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REFLEXÕES A CERCA DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGENS EM LEITURA E ESCRITA: UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGIA Cleide Regina Silva de Araujo¹ Juliana de Oliveira Menezes² Suely Gonçalves Magalhães ³ RESUMO Neste artigo, procura-se mostrar a importância do docente conhecer, vivenciar e saber lidar com as dificuldades de aprendizagens. Nesse sentido, defende-se que é relevante tentar conscientizar os pais a cerca das dificuldades de aprendizagem. Dessa forma, propõe-se uma reflexão sobre a importância de agir de acordo com a dificuldade apresentada. Nesse estudo, utilizou-se a como método a etnopesquisa crítica como caminho metodológico para a realização da pesquisa. Buscando compreender a escola como um espaço coletivo de troca de conhecimentos. Inicia-se o estudo mostrando a importância do diagnóstico psicopedagógico para que o psicopedagogo possa realizar um bom trabalho. Aborda-se, também, a alfabetização a partir de um olhar psicopedagógico. Apresentam-se conceitos a cerca das dificuldades de leitura e a escrita. Finaliza-se enfatizando a importância do estudo de caso para se chegar a um diagnóstico preciso e seguro. Palavras-chave: Alfabetização. Aprendizagem. Escrita. Leitura. Psicopedagogo. ___________________ ¹ Cleide Regina Silva de Araujo. Pós-graduanda do curso de Psicopedagogia Faculdade Olga Mettig. E-mail: [email protected] ² Juliana de Oliveira Menezes. Pós-graduanda do curso de Psicopedagogia Faculdade Olga Mettig. E-mail: [email protected] ³ Professora Orientadora: Bacharel em Teologia, Licenciada em História e Filosofia, Psicopedagoga, Pesquisadora e orientadora de Projetos Científicos, Orientadora de Estágios Supervisionados. Professora do Programa de Formação de Professor, na Universidade Estadual da Bahia. Departamento da Pós-graduação em Psicopedagogia Clinica e Institucional da Faculdade Integrada Olga Mettig. [email protected] ).

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Page 1: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

REFLEXÕES A CERCA DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGENS EM

LEITURA E ESCRITA: UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGIA

Cleide Regina Silva de Araujo¹

Juliana de Oliveira Menezes²

Suely Gonçalves Magalhães ³

RESUMO

Neste artigo, procura-se mostrar a importância do docente conhecer, vivenciar

e saber lidar com as dificuldades de aprendizagens. Nesse sentido, defende-se

que é relevante tentar conscientizar os pais a cerca das dificuldades de

aprendizagem. Dessa forma, propõe-se uma reflexão sobre a importância de

agir de acordo com a dificuldade apresentada. Nesse estudo, utilizou-se a

como método a etnopesquisa crítica como caminho metodológico para a

realização da pesquisa. Buscando compreender a escola como um espaço

coletivo de troca de conhecimentos. Inicia-se o estudo mostrando a importância

do diagnóstico psicopedagógico para que o psicopedagogo possa realizar um

bom trabalho. Aborda-se, também, a alfabetização a partir de um olhar

psicopedagógico. Apresentam-se conceitos a cerca das dificuldades de leitura

e a escrita. Finaliza-se enfatizando a importância do estudo de caso para se

chegar a um diagnóstico preciso e seguro.

Palavras-chave: Alfabetização. Aprendizagem. Escrita. Leitura.

Psicopedagogo.

___________________ ¹ Cleide Regina Silva de Araujo. Pós-graduanda do curso de Psicopedagogia Faculdade Olga Mettig. E-mail: [email protected] ² Juliana de Oliveira Menezes. Pós-graduanda do curso de Psicopedagogia Faculdade Olga Mettig. E-mail: [email protected] ³ Professora Orientadora: Bacharel em Teologia, Licenciada em História e Filosofia, Psicopedagoga, Pesquisadora e orientadora de Projetos Científicos, Orientadora de Estágios Supervisionados. Professora do Programa de Formação de Professor, na Universidade Estadual da Bahia. Departamento da Pós-graduação em Psicopedagogia Clinica e Institucional da Faculdade Integrada Olga Mettig. [email protected] ).

Page 2: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

INTRODUÇÃO

Neste artigo mostra-se a possibilidade de conhecimentos e vivências ao

docente que cooperem na percepção sobre dificuldades de aprendizagens.

