artigo fisioterapia do trabalho

13
FISIOTERAPIA DO TRABALHO ESPECIAL ESPECIAL 38 MAIO/2003 FISIOTERAPIA DO TRABALHO FISIOTERAPIA DO TRABALHO ESPECIAL ESPECIAL

Upload: paulo

Post on 19-Nov-2015

27 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

artigo de fisioterapia

TRANSCRIPT

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    38 MAIO/2003

    FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

  • 39MAIO/2003

    FisioterapiaCONQUISTA ESPAO

    DENTRO DAS EMPRESAS

    FisioterapiaCONQUISTA ESPAO

    DENTRO DAS EMPRESASNo final dos anos 80, a ergonomia

    passou a ser valorizada no Brasilcomo uma espcie de terapia

    para empresas, doentes nosaspectos de organizao

    do trabalho. Cincia multidisciplinar ecom um campo aberto prpria

    construo, invadiu linhas deproduo e cho de fbrica parase firmar como a esperana depreveno e cura de distrbios

    causados aos trabalhadores pelosritmos frenticos de fabricao

    impostos pelas leis de produtividadedo mercado. Guardadas as

    propores, pode-se dizer que,especialmente nos ltimos cinco anos,

    vem acontecendo algo muitosemelhante no campo da fisioterapia.

    39

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    40 MAIO/2003

    crescente o nmero de profissionaiscom esta formao que desafiam males al-tamente disseminados como os DORT nointerior das empresas, atuando na preven-o desse tipo de doena, ou na reabilita-o, a partir de anlises ergonmicas.

    As funes do chamado fisioterapeuta doTrabalho ainda constituem um fenmenono totalmente assimilado nos meios de Se-gurana e Sade Ocupacional, pelo menosno seu aspecto de insero enquanto novaespecialidade. Isto tem suscitado discus-ses sobre os limites exatos da intervenodesse profissional em relao aos de reascorrelatas, como a prpria ergonomia e aeducao fsica. Quando nos associamos Abergo (Associao Brasileira de Ergo-nomia), em 1984, no havia a modalidadeFisioterapia do Trabalho. Agora, notamosuma certa euforia em relao a ela, observao fisioterapeuta e doutor em BiomecnicaOcupacional, Mrcio Alves Maral, presi-dente do Comit de Ensino da associao.

    O sinal mais evidente de que os fisiotera-peutas esto cada vez mais assumindo espa-os importantes em atividades de preven-o e terapia de doenas ocupacionais, emespecial nas grandes empresas, o aumentoda procura por cursos de especializao emestrado em ergonomia por parte de gra-duados em fisioterapia. o que, de fato,atesta o engenheiro Fernando Gonalves A-maral, doutor em Ergonomia e professor deps-graduao da Escola de Engenharia daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS): Quando abrimos o curso de mes-trado em engenharia de produo com nfa-se em ergonomia, em 1999, pensvamos ematrair mdicos e engenheiros, mas tivemosuma surpresa, pois os fisioterapeutas se des-tacaram, estavam entre os que mais procura-ram essa formao, lembra.

    ATRIBUIESOs principais debates entre integrantes

    da Abergo e das instituies que represen-tam os fisioterapeutas do Trabalho - a A-nafit (Associao Nacional de Fisioterapiado Trabalho), criada em 1999, e a Sobrafit(Sociedade Brasileira de Fisioterapia do Tra-balho), que surgiu no ano passado, aps oprimeiro congresso brasileiro desses pro-fissionais, esto focados na ao de cadaum, ou seja, o que cabe ao ergonomista e oque cabe ao fisioterapeuta do Trabalho. Aergonomia um campo aberto a muitas dis-ciplinas. Congrega saberes de engenharia,medicina, psicologia, sociologia do Traba-lho, gesto da produo etc. Em funo daformao bsica de cada profissional, elase desenvolve sobre aquele tipo de saber ese aventura por outros campos, define oprofessor Amaral. J o fisioterapeuta do Tra-balho, prossegue, aquele profissional queprocura conhecimentos de ergonomia paramelhorar as condies de trabalho. A dife-rena bsica, de acordo com Amaral, queo ergonomista no tem habilitao para serfisioterapeuta do Trabalho porque no fa-zem parte de sua formao conhecimentosde fisiologia humana e patologia, por exem-plo. O fisioterapeuta do Trabalho o indi-vduo formado em fisioterapia, mas quebusca conhecimentos de ergonomia paramelhor prevenir e tratar doenas. Ele atuana microergonomia, em nvel de posto detrabalho, enquanto o ergonomista tem umaviso maior, de macroergonomia, que en-volve todas as unidades de produo den-tro da empresa, compara.

    O professor da Escola de Sade Pblicada UFRGS, Paulo Antnio de Barros Oli-veira, auditor fiscal da DRT/RS, tambmv na individuao um aspecto bsico dediferena entre a atuao de um e outro pro-fissional: O ergonomista estuda como aspessoas trabalham a fim de melhorar a sa-de do trabalhador e a produtividade da em-presa. Interfere no ambiente, na organiza-o do trabalho, nas mquinas e na forma-

    o das pessoas. O fisioterapeuta tem o mes-mo objetivo, mas trabalha focado na pes-soa. Alis, o bom fisioterapeuta trabalha ca-so a caso, com prescrio de mudanas emgestos e posturas de cada pessoa, explica.Na avaliao de Barros, a especificidadede atuao no assim to problemticaquanto a abrangncia do tipo de ergonomiapraticado por esses profissionais, pois estaabrangncia que determina a maior ou me-nor eficcia da atuao do ergonomista oudo fisioterapeuta que ir lidar com as ques-tes de adoecimento do trabalhador. Emgeral, todos fazem bem a ergonomia fsica,aquela relacionada anatomia humana, fisiologia e biomecnica. Alguns fazembem a ergonomia cognitiva relacionada aosprocessos de percepo, memria, estudoda carga mental do trabalho e estresse. Masraramente se faz bem a ergonomia organi-zacional, aquela que diz respeito aos siste-mas sociotcnicos, intensificao das car-gas de trabalho, horas extras etc, pois a mais difcil se fazerem alteraes, destaca.

    PRTICANuma viso mais pragmtica, o fisiote-

    rapeuta do Trabalho o que atua no ambu-latrio de fisioterapia dentro das empresas,na rea assistencial, resume a especialistaem Fisioterapia do Trabalho, Lucy MaraBa, mestranda em Ergonomia e com atua-o profissional em Curitiba/PR. Atual pre-sidente da Sobrafit (gesto 2002-2006), Lu-cy afirma que atribuio tpica desse pro-fissional tratar do paciente (trabalhador le-sionado) segundo indicao mdica, desen-volver diagnsticos biomecnico e cinesio-funcional (relativo terapia por meio deatividades fsicas) e procurar prevenir e re-duzir problemas nos ambientes de trabalhocausados pela no adaptao do prprio tra-balho ao ser humano.

