artigo o sagrado e o profano uma discussão

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O SAGRADO E O PROFANO: UMA DISCUSSO ACERCA DO ASPECTO PRIVADO E A MIDIALIZAO DAS RELIGIES BRASILEIRAS NA CONTEMPORANEIDADEResumo

Com as profundas transformaes na sociedade nos ltimos sculos, os novos recursos miditicos possibilitaram diversas formas de difuso ideolgicas, morais e religiosas. O paradoxo entre os aspectos privados e pblicos das religies no Brasil tem gerado uma dualidade entre religiosos conservadores que defendem o segredo e o tradicionalismo, e os religiosos mais abertos, que tendem a aderir novas formas de praticar e manter suas religies de maneiras pblicas. Essa dicotomia tambm permite a reflexo acerca dos conceitos de sagrado e profano.Palavras-chaves: sagrado, profano, recursos miditicos, religiesAbstract

With the profound changes in society in the last centuries, new media resources have enabled various forms of ideological, moral and religious broadcasting. The paradox between the private and public aspects of religions in Brazil has generated a duality between religious conservatives who defend the secret and traditionalism, and more open religious who tend to adhere to new ways to practice their religions and maintain public ways. This dichotomy also allows for reflection on the concepts of sacred and profane.Keyboard: Sacred, profane, media, religions1- Introduo Nos anos 60, j era possvel observar elementos religiosos expressos de maneira ainda discreta ganhando uma popularizao que se fez presente ao decorrer do tempo atravs de recursos miditicos como a msica, literatura e artes visuais (pinturas e fotografias) tanto no cenrio religioso cristo, quanto de religies afro-brasileiras.A partir da dcada de 80 at meados dos anos 90, o contexto religioso brasileiro deixou de apresentar um carter extremamente privado, ganhando diversas formas de disseminar seus ensinamentos, e rompendo com diversos tabus na poca.

O Pe. Zezinho (padre catlico, msico e escritor) foi um fenmeno por volta de 1960, ganhando notoriedade atravs de suas msicas tocadas nas rdios catlicas do Brasil, gravando cds em diversos idiomas, e divulgando suas msicas em vrios meios de comunicao, ganhando inclusive um prmio da indstria musical internacional anos mais tarde.

Em outro cenrio comeava a surgir na mesma poca formas de espetacularizao das religies afro-brasileiras, tanto no cenrio musical, atravs de inmeras personalidades como Carmem Miranda, Clara Nunes, Caetano Veloso, Maria Bethnia, Gilberto Gil, Vincius de Moraes entre outras personalidades do samba, bossa-nova, mpb, fazendo-se parte inclusive temas de blocos carnavalescos. Depois dos anos 70, com o tombamento dos terreiros, as religies afro-brasileiras, (principalmente o candombl) comearam a apresentar mais vigor no mbito cultural do povo brasileiro, tomado como referncia de identidade para simpatizantes e adeptos da religio.

Olhar as dimenses simblicas da ao social- arte, religio, ideologia, cincia, lei, moralidade, senso comum- no afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domnio emprico de formas no emocionalizadas; mergulhar no meio delas. (GEERTZ, 2008, p.27).

Por volta dos anos 80 e 90, o catolicismo passou a utilizar fortemente de recursos miditicos atravs de canais de televiso que passaram a transmitir missas, cultos, bem como orientaes religiosas.Por volta dos anos 90 surge outro padre, fenmeno na mdia, msico e escritor surge, Pe. Marcelo Ross que passou a utilizar destes recursos como forma de levar as mensagens de Cristo. Surgindo logo depois dos anos 90, outro precursor dos Pe. Zezinho, o Pe. Fbio de Melo, que ficou popularmente conhecido em 2008 aps ter seu dcimo trabalho lanado pela gravadora Som Livre.

