizer somente que é o nome do Leão de Deus, Animal do qual está escrito: “E quando este leão ruge, quem não sentirá medo?”. De Ariel para o caminho alquímico o passo é curto. Com respeito a este último, sendo mais difícil de intuir, Kremmerz quis nos dar uma ajuda mais consistente e o fez dando-nos a primeira metade do compêndio de toda a magia transmutadora, que consiste nos primeiros seis dos doze aforismas de Iriz-ben Assur, um sumo sacerdote do período de Beroso, publicados no “Mundo Secreto”. Kremmerz escreve textualmente: Estes aforismas de primeira magia nunca foram impressos no ocidente e fazem parte dos cadernos iniciáticos do Grande Oriente Egípcio, estes doze aforismas são dados aos neófitos desta Ordem sem comentários e aconselha-se literalmente a decorá-los. Eu expondo estes doze aforismas traduzindo-os do original siríaco sacerdotal – isto é dos ideogramas do período no qual foram do colégio dos padres orientais ligados à posteridade – adapto-os à inteligência dos modernos e os comentarei claramente até aonde posso. Estudando e praticando as leis destes aforismas mágicos, condensação da prática da aprendizagem para o sacerdócio, o discípulo que me leu até agora pode iniciar a sua educação individual. Deixando de lado o fato de que o comentário que o Mestre faz logo após os primeiros seis aforismas necessitaria como mínimo de uma outra dúzia de comentários para esclarecer o seu, o leitor pare um pouco para refletir sobre o fato que estes aforismas eram dados desde o início e sem comentários aos neófitos do Grande Oriente Egípcio, para que meditassem sobre eles. Eram então material essencial da maçonaria egípcia com sede em Nápoles. Muito bem, existe um site qualquer de qualquer maçonaria egípcia que comente ou até mesmo só acene a qualquer um destes aforismas? A resposta é não, e a explicação sobre isto pode ser dada facilmente por cada um sozinho: muitíssimas pessoas gabam-se de possuir o Arcana Arcanorum mas ninguém entre estas atreve-se a comentar nem mesmo metade destes aforismas. Retornando ao nosso argumento e resumindo, por causa da cisão querida por Joly, Gaborria e Garcia, que mesmo sendo 90º não eram detentores do Arcana, falsos Ritos Egípcios foram difundidos largamente em todo o mundo, levando o esqueleto do Rito mas não a sua carne e a sua essência. É emblemático o caso de Ragon, que para justificar o fato de não possuí-lo sustentou de tê-lo perdido no mar durante uma viagem nos Estados Unidos. Vice-versa precisa-se voltar para Nápoles se o objetivo for recuperar o autêntico fio da maçonaria egípcia e dos seus conhecimentos herméticos. Nós temos que agradecer Kremmerz que, tendo nascido em Portici,

22 Escala que deve-se subir para passar da terra ao céu, e fazê-lo significa seguir um iter bem preciso, degrauzinho por

degrauzinho.

23 “A Porta Hermética” de Giuliano Kremmerz foi traduzida para o português e será publicada no segundo volume da

“Ciência dos Magos”. (Ndc)

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tendo encontrado em Portici o seu primeiro Mestre (Izar bne Escur, ou seja Pasquale de Servis), ( imagem à esquerda) e tendo podido aprender em Torre Annunziata os verdadeiros mistérios diretamente da boca de Giustiniano Lebano, naquela época Grande Hierofante do Rito Egípcio, pôde sugar o leite da Sabedoria diretamente da sua fonte mais pura. Enfim, queremos dizer que é antes de mais nada a Kremmerz que devemos nos referir se queremos encontrar novamente o fio do Arcana Arcanorum, a Escala de Nápoles, conscientes do fato que depois de mais de dois séculos da sua manifestação este sistema, que constituía o coração palpitante e a verdadeira essência do Rito Egípcio, conserva ainda intato todo o seu mistério.

Fim

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TRADIÇÃO DE ORIENTE E DE OCIDENTE

CRIAÇÃO Moisés no primeiro versinho da sua Cosmogonia exprime hieroglificamente o verdadeiro sentido da palavra “criar”- in principio creavit (Bara) Deus deorum... - . A palavra (Bara- creavit) manifesta (interpretado) o seguinte sentido esotérico: - Paternidade do movimento-ativo-produtor da existência potencial à milésima potência; - ou seja: produção do movimento de exteriorização que faz passar do princípio absoluto à essência radical, por sua vez suscetível de multiplicação divisional, na gênese dos indivíduos. Portanto todos os seres se criam por série de sucessivas exteriorizações. A irradiação fecunda do Verbo determina-as em Princípios; é a primeira etapa. De Princípio passam a Essência ou Potência de ser genérica, especificada e que especifica; segunda etapa. É neste grau de realização, e alcançado este termo médio entre o início e a existência, que o ser se individualiza em centros de atividade potencial; é o Poder do ser germinal; terceira etapa. Para completar estes dados ocultos, tão delicados para serem penetrados, é necessário precisar a função maternal da Vida, nesta filiação de seres virtuais. Assim, na expansão do Verbo criador, a Vida (que a ele é indissoluvelmente associada) não se concebe senão sendo universal, e, se podemos dizê-lo, sem particular destino. Mas, com esta finalidade de animar ou desenvolver ou afirmar os Princípios dos seres, a vida se impôs uma primeira particularização. Esta une-se a estes Princípios ou tipos radicais, e desta união são geradas as Essências. Depois, para vivificar por sua vez os seres determinados em Essências (ou Potências coletivas especificadas) a Vida suporta uma segunda particularização. Enfim as Potências coletivas da vida especificadas (ou Essências), sub-multiplicando-se em inumeráveis germes individuais, geram aqueles centros de atividade potencial dos quais falamos: terceira particularização. Então em cada um destes centros manifesta-se um EU mais ou menos definido, mais ou menos instintivo; perfectível, de acordo com a sua espécie, mas ainda não consciente: este EU é a afirmação individual de cada germe, é a sua alma de vida particular. (Deve ser notado que no estado edênico toda esta gênese se operava intus et intra; de maneira que cada submúltiplo nascia para a vida individual no seio materno de Adamah <o elemento homogêneo com a substância de Adam>, sem renunciar à vida coletiva nem romper o quadro místico da grande Unidade. Depois da caída esta gênese efetua-se extra forisque, fora do grande giro unitário). ............................... A alma de vida coletiva, distribuída universalmente aos seres dos três reinos naturais (mineral, vegetal, animal) é chamada por Moisés Nephesh-ka-haïah enquanto a considera na sua essência homogênea; e é chamada Jona enquanto considerada faculdade geradora, expansiva, plástica; ou sopro biogênico da Natureza, apto a especificar, primeiro em essências genéricas, depois a individualizar-se em inumeráveis submúltiplos, para formar aquelas potencialidades de assimilação e de autocriação corporais, que são o pequeno ente vivente e o querer instintivo de todas as criaturas em fase de desenvolvimento orgânico no plano físico. Mas sobre qual modelo, sobre qual tipo aquele pequeno ente vital e vivificante reunirá ou formará um corpo que lhe seja apropriado? Isto depende do grau espiritual, ou seja do Princípio, que modelando a Vida universal, determinou-a em uma ou outra Essência particular ou Potência especificada do ser. Aqueles princípios são as formas puras, os arquétipos imortais ou prefixos de cada espécie. São eles que particularizam e manipulam a força universal de vivificação, Jônah. Da primeira união do princípio radical e de Jônah nasce a incorruptível essência de cada espécie. Depois esta Essência, ou potência de ser coletiva, gera a multiplicidade dos indivíduos virtuais instintivos, os quais poderão escolher e agregarem-se, sobre o

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rascunho de suas formas astrais, todos os elementos dos quais necessitam para realizarem-se objetivamente aqui embaixo. A estes tipos radicais, a estes princípios especificadores das raças, outros cabalistas dão o nome de Imagens. Resumindo: o Tipo ou Imagem, força ativa de especificação, penetra e fecunda a Vida universal hiperfísica ou Jônah, força passiva. As Essências especificadas que resultam deste himeneu, geram por sua vez os germes virtuais, isto é os indivíduos determinados em potência de ser. (Stanislas de Guaita, obra cit., pág. 59 e seg.).

