as ciÊncias cognitivas, o cognitivismo piagetiano … · menos ainda, na presença de uma...

15
AS CIÊNCIAS COGNITIVAS, O "COGNITIVISMO" PIAGETIANO E O PROBLEMA DO JULGAMENTO ÉTICOIMORAV LEONIDES DA SILVA JUSTINIAN02 Resumo: A responsabilização moral tem por base, fundamentalmente, a li- berdade e o conhecimento. O desenvolvimento de uma capacidade cada vez maior de algo que se assemelhe à inteligência em cérebros artificiais abre espaço para se discutir sobre a responsabilização dos mesmos. Por outro lado, leva a refletir sobre a necessidade de uma formação crítica nas escolas. Palavras-chave: Inteligência; máquina; ser humano; moralidade; vida 1 Inteligência e inteligências Dos tantos questionamentos que as pesquisas cognitivas vinculadas à informática, à Inteligência Artificial (IA) suscitam, os mais interessantes - para nós, ao menos são aqueles que se direcionam à natureza da inteligência, à definição e distinção do cérebro e da mente, e às possibilidades de uma simu- lação o mais perfeito possível das atividades cognitivas cerebrais por parte dos "cérebros" eletrônicos. Não pela cognição, pura e tão somente, mas por uma função a ela relacionada, conforme buscaremos explicitar mais adiante os juízos de valor e, dentre esses, os juízos de cunho moral. Indagar sobre a presença de inteligência e, sobretudo, mente, em seres tidos como inferiores por nós, humanos, não raro produz inquietudes. Afinal, como indaga o filósofo Dennet (1996), " ... os cavalos pensam ... ?", ou "." um peixe, que tem seus lábios perfurados por um anzol, sente tanta dor quanto você sentiria, se tivesse seus lábios perfurados por um anzol...?" Mesmo que, em um primeiro momento, possam parecer ingênuas ou hilariantes, tais ques- i AIgunw.'í icMias aqui deseul'ohtdas resultam de discllss(ies no grupo de pesquisa Epistemologia Gellétiul f! Etiuc(i- da UNESP de ,Marília, coordenado pelo dr. Adridll O. II Montoya, do Me,ure em Educaçüo pela FFCIUNESP de MariNa, Prole""or da FCEA - CEP - 64

Upload: truongtuong

Post on 08-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

AS CIEcircNCIAS COGNITIVAS O COGNITIVISMO PIAGETIANO E O PROBLEMA DO JULGAMENTO EacuteTICOIMORAV

LEONIDES DA SILVA JUSTINIAN02

Resumo A responsabilizaccedilatildeo moral tem por base fundamentalmente a lishyberdade e o conhecimento O desenvolvimento de uma capacidade cada vez maior de algo que se assemelhe agrave inteligecircncia em ceacuterebros artificiais abre espaccedilo para se discutir sobre a responsabilizaccedilatildeo dos mesmos Por outro lado leva a refletir sobre a necessidade de uma formaccedilatildeo criacutetica nas escolas

Palavras-chave Inteligecircncia maacutequina ser humano moralidade vida

1 Inteligecircncia e inteligecircncias

Dos tantos questionamentos que as pesquisas cognitivas vinculadas agrave informaacutetica agrave Inteligecircncia Artificial (IA) suscitam os mais interessantes - para noacutes ao menos satildeo aqueles que se direcionam agrave natureza da inteligecircncia agrave definiccedilatildeo e distinccedilatildeo do ceacuterebro e da mente e agraves possibilidades de uma simushylaccedilatildeo o mais perfeito possiacutevel das atividades cognitivas cerebrais por parte dos ceacuterebros eletrocircnicos Natildeo pela cogniccedilatildeo pura e tatildeo somente mas por uma funccedilatildeo a ela relacionada conforme buscaremos explicitar mais adiante os juiacutezos de valor e dentre esses os juiacutezos de cunho moral

Indagar sobre a presenccedila de inteligecircncia e sobretudo mente em seres tidos como inferiores por noacutes humanos natildeo raro produz inquietudes Afinal como indaga o filoacutesofo Dennet (1996) os cavalos pensam ou um peixe que tem seus laacutebios perfurados por um anzol sente tanta dor quanto vocecirc sentiria se tivesse seus laacutebios perfurados por um anzol Mesmo que em um primeiro momento possam parecer ingecircnuas ou hilariantes tais quesshy

i AIgunwiacute icMias aqui deseulohtdas resultam de discllss(ies no grupo de pesquisa Epistemologia Gelleacutetiul f Etiuc(ishy

da UNESP de Mariacutelia coordenado pelo pn~f dr Adridll O II Montoya do Meure em Educaccediluumlo pela FFCIUNESP de MariNa Proleor da FCEA - CEP

- 64

totildees suscitam em noacutes um certo mal-estar pois vatildeo de encontro a convicccedilotildees

profundas concernentes agrave suposta dignidade humana Ora eacute claro que haacute

gradaccedilatildeo de dor entre os animais e os humanos Eacute oacutebvio que os animais natildeo pensam Eacute certo que uma aranha natildeo planeja suas atividades diaacuterias e sua

construccedilatildeo Mas Seraacute mesmo tudo tatildeo oacutebvio e certo

Sagan (1996) em seu livro OMundo Assombrado Pelos Democircnios

faz uma observaccedilatildeo interessante entre a proximidade geneacutetica dos humanos

com alguns primatas chegando a afirmar o compartilhamento geneacutetico de

humanos com os chimpanzeacutes em um iacutendice da ordem de 90 - enquanto entre ratos e camundongos o iacutendice eacute de cerca de 75 Jaacute Myers citando de

Waal afirma que mais de 98 por cento de nossos genes satildeo idecircnticos aos do

chimpanzeacute tomando-os tatildeo proacuteximos de noacutes quanto uma raposa eacute de um cachorro (MYERS 1999 p 53)

Arendt (1985) ainda que argumentando sobre a violecircncia tambeacutem se

refere agrave proximidade humana frente aos outros animais irracionais

A ciecircncia modema partindo sem maiores criacuteticas dessa velha pressushy

posiccedilatildeo (a definiccedilatildeo do homem como animal rationale) foi bem longe ao

provar que o homem compartilha todos os demais atributos com alguma

espeacutecie do reino animal- exceto o dote suplementar da razatildeo toma-o um animal mais perigoso (p 34)

Mesmo que a proximidade ou compartilhamento de demais atribushy

tos seja reconhecida persiste a reserva da racionalidade apenas para a esshy

peacutecie humana e alguns estudiosos tendem para a resoluccedilatildeo do dilema da

existecircncia de mente em animais humanos e natildeo-humanos recorrendo agrave via

linguumliacutestica o termo mente construccedilatildeo de conhecimento aprendizagem etc

satildeo restritos aos animais dotados minimamente de um ceacuterebro passiacutevel de organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo Mais a expressatildeo mente eacute especiacutefica para

o grupamento humano para outros grupamentos apesar de alguma proximishy

dade ou semelhanccedila funcional que possa haver deve-se encontrar outra exshy

pressatildeo

1[Avessoavesso~ I AfatildeCcedilatuba vI inI p64-781 Jun2003

- 65

2 O cognitivismo piagetiano

Eacute possiacutevel que encontremos em Piaget algumas reflexotildees e estudos que possam vir em auxiacutelio agrave dissoluccedilatildeo da duacutevida que nos acomete qual seja se os animais natildeo humanos possuem mente e se constroacuteem conhecimentos de fonna sistemaacutetica aprendendo igualmente por uma via mais racional que pragmaacuteticainstintiva

Piaget afinna que a inteligecircncia se desenvolve em estaacutegios que se em seu aacutepice apresenta-se como loacutegico-matemaacutetica em seu iniacutecio eacute puramente sensoacuterio-motora partindo de instintos reflexos haacutebitos Toda a epistemologia geneacutetica visa demonstrar entatildeo como a inteligecircncia partindo da pura irracionalidade chega a construir as categorias mediante as quais opera bem como as noccedilotildees de tempo e espaccedilo necessaacuterias para outras organizashyccedilotildees intelectivas tais como a causalidade antecipaccedilotildees projeccedilotildees etc

