artigo de urbano - leitura complementar

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  • 8/17/2019 Artigo de Urbano - Leitura Complementar

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    ABORDAGENS SOBRE A FORMA URBANA E ASTRANSFORMAÇÕES DO QUARTEIRÃO

    Flavia Ribeiro Botechia

    Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Doutoranda),

    Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo.

    [email protected]

    1 INTRODUÇÃO

    Este artigo tem como objetivo desenvolver o argumento de que as

    transformações da relação entre espaços públicos e privados na cidade, numa abordagem

    histórica urbana ocidental, podem ser ilustrados através de esquemas conceituais da forma doquarteirão. Pretende-se com isso contribuir à reflexão sobre a importância do desenho do

    tecido urbano no projeto da cidade contemporânea e da identificação de alternativas de

    estratégias projetuais.

    Autores como Solà-Morales (1997), Panerai (2006) e Lamas (2011) vem

    expondo, através de seus livros, a importância de “recolocar o desenho e a morfologia urbana

    no centro da produção da cidade” (Lamas, 2011, p.535) e que “conhecer a forma das cidades e

    reconstituir a história é também orientar uma maneira de projetar” (Panerai, 2006). Arevalorização do desenho urbano é um dos desdobramentos dos estudos da morfologia urbana,

    que desde a segunda metade do século XX, através de publicações e de um corpo teórico que

    se reúne fundamentalmente em torno do ISUF ( International Seminar of Urban Form), a

     partir de 1994, afirma-se como o estudo da “forma do meio urbano nas suas partes físicas

    exteriores, (...) e da sua produção e transformação no tempo” (Lamas, 2011, p. 38), com

    instrumentos próprios de leitura.

    Refletindo sobre o projeto e o urbanismo no início do século XXI, Ascher(2010) destaca que o modelo de partilha bilateral “público e privado” foi o estruturador do

    tecido urbano da maioria das cidades ocidentais, mas que se deve confrontar alterações a este

    modelo com múltiplas outras combinações possíveis que promovam conexão física. Este

    entendimento colabora na redefinição das fronteiras e instiga pensar: como elaborar o desenho

    urbano das conexões entre espaços públicos e privados, com todas suas complexidades e

    gradações na cidade contemporânea?

    Para ensaiar respostas, neste caso específico, foi o escolhido como nível de

    leitura morfológica, a escala do quarteirão. Esta escolha justifica-se porque o quarteirão é

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    unidade de parcelamento constitutiva do tecido urbano (Panerai, 2006) e embora tenha caráter

     privado faz a intermediação entre o edifício e a cidade. O quarteirão pode assim assumir (ou

    não) maior integração ao espaço público através de componentes formais de caráter hibrido

    como passagens e centros semipublicos (ou semiprivados), expressando a cidade

    contemporânea como uma materialidade dada mas com articulação e agenciamento de

    múltiplos objetos, atores e processos (Alvim; Castro, 2009, Ascher, 2010).

    Diante destas motivações inciais, este artigo será estruturado em duas partes.

     Na primeira, será feita uma abordagem preliminar sobre a cidade contemporânea e seu reflexo

    na prática do urbanismo baseada em textos de François Ascher (2010), Angelica Alvim e Luiz

    Guilherme Rivera de Castro (2009) e de como a morfologia urbana poderia se inserir nesta

    discussão. Na segunda parte, numa breve perspectiva histórica, serão descritas as

    transformações do tecido urbano através das obras de José Ressano Garcia Lamas (2011),

    A.E.J. Morris (2013), Marcel Poète (2011) e Phillipe Panerai (2006) e de como o quarteirão

     participa deste processo. Para concluir serão abordados três conjuntos de esquemas

    conceituais de desenho do quarteirão elaborados pelos arquitetos Christian de Portzamparc

    (1997), Mario Figueroa (2006), Le Corbusier (2001) e de como estes esquemas contribuem

    sobre como espaços publicos e privados podem estar interligados e quais são os padrões

    morfológicos envolvidos.

    2 QUESTÕES DA CIDADE

    2.1 O projeto da cidade contemporânea e o desenho urbano

     Nas últimas décadas do século XX, teóricos como François Ascher (2010)

    começam a apontar mudanças conceituais e formais ao estudar a cidade contemporânea em

    consequência da identificação de uma crise econômica e social que, dentre outras questões,

    traduz os efeitos das novas tecnologias nas relações sociais e econômicas, na produção do

    conhecimento, nas velocidades, no fim dos futuros planejados, na passagem do capitalismo

    industrial ao cognitivo.

