as doenÇas de veiculaÇÃo hÍdrica: um risco evidente · qualidade da água e a deficiências na...

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AS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA: UM RISCO EVIDENTE Patrícia Silva Costa Duarte 1 CAPES: PIBID / UNIUBE Ricardo Baratella 2 UNIUBE Aléxia Salim Paiva 3 CAPES: PIBID / UNIUBE Resumo A água é indispensável à manutenção da vida, mas ao analisarmos as condições para a sobrevivência dos seres vivos em qualquer ambiente, devemos considerar a qualidade dos reservatórios hídricos. Em relação à população humana, estima-se que 25 milhões de pessoas morrem anualmente devido a doenças transmitidas por água contaminada. Vírus, bactérias, protozoários e vermes parasitas estão entre os organismos patogênicos que provocam diversas moléstias ao ser humano. Esse fato, atrelado a polêmicas discussões sobre a percepção ambiental e a qualidade da água, motivou-nos a realizar esta pesquisa. O objetivo desse estudo foi identificar e analisar as representações dos sujeitos, em relação ao impacto que o consumo de água contaminada pode provocar na saúde da espécie humana. Os sujeitos dessa pesquisa foram 820 alunos do município de Uberaba, sendo que 95% possuem uma faixa etária entre 10 a 21 anos e 92% correspondem à discentes que estão matriculados regularmente na Educação Básica. A investigação envolveu pesquisa bibliográfica abordando dois temas: características e o abastecimento da água e características e saúde da família; e pesquisa de campo com a coleta dos dados que se realizou, primeiramente em 2014, e terminou no primeiro semestre de 2015, a qual incluiu a aplicação de um questionário. As análises, de caráter descritivo, compreenderam também o cálculo de medidas estatísticas em situações que fossem possíveis. Concluindo, podemos dizer que, para a maioria dos entrevistados, a diarreia (88,90%); verminoses ou parasitoses (83,78%) são as doenças mais recorrentes em caso de consumo de água de má qualidade. Palavras-chave: Água contaminada. Saúde. Doenças. 1 Graduanda em Licenciatura no curso de Ciências Biológicas. Bolsista da CAPES: PIBID / UNIUBE: Subprojeto Interdisciplinar Recantos de Minas: a percepção ambiental dialogada por meio da Arte. 2 Licenciado em Ciências Biológicas. Licenciado em Pedagogia. Mestre em Educação. Especialista em Biologia evolutiva. Especialista em Educação a Distância. Especialista em Gestão escolar. Especialista em Docência do Ensino Superior. Gestor do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - UNIUBE. Coordenador de área da CAPES: PIBID / UNIUBE: Subprojeto Interdisciplinar. 3 Licenciada em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil. Supervisora de área da CAPES: PIBID / UNIUBE: Subprojeto Interdisciplinar Recantos de Minas: a percepção ambiental dialogada por meio da Arte. Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental II na Escola Municipal Santa Maria, Uberaba MG.

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AS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA: UM RISCO EVIDENTE

Patrícia Silva Costa Duarte 1 CAPES: PIBID / UNIUBE

Ricardo Baratella 2

UNIUBE

Aléxia Salim Paiva3

CAPES: PIBID / UNIUBE

Resumo

A água é indispensável à manutenção da vida, mas ao analisarmos as condições para a

sobrevivência dos seres vivos em qualquer ambiente, devemos considerar a qualidade dos

reservatórios hídricos. Em relação à população humana, estima-se que 25 milhões de

pessoas morrem anualmente devido a doenças transmitidas por água contaminada. Vírus,

bactérias, protozoários e vermes parasitas estão entre os organismos patogênicos que

provocam diversas moléstias ao ser humano. Esse fato, atrelado a polêmicas discussões

sobre a percepção ambiental e a qualidade da água, motivou-nos a realizar esta pesquisa.

