artigo entre vilas e sertões

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um artigo sobre os indigenas

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  • CAPTULO 3

    Entre as vilas e os sertes: trnsitos indgenas e transculturaes

    nas fronteiras do Esprito Santo (1798-1840)1

    Da Largura, que a terra do Brazil tem para o serto no tracto, porque athe agora no houve quem a andasse por negligenia dos Portuguezes, que sendo grandes

    conquistadores de terras, no se aproveito dellas, mas contento-sse de as andar

    arranhando ao longo do mar como caranguejos.2

    Na epgrafe encontra-se uma das passagens mais citadas e conhecidas de frei

    Vicente de Salvador, que em 20 de dezembro de 1627 assinava a dedicatria de sua

    Histria do Brazil ao historiador portugus, Manuel Severim de Faria. A obra,

    contudo, terminou por no ser publicada na poca e, na opinio de Jos Honrio

    Rodrigues, por duas razes centrais. Porque se tratava de um texto leve e saboroso,

    escrito em um estilo muito diverso do que ento prevalecia na austera e grave

    historiografia portuguesa. E devido pobreza da matria central do texto, cujo tema

    constante a luta contra os indgenas, tabajaras, potiguaras, aimors, tamoios, caets,

    mais ou menos revoltados contra a espoliao que sofriam e os maus tratos que

    recebiam.3

    A ideia de serto, presente no texto de Vicente de Salvador, era cara aos

    homens e mulheres do mundo colonial brasileiro e tinha um sentido bastante

    compartilhado entre eles. Resumidamente, o serto se definia em oposio ao chamado

    mundo policiado.4 Originado do latim politia, os conceitos polcia e policiado

    aparecer nos escritos de Manoel de Nbrega, por exemplo, significando polidez

    civilizada ou ainda hbitos polidos e apropriados, numa aluso ao que prevalecia na

    Europa.5 Outro modo de compreender o significado de policiado a partir da raiz

    1 Este texto foi originalmente publicado em Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En lnea], Debates, 2011, Puesto en lnea

    el 31 enero 2011. Disponvel em: http://nuevomundo.revues.org/60746 2 SALVADOR, Frei Vicente de. Histria do Brazil. In: OLIVEIRA, Maria Lda. A Histria do Brazil de Frei Vicente

    de Salvador: histria e poltica no imprio portugus. Rio de Janeiro: Versal; So Paulo: Odebrecht, 2008, 2 v., fl.

    6v. 3 RODRIGUES, Jos Honrio. Histria da histria do Brasil. Historiografia Colonial. So Paulo: Editora Nacional,

    1979 (2 ed.), p. 491. 4 LEITE, Serafim. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2006 a, tomo IV, livro

    II, p. 97. 5 EISENBERG, Jos. As misses jesuticas e o pensamento poltico moderno. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000,

    p. 102.

  • grega polis, que vincula o conceito s noes de repblica e de bom governo, de

    acordo com a tradio platnica.6 Assim, seja evocando a origem latina ou a raiz grega

    do termo polcia, o serto era, em primeiro lugar, o oposto do mundo policiado, pois no

    se assemelhava civilizao e nem tampouco estava sob a jurisdio poltica da

    monarquia portuguesa e do bom governo. No por acaso, portanto, que as primeiras

    e mais perenes imagens cunhadas sobre o Brasil estejam intimamente associadas

    ausncia de polcia crist ou civilizao crist entre os ndios, que nos relatos dos

    cronistas e na documentao produzida pelos agentes da administrao portuguesa

    aparecem frequentemente definidos como povos que viviam sem lei, sem rei e

    sem religio.7

    A formao histrica brasileira liga-se de maneira muito ntima conquista

    (civil, religiosa e militar) dos sertes e aos encontros, conflitos e mestiagens entre

    afro-luso-brasileiros e ndios em lugares e em situaes que a historiografia tem

    chamado de fronteira e que Mary Louise Pratt prefere denominar como zonas de

    contato.8 Para Pratt, este termo prefervel porque evoca a presena espacial e

    temporal conjunta de sujeitos anteriormente separados por descontinuidades histricas e

    geogrficas cujas trajetrias agora se cruzam.9 Em razo disso, ela define as zonas de

    contato como espaos sociais onde culturas dspares se encontram, se chocam, se

    entrelaam uma com a outra, frequentemente em relaes bastante assimtricas de

    dominao e subordinao como o colonialismo, o escravagismo, ou seus sucedneos

    ora praticados em todo o mundo.10

    Do ponto de vista do desenvolvimento histrico, importante frisar que o serto

    no era apenas o mundo dos ndios, mas antes de tudo o mundo no policiado, primeiro

    dos ndios, primrios habitantes do Novo Mundo, e progressivamente tambm de outros

    setores sociais, como escravos fugidos, salteadores e vadios.11 Mais ainda, os sertes

    e suas populaes, ao ingressarem no mundo policiado, pelo uso da fora e/ou da

    persuaso, no se tornavam um reflexo fiel ou mal ajambrado da civilizao crist 6 POMPA, Cristina. Religio como traduo: missionrios, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003,

    p. 69-70. 7 Ibidem, p. 42. 8 PRATT, Mary Louise. Os olhos do imprio: relatos de viagem e transculturao. Bauru: EDUSC, 1999, p. 27.

    Sobre a utilizao do conceito de fronteira no pensamento social brasileiro, ver: MARTINS, Jos de Souza.

    Fronteira. A degradao do outro nos confins do humano. So Paulo: HUCITEC, 1997. 9 Ibidem, p. 32. 10 Ibidem, p. 27. 11 Sobre os vadios, ver especialmente o captulo Da utilidade dos vadios, em: SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no sculo XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 2004 (4 ed.), p. 77-130; Sobre

    quilombos e quilombolas, ver: GOMES, Flvio dos Santos. A Hidra e os pntanos. Mocambos, quilombos e

    comunidades de fugitivos no Brasil (sculos XVII-XIX). So Paulo: UNESP, 2005. REIS, Joo Jos; GOMES, Flvio

    dos Santos. Liberdade por um fio. Histria dos quilombos no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.

