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AS DIFERENÇAS E
COMPLEMENTARIDADES ENTRE O
MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL DO
SEBRAE E O MODELO DE
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA
A SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
- PEPSE
Maurício Tessele Kaminski (UFSM)
Luiz Carlos Pistoia de Oliveira (UFSM)
João Helvio Righi de Oliveira (UFSM)
O presente artigo tem por objetivo identificar as diferenças e
complementaridades entre o modelo de gestão ambiental do SEBRAE e
o modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade
empresarial, desenvolvido pela Dra. Eliza Coral. EEste estudo é
caracterizado como um trabalho bibliográfico exploratório de
natureza qualitativa. Descritiva e exploratória, no qual é apresentada
uma compilação das informações encontradas na literatura a respeito,
dando ênfase aos dois modelos de gestão ambiental propostos. A
gestão ambiental como parte integrante da administração torna-se
uma necessidade e um fator decisivo para a sobrevivência das
organizações no mercado, contudo a importância da comparação entre
dois modelos de gestão ambiental ajudará a entender melhor este
processo.
Palavras-chaves: Desenvolvimento sustentável, Gestão ambiental e
Planejamento estratégico.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1 Introdução
As preocupações com o meio ambiente existem a centenas de anos, mas é possível considerar
como marco principal para a humanidade o ano de 1972, quando ocorreu em Estocolmo na
Suécia a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente humano, que teve como maior
contribuição, vincular as questões ambientais com as do desenvolvimento (BARBIERI,
2006). A partir deste ano, os Estados tornaram-se mais ativos em relação aos problemas
ambientais, criando órgãos e legislações, estas mais severas que levaram as empresas a se
posicionar e se adequar a uma nova situação legal, mercadológica e cultural (CORAL, 2002).
No Brasil, os impactos ambientais tornaram-se preocupantes a partir de 1960, quando nesta
década ocorreu uma grande industrialização, aumentando a população nas áreas urbanas do
país (DIAS, ZAVAGLIA, CASSAR, 2003). É possível afirmar que o início efetivo das
preocupações com o meio ambiente no Brasil foi em 1973, quando devido a pressões
externas, o governo militar, que um ano antes acreditava que o assunto meio ambiente não
fosse prioridade, criou órgãos governamentais, responsáveis pela gestão do meio ambiente no
país (BARBIERI, 2006).
De acordo com o autor acima citado, os temas gestão ambiental e desenvolvimento
sustentável ganharam espaço e ênfase no final do século XX. Neste período, esses temas
foram inseridos em âmbito empresarial, fora do círculo dos especialistas e desta forma
ganharam as ruas, os auditórios, a imprensa, etc. O que possibilitou à população mundial
conhecer e entender os problemas que estavam acontecendo com o meio ambiente e com o
desenvolvimento econômico e social.
Na atualidade, os consumidores estão, cada vez, mais á procura de empresas éticas que atuem
de forma ecologicamente responsável. Assim sendo, as empresas buscam articular
planejamentos e posicionamentos estratégicos favoráveis às questões ambientais. Deste modo,
a implementação da gestão ambiental passou a ser considerada uma função integrante e
importante da administração, mudando valores, percepções e práticas cotidianas da empresa
(TACHIZAWA, 2002).
Este novo paradigma constituído pela mudança dos valores e das percepções da sociedade
com relação às questões do meio ambiente despertou o interesse dos pesquisadores para
estudos voltados a modelos de planejamento estratégico sustentáveis. Neste sentido, o
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) elaborou um guia de
implementação de gestão ambiental, cujo objetivo é auxiliar os administradores e as
organizações a integrar as questões ambientais em seus planejamentos.
Com o mesmo intuito, foi desenvolvido pela Dra. Eliza Coral em sua tese de doutorado no
ano de 2002, um modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade empresarial -
PEPSE. Este modelo busca identificar as complementaridades entre os modelos de
planejamento estratégico e de estratégias ambientais. Além disso, quer evidenciar as carências
dos modelos de planejamento estratégico frente às questões ambientais e sociais, contribuindo
assim para o alcance do desenvolvimento sustentável das organizações empresariais.
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Desta forma este estudo tem como problema de pesquisa, identificar as diferenças e
complementaridades entre o modelo de implementação de gestão ambiental do SEBRAE e o
modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade empresarial – PEPSE, da Dra.
Eliza Coral.
