as fantásticas circovias de são paulo

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Matéria para exercício do curso "Jornalismo para designers", ministrado por Fred Melo Paiva. Ilustrações e textos: Daniel Graf Diagramação e textos: Marcel Facetto

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Page 1: As fantásticas Circovias de São Paulo
Page 2: As fantásticas Circovias de São Paulo
Page 3: As fantásticas Circovias de São Paulo

asfantásticas

texto: Daniel graf e marcel facettoIlustração: Daniel graf

De são paulo

circovias

DesrespeItável públIco, convIDaDos toDos a

aDentrar no MaIs fantástIco MunDo

Das circovias! os exclentíssIMos

governaDor José bréca e prefeIto gIlberto

cessábe serão nossos anfItrIões, e Irão garan-tIr nossa total DIversão.

o cIrco está arMaDo,prepareM-se para uM MunDo De eMoções!

Page 4: As fantásticas Circovias de São Paulo

Espetáculo, circo, vias, palhaços, bicicletas. Que espetáculo é esse? Não é o Circo de Moscou, mas essa poderia ser uma chamada de boas-vindas proclamada pelo microfone da entrada de um desses shows. Com o objetivo de animar as crianças e famílias pelo que há de vir e dar um tom de grandiosidade ao evento, geralmente esses espetáculos são divertidos. Mas, bem diferente é o show das “Circovias” de São Paulo, que não é nada animador. Sim, desrespeitado público, as ciclovias e ciclofaixas ainda são uma brincadeira na cidade de São Paulo.Com aproximadamente 35 km de ciclovias, a maior da cidade é a cha-mada ciclovia Rio Pinheiros. Inaugurada em 27 de fevereiro de 2010 e administrada pela CPTM, tem 14 km de extensão e passa beirando lado a lado parte do trajeto do trem da linha 9 - Esmeralda, na Marginal Pi-nheiros e ligando a estação Grajaú a Osasco. A princípio, uma ciclovia ao lado de uma linha do trem não parece ser uma forma de se pensar as bikes como uma alternativa de meio de transporte, mas é fato que nela há um grande potencial de mobilidade, pois ela pode chegar a atravessar diversos pontos importante da cidade da zona sul a oeste, além da topo-grafia favorável, totalmente plana e ausência de cruzamentos e semáforos. Enquanto sua expansão não chega, empacada e já bastante atrasada, a parte divertida é que pra quem vai de bike por enquanto existem algumas (des)vantagens. Passado mais de um ano de sua inauguração o trajeto da ciclovia ainda vai somente até a estação Vila Olímpia do trem, pouco mais

da metade do trajeto total da linha do trem. Os acessos para bicicletas existem somente em três das pontos das dez es-tações cobertas pela ciclovia. E isso é muito mais sem graça do que parece. Imaginemos alguém que mora próximo à estação Vila Olímpia e trabalhe perto da estação Granja Julieta que fica três estações de distância. (ver ilustração abaixo) Parece simples, mas para isso seria preciso percorrer duas vezes mais a mesma distância, pas-sando pela estação Granja Julieta e seguindo até a estação Jurubatuba, onde fica o próximo acesso para bikes, chegan-do lá, a saída seria voltar metade do trajeto só Deus sabe por onde, enfrentando toda a sorte entre os gentis carros das pistas, e então chegar novamente a região da Granja Ju-lieta. Nada divertido. Conforme reportagem de 14 de maio de 2011 no portal G1, Sérgio de Carvalho Junior, gerente de marketing e relacionamento da CPTM afirma que há previsão para mais conexões entre estações e ciclovias, po-rém, só estabelece prazo para a próxima conexão, que será na estação Villa Lobos-Jaguaré até o ano de 2012. Limpando todo o confete das inaugurações de ciclovias e ciclofaixas, o que resta é a necessidade de um plano ci-