    Uma boa capacidade de observao e a-teno a detalhes tambm est entre os atri-butos do fisioterapeuta do Trabalho. Eleinvestiga as relaes entre as caractersti-cas do posto de trabalho e as leses quepodem ser causadas no trabalhador (ques-tes msculo-esquelticas), enquanto oergonomista atua mais com o planejamen-to e montagem de projetos para o posto detrabalho, contrape rika Lye Ogasawara,que atua, em Curitiba, como fisioterapeutada Amrica Latina Logstica (ALL), grupodo setor ferrovirio com 6 mil funcionrios.Para alguns fisioterapeutas, porm, o maisimportante papel a ser desempenhado peloprofissional da rea a educao para apreveno. O foco deve ser preventivo, poristo eu acredito que no deveramos ter tra-balhos em que as pessoas adoecessem, res-salta Jacinta Sidegum Renner, fisioterapeu-ta e doutoranda em Ergonomia. Dona deum trabalho pioneiro na consultoria Qua-livida, em Novo Hamburgo/RS, que lhe ren-deu prmio da Associao Brasileira deRecursos Humanos (ABRH), em 1998, re-sultando inclusive em sugestes que aca-Preveno primria: palestras educativas para conscientizao so fundamentais

    Div

    ulg

    a

    o/P

    ln

    io F

    leck

    SA

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    42 MAIO/2003

    baram por se incorporar NR 17, Jacintano v sentido nas aes de Fisioterapia doTrabalho que excluam o entendimento inte-gral do ser humano antes do entendimentodos fatores ambientais que o rodeiam. Podeparecer utpico, mas o trabalho no podefazer mal s pessoas, no deve haver dor notrabalho, insiste.

    LACUNADo ponto de vista formal, dois fatores so

    comuns Fisioterapia do Trabalho e ergo-nomia. Ambas no so profisses regula-mentadas e dependem de formao em nvelde ps-graduao (especializao) ou, nomnimo, de extenso, para se auto-afirmarno mercado. Ao mesmo tempo em que osergonomistas se mobilizam para a criaode um mecanismo de certificao de quali-dade dos profissionais que atuam como tal,os fisioterapeutas do Trabalho empenham-se para que o reconhecimento de sua pro-fisso seja elevado ao mesmo status hojevigente para os mdicos do Trabalho e en-genheiros de Segurana do Trabalho, porexemplo.

    A ausncia de regulamentao para asatividades de Fisioterapia do Trabalho e deergonomia tem criado reas cinzentas, res-salta o professor Paulo Barros de Oliveira.A fisioterapeuta Jacinta Renner tambm seressente desta lacuna: No entendo porque no existe um trabalho de regulamenta-o da profisso do fisioterapeuta do Traba-lho, pois o seu papel no est bem defini-do, diz.

    este um dos motivos por que a Abergoe a Sobrafit tm, cada uma a seu modo, se-paradamente, feito gestes para defender area de atuao de seus associados. A ex-diretora da Abergo, Regina Helena Maciel,psicloga e doutora em Ergonomia, expli-ca que a entidade est tentando regulamen-tar comits de profissionais para realiza-rem a certificao dos ergonomistas. A i-dia que as pessoas com formao em er-

    gonomia possam solicitar a suacertif icao como ergonomistaspor meio de uma anlise do curr-culo ou realizando uma prova dehabilitao, esclarece. SegundoRegina, professora da Universida-de Estadual do Cear e integrantedo conselho fiscal da entidade, es-ta sistemtica j existe nos EstadosUnidos, no Canad, na Frana, naInglaterra e na Austrlia. Em pa-ses como Portugal e Inglaterra, e-xistem at mesmo cursos de gra-duao em Ergonomia.

    TENDNCIANa avaliao de Mrcio Maral, tambm

    do conselho fiscal da Abergo, embora a er-gonomia seja multidisciplinar, ela necessi-ta de uma linguagem comum, de um cre-denciamento. Ele lembra que j no congres-so da Abergo de 1999 foi travada uma gran-de discusso sobre este assunto, da qual par-ticiparam muitos profissionais que atua-vam h tempo com ergonomia, acrescen-tando ainda que no congresso do ano pas-sado, em Recife, a Abergo aprovou as pri-meiras diretrizes para o processo de certi-ficao em ergonomia. O Comit Cientfi-co de Educao e Ensino dever estabelecerum currculo mnimo para a especializaona rea, bem como promover a sua padroni-zao que ser atrelada ao processo de cer-tif icao.

    Os fisioterapeutas, por sua vez, no ficampara trs na defesa de seu espao. Estamosem contato com a Anamt (Associao Na-cional de Medicina do Trabalho) e com aAnent (Associao Nacional de Enferma-gem do Trabalho) a fim de melhor elaboraro perfil do fisioterapeuta do Trabalho, in-forma Lucy Mara Ba. Ela destaca que, narealidade, a Fisioterapia do Trabalho j uma rea de ps-graduao aprovada peloConselho Federal de Fisioterapia e TerapiaOcupacional (Coffito) por meio da Portaria

    34, de janeiro de 2002. Assim, em termosde educao formal, este profissional de-signado como aquele que cumpriu cursode especializao (360 horas-aula), com u-ma carga de pelo menos 120 horas-aula deergonomia. Nesse curso, ele assimila asvises do mdico do Trabalho, do enge-nheiro de Segurana, do educador fsico eda sua prpria rea, sintetiza.

    PROVAUma outra iniciativa importante com vis-

    tas regulamentao profissional do fisio-terapeuta do Trabalho, igualmente em cur-so por parte da Sobrafit, a elaborao deuma prova de qualificao. A fisioterapeu-ta Maria do Carmo Baracho de Alencar, dou-toranda em Ergonomia, est frente da co-misso cientfica da entidade que preparao contedo desse teste, a ser aplicado anual-mente a partir de 2004, estando aberto apessoas que concluram curso de especiali-zao na rea. Maria do Carmo enumera oscontedos bsicos da prova: Ergonomiafundamental, psicologia do Trabalho, bio-mecnica ocupacional, riscos sade emgeral, doenas do Trabalho, legislao(NRs), questes relacionadas ao ambienteprofissional, mtodos de avaliao de pos-tura e fora.

    Enquanto a interseco entre a ergonomiae a Fisioterapia do Trabalho permanece semuma demarcao no que diz respeito s regu-lamentaes de cada uma, continua valen-do, para os fisioterapeutas, a legislao ge-nrica da profisso (veja box Atividade re-quer regulamentao). A esperana de queambos os campos de conhecimento, embo-ra venham a ser delimitados, possam perma-necer em cooperao mtua para o bem dostrabalhadores. No Brasil temos tendnciaa criar novas profisses porque isto umamaneira de preservar o campo de trabalhodas pessoas, mas pode gerar uma briga en-tre profissionais. No caso da ergonomia,pode haver uma disputa sobre quem deveou no atuar. O fisioterapeuta do trabalho,com certeza, no quer esse tipo de disputa.Ele deve ter um campo de trabalho comotem o mdico do Trabalho, o engenheirode Segurana. No caso da ergonomia, amultiprofissionalidade o que prevalece,conclui Regina Maciel.

