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9 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA AS ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO E A LAVRATURA DO AUTO Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí ACADÊMICO: DARLAN EMIR REITZ São José (SC), maio de 2005

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA AS ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE NO DIREITO PROCESSUAL

PENAL BRASILEIRO E A LAVRATURA DO AUTO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de

bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí

ACADÊMICO: DARLAN EMIR REITZ

São José (SC), maio de 2005

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

AS ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE NO DIREITO PROCESSUAL

PENAL BRASILEIRO E A LAVRATURA DO AUTO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação da Prof. Ana Paula Gontijo. ACADÊMICO: DARLAN EMIR REITZ

São José (SC), maio de 2005 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

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CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

AS ESPÉCIES DE FLAGRANTE DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

BRASILEIRO E LAVRATURA DO AUTO

DARLAN EMIR REITZ

A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

São José, 13 de junho de 2005

Banca Examinadora:

_______________________________________________________ Prof. Ana Paula Gontijo - Orientadora

_______________________________________________________ Prof. Juliano Keller do Valle - Membro

_______________________________________________________ Prof. Gilberto Callado - Membro

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DEDICATÓRIA

Dedico este texto:

Ao meu pai Sebastião Enir Reitz, meu mestre, meu

guia, meu exemplo, profissional do direito, principal

incentivador dessa realização;

À minha mãe, Sueli Dilma da Silva Reitz, pelo infinito

amor, incentivo e constante torcida;

A minha irmã Francine Reitz, pela ajuda constante e

de estar junto nesta caminhada;

Ao meu irmão Cleberson, por tê-lo comigo sempre me

alegrando;

À minha namorada Roselane Santos, pelo amor,

carinho e compreensão, no incentivo dessa realização.

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AGRADECIMENTOS

A professora Ana Paula Gontijo, pessoa de caráter irreparável e moral

ilibada de simplicidade cativante e de uma sabedoria incomparável, por todo apoio na

elaboração deste trabalho.

A todos os professores, amigos e familiares, que de uma maneira direta

ou indireta, contribuíram para a realização desta pesquisa.

Ao meu primo Josué Reitz, Bacharel em Direito, que contribuiu e

presenciou todo o esforço para a realização deste trabalho.

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A prisão prejudica o indivíduo, a família e a

sociedade. Multiplica-se ao máximo o mal do crime. A prisão

é escola anormal de periculosidade, é curso de

aperfeiçoamento celerado mantido pelo Estado.

A verdadeira prevenção da criminalidade é a justa e

efetiva distribuição do trabalho, da cultura e da saúde, é a

participação de todos nos bens da sociedade, é a Justiça

Social.

Roberto Lyra

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................................... 07 LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................ 08 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 09 1 PRISÃO EM FLAGRANTE NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO........ 11 1.1 PRISÃO PENA............................................................................................................ 12 1.2 PRISÃO PROCESSUAL............................................................................................. 12 1.2.1 Prisão temporária..................................................................................................... 15 1.2.2 Prisão preventiva...................................................................................................... 17 1.2.2.1 Garantia da ordem pública.................................................................................... 17 1.2.2.2 Garantia da ordem econômica.............................................................................. 18 1.2.2.3 Conveniência da instrução criminal....................................................................... 19 1.2.2.4 Garantia da aplicação da Lei penal....................................................................... 20 1.2.3 Prisão decorrente da decisão de pronúncia............................................................. 20 1.2.4 Prisão decorrente da sentença penal condenatória recorrível................................. 21 1.2.5 Da prisão em flagrante............................................................................................. 22 1.2.5.1 Natureza jurídica da prisão em flagrante............................................................... 23 1.2.5.2 Flagrante facultativo e flagrante obrigatório.......................................................... 25 2 ESPÉCIES DE FLAGRANTE........................................................................................ 27 2.1 FLAGRANTE PRÓPRIO OU PERFEITO.................................................................... 28 2.2 QUASE-FLAGRANTE OU FLAGRANTE IMPRÓPRIO............................................... 29 2.3 FLAGRANTE PRESUMIDO OU FICTO...................................................................... 32 2.4 FLAGRANTE PROVOCADO OU PREPARADO........................................................ 34 2.5 FLAGRANTE FORJADO............................................................................................. 35 2.6 FLAGRANTE ESPERADO.......................................................................................... 36 2.7 FLAGRANTE DIFERIDO OU RETARDADO............................................................... 37 3 FORMALIDADES DA LAVRATURA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE......... 39 3.1 AUTORIDADE COMPETENTE................................................................................... 40 3.2 CONDUTOR, TESTEMUNHA E VÍTIMA..................................................................... 41 3.3 INTERROGATÓRIO E QUALIFICAÇÃO DO CONDUZIDO........................................ 43 3.5 NOTA DE CULPA........................................................................................................ 44 3.6 HIPÓTESES DE FIANÇA ARBITRADA PELA AUTORIDADE POLICIAL.................. 45 3.6.1 Liberdade provisória................................................................................................. 46 3.7 APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA À AUTORIDADE POLICIAL................................ 47 3.8 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES PERMANENTES...................................... 48 3.9 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES HABITUAIS.............................................. 49 3.10 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA E PENAL PÚBLICA CONDICIONADA .............................................................................................

50

3.11 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO........................................................................................................................

52

3.12 ESPÉCIES DE IMUNIDADE NA PRISÃO EM FLAGRANTE.................................... 54 3.12. 1 Imunidades diplomáticas....................................................................................... 54 3.12. 2 Imunidades parlamentares.................................................................................... 55 CONCLUSÃO.................................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 59

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RESUMO A presente obra tem em seu escopo jurídico conceituar as prisões

cautelares, defini-lás e explicar com maior ênfase a prisão em flagrante, suas modalidades bem como o auto de prisão em flagrante. As hipóteses de prisões em flagrante são aquelas definidas e interpretadas doutrinariamente acerca do artigo 312 do Código de Processo penal e seus incisos: flagrante próprio ou verdadeiro; flagrante impróprio ou quase-flagrante; flagrante presumido ou ficto e o flagrante diferido ou retardado à luz da Lei 9.034/95. As classificações de flagrantes que são: o flagrante provocado ou preparado; esperado e o forjado. Quando preso em flagrante, deverá ser conduzido a autoridade policial para a lavratura do auto. Para proceder a lavratura deverá a autoridade policial, ouvir o condutor, as testemunhas e, quando possível, a vítima. O acusado deverá ser interrogado de acordo com as regras do interrogatório judicial e ao final todos deverão assinar e deverá ser imediatamente comunicada, formalmente, ao magistrado competente. A autoridade policial terá prazo de 24 horas para entregar ao preso nota de culpa. Será abordado ainda as hipóteses de fiança arbitrada pela autoridade policial, quando não deverá ser lavrado o auto e quando não poderá ser lavrado o auto de prisão em flagrante, o flagrante nos crimes de menor potencial ofensivo e, para finalizar, as pessoas que possuem imunidades acerca da prisão em flagrante.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CF Constituição Federal;

CP Código Penal;

CPP Código de Processo Penal;

STF Supremo Tribunal Federal;

STJ Superior Tribunal de Justiça;

n. Número;

Art. Artigo;

LOMN Lei Orgânica da Magistratura Nacional;

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público;

TAC Tribunal de Alçada Criminal.

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INTRODUÇÃO

O tema a ser abordado neste trabalho científico de conclusão de curso

refere-se as hipóteses de prisão em flagrante e da lavratura do auto de prisão em

flagrante. A prisão em flagrante é uma prisão cautelar, provisória.

A prisão é privação da liberdade do indivíduo de ir e vir por motivo ilícito

ou por ordem legal.

O Estado tem se valido do cerceamento a liberdade daqueles que

infringem a lei, normas estabelecidas à toda sociedade. Essa materialização do direito

do Estado de intervir e punir tem tido suas limitações num conflito constante entre os

interesses coletivos e as garantias individuais.

Quando existe a norma violada é que entra o poder do Estado de agir e

buscar as garantias constitucionais. É nesse sentido que existem as medidas

cautelares de restrição da liberdade humana, visando a garantia futura da aplicação da

Lei penal.

A prisão processual ou prisão cautelar são as que ocorrem antes do

trânsito em julgado, existem cinco espécies: a prisão temporária; prisão preventiva;

prisão decorrente da decisão de pronúncia; prisão decorrente da sentença condenatória

recorrível e por último a prisão em flagrante.

A prisão em flagrante é a que se dá no momento do crime ou logo após o

seu cometimento, pode ser efetuada por qualquer do povo, pelo ofendido e deve ser

efetuada pela autoridade ou agente da autoridade, trata-se de prisão cautelar que não

requer ordem escrita. Vigora a regra de que todas as pessoas podem ser presas em

flagrante, mas há exceções. Não podem ser presos em flagrante: o Presidente da

República; os que gozam da imunidade diplomática; o autor de crime culposo

automobilístico, desde que socorra a vítima; o autor de crime de menor potencial

ofensivo e ainda existem os que só podem ser presos em flagrante quando o crime for

inafiançável, tais quais os parlamentares, juizes e promotores.

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O auto de prisão em flagrante compõe o instrumento que registra e

estabelece as formas acerca da constrição da liberdade do acusado e representa o

meio adequado para que se possa confirmar judicialmente a legitimidade da restrição

da liberdade do ser humano. O exame judiciário tem como principal subsídio o auto de

prisão em flagrante que é o documento formal da prisão cautelar.

O trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro busca focalizar um

breve conceito de prisão, bem como suas finalidades históricas, os pressupostos

constitucionais para a sua efetivação, definir o que é a prisão pena e, a prisão

provisória.

Neste prisma, faz-se referências aos conceitos e às espécies das prisões

provisórias bem como a sua natureza jurídica.

No segundo capítulo, os objetivos se dirigem no sentido de enfocar as

espécies de prisões em flagrante: flagrante próprio ou perfeito; quase-flagrante ou

flagrante impróprio; flagrante presumido ou ficto; flagrante provocado ou preparado;

flagrante forjado; flagrante esperado e flagrante diferido ou retardado.

O terceiro e último capítulo, por sua vez, focaliza as formalidades da

lavratura do auto de prisão em flagrante, a autoridade competente para a lavratura, a

oitiva do condutor, testemunhas e vítima, o interrogatório e qualificação do conduzido, a

nota de culpa no prazo estipulado por lei, as hipóteses em que a autoridade policial

poderá arbitrar fiança, a apresentação espontânea do acusado a autoridade policial, a

prisão em flagrante nos crimes permanentes e habituais, a prisão em flagrante nos

crimes de ação penal privada e pública condicionada e por fim a prisão em flagrante

nos crimes de menor potencial ofensivo a luz da Lei 9.099/95.

Na conclusão, discorre-se sobre os entendimentos gerais que foram

alcançados com base nos argumentos consignados no desenvolvimento do trabalho.

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1 PRISÃO EM FLAGRANTE NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

A prisão é a privação da liberdade do indivíduo de ir e vir pela prática de

crime, ou por ordem escrita da autoridade competente, definindo ainda o local em que

deverá ser recolhido, fechado, seguro, ou seja, o recolhimento do preso à prisão, à

captura, à custódia, à detenção, é pena privativa de liberdade cumprida em

estabelecimento para o fim destinado.

Aos diversos estudos, a prisão como pena, surge desde o século XVI,

anterior a este período era apenas de função cautelar.

A prisão, nos dias atuais, é uma exigência para eventual aplicação da lei

penal, bem como a ordem social. Em tempos remotos, a prisão tinha como fim

assegurar a tramitação do processo e posterior aplicação das sanções definitivas que

quase sempre eram o açoite, o arrastamento, a morte, a empalação e outras. Conclui-

se, destarte, que, na sua origem mais remota, a prisão era de caráter provisório e

instrumental.

