artigo - legitimidade das reivindicações policiais militares 2012

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FACULDADES FORTIUM MURILLO DE CASTRO MELO LEGITIMIDADE DAS REIVIDICAÇÕES SOCIAIS POR PARTE DE POLICIAIS MILITARES BRASÍLIA - 2012

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RESUMO A pesquisa versa sobre os principais aspectos e aspirações reivindicatórias dos Policiais Militares Estaduais e do Distrito Federal no Brasil. Foi abordada a origem das Policias Militares, os princípios e características do sistema Policial Militar de maior relevância para entendermos como funcionam a nossas Policias Militares. Foi feita uma análise das reivindicações ocorridas nos últimos anos em alguns Estados Brasileiros e no Distrito Federal. Buscou mostrar que a falta de uma política social para os Policiais Militares é prejudicial tanto aos Policiais Militares quanto para a população, demonstra que a opressão sobre o trabalhador Policial Militar reflete na atividade por ele exercida. Mostra as conseqüências da busca incessante por direitos dados a outros trabalhadores e que são excluídos dos Policiais Militares Estaduais e do Distrito Federal. Dessa forma, demonstra que o caminho reivindicatório legal para os Policiais Militares é um direito necessário tanto para o Policial Militar quanto para a sociedade por ele assistida.Palavras-Chave: 1) Policia Militar; 2) Reivindicações; 3) Direitos.

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Page 1: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

FACULDADES FORTIUM

MURILLO DE CASTRO MELO

LEGITIMIDADE DAS REIVIDICAÇÕES SOCIAIS POR PARTE DE

POLICIAIS MILITARES

BRASÍLIA - 2012

Page 2: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

FACULDADES FORTIUM

MURILLO DE CASTRO MELO

LEGITIMIDADE DAS REIVIDICAÇÕES SOCIAIS POR PARTE DE

POLICIAIS MILITARES

Artigo apresentado em cumprimento às

exigências para obtenção do respectivo título

da Especialização em Direito de

Reivindicação dos Policiais Militares

Estaduais e do Distrito Federal, Curso de

Pós Graduação em Direito Público, Lato

Sensu, da Faculdade Fortium, sob

orientação do Professor MD. Sc. Marcos

Godoy Spindola, pós Doutor.

BRASÍLIA - 2012

Page 3: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

“Aos meu pais,

Maria Mercedes Ferreira de Castro

e Paulo Gonçalves de Melo

, fontes da pessoa que sou,

por TUDO que representam e

me orientaram em minha

vida”.

“A Minha Esposa e Princesa,

Tâmara Rayssa, pelo companheirismo

,e a minha filha

que ainda nem nasceu

, mas já tem todo o amor de seus pais”.

“Aos guerreiros Policiais Militares”

“A todos os amigos e pessoas

que pelo bem ou pelo mal,

me ajudaram na minha história de

vida”.

Page 4: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter-me permitido chegar até aqui.

A Tâmara Rayssa, pela ajuda na concatenação de idéias e por ter estado ao meu

lado nesses poucos, mas ótimos anos, sempre me motivando a querer ir além.

A minha filha, que já é alegria e uma gostosa dor de cabeça para este pai “novinho”.

À minha mãe por me ensinar que tudo é possível e que até mesmo na pior situação

se pode buscar algo de bom, ao meu teimoso pai que sempre venceu as

adversidades com muita criatividade e jogo de cintura.

Aos meus colegas Policiais Militares, aos amigos de longa data e de recente

apresentação que tornaram mais fácil e agradável esse percurso.

E, finalmente, a todos que Deus de alguma forma colocou em meu caminho,

contribuindo para que eu chegasse até aqui, o meu MUITO OBRIGADO!

Page 5: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

“... para instituir um Estado democrático,

destinado a assegurar o exercício dos

direitos sociais e individuais, a liberdade, a

segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,

a igualdade e a justiça, como valores

supremos de uma sociedade fraterna,

pluralista e sem preconceitos, fundada na

harmonia social e comprometida, na ordem

interna e internacional, com a solução

pacífica das controvérsias...”.

(CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 -

Preâmbulo)

Page 6: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

RESUMO

A pesquisa versa sobre os principais aspectos e aspirações reivindicatórias dos

Policiais Militares Estaduais e do Distrito Federal no Brasil. Foi abordada a origem

das Policias Militares, os princípios e características do sistema Policial Militar de

maior relevância para entendermos como funcionam a nossas Policias Militares. Foi

feita uma análise das reivindicações ocorridas nos últimos anos em alguns Estados

Brasileiros e no Distrito Federal. Buscou mostrar que a falta de uma política social

para os Policiais Militares é prejudicial tanto aos Policiais Militares quanto para a

população, demonstra que a opressão sobre o trabalhador Policial Militar reflete na

atividade por ele exercida. Mostra as conseqüências da busca incessante por

direitos dados a outros trabalhadores e que são excluídos dos Policiais Militares

Estaduais e do Distrito Federal. Dessa forma, demonstra que o caminho

reivindicatório legal para os Policiais Militares é um direito necessário tanto para o

Policial Militar quanto para a sociedade por ele assistida.

Palavras-Chave: 1) Policia Militar; 2) Reivindicações; 3) Direitos.

