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 1 ARTIGO: LPMT17 ETNOMATEMÁTICA: CAMINHO PARA A TRANSDISCIPLINARIDADE RESUMO Abordar e discutir a Etnomatemática como proposta pedagógica para o ensino da Matemática nas escolas em conjunto com Transdisciplinaridade, constitui o objetivo deste presente estudo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que atentou para as possibilidades dos conhecimentos matemáticos serem aplicados de forma que atingissem eficientemente a sua relevância para a construção da cidadania. Utiliza-se para tal, conceitos de Etnomatemática e de Transdisciplinaridade para estruturar pontos de compreensão acerca de seus benefícios e de sua efetuação do local para o global, bem como a matemática Sona, do povo africano  , como forma de exemplificar a matemática como transmissão de cultura e conhecimento. Assim sendo, esta se configura numa forma de apresentar reflexões acerca do ensino-aprendizagem da Matemática, através da inovação e transformação das práticas p edagógicas. PALAVRA-CHAVE: educação , etnomatemática, transdisciplinaridade, matemática, cultura ETNOMATEMÁTICA: CAMINHO PARA A TRANSDISCIPLINARIDADE INTRODUÇÃO A educação como veículo cultural de disseminação de conhecimentos e de cidadania, traz-nos um montante de reflexões acerca de seus métodos de ensino aprendizagem aplicados nas escolas,  principalmente nas de rede de ensino público do nosso país. Há vários questionamentos acerca da formação dos nossos professores e da sua prática pedagógica utilizada, especificamente aos que lidam com a disciplina de Matemática. E isso sem falar da falta de estrutura física e funcional da própria escola, onde se mesclam métodos ultrapassados dos planejamentos elaborados pelo corpo docente.

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ARTIGO: LPMT17

ETNOMATEMÁTICA: CAMINHO PARA A TRANSDISCIPLINARIDADE

RESUMO

Abordar e discutir a Etnomatemática como proposta pedagógica para o ensino da Matemática nasescolas em conjunto com Transdisciplinaridade, constitui o objetivo deste presente estudo. Trata-sede uma pesquisa bibliográfica que atentou para as possibilidades dos conhecimentos matemáticos

serem aplicados de forma que atingissem eficientemente a sua relevância para a construção dacidadania. Utiliza-se para tal, conceitos de Etnomatemática e de Transdisciplinaridade paraestruturar pontos de compreensão acerca de seus benefícios e de sua efetuação do local para oglobal, bem como a matemática Sona, do povo africano , como forma de exemplificar a matemáticacomo transmissão de cultura e conhecimento. Assim sendo, esta se configura numa forma deapresentar reflexões acerca do ensino-aprendizagem da Matemática, através da inovação etransformação das práticas pedagógicas.

PALAVRA-CHAVE: educação, etnomatemática, transdisciplinaridade, matemática, cultura

ETNOMATEMÁTICA: CAMINHO PARA A TRANSDISCIPLINARIDADE

INTRODUÇÃO

A educação como veículo cultural de disseminação de conhecimentos e de cidadania, traz-nosum montante de reflexões acerca de seus métodos de ensino aprendizagem aplicados nas escolas,

  principalmente nas de rede de ensino público do nosso país. Há vários questionamentos acerca daformação dos nossos professores e da sua prática pedagógica utilizada, especificamente aos que lidamcom a disciplina de Matemática. E isso sem falar da falta de estrutura física e funcional da própriaescola, onde se mesclam métodos ultrapassados dos planejamentos elaborados pelo corpo docente.

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Enfim, são vários itens a se levarem em consideração ao ensino aprendizagem principalmente de possibilitar às novas gerações a apropriação de conhecimento construído pela humanidade o qual estesfazem parte.

