artur, o gato com alma de artista: um processo criativo

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Trabalho de Conclusão de Curso - Caroline Pires Marta - PUC-SP. 2013

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Caroline Pires Marta

Artur: o gato com alma de artista - Um processo criativo

Memorial descritivo apresentado

para a conclusão da disciplina “TCC II”

do curso de Comunicação e Multimeios

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Orientadora: Profa. Dra. Laís Guaraldo

São Paulo, dezembro de 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES

Caroline Pires Marta

Artur: o gato com alma de artista - Um processo criativo

Monografia aprovada em ____/____/____ para obtenção do título deBacharel em Comunicação em Multimeios.

Banca Examinadora:

Profa Dra Laís Guaraldo

Prof Dr. Douglas Canjani de Araújo

Prof Ms. Bruno Mendonça

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AgradecimentosAgradeço aos meus pais, meus irmãos e meus amigos queridos que sempre estão por perto:

minhas famílias. Aos meus sobrinhos, que me mostram a leveza e a beleza da infância, todos

os dias.

À todos os professores que me ensinaram que é fundamental trabalhar com brilho nos olhos:

Laís Guaraldo, Laura Teixeira, Douglas Canjani, Bruno Mendonça, Selma Kuasne, Egle e Isa

Uehara.

Aos meus amigos mais que especiais, Ricky Ribeiro e Cristina Ribeiro, que sempre deram

força e inspiração para tudo o que faço na vida.

À Bell Motta e à editora Cuore, por acreditarem e investirem no meu trabalho.

E principalmente à companheira de todas as horas e de muitos dias e noites de trabalho,

Rafaela Basto.

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Às vezes uma espera lenta confere uma solução, mas na maior parte do tempo a solução

surge com muita luta. Seja qual for o processo, é interessante.

Suzy Lee

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Lista de figuras

Figura 1 - “O homem-Banana”, quadrinho autoral de 2002

Figuras 2 e 3 - Ilustrações para texto de Maiakóvski. Caroline Pires, Arthur Garrido e Elisa

Carareto, 2012

Figura 4 - Trabalho na mesa de luz na oficina do Sesc Pompeia

Figura 5 - Espaço colaborativo da oficina do Sesc Pompeia

Figura 6 - Ilustrações autorais para o texto “Virando Woodwo”, de Neil Gaiman

Figura 7 - Página de “Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak. Foto: Juliana Cortês

Figura 8 - João Felpudo (1858), de Heirich Hoffmann

Figura 9 - “Na noite escura”, de Bruno Munari, edição de 2008 da Cosac Naify

Figura 10 - Primeiros esboços do personagem principal do livro, Artur

Figura 11 - Experimentação da primeira página do livro

Figura 12 - Segunda experimentação da primeira página do livro feita no software Illustrator

Figura 13 - Terceira experimentação da primeira página do livro

Figura 14 - Primeira tentativa da segunda página do livro

Figura 15 - Quarta tentativa de estilo de ilustração

Figura 16 - O Artur “original”

Figura 17 - Concepção do personagem Artur

Figura 18 - Experimentações para concepção do personagem Artur

Figuras 19 e 20 - Estilo definido das duas primeiras páginas do livro

Figura 21 - Primeira versão da terceira página ao lado da versão final da mesma página

Figura 22 - Banco de texturas e paleta de cores do projeto

Figura 23 - Esboços da capa do livro

Figura 24 - Construção da tipografia do título do livro

Figura 25 - Cartaz de Dave Hodges, 1967, que serviu de inspiração para a tipografia do proje-

to gráfico

Figura 26 - Versão final da capa do livro

Figura 27 - Página 9 do livro (tipografias)

Figura 28 - Alfabeto criado especialmente para o projeto

Figura 29 - Primeira versão, feita em setembro de 2013, e a segunda, feita em novembro

Figura 30 - Primeira versão “oficial” do Artur, feita em setembro de 2013, e a segunda, feita

em novembro

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Figura 31 - Versão final do livro “Artur, o gato com alma de artista”

Figura 32 - Capa de “Caperucita Roja, Verde, Amarilla, Azul y Blanca”, de Bruno Munari e

Enrica Agostinelli, 1998

Figura 33 - Capa de “Caperucita Roja”, de Pedro Perles, 2010

Figura 34 - Página de “Caperucita Roja”, de Pedro Perles, 2010

Figura 35 - Storyboard de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

Figura 36 - Capa de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

Figura 37 - Página de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

Figura 38 - Rascunhos das ilustrações de Artur

Figura 39 - Páginas de sketchbooks produzidos durante o processo criativo do livro

Figura 40 - O grande circo do mundo (Companhia das Letrinhas), escrito por Marta de Sen-

na, 2010

Figura 41 - O grande circo do mundo (Companhia das Letrinhas), escrito por Marta de Sen-

na, 2010

Figura 42 - Tempo (2013), de Catarina Sobral

Figura 43 - O comércio da morte — Inútil magazine no.4 (2011), de Catarina Sobral

Figura 44 - Personagens secundários de “Artur, o gato com alma de artista”

Figura 45 - Untitled, de Saul Steinberg, 1948

Figura 46 - Graph Paper Architecture, de Saul Steinberg, 1954

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ResumoPartindo do processo criativo de um livro infantil entitulado “Artur, o gato com alma de

artista”, o memorial descritivo pretende apresentar as questões envolvidas na produção do

livro e promover a discussão de temas pertinentes ao processo. O memorial apresentará os

elementos da elaboração do produto, a análise das habilidades e competências do ilustrador

como coautor de uma obra narrativa, além de refletir sobre o pensamento visual, as estratégias

expressivas da linguagem gráfica e fazer uma crítica a esse processo.

Além disso, serão apresentadas as diretrizes visuais do projeto gráfico, os ilustradores

referências, os estilos buscados, as técnicas e reflexões que o processo aborda.

Pretende-se abordar a combinação da prática criativa de produção de material gráfico com a

reflexão sobre os desafios implicados nos processos de criação desse tipo de trabalho.

Palavras chave: Ilustração, processo criativo, narrativa visual gráfica.

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AbstractBased on the creative process of a children’s book titled “Artur, o gato com alma de artista”,

the descriptive memorandum submitted plans to present the issues involving the production

of the book, and promote discussion of issues relevant to this process. The memorial will

present the elements of writing this album chart, analysis of the skills and competencies of the

illustrator as the co-author of a narrative work, and reflect on visual thinking, the expressive

graphical language strategies and criticize this process.

In addition, guidelines will be presenting visual graphic design, illustrators references, styles

fetched, techniques and thoughts that the process approaches.

To discuss the combination of the creative practice of producing graphic material with some

observation on the challenges involved in the creative process of this type of work.

Keywords : illustration, creative process, graphic visual storytelling.

