cronicas do infinito vacuo

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Crônicas do Infinito Vácuo – 2005 – Valdir Sol Publicação Digital

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Alguns textos em forma de poesias futuristas

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Page 1: Cronicas do Infinito Vacuo

Crônicas do Infinito Vácuo

– 2005 – Valdir Sol Publicação Digital

Page 2: Cronicas do Infinito Vacuo

CRÔNICAS DO INFINITO VÁCUO

Valdir Sol – Verão de 2006

Publicação digital

Impressão em papel não recomendada

Do mesmo autor: Nosso Simples Interior - 1997

Page 3: Cronicas do Infinito Vacuo

Para aqueles que recebeme àqueles que fizerem descarga

Page 4: Cronicas do Infinito Vacuo

Meus dois filhos foram pacientes e nãome cobraram atenção nas horas noturnas.

Um primo me recomendou pré-lançamentoe fiz distribuição para várias pessoas, que prefironão escrever nomes, pois posso esquecer de alguém.

Um brilhante professor me ajudou nalgumas correções,mesmo sendo complexo corrigir crônicas em poesias.

Conversas com astrônomo teofilotonense presentes em textos,reservando todos os direitos das teorias do tempo, do espaço e do universo.

Page 5: Cronicas do Infinito Vacuo

CAPA DO INFINITO VÁCUO DISTANTE MEDIEVALUma paisagem das montanhas – 1660/65

Óleo sobre tela - 56,5cm x 50cm - Wallace Collection, LondonDo holandês: Jan Wynants (1630, Haarlem, 1684, Amsterdam)http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/w/wynants/index.html

Endereço web válido em dezembro de 2005Todos os direitos reservados a quem de direito

Page 6: Cronicas do Infinito Vacuo

Catálogo

Prólogo.............................................. 7Cristi............................................... 9O Zero............................................... 10Primitivo............................................ 11Entrelaços........................................... 12Cartas Tristes....................................... 13Cristo Redentor...................................... 14Laisser-faire........................................ 15Oitavo............................................... 16Novo Governo......................................... 17Indícios Medievais................................... 18Vírus................................................ 19Incelência pro Mundo Novo............................ 20Mitologia Pagã....................................... 21A Volta Súbita....................................... 22Filosofia do Sonho................................... 23Tumor Maligno........................................ 24Fala Vazia........................................... 25Número Primo......................................... 26Não Diga............................................. 27Os Mendigos.......................................... 28Susto................................................ 29Partem Partidos...................................... 30B!nar!o.............................................. 31Médicos do Medo...................................... 32Pensar............................................... 33Carnaval............................................. 34Universo Aspiral..................................... 35Pirâmides............................................ 36Afirmações........................................... 37Na Quadrada das Águas Perdidas ©..................... 38

Page 7: Cronicas do Infinito Vacuo

Catálogo

Crônica da Grande Fome............................... 39Mal e Mel............................................ 40Amizade.............................................. 41São Tudo............................................. 42Wynants.............................................. 43Primeira Coluna...................................... 44Fim de Terra......................................... 45Clone................................................ 46Anúncio.............................................. 47Tabu................................................. 48Cursando Linhas...................................... 49Atitude.............................................. 50Luz do Tempo......................................... 51Águas Mágoas......................................... 52O Falso Trabalho..................................... 53Onze................................................. 54Inflação Real........................................ 55Civilizações......................................... 56Obrigado............................................. 57Referências Básicas para Meditação................... 59

Page 8: Cronicas do Infinito Vacuo

Prólogo

Um olhar sob a era medieval, já com luzes do Renascimento, na tão esperada hora do Barroco. Deste tempo, Da Vinci já vislumbrava as fantásticas maravilhas do futuro, e o futuro era para mais de 1.500 anos. Mesmo assim, ele enxergou longe. Visão.Enquanto isto, em outro tempo, Wynants andava sozinho, refugiando nas matas primitivas, que certamente foram destruídas pelos caminhos modernos. Europas e Américas. Solidão, adjetivo poético. Motor artístico.Dicionário poético. Amor, dor, nada, tudo, coração, ermo, vazio, vago, lua, manhã, dia, mulher, espaço, química, física e biologia.Na terra do pau-brasil, a colonização já traçava o futuro lastimável que esta terra chegaria, nos milênios futuros. Fim de mata e excesso de urbanização. Povo de curral. Consumo.Causos transformados em poesias. Poesias transformadas em histórias de mistérios pretéritos além daqui. Escuta de roda de amigos sintetizadas em refrões poéticos. Clarão de falta de eletricidade. Clarão da mente. Devaneios da natureza apocalíptica. Insólito.Política retrógada e braços cruzados perante os fatos e a História. Sem ação e sem pretenção. Palavras não salvam o mundo. Insuficiente.Um olhar sob a era contemporânea. O descaso dos excluídos. No infinito vácuo não se vê cores. Terra seca. No infinito vácuo não há luzes e nem som. Terra vermelha e cinza. Infinito vácuo é uma expressão cheia de conceitos, desde à vontade de gritar no espaço ao silêncio de uma formiga arrastando uma folha. Ao trabalho.

