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  • 7/24/2019 ArtigoAUTORIA DE PENSAMENTO: REFLETINDO SOBRE CULTURAS E CONHECIMENTOS Autoria de Pensamento

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    AUTORIA DE PENSAMENTO: REFLETINDO SOBRE CULTURAS ECONHECIMENTOS

    Elisa Riffel Pacheco1

    1Formada em Pedagogia Licenciatura Plena pela FAPA FACULDADE PORTO-ALEGRENSE;Especialista em Psicopedagogia Abordagem Institucional e Clnica pela FAPA;Especialista em Pedagogia da Arte pela UFRGS;Atualmente participa do PPGEDU da FACED na UFRGS como aluna PEC Projeto de Educao Continuada -na disciplina de Arte Contempornea, formao esttica e educao;Trabalha no LEP Laboratrio de Estudos Psicopedaggicos pertencente FAPA. Trabalha como

    psicopedagoga e contribui com suas experincias, artigos e estudos na rea de arte e educao; Est participando

    como ministrante do curso de extenso organizado pelo LEP As dificuldades de aprendizagem nas interfacesda objetividade e da subjetividade com os temas A importncia da dramatizao na constituio do sujeito;As linguagens artisticas e o letramento. [email protected]

    Resumo:Este artigo tem como finalidade expor argumentos, que analisam a funo cultural da escola na

    transmisso do conhecimento. Pretende-se, dessa forma, verificar como os conceitos e imagens presentes namdia, em sociedade, influenciam na personalidade, na formao do sujeito. Para isso, percebe-se a necessidadede elaborar uma reflexo dos valores, concepes, que so reproduzidos a partir das prticas sociais vigentes.Tais modelos que constituem a forma com que o sujeito deve atuar, agir e pensar em seu contexto sociocultural.

    Almeja-se nesse sentido, ressaltar a importncia da autoria de pensamento, para que o ser humano possarepensar os contedos que lhe so transmitidos, adquirindo um novo olhar sobre si mesmo. Por isso que, relevante ressaltar a cultura que ensinada no ambiente escolar. J que muitas vezes, tal instituio limita-seapenas em reproduzir esquemas prontos de aprendizagem, destituindo o fazer pensvel. Diante deste contexto,

    forma-se um cidado sem sabedoria, sem reflexo. em vista disso, que este artigo caracteriza a proeminncia da escola socializar diferentes prticas,aes para contextualizar a cultura e a aprendizagem. Diante desta perspectiva, destaca-se a arte que compe asensibilidade, a esttica, a essncia do indivduo.

    Palavras Chave: pensamento: cultura: escola: arte.

    Abstract:

    This article has the goal to expose arguments that analyses the cultural function of the school in theknowledges transmission. We pretend, in that way, to verify how the concepts and images present in themedia, in society, influence the personality and the formation of the subject.

    To that, we realize the necessity to elaborate a reflection of the values, conceptions, which are

    reproduced from the current social practices. Such model consists in the way that the subject should play,act and think in his social context.In that sense, we aim to highlight the importance of the rights of thought, for the human being could re-

    think the contents that are transmitted to him, acquiring a new look over him. For that, is relevant tohighlight the culture that is taught in the schools environment.

    Since many times, this institution limits itself just in reproducing static schematics of learning, indestitution the working knowledge. In that context, a non-reflective, non-wise individual is formed.

    And considering that, in this article we characterize the preeminence of school in socializing differentpractices, actions to contextualize the culture and the learning process. In front of this perspective, wehighlight the art that compounds the sensibility, the esthetics, the essence of the individual.

    Key words: thought: culture: school: art.

