artigo - chapas de bambu e cana (1) (1)

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTACampus de Bauru

    Faculdade de EngenhariaAgosto de 2010

    O BAGAO DA CANA-DE-ACAR EM COMBINAO COM FOLHASCAULINARES DE BAMBU PARA SEU EMPREGO EM CHAPAS DE PARTCULAS

    SUGARCANE BAGASSE COMBINED WITH BAMBOO LEAFSTEAM FOR ITS USE IN PARTICLEBOARD

    Gisele de Jesus Santos1, Rosane Aparecida Gomes Battistelle2, Humberto S. A. Varum3

    1 Aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo daFaculdade de Arquitetura, Artes e Comunicao

    da Universidade Estadual Paulista2 Professora Doutora do Departamento de Engenharia Civil

    da Universidade Estadual Paulista3 Engenheiro Civil, Dr., Professor da Universidade de Aveiro, Portugal.

    RESUMO: O desenvolvimento e o progresso industrial beneficiaram a humanidade commuitas facilidades e avanos tecnolgicos importantes. Porm, trouxeram consigoconseqncias avassaladoras como os impactos ambientais causados pela exploraoindiscriminada de recursos naturais. Assim surgiam alternativas ecologicamente corretas a fimde reduzir os impactos ambientais e gerenciar da melhor forma o uso dos recursos naturais,como o de pesquisas desenvolvidas com materiais de construo alternativos.Seguindo essa iniciativa, este trabalho tem como objetivo a produo e anlise de chapas de partculas fabricadas com folhas caulinares de bambu e bagao da cana-de-acar, e olevantamento das usinas de beneficiamento de cana-de-acar do estado de So Paulo. Essaschapas de vedao utilizam o bagao oriundo de uma usina cujo resduo advm do processode fabricao do acar e do lcool.

    Palavras -chave: chapas de partculas aglomeradas, folhas caulinares de bambu, bagao decana-de-acar, usinas de cana-de-acar.

    Abstract: The development and industrial progress have brought many facilities andtechnological advances to mankind. However, it also brought devastating consequences suchas environmental impacts caused by indiscriminate exploitation of natural resources.

    Thus arose environmentally friendly alternatives to reduce environmental impacts and bettermanage the use of natural resources, such as the researches developed with alternativebuilding materials.

    Following this initiative, this work aims the production and analysis of particleboards madewith with bamboo leaf steam and sugar cane bagasse, besides a data collection of sugar-canemills of the state of Sao Paulo. These sealing boards uses the bagasse coming from a millwhose waste comes from the manufacturing process of sugar and alcohol.

    Keywords: particleboard, bamboo leaf, sugar cane bagasse, sugar cane mills.

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    1. IntroduoVisando alcanar a modernidade e a riqueza, as grandes naes foram estimuladas a

    explorar indiscriminadamente os recursos naturais do planeta alm do seu limite renovao, ea lanar no meio ambiente mais dejetos do que a natureza pode absorver, trazendo assim,consequncias como as mudanas climticas, extino de espcies vegetais e animais,escassez de recursos naturais e poluio.

    Desta forma, a sociedade est sendo obrigada a repensar seus conceitos e investir emnovas alternativas de manejo dos recursos e a destinao correta dos poluentes, a fim deminimizar os impactos j em curso e evitar novos danos ao meio ambiente e, porconsequncia, para a vida terrestre.

    Dentre tais alternativas esto as pesquisas com materiais sustentveis como osdesenvolvidos com fibras vegetais na fabricao de novos produtos, tais como os trabalhos deAgopyan (1991), que se utiliza das fibras vegetais no reforo de materiais direcionados aconstruo civil, e o de Silva (2006), que usou o bagao da cana-de-acar na produo de painis tipo OSB (Oriented Strand Board), como tambm a pesquisa de Wiedman (2002), queutilizou-se das fibras de coco aplicadas em mobilirio e na construo civil.

    2. Reviso bibliogrficaAps a Primeira Guerra Mundial, fazendeiros de caf que buscavam a diversificao,

    criaram outras usinas de beneficiamento agrcola, principalmente no estado de So Paulo.Com a Segunda Guerra Mundial e a necessidade de aumentar a produo, So Pauloultrapassou o Nordeste, liderando desde ento a produo nacional de acar e lcool.

