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ARTIGO DE SETEMBRO LITURGIA NA BÍBLIA SAGRADA A palavra “liturgia” no Antigo Testamento aparece mais ou menos 170 vezes na versão da Septuaginta (LXX) e é tradução dos verbos hebraicos SHERET e ABHAD, que significam “serviço prestado a alguém”, porém com esta diferença: SHERET: Serviço de dedicação incondicionada por parte de um servo; e de confiança por parte do patrão. ABHAD: Serviço honroso, trabalho de escravo. Este verbo deriva da palavra EHED = escravo, servo. (Liturgia no Antigo Testamento é marcada pelo espírito de escravidão e pela exterioridade cultual. (cf. Lv 24,1-9). Porém, as duas palavras na Escritura Hebraica são usadas indiferentemente, seja para o “serviço” em sentido profano, como para o “serviço” em sentido religioso. Na tradução da Septuaginta (LXX) tradução do Antigo Testamento para o grego feita no século IV Antes de Cristo, foram escolhidos termos técnicos para o uso profano e para o uso religioso. Por exemplo: quando os dois termos se referem ao culto prestado a Javé pelos sacerdotes e levitas é usada a palavra LEITURGHIA, LEITURGHEIN; quando ao invés se refere ao culto prestado a Javé pelo povo a palavra era LATREIN, DULIA. Na intenção dos LXX, a palavra “liturgia” é o termo técnico para indicar o “culto levítico”, ou seja, uma forma cultual fixada por um “liturgo” (livro da lei). Esta palavra liturgia exprime e engloba: a ação do culto, através do qual serve-se a Deus e somente a Ele, na sua “tenda”, no seu “templo” e sobre o seu “altar”; a unidade de um culto, o qual sendo destinado a Javé, único Deus verdadeiro, e também único na sua realização. (Segue-se à risca a prescrição da lei...). A “liturgia” é marcada, portanto, pelo espírito de escravidão (Lv 23).

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Page 1: Artigo de Setembro

ARTIGO DE SETEMBRO

LITURGIA NA BÍBLIA SAGRADA

A palavra “liturgia” no Antigo Testamento aparece mais ou menos 170 vezes na versão da Septuaginta (LXX) e é tradução dos verbos hebraicos SHERET e ABHAD, que significam “serviço prestado a alguém”, porém com esta diferença:

SHERET: Serviço de dedicação incondicionada por parte de um servo; e de confiança por parte do patrão.

ABHAD: Serviço honroso, trabalho de escravo. Este verbo deriva da palavra EHED = escravo, servo. (Liturgia no Antigo Testamento é marcada pelo espírito de escravidão e pela exterioridade cultual. (cf. Lv 24,1-9).

Porém, as duas palavras na Escritura Hebraica são usadas indiferentemente, seja para o “serviço” em sentido profano, como para o “serviço” em sentido religioso.

Na tradução da Septuaginta (LXX) tradução do Antigo Testamento para o grego feita no século IV Antes de Cristo, foram escolhidos termos técnicos para o uso profano e para o uso religioso.

Por exemplo: quando os dois termos se referem ao culto prestado a Javé pelos sacerdotes e levitas é usada a palavra LEITURGHIA, LEITURGHEIN; quando ao invés se refere ao culto prestado a Javé pelo povo a palavra era LATREIN, DULIA.

Na intenção dos LXX, a palavra “liturgia” é o termo técnico para indicar o “culto levítico”, ou seja, uma forma cultual fixada por um “liturgo” (livro da lei). Esta palavra liturgia exprime e engloba: a ação do culto, através do qual serve-se a Deus e somente a Ele, na sua “tenda”, no seu “templo” e sobre o seu “altar”; a unidade de um culto, o qual sendo destinado a Javé, único Deus verdadeiro, e também único na sua realização. (Segue-se à risca a prescrição da lei...). A “liturgia” é marcada, portanto, pelo espírito de escravidão (Lv 23).

Em sentido profano “Os magistrados são ministros (leiturghoi) de Deus” ( Rm 13,6). “Os pagãos têm participação dos bens espirituais dos judeus. Por isso devem assistir-lhes com as coisas materiais” ( Rm 15,27).

“Assistiu-me em minhas necessidades (Leiturghoi) e arriscou a própria vida para prestar-me serviços” (Fl 2,25-30).

“Arrecadar esmolas para os cristãos de Jerusalém é prestar “liturgia” aos “irmãos”(2Cor 12).

Em Hebreus 1,7-14 fala-se de “liturgia”. Deve ser entendido não em sentido cultual, mas de serviço que os Anjos prestam a Deus em favor dos homens.

Em sentido ritual sacerdotal: “Serviço de Zacarias no templo de Jerusalém” (Lc 1,23) Cristo o “liturghista” do verdadeiro santuário, realiza uma liturgia superior.