Perante a Constituição Federal, em seu artigo, 5°, inciso LXI, ninguém

será preso senão em flagrante ou por ordem escrita e fundamentada por magistrado

competente, destarte, a prisão continua sendo uma necessidade social com a devida

regulamentação no direito constitucional e, quando possui caráter provisório, cautelar,

deve obedecer estritamente à previsão legal e a observância dos princípios

constitucionais.

Nesse sentido cabe elucidar que a captura é o ato de deter ou prender

alguém vindo antes da custódia. Essa significa manter a pessoa em prisão, ou seja,

prisão temporária.

São espécies de prisão provisória: 1.2.1 prisão temporária, 1.2.2 prisão

preventiva, 1.2.3 prisão decorrente da decisão de pronúncia, 1.2.4 prisão decorrente da

sentença condenatória recorrível e 1.2.5 da prisão em flagrante que será principal tema

da presente obra com ênfase nas suas modalidades e a lavratura do auto de prisão em

flagrante.

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1.1 PRISÃO PENA

Na prisão pena e nas prisões cautelares, seus pressupostos diferem

diametralmente. Muito embora existam institutos que estão presentes tanto em uma

quanto nas outras. A prisão pena é ainda recente, com as reformas penais que

marcaram o tempo do Iluminismo. A prisão tinha um cunho exclusivamente cautelar,

pois, como já foi dito, as penas tendiam a ser sanções corporais ou patrimoniais, com

execuções, mutilações, banimentos e confiscos. Assim sendo, a prisão como regra,

servia apenas para assegurar as referidas aplicações, o que hoje são definidas como

prisões cautelares, ou seja, as prisões provisórias.

Hodiernamente, temos a prisão pena como uma forma de inibir e reprimir

o crime, uma política de repressão criminal. A prisão pena é aquela imposta ao réu, ou

seja, a sentença transitada em julgado. Obedecendo ao princípio constitucional da

presunção de inocência como o ensinamento do doutrinador Alexandre de Moraes:

A Constituição Federal estabelece que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, consagrando a presunção de inocência, um dos princípios basilares do Estado de Direito como garantia processual penal, visando à tutela da liberdade pessoal.1

Portanto, configura-se o direito à presunção de inocência como uma base

para todo e qualquer tratamento preconceituoso ao acusado.

A prisão pena é originaria do direito material, ou seja, é a sanção atribuída

pela autoridade judiciária.

1.2 PRISÃO PROCESSUAL

1 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, p. 132.

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A prisão processual é a que o juiz impõe como providência compulsória; a

prisão cautelar demanda um processo, e somente poderá ser emanada por ordem

escrita e fundamentada de autoridade judiciária. Na hipótese de flagrante visa garantir a

imediata da tutela de um bem jurídico, impedir as conseqüências do periculum in mora,

garantindo a aplicação de pena futura.

Nesse entendimento, citamos José Frederico Marques: (...) Prisão processual é a que o juiz impõe, como providência compulsória, ao síndico, ao inadimplente em obrigação alimentar, ao depositário infiel, à testemunha faltosa, ao falido relapso; e prisão processual é ainda a prisão que o juiz impõe, em sentença condenatória, ao criminoso.2

Portanto, a prisão processual é toda aquela decretada pelo juiz no

exercício dos poderes contidos na jurisdição em que exerce, com o fim de garantir a

aplicação da pena.

Nesse sentido, chega-se a conclusão de que as prisões ora definidas têm

em seu escopo a pretensão cautelar penal como uma autêntica ação asseguradora,

com o fim de evitar o dano jurídico que muitas vezes decorre da demora do processo

principal, o bom andamento do processo.

A prisão provisória representa para a sociedade um alívio imediato contra

o crime.

Isso se torna necessário e comum em grandes centros, onde crassam a

prática de delitos como o de roubo, latrocínio, entre outros. São freqüente estes casos,

onde as prisões provisórias afastam os causadores desses delitos trazendo para a

sociedade uma sensação de alívio imediato.

Como elenca o doutrinador Roberto Delmanto Junior em definição as

medidas cautelares:

(...) a) são medidas judiciais uma vez que, mesmo nas hipóteses de flagrante delito, logo são submetidas ao crivo de magistrado; b) são medidas instrumentais, ou seja, são adotadas em função do processo, para assegurar o seu pensamento, julgamento e eficácia da sentença proferida; c) são medidas provisórias, isto é, só podem subsistir enquanto subsistam os motivos que as determinam.

2 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 40.

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È de se observar, a propósito, que a prisão cautelar possui somente efeitos provisórios, (...).3

Desta forma, todas as prisões são submetidas a análise do competente

magistrado para que não haja o abuso ou ainda que deixe de ser analisado os

princípios constitucionais.

De acordo com vários autores são apontadas como características para a

decretação das prisões provisórias além dos requisitos, os seguintes pressupostos:

fumus boni iuris e o periculum in mora, que são a fumaça do bom direito e o perigo na

demora do processo. Vários doutrinadores divergem da utilização desses dois

pressupostos citados, diante de algumas peculiaridades que não satisfazem a

imposição de uma prisão provisória.

Como demonstra Roberto Delmanto Junior: De outra parte, para que a prisão cautelar possa ser aplicada, o magistrado deverá verificar, concretamente, a ocorrência do fumus commissi e do periculum libertatis, ou seja, se a prova indica ter o acusado cometido o delito, cuja materialidade deve restar comprovada, bem como se a sua liberdade realmente representa ameaça ao tranqüilo desenvolvimento e julgamento da ação penal que lhe é movida, ou à futura e eventual execução.4

Fica evidente a necessidade da comprovação, a verificação concreta da

certeza de ter cometido o delito e a sua liberdade demonstre risco ao andamento do

processo.

As providências cautelares estão atreladas a um processo e visam

garantir e assegurar uma sanção. Sendo que emana do poder judiciário uma

providência jurisdicional, assim sendo, a prisão cautelar visa garantir essa tutela; por

isso a prisão cautelar e a medida cautelar serão sempre de caráter provisório.

Caso contrário, não sendo imprescindível a decretação das medidas

provisórias ou quando não coloca em perigo a proteção ao bem jurídico que nele se

procura assegurar, não há o periculum in mora, a medida cautelar não deve ser

concedida.5

3 ESCUSOL Barra, Eládio; apud DELMANTO, Roberto Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 82. 4 DELMANTO, Roberto Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 84. 5 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 83.

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As prisões provisórias tendem, como já foi explanado anteriormente,

assegurar o bom andamento do inquérito policial e do processo penal, assegurar as

garantias processuais, garantir uma execução da pena para que seja cumprida uma

futura sentença condenatória.

Portanto, as prisões processuais cautelares possuem amparo jurídico

constitucional, a previsão legal dessas medidas é exigência em matéria penal. Desta

forma resta evidente que o juiz ao declinar uma medida restritiva de liberdade estará

esta expressamente contemplada em lei, com o devido fundamento constitucional. A

tomada da medida de restringir a liberdade do indivíduo tem caráter excepcional e em

situações de riscos para efetivar tal aplicação penal e o bom andamento do processo,

bem como a garantia da ordem pública.

Como cita o jurista José Frederico Marques, passaremos a explicar e

introduzir os pressupostos para a decretação e as modalidade das prisões cautelares,

com já foi citado pelo doutrinador, no caso do periculum in mora, como um dos

principais pressupostos por ele elencados.

São as prisões cautelares que serão abordadas na presente obra:

1.2.1 Prisão temporária;

1.2.2 Prisão preventiva;

1.2.3 Prisão decorrente da decisão de pronúncia;

1.2.4 Prisão decorrente de sentença condenatória recorrível;

1.2.5 Da prisão em flagrante, tema desta monografia.

1.2.1 Prisão temporária

Tem como intuito elucidar um determinado delito apurado através de

inquérito policial instaurado pelo delegado de polícia. Esta modalidade de prisão

cautelar esta instituída pela Lei número 7.960/89, artigo 1°, inciso I da referida Lei,

procedimento será apurado através do inquérito policial.

Como elenca o jurista Roberto Delmanto Junior referente à prisão

temporária:

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(...), a prisão temporária é uma antecipação da prisão preventiva, tem requisitos menos rigorosos que ela, mas não será decretada se manifestamente não se decretaria aquela e que, apesar dos seus requisitos instituírem uma presunção de necessidade da prisão, não teria cabimento a sua decretação se a situação demonstrasse cabalmente o contrário.6

Esta prisão é imprescindível para possibilitar as investigações policiais. É

permitida também quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer

elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade, destinado ao bom

andamento da fase inquisitorial.

Pode ser decretada ainda quando houver indícios de autoria nos crimes

elencados no artigo 1°, inciso III, da Lei n° 7.960/89, quais sejam: homicídio doloso,

seqüestro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão mediante seqüestro, estupro,

atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com resultado morte,

envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado

pela morte, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas e crimes contra o sistema

financeiro, sem que, nessas hipóteses, haja necessidade de ser imprescindível para as

investigações ou que o agente não tenha residência fixa ou não forneça elementos

necessários ao esclarecimento de sua identidade.

Ao contrário das regras das medidas cautelares, não pode ser decretada

de ofício pelo juízo competente, devendo ser representada, fundamentadamente, pela

autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público.

De regra geral, tem prazo de cinco dias podendo ser prorrogado por mais

cinco. Nos crimes hediondos têm como prazo trinta dias podendo ser prorrogada por

mais trinta se muito bem fundamentada a necessidade pela autoridade policial para o

êxito nas investigações policiais. Este último, estabelecido na Lei dos Crimes

Hediondos em seu artigo 2°, parágrafo 3°.

Esses requisitos são de certa forma mais simples aos da prisão

preventiva. Essa modalidade de prisão pode suceder ou ainda fornecer requisitos para

a prisão preventiva.

6 GRECO Filho, Vicente; apud DELMANTO, Roberto Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 153.

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1.2.2 Prisão preventiva

A prisão preventiva, com previsão nos artigos 311 a 316 do Código de

Processo Penal, é medida cabível decretada por despacho da autoridade judiciária

competente em qualquer fase do inquérito policial ou da ação penal antes de transitar

em julgado. Podendo ser decretada de ofício pelo juiz ou mediante representação da

autoridade policial ou a pedido do Ministério Público ou querelante. A representação da

autoridade policial e do querelante, prescinde de manifestação do Ministério Público.

Prisão preventiva só poderá ser decretada quando houver indícios

suficientes de autoria e prova da existência do crime. Não há necessidade de que os

indícios gerem a certeza da autoria e sim a necessidade de que o magistrado possa

apurar a existência do fumus boni juris, que de certa forma aponte o acusado como

sendo o autor do crime.

A prisão preventiva tem como objetivo privar o indigitado autor ou acusado

de liberdade em face da existência de pressupostos legais, para resguardar os

interesses sociais, ou seja: 1.2.2.1 garantia da ordem pública; 1.2.2.2 garantia da ordem

econômica; 1.2.2.3 conveniência da instrução criminal; 1.2.2.4 asseguração da

aplicação da lei penal, elencados no artigo 312 do Código de Processo Penal brasileiro.

1.2.2.1 Garantia da ordem pública

Podemos dizer que a ordem pública esta diretamente ligada à gravidade

do delito bem como à periculosidade do agente, deste modo, resguardando-se o meio

social e a credibilidade da justiça, em face da gravidade do crime e sua repercussão.

Como subentende-se pela expressão, visa uma garantia de se manter

ordem na sociedade quando praticado um delito grave e a sua prática repercute

negativamente. A prática de um crime não comum em uma determinada cidade,

tranqüila, pacata, que é abalada por certo delito que causa grande repercussão. Não

enseja dúvidas da decretação de tal prisão.

Dessa forma entende Guilherme de Souza Nucci: (...) A garantia da ordem pública deve ser visualizada pelo binômio gravidade da infração + repercussão

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social. Um fruto simples não justifica histeria, nem abalo à ordem, mas um latrocínio repercute, negativamente, no seio social, demonstrando que as pessoas honestas podem ser atingidas, a qualquer tempo, pela perda da vida, diante de um agente interessado no seu patrimônio, o que gera, por centro, intranqüilidade. (...).7

Faz-se necessário à existência da repercussão do ilícito praticado,

gravidade junto com a periculosidade do agente para a sociedade, tornando tal

comunidade insegura.