Page 9: Cronicas do Infinito Vacuo

1 9 1 5

Homenagem ao meu PAI

Page 10: Cronicas do Infinito Vacuo

Cristi

Um ser esquisitoandava pelas praias ácidas do Rio

olhando para um céu cinzentoadmirando uma imagem

fixada numa pedrade um Homem olhando para o vago

cercado por desertosladeado por nuvens negras

O ser esquisito era monstruososem narizsem bocasem olhossem braçossem pernas

A imagem estava desgastadacorroída

manchadaescura

desoladaO ser esquisito pensava

olhava de uma maneira diferenterepensava

se mexia entre seu corpo estranhoarrastavaimaginava

A imagem lá no altopregada na pedra

grandepesada

como teria chegado ali

9

Page 11: Cronicas do Infinito Vacuo

O Zero

1ivre2oando por aí

3nquanto se pode4azer arte

5em receios de6rades caligráficas7azidas no egito

8oras de amargas9randezas proféticas

10

Page 12: Cronicas do Infinito Vacuo

Primitivo

Um pique de energiaUma faísca no céu

Parece que tudo se recriaNuvens encobrem a lua

Mais um piqueUm estouro bem longe

Gritos na escuridãoNum piscar de olhos

Janelas clareiamIluminam o primata

Desacredita do modernoNa era de energia elétrica

Num piscar de olhosVelas acendem

11

Page 13: Cronicas do Infinito Vacuo

Entrelaços

Esse povo é alegreé feliz ao ver o amigo

Nossa gente é contentese abraçam para viverAs pessoas são belas

sorridentes pelos cantosNosso povo é bem simples

apertam as mãos do próximoEssa gente é de coraçãotanto amor sem razão

As pessoas se dão para as outrasnão se soma recompensa

Esse povo é sagradodas graças divinas

Nossa gente é bem fortede laços fecundos

As pessoas daqui são felizese vivem felizes acolá

Povo puroGente boa

Pessoas de paz

12

Page 14: Cronicas do Infinito Vacuo

Cartas Tristes

Cartas tristes são poesias de poetas tristespoetas vivem isolados

buscando um sentido para sua arteum sentido para sua vida maculada

Cartas tristes são anúncios de poetas caladospoetas andam mudos

tentando entender porque não acreditam no mundotentando saber o fim do universo

Cartas tristes são sinais de poetas chorõespoetas andam em crise

procurando compreender a fantasia do mundoprocurando se secar

Cartas tristes são prelúdios de poetas desesperadospoetas não têm sintonia

sabendo que as linhas não saem tortasentrando na era do ocaso

Cartas tristes são versos para uma poetisapoetas não se entrelaçampoetisas não vivem tristespoetas fogem das poetisas

13

Page 15: Cronicas do Infinito Vacuo

Cristo Redentor

Certa vez um colega me disseque para chegar ao Cristo Redentor

não precisa subir montanhaandar de bondeusar aeronave

Certa vez eu vi o Cristo Redentor de pertoque podia tocar em Suas mãos

pisando em areia da Copacabanatão pertinho de nós

Certa vez não era aquiestava muito longe de nós

lá aonde o tempo não tinha chegado aindaNaquele tempo que o tempo não tinha chegado

o mar não mais existiao Rio não existia

e não tinha mais montanhas em MinasDesta vez ninguém que é hoje existia

o Cristo estava sozinho alidebaixo da areia do Atlântico

com os braços e a cabeça sobreviventesCerta vez um colega me disse

que para chegar ao Cristo Redentornão precisa de escadas

nem de nadaAgora a Terra era um deserto

e não tinha nadaera plana era seca

era mortaCerta vez começava uma nova era

de bactérias inteligentesesperando a estação espacial se desintegrar

para construir uma nova raçacom os restos dali

Certa vez olharia para o Cristo Redentore estudariam os forasdaterra

e seria concluídoque outra raça vivera alie assim elouqueceriamCerta vez pedi socorro

Cristo me tira desse cativeiroRedime

14

Page 16: Cronicas do Infinito Vacuo

Laisser-faire

O homem precisa comero outro homem planta feijão

o que planta feijão precisa vestirum outro homem costura um vestidoo que costura vestido precisa morarum outro homem constrói uma casao homem que constrói precisa comer

um outro homem planta feijãoo que planta feijão precisa vestir

mas vai morrer de frioum outro homem costura um vestidoo que costura vestido precisa morar

mas vai morrer no matoum outro homem constrói uma casao homem que constrói precisa comer

mas vai morrer de fome

15

Page 17: Cronicas do Infinito Vacuo

Oitavo

Zero é nadaum é primeiro

dois é o que vem depoistrês é o ideal

quatro é a metade de oitocinco é o centro

seis está além do limitesete é o fim

oito estrapolounove é nada

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Page 18: Cronicas do Infinito Vacuo

Novo Governo

Que tal um novo governonesta nação colonial

de gente que não consegue votarQue tal um novo governoneste país marginalizado

pelas conspirações mercadológicasQue tal um novo governoque se hospede no quintal

sem arrogância públicaQue tal um novo governo

para decidir melhor os rumos daquie escrever a biografia finalQue tal um novo governo

no Planalto Central das Minas Geraisaonde o sangue é patriotaQue tal um novo governo

sem tantos deputadose mais ágil para a naçãoQue tal um novo governode único senado reduzido

com setenta e um membrosQue tal um novo governodas empresas e do povoque busca o equilíbrio

