_artigorefeito bonsai francieli urutagua 04 01 2011

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O Bonsai enquanto Herança Cultural em Cáceres-MT 1 Franciely Laura de Arruda e Silva 2 ; Josiane Magalhães 3 RESUMO O bonsai é uma arte e tem como sentido a transmissão de valores filosóficos e culturais entre gerações. O estudo objetivou verificar a permanência da prática do cultivo do bonsai entre os descendentes de japoneses em Cáceres-MT. Foram entrevistadas 20 famílias frequentadoras da Associação Cultural Nipo Brasileira.Os dados mostraram que o bonsai não faz parte das tradições culturais locais, cuja arte se perdeu antes de seus ascendentes terem chegado ao Brasil. Porém os descendentes procuram manter essa tradição que não foi repassada no ambiente familiar, buscando o aprendizado das técnicas e passando a cultivá-lo em casa. Percebe-se que há uma intenção da comunidade de descendentes japoneses em preservar alguns traços da cultura japonesa. Palavras-chave: Imigração japonesa, bonsai, cultura, preservação cultural, identidade étnica Bonsai as Cultural Heritage in Cáceres-MT 1 Monografia obrigatória para obtenção do diploma de Engenheiro Agrônomo pela UNEMAT, escrita seguindo as normas de publicação da revista “Tempo Social” 2 Graduada em Agronomia pela UNEMAT, Cáceres-MT. 3 Professora, Drª em Educação, responsável pela área de sociologia junto aos cursos de Agronomia, Enfermagem, e Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, Campus Cáceres-MT, coordenadora do Núcleo de Estudos em Ciências Humanas, Campus Cáceres- MT.

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O Bonsai enquanto Herança Cultural em Cáceres-MT 1

Franciely Laura de Arruda e Silva2; Josiane Magalhães3

RESUMO

O bonsai é uma arte e tem como sentido a transmissão de valores filosóficos e culturais

entre gerações. O estudo objetivou verificar a permanência da prática do cultivo do

bonsai entre os descendentes de japoneses em Cáceres-MT. Foram entrevistadas 20

famílias frequentadoras da Associação Cultural Nipo Brasileira.Os dados mostraram

que o bonsai não faz parte das tradições culturais locais, cuja arte se perdeu antes de

seus ascendentes terem chegado ao Brasil. Porém os descendentes procuram manter

essa tradição que não foi repassada no ambiente familiar, buscando o aprendizado das

técnicas e passando a cultivá-lo em casa. Percebe-se que há uma intenção da

comunidade de descendentes japoneses em preservar alguns traços da cultura japonesa.

Palavras-chave: Imigração japonesa, bonsai, cultura, preservação cultural, identidade

étnica

Bonsai as Cultural Heritage in Cáceres-MT

ABSTRACT

Bonsai is an art and its meaning the transmission of philosophical and

cultural values between generations. The study aimed toassess the

continuing practice of cultivating bonsai among Japanese descendants in Cáceres-

MT. We interviewed 20families attended the Cultural Association Nipo brasileira.A data

showed that the bonsai is not part of local cultural traditions, whoseart was

lost before their ancestors had come to Brazil. But thedescendants seek to

maintain this tradition was not passed in thefamily setting, seeking information about the

techniques andstarting to grow it at home. It is perceived that there is an intentionof

the community of Japanese descendants in preserving sometraces of Japanese culture.

Keywords: Japanese Immigration, bonsai, culture, cultural preservation, ethnic identity

1 Monografia obrigatória para obtenção do diploma de Engenheiro Agrônomo pela UNEMAT, escrita seguindo as normas de publicação da revista “Tempo Social”2 Graduada em Agronomia pela UNEMAT, Cáceres-MT.3 Professora, Drª em Educação, responsável pela área de sociologia junto aos cursos de Agronomia, Enfermagem, e Ciências Biológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, Campus Cáceres-MT, coordenadora do Núcleo de Estudos em Ciências Humanas, Campus Cáceres-MT.

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Introdução

Os processos sociais são dinâmicos e se mantém ou se transformam segundo as

necessidades humanas de significação e re-significação de suas práticas sociais.

Compreendê-los nos auxilia na interpretação da sociedade em que vivemos e na

proposição de uma sociedade mais justa e que possua práticas sustentáveis de existência

humana no planeta. Uma das formas de compreender os caminhos humanos é buscar em

suas práticas elementos que possam compor comportamentos que atendam aos anseios

postos pela sociedade atual, em ações que se desdobrem no sentido de respeitar a

natureza e estabelecer uma relação pacífica de existência entre os seres. Uma das

práticas humanas que podem ser exemplos a serem refletidos para as culturas atuais

pode estar em exemplos estabelecidos pelas culturas orientais milenares como o cultivo

dos bonsais.

Este pode ser entendido como um ícone de uma relação entre o ser humano e a natureza.