O objetivo desse estudo foi identificar e analisar as representações dos sujeitos, em

relação ao impacto que o consumo de água contaminada pode provocar na saúde da

espécie humana. Os sujeitos dessa pesquisa foram 820 alunos do município de Uberaba,

sendo que 95% possuem uma faixa etária entre 10 a 21 anos e 92% correspondem à

discentes que estão matriculados regularmente na Educação Básica. A investigação

envolveu pesquisa bibliográfica abordando dois temas: características e o abastecimento

da água e características e saúde da família; e pesquisa de campo com a coleta dos dados

que se realizou, primeiramente em 2014, e terminou no primeiro semestre de 2015, a qual

incluiu a aplicação de um questionário. As análises, de caráter descritivo, compreenderam

também o cálculo de medidas estatísticas em situações que fossem possíveis. Concluindo,

podemos dizer que, para a maioria dos entrevistados, a diarreia (88,90%); verminoses ou

parasitoses (83,78%) são as doenças mais recorrentes em caso de consumo de água de má

qualidade.

Palavras-chave: Água contaminada. Saúde. Doenças.

1 Graduanda em Licenciatura no curso de Ciências Biológicas. Bolsista da CAPES: PIBID / UNIUBE:

Subprojeto Interdisciplinar – Recantos de Minas: a percepção ambiental dialogada por meio da Arte. 2 Licenciado em Ciências Biológicas. Licenciado em Pedagogia. Mestre em Educação. Especialista em

Biologia evolutiva. Especialista em Educação a Distância. Especialista em Gestão escolar. Especialista em

Docência do Ensino Superior. Gestor do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - UNIUBE.

Coordenador de área da CAPES: PIBID / UNIUBE: Subprojeto Interdisciplinar. 3 Licenciada em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil. Supervisora de área da CAPES: PIBID /

UNIUBE: Subprojeto Interdisciplinar – Recantos de Minas: a percepção ambiental dialogada por meio da

Arte. Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental II na Escola Municipal Santa Maria, Uberaba –

MG.

Introdução

A população mundial está em constante crescimento e rápido desenvolvimento,

aumentando vertiginosamente o consumo de água. Paralelamente, há o crescimento na

eliminação de dejetos, se fazendo assim necessário um sistema de saneamento básico

eficiente. Em planos de pré-desenvolvimento e acompanhamento pós-desenvolvimento,

a incorporação do impacto na saúde é falha, sendo poucos os estudos em que a saúde é

vista como um componente importante. (ZIMMERMAN, 2001).

Ao ter acesso ao tratamento de água e esgoto, a população tem a oportunidade de

extinguir ou pelo menos minimizar os efeitos de uma possível contaminação por agentes

patogênicos, em que o veículo transmissor seja a água.

Segundo Razzolini (2008), benefícios como o aumento da expectativa de vida e

produtividade econômica, hábitos higiênicos, controle e prevenção de doenças, são

resultados de acesso a condições adequadas de abastecimento. No entanto, para que seja

este o cenário, é de extrema importância a consciência de que o consumo de água

contaminada pode trazer consequências graves à saúde, podendo em algumas situações

levar à morte daqueles que, por uma série de outras razões, estão mais suscetíveis às

doenças.

Estima-se que cerca de 10 % da carga global de doenças seja devida à má

qualidade da água e a deficiências na disposição de excretas e na higiene. (PRÜSS-

USTIN et al. 2008).

Quase 90 % dos cerca de 4 (quatro) bilhões de episódios anuais de diarreia, em

todo o mundo, (que causam 1,5 milhões de mortes em menores de cinco anos) são

atribuídos a deficiências no esgotamento sanitário e na provisão de água de boa qualidade.

Por outro lado, sabe-se que até 94 % dos casos de diarreia são passíveis de prevenção.

(WHO / UNICEF, 2006).

Na avaliação do atendimento populacional pelos serviços de abastecimento de

água e esgotamento sanitário é necessário destacar as assimetrias com que ocorre. Estas

podem ser verificadas segundo várias dimensões. Além da desigualdade de acesso estar

associada ao local de moradia, se urbano ou rural, ela apresenta também uma relação

surpreendentemente não clara com a renda, qual seja: os mais pobres são os mais

excluídos. (REZENDE, 2005).