Que tal um novo governosem poder presidencial

de um líder escolhido pelo senadoQue tal um novo governoque não faça propagandae construa a nova naçãoQue tal um novo governo

sem funcionários improdutivoscom o povo no trono

Que tal um novo governocapitalista comunista anarquista

direção do povo

17

Page 19: Cronicas do Infinito Vacuo

Indícios Medievais

Reinados eram de terrasTerras que produziam

Terras que eram preservadasReis tinham poucas cidades

As cidades tinham poucas pessoasHaviam florestas nos reinados

Haviam poucas pessoasO mundo não era conhecido

A população cresceuE foi crescendo até bilhões

Os reis já não existemAs terras continuam produzindo

As matas continuam se extinguindoO oxigênio acabando

O ciclo desta vida se expira

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Page 20: Cronicas do Infinito Vacuo

Vírus

Eu estou no seu meioe você não me vê

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Eu não tenho curaeu não sou a cura

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Page 21: Cronicas do Infinito Vacuo

Incelência pro Mundo Novo

Ah mundo novo que de novo não há nadasepulcros bonitosjazigos de ouro

lixoAh mundo novo que de bom não há nada

comunicação impuraredes nojentas

lixoAh mundo novo que de bonito não há nada

poluição sobre tudoar impuro

lixoAh mundo novo que de paz não há nada

direito sem respeitoliberdade conduzida

lixoAh mundo novo que não se sabe nada de ti

se tem futurose teve história

vazioAh mundo novo da beleza humana

perfume podrevestuário negro

pobreAh mundo novo

novoque novo

só o novo de não existir Ah que canto imperjúrio desse mundo

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Page 22: Cronicas do Infinito Vacuo

Mitologia

Rude e Lascívia quiseram casarCasaram nos céus de Apolo

Entre as flores mesopotônicasRude e Lascívia desejaram um filhoE tiveram o mais lindo ascendenteNo grande mar Egos foi batizado

Egos vivia sozinhoRude e Lascívia viviam com Egos

E não quiseram mais filhosE Egos continuou sozinho

Um trovão estremeceu os temposRude separou de Lascívia

Um filho somente continuouUma praga assolou os tempos

Afrodite se decepcionouUm estrondo na mitologia

Rude e Lascívia são donos de EgosComo castigo não se vêemEgoístas não se abraçam

Um forte trovão lançou a pragaO castigo atravessou os temposA praga chegou para a mulheres

Tolas e bobasIngênuas e faceiras

Engravidariam sozinhasA população continuaria sua saga

Crescendo e prosperando

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Page 23: Cronicas do Infinito Vacuo

A Volta Súbita

Arde seca terradesse leito rio seco

Queima mato virgemerosão chão tão

Sofre bicho catingueironum barro só que éDerrete gelo musgo

desse pólo únicoFlui ar que não te sente

mente o fôlegoMorre rio que não vai

mar sozinho láArde terra seca

queimasofre

derreteflui

morreRenasce terra verde

abaixo desses prédiosDestrua tudo que há

sobre tudo aquiConcreto que vira pó

incerto urbanoincerto pastoril

Destrua tudo que háRenasce terra verde

Com troncos invencíveisRetome seu trono

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Page 24: Cronicas do Infinito Vacuo

Filosofia do Sonho

Sonho que estou num sonhopenso que não sonho

Olho ao redor prá ver se é sonhosonho que não estou sonhandoVejo que o sonho não é sonhose sonho que estou sonhandoDentro do sonho penso lá forase sonho que estou aqui dentro

Ando pelo sonho que acredito não sonhare estendo as mãos para sair daliProcuro uma saída para o sonho

ou procuro sair do sonhoSonho que estou num sonho

correndo para sair deleSe o sonho é sonho não posso sair

não posso pensarNão existo

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Page 25: Cronicas do Infinito Vacuo

Tumor Maligno

Era uma cidade sem violência. Fora alguns responsáveis pela ordem pública, que mais queriam enriquecer, podia se dizer uma cidade sem violência. Se não a violência contra o dinheiro público, que prefeitos e vereadores sempre desviavam, podia se considerar uma cidade sem violência. Fora alguns bêbados, algumas pessoas traídas pela outra pessoa companheira e pequenos delitos, podia se dizer uma cidade sem violência. Mas uma cidade sem violência não é negócio. Era preciso fazer a violência acontecer ali. Assim, segui para aquela cidade. A primeira atitude foi corromper o delegado, exigindo mais divulgação da crimilidade, mesmo que fossem banais. Em seguida, comprei as rádios e a televisão local. Todos passaram a dar ênfase à crimilidade, mesmo que banal. Ainda era pouco. Ainda não daria renda para compensar o investimento. Seria preciso cinco anos. Queria fazer o investimento retornar em dois anos ou um ano. Então, restava uma atitude mais enérgica. Fui até a capital e contratei três dúzias de bandidos. Pedi um tempo para o delegado. Ordenei para atacar. Invadiram um décimo das residências. Meu negócio cresceu! Quase oitenta por cento da população com condições econômicas passaram a usar os sistemas de segurança da minha empresa. O negócio já havia retornado o investimento em menos de um ano. Alguns dos bandidos que contratei continuaram morando na cidade. Não consegui devolver todos para a capital. A violência aumentou mais ainda. Passou além da invasão de residências. A polícia não dava conta. Minha empresa não conseguia atender todos os moradores. A violência aumentava. Alguns dos bandidos que contratei montaram pontos de produção de drogas naquela cidade que não tinha violência. Meu negócio rendia, rendia, rendia. O delegado estava rico. O capitão estava rico. O prefeito estava rico. Eu estava rico. Meus funcionários, que eram ex-bandidos, trabalhavam mais do que a polícia. A polícia cuidava do trânsito para dizer que fazia alguma coisa. Todos enriqueciam. A comunidade estava com medo. Não entendia nada. A comunidade não sabia dessa negra conspiração contra a segurança dela. Essa conspiração não era somente na segurança. Existia uma seita para prejudicar os atendimentos nos hospitais públicos, para forçar a compra de plano de saúde. A mesma seita mantinha uma péssima educação nas escolas públicas, para forçar a educação particular. Segurança, saúde e educação. Tudo controlado pela seita da sociedade negra. A comunidade era cega. Era cega. Certo dia tudo mudou. A raiva tomou conta da comunidade, que incendiou tudo. A comunidade criou uma nova ordem governamental. Demoliu Brasília. Reconstruiu o Senado. A comunidade descobriu que o problema era político. Comunidade esperta. Perdi minha esposa. Meus filhos me largaram. Fugi daquela cidade. Padeço aqui sozinho numa pensão dos fundões de São Paulo, corroído pelo câncer.