Simboliza por um lado, práticas sociais estabelecidas por uma cultura específica, cujo

significado dá sentido as relações sociais daquela cultura e por outro, enquanto

elemento sintetizador de uma filosofia de vida que ao mesmo tempo em que domina a

natureza através de uma técnica de cultivo, estabelece um profundo respeito para com

essa mesma natureza. Neste sentido, o bonsai e suas práticas de cultivo são por seu

caráter, um patrimônio cultural da humanidade, que merece ser registrado e

compreendido em seus diferentes aspectos.

O patrimônio cultural envolve bens naturais, culturais, intelectuais e emocionais. Onde a

natureza que envolve o ser humano, com suas obras e manifestações cívicas, religiosas e

folclóricas constrói uma identidade cultural que deve ser preservada.

Sakurai (2007) destaca no livro Os Japoneses a importância de trazer “um pedaço da

natureza” próximo a família. Afinal num país populoso, muitas pessoas são obrigadas a

morarem em casas pequenas, ou seja, pequenos espaços e em grandes centros urbanos

onde não tem o prazer de admirarem a natureza de perto. Com o cultivo dessa árvore em

vaso as pessoas poderiam ter uma representação da natureza em casa, além de

usufruírem dos benefícios de uma arte milenar da cultura japonesa.

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O bonsai enquanto herança cultural4está muito presente entre japoneses. A compreensão

dos caminhos que o mantém enquanto símbolo de uma cultura e ícone de uma forma de

se relacionar com a natureza pode ser um caminho profícuo no sentido de

estabelecermos uma direção para uma revisão da relação do ser humano com a natureza.

A arte do bonsai envolve diversas histórias sobre sua origem. Isso se deve a inexistência

de documentos que comprovem como, quando e onde surgiu, porém na versão mais

aceita, a China é o local de origem.

Segundo Santos et al. (2004), “o bonsai surgiu na China, no século II d. C., na dinastia

Tang. Dois séculos depois, por intermédio dos monges budistas, chegou ao Japão e a

partir daí se difundiu para todo o mundo. No Brasil, o bonsai foi introduzido com a

imigração japonesa, no início do século XX .”

De acordo com Sakurai (2007), existe um grande apreço por parte dos japoneses pela

natureza, mesmo diante de grandes metrópoles de concreto. Ainda pode ser percebida a

grande a importância do ambiente natural, na religião, literatura, na arte e na forma em

que são exploradas as terras.

Neste aspecto Sakurai (2007) destaca “o desejo de uma ligação próxima com a natureza

faz parte do modo de ser japonês”.

O Bonsai, ao longo do tempo, passou a ser considerado um dos símbolos da cultura

japonesa e sua preservação considerada um ponto importante na preservação da

identidade étnica entre os imigrantes. É considerado parte da estrutura familiar, tendo

em vista que algumas plantas duram séculos, passando de geração a geração como

herança familiar, mas mais que isso, é considerado um elo entre o velho e o novo, sendo

símbolo da permanência da essência vital, aspecto muito importante da cultura japonesa

e de sua filosofia de vida. Representa nas relações sociais a possibilidade colocada na

idéia do Chi, que é a força vital que mantém a vida no planeta e flui por todos os seres,

mantendo o equilíbrio entre as diferentes existências. Além disso, a prática de cultivo do

bonsai também se mantém enquanto identidade cultural, tendo em vista que os

44 Acerca desse conceito temos uma reflexão desenvolvida por Stuart Hall, em A identidade cultural na pós modernidade (2003) que analisa o processo de fragmentação do indivíduo moderno enfatizando o surgimento de novas identidades sujeitas ao plano da história, da política, da representação e da diferença.

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elementos da filosofia oriental são exercitados pela prática cotidiana de preservação da

essência vital do bonsai e de suas características de equilíbrio e harmonia.

Bonsai é uma palavra de origem japonesa que significa árvore em bandeja ou vaso,

(bom=vaso e sai=árvore). Corresponde a uma técnica utilizada em árvores para deixá-

las em miniatura. Na confecção de um bonsai podem ser utilizadas diversas árvores,

sendo que existem algumas que possuem uma tendência natural para se transformar e

outras precisam ser trabalhadas, ou seja, podadas, modeladas etc.. A forma de cada

bonsai esta relacionada com a condução, poda e cortes. O bonsai como qualquer outra

planta necessita de dedicação de quem cultiva. Sendo necessário seu transplante em

todos os anos, que é o momento em que as raízes são podadas e a terra fertilizada,

podendo ainda ser trocado de vaso que normalmente são rasos e largos, que funciona

como fator limitante para o bonsai, que por sua vez limita o crescimento das suas raízes.