Page 7: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

ABSTRACT

The research deals with the main aspects and aspirations of the Military Police

claims State and Federal District in Brazil. Addressed the origin of the Military Police

officers, the principles and characteristics of the military police system more relevant

to understand how they work to our Military Police officers. An analysis of the claims

occurred in recent years in some Brazilian states and the Federal District. Sought to

show that the lack of a social policy for the Military Police is harmful both to the

Military Police and to the population, shows that the oppression of the worker Military

Police reflects the activity carried on by him. Shows the consequences of the

relentless pursuit of rights given to other workers and are excluded from the Military

Police and State and Federal District. Thus, it demonstrates that the path of claims

legal for Military Police is a necessary right for both Military Police and to the society

he assisted.

Keywords: 1) Military Police, 2) Claims, 3) rights.

Page 8: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................9

2. ORIGEM DA POLICIA MILITAR .........................................................................10

2.1. A Polícia como órgão repressor do Estado...............................................11

2.2. A Polícia moderna como órgão social ......................................................12

3. A CLASSE POLICIAL MILITAR ..........................................................................13

3.1. A luta interna de Classes (Praças X Oficiais)............................................13

3.2. A luta da Classe (Praças e Oficiais) .........................................................13

4. LEGALIDADE E LEGITIMIDADE........................................................................14

4.1. Conceito de legalidade .............................................................................14

4.2. Conceito de legitimidade............................................................................15

5. EVENTOS REINVINDICATÓRIOS......................................................................16

5.1. Greve no Ceará ........................................................................................16

5.2. Greve na Bahia..........................................................................................16

5.3. Operação Tartaruga no Distrito Federal ...................................................17

6. PERSPECTIVAS E SONHOS MILITARES ........................................................18

6.1. A Desmilitarização Policial Militar..............................................................19

6.2. Equiparações de direitos trabalhistas .......................................................20

6.3. As mudanças necessárias ........................................................................21

7. CONCLUSÃO .....................................................................................................24

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................26

Page 9: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico tem como objetivo apresentar os aspectos

históricos da legitimidade das reivindicações Policiais Militares no Brasil, conferindo-

lhe importância para que seja feita uma análise crítica do nosso sistema Policial

Militar e, com isso, possam ser levantados os pontos positivos e negativos das

limitações de reivindicações por parte dos Policiais Militares. A pesquisa foi pautada

no artigo “Direito de Greve e a Hierarquia e a Disciplina” de autoria do Doutor

Marcos Orione Gonçalves Correa, e no artigo “Greve das Forças Auxiliares” de

autoria do Mestre Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, artigos estes que apresentam uma

nova abordagem histórica da evolução do Direito Policial Militar.

A pesquisa elaborada, por meio de análises históricas da evolução do

conceito e funções Policiais Militares ao longo de mais de 200 anos de sua

existência no Brasil, seu papel fundamental e sua nova inserção social no Brasil.

Foi abordada a condição de Policia Militar como força de controle do Estado

contra o povo e a evolução para força de apoio social para o povo.

Referenciarei a composição da classe Policial Militar, suas estruturas, divisões

e diferenças internas. A união para reivindicações de melhorias da classe como um

todo será relatada e explicada.

Os movimentos recentes e inovadores dentro das estruturas Policiais Militares

serão relatados com suas ações, negociações e resultados.

Ao final referenciaremos os avanços, melhorias sociais e qualidade de vida.

São necessárias, ainda, muitas mudanças para que os anseios, perspectivas e

sonhos Policiais Militares sejam alcançados. Tais mudanças para serem eficazes

devem ser adequadas à nova realidade social brasileira e estar em consonância

com o contexto global.

Page 10: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

2. ORIGEM DA POLÍCIA MILITAR

As Polícias Militares1 brasileiras têm sua origem nas Forças Policiais, que

foram criadas quando o Brasil era Império. A corporação mais antiga é a do Rio de

Janeiro, a “Guarda Real de Polícia” criada em 13 de Maio de 1809 por Dom João 6º,

Rei de Portugal, que na época tinha transferido sua corte de Lisboa para o Rio, por

causa das guerras na Europa, lideradas por Napoleão. Foi este decreto que

assinalou o nascimento da primeira Polícia Militar no Brasil, a do Estado da

Guanabara. Essa guarda era subordinada ao governador das Armas da Corte que

era o comandante de força militar, que, por sua vez, era subordinado ao intendente-

geral de Polícia.

Em 1830, Dom Pedro 1º abdica do cargo e Dom Pedro 2º, ainda menor, não

podia assumir o poder, de forma que o Império passou a ser dirigido por regentes,

que não foram muito bem aceitos pelo povo que os consideravam sem legitimidade

para governar. Começaram em todo o País uma série de movimentos

revolucionários, colocando-se contra o governo destes regentes, como a Guerra dos

Farrapos, no Rio Grande do Sul, a Balaiada, no Maranhão e a Sabinada, na Bahia.

Estes movimentos foram considerados “perigosos” para a estabilidade do

Império e para a manutenção da ordem pública e por causa desta situação, o então

Ministro da Justiça, padre Antonio Diogo Feijó, sugeriu que fosse criado no Rio de

Janeiro (capital do Império) um Corpo de Guardas Municipais Permanentes. A idéia

de Feijó foi aceita e no dia 10 de outubro de 1831 foi criado o Corpo de Guardas do

Rio de Janeiro, através de um decreto regencial, que também permitia que as outras

províncias brasileiras criassem suas guardas, ou seja, as suas próprias Polícias. E a

partir de 1831, vários estados aderiram à idéia e foram montando suas próprias

polícias.