A água pode veicular um elevado número de enfermidades e essa transmissão

pode se dar por diferentes mecanismos. O mecanismo de transmissão de doenças mais

comumente lembrado e diretamente relacionado à qualidade da água é o da ingestão, por

meio do qual um indivíduo sadio ingere água que contenha componente nocivo à saúde e

a presença desse componente no organismo humano provoca o aparecimento de doença.

(BRASIL, 2006).

No Brasil, os potenciais de água doce são extremamente favoráveis para os

diversos usos; no entanto, as características de recurso natural renovável, em várias

regiões do país, têm sido drasticamente afetadas. Os processos de urbanização, de

industrialização e de produção agrícola não têm levado em conta a capacidade de suporte

dos ecossistemas (REBOUÇAS, 1997). Para este autor, [...] Este quadro está

sensivelmente associado ao lançamento - deliberado ou não - de mais de 90% dos esgotos

domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais não tratados, o que tem gerado a

poluição dos corpos de água doce de superfície em níveis nunca antes imaginados.

(REBOUÇAS, 1997, p. 6).

Segundo o relatório da Conferência Pan-Americana de Saúde e Ambiente

Humano Sustentável (Copasad), atualmente cerca de 30% da população brasileira

abastece-se de água proveniente de fontes inseguras, sendo que boa parte daqueles

atendidos por rede pública nem sempre recebe água com qualidade adequada e em

quantidade suficiente. (COPASAD, 1996).

O fenômeno da contaminação consiste na introdução de substâncias que provocam

alterações prejudiciais ao uso do ambiente aquático, caracterizando assim Vigilância e

controle da qualidade da água para consumo humano. Os agentes contaminantes de maior

importância são a matéria orgânica, os organismos patogênicos, os compostos

organossintéticos e os metais pesados. A contaminação por matéria orgânica tem sua

principal origem nos esgotos domésticos e nas águas residuárias de indústrias que

processam matéria orgânica, a exemplo de indústrias de alimentos, laticínios, matadouros,

frigoríficos, cervejarias, etc. (BRASIL, 2006).

Para Brasil (2006), a concentração de matéria orgânica é mais convenientemente

expressa por meio da:

DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). O lançamento, em corpos d’água,

de esgotos que contenham uma elevada DBO provoca um forte crescimento de

bactérias cuja função é estabilizar ou decompor essa matéria orgânica. Esse

processo inicia-se com a atuação das bactérias aeróbias, que necessitam

respirar o oxigênio dissolvido na água para sua sobrevivência. Quanto maior a

quantidade de matéria orgânica, maior será o crescimento das bactérias e mais

intensa sua atividade decompositora, podendo levar a graves reduções na

massa de oxigênio dissolvido no corpo d’água ou até mesmo ao seu

desaparecimento (condição de anaerobiose).

Desenvolvimento

Em um primeiro momento, convidamos alguns estudantes a realizar uma “viagem

imaginária” para descobrir o que ocorre com a água em todos os seus processos. Dessa

forma, começamos as reflexões: “… a água que chega à nossa casa, na cidade,

geralmente é trazida por uma empresa, responsável por captá-la na natureza, tratá-la e

transportá-la até o consumidor. Essa empresa também deve recolher a água usada que

sai de residências e outros lugares. Tais águas são denominadas águas servidas e

constituem o esgoto. Todos esses serviços são cobrados do consumidor e fazem parte do

que chamamos de saneamento básico de uma cidade. Todo esgoto produzido, por sua

vez, deveria receber tratamento, para que a água pudesse ser novamente despejada em

rios e mares, limpa. Infelizmente, porém, apenas uma pequena parcela do esgoto é

tratada antes de voltar para a natureza…”.

Após essas primeiras reflexões, em um segundo momento, a partir de

questionamentos elucidados pelos (as) bolsistas do PIBID: Subprojeto Interdisciplinar,

verificamos as percepções, os anseios, as ressalvas e a criticidade dos alunos.