A árvore necessita ainda de iluminação, sendo assim o vaso deve ser mudado de posição

de acordo com a estação do ano. Com todos esses cuidados o bonsai retribui as pessoas,

o prazer de ter um pedaço da natureza em casa.

Uma curiosidade que pode ser encontrada nos relatos acerca de bonsais está na história

do primeiro bonsai brasileiro o de Bouganvillea, que teve de ser plantada no chão por

ordem das autoridades daquela época. As autoridades afirmavam que usar técnicas em

uma planta para deixa - lá em miniatura, não estava correto, e por pura ignorância das

questões culturais japonesas construíram o receio de que pudessem fazer isso com o

povo brasileiro no futuro. Aquele bonsai no chão cresceu como qualquer outra planta,

mas com o formato estético de um bonsai, tanto pela estrutura do tronco, como pelas

podas. O ex-bonsai tornou-se atração na pequena cidade de Guaiçara-SP. Essa espécie

de bonsai o Bouganvillea, localmente era conhecida por três marias ou primavera,

chamou atenção dos imigrantes japoneses por ser avistada de longe, a espécie de bráctea

de cor rosa fazia lembrar o sakurá (cerejeira) em flor, fazendo aquele povo sentir

saudades da terra natal. (A história do bonsai o Brasil. Disponível em:

http://www.atelierdobonsai.com.br//. Acesso em: 03 de nov. 2010.)

Sob essa perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi verificar a permanência da prática do

cultivo do bonsai como herança cultural entre os descendentes de japoneses na cidade

de Cáceres-MT.

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Vale ressaltar que a herança da cultura japonesa no Brasil possui várias manifestações

que se relacionam com um contexto cultural de recriação de espaços sociais. Esses

espaços são relevantes do ponto de vista da manutenção da coesão do grupo de

imigrantes e descendentes, bem como permitem as trocas que irão manter ou não a

tradição do cultivo de bonsais.

De acordo com Sakurai (2007), “até o início da Segunda Guerra Mundial, os japoneses

no Brasil conseguiram se organizar criando redes de sociabilidade através de

associações. Elas se espalharam por onde houve núcleos de família japonesa”.

Segundo a autora, essas associações eram e ainda são, uma oportunidade de fazer

amigos, trocar idéias, e uma forma de sentir orgulho do lugar, sendo considerado o novo

lar da família. Além de ser uma maneira de estabelecer laços, arrumar casamentos, fazer

negócios, estabelecer espaços de socialização e confraternização. É o lugar para as

famílias se encontrarem depois do trabalho em suas terras, constituindo-se em um

espaço de lazer e aprendizado. A partir das associações, a comunidade japonesa passou

a construir escolas onde se ensina também a língua japonesa. As escolas seguiam o

currículo brasileiro, mas também o japonês devido ao sonho de retornar a terra natal.

Em localidades como as cidades de Marília, Dirceu, que se situam no oeste paulista,

região que recebeu forte migração japonesa, as associações são extremamente

organizadas e promovem além de cursos, festas como o Undokai e Bon Odori.

O Undokai  é uma atividade tradicional da cultura japonesa e pode ser descrita como uma gincana poliesportiva, que envolve atividades como cabo de guerra, corridas de obstáculos e outras brincadeiras diversas. O principal objetivo do Undokai é a confraternização das famílias e suas diversas gerações (desde crianças a idosos) Para manter viva esta tradição, diversas entidades ou escolas costumam realizar a gincana. (http://www.kumamoto.org.br/2010/01/16/undokai-kyushu-bloco/)

O Undokai na região do oeste paulista passou a ser organizado junto ao feriado nacional

que comemora o dia do trabalho. Assim, as associações japonesas na região organizam

grandes festejos, contudo em comemoração ao dia do trabalho, sendo realizado este

único festejo com essa denominação. Esta também é uma demonstração de uma

característica da cultura japonesa: o estabelecimento de uma ponte entre o velho e o

novo - a inovação e o aprimoramento da tradição que se mantém, mas incorporando

valores do novo.

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Já o Bon Odori mantém-se como comemoração religiosa. Na região do oeste paulista

está fortemente alicerçada através das várias igrejas budistas fundadas pela comunidade

de imigrantes japoneses. É definida inicialmente na cultura japonesa como:

Uma tradição milenar, que tem como objetivo a celebração dos antepassados e boa colheita. Suas origens são budistas, vinda de uma oração chamada nunbutsu-odori, que significa invocação-dança, no entanto no Japão nenbutsu-odori era praticada ao longo de todo o ano, pois consideravam o ano novo e o mês de julho como divisores do ano, e acreditavam que neste período havia uma grande visitação dos mortos a esse mundo. Sendo assim começaram a realizar anualmente o Bon-Odori, que significa mortos-dança, oferecendo cultos aos espíritos que visitam este mundo, através de danças, no Brasil esta tradição ganhou outra característica, sendo realizada na comemoração do aniversário de cidades que possuem colônias japonesas, com o intuito de celebrar boas colheitas e prosperidade no ano que se inicia. (Disponível em: http://www.aems.edu.br/publicacao/revista_conexao_aems_. Acesso em: 06 de nov.2010)

O Bon Odori na região do oeste paulista é realizado pelas igrejas budistas e ocorrem em

datas diferentes ao longo dos meses de Julho a Agosto. Todos os anos recebem, além da

comunidade de imigrantes e descendentes japoneses outros membros da sociedade, ou

os denominados brasileiros pela comunidade japonesa.