  • europia. Por isso mesmo, em lugar da ideia de uma aculturao bem ou mal

    sucedida, a histria e as cincias sociais tem mobilizado e trabalhado com conceitos

    mais dinmicos e relacionais, como transculturao, hibridizao e mestiagem, por

    exemplo, para dar conta da complexidade dos conflitos e das acomodaes que

    moldaram as sociedades coloniais e ps-coloniais da Amrica.12

    Este artigo visa refletir sobre a moldagem da vida nas zonas de contato,

    elegendo como ponto de reflexo o trnsito da populao indgena entre os sertes do

    Esprito Santo e as zonas policiadas da provncia, no perodo entre 1798 e 1840. Este

    movimento no obedeceu a um padro nico, pois variou dependendo das comunidades

    e dos indivduos, em um gradiente que poderia ser temporrio, cclico ou definitivo,

    entre os dois lados de uma fronteira porosa e sempre em movimento. O artigo esta

    dividido em duas partes. Na primeira, problematizo a histria do Esprito Santo como

    uma zona de contato de longa durao no contexto histrico brasileiro, e o transito de

    ndios entre as fronteiras que supostamente separavam as vilas e os sertes. Na segunda,

    fao alguns apontamentos sobre o carter mestio, hbrido e transcultural das pessoas e

    das organizaes sociais das zonas de contato, tomando como exemplo a vila indgena

    de Nova Almeida.

    1. Trnsitos e transculturaes indgenas em uma zona de contato de longa

    durao

    Dentre as vrias capitanias criadas pela coroa portuguesa para assegurar a

    conquista e colonizao das terras do Novo Mundo, a do Esprito Santo teve uma

    histria colonial peculiar, pois apesar de nunca prosperar, segundo as expectativas do

    reino, tampouco foi abandonada. Isto, alis, intrigou o esprito indagador de

    Capistrano de Abreu, para quem Ilhus, Porto Seguro, Esprito Santo, parte de S.

    Vicente e Santo Amaro pouco diferiam em 1801 do que foram em 1601.13 Mas ao

    contrrio do que sucedera com Ilhus e Porto Seguro, o Esprito Santo escapou do

    desaparecimento espontneo, fazendo o historiador especular que o motivo disso

    12 Dentre outros, ver: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indgenas. Identidade e cultura nas

    aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003; VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos

    ndios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. So Paulo: Companhia das Letras, 1995; GRUZINSKY, Serge. O

    pensamento mestio. So Paulo: Companhia das Letras, 2001; PRATT, Mary Louise. Os olhos do imprio: relatos de

    viagem e transculturao. Bauru: EDUSC, 1999; POMPA, Cristina. Religio como traduo: missionrios, Tupi e

    Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003. 13 ABREU, Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da

    USP, 1988, p. 38.

  • talvez fosse a dificuldade de contentar na partilha [de seu territrio] Bahia, Minas

    Gerais e Rio de Janeiro.14

    Na Corografia Braslica, obra primeiramente publicada em 1817, Manuel

    Aires de Casal explicava o atrasamento da capitania pela falta de numerosos

    colonos, que se faam respeitveis aos brbaros.15 Adotava, desse modo, o ponto de

    vista dos donatrios e dos moradores luso-brasileiros, que culpavam frequentemente os

    ndios brbaros dos sertes, ou tapuias, pelo atraso da capitania. Mas, mudando-

    se a perspectiva, e observando a capitania como uma zona de contato, afigura-se outra

    histria bem diferente, onde no cabem muito confortavelmente as imagens de

    atraso. A histria da converso do gentio , sobre isso, exemplar, e comea em

    1551, com a instalao da Companhia de Jesus no Esprito Santo.

    Ao contrrio do que aconteceu em outras partes do Brasil, os jesutas receberam

    bom apoio dos donatrios para a obra missionria. E, como frisou Serafim Leite, a

    harmonia daquela relao facilitou a questo das subsistncias necessrias para o bom

    andamento da catequese.16 Trinta anos depois, em 1581, os padres j tinham

    constitudo dez aldeias, sendo oito de visitao e duas de moradia fixa17, enquanto

    Manoel da Nbrega, alm disso, depositava grande esperana no Esprito Santo. E na

    opinio de Serafim Leita, a sua expectativa no se frustrou pelo que toca ao trabalho de

    converso do gentio, ponto que ele principalmente visava nas suas esperanas. Na

    verdade, o Esprito Santo recebeu mais gente do serto do que nenhuma outra Capitania,

    refere em 1584 Ferno Cardim.18

    Ao longo de sua permanncia no Esprito Santo, os jesutas construram vrias

    obras de importncia e, dentre os dez aldeamentos mencionados na documentao da

    ordem, duas misses se destacaram e tiveram longa durao: Nossa Senhora de Reritiba

    e Santo Incio dos Reis Magos, ambas fundadas no sculo XVI, bastante populosas e

    bem conhecidas dentro da ordem por receberem estudantes interessados em aprender a

    lngua geral braslica.19

    Trinta anos depois da expulso dos jesutas pelo marques de

    14 ABREU, Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Editora da

    USP, 1988, p. 61. 15 CASAL, Aires de. Corografia braslica. Ou Relao histrico-geogrfica do Reino do Brasil. Belo Horizonte:

    Itatiaia; So Paulo: Editora da USP, 1976, p. 210. 16 LEITE, Serafim. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2006b, tomo I, livro

    III, p. 225. 17 Ibidem, p. 230. 18 Ibidem, p. 214. 19 Ibidem, p. 231.

  • Pombal, em 175920

    , ainda era visvel o relativo sucesso da obra missionria no Esprito

    Santo. Pois, em 1790, entre as cinco vilas citadas pelo Capito-mor Incio Joo

    Mongeardino como existentes na capitania, duas eram vilas de ndios, e ambas s eram

    menos populosas que a vila de Vitria, que funcionava como cabea de comarca e

    capital. Eram elas Benevente e Nova Almeida, respectivamente as antiga misses de

    Reritiba e dos Reis Magos, ambas elevadas a vila pouco depois da expulso dos

    jesutas. Mais ainda, segundo Mongeardino, os habitantes de ambas eram ndios e de

    natureza como dito fica frouxos, pois esta gente he inteiramente preguiosa e de

    nada estimo os haveres, de sorte que possuindo com que passarem alguns dias, no

    cuidam do futuro e s obrigados da necessidade ou temor trabalho.21

    No comeo do oitocentos, o Esprito Santo continuava uma regio de muitos

    ndios, tanto nas zonas policiadas como nos sertes. Dos dados que constam na Tabela

    1, com exceo dos 20.000 ndios tribalizados dos sertes do vale do rio Doce,

    estimados pelo Diretor de ndios de Minas Gerais, Guido T. Marlire, em 182722

    , os

    demais foram colhidos e sistematizados pelo primeiro presidente da provncia do

    Esprito Santo, Igncio Accioli de Vasconcellos, no cumprimento da lei de 20 de

    outubro de 1823, que, logo depois da Independncia, mandou que se organizassem

    estatsticas e planos para a diviso das provncias em comarcas, cidades, vilas e

    povoaes.23

    Tabela 1: Populao da provncia do Esprito Santo e sertes do rio Doce na dcada de 1820

    Localidade Extratos e condio civil da populao Total

    Livres Escravos Independentes

    Brancos ndios Pardos Pretos Pardos Pretos ndios

    Provncia 8.094 5.788 5.601 2.682 3.287 9.901 35.353

    Serto do

    rio Doce

    20.000 20.000

    Total 55.353

    Fonte: Vasconcellos, 1978 [1828]; Mattos, 2004.