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Page 26: Cronicas do Infinito Vacuo

Fala Vazia

.

.

.

.Um vazio na história

.

.

.

.um vazio

.

.

.

.Uma linha descontinuada

.

.

.

.uma linha

.

.

.

.Um ponto de interrogação

.

.

.

.Um ponto final

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Page 27: Cronicas do Infinito Vacuo

Número Primo

Sozinho é o número primosem vizinho e sem amigos

só gosta dele mesmoe do distante primogênito

Não tem parNão é par

Ímpar de segredo indecifrávelde cálculo inimaginávelde volume inatingível

aonde chegariainfinito mito

Não pode ter parNão gosta de par

Um e três é o segredocinco é que deduz nada

sete é a revelaçãoSem parSem ar

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Page 28: Cronicas do Infinito Vacuo

Não Diga

Você tem mal hálitoseu braço fede

você parece que não toma banhovocê é arrogantevocê é prepotente

você solta gases fedorentosvocê é fingido

seu pé não cheira bemvocê é mal educado

você mete o dedo no narizvocê é falsovocê é bruto

você não escutaseu ouvido anda sujo

você é orgulhosovocê é avarento

você tem falsa filosofiavocê ajuda para se mostrar

você se acha ansiosovocê se acha impaciente

você se acha perfeccionistavocê tem falsa humildade

seu discurso é vaziovocê tem medovocê é racista

você é preconceituosovocê engana

você se enganavocê é só você

um miúdozé ninguémmesquinho

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Page 29: Cronicas do Infinito Vacuo

Os Mendigos

Esta cidade foi invadida por mendigosmorta-fomes

Vieram de uma derrota políticapestes

Foram peças de combinação malignaaberração

Chegaram nas transautas de todo ladosujos

São gente de intenções perigosasforasteiros

Dominaram esta cidade em epidemiadoentios

Tomaram em dotes o direito públicodepravados

Estamos em tempos desesperadosesgoto

Saudade da boemia enganosa produtivacoração

O que será de ti rainha do Nordestedesastre

Levantem os povos de bem e façam revoluçãodaninhos

Expulsem essa corja devoradoraasquerosos

Devolvem a cidade aos seus donosSovertem daqui

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Page 30: Cronicas do Infinito Vacuo

Susto

Penserápidopois

otempo

seesgota

equandochegar

láembaixo

nãosaberás

noque

deviapensar

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Page 31: Cronicas do Infinito Vacuo

Partem Partidos

Eu sou do PO P da peste que pariu

Eu sou o PO P da porcaria de ideologia

Eu sou o PO P da poderes arrogantes

Eu sou o PO P da pinóia das merdas

Eu sou o PO P dos piratas brasilianês

Eu sou o PO P do planalto imundo

Eu sou o PO P do peculato no senáculo

Eu sou o PO P dos partidos políticos

Eu sou o PO P da parcela incontente

Eu sou o PO P da proposta democrática

Eu sou o PO P do plano partidário

Eu sou o PO P da propagação da reforma

Eu sou o PO P da prensa esmagadora

Eu sou o PO P que propõe cinco partidos

Eu sou o PO P da pureza

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Page 32: Cronicas do Infinito Vacuo

B!nár!o

Diga sim diga nãoentre ou saiafeche ou abraande ou párasobe ou desçafale ou cala

aperte ou libertacruze ou descruza

chore ou riaabrace ou despreza

pense ou gritasuje ou limpavolte ou vá

Diga sim diga nãoseja um seja dois

seja breve seja rápidoseja nada seja tudo

seja agora seja nuncaseja parte seja completo

seja abstrato seja concretoseja de lá seja de cáseja bi seja quântico

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Page 33: Cronicas do Infinito Vacuo

Médicos do Medo

Há pobres que não têm nadaHá ricos que não sabem de nada

Há médicos que não aprenderam nadaHá pobres que não têm saúde

Há ricos que não sabem o que têmHá médicos que não sabem curarHá pobres precisando de médico

Há ricos que são médicosHá médicos que não tratam de pobres

Há pobres que pagam impostosHá ricos que são donos de faculdadesHá médicos que estudaram de graça