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Percurso Acadêmico Ano passado, ao conversar com alguns colegas da oficina de Ilustração do Sesc

Pompeia, em São Paulo, sobre o motivo que os aproximou ao universo da ilustração e do

desenho, a maioria começou a contar uma história de criança. Comigo não foi diferente:

sempre gostei de desenho, desde muito nova. Muitas crianças adoram desenhar, mas poucas

passam dias produzindo livrinhos, quadrinhos, historinhas ilustradas. Lembro nitidamente de

planejar durante semanas projetos gráficos e realizá-los, depois mostrar à família toda.

Sempre fui atraída pelo processo como um todo: desde escrever, até comprar o material,

produzir os desenhos, fazer a colagem

dos livrinhos, grampear tudo, mostrar

aos leitores, comentar o processo, etc.

Esse universo gráfico e narrativo sempre

esteve presente em mim e não pude

deixar de falar sobre ele no trabalho de

conclusão de curso.

Na adolescência me interessei muito

por quadrinhos, chegando a criar um

personagem, o “Homem-banana”, e

produzir uma história completa.

A história de Artur surgiu há dois anos,

na aula de Hipermídia III, quando a

professora pediu que escolhêssemos

uma música para escrever algo

inspirado nela. Eu escolhi a música “Na

carreira”, do Chico Buarque, e produzi

uma história de um gato que queria ser

artista de circo. Logo após escrever a

história, o primeiro desejo que me ocorreu

foi o de ilustrá-la. Foi quase inevitável atender essa necessidade e produzir um livro, além de

um TCC sobre o meu universo pessoal e profissional, que é a ilustração.

Quando comecei a frequentar a oficina de Ilustração do Sesc Pompeia em 2012, comandada

Figura 1 - “O homem-Banana”, quadrinho autoral de 2002

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pela ilustradora Laura Teixeira, percebi que esse era definitivamente o meu universo. Essa

oficina teve muita importância na minha trajetória como ilustradora, pois me permitiu

expandir os horizontes da criação e da experimentação de materiais. As experiências e

discussões dessa oficina contribuíram para que duas publicações pessoais fossem produzidas,

uma ilustrando um texto de Maiakóvski, e outra ilustrando um texto de Neil Gaiman.

Conheci técnicas novas, como fotografia na mesa de luz, como podemos ver a seguir:

A técnica usada para construir as ilustrações de Maiakóvski consiste em dispor materiais

sobre uma mesa de luz, montando as composições, para na sequência fotografá-las. O texto

é inserido posteriormente, no computador.

Este projeto foi realizado em grupo de três pessoas (o meu grupo era composto pelos

ilustradores Elisa Carareto e Arthur Garrido). Na proposta, era permitido usar papéis cortados,

transparências, texturas, enfim, todo o tipo de material sobre a mesa de luz.

Figuras 2 e 3 - Ilustrações para texto de Maiakóvski. Carolilne Pires, Arthur Garrido e Elisa Carareto. 2012

Figura 4 - Trabalho na mesa de luz na oficina do Sesc Pompeia

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Como a oficina durou 2 semestres, no primeiro nos preocupamos em experimentar todo o

tipo de material e técnica possíveis. Laura queria que a gente se soltasse, experimentasse

de tudo, fugisse do que estávamos acostumados a trabalhar. Quase não usamos desenho

tradicional, por isso os resultados foram surpreendentes e bem diferentes do que vinha

produzindo. Além da produção, fizemos uma exposição coletiva dos nossos portfolios e

vimos muitas referências visuais e poéticas de outros ilustradores. E muitos deles serviram

de base para o TCC.

A oficina foi muito enriquecedora

também pelo espaço aberto em que

é realizada. Esse espaço permite uma

troca de ideias que constroem um

trabalho conjunto e uma rica reflexão

do que está sendo produzido, graças

à convivência com os outros colegas,

inclusive de outros cursos.

No segundo semestre da oficina, a

proposta era que escolhêssemos um dos textos disponibilizados por Laura e o ilustrássemos

individualmente, usando colagem (era proibido cortar com tesoura, só rasgando) e desenho

com a mão oposta. Escolhi um texto de Neil Gaiman. O resultado foi esse:

Neste trabalho, em especial, houve uma pesquisa de texturas. A expressividade que diferentes

papeis conferem a um trabalho é uma pesquisa constante no meu trabalho de ilustradora. A

sobreposição de papeis rasgados em contraposição à textura do lápis dermatográfico, que é

Figura 6 - Ilustrações autorais para o texto “Virando Woodwo”, de Neil Gaiman

Figura 5 - Espaço colaborativo da oficina do Sesc Pompeia

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um lápis parecido com o de cor, um pouco mais grosso e oleoso, conferiu uma sensação visual

de conflito, que era o principal sentimento do personagem. Como o texto fala de uma crise

emocional de um personagem, que vaga por uma floresta e fala sobre os seus sentimentos,

que são fortes – como raiva e paixão – optei por usar o vermelho, branco e preto, garantindo

uma identidade visual ao trabalho pelas cores também (as linhas e texturas fazem parte dessa

identidade, como podemos ver na figura).

Durante essa oficina pude fazer uma reflexão sobre um conceito que é muito visto em

trabalhos com softwares como Photoshop e Illustrator, que é o das camadas. Depois que

comecei a trabalhar mais no computador, senti dificuldade em pensar nessas camadas de

desenhos no papel. Como no computador há muita facilidade em transitar por essas camadas,

errar, voltar, refazer, quando tentava fazer uma ilustração analógica, essa comodidade se

transformava numa imensa dificuldade, que demandava diversos rascunhos, até conseguir

um resultado satisfatório.

A oficina me fez ver que trabalhar com ilustração requer muito estudo. A partir disso,

o sketchbook se tornou um companheiro inseparável. Apesar do meu trabalho estar

concentrado no computador, é no papel que as principais ideias aparecem. Percebi que as

texturas de papeis e lápis, além das manchas de tintas, deviam ser levadas para as ilustrações

no computador, por conta disso, o scanner também se tornou um aliado no processo criativo

de todos os trabalhos. Com isso, um banco de dados de papeis e texturas foi criado, e algumas

coisas desse banco foram utilizadas no produto aqui apresentado.

Essa liberdade de transitar entre as diferentes linguagens e técnicas foi um dos maiores

ganhos da oficina, abrindo horizontes nos processos que vieram depois dessa experiência. As

referências também foram muito enriquecidas, dando mais autonomia e segurança para os

trabalhos.

Acredito que sem todo esse percurso pessoal e acadêmico haveria muito mais dificuldade em

encontrar um tema plausível para uma pesquisa como essa.

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Sumário

Introdução..........................................................................................................20

Justificativas......................................................................................................26

Objetivos............................................................................................................27

Problematizações.............................................................................................27

Produto..............................................................................................................28

Fundamentação teórica..................................................................................42

Produção...........................................................................................................50

Pós produção....................................................................................................54

Considerações finais.......................................................................................54

Bibliografia.......................................................................................................55

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IntroduçãoA ilustração é conhecida popularmente como a imagem que acompanha um texto, seja ela

uma foto, desenho, colagem, etc. Mas até que ponto esse papel é visto como secundário

numa narrativa? Este memorial irá explorar questões como estas e explicitar o papel do

ilustrador como um produtor de linguagem.