A periculosidade do indiciado ou acusado tem sido argumentos acerca da

decisão para tal decretação, fator imprescindível para a custódia cautelar.

Essa forma representa ainda a fundamentação da proteção da integridade

física do autor do delito, por parte da comunidade, ou até familiares da vítima.

Nem sempre a prática de crime hediondo justifica tal prisão se não estão

presentes os pressupostos previstos no artigo 312 do CPP. Mas, sem dúvida, estará

justificada no caso de ser o indiciado ou acusado perigoso, na perseverança da prática

delituosa, quando se denuncia torpeza, perversão, malvadez, cupidez e insensibilidade

moral.8

1.2.2.2 Garantia da ordem econômica

Visa repreender um delito praticado contra uma instituição financeira ou

até mesmo contra órgão do Estado, visando garantir a aplicação da lei penal com o

intuito de para não passar a sociedade uma questão de impunidade.

Nesse caso pode-se equiparam o criminoso do colarinho branco aos

demais delinqüentes. Pode o desfalque de uma instituição financeira causar maiores

danos e grande repercussão nas vidas das pessoas como um crime comum de roubo,

como já explicado anteriormente, continua existindo um nexo de repercussão e

gravidade do delito. Desse modo, tal decretação da prisão preventiva visa garantir a

atuação do judiciário no combate ao crime do colarinho branco. Trata-se, portanto de

um requisito para crimes específicos.

7 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Anotado, p. 544. 8 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 367.

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Em fim, a Lei n° 8.884 de 11.06.1994, inclui esse preceito como sendo um

autorizador para a decretação da prisão preventiva, em seu artigo primeiro essa Lei

dispõe sobre a prevenção das infrações contra a ordem econômica, defesa dos

consumidores, repressão ao abuso do poder econômico e ainda em seu parágrafo

único que a coletividade é a titular dos bens protegidos por esta lei.

1.2.2.3 Conveniência da instrução criminal

Conceituada por exigir o devido processo legal essa instrução criminal

visa buscar a verdade real do delito ora apurado, não se atendo somente ao processo

mais também a conduta do réu.

Tem como objetivo evitar que o acusado prejudique a produção de provas

ou dificulte a descoberta da verdade, fazendo com que desapareça as provas do crime.

Ademais, para que não se modifique o local do crime, modificando os vestígios,

aliciando ou ameaçando as testemunhas. De um modo geral, é motivo para ensejar a

decretação da prisão preventiva. Define, Roberto Delmanto Junior, que na conveniência

da instrução criminal, não poderá ser decretada por suposições e sim evidências que

comprovem risco do acusado em atitudes a prejudicar a instrução criminal.

No que toca a conveniência da instrução criminal, o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, decidiu no sentido de não poder decreto de prisão preventiva se basear em meras suposições, cumprindo apontar fatos concretos, vinculados à atuação do acusado, que comprovem atitudes contrárias aos interesses da instrução.9

Comprovada tal conveniência da instrução criminal, fundamentadamente,

deverá ser decretada a prisão preventiva do indiciado.

Conclui-se por conveniência da instrução criminal as condutas inaceitáveis

do indiciado como ameaça as testemunhas, manipulação de provas ou ainda tentando

desaparecer com evidências do crime, como muito acontece em ameaças as

autoridades do órgão acusatório ou até mesmo a vítima, a fuga do local do crime ou a

9 DELMANTO, Roberto Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 172/173.

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mudança de residência dificultando sua identificação, dentre outras formas de

manipular provas e ao bom andamento do processo.

1.2.2.4 Garantia da aplicação da Lei penal

Consiste basicamente em garantir a presença do acusado em todas as

fases do processo. Evitar que o acusado deixe prejudique a aplicação da Lei penal,

mostrando o desinteresse em colaborar com a justiça.

A possibilidade de fuga do acusado, deixando frustar a aplicação da Lei

penal, com a intenção de desonerar-se de sua responsabilidade criminal, na tentativa

de evadir-se, terá porém a possibilidade da restrição da liberdade.

Motivos estes que ensejam também a prisão preventiva para o fim da

extradição. Desse modo assegura a instrução criminal bem como a aplicação da lei

penal.

1.2.3 Prisão decorrente da decisão de pronúncia

Medida processual a ser decretada exclusivamente nos casos apreciados

perante o Tribunal do Júri, ou seja, crimes dolosos, consumados ou tentados, contra a

vida e conexos.

A pronúncia consiste na apreciação pelo magistrado competente, em que

pronunciará o réu, ou seja, submeterá ao Tribunal do Júri a apreciação e julgamento do

caso.

Destarte, remete o julgamento para o Tribunal do Júri. Nesta fica

evidenciada a certeza provisória da autoria e indícios da responsabilidade do acusado.

Assim sendo, terminada a fase de instrução, podendo o presidente do tribunal do júri

impronunciar o acusado quando não se convencer da existência do crime ou de que

seja o réu o autor podendo ainda desclassificar o crime.

Quando pronunciado o acusado, o processo terá seu tramite legal perante

o Tribunal do Júri, podendo o juiz determinar sua prisão provisória ou mantê-la no caso

de já estar encarcerado. O réu continuará se tiver, encarcerado na modalidade de

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prisão em que se encontra. Ou, ainda, quando estiver solto, mandará o juiz que seja

capturado, expedindo as ordens necessárias devidamente fundamentadas.

Essa medida, como as demais, visa garantir a aplicação da lei penal,

levando o réu a julgamento perante o Tribunal do Júri, que só poderá haver quando na

presença do réu.

O artigo 408, parágrafo 2°, do CPP, faculta ao juiz decretar a prisão,

manter, ou ainda revogar quando já decretada. Cabe-lhe o dever jurisdicional se

presente tais condições.

1.2.4 Prisão decorrente de sentença penal condenatória recorrível

Com fulcro no artigo 594 do Código de Processo Penal, quando

condenado por delito em que a pena se restringe à privativa de liberdade que deve ser

cumprida no regime fechado ou semi-aberto, e estiver eminente os requisitos, ao

recorrer da sentença deverá o réu recolher-se a prisão para o cabimento do recurso.

Leva-se em consideração o recolhimento à prisão por ser o condenado

perigoso para a sociedade caracterizando assim uma prisão decorrente de sentença.

O artigo 594 do Código de Processo Penal tem a seguinte redação:

Ó réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória, ou condenado por crime de que se livre solto.10

Muito embora, a literalidade da lei, pesa os entendimento de vários juristas

de que essa prisão é de certa forma inconstitucional, como entendimento de Roberto

Delmanto Júnior:

Pela forma com que é prevista, esta modalidade de prisão atenta contra as garantias constitucionais da presunção de inocência e do duplo grau de jurisdição. Por outro lado, dependendo do caso, também a prisão em virtude de sentença condenatória recorrível afigura-se de todo desproporcional e não-razoável.11

10 Código de Processo Penal, p. 105. 11 DELMANTO, Roberto Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 202.

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Para que o réu seja recolhido à prisão, no caso em tela, devem estar

presentes alguns requisitos: a imposição da pena privativa de liberdade; quando não se

tratar de infração em que o réu se livre solto; quando tratar-se de crime inafiançável e

não ser beneficiado com sursis e quando não ter a sentença reconhecido seus bons

antecedentes.

Cabe ainda citar a Súmula 9 do Superior Tribunal de Justiça:

Ou nestas hipóteses, após condenar o réu é quando o magistrado, em atenta análise ao caso, deverá conceder ou não, a possibilidade de apelar em liberdade.

Conclui-se então que no bojo de uma sentença condenatória, até pode vir

decretada uma prisão, que por não haver o trânsito em julgado ainda é provisória, mas

deve vir devidamente fundamentada e não ser mera conseqüência do recurso de

apelação referida prisão, ou seja, após condenar o réu, o magistrado em atenta análise

aos autos, deverá conceder ou não a possibilidade de apelar em liberdade.

Como as demais prisões visa garantir a aplicação da lei penal e evitar

ofensa a ordem pública, entre outras.

1.2.5 Da prisão em flagrante

A etimologia do próprio vocábulo já nos transmite um conceito a respeito

do instituto, uma elucidação do significado, ou seja, flagrante é aquilo que flameja ou se

encontra ainda flamejante, referindo-se a uma situação que acaba de acontecer, nos

transmite a idéia de algo em plena crepitação. Um delito ainda em sua crepitação, que

acaba de ser cometido, ou ainda está ardendo.

Originada do latin flagrans, a palavra significa arder, nos traz a idéia de

fogo, de chama ardendo, queimando.

Na obra do doutrinador Julio Fabbrini MIRABETE, o conceito de prisão em

flagrante.

A palavra flagrante é derivada do latim flagrare (queimar) e flagrans, flagrantis (ardente, brilhante, resplandecente), que no léxico, é acalorado, evidente, notório, visível, manifesto, em sentido jurídico, flagrante é uma

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qualidade do delito, é o delito que está sendo cometido, praticado, é o ilícito patente, irrecusável, insofismável, que permite a prisão do seu autor, sem mandado, por ser considerado a certeza visual do crime. Assim, a possibilidade de se prender alguém em flagrante delito é um sistema de auto defesa da sociedade, derivada da necessidade social de fazer cessar a prática criminosa e a perturbação da prova da materialidade do fato e da respectiva autoria.12

Para Mirabete, flagrante é uma qualidade do delito; é o que está sendo

cometido; é o ilícito patente, irrecusável, que permite a prisão do seu autor, sem

mandado.

Destarte, prisão em flagrante delito é aquela efetuada no momento do

cometimento do crime ou quando acabou de cometer ou ainda o acusado sendo

perseguido, ininterruptamente, por qualquer pessoa do povo ou pela autoridade

policiais ou agentes da autoridade, bem como o ofendido, ou ainda, quando encontrado

logo depois com armas, instrumentos, objetos ou papéis que façam presumir ser o autor

da infração.

1.2.5.1 Natureza jurídica da prisão em flagrante

É uma medida cautelar processual que dispensa ordem escrita e está ela

prevista no Código de Processo Penal brasileiro em seus artigos 301 a 310.

Perante a natureza jurídica da prisão em flagrante muito se discute.

Existem entendimentos de que a prisão em flagrante é de natureza cautelar ou pré-

cautelar.

Dispõe a Carta Magna de que ninguém será preso senão em flagrante

delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo

nos casos de transgressão militar, previstos no artigo 5°, inciso LXI.

Segue o entendimento de Tales Castelo Branco: É prisão porque restringe a liberdade humana; é penal porque foi realizada na área penal; é cautelar porque expressa uma precaução (uma cautela) do Estado para evitar o perecimento de seus interesses; e é administrativa porque foi lavrada fora da esfera processual, estando, portanto, pelo menos no momento de sua realização, alheia à relação processual, expressando o exercício da atividade administrativa do Estado. A prisão em flagrante é, portanto, medida cautelar,

12 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 366.

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administrativamente realizada, traduzindo procedimento de autodefesa estatal, que se caracteriza por um ato de coação extrajudicial.13

Na Constituição de 1988 está normatizado as garantias da

jurisdicionalidade e o devido processo legal, ou seja, nas modalidades de prisões

cautelares serão elas submetidas aos magistrados para apreciação e decretação, como

nas prisões preventivas, temporárias e da prisão por pronúncia, como será abordado no

terceiro capítulo. Ocorrendo a prisão em flagrante será submetida imediatamente ao

poder judiciário para apreciação e confirmação ou ainda do cabimento de liberdade

provisória.

Resta uma discussão ainda de quanto tempo poderá o acusado ser

privado da liberdade sob a prisão em flagrante.

Na justificativa da permanência da prisão do acusado tem-se a análise

atenta e imediata aos autos pelo magistrado na confirmação da prisão em flagrante, na

prisão temporária prevista na Lei 7.960/89 e a prisão preventiva artigo 311 do Código

de Processo Penal brasileiro.