Bioacutelogo de fonnaccedilatildeo Piaget estudara as organizaccedilotildees e transfonnashyccedilotildecs em coloacutenias de moluscos as quais visavam uma melhor adaptaccedilatildeo ao meio Natildeo discutiu se havia uma inteligecircncia ou mente nesses seres mas intuiu o peso do organismo na construccedilatildeo das faculdades cognitivas Para Piaget inteligecircncia eacute uma operaccedilatildeo que visa o equiliacutebrio entre o organismo e omeIO

A inteligecircncia eacute uma adaptaccedilatildeo [ ] a vida eacute uma criaccedilatildeo contiacutenua de fonnas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equiliacutebrio entre essas formas e o meio (PIAGET 1975 p 15)

Esse conjunto de afinnaccedilotildecs remete agrave noccedilatildeo do tempo se o indiviacuteduo da espeacutecie humana leva algum tempo para construir sua funccedilatildeo cognitiva prioritariamente natildeo deve ter existido um tempo bem maior e mais complexo ao longo da histoacuteria do gecircnero humano para que as estruturas fossem se auto-organizando E se com os humanos esta inteligecircncia assume contornos espantosos quanto ao brilhantismo e sutilezas mesmo que de fonna rudishymentar natildeo poderatildeo haver iacutendices de inteligecircncia em outros animais A res-

lSiesso avesso Araccedilatuba vI I nII p64-78 I Jun 2003 I

66shy

_ _- _------------------~ __shy

posta eacute mais tranquumlila parece sim os animais tecircm uma certa inteligecircncia mas isso natildeo implica em capacidade de conhecimento aleacutem da instintiva e menos ainda na presenccedila de uma mente seja laacute isso o que quer dizer aleacutem do mais a grande distacircncia entre a inteligecircncia humana e a dos animais estaria na capacidade de simbolizaccedilatildeo restrita agrave primeira

De acordo com a concepccedilatildeo piagetiana a simbolizaccedilatildeo a representashyccedilatildeo a capacidade de evocar fatos acontecimentos objetos na ausecircncia destes implica um longo caminho de descentraccedilatildeo atingido com o sujeito perceshybendo-se um objeto entre outros os quais possuem existecircncia independente dele (sujeito) A descentraccedilatildeo alude agrave capacidade do sujeito sair de si poshydendo colocar-se no lugar do outro o que favorece - ao mesmo tempo que se desenvolve a partir de - a socializaccedilatildeo Soacute que socializaccedilatildeo natildeo se restrinshyge tatildeo soacute a instinto gregaacuterio Socializaccedilatildeo implica em autonomia de vontade dos sujeitos envolvidos em um processo de cooperaccedilatildeo

Natildeo obstante tais premissas parecerem restringir entatildeo as peculiarishydades da inteligecircncia aos seres humanos jaacute existem pesquisas que tentam indicar o oposto Eacute o que podemos afirmar dos trabalhos de Wragham De Waal e Goodall citados em Revista Superinteressante e encontrados em seus sites na Internet (wwwgsnorglprojectljgiJindexhtml) Tais estudos aborshydam a vida de comunidades de chimpanzeacutes gorilas bonobos Enfim de primatas ditos superiores E revelam a existecircncia de preparativos emboscashydas estrateacutegias em verdade com o fito de ataques motivados por vinganccedila ou pura e simplesmente violecircncia gratuita Entatildeo se haacute premeditaccedilatildeo tamshybeacutem haacute planejamento haacute uma manipulaccedilatildeo da coordenada temporal Porshytanto haacute uma das caracteriacutesticas da inteligecircncia

3 Inteligecircncia condicionamento e conduta

Em Psicologia as teorias S-R condutivistas ou behavioristas remonshytando a Pavlov e Skinner fizeram um caminho inverso no que diz respeito agrave comparaccedilatildeo entre os comportamentos humanos e animais Partindo das exshyperiecircncias feitas com os animais no sentido do condicionamento da accedilatildeo aplicaram posteriormente experimentos semelhantes aos humanos conclushyindo que muitas das formas de procedimento humanas decorrem de haacutebitos

[iivesso avesso Araccedilatuba I vI InllI__--p-_64_-_7~2003 I

67shy

condicionamentos estiacutemulos e reforccedilos Eacute nessa linha de raciociacutenio que enshy

contraremos atualmente Albert Bandura para o qual a moralidade um

dos distintivos da comunidade humana por pressupor liberdade vontade

consciecircncia - igualmente eacute fruto do condicionamento agrave semelhanccedila dos deshy

mais comportamentos e formas de se proceder em sociedade

Portanto onde estaacute o limite que garantiraacute a afirmaccedilatildeo categoacuterica da

pertenccedila exclusiva da inteligecircncia aos humanos Talvez entatildeo a grande disshy

cussatildeo deva enveredar por outros campos tais como a definiccedilatildeo da mente e

por outro lado a possibilidade de existirem maacutequinas pensantes ou intelishy

gentes Tais questionamentos parecem ser mais frutuosos mesmo porque

natildeo satildeo de faacutecil resoluccedilatildeo e estatildeo implicando uma vastidatildeo de pesquisas e

estudos ainda nascentes

Dennet percorre a via da atribuiccedilatildeo da inteligecircncia a animais e da

capacidade ou possibilidade das maacutequinas um dia virem a pensar Quanto

aos tipos de mente em seu livro homocircnimo (Kinds ofMinds) o filoacutesofo verishy

fica a existecircncia de alguns empecilhos mormente dois a postulaccedilatildeo do que

seja a mente (problema ontoloacutegico) e como descobrir a existecircncia dessa

mente (ou de mentes) em outros seres (problema epistemoloacutegico) Dennet

incide muito sobre o aspecto comunicativo ou seja de que a comunicaccedilatildeo eacute

um denotativo da existecircncia de mentes em humanos e eacute para noacutes a forma

pela qual ascendemos a ela - ainda que em uma comunicaccedilatildeo subjetiva

(introspecccedilatildeo) Em sendo assim a barreira da comunicaccedilatildeo entre a mente

humana e as demais mentes forccedila uma postura em que havendo uma atividashy

de ou funccedilatildeo cerebral agrave qual atribuiacutemos o nome de mente tal atividade ou

funccedilatildeo eacute especiacutefica dos humanos em outros entes deve ser reconhecida meshy

diante outra designaccedilatildeo

Podemos afirmar ainda que sem a necessaacuteria profundidade exigida

pelo tema e apesar de algumas restriccedilotildees posteriormente evocadas que

esta postura muito nos agrada Dennet (1996) se refere agrave mente humana

como uma caracteriacutestica da evoluccedilatildeo desta espeacutecie e natildeo de toda e qualshy

quer espeacutecie E para o objeto de estudo que temos nos proposto esse conshy

junto de afirmaccedilotildees assume uma pertinecircncia crucial Ora se temos em men-

i I Avesso avesso Araccedilatuba I v1 LIn_-J11--_-p__64_-_7_81---_J_u_n_2_0_0----3I

- 68shy

------_ ~~-_~_~~~_-----------shy

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

totildees suscitam em noacutes um certo mal-estar pois vatildeo de encontro a convicccedilotildees

profundas concernentes agrave suposta dignidade humana Ora eacute claro que haacute

gradaccedilatildeo de dor entre os animais e os humanos Eacute oacutebvio que os animais natildeo pensam Eacute certo que uma aranha natildeo planeja suas atividades diaacuterias e sua

construccedilatildeo Mas Seraacute mesmo tudo tatildeo oacutebvio e certo

Sagan (1996) em seu livro OMundo Assombrado Pelos Democircnios

faz uma observaccedilatildeo interessante entre a proximidade geneacutetica dos humanos

com alguns primatas chegando a afirmar o compartilhamento geneacutetico de

humanos com os chimpanzeacutes em um iacutendice da ordem de 90 - enquanto entre ratos e camundongos o iacutendice eacute de cerca de 75 Jaacute Myers citando de

Waal afirma que mais de 98 por cento de nossos genes satildeo idecircnticos aos do

chimpanzeacute tomando-os tatildeo proacuteximos de noacutes quanto uma raposa eacute de um cachorro (MYERS 1999 p 53)