No intuito de responder ao problema de pesquisa, este artigo, utilizou a estratégia de pesquisa
qualitativa, descritiva e exploratória. A coleta de dados foi realizada por meio de documentos
impressos e eletrônicos de natureza secundária. Deste modo, foi alcançado o objetivo deste
estudo: perceber onde os dois modelos de gestão ambiental se diferenciam e complementam.
Para melhor entendimento, este artigo está estruturado da seguinte forma: A revisão de
literatura comporta quatro tópicos, o primeiro discorre sobre os conceitos de desenvolvimento
sustentável e competitividade, voltados para importância da sustentabilidade empresarial. O
segundo pondera os conceitos de planejamento estratégico e modelos de gestão ambiental. O
terceiro tópico apresenta o modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade
empresarial – PEPSE, da Dra. Eliza Coral. Já o quarto tópico disserta sobre o modelo de
gestão ambiental do SEBRAE.
Posterior à revisão de literatura foram processados os resultados da pesquisa bibliográfica,
assim obtendo as respostas para o objetivo desejado, sendo a identificação das diferenças e
complementaridades entre o modelo de gestão ambiental do SEBRAE e o modelo de
planejamento estratégico para sustentabilidade empresarial – PEPSE. Para finalizar o estudo
foi feita uma conclusão avaliando o estudo e propondo futuros trabalhos para esta área.
2 Desenvolvimento sustentável e competitividade
O desenvolvimento sustentável designa “O desenvolvimento que atende as necessidades do
presente, sem comprometer as necessidades das gerações futuras”. Além disso, adota como
princípios básicos a eqüidade social, o crescimento econômico e o equilíbrio ambiental
(WCED, 1987 apud Coral, 2002, p.16).
Toda e qualquer empresa busca, com suas atividades, atingir uma posição ideal, exclusiva e
valiosa no mercado. Mas, para atingi-la, as empresas estão tendo que enfrentar uma acirrada
competição (OLIVEIRA, b, 2000). Para resistir à concorrência e sobreviver ás novas
demandas do mercado e sociedade, é preciso que ocorra uma adaptação da filosofia e dos
processos produtivos da empresa, levando em consideração não apenas o fator econômico,
mas também o ambiental e social.
A composição de uma sociedade baseada nos princípios do desenvolvimento sustentável
estabelece a cada pessoa, organização e estado o compromisso com suas atitudes e atividades
presentes e futuras, sendo que as empresas têm uma participação decisiva neste processo de
construção social. Em conseqüência a este novo paradigma, os consumidores são cada vez
mais conscientes da necessidade de um desenvolvimento sustentável. Assim, surge o grande
desafio das empresas neste milênio: o de ser sustentável e competitiva ao mesmo tempo
(CORAL, 2002), pois a sociedade civil exige que as empresas sejam impulsionadoras deste
processo.
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Para que as empresas consigam ser competitivas e sustentáveis ao mesmo tempo, para assim,
poder sobreviver e/ou aproveitar as oportunidades criadas pela nova demanda de mercado e,
principalmente, manter ou melhorar sua imagem, será preciso guiar suas atividades para o
desenvolvimento sustentável. Para atingir este requisito básico exigido pela sociedade será
necessário que ocorra nas empresas uma total ou parcial revalorização nos modos de
produção, valores, princípios e atitudes, para assim evitar o máximo de impactos negativos ao
meio ambiente e por conseqüência à sociedade (CORAL, 2002).
A primeira etapa para a organização realizar e adaptar-se aos preceitos básicos do
desenvolvimento sustentável é o de mudar seus modelos de gestão. A partir disso, iniciar a
considerar os aspectos ambientais e sociais na hora da tomada das decisões. É importante
observar que quando existir o interesse e a busca da organização pela sustentabilidade, ela
será automaticamente levada a uma revalorização dos modos tradicionais de produção, isto
porque já terá mudado sua filosofia básica e a gestão ambiental já será parte integrante e
importante na administração da empresa (DIAS, ZAVAGLIA, CASSAR, 2003).
Com a implementação de uma gestão ambiental, a empresa ganha uma grande oportunidade
de unir a sustentabilidade á competitividade, pois poderá aumentar seus resultados e também
sua fatia de mercado (CORAL, 2002). Desta forma, os possíveis resultados financeiros
ajudam a acabar com a dúvida que ainda existente quanto à utilização da gestão ambiental. A
dúvida refere-se ao surgimento de custos adicionais na produção, que por conseqüência
acarretam no aumento do preço final do produto e/ou serviço, assim diminuindo a
competitividade e a capacidade da empresa sobreviver a curto, médio e longo prazo.