    Jacinta: preveno

    Arq

    uiv

    o

    O fisioterapeuta, de acordo com o advo-gado Fbio Abel, do Conselho Regionalde Fisioterapia da Terceira Regio (Cre-fito 3), localizado em So Paulo, tem asua profisso reconhecida h 34 anos. ODecreto 938/1969 regulamentou asprofisses de fisioterapeuta e tera-peuta ocupacional, explica. Mas oconselho federal da categoria (Cof-fito) foi estabelecido somentecerca de seis anos depois, pelaLei Federal 6.316/1975. Ofisioterapeuta, portanto, oprofissional comg r a d u a oem fisiotera-pia e comregistro no

    Atividade requer regulamentaoconselho regional de sua classe, sinteti-za Abel. Ele reitera, no entanto, que a leiatual no prev a especialidade de fisio-terapeuta do trabalho. O Coffito, porm,estabelece as atribuies desse profissio-

    nal: promover aes teraputicas pre-ventivas instalao de processos quelevam incapacidade funcional la-

    borativa; analisar os fatoresambientais, contributivos ao

    conhecimento de distr-bios funcionais labora-

    tivos; desenvolver pro-gramas coletivos,

    contributivos di-minuio dos ris-cos de acidentede trabalho.

    Lucy: defesa do espao

    Arq

    uiv

    o

    Divulgao/Plnio Fleck SA

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    44 MAIO/2003

    A demanda por fisioterapeutas do Traba-lho parece no ter fim. Eles so cada vezmais numerosos e buscam a qualificaopor caminhos diversos, seja em cursos deextenso no exterior ou de ps-graduaono Brasil. A exploso das doenas steo-musculares numa escala que preocupa ossetores pblico e privado, as exignciascrescentes dos fiscais do Trabalho e das au-toridades do Ministrio Pblico do Traba-lho para que as empresas melhorem a qua-lidade de vida nos ambientes laborais vmdesencadeando uma realidade que no po-deria ser diferente: as faculdades de fisio-terapia se proliferam de Norte a Sul do pas.

    De acordo com o Ministrio da Educa-o, em 1998 havia 115 cursos de gradua-o em fisioterapia reconhecidos pelo MECno Brasil. Em 2001, passaram a ser 210. Aalta foi superior a 80%. Desses cursos, 29funcionam em estabelecimentos pblicos(oito em universidades federais, 14 em esta-duais e sete em municipais). A maior parte,181, est lotada em estabelecimentos de en-sino privados. A mesma preciso estatstica,porm, no existe quando se fala em ps-graduao: o Conselho Nacional de Edu-

    Profisso cresce de Norte a SulAs empresas perceberam que mais fcil e baratofazer a fisioterapia em suas prprias instalaes

    cao (CNE), por meio de sua assessoria deimprensa, informa que no h um registroespecfico sobre a quantidade de cursos deespecializao (360 horas-aula) em Fisio-terapia do Trabalho. Isto porque, de acordocom o CNE, qualquer estabelecimento deensino de nvel superior tem possibilidadede estabelecer esses cursos, mas eles somen-te so fiscalizados quando da auditoria a-nual feita pelo MEC nas respectivas enti-dades de ensino.

    A rea de fisioterapia cresceu demais.H muita gente formada. L pela metadedos anos 80, pouqussimas pessoas faziama ligao entre Fisioterapia do Trabalho eergonomia. Mas as empresas passaram aperceber que era mais fcil e barato fazer afisioterapia em suas prprias instalaes.Elas concluram que ganhava-se pelo me-nos meio dia de trabalho, pois, em vez dese deslocar, as pessoas faziam o tratamentoali mesmo, no local de trabalho, comentao fisioterapeuta Mrcio Alves Maral, daAbergo.

    AVANOFoi com base neste argumento que a Fun- dao Ruben Berta, uma das mais tradicio-

    nais organizaes da rea de aviao doBrasil, passou a dar mais ateno aos pro-blemas de sade de seus funcionrios, querequeriam o olhar especial de um fisiotera-peuta. Antes de 1999, a Fundao, contro-ladora de empresas como Varig Linhas A-reas, Varig Engenharia e Manuteno, con-tava com dois mdicos prestadores de ser-vios. S que eles no tinham uma visofocada na rea da aviao, atendiam em-presas de vrios setores, observa o fisiote-rapeuta Airton Luis Kleinowski. Segundoele, que hoje coordena a rea de fisiotera-pia da Fundao, essa falta de especificida-de e a ausncia de um servio fisioterpicoprximo da rea de trabalho concorriam pa-ra o insucesso dos esforos de MedicinaOcupacional. Havia situaes em que umfuncionrio com leso grave e outro comleso leve tinham que esperar o mesmo tem-po por um atendimento, dependiam de umveculo comum para os levarem ao mdi-co, relata. Muitos tinham receio de fazero tratamento quando no havia ambulat-rio na empresa porque temiam a perda dehoras e, conseqentemente, do emprego.Chegavam a desenvolver doenas cujo tra-tamento depois ficava mais difcil, pois elasj apareciam em estgio avanado, recor-da-se.

    Desde 1999, quando Kleinowski apresen-tou um projeto de estruturao da rea deFisioterapia do Trabalho, a realidade vemmudando. So realizados, por dia, cerca de90 atendimentos a Fundao tem 2,4 milempregados. Boa parte deles so mecnicos

    A exigncia de laudo ergonmico porparte da fiscalizao do Ministrio doTrabalho um dos fatores apontados co-mo o responsvel pelo aumento da de-manda por fisioterapeutas do Trabalho.Mas tambm objeto de controvrsia noprprio meio ocupacional. Afinal, aquem, exatamente, cabe a elaborao des-se documento?

    Na avaliao de Lucy Mara Ba, o fisio-terapeuta do Trabalho pode, tranqila-mente, dar conta desta tarefa, que atendeprescries da NR 17. Creio que deverse tornar um documento obrigatrio, aexemplo do PCMSO e do PPRA,afirma. Para Jacinta Sidegum Ren-ner, no entanto, trata-se de umaformalidade: Em geral, o laudo a-caba engavetado, e, se no h fis-calizao da DRT, fica por istomesmo. O importante, argu-menta Jacinta, que os tra-balhadores participem dasdiscusses, que haja cipei-ros no comit de ergonomiada empresa, para que osprprios trabalhadores pos-sam instrumentalizar as a-es necessrias s melho-rias do ambiente de trabalho.