    20 Nos clculos da Coroa portuguesa, os aldeamentos e misses, especialmente os jesuticos, desempenhavam um

    papel estratgico, pois deveriam garantir a segurana dos enclaves coloniais contra os ataques de ndios inimigos, as

    insurreies de escravos e os ataques de estrangeiros e quilombolas, ver: ALENCASTRO, Luiz Felipe de . O trato

    dos viventes. So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 123-124. Apesar disso, a poltica pombalina passou a

    considerar as misses jesuticas como uma ameaa aos interesses portugueses, simplificando as relaes

    historicamente constitudas entre a Companhia de Jesus e a Coroa. Cf: MAXWELL, Kenneth. Marques de Pombal:

    paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996 (2 ed.), p. 54. 21 Informao do Capito-mor Incio Joo Mongeardino. Dirigida ao Governador da Bahia sobre [uma] representao

    da Cmara da Vila de N. S. da Vitria e as Vilas da Capitania do Esprito Santo. Vitria onze de julho de 1790. In:

    OLIVEIRA, Jos Teixeira de. Histria do Estado do Esprito Santo. Vitria: Arquivo Pblico do Estado do Esprito

    Santo/Secretria de Estado de Cultura, 2008 (3 ed.), p. 242. 22 MATTOS, Izabel Missagia de. Civilizao e Revolta: Os Botocudos e a Catequese na Provncia de Minas. Bauru:

    EDUSC, 2004, p. 116. 23 VASCONCELLOS, Ignacio Accioli de. Memoria statistica da provncia do Espirito Santo escrita no anno de

    1828. Vitria: Arquivo Pblico Estadual, 1978.

  • Tendo em mente o carter mais estimativo desses dados do que propriamente

    estatstico, fato, alis, que tanto Vasconcellos quanto Marlire reconheciam, so eles

    dados histricas importantes, pois colhidos na mesma dcada e principalmente porque,

    dentre outras coisas, demonstram que os ndios eram uma populao relativamente

    numerosa na regio. Na provncia, isto , na zona policiada, representavam 25% da

    populao livre. E se for somado esta populao com os ndios que se estimava existir

    nos sertes, chega-se a surpreendente cifra de que os amerndios representavam 61% da

    populao regional, durante a dcada de 1820.

    Em outras palavras, existiam os ndios civilizados da provncia e os ndios

    selvagens dos sertes e no rara vezes o governo provincial utilizou-se daqueles para

    o combate e amansamento destes. Deste ngulo, as fronteiras tnicas e sociais entre os

    ndios civilizados, cristos ou mansos, de um lado, e, de outro, os ndios dos

    sertes, isto , os tapuias, gentios inimigos ou simplesmente botocudos parecem

    claras e bem ntidas. Contudo, era amplamente reconhecido pelos governantes locais os

    limites de tais diferenas, pois o trnsito de ndios do serto para a provncia e,

    inversamente, de ndios das vilas e povoados para os sertes era intenso e difcil de ser

    controlado. Assim, pelo menos do ponto de vista dos governos locais, a realidade social

    do Esprito Santo era caracterizada pela necessidade de governar uma importante

    populao indgena em diferentes estgios de contato e de transculturao. Por isto, no

    se deve estranhar que para governar uns e outros fossem mobilizados regras legais ou

    costumeiras, artifcios e instituies nem sempre iguais.

    No mapa sobre a colonizao do Brasil, possvel visualizar os grandes sertes

    que cercavam o Esprito Santo, que aparece na forma de um enorme buraco na malha

    tecida pela colonizao luso-brasileira, entre o Esprito Santo e as reas mais

    densamente povoadas, representadas por Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Este

    nicho no colonizado se formou depois da descoberta do ouro e do incio de sua

    explorao, em Minas Gerais, entre o fim do sculo XVII e a primeira metade do XVIII,

    que direcionou a colonizao para o interior do territrio, ocupando reas entre a serra

    da Mantiqueira, na capitania de Minas, e as regies de Mato Grosso e Gois. Alm

    disso, foi proibido a construo de caminhos entre Minas e o Esprito Santo para evitar

    o contrabando do ouro pelo litoral da capitania.24

    Por isso, aqueles sertes tornaram-se o

    24 BOXER, Charles R. A idade de ouro do Brasil. Dores de crescimento de uma sociedade colonial. Rio de Janeiro:

    Nova fronteira, 2000 (3 ed.), p. 67.

  • territrio de ndios de diferentes grupos tnicos, especialmente os puris, os coroados, os

    corops, os pataxs, os kamaks, os maxacalis e, em maior nmero, os genericamente

    conhecidos como botocudos.

    A conquista destes sertes, pelo lado de Minas Gerais, comeou a partir da

    segunda metade do sculo XVIII, diante da necessidade de incrementar as atividades

    agrcolas e pastoris para compensar a queda na produo aurfera.25

    Maria Lenia

    Resende e Hal Langfur identificaram que, durante este movimento, quase cem

    expedies militares e paramilitares contra os ndios foram efetuadas neste perodo.26

    Do lado do Esprito Santo, contudo, a conquista comeou mais tarde, na administrao

    de Antnio Pires da Silva Pontes (1800-1804), que recebeu ordem expressa da Coroa de

    abrir o rio Doce navegao e ao povoamento.27

    Em 1808, dando continuidade ao plano

    de conquista e povoao do imenso serto entre o Esprito Santo e Minas Gerais, o

    prncipe regente D. Joo decretou guerra ofensiva contra os botocudos.28

    Este episdio

    gerou graves conseqncias. Para os ndios, alm das muitas mortes, a reduo dos

    sobreviventes ao cativeiro. Para a populao da capitania o efeito tambm foi bastante

    devastador, pois, em um interregno de sete anos, entre 1808 e 1815, o que esteve

    efetivamente em jogo, no palco da guerra do Esprito Santo, no era a possibilidade de

    expanso da capitania sobre os territrios indgenas, mas a segurana de antigas reas de

    povoamento, incluindo a capital.29

    Em razo da guerra contra os botocudos, foi criado no Esprito Santo a Diretoria

    Militar do Rio Doce (DMRD), em Linhares, e reorganizado o sistema de defesa na

    regio, graas ao estabelecimento de novos destacamentos de soldados e quartis. Em

    1816, ano da estada do prncipe Maximiliano Wied-Neuwied em Linhares, a situao na

    regio ainda era absolutamente beligerante. Ele, alis, aborreceu-se com isso, pois a

    desgraada guerra sustentada contra os Botocudos no rio Doce torna impossvel

    25 DIAS, Maria Odila da Silva. A interiorizao da metrpole (1808-1853). In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.).

