artigo sinasc 33 perfil pre maturidade e neonatal
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Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…
Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1349
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963
PREMATURIDADE: CARACTERÍSTICAS MATERNAS E NEONATAIS SEGUNDO DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE NASCIDOS VIVOS
PREMATURITY: MATERNAL AND NEONATAL CHARACTERISTICS ACCORDING TO DATA FROM THE INFORMATION SYSTEM ON LIVE BIRTHS
PREMATURIDAD: CARACTERÍSTICAS MATERNAS Y NEONATALES SEGÚN EL SISTEMA DE INFORMACIÓN SOBRE NACIDOS VIVOS
Roberta de Paiva Silva1, Bianca Rodrigues Caires2, Denismar Alves Nogueira3, Denis da Silva Moreira4, Clicia
Valim Côrtes Gradim5, Eliana Peres Rocha Carvalho Leite6
RESUMO
Objetivo: caracterizar a prematuridade, no período de 2005 a 2009, identificando o perfil dos recém-nascidos prematuros e de suas mães. Método: estudo quantitativo, descritivo e transversal. A população foi constituída por 479 nascidos vivos prematuros. Para a coleta de dados, utilizou-se a Declaração de Nascido Vivo (DN), e, para análise, foi empregado o Teste Qui-quadrado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob Protocolo nº 092/2011. Resultados: a incidência de prematuridade no município foi de 9,42%, considerado alto em relação à média estadual e nacional. Foi identificado que quanto menor o número de consultas pré-natal menor a idade gestacional de nascimento (p= 0,000); e que o tipo de gravidez (p=0,000) e a idade materna (p= 0,001) estiveram associados ao tipo de parto. Conclusão: a taxa de prematuridade encontra-se elevada, o que sugere um questionamento acerca da qualidade da assistência prestada à gestante no município de
estudo. Descritores: Nascimento Prematuro; Sistemas de Informação; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: to characterize the prematurity, in the period from 2005 to 2009, by identifying the profile of preterm babies and of their mothers. Method: it is a quantitative, descriptive and cross-sectional study. The population consisted of 479 premature newborns. For data collection, we have used the Birth Certificate (BC), and the Chi-square Test was employed for analysis. The study was approved by the Ethics Research Committee, under Protocol nº 092/2011. Results: the incidence of prematurity in the municipality was 9,42%, considered high in relation to the state and national averages. We have identified that the lower the number of prenatal consultations lower the gestational age at the childbirth moment (p=0,000); and that the pregnancy type (p=0,000) and age (p=0,001) were associated with the childbirth type. Conclusion: prematurity rate is elevated, which suggests a questioning about the quality of the care given to the pregnant
women in the municipality at stake. Descriptors: Premature Childbirth; Information Systems; Nursing.
RESUMEN
Objetivo: caracterizar la prematuridad, durante el período comprendido entre 2005 y 2009, identificando el perfil de los recién nacidos prematuros y sus madres. Método: estudio descriptivo cuantitativo y transversal. La población estaba compuesta por 479 recién nacidos prematuros. Para la recogida de datos, se utilizó la Declaración de nacido vivo (DN) y fue empleada para el análisis el Teste de Qui-cuadrado. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética, bajo el Protocolo nº 092/2011. Resultados: la incidencia de la prematuridad en el municipio era de 9,42%, considerada alta en relación con el promedio estadual y nacional. Se identificó que menor sea el número de consultas prenatales menor la edad gestacional al nacer (p = 0.000); y que el tipo de embarazo (p = 0.000) y la edad materna (p = 0,001) se asociaron con el tipo de parto. Conclusión: la tasa de prematuridad es alta, lo que sugiere un cuestionamiento sobre la calidad de la atención a mujeres
embarazadas en la ciudad estudiada. Descriptores: Parto Prematuro; Sistemas de Información; Enfermería. 1Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Residente em Urgência e Emergência, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]; 3Zootecnista, Professor Doutor, Departamento de Ciências Exatas, Universidade Federal de Alfenas/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeiro, Professor Doutor, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]
ARTIGO ORIGINAL
Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…
Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1350
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963
A prematuridade é um fator que contribui
para elevadas taxas de morbimortalidade
neonatal, acarretando danos e sequelas de
difícil mensuração aos RNs que conseguem
superar o período inicial de vida. É
caracterizada pelo nascimento que acontece a
partir da viabilidade fetal – 20 semanas para a
maioria dos autores, 22 semanas para alguns –
até 36 semanas e seis dias.1
O nascimento pré-termo ocasiona aos
familiares e à sociedade em geral um alto
custo social e financeiro, exigindo da equipe
capacidade técnica e uma estrutura nem
sempre disponível.2 Suas causas envolvem
alterações placentárias, de líquido amniótico,
infecção materna, idade da mãe e outras
causas desconhecidas.