A Matemática tradicional que até então é aplicada ainda nas escolas, tem se mostradoinsatisfatória aos rendimentos na aprendizagem dos alunos, esta tem se revelado traumatizante e

desinteressante, e por essa razão tem provocado altos índices de reprovação. A negatividade e amecanicidade da disciplina têm gerado algumas preocupações e questionamentos em torno da suaaplicação em sala de aula, bem como a sua contribuição para a construção da cidadania dos discentes.Infelizmente, a prática utilizada para transmitir os conhecimentos matemáticos tem revestido adisciplina de complexidade e dificuldades, que por muitos alunos ela é considerada a mais difícil e,

 portanto incompreensível. E isso, entretanto, proporcionou uma busca por alternativas mais viáveis aoensino aprendizagem da Matemática, as quais produzam prazer e significados na realidade dosdiscentes.

Sendo assim, pretende-se focar neste trabalho a aplicação dos conhecimentos matemáticos na prática diária dos alunos, utilizando como base de pensamento a Etnomatemática, onde estes possamlidar com diversas situações reais, tanto no espaço como no tempo em que estão inseridos, como sujeitos

ativos, configurando positivamente uma construção de cidadania mais eficiente e consciente enquantoser social e cultural.

A Etnomatemática aqui em destaque se apresenta como foco principal de discussão. Pois trata-se de um meio viável para repensar a matemática no ambiente escolar bem como os seus benefícios paracontribuir na aprendizagem dos alunos. Para tal, estruturaram-se aqui três pontos como forma de

 proposta a sua reflexão num âmbito particular ou in locus como a disciplina de matemática restrita a salade aula ao âmbito externo, extraclasse, onde se expande por toda escola alcançando o global.

Primeiro ponto faz-se necessário compreendê-la a partir de exemplos do povo africano Quiocoque utilizava a matemática Sona, ou seja, desenhos feitos na areia que serviam para contar histórias,adivinhações, lendas e principalmente a matemática   para transmitir cultura e sabedoria aos seus

descendentes. Pois estes exemplos contextualizam concretamente os conhecimentos matemáticos navida cotidiana das pessoas possibilitando a sua articulação com a cultura e a importância desta nasescolas.

  No segundo ponto trataríamos de seu conceito como uma alternativa de aplicabilidade aosconhecimentos matemáticos em sala de aula, resgatando a sua importância na construção de cidadaniados alunos contextualizando cultura e identidade.

  No terceiro e último ponto, destacaríamos as possibilidades da Etnomatemática viabilizar aaplicação da Transdisciplinaridade nas escolas, como forma de interligá-las ao conhecimento e aconsciência global.

Entretanto, esse último ponto constitui como principal objetivo desse estudo, de se trabalhar simultaneamente a etnomatemática e a transdisciplinaridade; aprendendo o texto e o contexto, o homeme o meio em que o indivíduo está inserido, as diferentes culturas, as incertezas, o aluno na suamultidimensionalidade, com respaldo nos princípios éticos e um permanente diálogo do educandoconsigo mesmo. A etnomatemática a serviço da transdisciplinaridade, e vice-versa. A etnomatemáticaestá relacionada à realidade de grupos sociais, de conhecimentos produzidos e transmitido de geração àoutra, isto são princípios propostos pelo pensamento transdisciplinar.

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  Nessa perspectiva de enquadrar uma reflexão acerca da Cultura e da Matemática, daetnomatemática e transdisciplinaridade, esse estudo bibliográfico é uma possibilidade de compreender aMatemática com relevância para o conhecimento mais significativo, mais prazeroso, mais educativo edinâmico. E assim, com essa preocupação podermos pensar numa minúscula tentativa de buscar alternativas para a melhoria da educação em geral, como também uma tentativa tímida de revestir osconhecimentos matemáticos com mais prazer e significado para o alunado.

ETNOMATEMÁTICA COMO PROPOSTA DE ENSINO NA MATEMÁTICA

A etnomatemática trata-se de um programa onde propõe uma nova forma de pensar e agir frente ao pensamento matemático. Ubiratan D'Ambrósio (2oo7) o vê como um programa de pesquisaonde procura entender o saber/fazer matemático ao longo da história, contextualizado, de diferentescomunidades, povos e nações.

