artigo - filosofia da religião - o homem e a sua sede de infinito

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4 O homem e a sua sede de infinito Francisco Marcílio Gomes Carneiro * Resumo: O Presente artigo tem por objetivo, em princípio, refletir e medi- tar sobre a sede de infinito que o homem leva no profundo de si mesmo, que o impele a ir além e o remete para alguém que a possa satisfazê-lo. Pode-se constatar que o homem não se basta a si próprio, pois desde as primeiras e mais remotas manifestações de sua atividade intelectual saíram à procura de outro infinito. Mediante esse paradoxo da vida real e do homem moderno, alguns filósofos e pensadores expuseram algumas de suas opini- ões, incitando nessa modernidade o reconhecimento de Deus como realida- de mais real do que nós mesmos, como fundamento do ser e fonte de todos os anseios que inquietam o coração do homem, mediante as três formas de conhecê-lo, ou ainda a outro extremo, que é justamente o fato de que o homem é levado à sua própria conquista do absoluto e afirmando totalmente a inexistência de Deus. Palavras-chave: Homem; Deus; Religião; Infinito. Abstract: The present article has the objective, in principle, reflect and med- itate on the infinite thirst that man carries deep within himself, which com- pels him to go further and refers to someone who can satisfy you. One can see that the man is not just himself, because from the earliest and most remote manifestations of its intellectual activity went looking for infinity. Upon this paradox of real life and the modern man, some philosophers and thinkers have exposed some of his views, urging that modernity recognition of God as a reality more real than ourselves, as ground of being and the source of all desires that perturb heart of man, by the exercise of religion, or to the other extreme, which is precisely the fact that man is taken to his own conquest of absolute and stating fully the absence of God. Key-words: Man; God; Religion; Infinite. * Bacharel em Administração Geral pela Faculdade Farias Brito - FFB; Graduando em Bacharelado de Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco UNICAP.

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    O homem e a sua sede de infinito

    Francisco Marclio Gomes Carneiro *

    Resumo: O Presente artigo tem por objetivo, em princpio, refletir e medi-tar sobre a sede de infinito que o homem leva no profundo de si mesmo, que o impele a ir alm e o remete para algum que a possa satisfaz-lo. Pode-se constatar que o homem no se basta a si prprio, pois desde as primeiras e mais remotas manifestaes de sua atividade intelectual saram procura de outro infinito. Mediante esse paradoxo da vida real e do homem moderno, alguns filsofos e pensadores expuseram algumas de suas opini-es, incitando nessa modernidade o reconhecimento de Deus como realida-de mais real do que ns mesmos, como fundamento do ser e fonte de todos os anseios que inquietam o corao do homem, mediante as trs formas de conhec-lo, ou ainda a outro extremo, que justamente o fato de que o homem levado sua prpria conquista do absoluto e afirmando totalmente a inexistncia de Deus. Palavras-chave: Homem; Deus; Religio; Infinito. Abstract: The present article has the objective, in principle, reflect and med-itate on the infinite thirst that man carries deep within himself, which com-pels him to go further and refers to someone who can satisfy you. One can see that the man is not just himself, because from the earliest and most remote manifestations of its intellectual activity went looking for infinity. Upon this paradox of real life and the modern man, some philosophers and thinkers have exposed some of his views, urging that modernity recognition of God as a reality more real than ourselves, as ground of being and the source of all desires that perturb heart of man, by the exercise of religion, or to the other extreme, which is precisely the fact that man is taken to his own conquest of absolute and stating fully the absence of God. Key-words: Man; God; Religion; Infinite.

    * Bacharel em Administrao Geral pela Faculdade Farias Brito - FFB; Graduando

    em Bacharelado de Filosofia pela Universidade Catlica de Pernambuco UNICAP.

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    1 INTRODUO

    Constata-se ao longo da histria, que desde as primeiras e mais remotas manifestaes humanas, o homem saiu a procura do outro infinito atravs de suas atividades intelectuais, chegando ao homem ocidental que ainda no conseguiu por definitivo responder todos os anseios que envolvem Deus, a transcendncia e o infinito, perma-necendo ento at os dias de hoje, como um desafio constante para a razo humana.

    Dessa forma, pode-se atenuar a questo de que o homem no se basta a si prprio, ele tem sede do infinito e do encontro com o to-talmente outro que busca angustiado, mesmo sem o saber, e esse caminho de busca torna-se mais desafiante, quando caminha-se sozi-nho e quando o terreno desconhecido, pois na maioria das vezes, esse caminho para Deus se faz na solido e sem rumos definidos, em que a razo no pode sobrepor o mistrio.