So numerosas as formas miditicas utilizadas pelas religies como forma de se fazerem cada vez mais presentes, e ganharem notoriedade no contexto cultural brasileiro. Em plena metade do sculo XX, as religies no Brasil buscavam aderir novas formas de propagar seus smbolos e ensinamentos. E mesmo assim, desde o incio sempre se chegava a discusso de religiosos mais conservadores, sobre a prtica, os smbolos e as vestes que caracterizavam determinada religio e que tendiam a sair do espao religioso ao qual pertenciam, e se fazendo presente em espao pblico. Considerando que acabariam por se tornar como uma forma de descaracterizao (no contexto religioso afro-brasileiro) ou um sacrilgio (para a igreja catlica) religiosa.No seio de uma religio, seus agentes operam escalas de valores que explicitam dicotomias tais como formas mais eruditas em contraponto a formas mais populares, pessoas mais religiosas ou com maior conhecimento em contraponto a outras mais leigas ou menos informadas, alm ainda de prticas consideradas mais legtimas ou

menos, determinadas interpretaes mais adequadas ou menos (SILVEIRA, 2008 apud MENEZES, 2004). interessante ressaltar a relao existente entre o aspecto psicolgico da identidade com a cultura, a primeira se constitui de aspectos particulares e privativos que singularizam os indivduos da sociedade.Alm do aspecto comercial que acaba por expandir as formas como as relaes e as prprias religies se organizam. Os mercados dentro das religies so alvos de crticas, discusses e pesquisas sobre o preo que se paga pela salvao, a famosa lei do retorno, em que a oferta oferecida seria uma forma de se ganhar em dobro aquilo que dado de bom grado.

Geertz (1998) explica que alm do crescimento de mercados entre as religies, a prpria estrutura cognitiva estaria evoluindo para manter o florescimento da capacidade mental do homem. Destacando o pensamento humano como um ato aberto em relao aos termos materiais objetivos da cultura comum, e secundariamente assunto privado.

O sistema nervoso humano depende, inevitavelmente da acessibilidade a estruturas simblicas pblicas para construir seus prprios padres de atividade autnoma contnua. (GEERTZ, 1998, p.61).

A identidade composta de elementos pessoais que o sujeito absorve ao longo de sua vida, e que tendem a ser reforados na busca pela aprovao dos outros indivduos. Logo, a identidade pessoal e coletiva ao mesmo tempo. Podemos destacar tambm a relao cultura, identidade e religio enquanto elementos carismticos. Constataremos assim que o nascimento da religio umbandista coincide justamente com a consolidao de uma sociedade urbano-industrial e de classes. A um movimento de transformao social que corresponde a um movimento de mudana cultural, isto , as crenas e prticas afro-brasileiras se modificam tomando um novo significado dentro do conjunto da sociedade global brasileira. (ORTIZ, 1947, p. 15).A globalizao torna-se um fator impulsionador nesta interconexo entre diversidades culturais, assim os indivduos tornam-se atores sociais, que buscam constantemente se atualizar, e utilizar os novos modelos do mercado, uma atualizao que se liga a segurana de estar interagindo com a sociedade e suas novas formas de se constituir. H, portanto, uma diferena de experincia religiosa que se explica pelas diferenas de economia, cultura e organizao social numa palavra, pela histria. (ELIADE, 1992, p.16).Saindo do aspecto pessoal , possvel notar esta diferena em relao aquilo que antes apresentava carter privado, e tem se tornado algo cada vez mais pblico. A prtica religiosa no Brasil encontra-se entre este paradoxo: As aes pblicas e espetacularizadas, que vem ganhando fora desde o ltimo sculo em contraparte aos que defendem aes e ensinamentos religiosos sejam mais privativos, e reservados, respeitando as tradies ali existentes. A noo de segredo enquanto sagrado, ao resguardar. Para estes o profano tambm se relaciona com aquilo que necessita se fazer provar.

A divulgao religiosa atravs das mdias, tem se tornado uma forma de ganhar reconhecimento e respeito pelos outros, assim como uma forma de fortalecer os seguidores daquela religio. Mas entra outro discurso sobre o quanto isto de torna-se um aspecto mais forte, onde os discursos busquem apoio e respeito as suas religies ao sofrerem perseguio religiosa, e a utilizao da mdia para enfeitar, e carnavalizar a sacralidade existente para muitos. O que fere a fora de manter a prpria conexo pessoal que se pode ter com o divino como se observava no passado, notrio que os antepassados haviam uma conexo maior com o sagrado e que no havia a necessidade to egica de se colorir o que por tradio j teria toda uma cosmogonia existente. O homem das sociedades arcaicas tem a tendncia para viver o mais possvel no sagrado ou muito perto dos objetos consagrados. (ELIADE, 1992, p. 13).Eliade (1992) exemplifica como os conhecimentos sagrados e a sabedoria eram passados apenas como fruto de uma iniciao. E traz a constatao de como a modernidade influencia nestas mudanas:

O homem moderno a religioso assume uma nova situao existencial: reconhece-se como o nico sujeito e agente da Histria e rejeita todo apelo transcendncia. Em outras palavras, no aceita nenhum modelo de humanidade fora da condio humana, tal como ela se revela nas diversas situaes histricas. O homem faz se a si prprio, e s consegue fazer se completamente na medida em que se dessacraliza o mundo. O homem s se tornar ele prprio quando estiver radicalmente desmistificado. (ELIADE, 1992, p. 98) Por trs dos ritos iniciticos de algumas religies sempre existiram toda uma esfera de segredos desde a preparao at a iniciao do indivduo. Neste tempo, o indivduo levado uma recluso, necessria para uma purificao at o seu renascimento, onde se encontrar em plena comunho com o divino. No candombl, a recluso do indivduo que iria ser iniciado costumava durar em torno de 15 dias, no entanto mais uma vez com a modernidade e os novos remanejamentos acabam reduzindo este tempo. Outro destaque de como certos modelos ritualsticos tendem a ser acelerados e readaptados, criando novas maneiras de se relacionar com as exigncias da modernidade. Ao final dos anos 90, com o surgimento das redes sociais se tornou popular a divulgao e interao entre diversos internautas. Onde era expresso desde o estilo de msica, at a religio e outras caractersticas pessoais dos indivduos. Os diversos grupos passaram a se encontrar e se expressar atravs das famosas comunidades que representavam os interesses identitrios de cada usurio. Tambm ocorria de muitos usurios de pensamentos contrrios, fazerem uso de determinadas pginas, para mostrar atravs de suas opinies o motivo de discordarem em determinados aspectos, estas opinies eram descritas nos frum de cada comunidade. No mbito religioso, era comum encontrar seitas, e grupos que se organizassem para trocar informaes que estivessem relacionados aos ensinamentos e prticas da manifestao ou instituio religiosa ao qual pertencessem. Tambm eram expressas dvidas pessoais sobre determinadas atitudes que logo se tornavam formas juzos de valor: ideias certas ou erradas, verdadeiras ou mentirosas. O fato que muitos tpicos, eram colocados desta modo, e caso alguma opinio parecesse ofensiva, o usurio era banido por um moderador, ou o comentrio do mesmo era excludo. Estes tpicos traziam no apenas discusses sobre diversos aspectos no mbito da religio, tal como ajudou no conhecimento, divulgao e acessibilidade de livros digitalizados, os famosos ebooks.

Entre os anos de 2004 e 2010 diversos internautas passaram a migrar do antigo Orkut para o facebook, onde alm das pginas que o indivduo curte (antigas comunidades), tambm existia a possibilidade de ser expresso o que cada indivduo estava pensando, ou seja pensamentos, protestos, propagandas, frases, letras de msicas e at trechos da bblia comearam a aparecer nas famosas time line (linha do tempo), tornando-se uma pgina de um verdadeiro dirio virtual.

No difcil encontrar pedidos, agradecimentos e oraes para Deus sendo colocados nas pginas pessoais. Tornando alm da pgina pessoal, como algo de carter extremamente pblico. O espao passou a ser utilizado para divulgao de aes mais cotidianas e banais, como o que se pensa, o que se faz, o que se come, onde se frequenta e, no mbito da religioso cristo, at as oraes que antes eram feitas atravs de maneira muito privada, passaram a serem divulgadas, tornando-se verdadeiros reflexos da identidade e da busca de sentido de uma sociedade contempornea.

Como operadores globais, podem perambular pelo ciberespao. Mas como agentes humanos esto, dia aps dia, confinados ao espao fsico em que operam, ao ambiente preestabelecido e continuamente reprocessado no curso de suas lutas por sentido e identidade. A experincia humana formada e compilada, a partilha da vida administrada, seu significado concebido, absorvido e negociado em torno de lugares. E nos lugares e a partir deles que os impulsos e desejos humanos so gerados e incubados, que vivem na esperana de se realizarem. (BAUMAN, 2004, p.58).