O que é ilustração?

A ilustração é um dos principais temas deste trabalho, de modo que se faz necessário conhecer

suas origens e direções.

Na era da revolução da comunicação surgem os códices, que são denominados assim por

oposição à forma do rolo de pergaminho. A palavra códice vem do latim codex, que significa

bloco de madeira ou livro. Aos poucos, o códice substituiu os rolos como suporte para escrita

e, depois disso, foi substituído pelo livro impresso. Não podemos pensar em ilustração sem

os códices.

A relação entre imagem e texto existe antes do livro impresso. Nos manuscritos antigos

encontramos imagens que narram e gerenciam o texto, para facilitar a leitura da população

pouco letrada. Essas imagens são conhecidas, também, como ilustrações.

Segundo o dicionário Michaelis, ilustração é uma breve narrativa, verídica ou imaginária, com

que se realça e enfatiza algum ensinamento. Pode ser considerada também uma publicação

periódica com estampas ou o desenho, gravura ou imagem que acompanha o texto de livro,

jornal, revista etc., ilustrando-o.

O livro de imagem é um livro trimídia, que soma texto, imagem e a consciência do livro-ele-

mesmo. Como exemplo desse livro trimídia, podemos destacar “Onde vivem os monstros”,

de Maurice Sendak (1963).

Em “Onde vivem os monstros”, a consciência da estrutura do livro como um código ganha

vida. Tudo no livro faz parte da narrativa. Como a diagramação faz parte do desenho, a

paginação é usada como um recurso narrativo. A frase é interrompida propositadamente, para

ser completada depois da pausa que representa uma passagem de folha, e esta suspensão

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enfatiza a narração, funcionando como um “gancho” de leitura.

O livro de Sendak é muito importante na história da ilustração infantil porque foi principalmente

a partir dele que houve uma dificuldade de se pensar na ilustração isoladamente. É nele que

se toma consciência que um desenho não é feito só para estampar um livro, mas o desenho é

o próprio livro. A relação texto imagem se potencializa, criando um novo universo narrativo.

No campo de produção de livros de imagens, temos alguns ilustradores importantes a

destacar, além de técnicas empregadas nesta produção, num breve panorama:

Até o final do século XVIII, a xilogravura era muito utilizada na ilustração de livros de imagens.

Muitos artistas utilizavam a técnica pois esta possibilitava uma maior reprodução.

Na primeira metade do século XIX, predomina o livro com ilustração, mas estes livros

continham poucas imagens, tendo um texto principal e poucas ilustrações em páginas

isoladas.

Em meados de 1800, o suíço Rodolphe Topffer conseguiu realizar desenhos acompanhados,

logo abaixo, de um texto manuscrito, considerando o texto e a imagem dois componentes

essenciais, de “natureza mista”. Topffer é tido como o inventor da história em quadrinhos, por

apresentar uma série de vinhetas articuladas entre si.

Figura 7 - Página de “Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak. Foto: Juliana Cortês

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Já na metade do século XIX, na Alemanha, surge uma obra emblemática, do autor Heinrich

Hoffmann: o “João Felpudo”. Esta obra promove

um admirável diálogo entre a narrativa verbal

e os desenhos, por conseguir integrar mais os

dois elementos, fazendo com que a história se

aprofundasse mais.

Nos anos 1860, os avanços técnicos permitiram

a publicação de obras francesas concebidas

especialmente para o público infantil, dentre elas,

“Os livros ilustrados Stahl” (pseudônimo de Hetzel),

ilustrados por Lorentc Fralich. Temos também, neste

mesmo período, “Os livros ilustrados Trim”, com

diversas ilustrações coloridas, graças a técnica do

stencil.

Já nos anos 1870 surgem os Toy Books (livros para

brincar), de Walter Crane e Kate Greenaway, possibilitando mais recursos visuais nessa

linguagem.

Um dos primeiros ilustradores/autores a revelar uma relação de complementariedade entre

textos e imagens é o ilustrador americano Randolph Caldecott (1846-1886).

Em 1967, na França, o autor e ilustrador americano Maurice Sendak (1928 – 2012) publica

aquela que seria uma das mais importantes obras da ilustração infantil: “Onde vivem os

monstros”. Nesta obra, as imagens permitem que o inconsciente infantil seja representado.

Nos anos 70 e 80, pequenas editoras começam a usar fotografias e estilos pictóricos ousados,

disseminando os livros-imagem e os livros com estruturas não narrativas.

A partir dos anos 90 a materialidade do livro começa a ser explorada pelas editoras.

Entre 1990-2000, muitas pequenas editoras surgem focando o caráter experimental-artístico

da ilustração, que começam a ser chamados de livros artísticos.

A partir dos anos 2000, grandes editoras começam a investir em livros infantis, como a Cosac

Naify e a Companhia das Letras, que cria a linha editorial Companhia das Letrinhas, publicando

sucessos da literatura infantil, como “Alice no país das Maravilhas”, de Lewis Carroll.

Figura 8 - João Felpudo (1858), de Heirich Hoffmann

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A produção da imagem

Sophie Van der Linden, em seu livro “Para ler o livro ilustrado”, faz uma análise da produção

da imagem, no contexto do universo da ilustração. Ela nos lembra (2011, p. 33) que as

imagens usadas num livro ilustrado são reproduções de um trabalho original, de modo que

pressupõe uma série de etapas de produção. O rascunho tem um peso muito importante para

o ilustrador, que é uma espécie de pesquisador de formas e processos que constituem a sua

rede de criação. O ilustrador faz o papel de editor, de diretor de arte. É quase impossível

pensar em ilustração sem pensar no design gráfico, pois é um processo que faz escolhas

que podem ter consequências significativas para um projeto. Esse papel é mais ou menos

marcante, de acordo com a maneira como cada ilustrador lida com o seu processo de criação.

Na maioria das vezes, o ilustrador pensa no projeto gráfico do livro e não só nas ilustrações

como desenhos soltos, e pode ser visto como co autor da obra ilustrada.

A experimentação gráfica teve ênfase a partir do século XX, quando técnicas começaram a ser

mais exploradas e a ilustração não era resumida em gravuras originais, apenas. As fotogravuras

começaram a ser exploradas, e imagens muito diversas, inclusive com relevo, começaram a

ser produzidas. O surgimento da fotografia possibilitou que as imagens ganhassem texturas

e volume, conferindo uma enorme possibilidade gráfica aos projetos. A pré produção ganhou

mais força a partir daí.

Em “Na noite escura”, de Bruno Munari (2008), vemos uma pesquisa de papéis e técnicas

explicitados no projeto gráfico

do livro. O material usado

nesse projeto dialoga com a

narrativa e constrói sentidos que

não existiriam se o ilustrador

não tivesse a preocupação

em pesquisar e usar materiais

específicos para o livro. As

transparências do papel vegetal

e as lâminas no meio do livro têm

peso tanto quanto um personagem

da história. A primeira edição

do livro foi feita em 1956, época

em que as ilustrações não tinham

um papel tão marcante, elas

apenas acompanhavam o texto e, nessa edição, o autor reinventou a forma de ler um livro.