Arendt (1985) ainda que argumentando sobre a violecircncia tambeacutem se

refere agrave proximidade humana frente aos outros animais irracionais

A ciecircncia modema partindo sem maiores criacuteticas dessa velha pressushy

posiccedilatildeo (a definiccedilatildeo do homem como animal rationale) foi bem longe ao

provar que o homem compartilha todos os demais atributos com alguma

espeacutecie do reino animal- exceto o dote suplementar da razatildeo toma-o um animal mais perigoso (p 34)

Mesmo que a proximidade ou compartilhamento de demais atribushy

tos seja reconhecida persiste a reserva da racionalidade apenas para a esshy

peacutecie humana e alguns estudiosos tendem para a resoluccedilatildeo do dilema da

existecircncia de mente em animais humanos e natildeo-humanos recorrendo agrave via

linguumliacutestica o termo mente construccedilatildeo de conhecimento aprendizagem etc

satildeo restritos aos animais dotados minimamente de um ceacuterebro passiacutevel de organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo Mais a expressatildeo mente eacute especiacutefica para

o grupamento humano para outros grupamentos apesar de alguma proximishy

dade ou semelhanccedila funcional que possa haver deve-se encontrar outra exshy

pressatildeo

1[Avessoavesso~ I AfatildeCcedilatuba vI inI p64-781 Jun2003

- 65

2 O cognitivismo piagetiano

Eacute possiacutevel que encontremos em Piaget algumas reflexotildees e estudos que possam vir em auxiacutelio agrave dissoluccedilatildeo da duacutevida que nos acomete qual seja se os animais natildeo humanos possuem mente e se constroacuteem conhecimentos de fonna sistemaacutetica aprendendo igualmente por uma via mais racional que pragmaacuteticainstintiva

Piaget afinna que a inteligecircncia se desenvolve em estaacutegios que se em seu aacutepice apresenta-se como loacutegico-matemaacutetica em seu iniacutecio eacute puramente sensoacuterio-motora partindo de instintos reflexos haacutebitos Toda a epistemologia geneacutetica visa demonstrar entatildeo como a inteligecircncia partindo da pura irracionalidade chega a construir as categorias mediante as quais opera bem como as noccedilotildees de tempo e espaccedilo necessaacuterias para outras organizashyccedilotildees intelectivas tais como a causalidade antecipaccedilotildees projeccedilotildees etc

Bioacutelogo de fonnaccedilatildeo Piaget estudara as organizaccedilotildees e transfonnashyccedilotildecs em coloacutenias de moluscos as quais visavam uma melhor adaptaccedilatildeo ao meio Natildeo discutiu se havia uma inteligecircncia ou mente nesses seres mas intuiu o peso do organismo na construccedilatildeo das faculdades cognitivas Para Piaget inteligecircncia eacute uma operaccedilatildeo que visa o equiliacutebrio entre o organismo e omeIO

A inteligecircncia eacute uma adaptaccedilatildeo [ ] a vida eacute uma criaccedilatildeo contiacutenua de fonnas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equiliacutebrio entre essas formas e o meio (PIAGET 1975 p 15)

Esse conjunto de afinnaccedilotildecs remete agrave noccedilatildeo do tempo se o indiviacuteduo da espeacutecie humana leva algum tempo para construir sua funccedilatildeo cognitiva prioritariamente natildeo deve ter existido um tempo bem maior e mais complexo ao longo da histoacuteria do gecircnero humano para que as estruturas fossem se auto-organizando E se com os humanos esta inteligecircncia assume contornos espantosos quanto ao brilhantismo e sutilezas mesmo que de fonna rudishymentar natildeo poderatildeo haver iacutendices de inteligecircncia em outros animais A res-

lSiesso avesso Araccedilatuba vI I nII p64-78 I Jun 2003 I

66shy

_ _- _------------------~ __shy

posta eacute mais tranquumlila parece sim os animais tecircm uma certa inteligecircncia mas isso natildeo implica em capacidade de conhecimento aleacutem da instintiva e menos ainda na presenccedila de uma mente seja laacute isso o que quer dizer aleacutem do mais a grande distacircncia entre a inteligecircncia humana e a dos animais estaria na capacidade de simbolizaccedilatildeo restrita agrave primeira

De acordo com a concepccedilatildeo piagetiana a simbolizaccedilatildeo a representashyccedilatildeo a capacidade de evocar fatos acontecimentos objetos na ausecircncia destes implica um longo caminho de descentraccedilatildeo atingido com o sujeito perceshybendo-se um objeto entre outros os quais possuem existecircncia independente dele (sujeito) A descentraccedilatildeo alude agrave capacidade do sujeito sair de si poshydendo colocar-se no lugar do outro o que favorece - ao mesmo tempo que se desenvolve a partir de - a socializaccedilatildeo Soacute que socializaccedilatildeo natildeo se restrinshyge tatildeo soacute a instinto gregaacuterio Socializaccedilatildeo implica em autonomia de vontade dos sujeitos envolvidos em um processo de cooperaccedilatildeo

Natildeo obstante tais premissas parecerem restringir entatildeo as peculiarishydades da inteligecircncia aos seres humanos jaacute existem pesquisas que tentam indicar o oposto Eacute o que podemos afirmar dos trabalhos de Wragham De Waal e Goodall citados em Revista Superinteressante e encontrados em seus sites na Internet (wwwgsnorglprojectljgiJindexhtml) Tais estudos aborshydam a vida de comunidades de chimpanzeacutes gorilas bonobos Enfim de primatas ditos superiores E revelam a existecircncia de preparativos emboscashydas estrateacutegias em verdade com o fito de ataques motivados por vinganccedila ou pura e simplesmente violecircncia gratuita Entatildeo se haacute premeditaccedilatildeo tamshybeacutem haacute planejamento haacute uma manipulaccedilatildeo da coordenada temporal Porshytanto haacute uma das caracteriacutesticas da inteligecircncia

3 Inteligecircncia condicionamento e conduta

Em Psicologia as teorias S-R condutivistas ou behavioristas remonshytando a Pavlov e Skinner fizeram um caminho inverso no que diz respeito agrave comparaccedilatildeo entre os comportamentos humanos e animais Partindo das exshyperiecircncias feitas com os animais no sentido do condicionamento da accedilatildeo aplicaram posteriormente experimentos semelhantes aos humanos conclushyindo que muitas das formas de procedimento humanas decorrem de haacutebitos

[iivesso avesso Araccedilatuba I vI InllI__--p-_64_-_7~2003 I

67shy

condicionamentos estiacutemulos e reforccedilos Eacute nessa linha de raciociacutenio que enshy

contraremos atualmente Albert Bandura para o qual a moralidade um

dos distintivos da comunidade humana por pressupor liberdade vontade

consciecircncia - igualmente eacute fruto do condicionamento agrave semelhanccedila dos deshy

mais comportamentos e formas de se proceder em sociedade

Portanto onde estaacute o limite que garantiraacute a afirmaccedilatildeo categoacuterica da

pertenccedila exclusiva da inteligecircncia aos humanos Talvez entatildeo a grande disshy

cussatildeo deva enveredar por outros campos tais como a definiccedilatildeo da mente e

por outro lado a possibilidade de existirem maacutequinas pensantes ou intelishy

gentes Tais questionamentos parecem ser mais frutuosos mesmo porque

natildeo satildeo de faacutecil resoluccedilatildeo e estatildeo implicando uma vastidatildeo de pesquisas e

estudos ainda nascentes

Dennet percorre a via da atribuiccedilatildeo da inteligecircncia a animais e da

capacidade ou possibilidade das maacutequinas um dia virem a pensar Quanto

aos tipos de mente em seu livro homocircnimo (Kinds ofMinds) o filoacutesofo verishy

fica a existecircncia de alguns empecilhos mormente dois a postulaccedilatildeo do que

seja a mente (problema ontoloacutegico) e como descobrir a existecircncia dessa

mente (ou de mentes) em outros seres (problema epistemoloacutegico) Dennet

incide muito sobre o aspecto comunicativo ou seja de que a comunicaccedilatildeo eacute

