artigo sinasc 33 perfil pre maturidade e neonatal

7
Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternasPortuguês/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1349 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963 PREMATURIDADE: CARACTERÍSTICAS MATERNAS E NEONATAIS SEGUNDO DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE NASCIDOS VIVOS PREMATURITY: MATERNAL AND NEONATAL CHARACTERISTICS ACCORDING TO DATA FROM THE INFORMATION SYSTEM ON LIVE BIRTHS PREMATURIDAD: CARACTERÍSTICAS MATERNAS Y NEONATALES SEGÚN EL SISTEMA DE INFORMACIÓN SOBRE NACIDOS VIVOS Roberta de Paiva Silva 1 , Bianca Rodrigues Caires 2 , Denismar Alves Nogueira 3 , Denis da Silva Moreira 4 , Clicia Valim Côrtes Gradim 5 , Eliana Peres Rocha Carvalho Leite 6 RESUMO Objetivo: caracterizar a prematuridade, no período de 2005 a 2009, identificando o perfil dos recém-nascidos prematuros e de suas mães. Método: estudo quantitativo, descritivo e transversal. A população foi constituída por 479 nascidos vivos prematuros. Para a coleta de dados, utilizou-se a Declaração de Nascido Vivo (DN), e, para análise, foi empregado o Teste Qui-quadrado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob Protocolo nº 092/2011. Resultados: a incidência de prematuridade no município foi de 9,42%, considerado alto em relação à média estadual e nacional. Foi identificado que quanto menor o número de consultas pré-natal menor a idade gestacional de nascimento (p= 0,000); e que o tipo de gravidez (p=0,000) e a idade materna (p= 0,001) estiveram associados ao tipo de parto. Conclusão: a taxa de prematuridade encontra-se elevada, o que sugere um questionamento acerca da qualidade da assistência prestada à gestante no município de estudo. Descritores: Nascimento Prematuro; Sistemas de Informação; Enfermagem. ABSTRACT Objective: to characterize the prematurity, in the period from 2005 to 2009, by identifying the profile of preterm babies and of their mothers. Method: it is a quantitative, descriptive and cross-sectional study. The population consisted of 479 premature newborns. For data collection, we have used the Birth Certificate (BC), and the Chi-square Test was employed for analysis. The study was approved by the Ethics Research Committee, under Protocol nº 092/2011. Results: the incidence of prematurity in the municipality was 9,42%, considered high in relation to the state and national averages. We have identified that the lower the number of prenatal consultations lower the gestational age at the childbirth moment (p=0,000); and that the pregnancy type (p=0,000) and age (p=0,001) were associated with the childbirth type. Conclusion: prematurity rate is elevated, which suggests a questioning about the quality of the care given to the pregnant women in the municipality at stake. Descriptors: Premature Childbirth; Information Systems; Nursing. RESUMEN Objetivo: caracterizar la prematuridad, durante el período comprendido entre 2005 y 2009, identificando el perfil de los recién nacidos prematuros y sus madres. Método: estudio descriptivo cuantitativo y transversal. La población estaba compuesta por 479 recién nacidos prematuros. Para la recogida de datos, se utilizó la Declaración de nacido vivo (DN) y fue empleada para el análisis el Teste de Qui-cuadrado. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética, bajo el Protocolo nº 092/2011. Resultados: la incidencia de la prematuridad en el municipio era de 9,42%, considerada alta en relación con el promedio estadual y nacional. Se identificó que menor sea el número de consultas prenatales menor la edad gestacional al nacer (p = 0.000); y que el tipo de embarazo (p = 0.000) y la edad materna (p = 0,001) se asociaron con el tipo de parto. Conclusión: la tasa de prematuridad es alta, lo que sugiere un cuestionamiento sobre la calidad de la atención a mujeres embarazadas en la ciudad estudiada. Descriptores: Parto Prematuro; Sistemas de Información; Enfermería. 1 Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected] ; 2 Enfermeira, Residente em Urgência e Emergência, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] ; 3 Zootecnista, Professor Doutor, Departamento de Ciências Exatas, Universidade Federal de Alfenas/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected] ; 4 Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected] ; 5 Enfermeiro, Professor Doutor, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected] ; 6 Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL

Upload: paulo-matias-filho

Post on 19-Dec-2015

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

jjoitew

TRANSCRIPT

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1349

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

PREMATURIDADE: CARACTERÍSTICAS MATERNAS E NEONATAIS SEGUNDO DADOS DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE NASCIDOS VIVOS

PREMATURITY: MATERNAL AND NEONATAL CHARACTERISTICS ACCORDING TO DATA FROM THE INFORMATION SYSTEM ON LIVE BIRTHS

PREMATURIDAD: CARACTERÍSTICAS MATERNAS Y NEONATALES SEGÚN EL SISTEMA DE INFORMACIÓN SOBRE NACIDOS VIVOS

Roberta de Paiva Silva1, Bianca Rodrigues Caires2, Denismar Alves Nogueira3, Denis da Silva Moreira4, Clicia

Valim Côrtes Gradim5, Eliana Peres Rocha Carvalho Leite6

RESUMO

Objetivo: caracterizar a prematuridade, no período de 2005 a 2009, identificando o perfil dos recém-nascidos prematuros e de suas mães. Método: estudo quantitativo, descritivo e transversal. A população foi constituída por 479 nascidos vivos prematuros. Para a coleta de dados, utilizou-se a Declaração de Nascido Vivo (DN), e, para análise, foi empregado o Teste Qui-quadrado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob Protocolo nº 092/2011. Resultados: a incidência de prematuridade no município foi de 9,42%, considerado alto em relação à média estadual e nacional. Foi identificado que quanto menor o número de consultas pré-natal menor a idade gestacional de nascimento (p= 0,000); e que o tipo de gravidez (p=0,000) e a idade materna (p= 0,001) estiveram associados ao tipo de parto. Conclusão: a taxa de prematuridade encontra-se elevada, o que sugere um questionamento acerca da qualidade da assistência prestada à gestante no município de

estudo. Descritores: Nascimento Prematuro; Sistemas de Informação; Enfermagem.

ABSTRACT

Objective: to characterize the prematurity, in the period from 2005 to 2009, by identifying the profile of preterm babies and of their mothers. Method: it is a quantitative, descriptive and cross-sectional study. The population consisted of 479 premature newborns. For data collection, we have used the Birth Certificate (BC), and the Chi-square Test was employed for analysis. The study was approved by the Ethics Research Committee, under Protocol nº 092/2011. Results: the incidence of prematurity in the municipality was 9,42%, considered high in relation to the state and national averages. We have identified that the lower the number of prenatal consultations lower the gestational age at the childbirth moment (p=0,000); and that the pregnancy type (p=0,000) and age (p=0,001) were associated with the childbirth type. Conclusion: prematurity rate is elevated, which suggests a questioning about the quality of the care given to the pregnant

women in the municipality at stake. Descriptors: Premature Childbirth; Information Systems; Nursing.

RESUMEN

Objetivo: caracterizar la prematuridad, durante el período comprendido entre 2005 y 2009, identificando el perfil de los recién nacidos prematuros y sus madres. Método: estudio descriptivo cuantitativo y transversal. La población estaba compuesta por 479 recién nacidos prematuros. Para la recogida de datos, se utilizó la Declaración de nacido vivo (DN) y fue empleada para el análisis el Teste de Qui-cuadrado. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética, bajo el Protocolo nº 092/2011. Resultados: la incidencia de la prematuridad en el municipio era de 9,42%, considerada alta en relación con el promedio estadual y nacional. Se identificó que menor sea el número de consultas prenatales menor la edad gestacional al nacer (p = 0.000); y que el tipo de embarazo (p = 0.000) y la edad materna (p = 0,001) se asociaron con el tipo de parto. Conclusión: la tasa de prematuridad es alta, lo que sugiere un cuestionamiento sobre la calidad de la atención a mujeres

embarazadas en la ciudad estudiada. Descriptores: Parto Prematuro; Sistemas de Información; Enfermería. 1Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Residente em Urgência e Emergência, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]; 3Zootecnista, Professor Doutor, Departamento de Ciências Exatas, Universidade Federal de Alfenas/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeiro, Professor Doutor, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeira, Professora Doutora, Programa de Graduação/Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas/PPGENF/UNIFAL. Alfenas (MG), Brasil. E-mail: [email protected]