    1822: Dimenses. So Paulo: Perspectiva, 1972, p. 160-184. 26 RESENDE, Maria Lenia Chaves; LANGFUR, Hal. 2007. Minas Gerais indgena: a resistncia dos ndios nos

    sertes e nas vilas de El-Rei. Revista Tempo, Rio de Janeiro, n. 23, 2007, p. 20. 27 OLIVEIRA, Jos Teixeira de. Histria do Estado do Esprito Santo. Vitria: Arquivo Pblico do Estado do

    Esprito Santo/Secretria de Estado de Cultura, 2008 (3 ed.), p. 244. 28 Cpia da Carta Rgia de 13 de maio de 1808, enviada a Manoel Vieira da Silva e Tovar de Albuquerque, em 21 de

    maio de 1808. In: OLIVEIRA, Jos Joaquim Machado de. Notas e apontamentos e notcias para a histria da

    provncia do Esprito Santo. Revista do IHGB, 1856, tomo XIX, n. 22, p. 325-331. 29 MOREIRA, Vnia Maria Losada. 1808: a guerra contra os botocudos e a recomposio do imprio portugus nos

    trpicos. IN: CARDOSO, Jos Lus; MONTEIRO, Nuno Gonalo; SERRO, Jos Vicente (Orgs). Portugal, Brasil e

    a Europa napolenica, Lisboa: Imprensa de Cincias Sociais, 2010a, p. 391-414.

  • conhecer de perto e estudar, nessa regio, esse notvel povo; quem quiser v-los a,

    deve preparar-se para uma flechada.30

    Aps a Independncia, contudo, a Diretoria do Rio Doce comeou a ganhar um

    sentido mais pacificador. O plano para a civilizao dos ndios botocudos do Esprito

    Santo, criado em 1824, era inspirado nas idias e recomendaes de Jos Bonifcio, um

    dos maiores estadistas da gerao da Independncia.31

    Bonifcio repudiava a guerra

    ofensiva como mtodo de abordagem dos ndios bravos que viviam nos sertes do

    Imprio, preferindo a educao, a catequese, o comrcio, a mestiagem e a criao da

    aldeamentos como meios de integr-los na sociedade nacional que, ento, dava os

    primeiros passos de sua organizao.32

    Como resultado da aplicao do plano no

    Esprito Santo, foi criado o aldeamento de So Pedro de Alcntara, na barra do rio

    Doce, para sedentarizar os botocudos. Contudo, este estabelecimento nunca se firmou

    como um aldeamento estvel, pois, dentre outras dificuldades, vale citar a recusa dos

    prprios ndios em se fixarem neles permanentemente. Como demonstrou Francieli

    Marinato, os botocudos preferiam circular entre os sertes, os aldeamentos e os quartis,

    segundo a prpria vontade e as necessidades que sentiam.33

    No mesmo perodo, tambm os ndios puris comearam a entrar no Esprito

    Santo, primeiro na condio de tribo aliada, quando prestaram vrios servios ao

    governo, auxiliando na construo da estrada para Minas Gerais, combatendo os ndios

    botocudos nos sertes, destruindo quilombos e prendendo escravos fugidos.34

    Mais de

    25 anos depois, em 1845, foram fixados no aldeamento Imperial Alfonsino,

    estabelecimento que tambm no teve estabilidade nem tampouco longevidade.

    Importante notar, contudo, que um dos resultados do processo de conquista do vale do

    rio Doce foi no apenas a intensificao dos contatos (e conflitos) entre os moradores da

    provncia e os ndios dos sertes (botocudos e puris), mas tambm dos processos de

    integrao desses ndios rbita econmica, social, poltica e cultural dos

    conquistadores. 30 WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. 2 ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958 [1823],

    p. 163. 31 Regulamento para a civilizao dos ndios botocudos nas margens do rio Doce Portaria. In: OLIVEIRA, Jos Joaquim Machado de. Notas e apontamentos e notcias para a histria da provncia do Esprito Santo. Revista do

    IHGB, 1856, tomo XIX, n. 22, p. 221-224. 32 MOREIRA, Vnia Maria Losada. De ndio a Guarda Nacional: cidadania e direitos indgenas no Imprio (Vila de

    Itagua, 1822-1836). Revista Topoi, Rio de Janeiro, v.11, n. 21, p. 127-142, jul.-dez. 2010b, p. 128-129. 33 MARINATO, Francieli Aparecida. ndios imperiais: os Botocudos, os militares e a colonizao do rio Doce

    (Esprito Santo, 1824-1845). Dissertao (Mestrado em Histria), Universidade Federal do Esprito Santo, Esprito

    Santo, 2007, p. 56. 34 MOREIRA, Vnia Maria Losada. 1808: a guerra contra os botocudos e a recomposio do imprio portugus nos

    trpicos. IN: CARDOSO, Jos Lus; MONTEIRO, Nuno Gonalo; SERRO, Jos Vicente (Orgs). Portugal, Brasil e

    a Europa napolenica, Lisboa: Imprensa de Cincias Sociais, 2010a, p. 402.

  • Os meios mais conhecidos de incorporao dos ndios recm-egressos dos

    sertes foram os aldeamentos, onde se procurava fix-los sob o controle do governo

    provincial, e a legislao orfanolgica, que permitia aos moradores contrat-los para seu

    servio, em troca de algum salrio e do compromisso de aliment-los, civiliz-los e

    catequiz-los.35

    No Esprito Santo, ademais, os ndios tutelados segundo a legislao

    orfanolgica eram tidos como ndios que tinham amo, dono ou patro. difcil

    calcular quantos ndios ingressaram no Esprito Santo no comeo do oitocentos, mas,

    fiando-se em diferentes fontes e testemunhos, pode-se afirmar quatro proposies

    importantes sobre a condio poltica, social e jurdica da variada populao indgena da

    provncia.

    A primeira a de que um nmero considervel de ndios dos sertes passou a

    compor a populao regional e miscigenar-se com ela. A segunda a de que os ndios

    recm-egressos dos sertes i.e., os ndios reunidos nos novos aldeamentos ou aqueles

    que tinham dono, amo ou patro , possuam um estatuto social e jurdico bem

    diverso dos sditos ou cidados indgenas residentes nas vilas e povoados da

    provncia, que no eram tutelados por padres, diretores de ndios ou moradores. No se

    trata de descartar a possibilidade de ingresso de ndios dos sertes nas comunidades

    indgenas das vilas e lugares do Esprito Santo, por meio do casamento, do comrcio ou

    de outros interesses e expedientes que os pudessem unir. Trata-se, sim, de salientar a

    diferena poltica, social e jurdica que existia entre essas duas qualidades de ndios, que

    s o tempo e as mestiagens (biolgicas e/ou culturais) entre os prprios ndios tendiam

    a apagar.