A tendência é que as empresas consideradas “responsáveis” ganhem maiores espaços e
oportunidades no atual e competitivo mercado. Isto porque a sustentabilidade engloba a
competitividade e este aumento de mercado seria conseqüência da conciliação do benefício
ambiental com a nova demanda exigida pela sociedade civil. Ou seja, os consumidores,
provavelmente, deverão pagar mais pelo “produto verde” que é o produto com
responsabilidade agregada pela empresa e desta forma, a empresa poderá gozar das vantagens
competitivas e, por conseqüência, de um maior retorno econômico (CORAL, 2002).
3 Planejamento estratégico e modelo de gestão ambiental
O planejamento estratégico é uma ferramenta que a alta administração da empresa usa para
obter uma vantagem frente aos concorrentes. As suas técnicas são derivadas das ciências
militares e tem como definição, a forma de planejar o futuro perante a imprevisibilidade do
macro ambiente identificando as oportunidades, ameaças, pontos fortes e pontos fracos da
empresa (Rasmussen, 1991). Contudo, o que a empresa espera realmente com a
implementação do planejamento estratégico é conhecer melhor seus pontos fortes e fracos,
ameaças e oportunidades.
Cada modelo de planejamento estratégico tem distintas características, mas todos têm quatro
fases ou quatro macro-etapas igualmente definidas na sua elaboração e implementação.
Abaixo estão descritas as quatro macro-etapas segundo OLIVEIRA (2006, p.69-81):
Fase 1: Diagnóstico estratégico (Como se está?), esta fase é onde ocorre a
identificação da visão, valores, análise externa, interna e dos concorrentes;
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Fase 2: Missão da empresa (Razão de ser da empresa, quem a empresa atende?),
nesta fase ocorre o estabelecimento da missão, dos propósitos atuais e potenciais da
empresa, estruturação e debate dos cenários, estabelecimento da postura estratégica e
das macro estratégias e macro políticas;
Fase 3: Instrumentos prescritivos e quantitativos (De onde se quer chegar? e como
chegar?), no quantitativo se estabelece projeções econômico-financeiras e nos
prescritivos ocorre o estabelecimento de objetivos, desafios e metas, de estratégias e
políticas funcionais e de projetos e planos de ação;
Fase 4: Controle e avaliação (Como a empresa está indo?), esta fase serve para
assegurar a realização dos objetivos, desafios, metas, estratégias, e projetos
estabelecidos, considerando a situação adequada de custo versus benefícios.
Na construção de um modelo de planejamentos estratégico serão aplicadas as quatro macro-
etapas, mas a seqüência de passos pode variar para cada modelo. No quadro abaixo é
apresentado e comparado três modelos de planejamento estratégico, sendo eles dos autores
Cunha, Certo e Peter e Tavares, demonstrando as diferenças existentes entre os modelos em cada
etapa, CORAL (2002, p.66-67). É importante destacar que os três modelos buscam como
resultado a vantagem competitiva.
Autores
Fase 1 - Diagnóstico estratégico Fase 2 - Missão da
empresa Definições
preliminares
Análise externa Análise interna
CUNHA 1. Cultura e valores
2. Relações de poder
3. Sensibilização
6. Análise externa 5. Fatores chaves
para o sucesso
7. Análise interna
4. Negócio e missão
8. Objetivos e metas
CERTO e PETER 1. Análise externa 2. Análise interna 3. Missão e objetivos
TAVARES
2. Análise do ambiente
externo
3. Análise do ambiente
interno
1. Definição da missão
4. Revisão da missão
5. Elaboração de filosofias e
políticas
6. Definição de objetivos
8. Formulação de
metas e ações
setoriais
Quadro 1 – Fonte: CORAL (2002, p.66-67).
Autores
Fase 3 - Instrumentos prescritivos e
quantitativos Fase 4 - Controle e avaliação
Estratégias Planejamento de recurso
e
indicadores
Implantação Controle
CUNHA 9. Definição de
estratégias
10. Implantação 11. Controle
CERTO e PETER 4. Formulação da
estratégia
5. Implementação 6. Controle
TAVARES
7. Seleção de estratégias 9. Elaboração do
orçamento
10. Identificação
dos parâmetros de
avaliação
12. Implementação 11. Formulação dos
sistemas de gerenciamento
13. Avaliação
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As teorias existentes de planejamento estratégico não levam em consideração em seus
estudos, a interferência dos fatores ambientais e sociais e sim apenas os fatores econômicos,
porém, na atual e futura condição mercadológica é essencial a consideração destes fatores
para a sobrevivência da empresa a curto, médio e, principalmente, á longo prazo. Devido a
esta pressão ou “nova demanda” estabelecida pela sociedade, as empresas estão cada vez
mais, tornando-se responsáveis por qualquer que seja o impacto que suas atividades causam
ao meio ambiente e sociedade (CORAL, 2002).