Para dar continuidade à temática em estudo, entregamos a cada um dos educandos,

um texto que nossa equipe elaborou, intitulado: Doenças transmitidas pela água

contaminada. Após as explicações e contextualizações do texto, aproveitamos esse

período de socializações, diálogos, reflexões e registros, para principiarmos a terceira

etapa desse Projeto, que era aplicar um Questionário aos alunos. Aclaramos que os

discentes apresentam distintas condições socioeconômicas, históricas e culturais,

variáveis faixas etárias e grau de instrução, garantindo assim uma amostragem variante e

extensa, de cidadãos (820 sujeitos) do município de Uberaba.

Ancoramos nesta pesquisa, principalmente os questionamentos que se referiam às

enfermidades e abastecimento de água, com o interesse de compreender o quanto o

consumo de água contaminada pode impactar na saúde das pessoas.

Na maior parte das questões, os entrevistados exibiam total liberdade para indicar

mais de uma alternativa, caso assim fosse de seu entendimento. As análises dessas

entrevistas ocorreram nos anos de 2014 e 2015, constituíram um caráter descritivo e

abarcaram o cálculo de medidas estatísticas em conjunturas que fossem possíveis.

Na intenção de investigar as características de abastecimento de água, os

entrevistados nesta pesquisa, foram questionados quanto ao acesso à água encanada e

constatamos que 778 sujeitos (94,88%) tem essa disponibilidade do recurso hídrico,

enquanto que 42 sujeitos (5,12%) não possuem água encanada.

Quando foram interrogados sobre a conservação da água dentro das residências

(cf. Gráfico 1), 611 sujeitos (74,51%) assinalaram a caixa d’água com tampa como sendo

o principal meio de armazenamento. Já 20,37% (167 sujeitos) não explicitaram qual

forma utiliza, 3,66% (30 sujeitos) indicaram a cisterna, 1,22% (10 sujeitos) admitiram

armazenar água em lata com tampa e 0,36% (03 sujeitos) definiram o tonel de barro como

forma de armazenamento. Lembrando que para tal questionamento cada entrevistado

poderia nomear mais de uma opção. Sendo assim, fica evidente que o maior percentual

está de concordata com o acreditado para uma comunidade urbana que possui estação de

tratamento de água e esgoto.

Para Silva, Heller e Carneiro (2012) há uma necessidade eminente de que se

aborde em programas educativos, o tratamento domiciliar da água, não só para quem se

utiliza de cisternas, mas para todos que fazem uso de fontes alternativas de abastecimento.

Ao analisar essas problemáticas, observamos que a Dengue é uma das

enfermidades epidêmicas da atualidade, sendo as caixas d’água, utilizadas como

reservatório em residências, um dos principais criadouros do mosquito transmissor.

Pequenas aberturas entre a caixa e sua tampa facilitam a entrada destes insetos que

necessitam de água durante seu ciclo inicial de vida. Um estudo feito por Marques (2013)

mostrou que fêmeas do Aedes aegypti preferem depositar seus ovos em caixas d’água

onde a quantidade de nitrogênio amoniacal está em quantidade elevada. Quando em alta

concentração, o nitrogênio amoniacal é considerado um indicador de poluição tornando

a água não tão potável quanto deveria, fato que já seria motivo para não haver o consumo

de água diretamente da torneira. Analisando o motivo de tal contaminação pode-se chegar

a várias possibilidades e talvez a mais comum seja a deficiência na limpeza de caixas

d’água que deveriam ser realizadas a cada seis meses.

GRÁFICO 1 - ARMAZENAMENTO DA ÁGUA NO DOMICÍLIO

Silva, Heller e Carneiro (2012) esclarecem que embora haja o reconhecimento de

que água de qualidade e em quantidade suficiente se faz necessária ao consumo humano

a fim de se evitar doenças, há uma discrepância em relação ao seu acesso. Inclusive

Hespanhol (2008) afirma que os sistemas de tratamento de água utilizados no Brasil não

são suficientes para eliminar todos os resíduos industriais oriundos de ação antrópica.