A partir da Constituição Federal de 1946, as Corporações dos Estados (as

antigas guardas) passaram a ser denominadas POLÍCIA MILITAR, com, exceção do

Estado do Rio Grande do Sul que preferiu manter, em sua força policial, o nome de

Brigada Militar, situação que perdura até hoje.

1 Emenda Constitucional n° 18, de 5 de fevereiro de 1998.

Page 11: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

Mas mesmo antes da vinda da família real ao Brasil, havia o que os

historiadores consideram a mais antiga força militar de patrulhamento. Ela surgiu em

Minas Gerais em 1775, originalmente como Regimento Regular de Cavalaria de

Minas, criado na antiga Vila Velha (atual Ouro Preto). A então “PM” de Minas Gerais

(paga pelos cofres públicos) era responsável pela manutenção da ordem pública, na

época, ameaçada pela descoberta de riquezas no Estado, especialmente o ouro.

2.1 A Polícia como órgão repressor do Estado

Ao longo de mais de 200 anos da história das organizações Policiais no Brasil

estas organizações estiveram voltadas para a proteção do Estado contra a

sociedade. Em outras palavras, desde que foram criadas, até mais ou menos a

década de 1970, elas foram, por força de lei, forçadas a abandonar o seu lugar de

Polícia em favor de outro lugar, que é de instrumento de imposição da ordem vinda

do Estado. O fazer policiamento significando defender o Estado contra o cidadão é

algo que está bastante claro na farta documentação histórica, legal e formal

existente. Assim, o processo de afastamento da Polícia com relação à sociedade se

dá desde a fundação das organizações Policiais. A idéia que se tinha, e que vigorou

por um bom tempo, é que as organizações Policiais deveriam se proteger de uma

sociedade insurreta, rebelde e isso poderia contaminá-la ou poluí-la. Não foi apenas

o processo de militarização recente da segurança pública que afastou a Polícia da

comunidade, como se costuma dizer, mas a disciplinarização da sociedade, o

esforço de uma lógica liberal autoritária, tanto em relação a ela, como em relação às

organizações Policiais. Isso se refletiu na crise de identidade das organizações

policias hoje, no Brasil contemporâneo da redemocratização. As organizações

Policiais, basicamente as ofensivas, foram por força da lei abandonando o lugar de

Polícia, das atividades cotidianas e foram se dedicar a atividade de força

combatente.

Ao invés da ordem pública e ordem social serem algo constituído pela

sociedade, algo legítimo e legal, ela foi constituída de forma impositiva, de cima para

baixo. A história das Polícias modernas e contemporâneas é muito clara, trata-se de

um momento decisivo, que surge de um desafio: como produzir paz com paz; como

construir alternativas pacíficas de obediência à lei num estado liberal; como

Page 12: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

administrar conflitos de natureza civil, e não bélica, no interior da vida em sociedade.

O que está na base da ferramenta Polícia é a conquista e ampliação dos direitos

sociais, políticos e civis. Populações foram para as ruas para se opor à presença do

exército nas ruas, e hoje ainda vemos atores ou segmentos defendendo de forma

conservadora e imprudente a presença das forças combatentes na gestão e

administração da segurança pública.

2.2 A Polícia moderna como órgão social

As Polícias Militares realizam a alguns anos projetos sociais de caráter

educativo e de inserção social, a fim de aproximar a corporação da comunidade

local. Policiais executam programas que vão desde assistência aos portadores de

necessidades especiais até trabalhos de educação preventiva.

É por meio de programas como o PROERD em que o objetivo maior é

enfatizar a prevenção ao uso das drogas e à violência entre crianças e

adolescentes. O programa busca auxiliar os jovens na resistência às pressões

diretas ou indiretas que os influenciam a experimentar drogas. Os instrutores do

Proerd são Policiais Militares voluntários, capacitados pedagogicamente para

desenvolver o trabalho nas escolas, em parceria com pais, professores, alunos e

comunidade. Participam crianças da rede pública e privada de ensino por meio de

aulas semanais, ao longo de um semestre letivo, contando sempre com a presença

do professor em sala que esclarece criança e adolescentes sobre os perigos do

consumo de drogas.

Existem ainda programas de educação no trânsito que tem como principal

objetivo a educação de crianças para o trânsito, estimulando a consciência crítica

dos futuros motoristas. As crianças são educadas a se comportarem com segurança

nas pistas e rodovias, não só como pedestres, mas como futuros condutores de

veículos. Há também programas com a utilização da Equoterapia com atendimento

gratuito e personalizado destinado às pessoas da comunidade que sejam portadoras

de deficiência física ou mental. A Polícia Militar, além de oferecer a estrutura, dispõe

de seus cavaleiros e dos animais para contribuir com o tratamento das crianças

melhorando seu processo cognitivo, desta forma as corporações aproximam-se cada

Page 13: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

vez mais da população tornando-se um órgão que ajuda na formação social do

cidadão.

3. A CLASSE POLICIAL MILITAR

3.1. A luta interna de Classes (Praças X Oficiais)

A existência de classe dentro de órgãos públicos e órgãos privados são

naturais e necessários para a vida de uma empresa, a necessidade de hierarquia e

disciplina deve existir em qualquer sociedade, entretanto deve haver limite na

aplicação destes preceitos. É notório que dentro das instituições militares essas

classes são divididas de forma mais distinta ainda, semelhantes e comparadas até

mesmo às castas indianas. A submissão dos Praças sempre foi tão grande que, até

a Constituição de 1988, os Praças não tinham sequer o direito ao sufrágio universal.