O planejamento estratégico por si só não atende as necessidades do desenvolvimento
sustentável. Devido a esta falha, a partir dos anos 90, começaram a ser criados os modelos de
gestão ambiental que visam complementar os modelos de planejamento estratégico já
existentes. Estes modelos de gestão ambiental têm os mesmos princípios e métodos dos
modelos de planejamento estratégico, mas, a grande e categórica diferença entre eles é que no
modelo de gestão ambiental leva-se em conta o uso das variáveis ambientais e sociais no
processo decisório da administração (CORAL, 2002). É importante observar que como o
planejamento estratégico, o modelo de gestão ambiental deve também ter função integrante e
contínua na administração da empresa, envolvendo todos os setores de forma multidisciplinar,
levando a cada colaborador o conhecimento sobre os processos em execução. E, quando estes
modelos são bem implantados e propagados, tornam-se uma rica fonte de identificação de
oportunidades e vantagem competitiva (TACHIZAWA, 2002).
Pode-se assegurar, então, que o modelo de gestão ambiental é um complemento ao
planejamento estratégico que visa atender as necessidades do desenvolvimento sustentável,
através da inclusão das variáveis ambientais e sociais, sendo a sustentabilidade notoriamente
uma parte essencial do planejamento das ações organizacionais (CORAL, 2002). Para que
ocorra o êxito na implementação do modelo de gestão ambiental, é preciso que a organização
saiba como operacionalizá-lo para assim incluir em sua cultura a sustentabilidade
organizacional, para dela dar continuidade ao processo e aproveitar as oportunidades,
vantagens e preparar-se para solucionar problemas que futuramente poderá enfrentar
(BARBIERI, 2006).
4 Modelo de Planejamento Estratégico Para Sustentabilidade Empresarial – PEPSE
O modelo de Planejamento Estratégico Para Sustentabilidade empresarial- PEPSE foi
desenvolvido pela Dra. Eliza Coral em sua tese de doutorado em 2002. Este modelo é uma
ferramenta de planejamento estratégico que auxilia os gestores das empresas a criarem
estratégias ambientais encontrando, analisando e aproveitando as oportunidades de cunho
ambiental e social. Através deste modelo podem-se extrair resultados econômicos de ações
não rentáveis quando utilizados modelos tradicionais de planejamento estratégico (CORAL,
2002).
O PEPSE tem por objetivo não apenas oferecer uma ferramenta de planejamento estratégico
que ajude a analisar a posição da empresa frente às variáveis da sustentabilidade, mas
também, preparar a organização para trabalhar e sobreviver no mercado futuro, criando
prioridades para o desenvolvimento sustentável. O modelo tem como base a busca pela
viabilidade econômica, ambiental e social, ou seja, tem como base os próprios princípios do
desenvolvimento sustentável, que são o crescimento econômico, o equilíbrio ambiental e a
eqüidade social. O quadro demonstra a estrutura organizacional de sustentabilidade do
modelo PEPSE.
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* Vantagem competitiva * Tecnologias limpas
* Mercado
* Resultado
* Produtos ecologicamente
corretos
* Suporte no crescimento da
sociedade
* Participação em projetos
sociais
* Assumir a responsabilidade
social
* Utilização sustentavel de
recursos naturais
* Atendimento a legislações
Sustentabilidade
Empresarial
Sustentabilidade
Econiomica
Sustentabilidade
Ambiental
Sustentabilidade
Social= + +
Figura 1 - Estrutura organizacional de sustentabilidade do modelo PEPSE.
FONTE: CORAL (2002, p.129).
O modelo PEPSE trabalha similarmente ao modelo de planejamento estratégico convencional,
ou seja, trabalha com as macro-etapas já citadas anteriormente, neste estudo, tendo como
diferença do convencional, o uso das variáveis ambientais e sociais na estruturação de suas
ações. No modelo PEPSE, existem cinco macro-etapas, estas sendo desmembradas nos
próximos parágrafos CORAL (2002).
Macro - etapas para a implementação do modelo PEPSE:
1. Diagnóstico Estratégico: A principal contribuição desta ferramenta de
planejamento estratégico será nesta fase, pois a partir dela que posteriormente
ocorrerá a criação e a escolha das estratégias sustentáveis. Esta fase é dividida
em duas etapas:
1.1) Levantamento de dados – O objetivo de coletar dados, é para a análise
do grau e posição da empresa em relação á sustentabilidade. A seguir
estão citadas as fases necessárias para que ocorra com sucesso a coleta
de informações:
1.1.1) Caracterização da empresa.