Procura-se também conscientizar os pais a cerca das dificuldades de

aprendizagens das crianças. Além disso, busca-se refletir sobre a importância

de agir conforme a necessidade apresentada, compreendendo a escola como

espaço coletivo de prazer e de troca e construção de conhecimentos.

Enfim psicopedagogo no espaço escolar, possibilitando a ampliação deste

fazer tão necessário a toda comunidade escolar.

O Artigo intitulado Reflexões a cerca das dificuldades de aprendizagens em

leitura e escrita: uma visão psicopedagógica, justifica-se uma vez que o futuro

psicopedagogo precisa conhecer de perto o que faz este profissional e

principalmente buscar conhecimentos que nos dê suporte para sabermos lidar

com as crianças que possuem dificuldades de aprendizagem, e ajudá-las a

encontrar um mundo ainda desconhecido por elas, o mundo do processo de

aprendizagem sem “tortura”. Sem “tortura”, pois a maioria dos indivíduos que

têm dificuldades de aprendizagem são vistos como inferiores às pessoas ditam

“normais”, e por isso passam a receber adjetivos preconceituosos dos próprios

familiares. O psicopedagogo auxilia a autoestima do indivíduo favorecendo

assim o seu processo de aprendizagem.

Para atender as exigências da pesquisa, trabalhou-se com um estudo

bibliográfico, sob uma abordagem qualitativa, que, segundo Oliveira (1997),

torna possível ao pesquisador relatar e/ou descrever o que diferentes autores

ou especialistas escrevem sobre o assunto, tornando possível ao pesquisador

colocar o seu ponto de vista sobre determinado fenômeno.

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Foi utilizado também como método a etnopesquisa crítica como caminho

metodológico para a realização da pesquisa. De acordo com Cabral e Silva

apud Macedo, a etnopesquisa é uma linha de investigação de inspiração

etnometodológica e tradição etnográfica. Foram utilizados durante a pesquisa

os dispositivos de coleta, os procedimentos de análise e interpretação de

dados, as entrevistas e alguns instrumentos de pesquisa utilizados na

psicopedagogia como a Anamnese e a EOCA. Os teóricos que embasam este

estudo são: ALMEIDA (2011), Geraldo Peçanha de; ALMEIDA (2010),

Veridiana; CABRAL E SILVA (2012); VISCA (1991), Jorge; WEISS (2012),

Maria Lúcia Lemme.

Importância do diagnóstico psicopedagógico

O diagnóstico é um instrumento relevante na prática psicopedagógica, pois, o

mesmo, oferece suporte ao psicopedagogo para investigar o sujeito no

processo de aprendizagem e dar um prognóstico e ou encaminhar para algum

profissional competente.

Segundo Weiss (2012 p. 35) o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico

é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem

do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem no nível esperado pelo

meio social.

O diagnóstico é um instrumento muito importante para o psicopedagogo, isso

porque, é a partir do diagnóstico que o profissional passa a conhecer as

dificuldades de aprendizagens do sujeito, e monta a sua linha de pesquisa.

Esse instrumento pode iniciar – se de diferentes maneiras, depende da linha

que o psicopedagogo opte por seguir. Os que seguem a Epistemologia

Convergente de Visca inicia o diagnóstico com a EOCA e encerra com a

devolução. No entanto, alguns profissionais iniciam o diagnóstico com a EFES

Page 4: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

é o caso dos seguidores de Weiss. Segundo especialistas essa diferença não

altera o resultado do diagnóstico, porém é preciso que o profissional acredite e

confie na linha que escolher para seguir.

Na ação de diagnosticar, o psicopedagogo deve ter muito cautela, investigar

minuciosamente observando e colhendo todas as informações possíveis, é

preciso também estar sempre recorrendo a conhecimentos teóricos e práticos.

Weiss (2012, p.31) afirma que é uma alimentação mútua permanente entre a

prática e a teoria e que um não caminha um sem o outro.

Para Weiss (2012, p.31), todo diagnóstico é, em si, uma investigação, uma

pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta

esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa do próprio sujeito

em relação a uma conduta esperada.