    Por outro lado, para os filsofos existencialistas, a excluso de Deus exalta o protagonismo do homem na histria e no mundo, e consequentemente, pe a zero carncia de sentido do SER do mundo e do prprio homem. Quando Sartre afirma, que o Ser sem razo, sem causa, sem necessidade,1 dessa forma, entende-se que s Deus poderia dar sentido total ao SER, e afirmando que Deus no existe, o SER permanece sem sentido, cabendo ao homem a respon-sabilidade radical de dar um sentido existncia das coisas do mundo.

    Quando se fala em infinito para o homem, por natureza, associa-se as coisas de Deus, relaciona-se Ele como sua causa primeira e seu fim ltimo, a chama da sua esperana, o objeto do seu amor, a luz da sua inteligncia e a fonte de sua vida, por esse motivo, o homem ja-mais deve cessar de busc-lo no infinito com todas as suas foras da mente, da vontade e do esprito, em todos os momentos da sua vida. De fato, os homens sempre procuram Deus, talvez nos lderes pol-ticos, nos dolos, nos astros da msica ou esporte. Procuram alguma coisa de essencial, mesmo sem sab-lo. Buscam a divindade.2

    1 SARTRE, J. P. O Existencialismo um humanismo. Srie os Pensadores, S. Paulo,

    1978, p. 9. 2 E. Jonesco, entrevista ao Corriere della ser de 19 de Agosto de 1988, p. 3

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    2 O HOMEM E SEUS ANSEIOS

    Basta um simples olhar pela histria antiga, para ver com toda a clareza como surgiram simultaneamente, em diversas partes da terra, animadas por culturas diferentes, as questes fundamentais que carac-terizam o percurso da existncia humana: Quem sou eu? De onde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que que existir depois desta vida?

    Este artigo no se deter nestas perguntas fundamentais da exis-tncia humana, mas vale ressaltar que atravs desses questionamen-tos, nasce no interior do homem o desejo pelo saber, pelo conheci-mento, pelo transcendente, pela verdade.

    Percebe-se nos nossos dias atuais, que variados so os recursos que o homem possui para progredir no conhecimento da verdade, tornando assim cada vez mais humana a sua existncia. De entre eles sobressai a filosofia, cujo contributo especfico colocar a questo do sentido da vida e esboar a resposta: constitui, pois, uma das tarefas mais nobres da humanidade.

    Efetivamente, a filosofia nasceu e comeou a desenvolver-se quando o homem principiou a interrogar-se sobre o porqu das coi-sas e o seu fim. Ela demonstra, de diferentes modos e formas, que o desejo da verdade pertence prpria natureza do homem. Interrogar-se sobre o porqu das coisas uma propriedade natural da sua razo, embora as respostas, que esta aos poucos vai dando, se integrem num horizonte que evidencia a complementaridade das diferentes culturas onde o prprio homem vive.

    Levando em considerao que os desejos sejam nascentes das ne-cessidades e questionamentos que o homem trs dentro de si, segun-do (Goldsmith, 2005);

    Nos momentos de apuro e frustrao, o homem co-mea a se questionar, mesmo que sejam s perguntas como estas: Por que deveria acontecer isto comigo? Ou Como posso evitar tais acontecimentos? A partir de ento, surge no interior do homem, tais desejos de respostas e explicao para o mundo que o cerca.

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    Contudo, o homem no pode viver sempre nesse circulo proble-mtico por toda a vida, na esperana de encontrar uma soluo sem-pre ao modo como pensa e que satisfar seus anseios e desejos. Na medida em que se aceita a verdade por si mesma, a sua condio hu-mana melhorar, isto at se parece como algo impossvel ou demasia-damente fabuloso, mas a verdade que sacia os desejos do homem pode est bem ao seu alcance que ele prprio talvez nem imagine.

    Vale destacar, uma notao interessante do homem frente a sua natureza de questionamentos, no qual segundo (B. Mondin, 1997) cita:

    O homem distingue-se dos animais e dos robs, por-que no se contenta em registrar experincias sens-veis, dados e informaes; ele levanta questes, agita a mente, prope problemas, formula perguntas. En-quanto os animais e os robs esto imersos nos fen-menos, o homem interroga-se sobre o significado des-tes, sobre sua estrutura, sobre sua origem, e procura explicaes. (...) No homem, a sede de conhecer, de descobrir, de saber, viva, ardente, insacivel. uma sede que abarca tudo: a vida e a morte, a natureza e a histria, o ser e o vir a ser, a cultura e a religio, o in-dividuo, a sociedade, a justia e o direito, a guerra e a paz.