Figura 9 - “Na noite escura”, de Bruno Munari, edição de 2008 da Cosac Naify

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Primeiramente, a história começa pela capa, que traz a silhueta de um gato, e as páginas

seguintes são em papel preto, trazendo a atmosfera noturna da história para o leitor. Já a

segunda parte é feita em papel vegetal, o que enfatiza essa simultaneidade de narrativas

visuais. É uma leitura que convida o leitor a experimentação sensorial da história.

Quem é o ilustrador?

O ilustrador não é aquele que produz imagens para um texto ficar mais atrativo visualmente,

e sim aquele que trabalha com os diversos sentidos que um material pode trazer. Ele possui

uma linguagem poética própria, que muitas vezes faz parte de todo o seu trajeto profissional

e é explicitado em todos os seus trabalhos. Muitos chamam essa linguagem de “traço”, mas

esse elemento necessita de uma leitura mais profunda. O traço pode ser lido, aqui, como o

processo criativo de todo ilustrador, o seu percurso e, portanto, único.

O ilustrador é um artista gráfico, muitas vezes alguém que sempre teve habilidade em

desenho e construção de narrativas visuais.

Proposta do memorial

Este álbum gráfico vai ilustrar um texto de autoria própria intitulado “Artur, o gato com

alma de artista”. O texto conta a história de um gato que quer ser artista de circo e quase

enlouquece a sua dona, Teresa, com as coisas que apronta.

O processo criativo é dividido em 7 partes:

1. Produção da história

2. Busca da técnica para os desenhos

3. Pesquisa de referênciais visuais (diretriz conceitual)

4. Construção de um roteiro gráfico para a história (diretriz visual)

5. Produção das ilustrações

6. Pesquisa de tipografia

7. Edição (pós produção)

O relato de processo tem como molde um livro da ilustradora coreana Suzy Lee, chamado

“A trilogia da margem” (2012), que fala sobre o processo criativo de 3 livros de sua autoria.

Escolhi contar sobre o processo criativo nesse estilo, mostrando os rascunhos e discussões

que cada elemento da produção gerou.

Neste livro, a ilustradora conta como foi produzir três dos seus livros: Onda, Espelho e Sombra.

Lee fala sobre o seu processo criativo e coisas fundamentais no universo da ilustração, como a

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relação imagem e texto, as mudanças e adequações de projeto. No texto de apresentação do

livro do site da Cosac Naify a temática é mais explicitada: “Quem nunca sentiu dificuldade em

lidar com um livro sem palavras? A autora de Espelho, Onda e Sombra nos conta de maneira

didática e pessoal como as imagens podem narrar uma história sem a palavra”.

Em paralelo às experimentações gráficas, haverá a pesquisa de temas que conversam com

a produção, e todo esse processo criativo será a base das discussões que a memorial irá

contemplar.

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JustificativasO curso de Comunicação e Multimeios fornece elementos para a elaboração de produtos de

comunicação em diferentes suportes e linguagens. Problematizar as competências envolvidas

nas relações entre imagens e texto e o papel da ilustração na comunicação social objetiva

contribuir para um melhor entendimento dos desafios implicados nesse tipo de produção.

O presente trabalho pretende gerar uma reflexão sobre todo o processo que existe por trás

de um livro ilustrado, reafirmando o papel do ilustrador como um coautor da narrativa; como

aquele que cria e modifica os sentidos do leitor. Além disso, o livro como objeto também

altera a percepção de quem o lê e, muitas vezes, o ilustrador serve como um designer e

diagramador, que se responsabiliza pelo modo como a leitura vai se desenvolver.

A profissão de ilustrador precisa ser melhor analisada e relacionada com as novas mídias, de

modo a esclarecer a sua importância na área da criação e do design.

É importante refletir sobre o processo criativo. Este processo, segundo Cecília Almeida Salles

(2004, p.12), não se dá de forma espontânea, ou seja, não é como uma lâmpada que se acende

e de um segundo a outro a coisa já está criada. O processo criativo não é algo a ser aprendido

numa bula farmacêutica ou numa receita. É uma construção engendrada pela materialidade

do próprio processo, e, entrando em contato com esse fazer podemos visualizar a maneira

com que o objeto se compõe. A inspiração, definida pelo dicionário Michaelis como a marca

do gênio ou do talento na obra do artista, é um dado importante na concepção de um

produto artístico, mas não pode-se enfatizar a inspiração pois além de ser algo subjetivo,

teoricamente não se sustenta.

Consideramos portanto relevante apresentar um relato de processo de criação para outros

alunos e profissionais de Multimeios tenham um embasamento para compreender a

complexidade do trabalho do ilustrador e a riqueza dos recursos a serem investigados.

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ObjetivosO objetivo do produto é ilustrar uma história de autoria própria para, a partir daí, criar uma

reflexão sobre o processo criativo do ilustrador e sobre algumas questões geradas por

esse tipo de trabalho, além de apresentar o universo gráfico da produção do livro infantil e

relacionar o trabalho do ilustrador com os multimeios.

Problematizações- Quais as principais questões envolvidas na produção de um livro infantil?

- Quais as referências visuais para um projeto como esse?

- Como se documenta um processo criativo?

- Quais os desafios enfrentados pelo ilustrador na produção de um livro?

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ProdutoA ilustração de livros infantis sempre foi objeto de interesse e de estudo, desde criança. É

o meu objeto de pesquisa diária, pois estou sempre em contato com um grupo grande de

ilustradores contemporâneos, analisando o que está sendo produzido e publicado pelas

principais editoras do gênero. O produto que este memorial descreve teve como mote uma

história de autoria própria e suas respectivas ilustrações. O livro tem como título “Artur, o

gato com alma de artista” e tem o formato A4, 12 páginas ilustradas, além da capa e contra

capa, e é voltado ao público infantil, de 6 a 12 anos de idade.

Tudo começou com um texto produzido em 2012, na disciplina Hipermídia, onde era proposto

escrever uma história a partir de uma música. A música escolhida foi “Na Carreira”, de Chico

Buarque. A partir dela, um personagem foi criado – o gato Artur – e todo o universo circense

acompanhou a escrita, assim como acontece com a música.

ARTUR, O GATO COM ALMA DE ARTISTA

Era uma vez um gato chamado Artur.

Artur tinha alguma coisa diferente dos outros gatos. Era um gosto, uma mania, uma verdadeira obsessão. Todas as noites, o felino de alma sonhadora ficava na janela de sua casa admirando os fios dos postes, e quem olhasse poderia apostar que o gato estava tramando alguma coisa aérea, mas onde já se viu, bicho sem penas querer alguma coisa no céu? Pois veja só que durante o dia, o gato se arriscava a pular de árvore em árvore, e, de tanto tombo, já tinha gastado seis de suas sete vidas.