    Estas mudanças no mundo ocidental trouxeram à exposição lógicas ao mesmo

    tempo instigantes e perversas pois acentuaram o individualismo, a autonomia resultante dos

    meios de transporte, a multiplicidade de escolhas, a diferenciação social, caracteristicas que

     juntas descrevem a sociedade hipertexto e o neourbanismo, dois conceitos criados por Ascher

    (2010). Nesta sociedade, os novos modos de pensar e agir decorrem em novas escalas de

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    desafios coletivos e, portanto, em mutações nos modos de conceber, realizar, fazer e definir a

    cidade.

    Sobre mudanças conceituais, autores como Alvim e Rivero de Castro (2009)

    admitem que o termo cidade encontra-se frágil no campo recente da arquitetura e do

    urbanismo, necessitando quase sempre de um atributo. Dentre as posibilidades, acreditam que

    o termo cidade contemporânea seja o mais adequado

    [...] para designar – mas não para explicar – os processos urbanos atuais,caracterizados por descontinuidades, heterogeneidade, fragmentação,disjunção, segregação, dispersão, termos definidos inevitavelmente demodo articulado e em oposição às noções de continuidade, homogeneidade,unidade, integração, inclusão, aglomeração ou concentração (Alvim; Castro,

    2009, p. 141).

    Quanto às mudanças nos modos de fazer e gerir essa cidade, novamente é

    Ascher quem indica dez princípios do neourbanismo como respostas às novas questões

    urbanas. Dentre os princípios postos, um se destaca no contexto do objetivo deste artigo. No

    capitulo 4, do livro “Novos Princípios do Urbanismo” (2010), Ascher pergunta-se sobre o que

    se passa hoje com as noções de limites entre público/privado, cidade/campo, interior/exterior,

    e como seria possivel conceber espaços quando estes limites estão cada vez mais embaçados.

    O urbanismo moderno desenvolveu a cidade atribuindo ao “público” a

    responsabilidade pelos espaços externos, grandes infraestruturas e equipamentos coletivos, e

    ao “privado”, pela superestrutura. Diante da crise do modelo bilateral o neourbanismo  não

    decreta o fim da cidade ou do urbano mas aproveita a crise para romper este limite público-

     privado já esgarçado, reafirmando a importância de novas modalidades de desenho dos

    espaços e de gestão dos mesmos.

     Num esforço de pensar caminhos para desenhos integradores, a leitura da tesede Magalhães (2005) contribui à este artigo quando trata da contiguidade, definida como

    expressão do reconhecimento das preexistências ambientais e culturais da cidade, envolvendo

    a valorização dos espaços, das escalas e dos usos produzidos pela coletividade ao longo do

    tempo. Partir do existente é um dos caminhos para lidar com a incertezas, aspecto

    característico do urbanismo contemporâneo já tratado por Ascher como o lugar da pluralidade

    e da diversidade. A contigüidade leva à valorização das preexistências e articulação com o

    tecido, destacando a relação morfológica entre a cidade existente e a cidade que será

    construida, entre diferentes tecidos, entre público e privado.

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    Além desta questão, efetivamente para o desenho urbano contribui de forma

    inspiradora o campo de estudos da morfologia urbana na medida em que buscam compreender

    as tranformações da forma da cidade numa abordagem histórica, podendo desta serem

    extraídos esquemas conceituais porque a produção da cidade é mais do que um distribuição de

    objetos num território organizados em torno de funções.

    2.2 A Forma Urbana: contextualização e precedentes conceituais

     Na segunda metade do século XX, em contraponto ao cenário modernista que

     pregava o “paradigma da máquina” como transformador das cidades e edifícios, difundiu-se,

    entre urbanistas e sociólogos, a defesa pela vida cotidiana, pela mescla de usos e pela “escala

    das necessidades humanas” (Montaner, 2013). Com a fragilização do paradigma modernista,ocorreu grande influência na reflexão e produção urbana das ciências do homem – sociologia,

    antropologia, psicologia - com uma crescente sensibilidade pelas culturais locais e por formas

    de legitimação das pessoas, da arquitetura do lugar e do sentido do ‘comum’.