A Constituição Federal de 05/10/1988, trata da prisão em flagrante como

comentado anteriormente, no Título II, Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e

Coletivos, quando preleciona, no artigo 5°, inciso LXI.

Coleciona-se o entendimento de José Frederico Marques: A prisão em flagrante é, ao mesmo tempo cautelar e notitia criminis, pois é o conhecimento da prática de infração realizada ao vivo, no próprio instante em que o delinqüente viola a lei penal (...).14

Como citado, vários juristas conceituam também o auto de prisão em

flagrante como uma notitia criminis, levando os fatos ao poder judiciário para

apreciação, confirmação ou não e se confirmada a aplicação penal.

Torna-se processual tão logo de sua confirmação perante o juízo

competente.

13 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante, p. 11. 14 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 80.

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Tem como objetivo a certeza de quem seja o autor da infração; por isso

fica eminente o interesse social da imediata constatação do crime e de seu autor por

pertinente, auto de prisão em flagrante.

Desta forma, não resta dúvida quanto à natureza jurídica da prisão em

flagrante: é uma medida cautelar, logo efetivada a prisão. Justifica-se a permanência do

indiciado para assegurar o resultado final do processo ou ainda para resguardar a

ordem pública, evitando danos que o indiciado poderá causar quando solto.

1.2.5.2 Flagrante facultativo e flagrante obrigatório

O Código de Processo Penal brasileiro em seu artigo 301 faculta a

qualquer do povo o direito de efetuar a prisão em flagrante e obriga às autoridades

policiais e seus agentes prender quem quer que seja em flagrante delito.

Nesse sentido, pode configurar como sujeito ativo em caso de flagrância,

efetuando a prisão, qualquer pessoa. E tem por obrigação a autoridade policial e seus

agentes de prender quem quer que seja, encontrado em flagrante delito.

Nesse sentido, esclarece o doutrinador Tales Castelo Branco: Quando a prisão é efetivada por particulares, trata-se de prisão em flagrante facultativa e, quando concretizada pelas autoridades policiais e seus agentes, prisão em flagrante compulsória.15

É uma das características da prisão em flagrante ser facultativa quando for

realizada por uma pessoa do povo e compulsória quando efetuada pelas autoridades

policiais e ou agentes da autoridade.

Tem-se como objetivo, a citação de Tales Castelo Branco, referente a

esse dispositivo de qualquer do povo a faculdade de prender e a obrigatoriedade da

autoridade policial e ou seus agentes:

(...) no caso de flagrante delito, todo depositário da força pública, e mesmo todo cidadão, deve, no interesse da sociedade, prestar-se a prender o delinqüente, porque todos os bons cidadãos devem formar incessantemente uma liga santa e patriótica contra os infratores da Constituição e das leis, concorrer para impedir que seja cometido um delito e entregar às mãos dos

15 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 60.

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ministros da lei os delinqüentes surpreendidos em perturbação da ordem pública. O paralelo entre os funcionários policiais e os cidadãos, como órgãos da prisão em flagrante, convence não ser o poder daqueles, substancialmente, maior e mais amplo que o dos outros. Não se trata, na essência, do exercício de um direito individual, quando é o particular quem efetiva a prisão em flagrante; mas, sim, um ato de polícia, mediante um órgão indireto ocasional do Estado. Ocorre, nessa caso, uma exceção à regra de só agir o Estado por meio dos seus órgãos, isto é, por pessoas que força da Lei ou de uma obrigação especial de serviço, se acham numa relação constante com o Estado.16

Essa citação do autor são de famosas instruções francesas de 1971,

editadas num exaltado clima de solidariedade e senso de obrigações sociais que traz

também a realidade brasileira dessa aplicação em nosso ordenamento jurídico, assim

sendo, não impõe a sociedade uma obrigação de efetuar a prisão em flagrante mas sim

fica facultada essa função.

16 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 60/61.

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2 ESPÉCIES DE FLAGRANTE

As modalidades das prisões em flagrante são classificadas pelos

doutrinadores. Não estabelecem nenhuma distinção em sua nomenclatura, e, sim, de

formulação doutrinária com base no Código de Processo Penal e no lavor

jurisprudencial que, tendo em vista sua intensidade probatória, passaram a mencionar

distinções de nomenclatura formuladas por interpretação do artigo 302 e incisos do

Código de Processo Penal brasileiro, incisos esses que são taxativos.

A prisão em flagrante dar-se-á quando for encontrado o autor do delito

cometendo o crime, ou ainda quando o fugitivo for perseguido pela autoridade, pelo

ofendido, ou por qualquer pessoa em situação que se faça presumir ser o autor. Da

mesma forma, quando o indivíduo que logo em seguida for encontrado com os

instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser autor de tal infração

penal, entende-se preso em flagrante.

A doutrina classifica essas hipóteses em, tempestivamente: flagrante

próprio ou perfeito, quase-flagrante ou flagrante impróprio e flagrante presumido ou

ficto, são classificações relacionadas com o momento da execução quando foi flagrado.

Existe ainda a hipótese do flagrante diferido ou retardado com previsão na

Lei 9.034/95, este muito usado, pela polícia federal e outras polícias especializadas, no

combate ao crime organizado, como exemplo de atuações nas mega operações, que

levam cerca de um ano de investigações e diligências para o êxito dos trabalhos

realizados.

Há ainda outras classificações de flagrantes: flagrante provocado ou

preparado, flagrante forjado e o flagrante esperado. Portanto, não se encaixam nas

hipóteses já mencionadas do artigo 302 do Código de Processo Penal. Destarte,

entendimentos doutrinários que passam a ser estudados e que criam definições e

conceituam essas modalidades.

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2.1 FLAGRANTE PRÓPRIO OU PERFEITO

Considera-se flagrante próprio quando se está cometendo a infração penal

ou acaba de cometê-la. Quem é surpreendido no ato do cometimento do crime, que

também pode ser conhecido como perfeito ou real. O infrator deve ser apanhado no

próprio momento em que pratica o deito, sendo portanto, aquela expressão de quem

está cometendo a infração penal. Entretanto, o agente que acaba de cometer passou a

ser equiparado com àquele que é colhido na plena execução da violação penal, ou seja,

apesar de já caracterizada a infração penal, o delinqüente ainda é encontrada na

prática de atos inerentes a prática do delito, e, imediatamente posterior à prática do

delito, o delinqüente é apanhado no momento que acaba de consumar o crime e ainda

tenta evadir-se, mesmo assim a prisão é efetuada em ato imediatamente posterior.17

Trata-se de situação prevista no artigo 302, incisos I e II, do CPP.

Essa modalidade é a mais convincente das situações de flagrante sendo

considerada a principal, ou seja, esta é a situação do flagrante propriamente dito. A

certeza visual do delito é tão exata que pode até ser equiparada à confissão do delito

praticado, não deixando dúvidas com a situação em que se encontra o agente

flagrado.18

Antigamente, na classificação do flagrante próprio ou perfeito, fazia-se

necessário o clamor público, mas nos dias de hoje, em nosso país, não prevalece tal

expressão. Era, no entanto, uma acusação do delito praticado, uma acusação

proclamada, enérgica, que de certa forma redundante pois é claro os incisos I e II do

Código de Processo Penal.19

Sobre a condição do clamor público, se destaca as considerações de

Tales castelo Branco:

O clamor público deixa de ser condição necessária para que se equipare ao Estado de flagrância o caso em que o criminoso, após a prática do crime, está a fugir. Basta que, vindo de cometer o crime, o fugitivo seja perseguido pela

17 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 34 18 Cf. DELMANTO Junior, Roberto. As modalidade de Prisão Provisória e seu prazo de duração. p. 99 19 Cf. DELMANTO Junior, Roberto. As modalidade de Prisão Provisória e seu prazo de duração. p. 100

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autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração. 20

Destarte, o clamor público era uma forma antiga de perseguição do autor

do crime, ininterrupta, por indivíduos, no encalço do criminoso que foge, após a prática

do delito, poderia ser por uma grande massa popular como por um número reduzido, o

que a lei pretendia, na época, era de certa forma, uma acusação viva, oral, desde o

momento do crime e em seu seguimento no percurso da fuga.

Nos dias presentes não se faz necessário tal situação, basta que seja

visto cometendo o delito para legitimar a sua captura, ou sua perseguição pela

autoridade ou seus agentes, bem como pelo ofendido ou ainda qualquer pessoa em

situação que faça presumir ser o autor do crime.

Portanto, tem-se a hipótese de flagrante próprio quando se surpreende o

delinqüente em plena ação delituosa ou quando acaba de cometê-la, não havendo

dúvidas sobre a certeza visual do fato e da autoria.

2.2 QUASE-FLAGRANTE OU FLAGRANTE IMPRÓPRIO

Essa modalidade caracteriza-se pela presunção, conforme redação do

inciso III do artigo 302 de nossa Lei processual penal.

Esta modalidade é caracterizada pela falta da certificação ocular da

prática criminosa. Conforme prevista na modalidade de flagrante próprio, que necessita

de perseguição do autor do crime, em situação que faça presumir ser o autor da

infração, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa.

Essa perseguição deverá ser imediata e ininterrupta não restando ao autor

um momento de tranqüilidade, ou seja, de alívio entre a conduta e a perseguição.21

20 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 36 21 Cf. DELMANTO Junior, Roberto. As modalidade de Prisão Provisória e seu prazo de duração. p. 104

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A expressão “logo após” não é exatamente definida pelos doutrinadores,

havendo divergência, entende José Frederico Marques22 que embora persista a

perseguição e mesmo assim após razoável lapso temporal não ser efetuada a prisão,

desaparecerá o flagrante, em desacordo com o entendimento de Roberto Delmanto

Junior23, de ser a perseguição imediata e ininterrupta, apenas não restando ao autor

qualquer momento de tranqüilidade.

Neste sentido, extrai-se o conceito de Tales Castelo Branco em razão da quase-flagrância onde existe ainda fortes indícios do crime praticado: A tendência é sempre a mesma, ou seja, pode ser que o crime já se haja consumado mas que tenham perdurado indícios veementes e até aparentemente inequívocos de que ele acaba de ser praticado. O fogo já não queima, já não arde, mas seu calor e a sua fumaça perduram.24

Portanto, no flagrante impróprio, embora a conduta já não esteja mais em

prática, ou seja, o fogo não mais queima, há de certa forma, indícios inequívocos da

prática do crime dada a situação em que o ilícito penal acabou de ser cometido

perdurando ainda o seu calor e sua fumaça no momento do encontro dos efeitos do

crime.

Esta modalidade refere-se a um conceito de presunção de autoria

levando-se uma situação de analogia ao flagrante. Essa autoria presumida decorre de

indícios e cabe a autoridade competente avaliá-los. Pertinente se faz citar o autor Tales

Castelo Branco cerca do valor probatório em que a aceitação da quase-flagrância

nasceu da necessidade de recolher, imediatamente, os elementos de prova da autoria

da infração penal, antes de seu desaparecimento.

Embora no sistema do nosso Código, em que vige o princípio da livre convicção ou livre apreciação das provas, e não o princípio das provas legais, não haja uma tabela de valorarão das provas, é evidente que o quase-flagrante, em qualquer de suas modalidades teóricas (CPP, art. 302, II, III, e IV), tem menos força probante e transmite menores elementos de convencimento. Há uma autoria presumida, decorrente de indícios previstos pela lei, cabendo à autoridade competente avaliá-los, prudentemente, para não cometer injustiças. (...) A aceitação da quase-flagrancia nasceu da

22 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p.78 23 Cf. DELMANTO Junior, Roberto. As modalidade de Prisão Provisória e seu prazo de duração. p. 101 24 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 42

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necessidade de recolher, imediatamente, os elementos de prova da autoria da infração penal, antes de seu desaparecimento.25

Com referência aos indícios entende-se como prova indireta que aponta o

agente pratica delituosa bem como os objetos que podem ter sido utilizados para

consumação do crime, como por exemplo, 1) pode ser encontrado ao lado de um

cadáver, 2) ainda com uma faca na mão, 3) ser visto saindo do local de crime com

manchas de sangue nas roupas, 4) ser encontrado como objetos da vítima. São

hipóteses que colocam o suspeito na cena do crime, que por pouco não foi

surpreendido na prática, mas em seguida, caracterizando um quase-flagrante.