ARTIGO ORIGINAL

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1350

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

A prematuridade é um fator que contribui

para elevadas taxas de morbimortalidade

neonatal, acarretando danos e sequelas de

difícil mensuração aos RNs que conseguem

superar o período inicial de vida. É

caracterizada pelo nascimento que acontece a

partir da viabilidade fetal – 20 semanas para a

maioria dos autores, 22 semanas para alguns –

até 36 semanas e seis dias.1

O nascimento pré-termo ocasiona aos

familiares e à sociedade em geral um alto

custo social e financeiro, exigindo da equipe

capacidade técnica e uma estrutura nem

sempre disponível.2 Suas causas envolvem

alterações placentárias, de líquido amniótico,

infecção materna, idade da mãe e outras

causas desconhecidas.

Apesar das inúmeras ações propostas pelos

órgãos governamentais a fim de garantir um

atendimento que reduza a morbimortalidade

materna e perinatal, elas não tem sido

suficientes em termos de redução da

prematuridade, visto que a ocorrência de

nascimentos pré-termos tem aumentado nas

últimas décadas. Uma revisão dos estudos de

base populacional realizada com dados

primários evidenciou aumento da prevalência

de prematuridade de 4,0% para 12,0% entre os

anos de 1980 e 2000.3

As estatísticas referentes ao nascimento

possibilitam conhecimentos relevantes para a

definição de prioridades políticas e

assistenciais. Uma das fontes de dados

utilizadas para analisar as estatísticas vitais

relacionadas à gestação e ao nascimento é a

Declaração de Nascido Vivo (DN), que é um

instrumento de coleta de dados do SINASC

(Sistema de Informações sobre Nascidos

Vivos).

O SINASC foi implantado em 1990 e

caracteriza-se por ser universal (uma

declaração por recém-nascido), padronizada,

de baixo custo e preenchida nas instituições

de saúde nos quais ocorrem partos, ou nos

Cartórios de Registro Civil, em casos de partos

domiciliares sem assistência ou realizados com

profissional não cadastrado na Secretaria

Municipal de Saúde.2

Os estudos realizados sobre o SINASC

versam em sua maioria sobre a implantação,

cobertura e caracterização dos nascidos vivos,

tais como identificar o número real de

nascimentos, o que diminui o sub-registro.4

Conhecer o perfil epidemiológico dos

nascimentos através de banco de dados como

o SINASC é de extrema importância para a

Enfermagem, pois essas informações guiam a

prática desses profissionais na redução ou

eliminação de comportamentos nocivos à

saúde e contribui para a avaliação de diversos

fatores de risco, tais como a prematuridade.

Em 1998, o município alvo deste estudo,

situado no Sul do Estado de Minas Gerais,

iniciou um processo de descentralização da

saúde com a implantação do Programa de

Saúde da Família (PSF), fato que sugere uma

mudança no perfil de atendimento à gestante

em termos de melhorias.

No entanto, os dados disponíveis no

DATASUS revelam altos índices de

prematuridade no município referido, com

uma média de 10,32% de 1999 a 2004.5 Daí

decorre a necessidade de monitorar esse

indicador de saúde ao longo do tempo, visto

que possibilita uma avaliação do desempenho

do sistema de saúde, permitindo o

estabelecimento de medidas preventivas de

forma qualificada e adequada à realidade, o

que fortalece as estratégias de cuidado à

saúde materna e neonatal.

A partir desses levantamentos, este estudo

objetiva caracterizar a prematuridade, no

período de 2005 a 2009, identificando o perfil

dos recém-nascidos (RN) prematuros e de suas

mães.