São comuns os relatos de trabalhos pessoais para agrado de Oficiais por

parte de alguns Praças e até mesmo Oficiais de menos patente, sob o pálio do

assédio moral dos seus superiores hierárquico ou até como moeda de troca por

escalas e serviços considerados mais agradáveis. Como no regime das castas, a

servidão do militar para com os militares mais antigos não existe no papel, porém

ainda existe no costume da caserna.

3.2 A luta da Classe (Praças e Oficiais)

A modernização das Polícias Militares e o aumento do grau de instrução dos

seus integrantes vêm transformando a instituição e seus componentes. A

contemporaneidade das instituições traz novos comportamentos aos Policiais

Militares como um conjunto. A união entre Praças e Oficiais, coisa antes

inimaginável vem acontecendo com um objetivo comum, as melhorias institucionais,

remuneratórias, coletivas e pessoais. Muitos movimentos já se instalaram no Brasil,

mas acabavam esbarrando na própria “rivalidade” entre Praças e Oficiais, o que

culminava no fracasso dos pleitos. Hoje a união dessas duas Classes fomenta

resultados de reivindicações que agradem a gregos e troianos.

Page 14: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

A conscientização política e social das Classes Policiais Militares tem

culminado em manifestações sociais e políticas em todo o Brasil, mesmo com o

entrave e proibições de sindicalização e de greve, os movimentos reivindicatórios

explodem por todo o Brasil, a exemplos da greve no Ceará, greve na Bahia e a

Operação Tartaruga no Distrito Federal, onde se demonstra a união e as pretensões

da classe.

4. LEGALIDADE E LEGITIMIDADE

As forças auxiliares segundo o art. 144, § 6.º, da CF, são constituídas pelas

Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, e seus integrantes devem

obediência ao Governador do Estado e do Distrito Federal. Por disposição do art.

144, § 5.º, a Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar são responsáveis nas

cidades e nos Estados-membros da Federação pelo policiamento ostensivo e

preventivo, que é exercido com exclusividade por essas corporações.

Os integrantes das forças auxiliares assim como ocorre com os integrantes

das forças armadas estão sujeitos ao princípio da hierarquia e da disciplina,

sujeitando-se pelo seu descumprimento as penalidades previstas em lei. Mas,

acontece que alguns integrantes destas corporações desrespeitando a vedação

constitucional ao direito de greve, art. 142, § 3.º, inciso IV c.c. art. 42, § 1.º, da CF,

estão praticando atos que ferem a ordem pública e tranqüilidade.

Por outro lado, é inegável que o Policial Militar é, antes de tudo, um

assalariado e, como tal, tem o direito de se expressar e de reivindicar melhores

condições de trabalho, falando, igualmente, da liberdade sindical, lembra que a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, em seu artigo 23, § 4º,

dispõe: “Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a

proteção de seus interesses”2.

4.1 Conceito de legalidade

É intuitivo que legal é tudo que obedece ou não contraria a lei, observando a

hierarquia da pirâmide normativa kelseniana, em cujo ápice encontra-se a Lei Maior.

2 Direito do trabalho. 13. ed. Coimbra: Almedina, 2008, p. 672-685.

Page 15: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

Por outras palavras, é legal todo ato que encontra amparo no ordenamento jurídico,

este entendido como o sistema de normas que rege a sociedade.

4.2 Conceito de legitimidade

O conceito jurídico medieval de legitimidade era utilizado para “a defesa da

usurpação e tirania”, professa Niklas Luhmann3, mas perde a sua fundamentação

moral com a positivação do direito, no século XIX. “Hoje ele significa a convicção,

realmente divulgada, da legitimidade do direito, da obrigatoriedade de determinadas

normas ou decisões, ou do valor dos princípios que as justificam”.

Por outro lado, Niklas Luhmann4 esclarece que a legitimação pelo

procedimento não se dá por intermédio do Direito Processual, mas pela “...

transformação estrutural das expectativas, através do processo efetivo de

comunicação, que decorre em conformidade com os regulamentos jurídicos; trata-

se, portanto do acontecimento real e não duma relação mental normativa”.

Muitas das reivindicações salariais foram atendidas, após intenso processo

de negociação coletiva, com representantes das categorias dos Policiais Militares e

dos governantes. Vale dizer, o próprio Governo ao conceder anistia aos grevistas,

promover a negociação coletiva e atender as reivindicações (ainda que

parcialmente) do movimento paredista, na prática, terminou por lhe conferir

legitimidade5, posto que o art. 142, IV da Lei Fundamental, veda expressamente a

greve de Policiais Militares. A propósito, Hans Kelsen já dizia que uma norma só

pode ser considerada vigente se ela contar com um mínimo de observância pelo

Poder Público e pelos cidadãos em geral.

5. EVENTOS REINVINDICATÓRIOS

3 Legitimação pelo procedimento. Tradução de Maria da Conceição Côrte-Real. Brasília: Editora Universidade de Brasília,

1980, p. 29.

4 Ob. cit., p. 35.

5 “... Art. 2º - É concedida anistia aos policiais e bombeiros militares do Rio Grande do Norte, Bahia, Roraima, Tocantins,

Pernambuco, Mato Grosso, Ceará, Santa Catarina e Distrito Federal punidos por participar de movimentos reivindicatórios por

melhorias de vencimentos e de condições de trabalho ocorridos entre o primeiro semestre de 1997 e a publicação desta Lei. Art.