    1 Introduo

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    Vivemos em uma sociedade cada vez mais globalizada em que as tecnologias

    preponderam sobre os meios de comunicao. A mdia torna-se um fator influencivel capaz

    de gerenciar a opinio da populao atravs do poder da imagem e da propaganda. Cria-se um

    mundo, onde o pensar dispensvel, ou seja, desnecessrio se fazer uso do meu senso

    crtico, pois apenas reproduzo os padres sociais, que so repassados a mim, assim

    descontextualizando o meu saber. Eu no preciso experienciar as minhas aes, pois apenas

    sistematizo o conhecimento, no atuo como autor do meu pensar, apenas aceito e consumo a

    informao. Dessa forma, encaro a realidade como um sujeito passivo, me desapropriando da

    relao ensinante/aprendente, internalizando o marketing do produto rpido e o xito fcil.

    Essa mesma concepo de sociedade se reflete nas escolas, pois os alunos so obrigados a

    absorver os contedos sem poderem contestar ou refletir o que est sendo dito. Isso gera umacmulo de informao que fere o valor da autoria, pois, eu, no almejo nada, no tenho

    desejos, apenas reproduzo e consumo a idia que est sendo passada. A sociedade constri

    uma viso, em que o homem deixa de acreditar nas suas capacidades e potencialidades,

    tornando-se um cidado consumista e vazio em seu saber. Pois tudo que est pronto e

    manipulado de forma objetiva e sintetizada se torna mais fcil e mais atraente aos olhos do ser

    humano. Assim, eu no me reconheo como autor e sucessivamente, no construo minha

    relao com o saber.Toda essa temtica que estou expondo, para salientar a importncia da autoria de

    pensamento, tendo como significativa aprendizagem, o tornar pensvel aexperincia e o aprender a aprender. fundamental desenvolver a autoria de

    pensamento, para que o sujeito posicione o seu saber, atravs do seu desejo, do seupensar. O sistema educativo em que o professor e a professora esto inseridos comodocentes tende a desacreditar o valor da autoria: seja pela fora dos meios decomunicao, com sua modalidade ensinante cada vez mais exibicionista e

    propiciadora do consumismo de informaes; seja pela imposio e exigncia dexito, de produto, j suportado por esses professores quando eram meninos oumeninas alunos. (FERNNDEZ, 2001, p.38)

    Para isso, faz-se necessrio que a escola desenvolva uma nova concepo de ensino naperspectiva de um carter encorajador, que estimulem os ensinantes a construir um modelo

    novo de aprendizagem, que contextualize um espao que promova um sujeito pensante,

    atravs do incentivo da criatividade, do aprender e do brincar. preciso evitar respostas

    prontas, reformulando novas perguntas, que permitem a integrao e autoria do aluno.

    Portanto, preciso reestruturar as avaliaes e a transmisso de conhecimento conteudista. Se

    porventura, eu no almejo o desejo do meu aluno pelo aprender, simultaneamente, ele tornar-

    se- um indivduo reprodutor de minhas idias, atravs de respostas certas ou exatas,destituindo de si sua autoria de pensamento.

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    A escola, sendo o lugar onde alunas e alunos encontram-se com adultos investidosdo poder de ensinar, pode possibilitar a potncia criativa do brincar e do aprenderda criana. Isso somente se consegue com ensinantes que desfrutem o aprender, o

    brincar com as idias e as palavras, com o sentido do humor, com as perguntas deseus alunos. Que no se obriguem urgncia de dar respostas certas; ao contrrio,

    que consigam construir novas perguntas a partir das perguntas de seus alunos.(FERNNDEZ, 2001, p.36)

    2 Contextualizando a tica do xito

    Para entender melhor esses aspectos, fao referncia a uma abordagem de Alicia

    Fernndez (2001) em contraposio com teorias que perpetuam a tica do xito. A sociedade

    nos faz internalizar seus valores e crenas de forma que nossa viso subjetiva evolua e se

    adapte de acordo com seus conceitos. O poder do marketing e da propaganda encantador e

    hipnotizador. Em vista disso, nos acomodamos a padres e linguagens pr-estabelecidas,sem questionar as mensagens que nos esto sendo transmitidas. Em conseqncia, nossa

    aprendizagem vai-se moldando a um modelo reproducionista, desprovido de autoria de

    pensamento. Esse mtodo de transmitir e efetuar o ensino e a aprendizagem na perspectiva de

    nossa atualidade caracteriza a tica do xito, que est vinculada ao acerto e ao erro. Isto , se

    eu subjetivar corretamente, os contedos que o professor est me transmitindo, eu sou

    um vencedor, eu passo de ano, do contrrio permaneo rotulado ao fracasso escolar.

