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Artigos Do Jornalista Karl Marx Sobre a Crise de 1857-1858

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  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 113

    Dossi

    Artigos do jornalista Karl Marx sobre a crise de 1857-1858

  • 114 Lutas Sociais, So Paulo, n.23, p.114-128, 2o sem. 2009. Dossi: Artigos de Marx

    Apresentao do dossi

    Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857)

    Paulo Barsotti*

    Estou trabalhando loucamente noites inteiras numa sntese de meus estudos econmicos de modo que,

    antes do dilvio, pelo menos terei um esboo claro. (Karl Marx apud MacLellan, 1990: 310)

    Os textos de Marx que compem este dossi de Lutas Sociais, inditos no Brasil, tratam da primeira mundial capitalista de 1857-1858. Eles foram originalmente publicados no New York Daily Tribune (NYDT) e selecionados de Karl Marx and Frederick Engels: Collected Works - Volume 15 - 1856-1858, Lawrence & Wishart, 1985. Para melhor entendimento do leitor, acreditamos ser necessria uma contextualizao histrica da obra e da vida de Marx e, tambm da contribuio de Engels, sobre o fenmeno das crises.

    As crises comerciais capitalistas foram muito cedo vistas por Marx e Engels como um dos elementos orgnicos do sistema do livre-comrcio, que demonstravam o seu carter antagnico e anrquico, a despeito de tudo que proclamavam os economistas burgueses quanto ao equilbrio e sustentabilidade da produo capitalista. Ao mesmo tempo, consideravam que elas funcionavam imediatamente como alavancas poderosas das revolues polticas e sociais.

    Na realidade, quem primeiro observou e chamou a ateno para o fenmeno das crises comerciais foi o jovem Engels no seu artigo Esboo para a crtica da economia poltica, publicado em janeiro de 1844, no primeiro e nico nmero dos Anais Franco-Alemes (AFA), dirigido por Marx e Arnold Ruge. Neste ensaio, Engels submete crtica histrica e dialtica as categorias da economia poltica a cincia do enriquecimento que concebe o sistema do livre mercado e concorrncia como natural, racional,

    * Doutor em Histria Econmica pela USP, Professor da Fundao Getlio Vargas-SP, pesquisador do NEILS e membro do Comit de redao da revista Novos Temas do Instituto Caio Prado Jr. End. eletrnico: [email protected]

    Recebido em 11 de novembro de 2009. Aprovado em 07 de dezembro de 2009.

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 115

    harmnico e eterno (Engels, 1981: 160). Longe destas afirmaes, o que emerge da crtica engelsiana o carter insustentvel e contraditrio deste sistema de logro legalizado que j havia sido detectado pelos pioneiros do socialismo moderno na presena constante do fenmeno das crises comerciais de carter geral.

    Por este caminho, Engels traa os contornos embrionrios de uma teoria das crises comerciais gerais como resultado da produo inconsciente e irrefletida do capital e da propriedade privada. Bem distante do pretendido equilbrio da lei da oferta e da procura, fora sacralizada por Adam Smith, observa Engels:

    O economista a todos apresenta a sua maravilhosa lei da oferta e da procura, demonstrando que nada se pode produzir em demasia, mas a prtica responde a suas palavras com a realidade das crises comerciais, que reaparecem com a mesma regularidade que os cometas e que agora se reproduzem, a cada cinco ou sete anos. Estas crises vm se produzindo a duas dcadas com a mesma regularidade com que antes eclodiam as grandes epidemias e provocam mais misria e consequncias mais desastrosas que elas (Ibid).

    O resultado das crises fica claro: aniquilam as foras produtivas e mercadorias e disseminam a pauperizao entre os trabalhadores. As consequncias desastrosas desta situao que abre para a revoluo social so assim apresentadas:

    enquanto continuarem a produzir como at aqui, de modo inconsciente e irrefletido, abandonada ao acaso, as crises subsistiro, cada uma delas ser necessariamente mais universal e, portanto, mais devastadoras que as anteriores, jogar a misria um maior nmero de pequenos capitalistas e far crescer em propores cada maior a classe de quem s vive de seu trabalho; isto , far aumentar em grandes propores a massa de trabalho a que tem que dar ocupao, que o problema fundamental de nossos economistas, at provocar finalmente a revoluo social que a sabedoria escolar dos economistas incapaz de sequer sonhar (Ibid: 175)

    Pode-se notar neste processo o carter destrutivo e centralizador da produo capitalista e a natureza destas crises cclicas como de superproduo de mercadorias. O que vem tona no a harmonia imaginada pelos economistas burgueses, mas sim, o seu reverso: desequilbrio e a insustentabilidade desta produo inconsciente prisioneira da lgica do capital. E, neste quadro catico que se coloca a necessidade de uma nova reorganizao da sociedade e o advento da revoluo social.