A NATUREZA, O HOMEM E O INICIADO A Natureza universal oferece ao ocultista – além do plano físico, que é o único acessível aos meios de pesquisa e controle da assim dita ciência positiva – outros três planos de investigação e de experiência: - o plano astral, mundo inferior das energias potenciais: é o reino da Natureza naturada, aonde domina o destino; - o plano psíquico, mundo passional, intermediário: é o meio próprio da substância adâmica, aonde a alma vivente universal se move, athanor da vontade; - o plano espiritual, mundo superior, inteligível: é o Éden da Natureza naturante, aonde reina a Providência. O iniciado pode ter acesso em cada um destes três planos... Elevando-se:

ao mundo espiritual, pode estudar a geração dos princípios, na ordem prefixada pelo divino absolutismo;

ao mundo psíquico, pode surpreender a elaboração das vidas, o proceder da tormenta passional, aonde já se afirma, no fundo da luta interior, a antinomia das almas e das vontades;

ao mundo astral, pode conhecer o substratum de toda a manifestação sensível, e decifrar aquela misteriosa língua dos sinais, na qual está escrita a gênese dinâmica das formas.

Portanto o adepto pode observar e ler quatro ordens de realidade sobre os diferentes planos que a tais ordens são próprios, isto é:

a ordem de realidade material que é a única alcançável pelo profano;

a ordem de realidades astrais;

a ordem de realidades psíquicas;

a ordem de realidades espirituais. ............................ Portanto a ciência esotérica propõe-se um triplo objeto de estudo: a Natureza naturante, a Natureza psíquica e volitiva (o homem), a Natureza naturada, que alguns com menor exatidão chamam: Deus, o homem, o universo. Se, independentemente do mundo físico, o Universo comporta três planos de realidade ou de mundos hierarquizados, a alma humana possue três planos correspondentes àqueles três mundos: Nephesch ou corpo astral, corresponde ao mundo hiperfísico; Roûach ou Alma passional, ou mundo psíquico; Neschamah, ou Inteligência (receptiva do Espírito puro) ou mundo inteligível. Estes três centros principais, como peremptoriamente estabeleceu-o Fabre d’Olivet, possuem cada um uma esfera de ação que lhe é própria; e as três esferas distintas encadeiam-se entre elas de tal maneira que a circunferência desenvolvida pelo centro inferior, Nephesch (instinto, vida sensitiva, corpo astral), alcança o centro mediano Roûach (alma passional, vida psíquica); e a circunferência desenvolvida por este toca um ponto central da circunferência superior ou Neschamah (Inteligência, vida espiritual). Enfim este ternário é arredondado por uma unidade relativa, que o torna um quaternário; assim estas três esferas são envolvidas por uma quarta que tem um raio duplo com respeito às outras e cujo ponto central confunde-se com aquele da esfera mediana ou psíquica. O esquema que reproduzimos na Fig.1 permitirá ver imediatamente as relações do homem triplo com o triplo universo.

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Fig. 1

Esfera instintiva ou da vida astral: Nephesch Esfera psíquica ou da vida passional: Roûach Esfera espiritual ou da vida intelectual: Neschamah O ser humano (seja individual, seja coletivo) pode ser concebido como conglobante e dirigindo, sob o império da sua vontade soberana, uma parte das três essências cósmicas: - Espírito, alma, fluido astral – que fazem-no participar da tripla vida do universo. O homem: Da sua inteligência (pesquisadora do espírito puro) confina com a unidade das coisas, com a Natureza naturante, com a Providência divina; Por meio do seu corpo astral, e em contato com a infinita divisibilidade, com o Destino da natureza física, naturada; a sua alma intermediária é a substância própria, passiva do seu ser; a sua vontade inclina esta alma a ficar de acordo, seja no alto no plano espiritual, com a Providência, seja embaixo no plano astral, com o destino. Isto é aquilo que em primeiro lugar tornou evidente Fabre d’Olivet. Ele indica a vontade humana como sendo uma das três grandes Potências que regem o cosmos, as outras duas são Providência e Destino. Diz: “no reino hominal o vínculo próprio da Vontade é a Alma Universal. É através do Instinto Universal do homem que ele liga-se ao Destino, e através da sua Inteligência universal que comunica com a Providência: a Providência não é outra coisa, para o homem individual, senão esta Inteligência univesal, e o Destino é este instinto universal. Assim portanto o reino hominal contém em si todo o univeso. Fora dele não existe absolutamente nada que não seja a lei divina que o constitue e a primeira causa aonde aquela Lei é emanada. Aquela primeira causa é chamada Deus, e aquela lei divina leva o nome de Natureza.

(Hist.Phil. du genre humaine, tom II,p. 109 e seg)

4 – continua

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Medicina hermética

Carta de Giuliano Kremmerz ao genro

….o meio para curar é aquele de ter a certeza da cura, chegue de onde chegar. Podem existir ajudas que as

pessoas aparentemente mais desprezíveis podem dar e que você rejeita automaticamente. Você entende o

que estou dizendo? Dirija-se a um médico amigo, mesmo que profissionalmente você não o estime e

escute-o quando for consultá-lo.

O deus da medicina ( Esculápio imagem a esq.) fala através de todas as bocas.

Considere o médico naquele momento como se falasse como um médium, como uma

sibila pela boca do qual o deus da medicina pode dar uma resposta oracular.

Os Caldeus, quando viam um doente que não melhorava, expunham-no ao público e todos

os visitantes davam as suas opiniões; o menos sábio entre estes podia revelar o segredo

para curá-lo, justamente porque o grande Kons podia escolhe-lo como porta-voz.

Quando você pede ao médico ou a qualquer pessoa o conselho ou o remédio não aceitar de olhos fechados

a resposta se a resposta que você receber não for aceita pelo seu EU interior. Eu lhe digo isso para que você

entenda que o remédio sugerido a você por um médico não é o bom senão quando chega dentro de você a

convicção que é aquele. Não porque você deva analisar ou discutir o conselho com um raciocínio mais ou

menos científico, mas você deve se sentir disposto simpaticamente com relação ao remédio que lhe foi

sugerido. Se você fizer assim, no meio de cem conselhos você terá condições de escolher o bom e o

melhor...

(30-10-1914)

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Novembro 2013

A Ciência dos Magos

Em breve a publicação no Brasil da “Opera Omnia” de Giuliano

Kremmerz

A “Opera Omnia” de Giuliano Kremmerz, traduzida do italiano para o

português, será publicada em breve no Brasil pela Editora Devir de São

Paulo. No Brasil, por enquanto, da “Ciência dos Magos” será imprimido

somente o primeiro volume. ( imagem à esquerda). Trata-se de um

evento extremamente importante seja do ponto de vista espiritual como

daquele editorial porque pela primeira vez no Brasil e na América Latina o

grande pensamento mágico e esotérico do mais importante Mestre de

hermetismo da época moderna, digno herdeiro e continuador dos maiores

Mestres do passado, poderá ser conhecido e apreciado pelo leitor sul-americano.

Giuliano Kremmerz não precisa ser apresentado porque os leitores do site conhecem bem a sua vida e as

suas obras. Mas no interesse dos nossos leitores e sobretudo daqueles que se aproximam pela primeira vez

do nosso site publicamos o Sumário deste primeiro volume e a Apresentação.

Apresentação

Em 1898 Giuliano Kremmerz colocou as bases para a fundação da Fraternidade Terapêutica Mágica de Myriam em Nápoles, com a finalidade de restaurar uma “fraternidade espiritualista mágica” baseando-se nas antiquíssimas fraternidades sacerdotais isíacas egípcias, das quais a mais recente e conhecida imitação é a Fraternidade Rosa+Cruz.

