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 A Convergência das Questões da Hipermodernidade em Lipovetsky e do Homem Moderno no Espiritismo Cristiano Evaristo da Rosa Alves Resumo Alguns escritores destacam-se como porta-vozes das questões da Contemporaneidade. O francês Gilles Lipovestky e sua reflexão sobre ess a “era do vazio” em que vivemos é um deles. No entanto, resolvemos chamar um outro saber para compor esse artigo e somar suas análises na linha da psicologia espírita, vinculada por sua vez à psicologia transpessoal, representado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Palavras-chave: A sociedade da decepção. Hipermodernidade. Espiritismo. Conflitos degenerativos da sociedade. O homem integral. INTRODUÇÃO Os pensadores atuais procuram entender o momento histórico em que vivemos e nunca foi tão fácil e, paradoxalmente, difícil analisar o mundo. Fácil porque o mundo está ligado on-line através da internet e outras formas de comunicação, oferecendo-nos informações em tempo real, como consequencia há uma homogeneização no estilo de vida das pessoas em boa parte do planeta, criando problemas e soluções comuns; difícil porque parece haver uma desordem no íntimo de muitas delas (MACHADO DA SILVA in LIPOVETSKY, 2007, p. 18) produzindo o que Lipovetsky (2007) denominou como a sociedade da decepção , a época da hipermodernidade. Resolvemos ousar unir os conhecimentos como fazíamos antes do estabelecimento da dicotomia ciência/religião, ocorrida no século oitocentista, na medida que, pela lógica a verdade não deve estar somente numa delas, mas no esclarecimento, que não teme a razão, tampouco o que não conhece.

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7/31/2019 Artigo Hipermodernidade e Espiritismo

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A Convergência das Questões da Hipermodernidade em

Lipovetsky e do Homem Moderno no Espiritismo

Cristiano Evaristo da Rosa Alves

Resumo

Alguns escritores destacam-se como porta-vozes das questões da Contemporaneidade. O

francês Gilles Lipovestky e sua reflexão sobre essa “era do vazio” em que vivemos é um

deles. No entanto, resolvemos chamar um outro saber para compor esse artigo e somar suas

análises na linha da psicologia espírita, vinculada por sua vez à psicologia transpessoal,

representado pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.

Palavras-chave:

A sociedade da decepção. Hipermodernidade. Espiritismo. Conflitos degenerativos da

sociedade. O homem integral.

INTRODUÇÃO

Os pensadores atuais procuram entender o momento histórico em que vivemos e

nunca foi tão fácil e, paradoxalmente, difícil analisar o mundo. Fácil porque o mundo está

ligado on-line através da internet e outras formas de comunicação, oferecendo-nos

informações em tempo real, como consequencia há uma homogeneização no estilo de vida

das pessoas em boa parte do planeta, criando problemas e soluções comuns; difícil porque

parece haver uma desordem no íntimo de muitas delas (MACHADO DA SILVA in 

LIPOVETSKY, 2007, p. 18) produzindo o que Lipovetsky (2007) denominou como “a

sociedade da decepção”, a época da hipermodernidade.

Resolvemos ousar unir os conhecimentos como fazíamos antes do estabelecimento

da dicotomia ciência/religião, ocorrida no século oitocentista, na medida que, pela lógica a

verdade não deve estar somente numa delas, mas no esclarecimento, que não teme a razão,

tampouco o que não conhece.

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Desta forma, incluímos um texto de um espírito psicografado pelo médium Divaldo

Pereira Franco, trata-se uma autora que aborda principalmente o comportamento humano,

discorrendo sobre “O homem moderno”, Joanna de Ângelis faz um contraponto

contundente à ambição desmedida dos nossos dias.

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HIPERMODERNIDADE: CAUSAS COMUNS

Nada mais contemporâneo e “quântico” do que uma análise entre as ideias de

Lipovetsky e as de Joanna de Ângelis, o que parece absurdo, tem na verdade convergências

impressionantes. Primeiro porque trazemos uma religião que nasceu na Modernidade

(1857; KARDEC, 1999)e que traz toda uma cultura de vanguarda no tratamento de temas

atuais.

Gilles Lipovetsky (2007, pp. 4, 5) defende que o paradoxo da felicidade, através da

decepção, é o ponto central da vida contemporânea:

Obviamente, a decepção, como qualquer outro sentimento, constitui uma experiênciauniversalmente conhecida. Enquanto ente de desejo cuja essência consiste em negaraquilo que é - Sartre dizia que o homem não é aquilo que ele é, sendo aquilo que não

é -, o homem é um ser que espera, e que, por isso mesmo, não pode evitar adecepção. Desejo e decepção caminham juntos.

Contudo, se a decepção é uma condição do nosso estado, a civilização moderna

(democrática e individualista) conseguiu impor-lhe uma notoriedade sem precedentes,

acrescentaríamos à reflexão de Lipovetsky (2007), o materialismo como uma característica

dessa civilização.