    Engels chama ateno necessidade da crtica ao estado para o exame adequado da cincia econmica burguesa, posio que assinala o seu rompimento com a defesa do estado autnomo e racional, comum aos neohegelianos, seus companheiros de viagem no incio da dcada de 1840. Tratava-se de estabelecer a devida relao entre economia e estado, direo que, por outros caminhos, Marx havia alcanado como demonstra o seu texto publicado nos AFA Para a crtica da filosofia do direito de Hegel - Introduo.

  • 116 Lutas Sociais, So Paulo, n.23, p.114-128, 2o sem. 2009. Dossi: Artigos de Marx

    O impacto causado em Marx por este genial esboo de uma crtica das categorias econmicas, como se refere no seu Prefcio Contribuio para a crtica da economia poltica de 1859, bem conhecido. A partir dele, as relaes frias e distantes dos tempos da Gazeta Renana do lugar a uma afinada convergncia de ideias e ao incio de uma colaborao e amizade inigualvel. Marx, em vrias oportunidades, insistiu sobre a validez das teses ali delineadas: em 1862, quanto ao que dito contra a teoria da renda de Ricardo e, em 1868, utiliza os argumentos do texto sobre a relao entre a formao da sociedade e a formao do valor (Mayer, 1979: 188).

    O julgamento que Engels faz de seu genial esboo bem mais severo do que o do amigo. Na carta que escreve a Wilhelm Liebkencht em 1871, diz que o texto fora escrito de forma hegeliana, que estava antiquado, cheio de inexatides e que apenas guardava valor histrico. Apesar de tudo, inegvel o mrito de ter sido a primeira crtica materialista e dialtica economia poltica. E verdade, que sob o impacto de sua leitura, Marx inicia a primeira etapa dos trabalhos dedicados economia com os seus Manuscritos econmicos-filosficos de 1844.

    Ainda em 1844, Engels discute com Marx o seu extenso material recolhido em Manchester durante 1842 e 1843 sobre as condies de vida do proletariado ingls no centro da indstria txtil inglesa. Neste perodo, entra em contato com lideranas do movimento cartista que ainda vivia o seu momento de crescimento, o que no deixa de provocar em Engels entusiasmo e aposta na proximidade da revoluo.

    O resultado desta pesquisa aparece em 1845 com a publicao de A situao da classe operria na Inglaterra, obra mais significativa de sua juventude. Aqui, acentua as ideias contidas no genial esboo com base nos dados da economia inglesa de 1825 a 1842: as grandes crises industriais so de superproduo, ocorrem em ciclos de cinco anos e cada nova crise ser sempre mais violenta e espantosa colocando em pauta a iminncia da revoluo social. No Prlogo edio alem de 1892, ir debitar esta e outras muitas profecias ao ardor juvenil daqueles anos e reconhece que a histria da indstria de 1842 a 1868 demonstrou que os perodos cclicos duram na realidade dez anos e que as crises intermedirias tinham um carter puramente secundrio e que a partir de 1842, tendiam a desaparecer (Engels, 1981: 537).

    O tema voltaria a ser tratado por Marx e Engels em 1847, agora como membros da recm fundada Liga dos Comunistas (LC) e com a misso atribuda pelo segundo congresso de elaborarem o seu manifesto. A inteno do documento era expressar a nova orientao da organizao, depois da depurao do antigo carter de seita conspirativa de sua antecessora, a Liga dos Justos. Engels elabora inicialmente, Princpios do Comunismo, escrito na forma de catecismo usual na poca, onde a crise e seus desdobramentos so tratados nas perguntas e nas respostas 12 e 13. A, destaca como positividade da revoluo realizada pela grande indstria a introduo da maquinaria que possibilitou o aumento ao infinito da produo, com maior rapidez e menos custo. Todavia, adverte que graas livre concorrncia ela adquiriu um

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 117

    carter extremamente violento. Isto , lanou uma multido de capitalistas sobre a indstria e em pouco tempo produziu-se mais do que se podia consumir (Engels, 1993: 110). neste quadro que se instalam as crises comerciais, momento em que as fbricas param, a falncia campeia, os operrios ficam sem emprego e aparece por toda parte uma misria espantosa. Decorrido algum tempo a economia se estabiliza, as fbricas voltam a produzir, os salrios sobem e pouco a pouco os negcios voltam a prosperar (Ibid). Porm, em seguida o ciclo se repete: volta-se a produzir mercadorias em excesso e da mesma forma que no perodo anterior advm nova crise.