A Fraternidade deveria ocupar-se somente de medicina hermética, de terapêutica mágica, de curar ou aliviar os sofrimentos e as doenças. Mais precisamente pedia-se o estudo das ciências que ocupavam-se dos poderes ainda não bem conhecidos do organismo humano, e também o estudo dos documentos clássicos, obras, memórias, ciências alquímicas e mágicas, religiões, ritos, tradições populares. Enfim, a aplicação destes conhecimentos na medicina, na terapêutica, na psicurgia e taumaturgia.

Miriam – Maria – é a Ísis, a alma humana perfeita mas é também a “Minerva médica” que cura. E não existe nenhuma dúvida que a Miriam ocupe-se, efetivamente, de curas, segundo um princípio fundamental de “medicina hermética” baseando-se no qual “o espírito humano que é divino sente dor somente por causa da sua involução na matéria”. Diz o aforisma hermético: torne independente o espírito do corpo e o corpo reflorescerá.

Para Kremmerz a magia “é a chave filosófica de todas as religiões e o irmão de Miriam nunca deve ajudar um enfermo sem recitar as orações de rito”. A concepção pagã do mundo e o emprego de símbolos, instrumentos mágicos, astrologia e gênios são compreendidos melhor se entende-se que a Fraternidade de Miriam nasce sob a proteção de um Colégio Operante emanante da Ordem Egípcia de Osíris, que por sua vez continuava a tradição dos ambientes maçônicos, ocultísticos e esotéricos napoletanos.

Em tais ambientes, desde junho de 1863, distingue-se a obra do advogado Giustiniano Lebano, o qual juntamente com outros mestres fundou a Grande Ordem Egípcia Scala di Napoli que, após diversos acontecimentos, renasceu em 1869 por obra do próprio Lebano e da qual fez parte Giuliano Kremmerz.

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É importante ressaltar que as atividades do grupo que apareceu juntamente com Kremmerz desenvolvem-se em dois planos diferentes. Por um lado é presente a terapêutica, atividade “isíaca” de terapêutas – que exalta os seus resultados documentados – da qual dedica-se a Miriam e que também atrai pessoas interessadas somente neste aspecto e não com muito interesse de irem mais além.

Todavia a terapêutica da Miriam pressupõe uma visão do mundo e do homem que, nas “academias” aonde reunem-se os associados, alcança os efeitos mágico-magnéticos, e consequentemente curativos, desejados pela Escola. A Miriam prospecta uma troca entre o magnetismo dos homens e aquele da Terra – que as “academias” desfrutam – fundado sobre os quatro elementos aos quais correspondem os quatro corpos do homem. Quanto mais o homem se eleva, mais será capaz de curar as doenças. A um nível mais esotérico ainda, o homem que se eleva até o mundo solar alcança os objetivos de uma magia não mais “isíaca”, mas de “osíris”.

O vértice da magia de “osíris” consiste todavia em uma operação alquímica interna ou de transmutação na qual o elemento “solar” do homem é progressivamente separado dos elementos físico, astral e mental. A chave desta alquimia está ocultada na criação de um corpo de glória, que garante a imortalidade.

§ § §

Imprimindo a tradução do italiano para o português do Iº volume da “Ciência dos Magos” de Giuliano Kremmerz desejamos dizer aos leitores, aos estudiosos e aos praticantes da via hermética que nas últimas três partes do presente volume o Autor entra no vivo do ensinamento mágico.

Este volume, como diz o próprio Kremmerz “tenta chamar a atenção dos poucos eleitos” sobre as ciências que o mundo moderno gostaria de esquecer, “e falar para a consciência daqueles que são imparciais quanto à linguagem dos tempos remotos”.

Kremmerz intitulou originalmente a sua obra: Mundo Secreto, encaminhamento à ciência dos magos, porque a Magia, tão vilmente caluniada na linguagem vulgar, é a ciência do absoluto, a perfeitíssima sabedoria sintética que conservou a chave da verdade que o vulgo imperfeito deve ignorar.

A Magia foi chamada Arte Sacerdotal e Arte Real,porque quem dedica-se a ela inteiramente não pode ser senão um Sacerdote, por vocação ao conhecimento da verdade perfeita, ou um Soberano das grandes forças que governam a vida do universo.

Nos anos 70 os escritos de Kremmerz foram agrupados em três volumes e em um dicionário hermético e a esta obra foi dado o título “A Ciência dos Magos”, título que nós conservamos também para a presente tradução, a primeira em língua portuguêsa.

A obra de Kremmerz foi uma grande obra de empenho espiritual e social, que nos últimos tempos foi em alguns casos e em alguns países europeus, mal entendida e menosprezada pelos antigos e nunca resignados inimigos da magia e da iniciação hermética. Àqueles que sem pudor e sem freio, além da calúnia, jogaram lama sobre a doutrina e sobre a pura idealidade do Mestre respondemos com uma única citação tirada da terceira parte do presente volume, onde Kremmerz enfrenta o delicado argumento da taumaturgia, da ignorância das religiões e das blasfêmias da bruxaria:

“Essa missa negra é uma orgia, como pode-se entender, na maneira mais brutal da palavra. O ato de amor espiritual é substituido pela ação animal coletiva de todos os assistentes, em uma osana assombrosa à impureza da criação. Verdadeiras cenas selvagens da luxúria, servem somente à materialização do ideal mágico, desfolhando e jogando na sujeira o belo, o maior, o mais sublime ato de magia divina que o padre ortodoxo celebrando a missa realiza sem saber!”.

Concluimos agradecendo a Academia Latino-Americana da Fraternidade Hermética pela solidariedade diante daqueles que quiseram fortemente esta tradução e pelo grande empenho para que esta obra fosse realizada e publicada.

Salilus

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HENRIQUE CORNÉLIO AGRIPPA E A TRADIÇÃO HERMÉTICA

Parte I

O nome de Henrique Cornélio Agrippa (1486-1535)24 , (imagem à

esquerda) para quem se aproxima da Tradição Mágica e Hermética, é

geralmente associado a quanto foi difundido sobre ele pelas lendas

populares. De acordo com estas lendas, Agrippa era um mago

famoso, tinha muita experiência em evocar os mortos, em esconjurar

os demons, em enfeitiçar e fazer “encantos”.

Em torno dele formou-se então a fama de bruxo, enquanto ainda

estava vivo, e foi este fato que gerou uma grande difusão de boatos e

escritos apócrifos atribuídos a ele.

Então não é uma surpresa se muitos estudiosos sérios da Tradição

Hermética se afastem das obras de Agrippa. Mas Kremmerz na “A

Porta Hermética” escreve: “Eu me perguntei tantas vezes por quê

pessoas eruditas e inteligentíssimas olharam todos os sinais que

estão presentes nas obras de Cornélio Agrippa como se fossem bobagens gráficas que não tem nenhum

valor*...+ E se tivessem um valor e grande?”

Parece que Kremmerz estimasse muito os escritos de Agrippa: tanto que colocou no começo de “Os

Mistérios da Taumaturgia” (A Ciência dos Magos – I Vol.) as ‘Cifras’ de Marte, como tinham sido expostas

pelo próprio Agrippa.

Mas não para por aí. Giordano Bruno em suas Obras Mágicas, em particular na “Magia Matemática” e

“Magia natural” e também em “De Umbris Idearum”, refere-se de maneira evidente à obra fundamental de

Agrippa “De Occulta Philosophia”.

Então pode ser útil iniciar um estudo mais profundo da obra de Agrippa, para extrair dela o seu

pensamento, imune de imaginações fantasiosas e legendárias, já que dele podem ser conquistados

estímulos para o trabalho hermético a ser praticado.

Ele submete a sua obra fundamental “De Occulta Philosophia” ao juízo do famoso abade beneditino

Tritemio, que foi abade de Spaheim, que ele tinha conhecido na abadia Wurtzburg, entretendo-se com ele

sobre os temas de Ciência Hermética.

