as comunidades indígenas no brasil · as comunidades indígenas no brasil ... redução...

5
As comunidades indígenas no Brasil A resistência das comunidades indígenas no Brasil atual A população indígena no Brasil possui uma história marcada pelos conflitos. Foi assim durante o início da colonização portuguesa no século 16, e não é diferente no início do século 21, porém com novas facetas e desafios. Pode-se dizer que a resistência das comunidades indígenas ganha força nas últimas décadas em termos institucionais. Por outro lado, aumentam as pressões do setor agropecuário contra os processos de demarcação e regularização das chamadas Terras Indígenas (TI). http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem- sao - Acesso em 01/04/2015. Como pode-se ver no gráfico acima, os dados demográficos da população indígena demonstram uma drástica redução populacional no período colonial, associada principalmente a conflitos e a doenças oriundas do contato com o não- índio. Apesar de acentuada redução, verifica-se uma inversão desse comportamento a partir da segunda metade do século 20. O CENSO de 1991, pela primeira vez na história do país, passou a contabilizar a população que se declarava indígena - na época algo entorno de 0,2% da população total brasileira. De 1991 para cá, esse percentual foi para 0,26%, o que, em números absolutos, representa uma população de aproximadamente 817.963 indígenas. Desse total, a maioria se encontra no meio rural (61%) e na região norte, como demonstra os gráficos a seguir. CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E DOMICILIARES Fonte da informação: http://www.funai.gov.br/arquivos/conte udo/ascom/2013/img/12-Dez/pdf- brasil-ind.pdf

Upload: lydang

Post on 21-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

As comunidades indígenas no Brasil

A resistência das comunidades indígenas no Brasil

atual

A população indígena no Brasil possui uma história

marcada pelos conflitos. Foi assim durante o início da

colonização portuguesa no século 16, e não é diferente

no início do século 21, porém com novas facetas e

desafios. Pode-se dizer que a resistência das

comunidades indígenas ganha força nas últimas

décadas em termos institucionais. Por outro lado,

aumentam as pressões do setor agropecuário contra os

processos de demarcação e regularização das

chamadas Terras Indígenas (TI).

http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-

sao - Acesso em 01/04/2015.

Como pode-se ver no gráfico acima, os

dados demográficos da população

indígena demonstram uma drástica

redução populacional no período

colonial, associada principalmente a

conflitos e a doenças oriundas do contato com o não-

índio. Apesar de acentuada redução, verifica-se uma

inversão desse comportamento a partir da segunda

metade do século 20. O CENSO de 1991, pela primeira

vez na história do país, passou a contabilizar a

população que se declarava indígena - na época algo

entorno de 0,2% da população total brasileira. De 1991

para cá, esse percentual foi para 0,26%, o que, em

números absolutos, representa uma população de

aproximadamente 817.963 indígenas. Desse total, a

maioria se encontra no meio rural (61%) e na região

norte, como demonstra os gráficos a seguir.

CARACTERÍSTICAS

SOCIODEMOGRÁFICAS E

DOMICILIARES

Fonte da informação:

http://www.funai.gov.br/arquivos/conte

udo/ascom/2013/img/12-Dez/pdf-

brasil-ind.pdf

MODALIDADES DAS TERRAS

INDÍGENAS

Nos termos da legislação vigente

(CF/88, Lei 6001/73 – Estatuto

do Índio, Decreto n.º1775/96), as

terras indígenas podem ser

classificadas nas seguintes

modalidades:

Fonte da informação:

http://www.funai.gov.br/index.php/i

ndios-no-brasil/terras-indigenas

Veja, no quadro ao lado, o perfil da situação sociodemográfica dos índios no Brasil, traçado a partir

do censo demográfico de 2010 e divulgado pela FUNAI.

Terras Indígenas (TI)

Segundo a FUNAI – Fundação Nacional do Índio - “Terra Indígena (TI) é uma porção do território

nacional, de propriedade da União, habitada por um ou mais povos indígenas por ele(s) utilizada

para suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos recursos ambientais

necessários a seu bem-estar e necessária à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,

costumes e tradições. Trata-se de um tipo específico de posse, de natureza originária e coletiva,

que não se confunde com o conceito civilista de propriedade privada.” Por ser um bem da união, a

TI é inalienável e indisponível. Ela só pode ser criada quando reconhecida a partir de requisitos

técnicos e legais criados pela constituição de 1988. Veja, a seguir, passo-a-passo, todas as etapas

até a regularização de uma TI:

1) Estudos de identificação e delimitação, a cargo da FUNAI;

2) Contraditório administrativo;

3) Declaração dos limites, a cargo do Ministro da Justiça;

4) Demarcação física, a cargo da FUNAI;

5) Levantamento fundiário de avaliação de benfeitorias implementadas pelos ocupantes não-

índios, a cargo da FUNAI, realizado em conjunto com o cadastro dos ocupantes não- índios, a

cargo do INCRA;

6) Homologação da demarcação, a cargo da Presidência da República;

7) Retirada de ocupantes não- índios, com pagamento de benfeitorias consideradas de boa-fé,

a cargo da FUNAI, e reassentamento dos ocupantes não- índios que atendem ao perfil da

reforma, a cargo do INCRA;

8) Registro das terras indígenas na Secretaria de Patrimônio da União, a cargo da FUNAI;

9) Interdição de áreas para a proteção de povos indígenas isolados, a cargo da FUNAI.