    A primeira consequncia destas crises cclicas que colocam em xeque a livre concorrncia gerada pela prpria grande indstria. O que num primeiro momento fora condio necessria para o desenvolvimento da grande indstria, agora se torna um obstculo: o exerccio da produo industrial por parte de indivduos singulares converteram-se num entrave que a grande indstria ter que romper e romper (Ibid). Limitada pela livre concorrncia, a grande indstria s poder subsistir estabelecendo uma nova crise que coloca em risco toda a sociedade. Engels coloca o dilema e sua soluo:

    ou se deve renunciar por completo a grande indstria, o que absolutamente impossvel, ou a grande indstria torna absolutamente necessrio uma organizao totalmente nova da sociedade, na qual a produo industrial no seja mais dirigida por fabricantes singulares concorrentes entre si, mas por toda a sociedade, segundo um plano determinado e segundo as necessidades de todos (idem, p.110-111).

    Se enquadrada no reino do capital, a grande indstria geradora de todas as misrias e todas as crises comerciais, em condies de controle social e planejamento global racional, ela que encerra a possibilidade de estender a produo ao infinito, que poder suprir todas as necessidades humanas. Assim, pela primeira vez na histria da humanidade, cada membro da sociedade estar em condies de desenvolver e exercitar com absoluta liberdade todas as suas energias e aptides (idem, 111). O ideal de emancipao humana a aspirao humana de eliminar a sua subordinao s foras naturais e erradicar todos os males sociais acalentado ao longo da histria pelos primeiros socialistas e comunistas, deixa, com o desenvolvimento das foras produtivas, de ser um sonho irrealizvel e torna-se uma possibilidade objetiva.

    A nova ordem que abole a propriedade privada apresentada como resultado da revoluo social que tem no proletariado o seu principal protagonista. Quanto aos caminhos da revoluo, se pacficos ou no, Engels apresentando o novo esprito da LC inicialmente, responde assim:

    Os comunistas sabem muito bem que todas as conspiraes so no apenas inteis, mas at mesmo prejudiciais. Sabem muito bem que as revolues no se fazem deliberadamente ou por vontade, mas sempre e em todos os lugares a consequncia necessria de circunstncias absolutamente independentes da vontade e da direo de partidos singulares e mesmo de classes inteiras (Engels, 1993: 113).

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    Porm, reconhece que em todos pases civilizados o proletariado est submetido violncia de suas condies de vida e que isso nada mais faz que do que preparar e provocar a revoluo. Por isso, conclui Engels, se o proletariado for forado revoluo, ns os comunistas, defenderemos a causa do proletariado com a ao, do mesmo modo como agora a defendemos com a palavra (Ibid).

    Ao mesmo tempo nega a possibilidade da realizao da revoluo em um s pas, afirma o seu carter internacional e simultaneidade na medida em que a grande indstria ao criar o mercado mundial, uniu todos os povos da terra (Ibid). Assim, a revoluo:

    Ir se desenvolver mais rapidamente ou mais lentamente em cada um desses pases, de acordo com o maior ou menor desenvolvimento da indstria (...). Ter grande repercusso sobre os outros pases, transformar completamente e acelerar extraordinariamente o modo de desenvolvimento por eles seguido at aqui. Ser uma revoluo universal e ter por isso um terreno universal. (Ibid)

    De posse deste texto, Marx de Bruxelas redige em novo formato o Manifesto do Partido Comunista. Num dos documentos polticos de rara fora, clareza e beleza narrativa, Marx apresenta deste modo o desenvolvimento das crises comerciais:

    H mais de uma dcada a histria da indstria e do comrcio no seno a histria da revolta das foras produtivas modernas contra as modernas relaes de produo, contra as relaes de propriedade que so a condio de existncia da burguesia e de seu domnio. Basta mencionar as crises comerciais que, com seu peridico retorno, pem em questo e ameaam cada vez mais a existncia de toda a sociedade burguesa. Nas crises comerciais destruda regularmente uma grande parte no s dos produtos fabricados, como tambm das foras produtivas j criadas. Nestas crises, irrompe uma epidemia social que em pocas precedentes teria parecido absurdo a epidemia da superproduo. (Marx, 1993:71)

    Com isto, de sbito, instala-se um estado de barbrie momentnea, de misria (eine Hungersnot) ou de guerra geral de extermnio, que parece ter aniquilado todos os meios de subsistncia, o comrcio e a indstria da sociedade. Por trs desta aparncia, Marx demonstra que a razo deste canibalismo generalizado o resultado do prprio desenvolvimento da sociedade burguesa que produziu e possui demasiados meios de subsistncia, demasiado comrcio. E que suas foras produtivas com seu poder avassalador, longe de promoverem a civilizao burguesa e suas relaes de propriedade, as colocam em risco por que estas se tornaram estreitas demais para conter a riqueza por elas mesmas criadas (Ibid: 72). A forma encontrada pela burguesia para vencer a crise reapresentada:

    De um lado, atravs da destruio forada de uma massa de foras produtivas; e de outro, atravs da conquista de novos mercados e da explorao mais intensa dos antigos. De que modo, portanto? Mediante a preparao de crises mais gerais e mais violentas e a diminuio dos meios para evit-las (Id:72).