1.1.2) Análise externa: compreende a análise das seguintes variáveis externas:
● Clientes ● Governo ● Fornecedores
● Sociedade ● Concorrentes ● Produtos substitutos
● Entrantes em potencial ● Ambiente natural ● Governo
● Grau de competição dos concorrentes
1.1.3) Análise interna: compreende a análise das seguintes variáveis internas:
● Recursos humanos ● Desenvolvimento de produtos
● Gestão de processos e tecnologia de produção ● Garantia da qualidade
● Gestão da informação ● Logística
● Comercialização e administração mercadológica ● Gestão financeira
● Gestão ambiental atual
1.1.4) Visão do líder.
1.1.5) Caracterização da situação ambiental.
1.1.6) Levantamento de estratégias atuais.
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1.2) Análise dos dados – A partir do levantamento das informações serão
realizadas as análises sobre a sustentabilidade da organização,
subsidiando uma base para futuros planejamentos ambientais e sociais.
A análise dos dados, obtidos na etapa anterior é dividida em cinco
partes, que estão a seguir:
1.2.1) Análise de arquitetura organizacional;
1.2.2) Análise da convergência das estratégias, onde analisa-se a capacidade
de operacionalizar as novas estratégias;
1.2.3) Definição de gargalos estratégicos e operacionais;
1.2.4) Definição do grau de sustentabilidade da empresa;
1.2.5) Definição das oportunidades de negócio.
2. Definição da missão, visão e políticas: Com o levantamento e análise das
informações da empresa em relação ao meio interno e externo, serão criadas ou reformuladas
uma nova missão, visão e políticas da empresa, sendo missão e visão respectivamente
segundo OLIVEIRA (2006), a razão de existir da empresa e o que ela quer ser em um futuro
próximo ou distante. A importância desta fase é que serão estes dados (missão, visão e
políticas da empresa) que os colaboradores e administradores da empresa deverão ter como
princípios para executar o trabalho diário, sem eles será difícil atingir a sustentabilidade nas
ações e cultura da empresa.
3. Definição dos objetivos e metas: O diagnóstico estratégico junto com a nova
missão, visão e política, subsidiarão as informações para a definição dos novos objetivos a
serem alcançados pela empresa, sendo estes objetivos segundo CORAL (2002) quantificados
através de metas. É importante salientar que esta etapa tem a mesma forma dos modelos de
planejamento estratégico convencionais já antes apresentados.
4. Elaboração de estratégias sustentáveis: Esta etapa do modelo PEPSE
dependerá diretamente das etapas anteriores, sendo elas a base para a criação de estratégias
sustentáveis, desta forma a empresa credencia-se a trabalhar de forma responsável e
sustentável.
A partir das fases anteriores, será percebido nesta, a necessidade, por exemplo, de
mudar ou manter ferramentas de gestão, para operacionalizar ou analisar a convergência das
estratégias, para enfim desenvolver as estratégias e ações ambientais e sociais.
5. Projeto de desenvolvimento: Esta etapa é a parte final da aplicação do modelo
PEPSE, ou da aplicação da sustentabilidade na empresa. Esta fase é uma ferramenta gerencial
para a administração estratégica da empresa e está divida em quatro etapas:
5.1) Elaboração do plano de ação: para implementação da mudança na
empresa;
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5.2) Necessidade de recursos para a execução do plano de viabilidade
econômica;
5.3) Definição de indicadores: mede-se o grau de sucesso da implementação
de uma estratégia em relação ao objetivo da empresa;
5.4) Cronograma físico-financeiro: valores a serem desembolsados no
período das atividades planejadas.
5 Modelo de Gestão Ambiental SEBRAE
O modelo de gestão ambiental do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e
Pequenas Empresas) é uma metodologia para a implementação da gestão ambiental em micro
e pequenas empresas. Esta metodologia quando aplicada torna-se uma ferramenta de
planejamento estratégico que auxilia os administradores a implementar os requisitos básicos
da ISO 14001 em suas empresas, tendo como missão após o atendimento de todas estas
normas, a certificação. Desta forma, os gestores encontrarão novas oportunidades de ter
maiores resultados econômicos, estes derivados de um modelo de gestão que antes era
considerado custo.