Estudo com abordagem metodológica

quantitativa, de caráter descritivo e corte

transversal. Realizado em um município

situado no Sul de Minas Gerais, Brasil, que

possui população de 73.774 habitantes. A

população de estudo constituiu-se de todos os

nascidos vivos prematuros de mães residentes

no município investigado, as quais tiveram

seus partos assistidos no período de 2005 a

2009. A coleta de dados foi realizada junto ao

Setor de Vigilância Epidemiológica, utilizando

a Declaração de Nascido Vivo do SINASC.

Adotou-se como variável dependente os

nascidos vivos prematuros com idade

gestacional de 22 a 36 semanas, respeitando o

intervalo que consta na DN. As variáveis

independentes relacionadas à mãe foram:

idade, escolaridade e estado civil; quanto às

relacionadas à gestação e parto, tem-se:

duração da gestação, tipo de gravidez, tipo de

parto e números de consulta de pré–natal; e

as relacionadas ao RN: sexo, índice de Apgar,

raça-cor, peso ao nascer e malformações

congênitas e/ou anomalias cromossômicas.

Os dados foram descritos e sintetizados

utilizando-se a estatística descritiva, sendo

que eles são apresentados por meio de tabelas

de frequência. Utilizou-se o software SPSS

MÉTODO

INTRODUÇÃO

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1351

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

(Statistical Package for the Social Sciences),

versão 17, para a inserção e tabulação dos

dados, e o teste de Qui-quadrado foi

empregado para realizar a associação das

variáveis, utilizando nível de 5% de

significância.

Os aspectos éticos contidos na Resolução

196/96 do Conselho Nacional da Saúde foram

cumpridos e o estudo foi submetido e

aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa,

sob o Protocolo nº 092/2011.

Conforme os dados presentes no DATASUS5,

o percentual médio nacional de

prematuridade, de 2005 a 2009, foi de 6,67%,

enquanto que o do Estado de MG foi de 7,28%.

Em relação ao município investigado, no

mesmo período, o presente estudo constatou

um percentual médio de 9,42%, fato que

merece atenção, pois supera a estatística

nacional e estadual (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição do total de partos, destaque para os prematuros, no período de 2005 a 2009, Minas Gerias, 2013.

Ano Total de partos Prematuros

n n %

2005 1057 91 8,6

2006 1007 97 9,6

2007 1024 109 10,6

2008 1026 94 9,2

2009 969 88 9,1

Total 5083 479 9,4

Fonte: SINASC

Em relação às variáveis das mães (Tabela

2), a média de idade e o desvio padrão entre

elas foram de 25 anos (+ 7). Observou-se que

o fato da mãe ser adolescente não interferiu

na ocorrência da prematuridade (p=0,696).

Tabela 2. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no

período de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas à

identificação das mães. Minas Gerais, 2013.

Variáveis relacionadas às mães Mães Prematurosuros

Idade n %

< 18 anos 76 15,9 > 18 anos 403 84,1

Estado civil

Solteira 214 47,8

Casada 230 51,4

Viúva 1 0,2

Separada 3 0,6

Escolaridade

Nenhuma 1 0,6

1-3 anos 19 4,0

4 -7 anos 140 29,4

8-11 anos 200 42,0

12 anos e mais 114 24,0

Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão

de ignorados e não informados.

Em relação ao estado civil, não houve

diferença percentual relevante entre as mães

solteiras (47,8%) e as casadas (51,3%) com a

duração da gestação. Ao verificar questões

relacionadas à escolaridade, a pesquisa

revelou que 65,9% das mães possuíam mais de

oito anos de estudo.

Quanto à duração da gestação (Tabela 3), a

maioria dos RN (85,4%) nasceu entre 32 e 36

semanas incompletas, sendo considerados pré-

termos moderados, fato que indica que,

apesar de nascerem precocemente, estavam

próximos do termo.

RESULTADOS

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1352

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

Tabela 3. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no período de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas à gestação. Minas Gerais, 2013.

Variáveis relacionadas à gestação Prematuros n %

Duração da gestação 22-27 semanas 19 4,0 28-31 semanas 51 10,6 32-36 semanas 409 85,4 Tipo de gravidez Única 417 87,2 Dupla 58 12,2 Tripla ou mais 3 0,6 Tipo de parto Vaginal 164 34,2 Cesáreo 315 65,8 Número de Consultas de Pré-Natal Nenhuma 8 1,7 1-3 47 9,9 4-6 166 34,8 7 e mais 256 53,6

Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão de

ignorados e não informados.