    É neste contexto que se iniciam de modo sistematizado os estudos da

    morfologia urbana, cujo pressuposto básico é que a cidade pode ser lida e analisada pela sua

    forma física ordinária (Moudon, 1997). Nos anos 1960, os arquitetos franceses Phillipe

    Panerai e Jean Castex, e o sociólogo Jean-Charles Depaule, influenciados pelas leituras deHenri Lefèbvre e dos italianos Saverio Muratori, Carlo Aymonino e Aldo Rossi, iniciam um

     processo de visão do tecido urbano como objeto de estudo. Nasce na escola de arquitetura de

    Versalhes, uma linha de pesquisa sobre o cadastro urbano, com valorização da medida e do

    rigor da forma construída das cidades:

    [...] para que a visão da arquitetura não se limitasse à cidade nos seusmomentos excepcionais, aos monumentos ou às obras singulares, maslevasse plenamente em consideração o tratamento de valores estéticos,

    teóricos e culturais dos tecidos urbanos construídos em sua totalidade, ondea vida das cidades teve uma expressão das mais completas, bem como ondeas arquiteturas ordinárias se materializaram em toda sua riqueza,constituindo a forma permanente, mas sempre variável, de uma cidadehistórica (Solà-Morales apud Panerai et al.., 2013, vii)

    Para estes autores, a dissociação entre arquitetura e urbanismo, projeto livre e

    forma coletiva, edifício e cidade já não faz mais sentido porque o espaço urbano é composto

     por elementos variados, públicos e privados. Para trabalhar sob a perspectiva do conjunto,

    Panerai (2006) desenvolve o conceito de tecido urbano, sob clara abordagem italiana,

    entendendo este como uma superposição ou imbricação de três lógicas que agem em

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    diferentes níveis: lógica das vias (duplo papel de movimento e distribuição); lógica do

     parcelamento (questoes fundiárias, onde iniciativas públicas e privadas se manifestam); lógica

    das edificações (que acomodam diferentes atividades).

    O arquiteto observa que a análise do tecido urbano (Figura 1) passa pela

    identificação de cada um destes elementos, suas lógicas e variações; observando a relação

    entre estes e entre tipologia dos edifícios e forma urbana. A metáfora tecido faz alusão a

    trama, tessitura textil, mas também reforça a forte ligação entre os elementos que o

    constituem, além de uma capacidade de se transformar e adaptar. Em todos os sentidos

    expostos, para Panerai o termo ´tecido´ evoca “a continuidade e a renovação, a permanência e

    a variação” aplicado tanto a áreas históricas quanto as mais recentes urbanizações. Este

    conceito se opõe a noção de cidade como obra acabada e contém em si potencial para

    transformações.

    Por vias, Panerai entende o conjunto do espaço público, qual seja, ruas,

    avenidas, praças, pontes, margens de rios, praias e todas suas variações. A identificação de

    vias permite visualizar o que é de domínio público e proceder com uma leitura sobre a

     pemanência do traçado porque o espaço público pertence à lógica da longa duração e

    confunde-se com o crescimento urbano, estruturação e organização do tecido na escala

    territorial. Já a representação negativa do espaço público, corresponde ao domínio do

    construído: quarteirões preestabelecidos, propriedades fundiárias e edifícios. Estas parcelas

    são unidades de solo urbano organizada a partir da rua e podem se submeter ao espaço

     público.

    Figura 1: O tecido urbano: cidade de Vitória ES, Avenida Leitão da Silva, em esquema gráfico das três lógicasfeito apartir do conceito de Philippe Panerai. 

    Vias Parcelamento Edificações

    Fonte: elaborado pelo autor com uso do geoprocessamento (bases fornecidas pela Prefeitura de Vitória), 2014.

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    Em consequência das mudanças na cidade contemporânea, a análise do tecido

    urbano fundamentada nos estudos da morfologia urbana busca explicar a cidade como

    fenomeno físico e construído, requerendo definição de nível de leitura dependendo dos

    objetivos e elementos morfológicos que se pretende registrar.

    Para prosseguir com o desenvolvendo do artigo, decide-se elaborar uma leitura

    da cidade apartir de uma das três lógicas do tecido urbano, a do parcelamento, pelas razões já

    expostas na Introdução e porque é nesta lógica que “iniciativas públicas e privadas se

    manifestam”.

    3 QUARTEIRÃO: FORMAS E ESQUEMAS CONCEITUAIS

    3.1 Abordagem historiográfica sobre a forma dos quarteirões

    Os elementos morfológicos, partes reconhecíveis do espaço urbano, são um

    total de onze para Lamas (2011), a saber, solo, edifícios, lote, quarteirão, fachada, logradouro

     privado, traçado, praça, monumento, vegetação, mobiliário urbano. Grosso modo estes podem

    ser organizados e identificados ao espaço público quando “não construído” e ao espaço

     privado quando “construído”. Entretanto, olhando mais de perto, há elementos maiscomplexos como é o caso do quarteirão. Lamas define-o como