Poucos grupos sociais estão imunes à decepção inflacionada, somente aquelesligados às tradições, conseguem harmonizar mais ou menos seus anseios. Criou-se então, o

conceito de ”carência zero” com base nas promessas de felicidade e prazeres elevados,

deixando a vida cotidiana uma dura prova, continua Lipovetsky (2007, p. 6):

Os valores hedonistas, a sobrecarga, os ideais psicoculturais, os fluxos deinformação, tudo isso deu origem a um gênero de indivíduo mais introvertido, maisexigente, mas também mais vulnerável aos tentáculos da decepção. Após a "cultura

do aviltamento" e "a cultura da culpabilidade" (que assim foram analisadas por RuthBenedict), temos agora o tempo das culturas da ansiedade, da frustração e dadecepção.

Se uma ideia tem por base a sua reflexão, a de Joanna de Ângelis (FRANCO, 1990,

p.92) consegue levantar questões muito particulares no homem e na mulher modernos:

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Buscando enganar a sua realidade mediante a própria fantasia, o homem modernoprocura a projeção da imagem sem o apoio da consciência. Evita a reflexãoesclarecedora, que pode desalgemar dos problemas, e permanece em contínuas

tentativas de negar-se, mascarando a sua individualidade. O ego exercepredominância no seu comportamento e estereotipa fantasias que projeta no espelhoda imaginação.Irrealizado, porque fugindo do enfrentamento com o seu eu, transfere-se deaspirações e cuidados a cada novidade que depara pelo caminho. Não dispõe dedecisão para desmascarar o ego, por temer petrificar-se de horror, qual se aquelefosse uma nova Medusa, que Perseu, e apenas ele, venceu, somente porque a fezcontemplar-se no escudo espelhado que lhe dera Atena...

Aproveitando o que Lipovetsky diz sobre os poucos grupos mais ou menos imunes à

decepção Joanna de Ângelis (FRANCO, 1990, p.89) aponta alternartivas que traçam umcerto respaldo ou vacina para essas afliçoes, mas antes reforça a causa da agitação social

que vigora em nossos dias:

Desestruturados pelos choques comportamentais e esmagados pelo volume dasinformações impossíveis de serem digeridas, as massas eliminam arquétipos ou ostransferem para indivíduos imaturos portadores de fragilidade psicológica, aterrando-os, soterrando-os, na avalanche das necessidades mescladas com os conflitosexistenciais.Simultaneamente, desaparecem os mitos ancestrais individuais e a culturadevoradora investe contra os outros, os coletivos, deixando as criaturas desprotegidasdas suas crenças, dos seus apoios psicológicos.

No entanto, é justamente o hiperlativo dessa frustração que promove as condições

necessárias para uma re-oxigenação da vida (Lipovetsky, 2007).

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Joanna também salienta a necessidade de uma satisfação real, não competitiva, mas

cooperativa.

O conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito,de ajudá-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas, em ética de

sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do alijamento de cadamembro, quando vier a ocorrência se desarticulará o mecanismo de sustentação dagrei.A sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos queproduz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.Os conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quandoo homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o seu cosmo individual(micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual semovimenta (FRANCO, 1990, p.76).

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CONCLUSÃOProcuramos compreender as questões que aturdem a humanidade pelos reflexos de

seus efeitos. A decepção está presente em nossas vidas simplesmente pela incapacidade do

“ter” fornecer realização duradoura, desta forma, somente quando se adquire valores,

conquista-se a plenitude da verdadeira propriedade, que é a conquista de si mesmo, narealização do eu, convertendo-se em felicidade.

Conseguimos compreender facilmente em Lipovetsky um diagnóstico claro da

mazela criada pela hipermodernidade, mas a ideia desse autor, quando se refere às

tradições, aos valores, à ética, à ajuda aos menos favorecidos como antídoto, nos fez uma

alusão a uma autora nada convencional ao meio acadêmico, pois trata-se de um espírito.

Não entramos nas questões alusivas à crença espírita, simplesmente trabalhamos

com as análises dos autores e suas soluções. E essas alternativas são trabalhadas no sentido

de promover a cooperação, a paixão pelas causas nobres, a superação do hedonismo.

O mais interessante é que se omitíssemos o nome de Joanna de Ângelis e o

atribuíssemos a outro autor, tenderíamos a pensar com mais foco no conteúdo e com

reverência, se fosse o caso. Ficam claros os preconceitos quanto à origem do saber.

Mas ficamos gratos com a experiência ousada de incluir um espírito como

referencia bibliográfica, na medida que se nos melindrássemos estaríamos perdendo,

provavelmente, a oportunidade de entendermos o ser humano de uma forma integral.

Entendemos que a solução para essa decepção que acompanha os seres humanos da

hipermodernidade está ligada ao desprendimentos dos bens materiais, colocando os valores,

a criatividade, a paixão como formas de se viver e ser feliz.

Desta forma, quando saberes de origens tão diferentes, como os dos autores

corroboram-se, acredito que estamos muito perto de uma verdade, na medida em que

quebramos esse Muro de Berlim da verdade absoluta cientificista.

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REFERÊNCIAS

ÂNGELIS, Joanna de (espírito). O homem integral /[psicografia de] Divaldo

Pereira Franco. Salvador: Leal, 1990.

LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade da decepção. Barueri, SP: Manole, 2007.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: Petit, 1999.