    Nesse quesito, pose-se citar os nmeros fornecidos pela Unio dos Produtores deBioenergia (UDOP), no qual afirma que no ranking mundial, o Brasil ocupa o primeiro lugarna produo de cana-de-acar com 7 milhes de hectares plantados, equivalente a cerca de2% da terra arvel do pas. Seu cultivo realizado em todas as regies brasileiras, comexceo do Norte, permitindo assim o aproveitamento de duas safras para a produoindustrial de acar e etanol, no ano todo. Cabe ressaltar que metade da safra destinada fabricao de etanol, tornando o Brasil o segundo maior produtor mundial desse combustvel.

    Conforme o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), o Brasilapresentou 8,36 milhes de hectares de rea plantada de cana, 7,29 milhes de hectares derea colhida (Figura 01), e um rendimento de 76,61 toneladas por hectares na safra de 2008/2009. Quanto produo, obteve os nmeros de 569.062.629 de toneladas de cana processada, sendo 346.292.969 de toneladas apenas do estado de So Paulo. J a produo deetanol foi de 18.169.753 m, com 10.715.759 m apenas em So Paulo. A produo de acarfoi de 31.049.206 toneladas, sendo 19.662.436 toneladas apenas no estado de So Paulo.

    No entanto, com essa grande produo tambm se gera outros subprodutos da cana,como o bagao da cana-de-acar, considerado o maior resduo da agroindstria brasileira,com uma gerao de cerca de 5 a 12 milhes de toneladas por ano, como os dadosapresentados pela Revista Pesquisa FAPESP (1998), sendo de 60% a 90% do bagaoconvertido em energia pelas usinas, que a utilizam para o funcionamento de suas prpriasinstalaes, e uma pequena parte reutilizada para outros fins, como rao animal, fabricaode papel e aglomerados e na construo civil. Porm, a parcela restante acaba gerandodiversos problemas ambientais por no possuir uma destinao correta, acabando por lotar os

    ptios industriais (Figura 01).

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    FIGURA 01 - Processos da cana-de-acar: colheita mecanizada e ps- processamento (bagao). Fonte:Revista Pesquisa FAPESP (2009).

    De forma a aproveitar esse rejeito e outros resduos agrcolas, surgiram algumas pesquisas com diferentes utilizaes, de onde, em suas composies, inseriram-se diferentesdescartes (sisal, casca de coco e palha de arroz, entre outros). Com exemplo, pode-semencionar as pesquisas com a celulose contida no bagao para a produo do chamado etanolde segunda gerao, com as vantagens do barateamento da produo do etanol convencionale o aumento da produtividade, sem a necessidade do aumento proporcional da rea plantada

    de cana-de-acar devido a grande disponibilidade do bagao, a um baixo custo (cerca deUS$ 15 a tonelada), alm de evitar a competio entre biocombustveis e alimentos, pois o bagao no utilizado para esse fim.

    Em relao s pesquisas cientficas especificamente com chapas de partculas, assunto principal deste trabalho, pode-se notar os trabalhos de autores como Wiedman (2002), Silva(2006), Catosse e Battistelle (2008) e Valarelliet al. (2009), que vm desenvolvendo pesquisas importantes, cujo objetivo de produzir e avaliar as chapas compostas de resduosindustriais como a cana-de-acar e as fibras vegetais do bambu e coco, alm de produtosreciclados, como as embalagens cartonadas do tipo Tetra-Pak (BATTISTELLEet al. , 2006).

    3. ObjetivoEsse trabalho tem como objetivo fazer um levantamento junto s usinas de cana-de-

    acar, visando obter dados relativos sua produo e distribuio no Estado de So Paulo,alm da produo e avaliao fsica e mecnica de chapas de partculas aglomeradascompostas de resduos agroindustriais como o bagao da cana-de-acar em conjunto com asfolhas caulinares de bambu da espcie Dendrocalamus Giganteus .

    4. MetodologiaAs chapas de partculas aglomeradas compostas de bagao da cana-de-acar e das

    folhas de bambu foram produzidas nos traos 100% (T1), 75% (T2), 50% (T3), 40% (T4),25% (T5) e 0% (T6) de cana, e foram avaliadas quanto ao desempenho atravs de ensaiosfsicos e mecnicos normatizados. A seguir, so destacados os pontos de maior relevnciadesse trabalho, como o levantamento das usinas paulistas de cana-de-acar e seus respectivosdados de produo, e a produo das chapas de partculas, tendo como base a norma brasileira NBR14810-3 (2002) da ABNT e o trabalho de Nascimento (2003).