Apesar das inúmeras ações propostas pelos
órgãos governamentais a fim de garantir um
atendimento que reduza a morbimortalidade
materna e perinatal, elas não tem sido
suficientes em termos de redução da
prematuridade, visto que a ocorrência de
nascimentos pré-termos tem aumentado nas
últimas décadas. Uma revisão dos estudos de
base populacional realizada com dados
primários evidenciou aumento da prevalência
de prematuridade de 4,0% para 12,0% entre os
anos de 1980 e 2000.3
As estatísticas referentes ao nascimento
possibilitam conhecimentos relevantes para a
definição de prioridades políticas e
assistenciais. Uma das fontes de dados
utilizadas para analisar as estatísticas vitais
relacionadas à gestação e ao nascimento é a
Declaração de Nascido Vivo (DN), que é um
instrumento de coleta de dados do SINASC
(Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos).
O SINASC foi implantado em 1990 e
caracteriza-se por ser universal (uma
declaração por recém-nascido), padronizada,
de baixo custo e preenchida nas instituições
de saúde nos quais ocorrem partos, ou nos
Cartórios de Registro Civil, em casos de partos
domiciliares sem assistência ou realizados com
profissional não cadastrado na Secretaria
Municipal de Saúde.2
Os estudos realizados sobre o SINASC
versam em sua maioria sobre a implantação,
cobertura e caracterização dos nascidos vivos,
tais como identificar o número real de
nascimentos, o que diminui o sub-registro.4
Conhecer o perfil epidemiológico dos
nascimentos através de banco de dados como
o SINASC é de extrema importância para a
Enfermagem, pois essas informações guiam a
prática desses profissionais na redução ou
eliminação de comportamentos nocivos à
saúde e contribui para a avaliação de diversos
fatores de risco, tais como a prematuridade.
Em 1998, o município alvo deste estudo,
situado no Sul do Estado de Minas Gerais,
iniciou um processo de descentralização da
saúde com a implantação do Programa de
Saúde da Família (PSF), fato que sugere uma
mudança no perfil de atendimento à gestante
em termos de melhorias.
No entanto, os dados disponíveis no
DATASUS revelam altos índices de
prematuridade no município referido, com
uma média de 10,32% de 1999 a 2004.5 Daí
decorre a necessidade de monitorar esse
indicador de saúde ao longo do tempo, visto
que possibilita uma avaliação do desempenho
do sistema de saúde, permitindo o
estabelecimento de medidas preventivas de
forma qualificada e adequada à realidade, o
que fortalece as estratégias de cuidado à
saúde materna e neonatal.
A partir desses levantamentos, este estudo
objetiva caracterizar a prematuridade, no
período de 2005 a 2009, identificando o perfil
dos recém-nascidos (RN) prematuros e de suas
mães.