    Um contínuo de edifícios agrupados entre si em anel, ou sistema fechado eseparado dos demais; é o espaço delimitado pelo cruzamento de três oumais vias e subdivisível em parcelas de cadastro (lotes) para construção deedifícios. É também um modelo de distribuição de terra por proprietáriosfunidários. Como é também o modo de agrupar edifícios no espaçodelimitado pelo cruzamento de traçados (Lamas, 2011, p.88)

    Outros autores como Panerai, Castex e Depaule (2013) ponderam sobre a palavra francesa para quarteirão, que no francês ´ilôt´ traduz-se como pequena ilha, chegando

    a chama-lo de “parte do território urbano isolado da vizinhança pelas ruas” ou “conjunto de

    lotes solidários que apenas fazem sentido de acordo com uma relação dialética com a rede

    viária” (Panerai et. al., 2013, p. 204).

    A definição de quarteirão tanto pode se basear na forma construída, na

    materialização do traçado ou na divisão fundiária. Sua formação começou como um processo

    geométrico elementar mas é também, para Lamas, instrumento operativo de produção da

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    cidade pois agrega e organiza outros elementos morfológicos e as relações que se estabelecem

    com os espaços públicos, semi públicos ou privados.

     Numa breve perspectiva histórica do mundo ocidental fundamentada em

    autores da história urbana, principalmente Lamas (2011), Morris (2013), Poète (2011), com o

    risco de fazer generalizações, pode-se primeiro entender o papel que desempenha o quarteirão

    na estrutura urbana. Para proceder com este objetivo, o quarteirão será descrito em cada

     período histórico segundo forma, limite, edifícios, relação com a rua e parcelamento. Estas

    variáveis levam a interpretação de duas possibilidades para o quarteirão identificadas em

    Lamas (2011): uma na qual o quarteirão é resultante do traçado, assumindo a forma que for

     possivel; outra na qual o quarteirão é o elemento gerador do espaço urbano por repetição.

    3.1.1 Linha do tempo

     Na Grécia, por volta de V a.C., a constituição do quarteirão estava diretamente

    ligada a quadrícula que para Hipodamos de Mileto, é geométrica, chamando-a de traçado

    xadrez. A cada vazio desta trama corresponde um quarteirão cujo uso é designado a

    residências já que os edifícios públicos localizam-se independente da malha. Neste último

    aspecto difere da situação posta em Roma. Em ambos os casos, Roma e Grécia, o quarteirão ésubdividido em lotes e separa-se do da rua pelas fachadas ou muros e não por espaços

    residuais nos lotes. Através de estudos arqueológicos o quarteirão era uma forma pragmática

    de dividir o solo em partes e portanto não participava do desenho do espaço público, tão

     pouco da cidade. Faz-se mister registrar que é no Egito, segundo Poète e Panerai, que surge a

    forma de traçar a cidade regularmente com objetivo de irrigar a terra e taxar seu uso.

    As cidades medievais, entre os séculos X e XI, tem três origens reconhecidas

     por Lamas: ao longo das estradas, por fortificações ou dentro do limite de remanescentes

    romanos, tendo como pontos em comum, de modo geral, o traçado irregular e a muralha. O

    quarteirão medieval apresenta assim alterações em relação a seus precedentes temporais em

    relação a forma, posicionamento dos prédios e no papel que desempenha na estrutura urbana.

     Neste período, as edificações, geralmente, ficam localizadas na periferia com a

    rua e a parte interna livre de edificações destinava-se a hortas ou jardins privados,

    configurando entretanto um tecido de alta densidade. A forma do quarteirão era determinada

     pelo traçado viário, não tendo sido usado nesta época, de modo geral, modulaçõesgeométricas predeterminadas. Por não ter somente intenção de divisão do solo, a partir do

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    medieval o quarteirão passa a ser um elemento morfológico do espaço urbano, com alto grau

    de permanência e complexidade nos tecidos urbanos europeus. A quadrícula e o quarteirão

    apresentam-se extremamente interligados organizando o solo, tornando-se instrumental de

    desenho urbano altamente adaptável a situações morfológicas ou topográficas.

    Durante Renascimento e Barroco, entre os séculos XV e XVIII, esquemas

    teóricos de cidade são pensados por pintores como Piero della Francesca e tratadistas como

    Vitruvio e Alberti, demonstrados através de escritos, desenhos, pinturas (a invenção da

    imprensa modifica a forma de divulgar as idéias). Em contraste com o período anterior, a

     partir do século XV a cidade é idealizada, assumindo uma forma altamente geométrica,

    obedecendo a plano regular, de organização radiocêntrica. Torna-se característico a

    construção de fortificações, como estratégia de defesa e de edifícios monumentais ou

    emblemáticos. Interessante frisar que, neste período não havia demanda por construção de

    novas cidades na Europa, entretanto é a época das grandes navegações e da chegada dos

     portugueses, por exemplo, ao Brasil em 1500.