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 119

    A grande indstria e a livre concorrncia, que foram as armas utilizadas pela burguesia para derrotar o corporativismo feudal, agora voltam-se contra a prpria burguesia. E, ainda acrescenta Marx que a burguesia no criou somente as armas que a destruir, produziu tambm os homens que empunharo essas armas os operrios modernos, os proletrios (Ibid).

    No h possibilidade de uma revoluo social sem crise econmica e ela surge da contradio entre desenvolvimento das foras produtivas e as relaes de produo que no mais comporta esta situao. Esta a sntese que Marx apresenta no Prlogo Contribuio a crtica a Economia Poltica (1859) como o resultado geral de suas pesquisas a que, por outro caminho, Engels havia chegado.

    A onda revolucionria de 1848-1849Com este fio condutor Marx e Engels iro enfrentar as revolues de 1848-1849.

    Este era um evento anunciado no turbulento quadro que a Europa vive a partir da insurreio na Polnia de 1846, esmagada pelas tropas da Santa Aliana. Em 1847, eclode a guerra civil da Confederao Helvtica vencida pelos cantes democrticos, a vitria eleitoral dos liberais belgas, o movimento de libertao nacional italiano toma conta do pas e as manifestaes por reformas polticas eleitorais na Alemanha e Frana so frequentes.

    O fato que as questes democrticas e nacionais das revolues burguesas sufocadas pela reao absolutista tornam-se intensas por toda a Europa. No era por acaso que o espectro do comunismo rondava o continente e no s Marx e Engels pressagiavam a revoluo. Em 28 de janeiro de 1848 mal havia secada a tinta da impresso do Manifesto do alto da tribuna do parlamento francs, Alxis de Tocqueville, inflamado alertava a todos:

    Ns dormimos sobre um vulco (...). Os senhores no percebem que a terra treme mais uma vez? Sopra os ventos das revolues, a tempestade est no horizonte (Apud Hobsbawm, 1977: 49).

    A Primavera dos Povos abre o seu primeiro ato em janeiro de 1848 na Itlia e Irlanda, ganha vigor em fevereiro com a revoluo na Frana, atinge em maro a Alemanha e dezenas de estados europeus. Era o incio do batismo de fogo e sangue do incipiente proletariado europeu na vida poltica.

    Em Bruxelas, as notcias da revoluo parisiense, so recebidas num primeiro momento com cautela pelo monarca belga que depois passa ofensiva reprimindo as manifestaes de apoio no pas. Um decreto publicado com uma lista para a deportao de estrangeiros que participavam das manifestaes. Encabeava a lista o nome de Marx, suspeito de financiar um movimento revolucionrio destinado a sustentao da jovem repblica francesa. Marx tinha vinte e quatro horas para sair da Blgica. No entanto, se uma porta se fechou, outra foi reaberta. No mesmo dia,

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    recebe mensagem de Ferdinand Flocon, membro do governo provisrio francs, que cancelava sua expulso da Frana de 1845 e oferecia abrigo para Marx e sua famlia.

    Diante destes fatos, o Comit Central da LC, decide transferir-se de Londres para Paris e conceder a Marx carta branca sobre os seus assuntos. Sua estada breve e as primeiras divergncias com os membros da LC logo aparecem. No calor revolucionrio, vrios de seus membros retomam as concepes aventureiras e formam a Legio Revolucionria para atacar os estados fronteirios alemes. Em vo Marx, que considerava o momento apenas o preldio da revoluo proletria, tenta dissuadi-los e o choque foi inevitvel. Na realidade, a LC recm formada e pouco articulada no tivera tempo para assimilar as ideias contidas no Manifesto, principalmente o programa e papel do proletariado numa revoluo democrtico-burguesa que, para Marx e Engels, era o que estava em curso. O resultado que a LC desde Paris se dispersa e jamais conseguiu uma ao coordenada em todo o processo revolucionrio.

    De volta Alemanha, Marx leva na bagagem um programa poltico, Reinvindicaes do Partido Comunista na Alemanha, e um projeto de criao de um jornal que seria o seu instrumento de ao. Em junho, Marx, Engels e outros membros da LC criam em Colnia o dirio Nova Gazeta Renana um rgo da democracia (NGR). Nas suas pginas estampam um programa de ao proletria na revoluo democrtico-burguesa e a defesa de uma repblica una e indivisvel, no como fim, mas como meio e momento de se atingir a revoluo radical.

    A NGR, a despeito de seu subttulo, no tinha o objetivo limitado de uma oposio parlamentar qualquer, mas pretendia sim ser um veculo destinado a impulsionar o movimento revolucionrio naquelas circunstncias e para alm delas.

    A mesma rapidez apresentada pela revoluo em fevereiro reproduzida pela contra-revoluo. Em abril, o movimento reprimido; na Frana, o proletariado parisiense massacrado nas jornadas de junho; em agosto, as tropas austracas ocupam Milo e, em novembro, Viena. Na Alemanha, Frederico Guilherme IV, em dezembro, dissolve a Assembleia e proclama unilateralmente a Constituio e a burguesia alem caminha para a conciliao final do regime arcaico.