um denotativo da existecircncia de mentes em humanos e eacute para noacutes a forma

pela qual ascendemos a ela - ainda que em uma comunicaccedilatildeo subjetiva

(introspecccedilatildeo) Em sendo assim a barreira da comunicaccedilatildeo entre a mente

humana e as demais mentes forccedila uma postura em que havendo uma atividashy

de ou funccedilatildeo cerebral agrave qual atribuiacutemos o nome de mente tal atividade ou

funccedilatildeo eacute especiacutefica dos humanos em outros entes deve ser reconhecida meshy

diante outra designaccedilatildeo

Podemos afirmar ainda que sem a necessaacuteria profundidade exigida

pelo tema e apesar de algumas restriccedilotildees posteriormente evocadas que

esta postura muito nos agrada Dennet (1996) se refere agrave mente humana

como uma caracteriacutestica da evoluccedilatildeo desta espeacutecie e natildeo de toda e qualshy

quer espeacutecie E para o objeto de estudo que temos nos proposto esse conshy

junto de afirmaccedilotildees assume uma pertinecircncia crucial Ora se temos em men-

i I Avesso avesso Araccedilatuba I v1 LIn_-J11--_-p__64_-_7_81---_J_u_n_2_0_0----3I

- 68shy

------_ ~~-_~_~~~_-----------shy

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

2 O cognitivismo piagetiano

Eacute possiacutevel que encontremos em Piaget algumas reflexotildees e estudos que possam vir em auxiacutelio agrave dissoluccedilatildeo da duacutevida que nos acomete qual seja se os animais natildeo humanos possuem mente e se constroacuteem conhecimentos de fonna sistemaacutetica aprendendo igualmente por uma via mais racional que pragmaacuteticainstintiva

Piaget afinna que a inteligecircncia se desenvolve em estaacutegios que se em seu aacutepice apresenta-se como loacutegico-matemaacutetica em seu iniacutecio eacute puramente sensoacuterio-motora partindo de instintos reflexos haacutebitos Toda a epistemologia geneacutetica visa demonstrar entatildeo como a inteligecircncia partindo da pura irracionalidade chega a construir as categorias mediante as quais opera bem como as noccedilotildees de tempo e espaccedilo necessaacuterias para outras organizashyccedilotildees intelectivas tais como a causalidade antecipaccedilotildees projeccedilotildees etc

Bioacutelogo de fonnaccedilatildeo Piaget estudara as organizaccedilotildees e transfonnashyccedilotildecs em coloacutenias de moluscos as quais visavam uma melhor adaptaccedilatildeo ao meio Natildeo discutiu se havia uma inteligecircncia ou mente nesses seres mas intuiu o peso do organismo na construccedilatildeo das faculdades cognitivas Para Piaget inteligecircncia eacute uma operaccedilatildeo que visa o equiliacutebrio entre o organismo e omeIO

A inteligecircncia eacute uma adaptaccedilatildeo [ ] a vida eacute uma criaccedilatildeo contiacutenua de fonnas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equiliacutebrio entre essas formas e o meio (PIAGET 1975 p 15)

Esse conjunto de afinnaccedilotildecs remete agrave noccedilatildeo do tempo se o indiviacuteduo da espeacutecie humana leva algum tempo para construir sua funccedilatildeo cognitiva prioritariamente natildeo deve ter existido um tempo bem maior e mais complexo ao longo da histoacuteria do gecircnero humano para que as estruturas fossem se auto-organizando E se com os humanos esta inteligecircncia assume contornos espantosos quanto ao brilhantismo e sutilezas mesmo que de fonna rudishymentar natildeo poderatildeo haver iacutendices de inteligecircncia em outros animais A res-

lSiesso avesso Araccedilatuba vI I nII p64-78 I Jun 2003 I

66shy

_ _- _------------------~ __shy

posta eacute mais tranquumlila parece sim os animais tecircm uma certa inteligecircncia mas isso natildeo implica em capacidade de conhecimento aleacutem da instintiva e menos ainda na presenccedila de uma mente seja laacute isso o que quer dizer aleacutem do mais a grande distacircncia entre a inteligecircncia humana e a dos animais estaria na capacidade de simbolizaccedilatildeo restrita agrave primeira

De acordo com a concepccedilatildeo piagetiana a simbolizaccedilatildeo a representashyccedilatildeo a capacidade de evocar fatos acontecimentos objetos na ausecircncia destes implica um longo caminho de descentraccedilatildeo atingido com o sujeito perceshybendo-se um objeto entre outros os quais possuem existecircncia independente dele (sujeito) A descentraccedilatildeo alude agrave capacidade do sujeito sair de si poshydendo colocar-se no lugar do outro o que favorece - ao mesmo tempo que se desenvolve a partir de - a socializaccedilatildeo Soacute que socializaccedilatildeo natildeo se restrinshyge tatildeo soacute a instinto gregaacuterio Socializaccedilatildeo implica em autonomia de vontade dos sujeitos envolvidos em um processo de cooperaccedilatildeo

Natildeo obstante tais premissas parecerem restringir entatildeo as peculiarishydades da inteligecircncia aos seres humanos jaacute existem pesquisas que tentam indicar o oposto Eacute o que podemos afirmar dos trabalhos de Wragham De Waal e Goodall citados em Revista Superinteressante e encontrados em seus sites na Internet (wwwgsnorglprojectljgiJindexhtml) Tais estudos aborshydam a vida de comunidades de chimpanzeacutes gorilas bonobos Enfim de primatas ditos superiores E revelam a existecircncia de preparativos emboscashydas estrateacutegias em verdade com o fito de ataques motivados por vinganccedila ou pura e simplesmente violecircncia gratuita Entatildeo se haacute premeditaccedilatildeo tamshybeacutem haacute planejamento haacute uma manipulaccedilatildeo da coordenada temporal Porshytanto haacute uma das caracteriacutesticas da inteligecircncia

3 Inteligecircncia condicionamento e conduta

Em Psicologia as teorias S-R condutivistas ou behavioristas remonshytando a Pavlov e Skinner fizeram um caminho inverso no que diz respeito agrave comparaccedilatildeo entre os comportamentos humanos e animais Partindo das exshyperiecircncias feitas com os animais no sentido do condicionamento da accedilatildeo aplicaram posteriormente experimentos semelhantes aos humanos conclushyindo que muitas das formas de procedimento humanas decorrem de haacutebitos

[iivesso avesso Araccedilatuba I vI InllI__--p-_64_-_7~2003 I

67shy

condicionamentos estiacutemulos e reforccedilos Eacute nessa linha de raciociacutenio que enshy

contraremos atualmente Albert Bandura para o qual a moralidade um

dos distintivos da comunidade humana por pressupor liberdade vontade

consciecircncia - igualmente eacute fruto do condicionamento agrave semelhanccedila dos deshy

mais comportamentos e formas de se proceder em sociedade

Portanto onde estaacute o limite que garantiraacute a afirmaccedilatildeo categoacuterica da

pertenccedila exclusiva da inteligecircncia aos humanos Talvez entatildeo a grande disshy

cussatildeo deva enveredar por outros campos tais como a definiccedilatildeo da mente e

por outro lado a possibilidade de existirem maacutequinas pensantes ou intelishy

gentes Tais questionamentos parecem ser mais frutuosos mesmo porque

natildeo satildeo de faacutecil resoluccedilatildeo e estatildeo implicando uma vastidatildeo de pesquisas e

estudos ainda nascentes

Dennet percorre a via da atribuiccedilatildeo da inteligecircncia a animais e da

capacidade ou possibilidade das maacutequinas um dia virem a pensar Quanto

aos tipos de mente em seu livro homocircnimo (Kinds ofMinds) o filoacutesofo verishy

fica a existecircncia de alguns empecilhos mormente dois a postulaccedilatildeo do que

seja a mente (problema ontoloacutegico) e como descobrir a existecircncia dessa

mente (ou de mentes) em outros seres (problema epistemoloacutegico) Dennet

incide muito sobre o aspecto comunicativo ou seja de que a comunicaccedilatildeo eacute

um denotativo da existecircncia de mentes em humanos e eacute para noacutes a forma

pela qual ascendemos a ela - ainda que em uma comunicaccedilatildeo subjetiva

(introspecccedilatildeo) Em sendo assim a barreira da comunicaccedilatildeo entre a mente

humana e as demais mentes forccedila uma postura em que havendo uma atividashy

de ou funccedilatildeo cerebral agrave qual atribuiacutemos o nome de mente tal atividade ou

funccedilatildeo eacute especiacutefica dos humanos em outros entes deve ser reconhecida meshy

diante outra designaccedilatildeo

Podemos afirmar ainda que sem a necessaacuteria profundidade exigida

pelo tema e apesar de algumas restriccedilotildees posteriormente evocadas que

esta postura muito nos agrada Dennet (1996) se refere agrave mente humana

como uma caracteriacutestica da evoluccedilatildeo desta espeacutecie e natildeo de toda e qualshy

quer espeacutecie E para o objeto de estudo que temos nos proposto esse conshy

junto de afirmaccedilotildees assume uma pertinecircncia crucial Ora se temos em men-

i I Avesso avesso Araccedilatuba I v1 LIn_-J11--_-p__64_-_7_81---_J_u_n_2_0_0----3I