    4.1. Levantamento das usinas de cana-de-acar do estado de So PauloAtravs de um levantamento das usinas paulistas, foram encontradas 246 unidades, as

    quais foram organizadas em uma lista, de onde 145 foram contatadas por email, buscandoinformaes de produo como a quantidade de cana processada e o bagao gerado por ms

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    em cada unidade, alm da destinao final desse resduo, mencionando a importncia e autilidade dessas informaes para o andamento da pesquisa. Partindo desta lista, foramcriadas tabelas com a localizao, nome, razo social, grupo, tipo de produo e o contatos(endereo ou email) de cada usina, organizadas por cidades, separadamente. De algumasusinas no houve retorno (devoluo do questionrio), e de outras no foi possvel entrar em

    contato, obtendo-se dessa forma a resposta de apenas 28 unidades.Em pesquisa paralela, foram obtidos dados em sites das prprias usinas e de

    associaes como a Unio da Indstria de Cana-de-Acar (UNICA), a Unio dos Produtoresde Bioenergia (UDOP), o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), e aSucral - Solues em Acar, Etanol e Co-gerao. Alguns dados foram completados eagrupados em tabelas, como os exemplos mostrados na Tabela 01:TABELA 01 - Amostras de dados de produo das usinas do Estado de So Paulo coletados atravs de respostas

    dos emails e sites institucionais.

    GRUPO UNIDADE CIDADE PROD. MOAGEM(ton) REAPROVEITAMENTO

    COSAN

    Usina Aucareira Bom Retiro S/A Capivari Mista capacidade de7.200/dia

    bagao: 25% da cana moda;100% aproveitado pela usina;quando h excesso vendido.

    So Francisco S/A Indstria eComrcio Elias Fausto Acar

    capacidade de8.400/dia

    Usina Junqueira S/A Indstria eComrcio Igarapava Mista

    capacidade de16.000/dia

    Maraca / Usina Nova Amrica S/A Maraca Mista capacidade de16.500/dia

    Mundial S/A Indstria e Comrcio Mirandpolis Mista capacidade de7.500/diaParalcool / Destilaria ParaguauLtda

    ParaguauPaulista lcool

    capacidade de6.000/dia

    Diamante Ja Mista capacidade de11.000/diaSanta Helena S/A Indstria eComrcio Rio das Pedras Mista

    Costa Pinto Indstria e Comrcio Piracicaba Mistacapacidade de

    24.000/dia

    DA BARRA /COSAN

    Gasa / Usina Guanabara Andradina Mista capacidade de16.000/dia

    Destivale Araatuba Mista capacidade de7.500/dia

    Tamoio Araraquara Mista capacidade de7.300/dia

    Usina Da Barra Acar e lcoolS/A Barra Bonita Mista

    6.815.821 (safra07/08)

    Benalcool Bento de Abreu Mista capacidade de6.300/dia

    Dois Corregos Dois Crregos Mista capacidade de7.500/dia

    Bonfim / Aucareira Corona Guariba Mista capacidade de

    24.000/diaIpaussu Ipaussu Mista capacidade de11.000/dia

    Univalem Valparaiso Mista capacidade de12.000/dia

    _ Usina Maring Indstria eComrcio Ltda Araraquara Mista _cada ton de cana = ~ 270 Kg de

    bagao (27%) / sobra = ~ 4,5% (12Kg) - usina sem co-gerao de

    energia eltrica

    _ Usina Batatais S/A Acar e lcool Batatais Mista3.441.118 (safra08/09)

    consumo de 85% do bagao produzido; 15% vendidos para

    fabricao de caixas de papelo egerao de energia

    _ Usina Santa Adlia S/A Jaboticabal Mista 2.287.563 (safra08/09)13.095 ton (04/05) (as 2 unidades) /

    sem informaes das safras posteriores

    _ Virgolino de Oliveira S/A Acar elcool Jos Bonifcio Mista2.353.597 (safra

    08/09) bagao: 780.000 ton (26% damoagem), reuso: 634.254 ton (81%);

    sobra: 145.746 ton (19%) por safra

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    Continuao da Tabela 01.