    Mondin afirma com muita clareza, que o ato de questionar est inerente natureza do homem, desde os tempos remotos, ele sempre se ocupou em levantar questes no qual seriam objetos de trabalhos para a filosofia, nas suas diversas abordagens, conforme foi citado anteriormente.

    2.1 A sede de Deus

    Entre as diversas questes que o ser humano se ocupou durante a sua trajetria humana, e que nunca deixou de se propor, esto as questes relativas a Deus, que sempre tiveram um grande destaque e esto presentes em todas as culturas que deixaram rastros na histria.

    Segundo (Mondin, 1997), o problema de Deus algo perene, sempre foi colocado e nunca para de se apresentar conscincia hu-mana, no qual expe a seguinte citao que vale destaque:

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    O Problema de Deus surge em todos os tempos,

    sempre que o homem experimenta tanto a mais pro-

    funda necessidade quanto maior a plenitude.3 O Pro-blema de Deus o problema essencial do homem es-sencial, dando clareza a todos os demais problemas da

    existncia: tica, ao direito, economia [...].4 Hoje, voltou-se a falar de Deus, com frequncia e de bom grado,

    no s na igreja, mas tambm em casa, na escola, na televiso, nos jornais, no metr, etc. No entanto esse renovado interesse por Deus e pela religio, que de alguma forma, tem surpreendido aos socilogos, e assim no pode deixar de suscitar algumas perplexidades. Muitos se perguntam se essa busca por Deus, no seria caracterizada por uma nova moda, to frgil e precria quanto s outras modas culturais do nosso tempo. O autor abaixo deixa bem claro sobre essa mentalidade:

    Deus no pode ser tratado como uma moda, co-

    mo no pode ser vistos como moda os tomos e as molculas, a energia atmica e solar, a vida humana, a existncia pessoal, o cu e a terra, o homem e o mun-do. Com Deus est em jogo toda a nossa existncia, presente e futura, a maneira de entender a vida, o pro-jeto de humanizao, os valores fundamentais ao qual

    o homem confia, e realizao prpria do homem.5

    Entende-se Deus como sendo a realidade primeira, fundamental,

    onipresente e onicompreensiva, que nos tira do nada com um purs-simo ato de amor, e com igual amor nos mantm no ser, ento dessa forma, fica descartado a possibilidade de v-lo com uma moda ou algo do tipo, como uma coisa passageira. para Deus, pois que corre espontneo e insistente o nosso pensamento; para ele corre incansa-velmente o nosso pensamento, visto que um dos primeiros questio-namentos que o homem trs em si, justamente o fato de saber mais

    3 F. Gogarten, La questione su Dio, Queriniana, Brscia, 1971, p. 29. 4 C. Fabro, Luomo e Il rischio di Dio, Studium, Roma, 1967, p. 136. 5 B. Mondim, Quem Deus? Elementos da teologia filosfica, 1997, p.06.

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    de Deus, de conhec-lo, ter mais certeza de sua existncia. Falar de Deus e conhec-lo, eis a ltima e mxima possibilidade da linguagem e do conhecimento humano, segundo ainda (B. Mondin, 1997), um altssimo privilgio poder falar e conhecer a Deus de uma forma profunda, e ainda alcanar xito nessa tarefa privilgio de poucos.. Visto aqueles que se debruam nessa misso, sente-se no dever de confirmar a f dos que j so crentes, e em relao aos no crentes, para ajud-los a superar os preconceitos que os mantm afastados de Deus.

    2.1.1 Os Caminhos para se chegar ao conhecimento de Deus

    No tpico anterior, refletiu-se sobre o desejo de Deus que o ser humano leva no profundo de si mesmo. Seja interessante dar conti-nuidade a aprofundar este aspecto, meditando brevemente sobre alguns caminhos para chegar ao conhecimento de Deus. Contudo, vale ressaltar que a iniciativa de Deus precede sempre todas as inicia-tivas do homem e, tambm no caminho rumo a Ele, Ele em primei-ro lugar quem ilumina o homem, orienta e guia, respeitando sempre a sua liberdade.6 E sempre Ele quem faz com que ele entre na intimi-dade, revelando-se e doando-nos a graa para poder acolher esta re-velao na f.