    A terceira proposio que se pode fazer com relativa segurana a de que a

    existncia de muitos ndios bravos nos sertes rio Doce acabou fortalecendo o papel

    poltico e social da vila indgena de Nova Almeida, que funcionou durante as quatro

    primeiras dcadas do oitocentos como um plo irradiador e organizador da conquista do

    rio Doce. A quarta e ltima proposio sobre o modus vivendi indgena na regio diz

    respeito aos trnsitos de ndios na regio, que no se fazia apenas na direo do serto

    para a provncia, mas tambm das vilas e povoados para os sertes. Pois, como se ver

    mais adiante, o rduo trabalho cobrado dos ndios das vilas e dos povoados induziu 35 Sobre a legislao orfanolgica, ver: CUNHA, Manuela Carneiro da. Poltica indigenista no sculo XIX. In:

    CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Histria dos ndios no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras/Secretaria

    Municipal de Cultura/ Fapesp, 1992, p. 115-174. Sobre a aplicao da legislao orfanolgica no Esprito Santo, ver:

    MOREIRA. Vnia Maria Losada. A Servio do Imprio e da Nao: trabalho indgena e fronteiras tnicas no Esprito

    Santo (1822-1860). Anos 90, Porto Alegre, vol. 17, n. 31, p. 13-54, jul. 2010c, p. 34.

  • muitos deles a evadirem-se pelos matos e sertes, num movimento inverso ao que

    desejavam os governantes.

    2. A vila de Nova Almeida: notas sobre uma instituio hbrida e sobre processos

    de mestiagens que adquirem formas indgenas

    Na dcada de 1820, Nova Almeida concentrava 52% da populao indgena do

    Esprito Santo e era possivelmente uma das mais antigas e populosas vilas de ndios do

    Brasil em funcionamento naquele momento, com mais de 3.000 habitantes ndios. Mais

    ainda, comparada com a vila indgena de Benevente, a pujana de Nova Almeida,

    naquele perodo, fica bastante evidente (ver Tabelas 2).

    Tabela 2: Populao das Vilas de Benevente e Nova Almeida na dcada de 1820

    Freguesias

    Brancos ndios Pardos

    Livres

    Pardos

    Cativos

    Pretos

    Livres

    Pretos

    Cativos

    Almas Fogos

    Benevente 215 215 387 461 115 171 28 37 7 5 191 175 2007 477

    Nova

    Almeida

    96 107 1346 1665 40 35 20 25 10 13 98 72 3527 159

    Total 311 322 1733 2126 155 206 48 62 17 18 289 247 5534 636

    Fonte: Vasconcellos, 1978 [1828].

    Nas estimativas do Capito-mor Incio Joo Mongeardino, realizadas em 1789-

    1790, Benevente foi considerada a segunda vila mais populosa da capitania, com 3.017

    habitantes livres e 102 escravos.36

    Ele afirmou, ainda, que os chefes da vila eram

    ndios, bem como seus habitantes, cuja natureza, alm disso, era frouxa (243). Em

    1816, contudo, o naturalista Maximiliano Wied-Neuwied admirou-se com o

    esvaziamento da vila:

    Os jesutas reuniram a, a princpio, seis mil ndios, fundando a maior aldeia dessa costa. A maioria, entretanto, abandonou-a por causa do duro trabalho exigido pela

    coroa, e devido maneira tirnica por que eram tratados; espalharam-se por outras

    paragens, de modo que todo o distrito de Vila Nova [de Benevente], incluindo os

    36 Informao do Capito-mor Incio Joo Mongeardino. In: OLIVEIRA, Jos Teixeira de. Histria do Estado do

    Esprito Santo. Vitria: Arquivo Pblico do Estado do Esprito Santo/Secretria de Estado de Cultura, 2008 (3 ed.),

    p. 239.

  • colonos portugueses, no possui mais de oitocentos habitantes, dos quais cerca de

    seiscentos so ndios. 37

    Mais apurados do que os nmeros de Maximiliano so os fornecidos pelo bispo

    D. Jos Caetano da Silva Coutinho que tinha acesso aos registros paroquiais. Na visita

    pastoral de 1812, ele estimou para Benevente uma populao de cerca de trs mil almas.

    Mas, tanto quanto Maximiliano Wied-Neuwied, assinalou um processo de esvaziamento

    da vila e, o que importante, pelos mesmos motivos: ... este povo no passar hoje de

    3.000 almas, passando antes de Pontes de 4.000, porque este governador, impedindo o

    exporte de madeiras, e vexando os ndios com grandes servios para o Rio Doce etc.,

    fez expatriar infinitos.38

    O governador a que se referiu o bispo era Antnio Pires da Silva Pontes que,

    como foi dito anteriormente, administrou a capitania entre 1800 e 1804 e tinha ordens

    de conquistar e povoar o vale do rio Doce. Para orient-lo neste assunto, foi-lhe enviado

    o Aviso de 29 de agosto de 1798, expedido por d. Rodrigo de Souza Coutinho, Ministro

    e Secretrio de Estado e dos Negcios da Marinha e dos Domnios Ultramarinos,

    orientando-o para que fosse observado na capitania a Carta Rgia de 12 de maio

    de1798.39

    Entre outras coisas, a carta rgia permitia o alistamento de ndios em

    milcias e em corpos efetivos de ndios e, por isso, uma das primeiras medidas do

    governador foi a criao, em 4 de abril de 1800, de um Corpo de Pedestres formado por

    ndios, distribuindo seu efetivo, alm disso, nos quartis e destacamentos dos sertes

    que faziam a proteo contra as incurses do gentio inimigo, isto , os botocudos.40

    Depois da transferncia da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808,

    intensificou-se a solicitao de ndios para prestar servios no Arsenal da Marinha,

    sediado na Corte, e nas tropas de mar e terra. Devido a proximidade entre Esprito Santo

    e Rio de Janeiro, muitos ndios foram requisitados e tirados de suas vilas, lugares e

    aldeamentos para servirem na Corte. A mesma prtica continuou depois da

    Independncia, pois, de acordo com Vasconcellos, a reduo da populao indgena na

    37 WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958 [1823], 2 ed.

    p. 96. 38 COUTINHO, D. Jos Caetano da Silva. Visita de 1819-1820. In: NEVES, Luiz Guilherme Santos (Org.). O

    Esprito Santo em princpio do sculo XIX. Apontamentos feitos pelo bispo do Rio de Janeiro capitania do esprito

    Santo nos anos de 1812 e 1819. Vitria: Estao Capixaba e CulturalES, 2002, p. 48. 39 Carta Rgia de 12 de maio de 1798 sobre a civilizao dos ndios. In: OLIVEIRA, Jos Joaquim Machado de.