Em uma carta para Tritemio, Agrippa expõe a situação de degradação e de desvio na qual se encontrava a

Tradição Hermética naquele período. Citamos alguns trechos desta interessante carta, porque dela resulta

evidente como em todas as épocas de um lado verificam-se desvios da pureza do Hermetismo e do outro a

necessidade de conduzi-lo novamente à sacralidade do núcleo primitivo. Aquilo que nela está escrito

resulta atual na nossa época também, na qual o Hermetismo se assemelha a práticas ocultas ou a seitas

mais ou menos desviadas.

24 A obra de Henrique Cornélio Agrippa “De occulta philosophia” foi traduzida do latim para o italiano por Arturo

Reghini, publicada em 1926 pelo Editor Fidi de Milão e precedida por um amplo estudo introdutivo sobre o autor e a

sua obra curado pelo próprio Reghini. Foi reeditada em 1972 pelas Edições Mediterrâneas de Roma em dois volumes

com o título “A filosofia oculta ou a Magia”.

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Então escreve Agrippa a Tritemio na “Filosofia Oculta ou a Magia”: “*Por que a estimada magia é

difamada?]. Refletindo a respeito, pareceu-me que a única causa de tudo isso, tenha sido a depravação dos

tempos e dos homens, graças à qual pseudos-filósofos, magos indignos deste nome, puderam introduzir

superstições detestáveis e ritos funestos, amontoar a dano de deus e para a perdição dos homens os seus

sacrilégios infames contra a religião ortodoxa, e enfim publicar esta quantidade de livros que vemos circular

em todos os lugares e que é necessário que se condene, e aos quais foi dado indignamente como título o

muito respeitável nome de magia. Esforçando-se para garantir desta maneira algum crédito às suas

fantasias, fizeram deste sacrossanto nome de magia um objeto de ódio para as pessoas honestas, e uma

fonte de graves acusações contra os sábios; de maneira que ninguém mais ousa, agora, com a própria

doutrina e com as próprias obras, declarar-se mago [...]. Fiquei surpreso e ao mesmo tempo indignado

quando vi como até hoje não se encontrou ninguém para vingar do delito de impiedade das doutrinas

sublimes e santas, e para apresentá-las integralmente e de maneira pura.[...]. Assim cedendo à minha

indignação e ao justo sentimento da minha admiração, curioso e intrépido explorador dos mistérios da

natureza, acreditei que teria sido uma obra louvável aquela de restaurar a antiga magia, a doutrina dos

sábios, após tê-la purgada dos erros de impiedade e baseada sobre sólidos alicerces. Este pensamento me

preocupa há muito tempo, mas eu nunca tinha ousado parar sobre ele, quando as nossas conversas de

Wirtzburg sobre estes argumentos, os seus sábios conselhos iluminados e as suas exortações inflamaram a

minha coragem e me fizeram decidir começar a trabalhar. Eu me apoiei sobre a opinião dos filósofos de

sinceridade reconhecida para dissipar as trevas acumuladas por uma falsa ciência, que pretendia tirar tudo

dos livros reprovados. Então eu compus nestes últimos tempos três livros aonde se encontra concentrada

toda a magia, sob o título menos desacreditado de filosofia oculta.”.

A seguir citamos alguns trechos de Agrippa, que evidenciam a mais rigorosa aplicação da Tradição

Hermética.

A sua obra mais importante, para a qual trabalhou durante toda a sua vida, “De Occulta Philosophia” se

conclue com esta advertência ao leitor e estudioso: “Eis quanto reunimos nesta obra, servindo-nos das

tradições dos antigos, para que possa servir de introdução ao estudo da Magia. Na verdade o discurso não é

longo, mas suficiente para aqueles que poderão entendê-lo. Algumas matérias foram tratadas com ordem,

outras sem ordem; algumas foram dadas fragmentadas e outras foram ocultadas e deixadas à pesquisa dos

inteligentes, os quais, considerando e indagando mais sutilmente estes escritos, poderão extrair as suas

regras corretas, os documentos completos e as experiências infalíveis da arte mágica. Nós transmitimos

esta arte de maneira que não possa ficar oculta para os homens prudentes e inteligentes, mas de maneira

que não admita os malvados e os incrédulos aos seus arcanos de maneira que conduzidos pela surpresa

fiquem com as mãos vazias sob a mesquinha sombra da ignorância e do desespero.

Só para vocês, filhos da doutrina e da sabedoria, nós escrevemos esta obra. Indaguem o livro, recolham nele

aquela intenção que nós colocamos espalhadas em suas páginas; aquilo que nós ocultamos em um lugar,

manifestamos em outro, para que possa ser compreendido pela vossa sabedoria. Nós escrevemos só para

vocês, que possuem o espírito puro e apto a conduzir uma vida reta, cuja mente é casta e pudica, cuja fé

pura teme e reverencia Deus, as mãos são limpas de pecados e de delitos, os hábitos íntegros. Só vocês

encontrarão a doutrina que nós reservamos só para vocês; os arcanos velados pelos numerosos enigmas

que não podem ser dados de maneira transparente sem possuir a inteligência oculta. Se vocês conseguirem

esta inteligência, então toda a ciência da inexpugnável disciplina mágica penetrará em vocês e se

manifestarão aquelas virtudes já adquiridas por Hermes, por Zoroastro, por Apolonio e pelos outros

operadores de coisas maravilhosas. E vocês, malvados caluniadores, filhos da ignorância malvada e da

maldade ignorante, retirem-se da nossa obra que é vossa inimiga e leva ao precipício, para que vocês errem

e caiam em miséria. Se enfim alguém, ou por causa da sua incredulidade ou pela inércia do seu intelecto,

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não obterá o seu desejo, dê a culpa à sua ignorância, não a mim; não diga que eu errei, ou escrevi o falso de

propósito, ou menti, mas acuse a si mesmo que não entende os nossos escritos. Eles realmente são obscuros

e velados por muitos mistérios, nos quais é fácil que muitos errem e percam o sentido.

E que ninguém se irrite se acreditamos ser prudente esconder a verdade da nossa ciência sob a

ambiguidade dos enigmas e a espalhamos aqui e ali no decorrer da obra. Porque nós não a escondemos dos

sábios, mas dos espíritos perversos e desonestos e por isso usamos um estilo apto a confundir o tolo e a

chegar facilmente até o intelecto iluminado.”

Sintetizando acentuamos aquilo que diz um Amigo Napolitano: “Quem tem que entender entende, quem

não entende não tem que entender.”

De qualquer modo é interessante notar que este aviso de como ler e enfrentar a obra seja inserido não no

início, mas no final da obra.

Com a finalidade de esclarecer ulteriormente, também do ponto de vista operativo, com respeito ao

percurso de ascenção explicado por Agrippa, é útil citar alguns trechos de duas cartas que ele escreveu ao

Padre Aurélio d’Aquapendente em 1527.

Examinemos a primeira (da obra cit.): “Cuidado para que você não se engane com aqueles que por sua vez

foram enganados. A este propósito não servirá nem mesmo uma vasta leitura de livros, os quais não dão

outro som senão aquele dos puros enigmas. Oh!, quantos livros são lidos sobre o irresistível poder da arte

mágica, sobre os prodígios da astrologia, sobre as maravilhosas metamorfoses da alquimia e sobre aquela

bendita pedra filosofal, que assim como Midas transforma em ouro e prata os metais mais vis; coisas estas

que parecem ser vãs, enganadoras e falsas se são pegas literalmente, e que mesmo assim são transmitidas

e escritas por seríssimos filósofos, por personagens santos, sobre os quais ninguém ousaria dizer que os

ensinamentos transmitidos são falsos. Quem ousaria acreditar que estas pessoas tenham escrito mentiras?