Segue o ensinamento do doutrinador Tales Castelo Branco, acerca de ser

o agente preso quando acaba de cometer, que se faz presumir ser o autor:

O modo pelo qual o agente é preso, na hipótese de acabar de cometer a infração, é que faz presumir a autoria. A circunstância de modo contribui para a presunção da mesma forma que a circunstância de tempo, permitindo considerá-lo em flagrante. Nessas situações o agente não é preso imediatamente após a infração penal. Entre o término desta e a prisão passa algum tempo, porquanto a prisão se dá logo após, logo depois do fato violador da lei.26

Portanto resta uma análise por parte da autoridade, para que não cometa

algum ato de injustiça, restrição da liberdade do indiciado, na prisão em flagrante na

modalidade de quase-flagrante. Como a lei não estabelece diversidade de tratamento,

para os fins, todas as hipóteses de prisão em flagrante são equiparadas apesar de suas

diferenças probatórias.

Em consideração a perseguição para a efetuação da prisão em flagrante,

o Código de Processo Penal dispensa que a perseguição seja acompanhada do

“clamor público”, como já foi descrito e conceituado anteriormente no flagrante próprio

mas se faz necessária logo após a conduta para se estabelecer a presunção da autoria.

Perseguir, quer dizer, seguir de perto, ir atrás, correr atrás, ir no encalço e

também tem como sentido, atormentar, importunar, transmitindo a idéia de insistência

de continuidade, ir atrás, correr atrás, com persistência. Indubitável se averigua, o

25 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 45/46 26 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 46

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emprego ao termo, no texto legal, estar no encalço com insistência, ou seja,

perseguição ininterrupta como é considerado por vários autores, até mesmo pelo

doutrinador já citado José Frederico Marques27 que ainda acrescendo ao rigor, a

proximidade da presunção.

Têm-se vários entendimentos referente as expressões logo após vez que

a lei não determina um lapso temporal para uma definição, apesar de ser de extrema

importância para a definição da modalidade e subordinação de quase flagrância para

que haja elementos de convicção.

Para determinar tal imprecisão dos termos legais, cabe o entendimento de Tales Castelo Branco: Teremos, assim, que, não havendo a lei fixado extensão temporal, as expressões logo após e logo depois só poderão ser interpretadas restritamente, não podendo o agente haver passado à prática de atos estranhos à infração penal.28

Assim, o lapso ente a conduta e a perseguição deverão ser interpretados

restritamente, não podendo já estar o autor praticando atos diversos à infração penal,

desenvolvendo outras atividades, restando desta forma prejudicado a persistência na

perseguição.

2.3 FLAGRANTE PRESUMIDO OU FICTO

Como na modalidade anterior, nota-se a presença da expressão,

presunção e ainda, logo depois, para a interpretação dessa modalidade.

Anteriormente, já mencionado e definido a expressão logo após,

doutrinariamente entende-se que essa expressão é conceituada pelo fato de existir uma

fuga do autor e que é perseguido, pelo ofendido, pela autoridade policial ou ainda por

qualquer pessoa.

27 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 78 28 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 53

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Na segunda expressão fica, de certa forma, restrito ao tempo, pois pela

falta da perseguição, circunstâncias de ter sido visível tal ato torna essa hipótese mais

perigosa podendo até ser cometida um arbítrio por parte das autoridades. Contrária a

essa conclusão, pode ser o autor flagrado com evidências óbvias, devidamente

comprovadas.29

Na hipótese do inciso IV do artigo 302 do Código de Processo Penal é

encontrado, logo depois, com instrumentos, arma, objetos ou papéis que façam

presumir ser ele autor da infração, presume-se que não se sabe ainda quem seria o

autor do crime.

Deve essa expressão, “logo depois”, ser delimitada ao máximo, devendo

ser deixada ao prudente arbítrio dos juizes esta modalidade, não se refere mais, como

na anterior, logo após, a fuga e perseguição ininterrupta desde a prática do crime

admitindo-se lapso temporal maior, mas do crime praticado em si e o encontro do autor,

assim passa-se a definir um lapso temporal imediato, quando há perseguição

ininterrupta do autor, torna-se mais confortável tal argumentação do tempo decorrido.

Esses conceitos são parecidos levando ao mesmo entendimento a interpretação de

diversos autores.30

Desta forma, conceito por Roberto Delmanto Junior: Na hipótese do inciso IV, menor é o arbítrio na apreciação do elemento cronológico, precisamente porque falta a circunstância objetiva, concreta, visível, da perseguição. Essa hipótese é muito mais delicada que a do inciso III. Muito mais perigosa. Muito mais sujeita a arbitrariedade e a ampliações desmedidas de que tornem seus limites sem contornos.31

Portanto, nessa modalidade de prisão em flagrante, encontrado logo

depois, com objetos que presumem terem sido utilizados para tal prática delituosa, não

esta afastado a real possibilidade de comprovação de, corpo de delito, a comprovação

vestígios, a existências de indícios de autoria, e ainda, testemunhas para a possível

confirmação do delito ora praticado.

29 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 51 30 Cf. DELMANTO Junior, Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração. p. 104 31 DELMANTO Junior, Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração. p. 105

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Outrossim, ser encontrado o suspeito logo após com as armas, objetos ou

papéis que indicam ser o autor do delito, a expressão “logo depois”, deve ser definida

com maior rigor do que na modalidade anterior. É imprescindível a rapidez das

diligências, após a consumação do crime, para que o autor seja autuado em flagrante.32

Resta ao magistrado análise atenta aos fatos no sentido de perceber estar

ainda evidente a fumaça do bom direito, estar presente o calor do crime praticado, para

a homologação da prisão em flagrante, fazendo valer os princípios constitucionais.

2.4 FLAGRANTE PROVOCADO OU PREPARADO

Pertinente, para melhor conceituar tal modalidade, bem como as demais a

seguir, faz-se imprescindível analisar um conceito de conduta, que é formada pela

vontade do autor ou pela manifestação da vontade.

Quando for o autor induzido à prática de certo delito, resta caracterizado o

flagrante provocado ou preparado, tornando-se um flagrante nulo.

Aplicável neste caso é a Súmula n° 145 do Supremo Tribunal Federal:

Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível sua consumação.

Desta forma, preparado ou provocado o flagrante, mesmo não sendo

consumado pela atuação da polícia, é considerado por analogia de crime impossível.

Quando há por certa forma a provocação para a prática delituosa, não

resta evidente o dolo, a intenção de cometer o crime, qualificando uma conduta.

Para melhor esclarecer a modalidade de flagrante preparado ou

provocado, citamos:

32 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 79.

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No flagrante preparado desvirtua-se a atividade que tinha sido desenvolvida pelo infrator nos seus aspectos fundamentais de querer, exclusividade da ação e autenticidade dos fatos, no flagrante esperado, a atividade policial é apenas de alerta, sem instigar o mecanismo causal da infração; procura colhê-la ou frustá-la em sua consumação.33

Quando policiais instigam ao usuário de substâncias entorpecentes de

vendê-la, incorrendo no crime capitulado no artigo 12 da Lei 6368/75, sendo então

indiciado por tráfico ilícito de entorpecentes, crime hediondo, quando a sua conduta não

era a qual foi indiciado, tornando a o flagrante assim preparado ou provocado.

Não resta dúvida, de que não era a intenção do indiciado da prática de

tráfico ilícito de substâncias entorpecentes.

2.5 FLAGRANTE FORJADO

Diverge da modalidade anterior. Não é preparado ou provocado. Acontece

quando as prova argüidas para a efetivação da prisão em flagrante são forjadas, pela

própria polícia ou mesmo por particulares.

Acontece quando, por exemplo, um policial ao efetuar uma busca coloca

objeto ilícito em posse do suspeito para que seja autuado em flagrante.

Trata-se de um crime fabricado ocorrendo quando o agente não possuía o

objeto do crime e de forma artificial é colocado em seus pertences. Tornando-se um

flagrante sem validade.

Nesse sentido define Julio Fabbrini Mirabete:Salienta que, nesta hipótese, a polícia ou particulares criam falsas provas de um crime inexistente, colocando, por exemplo, no bolso de quem é revistado, substância entorpecente. Dependendo das circunstâncias de cada caso, haverá crime de concussão, abuso de autoridade etc. pelas que efetuaram a prisão ilegal.34

33 BUZAID, Alfredo; apud DELMANTO Junior, Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração. p. 111. 34 MIRABETE, Julio Fabbrini; apud DELMANTO Junior, Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração. p. 11/112.

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Cria o conceito de um crime impossível, de forma alguma poderia Ter sido

praticado pelo agente, incorrendo em crime quem proporcionou a fraude.

2.6 FLAGRANTE ESPERADO

No flagrante esperado pode ocorrer a consumação de delito, bem como a

tentativa, acontece quando a polícia esta na espreita, através de modalidades

investigativas, no sucesso de suas diligências, através de campana, interceptação

telefônica dentre outras, com o intuito de interceptar certo indivíduo que se sabe estar

com intenção de praticas delituosas. Fica eminente a conduta do agente, a intenção de

cometer tal ato.

Na prática de crime tentado, por óbvio, quando se tratar de um homicídio,

certamente a polícia interceptará o agente antes que se consume o crime, por isso

tentado, ou ainda quando da prática de um furto simples, podendo permitir a

consumação do crime, sem maior prejuízos para a vítima.

Passo a citar o conceito de Roberto Delmanto Junior acerca dessa

modalidade, com exemplos, mesmo sendo próximos aos supra citados:

Assim, no flagrante esperado é possível haver tanto a consumação do delito quarto a simples tentativa, dependendo da presteza e eficácia da atuação policial, ou seja, do sucesso de suas diligências, e do tipo de infração praticada (jamais se deixará consumar um homicídio, por exemplo; já em caso de tráfico, ao contrário, não haverá impedimento em aguardar-se a consumação).35

É notória as diversas atuações das polícias em interceptações de práticas

criminosas no momento em que está no calor do crime, ainda quando esta ardente o

delito, bem como antes de se consumar com o intuito de preservar a vida ou o

patrimônio alheio. Esse flagrante é indiscutivelmente válido.

Essa atuação das policias já é comum estando constantemente veiculadas

nos noticiários. Uma das principais ferramentas investigativas para que possa ser

35 DELMANTO, Roberto, Junior. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração. p.111

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realizada a prisão em flagrante, muitas vezes, o flagrante esperado, é a aplicabilidade

da Lei número 9.296, de 24 de julho de 1996, com interceptação telefônica.

2.7 FLAGRANTE DIFERIDO OU RETARDADO

Tem esta modalidade previsão na Lei número 9.034 de 3 de maio de

1995, que em sua ementa, “dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a

prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas”.

Essa lei define os meios de provas e os procedimentos investigatórios

acerca dos crimes praticados por quadrilha ou bando, de acordo com o enunciado em

seu artigo 1°.

Trata-se de uma ação controlada que consiste em retardar a interdição

policial nas investigações, mesmo quando diante de situação de flagrante, desde que

mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal, ou seja, a

intervenção, seja realizada em um momento mais eficaz para a melhor formação de

provas e a melhor coleta de informações probante acerca dos delitos, quadrilha ou

bando.

Portanto, a ação controlada é a prorrogação da prisão em flagrante de

acordo com interesses das investigações policiais. Sem o referido amparo jurídico era

impossível o retardamento da prisão em flagrante com fulcro no artigo 301 do CPP.