Estudo com abordagem metodológica
quantitativa, de caráter descritivo e corte
transversal. Realizado em um município
situado no Sul de Minas Gerais, Brasil, que
possui população de 73.774 habitantes. A
população de estudo constituiu-se de todos os
nascidos vivos prematuros de mães residentes
no município investigado, as quais tiveram
seus partos assistidos no período de 2005 a
2009. A coleta de dados foi realizada junto ao
Setor de Vigilância Epidemiológica, utilizando
a Declaração de Nascido Vivo do SINASC.
Adotou-se como variável dependente os
nascidos vivos prematuros com idade
gestacional de 22 a 36 semanas, respeitando o
intervalo que consta na DN. As variáveis
independentes relacionadas à mãe foram:
idade, escolaridade e estado civil; quanto às
relacionadas à gestação e parto, tem-se:
duração da gestação, tipo de gravidez, tipo de
parto e números de consulta de pré–natal; e
as relacionadas ao RN: sexo, índice de Apgar,
raça-cor, peso ao nascer e malformações
congênitas e/ou anomalias cromossômicas.
Os dados foram descritos e sintetizados
utilizando-se a estatística descritiva, sendo
que eles são apresentados por meio de tabelas
de frequência. Utilizou-se o software SPSS
MÉTODO
INTRODUÇÃO
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(Statistical Package for the Social Sciences),
versão 17, para a inserção e tabulação dos
dados, e o teste de Qui-quadrado foi
empregado para realizar a associação das
variáveis, utilizando nível de 5% de
significância.
Os aspectos éticos contidos na Resolução
196/96 do Conselho Nacional da Saúde foram
cumpridos e o estudo foi submetido e
aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa,
sob o Protocolo nº 092/2011.
Conforme os dados presentes no DATASUS5,
o percentual médio nacional de
prematuridade, de 2005 a 2009, foi de 6,67%,
enquanto que o do Estado de MG foi de 7,28%.
Em relação ao município investigado, no
mesmo período, o presente estudo constatou
um percentual médio de 9,42%, fato que
merece atenção, pois supera a estatística
nacional e estadual (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição do total de partos, destaque para os prematuros, no período de 2005 a 2009, Minas Gerias, 2013.
Ano Total de partos Prematuros
n n %
2005 1057 91 8,6
2006 1007 97 9,6
2007 1024 109 10,6
2008 1026 94 9,2
2009 969 88 9,1
Total 5083 479 9,4
Fonte: SINASC
Em relação às variáveis das mães (Tabela
2), a média de idade e o desvio padrão entre
elas foram de 25 anos (+ 7). Observou-se que
o fato da mãe ser adolescente não interferiu
na ocorrência da prematuridade (p=0,696).
Tabela 2. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no
período de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas à
identificação das mães. Minas Gerais, 2013.
Variáveis relacionadas às mães Mães Prematurosuros
Idade n %
< 18 anos 76 15,9 > 18 anos 403 84,1
Estado civil
Solteira 214 47,8
Casada 230 51,4
Viúva 1 0,2
Separada 3 0,6
Escolaridade
Nenhuma 1 0,6
1-3 anos 19 4,0
4 -7 anos 140 29,4
8-11 anos 200 42,0
12 anos e mais 114 24,0
Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão
de ignorados e não informados.
Em relação ao estado civil, não houve
diferença percentual relevante entre as mães
solteiras (47,8%) e as casadas (51,3%) com a
duração da gestação. Ao verificar questões
relacionadas à escolaridade, a pesquisa
revelou que 65,9% das mães possuíam mais de
oito anos de estudo.
Quanto à duração da gestação (Tabela 3), a
maioria dos RN (85,4%) nasceu entre 32 e 36
semanas incompletas, sendo considerados pré-
termos moderados, fato que indica que,
apesar de nascerem precocemente, estavam
próximos do termo.
RESULTADOS
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Tabela 3. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no período de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas à gestação. Minas Gerais, 2013.