    Vale destacar um pensamento de um grande filsofo e pensador, Santo Agostinho, que diz: (...) no somos ns que possumos a Verdade depois de a termos procurado, mas a Verdade que nos procura e nos possui.

    No passado, no Ocidente, numa sociedade considerada crist, a f era o mbito no qual ela se movia; a referncia e a adeso a Deus eram, para a maioria das pessoas, parte da vida quotidiana. Ao contr-rio, era quem no acreditava que devia justificar a prpria increduli-dade. No nosso mundo atual, a situao mudou e cada vez mais o crente deve ser capaz de dizer a razo da sua f.

    O beato Joo Paulo II, na Encclica Fides et ratio, realava o mo-do como a f posta prova tambm na poca contempornea, atra-

    6 Bento XVI, Audincia geral. Ano da F. 14 de Novembro de 2012.

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    vessada por formas sutis e capciosas de atesmo terico e prtico7.

    Diante deste quadro, a Igreja, fiel ao mandato de Cristo, nunca cessa de afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu destino. O Conclio Vaticano II afirma sinteticamente que:

    O aspecto mais sublime da dignidade humana en-contra-se na vocao do homem unio com Deus. Comea com a existncia o convite que Deus dirige ao homem para dialogar com Ele: se o homem existe porque Deus o criou por amor e, por amor, no cessa de o conservar na existncia; e o homem no vive ple-namente segundo a verdade, se no reconhecer livre-mente este amor e no se entregar inteiramente ao seu

    criador.8

    Ento, pode-se perceber a responsabilidade que o homem de f chamado a exercer, com respeito ao atesmo e ao ceticismo, para que o homem do nosso tempo possa continuar a interrogar-se sobre a existncia de Deus e a percorrer os caminhos que levam a Ele. Se-gundo o Papa Emrito Bento XVI, se faz necessrio propor alguns caminhos, que derivam tanto da reflexo natural, como da prpria fora da f. Que so o mundo, o homem e a prpria F.

    A primeira: o mundo. Santo Agostinho, que na sua vida procurou a Verdade por muito tempo e foi arrebatado pela Verdade, escreveu uma pgina lindssima e clebre, na qual disse:

    Perscruta a beleza da terra, do mar, do ar rarefeito

    e onde quer que se expanda; perscruta a beleza do cu... e todas as realidades. Todas te respondero: olha para ns e v como somos bonitas. A sua beleza como um hino de louvor. Ora, estas criaturas to bo-nitas, mas tambm mutveis, quem as fez se no aque-le que a beleza inaltervel?.9

    7 Joo Paulo II. Encclica Fides et Radio. Cf. n. 46-47 8 Const. Gaudium et spes, 19 9 Santo Agostinho. Sermo 241,2: PL 38, 1134

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    Pensa-se ento que o homem deve recuperar e fazer recuperar ao homem de hoje a capacidade de contemplar a criao, a sua beleza, a sua estrutura. O mundo no um magma amorfo, mas quanto mais o conhece e o descobre os seus mecanismos maravilhosos, tanto mais v-se um desgnio, v-se que existe uma inteligncia criadora. Albert Einstein disse que nas leis da natureza se revela uma razo to supe-rior que toda a racionalidade do pensamento e dos ordenamentos humanos em comparao um reflexo absolutamente insignifican-te.10. Portanto, um primeiro caminho que leva descoberta de Deus a contemplao da criao com um olhar atento.

    A segunda palavra: o homem. sempre de santo Agostinho a fra-se clebre com a qual diz, que Deus mais ntimo de mim de quanto eu o seja de mim mesmo11. A partir disto, ele formulou o convite: No saias de ti mesmo, entra em ti mesmo: a verdade habita no homem interior.12. Este outro aspecto que o homem corre o risco de perder no mundo ruidoso e dispersivo no qual ele vive, a capaci-dade de refletir, de meditar em profundidade e de detectar aquela sede de infinito que traz no seu ntimo, que o impele de ir alm e os remete para Algum que a possa satisfazer. O Catecismo da Igreja Catlica afirma: Com a sua abertura verdade e beleza, com o seu sentido do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua conscin-cia, com a sua nsia de infinito e de felicidade, o homem interroga-se sobre a existncia de Deus.13

