artigo laboratório

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105 Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003 ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE RIALA6/946 Simões, M. et al. - O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratório de Saúde Pública no período de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003. RESUMO. A saúde dos trabalhadores tem merecido atenção do Sistema Nacional de Saúde e de organizações internacionais. Este estudo teve como objetivo avaliar os 38 acidentes registrados no período de maio de 1998 a maio de 2002 num laboratório de saúde pública, a relação com o não uso ou o uso inadequado de EPIs e EPCs pelos funcionários e a quantidade de horas trabalhadas pelos profissionais quando da ocorrência dos acidentes. Os dados foram obtidos nas fichas de registro de acidentes de trabalho elaboradas pelo grupo de biossegurança local e preenchidas durante entrevista com os acidentados. Os acidentes foram agrupados segundo a sua natureza, em cinco categorias: queimaduras (calor, frio, ácido); pérfuro-cortantes; amostras biológicas; transporte de amostras; incêndios. Foram registrados 38 acidentes envolvendo 30 pessoas, sendo: 7 casos (18,42%) em 1998 (maio a dezembro); 10 (26,32%) em 1999; 7 (18,42%) em 2000; 7 (18,42%) em 2001 e 7 (18,42%) em 2002 (janeiro a maio). O acidente mais freqüente (37%) ocorreu com amostras biológicas, seguido pelos pérfuro-cortantes (24%). Os EPIs estavam sendo utilizados de maneira incorreta ou incompleta em 22 dos acidentes relatados. Conclui-se, portanto, que é de fundamental importância a prevenção de acidentes frente a situações de risco em laboratório, e que a conscientização e responsabilidade na observação das normas de biossegurança envolve os profissionais em todos os níveis. PALAVRAS CHAVES. biossegurança, laboratório, acidentes, EPIs, EPCs. Endereço para correspondência: 1 Instituto Adolfo Lutz - Laboratório Regional de Campinas, Campinas, SP; 2 Instituto Adolfo Lutz - Laboratório Central de São Paulo, São Paulo, SP. O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratório de saúde pública no período de maio de 1998 a maio de 2002 Marise SIMÕES 1 Eneida Gonçalves LEMES-MARQUES 1 Paulo Flávio Teixeira. CHIARINI 1 Maria de Fátima Costa PIRES 2 Individual and collective protection equipments (IPE and CPE) wearing in a health public laboratory accidents from may 1998 to may 2002

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    Rev. Inst. Adolfo Lutz,62(2): 105 - 109,2003 ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

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    Simes, M. et al. - O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentesocorridos em um laboratrio de Sade Pblica no perodo de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. AdolfoLutz, 62(2): 105 - 109,2003.RESUMO. A sade dos trabalhadores tem merecido ateno do Sistema Nacional de Sade e deorganizaes internacionais. Este estudo teve como objetivo avaliar os 38 acidentes registrados no perodode maio de 1998 a maio de 2002 num laboratrio de sade pblica, a relao com o no uso ou o usoinadequado de EPIs e EPCs pelos funcionrios e a quantidade de horas trabalhadas pelos profissionaisquando da ocorrncia dos acidentes. Os dados foram obtidos nas fichas de registro de acidentes detrabalho elaboradas pelo grupo de biossegurana local e preenchidas durante entrevista com os acidentados.Os acidentes foram agrupados segundo a sua natureza, em cinco categorias: queimaduras (calor, frio,cido); prfuro-cortantes; amostras biolgicas; transporte de amostras; incndios. Foram registrados 38acidentes envolvendo 30 pessoas, sendo: 7 casos (18,42%) em 1998 (maio a dezembro); 10 (26,32%) em1999; 7 (18,42%) em 2000; 7 (18,42%) em 2001 e 7 (18,42%) em 2002 (janeiro a maio). O acidente maisfreqente (37%) ocorreu com amostras biolgicas, seguido pelos prfuro-cortantes (24%). Os EPIs estavamsendo utilizados de maneira incorreta ou incompleta em 22 dos acidentes relatados. Conclui-se, portanto,que de fundamental importncia a preveno de acidentes frente a situaes de risco em laboratrio, eque a conscientizao e responsabilidade na observao das normas de biossegurana envolve osprofissionais em todos os nveis.

    PALAVRAS CHAVES. biossegurana, laboratrio, acidentes, EPIs, EPCs.