Variáveis relacionadas à gestação Prematuros n %
Duração da gestação 22-27 semanas 19 4,0 28-31 semanas 51 10,6 32-36 semanas 409 85,4 Tipo de gravidez Única 417 87,2 Dupla 58 12,2 Tripla ou mais 3 0,6 Tipo de parto Vaginal 164 34,2 Cesáreo 315 65,8 Número de Consultas de Pré-Natal Nenhuma 8 1,7 1-3 47 9,9 4-6 166 34,8 7 e mais 256 53,6
Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão de
ignorados e não informados.
No que se refere ao tipo de gravidez, 87,2%
foram partos prematuros de gestação única,
contra 12,7% de gestação múltipla; não houve
relação do tipo de gravidez com a duração da
gestação (p=0,111). A cesariana foi o tipo de
parto mais utilizado, de acordo com os dados
coletados, correspondendo a 65,8%, que pode
ser explicado devido ao risco inerente à
prematuridade.
Houve uma adesão significativa às
consultas de pré-natal pelas gestantes, uma
vez que apenas 1,7% das mesmas não
realizaram nenhuma consulta, sendo a
associação entre essa variável e a duração da
gestação significativa (p=0,000).
No que diz respeito às características do
recém-nascido prematuro (Tabela 4), não
houve grande discrepância entre o sexo
masculino e feminino, evidenciando que a
questão de gênero, em relação à duração da
gestação, neste estudo, não foi relevante.
Tabela 4. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no período
de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas aos recém-
nascidos. Minas Gerais, 2013.
Variáveis relacionadas aos Recém Nascidos Prematuros n %
Sexo Feminino 227 47,5 Masculino 251 52,5 Peso < 2.500 309 64,6 ≥ 2.500 169 35,4 Raça/ Cor Branca 392 83,2 Preta 13 2,8 Amarela 1 0,2 Parda 65 13,8 Apgar 1º minuto < 7 184 38,8 > 7 290 61,2 Apgar 5º minuto < 7 52 11,1 > 7 422 88,9 Má formação congênita e/ou anomalia cromossômica
Sim 12 2,5 Não 289 61,3 Ignorado 171 36,2
Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão de
ignorados e não informados.
A média de peso e o desvio padrão entre os
prematuros foram de 2.320 gramas (+ 661
gramas), sendo o peso mínimo de 180 gramas
e o máximo de 3.950 gramas. O baixo peso (<
2.500 gramas) esteve presente em 64,6% dos
RNs.
A prevalência de RNs prematuros de raça
branca foi maior (83,2%) pelo fato da maioria
da população do município em estudo
apresentar essa característica. Em relação ao
índice de Apgar, 38,8% dos prematuros
apresentaram pontuação menor ou igual a
sete no primeiro minuto de vida, sendo que no
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quinto minuto esse percentual caiu para
11,1%, indicando rápida recuperação entre a
maioria deles.
A malformação congênita e a anomalia
cromossômica estavam presentes em 2,5% dos
prematuros. Contudo, verificou-se que esse
campo foi ignorado em 36,2% das DNs,
dificultando a análise dessa variável. Acredita-
se que essa falha no preenchimento possa
estar relacionada à qualificação do
profissional, o qual nem sempre está apto a
fazer as identificações.
Este estudo evidenciou discretas variações
na ocorrência de prematuridade entre 2005 e
2009, mantendo altos índices. A análise da
situação de saúde realizada pela Secretaria de
Estado de Saúde de Minas Gerais (SESMG)
também encontrou indicadores elevados de
prematuridade, no mesmo período, nas
macrorregiões do Estado de Minas Gerais,
sendo 8,55% no Triângulo Mineiro, 8,5% na
Região Central, 7,9% na região Oeste, 7,6% na
Sul e 8,1% no Sudeste, nos anos de 2008 e
2009.6
Em contrapartida, segundo o mesmo
estudo, as macrorregiões do Jequitinhonha,
Norte e Nordeste apresentaram,
respectivamente, 5,1%, 5,6% e 4,65%. Esses
dados revelam que a prematuridade tende a
ser maior nas regiões mais desenvolvidas
desse estado brasileiro. Tal afirmação pode
estar relacionada ao fato de que os serviços
de saúde com maiores recursos tecnológicos
tendem a realizar mais cesáreas, contudo, há
necessidade de ampliar essa discussão.