Mas o sentido de tudo isso é bem diferente daquele da palavra. Este está velado por vários mistérios que

nenhum mestre explicou claramente, e não sei se alguém, sem a ajuda de um mestre experto e de

confiança, ou sem a iluminação de um nume divino, o que é dado só a pouquissimos, poderia entender tal

sentido com a única ajuda da leitura dos livros. Por isso acontecem os esforços inúteis de muitos que se

esforçam para perseguir estes secretissimos arcanos da natureza, aplicando a alma ao simples desenrolar

da leitura dos textos.[...] E isto é aquilo que eu quero que você saiba agora, porque encontra-se em nós

mesmos o operador de todos os resultados e fenômenos (efeitos) maravilhosos, cujo operador sabe

discernir e realizar qualquer coisa, os portentosos matemáticos, os prodigiosos magos, os alquimistas

perseguidores invejosos da natureza, os malvados necromantes piores do que os demons ousam prometer;

e isto sem nenhum delito, sem ofender Deus, e injuriar a religião. Este operador das coisas admiráveis, digo,

está em nós:

‘ Nos habitat non Tartara, sed nec sidera coeli

Spiritus in nobis qui viget illa facit.’

E estas coisas deveriam ser tratadas longamente, mas pessoalmente (coram). Porque estas coisas não

podem ser ditas por carta, nem podem ser escritas com a caneta, mas são incutidas de espírito para

espírito, com poucas e sacrossantas palavras, se eu for me encontrar com você.” (Lyon, 23 de setembro de

1527).”

Depois desta, Agrippa escreve uma segunda carta, tão interessante e indicativa quanto a outra, ao padre

Aurélio d’Aquapendente. Citamos os principais trechos desta carta. (de obra cit.): “Quanto à filosofia que

você deseja, quero que saiba, que conhecer o próprio deus artífice de todas as coisas, e transpor nele com

a interna imagem da semelhança (ou seja com um certo contato ou vínculo essencial), através do qual você

se transforma e se torna o próprio deus; *…+ quero que você saiba que esta é a verdadeira, a suma

ocultissima filosofia das obras admiráveis. A chave dela está no intelecto, de fato quanto mais altas são as

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coisas das quais nós temos conhecimento, mais altos são os poderes (virtutes) dos quais nos apropriamos,

maiores as nossas obras, e maior a facilidade e a eficácia com a qual as operamos.

De fato o nosso intelecto incluído na carne corruptível, se não superou a via da carne, se não sortiu à sua

própria natureza e não pôde unir-se àquelas virtudes (porque estas agregam-se realmente só àquilo que é

semelhante a elas), e àquelas coisas ocultissimas de deus e segredos da natureza que devem ser

investigadas, é completamente ineficaz. [...]. Porque é necessário morrer, morrer, digo, para a carne, e para

todos os sentidos, e para todo o homem animal, se o objetivo é entrar no íntimo destes segredos. Não que

o corpo se separe da alma, mas que a alma abandone o corpo. [...]. Ocorre morrer, digo, desta morte

preciosa [...], coisa que acontece a pouquissimos, e por sorte não sempre. [...]. Primeiro aqueles que não

nasceram da carne e do sangue, mas nasceram de deus; logo depois aqueles que se tornaram dignos deste

fato (dignificados) através de um benefício da natureza, e através de um dom genetlíaco do céu; os outros

se esforçam para chegar com os méritos e com a arte, sobre a qual eu lhe darei maiores informações

pessoalmente.” (Lyon, 19 de Novembro de 1527). (FDA)

1 - continua

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TRADIÇÃO DE ORIENTE E DE OCIDENTE

A INICIAÇÃO – ADEPTO E GÊNIO

Ninguém realiza a própria iniciação senão por si mesmo.

É um aforisma fundamental da magia.

O homem astral, o homem psíquico e o homem espiritual, destinados a conhecer e a dominar os

diferentes mundos que a eles correspondem, são provistos para tal objetivo de órgãos especiais de

receptividade (astral, psíquica e mental) tão reais quanto os órgãos físicos dos sentidos.

Estes órgãos sutis, muito geralmente ignorados, são desenvolvidos de maneira muito diferente e

desiguais no homem de carne e osso; porém existem, pelo menos no estado rudimental, ou melhor em

estado de atrofia devido ao não-uso; de fato trata-se não de desenvolver os sentidos internos mas de

despertá-los pouco a pouco.

Aquele que voltou a ter possesso das faculdades receptivas da própria alma em todos os planos 25,

pode-se dizer que reintegrou-se daqui debaixo com a Unidade da Natureza celeste. Em alguns poucos

homens aquelas sementes internas podem ter conservado quase toda a

agudeza de percepção que possuem; a decadência da carne na qual aqueles

homens desceram, parece não ter alterado senão minimamente a intensidade

funcional das faculdades de suas almas. Estes privilegiados são,

conscientemente, os Videntes das diferentes ordens; em uma situação de

relativa inconsciência, os Inspirados de todas as classes. O homem de gênio em

última análise é um adepto intuitivo e espontâneo, magnificamente

incompleto, mas rico daqueles dons raríssimos que muitas vezes faltam aos

mais sublimes místicos: as faculdades de transposição estética do inteligível ao

sensível, e de conversibilidade do Verbo divino ao verbo humano.

Semelhantes faculdades de expansão não se conquistam; mas

consagram o gênio por direito divino e por graça anterior; enquanto o adepto é de direito humano e de

conquista ulterior: os esforços da sua livre vontade o elaboraram como tal.

O gênio consiste na faculdade de reintegração espontânea (mais ou menos consciente e sujeita a

intermitências), do salto múltiplo humano na pátria celeste da Unidade, Adamah.

A obra capital da iniciação se resume então, digamos assim, na arte de tornar-se artificialmente um

gênio (deixando de lado porém a transposição estética), com esta diferença: que o gênio natural dá a

inspiração em determinadas horas, mais ou menos frequentemente, quando o espírito quer, descer nele.

Enquanto que o gênio conquistado terá, em seu mais alto estado, a faculdade de forçar a

inspiração e de comunicar com o Grande Desconhecido todas as vezes que o desejar.

A razão desta diferença é muito simples: é que o Deus desce até o homem de gênio, enquanto que

o mago sobe até Deus.

O homem de gênio é uma espécie de calamidade, atrativa com intermitência.

O Adepto é uma potência convertível, um vínculo consciente da terra ao céu; um ser que pode, a

vontade, ficar na terra, desfrutar das suas vantagens e colher os seus frutos, ou subir ao céu, identificar-se

25

Queremos dizer: para aquilo que se pode fazer aqui embaixo. Nós nunca pensamos que o homem caído possa absolutamente

tirar as suas faculdades do marasmo que é a consequência fatal da sua encarnação terrestre. A repercussão do corpo físico sobre a

alma não pode ser amortizada completamente.

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com a natureza divina e beber em longos goles a celeste ambrosia.

O Gênio, força natural de atração, estabelece periodicamente uma correlação mais ou menos

efêmera com a Unidade.

O Adeptado, passaporte ilimitado para o Infinito, implica um direito de reintegração, de certo modo

ad libitum.

Eis a razão do porque na Índia o Adepto assume o nome significativo de yogui: unido em Deus.

Mathesis: é ciência integral vivente.

Crysopea: arte de tirar o puro do impuro e o ouro das vis escórias.

(Estanislau de Guaita, op. cit., p. 91 e segs.)

O ASTRAL

Trataremos agora do “ouro hiperfísico”, aquele que a Tábua de Esmeralda diz que gera o Telesma (ou

seja a perfeição das coisas corporais). É o termo médio de tudo. Uno em seu princípio, andrógino (isto é

duplo e triplo) em sua natureza, quádruplo em suas modalidades manifestativas (os quatro elementos

ocultos), este ser proteico se revela múltiplo ao infinito em suas últimas realizações. Constitue a

substâncina cósmica não diferenciada, da qual a matéria polimorfa apresenta aos nossos sentidos as

especificações efêmeras.

É o universal mediador; o Éter instrumental, convertível, oculto; o servidor de todas as Potências, boas

ou ruins; o Esplendor equívoco dos Céus, apto a revestir alternativamente com uma aparência plástica e a

cobrir com o seu manto de tecido sideral o dragão Nahàsh e o inifável Roûach Hakkadosch.