3 º - A anistia de que trata esta Lei abrange os crimes definidos no Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal

Militar), e as infrações disciplinares conexas, não incluindo os crimes definidos no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de

1940 (Código Penal), e nas leis penais especiais.”

Page 16: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

5.1 Greve no Ceará

No dia 04 de Janeiro de 2012 foi encerrada uma greve que durou 6 (Seis)

dias. Durante o período de paralisação lojas, bancos, escolas e até a prefeitura de

Fortaleza encerraram expediente alegando falta de segurança. O fim da mobilização

feita por Policiais Militares e Bombeiros Militares se findou após uma reunião de 5

horas entre os lideres do movimento e representantes do Governo e do Ministério

Público. O Policial Militar no Estado do Ceará percebia uma remuneração de

R$1.600,00 (mil e seiscentos reais), pouco mais que dois salários mínimos (R$

622,00), após a reunião ficou acertado o reajuste de 56%, com a incorporação da

gratificação de R$ 920 ao salário-base, além de anistia geral aos Policiais e

Bombeiros que participaram das paralisações. Os Policiais conseguiram ainda a

redução de jornada de trabalho de 46 horas para 40 horas semanais. Trabalhador

algum (regularizado) presta um serviço superior a 44 horas semanais sem uma

devida compensação (hora extra). Os Policiais Militares além de trabalharem uma

jornada inconstitucional, ainda “concorrem” a serviços extraordinários sem a

percepção de remuneração ou gratificação, o que transforma essas 46 horas

semanais em 50 horas, 52 horas, 54 horas, chegando ao absurdo de trabalharem 24

horas por 24 horas de folga, algo em torno de 72 horas semanais.

5.2 Greve na Bahia

No Mês de Fevereiro de 2012 ocorreu uma greve no Estado da Bahia, neste

período o índice de criminalidade obteve uma alta de aproximadamente 106% em 10

(dez) dias de paralisação, lojas, comércio e até mesmo eventos ligados ao carnaval

foram cancelados por decorrência da insegurança gerada pela paralisação da

categoria Policial Militar6. Esta paralisação objetivava a incorporação de gratificações

6 “Em uma nova assembléia realizada na noite deste sábado, 11, os policiais militares da Bahia decidiram acabar com a

greve que já durava 12 dias no Estado. A categoria aceitou a proposta de 6,5%, retroativa a janeiro passado, feita pelo governo.

Também foi aceita a proposta do pagamento da GAP - Gratificação por Atividade Policial - a partir de novembro próximo.

Segundo o comando geral da PM, 100% do efetivo da polícia já se encontra em atividade. [...] Depois de 12 dias da greve dos

policiais militares, deflagrada inicialmente pela Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), os mesmos

PMs ligados à entidade decidiram pôr fim à resistência grevista por parte dos associados. O anúncio foi feito pelo porta-voz da

Aspra, soldado PM Ivan Leite, que passou a integrar a comissão grevista depois da prisão do dirigente da associação, o ex-PM

Marco Prisco, que está na Cadeia Pública. De acordo com Ivan, o ponto crucial para a decisão dos associados à Aspra teria sido

a proposta que o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, teria anunciado na última sexta-feira, de anistiar

Page 17: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

que se perdem no ato da passagem para a Reserva (aposentadoria) do Policial

Militar, cerca de R$ 600,00 (seiscentos reais), solicitava também a anistia dos

grevistas e adequação de cargas horárias conforme insatisfação recorrente em

todas as Forças Auxiliares, (nenhuma Força Estadual possui regulamentação de

carga horária), o que também faz com que aconteçam as jornadas exacerbadas

ocorridas no Ceará e em todo o território Nacional. O Governo da Bahia mesmo

informa que este é o décimo movimento da categoria, atestando que não houve

diálogo e que apenas com uma manifestação de tal porte, o Governo veio a entrar

em negociação com os Policiais e Bombeiros Militares. Especialista afirmou que o

governo da Bahia está jogando a mídia contra a PM, o que seria uma forma de

mascarar um longo período de falhas da própria administração frente ao setor.

Conforme o professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Reginaldo de Souza Silva, "Isso foi

só um estopim. O problema vem se estendendo durante décadas e agora o

governo joga a mídia contra os Policiais mesmo tendo condições de pagar

bons salários, tanto para eles como para os professores. Enquanto isso, a

Força Nacional está tratando os Policiais como bandidos, cachorros...". O caso

ocorrido na Bahia retrata com as Forças Auxiliares são esquecidas pelo fato de não

possuírem legalmente uma forma de reivindicação para seus pleitos, sendo

obrigadas a recorrem a forma ditas ilegais, porém legítimas de reivindicação.

5.3 Operação Tartaruga no Distrito Federal

No dia 15 de fevereiro de 2012 foi deflagrado um movimento reivindicatório

por parte dos Policiais Militares do Distrito Federal, Movimento este denominado

OPERAÇÃO TARTARUGA. O movimento não pregava nenhuma ilegalidade,

apenas recomendava que se trabalhasse estritamente de acordo com as normas do

Estado, tais ações eram: não trafegar acima do limite de velocidade estipulados

pelas vias públicas, atender às ocorrências apenas com sua geração legal pelo

Central Integrada de Atendimento e Despacho (190); atuar espontaneamente

somente em casos de flagrante delito; não aplicar notificações de trânsito e

administrativamente os militares que faltaram ao serviço nos dias de greve.” (In ADAILTON, Franco. Policiais votam fim da greve

em assembléia. A tarde, Salvador, 11 fev. 2012, Cidades. Disponível em: <http://www.atarde.com.br/noticia.jsf?id=5809224>.