No que se refere ao tipo de gravidez, 87,2%

foram partos prematuros de gestação única,

contra 12,7% de gestação múltipla; não houve

relação do tipo de gravidez com a duração da

gestação (p=0,111). A cesariana foi o tipo de

parto mais utilizado, de acordo com os dados

coletados, correspondendo a 65,8%, que pode

ser explicado devido ao risco inerente à

prematuridade.

Houve uma adesão significativa às

consultas de pré-natal pelas gestantes, uma

vez que apenas 1,7% das mesmas não

realizaram nenhuma consulta, sendo a

associação entre essa variável e a duração da

gestação significativa (p=0,000).

No que diz respeito às características do

recém-nascido prematuro (Tabela 4), não

houve grande discrepância entre o sexo

masculino e feminino, evidenciando que a

questão de gênero, em relação à duração da

gestação, neste estudo, não foi relevante.

Tabela 4. Distribuição de nascidos vivos prematuros, no período

de 2005 a 2009, segundo variáveis relacionadas aos recém-

nascidos. Minas Gerais, 2013.

Variáveis relacionadas aos Recém Nascidos Prematuros n %

Sexo Feminino 227 47,5 Masculino 251 52,5 Peso < 2.500 309 64,6 ≥ 2.500 169 35,4 Raça/ Cor Branca 392 83,2 Preta 13 2,8 Amarela 1 0,2 Parda 65 13,8 Apgar 1º minuto < 7 184 38,8 > 7 290 61,2 Apgar 5º minuto < 7 52 11,1 > 7 422 88,9 Má formação congênita e/ou anomalia cromossômica

Sim 12 2,5 Não 289 61,3 Ignorado 171 36,2

Fonte: SINASC. Nota: Proporções calculadas com exclusão de

ignorados e não informados.

A média de peso e o desvio padrão entre os

prematuros foram de 2.320 gramas (+ 661

gramas), sendo o peso mínimo de 180 gramas

e o máximo de 3.950 gramas. O baixo peso (<

2.500 gramas) esteve presente em 64,6% dos

RNs.

A prevalência de RNs prematuros de raça

branca foi maior (83,2%) pelo fato da maioria

da população do município em estudo

apresentar essa característica. Em relação ao

índice de Apgar, 38,8% dos prematuros

apresentaram pontuação menor ou igual a

sete no primeiro minuto de vida, sendo que no

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1353

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

quinto minuto esse percentual caiu para

11,1%, indicando rápida recuperação entre a

maioria deles.

A malformação congênita e a anomalia

cromossômica estavam presentes em 2,5% dos

prematuros. Contudo, verificou-se que esse

campo foi ignorado em 36,2% das DNs,

dificultando a análise dessa variável. Acredita-

se que essa falha no preenchimento possa

estar relacionada à qualificação do

profissional, o qual nem sempre está apto a

fazer as identificações.

Este estudo evidenciou discretas variações

na ocorrência de prematuridade entre 2005 e

2009, mantendo altos índices. A análise da

situação de saúde realizada pela Secretaria de

Estado de Saúde de Minas Gerais (SESMG)

também encontrou indicadores elevados de

prematuridade, no mesmo período, nas

macrorregiões do Estado de Minas Gerais,

sendo 8,55% no Triângulo Mineiro, 8,5% na

Região Central, 7,9% na região Oeste, 7,6% na

Sul e 8,1% no Sudeste, nos anos de 2008 e

2009.6

Em contrapartida, segundo o mesmo

estudo, as macrorregiões do Jequitinhonha,

Norte e Nordeste apresentaram,

respectivamente, 5,1%, 5,6% e 4,65%. Esses

dados revelam que a prematuridade tende a

ser maior nas regiões mais desenvolvidas

desse estado brasileiro. Tal afirmação pode

estar relacionada ao fato de que os serviços

de saúde com maiores recursos tecnológicos

tendem a realizar mais cesáreas, contudo, há

necessidade de ampliar essa discussão.