    Voltando a Europa, aproximando-se ao período do Barroco, diversificam-se

    formas de agir no território seja, agindo por intervenção nas áreas centrais consolidadas ou

    mesmo expansão de novos núcleos de moradia. A quadrícula resultante do traçado reticular

    continua a servir a definição da forma da cidade mas não é a protagonista. As intervenções

    emblemáticas de ordem urbana ficarão por conta dos grandes traçados. Quanto ao quarteirão,

    este vai assumir variedade de formas, dimensões e volumes, tornar-se elemento de

    composição da cidade, podendo ser ocupado por um único edíficio, ter edifícios no perímetro

    e ao centro uma praça ou ser identificado com o próprio edifício.

     No início do século XIX devido a Revolução Industrial e ao crescimento

    demográfico, e antecedendo a criação da cidade moderna, há muito das influências do

    urbanismo classico-barroco, mas a grande modificação se dá ao nível da cidade porque, dentre

    fatores, esta perde seu perímetro e expande-se territorialmente, surgindo em decorrência as

    noções de subúrbio e periferia. Com este fenômeno, os interesses econômicos passam por

    cima do desenho urbano (Lamas, 2011: 208), a quadrícula se reproduz em muitas

    urbanizações como forma repdroduzível sem preocupações estéticas ou urbanísiticas.

    Deste período são muitos os exemplos de intervenções urbanas que tratam o

    quarteirão como resultante da quadrícula regular mas há dois casos que pela grande influênciaque exerceram no urbanismo dos séculos seguintes tornaram-se emblemáticos, quais sejam, o

    caso de Paris e o de Barcelona, na segunda metde do século XIX.

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    A ação do Barão de Haussmann incide sobre a cidade existente de Paris e

     possui elementos morfológicos que a caracteriza: o boulevard traçado ligando pontos da

    cidade, a praça rotatória, o quarteirão residual. O quarteirão aproxima-se da forma do bloco,

    compacto na relação com a rua, resultante do corte promovido pelo desenho do traçado, ou

    seja, de novo não é um protagonista, está submetido e é resultante, assumindo formas

    triangulares, retangulares ou irregulares. À fachada dos edifícios Haussmann dá extrema

    importancia atribuindo a ela unidade formal em relação a materiais, alturas, aberturas que o

     bidimensional não possuía. Ao quarteirão são destinados usos diversos, complexidade interna

    e como indicativo do que acontecerá no século XX, este será por vezes cortado pela galeria

    comercial, propondo o fim do “quarteirão como unidade impenetrável” (Lamas, 2011, p. 214).

    A base do plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona teve por objetivo expandir

    a cidade existente. Para tanto considera a decisão de derrubada da antiga muralha e

    implantação de um sistema de traçado e quarteirões que poderiam se extender infinitamente,

    mas com forte interrelação e interdependência.  Os quarteirões foram idealizados com

    variantes podendo ser totalmente construídos, abertos ou preenchidos por áreas verdes, em

    dependendo do “fluxo de pessoas e de ar pela cidade” pretendidos. Há duas tipologias de

    ocupação do quarteirão: periférica em dois lados paralelos, não excedendo dois terços da

    superficie, com corredor verde central; ou disposição em canto, ou “L”, tendo suas variações.

    3.2 Abordagem de esquemas conceituais sobre a forma dos quarteirões

    A linha do tempo histórica com descrições morfológicas, descrita

    anteriormente, não é linear nem fluída, ela apresenta rupturas ou momentos de transformação

    mais intensos no que diz respeito ao quarteirão. Pode-se explicitar de modo especulativo e

    esquemático que há momentos distintos que são indicados como períodos morfológicos pelos

    arquitetos Le Corbusier (2001), Portzamparc (1997) e Figueroa (2006). O primeiro autor,

    teorizando sobre a cidade moderna, faz comparações com períodos anteriores para explicar

    seu pensamento sobre novos tempos que se anunciavam; o segundo, identifica três eras da

    cidade e três desenhos de tecido, pois busca por transições entre público e privado na cidade

    de Paris; e o terceiro, identifica oito tipos de desenho de quarteirão, a partir dos três de

    Portzamparc, problematizando seu objeto de pesquisa que é a habitação coletiva.