- 68shy

------_ ~~-_~_~~~_-----------shy

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

posta eacute mais tranquumlila parece sim os animais tecircm uma certa inteligecircncia mas isso natildeo implica em capacidade de conhecimento aleacutem da instintiva e menos ainda na presenccedila de uma mente seja laacute isso o que quer dizer aleacutem do mais a grande distacircncia entre a inteligecircncia humana e a dos animais estaria na capacidade de simbolizaccedilatildeo restrita agrave primeira

De acordo com a concepccedilatildeo piagetiana a simbolizaccedilatildeo a representashyccedilatildeo a capacidade de evocar fatos acontecimentos objetos na ausecircncia destes implica um longo caminho de descentraccedilatildeo atingido com o sujeito perceshybendo-se um objeto entre outros os quais possuem existecircncia independente dele (sujeito) A descentraccedilatildeo alude agrave capacidade do sujeito sair de si poshydendo colocar-se no lugar do outro o que favorece - ao mesmo tempo que se desenvolve a partir de - a socializaccedilatildeo Soacute que socializaccedilatildeo natildeo se restrinshyge tatildeo soacute a instinto gregaacuterio Socializaccedilatildeo implica em autonomia de vontade dos sujeitos envolvidos em um processo de cooperaccedilatildeo

Natildeo obstante tais premissas parecerem restringir entatildeo as peculiarishydades da inteligecircncia aos seres humanos jaacute existem pesquisas que tentam indicar o oposto Eacute o que podemos afirmar dos trabalhos de Wragham De Waal e Goodall citados em Revista Superinteressante e encontrados em seus sites na Internet (wwwgsnorglprojectljgiJindexhtml) Tais estudos aborshydam a vida de comunidades de chimpanzeacutes gorilas bonobos Enfim de primatas ditos superiores E revelam a existecircncia de preparativos emboscashydas estrateacutegias em verdade com o fito de ataques motivados por vinganccedila ou pura e simplesmente violecircncia gratuita Entatildeo se haacute premeditaccedilatildeo tamshybeacutem haacute planejamento haacute uma manipulaccedilatildeo da coordenada temporal Porshytanto haacute uma das caracteriacutesticas da inteligecircncia

3 Inteligecircncia condicionamento e conduta

Em Psicologia as teorias S-R condutivistas ou behavioristas remonshytando a Pavlov e Skinner fizeram um caminho inverso no que diz respeito agrave comparaccedilatildeo entre os comportamentos humanos e animais Partindo das exshyperiecircncias feitas com os animais no sentido do condicionamento da accedilatildeo aplicaram posteriormente experimentos semelhantes aos humanos conclushyindo que muitas das formas de procedimento humanas decorrem de haacutebitos

[iivesso avesso Araccedilatuba I vI InllI__--p-_64_-_7~2003 I

67shy

condicionamentos estiacutemulos e reforccedilos Eacute nessa linha de raciociacutenio que enshy

contraremos atualmente Albert Bandura para o qual a moralidade um

dos distintivos da comunidade humana por pressupor liberdade vontade

consciecircncia - igualmente eacute fruto do condicionamento agrave semelhanccedila dos deshy

mais comportamentos e formas de se proceder em sociedade

Portanto onde estaacute o limite que garantiraacute a afirmaccedilatildeo categoacuterica da

pertenccedila exclusiva da inteligecircncia aos humanos Talvez entatildeo a grande disshy

cussatildeo deva enveredar por outros campos tais como a definiccedilatildeo da mente e

por outro lado a possibilidade de existirem maacutequinas pensantes ou intelishy

gentes Tais questionamentos parecem ser mais frutuosos mesmo porque

natildeo satildeo de faacutecil resoluccedilatildeo e estatildeo implicando uma vastidatildeo de pesquisas e

estudos ainda nascentes

Dennet percorre a via da atribuiccedilatildeo da inteligecircncia a animais e da

capacidade ou possibilidade das maacutequinas um dia virem a pensar Quanto

aos tipos de mente em seu livro homocircnimo (Kinds ofMinds) o filoacutesofo verishy

fica a existecircncia de alguns empecilhos mormente dois a postulaccedilatildeo do que

seja a mente (problema ontoloacutegico) e como descobrir a existecircncia dessa

mente (ou de mentes) em outros seres (problema epistemoloacutegico) Dennet

incide muito sobre o aspecto comunicativo ou seja de que a comunicaccedilatildeo eacute

um denotativo da existecircncia de mentes em humanos e eacute para noacutes a forma

pela qual ascendemos a ela - ainda que em uma comunicaccedilatildeo subjetiva

(introspecccedilatildeo) Em sendo assim a barreira da comunicaccedilatildeo entre a mente

humana e as demais mentes forccedila uma postura em que havendo uma atividashy

de ou funccedilatildeo cerebral agrave qual atribuiacutemos o nome de mente tal atividade ou

funccedilatildeo eacute especiacutefica dos humanos em outros entes deve ser reconhecida meshy

diante outra designaccedilatildeo

Podemos afirmar ainda que sem a necessaacuteria profundidade exigida

pelo tema e apesar de algumas restriccedilotildees posteriormente evocadas que

esta postura muito nos agrada Dennet (1996) se refere agrave mente humana

como uma caracteriacutestica da evoluccedilatildeo desta espeacutecie e natildeo de toda e qualshy

quer espeacutecie E para o objeto de estudo que temos nos proposto esse conshy

junto de afirmaccedilotildees assume uma pertinecircncia crucial Ora se temos em men-

i I Avesso avesso Araccedilatuba I v1 LIn_-J11--_-p__64_-_7_81---_J_u_n_2_0_0----3I

- 68shy

------_ ~~-_~_~~~_-----------shy

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

condicionamentos estiacutemulos e reforccedilos Eacute nessa linha de raciociacutenio que enshy

contraremos atualmente Albert Bandura para o qual a moralidade um

dos distintivos da comunidade humana por pressupor liberdade vontade

consciecircncia - igualmente eacute fruto do condicionamento agrave semelhanccedila dos deshy

mais comportamentos e formas de se proceder em sociedade

Portanto onde estaacute o limite que garantiraacute a afirmaccedilatildeo categoacuterica da

pertenccedila exclusiva da inteligecircncia aos humanos Talvez entatildeo a grande disshy

cussatildeo deva enveredar por outros campos tais como a definiccedilatildeo da mente e

por outro lado a possibilidade de existirem maacutequinas pensantes ou intelishy

gentes Tais questionamentos parecem ser mais frutuosos mesmo porque

natildeo satildeo de faacutecil resoluccedilatildeo e estatildeo implicando uma vastidatildeo de pesquisas e

estudos ainda nascentes

Dennet percorre a via da atribuiccedilatildeo da inteligecircncia a animais e da

capacidade ou possibilidade das maacutequinas um dia virem a pensar Quanto

aos tipos de mente em seu livro homocircnimo (Kinds ofMinds) o filoacutesofo verishy

fica a existecircncia de alguns empecilhos mormente dois a postulaccedilatildeo do que