Em contraparte, a informao que antes era restrita apenas aos pequenos grupos, impulsionada uma velocidade em que possvel acessar acontecimentos e adquirir conhecimentos sobre aspectos que ocorrem muitas vezes de maneira acidental, ou seja, o indivduo pode estar conectado e ter acesso a uma notcia ou a uma determinada informao apenas por estar conectado a outras pessoas. O acesso rede permite que uma massificao de conhecimento e informao sejam distribudos desde o usurio e leitor mais atento at o mais distrado, a informao no escolhe mais grupos, ela distribuda e alcana a quem estiver conectado mais cedo ou mais tarde. Sendo esta noticia e repassada por estas redes sociais com uma maior velocidade at que outros recursos miditicos. Gestos ou msicas, transmitidos por meios eletrnicos ou trazidos por um turista, poderiam ser imediatamente compreendidos. Por isso, a distribuio e o limite de prticas culturais so modificados e transcendidos, com rapidez e facilidade. (SILVEIRA, 1997, apud, Hannerz, 2008). Ora, at que ponto estes novo recurso de compartilhar a informao, e reforar a identidade pode vir a aproximar ou distanciar do sagrado e do profano? Isso nos permite abranger o discurso entre sagrado e profano na contemporaneidade com uso destes recursos de hipermdias. Com estas a utilizao das redes sociais, tambm houve um crescimento da informao, o acesso a diversas informaes de auto- ajuda, como a arte, temas de moralidade, educao, da prpria espiritualidade, elementos que so buscado nas religies. Observa-se que as manifestaes religiosas exercem uma funcionalidade alm do discurso de sacralizao ou dessacralizao, mas de uma prpria forma de orientao moral e cultural das massas. interessante ressaltar que tem crescido o nmero de pessoas sem religio no Brasil, segundo o IBGE 8% nos ltimos anos se declara sem religio, existe a crena na sacralidade, nas mais diversas formas, como algo intrnseco ao indivduo. Se fossemos pensar o profano de um ponto de vista contemporneo, certamente nossa sociedade atual caminharia para um extremo declive, visto que o profano pode ser associado a tudo aquilo que foge as instituies religiosa, e segundo o antroplogo Rodrigo Toniol do Ncleo de Estudos de Religio da UFRGS, isto no ocorre pela rejeio aos valores utilizados pelas religies, mas pela prpria institucionalidade, bem como a prpria mediao dos sacerdotes.Para Eliade (1992) o profano seria a oposio do sagrado, e o homem privado do sentimento religioso viveria a desejar viver em um mundo dessacralizado. No entanto, Isto porque atualmente, fica difcil estabelecer um parmetro que seja utilizado necessariamente como consenso acerca do profano, aspectos considerados religies afro-brasileiras. O sagrado equivale ao poder e, em ltima anlise, realidade por excelncia. O sagrado est saturado de ser. Potncia sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade, perenidade e eficcia. A oposio sagrado/profano se traduz muitas vezes como uma oposio entre real e irreal ou pseudo real. (ELIADE, 1992, p.14).O termo dessacralizar tem obtido muita acepo principalmente por antroplogos, pois foge de juzos de valor, visto que tende a reduzir as coisas a reais ou irreais. O discurso de sagrado e profano deve-se manter sempre uma viso estreita entre aquilo que tido como parte das religies que fazem uso deste termo e as situaes em que a utiliza. Certamente, um discurso generalista tornaria um estudo como raso, pela falta de considerao uma diversidade religiosa e aos conceitos que no devem ser aplicados as aes por elas utilizadas.A cultura e as identidades movem-se entre correntes mais especficas, em suas distribuies descontnuas entre pessoas e relaes prticas que elas estabelecem com os legados culturais, os quais esto inscritos em dogmas, ritos e tradies. (SILVEIRA, 2008)

Outro fator a ser destacado o local em que se escolhe para utilizar como manifestao religiosa, no sentido que ao sair do espao sagrado, o ato deixa de ser divinizado. Eliade (1992) diz que at para um homem no religioso, os lugares sagrados do seu universo privado, como se neles um ser no religioso tivesse tido a revelao de uma outra realidade, diferente daquela de que participa em sua existncia cotidiana.

O espao sagrado constitui de um centro que torna-se a rotura entre este mundo para que haja uma abertura e seja possvel o contato com o divino.

Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, no s h rotura na homogeneidade do espao, como tambm revelao de uma realidade absoluta. (ELIADE, 1992, p.17).Alm da enorme quebra de paradigmas que a modernidade, as artes, as mdias e as redes sociais trazem, tem trazido este amplo paradoxo entre as vantagens de compartilhar aspectos privados das religies e as desvantagens que elas podem representar. O discurso de parte dos religiosos preocupados com esta nova estrutura que as religies tem tomado fazem uso inclusive de formas miditicas para defenderem seus posicionamentos: atravs de entrevistas em rdios, documentrios, matrias jornalsticas e at uma construo cientfica por parte do homem religioso que tem se dedicado cada vez mais a estudar e realizar pesquisas em cincias da religio.