    PEDRAAGROINDUSTRIAL

    Usina Ip NovaIndependncia lcool1.372.250 (safra

    08/09) bagao: 60.000 ton/ms; reaprov:total, sendo 10 a 15 % armazenado para dias de chuva, excedente >

    matrizUsina IbirSanta Rosa doViterbo Mista

    1.269.268 (safra08/09)

    _ Interlagos / Usina Santa Adlia S/A Pereira Barreto lcool2.151.099 (safra

    08/09)

    cana moda: 96.000; consumocaldeira: 75.000 (78%); sobra:21.000 (22%) > co-gerao de

    energia na entre safra

    _ Pederneiras / Zambianco Acar elcool Ltda Tiet Mista _ bagao gerado por ms: 26800 ton /

    consumo mensal - queima emcaldeiras: 22300 ton/ sobra: 4500 ton

    ZILOR

    Usina Barra Grande de Lenis S/A Lenis Paulista Mista 4.376.620(08/09)99,95% reuso e 0,047% reciclagem

    (as 3 unidades juntas)So Jos / Aucareira ZilloLorenzetii S/A Macatuba Mista

    4.222.913 (safra08/09)

    Quat Aucareira Quat S/A Quat Mista 1.655.766 (safra08/09)

    Conforme pode ser verificado na Tabela 01 acima, alm da localizao, nome e razosocial e o tipo de produo das usinas apresenta tambm os nmeros da moagem e gerao de

    bagao de cana-de-acar de cada uma. Alguns dados de moagem e do reaproveitamentoaparecem iguais, pois os nmeros cedidos por algumas das usinas se encontram totalizadas,ou seja, somados ao total das outras unidades produtoras pertencentes a um mesmo grupo.Como alguns dados tais como os de moagem foram obtidos no prprio site da empresa, ou emsites de associaes (UNICA e UDOP); e em algumas usinas, s foi possvel conhecer acapacidade produtiva (diria ou anual) e no o seu valor absoluto por safra.

    Neste levantamento, destaca-se tambm a visita monitorada usina ParasoBioenergia, localizada no municpio de Brotas, interior de So Paulo, permitindo assim, queos pesquisadores conhecessem o processo produtivo e a gerao de bagao da cana-de-acar,alm de coletar o resduo necessrio fabricao das chapas. A produo da empresa estilustrada no quadro 01.

    QUADRO 01 Finalidades da produo da Usina Paraso Bioenergia, de Brotas-SP.

    lcool - lcool hidratado- lcool hidratado carburante- lcool anidro carburante

    acar - acar refinado- acar cristal

    - acar VHP Alm disso, a usina trabalha na co-gerao de energia, por meio da queima do bagao

    da cana-de-acar. Sua produo, que envolve as etapas de plantio, transporte, lavagem, preparo da cana e moagem, de cerca de 9000 toneladas de cana processada/dia, 15.000 sacosde acar (50 Kg cada)/dia e 370 m de lcool/dia, com gerao de bagao deaproximadamente 27 Kg por tonelada de cana.

    A obteno dos valores relativos a gerao de bagao, foi baseada nas respostas,gentilmente cedida pela Usina GVO (Unidade Jos Bonifcio-SP), que poder ser expressano Quadro 02 apresentado a seguir:

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    QUADRO 021 Gerao de bagao conforme a Usina GVO (Unidade Jos Bonifcio-SP).

    Em 3.000.000 toneladas de cana/safra tem-se uma gerao de bagao decerca de 26% da cana processada, ou seja, 780.000 ton de bagao;

    Utilizao na gerao de vapor (valor estimado para a vazo de vapor)

    285 ton/hora = 6.840 ton/dia, e da vazo por safra (em 240 dias), igual a1.641.600 ton, que multiplicado pela eficincia de tempo de 0.85 (tambmestimado), gera um montante de 1.395.360 ton de vapor.

    Admitindo-se que, com 1 tonelada de bagao geram-se 2,2 toneladas devapor, tem-se que o bagao consumido nesta fase 634.254 ton de bagao.

    Portanto, para se medir a sobra do bagao em uma indstria, pode-secalcular a diferena entre o bagao gerado, menos o bagao consumido, ouseja, um valor de 145.746 ton de sobra de bagao (780.000 - 634.254),sendo este montante depositado nos ptios das usinas.

    4.2. Seleo e caracterizao dos materiaisOs materiais utilizados para a confeco das chapas de partculas foram o bagao da

    cana-de-acar cedido j triturado pela usina Paraso Bioenergia, situado na cidade de Brotas-SP e a folha caulinar de bambu proveniente da rea Experimental Agrcola do Departamentode Engenharia Mecnica no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru-SP.