Liturgia e Liturghista, embora se referindo a Cristo, são comparações do Sumo Sacerdote judeu (Hb 8,2.6). Os objetos litúrgicos do culto hebraico (Hb 9,21).

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Comparação entre a repetição diária da liturgia judaica e a única liturgia de Cristo (Hb 10,11).

Em sentido de “Culto Espiritual”, Paulo declara-se “Ministro-liturgista de Cristo” (Rm 15,26).

Paulo declara-se pronto... “sobre o sacrifício e a liturgia de vossa fé”. É novamente o sentido cultual-sacerdotal, na linguagem técnica do Antigo Testamento.

Em sentido de Culto-Ritual-Cristão “Enquanto celebravam o culto do Senhor (a liturgia)... É o único texto do Novo Testamento no qual podemos entrever o que virá a ser a liturgia cristã, como o culto dos cristãos a Deus (At 13,2).

Liturgia é o Serviço comunitário de Culto a Deus. Nosso Culto ao Senhor é um serviço sagrado, especial e possível mediante Jesus Cristo que é nosso Templo e nosso sacrifício. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e abre o caminho para a presença do Pai.

O culto só é possível mediante Jesus Cristo e só pode ser prestado ao Deus trino.

Nunca podemos cultuar a mortos ou a santos. Cultuamos somente o Senhor.

ARTIGO DE OUTUBRO

OS DESAFIOS PARA A LITURGIA A PARTIR DA MISSÃO

Segundo, D. Manoel João Francisco - Bispo de Chapecó Para ser sentida e vivenciada como formadora de missionários de Jesus Cristo, a liturgia precisa ser aquilo que é: a liturgia.

Com freqüência, aproveitam-se as celebrações para fazer campanha missionária. A liturgia, no entanto, não deveria ser ocasião de campanha missionária. Ela, em si, é fonte de missão. Mas aí é que reside o desafio. Para ser fonte de missão, a liturgia antes de tudo precisa ser lugar de experiência de Deus, que como Pai, por Cristo, no Espírito Santo acolhe e reúne seus filhos e filhas como comunidade de irmãos e irmãs e não apenas como justaposição de crentes. Deve permitir uma leitura cordial e vivificante da Palavra de Deus, mais do que doutrinária e moralista. Deve ser a renovação da aliança que acolhe o projeto vivificador e libertador de Cristo, mais que uma simples devoção ou auto piedoso.

A liturgia só será plenamente missionária se for plenamente liturgia, ou seja, se for experiência densa e transformadora de Cristo ressuscitado, a exemplo das primeiras comunidades que a cada dia viam o número de fiéis crescer porque "dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo povo" (At 2, 46-47).

O tempo depois do Concílio foi marcado pelo esforço da Igreja de responder a este desafio. Por isso, procurou inserir-se profeticamente na transformação social, política e cultural do continente, mergulhado solidariamente na defesa dos pobres. Medellín colocou a liturgia no centro dessa missão da história do povo, ligando a

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liturgia e vida, celebração e compromisso histórico, afirmando que "a celebração litúrgica coroa e comporta um compromisso com a realidade humana" (Medellín 9,4). 

Puebla assumiu o maior entrosamento que começou a existir entre formas litúrgicas tradicionais e a piedade popular (Cf. Puebla 465). Santo Domingo quis assumir uma liturgia em total fidelidade ao Concílio Vaticano II, bem como recuperar a adoção de formas, sinais e opções próprias das culturas da América e Caribe (Cf. Santo Domingo, 53).

Apesar de orientações tão claras e firmes, sem desconsiderar os grandes avanços, a liturgia ainda tem diante de si muitos sérios desafios:

a) Desafio proveniente da cultura das grandes cidades.

b)  Desafio de uma perigosa tendência que centraliza a liturgia na pessoa do ministro ordenado, ou sacerdote e pede cautela para expressões tais como"comunidade celebrante" ou "assembléia celebrante". c) Desafios que vêm da visão angelical, desligada do mundo e da história, onde a participação nas celebrações litúrgicas é o momento de abstrair-se das lutas do dia-a-dia, transportando-se para uma realidade estérea e alucinante, totalmente contrária a natureza da liturgia. A celebração deverá recuperar a ligação da vida com a liturgia.

d) Desafios que vêm da visão que privilegia apenas a ótica da política ou do compromisso social. e) Desafios que vêm da pouca forção teológica e a quase completa falta de iniciação aos ritos e ao sentido da celebração.f) Desafios provenientes do descuido com a formação litúrgico-musical do clero, dos religiosos e demais agentes de pastoral. g) Desafios que vem do uso indiscriminado dos meios de comunicação social pela liturgia.