    Laudo: acerto ou equvoco?Numa viso bem mais crtica, a ergono-

    mista Regina Helena Maciel adverte que,na realidade, no existe o tal laudo ergo-nmico, pois todo laudo pressupe con-formidade com um dado padro. E dum exemplo: Quando um engenheiro fazum laudo, ele o faz segundo a lei. Masno h um padro estabelecido na NR 17em relao ao qual se possa dizer que umposto de trabalho ou no ergonmico.

    A norma apenas determina a necessi-dade de o empregador realizar a anlisedo trabalho quando houver necessidade.

    Por isto, o laudo ergonmico algoequivocado, analisa.

    Fundao Ruben Berta: atendimento especializado

    Div

    ulg

    a

    o/F

    un

    da

    o

    Ru

    be

    n B

    ert

    a

  • 45MAIO/2003

    que trabalham com ferra-mentas pesadas do setor demanuteno. Mais impor-tante que a quantidade otipo de ateno dado: J a-tendi mais de 900 pessoas,conheo boa parte delas pelonome, afirma Kleinowski.Ele frisa que um aspecto in-teressante de trabalhar-se inloco o entrosamento do fi-sioterapeuta com os traba-lhadores. H um envolvi-mento intenso do fisiotera-peuta, inclusive com relaoa questes de capital e tra-balho. Isso tem uma grandeinfluncia na recuperao dotrabalhador, garante.

    ADEPTOSTer um fisioterapeuta den-

    tro da fbrica e at mesmoum departamento inteiro defisioterapia uma tendnciaque vem fazendo cada vezmais adeptos. Empresas dosetor automotivo, por exem-plo, esto apostando nas van-tagens desse tipo de investi-mento. H trs anos no ha-via demanda por f isiotera-

    peutas do Trabalho como se v hoje, ates-ta Rodrigo Filus, que responde por esta reana Audi, com 2,5 mil funcionrios, em SoJos dos Pinhais/PR. Segundo ele, a vari-edade de empresas que busca o trabalho dofisioterapeuta aumentou muito, mas existeuma certa dificuldade, falta informao dasempresas para identif icar onde esto osbons profissionais, os qualificados. A Fi-sioterapia do Trabalho, afirma, est desen-cadeando a necessidade de especializao.

    Na Daimler Chrysler, em So Bernardodo Campo/SP, a convico quanto aos be-

    nefcios de um trabalho especializado pra-ticamente a mesma. A fisioterapeuta Rosi-meire Marangoni dos Reis, ps-graduadaem Ergonomia pela Universidade de SoPaulo (USP), nota um progresso muito ex-pressivo em sua atividade, que j conta com20 anos. Ela chega a atender 150 pessoaspor dia a empresa, de 9 mil empregados, a maior unidade da Daimler fora da Alema-nha. O fisioterapeuta, para fazer um traba-lho efetivo, precisa vivenciar a realidadede cada pessoa dentro da fbrica. Ao longodo tempo fui constatando esta necessidadee passei a fazer estudos de morbidade porrea, para verificar as causas das doenasocupacionais, explica.

    AES JUDICIAISO temor de aes judiciais que resultem

    em indenizaes pesadas devido falta demedidas de preveno contra as DORT tam-bm , segundo Cludia Nammour Rossi,presidente da Associao Nacional de Fisi-oterapia do Trabalho (Anafit), de So Pau-lo, uma das razes para tamanha procurapor fisioterapeutas do Trabalho (veja boxLaudo: acerto ou equvoco?). Uma das pi-oneiras desta rea profissional no Brasil,Cludia Rossi pretende turbinar o trabalhoda Anafit para que ela congregue um n-mero maior de associados trocando experi-ncias e conhecimentos. A diretora da CNRossi Ergonomia e Fisioterapia Preventi-va, que fez cursos de especializao na Cl-nica Del Lavoro (Itlia) e em Michigan(EUA), ressalta a importncia da formaoe prepara-se para estruturar um curso de ps-graduao em parceria com a Universidadede Santo Amaro (Unisa), com turma de 30pessoas. A qualificao do fisioterapeutado Trabalho bastante apropriada para pre-venir e curar doenas ocupacionais, res-salta.

    Para a professora Maria do Carmo Bara-cho de Alencar, da Universidade de Tuiuti/

    PR, uma das razesdo boom da Fisio-terapia do Trabalho exatamente o in-teresse das empre-sas, especialmentedas melhor estrutu-radas, no sentidode atuarem de for-ma preventiva, in-vestindo na SadeO c u p a c i o n a l .Mas, para isto, osprof issionais de-vem estar bem pre-parados, o que no possvel apenascom cursos de f i-nais de semana,diz. Lucy MaraBa, colega de Ma-ria do Carmo naSobraf it, ressaltaque j existemcursos de especia-lizao reconheci-dos pelo MEC, co-mo o realizado pe-lo Instituto PortoAlegre (IPA), com aprimeira turma for-mada em 2001.Alm disto, o Colgio Brasileiro de Estu-dos Sistmicos (CBES), de Curitiba/PR, li-gado s Faculdades do Vale do Iguau, estformando, em maio deste ano, a primeiraturma de especialistas com a aprovao doCoffito, e organiza um curso semelhanteem Porto Alegre/RS.

    OBSTCULOSA exemplo das demais reas de Sade

    Ocupacional, a Fisioterapia do Trabalho,at mesmo por ser relativamente nova, de-para com obstculos. Apesar de as grandes

    Airton: ao in loco

    Arq

    uiv

    o

    Maral: crescimento

    Arq

    uiv

    o

    na empresa

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    46 MAIO/2003

    e mdias empresas j estarem conscientesdos benefcios resultantes da preveno, u-ma grande massa de organizaes seguecom uma postura reativa, contratando ser-vios precrios, profissionais desprepara-dos ou simplesmente ignorando o que sejaergonomia e f isioterapia preventiva. NoBrasil, a ergonomia ainda feita a reboque,ou seja, so uma minoria as empresas quetm esse servio, face sua relevncia, notao professor Paulo Barros de Oliveira. Amaior demanda se verifica por ps-notifi-cao do Ministrio do Trabalho, lamenta.Segundo Barros, as empresas brasileiras ain-da privilegiam a viso do fisioterapeuta co-mo tbua de salvao para o problema dasDORT. Mas nem sempre ele vai conseguirresolver isto, pois, se no tiver preparo, agi-r sobre a doena, no sobre a causa. Alis,at pode ter conhecimento para mudar, masa prpria empresa poder limitar o seu tra-balho, diz. Ao lado deste tipo de empeci-lho, a prpria falta de regulamentao pro-fissional pode dar margem desqualifica-o. A proliferao de oportunistas na reade atuao leva ao descredenciamento e desvalorizao profissional, emenda o fi-sioterapeuta e ergonomista Eduardo Ferrodos Santos, scio-diretor da Ergo Brasil, deSo Paulo. Outra dificuldade que o fisio-terapeuta precisa mostrar a importncia de

    seu trabalho para o empresrio. Trabalha-mos com nmeros, sempre procuramos sa-ber quanto custou um afastamento, afir-ma Lucy Mara Ba, lembrando que muitasvezes difcil mensurar esses valores.