Teresa, que havia encontrado o bichano na rua quando ele ainda era um filhote, já estava de cabelo em pé por ver o gato pulando daquele jeito.– Acho que ele tem alma de macaco! – disse, no dia em que ele decidiu testar suas habilidades voadoras, se jogando do telhado e caindo no chão.

Teresa estava muito preocupada com o comportamento do seu bichinho e decidiu, então, levá-lo ao veterinário. “melhor ainda seria levá-lo ao psiquiatra”, pensou.

O médico, ao examiná-lo, não constatou nenhuma característica que o diferenciasse dos outros gatos. Desse modo, não pôde diagnosticá-lo.

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– Seu gatinho não tem nada, viu!?

Mas Teresa queria que Artur voltasse a ser um gato normal, desses que ronrona e dorme o dia todo. E levou o gato para outros médicos. E de todos ouviu a mesma resposta. Tentou então terapeutas, padres, tentou até uma benzedeira, que ao ver o bichano cinza malhado, disse “se fosse um gato preto poderia resolver”. E ninguém conseguia descobrir qual era o problema com Artur.

Certo dia, enquanto passeava pela vizinhança, Teresa parou para conversar com seu Antônio, dono da vendinha da esquina, que nas horas vagas dava sábios conselhos aos moradores do bairro.

Seu Antônio disse que o problema do gato podia ser “da cabeça”. E aconselhou dona Teresa a não deixá-lo nunca sozinho, levando-o em todos os lugares frequentados por ela.

Assim, Artur conheceu cinemas, shoppings, teatros, praias, bares, restaurantes... Sempre escondido na enorme bolsa de Teresa.

Um dia, ficaram sabendo que o circo estava na cidade. Teresa lembrou-se que a última vez que tinha ido ao circo foi quando era criança! Decidiu assistir a uma apresentação, e procurou Artur, que não estava em nenhum lugar da casa. Foi quando viu um rabo balançando agitado pra fora de sua bolsa: o gato, ansioso, já tinha até se adiantado.

Noite no circo! Luzes e cores, os acrobatas cruzando o céu de lona recheado de gigantes estrelas multicores! Artur ficou maravilhado. Pulava dentro da bolsa, miava, queria sair. Foi muito difícil manter o esconderijo do bichano. Quando chegou a vez do equilibrista, Artur não se conteve: pulou da bolsa e foi direto para o alto do picadeiro. Todo mundo se espantou:

– Ohhhhhhh!

Teresa gritava por Artur, que subia a escada do equilibrista e ninguém viu como, mas conseguiu andar até a metade da corda bamba, dar um pulo e virar três cambalhotas no ar, antes de cair na cama elástica.

Então era isso! Artur pulava nos fios de poste porque tinha um sonho... Ele treinava noite e dia para se tornar o primeiro gato equilibrista do brasil!

Teresa, muito nervosa, pegou Artur, colocou-o na bolsa e saiu do circo, sem ouvir os enormes aplausos da plateia...

Por conta disso, Artur foi proibido de sair de casa e passou, então, a observar os fios dos postes protegido pelo vidro da janela. Agora ele só tinha uma vida.

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30

Até o dia em que um passarinho pousou suavemente em um dos fios... seu nome era Beatriz. Artur ficou encantado com aquele ser alado, que podia pousar no fio que quisesse, pular, dar cambalhota no ar... Foi paixão à primeira vista, e Beatriz não resistiu àqueles bigodes e pêlos macios.

Naquele dia, o circo se despedia da cidade, com dois novos integrantes. Artur e Beatriz foram felizes para sempre na única vida que possuíam.

Experimentações iniciais (diretriz visual)

O primeiro objetivo do processo criativo foi

encontrar o estilo do personagem principal,

Artur. Os primeiros esboços foram feitos no

papel, procurando por algo que representasse

um gato “gordinho” que fosse ao mesmo

tempo elástico e surpreendesse o leitor ao

longo da história com os seus movimentos.

como podemos ver na imagem ao lado.

A partir desses estudos de personagem, a ambientação da história e pesquisa de paleta de cores começou a ser investigada. Para isso o primeiro teste foi produzido no papel, com colagem e desenho a nanquim e grafite:

Figura 10 - Primeiros esboços do personagem principal do livro, Artur

Figura 11 - Experimentação da primeira página do livro

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31

A partir da experimentação da primeira página, testei o mesmo desenho com o software

Illustrator, usando uma mesa digitalizadora. Senti o desenho duro demais e voltei para as

experimentações no papel.

A mancha de texto ainda estava muito “pesada” visualmente e isso incomodava.

Ainda mantendo o mesmo texto, experimentei um fundo branco e as texturas de outros

elementos mais “analógicos”, como grafite e lápis de cor.

Mesmo assim, a mancha de texto ainda pesava. Decidi, então, pedir para uma amiga escritora

reescrever a história de forma mais parecida com poesia, com rimas e menos texto, e ficou

assim:

Figura 12 - Segunda experimentação da primeira página do livro feita no software Illustrator

Figura 13 - Terceira experimentação da primeira página do livro

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32

Houve, então, uma pesquisa para a segunda página nesse mesmo estilo:

Mesmo com tantas experimentações, sentia que ainda não era desse jeito que o livro deveria

ficar.

Nesse meio tempo, uma editora (Cuore) entrou em contato comigo e propôs que a minha

história fizesse parte do seu catálogo de 2014. Eu aceitei, deixando claro que isso tudo era

parte do meu Trabalho de Conclusão de Curso, e que precisava passar por algumas etapas,

como essas experimentações. Por pedido da editora, o texto original voltou a ser o “não

poético”, que é o primeiro.

Como tudo o que havia sido produzido

até agora ainda não correspondia

àquilo que imaginava, tentei mudar

o estilo, fazendo uma ilustração no

computador e preenchendo as cores

do desenho e depois apagando com

uma borracha pequena, o que trouxe

algumas “sujeiras” para o desenho,

lembrando uma xilogravura.

Figura 14 - Primeira tentativa da segunda página do livro

Figura 15 - Quarta tentativa de estilo de ilustração

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33

O Artur deixou de ser um gato branco, tornando-se um gato laranja, mais fiel ao Artur

original, que era dessa cor:

Experimentei, então, o uso de texturas de papeis colados um sobre o outro com diferentes

opacidades (isso foi feito no computador) e finalmente senti que o projeto tinha amadurecido

o suficiente para seguir em frente. O resultado foi este:

Figura 16 - O Artur “original”

Figura 17 - Concepção do personagem Artur

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34

O percurso gráfico da concepção de Artur

Uma das coisas mais interessantes de todo o projeto é o caminho que foi tomado em relação

à construção do Artur. As idas e vindas desse trajeto foram um estudo imprescindível para a

construção da identidade visual do livro.

Figura 18 - Experimentações para concepção do personagem Artur

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Depois de todos esses estudos, e com o Artur já concebido, o caminho para a construção das

primeiras páginas do livro foi trilhado com um pouco mais de facilidade.