    Endereo para correspondncia:1 Instituto Adolfo Lutz - Laboratrio Regional de Campinas, Campinas, SP;

    2 Instituto Adolfo Lutz - Laboratrio Central de So Paulo, So Paulo, SP.

    O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratrio de

    sade pblica no perodo de maio de 1998 a maio de 2002

    Marise SIMES 1Eneida Gonalves LEMES-MARQUES 1

    Paulo Flvio Teixeira. CHIARINI 1Maria de Ftima Costa PIRES 2

    Individual and collective protection equipments (IPE and CPE) wearingin a health public laboratory accidents from may 1998 to may 2002

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    INTRODUO

    A sade dos trabalhadores, em relao s suas respectivasatividades profissionais, tem merecido uma ateno progressivado Sistema Nacional de Sade e de organizaes internacionaiscomo a Organizao Mundial de Sade, a Organizao Internacionaldo Trabalho e as Comunidades Europias. Uva e Faria14 descrevemrisco profissional como a possibilidade de que um trabalhadorsofra um dano provocado pelo seu trabalho, sendo este danopatologias ou leses sofridas por ele em motivo deste trabalho oudurante o mesmo. Costa4 define acidente como toda ao noprogramada, estranha ao andamento normal do trabalho, da qualpoder resultar dano fsico ou econmico. Como as atividades nasinstituies de sade expem o trabalhador a diversos agentes derisco, para a preveno de possveis acidentes advindos dessaexposio faz-se necessrio estabelecer um programa que visereduzir ou eliminar tais riscos. O primeiro passo para isso aidentificao de fatores de risco que possam causar estes acidentese o estabelecimento de medidas que possam evit-los, criando-senos laboratrios um programa de preveno de acidentes8.

    O termo conteno usado para descrever os mtodosde segurana utilizados na manipulao de materiais infecciososnum ambiente laboratorial. O objetivo da conteno reduzir oueliminar a exposio da equipe do laboratrio, de outras pessoas edo meio ambiente em geral, aos agentes potencialmente perigosos,capazes de causar riscos a sade. Elementos de conteno incluema prtica e a tcnica laboratorial, o equipamento de segurana e oprojeto de instalao do laboratrio. A avaliao do risco do trabalhoa ser realizado com um agente especfico determinar a combinaoadequada destes trs elementos. A rgida adeso s normas deprticas e procedimentos corretas, uso de Equipamentos de ProteoIndividual (EPIs) e instalao de Equipamentos de Proteo Coletiva(EPCs) nos nveis de segurana adequados a cada laboratrio,contribui para um ambiente de trabalho mais seguro e saudvelpara a equipe, seus colaboradores e a comunidade ao redor2,Todavia, os programas de biossegurana em laboratrios dependemprincipalmente da dedicao individual e ateno ao trabalho10.Ainda, o trabalho excessivo, executado de forma inadequada, podelevar ao desgaste fsico e a acidentes. Para Almeida1 a expresso(con) fiabilidade humana pode ser usada para indicar aprobabilidade de que um indivduo, uma equipe, uma organizaohumana realize uma misso nas condies dadas, no interior delimites aceitveis, durante um certo tempo. Sperandio13 sublinhaa expresso misso a cumprir sob certos critrios e acrescenta:a confiabilidade no somente no cometer erros, tambm fazero gesto adequado, tomar a iniciativa que convm ao momento,recuperar um erro da mquina ou de outra operao.

    Os acidentes ocorridos, independentemente de suadimenso, devem ser documentados e avaliados, visando identificao das causas e possveis correes4. Embora algumascausas de infeces acidentais tenham origem conhecida, apenas20% das infeces adquiridas em laboratrio obedecem a contatos,causas conhecidas e/ou detectveis9. No entanto, a maior partedas infeces laboratoriais e dos acidentes de laboratrio decorre

    Simes, M. et al. - O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratrio de sade pblicano perodo de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003.

    de erros humanos, da falta de tcnica ou do uso inadequado dosequipamentos11. Deve-se, portanto, estimular programas que visema melhoria contnua do trabalho levando-se em conta a sua qualidadeno apenas para quem recebe o seu produto final, mas tambmpara quem o realiza.

    Todos os laboratrios devem ter disponveis para uso osEPIs e EPCs recomendados para cada atividade especfica, e osfuncionrios devem ser capacitados para o seu uso correto e paraa realizao adequada dos procedimentos tcnicos necessrios.No laboratrio em estudo foi criada, em maro de 1998, umaComisso de Biossegurana que desde ento vem trabalhando nosentido de conscientizar e orientar os funcionrios a executaremsuas atividades de forma segura.

    Este estudo teve como objetivo avaliar os 38 acidentesregistrados no perodo de maio de 1998 a maio de 2002, a suarelao com o no uso ou o uso inadequado de EPIs e EPCs pelosfuncionrios e a quantidade de horas trabalhadas pelosprofissionais quando da ocorrncia dos acidentes.