Refletindo sobre o elevado número de mães

solteiras evidenciado nesta pesquisa, pode-se

inferir que a falta do item “união consensual”

na DN, no período em estudo, pode ter levado

a uma mensuração errada do estado civil das

mães. A partir de 2011, essa variável foi

inserida na DN, uma vez que é uma situação

conjugal muito comum na sociedade atual.

Acerca do nível de escolaridade das mães

de RNs prematuros, acredita-se que a

escolaridade considerada baixa, representada

por ensino fundamental incompleto, com

tempo de estudo igual ou inferior a sete anos,

pode levar ao início tardio do controle de pré-

natal ou, até mesmo, a não adesão a essa

assistência.2

Neste estudo, 34% das mães apresentaram

escolaridade baixa, entretanto, a frequência

as consultas de pré-natal foi compatível com o

preconizado pelo MS, não determinando assim

nenhuma relação entre essas variáveis. Esse

fato pode ser esclarecido pela fortalecida

rede de serviços de saúde do município

estudado, que permite a captação precoce

das gestantes.

Um complexo sistema municipal de saúde

com fácil acesso a recursos tecnológicos pode

sugestionar a realização de partos cesáreos,

assim como vem observando-se nas últimas

décadas um aumento significativo dos índices

de cesáreas em todo o mundo, distanciando-

se cada vez mais do preconizado pela OMS de

no máximo 15%.7,8

Dentre as causas do elevado número de

partos cesáreos, pode-se citar a preferência

das mulheres relacionada ao medo da dor

durante o parto normal, a desinformação

quanto ao parto vaginal e à ideia de que o

procedimento cirúrgico vai preservar a vagina

e o períneo de laceração.9

Todos esses e os demais fatores pertinentes

à gestação devem ser esclarecidos na

assistência pré-natal. Em cada consulta, deve

ser avaliado o risco gestacional e, se

necessário, a gestante deve ser encaminhada

ao pré-natal de alto risco, uma vez que a

ausência de cuidados nesse período está

intimamente relacionada ao maior risco de

prematuridade, baixo peso ao nascer e

morbimortalidade materna e neonatal.10

O controle realizado no pré-natal é

imprescindível para detecção precoce de

intercorrências e realização de ações de

prevenção de doenças.11 É o momento de

identificar doenças que podem acometer o

feto e a mãe durante a gestação, as quais

podem levar à prematuridade.

Os resultados aqui evidenciados indicam

que, apesar dos altos índices de

prematuridade, há um número satisfatório de

gestantes que aderem ao acompanhamento do

pré-natal, sendo observado que 88,4% delas

realizaram quatro ou mais consultas. Esse

dado leva a um questionamento sobre a

qualidade da assistência prestada as futuras

mães, evento que deve ser cuidadosamente

investigado, visando à identificação de falhas

no sistema com o intuito de prevenir maiores

agravos.

Contudo, deve-se destacar que o intervalo

da DN, que é de 4 a 6 consultas, pode ter

interferido na real condição de adesão ao pré-

natal preconizada pelo MS. Na DN atual, esse

campo deve ser preenchido com o número

exato de consultas, minimizando assim

limitações de futuros estudos.

O presente estudo constatou que o

nascimento de pré-termos extremos (22-27

semanas de gestação), quando realizadas de 0

a 3 consultas de pré-natal, foi de 13%,

enquanto que com 7 ou mais consultas o

DISCUSSÃO

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1354

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

percentual reduziu para 1% (p= 0,000),

evidenciando a importância do controle pré-

natal na prevenção de partos prematuros.