    O arquiteto franco-suiço, modernista, Le Corbusier no livro “Como conceber o

    urbanismo”, datado originalmente de 1946, faz registros sobre sua visão acerca do futuro dascidades e da arquitetura. À época, fascinado pelas máquinas e novas técnicas construtivas,

    argumenta sobre a existência de um momento de ruptura com o passado seja na passagem do

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    artesanato para a indústria, do transporte a cavalo para a velocidade de automóveis e, por que

    não, de novas maneiras de morar, trabalhar, descansar, circular.

    Le Corbusier cria através de seus textos e diagramas, argumentos e um

    instrumental teórico sobre a tese acerca de uma “nova” arquitetura e urbanismo. No deste

    livro de 1946, dentre várias abordagens, Le Corbusier fala sobre o papel das “condições da

    natureza” pois esta intervem de modo incisivo na função habitar (sol, espaço, verde), na

    trabalhar (verde e céu), na descansar e circular (sítio e paisagens). Para tornar mais clara esta

    idéia, neste momento do texto, o autor elabora quatro diagramas que explicitam como a forma

    da arquitetura que ele propõe deve se liberar da forma da rua para melhor aproveitar as

    vantagens oferecidas pela natureza. Aparecem aqui desenhos esquemáticos (Figura 2) sobre o

    quarteirão pois confirma-se este elemento morfológico como o mediador do espaço privado

    com o espaço público.

     No primeiro esquema Le Corbusier mostra o desenho de um quarteirão

    medieval. Neste, a rua é um lugar de circulação de todos, as fachadas dos prédios voltam-se

    diretamente para ela, e a orientação solar dos prédios é arbitrária sem seguir a lógica do sol

    (Le Corbusier, 2001, p. 97). Os dois esquemas seguintes, B e C, são fases intermediárias para

    apresentar o diagrama D como resultante de um processo de agrupamentos dos lotes, que leva

    à liberação do solo, à orientação do edifício de acordo com sol, e assim “a cidade se

    transforma pouco a pouco em um parque” (Le Corbusier, 2001, p. 97) sem o condicionamento

    “tirânico” da rua. As fronteiras público e privado são rompidas e os espaços integrados num

    novo desenho.

    Figura 2: Esquemas gráficos do quateirão elaborados pelo arquiteto Le Corbusier.

    A. desenho do quarteirãomedieval de Paris;

    B. Reunificação de parcelamento fundiário;

    C. O quarteirão tradicionaldesenhado com areunificação de lotes e dois

     pátios centrais;

    D. A dissolução da quadracom blocos de edifíciosindependetes da lógica darua;

    Fonte: Le Corbusier, 2001.

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    Aproximadamente 90 anos depois, o arquiteto francês Christian de

    Portzamparc, em texto de 1997, expõe argumentos sobre a forma urbana a partir de Paris,

    observando que a cidade mudou mais nos últimos 20 anos com expansões e transformações,

    do que nos 20 séculos anteriores. Com objetivo de entender o tempo atual confronta a morte

    (declarada à época) da cidade, feita por alguns autores depois dos anos 60, não só porque ela

    não morreu como entrou em uma 3ª. Era (“Terceira Cidade”). O autor assim entende que

    apesar das variações formais que assumem as cidades em séculos, pode-se identificar três

    tempos, que ele explica e exemplifica através da forma dos quarteirões e da relação edifício e

    rua, cheios e vazios, correspondentes às cidades pre industrial, industrial e contemporânea

    (Figura 3).

    O esquema urbano que organiza a cidade da 1ª Era é orquestrado pela rua,

     porque “a cidade é vista, compreendida, percorrida, planificada” pelos vazios do espaço

     público, vazios criados pelos cheios das pequenas ilhas, dos quarteirões. A coesão da forma é

    dada pelo espaço coletivo e a metáfora explicitada, neste primeiro caso, é de abertura de uma

     picada que atravessa uma floresta. Esta é a cidade pre industrial caracterizada por dois

     períodos: o medieval agregador e o traçado barroco organizador.

    Figura 3: Esquemas gráficos representativos das Eras da Cidade e das transformações do quarteirão elaborados

     pelo arquiteto Christina de Portzamparc.

    1ª Era da Cidade 2ª. Era da Cidade 3ª. Era da Cidade

    Fonte: Portzamparc, 1997.

     Na 2ª. Era ocorre uma inversão. A cidade não é desenhada através da forma do

    vazio mas do cheio, ou seja, ocorre uma rejeição da forma tradicional da rua e em oposição

    um valorização dos objetos, ou seja, da arquitetura. Esta é a Era do Modernismo, da produção

    industrial. Esta é a cidade industrial.