    A terceira palavra: a f. Sobretudo na realidade do nosso tempo, o homem no deve esquecer que um caminho que leva ao conhecimen-to e ao encontro com Deus a vida da f. Quem cr est unido a Deus, est aberto sua graa e fora da caridade, dizia Bento XVI. Assim a sua existncia torna-se testemunho no de si mesmo, mas do Ressuscitado, e a sua f no teme mostrar-se na vida quotidiana, est aberta ao dilogo que expressa profunda amizade pelo caminho de

    10 Albert Einstein, Como vejo o mundo, 1981, p.08 11 Santo Agostinho, Confisses III, 6,11 12 Santo Agostinho, De vera religione, 39, 72 13 Catecismo da Igreja Catlica, Par. 33

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    cada homem, e sabe dar esperana a necessidade de resgate, de felici-dade e de futuro. Ainda ressalta Bento XVI sobre este asppecto, quando ele afirma,

    De fato, a f encontro com Deus que fala e age na histria e que converte a nossa vida diria, trans-formando a nossa mentalidade, juzos de valor, esco-lhas e aes concretas. No iluso, fuga da realidade, refgio cmodo, sentimentalismo, mas participao de toda a vida e anncio do Evangelho, Boa Nova capaz de libertar o homem todo.

    Hoje muitas pessoas tm uma concepo limitada da f crist, porque a identificam com um mero sistema de crena e de valores e no com a verdade de um Deus que se revelou na histria, desejoso de comunicar intimamente com o homem, numa relao de amor com ele. Na realidade, como fundamento de toda a doutrina e valor est o evento do encontro do homem com Deus em Jesus Cristo. O Cristianismo, antes de uma moral ou de uma tica, o acontecimento do amor, o acolhimento da pessoa de Jesus. Por isso o cristo e as comunidades crists antes de mais nada, devem olhar e fazer olhar para Cristo, o verdadeiro Caminho que leva a Deus.

    3 O HOMEM COMO SER ABSOLUTO

    Diante de diversas teorias e pensamentos expressos por grandes filsofos ao longo da Histria, como Marx, Nietzsche, Freud, Sartre, no qual eles exaltavam o Homem, louvaram a sua grandeza, fora, inteligncia e poder. As maravilhosas conquistas cientficas e tecnol-gicas da poca moderna, testemunham claramente a grandeza e o poder do homem. Constata-se que nos ltimos dois sculos, o ho-mem se tornou o Senhor do Planeta habitado por ele, como no ato de dispor das coisas como querem, manipula-as, explora-as, trans-forma-as e as destri. Diante desse fato, vale ressaltar um pensamento de Gogarten que diz: Tudo o que existe neste mundo no s aces-svel ao homem, mas est submetido ao seu domnio. Ou seja, o ho-

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    mem explora o mundo para seus objetivos e projetos, considerando tudo com que uma espcie de matria-prima para seus produtos.14

    A partir do Iluminismo, a crtica religio intensificou-se; a hist-ria foi marcada tambm pela presena de sistemas ateus, nos quais Deus era considerado uma mera projeo do nimo humano, uma iluso e o produto de uma sociedade j alterada por tantas alienaes. Depois, o sculo passado conheceu um forte processo de secularis-mo, sob a bandeira da autonomia absoluta do homem, considerado como medida e artfice da realidade, mas empobrecido do seu ser criatura, como diz nas escrituras, imagem e semelhana de Deus. No nosso tempo verificou-se um fenmeno particularmente perigoso para a f, de fato, existe uma forma de atesmo que definimos como bem prtico, no qual no se negam as verdades da f ou os ritos reli-giosos, mas simplesmente se consideram irrelevantes para a existncia quotidiana, destacadas da vida, inteis, sem valor. Ento, com fre-quncia, cremos em Deus de modo superficial, e vivemos como se Ele no existisse. Mas, no final este modo de viver resulta ainda mais destrutivo, porque leva indiferena f e questo de Deus, o que ocasiona ainda mais em vazio interior. Bento XVI ressalta de forma bem objetiva nos seus ensinamentos, quando ele diz;

    Na realidade, o homem separado de Deus reduz-se a uma s dimenso, a horizontal, e precisamente es-te reducionismo uma das causas fundamentais dos totalitarismos que tiveram consequncias trgicas no sculo passado, assim como a crise de valores que ve-mos na realidade atual. Obscurecendo a referncia a Deus obscureceu-se tambm o horizonte tico, abrin-do espao ao relativismo e confirmando-se uma con-cepo ambgua da liberdade que em vez de ser libera-tria acaba por ligar o homem a dolos. As tentaes que Jesus enfrentou no deserto antes da sua misso pblica, representam bem aqueles dolos que fascinam o homem, quando no vai alm de si mesmo.