Busca-se organizar os dados obtidos em relação a sua vida biológica, intrapsíquica e social de forma única e pessoal. Nessa visão estaríamos subordinando o diagnóstico psicopedagógico ao método clínico, ao estudo de cada caso em particular. (Weiss, p.31,2007)

Weiss (2012, p.31) aponta ser fundamental ao psicopedagogo, compreender

que busca - se do clínico exatamente a unidade, a coerência, a integração que

evitariam transformar a investigação numa “colcha de retalhos” com a simples

justaposição de dados ou mera soma de resultados de testes e provas. Pode-

se dizer que o diagnóstico tem a função também, de esclarecimento da queixa

seja ela trazida pela escola, pela família ou percebida pelo próprio sujeito.

Pode-se considerar o diagnóstico como uma pesquisa em ação que

possibilitará ao terapeuta levantar hipóteses provisórias que serão confirmadas,

ou não ao longo do processo e que serão uteis em novos casos clínicos.

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Desta forma, pode-se afirmar que o que é percebido pelo próprio individuo ou

pelos outros de sintoma. Sobre o sintoma Weiss (2012) afirma que: “O sintoma

está sempre mostrando algo, é um epifenômeno. Com o sintoma o sujeito “diz

alguma coisa aos outros”, se comunica, e ‘sobre o sintoma sempre pode-se

dizer algo.”

Pode-se considerar sintoma aquilo que emerge da personalidade na interação

com o sistema social em que o sujeito está inserido. Desta forma é possível

que o problema apresentado pelo aluno numa determinada escola ou turma,

pode não se manifestar da mesma forma em outro contexto escolar.

Segundo Weiss (2012, p.34) o sucesso do diagnóstico não reside no grande

número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do

terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada

situação.

Podemos dizer que o diagnóstico psicopedagógico é composto de vários

momentos e a sua importância em todo processo é incontestável e faz-se

imprescindível ao profissional, compreender bem o que acontece discriminando

o seu papel, para poder auxiliar o paciente a prosseguir no processo sem que

ocorra uma fixação em pontos inadequados.

Abordando a alfabetização com um olhar psicopedagógico

Almeida apud Soares define alfabetização e letramento da seguinte forma:

Alfabetizar é ensinar a ler e escrever; é tornar o indivíduo capaz de ler escrever. Enquanto que Letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-

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se apropriado da escrita e de suas práticas sociais (ALMEIDA, 2010,

p. 34).

Segundo Emília Ferreiro o conceito de alfabetização atual é diferente do

conceito de alfabetização do século XX, então de acordo com Ferreiro estar

alfabetizado hoje é:

É poder transitar com eficiência e sem temor numa intrincada trama de práticas sociais ligadas à escrita. Ou seja, trata-se de produzir textos nos suportes que a cultura define como adequados para as diferentes práticas, interpretar textos de variados graus de dificuldade em virtude de propósitos igualmente variados, buscar e obter diversos tipos de dados em papel ou tela e também, não se pode esquecer, apreciar a beleza e a inteligência de um certo modo de composição, de um certo ordenamento peculiar das palavras que encerra a beleza da obra literária. Se algo parecido com isso é estar alfabetizado hoje em dia, fica claro por que tem sido tão difícil. Não é uma tarefa para se cumprir em um ano, mas ao longo da escolaridade. Quanto mais cedo começar, melhor.

Percebe – se que, quando a criança tem uma educação infantil de qualidade à

alfabetização normalmente acontece em como processo tranquilo, sem

dificuldades. Mas nem sempre isso acontece, existem muitas crianças que

não são alfabetizadas na idade correta (entende-se por idade correta que a

criança saiba ler e escrever por volta dos sete, oito anos de idade), e as

causas são diversas e na maioria das vezes essas causas estão relacionadas

às dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias.

Fred, o sujeito que foi objeto de pesquisa desse trabalho é uma criança que

não teve a oportunidade de se alfabetizar na idade correta. Aos nove anos de

idade essa criança ainda não sabe ler nem escrever, além das dificuldades

financeiras que a família dessa criança enfrenta entende-se que ele tem

dislalia e ainda sofre preconceito dos colegas na escola onde estuda por

causa da sua fala, tudo isso provavelmente contribuiu com a dificuldade de

aprendizagem do mesmo.