    De acordo com a Agrobyte (2010), Machado (2003) e Rodrigues (1995), a cana-de-acar originria do sudeste asitico e pertence ao gneroSaccharum L ., composta de 40%de celulose, 35% de hemicelulose e 15% de lignina. J o bambu, conforme citaes de Pereirae Beraldo (2007), pertence famlia das Poaceae ou Gramineae , e sub-famlia

    Bambusoideae , cuja classificao se subdivide em Bambuseae, tem como principaiscomponentes a celulose a cerca de 55%, e a lignina com de 25%. bastante resistente adiferentes condies de clima, solo e altitude, e apresenta alta resistncia mecnica, altavelocidade de crescimento e renovao, porm baixa resistncia ao fendilhamento, alm dafuno de despoluio, pois produz oxignio e retira do solo alguns elementos nocivos, comoo nitrognio. O bambu utilizado em diversos setores como a construo civil, mobilirios,setor txtil e de cosmticos, em medicamentos, e at mesmo o alimentcio.

    As chapas de partculas foram produzidas para fins de vedao e revestimentos,apresentando-se assim como alternativa ao uso da madeira, a fim de evitar a exploraoexcessiva e os problemas de manejo dos resduos advindos do processo industrial do lcool edo acar. As chapas produzidas foram posteriormente analisadas quanto ao seu desempenhofsico e mecnico atravs de ensaios normatizados. Dentre eles, destaca-se o de granulometriadas partculas, que ser descrito a seguir.4.3. Anlise granulomtrica dos resduos

    Como exemplo de caracterizao, apresenta-se a verificao do tamanho das partculasque consiste em analisar as diferentes graduaes dos resduos, obtidas atravs da anlisegranulomtrica do bagao da cana-de-acar e das folhas de bambu, visando conhecer ascaractersticas de cada material individualmente, e padronizar a composio das chapas. Paraisso, foram retiradas amostras previamente trituradas e peneiradas, contendo 150 gramas defolhas caulinares de bambu, 150 gramas de bagao de cana-de-acar proveniente dogarapeiro e 150 gramas de bagao de cana-de-acar cedida pela usina Paraso Bioenergia.Cada resduo foi separado em trs partes de 50 gramas cada, devido ao tamanho das peneiras,que comportam apenas pequenas quantidades.

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    Cada 50 gramas de resduo foram vibradas por 10 minutos em um vibrador de peneirascontendo as peneiras de aberturas 2,38 mm, 2,00 mm, 1,19 mm e 0,59 mm, dispostas emsequncia da maior para a menor, a partir do topo. Em seguida, as fraes obtidas foram pesadas em uma balana digital e o mesmo procedimento foi repetido para as outras duas partes do mesmo resduo. Este procedimento baseia-se na norma NBR 7181 (1984), onde as

    graduaes obtidas esto expressas nos quadros de 02, 03 e 04 cujos dados apresentadosrepresentam a mdia das trs etapas para cada resduo; ou seja:QUADRO 01- Dados do ensaio de granulometria: cana da usina.

    CANA DA USINA

    PENEIRA MDIA PORCENTAGEM (mm) (gramas) (%)

    2,38 3,02 6,042,00 5,15 10,31,19 14,99 29,980,59 20,77 41,54Fundo 5,76 11,52TOTAL 49,69 99,38PERDA 0,31 0,62UTILIZADO 50 100

    QUADRO 02- Dados do ensaio de granulometria: cana dos garapeiros.

    CANA DOS GARAPEIROS

    PENEIRA MDIA PORCENTAGEM (mm) (gramas) (%)

    2,38 8,46 16,922,00 5,83 11,661,19 12,66 25,320,59 14,64 29,28Fundo 8,06 16,12TOTAL 49,67 99,34PERDA 0,33 0,66UTILIZADO 50 100

    QUADRO 03- Dados do ensaio de granulometria: folhas caulinares de bambu.

    BAMBU

    PENEIRA MDIA PORCENTAGEM (mm) (gramas) (%)

    2,38 27,72 55,442,00 4,69 9,381,19 12,15 24,300,59 4,68 9,36Fundo 0,65 1,30TOTAL 49,89 99,78PERDA 0,08 0,16UTILIZADO 50 100

    Conforme pode ser visto nos quadros de 02 a 04, a quantidade de fraes dos doistipos de bagao de cana-de-acar so inversamente proporcional ao bambu, ou seja, a maior

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    quantidade verificada no bambu foi na graduao de 2,38, enquanto os dois tipos de cana-de-acar renderam uma maior parte nas fraes abaixo de 0,59 mm, conforme pode servisualizado na Figura 03 abaixo:

    FIGURA 03 - Graduaes dos trs tipos de resduos.