    CASUSTICANo perodo estudado trabalhavam no laboratrio 53 pessoas

    assim distribudas: 33 funcionrios, sendo 17 de nvel universitrioe 16 de nvel mdio e/ou bsico; e 20 estagirios (nvel universitrio)que permaneciam por um ou dois anos. Os dados foram obtidosnas fichas de registro de acidentes de trabalho, elaboradas pelogrupo de biossegurana local e preenchidas durante entrevistacom os acidentados. Os acidentes foram agrupados segundo asua natureza em cinco categorias: queimaduras (calor, frio, cido);prfuro-cortantes; amostras biolgicas; transporte de amostras;incndios.

    RESULTADOSNo perodo de quatro anos compreendido entre maio de

    1998 a maio de 2002 foram registrados junto Comisso deBiossegurana 38 acidentes envolvendo 30 pessoas, sendo: 7 casos(18,42%) em 1998 (maio a dezembro); 10 (26,32%) em 1999; 7 (18,42%)em 2000; 7 (18,42%) em 2001 e 7 (18,42%) em 2002 (janeiro a maio).

    Na figura 1 observa-se a freqncia dos acidentes porcategoria funcional e por ano estudado.

    00,5

    11,5

    22,5

    33,5

    44,5

    5

    1998 1999 2000 2001 2002

    Figura 1: Nmero de acidentes ocorridos no laboratrio em estudo, porano e por categoria funcional, no perodo de maio de 1998 a maio de

    2002.

    UniversitriosNveis mdio e bsicoEstagirios

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    Simes, M. et al. - O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratrio de sade pblicano perodo de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003.

    Dos 38 acidentes ocorridos, 9 (23,7%) foram comuniversitrios (sendo que duas pessoas acidentaram-seduas vezes cada uma); 19 (50,0%) com funcionrios de nvelmdio e/ou bsico (sendo que uma pessoa acidentou-setrs vezes e trs pessoas acidentaram-se duas vezes) e 10(26,3%) com estagirios (sendo que um deles acidentou-seduas vezes).

    Com relao natureza dos acidentes, os resultadosesto na figura 2. Em oito casos houve necessidade deatendimento mdico, seis deles do tipo prfuro-cortante, umpor queimadura e um por incndio, sendo que em quatrocasos houve necessidade de afastamento temporrio dotrabalho.

    A relao entre o uso incorreto e/ou a falta de uso deEPIs e EPCs durante os acidentes est na tabela 1.

    Figura 2: Porcentagem do nmero de acidentes ocorridos, agrupados segundo sua natureza.

    37%

    24%

    26%

    8%5%

    Amostras biolgicasPerfurocortantesQueimadurasTransporte de amostraIncndio

    EPIs/EPCs USO

    Sim No Total

    Tipos de acidentes correto Incorreto

    Amostra biolgica 4 3 3 10

    Prfuro-cortantes 3 0 6 9

    Queimaduras 0 9 5 14

    Transporte de amostra 0 2 1 3

    Incndio 0 1 1 2

    Total 7 15 16 38

    Tabela 1. Relao entre uso correto / incorreto / falta de uso de EPIs e EPCs, com as categorias de acidentes acontecidos.

    Os acidentes ocorreram nas seguintes reas:administrativa (1); tcnica (23); lavagem, esterilizao e preparode meios de cultura (7); recebimento de amostras (7). Na Figura3, observa-se a relao entre o nmero de acidentes ocorridosnas diferentes reas do laboratrio, com o nmero de pessoastrabalhando em cada rea e com o nmero de exames realizadospor ano.

    DISCUSSOPara Fayel6 et al. nem sempre se d a devida ateno aos

    riscos de transmisso de patgenos para profissionais da reade sade, mas estes riscos so reais. Por outro lado, nolaboratrio estudado, devido ao grande nmero de acidentesocorridos com estagirios em 1999, no ano de 2000 incluiu-seno programa de treinamento, um curso com as normas bsicasde biossegurana. Foi planejado com os responsveis de cadarea a conscientizao dos estagirios sobre os riscos inerentes cada atividade e o uso correto dos EPIs e EPCs para as vriasatividades.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1998* 1999 2000 2001 2002**

    Admin./FuncionriosAdmin./AcidentesPortaria/FuncionriosPortaria/AcidentesLavagem,Ester./Func.Lav.,Ester./AcidentesTcnica/FuncionriosTcnica/Acidentes

    (28696)*** (31453) (41272) (58682) (40378)

    Nota: * Maio a Dezembro** Janeiro a Maio*** Nmero de exames realizados por ano

    Figura 3: Relao entre o nmero de acidentes ocorridos nasdiferentes reas do laboratrio, com o nmero de pessoastrabalhando em cada rea e com o nmero de exames realizados,por ano.