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    Se a 1ª. Era é compacta, fechada, defensiva e a 2ª, aberta, diluída, a 3ª. Era vem

    com territórios contraditórios, é a era das metrópoles, das acumulações materiais, das redes

    imateriais, dos contrastes, diferentes escalas, contendo marcas das duas eras antecedentes e

    diametralmente opostas. O que caracteriza a 3ª. Era é, para o autor, uma consciência das

    crises, contradições e hibridismos. A metáfora para explicar esta era é de um arquipélago:

    A Cidade da 3ª. Era é formada de arquipélagos de bairros que se costeiam,fragmentos de todas as escalas, alguns inteiros e quase homogêneosrelativamente à época de sua formação, outros bastante heterogêneos, saídosde uma superposição de diferentes idades [...] (Portzamparc, 1997, p.46).

    A resposta que o autor aponta para a crise, já descrita na primeira parte deste

    artigo através do texto de François Ascher, não está no passado mas no futuro. Se paraPortzamparc a quadra define as relações entre cheio e vazio, é através da quadra que se

    redefinirá este esquema. À esta resposta ao problema, ele chama “quadra aberta” pois ela

    contém a dupla herança, a dupla contradição:

    A quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo temporelaçada por aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuamsempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios ealinhamentos parciais. Formas individuais e formas coleticas coexistem(Portzamparc, 1997, p. 47).

    A partir da leitura de Portzamparc, Figueroa problematiza o papel da habitação

    coletiva na formação das idéias de cidade, no período entre a segunda metade do século XIX e

    o final do século XX. O autor compõe um quadro analítico com “oito estratégias projetuais

    que permitem uma reflexão sobre as diversas formas de inserção, complementação e

    construção da habitação coletiva na cidade moderna explicitando a evolução e a

    transformação da arquitetura urbana dentro deste período” (Figueroa, 2006).

    Buscando identificação de processos projetuais o autor recorre à história

    urbana e vai do quarteirão tradicional ao aberto, num exercício de experimentação de

    identificar tipologias objetivando estudo de hipóteses de habitação e sua relação com o espaço

    urbano. Na sua trajetória textual denomina como tradicional, um quarteirão delimitado,

    homogêneo, influenciado formalmente à composição da rua pois é um resíduo do traçado

    viário.

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    Figura 4: Esquemas gráficos do quarteirão elaborados pelo arquiteto Mário Figueroa.

    1. Tradicional 2. Plano Cerdá 3. Ocupação Periférica 4. Edifícios laminares paralelos

    5. Edifício-cidade 6. Mega estruturas 7.Pós modernacontextualista

    8. Quadra aberta

    Fonte: Figueroa, 2006.

    Depois descreve brevemente cada uma das estratégias projetuais (Figura 4)

    denominadas como: quadra tradicional, quadra do plano Cerdá (1859), quadra com ocupação

     perimetral (1915), quadra com edifícios laminares paralelos (1930, CIAM - Congresso

    Internacional de Arquitetura Moderna), edifício-cidade (desenhado pelo arquiteto Le

    Corbusier), mega estruturas (desenvolvidas pelo grupo de arquitetura Archigram e

    Superestudio), quadra pós moderna contextualista (anos 1980) e, como último esquema, a

    quadra aberta.

    4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Após o desenvolvimento do argumento deste artigo aqui exposto reafirma-se o

    entendimento, fundamentado nos autores estudados, sobre a importância de usar o desenho

    urbano como ferramenta de produção da cidade. Isto não significa desenhar o domínio

     público, como ruas e praças mas considerar o desenho do “conjunto de lógicas” descritas porPanerai (2006), ou seja, desenhar também o domínio privado e a conexão entre os dois.

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     Nas últimas três décadas no Brasil, a lógica de planejamento das cidades deu

    extrema importância aos indices construtivos, análises econômicas, estatísticas e

    quantitativas, que constituem base fundamental para se pensar e gerir, não se bastem como o

    instrumental para fazer a cidade. A arquitetura e o desenho urbano precisam ser inseridos

    nesta prática participando de um corpo de conhecimentos para entender a cidade tal como

     proposto por Solà-Morales (1997), Panerai (2006) e Lamas (2011).