seja a mente (problema ontoloacutegico) e como descobrir a existecircncia dessa

mente (ou de mentes) em outros seres (problema epistemoloacutegico) Dennet

incide muito sobre o aspecto comunicativo ou seja de que a comunicaccedilatildeo eacute

um denotativo da existecircncia de mentes em humanos e eacute para noacutes a forma

pela qual ascendemos a ela - ainda que em uma comunicaccedilatildeo subjetiva

(introspecccedilatildeo) Em sendo assim a barreira da comunicaccedilatildeo entre a mente

humana e as demais mentes forccedila uma postura em que havendo uma atividashy

de ou funccedilatildeo cerebral agrave qual atribuiacutemos o nome de mente tal atividade ou

funccedilatildeo eacute especiacutefica dos humanos em outros entes deve ser reconhecida meshy

diante outra designaccedilatildeo

Podemos afirmar ainda que sem a necessaacuteria profundidade exigida

pelo tema e apesar de algumas restriccedilotildees posteriormente evocadas que

esta postura muito nos agrada Dennet (1996) se refere agrave mente humana

como uma caracteriacutestica da evoluccedilatildeo desta espeacutecie e natildeo de toda e qualshy

quer espeacutecie E para o objeto de estudo que temos nos proposto esse conshy

junto de afirmaccedilotildees assume uma pertinecircncia crucial Ora se temos em men-

i I Avesso avesso Araccedilatuba I v1 LIn_-J11--_-p__64_-_7_81---_J_u_n_2_0_0----3I

- 68shy

------_ ~~-_~_~~~_-----------shy

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

te discutir a questatildeo da moralidade e seu desenvolvimento bem como os entraves interpostos pelo meio - tais como o meio precaacuterio de estiacutemulos um meio pervadido por carecircncias e situaccedilotildees violentas e violentadoras eacute censhytral nas argumentaccedilotildees a definiccedilatildeo da mente e o status que a mesma confere aos seus detentores uma vez que humanamente falando eacute pela consshyciecircncia que vem uma das implicaccedilotildees da responsabilizaccedilatildeo moral o conhecishymento o auto conhecimento a introspecccedilatildeo a capacidade de raciocinar

prever antecipar accedilotildees e consequumlecircncias Tambeacutem outro elemento da responsabilizaccedilatildeo moral- a liberdade - afigura-se com o problema da menshyte uma vez que se explicita a submissatildeo ou natildeo de uma vontade outra messhymo que natildeo humana mas legiacutetima - se se reconhecem outros seres natildeo mais como tatildeo inferiores mas com um arbiacutetrio diferente do nosso quando estamos em busca de benefiacutecios (ou natildeo) hauridos destes mesmos seres (tais como a mateacuteria prima para o alimento vestuaacuterio etc)

Alguns estudiosos deste campo - principalmente Hugo de Garis - oushy

sam ir mais longe procurando fazer reverter a situaccedilatildeo tendo como referecircnshycia a maacutequina e a IA Argumentam que nossa inteligecircncia eacute naturalmente limitada pela sua constituiccedilatildeo neuroloacutegica e geneacutetica natildeo havendo em um primeiro momento como fazer com que o ceacuterebro humano seja diverso do que eacute hoje Paradoxalmente uma inteligecircncia artificial- uma vez encontrado o caminho para sua organizaccedilatildeo e confecccedilatildeo - natildeo teria a priori um

limite estabelecido Dessa forma a inteligecircncia artificial poderia avanccedilar arshy

ranjos e conexotildees muito mais complexas e profundas que a inteligecircncia hushymana Tais intelectos artificiais - ou artilects como os designam esses pesshyquisadores - teriam hipoteticamente como uma de suas caracteriacutesticas jusshytamente primeiro a natildeo limitaccedilatildeo para o avanccedilo e a aquisiccedilatildeo de novas qualidades intelectivas segundo uma possiacutevel desconsideraccedilatildeo por menshytes inferiores agrave semelhanccedila do que ocorre conosco Em outras palavras da mesma maneira que muitos de noacutes humanos natildeo acham descabida a atribuiccedilatildeo de uma certa inteligecircncia a outros animais - o que natildeo nos impede

de usufruirmos de algumas de suas capacidades ou produtos (o ovo e a carne nas galinhas os experimentos bacterioloacutegicos e vIacuteroacuteticos nos camun-

LIA_ve_s_s_o_a_v_e_ss_o__A_raccedilO-a_tu_b_a_ I vI inl ---p64-78 1un2003

- 69shy

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

dongos a carne a gordura a cartilagem nas baleias a carne o leite a gorshydura a pele os ossos nos bovinos etc) - seria de se esperar que os artilects se voltassem para os seres humanos com o mesmo tipo de postura incluindo outras mais radicais como a pura e simples extinccedilatildeo

O que esse exemplo radical e extremo de possibilidade da criaccedilatildeo e desenvolvimento da inteligecircncia eou mente em ceacuterebros artificiais nos apreshysenta eacute novamente o panorama moral tal qual antes era referido aos seres humanos e aos animais ditos inferiores a noacutes o que nos dava uma certa garantia de autoridade ou direito de deles nos dispormos quando e quanshyto bem nos aprouvesse Em havendo uma inteligecircncia superior agrave nossa que consiga uma certa independecircncia a esses ceacuterebros parecida como legiacutetima qual a argumentaccedilatildeo para reivindicarmos relativamente a tais artilects shyum status de respeito maior do que o que temos para com um bovino ou suiacuteno Tal ficccedilatildeo jaacute nos foi apresentada por Clark em 200 I Uma Odisseacuteia no Espaccedilo tendo como protagonista o supercomputador HAL Ali jaacute asshysistimos um artilect levando adiante um arrojado projeto de aniquilaccedilatildeo dos humanos que a seus olhos natildeo estariam agindo em conformidade com o esperado ou com o planejado - ao menos por ele

4 Implicaccedilotildees morais no acircmbito cognitivo

Dessa forma se o problema aventado inicialmente pelas Ciecircncias Cognitivas eacuteo do conhecimento da gecircnese e da criaccedilatildeo da inteligecircncia que tem seus reflexos e protagonismo nos estudos psicoloacutegicos e filosoacuteficos a decorrecircncia natildeo de todo enfrentada mas nem por isso descartada eacute quanto agrave eticidade desses avanccedilos - a problemaacutetica moral Ora se em nossas invesshytigaccedilotildees de base teoacuterica piagetiana o dado moral o juiacutezo moral eacuteuma conshytiguumlidade do desenvolvimento do juiacutezo cognitivo da inteligecircncia e suas opeshyraccedilotildees eacute de se esperar que os artilects possam conseguir esse tipo de caracteriacutestica igualmente

Em contrapartida estudos sobre a psicopatia revelam que nos psicoshypatas haacute uma ruptura do acircmbito da avaliaccedilatildeo das consequumlecircncias face ao

~vesso avesso Araccedilatuba vI I n_l-LI__-p_6_4_-7_8l-1_J_un__2_00_3-J1

- 70shy

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

acircmbito do planejamento das accedilotildees que iratildeo redundar em tais consequumlecircncias Haacute fundamentalmente uma lacuna ou falha entre os campos cognitivo afetivo econativo

[ ] a etimologia da psicopatia se define como uma alshyteraccedilatildeo conjunta das esferas afetiva e conativa do indiviacuteduo deixando iacutentegra a esfera intelectual Ou seja o desvio de cashyraacuteter que se verifica afeta apenas os aspectos afetiacutevo (do senshytir) e conativo (do agir) sem prejudicar a capacidade intelecshytual (do pensar) Psicopatas podem ser pessoas ateacute bastante inteligentes e usar essa inteligecircncia para esconder o que fez (sic) de errado e dissimular alguns traccedilos Como a falta de remorso por exemplo O remorso seria uma espeacutecie de vishysatildeo afetiva da culpa e isso o psicopata natildeo tem (CAMPOS 1998)