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    Simes, M. et al. - O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratrio de sade pblicano perodo de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003.

    Para Moreira7 et al., os acidentes com percutneos soos mais freqentes e os com maior risco entre os acidentes comamostras biolgicas. Neste estudo ocorreu o inverso, o acidentemais freqente (37%) foi com amostras biolgicas, seguidaspelos prfuro-cortantes (24%).

    Os EPIs estavam sendo utilizados, em 22 dos acidentesrelatados, de maneira incorreta ou incompleta. Nos casos dosacidentes com amostras biolgicas, as causas situaram-se emprocedimentos tcnicos realizados de maneira incorreta, aliadosao uso de EPIs e EPCs de forma incorreta, incompleta ouinadequada. A reciclagem da equipe de tcnicos mostra-senecessria nestes casos para corrigir e evitar vcios adquiridosao longo do tempo e criar uma conscientizao com relao importncia de cada um na segurana de todos. Visandominimizar os riscos decorrentes da manipulao de amostrasbiolgicas, a instituio adquiriu quatro novas cabines desegurana biolgica pipetadores automticos, uma geladeirapara solventes, torneiras com sensor eltrico, lixeiras com pedale uma mquina de lavar vidraria.

    Calhoun3 identifica os agentes especficos de stresspara os profissionais da sade como relacionados a reaesadversas a este, como: sobrecarga de trabalho, insegurana notrabalho, inadequao das capacidades do indivduo ao tipo detrabalho realizado, ambigidade de papis, no participao nasdecises ou planejamento, subaproveitamento das suascapacidades, recursos inadequados, mudanas tecnolgicasrpidas, sentimentos de imortalidade (exposio continuada morte), etc. O autor aponta ainda a carga horria como uma dasprincipais fontes de stress. A maioria dos acidentes ocorridosneste estudo ocorreu aps trs horas do incio da jornada detrabalho. A sobrecarga de atividades decorrente da falta depessoal e o aumento do nmero de exames (perodo deepidemias) acarreta ansiedade e fadiga, podendo aumentar assimos riscos de acidentes. Uva e Faria14 classificam os fatores derisco de origem profissional a que se encontram expostos ostrabalhadores da sade, em quatro categorias conforme a suanatureza: fsicos, qumicos, biolgicos e psico-sociais, sendoque nesta ltima encontra-se o stress ocupacional devido natureza do trabalho realizado (no caso dos profissionais desade). A grande importncia dos fatores de natureza psico-social reside na sua invisibilidade. Costa Neto5 ressalta queentre os fatores de risco inerentes s atividades desenvolvidaspelos profissionais, h uma srie de fragilidades, sejam elas deorigens estruturais, de recursos humanos, de capacitao, deprocedimentos operacionais ou polticos.

    O aumento do nmero de acidentes ocorridos com osprofissionais de nvel mdio e bsico, em 2001 a 2002, pode serassociado com a sobrecarga de trabalho (nos casos dasepidemias de dengue); falta de funcionrios, especialmenteno setor de lavagem e esterilizao; e ao uso incorreto eincompleto de EPIs e EPCs. Cabe ressaltar ainda que oprofissional da recepo de material tem maior contato comdiferentes tipos de amostras, pois recebe todo o material quechega para anlise e o distribui para as diversas reas do

    laboratrio. Souza12 estudando os acidentes ocupacionais esituaes de risco para a equipe de enfermagem em cincohospitais do municpio de So Paulo observou que a categoriafuncional que mais se acidentou foi a de auxiliar de enfermagemporque as atividades desenvolvidas por eles so as de contatomais direto com o paciente e seus fluidos corpreos; as depreparo e administrao de medicamentos; coleta de materialpara laboratrio (sangue, urina, fezes e escarro) e cuidados dehigiene. Desde maro de 1998 o grupo de biossegurana destelaboratrio realizou diversas atividades de preveno tais como:treinamento de incndio, com vistoria do prdio pelo Corpo deBombeiros; o I Encontro Regional de Biossegurana, em 2000;a apresentao de mdulos do Programa de Segurana emLaboratrio, em 2001; os cursos do Programa Nacional de DST/AIDS, do Ministrio da Sade, em 2002; a apresentao de umvdeo educativo tendo como tema a biossegurana emlaboratrio, produzido a partir de uma pea de teatro elaboradapor funcionrios do laboratrio, em 2001 e 2002; alm detreinamentos e reunies com as chefias para discusses deatividades especficas.