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As crianças de baixa renda têm na maioria das vezes pais desinformados,

muitos são analfabetos, por isso não sabem da importância de procurar saber

por que seu filho está com dificuldade de aprendizagem. Aliás, muitas dessas

famílias nem sabem que o filho tem dificuldade de aprendizagem, como é o

caso da mãe de Fred que disse que o filho de nove anos que ainda não

escreve nem ler não tem dificuldade nenhuma. É possível perceber que

muitas dessas famílias culpam os filhos por terem dificuldades de

aprendizagens, ou fracassos escolares.

Para tentar minimizar as dificuldades de aprendizagens, Almeida (2010 p. 58)

apud Emília Ferreiro afirma que não propõe práticas pedagógicas nem

metodologias, como uma demonstração do seu grau de conhecimento e como

um pré-requisito para chegar ao acerto.

Já ALMEIDA (2011 p. 16) defende o método fônico como um método eficiente

de alfabetização, no entanto, é importante que as pessoas que trabalham com

esse método tenham consciência da linearidade do trabalho. Ainda segundo

esse autor, a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem em leitura e

escrita precisa de muita simplicidade no trabalho, muito material e muita

organização só atrapalha o desenvolvimento do trabalho.

Vive-se em uma sociedade onde quem não sabe ler é tratado de maneira

preconceituosa, pois a escrita está presente no dia a dia do sujeito onde quer

que ele vá. Sabe-se que nem sempre é possível contar com as famílias para

educar as crianças, por isso resta às escolas capacitarem seus profissionais

para saberem lidar com as dificuldades de aprendizagens das crianças, pois

contar com as famílias provavelmente será cada dia que passa mais difícil.

Conceituando as dificuldades de leitura e escrita

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Segundo FERREIRO (2011 p. 67), entende-se por escrita: qualquer série de

letras que não seja produto de atividades infantis. Já o dicionário Aurélio (2002

p. 283) define a escrita como: Representação de palavras ou ideias por sinais;

escritura. Grafia. Ato de escrever. Aquilo que se escreve. Escrituração

mercantil. O que constitui uma rotina.

Etimologicamente, ler deriva do latim “lego/legere”, que significa recolher,

apanhar, escolher, captar com os olhos. O dicionário Aurélio (2002 p. 422)

aponta a leitura como:

Ato, arte ou hábito de ler. Aquilo que se lê. Operação de percorrer, em um meio físico, sequências de marcas codificadas que representam informações registradas, e reconvertê-las à forma anterior (como imagens, sons, dados, para processamento).

Na opinião de Luckesi (2003, p. 119) “[...] a leitura, para atender o seu pleno

sentido e significado, deve, intencionalmente, referir-se à realidade. Caso

contrário, ela será um processo mecânico de decodificação de símbolos”. Por

isso entende-se que para tentar minimizar as dificuldades de leitura e escrita,

a leitura deve estar relacionada à realidade do leitor, ou seja, deve ser

significativa, para que a criança possa se interessar pela leitura e passar a

tomar gosto pela mesma.

De acordo com FERREIRO (2011 p. 66) o ato de leitura não pode ser

concebido como uma adição de informações, mas deve ser concebido como

um processo de coordenação de informações de procedência diversificada com

todos os aspectos inferentes que isso supõe, e cujo objetivo final é a obtenção

de significado linguisticamente.

Para escrever bem é preciso ler bem, isso é fato, por isso a criança que tem

dificuldades de leitura normalmente também apresenta dificuldade na escrita.

Isso acontece com Fred, ele não sabe ler e só consegue escrever o primeiro

Page 9: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

nome. A população carente são as pessoas que mais sofrem com as

dificuldades em leitura e escrita, pois essa população em virtude das

dificuldades financeiras enfrentadas, não convive com o acesso a leitura diária

dentro de casa e por isso tem pouco acesso a livros, jornais e revistas.

O processo de aprendizagem em leitura e escrita precisa ser melhor

compreendido por muitos profissionais, isso porque, é fácil encontrar nas

escolas professores que dizem usar determinados métodos ou teorias de

alfabetização sem ao menos conhece-los. A teoria construtivista é um exemplo

claro disso, essa teoria não é tão fácil de trabalhar, pois exige bastante estudo

e dedicação ao contrario do que muita gente pensa. Como muitas escolas não

preparam seus profissionais como deveria e se diz construtivista o que se vê é

um trabalho que deixa a desejar em muitos casos.