Fonte: FUNAI

Sobre o direito originário

O direito originário às terras indígenas passou a ser reconhecido juridicamente ainda durante a

colonização através do Alvará Régio, de 1680. Em seguida, veio a primeira lei, em 6 de junho de

1755, assinada por Marquês de Pombal. Tal direito foi mantido na legislação brasileira através da

Lei de Terras, de 1850.

Apesar do reconhecimento legal das terras originárias dos povos indígenas, regulamentada a partir

de 1973 pelo Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), a demarcação era baseada na moradia fixa e nas

áreas de cultivos agrícolas, o que não contemplava áreas para o extrativismo vegetal e animal

(caça e pesca), dificultando a manutenção de determinados costumes e práticas indígenas. Tais

valores e novos critérios para a demarcação só passaram a ser reconhecidos a partir da

Constituição de 1988, quando a territorialidade dos diferentes povos indígenas passou a ser

reconhecida através dos seus usos, costumes e tradições.

Os conflitos atuais e a resistência indígena

Como pode-se perceber, após séculos de descaso com os povos indígenas, avanços democráticos

institucionais foram capazes de oferecer maior garantia à manutenção do modo de vida tradicional

de algumas comunidades indígenas. Entretanto a situação de certas comunidades é ainda crítica,

sobretudo daquelas populações que ainda não tiveram seus territórios regularizados.

Há vários processos de reconhecimento em andamento.

Alguns deles, há décadas sem nenhum desfecho. Isto porque

alguns territórios protestados pelos indígenas estão sob o

interesse de atividades econômicas empreendidas por não-

índios, como é o caso do conflito entre índios e agropecuaristas

na região do sul do Mato Grosso do Sul.

Atualmente há vários casos de homicídios envolvendo

fazendeiros da região que lutam pela expulsão de

comunidades indígenas que ocuparam o local. O povo Guarani

Kaiowá – um dos mais populosos grupos indígenas - protesta

pela legitimidade da área e acusa parlamentares da bancada

ruralista de atrasar o processo de reconhecimento das terras

indígenas no local.

Como exemplo desses interesses, atualmente, há vários

Projetos de Lei e Projetos de Emenda Constitucional (PEC’s)

que intencionam revogar alguns direitos adquiridos pelos

indígenas ou, mesmo, criar exceções no que diz respeito à

exclusividade do uso das terras indígenas. Veja quadro ao lado.

Tais projetos vão na contra corrente de demandas sociais e

ambientais da atualidade, segundo movimentos indígenas,

além de ferir a Constituição Federal. Sabe-se, por exemplo, que

as reservas e terras indígenas possuem elevados índices de

conservação das matas nativas e da biodiversidade.

Outros casos também emergiram no cenário nacional

recentemente, como o caso da construção da usina hidrelétrica

de Belo Monte, no Pará, empreendimento que se dá em terras

indígenas e gera vários conflitos.

Uma questão preocupante, em relação aos direitos dos povos

indígenas, está relacionada à sua pequena representatividade

política. Além de somarem um percentual muito baixo da

população brasileira, há, ainda, um grande desconhecimento

de sua situação por grande parte da opinião pública, o que

torna as suas lutas mais difíceis.

Apesar disso, há um processo crescente de educação das

comunidades indígenas que, junto a outros movimentos

sociais, vem se organizando e divulgando suas lutas como uma

forma de obter maior reconhecimento dos seus direitos.

Projeto de Lei Complementar

(PLP) 227/2012

Considera de interesse público e

pretende legalizar a existência de

latifúndios, assentamentos rurais,

cidades, estradas,

empreendimentos econômicos,

projetos de desenvolvimento,

mineração, atividade madeireira,

usinas e outros em terras

indígenas. É de autoria de Homero

Pereira (PSD/MT).

Projeto de Emenda Constitucional

(PEC) 215/2000

Retira do poder Executivo a função

de agente demarcador das terras

indígenas ao incluir entre as

competências exclusivas do

Congresso Nacional a aprovação

de demarcação das terras

tradicionalmente ocupadas pelos

indígenas e a ratificação das

demarcações já homologadas.

Deputados e senadores teriam o

poder, inclusive, de rever e reverter

demarcações antigas ou já

encerradas. É de autoria de Almir

Sá (PPB/RR).

PEC 237/2013

Permite que produtores rurais

tomem posse de terras indígenas

por meio de concessão. Se

aprovada, na prática a proposta

oficializará atividades ilegais

como a do arrendamento - que

hoje é proibido em terras de

usufruto exclusivo dos indígenas.

Esta é a segunda proposta de

autoria de Padovani sobre o tema

e está em tramitação na Câmara.

De autoria de Nelson Padovani

(PSC/PR)

Fonte da informação:

http://pib.socioambiental.org/pt/

c/terras-indigenas/ameacas,-

conflitos-e-polemicas/lista-de-

ataques-ao-direito-indigena-a-

terra