Etnomatemática é a matemática praticada por grupos culturais, tais comocomunidades urbanas e rurais, grupos de trabalhadores, classes profissionais,crianças de certa faixa etária, sociedades indígenas, e tantos outros grupos quese identificam por objetivos e tradições comuns ao grupo. (D'AMBRÓSIO,2oo7, p.09)

Vê um conhecimento matemático construído por diferentes grupos sociais e utilizá-lo para aformação cultural e ética desses grupos é uma forma de inclusão social, rompendo barreirasdiscriminatórias, tornando-se independente ao conhecimento opressor e a recuperação da dignidadehumana e cultural desse povo.

A etnomatemática como programa de pesquisa, tem uma postura educacional que buscaconstantemente o saber, embasado numa postura transdisciplinar, vendo a formação com significado,contextualizada e interligada entre diversas áreas do conhecimento, com atitude ética e consciente frenteaos seus direitos e deveres de cidadão. ³A etnomatemática é embebida de ética, focalizada narecuperação da dignidade cultural do ser humano´. (D'AMBRÓSIO, 2007, p. 09). Diz ainda que:

A proposta pedagógica da etnomatemática é fazer da matemática algo vivo,lidando com situações reais no tempo[ agora] e no espaço [aqui]. E, através dacrítica, questionar o aqui e agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízesculturais e praticamos dinâmica cultural. Estamos, efetivamente reconhecendona educação a importâncias das várias culturas e tradições na formação deuma nova civilização, transcultural e transdisciplinar. (D'AMBRÓSIO, 2007, p. 46) 

Sabemos que devemos mudar nossa metodologia de ensino, que forme o cidadão consciente,com uma aprendizagem completa, sem fragmentação e compartilhamento, que esteja embasada em uma

metodologia transdisciplinar e uma nova forma de ver a matemática, sem aquele tradicionalismoestruturado na decoreba e seqüências predeterminadas; mas sim em uma matemática contextualizada,interligada com várias áreas do conhecimento, com sentido cultural e étnico, que não discrimine acultura do outro e possa formar uma cultura de paz. Isso é possível através do programa de pesquisaetnomatemática.

ETNOMATEMÁTICA DA CULTURA DA ANGOLA

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 No vigésimo boletim da SPM (Sociedade Portuguesa de Matemática), junho de 1991, PaulusGerdes, que é Matemático e também antropólogo, mostrou seu interesse pelas freqüentes ligações entrea matemática e elementos culturais das mais diversas origens. Através de suas investigações edivulgações destas para fins educativos do pensamento matemático que estar por traz das cestarias,ornamentos, armadilhas, jogos e desenhos tradicionais etc.

Pesquisando sobre esses desenhos tradicionais é que vamos descobrimos os segredos do povoTchokwe (ou Quioco), que habita o nordeste de Angola, região de Luanda, com uma população de ummilhão de habitantes; tem o hábito da caça e da pesca, mas também são conhecidos pela sua bela artedecorativa, ornamentando esteiras, cestos trançados, cerâmica, tatuagem e desenhos na areia.

  Nos centros de conversas, como distração, passatempo e passagem da sabedoria dos maisvelhos, os Quiocos se reúnem nas aldeias ou no acampamento de caça ou nas sombras de árvores paracontar e ouvir histórias, e enquanto conta o narrador vai desenhando no chão, os ouvintes prestam muitoatenção na execução do desenho chamado por eles de Sona; os desenhos Sona referem-se a provérbios,fábulas, jogos, adivinhas, animais, etc.

Os desenhos têm de ser executados suave e continuamente, pois qualquer 

hesitação ou paragem da parte do desenho é interpretada pela audiência comouma imperfeição ou falta de conhecimento, o que é assinalada com um sorrisoirônico (FONTINHA, 1993 apud GERDES, p. 1)

Figura 1 fonte: GERDES, 1990 

  Na execução desses desenhos, que para o povo Quico representa sua escrita, composta por  pontos e linhas, onde os pontos e linhas são feitos com as extremidades dos dedos estendidos, fazendona areia uma rede retangular com filas perpendiculares as colunas.