Na religio catlica possvel observar nos discursos de padres uma notvel preocupao com o fato dos encontros terem se tornado cada vez mais virtuais, os grupos abertos para encontrar e discutir ideias da igreja, assim como as prprias oraes que acabam se tornando uma forma muito impessoal de se manter contato com Deus, na medida que a virtualizao acaba se tornando o novo espao sagrado para contato com o divino. Muitos catlicos utilizavam algumas formas de encontros religiosos como maneira de estabelecer este contato religioso dentro do prprio espao sagrado, ou no trajeto para este, tratavam-se de peregrinaes com seus santos, os prprios teros realizados em residncias de um grupo de fiis de igrejas locais, assim como os encontros de crianas, jovens e adultos com Cristo . Na religio do candombl algumas mes e pais de santos tambm tem se posicionado sobre determinados aspectos da religio serem divulgados, a exemplo no carnaval do incio do ano de 2014, um ia foi representado por uma das escolas de samba, causando maior repercusso entre o povo de santo.A aliana entre a religio e os recursos miditicos, traz entre suas vantagens a divulgao como o que foi explicitado acima, permitindo que as pessoas expressem seus pensamentos a respeito de eventos em que manifestaes religiosas estejam explicitamente representadas.

Outro tambm no ano de 2014, foi o pedido feito pela Associao Nacional de Mdia Afro (ANMA) para que o Ministrio Pblico Federal (MPF) retirasse vdeos ofensivos do youtube feitos pela igreja universal, estes atacavam as religies afro-brasileiras (candombl e umbanda). O Google no aceitou este pedido, assim o Ministrio Pblico Federal (MPF) decidiu recorrer justia federal, no entanto o juiz Eugnio Arajo acabou negando o pedido e postulou que no se tratavam de religies, pois para ter este ttulo era necessria a existncia de um livro sagrado e uma hierarquia a ser seguida. Neste caso, observamos que existe uma influncia forte de um recurso miditico na fundamentao utilizada pelo magistrado. A mdia acaba utilizando de uma linguagem pessoal que expressa o que uma maioria religiosa defendem e se apoiam, o juiz ao fundamentar sua deciso desqualificando as religies afro-brasileiras. A deciso do magistrado acaba por ferir uma neutralidade em que se apoia a legislao e o seu posicionamento deixa claro a falta de um aprofundamento acerca da prpria estrutura destas religies. possvel concluir que existe uma lacuna onde muito se possvel explorar e pesquisar, as cincias comportamentais, as cincias humanas tendem a se reduzirem uma a outra, e acredito que para uma maior compreenso sobre um conjunto de coisas que tendem a acontecer mutuamente e para uma melhor interpretao dos fatos, necessrio este mergulho histrico, social e cientfico para compreender a aspectos da contemporaneidade. necessrio definir onde a religio deve se manter pblica e onde ela deve ser mantida como pessoal. Para que no se torne um discurso em que um dos lados tenha que ser mantido, sem considerar as perdas que isto venha a significar. O que ocorre de certa maneira que a tendncia de se deixar reprimir um dos lados. necessrio manter uma estrutura de clareza entre as significaes e os sentidos que o mbito religioso sobre o sagrado e a dessacralizao que acabam ganhando novas nuances, pois a tendncia ser esta constante reformulao e readaptao e mesmo os sistemas mais tradicionais acabam por se fragmentarem em algum ponto, ganhando novas formas de se propagar e de se fortalecerem. REFERNCIASBAUMAN, Z. (2004). Amor Lquido: Sobre a fragilidade dos laos humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

ELIADE, M. (1992). O Sagrado e o Profano. So Paulo: Martins Fontes.GEERTZ, C. (2008). A interpretao das culturas. Rio de Janeiro: LTC.

ORTIZ, R. (1999). A morte branca do feiticeiro negro: umbanda e sociedade brasileira. So Paulo: Brasilllense.SILVEIRA,E.(2010). Atores religiosos populares e miditico-consumismo catlico. Juiz de Fora: PLURA, Revista de Estudos de Religio, vol.1, n 1, p. 178-201