Há pobres que não entendem o sofrimentoHá ricos que procuram não viverHá médicos que enganam a todosHá pobres precisando de comida

Há ricos comendo sem pararHá médicos que receitam salicílicoHá pobres com dores na barriga

Há ricos com dor de cotoveloHá médicos que curam tudoHá pobres querendo dinheiro

Há ricos querendo sofrerHá médicos roubando almas

Há pobres chorandoHá ricos debochandoHá médicos soltos

Há pobres analfabetosHá ricos sem sabedoria

Há médicos doentesNem todos pobres são carentes

Nem todos ricos são pobresNem todos médicos dão medo

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Page 34: Cronicas do Infinito Vacuo

Pensar

Se pensar nos leva a existirpela ordem poética filosóficapensar pode ser combustívelCada pensamento abasteceuma conspiração incomum

oculta do nosso saberO pensamento é a composição

do material mundano que vemosaonde imaginamos sobre uma rochaPensar é não saber que desconhece

o sentido de alguma almanum imaginário sistema real

Dizia o compositor contrariando a luzque o pensamento é mais rápido

não se vendo fim e começoPensar assim é plágio

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Page 35: Cronicas do Infinito Vacuo

Carnaval

O carnaval já foi bomcarnaval dos povos dos cortiços

dos bairros da cidadeque era puro por si só

não pretenciosoO carnaval é uma falsa arteuma falsa idéia de tradição

um errôneo conceito de folcloreum momento de exibição orgulhosaTempos retóricos de boa vivência

quando os periféricos transfomavam suorem inesquecíveis caricaturas

andando pelas ruas assustando criançasEsquecer a fome

Esquecer a infânciaVestir as mais coloridas túnicas

PretençãoCarnaval é um componente maléficopara aqueles que não sabem divertir

e não acreditam em nadaO carnaval é mais uma farsapara o povo esquecer a fome

para o subúrbio se mostrar burguês para esconder a corrupção

para disfarçar a guerraCarnaval é um divã para os pagãos

se sentirem felizes

34

Page 36: Cronicas do Infinito Vacuo

Universo Aspiral

Gira gira gira mundoroda roda roda terra

gira gira gira luaroda roda roda mundosol aquece universoesquenta planetas

estrelas que brilhamburacos ocultos

via de caminho incertolinhas de voltas retas

astros que somemluz infinita no vácuo

rádio em espelhosom que retorna

sol que abastece energiaplanetas que giramestrelas perdidas

estrelas que nascemestrelas que vão

berçário estreladofotografia do tempo

mundo que giraplanetas que circulam

elipse incógnitachoque duvidoso

explosão alfaburaco beta

universo sozinhoolhar de Criador

35

Page 37: Cronicas do Infinito Vacuo

Pirâmides

122333444455555666666777777788888888999999999

Quem as fez?A

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Como poderiam?@

@@@@@

@@@@@@@@@

@@@@@@@@@@@@@

@@@@@@@@@@@@@@@@@

Não arroba nada dali?????????????????????????????????????????????

Nada saber

36

Page 38: Cronicas do Infinito Vacuo

Afirmações

Afirmo que gosto de vocêmas se me trair eu te mato

Afirmo que prefiro vocêmas é para te enganar

Afirmo que gosto dos diferentesmas é porque é moda

Afirmo que você é o melhormas é para você produzir maisAfirmo que acredito no Superior

mas é com medo dele me castigarAfirmo que você é meu amigopara saber da vida dos outros

Afirmo que te amoporque a mídia ensina assim

Afirmo que sou bompara esconder minhas fraquezasAfirmo que não viveria sem vocêpara continuar te aprisionando

Afirmo que você é bonitopara você se achar mais que todos

Afirmo que você manda bempara puxar seu saco

Afirmo que você é inteligentepois minha vida é puxar carroça

Afirmo que faço caridadepara enganar os coitadosAfirmo que sou Homem

pois extraterrenos estão aquiAfirmo tudo istopara me garantir

37

Page 39: Cronicas do Infinito Vacuo

Na Quadrada das Águas Perdidas ®

Da Carantonha mili légua a caminháMuito mais, inda mais, muito mais

Da Vaca Seca, Sete Vage inda p'ra láMuito mais, inda mais, muito mais

Dispois dos derradêro cantão do sertãoLá na quadrada das água perdida

Reis, Mãe-SenhoraBeleza isquicida

Bens, a lagoa arriscosa funçãoÔ Caindo chiquera as cabra mais cedo

Aparta Lubião, esse bode malvado, travanca ochiquêro

Te avia a cuidáAlas qui as polda di Sheda rincharo ao luá

Na madrugada suada de medo pr'a láRuncas levando acesas candeia inclusão

Da Carantonha mili légua a caminháMil badaronha tem qui tê pr'a chegá lá

Sete jinela sete sala um casarãoLaço dos Moura

Varge dos trumentoVelhos Domingos

Casa dos SarmentosMoças, sinhorasMitriosa função

Dá pressa in guilora a ingomá nossos ternoAlbarda as jumenta cum as capa de inverno

Cuida as ferramenta num dexa ela vêSi não pode ela num anuí nois í

Onte pr'os norte de Mina o relampo raiôMucadim a mãe do ri as águas já tomô

Anda muntemo o mondengo pr'a nois i pr'a lá

© Todos os direitos reservados

Elomar Figueira MeloVitória da Conquista – Bahia – Brasil

Linguagem dialetal sertaneZaPara ciência do artista erudita dos confins

Este livreto não tem finalidade comercial, por isso, não dá prejuízo ao compositor