Figuras 19 e 20 - Estilo definido das duas primeiras páginas do livro

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36

Uma coisa importante a observar é como os primeiros rascunhos foram importantes para

a produção do livro como um todo. Na terceira página, a ideia dos gatos pendurados em

árvores foi resgatada de um dos primeiros rascunhos.

Nesse estágio, a paleta de cores e as texturas dos papeis já estavam estabelecidos.

A capa do livro, a pedido da Editora, foi feita na metade do processo criativo, quando

apenas 6 páginas estavam feitas, e o seu processo foi documentado.

Figura 21 - Primeira versão da terceira página ao lado da versão final da mesma página

Figura 22 - Banco de texturas e paleta de cores do projeto

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37

Primeiramente, houve a ideia de colocar 7 gatos representando as 7 vidas de Artur e a última

vida seria a representada na parte da frente, ele pulando em direção ao balanço do trapézio

do circo. Fazendo o rascunho, percebi que havia muita informação na capa, e ela deveria ser

mais sucinta e direta, sem tantos elementos, mas ao mesmo tempo deveria ter um elemento

gráfico que chamasse a atenção. Houve, então, a construção da tipografia, que foi inspirada

num cartaz feito pelo artista Dave Hodges em 1967, cuja temática é circense.

Figura 23 - Esboços da capa do livro

Figura 24 - Construção da tipografia do título do livro

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38

O resultado final da capa foi o seguinte:

Figura 25 - Cartaz de Dave Hodges, 1967, que serviu de inspiração para a tipografia do projeto gráfico

Figura 26 - Versão final da capa do livro

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As diferentes tipografias, após o processo de construção da capa do livro, começaram a surgir

no processo, fazendo parte de outras páginas também, como podemos ver na imagem:

Outro ponto importante que surgiu no processo criativo foi a necessidade de criar uma

tipografia autoral para o livro inteiro. Foi assim que surgiu a ideia de escrever o texto inteiro

com a minha própria letra. O alfabeto criado foi este:

Figura 27 - Página 9 do livro (tipografias)

Figura 28 - Alfabeto criado especialmente para o projeto

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40

Depois que todas as 12 páginas do livro foram ilustradas, e revendo as primeiras páginas que

tinham sido feitas 2 meses antes da última página, notei que alguns elementos precisavam de

revisão, para condizer à identidade adquirida no final do projeto. Como exemplo, podemos

ver a página 2.

Houve uma modificação no Artur também:

Depois de todo esse processo, o resultado final de Artur, o gato com alma de artista ficou assim:

Figura 29 - Primeira versão, feita em setembro de 2013, e a segunda, feita em novembro

Figura 30 - Primeira versão “oficial” do Artur, feita em setembro de 2013, e a segunda, feita em novembro

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Figura 31 - Versão final do livro “Artur, o gato com alma de artista”

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Fundamentação teórica“A origem etimológica do termo ilustrar vem do latim: ilustro: lançar luz, tornar claro, dar

brilho, enfeitar, ver. Daí as imagens que acompanhavam os primeiros livros chamarem

iluminuras. Definida como “imagem que acompanha o texto” pelo dicionário Houaiss, a

ilustração implica no diálogo entre duas linguagens: verbal e visual. No entanto esse diálogo

pode ocorrer de formas muito distintas. A expressão “acompanhar” um texto é oportuna,

pois indica ausência de hierarquia. A imagem ilustrativa não foi considerada por Houaiss

como ornamento do texto, mas companheira.” (GUARALDO, 2006, P. 2)

O diálogo entre a linguagem verbal e a visual é o principal desafio enfrentado por um

ilustrador. As escolhas feitas para gerar este diálogo são os principais objetos de estudo deste

memorial. Documentar essas escolhas e colocá-las lado a lado, gerando uma reflexão acerca

da diretriz visual, foi o objetivo do capítulo Produto. Agora, se faz necessário fundamentar

toda a produção, trazendo alguns temas para serem discutidos e comparados ao que foi

produzido. Para isso, é interessante levantar alguns tópicos, como Ilustração infantil e suas

funções de linguagem, Livro de Imagem, e Poéticas artística e gráfica.

Ilustração infantil – funções de linguagem

O primeiro contato que a maioria das crianças tem com livros é ao ouvir um adulto ler. A

criança vai crescendo, aprendendo a ler, e a figura do contador de histórias vai, aos poucos,

desaparecendo, fazendo o leitor mirim ter contato direto com um livro. Sobre a relação da

criança com a leitura de um livro, a autora e educadora Teresa Colomer, em seu artigo “El

álbum y el texto” (1996), diz que as crianças sentem a diferença quando ouvem uma história

narrada oralmente ou quando elas mesmas a leem. Quando temos um texto acompanhado

de uma imagem, essa leitura se potencializa, pois permite múltipla interpretação.

A ilustração infantil tem o papel de auxiliar a leitura da criança e o livro de torna um mediador

desse olhar. Mais do que para decifrar o texto, a ilustração tem um papel educativo, tanto

no sentido pedagógico, quando no sentido de desenvolver a sensibilidade presente em uma

pessoa que está se formando, o que aproxima o papel de um livro com o de uma obra de arte.

Segundo o autor Luis Camargo, em seu texto “A relação entre imagem e texto na ilustração

de poesia infantil”, a ilustração pode ter várias funções dentro de um texto. Ela pode ser

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descritiva (representar os personagens, cenário, figurinos), narrativa (o que acontece,

o que fazem os personagens), simbólica, expressiva (como o ilustrador trabalha com a

narrativa: realisticamente, com sátira, estilizando, debochando, exagerando em alguns

aspectos, etc) e estética (quais elementos expressivos o ilustrador usa e como os utiliza:

linha, cor, forma, mancha, etc.). No caso de Artur, o gato com alma de artista, a função da

linguagem das ilustrações é uma mistura de todas essas. Há a representação dos personagens

e cenários, assim como há a função narrativa, mas de uma forma estilizada, mostrando essa

narrativa de uma forma fantástica, quase mágica. E não há como negar que a função estética

é explorada, já que a pesquisa de materiais foi explicitada nos desenhos, mostrando novas

texturas e formas para o meu trabalho.

Sophie Van der Linden, em seu livro “Para ler o livro ilustrado”, categoriza (2011, p. 120) as

relações entre texto e imagem do ponto de vista da recepção do sentido da seguinte forma:

Relação de redundância: “é o grau zero da relação do texto e imagem, que não produz

nenhum sentido suplementar.” Isso não quer dizer que o texto e a ilustração de um livro

podem dizer a mesma coisa, até porque eles pertencem a linguagens diversas, mas esses

conteúdos narrativos são sobrepostos, de forma a um deles poder sustentar a narrativa como

um todo, sem a necessidade do outro.

Relação de colaboração: é quando a imagem e o texto trabalham juntos a favor de um

sentido comum. Nessa relação, “o sentido não está nem na imagem nem no texto: ele emerge

da relação entre os dois”.