    14 F. Gogarten, op. Cit, p. 36

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    Se Deus perder a centralidade, o homem perde o seu justo lugar, e no encontra a sua colocao na criao, nas relaes com os ou-tros. No se extinguiu o que a sabedoria antiga evoca com o mito de Promessa: o homem pensa que pode tornar-se ele mesmo deus, dono da vida e da morte.

    4 CONCLUSO

    Enquanto o domnio do homem sobre o mundo no conhecem limites, o valor e a dignidade do homem sofrem contnuas derrotas. O homem toma cada vez mais, conscincia de sua prpria insignifi-cncia. Percebe-se a precariedade de sua existncia sobre a face da terra. Mas ao mesmo tempo em que o problema da sua insignificn-cia, no s pessoal, mas tambm coletiva, se torna pattico e seus prodigiosos progressos cientficos e tecnolgicos ameaam voltar-se contra ele prprio, a questo sobre Deus ganha nova densidade e atualidade.

    Atualmente, torna-se cada vez mais claro, inclusive as pessoas que antes professavam o atesmo, como Heidegger, Horkheimer, Kola-kovski, Garaudy, Fromm, estes afirmam que apenas um Deus pode salvar a humanidade e garantir um slido fundamento ao valor e dignidade da pessoa humana.

    Diante do argumentos aqui expostos, conclui-se ento, que So-mente com Deus e em Deus o homem pode esperar a realizao de si mesmo, gerando uma abertura no seu interior para apropriar-se das bem-aventuranas divinas e assim saciar a Sede e as inquietaes que por natureza o homem traz em si. Essa abertura se realiza tanto na vida do jovem que busca a felicidade plena, como na alegria da monja apaixonada por Cristo. Ambos esto vivendo na consequncia dessa inquietao que, para muitos, torna-se fundante da vida.

    O homem, ainda que consiga abafar a voz que clama dentro dele, tem a natural espera pelo Outro. Contudo, diante do mundo no qual os smbolos se encontram esvaziados, o sujeito se percebe desorien-tado nessa busca. Quando o mundo exalta o tempo presente pelo seu

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    carter atual, esquece que o presente se torna passado a cada instante. A grandeza da experincia crist , justamente, a percepo da atuali-dade concreta da existncia tendo em vista o seu sentido vertical, isto , eterno.

    A Igreja, com a Nova Evangelizao, pretende, justamente, anun-ciar ao homem moderno que a sua sede de verdade pode ser saciada em Cristo. A Igreja tem a misso de levar cada indivduo comu-nho com os outros e com o totalmente Outro. Nas dificuldades e paradoxos da vida atual, o Papa reconhece a importncia de, ao mes-mo tempo em que se mantm o olhar aberto proposto pelo Conclio Vaticano II, incita na modernidade o reconhecimento de Deus como realidade mais real do que ns mesmos, como fundamento do ser e fonte de todos os anseios que inquietam o corao.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AGOSTINHO, Santo. Confisses; Traduo de J.Oliveira Santos. Bragana Paulista: Editora Universitria So Francisco, 2003.

    A NOVA EVANGELIZAO. O Homem tem sede de Infinito. Disponvel em: . Acesso em: 06 outubro 2013 BENTO XVI. Audincia Geral. O Ano da F. Os caminhos para

    chegar ao conhecimento de Deus. Disponvel em: Acesso em 10 novembro 2013.

    GOLDSMITH, Joel S. O Caminho Infinito. Buscando a Iluminao

    Espiritual. So Paulo. Ed. Martin Claret, 2005. MAY, Rollo. O Homem procura de si mesmo. Traduo de Aurea

    Brito. Petrpolis, RJ: Vozes, 2012 MONDIN, Battista. Quem Deus? Elementos de Teologia filosfi-

    ca. So Paulo: Paulus, 1997. MORIN, Dominique. Para Falar de Deus. A Questo de Deus hoje.

    So Paulo. Ed. Loyola, 1993. SEDE DE INFINITO. Disponvel em: < http://www.pucsp.br/fecultura/textos/fe_razao/16_sede_infinito.html>. Acesso em: 06 outubro 2013. STACCONE, Giuseppe. Filosofia da Religio. O Pensamento do

    homem ocidental e o problema de Deus. ZILLES, Urbano. Filosofia da Religio. So Paulo: Paulus, 1991.