O objetivo secundário do modelo de gestão ambiental do SEBRAE é a certificação da ISO
14001, para assim levar a empresa a uma posição de excelência com reconhecimento mundial
habilitando-se a concorrer no mercado exterior e melhorar sua imagem perante a sociedade
civil, parceiros e concorrentes. O objetivo final do modelo de gestão ambiental do SEBRAE é
de auxiliar as empresas a satisfazerem as novas necessidades da sociedade civil, a de atuar de
forma sustentável, deste modo no guia de implementação de gestão ambiental do SEBRAE
estão os passos necessários para a satisfação desta nova demanda social, sendo que de todas
as cinco fases é importante salientar que a segunda fase, a de planejamento para o PMDA
(Programa de melhoria de desempenho ambiental) pode ser considerada a mais importante
(SEBRAE, 2004). Este modelo de gestão ambiental é dividido em duas partes, a primeira que
será estudada neste artigo é sobre a elaboração e implementação do PMDA e a segunda é
sobre a implementação e controle do PMDA no intuito de atingir os requisitos mínimos da
ISO 14001. A seguir serão apresentadas todas as fases da primeira parte do processo de
elaboração do PMDA:
1. Planejamento das atividades: Esta etapa é o princípio da implementação da
sustentabilidade como forma integrante da administração e cultura da organização.
Nesta ocorre uma reunião da direção, onde são definidas as estruturas e
responsabilidades pela implementação da gestão ambiental, as datas para a
realização de todas e quaisquer atividades e também as datas para ocorrer o
processo de certificação.
1.1. Personagens: Após definir a operacionalidade e viabilidade da
implementação da gestão ambiental, é importante identificar e nomear
todos os personagens que estarão envolvidos neste processo. Conforme
SEBRAE (2004) são eles:
1.1.1. Número 1 – é o responsável por todo processo de implementação da
gestão ambiental (este personagem cria as equipes, assegura
recursos, estabelece políticas, acompanha resultados,...);
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1.1.2. Representante da direção – É o responsável pelo processo de
implementação da gestão ambiental;
1.1.3. Escriba – Passa aos colaboradores da empresa as informações sobre
o processo em desenvolvimento;
1.1.4. Comitê ambiental – são designados a controlar a implementação da
gestão ambiental nos setores cujo são responsáveis;
1.1.5. Auditor ambiental – fiscaliza o andamento do processo;
1.1.6. Colaboradores – são os demais empregados da empresa que devem
conhecer e participar do processo.
2. Planejamento da gestão ambiental: Nesta etapa serão usadas as macro-etapas do
planejamento estratégico, já apresentadas nos capítulos anteriores.
2.1. Diagnóstico estratégico – nesta fase, similar a primeira macro-etapa do
planejamento estratégico, serão levantados e analisados dados com
informações da empresa, como:
2.1.1. Legislação ambiental – Identifica-se qual legislação que a
organização se encaixa com suas atividades;
2.1.2. Partes interessadas – Todas as pessoas relacionadas ao processo, de
todo o meio interno e externo;
2.1.3. Fluxo de valor – Analisa-se o fluxo de valor do fornecedor ao
cliente da empresa;
2.1.4. Aspectos ambientais – Estuda-se no que a organização pode atingir
o meio ambiente e a sociedade;
2.1.5. Impactos ambientais – Identifica-se que tipo de mudanças as
atividades da empresa poderão causar ao meio ambiente;
2.1.6. Grau de risco – Mede-se em valor numérico o quanto a empresa
pode causar danos ambientais.
2.2. Missão, Visão e Políticas – Esta fase é semelhante á segunda macro-
etapa do planejamento estratégico e do modelo PEPSE, nela a partir das
informações coletadas e analisadas na etapa anterior, será desenvolvida
ou reformulada a nova missão, visão e políticas ambientais da empresa.
2.3. Objetivo e metas – Nesta fase, similar a segunda macro-etapa do
planejamento estratégico, cria-se os objetivo e metas, derivadas das
informações coletadas e analisadas anteriormente. Mas, no modelo do
SEBRAE são inclusos nesta fase dois novos tópicos: O primeiro são os
programas ambientais que apóiam a realização dos objetivos e metas; o
segundo são as ações mitigadoras que são criadas para controlar os
aspectos ambientais, antes que ocorra um impacto ambiental de nível já
medido pelo grau de risco.
2.4. Estratégias ambientais – Nesta fase será criado o PMDA (Programa de
melhoria de desempenho ambiental) que nada mais é que o objetivo
permanente de uma gestão ambiental na administração da empresa. Esta
fase é similar a terceira macro-etapa de um modelo de planejamento
estratégico convencional, pois nela serão criadas as estratégias que serão
implantadas e controladas nas etapas seguintes.