    Portanto, no h a participao necessria em toda cena de aprendizagem na relaoensinante/aprendente. No se permite a oportunidade do sujeito reconhecer e expressar seu

    saber. Dessa forma, a inteligncia permanece aprisionada, pois no se exerce a experincia de

    prazer pela autoria.

    Em tal tica, o valor fundamental o triunfo na aquisio e na produo de objetosde consumo, sendo a educao a encarregada de preparar indivduos exitosos paraesse empreendimento. O carter principal da aprendizagem, que sua funosubjetivante, fica assim relegado em prol da adaptao. (FERNNDEZ, 2001,

    p.42)

    Nesse contexto, importante repensar o modo de operar e a eficcia dos processos deaprendizagem. Para isso, faz-se necessrio trabalhar a nossa posio como ensinante e

    aprendente, visando simultaneidade entre ambos. Afirma Fernndez (2001, p. 42) O que

    convoca e nutre o pensar a gerao de um espao entre o ensinante e o aprendente que

    transforme as frias aes e informaes em situaes pensveis, as quais possam ser

    interrogadas, entendidas e modificadas. fundamental investigar como se efetua o processo

    do sujeito aprendente. Tendo em vista, que a aprendizagem no se d em um vazio. Para

    tanto, preciso reorientar a nossa prtica, trabalhando o processo com relao ao aprenderentre o conhecimento e o saber.

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    Como psicopedagoga, percebo a necessidade de criar espaos de subjetivao, para

    que o sujeito possa orientar seu pensamento, elaborando reflexes a partir do seu

    conhecimento, para que ele possa repensar seu contexto histrico, social e cultural.

    Fazer pensvel nossa prtica um propsito comum de toda construo terica;todavia, alm disso, coincide com o prprio objeto da interveno psicopedaggica,

    pois a psicopedagogia tem como propsito abrir espaosobjetivos e subjetivos deautoria de pensamento; fazer pensvel as situaes, o que no fcil, j que o

    pensamento no somente produo cognitiva, mas um entrelaamentointeligncia-desejo, dramatizado, representado, mostrado e produzido em um corpo.Por isso, muito mais importante que os contedos pensados o espao que

    possibilita fazer pensvel um determinado contedo. Para esse lugar estaremosdirigindo nossa interveno, nosso olhar. (FERNNDEZ, 2001, p.55)

    Com isso, pode-se dizer que a aprendizagem um trabalho de reconstruo e

    apropriao de conhecimentos a partir da informao trazida por outro e significada do saber.

    Ou seja, atravs da minha relao com o outro, eu vou me reconhecendo como autor, assim

    percebendo o uso das minhas faculdades fsicas e mentais, trazendo a tona co-relao entre a

    inteligncia e o desejo, que esto diretamente interligados para que eu exera a minha

    autoria de pensamento. Fernndez (2001, p.42) sintetiza que: Cada pessoa vai construindo,

    ao longo de sua histria, entrelaando as experincias que lhe oferece o contexto social e

    cultural, no s sua inteligncia e seus sistemas de conhecimento, mas tambm uma

    determinada modalidade de aprendizagem.

    Pensemos: O que essencial para o sujeito desenvolver e por em prtica o exercer de

    sua autoria?. Primeiramente, precisa-se ter como base as significaes do pensar. Pois,

    medida que contraponho a informao com o meu pensamento, eu estou experienciando o

    meu saber. A minha autoria encontra-se na minha capacidade de escolha. Para eu ser

    percebido como um ser aprendente, preciso estar inserido em um meio onde o perguntar

    possvel. Porque o sujeito que no tem pergunta, no tem autoria de pensamento, no tem o

    aprender. Pode-se fazer um parmetro referente sociedade e educao atual.