Figura 2-fonte: GERDES, 1990 figura 3,fonte: GERDES, 1990 

É nessa simples tradição que Paulus Gerdes encontra valores culturais e elementos matemáticosimportantes. O que ele passou a chamar de matemática oprimida, pois era desenvolvida em países

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subdesenvolvidos, com existência da opressão governamental, da pobreza e da fome, onde temos umtermo metafórico para nomear essa matemática; que por sua vez D¶Ambrósio em 1985, utiliza-se pela

  primeira vez do termo etnomatemática para caracterizar as diferentes formas de matemática que são próprias de grupos culturais. 

 Nos desenhos Sona do povo Quioco, encontramos matrizes de pontos, ângulos, curvas, retas,

 processo de multiplicação, números primos, simetria das figuras, somas de seqüências aritméticas, etc.,além de tratar de fábulas e histórias do povo Quioco, e assuntos relacionados a interpretação textual,gramática, história da África, assuntos relacionados a geografia e temas transversais como éticos ecidadania. Sendo uma matemática riquíssima, valiosa e repleta de conteúdos, para Borba (1993) apudSantos (2002),

A etnomatemática pode ser e é vista como um campo de conhecimentointrinsecamente ligado a grupos culturais e a seus interesses, sendo expressos  por (etnos) linguagem também ligada à cultura do grupo, os seus ethos.(BORBA, 1993, p.43)

O que nos leva a refletir e crer que matemática é um produto cultural e que cada povo pode produzir sua matemática específica de acordo com suas necessidades diárias do grupo. Paulus Gerdes(1990) no seu livro ³Desenhos da África´, tenta mostrar que todos os povos da humanidadeindependente de raça, origem social são, em princípio, capazes de descobrir, compreender e desenvolver em seu proveito a ciência matemática.

MATEMÁTICA AFRICANA COMO RESGATE DA NOSSA CULTURA

Vê-se no povo africano um estado de conhecimento e sabedoria são raramente vistos na culturanacional. Henrique Cunha (2010, s/p) diz que ³muito das realizações do povo africano no Brasil, ficamsub-dimencionadas ou não reconhecidas, dado ao tamanho da ignorância reinante no país sobre asnossas origens africanas´.

O povo africano tem história, cultura e conhecimento, seja na arte, na literatura e a ciênciasmatemática. Paulus Gerdes (1990) vê no conhecimento matemático desse povo um sonho, que é a

 popularização dessa ciência em países como os nossos ± Brasil e países da África. Como já sabemos queuma forma de produzir matemática de um dos países africano, especificamente Angola, é a matemáticaSona, nela se propaga e divulgam seus hábitos, sua crença, sua cultura,

Em todas as culturas e em todos os tempos, o conhecimento, que é gerado  pela necessidade de uma resposta a problemas e situações distintas, estásubordinado a um contexto natural, social e cultural. (D'Ambrósio, 2001 apudCristiane Coope, p. 4)

Ao estudarmos, por exemplo, a fábula ³O galo e raposa´ descrita por Paulus Gerdes (1990, p.11),

O galo  K anga e a raposa  Muzuza pretendiam a mesma mulher. Pediram-naem casamento a seu pai, que exigiu de ambos o pagamento adiantado. Elesconcordaram prontamente. De repente, correu o boato de que a prometidahavia falecido.  K anga rompeu num choro inconsolável, em quanto  Mukuza apenas lamentava ter perdido o pagamento adiantado. Então o pai, que de  propósito tinha espalhado o boato para ver quem merecia a sua filha,entregou-a ao galo, que revelou ter bom coração. (GERDES, 1990, P. 11)

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Figura 4, fonte: GERDES, 1990 

Neste desenho, o ponto vermelho representa a filha e os

pontos verdes, os pretendentes.