Além das igrejas budistas, as associações também organizam festejos de Bon Odori,

disseminando na região os hábitos alimentares, danças, músicas, vestimentas, objetos e

utensílios típicos da cultura japonesa. Em alguns eventos maiores são apresentadas a

cerimônia do chá, como forma de demonstrar as gerações e aos não japoneses a riqueza

da tradição cultural. É muito comum encontrarmos nos festejos exposições de Ikebanas

(arranjos de flores) e bonsais que são cultivados pelos imigrantes e descendentes locais.

Sakurai relata “as associações japonesas foram os centros de referência para todas as

comunidades japonesas no Brasil e continuam a ser até hoje”.

Material e métodos

Área de estudo

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A caracterização da herança cultural foi executada na comunidade de imigrantes

japoneses, localizada na cidade de Cáceres no Estado de Mato Grosso, que possui uma

forma de manutenção de sua cultura herdada a partir da constituição do Clube Nipo.

Esse clube é associação de um grupo, com objetivo de preservar os costumes e tradições

japonesas por meio de eventos relacionados aos costumes dos antepassados.

Metodologias utilizadas

O presente estudo possui um caráter quali-quantitativo, baseado na coleta de dados por

meio de técnicas de observação, e entrevistas com aplicação de um roteiro dirigido

buscando conhecer a trajetória de vida dos imigrantes e seus descendentes locais, e sua

relação com a manutenção do cultivo do bonsai enquanto herança cultural.

O roteiro dirigido constitui-se de 23 questões. As questões foram elaboradas a partir da

observação dos objetivos a que o trabalho se propôs, possuindo uma relação direta com

a busca por respostas:

1. Caracterização dos informantes: (Questão 01 a 03) Idade, sexo, escolaridade;

2. Caracterização da origem dos descendentes: (Questão 04 a 06) local de nascimento do

entrevistado e seus descendentes, classificação da sua geração;

3. Caracterização da presença do bonsai: (Questão 07 a 13) Presença do bonsai na família,

motivo de não ter um bonsai, quantidade de bonsai presente ou que já teve, quantidade de

pessoas cultivando;

4. Caracterização do conhecimento técnico: (Questão 14 a 18) Saber fazer um bonsai, quem

ensinou a cultivar, qual espécie conhece, qual espécie cultiva ou já cultivou, diferença do bonsai

de uma planta da natureza;

5. Caracterização do sentido atribuído ao bonsai: (Questão 19 a 20) Vantagem de cultivar, o que

representa o bonsai;

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6. Caracterização da preocupação na manutenção da cultura: (Questão 21 a 23) Transmissão de

conhecimentos do bonsai e de outros aspectos da cultura japonesa para filhos, netos ou parentes,

quais os conhecimentos transmitidos.

Coleta e análise de dados

A coleta de dados teve início a partir do levantamento dos membros associados à

Associação Cultural Esportivo Nipo Brasileira de Cáceres-MT, mais conhecida como

clube Nipo. O clube está há vários anos, localizado na parte central da cidade, e

funciona como ponto de encontro de descendentes japoneses, da comunidade cacerense

e de pessoas oriundas dos municípios vizinhos, sendo composta de 40 famílias

associadas. Adotou-se como critério de seleção a freqüência dessas famílias ao clube.

A participação dos descendentes e imigrantes na associação constitui-se um diferencial

do grupo, que procura manter espaços de trocas culturais da tradição japonesa. Assim,

constituiu-se um grupo de vinte famílias, as quais residiam em Cáceres e eram

freqüentadoras assíduas das atividades desenvolvidas pelo clube.

A coleta de dados teve início no dia 11 de outubro de 2010, com duração de uma

semana. Com a colaboração da presidente do Clube Nipo que forneceu a lista de

freqüência, iniciou-se a coleta de dados. O primeiro contato foi a partir de telefonemas,

onde era explicada a pesquisa e pedido a colaboração da família. No momento em que

aceitavam, os endereços eram fornecidos e o dia da visita era agendado.

Impressões acerca do contato com os entrevistados

O relacionamento entre pessoas geralmente não é tão fácil, se tratando de japoneses

parece ser ainda mais difícil, devido à estrutura familiar rígida. Nos telefonemas pode-se

perceber essa rigidez, mas tudo se transformava quando ocorria o primeiro contato

pessoal com as famílias. Todos recebiam da melhor forma que podiam, sempre com um

sorriso no rosto, eram bastante gentis e foram prestativos em suas contribuições.