ciclista atravessando

a ponte da estação

vila olímpia

osasc

o

vila o

límpia

granja

Julie

ta

grajaú

autódromo

Juru

batuba

Acesso

Av. Miguel Y

unes

villa lobos-J

aguaréparquevilla lobos

acessobicicletas

ciclovia

legenDa

acessos - ciclovia rio pinHeiros

linha 9 - esmeralda

Page 5: As fantásticas Circovias de São Paulo

cloviário que integre a cidade efetivamente, tor-nando a bicicleta mais um meio de transporte e não apenas um lazer. A chamada Ciclofaixa de Lazer atualmente têm um percurso de apro-ximadamente 22,5 quilômetros de extensão, após sua expansão com o chamado “trecho 3”. Essa é sua extensão real, porém, no próprio site da ciclofaixa de São Paulo (http://www.ciclo-faixa.com.br) divulga-se o número inflado de 45 km de extensão. Número inflado, pois diz res-peito ao trajeto de ida e volta, trata-se do mesmo percurso. A Ciclofaixa de Lazer integra os Parques das Bicicletas, Parque do Povo, do Ibirapuera e Villa-Lobos, conforme o site Vadebike.org, espe-cializado no assunto. As ciclofaixas se encontram sinalizadas por placas e pintura de solo, contando ainda com segurança feita pela Guarda civil me-tropolitana e um serviço mecânico chamado SOS Bike. Sem dúvida as ciclofaixas de lazer estão ai e são úteis, incentivam o uso e formam novos ciclis-tas na cidade, além disso pode-se dizer que acos-tumam aos poucos os motoristas com a presença das bicicletas. Mas, lazer não é nem metade do po-tencial que as bikes têm a oferecer como solução de mobilidade do transporte na cidade. A idéia é pedalar ao trabalho, ao supermercado, à balada, à casa de amigos, e não apenas brincar de bicicleta aos finais de semana ou feriados. Nas ciclofaixas há progressos nesse sentido, com horário de funcionamentos antigo, das 7 às 14hrs, onde a CET entendia que após esse horário a pre-ferência era do fluxo de carros, mas em maio de 2011, as ciclofaixas ganharam mais duas horas de funcionamento, ficando acessíveis até as 16hrs. Além disso, conforme matéria do portal Último Segundo, o prefeito Kassab pretende fazer testes abrindo a ciclofaixa em um dia da semana uma vez por mês, mas ainda não se tem data prevista.

Mesmo sendo uma decisão polêmica, talvez seja um bom começo. É mais uma oportunidade de os cidadãos em geral se acostumarem com a idéia. Para que esse trabalho dê certo, a CET, órgão res-ponsável por administrar o plano cicloviário da cidade, deve trabalhar em conjunto com as orga-nizações que realmente se preocupam em fazer das bicicletas uma solução, ao invés de ter apenas

Há previsão para mais conexões entre estações e ciclovia, porém, só para 2012, na estação vila lobos-Jaguaré

““sérgio De carvalHo Junior

gerente de marketing da cptM

exemplo que vem de casa!o Web Designer da editora globo otávio takejame, 28, nos relata como a vida dos ciclis-tas estão cada dia mais perigosas no seu trajeto Moema - Jaguaré

# Qual o trajeto que você faz de casa para o trabalho?otávio takejame: vou da avenida Ibirapuera até a faria lima por ruas tran-quilas. nela eu sigo até a pedroso de Moraes, av. prof. fonsceca rodrigues, até a av. Queiroz filho, onde cruzo a Marginal pela ponte do Jaguaré e chego ao trabalho.

# no trajeto de casa para o trabalho, você se sente ameaçado pelos veículos?otávio: algumas vezes. Menos do que eu imaginei.

# e os motoristas? como reagem a sua presença?otávio: acho que a maioria aprendeu a respeitar, mas ainda tem aqueles que não tem paciência, e acabam ultrapassan-do muito perto, ou forçando você a sair da pista.

# Quais as dificuldades que você encontra no trajeto?otávio: a maior dificuldade é na av. faria lima, onde tenho que usar a faixa exclusiva para ônibus. o certo seria encon-trar um caminho com ruas mais tranqüilas, mas ainda não o encontrei. e como a pista é usada por muitos ônibus, tem muitos buracos, que podem causar acidentes graves se não tiver cuidado.

# você passa por alguma ciclovia nesse trajeto?otávio: na faria lima e prof. fonsceca rodrigues tem ciclo-vias que só funcionam aos domingos.

# Houve alguma experiência inusitada que você pas-sou que gostaria de contar?otávio: uma vez sai mais cedo para tentar um caminho di-ferente, acabei me perdendo e rodando o dobro da quilo-metragem que faço normalmente. fiquei sem fôlego, tive que parar pra comer. eu estava com um app para celular que re-gistra a rota que você fez. foi bem engraçado ver no mapa os caminhos bizarros que tomei.

# pra você, qual a importância de se usar a bike como meio transporte nas grandes cidades? otávio: a bicicleta ocupa bem menos espaço do que um car-ro, não polui, não faz barulho, e te ajuda a ficar em dia com as atividades físicas. cada bicicleta é um carro a menos na rua.