    ALTOS E BAIXOSSe existe algo que definitivamente frus-

    tra um fisioterapeuta ou ergonomista eleconstatar que, no obstante todos os esfor-os que empreendeu, no houve o restabe-lecimento das condies de sade de umtrabalhador. H um certo desapontamentoquando os pacientes que vm em busca deajuda e saem bem, recuperados, retornamdepois de algum tempo com os mesmosproblemas anteriores, confessa Mrcio Al-ves Maral, integrante da Abergo. Por ou-tro lado, no h nada que anime mais umprofissional desta rea do que ver diutur-namente o sucesso da sua orientao. Otrabalho do f isioterapeuta um corpo-a-corpo com o trabalhador. Vamos ao postode trabalho, orientamos exerccios, promo-vemos a melhoria muscular, interagimos naadaptao de postos de trabalho, atuamoscom contedos vivenciais e ocupacionaisetc. Isto, para ns, no um desgaste. Serum fisioterapeuta do Trabalho o sonho detodo fisioterapeuta, pois assim ele participade toda a vida dentro de uma empresa.

    A velha discusso sobre a necessidadede incrementar a multidisciplinaridadedos Sesmts vem tona novamente com apresena macia de fisioterapeutas den-tro das empresas, especialmente medi-da que eles conseguem bons resultadosno seu trabalho. No grupo tripartite quediscute a NR 4, h concordncia quantoa que outros profissionais estejam na equi-pe do Sesmt alm dos que j esto hoje, equanto ao fato de que a composio atualdesse servio insuficiente com relao multidisciplinaridade. Mas para alterar,somente por consenso, afirma o mdicoMrio Bonciani, auditor fiscal da DRTde So Paulo e membro permanente dogoverno na Comisso Tripartite ParitriaPermanente (CTPP) da NR 4. De acordocom ele, existem correntes que falam emsubstituio de profissionais fixos por leipor outros, como, por exemplo, o fisiote-rapeuta do Trabalho ou o psiclogo. Istoseria feito por meio de acordos coletivos.Porm, no que diz respeito ao enxuga-mento do Sesmt, no se discute mais, ouseja, ele deve ocorrer, assegura Boncia-ni. S mdico, enfermeiro, engenheiro etcnico de segurana no resolve. Isto fi-cou definido por consenso no terceiro

    Fisioterapeutas no Sesmt?Integrao de outros profissionais como psiclogos

    e fisioterapeutas s pode ocorrer por consensosemestre do ano passado, ressalta. Cer-tamente, uma flexibilizao no sentido desubstituio de profissionais viria em be-nefcio de empresas que tm um grandenmero de mdicos integrando o Sesmt efisioterapeutas atuando no setor de Se-gurana e Sade, mas fora desse servioespecializado. Na Audi, em So Jos dosPinhais, por exemplo, h 38 profissionaisda rea de Medicina e cinco da rea deSegurana do Trabalho no Sesmt, mas ne-le no esto fisioterapeutas do Trabalho.Situao semelhante a da DaimlerChrysler deSo Bernardodo Campo/SP,onde o Sesmtconta com oi-to mdicos doTrabalho, en-tre outros pro-fissionais, masnenhum dostrs fisiotera-peutas (almde seis estagi-rios de fisio-terapia) inte-gra o servio. Bonciani: consenso

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    48 MAIO/2003

    Um dos f ilesque mais contri-bui para o desta-que das ativida-des do f isiotera-peuta do Traba-lho , sem dvi-da, a ginstica la-boral. Cientifica-mente falando, onome desse ramode conhecimen-to, a cinesiotera-pia laboral, pare-ce nada ter a vercom a repercussoque atingiu nasempresas que buscam a fisioterapia preven-tiva. A cinesioterapia o tratamento atra-vs do movimento e tem como um dos seusobjetivos o fortalecimento da musculaturadebilitada. Isto pode proporcionar a umapessoa trabalhar durante mais tempo em psem sentir tanto os efeitos do desgaste natu-ral dessa posio, explica a especialista emFisioterapia do Trabalho e mestranda emErgonomia, Cynthia Mara Zilli, de Curiti-ba/PR. Autora do Manual de Cinesiotera-pia/Ginstica Laboral, lanado no ano pas-sado pela editora Lovise, de So Paulo, Cyn-thia ressalta a importncia de as atividadesfsicas serem acompanhadas por equipesmultidisciplinares, e no apenas por educa-dores fsicos, como costuma acontecer. Oeducador fsico no tem formao em pato-logia, e este um dos problemas que se vna ginstica laboral. J o fisioterapeuta mui-tas vezes no tem aquela motivao recrea-cional. Por isto, atualmente, procuramosjuntar esses dois tipos de profissionais paraatuarem em conjunto, esclarece.

    Um dos aspectos fundamentais para obom encaminhamento da cinesioterapia diferenciar o pessoal administrativo do pes-soal que trabalha em linhas de produo,geralmente em turnos diferenciados. Exis-tem exerccios comuns a todos, como o a-

    Ginstica laboral refina mtodosProfissionais apontam que a cinesioterapia

    deve ser ministrada por equipe multidisciplinarlongamento e oaquecimento demusculatura. Pa-ra evitar m pos-tura, os msculosprecisam ser a-longados comfreqncia, ensi-na Cynthia, que tambm diretoratcnica dos pro-gramas de Cine-sioterapia Labo-ral do Centro dePreveno e Re-abilitao deCuritiba/PR. Se-

    gundo ela, os alongamentos servem pararetirar a presso excessiva sobre determi-nadas reas do corpo e podem ser diferen-ciados para cada pessoa, de acordo com asua funo no trabalho. importante no-tar que o aquecimento ginstica prepara-tria, enquanto o alongamento ginsticade distensionamento, sintetiza. Um mitoque deve ser derrubado, afirma a fisiotera-peuta, o de que a ginstica laboral leva,necessariamente, perda de peso ou ganhode massa muscular. Este tipo de trabalhoespecf ico no cabe ao f isioterapeuta doTrabalho, mas ao educador fsico, obser-va, acrescentando que ginstica laboralno deixa ningum magro nem musculoso,mas incentiva as pessoas a terem uma ativi-dade fsica. As pessoas esto muito seden-trias. Hoje em dia, menos de 10% dos tra-balhadores, em mdia, tm algum tipo deatividade fsica regular, nota.

    COMPROMISSOO sucesso de um programa de ginstica

    laboral est intrinsicamente ligado ao com-promisso da empresa que requisitou e aostrabalhadores, pela participao e empenhono programa. a empresa que precisa de-finir a metodologia a ser adotada e, casoela no saiba qual ir seguir, dever solici-

    Mesmo quando h uma certa sobrecarga detrabalho, ela compensadora, opina LucyMara Ba, da Sobrafit.