Segundo ALMEIDA (2011 p. 11) as dificuldades de aprendizagem de leitura e

escrita podem ser apresentadas a partir de uma situação orgânica, psicológica

ou pedagógica. Ainda segundo esse autor, situação orgânica são aquelas

dificuldades cujas causas advêm de deficiências, transtornos, desnutrição,

intoxicação por substância como álcool e drogas ilícitas. Já as dificuldades de

leitura e escrita que tem causas psicológicas, podem estar relacionadas aos

traumas emocionais sofridos ou vivenciados pelas crianças. A terceira causa é

a pedagógica, quando técnicas, métodos e ações educacionais não são

condizentes com o potencial das crianças.

Defende-se que, para melhorar as dificuldades de leitura e escrita não importa

o método que o profissional utilize em sala de aula, o que realmente interessa é

que ele saiba fazer um bom trabalho e mostre resultados. Para superar as

dificuldades de aprendizagens em leitura e escrita é preciso que se trabalhe

com material concreto, lúdico e leitura de temas que interessam às crianças.

Page 10: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

Análise de dados no estudo de caso

Em tempos não muito remotos, podia-se dizer que “a educação vem de berço”,

todavia, na contemporaneidade é comum o surgimento de questionamentos

que permeiam a sociedade, principalmente os espaços “ditos” como educativos

frequentemente perguntam-se: Há quem cabe o principal dever de educar? Da

família ou da escola?

Tavares (2012, p.23) defende que cabe a família independentemente do seu

conceito, zelar pela educação do seu filho. Cabe à família auxiliar na educação

escolar do educando, lembrando que ela é a principal responsável pela

educação dos filhos. Esta tarefa infelizmente foi “empurrada” para a escola,

que deixa o seu papel de coadjuvante, de coautoria, para assumir total autoria,

invertendo os valores com a família, que passa a ter um papel mais tímido,

mais apagado e, muitas vezes, omisso na arte de educar os filhos.

[ ...] a segurança propiciada pela sociedade pode ser boa, mas não pode nos dar segurança interior, nem calor emocional e bem-estar, nem respeito próprio, nem um sentimento de que as coisas valem a pena. Somente os pais podem dar tudo isso ao filho, e o farão muito melhor se o derem também um ao outro. (BETTELHEIM, 1998, p.315)

Uma variável que tem um grau de complexidade significativo é a família. Nessa

variável, a escola não consegue intervir diretamente e, com isso, torna-se difícil

equacionar todas as questões que permeiam a relação entre a escola e a

família. Fred o sujeito que foi objeto de pesquisa desse trabalho é uma criança

que não teve a oportunidade de se alfabetizar na idade correta. O mesmo

apresenta algumas dificuldades de aprendizagem que foi possível observar a

interferência direta da família. Sua mãe que também não é alfabetizada não

acompanha sua vida escolar.

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Tavares apud Delors (2001, p. 111) defende que a família é o “primeiro lugar

de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o

cognitivo, assim como a transmissão de valores e normas”.

Diante do exposto, questionamentos inquietam aos que lidam diretamente com

tais dificuldades surgem como educar diante da omissão da família?

Tavares (2012, p.27) aponta que cabe a escola uma educação libertadora a

qual ofereça ao aluno a busca de um conhecimento pertinente às suas

necessidades para que ele se torne um protagonista e, também, um cidadão

crítico e ativo, mudando o seu ambiente. É fundamental para sanar tais

problemas que as comunidades escolares estabeleçam projetos que

aproximem cada vez mais as famílias a participarem da vida escolar dos filhos,

tomando consciência da importância dessa parceria tão discutida e necessária

para ocorrer o avanço no processo educacional e consequentemente social.

Fred o sujeito que foi objeto de pesquisa desse trabalho não frequentou a

Educação Infantil ingressou a escola aos 7 anos no Ensino Fundamental na

rede municipal. Chegou à escola observada neste ano com poucas

informações escolares já que sua mãe não acompanha sua vida escolar só

comparecendo a escola quando solicitada, apesar de já estar no 3º ano do

Ensino Fundamental I Fred não sabe ler, nem escrever, só escreve o seu

primeiro nome, apresenta também dificuldade na fala omitindo algumas

palavras e substituindo outras, sua autoestima é muito baixa, sente-se inferior

em relação aos outros colegas.