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Inicialmente os objetivos da pesquisa eram explicados novamente às famílias,

solicitando sua assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após isso,

iniciava-se a coleta de dados. As perguntas eram direcionadas para uma pessoa que era

o escolhido pela família, contando com a participação de outros membros da família que

também contribuíam nas respostas. Entre uma pergunta e outra um sorriso e um

comentário.

Situações enriquecedoras como a visita realizada a casa do Sr A. Ao adentrar a casa do

senhor A, de 76 anos, filho de japoneses. Lá podia-se deparar com uma simplicidade,

harmonia, beleza e leveza, que aquele lar transmitia. Era um bem estar, uma

tranquilidade, uma paz, a sensação de estar em um ambiente diferente - uma casa

japonesa. Dizem que a casa da gente é igual ao dono, pois é, essa era. O senhor A com

toda simplicidade transmitia tudo isso.

No pequeno quintal foram avistadas diversas plantas, sendo que algumas cultivadas em

vasos, mas nenhuma caracterizando-se como um bonsai. Segundo aquele senhor a

técnica de fazer um bonsai não foi repassada para sua geração, mas o mesmo mostrou

interesse em ter e aprender a fazer um.

Ao iniciar a entrevista, com toda sua paciência relatou que a fundação do Clube Nipo

foi na década de 70. Comentou ainda que naquela época o clube era chamado de

Associação dos Japoneses, e quem freqüentava eram apenas japoneses. Contudo, com o

nascimento dos filhos, a associação teve que trocar de nome, afinal não seria mais um

clube apenas para os japoneses, e sim também para seus filhos. Com isso o nome foi

trocado, passando a ser chamado de Associação Cultural Esportivo Nipo Brasileira, que

abrange imigrantes e brasileiros, independente de raça, cor e religião.

Ao visitar a residência do senhor B de 39 anos filho de japoneses, pode-se notar que no

seu jardim havia uma planta na parte central do local. Contudo, não estava em um vaso

e sim plantada no chão. O senhor B explicou que ele tinha retirado o bonsai do vaso e

plantado no chão, e que de certa forma mantinha alguma semelhança com um bonsai

pois assegurou que a planta não crescia mais.

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Dentre as casas de nisseis, ou seja, filhos de japoneses. A casa do Sr A e B foram as que

mais se destacaram por ter um toque japonês. Visto que outras casas visitadas não se

diferenciavam de residências de famílias brasileiras.

As entrevistas realizadas com os netos dos japoneses não permitiram a observação de

suas residências. Os netos de japoneses entrevistados, na sua maioria, não se

encontravam em suas residências, sendo que foram realizadas em seu local de trabalho,

o comércio da família que lhes dá sustento.

É interessante notar essa mudança, pois segundo a cultura japonesa, o japonês possui

uma enorme ligação com a terra. Havia inclusive um preconceito para com aqueles que

não lidavam com a terra, construindo uma imagem negativa acerca dos japoneses que

começaram a trabalhar no comércio. O principal argumento era de que o sustento da

família teria que vir da terra e não de outro meio e essa posição condenava o trabalho no

comércio. Hoje em dia podemos perceber que esse conceito mudou, sendo que a

principal atividade da comunidade de imigrantes e descendentes japoneses concentra-se

no comércio.

Segundo Sakurai (2007), “o comércio era uma atividade considerada marginal, sem

reconhecimento social e, por isso, voltada para aqueles que não tinham muitas

alternativas”.

Prosseguindo com as visitas, entrevistei três imigrantes japoneses. Ao adentrar na casa

do Senhor C de 77 anos, fui recebida por sua esposa que me pediu com toda sua

delicadeza que aguardasse na varanda seu esposo. Enquanto o esperava notei que aquele

Senhor estava mexendo com a terra no pequeno quintal possuía. O que me fez relembrar

a ligação do japonês com a terra e natureza. Ao iniciar a entrevista, me relatou sua

chegada a Cáceres que foi por volta da década de 50. Mesmo sendo um imigrante, não

se considera um. Diz ser uma mistura do brasileiro com o japonês, afinal apesar de

possuir os traços físicos, aprendeu a falar nossa língua e possui modos brasileiros.

Disse-me ainda que apesar de gostar da natureza e de cuidar do seu quintal, não cultiva

bonsai. Quando perguntei se conhece alguma espécie de bonsai me disse que sim, a

jabuticabeira. Uma espécie comum no Brasil. Não mencionando nenhuma espécie típica

do Japão.