    O dinamismo, mais que algum eventualglamour da profisso, tambm valoriza-do pela fisioterapeuta rika Lye Ogasawara,que atua na Amrica Latina Logstica(ALL), empresa de transportes ferrovirios.Segundo ela, o f isioterapeuta tem umadiversidade de ao, sua atividade muitodinmica, pois ele percorre todos os ambi-entes de trabalho, visita vrios setores, temrelacionamento com vrias pessoas. umtrabalho em que no h monotonia, rela-

    ta. No entanto, s vezes pode haver umacerta dificuldade de relacionamento comos empregados, por eles no conseguiremparar para nos atender, por alguns seremmais rgidos, ou por haver chefias que difi-cultam a implantao de programas, de-clara. rika considera-se realizada no tra-balho, pois recebe at mesmo consultas portelefone: H trabalhadores da ALL que a-tuam em outras unidades e nos ligam pe-dindo sugestes. So aqueles que traba-lham em atividades mais distantes, comolocais de distribuio de bebidas, postosde atendimento etc, conta.

    Atividade fsica: no chega a 10% dos trabalhadores

    Arquivo/Supporte

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    50 MAIO/2003

    tar um suporte tcnico, ou seja, um diag-nstico de um profissional especializado.Dentro da metodologia existem dois pon-tos importantes: estudo do estilo de vidados trabalhadores para entendermos as ca-ractersticas culturais da populao traba-lhada e entrevistas com trabalhadores paracoleta de dados relacionados dor, ritmode trabalho, autonomia e presso no desem-penho das atividades, afirma a fisiotera-peuta Cludia Dias Ollay, scia da consul-toria Intuio & Sabedoria, de Santo Andr/SP, que atua na rea de Sade Ocupacional,desenvolvendo trabalhos voltados pro-moo da qualidade de vida no Trabalho.Cludia, mestranda em Educao, destacaa existncia de trs nveis de preveno notrabalho do fisioterapeuta. Temos a pre-veno primria, a secundria e a terciria.A primria a desenvolvida no momentoem que a patologia ainda no se instalou:Significa agir antes que algo acontea.Na preveno secundria, a doena j foidetectada, mas, ainda assim, possvel re-verter o quadro, desde que sejam realizadosprecocemente os tratamentos e as interven-es nos postos de trabalho, explica. A pre-veno terciria, por sua vez, a etapa maisindesejvel, no se restringe apenas a recu-perar o trabalhador, possui uma abrangnciamaior e engloba outros momentos como areduo e a readaptao no trabalho e areinsero social, explica.

    Cludia Ollay faz questo de assinalarque as empresas precisam se preparar me-lhor para a preveno terciria: Ao mesmotempo, at por uma questo de economia,os empresrios devem investir mais na pre-veno primria, em palestras educativas,campanhas de sade dentro das empresas ecapacitao de funcionrios para que elesatuem como transmissores desse tipo de co-nhecimento, como pessoas que trocam idi-as e modificam pensamentos e hbitos desade. Infelizmente, diz, h poucas em-

    A ginstica laboral um conjunto deprticas fsicas elaboradas a partir daatividade profissional exercida duranteo expediente, visando a compensar as es-truturas fsicas do indivduo mais utiliza-das durante o trabalho e ativar as queno so requeridas, de forma a relax-las e tonific-las. Entre os objetivos des-se tipo de atividade esto as adaptaesfisiolgicas (estmulos para aumento datemperatura corporal e circulao san-gnea), adaptaes fsicas (melhoria daflexibilidade, mobilidade articular e pos-tura) e adaptaes psicolgicas (integra-o de funcionrios entre si e com chefias).

    Ginstica...e mais ginstica!A atividade varia conforme os objetivos que

    se quer alcanar junto ao grupo de trabalhadores

    Os principais tipos de ginstica laboralso:

    Preparatria ou de aquecimento: tem

    durao aproximada de cinco a dez mi-nutos e realizada antes do incio da jor-nada de trabalho ou nas primeiras ho-ras, com o objetivo principal de prepararos trabalhadores para as suas tarefas,dando-lhes maior disposio.

    Compensatria ou de pausa: tem du-rao de cerca de dez minutos e realiza-da durante a jornada de trabalho, com afinalidade de quebrar a monotonia ope-racional, aproveitando-se as pausas paraa execuo de exerccios de compensa-o de esforos repetitivos.

    Relaxamento ou final de expediente:tem durao em torno de dez minutos e,como o nome diz, realizada ao final dajornada de trabalho, podendo tambm serexecutada juntamente com a ginsticacompensatria, com o objetivo de oxige-nar as estruturas musculares envolvidasnas tarefas dirias.(*) Fonte: Supporte Assessoria Esportiva Empresarial

    Cludia: capacitaoA

    rqu

    ivo

    Regina: inverdades

    Arq

    uiv

    o

    Cynthia: multidisciplinar

    Arq

    uiv

    o

    presas trabalhando no mbito da preven-o primria, que pode ser efetuada comuma estratgia de ensino-aprendizagemparticipativa e construtivista, por meio deaulas expositivas, com recursos didticosinterativos, vdeos, painis etc. impor-tante que esse processo se torne uma capa-citao e no um treinamento.

    CRTICASApesar da proliferao de tcnicas de ci-

    nesioterapia e da criatividade dos fisiotera-peutas que com elas atuam, sempre surgemcrticas acerca da excessiva padronizaode prescries de atividades fsicas. Mui-tas pessoas pensam que a preveno de le-ses no trabalho apenas fazer exerccios.Na realidade, a soluo a interferncia nafonte do problema, a anlise de cada posto,e a prescrio individual de uma terapia,nota o professor Paulo Barros de Oliveira,da Escola de Sade Pblica da UFRGS. Eleacredita que muitos bons programas podemir por gua abaixo se os trabalhadores con-tinuarem, por exemplo, levantando pesoexcessivo, trabalhando em posturas noadequadas, ou tendo cargas horrias exces-sivas. As empresas tambm pensam quefazendo procedimentos iguais para todos

    os trabalhadores ir resolver os problemas. como se fisioterapia fosse a prescriodos mesmos exerccios, adaptados. O certoseria a anlise de cada posto, insiste.

    A ginstica laboral virou uma espciede remdio para diversas doenas ocupa-cionais, e isso no sempre verdadeiro, as-sim como no verdadeiro pensar que umaatividade fsica possa ser padro para to-dos, atesta a psicloga e ergonomista Regi-na Helena Maciel, da Universidade Esta-dual do Cear. Outra crtica da ginsticalaboral a fisioterapeuta Jacinta Renner,diretora da consultoria Qualivida, de NovoHamburgo/RS. No vivel colocar umgrande nmero de pessoas fazendo os mes-mos exerccios num mesmo ambiente. Noconcordo com a ginstica laboral da formacomo est sendo aplicada na maioria doscasos. preciso fazer um profundo diag-nstico do trabalho, entender, de fato, o queest sendo feito. No se pode perder de vis-ta questes individuais, pois cada pessoatem sintomas individuais. Para alguns, umalongamento pode ser benfico, para ou-tros, no, argumenta.