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Page 40: Cronicas do Infinito Vacuo

Crônica da Grande Fome

Vejo na praça um pai brincando com o filhoe vejo mais ainda

Quem está brincando é o paicom olhar brilhante e distante do filho

Vejo duas mulheres simpáticas lanchandoe passo a meditar um pouquinho

Comem tudo que o dinheiro pode comprarmostrando que aquilo se repetirá por longo tempo

Vejo um sujeito arrogante dentro de um carrosujando os pedestres de lama

O coitado do sujeito naquele momentonão pensa o que ele é fora do carro

Um mesquinho que andava a pénos caminhos dos tropeiroslá no tempo da grande fome

As mulheres simpáticas levantam para a vida hediondamas antes vomitam o lanche

para não engordarAgora vão torrar o salário com vestidos e sapatos

símbolos imundos da fomeLá na praça o novo pai distante do filho

procura esquecer a era da fomese divertindo como se fosse o filho

tomando o lugar do filhoUma mágica o leva a viajarde controle remoto na mão

pilota algo pequeno pelos ladrilhos da praçaE viaja pela fantasia

realizando um sonho que a fome matoupilotando um carrinho

39

Page 41: Cronicas do Infinito Vacuo

Mal e Mel

Ela está entre nósfracos masculinosque dormem tanto

para provar dela maisEla é um terror

para os homens frágeisvem na noite escura

provocar gozo maléficopara estender criaçãoEla procria em casulosseus filhos são sombras

com sangue humanodos pobres homens frágeis

Ela está entre nósestá nos altos prédios

nas grandes casasnas famílias sozinhasno casebre de palhaEla procura um fraco

para aumentar as criasembriaga com prazer

levando além desse mundoEla é doce e saborosaarisca e assanhadaperfeita e amorosa

Ela aparece como donzelagraciosa e encatadora

vicia o fracosucumbe

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Page 42: Cronicas do Infinito Vacuo

Amizade

Quem somos sozinhos nesse mundoNão somos nada sozinhos nesse mundo

O que podemos sem aquela amizadeDe nada adiantaria sem ter amizadeSem amizade não podemos somarSem amizade não podemos sonhar

Pessoa amiga é aquela que não entendeÉ aquela pessoa que deixa a outra livre

Pessoa amiga não faz esforço para a outraA amizade se faz entender

Quem somos sozinhos nesse mundoSomos felizes por termos

uma pessoa amiga

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Page 43: Cronicas do Infinito Vacuo

São Tudo

São Paulo é maiorSão tantas ruas

São tantos bairrosSão tantos prédiosSão tanta gente

São Paulo é melhorSão tantas lojas

São tantos profissionaisSão tantas idéias

São tantas criaçõesSão tantos recursos

São tanta arteSão Paulo é esperança

Sem violênciaSem sujeiraSem trânsitoSem poluição

São Paulo é humanaSão tantos trabalhosSão tantas caridades

São tantas assistênciasSão tantas curas

São Paulo será a melhorSão Paulo será a maior

São Paulo terá esperançaSão Paulo é Brasil

42

Page 44: Cronicas do Infinito Vacuo

Wynants

Caça aleatória por eras medievaisbuscando uma expressão para a obra

Antropologia européiade aversão africana

A origem do Homem estariaentre os povos negros

Complexa amarração entre a obrasem sentido algum

Nada de surrealismo africanosem herança alguma para a História

Busca de uma expressão Barrocaencontrada num desconhecido

Europa de revoluçõesdesprezando a origem humana

Busca pelo mar de novos continenteschegando em ilhas de sonhos minerais

Renomeando para américasa terra que estaria Brasil

Visão ancestralregistro cerebral

43

Page 45: Cronicas do Infinito Vacuo

Primeira Coluna

gestores com novos talentosencaram novos desafiosno mundo dos negócios

tantas perspicáciasem busca de resultado

de mais lucroordenando centenasmíseros operários

industriários poluídosna angústia do númeroalgozes dos cimentos

dissecados pela tecnologiaarmados de teorias

praticadas em noção aversaebulindo em sujeira

livrando as entidadesarrasadas pelo vermelho

maquiadas pela falsa matemáticaincapaz de dar retorno

déspotas emissorasiludindo povos fracos

algemados por sons e imagensdosagens de prostituição

oligaquia cerebralmáscaras de teatro podre

antraz dos povos inocenteslúdicos fantoches

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Page 46: Cronicas do Infinito Vacuo

Fim de Terra

O reino lusitano e o reino de castelaachando que a terra era pequenae que o ouro já era insuficiente

começaram a decifrar o marAlém do mar haveriam mais riquezasalém da terra firme existiam mitosera preciso navegar pelos mares

antes dos francesesAs caravelas eram a grande invenção

prontas para longas viagenspelos misteriosos mares do sul

seguros que a terra era redondaOs reinos queriam mais grandezas

e a terra já era insuficientecom poucos chãos a conquistar

o mar era um gigante a explorarQuem chegasse primeiro seria o dono

a epopéia seria escrita por navegadoresque iriam extrapolar limites do reino

para o além marDo mar não tinha mapa

somente o céu desenhava o trajetograndes capitães já eram sábiospara andar em regiões ocultas