    Marx analisa o momento nos artigos denominados A burguesia e a contra-revoluo. O primeiro artigo explicita a posio do jornal: Jamais escondemos. Nosso terreno no o terreno do direito (Rechtsboden), o terreno revolucionrio (Marx,1993: 44). Diante da incapacidade da burguesia alem de realizar uma revoluo puramente burguesa, esgota-se a aposta inicial feita pela NGR. As alternativas da realidade so limitadas: ou a contra-revoluo feudal e absolutista ou uma revoluo social republicana (id: 90). O futuro da Alemanha estava depositado numa revoluo social-republicana que dependia mais de fatores externos do que internos e, com isto, o proletariado teria que caminhar por suas prprias pernas.

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 121

    Em primeiro de janeiro de 1849, Marx publica um balano da marcha da contra revoluo. No s o proletariado e os movimentos de libertao nacional foram derrotados, mas tambm as classes mdias de os todos os pases onde transitoriamente estiveram unidas ao povo, e assim se encerrava o primeiro ato da revoluo. (Marx e Engels, 1981: 225). O alvo agora era a burguesia e no mais as velhas classes dominantes. O objetivo da nova revoluo era emancipao da classe operria, que com o fracasso do cartismo, tinha as suas esperanas voltadas para o novo canto do galo gauls encarnado no proletariado parisiense. A Inglaterra burguesa, por seu turno, considerada o principal obstculo revoluo proletria. Este o pas que domina o mercado mundial e converte naes inteiras em seus trabalhadores assalariados. A libertao da Europa dependia da derrota da burguesia inglesa o que s seria possvel por uma guerra mundial (id: 225-226). Finalmente, termina o artigo com a palavra de ordem programtica para 1849: Insurreio revolucionria da classe operria francesa e guerra mundial (ib: 227).

    Em fevereiro, a NGR processada acusada de calnia contra a burocracia estatal e incitao revoluo. Ainda que seja absolvida, Marx, em 16 de maio 1849, recebe notificao de sua expulso por ter vergonhosamente violado o direito de hospitalidade (Apud Rubel, 1991: 40). Dois dias depois, a NGR, publica em seu ltimo nmero a confiana de um breve retorno da revoluo e, assim se despedia: Sua ltima palavra ser sempre a mesma em qualquer lugar: a emancipao da classe operria (Marx e Engels,1981: 296).

    Com o fechamento da NGR, Marx e Engels se dirigem para o centro da insurreio no sudoeste alemo. Engels se alista como artilheiro nos exrcitos de Willich, desmentindo a lenda, como escreve Jenny Marx em 25 de julho de 1849, de que os senhores da Nova Gazeta Renana eram muito covardes para lutar (Ibid: 122). Marx expulso e com sua cidadania alem cassada, primeiro se dirige Paris, de onde tambm expulso e em seguida vai a Londres, seu exlio definitivo.

    A lio da Nova Gazeta Renana Revista Marx chega cidade em agosto de 1849 e se dedica ao reagrupamento da LC, se

    incorpora ao do comit de ajuda aos refugiados alemes, e prepara a criao da Nova Gazeta Renana Revista Poltico-Econmica, (NGR-R).

    Durante o ano de 1850, todos os projetos fracassam. Na LC, havia a concordncia geral da proximidade de um novo surto revolucionrio e a ao se concentra na criao de uma organizao poltica autnoma do proletariado. Este esprito aparece nos primeiros artigos da NGR-R (janeiro-fevereiro e maro-abril), e na Circular do Comit Central de maro de 1850. As divergncias na LC voltam a aparecer na primavera de 1850, como resultado das investigaes de Marx e Engels sobre o processo revolucionrio recente.

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    De acordo com o objetivo definido na NGR-R, o momento era de esclarecer a etapa transcorrida da revoluo, o carter dos partidos em luta e as relaes sociais que condicionam a existncia e a luta dos partidos (Apud Claudin, 1985: 228). E colocava a necessidade de investigar de modo detalhado e cientfico as relaes econmicas que constituem a base de todo o movimento poltico (id). Tratava-se de realizar um balano autocrtico da experincia poltica vivida para extrair as suas consequncias tericas e prticas.

    Aps o exame dos ltimos dez anos da economia europia, identificam nas crises agrcolas de 1845-1846 e na crise comercial e industrial de 1847 as causas da revoluo. Da mesma forma, a recuperao econmica de 1848 permitiu a vitria da contra-revoluo. O diagnstico do futuro que rompia com a perspectiva iminente do segundo ato surge no ltimo nmero da NGR-R: No possvel uma nova revoluo seno em consequncia de uma nova crise. Mas esta to certa quanto aquela. (Id: 189).