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Percebi que aquele imigrante já estava totalmente incorporado a cultura local, quando

na ultima pergunta questionei se passa a seus descendentes os conhecimentos da cultura

japonesa, me deparando com a resposta não. Então argumentou: “Não passo, eles são

brasileiros”.

Na casa da Senhora D de 52 anos, percebi a relação que tinha com a arte e beleza, afinal

sua profissão exigia. Comecei minha entrevista e notei que aquela senhora não sabia o

que era um bonsai, quando me interrompeu com um argumento e uma pergunta. “Você

esta falando de bonsai, mas o que é bonsai?”. Então expliquei o que é essa arte. Ela por

sua vez argumentou que o motivo de não saber sobre bonsai, ocorre porque seus pais e

avós não tinham, por isso não foi repassado a sua geração.

A entrevista com o Sr E ocorreu no seu trabalho, onde percebi a mesma ligação com a

natureza que tinha notado na casa do Sr C. O Senhor E por sua vez mesmo trabalhando

com plantas e retirando dali seu sustento não tem nenhuma ligação com o bonsai.

Os três imigrantes japoneses entrevistados mesmo não pertencendo à mesma família,

mostram um fator em comum. Eles não têm nenhuma relação com o bonsai, o que

mostra que essa arte se perdeu em algum momento da vida deles ainda no Japão.

Resultados e Discussão

Perfil sócio econômico

Foram feitas 20 entrevistas com as famílias associadas ao Clube Nipo no município de

Cáceres-MT, Os entrevistados foram 10 mulheres e 10 homens, com faixa etária entre

20 e 80 anos (Tab.1). A geração a que pertencia os entrevistados foram três:

a) issei – primeira geração, constituindo-se dos imigrantes japoneses;

b) nissei – segunda geração, composta pelos filhos dos imigrantes;

c) sansei. – terceira geração, composta pelos netos dos imigrantes.

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A classificação das gerações foi feita a partir da informação da descendência por parte

de pai. O local de nascimento variou entre 3 estados brasileiros, e outro país (Japão).

Sendo no estado de Mato Grosso 6 nascidos, São Paulo 10, Paraná 1 e no Japão 3

(Tab.2) .

Tabela 1. Caracterização da faixa etária entre os descendentes japoneses. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010.

Faixa etária Masculino Feminino20-25 anos 1 126-30 anos 0 131-40 anos 3 141-50 anos 1 251-60 anos 2 361-70 anos 1 271-80 anos 2 0

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Tabela 2. Local de nascimento e geração dos entrevistados. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010.

Local de nascimento N° %Mato Grosso 6 30

Paraná 1 5

São Paulo 10 50

Outro país (Japão) 3 15

Geração

Issei 3 15

Nissei 13 65

Sansei 4 20

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Nos dados coletados, a Azálea Rhododendrom sp, Cerejeira Prunus serrulata e o

Pinheiro Pinus (sendo a mais comum a pentaphylla) são as espécies de bonsais que

mesmo sendo pouco cultivados, são os mais conhecidos (Fig.1). O motivo de serem os

mais citados mostra uma relação entre os descendentes e os seus antepassados, e o

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interesse em preservar essa herança cultural, já que são espécies cuja origem esta

relacionada ao Japão.

Das três espécies citadas anteriormente o pinheiro é o mais conhecido e cultivado, o que

mostra o interesse de preservar essa espécie cuja origem é japonesa. Devido sua

importância pode ser encontrado em diversas formas, como na poesia, pintura, ikebana

(arte japonesa de arranjos florais) e no bonsai. O sentido para o grande apreço por essa

espécie pode estar relacionado com a força que transmite, sendo capaz de resistir a

ventos fortes e crescer em lugares inóspitos sem perder sua elegância, além de ser

símbolo de longevidade.

A jabuticaba Myrciaria cauliflora espécie comum no Brasil e a romã Punica granatum

originaria da Ásia oriental, mas muito cultivada no Brasil, igualaram-se ao número de

pessoas que relataram conhecer e cultivar em algum momento da vida, o que mostra a

relação Brasil/Japão. Com isso entende-se que ocorre dois interesses, ou seja, na espécie

brasileira e na de origem japonesa com o intuito de preservar essa cultura.

0

2

4

6

8

10

12

Espécie conhecida

Espécie cultivada

Figura1. Espécies de bonsais conhecidas e cultivada em algum momento da vida dos descendentes. Cáceres-MT, Data: 16 de outubro de 2010. Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Os dados apresentados na tabela abaixo mostram o que os entrevistados entendem da

diferença do bonsai de uma planta na natureza (Tab.3). Sendo que 13 dos entrevistados

responderam que a diferença está no cultivo em vaso e o uso de técnicas para deixá-lo

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em miniatura, mostrando que conhecem essa arte. E quando são questionados sobre a

vantagem de cultivar um bonsai, pode ser notado, que ocorre um grande interesse da

preservação dessa arte nos descendentes.