Resultado semelhante ocorreu em estudo

realizado no Estado de São Paulo, relatando

que, diante do aumento da frequência de

consultas de pré-natal de 0 a 3 para 7 ou

mais, a taxa de prematuridade caiu de 14%

para 4%.12

É válido ponderar que a associação entre

número de consultas pré-natais e

prematuridade pode, por vezes, ser afetada,

uma vez que muitas mulheres que tiveram

filhos prematuros, possivelmente, tiveram

menos consultas porque o parto ocorreu antes

do período esperado.13

Também foi verificado que o tipo de

gravidez esteve associado com o tipo de parto

(p=0,000), sendo elevado o número de

cesáreas em gravidez única. Sobre esta

ocorrência, pode-se discutir acerca dos partos

cesáreos eletivos, entretanto, não é possível

esclarecer a relação da prematuridade com

este tipo de parto, no período estudado, visto

que os dados existentes no banco do SINASC

não permitiam identificar cesáreas eletivas de

não eletivas. O incentivo à atenção pré-natal

e o esclarecimento sobre a cesariana eletiva e

o parto natural poderiam reduzir os índices de

prematuridade.

Houve relação entre a idade materna e o

tipo de parto (p= 0,001), sendo observado

que, nas mulheres com idade abaixo de 18

anos, o índice de parto vaginal foi de 51,3%.

Semelhante resultado foi evidenciado em

estudo que avaliou o perfil sociodemográfico e

comportamental de gestantes adolescentes,

no qual o índice de partos vaginais foi de

67,4%.14

Embora no município investigado haja um

alto índice de partos cesáreos, entre as mães

adolescentes, destaca-se a prevalência de

parto vaginal; mesmo levando em

consideração que a percepção das gestantes

adolescentes sobre o pré-natal e a adesão ao

mesmo é muitas vezes deficiente.

A prevenção de nascimento pré-termo

requer cuidados constantes, além da

qualificação da assistência durante o ciclo

gestacional e período intrapartal,

considerando todos os riscos e sequelas que

podem acometer o recém-nascido diante da

interrupção precoce da gestação, que, no

município estudado, apresenta índice médio

de 9,42% no período investigado, fato que

merece atenção, pois supera a estatística

nacional e estadual.

Foi evidenciado um elevado índice de

partos cesáreos, inclusive em mulheres com

gestação única, podendo estar relacionado

com o potencial de risco inerente a

prematuridade. Esse fato leva a uma discussão

acerca dos partos cesáreos eletivos, sendo

que não há como identificar essa ocorrência

através dos dados existentes no banco de

dados do SINASC no período em estudo.

O estudo comprovou que, independente da

escolaridade da gestante, houve grande

adesão as consultas de pré-natal, as quais

foram importantes na prevenção de

nascimentos pré-termos extremos. Esses

dados mostram eficácia dos serviços de saúde

do município investigado no que se refere à

captação precoce de gestantes para a atenção

pré-natal.

Contudo, o índice de prematuridade

mantém-se elevado ao longo dos anos no

município, o que sugere um questionamento

acerca da qualidade da assistência prestada à

gestante. Dessa perspectiva, surge a

necessidade dos profissionais envolvidos neste

cenário, principalmente os de enfermagem,

de reconhecer as ferramentas de informações

como fontes de avaliação da situação de

saúde local.

Desse modo, os dados obtidos na

Declaração de Nascido Vivo do SINASC

possibilitaram o alcance dos objetivos

propostos, evidenciando a importância desse

banco de dados como subsídio para o

planejamento de ações de assistência e de

prevenção na área da saúde materno-infantil.

1. Filho JR, Montenegro CAB. Rezende

Obstetrícia. 11 ed. Rio de Janeiro (RJ):

Guanabara Koogan; 2010

2. Ramos HAC, Cuman RKN. Fatores de risco

para prematuridade: pesquisa documental.

Esc Anna Nery Rev Enferm [Internet]. 2009

Apr/June [cited 2012 Aug 23];13(2):297-304.

Available from:

http://www.scielo.br/pdf/ean/v13n2/v13n2a

09

3. Silveira MF, Santos A, Barros AJD,

Matijasevich A, Barros FC, Victora CG.