    Notas e apontamentos e notcias para a histria da provncia do Esprito Santo. Revista do IHGB, 1856, tomo XIX, n.

    22, p.313-325. 40 RUBIM, Francisco Alberto. Memoria para servir histria at o anno de 1817, e breve notcia estatstica da

    Capitania do Esprito Santo, poro integrante do Reino do Brasil, escripta em 1818, e publicada em 1840 por um

    capixaba. Lisboa: Imprensa Nevesiana, 1840, p. 12.

  • provncia, entre 1824 e 1827, devia-se aos recrutamentos de muitos de ndios para servir

    na Corte.41

    Assim, enquanto a populao indgena de Benevente diminua, devido

    ao deliberada dos governantes e em razo da evaso efetuada pelos prprios ndios,

    que procuravam escapar dos recrutamentos forados, a populao de Nova Almeida

    mantinha-se bastante estvel. Pois, segundo as mesmas estimativas do Capito-mor

    Mongeardino, a vila tinha, em 1789/1790, 2.712 ndios e 42 escravos42

    , situao no

    muito diferente dos 3.011 ndios estimados por Vasconcellos, nas suas estatstica da

    dcada de 1820.

    A explicao para a relativa estabilidade populacional da vila de Nova Almeida

    e de seus povoados anexos, Aldeia Velha e Campo do Riacho, deve ser procurada no

    quadro de tenses e conflitos que marcavam as fronteiras entre as zonas policiadas e no

    policiadas do Esprito Santo. Pois, para garantir a segurana do Esprito Santo,

    interessava ao governo local a manuteno de uma vila forte e bem organizada naquela

    fronteira e zona de contato com os ndios bravos do serto. Outro motivo importante

    para a conservao da vila como um lugar fundamentalmente indgena era o interesse

    pela mo de obra dos ndios, utilizada tanto pelos governos locais quanto pelo governo

    imperial. Este aspecto da questo fica particularmente evidenciado na correspondncia

    oficial entre os presidentes da provncia do Esprito Santo e as autoridades da vila de

    Nova Almeida, como os juzes ordinrios, o presidente da cmara, os vereadores ou o

    capito-mor, mantida no perodo entre 1827 e 1853.43

    Nesta srie documental identifiquei um universo de 85 documentos nos quais os

    ndios foram citados textualmente e o assunto mais em voga nesta amostragem estava,

    de algum modo, vinculado ao trabalho que eles deveriam prestar ao Imprio e

    Nao, perfazendo 58,8% do total. Lembrando que em uma mesma correspondncia

    pode-se encontrar um ou mais assuntos relativos aos ndios, nas 50 correspondncias

    classificadas como pertencendo ao assunto Trabalho, foram identificadas 58

    41 VASCONCELLOS, Ignacio Accioli de. Memoria statistica da provncia do Espirito Santo escrita no anno de

    1828. Vitria: Arquivo Pblico Estadual, 1978. 42 Informao do Capito-mor Incio Joo Mongeardino. In: OLIVEIRA, Jos Teixeira de. Histria do Estado do

    Esprito Santo. Vitria: Arquivo Pblico do Estado do Esprito Santo/Secretria de Estado de Cultura, 2008 (3 ed.),

    p. 239. 43 APEES (Arquivo Pblico do Estado do Esprito Santo). Srie 751, Livro 171 Este livro h de servir para o registro da correspondncia deste governo com as autoridades civis e militares da vila de Nova Almeida; APEES

    (Arquivo Pblico do Estado do Esprito Santo). Srie 751, Livro 172 Este livro h de servir para o registro da correspondncia deste governo com as autoridades civis, e militares da vila de Nova Almeida; APEES (Arquivo

    Pblico do Estado do Esprito Santo). Srie 751, Livro 181 H de servir este livro para o registro da correspondncia com as cmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida, Linhares, Barra de So Matheus, e

    So Matheus; APEES (Arquivo Pblico do Estado do Esprito Santo). Srie 751, 182 Servir este livro para o registro da correspondncia com todas as cmaras municipais do Norte da Provncia.

  • ocorrncias ligadas ao tema. A solicitao de ndios para a prestao de servio ao

    Estado ou para render outros ndios que j estavam trabalhando para o Imprio e a

    Nao , em disparado, a principal ocorrncia (70,7%). Os tipos de trabalho

    realizados pelos ndios e os lugares onde tais servios eram feitos so bastante

    reveladores, ademais, da funo social destes ndios no mbito regional. Em um

    universo de 50 ocorrncias sobre a prestao de servio para o Estado, 22% usam as

    expresses genricas Servio Nacional e Imperial e 10%, Servio Pblico ou

    servio em obras pblicas. O restante das solicitaes de ndios era para trabalhar na

    Diretoria do Rio Doce (16%), no Forte So Joo e Passagens (12%), no Escaler do

    Governo e Passagens (10%), no corte de madeira e na construo naval (8%) e no

    combate de quilombos ou na captura de escravos fugitivos (6%).44

    O trabalho prestado pelos ndios era penoso, tanto para os indivduos quanto

    para a comunidade, pois eles poderiam ficar longe de sua vila ou povoao por vrios

    meses e at mesmo anos. De acordo com as observaes de Saint-Hilaire, que viajou

    pelo Esprito Santo no comeo do sculo XIX, ademais, o recrutamento dos ndios de

    Nova Almeida para o trabalho obrigatrio era rigoroso e, no limite, at mesmo violento,

    pois no exclua a priso de alguns selecionados na cadeia da vila enquanto aguardavam

    a partida. E, talvez por isso, ele tenha ficado espantado com a aquiescncia dos ndios

    do Esprito Santo explorao de sua fora de trabalho, julgando que isso ocorria em

    razo da tirania dos governantes e da passividade dos ndios que, segundo ele supunha,

    no tinham, outra alternativa vivel de vida:

    Falando dos rduos trabalhos a que os condenara o Governador da Provncia, os ndios de Vila Nova [de Almeida] no deixam escapar um murmrio; o servio do Rei exige essas palavras, pronunciavam-nas do mesmo modo que um fatalista teria podido dizer:

    tal a sentena do destino. 45

    Outros testemunhos da poca no confirmam, contudo, a melanclica viso do

    naturalista sobre a passividade dos ndios de Nova Almeida. No apenas porque a fuga

    temporria ou permanente para os sertes foi sempre uma sada mais ou menos utilizada

    pelos ndios e, por isso mesmo, parte deles era presa no calabouo da vila antes de

    partir para cumprir o seu tempo de servio , mas tambm porque os ndios tinham

    44 MOREIRA, Vnia Maria Losada. A Servio do Imprio e da Nao: trabalho indgena e fronteiras tnicas no

    Esprito Santo (1822-1860). Anos 90, Porto Alegre, vol. 17, n. 31, jul. 2010c., p. 40-45. 45 SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Esprito Santo. So Paulo: Itatiaia, 1974, p. 71.