    Com este balano, Marx e Engels, agregam um novo aprendizado: se os perodos de crise so estufas para a revoluo, os perodos de desenvolvimento econmico sufocam as revolues e preparam o terreno da contra-revoluo. A partir da, toda a ateno se volta captura dos sinais de uma nova crise que abriria espao para a revoluo social.

    Esta nova posio de Marx e Engels soou como heresia para membros da LC, e o choque inevitvel provocaria a sua lenta dissoluo, que se completou em 1852.

    Em 1851, Marx vive um dos piores momentos de sua vida. Fracassado os seus projetos se encontra isolado politicamente, sem Engels que se transferira para Manchester, vivendo o seu drama conjugal e suas pssimas condies econmicas completam o quadro dramtico. O desespero tal que se candidata a um emprego de escriturrio nas ferrovias inglesas, mas reprovado pela letra ruim. Contudo, nada interrompe seus estudos de economia reiniciados logo que chega a Londres.

    A nica notcia positiva o convite de Charles Dana, em agosto de 1851, para se tornar correspondente internacional do jornal norte-americano New York Daily Tribune (NYDT)1. Nesta atividade, Karl Marx e Engels seu ghost writer revelam todo o seu conhecimento sobre histria, economia, filosofia, literatura, poltica e cincia militar. Seus artigos de nvel e estilo apurados se distinguiam do jornalismo superficial praticado na poca. Suas fontes eram as figuras do movimento democrtico e operrio de Londres, os contatos de Engels no circuito econmico de Manchester, e o resultado das visitas de Marx ao Parlamento ingls e das suas pesquisas no Museu Britnico.

    A despeito das manifestaes negativas do trabalho jornalstico, esta atividade foi durante muito tempo a nica fonte de sobrevivncia de Marx. Tambm foi durante uma dcada o nico espao que dispunha para tornar pblicas suas posies e os

    1 Sobre o assunto, consultar Barsotti (2005).

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 123

    resultados de suas investigaes. O objetivo era realizar a batalha das ideias e demarcar a posio do proletariado e da sexta potncia, a revoluo social.

    De postos de observao privilegiados do cenrio mundial, Marx e Engels, mantinham-se atualizados sobre todos os acontecimentos no momento em que o capitalismo realiza o seu primeiro processo de mundializao.

    Como vimos, a partir das concluses da NGR-R, toda a ateno se volta na identificao dos sinais econmicos e polticos que provocaria o colapso geral da ordem capitalista e, este o esprito que envolve os artigos escritos para o NYDT.

    Quando recebe o convite do NYDT, Marx ainda no domina o idioma ingls e diante da necessidade, recorre a Engels para que escreva uma srie de artigos sobre a Alemanha2. A sua estreia se dar em agosto de 1852, em artigos que tratam do sistema poltico ingls. A, examina o carter autocrtico da dominao burguesa inglesa desmascarando a farsa democrtica de seus partidos os Tories e os Whigs que aparecem como foras antagnicas, mas na realidade apenas se alternam no poder. Ao mesmo tempo, Marx dedica sua ateno luta da classe operria inglesa, em especial ao movimento cartista. Nestes trabalhos avalia a possibilidade da conquista pacfica do poder poltico pelos trabalhadores ingleses, visto que neste pas no h uma mquina militar como na Frana e, onde o proletariado compunha a maioria da populao. Considera a conquista do voto universal como essencial transformao do sistema parlamentar e democratizao da estrutura poltica inglesa.

    Em 1853, Marx se concentra na crtica Economia Poltica, que pintava o perodo ps-1848, pleno de estabilidade, bem estar e prosperidade econmica. Esta apologia do sistema de livre comrcio era a demonstrao cabal que ela perdera qualquer tipo de compromisso cientfico e sentido de realidade. Utilizando os argumentos do esboo genial de Engels, desvenda o segredo da economia burguesa que:

    consiste simplesmente em transformar relaes transitrias, pertencentes a uma determinada etapa histrica e correspondendo a um certo estgio da produo material em leis eternas, gerais, no variveis, leis naturais como eles chamam (Apud Barsotti, 2005: 134).

    Contra a falcia do discurso de um desenvolvimento econmico sem crises, Marx com os dados da indstria e do comrcio ingls de 1853, demonstra que a fase de crescimento j perdia sua fora. Enfatiza o peso da indstria inglesa e os reflexos de suas crises peridicas sobre o mercado e economia mundial concluindo que a realidade, anunciava um novo ciclo de crise econmica.

    Entusiasmado se debrua e acelera suas pesquisas. Preenche um caderno de notas grifado Dinheiro, crdito e crises, que utilizaria nos seus Manuscritos econmicos de 1857-1858 e no do primeiro volume do O capital. Paralelamente, recolhe informaes do The Economist e de suas visitas ao Parlamento Britnico sobre o estado da indstria e 2 Ver Barsotti (2005).