“É comum, no Japão, dizer-se que um Bonsai é iniciado por alguém, cujo filho

continuará o treinamento, para ser apreciado pelo neto” (KUSSAKAWA, 2008).

A herança cultural é uma questão muito importante e valorizada na família japonesa.

Pode ser considerada como um conjunto de valores que são transmitidos as gerações,

baseado na identidade de cada povo. A passagem dessa cultura pode ser percebida por

meio de objetos, símbolos entre outras formas.

Na caracterização da presença do bonsai, 70% dos entrevistados responderam que suas

famílias não possuem bonsai em casa (Tab.3). Quando os mesmos foram questionados

do motivo de não possuir, a questão mais apontada foi porque não foi repassada essa

técnica para sua geração (Tab. 4).

“As gerações dos descendentes que permanecerão no Brasil terão o desafio de preservar

os traços cada vez mais diluídos da cultura japonesa” (REIS, 2008).

Tabela 3. Caracterização do conhecimento técnico e do sentido atribuído ao bonsai. Cáceres- MT, Data:16 de outubro de 2010.

Diferença do bonsai de uma planta na natureza N° %Cultivo em vaso e o uso de técnicas para deixá-lo em miniatura 13 65Não tem diferença 1 5O cultivo ocorre em vaso 6 30

Vantagem de cultivar bonsaiPequeno espaço que ocupa 7 35Preservar essa cultura nos descendentes 12 60Ter por perto um pedacinho da natureza 1 5

Presença do bonsai na família Sim6

Não 14

%30

70

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

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Tabela 4. Caracterização da presença do bonsai. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010.

Motivos de não cultivar bonsai N°

Falta de tempo 2

Não foi repassada a técnica de fazer bonsai para a minha geração 9

Não sei o que é bonsai 1Por não me importar com essa cultura 1Preço 1

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

A presença do bonsai na geração dos pais e avôs mostrou que a perda das tradições

dessa arte ocorreu ainda no Japão (Tab.5). Onde 55% dos entrevistados relataram que

seus pais não têm ou não tinham bonsai e quanto à geração dos avôs, 30% disseram não

e 30% não saber ou não lembrar, ou seja, somando os últimos dados são 60% que

afirmam que o bonsai não está ou não esteve presente na vida dos avôs. Sendo que o ato

de não saber ou não lembrar pode ser considerado um ponto negativo, pois a presença

de um bonsai na família não seria um fato que passaria despercebido.

Com a caracterização do conhecimento técnico percebe-se que 95% dos entrevistados

não sabem fazer um bonsai, o que corrobora com a idéia da perda dessa tradição

(Tab.6). Os demais 5% que relataram saber fazer um bonsai. Os mesmos quando

questionados com quem aprenderam essa arte, afirmaram que foi com uma pessoa que

não é membro da família. Isso mostra que apesar da perda dessa arte nas famílias, ainda

existe uma busca dos costumes dos antepassados pelos descendentes, que procuram

manter essa tradição que não foi repassada dentro do ambiente familiar.

Tabela 5. Presença do bonsai na geração dos pais e avós. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010.

Sim Não Não lembra ou não sabe

Seus pais têm ou tinham bonsai 9 11 0

Seus avôs têm ou tinham bonsai 8 6 6

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

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Tabela 6. Caracterização do conhecimento técnico da arte do bonsai. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010.

Arte de fazer bonsai Sim Não1 19

Geração que sabe fazer bonsai N°Issei 0Nissei 0Sansei 1

Ensinamentos de como fazer um bonsai Ninguém ensinou

Outra pessoa

19 1

Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Percebe-se com isso que por não praticarem essa arte, a maioria dos entrevistados não

repassam os conhecimentos sobre o bonsai (Fig.2). Sendo que das 20 famílias

entrevistadas, apenas 3 relataram passar os conhecimentos, e dessas a apenas 1 sabe

fazer bonsai.

0 5 10 15 20

sim

não

sim

não

Con

heci

men

tos

sobr

e bo

nsai

Con

heci

men

tos

sobr

e a

cultu

raja

pone

sa

Figura 2. Caracterização da preocupação na manutenção da cultura. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010. Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Com relação aos conhecimentos da cultura japonesa que não tem nenhuma relação com

o bonsai, as famílias afirmam que passam a seus filhos, netos ou parentes. Entre as 20

Page 17: _artigorefeito bonsai francieli urutagua 04 01 2011

famílias, 18 afirmaram passar os conhecimentos. Dentre os costumes, o mais citado por

eles foi a comida, sendo uma necessidade primária, considerada o principal elemento

cultural japonês que é repassado para as gerações. Em segundo lugar ficou organizar e

participar de festas típicas.