Relação de disjunção: é quando não há a sobreposição dos conteúdos, a imagem deixa o

campo de interpretação aberto, não complementando e nem reforçando o que o texto diz,

mas criando outra narrativa.

Independente de todas as relações que podemos identificar em uma obra ilustrada, uma

criança sempre vai encontrar num livro uma janela para aprimorar os seus sentidos e a

intenção em toda essa produção é contribuir para essas descobertas.

Livro de Imagem ou Álbum Gráfico

Segundo Angela Lago (s/d), um livro de imagem é um lugar para descobrir e explorar

novas possibilidades narrativas. Ou então, um “campo de experimentação”. Este campo

de experimentação é aberto, pois a ilustração contém uma variação de interpretação

muito expandida. Quando o texto diz uma coisa e a imagem complementa de uma forma

Page 44: Artur, o gato com alma de artista: Um processo criativo

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não-óbvia (a história de chapeuzinho vermelho não mostra a menina vestida de vermelho

necessariamente, por exemplo), o bom livro

de imagem cumpre o seu papel de forma mais

competente.

Para exemplificar, podemos pegar o livro

“Caperucita Roja, Verde, Amarilla, Azul y

Blanca”, de Bruno Munari e Enrica Agostinelli.

Nesta versão da tradicional história dos

irmãos Grimm, cinco chapeuzinhos nos são

apresentadas: a vermelha original, a verde,

que vive numa floresta selvagem, a amarela

que vive na cidade grande, a azul que vive

numa ilha e a branca que vive na neve. Cada

uma delas é diferente, mas há algo em

comum: um lobo feroz vai atrás delas.

A grande surpresa dessa versão é que a parte

Chapeuzinho Branca, que vive na neve, é

ilustrada por... branco! São páginas e mais

páginas em branco, que, mesmo assim,

contam com expressividade a versão da tão

conhecida história. Como não há nenhum

desenho nesta versão, a interpretação fica totalmente nas mãos do leitor. É como se Munari

e Agostinelli dessem um presente a quem abre o livro e dissessem: Te demos uma narrativa

que já é tão conhecida e cinco versões diferentes dela. Aproveite a viagem e conte a você mesmo

a história do jeito que lhe for mais interessante!

Há muitas outras versões da história da Chapeuzinho Vermelho e, dentre elas, vale destacar a

do ilustrador Pedro Perles. Nela, o artista tenta contar a história com todos os seus elementos:

lobo, vovó, floresta, menina da capa vermelha, mas sem nenhum texto, somente imagem.

Nas ilustrações, Perles representa um zoom em algumas partes, como os pés e orelhas do

lobo mau, os sapatos vermelhos da Chapeuzinho. No texto de apresentação do livro que o

ilustrador colocou no seu site, lemos: “Há uma Chapeuzinho. Há um lobo, há uma avó. Há

tensões. As coisas acontecem. E eu tentei contá-las, sem palavras, sem levar em conta outros

critérios padronizados que havia essa história já foi submetida.”

Nesses casos, o ilustrador faz um papel de explorador de novas narrativas. Tanto Munari

quanto Perles buscam uma alternativa de contar a mesma história usando diferentes

Figura 32 - Capa de “Caperucita Roja, Verde, Amarilla, Azul y Blanca”, de Bruno Munari e Enrica Agostinelli,

1998

Page 45: Artur, o gato com alma de artista: Um processo criativo

45

elementos gráficos que fazem parte de seu universo. É um processo de pesquisa de dois

ilustradores que buscam explorar as diferentes relações entre texto e imagem. Para o leitor,

ter contato com essas versões é tão (ou até mais) enriquecedor do que com a versão original,

pelo fato de que elas possibilitam que a leitura se desgrude da forma escrita, e encontre a

imaginação. Vira uma brincadeira educativa, no sentido de fazer a leitura se desgrudar ao

máximo do senso comum. Como a história já é muito conhecida, há mais facilidade em entrar

nesse jogo narrativo proposto pelo artista.

Figura 33 - Capa de “Caperucita Roja”, de Pedro Perles, 2010

Figura 34 - Página de “Caperucita Roja”, de Pedro Perles, 2010

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46

Existe, também, uma versão da Chapeuzinho Vermelho ilustrada pela artista Marjolaine

Leray. Nessa versão francesa, a Chapeuzinho é um amontoado de rabiscos de lápis de cor

vermelho, e o lobo é um rabisco preto. Os recursos gráficos acentuam a dramaticidade da

história e a expressão poética da obra. No site da ilustradora, temos acesso a um rascunho do

storyboard do livro, dado extremamente significante numa pesquisa visual como essa.

Figura 35 - Storyboard de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

Figura 36 - Capa de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

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Vale a pena colocar mostrar essa versão, para podermos observar o quanto é possível, também,

criar uma rica narrativa gráfica usando poucos elementos. Nesse caso, a ilustração salta ao

texto, porque fala mais alto do que ele. Tudo isso por conta da escolha dos materiais, que

fizeram com que os desenhos ganhassem muita dramaticidade e personalidade. É possível,

por meio desses materiais, ver os gestos da ilustradora trabalhando, por isso a riqueza na

interpretação da obra.

Poéticas artística e gráfica

Discutir arte sob o ponto de vista de seu movimento criador é acreditar

que a obra consiste em uma cadeia infinita de agregação de ideias, isto é, em

uma série infinita de aproximações para atingi-la (Italo Calvino, 1990). Arte não

é só o produto considerado acabado pelo artista: o público não tem ideia de

quanta esplêndida arte perde por não assistir aos ensaios (Murray, Louis, 1992).

O artefato que chega às prateleiras das livrarias, às exposições ou aos palcos

surge como resultado de um longo percurso de dúvidas, ajuste, certezas, acertos

e aproximações. Não só o resultado mas todo esse caminho para se chegar a ele

é parte da verdade (Marx citado por Eisenstein, 1942) que a obra carrega.

(SALLES, 2004 p.25)

Os conceitos de processo criativo e de poética artística e gráfica se aproximam porque

Figura 37 - Página de “Un petit chaperon rouge”, de Marjolaine Leray, 2009

Page 48: Artur, o gato com alma de artista: Um processo criativo

48

se complementam e a poética no universo da ilustração mora em todo o seu processo de

criação, desde quando o texto está sendo escrito até o momento de diagramação e design

das páginas do livro. Assim com um poeta escolhe as palavras certas para nos dizer algo e

constrói uma narrativa riquíssima com essas escolhas, um artista tem o poder de escolher

como dizer o que se quer dizer, graficamente.

No livro “O Gesto Inacabado”, a autora Cecília Almeida Salles (2004, p.11) conta que o

filósofo Michel Foucault sonha em ter uma editora de pesquisa que mostre o seu processo de

trabalho em movimento, em sua forma problemática. É exatamente esse desejo de explicitar

e pesquisar o processo criativo no momento em que ele está acontecendo que se tornou o

ponto de partida do memorial descritivo apresentado aqui.