Fica explicitado entatildeo que um grande fator de equiliacutebrio para as potencialidades intelectivas eacute o afetivo o qual propicia uma avaliaccedilatildeo mais adequada das circunstacircncias e dos elementos (seres) envolvidos Mas o fashytor afetiacutevo deve ser em princiacutepio amadurecido equilibrado sadio ou conshyduz para outras patologias pulsotildees etc Eacute esta a afetividade uma caracteshyriacutestica animal com grandes dependecircncias geneacuteticas hormonais sensoriais aleacutem de intelectivas E as exceccedilotildees confirmam a regra ainda que entre os humanos encontremos grandes gecircnios desprovidos de afetividade de resshypeito e consideraccedilatildeo pelos demais monstros como os qualificamos por natildeo corresponderem a um padratildeo que supomos normal onde estaacute presente de forma equilibrada o afeto

5 Inteligecircncia x inteligecircncias questatildeo epistemoloacutegica

Trazemos entatildeo os argumentos restritivos agrave linha desenvolvida por Dennet conforme salientamos acima Em parte para as observaccedilotildees que se seguem aproximamo-nos de Searle (1997) o qual se coloca frontalmente contra o que designa de IA forte Ou seja aquela corrente da IA que

Araccedilatuba I ~--In_l_i__ p64-781JunWOO]

71

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

afinna categoricamente a possibilidade dos computadores serem inteligentes e virem a desenvolver essa qualidade mental Para Searle os erros argumentativos se devem ao fato de existir um predomiacutenio do discurso que se pretende cientiacutefico em diversas aacutereas que natildeo questionam sua proacutepria cientificidade ou a vali dez cientiacutefica (comprovaccedilatildeo) de seus conceitos Tal postura relega agraves pessoas a uma uacutenica alternativa ou se eacute dualista- aceitanshydo a dicotomia fiacutesico x mente cartesiana ou se eacute materialista - e como o tenno indica fazendo um reducionismo a apenas uma das dimensotildees a fiacutesishyca materiaL

Searle pretende demonstrar lacunas nesse tipo de reflexatildeo que tem dominado o campo investigativo especialmente no que diz respeito agrave filososhyfia da Mente Sua argumentaccedilatildeo vai no sentido de exigir uma maior precisatildeo de termos tendo presente frequumlentemente a gecircnese dos mesmos o domiacuteshynio cientiacutefico-especulativo de onde se Oliginou Em outras palavras natildeo se pode utilizar sem mais um termo especiacutefico da aacuterea filosoacutefico-psicoloacutegica em uma aacuterea teacutecno-cientiacutetica como a infonnaacutetica ou computacional

Tendemos a admitir acriticamente que expressotildees como cogniccedilatildeo inteligecircncia e processo de infonnaccedilatildeo tecircm definiccedilotildees claras e efetivamenshyte representam algumas categorias naturais [ ] muitas noccedilotildees que soam bastante teacutecnicas satildeo pobremente definidas - noccedilotildees como computador computaccedilatildeo programa e siacutembolo por exemplo (1997 p 27)

Outra frente de sua argumentaccedilatildeo refere-se a uma confusatildeo sobre fiacutesico e mental e a irredutibilidade de ambas as dimensotildees Searle eacute contunshydente

alguns filoacutesofos relutam em admitir a existecircncia da consciecircncia porshyque natildeo conseguem enxergar que o estado mental da consciecircncia eacute apenas uma caracteriacutestica bioloacutegica ordinaacuteria isto eacute fiacutesica do ceacuterebro (p 24-25)

AfinaL para Searle A consciecircncia eacute uma propriedade emergente ou de niacutevel superior do

ceacuterebro no sentido absolutamente inoacutecuo de de niacutevel superior ou emershy

72

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

gente no qual a solidez eacute uma propriedade emergente de niacutevel superior de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo em uma estrutura cristalina (gelo) e a

liquidez eacute de forma semelhante uma propriedade emergente de niacutevel superishyor de moleacuteculas de H

2O quando estas estatildeo falando a grosso modo girando

em tomo umas das outras (aacutegua) A consciecircncia eacute uma propriedade de sisteshy

mas de moleacuteculas [ ] o fato de uma caracteriacutestica ser mental natildeo implica que natildeo seja fiacutesica o fato de uma caracteriacutestica ser fiacutesica natildeo implica que natildeo seja mental (1997 p 25-26)

Esses dois pressupostos essas duas linhas de raciociacutenio querem corshyroborar a tese subjacente de que a inteligecircncia ou a mente eacute algo especiacutefico do ser humano e que uma accedilatildeo ou comportamento semelhante por parte de outros seres natildeo orgacircnicos deve ser designada consequumlentemente por

outro termo E mais a mente natildeo eacute uma espeacutecie de programa que faz o ceacuterebro funcionar mas eacute uma manifestaccedilatildeo uma caracteriacutestica neurobioloacutegica

funcional e especiacutefica de um organismo fiacutesico o ceacuterebro Donde resulta a incompatibilidade em se referir uma aproximaccedilatildeo entre seres humanos e maacutequina pensantes

O exemplo argumentativo de Searle que tomamos como concluinte em nossa discussatildeo eacute o confronto entre a Maacutequina de Turing e o Quarto Chinecircs O primeiro bastante difundido entre os conhecedores das Ciecircncias

Cognitivas diz respeito a uma maacutequina que simulando procedimentos em princiacutepio atribuiacutedos a humanos conseguiria ao cabo de uma seacuterie de eventos

(testes) fazer-se passar por uma pessoa real que estivesse de fato operanshydo um sistema A maacutequina dando a uma pessoa humana que a experimenshytasse sem ter o conhecimento de que se tratasse de uma maacutequina determishynada impressatildeo terminaria por levar essa pessoa a pressupor que o agente operador fosse um ser humano Essa capacidade de simulaccedilatildeo comparaacutevel em resultados a uma inteligecircncia operando seria a prova de que as maacutequishynas poderiam mesmo pensar

A refutaccedilatildeo de Searle com seu Quarto Chinecircs eacute de que estaria em

jogo natildeo a inteligecircncia de uma maacutequina mas o iacutendice de ilusatildeo ocasionado

- 73shy

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

em uma pessoa Afinal no Quarto as coisas se passariam de fonna intelishygiacutevel para um agente externo mas natildeo para o agente interno Eacuteque o Quarshyto se organiza da seguinte maneira algueacutem passa instruccedilotildees ou questotildees em chinecircs para um operador que estaacute dentro de um quarto e deve oferecer um output ou resposta correta para o solicitante O problema consiste em que o operador que estaacute no interior do quarto natildeo entende chinecircs sob qualquer hipoacutetese Natildeo obstante possui caixas e manuais explicativos em sua liacutenguashyno caso inglecircs - correspondentes aos inputs em chinecircs Destarte o opeshyrador consegue dar as soluccedilotildees e respostas corretas sem no entanto ter a miacutenima compreensatildeo do que estaacute fazendo aleacutem de seguir as instruccedilotildees preacuteshyvias dos manuais

Paralelamente ocorre com as maacutequinas afinna Searle Elas operam porque foram destinadas a isso mas natildeo tecircm consciecircncia do que fazem Ou melhor as maacutequinas operam porque foram construiacutedas com essa finalidade e natildeo porque sejam inteligentes para deduzir entender organizar os dados e produzirem algo inteiramente novo e de uma instacircncia diversa daquilo para que foram programadas

CONCLUSAtildeO

Tendemos em nossa conclusatildeo para a linha argumentativa de Searle como deve ter ficado patente jaacute em alguns pontos acima Buscamos nosso embasamento ainda que superlicial em nossa proacutepria aacuterea - a Filosofia - e mais propriamente em uma das dimensotildees investigativas da mesma qual seja a Antropologia Filosoacutefica

A Antropologia Filosoacutefica mesmo a que tenha um cunho reflexivo de corte mais marxista reconhece que ainda que o ser humano possa ser fruto de muacuteltiplos condicionamentos - seja de caraacuteter bio-geneacutetico seja social ou econoacutemico etc - ele traz a capacidade de por iniciativa proacutepria por uma instacircncia interna que eacute a mesma estrutura fiacutesica de que eacute dotado natildeo se confonnar com determinadas situaccedilotildees e em natildeo havendo um determinismo ou condicionamento indestrutiacutevel tentar mudar a sua e a proacutepria situaccedilatildeo