CISTERNA

3,66%

LATA COM

TAMPA

1,22%TONEL

DE

BARRO

0,36%

CAIXA D'ÁGUA

COM TAMPA

74,51%

OUTRAS

FORMAS

20,37%

Com relação a outros dados da pesquisa (cf. Gráfico 2), o próximo questionamento

pretende classificar a qualidade da água que chega às casas dos sujeitos entrevistados:

710 sujeitos, a classifica como sendo de boa qualidade representando um percentual de

86,58%, e 59 sujeitos acreditam que seja de má qualidade, perfazendo um percentual de

7,19%.

Considerando as características básicas que determinam a água como uma

substância insípida, inodora e incolor (VIDE Gráfico 2), do total de entrevistados, 2,80%

(23 sujeitos) revelaram que a água tem um gosto bom e 2,07% (17 sujeitos) a consideram

com gosto ruim. Quanto ao cheiro, 86,1% (706 sujeitos) não perceberam odor ao ingeri-

la, enquanto que 2,32% (19 sujeitos) sentem algum tipo de cheiro. Já em relação a cor,

85,85% (704 sujeitos) a percebem como sendo incolor e somente 1,83% (15 sujeitos)

notaram algum tipo de coloração.

GRÁFICO 2 - PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA

BOA

QUALIDADE

86,58%

MÁ QUALIDADE

7,19%

GOSTO BOM

2,80%

GOSTO RUIM

2,07%

SEM CHEIRO

86,10%

COM CHEIRO

2,32%

INCOLOR

85,85%

COM COR

1,83%

Em relação a água disponível nas residências (cf. Gráfico 3), 286 sujeitos

(34,88%), a filtram antes do consumo; 197 sujeitos (24,02%) aproveitam esse recurso

hídrico, conforme o estado que chegam aos domicílios; 167 sujeitos (20,37%) compram

água tratada; 128 sujeitos (15,61%) fervem a água antes de beber; e 42 sujeitos (5,12%)

não responderam ao questionamento.

GRÁFICO 3 – FORMA DE CONSUMO DA ÁGUA NO DOMICÍLIO

Um estudo realizado com quatro amostras de água mineral envasadas, de marcas

variadas constatou-se que 25% estavam contaminadas com coliformes fecais e 20,4% das

amostras apresentavam a bactéria Escherichia coli (SANT’ANA, 2003). Esse fato

representa um grande risco aos consumidores, uma vez que, embora estas bactérias vivam

em simbiose com animais de sangue quente e não traga nenhum prejuízo ao trato

digestório, quando presentes em alimentos ou bebidas se tornam prejudiciais, trazendo

desde leves desconfortos gastrointestinais até casos que podem levar a óbito.

Soares (2002) considera as doenças provocadas pela falta de saneamento básico

como sendo grandes ameaças à saúde das crianças. Razzolini (2008), aponta os indivíduos

com sistema imunológico comprometido, por desnutrição ou pelo fato de ainda não se

ESTADO

EM QUE

CHEGA

FERVIDA FILTRADA COMPRADA

NÃO

RESPONDE

RAM

Série1 197 128 286 167 42

0

50

100

150

200

250

300

350

encontrarem totalmente desenvolvidos; idosos e imunodeprimidos ou imunossuprimidos,

como o grupo mais suscetível às doenças relacionadas à infraestrutura sanitária deficiente.

Segundo os especialistas da Redação Ambiente Brasil, a diminuição na atuação

de trabalhadores e educandos, em suas atribuições:

é causada, muitas vezes, por doenças provocadas pela falta de saneamento

básico. Doenças como infecções gastrointestinais, são resultado do consumo

de água contaminada. O estudo estima que 14,3 milhões de moradias não têm

água encanada e 35,5 milhões de moradias vivem sem coleta de esgoto. As

informações são provenientes do cruzamento de dados do Sistema Nacional de

Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, e do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o novo relatório, o

Brasil precisa investir pouco mais que R$ 313 bilhões até 2033 para que o

saneamento básico alcance 100% da população. Para as organizações que

elaboraram o levantamento, a universalização dos serviços de água e esgoto

reduziria em 23% o total de dias de afastamento por diarreia e diminuiria o

custo das empresas em R$ 258 milhões.