A terra estava no fimos reis queriam maisum fogo inquietantelevariam para longe

Dos portos do velho mundoa julgamento de raças antigas

sonho de pangéia em retrocessoterra sem chão

mar do tino

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Page 47: Cronicas do Infinito Vacuo

Clone

Me olho assim diante de mimdiante de mim não me achonão me acho entre esse povo

entre esse povo caminho sozinhocaminho sozinho em busca de mimem busca de mim não me encontro

não me encontro nesse mundonesse mundo não há lugar para mim

lugar para mim não é aquinão é aqui que apareci

apareci num suspiro vitrosuspiro vitro eu vim aqui

eu vim aqui para revolucionarpara revolucionar não sou capaz

sou capaz de me ver aliver ali já não me vejo

não me vejo dentro de mimdentro de mim corre uma sedeuma sede de entender isto aquiisto aqui não é lugar prá mim

lugar prá mim não temnão tem não

não sousou eu mesmo

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Page 48: Cronicas do Infinito Vacuo

Anúncio

Verde-se que amarelouno serrote desse mateiro

no machado desse lenhadorno dragão desse capataz

O mateiro plantou e colheuO lenhador semeou e floriu

o capataz destruiuVerde-se

O preço é cúbicoo tamanho é cilíndrico

Verde-seNovos edifícios por aqui

mais boi para comerVerde-se

Um deserto em construçãoo fogo em ação

Verde-seAnimais em extinçãoplantas sem salvação

Verde-se que dá tempoúltimas ofertasúltimo suspiro

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Page 49: Cronicas do Infinito Vacuo

Tabu

Ele é um bom sujeitoquerido se fazEle é moderno

bem cuidado e de pazEle é mais ele

cresce como taloEle vive sozinho

faz amor com um faloEle é autêntico tem toda razão

Ele é feliz da vidapuro de coração

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Page 50: Cronicas do Infinito Vacuo

Cursando Linhas

Ela me chama de falso mansoAí me vejo no espelho me olhandoEspelho não reflete um falso manso

Lados oblíquos indistintosO que é um falso mansoSe não um contornado

Linhas duplas traçadas em siMas isto ainda não é um falso mansoAí me olho de cima a baixo de cima

Não se vê um falso mansoO que é um falso manso

Se não um oculto desencontradoUma preposição prepotente incontente

É insuficiente afirmar o que é um falso mansoAí penso e repenso e descrevoVagando no planeta de tudo

Olhando os seres mais próximosBravos seres da natureza

Um animal na savanaUma cobra de plumas

Um leão com penaUm sapo colorido

Uma águia de ferrãoUm urso desibernadoUm bicho na varanda

A contenda da prolixidadeFalso manso não explicado ainda

Um falso adjetivo abstrato

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Page 51: Cronicas do Infinito Vacuo

Atitude

Subi numa montanhaprocurei um mistériobusquei um presente

encontrei uma surpresa-^-

Desci da montanhapara reecontrar esperança

semear os amoresexplicar a grandeza

-v-Voltei para a montanha

decifrei o mistérioachei o presente

desenhei a natureza-^-

Partir da montanhaEncontrei o sossego

Permaneci meditandopara descrever a beleza

-v-

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Page 52: Cronicas do Infinito Vacuo

Luz do Tempo

Hoje é primeiro de janeiroum vulcão explode no centro de Java

[.^.]Uma estrela fotografa o vulcão

num fleche mais rápido do que a luz[*]

A luz da estrela segue para Terrae vai levar doze meses para chegar

[v]Dentro da luz da estrela segue uma foto

que chegará na Terra em um ano[@]

A luz da estrela é uma mensagem do tempotransportando as visões do passado

[+]Mas como pode o fleche ser mais rápidoao ponto de quebrar a velocidade da luz

[?]E a luz da estrela continua sua viagemcruzando galáxias rumo a via láctea

[÷]O destino é a Terra

aonde a ciência espera aquela luz[(o.o)]

Num gigantesco sistema de espelhos digitaisas imagens serão recebidas

[><]Está chegando trinta e um de dezembro

luz se findará nos espelhos[!]

E a ciência vai ver como foi aquele passadodo vulcão que explodiu no centro de Java

[.^.]

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Page 53: Cronicas do Infinito Vacuo

Águas Mágoas

Rios correndo no tempo vazioSolitários em curvas pelos montes

Sozinhos estão essa gente da cidadeLongos tubos levam água para essa genteRios foram estagnados para produzir água

Lagoas foram tratadas dos vermesE vermes moram na cidade

São vermes que dividem as águasLongos tubos foram colocados pelo homem braçal

Favelas nas cidadesPodridão dessa gente escolhidaÁgua suja corre entre as favelas

Tubos correm distâncias levando águaO pobre homem braçal não bebe água

Água limpa e livre das sujeirasQuem é sujo mora na cidadeTão logo não terá mais água

Terra seca ficaráAs águas são divididas pelos vermes

Tão logo faltará água na cidadeOs tubos ficaram enxutos

Os vermes terão que dividir a águaPartilhar água não é coisa de verme

Água chegará nos JardinsE faltará para os pobresOs vermes não são tolos

Sabem que o povo rico tem poderSão capazes de fazer perder o jogo

Só falta água na casa do pobreNos bairros nobres jorra água

Pobre favela periférica sem águaSeu governo tem nojo de pobres

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Page 54: Cronicas do Infinito Vacuo