Sob o império e o influxo dos Príncipes do Alto, este agente preenche o espaço dos Shamaim de uma

irradiação celeste e benéfica: e então pode-se considerar como sendo a luz mística na qual se incorpora o

Espírito Santo.

Com Paracelso, Eliphas Levi, Kelep-ben-Nathan, Martinez de Pasqually e toda a escola esotérica do

Ocidente, o chamaremos preferencialmente de Luz Astral.

A Luz Astral constitue o suporte hiperfísico do universo sensível; o virtual indefinido do qual os seres

corporais são, no plano hiperfísico, as manifestações objetivas.

Não deve surpreender que tenha sido definida alma cósmica esta luz secreta que banha todos os

mundos. Legitimamente foi chamada também esperma expansivo da vida e receptáculo magnetizado da

morte, já que tudo nasceu desta luz (por materialização e passagem da potência em ato), e nesta tudo deve

reintegrar-se (pelo movimento inverso, ou seja o retorno do objetivo concreto para o sbjetivo potencial).

Como a eletricidade, o calor, a luz, o som, etc. (seus diferentes modos de atividade fluídica) esta é às

vezes substância e às vezes força. Então somos forçados a definí-la: Uma substância que manifesta uma

força, ou uma força que produz uma substância: as duas inseparáveis.

Enquanto substância, é preciso considerar a luz astral como substratum de toda a matéria; o potencial

de todas as realizações físicas; a homogeneidade, raiz de toda diferenciação. É a expressão temporal de

Adamah, aquele elemento primordial do qual, segundo Moisés, o universal Adão tirou o seu ser; ou seja

aquela terra (segundo o exoterismo) da qual o Altíssimo forma o primeiro homem.

Enquanto força o Astral nos parecerá como movido pelo influxo e refluxo daquela essência vivente, que

com Moisés nós chamamos Nephesch-há-ehaïah, o sopro de vida.

Para compreender este fluxo e refluxo da alma vivente, é suficiente digamos assim, imaginá-la esticada,

entre dois imãs: no alto Roûach-Aelohim, sopro vivificador da substância coletiva, homogênia, edênica;

embaixo Nahàsh, agente suscitador das existências individuais, particulares, materializadas. É o princípio da

divisibilidade diante do princípio da integração; é o fracionamento dos Seres nascentes e nascituros, que

opõe-se à unidade do Ser eterno.

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Desta oposição resulta um duplo dinamismo de forças hostis, que deve ser estudada, uma e a outra, na

própria natureza e na lei de seus mútuos mecanismos.

A luz astral é a substância universal animada, movida em dois sentidos opostos e complementares, por

causa de uma dupla polaridade, do polo integração ao polo dissolução e vice-versa.

Suporta de fato duas ações contrárias:

a potência de expansão fecunda, a luminosa Jônah, causadora das gerações e dispensadora da vida; a

potência de constrição destrutiva das formas, o tenebroso Érebo (כרץ), agente principal da morte, e por

isso da reintegração.

Os dois hierogramas: Érebo (Hereb) e Jônah, são traduzidos comumente como Corvo e Pomba. (V.

Gênese trad. de Fabre d’Olivet).

O Hereb mosaico (que é também o Érebo, Ερεβος, de Orfeu) que poderia ser coligado com Caim (Kain,

princípio do Tempo) é associado em todo lugar com a escuridão, Hoshec, (e Orfeu o associa de fato com o

báratro de Hécate ou lua infernal, o campo de Prosérpina, a morada das sombras); enquanto que Jônah

que desenvolve a sua atividade no reino de Abel, princípio do Espaço etéreo, apresenta sempre íntimas

afinidades com o elemento luminoso Aor.

A substância universal é receptiva de uma dupla influência: Jônah a torna fértil, plástica e configurativa;

Hereb lhe comunica uma força compressiva e devoradora. Consequentemente duas propriedades na luz

astral, contrárias entre elas: uma que tende a volatilizar o fixo, e a outra que tende a fixar o volátil.

Dissolver em um ponto para concretizar em um outro... Temos uma imagem sensível desta dupla

propriedade em uma adaptação da eletricidade à galvanoplástica: enquanto o metal se corrói no polo

positivo do aparelho, as partículas de metal que destacam-se dele são transportadas e empurradas pela

corrente para acumularem-se para repartirem-se e para fixarem-se sobre a superfície do objeto suspendido

no polo negativo.

Para precisar o ponto de vista especial ao nosso planeta, diremos que o Sol dardeja a influência de

Jônah sobre o hemisfério que banha com os seus raios; e que a influência de Hereb, ligada às fases de

crescimento e decrescimento lunar, se localiza no cone de sombra que a Terra atrai atrás de si gravitando

nos céus.

(Simbolismo correspondente é usado na terminologia dos filósofos herméticos. Estes chamam Cabeça

de Corvo a estase de dissolução, quando a matéria, reduzida ao preto parece toda decomposta e perdida –

é o Nigrum nigro nigrius -; e chamam Pombas de Diana as estases de regeneração da dita matéria, a

ablução do fixo a causa das influências do volátil quando se manifesta a cor branca. As pombas anunciam e

preparam o regime de Diana; então nasce a terra branca folhada, ou germina a semente do Ouro vivo).

.......................................................

Nós dissemos que Hereb, agente centrípeto, se manifesta no curso do tempo; e Jonah, agente

centrífugo, se desenvolve através do espaço. Ora, tempo e espaço não são as condições essenciais de toda

a existência física?

Aquilo que é verdade para a condensação das nebulosas, também o é para todas as formações

corporais. A força coercitiva, subjugando a sua complementar, condensa a substância original, de acordo

com o tipo genérico, na esfera de ação de tal reino.

Se examinamos os reinos vegetal e animal (aonde os indivíduos, melhor definidos, nascem, crescem,

declinam e morrem em condições cíclicas mais accessíveis à nossa observação tanto limitada) a primeira

vitória da força compressiva se manifesta evidente no exemplo da semente, que aprisiona em um espaço

tão pequeno, e digamos assim a alta tensão, a potencialidade de um ser; o qual sob o império da força

inversa passa da potência ao ato, a organizar-se, crescer etc... À ação sucede a reação: é a vez do agente

expansivo que suscita o ser ao seu pleno desenvolvimento, impulso ao crescimento de dentro e de fora, e

assim favorece o assoalhamento progressivo de um corpo material, que se edificará sobre o protótipo do

corpo astral, e de acordo com a marca individual imprimida naquele da faculdade plástica, eficiente, do ser

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em via de coroação. Todavia a força compressiva, centrípeta se exercita sempre de fora para dentro; depois

de ter participado da criação do ser material (e então colaborado com Jonah) no tornar compacta a

substância etérea, é necessário que esta mesma força termine a sua obra, e aja sobre ela no impulso de um

fermento dissolutivo.

O dinamismo convergente do Hereb não variou; mas produziu efeitos inversos, dependendo se opere

sobre a substância não ainda condensada, ou sobre a matéria física: no primeiro caso a ação é criadora; no

segundo caso é destruidora, mais ou menos rapidamente.

(Estanislau de Guaita, op.cit. p. 121 e seg.)

5 – continua

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Dezembro 2013

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HENRIQUE CORNÉLIO AGRIPPA E A TRADIÇÃO HERMÉTICA

Parte II

Vamos então tentar de individuar e citar alguns trechos, que sejam úteis a todo “intelecto iluminado

e puro”.

Os trechos são sempre extraídos da “A Filosofia Oculta ou a Magia” de Henrique

Cornélio Agrippa – Ed. Mediterranee. (a esquerda a capa da edição italiana,

traduzida do latim por Arturo Reghini).

A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO.