    O mercado de telecomunicaes, marketing e propaganda, necessitam que eu conhea

    o produto, para que eu o consuma posteriormente. Porque a empresa quer garantir a venda de

    seu produto. Todavia, se eu souber mais sobre esse produto, posso estar quebrando a

    compra do mesmo. A imagem da propaganda inibe o pensar, pois no se manifesta o saber. O

    conhecimento no d poder de uso. De acordo com Fernndez: (2001, p.63) Uma grande

    falha de nossa educao refere-se desqualificao do saber e ao endeusamento do

    conhecimento. Pode-se entender por que em determinados sistemas conveniente que

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    circulem os conhecimentos, mas no o poder de uso sobre eles. O saber me da poder de

    autonomia, no momento em que eu experencio o meu pensar, eu facilito a minha autoria,

    atravs do perguntar, indagar, questionando e recriando a realidade que me cerca. Segundo

    Bollas (1989 apud FERNNDEZ, 2001, p.65), ... O saber no instintivo, nem um bloco

    irremovvel. Pelo contrrio, esse saber, que embora carea de palavras conceituais para ser

    expresso, constri-se pela experincia de vida na histria do sujeito. O saber est sempre em

    construo.

    3 A Regulao da Cultura

    O objetivo do poder disciplinar consiste em manter as vidas, as atividades, otrabalho, as infelicidades e os prazeres do indivduo, assim como sua sade fsica e

    moral, suas prticas sexuais e sua vida familiar, sob estrito controle e disciplina,com base no poder dos regimes administrativos, do conhecimento especializado dos

    profissionais e no conhecimento fornecido pelas disciplinas das Cincias Sociais.Seu objetivo bsico consiste em produzir um ser humano que possa ser tratadocomo um corpo dcil. (Dreyfus e Rabinow, 1982, p.135 APUD HALL, 2003)

    Os poderosos querem apensas lucrar e enriquecer com o acmulo de capital. Se por

    ventura, houver uma revoluo, o povo para de produzir e o faturamento despenca. Devido a

    esse fator, a classe dominante prega uma sociedade pacfica, calma, em que reina a ordem e a

    civilizao. Sua ideologia no pode de nenhuma maneira, ser contestada por terceiros

    classes menos favorecidas -, ento quem possui o poder exclama: Por que devemos dar

    educao ao povo, se podemos control-los apenas com o trabalho rduo?.

    Isso, segundo as teorias do funcionalismo e positivismo, seria uma perda de tempo

    para o avano e o progresso industrial. Para esse pensamento progressivo necessrio que a

    escola reproduza a relao de produo existente no interior das fbricas, e elimine tudo

    relacionado ao saber crtico, como as disciplinas, que fazem refletir: filosofia, sociologia entre

    outros. Dessa forma, segundo Foucault (apud Hall 2003), O poder disciplinar est

    preocupado, em primeiro lugar, com a regulao, a vigilncia e o governo da espcie humana

    ou de populaes inteiras e, em segundo lugar, do indivduo e do corpo.

    Tudo isso se reflete na herana das polticas pblicas. Se compararmos nosso pas de

    hoje, ao pas que tnhamos h oitenta dcadas veremos o salto, que deu nossa economia. Um

    pas extremamente rural transformou-se em urbanizado e industrializado. Esse processo foi

    rpido em relao a outros pases do mundo. Todavia, eu pergunto: Quem possibilitou esse

    desenvolvimento ao Brasil? Se pararmos para pensar, s h uma pessoa que poderia

    ocasionar essa revoluo econmica o Estado e suas polticas pblicas. As suascaractersticas ajudaram muito no crescimento acelerado de nosso pas.