Normalmente, essa análise crítica se dá após o objeto ter sido produzido. Aqui, a valorização

da análise enquanto processo acompanhante da produção é o que caracteriza o trabalho de

apresentação da obra.

Mergulhar no universo do processo criativo requer muita observação e disciplina. É preciso

documentar cada etapa do percurso, fazer anotações de tudo o que permeia o projeto e, não

menos importante, abrir espaço para que outros dados façam parte deste processo.

O processo criativo é contínuo e não tem descanso. No caso de Artur, o gato com alma de

artista, pode-se dizer que esse processo começou há dois anos atrás. Desde que o texto foi

escrito, a imaginação já traçou alguns rascunhos, até que o momento de passar tudo isso pro

papel aconteceu com o TCC.

A maior dificuldade, em todo o processo, foi encontrar uma linguagem poética que dissesse

aquilo que estava interiorizado por mim desde que o texto foi escrito.

No campo da ilustração, a poética é um componente expressivo da linguagem que podemos ler

em diversos elementos. A linha, cor, textura, gesto, mancha, transparência, enquadramento,

contraste, brilho, tudo isso faz parte da composição poética de cada obra.

A definição do Dicionário Online de Português (http://www.dicio.com.br/) para a palavra

“Poética” é a seguinte:

s.f. Arte de elaborar composições poéticas. Tratado de versificação. Conjunto

de recursos expressivos, especialmente quanto à técnica do verso, de um

escritor, de uma época.

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49

Qual a poética que existe no processo de construção do personagem Artur?

Todas as escolhas que foram tomadas para a produção do livro fazem parte da sua poética.

Ela tem a ver com o estilo de cada artista, com o seu traço, as palavras que usa para dizer algo,

e todas as escolhas de linguagem usadas em todo o processo de criação. A poética, nesse

caso, abrange até a construção do personagem, que existiu na minha vida. O livro é uma

homenagem à memória que tenho do Artur de verdade.

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ProduçãoPara falar sobre a produção do livro, é necessário mostrar uma ferramenta fundamental para

qualquer ilustrador: o sketchbook, que serve como um diário de rascunhos de ideias.

Nas ilustrações do livro do Artur, os rascunhos estão escondidos em camadas escondidas nos

arquivos do Photoshop.

O sketchbook é um diário de anotações visuais e tem um peso muito importante para o

ilustrador, uma espécie de pesquisador de formas e processos que constituem a sua rede

de criação. Para documentar essas pesquisas, é imprescindível que o ilustrador carregue

consigo o sketchbook. A seguir, podemos ver alguns desenhos produzidos simultaneamente

ao produto:

Figura 38 - Rascunhos das ilustrações de Artur

Page 51: Artur, o gato com alma de artista: Um processo criativo

51

Enquanto Artur tomava forma dentro do livro houve a necessidade de desenhar sobre outras

coisas, rabiscar, cortar e colar papeis. Era como se tudo o que estivesse sendo produzido,

além do livro, fizesse também parte da pesquisa a que ele estava submetido.

Como o Artur, o gato com alma de artista foi criado totalmente no computador, a necessidade

de rabiscar no papel foi importante como pesquisa de traço, de cores, de espacialidade do

desenho.

Referências visuais

Toda a produção do livro não teve uma única referência. Não pode-se considerar que o

trabalho foi inspirado em alguma obra produzida anteriormente, pois as referências visuais

usadas para ele são formadas pelo conjunto de coisas que foram acumuladas nesta bagagem

gráfica enriquecida em três anos de trabalho. Por conta disso, vou citar alguns artistas e

trabalhos que se aproximam do que foi produzido aqui, mas essa comparação só

existiu na pós produção.

Figura 39 - Páginas de sketchbooks produzidos durante o processo criativo do livro

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O trabalho do ilustrador contemporâneo Daniel Bueno

se aproxima do que foi apresentado aqui. Bueno usa

em seus trabalhos muitas texturas de papeis e as formas

são criadas a partir dessas sobreposições de cores e

texturas que ele propõe.

No livro “O grande circo do mundo”, cujo tema

é também o circo, Bueno usa essas texturas que parecem de papel envelhecido para construir

os personagens, alternativa usada também em Artur.

Outra referência para o meu trabalho como um todo é a produção da ilustradora

contemporânea portuguesa Catarina Sobral.

Figura 40 - O grande circo do mundo (Companhia das Letrinhas), escrito por Marta de Senna, 2010

Figura 41 - O grande circo do mundo (Companhia das Letrinhas), escrito por

Marta de Senna, 2010

Figura 43 - O comércio da morte — Inútil magazine no.4 (2011), de Catarina Sobral

Figura 42 - Tempo (2013), de Catarina Sobral

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As representações de pessoas e os desenhos em preto e branco são os trabalhos que mais se

conectam aos meus. No livro produzido aqui, por exemplo, todas as pessoas são representadas

em preto e branco, para não sobresair às figuras coloridas de Artur e Beatriz.

Além disso, as formas humanas têm muita correspondência às usadas no trabalho de Sobral.

Por último, não dá pra deixar de citar o ilustrador que mais admiro e cujo trabalho é a maior

referência para tudo o que é produzido por mim: Saul Steinberg.

Saul Steinberg nasceu na Romênia em 1914 e ficou famoso por ilustrar as capas do periódico

The New Yorker. Steinberg tem um traço inconfundível. O ilustrador teve em suas mãos o

poder de síntese e trabalhou de forma única, explorando diferentes materiais e conferindo

um sentido inédito a eles.

Figura 45 - Untitled, de Saul Steinberg, 1948 Figura 46 - Graph Paper Architecture, de Saul Steinberg, 1954

Figura 44 - Personagens secundários de “Artur, o gato com alma de artista”

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Pós Produção

Todos os desenhos foram produzidos no software Photoshop CS6. A pós produção (edição e

revisão) também foi feita nele.

O livro foi impresso em papel A4 couchê fosco 230 gramas (capa) e em papel couchê fosco 150

gramas (demais páginas). O acabamento foi o seguinte: vinco, dobra, refile e grampo.

Considerações finais

A ilustração é uma área considerada “alternativa” na maioria dos cursos de graduação, por

não se definir como arte nem como design, e sim como uma mistura de todos os campos

dessas áreas. Por três anos procurei no curso de Artes Visuais da Belas Artes de São Paulo

algo que me interessasse e não encontrei. Depois que ingressei no curso de Comunicação e

Multimeios, pude entrar em contato com professores que incentivaram a busca pela minha

área, e foi então que eu encontrei a ilustração. Poder fazer um trabalho de conclusão de curso

como esse, que une 4 anos de experiência e uma vida inteira de paixão, foi algo que fez valer a

pena todo o caminho conturbado até conseguir definir a minha profissão. Por isso, agradeço

muito a todos os professores do curso que contribuíram de alguma forma, mostrando

ferramentas para que esse trabalho fosse concluído.

Page 55: Artur, o gato com alma de artista: Um processo criativo

55

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