  • seus prprios motivos para executarem, sem grandes lamentos, o servio ao Rei,

    metamorfoseado, depois da Independncia, em servio nacional e imperial.

    Do ponto de vista dos ndios, existia certa margem de manobra e de negociao

    com as autoridades governativas, que, afinal, precisavam deles tanto para o servio

    pblico (construo civil, servio de correio, navegao, etc), quanto para a defesa

    militar das vilas e povoados. Assim, a despeito das relaes muito desiguais e

    assimtricas de poder entre eles, de um lado, e, de outro, os governantes e os moradores

    locais mais abastados, esses ndios defendiam seus prprios interesses nas tramas que

    compunham as relaes de poder na regio. E, se tomarmos como parmetro as

    peties e reclamaes que eles prprios dirigiram aos governantes, as duas maiores

    preocupaes dos ndios foram defender a liberdade dos filhos seqestrados para

    serem tutelados por terceiros, de acordo com os instrumentos da legislao orfanolgica

    , e manter a posse e a propriedade das terras que ocupavam, contra as tentativas do

    esbulho de certos moradores.46

    No demais frisar, alm disso, que, em termos

    indgenas, a tutela orfanolgica correspondia perda da autonomia e da liberdade

    conquistadas, pois os ndios passavam a ter dono, amo ou patro em uma espcie

    de situao bastante prxima ao cativeiro disfarado.

    Mas to importante quanto esses requerimentos indgenas, foram as resposta que

    receberam, pois, no foram poucas as vezes que os governantes mandaram devolver a

    eles suas terras e seus filhos. Por exemplo, em 23/08/1838, o presidente Joo Lopes da

    Silva informava ao juiz de paz que havia recebido o requerimento do ndio Jos

    Bernardino e pedia explicaes circunstanciadas sobre o assunto, advertindo-o que no

    pode e nem deve tirar os indgenas do poder dos pais ou daqueles que os tenham criado

    para d-los a terceira pessoa, no havendo melhoramento de condio, como no caso

    presente.47 Alm disso, no estava descartado do horizonte dos ndios de Nova

    Almeida uma possvel revolta armada para garantir as prticas costumeiras. As notcias

    que circularam em 1831, dando conta que ndios estavam espalhando boatos

    ameaadores e aterradores de lanarem fora os brancos, bem prova isso, o que acabou

    levando o presidente provincial a recomendar ao capito-mor que empenhasse todo o

    seu zelo para dissuadi-los e inform-los a respeito das leis e das autoridades

    constitudas.48

    46 MOREIRA, Vnia Maria Losada. A Servio do Imprio e da Nao: trabalho indgena e fronteiras tnicas no

    Esprito Santo (1822-1860). Anos 90, Porto Alegre, vol. 17, n. 31, jul. 2010c., p. 48. 47 APEES. Srie 751, Livro 172, 23/08/1838, p. 14. 48 APEES. Srie 751, Livro 172, 23/08/1838, p. 14.

  • Resumindo, a vila de Nova Almeida era um estabelecimento hbrido,

    sintetizando valores e interesses tanto dos ndios (terra e liberdade) como dos

    governantes da provncia e do Imprio (trabalhadores). E sua pujana devia-se, em

    grande medida, devido ao seu papel de sentinela da provncia contra os ndios bravos

    dos sertes. A formao e desenvolvimento desta vila como uma instituio hbrida

    encontra-se, alm disso, profundamente relacionado com os processos de aclimatao

    das ideias e valores do Antigo Regime portugus no Brasil.49

    Pois, de acordo com o

    pensamento e a prtica poltica corporativa lusitana, analisadas por Antnio Manuel

    Hespanha e ngela Barreto Xavier, cada corpo social, como cada rgo corporal, tem

    a sua funo (officium), de modo que a cada corpo deve ser conferida a autonomia

    necessria para que possa a desempenhar [...]. A esta ideia de autonomia funcional dos

    corpos anda ligada, como se v, a ideia de autogoverno [...].50

    Em outras palavras, no pensamento poltico do antigo regime portugus, a ideia

    de autogoverno estava profundamente associada funo social das repblicas,

    entendidas como partes de uma monarquia pluricontinental. A principal funo dos

    ndios na Amrica portuguesa era trabalhar: para o Estado, os particulares e para si

    prprios. A autonomia que os ndios das vilas do Esprito Santo receberam e que lhes

    permitia o exerccio do governo economico de suas povoaes, como afirmava a Cara

    Rgia de 1798, podendo gerir, sem a tutela de diretores, a vida cotidiana e social de

    suas povoaes, estava profundamente ligada, portanto, ao exerccio de suas funes,

    isto , trabalhar. E isso eles faziam sem maiores lamentaes, como bem notou Saint-

    Hilaire, pois era a contrapartida necessria para o exerccio do autogoverno de suas

    comunidades, fato, contudo, que escapou Saint-Hilaire e a outros observadores do

    modus vivendi dos ndios neste perodo.

    No comeo do oitocentos, portanto, Nova Almeida era num vila mestia, do

    ponto de vista cultural, agregando pessoas, valores e prticas dos campos amerndio e

    afro-luso-brasileiro. Mas, para usarmos uma reflexo de Guillaume Boccara, os ndios

    conseguiram dar, naquele espao fsico, poltico e social, uma forma indgena ao

    49 Sobre a aclimatao de ideias e instituies do Antigo Regime no Brasil, Cf. FRAGOSO, Joo; BICALHO, Maria

    Fernanda; GOUVEIA, Maria de Ftima (Orgs.). O antigo regime nos trpicos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,

    2001, p. 21. 50 HESPANHA, Antnio Manuel; XAVIER, ngela Barreto. A representao da sociedade e do poder. In:

    MATTOSO, Jos (Dir.). Histria de Portugal. O Antigo regime (1620-1807). Lisboa: editorial Estampa, s/d, p. 121-

    156, p. 123-4.