Destarte, em certas situações, poderá ser prorrogada, programada a

prisão em flagrante.36

A aplicação da referida Lei tornou possível, o combate ao crime

organizado, a elucidação das ações criminosas, identificação e principalmente a

produção de provas, abrangendo o poder, investigatório da polícia judiciária. Com a

aplicação da referida Lei, passou-se a ser decretadas diversas prisões provisórias

acerca dos crimes de corrupção, crimes hediondos, em fim, o crime organizado.

36 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 217/218.

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Referindo-se ao retardo da atuação policial para a melhor produção de

provas bem como o fornecimento de informações satisfatórias para também assegurar

a aplicação da lei penal.

Pode tal dispositivo ser usado para a preparação de flagrantes. Não se

trata de flagrante esperado, pois a polícia não aguarda para iniciar a consumação do

delito para que seja dada a voz de prisão, e sim, trata-se de flagrante diferido ou

prorrogado, pois pode atuar a polícia quando entender já ter obtido provas suficientes

do delito praticado, chegando ao suspeito e dando-lhe voz de prisão.

Poderá o agente de polícia ou de inteligência infiltrar-se na quadrilha ou

bando, para facilitar o controle e a observação das ações criminosas, mediante

autorização judicial, inciso IV, artigo 2° da Lei número 10.217/2001 e parágrafo único,

que define a autorização de forma estritamente sigilosa.

As investigações policiais podem levar mais de seis meses, como

acontece nas intervenções praticadas pela polícia federal nos casos de corrupção,

falsificação, tráfico de substâncias entorpecentes, desvios de dinheiro públicos etc.

Estamos sempre sendo noticiados de tais atuações como acontecido nas prisões de

grande repercussão, onde é imprescindível as produções de provas.

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3 FORMALIDADES DA LAVRATURA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Preso em flagrante será o conduzido apresentado a autoridade

competente para a lavratura do auto de prisão em flagrante.

O auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado no município ou comarca

em que foi efetivada tal prisão na presença da autoridade policial mais próxima.

Portanto, não se justifica que o auto de prisão em flagrante seja lavrado

em outro município ou comarca, ou ainda em distrito policial que não seja o mais

próximo do local da efetiva prisão, no caso da existência de mais delegacias em uma

mesma comarca, exceto quando não haja autoridade policial no lugar em que se

efetuou tal prisão.

Deverá então a autoridade policial iniciar o auto de prisão em flagrante

ouvindo o condutor após passará a ouvir as testemunhas e por fim interrogará o

acusado.

O auto deverá ser lavrado por escrivão, na sua falta será lavrado por

qualquer pessoa designada pela autoridade, depois de prestado o compromisso legal.

Quando da recusa do acusado em assinar o auto, não souber ou não

puder, será assinado por duas testemunhas que tenham lhe ouvido a leitura na

presença do acusado, condutor e das testemunhas.

Dentro de vinte e quatro horas depois da prisão, o preso passará o recibo

de nota de culpa. Na nota constará o motivo de sua prisão à assinatura da autoridade o

nome do condutor e os das testemunhas.

Como normatiza a Constituição Federal do 1988, após efetuada a prisão e

apresentado o acusado a autoridade policial, deverá ser comunicado imediatamente a

prisão para a família do acusado ou a qualquer pessoa por ele indicada.

Encerra-se o auto com a assinatura de todos que nele intervieram.

Quando encerrado a lavratura do auto de prisão em flagrante é que será,

como supra citado, remetido a comunicação ao juiz competente que ao receber a

comunicação deve se manifestar de acordo com a legalidade, ou seja, se não preenche

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os requisitos para a homologação da prisão, deverá relaxá-la, expedindo alvará de

soltura ou ainda conceder a liberdade provisória.37

3.1 AUTORIDADE COMPETENTE

Quando efetuada a prisão em flagrante deve ser o acusado apresentado à

autoridade competente para que seja procedida tal apuração.

Define o doutrinador Julio Fabbrini Mirabete: (...) a autoridade competente é a autoridade policial, no exercício de suas funções primordiais da polícia judiciária, que não exclui a competência de outra autoridade administrativa a quem, por lei, é cometida a mesma função (art. 4°, parágrafo único), (...).38

O artigo 4° do Código de Processo Penal estabelece que a polícia

judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas

circunscrições.

A nossa carta magna de 1988 em seu artigo 144, inciso IV, parágrafo 4°,

incumbe a polícia civil, dirigidas por delegados de polícia de carreira, as funções de

polícia judiciária e a apuração de infrações penais.

Portanto, se averigua que a autoridade policial refere-se ao delegado de

polícia de carreira, e a autoridade judiciária do juiz de direito. Desta forma, possui o

delegado de polícia de carreira, e não qualquer agente público, dentro das instituições

policiais, formação técnica e científica de classificar infrações penais.39

Define ainda Nestor Sampaio Penteado filho:(...) aquele que esta investido do poder de mando, que exerce coerção sobre pessoas e coisas, que dispõe do poder de polícia, isto é, que pode discricionariamente restringir certos bens jurídicos alheios ex.: ordenar prisões, buscas, apreensões, arbitrar fianças, “intimar” testemunhas, mandar identificar indiciados, etc, tudo nos casos

37 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 121/131. 38 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 374. 39 Cf. PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Conceito de Autoridade Policial na Lei n°° 9.099/95. Jus Navigandi, 2002.

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previstos em lei. Há funcionários que são sempre autoridade, isto é, cuja função precípua é a de exercer o poder de polícia ex.: os delegados. 40

Portanto, é a autoridade policial que exerce o múnus público o Delegado

de Polícia quem tem a função derivada do serviço público de forma delegada pelo

Estado. A execução de supervisionar, distribuir tarefas, dá ordens e de certa forma

exercer o desejo do Estado é inerente ao Delegado de Polícia.

Segue o conceito de autoridade policial segundo Ricardo Lemos Thomé: Autoridade policial, como Órgão do Estado: Apenas o Delegado de Polícia de carreira, quando, segundo a Constituição de 1988, dirige a Polícia Civil com funções de Polícia Judiciária. A Policia Civil encarna a finalidade do Estado quando possibilita a aplicação da sanção penal. Esta sanção penal só existe para demonstrar a presença do Estado nas relações sociais em desequilíbrio.41

Destarte, quando quebrada a harmonia, de qualquer forma, é dever da

força pública de agir, não apenas como finalidade e sim como meio de possibilitar a

sanção do Estado que será iniciada pela policia judiciária através do Delegado de

Polícia.42

3.2 CONDUTOR, TESTEMUNHA E VÍTIMA

Condutor é sempre aquele que leva o acusado a presença da autoridade

competente, é de certa forma a testemunha mais importante. Geralmente o condutor é

quem dá a voz de prisão, mas não é requisito obrigatório. Pode, no entanto quem

efetivou a prisão no local não puder comparecer a presença da autoridade policial e

entregando a um policial que configurará então como condutor. A denominação de

condutor nos traz a idéia de ser a pessoa que conduz o indiciado até a autoridade

policial. Não é sempre a pessoa que presenciou o crime mas poderá ser qualquer das

testemunhas.

40 PENTEADO Filho; Nestor Sampaio. Conceito de Autoridade Policial na Lei n°° 9.099/95. Jus Navigandi, 2002. 41 THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição a Prática de Polícia Judiciária, 1997. 42 Cf. THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição a Prática de Polícia Judiciária, 1997, p. 27/28.

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As testemunhas são as pessoas que assistiram a pratica delituosa em

qualquer fase do flagrante ou ainda em qualquer dos atos que possam ajudar na

convicção de produção de provas e que interessem à comprovação de autoria do delito,

a testemunha pode configurar também como condutor. Na ausência das testemunhas

deverão assinar o auto pelo menos duas testemunhas de apresentação do conduzido à

autoridade. 43

A vítima não prestará o compromisso legal de dizer a verdade, sempre

que possível à vítima será qualificada e ouvida nos autos, será perguntado acerca das

circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o autor do crime, e as provas que

possa indicar.

Apesar de que a vítima possa ser ouvida depois do acusado entende-se

doutrinariamente que melhor seria antes, para uma maior concisão probatória nos

autos.

Quando for reduzido o número de testemunhas ou ainda quando da falta

delas não impedirá a lavratura do auto de prisão em flagrante. Quando ocorrer a falta

das testemunhas prestará depoimento o condutor e junto com ele assinarão outras

duas testemunhas, que são as testemunhas de apresentação do conduzido à

autoridade policial.44

Com fulcro no artigo 216 do Código de Processo Penal, quando a

testemunha não souber assinar ou não puder, será tomado a rogo a assinatura de outra

pessoa que ouça a leitura do auto na presença da testemunha.

Quando houver a falta das testemunhas que presenciaram o delito, as

testemunhas de apresentação do conduzido a autoridade policial, deverão presenciar a

lavratura do auto. Deverá constar no auto as qualificações dessas testemunhas que ao

final irão assinar, caso contrário a prisão dever ser considerada ilegal.45

43 Cf. GRECO Filho, Vicente. Manual de Processo Penal, 1995, p. 239. 44 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 88. 45 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 89.

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3.3 INTERROGATÓRIO E QUALIFICAÇÃO DO CONDUZIDO

A qualificação do conduzido deverá se feita ao início da lavratura do auto

de prisão em flagrante ou quando do inicio de seu interrogatório para que se torne

conhecida a sua identificação. As declarações do conduzido são de importância não só

para as investigações policiais como também para sua defesa. O interrogatório tem

como objetivo o descobrimento da verdade, citamos o ensinamento do doutrinador

Tales Castelo Branco:

O interrogatório constitui uma garantia eficaz para a liberdade pessoal; não se trata duma simples formalidade, marcando, ao invés, um momento jurídico da maior importância, pelo que a sua observância é rigorosamente exigida, porquanto, em contato coma autoridade, passando-se à fase na qual a preocupação é o conhecimento da verdade; trata-se de uma indagação, em que se cuida da apurar se há, realmente, uma infração penal punível com pena restritiva da liberdade e se é o preso, presuntivamente, o seu autor.46

Portanto, com o intuito de buscar toda a verdade acerca dos fatos, existe

uma preocupação em saber se realmente é o acusado autor do delito e se há uma

infração penal punível com pena de restrição a liberdade individual.

Com a qualificação do acusado poderá ser nomeado intérprete quando for

necessário, com fulcros nos artigos, 192 e 193 do Código de Processo Penal.

No interrogatório do acusado, a autoridade policial deverá observar as

determinações conforme o interrogatório judicial à luz do artigo 6°, inciso V, do Código

de Processo Penal. Assegurando ao acusado liberdade para falar de forma espontânea

ou ainda se preferir o direito de permanecer calado ou reservar-se para falar em juízo

sem sofrer qualquer constrangimento. Normas regulamentadas pelos artigos 185 a 196

do Código de Processo Penal. O interrogatório deverá ser assinado por duas

testemunhas a quem lhes será lido, preceitua o artigo 6°, inciso V do CPP.

Quando da recusa do acusado de assinar o auto de prisão em flagrante,

não puder ou quando não souber, será da mesma forma para as testemunhas, ofendido

46 MASSANERO, Rel. Min. al Progetto. 1905; apud BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 102.

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ou condutor, ou seja: a lei exige que o auto seja assinado por duas testemunhas, que

lhe tenham ouvido a leitura na presença do acusado.

Segue o ensinamento de Tales Castelo Branco: O motivo por que o preso não assina deve ser comunicado às testemunhas suplementares e consignado no auto, sob pena de sua nulidade, visto que a sua assinatura é imprescindível e a sua falta há de ser suprida com a orientação imposta pela lei.47

Portanto, junto com a qualificação e assinatura das testemunhas deverá

constar nos autos o motivo pelo qual o preso não assina.