3. Investimentos: Nesta etapa serão identificados e calculados os recursos
necessários para que a organização implante a gestão ambiental com sucesso. É
correto afirmar que, da mesma forma da fase anterior, esta etapa é também similar
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a terceira macro-etapa dos modelos de planejamento estratégico. Nesta fase se faz
projeções econômico - financeiras para que o processo não tenha risco de ser
paralisado durante sua implantação. Abaixo estão alguns possíveis custos com o
PMDA ou implementação da gestão ambiental:
Tempo gasto em todo processo de implantação;
Obras e reformas;
Compra ou reforma de equipamentos, instrumentos, materiais, etc.;
Consultoria técnica;
Treinamentos;
Certificações.
4. Implantação: Esta etapa é como a quarta macro-etapa dos modelos de
planejamento estratégico, nela ocorre a implantação da gestão ambiental, ou seja,
do programa de gestão ambiental criado nas fases anteriores. Esta fase é subsidiada
por todas as outras anteriores e só poderá ser posta em prática com o sucesso das
outras etapas. Abaixo estão, segundo SEBRAE (2004), cinco das sete fases de
implementação e controle da gestão ambiental:
4.1. Orientação da implementação;
4.2. Elaboração de documentos;
4.3. Revisão dos documentos;
4.4. Implantação dos procedimentos;
4.5. Elaboração da lista de verificação.
5. Controle: Como a etapa anterior esta etapa também é similar a quarta macro-etapa
de um modelo de planejamento estratégico convencional já citado nos capítulos
anteriores. Nesta última etapa, ocorrem as ações controladoras do processo
implantado. É nesta etapa que é analisado o andamento da implementação da
gestão ambiental na empresa. Um dos procedimentos usados para controlar o
processo de introdução da gestão ambiental na empresa é o uso de indicadores
ambientais que servem de referência para o PMDA. Nesta etapa estão empregadas
as outras duas fases de implementação e controle da gestão ambiental:
5.1. Auditoria dos processos implantados;
5.2. Ajustes de documentos e do processo da gestão ambiental em
desenvolvimento.
Abaixo o modelo de gestão ambiental do SEBRAE representado na forma de
quadro (SEBRAE).
6 As diferenças e complementaridades entre o modelo de gestão ambiental do SEBRAE
e o modelo de PEPSE
O objetivo deste trabalho foi de identificar as diferenças e complementaridades entre o
modelo de gestão ambiental do SEBRAE e o modelo de planejamento estratégico para a
sustentabilidade empresarial (PEPSE), portanto a seguir estão apresentados os resultados
obtidos deste estudo, em forma de tabela para melhor visualização:
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Diferenças e complementaridade PEPSE SEBRAE
Objetivo secundário Sustentabilidade empresarial Certificação da ISO 14001
Objetivo final Desenvolvimento sustentável Desenvolvimento sustentável
Número de etapas 5 (cinco) 5 (cinco)
Fase 1 Diagnóstico estratégico Planejamento das atividades
Fase 2 Missão, visão e políticas Planejamento do PMDA
Fase 3 Objetivos e metas Investimentos
Fase 4 Estratégias ambientais Implantação
Fase 5 Projeto de desenvolvimento Controle
Objetivo primário Estratégias ambientaisPlano de melhoria de desempenho
ambiental (PMDA)
Descrição do modeloModelo de Ges. Amb.para
sustentabilidade
Metodologia para implementação
de Ges. Amb.
CaracterísticaFerramenta de planejamento
estratégico
Ferramenta de planejamento
estratégico
Figura 2 – FONTE: AUTOR.
Complementaridades entre as macro-etapas dos dois modelos de gestão ambiental:
- A fase 2 (Planejamento do PMDA) do modelo SEBRAE compreende a fase 2
(missão, visão e políticas), fase 3 (Objetivos e metas) e fase 4 (Estratégias ambientais)
do modelo PEPSE.
- A fase 5 (Projeto de desenvolvimento) do modelo PEPSE compreende a fase 3
(investimentos), fase 4 (implantação) e fase 5 (controle) do modelo SEBRAE.