  • processo de mestiagem.51

    Assim, apesar da tentativa de erradicao do uso da lngua

    geral braslica que, por definio, era uma lngua indgena mestia, na medida em

    que misturava o tupi-guarani com a estrutura sinttica da lngua portuguesa52

    , questo

    bastante frisada pela legislao pombalina e ps-pombalina, na poca da primeira

    visitao do bispo d. Jos Caetano da Silva Coutinho, em 1812, a vila continuava

    bilnge, pois ainda se falava a lngua braslica sobretudo entre as mulheres,

    obrigando o bispo a crismar e batizar fazendo uso dela.53

    Os ndios ocupavam, alm disso, os principais cargos e lugares da governana

    da vila. Na visitao de 1812, por exemplo, d. Coutinho ponderou a existncia de mais

    de 3.000 ndios na vila de Nova Almeida, sem contar os brancos e pretos, afirmando

    ainda que a vila possua uma Cmara de ndios puros, isto , todos os vereadores e

    juzes eram ndios.54

    Alm disso, o capito-mor da vila de Nova Almeida foi definido

    pelo bispo como um ndio velho, figuro de teatro pela sua grande casaca e

    cabeleira.55 Na segunda visitao, em 1819, d. Caetano da Silva Coutinho comentou

    uma mudana significativa na governana da vila de Nova Almeida: Nota Bene: esta

    vila j no de ndios puros, como em 1812, porque os dois juzes e alguns vereadores

    so portugueses.56

    Ao se referir as vilas indgenas do Esprito Santo, fosse a de Benevente ou a de

    Nova Almeida, o bispo usava a expresso vila de ndios puros e vila mista no

    para designar a composio etnicorracial da populao total das vilas, mas antes para

    designar e classificar os oficiais (vereadores e juzes) de suas respectivas Cmaras.

    Assim, Benevente j era uma vila mista na primeira visitao do bispo, enquanto

    Nova Almeida mantinha-se como vila pura. Na segunda visitao, contudo, ambas as

    vilas aparecem como mistas, isto , governadas por ndios e portugueses, embora o

    nmero de no ndios (i.e., brancos, pardos, pretos ou escravos) residentes em

    Nova Almeida ainda fosse muito pequeno, principalmente quando comparado com

    Benevente (ver tabela 2).

    51 BOCCARA, Guillaume. Mundos nuevos em las fronteras del Nuevo Mundo. In: Nuevo Mundo Mundo Nuevos [Em

    linea], Debates, 2001, puesto em linea em 08 febrero 2005, p. 28. Disponvel em:

    Acesso em: 05/07/2003. 52 POMPA, Cristina. Religio como traduo: missionrios, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003,

    p. 86. 53 COUTINHO, D. Jos Caetano da Silva. Visita de 1819-1820. In: NEVES, Luiz Guilherme Santos (Org.). O

    Esprito Santo em princpio do sculo XIX. Apontamentos feitos pelo bispo do Rio de Janeiro capitania do esprito

    Santo nos anos de 1812 e 1819. Vitria: Estao Capixaba e CulturalES, 2002, p. 88. 54 Ibidem, p. 87-88. 55 Ibidem, p. 90. 56 Ibidem, p. 92.

  • A mistura biolgica e cultural entre ndios e no ndios foi uma das principais

    intenes da poltica pombalina que ao expulsar os jesutas do Brasil e transformar

    antigas misses em vilas e povoados, o fez, dentre outras razes, segundo a justificativa

    de que se deveria acabar com a odiosa segregao dos ndios nos aldeamentos. Tal

    perspectiva manteve-se nos anos seguinte, pois a Carta Rgia de 1798 seguiu, nesse

    aspecto, a mesma direo da legislao pombalina sobre os ndios, acabando com a

    figura tutelar do Diretor de ndios, segundo o argumento de que isso era necessrio para

    estabelecer a igualdade entre os vassalos. Mas apesar das mestiagens (biolgicas e

    culturais) no h porque deixar de ler e interpretar tais vilas e instituies hbridas,

    tambm como lugares indgenas, em processo contnuo de transformao, pois

    construdos, vividos, negociados e transmitidos a partir do encontro intercultural entre

    afro-luso-brasileiros e ndios. O modus vivendi de Nova Almeida atesta isso, ali, com

    bastante eloquncia

    3. Consideraes finais

    Um olhar pouco sensvel aos diferentes valores que ndios e governantes

    atribuam s vilas e povoados indgenas termina por transformar estes estabelecimentos

    em restos anacrnicos do passado missionrio colonial, ou, pior ainda, em formas

    incompletas ou malsucedidas do processo de civilizao (ou aculturao) da

    populao indgena, que no teria sido ainda perfeitamente integrada ordem social.

    Henry Koster, por exemplo, viajando pelo Cear em fins de 1810, considerou risvel a

    presena dos ndios na governana de suas comunidades, supondo, alm disso, que tal

    participao no passava de um engodo para tapear os ndios:

    Cada aldeia possui dois Juzes Ordinrios, com funo anual. Um juiz branco e o outro indgena, e lgico supor que o primeiro tem, realmente, o comando. [...] Os

    indgenas tem tambm seus Capites-Mores cujo ttulo vitalcio e d algum poder

    sobre seus companheiros, mas como no h salrio, o Capito-Mor indgena muito

    ridicularizado pelos brancos e, com efeito, um oficial meio nu, com sua bengala de

    casto de ouro na mo um personagem que desperta o riso aos nervos mais rijos.57

    A historiografia ainda tem muito a avanar no entendimento das vilas indgenas.

    Continua em aberto, por exemplo, o debate sobre a importncia, a extenso e os efeitos

    prticos da Carta Rgia de 1798 para a organizao da vida da populao indgena

    57 KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Recife: Fundao Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 2002, 2v.,

    p. 224-225.

  • integrada dinmica social, poltica e econmica dos colonizadores.58

    No Esprito

    Santo, contudo, esta legislao desempenhou papel importante e bastante decisivo para

    os ndios. Pois, para aqueles recm-egressos dos sertes, como os diferentes grupos de

    ndios botocudos, por exemplo, estendeu-se o privilgio de rfo, permitindo que os

    moradores exercessem a tutela sobre eles. Mais ainda, esta qualidade de ndio ficou

    conhecido, localmente, como aqueles que tinham amo, dono ou patro.

    Para os ndios, contudo, que viviam nas vilas e povoados, a lei instituiu o

    sistema do autogoverno, de acordo com os princpios do modelo corporativo portugus

    de organizao e gesto social. Assim, a relativa autonomia dos povoados indgenas

    estava estritamente ligado a capacidade de os prprios ndios fornecerem ao Estado a

    mo de obra esperada para a execuo do servio do Rei, metamorfoseado, depois da

    Independncia, em servio do Imprio e da Nao.

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    Nova Almeida.

    __________. Srie 751, Livro 181 H de servir este livro para o registro da correspondncia com as cmaras municipais das vilas da Serra, Nova Almeida,

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    __________. Srie 751, 182 Servir este livro para o registro da correspondncia com todas as cmaras municipais do Norte da Provncia.

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