Com respeito à importância do silêncio e à impossibilidade de poder exprimir com

as palavras, sem traí-los, os conceitos mais sutis da Ciência Hermética, Agrippa

escreve: II Vol. – pág. 166 e segs.: “Quem quer que você seja que quer dedicar-se

a esta ciência, guarde no fundo do seu coração uma doutrina tão elevada, oculte-a com constância

firme, não arrisque-se a falar. [...] Então é pecado divulgar ao público, através da escritura, aqueles

segredos que não devem ser comunicados senão verbalmente através de uma fileira exígua de

sábios. [...] Além disso eu quero chamar a sua atenção sobre um ponto importante ou seja que,

assim como os próprios numes detestam as coisas expostas ao público e profanadas e amam as

coisas secretas, toda experiência de magia, tem horror do público, quer ficar escondida, fortifica-se

com o silêncio, destrói-se se é declarada e o efeito completo não é produzido, porque perdem-se

todas estas coisas expondo-as aos tagarelas e aos incrédulos. Ocorre portanto que o operador seja

discreto e não revele a ninguém nem a sua obra, nem o lugar nem o tempo, nem a meta perseguida,

com exceção de seu mestre, ou de seu coadjutor, ou de um seu associado, sendo que este também

deverá ser fiel, crente, taciturno e digno de tanta ciência ou por natureza ou por instrução; porque o

falar demais mesmo de um consócio, a sua incredulidade, a sua indignidade, impedem qualquer

operação e fazem abortar o efeito.”

QUALIFICAÇÃO DO ESTUDIOSO E PURIFICAÇÃO.

Com respeito à qualificação do estudioso e operador, para que possa fazer despertar em si aquela

Inteligência Hermética, necessária para perceber o Mundo das Ideias e nele operar, Agrippa

escreve: II Vol. – pág. 165: “ É opinião de todos os magos que se a mente e o pensamento não são

sãos, o corpo por sua vez não possa ser são e vice-versa. Ora nós não podemos, de acordo com a

opinião de Hermes, obter a firmeza e o vigor da mente senão através da pureza da vida, da piedade

e da religião sagrada, a qual purifica por excelência a mente e a torna divina.”

II Vol. – pág. 169 e segs.: “ Falaremos agora sobre a coisa arcana e secreta, necessária para quem

queira operar bem nesta arte, coisa esta que é o princípio, o complemento e a chave de todas as

operações mágicas, ou seja a própria dignificação do operador a uma tão sublime virtude e poder.

Só o intelecto, que em nós é a mais alta expressão, é capaz de operar as coisas milagrosas e se este é

muito dominado pela carne, não será capaz de operar sobre as substâncias divinas, o que explica o

porque tantas pessoas procurem as vias desta arte sem encontrá-las. É necessário então que nós, que

aspiramos a tão alta dignidade, encontremos antes de mais nada o meio para destacar-nos das

afeições da carne, do sentido mortal e das paixões da matéria e em seguida procuremos por qual via

e de que maneira nos elevaremos até aquelas alturas do intelecto puro, sem as quais nunca

poderemos alcançar o conhecimento das coisas secretas e da virtude das operações milagrosas. [...]

A dignidade meritória é obtida com a doutrina e com as obras. O objetivo da doutrina é conhecer a

verdade. Por isso […] ocorre tornar-se antes de mais nada sábio e esperto nas três faculdades do

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mundo elementar e depois, removidos os impedimentos, aproximar profundamente e intimamente a

alma da contemplação e voltá-la para si mesma. De fato, é inerente em nós mesmos a faculdade de

aprender e de dominar todas as coisas. Mas nos impedimos de desfrutar dela por causa das paixões

da geração que nos contrastam e das falsas imagens e dos apetites excessivos, expulsos os quais

apresenta-se súbito a divina cognição e poder.”

II Vol. – pág. 317 e segs.: “ O homem desejoso de alcançar o estado supremo da alma necessário

para receber os oráculos, deve antes de mais nada preparar-se com a castidade, a santidade, a pureza

e a limpeza, de maneira que a sua alma não seja maculada por nenhum desejo imundo e que do seu

coração cancele-se qualquer cicatriz de pecado. Além disso deverá afastar e purificar

completamente a alma, tanto quanto consinta a necessidade da natureza, de qualquer morbo,

estupidez, malícia e de tudo aquilo que é contrário à razão e que a mancha como a ferrugem mancha

o ferro, recolhendo e dispondo de acordo com o rito aquilo que garanta a tranquilidade do

pensamento. Só neste estado é possível receber verdadeiras e eficazes respostas oraculares. [...] Esta

influência nós a recebemos só quando nos libertamos dos impedimentos que nos sobrecarregam, de

qualquer ocupação carnal e terrena, de qualquer agitação exterior, porque um olho remeloso não

pode fixar os objetos muito iluminados e aquele que ignora a purificação da alma não pode

compreender as coisas divinas. Alcança-se porém tal pureza de alma só pouco a pouco, subindo

degrauzinho por degrauzinho, e o iniciando não pode compreender súbito tudo claramente. Por isso

ocorre habituar e educar a alma até que o intelecto predomine e chegue a amalgamar-se com a luz

divina”.

PRÁTICAS PURIFICATÓRIAS.

Com respeito às práticas herméticas das abluções, do jejum, da castidade e da solidão, Agrippa

escreve: II Vol. – pág. 319 e segs.: “ Será necessário conservar esta pureza no modo de viver em

todas as coisas, nas obras, nas afeições e será necessário expelir todas as impurezas e as

perturbações da alma e tudo aquilo que ofende os sentidos e o espírito, ou que seja contrário ao céu,

não só moralmente mas também corporalmente, porque a limpeza do corpo influe não pouco sobre

a pureza do espírito. [...] Também a abstinência é um preservativo e uma defesa contra os vícios e

os demônios malígnos transformando a alma em um templo imaculado habitado por Deus e une a

mente com Deus, e não existe nada de melhor para a saúde e para o temperamento do que não dar

importância ao supérfluo e não ultrapassar a medida necessária para viver. [...] Além do mais é

necessário abster-se daquilo que pode corromper o espírito; das cobiças e da inveja [...]; do ócio e

da luxúria, que sufocam a alma sob o torpor e a volúpia e afastam dela a compreensão do céu. [...]

Devemos ainda abster-nos de toda aquela multidão e diversidade de sensações, de afetos, de

imaginações, de opiniões e de paixões que ferem o espírito e pervertem o juízo, como pode ser visto

claramente nos apaixonados, nos invejosos e nos ambiciosos. [...] É necessário então livrar o

espírito de toda confusão, dissuadi-lo completamente de tal gênero de paixões, para encontrar a

verdade em toda a sua simplicidade. Diz-se que muitos filósofos tenham-na realmente encontrada,

permanecendo por longo tempo na solidão, porque na solidão o espírito, livre de qualquer

preocupação terrena e abandonado inteiramente às divindades, está sempre pronto para realizar

aquilo que for inspirado pelos numes celestes”.