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    O Estado era o promotor do desenvolvimento e no se importava com o bem estar

    social. Devido a esses aspectos, s poderia ser um Estado desenvolvimentista, conservador,

    centralizador e autoritrio. O nico interesse dele, nessa poca, era consolidar o processo de

    industrializao e tornar o Brasil uma grande potncia mundial. Sua principal funo era de

    acumular riquezas, portanto suas polticas pblicas estavam voltadas apenas para o

    crescimento econmico e para a acelerao do processo de industrializao. Devido a esses

    fatores, o bem estar social foi colocado no escanteio juntamente com a qualificao dos

    brasileiros, pois a educao foi posta em terceiro plano.

    Porm com a chegada da globalizao ocorreram diversas mudanas nos setores

    econmicos, que tambm influenciaram as antigas concepes das polticas pblicas do

    Estado. Comearam a surgir tipos novos de processo produtivo. Um grande conglomeradomultinacional invadiu o mercado internacional, instalando diversas fbricas pelo mundo todo.

    Todas elas eram controladas em tempo real, devido revoluo das telecomunicaes. Novos

    setores dinmicos comearam a surgir no cenrio mundial. Os poderosos blocos econmicos

    iniciavam a sua guerra pela competitividade dentro do mercado. A chamada revoluo

    cientfica tecnolgica estava mudando, uma vez mais, o modo de produzir. Para conseguir

    ganhar o mercado mundial era necessria muita qualificao na mo de obra, portanto a

    produo deveria ser mais que perfeita. Para isso, era preciso contratar profissionais altamentequalificados, porque as empresas que produzem conhecimento tendem a ser mais importantes

    no sculo XXI.

    Em vista disso, a questo da educao torna-se mais importante, pois o novo modelo

    produtivo requer produo de conhecimento, requer inovao contnua no processo produtivo.

    Pois tcnicas novas, sempre chamam mais ateno da populao, por isso vendem mais no

    mercado, acumulando mais capital. A empresa que inovar sempre, consolidar seu status e

    seu poder mais rapidamente na economia mundial. Sendo que, diante desse novo modelotecnolgico, quem regula a cultura?

    a mdia, que domina as polticas de mercado. Dessa forma, a produo do

    conhecimento est contextualizada conforme as foras sociais exercidas pela mdia

    dominante.

    Contudo, em certo sentido, a cultura da mdia a cultura dominante hoje em dia;

    substituiu as formas de cultura elevada como foco de ateno e de impacto paragrande nmero de pessoas. Alm disso, suas formas sensuais e verbais estosuplantando as formas da cultura livresca, exigindo tipos de conhecimentos paradecodific-las. Ademais, a cultura vinculada pela mdia transformou-se numa fora

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    dominante de socializao: imagens e celebridades substituem a famlia, a escola ea Igreja como rbitros de gosto, valor e pensamento, produzindo novos modelos deidentificao e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento. (KELLNER,2001, p.27)

    E a funo cultural da escola, como fica?Se retomarmos o processo desde o incio e fizermos uma comparao, notaremos que

    agora, o Estado no est to voltado produo e perdeu seu poder de regulador e

    centralizador referente ao capital. Pois, agora quem d as ordens o mercado, que viabiliza

    seu interesse atravs de sua ideologia neoliberal, transmitida atravs da mdia. Isso significa

    que h menos polticas pblicas e mais mercadorias e servios. Devido a isso, a educao

    vista como uma mercadoria que produz a cultura miditica.

    Portanto, enquanto a cultura da mdia em grande parte promove interesses dasclasses que possuem e controlam os grandes conglomerados meios decomunicao, seus produtos tambm participam dos contos sociais entre gruposconcorrentes e veiculam posies conflitantes promovendo s foras de resistnciae progresso. Conseqentemente, a cultura vinculada pela mdia no pode sersimplesmente rejeitada como um instrumento banal de ideologia dominante, masdeve ser interpretada e contextualizada de modos diferentes dentro da matriz dosdiscursos e das foras sociais concorrentes que a constituem. (KELLNER, 2001,

    p.27)

    Por isso, como dito anteriormente, fundamental que a escola, reveja seus mtodos e

    trabalhe a significao do pensar. Pois, atravs da autoria de pensamento, que o sujeito

    exerce sua capacidade de escolha, bem como de diferenciao. Dessa forma, torna pensvel a

    sua experincia e reflete mais sobre o objeto de conhecimento, constituindo seu saber e sua

    cultura.