Educar implica transformação, para Demo (2000, p. 146), a ignorância é um

dos fatores que agravam a miséria, ou seja, ela é vista como o cerne da

pobreza. O autor ressalta que o pobre é, “sobretudo, quem não sabe ou é

coibido de saber que é pobre”. Assim pode-se perceber que a pobreza não

implica apenas estar privado de bens materiais, mas sobretudo estar privado

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de construir suas próprias oportunidades; e as oportunidades só serão

construídas mediante uma educação de qualidade, o que é corroborado por

Chinoy (2006, p. 544) ao afirmar que a educação “converteu-se, portanto, em

determinante essencial das ‘oportunidades na vida’ do indivíduo, isto é, das

suas oportunidades de emprego, rendimento e status”.

No entanto, nem sempre as crianças tem oportunidade de ter uma infância feliz

e de cuidados como deveriam. Isso acontece por causa das dificuldades

financeiras que muitas famílias passam sem ter condições dignas de

sobrevivência, isso pode interferir diretamente no desenvolvimento da

aprendizagem das crianças como ocorre com Fred o sujeito que foi objeto de

pesquisa desse trabalho.

Diante do que foi apresentado, torna-se claro a necessidade e relevância da

conscientização da família e escola caminharem em sintonia. A criança

quando incentivada pela família tem mais chances de compreender e assimilar

os conteúdos escolares. A infância pode ser considerada a fase mais

importante do desenvolvimento humano. Dela deriva-se o posicionamento

individual perante as situações da vida. Portanto, cuidar da criança é garantir

um futuro promissor, uma vez que uma infância bem vivida representa uma

adolescência menos conturbada, uma vida adulta mais madura e uma velhice

cheia de experiências bem suportadas e absorvidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos argumentos expostos, percebe-se que é imprescindível o estudo de

caso para o Psicopedagogo chegar a um diagnóstico preciso e com segurança.

Page 13: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

Possibilita também aprofundar conhecimentos e conhecer métodos novos,

agregando mais saberes a prática tornando ainda mais relevante conhecer a

cerca das dificuldades de aprendizagem e o universo de questões a serem

trabalhadas neste âmbito.

É a partir do diagnóstico que o profissional encaminha ou dar um prognóstico a

cerca das dificuldades de aprendizagens do indivíduo e inicia o tratamento. O

psicopedagogo deve ser curioso, observador e ter um olhar e uma escuta

diferenciada para saber qual a melhor maneira de investigar as dificuldades de

aprendizagem do sujeito.

Apenas o conhecimento a cerca da Psicopedagogia não será suficiente para

garantir o sucesso na prática. Imprescindível se faz à práxis da teoria que nos

embasa e assegura com a ação e/ou prática para agir com confiança e

responsabilidade. O estudo de caso de Fred nos possibilitou um primeiro olhar

sob a ótica psicopedagógica que, levantou a ponta do “iceberg” e as inúmeras

e minuciosas questões que envolvem o sujeito com problemas de

aprendizagem.

Nesse contexto, ao abordar a alfabetização com um olhar psicopedagógico

permite ampliar a visão sobre a importância deste processo na vida do sujeito e

como a falta deste processo em idade hábil abala toda a sua trajetória

estudantil, fragilizando assim toda a capacidade inata depositada em cada

individuo desde a concepção. Portanto percebe-se que para escrever bem é

preciso ler bem, por isso a criança que tem dificuldades de leitura normalmente

também apresenta dificuldade na escrita, se tem dificuldades na fala também

vai ter dificuldades na leitura.

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REFLECTIONS OF A FENCE OF LEARNING DIFFICULTIES IN READING

AND WRITING: A VISION Psicopedagogía

ABSTRACT In this article, we try to show the importance of teaching experience, experience and know how to deal with the difficulties of learning. In this sense, it is argued that it is relevant to try to educate parents about learning disabilities. Thus, it proposes a reflection on the importance of acting in accordance with the difficulty presented. In this study, it was used as a method to etnopesquisa as critical methodological way for the research. Trying to understand the school as a collective space for knowledge exchange. Begins the study showing the importance of psycho diagnostic for the educational psychologist can do a good job. Addresses are also literacy from a psycho look. We present concepts about the difficulties of reading and writing. Ends up emphasizing the importance of the case study to arrive at an accurate diagnosis and safe. Keywords: Literacy. Learning. Writing. Reading. Psychoeducator.

Page 15: Artigo   cleide araujo e juliana menezes

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