- 74

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

circundante Em outras palavras por mais que algumas correntes de pensashymento acentuem a limitaccedilatildeo da liberdade ou mesmo a ausecircncia desta frente agrave existecircncia o fato eacute que a possibilidade de autodeterminaccedilatildeo a possibilidashyde de escolher o livre arbiacutetrio enfIm afmnarn (e exigem) urna liberdade movida

por uma consciecircncia capaz de avaliar as opccedilotildees e decidir entre elas Aliaacutes eacute o proacuteprio Sartre quem reconhece que o ser humano estaacute condenado a ser

livre tendo de decidir a proacutepria existecircncia a cada momento a cada decisatildeo entre terminar de escrever estas linhas ou tomar um copo de cerveja com os amigos por exemplo

E uma vez que mencionamos inicialmente a questatildeo educativa (mais propriamente escolar) referirno-nos sumarissirnamente a tal acircmbito nesta conshyclusatildeo buscando suscitar uma reflexatildeo sobre o escopo ao menos do ambishyente escolar uma vez que nele eacute onde ocorre a maioria das atividades pedashy

goacutegicas Em sintonia com o exposto acima natildeo eacute de difiacutecil percepccedilatildeo o fato de

que o processamento e acuacutemulo de dados ateacute de informaccedilotildees pode ser efetivado por seres natildeo humanos e inclusive inanimados Analogamente pessoas alunos e alunas providos de grande estiacutemulo agrave cogniccedilatildeo com um suporte informaacutetico e informacional avanccedilado natildeo tecircm como garantia uma qualidade de vida humana e social mais elevada - em termos de convi vecircncia

paciacutefIca e solidariedade mais cooperaccedilatildeo e menos competiccedilatildeo mais afeto e menos violecircncia

A observaccedilatildeo do rumo da implementaccedilatildeo de poliacuteticas programas e equipamentos os mais variados no ambiente escolar (em sentido amplo) pashyrece ofuscar o foco principal de todo processo educativo que eacute o do desenshyvolvimento das habilidades humanas que tomam as pessoas de fato humashynas civilizadas cidadatilde moralmente autocircnomas e conscientemente livres

aptas a um relacionamento social fundado na igualdade na reciprocidade e najusticcedila

Estimular a cogniccedilatildeo a inteligecircncia (ou as inteligecircncias) satildeo meios

aspectos instrumentais que natildeo podem estar desvinculados de suas finalidashydes que vatildeo aleacutem do simples indiviacuteduo mas visam a humanidade como um

75shy

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

todo Talvez seja preciso para tanto a criaccedilatildeo de um novo termo - dos tantos que surgem natildeo raro como modismos - para tal aspecto necessaacuterio da inteligecircncia que eacute a percepccedilatildeo da centralidade e insubstitubilidade da Vida

Eacute possiacutevel que os artilects atinjam um patamar jamais imaginado peshy

los mais ousados escritores de ficccedilatildeo Todavia os androacuteides ou humanoacuteides ou ciborgs que vierem a existir esbarraratildeo possivelmente na limitaccedilatildeo maior que envolve a mente ou a inteligecircncia o problema da proacutepria vida Eacute certo que jaacute existem cientistas neste exato momento preocupados e investigando o desenvolvimento de uma vida artificial E uma vida artificial que vaacute aleacutem da simples vida desenvolvida em laboratoacuterio uma vida que anime seres mecanishyzados ou eletromecacircnicos

Por que se coloca esta limitaccedilatildeo Pelos argumentos apresentados aqui mesmo por Dennet ou Searle juntamente com eles (que ousadia mas eacute que pensamos em nos alinhar com a mesma perspectiva) cremos que a inteligecircnshycia em sua grande diversidade de niacuteveis e formas de manifestaccedilatildeo eacute uma conquista fiacutesica orgacircnica ainda que tenha seus primoacuterdios no puro mecanicismo bioloacutegico visando uma adaptaccedilatildeo da vida ao meio como explicita Piaget Eacute a mesma tese de Darwin Tanto melhor entatildeo Pode-se todavia afirmar que eacute um argumento antigo ultrapassado mesmo retroacutegrashydo Mas pode ser que se trate do contraacuterio Afinal a pergunta sobre o que eacute a vida e qual sua origem ou mesmo do uni verso onde nos encontramos eacute das perguntas mais antigas que ao menos ateacute onde temos notiacutecia (talvez devido ao problema da comunicaccedilatildeo) os humanos se fazem E as respostas natildeo estatildeo ainda em um niacutevel satisfatoacuterio e conclusivo Aliaacutes levar a fazer as perguntas certas mais do que aprender as respostas eacute uma arte educativa

Essa emanaccedilatildeo de problemas aleacutem da pura organizaccedilatildeo da inteligecircnshycia eacute indiacutecio de uma mente e mente humana Seriam as maacutequinas um dia afetadas por tais problemas ou questionamentos Ao menos quanto agrave sua origem natildeo teriam muitos problemas de consulta creio bastando ir aos seus registros de hardware e software

I Avesso avesso Araccedilatuba vI InII p64-78 1 Jun 2003 I

- 76shy

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

JUSTINIANO Leonides da Silva Cognitive Science Piagetian Cognitivism and the Matter of the EthiclMoral J udgment Avesso do Avesso Revista de Educaccedilatildeo c Cultura Araccedilatuba vl nI p64-78 jun2003

Abstract Thc moral rcsponsibilization has as its basis frcedom and knowledge The developmcnt ofa growing capacity of something similar to intelligence in artificial brains gives way to discuss their responsabilization On the other hand it leads to a reflection on the ncccssity of a criticaI nurture iacuten the schools Keywords Intelligencc machine human being morality tife

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAFIAS

AGRERRE Gabriela A outra face do macaco Superinteressante Satildeo Paulo ano 12 n 10 p 76-83 out 1998 ARENDT Hannah Da violecircncia Brasiacutelia Ed Universidade de Brasiacutelia 1985 BANDURA Albert Social cognitive theory of moral thought and actiacuteon ln KURTINES W GEWIRTZ J (eds) Handbook of moral behaviour and development New Jersey Lawrence Earlbaun Associates 1991 vl p 77-103 ____o Social foundations ofthought and action A social-cognitive theory Englewood-Cliffs Prentice-Hall 1986 CAMPBELL Jeremy Grammatical man information entropy language and life London Penguin Books 1983 CAMPOS Rose A psicopatia mora ao lado Viver psicologia Satildeo Paulo ano 6 n 69 p 20-24 ouL 1998 CHURCHLAND Paul M Matter and consciousness a contemporary iacutentroduction to the Philosophy ofMind Cambridge A Bradford Book 1996 DENNET Daniel D Kinds of minds toward and understanding of consciousness New York Basic Books 1996 DUPUY Jean-Pierre Nas origens das ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo EDUNESP 1996

77shy

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78

MYERS David G Introduccedilatildeo agrave psicologia geral 5 ed Trad A B Pishynheiro de Lemos Rio de Janeiro LTC 1999 PIAGET Jean Biologia e conhecimento Petroacutepolis Vozes 1973 PIAGET Jean Epistemologia geneacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 1990 _____ Fazer e compreender Satildeo Paulo Melhoramentos EDUSP 1978 _____ A formaccedilatildeo do siacutembolo na crianccedila imitaccedilatildeojogo e sonho imagem e representaccedilatildeo 3 ed Rio de Janeiro LTC 1990 ____o O juiacutezo moral na crianccedila Satildeo Paulo Summus 1994 _____ A linguagem e o pensamento na crianccedila 7 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 _____ O nascimento da inteligecircncia na crianccedila Rio de Janeiro Zahar Editores 1975 _____ Psicologia da inteligecircncia Rio de Janeiro Zahar sd _____ Problemas de psicologia geneacutetica Rio de Janeiro Forenshyse 1973 SAGAN Carl O mundo assombrado pelos democircnios a ciecircncia vista como uma vela acesa na escuridatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996 SEARLE John R A redescoberta da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1997 SOARES Adriana O que satildeo ciecircncias cognitivas Satildeo Paulo Brasiliense 1993

- 78