  • 124 Lutas Sociais, So Paulo, n.23, p.114-128, 2o sem. 2009. Dossi: Artigos de Marx

    o comrcio ingls. Os artigos de 1854-1855, sobre a Inglaterra parecem demonstrar com nitidez a manifestao das leis gerais do desenvolvimento capitalista e de sua crise: especulao na bolsa de valores, indcios de superproduo, paralisia geral no comrcio e indstria, suspenso de pagamentos, falncias etc. Analisando o estado do comrcio ingls em janeiro de 1855, aposta no seu colapso que poderia se estender a todo planeta:

    a crise pode ser investigada pela mesma fonte o trabalho desastroso do sistema industrial ingls que conduz a superproduo na Gr Bretanha, conduz tambm a superespeculao em todos os outros pases. (Marx, 1980: 588)

    O quadro poltico internacional refora esta aposta. Desde o incio de 1853, eclode a questo oriental, o conflito entre a Rssia e a Turquia em relao ao domnio de Bsforo e Dardanelos. O controle destes estreitos importante via de acesso ao Oriente Mdio era domnio turco desde o Tratado de Londres (1841). Passada a onda revolucionria de 1848-1849, a Rssia considerou oportuno anexar uma parte do Imprio turco-Otomano como recompensa pelo seu empenho na restaurao da ordem (Barsotti, 2005: 136). O conflito evolui com a participao da oligrquica Inglaterra e da Frana bonapartista em apoio ao sulto turco contra o czar russo. Desde 1848, para Marx e Engels o czarismo era o principal baluarte da reao absolutista na Europa, e seu colapso uma pr-condio para o sucesso dos movimentos de libertao nacional e a vitria da revoluo proletria na Inglaterra e Frana. Nos artigos que escrevem Marx sobre poltica internacional e Engels sobre as questes militares apontam para a farsa da guerra, onde os beligerantes, e mesmo os neutros como Prssia e ustria, a todo instante tomam medidas para manter a ordem contra-revolucionria. Revelam que o objetivo ingls e francs no era a destruio da Rssia, mas o seu enfraquecimento no Oriente Prximo e nos Blcs, procurando conserv-la como guardi do status quo europeu. Quanto Turquia, tratava-se de mant-la sob a dependncia da poltica colonialista das potncias ocidentais.

    O fim da Guerra da Crimeia terminou com a derrota russa, a transformao da Frana em primeira potncia militar europeia, abriu caminho para os negcios ingleses na sia Meridional e, selou o destino do Imprio Turco-Otomano. Para Marx, estes resultados no trouxeram nenhuma contrapartida para as massas populares e nem alterou o quadro europeu. A revoluo no aconteceu e o resultado da guerra deu flego economia inglesa e poltica interna de Napoleo III.

    No incio de 1856, os sintomas de uma crise financeira voltam a aparecer e Marx dedica ateno especial Frana, onde a febre especulativa mais forte. O foco a poltica econmica bonapartista e seu principal sustentculo: a poltica financeira tipificada pelo Crdit Mobilier (Barsotti, 2005: 139). Numa srie de artigos que escreve no NYDT publicados no presente dossi de Lutas Sociais analisa a modernizao do sistema financeiro francs e o desenvolvimento deste banco por aes. O Crdit

  • Marx e Engels: crise econmica e revoluo social (1844-1857) Barsotti, P. 125

    Mobilier com sua especulao desenfreada exportada para toda a Europa e seu mecanismo de captao da poupana dos pequenos investidores na bolsa, provocou uma centralizao de capital, e com seus investimentos em ferrovias e obras pblicas modernizou a Frana. Aos olhos de Marx, esta articulao das sociedades annimas com a atividade industrial abre uma nova era da vida econmica das naes modernas (Apud Rubel, 1960: 35).

    Em julho de 1857, no so mais sinais ou sintomas que so captados por Marx que, em carta a Engels, afirma:

    A revoluo se aproxima, como demonstra a marcha do Crdit Mobilier e as finanas de Bonaparte em geral(...) O capitalismo ter muito mais dificuldades de se restabelecer que h dez anos atrs, pois no campo socialista, muitas iluses desapareceram, o que permitir uma ao mais clara e enrgica (Apud Attali, 2007: 190).

    A to esperada crise arrebenta como primeira crise mundial do capitalismo. Derivada da especulao e da bolha das aes das empresas ferrovirias e da insuficincia da produo mundial de ouro explode na bolsa de New York. Rapidamente alcana as bolsas na Europa e, atingindo o corao da produo industrial capitalista na Inglaterra, transforma-se em crise de superproduo. A histria confirmava a teoria das crises e dos ciclos de desenvolvimento da produo capitalista e tudo levava a crer que este era o preldio da queda do capitalismo e o anncio da revoluo social.