Refletindo sobre o elevado número de mães
solteiras evidenciado nesta pesquisa, pode-se
inferir que a falta do item “união consensual”
na DN, no período em estudo, pode ter levado
a uma mensuração errada do estado civil das
mães. A partir de 2011, essa variável foi
inserida na DN, uma vez que é uma situação
conjugal muito comum na sociedade atual.
Acerca do nível de escolaridade das mães
de RNs prematuros, acredita-se que a
escolaridade considerada baixa, representada
por ensino fundamental incompleto, com
tempo de estudo igual ou inferior a sete anos,
pode levar ao início tardio do controle de pré-
natal ou, até mesmo, a não adesão a essa
assistência.2
Neste estudo, 34% das mães apresentaram
escolaridade baixa, entretanto, a frequência
as consultas de pré-natal foi compatível com o
preconizado pelo MS, não determinando assim
nenhuma relação entre essas variáveis. Esse
fato pode ser esclarecido pela fortalecida
rede de serviços de saúde do município
estudado, que permite a captação precoce
das gestantes.
Um complexo sistema municipal de saúde
com fácil acesso a recursos tecnológicos pode
sugestionar a realização de partos cesáreos,
assim como vem observando-se nas últimas
décadas um aumento significativo dos índices
de cesáreas em todo o mundo, distanciando-
se cada vez mais do preconizado pela OMS de
no máximo 15%.7,8
Dentre as causas do elevado número de
partos cesáreos, pode-se citar a preferência
das mulheres relacionada ao medo da dor
durante o parto normal, a desinformação
quanto ao parto vaginal e à ideia de que o
procedimento cirúrgico vai preservar a vagina
e o períneo de laceração.9
Todos esses e os demais fatores pertinentes
à gestação devem ser esclarecidos na
assistência pré-natal. Em cada consulta, deve
ser avaliado o risco gestacional e, se
necessário, a gestante deve ser encaminhada
ao pré-natal de alto risco, uma vez que a
ausência de cuidados nesse período está
intimamente relacionada ao maior risco de
prematuridade, baixo peso ao nascer e
morbimortalidade materna e neonatal.10
O controle realizado no pré-natal é
imprescindível para detecção precoce de
intercorrências e realização de ações de
prevenção de doenças.11 É o momento de
identificar doenças que podem acometer o
feto e a mãe durante a gestação, as quais
podem levar à prematuridade.
Os resultados aqui evidenciados indicam
que, apesar dos altos índices de
prematuridade, há um número satisfatório de
gestantes que aderem ao acompanhamento do
pré-natal, sendo observado que 88,4% delas
realizaram quatro ou mais consultas. Esse
dado leva a um questionamento sobre a
qualidade da assistência prestada as futuras
mães, evento que deve ser cuidadosamente
investigado, visando à identificação de falhas
no sistema com o intuito de prevenir maiores
agravos.
Contudo, deve-se destacar que o intervalo
da DN, que é de 4 a 6 consultas, pode ter
interferido na real condição de adesão ao pré-
natal preconizada pelo MS. Na DN atual, esse
campo deve ser preenchido com o número
exato de consultas, minimizando assim
limitações de futuros estudos.
O presente estudo constatou que o
nascimento de pré-termos extremos (22-27
semanas de gestação), quando realizadas de 0
a 3 consultas de pré-natal, foi de 13%,
enquanto que com 7 ou mais consultas o
DISCUSSÃO
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percentual reduziu para 1% (p= 0,000),
evidenciando a importância do controle pré-
natal na prevenção de partos prematuros.