Podemos ver bem nesta bela representação desse desenho e em seu texto a expressão literáriado povo Quioco. A fábula, como gênero textual; as palavras africanas e a cultura desse povo pode-sedescobrir através de uma breve análise textual o cunho moral e os conceitos éticos envolvidos.

Se trabalhado numa perspectiva transdisciplinar teremos discussões envolvendo a formação deconceito quanto à geografia do povo africano, a cultura, a história desse local e os direitos do cidadão.Formando no educando uma complexidade de conhecimento relativo a essa população. Criando umaatitude crítica e analítica quanto à formação do povo brasileiro. Com interesse de estudar a matemática,especificamente a geometria, que envolve conceitos de ponto, reta, plano, simetria das figuras eseqüências aritméticas, Paulus Gerdes ver ainda uma possibilidade de usá-los como certos ritmosaritméticos ou geométrico, chamados de algoritmo, contribuindo mais tarde para trabalhos comcomputadores. Então podemos ver que,

A ausência da história africana é uma das lacunas de grande importância nossistemas educacionais brasileiros. («). Tomando como ambiente brasileiro

como de exclusões étnicas, os quais denominamos de racismo, existe um processo de criação de credos sobre a inferioridade do negro, do africano edos afrodescendentes. (HENRIQUE, 2010, S/P)

Dessa forma, diz Henrique (2010) que os afrodescendentes têm dificuldades em construíremuma identidade positiva sobre nossas origens. Não sendo possível assim a construção de uma³matemática étnica´, isto é, etnomatemática.

Logo o ensino de matemática deve estar focado em uma aprendizagem com significado paraos educandos, contextualizando os conteúdos com exemplos de matemática de outras culturas. PaulusGerdes (1991) afirma que os estudos da etnomatemática analisam tradições matemáticas quesobrevivem à colonização e a atividade matemáticas na vida diária das populações, procurando

 possibilidades de incorporá-la no currículo.

TRANSDISCIPLINARIDADE NA ESCOLA

A transdisciplinaridade no contexto educacional é uma metodologia de ensino que precisa deum maior aprofundamento por parte dos educadores, é um novo processo que privilegia acontextualização do conhecimento, tornando-o concreto e de forma globalizada, vendo o ser humano na

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integralidade e valorizando a intuição e seu imaginário. Sua definição foi construída no I CongressoMundial da Transdisciplinaridade, que deu origem a carta da transdisciplinaridade, onde destaca nosseus artigos:

Art. 3: («) A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre várias outrasdisciplinas, mas abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

(«) Art. 5: A visão transdisciplinar é resolutamente aberta na medida em queela ultrapassa o campo das ciências exatas devido ao seu diálogo e suareconciliação não somente com as ciências humanas, mas também com a arte, aliteratura, a poesia e a experiência espiritual.

Trata-se de uma nova abordagem do conhecimento que valoriza a formação de um pensamentocomplexo, que amplifica a visão de mundo, possibilitando uma atitude crítica e globalizada do meio emque vive.

  Não seria meramente a junção de disciplinas, mas sendo um processo que contribua para aevolução científica, ética, cultural e do conhecimento. Só podemos ter em mente uma metodologiatransdisciplinar se tiver um pensamento complexo do conhecimento, pois a elaboração de um currículoque contemple esse novo processo necessita de um enfoque auto organizacional, onde não privilegie ascertezas, a razão, o método dedutivo e ordem, mas sim um currículo que possibilite a interação recursivacom meio em que ele é inserido, onde tenha uma aprendizagem autônoma, dialógica, sistêmica e que

 possa torná-lo um ser que aprenda a fazer, a aprender a ser e aprenda a conhecer. Na carta (1994) aindadiscute:

Art. 9: A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta em relação aosmitos, às religiões e àquelas que os respeitam num espírito transdisciplinar.Art. 10: Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar asoutras culturas. A abordagem transdisciplinar é ela própria transcultural. Art.11: Rigor abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e davisão transdisciplinar. («) A tolerância é reconhecimento do direito às idéias everdades contrárias às nossas.