    4 A arte que desperta o fazer pensar

    Mais determinante no incio, o biolgico vai, progressivamente, cedendo espao dedeterminao ao social. Presente desde a aquisio de habilidades motoras bsicas,

    como a preenso e a marcha, a influencia do meio social torna-se muito maisdecisiva na aquisio de condutas psicolgicas superiores, como a intelignciasimblica. a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos

    para a sua evoluo. (GALVO, 2001, p.40)

    Por ser uma profissional do meio artstico, como tambm trabalhar com dificuldades

    de aprendizagem, tanto no ambiente clnico, como no escolar, tenho analisado algumas

    questes que merecem ser ressaltadas. O que posso constatar, que, quando as crianas

    apresentam dificuldades de aprendizagem, independente do fator desencadeante, em contato

    com a arte, ou qualquer expresso artstica, h uma melhora significativa. Visto que, aslinguagens expressivas, referentes ao teatro e msica, enriquecem o objeto de aprendizagem.

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    Em diversas circunstncias, dentro do mbito escolar, percebi que o desenvolvimento

    dessas questes, no so relevantes para o currculo. J que, a prioridade dada somente s

    disciplinas principais como matemtica e portugus. Por isso, na maioria dos casos, no

    valorizada a competncia, a inteligncia, que o sujeito traz consigo, pois apenas cobrado,

    que ele compreenda e cumpra tal contedo. Porm, Segundo Gardner (1995), O ser humano

    composto por inteligncias mltiplas, das quais, ele desenvolve, de acordo com suas

    aptides. Entretanto, muitas vezes, a escola se atribui a reproduzir um paradigma imposto

    pela sociedade, ignorando tais habilidades.Dessa forma, no importa o que o sujeito ou quer

    ser, e sim o que a escola prioriza, como por exemplo, passar de ano e apresentar um excelente

    desempenho escolar.

    Todavia, no so todas as crianas que conseguem atingir essa meta. Ora, porapresentarem dificuldades de aprendizagem, ora por apresentarem formaes reativas ao

    sistema. Por isso, necessrio dar oportunidade para que o sujeito construa seu prprio

    conhecimento, para que ele encontre a melhor via, para constituir o seu saber. Por isso, que a

    arte tem efeitos to significativos na aprendizagem, porque ela proporciona essa descoberta.

    Ela faz com que o sujeito, encontre e valorize suas competncias, para melhor trabalhar suas

    dificuldades, bem como elaborar reflexes referentes aos contedos presentes na mdia.

    s vezes o aluno manifesta facilidades para determinadas reas, que no so enfocadasnas escolas. Nesse sentido, posso salientar, de acordo com experincias prprias, que o

    desenvolvimento das linguagens expressivas, auxilia o sujeito a encarar melhor as

    dificuldades que apresenta na escola, bem como fora do seu contexto. atravs da arte que o

    sujeito desenvolve sua sensibilidade, enriquecendo sua criatividade e inteligncia emocional.

    Isso faz com que, o indivduo crie uma nova concepo sobre a realidade na qual est

    inserido.