    Como possibilidade pioneira desta uma nova (velha conhecida) prática, fica o

    exemplo da proposta de revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo1, de 2013, com o

    arquiteto Fernando de Mello Franco a frente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da

    Prefeitura de São Paulo, onde há uma revalorização do desenho como uma das ferramentas de

     planejamento da cidade. Das propostas de revisão da legislação urbanística entre 2013 e 2014,

    Franco afirma que o poder público não quer discutir qual é o bom coeficiente de

    aproveitamento desta ou daquela parte da cidade ou qual seria a “boa” densidade para

    “qualidade de vida” mas quer primeiramente desenhar e com isso testar esses índices, para

     poder discutir qual o resultado de espaço que os números geram. Além disso, como uma das

    estratégias de revisão do Plano, a Prefeitura de São Paulo lançou um concurso nacional de

    idéias – “ Ensaios Urbanos. Desenhos para o zoneamento de São Paulo” - para debater

     parâmetros urbanisticos, propondo primeiro o desenho urbano para depois chegar aos

    números. No concurso propoe-se duas modalidades. Na primeira, prevê cinco categorias

    conforme contextos urbanisticos ou tipologias predefinidas, sendo uma delas atenta ao

    desenho de quarteirões, como unidades territoriais de composição urbana.

    Como se procurou demonstrar na segunda parte do artigo, o quarteirão afirma-

    se como um nivel de leitura com possibilidades de desenho a serem exploradas, admitindo-se

    que a história urbana dispõe de alternativas que podem ser revisitadas e entendidas no

    contexto da cidade contemporânea. As transformações do quarteirão na relação entre privado

    e público demonstram o potencial dinâmico deste para leitura como elemento de investigação

    teórica e para prática uma vez que a ele deve ser dado importância devido as possibilidades

    formais e lógicas de planejamento envolvidas. Fundamentalmente é um elemento que requer

    atenção pois tem sido sucessivamente desenhado como reflexo da legislação urbanistica que

    incide sobre cada uma das ruas que o rodeiam.

    Tendo em consideração o tamanho e variedade formas das áreas urbanas e toda

    complexidade já exposta aqui não se pode pensar em alternativas únicas, como por exemplo

    1 Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ [Acesso em novembro de 2014].

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    cair na dualidade da pergunta sobre o que é mais importante desenhar ou planejar a cidade. As

    duas alternativas são complementares e não excludentes, planeja-se o todo e desenha-se onde

    isso é possivel e necessário. Acredita-se que o quarteirão é um nivel importante para leitura e

    estratégias de projeto, tendo em consideração os argumentos desenvolvidos neste artigo,

    sejam numa linha histórica, sejam em alternativas teóricas diagramáticas.

    AGRADECIMENTOS

    Esta pesquisa tem apoio da Prefeitura de Vitória e da Compania de Desenvolvimento de

    Vitória (C.D.V.).

    5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    Alvim, A. T. B.; Castro, L. G. R. 2009. Territórios de Urbanismo. Pesquisa, Plano, Projeto.

    Cadernos de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo - MACKENZIE, São Paulo, v.

    2008.2, 134-150.

    Ascher, F. 2010. Novos princípios do urbanismo, Lisboa, Livros Horizonte.

    Figueroa, M. 2006. Habitação coletiva e a evolução da quadra. Vitruvius [online], ano 06.

    Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/385 [Acesso em

    maio de 2014].

    Lamas, J. M. R. G. 2011. Morfologia urbana e desenho da cidade, Lisboa, Fundação Calouste

    Gulbekian, 6ª. Edição.

    Le Corbusier. 2001. Cómo concebir el urbanismo, Buenos Aires, Infinito.

    Magalhães, S. F. 2005. Ruptura e Contiguidade. A cidade na incerteza. Rio de Janeiro, Tese

    de doutorado, UFRJ/ PROURB.

    Montaner, J.M. 2013. Depois do movimento moderno. Arquitetura da segunda metade do

    século XX, Barcelona, Gustavo Gilli.

    Morris, A.E.J. 2013. Historia de la forma urbana. Desde sus origenes hasta la Revolucción

    Industrial, Barcelona, Gustavo Gilli.

    Moudon, A.V. 1997. Urban morphology as an emerging interdisciplinary field. In: Urban

    morphology (Revista eletrônica do ISUF- International Seminar of Urban Form), 3-10.

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    Panerai, P. 2006. Análise urbana, Brasilia, Universidade de Brasilia.

    Panerai, P.; Castex, J.; DePaule, J. 2013. Formas urbanas. A dissolução da quadra, Porto

    Alegre, Bookman.

    Poète, M. 2011. Introducción al urbanismo. La evolución de las ciudades: la lección de la

    Antiguedad, Barcelona, Fundacion Caja de Arquitectos. (Data do original: 1929).

    Portzamparc, C. de. 1997. A terceira era da cidade (Ville âge III). Revista Oculum n° 9,

    Campinas, Fau PUC Campinas, 34-48.

    Solà-Morales, M. de. 1997. Las Formas de Crecimiento Urbano, Barcelona, UPC.