Acesso em: 11 fev. 2012.).

Page 18: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

sim orientar o condutor educativamente; não efetuar abordagens preventivas

(abordagem é um ato discricionário); e em caso de crime já consumado,

orientar o ofendido a procurar o Órgão competente para investigação de crime

já ocorrido (Polícia Civil). Durante o período de deflagração da Operação

Tartaruga o índice de Homicídios se elevou em 46%, o objetivo da Operação era

mostrar a importância do serviço Policial Militar diante da discrepância remuneratória

vivida dentro da Secretária de Segurança Pública do Distrito Federal, onde os

Praças Militares possuem remuneração de aproximadamente R$3.900,00 iniciais e

R$7.000,00 no topo da carreira e os representantes de Detran e Polícia Civil

possuem remuneração aproximada de R$7.500,00 iniciais e R$12.500,00 no topo da

carreira. Os Militares reivindicavam que se aplicasse uma paridade entre os órgãos

de Segurança Pública do Distrito Federal, ainda a criação de um plano de carreira

que contemplasse todo o seu efetivo, pois hoje apenas uma minoria consegue

atingir o topo da carreira.

A Operação Tartaruga terminou em 12 de abril de 20127, após a promessa de

estudo por parte do Governo do Distrito Federal em programar um possível

nivelamento remuneratório com os outros Órgãos de Segurança Pública.

6. PERSPECTIVAS E SONHOS MILITARES

O Militar Estadual é um Servidor Público como qualquer outro, regido por um

estatuto, remunerado pelos Cofres Públicos e obteve seu ingresso no Serviço

Público através de concurso público como qualquer outro servidor de carreira de

Estado, porém o Militar Estadual sofre com serviços extraordinários não

remunerados, escalas desumanas de trabalho e um arcaico Regulamento Disciplinar

das Forças Armadas. O referido Regulamento preceitua a prática de prisões

disciplinares sem o direito a ampla defesa e ao contraditório e nele não se aplicam

7 “Nesta terça (10) uma reunião entre o governo do Distrito Federal e representantes dos oficiais da Polícia Militar do Distrito

Federal (PMDF) termina em acordo, após 55 dias de Operação Tartaruga (veja matéria). Os representantes do GDF se

comprometeram a atender à pauta de reivindicações dos praças e oficiais da PM e Corpo de Bombeiros Militar (CBM) do DF, que

por seu turno garantiram que os trabalhos serão normalizados.” (NOVAIS, Daniela. Fim da Operação Tartaruga: GDF e

PM/CBM-DF fecham acordo. Câmara em pauta, Brasília, 11 abr. 2012. Disponível em:

<http://camaraempauta.com.br/portal/artigo/ver/id/2481/nome/Fim_da_Operacao_Tartaruga__GDF_e_PM_CBM-

DF_fecham_acordo/termo/Seguran%C3%A7a>. Acesso em: 02 ago. 2012.).

Page 19: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

os remédios constitucionais com o Habeas Corpus, o que fere os ditames da nossa

Carta Magna. Os Praças Militares Estaduais em sua maioria não possuem sequer

uma expectativa de progressão funcional, permanecendo estagnados em seus

cargos iniciais do ato de sua posse ao ato de sua passagem para a reserva

remunerada, a luta por um plano de carreira é bicentenária, tendo em vista a criação

da Policia Militar em 1809.

6.1 A Desmilitarização Policial Militar

Na Constituição Brasileira existem diversas organização policiais autônomas

com diferentes áreas de atuação (Policia Federal, Policia Rodoviária Federal, Policia

Ferroviária Federal, Policia Militar, Policia Civil, Guardas Metropolitanas e Policias

Legislativas), porém apesar dessa diversa quantidade de entidades o entendimento

e a cooperação entre elas é bem reduzido e desintegrado.

Com o objetivo de integrar o sistema policial existe a corrente da

desmilitarização das Policias Militares. Essa desmilitarização traria, além da

integração com Policia Civil com a troca de informações, a integração com a

população, tendo em vista que o termo Militar traz um ranço da Ditadura Militar

afastando a comunidade da Policia Militar. A função das Polícias Militares é prestar

serviços ao seu próprio povo. Já o fato de estar instalada em quartéis e ser, por isso,

de difícil acesso, afastam essas Polícias do povo. A par disso, as graduações

militares de seus membros e o uso de fardamento militar, em lugar de um uniforme

civil, lembram muito mais um exército do que uma Polícia, sendo também um fator

de distanciamento. Constitucionalmente cabe a Polícia Militar efetuar o Policiamento

Ostensivo e a preservação da Ordem Pública, sendo desta forma a Polícia Militar

quem detém o contato mais imediato com a sociedade. Elas são, portanto, serviços

públicos essenciais, ligados à manutenção da ordem pública interna, sendo de sua

responsabilidade uma constante ação de vigilância e prevenção, devendo fazer-se

visíveis dia e noite, a fim de impedir a existência de situações que sejam propícias à

quebra da ordem legal e à ofensa aos direitos que ela consagra.

Outra importância da desmilitarização seria a conquista de direitos que

qualquer outra categoria de trabalhadores possui como carga horária

Page 20: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

regulamentada, percepção de adicionais como insalubridade, risco de morte, horas

extras, possibilidade de manifestação, sindicalização e outras conquistas percebidas

por todas as classes de servidores.