A transdisciplinaridade nos traz a compreensão que devemos trabalhar para ³construir ereconstruir´ nossa autonomia através de atitudes críticas, onde possamos ter uma visão global doconhecimento sem qualquer limite, estimular e ser estimulado para provocar reações ao meio, pois acultura humana é produto das nossas ações e que essa reflete sobre nós. Devemos ter mentes abertassobre diferentes temas do nosso dia a dia, se apropriando do princípio da dialógica e do pensamentocomplexo, para tolerar situações que envolvam religiões, dogmas, superstições, culturas locais, regionaise globais; estando sempre aproveitando situações adversas para a construção do conhecimento, semarrogância e preconceito; entendendo a realidade sobre várias dimensões.

Como docente, devemos ser formadores de alunos críticos da realidade; que aprendam, tenhamidentidade e sejam transformadores do meio em que vivam, sejam produtos e efeitos; que na nossa

  prática possamos não ser meros transmissores de informações, mas possamos criar perturbações e provocações, para nosso alunado investigarem, pesquisarem e dessa forma construir um conhecimentoque seja dotado de significados, onde possam formam um pensamento complexo, com sentido,criticidade e com ética, respeitando o meio, a natureza e os indivíduos que os cercam.

Devemos tanto na nossa vida como no meio profissional, respeitar e discutir os diferentes pontos de vista, aceitar o próximo com suas diferenças, dificuldades e particularidades. E somente comum pensamento transdisciplinar, e com uma metodologia transdisciplinar de ensino que é possível

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formar cidadãos com ética, criticidade e atitude transformadora, que saiba viver de forma dinâmica econhecedora da integralidade do conhecimento.

ETNOMATEMÁTICA COMO VIABILIDADE DA TRANSDISCIPLINARIDADE NA ESCOLA

Podemos ter uma proposta pedagógica, etnomatemática, para se chegar a trabalhar de formatransdisciplinar. Pois, para Ubiratan D¶Ambrósio (2007), a etnomatemática tem como princípioreforçar a própria cultura através da cultura do próximo, aceitando as diferenças.

Reconhecer e respeitar as raízes de um indivíduo não significa engendrar e rejeitar as do outro, mas, num processo de síntese, reforçar suas próprias raízes. Essa é, nomeu pensar, a vertente mais importante da etnomatemática. (D¶AMBRÓSIO, 2007, p. 42).

Quando temos como exemplo uma matemática produzida por populares, culturas africanas ou

 povos não letrados, até mesmo práticas diárias de vizinhos ou profissionais autônomos desconhecidos;o que se pretende é desconsiderá-los e desqualificá-los por não existir em livros didáticos ou atémesmo achar que não tem proveito. Mas, pelo contrário, devemos apossá-la e discutir para nossaaprendizagem, e ensiná-la a construir um conhecimento com significado e bem próximo da realidade.Lévi-Strauss (1908), citado por Sommerman, p. 38), procurou nos mostrar que por traz das culturasmais diversas há estruturas profundas comuns, que aparecem como em camadas.

Ubiratan D¶Ambrósio diz:

(...) Eu vejo a etnomatemática como um caminho para uma educaçãorenovada, capaz de preparar gerações futuras para construir uma civilizaçãomais feliz. (D¶AMBRÓSIO, 2007, p.)

Há de se formar nos educandos uma consciência de buscar conhecimento quebrando os velhos paradigmas para novas propostas de educação, onde podemos aprender o texto e o contexto, o homeme o meio ambiente, o local e o global, de maneira completa na sua total complexidade, comocomentam Samir Cristino:

Há no Brasil a necessidade de ser construído um modelo educacional novo,em que o aluno seja compreendido em suas multidimensionalidades, comseus diferentes estilos de aprendizagem e maneiras peculiares de resoluçãode problemas. O fenômeno educativo, também, seria entendido em toda asua plenitude: psicológico, cultural e social. (SAMIR, 2010, p. 03).