    Considerando-se que o nmero de acidentes no ano de2002 foi relativo a apenas quatro meses, parece ter havido umaumento neste nmero, mas este aumento pode ser devidosimplesmente a um aumento no nmero de relatos de acidentesneste perodo, provvel conseqncia de uma maiorconscientizao dos indivduos decorrente do trabalho realizadopelo grupo de biossegurana local nos dois ltimos anos.Anteriormente muitas vezes os acidentes deixavam de serrelatados, fosse por descaso em relao ao prprio risco; porresistncia implantao rgida das prticas de biossegurana;ou por desconhecimento e medo de reprimendas, principalmentequando o acidentado sabia no estar cumprindo osprocedimentos corretos por pressa ou outro motivo qualquer,ou porque no estava usando os EPIs adequados. O trabalhode conscientizao baseado no princpio a importncia de cadaum na segurana de todos, deve, aos poucos, ir substituindonas pessoas o medo e o descaso pelo sentimento deresponsabilidade pelo seu prprio bem estar e da comunidadeao redor.

    Conclui-se, portanto, que de fundamental importnciaa preveno de acidentes frente a situaes de risco emlaboratrio, e que a conscientizao e responsabilidade naobservao das normas de biossegurana envolve osprofissionais em todos os nveis. Todos os acidentes eincidentes devem ser documentados e avaliados visando aidentificao das causas e suas possveis correes. Devemser elaborados em todos os laboratrios mapas de riscosobjetivando reunir as informaes necessrias para estabelecero diagnstico da situao de segurana e possibilitar, durante asua elaborao, a troca e divulgao de informaes entre ostrabalhadores, bem como estimular a participao destes nasatividades de preveno11. Cada laboratrio dever desenvolverou adotar um manual que identifique os riscos e especifique asprticas e procedimentos especficos para minimizar ou eliminar

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    Simes, M. et al. - O uso de equipamentos de proteo individual (EPIs) e coletiva (EPCs) nos acidentes ocorridos em um laboratrio de sade pblicano perodo de maio de 1998 a maio de 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109,2003.

    as exposies a estes perigos. A equipe, as prticas desegurana e as tcnicas laboratoriais devero sercomplementadas com um projeto apropriado das instalaes edas caractersticas da arquitetura, do equipamento de seguranae das prticas de gerenciamento2. Os programas educacionais e

    o uso adequado de equipamentos so medidas importantes paraum trabalho seguro, mas por outro lado, sem a conscientizaocom mudana de postura de cada funcionrio, o esforodaqueles que trabalham pela biossegurana esbarra emdificuldades intransponveis.

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    Simes, M. et al. - Individual and collective protection equipments (IPE and CPE) wearing in a healthpublic laboratory accidents from may 1998 to may 2002. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(2): 105 - 109, 2003.ABSTRACT. The Health National System and international organizations have given a special attentionto the health workers. The goal of this study is to evaluate 38 accidents from May 1998 to May 2002 inpublic health laboratory, the relation with the IPEs and CPEs adequate uses or the incorrect uses by theprofessionals and the influence of worked time when the accident happened. The data were obtained fromthe accident registration organized by the biosafety staff and it was filled during the interview with theinjured. The accidents were classified in five groups according to their causes: - burn (by hot, cold andacid); sharp instruments; biologic samples; samples transport and fire. Thirty eight accidents werereported involving 30 workers: 7 (18,42%) in 1998 (May to December); 10 (26,32%) in 1999; 7 (18,42%) in2000; 7 (18,42%) in 2001 and 7 (18,42%) in 2002 (January to May). The most frequent accident (37%)occurred handling biologic samples, followed by sharp instruments (24%). The IPE had been usedincorrectly or incompletely during the 22 accidents. In biologic samples accidents, the causes were usingIPEs and CPEs to around incorrectly or in incompletely way. We conclude that training prevention is veryimportant in a laboratory routine. Moreover all the professionals in the laboratory need to be aware andresponsible with biosafety guidelines.

    KEY WORDS. biosafety, laboratory, accidents, IPE , CPE

    REFERNCIAS1. Almeida, I. M. Quebra de Paradigma. Revista Produo,

    125: 80-5, 2002.2. Departamento de Sade e Servios Humanos dos EUA,

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    Recebido em 21/10/2002 ; Aprovado em 12/06/2003