O Falso Trabalho

Todos dizem que não tem tempotodos esperam chegar uma mensagem

Gastam um falso tempo fazendo arquivos digitaispara se mostrar bonito

Fazem uma apresentaçãoFazem um fluxo

Fazem um gráficoE mostram tudo isto como beleza negra do seu trabalho

Ninguém produzNinguém sugere nada especial

Não inovamNão criam

Todos passam o dia inteiro olhando para uma telaesperando uma mensagem chegar

A tela rouba a criatividadea inteligênciao bom senso

Furta o trabalholeva o dinheiro como salário

Todos esperam uma mensagem chegarse não chega

maximiza e minimizaa máxima falsa idéia mínima de trabalho

E o dia vai indogastando os pulsos

murchandosNinguém sai do lugar

são estátuas do mal modernoOlham para um lado

olham para outro ladoe nenhuma nova mensagem chegou

Já é tarde e noite chegase dizem cansados

exautosenfraquecidos

achando que trabalhou muitoNão produziu nada

Fim de arquivo

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Page 55: Cronicas do Infinito Vacuo

Onze

Onze são duas torresdois érres em torres

torres torresmoporco e touro

Touro da ostentaçãodo poder

touro das vacasvacas padecem

Torres explodindogente em chamas

cinzas nos ares americanosdo norte

Onze é nota inexistentetem letra de fimé número ímpar

bombaOnze é corredor aberto

de vacinar gadode marcar bicho

cegueiraOnze é o que vem depois

do dia seguintedas mandânciasdo desrespeito

da invasãoOnze é o decreto

que o mundo é aberto

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Page 56: Cronicas do Infinito Vacuo

Inflação Real

Venham venham a esta barracahoje tem preço bom

O brócolis está baratinhocomprem tanto que puderVejam que lindas folhas

saborosa seiva e flores verdesO brócolis faz bem

comam tanto que agüentarHoje é sábado da feira

que se diziam segunda a sextaChega mais chega maisaqui tem bons produtosOlhem que lindo brócolis

só aqui que tem hojeAproveitem os poucos que restam

o preço é meu preçoNão assustem com o preço

somente esta barraca que temHoje é meu dia

sou dono da feiraBrócolis mais caroninguém mais tem

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Page 57: Cronicas do Infinito Vacuo

Civilizações

Oh civilizações da raça purados sacríficios humanos

das crianças que não se viamda luz que não clareava

dos cochos que não andavamdos cegos que não enxergavam

dos pobres que não existiamSalve colunistas das sete chagasque odeiam cores anti-brancas

que cospem nos sem-tetoque abominam os sem-terra

que querem uma armae chamam de burro quem não estudaOh civilizações das américas passadas

vejam que Colombo está chegandoa Europa vem com sede de ouro

vem de fracassos feudaissangüinários desbravadores do bem

Salve intelectuais econômicosde palavras profanasda fome para matar

das doenças para extinguirdas teorias maltusianas

Oh civilizações da engenharia complexalotados no coração americanoeram puros e sem impurezas

sacríficios de gentedizimados pela impotência desumana

Cuidado colunistas e intelectuaisdesse tempo de agoradescendentes astecasherdeiros da nostalgia

Pregam dilemas de civilizaçõesextintas pelas próprias razõesdos dilemas que se pregam

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Page 58: Cronicas do Infinito Vacuo

Obrigado

Agradecer é um ato de se igualarde dizer que todo mundo é um só

de manifestar simpatia e afetoAgradecer é um gesto de carinho

de respeito pelo outro amigoatitude simples e resultado grandioso

Agradecer faz os jardins floriremfaz a guerra não acontecer

faz o outro soltar um sorrisoNada como a gratidão

pelo dia mais belopelos raios de sol

pela lua que rasga a noiteA gratidão é uma oração dos sábios

a arma dos povos justosA gratidaão é esperança luminar

de eterna vida salutarObrigado

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Page 59: Cronicas do Infinito Vacuo

( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( o ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )

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Page 60: Cronicas do Infinito Vacuo

Referências Básicas para Meditação

✔ A noite estrelada✔ A noite nublada✔ A lua clareando✔ As pessoas andando✔ A aurora de todos os dias✔ As praças do interior✔ Os rios✔ As cidades poluídas✔ O carismo do povo✔ A História do mundo✔ As histórias das velhinhas do Jequitinhonha✔ As crianças brincando✔ A chuva nos dias quentes de verão✔ A eletricidade✔ Uns pássaros que passam✔ Os fenômenos do dia✔ Os animais no campo✔ As montanhas da terra✔ A elipse dos planetas✔ A deriva dos continentes✔ A mulher do imaginário✔ O Rei✔ A filosofia cultura psicologia sociologia antropologia✔ As complexidades das empresas✔ Uma rua✔ Uma gota d'água✔ Um sorriso✔ A engenharia da natureza✔ O eu dentro de cada nós✔ A literatura contemporânea✔ Um amigo dali e daqui✔ Uma amiga de cá e acolá✔ O início e o fim✔ Tudo✔ O nós que busca o eu

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Page 61: Cronicas do Infinito Vacuo

Produção: Valdir SolIMPRESSÃO PROIBIDA

2006