    Observa-se tambm atravs das figuras anteriores, a colorao mais escura que a canada usina possui em relao dos garapeiros, alm de uma maior leveza, apresentando, portanto, maior volume para a mesma quantidade de massa no compsito.

    4.3. Produo das chapasAs chapas foram produzidas com base na norma brasileira ABNT NBR 14810-3 e no

    trabalho de Nascimento (2003). Primeiramente, as folhas caulinares de bambu foramcolocadas em um climatizador, e posteriormente trituradas e peneiradas para eliminar o pfino existente. J o bagao da cana-de-acar, somente foi secado em estufa e em seguida peneirado para eliminar o p fino (Figura 04).

    FIGURA 04 - Etapas da preparao dos dois resduos.

    A seguir, o bagao e as folhas foram pesados e separados em propores pr-estipuladas para cada trao, utilizando-se um total de 1620 g de resduo (cana e bambu) e232,8g de adesivo, cuja composio de 9,8g de gua, 195,6g de resina uria-formaldedo

    Cascomel (Cascamite PB-2346), 2,9g de amnia e 24,5g de parafina.Dando continuidade, os componentes do adesivo j misturados foram adicionados aosresduos e colocados em uma batedeira industrial. Em seguida, foi despejada em uma formaquadrada de madeira de 40 x 40 cm sobre uma chapa metlica forrada com papel alumnio, ea realizao de uma pr-prensagem manualmente. Logo aps, a chapa foi levada para uma prensa hidrulica, onde a chapa foi finalmente prensada. As etapas anteriormente descritasesto ilustradas na Figura 05.

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    FIGURA 05 - Etapas da confeco das chapas.

    Terminada essa etapa, as chapas foram cortadas como corpos-de-prova de acordo comcada ensaio.

    5. CONCLUSESEsse trabalho se constitui como mais um passo na luta contra a degradao ambiental

    ao apresentar uma alternativa mais sustentvel ao uso da madeira e outros demais recursosnaturais. Destinadas entre outros, construo civil para aplicao em forros, divisrias evedao, as chapas desenvolvidas neste trabalho, podem a vir a contriburem para adiminuio da demanda de madeira, diminuindo assim o impacto causado pela devastao dasflorestas.

    O levantamento sobre as usinas de cana-de-acar, realizado paralelamente fabricao das chapas, desempenhou um papel importante no conhecimento do setorsucroalcooleiro, pois permitiu o aprofundamento em assuntos como o processo de moagem dacana-de-acar para gerar o acar, lcool e o bagao, bem como, em relao aos nmeros da produo no Brasil, e principalmente, no estado de So Paulo, onde enfocou esselevantamento (unidades paulistas). A visita realizada usina Paraso Bioenergia, em Brotas-SP, possibilitou conhecer pessoalmente todas as instalaes de uma usina e suas metasdirias, bem como o processo de moagem da cana-de-acar geradora do acar e do etanol,assim como as etapas que levam gerao do bagao, podendo assim aproveitar da partedescartada reutilizando-as em materiais e pesquisas sustentveis.

    A granulometria das partculas demonstrou que na anlise do bambu, a maior parcelade resduo retida foi na peneira de abertura 2,38, enquanto a cana (tanto da usina quanto dosgarapeiros), a maior parte ficou retida nas graduaes abaixo de 0,59 mm, indicando a relaoinversamente proporcional entre esses dois materiais. Destaca-se tambm outros aspectos dacana da usina, como a leveza - maior em relao cana dos garapeiros - e a colorao maisescura. A cana da usina tambm apresentou textura mais spera e resistente que a cana dosgarapeiros e at mesmo a folha do bambu, dificultando algumas tarefas de manuseio dessematerial. No entanto, essa caracterstica pareceu ser a responsvel pelo desempenho mecnicosatisfatrio das chapas com maior concentrao de cana da usina em comparao quelas queutilizavam maiores concentrao de bambu na composio, contrariamente ao verificado nostrabalhos com a cana dos garapeiros (CATOSSE E BATTISTELLE, 2009). As chapasapresentaram tambm uma boa aparncia e textura adequadas finalidade indicada.

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    Agradecimentos:Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPESP (Processo n 09/52331-5)

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