Resultado semelhante ocorreu em estudo
realizado no Estado de São Paulo, relatando
que, diante do aumento da frequência de
consultas de pré-natal de 0 a 3 para 7 ou
mais, a taxa de prematuridade caiu de 14%
para 4%.12
É válido ponderar que a associação entre
número de consultas pré-natais e
prematuridade pode, por vezes, ser afetada,
uma vez que muitas mulheres que tiveram
filhos prematuros, possivelmente, tiveram
menos consultas porque o parto ocorreu antes
do período esperado.13
Também foi verificado que o tipo de
gravidez esteve associado com o tipo de parto
(p=0,000), sendo elevado o número de
cesáreas em gravidez única. Sobre esta
ocorrência, pode-se discutir acerca dos partos
cesáreos eletivos, entretanto, não é possível
esclarecer a relação da prematuridade com
este tipo de parto, no período estudado, visto
que os dados existentes no banco do SINASC
não permitiam identificar cesáreas eletivas de
não eletivas. O incentivo à atenção pré-natal
e o esclarecimento sobre a cesariana eletiva e
o parto natural poderiam reduzir os índices de
prematuridade.
Houve relação entre a idade materna e o
tipo de parto (p= 0,001), sendo observado
que, nas mulheres com idade abaixo de 18
anos, o índice de parto vaginal foi de 51,3%.
Semelhante resultado foi evidenciado em
estudo que avaliou o perfil sociodemográfico e
comportamental de gestantes adolescentes,
no qual o índice de partos vaginais foi de
67,4%.14
Embora no município investigado haja um
alto índice de partos cesáreos, entre as mães
adolescentes, destaca-se a prevalência de
parto vaginal; mesmo levando em
consideração que a percepção das gestantes
adolescentes sobre o pré-natal e a adesão ao
mesmo é muitas vezes deficiente.
A prevenção de nascimento pré-termo
requer cuidados constantes, além da
qualificação da assistência durante o ciclo
gestacional e período intrapartal,
considerando todos os riscos e sequelas que
podem acometer o recém-nascido diante da
interrupção precoce da gestação, que, no
município estudado, apresenta índice médio
de 9,42% no período investigado, fato que
merece atenção, pois supera a estatística
nacional e estadual.
Foi evidenciado um elevado índice de
partos cesáreos, inclusive em mulheres com
gestação única, podendo estar relacionado
com o potencial de risco inerente a
prematuridade. Esse fato leva a uma discussão
acerca dos partos cesáreos eletivos, sendo
que não há como identificar essa ocorrência
através dos dados existentes no banco de
dados do SINASC no período em estudo.
O estudo comprovou que, independente da
escolaridade da gestante, houve grande
adesão as consultas de pré-natal, as quais
foram importantes na prevenção de
nascimentos pré-termos extremos. Esses
dados mostram eficácia dos serviços de saúde
do município investigado no que se refere à
captação precoce de gestantes para a atenção
pré-natal.
Contudo, o índice de prematuridade
mantém-se elevado ao longo dos anos no
município, o que sugere um questionamento
acerca da qualidade da assistência prestada à
gestante. Dessa perspectiva, surge a
necessidade dos profissionais envolvidos neste
cenário, principalmente os de enfermagem,
de reconhecer as ferramentas de informações
como fontes de avaliação da situação de
saúde local.
Desse modo, os dados obtidos na
Declaração de Nascido Vivo do SINASC
possibilitaram o alcance dos objetivos
propostos, evidenciando a importância desse
banco de dados como subsídio para o
planejamento de ações de assistência e de
prevenção na área da saúde materno-infantil.
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CONCLUSÃO
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Submissão: 07/02/2012 Aceito: 07/03/2013 Publicado: 01/05/2013
Correspondência
Eliana Peres Rocha Carvalho Leite Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Escola de Enfermagem Universidade Federal de Alfenas Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 / Centro
CEP: 37130-000 Alfenas (MG), Brasil