    AUTO-ESTIMAAs questes emocionais no podem, de

    Arq

    uiv

    o/S

    up

    ort

    e

  • 51MAIO/2003

    Um dos setores de maior atuao da Fisi-oterapia do Trabalho a reabilitao pro-fissional, que, tecnicamente, classificadacomo preveno terciria enfrenta diasno muito alvissareiros narede pblica de Sade e,especialmente, de Previ-dncia. A coordenadorado Centro de Refernciaem Sade do Trabalhadordo Estado de So Paulo(Cerest/SP), Maria Maeno,ressalta que, apesar deconstar constitucional-mente como um direito dotrabalhador, a reabilitaovem sendo, aos poucos,desmantelada na rede p-blica, seja por sua exces-siva centralizao, sejapela no reposio de pro-fissionais fisioterapeu-tas, terapeutas ocupacionais, socilogos,psiclogos e outros que se aposentam.De acordo com ela, a fragilidade maior estnos Centros de Reabilitao Profissional(CRPs) do INSS. Em So Paulo, todos os

    Reabilitao enfrenta problemasA preveno terciria est cada vez mais

    ausente na rede pblica de Sade e da Previdnciatrabalhadores que precisam de reabilitaoe que dependem do INSS precisavam sedeslocar para a zona Leste da Capital,exemplifica, lembrando que muitas pesso-

    as desistem por problemasde locomoo ou mesmopor falta de recursos paracomparecerem s sesses.

    O que est ocorrendo, narealidade, a no existn-cia da reabilitao profis-sional. Os CRPs, ligados aoINSS, deveriam ser comple-mentares aos Cerests (doSUS), mas no vemos istoacontecer, critica. De acor-do com ela, at mesmo oscursos de requalif icaoprofissional oferecidos nosCRPs, na prtica, no exis-tem mais. Sabemos que hparcerias entre o INSS e as

    empresas para a reabilitao profissional,mas o que se nota so resultados negativos,pois, medida que as empresas comeam aagir nessas parcerias, o governo deixa defazer a sua parte, e as empresas que mono-

    forma alguma, ser ignoradas quando se tra-balha com cinesioterapia. H pessoas do-entes fisicamente, de fato, mas tambm exis-tem pessoas que esto emocionalmente embaixa e buscam apoio na prpria doena,como um crculo vicioso, avalia Sonia Ma-rina da Costa, scia da Supporte AssessoriaEsportiva Empresarial, de So Paulo/SP. Deacordo com ela, os aspectos de motivaoprecisam estar arraigados aos trabalhos rea-lizados na rea de ginstica laboral, reedu-cao postural e reduo do estresse. apartir desta convico que a Supporte ex-pandiu sua atuao tem duas unidadesem So Paulo, uma no Rio de Janeiro e umpequeno ncleo em Curitiba e conquis-tou cerca de 50 clientes, boa parte delesformada por empresas de grande porte, nossetores pblico e privado. A educadora Val-quria de Lima, scia de Sonia, est lanan-do o livro Ginstica Laboral AtividadeFsica no Ambiente de Trabalho, pela edi-tora Phorte. Segundo ela, as empresas es-to tendo doenas ocupacionais tambmna rea administrativa. O sedentarismo e am postura, afirma Valquria, esto levan-do a boa parte desses problemas. Um dossetores mais afetados o bancrio, obser-va. Entre os servios disponibilizados pelaSupporte esto mtodos de tratamento co-mo eletroterapia, acupuntura, massoterapia,do-in, cromoterapia, reflexologia, reeduca-o postural global e recursos cinesioter-picos relaxamento, ganhos de muscula-tura e de resistncia muscular.

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    52 MAIO/2003

    polizam esse processo, o que contradit-rio, pois so elas mesmas as causadoras dasleses, avalia.

    ENXUGAMENTOO superintendente do INSS do Estado de

    So Paulo, Carlos Eduardo Gabas, reconhe-ce os problemas existentes na estrutura dosCRPs. Ele ressalta, no entanto, que se tratade um desafio para o novo governo. Assu-mimos h 60 dias e estamos analisando asituao, afirma. Conforme Gabas, houve,de fato, um enxugamento na estrutura dosCRPs, na penltima modificao adminis-trativa dessas instituies, ocorrida em2000. Temos um grupo de assistentes so-ciais que ficaram praticamente sem funo,admite, lembrando, no entanto, que existemunidades de reabilitao ativas em algunslocais. Ele lembra ainda que foram fecha-dos diversos convnios entre os CRPs, pre-feituras e universidades, obtendo-se condi-es de infra-estrutura (equipamentos) e-xemplares em alguns deles, como o de Bau-ru, que j foi considerado referncia nacio-

    nal. Gabas ressalta que a estrutura dos CRPs um dos temas que est na pauta de discus-ses no frum de debates sobre doenas doTrabalho que envolve, alm da Previdn-cia, os ministrios da Sade e do Trabalho.

    READAPTAOUm dos trabalhos mais dinmicos e desa-

    fiadores para os fisioterapeutas que atuamem unidades pblicas com preveno ter-ciria a readaptao profissional. A fisio-terapeuta Brbara Minghini, que trabalhano Cerest/SP, ressalta que a readaptaoconsiste em inserir o indivduo em um novotipo de trabalho, conforme as competnciasque ele tem ou pode desenvolver, enquan-to que a reabilitao profissional a assis-tncia ao paciente para recoloc-lo no am-biente de trabalho. Ela nota que o traba-lho de readaptao geralmente disponibi-lizado apenas na rede pblica. Ns tive-mos casos, no Cerest, de pessoas com LERque trabalhavam em atividades repetitivas,em indstrias e bancos, e que foram readap-tadas para tarefas como revisar textos ou

    cultivar verduras orgnicas, relata.O f isioterapeuta do Trabalho que est

    num Cerest d prioridade ao trabalho deequipe multidisciplinar. Fazemos assistn-cia por meio de equipes teraputicas, comotrabalhos em grupo e individuais, sendo osindividuais com recursos de calor, frio e ele-tricidade, para a reduo de dores, e ampli-tude de movimento, para ganho de foramuscular, explica. Brbara relata ainda queo pblico do Cerest muito diferenciado,composto por pessoas afastadas, desempre-gadas e indivduos que continuam traba-lhando. Os grupos so de 15 a 20 pessoas,que atendem a trs sesses semanais, du-rante quatro meses, em mdia.

    Um ponto relevante do trabalho nos cen-tros de referncia ou de reabilitao a ne-cessidade de muito dilogo com o trabalha-dor, pois como o pblico heterogneo eno se tem acesso ao local de trabalho, faz-se necessrio o conhecimento detalhadodas atividades que cada um realizava noseu posto de trabalho para melhor prescre-ver a terapia.