3.5 NOTA DE CULPA

A nota de culpa é a documentação oficial, documento dado ao preso até

vinte e quatro horas de sua prisão sob pena de ser considerado nula à prisão em

flagrante. Nela constará, resumidamente, o motivo de sua prisão indicando o nome do

condutor e das testemunhas. O preso passará recibo desse documento o qual será

assinado por duas testemunhas. No caso de não querer assinar, não puder ou não

souber, será assinado por duas testemunhas instrumentárias.

A nota de culpa deve conter certos requisitos:

1) preâmbulo, com menção da autoridade;

2) nome do conduzido e vítima (se possível);

3) a imputação (descrição breve do fato e tipificação da infração penal);

4) data e assinatura da autoridade;

5) data e recibo pelo conduzido, na 2° via.

Deverá ser lavrada em duas vias, sendo a 1° entregue ao conduzido e a

2° juntada aos autos.48

47 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 106. 48 Cf. GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito Procedimento Policial. p. 85.

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A entrega da nota de culpa sanciona as garantias constitucionais de

defesa visto que torna definido o motivo da prisão. Define ao preso o motivo de sua

prisão fornecendo elementos para propositura de sua defesa e sobre a legalidade da

prisão.

Quando não entregue a nota de culpa ao acusado constituem motivos

para sua soltura, tornando a prisão ilegal.49

3.6 HIPÓTESES DE FIANÇA ARBITRADA PELA AUTORIDADE POLICIAL

Fiança é uma opção que possui o réu de, mediante caução, defender-se

em liberdade da acusação que lhe é imposta. Essa liberdade esta regulamentada pelas

exigências do processo e da administração da justiça.

Na fase policial, não poderá ser mantido preso mediante ao pagamento de

fiança nos casos de infração punida com detenção ou prisão simples. Somente nestes

casos é quando a autoridade policial poderá lhe conceder liberdade provisória mediante

pagamento de fiança, nos demais casos a fiança será requerida ao juiz que decidirá em

quarenta e oito horas. Quando se recusar ou demorar a autoridade policial de conceder

a fiança, quando de sua competência, poderá o acusado prestá-la mediante petição

perante ao juízo competente que decidirá depois de ouvida a autoridade policial.50

Existe a possibilidade do preso livrar-se solto sem o pagamento de fiança

quando esta não puder ser prestada por motivo de pobreza, concedida pela autoridade

judiciária. Entende Tales Castelo Branco que não só a autoridade judiciária poderá

conceder a dispensa de pagamento, mas também à autoridade policial, citamos:

Embora a lei seja explícita, mencionando que o juiz é que poderá, em tais casos, conceder a liberdade provisória, parece humano e racional que se admita e extensão desse poder também ao delegado de polícia responsável pela autuação, interpretando-se o dispositivo legal em benignidade compatível com a sua própria essência.51

49 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 126. 50 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 165,170 e 171. 51 BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 172.

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Entende-se que a autoridade policial tem poderes para conceder a

liberdade provisória ao indiciado pobre, por analogia de poder conceder mediante a

garantia patrimonial.

Com fulcro nos artigos 327 e 328 do Código de Processo Penal, depois de

concedido a fiança e de Ter sido tomada a termo, ficará obrigado a comparecer perante

a autoridade todas as vezes que for intimado sob pena de Ter a fiança quebrada.

Também não poderá mudar de residência ou ausentar-se por mais de oito

horas sem a prévia comunicação a autoridade.

3.6.1 Liberdade provisória

Perante o Código de Processo Penal, será concedida a liberdade

provisória quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante as hipóteses de que

o agente praticou o fato e possui os requisitos do artigo 312 do CPP, isto posto, depois

de ouvido o Ministério Público, poderá conceder a liberdade provisória vez que o

acusado preste o compromisso de comparecer aos atos do processo sob pena de ser

revogada tal medida.

E ainda, o réu livrar-se-á solto nas hipóteses de infrações que não forem

isoladas, cumulativas ou alternativamente, cominada pena privativa de liberdade ou

ainda quando o máximo da pena privativa de liberdade, não exceder a 3 meses.

E quando a infração penal for crime de menor potencial ofensivo será

lavrado o pertinente Termo Circunstanciado como estabelece a Lei n. 9.099 de 26 de

setembro de 1995, artigo 69. Os crimes de menor potencial ofensivo são os definidos

pela Lei n. 10.259 de 12 julho do ando de 2001, artigo 2° parágrafo único, ou seja,

crime de pena máxima não superior a dois anos, ou multa. Destarte, lavrado o Termo

Circunstanciado o autor do fato será encaminhado ao juizado ou prestará o

compromisso de comparecer aos atos do processo. Assim sendo não se imporá prisão

em flagrante.

Veja prisão em flagrante nos crimes de menor potencial ofensivo página

54.

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56

3.7 APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA À AUTORIDADE POLICIAL

Quando da apresentação espontânea do acusado à autoridade policial

para o interrogatório não pode acarretar sua prisão em flagrante, exceto quanto à

existência da perseguição por parte da autoridade policial ou agentes, ofendido e por

qualquer do povo ou quando pesar contra o acusado mandado de prisão expedido pelo

poder judiciário.

Nesse sentido citamos Roberto Delmanto Junior: Não poderá ser preso em flagrante, porém, aquele que se apresenta espontaneamente à autoridade policial, a não ser que já esteja sendo perseguido pela vítima, agentes policiais ou qualquer pessoa do povo. 52

Este preceito rege que apresentado-se espontaneamente não há de ser

preso em flagrante mas, quando perseguido por qualquer do povo, pelo ofendido ou

pela autoridade policial e seus agentes mesmo apresentando-se não caracterizar-se-á

a espontaneidade, devendo ser autuado em flagrante.

Destarte citamos o entendimento de Renildo do Carmo Teixeira: Todavia, se após a prática do crime o acusado que se encontra perseguido, pela vítima, agentes da autoridade ou qualquer do povo, e, para fugir a uma prisão iminente se apresenta à autoridade policial deverá ser autuado em flagrante.53

Portanto, entende-se que quando for espontânea a apresentação do

acusado não deverá ser lavrado o auto de prisão em flagrante. Tornaria injusto o

tratamento igual da Lei tanto para aquele que se entrega espontaneamente quanto para

aquele que foge, dificultando a aplicação da lei penal. O que se apresenta acaba

facilitando as investigações criminais.

Averigua-se nos casos de apresentação a autoridade policial, a

instauração de inquérito policial por portaria. Deverá ser lavrado um termo de

apresentação espontânea no qual constara todas as circunstâncias, ou seja, procederá

então o interrogatório daquele que se apresenta, pois este fato produz efeitos jurídicos.

52 DELMANTO Junior; Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória e seu Prazo de Duração, p. 127. 53 TEIXEIRA, Renildo do Carmo. Da Prisão em Flagrante, p. 41.

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57

Não resta mais dúvidas acerca do autor do delito. Sempre que a apresentação for

espontânea não se deverá dar a prisão em flagrante.54

3.8 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES PERMANENTES

Crime permanente é aquele que sua consumação se prolonga no tempo

dependendo exclusivamente do agente.

Com relação ao crime permanente, o artigo 303 do Código de Processo

Penal estabelece que enquanto não cessar a permanência do delito poderá ser o

agente autuado em flagrante. Portanto, nessa modalidade de delito penal a

consumação se prolonga no tempo estando a qualquer modo o agente sujeito a prisão,

dessa maneira o preceito penal visa proteger a sociedade acerca dos delitos cometidos

podendo ser a qualquer tempo enquanto durar a permanência.

Podemos citar como exemplo os crimes: seqüestro art. 148 do CP;

extorsão mediante seqüestro art. 159 do CP e de receptação art. 180 do CP.

São hipóteses em que o crime está sendo cometido durante o tempo de

consumação.

Uma das principais características é de o agente poder cessar suas

atividades delituosas, havendo caso típico de flagrância, a consumação do crime é

contínua e permanente até cessar sua conduta, como também no porte ilegal de arma

de fogo, enquanto estiver portando estará sujeito à prisão em flagrante.55

Passamos a citar o entendimento de Ismar Estulano Garcia:Nos crimes permanentes, é possível a autuação em flagrante em qualquer momento em que ocorrer a prisão. Diz, textualmente, o art. 030 do Código de Processo Penal: Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência”. São exemplos ao crimes permanentes o seqüestro e o rapto violento. (CP, arts. 148 e 219).56

54 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 77. 55 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 370. 56 GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito Procedimento Policial. p.82.

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Portanto, os crimes permanentes estão sendo cometido durante a sua

consumação existe a permanência da tipicidade jurídica, como nos casos supra citados

podendo ser autuados em flagrante a qualquer momento.

Par melhor entender a situação de flagrância em crimes permanentes

passamos a exemplificar: Quando um indivíduo A seqüestra B na cidade de

Florianópolis/SC, no dia 01 de maio de 2005, e mantém restrita sua liberdade até o dia

30 de maio do mesmo ano, entende-se que durante esse período existe a possibilidade

de prisão em flagrante, possui o Estado de flagrância. A Lei não estipula um período

para a permanência então enquanto durar deverá ser preso em flagrante ou seja,

enquanto durar a permanência do crime.

3.9 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES HABITUAIS

Já os crimes habituais existem a necessidade de uma pluralidade de

ações. É necessário nessa prática delituosa que as ações se repitam, não podendo ser

comprovada a habitualidade não será possível comprovar a materialização para a

prisão em flagrante.57

Citamos como exemplo de crime habitual a pratica de curandeirismo (art.

284 do CP), visa a pretensão de lucro.

Pode-se dizer que o crime habitual é uma reiteração de conduta

reprovável perante o ordenamento jurídico, de forma que constitui um hábito de vida,

temos como exemplo de crime habitual à pessoa que exerce ilegalmente a medicina

quando se encontra atendendo vários pacientes.58

O crime habitual, no entanto não se confunde como o crime permanente

ou contínuo, há a necessidade das múltiplas ações e que cada uma delas caracterizem

crime.

57 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 72. 58 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 370.

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As ações isoladas para a consumação de determinado delito, conduta do

autor, não constituem crime o qual se registra somente com a sua reiteração. Não é

possível configurar-se em flagrante delito quando surpreendido na prática de uma ação

isolada de crime habitual, quando não se pode dizer está ele cometendo uma prática de

ilícito penal.

Portanto é necessário que as ações se repitam, não é possível comprovar

a materialidade da prisão em flagrante enquanto não restar comprovada a habitualidade

em relação ao entendimento de Tales Castelo Branco e ainda acerca da possível

autuação “o ponto de partida para uma solução feliz será sempre (...), a consideração, o

estudo da lei, pois só eles podem revelar se o crime é permanente ou não, habitual ou

não etc”.59

Verifica-se, portanto ser a prisão em flagrante cabível nos crimes habituais

com a função de fazer cessar uma prática delituosa. Sendo assim o interesse do poder

público de prevenir o crime atendendo a uma necessidade social.

3.10 FLAGRANTE NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA E PENAL PÚBLICA

CONDICIONADA

Nos crimes de ação penal privada e pública condicionada ou até mesmo

das contravenções penais a reação da sociedade no intuito de reprimir tais práticas,

será a de imediatamente acionar as instituições policiais. Mesmo nos casos

particulares, ou ações de cunho privado, prevalece, no entanto o interesse público aos

interesses privados.

Nessas atuações não cabe a autoridade policial desencadear de ofício tal

apuração surgindo então a dúvida se a prisão em flagrante em tais práticas ilícitas

podem ser efetivadas sem a autorização da vítima ou de representante legal.

No entanto, existem antagonismos que precisam ser acalmados com o

encontro da solução ideal. Enquanto os atentados não despertem a malsinada

59 Cf. TORNAGHI, Hélio; apud BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante, p. 72.

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curiosidade da sociedade e da imprensa a questão não apresenta ainda grande

relevância.

E nos casos que possibilitam a repercussão, despertem o escândalo, o

que ocorre principalmente nos casos de crimes contra a liberdade sexual passam a ter

conotações sérias.