A maior diferença entre os modelos é que no modelo do SEBRAE as atividades e prazos são
planejados antes do início do processo, pois o objetivo da empresa é atingir os requisitos
básicos da ISO 14001, para assim ser certificada como empresa sustentável. Abaixo está o
quadro com as diferenças e complementaridades entre as fases do modelo de gestão ambiental
do SEBRAE e do modelo PEPSE:
1) Diagnóstico estratégico 1) Investimentos
2) Missão, visão e políticas 2) Implantação
3) Objetivos e metas 3) Controle
4) Estratégias ambientais
Fase 1 - Atividades (SEBRAE)Fase 2 - Planejamento
(SEBRAE)
Fase 3 - Projeto de
desenvolvimento (PEPSE)
1)Planejamento das atividades
Figura 3 – FONTE: AUTOR
7 Considerações Finais
A sociedade está cada vez mais ciente de que as empresas são, também, as impulsionadoras e
responsáveis pelo processo de desenvolvimento sustentável. Desta forma, estão sendo criadas,
por pesquisadores, ferramentas de planejamento estratégico, mais especificamente, modelos
de gestão ambiental, para auxiliar as organizações a atingir esta exigência social: a
sustentabilidade empresarial (CORAL, 2002). Para aproveitar a oportunidade criada para as
empresas com esta nova demanda, este estudo foi criado para entender o modelo de gestão
ambiental e, principalmente, para atingir o objetivo de identificar as diferenças e
complementaridades entre dois modelos de gestão ambiental, o modelo de gestão ambiental
do SEBRAE e o modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade empresarial
(PEPSE) da Dra. Eliza Coral.
Através de uma pesquisa exploratória, foram revisadas obras de diversos autores,
principalmente de planejamento estratégico, gestão ambiental e responsabilidade social,
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porém tendo como enfoque principal a revisão dos dois modelos propostos acima, para de tal
modo encontrar suas diferenças e complementaridades.
Pôde-se verificar, com o alcance do objetivo do estudo, que os modelos de gestão ambiental
da Dra. Eliza Coral e do SEBRAE, possuem muitas complementaridades, principalmente, nas
suas fases de desenvolvimento e operacionalidade. Sendo que estas fases ou macro-etapas são
idênticas a de um modelo de planejamento estratégico convencional. Também foi constatado
que entre os modelos existem poucas diferenças, como, na ordem das etapas, objetivos
secundários e a identidade dos modelos. Tendo em vista que um dos modelos é de
planejamento estratégico ambiental com objetivo de atingir a sustentabilidade empresarial e, o
outro, é uma metodologia para a implementação da gestão ambiental para obter a certificação
da ISO 14001. É importante destacar que após a revisão dos autores foi entendido que os
modelos de gestão ambiental são complementações do planejamento estratégico tradicionais,
pois, em seu desenvolvimento, ocorre a análise das variáveis ambientais e sociais como
qualquer outra variável do ambiente interno e externo.
Por fim, segundo FROMM (1976, p.31), “as mudanças de vida exigidas são tão drásticas que
as pessoas preferem a catástrofe futura ao sacrifício que teriam que fazer agora”, devido este
pensamento da sociedade, as organizações tornam-se as maiores impulsionadoras e
responsáveis pela transformação desta cultura, através da inclusão da sustentabilidade como
fator administrativo e cultural da organização.
Referências Bibliográficas:
ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; TACHIZAWA, Takeshy; CARVALHO, Ana
Barreiros de. Gestão ambiental: Enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Person Makron Books, 2002.
BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: Conceitos, modelos e
instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2006.
CORAL, Eliza. Modelo de planejamento estratégico para a sustentabilidade empresarial –
PEPSE. Florianópolis: (tese de doutorado) UFSC, 2002. Disponível em
http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/3486.pdf
DIAS, Reinaldo; ZAVAGLIA, Tércia e CASSAR, Mauricio. Introdução à administração:
Da competitividade á sustentabilidade. São Paulo: Alínea, 2003.
FROMM, Erich. Ter ou ser? Rio de Janeiro: Guanabara, 1976.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebolças de. Planejamento Estratégico: Conceitos,
metodologia e práticas. São Paulo: Atlas, 2006.
OLIVEIRA b, Luiz Carlos Pistóia de. A estratégia como estratagema (Ploy): Um estudo de
caso na indústria da construção civil – Setor de Edificações. Florianópolis: (tese de
Doutorado) UFSC, 2000. Disponível em http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/1768.pdf.
RASMUSSEN, U.W. Manual da metodologia do planejamento estratégico: Uma ferramenta
científica da transição empresarial do presente para o futuro adotado para o âmbito
operacional brasileiro. São Paulo: Aduaneiras, 1990.
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas). Metodologia
SEBRAE para implementação de Gestão Ambiental. Brasília, 2004.
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TACHIZAWA, Takeshy. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa:
Estratégias de negócio focadas na realidade brasileira. São Paulo: Atlas, 2002.