Dentro dessa nova proposta pedagógica deve estar o programa etnomatemática, pois nele está

o que se propõem a carta da transdisciplinaridade (1994), pois na visão transdisciplinar a educaçãoenvolveria o reconhecimento da transdisciplinaridade, do desconhecido, de aprender e saber pensar crítica e criativamente, estando aberto a novas formas de conhecimento,

O currículo não pode ser elaborado a partir de certezas, estabilidades,verdades científicas, controle externo, e ordem incontestável. Um currículoem ação é flexível, respeita a capacidade do indivíduo de planejar, executar,criar e recriar conhecimento. É depositário de um diálogo transformador,entre professor e aluno, sujeito e objeto, consciente e inconsciente, homem enatureza, corpo e mente. (SAMIR, 2010, P. 03). 

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 Neste artigo, temos um exemplo de etnomatemática da África, que quando bem trabalhadaenvolve e se descobre novos conhecimentos relativos aquela cultura. Pode-se trabalhar o contexto, ahistória, o local, a ética e conhecimentos de diversas áreas do saber; a etnomatemática, a qual bemanalisada e discutida pode-se chegar a uma metodologia transdisciplinar.

Através do programa etnomatemática, do tratamento de culturas distintas é possível chegar à

transdisciplinaridade, pois na etnomatemática o conhecimento do objeto depende dos processosinternos do observador, da sua subjetividade, respeitando os mitos, as religiões, os sistemas deexplicações e seus conhecimentos. D¶Ambrósio comenta:

(...) Eu vejo a etnomatemática como um caminho para uma educaçãorenovada, capaz de preparar gerações futuras para construir uma civilizaçãomais feliz. Para se atingir essa civilização, como que sonho e que, acredito, pode ser alcançada, é necessário atingir a PAZ, nas suas varias dimensões:individual, social, ambiental e militar. (...) Todos os esforços educacionaisdevem ser dirigidos para essa prioridade e a etnomatemática é uma respostaa esse apelo. (D¶AMBRÓSIO, 2007, P.).

Portanto, a Etnomatemática não tem somente o interesse de conhecer a cultura local, mas sim

 propor a intra, inter e transculturalidade, preocupando-se na formação completa do individuo, caminho pela qual a transdisciplinaridade propõe.

Para se conseguir realizar o programa etnomatemática as escolas devem estar preparadas paramudanças, deixar metodologias tradicionais antigas, que estão preocupadas somente no foco nasdisciplinas e caminhar para um programa pedagógico que privilegie o conhecimento construído a

 partir da dialógica, do contexto e da realidade do educando, sem medo de errar ou do desconhecido. Éo que a etnomatemática e a transdisciplinaridade propõem: a pesquisa do ambiente local para o global,o tratamento do conhecimento de forma dinâmica e aprendendo que o indivíduo não aprende usandosomente a razão, o intelecto, mas também a intuição, as sensações, as emoções e os sentimentos.

  No entanto, a etnomatemática propõe uma metodologia de trabalho que estará desenvolvidasimultaneamente com a transdisciplinaridade; não dissociando, mas sim interligando os dois; programaetnomatemática para chegar a uma metodologia transdisciplinar, pois estão trabalhando conjuntamentecom o homem, como comenta D'Ambrósio:

O foco de nosso estudo é o homem, imerso, numa realidade natural esocial, o que significa em permanente interação com seu meio ambiente,natural e sociocultural. O presente é quando se manifesta a [inter] ação doindivíduo com seu meio ambiente, natural e sociocultural, que chamocomportamento. (D'Ambrosio, 2007, p.51)

  Neste conhecimento etno e trans podem construir um conhecimento subordinado a ética

maior, que seria a construção da humanidade com novos valores sociais, ambientais, culturais ecientíficos; e a matemática construída através do conhecimento de culturas distintas de comunidadeslocais ou grupo de profissionais tem tudo haver com a ética, a cidadania e com a paz.