De acordo com Pazinato (2007), “ao conceber a festa como lugar de memória revivida e

ritualizada no processo de identificação dos indivíduos e do grupo, revela-se a

importância do grupo para a sociedade na qual está inserido”.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18 Comida

Dança

Escrever a línguamaterna

Falar a língua materna

Frequentar igrejasbudistas

Músicas

Organizar e participar defestas típicas

Tirar sapatos para entrarem casa

Utilização de utensíliosdomésticos

Figura 3. Aspectos presentes na cultura japonesa que são repassadas para filhos, netos ou parentes. Cáceres-MT, Data:16 de outubro de 2010. Fonte: SILVA, 2010, Dados da pesquisa.

Os dados mostram que hábitos comuns para a família japonesa como tirar sapatos para

entrar em casa, falar a língua, e uso de utensílios domésticos ainda permanecem para

alguns, mas está sendo esquecida. Isso pode ocorrer por esses descendentes estarem

inseridos em um país com costumes diferentes que acabam sendo assumidos por eles.

O ato de falar e escrever a língua materna depende muito da família, pois no Japão

existem vários dialetos que varia de região para região. Com isso cabe a família sua

permanência.

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A dança e música típica do Japão ainda permanecem em algumas famílias, mas a

tendência é para que sejam transformados e modernizados na sociedade brasileira.

Segundo Machado (2008), o Matsuri dance é um estilo de dança que nasceu entre os

descendentes no Brasil, que mistura a dança típica Bon Dori (festival de tradição

budista) e o ritmo da música pop japonesa.

Os aspectos menos citados foram escrever a língua materna e frequentar igrejas

budistas. A ausência da aprendizagem da língua materna pode ser devida ao fato de que

possui uma estrutura muito complexa e diferente da língua portuguesa, sendo formada

por ideogramas. Já a segunda pode ser explicada pelo fato da cidade de Cáceres não

possuir igrejas budista. Mesmo assim, ocorre de forma pequena um ato de manifestação

religiosa por uma família de descendentes, que procuram manter as tradições.

Por meio dos resultados analisados, nota-se que ainda existem algumas tradições que

ainda são passadas para os descendentes. Contudo a arte de cultivar bonsai apesar de ter

uma origem milenar, cujo sentido é passar de geração a geração mais que uma técnica, e

sim uma filosofia de vida, é uma cultura que não faz parte das tradições da comunidade

local.

Conclusões

O bonsai é uma arte milenar, que tem sua origem na China, e por meio de monges

chineses foi levado ao Japão, onde foi modificado e desvinculado da religião, tornando

seu cultivo uma arte.

A chegada dos bonsais ao Brasil ocorreu em 1908, por meio dos primeiros imigrantes

japoneses. Como lembranças da sua terra trouxeram entre diversos objetos alguns

exemplares de bonsai. Mas apenas na década de 30, iniciaram a arte do seu cultivo. Um

dos motivos que justifica esse atraso é o fato que naquela época dedicavam-se apenas ao

trabalho nas lavouras de café.

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A imigração japonesa no estado de Mato Grosso e, particularmente na cidade de

Cáceres, é muito reduzida se tomada proporcionalmente ao movimento migratório na

cidade de São Paulo, oeste paulista e norte do Paraná. Contudo, as manifestações de sua

cultura podem ser observadas localmente nas festas locais como o festival de pesca,

principalmente através das comidas típicas, que sempre instala uma barraca da

comunidade nipo durante o festival entre outros festejos como festas juninas. Algumas

exposições de ikebanas também são realizadas pela comunidade local e aos domingos a

venda de iaksoba, prato muito apreciado entre a comunidade cacerense.

Particularmente a partir dos dados coletados podemos perceber que o bonsai não faz

parte das tradições culturais locais, seja em função da ausência nas residências, a não

transmissão de seu modo de cultivar entre as gerações e mesmo do sentido e significado

do que seria um bonsai. Algumas das percepções apresentadas na comunidade

entrevistada parecem ter vindo da mídia, colocando o bonsai como um elemento da

cultura japonesa, mas totalmente descontextualizado de suas origens ancestrais nas

gerações de famílias japonesas. Parece que a tradição do cultivo de bonsais entre a

comunidade pesquisada perdeu-se muito antes de seus ascendentes terem chegado ao

Brasil, pois mesmo os imigrantes, não haviam recebido de seus pais como herança a

prática de cultivo de bonsais, tampouco se referindo a existência dessa prática entre seus

ancestrais mais distantes, não se referindo a presença de bonsais nas gerações

antecessoras. Por outro lado existe uma busca ainda que pequena dos descendentes que

procuram manter essa tradição que não foi repassada no ambiente familiar.

A culinária parece ser a pratica cultural que ainda se mantem entre os descendentes, fato

que pode ser entendido dentro de uma absorção da cultura desses alimentos junto a

comunidade cacerense, tendo se disseminado pelos restaurantes locais.

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