Os experientes e preparados Policiais, que formam a maioria do corpo,

certamente saberão exercer suas funções sob a disciplina civil. Continua sendo um

paradoxo, todavia, que os Policiais Militares sejam tratados como essenciais apenas

nos deveres, não na remuneração, caso também observado em outros profissionais

como os da área da saúde e da educação.

6.2 Equiparações de direitos trabalhistas

Existe uma grande diferença entre os direitos do Policia Militares e do outros

servidores de carreira de Estado. Uma das maiores incoerências está na

inexistência de uma carga horária predefinida para os Militares Estaduais. No caso

da Polícia Militar do Estado de Sergipe, por exemplo, os cavalos têm carga horária

estabelecida em seis horas diárias de serviço e não há nenhuma regulamentação

quanto à carga horária máxima do Policial Militar, o Major Adriano Reis8 da Policia

Militar do Estado de Sergipe, alega que a cada 24 horas de serviço deverá ter 48

horas de folga, mas faz uma ressalva, “Se possível, se o Estado quiser. Se possível,

se o policial aguentar e suportar a carga de trabalho. É isso que a gente quer que o

Estado entenda. Não pode o Militar trabalhar de forma sobre-humana. É

humanamente impossível percorrer um percurso de 8 km prendendo, abordando,

nas condições estressantes e depois trabalhar 40, 70 ou 80h numa semana só. A

carga horária precisa ser definida”. Outra anomalia é a ausência do direito a um

auxilio alimentação, sujeitando os Policiais Militares a se alimentarem de

“quentinhas” fornecidas pela própria corporação, alimento esse muitas vezes de

qualidade duvidosa.

Situações como estas ferrem os direitos fundamentais de nossa Carta Magna,

Diz o Prof. UADI LAMÊGO BULOS sobre direitos fundamentais9, “Por isso é que

eles são, além de fundamentais, inatos, absolutos, invioláveis, intransferíveis,

irrenunciáveis e imprescritíveis, porque participam de um contexto histórico,

8 Disponível em: <http://www.f5news.com.br/noticia.asp?ContId=2953> Acesso em: 02 ago 2012

9 Constituição Federal Anotada, p. 69.

Page 21: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

perfeitamente delimitado. Não surgiram à margem da história, porém, em

decorrência dela, ou melhor, em decorrência dos reclamos da igualdade,

fraternidade e liberdade entre os homens. Homens não no sentido de sexo

masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os direitos fundamentais do

homem nascem, morrem e extinguem-se. Não é obra da natureza, mas das

necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a depender do influxo do fato

social cambiante.”

6.3 As mudanças necessárias

Patentes como as instituições Policiais Militares foram e têm sido utilizada

pelas várias formas de poder ao longo do tempo, desde os donatários do Brasil

colônia, quando esta força ainda não se fazia perfeitamente estruturada, e, logo em

seguida, pelo coronelismo e outrem.

A Polícia Militar foi criada a partir de uma confusão entre o público e o

privado; por último foi cooptada pelas forças armadas (diga-se golpe militar de

1964). As agências de segurança nesse período foram permeadas pela persistente

“doutrina de segurança nacional”, que prega o combate aos inimigos fora dos muros

dos quartéis, afastando as instituições de Polícias Militares ainda mais do povo. Com

a redemocratização do País, para as policias Militares coube o papel de

administração da pobreza. Mesmo com o advento da Constituição Cidadã de 1988,

era necessário conter as massas de excluídos que cobravam participação nos bens

de consumo do mundo capitalista, cabendo às Polícias Militares quase sempre o

papel de preservarem e reforçarem os privilégios das elites, daí, torna-se fácil

percebermos que “embaixo de toda coroa existe uma cabeça”. Ao mesmo tempo em

que a força Policial Militar é utilizada para reprimir os movimentos sociais, os seus

integrantes também eram reprimidos dentro do intransponível muro dos quartéis.

Acreditavam-se, nos idos dos tempos, não haver espaço de manobra para quem

havia escolhido essa carreira, o seu ainda arcaico regulamento “aponta a todo

tempo para o Militar como se fosse o dedo de Deus”, na caserna “ordem dada é

ordem cumprida”, o enquadramento do Policial Militar não lhe deixa lutar pelos seus

direitos, convertendo-o em um não-cidadão.

Page 22: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

O militarismo reproduzido por muito tempo nas escolas de formação Policial

Militar era o principal responsável por essa adequação de postura opressora, o baixo

grau de escolaridade dos seus outrora integrantes não lhes permitia enxergar por

trás da cortina de fumaça que envolve o nosso tecido social, pouco crédito era dado

a essa profissão, até que os espaços públicos começaram a ser segregados pelo

fenômeno da violência.

Viram-se, portanto, comunidades inteiras reféns da criminalidade, o que alçou

a Polícia Militar aos vários olhares da sociedade, inclusive ao seu próprio espelho,

sendo por muitas vezes a primeira instituição a chegar aos grotões do nosso País,

em dado momento em que não se tinha quase nenhum serviço básico, lá estava à

face fardada do Estado, para administrar todo tipo de problema de ordem social, e

não só os de segurança pública. De tal modo, absorvendo quase sempre a

hostilidade dos despossuídos, e sendo humilhada quando tentava aplicar a lei à

classe burguesa. Mas as cobranças sociais, aliadas às novas levas de Policiais

Militares com nível de instrução elevado fizeram soprar os ventos das mudanças

dentro dos muros dos quartéis.