    Arq

    uiv

    o/S

    up

    po

    rte

    Arq

    uiv

    o/F

    un

    da

    o

    Ru

    be

    n B

    ert

    a

    Terapia e dilogo: receita para um programa satisfatrio Problemas na coluna lombar perfazem grande parte dos casos

  • FISIOTERAPIA DO TRABALHOFISIOTERAPIA DO TRABALHOESPECIALESPECIAL

    54 MAIO/2003

    Aquele que previne e cura dores de ori-gem laboral tambm est suscetvel a elas.Os f isioterapeutas do Trabalho, segundopesquisas realizadas no exterior e no Bra-sil, esto sujeitos a lombalgia, leses empunhos e mos e exposio excessiva aradiaes eletromagnticas, dependendodo tipo de terapia que apliquem aos pacien-tes. Os riscos existem, mas desde o primei-ro ano de graduao o aluno do curso defisioterapia orientado no sentido de ficaratento a questes de estresse, sobrecargaetc. Ele aprende a lidar com isto de formadiferenciada do trabalhador, afirma a fisi-oterapeuta Maria do Carmo Baracho deAlencar. Dependendo da quantidade depacientes que atendermos, estaremos can-sados no final do dia. Temos que ter umaagenda proporcional nossa capacidade deatendimento. Atividades de grande deman-da fsica devem ser intercaladas com ativi-dades de esforo mental. Ou seja, devemosdividir a carga de trabalho, ensina a fisio-terapeuta Rosimeire Marangoni dos Reis.Para ela, o estresse ocupacional somenteaparece se o indivduo no d conta ou no valorizado pelo que faz. O importante,diz, organizar o trabalho para que ele sejaprodutivo.

    O fisioterapeuta tem que cuidar da pr-pria ergonomia. Determinados movimentoscom pacientes causam problemas coluna,

    Eles tambm sentem dorPesquisa paranaense revela que fisioterapeutas

    esto adoecendo devido sobrecarga de trabalho

    assim como o deslocamento de pessoas,reconhece Airton Luis Kleinowski, especi-alista em Fisioterapia do Trabalho. O as-pecto emocional no trato com o doente tam-bm pode ser estressante para o fisiotera-peuta: Trabalhamos muito com dor crni-ca. Os estagirios ou recm-formados ficamangustiados porque no entendem como,aplicando o tratamento a um paciente, du-rante um, ou mesmo dois anos, a dor conti-nua. preciso tranqilizar-se quanto a istoporque muito do fundo dessas doenas estna relao conflituosa entre capital e traba-lho. E muitas vezes os fatores psicolgicoscontribuem para agravar tendinites e ou-

  • 55MAIO/2003

    Saiba mais sobre o assuntowww.abergo.com.br - Associao Brasileirade Ergonomiawww.anafit.com.br - Associao Nacional deFisioterapia do Trabalhowww.sobrafit.com.br - Sociedade Brasileirade Fisioterapia do TrabalhoII Congresso Nacional de Fisioterapia do Tra-balho - Fisiotrab (15 e 16/08 - Centro de Con-venes Hotel Bourbon, em Curitiba/PR)

    tros males. Kleinowski o exemplo vivode que o fisioterapeuta do Trabalho convi-ve com a dor. Ele freqentemente acome-tido por leses nos punhos, por causa desuas atividades profissionais.

    RISCOSO artigo Distrbios Musculoes-

    quelticos no Trabalho do Fisiotera-peuta, de Maria do Carmo Baracho eda estudante de fisioterapia FernandaDutra Borges, da Universidade Tuiu-ti, do Paran, apresenta alguns da-dos reveladores das dificuldades docotidiano dos fisioterapeutas do Tra-balho. As autoras mencionam umapesquisa realizada junto a 1.160 fi-sioterapeutas norte-americanos naqual foram descritos 17 fatores de ris-co no trabalho. Os mais freqentesforam: levantar ou transferir pacien-tes dependentes, tratar de um exces-sivo nmero de pacientes num mes-mo dia, trabalhar na mesma posio

    por longos perodos, executar tcnicas or-topdicas manuais, realizar trabalhos sempausas ou descansos suficientes. O estudoquestiona a noo de postura fsica quenormalmente se tem, como sendo algo pa-dronizado para todos, desfazendo este en-tendimento. Para isto, cita trecho de umaantiga obra, denominada Dinmica do Cor-po (1952), de Metheny, para quem noexiste uma s postura para todos os indiv-

    duos. Para cada pessoa, a melhor postura aquela em que os segmentos corporais es-to equilibrados na posio de menor es-foro e mxima sustentao, sendo esta umaquesto individual.

    DADOSUma pesquisa realizada com 40 profis-

    sionais de fisioterapia em Curitiba/PR, se-gundo Maria do Carmo e Fernanda (vejaQuadro ao lado, Fisioterapeutas doentes),revela que esses profissionais esto sobre-carregados, j que a maioria deles atendeentre 15 e 20 pacientes por dia, com algunschegando a 30 atendimentos dirios. Es-sas cargas de trabalho so muitas vezes su-periores aos limites fisiolgicos pessoais,alm de possivelmente comprometer a qua-lidade dos atendimentos, avalia o estudo.Outra concluso que 92% dos profissio-nais entrevistados, em algum momento dosatendimentos, realizam algum tipo de es-foro fsico. O que, ao longo dos anos ecom a continuidade da rotina de trabalho,pode ocasionar distrbios, caso medidasno sejam tomadas com relao ao melhoruso da dinmica corporal, realizao dealongamentos e a evitar-se posturas estti-cas por longos perodos.

    Ainda conforme a pesquisa feita emCuritiba, entre os recursos mais utilizadospelos fisioterapeutas estavam a cinesiote-rapia (exerccios teraputicos) e a eletrote-rapia, sendo equipamentos mais emprega-

    dos, o ultrassom, tens, laser e ondas curtas.O estudo alerta para o fato de serem poucorevelados os efeitos de certos equipamen-tos empregados com freqncia, como ra-diaes eletromagnticas acima de nveisrecomendveis, o que deve ser revisto porempresas fornecedoras. Alm disto, foi men-cionada a massoterapia (terapia manual)como recurso muito utilizado, o que expeos profissionais a distrbios maiores nasregies dos punhos e das mos. As princi-pais queixas de distrbios musculoesque-lticos foram referentes a regies lombar(55%) e punho (27,5%), sendo estas lti-mas associadas possivelmente utilizaofreqente de ultrassom. As demais queixasesto nas regies cervical, joelho, cotoveloe mo. Cerca de 77% dos profissionais re-lataram ainda inadequao de postura emvirtude da disposio de mveis e equipa-mentos nos locais de trabalho e falta de es-pao, geralmente dividido com colegas.