# o que falta para os ciclistas na cidade são paulo?otávio: faltam ciclovias para quem usa a bicicleta como meio de transporte e não lazer. Hoje as ciclovias só funcionam de domingo, e levam de um parque ao outro. a localização des-sas ciclovias deveria ser repensada.

otávio enfrenta

diariamente perigos do

trânsito de sp

Page 6: As fantásticas Circovias de São Paulo

a preocupação de atrapalhar o mínimo possível o sagrado fluxo dos motorizados. Aliás, o trânsito de São Paulo é pensado para qualquer coisa, menos para ciclistas e pessoas. No município de Parelheiros, a chamada Ciclovia da Colônia, inaugu-rada em 2006 a um custo de R$200 mil, foi demolida sem maiores explicações. O motivo, conforme o site Vadebike.org foi o registro de 12 acidentes de carros no local, o detalhe é que nenhum deles teve envolvimento com ciclistas. Con-forme o subprefeito de Parelheiros, Noel Miranda de Castro, existem estudos de reforma ou readequação da ciclovia. A Ciclovia da Colônia servia 2.000 ciclistas por dia, eles agora são obrigados a dispu-tar espaço com carros, motos e ônibus. Segundo dados levantados pela asses-soria técnica do gabinete do vereador Chico Macena (PT), somando todos os planos de ciclovias feitos nos últimos anos, São Paulo com seus 11 milhões de habitantes, teria 522 km de vias e faixas exclusivas para as bicicletas até o ano de 2012, superando a cidade de Copenhagen, que atualmente conta com 350 km de ci-

clovias para seus 2 milhões de habitantes. O prefeito de Copenhagen, Frank Jensen, em palestra no C40 São Paulo Summit, ocorrida entre 31 de maio e 3 de junho de 2011, reuniu uma cúpula de prefeitos e re-presentantes de cidades do mundo todo, para discutir as mudanças climáticas. É claro, São Paulo e Copenhagen são re-alidades muito diferentes, mas o que se deve contestar é a velocidade com que as coisas são feitas. Hoje, as ciclovias da ca-pital, contam com 35,7 km de extensão, isso representa apenas 7% de tudo o que foi planejado para aumentar a segurança dos ciclistas na cidade. Para conseguir cumprir o planejado, a prefeitura teria de construir 486 km de ciclovias até o fim de 2012. Uma solução paralela mais barata e prática é o respeito. Muito mais barato, eficiente e legal do ponto de vista do có-digo de transito desde 1997 é que veícu-los motorizados e bicicletas têm o mesmo direito de ir e vir, e que podem conviver de forma harmônica. Queremos ver um espetáculo de respeito, consciência e in-fra-estrutura, e que shows com animais selvagens motorizados.

ex-governador José serra em

bicicletada, na abertura da ciclovia do

rio pinheiros

prefeitura adi-ciona 2 horas no funciona-

mento das faixas. antes, eram 7 horas

“não foi acidente!”

o que aconteceu realmente na ave-nida sumaré, no último dia 13 de ju-nho de 2011? ainda existem diversas questões sobre o incidente que cau-sou a morte do acionista e presiden-te do conselho de administração da lorenzetti s.a., antonio bertolucci. Questões sobre como conciliar ci-clistas e motoristas nas vias de são paulo ou de qualquer cidade do bra-sil ganharam destaque após o inci-dente. Descaso do motorista? falta de atenção do ciclista? Difícil provar o que realmente aconteceu, mas al-guns fatos ajudam a esclarecer o

na visão de muitos que acom-panharam o caso do executivo antonio bertolucci, tudo não passou de um simples acidente.fatos e circunstâncias a seguir mostram um outro lado do que aconteceu no dia 13 de Junho

“não foi um simples acidente”

Page 7: As fantásticas Circovias de São Paulo

faixa que bei-ra a Marginal

pinheiros segue paralela

às linhas de trem da cptM

ocorrido naquela manhã de segunda-feira.

# o ciclista caiuantonio bertolucci pode ter se desequili-brado e tido a queda naquela conversão. Mas naquele local, não há desníveis ou bu-racos na pista, um ciclista experiente como ele dificilmente cairia nessas circunstân-cias. Mesmo assim, se houve a queda, o mo-torista deveria estar a uma distância ade-quada (um metro e meio seria é a distância ideal entre um veículo e uma bicicleta). tes-temunhas do ocorrido dizem que o ônibus tocou o guidão de bertolucci, o que provo-cou a queda. Quando outro veículo em mo-vimento toca o guidão de uma bicicleta, a ponta tocada avança rapidamente, virando o conjunto para a direita e desequilibrando totalmente o ciclista. este então cai para a esquerda, justamente onde está o veículo está passando.

# o motorista não viu o ciclistaMesmo existindo pontos cegos em todos os veículos, um motorista profissional que diri-ge um ônibus daquele porte deve ter o má-ximo de atenção e cuidado com as vidas que

transporta e que interage pelo trânsito da cidade.

# o código de trânsito protege a vidao objetivo primordial do código de trânsito brasileiro é a seguran-ça das pessoas, e não dos veículos. enquanto existirem pessoas que acham que não devem dividir o espaço com veículos mais frágeis como a bicicleta e os próprios pedestres, pessoas como o sr. antonio con-tinuarão morrendo e motoristas como esse, que absurdamente teve seu nome preservado até agora, continuarão matando anonimamente.

Manifestantes instalam uma “ghost bike”, bicicleta pintada de branco que simboliza a morte de um ciclista