Vários projetos pedagógicos foram simultaneamente aplicados, no sentido de

reconstruir uma nova identidade para os profissionais da segurança pública, agora

se pautando no respeito aos direitos humanos e elegendo as Polícias a serem

guardiãs desse mesmo direito, assim trazendo o policial a uma nova reflexão acerca

dos seus deveres e também dos seus direitos. A possibilidade de associação

prevista na Constituição Federal de 1988 possibilitou ao Policiai Militar reivindicar

direitos básicos inerentes a qualquer cidadão, as poucas armas que o Estado

democrático de direito nos deu estão sendo utilizadas com pertinência, o que muito

certamente contraria os interesses de quem sempre usou as instituições Policiais

Militares para satisfação de aspirações pessoais e políticas.

Page 23: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

7. CONCLUSÃO

As greves das Polícias Militares constituem um fato social que merece

avaliação cuidadosa.

Todos sabem que a Constituição proíbe a greve aos militares, no que, aliás,

está muito correta. O problema é que os Policiais Militares são, para todos os

efeitos, equiparados aos membros das Forças Armadas. Mais do que isso, as

próprias Polícias Militares são consideradas forças de reserva do Exército e estão,

em última instância, a ele subordinadas. Então, é como se os Policiais Militares não

fossem policiais, mas "militares". Tratamos, aqui, de entulho autoritário que precisa

ser removido. Policiais - militares ou civis - são trabalhadores como quaisquer outros

e precisam dos mesmos direitos trabalhistas. Em se tratando de serviço essencial,

eventuais greves devem obedecer ao imperativo de manutenção dos serviços

emergenciais - como ocorre na área da saúde, por exemplo.

Recusar aos Policiais Militares o direito à sindicalização e a outras garantias

básicas da convivência democrática é erro de gravíssimas conseqüências.

De plano, a vedação transforma qualquer manifestação reivindicatória - ainda

que pacífica e ordeira - em infração disciplinar e mesmo em crime militar; o que as

empurra para a ilegalidade e para os "desvios secundários" desta condição (como,

por exemplo, o anonimato, as práticas conspiratórias, etc.). Sem a experiência de

uma cidadania plena e submetidos, não raro, há relações de desmando e de

humilhação por seus superiores, os Policiais Militares vivem a condição da

desigualdade e da violência em suas próprias corporações e é nesta linguagem que

são (de)formados. A conta será paga em cada abordagem policial, como de

costume, pela população mais pobre, pelos negros e pelos suspeitos de sempre. O

ponto que desejo destacar aqui, entretanto, é que a democracia brasileira não entrou

nas Policias Militares e nela não entrará enquanto o modelo de Polícia que temos

não for profundamente alterado.

Enganam-se os que pensam que as greves dos Policiais Militares no Brasil

expressam tão-somente demandas salariais. Os salários nada essenciais pagos aos

praças, assim como aos Policiais Civis que não são Delegados, são, é claro, o tema

emergencial. Mas, para, além disso, os trabalhadores da segurança pública querem

Page 24: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

ser ouvidos e estão em busca de respeito. Alguns entre eles, por desespero ou

oportunismo, cometem neste processo atos inaceitáveis que devem merecer a

devida resposta jurídica. Mas não se pode "enquadrar" as aspirações de centenas

de milhares de Policiais aos atos reprováveis praticados por uma ou outra liderança -

que, possivelmente, nunca teriam alcançado protagonismo em uma dinâmica de

mobilização sindical.

A condição humana dos Policiais brasileiros tem sido historicamente aviltada.

Não apenas pelo descaso dos governantes - sempre sensíveis aos pleitos dos

poderosos e daqueles que estão no topo da pirâmide salarial - mas também por um

modelo de Polícia ineficiente e irracional que não oferece aos bons Policiais

qualquer perspectiva de dignidade e reconhecimento. O que as greves das Polícias

estão nos dizendo é que a paciência do "andar de baixo" - pelo menos nas Polícias -

se esgotou. O que, desde uma perspectiva histórica, costuma ser uma boa notícia.

Nessa dimensão evolutiva, os Policiais Militares por certo não enxergam mais

no espelho o reflexo dos seus superiores hierárquicos, como dita o jargão nos

ambientes dos quartéis que o comandante é o espelho da tropa. Ora o que o Policial

Militar vê refletido no espelho é a sua própria imagem enquanto sujeito da sua

própria ação. O farol está apontando para a direção das mudanças, apesar de não

podermos aproximar demais o fogo do estopim, pois não sabemos o quanto de

pólvora existe no barril. É verdadeiro que as instituições demandam tempo para

suas mudanças necessárias. A história irá se encarregar de analisar as digitais dos

que fomentaram essas mudanças.

Desta forma fica a demonstração da necessidade de habilitação de igualdade

de direito aos Policiais Militares, igualdade essa que trará benefícios tanto ao

Servidor quanto a sociedade.

Ceifar os Policiais Militares dos direitos básicos inerentes a todo e qualquer

cidadão é instituir uma qualidade insatisfatória de prestação de serviço executada

por tal profissional, um servidor que atua em diversas áreas do conhecimento

merece respeito e dignidade, para dessa forma prestar um serviço de excelência a

população que é assistida por esse cidadão, que além de profissional é um ser

humano com qualquer outro.

Page 25: Artigo - Legitimidade das Reivindicações Policiais Militares 2012

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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