Em nossa pesquisa, 316 entrevistados (56,63%) acreditam que as doenças

infecciosas podem ser decorrentes do uso de água inadequada ao consumo. Abaixo da

metade do percentual, temos: a cólera, com 36,20% (202 sujeitos); intoxicação, com 12%

(67 sujeitos); doenças de pele, representando 7,53% (42 sujeitos) e envenenamento,

correspondendo a 6,81% (38 sujeitos).

Quanto à percepção dos entrevistados em relação ao risco de se contrair alguma

enfermidade, ao ingerir água de péssima qualidade, podemos afirmar que 729 sujeitos

(88,90%) acreditam ser a diarreia uma doença que pode ser adquirida; 687 sujeitos

(83,78%) assinalaram como possibilidade os vermes ou parasitas; 561 sujeitos (68,41%)

apontaram as doenças infecciosas; e 371 sujeitos (45,24%) consideram a cólera como

alternativa. A intoxicação foi a opção de 138 sujeitos (16,83%); as doenças de pele foram

assinaladas por 78 sujeitos (9,51%), enquanto que o envenenamento foi a opção de 63

sujeitos (7,68%).

Além desses dados estatísticos, uma representatividade expressiva de 76 sujeitos,

revelaram que a água contaminada é incapaz de causar enfermidades.

GRÁFICO 4 – RELAÇÃO ENTRE ÁGUA CONTAMINADA E DOENÇAS

Investigando como é a realizada a higiene dos alimentos, antes de seu preparo e

consumo, a grande maioria dos entrevistados, 95,7% (534 sujeitos), revelaram utilizar a

água conforme desponta das torneiras. Somente 83 sujeitos (14,87%), a utilizam

acrescentando vinagre; 56 sujeitos (10,04%) fazem o uso cloro; 41 sujeitos (7,35%)

misturam bicarbonato à água e apenas, 3,41% a utilizam, fervida. Ressaltamos que 7%

dos entrevistados (39 sujeitos) assinalaram não ter o hábito de lavar os alimentos. Vale

novamente ressaltar que mais de uma alternativa poderia ser assinalada pelos estudantes

nessa questão.

Considerações Finais

Diante de todos os resultados coletados fica evidente a necessidade de políticas

públicas que possam garantir à população o direito de acesso ao saneamento básico

adequado, de forma que avalize a qualidade da água que chegará às nossas residências.

DIARREIA

88,90%

CÓLERA

45,24%

ENVENENAMEN

TO

7,68%

INTOXICAÇÃO

7%

VERMES OU

PARASITAS

83,78%

NENHUMA

ENFERMIDADE

9,26%

É necessário investir em campanhas educativas e preventivas, uma vez que ficou

comprovado nessa pesquisa que há um número expressivo de sujeitos que ignoram os

riscos de ingerir água de má qualidade. Quando se desconhece os riscos, não há cuidados

necessários a fim de evitar as enfermidades, conforme pode ser compreendido quando

questionamos a forma como os alimentos são higienizados antes do consumo.

Considerando a água um elemento essencial à manutenção da vida e em algumas

situações, um veículo transmissor de diversos agentes patogênicos, é imprescindível que

se tenha um sistema de saneamento básico eficaz em nosso país. Toda a população tem

direito aos serviços de saneamento básico. Eles são pagos pelos cidadãos por meio dos

impostos e das taxas de serviço público. A conta de água, paga mensalmente, inclui

serviços de água e esgoto.

Apesar de o saneamento básico ser de responsabilidade dos governos federal,

estadual e municipal, a população brasileira pode e precisa cooperar para que as ações do

governo se concretizem e se desdobrem a todos os cidadãos.

Referências

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