    A inteligncia no se constri no vazio: ela se nutre da experincia de prazer pelaautoria. Por sua vez, nas prprias experincias de aprendizagem, o sujeito vaiconstruindo a autoria de pensamento e o reconhecimento de que capaz detransformar a realidade e a si mesmo. sobre a dramtica do sujeito, com o suportedas significaes, que a inteligncia trabalha. (FERNNDEZ, 2001, p.82)

    por meio da inteligncia que est vinculada ao meu saber, que se desenvolve a

    capacidade criadora e a potencialidade de pensar. Portanto, a aprendizagem criativa se revela

    na interao constante do processo que envolve a apropriao do meio, sua internalizao e,

    transformao. Isso caracteriza os processos de assimilao e acomodao. Todavia, a

    inteligncia tambm est vinculada a um movimento de desadaptao, em que o sujeito no

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    somente adapta-se a sua realidade, mas intervm de modo a inventar novas possveis

    realidades.

    Por isso que a funo cultural da escola deve abranger instrumentos, alternativas que

    busquem desenvolver a autoria de pensamento, para que o aluno possa elaborar um olhar mais

    crtico sobre as imagens, bem como abordagens que so apresentadas pela mdia. Pensa-se

    que, a instituio escolar deve tentar promover a formao de um cidado capaz de analisar a

    subjetividade, o significado que prepondera sobre as polticas de mercado. Pois, seno houver

    uma abertura para se elaborar uma releitura dos aspectos referentes mdia em nossa

    sociedade, sempre seremos o reflexo de um contexto, de uma cultura, que planeja nossa

    vida e domina nossa realidade. Compreende-se, que tal argumento no tem por finalidade

    desmerecer o valor da mdia como meio de comunicao e veculo de cultura. J que, astecnologias digitais fazem parte da contemporaneidade.

    Dessa forma, quando se fala em constituir um sujeito crtico e reflexivo, articulando a

    funo cultural da escola, deseja-se ressaltar a importncia de tentar no cair num regime

    disciplinar. Visto que, sem opinio, estaremos sempre fadados subjugao, dominao

    dos meios de comunicao. Por isso, que no se deve destituir as possibilidades de

    transformao e progresso social, j que nem tudo que a mdia mostra verdadeiro, real.

    Por isso, as teorias crticas da sociedade so armas de crtica e instrumentos daprtica, bem como mapas cognitivos. Indicam os aspectos da sociedade e da culturaque devem ser desafiados e mudados e desse modo, tentam informar e inspirar a

    prtica poltica. A teoria orientada pela prtica tambm prope certos objetivos evalores que devem ser realizados e que esboa caminhos de transformao dasociedade para melhor-la. (KELLNER, 2001, p.39)

    E o fazer pensar da arte?

    A esttica gerada pela captao da arte mobiliza o saber. Isto , a sensibilizao

    artstica aumenta o desejo pelo aprender. Pois o artstico alm de trabalhar com o pensar,tambm promove o prazer desinteressado e a alegria espontnea.

    ...Quando temos que devolver criana a paixo de saber, necessrio desenlearno somente o simblico do operatrio, como temos insistido at aqui, mas tambmliberar a atitude esttica quando est paralisada pelo pragmatismo e o desencanto e,mais ainda, neutraliz-la quando tende a girar no vazio...(Sarah Pan 1998 APUDFERNNDEZ, 2001, p.71)

    Portanto, verifica-se que atribuir experincia uma atitude esttica uma ferramenta

    fundamental para a construo do pensamento critico. Uma vez que, escava sentidos que

    permanecem intrnsecos no sujeito. Por sua vez, as linguagens artsticas comunicam essadescoberta, essa sensibilidade capaz de transformar o aparelho psquico. Sendo assim,

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    pode-se dizer que a poltica do belo, do sensvel interfere na personalidade, dinmica,

    constituio do sujeito. E por meio dessa visibilidade, que o ser humano recria sua

    singularidade, modifica sua realidade.