    A partir de setembro, Marx passa a enviar ao NYDT artigos sobre a crise selecionados e includos neste dossi de Lutas Sociais que fornecem uma viso de conjunto, ainda que, nos limites de uma anlise imediata e carregados de ansiedade e esperana. Neles demonstra que a crise no era um mero acaso ou fenmeno isolado como queriam os economistas burgueses. Ela era o resultado inevitvel do fim do ciclo de prosperidade iniciado 1848 e fruto inerente s contradies do sistema anrquico do livre-mercado. Refutava, mais uma vez, o entendimento dos economistas burgueses que atribuam crise causas secundrias, como as ondas de especulao e emisso excessiva da moeda que provocava o aumento dos preos. Ironicamente, Marx aponta a superficialidade analtica destes senhores como um mdico que considera a febre como causa da doena (Marx 1986: 401). Fugindo da aparncia dos fatos, Marx detecta o movimento do capital fictcio e especulativo, as relaes entre o estado e a aristocracia financeira, e no deixa de denunciar a principal consequncia da crise mundial: a pauperizao da classe trabalhadora.

    Esta situao apressa Marx a concluir a sua economia antes do dilvio e manifesta preocupao com o seu atraso que poderia chegar num momento em que seu trabalho no fizesse mais sentido. Ao mesmo tempo, rene material para elaborar com Engels um folheto sobre a histria da crise como forma de interveno no movimento operrio que jamais foi concludo. Em carta a Engels de dezembro

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    de 1857, aps constatar a expanso da crise para a Alemanha do Norte, manifesta preocupao com a atitude do proletariado alemo:

    A calamidade comea a afetar tambm o proletariado. At agora se observam poucas manifestaes revolucionrias: o extenso perodo de prosperidade teve um efeito terrivelmente desmoralizador. Os desocupados seguem vagando pelas ruas e pedindo esmolas. O nmero de roubos e mortes aumenta, mas no muito (Apud Lnin, 1976: 53).

    Uma dcada de prosperidade e represso ao movimento operrio cobrou o seu preo: o proletariado no encontrou foras para reagir diante da crise no s na Alemanha como em toda Europa. No incio de 1858 a economia capitalista dava sinais de recuperao, a revoluo social no havia comparecido ao encontro e, no final do ano, a crise cedia a um novo ciclo de desenvolvimento.

    ConclusoSe a crise mundial de 1857-1858 confirmou a teoria do desenvolvimento da

    produo capitalista de Marx e Engels, a sua alternncia em ciclos de prosperidade e de crise independente da sua ocorrncia de cinco, sete, ou dez anos a expectativa de que ela desencadeasse uma onda revolucionria imediata no se verificou. Os anos de contra-revoluo burguesa e de prosperidade econmica pesaram na formao da conscincia e na organizao operria. Havia uma situao objetiva de crise, mas a ausncia de condies subjetivas bloqueou qualquer onda revolucionria.

    Porm, os efeitos da crise persistiram. Na dcada de 1860 o movimento operrio e os movimentos de libertao nacional retornam cena poltica. Os trabalhadores europeus e norte-americanos se reorganizam e, em 1864, criada a Associao Internacional dos Trabalhadores. Os movimentos democrticos de libertao nacional retomam a luta contra o Imprio austraco e pela unificao na Alemanha e da Itlia. Ao final da dcada, a disputa pela hegemonia na Europa entre o bonapartismo francs e o alemo levar breve Comuna de Paris de 1871, que encerra uma etapa histrica e inaugura um novo patamar da luta dos trabalhadores.

    Quanto a Marx e Engels, com o desfecho de 1857-1858, reconsideram a ideia de crise final do capitalismo reconhecendo o poder de reciclagem do capital e as dificuldades das revolues sociais diante desta dinmica. Em dezembro de 1858, Marx em carta a Engels, rendendo-se aos fatos, indaga sobre os destinos e as condies de sucesso da revoluo socialista, o que no momento, para ns, parece oportuno:

    Diante da virada otimista que o comrcio mundial assume atualmente (...), pelo menos um consolo que a revoluo tenha comeado na Rssia, pois considero como tal a convocao dos notveis a Petersburgo (...). A tarefa propriamente dita da sociedade burguesa a criao do mercado mundial,

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    pelo menos em seus grandes traos, e de uma produo baseada nele. Dado que a terra redonda, essa tarefa parece haver terminado com a colonizao da Califrnia e da Austrlia e a abertura da China e do Japo. Para ns, a questo difcil a seguinte: a revoluo no continente iminente e tomar imediatamente carter socialista; no ser ela necessariamente esmagada nesse pequeno espao, visto que em terreno muito mais vasto o movimento da sociedade burguesa ainda ascendente? (Marx, 1976: 254)

    Finalmente, como frutos gestados na primeira crise mundial do capitalismo e herana dos trabalhadores, Marx publica em 1859, Para a crtica da Economia Poltica e, dez anos depois do incio da crise, vinha tona, em 1867, o livro I de O capital. Ironias da histria.

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