CONSIDEDRAÇÕES FINAIS 

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A abordagem da Etnomatemática aqui desenrolada configura-se como proposta inovadora nasaplicações dos conhecimentos matemáticos nas escolas, exemplificado pela população Quioca quehabita o nordeste da Angola na África, como uma busca de alternativa a Matemática tradicionalista. E

 percebe-se, entretanto, a conscientização de que os docentes ainda não despertaram para tal problema.Estas práticas pedagógicas ultrapassadas não mais servem para educar e formar cidadãos críticos,autônomos e atuantes na sociedade o qual fazem parte.

A Etnomatemática na verdade proporciona a articulação dos conhecimentos matemáticos coma realidade do alunado, envolvendo um aprendizado mais significativo e partilhado com o professor,onde se discutirá valores, ética, sentimentos, significados e compreensões acerca do homem, ambiente,cultura e futuro. Um programa que se desenvolve dentro de sala de aula que se estende para o lado defora alargando a compreensão de identidade cultural do meio em que vive. Esta é a proposta de umamatemática ³viva´ e construtora, uma forma dessa disciplina de se despir da roupagem doincompreensível e do difícil.

Essa nova ferramenta metodológica não apenas se limita em si, mas possibilita viabilidades datransdisciplinaridade ser inserida simultaneamente nas escolas, uma metodologia que traz oconhecimento que valoriza a formação de um pensamento complexo, que amplifica a visão de mundo,

 possibilitando uma atitude crítica e globalizada do meio em que vive. Não seria meramente a junção dedisciplinas, mas sendo um processo que contribui para a evolução científica, ética, cultural e doconhecimento.

 No entanto, para se conseguir realizar o programa da etnomatemática é preciso que as escolasdisponham-se em se preparar para mudanças, deixar metodologias tradicionais antigas que não surtemmais efeito positivo, que estão preocupadas somente em focar as disciplinas e caminhar para um

 programa pedagógico que privilegie o conhecimento construído a partir da dialógica, do contexto e darealidade do educando, sem medo de errar ou do desconhecido.

A etnomatemática e a transdisciplinaridade propõem, uma pesquisa do ambiente local para oglobal, o tratamento do conhecimento de forma dinâmica e aprendendo que o indivíduo não aprende

usando a razão, o intelecto, mas também a intuição, as sensações, as emoções e os sentimentos.

REFERÊNCIAS

SILVA, Samir Cristino da. Cidadania e ética na história do conhecimento. Unidade 1: Natal:CEFET/RN, 2010.

SILVA, Samir Cristino da. Transdisciplinaridade: Pedagogia, formação e estratégia de ensinoaprendizagem. Unidade 3: Natal: CEFET/RN, 2010.

SILVA, Samir Cristino da. Os sete saberes necessários à educação do futuro e a metodologia doensino aprendizagem na era planetária: Unidade 4. Natal: CEFET ± RN, 2010.

OLIVEIRA, Leonor de Araújo Bezerra. Fatores intervenientes na análise e na produção dematerial didático pedagógico: UNIDADE 4: Análise e produção de material didático em língua

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 portuguesa e matemática em uma perspectiva transdisciplinar. Natal: CEFET-RN, 2010.

COSTA, Manoel Lopes. Uma história sobre Julica (I). Natal: CEFET-RN, 2009.

COSTA, Manoel Lopes. Uma história sobre Julica (II).  Natal: CEFET-RN, 2009.

D¶ABROSIO, Ubiratan. Etnomatemática- elo entre as tradições e a modernidade. 2 ed. 3ªreimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

D¶ABROSIO, Ubiratan. O que é etnomatemática. [s/d]. Disponível em ± http://www.ufrrj.br/leptrans.Acesso em 01 set. 2010.

GERDES, Paulus. Desenhos da África. 2 ed. São Paulo: ed. Scipione, 1993.

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5/12/2018 ARTIGO_LPMT17 - slidepdf.com

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