Aumento da prematuridade no Brasil: revisão

de estudos de base populacional. Rev Saúde

Pública [Internet]. 2008 Oct [cited 2012 July

12];42(5):957-64. Available from:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar

ttext&pid=S0034-89102008000500023

4. Uchimura TT. Fatores de risco para o baixo

peso ao nascer segundo as Variáveis da mãe e

do recém-nascido, em MARINGÁ - PR, no

REFERÊNCIAS

CONCLUSÃO

Silva RP, Caires BR, Nogueira DA et al. Prematuridade: características maternas…

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1349-55, maio., 2013 1355

DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201313 ISSN: 1981-8963

período de 1996 a 2002. Ciênc cuid saúde

[Internet]. 2007 Jan/Mar [cited 2012 Aug

10];6(1):51-8. Available from:

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Cien

cCuidSaude/article/view/4973/3224

5. Brasil [internet]. Ministério da Saúde.

DATASUS. Informações de Saúde; 2007 [cited

2011 Sept 17]. Available from:

www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?are

a=0205

6. Meira AJ. A saúde dos mineiros em 2008 e

2009. In: Análise de Situação de Saúde Minas

Gerais. Secretaria de Estado de Saúde de

Minas Gerais [Internet]. Belo horizonte [cited

2012 Apr 15]. 2010. p. 15. Available from:

http://www.saude.mg.gov.br/publicacoes/est

atistica-e-informacao-em-saude/analises-de-

situacao-de-

saude/publicacao_subsec_saude_FINAL.pdf

7. World Health Organization (WHO).

Appropriate technology for birth. Lancet

[Internet]. 1985 Aug [cited 2011 Dec

5];2(8452):436-7. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28634

57

8. Yazlle MEHD, Rochab JSY, Mendesa MC,

Pattaa MC, Marcolina AC, Azevedo GD.

Incidência de cesáreas segundo fonte de

financiamento da assistência do parto. Rev

Saúde Pública [Internet]. 2001 Apr [cited 2012

June 14];35(2):202-6. Available from:

http://www.scielo.br/pdf/rsp/v35n2/4406.pd

f

9. Faundes A, Cecatti JG. A Operação Cesárea

no Brasil. Incidência, tendências, causas,

consequências e propostas de ação. Cad saúde

pública [Internet]. 1991 Apr/June [cited 2012

Aug 25];7(2):150-73. Available from:

http://www.scielo.br/pdf/csp/v7n2/v7n2a03.

pdf

10. Parker JD, Schoendorf KC, Kiely JL. A

comparison of recent trends in infant

mortality among twins and singletons. Pediatr

Perin Epidemiol [Internet]. 2001 Jan [cited

2012 Sept 12];15(1):12-8. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11237

108

11. Brasil [Internet]. Ministério da Saúde.

Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento

de Ações Programáticas Estratégicas. Área

Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e

Puerpério: atenção qualificada e humanizada.

Brasilia: Ministério da Saúde; 2005 [cited 2012

Sept 5];163 p. Available from:

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/p

df/manual_puerperio_2006.pdf

12. Kilsztajn S, Rossbach AC, Carmo MSN,

Sugahara GTL. Prenatal care, low birth weight

and prematurity in São Paulo State, Brazil,

2000. Rev Saúde Pública [Internet]. 2003 June

[cited 2012 Oct 4];37(3):303-10. Available

from:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-

89102003000300007&script=sci_arttext

13. Bezerra LC, Oliveira SMJV, Latorre MRDO.

Prevalência e fatores associados à

prematuridade entre gestantes submetidas à

inibição de trabalho de parto prematuro. Rev

bras saúde matern infant [Internet]. 2006

Apr/June [cited 2012 Oct 10];6(2):223-9.

Available from:

http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v6n2/30920.

pdf

14. Chalem E, Mitsuhiro SS, Ferri CP, Barros

MCM, Guinsburg R, Laranjeira R. Gravidez na

adolescência: perfil sócio-demográfico e

comportamental de uma população da

periferia de São Paulo, Brasil. Cad Saúde

[Internet]. 2007 Jan [cited 2012 Oct

13];23(1):177-86. Available from:

http://www.scielo.br/pdf/csp/v23n1/18.pdf

Submissão: 07/02/2012 Aceito: 07/03/2013 Publicado: 01/05/2013

Correspondência

Eliana Peres Rocha Carvalho Leite Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Escola de Enfermagem Universidade Federal de Alfenas Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 / Centro

CEP: 37130-000 Alfenas (MG), Brasil