    Cynthia Farina, ao relacionar prticas estticas com prticas pedaggicas, diz quealgumas prticas estticas podem afetar o que h de institucionalizado em nossaforma de ser: A ateno s prticas estticas poderia ajudar a pedagogia a

    problematizar e cuidar do que nos desestabiliza atualmente, no para estabiliz-loou reconduzi-lo, mas para experimentar com a produo de novas imagens ediscursos na formao do sujeito. (MOREIRA e FRITZEN, 2008, p. 13)

    Percebe-se neste caso que, as linguagens artsticas estariam por promoverem sentidos

    que provocariam o desejo do sujeito de tornar-se autor de sua prpria histria. Sendo assim, se

    constituiria um novo posicionamento, uma nova aprendizagem, que estabeleceria uma ruptura

    com as prticas de repetio e obedincia que ainda persistem sobre a educao atual. Pensa-se que, fundamental proporcionar um espao, para que tanto as crianas, como os jovens

    possam desenvolver sua autoria de pensamento e aprimorar seu potencial criativo. Por isso,

    salienta-se o contato com o universo artstico, bem como sua relevncia na formao humana.

    Pois, essa vivncia alm de gerar sonho, imaginao, sentimento, ousadia, contribui para a

    manifestao da autonomia intelectual.

    Nesse sentido, uma das coisas que a pedagogia poderia aprender da arte atual teria a

    ver no s com as maneiras de afetar os sujeitos, mas com as maneiras de tratarcom o que nos afeta. Pois o que se v afetado em nossas maneiras de ver e entendera realidade so seus procedimentos institucionalizados, uma coreografia repetidado perceber e do pensar. (MOREIRA e FRITZEN, 2008, p. 105).

    5 Consideraes Finais

    De acordo com Jung (2004, apud DE OLIVER, 2007, p.31), Arte a expresso mais

    pura que h para a demonstrao do inconsciente de cada um. a liberdade de expresso,

    sensibilidade, criatividade, vida..Nos argumentos explicitados anteriormente, percebe-se o quanto relevante enfatizar

    a funo cultural da escola no processo de formao do sujeito. Visto que, atualmente, o

    conhecimento circula atravs da mdia, que reproduz os paradigmas da sociedade

    contempornea. Dessa forma, o indivduo se constitui e organiza sua personalidade conforme

    os valores, costumes que lhe so transmitidos por estes novos canais de visibilidade social.

    Isto , o comportamento est vinculado poltica de consumo e mercado que so gerenciados

    pelos meios de comunicao. Portanto, se a escola reproduzir estes mecanismos demanipulao, ela conseqentemente estar formando seres sem sabedoria, sem razo.

  • 7/24/2019 ArtigoAUTORIA DE PENSAMENTO: REFLETINDO SOBRE CULTURAS E CONHECIMENTOS Autoria de Pensamento

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    Por isso, que fundamental encorajar a autoria de pensamento, que significa tornar

    pensvel a experincia, ou seja, aprender a aprender. A autoria de pensamento se define em

    um reconhecimento de si mesmo. Por isso, ela valoriza o sujeito como autor de suas idias,

    contedos e reflexes. Assim, construindo essa autoria, por meio da capacidade de escolha,

    e diferenciao, que o sujeito exerce seu pensamento. neste contexto que se insere a arte,

    como forma de possibilitar esta descoberta, de reinventar culturas, permitindo novas leituras

    da realidade.

    Referncias

    FERNNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de

    pensamento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001;GARDNER, Howard.Inteligncias Mltiplas: a teoria na prtica 1. ed. Porto Alegre: ArtesMdicas, 1995;

    GALVO, Izabel. Henri Wallon. Uma concepo dialtica do desenvolvimento infantil.Petrpolis: Vozes, 2001;

    HALL, Stuart.Nascimento e morte do sujeito moderno. In:_. A identidade cultural na ps-modernidade. RJ: DP&A, 2003;

    KELLNER, Douglas.A Cultura da mdia estudos culturais: identidade e poltica entre omoderno e o ps-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001;

    MOREIRA, Janine. FRITZEN, Celdon (Org.).Educao e Arte: as linguagens artsticas naformao humana. Campinas, SP: Papirus, 2008;

    OLIVIER, Lou de. Psicopedagogia e arteterapia: teoria e prtica na aplicao em clnicas eescolas. Rio de Janeiro: Wak Ed. 2007.