Destarte, a própria vítima não quer que os efeitos, que podem ser

momentâneos ou até futuros, a que não convém por diversas situações como, idade,

sexo, condições psicológicas, as solenidades entre outros e o constrangimento do

inquérito policial bem como a ação penal, com os seus interrogatórios, acareações,

reconhecimentos, testemunhos etc., muitas vezes de seu próprio interesse que a dor

moral e a sensação de injustiças lhe causem, convém silenciar. E ainda conclui que a

reação social não raciocina, não avalia a questão da moralidade e ainda mais do que

proteger a vítima procura punir o acusado. Nessas situações todos se colocam a

disposição dos familiares do ofendido e são comuns os espancamentos antes da prisão

com certa indignação numa solidariedade de acalmar cegamente.

Toda via que efetuada a captura essa não será mantida quando a

autoridade policial apurar que o ofendido ou representante legal não pretende tomar a

iniciativa de representar contra o acusado.

Portanto, nos crimes de ação penal privada ou de ação pública

condicionada, para a instauração de inquérito policial bem como a lavratura do auto de

prisão em flagrante é imprescindível constar à manifestação de vontade do ofendido ou

de seu representante legal de processar o acusado.60

Pode ocorrer, no entanto, acerca dos fatos delituosos, dúvidas sobre a

qualificação do ilícito penal. Quando verificada e não se tratar de crime de ação penal

pública incondicionada deverá a autoridade policial relaxá-la.61

Define-se que nos crimes capitulados à intenção da vítima ou seu

representante legal de representar, também é o ensinamento de Julio Fabbrini

Mirabete:

60 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da Prisão em Flagrante. p. 63/64. 61 Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, p. 88.

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(...), nada impede que a captura ocorra nos crimes que apuram mediante ação penal pública dependente de representação ou de ação privada. (...), capturada o autor da infração penal que se apure por essas espécies de ação, deve ser ouvida a vítima ou seu representante legal para que ofereça a representação ou manifeste o desejo de oferecer queixa oportunamente.62

Assim sendo, quando preso em flagrante delito deverá a vítima ou seu

representante legal Manifestar seu interesse de representar o acusado. Essa

representação deverá acontecer dentro do prazo de vinte e quatro horas, que é prazo

para a expedição de nota de culpa ao preso no caso da lavratura do auto de prisão em

flagrante.

Portanto, depois de efetivada a prisão em flagrante deverá tomar a

autoridade policial à cautela de antes de iniciar a lavratura do auto, tomar a termo a

manifestação da vontade do ofendido ou de seu representante legal em suas

declarações.

3.11 PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

A Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, em seu artigo 61, definia como

infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a

que a lei comine pena máxima não superior há um ano, exceto os que a Lei prevê

procedimento especial.

Com o advento da Lei n. 10.259, de 12 de julho do ano de 2001 em seu

artigo 2° parágrafo único, as infrações penais de menor potencial ofensivo passaram a

ser as contravenções penais e os crimes em que a pena máxima não pudesse

ultrapassar a dois anos, ou multa, tendo assim um elastério no requisito de pena

máxima e abrangendo mais crimes e contravenções penais.

O Código de Processo Penal não refere-se ao crime e aos de menor

potencial ofensivo, os crimes de contravenção. A possibilidade de flagrante nos crimes

de contravenção ou prisão em flagrante contravenção.

62 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 371.

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62

Com fundamento na Lei 9099, de 26 de setembro de 1995, em seu artigo

69:

A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ao assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, coo medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.63

Destarte, quando alguém for flagrado cometendo uma infração será preso

e conduzido até a delegacia de polícia. Neste ato, não será autuado em prisão em

flagrante e sim será lavrado o Termo Circunstanciado que será pré-cedido de boletim

de ocorrência.

No Termo Circunstanciado conterá o nome do autor, das testemunhas se

houver, local e hora dos fatos, assinatura de todos que nele intervieram o qual será

encaminhado ao juizado especial criminal, ou seja, quando encaminhado

imediatamente ao juizado especial criminal ou assinar o termo de comparecimento será

dispensada a prisão em flagrante e da fiança.

Segundo Tales Castelo Branco64, o Termo Circunstanciado é um boletim

de ocorrência mais informativo e pormenorizado. Se necessário providenciará a

autoridade policial as requisições dos exames periciais necessários.

O Termo Circunstanciado será lavrado dentro do princípio adotado pela

própria legislação, singularidade e celeridade. A rapidez com que o caso é apresentado

a autoridade policial a mesma que será encaminhada ao juizado especial criminal. O

Termo Circunstanciado é considerado como uma formalíssima comunicação da

infração, realizações de diligências probatórias formais, e com a certeza de que o autor

comparecerá ao juizado especial criminal.65

63 Lei 9.099/95, artigo 69 e parágrafo único. 64 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da prisão em Flagrante, p. 219 65 Cf. THOMÉ; Ricardo Lemos. Contribuição a Prática de Polícia Judiciária, 1997, p. 70/71.

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63

O juizado especial criminal tem a competência para as conciliações,

julgamento e execução das infrações de menor potencial ofensivo.66

O referido processo é submisso ao princípio da oralidade, informalidade,

economia processual e celeridade.67

O compromisso de comparecer ao juizado especial deve ser expresso e

juntado aos autos, esse direito é subjetivo ao agente não podendo ser negado pela

autoridade policial. Caso o agente descumpra o compromisso de comparecer aos atos

do juizado especial criminal, arcará com as conseqüências, passará a responder o

processo à revelia e ainda poderá ser decretada a sua prisão preventiva desde que

presentes os requisitos.68

Portanto, o Termo Circunstanciado é um substitutivo do auto de prisão em

flagrante nas hipóteses de infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o

acusado for imediatamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal ou assumir o

compromisso de comparecimento em data futura.

3.12 ESPÉCIES DE IMUNIDADES NA PRISÃO EM FLAGRANTE

O Presidente da República, como estabelece o artigo 86, parágrafo 3°, da

CF, não estará sujeito à prisão.

Em nosso direito processual penal existem as seguintes possibilidades de

imunidade à prisão em flagrante: 3.12.1 diplomáticas; 3.12.2 parlamentares.

3.12.1 Diplomáticas

66 Cf. Art. 60 da Lei n. 9099/95 67 Cf. Art. 62 da Lei n. 9099/95 68 Cf. BRANCO, Tales Castelo. Da prisão em Flagrante, p. 220.

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Os chefes de Estado, os Ministros Plenipotenciários, os Embaixadores,

estarão protegidos perante o Código de Processo Penal. Os representantes dos

Estados estrangeiros serão tratados como se estivessem em seus próprios países,

caso ocorrer fato a ser apurado deverá ser comunicado às autoridades competentes.

Essa imunidade se estende ainda para os familiares bem como ao pessoal técnico e

administrativo e também para os funcionários internacionais. Os diplomatas

estrangeiros em decorrência dos tratados e convenções internacionais são as hipóteses

do artigo 1°, inciso I, do Código de Processo Penal brasileiro.

3.12. 2 Imunidades parlamentares

Perante a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 53, parágrafo 3°,

somente nos crimes inafiançáveis é que os deputados e senadores serão presos em

flagrante e os autos serão remetidos no prazo de vinte e quatro horas para à Casa

respectiva que decidirá se autoriza ou não a prisão. Imunidade material ou absoluta,

quando praticado durante o mandato e a imunidade material ou relativa, à

impossibilidade de prender em crimes afiançáveis.

Os mesmos benefícios serão aplicados também aos deputados estaduais.

Os vereadores gozam apenas da imunidade material ou absoluta, quando

o crime for cometido dentro do município ou no exercício do mandato. perante a

Constituição de 1988.

Não poderão ainda ser sujeito passivo da prisão em flagrante o menor de

18 anos. Os magistrados só poderão ser presos quando se tratar de crimes

inafiançáveis (art. 33, II, da LOMN), da mesma forma os membros do Ministério Público

(art. 20, III, da LONMP). Também não poderão ser autuados em flagrante quem socorre

vítima de acidente de trânsito (Código de Trânsito). 69

69 Cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, p. 373.

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CONCLUSÃO

Com lastro nas observações assinaladas, cumpre ressaltar que prisão no

ordenamento penal tanto quanto no processual penal é a privação da liberdade

individual de ir e vir. Quando é sem condenação definida trata-se de prisão provisória

ou cautelar, que são justificadas por suas necessidades.

Podemos concluir que em nosso ordenamento jurídico penal temos cinco

modalidades de prisões provisórias ou de cunhos cautelares.

A prisão temporária é instituída pela Lei 7960/89, visa instruir o inquérito

policial, deve ser imprescindível para as investigações policiais, pode ser decretada

também quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos

necessários para sua identificação. Poderá ser decretada ainda quando houver o

indiciado indícios de autoria nos crimes hediondos. Tem um lapso temporal limitado que

é de 5 dias podendo ser prorrogado por igual tempo, já nos casos dos crimes

hediondos é de 30 dias podendo ser prorrogada por igual prazo. Deverá ser

representada pela autoridade policial ou a requerimento do ministério público e

decretada pelo juiz competente.

A prisão preventiva é medida cabível e decretada pela autoridade

judiciária em qualquer fase do inquérito policial ou da ação penal antes de transitar em

julgado. Poderá ser decretada, também, de ofício pelo juiz mediante representação da

autoridade policial do representante do ministério público ou do querelante. Só poderá

ser decretada quando houver indícios de autoria e prova da existência do crime.

Prisão decorrente da decisão de pronúncia é a medida processual a ser

decretada exclusivamente nos casos apreciados pelo Tribunal do Júri, ou seja, nos

crimes dolosos, consumados ou tentados, contra a vida ou conexos.

A prisão decorrente de sentença penal condenatória recorrível tem como

pressuposto para o recurso, recolhimento do réu a prisão. Dar-se-á quando condenado

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por delito em que a pena se restringe a privativa de liberdade cumprida no regime

fechado.

A prisão em flagrante é a prevista nos artigos 301 a 310 do Código de

Processo Penal, é uma prisão cautelar, uma medida acautelatória que dispensa a

ordem escrita, prevista na Carta Magna de 1988 em seu artigo 5°, inciso LXI.

São hipóteses de prisão em flagrante: flagrante próprio ou verdadeiro,

previsto no art. 302, incisos I e II do CPP; flagrante impróprio ou quase-flagrante

previsto no art. 302, inciso III do CPP; flagrante presumido ou ficto previsto no art. 302,

inciso IV do CPP e flagrante diferido ou retardado previsto na Lei 9.034/95.

São as classificações de flagrantes: o flagrante provocado ou preparado;

flagrante esperado e flagrante forjado.

Só será justificada a permanência do indiciado preso para assegurar a

aplicação da lei penal, visa assegurar o resultado final do processo, ou ainda para

assegurar a ordem pública evitando prováveis danos que o acusado solto poderá

causar.

Preso em flagrante será apresentado à autoridade policial mais próxima

do local em que se deu a prisão, será comunicado à família do conduzido ou quem ele

indicar os fatos de sua prisão, em seguida será lavrado o competente auto de prisão em

flagrante.

A autoridade competente para a lavratura do auto de prisão em flagrante é

a autoridade judiciária e a autoridade policial. Autoridade judiciária é o juiz de direito e a

autoridade policial trata-se do Delegado de Polícia de carreira.

Com relação ao crime permanente, enquanto não cessar a permanência

poderá ser o agente preso em flagrante.

Nos crimes habituais para efetuar a prisão em flagrante será necessária à

pluralidade das ações, há necessidade de que as ações se repitam, ou seja, se torne

um hábito para o autor dos delitos.

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Já nos casos de infrações penais de menor potencial ofensivo será

lavrado o termo circunstanciado e quando prestar o acusado compromisso de

comparecer aos atos do processo não se imporá prisão em flagrante.

O presente trabalho não tem por objetivo limitar a discussão acerca do

tema abordado, mas sim dar sua parcela de contribuição àqueles que vierem pesquisar,

estudar e debater esse assunto que se encontra sempre presente em concursos

públicos.

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