2 - continua

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Tradição Clássica e Opus Magicum

Neste escrito será nossa intenção colocar em evidência uma conexão que em poucos e sérios estudos de filosofia antiga ou de simbologia alquímica emergiu em toda a sua real importância: a direta correspondência existente entre aquelas que poderemos definir sinteticamente as virtudes que caracterizaram a Tradição Clássica e Europeia, em suas civilizações grego-romana-alemã, com uma série de fundamentais predisposições anímicas e internas, absolutamente indispensáveis para aqueles que nos estudos e sobretudo na prática aproximam-se do complexo e enigmático mundo do Hermetismo e da

Alquimia. Assim como na Politeia Platônica, uma identidade deve distinguir Ideia Transcendente, Comunidade e singular componente da mesma: cada elemento, hierarquicamente investido, deve ser o espelho daquilo que existe no Alto, assim como daquilo que existe embaixo. Platão (imagem a esquerda) a colocava como ligação da Politeia o aretè da Justiça, entendida como Ordem, como aderência ao Divino que dá forma ao manifestado, que transforma o informe na polis e no cidadão, e em ambos infunde o sentido do Sagrado, do justo agir, da natureza própria. A tal ponto, torna-se necessário examinar a ideia de Ordem, primeiro com relação à dimensão comunitária, para, depois, transpo-la naquela individual, para

ascender, enfim, como princípio aristocrático, àquela que é a concepção esotérico-iniciática da mesma ideia. Achamos, portanto, que seja fundamental qualificar a radical diferença entre aquilo que é um movimento, um comum centro de agregação, daquilo que deve ser e sempre foi uma Ordem: se o primeiro se realiza como coincidência dos interesses, das opiniões dos indivíduos, como forma de contratualismo de coexistência, o segundo coloca uma visão ontológica como referência primeira e prioritária, como Centro e como Vértice, à qual a “sociedade de homens” e o singular aderente devem conformar-se organicamente. Nas ordens monástico-guerreiras, no período das Cruzadas, como os Templários, a sabedoria, a disciplina, marcavam a aderência a uma regra espiritual, a um conúbio vital, entre Ação e Contemplação: o cruzado rompia com a cavalaria laica, ele tinha o Sagrado como referência existencial, o combatimento para o seu Deus. A Ordem se tornava, então, comunidade de elite, uma corporação tradicionalmente entendida, como uma missão, com uma ideologia, com os próprios valores: na mítica corte do Rei Artur existia uma razão de ser, um código de honra que reunia todos os cavaleiros, como, por exemplo, a desaprovação absoluta de atingir pelas costas o próprio adversário. Aqui evidencia-se um sentir, uma vibração, um modus vivendi comum, mas regulado por um Ideal Supremo, este é o sentido da Ordem. Existia, e deve existir um retorno a uma ética viril, semelhante ao patriciado romano, no qual os milites devem coordinar-se organicamente com os magister, e juntos, univocamente aderir à Fides para a Ideia, para a Tradição. É a explicitação máxima da diferença, da diversidade entre a humanidade moderna, tecnológica, psicanaliticamente dividida e aquilo que um sentir antigo pode ainda querer fortemente ser, porque tal estado é interiormente incubado e afirmado: alma fides, fides sancta, sacra, casta, incorrupta! No âmbito de uma redescoberta das virtudes da Tradição Clássica queremos nos referir ao antigo conceito de humanitas, como essência da civilização grego-romana, mesmo se com formas semelhantes pôde manifestar-se em diversas populações de origem indo-europeia, como objetivação de uma comunhão noética e de estirpe. A megalopsichìa para os Gregos e a magnanimitas para os Romanos, ou seja a respeitabilidade civil e a pessoal grandeza de alma, são os presupostos irrenunciáveis daquilo que se realiza quase como um fim a ser alcançado, isto é um status tão ontológico quanto público, o espírito incorrupto das origens, a sua força vital, a manifestação do próprio démon, que se encarna na visão de nobreza solar, de retidão espiritual e guerreira, de antiga grandiosidade, de primordial superioridade, no mundo grego-romano. Tal virtude, com o Estoicismo forjou a figura do sábio, reservado e severo, tradicionalmente destacado da massa, que soubesse colocar um limes, um destaque entre uma conduta de vida superior e a vulgaridade do demos: tal é a essência numênica do limes, do limite, da Ordem interna, mas também pública, da qual a

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expressão territorial é só uma manifestação simbólica de uma dimensão que supera o fator naturalístico, puramente materialístico, que obviamente é mal entendida por quem não possue em si uma visão UNITÁRIA do Cosmos, do Sagrado. A tal propósito, daremos um breve exemplo representado pela arcana relação simbólica e alquímica que se passa entre um mandala e o sulco de fundação de Roma, onde na quadratura do círculo atua-se uma dimensão mágico-realizativa, que é Vitória macrocosmica da Civitas e Vitória microcosmica do iniciado. A quanto escrevemos, achamos que seja fundamental associar a noção grego-platônica da kalokagathìa, da beleza e da bondade, como valor distintivo, diferencial do homem, no qual um antigo porte, um comportamento, um estilo sejam os sinais distintivos de uma conduta e de uma forma espiritual espartana, patrícia, a afirmação do vir magnanimus: “Aonde então a um nobre caráter da alma unem-se análogos e harmônicos caracteres no aspecto exterior, partícipes do idêntico modelo, lá se terá um espetáculo muito bonito para quem o quiser contemplar”(Platão, Estado 402). A humanitas deve valer como regra de ouro do Hermetista, que saiba sustentá-lo, contra as armadilhas de uma suspeita mediunidade ou de um diletantismo no ocultismo, que cria curiosidade em todos, com o seu gossip “esotérico”, com a sua historiografia “iniciática”, que nos muitos e não só jovens encontra as suas novas cobaias a serem sacrificadas. É esta a subversão que tende a deprimir a virilidade olímpica ínsita na nossa civilização, que luta estrenuamente contra qualquer tentativa de diferenciar-se, porque não é mais o mundo imortal dos Numes a origem e a fonte da existência, mas o homem, na sua limitada racionalidade, na sua condição caduca e mortal. Não achamos que seja inútil precisar, a este ponto, como o humanismo se objetiviza como uma verdadeira paródia das Antigas Virtudes, da Justiça platônica, como uma mera soma de indivíduos, sem uma real ética, sem uma idealidade que possa conduzir o indivíduo além dos próprios âmbitos restritos, para a redescoberta de uma livre personalidade. O iniciado, de acordo com a Tradição Ocidental, quando se encontra no “ingressum” da Via, entra com Passos e Sinais que recordam a essência do Trabalho Sagrado que está para realizar: “RESPEITO À ORDEM” é o seu comandamento! Ele sabe que interiormente se coloca em uma posição de “Respectus” isto é, de “respicere” que quer dizer “olhar diante de si”, equivalente de “contemplar”, o ato do adepto que observa a epifania mistérica. A Ordem consiste justamente nesta epifania, nesta descoberta da Harmonia cósmica que se apresenta na invocação da “salus”, de “salvar”; salus, isto é saúde, é conceitualmente próximo à ideia de vigor e força; trata-se de invocar a força mágica do Genius, o seu rosto vibrante colocando-o em atividade: “A INICIAÇÃO na prática é o complexo de todas as operações que um Mestre Perfeito pode fazer sobre um discípulo para conceder-lhe, conferir, confirmar e desenvolver as virtudes escondidas em seu organismo de homem vulgar” (Giuliano Kremmerz, A Ciência dos Magos, I volume). Salus também é análogo de “salis” o Sal, que na Alquimia tem um valor ígneo e tem a função de “acendimento” do fogo potencial contido no Enxofre, que sem o Sal não se acenderia e ficaria no estado latente. Igualmente o componente Mercúrio também é despertado pelo Sal: sem ele não se sublimaria. Esta Froça Solar, que na Alquimia Filosofal, a via alquímica interna, isto é espagírica, é representada justamente pelo calor liberado pelo astro Sol, se acende no ato ritual necessário ao “movimento dos Planos”. Na realidade, nesta Força, na qualificação para adquiri-la, na Iniciação a Ela está encerrada a Chave da inteira Obra de Palingenesia: “SOL SALUS SALIS SOL SOLIS IN MEDIO”. A este ponto, como já foi dito, o sentido, as idealidades das Antigas Civilizações da nossa Tradição reafirmam-se em todas as articulações existenciais do Homem como Princípio Platônico, como qualificação arcaica e espiritual absolutamente necessária para a realização do Opus Magicum. Existirão ainda Homens e Mulheres dignos na Noite Obscura que domina o mundo? Deixamos a nossa resposta, como melhor augúrio aos leitores apaixonados por tais argumentos, a uma famosa incisão de Albrecht Dürer, na qual se exprime toda a profundidade dos ensinamentos dos Antigos e dos Magos: “Vitória e derrota estão nas mãos de Deus, mas da sua Honra, só você é Senhor e Rei”.

Luca Valentini (ensaio publicado na revista Fenix, no nº 50 Dezembro de 2012)

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